a coca–cola no ensino de biologia segundo a lei federal 10.63903

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a coca–cola no ensino de biologia segundo a lei federal 10.63903
A COCA–COLA NO ENSINO DE BIOLOGIA SEGUNDO A LEI FEDERAL
10.639/03
Roberta Fusconi*
Guimes Rodrigues Filho**
Resumo
A Coca-Cola possui entre seus ingredientes a noz de cola, um recurso natural de
origem africana de grande significado sócio-cultural para as comunidades tradicionais
da Nigéria e do Mali, entre outras. A partir da contextualização de aspectos relacionados
à história e culturas africana e afro-brasileira, o trabalho propõe a utilização da CocaCola como material pedagógico para a implementação da Lei 10.639/03 no ensino de
Biologia. Assim, a Coca-Cola  pode ser estudada de forma transdisciplinar, construindo
conjuntamente com os alunos conceitos que são abordados dentro dos temas
estruturados do ensino de Biologia segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais
(Ensino Médio), a saber: 1) Interações entre os seres vivos; 2) Qualidade de vida das
populações humanas; 3) Identidade dos seres vivos; 4) Diversidade da vida; 5)
Transmissão da vida, ética e manipulação gênica, e 6) Origem e evolução da vida.
Palavras-chave: Lei Federal 10.639/03, Biologia, Noz-de-Cola.
______________________________
*
IQ/NEAB - Universidade Federal de Uberlândia; IGUNGA, Instituto de Educação e Cultura Gunga.
[email protected]
**IQ/NEAB - Universidade Federal de Uberlândia; IGUNGA, Instituto de Educação e Cultura Gunga.
[email protected]
2
A CIRCUNCISÃO DE MEU IRMÃO HAMMADOUN
“(...). Bougala, o ferreiro circuncisor, pediu que abrissem as pernas
afastando-as ao máximo. Como o meu irmão Hammadoun era o
primeiro a ser operado, Bougala veio a postar-se diante dele. Abriu
uma noz de cola ao meio e colocou cada metade entre os molares no
fundo da boca de meu irmão, uma à direita e a outra à esquerda, para
poder conferir a marca dos dentes, índice de sua coragem (...).”
(HAMPÂTÉ BA, 2003, p.195)
TRANSCRIÇÃO DO RÓTULO DA GARRAFA DE COCACOLA
“INGREDIENTES:
água gaseificada, açúcar, extrato de noz de cola, cafeína, corante
caramelo IV, acidulante INS 338 e aroma natural.”
A Coca-Cola possui entre seus ingredientes o extrato da noz de cola, produzido a partir
da noz de cola, um recurso natural de origem africana de grande significado sócio-cultural
para as comunidades da África Ocidental. Desta forma, a partir da contextualização de
aspectos relacionados à história e culturas africana e afro-brasileira, propomos a utilização da
Coca-Cola como uma ferramenta para o ensino de Biologia, enfocando a Lei Federal
10.639/03. A Lei Federal 10.639/03 sancionada pelo Presidente Lula (BRASIL, 2003) e
regulamentada pelo parecer CNE/CP 003/2004 (CNE, 2004a) e pela Resolução CNE 01/2004
(CNE, 2004b), institui o ensino da história da África e da cultura afro-brasileira nas escolas de
Educação Básica.
Para as comunidades rurais da África Ocidental, a floresta é fonte de recursos para as
cerimônias tradicionais que, por sua vez, constituem símbolos de identidade cultural e estão
intimamente relacionados à ancestralidade e ao patrimônio cultural. Entre estes, destaca-se a
noz de cola (FALCONER, 1990), nome dado à semente de árvores do gênero Cola (Figura 1),
e que é conhecida pelos igbo como oji, pelos iorubás como obi-abata, e pelos haussás como
gworo (IBEZIM, ESIMONE, NNAMANI et al., 2006: 1781-1784). Na África, a noz de cola
não é utilizada para fazer bebidas. É mastigada há milhares de anos devido ao seu efeito
estimulante. Entre os povos muçulmanos, é apreciada por substituir as bebidas alcoólicas
proibidas pela religião islâmica.
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Figura 1 - Desenho das folhas, fruto e sementes da Cola realizado por Sayre em 1917
(BURDOCK, CARABIN e CRINCOLI, 2009:1725-1732).
Na África Ocidental, sem a noz de cola as cerimônias culturais e sociais são
consideradas incompletas (NIEMENAK, ONOMO e FOTSO et al., 2008:629-638). Um
exemplo é a utilização da no z de cola na circuncisão de jovens pelo povo Fula, no Mali, como
relatado no livro “Amkoullel, o menino fula” de HAMPÂTÉ BA (2003), transcrito no início
do presente texto. Outro exemplo é a quebra da noz de cola em todas as discussões, jogos e
cerimônias realizadas pelo povo igbo (FALCONER, 1990) e pelas árvores de Cola plantadas
pelo povo guro quando uma menina completa seis ou sete anos, em preparação aos rituais de
puberdade (LOVEJOY, 1980:97-134).
Em terras iorubá, um estoque de nozes de cola é mantido em casa para acolher
hóspedes sendo que, presentear com a noz de cola, e mais ainda, a quebra e divisão de noz de
cola entre dois povos, simboliza um forte legado de amizade. Em cerimônias de casamento, a
família da noiva fornece nozes de cola o que, segundo DE SMET (1998:1-179) mostra a
associação popular da noz com a fertilidade. Ainda segundo DE SMET (1998:1-179),
produzida tradicionalmente pelo povo Nso de Camarões, onde é chamada de Biy, era muito
apreciada e utilizada como forma de presentear reis e chefes. Entre os Nso, o uso doméstico
de noz de cola acompanha o vinho de palma e, em rituais de “amizade de sangue”, a noz de
cola mastigada era esfregada sobre os pequenos cortes.
Além da importância sócio-cultural, a noz de cola apresenta grande relevância econômica
no mercado na África Ocidental. Segundo BURDOCK, CARABIN e CRINCOLI
(2009:1725-1732) existem evidências de comércio intra-africano de no z de cola como sendo
anterior ao século XIV. Dados da década de 70, levantados por ASOGWA, ANIKWE e
MOKWUNYE (2006:217-222), indicam que nas áreas florestais da África Ocidantal a Cola,
responsável por 70% da produção mundial de noz de cola, era a cultura comercial nativa de
maior importância após o óleo de palma. Embora a demanda pela noz seja crescente, a
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produção permanece baixa devido a muitas árvores serem velhas, infrutíferas, atacadas por
pestes, ente outros motivos. Por isso, atualmente, o CRIN (Cocoa Research Institute of
Nigeria) está buscando melhorar a produtividade da Cola com o desenvolvimento de híbridos
e técnicas de propagação vegetativa, e discutindo estratégias de investimentos para a sua
utilização e desenvolvimento econômico.
No Brasil, a noz de cola foi introduzida durante a época do tráfico de negros
escravizados, princ ipalmente de regiões de língua iorubá da Nigéria e de Angola. Segundo os
estudos de VOEKS (1997:148-171), forçados a se adaptar às duras condições da escravidão,
os negros africanos, apesar de terem perdido parte de sua cultura, introduziram no Brasil
elementos relacionados à sua religião e à sua medicina. Entre estes elementos estão espécies
de plantas consideradas pelos iorubá e pelos seus descendentes no Brasil de primordial
importância nos rituais de iniciação em cerimônias tradicionais. A noz de cola, que tem uso
sacro na África Ocidental, no Brasil tem uso sacro no Candomblé aonde é conhecida como
obi (seu nome iorub á). Segundo PRANDI (2005:175-187), para a mitologia iorubana
preservada no Brasil na cultura religiosa dos terreiros de orixás, houve um tempo em que
homens e deuses viviam em mundos não separados - antes do ser humano tocar Orum (céu
dos orixás) com mãos sujas e Olorum, o Deus Supremo, ficar enfurecido e separar para
sempre Orum, o céu, de Aiê, a terra dos humanos. Assim as divindades entristeceram pois
tinham saudades de suas peripécias entre os humano s. Após um acordo com Olodumare, que
acabou consentido que de vez ou outra os orixás retornassem a terra tomando o corpo material
de seus devotos, Oxum recebeu o encargo de Olorum de preparar os mortais para receberem
em seus corpos os orixás. Nesta preparação, entre outras coisas, é utilizado obi – a noz de
cola.
É através da noz de cola que no âmbito da biologia a Coca-Cola pode ser utilizada como
recurso pedagógico para implementar a Lei Federal 10.639/03. A partir da contextualização
do significado sócio-cultural da noz de cola na África, a Coca-Cola  é estudada de forma
transdisciplinar buscando construir conjuntamente com os alunos diferentes conceitos que
podem ser abordados dentro dos temas estruturadores do ensino de Biologia segundo as
Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais para
Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias o Ensino Médio (Brasil, 2002), a saber:
1) Interações entre os seres vivos; 2) Qualidade de vida das populações humanas; 3)
Identidade dos seres vivos; 4) Diversidade da vida; 5) Transmissão da vida, ética e
manipulação gênica, e 6) Origem e evolução da vida.
Em termos biológicos, a noz de cola é a semente produzida por árvores do gênero Cola,
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da família Steculiaceae, nativa das florestas da África Ocidental (LOVEJOY, 1980:97-134).
Estas florestas, que se estendem entre Senegal e Togo, são apontadas como um dos 25
“hotspots” mundiais em relação à biodiversidade (MYERS, MITTERMEIER e FONSECA et
al., 2000: 853-858). Segundo os autores, até então restavam 10% de sua cobertura vegetal
original, com 9.000 espécies de plantas, das quais 2.250 endêmicas, e 1.320 espécies de
vertebrados, das quais 270 endêmicos. Espécies endêmicas são espécies restritas a uma
pequena área geográfica e, portanto mais vulneráveis à extinção (PRIMACK e RODRIGUES,
2001). A extinção de espécies é um processo natural que ocorre sem a influência do ser
humano. No entanto, a perda de biodiversidade no Antropoceno – período que representa os
últimos 200 anos de história recente, caracterizado pelas fortes interferências humanas no
planeta (CRUTZEN, 2002:23) – excede o limite seguro para a ação do homem e para vida, de
modo a evitar alterações ambientais de conseqüências catastróficas (ROCKSTRÖM,
STEFFEN e NOONEN et al., 2009:472-475). Segundo os autores, o valor atual é de 100
espécies extintas por milhão de espécies por ano, enquanto que o limite proposto para a perda
de biodiversidade é de 35.
A maioria dos esforços de estudo e uso sustentável da biodiversidade tem sido
enfocada em mamíferos, aves, peixes e plantas. Considerando que as plantas constituem o
habitat de inúmeros microrganismos como bactérias, fungos filamantosos e leveduras
(LINDOW e BRANDL, 2003:1875-1883), que menos de 10% dos microrganismos existentes
no planeta foram descritos, e que estes desempenham papel fundamental nas cadeias
alimentares e nos ciclos biogeoquímicos (CANHOS e MANFIO, 2004:1-26), a perda de
espécies vegetais pode acarretar a perda de espécies microbianas ainda não conhecidas,
fundament ais para o funcionamento dos ecossistemas e com potencial biotecnológico não
investigado. Neste sentido, ILORI, AMUD E EZEANI et al. (2006:542-545) conduziram um
estudo sobre bactérias degradadoras de hidrocarbonetos isoladas de folhas de 10 plantas
tropicais, entre as quais a Cola, mostrando o potencial destas árvores como fonte de
microrganis mos de interesse biotecnológico para a biorremediação de locais contaminados.
A Nigéria, que é um país rico em recursos minerais, tem sofrido sérios impactos
ambientais ocasionados pela exploração destes recursos. A exploração da pedra calcária e a
indústria de cimento produzem grande quantidade de poeira que afeta negativamente a
atmosfera e os ecossistemas aquáticos e terrestres. Um exemplo é o declínio na produção de
noz de cola, nas plantações nos arredores das indústrias de cime nto. Este fato, que pode estar
relacionado à deposição da poeira sobre as folhas, provoca a redução da atividade
fotossintética, da frutificação das árvores, e consequentemente a redução da produção das
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nozes (AIGBEDION e IYAYI, 2007:33-38). Na plantas, a fotossíntese ocorre principalmente
nas folhas nos cloroplastos, organelas especializadas que contém os pigmentos fotossintéticos,
como a clorofila, capazes de absorção a luz na faixa de 400-700 nm. Durante a fotossíntese, a
energia radiante é convertida em compostos químicos de carbono ricos em energia
necessários para o crescimento e para a reproduç ão das plantas (BEGON et al., 2007).
Utilizando a energia solar, ocorre a conversão do CO2 e água, em açúcares (carboidratos). Em
um aspecto global, a fotossíntese é responsável por retirar o CO2 , o mais importante gás
causador do efeito estufa, da atmosfera (seqüestro de carbono ). Assim, conhecendo os
aspectos básicos da fotossíntese é possível entender como o carbono movimenta-se pelos
diferentes ecossistemas e como as atividades humanas afetam esse ciclo (DIAS-FILHO,
2006:1-24).
Em uma revisão sobre a formacologia tradicional na África, publicada no Journal of
Ethopharmacology, DE SMET (1998:1-179), relata que os agricultores iorubá da Nigéria
Ocidental reconhecem pelo menos 4 tipos de noz de cola que, por sua vez, pertencem
provavelmente a 3 diferentes espécies de Cola:
Cola nitida, Cola acuminata, Cola
verticillata. Em Camarões é reconhecido outro tipo de Cola, representando outra espécie, a
Cola anomala. Segundo LOVEJOY (1980:97-134), Cola nitida, Cola acuminata, Cola
verticillata e Cola anomala eram as espécies de maior importância no comércio da África
Ocidental sendo que, no final do século XIX, a zona de produção de Cola nitida, separada
geograficamente das demais, estava situada a oeste do Rio Volta enquanto que a zo na de
produção de Cola acuminata, C. verticillata e Cola anomala estava localizada perto da
confluência do Rio Níger com o Rio Benue. O gênero Cola apresenta maior diversidade na
África Ocidental (ASOGWA, ANIKWE e MOKWUNYE, 2006:217-222), embora,
atualmente, as árvores sejam cultivadas em outras áreas tropicais da África, da América
Central e do América do Sul (BURDOCK, CARABIN e CRINCOLI, 2009: 1725-1732),
aonde são consideradas espécies exóticas ou introduzidas. A extensão geográfica de muitas
espécies é limitada por barreiras climáticas e ambientais à sua dispersão, no entanto, um
grande número de espécies já foi introduzido deliberadamente ou acidentalmente, em áreas
aonde não são nativas. A grande maioria dessas espécies não consegue se estabelecer nos
ecossistemas nos quais foram introduzidas, contudo, as que conseguem se instalar, podem
crescer em abundância às custas das espécies nativas que podem ser levadas à extinção ou ter
seu habitat modificado (PRIMACK e RODRIGUES, 2001).
Entre as espécies de Cola, Cola lizae apresenta uma relação íntima com o gorila das
planícies ocidentais, no Gabão (Gorilla gorilla gorilla). Esses gorilas, que são frugívoros,
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contribuem para a dispersão de sementes da árvore ao ingerirem os frutos e excretarem
sementes viáveis nas fezes. A dispersão de sementes pela ingestão de frutos, é uma estratégia
alternativa ao vento, à água ou à dispersão sobre animais, e maximiza as chances de transporte
das sementes longe da árvore parental (VOYSEY, MCDONALD E ROGERS et al., 1999:2338). Esta relação entre frutos e animais frugívoros pode ser estudada no âmbito da
coevolução. Acredita-se que gorilas africanos que exploram a Cola, não ingerem seus frutos
ou sementes pelo valor nutricional, já que o conteúdo de proteínas é baixo, mas sim pelo
conteúdo de cafeína que age como estimulante do sistema nervoso central (CUSINS e
HUFFMAN, 2002:65-89).
A ação estimulante noz de cola sobre o sistema nervoso central é o principal motivo de
sua importância sócio-cultural e econômica na África. As propriedades estimulantes,
energéticas e, supressora de fome da noz de cola, podem ser atribuídas à presença da cafeína
na concentração entre 1,5% e 3,8%, dependendo da variedade e do tratamento dado à semente
(BURDOCK, CARABIN e CRINCOLI, 2009: 1725-1732). A cafeína, que é um alcalóide,
apresenta importante papel ecológico nas interações entre as diferentes espécies. Neste
sentido, pesquisas estão sendo conduzidas para elucidar o papel da cafeína como agente antiherbivoria (MAZZAFERA, YAMAOKA-YANO e VITÓRIA, 1996:67-74). O reino vegetal é
muito rico em compostos químicos que aparentemente não desempenham um papel nas suas
rotas bioquímicas normais. Entre estes metabólitos secundários, encontram-se os alcalóides,
terpenoídes, favonóides, entre outros, e muitos destes compostos são tóxicos para uma ampla
gama de consumidores potenciais. As plantas podem diferir em suas defesas químicas, não
somente de espécies para espécies, mas também dentro de um indivíduo. Ou seja, segundo a
“teoria da defesa ótima”, quanto mais importante for um órgão ou tecido para a eficácia do
organismo, melhor ele será protegido (BEGON et al., 2007).
A partir do conhecimento tradicional do uso da noz de cola como estimulante, centros
de pesquisa da África, e de diferentes países do mundo, vem estudando suas propriedades
farmacológicas. Como exemplo, podemos citar o estudo sobre a capacidade antioxidante de
substâncias presentes na noz de cola na proteção de células contra a oxidação, realizado por
ATOLAIYE, ADEBAYO e JAGHA (2009:485-492). O estudo de IBEZIM, ESIMONE,
NNAMANI et al. (2006:1781-1784) sobre o efeito antimicrobiano do extrato de noz de cola
em Escherichia coli e a pesquisa de KUBATA, NAGAMUNE, MURAKAMI et al (2005:91103) sobre o efeito tripanossomicida de taninos presentes na noz de cola sobre Trypanosoma
brucei. Trypanosoma brucei causa a tripanossomíase africana que afeta mais de 60 milhões de
pessoas, na África, e se não tratada é fatal. Um agravante, relatado pelos autores, é que esta
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doença é uma das mais negligenciadas, sem iniciativas de desenvolvimento de novos
fármacos. O tratamento é realizado com drogas altamente tóxicas desenvolvidas antes de
1950. Cabe assinalar que, em 1886, foi um farmacêutico chamado John Pemberton que
inventou Coca-Cola combinando extratos de coca e de cola utilizados como drogas contra a
dor de cabeça (KIPLE e ORNELAS, 2000 apud BURDOCK, CARABIN e CRINCOLI, 2009:
1725-1732).
A discussão realizada no presente trabalho, pretendeu demonstrar parte da ampla gama de
conceitos que podem ser explorados no âmbito da Biologia utilizando a Coca-Cola, na noz de
cola, como recurso natural de origem africana de grande significado sócio-cultural para as
comunidades da África Ocidental para a implementação da Lei 10639/03 na Educação Básica.
Esses conceitos permitem levar para a sala de aula a discussão de temas atuais como a
importância da biodiversidade, espécies nativas/espécies introduzidas, conservação e manejo
dos recursos naturais, atividades antrópicas/degradação dos ecossistemas, interações entre os
seres vivos, aplicações bitotecnológicas, desenvolvimento sustentável entre outros, e a
interação com outras áreas do conhecimento como a História, a Geografia, a Química e a
Física. Além disso, o trabalho mostra que o significado cultural da noz de cola para as
comunidades africanas pode ser levantado a partir de estudos geográficos, antropológicos,
lingüísticos, etnomédicos e etnobotânicos (FALCONER, 1990), e que seus aspectos
biológicos e tecnológicos, entre outros, podem ser levantados na literatura científica buscando
valorizar a produção científica de pesquisadores africanos, como assinalado pelas Diretizes
Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico- Raciais e para o Ensino de
História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (CNE, 2004b ).
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