análise da viabilidade econômica e financeira da produção de

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análise da viabilidade econômica e financeira da produção de
ANÁLISE DA VIABILIDADE ECONÔMICA E FINANCEIRA DA
PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL EM FORNO CONTAINER
Aylson Costa Oliveira*; Bárbara Luísa Corradi Pereira**; Angélica de Cássia Oliveira Carneiro***;
Carlos M. M. Eleto Torres****; Benedito Rocha Vital*****; Márcio Arêdes Martins******.
* Graduando em Engenharia Florestal, Universidade Federal de Viçosa – UFV, Brasil, [email protected]
** Graduanda em Engenharia Florestal, Universidade Federal de Viçosa – UFV, Brasil, [email protected]
*** Engenheira Florestal, Professora Doutora, Universidade Federal de Viçosa – UFV, Brasil, [email protected]
**** Graduando em Engenharia Florestal, Universidade Federal de Viçosa – UFV, Brasil, [email protected]
***** Engenheiro Florestal, Professor Doutor, Universidade Federal de Viçosa – UFV, Brasil, [email protected]
****** Engenheiro Químico, Professor Doutor, Universidade Federal de Viçosa – UFV, Brasil, [email protected]
Resumo
O presente estudo teve como objetivo principal analisar tecnicamente um forno container com capacidade
de produção mensal de 4000 metros de carvão (mdc) e comparar financeira e economicamente a
utilização deste tipo de forno, em período anterior e durante a crise financeira internacional. Para tanto,
utilizaram-se como indicadores financeiros a lucratividade, rentabilidade, prazo de retorno do
investimento e ponto de equilíbrio. Os indicadores econômicos utilizados para proceder a análise
econômica foram o VPL e TIR. Conclui-se que antes do início da crise econômica, o alto preço de venda
do carvão vegetal viabilizava econômica e financeiramente a implantação de um projeto de forno
container. Já com os preços praticados no período de crise, o projeto se tornou inviável.
Palavras-chave: forno container, carvão vegetal, crise econômica mundial.
Abstract
Economical and financial viability evaluation of a container kiln for charcoal production. The present
study aimed at the technique an container kiln with capacity of production of 4000mdc monthly and
comparing financier and economically the use of this kiln, in previous period and during the financial
international crisis. The following financial indicators were used in the analysis: profitability, yield,
payback period and break-even point. The economic indicators used in the economic analysis were VPL
and TIR. Before the beginning of the economical crisis, the introduction of a container kiln project was
viable economically and financially due to the high sale price from the charcoal. Already with the prices
practiced in the period of crisis, the project becomes impracticable.
Keywords: container kiln, charcoal, financial international crisis.
INTRODUÇÃO
O carvão vegetal é uma fonte energética de grande importância no Brasil, não só por ser
renovável, mas também por sua importância histórica e econômica no país. Ainda hoje, o carvão vegetal é
utilizado para fins domésticos, na cocção de alimentos. Industrialmente, o carvão vegetal é o mais
importante combustível e redutor do minério de ferro, em operações siderúrgicas e metalúrgicas
(GUIMARÃES NETO, 2005). Para cada tonelada de aço produzida, são consumidos em média três
metros cúbicos de carvão vegetal (COTTA, 1996).
Em qualquer sistema de carbonização ocorre a destilação da madeira que é transformada numa
fração rica em carbono – o carvão vegetal, e noutra fração composta por vapores e gases (alcatrão,
pirolenhosos e gases não-condensáveis), de acordo com Sampaio e Mello (2001). A decomposição
térmica, ou pirólise da madeira, pode resultar em um produto gasoso ou em outros produtos de valor
energético, como é o caso do carvão vegetal, cuja menor umidade, assim como uma maior densidade
energética e homogeneidade, é uma vantagem de particular interesse. (ASSIS, 2007)
O carvão vegetal é um resíduo sólido que se obtém da carbonização da madeira, em que a
mesma é queimada ou aquecida numa atmosfera restrita de ar (oxigênio), aonde vão sendo expulsos a
água, os compostos voláteis, uma fração de compostos orgânicos condensáveis à temperatura ambiente, e
outros, sem que ocorra a combustão total, devido a pouca quantidade de oxigênio (MEIRA, 2002).
O carvão vegetal brasileiro é ainda hoje produzido, em sua maior proporção, da mesma forma
como o era há um século. A tecnologia é primitiva, o controle operacional dos fornos de carbonização é
pequeno e não se pratica o controle qualitativo e quantitativo da produção. Além desses aspectos, a
tecnologia atualmente empregada descarta, através da emissão de gases, milhares de toneladas de
componentes químicos, no processo de carbonização, aproveitando-se de 30 a 40% da madeira na forma
de carvão, o restante é simplesmente lançado na atmosfera na forma de gases. A perda de produtos
químicos valiosos deve ser considerada, já que poderiam ser economicamente recuperáveis, bem como ao
nível ambiental. (BRITO, 1990)
No Brasil, a produção do carvão vegetal é realizada, na maioria das vezes, em fornos de
alvenaria rudimentares. Nesse sistema, o controle da carbonização é empírico e não há a recuperação dos
produtos voláteis que são lançados no meio ambiente (ALMEIDA e REZENDE, 1982). Apesar de serem
mais baratos e fáceis de construir, os fornos de alvenaria apresentam baixos rendimentos gravimétricos –
rendimento em função do peso de lenha enfornado – em carvão vegetal com perdas em forma de fumaça
poluente que podem chegar a 50% do carbono inicialmente contido na lenha enfornada e 75% em peso
dessa mesma lenha. Rendimentos gravimétricos em carvão vegetal na faixa de 25% obtidos nos fornos
tradicionais representam uma perda econômica expressiva e subutilização da lenha carbonizada
(PIMENTA, 2002).
A necessidade de agregar valor ao carvão vegetal para torná-lo competitivo com outras fontes de
energia, principalmente o coque, motiva as empresas florestais a buscarem alternativas no sistema de
produção por meio de inovações tecnológicas a fim de obterem uma maior produtividade e qualidade do
carvão vegetal (GUIMARÃES NETO, 2005).
A busca por tecnologias mais produtivas, eficientes e que possibilitem ao aproveitamento de
subprodutos, tais como alcatrão e gases, gerados no processo de carbonização é o motivo pelo qual se tem
a evolução dos fornos artesanais tradicionais para fornos cilíndricos verticais.
O Forno Container pode ser considerado um sistema conjugado que reúne a vantagem de bom
isolamento térmico dos fornos de alvenaria e o rápido resfriamento dos fornos metálicos (BARCELLOS,
2002), além de apresentar elevada produtividade quando comparado aos fornos tradicionais. Este tipo de
forno foi desenvolvido no Laboratório de Painéis e Energia da Madeira no Departamento de Engenharia
Florestal da Universidade Federal de Viçosa no final dos anos 80, resultando em uma defesa de tese de
mestrado por Ferreira (1988).
A carbonização da madeira em forno container consiste em se encapsular um cilindro metálico
cheio de madeira dentro da câmara isolante e iniciar o processo de carbonização de forma parecida com o
forno de superfície com câmara de combustão externa. Podem ser executadas carbonizações em 8 a 10
horas e enquanto a carbonização acontece, o forno está encapsulado dentro da câmara isolante. Ao
terminar a carbonização, o cilindro metálico é retirado, podendo ocorrer livre troca de calor com o
ambiente, através da parede do cilindro metálico, de forma que o carvão rapidamente se resfria. Depois do
tempo de resfriamento, o carvão será então, descarregado. (COLOMBO et al, 2006)
Neste sistema de forno “container”, o controle da carbonização é feito por um sistema
supervisório de temperatura, através de termopares, e não por coloração de fumaças e outros critérios
subjetivos, permitindo um controle maior do processo de produção.
No forno container é possível fazer a queima da fumaça gerada durante o processo de
carbonização, reduzindo os teores de gases como metano (CH4) e monóxido de carbono (CO) que seriam
emitidos para a atmosfera e o aproveitamento do ar quente e limpo gerado na secagem da madeira antes
desta ser enfornada. (BRICARBRAS, 2009)
Apesar de todas as vantagens que o forno container oferece, esta tecnologia apresenta alto custo
de implantação e manutenção da planta de carbonização, necessitando, portanto de estudos que avaliem o
tempo de retorno deste investimento, bem como os demais indicadores financeiros e econômicos.
Em virtude da crise econômica mundial, investir numa tecnologia de alto custo pode não
viabilizar a produção de carvão vegetal, tornando um obstáculo para o empreendimento. A menor
demanda de carvão vegetal principalmente pelo setor siderúrgico devido à queda de produção de ferrogusa, provocou redução no preço nas principais praças produtoras e consumidoras de carvão. Seu preço
chegou a alcançar R$189 por metro de carvão (mdc) em agosto de 2008 e caiu para R$75/mdc em
dezembro de 2008. Com a queda acentuada da demanda, o mercado de carvão tem se mantido, desde o
início do ano de 2009, praticamente inalterado.
Devido à crise econômica mundial, o carvão vegetal já atingiu quedas de 30 a 40% no preço
comparado a períodos anteriores, ou seja, nos meses anteriores a setembro de 2008. Outros setores
demandantes de carvão também têm mostrado redução na compra do produto, como por exemplo, o de
uso residencial, comercial (em baixa escala) e agropecuário.
A perspectiva de novos cenários já existe. A partir de maio de 2009 algumas empresas
siderúrgicas e de produção de carvão vegetal já retomaram suas atividades normais após seis meses de
baixa produção, em decorrência de uma melhor estabilidade econômica do cenário mundial.
Portanto, presente estudo teve como objetivo analisar tecnicamente um forno container com
capacidade de produção de 4000mdc por mês e comparar financeira e economicamente a utilização deste
tipo de forno, em período anterior e durante a crise financeira internacional.
METODOLOGIA
Foi feita uma comparação entre a viabilidade de implantação e manutenção de uma planta de
carbonização utilizando-se a tecnologia do forno container antes e durante os efeitos da crise econômica
mundial. Para tal comparação foram considerados todos os preços e custos de setembro de 2008 e de
maio de 2009.
Para a análise técnica qualitativa e quantitativa dos fornos foram avaliados os seguintes
parâmetros: capacidade de produção, número de ciclos de carbonização por mês, produtividade por
funcionário, tempo de carregamento, tempo de carbonização, tempo de resfriamento, tempo de
descarregamento, rendimento gravimétrico, comprimento das bitolas da madeira e qualidade do carvão.
A análise financeira e econômica tem sua importância e interesse na medida em que se auxiliam
os investidores na tomada de decisão de um investimento.
Os indicadores financeiros estimados foram: lucratividade, rentabilidade, prazo de retorno do
investimento e ponto de equilíbrio. A análise financeira é de curto prazo, ou seja, é uma análise anual.
A análise econômica é uma análise de longo prazo, envolveu um planejamento de dez anos,
sendo que foram estimados o Valor Presente Líquido (VPL) e a Taxa Interna de Retorno (TIR).
A taxa de descontos utilizada foi de 10% ao ano.
Indicadores Financeiros
Lucratividade = lucro liquido x 100
Receita total
Rentabilidade =
lucro liquido
x 100
Investimento total
Prazo de retorno do investimento = investimento total
Lucro líquido
Ponto de equilíbrio = Custos fixos
PVU – CVU
Onde:
PVU = Preço de venda unitário.
CVU = Custo variável unitário
Indicadores Econômicos
Valor Presente Líquido (VPL):
n
n
j =0
j =0
VPL = ∑ R j (1+ i)− j −∑C j (1+ i)− j
Onde:
Cj = Custos no final do ano j, em R$;
Rj = Receita no final do ano j; em R$;
I = Taxa de desconto;
N = Duração do projeto, em anos.
Taxa Interna de Retorno (TIR)
n
∑R
j =0
n
j
(1 + TIR) − j =∑ C j (1 + TIR) − j
j =0
Onde:
Cj = Custos no final do ano j, em R$;
Rj = Receita no final do ano j; em R$;
TIR = Taxa interna de retorno
Os custos a serem considerados para o cálculo dos indicadores financeiros e a análise
econômica, serão:
Custo de depreciação - 10% da implantação
Custo de manutenção – 5% da implantação
Custo de eletricidade – dados da empresa do setor
Custo da lenha anual – Vol. Cilindro * número de ciclos * número de meses * preço da lenha
Encargos sociais + impostos = 67% dos salários
Capital de giro – custo variável
Custo de oportunidade (CO)
CO = [(CL/2)*(r)}+{CG)*r]
Onde,
CO = custo de oportunidade
CL = custo de implantação total
CG = capital de giro
r = taxa de juros
A realização deste estudo considerou os preços médios praticados nos períodos analisados. Para
setembro de 2008 considerou-se R$60,00/m³ o preço da lenha e R$150,00/mdc o preço do carvão vegetal
e para maio de 2009, considerou-se R$30,00/m³ e R$75,00/mdc, os preços da lenha e carvão,
respectivamente.
RESULTADOS
Análise Técnica
Para a análise técnica qualitativa e quantitativa dos fornos tipo container de 4000 mdc foram
avaliados os seguintes parâmetros, apresentados na Tabela 1.
Tabela 1 – Aspectos técnicos do forno container.
Table 1 –Technical aspects of the container kiln.
PARÂMETROS
Produção de carvão por carbonização (mdc)
Produção por mês referente a uma unidade (mdc)
Ciclos por mês
Produtividade/ funcionário. mês
Tempo de carregamento (min)
Tempo de carbonização (h)
Tempo de resfriamento (h)
Tempo de descarregamento (min)
Rendimento gravimétrico (%)
Tamanho de bitola da madeira (m)
Fonte: BRICARBRAS, 2008
6,5
4.000
308
167
30
9 a 14
12
18
36
1,2 ou 2,4
De acordo com o quadro acima, a quantidade de madeira requerida para tal produção é de 5.544
st de lenha por mês, o que corresponde a aproximadamente 17 hectares de floresta de eucalipto com
produtividade de 210 m3/ha aos 7 anos. As peças de madeira utilizadas poderão ter uma camada de toras
com 2,40 metros de comprimento ou duas camadas de toras de 1,20 metros. As peças selecionadas devem
ser uniformes, de boa qualidade e sem contaminantes.
A unidade de produção de carvão utilizando os fornos container provém de uma estufa de
secagem de madeira com sistema de microondas com capacidade de secagem de 250 m3 de madeira por
ciclo. A umidade da madeira ao final de cada ciclo, que dura entre 30 e 48 horas, é reduzida para um teor
de 12 a 20%. (BRICARBRAS, 2009)
O controle da carbonização é feito através de um sistema computacional, onde são controlados a
temperatura e tempo de carbonização, de acordo com as características da madeira, como densidade e
diâmetro. Uma vantagem do carvão produzido pelo forno container é que não existe contato da
madeira/carvão com terra, assim, não são incorporados minerais estranhos, como ocorre durante o
manuseio do carvão em carvoarias tradicionais, havendo uma menor porcentagem de cinzas gerada.
O carvão produzido pelo forno container apresenta carbono fixo variando de 72 a 78%, cinzas
entre 1 a 3 %, porcentagem de finos (carvão vegetal com dimensões menores que 9 mm) em torno de
10%. O carvão obtido em forno container é de boa qualidade, apresentando as mesmas propriedades ou
melhores do carvão produzido em fornos de alvenaria ou retorta de laboratório. Como exemplo, pode-se
citar composição química, densidade, resistência mecânica, poder calorífico, entre outros. Podem ser
obtidos rendimentos gravimétricos em carvão vegetal, na faixa de 35% a 38% contra de 25% a 33% nos
fornos de alvenaria tradicionais.
Análises econômica e financeira
Na Tabela 2 são mostrados os custos de implantação, capital de giro, custos fixos e variáveis
presentes no projeto do forno container para 4000 mdc/mês.
Tabela 2 – Custos de uma planta de carbonização com forno container de 4000 mdc/mês
Table 2 – Costs of a carbonization plant with a 4000 mdc container kiln
Setembro de 2008
Maio de 2009
Custos
R$/ano
R$/ano
Custo de implantação
Capital de giro
3.616.833,00
304.955,60
3.616.833,00
304.955,60
Custos fixos
Depreciação (10%)
Custo de oportunidade
Total
R$/ano
361.683,30
211.337,20
573.020,50
R$/ano
361.683,30
211.337,20
573.020,50
Custos variáveis
Manutenção
Eletricidade
Custos da lenha
Encargos sociais + impostos
Mão-de-obra
Total
R$/ano
181.000,00
173.000,00
3.744.000,00
44.983,00
67.140,00
4.210.123,00
R$/ano
181.000,00
173.000,00
1.872.000,00
50.471,10
75.330,00
2.351.801,10
Total Geral
Fonte: Empresa do Setor Florestal
8.704.932,10
6.846.610,20
Para os dois períodos analisados, os custos de implantação, capital de giro e custos fixos não se
alteraram devido ao curto espaço de tempo decorrido de uma análise para a outra.
A principal mudança ocorrida nos custos variáveis foi o custo da lenha que diminuiu fator este,
determinante para a redução dos custos totais de setembro/2008 para maio/2009. Contudo, houve
aumento dos custos com mão-de-obra, encargos sociais e impostos, por razões já mencionadas.
Nas Tabelas 3 e 4 apresentam-se detalhadamente os custos de mão-de-obra de um forno
container industrial para a produção de 4000 mdc/mês de carvão vegetal para os dois períodos analisados.
Tabela 3 – Custos da mão-de-obra – Setembro/2008
Table 3 – Manpower costs – September/2008
Mão-de-obra
Salário mensal
N0 de
(R$)
funcionários
Carbonizador
830,00
2
Auxiliar de praça
415,00
7
Coordenador
1.030,00
1
Total geral
2.275,00
10
Total mensal
(R$)
1.660,00
2.905,00
1.030,00
5.595,00
Total Anual
(R$)
19.920,00
34.860,00
12.360,00
67.140,00
Tabela 4 – Custos da mão-de-obra - Maio de 2009
Table 4 – Manpower costs – May/ 2009
Mão-de-obra
Salário mensal
N0 de
Total mensal Total Anual
(R$)
funcionários
(R$)
(R$)
Carbonizador
930,00
2
1.860,00
22.320,00
Auxiliar de praça
465,00
7
3.255,00
39.060,00
Coordenador
1.162,50
1
1.162,50
13.950,00
Total geral
2.557,00
10
6.277,00
75.330,00
A mão de obra requerida tanto para setembro de 2008 quanto para maio de 2009 é a mesma.
Porém, os custos anuais com mão-de-obra aumentaram 10,87%, devido a ajustes no salário mínimo.
O forno container estudado gera uma produção de 4000mdc ao mês, totalizando 48000mdc ao
ano. Com o preço médio de venda do carvão vegetal a R$150,00/mdc (setembro de 2008), a receita total
de venda do carvão é de R$7.200.000,00/ ano. Já com o preço atual de R$75,00, a receita cai pela metade,
R$3.600.000,00/ano.
A partir dos custos e receitas foi possível elaborar os fluxos de caixa, apresentados nas Tabelas 5
e 6 , a partir dos quais foram estimados os indicadores financeiros e econômicos.
Tabela 5 – Fluxo de caixa: forno container – Setembro/2008
Table 5 – Cash Flow: container kiln - September/2008
Ano
Custo
Receita
Saldo (R$/ano)
(R$/ano)
(R$/ano)
1
3.616.833,00
0
-3.616.833,00
2
5.088.099,10
7.200.000,00
2.111.900,90
3
5.088.099,10
7.200.000,00
2.111.900,90
4
5.088.099,10
7.200.000,00
2.111.900,90
5
5.088.099,10
7.200.000,00
2.111.900,90
6
5.088.099,10
7.200.000,00
2.111.900,90
7
5.088.099,10
7.200.000,00
2.111.900,90
8
5.088.099,10
7.200.000,00
2.111.900,90
9
5.088.099,10
7.200.000,00
2.111.900,90
10
5.088.099,10
7.200.000,00
2.111.900,90
Tabela 6 – Fluxo de caixa: forno container – Maio/2009
Table 6 – Cash Flow: container kiln - May/2009
Ano
Custo
Receita
Saldo (R$/ano)
(R$/ano)
(R$/ano)
1
3.616.833,00
0
-3.616.833,00
2
3.229.777,20
3.600.000,00
370.222,80
3
3.229.777,20
3.600.000,00
370.222,80
4
3.229.777,20
3.600.000,00
370.222,80
5
3.229.777,20
3.600.000,00
370.222,80
6
3.229.777,20
3.600.000,00
370.222,80
7
3.229.777,20
3.600.000,00
370.222,80
8
3.229.777,20
3.600.000,00
370.222,80
9
3.229.777,20
3.600.000,00
370.222,80
10
3.229.777,20
3.600.000,00
370.222,80
Através dos fluxos de caixa é possível perceber que as receitas já são positivas no primeiro ano,
porém se comparados os dois períodos é perceptível a drástica redução do lucro líquido gerado
anualmente, podendo ser explicada pelo preço de venda do carvão vegetal que passou de R$150,00/m³
para R$75,00/m³. Assim, as receitas diminuíram.
Mesmo com o aumento dos custos de mão-de-obra, houve queda dos custos totais do projeto,
fato ocorrido principalmente pela queda no preço da lenha. Esta queda acentuada, não foi suficiente para
manter um saldo tão elevado como era observado anteriormente.
Na Tabela 7 são apresentados os indicadores financeiros da planta de carbonização de forno
container com produção mensal de 4000mdc.
Tabela 7 – Indicadores de desempenho financeiro da planta de carbonização de forno container
Table 7 - Financial performance indicators for a carbonization plant of container kiln
Indicador financeiro
Setembro de 2008
Maio de 2009
Lucratividade
29,33%
10,28%
Rentabilidade
58,39%
10,24%
Prazo de retorno
1ano e 9 meses
9 anos e 9 meses
Ponto de equilíbrio
9.199,24 mdc
22.030,78 mdc
A lucratividade do forno container de 4000mdc em setembro de 2008 foi de 29,33% ao ano
(a.a.), ou seja, para cada R$100,00 vendidos de carvão vegetal, a empresa tem como lucro R$29,33.
Mesmo sob efeito da crise financeira internacional, a lucratividade atingida em maio de 2009 foi de
10,28% a.a, valor três vezes menor que o encontrado anteriormente.
A rentabilidade representa o percentual do capital investido que será recuperado num período de
um ano e o prazo de retorno indica o tempo necessário para a recuperação de todo o capital. No primeiro
cenário (setembro/2008), a rentabilidade foi de 58,39% enquanto o tempo para pagamento do capital
investido seria de 1 ano e 9 meses. No cenário de maio de 2009, a rentabilidade atingida é de 10,24%,
afetando o prazo de retorno, que passa para 9 anos e 9 meses. Este é atualmente, o período de tempo
necessário para recuperação do capital investido na planta de carbonização de forno do tipo container para
a produção mensal de 4000 mdc.
O investimento no projeto do forno container para a produção mensal de 4000 metros de carvão
vegetal necessitava em setembro de 2008, comercializar no mínimo 9.199,24 mdc anualmente para não
ter prejuízos. Em maio de 2009, a comercialização mínima passa a ser de 22.030,78 mdc.
Na Tabela 8 são apresentados os indicadores de desempenho do forno container para a produção
anual de 48.000mdc, ou seja, 4000mdc/mês.
Tabela 8 – Indicadores de desempenho econômico do forno container
Table 8 – Economical performance indicators for a carbonization plant of container kiln
Indicador econômico
Setembro de 2008
Maio de 2009
VPL
R$ 7.768.776,89
R$-1.349.737,34
TIR
57%
-2%
O Valor Presente Líquido (VPL) representa o lucro do forno container de 4000 mdc corrigido
pela taxa de juros. Para o projeto em estudo, no período analisado o VPL seria de R$ 7.768.776,89, o que
significa que o projeto é viável, já que o VPL estimado é maior que zero. No entanto, o segundo período
analisado, maio de 2009, o projeto passa a ser inviável, visto que o VPL é negativo.
A Taxa Interna de Retorno (TIR) representa a taxa percentual do retorno do capital investido,
sendo que esta deve ser maior que a taxa de juros estipulada como referência, no caso 10% ao ano. No
primeiro cenário, como a TIR do projeto do forno container é de 57%, haverá retorno de R$2.061.594,81
do custo de implantação do projeto. Porém, na segunda ocasião, a TIR é de -2%, ou seja, não há uma taxa
real de juros que iguale o valor presente das receitas ao valor presente dos custos.
CONCLUSÕES
•
No período de Setembro de 2008, a implantação de uma planta de carbonização de produção
mensal de 4000 mdc utilizando a tecnologia de forno container seria viável financeira e
economicamente se o preço de comercialização do carvão vegetal permanecesse em R$150,00
mdc.
•
No período de Maio de 2009, devido à crise econômica mundial, houve queda do preço de
carvão vegetal para R$75,00 mdc, este mesmo projeto, com produção mensal de 4000 mdc,
torna-se inviável sob o aspecto econômico, além de se tornar pouco lucrativo.
•
Mesmo sendo alto o custo de implantação do forno container, o prazo de retorno inferior a dois
anos considerando os preços de Setembro de 2008, possibilita o investimento. Ao considerar os
valores praticados em de Maio de 2009, o prazo de retorno é maior, 9 anos e 9 meses,
inviabilizando o implantação do projeto.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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2008.
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– Viçosa: UFV/DEF, 2002.
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Biomassa - Energia dos Trópicos em Minas Gerais. – Belo Horizonte: LabMídia/FAFICH, 2001.
págs.163-178

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