Semana dos Seminários
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Semana dos Seminários
SEMANA DOS SEMINÁRIOS 7_14 NOVEMBRO 2010 Seminário, comunidade dos discÍpulos de cristo e irmãos no preSbitério DISCÍPULOS PRE S B I T É RI O SEMANA DOS SEMINÁRIOS 7_14 NOVEMBRO 2010 0_Índice 02 1 _Oração 2 _Mensagem do Presidente da CEVM 3_CARTA DO PAPA BENTO XVI 4 _PROPOSTA DE REFLEXÃO 5 _A FORMAÇÃO SACERDOTAL NOS SEMINÁRIOS DE PORTUGAL 6 _PASSA E CHAMA (Catequese para a Adolescência) 7 _PROCURAM-SE AMIGOS (Catequese para OS Jovens) 8 _Vigília de Oração 9_Propostas para a Liturgia da Semana dos Seminários 10_Contactos dos Seminários Diocesanos 03 1_oração Jesus Cristo, Bom Pastor que dás a vida pelas Tuas ovelhas. Tu és o Filho muito amado do Pai, Tu és o nosso Mestre e Salvador. Faz dos nossos seminários Comunidades de discípulos, Sementeiras de Amor, de serviço e de entrega radical pelo Teu Reino; sinais de esperança de um futuro de vida verdadeira, em abundância para todos. Fortalece e ilumina no discernimento vocacional os nossos seminaristas; confirma nos dons do Espírito Santo os seus formadores; enche de generosidade e espírito de serviço os auxiliares que com eles trabalham. Recompensa e abençoa os benfeitores, que com a oração e partilha de bens, zelam pela missão; ampara o nosso Bispo e os nossos párocos, para que sejam sempre fiéis ao dom do seu sacerdócio; desperta a generosidade e a coragem dos nossos jovens para Te seguirem e concede às nossas famílias o dom de Te proporem como caminho, verdade e vida... Nós Te pedimos por intercessão de Nossa Senhora, Tua e nossa mãe… 05 2_Mensagem do presidente da cevm al CHAMAM ent 06 sabedoria legria MENTO VOCAÇÃO fé trega TESTEMUNHO seminário 07 MENSAGEM DO PRESIDENTE DA CEVM Seminário, comunidade dos discípulos de Cristo e irmãos no presbitério 1_ A alegria da vocação e a graça do mistério Samuel repousava no templo do Senhor. A lâmpada do Deus não se tinha apagado. O Senhor chamou Samuel. Ele respondeu: “Eis-me aqui”. Samuel pensou que a voz insistente que o chamava no silêncio e no segredo da noite era a voz do sacerdote Eli. Quando compreendeu que era o Senhor, respondeu: “Fala, Senhor; o teu servo escuta” (1 Sam 3, 1-21). Jeremias vivia em Israel ao tempo da deportação e do exílio dos habitantes de Jerusalém. Ele diz-nos como Deus o chamou, consagrou e enviou, como profeta em tempo difícil. Jeremias não escondeu o seu temor nem calou as suas dificuldades: “Ah! Senhor Deus, eu não sei falar, pois ainda sou um jovem”. Respondeu-lhe o Senhor: “Irás onde eu te enviar. Não tenhas medo, Jeremias. Eu estou contigo” (Jer 1, 1-19). Maria habitava em Nazaré. Diante do mensageiro de Deus que lhe anuncia que ela ia ser a Mãe de Jesus, Maria interroga-se: “Como pode ser isso?”. O Anjo respondeu: “O Espírito Santo virá sobre ti. Por isso Aquele que vai nascer é Santo e será chamado Filho de Deus”. Maria disse então: “Faça-se em mim segundo a tua palavra”(Luc 1, 34-38). Jesus estava em Cafarnaum. Tinha passado a vigília da noite em oração. Caminhava, nessa manhã, ao longo do Mar da Galileia. Viu homens ocupados e preocupados com a faina da pesca e disse-lhes: “Vinde e segui-me. Farei de vós, pescadores de homens. ” E eles deixaram as redes, imediatamente, e seguiram-no (Mt 4, 18-20). João, depois do baptismo de Jesus, permanecera na margem além do Jordão. Ao ver passar Jesus, disse aos discípulos que estavam com ele: “ Eis o Cordeiro de Deus”. Os discípulos de João ouviram, compreenderam e seguiram Jesus. Jesus voltou-se para eles e disse-lhes: “Que buscais?” 08 “Mestre, onde moras?”, perguntaram eles. “Vinde ver”, respondeu-lhes Jesus. “Eles foram, viram e permaneceram” (Jo 1, 38-40). Saulo tinha recebido ordens para perseguir os cristãos que viviam em Damasco, na Jordânia. Fez-se ao caminho com decisão e determinação. Era um israelita, descendente de Abraão, convicto e honesto. Subitamente uma inesperada visão interrompeu-lhe o caminho. Cegaram-se-lhe os olhos, mas o coração permaneceu vivo e atento ao diálogo que naquela hora nasceu: “Saulo, Saulo porque me persegues?” “Quem és tu, Senhor?” “Eu sou aquele a quem tu persegues. Ergue-te, entra na cidade e dir-te-ão o que tens a fazer”( Act 9, 4-9). 2_ A Carta do Santo Padre aos seminaristas e a coragem da resposta ao chamamento de Deus Estes são alguns dos momentos bíblicos que nos falam de vocação. Hoje, é o Santo Padre Bento XVI que escreve uma carta aos seminaristas. Logo no início dessa carta conta-nos o diálogo estranho com o seu comandante de companhia para quem na “nova Alemanha” já não havia lugar nem necessidade para padres. O medo não o venceu e a afronta do seu superior militar não o desanimou. Para ele como para cada um de nós, a vocação ao Sacerdócio nasce neste berço de verdade e de coragem; exige liberdade para decidir; implica conversão interior; impõe deixar ocupações de rotina e certezas frágeis; encontra nova bússola a guiar os nossos passos e descobre alto farol a iluminar o caminho de quem quer seguir o Senhor. “Tem sentido tornar-se sacerdote: o mundo tem necessidade de sacerdotes, de pastores hoje, amanhã e sempre enquanto existir”, diz-nos o Santo Padre. É para isso o “Seminário como comunidade que caminha para o serviço sacerdotal”, onde se preparam os futuros sacerdotes, como verdadeiros “homens de Deus” e “mensageiros de Deus, (…) sempre prontos a responder (…) a todo aquele que nos perguntar “a razão” da nossa esperança (1 Ped 3, 15). Adquirir a capacidade para dar tais respostas é uma das principais funções dos anos do Seminário”, lembra o Santo Padre aos seminaristas. 09 3_ Comunidade de discípulos e irmãos no presbitério Preparamo-nos para viver, no ritmo do tempo e em data igual aos anos anteriores, a Semana dos Seminários de Portugal. Da recente visita do Santo Padre ao nosso país e do encontro que com ele tivemos na Igreja da Santíssima Trindade, tem todo o sentido recordar a sua mensagem aos seminaristas: “A vós queridos seminaristas, que já destes o primeiro passo para o sacerdócio e estais a preparar-vos no Seminário maior e nas Casas de Formação Religiosa, O Papa encoraja-vos a serdes conscientes da grande responsabilidade que ides assumir: examinai bem as intenções e as motivações; dedicai-vos com ânimo forte e espírito generoso à vossa Formação”. É com este espírito e com igual confiança que olhamos esta Semana dos Seminários como tempo e oportunidade para valorizarmos o trabalho e a missão dos Seminários na formação dos futuros sacerdotes. Serve-nos de lema para esta Semana o mesmo tema da Semana dos Formadores dos Seminários de Portugal, realizada no passado mês de Setembro, na Diocese de Angra, nos Açores: Seminário, comunidade dos discípulos de Cristo e irmãos no presbitério. Queremos fazer nossa a mensagem do Santo Padre, dizer uma palavra de muita alegria e renovada confiança a todos os seminaristas de Portugal e testemunhar sentida gratidão a quantos se entregam diariamente com exemplar dedicação e inexcedível generosidade à exigente causa da formação nos nossos Seminários. Estou consciente e confiante de que aos Seminários nunca faltará a comunhão fraterna e exemplar dos presbitérios diocesanos e religiosos nem a oração, o afecto e a generosidade das comunidades cristãs. 10 Temos percorrido, ao longo dos anos, os Seminários de Portugal para que na colaboração de cada um saibamos contribuir para o bem de todos. Este ano a Comissão Episcopal Vocações e Ministérios solicitou ao Seminário Maior de Lamego esse contributo que agradecemos e aqui é deixado como subsídio para a vivência desta Semana nas famílias, nos movimentos apostólicos e nas comunidades cristãs. A exemplo do Santo Padre, na Carta que escreve aos seminaristas, também a Igreja em Portugal confia “o caminho de preparação para o Sacerdócio à protecção materna de Maria Santíssima, cuja casa foi escola de bem e de graça”. Aveiro, 18 de Outubro de 2010 + António Francisco dos Santos Bispo de Aveiro, Presidente da Comiss o Episcopal Voca 11 es e Minist rios 3_CARTA DO PAPA BENTO XVI CARTA DO PAPA BENTO XvI Queridos Seminaristas, Em Dezembro de 1944, quando fui chamado para o serviço militar, o comandante de companhia perguntou a cada um de nós a profissão que sonhava ter no futuro. Respondi que queria tornar-me sacerdote católico. O subtenente replicou: Nesse caso, convém-lhe procurar outra coisa qualquer; na nova Alemanha, já não há necessidade de padres. Eu sabia que esta «nova Alemanha» estava já no fim e que, depois das enormes devastações causadas por aquela loucura no país, mais do que nunca haveria necessidade de sacerdotes. Hoje, a situação é completamente diversa; porém de vários modos, mesmo em nossos dias, muitos pensam que o sacerdócio católico não seja uma «profissão» do futuro, antes pertenceria já ao passado. Contrariando tais objecções e opiniões, vós, queridos amigos, decidistes-vos a entrar no Seminário, encaminhando-vos assim para o ministério sacerdotal na Igreja Católica. E fizestes bem, porque os homens sempre terão necessidade de Deus – mesmo na época do predomínio da técnica no mundo e da globalização –, do Deus que Se mostrou a nós em Jesus Cristo e nos reúne na Igreja universal, para aprender, com Ele e por meio d’Ele, a verdadeira vida e manter presentes e tornar eficazes os critérios da verdadeira humanidade. Sempre que o homem deixa de ter a noção de Deus, a vida torna-se vazia; tudo é insuficiente. Depois o homem busca refúgio na alienação ou na violência, ameaça esta que recai cada vez mais sobre a própria juventude. Deus vive; criou cada um de nós e, por conseguinte, conhece a todos. É tão grande que tem tempo para as nossas coisas mais insignificantes: «Até os cabelos da vossa cabeça estão contados». Deus vive, e precisa de homens que vivam para Ele e O levem aos outros. Sim, tem sentido tornar-se sacerdote: o mundo tem necessidade de sacerdotes, de pastores hoje, amanhã e sempre enquanto existir. O Seminário é uma comunidade que caminha para o serviço sacerdotal. Nestas palavras, disse já algo de muito importante: uma pessoa não se torna sacerdote, sozinha. É necessária a «comunidade dos discípulos», o conjunto daqueles que querem servir a Igreja de todos. Com esta carta, quero evidenciar – olhando retrospectivamente também para o meu tempo de Seminário – alguns elementos importantes para o vosso caminho a fazer nestes anos. desconhecido que se retirou depois do «big-bang». Deus mostrou-Se em Jesus Cristo. No rosto de Jesus Cristo, vemos o rosto de Deus. Nas suas palavras, ouvimos o próprio Deus a falar 1_Quem quer tornar-se sacerdote, deve ser sobretudo um «homem de Deus», como o apresenta São Paulo (1 Tm 6, 11). Para nós, Deus não é uma hipótese remota, não é um 14 connosco. Por isso, o elemento mais importante no caminho para o sacerdócio e ao longo de toda a vida sacerdotal é a relação pessoal com Deus em Jesus Cristo. O sacerdote não é o administrador de uma associação qualquer, cujo número de membros se procura manter e aumentar. É o mensageiro de Deus no meio dos homens; quer conduzir a Deus, e assim fazer crescer também a verdadeira comunhão dos homens entre si. Por isso, queridos amigos, é muito importante aprenderdes a viver em permanente contacto com Deus. Quando o Senhor fala de «orar sempre», naturalmente não pede para estarmos continuamente a rezar por palavras, mas para conservarmos sempre o contacto interior com Deus. Exercitar-se neste contacto é o sentido da nossa oração. Por isso, é importante que o dia comece e acabe com a oração; que escutemos Deus na leitura da Sagrada Escritura; que Lhe digamos os nossos desejos e as nossas esperanças, as nossas alegrias e sofrimentos, os nossos erros e o nosso agradecimento por cada coisa bela e boa, e que deste modo sempre O tenhamos diante dos nossos olhos como ponto de referência da nossa vida. Assim tornamo-nos sensíveis aos nossos erros e aprendemos a trabalhar para nos melhorarmos; mas tornamo-nos sensíveis também a tudo o que de belo e bom recebemos habitualmente cada dia, e assim cresce a gratidão. E, com a gratidão, cresce a alegria pelo facto de que Deus está perto de nós e podemos servi-Lo. 2_ Para nós, Deus não é só uma palavra. Nos sacramentos, dá-Se pessoalmente a nós, através de elementos corporais. O centro da nossa relação com Deus e da configuração da nossa vida é a Eucaristia; celebrá-la com íntima participação e assim encontrar Cristo em pessoa deve ser o centro de todas as nossas jornadas. Para além do mais, São Cipriano interpretou a súplica do Evangelho «o pão nosso de cada dia nos dai hoje», dizendo que o pão «nosso», que, como cristãos, podemos receber na Igreja, é precisamente Jesus eucarístico. Por conseguinte, na referida súplica do Pai Nosso, pedimos que Ele nos conceda cada dia este pão «nosso»; que o mesmo seja sempre o alimento da nossa vida, que Cristo ressuscitado, que Se nos dá na Eucaristia, plasme verdadeiramente toda a nossa vida com o esplendor do seu amor divino. Para uma recta celebração eucarística, é necessário aprendermos também a conhecer, compreender e amar a liturgia da Igreja na sua forma concreta. Na liturgia, rezamos com os fiéis de todos os séculos; passado, presente e futuro encontram-se num único grande coro de oração. A partir do meu próprio caminho, posso afirmar que é entusiasmante aprender a compreender pouco a pouco como tudo isto foi crescendo, quanta experiência de fé há na estrutura da liturgia da Missa, quantas gerações a formaram rezando. 15 errado. Através dela, a fé entrou no coração dos homens, tornou-se parte dos seus sentimentos, dos seus costumes, do seu sentir e viver comum. Por isso a piedade popular é um grande património da Igreja. A fé fez-se carne e sangue. Seguramente a piedade popular deve ser sempre purificada, referida ao centro, mas merece a nossa estima; de modo plenamente real, ela faz de nós mesmos «Povo de Deus». 3_ Importante é também o sacramento da Penitência. Ensina a olhar-me do ponto de vista de Deus e obriga-me a ser honesto comigo mesmo; leva-me à humildade. Uma vez o Cura d’Ars disse: Pensais que não tem sentido obter a absolvição hoje, sabendo entretanto que amanhã fareis de novo os mesmos pecados. Mas – assim disse ele – o próprio Deus neste momento esquece os vossos pecados de amanhã, para vos dar a sua graça hoje. Embora tenhamos de lutar continuamente contra os mesmos erros, é importante opor-se ao embrutecimento da alma, à indiferença que se resigna com o facto de sermos feitos assim. Na grata certeza de que Deus me perdoa sempre de novo, é importante continuar a caminhar, sem cair em escrúpulos mas também sem cair na indiferença, que já não me faria lutar pela santidade e o aperfeiçoamento. E, deixando-me perdoar, aprendo também a perdoar aos outros; reconhecendo a minha miséria, também me torno mais tolerante e compreensivo com as fraquezas do próximo. 5_ O tempo no Seminário é também e sobretudo tempo de estudo. A fé cristã possui uma dimensão racional e intelectual, que lhe é essencial. Sem tal dimensão, a fé deixaria de ser ela mesma. Paulo fala de uma «norma da doutrina», à qual fomos entregues no Baptismo (Rm 6, 17). Todos vós conheceis a frase de São Pedro, considerada pelos teólogos medievais como a justificação para uma teologia elaborada racional e cientificamente: «Sempre prontos a responder (…) a todo aquele que vos perguntar “a razão” (logos) da vossa esperança» (1 Ped3, 15). Adquirir a capacidade para dar tais respostas é uma das principais funções dos anos de Seminário. Tudo o que vos peço insistentemente é isto: Estudai com empenho! Fazei render os anos do estudo! Não vos arrependereis. É certo que muitas vezes as matérias de estudo parecem muito distantes da prática da vida cristã e do serviço pastoral. Mas é completamente errado pôr-se imediatamente e sempre a pergunta pragmática: Poderá isto servir-me no futuro? Terá utilidade 4_ Mantende em vós também a sensibilidade pela piedade popular, que, apesar de diversa em todas as culturas, é sempre também muito semelhante, porque, no fim de contas, o coração do homem é o mesmo. É certo que a piedade popular tende para a irracionalidade e, às vezes, talvez mesmo para a exterioridade. No entanto, excluí-la, é completamente 16 prática, pastoral? É que não se trata apenas de aprender as coisas evidentemente úteis, mas de conhecer e compreender a estrutura interna da fé na sua totalidade, de modo que a mesma se torne resposta às questões dos homens, os quais, do ponto de vista exterior, mudam de geração em geração e todavia, no fundo, permanecem os mesmos. Por isso, é importante ultrapassar as questões volúveis do momento para se compreender as questões verdadeiras e próprias e, deste modo, perceber também as respostas como verdadeiras respostas. É importante conhecer a fundo e integralmente a Sagrada Escritura, na sua unidade de Antigo e Novo Testamento: a formação dos textos, a sua peculiaridade literária, a gradual composição dos mesmos até se formar o cânon dos livros sagrados, a unidade dinâmica interior que não se nota à superfície, mas é a única que dá a todos e cada um dos textos o seu pleno significado. É importante conhecer os Padres e os grandes Concílios, onde a Igreja assimilou, reflectindo e acreditando, as afirmações essenciais da Escritura. E poderia continuar assim: aquilo que designamos por dogmática é a compreensão dos diversos conteúdos da fé na sua unidade, mais ainda, na sua derradeira simplicidade, pois cada um dos detalhes, no fim de contas, é apenas explanação da fé no único Deus, que Se manifestou e continua a manifestar-Se a nós. Que é importante conhecer as questões essenciais da teologia moral e da doutrina social católica, não será preciso que vo-lo diga expressamente. Quão importante seja hoje a teologia ecuménica, conhecer as várias comunidade cristãs, é evidente; e o mesmo se diga da necessidade duma orientação fundamental sobre as grandes religiões e, não menos importante, sobre a filosofia: a compreensão daquele indagar e questionar humano ao qual a fé quer dar resposta. Mas aprendei também a compreender e – ouso dizer – a amar o direito canónico na sua necessidade intrínseca e nas formas da sua aplicação prática: uma sociedade sem direito seria uma sociedade desprovida de direitos. O direito é condição do amor. Agora não quero continuar o elenco, mas dizer-vos apenas e uma vez mais: Amai o estudo da teologia e segui-o com diligente sensibilidade para ancorardes a teologia à comunidade viva da Igreja, a qual, com a sua autoridade, não é um pólo oposto à ciência teológica, mas o seu pressuposto. Sem a Igreja que crê, a teologia deixa de ser ela própria e torna-se um conjunto de disciplinas diversas sem unidade interior. 6_Os anos no Seminário devem ser também um tempo de maturação humana. Para o sacerdote, que terá de acompanhar os outros ao longo do caminho da vida e até às portas da morte, é importante que ele mesmo tenha posto em justo equilíbrio coração e intelecto, razão e 17 sentimento, corpo e alma, e que seja humanamente «íntegro». Por isso, a tradição cristã sempre associou às «virtudes teologais» as «virtudes cardeais», derivadas da experiência humana e da filosofia, e também em geral a sã tradição ética da humanidade. Di-lo, de maneira muito clara, Paulo aos Filipenses: «Quanto ao resto, irmãos, tudo o que é verdadeiro, nobre e justo, tudo o que é puro, amável e de boa reputação, tudo o que é virtude e digno de louvor, isto deveis ter no pensamento» (4, 8). Faz parte deste contexto também a integração da sexualidade no conjunto da personalidade. A sexualidade é um dom do Criador, mas também uma função que tem a ver com o desenvolvimento do próprio ser humano. Quando não é integrada na pessoa, a sexualidade torna-se banal e ao mesmo tempo destrutiva. Vemos isto, hoje, em muitos exemplos da nossa sociedade. Recentemente, tivemos de constatar com grande mágoa que sacerdotes desfiguraram o seu ministério, abusando sexualmente de crianças e adolescentes. Em vez de levar as pessoas a uma humanidade madura e servir-lhes de exemplo, com os seus abusos provocaram devastações, pelas quais sentimos profunda pena e desgosto. Por causa de tudo isto, pode ter-se levantado em muitos, e talvez mesmo em vós próprios, esta questão: se é bom fazer-se sacerdote, se o caminho do celibato é sensato como vida humana. Mas o abuso, que há que reprovar profundamente, não pode desacreditar a missão sacerdotal, que permanece grande e pura. Graças a Deus, todos conhecemos sacerdotes convincentes, plasmados pela sua fé, que testemunham que, neste estado e precisamente na vida celibatária, é possível chegar a uma humanidade autêntica, pura e madura. Entretanto o sucedido deve tornar-nos mais vigilantes e solícitos, levando precisamente a interrogarmo-nos cuidadosamente a nós mesmos diante de Deus ao longo do caminho rumo ao sacerdócio, para compreender se este constitui a sua vontade para mim. É função dos padres confessores e dos vossos superiores acompanhar-vos e ajudar-vos neste percurso de discernimento. É um elemento essencial do vosso caminho praticar as virtudes humanas fundamentais, mantendo o olhar fixo em Deus que Se manifestou em Cristo, e deixar-se incessantemente purificar por Ele. 7_ Hoje os princípios da vocação sacerdotal são mais variados e distintos do que nos anos passados. Muitas vezes a decisão para o sacerdócio desponta nas experiências de uma profissão secular já assumida. Frequentemente cresce nas comunidades, especialmente nos movimentos, que favorecem um encontro comunitário com Cristo e a sua Igreja, uma experiência espiritual e a alegria no serviço da fé. A decisão amadurece também em encontros muito pessoais com a grandeza e a 18 miséria do ser humano. Deste modo os candidatos ao sacerdócio vivem muitas vezes em continentes espirituais completamente diversos; poderá ser difícil reconhecer os elementos comuns do futuro mandato e do seu itinerário espiritual. Por isso mesmo, o Seminário é importante como comunidade em caminho que está acima das várias formas de espiritualidade. Os movimentos são uma realidade magnífica; sabeis quanto os aprecio e amo como dom do Espírito Santo à Igreja. Mas devem ser avaliados segundo o modo como todos se abrem à realidade católica comum, à vida da única e comum Igreja de Cristo que permanece uma só em toda a sua variedade. O Seminário é o período em que aprendeis um com o outro e um do outro. Na convivência, por vezes talvez difícil, deveis aprender a generosidade e a tolerância não só suportando-vos mutuamente, mas também enriquecendo-vos um ao outro, de modo que cada um possa contribuir com os seus dotes peculiares para o conjunto, enquanto todos servem a mesma Igreja, o mesmo Senhor. Esta escola da tolerância, antes do aceitar-se e compreender-se na unidade do Corpo de Cristo, faz parte dos elementos importantes dos anos de Seminário. Queridos seminaristas! Com estas linhas, quis mostrar-vos quanto penso em vós precisamente nestes tempos difíceis e quanto estou unido convosco na oração. Rezai também por mim, para que possa desempenhar bem o meu serviço, enquanto o Senhor quiser. Confio o vosso caminho de preparação para o sacerdócio à protecção materna de Maria Santíssima, cuja casa foi escola de bem e de graça. A todos vos abençoe Deus omnipotente Pai, Filho e Espírito Santo. Vaticano, 18 de Outubro – Festa de São Lucas, Evangelista – do ano 2010. Vosso no Senhor BENEDICTUS PP XVI Copyright 2010 Libreria Editrice Vaticana 19 4_proposta DE reflexão 20 21 PROPOSTA DE REFLEXÃO Promover as Vocações, prioridade presbiteral INADIÁVEL1 Juan María Uriarte2 Introdução: Desenvolverei a minha reflexão em quatro etapas consecutivas. Exporei em primeiro lugar, algumas atitudes mentais e vitais frequentes entre os sacerdotes diante da missão de promover as diversas vocações. Formularei num segundo momento as razões eclesiológicas que constituem o fundamento desta missão. Enumerarei em seguida algumas opções e tarefas evangélicas e pastorais necessárias para levá-la à prática. Tentarei, por fim, retirar algumas lições práticas que decorrem dos critérios teológicos e pastorais expostos e da experiência adquirida até agora. Venho de um país que está a sofrer um inverno vocacional bastante duro. Não me será possível escapar á influência desta situação preocupante durante a minha conferência. Talvez não seja o caso de todos os países e igrejas aqui representadas. Muito me alegrarei com esta boa notícia. Em qualquer caso “a pastoral vocacional constitui (sempre) o ministério mais difícil e delicado” (“Novas vocações para uma nova Europa”, n.6). Estou consciente de que o conceito de vocação é muito mais amplo que a vocação sacerdotal e religiosa. De facto, a vocação laical e matrimonial é também real, valiosa e necessária. Vou referir-me às vocações de especial consagração. Hoje elas parecem-me as mais necessitadas de apoio. 1 Conferência proferida no último Congresso Europeu das Vocações em Estergom (Hungria), 3 de Julho de 2010 - http://www.vocations.eu/ 2 Bispo Emérito de San Sebastian, Espanha 22 I_ ALGUMAS Notas sobre a posição dos presbíteros diante da Pastoral Vocacional A escassez de vocações sacerdotais e religiosas provoca, geralmente um estado anímico de profunda preocupação. Por causa dela, alguns ocupam-se mais activamente que no passado em suscitá-las, convencidos da sua necessidade imprescindível para o futuro da Igreja. Outros, conscientes das enormes dificuldades sociais e culturais para o surgimento de tais vocações, colocam confiadamente nas mãos do Senhor da Igreja e da história, o futuro das suas comunidades paroquiais e diocesanas. Há alguns que, dada a situação, optam por suscitar e formar vocações laicais. Há também entre os nossos presbíteros aqueles que argumentam que esforçar-se hoje em cultivar as vocações ao ministério sacerdotal e à vida religiosa, é expressão de um terreno propício ao voluntarismo pouco esclarecido e um apego excessivo a velhos esquemas do passado. O desânimo e a nostalgia estão bastante estendidos. As dificuldades com a promoção vocacional são propícias a que surjam com frequência reservas mentais ou resistências vitais que tem sentido descrever. Estas reservas e resistências traduzem-se e reflectem-se na maneira de formular aos jovens a nossa proposta vocacional. Tais atitudes não são nem gerais, nem talvez as mais frequentes. Mas também não são nem excepcionais nem irrelevantes. 1_Reservas mentais A) Alguns sacerdotes pensam que não se pode honestamente fazer-se a alguém uma proposta vocacional antes da idade juvenil. Pensam que a inclinação precoce de alguns jovens para o sacerdócio carece de significado e é suspeita. Acreditam que a proposta vocacional feita em idades mais baixas é um condicionamento indevido para um psiquismo ainda frágil. Esquecem-se que uma coisa é fazer uma proposta cedo e outra é a tomada da decisão que deve acontecer mais tarde. Também ignoram que os condicionamentos sociais que dificultam às gerações mais jovens, o surgimento da inquietação vocacional, são hoje muito poderosos. B) Muitos pensam de forma quase espontânea, mas sem rigor teológico, que, as crianças e os adolescentes são “leigos em gestação”. Por conseguinte, a formação, os testemunhos e os padrões de comportamento que lhes oferecemos 23 são exclusivamente orientados à vida laical. Contudo, as crianças e os adolescentes não são leigos em gestação, mas “cristãos em gestação”, abertos à partida, a uma gama de diferentes vocações. C) Um projecto muito determinado sobre um jovem apto para a vida sacerdotal ou religiosa, pode ser e é muitas vezes um quadro demasiadamente estreito. Grande parte dos candidatos reais não se ajusta a esse projecto. As vocações reais são como são, não como desejaríamos que fossem. Os esquemas rígidos podem dificultar a pastoral vocacional. D) Para bastantes sacerdotes o alarme existente pelo declínio das vocações não se justifica ou pelo menos é desproporcionado. Questionam mesmo se não será mais uma graça que uma desgraça, uma vez que nos obriga a transferir para os leigos responsabilidades. Mas não valorizam suficientemente que os sacerdotes pertencem à estrutura da Igreja e constituem um princípio estruturante das comunidades cristãs. Eles são, portanto, um bem necessário. A falta de um bem necessário não é uma situação de graça. Embora seja verdade que no coração desta escassez o Espírito nos queira dizer alguma coisa. 2_ Resistências vitais São de carácter afectivo. O seu componente básico é o medo. A) O medo em provocar estranheza nos jovens a quem fazemos a proposta. Tal proposta surpreende-os e desconcerta-os frequentemente, pelo menos numa primeira abordagem. Por um reflexo defensivo, os jovens podem fugir de quem lhes formula a questão vocacional. O medo de que isto aconteça pode retrair o sacerdote. No entanto, para muitos que hoje são sacerdotes ou religiosos foi surpreendente, mas decisivo que alguém tenha tido a coragem de lhe fazer a proposta vocacional. B) O medo de parecer proselitista diante dos pais e o de ser rotulado por eles por pressionar as crianças. Os pais, mesmo cristãos convictos, têm outras expectativas a respeito dos seus filhos. Nestas circunstâncias, é necessária alguma coragem profética para propor uma vocação consagrada. C) O medo de orientar um jovem por um caminho que exige muito sacrifício e, hoje, com pouco reconhecimento social. Quando um presbítero olha a sua história 24 pessoal numa chave de sofrimento, sente-se constrangido em propor a um jovem este caminho como via de realização e felicidade. D) O medo de não estar suficientemente preparado para chamar e acompanhar os jovens no discernimento da sua vocação. A tarefa é delicada e requer uma certa “especialização” que muitos sacerdotes acreditam que não possuem. 3_ A proposta vocacional A) A proposta feita aos jovens pode pecar por ser insuficiente. Em princípio, todos os jovens cristãos devem receber um convite para descobrir e seguir o caminho de vida ao qual Deus os chama. Eles são “pessoas únicas e irrepetíveis”, com uma vocação concreta (DC 40). Se um jovem revela um carácter bom e desperto, bondade de coração, uma certa sensibilidade religiosa, uma atitude de serviço, deve receber um convite para pensar nisso. Hoje, em tempos de escassez de uma vocação vital na Igreja, um jovem assumidamente crente deve interrogar-se com seriedade, pelo menos uma vez na vida, se o Senhor não o chama a este modo concreto de ser cristão: ser sacerdote ou religioso. Alguns jovens à partida aptos, recebem de nós esta proposta. Muitos não a recebem de nós nem de ninguém. As sondagens vocacionais revelam uma percentagem não insignificante de jovens que em algum momento da sua vida sentiram o convite interior a refletir sobre a questão; mas, por timidez, por falta de palavras para expressar o que sentem, por falta de um crente próximo e com capacidade em quem possam confiar... esses possíveis chamamentos por falta de interlocutores não se formularam e perderam-se lamentavelmente. B) A proposta nem sempre se faz no tempo oportuno. Frequentemente é tardia. Hoje, em muitos ambientes, a abertura a uma alternativa vocacional aparece fechada desde muito cedo na vida de um jovem. O risco de influir de forma abusiva e prematura sobre a mentalidade dos pré-adolescentes e adolescentes é hoje muito reduzido. Propor-lhes a vocação sacerdotal ou religiosa não é um ataque à sua liberdade. Antes pelo contrário, promove-a. É um contraponto à influência do ambiente, que em determinadas idades, é quase determinante. Por medo de chegar demasiado cedo, poderemos chegar tarde demais. C) A proposta é, muitas vezes, medíocre, insegura. A tentação de pôr em saldo o convite vocacional reduzindo-o a uma vocação social de serviço ou a uma 25 missão artificiosamente com traços heróicos, não é de todo inusitada. Só as propostas claras e altas despertam no jovem o melhor de si mesmo pela acção do Espírito. Só por amor ao Senhor um jovem embarca numa opção vocacional. D) A proposta pode ser pouco interpeladora, um pouco à imagem do que acontece com a apresentação de um produto de mercado que se oferece “apenas porque pode interessar”, sem revelar a sua importância nem a seriedade diante da questão vocacional. Jesus não chamava assim. Nós confundimos a proposta, que deve ser clara e motivadora para que valha pensar nela, e a decisão positiva ou negativa, que merece todo o nosso respeito. Mas não podemos transformar a interpelação num simples convite “lançado, a ver se cola”, nem pedir complexadamente desculpas aos destinatários por fazer tal proposta. “É chegado o tempo de falar corajosamente da vida sacerdotal como um valor inestimável e como forma esplêndida e privilegiada de vida cristã.” (PDV, 39) II_ Razões eclesiológicas desta prioridade pastoral: A necessidade de presbíteros é vital para a Igreja. Uma Igreja sem vida consagrada empobrecer-se-ia enormemente. A falta de vocações sacerdotais e consagradas em quase toda a Europa é alarmante. A conclusão é imediata: a dedicação dos sacerdotes a suscitar e cultivar estas vocações é claramente prioritária. Explícitemos brevemente o fundo teológico desta declaração. 1_ O ministério sacerdotal assegura à Igreja “serviços básicos” A missão da Igreja consiste em adorar a Deus, viver em comunhão fraterna, anunciar Jesus Cristo com palavras e obras e servir a sociedade, especialmente os pobres. Jesus Cristo, Pastor, capacita continuamente a sua Igreja para que se consagre a esta quádrupla missão. Ele não é o seu fundador defunto, mas o seu pastor vivo. A dependência da Igreja por relação a Ele é como a de um rio por relação à fonte que o alimenta constantemente. Jesus Cristo oferece-lhe os serviços básicos da Palavra, a Eucaristia, os outros sacramentos, o guia que a orienta e 26 a força que a congrega. Alimentada por esses serviços pode a comunidade cristã realizar as quatro tarefas acima referenciadas. Orientada por elas, a comunidade está preparada para que o Espírito Santo semeie nela uma multiplicidade de carismas que enriquecem a Igreja e oferecem ao mundo serviços de valor inestimável. Entre estes carismas é especialmente relevante a vida religiosa. Jesus Cristo, Pastor, realiza a sua missão, respeitando e seguindo a lei da Encarnação: por meio de sinais que O tornam presente, visível e operante. Os ministros ordenados são este sinal autorizado e sacramental de Jesus Cristo, Pastor: oferecem a Palavra de Deus, presidem à Eucaristia, guiam e congregam a comunidade. Não são tudo na Igreja. Eles desenvolvem uma espécie de serviço de intendência que capacita a comunidade cristã para que esta possa dedicar-se ao que lhe é próprio: a adoração, a fraternidade, o anúncio, o serviço. Se esses serviços básicos faltassem, a Igreja definharia irremediavelmente. Os carismas (entre eles o carisma religioso) não poderiam florescer. Consequentemente é evidente que a promoção das vocações, especialmente a sacerdotal e também a religiosa, há-de ser uma tarefa prioritária a que todos os presbíteros, sejam seculares ou religiosos, têm que dedicar especialmente os seus esforços. “É esta uma função que faz parte da própria missão sacerdotal” (PDV 41). 2_ O ministério sacerdotal e a sua missão FACE Aos carismas A nossa Igreja é ao mesmo tempo ministerial e carismática. Sem ministério sacerdotal não há serviços básicos. Sem a riqueza e a variedade dos carismas não há riqueza de vida na comunidade cristã. É verdade que o ministério sacerdotal é também um carisma permanente recebido na ordenação. Não é um carisma como os outros, mas um carisma especial ao serviço de outros carismas. Se todos eles convertem o vocacionado em servidor, o carisma sacerdotal converte-nos em servidores de servidores. Em que consiste este serviço? Em primeiro lugar, em descobrir no interior dos crentes, isto é, em despertar neles o potencial de serviço eclesial e social adormecido e congelado, semeado pelo Espírito. Corresponde ao presbítero ser “ministro da inquietude” e sustentar os servidores quando estes são tentados 27 pelo desânimo ou o cansaço. Em segundo lugar, ao sacerdote corresponde discernir se tais carismas procedem de verdade do Espírito e, nesse caso, ajudá-los a purificar-se de possíveis adesões que não são do Espírito (rigorismo, orgulho, sectarismo, profetismo desencarnado). Podá-los, para que tenham e dêem mais vida. Em terceiro lugar, harmonizá-los para que convirjam entre si e sejam sinal da unidade e diversidade da Igreja. A missão presbiteral é a de “director de coro” que articula e reúne, sem homogeneizar as vozes e as cordas de timbre diferente. Sem o serviço fundamental do ministério sacerdotal a Igreja não atingiria a “temperatura carismática” para que o Espírito semeasse nela os seus carismas. Por esta razão, o ministério ordenado é um “carisma originário”. Sem o seu efectivo serviço os carismas careceriam do elemento coordenador e regulador (cf. PDV 26) que garanta a sua unidade e fecundidade. Por esta razão, o documento dicasterial “Novas vocações para uma nova Europa” que destaca a importância de todas as vocações especiais, enfatiza a necessidade de vocações sacerdotais (n. 22). O ministério sacerdotal implica “o imprescindível dever de promover todas as vocações […] o ministério ordenado [é] para todas as vocações, e todas as vocações [são] para o ministério ordenado, na reciprocidade da comunhão” (ibidem). Cultivar, portanto, todos os carismas, especialmente os religiosos e, especificamente, o carisma sacerdotal é, nestes tempos de escassez, não só coerente com a missão presbiteral, mas necessária e urgente. 3_ O ministério sacerdotal e o sacerdócio comum dos baptizados O Novo Testamento afirma que a Igreja é um organismo sacerdotal (1Pe. 2, 4-5) e que todos os baptizados somos sacerdotes (Ap 1, 5-6). Trata-se de um sacerdócio existencial. Por outras palavras: a nossa existência vivida no amor a Deus e aos irmãos é a oferenda que fazemos ao Pai, unidos a Cristo. Ao entregá-la exercemos o nosso sacerdócio comum. O exercício máximo deste sacerdócio é a participação na Eucaristia. Nela fazemos a oferta de toda a nossa vida. O sacerdócio especial dos bispos e presbíteros está ao serviço do sacerdócio comum. Visa estimular e avivar em todos os cristãos tal sacerdócio, oferecendo-lhes luz, a companhia e o testemunho que precisam para exercê-lo. “A sua figura e o seu papel na Igreja não substitui, mas antes promovem o sacerdócio baptismal de todo o Povo de Deus, conduzindo-o à sua plena actuação eclesial, encontrando-se numa relação positiva e promotora com os leigos. Eles estão ao serviço da fé, esperança e caridade destes” (PDV 17). 28 A imensa multidão de vocações laicais fica desprovida do seu catalisador necessário se lhe falta o serviço sacerdotal e o testemunho sacerdotal. Analogamente, muitas vocações laicas recebem grandes apoios formativos e testemunhais de vários carismas religiosos. A saúde integral do povo cristão depende, portanto, em grande medida, da qualidade e do número suficiente de vocações sacerdotais e religiosas. 4_ O ministério sacerdotal e O seu “dinAMISMO REPRODUTOR” “Nada é mais lógico e coerente do que uma vocação que gera outras vocações” (Novas vocações... n º 6). Todo o ser vivo tem um dinamismo reprodutor que assegura a conservação da espécie. Dentro da Igreja, o ministério sacerdotal leva “nos seus genes” esse mesmo dinamismo. É o Espírito que suscita vocações. Mas o presbítero colabora com o Espírito na concepção e geração de todas as vocações especiais e, muito particularmente, das vocações sacerdotais. Um presbítero deve procurar com afinco e oração perpetuar-se em novos sacerdotes suscitados pelo seu ministério. Há no carisma sacerdotal um movimento de paternidade que se condensa especialmente nas vocações presbiterais que, sempre sob a acção do Espírito, geram na Igreja e para a Igreja. III_ Atitudes e tarefas necessárias para a promoção vocacional 1_ Atitudes A primeira consiste em assumir teórica e praticamente a prioridade desta tarefa sobre muitas outras do seu ministério. A nossa actividade pastoral deve ser devidamente hierarquizada. E aí, a promoção vocacional há-de ocupar as primeiras posições. Não basta argumentar que estamos muito ocupados com outras tarefas importantes. Na medida em que sejamos capazes, a actividade vocacional (propor, convidar, acompanhar) deve entrar no nosso programa de trabalho e ser avaliada periodicamente. A (alta) qualidade do nosso testemunho do Evangelho é outra das atitudes necessárias. Alguns especialistas dizem que a capacidade simbólica (a de perceber e deixar-se afectar e mobilizar pelos sinais) está muito diminuída na nossa sociedade. Pode ser que tenham razão. Mas se os sinais são de alta qualidade, continuam a ser interpeladores e mobilizadores. Uma Teresa de Calcutá, 29 um Mons. Romero, uma freira do Ruanda ou da Argélia interpelam de verdade. Um sacerdote entregue de corpo e alma, pobre e orante, chama com a sua vida e cria inquietações saudáveis nos seus paroquianos. “O testemunho suscita vocações” (Bento XVI). A alegria de uma vida sacerdotal surpreende e faz-nos pensar os jovens à nossa volta. Não tem porque coincidir com a jovialidade ou a juvenilidade de certos temperamentos presbiterais. A alegria é outra coisa. É sentir-se bem na sua pele. É viver centrado na sua missão. É a capacidade de encaixar “desportivamente” as dificuldades e contratempos. Ela leva-nos a perceber o lado positivo das pessoas e da vida. Ela torna-nos imunes ao desânimo. Torna-nos aptos para comunicar a vontade de viver. Ela possui a virtude de despertar nas pessoas o melhor de si mesmas e atenuar o pior que levam dentro de si. A proximidade aos jovens é também uma atitude imprescindível. Consiste em primeiro lugar no trato frequente e familiar com os jovens. Aí comunica-se muitas vezes por osmose o próprio projecto de vida. Aí dá-se o processo de identificação, inerente ao nascimento de uma vocação. Não estamos muitos sacerdotes demasiado “ocupados” para “perder tempo” com os jovens? Além disso, a proximidade consiste numa atitude basicamente positiva diante das gerações jovens, sem esquecer as suas grandes lacunas, não adopta diante deles uma posição de suspeita e estranheza e, mais importante ainda, ama-os. Com João Paulo II notava-se bem que amava os jovens. Junto com o amor, é necessária a esperança. Todo o primeiro capítulo da minha conferência reflectiu sobre a provação a que está submetida hoje a esperança do sacerdote na área vocacional. O surgimento e a estabilidade das vocações são precários. A nossa esperança poderia soçobrar se não aprofundamos a convicção de que Deus não pode negar à sua Igreja o que lhe é necessário, e se ao mesmo tempo não alimentamos esta convicção por meio da oração continuada pelas vocações. “O Espírito Santo não cessa de chamar os filhos desta Igreja a se fazerem anunciadores da mensagem de salvação em todas as partes do mundo” (Novas vocações… n º 1). A própria dificuldade e delicadeza desta pastoral há-de ser um estímulo para uma melhor preparação. A mensagem da Escritura, a teologia e a psicologia vocacional, a espiritualidade própria dos chamados e dos que chamam hão-de ser assimilados pelos presbíteros que se animem a desempenhar decididamente este importante ministério. 30 Quando essas atitudes tomam corpo no trato do sacerdote ou de uma religiosa educadora, na proximidade aos jovens crentes, estes confiam-lhes a sua intimidade, os seus projectos, os seus medos, problemas familiares, afectivos, sexuais, religiosos. A experiência de ser confortado, consolado e iluminado pelo sacerdote é uma ocasião única para que este jovem experimente na sua carne o valor de uma vida consagrada ao ministério ou à educação. Acontece então algo que a psicologia evolutiva conhece bem. Como o amor recebido dos pais vai tornando uma criança sujeito activo, capaz de amar, o serviço generoso recebido do sacerdote ou religioso desperta em alguns deles um movimento de identificação, pelo que se questionam se o seu caminho não consistirá em oferecer a outros este mesmo serviço. 2_ Tarefas Sensibilizar a comunidade paroquial sobre a necessidade de sacerdotes e de outras vocações de especial consagração e suscitar o desejo activo de que nela nasçam tais vocações, é tarefa própria de um sacerdote lúcido e motivado nesta importante área. A pregação, o dia de oração pelas vocações, o tratamento deste assunto no Conselho Pastoral são meios adequados. Uma comunidade paroquial desenvolvida deve ter uma equipa de vocações no seu seio. Às vezes, o Conselho Pastoral atrevese a desafiar alguns jovens ou adultos aptos que se coloquem na primeira pessoa a questão vocacional. Os pais destes jovens precisam da proximidade do sacerdote. Para dissipar os medos e preconceitos. Para estimular o respeito à inclinação do rapaz ou rapariga. Para lhes lembrar a responsabilidade que têm, como crentes, de apoiar e não atrapalhar as opções do seu filho. Para denunciar com suave firmeza o instinto de protecção inadequada ou as ambições que se foram forjando sobre o futuro dos seus filhos. Nos catequistas e professores de religião o sacerdote deve semear a inquietação por favorecer o surgimento destas vocações especiais, nomeadamente a vocação ao ministério. Para que esta inquietude seja lúcida, será necessário proporcionar--lhes sessões de mentalização, sensibilização e formação acerca do mundo vocacional. Terá sempre especial relevo o convite directo a jovens ou adultos que apresentem sinais de aptidão humana e religiosa, bem como convite geral a todos nos espaços catequéticos ou académicos. Se se mostram dispostos a um discernimento será preciso acompanhá-los. Se se retraem, será bom que gentilmente lhes perguntemos o porquê e os ajudemos a identificar as suas resistências e os seus medos. Naturalmente um convite deste tipo supõe uma condição prévia, uma proximidade recíproca entre o sacerdote e os destinatários do chamamento. 31 IV_ Alguns FACTOS DE QUE DEVEMOS TIRAR LIÇÕES Ao chegar a este momento, há uma questão muito viva que não devemos ignorar: a par do inverno vocacional na Europa Ocidental há espaços eclesiais em que surgem vocações relativamente numerosas. A nossa reacção espontânea é fortemente crítica diante das propostas que se formulam em tais espaços. Dizemos que forçam os jovens, os isolam, criam gerações “contra a corrente”, que agregam rapazes e raparigas pouco equilibrados... É possível que, pelo menos nalgum destes grupos tenha certo fundamento a crítica agora formulada. Mas com essa crítica não percebemos o problema, se isso não nos levar a uma auto-crítica. Pode ser que essas práticas talvez desfocadas, cultivem, à sua maneira, alguns aspectos que podemos estar a descuidar na nossa pastoral vocacional. Vejamo-lo com algum detalhe. 1_A iniciação dos jovens à oração Não me refiro às experiências de intimidade compartilhada e emotiva em que se gera um ambiente em que “se está bem” uns com os outros. Nem de sessões excessivamente intensas, longas e prematuras que são uma péssima pedagogia para preparar a oração adulta e contínua de amanhã. Refiro-me a essa oração individual e compartilhada, na qual Deus que simplesmente me atrai se converte para mim num Deus que atrai e interpela. Ensinar os jovens cristãos a rezar é fundamental para suscitar vocações. Ajudá-los a introduzir a oração diária ou frequente no seu projecto de vida pessoal parece-me capital. Iniciá-los aos inumeráveis e preciosos textos de vocação que estão contidos tanto no Antigo como no Novo Testamento fornecendo-lhes questionários adequados e comentários adaptados parece uma forma excelente de “provocar” o chamamento de Deus. Tenho ampla experiência pessoal que suporta esta afirmação. 2_ A prática do acompanhamento espiritual Não se pode negar que a direcção espiritual clássica continua a ser um instrumento delicado. Pode ser motor de crescimento e liberdade progressiva ou condicionamento excessivo criador de dependência. Aparentemente, a prática da direcção espiritual nalguns destes grupos nem sempre é saudável. Não tenho intenção de me referir a estes possíveis abusos. 32 33 Mas se Deus tem um projecto pessoal sobre a minha vida, será necessário um discernimento para o conhecer. Ele não costuma falar através de sinais fulgurantes e evidentes. Tampouco o seu chamamento é tão enigmático que não se possa decifrar. É nesse claro/escuro que se situa o discernimento. Acompanhado pelo director (ou directora) espiritual, o rapaz ou a rapariga, ainda pouco capazes de dar nome ao que sentem ou percebem, vão lendo os sinais que Jesus lhes emite e identificam o seu chamamento concreto. “É preciso redescobrir a grande tradição do acompanhamento espiritual pessoal, que sempre deu tantos e tão preciosos frutos, na vida da Igreja” (PDV 40). É necessário que este acompanhamento seja muito amplo em extensão: não deve reduzir-se ao aspecto vocacional, mas alargar-se a todos os aspectos da vida do acompanhado. A vocação concreta desenvolve-se no contexto de uma vida biológica, mental, sexual, social, moral, religiosa, eclesial. Condiciona todos estes aspectos e é condicionada por eles. É bom que quem acompanha os conheça para os ajudar a discernir. Além de extensão, o acompanhamento há-de ter profundidade. No discernimento vocacional é necessário chegar até às motivações de inclinação vocacional. Sob a referida inclinação podem esconder-se o desejo de protagonismo, o espírito do “sonhador incurável”, o temor à intempérie da vida civil, a baixa auto-estima, o sentimento de ser moralmente vulgar, o medo à mulher ou ao homem, a incomodidade diante do próprio corpo, a homossexualidade latente. No diálogo do acompanhamento emergem estes motivos. Haverá que discernir se são determinantes ou simplesmente concomitantes. Haverá que proceder a uma purificação destas motivações. Haverá que detectar e suscitar outras motivações de cunho mais genuinamente evangélico. 3_ A forte consciência de pertença ao grupo Grupos que atraem bastantes vocações consagradas são geralmente bem definidos: sabem que o são. Não são comunidades de imprecisos nem de indecisos. É possível que as suas previsões sejam às vezes excessivas e as suas decisões prematuras. Mas ensinam-nos que um grupo cristão, por juvenil que seja, há-de ter um certo nível de definição. Nem todos o têm. Pode existir nestas comunidades uma “mística de grupo”, que comporta uma alta valoração da sua comunidade, uma grande dependência dos líderes e um sentimento de pertença e fidelidade bem definidos. 34 Os nossos grupos paroquiais têm, geralmente, a temperatura grupal muito baixa. Sem favorecer o intimismo, devemos promover a intimidade. Sem criar dependências da comunidade, havemos de cultivar a coesão interna e externa (com outros grupos e com a paróquia). É necessário que estes grupos vão crescendo em identidade. Para o conseguir é necessário que tenham objectivos definidos e claramente cristãos. Estes grupos de jovens não devem isolar os seus membros da relação e do sentimento de pertença à geração juvenil. Mas devem ser o suficientemente fortes para neutralizar as dependências negativas que lhes chegam da dita geração. Se o grupo é especificamente vocacional, a preocupação para que o grupo não seja o único na sua vida há-de tomar-se a sério. Assim se evita o “cheiro de sacristia”, o ar de “plantas de estufa” que caracteriza alguns grupos vocacionais. 4_ A radicalidade da proposta Os grupos “fecundos” podem colocar-se metas altas e às vezes precipitadas. Neles se utiliza uma metodologia formativa, uma certa “terapia de choque”. Ressaltam os elementos de contraste e de oposição da sua vocação em relação aos modelos juvenis reinantes. Despertam a capacidade de se opor. Plasmam a sua oposição diante destes modelos de comportamento juvenil: a vivência descontrolada da sexualidade, o abuso do álcool e das drogas, o culto do dinheiro, o hedonismo como valor altamente cotado. Cria-se nestas comunidades de contraste a consciência de pertença a um grupo selecto e puro, livre da vulgaridade e escravização dos jovens oprimidos “no mundo”. Não é saudável uma educação indivídual e de grupo que sublinhe tanto o contraste e a oposição do jovem com o mundo e com o seu mundo. Mas tampouco o é aquela pedagogia que não cultiva a contradição do cristão a respeito de certas atitudes, comportamentos e estilos de vida desumanos, não solidários, irreflectidos. É preciso contestar, a partir da comunhão, feita de sentido de pertença e de amor. Tampouco nunca terá identidade cristã um grupo que não se coloque metas altas e evangelicamente exigentes. Se rebaixamos o Evangelho torná-lo-emos não atractivo para os jovens que lhe são mais sensíveis. No entanto, as metas altas devem ser acompanhadas de uma gradualidade que evite maturidades precipitadas e abandonos por desistência e impotência. 35 5_A FORMAÇÃO SACERDOTAL NOS SEMINÁRIOS DE PORTUGAL 36 37 A formação sacerdotal nos Seminários de Portugal comunicado final Os Formadores dos Seminários de Portugal, reunidos em Encontro Nacional, de 31 Agosto a 3 Setembro de 2010, em Angra do Heroísmo (Açores), reflectiram sobre a formação sacerdotal nos Seminários de Portugal, com o tema Seminário, escola dos discípulos de Cristo e de irmãos no presbitério. Da reflexão realizada ao longo destes dias partilhamos nesta comunicação os elementos principais. Orientados pelo P. Emílio González Magaña, SJ (Professor na Universidade Pontifícia Gregoriana e Director do Centro Interdisciplinar para a Formação dos Formadores ao Sacerdócio), os trabalhos foram acompanhados pelos Presidente e Vogal da Comissão Episcopal Vocações e Ministérios, respectivamente D. António Francisco dos Santos, Bispo de Aveiro e D. Jacinto Tomás de Carvalho Botelho, Bispo de Lamego, e D. António de Sousa Braga, Bispo de Angra. Estiveram presentes elementos das Equipas Formadoras das seguintes Dioceses: Algarve; Angra; Aveiro; Beja; Braga; Bragança-Miranda; Coimbra; Évora; Funchal; Lamego; LeiriaFátima; Lisboa; Porto; Setúbal; Viana do Castelo; Viseu. Sentimos grande preocupação com as dificuldades que enfrentam os jovens, devidas em grande parte à sua vulnerabilidade e ao debilitamento da sua identidade espiritual, ao impacto de alguns dos actuais modelos culturais e à frágil situação das famílias, que também incidem na diminuição das vocações sacerdotais e religiosas. Formar sacerdotes, no contexto actual, é um grande desafio colocado à nossa responsabilidade de pastores. Um bom Seminário é a garantia de uma Igreja particular florescente e fecunda. Daí que, nas nossas reflexões, nos tenhamos detido a considerar algumas directrizes que nos ajudem a reflectir sobre o projecto de formação do Seminário, capaz de oferecer aos seminaristas um verdadeiro processo integral: humano, espiritual, intelectual e pastoral, centrado em Jesus Cristo, o Bom Pastor. Nestas reflexões centramo-nos, sobretudo, nas áreas humana e espiritual, a fim de oferecer uma ajuda na complexa formação pastoral dos jovens seminaristas. A formação humana no Seminário. Tomamos como ponto de partida a afirmação da Pastores Dabo Vobis: “Sem uma oportuna formação humana, toda a formação sacerdotal ficaria privada do seu necessário fundamento” (n. 43). A influência da cultura actual incide, tanto positiva como negativamente, em muitos aspectos da maturidade humana dos candidatos ao sacerdócio, pelo que se requer uma formação que os conduza a 38 tomar decisões definitivas e a comprometer-se livremente como o exige a opção pelo ministério sacerdotal. É uma grande responsabilidade para toda a comunidade formadora assegurar que os futuros sacerdotes cultivem um conjunto de qualidades humanas que lhes permitam formar uma personalidade madura e livre, que os tornem capazes de se relacionarem com harmonia e suportar o peso da responsabilidade pastoral. O sacerdócio é uma vocação de seguimento de Cristo “que, sendo rico, se fez pobre por vós, para nos enriquecer com a sua pobreza” (2 Cor 8, 9). A fidelidade ao ministério requer aquelas virtudes que mais se apreciam entre os homens, virtudes que educam o sacerdote para a renúncia e a superação das ambições para não se afastar da imitação de Cristo “como são a sinceridade, a preocupação constante da justiça, a fidelidade às promessas, a urbanidade no trato, a modéstia e caridade no falar” (Optatam totius, 11). A formação humana reclama um acompanhamento específico e uma predisposição para favorecer um autêntico clima de confiança entre formadores e formandos, que facilite a transparência para conhecer e resolver as dificuldades no desenvolvimento psicológico do seminarista. O sacerdócio requer a educação para uma vida ascética que capacite para a disciplina, a renúncia, a mortificação e o domínio dos sentidos. A formação deve ajudar a atingir uma liberdade interior que mantenha os candidatos disponíveis para o seguimento de total doação a Cristo e ao serviço dos homens. É urgente educar os candidatos ao sacerdócio para uma afectividade madura que lhes possibilite manter relações prudentes e estabelecer contactos de cooperação apostólica com as mulheres, em consonância com a opção pelo celibato e pelo Reino dos céus. É de grande importância formar os aspirantes ao sacerdócio, para que saibam relacionar-se com respeito, afecto e proximidade com o Bispo e com os que exercem a autoridade. Nos seminários é importante fomentar todo o tipo de formas de integração comunitária, que amadureçam no sentido da solidariedade, da capacidade de dar e receber a correcção fraterna e que sejam estímulo para superar o individualismo e o isolamento. A formação comunitária deve promover um ambiente de fraternidade, amizade, serenidade e alegria, de liberdade e de confiança, mas também de ideais elevados e de normas claras e exigentes, que permitam a abertura do candidato às exigências da vida sacerdotal e que o ajudem a crescer nas diversas virtudes segundo o modelo de Cristo. 39 No campo dos problemas psicológicos, por vezes, tem que se contar com ajuda especializada, tendo muito em conta as orientações estabelecidas recentemente pela Congregação para a Educação Católica (cf. “Orientações para o uso das competências psicológicas na admissão e na formação dos candidatos aos sacerdócio”, especialmente no capítulo IV). Os actuais meios tecnológicos constituem ferramentas válidas no domínio da informação e comunicação. No entanto, também se podem tornar um factor negativo no campo da formação se não se educam os jovens no recto uso dos mesmos, como no caso da Internet, dos telemóveis e outros meios modernos, e se não se regulamenta a sua utilização. A formação espiritual no Seminário Actualmente, um número considerável de jovens que aspiram ao sacerdócio carece de uma sólida formação cristã e de uma autêntica vivência da sua realidade baptismal. É necessário, portanto, que os seminários e as casas de formação religiosa, especialmente no período prévio, ofereçam uma iniciação kerigmática, pela qual os candidatos ao sacerdócio possam viver com alegria o dom do encontro com Jesus Cristo e consigam converter-se em autênticos discípulos missionários que respondam à vocação recebida. A este respeito, o Santo Padre recordou-nos que no “início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo” (Deus caritas est, 1). É decisivo para a formação espiritual do candidato incutir, desde o início do caminho formativo, a consciência clara de ser ele próprio o principal, embora não único, responsável pela sua formação sacerdotal. É sua finalidade conseguir abrir à acção do Espírito Santo para chegar à adesão plena à pessoa de Jesus Cristo e à conformação com os seus pensamentos, palavras e acções. Em particular, o futuro sacerdote está chamado a ter um coração misericordioso como o de Jesus, assumindo na sua própria vida, o que afirma o apóstolo S. Paulo: ter os mesmos sentimentos de Cristo (cf. Flp 2, 5) para testemunhar a proximidade do Senhor aos pecadores, aos que sofrem, aos marginalizados e necessitados. A vida no Seminário direcciona-se para formar no sacerdote um amor profundo pelo sacramento da Eucaristia, que deve constituir sempre o centro e o eixo de toda a sua vida e actividade, e a fonte donde brote a sua força de discípulo missionário (cf. Sacrosanctum Concilium, 10). Por isso, se deve fomentar uma atitude de grande reverência e amor ao Santíssimo Sacramento, que constitua um testemunho vivo da sua vida interior. 40 De acordo com as recomendações da Pastores Dabo Vobis, vivemos “numa cultura que, com renovadas e cada vez mais subtis formas de auto-justificação, se arrisca a perder fatalmente o “sentido do pecado”, e, em consequência, a alegria consoladora do pedido de perdão (cf. Sal 51, 14) e do encontro com Deus “rico de misericórdia” (Ef 2, 4). Urge educar os futuros presbíteros para a virtude da penitência, que é sapientemente alimentada pela Igreja nas suas celebrações e nos tempos do ano litúrgico e que encontra a sua plenitude no sacramento da Reconciliação” (n. 48). É, igualmente necessário, fomentar em cada futuro sacerdote um amor profundo e uma experiência pessoal do mistério de Cristo celebrado nos diversos actos litúrgicos da Igreja. A Palavra de Deus lida, meditada e estudada, pessoal e comunitariamente, sobretudo através da lectio divina, e na recitação dedicada da Liturgia das Horas, deve constituir o alimento fundamental da oração, da espiritualidade do futuro sacerdote e da sua prática pastoral. Também é necessário que na celebração dos mistérios se cultive o sentido do sagrado. Fortalecidos com o amor do Espírito Santo, a formação espiritual do seminarista deve ter como um dos seus principais objectivos, de forma concreta e directa, a vivência e a prática da caridade e o serviço ao próximo, despertando nele a experiência de comunhão com Deus, que o orienta, naturalmente, na procura de comunhão com os irmãos. Portanto, a vida da comunidade e o ambiente que se respira no Seminário devem propiciar no futuro sacerdote uma atitude de permanente contacto e abertura à presença da Santíssima Trindade. Para que o formando possa discernir claramente a sua vocação ao sacerdócio ministerial, o Seminário e as casas de formação religiosa proporcionarão e exigirão uma direcção espiritual de confiança, transparente, estável, unida com a celebração frequente do sacramento da Reconciliação. Ao mesmo tempo, na vida espiritual, o candidato deve adquirir a capacidade e o hábito de procurar momentos de diálogo íntimo e pessoal com Deus, imitando o exemplo de Jesus e da sua relação filial com o Pai, com o objectivo de desenvolver um equilíbrio enriquecedor entre a oração litúrgica ou comunitária e a vida de oração pessoal. Para isso é conveniente, sobretudo no início, instruir o candidato em determinadas técnicas ou métodos de oração a que se entregue, até que chegue pouco a pouco a um estilo e método próprio na relação íntima com Deus. 41 Tendo como inspiração a Encarnação do Filho de Deus, a sua vida oculta e o exemplo de servo que carrega a cruz todos os dias, a formação espiritual deve suscitar no seminarista uma atitude de entrega generosa, de espírito de sacrifício, de capacidade de renúncia e de controle pessoal. Assim, o Seminário há-de propiciar e exigir o desenvolvimento do sentido de responsabilidade pessoal face ao que lhe foi confiado, como alguém que procura configurar-se a Cristo na obediência total à vontade do Pai; há-de fomentar-se a laboriosidade, a corresponsabilidade e a atitude de serviço, à imagem de Jesus Cristo que não veio para ser servido mas para servir (cf. Mc 10, 45). Contemplando Maria, a discípula perfeita, a Mãe do silêncio, a Mãe da incompreensão, a Mãe orante e contemplativa, a Mãe fiel, a Mãe da Igreja e a Mãe do sacerdote, que com um “sim” total a Deus em cada momento, esteve sempre disposta a cumprir a vontade divina, o Seminário deve promover um profundo amor e uma especial devoção à Santíssima Virgem que conduza ao encontro vivo com o Senhor. Ela, a Mãe de Jesus e nossa Mãe, tutela a fidelidade da vocação sacerdotal. Os candidatos à vida sacerdotal devem receber uma séria formação bíblica, teológica e espiritual, para assumir e viver fielmente o celibato, testemunho do amor indiviso a Jesus Cristo, como um dom de Deus e como um sinal do Reino, do amor de Deus a este mundo e da sua própria entrega ao povo de Deus (cf. Pastores Dabo Vobis, 29). Certamente, trata-se de uma graça que não dispensa a resposta consciente e livre por parte de quem a recebe, o qual deve abrir-se à acção do Espírito Santo para que o ajude a permanecer fiel durante toda a sua vida e a cumprir com generosidade e alegria os compromissos correspondentes. Portanto, o bispo, bem como os formadores do Seminário, devem preocupar-se com a formação da castidade no celibato, apresentando este último com clareza, sem nenhuma ambiguidade e de forma positiva (cf. ibid., 50). O Seminário deve estimular nos seus alunos o desenvolvimento da espiritualidade, da caridade pastoral própria do sacerdote diocesano cujas linhas fundamentais são: consciência de ser chamado pelo Pai e conduzido pelo Espírito Santo a uma configuração com Cristo, Bom Pastor, Sumo e Eterno Sacerdote. Fazer do exercício fiel quotidiano do tria munera do ministério sacerdotal o itinerário por excelência para a santificação pessoal, como ensina o Concílio Vaticano II: “Pelos ritos sagrados de cada dia e por todo o seu ministério exercido em união com o Bispo e os outros sacerdotes, eles mesmos se dispõem à perfeição da própria vida” (Presbyterorum Ordinis, 12) e os “presbíteros atingirão a santidade pelo próprio exercício do seu ministério, realizado sincera e infatigavelmente no espírito de Cristo” (ibid., 13). A vivência da caridade pastoral “assinalada, plasmada, conotada por aquelas atitudes e comportamentos que são próprios de Jesus Cristo, Cabeça 42 e Pastor” (Pastores Dabo Vobis, 21), posta permanentemente ao serviço do povo de Deus. A pertença e consagração à sua Igreja particular, como membro do presbitério, a que pertence por toda a sua vida, como um colaborador próximo do bispo e em comunhão com ele. A equipa de formadores A equipa de formadores do Seminário constitui uma ajuda preciosa para os bispos na missão de acompanhar e propor uma recta e sólida formação aos candidatos ao sacerdócio. O trabalho em equipa, o testemunho de vida e o espírito de comunhão com o bispo “oferece aos candidatos ao sacerdócio o exemplo significativo e a concreta introdução naquela comunhão eclesial que constitui um valor fundamental da vida cristã e do ministério pastoral” (Pastores Dabo Vobis, 66). Os formadores são chamados pelo bispo a exercer, em espírito de unidade, co-responsabilidade e fraternidade, o sublime ministério pastoral de formar os futuros sacerdotes do povo de Deus. Dado que se trata de uma tarefa que exige o acompanhamento permanente dos seminaristas, é oportuno que o exercício desta enorme responsabilidade eclesial tenha uma certa estabilidade, que os membros da equipa residam habitualmente na comunidade do Seminário e que estejam intimamente unidos ao bispo, como primeiro responsável da formação dos sacerdotes. Ser formador de futuros sacerdotes é um carisma que se descobre e se desenvolve no serviço abnegado de cada dia no Seminário. O reitor, os directores espirituais e demais formadores vivam este carisma em contexto de formação permanente como fiéis discípulos e missionários. Esta missão transcendental e insubstituível para toda a Igreja deve realizar-se com espírito de fé, de confiança plena no poder da graça e com uma alegria e entusiasmo quotidianos que sejam expressão sincera do grande amor a Jesus Cristo e à sua Igreja. A eficácia e os frutos deste serviço pastoral estão vinculados ao modo como os próprios formadores vivem a sua vocação e como a expressam no acompanhamento ao formando, no trabalho de equipa e no espírito de comunhão. A vocação sacerdotal é um grande dom de Deus, ao qual se deve responder com muita generosidade e total entrega, uma vez que o sacerdote tem de configurar-se com Jesus Cristo, Bom Pastor, Cabeça e Guia da Igreja. É necessário, portanto, que os formadores acolham os seminaristas com a gratidão e a alegria com que se recebem os dons que Deus dá às dioceses. 43 Constitui um dever da equipa de formadores ter critérios muito claros tanto para a selecção como para a formação dos candidatos que ingressam no Seminário, os quais devem ser ajudados a crescer na rectidão de intenção para um autêntico seguimento do Senhor e a tomar consciência de que se preparam para ser “alter Christus”, cumprindo com responsabilidade a missão que a Igreja lhes confia. Por outro lado, corresponde aos bispos cultivar com os seus seminaristas e presbíteros um estilo de relação fundamentada na fé, na sinceridade, na proximidade, na abertura e na confiança, dentro de um espírito de paternidade e amizade, superando uma comunicação puramente funcional e esporádica. É, portanto, muito importante que o bispo tenha um conhecimento pessoal e profundo dos candidatos ao presbiterado na sua própria Igreja particular. “Com base nestes contactos directos, ele procurará fazer com que, nos Seminários, sejam formadas personalidades maduras e equilibradas, capazes de estabelecer sólidas relações humanas e pastorais, teologicamente preparadas, fortes na vida espiritual, amantes da Igreja” (Pastores gregis, 48). Corresponde também aos bispos promover e organizar uma séria e profunda formação permanente para todos os presbíteros, de maneira que respondam com generosidade e fidelidade ao dom e ao ministério recebido, e para que o entusiasmo pelo ministério não diminua, mas que, pelo contrário, aumente e amadureça com o passar dos anos, tornando mais vivo e eficaz o sublime dom recebido (cf. 2 Tm 1, 6; Pastores Dabo Vobis, 79; Pastores gregis, 47; Congregação para os bispos, Directório para o ministério pastoral dos bispos “Apostolorum successores”, 2004, n. 83). Tal formação permanente, portanto, deve ser activada já desde a vida do Seminário. 44 Constituindo o Seminário o “coração da diocese” e sabendo que do andamento do Seminário depende a existência de bons sacerdotes, é necessário que os bispos escolham os melhores membros do seu clero na constituição da equipa do Seminário. Assim, os bispos devem ser os primeiros a sentir a grave responsabilidade na formação dos encarregados de educação dos futuros presbíteros (cf. Pastores Dabo Vobis, 66), para que os formadores, como também os professores das diversas disciplinas, não apenas as teológicas, se distingam por uma segura doutrina e tenham uma suficiente preparação académica e capacidade pedagógica (cf. Directório para o ministério pastoral dos bispos, n. 89). Finalmente, o bispo deve ter especial cuidado no acompanhamento dos seus sacerdotes, particularmente dos mais jovens, e oferecer-lhes apoio e fortaleza no exercício do seu ministério sacerdotal. Angra do Heroísmo, 3 de Setembro de 2010 45 6_PASSA E CHAM CATEQUESE PARA A ADOLESCÊNCI 46 MA IA 47 Passa E chama O seguinte guia é apenas um esquema para a catequese, competindo ao catequista, que conhece a realidade onde está inserido, utilizar livremente o material e as dinâmicas, de forma a atingir os objectivos propostos. CATEQUESE PARA A ADOLESCÊNCIA Objectivos • Reflectir sobre o Jesus que passa em cada uma das nossas vidas. • Conhecer o rosto daquele que nos chama. • Perceber qual a missão a que Jesus nos Chama. • Aprofundar a exigência de se ser discípulo de Jesus. • Rezar pelo ministério sacerdotal. Material • Música e letra de “Queremos Ver Jesus” in Bom Mestre, Edições Salesianas, 2010. • Diversos Rostos de Jesus Cristo • Bíblia. 48 DINÂMICA Pode começar-se este encontro com uma actividade de introdutória: o jogo das 10 perguntas. Um dos participantes escolhe o nome de um personagem famoso. Os outros participantes dispõem um máximo de 10 perguntas para descobrir o nome do personagem. Só se admitem perguntas directas, que possam ser respondidas com “sim” ou “não”, do género: “Está vivo?”; “É homem?”; “É cantor?”... Depois de algum tempo a jogar, o catequista convida participantes a escutarem a canção “Queremos ver Jesus” (convém que todos tenham a letra) e explica que esta actividade é como o jogo, ou seja trata-se de descobrir quem é Jesus, qual é o seu rosto. O catequista espalha pela sala algumas imagens de Jesus. Convidam-se os participantes a escolher aquela que mais lhes agrada, a que mais os interpela. Seguidamente cada um dos participantes mostra ao resto do grupo a imagem e explica-a, descrevendo a importância que Ele tem na sua vida pessoal. Depois de todos terem partilhado, o catequista faz a sua síntese: este Jesus que conhecemos, que tem um rosto, que nos revela um Deus, tem um projecto para cada um de nós. É este mesmo Jesus que passa pela nossas vidas e nos chama a uma missão, a uma vocação. Chamou e chama homens para serem, também hoje o seu rosto visível, ao assumirem os Seus gestos, palavras e atitudes, como sacerdotes ou vocacionados. DINÂMICA O catequista desenvolve a sua catequese reflectindo em todos ou em alguns dos textos que se seguem. Jesus passa e vai distribuindo o convite a segui-Lo. 1_ Logo no início da sua missão, chama os primeiros discípulos: Jo 1,35-46. • Que dizem as várias personagens de Jesus? • Cada chamamento acontece de forma diferente. Exemplifica. • Quais os verbos que significam seguimento? 49 2_ Chama outros como um jovem rico: Mc 10, 17-27 • Quais foram as razões que levaram o jovem a não aceitar o convite de Jesus? 3_ Chamou mais tarde Saulo, o perseguidor dos cristãos: Act 9,1-19 • Identificai histórias de vida, de ontem e de hoje, e recordai alguma vocação semelhante à de Paulo? Trabalho de Grupo Cada grupo recria uma história semelhante à do jovem rico, mas ocorrida na actualidade. Jesus passa pelo nosso tempo e pelos nos espaços: escola, centros comerciais, salas de festa, famílias... Dirige a Palavra... os jovens apresentam as suas desculpas... Jesus fica triste e desabafa. Plenário Cada grupo dramatiza a sua história. Conclui-se: Jesus continua a chamar, não é fácil arriscar na sua Palavra, pois é preciso conhece-l’O bem para O seguir. 50 7_PROCURAM-SE AMIGOS CATEQUESE PARA OS JOVENS 51 Procuram-se amigos Catequese para OS jovens Objectivos • Reflectir, a partir da Sagrada Escritura, os diferentes momentos em que Deus chama. • Reconhecer que Jesus continua a chamar hoje. • Viver como discípulo de Jesus Cristo. • Descobrir a vocação sacerdotal. • Experimentar a vocação como um dom pessoal. • Rezar pelas vocações e pelos seminários. Material • Texto: Um anúncio do jornal. • Bíblia. 52 DINÂMICA Distribuir ou ler o seguinte texto por forma a que ele provoque interrogações e respostas. Uma manhã, nos escritórios de publicidade de um grande jornal, apresentou-se um homem com cerca de trinta anos. Pediu a publicação de um anúncio. Teve de estar na fila até ser atendido. Quando chegou a sua vez, apresentou o impresso já preenchido. O empregado pegou no papel, com a ponta da esferográfica, contou de pressa e distraído as palavras. Sem levantar os olhos, perguntou: - Oferta de trabalho, não é verdade? O homem respondeu: - Sim, procuro operários. Depois de ter consultado o tarifário, o empregado disse: - São 15 euros. O homem tirou a carteira do bolso, entregou-lhe o dinheiro, recebeu o troco, despediu-se e saiu para a rua. O empregado meteu o anúncio na pasta dos anúncios a sair na próxima edição. Estava para dobrar o impresso e reparou que estava assinado com a palavra “Jesus Cristo”. Foi então que leu o texto que dizia: “Querendo construir um mundo novo e precisando de colaboradores, procuro jovens generosos”. Com o papel na mão, ainda saiu a rua à procura desse misterioso indivíduo que lhe entregara tal anúncio. Mas nunca mais o viu. Ao regressar ao escritório, interrogou-se: “Que devo fazer? Isto é ridículo. Deve ser alguém a gozar comigo!” Pediu a opinião aos colegas, que lhe disseram: - Se ele pagou, o anúncio deve ser publicado. O Jornal no dia seguinte publicou o anúncio. Logo de manhã, filas intermináveis de rapazes e de raparigas apresentaram-se no escritório do jornal a pedir informações mais precisas acerca desse “mundo novo”, porque queriam “dar uma ajuda a Jesus Cristo”. Interpelar com esta ou outras questões: Porque é que Jesus Cristo, se é Filho de Deus, procura colaboradores? Quais as características desse mundo novo que deseja construir? Conheceis jovens que dão uma ajuda a este projecto de Jesus Cristo? Que vos sugere a palavra “sacerdotes”? 53 TRABALHO DE GRUPO A fim de compreendermos melhor porque necessita Deus das pessoas para realizar a Sua missão, construção do Seu Reino, vamos aproximarmo-nos de alguns chamamentos bíblicos. Cada grupo deverá analisar o seu texto, detendo-se de modo particular nas reacções daquele que é chamado. Atitude inicial, diálogos e atitude final. Procurar que a análise seja o mais profunda possível. 1_ Chamamento de Moisés: Ex 3 2_ Chamamento de David: 2Sam 7,1-17 3_ Chamamento de Isaías: Is 6 4_ Chamamento de Jeremias: Jer 1 5_ Chamamento de Maria: Lc 1, 26-38 6_ Chamamento dos discípulos: Jo 1,35-51 7_ Chamamento de Pedro: Lc 5,1-11 Plenário Cada grupo partilha as suas reflexões: formas de intervenção de Deus; resposta daqueles que foram chamados; hesitações e transformações na sua vida... O catequista sintetiza. Deus toma a iniciativa de chamar a pessoa pelo próprio nome. Precisa delas para missões especiais. Deus respeita a liberdade das pessoas. A pessoa permanece livre na adesão à proposta divina. Deus espera como resposta, uma entrega profunda e definitiva. Espera pelo sim. Deus quer como discípulos os colaboradores fiéis. 54 55 8_Vigília de oração 56 57 vigília de oração introdução silêncio: (O presidente entra em silêncio e expõe o Santíssimo) Exposição do Santíssimo Cântico Acolhimento: (o presidente pausadamente de joelhos ou em pé convida os participantes) 1_Vós todos que vos interrogais acerca do sentido da vida que nos foi dada e se vai gastando no dia-a-dia, vinde escutar o que o Senhor tem para vos dizer. 2_Vós todos os que vos interrogais acerca da vossa vocação, porque é preciso escolher um projecto para vida, vinde escutar o que o Senhor tem para vos dizer. 3_Vós todos os que vos interrogais acerca do melhor caminho que leva à felicidade, porque é essa a vossa sede, vinde escutar o que o Senhor tem para vos dizer. 4_Vós que vos interrogais acerca do amor de Deus Pai, vinde e escutai como ele nos amou primeiro e fez de nós seus filhos adoptivos. 5_Vós que vos interrogais acerca de Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida, vinde e escutai como ele nos interpela a continuarmos a sua obra. 6_Vós que vos interrogais acerca do Espírito Santo, que em todos nós habita, vinde e senti a sua presença como luz na noite e fogo de Deus. Cântico Leitura: (Ef 1,3-10) silêncio 58 jogral: 1 • Eu desejava esperar por Ti, meu Deus, e soube então que me esperavas. 2 • Eu desejava procurar-Te, meu Deus, e vi que andavas à minha procura. 1 • Eu pensava. Finalmente, encontrei Deus, mas senti-me encontrado por Ele. 2 Eu queria dizer: Amo-Te, meu Deus, mas já me tinhas dito: Amo-te muito. 1 • Eu tinha resolvido escrever-Te, ó Deus, mas entretanto chegou a tua carta. 2 • Eu queria pedir-Te perdão, meu Deus, mas soube que já me tinhas perdoado. 1 • Eu queria oferecer-me todo a Ti, meu Deus, mas recebi antes o dom gratuito de ti mesmo. 2 • Eu queria oferecer-Te a minha amizade, meu Deus, mas recebi antes a notícia do Teu grande amor. 1 • Eu queria convidar-Te para entrares na minha intimidade, mas já antes chegou o Teu convite para estar em Ti. 2 • Eu queria fazer festa por Te ter encontrado, mas foste Tu a fazer a festa primeiro, tal é o teu amor. Cântico silêncio testemunhos: (testemunhos vocacionais de Seminaristas do Seminário Maior ou Menor, ou dos pais de um seminarista) Cântico Leitura: (Lc 19,1-10) reflexão silêncio 59 poema: Semeia em mim, Senhor. Porque não quero deixar a Tua semente à beira do caminho; Não quero que se afogue a palavra no meio das pedras; Não quero a satisfação fácil de quem se limita a ouvir; Não quero ser alguém sem raiz ou inconstante, Alguém que hesita entre o sim e o não da conveniência. Também não quero deixar-me cair entre os espinhos, Porque conheço a minha fraqueza, Porque, depressa Te venderia por um capricho Porque conheço os meus oportunismos, Porque me habituei a servir a dois senhores. Que a tua palavra entre em mim pela porta grande, Aquela que se abre aos amigos, Aquela que oferece sempre à entrada o calor de um abraço, Aquela que é esperança, alegria e festa para todos os que entram em casa. Fala, Senhor Quero conhecer os Teus caminhos. Ensina-me as Tuas veredas. Guia-me e ensina-me a Tua sabedoria! Fala, Senhor. 60 Cântico Preces: Dêmos graças a Cristo, que nos convida pela Palavra a darmos testemunho sacerdotal, e oremos dizendo: A Tua Palavra, Senhor, ilumine os nossos passos. 1_Tu, Cristo, Sumo e Eterno Sacerdote não deixes que à Tua Igreja faltem santos presbíteros. 2_Tu, Cristo, que acompanhaste o crescimento daqueles que chamaste e os amparas-te nas dificuldades, concede às equipas formadoras dos nossos Seminários, a sabedoria para acompanharem e fazerem crescer os seminaristas na resposta vocacional. 3_Tu, Cristo que chamaste quem Tu quiseste para Te seguir, faz que também hoje a Tua voz se ouça e muitos jovens se disponham a deixar tudo para Te seguir e anunciar o Teu amor a todos irmãos. 4_Tu, Cristo, Bom Pastor que dás a vida pelo Teu povo, concede aos presbíteros a graça de serem sacramento fiel do Teu amor à humanidade e prova da Tua vontade de recuperar a ovelha perdida. 5_Tu, Cristo, que louvaste a oferta da viúva pobre e valorizaste o seu gesto de amor, faz com que aqueles que partilham com generosidade os seus bens com os Seminários encontrem em Ti a sua verdadeira recompensa. pai nosso Exposição do Santíssimo: Em vez das orações próprias lê-se a oração proposta para esta semana e depois segue-se, o Cântico do Veneremos e a oração da benção). Cântico final 61 9_proposta para a liturgia da semana dos seminários 62 63 Proposta para a Liturgia da Semana dos Seminários sugere-se A) preces diárias Domingo: Senhor Jesus Cristo, que percorrestes os caminhos dos homens a anunciar o Reino e nos convocastes a todos para a sua construção, ajudai os nossos sacerdotes a viverem em fraterna caridade e em fidelidade ao seu ministério. 2ª feira: Vós que nos enviastes o Espírito Santo, para renovar a face da terra, dai aos jovens um coração atento e disponível para acolher e testemunhar o Amor no meio dos homens em gestos de solidariedade e caridade. 3ª feira: Senhor Jesus Cristo, que pela vossa Encarnação, Morte e Ressurreição, manifestastes o Vosso Amor aos homens, despertai nas nossas dioceses vocações sacerdotais para o serviço da Igreja. 4ª feira: Deus da Alegria e do Amor protegei as nossas famílias e fazei delas berços generosos de muitas e santas vocações. 5ª feira: Jesus Cristo, Sumo e Eterno sacerdote, abençoai, dirigi e protegei os nossos seminários, para que eles sejam santuários de amor e de virtudes humanas e cristãs. 6ª feira: Pelos sacerdotes que são enviados, pela força do Espírito Santo, a anunciar e baptizar em Vosso nome, para que se sintam fortalecidos pela graça da sua missão e apoiados pela união de todos os filhos da Igreja. Sábado: Cristo, luz e salvação dos povos, que aceitastes crescer entre nós “em estatura, sabedoria e graça diante de Deus e dos homens”, fazei que as nossas crianças, adolescentes e jovens cresçam na fé e no amor, imitando o Vosso exemplo. 64 Domingo: Vós, que escolhestes os homens que quisestes para serem Ministros da Palavra e dos Sacramentos, guardai-os unidos na fidelidade, abençoai-os e fazei frutificar o seu ministério. B) Que se preparem e se façam admonições breves às Eucaristias Dominicais ou celebrações da Palavra, sublinhando os objectivos e propostas da Semana dos Seminários referindo a importância do ministério sacerdotal e a sua missão; convidando a rezar pelas vocações sacerdotais; pelas paróquias que sofrem a ausência de sacerdotes; explicar a espiritualidade e vivência do sacerdote diocesano... c) No final da Eucaristia: convidar à oração pessoal pelos seminários, bispo, sacerdotes e comunidades; à partilha em dinheiro (esmola) para o sustento e dignificação dos seminários, e à realização de uma vigília de Oração pelos Seminários. d) Orientar a catequese nesta semana para a dimensão sacerdotal visualizando imagens dos seminaristas e seminários diocesanos e, se possível, promover a deslocação de alguns seminaristas às comunidades ou destas ao seminário. e) Que as paróquias acolham seminaristas, pais de seminaristas e antigos alunos do Seminário para a partilha e testemunho da sua vivência no Seminário. f) Criar durante a semana um espaço (p. ex. em frente do altar, ao pé do ambão...) que irá ser construído com símbolos sacerdotais, acompanhados de uma breve explicação (estola, sandálias, santos óleos, cajado, água, liturgia das horas...) g) Convidar e comprometer as famílias e os jovens a um compromisso, através da oração, para com as vocações sacerdotais e religiosas. 65 10_CONTACTOS DOS SEMINÁRIOS DIOCESANOS Algarve Pr -semin rio Largo da Sé, 19 8000-138 FARO [email protected] Seminario de S. Jos Largo da Sé, 19 8000-138 FARO [email protected] Bragan a Semin rio de S. Jos Avenida Cidade de Zamora 5300-111 BRAGANÇA [email protected] Pr -Semin rio Avenida Cidade de Zamora 5300-111 BRAGANÇA [email protected] Angra do Hero smo Semin rio Episcopal de Angra Rua do palácio, 33 9700-143 ANGRA DO HEROÍSMO [email protected] Pr -semin rio Rua do palácio, 33 9700-143 ANGRA DO HEROÍSMO [email protected] Coimbra Semin rio Maior da Sagrada Fam lia Rua Vandeli, 2 3004-547 COIMBRA [email protected] Pr -Semin rio 3080-032 FIGUEIRA DA FOZ [email protected] vora Semin rio Maior de vora Largo dos Colegiais, 6 Apartado 2004 7001-901 ÉVORA [email protected] Semin rio Menor de S. Jos de vora Vila Viçosa 7160-251 VILA VIÇOSA [email protected] Pr -Semin rio Rua Prof. Bento Jesus Caraça, Lote 1 R/C Dtº 7580-034 ALCÁCER DO SAL [email protected] Aveiro Semin rio de Santa Joana Princesa Av. João Jacinto de Magalhães 3814-506 AVEIRO [email protected] Pr -semin rio Av. João Jacinto de Magalhães 3814-506 AVEIRO [email protected] Beja Semin rio de Nossa Senhora de F tima Rua D. Afonso Henriques, 1A 7800-049 BEJA [email protected] Pr -Semin rio Rua D. Afonso Henriques, 1A 7800-049 BEJA [email protected] Funchal Semin rio de Nossa Senhora de F tima Rua do Jasmineiro, 8 9000-013 FUNCHAL [email protected] Pr -Semin rio Rua do Jasmineiro, 8 9000-013 FUNCHAL [email protected] Braga Pr -Semin rio Rua de S. Domingos, 94 B 4710-435 BRAGA [email protected] Semin rio Maior Conciliar de S. Pedro e S. Paulo Campo de S. Tiago, 47 4704-532 BRAGA [email protected] Pr -Semin rio Campo de S. Tiago, 47 4704-532 BRAGA [email protected] Semin rio Menor de Nossa Senhora da Concei o Rua de S. Domingos, 94 B 4710-435 BRAGA [email protected] Guarda Semin rio Maior da Imaculada Concei o Rua D. José Alves Matoso, 7 6300-682 GUARDA [email protected] Semin rio Menor de Nossa Senhora de F tima Apartado 12 6234-909 FUNDÃO Pr -Semin rio Rua D. José Alves Matoso, 7 6300-682 GUARDA [email protected] 66 Lamego Pr -Semin rio Avenida Egaz Moniz 5100-196 LAMEGO [email protected] Semin rio de Jesus, Maria e Ana Avenida Egaz Moniz 5100-196 LAMEGO [email protected] Semin rio Menor de Nossa Senhora de Lurdes Quinta dos Sais 4660-210 RESENDE [email protected] Semin rio Maior de Nossa Senhora da Concei Largo Dr. Pedro Vitorino, 2 4050-468 PORTO [email protected] Semin rio Redemptoris Mater Casa Diocesana - Seminário de Vilar Rua Arcediago Van Zeller, 50 4050-621 PORTO o Santar m Pr -Semin rio Largo Sá da Bandeira 2000-135 SANTARÉM [email protected] Semin rio Diocesano de Santar m Largo Sá da Bandeira 2000-135 SANTARÉM [email protected] Leiria Semin rio Diocesano de Leiria Rua Joaquim Ribeiro de Carvalho, 60 2414-011 LEIRIA [email protected] Pr -Semin rio Rua Joaquim Ribeiro de Carvalho, 60 2414-011 LEIRIA [email protected] Lisboa Semin rio Maior de Cristo Rei Seminário dos Olivais 1885-076 MOSCAVIDE [email protected] Semin rio de S. Jos de Caparide Quinta da Ribeira 2785-710 S. DOMINGOS DE RANA [email protected] Semin rio de Nossa Senhora da Gra a Póvoa de Penafirme 2560-046 A-DOS-CUNHADOS [email protected] Pr -Semin rio Póvoa de Penafirme 2560-046 A-DOS-CUNHADOS [email protected] Semin rio Redemptoris Mater de Nossa Senhora de F tima Quinta do Pinhal Verde Rua do Pinhal Verde, 4 1675-515 CANEÇAS [email protected] Portalegre Semin rio Diocesano de Portalegre Rua D. Agostinho Lopes Moura 7300-120 PORTALEGRE Pr -Semin rio Rua D. Agostinho Lopes Moura 7300-120 PORTALEGRE Set bal Semin rio de S. Paulo de Almada Rua D. Álvaro Abranches da Câmara, 1 2800-016 ALMADA [email protected] Pr -Semin rio Rua Quinta do Álamo, 70 2840-268 SEIXAL [email protected] Viana do Castelo Semin rio Diocesano de Viana do Castelo Rua de S. José 4900-308 VIANA DO CASTELO [email protected] Pr -Semin rio Rua de S. José 4900-308 VIANA DO CASTELO [email protected] Vila Real Semin rio de Vila Real Rua D. Pedro Castro, 1 5000-669 VILA REAL [email protected] Pr -Semin rio Rua D. Pedro Castro, 1 5000-669 VILA REAL [email protected] Viseu Semin rio Maior de Nossa Senhora da Esperan a Largo de Santa Cristina 3500-181 VISEU [email protected] Semin rio Menor de Viseu Largo de Santa Cristina 3500-181 VISEU [email protected] Pr -Semin rio Largo de Santa Cristina 3500-181 VISEU [email protected] Porto Semin rio do Bom Pastor Rua D. António Barroso 101 4445-396 ERMESINDE [email protected] Pr -Semin rio Rua D. António Barroso 101 4445-396 ERMESINDE [email protected] 67 68 69 COMISSÃO EPISCOPAL VOCAÇÕES E MINISTÉRIOS