da produção - MPAC - Mestrado em Práticas Artísticas

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da produção - MPAC - Mestrado em Práticas Artísticas
A Universidade do Porto vem prosseguindo na sua intenção de interagir com a comunidade académica e com a população da cidade e da região através de uma oferta
cultural singular e diversificada. É neste sentido que surge a exposição pack, que
agora se apresenta ao público nos espaços da Reitoria. Esta exposição, concebida a
partir dos trabalhos efectuados pelos estudantes finalistas do curso de Mestrado em
Práticas Artísticas Contemporâneas da Faculdade de Belas Artes da Universidade
do Porto, pretende promover o encontro da Universidade com a prática da arte contemporânea. Deseja-se igualmente com esta exposição alar-gar as possibilidades
expositivas oferecidas pelas instituições da cidade, numa visão diversa da habitual
chancela científica a que a Universidade está maioritariamente associada.
Esta exposição é constituída por 25 peças representativas das actuais hipóteses de
intervenção no âmbito das artes visuais, proporcionando a co-existência de pinturas
com vídeos, instalações tridimensionais, peças sonoras e outro tipo de suportes. Com
o propósito de ampliar a discussão em torno da exposição propõe-se, entre outras acções, a organização de visitas guiadas à exposição em momentos chave do calendário.
Estou seguro que este evento marcará a Universidade e a Cidade pelo carácter
inédito da iniciativa e pelo cunho de actualidade das peças expostas. Com ela, a
Universidade do Porto dá sequência ao seu programa de actividades culturais e
reafirma a intenção de promover a divulgação da produção intelectual e artística
dos seus estudantes.
Esta exposição só foi possível graças ao trabalho empenhado de diversas pessoas
que connosco trabalharam e ao apoio de várias instituições.
Agradeço de um modo particular o entusiasmo e o trabalho realizado pelos comissários da exposição Fernando José Pereira e Cristina Mateus. Agradeço, igualmente, a colaboração e o apoio de Jürgen Bock e Miguel Von Hafe para a realização
das visitas guiadas à exposição. Agradeço, ainda, às instituições que se uniram a
este projecto e o apoiaram (Férrinha, Filhos - Industrias Metálicas, Lda.; Fnac
- Santa Catarina e LG Electronics Portugal). Por fim, agradeço a toda a equipa
envolvida no projecto o empenho demonstrado ao longo de todos estes meses de
produção da exposição.
Termino desejando a continuidade deste tipo de iniciativas conjuntas dentro da
Universidade do Porto e fazendo votos para que a exposição tenha o sucesso que
merece junto da comunidade académica e do público da cidade.
josé carlos marques dos santos
Reitor da Universidade do Porto
3
“Junte-se um grupo o tempo necessário para fazer algo e logo a
seguir dissolva-se para fazer outra coisa”
j. lacan
Para os artistas o espaço/tempo expositivo apresenta-se como o corolário de muitos
e diversos investimentos. É uma circunstância decisiva. A exposição que agora se
apresenta não foge a essa espécie de regra. Contudo, acrescenta-lhe uma peculiar circunstância: ela é o resultado de um esforço, ao mesmo tempo colectivo e individual,
de um grupo de artistas que, momentaneamente, se encontraram reunidos em torno
de um projecto académico. Desde o seu início que o mestrado em práticas artísticas
contemporâneas se propôs a mapear as possibilidades de interacção teórico práticas
que um ano lectivo potencia tendo, todavia, a consciência clara de que os artistas
mantêm a capacidade, fundamental, da produção para afirmarem a sua condição.
Daí a aposta, numa mais que evidente centralidade, dada à produção artística como
leit-motiv para o confronto quotidiano com a teoria, obviamente também, em plano
de destaque.
A outra característica fundamental deste grupo é o descentramento medial e até
sensorial que os artistas propõem para as suas obras. Nada que seja estranho ao
programa orientador do mestrado que, por opção essencial, se integrou na lógica de
campo expandido característica da arte contemporânea. Assim, podemos observar
a convivência de desenhos com objectos sonoros, de vídeos com pinturas, de esculturas com fotografias bem como outros que por absoluta falta de denominação
própria são obviamente inclassificáveis mas, contudo, integráveis na lógica aberta
que pretendemos. Uma espécie de celebração para os netos das vanguardas, isto é,
os artistas contemporâneos que, hoje, se mantêm distantes das disciplinas hieráticas
da rigidez medial. Não sejamos, apesar de tudo o que foi dito, ingénuos. Não se trata
do vale tudo em que aparentemente mergulhou a contemporaneidade, desde a fusão
disciplinar até ao mais superficial dos pensamentos. Pelo contrário, o mestrado em
que as obras, agora visíveis, foram produzidas pretendeu sempre apresentar-se como
um território privilegiado de discussão e reflexão aprofundadas, mais não seja, para
poder afirmar a descendência que agora reivindicamos: aquela que privilegia a actividade do pensar ainda que na forma peculiar que a arte nos proporciona, quer dizer,
através de obras.
Refere o pensador francês que a existência de um grupo deve ser sempre efémera. Só
desta forma se afasta da tentação de lhe dar sentido e, consequentemente, auto-agrilhoar-se. O grupo que agora se apresenta nunca existiu de facto, apenas virtualmente. Talvez essa seja a sua mais-valia mais relevante, aquela que permitiu a construção
de uma pluralidade de vias, claramente individuais, que, no limite, soube aproveitar
a dinâmica do trabalho expositivo levado a cabo por parte dos alunos/artistas ao
longo do ano lectivo com as suas experimentações efectuadas nos ateliers colectivos
em que nos víamos envolvidos semanalmente. As obras com que agora somos confrontados são, talvez, a melhor prova do que vimos afirmando ao longo deste texto.
Elas assumem a sua condição individualizada e apenas anuem ao convívio a que se
encontram forçadas porque a ele sobrevivem sem necessidade de apoios exteriores.
O próprio título da exposição remete directa e conscientemente para esta situação
de associação efémera. Pack refere-se aquela condição em que vários objectos ou
produtos, quase sempre independentes uns dos outros, se encontram empacotados
numa mesma embalagem por facilidade de apresentação. Mal se desfaz o pacote
qualquer um deles ganha, de imediato, a independência que já possuía, mesmo que
de forma dissimulada, no seu interior colectivo. Esta é uma bela metáfora para o
conjunto de obras que agora se encontra exposta.
Queremos, também, dar destaque à arquitectura da exposição. O espaço originalmente distante das especificidades expositivas transfigurou-se num lugar privilegiado de exposição que assume, ele também, uma situação expandida ao configurar-se
numa dupla condição: por um lado, como grande black box para potenciar ao máximo as necessidades das projecções videográficas; por outro, como espaço desenhado
especificamente para receber as obras com necessidades lumínicas antagónicas, isto
é, com indispensabilidade efectiva de luminosidade. Como sempre, a arquitectura
apesar de se manter fora da intensidade dos spotlights afirma-se decisiva para o
sucesso das obras em exposição. Esta vive, também, dessa dialéctica que, nos bons
exemplos, produz resultados que a memória retém.
Umas últimas palavras para o empenho da reitoria da Universidade na organização
e efectivação desta exposição. Com a abertura das portas da Universidade à mais recente produção artística colocando um ponto final num longo período de separação
e desconhecimento bem como a consequente abertura à cidade, em forma de proposta expositiva, oferece-se uma visão diversa da habitual chancela científica a que
a Universidade está, maioritariamente, associada. A produção artística como área de
conhecimento abarcado pela Universidade, como expansibilidade das possibilidades
de investigação no interior do saber universitário afirma uma nova situação de ampliação dos saberes. Sabemos, contudo, que a investigação artística tem, por inerência, um grau de autonomia que dificulta grandemente a sua condição territorial. Mas
esse é, talvez, o desafio mais interessante: entender os relacionamentos, complexos,
a serem estabelecidos entre a condição expandida da produção artística contemporânea e a produção de saber académico. Por aqui têm passado grande parte dos desenvolvimentos das artes das últimas décadas. A integração dos saberes teóricos como
componentes decisivos da produção artística vieram alterar, de forma irreversível,
a condição experimental e heterodoxa da produção artística mas vieram, também,
produzir um campo, expandido, de intencionalidades que, antes de mais, se podem
afirmar, hoje, à altura da complexidade que a sociedade contemporânea lhes exige.
Essa é uma condição que, queiramos ou não, devemos em parte à Universidade.
Julho de 2007
cristina mateus e fernando josé pereira
5
Olha, sou eu e a minha mãe, 1º & 2ºVol // 2007
Serigrafia s/ tela, 18x(54x38cm)
Évora 1964. Vive e trabalha em
Lisboa. ¶ Licenciatura de escultura
da esbal/fbaul, 1983-88. ¶ Curso
de Cinema de Animação do Acarte,
1989-90. ¶ Membro do colectivo
artístico Sparring Partners. ¶ Coeditora da Vaca que veio do Espaço,
1986-89. ¶ Professora do módulo
de Ilustração da Fundação Calouste
Gulbenkian, 1995-97. ¶ Professora
do Ar.Co do departamento de ilustração e banda desenhada, 2001-2005.
¶ Coordenação da área de formação
e programadora da Bedeteca de
Lisboa, 2001-2005. ¶ Projecto na área
da educação artística com o Museu
Nacional de Arte Antiga, 2006-2007.
ALICE GEIRINHAS — 7
Poema // 2007
Olha, sou eu e a minha mãe, 1ºVol ( versão digital) // 2007
Olha, sou eu e a minha mãe, 2ºVol (versão digital) // 2007
Grafite s/ papel, 13,5x25,5 cm
Serigrafia s/ tela, 9 (54x38)cm
Serigrafia s/ tela, 9 (54x38)cm
ALICE GEIRINHAS — 9
Natural de Matosinhos. ¶ Vive e
trabalha no Porto.
“Espécie é aquilo que se oferece e se comunica ao olhar, aquilo
que torna visível e, ao mesmo tempo, aquilo que pode — e deve,
a qualquer custo — ser fixado numa substância e numa diferença
específica, para poder constituir uma identidade.”
giorgio agamben, Profanações
O trabalho que mostro nesta exposição, corresponde - em
substância — ao resultado a que — até ver — cheguei, neste
mestrado em práticas artísticas contemporâneas. Pensei em cópia e original, e esqueci a originalidade. De seguida surgiram-me
espelhos e reflexos. Depois, uma imagem reflexo de imagem —
sem gente e sem máquina — surgiu de um único ponto de luz.
Como origem e espécie.
Espécie // 2007
Fotografia impressa a tinta, em lona
plástica de pvc, 240x240cm
ANTÓNIO ROCHA — 11
Comparência e Mérito // 2007
instalção, gravação s/ bronze e fita
Nasceu em Aveiro em 1973. Vive
e trabalha no Porto. ¶ Licenciatura
em Artes Plásticas-Escultura
pela Faculdade de Belas Artes da
Universidade do Porto (2002). ¶
Foi membro fundador do Salão
Olímpico (2003-2005) e do projecto
Apêndice (2006-2007). Trabalha
como artista plástica desde 1999,
tendo realizado diversas exposições.
¶ Algumas exposições colectivas:
“Busca Pólos”, Pavilhão Centro de
Portugal (Coimbra/Museu de Arte
Contemporânea Serralves) e Centro
Cultural Vila Flor (Guimarães); “O
Discurso do Excesso”, Terminal/Plano
21 (Oeiras). ¶ Algumas exposições
individuais: “Desertar”, Intransit
(Porto); “Without Name”, Galeria
Quadrado Azul (Porto); “Zona de
Estar”, Salão Olímpico” (Porto).
¶ Paralelamente, tem organizado
exposições como “Falar das Coisas
como elas São” e em parceria, exposição “Busca Pólos”; tem participado
em edições como a “Desvio 265”, “
Olímpico n.º 0”, entre outras.
CARLA FILIPE — 15
CARLA FILIPE — 17
Under // 2007
instalação, objecto em chapa galvanizada, barras
de alumínio, chapa de acrílico espelhado, cabos
de aço; vídeo, Loop 2’32’’ minutos; 90x130cm
(diâmetro) x 150cm (altura)
Nasceu no Porto, em 1980, onde vive
e trabalha na sua empresa de produção artística “culturworks”. ¶ É
licenciada em Artes Plásticas (2002)
e pós-graduada em Direcção Artística
(2003), pela Esc. Sup. Artística do
Porto. ¶ Actualmente frequenta o
2º ano do Mestrado em Práticas
Artísticas Contemporâneas na Fac.
Belas Artes do Porto. ¶ Participa em
exposições desde 2002, destacando-se
a actividade com o grupo de artistas
“What is Watt?” - Museu de Arte
Contemporânea do Funchal (2005 e
2007), Fórum da Maia (2003 e 2006)
e Bienal de Cerveira (2007).
CATARINA ROCHA — 19
Na instalação under abordo questões relacionadas com o espaço
e a sua percepção. Ela confronta os limites espaciais postulados
por um dos mais antigos paradigmas da arte, em que o sentido
óptico da percepção predomina sobre outros.
A obra assenta no pensar o espaço enquanto lugar de construção,
na sua vertente cartesiana, colocando-o em linha com os diversos
tensores produtores de ressonâncias imaginárias e afectivas que
advêm da nossa vivência dele (L.Nogueira, 1997). Factores de índole social, económicos, políticos e artísticos, próprios de cada
época, produzem o efeito de curvatura1: uma linha imaginária
que abarca em si as trajectórias virtuais e objectivas advindas do
confronto entre a materialidade física do espaço e dos diversos
tensores conceptuais\culturais que o deformam.
É a individualidade de cada sujeito que provoca curvaturas diferentes perante o mesmo espaço, neste sentido, seria impossível
que diferentes sujeitos, em diferentes tempos, pudessem percepcionar o espaço da mesma maneira.
Estas variações e interacções ocorridas entre sujeitos, torna o
espaço heterogéneo e dotado de múltiplas camadas de interpretação, gerando uma atmosfera gaseificada, aglutinadora de todas
as tensões.2
Assumindo-se como uma metáfora destas interacções borbulhantes, under abre-se à construção de diversas camadas significantes.
Esta instalação é vivida de forma mental e portanto visualizada de
forma diferente por cada um. É a nossa cartografia cognitiva3, os
nossos desejos, expectativas e memórias, que influenciam a leitura
da peça, tanto no seu nível conceptual, como na sua visualidade
interior. Neste sentido, este objecto esconde diferentes latitudes
que exploro em dois níveis perceptivos.
Formalmente a peça constrói-se através de um sólido suspenso,
com uma forte presença escultórica. Espacialmente, desenvolve-se
numa escala antropomórfica\arquitectónica ao permitir a imersão
do observador, transportando-o para outras camadas perceptivas.
Ao entrar em under o observador vê-se rodeado por uma multiplicidade dos planos espelhados resultando num caleidoscópio
vertiginoso, infinito e borbulhante. Um vídeo de um balão que
esvoaça, num espaço destituído de coordenadas e de referencias
espaciais, está projectado no topo do sólido. Este balão assume-se
como uma metáfora das ligações borbulhantes entre indivíduos
em referência à proposta de L. Nogueira, quando ele caracteriza
os espaços como lugares virtuais onde os indivíduos partilham
efervescências emocionais.
Sendo o balão, um balão de S. João, ele faz parte de um ritual de
interacção entre sujeitos. Neste ritual, os indivíduos transformam
o balão numa grande borbulha, libertando os seus desejos e anseios para dentro dele e fazendo-o elevar-se na atmosfera.
Pela imersão no objecto, pela metáfora do balão, e pela desfragmentação e multiplicação da imagem, o fruidor irá encontrar-se e
perder-se num múltiplo de perspectivas de si próprio imerso numa
imagem indefinida e efervescente. Ele torna-se num elemento activo da instalação tornando-a única e referente a si próprio.
NOGUEIRA, Luis Castro, “La risa del espacio”,
Tecnos, Madrid, 1997 (pág. 30)
ibidem (pág. 32)
3
ibidem (pág. 36)
1
2
CATARINA ROCHA — 21
Nasceu em Alfândega da Fé. Vive
e trabalha no Porto. ¶ Licenciada
em Artes Plásticas/Escultura,
pela Faculdade de Belas Artes do
Porto em 2001, na qual obteve a
Pós-graduação em Prática e Teoria
do Desenho em 2005. ¶ Frequenta
o curso de Mestrado em Práticas
Artísticas Contem-porâneas na
Faculdade de Belas Artes desde 2006.
¶ Participou em diversas exposições
colectivas e individuais entre as quais
se destacam: So where were the
spiders?, projecto Apêndice, Centro
Comercial Cedofeita, Porto, 2006;
Supermercado, Seilduken Gallery,
Oslo (Noruega), 2005; Quartel - Arte
Revolução e Trabalho, Aranha - espaço Web, Porto, 2004; Estudos imagens
figuras - mostra de desenhos, oficina
201, Porto, 2004; Carro cor-de-rosa,
happening na rua Miguel Bombarda,
Porto, 2003; passa_porte - retrospectiva Belas–Artes em Erasmus, Galeria
do Palácio de Cristal, Porto, 2002;
Pontos de Contacto, Ateliers Livres,
Porto, 2001; École´75, Bruxelas
(Bélgica), 2001; O Desenho na fbaup,
Fundação Curpetino de Miranda,
Vila Nova de Famalicão, 2001.
S/ titulo // 2007
vídeo, 7’
CECÍLIA ALBUQUERQUE — 23
CECÍLIA ALBUQUERQUE — 25
Expedição // 2007
dupla projecção de slides, 9 fotografias Lambda,
mesa, cadeira e lâmpada
Nasceu no Rio de Janeiro Brasil.
Vive e trabalha no Porto, formouse em Artes Plásticas – Pintura
pela Faculdade de Belas Artes da
Universidade do Porto, foi membro
fundador do Salão Olímpico.
Trabalha como artista plástico
desde 1999, tendo realizado diversas
exposições individuais e colectivas.
Desde então, organizou e comissariou
diversas exposições como a Norht
by Norhtwest (2001), juntamente
com Gustavo Sumpta na Caldeira
213, mais recentemente Busca
Pólos (2007) no Pavilhão Centro de
Portugal, Coimbra / Museu de Arte
Contemporânea Serralves e Centro
Cultural Vila Flor, Guimarães, edita
com estes e com José Maia o livro
Salão Olímpico 2003/06. Algumas
exposições: To Drag (2005) – Galeria
Quadrado Azul, The stars turn into
stripes forever (2003) – com Renato
Ferrão, Salão Olímpico, No principio
era a viaxe, 28 bienal de Arte de
Pontevedra, Espanha.
EDUARDO MATOS — 27
EDUARDO MATOS — 29
Nasceu em 1983. Natural e residente
em Santo Tirso. ¶ Licenciada em
Artes Plásticas-Pintura na Faculdade
de Belas Artes daUniversidade
do Porto. ¶ Participou em várias
exposições, colectivas e individual, nas
galerias Arthobler, Acert, Servartes,
entre outras.
S/título // 2006-07
30 desenhos, dimensões variáveis, pintura de
esmaltes, acrílicos, lápis, canetas, e gravações
FILIPA GODINHO — 31
FILIPA GODINHO — 33
Porto, 1983. ¶ Termina a sua
Licenciatura em Artes Plásticas Pintura, Faculdade de Belas Artes da
Universidade do Porto em 2006. ¶
2006 Exposição colectiva “Barrigas
de Freira”dos alunos finalistas
do curso de Pintura da fbaup no
Convento Corpus Cristi; Realização
de uma diversidade de projectos
performativos em espaços públicos do
Porto; Participação no post-it city
[porto] ciudades ocasionais Centre
D´Art Santa Mónica(casm)+Centre
de cultura contemporània de
Barcelona(cccb), vídeos dos projectos
Lixo e Tiraz, espaço Artes em
Partes, rua Miguel Bombarda, Porto.
Residência Artística mugatxoan
coordenada por Ion Munduate e
Blanca Calvo;Arteleku (Donostia San Sebastián), Fundação Serralves
(Porto); Participação no festival
set, organizado pela esmae (Escola
Superior de Música e das Artes do
Espectáculo), Porto. ¶ 2007 Menção
Honrosa no Concurso para a Bolsa
Ernesto de Sousa 2006/2007 (iniciativa conjunta da Fundação Calouste
Gulbenkian e da Fundação Luso-
Americana para o Desenvolvimento);
Intervenções: ruas da Baixa do Porto
e espaço Plano B, projecto jardim;
espaço Praia da Luz, Foz do Douro,
projecto volto já; estações do metro
do Porto e exposição individual na
Galeria Sala Maior (rua Miguel
Bombarda), projecto A fazer uma
Obra de Arte; performances aseréjá
e Serv’artes, espaço Serv’artes, Porto;
rua Miguel Bombarda e entrada do
Serralves em Festa, projecto Galeria
Ambulante; Projecção de vídeo do
projecto Tiraz, cinema Batalha,
Porto; Workshop de performance
com Miguel Pereira; Realização do
Logótipo boom, edição do álbum luz
de Pedro Abrunhosa; Participação
no Festival Fiestizaje em Espanha
(Villafranca del Bierzo, León), projecto Utopia; Projecto destacado pelo
Júri (constituído por representantes
da instituição de acolhimento e da
Fundação Calouste Gulbenkian), no
concurso para a “Bolsa de Residência
Artística na Casa de Velàzquez Madrid”; Pós-graduação em Práticas
Artísticas Contemporâneas, fbaup.
Férias na Praia dos Leões // Set. 2007
instalação vídeo
FILIPA GUIMARÃES — 35
Colaboraram neste projecto:
Águas do Porto, EM, Câmara Municipal do Porto,
Thierry Lambert, Fernando Neves e Marcus Garcia
FILIPA GUIMARÃES — 37
Logos VS physis // 2007
vídeo
Nasceu no Porto, 1980. Licenciada
pela fbaup em Artes PlásticasEscultura no ano de 2005. Durante
o período de formação foi membro
activo do grupo “Identidades”, um
grupo de intercâmbio cultural e
artístico entre o Brasil, Cabo Verde,
Moçambique e Portugal. Neste
âmbito participou em diferentes actividades, de entre as quais, projectos
de Arte Pública, diferentes Oficinas e
organização, participação e montagem
de Exposições, Leilões de Obras de
Arte e Feiras. ¶ Membro fundadora
do colectivo “Senhorio”, desde 2004,
no âmbito do qual participou na exposição “Pintado à Mão”, nos fanzines
“Pingue”, “C(r)oquete” e “Busto” e
no Grande Prémio de Desenho “The
Winner Takes it All”. ¶ Nos últimos
anos tem desenvolvido um trabalho
de parceria baseado no ensino e no
trabalho artístico com crianças pertencentes a níveis sócio-económicos e
culturais desfavorecidos, em São Félix
da Marinha e no Peso da Régua.
INÊS AZEVEDO — 39
Perante o desafio de escrever um texto para a disciplina Textos de
Artista veio-me à memória a crónica de António Lobo Antunes
“Um terrível, desesperado e feliz silêncio” que descreve o escritor e a sua obra e pensei, é este o tipo de artista a que pertenço.
Embrenhei-me, então, numa teia escrita de: “para mim isto é assim” e de: “faz sentido desta forma”. O texto foi entregue e o que
sobrou foi o desconforto de o ter escrito e alguma falta de coragem para reler um texto vomitado.
Caí no vazio da justificação e da injecção de sentido.
Quando finalmente o reli não podia haver maior diferença entre
a página de citação da crónica e o texto de cinco páginas que assinei. Para além de um ser um texto de escritor com o poder de
expor em pouco uma imensidão de coisas e o outro andar longe
disso, o principal problema estava na génese de pensar o que significa ser-se artista.
A crónica fala sobre criatividade e o meu texto falava sobre produtividade.
INÊS AZEVEDO — 41
Austrália // 2007
instalação, vários materias (mix media),
dimensões variáveis
Nasceu em Rebordões, 1981. Vive e
trabalha em Santo Tirso. ¶ Formação:
Licenciatura em Artes Plásticas,
Curso de Pintura, Faculdade de
Belas Artes da Universidade do
Porto (fbaup), Bolseira Erasmus
na Hochshule für Bildende Künste
na cidade de Dresden, 2003/2004.
A frequentar o segundo ano do
mestrado em Práticas Artísticas
Contemporâneas, da Faculdade
de Belas Artes, Universidade do
Porto. Prémios: Anteciparte 2005.
¶ Exposições Individuais: Paisagem
Australiana, 20m3, Lisboa, 2007;
Natureza Assistida, Centro Cultural
de Vila das Aves, Vila das Aves, 2006;
Austrália, Sala de Espera, Guimarães,
2006. ¶ Exposições colectivas:
Opões e futuros #2_2006, Arte
Contempo, Lisboa, 2006; Teleférico
1-Cais de Embarque, Teleférico
de Guimarães, 2006; Encontro de
Arte Jovem, Bienal de Arte, Chaves,
2006; Urbanismo, linhas e contornos,
Galeria 24b, Oeiras, 2006; Reflexões
contemporâneas sobre cartografia e
coleccionismo, Museu Abade Pedrosa,
Santo Tirso, 2005; Anteciparte 2005,
Estufa Fria, Lisboa, 2005; Projectos
Transportados, Laboratório das Artes,
Guimarães, 2005.
JOANA DA CONCEIÇÃO — 43
JOANA DA CONCEIÇÃO — 45
Profanar o Indizível
No compacto enredo da comunicação, o frenesim dos consumidores da informação,
são como o fluxo de uma cidade, em que todos vão e vêm e ninguém se encontra.
Todos estão presentes e todos estão ausentes. Neste universo de excesso, de cansaço
visual, a visibilidade é cada vez mais difícil senão impossível e quando isso acontece
é sempre por muito pouco tempo.
À arte, neste contexto de amável saturação icónica, coloca-se uma dificuldade a de
saber definir o seu território, o seu lugar, que a autonomize no seu trabalho com a
imagem do restante visível, entregue à sobre exposição informativa e comunicativa.
Assim, na actual sociedade de abundância de imagens que nos rodeiam e onde os
significados que lhes podemos atribuir parecem ser cada vez mais escassos, cabe ao
observador explorar uma relação com a arte pela Impossibilidade, no profanar de
um olhar livre sobre o indizível, sobre o que escapa à palavra, para interpretar e criar
textos possíveis.
STILL LIFE // 2007
vídeo, 6’20’’cm)
Cortina // 2007
tecido sintético sublimado e tecidos de cor
diversos, 3x(600x160cm)
O meu projecto artístico consiste em questionar até que ponto num mundo de excesso de imagens, elas reflectem o mundo em que vivemos e como as olhamos, sem
olhar verdadeiramente para elas. A forma como olhamos uma imagem e nos relacionamos com ela, é algo sobre o qual tenho vindo a investigar e a reflectir no meu
trabalho e no mestrado.
Nasceu no Porto 1960, licenciou-se
em Pintura pela Faculdade de
Belas Artes da Universidade do
Porto em 1988. Pós-Graduação em
Direcção Artística pela esap, em
2003. Actualmente desenvolve tese
no Mestrado em Práticas Artísticas
Contemporâneas da Faculdade de
Belas Artes da Universidade do
Porto. ¶ É desde 1986 docente de
Artes Visuais no Ensino Básico e
Secundário na Escola Pintor José
de Brito em Viana do Castelo. ¶
Expõe regularmente desde os anos
80. Das suas mais recentes exposições
destacam-se: 2007, Exposição "Pack",
Reitoria da Universidade do Porto,
Galeria Serpente “ Visibilidade
Impossível “Swan Lake Projects,
Porto; 2006, Galeria Barcad’artes
“Morar” Swan Lake Projects –
Centro Cultural do Alto Minho,
Viana do Castelo; 2005, Galeria
Fuga pela Escada “Incorporar” Swan
Lake Projects – Guimarães; 2004,
Intervenção “Identifica-se? / Is that
you?” Swan Lake Projects - Museu
da Imagem, Braga; Galeria Teatro
Académico Gil Vicente “ No Man’s
Land “ - Coimbra.
www.virose.pt/hanta/SwanLake/
novo/default.htm
[email protected]
JOÃO CARLOS PEREIRA — 47
JOÃO CARLOS PEREIRA — 49
Nasceu em Santarém, 1980.
Vive no Porto onde frequenta o
Mestrado em Práticas Artísticas
Contemporâneas na Faculdade de
Belas Artes, Universidade do Porto,
(fbaup), 2006/2007. Licenciado em
Artes Plásticas – Pintura, fbaup,
2004. ¶ Desde 2003 que desenvolve
actividade como artista plástico, tendo
feito sete apresentações individuais,
entre as quais se destacam: “Sob
arte, técnica, linguagem e politica”
(pêssegoprásemana; Porto, 2006),
“Henriette Binger Barthes” (mco arte
contemporânea; Porto 2006), “p.s. i
love hue” (Galeria 24b; Oeiras, 2005)
e “Repetição e Diferença” (Salão
Olímpico; Porto, 2004). Apresentou
trabalho em cerca de quinze exposições colectivas; das quais se destacam:
“Antimonumentos” (ah Galeria de
arte contemporânea, comissário
Miguel von Hafe Pérez; Viseu, 2007);
“pilot#3” (Bienal de Veneza, Itália,
2007), “Arte Lisboa 2006”, “Opções e
Futuros” (colecção da fundação plmj,
Galeria arte contempo; Lisboa,2006),
“Prémio de pintura Rothschild”
(Palácio das Galveias; Lisboa, 2005),
“gpo31031405” (Galeria Pedro
Oliveira, comissário Miguel Amado;
Porto, 2005) e “White Board” (projecto de Daniel Schurer; Hildesheim,
Alemanha, 2004). ¶ Participa regularmente em publicações independentes
de bd e ilustração, trabalha individualmente num projecto musical sob o
alter-ego de Marçal dos Campos. ¶
Vencedor de uma menção Honrosa
(em conjunto com: Mafalda Santos,
Miguel Carneiro e Rita Tavares)
na exposição “Outros Lugares” na
Faculdade de Direito da Universidade
do Porto, 2004. ¶ Tem várias obras
em colecções privadas e na colecção
da Fundação plmj.
Monte de Cunhas // 2007
acrílico sobre madeira, dimensões variáveis
JOÃO MARÇAL — 51
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................................................... // 2007
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.......... .............. — 53
Horror Vacui (horror ao vazio) // 2007
tinta acrílica pulverizada sobre azulejo
Nasceu em Guimarães em 1979. ¶
Frequenta o 2º ano do Mestrado em
Práticas Artísticas Contemporâneas
da fbaup. Licenciado em 2005
em Artes Plásticas – Pintura na
fbaup. Em 2004/05 recebe Bolsa de
intercâmbio Sócrates/Erásmus com a
Facultat de Belles Arts de Barcelona.
¶ Em 2004 adquire o 1º Prémio
no âmbito da exposição colectiva
-“Outros Lugares”- fbaup/fdup.
Em 2003 recebe, em 1º lugar, o “1º
Prémio Rothschild de Pintura”, promovido pelo Banque Privée Edmond
de Rothschild. Em 2007 expõe
individualmente na galeria Fernando
Santos no Porto - “È difícil começar
no começo e não querer voltar atrás”;
e em 2006 - “Selected Theatre” – no
espaço Apêndice, Centro Comercial
Cedofeita no Porto. Em exposições
colectivas passa pela galeria Reflexus
Arte Contemporânea, o espaço pêssegoprásemana e o leilão Identidades
na fbaup, ambos situados no Porto.
JOSÉ ALMEIDA PEREIRA — 55
«O ABC do design contemporâneo»
Autonomia - Em vez de autonomia,
autonomia estratégica. Tal como
essencialismo, autonomia é uma má
palavra, especialmente quando a
interdisciplinaridade pós-moderna se
tornou rotina.
Bonaventura - Hotel em Los Angeles
( John Portman), um novo tipo de
arquitectura do sublime, uma espécie
de hiper-espaço que desorienta a
percepção humana. Espaço-delírio
(Frank Gehry). Neo-Barroco dedicado à glória do corporativismo.
Carcassonne – Destino turístico no
sul de França, cidade medieval.
Design – Tudo do jeans aos genes.
Entorno – Velho sonho modernista
de um mundo total de design.
Finitude – O legado da Art Nouveau
da passagem do séc. xix para o sec.
xx e a vontade de transformar todas
as coisas e produtos em arte. Morte
do autor.
Gesamtkunstwerk – Depois do 11
de Setembro de 2001 surge a necessidade de renovar o cérebro, cuidar
da memória, ultrapassar o sublime
cripto-fascista.
High-Rise (arranha-céus) –
Arquitectura vertical do séc. xx em
New York. Novo turismo, do solo
ao céu.
Indisciplina – Multidisciplinaridade
Jewel Box (guarda jóias)
– Transparência
Kool House – Metropolis, como o
surfista no mar.
Life Style – Design como ética.
Mediação – A totalidade do mundo
social apesar da sua fragmentação. O
design como economia política.
Nobrow – Uma das características do
mundo mediatizado é a fusão entre
mercado e cultura. Aparece então a
definição de um tipo de “nobrow”
(não-cultura), na qual distinções entre
alta, média e baixa cultura são inaplicáveis. Para os pró-desenvolvimento
“nobrow” isto não significa tanto uma
estupidificação da cultura intelectual
como um aumento da sabedoria sobre
a cultura comercial. Todos estamos
inseridos no mesmo “hipermercado”,
mas em diferentes secções democráticas. Conjunção entre democracia
e consumo, fantasia da resolução da
divisão de classes.
Outmoded (Obsoleto) – Os
Panoramas são um exemplo da obsolescência de dispositivos que perdem
eficácia na divulgação e captação dos
exercícios de percepção humana
Pós-Fordismo – Exprimir a crescente
turbulência num medium estável
(Koolhaas).
Quarentena – Segundo Rem
Koolhaas o arranha-céus é a cruz
da “cultura da congestão” na antiga
Manhattan, representada pela integração das duas formas emblemáticas: a
“agulha” e o “globo”. A agulha açambarca a “atenção”, e o globo promete
“receptividade”, sendo a História
de Manhattan uma dialéctica entre
ambas as formas. Discurso transformado radicalmente logo após o 11 de
Setembro. Os aranha-céus passaram
então a ser vistos como objecto de
atentados terroristas.
Running Room (Campo de acção) “Há quem utilize uma urna como um
urinol”, era o caso dos desenhadores
art nouveux que procuravam fundir a
arte (urna) no objecto utilitário (urinol). Os funcionalistas modernos fizeram o inverso, interessados em levar
o objecto utilitário à arte. Para Karl
Kraus ambas as intenções eram erros
simétricos, as confusões entre valor de
uso e valor artístico que ameaçavam
gerar uma indiferença regressiva
esqueciam-se de reservar um “campo
de acção” necessário à subjectividade
liberal e para a cultura.
Spectacle (Espectáculo) – O
espectáculo passa a ser uma imagem
acumulada a tal ponto que se converte
em capital. Reactivação corporativa
da cidade.
Tectónica – Está em marcha a busca
de uma arquitectura da era computacional, com uma superfície independente suspensa sobre uma armadura
oculta. Ironicamente, conduziu, em
parte, Gehry e seguidores ao modelo
escultural do séc. xix.
Unabombers – Joseph Conrad
escreve em 1907 no seu “The secret
agent”: “Presta atenção ao que digo.
O fetiche da actualidade não é a
monarquia ou a religião. Por isso os
palácios e as igrejas deveriam manterse intactos… Um atentado homicida
a um restaurante ou a um teatro
pode doer… uma bomba na National
Gallery faria algum barulho, mas não
seria suficientemente séria. O fetiche
sacrossanto está na educação e na
ciência; qualquer imbecil coloca a sua
fé nelas, sem saber porquê mas fá-lo”.
Vernacular – A arquitectura pósmoderna pretendeu reviver algumas
formas vernáculas, mas acabou por
substitui-las por sinais comerciais. A
imagem-mercadoria e o espaço são
aliados através do design.
Without Qualities (sem qualidades)
– O design é sobretudo acerca do
desejo, mas hoje este desejo parece
mostrar uma carência de assunto, ou
pelo menos a escassez de satisfação:
o design parece estar orientado
por um narcisismo que é todo ele
feito de imagem, e sem quaisquer
interioridade.
Xed – Paradigma sem paradigmas. Ausência de narrativas
contextualizadoras.
Yahoos – …
Zebras – No futebol americano, os
árbitros que vestem camisolas às riscas
são conhecidos como “zebras”. Os críticos parecem ter um papel semelhante
nos desportos da arte e arquitectura,
no entanto são cada vez mais marginalizados dos campos de jogo.
Interpretado e traduzido do texto:
FOSTER, HAL, The Abc of contemporary Design,
October 100, mit press, Massachussets, 2002.
p.191-199
Nasceu no Porto em 1976. ¶
Concluiu Escultura na Faculdade
de Belas Artes do Porto em 2000.
Frequentou o Curso de Dança da
Escola de Dança Ginasiano até 1992.
¶ Expôs colectivamente: “cães“, no
Projecto redline – Behind Borders,
na Imerge em 2006; “Máquinas
Chinesas“, nos Máus Hábitos, em
2002; “3 Banhos“ e “Pés“, no Museu
da Faculdade de Belas Artes do
Porto em 2000; “Retrato Para(z)
oico“, no 1º evento artistico-cultural
Sentidos Grátis, em 1998. Expôs
individualmente: “Mamute, Medusas
e outros animais“ na Praia da Luz
em 2003; Instalação luminosa no
Meia-Cave em 2002; “3 Banhos“ no
Quarto da Maria – project room, no
Edifício Artes em Partes, em Agosto
de 2000. No âmbito do Concurso
de Arquitectura para a reabilitação
urbanística da Piazza Garibaldi, em
Cantù, Itália, realizou a convite dos
Arquitectos vencedores – “Cremascoli,
Okumura, Rodrigues“ – uma
Escultura- Fonte para a referida praça
entre 2005 e 2007. Está inscrita no
ano de dissertação do Mestrado em
Práticas Artísticas Contemporâneas
na fbaup. Vive e trabalha no Porto.
Escudo // 2007
Escultura, lã, madeira, 150x110x25cm
LÍLIA SILVA — 59
A escultura do “escudo” faz parte de um conjunto de exercícios para a paz aos conflitos em que me vejo atravessada.
LÍLIA SILVA — 61
Proxemia Future // 2007
jogo programado em flash (colaboração Daniel Oliveira)
Vive e trabalha em Guimarães, cidade
onde nasceu em 1982. ¶ Licenciou-se
em Artes Plásticas – Desenho, pela
Escola Superior Artística do Porto,
Extensão de Guimarães, em 2004. ¶
É membro criador do “Laboratório
das Artes”, Coordenador do projecto
“sala de espera” – Projectos de
Arte Contemporânea, Comissário
do “Espaço Transportável” no Jornal
Notícias de Guimarães, Coordenador
e Comissário do projecto de Arte
Contemporânea “teleférico”.
Participou, também, no projecto
“garba” (Residência para artistas em
Itália) em 2004. ¶ Tem vindo a realizar várias exposições, nomeadamente:
Individuais – “Parasitic Humanoid”,
Galeria Gomes Alves, Guimarães,
2006; “Proxemia – Dimensão [i]real”,
espaço capela (Arquivo Municipal
Alfredo Pimenta), Guimarães,
2005. Colectivas (selecção) –
“Colectiva”, Galeria Reflexus – Arte
Contemporânea, Porto, 2007;
“Close”, O Apêndice, Porto, 2007;
“Anteciparte”, Lisboa, 2006; “Cais de
Embarque”, Teleférico, Guimarães,
2006; “Reflexões Contemporâneas
sobre Cartografia e Coleccionismo”,
Museu Municipal Abade Pedrosa,
Santo Tirso, 2006; “Comemoração
15 Anos da Galeria Gomes Alves”,
Guimarães, 2005; “27 artistas uma
casa a demolir”, Laboratório das
Artes, Guimarães, 2005; “16 salas,
1 espaço”, Laboratório das Artes,
Guimarães, 2005; “No Nuke”, projecto garba, Itália, 2004; “a dizer...”,
Espaço ‘pêssegoprásemana’, Porto,
2004; “Arte, Trabalho e Revolução”,
Projecto Quartel, Porto, 2004.
LUÍS RIBEIRO — 63
LUÍS RIBEIRO — 65
Nasceu em Maputo, Moçambique em
1979. ¶ Vive e trabalha em Lisboa e
no Porto. ¶ Licenciou-se em Artes
Plásticas-Escultura na Faculdade
de Belas-Artes da Universidade do
Porto (1998-2003). Frequentou o
curso de Vídeo, Filme Experimental e
Novos Media, no Ar.Co, em Lisboa.
É docente desta instituição no
Departamento de Cinema/Imagem
em Movimento. Para além do seu trabalho artístico individual, desenvolve
projectos colaborativos nos colectivos
artísticos Coda e Embankment.
Prótese // 2007
vídeo; tripla projecção, cor, loop
MARIA MIRE — 67
MARIA MIRE — 69
Nasceu em 1979, vive em Guimarães
e como artista plástico trabalha em
Guimarães e no Porto. ¶ Actualmente
é docente na Escola Artística e
Profissional Árvore e frequenta o
Mestrado em Práticas Artísticas
Contemporâneas na Faculdade de
Belas Artes da Universidade do
Porto. ¶ A sua formação foi bietápica:
Bacharelato em Pintura na Escola
Superior Artística do Porto, extensão
de Guimarães, em 2003 e posterior
Licenciatura em Artes Plásticas, ramo
Pintura na Escola Superior Artística
do Porto, em 2004. ¶ Exposições
Individuais (selecção) 2006 “2 Cubos
e Um Espelho”, Sala de Espera –
ArteContemporânea, Guimarães;
2005 “S/ Título” Intervenção numa
página do jornal semanal notícias
de guimarães; Exposição/parceria
na concepção de um trabalho artístico
2007 max fernandes “Lat -14º 939
Lon 39º 139” e luís ribeiro “Close”,
O Apêndice, Porto. ¶ Exposições
colectivas (selecção) 2007 Exposição
inaugural da galeria Reflexus –
Arte Contemporânea, Porto 2006
“Operação Transbordo” – Projecto
Teleférico, Teleférico de Guimarães;
“Encontro de Arte Jovem”, Bienal
de Arte, Chaves (pela fbaup); 2005
“Reflexões Contemporâneas Sobre
Cartografia e Coleccionismo”, Museu
Municipal Abade Pedrosa, Santo
Tirso; “27 Artistas, Uma Casa a
Demolir”, Laboratório das Artes,
Guimarães; “16 Salas, Um Espaço,
Laboratório das Artes, Guimarães;
2004 “ 8º 18’ 10” (w)” ”, Laboratório
das artes, Guimarães; “Contra
tempos”, Laboratório das artes,
Guimarães; “E Se Insisto Naquilo Que
Canta”, Antiga Central Eléctrica do
Freixo, Porto; Quartel – Arte Trabalho
Revolução, Porto; “Os Limites de
Um Espaço”, Laboratório das artes,
Guimarães; Grupos/projectos Projecto
Teleférico, Laboratório das Artes,
Espaço Provisório e Grupo xicz.
Anatomia humana #0, #1, #2 // 2007
0- vídeo digital, cor, som, 4' 40"
1- vídeo digital, cor, som, 5' 25"
2- vídeo digital, cor, loop, 18' 30"
MAX FERNANDES — 71
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MAX FERNANDES — 73
Nómada // 2006-07
Roupa e fio em armário, bolas de dimensões
variáveis
Contentor II // 2007
Feltro, roupa, 1 cubo (100x100x100cm)
Nasceu no Porto em 1962. Vive
e trabalha no Porto. ¶ Licenciada
em Pintura pela fbaup, em 1990. ¶
A frequentar o Mestrado Práticas
Artísticas Contemporâneas na fbaup,
em 2007. ¶ Participou em várias
exposições individuais e colectivas
desde 1990 em Portugal, no Brasil e
na Finlândia. Coordenadora dos projectos culturais na Papélia, Reflexos_2003, Made in Portugal_2004, 4
estações 4 paragens_2005, Show cage
(parceria com os Maus Hábitos)_
2006, Diários gráficos_2007.
REGINA PINHEIRO — 75
UMA IDEIA DE TRANSITÓRIO
Agrupar e misturar as roupas, os cheiros outrora isolados, encostar
histórias, memórias que se guardam simbólicamente, misturar o
tempo e culturas, num espaço transitório e, através da cumplicidade, da generosidade, da reflexão acerca da capacidade de desprendimento (ou não) de coisas que já não utilizamos nem precisamos, criar com esse material excedente objectos aprisionados
como obra de arte, mas com um antes e um depois, transitórios.
A obsolescência, as memórias, a identidade, a precariedade, os novos nómadas, a partilha, a colectividade, a amizade, são algumas
palavras associadas a assuntos que se levantam através do projecto
e que fazem conexões para questões do nosso quotidiano.
As bolas de roupa não pertencem a nenhum lugar. Elas vão
mudar de espaço, conviver em diferentes situações. Não têm um
lugar. O lugar da obra é transitório e a obra adapta-se ao contexto. A cada desafio de apresentar ou deslocar as peças, assumo
essa mudança como parte do processo e da obra que é feita de
intenções, mas essencialmente da abertura ao fluxo contínuo de
possibilidades e de impossibilidades, que definem uma trajectória
sem planos, mas com decisões.
A obra não reconhece nenhum lugar como seu, por isso viaja,
instala-se, abandona, viaja, ocupa, abandona, continuamente
numa dinâmica nómada ou diria mesmo de migração.
colaboraram no projecto nómada:
Paula Correia, Nicole, Joana, Maria João Pires,
Rodrigo Regueiras, Catarina, Joaquim, João
Pereira, Lucas Teixeira, Mãe,Eduarda Pinheiro,
Joana Coelho,Marta Pinheiro, Jorge Coelho,
Margarida Pinheiro, Luisa,Filipe Gomes, Nazaré
Monteiro, Ricardo, Olides Leça, Celeste, Lúcia,
Irene, Cecília, Filipa, Alexandra Dias, Cristina
Soares, Margarida Reis, Cristina Pinto, Pai, Juliana,
Carina Constantino, Miguel Silva
REGINA PINHEIRO — 77
Nasceu no Porto em 1980. Vive e
trabalha no Porto. ¶ Licenciada
em Artes Plásticas-Pintura pela
Escola Superior Artística do Porto e
pós-graduada em Direcção Artística
pela Escola Superior Artística do
Porto-Extensão de Guimarães. ¶
Actualmente encontra-se a frequentar
o Mestrado em Práticas Artísticas
Contemporâneas na Faculdades de
Belas Artes da Universidade do Porto.
¶ Desde 2002 tem vindo a participar
em diversas exposições individuais
e colectivas, das quais se destacam:
“Explorando às Avessas”, “Há quanto
tempo estás parado”, na Galeria Fuga
pela Escada, Guimarães; “Jovens
Artistas”, no Palácio do Correio
Velho, Lisboa e “7 para 1- projectos
contemporâneos”, no Fórum da Maia,
Maia.
Sem título // 2007
instalação, tapete em lã, impressão lambda s/ alumínio,
123X334cm
Sem título // 2007
5 impressões fotográficas, 28x42cm
RITA PINTO — 79
A fotografia enquanto acontecimento distancia-se do seu referente pelos significados opacos que emergem do seu pensamento. Ela é tão mais subversiva quando se apresenta sob a forma
de pensamento. Sendo este pensar uma máscara significante que
advém do desejo da imprecisão do objecto que assume mais uma
função de reflexão do que de apresentação. Esta inexactidão dos
meta-referentes da fotografia desvia os seus significados para o
universo da alucinação, “falsa ao nível da percepção, verdadeira ao
nível do tempo”. 1 Ela define um espaço teatral, aparente, carregado de tensões, memórias, acções, profanações e consagrações.
O termo consagrar está relacionado com o sagrado, e apresentase como algo de absolutamente diferente do profano. A forma
como visualizamos esta transformação de ordem simbólica pode
ser representada pelo termo hierofania2 indicado por Mircea
Eliade que exprime a manifestação do sagrado num objecto profano. Esse objecto adquire uma dupla condição contraditória na
sua essência: “a pedra sagrada, a árvore sagrada, não são adoradas
como pedra ou como árvore sagrada, são-no justamente porque
são hierofanias porque “mostram“ qualquer coisa que já não é pedra nem árvore, mas o sagrado, o “ganz andere“.3 Se o sagrado
se manifesta num objecto, este transforma-se numa outra coisa
qualquer, contudo não deixa de ser ele mesmo uma coisa pertencente ao mundo das coisas. Neste sentido assume-se como um
elemento híbrido na sua presença, uma profanação e consagração
de um espaço e tempo, que operam na mesma linha de horizonte. Giorgio Agambem aborda esta ambiguidade referente ao acto
de consagrar (ou de profanar), afirmando que a contradição está
assente no facto de se centrarem no mesmo objecto, “na medida
em que se referem a um objecto que é exactamente o mesmo,
que deve passar do profano para o sagrado e do sagrado para o
profano, é sempre necessário contar que haja algum resíduo de
profanidade em todas as coisas consagradas e um resto de sacralidade presente em todos os objectos profanados”.4
Ao relegarmos a importância do sujeito ao mesmo patamar de um
objecto profano estamos a sacralizar aquilo que é suposto ser profano e a profanar o histórico estatuto do sujeito/autor enquanto
ser autónomo. O espaço e o tempo são assim os limites da experiência do gesto que procura encontrar os seus termos no contacto
com o outro, sendo este outro uma hierofania de um território.
Esta constante in-localização do corpo através dos seus referentes objectuais não procura uma simples confrontação sensitiva
mas um sentir para além do corpo, uma experiência profana,
desligada da contemplação pura de um qualquer momento que
emerge como verdade sublime.
A analogia directa que existe entre o gesto e o tacto, entre o sentir e o sente-se, organiza topograficamente o posicionamento do
eu no espaço social. Este diálogo não é nem independente de
quem sente e de quem faz sentir, permitindo a passagem da obra
que é desenraizada do espaço da identidade do artista para um
espaço neutro. Um espaço que não procura a neutralização mas
a abertura para um campo infinito, como refere Roland Barthes
citado por Mário Perniola que “neutro não significa a abolição
dos dados conflituais do discurso. Mas, precisamente o contrário,
a sua manutenção e a sua proliferação infinita.” 5
Se através do gesto limitamos o território do corpo, a fotografia
encerra esse gesto numa janela fechada para o corpo mas aberta à paisagem representativa. Neste sentido, a acção do corpo
é relevada para uma figura profanada pela imagem fotográfica,
retirando-lhe a sua existência sagrada e atribuindo-lhe um novo
estatuto: o de vestígio. Esta exigência que a fotografia interpola
ao observador transforma o acto de ver numa experiência autoreflexiva, do ver passamos para o ver-me. Giorgio Agambem caracteriza esta exigência como redentora: “A imagem fotográfica é
sempre mais do que uma imagem; é o ligar de uma separação, de
um dilaceramento sublime, entre o sensível e o inteligível, entre a
cópia e a realidade, entre a recordação e a esperança.” 6
A janela que aparentemente se abre para a contemplação da paisagem fecha as suas portas no momento em que é confrontada
pelo olhar do observador. O acto de contemplar contamina a
imagem para um meta-referente que já não pertence ao eu mas
ao posicionamento geográfico e social do outro.
O eu transforma-se num fantasma e o outro em catarse dessa
aparição.
BARTHES, Roland, A Câmara Clara, Edições 70, Lisboa, 2006, p.127
ELIADE, Mircea, “O Sagrado e o Profano- A essência das religiões”, Livros do Brasil, Lisboa. A autora aborda a forma como o sagrado se manifesta nos objectos através dos tempos, bem como todo o processo de
transformação de um objecto mundano num elemento sagrado de culto religioso e pagão.
3
Ibid:ibidem, p.26
4
AGAMBEM, Giorgio, “Profanações”, Cotovia, Lisboa, 2006, p.110
5
PERNIOLA, Mario, “A Arte e a sua Sombra”, Assírio & Alvim, Lisboa, 2006, p.45
6
AGAMBEM, Giorgio, “Profanações”, Cotovia, Lisboa, 2006, p.36
1
2
RITA PINTO — 81
Pós-cabo // 2007
cabos eléctricos, dimensões variáveis
Nasceu nas margens do Ave em
1983. ¶ Criado com amor e carinho
pelos seus avós Maria Emília Pereira
e Manuel Moreira. ¶ Licenciou-se
em Artes Plásticas – Escultura pela
fbaup. ¶ Encontra-se no Mestrado de
Práticas Artísticas Contemporâneas
pela mesma instituição.
SAMUEL SILVA — 83
Antecâmara1
O estatutO dO cabO na arte Pós-Medial
Vítimas da industrialização, do pluralismo cultural e da sociedade de massas, atravessamos um momento onde uma das principais características do fazer artístico
contemporâneo é, indubitavelmente, o seu comprometimento com as tecnologias
do seu tempo.
Somos confrontados diariamente, na rotina do sistema artístico, com exposições,
eventos ou apresentações onde os objectos de arte convivem, sobrevivem e morrem
descontraidamente com as habilidades e meios tecnológicos. De repente, o território
“enciclopédico” da instalação não estranha qualquer formalização, onde a imagem e
o som partilham o mesmo cenário com os aparelhos tecnológicos que a produzem
e a objectualiza.
Numa altura onde a exploração e experimentação artística busca freneticamente o
up-to-date com a tecnologia na conquista do virtual, transformando as potencialidades dos mutáveis softwares em bandeiras criativas, assistimos simultaneamente a
um progressivo “desleixe” dessa experimentação naquilo que a relaciona com a sua
presentificação no espaço físico. Refiro-me aos sucessivos mergulhos desmedidos da
arte no aprofundamento da interioridade maquinal, submetendo-se a um estado de
dormência que a distrai de um certo entendimento do espaço que esta tecnologia
ocupa enquanto objecto.
Sendo o cabo um elemento comum e comunicante em toda esta teia industrial de
aparelhos (emissores, produtores, reprodutores e receptores), procura-se debater,
particularmente, o seu estatuto e lugar na contemporaneidade da prática artística.
De facto, talvez seja pela sua insignificância objectual, que muitas vezes se torna
objecto de atitudes de displicência formal, adquirindo um estatuto omnipresente,
conseguindo nessa condição, ocasionalmente, penetrar nesse território singular do
convívio com a forma artística.
O momento da montagem é normalmente crucial, a mediocridade formal do cabo,
torna-o imperceptível no processo de construção conceptual do objecto artístico,
adquirindo gradualmente pertinência no espaço expositivo por excelência. Aqui são
conhecidas as habilidades acrobáticas das equipas de montagem e dos directores de
produção, nas estratégias de ocultação, muitas vezes assaltados por esta praga insignificante que reivindica quase revolucionariamente um lugar ao sol no palco expositivo. Interessante será pensar que relativo a este assunto, de repente o anónimo que
dirige a montagem da obra, encontra-se perante um elemento que em tudo pode
fazer a diferença, arriscando uma tímida intervenção na composição formal da instalação. Estaremos perante um espaço de decisão, criativo, fora do alcance do autor?
Coloco-o numa calha, percorro-o junto ao rodapé, ou assumo a sua quase ausência
perceptiva abandonando-o no seu percurso natural, na perspectiva de não influenciar a passividade composicional da peça?
A revolução digital a que assistimos passivamente no papel de consumidores tem
desbravado território na procura enlouquecida pela leveza e desmaterialização cada
vez maior do objecto tecnológico. As conquistas no processo de minimização formal
da tecnologia, por parte dos grandes construtores, têm sido utilizadas e denomi-
nadas como estratégias de marketing de sucesso. Caminhamos desenfreadamente
para uma desmaterialização progressiva da máquina contemporânea, na perspectiva
ainda visionária que esta acabe por realizar o seu desejo máximo que se define na sua
instauração completa no corpo humano deixando definitivamente de se resumir a
um prolongamento estranho ao nosso corpo.
Aliás, como adivinhamos nas palavras de Paul Virilio, no seu livro - A velocidade
de Libertação:
“ (...) o próprio ecrã acabará por se apagar e em breve desaparecer, em proveito de
uma série de difusões, simultaneamente no fato de dados (data suit) e no capacete
de visão esteroscópica, que transmuta o receptor num homem terminal, como se a
última superficie, ou melhor, o último interface, fosse o do córtex occipital! “
A tecnologia Wireless, por exemplo, fez a sua primeira tentativa de assassínio do
cabo, embora ainda não total, provavelmente foi apenas um sinal de que não estaremos longe de colocar o cabo num estatuto de “espécie em vias de extinção”. E se
assim for talvez lhe poderemos conferir valor simbólico, como elemento obsoleto,
abrindo definitivamente espaço para a sua integração formal no território artístico,
abandonando a sua funcionalidade polivalente, que lhe atribui uma intensa utilização, exclusiva, na exploração das suas capacidades internas.
De repente, não seria estranho, perante o advento da tecnologia sem-fios, ou Era
pós-cabo (wire-less, bluetooth, infra-vermelhos, ou mais tarde ou mais cedo, circuitos de alimentação eléctrica sem fios), depararmo-nos com uma consequente lógica
de utilização fetichista do cabo no território artístico, pelo seu sedutor carácter de
obsolescência, ultrapassando categoricamente a sua condição de tropeço visual.
Ou numa perspectiva mais apocalíptica, a ascensão delicada e imperceptível da
tecnologia sem-fios e a obstinada instauração digital definitiva no nosso corpo
(pós-forma), dissolverá por completo um terreno (e não me refiro agora nomeadamente apenas ao cabo, mas à totalidade do apparatus tecnológico) que foi sendo
saudavelmente cultivado, por diversas manifestações artísticas desde os confins da
Modernidade.
A tese da obsolescência poderá provar que não, mas não nos esqueçamos que esse
carácter encantatório só constituirá razão e sentido enquanto efemeridade.
E depois?
(2)
Este pode ser o tempo das coisas pequenas.
Do leve. Do delicado. Do comezinho. Do frágil.
Do segundo. Da insignificância. Do pormenor. Do
milímetro. Do detalhe. Da grama. Do pó. Do zoom.
Da partícula. Do grão. Da unidade. Do mísero. Do
pouco. Do efémero. Do invisível.
Um excerto, pequeno, delicado.
“Hoje em dia todos os ramos da ciência parecem
querer demonstrar-nos que o mundo assenta em
entidades delicadíssimas: tal como as mensagens
do ADN, os impulsos dos neurónios, os quarks, os
neutrinos vagueando pelo espaço desde o princípio
dos tempos (...)”, disse Ítalo Calvino.
E eu digo o que ele disse.
Do leve. Do delicado. Do comezinho.
2
Chasing the blue Train, David Hammons, 1989,
fotografia de Samuel Silva, da exposição “Anos 80:
Uma Topologia”, Museu de Arte Contemporânea
Serralves, 2007.
1
SAMUEL SILVA — 85
Sem Título // 2007
técnica mista, molduras sobre molduras, 200x300cm
Nasceu em 1983, natural de Portimão.
¶ Foi estudante na esad nas Caldas
da Rainha, onde se licenciou em artes
plásticas. No lectivo de 2005/2006,
devido ao programa Erasmus,que
lhe proporcionou um semestre em
Inglaterra, em Birmingham, o seu
trabalho melhor se definiu como
artista plástica. ¶ Tamara neste
momento é mestranda em Práticas
Artísticas Contemporâneas na
Faculdade de Belas Artes do Porto,
onde reside. Desde 2000 que participou em vários projectos e exposições
individuais e colectivas; recentemente
participou numa exposição internacional no Hotel Quinta do Lago, em
Alcantarilha.
TAMARA ALVES — 87
TAMARA ALVES — 89
S/ título, (Gravidez) – Ecografia // 2007
vídeo em duas partes, 6’ 30”, cor, som:
1. Ecografia transcrita para DVD, (4:3)
2. HDV CAM transcrita para DVD PAL, (16:9),Ed.3+1PA
Nasceu em 1982. Vive e trabalha no
Porto. ¶ Frequenta o Mestrado em
Práticas Artísticas Contemporâneas
na Faculdade de Belas Artes,
Universidade do Porto, (fbaup),
2006/2007. Licenciada em Artes
Plásticas- Escultura, fbaup, 2005.
Conclui o curso de pesquisa e criação
coreográfica, pelo Fórum Dança,
Porto, em 2006. Recebe bolsa por
mérito atribuída pela fbaup e prémio
de melhor aluno finalista do Curso
de Artes Plásticas – Escultura, 2005.
Bolseira Erasmus na Academia de
Belas Artes de Bolonha, Itália, 2004.
¶ Exposições individuais: vera, mco
Arte Contemporânea, Porto, 2007;
Vestígios, mco Arte Contemporânea,
Porto, 2006. Chove nos meus
olhos..., mco Arte Contemporânea,
Porto, Espaços dolorosos, Cirurgias
Urbanas, Porto, e Desvios da carne,
Artes Múltiplas e Cão Danado,
Porto, em 2005; Verso di me,
Galeria V. Guidi, Bolonha, 2004.
¶ Exposições colectivas: em 2007,
Distorciones e identidad, Badajoz,
Espanha; Antimonumentos, Viseu
(comissariada por Miguel von Hafe
Perez). All my independent Women,
eira 33, e Anteciparte, 2006, Lisboa.
Em 2005, Blue Screen, Galeria do
Palácio, Porto; Bienal de Cerveira,
Tui. Attimo, Academia de Belas
Artes, Bolonha; Outros lugares,
Faculdade de Direito, Universidade
do Porto, 2004. Contra péssimos
hábitos, Maus Hábitos, Porto, 2003.
¶ Realiza ainda, com frequência,
trabalhos no âmbito da performance
dos quais se destacam, entre outros:
Perfection in your hands, Apêndice,
Porto; S/ Título (Gravidez) - I Acto,
Arco, Madrid, Espanha; Can, mco
Arte Contemporânea, Porto, 2006; Eu
desejo, eu – objecto de desejo, Artes
Múltiplas e Cão Danado, Porto, 2005;
Corto os pulsos, Bolonha, Itália, 2004;
How do you look?, Maus Hábitos,
Porto, 2003; Co(po)patologia, centa,
Castelo Branco, 2002.
Participou ainda em performances colectivas: Entre tanto, em colaboração
c/ António Pedro Lopes, Porto, 2006;
Um mergulho, de Vera Mantero,
Teatro Nacional São Luís, Lisboa,
2006; Transformer, de Miguel Pereira,
Teatro Barakaldo, Bilbau, 2006; Xarxa
25, por La fura dels Baus, Feira, 2005;
As.Atletas.Porto.2003, com Nadia
Lauro e Franz Poelstra, mac Serralves,
Porto, 2003.
VERA MOTA — 91
S/ título (Gravidez), apresenta uma falsa condição como projecto artístico, no qual
enquanto artista faço uso de um objecto instalado sobre o abdómen, para simular
uma gravidez, canalizando as suas implicações e ressonância nos contextos onde é
proposta, tanto operando em circuitos artísticos identificados, como criando novas
alternativas. Estabelece-se uma relação estreita entre a materialidade da obra, a performatividade do artista e o quotidiano. Este projecto a longo prazo propõe a análise de uma série de questões que percorrem grande parte do espectro das práticas
artísticas, desde os preconceitos sobre o trabalho de mulheres artistas, ao estatuto
do artista e da obra de arte, bem como a sua produção, recepção e circulação, num
mundo esgotado por uma exposição constante à voracidade dos media e onde a
realidade se confunde com a sua própria construção.
Proposto de forma generalizada como metáfora para a criação artística, reúne num
corpo todo um conjunto de problemáticas que situam este trabalho para além de
uma acção específica sobre o site. Abrangente e tão instável quanto flexível, reage
- mais do que actua - conforme as premissas com as quais se confronta. O território em causa, tem um carácter híbrido e indefinido, concentrado no meu corpo
enquanto artista ou largamente ampliado à escala da envolvente cultural e social de
que não consegue separar-se.
Ao integrar a obra como um adereço, provoco uma deformação na minha aparência,
e assim me apresento na forma de grávida. Este é o primeiro momento de “exposição” do trabalho. Aí, a semelhança com a realidade, permite-me oscilar entre a
condição de performer e a de mera transeunte, um estado de oscilação consciente
e intencional, que propõe um nivelamento da minha presença, criando contextos
de proximidade ou distância, enquanto promove uma fusão fértil entre realidade
e ficção, arte e vida. Acessório, prótese, extensão, desvio. O projecto assume um
carácter transitório, reversível e intermitente, no qual a obra se sobrepõe/ coincide
com a artista. Por sua vez, a artista torna-se o primeiro espaço expositivo da obra,
activando-a simultaneamente. As diferentes instâncias fundem-se.
O projecto rompe fronteiras, revelado a sua eficácia enquanto veículo de comunicação, também fora dos circuitos artísticos. Público especializado e não especializado
são colocados ao mesmo nível. Na sua condição de simulacro - antes de se revelar
como farsa - S/ título (Gravidez) desencadeia o mesmo tipo de reacções em ambas
as tipologias, seja numa feira de arte, museu, metro ou numa clínica de imagiologia.
(onde me submeto a um exame que coloca em evidência a natureza do projecto).
S/título (Gravidez), projecto artístico, e enquanto tal, produto social, é capaz de
produzir e propor um fluxo de relações interpessoais, criando novas possibilidades
de diálogo e procedimentos. O projecto fornece mais do que a experiência de contemplação do objecto, passiva e distanciada.
Com um carácter assumidamente processual, de constante adaptação e reescrita,
interactivo, generativo, S/ título (Gravidez) actua como instrumento e instigador
de discussão.
VERA MOTA — 93
O espaço expositivo do pack experimenta diferentes articulações entre os codificados “white cube” e “black box”, para criar
um percurso através dos diferentes media presentes na exposição.
Paralelamente, o projecto subtrai o carácter monumental do edifício e das salas onde está instalado, procurando ajustar-se à escala
aos trabalhos artísticos.
O percurso criado inicia e encerra com salas de exposição “convencionais” – brancas, iluminadas com luz natural -, atravessadas por percursos de penumbra que penetram em salas obscurecidas. Há uma inversão da hierarquia usual entre espaços/
media: a grande sala de exposições está escurecida e preparada
para projecção e visionamento de imagens em movimento. Aí
coexistem ecrãs de projecção e de retroprojecção, plasmas e um
ecrã de computador. Na periferia deste escuro epicentro, foram
criadas superfícies brancas de pladur (câmara de acolhimento,
antecâmaras e átrio posterior). Assinalando a dimensão pública
da nova entrada, foram colocados dois contentores marítimos,
sobrepostos, adicionados à fachada da Reitoria, em cujo interior
se criaram salas para projectos.
O pack instalou-se entre 3 e 27 de Setembro na sala denominada
Átrio de Química, no Átrio e escadaria anexa, nas antecâmaras de
acesso e na escadaria externa do Jardim da Cordoaria.
inês moreira e tiago costinhas
AGRADECIMENTOS:
A todos os artistas
Jorge Soares, FNAC, Santa Catarina
Jorge Silva, FNAC, Santa Catarina
LG Electronics, Portugal
Magda Gomes Dias, Férrinha, Filhos, Indústrias Metálicas, Lda.
António José Alves, Férrinha, Filhos, Indústrias Metálicas, Lda.
Fernando Pereira
Emílio Faria
Guilherme Santarém
António José Rocha
Dinis Santos
Patrícia Almeida
Isabel Campos Costa
Joana Leão
Ricardo Campos Costa
Bruno Silva
Manuel Ulisses
Galeria Quadrado Azul
Aida Castro
Ana Rocha
André Brinco
Jonathan Saldanha
Miguel Carneiro
Miguel Graça
Pilar Valadares
Sara Nunes
Daniel Oliveira
Sílvia Jiménez
Maria do Carmo Oliveira
Marisa Ferreira
Luísa Aleixo
Virgílio Raposo
Ficha técnica:
Organização: Reitoria da Universidade do Porto, Mestrado em Práticas
Artísticas Contemporâneas da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto
Arquitectura e Concepção Espacial: Inês Moreira, Tiago Costinha
Docentes do MPAC: Cristina Mateus, Fernando José Pereira
Coordenação: Alexandra Araújo, Ana Martins
Produção: Maria Adelaide Ferreira
Design: idd.fba.up.pt, Sérgio Couto, José Carneiro,João Cruz, Miguel Carvalhais
Montagem: Produções Reais
Fotografia: António Rocha, exepeto p.27 por Eduardo Matos
Apoio à montagem: Delfim Machado, Vítor Ferreira
Gabinete de Imprensa: Vasco Ribeiro, Raúl Santos
Transportes: Rui Manuel Barreiro Faria, Unipessoal, Lda.
Impressão: marca-ag.com
Seguros: MDS, Corrector de Seguros e Gestão de Riscos
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