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RAÇAS E ESTRATÉGIAS DE CRUZAMENTO PARA
PRODUÇÃO DE NOVILHOS PRECOCES
Pedro Franklin Barbosa
Embrapa Pecuária Sudeste, São Carlos, SP
1. INTRODUÇÃO
A produção de carne bovina (P), em uma determinada região ou
País, é o resultado da utilização dos recursos genéticos (G) e de ambiente
(A), das práticas de manejo, produção e comercialização (M) e,
possivelmente, das interações entre os componentes causais (G x A, G x
M, A x M) de P, isto é, P = G + A + (G x A + G x M + A x M).
Portanto, há várias maneiras de se combinar os recursos genéticos, de
ambiente e as práticas de manejo, produção e comercialização o que, por
sua vez, dá origem aos diferentes sistemas de produção de carne bovina.
Em geral, os sistemas mais eficientes são aqueles que otimizam tanto os
recursos genéticos (raças, linhagens, cruzamentos, sexo dos animais, etc.) e
de ambiente (clima, solo, alimentação, etc.) quanto as práticas de manejo,
produção e comercialização (criação em regime de pasto, semiconfinamento, confinamento, estação de monta, época e métodos de
comercialização, tipo de produto, diferenciação de mercados, etc.).
No Brasil, o conceito de precocidade, embora tenha sido concebido
por zootecnistas europeus há quase um século, ainda é pouco divulgado
(DOMINGUES, 1971). Em geral, pensa-se que animal precoce é aquele
que cresce rapidamente. Precoce é o animal que chega mais cedo à idade
adulta ou, em outras palavras, é aquele cujo esqueleto se completa
precocemente, antes da idade comum à sua espécie. Tal acabamento se dá
pela ossificação da zona de crescimento, dos ossos longos, e assim o
animal pára de crescer, com outra conseqüência importante: adquire a
dentição definitiva também mais cedo. Este é o conceito adotado neste
trabalho.
A Associação Brasileira do Novilho Precoce (ABNP) definiu
critérios para a classificação de animais como novilhos precoces com base
em três características: 1) peso da carcaça (mais de 200 kg, para novilhos e
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- I Simpósio de Produção de Gado de Corte
machos não-castrados, e mais de 180 kg para fêmeas);
2) idade do
animal (até 2 dentes definitivos, para novilhos e fêmeas, e zero dente "dentição de leite" - para machos não-castrados); e 3) grau de acabamento
da carcaça (3 a 10 milímetros de espessura da camada de gordura na altura
da 12a costela).
O objetivo deste trabalho é apresentar e discutir alguns aspectos
sobre estratégias de utilização de raças puras e de cruzamentos para a
produção de novilhos precoces, particularmente quanto às três
características em que se fundamenta a classificação dos animais (peso da
carcaça, idade de abate e espessura da camada de gordura na altura da 12ª
costela).
2. ESTRATÉGIAS DE UTILIZAÇÃO DE RECURSOS
GENÉTICOS
No Brasil, há grande número de raças de bovinos que são usadas
para produção de carne. De acordo com o dicionário de MASON (1988),
há aproximadamente mil raças zootécnicas de bovinos no mundo, das quais
250 têm alguma importância numérica ou histórica em termos de produção
de carne, de leite e de carne e leite. Dessas, 150 podem ser classificadas
como raças especializadas para produção de carne, 40 como
especializadas para produção de leite e 60 como de dupla aptidão (leite e
carne). No Brasil, há vários grupos genéticos (raças, tipos raciais e
cruzamentos) que são explorados para produção de carne, como será visto
mais adiante.
As diferenças entre esses grupos genéticos, quanto às características
morfológicas, fisiológicas e zootécnicas, podem ser atribuídas às diferentes
pressões de seleção às quais eles foram submetidos durante o processo de
melhoramento. Desse modo, cada grupo é dotado de composição genética
diferente, principalmente para as características relativas ao tipo (cor da
pelagem, presença ou ausência de chifres, conformação do perfil da fronte,
tamanho da orelha, etc.) e, provavelmente, para os atributos relacionados
com a capacidade de adaptação ao ambiente (adaptabilidade).
Esta diversidade genética, que é um recurso natural, pode ser
utilizada de três maneiras (DICKERSON, 1969): 1) criação ou introdução
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
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da "raça pura" melhor adaptada ao sistema de produção; 2) formação de
novas raças; e 3) utilização de sistemas de cruzamento. As duas primeiras
podem ser praticadas por meio da realização de cruzamentos por apenas
algumas gerações, uma vez que o objetivo final é a introdução de uma "raça
pura" melhor adaptada ou a formação de uma nova raça.
A utilização de sistemas de cruzamento é uma forma de
aproveitamento da diversidade genética de maneira permanente e contínua,
sem a preocupação de se obter uma nova raça ou introduzir uma "raça
pura" .
As estratégias de utilização dos recursos genéticos envolvem
diferentes alternativas de seleção (escolha dos pais da próxima geração) e
de reprodução (escolha do sistema de acasalamento). A seleção dentro de
"raças puras" é feita, em geral, com base no modelo aditivo simples quanto
ao tipo de ação gênica. Na prática, a seleção dentro de "raças puras"
geralmente produz ganhos genéticos muito próximos daqueles previstos
teoricamente.
A utilização de cruzamentos, por outro lado, é considerada como
uma alternativa à seleção (BARBOSA e DUARTE, 1989; BARBOSA,
1995). No entanto, precisa ser ressaltado que as alternativas de seleção e
cruzamentos não são mutuamente exclusivas. Qualquer sistema de
cruzamentos, ou esquema de formação de novas raças, depende dos
programas de seleção das "raças puras" utilizadas no processo.
O delineamento de programas de melhoramento genético animal
pode ser sistematizado em 10 passos seqüenciais (HARRIS et al., 1984):
1) descrição do(s) sistema(s) de produção; 2) estabelecimento do objetivo
do(s) sistema(s) de produção; 3) escolha da estratégia de utilização dos
recursos genéticos e dos recursos genéticos propriamente ditos; 4)
obtenção de parâmetros de seleção e pesos econômicos;
5)
delineamento do sistema de avaliação; 6) desenvolvimento dos critérios de
seleção; 7) delineamento do sistema de acasalamentos;
8) delineamento
do sistema de multiplicação dos animais selecionados; 9) comparação de
alternativas de programas de melhoramento; e
10) revisão do programa
com base nas modificações futuras e, se for o caso, na segmentação do
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- I Simpósio de Produção de Gado de Corte
sistema de produção.
Os três primeiros passos são discutidos
resumidamente nesta palestra.
Qualquer que seja a estratégia a ser escolhida, um aspecto
fundamental é a visão do sistema de produção como um todo, isto é, desde
a tomada de decisão sobre quais tipos de recurso genético e de sistema de
produção a serem utilizados (“antes da porteira”), as práticas de manejo a
serem adotadas (“dentro da porteira”), até o consumo da carne e
derivados (“depois da porteira”).
A eficiência zootécnica de qualquer sistema de produção, por sua
vez, é função de três componentes: 1) eficiência reprodutiva do rebanho de
vacas; 2) eficiência do ganho de peso dos animais jovens; e 3) qualidade
dos produtos (carne e couro). As estratégias possíveis devem ser avaliadas
sob o ponto de vista da eficiência biológica e econômica do sistema de
produção como um todo. A avaliação de apenas um ou dois componentes
pode conduzir a recomendações discutíveis.
É importante ressaltar que o objetivo principal da produção de carne
bovina, seja ela praticada de forma extensiva ou intensiva, é atender as
exigências de mercado. Dois sistemas de produção são considerados nesta
palestra: 1) produção de animais para abate em regime de pastagens, e 2)
produção de animais para abate com terminação em regime de
confinamento.
É difícil predizer o futuro porque uma amplitude de cenários pode
ocorrer, como aqueles descritos por ODDY (1995) para a produção de
carne bovina na Austrália. No entanto, estes cenários possíveis podem
servir como indicação dos tipos de animais que serão demandados no
futuro. Neste sentido, dois aspectos são importantes: 1) manutenção (ou
mesmo aumento) da variabilidade disponível em bovinos de corte; e 2)
aumento na flexibilidade dos programas de melhoramento genético para
praticar mudanças no tipo de animal em resposta às mudanças nas
exigências de produção e de mercado.
Desde a introdução do índice de mérito total (HAZEL, 1943), para
definir os objetivos do melhoramento genético de animais domésticos,
vários estudos foram realizados até que fosse obtido um consenso quanto à
metodologia a ser utilizada. Um objetivo de melhoramento genético pode
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ser definido por uma função que considera os valores genéticos para várias
características como entrada e produz, como saída, a variável que o
tomador de decisão quer maximizar como, por exemplo, o lucro. Esta
função pode ser usada para comparar animais de uma mesma raça, raças
ou grupos genéticos diferentes. As comparações devem ser feitas após
ajustar as práticas de manejo ao nível adequado para cada genótipo
(GODDARD, 1997), o que é praticamente impossível na maioria das
vezes, particularmente nas regiões tropical e subtropical. A melhor maneira
de se definir o objetivo é a relação entre o custo e a receita porque, desta
forma, o objetivo não é afetado pelo efeito de escala e também é o mesmo
para produtores e consumidores.
A Figura 1 ilustra as relações entre seleção, cruzamentos e formação
de novas raças em bovinos de corte. O ponto de partida considerado foi a
utilização de uma "raça exótica" em cruzamento com fêmeas da população
local. Assim, a estratégia colocada em discussão nesta palestra é a
utilização de cruzamentos.
As questões colocadas na Figura 1 precisam ser respondidas com
níveis adequados de precisão. Do contrário, torna-se praticamente
impossível estabelecer a estratégia de utilização dos recursos genéticos mais
adequada para atender a amplitude de mercados em que o Brasil participa.
Talvez seja correto afirmar que, para atender toda a amplitude de mercados
de carne bovina, a produção terá que ser feita utilizando diferentes sistemas
de produção e diferentes tipos de animais.
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- I Simpósio de Produção de Gado de Corte
OS ANIMAIS CRUZADOS
SÃO MELHORES?
NÃO
SELEÇÃO NA
RAÇA LOCAL
SIM
QUAL RAÇA EXÓTICA
É MELHOR?
QUANTO DA RAÇA EXÓTICA
É DESEJÁVEL?
100%
SELEÇÃO NA
RAÇA EXÓTICA
< 100%
A HETEROSE É IMPORTANTE?
POUC
O
MUITO
NÃO
CRUZAMENTO
ROTACIONADO
É POSSÍVEL?
SIM
FORMAÇÃO DE NOVA RAÇA
SELEÇÃO NA NOVA RAÇA
SELEÇÃO NAS
RAÇAS
PATERNAS
Figura 1 - Opções estratégicas envolvendo sistemas de cruzamento e seleção
(adaptada de Cunningham, 1981).
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
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3. TIPOS BIOLÓGICOS DE BOVINOS
Vários tipos de bovinos podem ser criados para a obtenção de
novilhos precoces, seja como raças puras ou em cruzamentos. No entanto,
é preciso reconhecer que as relações de natureza genética entre as
características de crescimento dos animais e dos tecidos da carcaça
determinam a existência de apenas alguns tipos biológicos. Quanto ao
tamanho à maturidade (idade adulta), por exemplo, os diferentes tipos de
bovinos podem ser classificados em pequeno, médio e grande. Do mesmo
modo, quanto ao grau de musculatura, os animais podem ser classificados
em um dos três seguintes tipos de musculatura: grossa, moderada e fina.
Embora exista variação quanto ao tipo de musculatura entre animais
de uma mesma raça, a combinação desses dois critérios de classificação
permite a determinação dos tipos biológicos disponíveis para obtenção de
novilhos de corte (Tabela 1).
Os dois critérios de classificação proporcionam um sistema útil para a
determinação do tipo biológico. As raças de tamanho grande e musculatura
grossa têm taxas de crescimento maiores (maior ganho de peso por dia),
mas são mais tardias quanto à habilidade para acumular o mínimo
necessário de gordura na carcaça. As raças de tamanho pequeno e
musculatura moderada, por outro lado, têm menores taxas de crescimento
absoluto, mas são mais precoces em termos de acabamento da carcaça,
isto é, têm maior habilidade para deposição de gordura na carcaça do que
as de tamanho grande.
Trabalhos de pesquisa mostram que a correlação genética entre o
peso à maturidade (idade adulta) e a taxa de maturação (tempo que o
animal leva para atingir o tamanho à maturidade) é negativa. Isto indica que
os animais com potencial genético para maior tamanho à maturidade
demoram mais tempo para atingir um mesmo grau de maturidade, se
comparados com animais de menor potencial genético para tamanho à
maturidade. Essa relação entre tamanho na idade adulta e grau de
maturidade tem conseqüências importantes no peso de abate e na
composição da carcaça, como será visto mais adiante.
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- I Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 1 - Classificação de algumas raças de bovinos de acordo com o
tamanho à maturidade e o grau de musculatura (adaptada de
MINISH & FOX, 1982)
Tamanho à
maturidade
(idade adulta)
Pequeno
Grau de Musculatura
Grossa
Moderada
Angus
Gir
Murray Grey
Red Angus
Fina
Gir Leiteiro
Guernsey
Jersey
Pitangueiras
Médio
Belgian Blue
Gelbvieh
Limousin
Piemontês
Pinzgauer
Red & White Beef
Brahman
Brangus-Ibagé
Canchim
Hereford
Nelore
Tabapuã
Ayrshire
Caracu
Hays Converter
Lincoln Red
Shorthorn Leiteiro
Welsh Black
Grande
Blonde d´Aquitaine
Charolês
Chianina
Fleckvieh
Holandês Frísio
Marchigiana
Pardo-Suíço
Simental
Holandês Amer.
South Devon
4. UTILIZAÇÃO DE RAÇAS E CRUZAMENTOS
PRODUÇÃO DE NOVILHOS PRECOCES
PARA
Há três estratégias de utilização dos recursos genéticos para
produção de carne bovina: 1) a utilização de animais de uma raça pura
melhor adaptada ao sistema de produção-comercialização existente ou
potencial; 2) a formação de novas raças, combinando características
desejáveis de duas ou mais raças puras, caso a primeira estratégia não seja
capaz de atender as exigências do sistema de produção-comercialização; e
3) a utilização de cruzamentos, de forma permanente, sem a preocupação
de formar novas raças.
As razões para a utilização de cruzamentos são: 1) aproveitar os
efeitos da heterose; 2) utilizar as diferenças genéticas existentes entre as
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
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raças puras para uma determinada característica; 3) aproveitar os efeitos favoráveis da
combinação de características, nos animais cruzados, resultantes da seqüência em que as
raças são utilizadas no sistema de cruzamentos (complementaridade); e 4) dar flexibilidade
aos sistemas de produção-comercialização. Os diferentes sistemas de cruzamento
(rotacionado, terminal e rotacionado-terminal) exploram as razões de natureza genética em
graus diferenciados, mas todos eles têm o potencial de tornar os sistemas de produção
mais flexíveis, principalmente quanto ao tipo de produto requerido pelo mercado, em
prazos relativamente curtos, quando comparados com as outras estratégias de utilização
dos recursos genéticos. Esta vantagem talvez seja mais importante que as outras e, por sua
vez, implica na escolha estratégica dos recursos genéticos e de ambiente e, também, na
adoção de melhor manejo dos recursos disponíveis para a produção de novilhos
precoces.
Os resultados sobre a utilização de raças puras e cruzamentos no Brasil foram
sumarizados por BARBOSA e DUARTE (1989), BARBOSA (1990; 1995) e
BARBOSA e ALENCAR (1995).
Mais recentemente, vários resultados sobre o desempenho de animais cruzados
foram relatados na literatura. Para as características mais freqüentemente estudadas e
quando os experimentos incluíram uma população controle de animais de raça pura (tanto
de Bos taurus quanto de Bos indicus), a síntese do desempenho dos animais cruzados foi
atualizada em 1998, considerando-se aquele dos animais da raça pura como base e igual
a 100. As características avaliadas foram o ganho de peso em confinamento, o peso e o
rendimento de carcaça, o consumo de matéria seca, a conversão alimentar e a espessura
de gordura na altura da 12a costela. Maiores detalhes quanto aos procedimentos
adotados para cálculo das médias e das amplitudes de variação do desempenho relativo
podem ser obtidos em BARBOSA e DUARTE (1989) e BARBOSA (1990; 1995).
Os resultados obtidos foram descritos e discutidos por BARBOSA (1998).
Os dados relatados na literatura sobre peso e idade de abate e espessura de
gordura, tanto para animais terminados em confinamento como em regime de pastagens,
foram organizados de acordo com o grupo genético e sumarizados até julho de 1999. As
médias são apresentadas nas Tabelas 2 e 3, respectivamente.
10 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 2 - Número de estimativas (N) e médias de peso de carcaça,
idade de abate e espessura de gordura, de acordo com grupo
genético, para animais terminados em regime de confinamento
Grupos
Genéticos
Raças puras:
Britânicas
Continentais
Zebuínas
Animais F1:
Britânicas x Zebu
Continentais x Zebu
Animais retrocruzados:
2/3 Britânicas + 1/3 Zebu
2/3 Continentais + 1/3 Zebu
2/3 Zebu + 1/3 Britânicas
2/3 Zebu + 1/3 Continentais
Animais cruzados de 3 raças:
½ Brit. + ¼ Cont. + ¼ Zebu
Total
Número de estimativas e médias (± erro-padrão)
N
Peso,
Idade,
Espessura,
arrobas
meses
mm
9
27
93
13,6 ± 0,5
15,0 ± 0,3
16,7 ± 0,2
20,9 ± 2,5
27,2 ± 1,4
27,8 ± 0,9
4,0 ± 0,4
2,9 ± 0,8
5,2 ± 0,3
9
72
17,3 ± 0,5
17,3 ± 0,3
24,7 ± 1,0
22,2 ± 0,6
4,5 ± 0,7
3,3 ± 0,2
19
17
5
25
15,1 ± 0,5
16,4 ± 0,5
16,8 ± 0,9
16,9 ± 0,3
16,7 ± 1,2
25,9 ± 2,2
21,0 ± 1,6
23,6 ± 1,4
4,8 ± 0,4
3,6 ± 0,7
2,7 ± 0,3
3,1 ± 0,1
5
281
17,4 ± 0,9
16,5 ± 0,1
23,6 ± 5,0
24,5 ± 0,5
3,4 ± 0,9
4,0 ± 0,2
As médias de espessura de gordura na altura da 12ª costela (Tabelas
2 e 3) indicam que o grau de acabamento de animais cruzados,
particularmente os filhos de touros de raças de tamanhos médio e grande,
está abaixo do desejado pela maioria dos mercados consumidores (5 a 8
mm) porque os animais foram abatidos com pesos inferiores aos
recomendados por BARBOSA (1995) para novilhos (525 kg de peso vivo
ou 17,5 arrobas) e machos não-castrados (575 kg de peso vivo ou 19,2
arrobas), considerando rendimento de carcaça de 50%.
O resultado que, até certo ponto, pode ser considerado
surpreendente é o grau de acabamento das carcaças provenientes de
animais de raças zebuínas, tanto em confinamento (5,2 ± 0,3 mm) como em
pastagens (5,7 ± 0,7 mm). No entanto, as idades de abate (27,8 e 34,5
meses respectivamente) limitariam a classificação dos animais como
novilhos precoces.
Observa-se, ainda, que o número de estimativas sobre o
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desempenho de determinados grupos genéticos é pequeno, tanto em regime
de confinamento (Tabela 2) como em regime de pastagens (Tabela 3).
Considerando-se que a terminação em regime de pastagens é a mais
praticada no Brasil, nota-se que há poucos resultados experimentais sobre
o desempenho comparativo de animais cruzados de raças britânicas com
Zebu, retrocruzados com raças continentais e com raças zebuínas.
Tabela 3 - Número de estimativas (N) e médias para peso de carcaça,
idade de abate e espessura de gordura, de acordo com grupo
genético, para animais terminados em regime de pastagens
Grupos
Genéticos
Raças puras:
Britânicas
Continentais
Zebuínas
Animais F1:
Britânicas x Zebu
Continentais x Zebu
Continentais x Britânicas
Animais retrocruzados:
2/3 Britânicas + 1/3 Zebu
2/3 Continentais + 1/3 Zebu
2/3 Zebu + 1/3 Britânicas
2/3 Zebu + 1/3 Continentais
Animais cruzados de 3 raças:
½ Zebu + ¼ Brit. + ¼ Cont.
Total
Número de estimativas e médias (± erro-padrão)
N
Peso,
Idade,
Espessura,
arrobas
meses
mm
14
11
25
13,8 ± 0,5
15,3 ± 0,4
15,0 ± 0,3
33,4 ± 2,3
36,8 ± 2,8
34,5 ± 1,4
4,2 ± 0,5
1,9 ± 0,3
5,7 ± 0,7
3
16
4
16,3 ± 0,9
15,1 ± 0,5
15,1 ± 1,0
35,8 ± 3,6
31,0 ± 2,1
38,0 ± 2,9
3,4 ± 0,7
3,3 ± 0,2
1,6 ± 0,4
15
4
3
3
15,2 ± 0,6
16,5 ± 0,5
17,1 ± 0,7
17,1 ± 0,2
34,5 ± 2,0
27,4 ± 1,4
36,5 ± 5,8
32,3 ± 2,2
4,2 ± 0,4
2,1 ± 0,8
4,0 ± 0,7
1,9 ± 0,7
2
97
18,9 ± 0,1
15,2 ± 0,2
30,0 ± 0,0
33,8 ± 0,8
2,6 ± 0,2
3,9 ± 0,3
Com o objetivo de verificar se os coeficientes parciais do peso da
carcaça e da idade de abate na espessura de gordura variavam de acordo
com o grupo genético foram realizadas análises de regressão. Os
coeficientes parciais da regressão da espessura de gordura, no peso de
carcaça e na idade de abate, e os coeficientes de determinação são
mostrados na Tabela 4, para animais terminados em confinamento, e na
Tabela 5, para animais terminados em pastagens. O peso de carcaça foi
expresso em arrobas e a idade de abate em meses para facilitar a
12 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
interpretação.
Os resultados mostrados na Tabela 4 indicam que, em geral, o peso
de carcaça é mais importante que a idade de abate quanto ao aumento da
espessura de gordura na altura da 12ª costela, particularmente para as
raças britânicas e para os animais cruzados envolvendo raças britânicas. O
coeficiente de regressão da espessura de gordura na idade de abate foi
significativo para os animais de raças zebuínas, cruzados de raças
continentais com Zebu, retrocruzados de raças britânicas com raças
zebuínas e retrocruzados de raças zebuínas com raças britânicas.
Tabela 4 - Coeficientes parciais de regressão da espessura de gordura no
peso da carcaça (b1) e na idade do animal (b2) e coeficientes
de determinação (R2), de acordo com o grupo genético, para
animais terminados em confinamento
Grupos genéticos
Raças puras:
Raças britânicas
Raças continentais
Raças zebuínas
Animais F1:
Britânicas x Zebu
Continentais x Zebu
Continentais x Britânicas
Animais retrocruzados:
2/3 Britânicas + 1/3 Zebu
2/3 Continentais + 1/3 Zebu
2/3 Zebu + 1/3 Britânicas
2/3 Zebu + 1/3 Continentais
Cruzados de 3 raças:
½ Brit. + ¼ Cont.. + ¼ Zebu
Total
* P < 0,05; ** P < 0,01.
b 1, mm/arroba
b 2, mm/mês
R2, %
0,49 ± 0,11**
-0,18 ± 0,22
0,14 ± 0,05**
-0,13 ± 0,07
0,21 ± 0,12
0,10 ± 0,03**
90,83
36,75
79,87
-0,01 ± 0,26
0,03 ± 0,05
-
0,18 ± 0,18
0,12 ± 0,04**
-
79,64
82,68
-
0,50 ± 0,08**
0,02 ± 0,13
-0,05 ± 0,05
0,24 ± 0,03**
-0,16 ± 0,07*
0,12 ± 0,08
0,17 ± 0,04*
-0,04 ± 0,02
92,10
58,91
98,46
94,70
0,38 ± 0,11*
0,11 ± 0,03**
-0,14 ± 0,07
0,09 ± 0,02
81,13
72,32
Os animais de raças britânicas (Angus, Devon, Hereford e
Shorthorn) e zebuínas (praticamente só Nelore) depositam gordura na
carcaça nas taxas de 0,49 ± 0,11 (P < 0,01) e 0,14 ± 0,05 (P < 0,01)
mm/arroba de aumento no peso da carcaça, respectivamente, enquanto
que, para os animais de raças continentais (Charolês, Chianina,
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
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Marchigiana, Holandês, Pardo-Suíço, Limousin, Gelbvieh, Caracu, etc.) a
taxa foi negativa, mas não diferente de zero (-0,18 ± 0,22 mm/arroba de
aumento no peso da carcaça, P > 0,05). Os resultados mostram que há
diferenças genéticas entre as raças para deposição de gordura, de acordo
com o aumento do peso de carcaça, e que nas raças continentais a taxa de
deposição é menor.
Para os animais terminados em pastagens (Tabela 5), os coeficientes
de regressão também indicam que o peso de carcaça é mais importante do
que a idade de abate no grau de acabamento, particularmente para os
animais de raças continentais e retrocruzados 2/3 britânicas + 1/3 Zebu.
Tabela 5 - Coeficientes parciais de regressão da espessura de gordura no
peso da carcaça (b1) e na idade do animal (b2) e coeficientes
de determinação (R2), de acordo com o grupo genético, para
animais terminados em pastagens
Grupos genéticos
Raças puras:
Raças britânicas
Raças continentais
Raças zebuínas
Animais F1:
Britânicas x Zebu
Continentais x Zebu
Continentais x Britânicas
Animais retrocruzados:
2/3 Britânicas + 1/3 Zebu
2/3 Continentais + 1/3 Zebu
2/3 Zebu + 1/3 Britânicas
2/3 Zebu + 1/3 Continentais
Cruzados de 3 raças:
½ Zebu + ¼ Brit. + ¼ Cont.
Total
* P < 0,05; ** P < 0,01.
b 1, mm/arroba
b 2, mm/mês
R2, %
0,25 ± 0,12
0,16 ± 0,06*
0,35 ± 0,19
0,03 ± 0,05
-0,02 ± 0,03
0,01 ± 0,08
86,43
78,88
69,28
0,17 ± 0,24
0,09 ± 0,06
-0,19 ± 0,81
0,07 ± 0,17
0,06 ± 0,03
0,12 ± 0,32
75,54
94,85
83,96
0,39 ± 0,17*
0,26 ± 0,93
-0,02 ± 0,04
0,01 ± 0,53
-0,05 ± 0,07
-0,08 ± 0,56
0,12 ± 0,02
0,06 ± 0,28
92,73
33,83
99,28
39,87
1,20
0,17 ± 0,07*
-0,67
0,04 ± 0,03
70,11
Com o objetivo de compreender o comportamento do peso de
carcaça, da idade de abate e das proporções das raças britânicas,
continentais e zebuínas na composição genética dos animais cruzados,
14 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
foram realizadas análises de regressão da espessura de gordura, como
indicador do grau de acabamento da carcaça, nestas características, para
os sistemas de terminação em confinamento e em pastagens. Os resultados
são mostrados nas Tabelas 6, 7, 8 e 9.
No sistema de terminação em confinamento (Tabela 6), observa-se
que apenas o coeficiente de regressão da espessura de gordura na idade de
abate foi significativo (aumento de 0,09 ± 0,02 mm/mês de aumento na
idade de abate). No sistema de terminação em pastagens, os coeficientes
parciais de regressão não foram significativos.
Quando se ajusta para peso da carcaça e idade de abate, não se
espera que sejam observadas diferenças na espessura de gordura de
acordo com a proporção de genes de raças britânicas, continentais e
zebuínas nos animais. De acordo com BERG e BUTTERFIELD (1976),
diferenças genéticas podem ser observadas na composição da carcaça,
porque algumas raças começam a depositar gordura mais precocemente do
que outras. A taxa de deposição de gordura pode diferir entre raças, mas a
maior diferença observada é com relação ao período de estabelecimento da
fase de acabamento. Geralmente, os animais precoces apresentam um
menor tamanho por ocasião da maturidade e, consequentemente, entram na
fase de acabamento mais jovens e com pesos mais leves do que os animais
de raças de grande porte.
Os resultados indicam, ainda, que a escolha estratégica da utilização
de raças britânicas, continentais e zebuínas e dos sistemas de cruzamento
para produção de novilhos precoces depende, em grande parte, da
definição do sistema de terminação dos animais (confinamento ou
pastagens) e da idade de abate no caso da terminação em confinamento.
Na Tabela 7 são apresentados os coeficientes de regressão da
espessura de gordura nas proporções de raças britânicas, continentais e
zebuínas quando se mantém o peso de carcaça constante. No sistema de
terminação em pastagens, os coeficientes de regressão não foram diferentes
de zero. Entretanto, no sistema de terminação em confinamento observa-se
que para cada 1/8 de aumento na proporção de raças zebuínas nos animais,
a espessura de gordura aumenta
0,40 ± 0,15 mm, semelhante ao que
ocorre com as raças britânicas (0,34 ± 0,15 mm), mas diferente do
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
15
observado para as raças continentais (0,11 ± 0,15 mm). Esses resultados
indicam que as diferenças entre as raças quanto à taxa de deposição de
gordura são grandes e, por isso, a escolha estratégica dos recursos
genéticos depende fundamentalmente da especificação do produto final que
o mercado consumidor exige. Uma vez definido o produto a ser obtido,
pode-se escolher os recursos genéticos a serem utilizados e o sistema de
produção a ser adotado.
Tabela 6 - Coeficientes parciais de regressão da espessura de gordura no
peso da carcaça, na idade de abate e nas proporções de
raças britânicas, continentais e zebuínas na composição
genética dos animais, de acordo com o sistema de terminação
Características
Peso de carcaça, arrobas
Idade de abate, meses
Proporção de raças britânicas, em fração de 1/8
Proporção de raças continentais, em fração de 1/8
Proporção de raças zebuínas, em fração de 1/8
Coeficiente de determinação (R2), %
* P < 0,05; ** P < 0,01.
Confinamento
0,07 ± 0,07
0,09 ± 0,02**
0,19 ± 0,14
-0,11 ± 0,15
0,15 ± 0,16
74,44
Pastagens
0,11 ± 0,13
0,03 ± 0,03
0,15 ± 0,26
-0,18 ± 0,27
0,33 ± 0,27
76,94
Tabela 7 - Coeficientes parciais de regressão da espessura de gordura no
peso da carcaça e nas proporções de raças britânicas,
continentais e zebuínas na composição genética dos animais, de
acordo com o sistema de terminação
Características
Peso de carcaça, arrobas
Proporção de raças britânicas, em fração de 1/8
Proporção de raças continentais, em fração de 1/8
Proporção de raças zebuínas, em fração de 1/8
Coeficiente de determinação (R2), %
* P < 0,05; ** P < 0,01.
Confinamento
0,09 ± 0,07
0,34 ± 0,15*
0,11 ± 0,15
0,40 ± 0,15*
72,56
Pastagens
0,12 ± 0,13
0,26 ± 0,23
-0,07 ± 0,25
0,43 ± 0,25
76,93
Os coeficientes de regressão da espessura de gordura nas
proporções de raças britânicas, continentais e zebuínas, quando se mantém
16 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
a idade de abate constante (Tabela 8), mostram que há diferenças entre as
raças e entre os sistemas de terminação dos animais, com conclusão
semelhante àquela feita com relação ao peso de carcaça (Tabela 7). Outro
aspecto importante é o coeficiente de regressão da proporção de raças
zebuínas na espessura de gordura (0,53 ± 0,13 mm), quando os animais
são criados em regime de pastagens.
Tabela 8 - Coeficientes parciais de regressão da espessura de gordura na
idade de abate e nas proporções de raças britânicas,
continentais e zebuínas na composição genética dos animais, de
acordo com o sistema de terminação
Características
Idade de abate, meses
Proporção de raças britânicas, em fração de 1/8
Proporção de raças continentais, em fração de 1/8
Proporção de raças zebuínas, em fração de 1/8
Coeficiente de determinação (R2), %
* P < 0,05; ** P < 0,01.
Confinamento
0,09 ± 0,02**
0,32 ± 0,08**
0,03 ± 0,07
0,30 ± 0,07**
74,43
Pastagens
0,03 ± 0,03
0,34 ± 0,14*
0,03 ± 0,14
0,53 ± 0,13**
76,99
Os coeficientes de regressão da espessura de gordura nas
proporções de raças britânicas, continentais e zebuínas, sem ajustar para o
peso de carcaça e a idade de abate dos animais, foram todos significativos
em ambos os sistemas de terminação (Tabela 9). Esses resultados mostram
que há diferenças entre os tipos biológicos de animais para grau de
acabamento da carcaça. Como o peso de carcaça e a idade de abate
podem variar de acordo com as exigências do mercado, essas diferenças
no grau de acabamento são importantes sob o ponto de vista de escolha
estratégica tanto dos recursos genéticos como das formas de sua utilização
para a produção de novilhos precoces.
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
17
Tabela 9 - Coeficientes parciais de regressão da espessura de gordura nas
proporções de raças britânicas, continentais e zebuínas na
composição genética dos animais, de acordo com o sistema de
terminação
Características
Proporção de raças britânicas, em fração de 1/8
Proporção de raças continentais, em fração de 1/8
Proporção de raças zebuínas, em fração de 1/8
Coeficiente de determinação (R2), %
* P < 0,05; ** P < 0,01.
Confinamento
0,51 ± 0,07**
0,30 ± 0,04**
0,60 ± 0,03**
72,48
Pastagens
0,48 ± 0,06**
0,17 ± 0,07*
0,67 ± 0,05**
76,95
5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Análises de regressão foram realizadas com o objetivo de verificar o
comportamento das raças puras e dos animais cruzados, tanto em regime
de confinamento como pastagens, quanto à espessura de gordura na altura
da 12ª costela, como indicador do grau de acabamento para classificação
dos animais como novilhos precoces.
Os resultados obtidos permitem algumas conclusões e
recomendações.
Para animais terminados em confinamento, o peso de abate é mais
importante do que a idade na determinação da espessura de gordura na
altura da 12ª costela.
Em regime de confinamento, quanto maior a proporção das raças
continentais na composição genética dos animais, menor é a taxa de
deposição de gordura (0,30 ± 0,04 mm para cada aumento de 12,5% de
genes de raças continentais).
Tanto para animais terminados em confinamento como em regime de
pastagens, a espessura de gordura aumenta mais de acordo com a
proporção de raças zebuínas (0,60 ± 0,03 mm e 0,67 ± 0,05 mm para
cada 12,5% de aumento na proporção de Zebu nos animais cruzados,
respectivamente) do que com as proporções de raças britânicas e
continentais.
O desempenho de animais Zebu, tanto em confinamento como em
pastagens, quanto ao peso de carcaça (16,7 ± 0,2 e 15,0 ± 0,3 arrobas),
18 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
idade de abate (27,8 ± 0,9 e 34,5 ± 1,4 meses) e espessura de gordura na
altura da 12ª costela (5,2 ± 0,3 e 5,7 ± 0,7 mm) sugere que a estratégia de
cruzamentos deve ser comparada com a utilização das raças zebuínas para
produção de novilhos precoces.
A escolha estratégica das raças para utilização em sistemas de
cruzamento deve ser feita levando-se em consideração o sistema de
terminação, o peso de carcaça, a idade de abate e o grau de acabamento
desejados pelos segmentos do mercado consumidor.
Os sistemas de cruzamento, como estratégia de utilização de recursos
genéticos para produção de novilhos precoces, proporcionam maior
flexibilidade aos sistemas de produção e têm o potencial de atender, a curto
prazo, as exigências dos consumidores e viabilizar, se necessário, a
segmentação do mercado de carne bovina.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARBOSA, P. F. Cruzamentos para produção de carne bovina no Brasil. In:
Bovinocultura de Corte (Ed.: SOCIEDADE BRASILEIRA DE
ZOOTECNIA), p. 1-45. Piracicaba: FEALQ, 1990. 146p.
BARBOSA, P. F. Cruzamentos para produção do novilho precoce. In:
ENCONTRO NACIONAL SOBRE NOVILHO PRECOCE, Campinas,
SP, 22 a 24 de agosto de 1995, p. 75-92. Campinas: Coordenadoria de
Assistência Técnica Integral, Departamento de Comunicação e
Treinamento, 1995. 128p.
BARBOSA, P. F. Cruzamentos industriais e a produção de novilhos
precoces. In: SIMPÓSIO SOBRE PRODUÇÃO INTENSIVA DE
GADO DE CORTE, Campinas, SP, 29 e 30 de abril de 1998, p. 100-114.
Campinas: Colégio Brasileiro de Nutrição Animal, 1998. 232p.
BARBOSA, P. F.; ALENCAR, M. M. de. Sistemas de cruzamento em
bovinos de corte: estado da arte e necessidades de pesquisa. In:
REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE
ZOOTECNIA, 32, Julho de 1995, Brasília, DF. Brasília, DF: Sociedade
Brasileira de Zootecnia, Anais... p. 681-683, 1995.
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
19
BARBOSA, P. F.; DUARTE, F. A. M. Crossbreeding and new beef cattle
breeds in Brazil. Revista Brasileira de Genética, Ribeirão Preto, v.12,
n.3 (Suppl. 1), p. 257-301, 1989.
BERG, R. T.; BUTTERFIELD, R. M. New Concepts of Cattle Growth.
Sydney: Sydney University Press, 1976. 240p.
DOMINGUES, O. O Zebu, sua reprodução e multiplicação dirigida. São
Paulo: Livraria Nobel S. A., 1971. 187p.
GODDARD, M. E. Consensus and debate in the definition of breeding
objectives. Journal of Dairy Science, v. 80, suppl. 1, p. 144, 1997.
HARRIS, D. L.; STEWART, T. S.; ARBOLEDA, C. R. Animal breeding
programs: a systematic approach to their design. Peoria, IL: Agricultural
Research Service, U. S. Department of Agriculture, 1984. 14p.
HAZEL, L. N. The genetic basis for constructing selection indexes.
Genetics, v. 28, p. 476-490, 1943.
MINISH, G. L. e FOX, D.G. Beef production and management, 2nd ed.
Reston, VA: Reston Publishing Company, 1982. 470p.
ODDY, H. What can Australian nutritionists offer the feedlot industry? In:
ROWE, J. B. & NOLAN, J. V. (Ed.) Recent Advances in Animal
Nutrition in Australia, p. 143-148. Armidale: University of New England,
1995.
20 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS CRIADORES DE ZEBU
UMA EMPRESA DE GENÉTICA TROPICAL
Luiz Antonio Josahkian
Superintendente Técnico da ABCZ
Professor de Melhoramento Animal da FAZU
Caixa Postal 71 38001-970 Uberaba - M G
e-mail : [email protected]
É curioso observar que os bovinos, não sendo nativos no Brasil,
totalizam hoje cerca de 160 milhões de cabeças espalhadas por todo o
território nacional.
Inicialmente um elemento colonizador de nossas fronteiras, os
bovinos se tornaram hoje, um valioso patrimônio genético da nossa
nação.
Uma rápida olhada na nossa história mostra fatos relevantes que
nos ajudam a entender a importância das raças zebuínas no contexto da
pecuária bovina brasileira.
Registra-se que, até meados do Século XIX, havia um
predomínio das raças bovinas européias. Trazidas pelos colonizadores,
encontraram no país condições adversas de clima e situações precárias
de criação.
Os espécimes remanescentes degeneraram-se, substituindo sua
capacidade produtiva pelo poder adaptativo: era a natureza cobrando
seus tributos.
Alguns tipos
bovinos atuais resultam desses animais e
conseguiram atravessar quase 500 anos de criação, e por isso têm certo
valor genético embora a ausência de seleção e o efetivo muito pequeno
reduza-os apenas a representantes daqueles tempos.
Mesmo frente a essa realidade, as importações de bovinos
europeus se sucederam ao longo do tempo. E persistem até hoje.
No todo, o volume de importações de raças européias supera
estrondosamente ao das raças zebuínas: são aproximadamente
1 milhão de bovinos europeus introduzidos no país contra 6,3 mil
exemplares zebuínos.
Na constituição genética atual do rebanho bovino brasileiro,
estima-se 80% dos animais tenha genes de origem zebuína, seja na
forma de animais puros ou através de cruzamentos.
22 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
Traduzido em números, isso equivale a 128 milhões de cabeças.
É um número impressionante (mesmo que sem precisão matemática) e
demonstra o poder de sobrevivência, crescimento e multiplicação das
raças zebuínas nas nossas condições, principalmente partindo de um
núcleo inicial tão reduzido.
Provavelmente foram essas características dos zebuínos que
despertaram o interesse de alguns criadores que organizaram algumas
importações de animais da Índia entre 1870 e 1962, em intervalos e
quantidades irregulares.
As primeiras importações seguramente foram movidas mais pela
intuição do que por razões técnicas. Difícil imaginar que motivos
teriam levado, na época, alguns intrépidos pioneiros a se aventurarem
numa Índia distante, com meios de transporte e comunicação precários,
em busca de animais exóticos. As referências quanto a utilidade
daqueles animais seguramente eram vagas. Basta ver que, em 1875,
um casal de zebu havia sido importado do Jardim Zoológico de
Londres.
Hoje é possível ver com clareza que tratavam-se de homens de
visão, do tipo que enxergam bem além de seu próprio tempo.
Em 1921 o governo brasileiro proibiu as importações da Índia
por razões sanitárias.
Aquelas que se organizaram em 1930, 1952, 1960 e 1962
ocorreram sob licença especial de importação e já com exigência de
quarentenário.
Nada disso, porém, impediu o crescimento impetuoso e a
instalação no país de uma das pecuárias mais pujantes e de intenso
potencial de todo o globo terrestre, toda baseada na genética zebuína.
O ESTABELECIMENTO DO REGISTRO GENEALÓGICO
A multiplicação das raças zebuínas no país tomaram grandes
proporções a partir da década de 10. Os criadores mineiros da região
do Triângulo decidiram então formar a “Associação do Herd Book da
Raça Zebu”, em 16 de fevereiro de 1919.
Esta entidade chegou a emitir certificados de animais que foram
exportados para o México e América Central. Do México chegaram
aos Estados Unidos.
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
23
Mas o desinteresse e a recusa dos poderes públicos em
reconhecer esse Serviço fez com que ele quase se extinguisse , até ser
absorvido por uma entidade maior, a Sociedade Rural do Triângulo
Mineiro – SRTM, fundada em 18 de junho de 1934.
Em 25 de março de 1967, a SRTM transformou-se em
Associação Brasileira dos Criadores de Zebu – ABCZ, nome que
ostenta até os dias atuais.
O registro genealógico das raças indianas foi reconhecido pelo
Ministério da Agricultura em 1936. Denominado à época Serviço de
Registro Genealógico das Raças Bovinas de Origem Indiana –
SERBOI, em regime de Livro Aberto, abrangia todo o território
nacional em decorrência do Tratado de Roma , firmado naquele
mesmo ano, do qual o Brasil foi um dos países signatários.
No ano de 1938, exatamente no dia 17 de julho, consolida-se os
primeiros registros genealógicos oficiais de zebuínos, quando o Sr.
Presidente da República, Dr. Getúlio Vargas, marca o primeiro animal
do Tipo Indubrasil.
Transcorridas seis décadas desde aquele ato, a ABCZ manteve-se
fiel aos princípios da pecuária seletiva , sempre consoante com o
Ministério da Agricultura. Essa postura consolidou as raças zebuínas
no Brasil, que têm, hoje, reconhecimento internacional, sobrepondo
inclusive o rebanho da terra mãe - a Índia - em qualidade. De 1938 a
1999 foram realizados 5,3 milhões de RGN’s e 2,5 milhões de RGD’s,
envolvendo todas as raças zebuínas (veja Tabela 1 abaixo).
Tabela 1 - Estatística do Registro Genealógico de Nascimento (RGN) e
Definitivo (RGD) no período de 1939 a 1998
Raça
RGN
%
RGD
%
Gir Mocha
34.164
0.65
21.772
0.85
Gir
491.924
9.30
286.850
11.16
Guzerá
213.846
4.04
104.331
4.06
Indubrasil
207.523
3.92
124.024
4.82
Nelore
3.838.104
72.56
1.732.840
67.41
Nelore Mocha
356.647
6.74
215.007
8.36
Sindi
8.080
0.15
4.465
0.17
Tabapuã
138.576
2.62
80.426
3.13
Cangaian
29
*
50
*
Brahman
513
0.01
876
0.03
TOTAL
5.289.406
Fonte:ABCZ/SUT/SDG 1999
*não significativo ao nível de 1%
100.00
2.570.641
100.00
24 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
O PROCESSO QUE NÃO PARA
De um momento inicial - onde os espécimes indianos aqui
introduzidos se amalgamaram numa desordem de tipo e função - até os
dias atuais, quando as raças zebuínas são perfeitamente identificáveis
graças ao registro seletivo ininterrupto, foram sendo criadas
ferramentas adicionais de seleção para desempenho funcional.
Atingido um padrão fenotípico aceitável, tornou-se imperativo
incorporar à seleção pelo tipo racial, critérios mensuráveis e em bases
científicas e econômicas.
Já no ano de 1968 estabeleceram-se as Provas Zootécnicas,
pautadas basicamente no Controle do Desenvolvimento Ponderal, nas
Provas de Ganho em Peso e no Controle Leiteiro.
Esses testes perduram até hoje e somam a impressionante marca
de 1,3 milhão de animais avaliados e 5,2 milhões de dados colhidos.
Tabela 2 - Controle do Desenvolvimento Ponderal - CDP (1968agosto de 1999): Número de pesagens realizadas e número
de animais inscritos, por raça
Raça
Brahman
Gir
Guzerá
Indubrasil
Nelore
Nel. Mocho
Sindi
Tabapuã
Gir Mocho
Total
Pesagens
3.556
34.763
325.919
143.260
3.885.484
437.216
2.042
310.409
58.509
5.201.158
Fonte:ABCZ/SUT/SMG 1999.
%
0.07
0.67
6.27
2.75
74.70
8.41
0.04
5.97
1.12
100.0
Inscritos
1.158
63.601
81.201
40.438
940.492
99.212
513
71.838
14.262
1.312.715
%
0.09
4.84
6.19
3.08
71.64
7.56
0.04
5.47
1.09
100.0
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
25
Tabela 3 - Provas de Ganho em Peso -PGP : realizadas de 1975 a
1999
Raça
Nelore
Indubrasil
Gir
Guzerá
Nel.Mocho
Tabapuã
Gir Mocho
Brahman
Total
402 Provas Realizadas
Animais Testados
10.974
230
251
1.332
656
1.147
40
24
14.654
%
74.89
1.57
1.71
9.09
4.48
7.83
0.27
0.16
100
Fonte: ABCZ/SUT/SMG 1999.
Tabela 4 - Serviço de Controle Leiteiro - CL: Número de vacas
inscritas e número de controles efetuados, de 1975 a
outubro de 1999
Raça
Inscritas % Pesagens % Encerradas
%
1674
66.88
11.975
65.91
11.975
72.82
Gir
115
4.59
687
3.78
687
4.18
Gir Mocho
363
14.50
3.027
16.66
3.027
18.41
Guzerá
103
4.12
562
3.09
562
3.42
Zebu Leiteiro
138
5.51
1.135
6.25
116
0.71
Nelore
65
2.60
458
2.52
45
0.27
Sindi
45
1.80
324
1.78
33
0.20
Indubrasil
2503
100.00
18.168
100.00
16.445
100.00
Total
Fonte: ABCZ/SUT/SMG 1999.
É seguramente o maior acervo de informações de zebuínos
existente no mundo. Esse banco de dados é uma fonte inesgotável de
estudos, alicerçando inúmeras pesquisas com instituições do porte da
Embrapa, várias Universidades e Centros de Investigação Científica.
26 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
As raças zebuínas começaram a definir seus contornos
econômicos e os avanços foram cada vez mais significativos.
O conceito de seleção do zebu agregou então, na prática e de
forma definitiva, a busca por animais geneticamente puros aliados à
eficiênc ia da produção em um ambiente tipicamente tropical
O mundo reconheceu essa genética melhoradora e o resultado é
que o zebu brasileiro há muito ultrapassou as fronteiras nacionais:
Estados Unidos, México, Guatemala, Honduras, Costa Rica,
Nicarágua, Bolívia, Colômbia, Argentina, Paraguai, Venezuela e
Tailândia, apenas para citar alguns, são países que se utilizam de nossa
genética zebuína.
OS ANOS 80 E 90
A década de 80 foi caracterizada no país por um movimento,
ainda subjacente, da busca por mecanismos que pudessem identificar
com maior precisão uma genética superior e mais produtiva.
As transformações econômicas e sociais que ocorreram no
mundo passaram a determinar a eficiência de produção como palavra
de ordem.
Por outro lado, não obstante “eficiência” tenha se tornado um
imperativo, outras transformações de cunho mais social e comunitário
postulavam a proteção ao meio ambiente.
Cada vez mais, ONG’s passaram a cobrar da sociedade como
um todo, a preservação do meio ambiente. E verdade seja dita,
abstraída algumas posições extremadas e desvinculadas da realidade,
tais atitudes são sérias e devem ser consideradas no contexto da
produção auto-sustentável ao longo do tempo.
Nesse estado geral de coisas, os zebuínos se apresentaram como
excelente solução para resolver ambos os lados da equação: produzir
proteína nobre (a carne vermelha) em sistemas de produção extensivo
onde a agressão ao meio ambiente inexiste ou é mínima. Sem
ufanismo, ponto para o zebu e ponto para a humanidade.
Os anos 90 chegaram trazendo a rapidez no tráfego de
informações. A velocidade de transformações se tornou emblemática
de nossa época.
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
27
A evolução e democratização da ciência da informática provocou
um efeito em cascata em todas as camadas sociais na difusão quase
instantânea de conhecimento.
Conseqüência desse processo, deslocamentos de poder e de
recursos atingiram proporções jamais vistas anteriormente.
Hoje, dificilmente algo ou alguém é proprietário único de idéias
ou de conhecimento por muito tempo.
Conceitos como reengenharia e qualidade total passaram a fazer
parte do cotidiano de todas as empresas, independentemente de seu
porte.
No mercado de genética animal, especificamente, a instalação de
programas de melhoramento tornaram-se obrigatórios, consolidando de
forma definitiva a tendência de mercado iniciada nos anos 80.
A propalada ‘Nova Ordem Mundial” se instalara de vez e com
ela sinais claros de que a competição em todos os segmentos ficaria
cada vez mais acirrada
Fatos concretos do fenômeno da globalização, como a formação
de blocos econômicos (UE, NAFTA, MERCOSUL...) e a consolidação
da rede mundial de computadores (Internet), colocaram todos os
segmentos de produção frente a um novo e gigantesco mundo de
competição.
A tendência generalizada da queda das barreiras comerciais
existentes entre os países com a permanência das barreiras sanitárias,
nos obriga a repensar nosso modelo de produção.
Felizmente a mentalidade daqueles que dirigiram e dirigem a
ABCZ sempre souberam atrelá-la bem ao “trem da história”.
As respostas da entidade para esse processo estão sendo
igualmente rápidas e eficientes: investe-se em um Programa de
Melhoramento Genético de proporções grandiosas e que vem sendo
construído em bases sólidas ao longo dos últimos anos; investe-se em
informática, criando meios de uma comunicação mais rápida e
eficiente; priorizou-se ações sinérgicas com outras entidades afins no
setor de sanidade animal buscando dar qualidade total aos nossos
produtos; e, o investimento nos valores humanos, que em última
análise compõem o sistema, tem sido uma constante através de cursos
de treinamento, aperfeiçoamento ou especialização.
28 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
Trabalhando assim, em bases sólidas mas com a mente flexível,
estamos confiantes de que as raças zebuínas seguem sua marcha
acelerada para se constituírem em fatores de produção indispensáveis
em qualquer pecuária tropical e sub-tropical.
SELEÇÃO DE ZEBUÍNOS PARA
CARACTERÍSTICAS PRODUTIVAS
Prof. Dr. José Bento Sterman Ferraz e Prof. Dr. Joanir Pereira Eler
Grupo de Melhoramento Animal
Universidade de São Paulo - Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos
Cx. Postal 23 - 13630.970 Pirassununga SP
e.mail: [email protected]
1. INTRODUÇÃO
A economia globalizada desses tempos de fim de milênio levou a
pecuária de corte a uma situação onde apenas criadores com alta
produtividade permanecerão no competitivo mercado. Todos aqueles que
não atingirem níveis adequados de qualidade e produtividade serão
marginalizados do processo produtivo, podendo até ser eliminados do
mesmo e sair do ramo. As palavras de ordem dos tempos atuais são
aumentar a produtividade e melhorar a qualidade dos produtos,
sempre a custos minimizados.
No caso de criadores que se dedicam ao comércio de material
genético, apenas os que tiverem seus animais geneticamente avaliados
conseguirão vender seus reprodutores e matrizes, pois o mercado estará
cada vez mais exigente e vai requerer que o material genético disponível
demonstre com clareza o seu potencial. Os ganhos genéticos de cada
rebanho dependerão também do uso de animais geneticamente superiores
nos processos seletivos dentro de cada plantel.
A seleção de animais feita pelos critérios tradicionais, através da
escolha direta de animais mais produtivos, leva a ganhos genéticos muito
aquém dos ganhos que seriam obtidos caso os animais fossem selecionados
com base nos seus valores genéticos. Já o uso de touros melhoradores, ou
seja, aqueles que melhoram o patrimônio genético dos rebanhos é uma
prática da maior importância nesse processo, desde que o criador saiba
como identificá-los corretamente. Aí se coloca uma pergunta básica: por
que o criador não se utiliza de animais melhoradores em seus rebanhos? E
duas são as possíveis respostas:
• Porque não tem informação, ou
• Porque não sabe interpretar a informação
30 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
O rebanho brasileiro de bovinos é de cerca de 170 milhões de
cabeças, das quais cerca de 80% são zebuínos ou animais com zebuínos
em sua constituição genética. O melhoramento dos zebuínos para
características de desenvolvimento ponderal e reprodutivo são
necessidades imperativas para melhorar a competitividade de nossa
pecuária.
Assim, é necessário que todos aqueles envolvidos no agribusiness
da pecuária de corte tenham noções bastante precisas de melhoramento
genético e de suas ferramentas, quer sejam a identificação de animais
superiores através das avaliações genéticas, os processos seletivos e os
sistemas de acasalamento.
Responder com precisão às dúvidas dos pecuaristas a respeito das
informações a respeito da qualidade genética dos animais e do uso correto
dessas informações é uma das responsabilidades dos geneticistas ligados
aos programas de melhoramento genético de zebuínos no Brasil.
Conhecendo estas técnicas, os profissionais envolvidos com a pecuária de
corte poderão tomar decisões mais conscientes e ser mais eficientes em
suas operações, mantendo-se competitivos e alertas para as mudanças de
mercado que têm ocorrido com tanta rapidez.
2. A AVALIAÇÃO GENÉTICA - OS "MODELOS ANIMAIS"
Avaliar a qualidade genética de um animal nada mais é do que
estimar o seu valor genético aditivo. Infelizmente é impossível conhecer com
precisão o valor genético dos animais. O problema é muito simples: o
desempenho dos animais, também denominado de fenótipo é resultado do
patrimônio genético que aquele animal possui, o chamado genótipo,
somado aos efeitos de meio ambiente, existindo ainda uma interação entre
os efeitos de genótipo e de meio ambiente, já que alguns animais são
superiores a outros em alguns ambientes, mas se tornam inferiores àqueles
em ambientes diferentes. Se simbolizarmos o fenótipo com a letra F , o
genótipo com a letra G , o meio ambiente com a letra A e a interação entre
o genótipo e o ambiente com as letras GA, o desempenho dos nossos
animais, seja qual for a característica estudada (peso à desmama, peso a 1
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
31
ano, produção de leite, circunferência escrotal, etc.) poderá ser colocado
numa equação muito simples:
F = G + A + GA
Esta equação nos mostra que, infelizmente, o fenótipo que medimos
nos animais não demonstra diretamente sua qualidade ou potencialidade
genética. Esse fenótipo, essa produção ou essa medida F estarão sempre
influenciados pelo meio ambiente A e pela interação genótipo-ambiente
GA, que podem assumir valores positivos ou negativos e que alteram o
valor genético dos animais, G. Como não se pode conhecer com exatidão
o valor genético dos animais, lança-se mão de técnicas de estimação
desses valores.
Pela análise da equação acima pode-se verificar portanto a
necessidade de estimar-se o valor genético dos animais sem a interferência
dos efeitos de meio ambiente da interação genótipo-ambiente.
O valor genético dos animais depende da herdabilidade do caráter
(quanto maior a herdabilidade maior a concordância entre o genótipo e o
fenótipo), do número de informações (quanto maior este número, melhor
a estimativa do valor genético), do parentesco entre o animal avaliado
e as fontes de informação (quanto mais próximo o parentesco, maior a
ênfase que a informação deve ter) e do grau de semelhança fenotípica
entre o animal avaliado e as fontes de informação (uma forma de
avaliar os efeitos de ambiente que são comuns a diferentes fontes de
informação, os chamados efeitos permanentes de ambiente).
As metodologias de estimação de valores genéticos dos animais vêm
se aperfeiçoando desde as primeiras décadas deste século, mas apenas a
partir dos anos 80 houve um avanço muito grande nas mesmas e criaram-se
ferramentas muito poderosas para a avaliação dos animais, principalmente
após o advento dos chamados "modelos animais", a mais moderna
metodologia para avaliação genética existente. Nestas metodologias
utilizam-se os registros de produção do animal que está sendo avaliado,
mas também de todos os seus parentes, não importa o grau de parentesco
existente. Assim, dados a respeito de primos distantes, avós, filhos, filhas,
irmãos e irmãs de um reprodutor ou matriz são avaliados segundo
32 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
complexos modelos matemáticos o que resulta na melhor estimação
possível de seu valor genético, o G de nossa equação.
Os modelos animais são uma aplicação dos chamados modelos
mistos, desenvolvidos por C.R. Henderson nos anos 40, modelos que
consideram efeitos fixos (sexo, idade da vaca, fazenda, sistemas de
alimentação e manejo, grupo de contemporâneos, etc.) e efeitos aleatórios
(como os efeitos diretos dos genes dos animais, os efeitos dos genes de sua
mãe, os efeitos permanentes de ambiente que uma vaca fornece à sua
progênie, etc) de maneira simultânea.
Os efeitos aleatórios dos genes dos animais (direto e materno) são
estimados com base nas informações fornecidas pelos registros de
produção de todo e qualquer parente do animal. Isto se tornou possível
porque na montagem das equações de modelos mistos, a inversa da matriz
de parentesco é adicionada à parte aleatória do sistema, "ligando" os dados
de todos os animais que porventura tenham parentesco. Como os dados
estão conectados, por uma propriedade de multiplicação de matrizes, no
momento em que as soluções são obtidas, o valor genético estimado de
cada animal é obtido considerando-se as contribuições de cada parente.
Isto se tornou possível nos anos 80 devido principalmente à elaboração de
regras para o cálculo da inversa da matriz de parentesco (Quaas e Pollak,
1980) e devido ao aumento da capacidade dos microcomputadores, o que
permitiu que vários pesquisadores passassem a ter acesso à tecnologia.
No fim da década de 1980 e início dos anos 90, pesquisadores
como C.R. Henderson (EUA), B. Kennedy (Canadá), L.D. Van Vleck, K.
G. Boldman, I. Misztal (EUA), D. Sörensen (Dinamarca), K. Meyer
(Inglaterra), E. Groeneveld (Alemanha), dentre outros desenvolveram uma
série de programas específicos destinados a estimar parâmetros genéticos e
valores genéticos aditivos de animais utilizando-se dessa metodologia. Tal
metodologia já estava disponível no Brasil em 1991 e 1992 e vem sendo
regularmente aplicada desde 1993.
ELZO (1994) apresentou importante estudo sobre uso de
procedimentos de máxima verossimilhança restrita para estimação de
componentes de variância e covariância em populações cruzadas ou mesmo
entre linhagem de mesma raça, concluindo que embora os requisitos
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
33
computacionais sejam consideravelmente grandes, o número de
componentes de variância e covariância pode ser diminuído, usando
algumas pressuposições adequadas, que facilitam o uso daquelas
metodologias na análise de dados de bovinos cruzados.
O uso de modelos animais na avaliação de animais cruzados foi uma
conseqüência de sua ampla utilização no avaliação genética de bovinos
(ARNOLD et al., 1992). Até recentemente, no entanto, as limitações
computacionais levaram à utilização dos modelos animais reduzidos,
particularmente nas avaliações nacionais (BENYSHEK & BERTRAND,
1990). Mais recentemente, inúmeros estudos têm-se utilizado dos
procedimentos de modelos mistos sob modelos animais na análise genética
de bovinos cruzados (DAVIS et al., 1994a,b; GREGORY et al.,
1994a,b,c; HACKELFORD et al., 1994; KOCH et al., 1994; MEYER et
al., 1994; GREGORY et al., 1995a,b,c; KRESS et al., 1995; PASCHAL
et al., 1995; RODRíGUEZ-ALMEIDA et al., 1995a,b; VAN VLECK &
CUNDIFF, 1995), dentre outros.
Aspectos importantes a respeito de estrutura dos dados (TOSH &
WILTON, 1994); volume de informações de pedigree (BRISBANE &
GIBSON, 1995; GROEN et al., 1995; HAGGER & SCHNEEBERGER,
1995; QUINTON & SMITH, 1995) e efeitos da seleção simultânea de
características sobre componentes de covariância (McMILLAN et al.,
1995) têm sido considerados quando da avaliação genética de animais
provenientes de acasalamentos exogâmicos.
Com as informações obtidas da literatura, fica evidente que a
avaliação genética, ou seja a avaliação do valor genético aditivo dos
animais, machos e fêmeas, de um sistema de cruzamento é uma das tarefas
vitais ao sucesso do sistema.
3. COMO SE EXPRESSAM ESSAS AVALIAÇÕES GENÉTICAS
Por definição, o valor genético aditivo esperado (Expected
Breeding Value ou EBV) de um animal é o valor que ele teria como
reprodutor ou ainda é igual a duas vezes a diferença que seus filhos têm em
relação aos filhos de outros reprodutores, desde que os reprodutores que
34 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
estejam sendo comparados sejam acasalados com vacas escolhidas ao
acaso da população. A razão para dobrar essa diferença dos filhos é que
os filhos só têm metade dos genes dos pais. Em última análise o valor
genético aditivo é o que os rebanhos selecionadores vendem, pois
expressa o potencial genético dos animais vendidos. Este valor mostra o
quanto os filhos de um animal seriam desviados em relação à média de
todos os reprodutores em utilização, ou seja produziriam "a mais" ou "a
menos" que a média dos filhos dos outros reprodutores, que tenham sido
utilizados na mesma população de animais onde estivemos estimando os
valores genéticos.
Os EPD (expected progeny differences) ou as DEP’s (diferenças
esperadas de progênie) são por definição a fração de uma superioridade de
progênie devidas aos efeitos dos genes do reprodutor. Como metade do
patrimônio genético dos filhos vem da mãe e metade do pai, os EPD ou as
DEP equivalem à metade dos EBV. Assim, comprando-se um tourinho A
com EPD ou DEP = +13,0 kg para peso aos 365 dias, com o tourinho B
que tenha uma DEP de +3,0 kg significa que os filhos do tourinho A teriam
10 Kg de peso aos 365 dias a mais do que os filhos do tourinho B se
acasalados com vacas escolhidas ao acaso. Este conceito de EPD ou
DEP é usado em geral pelos criadores de gado de corte, ao passo que os
de gado de leite utilizam-se dos termos PTA (predicted transmiting ability
ou habilidade prevista de transmissão), TA (transmiting ability, ou
habilidade de transmissão), ou ainda PD (predicted difference) ou SC (sire
comparison ou comparação entre reprodutores). Em essência, todos estes
termos estimam a metade do valor genético de um reprodutor.
4. A ACURÁCIA DAS AVALIAÇÕES
A Acurácia (do inglês accuracy, também conhecida como
repetibilidade da avaliação) de uma estimativa é uma medida da correlação
entre o valor estimado e os valores das fontes de informação, ou seja mede
o quanto a estimativa que obtivemos é relacionada com o "valor real" do
parâmetro. Ela nos informa o quanto o valor estimado é "bom", ou seja o
quanto o valor estimado é "próximo" do valor real e nos dá a
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
35
"confiabilidade" daquela estimativa ou valor. Se estimamos o valor genético
apenas pelo desempenho do próprio animal (em peso aos 365 dias por
exemplo), o valor da acurácia será de 0,50 (para herdabilidade de 0,25),
mas se a estimativa for baseada em 18 filhos (progênie) de um touro com
uma amostra aleatória (tirada ao acaso) de vacas, a acurácia subirá para
0,74. Quanto mais informações tivermos a respeito de um touro, mais
acurada, mais "confiável" a estimativa.
A acurácia no entanto, não depende somente do número de filhos de
um reprodutor que foram medidos, mas, principalmente do número de
parentes medidos que esse reprodutor teve. Assim, é comum touros com
menor número de filhos do que outros terem acurácias maiores, devido à
contribuição de maior número de parentes na estimação de seu valor
genético.
Um outro caso comum nas avaliações é a estimação de DEP's para
efeitos genéticos maternos igual a zero, com acurácia igualmente igual a
zero, para touros que não tiveram nenhuma filha com descendentes na
população. Às vezes tais touros podem ter centenas de filhos medidos, alta
acurácia para efeitos diretos e nenhuma estimativa ou acurácia para efeito
materno.
Este conceito de acurácia é muito importante para as decisões de
um criador, pois indica o "risco" da decisão. Se o criador tiver um pequeno
rebanho de alto valor genético, fica muito difícil utilizar-se um reprodutor
cujo valor genético (DEP ou TA) tenha baixa acurácia, pois o valor
estimado não é muito "confiável" e quando aumentarem as informações a
respeito daquele reprodutor, por exemplo na próxima avaliação ou no
próximo ano, aquele valor genético previsto poderá diminuir e o pequeno
criador terá à venda então filhos de um touro inferior ao que ele achava que
teria. Mas aquele valor poderá também subir e então o criador terá filhos
de um bom touro. A acurácia nos informa em última análise a "segurança"
que temos de que aquele valor estimado vá mudar ou não.
Mas se o criador tem um porte maior e gosta de correr riscos
(e talvez ter
maiores lucros), ele poderá investir adquirindo tourinhos (ou sêmen) com altos valores
genéticos estimados e baixa acurácia, que em geral são mais baratos, e usar este material
genético em uma parte de seu rebanho. Se o tourinho confirmar seu alto potencial e tiver
36 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
maior acurácia na próxima avaliação, esse criador terá feito um bom negócio, mas se tiver
um pior desempenho, só parte dos seus produtos será originária de touros "inferiores".
Mas altas acurácias só são conseguidas a partir de muitas informações a respeito do
animal que está sendo testado, em geral obtidas a partir de muitos filhos e filhas do touro e
isto significa mais tempo entre o nascimento desse reprodutor e seu uso no rebanho, o que
aumenta o intervalo entre gerações e diminui o ganho genético por ano. Assim, usarem-se
animais jovens, com baixa acurácia, pode aumentar o risco, mas se a avaliação estiver
sendo bem feita, o mérito genético do rebanho como um todo cresce mais rapidamente
do que se utilizar touros "provados", com altas acurácias. A decisão é estritamente técnica
e deve ser tomada caso a caso.
A tabela apresentada a seguir nos dá uma idéia aproximada desse risco:
Relação entre acurácia de uma estimativa de valor genético de um animal e
o risco de utilizar-se ou não tal animal como reprodutor na propriedade
Acurácia
Razão
Risco
0,10 a 0,30
poucas informações a respeito do animal, animal em
geral muito jovem ==> acurácia baixa, diminui o
intervalo entre gerações
número razoável de informações, touro jovem, com
de 10 a 20 filhos já testados (em gado de leite, 10 a
20 filhas com lactação) ==> acurácia média,
intervalo entre gerações médio
número suficiente de informações, animal com mais
de 20 filhos ou filhas testados ==> acurácia alta,
aumenta muito o intervalo entre gerações
alto
0,31 a 0,70
acima de
0,70
médio
baixo
A acurácia é a correlação entre a predição do valor genético ( g$ ) e o
valor genético verdadeiro ( g ), e é dada pela fórmula:
r( g$ , g ) =
1−
VEP
σ
2
, sendo esta concepção conhecida
g
como “Acurácia Real” e onde VEP é a variância do erro da predição
(prediction error variance, ou PEV), que é obtida na diagonal da matriz C,
matriz intermediária do processo de solução das equações de modelos
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
37
mistos. No entanto a inversão de tal matriz é um processo extremamente
lento e muitas vezes, dependendo do número de animais e características
avaliadas, é quase impossível, já que a demanda por memória de
computadores é muito grande.
No entanto, a acurácia quando expressa desta forma não tem
comportamento linear com o número de progênies de um determinado
touro, mormente em números de filhos entre 10 e 50, e fica relativamente
difícil para o criador leigo entender as grandes variações de acurácia que
ocorrem com pequenas variações no número de filhos. Tendo em vista este
problema, o Beef Improvement Federation, dos Estados Unidos da
América, adotou uma fórmula alternativa, que varia linearmente com o
número de progênies e que dá valores de acurácia mais baixos, e mais
conservadores, que os da “acurácia real”. A fórmula da “Acurácia BIF” é:
VEP
Acc BIF = 1 −
2
σ
g
5. O USO DAS AVALIAÇÕES GENÉTICAS PELOS CRIADORES
As DEP's são resultados de amplos programas informatizados de
controle e avaliação de reprodutores conduzidos por Associações de
Criadores e publicados em seus "Sumários de Touros". Eles podem ser
relativos a qualquer característica que se possa medir com precisão, como
o peso ao nascer, peso à desmama ajustado, peso ao sobreano ajustado,
peso aos 540 dias ajustado, produção leiteira, de gordura ou proteína
ajustadas, circunferência escrotal ajustada, pontuação em um sistema linear
de avaliação corporal, altura, notas para facilidade de parto, etc. Quanto
maior o número de informações, mais ampla será a avaliação de um
reprodutor. Nada impede que um reprodutor seja "superior" aos demais em
algumas características e "inferior" em outras. Essas informações é que são
úteis para a decisão de cada criador, que tem a liberdade de melhorar seu
rebanho segundo seus conceitos e idéias.
Os valores das DEP's podem mudar de uma avaliação para outra
(em geral de um ano para outro), à medida que novas informações são
38 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
agregadas. Os sistemas de avaliação em uso hoje estimam DEP's para
todos os animais controlados, inclusive aqueles que não têm registro de
produção ou que já morreram, pois isso é feito pelos laços de parentesco
com aqueles que têm produções controladas.
Como já foi explicado anteriormente, o desempenho de um animal
não é apenas resultado de seu genótipo, mas também dos efeitos de
ambiente. As características produtivas economicamente importantes são
condicionadas pelo genótipo em frações de 20 a 40% (o que equivale à
sua herdabilidade), o que significa que de 80 a 60 % da variação da mesma
é devida ao ambiente ou outras causas não controláveis. Assim, as DEP's
não são garantias de desempenho superior dos filhos dos touros testados,
mas tão somente uma indicação, a melhor que a genética moderna pode
oferecer, do potencial genético do reprodutor que está sendo usado.
Restam ao criador tentar controlar a outra parte responsável pelo
desempenho dos animais, que sejam o ambiente, a alimentação, a saúde,
etc.
As DEP's são válidas para a população onde foram estimadas.
Assim, estimativas obtidas para a raça Pardo-Suíça não são comparáveis
aos obtidos para a raça Simmental ou Nelore.
Ao comparar as DEP's de dois touros, não devem ser comparados
os valores em si, mas sim sua diferença. Se um touro tem uma DEP de
+12,0 Kg e outro tem o valor +7,0 Kg, a diferença esperada entre os filhos
dois touros é de 5,0 Kg naquela característica.
Um bom programa de avaliação de reprodutores sempre estima as
DEP's dos animais que estão nascendo no rebanho, mas o mais
importante é que devem ser incluídos nas avaliações todos os animais
nascidos, bons ou ruins. Incluir apenas os melhores filhos de um touro pode
resultar em maiores DEP's, mas esta estimativa será falsa e os filhos
desses animais não terão o desempenho esperado, comprometendo o
próprio programa, mas sobretudo colocando em dúvida a seriedade do
criador.
Os criadores devem estar sempre familiarizados com os catálogos de
touros e consultar tais valores antes dos leilões ou pedidos de sêmen. O
criador deve saber o que ele deve melhorar em seu rebanho e comparar as
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
39
DEP's do reprodutores disponíveis. A compra de material genético é antes
de mais nada uma compra técnica. Estar atualizado no significado dos
termos técnicos de avaliação de reprodutores é uma importante ferramenta
tanto de compra quanto de venda.
6. A IMPORTÂNCIA DOS EFEITOS FIXOS - AS CAUSAS DE
CONFUNDIMENTO
O confundimento dos fatores causais da expressão dos genes não se
dá apenas em termos de componentes genéticos. Existe normalmente
enorme grau de confundimento entre tais fatores genéticos e os fatores de
ambiente, já que cada cruzamento expressar-se-á no tempo em diferentes
ambientes.
É notória a diferença de desempenho de animais de patrimônio
genético semelhante criados em ambientes próximos mas diferentes. Muitas
vezes podemos observar diferenças de mais de 20 kg no peso médio de
bezerros de um rebanho, nos quais um dos lotes foi criado num pasto de
colonião ou jaraguá e o outro, separado apenas por uma cerca, foi criado
num pasto de Brachiaria. Isto pode ser normalmente observado em
qualquer fazenda.
Se diferenças tão evidentes como a exemplificada são observadas, a
qualidade das avaliações depende fundamentalmente das definições dos
grupos de contemporâneos.
Os grupos de contemporâneos são grupos de animais nascidos na
mesma fazenda, na mesma época do ano e que são submetidos às mesmas
condições de ambiente. Assim, se numa fazenda existem diferenças de
qualidade entre pastos e entre tratadores diferentes, o que normalmente
existe, nada mais lógico que identificar o "lote" no qual cada animal foi
criado, em todas as fases de sua vida. Em geral, cada "lote" refere-se a um
grupo de animais que nasceu junto e foi mantido junto, no mesmo pasto,
retiro e sob os cuidados de um mesmo vaqueiro, até o desmame, ou então
foi desmamado na mesma época e colocado num mesmo pasto até
determinada idade. Este tipo de identificação é o que caracteriza os "grupos
de manejo", a melhor maneira de identificar grupos de contemporâneos.
40 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
Por ocasião das análises estatísticas para estimação de valores
genéticos, aos grupos de manejo, definidos dentro de cada fazenda, serão
acrescidos a identificação de cada fazenda e o sexo dos animais, pois tais
fontes de variação são de extrema importância. A composição final de cada
grupo de contemporâneos (GC) ficará assim definida por:
GC = fazenda + grupo de manejo dentro da fazenda + sexo
Se tivermos em nossa população 10 fazendas, cada uma com 10
grupos de manejo e os 2 sexos, nossa população terá então 200 grupos de
contemporâneos. A inclusão dos efeitos de grupo de contemporâneos é
absolutamente essencial à qualidade de uma avaliação. A definição
incorreta destes grupos pode levar a grandes desvios (vícios, viéses, bias)
das estimativas e muitos animais podem ser avaliados de maneira incorreta,
levando a erros graves nas definições de seleção.
Dadas as necessidades de haver conecção genética entre animais de
diferentes grupos de contemporâneos, de tal forma que os mesmos possam
ser comparáveis, é de extrema importância que dentro de cada grupo de
contemporâneo ou grupo de manejo, existam filhos dos touros conhecidos
como touros de amarração ou touros de referência, que são animais cujo
sêmen é usado em todos os lotes de vacas. Grupos de manejo que têm
apenas filhos de reprodutores múltiplos não têm conexão genética
conhecida com outros grupos da população e sua avaliação fica
prejudicada.
Um dos tipos piores de confundimento que ocorre em análise de
dados de cruzamentos é o confundimento entre os efeitos de grupo de
manejo (ou pasto) e os grupos raciais, particularmente de vacas. Em geral,
vacas de uma mesma composição racial são mantidas em poucos pastos ou
retiros, com a justificativa de manter-se melhor controle sobre aquele
grupo. Se isto for feito, as diferenças entre o desempenho das progênies
deste grupo (A x B, por exemplo) de vacas e outro grupo (C x D, por
exemplo) será devido aos efeitos genéticos (direto, materno e de heterose)
ou simplesmente um efeito ambiental? Será, sob o ponto de vista estatístico,
impossível separarem-se tais efeitos, principalmente os efeitos maternos e
de avó materna.
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
41
Existe ainda o problema de efeitos diretos e maternos serem
colineares, ou seja existir covariância entre eles. Com esta dependência
entre os efeitos, não existe uma solução clara e limpa para tais
componentes. Com delineamento cuidadoso, podem ser estimadas
diferenças entre méritos genéticos direto e materno entre as raças, quase
sempre com algum confundimento embutido.
Pequenas decisões na composição de grupos de manejo ou de
contemporâneos podem levar a graves efeitos no grau de confundimento
entre os componentes causais. O ideal num programa de cruzamento de
grandes proporções é que se simulem os efeitos de cada decisão antes de
implementá-las, de tal maneira que suas consequências sejam conhecidas a
priori.
A inclusão de fêmeas de raças puras em todos os grupos de manejo
seria de grande valia para facilitar comparações futuras, embora isto possa
trazer vários problemas de manejo. Isto é ainda mais importante quando
várias raças são utilizadas, pois animais de raça pura seriam uma importante
e conhecida referência que facilitaria as comparações entre diversas
combinações de raças.
7.
A
SELEÇÃO
PARA
DESENVOLVIMENTO
CARACTERÍSTICAS
DE
Muitas características ligadas ao desenvolvimento dos zebuínos são
importantes e devem constar de programas de avaliação genética de
reprodutores. Dentre elas podemos citar:
Peso ao nascer = peso real ao nascimento, em kg. Este peso deve
ser monitorado para evitar-se um aumento significativo no peso ao
nascimento dos bezerros, o que poderia vir a causar problemas de parto.
Este peso é o melhor indicador da facilidade de parto. Touros com DEP’s
baixas ou mesmo negativas são desejáveis para esta característica.
Peso à desmama = peso, em kg, medido por ocasião da desmama.
A DEP para este peso reflete o potencial que o animal tem para desmamar,
independente da produção de leite de sua mãe, ou seja, a ação direta dos
42 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
genes do próprio animal. Este peso é muito importante para os produtores
de bezerros. Touros com DEP positiva e elevada são os mais indicados.
Materno total = esta característica é obtida somando-se metade da
DEP de cada animal para peso à desmama (efeitos diretos) com a DEP
para efeitos maternos sobre o mesmo peso. Ela expressa, em kg, o
potencial total de desmama que um animal pode transmitir, incluindo os
efeitos diretos dos genes sobre o crescimento e os efeitos dos genes que
irão influenciar a produção leiteira das filhas do reprodutor.
Ganho de peso ao sobreano = esta característica expressa, em kg,
o ganho potencial devido à ação dos genes, que o animal apresenta no
período compreendido entre a desmama e o sobreano. Essa característica
demonstra o potencial de velocidade de ganho de peso e tem sido
considerado muito importante pelos engordadores e confinadores, pois
demonstra o desempenho potencial a pasto ou em confinamento. Este
ganho de peso, somado ao peso à desmama, define o peso ao sobreano, o
melhor indicador do peso adulto dos animais e as DEP’s mais elevadas são
as mais indicadas.
Conformação, Precocidade e Musculosidade = as avaliações
visuais destas três características estão relacionadas com a necessidade de
se selecionarem animais adequados à competitiva indústria da carne bovina.
Estes escores devem ser medidos ao sobreano em escalas pré definidas,
onde os maiores valores correspondem aos melhores animais. Assim,
DEP’s mais elevadas são as mais indicadas, sempre levando-se em conta
um perfeito balanceamento do animal.
Perímetro Escrotal = esta medida, expressa em cm, deve ser
tomada nos machos na época da pesagem ao sobreano e é altamente
correlacionada com idade à puberdade, qualidade e quantidade de sêmen,
fertilidade, desenvolvimento ponderal e precocidade sexual das filhas e
irmãs dos tourinhos. O uso desta característica para compor os critérios de
seleção em bovinos de corte tem sido prática comum na maioria dos bons
programas de melhoramento em todo o mundo. As DEP’s mais elevadas
são as melhores. Seleção para PE, no entanto, não é uma substituição para
a seleção direta sobre o desempenho reprodutivo da fêmea.
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
43
Altura = Esta medida em cm é tomada na garupa dos animais ao
sobreano de idade e pode ajudar o criador a definir uma estatura média de
seus animais. Ela apresenta elevada correlação com a “caixa” (frame) dos
animais, ou seja a estrutura anatômica do animal para suportar a
musculatura.
8. A SELEÇÃO PARA CARACTERÍSTICAS REPRODUTIVAS
Inicialmente é de extrema importância que se defina com clareza
quais características devem ser selecionadas, quais são as metas e objetivos
do criador.
O que é realmente importante sob o ponto de vista reprodutivo das
vacas é que se tenham novilhas que fiquem prenhes o mais cedo possível,
dentro de determinada estação de monta vigente. Além disto, uma fêmea
deve permanecer no plantel por longo tempo, produzindo bezerros todos
os anos. Essa longevidade garante a amortização dos custos de aquisição,
manutenção e reposição de uma matriz no rebanho.
Inicialmente, é de extrema importância ressaltar que a implantação de
uma estação de monta, bem definida e adaptada às condições de cada
região é uma necessidade, sem a qual os procedimentos da fazenda ficam
desorganizados e de difícil controle. Outro item que deve ser ressaltado é a
necessidade de se realizar um controle zootécnico bem feito, consistente e
permanente na propriedade, sem o qual os diagnósticos e
consequentemente as aferições da qualidade do rebanho são impossíveis.
No entanto, é necessário discutir as práticas atuais de seleção para
características reprodutivas. Uma das práticas mais utilizadas pelos
pecuaristas de bom nível é o descarte de todas as fêmeas que não
ficaram prenhas ao fim da estação de monta. Esta prática é
absolutamente essencial e nenhuma fêmea deve permanecer no rebanho se
estiver vazia ao exame de toque realizado após a estação de monta, pois se
isso ocorrer, se o pecuarista “der uma chance” para a matriz, ele estará
mantendo no rebanho uma matriz de baixa produtividade e suas filhas, que
também deverão ter genes para esta baixa produtividade.
44 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
Uma outra prática que vem sendo realizada atualmente em todo o
mundo é a seleção para perímetro escrotal, baseada nas correlações
positivas entre essa característica e a precocidade sexual das filhas e irmãs
do touro que têm perímetros escrotais mais altos. Esta seleção indireta,
feita através de características indicadoras, embora tenha trazido
resultados positivos tem uma eficiência menos do que se a característica
desejada fosse selecionada diretamente.
Raciocínio semelhante pode ser usado com outras características
indicadoras, como a idade ao primeiro parto, o intervalo de partos e a
característica dias para o parto, definida como o número de dias
transcorridos entre o início da estação de monta e o parto de fêmea.
Na realidade, é necessário encontrarem-se maneiras de avaliar o
valor genético dos reprodutores quanto às características
economicamente relevantes, aquelas que realmente importam, como a
prenhez de novilhas aos 14, 18 e 24 meses e a permanência de uma matriz
produtiva no rebanho por tempo suficiente para amortizar seus custos (6
anos nos EUA) que foi definida como stayability pelo
Dr. Bruce
Golden nas avaliações genéticas de várias raças, como a Red Angus nos
Estados Unidos. Estas sim são características importantes e a seleção direta
sobre elas é mais acurada do que a seleção utilizando-se de características
indicadoras. A metodologia para análise dessas características difere um
pouco das demais, pois as mesmas são variáveis discretas, mas a tecnologia
já está disponível.
É muito importante ainda ressaltar as tendências atuais adotadas por
pecuaristas de nível elevado, de exporem as bezerras Nelore aos touros já
aos 14 meses de idade, desde que tenham sido bem alimentadas e tenha
peso mínimo de 260 a 270 kg. Esta exposição aos touros, embora leve a
taxas de prenhez ao redor dos 10 a 20% vai aumentando a freqüência de
animais sexualmente precoces no rebanho. Esta seleção, embora de
eficiência reduzida, é importante, pois qualquer ganho na esfera reprodutiva
é importante. Para se conseguirem taxas de prenhez de 10 a 20% com
bezerras Nelore de
14 meses é necessária uma grande atenção à
alimentação, nutrição e cuidados sanitários com tais bezerras e só isto já se
constitui num avanço de nível tecnológico.
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
45
É discutível, dependendo da região e da disponibilidade de pastagem
de cada criador, uma estação de monta extra, para as novilhas de 18
meses, que poderia levar a taxas de prenhez de até 70%. Essa estação teria
a vantagem de adiantar o parto dessas novilhas em
6 meses, dandolhes um descanso maior antes da próxima estação de monta, sem bezerro,
aumentando a taxa de prenhez e diminuindo o nível de descarte de fêmeas
primíparas. Mas realmente a decisão de adotar-se tal prática deve ser bem
pesada, pois essa estação extra traz sérios complicadores para o manejo da
propriedade.
As fêmeas Nelore de 24 meses podem, e devem, ser colocadas na
estação de monta normal, mas para isto devem estar em boas condições de
alimentação e nutrição, aliás um sério problema para a pecuária brasileira.
9. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Avaliação genética é um assunto eminentemente técnico. Os
conhecimento necessários à elaboração das análises são muitos e
profundos. Apenas pessoas treinadas longamente nesse ramo da ciência
têm condições de entender as complexas imbricações dos diferentes fatores
envolvidos na determinação dos fenótipos e evitar que graves
confundimentos venham a alterar sistematicamente os resultados das
avaliações, levando os criadores a graves erros, cujas consequências serão
rapidamente visíveis através de progressos genéticos muito menores do que
os esperados.
Estas considerações são ainda mais importantes quando a avaliação
genética se faz em animais cruzados, pois nesses casos confundimentos de
fatores genéticos com efeitos de ambiente torna impossível a identificação e
quantificação correta dos fatores genéticos, que sempre estarão misturados
com os de ambiente, mascarando seus efeitos e induzindo os responsáveis
pelo programa de cruzamento a erros de extrema gravidade, que podem
comprometer os resultados do programa. Estes confundimentos podem
levar a identificação errada dos valores genéticos esperados e levar a
ganhos genéticos menores que os esperados ou até mesmo a perdas de
46 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
mérito genético, num retrocesso que pode ser fatal ao programa de
cruzamentos, levando a significativas perdas econômicas.
O mercado de reprodutores bovinos deve caminhar celeremente para
um mercado onde apenas animais avaliados geneticamente serão
valorizados, num progressivo movimento de decréscimo de importância das
exposições zootécnicas. Os profissionais envolvidos no agribusiness da
pecuária de corte têm que se familiarizar com as informações de avaliações
genéticas, bem como ter amplo acesso às mesmas, inserindo-se de maneira
muito clara e ocupando posição de destaque nessa cadeia produtiva,
auxiliando os pecuaristas em suas decisões.
10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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SELEÇÃO DE ZEBUÍNOS PARA PRECOCIDADE
SEXUAL
José Aurélio Garcia Bergmann
Escola de Veterinária da UFMG
Caixa Postal, 567 – 31.270-010 - Belo Horizonte, MG
[email protected]
1. INTRODUÇÃO
Apesar do desempenho reprodutivo ser considerado de grande
importância para a pecuária de corte (Trenkle e Wilham, 1977; Meacham e
Notter, 1987; Fonseca 1991; Bergmann, 1993), este não tem merecido
ênfase nos programas de melhoramento genético. De acordo com
Meacham e Notter (1987) e Fonseca (1991), a eficiência reprodutiva pode
ser considerada como uma das mais importantes características
econômicas, devendo merecer atenção dos criadores de gado de corte.
Rebanhos detentores de elevada precocidade sexual e fertilidade possuem
maior disponibilidade de animais, tanto para venda como para seleção,
permitindo maior intensidade seletiva e, consequentemente, progressos
genéticos mais elevados e maior lucratividade.
A reprodução é um processo complexo e a seleção direta para
características ligadas à reprodução é, muitas vezes, difícil de ser aplicada,
tornando-se necessário identificar características reprodutivas que sejam
facilmente medidas, que apresentem variabilidade genética e que sejam
geneticamente correlacionadas aos eventos reprodutivos. Segundo
Mackinnon et al. (1990) e Meyer et al. (1990), existem evidências de
substancial variação genética no desempenho reprodutivo de machos e
fêmeas e relações genéticas favoráveis entre este e características
relacionadas ao desenvolvimento ponderal, o que viabilizaria programas de
seleção para desempenho reprodutivo em bovinos de corte (Bergmann et
al., 1996).
Para ambos os sexos a idade à puberdade, característica indicadora
da precocidade sexual dos animais, é uma importante característica
reprodutiva a ser considerada nos programas de melhoramento das raças
zebus. Para os machos, a idade à puberdade tem sido considerada como
52 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
aquela em que aparecem os primeiros espermatozóides no ejaculado
(Unanian, 1997). Para as fêmeas, essa característica tem sido considerada
como a idade na qual o animal ovula pela primeira vez com manifestação de
estro (Notter, 1995). A herdabilidade da idade à puberdade é
relativamente alta (0,61; MacNeil et al., 1984), significando que esta idade
pode ser reduzida através da seleção. Entretanto, os critérios de seleção
para se reduzir a idade à puberdade não são facilmente caracterizados.
Independente do sexo, a determinação da idade à puberdade envolve
cuidadosa e laboriosa coleta de informações. Sua detecção no macho
envolve coletas seqüenciais de sêmen em todos os tourinhos candidatos à
seleção. Nas fêmeas, a detecção da primeira ovulação envolve repetidas
palpações retais, ultra-sonografias ou dosagens da progesterona circulante.
Paralelamente, a detecção do primeiro estro envolve mão de obra
adicional, além da utilização de rufiões com marcadores, por usualmente
longo período.
De certa forma, a idade ao primeiro parto pode ser considerada
como característica indicadora do início da atividade reprodutiva das
fêmeas. No Brasil, apesar do significativo aumento das pesquisas
envolvendo o melhoramento das raças zebus e dos meios para a melhoria
dos índices de produtividade disponíveis atualmente, Bergmann (1993),
utilizando trabalhos publicados de 1946 até 1988, concluiu que não houve
redução na di ade ao primeiro parto naquele período (média ponderada
acima de 40 meses), o que indicaria a ausência de mudanças dos índices de
produtividade, decorrentes tanto de medidas que visam melhorar a
alimentação dos rebanhos como do melhoramento genético. Conclusões
semelhantes foram evidenciadas por Nájera (1990) para a raça Nelore,
quando reportou que a idade ao primeiro parto variou de 37 a 54 meses,
com média de 43 meses.
A redução da idade ao primeiro parto, conseqüente ao aumento da
precocidade sexual dos animais, parece ser o maior desafio do zebu
brasileiro. Face às dificuldades operacionais para implementação de
programas de seleção para idade à puberdade, torna-se importante a
utilização de características indicadoras de precocidade sexual, que tenham
variabilidade genética adequada, que sejam de mensuração fácil e
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
53
econômica, e que tenham correlação genética favorável com idade à
puberdade e outras características economicamente importantes.
Esta palestra objetiva rever as possibilidades da utilização de algumas
características indicadoras da idade à puberdade em programas de seleção
de zebus, ou seja, da data e da idade ao primeiro parto, e do perímetro
escrotal.
2. PERÍMETRO ESCROTAL
Uma das principais características associada ao desempenho
reprodutivo dos machos é o volume testicular. A medida mais utilizada para
refletir o volume dos testículos é o perímetro escrotal, também chamado de
circunferência escrotal. Além de estar favorável e geneticamente
correlacionado ao volume testicular (Quirino, 1999), esta característica é de
fácil e econômica mensuração, e tem alta confiabilidade e repetibilidade
quando tomada por diferentes técnicos (Coulter e Foote, 1979).
A seleção para aumento do perímetro escrotal não traz beneficio
direto em termos econômicos. Objetiva-se, contudo, que, com esta
seleção, se consiga animais mais precoces sexualmente e mais férteis, com
maior quantidade e qualidade espermática e maior capacidade de serviço.
Estas associações têm sido estudadas, notadamente em raças européias.
Existem evidências de que o perímetro escrotal esteja correlacionado
geneticamente com a idade à puberdade nos machos e fêmeas, com a
fertilidade das fêmeas aparentadas a estes machos (Notter, 1988; Martins
Filho, 1991; Bergmann, 1993, Gressler et al., 1998) e, ainda, com
características físicas e morfológicas do sêmen (Quirino, 1999).
Quando o objetivo da seleção é a redução da idade à puberdade, a
avaliação do perímetro testicular em touros deve ser feita antes dos 24
meses de idade por ser esse o período que antecede, ou coincide, com o
início de sua atividade reprodutiva. Adicionalmente, é em torno da
puberdade que os testículos crescem mais rapidamente e de forma quase
linear (Abdel-Raoulf, 1960; Pimentel et al., 1984). Segundo Fonseca
(1989), o início da puberdade é marcado por mudanças dos níveis
circulantes de hormônios. Dentre estes, estão os efeitos das gonadotropinas
e de seu hormônio estimulador que estão envolvidos indiretamente com o
54 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
fenômeno da espermatogênese. Por estímulos hormonais, as células de
Leydig sintetizam a testosterona que atua diretamente na espermatogênese,
estimulando-a. O início da espermatogênese coincide com a luminação e
aumento do diâmetro, tanto dos túbulos seminíferos como de seu lumen.
Nesta fase, ocorre também um rápido crescimento dos órgãos genitais
primários. De acordo com Bergmann et al. (1998), os testículos crescem
segundo curva sigmóide, com uma fase inicial mais lenta, seguida de um
pico que coincide com a puberdade, havendo, posteriormente, um
crescimento lento, indicativo da maturidade sexual (Figura 1)
Perímetro Escrotal (cm)
40
35
30
25
20
Ponto de inflexão: 19,0 cm aos 10,8 meses de idade
15
10
5
0
0
3 6
9 12 15 18 21 24 27 30 33 36 39 42 45 48 51 54 57 60 63 66 69 72
Idade (meses)
Figura 1 -
Curva de crescimento do perímetro escrotal em animais Nelore
Estudos relacionados à curva de crescimento testicular de animais
das raças européias criados em regiões temperadas indicam que uma única
medição a um ano de idade é suficiente para se avaliar o desenvolvimento
testicular. O perímetro escrotal nesta idade apresenta herdabilidade alta,
com uma média de 0,50 (Coulter et al., 1976; Latimer et al., 1982;
Bourdon e Brinks, 1986; Nelsen et al., 1986; Morris et al., 1992) e está
favoravelmente associada a idade à puberdade das meio-irmãs destes
tourinhos, -0,39, (Brinks et al., 1978; Morris et al., 1992). Adicionalmente,
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
55
o perímetro escrotal está favorável e geneticamente associada à idade ao
primeiro serviço
(-0,32), a data do primeiro (-0,19) e do segundo (0,27) partos, à fertilidade (0,59) e ao intervalo entre partos (-0,21),
segundo Toelle e Robison (1985) e Notter et al. (1993).
No Brasil, a ênfase da seleção para perímetro escrotal dos zebus tem
sido para a idade de 18 meses. Entretanto, Bergmann et al. (1998), ao
descreverem a curva de crescimento do perímetro escrotal de animais
Nelore, encontraram ponto de inflexão (máximo crescimento) aos 10,8
meses de idade (Figura 1). Segundo os autores, tal fato evidenciaria o
maior crescimento do parênquima testicular ocorrendo próximo aos 12
meses de idade, sugerindo o início do período pré-pubere. Segundo
Fitzhugh (l976), neste ponto da curva de crescimento, a taxa de
crescimento é máxima, passando de função crescente (estágio
autoacelerante) para função decrescente (estágio autoinibitório). Para Foot
(l969), o início da puberdade é caracterizado pelo crescimento rápido das
gônadas e pode ser determinado pela presença de espermatozóides viáveis
no ejaculado, associado à liberação do pênis e da libido, com o
estabelecimento da capacidade reprodutiva.
As pesquisas realizadas no Brasil, considerando aspectos
relacionados à puberdade de animais zebus, salientam a maior dependência
de seu aparecimento do estado corporal do animal do que da idade.
Diversos trabalhos sugerem idades variando entre 10 e 12 meses de idade
para o aparecimento da puberdade de machos zebus, coincidindo com o
período de grande ganho em peso e associado ao rápido crescimento
testicular, aumento da secreção de LH e início da espermatogênese
(Cardoso, 1977; Castro et al., 1989). Ainda no Brasil, Cardoso (l977)
determinou o início da puberdade de machos Nelore entre os 10 e 12
meses. Já Castro et al. (l989) observaram espermatozóides no ejaculado de
tourinhos Nelore, criados exclusivamente a pasto, aos 12-14 meses de
idade, enquanto que Castro et al. (l990) observaram, na mesma raça, que a
puberdade ocorreu aos 17 meses de idade. Mais recentemente, Unanian
(1997) observou o aparecimento da puberdade em machos Nelore
variando de 12,2 a 16,0 meses de idade.
56 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
Embora o perímetro escrotal esteja associado ao peso corporal
(Bergmann et al., 1996, entre outros), segundo Toelle e Robson (l985)
existem evidências de que o tamanho do testículo seja controlado por
diferentes sistemas fisiológicos nas idades de 205 e de 365 dias para
taurinos criados em condições temperadas. Segundo os autores, o
perímetro escrotal medido aos 205 dias seria reflexo do aumento do peso
corporal e entre 205 e 365 dias os testículos passariam a ser influenciados
pelos hormônios gonadotrópicos. Desta forma, as diferenças entre
perímetros escrotais aos 365 dias de idade estariam mais dependentes das
diferenças relacionadas ao sistema hormonal do que ao peso corporal.
Existem evidências na literatura de que a puberdade de machos
Nelore em condições nutricionais adequadas ocorra próxima ao primeiro
ano de idade. Gressler et al. (1998) observou correlações genéticas
favorável entre perímetro escrotal aos 12 meses de idade e data do
primeiro parto (-0,08) e desfavorável entre perímetro escrotal aos 18
meses de idade e data do primeiro parto (0,21). Os autores conjeturaram
que esses resultados poderiam indicar que a seleção de animais com maior
perímetro escrotal aos 12 meses de idade estaria associada à escolha de
animais que apresentassem maiores níveis de hormônios gonadotrópicos,
culminando com a puberdade, início de atividade reprodutiva de machos e
fêmeas, concepções mais precoces na primeira estação de monta e
antecipação das datas do primeiro parto. Aos 18 meses de idade, a
maioria dos tourinhos já estaria em período pós-púbere e a seleção
praticada para maiores perímetros escrotais nessa idade estaria associada a
maiores pesos corporais e, possivelmente, a menor precocidade
reprodutiva em ambientes tropicais. Os resultados de Quirino e Bergmann
(1998) também conduzem a raciocínio semelhante.
Na raça Nelore, Quirino (1999) encontrou substancial associação
genética entre o perímetro escrotal e características do sêmen (vigor, 0,89;
defeitos maiores, -0,50; menores, -0,86 e totais, -0,52), e correlações
favoráveis, porém moderadas, entre o perímetro escrotal e o volume do
ejaculado (0,10) e entre o perímetro escrotal e a motilidade (0,13). Estes
resultados, respaldados por outros da literatura, indicam ser possível obter
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
57
melhora da qualidade do sêmen de touros Nelore a partir da seleção para
aumento do perímetro escrotal.
3. CARACTERÍSTICAS OBSERVADAS NAS FÊMEAS
Quando não são conhecidas a idade à puberdade e a data da
primeira fecundação da fêmea bovina, as informações reprodutivas
disponíveis são a ocorrência ou não do parto e a data deste parto. Destas
informações, as características que emergem como indicativas do potencial
reprodutivo da fêmea jovem são a idade ao primeiro parto e a primeira data
do parto.
3.1 Idade ao Primeiro Parto
A idade ao primeiro parto é característica de grande importância
zootécnica, pois marca o início do processo produtivo das fêmeas. A
redução da idade ao primeiro parto antecipa a idade produtiva, provoca
rápida recuperação do investimento, aumenta a vida útil, possibilita maior
intensidade de seleção nas fêmeas e reduz o intervalo entre gerações
(Mattos e Rosa, 1984). Adicionalmente, a vantagem de se incluir esta
característica nos programas de melhoramento está associada à facilidade
de medição. No Brasil, a média das estimativas de herdabilidade para a
idade à primeira cria de animais zebu foi de 0,41 (Ayala, 1990) e de 0,25,
segundo Mercadante (1995), o que sugere a possibilidade de resposta à
seleção. Adicionalmente, a idade ao primeiro parto e a idade à puberdade
são relacionadas geneticamente, quando as fêmeas iniciam a vida
reprodutiva ainda jovens, antes dos
2 anos para zebus (Notter, 1995).
Dessa forma, poderia-se obter melhoramento da precocidade sexual das
fêmeas ao selecionar-se para a redução da idade ao primeiro parto, pois a
utilização da idade à puberdade apresenta dificuldades de aplicação prática
para a realidade brasileira (Andrade, 1991; Bergmann, 1993).
Por outro lado, segundo Notter (1995), a idade ao primeiro parto
poderia não ser uma boa característica a ser utilizada em países tropicais,
como o Brasil, quando esta ocorre tardiamente e, ou, é deliberadamente
atrasada pelo criador. Outro fator limitante da utilização da idade ao
58 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
primeiro parto como característica indicadora de precocidade sexual é o
tempo demandado para a expressão da característica.
3.2. Primeira Data do Parto
A data do parto durante a estação de nascimentos corresponde ao
número de dias compreendidos entre a data de início da estação de parição
e a data do parto de determinada fêmea. Esta definição corresponde à
adotada por Ponzoni (1992) e é semelhante à definição de dias para o
parto (número de dias compreendidos entre o início da estação de monta,
na qual ocorreu a concepção, e a data do parto de determinada fêmea).
Ainda segundo Ponzoni (1992), o uso da data do parto seria preferível,
pois não envolve seleção para redução do período de gestação, que pode
não ser desejável no programa de melhoramento.
A data do parto tem sido considerada por muitos autores como a
característica de escolha para se avaliar a eficiência reprodutiva da fêmea
bovina de corte. Além de não apresentar as limitações do intervalo de
partos (Bergmann, 1993), esta característica apresenta herdabilidade (de
0,11 a 0,28) e repetibilidade (de 0,11 a 0,34) mais altas do que o intervalo
de partos (Bourdon e Brinks, 1983; López de Torre e Brinks, 1990), além
de ser economicamente mais importante, pois vacas que parem mais cedo
usualmente desmamam bezerros mais pesados (DeRouen e Franke, 1989;
Marshall et al., 1990).
Segundo Gressler (1998), a herdabilidade da data do primeiro parto
de animais da raça Nelore foi de 0,11, evidenciando a existênmcia de
variabilidade genética para a característica. Entretanto, conforme
evidenciado para a característica idade ao primeiro parto, a importância da
data do primeiro parto como característica indicadora de precocidade
sexual, isto é, da idade à puberdade, é questionável quando os animais
entram em sua primeira estação de monta tardiamente e pelo tempo
demandado para expressão da característica.
4. CONCLUSÕES
Apesar de sua importância econômica, a seleção para precocidade
sexual não é fácil de ser implementada diretamente. Entretanto, a seleção
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
59
por meio de características indicadoras pode e deve ser feita. Dentre as
características indicadoras de precocidade sexual, o perímetro escrotal é a
mais recomendada. A característica é de fácil mensuração, pode ser feita
em animais jovens, apresenta variabilidade genética e está favoravelmente
associada com precocidade sexual em ambos os sexos e outras
características importantes economicamente. Entretanto, alguns aspectos
continuam merecer atenção do meio científico para melhor utilização desta
característica nos programas de seleção das raças zebus. Algumas questões
aventadas passam pela idade mais adequada para medir o perímetro
escrotal e pela avaliação morfológica da bolsa escrotal e dos testículos.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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PROGRAMA DE INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL EM
GRANDE ESCALA EM BOVINOS DE CORTE /
PRODUÇÃO DE NOVILHO PRECOCE E SUPER
PRECOCE
Nixon Rodrigues de Faria
Granja Rezende S/A
1 - INTRODUÇÃO
A eficiência do produtor e a qualidade dos produtos, são exigidos no
mercado competitivo. As importantes mudanças na cultura, no consumo e
na economia do país, têm impulsionado o pecuarista nacional em direção a
uma produção cada vez mais dentro da técnica e neste sentido, o progresso
na composição genética dos rebanhos é fundamental para garantir
permanente aumento da produtividade.
Como processo eficiente de melhorar o desempenho dos animais e
dos sistemas de produção, a inseminação artificial utilizada em programas
de melhoramento genético e cruzamento industrial, oferece ganhos
imediatos e permanentes, ocupando lugar de destaque na pecuária de corte.
Neste contexto, a produção do novilho precoce e super precoce
associado à redução da idade das fêmeas ao primeiro parto apresenta-se
como uma mola propulsora da modernização dos sistemas produtivos.
2 - EFICIÊNCIA REPRODUTIVA
A eficiência reprodutiva pode ser considerada como uma das mais
importantes características econômicas pois é um dos fatores que determina
a taxa de desfrute de um rebanho (Figura 1).
Esta característica é muito complexa e envolve fatores
multidisciplinares, destacando-se entre eles, os de natureza genética,
sanitária, de manejo e nutricionais.
66 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
Eficiência Reprodutiva:
Produtividade
Eficiência Produtiva:
Período de Serviço
Intervalo entre Partos
Idade à 1ª Cria
Índice de Fertilidade
Idade à Puberdade
Fatores Genéticos
Taxa de Desfrute
Taxa de Mortalidade
Taxa de Crescimento
Idade de Abate
Peso de Abate
Fatores do Meio
Manejo
Sanidade
Nutrição
Figura 1 - Taxa de Desfrute
* Inseminação Artificial
Várias são as vantagens em utilizar a inseminação artificial em
rebanhos de corte, destacando:
- Melhoramento genético do rebanho em menor tempo e a um baixo custo
através da utilização de sêmen de reprodutores comprovadamente
superiores para a produção de carne.
- Controle de doenças.
- Permite ao criador cruzar fêmeas zebuínas com touros de raças européias
e vice-versa, através da utilização de sêmen.
- Aumenta o número de descendentes de um reprodutor superior.
Os resultados da inseminação artificial vão depender basicamente do
manejo existente na fazenda, da qualidade do sêmen utilizado e da eficiência
do inseminador.
Um bom manejo exige a necessidade de uma boa assistência técnica.
Possíveis falhas que por ventura possam vir a ocorrer, devem ser corrigidas
a tempo, a fim de se evitar um prejuízo maior.
É importante que as fêmeas inseminadas tenham identificação
numérica individual e que a fazenda disponha de um bom sistema
computacional de gerenciamento do rebanho que permita obter
I Simpósio de Produção de Gado de Cort
-
67
informações precisas sobre o status reprodutivo e produtivo de cada
animal, permitindo uma melhor seleção daqueles animais mais produtivos.
* Estação de Monta
Estação de monta definida permite:
- Concentração dos trabalhos com a inseminação artificial.
- Concentração da estação de nascimento e desmama.
- Melhor avaliação dos produtos.
- Melhor tomada de decisão de descarte de vacas menos férteis e menos
produtivas.
Deve ser implantada na fase do ano mais adequada para os eventos
reprodutivos sem se desconsiderar a melhor época do nascimento das
crias.
É importante que as fêmeas a serem inseminadas sejam examinadas
em tempo hábil para o início da fase reprodutiva e para o diagnóstico de
prenhez após a cobertura. Fêmeas que não apresentarem bom desempenho
reprodutivo, deverão ser eliminadas do programa de inseminação artificial.
Também é importante o estabelecimento de uma estação de monta
diferenciada para novilhas, uma vez que estas, após o primeiro parto,
encontram dificuldades para retornarem aos eventos reprodutivos.
Diante de tais evidências, a duração da estação de monta para vacas
deve ser de, no máximo, 120 dias e das novilhas, de 90 dias, iniciando-se
30 dias antes da das vacas e terminando consequentemente 60 dias antes.
* Idade à Puberdade e à Primeira Cria:
O primeiro aspecto importante na reprodução das fêmeas é a idade
em que atingem a puberdade, e a extensão na qual esta idade se relaciona à
fertilidade na primeira estação de monta e ao subsequente desempenho
reprodutivo nas futuras estações (Tabela 1).
68 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 1 - Produção de Bezerros de Acordo com o Início da
Reprodução de Novilhas
Ano
Meses
Ocorrência
Nº Fêmeas
Reprodução
P1
T
100
Nº de Bezerros
P1
1999
NDJ
Reprodução
2000
MAM
Reprodução
2000
SON
Nascimento
75
2000
NDJ
Reprodução
75
100
2001
JFM
Nascimento
2001
MAM
Desmame
73
2001
ASO
Desmame
2001
SON
Nascimento
63
2001
NDJ
Reprodução
63
84
2002
MAM
Desmame
61
2002
SON
Nascimento
58
2002
NDJ
Reprodução
58
60
2003
MAM
Desmame
56
Total de Bezerros Desmamados
190
Granja Rezende S/A
• P1 = Precoce 1: com início da reprodução aos 14 meses de idade.
• T = Tradicional: com início da reprodução aos 25 meses de idade.
T
84
80
60
58
138
A puberdade se relaciona ao desenvolvimento pré e pós desmama.
De acordo com a literatura, existe uma relação direta entre idade, peso e
eficiência reprodutiva em novilhas de corte, refletindo na manifestação da
puberdade dessas novilhas e consequentemente no aparecimento do
primeiro cio fértil e idade ao primeiro parto. Entre os fatores que
influenciam estas características, destacam-se:
- Fator raça, com grandes diferenças de precocidade entre fêmeas de raças
européias e zebuínas;
- Fator cruzamento, sofrendo influência da heterose, diferenciando a
precocidade entre raças puras e cruzadas;
- Fator peso à desmama, onde os animais desmamados mais leves
necessitarão de um maior ganho de peso para entrarem em reprodução,
comparando com os desmamados mais pesados;
I Simpósio de Produção de Gado de Cort
-
69
- Fator nutrição, considerado o mais importante, pois fêmeas de qualquer
raça e graus de sangue diversos, necessitarão de um plano nutricional ideal
para que possam demonstrar cios férteis a uma idade mais precoce e a um
peso ideal.
A resposta à seleção por idade ao primeiro parto está fortemente
condicionada pelos níveis nutricionais, influenciando no peso e na fertilidade
das novilhas no início da vida reprodutiva (Tabela 2).
Tabela 2 - Pesos Recomendados para Novilhas no Início da Estação de
Monta de Acordo com o Nível Nutricional
Nível Nutricional
Peso Recomendado
Ótimo
50-55 % do Peso Adulto
Considerando Peso
Adulto de 500 Kg.
250-275 Kg.
Bom (Adequado)
60-70 % do Peso Adulto
300-350 Kg.
Sub Ótimo (Inadequado)
75-80 % do Peso Adulto
375-400 Kg.
Spire & Spire
* Manejo e Intervalo entre Partos:
O intervalo entre partos tem sido tradicionalmente usado para se
avaliar a eficiência reprodutiva em animais adultos.
Em programas de inseminação artificial a correta observância do cio
com o uso de rufiões ou rufionas androgenizadas, pessoal treinado e o
momento da inseminação são essenciais para não haver elevação do
período de serviço e, consequentemente, elevação no intervalo entre
partos.
Muitas pesquisas tem demonstrado que a presença da cria ao pé da
mãe, como ocorre no manejo tradicional, pode exercer um efeito negativo
sobre o retorno à atividade reprodutiva, prolongando o período de serviço
e diminuindo a eficiência reprodutiva. Trabalhos realizados no Brasil
demonstram que a racionalização do manejo de amamentação (1 ou 2
mamadas diárias) após o período puerperal trouxe resultados significativos
70 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
sobre o período de serviço, diminuindo-o e reduzindo o intervalo entre
partos (Tabela 3).
Tabela 3 - Efeito dos Períodos de Serviço e Gestação sobre o Intervalo
entre Partos e Taxa de Nascimentos
Período de
Serviço
(Meses)
14,5
10,5
8,5
7,5
6,5
5,5
4,5
3,5
2,5
Fonseca
Período de
Gestação
(Meses)
9,5
9,5
9,5
9,5
9,5
9,5
9,5
9,5
9,5
Intervalo entre
Partos
(Meses)
24
20
18
17
16
15
14
13
12
Taxa de
Nascimento
(%)
50
60
65
70
75
80
86
90
100
* Controle e Prevenção de Doenças:
De nada adianta a vaca manifestar o estro até 60 dias pós-parto e
conceber, caso posteriormente tenha a gestação interrompida por morte
embrionária, aborto ou natimorto. O intervalo entre partos continuará longo.
Doenças infecto-contagiosas que provoquem morte embrionária,
aborto e/ou natimorto, tais como: Brucelose, Tricomonose,
Campilobacteriose, Listeriose, Sarcosistose, Diarréia Bovina a Vírus,
Rinotraqueite infecciosa, etc., não devem estar presentes no rebanho.
* Formação e Manejo de Pastagens:
O consumo de forragem é o principal fator que determina o seu valor
nutritivo. De nada adianta uma forragem rica em nutrientes, mas que por
deficiência de manejo, tenha baixo consumo. Pastagem pouco densa, rala,
além de proporcionar pouca forragem, dilata o tempo de pastejo, pelo
aumento do número de bocadas e, consequentemente, maior gasto de
I Simpósio de Produção de Gado de Cort
-
71
energia para obtenção do alimento. Essa é, portanto, uma das principais
causas do insucesso em sistemas de pecuária de corte.
* Suplementação em Épocas Críticas:
A proteína se constitui em sério problema no período da seca, onde
seus teores nas pastagens estão abaixo do mínimo requerido pelos
microrganismos ruminais, que é de 7% (Tayarol) . Além desta redução,
ocorre o aumento das constituintes fibrosas da planta, diminuição dos
minerais, o que concorre para a menor digestibilidade da forragem e, assim,
menos consumo de pasto, interferindo de forma negativa no início da
atividade reprodutiva em novilhas e no intervalo entre partos em vacas que
chegam à Estação de Parição muito magras. Este cuidado deve ser
observado principalmente em fêmeas de 1ª cria.
Surge daí a necessidade de uma suplementação protéica, na época
do ano caracterizada pela seca, para diminuir influência destes problemas
na eficiência reprodutiva em matrizes bovinas (Gráfico 1).
Gráfico 1 - Condição Corporal ao Parto e Incidência de Cio Pós-Parto
120
% de Cios
100
Condição Corporal
80
Vacas Magras
60
Vacas Moderadas
40
Vacas Gordas
20
0
40
50
60
70
Dias Pós-Parto
Fonseca
80
90
72 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
* Desempenho Zootécnico do Rebanho - GRANJA REZENDE S/A:
Tabela 4 - Índice de Fertilidade das Estações de Monta 89/90 a 98/99
Ítens
Vacas Disponíveis
Fertilidade (%)
Paletes
(+)
89/9
0
4281
72,9
1,53
90/9
1
3943
67,9
1,63
91/9
2
3756
68,9
1,67
92/9
3
4194
74,5
1,55
93/9
4
4524
78,0
1,63
94/9
5
4759
82,8
1,60
95/9
6
5428
85,7
1,66
96/9
7
6065
85,1
1,62
97/9
8
6132
83,9
1,62
98/9
9
6100
85,1
1,60
Fertilidade = ( Vacas Cheias / Vacas Disponíveis ) *100
Granja Rezende S/A
Tabela 5 - Eficiência Reprodutiva do Rebanho Nelore e F1
Grau de Sangue
Vaca
F1
1ª Cria
(N.º) Matrizes “Plantel”
NELORE
Vaca 1ª Cria Novilh
a
2285
536
867
1030
(N.º) Matrizes “Cheias”
1879
446
689
958
%
82,2
83,2
79,5
% “Cheias”/1ª Cobertura
71,3
78,4
% “Cheias”/2ª Cobertura
20,4
18,4
Itens
TOTAL
386
Novilh
a
492
5596
315
446
4733
93,0
81,6
90,6
84,6
62,7
78,1
85,1
80,8
75,1
22,2
19,2
17,8
14,3
19,5
% “Cheias”/3ª Cobertura
6,2
2,8
8,9
5,3
3,1
0,6
5,4
Doses Gastas/Vaca “Cheia”
1,73
1,88
1,38
1,27
18,5
1,39
1,61
Idade 1ª Cob. Fértil (Meses)
1,61
25,8
Idade 1ª Parição (Meses)
35,5
27,7
32,8
Interv. entre Partos (Dias)
402
372
392
Período Serviços (Dias)
107
85
99
23,3
Granja Rezende S/A
Tabela 6 - Eficiência Reprodutiva em Novilhas Precoces
Novilha Precoce
(N.º) Novilhas
(N.º) Novilhas “Cheias”
(%)
Idade Média 1ª Cob. Fértil (Meses)
Granja Rezende S/A
SIxNE
Grau de Sangue
AAxNE NELORE PO
Total
267
116
43,4
17,0
208
163
78,4
15,9
500
280
56,0
16,4
25
1
4,0
16,1
I Simpósio de Produção de Gado de Cort
-
73
3- Eficiência Produtiva:
Atualmente, com a estabilização da economia, tornou-se necessária a
utilização de técnicas que possibilitem a diminuição do tempo de abate dos
animais, reduzindo desta forma o custo de produção.
Várias são as alternativas possíveis de serem utilizadas para a
produção de novilho precoce, sendo todas, quase sempre, resultantes de
combinação envolvendo estratégias de alimentação e potencial genético do
animal. Desta forma, para que estas alternativas sejam exploradas de forma
eficiente, faz-se necessário, além do conhecimento de todos seus
componentes, o entendimento de suas interações com o meio ambiente de
modo geral, e com o ambiente sócio-econômico da Pecuária de Corte
(Figura 2).
Figura 2 - Inter-Relações Básicas Determinantes da Função Objetiva de
Produção de Carnes (Euclides Filho)
74 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
* Indicadores do Cenário Futuro:
As rápidas transformações ocorridas na última década apontam para
um cenário constituído pelos seguintes indicadores:
- Limitação na expansão da fronteira agrícola.
- Competição por área pelas atividades agrícolas.
- Demanda crescente por sustentabilidade dos sistemas produtivos.
- Aumento do número de propriedades conduzindo agricultura e pecuária
de forma integrada.
- Competitividade com outras carnes via preço.
- Competição de mercado ( Mercosul ).
- Exigência de mercados consumidores por qualidade de produto.
- Estabilidade econômica, promovendo a busca da eficiência.
- Surgimento de mercados emergentes ( Ásia ).
- Melhoria na distribuição de renda da população.
Portanto, diante desta tabela, a precocidade produtiva, que engloba
rapidez de acabamento e pouca idade no início da vida reprodutiva, é uma
característica de grande importância para a pecuária brasileira (Tabela 7).
Tabela 7 - Efeito da Idade de Abate sobre alguns Parâmetros em
Sistemas de Produção Envolvendo as Fases de Cria, Recria e
Engorda
Parâmetro
Total de animais no rebanho
Total de fêmeas em reprodução
Total de bezerros desmamados
Total de animais vendidos
Peso vivo vendido
Desfrute
Equivalente carcaça
Euclides Filho & Cezar
Unidade
cabeça
cabeça
cabeça
cabeça
kg/ha
%
kg/ha
Abate 42
Meses
6.874
1.866
1.206
1.135
111
16
52
Sistema
Abate 38
Meses
7.234
2.140
1.384
1.293
122
18
57
Abate 26
Meses
7.534
2.495
1.566
1.492
138
20
67
I Simpósio de Produção de Gado de Cort
-
75
* Indicadores para Monitoramento do Sistema:
As mudanças tecnológicas do sistema de produção, rumo à
intensificação, no entanto, deverão ser acompanhadas de medidas de
eficiência, não só do ponto de vista biológico, mas também econômico. Por
isso, entre outros, sugerem-se os seguintes indicadores (EMBRAPA):
- Indicadores Físicos:
nº de animais vendidos no ano
% desfrute anual =
x 100
nº de animais existentes em Janeiro + Nascimentos no ano
- Indicadores Econômicos:
margem bruta anual = receita bruta anual - custos variáveis anuais.
- Análise de investimentos:
. Taxa interna de retorno;
. Valor presente líquido;e,
. Relação Custo/Benefício.
3.1 - Produção do Novilho Precoce / Super Precoce
O caminho escolhido para se alcançar a eficiência de produção é de
reduzir o máximo possível o número de dias para o bezerro ganhar X kg
de peso entre a desmama e o abate com 450 Kg de peso vivo, utilizando
como expediente, o aumento no peso à desmama. Desta forma, alternativas
de alimentação visando à intensificação do sistema devem ser baseadas em
combinações que envolvam pastagens, creep-feeding (suplementação
durante o período de aleitamento), suplementação alimentar a pasto e
confinamento. Além destas alternativas, combinações com o potencial
genético do animal, oriundos de seleção ou de cruzamentos, devem ser
consideradas.
Os gráficos 2 e 3 mostram os custos médios de arrobas de machos,
comparando os efeitos da suplementação, raça, cruzamento e fase de
criação.
76 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
R$
Gráfico 2 - Média de Custos de Arrobas em Machos Nelore e Cruzados,
Suplementados ou Não
25
24
23
22
21
20
19
18
17
16
15
as 16 @
as 17 @
as 18 @
as 19 @
as 20 @
Nelore não
Suplementado
Nelore
Suplementado
Cruzamento
Industrial não
Suplementado
Cruzamento
Industrial
Suplementado
Gráfico 3 - Custos Médios da Arroba em Machos Nelore e Cruzados,
Suplementados ou Não em Diferentes Fases de Criação
Nelore não Suplementado
26
Nelore Suplementado
R$
24
22
Cruzamento Industrial não
Suplementado
20
Cruzamento Industrial
Suplementado
18
16
14
Cria
Recria
as 16 @
as 17 @
as 18 @
as 19 @
as 20 @
Engorda
* Creep-Feeding:
A suplementação no “creep-feeding” tem por finalidade não
interromper o crescimento dos bezerros o que normalmente ocorre após 2
meses de idade pela queda da produção leiteira da mãe. Assim sendo, o
concentrado deverá apresentar valor nutritivo similar ao leite materno. O
fornecimento da ração não deve ultrapassar a 1.100 gramas por cabeça
I Simpósio de Produção de Gado de Cort
-
77
dia, para ganhos de peso da ordem de 1,0 Kg/dia, mostrando uma
conversão alimentar média de 1:1, que pode ser considerada bastante
econômica se comparada com as fases seguintes à desmama (Tabela 8).
Tabela 8 - Resposta à Utilização do “Creep-Feeding” no Peso ao
Desmame e na Fertilidade das Matrizes
SIxNE
05 Meses
07 Meses
NELORE
UNESP
Peso dos Bezerros (Kg.)
Nº de animais
S/ Creep
C/ Creep
100
170
190
100
200
245
Fertilidade das Matrizes ( % )
400
77,0
84,5
%
10,5
18,3
8,9
* Cruzamento Industrial:
As razões principais para a utilização de sistemas de cruzamento no
aumento da eficiência produtiva em gado de corte são:
- Aproveitar os efeitos de heterose.
- Utilizar os efeitos das diferenças genéticas entre raças.
- Utilizar a complementariedade e proporcionar flexibilidade ao sistema de
produção.
Para tanto, o ponto inicial do processo está na escolha das raças
para compor os cruzamento industriais, uma vez que a precocidade é uma
característica herdável e a escolha dos animais deve recair nas raças ou nas
linhagens ou mesmo nos indivíduos mais eficientes.
78 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
* Resultado da Desmama 1999 - GRANJA REZENDE S/A:
Tabela 9 - Peso de Bezerros à Desmama
Grau de
Sangue
Nelore
(PO + CO)
1/2 AA x
1/2 NE
Sexo
Animais P. Nasc. Idade P. Desm. P. Ajust.
Número
(Kg)
Desm.
(Kg)
205 D
(Kg)
Fêmea
934
31
225
198
183
Macho
968
33
223
216
201
Total
Fêmea
Macho
Total
Fêmea
1/2 SI x 1/2 Macho
NE
Total
Fêmea
Tricross Macho
Total
Fêmea
TC 5/8
Macho
Total
Fêmea
Total /
Macho
Média
Total
Granja Rezende S/A
Índice
Relativo
(%)
100,00
100,00
1.902
207
217
32
34
33
224
234
231
207
243
250
192
218
226
100,00
118,77
112,20
424
250
246
33
33
32
232
231
231
247
234
246
222
211
222
115,28
115,25
110,42
496
717
756
1.473
158
165
323
2.266
2.352
32
32
32
32
31
34
32
32
33
231
231
232
232
233
232
233
229
228
240
222
238
230
209
221
215
214
230
217
200
213
206
186
199
193
195
209
112,61
108,83
105,88
107,29
101,67
98,72
100,11
4.618
32
229
222
202
* Novilho Super Precoce:
São animais suplementados ao pé das vacas, com uma ração
concentrada no sistema de creep-feeding e desmamados em média aos
227 dias de idade com 260 Kg de peso vivo. São em seguida confinados
por um período médio de 120 dias e abatidos com 12 a 14 meses de
idade, com aproximadamente 450 Kg de peso vivo, atingindo de 3 a 10
mm de cobertura de gordura na carcaça (Gráfico 4).
I Simpósio de Produção de Gado de Cort
-
79
Gráfico 4 - Produção do Novilho Super Precoce
500
Abate
450
400
350
300
Desm.
250
200
150
100
50
0
Creep-Feeding
Nasc.
J
J
A
S
O N
D
J
F M A M
Peso (Kg)
Confinam.
J
J
A
S
O
N
D
Granja Rezende S/A
* Novilho Precoce:
Para que o animal possa ser considerado um Novilho Precoce, é
necessário que o mesmo obtenha um ganho de peso contínuo em seu
desenvolvimento, alcançando características de abate com idade de 23 a
30 meses.
Neste sistema de produção, a suplementação do bezerro em “creepfeeding “ também tem a finalidade de complementação do leite materno e
por consequência uma desmama mais pesada.
No período imediatamente após o desmame, que coincide com o
período da seca invernal recomenda-se uma suplementação a pasto com
uma fonte de proteína, que propiciará ganhos médios de 150 a 200 g/dia.
No período subsequente de verão, de 7 meses, como as pastagens
terão elevado valor nutritivo, os animais ganharão aproximadamente 500 a
800 g/dia.
Finalmente, no último período de seca invernal, pode-se optar por
um confinamento de acabamento, onde os animais iniciam o período com
aproximadamente 350 a 380 Kg e serão abatidos 65 dias após com peso
80 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
médio de 460 Kg; ou, pode-se optar novamente por uma suplementação
protéica a nível de pasto durante o período seco, com ganho de peso na
ordem de 150 a 200 g/dia e terminação a pasto, durante os meses de
verão. No primeiro caso, os animais serão abatidos entre 23 e 25 meses de
idade e no segundo caso, entre 28 e 30 meses de idade (Gráficos 5 e 6).
Gráfico 5 -
Produção do
Confinamento
Novilho
Precoce -
Acabamento em
Granja Rezende S/A
Gráfico 6 - Produção do Novilho Precoce - Acabamento em Pasto
Granja Rezende S/A
I Simpósio de Produção de Gado de Cort
-
81
* Classificação de Animais Abatidos Conforme Sistema de Engorda GRANJA REZENDE S/A
Tabela 10 - Dados de 1994 a 1998
Seleção
Rebanho
Total
Confinamento
Pasto
Super Prec
%
Precoce
%
Precoce
%
Nelore
5210
991
19,02
1.853
35,57
2.366
45,41
Cruzamento
4261
2.007
47,10
626
14,69
1.628
38,21
Total
9.471
2.998
31,65
2.479
26,17
3.994
42,17
* Resultados do Confinamento 1998 - GRANJA REZENDE S/A
Tabela 11 - Confinamento de Machos Super Precoce Inteiros
Características
Nelore
AAxNE
SIxNE
Tricross
Total/Media
Nº. Animais
61
131
187
236
615
Idade Inicial ( Dias )
289
293
307
306
304
Idade Final ( Dias )
434
415
417
417
419
Peso Inicial ( Kg )
261
276
276
281
278
Peso Final ( Kg )
435
453
443
431
440
G.P.M. ( Kg )
174
177
167
150
162
1,212
1,469
1,590
1,472
1,487
145
122
110
111
122
Rendimento Carcaça ( % ) *
58,87
57,89
57,63
57,98
57,98
Consumo MS/Cab./Dia (Kg)
8,096
8,458
8,291
8,414
8,366
Converção Alimentar * *
6,679
5,759
5,216
5,717
5,627
Custo Alim. / Cab./ Dia (R$)
0,43
0,46
0,45
0,46
0,45
Custo Alim. / Cab. R$)
62,85
55,73
49,65
50,90
55,34
G.P.M.D. ( Kg )
Dias Confinado ( Dias )
Granja Rezende S/A
G.P.M.D. = Ganho de Peso Médio Diário;
* Rendimento de carcaça ( % ) = Peso da carcaça quente / Peso morto.
* * Kg MS consumido/Kg de ganho de peso
82 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 12 - Confinamento de Machos Precoce Castrados
Características
Nº. Animais
Idade Inicial ( Dias )
Idade Final ( Dias )
Peso Inicial ( Kg )
Peso Final ( Kg )
G.P.M. ( Kg )
G.P.M.D. ( Kg )
Dias Confinado ( Dias )
Rendimento Carcaça (%) *
Consumo MS/Cab./Dia (Kg)
Converção Alimentar * *
Custo Alim. / Cab./ Dia (R$)
Custo Alim. / Cab. (R$)
Nelore
750
662
731
333
431
98
1,402
69
57,49
8,964
6,396
0,49
33,66
AAxNE
62
653
692
397
473
76
1,910
39
57,21
9,598
5,024
0,60
23,26
SIxNE
120
629
671
410
488
79
1,879
42
56,60
9,725
5,176
0,60
25,37
Tricross
121
650
693
366
440
75
1,718
43
56,49
9,596
5,585
0,56
24,24
Total/Media
1053
658
718
351
442
91
1,534
60
57,20
9,114
5,940
0,51
30,46
Granja Rezende S/A
G.P.M.D. = Ganho de Peso Médio Diário;
* Rendimento de carcaça ( % ) = Peso da carcaça quente / Peso morto.
• * Kg MS consumido/Kg de ganho de peso
4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
O uso da inseminação artificial em larga escala traz enormes
benefícios diretos e indiretos, à pecuária de corte brasileira que deve se
consolidar, nos próximos anos, como uma atividade empresarial.
A mudança de patamar tecnológico e de competitividade de nossa
pecuária exige mudança de hábitos, conhecimento, mudanças de manejo,
sanidade, alimentação e de patrimônio genético dos animais. Isto só poderá
ocorrer de maneira rápida com o uso intenso de material genético de alta
qualidade através da inseminação artificial.
Portanto, diante desta tabela, a precocidade produtiva que engloba
rapidez de acabamento e pouca idade na início da vida reprodutiva, são
características de grande importância para a pecuária de corte brasileira.
I Simpósio de Produção de Gado de Cort
-
83
5 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Almeida, A. J. 1998. Como obter o novilho precoce e o super precoce viabilidade econômica. Revista Pecuária de Corte - Nr. 74 Janeiro/Fevereiro 1998: 74-82.
Barbosa, P. F. 1990. Cruzamento para a produção de carne bovina no país.
Bovinocultura de Corte- Sociedade Brasileira de Zootecnia FEALQ - Piracicaba: 1-46.
Bergmann, J. A. G. 1993. Melhoramento genético da eficiência reprodutiva
em bovinos de corte. Revista Brasileira de Reprodução Animal Suplemento - Belo Horizonte - Nr. 4. X Congresso Brasileiro de
Reprodução Animal - Anais - Vol. 1: 70-86.
Cesar, I. M.; Euclides Filho, K. 1996. Novilho Precoce: reflexos na eficiência
e economicidade do sistema
de produção. Campo Grande:
EMBRAPA - CNPGC. Documento 66: 31.
De Kruif, A. 1993. Fertilidade de uma população bovina. X Congresso
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ESTRATÉGIAS DE SUPLEMENTAÇÃO PARA
BOVINOS EM PASTEJO
Mário Fonseca Paulino
DS, Professor UFV – Pesquisador CNPq
O grande potencial de produção de matéria-seca das gramíneas
tropicais é um atributo que permite a obtenção de elevadas produções de
carne bovina nessa região, ensejando produções de até 1514 kg de peso
vivo / ha / ano (VICENTE – C, 1983).
Por outro lado, as forrageiras tropicais podem proporcionar ganhos
de peso acima de 1 kg/animal/dia, durante a época das águas, em
condições não limitantes de oferta de forragem bem manejada para
assegurar a manutenção dos atributos qualitativos.
Entretanto, a produtividade animal nos trópicos ainda é baixa,
principalmente devido à distribuição estacional e variação qualitativa da
forragem. Portanto, algumas distorções associadas à sazonalidade da
produção e do valor nutritivo das forrageiras, necessitam ser corrigidas.
Existem várias alternativas de sistemas de manejo, tentando obter
melhor distribuição de alimento durante o ano, sendo o diferimento de
pasto uma opção para a época seca. Do mesmo modo, a avaliação da
qualidade de forragem disponível é uma necessidade em qualquer sistema
de uso de forragem através do pastejo, complementando e, ou
suplementando quando necessário.
DESEMPENHO X INGESTÃO DE NUTRIENTES
A produção animal é função do consumo e valor nutritivo
(composição química e disgestibilidade dos nutrientes) do alimento
disponível. O consumo de alimentos é determinante do aporte de nutrientes
necessário para o atendimento dos requisitos de mantença e de produção
pelos animais.
Assim, a produção por animal está diretamente associada com o
consumo de matéria seca digestível (CMSD) quando proteína, minerais,
vitaminas e outros fatores nutricionais são adequados (Tabela 1). O
138 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
aumento na eficiência de conversão de forragem em produtos animais é
conseguido quando a produção por animal é incrementada. Quando a
energia ou CMSD aumenta acima do requerimento de mantença, maior
quantidade de forragem ingerida é transformada em produto animal. Para
recriar um bezerro de 150 kg de peso vivo até que atinja os 450 kg ao
abate, com o ganho diário de 0,250 kg, seriam necessário 7320 kg de
matéria seca de forragem, comparados a apenas 1903 kg de matéria seca
se o ganho fosse de 1,100 kg diários (BLASER, 1990).
Tabela 1 - Requerimento de matéria seca e proteína por um novilho para
recria / engorda dos 150 aos 450 kg de peso vivo
Ganho de peso
diário (kg)
Tempo necessário
(dias)
0,25
0,50
0,75
1,10
1200
600
400
273
Requerimento total
Matéria seca (kg)
7320
4460
3052
1903
Proteína (kg)
652
434
310
224
Fonte: BLASER (1990)
Estabelecidos os padrões de crescimento, para cada sistema de
produção, cabe ao pasto suprir a maior parte ou a totalidade dos nutrientes
para satisfazer as exigências nutricionais dos animais.
DISPONIBILIDADE, CARACTERÍSTICAS DA FORRAGEM,
SELETIVIDADE E INGESTÃO DE NUTRIENTES
A ingestão de matéria seca é controlada por mecanismos fisiológicos,
físicos e piscogênicos. Neste contexto, o consumo voluntário em condições
de pastejo é influenciado por características inerentes à planta, ao animal,
ao ambiente e ao manejo adotado, envolvendo a resposta comportamental
do animal, frente a fatores inibidores ou estimuladores não relacionados ao
valor energético do alimento nem ao efeito de enchimento.
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
139
RAYMOND (1969) propôs que os fatores determinantes de
consumo de forragem podem ser divididos em intrínsecos, ou seja,
inerentes à forragem e extrínsecos. Entre os fatores extrínsecos, a
disponibilidade de forragem por unidade de área pode ser responsável por
40% das diferenças no consumo entre tratamentos de pastejo.
DUBLE et al (1971) verificaram que a performance animal era
significativamente correlacionada com a disponibilidade de forragens
quando a digestibilidade da matéria seca (DMS) era relativamente uniforme.
Os autores agruparam seis gramíneas de clima quente em três categorias de
digestibilidade e verificaram que o ganho de peso médio diário aumentava
dentro de cada grupo de digestibilidade com a maior disponibilidade de
forragem até um ponto acima do qual, não ocorria incremento no ganho de
peso. Este ponto era mais elevado à medida que a digestibilidade declinava.
Forragem com DMS acima de 60% tinham um nível crítico de 500 kg de
MS/ha, aquelas entre 50% e 60% DMS chegavam a 1000 kg de MS / ha e
as com DMS abaixo de 50% apresentavam valores de 1250 kg de MS /
ha. Portanto, eles evidenciaram que acima destas disponibilidades a
qualidade da forragem determinava o rendimento animal, enquanto que
abaixo delas, a quantidade disponível era limitante.
POPPI et al (1987) agruparam os fatores influenciando o consumo
de pasto em duas categorias:
a) fatores nutricionais, envolvendo as variáveis que afetam a digestão da
forragem e estão associadas, principalmente, à maturidade e
concentração de nutrientes da forragem ingerida; e
b) fatores não nutricionais, associados às variáveis que afetam a taxa de
ingestão de forragem, como a estrutura física do pasto e o
comportamento do animal (Figura 1).
140 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
Figura 1 - Relações entre o consumo de pasto em função de várias
características das pastagens e métodos de alocação de
forragem (Fonte: POPPI et al., 1987).
Portanto, além das características bromatológicas da forragem, a
produção de bovinos a pasto depende das características fenológicas e
estruturais da vegetação como: altura, densidade da biomassa vegetal
(kg/ha/cm), relação folha/caule, proporção de inflorescência e material
morto. Estas características estruturais do pasto determinam o grau de
pastejo seletivo exercido pelos bovinos, assim como a eficiência com que o
animal colhe a forragem na pastagem afetando a quantidade ingerida de
nutrientes. As características estruturais do relvado dependem não só da
espécie botânica, mas também do manejo adotado, principalmente a
pressão de pastejo (GOMIDE, 1998).
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
141
MANEJO DE PASTAGENS E DESEMPENHO DURANTE A
ÉPOCA DAS ÁGUAS
A condição do clima tropical, de altas irradiação solar e temperatura,
associada à intensa precipitação dos períodos de primavera e verão,
proporciona às gramíneas tropicais alta taxa de amadurecimento,
aumentando a espessura da parede celular rapidamente e mantendo os
valores de digestibilidade em patamares inferiores aos das gramíneas
temperadas.
O aumento de parede celular e redução de conteúdo celular ocorre
durante a própria estação de crescimento. Talvez este seja o ponto que se
deve explorar com mais intensidade, aproveitando as forrageiras tropicais
em menores intervalos de crescimento, quando apresentam menor conteúdo
de parede celular.
Assim, as forrageiras de clima tropical deveriam ser colhidas em
estágio de crescimento mais novo devido a seu elevado ritmo de
crescimento. A determinação do intervalo de pastejo adequado para as
espécies forrageiras poderá permitir rebrota rápida associada a uma boa
qualidade da forragem para os animais que utilizam o pasto. Considerando
que um dos principais atributos das forrageiras tropicais é o alto potencial
de produção, torna-se razoável propor que o intervalo entre pastejo seja
estabelecido para permitir elevada produção de matéria seca sem
comprometer a qualidade da forragem em um nível em que o desempenho
animal possa ser prejudicado. Presume-se a manutenção de uma relação
folha/caule elevada, caules poucos lignificados e, consequentemente,
digestibilidade elevada. Os colmos em estágio iniciais de crescimento são
suculentos e apresentam qualidade comparável à das folhas, mas o seu
valor nutritivo decresce rapidamente com a maturidade.
Deste modo, torna-se importante determinar, pela época, intensidade
e pelo intervalo entre pastejos, o equilíbrio entre a produção de matéria
seca e a qualidade da forragem produzida.
O manejo baseado na manutenção do meristema apical permite à
planta forrageira rebrota vigorosa e rápida, uma vez que ela se processa a
partir da área foliar remanescente, além da produção e expansão de novas
folhas originadas do meristema apical.
142 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
Entretanto, como o crescimento do colmo não foi interrompido pela
eliminação do meristema apical, observa-se que, mesmo a intervalos
freqüentes de pastejo, ocorre acúmulo de material residual, caracterizado
pela presença de colmos lignificados e partes mortas da planta, capaz de
prejudicar o consumo de forragem.
As características ideais da pastagem para aumentar o consumo de
matéria seca pelo animal, são determinadas quando ocorre eliminação do
meristema apical dos perfilhos primários em pastejos estratégicos. Após a
eliminação a planta mantém o meristema apical baixo, apresenta rebrota
através de gemas basilares, mantendo elevada percentagem de folhas e
perfilhos novos, colocando à disposição do animal material rico em folhas e
colmos novos, em quantidade e densidade que contribuem para aumentar o
consumo.
Portanto, devemos usar da plasticidade fenotípica da gramínea
forrageira no sentido de adaptá-la ao pastejo. Visualiza-se a utilização de
pastejo intenso, com categoria animal menos exigente, visando a remoção
do material residual de pastejo, pelo menos três vezes durante o ano: final
da época seca (imediatamente antes do início da rebrota), meados da
estação chuvosa (intercalado com os ciclos de pastejo visando máxima
produção de matéria-seca) e final da estação chuvosa (imediatamente antes
do início do diferimento de pasto para a época seca).
O impacto animal sobre a vegetação provoca redução dos tecidos
senescentes que inibem germinação, perfilhamento e rebrota das espécies
desejáveis, e promove um aumento na captação de energia.A preparação e
moldagem do perfil da pastagem favorecendo o desenvolvimento de novos
perfilhos e folhas, associadas aos períodos favoráveis das estações do ano,
devem ser estimuladas.
Para otimizar o desempenho do animal durante o período das águas
o sistema de manejo deve permitir regular a oferta de matéria seca de modo
a não limitar o consumo, tirar vantagem da idade fisiológica sobre a
qualidade das gramíneas tropicais, possibilitando aumento do consumo de
nutrientes digestíveis / metabolizáveis obtido com alta produção de matéria
seca de folhas e a manutenção da qualidade da forragem por períodos mais
longos, com plasticidada e persistência de stand, aumentando a densidade
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
143
de perfilhos. Este perfil de pastagem, associado a mineralização adequada,
tem assegurado ganho médio diário acima de 1,0 kg animal/dia e
ultrapassado 1,0t de ganho de peso vivo/ha durante o período de produção
das gramíneas (verão).
Trabalho conduzido por ALMEIDA et al. (1997), sobre a
capacidade de produção sob pastejo do capim elefante anão, mostrou que
ofertas de forragem de 11,3 kg de MS de lâminas verdes/100 kg de PV/dia
maximizam o desempenho animal e asseguram uma condição de
sustentabilidade da pastagem(Tabela 2).
Tabela 2 - Taxa de acúmulo de matéria seca de lâminas verdes
(TAMSLV) acúmulo de matéria seca de lâminas verdes
(AMSLV) e resposta animal de uma pastagem de capim
elefante anão cv. Mott, sob quatro níveis de oferta de forragem
(média de 2 anos)
Oferta (% de
PV)
TAMSLV
(kg/ha/dia)
AMSLV
(kg/ha)
Animais dia/ha
3,8 ± 0,02
7,5±0,03
10,2±0,32
14,0±0,75
52,9±4,1
65,1±1,1
70,4±3,4
66,4±10,4
8892±640
11066±250
11964±641
11276±1812
1719±141
1156±45
1061±64
738±103
GMD
(kg/animal/d
ia)
0,829
1,011
1,042
1,034
Ganho/
ha(kg)
1410±20
1167±38
1098±89
767±60
Uma vez que a qualidade da forragem disponível declina mais
rapidamente do que a quantidade, quando o pastejo é rápido, o sistema
de pastejo rotacional especial, com animais ponteiros e seguidores, tem
sido sugerido como estratégia de utilização mais eficiente das pastagens
(HODGSON, 1990), permitindo atender a diferentes categorias do
rebanho ou animais dentro de categorias com diferentes necessidades.
Neste sistema, os animais ponteiros (primeiros pastejadores) entram no
piquete e consomem a metade da forragem oferecida, fazendo o desponte
do pasto. Em seqüência, entram os seguidores no mesmo piquete
consumindo a forragem remanescente. Os primeiros pastejadores tendem a
apresentam desempenho superior devido ao pastejo seletivo de folhas e
144 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
maiores digestibilidade de matéria seca ingerida, quantidade de matéria
orgânica por bocado e consumo de matéria seca.
Em situações onde o ganho de peso não é otimizado apenas com
mineralização visualiza-se o uso de alimentação suplementar, durante o
período das águas. Neste contexto, PAULINO et al. (1996 ), utilizando
feno de guandu e casca de café como limitadores de consumo, testaram
diferentes fontes de proteína em suplementos, ensejando acréscimo de
ganhos de peso de cerca de 200 g / animal / dia, com a associação feno de
guandu e farelo de soja (Tabelas 3 e 4).
Tabela 3 - Composição
percentual
das
suplementares, por tratamento
Ingredientes
Mistura mineral (%)
Feno de guandu (%)
Casca de café triturada (%)
Farelo de soja (%)
Farelo de algodão (%)
Farelo de trigo (%)
rações
concentradas
Tratamentos
Experimento 1
Experimento 2
A
B
C
D
A
B
C
100,0
5,0
5,0 5,0
100,0
5,0
5,0
75,0
75,0 75,0
75,0
75,0
20,0
20,0
20,0
20,0
20,0
-
Tabela 4 - Pesos vivos médios, inicial e final, e ganhos em peso, total e
diários, por tratamento
Especificação
Experimento 1
Experimento 2
A
B
C
D
A
B
C
Peso inicial (kg) 208,11 199,20 198,70 200,30
167,91 168,40 166,90
Peso final (kg)
261,78 268,00 260,10 254,80
213,27 221,90 214,90
Ganho total (kg) 53,67
68,80
61,40
54,50
45,36
53,90
48,00
Ganho diário médio 0,624a 0,800a 0,714a 0,634a
0,528a 0,622a 0,558a
(kg/animal/dia)
Consumo médio de 0,061
1,163
1,016
1,025
0,077
1,926
1,592
suplemento
(kg/animal/dia)
a
Médias na mesma linha, seguidas pela mesma letra, não diferem estatisticamente
entre si, pelo teste de Newman Keuls (P>0,05). Comparação feita por Experimento.
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
145
Creep – feeding
Em sistemas intensivos de produção de bovinos, nos quais o peso à desmama dos
bezerros (as) tem importância primordial, visualiza-se a suplementação dos bezerros em
amamentação. Sob a perspectiva do uso de estação de monta, com consequente
disciplinação dos nascimentos, esta fase coincide com o período das águas.
O creep – feeding consiste em fornecimento de alimentos suplementares aos
bezerros criados ao pé das matrizes, sem que estas tenham acesso ao suplemento.
A suplementação dos bezerros no creep – feeding tem por finalidade não reduzir o
ímpeto de crescimento dos bezerros, o que normalmente ocorre após os dois meses de
idade pela queda na produção de leite da mãe.
O fornecimento de ração deve ser “ad libitum”, para ganhos da ordem de 1,0 kg /
animal/ dia; o consumo médio, dos 2 aos 7 meses de idade, deve ser de 1,0 kg de
concentrado / cabeça / dia, resultando em uma conversão alimentar média de 2 kg de
alimento / kg de ganho, considerando o leite e forragem consumidos. Normalmente a
ração concentrada apresenta 17 a 18% de proteína bruta e 75% a 80% de nutrientes
digestíveis totais.
O creep - feeding pré-condiciona o animal ao tipo de alimentação que ele vai
receber na terminação / engorda o que beneficia o desempenho do animal.
Em relação à produção de novilho precoce/superprecoce para o abate, uma
vantagem expressiva do creep – feeding é o ajustamento para o período de recria e
terminação que pode ser reduzido, uma vez que o peso à desmama atinge 240 kg ou
mais.
Creep - grazing
Alternativa e/ou concomitantemente ao sistema de creep – feeding
pode-se usar piquetes com espécies forrageiras de melhor valor nutritivo,
para uso exclusivo dos bezerros enquanto eles ainda estão com as mães.
Recomenda-se o uso de piquetes de tifton, coast cross e mesmo de
gramíneas tradicionais manejados para alta qualidade. Uma opção é usar o
sistema ponta - rapador, sendo que os bezerros constituem o grupo dos
primeiros pastejadores.
146 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
DIFERIMENTO E VALOR NUTRITIVO
A utilização do método de pastejo diferido, também denominado
protelado, tem sido sugerido como alternativa para corrigir a defasagem de
produção de forragem durante o ano. O pastejo diferido é um manejo
estratégico de pastagens que consiste, basicamente, em selecionar
determinadas áreas e vedá-las à entrada de animais no final da estação de
crescimento. Desta forma, é possível promover um acúmulo de forragem na
forma de feno-em-pé para pastejo direto durante o período crítico de
disponibilidade de alimentos.
Além de constituir em reserva de forragem, as plantas protegidas têm
habilidades para florescer e produzir sementes, contribuindo para a
regeneração e sustentabilidade da pastagem.
Entretanto, embora o diferimento de pasto constitua-se em alternativa
para garantir disponibilidade de forragem para a época seca, ocorre
redução no valor nutritivo da matéria seca (Tabela 5).
Tabela 5 - Rendimento de MS (t/ha), proteína bruta (%) e DIVMS (%)
do capim-elefante-anão, em função das épocas de diferimento
e utilização. Porto Velho, RO. Médias de quatro anos
Diferimento
Fevereiro
Março
Abril
Utilização
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Fonte: COSTA et al. (1998)
MS (t/ha)
6,13
8,41
11,28
12,85
5,91
5,75
8,85
9,73
4,27
4,81
5,58
8,68
PB (%)
7,28
6,04
5,48
4,87
9,44
8,11
7,86
6,07
10,18
9,64
8,03
7,95
DIVMS (%)
54,38
50,66
48,07
45,17
57,13
53,22
51,25
50,02
62,91
61,05
58,77
54,79
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
147
A redução da digestibilidade da matéria seca, à medida que a planta
envelhece, decorre de mudanças estruturais no tecido vegetal, com
elevação dos teores de fibra e lignina e redução daqueles de conteúdo
celular, que dificultam a ação dos microrganismos do rúmen sobre a
forragem ingerida.
Assim, no sistema de pastejo diferido, o animal deve desenvolver o
pastejo seletivo; desta forma, há possibilidade do animal ingerir os
nutrientes necessários à sua mantença e mesmo produção pois a forragem
ingerida possui valor nutritivo mais elevado quando comparada à forragem
disponível na pastagem. Portanto, no manejo das pastagens é necessário
considerar o conceito de pressão de pastejo, ou seja, o número de animais
em relação à quantidade de forragem disponível em determinado período.
De acordo com NUNES (1980), a maior disponibilidade de
forragem no período seco, apesar de sua baixa qualidade resultou em
melhor desempenho animal, demonstrando a importância do ajuste na taxa
de lotação em função da quantidade de forragem disponível (Tabela 6 e
7).Observa-se, entretanto, pela magnitude dos ganhos que, em sistemas de
produção que preconizam ganhos substanciais faz-se necessário a correção
qualitativa da forragem.
Tabela 6 -
Variação na disponibilidade de forragem (kg MS/ha) entre o
início e o final do período seco, e ganho em peso
(g/cabeça./dia) em pastagens de B. humidicola e B.
ruziziensis
Taxa de lotação (UA/ha)
0,9
1,5
B. ruziziensis
Disponibilidade de foragem (kg/ha)
Ganho de peso (g/cabeça/dia)
B. humidicola
Disponibilidade de forragem (kg/ha)
Ganho de peso (g/cabeça./dia)
2.800 – 1.500
134
2.000 – 1.000
-20
6.000 – 5.000
-3
3.000 – 2.000
-67
148 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 7 - Variação na disponibilidade de forragem verde (kg de MS de
caules e de folhas/ha) entre o início e o final do período seco, e
ganho em peso (g/cabeça/dia) em pastagens de B. brizantha
durante o período seco de 1985
Disponibilidade de forragem verde (kg/ha)
Ganho de peso (g/cabeça/dia)
Ganho de peso (kg/ha)
Taxa de lotação (UA/ha)
1,4
1,8
3.200-1.400
2.400-1.000
66
-9
30
-10
As gramíneas forrageiras mais adequadas para o sistema de pastejo
são as braquiárias e as cultivares de Panicum maximum que apresentem
alta relação folha/caule. Os capins jaraguá, andropógon e gordura são
menos indicados para este fim.
NUTRIENTES LIMITANTES
OTIMIZAÇÃO DE CONSUMO
X
SUPLEMENTAÇÃO
X
Sendo a pastagem a alimentação básica do rebanho, da interação
entre as exigências nutricionais e o valor nutritivo da pastagem resulta um
desempenho animal, que pode ser satisfatório ou não.
Pode-se considerar que, na maioria das situações, a forragem não
contém todos os nutrientes essenciais, na proporção adequada, de forma a
atender integralmente as exigências dos animais em pastejo. Assim,
nutrientes suplementares são necessários para se obter níveis aceitáveis de
desempenho animal.
Em muitas situações o imbalanço de nutrientes pode acarretar em
reduções no consumo voluntário de matéria seca. Assim a deficiência ou o
baixo consumo de qualquer nutriente essencial (proteína, energia, vitaminas
e minerais) pode restringir a produção por animal.
Suplementação de bovinos de corte em pastejo é necessária quando
nutrientes não são fornecidos pela forragem basal em balanço adequado
e/ou quantidade para satisfazer os requerimentos do animal e/ou as
expectativas de performance.
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
149
Uma estratégia de suplementação adequada seria aquela destinada a
maximizar o consumo e a digestibilidade da forragem disponível. Neste
contexto, deve-se levar em consideração as exigências dos microrganismos
do rúmen e as dos animais.
Ao consumir forragens de baixa qualidade, além do limite físico do
rúmen, o consumo pode ser prejudicado pela deficiência em proteína da
ração (DOVE, 1996). Dietas desbalanceadas, com reduzida
disponibilidade de nitrogênio, ou ricas em fibra detergente neutro-FDN têm
o suprimento de proteína degradada no rúmen (PDR) como fator limitante
para o crescimento microbiano, reduzindo a utilização da energia disponível
no rúmen na forma de ácidos graxos voláteis e prejudicando a atividade
fermentativa do rúmen. Logo a taxa de digestão da parede celular fica
comprometida, o material deixa lentamente o rúmen e verifica-se redução
na ingestão de alimentos.
Portanto, em algumas circunstâncias, consumo de forragem pode ser
limitado por uma franca deficiência de nitrogênio dietético; isto pode ser
uma ocorrência comum em pastagens tropicais. Em concentração de
nitrogênio abaixo de 1% na matéria seca (cerca de 7% de proteína bruta) a
eficiência fermentativa das bactérias do rúmen pode ser prejudicada,
reduzindo o consumo e digestão da forragem.
Neste contexto, os bovinos geralmente sofrem de carências múltiplas,
envolvendo proteína, energia, minerais e vitaminas. Assim, na
suplementação e/ou complementação das pastagens, deve-se levar em
consideração a ocorrência de deficiências simultâneas, estabelecendo-se
suplementos de natureza múltipla, envolvendo a associação de fontes de
nitrogênio solúvel, minerais, fontes naturais de proteína, energia e vitaminas
(eventualmente aditivos), visando proporcionar o crescimento contínuo dos
bovinos em pastejo.
SUPLEMENTOS MÚLTIPLOS PARA RECRIA
Deve-se definir com clareza, o objetivo da suplementação dentro do
sistema de produção. O aporte de nutrientes, via suplementação durante a
recria, pode almejar níveis diferenciados de desempenho pelos animais,
desde a simples mantença de peso, passando por ganhos moderados de
150 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
cerca de 200 – 300g por animal/dia, até ganhos de 500 – 600g por
animal/dia, quando o objetivo é cobrir fêmeas com cerca de 15 meses e/ou
abater machos aos 20 meses de idade.
Um outro aspecto importante, para a fase de recria é a formulação
de suplementos que, fornecidos no sistema de auto – alimentação, permitam
o controle de consumo pelo próprio animal, nos níveis estabelecidos, o que
facilita o manejo e racionaliza a utilização de mão-de-obra na distribuição
de suplementos na pastagem, a qual pode ser executada obedecendo a uma
periodicidade semanal, ou mesmo, quinzenal. Além disso, evita que o
animal crie dependência pelo suplemento e apresenta aspectos positivos
sob o ponto de vista nutricional, tais como sincronização de energia –
amônia, equilíbrio de pH e amônia, dentre outros.
Neste contexto, na formulação dos “suplementos múltiplos” para
animais em recria e matrizes recorre-se ao uso de controladores de
consumo tais como o sal (PAULINO et al., 1996) e a uréia (PAULINO et
al., 1983; PAULINO et al., 1985; PAULINO et al., 1993).
Além da magnitude do ganho de peso desejado, a espécie forrageira,
quantidade e qualidade da forragem disponível, raça/grau de sangue e peso
dos animais em uso, são variáveis a serem avaliadas por ocasião da
formulação dos suplementos, procurando compatibilizar consumo de
suplemento e ganho de peso desejado (PAULINO, 1999).
A mistura sal-uréia-mineral é útil a nível de mantença de animais e
constitui-se em um método simples e econômico a ser usado no rebanho,
visando à adaptação dos bovinos ao uso de uréia, quando o sistema prevê
o uso mais intensivo de uréia em alguma fase do sistema de produção.
Suplementos múltiplos de baixo consumo, contendo níveis elevados de sal e
uréia, são indicados quando se deseja ganhos na faixa de 200 a 300
g/animal/dia (PAULINO, 1998; PAULINO, 1999).
Uma vez que altos níveis de uréia são utilizados, tanto como fonte de
amônia, como para limitar o consumo do suplemento pelos animais, as
fontes naturais de proteína e energia a serem utilizadas devem apresentar
características nutricionais que favoreçam o uso da uréia. Em trabalho
conduzido por PAULINO et al. (1992) o farelo de algodão influenciou
positivamente o desempenho dos animais, possivelmente, por apresentar
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
151
características de degradação de proteína que favoreçam a associação com
a uréia (Tabelas 8 e 9).
Tabela 8 - Composição percentual dos suplementos
Ingredientes
Mistura mineral (%)
Calcário calcítico (%)
Uréia/sulfato de amônia – 9:1(%)
Farelo de trigo (%)
Farelo de soja (%)
Farelo de algodão (%)
Farinha de carne e ossos (%)
MDPS*
•
Tratamentos
B
4,0
1,0
5,0
20,0
25,0
45,0
A
4,0
1,0
5,0
20,0
17,0
53,0
C
4,0
1,0
5,0
20,0
15,0
55,0
MDPS = milho desintegrado com palha e sabugo
Tabela 9 - Desempenho dos animais
Especificação
Peso vivo inicial (kg)
Peso vivo final (kg)
A
162,0
204,6
Ganho de peso diário médio (kg/animal/dia)
Consumo de suplemento (kg/animal/dia)
0,426ab
0,918
Tratamentos
B
C
163,0
162,0
209,8
198,9
0,468a
1,117
0,369b
0,759
Visando criar condições para produzir o novilho precoce /
superprecoce do pasto, bem como viabilizar a prenhe z de novilhas com
cerca de 15 meses de idade, vem-se estimulando o uso de subprodutos
regionais mais baratos na formulação dos suplementos, de modo a permitir
consumos próximos a 1 kg/animal/dia, atendendo às exigências totais de
sódio, microminerais e nitrogênio degradado no rúmen, cerca de 60% das
exigências de fósforo e proteína total, viabilizando a obtenção de ganhos de
peso entre 500 e 600g por animal / dia, durante a primeira seca pósdesmama (PAULINO, 1998; PAULINO, 1999).
152 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
SUPLEMENTOS MÚLTIPLOS PARA TERMINAÇÃO
Para viabilizar a produção do novilho precoce / superprecoce em
pastagens deve-se estabelecer manejo que permita, durante a terminação,
ganhos de peso superiores a 1 kg / animal/ dia, durante o período das
águas, associados a ganhos superiores a 800 g por animal / dia durante o
final das águas e início ou durante a estação seca.
Durante o período das secas para obtenção de ganhos de peso
acima de 800g / animal / dia deve-se liberalizar o consumo de suplementos.
Portanto, uréia e sal são usados sob a ótica de satisfazer as exigências
nutricionais e otimização da eficiência microbiana, de consumo e utilização
de forragens, sem a preocupação de controle de consumo.
Com este objetivo, a literatura registra fornecimento de rações
concentradas a níveis de 0,8 a 1% do peso vivo do animal. Atualmente,
temos seguido a diretriz de suprir 100% das exigências de sódio,
microminerais e nitrogênio degradado no rúmen, cerca de 80% a 100% da
proteína total e cerca de 60% daquelas de fósforo.
Considerando que uma proporção de cerca de 30% de grãos na
dieta induz pouca ou nenhuma depressão no consumo e digestibilidade da
forragem, a tendência é atender os níveis de exigências supracitadas via
formulações fornecidas na base de 3 a 4 kg por animal por dia, visando
maximizar o consumo e digestão do pasto para complementar a energia
necessária ao animal.
A produção de novilhas de descarte jovens (18 – 20 meses), com
peso e acabamento adequados, constitui-se em opção viável. Quando a
fase de acabamento coincidir com a época da seca, associado à
disponibilidade de forragem diferida, torna-se necessário o uso de
suplemento. PAULINO (1991) conduziu trabalho visando testar níveis de
feno de guandu em “suplementos múltiplos” sobre o desempenho de
novilhas mestiças (Tabelas 10 e 11). Ajustes devem ser feitos a nível de
cada sistema de produção específico, visando compatibilizar peso inicial
dos animais, composição do suplemento e peso ao abate exigido pelo
mercado.
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
153
Tabela 10 - Composição dos suplementos
Ingredientes
Mistura mineral (%)
Uréia/sulfato de amônia – 9:1(%)
Farinha de carne e ossos (%)
Farelo de algodão (%)
Feno de guandu (%)
MDPS*
A
4,0
5,0
5,0
10,0
5,0
71,0
Tratamentos
B
4,0
5,0
5,0
10,0
10,0
66,0
C
4,0
5,0
5,0
10,0
15,0
61,0
MDPS = milho desintegrado com palha e sabugo
Tabela 11 - Desempenho dos animais
Especificação
Peso vivo inicial (kg)
Peso vivo final (kg)
Tratamentos
A
B
C
335,0
336,0
334,0
408,1
394,3 398,05
Ganho de peso diário médio (kg/animal/dia)
Consumo de suplemento (kg/animal/dia)
0,538a
1,679
0,435b
1,279
0,478ab
1,312
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O sucesso da produção animal começa com o uso de animais de alto
potencial de resposta e forrageiras capazes de fornecer altos índices de
produção e qualidade nutricional a baixo custo de produção.
A interação entre a disponibilidade de matéria seca e seu valor
nutritivo (composição química e digestibilidade) determina a ingestão de
nutrientes digestíveis e, por conseqüência, o desempenho do animal.
O manejo da pastagem deve conciliar a conflitante demanda das
plantas, que necessitam área foliar para fotossíntese, e a necessidade de
remover folhas para alimentar os animais.
Uma alta oferta de forragem possibilita ao bovino pastejar
seletivamente e seria aconselhável, em se tratando de pastejo de bovinos de
154 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
corte, pois permite ganhos de peso mais elevados, favorecendo o
rendimento animal em sistemas de ciclo curto.
Ao final do período de crescimento das plantas deve-se realizar o
diferimento, preferencialmente de espécies que apresentam maior relação
folha/caule, garantindo alta disponibilidade de forragem no período seco
(acima de 2000 kg de matéria seca / ha).
A deficiência ou o baixo consumo de qualquer nutriente essencial
(proteína, energia, vitamina e minerais) pode restringir a produção por
animal.
Sempre que as pastagens não satisfaçam as exigências nutricionais
dos bovinos, a suplementação constitui-se em opção para suprimento de
nutrientes limitantes e aumento do consumo e eficiência de utilização da
pastagem. Em função do sistema de produção a suplementação pode
ocorrer como cree-feeding para bezerros, durante a recria, na terminação
e,ou na recuperação de condição corporal de matrizes e reprodutores.
Embora os sistemas de produção de bovinos em pastejo (envolvendo
suplementação / complementação) apresentem, naturalmente, maior
variabilidade, eles constituem uma opção viável para os pecuaristas, pois,
além de não requererem atividade agrícola para produção de volumosos
(como requerem os confinamentos) permitem significativas melhorias nos
índices de produtividade do rebanho e melhoram as condições de manejo
das pastagens.
Sob a ótica da pecuária de ciclo curto, é factível delinear uma
estratificação do rebanho visando o abate de 30 – 40% dos machos com
“superprecoce” abatidos com cerca de 16 meses, 30 – 40% abatidos com
cerca de 20 meses e 40 – 20% como “precoce” com, no máximo, 24
meses, bem como cobrir fêmeas de reposição com cerca de 15 meses e
abater novilhas de descarte com 18 – 20 meses. Assim, diríamos que estão
estabelecidas as bases para a bovinocultura do novilho “superprecoce
verde – amarelo”.
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
155
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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(Boletim, 271).
PADRÕES DE ALIMENTAÇÃO: FUNDAMENTOS E
PROGRAMAS PARA CÁLCULO DE RAÇÃO
Sebastião de Campos V. Filho
Prof. Titular Universidade Federal de Viçosa
INTRODUÇÃO
Geralmente quando se discute alimentação de ruminantes devese conhecer as exigências nutricionais, a composição dos alimentos
disponíveis e a formulação de rações. Considerando que esses tópicos
são extremamente longos, discutir-se-á nessa revisão, resumidamente,
as exigências nutricionais e alguns princípios de formulação de rações
para gado de corte.
No que se refere às exigências nutricionais, serão discutidos os
princípios básicos utilizados pelo NRC (1996) para cálculo das
exigências nutricionais de energia, proteína, aminoácidos, cálcio,
fósforo e outros elementos inorgânicos.
Com relação à formulação de rações, serão discutidos os cálculos
simples envolvendo o uso do Quadrado de Pearson e soluções
algébricas com duas equações. Ao final pretende-se apresentar o
programa Super Crac Corte 1.0, para formular rações para gado de
corte.
EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS DE PROTEINA E ENERGIA
PARA MANTENÇA E GANHO DE PESO
Os requerimentos de energia para mantença são definidos como
a quantidade de energia ingerida que resultará em nenhuma perda ou
ganho de energia a partir dos tecidos do corpo do animal. Processos ou
funções relacionadas com os requerimentos de energia para mantença
incluem a regulação da temperatura corporal, a energia requerida pelo
metabolismo basal (incluindo as atividades necessárias à
sobrevivência, tais como, respiração, circulação, etc) e a energia
necessária para manter as atividades físicas (por ex.: levantar, deitar,
andar, etc).
158 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
O NRC (1996) considera que os requerimentos de energia
líquida de mantença são equivalentes a 77 Kcal/SBW 0,75 , sendo SBW
= peso vivo do animal em jejum.
Segundo o NRC (1996), cruzamentos de zebuínos requerem 10%
menos de energia líquida para mantença. GARRETT (1980),
comparando 341 novilhas e 708 novilhos, concluíram que as
exigências de Elm foram similares. O NRC (1996) considera que
animais não castrados têm exigências de mantença 15% maiores que as
de animais castrados.
As exigências de energia líquida para ganho de peso são obtidas
pela equação: RE = 0,0635 . EBW 0,75 . EBG1,097 , sendo EBW = peso
de corpo vazio e EBG = ganho de peso de corpo vazio; sendo o EBW
calculado como o peso vivo x 0,891 e EBG = ganho de peso vivo x
0,956. Essa equação foi usada pelo NRC (1984), para um novilho
castrado de tamanho médio e é utilizada pelo NRC (1996) como
equação de referência para determinação das exigências de energia
líquida para ganho de peso para vários estágios de crescimento e taxas
de ganho para todos os tipos de bovinos. Essa equação é corrigida pela
fórmula: EQSBW = SBW . (SRW/FSBW), sendo que EQSBW é o
peso equivalente de um novilho de tamanho médio castrado descrito
pela equação do NRC (1984); SBW é o peso inicial em jejum avaliado
(14-16 horas); SRW é o peso padrão de referência de 435, 462 e 478
kg para teor de gordura final no corpo de 25,2; 26,8 e 27,8%, que
corresponde ao marmoreio definido como traço, leve e pequeno,
respectivamente e FSBW é o peso final em jejum.
Também o NRC (1996) sugere uma correção para as exigências
de energia líquida para ganho de peso para machos não castrados e
fêmeas, sendo que machos não castrados requerem menos 18% de
energia e fêmeas mais 18% de energia.
Tomando como exemplo o cálculo das exigências de energia
líquida para ganho de 1 kg de peso vivo de um novilho castrado, com
peso inicial em jejum (SBW) de 300 kg, peso final em jejum (FSBW)
de 533 kg e peso padrão de referência para 28% de gordura (SRW) de
478 kg, as exigências de energia líquida seriam:
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
- 159
EQSBW = 300 x 478/533 = 269 kg
EQEBW = 0,891 EQSBW
EQEBW = 0,891 x 269
= 239,7 kg
EBG = 0,956 SWG
EBG
= 0,956 x SWG = 0,956 x 1 = 0,956
RE = 0,0635 x 239,70,75 x 0,9561,097 = 3,68 Mcal/dia.
Então as exigências de energia líquida para ganho de 1 kg de
peso vivo seriam equivalentes a 3,68 Mcal/dia. As exigências de EL
para ganho de 1 kg de peso vivo para machos não castrados seriam de
3,12 Mcal/dia e as de fêmeas seriam de 4,34 Mcal/dia, 18% menores e
maiores, respectivamente. Já as exigências de energia líquida de
mantença seriam equivalentes a 5,55 Mcal/dia (0,077 . 3000,75).Se não
tiver dados do peso vivo em jejum (SBW), pode-se considerar que esse
é 0,96 x peso vivo.
Para converter as exigências de energia líquida de mantença
(Elm) e de ganho de peso (Elg) em exigências de energia
metabolizável (EM), há necessidade do conhecimento das eficiências
de utilização da EM para mantença (Km) e para ganho de peso (Kf).
Essas eficiências podem ser obtidas usando as equações descritas por
GARRETT (1980) e utilizadas pelo NRC (1996): ELg = 1,42 EM –
0,174 EM 2 + 0,0122 EM 3 – 1,65 e Elm = 1,37 EM – 0,138 EM2 +
0,0105 EM 3 – 1,12, onde Elg e Elm são as concentrações de energia
líquida de mantença e de ganho, respectivamente, expressas em
Mcal/kg MS e EM é a concentração de energia metabolizável também
expressa em Mcal/kg MS.
Então, se nesse exemplo acima, os bovinos estiverem sendo
alimentados com rações contendo 2,5 Mcal/kg MS de EM, pode-se
calcular que as concentrações de Elg e Elm seriam iguais a 1,0
Mcal/kg MS e 1,61 Mcal/kg MS , respectivamente.
Elg = 1,42 x 2,5 – 0,174 x 2,52 + 0,0122 x 2,53 – 1,65 = 1,00
Elm = 1,37 x 2,5 – 0,138 x 2,52 + 0,0l05 x 2,53 – 1,12 = 1,61
Conseqüentemente Kf =1/2,5 = 0,4 ou 40% e Km =1,61/2,5 =
0,644 ou 64,4%; então as eficiências de utilização da EM para
160 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
mantença e ganho seriam, respectivamente, 40 e 64,4%. Dividindo-se
as exigências de energia líquida pelas respectivas eficiências, obtém-se
as exigências de EM.
No exemplo, considerando as exigências de EL para mantença de
5,55 Mcal, estas seriam equivalentes a 8,62 Mcal de EM (5,55/0,644)
e da mesma forma , tomando o valor de 3,68 Mcal de energia líquida
para ganho e dividindo-o por 0,40, obtém o valor de 9,2 Mcal de EM.
Então as exigências totais de EM seriam de 17,82 Mcal/dia (8,62 +
9,2).
Considerando que existe maior disponibilidade de valor
energético dos alimentos expresso na forma de NDT, pode-se
converter as exigências de EM em exigências de NDT. Isto seria feito
considerando que EM = 0,82 ED, ou seja, 17,82/0,82 = 21,73 Mcal por
dia de ED. Também considerando que l kg de NDT equivale a 4,409
Mcal de ED, então as exigências de NDT seriam equivalentes a 4,93
kg/dia (21,73/4,409). Dessa forma, as exigências de energia líquida
calculadas podem ser convertidas em exigências de NDT.
Vale
ressaltar que para cada concentração de energia metabolizável na
ração, haverá um valor de Km e Kf, o que torna praticamente
impossível formular uma tabela de exigências nutricionais seriada
expressa em NDT. Considerando, ainda, que o consumo de matéria
seca fosse de 2,5% do peso vivo, ou seja, 7,5 kg/dia , o teor de NDT
na ração total deveria ser de 65,7% ( 4,93x100/7,5).
Na Tabela 9-1 do NRC (1996), descrita como Tabela 1 nesse
texto, os valores obtidos podem ser confirmados. No entanto, se
trabalhar com animais zebuínos, deve-se observar que o peso padrão
de referência e os teores de gordura na carcaça podem ser diferentes
daqueles citado nos EUA. É possível que esse peso esteja próximo de
450 kg , conseqüentemente , poderiam ser feitas algumas estimativas
para animais zebuínos. Contudo, existem algumas pesquisas em
andamento no DZO-UFV que deverão gerar mais dados para que se
possa, no futuro, elaborar uma tabela para animais zebuínos.
Com relação às exigências de proteína para mantença e ganho de
peso, o NRC (1996) considera que a exigência de proteína
metabolizável para mantença é de 3,8 g/kg0,75, ou seja, para animais de
300 kg de peso vivo em jejum, estas seriam equivalentes à 274 g (3,8 x
3000,75). Considerando o mesmo exemplo utilizado para o cálculo das
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
- 161
exigências de energia, ou seja, quais seriam as exigências de proteina
para ganho de l kg de peso vivo.
Tabela 1 - Exigências nutricionais de bovinos em crescimento e
terminação
Peso vivo kg
ELm
PMet
Ca
P
Mcal/d
g/d
g/d
g/d
Ganho de peso
0.5 kg/d
1.0 kg/d
1.5 kg/d
2.0 kg/d
2.5 kg/d
Ganho de peso
0.5 kg/d
1.0 kg/d
1.5 kg/d
2.0 kg/d
2.5 kg/d
Ganho de peso
0.5 kg/d
1.0 kg/d
1.5 kg/d
2.0 kg/d
2.5 kg/d
Ganho de peso
0.5 kg/d
1.0 kg/d
1.5 kg/d
2.0 kg/d
2.5 kg/d
200
250
300
Exigências de mantença
4.1
4.84
5.55
202
239
274
6
8
9
5
6
7
1.27
2.72
4.24
5.81
7.42
154
299
441
580
718
Small marbling
Variação de peso
Variação de ganho de peso
Código do cruzamento
14
27
39
52
64
6
11
16
21
26
350
400
450
6.23
307
11
8
6.89
340
12
10
7.52
371
14
11
Exigências de El para ganho(Mcal/dia)
1.50
1.72
1.93
2.14
2.33
3.21
3.68
4.13
4.57
4.99
5.01
5.74
6.45
7.13
7.79
6.87
7.88
8.84
9.77
10.68
8.78
10.06
11.29
12.48
13.64
Exigências de PMet para ganho(g/dia)
155
158
157
145
133
300
303
298
272
246
440
442
432
391
352
577
577
561
505
451
712
710
687
616
547
Exigências de cálcio para ganho(g/dia)
13
12
11
10
9
25
23
21
19
17
36
33
30
27
25
47
43
39
35
32
59
53
48
43
38
Exigências de fósforo para ganho(g/dia)
5
5
4
4
4
10
9
8
8
7
15
13
12
11
10
19
18
16
14
13
24
22
19
17
15
533 kg
200-450 kg
0.50 - 2.50 kg
1 Angus
162 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
As exigências líquidas de proteína para ganho de peso são
calculadas pela equação (NRC, 1984) também adotada para NRC
(1996): Proteína retida = SWG (268 – (29,4 . RE/SWG)), onde SWG é
o ganho de peso vivo em jejum e RE é a energia líquida retida. Então,
se a exigência de RE foi de 3,68 Mcal/dia e o ganho foi de 1 kg de
peso vivo por dia, a proteína retida diária seria = 1 (268 – (29,4 x
3,68/1)) = 159,8 g, ou seja, as exigências líquidas de proteína para
ganho de peso seriam de 159,8 g/dia.
Para converter as exigências líquidas de proteína em exigências
de proteína metabolizável, para ganho de peso, o NRC (1996) adota a
equação: Eficiência = 83,4 – (0,114 x EQSBW) para EQSBW ≤ 300
kg e adota o valor fixo de eficiência de 49,2% para EQSBW > 300 kg;
sendo EQSBW, o peso vivo em jejum equivalente ao novilho descrito
pelo NRC (1984); que no exemplo anterior avaliando as exigências de
energia foi de 269 kg. Substituindo na equação, a eficiência de
utilização da proteína metabolizável para ganho de peso seria = 83,4 –
(0,114 x 269) = 52,7%. Então as exigências de proteína metabolizável
para um novilho de 300 kg, ganhando 1 kg de peso vivo em jejum
diariamente seriam de 303 g/dia (159,8/0,527). Esses valores obtidos
para exigências de proteína metabolizável podem ser visualizados na
Tabela 1 adaptada do NRC (1996).
As exigências totais de proteína metabolizável para mantença e
ganho de peso de 577g/dia (274 + 303) poderão ser convertidas em
exigências de proteína degradada no rúmen (PDR) e proteína não
degradada no rúmen (PNDR) , cuja soma resultaria nas exigências de
proteína bruta. Para que esses valores possam ser obtidos, o NRC
(1996) considera uma síntese de proteína microbiana (PMic) fixa e
equivalente a 130 g PMic/ kg de NDT, considera ainda que a PMic
possui 80% de aminoácidos (Aas) e que a digestibilidade verdadeira
dos Aas no intestino delgado é de 80%. Além disso, considera que a
PNDR possui uma digestibilidade verdadeira no intestino delgado fixa
de 80%.
Assim, para atender as exigências de 577 g/dia de protéina
metabolizável (PMet) são necessárias 640,9 g de PDR, ou seja, 130 g
PMic x 4,93 kg de NDT. Considerando que 80% são AAs (640,9 x
0,80) e que a digestibilidade verdadeira dos AAs é de 80% (640,9 x
0,80 x 0,80), então a síntese microbiana fornece diariamente, 410,2 g
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
- 163
de PMet. Se as exigências são de 577 g de PMet, obtém-se uma
diferença de 166,8 g/dia (577 – 410,2) de PMet que deverão ser
atendidas pela PNDR. Assim, as exigências de PNDR digestível no ID
de 166,8 poderão ser convertidas em PNDR dietética , dividindo-se
por 0,8 que é o valor da digestibilidade verdadeira intestinal da
PNDR, obtendo-se o valor de 208,5 g/dia (166,8/0,8) que seria a
quantidade necessária de PNDR consumida diariamente.
Então as exigências de PDR seriam de 640,9 g/dia e as de PNDR
de 208,5 g/dia. A soma desses valores (640,9 + 208,5) seria
considerada como as exigências diárias de PB. Assim, para atender as
exigências de 577 g de PMet são necessárias 849,4 g/dia de PB
dietética com 75,45% de PDR (640,9 x 100/849,4) e 24,55% de PNDR
(208,5 x 100/849,4).
Uma maneira aproximada de converter as exigências de PMet
em exigências de PB seria dividir as exigências de PMet / 0,67. No
exemplo 577/0,67 = 861,2 g PB/dia. O fator 67,2% é obtido
considerando que 80% da proteína que chega ao ID é PMic e 20%
PNDR, conseqüentemente, 80% x 0,64 + 20% x 0,80 = 67,2%, sendo
0,64 (80% de AAs com 80% de digestibilidade) e 0,80, a
digestibilidade verdadeira da PNDR no ID.
Para calcular os percentuais de PB, PDR e PNDR nas rações, há
necessidade do conhecimento do consumo de matéria seca (MS).
Sendo o consumo de MS estimado em 2,5% do peso vivo, ou seja, 7,5
kg para esse bovino de 300 kg e as exigências de PB de 849,4 g/dia, os
percentuais na ração seriam de 11,3% de PB (849,4x100 / 7500) ,
sendo 8,53% PDR e 2,77% de PNDR.
Finalizando esse tópico sobre exigências de energia e proteína
para animais em mantença e ganho de peso, vale ressaltar que os
cálculos podem ser feitos para quaisquer pesos e taxas de ganho de
peso sendo, no entanto, necessário conhecer os pesos vivos em jejum
inicial e final e o peso de referência (peso sugerido , quando o animal
atinge 28% de gordura na carcaça).
EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS DE PROTEINA E ENERGIA
PARA GESTAÇÃO E LACTAÇÃO
As exigências de energia líquida para gestação foram convertidas
em exigências de energia líquida de mantença, utilizando-se a seguinte
164 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
equação: Elm = Km / 0,13 x PN x (0,05855 – 0,0000996 t) e (0,03233 –
0,0000275 t) t
, onde PN é o peso do bezerro ao nascer, “t” é o dia de
gestação e Elm é a exigência de energia líquida de gestação expressa
como exigência de energia de mantença. No exemplo, se considerar o
PN de 38,5 kg , Km=0,576 e t = 220 dias, substituindo os valores na
equação será obtida a exigência de 2026,69 Kcal/dia, ou seja, as
exigências de energia líquida para gestação são equivalentes a 2,027
Mcal/dia de energia líquida de mantença. Esse valor pode ser
visualizado no NRC (1996), Tabela 4-2 da página 43.
As exigências líquidas de proteína para gestação podem ser
obtidas utilizando a equação:Proteína retida = [PN (0,001669 –
0,00000211 t) . e(0,0278 – 0,0000176 t) t ] x 6,25, sendo PN o peso ao nascer e
“t” o dia da gestação. Considerando o mesmo exemplo usado para o
cálculo da energia : PN = 38,5 kg e t = 220 dias, a Proteína retida =
6,25 x [38,5 (0,001669 – 0,00000211 x 220) . e (0,0278 – 0,0000176 x 220 ) . 220]
= 56,03 g/dia, ou seja, as exigências líquidas de proteína seriam
equivalentes a 56,0 g/dia. Esse valor pode ser visualizado na Tabela 43, página 43, NRC (1996). Para converter as exigências líquidas de
proteína para gestação em exigências de PMet, deve-se dividir as
exigências líquidas pela eficiência de utilização da PMet para gestação.
O NRC (1996) adotou o valor de 65% para essa eficiência. Então, as
exigências de PMet para gestação seriam de 86,2 g/dia (56/0,65).
Para converter essas exigências em termos de PDR , PNDR ou
de NDT, pode-se usar o mesmo raciocínio descrito para animais em
crescimento.
As exigências para vacas de corte em lactação são relativamente
complexas porque é necessário o conhecimento da produção de leite. O
NRC (1996) apresenta uma simplificação dessas exigências,
considerando quatro diferentes produções de leite para vacas de corte,
incluindo produções ao pico de lactação de 5, 8, 11 e 14 kg/dia.
A produção diária de leite é calculada por Yn = n/a . eKn), sendo
k = 1/T e
a = 1/(PKYD .k. e), sendo “n” a semana de lactação, “k” e “a” são
parâmetros da equação, “T” é a semana do pico de lactação, “PKYD” é
a produção de leite (kg/dia) no pico de lactação. Para gado de corte , o
NRC (1996) considera que o pico de lactação ocorre as 8,5 semanas.
Então, pode-se calcular a produção diária de leite, conhecendo-se o
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
- 165
valor da produção de leite ao pico de lactação, por exemplo, se esse
valor for de 5 kg/dia , a produção diária de leite dessa vaca na 3a
semana de lactação seria:
k= 1/T então k= 1/8,5 = 0,1176
a = 1/(PKYD . k.e) ∴ a = 1/ (5,0 . 0,1176 . 2,71828) = 0,6256
Y3 (Produção de leite na semana 3) = n/a . eKn) = 3/ (0,6256 .
0,1176 x3
e
)
Y3 = 3,36 kg/dia
Conhecendo-se a produção diária de leite, pode-se calcular as
exigências de energia e proteína para lactação. Para a exigência de
energia pode-se considerar que um leite com 4,0% de gordura, 3,4% de
proteína e 8,3% de sólidos não gordurosos possui 0,72 Mcal de
energia/kg. Assim, se multiplicar 3,36 x 0,72, obtém-se o valor de 2,42
Mcal/dia, esse valor é a exigência de energia líquida para lactação.
Considerando que a eficiência de utilização da energia é semelhante
para mantença e lactação, as exigências de energia de lactação são
também expressas como EL de mantença, ou seja, as exigências
líquidas diárias seriam equivalentes a 2,42 Mcal de Elm. Na Tabela 44, página 45, do NRC (1996) esses dados podem ser confirmados.
Outra maneira de determinar o teor de energia do leite, pode ser
utilizando-se a equação: Energia (Mcal/kg) = 0,092 x G + 0,049 SNG
– 0,0569 sendo “G”, o percentual de gordura do leite e “SNG” o
percentual de sólidos não gordurosos do leite.
Para calcular as exigências líquidas de proteína para vacas
lactantes, o NRC (1996) adotou o valor fixo de 3,4% para o teor de
proteína bruta do leite. Então, se a produção de leite estimada foi de
3,36 kg, as exigências líquidas de proteína seria de 3,36 x 0,034 =
0,114 kg ou 114 g/dia. Já as exigências de proteína metabolizável
seriam de 114/0,65 = 175,4 g/dia. O valor de 0,65 é a eficiência de
utilização da proteína metabolizável para lactação.
Pode-se observar que conhecendo-se a produção de leite ao pico
de lactação, pode-se estimar as produções diárias de leite para qualquer
semana da lactação e, conseqüentemente, calcular as exigências
líquidas de proteína e energia para lactação. Além disso, para converter
as exigências de PMet e energia líquida para exigências de PDR,
166 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
PNDR e NDT, pode-se usar o mesmo raciocínio adotado anteriormente
para fazer essas conversões para os animais em crescimento.
EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS DE AMINOÁCIDOS
O método fatorial é utilizado pelo CNCPS para estimar os
requerimentos de AAs. O’CONNOR et al. (1993) descreveram os
procedimentos utilizados pelo CNCPS para estimar os requerimentos
de AAs disponíveis para a absorção. Resumidamente, o CNCPS
calcula as exigências líquidas de proteína para mantença (incluindo
proteína metabólica fecal, proteína endógena urinária e proteína de
descamação), multiplica pela composição em AAs dos tecidos,
respectivamente: tecido muscular, tecido muscular e proteína da
queratina e divide pela eficiência de utilização de cada AA para
mantença.
Também as exigências líquidas de proteína para crescimento e
lactação são multiplicadas pela composição em AAs do tecido
muscular e leite, respectivamente, e divididas pela eficiência de
utilização de cada AA para crescimento e produção de leite,
encontrando-se assim as exigências de AAs absorvidos no intestino
delgado para crescimento e lactação.
Nas Tabelas 2 e 3 são mostradas, respectivamente, a composição
em AAs do tecido muscular, leite e proteína da queratina e as
eficiências de utilização de cada um dos AAs essenciais para
mantença, gestação e lactação (dados descritos por O’CONNOR et al.,
1993).
Portanto, conhecendo-se as exigências líquidas de proteína, a
composição em AAs dos tecidos e do leite e a eficiência de utilização
de cada AA essencial, pode-se calcular as exigências diárias de AAs
essencias absorvidos no intestino delgado.
SCHWAB (1996) concluiu que as percentagens de lisina e
metionina na digesta duodenal para máxima produção e teor de
proteína no leite seriam de 15 e 5%, respectivamente, em relação ao
total de AAs essenciais, quando se utilizam dietas convencionais.
Além disso, esse autor também concluiu que o balanceamento de
rações utilizando AAs absorvidos no intestino delgado pode reduzir a
quantidade de PNDR nas rações, permitindo mais espaço nas mesmas
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
- 167
para atender outros nutrientes, tais como carboidratos fermentáveis no
rúmen.
Tabela 2 - Teores de aminoácidos (AAs) do tecido muscular, leite e
proteína da queratina (g/100g de proteína)
AAs
Tecido muscular1
Leite2
Queratina
2,0
6,4
2,5
3,5
0,6
3,9
6,7
2,8
4,0
6,6
2,71
7,62
2,74
4,75
1,51
3,72
9,18
5,79
5,89
3,40
1,0
3,2
1,0
3,7
1,4
7,2
10,0
5,0
6,0
3,8
Metionina
Lisina
Histidina
Fenilalanina
Triptofano
Treonina
Leucina
Isoleucina
Valina
Arginina
1, 2 e 3; respectivamente, Ainslie et al. (1993), Waghorn e Baldwin (1984) e Block e
Bolling (1951), citados por O’CONNOR et al. (1993).
Tabela 3 - Eficiência de utilização de aminoácidos
absorvidos para as funções fisiológicas (g/g)
AAs
Metionina
Lisina
Histidina
Fenilalanina
Triptofano
Treonina
Leucina
Isoleucina
Valina
Arginina
(AAs)
Mantença
Gestação
Lactação
0,85
0,85
0,85
0,85
0,85
0,85
0,66
0,66
0,66
0,85
0,85
0,85
0,85
0,85
0,85
0,85
0,66
0,66
0,66
0,66
0,98
0,88
0,90
1,00
0,85
0,83
0,72
0,62
0,72
0,42
Adaptado de O’CONNOR et al. (1993). A eficiência para crescimento é dada pela
fórmula de Ainslie et al. (1993): eficiência = 0,83 - 0,00114 peso de corpo
equivalente
168 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
Considerando o método fatorial utilizado pelo CNCPS, as
exigências de AAs essenciais absorvidos no intestino delgado podem
ser calculadas através dos dados descritos por O’CONNOR et al.
(1993). Para atender essas exigências resta saber qual é a quantidade
de AAs absorvidos fornecida pelas fontes protéicas não degradadas no
rúmen e pela proteína microbiana. A proporção de proteína verdadeira
na proteína microbiana é considerada 60% e a digestibilidade dessa no
intestino delgado é assumida como 100%, (SNIFFEN et al., 1992).
Além disso, a quantidade de proteína microbiana sintetizada é dada em
função da disponibilidade de carboidratos no rúmen, assumindo-se
valor médio de 0,4g de MS microbiana/g de carboidrato degradado no
rúmen e que as bactérias possuem, em média, 10% de compostos
nitrogenados, (RUSSELL et al., 1992). Então, a quantidade de AAs
microbianos absorvidos no intestino delgado (ID) pode ser obtida pela
multiplicação da quantidade de proteína verdadeira microbiana
digestível que chega ao ID pelos seus respectivos teores de AAs.
A quantidade de AAs da PNDR disponível para a absorção é
calculada pelo CNCPS, considerando as frações B1 , B2 e B3 da
proteína. Inicialmente a proteína dos alimentos é fracionada em A, B1 ,
B2 , B3 e C, conforme metodologia descrita por LICITRA et al. (1996).
A fração A não contribui com AAs e a fração C é considerada não
degradada no rúmen e indisponível para o animal. Segundo SNIFFEN
et al. (1992), o escape percentual das frações B1 , B2 e B3 é dado pela
fórmula: escape = Kp/Kp + Kd, onde Kp é a taxa de passagem do
alimento e Kd, a taxa de digestão da respectiva fração. Conhecendo-se
as quantidades de cada fração protéica que chegam ao ID, multiplicase pelos valores de 100, 100 e 80%, respectivamente, para as frações
B1 , B2 e B3 , obtendo-se dessa forma a quantidade de PNDR absorvida
no ID para cada alimento, (SNIFFEN et al., 1992). A quantidade de
cada AA essencial absorvida no ID pode ser calculada, multiplicandose a PNDR absorvida no ID pelos seus respectivos teores de AAs
essenciais. O sistema considera que a composição em AAs essenciais
da PNDR é similar à da proteína dietética.
EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS DE MINERAIS
As exigências de cálcio são calculadas segundo o NRC
(1996):Mantença (g/dia) = 0,0154 x Peso vivo / 0,5; Ganho de peso
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
- 169
(g/dia) = 0,071 x RPN/0,5, sendo RPN = proteína retida em g/dia;
Lactação (g/dia) = 1,23x Produção de leite/0,5 e Gestação (g/dia) =
CBW x (13,7/90)/0,5, sendo CBW = peso do bezerro ao nascer.
Considerando o exemplo anterior, para novilho castrado de 300
kg e ganhando 1 kg de peso vivo diariamente, as exigências de cálcio
seriam de 9,24 g/dia para mantença (0,0154 x 300/0,5) e 22,7 g/dia
(0,071 x 159,8/0,5) para ganho de peso, sendo as exigências totais
diárias de cálcio de 31,94 g/dia. Vale ressaltar que as exigências
líquidas de proteína para ganho de 1 kg foram de 159,8 g e que o
coeficiente de absorção verdadeiro do cálcio foi considerado 50%.
Se considerar vacas de corte produzindo 5 kg/dia de leite, as
exigências diárias de cálcio seriam equivalentes a 12,3 g (1,23 x 5/0,5).
Assim como se avaliar vacas de corte em gestação, com peso do
bezerro de 30 kg, as exigências de cálcio para gestação seriam de 9,13
g/dia (30 x 13,7/90)/0,5).
As exigências de fósforo descritas pelo NRC (1996) podem ser
calculadas usando as seguintes equações: Mantença (g/dia) = 0,016
x peso vivo/0,68; Ganho de peso = RPN . 0,045/0,68; Lactação (g/dia)
= produção de leite x 0,95/0,68 e gestação (g/dia) = CBW x
(7,6/90)/0,68, sendo 0,68 o coeficiente de absorção verdadeiro do
fósforo.
Calculando-se as exigências de fósforo para um novilho castrado
de 300 kg, com ganho diário de 1 kg, obtém-se 7,06 g/dia para
mantença (0,016 x 300/0,68) e 10,6 g/dia para ganho de peso ((0,045 x
159,8)/0,68), sendo as exigências totais de 17,66 g/dia. Para vacas
produzindo 5kg de leite, as exigências diárias de fósforo podem ser
calculadas como 0,95 x 5/0,68 e são iguais a 7,0 g/dia, enquanto para
vacas gestantes, com peso do bezerro esperado para 30 kg, as
exigências de fósforo seriam de 3,73 g/dia ((30 x 7,6/90)/0,68).
As exigências de cálcio e fósforo calculadas em g/dia podem ser
convertidas em % da matéria seca (MS) consumida. Considerando um
consumo de MS equivalente a 2,5% do peso vivo, para animais de 300
kg, o consumo diário seria de 7,5 kg MS. As exigências totais
(mantença + ganho) de cálcio foram de 31,94g , enquanto as de fósforo
foram equivalentes a 17,66 g/dia. Assim, o percentual de cálcio na MS
consumida seria de 0,426% (31,94x100/7500) e o de fósforo seria de
170 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
0,235% (17,66x 100/7500). Vale ressaltar que 7500 é o consumo de
MS expresso em g/dia.
Na Tabela 4 são mostradas as exigências dos outros minerais
para crescimento, gestação e lactação.
Tabela 4 - Exigências diárias de macro e microelementos minerais 1
1
Minerais
Unidades
Mg
K
Na
S
%
%
%
%
Co
Cu
I
Fe
Mn
Se
Zn
ppm
ppm
ppm
ppm
ppm
ppm
ppm
Crescimento/
Terminação
0,10
0,60
0,06-0,08
0,15
0,10
10,00
0,50
50,00
20,00
0,10
30,00
Gestação
Lactação
0,12
0,60
0,06-0,08
0,15
0,20
0,70
0,10
0,15
0,10
10,00
0,50
50,00
40,00
0,10
30,00
0,10
10,00
0,50
50,00
40,00
0,10
30,00
– Adaptada do NRC (1996)
FORMULAÇÃO DE RAÇÕES
Para calcular rações, deve-se conhecer as exigências nutricionais
dos animais, os alimentos disponíveis e sua composição em nutrientes.
Considerando as dificuldades de calcular rações completas, incluindo
volumoso e concentrado, inicialmente será discutida a formulação de
rações concentradas.
O Quadrado de Pearson, é um procedimento simples que permite
misturar 2 alimentos (ou 2 misturas de alimentos) para obter uma
concentração desejada de um nutriente. Para resolver o problema
utilizando o Quadrado de Pearson, a solução desejada é colocada ao
centro e dois alimentos são colocados em cada extremidade, sendo que
esses obrigatoriamente devem ter uma concentração maior e menor
que a desejada, respectivamente. A resposta inicialmente é expressa
em partes mas pode ser facilmente convertida em percentagem.
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
- 171
Tomando como exemplo o cálculo de uma ração contendo 18%
de proteína bruta (PB), utilizando como ingredientes o farelo de trigo
(FT) com 15% de PB e o farelo de soja (FS) com 45% de PB.
FT
27 ⇒ (27/30) x 100 = 90%
15
18
FS
45
3
⇒ (3/30) x 100 = 10%
Subtraindo-se os percentuais de PB dos alimentos do valor
esperado (18%), pode-se calcular que 27 partes de FT (45 – 18) e 3
partes de FS (15 – 18) são necessárias para obter a mistura com 18%
de PB. Vale ressaltar que os valores serão sempre positivos, ou seja,
(15 – 18) ou (18 – 15) será sempre 3. Desejando-se expressar em
percentagem, pode-se calcular que a ração será constituída de 90% de
FT (27x100/30) e 10% de FS (3x100/30). Posteriormente, pode-se
confirmar se os cálculos foram feitos adequadamente, multiplicando os
percentuais de cada ingrediente (FT e FS) pelos seus respectivos teores
de PB: 90 x 0,15 + 10 x 0,45 = 18%. Consequentemente, os cálculos
foram corretos pois o % de PB desejado foi igual ao calculado.
Também pode-se utilizar o Quadrado de Pearson para calcular 2
nutrientes, tais como PB e NDT. Nesse caso, se chama de Quadrado de
Pearson duplo. Como exemplo, calcular uma ração com 16% de PB e
70% de NDT, utilizando FT (15% PB, 60% NDT), FS (45% PB e 75%
NDT), milho (8% PB, 80% NDT) e farelo de algodâo (FA) com (28%
PB e 70% NDT). Para isso, devem-se elaborar 2 misturas com 16% de
PB, sendo que uma deverá conter mais de 70% e outra menos de 70%
de NDT. Assim, pode-se utilizar FT e FA na primeira mistura e FS e
milho (M) na segunda mistura.
12 ⇒ (12/13) x 100 = 92,3%
FT 15
M1
16
FA 28
1 ⇒ (1/13) x 100
=
7,7%
172 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
M
8
29
M2
⇒ (29/37) x 100 = 78,4%
16
F5 45
8
⇒ (8/37) x 100 = 21,6%
Assim a mistura M1 será constituída de 92,3% de FT e 7,7% de
FS, terá 16% de PB e 60,77% de NDT (92,3 x 0,6 + 7,7 x 0,7), sendo
0,6 e 0,7 os teores de NDT dos respectivos alimentos.
A mistura M2 será constituída de 78,4% de M e 21,6% de FS,
terá 16% de PB e 78,92% de NDT (78,4 x 0,8 + 21,6 x 0,75),
observando-se que os valores de 0,8 e 0,75 são os teores de NDT do
milho e farelo de soja, respectivamente.
O cálculo da mistura final (M3) seria:
M1
60,77
M3
⇒
8,92
(8,92/18,15) x 100 = 49,1%
70
M2
78,92
9,23
⇒
(9,23/18,15) x 100 = 50,9%
Então a mistura M3 será constituída de 49,1% de M1 e 50,9% de
M2. Os percentuais de cada ingrediente na mistura final podem ser
calculados da seguinte maneira:
FT = 49,1 x 0,923 = 45,3%
FA = 49,1 x 0,077 = 3,8%
M = 50,9 x 0,784 = 39,9%
FS = 50,9 x 0,216 = 11,0%
Alguns pesquisadores preferem calcular rações usando soluções
algébricas a partir de equações com duas incógnitas. Usando o
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
- 173
exemplo descrito anteriormente, ou seja, formular uma ração
concentrada com 18% de PB, utilizando FT e FS.
FT + FS = 100
0,15 FT + 0,45 FS = 18
Multiplicando a 1a equação por 0,45 e subtraindo a 2a equação é
uma das formas de resolução desse sistema:
0,45 FT + 0,45 FS = 45
0,15 FT + 0,45 FS = 18
0,3 FT + 0 = 27
FT = 27/0,3 = 90%
FT + FS = 100
90 + FS = 100
FS = 10%
O sistema de equações é bastante simples e permite deixar
espaço na mistura para colocar outros nutrientes, tais como minerais,
sendo geralmente preferido quando se necessita formular misturas para
atender dois nutrientes.
CÁLCULO DE RAÇÕES PARA BOVINOS EM CONFINAMENTO
Utilizando bovinos castrados com 300 kg de peso vivo e ganho
diário de 1 kg, as exigências diárias foram calculadas em 4,93 kg,
849,4 g, 31,94 g e 17,66 g de NDT, PB, cálcio (Ca) e fósforo (P),
respectivamente.
Para formular uma ração, deve-se inicialmente, determinar quais
os alimentos serão utilizados e sua composição química. Serão
utilizados a silagem de milho, milho desintegrado com palha e sabugo
(MDPS), farelo de soja, calcáreo e fosfato bicálcico. Em seguida,
torna-se necessário conhecer a composição em nutrientes desses
alimentos.
174 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 5 - Composição dos alimentos
PB
Ingredientes
Silagem de milho
MDPS
Farelo de soja
Calcáreo
Fosfato bicálcico
MS (%)
30,7
87,7
88,6
100
98,6
6,7
8,2
47,9
NDT Ca
(% na MS)
63,0
0,33
66,6
0,08
81,0
0,33
37,2
23,9
P
0,17
0,21
0,57
18,4
Fonte: CAPPELLE (1999).
Para determinar o percentual de volumoso na ração pode-se
basear na % de NDT da ração total.Um valor razoável para estimar
consumo de MS de gado de corte seria usar 2,5% do peso vivo. Assim
bovinos de 300 kg, deverão consumir em torno de 7,5 kg MS/dia. O
NRC (1996) recomenda usar equação baseada na concentração de
energia líquida de mantença, mas cita uma equação baseada no peso
vivo que seria: 1,8545 + 0,01937 x PV. Se utilizar essa equação, o
consumo esperado para bovinos de 300 kg seria de 7,66 kg/MS, valor
muito próximo ao de 2,5% do peso vivo.
Assim será considerado para esse cálculo um consumo estimado
de 7,5 kg MS/dia. Então o % de NDT na ração total seria de 65,7%
(4,93 x 100/7,5) e a proporção de volumoso na ração poderia ser obtida
considerando que o teor de NDT da mistura concentrada (MDPS e
farelo de soja) seria próximo de 70%
Volumoso
4,3 ⇒
63
(4,3/7,0) x 100 = 61,4%
65,7
Concentrado 70
2,7 ⇒
(2,7/7,0) x 100 = 39,6%
Assim o percentual de volumoso seria de 61,4 e a quantidade
consumida diariamente seria de 7,5 x 0,614 = 4,6 kg de MS.
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
- 175
Tabela 6 - Resumo dos valores calculados na ração total
Exigências
4,6 kg MS de silagem
Déficit (1)
2,114 kg MS de MDPS
0,768 kg MS de FS
Déficit (2)
5,54 g FB
Déficit (3)
30,16 g de calcáreo
Déficit (4)
PB (g)
849,4
308,2
541,2
173,3
367,9
0
NDT (kg)
4,93
2,90
2,03
1,41
0,62
0
0
0
0
0
Ca (g)
31,94
15,18
16,76
1,69
2,53
-12,54
1,32
-11,22
11,22
0
P (g)
17,66
7,82
9,84
4,44
4,38
-1,02
1,02
0
0
As quantidades fornecidas por 4,6 kg MS de silagem de milho
foram 308,2 g de PB (4600,0g x 0,067) 2,90 kg de NDT (4,6kg x
0,63); l5,18 g de Ca (4,6 x 3,3 g/kg) e 7,82 g de P (4,6 x 1,7 g P/kg).
Subtraindo das exigências as quantidades fornecidas pelo volumoso,
obtém-se o déficit (1) cujas quantidades deverão ser supridas pela
mistura de concentrados. Assim as quantidades de MDPS e FS
poderiam ser obtidas, usando o sistema de equações:
0,082 MDPS + 0,479 FS = 0,5412 kg
0,666 MDPS + 0,81 FS = 2,0300 kg
Vale ressaltar que as equações 1 e 2 suprem as necessidades de
PB e NDT, respectivamente. Resolvendo o sistema, pode-se calcular
que as quantidades diárias de MDPS e FS suficientes para atender as
exigências de PB e NDT foram de 2,114 e 0,768 kg, respectivamente.
Calculando as quantidades de PB, NDT, Ca e P fornecidas por
MDPS e FS e subtraindo-as do déficit (1), obtém-se o déficit (2). Notase que o déficit (2) deve-se referir apenas às fontes de cálcio e fósforo.
Para suprir o teor de P será utilizado o fosfato bicálcico (FB) na
quantidade diária de 5,54 g que, além de suprir o P, fornece 1,32 g/dia
de Ca.
176 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
100 g fosfato bicálcico - 18,4 g P
X
- 1,02 g P
X = 5,54 g/dia de FB
100 g FB - 23,9 g Ca
5,54 g FB - Y
Y = 1,32 g de Ca
Para suprir o déficit final de 11,22 g Ca, serão utilizadas 30,16
g/dia de calcáreo
100 g calcáreo - 37,2 g Ca
Z
- 11,22 g Ca
Z = 30,16 g/dia de calcáreo
Assim, ao final dos cálculos não deverá haver nenhum déficit.
Além disso, foram feitos os balanceamentos somente para 4 nutrientes
(PB, NDT, Ca e P). Contudo, desejando-se balancear outros nutrientes,
os cálculos seguirão o mesmo raciocínio.
As quantidades diárias de 2,114 kg de MDPS, 0,768 kg de FS,
5,54 g de FB e 30,16 g de calcáreo devem ser expressas em
percentagem. A quantidade total diária seria de 2,9177 kg de MS, com
72,45% de MDPS, 26,32% de FS, 0,19% de FB e 1,03% de calcáreo.
Considerando que os cálculos das quantidades dos concentrados
foram expressos na base da MS, para efetuar as misturas, esses deverão
ser convertidos na base da matéria natural (MN).
Tabela 7 - Composição da ração concentrada expressa nas bases da MS
e MN
Alimentos
MDPS
FS
FB
Calcáreo
% na MS
72,45
26,32
0,19
1,03
% MS
87,7
89,6
100
98,6
Partes de MN
82,61
29,38
0,19
1,04
% na MN
72,96
25,95
0,17
0,92
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
- 177
Para converter a composição da ração concentrada expressa na
base da MS para a base de matéria natural (MN), deve-se dividir o %
de cada alimento pelo seu respectivo teor de MS (exemplo: MDPS,
72,45/0,877 = 82,61) para obter as partes de cada alimento na base da
MN e, posteriormente, expressar essas partes em termos percentuais
(tomando exemplo do MDPS, 82,61 x 100/113,22 = 72,96%). Assim, a
mistura de concentrado deverá conter na base da MN: 72,96; 25,95;
0,17 e 0,92% de MDPS, FS, FB e Calcáreo, respectivamente.
Para saber quantos kg de concentrado deverão ser fornecidos
diariamente aos animais para suprir a quantidade total de 2,9177 kg de
MS, deve-se calcular o % de MS da mistura concentrada que será =
88,31% ( 72,96 x 0,877 + 25,95 x 0,896 + 0,17 x 1,0 + 0,92 x 0,986).
Então deverão ser fornecidos diariamente aos animais 3,30 kg de
concentrado (2,9177/0,8831).
O consumo total de MS observado foi de 7,5177 kg (4,6 +
2,9177) ou 2,51% do peso vivo, valor muito próximo ao
preestabelecido. O concentrado calculado terá na base da MS:
% PB = 72,45 x 0,082 + 26,32 x 0,479 = 18,55%
% NDT = 72,45 x 0,666 + 26,32 x 0,81 = 69,57%
% Ca = 72,45 x 0,0008 + 26,32 x 0,0033 + 0,19 x 0,239 + 1,03 x 0,372
= 0,57%
% P = 72,45 x 0,0021 + 26,32 x 0,0057 + 0,19 x 0,184 = 0,34%
Então, a mistura de concentrados terá 18,55; 69,57; 0,57 e
0,34%, respectivamente, de PB, NDT, Ca e P na base da MS. Se for
necessário calcular os percentuais dos nutrientes na base da MN, basta
multiplicar os teores em base de MS pelo teor de MS do concentrado.
Exemplificando os cálculos para PB, o teor de PB na MN da mistura
de concentrados será de 16,38% (18,55 x 0,8831) e os respectivos
teores de NDT, Ca e P na MN serão de 61,44; 0,50 e 0,30%.
Finalizando, deve-se lembrar que é importante entender os
cálculos manuais para que a utilização de programas de computação
seja feita adequadamente.
178 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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valor energético e predição do consumo e do ganho de peso de bovinos,
Viçosa, MG. UFV, 1999. 322p. Dissertação (Doutorado em Zootecnia).
Universidade Federal de Viçosa, 1999.
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procedures for nitrogen fractionation of ruminants feeds. Anim. Feed. Sci
Techn. v.57, n.4. p.347-358, 1996.
NATIONAL RESEARCH COUNCIL – NRC. Nutritional Requirements of
beef cattle – 7ed. Washington. D.C., 1996. 242p.
NATIONAL RESEARCH COUNCIL (NRC). Nutrients requirements of
beef cattle. 6 ed. Washington DC: 1984, 90p.
O’CONNOR, J. D.; SNIFFEN, C. J.; FOX, D. G.; CHALUPA, W. A net
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n.11, p.3562-3577, 1992.
FUNDAMENTOS E ESTRATÉGIAS DO MANEJO DE
PASTAGENS
José Alberto Gomide 1 ; Carlos Augusto de M. Gomide 2
1
2
– Pesquisador do CNPq
– Pós-Graduando do DZO-UFV
1. INTRODUÇÃO
A exploração do rebanho bovino depende, fundamentalmente, da
produção de forragem, principalmente daquelas espécies que
constituem as áreas de pastagens. Com freqüência, as plantas
forrageiras constituem a única fonte de nutrientes indispensáveis ao
crescimento, à saúde dos animais, assim como à reprodução do
rebanho. Daí, a importância do manejo correto das pastagens, que deve
objetivar: maximização da produção forrageira e da eficiência de uso
da forragem produzida, observada a estabilidade da pastagem. Neste
contexto, ganha realce o papel da fotossíntese, força propulsora do
crescimento vegetal.
Dadas condições favoráveis de temperatura, luz, água e
nutrientes minerais, o potencial fotossintético de uma pastagem
decorre de dois fatores intrínsecos do relvado: seu índice de área foliar
(IAF) e a capacidade fotossintética do dossel.
Visto que a intercepção de luz pelas folhas é o ponto de partida
do processo de fixação de carbono, não é de se estranhar a alta e
positiva correlação entre o rendimento forrageiro de uma pastagem e
seu IAF, até seu valor crítico, em que 95 % da luz é interceptada
(BROUGHAM, 1958; KING et al, 1984; PARSONS et al 1983b).
Entretanto, além da magnitude do IAF, outras características da área
foliar são relevantes: arranjo e arquitetura das folhas ao longo do
perfil, suas propriedades físicas e idade média, visto que a capacidade
fotossintética das folhas varia inversamente com sua idade (PARSONS
et al, 1983a; WOLEDGE e LEAFE, 1976).
Essas considerações resumem a importância dos estudos de
morfogênese das forrageiras.
180 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
2. MORFOFISIOLOGIA DE GRAMÍNEAS FORRAGEIRAS
A contínua emissão de folhas e perfilhos garante a restauração da
área foliar após desfolha pelo corte e, ou pastejo, garantindo, assim, a
produtividade e a perenidade da pastagem.
As folhas se formam a partir do desenvolvimento de primórdios
foliares que surgem alternadamente de cada lado do domo apical
(LANGER, 1972), originando os fitômeros, unidades de crescimento
das gramíneas. Cada fitômero é constituído de lâmina e bainha
foliares, entre-nó, nó e gema (WILHELM e Mc MASTER, 1995).
Inicialmente, o primórdio foliar é todo meristemático, mas logo esta
atividade se restringe a sua porção basilar, dando origem ao meristema
intercalar que originará a bainha foliar, no sentido basípeto e a lâmina
no sentido acrópeto (LANGER, 1972).
Durante o desenvolvimento inicial
de um perfilho se
reconhecem três tipos de folhas: folhas adultas completamente
expandidas, cujas bainhas constituem o pseudo-colmo; folhas
emergentes, cujo ápice é visível acima do pseudo-colmo e as folhas em
expansão, completamente contidas no interior do pseudo-colmo. A
lâmina foliar cresce até a exteriorização da lígula, quando então se tem
a folha adulta, completamente expandida.
As primeiras folhas, emergindo de um pseudo-colmo curto, têm
uma rápida emergência e atingem pequenos comprimentos. As folhas
subseqüentes, devendo fazer um percurso mais longo para emergir,
alcançam comprimentos maiores (SKINNER e NELSON, 1995).
Posteriormente, durante o desenvolvimento do perfilho, instala-se o
processo de alongamento do colmo, do que resulta a elevação do ponto
de crescimento, domo apical, o que também reduz o percurso para
emergência das folhas de mais alto nível de inserção. Assim, o
comprimento das folhas varia em função de seu nível de inserção no
perfilho, em que valores máximos correspondem às folhas de inserção
intermediária (Figura 1).
A produção de folhas é avaliada em função do tempo necessário
para o aparecimento de duas folhas sucessivas, o filocrono, cujo
inverso estima a taxa de aparecimento de folhas.
Nas primeiras semanas do desenvolvimento do perfilho principal
instala-se o processo de perfilhamento, dando origem aos perfilhos
primários e estes aos secundários. Em cultivares de Panicum
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
- 181
maximum, o primeiro perfilho primário surgiu durante a segunda
semana após a emergência das plântulas; outros perfilhos aparecendo a
cada dois dias na axila das folhas primeiramente expandidas
(GOMIDE , 1997).
O número de perfilhos por planta é variável em função do
genótipo. Assim, capim-jaraguá, capim-gordura e capim-andropogon
perfilham mais intensamente que o capim-colonião. Na figura 2,
observa-se maior número de perfilhos no cultivar Tanzânia
relativamente ao cultivar Mombaça de Panicum maximum.
Figura 1 - Comprimento de folhas do perfilho primário do cultivar
Vencedor no crescimento de rebrota (Gomide, 1997)
182 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
Figura 2 - Número de perfilhos por planta dos cultivares Mombaça
() e Tanzânia (---), no crescimento de estabelecimento
(Gomide, 1997)
A área foliar de uma planta é proporcional ao número de seus
perfilhos e a área foliar destes perfilhos. O tamanho final e a taxa de
aparecimento de folhas são os dois fatores determinantes da área foliar
do perfilho, sendo o tamanho da folha determinado por sua taxa de
alongamento e duração do período de alongamento (Figura 3). A área
foliar da planta cresce à medida que novas folhas surgem no perfilho,
enquanto não se instala e intensifica o processo de senescência e morte
das primeiras folhas, de mais baixo nível de inserção. De fato, ocorre
uma defasagem de algumas semanas entre o aparecimento e a
senescência das primeiras folhas. Entretanto, quando a taxa de
senescência iguala a taxa de aparecimento de folhas, o número de
folhas verdes por perfilho atinge um valor constante, próprio de cada
espécie/ou cultivar; conforme a tabela 1. A figura 4 mostra que, em
capim-Tanzânia, o número de folhas adultas verdes se estabiliza em
3,5 de um total de 5,5 folhas formadas durante 44 dias crescimento
após corte. Da figura 4 se deduz uma vida útil mínima de 23 dias para
as folhas daquela gramínea.
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
- 183
Figura 3 - Valores médios para comprimento (o, cm), taxa de
alongamento (∆, mm/dia) e duração do alongamento ( ,
dias) de folhas do perfilho primário de “Tanzânia” no
crescimento de rebrota (Gomide, 1997)
Tabela 1 - Intervalo de aparecimento de folhas e número de folhas
adultas verdes por perfilho
Brachiaria decumbens
Panicum maximum ‘Vencedor’
Panicum maximum ‘Mombaça’
Panicum maximum ‘Guiné’
Setaria anceps ‘Kazungula’
Cynodon dactylon ‘Tifton’
Intervalo
(dias)
8
5
10
4
2,4
3
Folhas
Adultas
--6
4
5
7
9,5
Referência
Gomide et al, 1997
Gomide, 1997
Gomide, 1997
Pinto, 1993
Pinto, 1993
Oliveira, 1999
184 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
Figura 4 - Número médio de folhas expandidas, totais () e vivas
(---), do perfilho primário do capim-tanzânia no
crescimento de rebrota (Gomide, 1997)
O aparecimento e a senescência e morte de folhas são os
processos de maior relevância a caracterizar o fluxo de biomassa em
um relvado e a determinar o IAF da pastagem, juntamente com sua
população de perfilhos. Por isto mesmo, constituem índices
importantes a serem considerados na condução do manejo objetivando
maior produção da forrageira e eficiência na utilização da forragem
produzida (GRANT et al, 1988; PARSONS e PENNING, 1988).
A relevância do conhecimento da morfogênese das gramíneas
forrageiras é objetivamente retratada na figura 5, onde também se
enfatiza o papel do manejo e dos fatores do meio: luz, temperatura,
nitrogênio, etc.
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
- 185
Figura 5 - Relação entre variáveis morfogênicas e as características
estruturais do relvado (Chapman e Lemaire, 1993)
Na figura 5, destaca-se o papel central da taxa de aparecimento
de folhas por seu envolvimento direto com as três caraterísticas
estruturais do relvado: número de folhas por perfilho, tamanho das
folhas e população de perfilhos, que concorrem para a definição do
IAF da pastagem. Observa-se que o número de perfilhos é diretamente
dependente do número de folhas, fato que decorre de sua origem da
gema existente na axila da respectiva folha que o subtende. Entretanto,
o desenvolvimento da gema em perfilho depende do adequado nível de
reservas orgânicas da planta, verificado após razoável
desenvolvimento da área foliar da planta. Obviamente, o perfilhamento
é favorecido por fatores do meio como nutrientes e umidade do solo,
assim como pela intensidade de radiação solar que alcança o nível do
solo, fato condicionado pelo IAF, cuja magnitude por sua vez varia
conforme o manejo a que a pastagem é submetida.
Pastagens submetidas a lotação contínua (pastejo contínuo) e alta
pressão de pastejo caracterizam-se por apresentar baixo IAF,
numerosos e pequenos perfilhos, enquanto altos valores de IAF, e
presença de perfilhos grandes e pouco numerosos são características de
186 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
pastagens submetidas a pastejo leve (BIRCHAM e HODGSON, 1983;
GRANT et al, 1988).
O pastejo pesado concorre para diminuir as perdas de folhas por
senescência o que, juntamente com a maior população de perfilhos do
relvado, até certo ponto compensa a menor produção bruta de forragem
decorrente do menor IAF da pastagem. Assim, a produção líquida de
forragem (produção bruta – senescência) corresponde a uma faixa
relativamente larga de valores de IAF (BIRCHAM e HODGSON,
1983), conforme se observa na figura 6.
Figura 6 - Produção bruta (oo), senescência foliar ( ..... ) e
produção líquida de forragem (∆---∆) e as características
estruturais do relvado (Bircham e Hodgson, 1983)
O pastejo pesado ainda contribui para prevenir intenso
alongamento do colmo, processo muito precoce e comum nas
gramíneas tropicais; melhorando pois a relação folha/colmo da
forragem presente na pastagem. Esta relação é um índice do valor
nutritivo da forragem e, ao lado da altura do relvado e da
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
- 187
disponibilidade de biomassa da pastagem (Kg MS/há), condiciona a
facilidade de apreensão da forragem pelo animal e portanto seu
comportamento durante o pastejo: tempo de pastejo, ritmo e tamanho
de bocado, e assim determinando o consumo e o desempenho animal:
ganho de peso vivo, produção de leite (ALDEN e WHITAKER, 1970;
STOBBS, 1973; HODGSON, 1981, 1985; PENNING et al, 1991,
1994).
Enquanto estreita relação folha/colmo decorre de baixa taxa de
lotação no sistema de lotação contínua, no pastejo rotativo esta relação
varia inversamente com o período de descanso do piquete, cuja
duração prolongada é também indesejável por potencializar perdas de
folhas por senescência que se tornam maiores sob condições de
desfolha apenas parcial do relvado durante o período de ocupação do
piquete, isto é, período de pastejo.
Sob o sistema de pastejo rotacionado, a intensa desfolha do
relvado contribui para uma mais eficiente utilização da forragem
disponível durante o período de pastejo e, indiretamente, para diminuir
as perdas por senescência e morte de folhas no período de descanso
subseqüente ao pastejo.
Nestas condições, enfatiza-se a importância fundamental da
observância de uma adequada duração do período de descanso
objetivando a maximização da produtividade da pastagem em termos
de produto animal por hectare.
A definição da duração do período de repouso pode se basear em
diferentes critérios científicos:
- restauração das reservas orgânicas;
- restauração da área foliar;
- intercepção de 95% de luz incidente,
- maximização da taxa média de crescimento forrageiro,
- número de folhas vivas por perfilho;
1 – Restauração das reservas orgânicas
A reconstituição da área foliar é um processo que demanda
energia e esqueleto carbônico, essenciais à formação das novas folhas.
O nível de reservas orgânicas da planta mostra uma intensa queda nos
primeiros dias de rebrotação e posterior recuperação até o nível
188 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
existente antes da desfolha. Em capim-colonião, a restauração do nível
de carboidratos não estruturais ocorreu após 21 dias de rebrota
(GOMIDE e ZAGO, 1980).
2 – Restauração da Área Foliar
O rendimento forrageiro após corte é proporcional à área foliar
existente, intensificando-se à medida que aumenta a intercepção da
radiação luminosa em decorrência do crescimento do IAF do dossel.
Imediatamente após a saída dos animais do piquete, o IAF do
relvado é baixo, apresentando predominância de folhas velhas (L3 );
contudo, após os primeiros dias de rebrotação verifica-se nele maior
proporção de folhas emergentes (L1 ) e, subseqüentemente, de folhas
recém expandidas (L2 ). Substancial presença de folhas adultas e
aumento na proporção de folhas velhas e alto valor de IAF ocorrem
simultaneamente, mais tarde. Assim, durante a rebrotação, a proporção
de folhas evolui da relação % folhas emergentes > % recém
expandidas > % velhas, para a relação % recém expandidas > % folhas
velhas > % folhas emergentes (Figura 7).
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
- 189
Figura 7 - Evolução da proporção de folhas de diferentes idades em
um relvado de azevém durante o período de repouso do
pastejo rotacionado (Parsons et al, 1988)
Conseqüentemente, a taxa de fotossíntese bruta do dossel
(g CO2 / m2 solo.hora) cresce curvilinearmente durante o período de
descanso, refletindo o crescimento do IAF (KING et al, 1984;
PARSONS et al, 1988) e o avanço da idade de suas folhas. Nos
primeiros dias, ela é inferior àquela observada em relvado sob pastejo
contínuo pesado (IAF=1,0), igualando-a rapidamente e excedendo-a
após 15 dias (Figura 8), quando o relvado apresentava, em sua área
foliar, predominância de folhas recém expandidas (Figura 7). A
estabilização da fotossíntese bruta do dossel é atribuída à avançada
idade média da área foliar, assim como ao mútuo sombreamento das
folhas, além da plena interceptação da radiação solar. A fotossíntese
bruta acumulada do dossel (quantidade de carbono assimilado por
hectare) durante a estação de pastejo: primavera, verão e outono,
190 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
cresceu linearmente, atingindo valores proporcionais à duração do
período de descanso observado no sistema de pastejo rotacionado.
O rendimento forrageiro se aproxima do máximo quando o
relvado intercepta 95% da radiação incidente (Figura 9), momento em
que seu IAF se aproxima de seu valor máximo. Entretanto, este critério
não é de aplicação prática no dia a dia do manejo da pastagem.
Figura 8 - Evolução da fotossíntese bruta do dossel durante o período
de descanso do azevém perene sob pastejo rotacionado
() e sob pastejo contínuo (----) mantendo IAF=1,0
(Parsons et al, 1988)
Outro critério científico para a definição do período de
crescimento se fundamenta na variação das taxas de crescimento
durante a rebrotação da forrageira. A figura 10 ilustra a natureza
sigmoidal do crescimento acumulado (W) e as variações da taxa de
crescimento instantâneo (dw/dt) e da taxa média de crescimento ((WWo)/t) em azevém perene (PARSONS e PENNING, 1988). No
crescimento sigmoidal se identificam três fases: fase inicial de baixa
taxa de crescimento instantâneo, seguida de uma fase de crescimento
linear com altas taxas de crescimento instantâneo e uma terceira fase
de incrementos decrescentes. Observa-se que a taxa de crescimento
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
- 191
instantâneo atinge valor máximo em plena fase linear do crescimento
acumulado, enquanto taxa média de crescimento é máxima mais tarde,
quando o crescimento acumulado ainda é crescente.
Figura 9 - Variações nas taxas de fotossíntese bruta, perdas
respiratórias, senescência e morte dos tecidos e acúmulo de
forragem durante a restauração do IAF do piquete (Parsons
et al, 1983b)
A fase de crescimento decrescente decorre de diversas causas:
instalação e intensificação das perdas de tecidos por senescência e
morte, aumento na idade média da área foliar do dossel, sombreamento
mútuo dos perfilhos.
Nestas condições, a fim de maximizar a produção de forragem,
pareceria lógico definir a duração do período de descanso em função
do momento em que a taxa média de crescimento é máxima.
Novamente, entretanto, este critério é subjetivo, impróprio para
aplicação prática.
Um período de descanso demasiadamente longo compromete a
produção líquida de forragem (Figura 9) devido à intensificação tanto
das perdas por senescência como das perdas respiratórias de carbono.
A figura 9, extraída do trabalho de PARSONS et al (1983b), ilustra a
192 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
evolução das taxas de fotossíntese bruta, perdas respiratórias,
fotossíntese líquida, produção bruta de forragem, senescência e
acúmulo líquido de forragem.
FS bruta – Respiração = FS líquida = produção bruta de forragem
Produção bruta de forragem – senescência = acúmulo líquido de forragem
O número de folhas verdes por perfilho, constante a partir do
momento em que a taxa de senescência foliar iguala a taxa de
aparecimento, constitui critério objetivo e prático para definição da
duração do período de descanso, ou seja, o momento da introdução dos
animais no piquete (FULKERSON e SLACK, 1995; GRANT et al,
1988).
Figura 10 - Crescimento acumulado (W), variações na taxa de
crescimento instantâneo (dW/dt) e taxa média de
crescimento (W-Wo)/t durante o período de descanso do
piquete (Parsons e Penning, 1988)
Assim, por exemplo, em pastagem de capim-mombaça, cujo
intervalo de aparecimento de folhas é de 10 dias (Tabela 1), a volta dos
animais ao piquete se daria quando o número médio de folhas por
perfilho for de 3,5, o que corresponderia a 35 dias aproximadamente,
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
- 193
conforme as condições prevalecentes no período de repouso. O
prolongamento do período de crescimento, após aquela condição
morfológica, aumenta o potencial das perdas de folhas por senescência,
além de propiciar queda na relação folha/colmo e no valor nutritivo da
forragem disponível.
A produção de forragem e a eficiência de sua utilização em
pastagens submetidas a lotação contínua varia em função da pressão de
pastejo adotada, caracterizada pelo seu IAF, altura do relvado e, ou
biomassa (BIRCHAM e HODGSON, 1983; PARSONS et al 1983b).
O potencial fotossintético, fotossíntese bruta do dossel, é mais alto em
pastagens sob pastejo leve, apresentando alto IAF, relativamente
àquele observado quando o pastejo pesado condiciona o relvado a um
IAF mais baixo. Entretanto, em virtude das maiores perdas
respiratórias, mais intenso fluxo de biomassa (maior senescência
foliar) e maior quantidade de assimilados alocados ao sistema
radicular, a produção líquida de forragem e o consumo de forragem
por hectare são mais altos sob pastejo pesado (Figura 11).
Figura 11 - Fluxo de tecidos em pastagem sob pastejo contínuo, leve e
pesado (Parsons et al, 1983b)
194 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
3. ESTRATÉGIAS
À avaliação da produção animal em pastagens interessam a
produção por animal e, ou a produção por área, ambas estreitamente
dependentes da pressão de pastejo a que a pastagem é submetida
(Figura 12). Pressão de pastejo abaixo da ótima maximiza a produção
por animal, mas subestima a produção por área que, inicialmente,
cresce linearmente com a pressão de pastejo. A máxima produção por
área ocorre sob pressão de pastejo em que a produção por animal é
ligeiramente comprometida. A pressão de pastejo ótima corresponde a
uma faixa que engloba a máxima produção por animal e por área
(MOTT, 1960). Pressão de pastejo acima da ótima compromete
simultaneamente a produção por animal e por área.
Figura 12 - Relação entre a pressão de pastejo e a produção animal,
por cabeça e por área, em pastagem (Mott, 1960)
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
- 195
Percebe-se, então, que a eficiente utilização da forragem
produzida depende da adoção da taxa de lotação compatível com a
capacidade de suporte da pastagem, isto é, a adoção da pressão ótima
de pastejo.
A definição da pressão ótima de pastejo tem sido subjetiva e
mais uma arte e portanto, variável de pessoa para pessoa. Entretanto, a
partir dos conhecimentos da morfogênese (BIRCHAM e HODGSON,
1983; CHAPMAN e LEMAIRE, 1993) e fisiologia do relvado
(PARSONS et al, 1983b; PARSONS et al, 1988; PARSONS e
PENNING, 1988), alguns critérios objetivos para orientação do
manejo das pastagens podem ser reconhecidos; tais são: IAF, altura do
relvado, massa de forragem disponível, oferta de forragem.
Assim, enquanto a figura 9 ilustra a variação da produção líquida
de forragem em função do IAF do relvado, o mesmo é representado
pela figura 6, que ainda relaciona a relevância das características do
relvado: altura e biomassa. Entretanto, é preciso enfatizar que a
maioria das informações disponíveis referem-se a pastagem de azevém
perene sob pastejo de ovinos. Conquanto tais informações precisem ser
levantadas para as gramíneas tropicais sob pastejo de bovinos, o
conhecimento dos fundamentos teóricos podem ajudar na formulação
do manejo mais apropriado em cada situação.
A importância da observância de tais características estruturais
do relvado na condução do pastejo decorre também de sua influência
sobre o comportamento ingestivo dos animais (STOBBS, 1973;
HODGSON, 1985; PENNING e PARSONS, 1994), condicionando o
consumo de forragem e, portanto, a produção animal.
Alguns resultados experimentais com forrageiras tropicais já
disponíveis, apontam limites desejáveis de oferta de forragem entre 6 a
9% para vacas leiteiras em pastagem de capim-elefante anão
(GOMIDE, 1998) ou entre 10-12% para novilhos em pastagem de
campo nativo e pastagens melhoradas de capim-pangola + azevém +
trevo branco (MARASCHIN e JACQUES, 1993), a fim de maximizar
o consumo e a produção animal. Tais relatos são consistentes com a
conclusão de HODGSON (1981), de que o consumo de forragem é
maximizado quando a oferta de forragem é 4 vezes a capacidade de
ingestão do ruminante. Assim, um consumo voluntário de matéria seca
de 2,5 % do Peso Vivo ocorre sob condições de pastejo em que a oferta
196 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
de forragem é de 10% do PV. Entretanto, MORAES e MARASCHIN
(1988) relatam linearidade de resposta entre oferta e consumo, e oferta
e ganho médio de peso até o limite de 10% de oferta em pastagem de
milheto.
Outro critério objetivo para orientar a condução do manejo das
pastagens próximo ao ótimo da pressão de pastejo é a quantidade de
forragem presente que deve estar entre 1500 a 2000 Kg MS/há
(MARASCHIN e JACQUES, 1993; GOMIDE, 1994) para pastagens
tropicais sob pastejo contínuo. Para as condições de pastejo
rotacionado de pastagem de capim-elefante ou capim-colonião,
consorciado com soja perene ou centrosema, a observância de um
resíduo de forragem após pastejo de 2500 Kg MS/há ou mais alto
resultou no desaparecimento das leguminosas, que só mantiveram
adequada proporção na pastagem quando o resíduo de forragem pós
pastejo foi de 1500 Kg/há de MS (MOTT, 1984). A conclusão é que,
em pastagens consorciadas, uma mais alta pressão de pastejo favorece
a leguminosa em sua competição com a gramínea tropical, garantindo
sua persistência no consórcio.
Situações culturais, econômicas e, ou comerciais podem
determinar a priorização da produção animal em termos de produção
por animal ou por área. De qualquer modo, em se priorizando a
produção por animal as recomendações seriam:
a) uso de forrageiras de mais alto valor nutritivo tais como;
Coastcross, Tifton, capim-elefante anão, preferencialmente
consorciadas com leguminosas;
b) Adoção de pastejo contínuo sob pressão de pastejo leve, isto é,
ligeiramente abaixo da pressão ótima;
c) Suplementação da pastagem com bancos de leguminosas e, ou
concentrados e forragem conservada;
d) Uso de forrageiras de inverno; aveia, azevém.
Sendo de interesse priorizar a produção por área, a estratégia
consistiria em:
a) uso de forrageiras de mais alto rendimento, como as cultivares de
Panicum maximum e Pennisetum purpureum;
b) prática de adubação de pastagens;
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
- 197
c) adoção de pastejo contínuo ou rotacionado, mas observando
pressão de pastejo, ótima consistente com a capacidade de
suporte da pastagem para a estação das águas;
d) uso de reservas forrageiras; feno e, ou silagem de milho ou
sorgo, para a alimentação na seca.
4. RESUMO
A lucratividade da atividade pecuária depende da correta
exploração dos recursos disponíveis, sobretudo da produção forrageira
em áreas de pastagem. Para tanto, faz-se necessário o conhecimento
dos fatores que controlam e determinam o crescimento das plantas.
A área foliar é um importante atributo de uma pastagem dada a
sua correlação com a produção. A dinâmica de aparecimento de folhas
e perfilhos garante perenidade e produtividade às pastagens, por de
determinar o IAF da mesma. A taxa de aparecimento foliar exerce
papel fundamental nas características estruturais que ditam o IAF do
relvado. O manejo adotado, pressão de pastejo, influencia desde a
estrutura do dossel até a eficiência de utilização da forragem
produzida.
O processo de senescência e morte de folhas e perfilhos
determina a estabilização do acúmulo líquido de forragem. Assim, o
número de folhas verdes por perfilho é um critério objetivo na
determinação do manejo da pastagem.
Com base nos conhecimentos morfofisiológicos das espécies
forrageiras torna-se mais factível o estabelecimento do manejo que
representa a pressão ótima de pastejo, que em pastagens tropicais está
relacionada a uma massa de forragem entre 1500 a 2000 Kg MS/há sob
pastejo contínuo. Práticas de manejo, como cultivo de gramíneas mais
produtivas e adubação, que elevam a capacidade de suporte da
pastagem, e adoção da pressão ótima de pastejo, concorrem para
aumentar a produção por hectare. Priorizando a produção por animal, o
enfoque deve visar o uso de forrageiras de mais alto valor nutritivo e
lotação ligeiramente abaixo da capacidade de suporte da pastagem.
198 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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DEGRADAÇÃO DE PASTAGENS E PRODUÇÃO DE
BOVINOS DE CORTE COM A INTEGRAÇÃO
AGRICULTURA X PECUÁRIA
Armindo Neivo Kichel 1
Cesar Heraclides Behling Miranda 2
Ademir Hugo Zimmer 3
1
Eng.-Agr., M.Sc., CREA No 37391/D, Embrapa Gado de Corte, Caixa Postal 154, CEP
79002-970 Campo Grande, MS.
2
Eng.-Agr., Ph.D., CREA No 782/D, Embrapa Gado de Corte. Bolsista do CNPq.
3
Eng.-Agr., M.Sc., CREA No 9658/D, Visto 633/MS, Embrapa Gado de Corte.
1. INTRODUÇÃO
A degradação das pastagens é um dos maiores problemas da
pecuária brasileira, por ser esta desenvolvida basicamente em pasto,
afetando diretamente a sustentabilidade do sistema produtivo.
Considerando-se apenas a fase de engorda de bovinos, a produtividade de
carne de uma pastagem degradada está em torno de 2 arrobas/ha/ano,
enquanto que numa pastagem em bom estado podem-se atingir, em média,
16 arrobas/ha/ano.
De forma geral, estima-se que cerca de 80% dos 45 a 50 milhões de
hectares da área de pastagens nos Cerrados do Brasil Central, que
respondem por 60% da produção de carne nacional, apresentam, hoje,
algum estádio de degradação (Barcellos, 1996). Paralelo a isto, existe um
número reduzido de pecuaristas recuperando as pastagens de suas
propriedades, ou mesmo preocupados com o problema.
Por definição, designa-se como degradação de pastagem ao
processo evolutivo de perda de vigor, produtividade e da capacidade de
recuperação natural de uma dada pastagem, tornando-a incapaz de
sustentar os níveis de produção e qualidade exigidos pelos animais, bem
como o de superar os efeitos nocivos de pragas, doenças e invasoras. Num
estádio avançado poderá haver considerável degradação dos recursos
naturais (Macedo, 1995).
202 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
2. PRINCIPAIS FATORES DA DEGRADAÇÃO DE PASTAGENS
O uso de uma forrageira adequada às condições de clima e solo,
bem formada, homogênea, livre de invasoras, com manejo adequado,
respeitando-se a capacidade de suporte da forrageira em uso e as
exigências nutricionais das mesmas, mantendo-se níveis de nutrientes
compatíveis com o extraído da pastagem, tem como resultado um aumento
da longevidade das pastagens, com produtividade econômica. Alguma falha
em algum desses tópicos, pode acelerar o processo de degradação. Nesta
revisão, discutir-se-ão aspectos práticos para se manter tais parâmetros,
baseados nos seguintes tópicos:
1.1 - Escolha da espécie forrageira;
1.2 - Formação de pastagem;
1.3 - Manejo; e
1.4 - Reposição de nutrientes.
2.1 Escolha da espécie forrageira
Em princípio, pode-se dizer que não existem forrageiras ruins e sim
que, para cada tipo de clima, solo, nível de tecnologia a ser utilizada e
produtividade potencial desejada, existe uma espécie ou cultivar mais
indicada.
A escolha da melhor espécie forrageira a ser utilizada em uma área
deve ser precedida de um diagnóstico. Para tal, deve-se ter:
- Histórico da área - anotando-se o início da utilização da área;
espécie em uso; o nível de tecnologia utilizado; a produtividade obtida em
anos anteriores; predominância de invasoras e/ou espécies forrageiras, seu
potencial de sementes do solo, sua persistência e agressividade; o potencial
de pragas e doenças existentes na área.
- Condições de clima - precipitação e distribuição anual,
temperaturas máxima e mínima, possibilidade de geadas, fotoperíodo etc.
- Condições de solo - topografia e susceptibilidade à erosão;
deficiência ou excesso de água; impedimentos físico-químicos; nível de
fertilidade, profundidade e textura do solo.
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
203
Para a região dos Cerrados do Brasil Central, de forma geral, podese escolher dentre as espécies apresentadas na Tabela 1.
Tabela 1 - Exemplos de algumas espécies de gramíneas forrageiras
recomendadas para a região dos Cerrados considerando-se
algumas condições edafoclimáticas
Condições gerais
Espécies indicadas
Solos
úmidos
(mal
drenados)
e/ou
temporariamente úmidos, com baixa fertilidade ou
solos de baixa fertilidade com alto grau de
erodibilidade
Brachiaria humidicola
Brachiaria dictyoneura
Solos de baixa fertilidade e/ou rasos (com
cascalho)
Andropogon gayanus
Solos de baixa a média fertilidade, bem drenados,
em regiões de baixa incidência de cigarrinhas
Brachiaria decumbens
Andropogon gayanus
Solos de média e alta fertilidade, bem drenados, em
regiões com ou sem cigarrinhas
Brachiaria brizantha
Solos de média a alta fertilidade, profundos, bem
drenados
Panicum maximum,
Pennisetum purpureum,
Cynodon spp.
Setaria spp., Paspalum
spp., Brachiaria mutica
Solos úmidos (mal drenados), profundos, de média
a alta fertilidade
Uma vez escolhida a espécie forrageira, em função do diagnóstico, o
passo seguinte é realizar-se uma boa formação da pastagem.
2.2
Formação de pastagens
2.2.1 Qualidade das sementes e densidade de semeadura
Escolhida a espécie forrageira, devem-se ter cuidados para se formar
uma área uniforme. Para tal, é imprescindível conhecer a qualidade das
sementes disponíveis no mercado e a quantidade a ser usada. É freqüente
encontrar sementes de má qualidade, principalmente quanto à pureza e
204 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
germinação, com excesso de resíduos vegetais, solo ou misturas de outras
forrageiras. O uso de sementes sem análise laboratorial pode levar ao sério
risco de se semear uma quantidade abaixo do ideal, pois as recomendações
de densidade de semeadura não levam em conta a pureza e germinação
(valor cultural). A determinação do valor cultural possibilita o cálculo da
taxa de semeadura de cada lote de sementes, assegurando-se uma
população ideal para cada espécie ou cultivar (Souza, 1993). Uma
pastagem com má formação inicial, cheia de falhas e invadida pelo mato,
com certeza, terá acelerado seu processo de degradação, ou já se inicia
degradada.
O tamanho das sementes é outro fator importante. Essa é uma
característica que varia entre espécies e até mesmo entre cultivares de uma
mesma espécie (Tabela 2).
Tabela 2 - Número aproximado de sementes por grama de várias
espécies de forrageiras tropicais e sugestões de taxas para
semeadura a serem feitas no período de outubro a dezembro
em áreas que receberam adequado preparo de solo
Condições gerais
Andropogon gayanus
Brachiaria brizantha
Brachiaria decumbens
Brachiaria humidicola
Brachiaria ruziziensis
Paspalum guenoarum (Ramirez)
Paspalum notatum cv. Pensacola
Panicum maximum cv. Tanzânia
Panicum maximum cv. Colonião
Panicum maximum cv. Tobiatã
Setaria anceps cv. Kazungula
Cynodon sp.
Fonte: Souza (1993).
1
SPV = Sementes puras viáveis.
Número aproximado de
sementes/grama
360
150
200
270
230
300
610
960
780
610
1.490
Taxa de semeadura
(kg/ha SPV1)
2,50
2,80
1,80
2,50
2,00
1,50
1,50
1,60
1,60
2,50
1,50
1 planta/m2
Estima-se que 15-20 plântulas/m2 seja um número suficiente para se
assegurar a formação de uma pastagem homogênea, em se tratando de
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
205
espécies cujas sementes são de tamanho relativamente grande (B.
brizantha, B. decumbens, B. ruziziensis e 'Ramirez'). No caso de espécies
com sementes menores (capins andropógon, humidícola, tanzânia, colonião,
tobiatã, Greenpanic e setária kazungula), com plântulas mais frágeis ou que
são de estabelecimento mais lento, um número maior delas (40 a 50
plântulas/m2) é necessário para se garantir a formação.
Formação de pastagens satisfatórias pode ser obtida desde que a
semeadura seja feita entre os meses de outubro a janeiro, em solo que
recebeu preparo adequado. Em áreas menos preparadas, a taxa de
semeadura deve ser, no mínimo, dobrada. Da mesma forma, semeaduras
superficiais ou tardias devem ser feitas com taxas mais elevadas.
2.2.2 Correção do solo
Considerando-se a baixa fertilidade natural dos solos dos Cerrados,
é importante que se façam calagem e adubação, com base em análises do
solo de cada área e as exigências nutricionais da forrageira a ser
implantada. A calagem e a adubação mantêm ou melhoram a fertilidade do
solo, promovendo o vigor da pastagem e aumentando o seu adensamento,
proporcionando uma melhor cobertura do solo contra a erosão. A presença
dos animais confere ao sistema aspectos próprios de extração e reciclagem
dos nutrientes; num sistema de pastagem perene e pastejo contínuo, por
exemplo, a reciclagem de nutrientes pode ser da ordem de 70% a 90%
(Macedo, 1995). Este aspecto influi na manutenção das pastagens, e
equivale a dizer que a dose de fertilizante necessária é maior na implantação
do que na sua manutenção.
2.2.3 Preparo e conservação do solo
O preparo do solo deve ser feito de modo a proporcionar um bom
estabelecimento das forrageiras, com equipamento apropriado e na época
recomendada (novembro a dezembro) para reduzir os custos, pois os
serviços de desmatamento e preparo do solo são os mais onerosos na
formação de pastagens. Zimmer & Miranda (1994) destacam a importância
de se efetuarem pelo menos duas gradagens com grade pesada ou uma
206 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
aração seguida de gradagem com a grade niveladora, visando a reduzir a
rebrota das plantas perenes de cerrado. Para se reduzirem os custos de
formação, o plantio de pastagens pode ser precedido de um ou dois
cultivos anuais, ou ainda ser feito um plantio conjunto da pastagem com o
arroz, milho ou até espécies florestais, quando for o caso. Esse plantio
conjunto promove um melhor preparo do solo, evita o rebrote de cerrado e
ainda proporciona algum resíduo de fertilizantes para a pastagem e reduz o
custo de formação.
Costa (1990) apresenta as seguintes medidas recomendáveis para a
manutenção da cobertura do solo e controle de erosão:
ü proteção dos topos de morros, cerca de um terço do declive cobertos
com vegetação de mata para evitar formação de enxurradas;
ü revegetação de encostas já descobertas com espécies de valor
madeireiro ou forrageiro recomendado para cada região;
ü melhor utilização de áreas de tabuleiros e baixadas, que em geral são
mais férteis;
ü divisão das pastagens em piquetes, controlando melhor o pastejo de
animais e utilizando sistema de manejo que permita a manutenção da
cobertura do solo (contínuo, alternativo, rotativo ou diferido);
ü lotação animal adequada evitando-se o superpastejo, colocando-se
cargas animais compatíveis com a forragem disponível no piquete com
base no conhecimento da capacidade de suporte da pastagem;
ü adubação e calagem; localização de cercas, bebedouros e cochos para
evitar a concentração e a movimentação de bovinos em um só sentido,
principalmente ladeira abaixo.
Em toda a área que apresentar susceptibilidade à erosão ou
escorrimento superficial de água devem ser construídos terraços e/ou
curvas de nível e se evitar a queima.
2.2.4 Época de plantio
A época de plantio tradicional utilizada no estabelecimento de
pastagens na região dos Cerrados é bastante ampla, começando com as
primeiras chuvas, em setembro, até março. A época ideal, no entanto, é
entre novembro e janeiro. Deve-se considerar, neste aspecto, uma boa
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
207
germinação das sementes e cobertura do solo, para que se evitem perdas
de solo por erosão, o surgimento de invasoras e a necessidade de utilização
mais imediata da pastagem. Em geral, esta deve ocorrer de 60 a 100 dias
após o plantio. Brachiaria decumbens apresenta 40% da área coberta em
cerca de 60 dias após o plantio. Já B. humidicola apresenta apenas 20%
no mesmo período (Zimmer & Miranda, 1994).
2.2.5 Métodos de plantio
A escolha do método de plantio é importante para a boa formação
de pastagem e, em conseqüência, diminuírem-se as chances de degradação
desta em pouco tempo. O plantio pode ser realizado a lanço (aéreo ou
terrestre) sobre a superfície do solo ou em linha, com o uso de uma
semeadeira ou adubadeira, com espaçamento de 13 cm a 50 cm entre
linhas, dependendo do equipamento disponível e/ou espécie. Em ambos os
casos, pode-se fazer o plantio, consorciado ou não, com culturas anuais,
com profundidade de plantio de 0,5 cm a 6 cm (Zimmer et al., 1986),
dependendo do tipo de solo e espécie de forrageira (Tabela 3).
Tabela 3 - Distribuição das sementes de Brachiaria decumbens no perfil
do solo em diferentes profundidades de enterrio em função de
métodos de plantio, dias após a semeadura
Métodos de plantio
Lanço na superfície
Lanço na superfície + rolo
Lanço + grade
Lanço + grade + rolo
Plantadeira a 3 cm
Plantadeira a 3 cm + rolo
Plantadeira a 6 cm
Plantadeira a 6 cm + rolo
Percentagem de sementes nas diferentes profundidades (cm)
0,5 a 1,5
80
78
20
11
18
19
5
8
1,6 a 2,5
14
22
24
15
26
22
17
7
2,6 a 3,5 3,6 a 4,5
3
3
23
18
37
37
23
17
34
17
26
16
17
23
4,6 a 5,5 5,6 a 6,5
5
12
12
6
12
2
8
19
16
22
23
Adaptado de Zimmer et al. (1986).
Como pode ser visto, 78% das sementes no plantio superficial + rolo
ficaram entre 0,5 cm e 1,5 cm de profundidade, com 100% até 2,5 cm.
208 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
Essa seria uma profundidade ideal para andropógon e panicum,
principalmente em solos argilosos bem preparados e com boa umidade.
Quando se utilizar a grade, esta deve trabalhar parcial ou quase
totalmente fechada, uma vez que, além de incorporar a semente ao solo,
auxilia no acabamento do preparo do solo, a incorporar o adubo e a
eliminar plântulas de espécies indesejáveis. O uso do rolo compactador
proporciona melhor contato da semente com o solo, favorecendo maior
germinação de plantas por área.
Pode-se, por outro lado, fazer o plantio direto de forrageiras. Na Fazenda
Mimoso, em Rio Brilhante, MS, tem sido praticado com sucesso tal tipo de plantio para
B. brizantha e tanzânia (A.N. Kichel, comunicação pessoal). As condições para tal são
as mesmas empregadas para o plantio direto de culturas anuais, apenas utilizando-se de
10% a 20% a mais de semente em relação ao plantio convencional. Esse sistema vem
apresentando ótimos resultados tanto em termos práticos como econômicos.
2.2.6 Controle de invasoras
Constatando-se alta infestação de invasoras na área, as quais
poderão competir com a forrageira por nutrientes, espaço físico, luz e
umidade, sugere-se aumentar de 10% a 20% a quantidade de
sementes/hectare para aumentar a competição inicial da forrageira,
garantindo uma boa formação da pastagem, como foi citado. A posterior
limpeza anual dos pastos onera sobremaneira o custeio da atividade, sendo
necessários estudos que enfoquem este problema, pela associação de
métodos eficientes e econômicos. Vários métodos de controle são hoje
empregados, incluindo-se práticas manuais, mecânicas e químicas, ou
combinações entre elas. Um exemplo do controle de invasoras é
apresentado na Tabela 4.
Como pode ser visto, houve efeito marcante do herbicida na redução
das invasoras, aumentando, assim, a disponibilidade de forragem, com um
custo aproximado de uma arroba de peso vivo/ha, indicando a viabilidade
econômica dessa prática. Por outro lado, em áreas de infestação média de
invasoras, com correto preparo de solo, sementes de qualidade e em
quantidade adequada, plantio em época apropriada, não se verificou
diferença quanto à aplicação do herbicida.
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
209
Tabela 4 - Disponibilidade total de pasto (kg de matéria seca total/ha), em
termos de forragem e invasoras na renovação de pastagens de
Panicum maximum cvs. Tanzânia e Colonião, e Brachiaria
brizantha cv. Marandu, com e sem herbicida (2 litros de
Tordon-2,4 D), com seus respectivos custos, em duas épocas
de amostragem em Naviraí, MS, 1997
Tratamentos
Colonião
Colonião + herbicida
Tanzânia
Tanzânia + herbicida
Brizantha
Brizantha + herbicida
28/02/1996
Forragem Invasoras
2.898,1
3.541,0
3.013,9
3.784,9
5.630,3
4.411,8
560,9
104,4
1.020,5
34,1
1.014,7
81,3
17/07/1996
Forragem Invasoras
1.512,0
1.760,0
1.437,4
2.291,1
1.958,8
2.150,9
377,9
0,0
854,1
0,0
529,4
31,9
Custos totais 1
(US$)
377,30
402,72
372,40
397,62
351,80
377,22
1
Custos totais incluindo custos fixos e variáveis de uso de máquinas, equipamentos e
insumos.
Fonte: S.G. Nunes & A.N Kichel (dados não publicados).
2.2.7 Controle de pragas
As pragas mais importantes na formação de pastagens são as lagartas
(Mocis latipes, Spodoptera frugiperda, Pseudaletia sequax,
Elasmopalpus lignosellus), formigas (Atta bisphaerica, A. capiguara) e
cupins subterrâneos (Cornitermes cumulans, Syntermes spp.). Toda vez
que o nível de infestação for significativo, deve ser controlado com
inseticidas e formicidas com doses e quantidade de produtos
recomendados. O não controle dessas pragas pode comprometer a
formação e a persistência das pastagens, causando a degradação das
mesmas.
As formigas e cupins causam menos problemas para as espécies do
gênero Brachiaria, entretanto, as lagartas atacam todas as espécies
indistintamente.
Com relação a pastagens estabelecidas, a maior praga na região dos
Cerrados é a cigarrinha (Deois incompleta, D. schach, D. flavopicta,
Zulia entreriana, Aeneolamia selecta selecta) pois podem causar
210 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
redução de 10% a 90% da produção no período em estudo. Embora
possam ser feitos controles químico e biológico para esta praga, a melhor
alternativa é a de se usar espécies de forrageiras com algum nível de
resistência (Valério & Koller, 1993), como descritas na Tabela 5.
Tabela 5 - Grau de susceptibilidade de algumas forrageiras às cigarrinhasdas-pastagens
Grau de susceptibilidade às
cigarrinhas-das-pastagens
Susceptíveis
Tolerantes
Resistentes
Espécies
B. decumbens, B. ruziziensis
P. maximum cvs. Tanzânia e Mombaça
B. brizantha, B. humidicola, A. gayanus, S.
anceps, C. plectostachyus
Fonte: Valério & Koller (1993).
2.2.8 Manejo de formação
O manejo de formação de uma pastagem, também chamado de
pastejo de uniformização, tem como objetivo contribuir para a boa
formação da pastagem. A princípio, deve-se iniciar o pastejo de 60 a 100
dias após a germinação ou antes da emissão da inflorescência, desde que o
plantio seja realizado na época recomendada para cada região, com alta
lotação animal. Devem-se utilizar, de preferência, animais jovens, por curto
período de tempo, entre dez e trinta dias. Com o uso de animais jovens
evita-se uma compactação maior do solo, uma vez que este foi recémtrabalhado, se faz pastejo mais leve (A.N. Kichel, comunicação pessoal). A
finalidade desse manejo é diminuir a competição entre plantas e eliminar a
maior parte das gemas apicais, reduzindo-se, assim, a produção de semente
e translocação de nutrientes para estas, estimulando a emissão de perfilhos
e a mais rápida e perfeita cobertura do solo (Vieira & Kichel, 1995). A não
realização desta prática conduz a crescimento excessivo, com formação de
touceiras nas forrageiras de hábito de crescimento cespitosos, as quais
tendem a se acamar com o vento e presença de animais. Isto pode
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
211
acarretar a necessidade de roçagens mecânicas ou, o que é pior, de uso de
fogo para a eliminação de macegas ou palhadas.
2.2.9 Uso do fogo
A queimada é ainda utilizada na limpeza de pastos, para eliminar a
vegetação velha, plantas invasoras e parasitas dos animais, além de
estimular o crescimento das plantas logo no início da época chuvosa. É,
sem dúvida, o método mais barato de se limpar uma pastagem, e vem
sendo usado desde os primórdios (Uhl & Buschbacher, 1988). Além disso,
as pastagens naturais dos Cerrados têm sido sujeitas a fogo em sua
evolução, e apresentam adaptação natural à queima.
Já em áreas de floresta, Serrão & Falesi (1977), em experimento na
Amazônia, estudaram as alterações químicas e físicas de um Latossolo
Vermelho-Escuro textura média, causadas pelo uso pastoril com queimadas
anuais, concluindo que, apesar do solo ter apresentado algum incremento
em sua composição química, perdeu metade do seu teor de argila na
camada superficial, com destruição dos agregados. A argila foi levada para
camadas subsuperficiais do solo, ou lixiviada para áreas de baixadas. A
redução dos teores de matéria orgânica do solo também foi significativa,
com diminuição de 56% do teor inicial após dez anos de uso da pastagem
com limpeza com queima anual. Como resultado, o solo sofreu pesada
erosão e compactação e a pastagem forte infestação de ervas invasoras,
com conseqüente perda de produtividade.
Nas pastagens cultivadas, tanto quanto possível, o fogo deve ser
evitado. O uso contínuo do fogo tem como conseqüência a exposição do
solo ao impacto das gotas de chuva, aumentando a compactação e a
erosão do solo; a interrupção gradual do ciclo de retorno da matéria
orgânica, com diminuição gradual da capacidade de troca de cátions; a
retenção de água; a perda de nutrientes do sistema, principalmente N, S e
K (Bono et al., 1996; Serrão & Falesi, 1977; Uhl & Buschbacher, 1988);
o surgimento de invasoras, acelerando o processo de degradação das
pastagens.
212 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
2.3 Manejo da pastagem
Segundo Nascimento Júnior et al. (1994), o principal efeito provocado pelos
animais na pastagem é o da desfolhação, que reduz a área foliar, com conseqüências
sobre os carboidratos de reserva, perfilhamento, crescimento das raízes e de novas folhas.
Afeta, também, o ambiente da pastagem, como a penetração de luz, temperatura e
umidade do solo, as quais, por sua vez, afetam o crescimento da forrageira. Esses efeitos
serão tanto maiores quanto maior for o estresse imposto pelo ambiente ao crescimento da
planta. O pastejo mal conduzido, aliado ao estresse ambiental, pode levar a pastagem à
degradação.
As pastagens são consideradas em degradação quando a produção de forragem
diminui e implica a redução da lotação animal. Essa diminuição na produção de matéria
seca reduz de maneira drástica o sistema radicular, perfilhamento, expansão de folhas
novas e reservas de carboidratos nas raízes (Corsi & Nascimento Júnior,.1994). Em
Panicum maximum cv. Trichoglume, com a redução de somente 8% na produção de
matéria seca (MS), observa-se redução de 3,8 vezes maior no sistema radicular, quatro
vezes no nível de carboidratos de reserva e de 1,7 vez no nível de produção de folhas
novas (Humphreys & Robinson, 1966). Isto implica cuidado extremo que se deve ter em
se utilizar uma freqüência e intensidade de pastejo apropriada para evitar a degradação da
pastagem ao longo do tempo e obter adequada produção de forragem e ganho animal.
As plantas forrageiras respondem de modo distinto à intensidade e freqüência de
pastejo, tendo em vista as suas características morfológicas e fisiológicas. Jones &
Canabaly (1981) observaram que B. humidicola, cortada ao nível do solo, apresentava
rebrota mais intensa em três semanas do que cortes a 5 cm ou 10 cm de altura. Já B.
brizantha e B. decumbens apresentaram melhor rebrota com corte a 5 cm do que no
nível de solo ou 10 cm. No outro extremo, A. gayanus e P. maximum apresentaram
melhor rebrota com alturas de corte de 15 cm do que ao nível do solo, 5 cm ou 10 cm, e
curvas de rebrota mostraram que, para essas forrageiras, o corte a 15 cm ainda é muito
drástico.
Os dados da freqüência de utilização para as forrageiras mais comuns no Brasil,
braquiárias e panicuns, foram obtidos sob regimes de corte. Avaliando a freqüência de
cortes de nove braquiárias que incluem B. brizantha, B. decumbens, B. ruziziensis e B.
mutica, Sotomayor-Rios et al. (1976) obtiveram aumentos de produção com idades
maiores de crescimento quando os cortes foram realizados aos 30, 45 e 60 dias.
Entretanto, o melhor equilíbrio entre produção e qualidade de forragem seria para os
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
213
cortes de mais de 30 dias e menos de 45 dias de crescimento. Tendência idêntica foi
observada em outra avaliação que envolveu B. brizantha, B. ruziziensis, B. humidicola e
B. mutica (Sotomayor-Rios et al., 1980). Em P. maximum cvs. Colonião e Tobiatã,
Costa (1990) obteve incremento de 42% na produção de MS, com o crescimento
passando de 28 para 35 dias; com crescimento de 42 dias, o aumento de produção foi de
somente 11% e com uma queda mais acentuada no teor de proteína bruta (PB) em
relação a 28 dias de crescimento. No capim-aruana, Cecato (1993) obteve tendência
semelhante em cortes com intervalos de 35 dias, os quais resultaram em melhores
produções de matéria seca e com boa produtividade de forragem do que em intervalos de
28, 42 ou 49 dias. O intervalo de corte de 35 dias também apresentava vigor de rebrota
mais intenso após o corte do que intervalos de 42 e 49 dias. Esses dados demonstram
que pastejos muito freqüentes são muitas vezes prejudiciais à rebrota e produção de
forragem. Este manejo por períodos prolongados pode implicar a degradação da
pastagem.
Pastejos muito intensivos às vezes são compensados por maiores períodos de
descanso ou adubação adequada, possibilitando a recuperação da pastagem. A
freqüência de pastejo pode ser reduzida se os níveis de adubação forem aumentados,
especialmente o nitrogênio (N), já que este elemento acelera a maturação da planta. De
modo geral, consideram-se períodos de descanso de 35 dias satisfatórios para a
recuperação das forrageiras nos períodos favoráveis ao crescimento, no ano. Nos
períodos desfavoráveis, este tempo necessita ser pelo menos dobrado, para evitar a
degradação de pastagens.
A freqüência de pastejo e a lotação também podem ser um fator de degradação
da pastagem se esta não for apropriada. Nas consorciações de B. dictyoneura x D.
ovalifolium e A. gayanus x Zornia latifolia, na Amazônia Peruana, sob um manejo de
quatro dias de utilização e 21 ou 42 dias de descanso, a degradação foi mais rápida no
ciclo mais curto de pastejo. Por outro lado, após três anos de uso, todos os tratamentos
estavam degradados. Esse processo foi mais rápido na consorciação A. gayanus x Z.
latifolia e nas lotações mais altas de três e quatro animais/ha do que com dois animais/ha.
Reátegui et al. (1990) atribuem essa degradação ao alto teor de argila do solo e à elevada
precipitação, que implicaram a compactação do solo. Para essas condições seriam
necessárias lotações mais baixas e períodos de descanso mais prolongados.
Para o 'Colonião', Mella (1993) observou que altas pressões de pastejo, toda
forragem sendo oferecida aos animais, associadas a curtos períodos de descanso, 28 dias,
214 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
levaram à degradação da pastagem em apenas três anos. A alta pressão de pastejo
somente seria sustentável com um longo período de descanso. Já as menores pressões
foram as mais favoráveis à persistência da pastagem.
Em consorciações, o sistema de manejo pode afetar de modo distinto as espécies
envolvidas, implicando, em certas circunstâncias, o desaparecimento de uma das espécies
envolvidas. Na consorciação de B. humidicola com D. ovalifolium CIAT 350, Santana
et al. (1987) observaram aumento na disponibilidade total de forragem do pastejo rotativo
em relação ao contínuo. As disponibilidades foram de 2.101, 2.684 e 3.395 kg/ha de
MS, respectivamente, para pastejo contínuo, rotacionado de sete dias de uso por 28 dias
de descanso e 7 x 48 dias. Já a percentagem de leguminosas nos tratamentos
correspondentes foi de 26%, 12% e 6%. A redução de presença de leguminosa foi mais
acentuada nos pastejos rotacionados, com o aumento na lotação animal de dois para três
e para quatro animais/ha. No pastejo contínuo, o efeito da lotação foi pouco marcante na
presença da leguminosa, já que esta é menos consumida do que a gramínea na estação
mais favorável de crescimento.
Tendência semelhante foi observada por Stobbs (1969), em Uganda. A
percentagem de leguminosas foi maior no pastejo contínuo na consorciação de P.
maximum cv. Likoni com Siratro do que nos rotacionados de 7 x 28 e 7 x 42 dias,
durante o período de quatro anos. O pastejo rotacionado resultou em mais alta
percentagem de gramíneas e mais baixa presença de invasoras. As produções de matéria
seca foram 43% e 34% maiores nos ciclos de pastejo de 14 x 28 e 7 x 42 dias,
respectivamente, que no contínuo, mas o ganho animal por área foi menor no pastejo de 7
x 42 dias. Esses dados demonstram que, para a persistência desta gramínea, o pastejo
rotativo é mais favorável, pois maior produção e menor presença de invasoras implicam
maior longevidade da pastagem. Por outro lado, um intervalo de pastejo muito prolongado
pode implicar, como no caso, menor produção de forragem. Na consorciação de
'Colonião' com um coquetel de leguminosas, Mella (1993) observou que o conteúdo de
leguminosas foi satisfatório, com a conjugação de períodos de descanso curto e com
pressão de pastejo leve, que é um sistema de manejo mais próximo do contínuo, num
período de três anos.
Para espécies temperadas como Trifolium repens, o pastejo contínuo é mais
adequado. Já a alfafa é mais produtiva sob pastejo rotacionado, da mesma forma que as
tropicais Pueraria phaseoloides e 'Leucena' (Simão Neto, 1994). Este autor conclui que
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
215
a desfolha freqüente de leguminosas, principalmente as trepadeiras, reduz sua proporção
nas pastagens.
COMPARAÇÕES ENTRE SISTEMAS DE PASTEJO CONTÍNUO
E ROTACIONADO. VANTAGENS OU PONTOS POSITIVOS (+)
E DESVANTAGENS OU PONTOS NEGATIVOS (-)
Contínuo
Rotacionado
INVESTIMENTOS
Cercas e águas
Mão-de-obra
+
+
-
MANEJO DAS PASTAGENS
Ajuste da carga animal
Pressão de pastejo
Aproveitamento da forrageira
Consumo seletivo
Observações e comportamento dos animais
+
-
+
+
+
+
PRODUÇÃO DIRETA
Ganho/animal/dia
Ganho/ha
Economicidade
+
-
+
+
PRODUÇÃO INDIRETA
Sistema radicular
Controle de invasoras
Distribuição do esterco
Sustentabilidade das pastagens
-
+
+
+
+
2.4 Reposição de nutrientes perdidos no sistema
Uma das principais causas da degradação das pastagens é a redução
da fertilidade do solo em razão de nutrientes perdidos no processo
produtivo, por exportação no corpo dos animais, erosão, lixiviação,
volatilização, fixação e acúmulo nos malhadores (Martins et al., 1996),
como pode ser vista na Tabela 6. O somatório dessas perdas pode chegar
a mais de 40% do total de nutrientes absorvidos pela pastagem em um ano
de crescimento, o que provoca o empobrecimento contínuo do solo e a
redução no crescimento das pastagens a uma taxa de, aproximadamente,
216 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
6% ao ano. Portanto, esta é uma das principais causas de degradação das
pastagens.
Tabela 6 - Percentagem de perdas de nutrientes extraídos por uma
pastagem que podem ocorrer anualmente
Discriminação
Retido no corpo animal
Acúmulo no malhador
Erosão superficial
Volatilização
Fixação em argila e matéria orgânica
Lixiviação
Total de perdas
N
Nutrientes (%)
P
9
11
3
15
0
5
43
10
12
15
0
19
0
56
K
1
13
3
0
0
0
17
Fonte: Martins et al. (1996).
Euclides et al. (1997) estudaram a recuperação de pastagens de P.
maximum cvs. Colonião, Tobiatã e Tanzânia, B. decumbens cv. Basilisk e
B. brizantha cv. Marandu. Os autores testaram os seguintes níveis de
adubação: (NF1) - 1,5 t/ha de calcário e 400 kg/ha da fórmula 0-16-18 e
50 kg/ha de FTE; e (NF2) - 3 t/ha, 800 kg/ha e 50 kg/ha dos mesmos
corretivos, aplicados no primeiro ano e sem adubação nos anos seguintes.
Os resultados obtidos mostraram que a produtividade, para todas as
gramíneas e em qualquer nível de fertilização, decresceu linearmente do
primeiro para o terceiro ano. Assim, a produtividade caiu de 670 kg/ha de
peso vivo/ha/ano para 435 kg/ha no tratamento NF2; e de 445 kg/ha de
peso vivo/ha/ano para 325 kg de peso vivo/ha/ano para o tratamento NF1.
Ou seja, um decréscimo na produtividade de 35% e 27%, respectivamente,
em três anos, utilizando-se pastejo contínuo, com pressão de pastejo
controlada. Essa redução de produtividade deve-se ao fato de que não foi
realizada adubação de manutenção, principalmente com N.
Uma vez equilibrados os outros nutrientes, a maior resposta em
produção de forragem é atribuída à adição de fertilizantes nitrogenados.
Entretanto, este elemento é um dos mais caros por unidade dentre os
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
217
macronutrientes utilizados nas pastagens. As perdas de nitrogênio por
lixiviação e volatilização podem representar a principal forma de saída do
elemento do sistema de uma pastagem exclusiva de gramínea e vir a se
constituir na principal causa de degradação das pastagens, caso não haja
reposição desse nutriente por fonte externa (Monteiro & Werner, 1989).
O nitrogênio pode ser obtido por via biológica, utilizando-se
leguminosas forrageiras, as quais, por sua simbiose com bactérias fixadoras
do N2 atmosférico, podem contribuir significativamente para a estabilidade
do sistema em relação a este elemento. A estimativa de contribuição das
leguminosas para pastagens consorciadas, em comparação com a aplicação
de fertilizantes nitrogenados e em termos de quantidade de proteína bruta
na área, tem oscilado entre 50 kg até mais de 225 kg de N/ha/ano. Seiffert
et al. (1985) estimaram uma contribuição da fixação biológica de nitrogênio
por Calopogonium mucunoides de 65 kg de N/ha/ano quando
consorciado com B. decumbens, sob pastejo contínuo.
Até 95% do nitrogênio ingerido pelo animal é retornado ao solo via
urina e fezes, grande parte do qual pode ser perdido do sistema por
volatilização e lixiviação (Whitehead, 1990). As excreções são, por outro
lado, distribuídas irregularmente em áreas de pastejo, em especial sob
pastejo contínuo, onde são concentradas nos malhadores, pontos de água
ou sombra. Em pastejo rotativo há certa uniformização dessa distribuição,
mas que, no entanto, ainda fica restrita a não mais do que um terço da área
pastejada (Afzal & Adams, 1992).
A desintegração das excreções é variável, podendo levar até nove
meses para acontecer (Costa et al., 1992). Há de se considerar ainda, que,
ao redor do bolo fecal cria-se uma área de rejeição ao pastejo pelos
animais, a qual acarreta uma diminuição da área total de pastagem
disponível. A melhor forma de desintegração é feita por besouros
coprófagos, os quais podem enterrar um bolo fecal em cerca de dois dias
(Miranda et al., 1990). Os besouros coprófagos nativos do América do Sul
evoluíram em condições de pouca disponibilidade de esterco, sem
habilidade para suportar o grande aporte feito por bovinos. A introdução
do Onthophagus gazella pelo Centro Nacional de Pesquisa de Gado de
Corte, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Campo Grande,
218 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
MS (Bianchin et al., 1992), um besouro mais prolífico do que as espécies
nativas, tem sido um grande passo para a solução desse problema.
Resultados de experimentação mostram o grande potencial desse besouro
no enterrio de esterco bovino e o conseqüente reaproveitamento de
nutrientes, tais como N e P pelas plantas (Miranda et al., 1998).
Outros elementos como o P e o K são igualmente importantes para a
manutenção estável de uma pastagem (Macedo et al., 1993). Tais
elementos devem ser repostos, seguindo-se criteriosa análise de solo, cuja
reposição só pode ser feita pela adição de fertilizantes. Em relação ao P,
pode utilizar-se o potencial de micorrhizas no aproveitamento de fontes de
menor solubilidade, tais como os fosfatos de rocha, o que, no entanto, não
elimina a necessidade de adubação fosfatada.
De forma geral, os níveis de nutrientes a serem repostos devem levar
em conta, além da análise química do solo e da planta, a produtividade
desejada (em função do potencial da espécie em uso), baseando-se,
igualmente, na produtividade do ano anterior. Como prática geral,
recomenda-se a utilização de 15% a 20% da receita bruta/ha/ano em
adubação de manutenção.
3. RECUPERAÇÃO E RENOVAÇÃO DE PASTAGENS
Recuperar uma pastagem consiste no restabelecimento da produção
de forragem de acordo com o interesse econômico, mantendo-se a mesma
espécie ou cultivar. Renovar uma pastagem consiste no restabelecimento
da produção da forragem com a introdução de uma nova espécie ou
cultivar, em substituição àquela que está degradada.
As técnicas agronômicas desenvolvidas para a recuperação e
renovação das pastagens objetivam o restabelecimento da biomassa das
plantas em um período de tempo determinado, com custo econômico viável
para o produtor.
Para se tomar a decisão de quando se deve recuperar ou renovar
uma pastagem, ou qual espécie de forrageira a ser utilizada, deve-se realizar
um diagnóstico referente ao tipo de solo, clima, topografia, condições
químicas e físicas do solo da área em questão.
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
219
A análise de solo é de fundamental importância, tanto para a
implantação de uma pastagem como para uma cultura anual, porque por
intermédio dela pode-se conhecer o grau de deficiência ou desequilíbrio de
nutrientes essenciais ao desenvolvimento de cada cultura. Conhecidas as
quantidades de nutrientes no solo e as exigências nutricionais da cultura,
para alcançar uma produtividade desejada, podem ser adicionados os
insumos (calcário, adubos) nas quantidades necessárias, para se obter uma
produtividade mais econômica, tanto para fins de correção como de
manutenção. Também em função da análise de solo, pode-se escolher a
espécie ou espécies mais produtivas a serem mantidas ou trocadas.
De forma geral, podem ser divididos em dois os sistemas de
recuperação e renovação, quais sejam, recuperação ou renovação com o
uso de agricultura; ou seja, integração agricultura - pecuária, e
recuperação ou renovação direta da pastagem.
3.1 Recuperação ou renovação de pastagem com o uso de
agricultura
A recuperação ou renovação com o uso de agricultura (produção de
grãos), pode ser dividida em dois sistemas:
Ø Em consórcio com culturas anuais, tais como o arroz, milho, sorgo etc.
- neste caso, é feito o plantio conjunto das sementes da cultura anual e
sementes da pastagem, ou aproveita-se o potencial de sementes da
forrageira existentes no solo. Após a colheita da cultura anual, tem-se o
pasto renovado ou recuperado. Sempre que se realizar o plantio de
culturas anuais em área de pastagem degradada, deve-se iniciar o
preparo do solo cerca de 120 dias antes do plantio da cultura. A
aplicação de calcário e início de preparo do solo devem ser feitos entre
junho e julho. A conservação de solo é feita em agosto-setembro, com
correção fosfatada em setembro-outubro, e o plantio entre outubro e
dezembro.
Ø Plantio de culturas anuais solteiras - faz-se o plantio da cultura anual,
seja ela soja, milho, arroz, sorgo etc., por um ou mais anos,
220 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
retornando-se à pastagem, podendo ser a mesma espécie ou outra
espécie forrageira mais adaptada e produtiva.
3.1.1 Requisitos básicos para recuperação ou renovação de pastagem com
o uso de agricultura
Considerando-se que o uso de agricultura é uma atividade de maior
risco e requer uma certa especialização, o pecuarista deve balizar-se em
alguns parâmetros para fazer a recuperação ou renovação de pastagens
degradadas com o uso integrado de agricultura, tais como:
1) possuir solos favoráveis para a produção de grãos, em áreas de clima
propício;
2) boa infra-estrutura para a produção de grãos (máquinas, equipamentos
e instalações);
3) acesso facilitado para a entrada de insumos e a saída de produtos;
4) recursos financeiros para os investimentos na produção;
5) domínio da tecnologia requerida para a produção;
6) assistência técnica; e,
7) possibilidade de se fazer arrendamento da terra ou parceria com
produtores tradicionais de grãos.
Em geral, os custos da renovação ou recuperação podem, em anos
normais, ser amortizados, total ou parcialmente, já no primeiro ano de
cultivo. Uma menor quantidade de insumos e operações de preparo e
conservação do solo a partir do segundo ano possibilitam obter lucro.
3.1.2 Principais vantagens da recuperação ou renovação de pastagem com
o uso de agricultura
As principais vantagens de se fazer recuperação ou renovação com o
uso de agricultura, além do restabelecimento da biomassa forrageira e
aumento da capacidade de lotação da pastagem, podem ser enumeradas da
seguinte forma:
1) recuperação mais eficiente da fertilidade do solo - como as culturas
anuais são mais exigentes em fertilidade do solo, uma atenção maior a
este aspecto é certamente dada;
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
221
2) facilidade de aplicação de práticas de conservação de solo - esta é uma
prática corriqueira entre os agricultores, os quais também possuem
equipamentos apropriados;
3) recuperação com custos mais baixos - o lucro obtido com a cultura
amortiza os gastos da recuperação;
4) facilidade na renovação da pastagem - em geral no plantio de culturas
anuais o preparo do solo é mais intensivo, junto com o uso de
herbicidas, proporcionando uma redução no potencial de sementes no
solo, possibilitando a troca de espécie forrageira, principalmente a de
braquiárias;
5) melhoria nas propriedades físicas, químicas e biológicas do solo - com
a rotação lavoura-pastagem, evitando-se a monocultura, eliminam-se
camadas compactadas, bem como incorporam-se resíduos animais
(esterco), raízes e palhada de grãos e forrageira, estimulando-se a vida
do solo pelo incremento em material orgânico disponível;
6) controle de pragas, doenças e invasoras - pela quebra do ciclo de
pragas e doenças;
7) aproveitamento de adubo residual - grande parte do adubo aplicado à
cultura permanece no solo, sendo depois aproveitado pela gramínea.
No caso da cultura da soja, por exemplo, tem-se o ganho adicional de
nitrogênio ao sistema;
8) maior eficiência no uso de máquinas, equipamentos e mão-de-obra na
fazenda, os quais terão uma otimização do uso por maior período de
tempo no ano;
9) diversificação do sistema produtivo - possibilita a maior diversificação
de pastagens. A empresa pode explorar tanto as fases de cria, recria e
engorda, como a produção de grãos. Isto lhe dá maiores garantias
contra os riscos climáticos e flutuações de mercado; e,
10) aumento da produtividade do negócio agropecuário, tornando-o
sustentável em termos econômicos e agroecológicos.
222 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
3.1.3 Períodos de recuperação ou renovação de pastagem com o uso de
agricultura
A renovação ou recuperação pode ser feita com apenas um ano de
cultura. Faz-se o plantio da cultura e da pastagem e, logo após a colheita da
cultura, a pastagem estará formada. Pode-se, ainda, plantar uma lavoura de
soja, milho ou sorgo no verão, uma pastagem anual de inverno, e, na
primavera, formar-se de novo a pastagem. Essa é uma prática que torna
mais difícil a troca de espécie em uma pastagem velha de braquiária, devido
à grande quantidade de sementes que certamente existirão no solo.
A recuperação ou renovação com cultivo pode ser feita, igualmente,
por um período de dois a três anos com rotação de culturas ou plantios
consecutivos de uma mesma espécie. Após este período, retorna-se à
pastagem.
Esse sistema é mais indicado para agropecuaristas que já usam parte
da fazenda para o plantio de culturas, e possuem uma estrutura de máquinas
e equipamentos. Obviamente, a cultura a ser utilizada dependerá do tipo de
solo, objetivos do produtor e mercado para o produto.
Após a colheita da cultura de verão, as áreas da fazenda podem ser
usadas com pastagens anuais, como aveia e milheto. Nesses casos,
dependendo da época de plantio e das condições climáticas, podem-se
obter produções de 3 a 6 arrobas de carne/ha em pastejo, ou feno ou
silagem.
A recuperação ou renovação podem, ainda, serem feitas com o uso
de culturas anuais por quatro ou cinco anos. Esse é um sistema em geral
adotado por pecuaristas que arrendam a área para terceiros, por não terem
infra-estrutura ou condições de praticarem a agricultura por si próprios.
O arrendatário utiliza a área para as culturas anuais, arcando com os
custos de correção das deficiências nutricionais do solo, conservação etc.,
devolvendo a área com pastagem recuperada ou renovada após o período
acertado de uso.
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
223
3.1.4 Recuperação e renovação de pastagens em degradação com
plantio direto de soja
Essa é uma tecnologia para recuperação ou renovação de pastagens
em degradação, que apresentem ainda boa cobertura do solo, mas com
claros sintomas de deficiência de nutrientes. É uma tecnologia para ser
usada tanto para renovação ou recuperação a curto, médio ou longo
prazos.
A pastagem oferece excelente cobertura do solo para o plantio
direto, com palha de boa qualidade. Fazendo-se a rotação da soja com o
pasto (dois a três anos de soja, dois a três anos de pasto) obtêm-se outros
benefícios para a cultura da soja e pasto, tais como a diminuição de plantas
invasoras, quebra do ciclo de pragas e doenças da soja (tais como cancroda-haste e murchas), e de nematóides, tanto da galha quanto do cisto, e
aumento da produtividade.
Para o plantio convencional da soja, o produtor teria um custo maior
em máquinas e equipamentos do que para o plantio direto. A
operacionalização do sistema é bem mais simples, usando-se apenas um
pulverizador, uma plantadeira adequada para plantio direto e herbicidas
dessecantes apropriados.
Para o pecuarista, o sistema permite renovar ou recuperar a
pastagem em dois ou três anos, melhorando-se os níveis de nutrientes no
solo por meio das adubações feitas para a soja.
Para se obter sucesso no uso desta tecnologia, são necessárias
algumas condições, quais sejam:
1) a pastagem não deve estar completamente degradada. Pode
apresentar, por outro lado, limitações químicas, com baixos teores
disponíveis de nutrientes essenciais;
2) a pastagem deve estar com boa cobertura de palha, distribuída de
forma uniforme, para facilitar o dessecamento químico com herbicidas.
Não deve estar subpastejada (com grande quantidade de palhada) e
nem superpastejada (rapada). Igualmente, para que não haja enterrio
mais profundo da semente em áreas desnudas e superficial em áreas de
maior densidade de palha, o ideal é se ter uma palhada de 20 cm a 30
cm de altura, no caso de braquiárias e panicum;
224 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
3) baixa incidência de plantas invasoras de difícil eliminação com
herbicidas, tais como rebrote de cerrado;
4) áreas sem tocos, raízes, troncos, galhos, pedras, erosão etc. A área não
deve apresentar impedimentos mecânicos para as operações de plantio
e colheita;
5) época de aplicação do herbicida e sua dosagem: o herbicida deve ser
aplicado quando a pastagem se encontra em crescimento ativo, nos
meses de outubro ou novembro, em média 21 dias antes do plantio da
soja. Devem ser usados 1.260 a 1.440 g/ha do princípio ativo
Gliphosate para B. decumbens, B. brizantha e P. maximum cv.
Tanzânia;
6) a variedade da soja a ser usada deve ser de ciclo precoce a médio, que
proporcione boa cobertura do solo;
7) o plantio deve ser feito respeitando-se a época recomendada para cada
cultivar na região, com a pastagem devidamente dessecada, usando-se
uma semeadeira adequada para plantio direto. Recomenda-se observar
a profundidade de semeadura para a cultura, aumentando-se a
quantidade de semente em 15% a 20%, para proporcionar bom
estande da cultura da soja, cobrindo bem o solo, para reduzir a
germinação e rebrote da forrageira;
8) manejo pós-colheita: se o objetivo for o de trocar a espécie forrageira
em uso na área, caso esta seja braquiária, devem-se controlar as
plantas remanescentes após a colheita da soja, e plantar uma pastagem
anual, aveia ou milheto, para ser utilizada por animais no outono e
inverno. Repetir esta operação por dois ou três anos e implantar a nova
espécie de forragem. Se o objetivo for somente recuperar a pastagem,
após a colheita da soja (março ou abril), planta-se a forrageira anual
(aveia ou milheto), e, entre outubro e janeiro, planta-se novamente a
mesma forrageira.
Um exemplo dos custos de um estudo comparativo entre a
renovação de uma pastagem de B. brizantha pelo uso de plantio da soja
pelo sistema de plantio convencional ou direto é apresentado na Tabela 7.
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
225
Tabela 7 - Custos e receitas comparativas da renovação de uma área de
Brachiaria brizantha através do plantio convencional ou
direto da cultura de soja
Insumos e operações mecânicas
Sementes
Adubos
Herbicidas
Tratamento de sementes
Inseticidas
Máquinas
Colheita
Custo total
Produtividade da soja (sacas /ha)
Receita total (US$/ha)
Receita líquida (US$/ha)
Custos (US$/ha)
Plantio convencional
Plantio direto
34.75
42.62
104.92
109.25
11.33
126.34
4.30
3.40
26.50
21.68
177.26
39.17
24.22
22.74
383.28
365.20
58.90
523.03
139.75
60.60
538.12
172.92
226 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
4. PRODUTIVIDADE DOS REBANHOS
Os índices de desempenho zootécnico médio do rebanho brasileiro
são muito baixos, mas muitos sistemas de produção apresentam índices de
satisfatórios a bons, como pode ser visto na Tabela 8.
Tabela 8 - Índices zootécnicos médios do rebanho dos Cerrados e em
sistemas tecnológicos mais evoluídos
Média
Brasileira
*Sistema
Melhorado
*Sistema com
Tecnologia
evoluída
*Sistema otimizado
(integração
agricultura-pecuária)
60%
70%
80%
85%
8%
6%
4%
2,7%
54%
65%
75%
80%
4%
3%
2%
1%
4 anos
3-4 anos
2-3 anos
2 anos
Intervalo entre partos
21 meses
18 meses
14 meses
12 meses
Idade de abate
4,0 anos
3,0 anos
2,5 anos
1,5 anos
Taxa de abate
17%
20%
22%
40%
200kg
220 kg
230 kg
230 kg
53%
54%
55%
55%
0,9 an./ha
1,2 an./ha
1,6 an./ha
3,0 an/ha
Índices
Natalidade
Mortalidade
até
a
desmama
Taxa de desmama
Mortalidade
pós
desmama
Idade da 1a cria
Peso da carcaça
Rendimento da carcaça
Lotação
Fontes: *Estimativa observada junto a produtores e experimentos em andamento.
Cabe ressaltar que os baixos índices da média dos Cerrados incluem
um grande número de produtores que apresentam índices inferiores a esses
e que são resultantes principalmente, do inadequado manejo das pastagens
e dos rebanhos. Adicionalmente, verificam-se a não reposição de nutrientes
nas pastagens e falta de controles no rebanho e gerenciamento geral da
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
227
propriedade. Isso tem se agravado nos últimos anos, uma vez que a
demanda por eficiência requer investimentos, os quais aumentam o risco.
A produção média no Brasil é de 30 kg/ha/ano de carne, mas essa
pode ser duplicada ou mesmo triplicada com certa facilidade pela adoção
de tecnologias já disponíveis como:
- Melhoria no manejo de pastagens;
- Subdivisão de pastagens;
- Recuperação e adubação de manutenação das pastagens;
- Suplementação alimentar nos períodos críticos;
- Exame reprodutivo de vacas e touros;
- Melhoramento genético dos animais;
- Vacinações e melhoria nos controles sanitários.
- Ajuste do binômio genótipo-ambiente.
Na Tabela 9 pode-se verificar a situação média do rebanho nacional
com 30,6 kg/ha/ano de carne. As demais são simulações do que ocorre a
nível de propriedades com índices de produtividade melhorados.
Tabela 9 - Efeito de mudanças na taxa de lotação de pastagens e sua
combinação com variações na taxa de desfrute e no peso de
carcaça sobre a produtividade de carne por ha
Lotação
an./ha
Taxa de
desfrute
(%)
Peso de
carcaça
(kg)
1 – Média Nacional
0,9
17
200
31
2 – Pastagem Melhorada
1,5
17
200
51
3 – Pastagem Intensiva
2,0
17
200
68
4 – 3 + Suplementos
2,0
20
220
88
5 – 4 + Confinamento
2,0
25
230
115
6 – 5 + Integração Agropecuária
3,0
40
230
230
Sistemas
Produção
de carne
(kg/ha/ano)
O sistema 2 representa uma pastagem recuperada periodicamente.
Verifica-se que o aumento de 60% na lotação possibilitaria produção de 51
228 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
kg/ha, ou seja, aproximadamente 61% maior que a média. Já o sistema 3
com uso mais intensivo de fertilizantes, como adubação de manutenção e
aplicação de nitrogênio e parte com leguminosas dobraria a produção de
carne por ha. Os sistemas 4 e 5 usariam suplementação alimentar sendo
que no 5 os animais seriam terminados em confinamento..
Os dados do sistema 6 foram obtidos na Agropecuária Ribeirão
Ltda., localizada no município de Chapadão do Sul, MS, ao norte do
Estado. Nessa propriedade, a pecuária é explorada de forma intensiva,
com uso de pastagem de boa qualidade, cruzamento industrial, "creep
feeding", suplementação, semiconfinamento e confinamento, com o uso de
pastagem de milheto no outono-inverno. São obtidas produtividades de
300 kg de peso vivo na cria e 600 kg de peso vivo na recria e engorda dos
animais, com uma média de 230 kg de carne/ha/ano, o que representa
100% a mais do que no sistema 5, que não usa o sistema de integração de
produção de grãos com a produção de carne. A receita líquida média da
fazenda é de 180 a 200 R$/ha/ano com a pecuária, e de 90 a 100
R$/ha/ano com a agricultura.
Segundo Cezar & Euclides Filho (1996) somente a redução de
idade de abate de 3,5 anos para 2 anos implica num aumento no desfrute
de 18% para 25% e na proporção de carne por ha de 48 kg/ha para 68
kg/ha, considerando uma taxa de desmama de 64%.
É importante ressaltar que apenas uma pequena proporção do
rebanho de corte está em áreas de pastagens com razoável reposição de
nutrientes. Uma proporção menor ainda recebe alguma suplementação
alimentar para terminação. No ano de 1996, segundo o ANUALPEC-97,
foram confinados no Brasil 1.435.000 animais, semiconfinados 988.000 e
terminados em pastagens de inverno 655.000 animais, perfazendo um total
de 3.075.000 cabeças. Os animais confinados corresponderam a 5,3% do
abate e o total terminado em melhores condições representou 11% do
abate. Verifica-se portanto que cerca de 90% dos animais abatidos são
criados exclusivamente em pasto ou com uma pequena suplementação em
períodos críticos, com idade de abate entre 36 e 50 meses.
Um dos maiores entraves da pecuária de corte, vista ainda com
maior intensidade na produção de novilho precoce, é o fornecimento de
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
229
alimentação de boa qualidade e quantidade, durante todo o desenvolvimento do
animal. Quando a pastagem estiver com qualidade insuficiente para proporcionar um
ganho de peso, deve-se fornecer aos animais um suplemento que complemente as
deficiências da pastagem. Na fase de acabamento dos animais, quando necessário, podese utilizar o confinamento ou semiconfinamento, devendo ser usados, preferencialmente,
alimentos produzidos na fazenda, tais como silagem, feno, grãos ou resíduos de grãos, ou
resíduos de agroindústrias, sempre levando-se em consideração a relação custo-benefício.
Como pode ser observado na Figura 1, para o abate de novilho aos 24 meses, será
necessário que o mesmo obtenha um ganho de peso vivo médio na ordem de 620 g/dia,
do nascimento ao abate. Considerando-se a produção de animais cruzados, de melhor
potencial genético, isso corresponde a apenas 54% do que poderia ser obtido por tais
animais aos 12 meses, com ganho de 1.150 g de peso vivo/dia. Por outro lado,
produções deste nível nem sempre têm retorno econômico.
A tendência da pecuária de corte é trilhar os mesmos caminhos da
avicultura e suinocultura, ou seja, a redução da idade de abate, com
prioridade ao binômio alimentação e genética. Objetiva-se, com isso,
aumento da produtividade e qualidade de carne com redução dos custos de
produção, respeitando o potencial produtivo de cada propriedade ou
sistemas de exploração.
55
Bov
36 m
50
40
meses
35
Bov
12 m
30
25
Frango
20
Suíno
5 m
10
29%
37%
Bov
18 m
54%
72%
81%
42 d
15
Bov
15 m
Tardio
48 m
33%
Bov
24 m
45
Atual
42 m
100%
100%
5
100%
0
g/dia
kg
55
2,3
600
95
1150
445
930
450
830
455
620
460
420
480
370
490
330
505
ganhos de peso vivo
Figura 1 - Eficiência de produção da pecuária de corte em diferentes
sistemas de produção.
230 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Comunicação, 1997., 329p.
BARCELLOS, A. de O. Sistemas extensivos e semi-intensivos de produção:
pecuária bovina de corte nos Cerrados. In: SIMPÓSIO SOBRE O
CERRADO, 8.; INTERNATIONAL SYMPOSIUM ON TROPICAL
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I Simpósio de Produção de Gado de Corte
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EMPREGO DE ANABOLIZANTES E USO DE
CASTRAÇÃO
Teófilo José Pimentel da Silva, Ph D
Prof. Adj. Fac. Veter. UFF e Tit. Apos. Esc. Veter. UFMG
INTRODUÇÃO
No início da década de 70, a produção mundial de alimentos
aumentava numa taxa anual de 2,8%, enquanto que a taxa de crescimento
populacional era de 2,6%. Desde então, as reservas mundiais de grãos têm
declinado continuamente. Por sua vez, na alimentação humana os vegetais
são responsáveis por 70% das proteínas e os animais suprem apenas 30%,
necessitando ainda da proteína vegetal para sua produção. Depara-se assim
com um grande desafio: a descoberta de substâncias que possam
incrementar a produção animal. Inegáveis são os benefícios do uso de
drogas na produção de animais destinados ao abate, quer no tratamento
terapêutico, antibacteriano ou promotor de crescimento (Silva, 1999).
Em relação ao uso de promotores de crescimento, existem três
diferentes mecanismos pelos quais podem-se afetar a taxa de crescimento.
O primeiro método é baseado no aumento do nível de hormônio de
crescimento pela administração de estrógenos. O segundo é o efeito direto
na taxa de crescimento muscular produzido pela administração de
andrógenos. E finalmente, um terceiro método se faz alterando a flora
ruminal mediante a utilização de antibióticos (Roche e Quirke, 1983). Do
ponto de vista econômico, as diferentes técnicas de administração e
utilização de diversos medicamentos em distintos países têm induzido a
formação de barreiras entre nações. No entanto, sabe-se hoje que cerca de
80% de todos os animais criados com objetivos alimentares recebem
medicamentos em parte ou na maioria de suas vidas.
Anabolizantes são substâncias que aumentam o anabolismo, isto é, a
retenção de nutrientes fornecidos pela alimentação. Assim, pode-se dizer
que os anabolizantes são substâncias com capacidade de incrementar a
236 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
retenção de nitrogênio fornecido pela alimentação, aumentando o teor de
proteínas nos animais (FAO/OMS, 1975).
Por outro lado, um dos problemas de manejo mais controvertidos na
pecuária de corte no Brasil é a castração dos machos. Enquanto os
pecuaristas da Argentina, Austrália, Canadá e Estados Unidos da América
têm como prática a castração de seus bovinos, pois os frigoríficos não
compram animais inteiros, mas em compensação a legislação desses países
permitem o emprego de anabolizantes, compensando assim o menor ganho
de peso dos castrados em relação aos inteiros.
CLASSIFICAÇÃO DOS ANABOLIZANTES
Castelli (1989) classifica os anabolizantes quanto:
a) Origem:
- Endógenos ou naturais: são esteróides sexuais presentes tanto no
organismo animal quanto no homem (17 ß - estradiol, testosterona e
progesterona);
- Exógenos ou sintéticos: são esteróides ou substâncias não esteróides
obtidas através da síntese ou derivados de micotoxinas, denominados
xenobióticos, ausentes do organismo humano ou animal, mas com efeitos
estimuladores do crescimento (acetato de trembolona, zeranol, acetato de
melengestrol).
b) Atividade biológica:
- Estrogênicos: 17 ß - estradiol, zeranol, DES*
- Androgênicos: testosterona, acetato de trembolona;
- Progestágenos: progesterona, acetato de melengestrol.
*Dietilestilbestrol é um semi-sintético do grupo dos Estilbenes (DES,
Hexestrol, Dienestrol) comprovadamente mutagênico, carcinogênico e
banido para produção de carne.
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
237
MODO DE AÇÃO DOS AGENTES ANABÓLICOS
Os anabolizantes são aplicados por via subcutânea - através de
implante na face posterior da orelha - entre a pele e a cartilagem. Esses
agentes são absorvidos lentamente, passando para a corrente circulatória e
ali permanecendo durante todo o período de ação para os quais foram
concebidos. Estes agentes exercem grande influência no metabolismo do
nitrogênio e, mais concretamente, na síntese protéica (Trenkle, 1975, e
Wall, 1975). Com isso no aumento de peso do animal tratado e em uma
melhor conversão alimentar.
O efeito anabólico é confirmado pela observação tanto de uma
diminuição na concentração da uréia eliminada do organismo como no
aumento do nível dos aminoácidos circulantes. A redução da excreção da
uréia e do total de nitrogênio na urina, observada em animais tratados,
resulta de uma maior retenção do nitrogênio pelo organismo, determinando
a maior eficiência no ganho de peso (Preston, et al., 1965).
ALGUNS RESULTADOS DO EFEITO DOS ANABOLIZANTES
NA PRODUTIVIDADE PECUÁRIA
Os resultados advindos do uso dos anabolizantes, utilizados dentro
das normas técnicas, têm demonstrado serem os mesmos uma ferramenta
tecnológica de valor inestimável para o produtor de carne bovina. Os dados
que se seguem procuram exemplificar essa assertiva, isto é, a relevância
desse uso para o pecuarista que busca um melhor desempenho zootécnico
e de uma maior rentabilidade operacional (Neto et al., 1994).
- Estradiol 17-beta:
A ação do estradiol implantado sob sistema de liberação controlada
produz, segundo as pesquisas apresentadas por Wagner (1983), um
aumento de peso diário de bovinos castrados da ordem de 5 a 24% (média
de 13% ou 26Kg) em comparação com os lotes controles, realizados no
Reino Unido.
Por outro lado, experimentos realizados na América Latina,
(Wagner, 1983), demonstram que a ação do estradiol 17-beta de liberação
238 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
lenta produziu um incremento médio de 16% no ganho de peso de bovinos
castrados implantados em relação a aqueles do lote controle, isto é, em
uma média adicional de 22 Kg de peso vivo.
- Progesterona:
O efeito anabolizante da progesterona é economicamente viável
apenas quando de sua associação com o estradiol, sendo esta forma
comercialmente usada. Sua atuação proporciona ganho de peso em machos
- principalmente em novilhos a partir de 200Kg - com resultados variáveis
como os demais promotores de crescimento, em função da disponibilidade
e da qualidade da dieta.
- Testosterona:
Tanto quanto a progesterona, o uso eficiente da testosterona tem sido
observado apenas quando de sua combinação com promotores de
crescimento de atividade estrogênica, sendo o estradiol a forma comercial
em que a mesma está combinada.
- Acetato de Trembolona (TBA):
O acetato de trembolona é um análogo da testosterona, com uma
atividade de 10 a 50 vezes maior, sendo utilizado isolado ou combinado
com composto de atividade estrogênica, em fêmeas, machos inteiros ou
castrados (Neumann, 1975).
Os andrógenos exercem sua ação diretamente a nível celular, atuando
sobre receptores celulares específicos, ligados à síntese de RNA,
influenciando dessa forma a síntese protéica.
O acetato de trembolona, segundo Best (1972) produziu, em vacas
em regime de pastejo, um aumento no ganho de peso diário de 38%.
- Zeranol:
O zeranol é um agente obtido a partir da fermentação de uma espécie
selecionada de fungo, a Gibberella zeae. Quimicamente o zeranol não é um
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
239
esteróide, tratando-se de um derivado da lactona do ácido resorcílico, com
propriedades estrogênicas e anabólicas.
Hall (1977) comparou o ganho de peso e a conversão alimentar de
um total de 1577 ruminantes (bovinos e ovinos), de diversas categorias e
sob diversos regimes alimentares. O ganho médio encontrado com o uso do
zeranol variou de 0,8 a 27% no relativo ao ganho de peso e de 9,08% no
tocante à conversão alimentar.
Trabalhos realizados no Canadá (Brown, 1983), constatou que
bovinos (novilhos) sob regime de pastejo e implantados com zeranol
obtiveram em média 19,5Kg a mais do que os animais do grupo controle;
esses dados foram consistentes com outros por ele encontrados em
trabalhos conduzidos no México (35,33%) e Colômbia (10,50%).
No Brasil, Alves et al. (1982) verificaram efeito relevante após o
implante de zeranol em bovinos da raça Nelore sob regime de pastejo; o
experimento foi conduzido na época da seca e o ganho médio diário foi de
0,56Kg (zeranol) e 0,46Kg (controle).
Mazza et al. (1985), desenvolveram um extenso trabalho na Estação
Experimental de Andradina, SP, empregando um total de 48 bezerros,
mantidos em pastagem de capim colonião durante 210 dias. Os autores
constataram um aumento de peso de 9,39%, 11,94% e 20,37% em relação
aos animais do grupo controle após aplicação de um implante, dois
implantes e três implantes, respectivamente.
Sampaio et al. (1985), efetuaram pesquisa buscando constatar o
efeito do zeranol em bezerros; observaram que os animais implantados
obtiveram após 91 dias um ganho de peso médio de 721 g/dia, isto é, 100
g superior aos não implantados (621 g/dia).
Vieira et al. (1985), avaliando o efeito do zeranol em 30 bovinos
machos inteiros confinados, com idade média de 14,2 meses e com peso
de 262 kg, mostraram que os animais implantados com 36 mg de zeranol
tiveram um peso da ordem de 10,9% superior a aquele do lote controle.
Em outro trabalho, Pereira et al. (1985), usando novilhos implantados com
zeranol (2 e 3 implantes), verificaram ganho de peso médio diário de 0,610
kg e 0,590 kg, respectivamente, em relação ao controle, que obteve 0,515
kg.
240 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
Velloso e Pereira (1985), utilizando bovinos sob regime de pastejo
em período chuvoso, relataram que o implante com zeranol produziu o
seguinte ganho de peso/cabeça/dia: 0,757 kg para animais implantados uma
única vez e 0,804 kg para os animais que receberam dois implantes. O
resultado destes dois tratamentos diferiu daquele obtido nos animais do
grupo controle de 0,645 kg (p < 0,01).
Ferreira et al. (1989), em um experimento realizado em Minas
Gerais, utilizaram 40 novilhos castrados e submetidos a um implante com
zeranol (36 mg). Os resultados demonstraram um ganho médio diário de
1,22 kg (zeranol) e 1,09 kg (controle).
- Associação de Agentes Anabolizantes:
São comuns as associações de anabolizantes androgênicos e
estrogênicos. Comercialmente, são disponíveis as associações do estradiol
17-beta com progesterona, com testosterona e com acetato de trembolona
e, deste último com zeranol. A documentação científica relativa a esse
procedimento é farta quanto ao incremento na produtividade obtido com o
uso das mesmas, em relação àquele obtido após o uso isolado de
anabolizantes.
Bouffaut e Willermant (1982) reuniram os resultados de 11
experimentos, obtidos com o uso da combinação TBA (140 mg) + zeranol
(36 mg) em bezerros. O ganho de peso diário revelou um aumento médio
de 10%.
Em bovinos tratados com uma associação de progesterona (200 mg)
e estradiol (20 mg), Roche e Hart (1984), encontraram um ganho de peso
diário 46% superior ao observado no grupo controle. Resultados mais
modestos (na faixa de 10 a 25%) foram constatados por Roche e Quirk
(1984).
Em gado confinado, o uso de bensonato de estradiol (20 mg)
associado à progesterona (200 mg) resultou tanto em melhora no ganho de
peso diário, quanto na eficiência alimentar. Um aumento ponderal extra, de
10 a 15 kg, tem sido relatado em animais implantados. Com essa
associação um resumo de algumas pesquisas indicou melhoria de 17,3% em
ganho ponderal diário. Este resultado foi obtido a partir do resumo de 48
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
241
ensaios envolvendo novilhos confinados e implantados, em comparação a
controles não implantados. Concomitantemente, foi observada uma
melhoria de 9,4% na eficiência alimentar dos animais implantados.
Em gado mantido no pasto, os implantes melhoraram o ganho diário
médio que atinge uma taxa de 23,4%. As melhoras típicas observadas
variam em torno de 12 a 20 kg/dia sobre o ganho ponderal de animais não
implantados; esse fato representou em cerca de 12 a 20 kg adicionais de
carne em 100 dias.
O emprego da associação do bensoato de estradiol e testosterona
(BET) em fêmeas, onde seu uso é recomendado, tem proporcionado um
aumento no ganho diário de peso de 10 e 15% (Roche e Quirk, 1984).
IMPACTO ECONÔMICO
ANABOLIZANTES
EM
FUNÇÃO
DO
USO
DE
É dado pelo incremento na produtividade de animais tratados com os
promotores de crescimento com atividade anabólica e, por conseqüência,
pela diluição dos custos operacionais.
Com base na literatura científica, estima-se que o ganho de peso
incremental a partir do uso de anabolizantes seguros, utilizados dentro das
boas práticas agropecuárias, possa atingir pelo menos US$ 4,7 por
implante ou US$ 0,31/arroba, segundo dados fornecidos pelo SINDIPEC
(1992).
Da mesma forma, a estimativa de ganho de peso incremental com o
uso de anabolizantes, haveria uma produção adicional de `108.600
toneladas de carne bovina, a partir de um rebanho de 132 milhões de
cabeças (SINDIPEC, 1992). Os animais implantados necessitam menor
quantidade de ração para produzir 1 kg de carne; isto é, tem melhor
eficiência na utilização da forragem consumida, tornando-se possível a
produção de mais carne por hectare de terra.
CONCLUSÃO
Acredita-se que o longo período de divergência, quando sucederamse regulamentações que proibiram e permitiram o uso de anabolizantes para
242 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
a produção de carne no Brasil se deveu, entre outras políticas, à falta de
uma legislação criteriosa embasada científica e tecnicamente sobre o
controle do uso e o monitoramento desses produtos, como fizeram os
países maiores exportadores de carne bovina (Austrália e Argentina).
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244 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
ASPECTOS DA PRODUÇÃO DE CARNE E AS
TENDÊNCIAS DO MERCADO NACIONAL
Sergio De Zen
Mestre em Economia Aplicada , Pesquisador do CEPEA/ESALQ/USP
AGENTES DO S ISTEMA AGROINDUSTRIAL :
A cadeia produtiva da carne bovina para fins de análise pode ser
divida em três grupos de análise. A produção do animal, o abate e o
processamento da carne e a distribuição e o varejo. As três etapas têm
um peso relativamente semelhante no processo produtivo, sendo
diretamente responsáveis pelo preço e pela qualidade do produto final.
Esta análise será feita de maneira a estudar cada uma das etapas
apontando os pontos positivos e negativos do processo.
Este trabalho tem a finalidade de estudar o processo produtivo de
carne bovina no Brasil. Dessa forma constribuir para a elucidação dos
problemas básicos que fazem dessa atividade uma das mais complexas
do conplexo agroindustrial do país.
PRODUÇÃO
Evolução da Produção
A produção de carne está dispersa por praticamente todo o
território nacional, mas a maior concentração está na região centro-sul
246
- I Simpósio de Produção de Gado de Corte
do País. Os estados de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Goiás
dispõem dos maiores rebanhos, concentrando cerca de 38% do rebanho
nacional. A alteração dessa distribuição é difícil e lenta, pouco se
modificou nos últimos, anos, exceção a programas específcos, como
por exemplo, o Proálcool implementado no final dos anos 70, e a
explosão da cultura da laranja nos anos 80, que ocupou vastas áreas de
pastagens no estado de São Paulo, deslocando a pecuária para o centrooeste.
A característica básica da pecuária de corte sempre foi a
ocupação de novas áreas, ou seja da expansão das fronteiras agrícolas e
esse papel que foi um fator de destaque positivo até meados dos anos
80, passou a ser preocupante com a crescente preocupação mundial,
em relação à ecologia. A comunidade internacional passou a observar
os problemas como o desmatamento da região Amazonica gerando
uma fonte intensa de pressão em relação à produção de carne no Brasil.
Alguns exemplos disso são campanhas feitas em alguns países
contra a entra de carne brasileira com o argumento de que essa carne
era fruto do desmatamento da Amazonia, ou ainda com a proibição de
utilização da carne produzida dentro da Amazonia Legal por parte de
empresas européias e norte-americanas.
Trata-se de um bom
argumento para a mostrar que a expansão da pecuária via ocupação de
novas regiões esta em fase de esgotamento. A nova realidade exige um
sistema cuja prioridade é produtividade.
A distribuição dos animais por todos os estados da federação
demonstra que a produção não está restrita a uma região ou estado.
Também deixa claro que a pecuária de corte não sofre restrições
climáticas importantes em nenhuma região do país.
A produção de carne está totalmente ligada à produção de
alimentos para os animais. No Brasil, até há algumas décadas, as
pastagens não eram tratadas como culturas do ponto de vista
agronômico e, portanto, recebiam poucos cuidados em termos de
formação e manejo. A forma de tratar as pastagens começou a se
modificar na década de 70 e ganhou força nos últimos anos. Foram
realizados muitos estudos no sentido de definir as melhores pastagens
para cada região, e a melhor forma de manejo.
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
- 247
Atualmente, cerca de 34% das pastagens da região centro-oeste
do Brasil são formadas de acordo com critérios de manejo adequados,
ou seja, recebem corretivos e adubação. Para se ter uma idéia do
potencial de crescimento da produção na pecuária de corte, basta
observar que um hectare de pastagem nativa produz 8,8 kg de carne
por ano, ao passo que um hectare de pastagem cultivada, e com
manejo mínimo, pode produzir cerca de 16,5 Kg de carne por ano,
mantendo-se as mesmas condições dos animais.
No Brasil, a produção de capim, ou seja, a evolução da produção
de alimentos dos animais, seguiu sempre o caminho da extração. Toda
vez que se enfrentava dificuldades em relação ao capim em uso,
buscava-se uma espécie mais resistente. Somente nos anos 90, com o
aumento do preço da terra, a escassez de novas áreas de expansão, é
que começam a ser valorizadas as técnicas de manejo das pastagens,
procedimento em que pouco se havia evoluído até então.
Evolução Tecnológica
O Brasil em termos de produtividade do rebanho pecuário possui
médias pouco animadoras. O quadro abaixo demonstra esta situação.
Parâmetros de Produtividade da Pecuária de Corte Nacional
Natalidade
idade da 1ª parição
idade de abate
Mortalidade até 4 anos
Desfrute
Cabeças por hectare ano
Carcaça / ha / ano
Kg de carne / cabeça existente/ano
Kg / cabeça / ano
58%
48 meses
48 meses
15 %
13 %
0,8
13 kg
23,4
13,0 Kg
Fonte: Pedrosa. in Bovinocultura de Corte
Deste quadro é importante destacar que a taxa de natalidade de
58 % é muito baixa, pois isso significa que de 100 vacas mantidas no
248
- I Simpósio de Produção de Gado de Corte
pasto apenas 58 vão gerar um bezerro. Além disso, o prazo para que
uma vaca gere um bezerro é de 4 anos, fazendo com que a atividade de
cria torne-se bem pouco atrativa, ficando com as piores terras. Outro
dado alarmante é o prazo médio de abate, estimado em 4 anos. Este
prazo é demasiadamente longo, considerando que em determinados
casos no país é possível encontrar produtores que abatem o mesmo
animal em 3 anos. Claro que é necessário lembrar que o processo
produtivo é muito heterogêneo, onde eficientes produtores convivem
com o atraso de outros.
Desfrute significa o número de animais abatidos dividido pelo
tamanho do rebanho. No Brasil era de 13 % em 1993. Dados do
GATT, de 1989, dão conta de que nos EUA estes valores são de 32 %
e na Argentina em torno de 24,2 %. Os dados de lotação também são
insatisfatórios. A média de 0,6 cabeça por hectare caracteriza a
pecuária nacional como dependente de grandes áreas de pastagens.
A melhoria dessa situação depende da assimilação de novas
técnicas de manejo por parte dos produtores. Segundo trabalhos de
pesquisa e relatos de produtores mais tecnificados, a lotação pode ser
duplicada, a idade de abate reduzida à metade e a taxa de natalidade
elevada para níveis superiores a 70 %. O meio de atingir esses níveis
de produtividade é a adoção de métodos já bastante difundidos de
manejo dos animais e das pastagens, ou seja, a atividade tem que
deixar de ser extrativista e passar a ser profissionalizada.
Custos e a Nova realidade
A pecuária de corte depois da estabilização da economia passou
a viver um novo momento. O investimento em animais com a
finalidade de obter rendimentos com a valorização dos mesmos deixou
de ser um negócio atrativo. No decorrer da década de 70 e até a metade
dos anos 80, o diferencial entre os preços da safra e entressafra
chegaram a cerca de 40% do valor.
Na segunda metade dos anos 80, os seguidos planos econômicos
quebraram as estruturas dos preços e as oscilações foram muito
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
- 249
violentas. O investimento em boi passou a ser visto sob a ótica da
segurança frente ao difícil quadro de insegurança e incerteza.
Na segunda metade dos anos 90, com o processo de estabilização
da economia, os preços deixaram de apresentar grandes oscilações e os
rendimentos expeculativos na atividade deixaram de ser atrativos. As
margens dos produtores reduziram muito. Nos gráficos a seguir estão
apresentados tres situações de produção em relação ao custo.
A relação entre os preços recebidos pela arroba de boi e os custos
de produção oferecem um quadro da situação que da atividade. A
pecuária de corte oferece uma diversidade muito grande em termos de
sistemas de produção. Coexistindo sistemas extremamente obsoletos e
sistemas evoluídos de produção. Na sequência estão apresentadas três
situações de produção e seus respectivos custos teóricos (é importante
ressaltar que os custos têm um amplo universo de variação).
Gráfico 1: Preços da arroba do Boi Gordo em São Paulo lot. 0,33 U.A/ha
120
US$/arroba
100
80
60
40
custo total
20
custo variável
Ja
n/8
0
De
z/8
0
No
v/8
1
Ou
t/8
2
Se
t/8
3
Ag
o/8
4
Ju
l/85
Ju
n/8
6
M
ai/
87
Ab
r/8
8
M
ar/
89
Fe
v/9
0
Ja
n/9
1
De
z/9
1
No
v/9
2
Ou
t/9
3
Se
t/94
Ag
o/9
5
Ju
l/9
6
Ju
n/9
7
M
ai/
98
0
fonte:CEPEA/ESALQ/USP
Neste gráfico temos um produtor de baixissímo nível, com uma
produtividade pequena e pouca aplicação na atividade. Esse produtor
sobreviveu com certa facilidade ao longo dos anos 70 e 80, mas perdeu
competitividade nos anos 90. Considerando os custos variáveis como
250
- I Simpósio de Produção de Gado de Corte
sendo aqueles que ele terá de dispor ao longo de um ano e os custos
totais como sendo os gastos que ele tem que fazer ao longo de anos. Na
atualidade, esses produtores têm os seus dias contados, pois não são
capazes de repor aquilo que tem perdido.
Gráfico 2: Preços da arroba de boi gordo lot. 0,46 U.A.
120
100
80
60
40
20
custo total
0
Ja
n/8
0
De
z/8
0
No
v/8
1
Ou
t/8
2
Se
t/8
3
Ag
o/8
4
Ju
l/8
5
Ju
n/8
6
M
ai/
87
Ab
r/8
8
M
ar
/89
Fe
v/9
0
Ja
n/9
1
De
z/9
1
No
v/9
2
Ou
t/9
3
Se
t/9
4
Ag
o/9
5
Ju
l/9
6
Ju
n/9
7
M
ai/
98
custo variáve l
fonte:CEPEA/ESALQ/USP
Gráfico 3: Preços da arroba de boi gordo
lot. 0,81 UA/ha
120
80
60
40
custo total
20
Jan/99
Jan/98
Jan/97
Jan/96
Jan/95
Jan/94
Jan/93
Jan/92
Jan/91
Jan/90
Jan/89
Jan/88
Jan/86
Jan/85
Jan/84
Jan/83
Jan/82
Jan/81
fonte:CEPEA/ESALQ/USP
Jan/87
custo variável
0
Jan/80
US$/arroba
100
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
- 251
Nos outros dois casos, os níveis de produtividade modificam a
capacidade do produtor de se manter na atividade, pois na medida que
o diluem e racionalizam os seus custos os produtores tornam -se mais
competitivos.
O produtor é um tomador de preços, ou seja, o mercado
determina os preços através da oferta e da demanda. Neste mercado
que freqüentemente é utilizado como exemplo de concorrencial. O
produtor tem que estar muito atento para o fator custo que está sob seu
controle, e é onde pode agir com tranqüilidade.
FRIGORÍFICOS
Nos últimos 20 anos, as empresas ligadas ao setor de carne
iniciaram um processo de deslocamento do abate em direção às regiões
de produção. No início da década de 70 existiam 5 unidades de abate
cadastradas no Serviço de Inspeção Federal -SIF localizadas na região
da Grande São Paulo. Em 1995, praticamente todas as unidades de
abate dessa região estavam desativadas. A Grande São Paulo, no
entanto, ainda conserva um grande número de entrepostos que recebem
as carcaças do interior do estado e de outros estados e fazem a desossa
ou a industrialização da carne.
Com relação ao parque industrial de abate paulista, é interessante
notar que o seu crescimento em termos de empresas é muito grande,
cerca de 245 %. Passando de 22 para 76 empresas cadastradas no SIF,
durante o período de 1963 a 1995. Outro fato que chama a atenção é
com relação à distribuição das empresas dentro do estado. A Grande
São Paulo deixou de ter grande importância em termos de abate. As
quatro empresas cadastradas no SIF Cotia, Itapevi, Frigor Eder,
Bordon deixaram de abater. Algumas passaram a fazer trabalhos de
desossa e industrialização, transferindo o abate para outras regiões.
A região da Grande São Paulo se notabiliza por concentrar muito
estabelecimentos de desossa e distribuição de carne. Nos registro do
SIF de 1994, existem 79 empresas cadastradas como aptas a fazerem
desossas, das quais apenas 11 estão fora da Grande São Paulo. Existem
ainda 19 cadastradas como entrepostos de carne.
A capacidade de abate das unidades da federação evoluiu no
sentido de acompanhar a produção. O estado de São Paulo que em
252
- I Simpósio de Produção de Gado de Corte
1970 era responsável por 34,5% do abate viu sua participação cair até
o nível de 23% em 1990. Em 1994 o estado foi responsável por 26%.
No mesmo período, o Mato Grosso do Sul foi o estado que apresentou
maior crescimento. Em 1979, quando o estado foi desmembrado do
estado de Mato Grosso, participava com 5,16%, em 1994 sua a
participação subiu para 17,96%.
Processo de Evolução do Setor Industrial
Os frigoríficos estão procurando modificar as formas de atuação
para conseguirem melhorar suas receitas que, nos últimos anos têm
piorado muito. A compra dos animais tem sido feita a duras penas,
pois na região centro-sul do Brasil a capacidade de abate cresceu mais
que o rebanho. A queda das taxas de inflação também piorou a
situação, pois os produtores não aceitam reduções nominais de preço e
o varejo reage negativamente a qualquer tentativa de repasse de alta
nos mesmos. Na seqüência, serão analisadas as margens de
comercialização dos frigoríficos no Brasil ao longo dos últimos anos,
pois é uma forma de quantificar os problemas vividos pelas empresas.
Margens Brutas de Comercialização para os Frigoríficos
Os preços pagos pela carne consumida são determinados pela
relação de oferta e demanda, mas o valor final do produto ofertado traz
consigo um conjunto de custos que são acrescidos ao valor do produto
na fazenda. A diferença entre os preços da fazenda e do consumidor
final devem remunerar uma série de ítens, dentre os quais devem ser
destacados: a armazenagem, o transporte e os impostos. Nos custos de
comercialização dos produto podem ser acrescidos os custos dos
serviços prestados pelos intermediários na cadeia de carne bovina:
sendo estes os escritórios, frigoríficos, distribuidor atacadista, e
finalmente o varejo. Estes agentes prestam uma série de serviços e têm
um custo para tanto. A diferença entre os preços de venda do produto
pelo produtor e o preço pago pelo consumidor é definida como
margem de comercialização, traz consigo além dos custos de
comercialização o lucro aferido com a atividade de intermediação do
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
- 253
produto. Essa margem é que determina o interesse das empresas pela
atividade.
O cálculo dos custos e do lucro em separado é algo bastante
difícil, vistas a complexidade que isso envolve e as incoveniências que
o processo de cálculo exige, por esse motivo um indicador importante
e usual da atividade é obtido com a margem. Conceitualmente a
margem de comercialização é definida como:
M = C + L, onde C é
o custo e L o lucro, ou prejuízo do intermediário (Barros,1987). Esta
fórmula deixa claro que quanto maior o nível de processamento e
manuseamento do produto, maior será a margem de comercialização,
pois este processo agrega valor ao produto.
A carne bovina é caracterizada por uma série de peculiaridades
que tendem a alterar a sua margem. A alteração das margens é ditada
pelo tipo de produto colocada no mercado (a carne é um produto
perecível, exigindo cuidados especiais para sua comercialização, como
por exemplo refrigeração), pelas alterações tecnológicas (o aumento do
comércio de carnes desossadas, que gera uma maior eficiência no
transporte, diminuindo o custo deste ítem, mas agrega valor ao
produto, devido a um maior processamento), o uso de auto-serviço nos
supermercados (carne desossada reduz muito a participação dos
balconistas).
A importância do cálculo das margens está na avaliação de sua
evolução no mercado ao longo dos anos, propiciando avaliação do
desempenho dos intermediários.
Segundo BARROS (1987), para o cálculo das margens nos
diferentes níveis de mercado leva-se em consideração o preço do
produtor, o preço ao atacado e o preço ao varejo. O cálculo das
margens, utilizadas neste trabalho, foi definido pela seguinte fórmula:
MT = Pv - Cbg , determinando a despesa do consumidor ou a Margem
Total
A margem de comercialização da carne bovina(MT) é calculada
pela diferença entre o preço pelo qual o frigorífico vende a carne(Pv)
(carne com osso ou desossada) menos o custo do boi gordo(Cbg ) para o
frigorífico.
254
- I Simpósio de Produção de Gado de Corte
O custo do animal para o frigorífico é dado pela seguinte
fórmula:
Cbg = Pbgp - Vsb, onde:
Pbgp - preço do boi gordo pago ao produtor.
Vsb - valor dos subprodutos.
A margem total de comercialização será o valor utilizado para
analisar a situação da atividade. Esses valor é tomado na forma
agregada, representando uma média geral, portanto, pode haver
empresas mais eficientes nas várias etapas da atividade que podem
resultar em situações diversas, mas a situação geral das empresas estão
apresentadas na seqüência.
A margem bruta de comercialização deve ser analisada com
cuidado, pois não se trata de lucro, uma vez que, tem que remunerar os
custos do abate e do processamento dos animais. Dentre essas
atividades podem ser destacadas:
- frete dos animais.
- consumo de água e energia.
- mão de obra e encargos.
- impostos.
- depreciação dos equipamentos.
- custos comerciais.
- custo do capital investido.
Os gráficos a seguir foram utilizados preços pagos aos
produtores nas regiões de origem dos animais e os preços de venda dos
frigoríficos deste estado ao mercado atacadista da grande São Paulo.
Descontando-se os valores arrecadados com a comercialização dos
subprodutos.
- 255
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
Margens Brutas de Comercialização da
carne c/ Osso - R$/boi
0.6
0.5
Goiania
R.Verde
C.Grande
Tres Lagoas
São Paulo
Margens de Comercialização da
Carne bovina desossada
100%
80%
60%
40%
20%
Goiania
R.Verde
C.Grande
Dourados
Tres Lagoas
São Paulo
Ja
n/9
9
no
v
se
t
jul
m
ai
m
aç
Ja
n/9
8
no
v
se
t
jul
m
ai
m
ar
jan
/97
0%
dez
out
nov
set
jul
ag
jun
abr
mai
fev
Dourados
maç
Jan/98
dez
out
nov
set
jul
ag
jun
abr
mai
fev
mar
jan/97
0.4
0.3
0.2
0.1
0
256
- I Simpósio de Produção de Gado de Corte
A desossa agrega valor ao produto, mas também aumenta os
custos.
As margens de comercialização da carne bovina para as demais
regiões do país podem apresentar diferenças das apresentadas neste
trabalho. Isto porque há variações, em cada região produtora do país,
no que diz respeito aos preços pagos por arroba de carne, custos com
transporte de gado para abate e custos para entrega de carne.
A separação da receita do frigorífico em venda de carne com
osso e sub-produtos comestíveis e não-comestívies permite a
visualização de que a receita com a venda dos sub-produtos é uma
importante fonte de receita, sendo inclusive mais importante que a
receita com a venda da carne, principalmente após meados de 1991.
(Vide Gráfico 1)
Apesar da queda na receita com os sub-produtos, após início dos
anos 90, estes ainda apresentam uma receita maior que a carne. Essa
queda de receita com a carne ao longo dos anos é atribuída a dois
fatores: aumento da oferta de carne e concorrência da carne bovina
com produtos alternativos, com destaque para a carne de frango.
A oferta de carne aumenta à medida que novas unidades de abate
espalham por todo o país, como exemplo pode-se ilustrar com dados
do estado São Paulo, onde entre 1962 e 1995, o número de empresas
saltou de 23 para 76, de acordo com dados do Serviço de Inspeção
Federal. O crescimento do volume de abate em outras regiões do país
pode ser visto no gráfico 2. Os estados da região centro-oeste do país
tem um elevado crescimento no decorrer da década de 80 e nos
primeiros anos da década seguinte.
Essa modificações da estrutura industrial afetam as margens dos
frigoríficos de duas formas: afetando os preços pagos pelos animais e
o valor de venda da carne. À medida que crescem o número de
unidades de abate, numa taxa mais elevada que o crescimento do
rebanho, aumenta a disputa pelos animais, logo o preço pago por eles
eleva-se. O crescimento do número de unidades de abate eleva também
a oferta de carne no mercado, ou seja, a oferta cresce mais rapidamente
que a demanda de carne, logo há uma tendência de redução de preços
da carne.
- 257
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
Abate de Bovinos
35%
30%
SP
25%
RS
20%
MG
15%
MS
10%
GO
5%
0%
1970
1975
1980
1985
1990
1995
Fonte:SIF
A concorrência com a carne de frango é um outro fator que tem
pesado nesse cenário, pois a avicultura ganhou muito em eficiência,
produzindo muito num curto espaço de tempo, com um baixo custo de
produção. Uma cadeia reconhecidamente estruturada também ajudou a
carne de frango a ganhar espaços.
Receita com Venda de Sub-produtos
Frigorífico - R$/15,58 @
100.00
80.00
60.00
40.00
20.00
0.00
89
90
91
sub-comestiveis
92
93
94
não comest.
95
96
couro
97
98
99
258
- I Simpósio de Produção de Gado de Corte
O gráfico indica uma perda de receita dos frigoríficos com o
couro e os sub-produtos comestíveis até início de 1995, tendência que
se acentua a partir desses anos. A moeda nacional valorizada incentiva
as importações de couro de outros países, principalmente do Mercosul,
e também tira competitividade dos calçados brasileiros, mais caros no
mercado internacional. Dessa forma o couro perde muito valor. Os
subprodutos comestíveis perdem valor pela falta de demanda, dada a
substituição desses produtos por outras fontes de proteína animal. A
perda de valor do couro e desses subprodutos derruba a margem dos
frigoríficos.
A primeira alternativa que os frigoríficos possuem para agregar
valor ao seu produto é a desossa das carcaças. A margem da venda de
carne desossada sofreu muita variação até meados de 1993, isso pode
ser explicado pelo processo de remodelação estrutural dos frigoríficos
para a viabilidade da desossa ou a venda para o mercado externo.
Após este período ocorreu uma estabilização da margem da carne
desossada, podendo ser relacionada com o aumento do mercado
consumidor brasileiro.
A margem da carne com osso apresentou uma tendência de
queda constante, pois representa a maior parcela de negócios de grande
parte dos frigoríficos. No entanto, percebe-se que quando a carne
desossada começa a proporcionar margem vantajosa para o frigorífico,
a carne com osso começa a cair. Isto pode representar o aumento na
venda da carne desossada interna ou externamente, causado pela ação
da mídia na valorização da carne previamente embalada ou a procura
por carne com maior praticidade no preparo. Pode-se também indicar o
interesse dos açougues e “botiques” de carne pela compra da carne
desossada, sendo que pode adquirir cada corte conforme o volume de
venda.
A margem de comercialização da carne é muito mais viável para
as empresas situadas fora do estado de São Paulo devido ao elevado
custo dos animais no estado. As empresas do estado devem ser
viabilizadas com a agregação de valor da desossa.
As regiões situadas fora do raio de ação das empresas do estado
estão apurando margens melhores, pois a disputa pelos animais é
menos acirrada.
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
- 259
CARACTERIZAÇÃO DO CONSUMO
A aquisição de carnes para o consumo ainda depende bastante dos
estabelecimentos especializados, como os açougues, por exemplo. No
caso da carne bovina, estes estabelecimentos ainda respondem por cerca
de 55% do mercado para a carne de primeira e 70% para a carne de
segunda. A preferência dos consumidores está se deslocando para a
aquisição em supermercados, principalmente nas faixas de renda média e
em grandes centros urbanos. Esta é a mesma tendência observada nos
países mais desenvolvidos, o que leva a crer que a mesma deverá se
manter no futuro.
Com a finalidade de se aprofundar na análise do consumo,
principalmente no tocante a se observar qual é a tendência de
crescimento do consumo para as carnes como um todo, utilizou-se de um
instrumental básico de economia que é a elasticidade-renda de demanda.
Isto significa medir quanto varia percentualmente o consumo de carne se
ocorrer uma variação percentual na renda, ou seja é a capacidade que um
produto tem de absorver um aumento de renda.
Deste modo, dizer que determinado produto possui elasticidaderenda da demanda igual a 1 significa dizer que um aumento de 10% na
renda é acompanhado de um aumento de 10% na quantidade demandada
do bem em questão. Da mesma forma, um produto com elasticidaderenda da demanda igual a 0,1 significa que um aumento de renda de 10%
é acompanhado por um aumento de 1% na demanda do produto. A
elasticidade-renda pode ainda ser negativa, dependendo do produto,
significando que a quantidade demandada do mesmo cai com o
crescimento da renda. O valor da mesma pode ser estimado através dos
dados de renda e quantidade consumida, com a utilização de técnicas
estatísticas apropriadas.
Este procedimento foi adotado para três faixas salariais: a primeira até 5
salários mínimos, a segunda de 5 a 10 e a terceira de 10 a 15. Vale
lembrar que dentro da região metropolitana de São Paulo cerca 50% das
famílias estão na faixa de renda familiar até 10 salários mínimos,
enquanto tem-se 70% das famílias na faixa até 15 salários mínimos.
Portanto, estes níveis salariais são bastante significativos em termos de
consumo global.
260
- I Simpósio de Produção de Gado de Corte
As carnes de uma maneira geral são tratadas como um componente
básico da dieta alimentar da população. Nas camadas de baixa renda o
poder aquisitivo é o fator limitante ao consumo das mesmas. No entanto,
nem todas as carnes apresentam a mesma característica de aumento de
demanda em relação ao aumento da renda. Desta forma dividiu-se as
diferentes carnes e mais ovos em três níveis com relação à elasticidaderenda da demanda: aquelas que têm maior reação, aqueles que tem menor
reação e aquelas cuja demanda pouco se alteram.
A Tabela 1 (faixas de consumo e renda), tenta dar esta
configuração com base nas elasticidades. No quadro, observa-se que com
base na elasticidade-renda de demanda para as carnes, peixes e ovos, a
classe de renda mais baixa (até 5 Salários Mínimos) tem um consumo de
carnes fortemente restrito pela renda para carne bovina de primeira e
carne industrializada (embutidos, enlatados, etc). Isto pode ser observado
por ser alta a elasticidade-renda da demanda para aqueles produtos, o que
significa que o consumo dos mesmos cresce bastante com a elevação da
renda daquela classe. Esta restrição é menor para a carne de segunda,
ovos e frango, e praticamente nula para a carne de suíno e carne bovina
de segunda.
A observação deste tipo de comportamento é muito importante
para estratégias de aumento de consumo para carnes: fica claro pelos
dados apresentados que é muito difícil se esperar que o consumo de
carne suína aumente apenas devido ao aumento da renda. Aumentos no
consumo deste produto deverão estar ligados à melhoria na imagem do
mesmo e a mudanças nas preferência do consumidor na direção deste
produto. Com a carne bovina de primeira a questão é diferente, já que é
um produto com demanda fortemente vinculada ao crescimento da renda.
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
- 261
Tabela 1:
Faixas de Renda:
baixa
(ate 5 S.M.)
Alta
elasticidade
Elasticidade
Média
Pouco
Elástico
-Carne Bovina de
Primeira
-Carne Industrializada
-frango
-ovos
-Suínos
-Carne Bovina de
Segunda
média
(5 a 10 S.M.)
alta
(10 a 15 S.M.)
---
---
-Carne Bovina de
Primeira
- Carne Industrializada
---
- Ovos
- Frango
- Suínos
-Carne Bovina de
Segunda
-Carne Bovina de
Primeira
- Carne
Industrializada
- Frango
Na faixa de 5 a 10 salários mínimos, não se verifica uma restrição
grande ao consumo para nenhum tipo de carne ou seja, nenhum tipo de
carne possui demanda muito restrita por problemas de insuficiência de
renda. De qualquer forma, carne bovina de primeira e carne
industrializada são os produtos que apresentariam maior aumento de
demanda com o aumento da renda destas famílias.
No terceiro extrato de renda, ou seja, de 10 a 15 salários mínimos,
o crescimento da renda não levaria a grande aumento no consumo de
nenhum tipo de carne, indicando que as necessidades de consumo das
mesmas já estão praticamente satisfeitas.
As camadas de renda mais baixa são consumidores que somente
não expandem seu universo de consumo pelo fator renda. Nestas
camadas, as carnes cuja produção oferecem condições de reduzir seu
custo e conseqüentemente o preço final do produto, levam uma vantagem
grande. Exemplo disto é o da carne de frango, que teve uma considerável
expansão no consumo "per-capita".
A carne bovina de segunda é o concorrente mais próximo da carne
de frango, mas a redução do preço dessa carne bovina tem problemas
mais sérios, já analisados quando da descrição da oferta de animais. Na
camada de baixa renda, a carne bovina de segunda aparece na posição de
262
- I Simpósio de Produção de Gado de Corte
"melhor opção de consumo" dentre as carnes vermelhas. As classes de
renda média apresentam ainda alguma sensibilidade em relação à carne
bovina de primeira e à carne industrializada.
Principais Ineficiências:
O processo de produção da carne apresenta um conjunto de
pontos que poderiam ser aperfeiçoados com a finalidade de tornar o
produto final melhor e com melhores condições de competir no
mercado nacional e posteriormente no mercado externo.
Na produção dos animais os pontos mais críticos estão ligados ao
fato da atividade ser dispersa por praticamente todo o território
nacional e não ter definido os sistemas de gerenciamento, ou seja, é
uma atividade cujos custos de produção são deficientemente
acompanhados, e dessa forma muitos produtores ineficientes ainda
sobrevivem na atividade. O produto final fica comprometido pela falta
de homogeinedade dos animais produzidos, abatem-se animais jovens
e animais de mais idade, o resultado é carne de todo tipo de qualidade.
O setor industrial, tem distribuição geográfica que não atende as
necessidades e disponibilidades de animais, elevando os custos
comerciais, como supervalorizando animais em determinadas regiões
em relação a outras. Os gastos excessivos com frete de animais vivos
também aumenta os custos da carne sem garantir melhores
rendimentos das empresas. A falta de planejamento e identidade das
empresas geram um mercado altamente instável e total falta de
confiança entre os produtores e os frigoríficos, e entre eles e os agentes
de distribuição.
A estrutura tributária que força as empresas a trabalharem com
sistema de contabilidade paralela pode ser tomado como símbolo da
falta de transparência para o mercado. As empresas acabam sendo
desorganizadas de forma proposital, para que assim escapem da
fiscalização.
Os constantes problemas de inadimplência do setor podem ser
creditados principalmente a desorganização do setor que dessa maneira
é baseado em empresas cujas características básicas são a falta de
credibilidade.
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
- 263
O resultado da desorganização do setor é um produto final que
não atende a regras básicas de atendimento de respeito do consumidor,
primeiro é um produto sem marca, logo é um produto que não tem o
menor compromisso com o consumidor.
A maior ineficiência do setor está associada a falta de confiança
que envolvem todas as relações comerciais do processo, o produtor
vende
seus animais pensando que será enganado quanto ao
rendimento da carcaça e tem dúvidas com relação ao recebimento. Os
frigoríficos compram arrobas de bois pensando em fazer a empresa
funcionar e pouco se interessam pela qualidade dos animais. A
preocupação é colocar a carne e depois receber, e o consumidor final,
vai para o açougue pensando que vai comprar a carne, mas nunca tem
certeza em relação a qualidade do produto.
CONCLUSÕES
O consumo de carne bovina no Brasil deve ter um crescimento
contínuo e tem um mercado garantido. Isso deve ocorrer por dois
motivos: o crescimento natural da população e outro pela aumento da
renda média da população. No entanto, a concorrência com outros
tipos de carne, mais especificamente a carne de frango deve acirrar a
disputa pelo consumidor nos próximos anos. A estratégia do setor de
aves tem sido de oferecer um produto cada vez mais barato e
homogêneo, para as camadas de baixa renda e mais opções de produtos
pré-elaborados para as camadas de alto poder aquisitivo.
O produto final que o mercado brasileiro de carne exige é que
seja de boa qualidade, padronizado e que tenha preços competitivos
com outras carnes. Isso exige que o produtor do boi saiba quanto custa
o seu produto. O setor de abate deve passar por um processo de
reestruturação e profissionalização que permita adquirir credibilidade e
ofereça um produto com marca e origem. Com a solução desses
problemas o setor pode pensar em entrar para concorrer de maneira
consistente no mercado externo.
264
- I Simpósio de Produção de Gado de Corte
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANUÁRIO ESTATÍSTICO DO IBGE. Rio de Janeiro, FIBGE, Brasil,
n.1,1993.
BARROS, G.S.C. Economia da Comercialização
FEALQ, 1987. 306p.
Agrícola. Piracicaba:
BARROS, G. S. C. et alii, 1994. Relatório de Pesquisa: ïndice de Preços do
Boi Gordo e do Bezzerro.
CANTO, W.L. Estudos Econômicos - Alimentos Processados. Campinas.
Brasil, 1986.
LATTIMORE, R.G. An econometric study of the brazilian beff sector. W.
Lafayette, 1974, 177p ( Ph.D. Prudue University)
MARQUES, P.V.; AGUIAR, D.R.D. Comercialização de Produtos
Agrícolas. São Paulo: EDUSP, 1993. (Coleção Campi, 13)
MASCOLO, J.L. Um estudo econométrico da pecuária de corte na Brasil.
Revista Brasileira de Economia, Rio de Janeiro, 33(1):65-105,
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MONTEMURRO, L.E.P. Fatores condicionantes do comportamento do setor
pecuário no Uruguai, 1979. ( Mestrado - ESALQ/USP ).
MULLER, C.C. O ciclo do gado e as tentativas governamentais de controle
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PEIXOTO, A.M. et alii, 1993. Bovinocultura de Corte: Fundamentos da
Exploração Racional. In : PEIXOTO, A.M.; MOURA, J.C.; FARIA,
V.P. Bovinocultura de Corte . 2ed. Piracicaba: FEALQ, 1993.
MERCADO FUTURO: BOI GORDO
Sergio De Zen
Mestre em Economia Aplicada , Pesquisador do CEPEA/ESALQ/USP
Os anos noventa têm sido marcados por termos modernos na
terminologia do mercado financeiro. Dentre essas novas terminologias
o termo "derivativos" é um que ganhou muita importância, e virou
símbolo de modernidade. Esse mercado nada mais é que um mercado
que "deriva" de outro.
No caso do mercado futuro de "commoditeis" agrícolas, o
mercado futuro é uma forma de mercado que deriva do mercado físico.
Neste caso específico vamos abordar o mercado futuro do boi gordo.
O mercado futuro do boi gordo é um dos exemplos de mercado
de derivativos. Os agentes desse mercado são os "hedgers" de compra,
"hedgers" de venda e investidores. A figura de um "hedger" de compra
pode ser representada por um frigorífico. Com a finalidade de facilitar
a compreensão toma-se alguns exemplos de operações que podem ser
colocadas em prática no mercado.
Um exemplo de um hedger de compra pode ser um frigorífico
que tem um contrato de exportação com os preços fixos em dólar por
seis meses. Uma vez assumida essa posição, os riscos da empresa
passam a ser as oscilações de preço do mercado físico de boi gordo,
pois a empresa tem os preços de venda da carne fixos pelo contrato,
mas o preço de aquisição dos animais varia de acordo com o mercado.
O frigorífico pode defrontar-se com três situações: o mercado
ficar estável, o mercado tem alta ou queda de preços. No primeiro
caso o frigorífico não tem nenhuma vantagem ou prejuízo, mas é uma
possibilidade pouco provável, pois a oferta de animais segue um ciclo
sazonal de acordo com os meses do ano.
Nos outros casos a operação está envolta em risco, pois caso o
mercado tenha uma retração de preços os lucros dos frigoríficos serão
maiores caso não tenha feito uma operação de fixação de preços, mas
no caso dos preços se elevarem a empresa terá prejuízos.
O conjunto formado por essas alternativas gera incertezas para a
empresa e dessa forma fica difícil manter os contratos de longo prazo.
Então, surgiu uma forma na qual a empresa pode fazer um seguro de
sua rentabilidade. A empresa ao fazer o contrato de venda ao exterior
266
- I Simpósio de Produção de Gado de Corte
adquire contratos futuros. Isso significa que o frigorífico comprou
contratos que lhe garantem o direito de receber as arrobas num período
futuro pelo preço negociado hoje. Dessa forma essa empresa adquiriu
um seguro contra as variações de preço.
O vendedor da posição futura pode ser um produtor que tem
animais para vender nos próximos meses e também precisa de
segurança em relação as variações de preços nos meses seguintes. O
produtor tem animais na engorda e faz cálculos para apurar os custos
da arroba que está produzindo. Com as informações de custo e dos
preços futuros ele pode fazer planejamento das suas atividades, ou
seja, o produtor tem o custo da arroba e o valor da arroba nos meses
seguintes. Se os preços futuros estiverem maiores que os custos, ele
pode fazer a venda no mercado futuro e dessa forma garantir uma
rentabilidade, caso contrário ele pode optar por reduzir sua produção
ou mesmo repensar o seu sistema de produção, uma vez que está
produzindo com um custo maior daquele que o mercado está disposto a
pagar.
Um outro grupo de pessoas envolvidas na negociação é o
chamado grupo de especuladores, que nada mais são do que pessoas
que têm capital e que não possuem boi ou interesse no mercado de
carne, mas entram no mercado visualizando lucro com as oscilações de
preço. Então, entram no mercado e assumem uma posição. Portanto, ao
contrário do que muitas pessoas pensam o especulador é um investidor
que aceita assumir os riscos das variações de preços com a
expectativas de lucros futuros.
O contrato futuro é comercializado em bolsa, onde, todos os dias,
pessoas credenciadas fazem um espécie de leilão de contratos para
entrega futura. No Brasil esse local é chamado de Bolsa de
Mercadorias e de Futuros -BM&F - situa-se em São Paulo, é uma
instituição sem fins lucrativos e é onde ficam sob custódia os títulos
negociados e são feitos os acertos dos ajustes, ou seja, as contas de
quem tem algo a receber ou a pagar. As pessoas credenciadas a operar
nessa instituição são os corretores.
O funcionamento desse mercado é relativamente simples, mas
exige um controle grande, pois envolve somas consideráveis de
dinheiro todos os dias. Os contratos possuem um mecanismo chamado
de ajuste diário que tem por finalidade garantir a proteção dos
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
- 267
interesses das partes envolvidas. O mecanismo de ajuste funciona da
seguinte forma: um produtor vende um contrato de boi no mercado
futuro para o mês de outubro de um determinado ano por US$ 20,00
por arroba. No dia seguinte o valor desse contrato eleva-se para US$
20,50, ou seja, o valor da arroba no mercado futuro valoriza US$ 0,50
então esse produtor tem que pagar US$ 0,50, pois ele fixou os preços
da sua arroba em US$ 20,00. Surge a dúvida: o produtor perdeu esse
dinheiro? No entanto, é preciso lembrar que como ele possuí as
arrobas que ele vendeu no mercado futuro e que o mercado futuro é
uma representação futura do mercado físico, o mesmo valor que ele
pagou no mercado futuro ele ganhou no mercado físico. O mecanismo
de ajuste diário existe para evitar que algumas das partes deixe de
honrar os compromissos assumidos no mercado futuro.
Na sequência as tabelas apresentam uma operação que um
produtor de boi poderia fazer no ano de 1999. Na tabela 1, o produtor
em junho entra no mercado futuro e vende 100 contratos, o equivalente
a 2000 animais de 16,5@, por US$ 25,00 /@. Os custos de produção
desse produtor é de US$ 21,00/@.
Tabela 1. OPERAÇÃO PARA GARANTIA DE PREÇOS - MERCADO FUTURO
Safra
1999
Produto
boi gordo
Contrato
Libra-peso
330.00
mercado físico
Jun/99 confina
Out/99 venda
mercado futuro
contratos US$/@
US$
venda(out/99)
100
25.00 825,000.00
22.50 liquidação
100
22.50 742,500.00
No final do período, em outubro de 1998, o preço do mercado
físico do boi sofreu retração e terminou em outubro cotado a US$
22,50. Portanto, foi um ano excelente para os produtores que fizeram
uma proteção de preços.
268
- I Simpósio de Produção de Gado de Corte
Na tabela 2 estão apresentados os custos que estão envolvidos na
operação.
Tabela 2. Custos da Operação - Mercado Futuro
Taxa Operacional Básica
Emolumentos
Registro
0.30%
6.23%
Total c/ comissão
Margem (US$ 172,00/cont)
Carta de crédito
taxa de juros - anual
Período em meses
custos da margem
US$/contrato
24.75
1.54
0.15
26.44
US$
17,200.00
8.50%
4.00
474.14
Os principais custos estão nas corretagens e outras despesas
operacionais representadas pela taxa operacional básica que é paga à
corretora. A principal taxa cobrada é de 0,30% sobre o valor do
contrato negociado. Além desses custos com a corretora, os custo de
manutenção da bolsa são os emonumentos que é de 6,23% sobre a taxa
operacional básica e mais US$ 0,15 por contrato. No exemplo, esses
custo totalizam US$ 26,44 por contrato.
Com a finalidade de assegurar o cumprimento dos compromissos
assumidos, a bolsa exige que os participantes do mercado façam o
depósito de uma valor em dinheiro ou em títulos de alta liquidez, que
fica sob custódia da bolsa e rendem juros. No exemplo, ao invés de
fazer o depósito, o produtor adquire uma carta de crédito num banco e
faz o depósito. No mercado do boi a bolsa exige o depósito de US$
172,00 por contrato, então o produtor precisa de uma carta de crédito
de US$ 17.200,00. O custo dessa carta é de 8,5% ao ano. Como a
operação tema duração de 4 meses o pagamento é feito sobre esse
período. As despesas com carta de crédito totalizam US$ 474,14.
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
- 269
Na tabela 3 estão apresentados os resultados da operação no
mercado futuro e do mercado físico.
Tabela 3. Resultados da Operação - outubro/98
US$
Receitas no Mercado Futuro
82,500.00
Custos do mercado Futuro
2,644.19
Custos da Margem
474.14
Resultado no Mercado Futuro
79,381.66
Receita c/ o produto físico
Resultado
742,500.00
821,881.66
US$/@
24.91
As receitas com o mercado futuro são as somas dos ajustes
diários do período, que no exemplo, como o valor da arroba de boi no
mercado físico teve uma redução e o valor da liquidação do mercado
futuro é o valor do mercado físico nos últimos cinco dias do mês de
outubro, o saldo foi positivo e proporcionou um receita de US$
82.500,00 para o produtor.
Os custo da operação totalizaram US$ 3.118,14, portanto os
resultados líquidos do mercado futuro foram de US$ 79.381,66. O
produtor no mercado físico vendeu seus animais e fez US$ 742.500,00.
A soma desses dois valores éUS$ 821.881,66. Com isso esse produtor
vendeu seus animais por US$ 24,91/@.
Tabela 4. Quadro Comparativo
US$/@
Custo
21.00
Rentabilidade(c/ fut.)
Rentabilidade(s/ fut.)
3.91
1.50
Rentabilidade(s/ fut.)
Rentab. X Produção
49,500.00
128,881.66
270
- I Simpósio de Produção de Gado de Corte
No comparativo entre fazer ou não uma operação no mercado
futuro está descrita na tabela 4. Considerando-se os custos de produção
de US$ 21,00 por arroba, no caso do produtor não fazer a operação, ele
teria uma rentabilidade de US$ 1,50 por arroba, enquanto no caso dele
fazer a operação ele terá uma rentabilidade de US$ 3,91. Deve ficar
claro ainda que a rentabilidade de US$ 3,91 já estava garantida antes
do início da operação. Na outra possibilidade o produtor poderia
apostar na alta, mas estaria claramente agindo de maneira especulativa.
Desde trabalho é importante que três pontos fiquem claros.
Primeiro deles é que o mercado futuro serve como forma de seguro de
preços para os agentes envolvidos no mercado, portanto eles garantem
que não devem sofrer perdas utilizando o mercado futuro. Segundo os
preços futuro são formados pelas expectativas do mercado. Terceira de
que os especuladores são bem vindos na medida que estão dispostos a
pagar para assumirem riscos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LEUTHOULD R. M., JUNKUS J.C. AND CORDIER J.E. The Theory and
Pratice of Futures Markets. Lexington, Massachusetts. Lexington Books.
1989.
GERENCIAMENTO INFORMATIZADO APLICADO
À PECUÁRIA DE CORTE
Aziz G. da Silva Jr.
Professor Adjunto DER / UFV, Eng. Agrônomo, UFV; MSc Economia Rural, UFV, Dr. agr.,
Uni-Bonn.
e-mail: [email protected]
1. RESUMO
Pecuaristas são forçados a aumentarem a eficiência gerencial de suas
propriedades, afim de adequarem-se às pressões do mercado consumidor.
Neste contexto, sistemas de informações são imprescindíveis. Este artigo
analisa a importância da informática na pecuária de corte, destacando a
relevância em se considerar o interrelacionamente entre propriedades rurais
e agroindústrias. Os problemas no mercado atual de informática na
agricultura são analisados e um modelo que consideramos mais adequado,
no qual zootecnistas desempenham papel essencial, é apresentado.
2. PECUÁRIA DE CORTE E O ENFOQUE DE AGRIBUSINESS
O setor de carnes no Brasil modificou-se radicalmente nas últimas
décadas. O desenvolvimento da avicultura de postura demonstrou o
potencial de crescimento do setor e o impacto de inovações tecnológicas e
gerenciais sobre a produção animal no país. A suinocultura tem evoluído na
mesma direção. A pecuária bovina, apesar de ainda não incorporar tão
rapidamente as novas tecnologias de produção e gestão, tem evoluído
significativamente, com aumento da produtividade do rebanho e
modernização de muitas empresas rurais.
Estes avanços foram resultados de mudanças no mercado
consumidor de alimentos e mudanças da própria economia. Diferentemente
da situação das décadas de 50 e 60, aonde a demanda era maior que a
oferta, a partir de meados dos anos 70, a situação se inverteu. As empresas
podiam oferecer muito mais produtos do que o mercado poderia absorver,
ou seja, a oferta é maior que a demanda. Com maior oferta e aumento da
competição entre as empresas, as exigências dos consumidores tornaram-
272
- I Simpósio de Produção de Gado de Corte
se maiores. Esta tendência foi acompanhada de regras mais rígidas e maior
fiscalização, principalmente nos países mais desenvolvidos.
As agroindústrias foram forçadas a aumentar a eficiência produtiva e
adequar-se à demanda, oferecendo produtos que atendessem aos desejos
do mercado consumidor. Em relação a qualidade do produto, ficou
evidente a importância da agricultura, pois a qualidade do produto
industrializado depende, em última instância, da qualidade da matéria prima.
A integração entre propriedades rurais e a indústria de transformação foi
uma resposta à pressão em relação ao aumento da eficiência e controle da
qualidade. Na avicultura e na suinocultura este processo avançou
significativamente.
A pecuária de corte é o segmento no setor de carne aonde a
integração formal entre empresas rurais e agroindústria é menos avançada.
Questões estruturais e históricas da produção neste setor dificultam esta
integração. Entretanto, a importância do relacionamento mais eficiente entre
os componentes deste complexo de produção pode ser comprovada pelos
efeitos sentidos por todos os elementos da cadeia na questão, por exemplo,
da febre aftosa. A impossibilidade de exportação em certas regiões penaliza
desde os fabricantes de ração, passando pelos produtores chegando até
aos setores de transporte e embalagem, ou seja, este problema que ocorre
em propriedades rurais diminui a rentabilidade de praticamente toda a
cadeia de produção.
O aumento das exigências dos consumidores deve ser visto não só
como mais um elemento que aumenta a complexidade da produção
agrícola, mas também como oportunidade de negócios e conquista de
mercados. O setor de carnes brasileiro está atento a estas alternativas.
Recentemente, em uma feira internacional de produtos alimentícios na
Alemanha (ANUGA) foram divulgadas informações de marketing
relacionadas à carne verde (boi produzido a pasto). Esta iniciativa busca
ocupar um segmento de mercado no qual os consumidores estão
preocupados basicamente com a qualidade do produto e o processo de
produção é mais importante, dispostos a pagar um adicional por isto.
A preocupação com a eficiência de toda a cadeia de produção
reforça a relevância do enfoque de agronegócio. Neste enfoque, as
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
273
interrelações entre os componentes de uma cadeia de produção assumem
destaque na análise. No agronegócio, ou seja, a soma da produção de
insumos, produção agrícola, transformação e distribuição ocorrem fluxos de
materiais e o de informações. A importância do primeiro fica evidente
quando utilizamos como exemplo uma grande integração. A empresa Sadia,
S. A. por exemplo, conta com cerca de 12 mil fornecedores, ficando
evidenciada a complexidade logística em adequar a entrega de matéria
prima com a produção industrial. Mesmo abatedouros regionais, no caso
da pecuária de corte, podem receber matéria prima de milhares de
produtores rurais.
A importância do fluxo de informações que ocorre no agronegócio
pode parecer, a primeira vista, de menor importância, mas é exatamente a
eficiência na troca de informações que permite alcançar níveis de eficiência
adequados nos processos produtivos e de logística.
3. IMPORTÂNCIA DA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
A informação é o insumo básico para a administração de uma
empresa rural. As funções de planejamento, implementação e controle só
podem ser realizadas com eficiência se informações adequadas estiverem
disponíveis no momento oportuno. O valor de uma informação pode ser
medido pela diferença entre o resultado de uma decisão sem o resultado
com a presença de informações. Na compra de um lote de novilhas, por
exemplo, informações sobre a progênie do lote, demonstra, pelo menos
conceitualmente, a relevância de informações. Entretanto, quantificar os
benefícios de uma informação não é tarefa fácil.
Uma quantidade imensa de informações, além de representar gastos
com coleta e manipulação de dados, não garante a nenhuma empresas
sucesso nas decisões. Informações corretas e no momento oportuno são
imprescindíveis, porém não são por si só suficientes. O tomador de
decisões deve ser capaz de interrelacionar estas informações e utilizá-las no
contexto específico de cada decisão. Esta habilidade chama-se
conhecimento e é obtida basicamente através de treinamento e experiência.
Empresas modernas buscam administrar o conhecimento gerado na
organização. Para tanto, devem ser implantados sistemas de informações
274
- I Simpósio de Produção de Gado de Corte
eficientes em conjunto com esforços de reestruturação e treinamento na
empresa.
O desenvolvimento da informática possibilitou a implementação de
tecnologias avançadas a custo decrescentes. O armazenamento e a
manipulação de dados são cada vez mais baratos. Atualmente, qualquer
produtor rural de médio porte tem condições de armazenar e manipular
uma quantidade de dados que há três décadas atrás somente grandes
corporações com milhares de empregados tinham condições de realizar.
Outra tecnologia que disponibiliza uma quantidade imensa de informações é
a Internet. Através desta rede mundial de computadores, qualquer usuário
pode obter informações sobre todos os assuntos e de todos os lugares do
mundo, investindo pouco mais de US$ 1.000. Esta diminuição de custo
levou a um erro conceitual importante. Imagina-se muitas vezes, que a
disponibilização de informações garanta melhores decisões.
4. MERCADO BRASILEIRO DE INFORMÁTICA
O mercado brasileiro de informática reflete em grande medida a
abordagem que prioriza a disponbilização de um grande número de
informações em detrimento da qualidade das informações e principalmente
do relacionamento entre informações (conhecimento), ou seja, resolução de
problemas nas propriedades rurais.
Em relação à tecnologia de informação, a situação atual pode ser
caracterizada pela alta demanda por sistemas de informações ao mesmo
tempo que a adoção da informática é baixa e ineficiente.
As causas para esta situação são:
Œ desconhecimento dos benefícios da informática por parte dos
beneficiários dos sistemas
• benefícios esperados dos sistemas não obtidos
Ž demandas por sistemas específicos não atendidas
• difusão/comercialização de sistemas disponíveis é inadequada ou
inexistente
• falta de transparência no mercado de software
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
275
» deficiências de marketing, gerenciais e financeiras das empresas /
empreendimentos de software
A figura abaixo esquematiza o funcionamento atual do mercado
brasileiro de informática.
CLIENTES
Œ•Ž•
Software
•»
Software House
Legenda: Œ desconhecimento da informática, • benefícios não obtidos, Ž
demandas não atendidas, • falha difusão/comercialização, • falta
de transparência mercado, » outras
Existem diversos softwares para a agricultura e em especial para a
pecuária de corte. Há esforços no sentido de disponibilizar informações
sobre tais sistemas. O guia de software do núcleo softex de Juiz de Fora
(Agrosoft) e o catálogo de software do Pólo Softex de Viçosa são alguns
exemplos neste direção. Nos endereços www.agrosoft.br e
www.ufv.br/softex informações sobre centenas de sistemas podem ser
acessadas. Estes esforços somente poderão atingir o objetivo de
disponibilizar instrumentos eficientes para produtores rurais se estiverem
integrados a projetos de treinamento e divulgação da tecnologia da
informação, de tal forma que profissionais que atuam no setor (zootecnistas,
agrônomos e veterinários) possam participar ativamente desde o
276
- I Simpósio de Produção de Gado de Corte
desenvolvimento do sistema, passando pela seleção e escolha de sistema,
até a manutenção e consultoria a partir dos resultados gerados.
5. ATUAÇÃO DO ZOOTECNISTA NA AGROINFORMÁTICA
A baixa e ineficiente adoção da informática no meio rural pode ser
minimizada com a implementação de um enfoque que consideramos
adequado, ou seja, a informática, ou tecnologia da informação, não se
restringe a um programa de computador. É necessário lembrar que a
disponibilização de informações é essencial, porém não é suficiente para
aumentar a eficiência do produtor rural e muito menos da cadeia de
produção como um todo.
O modelo ideal de funcionamento do mercado deve portanto, incluir
consultores e especialistas que conheçam os problemas enfrentados pelo
setor. Estes profissionais poderão preencher uma lacuna importante no
mercado. Esta é uma oportunidade de atuação profissional de grande
relevância para zootecnistas, os quais poderão agregar valor a seus
serviços.
As ações que deveriam ser desenvolvidas em conjunto por
consultores, especialista e empresas de informática são:
Œ divulgar benefícios da informática
• estimular integração com consultores
Ž viabilizar desenvolvimentos de sistemas específicos
• apoiar difusão e comercialização de sistemas
• divulgar informações sobre sistemas
» viabilizar treinamento e captar recursos para empresas
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
277
Esquematicamente esta atuação pode ser apresentada como
mostrado a seguir:
CLIENTES
Œ••
Consultoria + Informática
Consultores
•
Software
Especialistas
» Informática
sistemas específicos
Software House
Ž•
Legenda: Œ desconhecimento da informática, • benefícios não obtidos, Ž
demandas não atendidas, • falha difusão/comercialização, • falta
de transparência mercado, » outras
6. CONCLUSÕES
A tecnologia da informação é imprescindível no gerenciamento da
pecuária de corte. Entretanto, a eficiência da adoção da informática está
diretamente relacionada a existência de profissionais que capacitem os
produtores rurais a utilizarem as informações processadas de forma
eficiente.
Tecnologia da informação na agricultura é muito mais que um
programa de computador e só poderá se tornar um instrumento efetivo se
zootecnistas e outros profissionais das ciências agrárias participarem
ativamente do setor.
278
- I Simpósio de Produção de Gado de Corte
MAXIMIZAÇÃO DO USO DE TOUROS A CAMPO
José Domingos Guimarães
Departamento de Veterinária - Universidade Federal de Viçosa
e-mail: [email protected]
INTRODUÇÃO:
Segundo Coulter et al. (1991) a reprodução é 10 vezes mais
importante que o melhoramento e cinco vezes mais importante que a
melhoria de carcaça. Certamente esta afirmação dos autores se deve ao
fato de quanto maior a eficiência reprodutiva do rebanho, menor
intervalo de parição e menores índices de mortalidade até os 505 dias
de vida, melhores serão os resultados alcançados nas áreas de
melhoramento e produção.
Quando avaliamos a atividade pecuária Brasileira, esta
preocupação aumenta em virtude da mesma ser predominantemente
composta pela bovinocultura de corte, seguida da pecuária de leite.
Sendo o segundo
rebanho mundial com aproximadamente
150.276.778 de animais bovinos, sendo 80,9 % destinado a produção
de carne (ANUALPEC, 1999).
De acordo com o presidente da Associação Brasileira dos
Criadores de Zebu, a utilização de biotecnologias tal como a
inseminação artificial, encontra-se ainda em fase de expansão, e apenas
4,6 % do rebanho corte e leite são inseminados (ANUALPEC, 1999),
sendo o restante servido por touros em regime de monta natural.
Porém, há poucos rebanhos melhoradores destinados a produção de
reprodutores, sendo capazes de produzir apenas 150.000 touros por
ano, havendo um déficit anual de 1.350.000.
Certamente, esta escassez somente será suprida a médio ou
longo prazo. Portanto a maximização dos reprodutores deixa de ser um
assunto de caracter inteiramente científico ou a pequeno grupo de
empresas rurais e passa ser primordial sua adoção no manejo
reprodutivo e produtivo como um todo.
Contudo, se faz necessário a difusão dos conhecimentos dos
fenômenos reprodutivos que acorrem do nascimento a senilidade
desses animais, não de forma genérica, mas sim para cada região em
280 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
que os mesmos são criados, visto que o Brasil é um país extremamente
extenso e bastante diversificado quanto a vegetação, clima e sistema de
manejo.
PUBERDADE E MATURIDADE SEXUAL
Provavelmente entre os processos reprodutivos, o mais
importante é a idade a puberdade, por tratar-se da fase em que todo o
trato reprodutivo sofre uma transformação estrutural em função de
iniciar-se a produção dos espermatozóides, como também os níveis
gonadais e circulatórios de hormônios masculinos mostram-se
compatíveis aos animais adultos. Da mesma forma, a idade à
puberdade dos rebanhos nas diversas regiões do Brasil nos fornece
noções conclusivas quanto a qualidade do manejo adotado para o
rebanho. Há varias definições de puberdade na literatura mundial,
onde a mesma é definida como a idade em que o animal apresenta
níveis hormonais elevados de testosterona e inicio da produção
gamética (Abdel-Raouf, 1960), desprendimento do freio peniano
(Foote, 1969), primeiros espermatozóides no lúme do epitélio
seminífero (Cardoso, 1977; França, 1987), primeiros espermatozóides
nas caudas dos epididímos ( Igboeli & Ralha, 1971) e primeiros
espermatozóides no ejaculado(Backer et al., 1955; Backer et al., 1988).
Porém, a maioria dos estudos empregam a definição de Wolf et al.
(1965), onde os autores definem a puberdade como sendo a idade em
que o animal apresenta um ejaculado com 10 % de motilidade
espermática e concentração espermática com no mínimo de 50 milhões
de espermatozóides ( Lunstra et al., 1988, Freneau, 1991, Guimarães,
1993). Tal definição tornou-se a escolhida no manejo dos animais, em
virtude de abranger todas as definições anteriores e ser facilmente
obtida por meio de coleta e avaliação de sêmen.
Diversos fatores de ambiente, tais como o manejo, nutrição,
manejo sanitário, características climáticas, influenciam de forma
marcante a idade à puberdade. Certamente, em condições de Brasil, o
fator de maior impacto sobre a puberdade é a nutrição, onde os animais
desde a desmama apresentam baixo índice de ganho de peso e
desenvolvimento somático. Outro aspecto importante a ser considerado
é grau de sangue dos animais que na maioria das vezes são animais
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
- 281
azebuados e a minoria são animais puros Bos taurus taurus ou Bos
taurus indicus.
Diversos estudos têm demonstrado idade muito avançada à
puberdade nos animais zebuínos, estando em torno de 25 a 28 meses
de idade, sendo esta muito elevada quando comparado aos taurinos (12
a 14 meses de idade), contudo, mesmo os taurinos nas condições
tropicais, também apresentam-se tardios com relação as raças taurinas
criadas nas condições de clima temperado (8 a 10 meses de idade).
Deve-se ressaltar que em rebanhos zebuínos elite, onde os animais são
criados em condições de manejo adequado, a idade à puberdade
mostra-se muito próxima dos animais taurinos criados nas condições
de trópicos, sendo relativamente comum a detecção da puberdade aos
10 meses de idade.
A curto prazo, com programas de melhoramento, será possível
alcançar idades precoces quanto a esta característica, onde diversos
programas implantados no Brasil, trazem como um dos parâmetros
reprodutivos avaliados a idade à puberdade. Guimarães (1991)
observou idade a puberdade aos 12 meses de idade em animais da raça
Gir, criados em regime semi-extensivo, idade esta semelhante aos
registros de Castro (1989) em animais da raça Nelore, criados em
regime de pastagem.
Após a fase puberal, marcada mudança quantitativa e qualitativa
ocorre no sentido de alcançar um platô, onde o potencial reprodutivo
de um touro se faz presente. Observa-se neste período, o aumento do
volume seminal, da motilidade espermática progressiva, do vigor, da
concentração espermática total e do decréscimo das patologias
espermáticas ( Almquist & Amann, 1962; Lunstra & Echternkamp,
1982; Garcia et al., 1987 e Freneau, 1991).
Já a maturidade sexual , diferentemente do fenômeno
apresentado nas fêmeas, ocorre em períodos diferentes da puberdade,
normalmente ocorrendo 16 a 20 semanas após a puberdade (Lunstra &
Echternkamp, 1982). Segundo Austin & Short (1991) a maturidade
sexual é alcançada quando o crescimento gonadal e corporal,
juntamente com níveis de testosterona e desenvolvimento sexual se
estabiliza. Contudo de forma mais aplicada, a maioria dos estudos
preconizam a maturidade sexual como a idade em que os animais
apresentam-se com características seminais de no mínimo de 50 % de
282 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
motilidade espermática progressiva e morfologia espermática com no
máximo de 10 % de defeitos espermáticos maiores e 20 % de defeitos
espermáticos menores (Blomm, 1973; Lunstra & Echternkamp, 1982;
Garcia et al., 1987 e Freneau, 1991).
Em animais de origem taurina, a maturidade sexual é alcançada
em torno de 13 a 16 meses de idade em condições de clima temperado,
porém em condições de trópicos tal característica somente é atingida
em torno de 16 aos 20 meses de idade. (Freneau, 1991). Já, em animais
de origem indiana, os animais mostram extremamente tardios com
relação a maturidade sexual, atingindo-a somente aos 30 a 36 meses de
idade (Fonseca et al., 1976; Vale Filho et al., 1985).
Tal como a puberdade, esta característica é altamente
influenciada por fatores de ambiente, principalmente nutrição e
condições climáticas, onde pode-se observar animais tanto precoce
como também tardios com relação a esta característica, dependendo do
manejo no qual os animais são submetidos.
COMPORTAMENTO SEXUAL
Como mencionado anteriormente, em apenas 4,6% do rebanho
nacional, emprega-se a inseminação artificial, e o restante do rebanho,
utiliza-se do manejo de monta natural. Neste contexto, os reprodutores
são de fundamental importância na produção final do rebanho. Outro
aspecto importante a ser considerado de acordo com Geymonat e
Mendez, (1987), pelo fato de um touro acasalar em média com 25
fêmeas durante a estação de monta, o mesmo é responsável por mais
de 80 % do melhoramento genético que se pode alcançar nas
características produtivas do rebanho.
O estudo comportamental em bovinos se baseia em dois
parâmetros: a libido e a capacidade de serviço. Chenoweth (1997) os
definiu a libido como a espontaneidade do macho em identificar,
montar e efetuar a cópula com a fêmea e a capacidade de serviço como
o número de montas completas (cópulas) que o reprodutor é capaz de
realizar em um determinado tempo.
Entre todas as características reprodutivas estudadas na
bovinocultura de corte, provavelmente
as características
comportamentais são os que possui o menor número de trabalhos (
Pineda, 1995; Crudeli, 1990, Fonseca et al., 1997; Pineda et al., 1997),
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
- 283
e poderia-se aumentar consideravélmente os índices reprodutivos do
rebanho, quando utilizar-mos a proporção touro/vaca correta. Ë
consensual que a proporção atual de 1/25 touro/vaca, predominante no
manejo, não demonstra nenhum desafio aos reprodutores,
principalmente os de origem indiana são sub-utilizados, e que
poderiamos aumentar sem nenhum esforço aos mesmo, para uma
proporção de 1/40 touro/vacas, o que significaria uma economia aos
produtores rurais na aquisição e reposição dos reprodutores do
rebanho e custo por bezerro desmamado. Ressaltando que os estudos
atuais (Galvani, 1998) apontam para proporções touro/vaca bem
superiores.
Segundo Hafez (1995) os animais de origem indiana possui
menor libido que os animais taurinos, e entre os últimos, os de aptidão
leiteira mostram-se mais ativos sexualmente do que os de aptidão de
corte. Tais coclusões vão de encontro com as observações feitas pelos
estudos realizados no Brasil, onde animais da raça Nelore
demonstraram baixa libido em testes feitos em currais, tanto para a
libido como para a capacidade de monta (Barbosa, 1987; Fonseca,
1989; Crudeli, 1991). Tais observações também foram feitas por
Lunstra (1984) em animais da raça Brahman e Africander, e o autor
preconiza a realização de provas sob condições mais naturais e de
maior duração. Dentro deste contexto, há diversos estudos sendo
realizados em provas de maior tempo ou feitas diretamente no campo,
em condições naturais de manejo. Segundo Marcelo ( comunicação
pessoal, 1999) quando o teste da libido é efetuado com tempo de 20
minutos, há um aumento superior a 30 % de animais aprovados no
teste e Oliveira (comunicação pessoal, 1999) empregando teste em
curral, porém com tempo de 3 horas de duração, verificou que a
totalidade dos animais testados, efetuarão varias montas completas a
partir de 58 minutos de prova. Certamente, diversos estudos devem
serem conduzidos para determinar-se um tempo ótimo de teste,
principalmente que venha a viabilizar estes testes, principalmente
quando pensamos nos grandes rebanhos existentes no Brasil, que
certamente, três horas de teste inviabilizaria qualquer tentativa de
realização.
284 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
Atualmente o Colégio Brasileiro de Reprodução (Manual de
andrologia, 1998), preconiza dois testes da libido, sendo um destinado
aos animais de origem taurina e outro para os de origem indiana. O
primeiro, segue os protocolos desenvolvidos por Osborne (1971),
modificado por Chenoweth (1974) e o segundo foi desenvolvido por
Pineda (1996), a partir de algumas modificações feitas no primeiro.
Onde o segundo, se diferencia além das pontuações, no número de
fêmeas, utilizando cinco fêmeas, onde somente duas se encontram no
estro e apenas uma contida.
Como pode ser observado nas tabelas abaixo, o protocolo para os
animais zebuínos, embora seja um parâmetro que deve ser seguido,
parece não ser definitivo, devendo serem realizados estudos para
alcançarmos um protocolo que avaliam com maior margem de
segurança, a capacidade de serviço ou a libido dos animais zebuínos.
NOTA
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
ATITUDE
Sem interesse sexual
Interesse Sexual somente uma vez
Interesse sexual mais de uma vez
Ativa perseguisiçào pela fêmea, com persistente interesse
sexual
Uma monta ou tentativa de monta, sem cópula
Duas montas ou tentativas, mas sem cópula
Mais duas montas ou tentativas de monta, sem cópula
Um serviço, seguido por nenhum interesse sexual
Um serviço, Seguido de interesse sexual
Dois serviços , seguidos por nenhum interesse sexual
Dois serviços, seguidos por interesse sexual, incluindo
montas, tentativas de montas ou serviço
Fonte: Chenoweth (1974)
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
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4
5
6
7
8
9
10
- 285
ATITUDE
Sem interesse sexual
Interesse de fêmea em cio (cheio)
Cheiro e perseguisão insistente
Tentativa de monta sem salto, com mugido, deslocamento ou
masturbação
Tentativa de monta sem salto, com pênis exposto
Tentativa de monta com salto, sem pênis exposto
Duas ou mais tentativas de monta com salto, sem pênis
exposto
Tentativa de monta com salto e pênis exposto
Duas ou mais tentativas de monta com salto e pênis exposto
Uma monta com serviço completo
Duas ou mais montas com serviço completo
Fonte: Pineda (1996)
CIRCUNFERÊNCIA ESCROTAL
A circunferência escrotal durante muitos anos, foi rejeitada como
uma das características reprodutivas a serem selecionada em programa
de seleção. Porém atualmente a mesma é altamente difundida, e seu
emprego como um dos instrumento de seleção é adotado por grande
maioria dos pecuaristas. Provavelmente em função de sua facilidade de
obtenção e alta repetibilidade em suas mensurações (0,95) e não
precisar de técnicos altamente qualificados para sua execução.
O aspecto mais difundido entre a comunidade científica, é o fato
da mesma apresentar alta correlação (0,67 a 0,94) com a idade a
puberdade dos seus descendentes, tanto nas fêmeas como em machos
(Rekwot et al., 1988; Smith et al., 1989). Embora correto, não
devemos esquecer que quanto maior a circunferência escrotal, maior
será a produção espermática e consequentemente maior o número de
ejaculados fertéis o animal apresentará. De acordo com Halnes et al.
(1969), um reprodutor de origem taurina efetua duas montas completas
por fêmea em estro, já Freneau (1991) observou em média 0,67 montas
completas e outros estudos não diferenciaram desses estudos,
286 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
apresentando uma amplitude de 0,6 a 3,2 montas por fêmea em estro
( ) e quando consideramos a capacidade de produção de quatro
ejaculados diários pelo processo de espermatogênese, verifica-se que
quanto maior a circunferência, maior a produção de ejaculados férteis.
Dentro deste contexto, há uma preocupação muito grande na
determinação de qual a circunferência ideal para cada fase de
crescimento do animal e em que fase de desenvolvimento poderia-se
selecionar por esta característica. Atualmente, O Colégio Brasileiro de
Reprodução Animal, preconiza uma tabela desenvolvida por Fonseca
et . (1989), destinados aos animais de origem indiana e uma outra
desenvolvida pelo Sociedade de Theriogenologia (1976) para os
animais de origem indiana. Para os reprodutores mestiços F1, oriundos
de cruzamentos Bos taurus taurus x Bos taurus indicus, Guimarães
(1997) recomenda a utilização do protocolo empregado para animais
taurinos. Entretanto para animais mestiços com diversos graus de
sangue (compostos) não há até o momento, nenhum protocolo a ser
seguido, restando aos produtores seguir o bom senso e descartar os
animais que estiverem muito a baixa da média do rebanho
contemporâneo.
RESERVA GONADICA E EXTRA GONADICA
Este parâmetro, talvez um dos mais importantes entre as
características reprodutivas do macho bovino, por refletir o potencial
de cobertura com sucesso que o mesmo pode realizar durante
determinado período ou estação de monta. Conhecendo a capacidade
de reserva gonadica, pode-se estabelecer a relação touro/vaca, sem que
haja diminuição da eficiência reprodutiva do rebanho.
Através deste conhecimento, Hahn et al. (1969), determinaram a
produção espermática por grama de parênquima testicular por
ejaculado, dia e semana e Galloway (1989) determinou o número de
ejaculados por dia, número de ejaculados por 21 dias e número de
vacas cobertas com sucesso durante os 21 dias.
Neste contexto, diversos estudos foram realizados em bovinos
tanto os de origem taurina como os de origem indiana (Hahn et al.,
1969; Galloway, 1989; Cardoso & Godinho, 1985; Berndtson &
Igboeli, 1988; Palasz et al., 1994; Freneau, 1996). A reserva gonadica
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
- 287
e extra gonadica aumenta de forma acelerada da puberdade até a
maturidade sexual, quanto então aumenta de forma gradativa até
aproximadamente os seis anos de idade, quando então começa a
diminuir em função de pequenas lesões que ocorrem normalmente nos
túbulos seminíferos.
De acordo com MacMillan & Hafez (1968) após a maturidade
sexual, o aumento da reserva gonadica ocorre um função do aumento
do peso testicular, sendo portanto diferente do processo antes da
maturidade, no qual ocorre devido a melhoria no processo
espermatogênico.
Não diferente de todas as características reprodutivas, Igboeli &
Rakha (1971) e Cardoso (1981) registraram valores bem inferiores de
produção espermática total para animais de origem indiana quando
comparada aos touros de origem taurina. Segundo ao último autor, se
deve as menores mensurações apresentadas pela sub-espécie. Contudo,
há uma tendência da produção por grama de parênquima testicular
serem semelhantes entre as duas sub-espécies. Já os valores para os
animais mestiços mostram próximos dos animais taurinos (Wildeus &
Entwistle, 1983; Guimarães, 1997)
Em animais taurinos a reserva espermática total encontra-se entre
os valores de 2,83 a 5,26 x 109 células espermáticas por dia e nos
animais de origem indiana os valores de 2,3 a 10,14 x 109 células
espermáticas por dia e seus mestiços, concentrações espermática de
1,48 a 5,32 células espermáticas ( Amann & Almquist, 1962; Igboeli &
Rakha, 1971; Tegegne et al., 1992; Berndtson & Igboeli, 1988
Freneau, 1996; Wildeus, 1993; Wildeus & Entwistle, 1982 e 1983;
Guimarães, 1997. Certamente, as variações observadas deve-se as
diferenças do peso testicular, observação esta corraborada pela alta
correlação existente entre a produção espermática com o peso
testicular.
De acordo com a metodologia de Hahan et al. (1969) e Galoway
(1989) o número de vacas cobertas em um ciclo de 21 dias de estação
reprodutiva varia de 30 até 80 fêmeas, variando de acordo com a
circunferência escrotal. Em animais mestiços F1, Guimarães (1997)
registrou uma amplitude de 17 a 70 coberturas por ciclo. Diante dessas
observações é sabido que a proporção touro/vaca tradicional de 1:25 é
realmente muito baixa, onde os reprodutores são sub-utilizados.
288 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
VALORES ECONÔMICOS COM PROPORÇÃO TOURO X
VACA
Poucos estudos econômicos tem-se observado na literatura
mundial, principalmente em condições de Brasil.
Porém é
unanimidade que os produtores rurais ganham sobre diversos aspectos,
como por exemplo, a economia sobre o redução do número de touros a
serem adquiridos na ocasião da reposição do rebanho na estação de
monta; maior pressão de seleção dos reprodutores utilizados; maior
número de fêmeas gestantes no inicio da estação e consequentemente
maior número de partos no início da estação de parto; maior ganho de
peso dos animais desmamados ou na ocasião da venda,em função do
período do ano (Bergmann, 1993; Pineda, 1995; Pereira, 1996;
Fonseca et al., 1997; Galvani, 1998).
Adicionalmente, Barth (1997) preconiza que para cada ciclo
estral não detectado ou perdido, há perdas de 22 a 27 kilos do peso
final à desmama em bezerros de corte. Adicionalmente, Blockey et al.
(1989), verificou maior taxa de concepção e consequentemente maior
percentual de parto precoce ou no início da estação e melhores preços
na ocasião da desmama, quando utilizou uma proporção touro/vaca de
1:40, alcançando desta forma ganhos adicionais de US$ 573,00 para
cada 40 fêmeas ou US$ 14,32 por bezerro desmamado.
Já Fonseca et al. (1997), empregando uma proporção touro/vaca
de 1:60 em um rabanho de 6000 fêmeas, registraram uma redução de
custo por bezerro desmamado de US$ 18,66. Da mesma forma,
Galvani (1998) em uma simulação realizado a partir de dados obtidos a
nível de campo, verificou um ganho por bezerro desmamado de US$
51,37, correspondendo um ganho de 48,54 %.
De acordo com Fonseca et al. (1995) quando se substitui a
proporção touro/vaca tradicional de 1:25 para 1:40 ou 1:60, há uma
redução no custo de produção por bezerro desmamado de 10,4 e 16,2
% repectivamente.
Tais
Observações
foram corraborada
posteriormente por Pineda (1996). Tais reduções ocorre em função do
menor número de touros utilizados na estação de monta. Segundo
Bergmann (1993), quando se emprega a proporção touro/vaca de 1:40;
1:60; 1:80 e 1:100, obtem-se respectivamente, uma redução de 37,5;
57,5; 67,5 e 75 % na aquisição de touros para a estação de monta.
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
- 289
Nestes estudos os autores tomam como base de cálculo, com pequenas
modificações entre os mesmos, a seguinte fórmula:
(rebanho base com 4000 fêmeas e proporção touro/vaca de 1:40)
Ŷ
= 100 x 2000 US$ + [(20 x 2000 US$ - 20 x 600 US$) x 5]
Ŷ
= US$ 340.000,00/ 5 anos
Onde:
Ŷ =
100 = número de touros necessários para 4000 vacas em reprodução na
proporção de 1:40;
20 = número de touros descartados anualmente, obedecendo a uma
taxa de
reposição de 20 %;
2000 = custo de cada touro;
600 = valor da venda par abate dos touros descartados;
5 = período de cinco anos, quando todos os touros terão sido
substituídos;
sendo no tradicional (1:25)
Ŷ = US$ 544.000,00
Então, teremos como diferencial de manejo o total de
US$ 204.000,00 nos cinco anos de produção, o que equivale a
US$ 40.800,00 anuais.
Certamente, todos esses estudos nos leva a refletir o quanto os
pecuaristas perdem economicamente em função de não adotarem um
bom manejo dos reprodutores. Da mesma forma, os desafios
imprimidos aos reprodutores aos estudos supracitados, nos indicam
que ainda não se chegou a proporção touro/vaca ideal e que os estudos
devem continuar. Entretanto, não deve-se esquecer que para qualquer
aumento substancial neste números, cuidados especiais devem ser
adotados no manejo do rebanho, tais como rodeios diários do rebanho
290 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte
para facilitar a detecção do estro pelos machos (principalmente para
lotes de animais acima de 200 fêmeas, prática esta já realizada por
fazendas de grandes rebanhos).
CETIFICADO ANDROLÓGICO POR PONTOS – CAP
O certificado andrológico por pontos, atribui uma pontuação
baseada em três características reprodutivas, sendo a motilidade
espermática progressiva (20 pontos), a morfologia espermática ( 40
pontos) e a circunferência escrotal ( 40 pontos), esta última de acordo
com as idades dos reprodutores. Atualmente o CBRA, preconiza duas
tabelas de pontuação, uma para animais de origem indiana segundo a
tabela preconizada por Fonseca et al. (1989) e outra para animais da
sub-espécie Bos taurus taurus , segundo os padrões indicados pela
American Society for Theriogenology (1976).
Estas avaliações permitem a classificação dos animais em quatro
classes distintas, sendo: Excelentes, muito bons , bons e questionáveis.
Contudo, quanto trata-se dos animais Bos taurus indicus, a pontuação
do andrológico por pontos, tem demonstrado resultados poucos
satisfatórios, onde os estudos não envidenciaram diferenças entre as
classes de touros ( Neville et al., 1988; Crudeli et al., 1992; Costa e
Silva et al., 1993), com exceção da classe de animais questionáveis.
Entretanto, enquanto não se determina uma tabela de classificação,
acreditamos que a tabela proposta, pode ajudar os técnicos e
pecuaristas a adotarem uma conduta de manejo com os reprodutores,
evitando grande prejuízos na eficiência do rebanho.
IDADE IDEAL PARA INICIAR A VIDA REPRODUTIVA E A
CONDUTA DE MANEJO DOS ANIMAIS
A idade ideal para os touros iniciarem sua vida reprodutiva
sempre foi um gargalo na reprodução, normalmente a maioria dos
produtores rurais esperam que os animais atinjam quatro anos de idade,
sendo esta muito tardia, mesmo em condições do manejo brasileiro,
visto que na maioria dos trabalhos os animais alcançam a maturidade
sexual entre os 30 e 36 meses de idade. Outro aspecto muito
questionado, é se o processo da espermatogênese será suficiente para a
produção de espermatozóides para fecundar as vacas em uma estação
I Simpósio de Produção de Gado de Corte
- 291
de monta normal. Certamente não devemos esquecer que o processo
espermatogênico é dinâmico e contínuo após a puberdade. Portanto,
acreditamos ser suficiente para a produção espermática e garantir uma
reserva extra gonádica para a produção de ejaculados normais.
Portanto, pode-se aproveitar o potencial reprodutivo de touros a
partir da maturidade sexual, porém, cuidados prévios devem ser
adotados, tais como não utilizar animais jovens com fêmeas adultas e
de estatura muito elevada com relação aos machos. Tais precauções
evitam que os mesmos fiquem com medo das fêmeas principalmente
pela dominância imposta por elas, onde muitas vezes os tourinhos
apanham das fêmeas, que mesmo na ocasião do estro, não permitem a
aproximação dos mesmos. Outro aspecto importante é não utilizar os
tourinhos juntamente com machos adultos, onde a dominância é
imediatamente imposta pelos adultos, fato este que poderá ocasionar
conseqüências sérias no desempenho sexual futuro desses animais
jovens. Devemos lembrar que a dominância é um dos fatores
determinantes de baixa eficiência reprodutiva em rebanhos de corte
numerosos.
Com esta conduta de manejo, teria-se então pelo menos uma
estação reprodutiva a mais durante a vida útil dos reprodutores, o que
proporcionaria menor tempo para testar o potencial melhorador dos
touros, como também o menor custo nos testes de progênie e
principalmente maior produção.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A maior difusão dos conhecimentos fisiológicos e o real
potencial reprodutivos dos bovinos, irá a curto prazo aumentar a
produção do rebanho nacional. Certamente a proporção touro/vaca
tradicional, com pequena exceção de algumas regiões do pantanal
1:10 ou 1:20, não desafiam dos machos bovinos.
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