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RAÇAS E ESTRATÉGIAS DE CRUZAMENTO PARA PRODUÇÃO DE NOVILHOS PRECOCES Pedro Franklin Barbosa Embrapa Pecuária Sudeste, São Carlos, SP 1. INTRODUÇÃO A produção de carne bovina (P), em uma determinada região ou País, é o resultado da utilização dos recursos genéticos (G) e de ambiente (A), das práticas de manejo, produção e comercialização (M) e, possivelmente, das interações entre os componentes causais (G x A, G x M, A x M) de P, isto é, P = G + A + (G x A + G x M + A x M). Portanto, há várias maneiras de se combinar os recursos genéticos, de ambiente e as práticas de manejo, produção e comercialização o que, por sua vez, dá origem aos diferentes sistemas de produção de carne bovina. Em geral, os sistemas mais eficientes são aqueles que otimizam tanto os recursos genéticos (raças, linhagens, cruzamentos, sexo dos animais, etc.) e de ambiente (clima, solo, alimentação, etc.) quanto as práticas de manejo, produção e comercialização (criação em regime de pasto, semiconfinamento, confinamento, estação de monta, época e métodos de comercialização, tipo de produto, diferenciação de mercados, etc.). No Brasil, o conceito de precocidade, embora tenha sido concebido por zootecnistas europeus há quase um século, ainda é pouco divulgado (DOMINGUES, 1971). Em geral, pensa-se que animal precoce é aquele que cresce rapidamente. Precoce é o animal que chega mais cedo à idade adulta ou, em outras palavras, é aquele cujo esqueleto se completa precocemente, antes da idade comum à sua espécie. Tal acabamento se dá pela ossificação da zona de crescimento, dos ossos longos, e assim o animal pára de crescer, com outra conseqüência importante: adquire a dentição definitiva também mais cedo. Este é o conceito adotado neste trabalho. A Associação Brasileira do Novilho Precoce (ABNP) definiu critérios para a classificação de animais como novilhos precoces com base em três características: 1) peso da carcaça (mais de 200 kg, para novilhos e 2 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte machos não-castrados, e mais de 180 kg para fêmeas); 2) idade do animal (até 2 dentes definitivos, para novilhos e fêmeas, e zero dente "dentição de leite" - para machos não-castrados); e 3) grau de acabamento da carcaça (3 a 10 milímetros de espessura da camada de gordura na altura da 12a costela). O objetivo deste trabalho é apresentar e discutir alguns aspectos sobre estratégias de utilização de raças puras e de cruzamentos para a produção de novilhos precoces, particularmente quanto às três características em que se fundamenta a classificação dos animais (peso da carcaça, idade de abate e espessura da camada de gordura na altura da 12ª costela). 2. ESTRATÉGIAS DE UTILIZAÇÃO DE RECURSOS GENÉTICOS No Brasil, há grande número de raças de bovinos que são usadas para produção de carne. De acordo com o dicionário de MASON (1988), há aproximadamente mil raças zootécnicas de bovinos no mundo, das quais 250 têm alguma importância numérica ou histórica em termos de produção de carne, de leite e de carne e leite. Dessas, 150 podem ser classificadas como raças especializadas para produção de carne, 40 como especializadas para produção de leite e 60 como de dupla aptidão (leite e carne). No Brasil, há vários grupos genéticos (raças, tipos raciais e cruzamentos) que são explorados para produção de carne, como será visto mais adiante. As diferenças entre esses grupos genéticos, quanto às características morfológicas, fisiológicas e zootécnicas, podem ser atribuídas às diferentes pressões de seleção às quais eles foram submetidos durante o processo de melhoramento. Desse modo, cada grupo é dotado de composição genética diferente, principalmente para as características relativas ao tipo (cor da pelagem, presença ou ausência de chifres, conformação do perfil da fronte, tamanho da orelha, etc.) e, provavelmente, para os atributos relacionados com a capacidade de adaptação ao ambiente (adaptabilidade). Esta diversidade genética, que é um recurso natural, pode ser utilizada de três maneiras (DICKERSON, 1969): 1) criação ou introdução I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 3 da "raça pura" melhor adaptada ao sistema de produção; 2) formação de novas raças; e 3) utilização de sistemas de cruzamento. As duas primeiras podem ser praticadas por meio da realização de cruzamentos por apenas algumas gerações, uma vez que o objetivo final é a introdução de uma "raça pura" melhor adaptada ou a formação de uma nova raça. A utilização de sistemas de cruzamento é uma forma de aproveitamento da diversidade genética de maneira permanente e contínua, sem a preocupação de se obter uma nova raça ou introduzir uma "raça pura" . As estratégias de utilização dos recursos genéticos envolvem diferentes alternativas de seleção (escolha dos pais da próxima geração) e de reprodução (escolha do sistema de acasalamento). A seleção dentro de "raças puras" é feita, em geral, com base no modelo aditivo simples quanto ao tipo de ação gênica. Na prática, a seleção dentro de "raças puras" geralmente produz ganhos genéticos muito próximos daqueles previstos teoricamente. A utilização de cruzamentos, por outro lado, é considerada como uma alternativa à seleção (BARBOSA e DUARTE, 1989; BARBOSA, 1995). No entanto, precisa ser ressaltado que as alternativas de seleção e cruzamentos não são mutuamente exclusivas. Qualquer sistema de cruzamentos, ou esquema de formação de novas raças, depende dos programas de seleção das "raças puras" utilizadas no processo. O delineamento de programas de melhoramento genético animal pode ser sistematizado em 10 passos seqüenciais (HARRIS et al., 1984): 1) descrição do(s) sistema(s) de produção; 2) estabelecimento do objetivo do(s) sistema(s) de produção; 3) escolha da estratégia de utilização dos recursos genéticos e dos recursos genéticos propriamente ditos; 4) obtenção de parâmetros de seleção e pesos econômicos; 5) delineamento do sistema de avaliação; 6) desenvolvimento dos critérios de seleção; 7) delineamento do sistema de acasalamentos; 8) delineamento do sistema de multiplicação dos animais selecionados; 9) comparação de alternativas de programas de melhoramento; e 10) revisão do programa com base nas modificações futuras e, se for o caso, na segmentação do 4 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte sistema de produção. Os três primeiros passos são discutidos resumidamente nesta palestra. Qualquer que seja a estratégia a ser escolhida, um aspecto fundamental é a visão do sistema de produção como um todo, isto é, desde a tomada de decisão sobre quais tipos de recurso genético e de sistema de produção a serem utilizados (“antes da porteira”), as práticas de manejo a serem adotadas (“dentro da porteira”), até o consumo da carne e derivados (“depois da porteira”). A eficiência zootécnica de qualquer sistema de produção, por sua vez, é função de três componentes: 1) eficiência reprodutiva do rebanho de vacas; 2) eficiência do ganho de peso dos animais jovens; e 3) qualidade dos produtos (carne e couro). As estratégias possíveis devem ser avaliadas sob o ponto de vista da eficiência biológica e econômica do sistema de produção como um todo. A avaliação de apenas um ou dois componentes pode conduzir a recomendações discutíveis. É importante ressaltar que o objetivo principal da produção de carne bovina, seja ela praticada de forma extensiva ou intensiva, é atender as exigências de mercado. Dois sistemas de produção são considerados nesta palestra: 1) produção de animais para abate em regime de pastagens, e 2) produção de animais para abate com terminação em regime de confinamento. É difícil predizer o futuro porque uma amplitude de cenários pode ocorrer, como aqueles descritos por ODDY (1995) para a produção de carne bovina na Austrália. No entanto, estes cenários possíveis podem servir como indicação dos tipos de animais que serão demandados no futuro. Neste sentido, dois aspectos são importantes: 1) manutenção (ou mesmo aumento) da variabilidade disponível em bovinos de corte; e 2) aumento na flexibilidade dos programas de melhoramento genético para praticar mudanças no tipo de animal em resposta às mudanças nas exigências de produção e de mercado. Desde a introdução do índice de mérito total (HAZEL, 1943), para definir os objetivos do melhoramento genético de animais domésticos, vários estudos foram realizados até que fosse obtido um consenso quanto à metodologia a ser utilizada. Um objetivo de melhoramento genético pode I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 5 ser definido por uma função que considera os valores genéticos para várias características como entrada e produz, como saída, a variável que o tomador de decisão quer maximizar como, por exemplo, o lucro. Esta função pode ser usada para comparar animais de uma mesma raça, raças ou grupos genéticos diferentes. As comparações devem ser feitas após ajustar as práticas de manejo ao nível adequado para cada genótipo (GODDARD, 1997), o que é praticamente impossível na maioria das vezes, particularmente nas regiões tropical e subtropical. A melhor maneira de se definir o objetivo é a relação entre o custo e a receita porque, desta forma, o objetivo não é afetado pelo efeito de escala e também é o mesmo para produtores e consumidores. A Figura 1 ilustra as relações entre seleção, cruzamentos e formação de novas raças em bovinos de corte. O ponto de partida considerado foi a utilização de uma "raça exótica" em cruzamento com fêmeas da população local. Assim, a estratégia colocada em discussão nesta palestra é a utilização de cruzamentos. As questões colocadas na Figura 1 precisam ser respondidas com níveis adequados de precisão. Do contrário, torna-se praticamente impossível estabelecer a estratégia de utilização dos recursos genéticos mais adequada para atender a amplitude de mercados em que o Brasil participa. Talvez seja correto afirmar que, para atender toda a amplitude de mercados de carne bovina, a produção terá que ser feita utilizando diferentes sistemas de produção e diferentes tipos de animais. 6 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte OS ANIMAIS CRUZADOS SÃO MELHORES? NÃO SELEÇÃO NA RAÇA LOCAL SIM QUAL RAÇA EXÓTICA É MELHOR? QUANTO DA RAÇA EXÓTICA É DESEJÁVEL? 100% SELEÇÃO NA RAÇA EXÓTICA < 100% A HETEROSE É IMPORTANTE? POUC O MUITO NÃO CRUZAMENTO ROTACIONADO É POSSÍVEL? SIM FORMAÇÃO DE NOVA RAÇA SELEÇÃO NA NOVA RAÇA SELEÇÃO NAS RAÇAS PATERNAS Figura 1 - Opções estratégicas envolvendo sistemas de cruzamento e seleção (adaptada de Cunningham, 1981). I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 7 3. TIPOS BIOLÓGICOS DE BOVINOS Vários tipos de bovinos podem ser criados para a obtenção de novilhos precoces, seja como raças puras ou em cruzamentos. No entanto, é preciso reconhecer que as relações de natureza genética entre as características de crescimento dos animais e dos tecidos da carcaça determinam a existência de apenas alguns tipos biológicos. Quanto ao tamanho à maturidade (idade adulta), por exemplo, os diferentes tipos de bovinos podem ser classificados em pequeno, médio e grande. Do mesmo modo, quanto ao grau de musculatura, os animais podem ser classificados em um dos três seguintes tipos de musculatura: grossa, moderada e fina. Embora exista variação quanto ao tipo de musculatura entre animais de uma mesma raça, a combinação desses dois critérios de classificação permite a determinação dos tipos biológicos disponíveis para obtenção de novilhos de corte (Tabela 1). Os dois critérios de classificação proporcionam um sistema útil para a determinação do tipo biológico. As raças de tamanho grande e musculatura grossa têm taxas de crescimento maiores (maior ganho de peso por dia), mas são mais tardias quanto à habilidade para acumular o mínimo necessário de gordura na carcaça. As raças de tamanho pequeno e musculatura moderada, por outro lado, têm menores taxas de crescimento absoluto, mas são mais precoces em termos de acabamento da carcaça, isto é, têm maior habilidade para deposição de gordura na carcaça do que as de tamanho grande. Trabalhos de pesquisa mostram que a correlação genética entre o peso à maturidade (idade adulta) e a taxa de maturação (tempo que o animal leva para atingir o tamanho à maturidade) é negativa. Isto indica que os animais com potencial genético para maior tamanho à maturidade demoram mais tempo para atingir um mesmo grau de maturidade, se comparados com animais de menor potencial genético para tamanho à maturidade. Essa relação entre tamanho na idade adulta e grau de maturidade tem conseqüências importantes no peso de abate e na composição da carcaça, como será visto mais adiante. 8 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 1 - Classificação de algumas raças de bovinos de acordo com o tamanho à maturidade e o grau de musculatura (adaptada de MINISH & FOX, 1982) Tamanho à maturidade (idade adulta) Pequeno Grau de Musculatura Grossa Moderada Angus Gir Murray Grey Red Angus Fina Gir Leiteiro Guernsey Jersey Pitangueiras Médio Belgian Blue Gelbvieh Limousin Piemontês Pinzgauer Red & White Beef Brahman Brangus-Ibagé Canchim Hereford Nelore Tabapuã Ayrshire Caracu Hays Converter Lincoln Red Shorthorn Leiteiro Welsh Black Grande Blonde d´Aquitaine Charolês Chianina Fleckvieh Holandês Frísio Marchigiana Pardo-Suíço Simental Holandês Amer. South Devon 4. UTILIZAÇÃO DE RAÇAS E CRUZAMENTOS PRODUÇÃO DE NOVILHOS PRECOCES PARA Há três estratégias de utilização dos recursos genéticos para produção de carne bovina: 1) a utilização de animais de uma raça pura melhor adaptada ao sistema de produção-comercialização existente ou potencial; 2) a formação de novas raças, combinando características desejáveis de duas ou mais raças puras, caso a primeira estratégia não seja capaz de atender as exigências do sistema de produção-comercialização; e 3) a utilização de cruzamentos, de forma permanente, sem a preocupação de formar novas raças. As razões para a utilização de cruzamentos são: 1) aproveitar os efeitos da heterose; 2) utilizar as diferenças genéticas existentes entre as I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 9 raças puras para uma determinada característica; 3) aproveitar os efeitos favoráveis da combinação de características, nos animais cruzados, resultantes da seqüência em que as raças são utilizadas no sistema de cruzamentos (complementaridade); e 4) dar flexibilidade aos sistemas de produção-comercialização. Os diferentes sistemas de cruzamento (rotacionado, terminal e rotacionado-terminal) exploram as razões de natureza genética em graus diferenciados, mas todos eles têm o potencial de tornar os sistemas de produção mais flexíveis, principalmente quanto ao tipo de produto requerido pelo mercado, em prazos relativamente curtos, quando comparados com as outras estratégias de utilização dos recursos genéticos. Esta vantagem talvez seja mais importante que as outras e, por sua vez, implica na escolha estratégica dos recursos genéticos e de ambiente e, também, na adoção de melhor manejo dos recursos disponíveis para a produção de novilhos precoces. Os resultados sobre a utilização de raças puras e cruzamentos no Brasil foram sumarizados por BARBOSA e DUARTE (1989), BARBOSA (1990; 1995) e BARBOSA e ALENCAR (1995). Mais recentemente, vários resultados sobre o desempenho de animais cruzados foram relatados na literatura. Para as características mais freqüentemente estudadas e quando os experimentos incluíram uma população controle de animais de raça pura (tanto de Bos taurus quanto de Bos indicus), a síntese do desempenho dos animais cruzados foi atualizada em 1998, considerando-se aquele dos animais da raça pura como base e igual a 100. As características avaliadas foram o ganho de peso em confinamento, o peso e o rendimento de carcaça, o consumo de matéria seca, a conversão alimentar e a espessura de gordura na altura da 12a costela. Maiores detalhes quanto aos procedimentos adotados para cálculo das médias e das amplitudes de variação do desempenho relativo podem ser obtidos em BARBOSA e DUARTE (1989) e BARBOSA (1990; 1995). Os resultados obtidos foram descritos e discutidos por BARBOSA (1998). Os dados relatados na literatura sobre peso e idade de abate e espessura de gordura, tanto para animais terminados em confinamento como em regime de pastagens, foram organizados de acordo com o grupo genético e sumarizados até julho de 1999. As médias são apresentadas nas Tabelas 2 e 3, respectivamente. 10 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 2 - Número de estimativas (N) e médias de peso de carcaça, idade de abate e espessura de gordura, de acordo com grupo genético, para animais terminados em regime de confinamento Grupos Genéticos Raças puras: Britânicas Continentais Zebuínas Animais F1: Britânicas x Zebu Continentais x Zebu Animais retrocruzados: 2/3 Britânicas + 1/3 Zebu 2/3 Continentais + 1/3 Zebu 2/3 Zebu + 1/3 Britânicas 2/3 Zebu + 1/3 Continentais Animais cruzados de 3 raças: ½ Brit. + ¼ Cont. + ¼ Zebu Total Número de estimativas e médias (± erro-padrão) N Peso, Idade, Espessura, arrobas meses mm 9 27 93 13,6 ± 0,5 15,0 ± 0,3 16,7 ± 0,2 20,9 ± 2,5 27,2 ± 1,4 27,8 ± 0,9 4,0 ± 0,4 2,9 ± 0,8 5,2 ± 0,3 9 72 17,3 ± 0,5 17,3 ± 0,3 24,7 ± 1,0 22,2 ± 0,6 4,5 ± 0,7 3,3 ± 0,2 19 17 5 25 15,1 ± 0,5 16,4 ± 0,5 16,8 ± 0,9 16,9 ± 0,3 16,7 ± 1,2 25,9 ± 2,2 21,0 ± 1,6 23,6 ± 1,4 4,8 ± 0,4 3,6 ± 0,7 2,7 ± 0,3 3,1 ± 0,1 5 281 17,4 ± 0,9 16,5 ± 0,1 23,6 ± 5,0 24,5 ± 0,5 3,4 ± 0,9 4,0 ± 0,2 As médias de espessura de gordura na altura da 12ª costela (Tabelas 2 e 3) indicam que o grau de acabamento de animais cruzados, particularmente os filhos de touros de raças de tamanhos médio e grande, está abaixo do desejado pela maioria dos mercados consumidores (5 a 8 mm) porque os animais foram abatidos com pesos inferiores aos recomendados por BARBOSA (1995) para novilhos (525 kg de peso vivo ou 17,5 arrobas) e machos não-castrados (575 kg de peso vivo ou 19,2 arrobas), considerando rendimento de carcaça de 50%. O resultado que, até certo ponto, pode ser considerado surpreendente é o grau de acabamento das carcaças provenientes de animais de raças zebuínas, tanto em confinamento (5,2 ± 0,3 mm) como em pastagens (5,7 ± 0,7 mm). No entanto, as idades de abate (27,8 e 34,5 meses respectivamente) limitariam a classificação dos animais como novilhos precoces. Observa-se, ainda, que o número de estimativas sobre o I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 11 desempenho de determinados grupos genéticos é pequeno, tanto em regime de confinamento (Tabela 2) como em regime de pastagens (Tabela 3). Considerando-se que a terminação em regime de pastagens é a mais praticada no Brasil, nota-se que há poucos resultados experimentais sobre o desempenho comparativo de animais cruzados de raças britânicas com Zebu, retrocruzados com raças continentais e com raças zebuínas. Tabela 3 - Número de estimativas (N) e médias para peso de carcaça, idade de abate e espessura de gordura, de acordo com grupo genético, para animais terminados em regime de pastagens Grupos Genéticos Raças puras: Britânicas Continentais Zebuínas Animais F1: Britânicas x Zebu Continentais x Zebu Continentais x Britânicas Animais retrocruzados: 2/3 Britânicas + 1/3 Zebu 2/3 Continentais + 1/3 Zebu 2/3 Zebu + 1/3 Britânicas 2/3 Zebu + 1/3 Continentais Animais cruzados de 3 raças: ½ Zebu + ¼ Brit. + ¼ Cont. Total Número de estimativas e médias (± erro-padrão) N Peso, Idade, Espessura, arrobas meses mm 14 11 25 13,8 ± 0,5 15,3 ± 0,4 15,0 ± 0,3 33,4 ± 2,3 36,8 ± 2,8 34,5 ± 1,4 4,2 ± 0,5 1,9 ± 0,3 5,7 ± 0,7 3 16 4 16,3 ± 0,9 15,1 ± 0,5 15,1 ± 1,0 35,8 ± 3,6 31,0 ± 2,1 38,0 ± 2,9 3,4 ± 0,7 3,3 ± 0,2 1,6 ± 0,4 15 4 3 3 15,2 ± 0,6 16,5 ± 0,5 17,1 ± 0,7 17,1 ± 0,2 34,5 ± 2,0 27,4 ± 1,4 36,5 ± 5,8 32,3 ± 2,2 4,2 ± 0,4 2,1 ± 0,8 4,0 ± 0,7 1,9 ± 0,7 2 97 18,9 ± 0,1 15,2 ± 0,2 30,0 ± 0,0 33,8 ± 0,8 2,6 ± 0,2 3,9 ± 0,3 Com o objetivo de verificar se os coeficientes parciais do peso da carcaça e da idade de abate na espessura de gordura variavam de acordo com o grupo genético foram realizadas análises de regressão. Os coeficientes parciais da regressão da espessura de gordura, no peso de carcaça e na idade de abate, e os coeficientes de determinação são mostrados na Tabela 4, para animais terminados em confinamento, e na Tabela 5, para animais terminados em pastagens. O peso de carcaça foi expresso em arrobas e a idade de abate em meses para facilitar a 12 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte interpretação. Os resultados mostrados na Tabela 4 indicam que, em geral, o peso de carcaça é mais importante que a idade de abate quanto ao aumento da espessura de gordura na altura da 12ª costela, particularmente para as raças britânicas e para os animais cruzados envolvendo raças britânicas. O coeficiente de regressão da espessura de gordura na idade de abate foi significativo para os animais de raças zebuínas, cruzados de raças continentais com Zebu, retrocruzados de raças britânicas com raças zebuínas e retrocruzados de raças zebuínas com raças britânicas. Tabela 4 - Coeficientes parciais de regressão da espessura de gordura no peso da carcaça (b1) e na idade do animal (b2) e coeficientes de determinação (R2), de acordo com o grupo genético, para animais terminados em confinamento Grupos genéticos Raças puras: Raças britânicas Raças continentais Raças zebuínas Animais F1: Britânicas x Zebu Continentais x Zebu Continentais x Britânicas Animais retrocruzados: 2/3 Britânicas + 1/3 Zebu 2/3 Continentais + 1/3 Zebu 2/3 Zebu + 1/3 Britânicas 2/3 Zebu + 1/3 Continentais Cruzados de 3 raças: ½ Brit. + ¼ Cont.. + ¼ Zebu Total * P < 0,05; ** P < 0,01. b 1, mm/arroba b 2, mm/mês R2, % 0,49 ± 0,11** -0,18 ± 0,22 0,14 ± 0,05** -0,13 ± 0,07 0,21 ± 0,12 0,10 ± 0,03** 90,83 36,75 79,87 -0,01 ± 0,26 0,03 ± 0,05 - 0,18 ± 0,18 0,12 ± 0,04** - 79,64 82,68 - 0,50 ± 0,08** 0,02 ± 0,13 -0,05 ± 0,05 0,24 ± 0,03** -0,16 ± 0,07* 0,12 ± 0,08 0,17 ± 0,04* -0,04 ± 0,02 92,10 58,91 98,46 94,70 0,38 ± 0,11* 0,11 ± 0,03** -0,14 ± 0,07 0,09 ± 0,02 81,13 72,32 Os animais de raças britânicas (Angus, Devon, Hereford e Shorthorn) e zebuínas (praticamente só Nelore) depositam gordura na carcaça nas taxas de 0,49 ± 0,11 (P < 0,01) e 0,14 ± 0,05 (P < 0,01) mm/arroba de aumento no peso da carcaça, respectivamente, enquanto que, para os animais de raças continentais (Charolês, Chianina, I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 13 Marchigiana, Holandês, Pardo-Suíço, Limousin, Gelbvieh, Caracu, etc.) a taxa foi negativa, mas não diferente de zero (-0,18 ± 0,22 mm/arroba de aumento no peso da carcaça, P > 0,05). Os resultados mostram que há diferenças genéticas entre as raças para deposição de gordura, de acordo com o aumento do peso de carcaça, e que nas raças continentais a taxa de deposição é menor. Para os animais terminados em pastagens (Tabela 5), os coeficientes de regressão também indicam que o peso de carcaça é mais importante do que a idade de abate no grau de acabamento, particularmente para os animais de raças continentais e retrocruzados 2/3 britânicas + 1/3 Zebu. Tabela 5 - Coeficientes parciais de regressão da espessura de gordura no peso da carcaça (b1) e na idade do animal (b2) e coeficientes de determinação (R2), de acordo com o grupo genético, para animais terminados em pastagens Grupos genéticos Raças puras: Raças britânicas Raças continentais Raças zebuínas Animais F1: Britânicas x Zebu Continentais x Zebu Continentais x Britânicas Animais retrocruzados: 2/3 Britânicas + 1/3 Zebu 2/3 Continentais + 1/3 Zebu 2/3 Zebu + 1/3 Britânicas 2/3 Zebu + 1/3 Continentais Cruzados de 3 raças: ½ Zebu + ¼ Brit. + ¼ Cont. Total * P < 0,05; ** P < 0,01. b 1, mm/arroba b 2, mm/mês R2, % 0,25 ± 0,12 0,16 ± 0,06* 0,35 ± 0,19 0,03 ± 0,05 -0,02 ± 0,03 0,01 ± 0,08 86,43 78,88 69,28 0,17 ± 0,24 0,09 ± 0,06 -0,19 ± 0,81 0,07 ± 0,17 0,06 ± 0,03 0,12 ± 0,32 75,54 94,85 83,96 0,39 ± 0,17* 0,26 ± 0,93 -0,02 ± 0,04 0,01 ± 0,53 -0,05 ± 0,07 -0,08 ± 0,56 0,12 ± 0,02 0,06 ± 0,28 92,73 33,83 99,28 39,87 1,20 0,17 ± 0,07* -0,67 0,04 ± 0,03 70,11 Com o objetivo de compreender o comportamento do peso de carcaça, da idade de abate e das proporções das raças britânicas, continentais e zebuínas na composição genética dos animais cruzados, 14 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte foram realizadas análises de regressão da espessura de gordura, como indicador do grau de acabamento da carcaça, nestas características, para os sistemas de terminação em confinamento e em pastagens. Os resultados são mostrados nas Tabelas 6, 7, 8 e 9. No sistema de terminação em confinamento (Tabela 6), observa-se que apenas o coeficiente de regressão da espessura de gordura na idade de abate foi significativo (aumento de 0,09 ± 0,02 mm/mês de aumento na idade de abate). No sistema de terminação em pastagens, os coeficientes parciais de regressão não foram significativos. Quando se ajusta para peso da carcaça e idade de abate, não se espera que sejam observadas diferenças na espessura de gordura de acordo com a proporção de genes de raças britânicas, continentais e zebuínas nos animais. De acordo com BERG e BUTTERFIELD (1976), diferenças genéticas podem ser observadas na composição da carcaça, porque algumas raças começam a depositar gordura mais precocemente do que outras. A taxa de deposição de gordura pode diferir entre raças, mas a maior diferença observada é com relação ao período de estabelecimento da fase de acabamento. Geralmente, os animais precoces apresentam um menor tamanho por ocasião da maturidade e, consequentemente, entram na fase de acabamento mais jovens e com pesos mais leves do que os animais de raças de grande porte. Os resultados indicam, ainda, que a escolha estratégica da utilização de raças britânicas, continentais e zebuínas e dos sistemas de cruzamento para produção de novilhos precoces depende, em grande parte, da definição do sistema de terminação dos animais (confinamento ou pastagens) e da idade de abate no caso da terminação em confinamento. Na Tabela 7 são apresentados os coeficientes de regressão da espessura de gordura nas proporções de raças britânicas, continentais e zebuínas quando se mantém o peso de carcaça constante. No sistema de terminação em pastagens, os coeficientes de regressão não foram diferentes de zero. Entretanto, no sistema de terminação em confinamento observa-se que para cada 1/8 de aumento na proporção de raças zebuínas nos animais, a espessura de gordura aumenta 0,40 ± 0,15 mm, semelhante ao que ocorre com as raças britânicas (0,34 ± 0,15 mm), mas diferente do I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 15 observado para as raças continentais (0,11 ± 0,15 mm). Esses resultados indicam que as diferenças entre as raças quanto à taxa de deposição de gordura são grandes e, por isso, a escolha estratégica dos recursos genéticos depende fundamentalmente da especificação do produto final que o mercado consumidor exige. Uma vez definido o produto a ser obtido, pode-se escolher os recursos genéticos a serem utilizados e o sistema de produção a ser adotado. Tabela 6 - Coeficientes parciais de regressão da espessura de gordura no peso da carcaça, na idade de abate e nas proporções de raças britânicas, continentais e zebuínas na composição genética dos animais, de acordo com o sistema de terminação Características Peso de carcaça, arrobas Idade de abate, meses Proporção de raças britânicas, em fração de 1/8 Proporção de raças continentais, em fração de 1/8 Proporção de raças zebuínas, em fração de 1/8 Coeficiente de determinação (R2), % * P < 0,05; ** P < 0,01. Confinamento 0,07 ± 0,07 0,09 ± 0,02** 0,19 ± 0,14 -0,11 ± 0,15 0,15 ± 0,16 74,44 Pastagens 0,11 ± 0,13 0,03 ± 0,03 0,15 ± 0,26 -0,18 ± 0,27 0,33 ± 0,27 76,94 Tabela 7 - Coeficientes parciais de regressão da espessura de gordura no peso da carcaça e nas proporções de raças britânicas, continentais e zebuínas na composição genética dos animais, de acordo com o sistema de terminação Características Peso de carcaça, arrobas Proporção de raças britânicas, em fração de 1/8 Proporção de raças continentais, em fração de 1/8 Proporção de raças zebuínas, em fração de 1/8 Coeficiente de determinação (R2), % * P < 0,05; ** P < 0,01. Confinamento 0,09 ± 0,07 0,34 ± 0,15* 0,11 ± 0,15 0,40 ± 0,15* 72,56 Pastagens 0,12 ± 0,13 0,26 ± 0,23 -0,07 ± 0,25 0,43 ± 0,25 76,93 Os coeficientes de regressão da espessura de gordura nas proporções de raças britânicas, continentais e zebuínas, quando se mantém 16 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte a idade de abate constante (Tabela 8), mostram que há diferenças entre as raças e entre os sistemas de terminação dos animais, com conclusão semelhante àquela feita com relação ao peso de carcaça (Tabela 7). Outro aspecto importante é o coeficiente de regressão da proporção de raças zebuínas na espessura de gordura (0,53 ± 0,13 mm), quando os animais são criados em regime de pastagens. Tabela 8 - Coeficientes parciais de regressão da espessura de gordura na idade de abate e nas proporções de raças britânicas, continentais e zebuínas na composição genética dos animais, de acordo com o sistema de terminação Características Idade de abate, meses Proporção de raças britânicas, em fração de 1/8 Proporção de raças continentais, em fração de 1/8 Proporção de raças zebuínas, em fração de 1/8 Coeficiente de determinação (R2), % * P < 0,05; ** P < 0,01. Confinamento 0,09 ± 0,02** 0,32 ± 0,08** 0,03 ± 0,07 0,30 ± 0,07** 74,43 Pastagens 0,03 ± 0,03 0,34 ± 0,14* 0,03 ± 0,14 0,53 ± 0,13** 76,99 Os coeficientes de regressão da espessura de gordura nas proporções de raças britânicas, continentais e zebuínas, sem ajustar para o peso de carcaça e a idade de abate dos animais, foram todos significativos em ambos os sistemas de terminação (Tabela 9). Esses resultados mostram que há diferenças entre os tipos biológicos de animais para grau de acabamento da carcaça. Como o peso de carcaça e a idade de abate podem variar de acordo com as exigências do mercado, essas diferenças no grau de acabamento são importantes sob o ponto de vista de escolha estratégica tanto dos recursos genéticos como das formas de sua utilização para a produção de novilhos precoces. I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 17 Tabela 9 - Coeficientes parciais de regressão da espessura de gordura nas proporções de raças britânicas, continentais e zebuínas na composição genética dos animais, de acordo com o sistema de terminação Características Proporção de raças britânicas, em fração de 1/8 Proporção de raças continentais, em fração de 1/8 Proporção de raças zebuínas, em fração de 1/8 Coeficiente de determinação (R2), % * P < 0,05; ** P < 0,01. Confinamento 0,51 ± 0,07** 0,30 ± 0,04** 0,60 ± 0,03** 72,48 Pastagens 0,48 ± 0,06** 0,17 ± 0,07* 0,67 ± 0,05** 76,95 5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES Análises de regressão foram realizadas com o objetivo de verificar o comportamento das raças puras e dos animais cruzados, tanto em regime de confinamento como pastagens, quanto à espessura de gordura na altura da 12ª costela, como indicador do grau de acabamento para classificação dos animais como novilhos precoces. Os resultados obtidos permitem algumas conclusões e recomendações. Para animais terminados em confinamento, o peso de abate é mais importante do que a idade na determinação da espessura de gordura na altura da 12ª costela. Em regime de confinamento, quanto maior a proporção das raças continentais na composição genética dos animais, menor é a taxa de deposição de gordura (0,30 ± 0,04 mm para cada aumento de 12,5% de genes de raças continentais). Tanto para animais terminados em confinamento como em regime de pastagens, a espessura de gordura aumenta mais de acordo com a proporção de raças zebuínas (0,60 ± 0,03 mm e 0,67 ± 0,05 mm para cada 12,5% de aumento na proporção de Zebu nos animais cruzados, respectivamente) do que com as proporções de raças britânicas e continentais. O desempenho de animais Zebu, tanto em confinamento como em pastagens, quanto ao peso de carcaça (16,7 ± 0,2 e 15,0 ± 0,3 arrobas), 18 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte idade de abate (27,8 ± 0,9 e 34,5 ± 1,4 meses) e espessura de gordura na altura da 12ª costela (5,2 ± 0,3 e 5,7 ± 0,7 mm) sugere que a estratégia de cruzamentos deve ser comparada com a utilização das raças zebuínas para produção de novilhos precoces. A escolha estratégica das raças para utilização em sistemas de cruzamento deve ser feita levando-se em consideração o sistema de terminação, o peso de carcaça, a idade de abate e o grau de acabamento desejados pelos segmentos do mercado consumidor. Os sistemas de cruzamento, como estratégia de utilização de recursos genéticos para produção de novilhos precoces, proporcionam maior flexibilidade aos sistemas de produção e têm o potencial de atender, a curto prazo, as exigências dos consumidores e viabilizar, se necessário, a segmentação do mercado de carne bovina. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARBOSA, P. F. Cruzamentos para produção de carne bovina no Brasil. In: Bovinocultura de Corte (Ed.: SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA), p. 1-45. Piracicaba: FEALQ, 1990. 146p. BARBOSA, P. F. Cruzamentos para produção do novilho precoce. In: ENCONTRO NACIONAL SOBRE NOVILHO PRECOCE, Campinas, SP, 22 a 24 de agosto de 1995, p. 75-92. Campinas: Coordenadoria de Assistência Técnica Integral, Departamento de Comunicação e Treinamento, 1995. 128p. BARBOSA, P. F. Cruzamentos industriais e a produção de novilhos precoces. In: SIMPÓSIO SOBRE PRODUÇÃO INTENSIVA DE GADO DE CORTE, Campinas, SP, 29 e 30 de abril de 1998, p. 100-114. Campinas: Colégio Brasileiro de Nutrição Animal, 1998. 232p. BARBOSA, P. F.; ALENCAR, M. M. de. Sistemas de cruzamento em bovinos de corte: estado da arte e necessidades de pesquisa. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 32, Julho de 1995, Brasília, DF. Brasília, DF: Sociedade Brasileira de Zootecnia, Anais... p. 681-683, 1995. I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 19 BARBOSA, P. F.; DUARTE, F. A. M. Crossbreeding and new beef cattle breeds in Brazil. Revista Brasileira de Genética, Ribeirão Preto, v.12, n.3 (Suppl. 1), p. 257-301, 1989. BERG, R. T.; BUTTERFIELD, R. M. New Concepts of Cattle Growth. Sydney: Sydney University Press, 1976. 240p. DOMINGUES, O. O Zebu, sua reprodução e multiplicação dirigida. São Paulo: Livraria Nobel S. A., 1971. 187p. GODDARD, M. E. Consensus and debate in the definition of breeding objectives. Journal of Dairy Science, v. 80, suppl. 1, p. 144, 1997. HARRIS, D. L.; STEWART, T. S.; ARBOLEDA, C. R. Animal breeding programs: a systematic approach to their design. Peoria, IL: Agricultural Research Service, U. S. Department of Agriculture, 1984. 14p. HAZEL, L. N. The genetic basis for constructing selection indexes. Genetics, v. 28, p. 476-490, 1943. MINISH, G. L. e FOX, D.G. Beef production and management, 2nd ed. Reston, VA: Reston Publishing Company, 1982. 470p. ODDY, H. What can Australian nutritionists offer the feedlot industry? In: ROWE, J. B. & NOLAN, J. V. (Ed.) Recent Advances in Animal Nutrition in Australia, p. 143-148. Armidale: University of New England, 1995. 20 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS CRIADORES DE ZEBU UMA EMPRESA DE GENÉTICA TROPICAL Luiz Antonio Josahkian Superintendente Técnico da ABCZ Professor de Melhoramento Animal da FAZU Caixa Postal 71 38001-970 Uberaba - M G e-mail : [email protected] É curioso observar que os bovinos, não sendo nativos no Brasil, totalizam hoje cerca de 160 milhões de cabeças espalhadas por todo o território nacional. Inicialmente um elemento colonizador de nossas fronteiras, os bovinos se tornaram hoje, um valioso patrimônio genético da nossa nação. Uma rápida olhada na nossa história mostra fatos relevantes que nos ajudam a entender a importância das raças zebuínas no contexto da pecuária bovina brasileira. Registra-se que, até meados do Século XIX, havia um predomínio das raças bovinas européias. Trazidas pelos colonizadores, encontraram no país condições adversas de clima e situações precárias de criação. Os espécimes remanescentes degeneraram-se, substituindo sua capacidade produtiva pelo poder adaptativo: era a natureza cobrando seus tributos. Alguns tipos bovinos atuais resultam desses animais e conseguiram atravessar quase 500 anos de criação, e por isso têm certo valor genético embora a ausência de seleção e o efetivo muito pequeno reduza-os apenas a representantes daqueles tempos. Mesmo frente a essa realidade, as importações de bovinos europeus se sucederam ao longo do tempo. E persistem até hoje. No todo, o volume de importações de raças européias supera estrondosamente ao das raças zebuínas: são aproximadamente 1 milhão de bovinos europeus introduzidos no país contra 6,3 mil exemplares zebuínos. Na constituição genética atual do rebanho bovino brasileiro, estima-se 80% dos animais tenha genes de origem zebuína, seja na forma de animais puros ou através de cruzamentos. 22 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte Traduzido em números, isso equivale a 128 milhões de cabeças. É um número impressionante (mesmo que sem precisão matemática) e demonstra o poder de sobrevivência, crescimento e multiplicação das raças zebuínas nas nossas condições, principalmente partindo de um núcleo inicial tão reduzido. Provavelmente foram essas características dos zebuínos que despertaram o interesse de alguns criadores que organizaram algumas importações de animais da Índia entre 1870 e 1962, em intervalos e quantidades irregulares. As primeiras importações seguramente foram movidas mais pela intuição do que por razões técnicas. Difícil imaginar que motivos teriam levado, na época, alguns intrépidos pioneiros a se aventurarem numa Índia distante, com meios de transporte e comunicação precários, em busca de animais exóticos. As referências quanto a utilidade daqueles animais seguramente eram vagas. Basta ver que, em 1875, um casal de zebu havia sido importado do Jardim Zoológico de Londres. Hoje é possível ver com clareza que tratavam-se de homens de visão, do tipo que enxergam bem além de seu próprio tempo. Em 1921 o governo brasileiro proibiu as importações da Índia por razões sanitárias. Aquelas que se organizaram em 1930, 1952, 1960 e 1962 ocorreram sob licença especial de importação e já com exigência de quarentenário. Nada disso, porém, impediu o crescimento impetuoso e a instalação no país de uma das pecuárias mais pujantes e de intenso potencial de todo o globo terrestre, toda baseada na genética zebuína. O ESTABELECIMENTO DO REGISTRO GENEALÓGICO A multiplicação das raças zebuínas no país tomaram grandes proporções a partir da década de 10. Os criadores mineiros da região do Triângulo decidiram então formar a “Associação do Herd Book da Raça Zebu”, em 16 de fevereiro de 1919. Esta entidade chegou a emitir certificados de animais que foram exportados para o México e América Central. Do México chegaram aos Estados Unidos. I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 23 Mas o desinteresse e a recusa dos poderes públicos em reconhecer esse Serviço fez com que ele quase se extinguisse , até ser absorvido por uma entidade maior, a Sociedade Rural do Triângulo Mineiro – SRTM, fundada em 18 de junho de 1934. Em 25 de março de 1967, a SRTM transformou-se em Associação Brasileira dos Criadores de Zebu – ABCZ, nome que ostenta até os dias atuais. O registro genealógico das raças indianas foi reconhecido pelo Ministério da Agricultura em 1936. Denominado à época Serviço de Registro Genealógico das Raças Bovinas de Origem Indiana – SERBOI, em regime de Livro Aberto, abrangia todo o território nacional em decorrência do Tratado de Roma , firmado naquele mesmo ano, do qual o Brasil foi um dos países signatários. No ano de 1938, exatamente no dia 17 de julho, consolida-se os primeiros registros genealógicos oficiais de zebuínos, quando o Sr. Presidente da República, Dr. Getúlio Vargas, marca o primeiro animal do Tipo Indubrasil. Transcorridas seis décadas desde aquele ato, a ABCZ manteve-se fiel aos princípios da pecuária seletiva , sempre consoante com o Ministério da Agricultura. Essa postura consolidou as raças zebuínas no Brasil, que têm, hoje, reconhecimento internacional, sobrepondo inclusive o rebanho da terra mãe - a Índia - em qualidade. De 1938 a 1999 foram realizados 5,3 milhões de RGN’s e 2,5 milhões de RGD’s, envolvendo todas as raças zebuínas (veja Tabela 1 abaixo). Tabela 1 - Estatística do Registro Genealógico de Nascimento (RGN) e Definitivo (RGD) no período de 1939 a 1998 Raça RGN % RGD % Gir Mocha 34.164 0.65 21.772 0.85 Gir 491.924 9.30 286.850 11.16 Guzerá 213.846 4.04 104.331 4.06 Indubrasil 207.523 3.92 124.024 4.82 Nelore 3.838.104 72.56 1.732.840 67.41 Nelore Mocha 356.647 6.74 215.007 8.36 Sindi 8.080 0.15 4.465 0.17 Tabapuã 138.576 2.62 80.426 3.13 Cangaian 29 * 50 * Brahman 513 0.01 876 0.03 TOTAL 5.289.406 Fonte:ABCZ/SUT/SDG 1999 *não significativo ao nível de 1% 100.00 2.570.641 100.00 24 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte O PROCESSO QUE NÃO PARA De um momento inicial - onde os espécimes indianos aqui introduzidos se amalgamaram numa desordem de tipo e função - até os dias atuais, quando as raças zebuínas são perfeitamente identificáveis graças ao registro seletivo ininterrupto, foram sendo criadas ferramentas adicionais de seleção para desempenho funcional. Atingido um padrão fenotípico aceitável, tornou-se imperativo incorporar à seleção pelo tipo racial, critérios mensuráveis e em bases científicas e econômicas. Já no ano de 1968 estabeleceram-se as Provas Zootécnicas, pautadas basicamente no Controle do Desenvolvimento Ponderal, nas Provas de Ganho em Peso e no Controle Leiteiro. Esses testes perduram até hoje e somam a impressionante marca de 1,3 milhão de animais avaliados e 5,2 milhões de dados colhidos. Tabela 2 - Controle do Desenvolvimento Ponderal - CDP (1968agosto de 1999): Número de pesagens realizadas e número de animais inscritos, por raça Raça Brahman Gir Guzerá Indubrasil Nelore Nel. Mocho Sindi Tabapuã Gir Mocho Total Pesagens 3.556 34.763 325.919 143.260 3.885.484 437.216 2.042 310.409 58.509 5.201.158 Fonte:ABCZ/SUT/SMG 1999. % 0.07 0.67 6.27 2.75 74.70 8.41 0.04 5.97 1.12 100.0 Inscritos 1.158 63.601 81.201 40.438 940.492 99.212 513 71.838 14.262 1.312.715 % 0.09 4.84 6.19 3.08 71.64 7.56 0.04 5.47 1.09 100.0 I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 25 Tabela 3 - Provas de Ganho em Peso -PGP : realizadas de 1975 a 1999 Raça Nelore Indubrasil Gir Guzerá Nel.Mocho Tabapuã Gir Mocho Brahman Total 402 Provas Realizadas Animais Testados 10.974 230 251 1.332 656 1.147 40 24 14.654 % 74.89 1.57 1.71 9.09 4.48 7.83 0.27 0.16 100 Fonte: ABCZ/SUT/SMG 1999. Tabela 4 - Serviço de Controle Leiteiro - CL: Número de vacas inscritas e número de controles efetuados, de 1975 a outubro de 1999 Raça Inscritas % Pesagens % Encerradas % 1674 66.88 11.975 65.91 11.975 72.82 Gir 115 4.59 687 3.78 687 4.18 Gir Mocho 363 14.50 3.027 16.66 3.027 18.41 Guzerá 103 4.12 562 3.09 562 3.42 Zebu Leiteiro 138 5.51 1.135 6.25 116 0.71 Nelore 65 2.60 458 2.52 45 0.27 Sindi 45 1.80 324 1.78 33 0.20 Indubrasil 2503 100.00 18.168 100.00 16.445 100.00 Total Fonte: ABCZ/SUT/SMG 1999. É seguramente o maior acervo de informações de zebuínos existente no mundo. Esse banco de dados é uma fonte inesgotável de estudos, alicerçando inúmeras pesquisas com instituições do porte da Embrapa, várias Universidades e Centros de Investigação Científica. 26 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte As raças zebuínas começaram a definir seus contornos econômicos e os avanços foram cada vez mais significativos. O conceito de seleção do zebu agregou então, na prática e de forma definitiva, a busca por animais geneticamente puros aliados à eficiênc ia da produção em um ambiente tipicamente tropical O mundo reconheceu essa genética melhoradora e o resultado é que o zebu brasileiro há muito ultrapassou as fronteiras nacionais: Estados Unidos, México, Guatemala, Honduras, Costa Rica, Nicarágua, Bolívia, Colômbia, Argentina, Paraguai, Venezuela e Tailândia, apenas para citar alguns, são países que se utilizam de nossa genética zebuína. OS ANOS 80 E 90 A década de 80 foi caracterizada no país por um movimento, ainda subjacente, da busca por mecanismos que pudessem identificar com maior precisão uma genética superior e mais produtiva. As transformações econômicas e sociais que ocorreram no mundo passaram a determinar a eficiência de produção como palavra de ordem. Por outro lado, não obstante “eficiência” tenha se tornado um imperativo, outras transformações de cunho mais social e comunitário postulavam a proteção ao meio ambiente. Cada vez mais, ONG’s passaram a cobrar da sociedade como um todo, a preservação do meio ambiente. E verdade seja dita, abstraída algumas posições extremadas e desvinculadas da realidade, tais atitudes são sérias e devem ser consideradas no contexto da produção auto-sustentável ao longo do tempo. Nesse estado geral de coisas, os zebuínos se apresentaram como excelente solução para resolver ambos os lados da equação: produzir proteína nobre (a carne vermelha) em sistemas de produção extensivo onde a agressão ao meio ambiente inexiste ou é mínima. Sem ufanismo, ponto para o zebu e ponto para a humanidade. Os anos 90 chegaram trazendo a rapidez no tráfego de informações. A velocidade de transformações se tornou emblemática de nossa época. I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 27 A evolução e democratização da ciência da informática provocou um efeito em cascata em todas as camadas sociais na difusão quase instantânea de conhecimento. Conseqüência desse processo, deslocamentos de poder e de recursos atingiram proporções jamais vistas anteriormente. Hoje, dificilmente algo ou alguém é proprietário único de idéias ou de conhecimento por muito tempo. Conceitos como reengenharia e qualidade total passaram a fazer parte do cotidiano de todas as empresas, independentemente de seu porte. No mercado de genética animal, especificamente, a instalação de programas de melhoramento tornaram-se obrigatórios, consolidando de forma definitiva a tendência de mercado iniciada nos anos 80. A propalada ‘Nova Ordem Mundial” se instalara de vez e com ela sinais claros de que a competição em todos os segmentos ficaria cada vez mais acirrada Fatos concretos do fenômeno da globalização, como a formação de blocos econômicos (UE, NAFTA, MERCOSUL...) e a consolidação da rede mundial de computadores (Internet), colocaram todos os segmentos de produção frente a um novo e gigantesco mundo de competição. A tendência generalizada da queda das barreiras comerciais existentes entre os países com a permanência das barreiras sanitárias, nos obriga a repensar nosso modelo de produção. Felizmente a mentalidade daqueles que dirigiram e dirigem a ABCZ sempre souberam atrelá-la bem ao “trem da história”. As respostas da entidade para esse processo estão sendo igualmente rápidas e eficientes: investe-se em um Programa de Melhoramento Genético de proporções grandiosas e que vem sendo construído em bases sólidas ao longo dos últimos anos; investe-se em informática, criando meios de uma comunicação mais rápida e eficiente; priorizou-se ações sinérgicas com outras entidades afins no setor de sanidade animal buscando dar qualidade total aos nossos produtos; e, o investimento nos valores humanos, que em última análise compõem o sistema, tem sido uma constante através de cursos de treinamento, aperfeiçoamento ou especialização. 28 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte Trabalhando assim, em bases sólidas mas com a mente flexível, estamos confiantes de que as raças zebuínas seguem sua marcha acelerada para se constituírem em fatores de produção indispensáveis em qualquer pecuária tropical e sub-tropical. SELEÇÃO DE ZEBUÍNOS PARA CARACTERÍSTICAS PRODUTIVAS Prof. Dr. José Bento Sterman Ferraz e Prof. Dr. Joanir Pereira Eler Grupo de Melhoramento Animal Universidade de São Paulo - Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos Cx. Postal 23 - 13630.970 Pirassununga SP e.mail: [email protected] 1. INTRODUÇÃO A economia globalizada desses tempos de fim de milênio levou a pecuária de corte a uma situação onde apenas criadores com alta produtividade permanecerão no competitivo mercado. Todos aqueles que não atingirem níveis adequados de qualidade e produtividade serão marginalizados do processo produtivo, podendo até ser eliminados do mesmo e sair do ramo. As palavras de ordem dos tempos atuais são aumentar a produtividade e melhorar a qualidade dos produtos, sempre a custos minimizados. No caso de criadores que se dedicam ao comércio de material genético, apenas os que tiverem seus animais geneticamente avaliados conseguirão vender seus reprodutores e matrizes, pois o mercado estará cada vez mais exigente e vai requerer que o material genético disponível demonstre com clareza o seu potencial. Os ganhos genéticos de cada rebanho dependerão também do uso de animais geneticamente superiores nos processos seletivos dentro de cada plantel. A seleção de animais feita pelos critérios tradicionais, através da escolha direta de animais mais produtivos, leva a ganhos genéticos muito aquém dos ganhos que seriam obtidos caso os animais fossem selecionados com base nos seus valores genéticos. Já o uso de touros melhoradores, ou seja, aqueles que melhoram o patrimônio genético dos rebanhos é uma prática da maior importância nesse processo, desde que o criador saiba como identificá-los corretamente. Aí se coloca uma pergunta básica: por que o criador não se utiliza de animais melhoradores em seus rebanhos? E duas são as possíveis respostas: • Porque não tem informação, ou • Porque não sabe interpretar a informação 30 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte O rebanho brasileiro de bovinos é de cerca de 170 milhões de cabeças, das quais cerca de 80% são zebuínos ou animais com zebuínos em sua constituição genética. O melhoramento dos zebuínos para características de desenvolvimento ponderal e reprodutivo são necessidades imperativas para melhorar a competitividade de nossa pecuária. Assim, é necessário que todos aqueles envolvidos no agribusiness da pecuária de corte tenham noções bastante precisas de melhoramento genético e de suas ferramentas, quer sejam a identificação de animais superiores através das avaliações genéticas, os processos seletivos e os sistemas de acasalamento. Responder com precisão às dúvidas dos pecuaristas a respeito das informações a respeito da qualidade genética dos animais e do uso correto dessas informações é uma das responsabilidades dos geneticistas ligados aos programas de melhoramento genético de zebuínos no Brasil. Conhecendo estas técnicas, os profissionais envolvidos com a pecuária de corte poderão tomar decisões mais conscientes e ser mais eficientes em suas operações, mantendo-se competitivos e alertas para as mudanças de mercado que têm ocorrido com tanta rapidez. 2. A AVALIAÇÃO GENÉTICA - OS "MODELOS ANIMAIS" Avaliar a qualidade genética de um animal nada mais é do que estimar o seu valor genético aditivo. Infelizmente é impossível conhecer com precisão o valor genético dos animais. O problema é muito simples: o desempenho dos animais, também denominado de fenótipo é resultado do patrimônio genético que aquele animal possui, o chamado genótipo, somado aos efeitos de meio ambiente, existindo ainda uma interação entre os efeitos de genótipo e de meio ambiente, já que alguns animais são superiores a outros em alguns ambientes, mas se tornam inferiores àqueles em ambientes diferentes. Se simbolizarmos o fenótipo com a letra F , o genótipo com a letra G , o meio ambiente com a letra A e a interação entre o genótipo e o ambiente com as letras GA, o desempenho dos nossos animais, seja qual for a característica estudada (peso à desmama, peso a 1 I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 31 ano, produção de leite, circunferência escrotal, etc.) poderá ser colocado numa equação muito simples: F = G + A + GA Esta equação nos mostra que, infelizmente, o fenótipo que medimos nos animais não demonstra diretamente sua qualidade ou potencialidade genética. Esse fenótipo, essa produção ou essa medida F estarão sempre influenciados pelo meio ambiente A e pela interação genótipo-ambiente GA, que podem assumir valores positivos ou negativos e que alteram o valor genético dos animais, G. Como não se pode conhecer com exatidão o valor genético dos animais, lança-se mão de técnicas de estimação desses valores. Pela análise da equação acima pode-se verificar portanto a necessidade de estimar-se o valor genético dos animais sem a interferência dos efeitos de meio ambiente da interação genótipo-ambiente. O valor genético dos animais depende da herdabilidade do caráter (quanto maior a herdabilidade maior a concordância entre o genótipo e o fenótipo), do número de informações (quanto maior este número, melhor a estimativa do valor genético), do parentesco entre o animal avaliado e as fontes de informação (quanto mais próximo o parentesco, maior a ênfase que a informação deve ter) e do grau de semelhança fenotípica entre o animal avaliado e as fontes de informação (uma forma de avaliar os efeitos de ambiente que são comuns a diferentes fontes de informação, os chamados efeitos permanentes de ambiente). As metodologias de estimação de valores genéticos dos animais vêm se aperfeiçoando desde as primeiras décadas deste século, mas apenas a partir dos anos 80 houve um avanço muito grande nas mesmas e criaram-se ferramentas muito poderosas para a avaliação dos animais, principalmente após o advento dos chamados "modelos animais", a mais moderna metodologia para avaliação genética existente. Nestas metodologias utilizam-se os registros de produção do animal que está sendo avaliado, mas também de todos os seus parentes, não importa o grau de parentesco existente. Assim, dados a respeito de primos distantes, avós, filhos, filhas, irmãos e irmãs de um reprodutor ou matriz são avaliados segundo 32 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte complexos modelos matemáticos o que resulta na melhor estimação possível de seu valor genético, o G de nossa equação. Os modelos animais são uma aplicação dos chamados modelos mistos, desenvolvidos por C.R. Henderson nos anos 40, modelos que consideram efeitos fixos (sexo, idade da vaca, fazenda, sistemas de alimentação e manejo, grupo de contemporâneos, etc.) e efeitos aleatórios (como os efeitos diretos dos genes dos animais, os efeitos dos genes de sua mãe, os efeitos permanentes de ambiente que uma vaca fornece à sua progênie, etc) de maneira simultânea. Os efeitos aleatórios dos genes dos animais (direto e materno) são estimados com base nas informações fornecidas pelos registros de produção de todo e qualquer parente do animal. Isto se tornou possível porque na montagem das equações de modelos mistos, a inversa da matriz de parentesco é adicionada à parte aleatória do sistema, "ligando" os dados de todos os animais que porventura tenham parentesco. Como os dados estão conectados, por uma propriedade de multiplicação de matrizes, no momento em que as soluções são obtidas, o valor genético estimado de cada animal é obtido considerando-se as contribuições de cada parente. Isto se tornou possível nos anos 80 devido principalmente à elaboração de regras para o cálculo da inversa da matriz de parentesco (Quaas e Pollak, 1980) e devido ao aumento da capacidade dos microcomputadores, o que permitiu que vários pesquisadores passassem a ter acesso à tecnologia. No fim da década de 1980 e início dos anos 90, pesquisadores como C.R. Henderson (EUA), B. Kennedy (Canadá), L.D. Van Vleck, K. G. Boldman, I. Misztal (EUA), D. Sörensen (Dinamarca), K. Meyer (Inglaterra), E. Groeneveld (Alemanha), dentre outros desenvolveram uma série de programas específicos destinados a estimar parâmetros genéticos e valores genéticos aditivos de animais utilizando-se dessa metodologia. Tal metodologia já estava disponível no Brasil em 1991 e 1992 e vem sendo regularmente aplicada desde 1993. ELZO (1994) apresentou importante estudo sobre uso de procedimentos de máxima verossimilhança restrita para estimação de componentes de variância e covariância em populações cruzadas ou mesmo entre linhagem de mesma raça, concluindo que embora os requisitos I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 33 computacionais sejam consideravelmente grandes, o número de componentes de variância e covariância pode ser diminuído, usando algumas pressuposições adequadas, que facilitam o uso daquelas metodologias na análise de dados de bovinos cruzados. O uso de modelos animais na avaliação de animais cruzados foi uma conseqüência de sua ampla utilização no avaliação genética de bovinos (ARNOLD et al., 1992). Até recentemente, no entanto, as limitações computacionais levaram à utilização dos modelos animais reduzidos, particularmente nas avaliações nacionais (BENYSHEK & BERTRAND, 1990). Mais recentemente, inúmeros estudos têm-se utilizado dos procedimentos de modelos mistos sob modelos animais na análise genética de bovinos cruzados (DAVIS et al., 1994a,b; GREGORY et al., 1994a,b,c; HACKELFORD et al., 1994; KOCH et al., 1994; MEYER et al., 1994; GREGORY et al., 1995a,b,c; KRESS et al., 1995; PASCHAL et al., 1995; RODRíGUEZ-ALMEIDA et al., 1995a,b; VAN VLECK & CUNDIFF, 1995), dentre outros. Aspectos importantes a respeito de estrutura dos dados (TOSH & WILTON, 1994); volume de informações de pedigree (BRISBANE & GIBSON, 1995; GROEN et al., 1995; HAGGER & SCHNEEBERGER, 1995; QUINTON & SMITH, 1995) e efeitos da seleção simultânea de características sobre componentes de covariância (McMILLAN et al., 1995) têm sido considerados quando da avaliação genética de animais provenientes de acasalamentos exogâmicos. Com as informações obtidas da literatura, fica evidente que a avaliação genética, ou seja a avaliação do valor genético aditivo dos animais, machos e fêmeas, de um sistema de cruzamento é uma das tarefas vitais ao sucesso do sistema. 3. COMO SE EXPRESSAM ESSAS AVALIAÇÕES GENÉTICAS Por definição, o valor genético aditivo esperado (Expected Breeding Value ou EBV) de um animal é o valor que ele teria como reprodutor ou ainda é igual a duas vezes a diferença que seus filhos têm em relação aos filhos de outros reprodutores, desde que os reprodutores que 34 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte estejam sendo comparados sejam acasalados com vacas escolhidas ao acaso da população. A razão para dobrar essa diferença dos filhos é que os filhos só têm metade dos genes dos pais. Em última análise o valor genético aditivo é o que os rebanhos selecionadores vendem, pois expressa o potencial genético dos animais vendidos. Este valor mostra o quanto os filhos de um animal seriam desviados em relação à média de todos os reprodutores em utilização, ou seja produziriam "a mais" ou "a menos" que a média dos filhos dos outros reprodutores, que tenham sido utilizados na mesma população de animais onde estivemos estimando os valores genéticos. Os EPD (expected progeny differences) ou as DEP’s (diferenças esperadas de progênie) são por definição a fração de uma superioridade de progênie devidas aos efeitos dos genes do reprodutor. Como metade do patrimônio genético dos filhos vem da mãe e metade do pai, os EPD ou as DEP equivalem à metade dos EBV. Assim, comprando-se um tourinho A com EPD ou DEP = +13,0 kg para peso aos 365 dias, com o tourinho B que tenha uma DEP de +3,0 kg significa que os filhos do tourinho A teriam 10 Kg de peso aos 365 dias a mais do que os filhos do tourinho B se acasalados com vacas escolhidas ao acaso. Este conceito de EPD ou DEP é usado em geral pelos criadores de gado de corte, ao passo que os de gado de leite utilizam-se dos termos PTA (predicted transmiting ability ou habilidade prevista de transmissão), TA (transmiting ability, ou habilidade de transmissão), ou ainda PD (predicted difference) ou SC (sire comparison ou comparação entre reprodutores). Em essência, todos estes termos estimam a metade do valor genético de um reprodutor. 4. A ACURÁCIA DAS AVALIAÇÕES A Acurácia (do inglês accuracy, também conhecida como repetibilidade da avaliação) de uma estimativa é uma medida da correlação entre o valor estimado e os valores das fontes de informação, ou seja mede o quanto a estimativa que obtivemos é relacionada com o "valor real" do parâmetro. Ela nos informa o quanto o valor estimado é "bom", ou seja o quanto o valor estimado é "próximo" do valor real e nos dá a I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 35 "confiabilidade" daquela estimativa ou valor. Se estimamos o valor genético apenas pelo desempenho do próprio animal (em peso aos 365 dias por exemplo), o valor da acurácia será de 0,50 (para herdabilidade de 0,25), mas se a estimativa for baseada em 18 filhos (progênie) de um touro com uma amostra aleatória (tirada ao acaso) de vacas, a acurácia subirá para 0,74. Quanto mais informações tivermos a respeito de um touro, mais acurada, mais "confiável" a estimativa. A acurácia no entanto, não depende somente do número de filhos de um reprodutor que foram medidos, mas, principalmente do número de parentes medidos que esse reprodutor teve. Assim, é comum touros com menor número de filhos do que outros terem acurácias maiores, devido à contribuição de maior número de parentes na estimação de seu valor genético. Um outro caso comum nas avaliações é a estimação de DEP's para efeitos genéticos maternos igual a zero, com acurácia igualmente igual a zero, para touros que não tiveram nenhuma filha com descendentes na população. Às vezes tais touros podem ter centenas de filhos medidos, alta acurácia para efeitos diretos e nenhuma estimativa ou acurácia para efeito materno. Este conceito de acurácia é muito importante para as decisões de um criador, pois indica o "risco" da decisão. Se o criador tiver um pequeno rebanho de alto valor genético, fica muito difícil utilizar-se um reprodutor cujo valor genético (DEP ou TA) tenha baixa acurácia, pois o valor estimado não é muito "confiável" e quando aumentarem as informações a respeito daquele reprodutor, por exemplo na próxima avaliação ou no próximo ano, aquele valor genético previsto poderá diminuir e o pequeno criador terá à venda então filhos de um touro inferior ao que ele achava que teria. Mas aquele valor poderá também subir e então o criador terá filhos de um bom touro. A acurácia nos informa em última análise a "segurança" que temos de que aquele valor estimado vá mudar ou não. Mas se o criador tem um porte maior e gosta de correr riscos (e talvez ter maiores lucros), ele poderá investir adquirindo tourinhos (ou sêmen) com altos valores genéticos estimados e baixa acurácia, que em geral são mais baratos, e usar este material genético em uma parte de seu rebanho. Se o tourinho confirmar seu alto potencial e tiver 36 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte maior acurácia na próxima avaliação, esse criador terá feito um bom negócio, mas se tiver um pior desempenho, só parte dos seus produtos será originária de touros "inferiores". Mas altas acurácias só são conseguidas a partir de muitas informações a respeito do animal que está sendo testado, em geral obtidas a partir de muitos filhos e filhas do touro e isto significa mais tempo entre o nascimento desse reprodutor e seu uso no rebanho, o que aumenta o intervalo entre gerações e diminui o ganho genético por ano. Assim, usarem-se animais jovens, com baixa acurácia, pode aumentar o risco, mas se a avaliação estiver sendo bem feita, o mérito genético do rebanho como um todo cresce mais rapidamente do que se utilizar touros "provados", com altas acurácias. A decisão é estritamente técnica e deve ser tomada caso a caso. A tabela apresentada a seguir nos dá uma idéia aproximada desse risco: Relação entre acurácia de uma estimativa de valor genético de um animal e o risco de utilizar-se ou não tal animal como reprodutor na propriedade Acurácia Razão Risco 0,10 a 0,30 poucas informações a respeito do animal, animal em geral muito jovem ==> acurácia baixa, diminui o intervalo entre gerações número razoável de informações, touro jovem, com de 10 a 20 filhos já testados (em gado de leite, 10 a 20 filhas com lactação) ==> acurácia média, intervalo entre gerações médio número suficiente de informações, animal com mais de 20 filhos ou filhas testados ==> acurácia alta, aumenta muito o intervalo entre gerações alto 0,31 a 0,70 acima de 0,70 médio baixo A acurácia é a correlação entre a predição do valor genético ( g$ ) e o valor genético verdadeiro ( g ), e é dada pela fórmula: r( g$ , g ) = 1− VEP σ 2 , sendo esta concepção conhecida g como “Acurácia Real” e onde VEP é a variância do erro da predição (prediction error variance, ou PEV), que é obtida na diagonal da matriz C, matriz intermediária do processo de solução das equações de modelos I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 37 mistos. No entanto a inversão de tal matriz é um processo extremamente lento e muitas vezes, dependendo do número de animais e características avaliadas, é quase impossível, já que a demanda por memória de computadores é muito grande. No entanto, a acurácia quando expressa desta forma não tem comportamento linear com o número de progênies de um determinado touro, mormente em números de filhos entre 10 e 50, e fica relativamente difícil para o criador leigo entender as grandes variações de acurácia que ocorrem com pequenas variações no número de filhos. Tendo em vista este problema, o Beef Improvement Federation, dos Estados Unidos da América, adotou uma fórmula alternativa, que varia linearmente com o número de progênies e que dá valores de acurácia mais baixos, e mais conservadores, que os da “acurácia real”. A fórmula da “Acurácia BIF” é: VEP Acc BIF = 1 − 2 σ g 5. O USO DAS AVALIAÇÕES GENÉTICAS PELOS CRIADORES As DEP's são resultados de amplos programas informatizados de controle e avaliação de reprodutores conduzidos por Associações de Criadores e publicados em seus "Sumários de Touros". Eles podem ser relativos a qualquer característica que se possa medir com precisão, como o peso ao nascer, peso à desmama ajustado, peso ao sobreano ajustado, peso aos 540 dias ajustado, produção leiteira, de gordura ou proteína ajustadas, circunferência escrotal ajustada, pontuação em um sistema linear de avaliação corporal, altura, notas para facilidade de parto, etc. Quanto maior o número de informações, mais ampla será a avaliação de um reprodutor. Nada impede que um reprodutor seja "superior" aos demais em algumas características e "inferior" em outras. Essas informações é que são úteis para a decisão de cada criador, que tem a liberdade de melhorar seu rebanho segundo seus conceitos e idéias. Os valores das DEP's podem mudar de uma avaliação para outra (em geral de um ano para outro), à medida que novas informações são 38 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte agregadas. Os sistemas de avaliação em uso hoje estimam DEP's para todos os animais controlados, inclusive aqueles que não têm registro de produção ou que já morreram, pois isso é feito pelos laços de parentesco com aqueles que têm produções controladas. Como já foi explicado anteriormente, o desempenho de um animal não é apenas resultado de seu genótipo, mas também dos efeitos de ambiente. As características produtivas economicamente importantes são condicionadas pelo genótipo em frações de 20 a 40% (o que equivale à sua herdabilidade), o que significa que de 80 a 60 % da variação da mesma é devida ao ambiente ou outras causas não controláveis. Assim, as DEP's não são garantias de desempenho superior dos filhos dos touros testados, mas tão somente uma indicação, a melhor que a genética moderna pode oferecer, do potencial genético do reprodutor que está sendo usado. Restam ao criador tentar controlar a outra parte responsável pelo desempenho dos animais, que sejam o ambiente, a alimentação, a saúde, etc. As DEP's são válidas para a população onde foram estimadas. Assim, estimativas obtidas para a raça Pardo-Suíça não são comparáveis aos obtidos para a raça Simmental ou Nelore. Ao comparar as DEP's de dois touros, não devem ser comparados os valores em si, mas sim sua diferença. Se um touro tem uma DEP de +12,0 Kg e outro tem o valor +7,0 Kg, a diferença esperada entre os filhos dois touros é de 5,0 Kg naquela característica. Um bom programa de avaliação de reprodutores sempre estima as DEP's dos animais que estão nascendo no rebanho, mas o mais importante é que devem ser incluídos nas avaliações todos os animais nascidos, bons ou ruins. Incluir apenas os melhores filhos de um touro pode resultar em maiores DEP's, mas esta estimativa será falsa e os filhos desses animais não terão o desempenho esperado, comprometendo o próprio programa, mas sobretudo colocando em dúvida a seriedade do criador. Os criadores devem estar sempre familiarizados com os catálogos de touros e consultar tais valores antes dos leilões ou pedidos de sêmen. O criador deve saber o que ele deve melhorar em seu rebanho e comparar as I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 39 DEP's do reprodutores disponíveis. A compra de material genético é antes de mais nada uma compra técnica. Estar atualizado no significado dos termos técnicos de avaliação de reprodutores é uma importante ferramenta tanto de compra quanto de venda. 6. A IMPORTÂNCIA DOS EFEITOS FIXOS - AS CAUSAS DE CONFUNDIMENTO O confundimento dos fatores causais da expressão dos genes não se dá apenas em termos de componentes genéticos. Existe normalmente enorme grau de confundimento entre tais fatores genéticos e os fatores de ambiente, já que cada cruzamento expressar-se-á no tempo em diferentes ambientes. É notória a diferença de desempenho de animais de patrimônio genético semelhante criados em ambientes próximos mas diferentes. Muitas vezes podemos observar diferenças de mais de 20 kg no peso médio de bezerros de um rebanho, nos quais um dos lotes foi criado num pasto de colonião ou jaraguá e o outro, separado apenas por uma cerca, foi criado num pasto de Brachiaria. Isto pode ser normalmente observado em qualquer fazenda. Se diferenças tão evidentes como a exemplificada são observadas, a qualidade das avaliações depende fundamentalmente das definições dos grupos de contemporâneos. Os grupos de contemporâneos são grupos de animais nascidos na mesma fazenda, na mesma época do ano e que são submetidos às mesmas condições de ambiente. Assim, se numa fazenda existem diferenças de qualidade entre pastos e entre tratadores diferentes, o que normalmente existe, nada mais lógico que identificar o "lote" no qual cada animal foi criado, em todas as fases de sua vida. Em geral, cada "lote" refere-se a um grupo de animais que nasceu junto e foi mantido junto, no mesmo pasto, retiro e sob os cuidados de um mesmo vaqueiro, até o desmame, ou então foi desmamado na mesma época e colocado num mesmo pasto até determinada idade. Este tipo de identificação é o que caracteriza os "grupos de manejo", a melhor maneira de identificar grupos de contemporâneos. 40 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte Por ocasião das análises estatísticas para estimação de valores genéticos, aos grupos de manejo, definidos dentro de cada fazenda, serão acrescidos a identificação de cada fazenda e o sexo dos animais, pois tais fontes de variação são de extrema importância. A composição final de cada grupo de contemporâneos (GC) ficará assim definida por: GC = fazenda + grupo de manejo dentro da fazenda + sexo Se tivermos em nossa população 10 fazendas, cada uma com 10 grupos de manejo e os 2 sexos, nossa população terá então 200 grupos de contemporâneos. A inclusão dos efeitos de grupo de contemporâneos é absolutamente essencial à qualidade de uma avaliação. A definição incorreta destes grupos pode levar a grandes desvios (vícios, viéses, bias) das estimativas e muitos animais podem ser avaliados de maneira incorreta, levando a erros graves nas definições de seleção. Dadas as necessidades de haver conecção genética entre animais de diferentes grupos de contemporâneos, de tal forma que os mesmos possam ser comparáveis, é de extrema importância que dentro de cada grupo de contemporâneo ou grupo de manejo, existam filhos dos touros conhecidos como touros de amarração ou touros de referência, que são animais cujo sêmen é usado em todos os lotes de vacas. Grupos de manejo que têm apenas filhos de reprodutores múltiplos não têm conexão genética conhecida com outros grupos da população e sua avaliação fica prejudicada. Um dos tipos piores de confundimento que ocorre em análise de dados de cruzamentos é o confundimento entre os efeitos de grupo de manejo (ou pasto) e os grupos raciais, particularmente de vacas. Em geral, vacas de uma mesma composição racial são mantidas em poucos pastos ou retiros, com a justificativa de manter-se melhor controle sobre aquele grupo. Se isto for feito, as diferenças entre o desempenho das progênies deste grupo (A x B, por exemplo) de vacas e outro grupo (C x D, por exemplo) será devido aos efeitos genéticos (direto, materno e de heterose) ou simplesmente um efeito ambiental? Será, sob o ponto de vista estatístico, impossível separarem-se tais efeitos, principalmente os efeitos maternos e de avó materna. I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 41 Existe ainda o problema de efeitos diretos e maternos serem colineares, ou seja existir covariância entre eles. Com esta dependência entre os efeitos, não existe uma solução clara e limpa para tais componentes. Com delineamento cuidadoso, podem ser estimadas diferenças entre méritos genéticos direto e materno entre as raças, quase sempre com algum confundimento embutido. Pequenas decisões na composição de grupos de manejo ou de contemporâneos podem levar a graves efeitos no grau de confundimento entre os componentes causais. O ideal num programa de cruzamento de grandes proporções é que se simulem os efeitos de cada decisão antes de implementá-las, de tal maneira que suas consequências sejam conhecidas a priori. A inclusão de fêmeas de raças puras em todos os grupos de manejo seria de grande valia para facilitar comparações futuras, embora isto possa trazer vários problemas de manejo. Isto é ainda mais importante quando várias raças são utilizadas, pois animais de raça pura seriam uma importante e conhecida referência que facilitaria as comparações entre diversas combinações de raças. 7. A SELEÇÃO PARA DESENVOLVIMENTO CARACTERÍSTICAS DE Muitas características ligadas ao desenvolvimento dos zebuínos são importantes e devem constar de programas de avaliação genética de reprodutores. Dentre elas podemos citar: Peso ao nascer = peso real ao nascimento, em kg. Este peso deve ser monitorado para evitar-se um aumento significativo no peso ao nascimento dos bezerros, o que poderia vir a causar problemas de parto. Este peso é o melhor indicador da facilidade de parto. Touros com DEP’s baixas ou mesmo negativas são desejáveis para esta característica. Peso à desmama = peso, em kg, medido por ocasião da desmama. A DEP para este peso reflete o potencial que o animal tem para desmamar, independente da produção de leite de sua mãe, ou seja, a ação direta dos 42 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte genes do próprio animal. Este peso é muito importante para os produtores de bezerros. Touros com DEP positiva e elevada são os mais indicados. Materno total = esta característica é obtida somando-se metade da DEP de cada animal para peso à desmama (efeitos diretos) com a DEP para efeitos maternos sobre o mesmo peso. Ela expressa, em kg, o potencial total de desmama que um animal pode transmitir, incluindo os efeitos diretos dos genes sobre o crescimento e os efeitos dos genes que irão influenciar a produção leiteira das filhas do reprodutor. Ganho de peso ao sobreano = esta característica expressa, em kg, o ganho potencial devido à ação dos genes, que o animal apresenta no período compreendido entre a desmama e o sobreano. Essa característica demonstra o potencial de velocidade de ganho de peso e tem sido considerado muito importante pelos engordadores e confinadores, pois demonstra o desempenho potencial a pasto ou em confinamento. Este ganho de peso, somado ao peso à desmama, define o peso ao sobreano, o melhor indicador do peso adulto dos animais e as DEP’s mais elevadas são as mais indicadas. Conformação, Precocidade e Musculosidade = as avaliações visuais destas três características estão relacionadas com a necessidade de se selecionarem animais adequados à competitiva indústria da carne bovina. Estes escores devem ser medidos ao sobreano em escalas pré definidas, onde os maiores valores correspondem aos melhores animais. Assim, DEP’s mais elevadas são as mais indicadas, sempre levando-se em conta um perfeito balanceamento do animal. Perímetro Escrotal = esta medida, expressa em cm, deve ser tomada nos machos na época da pesagem ao sobreano e é altamente correlacionada com idade à puberdade, qualidade e quantidade de sêmen, fertilidade, desenvolvimento ponderal e precocidade sexual das filhas e irmãs dos tourinhos. O uso desta característica para compor os critérios de seleção em bovinos de corte tem sido prática comum na maioria dos bons programas de melhoramento em todo o mundo. As DEP’s mais elevadas são as melhores. Seleção para PE, no entanto, não é uma substituição para a seleção direta sobre o desempenho reprodutivo da fêmea. I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 43 Altura = Esta medida em cm é tomada na garupa dos animais ao sobreano de idade e pode ajudar o criador a definir uma estatura média de seus animais. Ela apresenta elevada correlação com a “caixa” (frame) dos animais, ou seja a estrutura anatômica do animal para suportar a musculatura. 8. A SELEÇÃO PARA CARACTERÍSTICAS REPRODUTIVAS Inicialmente é de extrema importância que se defina com clareza quais características devem ser selecionadas, quais são as metas e objetivos do criador. O que é realmente importante sob o ponto de vista reprodutivo das vacas é que se tenham novilhas que fiquem prenhes o mais cedo possível, dentro de determinada estação de monta vigente. Além disto, uma fêmea deve permanecer no plantel por longo tempo, produzindo bezerros todos os anos. Essa longevidade garante a amortização dos custos de aquisição, manutenção e reposição de uma matriz no rebanho. Inicialmente, é de extrema importância ressaltar que a implantação de uma estação de monta, bem definida e adaptada às condições de cada região é uma necessidade, sem a qual os procedimentos da fazenda ficam desorganizados e de difícil controle. Outro item que deve ser ressaltado é a necessidade de se realizar um controle zootécnico bem feito, consistente e permanente na propriedade, sem o qual os diagnósticos e consequentemente as aferições da qualidade do rebanho são impossíveis. No entanto, é necessário discutir as práticas atuais de seleção para características reprodutivas. Uma das práticas mais utilizadas pelos pecuaristas de bom nível é o descarte de todas as fêmeas que não ficaram prenhas ao fim da estação de monta. Esta prática é absolutamente essencial e nenhuma fêmea deve permanecer no rebanho se estiver vazia ao exame de toque realizado após a estação de monta, pois se isso ocorrer, se o pecuarista “der uma chance” para a matriz, ele estará mantendo no rebanho uma matriz de baixa produtividade e suas filhas, que também deverão ter genes para esta baixa produtividade. 44 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte Uma outra prática que vem sendo realizada atualmente em todo o mundo é a seleção para perímetro escrotal, baseada nas correlações positivas entre essa característica e a precocidade sexual das filhas e irmãs do touro que têm perímetros escrotais mais altos. Esta seleção indireta, feita através de características indicadoras, embora tenha trazido resultados positivos tem uma eficiência menos do que se a característica desejada fosse selecionada diretamente. Raciocínio semelhante pode ser usado com outras características indicadoras, como a idade ao primeiro parto, o intervalo de partos e a característica dias para o parto, definida como o número de dias transcorridos entre o início da estação de monta e o parto de fêmea. Na realidade, é necessário encontrarem-se maneiras de avaliar o valor genético dos reprodutores quanto às características economicamente relevantes, aquelas que realmente importam, como a prenhez de novilhas aos 14, 18 e 24 meses e a permanência de uma matriz produtiva no rebanho por tempo suficiente para amortizar seus custos (6 anos nos EUA) que foi definida como stayability pelo Dr. Bruce Golden nas avaliações genéticas de várias raças, como a Red Angus nos Estados Unidos. Estas sim são características importantes e a seleção direta sobre elas é mais acurada do que a seleção utilizando-se de características indicadoras. A metodologia para análise dessas características difere um pouco das demais, pois as mesmas são variáveis discretas, mas a tecnologia já está disponível. É muito importante ainda ressaltar as tendências atuais adotadas por pecuaristas de nível elevado, de exporem as bezerras Nelore aos touros já aos 14 meses de idade, desde que tenham sido bem alimentadas e tenha peso mínimo de 260 a 270 kg. Esta exposição aos touros, embora leve a taxas de prenhez ao redor dos 10 a 20% vai aumentando a freqüência de animais sexualmente precoces no rebanho. Esta seleção, embora de eficiência reduzida, é importante, pois qualquer ganho na esfera reprodutiva é importante. Para se conseguirem taxas de prenhez de 10 a 20% com bezerras Nelore de 14 meses é necessária uma grande atenção à alimentação, nutrição e cuidados sanitários com tais bezerras e só isto já se constitui num avanço de nível tecnológico. I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 45 É discutível, dependendo da região e da disponibilidade de pastagem de cada criador, uma estação de monta extra, para as novilhas de 18 meses, que poderia levar a taxas de prenhez de até 70%. Essa estação teria a vantagem de adiantar o parto dessas novilhas em 6 meses, dandolhes um descanso maior antes da próxima estação de monta, sem bezerro, aumentando a taxa de prenhez e diminuindo o nível de descarte de fêmeas primíparas. Mas realmente a decisão de adotar-se tal prática deve ser bem pesada, pois essa estação extra traz sérios complicadores para o manejo da propriedade. As fêmeas Nelore de 24 meses podem, e devem, ser colocadas na estação de monta normal, mas para isto devem estar em boas condições de alimentação e nutrição, aliás um sério problema para a pecuária brasileira. 9. CONSIDERAÇÕES FINAIS Avaliação genética é um assunto eminentemente técnico. Os conhecimento necessários à elaboração das análises são muitos e profundos. Apenas pessoas treinadas longamente nesse ramo da ciência têm condições de entender as complexas imbricações dos diferentes fatores envolvidos na determinação dos fenótipos e evitar que graves confundimentos venham a alterar sistematicamente os resultados das avaliações, levando os criadores a graves erros, cujas consequências serão rapidamente visíveis através de progressos genéticos muito menores do que os esperados. Estas considerações são ainda mais importantes quando a avaliação genética se faz em animais cruzados, pois nesses casos confundimentos de fatores genéticos com efeitos de ambiente torna impossível a identificação e quantificação correta dos fatores genéticos, que sempre estarão misturados com os de ambiente, mascarando seus efeitos e induzindo os responsáveis pelo programa de cruzamento a erros de extrema gravidade, que podem comprometer os resultados do programa. Estes confundimentos podem levar a identificação errada dos valores genéticos esperados e levar a ganhos genéticos menores que os esperados ou até mesmo a perdas de 46 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte mérito genético, num retrocesso que pode ser fatal ao programa de cruzamentos, levando a significativas perdas econômicas. O mercado de reprodutores bovinos deve caminhar celeremente para um mercado onde apenas animais avaliados geneticamente serão valorizados, num progressivo movimento de decréscimo de importância das exposições zootécnicas. Os profissionais envolvidos no agribusiness da pecuária de corte têm que se familiarizar com as informações de avaliações genéticas, bem como ter amplo acesso às mesmas, inserindo-se de maneira muito clara e ocupando posição de destaque nessa cadeia produtiva, auxiliando os pecuaristas em suas decisões. 10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARNOLD, J.W.; BERTRAND, J.K.; BENYSHEK, L.L. Animal model for genetic evaluation of multibreed data. J. 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INTRODUÇÃO Apesar do desempenho reprodutivo ser considerado de grande importância para a pecuária de corte (Trenkle e Wilham, 1977; Meacham e Notter, 1987; Fonseca 1991; Bergmann, 1993), este não tem merecido ênfase nos programas de melhoramento genético. De acordo com Meacham e Notter (1987) e Fonseca (1991), a eficiência reprodutiva pode ser considerada como uma das mais importantes características econômicas, devendo merecer atenção dos criadores de gado de corte. Rebanhos detentores de elevada precocidade sexual e fertilidade possuem maior disponibilidade de animais, tanto para venda como para seleção, permitindo maior intensidade seletiva e, consequentemente, progressos genéticos mais elevados e maior lucratividade. A reprodução é um processo complexo e a seleção direta para características ligadas à reprodução é, muitas vezes, difícil de ser aplicada, tornando-se necessário identificar características reprodutivas que sejam facilmente medidas, que apresentem variabilidade genética e que sejam geneticamente correlacionadas aos eventos reprodutivos. Segundo Mackinnon et al. (1990) e Meyer et al. (1990), existem evidências de substancial variação genética no desempenho reprodutivo de machos e fêmeas e relações genéticas favoráveis entre este e características relacionadas ao desenvolvimento ponderal, o que viabilizaria programas de seleção para desempenho reprodutivo em bovinos de corte (Bergmann et al., 1996). Para ambos os sexos a idade à puberdade, característica indicadora da precocidade sexual dos animais, é uma importante característica reprodutiva a ser considerada nos programas de melhoramento das raças zebus. Para os machos, a idade à puberdade tem sido considerada como 52 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte aquela em que aparecem os primeiros espermatozóides no ejaculado (Unanian, 1997). Para as fêmeas, essa característica tem sido considerada como a idade na qual o animal ovula pela primeira vez com manifestação de estro (Notter, 1995). A herdabilidade da idade à puberdade é relativamente alta (0,61; MacNeil et al., 1984), significando que esta idade pode ser reduzida através da seleção. Entretanto, os critérios de seleção para se reduzir a idade à puberdade não são facilmente caracterizados. Independente do sexo, a determinação da idade à puberdade envolve cuidadosa e laboriosa coleta de informações. Sua detecção no macho envolve coletas seqüenciais de sêmen em todos os tourinhos candidatos à seleção. Nas fêmeas, a detecção da primeira ovulação envolve repetidas palpações retais, ultra-sonografias ou dosagens da progesterona circulante. Paralelamente, a detecção do primeiro estro envolve mão de obra adicional, além da utilização de rufiões com marcadores, por usualmente longo período. De certa forma, a idade ao primeiro parto pode ser considerada como característica indicadora do início da atividade reprodutiva das fêmeas. No Brasil, apesar do significativo aumento das pesquisas envolvendo o melhoramento das raças zebus e dos meios para a melhoria dos índices de produtividade disponíveis atualmente, Bergmann (1993), utilizando trabalhos publicados de 1946 até 1988, concluiu que não houve redução na di ade ao primeiro parto naquele período (média ponderada acima de 40 meses), o que indicaria a ausência de mudanças dos índices de produtividade, decorrentes tanto de medidas que visam melhorar a alimentação dos rebanhos como do melhoramento genético. Conclusões semelhantes foram evidenciadas por Nájera (1990) para a raça Nelore, quando reportou que a idade ao primeiro parto variou de 37 a 54 meses, com média de 43 meses. A redução da idade ao primeiro parto, conseqüente ao aumento da precocidade sexual dos animais, parece ser o maior desafio do zebu brasileiro. Face às dificuldades operacionais para implementação de programas de seleção para idade à puberdade, torna-se importante a utilização de características indicadoras de precocidade sexual, que tenham variabilidade genética adequada, que sejam de mensuração fácil e I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 53 econômica, e que tenham correlação genética favorável com idade à puberdade e outras características economicamente importantes. Esta palestra objetiva rever as possibilidades da utilização de algumas características indicadoras da idade à puberdade em programas de seleção de zebus, ou seja, da data e da idade ao primeiro parto, e do perímetro escrotal. 2. PERÍMETRO ESCROTAL Uma das principais características associada ao desempenho reprodutivo dos machos é o volume testicular. A medida mais utilizada para refletir o volume dos testículos é o perímetro escrotal, também chamado de circunferência escrotal. Além de estar favorável e geneticamente correlacionado ao volume testicular (Quirino, 1999), esta característica é de fácil e econômica mensuração, e tem alta confiabilidade e repetibilidade quando tomada por diferentes técnicos (Coulter e Foote, 1979). A seleção para aumento do perímetro escrotal não traz beneficio direto em termos econômicos. Objetiva-se, contudo, que, com esta seleção, se consiga animais mais precoces sexualmente e mais férteis, com maior quantidade e qualidade espermática e maior capacidade de serviço. Estas associações têm sido estudadas, notadamente em raças européias. Existem evidências de que o perímetro escrotal esteja correlacionado geneticamente com a idade à puberdade nos machos e fêmeas, com a fertilidade das fêmeas aparentadas a estes machos (Notter, 1988; Martins Filho, 1991; Bergmann, 1993, Gressler et al., 1998) e, ainda, com características físicas e morfológicas do sêmen (Quirino, 1999). Quando o objetivo da seleção é a redução da idade à puberdade, a avaliação do perímetro testicular em touros deve ser feita antes dos 24 meses de idade por ser esse o período que antecede, ou coincide, com o início de sua atividade reprodutiva. Adicionalmente, é em torno da puberdade que os testículos crescem mais rapidamente e de forma quase linear (Abdel-Raoulf, 1960; Pimentel et al., 1984). Segundo Fonseca (1989), o início da puberdade é marcado por mudanças dos níveis circulantes de hormônios. Dentre estes, estão os efeitos das gonadotropinas e de seu hormônio estimulador que estão envolvidos indiretamente com o 54 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte fenômeno da espermatogênese. Por estímulos hormonais, as células de Leydig sintetizam a testosterona que atua diretamente na espermatogênese, estimulando-a. O início da espermatogênese coincide com a luminação e aumento do diâmetro, tanto dos túbulos seminíferos como de seu lumen. Nesta fase, ocorre também um rápido crescimento dos órgãos genitais primários. De acordo com Bergmann et al. (1998), os testículos crescem segundo curva sigmóide, com uma fase inicial mais lenta, seguida de um pico que coincide com a puberdade, havendo, posteriormente, um crescimento lento, indicativo da maturidade sexual (Figura 1) Perímetro Escrotal (cm) 40 35 30 25 20 Ponto de inflexão: 19,0 cm aos 10,8 meses de idade 15 10 5 0 0 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30 33 36 39 42 45 48 51 54 57 60 63 66 69 72 Idade (meses) Figura 1 - Curva de crescimento do perímetro escrotal em animais Nelore Estudos relacionados à curva de crescimento testicular de animais das raças européias criados em regiões temperadas indicam que uma única medição a um ano de idade é suficiente para se avaliar o desenvolvimento testicular. O perímetro escrotal nesta idade apresenta herdabilidade alta, com uma média de 0,50 (Coulter et al., 1976; Latimer et al., 1982; Bourdon e Brinks, 1986; Nelsen et al., 1986; Morris et al., 1992) e está favoravelmente associada a idade à puberdade das meio-irmãs destes tourinhos, -0,39, (Brinks et al., 1978; Morris et al., 1992). Adicionalmente, I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 55 o perímetro escrotal está favorável e geneticamente associada à idade ao primeiro serviço (-0,32), a data do primeiro (-0,19) e do segundo (0,27) partos, à fertilidade (0,59) e ao intervalo entre partos (-0,21), segundo Toelle e Robison (1985) e Notter et al. (1993). No Brasil, a ênfase da seleção para perímetro escrotal dos zebus tem sido para a idade de 18 meses. Entretanto, Bergmann et al. (1998), ao descreverem a curva de crescimento do perímetro escrotal de animais Nelore, encontraram ponto de inflexão (máximo crescimento) aos 10,8 meses de idade (Figura 1). Segundo os autores, tal fato evidenciaria o maior crescimento do parênquima testicular ocorrendo próximo aos 12 meses de idade, sugerindo o início do período pré-pubere. Segundo Fitzhugh (l976), neste ponto da curva de crescimento, a taxa de crescimento é máxima, passando de função crescente (estágio autoacelerante) para função decrescente (estágio autoinibitório). Para Foot (l969), o início da puberdade é caracterizado pelo crescimento rápido das gônadas e pode ser determinado pela presença de espermatozóides viáveis no ejaculado, associado à liberação do pênis e da libido, com o estabelecimento da capacidade reprodutiva. As pesquisas realizadas no Brasil, considerando aspectos relacionados à puberdade de animais zebus, salientam a maior dependência de seu aparecimento do estado corporal do animal do que da idade. Diversos trabalhos sugerem idades variando entre 10 e 12 meses de idade para o aparecimento da puberdade de machos zebus, coincidindo com o período de grande ganho em peso e associado ao rápido crescimento testicular, aumento da secreção de LH e início da espermatogênese (Cardoso, 1977; Castro et al., 1989). Ainda no Brasil, Cardoso (l977) determinou o início da puberdade de machos Nelore entre os 10 e 12 meses. Já Castro et al. (l989) observaram espermatozóides no ejaculado de tourinhos Nelore, criados exclusivamente a pasto, aos 12-14 meses de idade, enquanto que Castro et al. (l990) observaram, na mesma raça, que a puberdade ocorreu aos 17 meses de idade. Mais recentemente, Unanian (1997) observou o aparecimento da puberdade em machos Nelore variando de 12,2 a 16,0 meses de idade. 56 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte Embora o perímetro escrotal esteja associado ao peso corporal (Bergmann et al., 1996, entre outros), segundo Toelle e Robson (l985) existem evidências de que o tamanho do testículo seja controlado por diferentes sistemas fisiológicos nas idades de 205 e de 365 dias para taurinos criados em condições temperadas. Segundo os autores, o perímetro escrotal medido aos 205 dias seria reflexo do aumento do peso corporal e entre 205 e 365 dias os testículos passariam a ser influenciados pelos hormônios gonadotrópicos. Desta forma, as diferenças entre perímetros escrotais aos 365 dias de idade estariam mais dependentes das diferenças relacionadas ao sistema hormonal do que ao peso corporal. Existem evidências na literatura de que a puberdade de machos Nelore em condições nutricionais adequadas ocorra próxima ao primeiro ano de idade. Gressler et al. (1998) observou correlações genéticas favorável entre perímetro escrotal aos 12 meses de idade e data do primeiro parto (-0,08) e desfavorável entre perímetro escrotal aos 18 meses de idade e data do primeiro parto (0,21). Os autores conjeturaram que esses resultados poderiam indicar que a seleção de animais com maior perímetro escrotal aos 12 meses de idade estaria associada à escolha de animais que apresentassem maiores níveis de hormônios gonadotrópicos, culminando com a puberdade, início de atividade reprodutiva de machos e fêmeas, concepções mais precoces na primeira estação de monta e antecipação das datas do primeiro parto. Aos 18 meses de idade, a maioria dos tourinhos já estaria em período pós-púbere e a seleção praticada para maiores perímetros escrotais nessa idade estaria associada a maiores pesos corporais e, possivelmente, a menor precocidade reprodutiva em ambientes tropicais. Os resultados de Quirino e Bergmann (1998) também conduzem a raciocínio semelhante. Na raça Nelore, Quirino (1999) encontrou substancial associação genética entre o perímetro escrotal e características do sêmen (vigor, 0,89; defeitos maiores, -0,50; menores, -0,86 e totais, -0,52), e correlações favoráveis, porém moderadas, entre o perímetro escrotal e o volume do ejaculado (0,10) e entre o perímetro escrotal e a motilidade (0,13). Estes resultados, respaldados por outros da literatura, indicam ser possível obter I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 57 melhora da qualidade do sêmen de touros Nelore a partir da seleção para aumento do perímetro escrotal. 3. CARACTERÍSTICAS OBSERVADAS NAS FÊMEAS Quando não são conhecidas a idade à puberdade e a data da primeira fecundação da fêmea bovina, as informações reprodutivas disponíveis são a ocorrência ou não do parto e a data deste parto. Destas informações, as características que emergem como indicativas do potencial reprodutivo da fêmea jovem são a idade ao primeiro parto e a primeira data do parto. 3.1 Idade ao Primeiro Parto A idade ao primeiro parto é característica de grande importância zootécnica, pois marca o início do processo produtivo das fêmeas. A redução da idade ao primeiro parto antecipa a idade produtiva, provoca rápida recuperação do investimento, aumenta a vida útil, possibilita maior intensidade de seleção nas fêmeas e reduz o intervalo entre gerações (Mattos e Rosa, 1984). Adicionalmente, a vantagem de se incluir esta característica nos programas de melhoramento está associada à facilidade de medição. No Brasil, a média das estimativas de herdabilidade para a idade à primeira cria de animais zebu foi de 0,41 (Ayala, 1990) e de 0,25, segundo Mercadante (1995), o que sugere a possibilidade de resposta à seleção. Adicionalmente, a idade ao primeiro parto e a idade à puberdade são relacionadas geneticamente, quando as fêmeas iniciam a vida reprodutiva ainda jovens, antes dos 2 anos para zebus (Notter, 1995). Dessa forma, poderia-se obter melhoramento da precocidade sexual das fêmeas ao selecionar-se para a redução da idade ao primeiro parto, pois a utilização da idade à puberdade apresenta dificuldades de aplicação prática para a realidade brasileira (Andrade, 1991; Bergmann, 1993). Por outro lado, segundo Notter (1995), a idade ao primeiro parto poderia não ser uma boa característica a ser utilizada em países tropicais, como o Brasil, quando esta ocorre tardiamente e, ou, é deliberadamente atrasada pelo criador. Outro fator limitante da utilização da idade ao 58 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte primeiro parto como característica indicadora de precocidade sexual é o tempo demandado para a expressão da característica. 3.2. Primeira Data do Parto A data do parto durante a estação de nascimentos corresponde ao número de dias compreendidos entre a data de início da estação de parição e a data do parto de determinada fêmea. Esta definição corresponde à adotada por Ponzoni (1992) e é semelhante à definição de dias para o parto (número de dias compreendidos entre o início da estação de monta, na qual ocorreu a concepção, e a data do parto de determinada fêmea). Ainda segundo Ponzoni (1992), o uso da data do parto seria preferível, pois não envolve seleção para redução do período de gestação, que pode não ser desejável no programa de melhoramento. A data do parto tem sido considerada por muitos autores como a característica de escolha para se avaliar a eficiência reprodutiva da fêmea bovina de corte. Além de não apresentar as limitações do intervalo de partos (Bergmann, 1993), esta característica apresenta herdabilidade (de 0,11 a 0,28) e repetibilidade (de 0,11 a 0,34) mais altas do que o intervalo de partos (Bourdon e Brinks, 1983; López de Torre e Brinks, 1990), além de ser economicamente mais importante, pois vacas que parem mais cedo usualmente desmamam bezerros mais pesados (DeRouen e Franke, 1989; Marshall et al., 1990). Segundo Gressler (1998), a herdabilidade da data do primeiro parto de animais da raça Nelore foi de 0,11, evidenciando a existênmcia de variabilidade genética para a característica. Entretanto, conforme evidenciado para a característica idade ao primeiro parto, a importância da data do primeiro parto como característica indicadora de precocidade sexual, isto é, da idade à puberdade, é questionável quando os animais entram em sua primeira estação de monta tardiamente e pelo tempo demandado para expressão da característica. 4. CONCLUSÕES Apesar de sua importância econômica, a seleção para precocidade sexual não é fácil de ser implementada diretamente. Entretanto, a seleção I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 59 por meio de características indicadoras pode e deve ser feita. Dentre as características indicadoras de precocidade sexual, o perímetro escrotal é a mais recomendada. A característica é de fácil mensuração, pode ser feita em animais jovens, apresenta variabilidade genética e está favoravelmente associada com precocidade sexual em ambos os sexos e outras características importantes economicamente. Entretanto, alguns aspectos continuam merecer atenção do meio científico para melhor utilização desta característica nos programas de seleção das raças zebus. Algumas questões aventadas passam pela idade mais adequada para medir o perímetro escrotal e pela avaliação morfológica da bolsa escrotal e dos testículos. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABDEL-RAOUF, M. The postnatal development of the reproductive organs in bulls with special reference to puberty. Acta. Endocr., v. 49, p. 1-19, 1960. (Suppl.). apud MARTINS-FILHO, R. Estimativas de correlação genéticas entre circunferência escrotal em bovinos da raça Nelore e características reprodutivas em suas meias -irmãs paternas. Ribeirão Preto, 1991. 92 p. Tese (Doutorado). Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo. ANDRADE, V.J. Manejo alternativo da reprodução em bovinos de corte. Cad.. Téc. Esc. Vet. . Belo Horizonte, UFMG, n 6: p. 29-54, 1991. AYALA, J. M. N. 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Como processo eficiente de melhorar o desempenho dos animais e dos sistemas de produção, a inseminação artificial utilizada em programas de melhoramento genético e cruzamento industrial, oferece ganhos imediatos e permanentes, ocupando lugar de destaque na pecuária de corte. Neste contexto, a produção do novilho precoce e super precoce associado à redução da idade das fêmeas ao primeiro parto apresenta-se como uma mola propulsora da modernização dos sistemas produtivos. 2 - EFICIÊNCIA REPRODUTIVA A eficiência reprodutiva pode ser considerada como uma das mais importantes características econômicas pois é um dos fatores que determina a taxa de desfrute de um rebanho (Figura 1). Esta característica é muito complexa e envolve fatores multidisciplinares, destacando-se entre eles, os de natureza genética, sanitária, de manejo e nutricionais. 66 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte Eficiência Reprodutiva: Produtividade Eficiência Produtiva: Período de Serviço Intervalo entre Partos Idade à 1ª Cria Índice de Fertilidade Idade à Puberdade Fatores Genéticos Taxa de Desfrute Taxa de Mortalidade Taxa de Crescimento Idade de Abate Peso de Abate Fatores do Meio Manejo Sanidade Nutrição Figura 1 - Taxa de Desfrute * Inseminação Artificial Várias são as vantagens em utilizar a inseminação artificial em rebanhos de corte, destacando: - Melhoramento genético do rebanho em menor tempo e a um baixo custo através da utilização de sêmen de reprodutores comprovadamente superiores para a produção de carne. - Controle de doenças. - Permite ao criador cruzar fêmeas zebuínas com touros de raças européias e vice-versa, através da utilização de sêmen. - Aumenta o número de descendentes de um reprodutor superior. Os resultados da inseminação artificial vão depender basicamente do manejo existente na fazenda, da qualidade do sêmen utilizado e da eficiência do inseminador. Um bom manejo exige a necessidade de uma boa assistência técnica. Possíveis falhas que por ventura possam vir a ocorrer, devem ser corrigidas a tempo, a fim de se evitar um prejuízo maior. É importante que as fêmeas inseminadas tenham identificação numérica individual e que a fazenda disponha de um bom sistema computacional de gerenciamento do rebanho que permita obter I Simpósio de Produção de Gado de Cort - 67 informações precisas sobre o status reprodutivo e produtivo de cada animal, permitindo uma melhor seleção daqueles animais mais produtivos. * Estação de Monta Estação de monta definida permite: - Concentração dos trabalhos com a inseminação artificial. - Concentração da estação de nascimento e desmama. - Melhor avaliação dos produtos. - Melhor tomada de decisão de descarte de vacas menos férteis e menos produtivas. Deve ser implantada na fase do ano mais adequada para os eventos reprodutivos sem se desconsiderar a melhor época do nascimento das crias. É importante que as fêmeas a serem inseminadas sejam examinadas em tempo hábil para o início da fase reprodutiva e para o diagnóstico de prenhez após a cobertura. Fêmeas que não apresentarem bom desempenho reprodutivo, deverão ser eliminadas do programa de inseminação artificial. Também é importante o estabelecimento de uma estação de monta diferenciada para novilhas, uma vez que estas, após o primeiro parto, encontram dificuldades para retornarem aos eventos reprodutivos. Diante de tais evidências, a duração da estação de monta para vacas deve ser de, no máximo, 120 dias e das novilhas, de 90 dias, iniciando-se 30 dias antes da das vacas e terminando consequentemente 60 dias antes. * Idade à Puberdade e à Primeira Cria: O primeiro aspecto importante na reprodução das fêmeas é a idade em que atingem a puberdade, e a extensão na qual esta idade se relaciona à fertilidade na primeira estação de monta e ao subsequente desempenho reprodutivo nas futuras estações (Tabela 1). 68 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 1 - Produção de Bezerros de Acordo com o Início da Reprodução de Novilhas Ano Meses Ocorrência Nº Fêmeas Reprodução P1 T 100 Nº de Bezerros P1 1999 NDJ Reprodução 2000 MAM Reprodução 2000 SON Nascimento 75 2000 NDJ Reprodução 75 100 2001 JFM Nascimento 2001 MAM Desmame 73 2001 ASO Desmame 2001 SON Nascimento 63 2001 NDJ Reprodução 63 84 2002 MAM Desmame 61 2002 SON Nascimento 58 2002 NDJ Reprodução 58 60 2003 MAM Desmame 56 Total de Bezerros Desmamados 190 Granja Rezende S/A • P1 = Precoce 1: com início da reprodução aos 14 meses de idade. • T = Tradicional: com início da reprodução aos 25 meses de idade. T 84 80 60 58 138 A puberdade se relaciona ao desenvolvimento pré e pós desmama. De acordo com a literatura, existe uma relação direta entre idade, peso e eficiência reprodutiva em novilhas de corte, refletindo na manifestação da puberdade dessas novilhas e consequentemente no aparecimento do primeiro cio fértil e idade ao primeiro parto. Entre os fatores que influenciam estas características, destacam-se: - Fator raça, com grandes diferenças de precocidade entre fêmeas de raças européias e zebuínas; - Fator cruzamento, sofrendo influência da heterose, diferenciando a precocidade entre raças puras e cruzadas; - Fator peso à desmama, onde os animais desmamados mais leves necessitarão de um maior ganho de peso para entrarem em reprodução, comparando com os desmamados mais pesados; I Simpósio de Produção de Gado de Cort - 69 - Fator nutrição, considerado o mais importante, pois fêmeas de qualquer raça e graus de sangue diversos, necessitarão de um plano nutricional ideal para que possam demonstrar cios férteis a uma idade mais precoce e a um peso ideal. A resposta à seleção por idade ao primeiro parto está fortemente condicionada pelos níveis nutricionais, influenciando no peso e na fertilidade das novilhas no início da vida reprodutiva (Tabela 2). Tabela 2 - Pesos Recomendados para Novilhas no Início da Estação de Monta de Acordo com o Nível Nutricional Nível Nutricional Peso Recomendado Ótimo 50-55 % do Peso Adulto Considerando Peso Adulto de 500 Kg. 250-275 Kg. Bom (Adequado) 60-70 % do Peso Adulto 300-350 Kg. Sub Ótimo (Inadequado) 75-80 % do Peso Adulto 375-400 Kg. Spire & Spire * Manejo e Intervalo entre Partos: O intervalo entre partos tem sido tradicionalmente usado para se avaliar a eficiência reprodutiva em animais adultos. Em programas de inseminação artificial a correta observância do cio com o uso de rufiões ou rufionas androgenizadas, pessoal treinado e o momento da inseminação são essenciais para não haver elevação do período de serviço e, consequentemente, elevação no intervalo entre partos. Muitas pesquisas tem demonstrado que a presença da cria ao pé da mãe, como ocorre no manejo tradicional, pode exercer um efeito negativo sobre o retorno à atividade reprodutiva, prolongando o período de serviço e diminuindo a eficiência reprodutiva. Trabalhos realizados no Brasil demonstram que a racionalização do manejo de amamentação (1 ou 2 mamadas diárias) após o período puerperal trouxe resultados significativos 70 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte sobre o período de serviço, diminuindo-o e reduzindo o intervalo entre partos (Tabela 3). Tabela 3 - Efeito dos Períodos de Serviço e Gestação sobre o Intervalo entre Partos e Taxa de Nascimentos Período de Serviço (Meses) 14,5 10,5 8,5 7,5 6,5 5,5 4,5 3,5 2,5 Fonseca Período de Gestação (Meses) 9,5 9,5 9,5 9,5 9,5 9,5 9,5 9,5 9,5 Intervalo entre Partos (Meses) 24 20 18 17 16 15 14 13 12 Taxa de Nascimento (%) 50 60 65 70 75 80 86 90 100 * Controle e Prevenção de Doenças: De nada adianta a vaca manifestar o estro até 60 dias pós-parto e conceber, caso posteriormente tenha a gestação interrompida por morte embrionária, aborto ou natimorto. O intervalo entre partos continuará longo. Doenças infecto-contagiosas que provoquem morte embrionária, aborto e/ou natimorto, tais como: Brucelose, Tricomonose, Campilobacteriose, Listeriose, Sarcosistose, Diarréia Bovina a Vírus, Rinotraqueite infecciosa, etc., não devem estar presentes no rebanho. * Formação e Manejo de Pastagens: O consumo de forragem é o principal fator que determina o seu valor nutritivo. De nada adianta uma forragem rica em nutrientes, mas que por deficiência de manejo, tenha baixo consumo. Pastagem pouco densa, rala, além de proporcionar pouca forragem, dilata o tempo de pastejo, pelo aumento do número de bocadas e, consequentemente, maior gasto de I Simpósio de Produção de Gado de Cort - 71 energia para obtenção do alimento. Essa é, portanto, uma das principais causas do insucesso em sistemas de pecuária de corte. * Suplementação em Épocas Críticas: A proteína se constitui em sério problema no período da seca, onde seus teores nas pastagens estão abaixo do mínimo requerido pelos microrganismos ruminais, que é de 7% (Tayarol) . Além desta redução, ocorre o aumento das constituintes fibrosas da planta, diminuição dos minerais, o que concorre para a menor digestibilidade da forragem e, assim, menos consumo de pasto, interferindo de forma negativa no início da atividade reprodutiva em novilhas e no intervalo entre partos em vacas que chegam à Estação de Parição muito magras. Este cuidado deve ser observado principalmente em fêmeas de 1ª cria. Surge daí a necessidade de uma suplementação protéica, na época do ano caracterizada pela seca, para diminuir influência destes problemas na eficiência reprodutiva em matrizes bovinas (Gráfico 1). Gráfico 1 - Condição Corporal ao Parto e Incidência de Cio Pós-Parto 120 % de Cios 100 Condição Corporal 80 Vacas Magras 60 Vacas Moderadas 40 Vacas Gordas 20 0 40 50 60 70 Dias Pós-Parto Fonseca 80 90 72 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte * Desempenho Zootécnico do Rebanho - GRANJA REZENDE S/A: Tabela 4 - Índice de Fertilidade das Estações de Monta 89/90 a 98/99 Ítens Vacas Disponíveis Fertilidade (%) Paletes (+) 89/9 0 4281 72,9 1,53 90/9 1 3943 67,9 1,63 91/9 2 3756 68,9 1,67 92/9 3 4194 74,5 1,55 93/9 4 4524 78,0 1,63 94/9 5 4759 82,8 1,60 95/9 6 5428 85,7 1,66 96/9 7 6065 85,1 1,62 97/9 8 6132 83,9 1,62 98/9 9 6100 85,1 1,60 Fertilidade = ( Vacas Cheias / Vacas Disponíveis ) *100 Granja Rezende S/A Tabela 5 - Eficiência Reprodutiva do Rebanho Nelore e F1 Grau de Sangue Vaca F1 1ª Cria (N.º) Matrizes “Plantel” NELORE Vaca 1ª Cria Novilh a 2285 536 867 1030 (N.º) Matrizes “Cheias” 1879 446 689 958 % 82,2 83,2 79,5 % “Cheias”/1ª Cobertura 71,3 78,4 % “Cheias”/2ª Cobertura 20,4 18,4 Itens TOTAL 386 Novilh a 492 5596 315 446 4733 93,0 81,6 90,6 84,6 62,7 78,1 85,1 80,8 75,1 22,2 19,2 17,8 14,3 19,5 % “Cheias”/3ª Cobertura 6,2 2,8 8,9 5,3 3,1 0,6 5,4 Doses Gastas/Vaca “Cheia” 1,73 1,88 1,38 1,27 18,5 1,39 1,61 Idade 1ª Cob. Fértil (Meses) 1,61 25,8 Idade 1ª Parição (Meses) 35,5 27,7 32,8 Interv. entre Partos (Dias) 402 372 392 Período Serviços (Dias) 107 85 99 23,3 Granja Rezende S/A Tabela 6 - Eficiência Reprodutiva em Novilhas Precoces Novilha Precoce (N.º) Novilhas (N.º) Novilhas “Cheias” (%) Idade Média 1ª Cob. Fértil (Meses) Granja Rezende S/A SIxNE Grau de Sangue AAxNE NELORE PO Total 267 116 43,4 17,0 208 163 78,4 15,9 500 280 56,0 16,4 25 1 4,0 16,1 I Simpósio de Produção de Gado de Cort - 73 3- Eficiência Produtiva: Atualmente, com a estabilização da economia, tornou-se necessária a utilização de técnicas que possibilitem a diminuição do tempo de abate dos animais, reduzindo desta forma o custo de produção. Várias são as alternativas possíveis de serem utilizadas para a produção de novilho precoce, sendo todas, quase sempre, resultantes de combinação envolvendo estratégias de alimentação e potencial genético do animal. Desta forma, para que estas alternativas sejam exploradas de forma eficiente, faz-se necessário, além do conhecimento de todos seus componentes, o entendimento de suas interações com o meio ambiente de modo geral, e com o ambiente sócio-econômico da Pecuária de Corte (Figura 2). Figura 2 - Inter-Relações Básicas Determinantes da Função Objetiva de Produção de Carnes (Euclides Filho) 74 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte * Indicadores do Cenário Futuro: As rápidas transformações ocorridas na última década apontam para um cenário constituído pelos seguintes indicadores: - Limitação na expansão da fronteira agrícola. - Competição por área pelas atividades agrícolas. - Demanda crescente por sustentabilidade dos sistemas produtivos. - Aumento do número de propriedades conduzindo agricultura e pecuária de forma integrada. - Competitividade com outras carnes via preço. - Competição de mercado ( Mercosul ). - Exigência de mercados consumidores por qualidade de produto. - Estabilidade econômica, promovendo a busca da eficiência. - Surgimento de mercados emergentes ( Ásia ). - Melhoria na distribuição de renda da população. Portanto, diante desta tabela, a precocidade produtiva, que engloba rapidez de acabamento e pouca idade no início da vida reprodutiva, é uma característica de grande importância para a pecuária brasileira (Tabela 7). Tabela 7 - Efeito da Idade de Abate sobre alguns Parâmetros em Sistemas de Produção Envolvendo as Fases de Cria, Recria e Engorda Parâmetro Total de animais no rebanho Total de fêmeas em reprodução Total de bezerros desmamados Total de animais vendidos Peso vivo vendido Desfrute Equivalente carcaça Euclides Filho & Cezar Unidade cabeça cabeça cabeça cabeça kg/ha % kg/ha Abate 42 Meses 6.874 1.866 1.206 1.135 111 16 52 Sistema Abate 38 Meses 7.234 2.140 1.384 1.293 122 18 57 Abate 26 Meses 7.534 2.495 1.566 1.492 138 20 67 I Simpósio de Produção de Gado de Cort - 75 * Indicadores para Monitoramento do Sistema: As mudanças tecnológicas do sistema de produção, rumo à intensificação, no entanto, deverão ser acompanhadas de medidas de eficiência, não só do ponto de vista biológico, mas também econômico. Por isso, entre outros, sugerem-se os seguintes indicadores (EMBRAPA): - Indicadores Físicos: nº de animais vendidos no ano % desfrute anual = x 100 nº de animais existentes em Janeiro + Nascimentos no ano - Indicadores Econômicos: margem bruta anual = receita bruta anual - custos variáveis anuais. - Análise de investimentos: . Taxa interna de retorno; . Valor presente líquido;e, . Relação Custo/Benefício. 3.1 - Produção do Novilho Precoce / Super Precoce O caminho escolhido para se alcançar a eficiência de produção é de reduzir o máximo possível o número de dias para o bezerro ganhar X kg de peso entre a desmama e o abate com 450 Kg de peso vivo, utilizando como expediente, o aumento no peso à desmama. Desta forma, alternativas de alimentação visando à intensificação do sistema devem ser baseadas em combinações que envolvam pastagens, creep-feeding (suplementação durante o período de aleitamento), suplementação alimentar a pasto e confinamento. Além destas alternativas, combinações com o potencial genético do animal, oriundos de seleção ou de cruzamentos, devem ser consideradas. Os gráficos 2 e 3 mostram os custos médios de arrobas de machos, comparando os efeitos da suplementação, raça, cruzamento e fase de criação. 76 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte R$ Gráfico 2 - Média de Custos de Arrobas em Machos Nelore e Cruzados, Suplementados ou Não 25 24 23 22 21 20 19 18 17 16 15 as 16 @ as 17 @ as 18 @ as 19 @ as 20 @ Nelore não Suplementado Nelore Suplementado Cruzamento Industrial não Suplementado Cruzamento Industrial Suplementado Gráfico 3 - Custos Médios da Arroba em Machos Nelore e Cruzados, Suplementados ou Não em Diferentes Fases de Criação Nelore não Suplementado 26 Nelore Suplementado R$ 24 22 Cruzamento Industrial não Suplementado 20 Cruzamento Industrial Suplementado 18 16 14 Cria Recria as 16 @ as 17 @ as 18 @ as 19 @ as 20 @ Engorda * Creep-Feeding: A suplementação no “creep-feeding” tem por finalidade não interromper o crescimento dos bezerros o que normalmente ocorre após 2 meses de idade pela queda da produção leiteira da mãe. Assim sendo, o concentrado deverá apresentar valor nutritivo similar ao leite materno. O fornecimento da ração não deve ultrapassar a 1.100 gramas por cabeça I Simpósio de Produção de Gado de Cort - 77 dia, para ganhos de peso da ordem de 1,0 Kg/dia, mostrando uma conversão alimentar média de 1:1, que pode ser considerada bastante econômica se comparada com as fases seguintes à desmama (Tabela 8). Tabela 8 - Resposta à Utilização do “Creep-Feeding” no Peso ao Desmame e na Fertilidade das Matrizes SIxNE 05 Meses 07 Meses NELORE UNESP Peso dos Bezerros (Kg.) Nº de animais S/ Creep C/ Creep 100 170 190 100 200 245 Fertilidade das Matrizes ( % ) 400 77,0 84,5 % 10,5 18,3 8,9 * Cruzamento Industrial: As razões principais para a utilização de sistemas de cruzamento no aumento da eficiência produtiva em gado de corte são: - Aproveitar os efeitos de heterose. - Utilizar os efeitos das diferenças genéticas entre raças. - Utilizar a complementariedade e proporcionar flexibilidade ao sistema de produção. Para tanto, o ponto inicial do processo está na escolha das raças para compor os cruzamento industriais, uma vez que a precocidade é uma característica herdável e a escolha dos animais deve recair nas raças ou nas linhagens ou mesmo nos indivíduos mais eficientes. 78 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte * Resultado da Desmama 1999 - GRANJA REZENDE S/A: Tabela 9 - Peso de Bezerros à Desmama Grau de Sangue Nelore (PO + CO) 1/2 AA x 1/2 NE Sexo Animais P. Nasc. Idade P. Desm. P. Ajust. Número (Kg) Desm. (Kg) 205 D (Kg) Fêmea 934 31 225 198 183 Macho 968 33 223 216 201 Total Fêmea Macho Total Fêmea 1/2 SI x 1/2 Macho NE Total Fêmea Tricross Macho Total Fêmea TC 5/8 Macho Total Fêmea Total / Macho Média Total Granja Rezende S/A Índice Relativo (%) 100,00 100,00 1.902 207 217 32 34 33 224 234 231 207 243 250 192 218 226 100,00 118,77 112,20 424 250 246 33 33 32 232 231 231 247 234 246 222 211 222 115,28 115,25 110,42 496 717 756 1.473 158 165 323 2.266 2.352 32 32 32 32 31 34 32 32 33 231 231 232 232 233 232 233 229 228 240 222 238 230 209 221 215 214 230 217 200 213 206 186 199 193 195 209 112,61 108,83 105,88 107,29 101,67 98,72 100,11 4.618 32 229 222 202 * Novilho Super Precoce: São animais suplementados ao pé das vacas, com uma ração concentrada no sistema de creep-feeding e desmamados em média aos 227 dias de idade com 260 Kg de peso vivo. São em seguida confinados por um período médio de 120 dias e abatidos com 12 a 14 meses de idade, com aproximadamente 450 Kg de peso vivo, atingindo de 3 a 10 mm de cobertura de gordura na carcaça (Gráfico 4). I Simpósio de Produção de Gado de Cort - 79 Gráfico 4 - Produção do Novilho Super Precoce 500 Abate 450 400 350 300 Desm. 250 200 150 100 50 0 Creep-Feeding Nasc. J J A S O N D J F M A M Peso (Kg) Confinam. J J A S O N D Granja Rezende S/A * Novilho Precoce: Para que o animal possa ser considerado um Novilho Precoce, é necessário que o mesmo obtenha um ganho de peso contínuo em seu desenvolvimento, alcançando características de abate com idade de 23 a 30 meses. Neste sistema de produção, a suplementação do bezerro em “creepfeeding “ também tem a finalidade de complementação do leite materno e por consequência uma desmama mais pesada. No período imediatamente após o desmame, que coincide com o período da seca invernal recomenda-se uma suplementação a pasto com uma fonte de proteína, que propiciará ganhos médios de 150 a 200 g/dia. No período subsequente de verão, de 7 meses, como as pastagens terão elevado valor nutritivo, os animais ganharão aproximadamente 500 a 800 g/dia. Finalmente, no último período de seca invernal, pode-se optar por um confinamento de acabamento, onde os animais iniciam o período com aproximadamente 350 a 380 Kg e serão abatidos 65 dias após com peso 80 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte médio de 460 Kg; ou, pode-se optar novamente por uma suplementação protéica a nível de pasto durante o período seco, com ganho de peso na ordem de 150 a 200 g/dia e terminação a pasto, durante os meses de verão. No primeiro caso, os animais serão abatidos entre 23 e 25 meses de idade e no segundo caso, entre 28 e 30 meses de idade (Gráficos 5 e 6). Gráfico 5 - Produção do Confinamento Novilho Precoce - Acabamento em Granja Rezende S/A Gráfico 6 - Produção do Novilho Precoce - Acabamento em Pasto Granja Rezende S/A I Simpósio de Produção de Gado de Cort - 81 * Classificação de Animais Abatidos Conforme Sistema de Engorda GRANJA REZENDE S/A Tabela 10 - Dados de 1994 a 1998 Seleção Rebanho Total Confinamento Pasto Super Prec % Precoce % Precoce % Nelore 5210 991 19,02 1.853 35,57 2.366 45,41 Cruzamento 4261 2.007 47,10 626 14,69 1.628 38,21 Total 9.471 2.998 31,65 2.479 26,17 3.994 42,17 * Resultados do Confinamento 1998 - GRANJA REZENDE S/A Tabela 11 - Confinamento de Machos Super Precoce Inteiros Características Nelore AAxNE SIxNE Tricross Total/Media Nº. Animais 61 131 187 236 615 Idade Inicial ( Dias ) 289 293 307 306 304 Idade Final ( Dias ) 434 415 417 417 419 Peso Inicial ( Kg ) 261 276 276 281 278 Peso Final ( Kg ) 435 453 443 431 440 G.P.M. ( Kg ) 174 177 167 150 162 1,212 1,469 1,590 1,472 1,487 145 122 110 111 122 Rendimento Carcaça ( % ) * 58,87 57,89 57,63 57,98 57,98 Consumo MS/Cab./Dia (Kg) 8,096 8,458 8,291 8,414 8,366 Converção Alimentar * * 6,679 5,759 5,216 5,717 5,627 Custo Alim. / Cab./ Dia (R$) 0,43 0,46 0,45 0,46 0,45 Custo Alim. / Cab. R$) 62,85 55,73 49,65 50,90 55,34 G.P.M.D. ( Kg ) Dias Confinado ( Dias ) Granja Rezende S/A G.P.M.D. = Ganho de Peso Médio Diário; * Rendimento de carcaça ( % ) = Peso da carcaça quente / Peso morto. * * Kg MS consumido/Kg de ganho de peso 82 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 12 - Confinamento de Machos Precoce Castrados Características Nº. Animais Idade Inicial ( Dias ) Idade Final ( Dias ) Peso Inicial ( Kg ) Peso Final ( Kg ) G.P.M. ( Kg ) G.P.M.D. ( Kg ) Dias Confinado ( Dias ) Rendimento Carcaça (%) * Consumo MS/Cab./Dia (Kg) Converção Alimentar * * Custo Alim. / Cab./ Dia (R$) Custo Alim. / Cab. (R$) Nelore 750 662 731 333 431 98 1,402 69 57,49 8,964 6,396 0,49 33,66 AAxNE 62 653 692 397 473 76 1,910 39 57,21 9,598 5,024 0,60 23,26 SIxNE 120 629 671 410 488 79 1,879 42 56,60 9,725 5,176 0,60 25,37 Tricross 121 650 693 366 440 75 1,718 43 56,49 9,596 5,585 0,56 24,24 Total/Media 1053 658 718 351 442 91 1,534 60 57,20 9,114 5,940 0,51 30,46 Granja Rezende S/A G.P.M.D. = Ganho de Peso Médio Diário; * Rendimento de carcaça ( % ) = Peso da carcaça quente / Peso morto. • * Kg MS consumido/Kg de ganho de peso 4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS O uso da inseminação artificial em larga escala traz enormes benefícios diretos e indiretos, à pecuária de corte brasileira que deve se consolidar, nos próximos anos, como uma atividade empresarial. A mudança de patamar tecnológico e de competitividade de nossa pecuária exige mudança de hábitos, conhecimento, mudanças de manejo, sanidade, alimentação e de patrimônio genético dos animais. Isto só poderá ocorrer de maneira rápida com o uso intenso de material genético de alta qualidade através da inseminação artificial. Portanto, diante desta tabela, a precocidade produtiva que engloba rapidez de acabamento e pouca idade na início da vida reprodutiva, são características de grande importância para a pecuária de corte brasileira. I Simpósio de Produção de Gado de Cort - 83 5 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: Almeida, A. J. 1998. Como obter o novilho precoce e o super precoce viabilidade econômica. Revista Pecuária de Corte - Nr. 74 Janeiro/Fevereiro 1998: 74-82. Barbosa, P. F. 1990. Cruzamento para a produção de carne bovina no país. Bovinocultura de Corte- Sociedade Brasileira de Zootecnia FEALQ - Piracicaba: 1-46. Bergmann, J. A. G. 1993. Melhoramento genético da eficiência reprodutiva em bovinos de corte. Revista Brasileira de Reprodução Animal Suplemento - Belo Horizonte - Nr. 4. X Congresso Brasileiro de Reprodução Animal - Anais - Vol. 1: 70-86. Cesar, I. M.; Euclides Filho, K. 1996. Novilho Precoce: reflexos na eficiência e economicidade do sistema de produção. Campo Grande: EMBRAPA - CNPGC. Documento 66: 31. De Kruif, A. 1993. Fertilidade de uma população bovina. X Congresso Brasileiro de Reprodução Animal - Anais - Vol. 2 - Belo Horizonte: 01-13. Faria, N. R. 1993. Efeito da idade e do peso na eficiência reprodutiva em novilhas de corte. Monografia - UFU - Uberlândia: 25. Ferraz, J. B. S. 1996. Impacto econômico na pecuária de leite e corte do Brasil, com o aumento da inseminação artificial. Revista Brasileira de Reprodução Animal - Belo Horizonte - Nr.3/4. 1º Fórum Nacional de Inseminação Artificial - Anais : 95-98. Fonseca, V. O. 1991. Redução do período de serviço em vacas de corte. IX Congresso Brasileiro de Reprodução Animal - Anais - Vol. 2 - Belo Horizonte: 1-21. Lagoa da Serra - Inseminação Artificial. 1997. Inseminação Artificial Manual de Uso: 3-5. Norte, A. L.; Pinheiro, L. E. L.; Kuabara, M. Y. & Pinheiro, L. A. S. 1993. Eficiência reprodutiva em vacas mestiças. Revista Brasileira de Reprodução Animal - Suplemento - Belo Horizonte - Nr. 4. X Congresso Brasileiro de Reprodução Animal - Anais - Vol. 1: 5257. 84 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte Pineda, N. 1996. Como selecionar gado nelore com vistas à eficiência global. Revista Nelore - Abril/96: 16-23. Saturnino, H. M. & Dias, F. M. G. N. 1993. Condição corporal e eficiência reprodutiva em bovinos. X Congresso Brasileiro de Reprodução Animal - Anais - Vol. 2 - Belo Horizonte: 153-167. Silveira, A. C. Sistema de produção de novilhos super precoce. FMVZ UNESP - Botucatu: 70-74. Yassu, F. 1997. Super precoce leva a desfrute de 45%. Revista DBORural - Nr. 24 - Outubro 1997: 70-74. ESTRATÉGIAS DE SUPLEMENTAÇÃO PARA BOVINOS EM PASTEJO Mário Fonseca Paulino DS, Professor UFV – Pesquisador CNPq O grande potencial de produção de matéria-seca das gramíneas tropicais é um atributo que permite a obtenção de elevadas produções de carne bovina nessa região, ensejando produções de até 1514 kg de peso vivo / ha / ano (VICENTE – C, 1983). Por outro lado, as forrageiras tropicais podem proporcionar ganhos de peso acima de 1 kg/animal/dia, durante a época das águas, em condições não limitantes de oferta de forragem bem manejada para assegurar a manutenção dos atributos qualitativos. Entretanto, a produtividade animal nos trópicos ainda é baixa, principalmente devido à distribuição estacional e variação qualitativa da forragem. Portanto, algumas distorções associadas à sazonalidade da produção e do valor nutritivo das forrageiras, necessitam ser corrigidas. Existem várias alternativas de sistemas de manejo, tentando obter melhor distribuição de alimento durante o ano, sendo o diferimento de pasto uma opção para a época seca. Do mesmo modo, a avaliação da qualidade de forragem disponível é uma necessidade em qualquer sistema de uso de forragem através do pastejo, complementando e, ou suplementando quando necessário. DESEMPENHO X INGESTÃO DE NUTRIENTES A produção animal é função do consumo e valor nutritivo (composição química e disgestibilidade dos nutrientes) do alimento disponível. O consumo de alimentos é determinante do aporte de nutrientes necessário para o atendimento dos requisitos de mantença e de produção pelos animais. Assim, a produção por animal está diretamente associada com o consumo de matéria seca digestível (CMSD) quando proteína, minerais, vitaminas e outros fatores nutricionais são adequados (Tabela 1). O 138 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte aumento na eficiência de conversão de forragem em produtos animais é conseguido quando a produção por animal é incrementada. Quando a energia ou CMSD aumenta acima do requerimento de mantença, maior quantidade de forragem ingerida é transformada em produto animal. Para recriar um bezerro de 150 kg de peso vivo até que atinja os 450 kg ao abate, com o ganho diário de 0,250 kg, seriam necessário 7320 kg de matéria seca de forragem, comparados a apenas 1903 kg de matéria seca se o ganho fosse de 1,100 kg diários (BLASER, 1990). Tabela 1 - Requerimento de matéria seca e proteína por um novilho para recria / engorda dos 150 aos 450 kg de peso vivo Ganho de peso diário (kg) Tempo necessário (dias) 0,25 0,50 0,75 1,10 1200 600 400 273 Requerimento total Matéria seca (kg) 7320 4460 3052 1903 Proteína (kg) 652 434 310 224 Fonte: BLASER (1990) Estabelecidos os padrões de crescimento, para cada sistema de produção, cabe ao pasto suprir a maior parte ou a totalidade dos nutrientes para satisfazer as exigências nutricionais dos animais. DISPONIBILIDADE, CARACTERÍSTICAS DA FORRAGEM, SELETIVIDADE E INGESTÃO DE NUTRIENTES A ingestão de matéria seca é controlada por mecanismos fisiológicos, físicos e piscogênicos. Neste contexto, o consumo voluntário em condições de pastejo é influenciado por características inerentes à planta, ao animal, ao ambiente e ao manejo adotado, envolvendo a resposta comportamental do animal, frente a fatores inibidores ou estimuladores não relacionados ao valor energético do alimento nem ao efeito de enchimento. I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 139 RAYMOND (1969) propôs que os fatores determinantes de consumo de forragem podem ser divididos em intrínsecos, ou seja, inerentes à forragem e extrínsecos. Entre os fatores extrínsecos, a disponibilidade de forragem por unidade de área pode ser responsável por 40% das diferenças no consumo entre tratamentos de pastejo. DUBLE et al (1971) verificaram que a performance animal era significativamente correlacionada com a disponibilidade de forragens quando a digestibilidade da matéria seca (DMS) era relativamente uniforme. Os autores agruparam seis gramíneas de clima quente em três categorias de digestibilidade e verificaram que o ganho de peso médio diário aumentava dentro de cada grupo de digestibilidade com a maior disponibilidade de forragem até um ponto acima do qual, não ocorria incremento no ganho de peso. Este ponto era mais elevado à medida que a digestibilidade declinava. Forragem com DMS acima de 60% tinham um nível crítico de 500 kg de MS/ha, aquelas entre 50% e 60% DMS chegavam a 1000 kg de MS / ha e as com DMS abaixo de 50% apresentavam valores de 1250 kg de MS / ha. Portanto, eles evidenciaram que acima destas disponibilidades a qualidade da forragem determinava o rendimento animal, enquanto que abaixo delas, a quantidade disponível era limitante. POPPI et al (1987) agruparam os fatores influenciando o consumo de pasto em duas categorias: a) fatores nutricionais, envolvendo as variáveis que afetam a digestão da forragem e estão associadas, principalmente, à maturidade e concentração de nutrientes da forragem ingerida; e b) fatores não nutricionais, associados às variáveis que afetam a taxa de ingestão de forragem, como a estrutura física do pasto e o comportamento do animal (Figura 1). 140 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte Figura 1 - Relações entre o consumo de pasto em função de várias características das pastagens e métodos de alocação de forragem (Fonte: POPPI et al., 1987). Portanto, além das características bromatológicas da forragem, a produção de bovinos a pasto depende das características fenológicas e estruturais da vegetação como: altura, densidade da biomassa vegetal (kg/ha/cm), relação folha/caule, proporção de inflorescência e material morto. Estas características estruturais do pasto determinam o grau de pastejo seletivo exercido pelos bovinos, assim como a eficiência com que o animal colhe a forragem na pastagem afetando a quantidade ingerida de nutrientes. As características estruturais do relvado dependem não só da espécie botânica, mas também do manejo adotado, principalmente a pressão de pastejo (GOMIDE, 1998). I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 141 MANEJO DE PASTAGENS E DESEMPENHO DURANTE A ÉPOCA DAS ÁGUAS A condição do clima tropical, de altas irradiação solar e temperatura, associada à intensa precipitação dos períodos de primavera e verão, proporciona às gramíneas tropicais alta taxa de amadurecimento, aumentando a espessura da parede celular rapidamente e mantendo os valores de digestibilidade em patamares inferiores aos das gramíneas temperadas. O aumento de parede celular e redução de conteúdo celular ocorre durante a própria estação de crescimento. Talvez este seja o ponto que se deve explorar com mais intensidade, aproveitando as forrageiras tropicais em menores intervalos de crescimento, quando apresentam menor conteúdo de parede celular. Assim, as forrageiras de clima tropical deveriam ser colhidas em estágio de crescimento mais novo devido a seu elevado ritmo de crescimento. A determinação do intervalo de pastejo adequado para as espécies forrageiras poderá permitir rebrota rápida associada a uma boa qualidade da forragem para os animais que utilizam o pasto. Considerando que um dos principais atributos das forrageiras tropicais é o alto potencial de produção, torna-se razoável propor que o intervalo entre pastejo seja estabelecido para permitir elevada produção de matéria seca sem comprometer a qualidade da forragem em um nível em que o desempenho animal possa ser prejudicado. Presume-se a manutenção de uma relação folha/caule elevada, caules poucos lignificados e, consequentemente, digestibilidade elevada. Os colmos em estágio iniciais de crescimento são suculentos e apresentam qualidade comparável à das folhas, mas o seu valor nutritivo decresce rapidamente com a maturidade. Deste modo, torna-se importante determinar, pela época, intensidade e pelo intervalo entre pastejos, o equilíbrio entre a produção de matéria seca e a qualidade da forragem produzida. O manejo baseado na manutenção do meristema apical permite à planta forrageira rebrota vigorosa e rápida, uma vez que ela se processa a partir da área foliar remanescente, além da produção e expansão de novas folhas originadas do meristema apical. 142 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte Entretanto, como o crescimento do colmo não foi interrompido pela eliminação do meristema apical, observa-se que, mesmo a intervalos freqüentes de pastejo, ocorre acúmulo de material residual, caracterizado pela presença de colmos lignificados e partes mortas da planta, capaz de prejudicar o consumo de forragem. As características ideais da pastagem para aumentar o consumo de matéria seca pelo animal, são determinadas quando ocorre eliminação do meristema apical dos perfilhos primários em pastejos estratégicos. Após a eliminação a planta mantém o meristema apical baixo, apresenta rebrota através de gemas basilares, mantendo elevada percentagem de folhas e perfilhos novos, colocando à disposição do animal material rico em folhas e colmos novos, em quantidade e densidade que contribuem para aumentar o consumo. Portanto, devemos usar da plasticidade fenotípica da gramínea forrageira no sentido de adaptá-la ao pastejo. Visualiza-se a utilização de pastejo intenso, com categoria animal menos exigente, visando a remoção do material residual de pastejo, pelo menos três vezes durante o ano: final da época seca (imediatamente antes do início da rebrota), meados da estação chuvosa (intercalado com os ciclos de pastejo visando máxima produção de matéria-seca) e final da estação chuvosa (imediatamente antes do início do diferimento de pasto para a época seca). O impacto animal sobre a vegetação provoca redução dos tecidos senescentes que inibem germinação, perfilhamento e rebrota das espécies desejáveis, e promove um aumento na captação de energia.A preparação e moldagem do perfil da pastagem favorecendo o desenvolvimento de novos perfilhos e folhas, associadas aos períodos favoráveis das estações do ano, devem ser estimuladas. Para otimizar o desempenho do animal durante o período das águas o sistema de manejo deve permitir regular a oferta de matéria seca de modo a não limitar o consumo, tirar vantagem da idade fisiológica sobre a qualidade das gramíneas tropicais, possibilitando aumento do consumo de nutrientes digestíveis / metabolizáveis obtido com alta produção de matéria seca de folhas e a manutenção da qualidade da forragem por períodos mais longos, com plasticidada e persistência de stand, aumentando a densidade I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 143 de perfilhos. Este perfil de pastagem, associado a mineralização adequada, tem assegurado ganho médio diário acima de 1,0 kg animal/dia e ultrapassado 1,0t de ganho de peso vivo/ha durante o período de produção das gramíneas (verão). Trabalho conduzido por ALMEIDA et al. (1997), sobre a capacidade de produção sob pastejo do capim elefante anão, mostrou que ofertas de forragem de 11,3 kg de MS de lâminas verdes/100 kg de PV/dia maximizam o desempenho animal e asseguram uma condição de sustentabilidade da pastagem(Tabela 2). Tabela 2 - Taxa de acúmulo de matéria seca de lâminas verdes (TAMSLV) acúmulo de matéria seca de lâminas verdes (AMSLV) e resposta animal de uma pastagem de capim elefante anão cv. Mott, sob quatro níveis de oferta de forragem (média de 2 anos) Oferta (% de PV) TAMSLV (kg/ha/dia) AMSLV (kg/ha) Animais dia/ha 3,8 ± 0,02 7,5±0,03 10,2±0,32 14,0±0,75 52,9±4,1 65,1±1,1 70,4±3,4 66,4±10,4 8892±640 11066±250 11964±641 11276±1812 1719±141 1156±45 1061±64 738±103 GMD (kg/animal/d ia) 0,829 1,011 1,042 1,034 Ganho/ ha(kg) 1410±20 1167±38 1098±89 767±60 Uma vez que a qualidade da forragem disponível declina mais rapidamente do que a quantidade, quando o pastejo é rápido, o sistema de pastejo rotacional especial, com animais ponteiros e seguidores, tem sido sugerido como estratégia de utilização mais eficiente das pastagens (HODGSON, 1990), permitindo atender a diferentes categorias do rebanho ou animais dentro de categorias com diferentes necessidades. Neste sistema, os animais ponteiros (primeiros pastejadores) entram no piquete e consomem a metade da forragem oferecida, fazendo o desponte do pasto. Em seqüência, entram os seguidores no mesmo piquete consumindo a forragem remanescente. Os primeiros pastejadores tendem a apresentam desempenho superior devido ao pastejo seletivo de folhas e 144 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte maiores digestibilidade de matéria seca ingerida, quantidade de matéria orgânica por bocado e consumo de matéria seca. Em situações onde o ganho de peso não é otimizado apenas com mineralização visualiza-se o uso de alimentação suplementar, durante o período das águas. Neste contexto, PAULINO et al. (1996 ), utilizando feno de guandu e casca de café como limitadores de consumo, testaram diferentes fontes de proteína em suplementos, ensejando acréscimo de ganhos de peso de cerca de 200 g / animal / dia, com a associação feno de guandu e farelo de soja (Tabelas 3 e 4). Tabela 3 - Composição percentual das suplementares, por tratamento Ingredientes Mistura mineral (%) Feno de guandu (%) Casca de café triturada (%) Farelo de soja (%) Farelo de algodão (%) Farelo de trigo (%) rações concentradas Tratamentos Experimento 1 Experimento 2 A B C D A B C 100,0 5,0 5,0 5,0 100,0 5,0 5,0 75,0 75,0 75,0 75,0 75,0 20,0 20,0 20,0 20,0 20,0 - Tabela 4 - Pesos vivos médios, inicial e final, e ganhos em peso, total e diários, por tratamento Especificação Experimento 1 Experimento 2 A B C D A B C Peso inicial (kg) 208,11 199,20 198,70 200,30 167,91 168,40 166,90 Peso final (kg) 261,78 268,00 260,10 254,80 213,27 221,90 214,90 Ganho total (kg) 53,67 68,80 61,40 54,50 45,36 53,90 48,00 Ganho diário médio 0,624a 0,800a 0,714a 0,634a 0,528a 0,622a 0,558a (kg/animal/dia) Consumo médio de 0,061 1,163 1,016 1,025 0,077 1,926 1,592 suplemento (kg/animal/dia) a Médias na mesma linha, seguidas pela mesma letra, não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Newman Keuls (P>0,05). Comparação feita por Experimento. I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 145 Creep – feeding Em sistemas intensivos de produção de bovinos, nos quais o peso à desmama dos bezerros (as) tem importância primordial, visualiza-se a suplementação dos bezerros em amamentação. Sob a perspectiva do uso de estação de monta, com consequente disciplinação dos nascimentos, esta fase coincide com o período das águas. O creep – feeding consiste em fornecimento de alimentos suplementares aos bezerros criados ao pé das matrizes, sem que estas tenham acesso ao suplemento. A suplementação dos bezerros no creep – feeding tem por finalidade não reduzir o ímpeto de crescimento dos bezerros, o que normalmente ocorre após os dois meses de idade pela queda na produção de leite da mãe. O fornecimento de ração deve ser “ad libitum”, para ganhos da ordem de 1,0 kg / animal/ dia; o consumo médio, dos 2 aos 7 meses de idade, deve ser de 1,0 kg de concentrado / cabeça / dia, resultando em uma conversão alimentar média de 2 kg de alimento / kg de ganho, considerando o leite e forragem consumidos. Normalmente a ração concentrada apresenta 17 a 18% de proteína bruta e 75% a 80% de nutrientes digestíveis totais. O creep - feeding pré-condiciona o animal ao tipo de alimentação que ele vai receber na terminação / engorda o que beneficia o desempenho do animal. Em relação à produção de novilho precoce/superprecoce para o abate, uma vantagem expressiva do creep – feeding é o ajustamento para o período de recria e terminação que pode ser reduzido, uma vez que o peso à desmama atinge 240 kg ou mais. Creep - grazing Alternativa e/ou concomitantemente ao sistema de creep – feeding pode-se usar piquetes com espécies forrageiras de melhor valor nutritivo, para uso exclusivo dos bezerros enquanto eles ainda estão com as mães. Recomenda-se o uso de piquetes de tifton, coast cross e mesmo de gramíneas tradicionais manejados para alta qualidade. Uma opção é usar o sistema ponta - rapador, sendo que os bezerros constituem o grupo dos primeiros pastejadores. 146 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte DIFERIMENTO E VALOR NUTRITIVO A utilização do método de pastejo diferido, também denominado protelado, tem sido sugerido como alternativa para corrigir a defasagem de produção de forragem durante o ano. O pastejo diferido é um manejo estratégico de pastagens que consiste, basicamente, em selecionar determinadas áreas e vedá-las à entrada de animais no final da estação de crescimento. Desta forma, é possível promover um acúmulo de forragem na forma de feno-em-pé para pastejo direto durante o período crítico de disponibilidade de alimentos. Além de constituir em reserva de forragem, as plantas protegidas têm habilidades para florescer e produzir sementes, contribuindo para a regeneração e sustentabilidade da pastagem. Entretanto, embora o diferimento de pasto constitua-se em alternativa para garantir disponibilidade de forragem para a época seca, ocorre redução no valor nutritivo da matéria seca (Tabela 5). Tabela 5 - Rendimento de MS (t/ha), proteína bruta (%) e DIVMS (%) do capim-elefante-anão, em função das épocas de diferimento e utilização. Porto Velho, RO. Médias de quatro anos Diferimento Fevereiro Março Abril Utilização Junho Julho Agosto Setembro Junho Julho Agosto Setembro Junho Julho Agosto Setembro Fonte: COSTA et al. (1998) MS (t/ha) 6,13 8,41 11,28 12,85 5,91 5,75 8,85 9,73 4,27 4,81 5,58 8,68 PB (%) 7,28 6,04 5,48 4,87 9,44 8,11 7,86 6,07 10,18 9,64 8,03 7,95 DIVMS (%) 54,38 50,66 48,07 45,17 57,13 53,22 51,25 50,02 62,91 61,05 58,77 54,79 I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 147 A redução da digestibilidade da matéria seca, à medida que a planta envelhece, decorre de mudanças estruturais no tecido vegetal, com elevação dos teores de fibra e lignina e redução daqueles de conteúdo celular, que dificultam a ação dos microrganismos do rúmen sobre a forragem ingerida. Assim, no sistema de pastejo diferido, o animal deve desenvolver o pastejo seletivo; desta forma, há possibilidade do animal ingerir os nutrientes necessários à sua mantença e mesmo produção pois a forragem ingerida possui valor nutritivo mais elevado quando comparada à forragem disponível na pastagem. Portanto, no manejo das pastagens é necessário considerar o conceito de pressão de pastejo, ou seja, o número de animais em relação à quantidade de forragem disponível em determinado período. De acordo com NUNES (1980), a maior disponibilidade de forragem no período seco, apesar de sua baixa qualidade resultou em melhor desempenho animal, demonstrando a importância do ajuste na taxa de lotação em função da quantidade de forragem disponível (Tabela 6 e 7).Observa-se, entretanto, pela magnitude dos ganhos que, em sistemas de produção que preconizam ganhos substanciais faz-se necessário a correção qualitativa da forragem. Tabela 6 - Variação na disponibilidade de forragem (kg MS/ha) entre o início e o final do período seco, e ganho em peso (g/cabeça./dia) em pastagens de B. humidicola e B. ruziziensis Taxa de lotação (UA/ha) 0,9 1,5 B. ruziziensis Disponibilidade de foragem (kg/ha) Ganho de peso (g/cabeça/dia) B. humidicola Disponibilidade de forragem (kg/ha) Ganho de peso (g/cabeça./dia) 2.800 – 1.500 134 2.000 – 1.000 -20 6.000 – 5.000 -3 3.000 – 2.000 -67 148 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 7 - Variação na disponibilidade de forragem verde (kg de MS de caules e de folhas/ha) entre o início e o final do período seco, e ganho em peso (g/cabeça/dia) em pastagens de B. brizantha durante o período seco de 1985 Disponibilidade de forragem verde (kg/ha) Ganho de peso (g/cabeça/dia) Ganho de peso (kg/ha) Taxa de lotação (UA/ha) 1,4 1,8 3.200-1.400 2.400-1.000 66 -9 30 -10 As gramíneas forrageiras mais adequadas para o sistema de pastejo são as braquiárias e as cultivares de Panicum maximum que apresentem alta relação folha/caule. Os capins jaraguá, andropógon e gordura são menos indicados para este fim. NUTRIENTES LIMITANTES OTIMIZAÇÃO DE CONSUMO X SUPLEMENTAÇÃO X Sendo a pastagem a alimentação básica do rebanho, da interação entre as exigências nutricionais e o valor nutritivo da pastagem resulta um desempenho animal, que pode ser satisfatório ou não. Pode-se considerar que, na maioria das situações, a forragem não contém todos os nutrientes essenciais, na proporção adequada, de forma a atender integralmente as exigências dos animais em pastejo. Assim, nutrientes suplementares são necessários para se obter níveis aceitáveis de desempenho animal. Em muitas situações o imbalanço de nutrientes pode acarretar em reduções no consumo voluntário de matéria seca. Assim a deficiência ou o baixo consumo de qualquer nutriente essencial (proteína, energia, vitaminas e minerais) pode restringir a produção por animal. Suplementação de bovinos de corte em pastejo é necessária quando nutrientes não são fornecidos pela forragem basal em balanço adequado e/ou quantidade para satisfazer os requerimentos do animal e/ou as expectativas de performance. I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 149 Uma estratégia de suplementação adequada seria aquela destinada a maximizar o consumo e a digestibilidade da forragem disponível. Neste contexto, deve-se levar em consideração as exigências dos microrganismos do rúmen e as dos animais. Ao consumir forragens de baixa qualidade, além do limite físico do rúmen, o consumo pode ser prejudicado pela deficiência em proteína da ração (DOVE, 1996). Dietas desbalanceadas, com reduzida disponibilidade de nitrogênio, ou ricas em fibra detergente neutro-FDN têm o suprimento de proteína degradada no rúmen (PDR) como fator limitante para o crescimento microbiano, reduzindo a utilização da energia disponível no rúmen na forma de ácidos graxos voláteis e prejudicando a atividade fermentativa do rúmen. Logo a taxa de digestão da parede celular fica comprometida, o material deixa lentamente o rúmen e verifica-se redução na ingestão de alimentos. Portanto, em algumas circunstâncias, consumo de forragem pode ser limitado por uma franca deficiência de nitrogênio dietético; isto pode ser uma ocorrência comum em pastagens tropicais. Em concentração de nitrogênio abaixo de 1% na matéria seca (cerca de 7% de proteína bruta) a eficiência fermentativa das bactérias do rúmen pode ser prejudicada, reduzindo o consumo e digestão da forragem. Neste contexto, os bovinos geralmente sofrem de carências múltiplas, envolvendo proteína, energia, minerais e vitaminas. Assim, na suplementação e/ou complementação das pastagens, deve-se levar em consideração a ocorrência de deficiências simultâneas, estabelecendo-se suplementos de natureza múltipla, envolvendo a associação de fontes de nitrogênio solúvel, minerais, fontes naturais de proteína, energia e vitaminas (eventualmente aditivos), visando proporcionar o crescimento contínuo dos bovinos em pastejo. SUPLEMENTOS MÚLTIPLOS PARA RECRIA Deve-se definir com clareza, o objetivo da suplementação dentro do sistema de produção. O aporte de nutrientes, via suplementação durante a recria, pode almejar níveis diferenciados de desempenho pelos animais, desde a simples mantença de peso, passando por ganhos moderados de 150 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte cerca de 200 – 300g por animal/dia, até ganhos de 500 – 600g por animal/dia, quando o objetivo é cobrir fêmeas com cerca de 15 meses e/ou abater machos aos 20 meses de idade. Um outro aspecto importante, para a fase de recria é a formulação de suplementos que, fornecidos no sistema de auto – alimentação, permitam o controle de consumo pelo próprio animal, nos níveis estabelecidos, o que facilita o manejo e racionaliza a utilização de mão-de-obra na distribuição de suplementos na pastagem, a qual pode ser executada obedecendo a uma periodicidade semanal, ou mesmo, quinzenal. Além disso, evita que o animal crie dependência pelo suplemento e apresenta aspectos positivos sob o ponto de vista nutricional, tais como sincronização de energia – amônia, equilíbrio de pH e amônia, dentre outros. Neste contexto, na formulação dos “suplementos múltiplos” para animais em recria e matrizes recorre-se ao uso de controladores de consumo tais como o sal (PAULINO et al., 1996) e a uréia (PAULINO et al., 1983; PAULINO et al., 1985; PAULINO et al., 1993). Além da magnitude do ganho de peso desejado, a espécie forrageira, quantidade e qualidade da forragem disponível, raça/grau de sangue e peso dos animais em uso, são variáveis a serem avaliadas por ocasião da formulação dos suplementos, procurando compatibilizar consumo de suplemento e ganho de peso desejado (PAULINO, 1999). A mistura sal-uréia-mineral é útil a nível de mantença de animais e constitui-se em um método simples e econômico a ser usado no rebanho, visando à adaptação dos bovinos ao uso de uréia, quando o sistema prevê o uso mais intensivo de uréia em alguma fase do sistema de produção. Suplementos múltiplos de baixo consumo, contendo níveis elevados de sal e uréia, são indicados quando se deseja ganhos na faixa de 200 a 300 g/animal/dia (PAULINO, 1998; PAULINO, 1999). Uma vez que altos níveis de uréia são utilizados, tanto como fonte de amônia, como para limitar o consumo do suplemento pelos animais, as fontes naturais de proteína e energia a serem utilizadas devem apresentar características nutricionais que favoreçam o uso da uréia. Em trabalho conduzido por PAULINO et al. (1992) o farelo de algodão influenciou positivamente o desempenho dos animais, possivelmente, por apresentar I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 151 características de degradação de proteína que favoreçam a associação com a uréia (Tabelas 8 e 9). Tabela 8 - Composição percentual dos suplementos Ingredientes Mistura mineral (%) Calcário calcítico (%) Uréia/sulfato de amônia – 9:1(%) Farelo de trigo (%) Farelo de soja (%) Farelo de algodão (%) Farinha de carne e ossos (%) MDPS* • Tratamentos B 4,0 1,0 5,0 20,0 25,0 45,0 A 4,0 1,0 5,0 20,0 17,0 53,0 C 4,0 1,0 5,0 20,0 15,0 55,0 MDPS = milho desintegrado com palha e sabugo Tabela 9 - Desempenho dos animais Especificação Peso vivo inicial (kg) Peso vivo final (kg) A 162,0 204,6 Ganho de peso diário médio (kg/animal/dia) Consumo de suplemento (kg/animal/dia) 0,426ab 0,918 Tratamentos B C 163,0 162,0 209,8 198,9 0,468a 1,117 0,369b 0,759 Visando criar condições para produzir o novilho precoce / superprecoce do pasto, bem como viabilizar a prenhe z de novilhas com cerca de 15 meses de idade, vem-se estimulando o uso de subprodutos regionais mais baratos na formulação dos suplementos, de modo a permitir consumos próximos a 1 kg/animal/dia, atendendo às exigências totais de sódio, microminerais e nitrogênio degradado no rúmen, cerca de 60% das exigências de fósforo e proteína total, viabilizando a obtenção de ganhos de peso entre 500 e 600g por animal / dia, durante a primeira seca pósdesmama (PAULINO, 1998; PAULINO, 1999). 152 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte SUPLEMENTOS MÚLTIPLOS PARA TERMINAÇÃO Para viabilizar a produção do novilho precoce / superprecoce em pastagens deve-se estabelecer manejo que permita, durante a terminação, ganhos de peso superiores a 1 kg / animal/ dia, durante o período das águas, associados a ganhos superiores a 800 g por animal / dia durante o final das águas e início ou durante a estação seca. Durante o período das secas para obtenção de ganhos de peso acima de 800g / animal / dia deve-se liberalizar o consumo de suplementos. Portanto, uréia e sal são usados sob a ótica de satisfazer as exigências nutricionais e otimização da eficiência microbiana, de consumo e utilização de forragens, sem a preocupação de controle de consumo. Com este objetivo, a literatura registra fornecimento de rações concentradas a níveis de 0,8 a 1% do peso vivo do animal. Atualmente, temos seguido a diretriz de suprir 100% das exigências de sódio, microminerais e nitrogênio degradado no rúmen, cerca de 80% a 100% da proteína total e cerca de 60% daquelas de fósforo. Considerando que uma proporção de cerca de 30% de grãos na dieta induz pouca ou nenhuma depressão no consumo e digestibilidade da forragem, a tendência é atender os níveis de exigências supracitadas via formulações fornecidas na base de 3 a 4 kg por animal por dia, visando maximizar o consumo e digestão do pasto para complementar a energia necessária ao animal. A produção de novilhas de descarte jovens (18 – 20 meses), com peso e acabamento adequados, constitui-se em opção viável. Quando a fase de acabamento coincidir com a época da seca, associado à disponibilidade de forragem diferida, torna-se necessário o uso de suplemento. PAULINO (1991) conduziu trabalho visando testar níveis de feno de guandu em “suplementos múltiplos” sobre o desempenho de novilhas mestiças (Tabelas 10 e 11). Ajustes devem ser feitos a nível de cada sistema de produção específico, visando compatibilizar peso inicial dos animais, composição do suplemento e peso ao abate exigido pelo mercado. I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 153 Tabela 10 - Composição dos suplementos Ingredientes Mistura mineral (%) Uréia/sulfato de amônia – 9:1(%) Farinha de carne e ossos (%) Farelo de algodão (%) Feno de guandu (%) MDPS* A 4,0 5,0 5,0 10,0 5,0 71,0 Tratamentos B 4,0 5,0 5,0 10,0 10,0 66,0 C 4,0 5,0 5,0 10,0 15,0 61,0 MDPS = milho desintegrado com palha e sabugo Tabela 11 - Desempenho dos animais Especificação Peso vivo inicial (kg) Peso vivo final (kg) Tratamentos A B C 335,0 336,0 334,0 408,1 394,3 398,05 Ganho de peso diário médio (kg/animal/dia) Consumo de suplemento (kg/animal/dia) 0,538a 1,679 0,435b 1,279 0,478ab 1,312 CONSIDERAÇÕES FINAIS O sucesso da produção animal começa com o uso de animais de alto potencial de resposta e forrageiras capazes de fornecer altos índices de produção e qualidade nutricional a baixo custo de produção. A interação entre a disponibilidade de matéria seca e seu valor nutritivo (composição química e digestibilidade) determina a ingestão de nutrientes digestíveis e, por conseqüência, o desempenho do animal. O manejo da pastagem deve conciliar a conflitante demanda das plantas, que necessitam área foliar para fotossíntese, e a necessidade de remover folhas para alimentar os animais. Uma alta oferta de forragem possibilita ao bovino pastejar seletivamente e seria aconselhável, em se tratando de pastejo de bovinos de 154 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte corte, pois permite ganhos de peso mais elevados, favorecendo o rendimento animal em sistemas de ciclo curto. Ao final do período de crescimento das plantas deve-se realizar o diferimento, preferencialmente de espécies que apresentam maior relação folha/caule, garantindo alta disponibilidade de forragem no período seco (acima de 2000 kg de matéria seca / ha). A deficiência ou o baixo consumo de qualquer nutriente essencial (proteína, energia, vitamina e minerais) pode restringir a produção por animal. Sempre que as pastagens não satisfaçam as exigências nutricionais dos bovinos, a suplementação constitui-se em opção para suprimento de nutrientes limitantes e aumento do consumo e eficiência de utilização da pastagem. Em função do sistema de produção a suplementação pode ocorrer como cree-feeding para bezerros, durante a recria, na terminação e,ou na recuperação de condição corporal de matrizes e reprodutores. Embora os sistemas de produção de bovinos em pastejo (envolvendo suplementação / complementação) apresentem, naturalmente, maior variabilidade, eles constituem uma opção viável para os pecuaristas, pois, além de não requererem atividade agrícola para produção de volumosos (como requerem os confinamentos) permitem significativas melhorias nos índices de produtividade do rebanho e melhoram as condições de manejo das pastagens. Sob a ótica da pecuária de ciclo curto, é factível delinear uma estratificação do rebanho visando o abate de 30 – 40% dos machos com “superprecoce” abatidos com cerca de 16 meses, 30 – 40% abatidos com cerca de 20 meses e 40 – 20% como “precoce” com, no máximo, 24 meses, bem como cobrir fêmeas de reposição com cerca de 15 meses e abater novilhas de descarte com 18 – 20 meses. Assim, diríamos que estão estabelecidas as bases para a bovinocultura do novilho “superprecoce verde – amarelo”. I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 155 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, E. X.; MARASCHIN, G. E.; HARTMAN, O. E. L. et al. Dinâmica da pastagem da capim – elefante anão “Mott” e sua relação com o rendimento animal. ANAIS DA XXXIV REUNIÃO ANUAL DA SBZ, v.2. Juiz de Fora/MG, 1997, p.271-273. BLASER, R. E.; Manejo do complexo pastagem – animal para avaliação de plantas e desenvolvimento de sistemas de produção de forrageiras. In: Pastagens. Sociedade Brasileira de Zootecnia. 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No que se refere às exigências nutricionais, serão discutidos os princípios básicos utilizados pelo NRC (1996) para cálculo das exigências nutricionais de energia, proteína, aminoácidos, cálcio, fósforo e outros elementos inorgânicos. Com relação à formulação de rações, serão discutidos os cálculos simples envolvendo o uso do Quadrado de Pearson e soluções algébricas com duas equações. Ao final pretende-se apresentar o programa Super Crac Corte 1.0, para formular rações para gado de corte. EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS DE PROTEINA E ENERGIA PARA MANTENÇA E GANHO DE PESO Os requerimentos de energia para mantença são definidos como a quantidade de energia ingerida que resultará em nenhuma perda ou ganho de energia a partir dos tecidos do corpo do animal. Processos ou funções relacionadas com os requerimentos de energia para mantença incluem a regulação da temperatura corporal, a energia requerida pelo metabolismo basal (incluindo as atividades necessárias à sobrevivência, tais como, respiração, circulação, etc) e a energia necessária para manter as atividades físicas (por ex.: levantar, deitar, andar, etc). 158 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte O NRC (1996) considera que os requerimentos de energia líquida de mantença são equivalentes a 77 Kcal/SBW 0,75 , sendo SBW = peso vivo do animal em jejum. Segundo o NRC (1996), cruzamentos de zebuínos requerem 10% menos de energia líquida para mantença. GARRETT (1980), comparando 341 novilhas e 708 novilhos, concluíram que as exigências de Elm foram similares. O NRC (1996) considera que animais não castrados têm exigências de mantença 15% maiores que as de animais castrados. As exigências de energia líquida para ganho de peso são obtidas pela equação: RE = 0,0635 . EBW 0,75 . EBG1,097 , sendo EBW = peso de corpo vazio e EBG = ganho de peso de corpo vazio; sendo o EBW calculado como o peso vivo x 0,891 e EBG = ganho de peso vivo x 0,956. Essa equação foi usada pelo NRC (1984), para um novilho castrado de tamanho médio e é utilizada pelo NRC (1996) como equação de referência para determinação das exigências de energia líquida para ganho de peso para vários estágios de crescimento e taxas de ganho para todos os tipos de bovinos. Essa equação é corrigida pela fórmula: EQSBW = SBW . (SRW/FSBW), sendo que EQSBW é o peso equivalente de um novilho de tamanho médio castrado descrito pela equação do NRC (1984); SBW é o peso inicial em jejum avaliado (14-16 horas); SRW é o peso padrão de referência de 435, 462 e 478 kg para teor de gordura final no corpo de 25,2; 26,8 e 27,8%, que corresponde ao marmoreio definido como traço, leve e pequeno, respectivamente e FSBW é o peso final em jejum. Também o NRC (1996) sugere uma correção para as exigências de energia líquida para ganho de peso para machos não castrados e fêmeas, sendo que machos não castrados requerem menos 18% de energia e fêmeas mais 18% de energia. Tomando como exemplo o cálculo das exigências de energia líquida para ganho de 1 kg de peso vivo de um novilho castrado, com peso inicial em jejum (SBW) de 300 kg, peso final em jejum (FSBW) de 533 kg e peso padrão de referência para 28% de gordura (SRW) de 478 kg, as exigências de energia líquida seriam: I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 159 EQSBW = 300 x 478/533 = 269 kg EQEBW = 0,891 EQSBW EQEBW = 0,891 x 269 = 239,7 kg EBG = 0,956 SWG EBG = 0,956 x SWG = 0,956 x 1 = 0,956 RE = 0,0635 x 239,70,75 x 0,9561,097 = 3,68 Mcal/dia. Então as exigências de energia líquida para ganho de 1 kg de peso vivo seriam equivalentes a 3,68 Mcal/dia. As exigências de EL para ganho de 1 kg de peso vivo para machos não castrados seriam de 3,12 Mcal/dia e as de fêmeas seriam de 4,34 Mcal/dia, 18% menores e maiores, respectivamente. Já as exigências de energia líquida de mantença seriam equivalentes a 5,55 Mcal/dia (0,077 . 3000,75).Se não tiver dados do peso vivo em jejum (SBW), pode-se considerar que esse é 0,96 x peso vivo. Para converter as exigências de energia líquida de mantença (Elm) e de ganho de peso (Elg) em exigências de energia metabolizável (EM), há necessidade do conhecimento das eficiências de utilização da EM para mantença (Km) e para ganho de peso (Kf). Essas eficiências podem ser obtidas usando as equações descritas por GARRETT (1980) e utilizadas pelo NRC (1996): ELg = 1,42 EM – 0,174 EM 2 + 0,0122 EM 3 – 1,65 e Elm = 1,37 EM – 0,138 EM2 + 0,0105 EM 3 – 1,12, onde Elg e Elm são as concentrações de energia líquida de mantença e de ganho, respectivamente, expressas em Mcal/kg MS e EM é a concentração de energia metabolizável também expressa em Mcal/kg MS. Então, se nesse exemplo acima, os bovinos estiverem sendo alimentados com rações contendo 2,5 Mcal/kg MS de EM, pode-se calcular que as concentrações de Elg e Elm seriam iguais a 1,0 Mcal/kg MS e 1,61 Mcal/kg MS , respectivamente. Elg = 1,42 x 2,5 – 0,174 x 2,52 + 0,0122 x 2,53 – 1,65 = 1,00 Elm = 1,37 x 2,5 – 0,138 x 2,52 + 0,0l05 x 2,53 – 1,12 = 1,61 Conseqüentemente Kf =1/2,5 = 0,4 ou 40% e Km =1,61/2,5 = 0,644 ou 64,4%; então as eficiências de utilização da EM para 160 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte mantença e ganho seriam, respectivamente, 40 e 64,4%. Dividindo-se as exigências de energia líquida pelas respectivas eficiências, obtém-se as exigências de EM. No exemplo, considerando as exigências de EL para mantença de 5,55 Mcal, estas seriam equivalentes a 8,62 Mcal de EM (5,55/0,644) e da mesma forma , tomando o valor de 3,68 Mcal de energia líquida para ganho e dividindo-o por 0,40, obtém o valor de 9,2 Mcal de EM. Então as exigências totais de EM seriam de 17,82 Mcal/dia (8,62 + 9,2). Considerando que existe maior disponibilidade de valor energético dos alimentos expresso na forma de NDT, pode-se converter as exigências de EM em exigências de NDT. Isto seria feito considerando que EM = 0,82 ED, ou seja, 17,82/0,82 = 21,73 Mcal por dia de ED. Também considerando que l kg de NDT equivale a 4,409 Mcal de ED, então as exigências de NDT seriam equivalentes a 4,93 kg/dia (21,73/4,409). Dessa forma, as exigências de energia líquida calculadas podem ser convertidas em exigências de NDT. Vale ressaltar que para cada concentração de energia metabolizável na ração, haverá um valor de Km e Kf, o que torna praticamente impossível formular uma tabela de exigências nutricionais seriada expressa em NDT. Considerando, ainda, que o consumo de matéria seca fosse de 2,5% do peso vivo, ou seja, 7,5 kg/dia , o teor de NDT na ração total deveria ser de 65,7% ( 4,93x100/7,5). Na Tabela 9-1 do NRC (1996), descrita como Tabela 1 nesse texto, os valores obtidos podem ser confirmados. No entanto, se trabalhar com animais zebuínos, deve-se observar que o peso padrão de referência e os teores de gordura na carcaça podem ser diferentes daqueles citado nos EUA. É possível que esse peso esteja próximo de 450 kg , conseqüentemente , poderiam ser feitas algumas estimativas para animais zebuínos. Contudo, existem algumas pesquisas em andamento no DZO-UFV que deverão gerar mais dados para que se possa, no futuro, elaborar uma tabela para animais zebuínos. Com relação às exigências de proteína para mantença e ganho de peso, o NRC (1996) considera que a exigência de proteína metabolizável para mantença é de 3,8 g/kg0,75, ou seja, para animais de 300 kg de peso vivo em jejum, estas seriam equivalentes à 274 g (3,8 x 3000,75). Considerando o mesmo exemplo utilizado para o cálculo das I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 161 exigências de energia, ou seja, quais seriam as exigências de proteina para ganho de l kg de peso vivo. Tabela 1 - Exigências nutricionais de bovinos em crescimento e terminação Peso vivo kg ELm PMet Ca P Mcal/d g/d g/d g/d Ganho de peso 0.5 kg/d 1.0 kg/d 1.5 kg/d 2.0 kg/d 2.5 kg/d Ganho de peso 0.5 kg/d 1.0 kg/d 1.5 kg/d 2.0 kg/d 2.5 kg/d Ganho de peso 0.5 kg/d 1.0 kg/d 1.5 kg/d 2.0 kg/d 2.5 kg/d Ganho de peso 0.5 kg/d 1.0 kg/d 1.5 kg/d 2.0 kg/d 2.5 kg/d 200 250 300 Exigências de mantença 4.1 4.84 5.55 202 239 274 6 8 9 5 6 7 1.27 2.72 4.24 5.81 7.42 154 299 441 580 718 Small marbling Variação de peso Variação de ganho de peso Código do cruzamento 14 27 39 52 64 6 11 16 21 26 350 400 450 6.23 307 11 8 6.89 340 12 10 7.52 371 14 11 Exigências de El para ganho(Mcal/dia) 1.50 1.72 1.93 2.14 2.33 3.21 3.68 4.13 4.57 4.99 5.01 5.74 6.45 7.13 7.79 6.87 7.88 8.84 9.77 10.68 8.78 10.06 11.29 12.48 13.64 Exigências de PMet para ganho(g/dia) 155 158 157 145 133 300 303 298 272 246 440 442 432 391 352 577 577 561 505 451 712 710 687 616 547 Exigências de cálcio para ganho(g/dia) 13 12 11 10 9 25 23 21 19 17 36 33 30 27 25 47 43 39 35 32 59 53 48 43 38 Exigências de fósforo para ganho(g/dia) 5 5 4 4 4 10 9 8 8 7 15 13 12 11 10 19 18 16 14 13 24 22 19 17 15 533 kg 200-450 kg 0.50 - 2.50 kg 1 Angus 162 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte As exigências líquidas de proteína para ganho de peso são calculadas pela equação (NRC, 1984) também adotada para NRC (1996): Proteína retida = SWG (268 – (29,4 . RE/SWG)), onde SWG é o ganho de peso vivo em jejum e RE é a energia líquida retida. Então, se a exigência de RE foi de 3,68 Mcal/dia e o ganho foi de 1 kg de peso vivo por dia, a proteína retida diária seria = 1 (268 – (29,4 x 3,68/1)) = 159,8 g, ou seja, as exigências líquidas de proteína para ganho de peso seriam de 159,8 g/dia. Para converter as exigências líquidas de proteína em exigências de proteína metabolizável, para ganho de peso, o NRC (1996) adota a equação: Eficiência = 83,4 – (0,114 x EQSBW) para EQSBW ≤ 300 kg e adota o valor fixo de eficiência de 49,2% para EQSBW > 300 kg; sendo EQSBW, o peso vivo em jejum equivalente ao novilho descrito pelo NRC (1984); que no exemplo anterior avaliando as exigências de energia foi de 269 kg. Substituindo na equação, a eficiência de utilização da proteína metabolizável para ganho de peso seria = 83,4 – (0,114 x 269) = 52,7%. Então as exigências de proteína metabolizável para um novilho de 300 kg, ganhando 1 kg de peso vivo em jejum diariamente seriam de 303 g/dia (159,8/0,527). Esses valores obtidos para exigências de proteína metabolizável podem ser visualizados na Tabela 1 adaptada do NRC (1996). As exigências totais de proteína metabolizável para mantença e ganho de peso de 577g/dia (274 + 303) poderão ser convertidas em exigências de proteína degradada no rúmen (PDR) e proteína não degradada no rúmen (PNDR) , cuja soma resultaria nas exigências de proteína bruta. Para que esses valores possam ser obtidos, o NRC (1996) considera uma síntese de proteína microbiana (PMic) fixa e equivalente a 130 g PMic/ kg de NDT, considera ainda que a PMic possui 80% de aminoácidos (Aas) e que a digestibilidade verdadeira dos Aas no intestino delgado é de 80%. Além disso, considera que a PNDR possui uma digestibilidade verdadeira no intestino delgado fixa de 80%. Assim, para atender as exigências de 577 g/dia de protéina metabolizável (PMet) são necessárias 640,9 g de PDR, ou seja, 130 g PMic x 4,93 kg de NDT. Considerando que 80% são AAs (640,9 x 0,80) e que a digestibilidade verdadeira dos AAs é de 80% (640,9 x 0,80 x 0,80), então a síntese microbiana fornece diariamente, 410,2 g I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 163 de PMet. Se as exigências são de 577 g de PMet, obtém-se uma diferença de 166,8 g/dia (577 – 410,2) de PMet que deverão ser atendidas pela PNDR. Assim, as exigências de PNDR digestível no ID de 166,8 poderão ser convertidas em PNDR dietética , dividindo-se por 0,8 que é o valor da digestibilidade verdadeira intestinal da PNDR, obtendo-se o valor de 208,5 g/dia (166,8/0,8) que seria a quantidade necessária de PNDR consumida diariamente. Então as exigências de PDR seriam de 640,9 g/dia e as de PNDR de 208,5 g/dia. A soma desses valores (640,9 + 208,5) seria considerada como as exigências diárias de PB. Assim, para atender as exigências de 577 g de PMet são necessárias 849,4 g/dia de PB dietética com 75,45% de PDR (640,9 x 100/849,4) e 24,55% de PNDR (208,5 x 100/849,4). Uma maneira aproximada de converter as exigências de PMet em exigências de PB seria dividir as exigências de PMet / 0,67. No exemplo 577/0,67 = 861,2 g PB/dia. O fator 67,2% é obtido considerando que 80% da proteína que chega ao ID é PMic e 20% PNDR, conseqüentemente, 80% x 0,64 + 20% x 0,80 = 67,2%, sendo 0,64 (80% de AAs com 80% de digestibilidade) e 0,80, a digestibilidade verdadeira da PNDR no ID. Para calcular os percentuais de PB, PDR e PNDR nas rações, há necessidade do conhecimento do consumo de matéria seca (MS). Sendo o consumo de MS estimado em 2,5% do peso vivo, ou seja, 7,5 kg para esse bovino de 300 kg e as exigências de PB de 849,4 g/dia, os percentuais na ração seriam de 11,3% de PB (849,4x100 / 7500) , sendo 8,53% PDR e 2,77% de PNDR. Finalizando esse tópico sobre exigências de energia e proteína para animais em mantença e ganho de peso, vale ressaltar que os cálculos podem ser feitos para quaisquer pesos e taxas de ganho de peso sendo, no entanto, necessário conhecer os pesos vivos em jejum inicial e final e o peso de referência (peso sugerido , quando o animal atinge 28% de gordura na carcaça). EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS DE PROTEINA E ENERGIA PARA GESTAÇÃO E LACTAÇÃO As exigências de energia líquida para gestação foram convertidas em exigências de energia líquida de mantença, utilizando-se a seguinte 164 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte equação: Elm = Km / 0,13 x PN x (0,05855 – 0,0000996 t) e (0,03233 – 0,0000275 t) t , onde PN é o peso do bezerro ao nascer, “t” é o dia de gestação e Elm é a exigência de energia líquida de gestação expressa como exigência de energia de mantença. No exemplo, se considerar o PN de 38,5 kg , Km=0,576 e t = 220 dias, substituindo os valores na equação será obtida a exigência de 2026,69 Kcal/dia, ou seja, as exigências de energia líquida para gestação são equivalentes a 2,027 Mcal/dia de energia líquida de mantença. Esse valor pode ser visualizado no NRC (1996), Tabela 4-2 da página 43. As exigências líquidas de proteína para gestação podem ser obtidas utilizando a equação:Proteína retida = [PN (0,001669 – 0,00000211 t) . e(0,0278 – 0,0000176 t) t ] x 6,25, sendo PN o peso ao nascer e “t” o dia da gestação. Considerando o mesmo exemplo usado para o cálculo da energia : PN = 38,5 kg e t = 220 dias, a Proteína retida = 6,25 x [38,5 (0,001669 – 0,00000211 x 220) . e (0,0278 – 0,0000176 x 220 ) . 220] = 56,03 g/dia, ou seja, as exigências líquidas de proteína seriam equivalentes a 56,0 g/dia. Esse valor pode ser visualizado na Tabela 43, página 43, NRC (1996). Para converter as exigências líquidas de proteína para gestação em exigências de PMet, deve-se dividir as exigências líquidas pela eficiência de utilização da PMet para gestação. O NRC (1996) adotou o valor de 65% para essa eficiência. Então, as exigências de PMet para gestação seriam de 86,2 g/dia (56/0,65). Para converter essas exigências em termos de PDR , PNDR ou de NDT, pode-se usar o mesmo raciocínio descrito para animais em crescimento. As exigências para vacas de corte em lactação são relativamente complexas porque é necessário o conhecimento da produção de leite. O NRC (1996) apresenta uma simplificação dessas exigências, considerando quatro diferentes produções de leite para vacas de corte, incluindo produções ao pico de lactação de 5, 8, 11 e 14 kg/dia. A produção diária de leite é calculada por Yn = n/a . eKn), sendo k = 1/T e a = 1/(PKYD .k. e), sendo “n” a semana de lactação, “k” e “a” são parâmetros da equação, “T” é a semana do pico de lactação, “PKYD” é a produção de leite (kg/dia) no pico de lactação. Para gado de corte , o NRC (1996) considera que o pico de lactação ocorre as 8,5 semanas. Então, pode-se calcular a produção diária de leite, conhecendo-se o I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 165 valor da produção de leite ao pico de lactação, por exemplo, se esse valor for de 5 kg/dia , a produção diária de leite dessa vaca na 3a semana de lactação seria: k= 1/T então k= 1/8,5 = 0,1176 a = 1/(PKYD . k.e) ∴ a = 1/ (5,0 . 0,1176 . 2,71828) = 0,6256 Y3 (Produção de leite na semana 3) = n/a . eKn) = 3/ (0,6256 . 0,1176 x3 e ) Y3 = 3,36 kg/dia Conhecendo-se a produção diária de leite, pode-se calcular as exigências de energia e proteína para lactação. Para a exigência de energia pode-se considerar que um leite com 4,0% de gordura, 3,4% de proteína e 8,3% de sólidos não gordurosos possui 0,72 Mcal de energia/kg. Assim, se multiplicar 3,36 x 0,72, obtém-se o valor de 2,42 Mcal/dia, esse valor é a exigência de energia líquida para lactação. Considerando que a eficiência de utilização da energia é semelhante para mantença e lactação, as exigências de energia de lactação são também expressas como EL de mantença, ou seja, as exigências líquidas diárias seriam equivalentes a 2,42 Mcal de Elm. Na Tabela 44, página 45, do NRC (1996) esses dados podem ser confirmados. Outra maneira de determinar o teor de energia do leite, pode ser utilizando-se a equação: Energia (Mcal/kg) = 0,092 x G + 0,049 SNG – 0,0569 sendo “G”, o percentual de gordura do leite e “SNG” o percentual de sólidos não gordurosos do leite. Para calcular as exigências líquidas de proteína para vacas lactantes, o NRC (1996) adotou o valor fixo de 3,4% para o teor de proteína bruta do leite. Então, se a produção de leite estimada foi de 3,36 kg, as exigências líquidas de proteína seria de 3,36 x 0,034 = 0,114 kg ou 114 g/dia. Já as exigências de proteína metabolizável seriam de 114/0,65 = 175,4 g/dia. O valor de 0,65 é a eficiência de utilização da proteína metabolizável para lactação. Pode-se observar que conhecendo-se a produção de leite ao pico de lactação, pode-se estimar as produções diárias de leite para qualquer semana da lactação e, conseqüentemente, calcular as exigências líquidas de proteína e energia para lactação. Além disso, para converter as exigências de PMet e energia líquida para exigências de PDR, 166 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte PNDR e NDT, pode-se usar o mesmo raciocínio adotado anteriormente para fazer essas conversões para os animais em crescimento. EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS DE AMINOÁCIDOS O método fatorial é utilizado pelo CNCPS para estimar os requerimentos de AAs. O’CONNOR et al. (1993) descreveram os procedimentos utilizados pelo CNCPS para estimar os requerimentos de AAs disponíveis para a absorção. Resumidamente, o CNCPS calcula as exigências líquidas de proteína para mantença (incluindo proteína metabólica fecal, proteína endógena urinária e proteína de descamação), multiplica pela composição em AAs dos tecidos, respectivamente: tecido muscular, tecido muscular e proteína da queratina e divide pela eficiência de utilização de cada AA para mantença. Também as exigências líquidas de proteína para crescimento e lactação são multiplicadas pela composição em AAs do tecido muscular e leite, respectivamente, e divididas pela eficiência de utilização de cada AA para crescimento e produção de leite, encontrando-se assim as exigências de AAs absorvidos no intestino delgado para crescimento e lactação. Nas Tabelas 2 e 3 são mostradas, respectivamente, a composição em AAs do tecido muscular, leite e proteína da queratina e as eficiências de utilização de cada um dos AAs essenciais para mantença, gestação e lactação (dados descritos por O’CONNOR et al., 1993). Portanto, conhecendo-se as exigências líquidas de proteína, a composição em AAs dos tecidos e do leite e a eficiência de utilização de cada AA essencial, pode-se calcular as exigências diárias de AAs essencias absorvidos no intestino delgado. SCHWAB (1996) concluiu que as percentagens de lisina e metionina na digesta duodenal para máxima produção e teor de proteína no leite seriam de 15 e 5%, respectivamente, em relação ao total de AAs essenciais, quando se utilizam dietas convencionais. Além disso, esse autor também concluiu que o balanceamento de rações utilizando AAs absorvidos no intestino delgado pode reduzir a quantidade de PNDR nas rações, permitindo mais espaço nas mesmas I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 167 para atender outros nutrientes, tais como carboidratos fermentáveis no rúmen. Tabela 2 - Teores de aminoácidos (AAs) do tecido muscular, leite e proteína da queratina (g/100g de proteína) AAs Tecido muscular1 Leite2 Queratina 2,0 6,4 2,5 3,5 0,6 3,9 6,7 2,8 4,0 6,6 2,71 7,62 2,74 4,75 1,51 3,72 9,18 5,79 5,89 3,40 1,0 3,2 1,0 3,7 1,4 7,2 10,0 5,0 6,0 3,8 Metionina Lisina Histidina Fenilalanina Triptofano Treonina Leucina Isoleucina Valina Arginina 1, 2 e 3; respectivamente, Ainslie et al. (1993), Waghorn e Baldwin (1984) e Block e Bolling (1951), citados por O’CONNOR et al. (1993). Tabela 3 - Eficiência de utilização de aminoácidos absorvidos para as funções fisiológicas (g/g) AAs Metionina Lisina Histidina Fenilalanina Triptofano Treonina Leucina Isoleucina Valina Arginina (AAs) Mantença Gestação Lactação 0,85 0,85 0,85 0,85 0,85 0,85 0,66 0,66 0,66 0,85 0,85 0,85 0,85 0,85 0,85 0,85 0,66 0,66 0,66 0,66 0,98 0,88 0,90 1,00 0,85 0,83 0,72 0,62 0,72 0,42 Adaptado de O’CONNOR et al. (1993). A eficiência para crescimento é dada pela fórmula de Ainslie et al. (1993): eficiência = 0,83 - 0,00114 peso de corpo equivalente 168 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte Considerando o método fatorial utilizado pelo CNCPS, as exigências de AAs essenciais absorvidos no intestino delgado podem ser calculadas através dos dados descritos por O’CONNOR et al. (1993). Para atender essas exigências resta saber qual é a quantidade de AAs absorvidos fornecida pelas fontes protéicas não degradadas no rúmen e pela proteína microbiana. A proporção de proteína verdadeira na proteína microbiana é considerada 60% e a digestibilidade dessa no intestino delgado é assumida como 100%, (SNIFFEN et al., 1992). Além disso, a quantidade de proteína microbiana sintetizada é dada em função da disponibilidade de carboidratos no rúmen, assumindo-se valor médio de 0,4g de MS microbiana/g de carboidrato degradado no rúmen e que as bactérias possuem, em média, 10% de compostos nitrogenados, (RUSSELL et al., 1992). Então, a quantidade de AAs microbianos absorvidos no intestino delgado (ID) pode ser obtida pela multiplicação da quantidade de proteína verdadeira microbiana digestível que chega ao ID pelos seus respectivos teores de AAs. A quantidade de AAs da PNDR disponível para a absorção é calculada pelo CNCPS, considerando as frações B1 , B2 e B3 da proteína. Inicialmente a proteína dos alimentos é fracionada em A, B1 , B2 , B3 e C, conforme metodologia descrita por LICITRA et al. (1996). A fração A não contribui com AAs e a fração C é considerada não degradada no rúmen e indisponível para o animal. Segundo SNIFFEN et al. (1992), o escape percentual das frações B1 , B2 e B3 é dado pela fórmula: escape = Kp/Kp + Kd, onde Kp é a taxa de passagem do alimento e Kd, a taxa de digestão da respectiva fração. Conhecendo-se as quantidades de cada fração protéica que chegam ao ID, multiplicase pelos valores de 100, 100 e 80%, respectivamente, para as frações B1 , B2 e B3 , obtendo-se dessa forma a quantidade de PNDR absorvida no ID para cada alimento, (SNIFFEN et al., 1992). A quantidade de cada AA essencial absorvida no ID pode ser calculada, multiplicandose a PNDR absorvida no ID pelos seus respectivos teores de AAs essenciais. O sistema considera que a composição em AAs essenciais da PNDR é similar à da proteína dietética. EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS DE MINERAIS As exigências de cálcio são calculadas segundo o NRC (1996):Mantença (g/dia) = 0,0154 x Peso vivo / 0,5; Ganho de peso I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 169 (g/dia) = 0,071 x RPN/0,5, sendo RPN = proteína retida em g/dia; Lactação (g/dia) = 1,23x Produção de leite/0,5 e Gestação (g/dia) = CBW x (13,7/90)/0,5, sendo CBW = peso do bezerro ao nascer. Considerando o exemplo anterior, para novilho castrado de 300 kg e ganhando 1 kg de peso vivo diariamente, as exigências de cálcio seriam de 9,24 g/dia para mantença (0,0154 x 300/0,5) e 22,7 g/dia (0,071 x 159,8/0,5) para ganho de peso, sendo as exigências totais diárias de cálcio de 31,94 g/dia. Vale ressaltar que as exigências líquidas de proteína para ganho de 1 kg foram de 159,8 g e que o coeficiente de absorção verdadeiro do cálcio foi considerado 50%. Se considerar vacas de corte produzindo 5 kg/dia de leite, as exigências diárias de cálcio seriam equivalentes a 12,3 g (1,23 x 5/0,5). Assim como se avaliar vacas de corte em gestação, com peso do bezerro de 30 kg, as exigências de cálcio para gestação seriam de 9,13 g/dia (30 x 13,7/90)/0,5). As exigências de fósforo descritas pelo NRC (1996) podem ser calculadas usando as seguintes equações: Mantença (g/dia) = 0,016 x peso vivo/0,68; Ganho de peso = RPN . 0,045/0,68; Lactação (g/dia) = produção de leite x 0,95/0,68 e gestação (g/dia) = CBW x (7,6/90)/0,68, sendo 0,68 o coeficiente de absorção verdadeiro do fósforo. Calculando-se as exigências de fósforo para um novilho castrado de 300 kg, com ganho diário de 1 kg, obtém-se 7,06 g/dia para mantença (0,016 x 300/0,68) e 10,6 g/dia para ganho de peso ((0,045 x 159,8)/0,68), sendo as exigências totais de 17,66 g/dia. Para vacas produzindo 5kg de leite, as exigências diárias de fósforo podem ser calculadas como 0,95 x 5/0,68 e são iguais a 7,0 g/dia, enquanto para vacas gestantes, com peso do bezerro esperado para 30 kg, as exigências de fósforo seriam de 3,73 g/dia ((30 x 7,6/90)/0,68). As exigências de cálcio e fósforo calculadas em g/dia podem ser convertidas em % da matéria seca (MS) consumida. Considerando um consumo de MS equivalente a 2,5% do peso vivo, para animais de 300 kg, o consumo diário seria de 7,5 kg MS. As exigências totais (mantença + ganho) de cálcio foram de 31,94g , enquanto as de fósforo foram equivalentes a 17,66 g/dia. Assim, o percentual de cálcio na MS consumida seria de 0,426% (31,94x100/7500) e o de fósforo seria de 170 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte 0,235% (17,66x 100/7500). Vale ressaltar que 7500 é o consumo de MS expresso em g/dia. Na Tabela 4 são mostradas as exigências dos outros minerais para crescimento, gestação e lactação. Tabela 4 - Exigências diárias de macro e microelementos minerais 1 1 Minerais Unidades Mg K Na S % % % % Co Cu I Fe Mn Se Zn ppm ppm ppm ppm ppm ppm ppm Crescimento/ Terminação 0,10 0,60 0,06-0,08 0,15 0,10 10,00 0,50 50,00 20,00 0,10 30,00 Gestação Lactação 0,12 0,60 0,06-0,08 0,15 0,20 0,70 0,10 0,15 0,10 10,00 0,50 50,00 40,00 0,10 30,00 0,10 10,00 0,50 50,00 40,00 0,10 30,00 – Adaptada do NRC (1996) FORMULAÇÃO DE RAÇÕES Para calcular rações, deve-se conhecer as exigências nutricionais dos animais, os alimentos disponíveis e sua composição em nutrientes. Considerando as dificuldades de calcular rações completas, incluindo volumoso e concentrado, inicialmente será discutida a formulação de rações concentradas. O Quadrado de Pearson, é um procedimento simples que permite misturar 2 alimentos (ou 2 misturas de alimentos) para obter uma concentração desejada de um nutriente. Para resolver o problema utilizando o Quadrado de Pearson, a solução desejada é colocada ao centro e dois alimentos são colocados em cada extremidade, sendo que esses obrigatoriamente devem ter uma concentração maior e menor que a desejada, respectivamente. A resposta inicialmente é expressa em partes mas pode ser facilmente convertida em percentagem. I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 171 Tomando como exemplo o cálculo de uma ração contendo 18% de proteína bruta (PB), utilizando como ingredientes o farelo de trigo (FT) com 15% de PB e o farelo de soja (FS) com 45% de PB. FT 27 ⇒ (27/30) x 100 = 90% 15 18 FS 45 3 ⇒ (3/30) x 100 = 10% Subtraindo-se os percentuais de PB dos alimentos do valor esperado (18%), pode-se calcular que 27 partes de FT (45 – 18) e 3 partes de FS (15 – 18) são necessárias para obter a mistura com 18% de PB. Vale ressaltar que os valores serão sempre positivos, ou seja, (15 – 18) ou (18 – 15) será sempre 3. Desejando-se expressar em percentagem, pode-se calcular que a ração será constituída de 90% de FT (27x100/30) e 10% de FS (3x100/30). Posteriormente, pode-se confirmar se os cálculos foram feitos adequadamente, multiplicando os percentuais de cada ingrediente (FT e FS) pelos seus respectivos teores de PB: 90 x 0,15 + 10 x 0,45 = 18%. Consequentemente, os cálculos foram corretos pois o % de PB desejado foi igual ao calculado. Também pode-se utilizar o Quadrado de Pearson para calcular 2 nutrientes, tais como PB e NDT. Nesse caso, se chama de Quadrado de Pearson duplo. Como exemplo, calcular uma ração com 16% de PB e 70% de NDT, utilizando FT (15% PB, 60% NDT), FS (45% PB e 75% NDT), milho (8% PB, 80% NDT) e farelo de algodâo (FA) com (28% PB e 70% NDT). Para isso, devem-se elaborar 2 misturas com 16% de PB, sendo que uma deverá conter mais de 70% e outra menos de 70% de NDT. Assim, pode-se utilizar FT e FA na primeira mistura e FS e milho (M) na segunda mistura. 12 ⇒ (12/13) x 100 = 92,3% FT 15 M1 16 FA 28 1 ⇒ (1/13) x 100 = 7,7% 172 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte M 8 29 M2 ⇒ (29/37) x 100 = 78,4% 16 F5 45 8 ⇒ (8/37) x 100 = 21,6% Assim a mistura M1 será constituída de 92,3% de FT e 7,7% de FS, terá 16% de PB e 60,77% de NDT (92,3 x 0,6 + 7,7 x 0,7), sendo 0,6 e 0,7 os teores de NDT dos respectivos alimentos. A mistura M2 será constituída de 78,4% de M e 21,6% de FS, terá 16% de PB e 78,92% de NDT (78,4 x 0,8 + 21,6 x 0,75), observando-se que os valores de 0,8 e 0,75 são os teores de NDT do milho e farelo de soja, respectivamente. O cálculo da mistura final (M3) seria: M1 60,77 M3 ⇒ 8,92 (8,92/18,15) x 100 = 49,1% 70 M2 78,92 9,23 ⇒ (9,23/18,15) x 100 = 50,9% Então a mistura M3 será constituída de 49,1% de M1 e 50,9% de M2. Os percentuais de cada ingrediente na mistura final podem ser calculados da seguinte maneira: FT = 49,1 x 0,923 = 45,3% FA = 49,1 x 0,077 = 3,8% M = 50,9 x 0,784 = 39,9% FS = 50,9 x 0,216 = 11,0% Alguns pesquisadores preferem calcular rações usando soluções algébricas a partir de equações com duas incógnitas. Usando o I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 173 exemplo descrito anteriormente, ou seja, formular uma ração concentrada com 18% de PB, utilizando FT e FS. FT + FS = 100 0,15 FT + 0,45 FS = 18 Multiplicando a 1a equação por 0,45 e subtraindo a 2a equação é uma das formas de resolução desse sistema: 0,45 FT + 0,45 FS = 45 0,15 FT + 0,45 FS = 18 0,3 FT + 0 = 27 FT = 27/0,3 = 90% FT + FS = 100 90 + FS = 100 FS = 10% O sistema de equações é bastante simples e permite deixar espaço na mistura para colocar outros nutrientes, tais como minerais, sendo geralmente preferido quando se necessita formular misturas para atender dois nutrientes. CÁLCULO DE RAÇÕES PARA BOVINOS EM CONFINAMENTO Utilizando bovinos castrados com 300 kg de peso vivo e ganho diário de 1 kg, as exigências diárias foram calculadas em 4,93 kg, 849,4 g, 31,94 g e 17,66 g de NDT, PB, cálcio (Ca) e fósforo (P), respectivamente. Para formular uma ração, deve-se inicialmente, determinar quais os alimentos serão utilizados e sua composição química. Serão utilizados a silagem de milho, milho desintegrado com palha e sabugo (MDPS), farelo de soja, calcáreo e fosfato bicálcico. Em seguida, torna-se necessário conhecer a composição em nutrientes desses alimentos. 174 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 5 - Composição dos alimentos PB Ingredientes Silagem de milho MDPS Farelo de soja Calcáreo Fosfato bicálcico MS (%) 30,7 87,7 88,6 100 98,6 6,7 8,2 47,9 NDT Ca (% na MS) 63,0 0,33 66,6 0,08 81,0 0,33 37,2 23,9 P 0,17 0,21 0,57 18,4 Fonte: CAPPELLE (1999). Para determinar o percentual de volumoso na ração pode-se basear na % de NDT da ração total.Um valor razoável para estimar consumo de MS de gado de corte seria usar 2,5% do peso vivo. Assim bovinos de 300 kg, deverão consumir em torno de 7,5 kg MS/dia. O NRC (1996) recomenda usar equação baseada na concentração de energia líquida de mantença, mas cita uma equação baseada no peso vivo que seria: 1,8545 + 0,01937 x PV. Se utilizar essa equação, o consumo esperado para bovinos de 300 kg seria de 7,66 kg/MS, valor muito próximo ao de 2,5% do peso vivo. Assim será considerado para esse cálculo um consumo estimado de 7,5 kg MS/dia. Então o % de NDT na ração total seria de 65,7% (4,93 x 100/7,5) e a proporção de volumoso na ração poderia ser obtida considerando que o teor de NDT da mistura concentrada (MDPS e farelo de soja) seria próximo de 70% Volumoso 4,3 ⇒ 63 (4,3/7,0) x 100 = 61,4% 65,7 Concentrado 70 2,7 ⇒ (2,7/7,0) x 100 = 39,6% Assim o percentual de volumoso seria de 61,4 e a quantidade consumida diariamente seria de 7,5 x 0,614 = 4,6 kg de MS. I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 175 Tabela 6 - Resumo dos valores calculados na ração total Exigências 4,6 kg MS de silagem Déficit (1) 2,114 kg MS de MDPS 0,768 kg MS de FS Déficit (2) 5,54 g FB Déficit (3) 30,16 g de calcáreo Déficit (4) PB (g) 849,4 308,2 541,2 173,3 367,9 0 NDT (kg) 4,93 2,90 2,03 1,41 0,62 0 0 0 0 0 Ca (g) 31,94 15,18 16,76 1,69 2,53 -12,54 1,32 -11,22 11,22 0 P (g) 17,66 7,82 9,84 4,44 4,38 -1,02 1,02 0 0 As quantidades fornecidas por 4,6 kg MS de silagem de milho foram 308,2 g de PB (4600,0g x 0,067) 2,90 kg de NDT (4,6kg x 0,63); l5,18 g de Ca (4,6 x 3,3 g/kg) e 7,82 g de P (4,6 x 1,7 g P/kg). Subtraindo das exigências as quantidades fornecidas pelo volumoso, obtém-se o déficit (1) cujas quantidades deverão ser supridas pela mistura de concentrados. Assim as quantidades de MDPS e FS poderiam ser obtidas, usando o sistema de equações: 0,082 MDPS + 0,479 FS = 0,5412 kg 0,666 MDPS + 0,81 FS = 2,0300 kg Vale ressaltar que as equações 1 e 2 suprem as necessidades de PB e NDT, respectivamente. Resolvendo o sistema, pode-se calcular que as quantidades diárias de MDPS e FS suficientes para atender as exigências de PB e NDT foram de 2,114 e 0,768 kg, respectivamente. Calculando as quantidades de PB, NDT, Ca e P fornecidas por MDPS e FS e subtraindo-as do déficit (1), obtém-se o déficit (2). Notase que o déficit (2) deve-se referir apenas às fontes de cálcio e fósforo. Para suprir o teor de P será utilizado o fosfato bicálcico (FB) na quantidade diária de 5,54 g que, além de suprir o P, fornece 1,32 g/dia de Ca. 176 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte 100 g fosfato bicálcico - 18,4 g P X - 1,02 g P X = 5,54 g/dia de FB 100 g FB - 23,9 g Ca 5,54 g FB - Y Y = 1,32 g de Ca Para suprir o déficit final de 11,22 g Ca, serão utilizadas 30,16 g/dia de calcáreo 100 g calcáreo - 37,2 g Ca Z - 11,22 g Ca Z = 30,16 g/dia de calcáreo Assim, ao final dos cálculos não deverá haver nenhum déficit. Além disso, foram feitos os balanceamentos somente para 4 nutrientes (PB, NDT, Ca e P). Contudo, desejando-se balancear outros nutrientes, os cálculos seguirão o mesmo raciocínio. As quantidades diárias de 2,114 kg de MDPS, 0,768 kg de FS, 5,54 g de FB e 30,16 g de calcáreo devem ser expressas em percentagem. A quantidade total diária seria de 2,9177 kg de MS, com 72,45% de MDPS, 26,32% de FS, 0,19% de FB e 1,03% de calcáreo. Considerando que os cálculos das quantidades dos concentrados foram expressos na base da MS, para efetuar as misturas, esses deverão ser convertidos na base da matéria natural (MN). Tabela 7 - Composição da ração concentrada expressa nas bases da MS e MN Alimentos MDPS FS FB Calcáreo % na MS 72,45 26,32 0,19 1,03 % MS 87,7 89,6 100 98,6 Partes de MN 82,61 29,38 0,19 1,04 % na MN 72,96 25,95 0,17 0,92 I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 177 Para converter a composição da ração concentrada expressa na base da MS para a base de matéria natural (MN), deve-se dividir o % de cada alimento pelo seu respectivo teor de MS (exemplo: MDPS, 72,45/0,877 = 82,61) para obter as partes de cada alimento na base da MN e, posteriormente, expressar essas partes em termos percentuais (tomando exemplo do MDPS, 82,61 x 100/113,22 = 72,96%). Assim, a mistura de concentrado deverá conter na base da MN: 72,96; 25,95; 0,17 e 0,92% de MDPS, FS, FB e Calcáreo, respectivamente. Para saber quantos kg de concentrado deverão ser fornecidos diariamente aos animais para suprir a quantidade total de 2,9177 kg de MS, deve-se calcular o % de MS da mistura concentrada que será = 88,31% ( 72,96 x 0,877 + 25,95 x 0,896 + 0,17 x 1,0 + 0,92 x 0,986). Então deverão ser fornecidos diariamente aos animais 3,30 kg de concentrado (2,9177/0,8831). O consumo total de MS observado foi de 7,5177 kg (4,6 + 2,9177) ou 2,51% do peso vivo, valor muito próximo ao preestabelecido. O concentrado calculado terá na base da MS: % PB = 72,45 x 0,082 + 26,32 x 0,479 = 18,55% % NDT = 72,45 x 0,666 + 26,32 x 0,81 = 69,57% % Ca = 72,45 x 0,0008 + 26,32 x 0,0033 + 0,19 x 0,239 + 1,03 x 0,372 = 0,57% % P = 72,45 x 0,0021 + 26,32 x 0,0057 + 0,19 x 0,184 = 0,34% Então, a mistura de concentrados terá 18,55; 69,57; 0,57 e 0,34%, respectivamente, de PB, NDT, Ca e P na base da MS. Se for necessário calcular os percentuais dos nutrientes na base da MN, basta multiplicar os teores em base de MS pelo teor de MS do concentrado. Exemplificando os cálculos para PB, o teor de PB na MN da mistura de concentrados será de 16,38% (18,55 x 0,8831) e os respectivos teores de NDT, Ca e P na MN serão de 61,44; 0,50 e 0,30%. Finalizando, deve-se lembrar que é importante entender os cálculos manuais para que a utilização de programas de computação seja feita adequadamente. 178 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CAPELLE, E. R. Tabelas de composição dos alimentos, estimativa do valor energético e predição do consumo e do ganho de peso de bovinos, Viçosa, MG. UFV, 1999. 322p. Dissertação (Doutorado em Zootecnia). Universidade Federal de Viçosa, 1999. GARRET, W. N. Factors influencing energetic efficiency of beef production. J. Anim. Sci. Champaign. v.51, n.6. p.1434-1440, 1980. LICITRA, G., HERNANDEZ, T. M.; Van SOEST, P. J. Standardization of procedures for nitrogen fractionation of ruminants feeds. Anim. Feed. Sci Techn. v.57, n.4. p.347-358, 1996. NATIONAL RESEARCH COUNCIL – NRC. Nutritional Requirements of beef cattle – 7ed. Washington. D.C., 1996. 242p. NATIONAL RESEARCH COUNCIL (NRC). Nutrients requirements of beef cattle. 6 ed. Washington DC: 1984, 90p. O’CONNOR, J. D.; SNIFFEN, C. J.; FOX, D. G.; CHALUPA, W. A net carbohydrate and protein system for evaluating cattle diets: IV. Predicting aminoacid adequacy. J. Anim. Sci. v.71, p.1298-1311, 1993. RUSSELL, J. B.; O’CONNOR, J. D.; FOX, D. G. et al. A net carbohydrate and protein system for evaluating cattle diets. I - Ruminal fermentation. J. Anim. Sci.; v./.70, n.11, p.3551-3561, 1992. SCHWAB, C. G. Amino acid nutrition of the dairy cow: current status. In: Proceedings Cornell Nutrition Conference for Feed Manufactures, Cornell University, Ithaca, N.Y. 1996. p.184-198. SNIFFEN, C. J.; O’CONNOR, J. D.; VAN SOEST, P. S. et al. A net carbohydrate and protein availability. J. Anim. Sci. Champaign. v.70, n.11, p.3562-3577, 1992. FUNDAMENTOS E ESTRATÉGIAS DO MANEJO DE PASTAGENS José Alberto Gomide 1 ; Carlos Augusto de M. Gomide 2 1 2 – Pesquisador do CNPq – Pós-Graduando do DZO-UFV 1. INTRODUÇÃO A exploração do rebanho bovino depende, fundamentalmente, da produção de forragem, principalmente daquelas espécies que constituem as áreas de pastagens. Com freqüência, as plantas forrageiras constituem a única fonte de nutrientes indispensáveis ao crescimento, à saúde dos animais, assim como à reprodução do rebanho. Daí, a importância do manejo correto das pastagens, que deve objetivar: maximização da produção forrageira e da eficiência de uso da forragem produzida, observada a estabilidade da pastagem. Neste contexto, ganha realce o papel da fotossíntese, força propulsora do crescimento vegetal. Dadas condições favoráveis de temperatura, luz, água e nutrientes minerais, o potencial fotossintético de uma pastagem decorre de dois fatores intrínsecos do relvado: seu índice de área foliar (IAF) e a capacidade fotossintética do dossel. Visto que a intercepção de luz pelas folhas é o ponto de partida do processo de fixação de carbono, não é de se estranhar a alta e positiva correlação entre o rendimento forrageiro de uma pastagem e seu IAF, até seu valor crítico, em que 95 % da luz é interceptada (BROUGHAM, 1958; KING et al, 1984; PARSONS et al 1983b). Entretanto, além da magnitude do IAF, outras características da área foliar são relevantes: arranjo e arquitetura das folhas ao longo do perfil, suas propriedades físicas e idade média, visto que a capacidade fotossintética das folhas varia inversamente com sua idade (PARSONS et al, 1983a; WOLEDGE e LEAFE, 1976). Essas considerações resumem a importância dos estudos de morfogênese das forrageiras. 180 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte 2. MORFOFISIOLOGIA DE GRAMÍNEAS FORRAGEIRAS A contínua emissão de folhas e perfilhos garante a restauração da área foliar após desfolha pelo corte e, ou pastejo, garantindo, assim, a produtividade e a perenidade da pastagem. As folhas se formam a partir do desenvolvimento de primórdios foliares que surgem alternadamente de cada lado do domo apical (LANGER, 1972), originando os fitômeros, unidades de crescimento das gramíneas. Cada fitômero é constituído de lâmina e bainha foliares, entre-nó, nó e gema (WILHELM e Mc MASTER, 1995). Inicialmente, o primórdio foliar é todo meristemático, mas logo esta atividade se restringe a sua porção basilar, dando origem ao meristema intercalar que originará a bainha foliar, no sentido basípeto e a lâmina no sentido acrópeto (LANGER, 1972). Durante o desenvolvimento inicial de um perfilho se reconhecem três tipos de folhas: folhas adultas completamente expandidas, cujas bainhas constituem o pseudo-colmo; folhas emergentes, cujo ápice é visível acima do pseudo-colmo e as folhas em expansão, completamente contidas no interior do pseudo-colmo. A lâmina foliar cresce até a exteriorização da lígula, quando então se tem a folha adulta, completamente expandida. As primeiras folhas, emergindo de um pseudo-colmo curto, têm uma rápida emergência e atingem pequenos comprimentos. As folhas subseqüentes, devendo fazer um percurso mais longo para emergir, alcançam comprimentos maiores (SKINNER e NELSON, 1995). Posteriormente, durante o desenvolvimento do perfilho, instala-se o processo de alongamento do colmo, do que resulta a elevação do ponto de crescimento, domo apical, o que também reduz o percurso para emergência das folhas de mais alto nível de inserção. Assim, o comprimento das folhas varia em função de seu nível de inserção no perfilho, em que valores máximos correspondem às folhas de inserção intermediária (Figura 1). A produção de folhas é avaliada em função do tempo necessário para o aparecimento de duas folhas sucessivas, o filocrono, cujo inverso estima a taxa de aparecimento de folhas. Nas primeiras semanas do desenvolvimento do perfilho principal instala-se o processo de perfilhamento, dando origem aos perfilhos primários e estes aos secundários. Em cultivares de Panicum I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 181 maximum, o primeiro perfilho primário surgiu durante a segunda semana após a emergência das plântulas; outros perfilhos aparecendo a cada dois dias na axila das folhas primeiramente expandidas (GOMIDE , 1997). O número de perfilhos por planta é variável em função do genótipo. Assim, capim-jaraguá, capim-gordura e capim-andropogon perfilham mais intensamente que o capim-colonião. Na figura 2, observa-se maior número de perfilhos no cultivar Tanzânia relativamente ao cultivar Mombaça de Panicum maximum. Figura 1 - Comprimento de folhas do perfilho primário do cultivar Vencedor no crescimento de rebrota (Gomide, 1997) 182 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte Figura 2 - Número de perfilhos por planta dos cultivares Mombaça () e Tanzânia (---), no crescimento de estabelecimento (Gomide, 1997) A área foliar de uma planta é proporcional ao número de seus perfilhos e a área foliar destes perfilhos. O tamanho final e a taxa de aparecimento de folhas são os dois fatores determinantes da área foliar do perfilho, sendo o tamanho da folha determinado por sua taxa de alongamento e duração do período de alongamento (Figura 3). A área foliar da planta cresce à medida que novas folhas surgem no perfilho, enquanto não se instala e intensifica o processo de senescência e morte das primeiras folhas, de mais baixo nível de inserção. De fato, ocorre uma defasagem de algumas semanas entre o aparecimento e a senescência das primeiras folhas. Entretanto, quando a taxa de senescência iguala a taxa de aparecimento de folhas, o número de folhas verdes por perfilho atinge um valor constante, próprio de cada espécie/ou cultivar; conforme a tabela 1. A figura 4 mostra que, em capim-Tanzânia, o número de folhas adultas verdes se estabiliza em 3,5 de um total de 5,5 folhas formadas durante 44 dias crescimento após corte. Da figura 4 se deduz uma vida útil mínima de 23 dias para as folhas daquela gramínea. I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 183 Figura 3 - Valores médios para comprimento (o, cm), taxa de alongamento (∆, mm/dia) e duração do alongamento ( , dias) de folhas do perfilho primário de “Tanzânia” no crescimento de rebrota (Gomide, 1997) Tabela 1 - Intervalo de aparecimento de folhas e número de folhas adultas verdes por perfilho Brachiaria decumbens Panicum maximum ‘Vencedor’ Panicum maximum ‘Mombaça’ Panicum maximum ‘Guiné’ Setaria anceps ‘Kazungula’ Cynodon dactylon ‘Tifton’ Intervalo (dias) 8 5 10 4 2,4 3 Folhas Adultas --6 4 5 7 9,5 Referência Gomide et al, 1997 Gomide, 1997 Gomide, 1997 Pinto, 1993 Pinto, 1993 Oliveira, 1999 184 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte Figura 4 - Número médio de folhas expandidas, totais () e vivas (---), do perfilho primário do capim-tanzânia no crescimento de rebrota (Gomide, 1997) O aparecimento e a senescência e morte de folhas são os processos de maior relevância a caracterizar o fluxo de biomassa em um relvado e a determinar o IAF da pastagem, juntamente com sua população de perfilhos. Por isto mesmo, constituem índices importantes a serem considerados na condução do manejo objetivando maior produção da forrageira e eficiência na utilização da forragem produzida (GRANT et al, 1988; PARSONS e PENNING, 1988). A relevância do conhecimento da morfogênese das gramíneas forrageiras é objetivamente retratada na figura 5, onde também se enfatiza o papel do manejo e dos fatores do meio: luz, temperatura, nitrogênio, etc. I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 185 Figura 5 - Relação entre variáveis morfogênicas e as características estruturais do relvado (Chapman e Lemaire, 1993) Na figura 5, destaca-se o papel central da taxa de aparecimento de folhas por seu envolvimento direto com as três caraterísticas estruturais do relvado: número de folhas por perfilho, tamanho das folhas e população de perfilhos, que concorrem para a definição do IAF da pastagem. Observa-se que o número de perfilhos é diretamente dependente do número de folhas, fato que decorre de sua origem da gema existente na axila da respectiva folha que o subtende. Entretanto, o desenvolvimento da gema em perfilho depende do adequado nível de reservas orgânicas da planta, verificado após razoável desenvolvimento da área foliar da planta. Obviamente, o perfilhamento é favorecido por fatores do meio como nutrientes e umidade do solo, assim como pela intensidade de radiação solar que alcança o nível do solo, fato condicionado pelo IAF, cuja magnitude por sua vez varia conforme o manejo a que a pastagem é submetida. Pastagens submetidas a lotação contínua (pastejo contínuo) e alta pressão de pastejo caracterizam-se por apresentar baixo IAF, numerosos e pequenos perfilhos, enquanto altos valores de IAF, e presença de perfilhos grandes e pouco numerosos são características de 186 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte pastagens submetidas a pastejo leve (BIRCHAM e HODGSON, 1983; GRANT et al, 1988). O pastejo pesado concorre para diminuir as perdas de folhas por senescência o que, juntamente com a maior população de perfilhos do relvado, até certo ponto compensa a menor produção bruta de forragem decorrente do menor IAF da pastagem. Assim, a produção líquida de forragem (produção bruta – senescência) corresponde a uma faixa relativamente larga de valores de IAF (BIRCHAM e HODGSON, 1983), conforme se observa na figura 6. Figura 6 - Produção bruta (oo), senescência foliar ( ..... ) e produção líquida de forragem (∆---∆) e as características estruturais do relvado (Bircham e Hodgson, 1983) O pastejo pesado ainda contribui para prevenir intenso alongamento do colmo, processo muito precoce e comum nas gramíneas tropicais; melhorando pois a relação folha/colmo da forragem presente na pastagem. Esta relação é um índice do valor nutritivo da forragem e, ao lado da altura do relvado e da I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 187 disponibilidade de biomassa da pastagem (Kg MS/há), condiciona a facilidade de apreensão da forragem pelo animal e portanto seu comportamento durante o pastejo: tempo de pastejo, ritmo e tamanho de bocado, e assim determinando o consumo e o desempenho animal: ganho de peso vivo, produção de leite (ALDEN e WHITAKER, 1970; STOBBS, 1973; HODGSON, 1981, 1985; PENNING et al, 1991, 1994). Enquanto estreita relação folha/colmo decorre de baixa taxa de lotação no sistema de lotação contínua, no pastejo rotativo esta relação varia inversamente com o período de descanso do piquete, cuja duração prolongada é também indesejável por potencializar perdas de folhas por senescência que se tornam maiores sob condições de desfolha apenas parcial do relvado durante o período de ocupação do piquete, isto é, período de pastejo. Sob o sistema de pastejo rotacionado, a intensa desfolha do relvado contribui para uma mais eficiente utilização da forragem disponível durante o período de pastejo e, indiretamente, para diminuir as perdas por senescência e morte de folhas no período de descanso subseqüente ao pastejo. Nestas condições, enfatiza-se a importância fundamental da observância de uma adequada duração do período de descanso objetivando a maximização da produtividade da pastagem em termos de produto animal por hectare. A definição da duração do período de repouso pode se basear em diferentes critérios científicos: - restauração das reservas orgânicas; - restauração da área foliar; - intercepção de 95% de luz incidente, - maximização da taxa média de crescimento forrageiro, - número de folhas vivas por perfilho; 1 – Restauração das reservas orgânicas A reconstituição da área foliar é um processo que demanda energia e esqueleto carbônico, essenciais à formação das novas folhas. O nível de reservas orgânicas da planta mostra uma intensa queda nos primeiros dias de rebrotação e posterior recuperação até o nível 188 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte existente antes da desfolha. Em capim-colonião, a restauração do nível de carboidratos não estruturais ocorreu após 21 dias de rebrota (GOMIDE e ZAGO, 1980). 2 – Restauração da Área Foliar O rendimento forrageiro após corte é proporcional à área foliar existente, intensificando-se à medida que aumenta a intercepção da radiação luminosa em decorrência do crescimento do IAF do dossel. Imediatamente após a saída dos animais do piquete, o IAF do relvado é baixo, apresentando predominância de folhas velhas (L3 ); contudo, após os primeiros dias de rebrotação verifica-se nele maior proporção de folhas emergentes (L1 ) e, subseqüentemente, de folhas recém expandidas (L2 ). Substancial presença de folhas adultas e aumento na proporção de folhas velhas e alto valor de IAF ocorrem simultaneamente, mais tarde. Assim, durante a rebrotação, a proporção de folhas evolui da relação % folhas emergentes > % recém expandidas > % velhas, para a relação % recém expandidas > % folhas velhas > % folhas emergentes (Figura 7). I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 189 Figura 7 - Evolução da proporção de folhas de diferentes idades em um relvado de azevém durante o período de repouso do pastejo rotacionado (Parsons et al, 1988) Conseqüentemente, a taxa de fotossíntese bruta do dossel (g CO2 / m2 solo.hora) cresce curvilinearmente durante o período de descanso, refletindo o crescimento do IAF (KING et al, 1984; PARSONS et al, 1988) e o avanço da idade de suas folhas. Nos primeiros dias, ela é inferior àquela observada em relvado sob pastejo contínuo pesado (IAF=1,0), igualando-a rapidamente e excedendo-a após 15 dias (Figura 8), quando o relvado apresentava, em sua área foliar, predominância de folhas recém expandidas (Figura 7). A estabilização da fotossíntese bruta do dossel é atribuída à avançada idade média da área foliar, assim como ao mútuo sombreamento das folhas, além da plena interceptação da radiação solar. A fotossíntese bruta acumulada do dossel (quantidade de carbono assimilado por hectare) durante a estação de pastejo: primavera, verão e outono, 190 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte cresceu linearmente, atingindo valores proporcionais à duração do período de descanso observado no sistema de pastejo rotacionado. O rendimento forrageiro se aproxima do máximo quando o relvado intercepta 95% da radiação incidente (Figura 9), momento em que seu IAF se aproxima de seu valor máximo. Entretanto, este critério não é de aplicação prática no dia a dia do manejo da pastagem. Figura 8 - Evolução da fotossíntese bruta do dossel durante o período de descanso do azevém perene sob pastejo rotacionado () e sob pastejo contínuo (----) mantendo IAF=1,0 (Parsons et al, 1988) Outro critério científico para a definição do período de crescimento se fundamenta na variação das taxas de crescimento durante a rebrotação da forrageira. A figura 10 ilustra a natureza sigmoidal do crescimento acumulado (W) e as variações da taxa de crescimento instantâneo (dw/dt) e da taxa média de crescimento ((WWo)/t) em azevém perene (PARSONS e PENNING, 1988). No crescimento sigmoidal se identificam três fases: fase inicial de baixa taxa de crescimento instantâneo, seguida de uma fase de crescimento linear com altas taxas de crescimento instantâneo e uma terceira fase de incrementos decrescentes. Observa-se que a taxa de crescimento I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 191 instantâneo atinge valor máximo em plena fase linear do crescimento acumulado, enquanto taxa média de crescimento é máxima mais tarde, quando o crescimento acumulado ainda é crescente. Figura 9 - Variações nas taxas de fotossíntese bruta, perdas respiratórias, senescência e morte dos tecidos e acúmulo de forragem durante a restauração do IAF do piquete (Parsons et al, 1983b) A fase de crescimento decrescente decorre de diversas causas: instalação e intensificação das perdas de tecidos por senescência e morte, aumento na idade média da área foliar do dossel, sombreamento mútuo dos perfilhos. Nestas condições, a fim de maximizar a produção de forragem, pareceria lógico definir a duração do período de descanso em função do momento em que a taxa média de crescimento é máxima. Novamente, entretanto, este critério é subjetivo, impróprio para aplicação prática. Um período de descanso demasiadamente longo compromete a produção líquida de forragem (Figura 9) devido à intensificação tanto das perdas por senescência como das perdas respiratórias de carbono. A figura 9, extraída do trabalho de PARSONS et al (1983b), ilustra a 192 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte evolução das taxas de fotossíntese bruta, perdas respiratórias, fotossíntese líquida, produção bruta de forragem, senescência e acúmulo líquido de forragem. FS bruta – Respiração = FS líquida = produção bruta de forragem Produção bruta de forragem – senescência = acúmulo líquido de forragem O número de folhas verdes por perfilho, constante a partir do momento em que a taxa de senescência foliar iguala a taxa de aparecimento, constitui critério objetivo e prático para definição da duração do período de descanso, ou seja, o momento da introdução dos animais no piquete (FULKERSON e SLACK, 1995; GRANT et al, 1988). Figura 10 - Crescimento acumulado (W), variações na taxa de crescimento instantâneo (dW/dt) e taxa média de crescimento (W-Wo)/t durante o período de descanso do piquete (Parsons e Penning, 1988) Assim, por exemplo, em pastagem de capim-mombaça, cujo intervalo de aparecimento de folhas é de 10 dias (Tabela 1), a volta dos animais ao piquete se daria quando o número médio de folhas por perfilho for de 3,5, o que corresponderia a 35 dias aproximadamente, I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 193 conforme as condições prevalecentes no período de repouso. O prolongamento do período de crescimento, após aquela condição morfológica, aumenta o potencial das perdas de folhas por senescência, além de propiciar queda na relação folha/colmo e no valor nutritivo da forragem disponível. A produção de forragem e a eficiência de sua utilização em pastagens submetidas a lotação contínua varia em função da pressão de pastejo adotada, caracterizada pelo seu IAF, altura do relvado e, ou biomassa (BIRCHAM e HODGSON, 1983; PARSONS et al 1983b). O potencial fotossintético, fotossíntese bruta do dossel, é mais alto em pastagens sob pastejo leve, apresentando alto IAF, relativamente àquele observado quando o pastejo pesado condiciona o relvado a um IAF mais baixo. Entretanto, em virtude das maiores perdas respiratórias, mais intenso fluxo de biomassa (maior senescência foliar) e maior quantidade de assimilados alocados ao sistema radicular, a produção líquida de forragem e o consumo de forragem por hectare são mais altos sob pastejo pesado (Figura 11). Figura 11 - Fluxo de tecidos em pastagem sob pastejo contínuo, leve e pesado (Parsons et al, 1983b) 194 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte 3. ESTRATÉGIAS À avaliação da produção animal em pastagens interessam a produção por animal e, ou a produção por área, ambas estreitamente dependentes da pressão de pastejo a que a pastagem é submetida (Figura 12). Pressão de pastejo abaixo da ótima maximiza a produção por animal, mas subestima a produção por área que, inicialmente, cresce linearmente com a pressão de pastejo. A máxima produção por área ocorre sob pressão de pastejo em que a produção por animal é ligeiramente comprometida. A pressão de pastejo ótima corresponde a uma faixa que engloba a máxima produção por animal e por área (MOTT, 1960). Pressão de pastejo acima da ótima compromete simultaneamente a produção por animal e por área. Figura 12 - Relação entre a pressão de pastejo e a produção animal, por cabeça e por área, em pastagem (Mott, 1960) I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 195 Percebe-se, então, que a eficiente utilização da forragem produzida depende da adoção da taxa de lotação compatível com a capacidade de suporte da pastagem, isto é, a adoção da pressão ótima de pastejo. A definição da pressão ótima de pastejo tem sido subjetiva e mais uma arte e portanto, variável de pessoa para pessoa. Entretanto, a partir dos conhecimentos da morfogênese (BIRCHAM e HODGSON, 1983; CHAPMAN e LEMAIRE, 1993) e fisiologia do relvado (PARSONS et al, 1983b; PARSONS et al, 1988; PARSONS e PENNING, 1988), alguns critérios objetivos para orientação do manejo das pastagens podem ser reconhecidos; tais são: IAF, altura do relvado, massa de forragem disponível, oferta de forragem. Assim, enquanto a figura 9 ilustra a variação da produção líquida de forragem em função do IAF do relvado, o mesmo é representado pela figura 6, que ainda relaciona a relevância das características do relvado: altura e biomassa. Entretanto, é preciso enfatizar que a maioria das informações disponíveis referem-se a pastagem de azevém perene sob pastejo de ovinos. Conquanto tais informações precisem ser levantadas para as gramíneas tropicais sob pastejo de bovinos, o conhecimento dos fundamentos teóricos podem ajudar na formulação do manejo mais apropriado em cada situação. A importância da observância de tais características estruturais do relvado na condução do pastejo decorre também de sua influência sobre o comportamento ingestivo dos animais (STOBBS, 1973; HODGSON, 1985; PENNING e PARSONS, 1994), condicionando o consumo de forragem e, portanto, a produção animal. Alguns resultados experimentais com forrageiras tropicais já disponíveis, apontam limites desejáveis de oferta de forragem entre 6 a 9% para vacas leiteiras em pastagem de capim-elefante anão (GOMIDE, 1998) ou entre 10-12% para novilhos em pastagem de campo nativo e pastagens melhoradas de capim-pangola + azevém + trevo branco (MARASCHIN e JACQUES, 1993), a fim de maximizar o consumo e a produção animal. Tais relatos são consistentes com a conclusão de HODGSON (1981), de que o consumo de forragem é maximizado quando a oferta de forragem é 4 vezes a capacidade de ingestão do ruminante. Assim, um consumo voluntário de matéria seca de 2,5 % do Peso Vivo ocorre sob condições de pastejo em que a oferta 196 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte de forragem é de 10% do PV. Entretanto, MORAES e MARASCHIN (1988) relatam linearidade de resposta entre oferta e consumo, e oferta e ganho médio de peso até o limite de 10% de oferta em pastagem de milheto. Outro critério objetivo para orientar a condução do manejo das pastagens próximo ao ótimo da pressão de pastejo é a quantidade de forragem presente que deve estar entre 1500 a 2000 Kg MS/há (MARASCHIN e JACQUES, 1993; GOMIDE, 1994) para pastagens tropicais sob pastejo contínuo. Para as condições de pastejo rotacionado de pastagem de capim-elefante ou capim-colonião, consorciado com soja perene ou centrosema, a observância de um resíduo de forragem após pastejo de 2500 Kg MS/há ou mais alto resultou no desaparecimento das leguminosas, que só mantiveram adequada proporção na pastagem quando o resíduo de forragem pós pastejo foi de 1500 Kg/há de MS (MOTT, 1984). A conclusão é que, em pastagens consorciadas, uma mais alta pressão de pastejo favorece a leguminosa em sua competição com a gramínea tropical, garantindo sua persistência no consórcio. Situações culturais, econômicas e, ou comerciais podem determinar a priorização da produção animal em termos de produção por animal ou por área. De qualquer modo, em se priorizando a produção por animal as recomendações seriam: a) uso de forrageiras de mais alto valor nutritivo tais como; Coastcross, Tifton, capim-elefante anão, preferencialmente consorciadas com leguminosas; b) Adoção de pastejo contínuo sob pressão de pastejo leve, isto é, ligeiramente abaixo da pressão ótima; c) Suplementação da pastagem com bancos de leguminosas e, ou concentrados e forragem conservada; d) Uso de forrageiras de inverno; aveia, azevém. Sendo de interesse priorizar a produção por área, a estratégia consistiria em: a) uso de forrageiras de mais alto rendimento, como as cultivares de Panicum maximum e Pennisetum purpureum; b) prática de adubação de pastagens; I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 197 c) adoção de pastejo contínuo ou rotacionado, mas observando pressão de pastejo, ótima consistente com a capacidade de suporte da pastagem para a estação das águas; d) uso de reservas forrageiras; feno e, ou silagem de milho ou sorgo, para a alimentação na seca. 4. RESUMO A lucratividade da atividade pecuária depende da correta exploração dos recursos disponíveis, sobretudo da produção forrageira em áreas de pastagem. Para tanto, faz-se necessário o conhecimento dos fatores que controlam e determinam o crescimento das plantas. A área foliar é um importante atributo de uma pastagem dada a sua correlação com a produção. A dinâmica de aparecimento de folhas e perfilhos garante perenidade e produtividade às pastagens, por de determinar o IAF da mesma. A taxa de aparecimento foliar exerce papel fundamental nas características estruturais que ditam o IAF do relvado. O manejo adotado, pressão de pastejo, influencia desde a estrutura do dossel até a eficiência de utilização da forragem produzida. O processo de senescência e morte de folhas e perfilhos determina a estabilização do acúmulo líquido de forragem. Assim, o número de folhas verdes por perfilho é um critério objetivo na determinação do manejo da pastagem. Com base nos conhecimentos morfofisiológicos das espécies forrageiras torna-se mais factível o estabelecimento do manejo que representa a pressão ótima de pastejo, que em pastagens tropicais está relacionada a uma massa de forragem entre 1500 a 2000 Kg MS/há sob pastejo contínuo. Práticas de manejo, como cultivo de gramíneas mais produtivas e adubação, que elevam a capacidade de suporte da pastagem, e adoção da pressão ótima de pastejo, concorrem para aumentar a produção por hectare. Priorizando a produção por animal, o enfoque deve visar o uso de forrageiras de mais alto valor nutritivo e lotação ligeiramente abaixo da capacidade de suporte da pastagem. 198 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALLDEN, W.G. e WHITAKER, I.A. McD. The determinants of herbage intake by grazing sheep: The inter relationship of factors influencing herbage intake and availability. Aust. J. Agric. Res., 21(5): 755-766, 1970. BIRCHAM, J.S. e HODGSON, J. The effects of change in herbage mass on rates of herbage growth and senescence in mixed swards. Grass and Forage Sci., 39(2): 111-115, 1983. BROUGHAM, R.W. Effect of intensity of defoliation on regrowth of pasture. Aust. J. Agric. Res., 7(5): 377-387, 1958. CHAPMAN, D.F. e LEMAIRE, G. 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Crop Sci, 35(1): 1-3, 1995. DEGRADAÇÃO DE PASTAGENS E PRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE COM A INTEGRAÇÃO AGRICULTURA X PECUÁRIA Armindo Neivo Kichel 1 Cesar Heraclides Behling Miranda 2 Ademir Hugo Zimmer 3 1 Eng.-Agr., M.Sc., CREA No 37391/D, Embrapa Gado de Corte, Caixa Postal 154, CEP 79002-970 Campo Grande, MS. 2 Eng.-Agr., Ph.D., CREA No 782/D, Embrapa Gado de Corte. Bolsista do CNPq. 3 Eng.-Agr., M.Sc., CREA No 9658/D, Visto 633/MS, Embrapa Gado de Corte. 1. INTRODUÇÃO A degradação das pastagens é um dos maiores problemas da pecuária brasileira, por ser esta desenvolvida basicamente em pasto, afetando diretamente a sustentabilidade do sistema produtivo. Considerando-se apenas a fase de engorda de bovinos, a produtividade de carne de uma pastagem degradada está em torno de 2 arrobas/ha/ano, enquanto que numa pastagem em bom estado podem-se atingir, em média, 16 arrobas/ha/ano. De forma geral, estima-se que cerca de 80% dos 45 a 50 milhões de hectares da área de pastagens nos Cerrados do Brasil Central, que respondem por 60% da produção de carne nacional, apresentam, hoje, algum estádio de degradação (Barcellos, 1996). Paralelo a isto, existe um número reduzido de pecuaristas recuperando as pastagens de suas propriedades, ou mesmo preocupados com o problema. Por definição, designa-se como degradação de pastagem ao processo evolutivo de perda de vigor, produtividade e da capacidade de recuperação natural de uma dada pastagem, tornando-a incapaz de sustentar os níveis de produção e qualidade exigidos pelos animais, bem como o de superar os efeitos nocivos de pragas, doenças e invasoras. Num estádio avançado poderá haver considerável degradação dos recursos naturais (Macedo, 1995). 202 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte 2. PRINCIPAIS FATORES DA DEGRADAÇÃO DE PASTAGENS O uso de uma forrageira adequada às condições de clima e solo, bem formada, homogênea, livre de invasoras, com manejo adequado, respeitando-se a capacidade de suporte da forrageira em uso e as exigências nutricionais das mesmas, mantendo-se níveis de nutrientes compatíveis com o extraído da pastagem, tem como resultado um aumento da longevidade das pastagens, com produtividade econômica. Alguma falha em algum desses tópicos, pode acelerar o processo de degradação. Nesta revisão, discutir-se-ão aspectos práticos para se manter tais parâmetros, baseados nos seguintes tópicos: 1.1 - Escolha da espécie forrageira; 1.2 - Formação de pastagem; 1.3 - Manejo; e 1.4 - Reposição de nutrientes. 2.1 Escolha da espécie forrageira Em princípio, pode-se dizer que não existem forrageiras ruins e sim que, para cada tipo de clima, solo, nível de tecnologia a ser utilizada e produtividade potencial desejada, existe uma espécie ou cultivar mais indicada. A escolha da melhor espécie forrageira a ser utilizada em uma área deve ser precedida de um diagnóstico. Para tal, deve-se ter: - Histórico da área - anotando-se o início da utilização da área; espécie em uso; o nível de tecnologia utilizado; a produtividade obtida em anos anteriores; predominância de invasoras e/ou espécies forrageiras, seu potencial de sementes do solo, sua persistência e agressividade; o potencial de pragas e doenças existentes na área. - Condições de clima - precipitação e distribuição anual, temperaturas máxima e mínima, possibilidade de geadas, fotoperíodo etc. - Condições de solo - topografia e susceptibilidade à erosão; deficiência ou excesso de água; impedimentos físico-químicos; nível de fertilidade, profundidade e textura do solo. I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 203 Para a região dos Cerrados do Brasil Central, de forma geral, podese escolher dentre as espécies apresentadas na Tabela 1. Tabela 1 - Exemplos de algumas espécies de gramíneas forrageiras recomendadas para a região dos Cerrados considerando-se algumas condições edafoclimáticas Condições gerais Espécies indicadas Solos úmidos (mal drenados) e/ou temporariamente úmidos, com baixa fertilidade ou solos de baixa fertilidade com alto grau de erodibilidade Brachiaria humidicola Brachiaria dictyoneura Solos de baixa fertilidade e/ou rasos (com cascalho) Andropogon gayanus Solos de baixa a média fertilidade, bem drenados, em regiões de baixa incidência de cigarrinhas Brachiaria decumbens Andropogon gayanus Solos de média e alta fertilidade, bem drenados, em regiões com ou sem cigarrinhas Brachiaria brizantha Solos de média a alta fertilidade, profundos, bem drenados Panicum maximum, Pennisetum purpureum, Cynodon spp. Setaria spp., Paspalum spp., Brachiaria mutica Solos úmidos (mal drenados), profundos, de média a alta fertilidade Uma vez escolhida a espécie forrageira, em função do diagnóstico, o passo seguinte é realizar-se uma boa formação da pastagem. 2.2 Formação de pastagens 2.2.1 Qualidade das sementes e densidade de semeadura Escolhida a espécie forrageira, devem-se ter cuidados para se formar uma área uniforme. Para tal, é imprescindível conhecer a qualidade das sementes disponíveis no mercado e a quantidade a ser usada. É freqüente encontrar sementes de má qualidade, principalmente quanto à pureza e 204 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte germinação, com excesso de resíduos vegetais, solo ou misturas de outras forrageiras. O uso de sementes sem análise laboratorial pode levar ao sério risco de se semear uma quantidade abaixo do ideal, pois as recomendações de densidade de semeadura não levam em conta a pureza e germinação (valor cultural). A determinação do valor cultural possibilita o cálculo da taxa de semeadura de cada lote de sementes, assegurando-se uma população ideal para cada espécie ou cultivar (Souza, 1993). Uma pastagem com má formação inicial, cheia de falhas e invadida pelo mato, com certeza, terá acelerado seu processo de degradação, ou já se inicia degradada. O tamanho das sementes é outro fator importante. Essa é uma característica que varia entre espécies e até mesmo entre cultivares de uma mesma espécie (Tabela 2). Tabela 2 - Número aproximado de sementes por grama de várias espécies de forrageiras tropicais e sugestões de taxas para semeadura a serem feitas no período de outubro a dezembro em áreas que receberam adequado preparo de solo Condições gerais Andropogon gayanus Brachiaria brizantha Brachiaria decumbens Brachiaria humidicola Brachiaria ruziziensis Paspalum guenoarum (Ramirez) Paspalum notatum cv. Pensacola Panicum maximum cv. Tanzânia Panicum maximum cv. Colonião Panicum maximum cv. Tobiatã Setaria anceps cv. Kazungula Cynodon sp. Fonte: Souza (1993). 1 SPV = Sementes puras viáveis. Número aproximado de sementes/grama 360 150 200 270 230 300 610 960 780 610 1.490 Taxa de semeadura (kg/ha SPV1) 2,50 2,80 1,80 2,50 2,00 1,50 1,50 1,60 1,60 2,50 1,50 1 planta/m2 Estima-se que 15-20 plântulas/m2 seja um número suficiente para se assegurar a formação de uma pastagem homogênea, em se tratando de I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 205 espécies cujas sementes são de tamanho relativamente grande (B. brizantha, B. decumbens, B. ruziziensis e 'Ramirez'). No caso de espécies com sementes menores (capins andropógon, humidícola, tanzânia, colonião, tobiatã, Greenpanic e setária kazungula), com plântulas mais frágeis ou que são de estabelecimento mais lento, um número maior delas (40 a 50 plântulas/m2) é necessário para se garantir a formação. Formação de pastagens satisfatórias pode ser obtida desde que a semeadura seja feita entre os meses de outubro a janeiro, em solo que recebeu preparo adequado. Em áreas menos preparadas, a taxa de semeadura deve ser, no mínimo, dobrada. Da mesma forma, semeaduras superficiais ou tardias devem ser feitas com taxas mais elevadas. 2.2.2 Correção do solo Considerando-se a baixa fertilidade natural dos solos dos Cerrados, é importante que se façam calagem e adubação, com base em análises do solo de cada área e as exigências nutricionais da forrageira a ser implantada. A calagem e a adubação mantêm ou melhoram a fertilidade do solo, promovendo o vigor da pastagem e aumentando o seu adensamento, proporcionando uma melhor cobertura do solo contra a erosão. A presença dos animais confere ao sistema aspectos próprios de extração e reciclagem dos nutrientes; num sistema de pastagem perene e pastejo contínuo, por exemplo, a reciclagem de nutrientes pode ser da ordem de 70% a 90% (Macedo, 1995). Este aspecto influi na manutenção das pastagens, e equivale a dizer que a dose de fertilizante necessária é maior na implantação do que na sua manutenção. 2.2.3 Preparo e conservação do solo O preparo do solo deve ser feito de modo a proporcionar um bom estabelecimento das forrageiras, com equipamento apropriado e na época recomendada (novembro a dezembro) para reduzir os custos, pois os serviços de desmatamento e preparo do solo são os mais onerosos na formação de pastagens. Zimmer & Miranda (1994) destacam a importância de se efetuarem pelo menos duas gradagens com grade pesada ou uma 206 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte aração seguida de gradagem com a grade niveladora, visando a reduzir a rebrota das plantas perenes de cerrado. Para se reduzirem os custos de formação, o plantio de pastagens pode ser precedido de um ou dois cultivos anuais, ou ainda ser feito um plantio conjunto da pastagem com o arroz, milho ou até espécies florestais, quando for o caso. Esse plantio conjunto promove um melhor preparo do solo, evita o rebrote de cerrado e ainda proporciona algum resíduo de fertilizantes para a pastagem e reduz o custo de formação. Costa (1990) apresenta as seguintes medidas recomendáveis para a manutenção da cobertura do solo e controle de erosão: ü proteção dos topos de morros, cerca de um terço do declive cobertos com vegetação de mata para evitar formação de enxurradas; ü revegetação de encostas já descobertas com espécies de valor madeireiro ou forrageiro recomendado para cada região; ü melhor utilização de áreas de tabuleiros e baixadas, que em geral são mais férteis; ü divisão das pastagens em piquetes, controlando melhor o pastejo de animais e utilizando sistema de manejo que permita a manutenção da cobertura do solo (contínuo, alternativo, rotativo ou diferido); ü lotação animal adequada evitando-se o superpastejo, colocando-se cargas animais compatíveis com a forragem disponível no piquete com base no conhecimento da capacidade de suporte da pastagem; ü adubação e calagem; localização de cercas, bebedouros e cochos para evitar a concentração e a movimentação de bovinos em um só sentido, principalmente ladeira abaixo. Em toda a área que apresentar susceptibilidade à erosão ou escorrimento superficial de água devem ser construídos terraços e/ou curvas de nível e se evitar a queima. 2.2.4 Época de plantio A época de plantio tradicional utilizada no estabelecimento de pastagens na região dos Cerrados é bastante ampla, começando com as primeiras chuvas, em setembro, até março. A época ideal, no entanto, é entre novembro e janeiro. Deve-se considerar, neste aspecto, uma boa I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 207 germinação das sementes e cobertura do solo, para que se evitem perdas de solo por erosão, o surgimento de invasoras e a necessidade de utilização mais imediata da pastagem. Em geral, esta deve ocorrer de 60 a 100 dias após o plantio. Brachiaria decumbens apresenta 40% da área coberta em cerca de 60 dias após o plantio. Já B. humidicola apresenta apenas 20% no mesmo período (Zimmer & Miranda, 1994). 2.2.5 Métodos de plantio A escolha do método de plantio é importante para a boa formação de pastagem e, em conseqüência, diminuírem-se as chances de degradação desta em pouco tempo. O plantio pode ser realizado a lanço (aéreo ou terrestre) sobre a superfície do solo ou em linha, com o uso de uma semeadeira ou adubadeira, com espaçamento de 13 cm a 50 cm entre linhas, dependendo do equipamento disponível e/ou espécie. Em ambos os casos, pode-se fazer o plantio, consorciado ou não, com culturas anuais, com profundidade de plantio de 0,5 cm a 6 cm (Zimmer et al., 1986), dependendo do tipo de solo e espécie de forrageira (Tabela 3). Tabela 3 - Distribuição das sementes de Brachiaria decumbens no perfil do solo em diferentes profundidades de enterrio em função de métodos de plantio, dias após a semeadura Métodos de plantio Lanço na superfície Lanço na superfície + rolo Lanço + grade Lanço + grade + rolo Plantadeira a 3 cm Plantadeira a 3 cm + rolo Plantadeira a 6 cm Plantadeira a 6 cm + rolo Percentagem de sementes nas diferentes profundidades (cm) 0,5 a 1,5 80 78 20 11 18 19 5 8 1,6 a 2,5 14 22 24 15 26 22 17 7 2,6 a 3,5 3,6 a 4,5 3 3 23 18 37 37 23 17 34 17 26 16 17 23 4,6 a 5,5 5,6 a 6,5 5 12 12 6 12 2 8 19 16 22 23 Adaptado de Zimmer et al. (1986). Como pode ser visto, 78% das sementes no plantio superficial + rolo ficaram entre 0,5 cm e 1,5 cm de profundidade, com 100% até 2,5 cm. 208 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte Essa seria uma profundidade ideal para andropógon e panicum, principalmente em solos argilosos bem preparados e com boa umidade. Quando se utilizar a grade, esta deve trabalhar parcial ou quase totalmente fechada, uma vez que, além de incorporar a semente ao solo, auxilia no acabamento do preparo do solo, a incorporar o adubo e a eliminar plântulas de espécies indesejáveis. O uso do rolo compactador proporciona melhor contato da semente com o solo, favorecendo maior germinação de plantas por área. Pode-se, por outro lado, fazer o plantio direto de forrageiras. Na Fazenda Mimoso, em Rio Brilhante, MS, tem sido praticado com sucesso tal tipo de plantio para B. brizantha e tanzânia (A.N. Kichel, comunicação pessoal). As condições para tal são as mesmas empregadas para o plantio direto de culturas anuais, apenas utilizando-se de 10% a 20% a mais de semente em relação ao plantio convencional. Esse sistema vem apresentando ótimos resultados tanto em termos práticos como econômicos. 2.2.6 Controle de invasoras Constatando-se alta infestação de invasoras na área, as quais poderão competir com a forrageira por nutrientes, espaço físico, luz e umidade, sugere-se aumentar de 10% a 20% a quantidade de sementes/hectare para aumentar a competição inicial da forrageira, garantindo uma boa formação da pastagem, como foi citado. A posterior limpeza anual dos pastos onera sobremaneira o custeio da atividade, sendo necessários estudos que enfoquem este problema, pela associação de métodos eficientes e econômicos. Vários métodos de controle são hoje empregados, incluindo-se práticas manuais, mecânicas e químicas, ou combinações entre elas. Um exemplo do controle de invasoras é apresentado na Tabela 4. Como pode ser visto, houve efeito marcante do herbicida na redução das invasoras, aumentando, assim, a disponibilidade de forragem, com um custo aproximado de uma arroba de peso vivo/ha, indicando a viabilidade econômica dessa prática. Por outro lado, em áreas de infestação média de invasoras, com correto preparo de solo, sementes de qualidade e em quantidade adequada, plantio em época apropriada, não se verificou diferença quanto à aplicação do herbicida. I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 209 Tabela 4 - Disponibilidade total de pasto (kg de matéria seca total/ha), em termos de forragem e invasoras na renovação de pastagens de Panicum maximum cvs. Tanzânia e Colonião, e Brachiaria brizantha cv. Marandu, com e sem herbicida (2 litros de Tordon-2,4 D), com seus respectivos custos, em duas épocas de amostragem em Naviraí, MS, 1997 Tratamentos Colonião Colonião + herbicida Tanzânia Tanzânia + herbicida Brizantha Brizantha + herbicida 28/02/1996 Forragem Invasoras 2.898,1 3.541,0 3.013,9 3.784,9 5.630,3 4.411,8 560,9 104,4 1.020,5 34,1 1.014,7 81,3 17/07/1996 Forragem Invasoras 1.512,0 1.760,0 1.437,4 2.291,1 1.958,8 2.150,9 377,9 0,0 854,1 0,0 529,4 31,9 Custos totais 1 (US$) 377,30 402,72 372,40 397,62 351,80 377,22 1 Custos totais incluindo custos fixos e variáveis de uso de máquinas, equipamentos e insumos. Fonte: S.G. Nunes & A.N Kichel (dados não publicados). 2.2.7 Controle de pragas As pragas mais importantes na formação de pastagens são as lagartas (Mocis latipes, Spodoptera frugiperda, Pseudaletia sequax, Elasmopalpus lignosellus), formigas (Atta bisphaerica, A. capiguara) e cupins subterrâneos (Cornitermes cumulans, Syntermes spp.). Toda vez que o nível de infestação for significativo, deve ser controlado com inseticidas e formicidas com doses e quantidade de produtos recomendados. O não controle dessas pragas pode comprometer a formação e a persistência das pastagens, causando a degradação das mesmas. As formigas e cupins causam menos problemas para as espécies do gênero Brachiaria, entretanto, as lagartas atacam todas as espécies indistintamente. Com relação a pastagens estabelecidas, a maior praga na região dos Cerrados é a cigarrinha (Deois incompleta, D. schach, D. flavopicta, Zulia entreriana, Aeneolamia selecta selecta) pois podem causar 210 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte redução de 10% a 90% da produção no período em estudo. Embora possam ser feitos controles químico e biológico para esta praga, a melhor alternativa é a de se usar espécies de forrageiras com algum nível de resistência (Valério & Koller, 1993), como descritas na Tabela 5. Tabela 5 - Grau de susceptibilidade de algumas forrageiras às cigarrinhasdas-pastagens Grau de susceptibilidade às cigarrinhas-das-pastagens Susceptíveis Tolerantes Resistentes Espécies B. decumbens, B. ruziziensis P. maximum cvs. Tanzânia e Mombaça B. brizantha, B. humidicola, A. gayanus, S. anceps, C. plectostachyus Fonte: Valério & Koller (1993). 2.2.8 Manejo de formação O manejo de formação de uma pastagem, também chamado de pastejo de uniformização, tem como objetivo contribuir para a boa formação da pastagem. A princípio, deve-se iniciar o pastejo de 60 a 100 dias após a germinação ou antes da emissão da inflorescência, desde que o plantio seja realizado na época recomendada para cada região, com alta lotação animal. Devem-se utilizar, de preferência, animais jovens, por curto período de tempo, entre dez e trinta dias. Com o uso de animais jovens evita-se uma compactação maior do solo, uma vez que este foi recémtrabalhado, se faz pastejo mais leve (A.N. Kichel, comunicação pessoal). A finalidade desse manejo é diminuir a competição entre plantas e eliminar a maior parte das gemas apicais, reduzindo-se, assim, a produção de semente e translocação de nutrientes para estas, estimulando a emissão de perfilhos e a mais rápida e perfeita cobertura do solo (Vieira & Kichel, 1995). A não realização desta prática conduz a crescimento excessivo, com formação de touceiras nas forrageiras de hábito de crescimento cespitosos, as quais tendem a se acamar com o vento e presença de animais. Isto pode I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 211 acarretar a necessidade de roçagens mecânicas ou, o que é pior, de uso de fogo para a eliminação de macegas ou palhadas. 2.2.9 Uso do fogo A queimada é ainda utilizada na limpeza de pastos, para eliminar a vegetação velha, plantas invasoras e parasitas dos animais, além de estimular o crescimento das plantas logo no início da época chuvosa. É, sem dúvida, o método mais barato de se limpar uma pastagem, e vem sendo usado desde os primórdios (Uhl & Buschbacher, 1988). Além disso, as pastagens naturais dos Cerrados têm sido sujeitas a fogo em sua evolução, e apresentam adaptação natural à queima. Já em áreas de floresta, Serrão & Falesi (1977), em experimento na Amazônia, estudaram as alterações químicas e físicas de um Latossolo Vermelho-Escuro textura média, causadas pelo uso pastoril com queimadas anuais, concluindo que, apesar do solo ter apresentado algum incremento em sua composição química, perdeu metade do seu teor de argila na camada superficial, com destruição dos agregados. A argila foi levada para camadas subsuperficiais do solo, ou lixiviada para áreas de baixadas. A redução dos teores de matéria orgânica do solo também foi significativa, com diminuição de 56% do teor inicial após dez anos de uso da pastagem com limpeza com queima anual. Como resultado, o solo sofreu pesada erosão e compactação e a pastagem forte infestação de ervas invasoras, com conseqüente perda de produtividade. Nas pastagens cultivadas, tanto quanto possível, o fogo deve ser evitado. O uso contínuo do fogo tem como conseqüência a exposição do solo ao impacto das gotas de chuva, aumentando a compactação e a erosão do solo; a interrupção gradual do ciclo de retorno da matéria orgânica, com diminuição gradual da capacidade de troca de cátions; a retenção de água; a perda de nutrientes do sistema, principalmente N, S e K (Bono et al., 1996; Serrão & Falesi, 1977; Uhl & Buschbacher, 1988); o surgimento de invasoras, acelerando o processo de degradação das pastagens. 212 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte 2.3 Manejo da pastagem Segundo Nascimento Júnior et al. (1994), o principal efeito provocado pelos animais na pastagem é o da desfolhação, que reduz a área foliar, com conseqüências sobre os carboidratos de reserva, perfilhamento, crescimento das raízes e de novas folhas. Afeta, também, o ambiente da pastagem, como a penetração de luz, temperatura e umidade do solo, as quais, por sua vez, afetam o crescimento da forrageira. Esses efeitos serão tanto maiores quanto maior for o estresse imposto pelo ambiente ao crescimento da planta. O pastejo mal conduzido, aliado ao estresse ambiental, pode levar a pastagem à degradação. As pastagens são consideradas em degradação quando a produção de forragem diminui e implica a redução da lotação animal. Essa diminuição na produção de matéria seca reduz de maneira drástica o sistema radicular, perfilhamento, expansão de folhas novas e reservas de carboidratos nas raízes (Corsi & Nascimento Júnior,.1994). Em Panicum maximum cv. Trichoglume, com a redução de somente 8% na produção de matéria seca (MS), observa-se redução de 3,8 vezes maior no sistema radicular, quatro vezes no nível de carboidratos de reserva e de 1,7 vez no nível de produção de folhas novas (Humphreys & Robinson, 1966). Isto implica cuidado extremo que se deve ter em se utilizar uma freqüência e intensidade de pastejo apropriada para evitar a degradação da pastagem ao longo do tempo e obter adequada produção de forragem e ganho animal. As plantas forrageiras respondem de modo distinto à intensidade e freqüência de pastejo, tendo em vista as suas características morfológicas e fisiológicas. Jones & Canabaly (1981) observaram que B. humidicola, cortada ao nível do solo, apresentava rebrota mais intensa em três semanas do que cortes a 5 cm ou 10 cm de altura. Já B. brizantha e B. decumbens apresentaram melhor rebrota com corte a 5 cm do que no nível de solo ou 10 cm. No outro extremo, A. gayanus e P. maximum apresentaram melhor rebrota com alturas de corte de 15 cm do que ao nível do solo, 5 cm ou 10 cm, e curvas de rebrota mostraram que, para essas forrageiras, o corte a 15 cm ainda é muito drástico. Os dados da freqüência de utilização para as forrageiras mais comuns no Brasil, braquiárias e panicuns, foram obtidos sob regimes de corte. Avaliando a freqüência de cortes de nove braquiárias que incluem B. brizantha, B. decumbens, B. ruziziensis e B. mutica, Sotomayor-Rios et al. (1976) obtiveram aumentos de produção com idades maiores de crescimento quando os cortes foram realizados aos 30, 45 e 60 dias. Entretanto, o melhor equilíbrio entre produção e qualidade de forragem seria para os I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 213 cortes de mais de 30 dias e menos de 45 dias de crescimento. Tendência idêntica foi observada em outra avaliação que envolveu B. brizantha, B. ruziziensis, B. humidicola e B. mutica (Sotomayor-Rios et al., 1980). Em P. maximum cvs. Colonião e Tobiatã, Costa (1990) obteve incremento de 42% na produção de MS, com o crescimento passando de 28 para 35 dias; com crescimento de 42 dias, o aumento de produção foi de somente 11% e com uma queda mais acentuada no teor de proteína bruta (PB) em relação a 28 dias de crescimento. No capim-aruana, Cecato (1993) obteve tendência semelhante em cortes com intervalos de 35 dias, os quais resultaram em melhores produções de matéria seca e com boa produtividade de forragem do que em intervalos de 28, 42 ou 49 dias. O intervalo de corte de 35 dias também apresentava vigor de rebrota mais intenso após o corte do que intervalos de 42 e 49 dias. Esses dados demonstram que pastejos muito freqüentes são muitas vezes prejudiciais à rebrota e produção de forragem. Este manejo por períodos prolongados pode implicar a degradação da pastagem. Pastejos muito intensivos às vezes são compensados por maiores períodos de descanso ou adubação adequada, possibilitando a recuperação da pastagem. A freqüência de pastejo pode ser reduzida se os níveis de adubação forem aumentados, especialmente o nitrogênio (N), já que este elemento acelera a maturação da planta. De modo geral, consideram-se períodos de descanso de 35 dias satisfatórios para a recuperação das forrageiras nos períodos favoráveis ao crescimento, no ano. Nos períodos desfavoráveis, este tempo necessita ser pelo menos dobrado, para evitar a degradação de pastagens. A freqüência de pastejo e a lotação também podem ser um fator de degradação da pastagem se esta não for apropriada. Nas consorciações de B. dictyoneura x D. ovalifolium e A. gayanus x Zornia latifolia, na Amazônia Peruana, sob um manejo de quatro dias de utilização e 21 ou 42 dias de descanso, a degradação foi mais rápida no ciclo mais curto de pastejo. Por outro lado, após três anos de uso, todos os tratamentos estavam degradados. Esse processo foi mais rápido na consorciação A. gayanus x Z. latifolia e nas lotações mais altas de três e quatro animais/ha do que com dois animais/ha. Reátegui et al. (1990) atribuem essa degradação ao alto teor de argila do solo e à elevada precipitação, que implicaram a compactação do solo. Para essas condições seriam necessárias lotações mais baixas e períodos de descanso mais prolongados. Para o 'Colonião', Mella (1993) observou que altas pressões de pastejo, toda forragem sendo oferecida aos animais, associadas a curtos períodos de descanso, 28 dias, 214 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte levaram à degradação da pastagem em apenas três anos. A alta pressão de pastejo somente seria sustentável com um longo período de descanso. Já as menores pressões foram as mais favoráveis à persistência da pastagem. Em consorciações, o sistema de manejo pode afetar de modo distinto as espécies envolvidas, implicando, em certas circunstâncias, o desaparecimento de uma das espécies envolvidas. Na consorciação de B. humidicola com D. ovalifolium CIAT 350, Santana et al. (1987) observaram aumento na disponibilidade total de forragem do pastejo rotativo em relação ao contínuo. As disponibilidades foram de 2.101, 2.684 e 3.395 kg/ha de MS, respectivamente, para pastejo contínuo, rotacionado de sete dias de uso por 28 dias de descanso e 7 x 48 dias. Já a percentagem de leguminosas nos tratamentos correspondentes foi de 26%, 12% e 6%. A redução de presença de leguminosa foi mais acentuada nos pastejos rotacionados, com o aumento na lotação animal de dois para três e para quatro animais/ha. No pastejo contínuo, o efeito da lotação foi pouco marcante na presença da leguminosa, já que esta é menos consumida do que a gramínea na estação mais favorável de crescimento. Tendência semelhante foi observada por Stobbs (1969), em Uganda. A percentagem de leguminosas foi maior no pastejo contínuo na consorciação de P. maximum cv. Likoni com Siratro do que nos rotacionados de 7 x 28 e 7 x 42 dias, durante o período de quatro anos. O pastejo rotacionado resultou em mais alta percentagem de gramíneas e mais baixa presença de invasoras. As produções de matéria seca foram 43% e 34% maiores nos ciclos de pastejo de 14 x 28 e 7 x 42 dias, respectivamente, que no contínuo, mas o ganho animal por área foi menor no pastejo de 7 x 42 dias. Esses dados demonstram que, para a persistência desta gramínea, o pastejo rotativo é mais favorável, pois maior produção e menor presença de invasoras implicam maior longevidade da pastagem. Por outro lado, um intervalo de pastejo muito prolongado pode implicar, como no caso, menor produção de forragem. Na consorciação de 'Colonião' com um coquetel de leguminosas, Mella (1993) observou que o conteúdo de leguminosas foi satisfatório, com a conjugação de períodos de descanso curto e com pressão de pastejo leve, que é um sistema de manejo mais próximo do contínuo, num período de três anos. Para espécies temperadas como Trifolium repens, o pastejo contínuo é mais adequado. Já a alfafa é mais produtiva sob pastejo rotacionado, da mesma forma que as tropicais Pueraria phaseoloides e 'Leucena' (Simão Neto, 1994). Este autor conclui que I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 215 a desfolha freqüente de leguminosas, principalmente as trepadeiras, reduz sua proporção nas pastagens. COMPARAÇÕES ENTRE SISTEMAS DE PASTEJO CONTÍNUO E ROTACIONADO. VANTAGENS OU PONTOS POSITIVOS (+) E DESVANTAGENS OU PONTOS NEGATIVOS (-) Contínuo Rotacionado INVESTIMENTOS Cercas e águas Mão-de-obra + + - MANEJO DAS PASTAGENS Ajuste da carga animal Pressão de pastejo Aproveitamento da forrageira Consumo seletivo Observações e comportamento dos animais + - + + + + PRODUÇÃO DIRETA Ganho/animal/dia Ganho/ha Economicidade + - + + PRODUÇÃO INDIRETA Sistema radicular Controle de invasoras Distribuição do esterco Sustentabilidade das pastagens - + + + + 2.4 Reposição de nutrientes perdidos no sistema Uma das principais causas da degradação das pastagens é a redução da fertilidade do solo em razão de nutrientes perdidos no processo produtivo, por exportação no corpo dos animais, erosão, lixiviação, volatilização, fixação e acúmulo nos malhadores (Martins et al., 1996), como pode ser vista na Tabela 6. O somatório dessas perdas pode chegar a mais de 40% do total de nutrientes absorvidos pela pastagem em um ano de crescimento, o que provoca o empobrecimento contínuo do solo e a redução no crescimento das pastagens a uma taxa de, aproximadamente, 216 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte 6% ao ano. Portanto, esta é uma das principais causas de degradação das pastagens. Tabela 6 - Percentagem de perdas de nutrientes extraídos por uma pastagem que podem ocorrer anualmente Discriminação Retido no corpo animal Acúmulo no malhador Erosão superficial Volatilização Fixação em argila e matéria orgânica Lixiviação Total de perdas N Nutrientes (%) P 9 11 3 15 0 5 43 10 12 15 0 19 0 56 K 1 13 3 0 0 0 17 Fonte: Martins et al. (1996). Euclides et al. (1997) estudaram a recuperação de pastagens de P. maximum cvs. Colonião, Tobiatã e Tanzânia, B. decumbens cv. Basilisk e B. brizantha cv. Marandu. Os autores testaram os seguintes níveis de adubação: (NF1) - 1,5 t/ha de calcário e 400 kg/ha da fórmula 0-16-18 e 50 kg/ha de FTE; e (NF2) - 3 t/ha, 800 kg/ha e 50 kg/ha dos mesmos corretivos, aplicados no primeiro ano e sem adubação nos anos seguintes. Os resultados obtidos mostraram que a produtividade, para todas as gramíneas e em qualquer nível de fertilização, decresceu linearmente do primeiro para o terceiro ano. Assim, a produtividade caiu de 670 kg/ha de peso vivo/ha/ano para 435 kg/ha no tratamento NF2; e de 445 kg/ha de peso vivo/ha/ano para 325 kg de peso vivo/ha/ano para o tratamento NF1. Ou seja, um decréscimo na produtividade de 35% e 27%, respectivamente, em três anos, utilizando-se pastejo contínuo, com pressão de pastejo controlada. Essa redução de produtividade deve-se ao fato de que não foi realizada adubação de manutenção, principalmente com N. Uma vez equilibrados os outros nutrientes, a maior resposta em produção de forragem é atribuída à adição de fertilizantes nitrogenados. Entretanto, este elemento é um dos mais caros por unidade dentre os I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 217 macronutrientes utilizados nas pastagens. As perdas de nitrogênio por lixiviação e volatilização podem representar a principal forma de saída do elemento do sistema de uma pastagem exclusiva de gramínea e vir a se constituir na principal causa de degradação das pastagens, caso não haja reposição desse nutriente por fonte externa (Monteiro & Werner, 1989). O nitrogênio pode ser obtido por via biológica, utilizando-se leguminosas forrageiras, as quais, por sua simbiose com bactérias fixadoras do N2 atmosférico, podem contribuir significativamente para a estabilidade do sistema em relação a este elemento. A estimativa de contribuição das leguminosas para pastagens consorciadas, em comparação com a aplicação de fertilizantes nitrogenados e em termos de quantidade de proteína bruta na área, tem oscilado entre 50 kg até mais de 225 kg de N/ha/ano. Seiffert et al. (1985) estimaram uma contribuição da fixação biológica de nitrogênio por Calopogonium mucunoides de 65 kg de N/ha/ano quando consorciado com B. decumbens, sob pastejo contínuo. Até 95% do nitrogênio ingerido pelo animal é retornado ao solo via urina e fezes, grande parte do qual pode ser perdido do sistema por volatilização e lixiviação (Whitehead, 1990). As excreções são, por outro lado, distribuídas irregularmente em áreas de pastejo, em especial sob pastejo contínuo, onde são concentradas nos malhadores, pontos de água ou sombra. Em pastejo rotativo há certa uniformização dessa distribuição, mas que, no entanto, ainda fica restrita a não mais do que um terço da área pastejada (Afzal & Adams, 1992). A desintegração das excreções é variável, podendo levar até nove meses para acontecer (Costa et al., 1992). Há de se considerar ainda, que, ao redor do bolo fecal cria-se uma área de rejeição ao pastejo pelos animais, a qual acarreta uma diminuição da área total de pastagem disponível. A melhor forma de desintegração é feita por besouros coprófagos, os quais podem enterrar um bolo fecal em cerca de dois dias (Miranda et al., 1990). Os besouros coprófagos nativos do América do Sul evoluíram em condições de pouca disponibilidade de esterco, sem habilidade para suportar o grande aporte feito por bovinos. A introdução do Onthophagus gazella pelo Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Corte, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Campo Grande, 218 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte MS (Bianchin et al., 1992), um besouro mais prolífico do que as espécies nativas, tem sido um grande passo para a solução desse problema. Resultados de experimentação mostram o grande potencial desse besouro no enterrio de esterco bovino e o conseqüente reaproveitamento de nutrientes, tais como N e P pelas plantas (Miranda et al., 1998). Outros elementos como o P e o K são igualmente importantes para a manutenção estável de uma pastagem (Macedo et al., 1993). Tais elementos devem ser repostos, seguindo-se criteriosa análise de solo, cuja reposição só pode ser feita pela adição de fertilizantes. Em relação ao P, pode utilizar-se o potencial de micorrhizas no aproveitamento de fontes de menor solubilidade, tais como os fosfatos de rocha, o que, no entanto, não elimina a necessidade de adubação fosfatada. De forma geral, os níveis de nutrientes a serem repostos devem levar em conta, além da análise química do solo e da planta, a produtividade desejada (em função do potencial da espécie em uso), baseando-se, igualmente, na produtividade do ano anterior. Como prática geral, recomenda-se a utilização de 15% a 20% da receita bruta/ha/ano em adubação de manutenção. 3. RECUPERAÇÃO E RENOVAÇÃO DE PASTAGENS Recuperar uma pastagem consiste no restabelecimento da produção de forragem de acordo com o interesse econômico, mantendo-se a mesma espécie ou cultivar. Renovar uma pastagem consiste no restabelecimento da produção da forragem com a introdução de uma nova espécie ou cultivar, em substituição àquela que está degradada. As técnicas agronômicas desenvolvidas para a recuperação e renovação das pastagens objetivam o restabelecimento da biomassa das plantas em um período de tempo determinado, com custo econômico viável para o produtor. Para se tomar a decisão de quando se deve recuperar ou renovar uma pastagem, ou qual espécie de forrageira a ser utilizada, deve-se realizar um diagnóstico referente ao tipo de solo, clima, topografia, condições químicas e físicas do solo da área em questão. I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 219 A análise de solo é de fundamental importância, tanto para a implantação de uma pastagem como para uma cultura anual, porque por intermédio dela pode-se conhecer o grau de deficiência ou desequilíbrio de nutrientes essenciais ao desenvolvimento de cada cultura. Conhecidas as quantidades de nutrientes no solo e as exigências nutricionais da cultura, para alcançar uma produtividade desejada, podem ser adicionados os insumos (calcário, adubos) nas quantidades necessárias, para se obter uma produtividade mais econômica, tanto para fins de correção como de manutenção. Também em função da análise de solo, pode-se escolher a espécie ou espécies mais produtivas a serem mantidas ou trocadas. De forma geral, podem ser divididos em dois os sistemas de recuperação e renovação, quais sejam, recuperação ou renovação com o uso de agricultura; ou seja, integração agricultura - pecuária, e recuperação ou renovação direta da pastagem. 3.1 Recuperação ou renovação de pastagem com o uso de agricultura A recuperação ou renovação com o uso de agricultura (produção de grãos), pode ser dividida em dois sistemas: Ø Em consórcio com culturas anuais, tais como o arroz, milho, sorgo etc. - neste caso, é feito o plantio conjunto das sementes da cultura anual e sementes da pastagem, ou aproveita-se o potencial de sementes da forrageira existentes no solo. Após a colheita da cultura anual, tem-se o pasto renovado ou recuperado. Sempre que se realizar o plantio de culturas anuais em área de pastagem degradada, deve-se iniciar o preparo do solo cerca de 120 dias antes do plantio da cultura. A aplicação de calcário e início de preparo do solo devem ser feitos entre junho e julho. A conservação de solo é feita em agosto-setembro, com correção fosfatada em setembro-outubro, e o plantio entre outubro e dezembro. Ø Plantio de culturas anuais solteiras - faz-se o plantio da cultura anual, seja ela soja, milho, arroz, sorgo etc., por um ou mais anos, 220 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte retornando-se à pastagem, podendo ser a mesma espécie ou outra espécie forrageira mais adaptada e produtiva. 3.1.1 Requisitos básicos para recuperação ou renovação de pastagem com o uso de agricultura Considerando-se que o uso de agricultura é uma atividade de maior risco e requer uma certa especialização, o pecuarista deve balizar-se em alguns parâmetros para fazer a recuperação ou renovação de pastagens degradadas com o uso integrado de agricultura, tais como: 1) possuir solos favoráveis para a produção de grãos, em áreas de clima propício; 2) boa infra-estrutura para a produção de grãos (máquinas, equipamentos e instalações); 3) acesso facilitado para a entrada de insumos e a saída de produtos; 4) recursos financeiros para os investimentos na produção; 5) domínio da tecnologia requerida para a produção; 6) assistência técnica; e, 7) possibilidade de se fazer arrendamento da terra ou parceria com produtores tradicionais de grãos. Em geral, os custos da renovação ou recuperação podem, em anos normais, ser amortizados, total ou parcialmente, já no primeiro ano de cultivo. Uma menor quantidade de insumos e operações de preparo e conservação do solo a partir do segundo ano possibilitam obter lucro. 3.1.2 Principais vantagens da recuperação ou renovação de pastagem com o uso de agricultura As principais vantagens de se fazer recuperação ou renovação com o uso de agricultura, além do restabelecimento da biomassa forrageira e aumento da capacidade de lotação da pastagem, podem ser enumeradas da seguinte forma: 1) recuperação mais eficiente da fertilidade do solo - como as culturas anuais são mais exigentes em fertilidade do solo, uma atenção maior a este aspecto é certamente dada; I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 221 2) facilidade de aplicação de práticas de conservação de solo - esta é uma prática corriqueira entre os agricultores, os quais também possuem equipamentos apropriados; 3) recuperação com custos mais baixos - o lucro obtido com a cultura amortiza os gastos da recuperação; 4) facilidade na renovação da pastagem - em geral no plantio de culturas anuais o preparo do solo é mais intensivo, junto com o uso de herbicidas, proporcionando uma redução no potencial de sementes no solo, possibilitando a troca de espécie forrageira, principalmente a de braquiárias; 5) melhoria nas propriedades físicas, químicas e biológicas do solo - com a rotação lavoura-pastagem, evitando-se a monocultura, eliminam-se camadas compactadas, bem como incorporam-se resíduos animais (esterco), raízes e palhada de grãos e forrageira, estimulando-se a vida do solo pelo incremento em material orgânico disponível; 6) controle de pragas, doenças e invasoras - pela quebra do ciclo de pragas e doenças; 7) aproveitamento de adubo residual - grande parte do adubo aplicado à cultura permanece no solo, sendo depois aproveitado pela gramínea. No caso da cultura da soja, por exemplo, tem-se o ganho adicional de nitrogênio ao sistema; 8) maior eficiência no uso de máquinas, equipamentos e mão-de-obra na fazenda, os quais terão uma otimização do uso por maior período de tempo no ano; 9) diversificação do sistema produtivo - possibilita a maior diversificação de pastagens. A empresa pode explorar tanto as fases de cria, recria e engorda, como a produção de grãos. Isto lhe dá maiores garantias contra os riscos climáticos e flutuações de mercado; e, 10) aumento da produtividade do negócio agropecuário, tornando-o sustentável em termos econômicos e agroecológicos. 222 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte 3.1.3 Períodos de recuperação ou renovação de pastagem com o uso de agricultura A renovação ou recuperação pode ser feita com apenas um ano de cultura. Faz-se o plantio da cultura e da pastagem e, logo após a colheita da cultura, a pastagem estará formada. Pode-se, ainda, plantar uma lavoura de soja, milho ou sorgo no verão, uma pastagem anual de inverno, e, na primavera, formar-se de novo a pastagem. Essa é uma prática que torna mais difícil a troca de espécie em uma pastagem velha de braquiária, devido à grande quantidade de sementes que certamente existirão no solo. A recuperação ou renovação com cultivo pode ser feita, igualmente, por um período de dois a três anos com rotação de culturas ou plantios consecutivos de uma mesma espécie. Após este período, retorna-se à pastagem. Esse sistema é mais indicado para agropecuaristas que já usam parte da fazenda para o plantio de culturas, e possuem uma estrutura de máquinas e equipamentos. Obviamente, a cultura a ser utilizada dependerá do tipo de solo, objetivos do produtor e mercado para o produto. Após a colheita da cultura de verão, as áreas da fazenda podem ser usadas com pastagens anuais, como aveia e milheto. Nesses casos, dependendo da época de plantio e das condições climáticas, podem-se obter produções de 3 a 6 arrobas de carne/ha em pastejo, ou feno ou silagem. A recuperação ou renovação podem, ainda, serem feitas com o uso de culturas anuais por quatro ou cinco anos. Esse é um sistema em geral adotado por pecuaristas que arrendam a área para terceiros, por não terem infra-estrutura ou condições de praticarem a agricultura por si próprios. O arrendatário utiliza a área para as culturas anuais, arcando com os custos de correção das deficiências nutricionais do solo, conservação etc., devolvendo a área com pastagem recuperada ou renovada após o período acertado de uso. I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 223 3.1.4 Recuperação e renovação de pastagens em degradação com plantio direto de soja Essa é uma tecnologia para recuperação ou renovação de pastagens em degradação, que apresentem ainda boa cobertura do solo, mas com claros sintomas de deficiência de nutrientes. É uma tecnologia para ser usada tanto para renovação ou recuperação a curto, médio ou longo prazos. A pastagem oferece excelente cobertura do solo para o plantio direto, com palha de boa qualidade. Fazendo-se a rotação da soja com o pasto (dois a três anos de soja, dois a três anos de pasto) obtêm-se outros benefícios para a cultura da soja e pasto, tais como a diminuição de plantas invasoras, quebra do ciclo de pragas e doenças da soja (tais como cancroda-haste e murchas), e de nematóides, tanto da galha quanto do cisto, e aumento da produtividade. Para o plantio convencional da soja, o produtor teria um custo maior em máquinas e equipamentos do que para o plantio direto. A operacionalização do sistema é bem mais simples, usando-se apenas um pulverizador, uma plantadeira adequada para plantio direto e herbicidas dessecantes apropriados. Para o pecuarista, o sistema permite renovar ou recuperar a pastagem em dois ou três anos, melhorando-se os níveis de nutrientes no solo por meio das adubações feitas para a soja. Para se obter sucesso no uso desta tecnologia, são necessárias algumas condições, quais sejam: 1) a pastagem não deve estar completamente degradada. Pode apresentar, por outro lado, limitações químicas, com baixos teores disponíveis de nutrientes essenciais; 2) a pastagem deve estar com boa cobertura de palha, distribuída de forma uniforme, para facilitar o dessecamento químico com herbicidas. Não deve estar subpastejada (com grande quantidade de palhada) e nem superpastejada (rapada). Igualmente, para que não haja enterrio mais profundo da semente em áreas desnudas e superficial em áreas de maior densidade de palha, o ideal é se ter uma palhada de 20 cm a 30 cm de altura, no caso de braquiárias e panicum; 224 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte 3) baixa incidência de plantas invasoras de difícil eliminação com herbicidas, tais como rebrote de cerrado; 4) áreas sem tocos, raízes, troncos, galhos, pedras, erosão etc. A área não deve apresentar impedimentos mecânicos para as operações de plantio e colheita; 5) época de aplicação do herbicida e sua dosagem: o herbicida deve ser aplicado quando a pastagem se encontra em crescimento ativo, nos meses de outubro ou novembro, em média 21 dias antes do plantio da soja. Devem ser usados 1.260 a 1.440 g/ha do princípio ativo Gliphosate para B. decumbens, B. brizantha e P. maximum cv. Tanzânia; 6) a variedade da soja a ser usada deve ser de ciclo precoce a médio, que proporcione boa cobertura do solo; 7) o plantio deve ser feito respeitando-se a época recomendada para cada cultivar na região, com a pastagem devidamente dessecada, usando-se uma semeadeira adequada para plantio direto. Recomenda-se observar a profundidade de semeadura para a cultura, aumentando-se a quantidade de semente em 15% a 20%, para proporcionar bom estande da cultura da soja, cobrindo bem o solo, para reduzir a germinação e rebrote da forrageira; 8) manejo pós-colheita: se o objetivo for o de trocar a espécie forrageira em uso na área, caso esta seja braquiária, devem-se controlar as plantas remanescentes após a colheita da soja, e plantar uma pastagem anual, aveia ou milheto, para ser utilizada por animais no outono e inverno. Repetir esta operação por dois ou três anos e implantar a nova espécie de forragem. Se o objetivo for somente recuperar a pastagem, após a colheita da soja (março ou abril), planta-se a forrageira anual (aveia ou milheto), e, entre outubro e janeiro, planta-se novamente a mesma forrageira. Um exemplo dos custos de um estudo comparativo entre a renovação de uma pastagem de B. brizantha pelo uso de plantio da soja pelo sistema de plantio convencional ou direto é apresentado na Tabela 7. I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 225 Tabela 7 - Custos e receitas comparativas da renovação de uma área de Brachiaria brizantha através do plantio convencional ou direto da cultura de soja Insumos e operações mecânicas Sementes Adubos Herbicidas Tratamento de sementes Inseticidas Máquinas Colheita Custo total Produtividade da soja (sacas /ha) Receita total (US$/ha) Receita líquida (US$/ha) Custos (US$/ha) Plantio convencional Plantio direto 34.75 42.62 104.92 109.25 11.33 126.34 4.30 3.40 26.50 21.68 177.26 39.17 24.22 22.74 383.28 365.20 58.90 523.03 139.75 60.60 538.12 172.92 226 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte 4. PRODUTIVIDADE DOS REBANHOS Os índices de desempenho zootécnico médio do rebanho brasileiro são muito baixos, mas muitos sistemas de produção apresentam índices de satisfatórios a bons, como pode ser visto na Tabela 8. Tabela 8 - Índices zootécnicos médios do rebanho dos Cerrados e em sistemas tecnológicos mais evoluídos Média Brasileira *Sistema Melhorado *Sistema com Tecnologia evoluída *Sistema otimizado (integração agricultura-pecuária) 60% 70% 80% 85% 8% 6% 4% 2,7% 54% 65% 75% 80% 4% 3% 2% 1% 4 anos 3-4 anos 2-3 anos 2 anos Intervalo entre partos 21 meses 18 meses 14 meses 12 meses Idade de abate 4,0 anos 3,0 anos 2,5 anos 1,5 anos Taxa de abate 17% 20% 22% 40% 200kg 220 kg 230 kg 230 kg 53% 54% 55% 55% 0,9 an./ha 1,2 an./ha 1,6 an./ha 3,0 an/ha Índices Natalidade Mortalidade até a desmama Taxa de desmama Mortalidade pós desmama Idade da 1a cria Peso da carcaça Rendimento da carcaça Lotação Fontes: *Estimativa observada junto a produtores e experimentos em andamento. Cabe ressaltar que os baixos índices da média dos Cerrados incluem um grande número de produtores que apresentam índices inferiores a esses e que são resultantes principalmente, do inadequado manejo das pastagens e dos rebanhos. Adicionalmente, verificam-se a não reposição de nutrientes nas pastagens e falta de controles no rebanho e gerenciamento geral da I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 227 propriedade. Isso tem se agravado nos últimos anos, uma vez que a demanda por eficiência requer investimentos, os quais aumentam o risco. A produção média no Brasil é de 30 kg/ha/ano de carne, mas essa pode ser duplicada ou mesmo triplicada com certa facilidade pela adoção de tecnologias já disponíveis como: - Melhoria no manejo de pastagens; - Subdivisão de pastagens; - Recuperação e adubação de manutenação das pastagens; - Suplementação alimentar nos períodos críticos; - Exame reprodutivo de vacas e touros; - Melhoramento genético dos animais; - Vacinações e melhoria nos controles sanitários. - Ajuste do binômio genótipo-ambiente. Na Tabela 9 pode-se verificar a situação média do rebanho nacional com 30,6 kg/ha/ano de carne. As demais são simulações do que ocorre a nível de propriedades com índices de produtividade melhorados. Tabela 9 - Efeito de mudanças na taxa de lotação de pastagens e sua combinação com variações na taxa de desfrute e no peso de carcaça sobre a produtividade de carne por ha Lotação an./ha Taxa de desfrute (%) Peso de carcaça (kg) 1 – Média Nacional 0,9 17 200 31 2 – Pastagem Melhorada 1,5 17 200 51 3 – Pastagem Intensiva 2,0 17 200 68 4 – 3 + Suplementos 2,0 20 220 88 5 – 4 + Confinamento 2,0 25 230 115 6 – 5 + Integração Agropecuária 3,0 40 230 230 Sistemas Produção de carne (kg/ha/ano) O sistema 2 representa uma pastagem recuperada periodicamente. Verifica-se que o aumento de 60% na lotação possibilitaria produção de 51 228 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte kg/ha, ou seja, aproximadamente 61% maior que a média. Já o sistema 3 com uso mais intensivo de fertilizantes, como adubação de manutenção e aplicação de nitrogênio e parte com leguminosas dobraria a produção de carne por ha. Os sistemas 4 e 5 usariam suplementação alimentar sendo que no 5 os animais seriam terminados em confinamento.. Os dados do sistema 6 foram obtidos na Agropecuária Ribeirão Ltda., localizada no município de Chapadão do Sul, MS, ao norte do Estado. Nessa propriedade, a pecuária é explorada de forma intensiva, com uso de pastagem de boa qualidade, cruzamento industrial, "creep feeding", suplementação, semiconfinamento e confinamento, com o uso de pastagem de milheto no outono-inverno. São obtidas produtividades de 300 kg de peso vivo na cria e 600 kg de peso vivo na recria e engorda dos animais, com uma média de 230 kg de carne/ha/ano, o que representa 100% a mais do que no sistema 5, que não usa o sistema de integração de produção de grãos com a produção de carne. A receita líquida média da fazenda é de 180 a 200 R$/ha/ano com a pecuária, e de 90 a 100 R$/ha/ano com a agricultura. Segundo Cezar & Euclides Filho (1996) somente a redução de idade de abate de 3,5 anos para 2 anos implica num aumento no desfrute de 18% para 25% e na proporção de carne por ha de 48 kg/ha para 68 kg/ha, considerando uma taxa de desmama de 64%. É importante ressaltar que apenas uma pequena proporção do rebanho de corte está em áreas de pastagens com razoável reposição de nutrientes. Uma proporção menor ainda recebe alguma suplementação alimentar para terminação. No ano de 1996, segundo o ANUALPEC-97, foram confinados no Brasil 1.435.000 animais, semiconfinados 988.000 e terminados em pastagens de inverno 655.000 animais, perfazendo um total de 3.075.000 cabeças. Os animais confinados corresponderam a 5,3% do abate e o total terminado em melhores condições representou 11% do abate. Verifica-se portanto que cerca de 90% dos animais abatidos são criados exclusivamente em pasto ou com uma pequena suplementação em períodos críticos, com idade de abate entre 36 e 50 meses. Um dos maiores entraves da pecuária de corte, vista ainda com maior intensidade na produção de novilho precoce, é o fornecimento de I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 229 alimentação de boa qualidade e quantidade, durante todo o desenvolvimento do animal. Quando a pastagem estiver com qualidade insuficiente para proporcionar um ganho de peso, deve-se fornecer aos animais um suplemento que complemente as deficiências da pastagem. Na fase de acabamento dos animais, quando necessário, podese utilizar o confinamento ou semiconfinamento, devendo ser usados, preferencialmente, alimentos produzidos na fazenda, tais como silagem, feno, grãos ou resíduos de grãos, ou resíduos de agroindústrias, sempre levando-se em consideração a relação custo-benefício. Como pode ser observado na Figura 1, para o abate de novilho aos 24 meses, será necessário que o mesmo obtenha um ganho de peso vivo médio na ordem de 620 g/dia, do nascimento ao abate. Considerando-se a produção de animais cruzados, de melhor potencial genético, isso corresponde a apenas 54% do que poderia ser obtido por tais animais aos 12 meses, com ganho de 1.150 g de peso vivo/dia. Por outro lado, produções deste nível nem sempre têm retorno econômico. A tendência da pecuária de corte é trilhar os mesmos caminhos da avicultura e suinocultura, ou seja, a redução da idade de abate, com prioridade ao binômio alimentação e genética. Objetiva-se, com isso, aumento da produtividade e qualidade de carne com redução dos custos de produção, respeitando o potencial produtivo de cada propriedade ou sistemas de exploração. 55 Bov 36 m 50 40 meses 35 Bov 12 m 30 25 Frango 20 Suíno 5 m 10 29% 37% Bov 18 m 54% 72% 81% 42 d 15 Bov 15 m Tardio 48 m 33% Bov 24 m 45 Atual 42 m 100% 100% 5 100% 0 g/dia kg 55 2,3 600 95 1150 445 930 450 830 455 620 460 420 480 370 490 330 505 ganhos de peso vivo Figura 1 - Eficiência de produção da pecuária de corte em diferentes sistemas de produção. 230 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AFZAL, M.; ADAMS, W.A. Heterogenoity of soil mineral nitrogen in pasture grazzed by cattle. Soil Science American Journal, Madison, v.56, p.1160-1166, 1992. ANUALPEC 97. Anuário da pecuária brasileira, São Paulo. Argas Comunicação, 1997., 329p. BARCELLOS, A. de O. Sistemas extensivos e semi-intensivos de produção: pecuária bovina de corte nos Cerrados. 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EMPREGO DE ANABOLIZANTES E USO DE CASTRAÇÃO Teófilo José Pimentel da Silva, Ph D Prof. Adj. Fac. Veter. UFF e Tit. Apos. Esc. Veter. UFMG INTRODUÇÃO No início da década de 70, a produção mundial de alimentos aumentava numa taxa anual de 2,8%, enquanto que a taxa de crescimento populacional era de 2,6%. Desde então, as reservas mundiais de grãos têm declinado continuamente. Por sua vez, na alimentação humana os vegetais são responsáveis por 70% das proteínas e os animais suprem apenas 30%, necessitando ainda da proteína vegetal para sua produção. Depara-se assim com um grande desafio: a descoberta de substâncias que possam incrementar a produção animal. Inegáveis são os benefícios do uso de drogas na produção de animais destinados ao abate, quer no tratamento terapêutico, antibacteriano ou promotor de crescimento (Silva, 1999). Em relação ao uso de promotores de crescimento, existem três diferentes mecanismos pelos quais podem-se afetar a taxa de crescimento. O primeiro método é baseado no aumento do nível de hormônio de crescimento pela administração de estrógenos. O segundo é o efeito direto na taxa de crescimento muscular produzido pela administração de andrógenos. E finalmente, um terceiro método se faz alterando a flora ruminal mediante a utilização de antibióticos (Roche e Quirke, 1983). Do ponto de vista econômico, as diferentes técnicas de administração e utilização de diversos medicamentos em distintos países têm induzido a formação de barreiras entre nações. No entanto, sabe-se hoje que cerca de 80% de todos os animais criados com objetivos alimentares recebem medicamentos em parte ou na maioria de suas vidas. Anabolizantes são substâncias que aumentam o anabolismo, isto é, a retenção de nutrientes fornecidos pela alimentação. Assim, pode-se dizer que os anabolizantes são substâncias com capacidade de incrementar a 236 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte retenção de nitrogênio fornecido pela alimentação, aumentando o teor de proteínas nos animais (FAO/OMS, 1975). Por outro lado, um dos problemas de manejo mais controvertidos na pecuária de corte no Brasil é a castração dos machos. Enquanto os pecuaristas da Argentina, Austrália, Canadá e Estados Unidos da América têm como prática a castração de seus bovinos, pois os frigoríficos não compram animais inteiros, mas em compensação a legislação desses países permitem o emprego de anabolizantes, compensando assim o menor ganho de peso dos castrados em relação aos inteiros. CLASSIFICAÇÃO DOS ANABOLIZANTES Castelli (1989) classifica os anabolizantes quanto: a) Origem: - Endógenos ou naturais: são esteróides sexuais presentes tanto no organismo animal quanto no homem (17 ß - estradiol, testosterona e progesterona); - Exógenos ou sintéticos: são esteróides ou substâncias não esteróides obtidas através da síntese ou derivados de micotoxinas, denominados xenobióticos, ausentes do organismo humano ou animal, mas com efeitos estimuladores do crescimento (acetato de trembolona, zeranol, acetato de melengestrol). b) Atividade biológica: - Estrogênicos: 17 ß - estradiol, zeranol, DES* - Androgênicos: testosterona, acetato de trembolona; - Progestágenos: progesterona, acetato de melengestrol. *Dietilestilbestrol é um semi-sintético do grupo dos Estilbenes (DES, Hexestrol, Dienestrol) comprovadamente mutagênico, carcinogênico e banido para produção de carne. I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 237 MODO DE AÇÃO DOS AGENTES ANABÓLICOS Os anabolizantes são aplicados por via subcutânea - através de implante na face posterior da orelha - entre a pele e a cartilagem. Esses agentes são absorvidos lentamente, passando para a corrente circulatória e ali permanecendo durante todo o período de ação para os quais foram concebidos. Estes agentes exercem grande influência no metabolismo do nitrogênio e, mais concretamente, na síntese protéica (Trenkle, 1975, e Wall, 1975). Com isso no aumento de peso do animal tratado e em uma melhor conversão alimentar. O efeito anabólico é confirmado pela observação tanto de uma diminuição na concentração da uréia eliminada do organismo como no aumento do nível dos aminoácidos circulantes. A redução da excreção da uréia e do total de nitrogênio na urina, observada em animais tratados, resulta de uma maior retenção do nitrogênio pelo organismo, determinando a maior eficiência no ganho de peso (Preston, et al., 1965). ALGUNS RESULTADOS DO EFEITO DOS ANABOLIZANTES NA PRODUTIVIDADE PECUÁRIA Os resultados advindos do uso dos anabolizantes, utilizados dentro das normas técnicas, têm demonstrado serem os mesmos uma ferramenta tecnológica de valor inestimável para o produtor de carne bovina. Os dados que se seguem procuram exemplificar essa assertiva, isto é, a relevância desse uso para o pecuarista que busca um melhor desempenho zootécnico e de uma maior rentabilidade operacional (Neto et al., 1994). - Estradiol 17-beta: A ação do estradiol implantado sob sistema de liberação controlada produz, segundo as pesquisas apresentadas por Wagner (1983), um aumento de peso diário de bovinos castrados da ordem de 5 a 24% (média de 13% ou 26Kg) em comparação com os lotes controles, realizados no Reino Unido. Por outro lado, experimentos realizados na América Latina, (Wagner, 1983), demonstram que a ação do estradiol 17-beta de liberação 238 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte lenta produziu um incremento médio de 16% no ganho de peso de bovinos castrados implantados em relação a aqueles do lote controle, isto é, em uma média adicional de 22 Kg de peso vivo. - Progesterona: O efeito anabolizante da progesterona é economicamente viável apenas quando de sua associação com o estradiol, sendo esta forma comercialmente usada. Sua atuação proporciona ganho de peso em machos - principalmente em novilhos a partir de 200Kg - com resultados variáveis como os demais promotores de crescimento, em função da disponibilidade e da qualidade da dieta. - Testosterona: Tanto quanto a progesterona, o uso eficiente da testosterona tem sido observado apenas quando de sua combinação com promotores de crescimento de atividade estrogênica, sendo o estradiol a forma comercial em que a mesma está combinada. - Acetato de Trembolona (TBA): O acetato de trembolona é um análogo da testosterona, com uma atividade de 10 a 50 vezes maior, sendo utilizado isolado ou combinado com composto de atividade estrogênica, em fêmeas, machos inteiros ou castrados (Neumann, 1975). Os andrógenos exercem sua ação diretamente a nível celular, atuando sobre receptores celulares específicos, ligados à síntese de RNA, influenciando dessa forma a síntese protéica. O acetato de trembolona, segundo Best (1972) produziu, em vacas em regime de pastejo, um aumento no ganho de peso diário de 38%. - Zeranol: O zeranol é um agente obtido a partir da fermentação de uma espécie selecionada de fungo, a Gibberella zeae. Quimicamente o zeranol não é um I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 239 esteróide, tratando-se de um derivado da lactona do ácido resorcílico, com propriedades estrogênicas e anabólicas. Hall (1977) comparou o ganho de peso e a conversão alimentar de um total de 1577 ruminantes (bovinos e ovinos), de diversas categorias e sob diversos regimes alimentares. O ganho médio encontrado com o uso do zeranol variou de 0,8 a 27% no relativo ao ganho de peso e de 9,08% no tocante à conversão alimentar. Trabalhos realizados no Canadá (Brown, 1983), constatou que bovinos (novilhos) sob regime de pastejo e implantados com zeranol obtiveram em média 19,5Kg a mais do que os animais do grupo controle; esses dados foram consistentes com outros por ele encontrados em trabalhos conduzidos no México (35,33%) e Colômbia (10,50%). No Brasil, Alves et al. (1982) verificaram efeito relevante após o implante de zeranol em bovinos da raça Nelore sob regime de pastejo; o experimento foi conduzido na época da seca e o ganho médio diário foi de 0,56Kg (zeranol) e 0,46Kg (controle). Mazza et al. (1985), desenvolveram um extenso trabalho na Estação Experimental de Andradina, SP, empregando um total de 48 bezerros, mantidos em pastagem de capim colonião durante 210 dias. Os autores constataram um aumento de peso de 9,39%, 11,94% e 20,37% em relação aos animais do grupo controle após aplicação de um implante, dois implantes e três implantes, respectivamente. Sampaio et al. (1985), efetuaram pesquisa buscando constatar o efeito do zeranol em bezerros; observaram que os animais implantados obtiveram após 91 dias um ganho de peso médio de 721 g/dia, isto é, 100 g superior aos não implantados (621 g/dia). Vieira et al. (1985), avaliando o efeito do zeranol em 30 bovinos machos inteiros confinados, com idade média de 14,2 meses e com peso de 262 kg, mostraram que os animais implantados com 36 mg de zeranol tiveram um peso da ordem de 10,9% superior a aquele do lote controle. Em outro trabalho, Pereira et al. (1985), usando novilhos implantados com zeranol (2 e 3 implantes), verificaram ganho de peso médio diário de 0,610 kg e 0,590 kg, respectivamente, em relação ao controle, que obteve 0,515 kg. 240 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte Velloso e Pereira (1985), utilizando bovinos sob regime de pastejo em período chuvoso, relataram que o implante com zeranol produziu o seguinte ganho de peso/cabeça/dia: 0,757 kg para animais implantados uma única vez e 0,804 kg para os animais que receberam dois implantes. O resultado destes dois tratamentos diferiu daquele obtido nos animais do grupo controle de 0,645 kg (p < 0,01). Ferreira et al. (1989), em um experimento realizado em Minas Gerais, utilizaram 40 novilhos castrados e submetidos a um implante com zeranol (36 mg). Os resultados demonstraram um ganho médio diário de 1,22 kg (zeranol) e 1,09 kg (controle). - Associação de Agentes Anabolizantes: São comuns as associações de anabolizantes androgênicos e estrogênicos. Comercialmente, são disponíveis as associações do estradiol 17-beta com progesterona, com testosterona e com acetato de trembolona e, deste último com zeranol. A documentação científica relativa a esse procedimento é farta quanto ao incremento na produtividade obtido com o uso das mesmas, em relação àquele obtido após o uso isolado de anabolizantes. Bouffaut e Willermant (1982) reuniram os resultados de 11 experimentos, obtidos com o uso da combinação TBA (140 mg) + zeranol (36 mg) em bezerros. O ganho de peso diário revelou um aumento médio de 10%. Em bovinos tratados com uma associação de progesterona (200 mg) e estradiol (20 mg), Roche e Hart (1984), encontraram um ganho de peso diário 46% superior ao observado no grupo controle. Resultados mais modestos (na faixa de 10 a 25%) foram constatados por Roche e Quirk (1984). Em gado confinado, o uso de bensonato de estradiol (20 mg) associado à progesterona (200 mg) resultou tanto em melhora no ganho de peso diário, quanto na eficiência alimentar. Um aumento ponderal extra, de 10 a 15 kg, tem sido relatado em animais implantados. Com essa associação um resumo de algumas pesquisas indicou melhoria de 17,3% em ganho ponderal diário. Este resultado foi obtido a partir do resumo de 48 I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 241 ensaios envolvendo novilhos confinados e implantados, em comparação a controles não implantados. Concomitantemente, foi observada uma melhoria de 9,4% na eficiência alimentar dos animais implantados. Em gado mantido no pasto, os implantes melhoraram o ganho diário médio que atinge uma taxa de 23,4%. As melhoras típicas observadas variam em torno de 12 a 20 kg/dia sobre o ganho ponderal de animais não implantados; esse fato representou em cerca de 12 a 20 kg adicionais de carne em 100 dias. O emprego da associação do bensoato de estradiol e testosterona (BET) em fêmeas, onde seu uso é recomendado, tem proporcionado um aumento no ganho diário de peso de 10 e 15% (Roche e Quirk, 1984). IMPACTO ECONÔMICO ANABOLIZANTES EM FUNÇÃO DO USO DE É dado pelo incremento na produtividade de animais tratados com os promotores de crescimento com atividade anabólica e, por conseqüência, pela diluição dos custos operacionais. Com base na literatura científica, estima-se que o ganho de peso incremental a partir do uso de anabolizantes seguros, utilizados dentro das boas práticas agropecuárias, possa atingir pelo menos US$ 4,7 por implante ou US$ 0,31/arroba, segundo dados fornecidos pelo SINDIPEC (1992). Da mesma forma, a estimativa de ganho de peso incremental com o uso de anabolizantes, haveria uma produção adicional de `108.600 toneladas de carne bovina, a partir de um rebanho de 132 milhões de cabeças (SINDIPEC, 1992). Os animais implantados necessitam menor quantidade de ração para produzir 1 kg de carne; isto é, tem melhor eficiência na utilização da forragem consumida, tornando-se possível a produção de mais carne por hectare de terra. CONCLUSÃO Acredita-se que o longo período de divergência, quando sucederamse regulamentações que proibiram e permitiram o uso de anabolizantes para 242 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte a produção de carne no Brasil se deveu, entre outras políticas, à falta de uma legislação criteriosa embasada científica e tecnicamente sobre o controle do uso e o monitoramento desses produtos, como fizeram os países maiores exportadores de carne bovina (Austrália e Argentina). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, J.B.; COSTA, C.; ISEPON, O.J. et al. Rev. Soc. Bras. Zootecnia, v. 11, n. 3, p. 396-404, 1982. BEST, J.M.J. Veterinary Record, v. 91, n. 25, p. 624-626, 1972. BOOTH, N.H. Toxicologia de resíduos de drogas e outras substâncias químicas. 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Publication OIE, Paris, p. 75-117, 1983. 244 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte ASPECTOS DA PRODUÇÃO DE CARNE E AS TENDÊNCIAS DO MERCADO NACIONAL Sergio De Zen Mestre em Economia Aplicada , Pesquisador do CEPEA/ESALQ/USP AGENTES DO S ISTEMA AGROINDUSTRIAL : A cadeia produtiva da carne bovina para fins de análise pode ser divida em três grupos de análise. A produção do animal, o abate e o processamento da carne e a distribuição e o varejo. As três etapas têm um peso relativamente semelhante no processo produtivo, sendo diretamente responsáveis pelo preço e pela qualidade do produto final. Esta análise será feita de maneira a estudar cada uma das etapas apontando os pontos positivos e negativos do processo. Este trabalho tem a finalidade de estudar o processo produtivo de carne bovina no Brasil. Dessa forma constribuir para a elucidação dos problemas básicos que fazem dessa atividade uma das mais complexas do conplexo agroindustrial do país. PRODUÇÃO Evolução da Produção A produção de carne está dispersa por praticamente todo o território nacional, mas a maior concentração está na região centro-sul 246 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte do País. Os estados de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Goiás dispõem dos maiores rebanhos, concentrando cerca de 38% do rebanho nacional. A alteração dessa distribuição é difícil e lenta, pouco se modificou nos últimos, anos, exceção a programas específcos, como por exemplo, o Proálcool implementado no final dos anos 70, e a explosão da cultura da laranja nos anos 80, que ocupou vastas áreas de pastagens no estado de São Paulo, deslocando a pecuária para o centrooeste. A característica básica da pecuária de corte sempre foi a ocupação de novas áreas, ou seja da expansão das fronteiras agrícolas e esse papel que foi um fator de destaque positivo até meados dos anos 80, passou a ser preocupante com a crescente preocupação mundial, em relação à ecologia. A comunidade internacional passou a observar os problemas como o desmatamento da região Amazonica gerando uma fonte intensa de pressão em relação à produção de carne no Brasil. Alguns exemplos disso são campanhas feitas em alguns países contra a entra de carne brasileira com o argumento de que essa carne era fruto do desmatamento da Amazonia, ou ainda com a proibição de utilização da carne produzida dentro da Amazonia Legal por parte de empresas européias e norte-americanas. Trata-se de um bom argumento para a mostrar que a expansão da pecuária via ocupação de novas regiões esta em fase de esgotamento. A nova realidade exige um sistema cuja prioridade é produtividade. A distribuição dos animais por todos os estados da federação demonstra que a produção não está restrita a uma região ou estado. Também deixa claro que a pecuária de corte não sofre restrições climáticas importantes em nenhuma região do país. A produção de carne está totalmente ligada à produção de alimentos para os animais. No Brasil, até há algumas décadas, as pastagens não eram tratadas como culturas do ponto de vista agronômico e, portanto, recebiam poucos cuidados em termos de formação e manejo. A forma de tratar as pastagens começou a se modificar na década de 70 e ganhou força nos últimos anos. Foram realizados muitos estudos no sentido de definir as melhores pastagens para cada região, e a melhor forma de manejo. I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 247 Atualmente, cerca de 34% das pastagens da região centro-oeste do Brasil são formadas de acordo com critérios de manejo adequados, ou seja, recebem corretivos e adubação. Para se ter uma idéia do potencial de crescimento da produção na pecuária de corte, basta observar que um hectare de pastagem nativa produz 8,8 kg de carne por ano, ao passo que um hectare de pastagem cultivada, e com manejo mínimo, pode produzir cerca de 16,5 Kg de carne por ano, mantendo-se as mesmas condições dos animais. No Brasil, a produção de capim, ou seja, a evolução da produção de alimentos dos animais, seguiu sempre o caminho da extração. Toda vez que se enfrentava dificuldades em relação ao capim em uso, buscava-se uma espécie mais resistente. Somente nos anos 90, com o aumento do preço da terra, a escassez de novas áreas de expansão, é que começam a ser valorizadas as técnicas de manejo das pastagens, procedimento em que pouco se havia evoluído até então. Evolução Tecnológica O Brasil em termos de produtividade do rebanho pecuário possui médias pouco animadoras. O quadro abaixo demonstra esta situação. Parâmetros de Produtividade da Pecuária de Corte Nacional Natalidade idade da 1ª parição idade de abate Mortalidade até 4 anos Desfrute Cabeças por hectare ano Carcaça / ha / ano Kg de carne / cabeça existente/ano Kg / cabeça / ano 58% 48 meses 48 meses 15 % 13 % 0,8 13 kg 23,4 13,0 Kg Fonte: Pedrosa. in Bovinocultura de Corte Deste quadro é importante destacar que a taxa de natalidade de 58 % é muito baixa, pois isso significa que de 100 vacas mantidas no 248 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte pasto apenas 58 vão gerar um bezerro. Além disso, o prazo para que uma vaca gere um bezerro é de 4 anos, fazendo com que a atividade de cria torne-se bem pouco atrativa, ficando com as piores terras. Outro dado alarmante é o prazo médio de abate, estimado em 4 anos. Este prazo é demasiadamente longo, considerando que em determinados casos no país é possível encontrar produtores que abatem o mesmo animal em 3 anos. Claro que é necessário lembrar que o processo produtivo é muito heterogêneo, onde eficientes produtores convivem com o atraso de outros. Desfrute significa o número de animais abatidos dividido pelo tamanho do rebanho. No Brasil era de 13 % em 1993. Dados do GATT, de 1989, dão conta de que nos EUA estes valores são de 32 % e na Argentina em torno de 24,2 %. Os dados de lotação também são insatisfatórios. A média de 0,6 cabeça por hectare caracteriza a pecuária nacional como dependente de grandes áreas de pastagens. A melhoria dessa situação depende da assimilação de novas técnicas de manejo por parte dos produtores. Segundo trabalhos de pesquisa e relatos de produtores mais tecnificados, a lotação pode ser duplicada, a idade de abate reduzida à metade e a taxa de natalidade elevada para níveis superiores a 70 %. O meio de atingir esses níveis de produtividade é a adoção de métodos já bastante difundidos de manejo dos animais e das pastagens, ou seja, a atividade tem que deixar de ser extrativista e passar a ser profissionalizada. Custos e a Nova realidade A pecuária de corte depois da estabilização da economia passou a viver um novo momento. O investimento em animais com a finalidade de obter rendimentos com a valorização dos mesmos deixou de ser um negócio atrativo. No decorrer da década de 70 e até a metade dos anos 80, o diferencial entre os preços da safra e entressafra chegaram a cerca de 40% do valor. Na segunda metade dos anos 80, os seguidos planos econômicos quebraram as estruturas dos preços e as oscilações foram muito I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 249 violentas. O investimento em boi passou a ser visto sob a ótica da segurança frente ao difícil quadro de insegurança e incerteza. Na segunda metade dos anos 90, com o processo de estabilização da economia, os preços deixaram de apresentar grandes oscilações e os rendimentos expeculativos na atividade deixaram de ser atrativos. As margens dos produtores reduziram muito. Nos gráficos a seguir estão apresentados tres situações de produção em relação ao custo. A relação entre os preços recebidos pela arroba de boi e os custos de produção oferecem um quadro da situação que da atividade. A pecuária de corte oferece uma diversidade muito grande em termos de sistemas de produção. Coexistindo sistemas extremamente obsoletos e sistemas evoluídos de produção. Na sequência estão apresentadas três situações de produção e seus respectivos custos teóricos (é importante ressaltar que os custos têm um amplo universo de variação). Gráfico 1: Preços da arroba do Boi Gordo em São Paulo lot. 0,33 U.A/ha 120 US$/arroba 100 80 60 40 custo total 20 custo variável Ja n/8 0 De z/8 0 No v/8 1 Ou t/8 2 Se t/8 3 Ag o/8 4 Ju l/85 Ju n/8 6 M ai/ 87 Ab r/8 8 M ar/ 89 Fe v/9 0 Ja n/9 1 De z/9 1 No v/9 2 Ou t/9 3 Se t/94 Ag o/9 5 Ju l/9 6 Ju n/9 7 M ai/ 98 0 fonte:CEPEA/ESALQ/USP Neste gráfico temos um produtor de baixissímo nível, com uma produtividade pequena e pouca aplicação na atividade. Esse produtor sobreviveu com certa facilidade ao longo dos anos 70 e 80, mas perdeu competitividade nos anos 90. Considerando os custos variáveis como 250 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte sendo aqueles que ele terá de dispor ao longo de um ano e os custos totais como sendo os gastos que ele tem que fazer ao longo de anos. Na atualidade, esses produtores têm os seus dias contados, pois não são capazes de repor aquilo que tem perdido. Gráfico 2: Preços da arroba de boi gordo lot. 0,46 U.A. 120 100 80 60 40 20 custo total 0 Ja n/8 0 De z/8 0 No v/8 1 Ou t/8 2 Se t/8 3 Ag o/8 4 Ju l/8 5 Ju n/8 6 M ai/ 87 Ab r/8 8 M ar /89 Fe v/9 0 Ja n/9 1 De z/9 1 No v/9 2 Ou t/9 3 Se t/9 4 Ag o/9 5 Ju l/9 6 Ju n/9 7 M ai/ 98 custo variáve l fonte:CEPEA/ESALQ/USP Gráfico 3: Preços da arroba de boi gordo lot. 0,81 UA/ha 120 80 60 40 custo total 20 Jan/99 Jan/98 Jan/97 Jan/96 Jan/95 Jan/94 Jan/93 Jan/92 Jan/91 Jan/90 Jan/89 Jan/88 Jan/86 Jan/85 Jan/84 Jan/83 Jan/82 Jan/81 fonte:CEPEA/ESALQ/USP Jan/87 custo variável 0 Jan/80 US$/arroba 100 I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 251 Nos outros dois casos, os níveis de produtividade modificam a capacidade do produtor de se manter na atividade, pois na medida que o diluem e racionalizam os seus custos os produtores tornam -se mais competitivos. O produtor é um tomador de preços, ou seja, o mercado determina os preços através da oferta e da demanda. Neste mercado que freqüentemente é utilizado como exemplo de concorrencial. O produtor tem que estar muito atento para o fator custo que está sob seu controle, e é onde pode agir com tranqüilidade. FRIGORÍFICOS Nos últimos 20 anos, as empresas ligadas ao setor de carne iniciaram um processo de deslocamento do abate em direção às regiões de produção. No início da década de 70 existiam 5 unidades de abate cadastradas no Serviço de Inspeção Federal -SIF localizadas na região da Grande São Paulo. Em 1995, praticamente todas as unidades de abate dessa região estavam desativadas. A Grande São Paulo, no entanto, ainda conserva um grande número de entrepostos que recebem as carcaças do interior do estado e de outros estados e fazem a desossa ou a industrialização da carne. Com relação ao parque industrial de abate paulista, é interessante notar que o seu crescimento em termos de empresas é muito grande, cerca de 245 %. Passando de 22 para 76 empresas cadastradas no SIF, durante o período de 1963 a 1995. Outro fato que chama a atenção é com relação à distribuição das empresas dentro do estado. A Grande São Paulo deixou de ter grande importância em termos de abate. As quatro empresas cadastradas no SIF Cotia, Itapevi, Frigor Eder, Bordon deixaram de abater. Algumas passaram a fazer trabalhos de desossa e industrialização, transferindo o abate para outras regiões. A região da Grande São Paulo se notabiliza por concentrar muito estabelecimentos de desossa e distribuição de carne. Nos registro do SIF de 1994, existem 79 empresas cadastradas como aptas a fazerem desossas, das quais apenas 11 estão fora da Grande São Paulo. Existem ainda 19 cadastradas como entrepostos de carne. A capacidade de abate das unidades da federação evoluiu no sentido de acompanhar a produção. O estado de São Paulo que em 252 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte 1970 era responsável por 34,5% do abate viu sua participação cair até o nível de 23% em 1990. Em 1994 o estado foi responsável por 26%. No mesmo período, o Mato Grosso do Sul foi o estado que apresentou maior crescimento. Em 1979, quando o estado foi desmembrado do estado de Mato Grosso, participava com 5,16%, em 1994 sua a participação subiu para 17,96%. Processo de Evolução do Setor Industrial Os frigoríficos estão procurando modificar as formas de atuação para conseguirem melhorar suas receitas que, nos últimos anos têm piorado muito. A compra dos animais tem sido feita a duras penas, pois na região centro-sul do Brasil a capacidade de abate cresceu mais que o rebanho. A queda das taxas de inflação também piorou a situação, pois os produtores não aceitam reduções nominais de preço e o varejo reage negativamente a qualquer tentativa de repasse de alta nos mesmos. Na seqüência, serão analisadas as margens de comercialização dos frigoríficos no Brasil ao longo dos últimos anos, pois é uma forma de quantificar os problemas vividos pelas empresas. Margens Brutas de Comercialização para os Frigoríficos Os preços pagos pela carne consumida são determinados pela relação de oferta e demanda, mas o valor final do produto ofertado traz consigo um conjunto de custos que são acrescidos ao valor do produto na fazenda. A diferença entre os preços da fazenda e do consumidor final devem remunerar uma série de ítens, dentre os quais devem ser destacados: a armazenagem, o transporte e os impostos. Nos custos de comercialização dos produto podem ser acrescidos os custos dos serviços prestados pelos intermediários na cadeia de carne bovina: sendo estes os escritórios, frigoríficos, distribuidor atacadista, e finalmente o varejo. Estes agentes prestam uma série de serviços e têm um custo para tanto. A diferença entre os preços de venda do produto pelo produtor e o preço pago pelo consumidor é definida como margem de comercialização, traz consigo além dos custos de comercialização o lucro aferido com a atividade de intermediação do I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 253 produto. Essa margem é que determina o interesse das empresas pela atividade. O cálculo dos custos e do lucro em separado é algo bastante difícil, vistas a complexidade que isso envolve e as incoveniências que o processo de cálculo exige, por esse motivo um indicador importante e usual da atividade é obtido com a margem. Conceitualmente a margem de comercialização é definida como: M = C + L, onde C é o custo e L o lucro, ou prejuízo do intermediário (Barros,1987). Esta fórmula deixa claro que quanto maior o nível de processamento e manuseamento do produto, maior será a margem de comercialização, pois este processo agrega valor ao produto. A carne bovina é caracterizada por uma série de peculiaridades que tendem a alterar a sua margem. A alteração das margens é ditada pelo tipo de produto colocada no mercado (a carne é um produto perecível, exigindo cuidados especiais para sua comercialização, como por exemplo refrigeração), pelas alterações tecnológicas (o aumento do comércio de carnes desossadas, que gera uma maior eficiência no transporte, diminuindo o custo deste ítem, mas agrega valor ao produto, devido a um maior processamento), o uso de auto-serviço nos supermercados (carne desossada reduz muito a participação dos balconistas). A importância do cálculo das margens está na avaliação de sua evolução no mercado ao longo dos anos, propiciando avaliação do desempenho dos intermediários. Segundo BARROS (1987), para o cálculo das margens nos diferentes níveis de mercado leva-se em consideração o preço do produtor, o preço ao atacado e o preço ao varejo. O cálculo das margens, utilizadas neste trabalho, foi definido pela seguinte fórmula: MT = Pv - Cbg , determinando a despesa do consumidor ou a Margem Total A margem de comercialização da carne bovina(MT) é calculada pela diferença entre o preço pelo qual o frigorífico vende a carne(Pv) (carne com osso ou desossada) menos o custo do boi gordo(Cbg ) para o frigorífico. 254 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte O custo do animal para o frigorífico é dado pela seguinte fórmula: Cbg = Pbgp - Vsb, onde: Pbgp - preço do boi gordo pago ao produtor. Vsb - valor dos subprodutos. A margem total de comercialização será o valor utilizado para analisar a situação da atividade. Esses valor é tomado na forma agregada, representando uma média geral, portanto, pode haver empresas mais eficientes nas várias etapas da atividade que podem resultar em situações diversas, mas a situação geral das empresas estão apresentadas na seqüência. A margem bruta de comercialização deve ser analisada com cuidado, pois não se trata de lucro, uma vez que, tem que remunerar os custos do abate e do processamento dos animais. Dentre essas atividades podem ser destacadas: - frete dos animais. - consumo de água e energia. - mão de obra e encargos. - impostos. - depreciação dos equipamentos. - custos comerciais. - custo do capital investido. Os gráficos a seguir foram utilizados preços pagos aos produtores nas regiões de origem dos animais e os preços de venda dos frigoríficos deste estado ao mercado atacadista da grande São Paulo. Descontando-se os valores arrecadados com a comercialização dos subprodutos. - 255 I Simpósio de Produção de Gado de Corte Margens Brutas de Comercialização da carne c/ Osso - R$/boi 0.6 0.5 Goiania R.Verde C.Grande Tres Lagoas São Paulo Margens de Comercialização da Carne bovina desossada 100% 80% 60% 40% 20% Goiania R.Verde C.Grande Dourados Tres Lagoas São Paulo Ja n/9 9 no v se t jul m ai m aç Ja n/9 8 no v se t jul m ai m ar jan /97 0% dez out nov set jul ag jun abr mai fev Dourados maç Jan/98 dez out nov set jul ag jun abr mai fev mar jan/97 0.4 0.3 0.2 0.1 0 256 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte A desossa agrega valor ao produto, mas também aumenta os custos. As margens de comercialização da carne bovina para as demais regiões do país podem apresentar diferenças das apresentadas neste trabalho. Isto porque há variações, em cada região produtora do país, no que diz respeito aos preços pagos por arroba de carne, custos com transporte de gado para abate e custos para entrega de carne. A separação da receita do frigorífico em venda de carne com osso e sub-produtos comestíveis e não-comestívies permite a visualização de que a receita com a venda dos sub-produtos é uma importante fonte de receita, sendo inclusive mais importante que a receita com a venda da carne, principalmente após meados de 1991. (Vide Gráfico 1) Apesar da queda na receita com os sub-produtos, após início dos anos 90, estes ainda apresentam uma receita maior que a carne. Essa queda de receita com a carne ao longo dos anos é atribuída a dois fatores: aumento da oferta de carne e concorrência da carne bovina com produtos alternativos, com destaque para a carne de frango. A oferta de carne aumenta à medida que novas unidades de abate espalham por todo o país, como exemplo pode-se ilustrar com dados do estado São Paulo, onde entre 1962 e 1995, o número de empresas saltou de 23 para 76, de acordo com dados do Serviço de Inspeção Federal. O crescimento do volume de abate em outras regiões do país pode ser visto no gráfico 2. Os estados da região centro-oeste do país tem um elevado crescimento no decorrer da década de 80 e nos primeiros anos da década seguinte. Essa modificações da estrutura industrial afetam as margens dos frigoríficos de duas formas: afetando os preços pagos pelos animais e o valor de venda da carne. À medida que crescem o número de unidades de abate, numa taxa mais elevada que o crescimento do rebanho, aumenta a disputa pelos animais, logo o preço pago por eles eleva-se. O crescimento do número de unidades de abate eleva também a oferta de carne no mercado, ou seja, a oferta cresce mais rapidamente que a demanda de carne, logo há uma tendência de redução de preços da carne. - 257 I Simpósio de Produção de Gado de Corte Abate de Bovinos 35% 30% SP 25% RS 20% MG 15% MS 10% GO 5% 0% 1970 1975 1980 1985 1990 1995 Fonte:SIF A concorrência com a carne de frango é um outro fator que tem pesado nesse cenário, pois a avicultura ganhou muito em eficiência, produzindo muito num curto espaço de tempo, com um baixo custo de produção. Uma cadeia reconhecidamente estruturada também ajudou a carne de frango a ganhar espaços. Receita com Venda de Sub-produtos Frigorífico - R$/15,58 @ 100.00 80.00 60.00 40.00 20.00 0.00 89 90 91 sub-comestiveis 92 93 94 não comest. 95 96 couro 97 98 99 258 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte O gráfico indica uma perda de receita dos frigoríficos com o couro e os sub-produtos comestíveis até início de 1995, tendência que se acentua a partir desses anos. A moeda nacional valorizada incentiva as importações de couro de outros países, principalmente do Mercosul, e também tira competitividade dos calçados brasileiros, mais caros no mercado internacional. Dessa forma o couro perde muito valor. Os subprodutos comestíveis perdem valor pela falta de demanda, dada a substituição desses produtos por outras fontes de proteína animal. A perda de valor do couro e desses subprodutos derruba a margem dos frigoríficos. A primeira alternativa que os frigoríficos possuem para agregar valor ao seu produto é a desossa das carcaças. A margem da venda de carne desossada sofreu muita variação até meados de 1993, isso pode ser explicado pelo processo de remodelação estrutural dos frigoríficos para a viabilidade da desossa ou a venda para o mercado externo. Após este período ocorreu uma estabilização da margem da carne desossada, podendo ser relacionada com o aumento do mercado consumidor brasileiro. A margem da carne com osso apresentou uma tendência de queda constante, pois representa a maior parcela de negócios de grande parte dos frigoríficos. No entanto, percebe-se que quando a carne desossada começa a proporcionar margem vantajosa para o frigorífico, a carne com osso começa a cair. Isto pode representar o aumento na venda da carne desossada interna ou externamente, causado pela ação da mídia na valorização da carne previamente embalada ou a procura por carne com maior praticidade no preparo. Pode-se também indicar o interesse dos açougues e “botiques” de carne pela compra da carne desossada, sendo que pode adquirir cada corte conforme o volume de venda. A margem de comercialização da carne é muito mais viável para as empresas situadas fora do estado de São Paulo devido ao elevado custo dos animais no estado. As empresas do estado devem ser viabilizadas com a agregação de valor da desossa. As regiões situadas fora do raio de ação das empresas do estado estão apurando margens melhores, pois a disputa pelos animais é menos acirrada. I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 259 CARACTERIZAÇÃO DO CONSUMO A aquisição de carnes para o consumo ainda depende bastante dos estabelecimentos especializados, como os açougues, por exemplo. No caso da carne bovina, estes estabelecimentos ainda respondem por cerca de 55% do mercado para a carne de primeira e 70% para a carne de segunda. A preferência dos consumidores está se deslocando para a aquisição em supermercados, principalmente nas faixas de renda média e em grandes centros urbanos. Esta é a mesma tendência observada nos países mais desenvolvidos, o que leva a crer que a mesma deverá se manter no futuro. Com a finalidade de se aprofundar na análise do consumo, principalmente no tocante a se observar qual é a tendência de crescimento do consumo para as carnes como um todo, utilizou-se de um instrumental básico de economia que é a elasticidade-renda de demanda. Isto significa medir quanto varia percentualmente o consumo de carne se ocorrer uma variação percentual na renda, ou seja é a capacidade que um produto tem de absorver um aumento de renda. Deste modo, dizer que determinado produto possui elasticidaderenda da demanda igual a 1 significa dizer que um aumento de 10% na renda é acompanhado de um aumento de 10% na quantidade demandada do bem em questão. Da mesma forma, um produto com elasticidaderenda da demanda igual a 0,1 significa que um aumento de renda de 10% é acompanhado por um aumento de 1% na demanda do produto. A elasticidade-renda pode ainda ser negativa, dependendo do produto, significando que a quantidade demandada do mesmo cai com o crescimento da renda. O valor da mesma pode ser estimado através dos dados de renda e quantidade consumida, com a utilização de técnicas estatísticas apropriadas. Este procedimento foi adotado para três faixas salariais: a primeira até 5 salários mínimos, a segunda de 5 a 10 e a terceira de 10 a 15. Vale lembrar que dentro da região metropolitana de São Paulo cerca 50% das famílias estão na faixa de renda familiar até 10 salários mínimos, enquanto tem-se 70% das famílias na faixa até 15 salários mínimos. Portanto, estes níveis salariais são bastante significativos em termos de consumo global. 260 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte As carnes de uma maneira geral são tratadas como um componente básico da dieta alimentar da população. Nas camadas de baixa renda o poder aquisitivo é o fator limitante ao consumo das mesmas. No entanto, nem todas as carnes apresentam a mesma característica de aumento de demanda em relação ao aumento da renda. Desta forma dividiu-se as diferentes carnes e mais ovos em três níveis com relação à elasticidaderenda da demanda: aquelas que têm maior reação, aqueles que tem menor reação e aquelas cuja demanda pouco se alteram. A Tabela 1 (faixas de consumo e renda), tenta dar esta configuração com base nas elasticidades. No quadro, observa-se que com base na elasticidade-renda de demanda para as carnes, peixes e ovos, a classe de renda mais baixa (até 5 Salários Mínimos) tem um consumo de carnes fortemente restrito pela renda para carne bovina de primeira e carne industrializada (embutidos, enlatados, etc). Isto pode ser observado por ser alta a elasticidade-renda da demanda para aqueles produtos, o que significa que o consumo dos mesmos cresce bastante com a elevação da renda daquela classe. Esta restrição é menor para a carne de segunda, ovos e frango, e praticamente nula para a carne de suíno e carne bovina de segunda. A observação deste tipo de comportamento é muito importante para estratégias de aumento de consumo para carnes: fica claro pelos dados apresentados que é muito difícil se esperar que o consumo de carne suína aumente apenas devido ao aumento da renda. Aumentos no consumo deste produto deverão estar ligados à melhoria na imagem do mesmo e a mudanças nas preferência do consumidor na direção deste produto. Com a carne bovina de primeira a questão é diferente, já que é um produto com demanda fortemente vinculada ao crescimento da renda. I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 261 Tabela 1: Faixas de Renda: baixa (ate 5 S.M.) Alta elasticidade Elasticidade Média Pouco Elástico -Carne Bovina de Primeira -Carne Industrializada -frango -ovos -Suínos -Carne Bovina de Segunda média (5 a 10 S.M.) alta (10 a 15 S.M.) --- --- -Carne Bovina de Primeira - Carne Industrializada --- - Ovos - Frango - Suínos -Carne Bovina de Segunda -Carne Bovina de Primeira - Carne Industrializada - Frango Na faixa de 5 a 10 salários mínimos, não se verifica uma restrição grande ao consumo para nenhum tipo de carne ou seja, nenhum tipo de carne possui demanda muito restrita por problemas de insuficiência de renda. De qualquer forma, carne bovina de primeira e carne industrializada são os produtos que apresentariam maior aumento de demanda com o aumento da renda destas famílias. No terceiro extrato de renda, ou seja, de 10 a 15 salários mínimos, o crescimento da renda não levaria a grande aumento no consumo de nenhum tipo de carne, indicando que as necessidades de consumo das mesmas já estão praticamente satisfeitas. As camadas de renda mais baixa são consumidores que somente não expandem seu universo de consumo pelo fator renda. Nestas camadas, as carnes cuja produção oferecem condições de reduzir seu custo e conseqüentemente o preço final do produto, levam uma vantagem grande. Exemplo disto é o da carne de frango, que teve uma considerável expansão no consumo "per-capita". A carne bovina de segunda é o concorrente mais próximo da carne de frango, mas a redução do preço dessa carne bovina tem problemas mais sérios, já analisados quando da descrição da oferta de animais. Na camada de baixa renda, a carne bovina de segunda aparece na posição de 262 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte "melhor opção de consumo" dentre as carnes vermelhas. As classes de renda média apresentam ainda alguma sensibilidade em relação à carne bovina de primeira e à carne industrializada. Principais Ineficiências: O processo de produção da carne apresenta um conjunto de pontos que poderiam ser aperfeiçoados com a finalidade de tornar o produto final melhor e com melhores condições de competir no mercado nacional e posteriormente no mercado externo. Na produção dos animais os pontos mais críticos estão ligados ao fato da atividade ser dispersa por praticamente todo o território nacional e não ter definido os sistemas de gerenciamento, ou seja, é uma atividade cujos custos de produção são deficientemente acompanhados, e dessa forma muitos produtores ineficientes ainda sobrevivem na atividade. O produto final fica comprometido pela falta de homogeinedade dos animais produzidos, abatem-se animais jovens e animais de mais idade, o resultado é carne de todo tipo de qualidade. O setor industrial, tem distribuição geográfica que não atende as necessidades e disponibilidades de animais, elevando os custos comerciais, como supervalorizando animais em determinadas regiões em relação a outras. Os gastos excessivos com frete de animais vivos também aumenta os custos da carne sem garantir melhores rendimentos das empresas. A falta de planejamento e identidade das empresas geram um mercado altamente instável e total falta de confiança entre os produtores e os frigoríficos, e entre eles e os agentes de distribuição. A estrutura tributária que força as empresas a trabalharem com sistema de contabilidade paralela pode ser tomado como símbolo da falta de transparência para o mercado. As empresas acabam sendo desorganizadas de forma proposital, para que assim escapem da fiscalização. Os constantes problemas de inadimplência do setor podem ser creditados principalmente a desorganização do setor que dessa maneira é baseado em empresas cujas características básicas são a falta de credibilidade. I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 263 O resultado da desorganização do setor é um produto final que não atende a regras básicas de atendimento de respeito do consumidor, primeiro é um produto sem marca, logo é um produto que não tem o menor compromisso com o consumidor. A maior ineficiência do setor está associada a falta de confiança que envolvem todas as relações comerciais do processo, o produtor vende seus animais pensando que será enganado quanto ao rendimento da carcaça e tem dúvidas com relação ao recebimento. Os frigoríficos compram arrobas de bois pensando em fazer a empresa funcionar e pouco se interessam pela qualidade dos animais. A preocupação é colocar a carne e depois receber, e o consumidor final, vai para o açougue pensando que vai comprar a carne, mas nunca tem certeza em relação a qualidade do produto. CONCLUSÕES O consumo de carne bovina no Brasil deve ter um crescimento contínuo e tem um mercado garantido. Isso deve ocorrer por dois motivos: o crescimento natural da população e outro pela aumento da renda média da população. No entanto, a concorrência com outros tipos de carne, mais especificamente a carne de frango deve acirrar a disputa pelo consumidor nos próximos anos. A estratégia do setor de aves tem sido de oferecer um produto cada vez mais barato e homogêneo, para as camadas de baixa renda e mais opções de produtos pré-elaborados para as camadas de alto poder aquisitivo. O produto final que o mercado brasileiro de carne exige é que seja de boa qualidade, padronizado e que tenha preços competitivos com outras carnes. Isso exige que o produtor do boi saiba quanto custa o seu produto. O setor de abate deve passar por um processo de reestruturação e profissionalização que permita adquirir credibilidade e ofereça um produto com marca e origem. Com a solução desses problemas o setor pode pensar em entrar para concorrer de maneira consistente no mercado externo. 264 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANUÁRIO ESTATÍSTICO DO IBGE. Rio de Janeiro, FIBGE, Brasil, n.1,1993. BARROS, G.S.C. Economia da Comercialização FEALQ, 1987. 306p. Agrícola. Piracicaba: BARROS, G. S. C. et alii, 1994. Relatório de Pesquisa: ïndice de Preços do Boi Gordo e do Bezzerro. CANTO, W.L. Estudos Econômicos - Alimentos Processados. Campinas. Brasil, 1986. LATTIMORE, R.G. An econometric study of the brazilian beff sector. W. Lafayette, 1974, 177p ( Ph.D. Prudue University) MARQUES, P.V.; AGUIAR, D.R.D. Comercialização de Produtos Agrícolas. São Paulo: EDUSP, 1993. (Coleção Campi, 13) MASCOLO, J.L. Um estudo econométrico da pecuária de corte na Brasil. Revista Brasileira de Economia, Rio de Janeiro, 33(1):65-105, jan/mar. 1979. MONTEMURRO, L.E.P. Fatores condicionantes do comportamento do setor pecuário no Uruguai, 1979. ( Mestrado - ESALQ/USP ). MULLER, C.C. O ciclo do gado e as tentativas governamentais de controle do preço da carne. Estudos Econômicos , 17(3):435-456, set/dez. 1987. PEIXOTO, A.M. et alii, 1993. Bovinocultura de Corte: Fundamentos da Exploração Racional. In : PEIXOTO, A.M.; MOURA, J.C.; FARIA, V.P. Bovinocultura de Corte . 2ed. Piracicaba: FEALQ, 1993. MERCADO FUTURO: BOI GORDO Sergio De Zen Mestre em Economia Aplicada , Pesquisador do CEPEA/ESALQ/USP Os anos noventa têm sido marcados por termos modernos na terminologia do mercado financeiro. Dentre essas novas terminologias o termo "derivativos" é um que ganhou muita importância, e virou símbolo de modernidade. Esse mercado nada mais é que um mercado que "deriva" de outro. No caso do mercado futuro de "commoditeis" agrícolas, o mercado futuro é uma forma de mercado que deriva do mercado físico. Neste caso específico vamos abordar o mercado futuro do boi gordo. O mercado futuro do boi gordo é um dos exemplos de mercado de derivativos. Os agentes desse mercado são os "hedgers" de compra, "hedgers" de venda e investidores. A figura de um "hedger" de compra pode ser representada por um frigorífico. Com a finalidade de facilitar a compreensão toma-se alguns exemplos de operações que podem ser colocadas em prática no mercado. Um exemplo de um hedger de compra pode ser um frigorífico que tem um contrato de exportação com os preços fixos em dólar por seis meses. Uma vez assumida essa posição, os riscos da empresa passam a ser as oscilações de preço do mercado físico de boi gordo, pois a empresa tem os preços de venda da carne fixos pelo contrato, mas o preço de aquisição dos animais varia de acordo com o mercado. O frigorífico pode defrontar-se com três situações: o mercado ficar estável, o mercado tem alta ou queda de preços. No primeiro caso o frigorífico não tem nenhuma vantagem ou prejuízo, mas é uma possibilidade pouco provável, pois a oferta de animais segue um ciclo sazonal de acordo com os meses do ano. Nos outros casos a operação está envolta em risco, pois caso o mercado tenha uma retração de preços os lucros dos frigoríficos serão maiores caso não tenha feito uma operação de fixação de preços, mas no caso dos preços se elevarem a empresa terá prejuízos. O conjunto formado por essas alternativas gera incertezas para a empresa e dessa forma fica difícil manter os contratos de longo prazo. Então, surgiu uma forma na qual a empresa pode fazer um seguro de sua rentabilidade. A empresa ao fazer o contrato de venda ao exterior 266 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte adquire contratos futuros. Isso significa que o frigorífico comprou contratos que lhe garantem o direito de receber as arrobas num período futuro pelo preço negociado hoje. Dessa forma essa empresa adquiriu um seguro contra as variações de preço. O vendedor da posição futura pode ser um produtor que tem animais para vender nos próximos meses e também precisa de segurança em relação as variações de preços nos meses seguintes. O produtor tem animais na engorda e faz cálculos para apurar os custos da arroba que está produzindo. Com as informações de custo e dos preços futuros ele pode fazer planejamento das suas atividades, ou seja, o produtor tem o custo da arroba e o valor da arroba nos meses seguintes. Se os preços futuros estiverem maiores que os custos, ele pode fazer a venda no mercado futuro e dessa forma garantir uma rentabilidade, caso contrário ele pode optar por reduzir sua produção ou mesmo repensar o seu sistema de produção, uma vez que está produzindo com um custo maior daquele que o mercado está disposto a pagar. Um outro grupo de pessoas envolvidas na negociação é o chamado grupo de especuladores, que nada mais são do que pessoas que têm capital e que não possuem boi ou interesse no mercado de carne, mas entram no mercado visualizando lucro com as oscilações de preço. Então, entram no mercado e assumem uma posição. Portanto, ao contrário do que muitas pessoas pensam o especulador é um investidor que aceita assumir os riscos das variações de preços com a expectativas de lucros futuros. O contrato futuro é comercializado em bolsa, onde, todos os dias, pessoas credenciadas fazem um espécie de leilão de contratos para entrega futura. No Brasil esse local é chamado de Bolsa de Mercadorias e de Futuros -BM&F - situa-se em São Paulo, é uma instituição sem fins lucrativos e é onde ficam sob custódia os títulos negociados e são feitos os acertos dos ajustes, ou seja, as contas de quem tem algo a receber ou a pagar. As pessoas credenciadas a operar nessa instituição são os corretores. O funcionamento desse mercado é relativamente simples, mas exige um controle grande, pois envolve somas consideráveis de dinheiro todos os dias. Os contratos possuem um mecanismo chamado de ajuste diário que tem por finalidade garantir a proteção dos I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 267 interesses das partes envolvidas. O mecanismo de ajuste funciona da seguinte forma: um produtor vende um contrato de boi no mercado futuro para o mês de outubro de um determinado ano por US$ 20,00 por arroba. No dia seguinte o valor desse contrato eleva-se para US$ 20,50, ou seja, o valor da arroba no mercado futuro valoriza US$ 0,50 então esse produtor tem que pagar US$ 0,50, pois ele fixou os preços da sua arroba em US$ 20,00. Surge a dúvida: o produtor perdeu esse dinheiro? No entanto, é preciso lembrar que como ele possuí as arrobas que ele vendeu no mercado futuro e que o mercado futuro é uma representação futura do mercado físico, o mesmo valor que ele pagou no mercado futuro ele ganhou no mercado físico. O mecanismo de ajuste diário existe para evitar que algumas das partes deixe de honrar os compromissos assumidos no mercado futuro. Na sequência as tabelas apresentam uma operação que um produtor de boi poderia fazer no ano de 1999. Na tabela 1, o produtor em junho entra no mercado futuro e vende 100 contratos, o equivalente a 2000 animais de 16,5@, por US$ 25,00 /@. Os custos de produção desse produtor é de US$ 21,00/@. Tabela 1. OPERAÇÃO PARA GARANTIA DE PREÇOS - MERCADO FUTURO Safra 1999 Produto boi gordo Contrato Libra-peso 330.00 mercado físico Jun/99 confina Out/99 venda mercado futuro contratos US$/@ US$ venda(out/99) 100 25.00 825,000.00 22.50 liquidação 100 22.50 742,500.00 No final do período, em outubro de 1998, o preço do mercado físico do boi sofreu retração e terminou em outubro cotado a US$ 22,50. Portanto, foi um ano excelente para os produtores que fizeram uma proteção de preços. 268 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte Na tabela 2 estão apresentados os custos que estão envolvidos na operação. Tabela 2. Custos da Operação - Mercado Futuro Taxa Operacional Básica Emolumentos Registro 0.30% 6.23% Total c/ comissão Margem (US$ 172,00/cont) Carta de crédito taxa de juros - anual Período em meses custos da margem US$/contrato 24.75 1.54 0.15 26.44 US$ 17,200.00 8.50% 4.00 474.14 Os principais custos estão nas corretagens e outras despesas operacionais representadas pela taxa operacional básica que é paga à corretora. A principal taxa cobrada é de 0,30% sobre o valor do contrato negociado. Além desses custos com a corretora, os custo de manutenção da bolsa são os emonumentos que é de 6,23% sobre a taxa operacional básica e mais US$ 0,15 por contrato. No exemplo, esses custo totalizam US$ 26,44 por contrato. Com a finalidade de assegurar o cumprimento dos compromissos assumidos, a bolsa exige que os participantes do mercado façam o depósito de uma valor em dinheiro ou em títulos de alta liquidez, que fica sob custódia da bolsa e rendem juros. No exemplo, ao invés de fazer o depósito, o produtor adquire uma carta de crédito num banco e faz o depósito. No mercado do boi a bolsa exige o depósito de US$ 172,00 por contrato, então o produtor precisa de uma carta de crédito de US$ 17.200,00. O custo dessa carta é de 8,5% ao ano. Como a operação tema duração de 4 meses o pagamento é feito sobre esse período. As despesas com carta de crédito totalizam US$ 474,14. I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 269 Na tabela 3 estão apresentados os resultados da operação no mercado futuro e do mercado físico. Tabela 3. Resultados da Operação - outubro/98 US$ Receitas no Mercado Futuro 82,500.00 Custos do mercado Futuro 2,644.19 Custos da Margem 474.14 Resultado no Mercado Futuro 79,381.66 Receita c/ o produto físico Resultado 742,500.00 821,881.66 US$/@ 24.91 As receitas com o mercado futuro são as somas dos ajustes diários do período, que no exemplo, como o valor da arroba de boi no mercado físico teve uma redução e o valor da liquidação do mercado futuro é o valor do mercado físico nos últimos cinco dias do mês de outubro, o saldo foi positivo e proporcionou um receita de US$ 82.500,00 para o produtor. Os custo da operação totalizaram US$ 3.118,14, portanto os resultados líquidos do mercado futuro foram de US$ 79.381,66. O produtor no mercado físico vendeu seus animais e fez US$ 742.500,00. A soma desses dois valores éUS$ 821.881,66. Com isso esse produtor vendeu seus animais por US$ 24,91/@. Tabela 4. Quadro Comparativo US$/@ Custo 21.00 Rentabilidade(c/ fut.) Rentabilidade(s/ fut.) 3.91 1.50 Rentabilidade(s/ fut.) Rentab. X Produção 49,500.00 128,881.66 270 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte No comparativo entre fazer ou não uma operação no mercado futuro está descrita na tabela 4. Considerando-se os custos de produção de US$ 21,00 por arroba, no caso do produtor não fazer a operação, ele teria uma rentabilidade de US$ 1,50 por arroba, enquanto no caso dele fazer a operação ele terá uma rentabilidade de US$ 3,91. Deve ficar claro ainda que a rentabilidade de US$ 3,91 já estava garantida antes do início da operação. Na outra possibilidade o produtor poderia apostar na alta, mas estaria claramente agindo de maneira especulativa. Desde trabalho é importante que três pontos fiquem claros. Primeiro deles é que o mercado futuro serve como forma de seguro de preços para os agentes envolvidos no mercado, portanto eles garantem que não devem sofrer perdas utilizando o mercado futuro. Segundo os preços futuro são formados pelas expectativas do mercado. Terceira de que os especuladores são bem vindos na medida que estão dispostos a pagar para assumirem riscos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS LEUTHOULD R. M., JUNKUS J.C. AND CORDIER J.E. The Theory and Pratice of Futures Markets. Lexington, Massachusetts. Lexington Books. 1989. GERENCIAMENTO INFORMATIZADO APLICADO À PECUÁRIA DE CORTE Aziz G. da Silva Jr. Professor Adjunto DER / UFV, Eng. Agrônomo, UFV; MSc Economia Rural, UFV, Dr. agr., Uni-Bonn. e-mail: [email protected] 1. RESUMO Pecuaristas são forçados a aumentarem a eficiência gerencial de suas propriedades, afim de adequarem-se às pressões do mercado consumidor. Neste contexto, sistemas de informações são imprescindíveis. Este artigo analisa a importância da informática na pecuária de corte, destacando a relevância em se considerar o interrelacionamente entre propriedades rurais e agroindústrias. Os problemas no mercado atual de informática na agricultura são analisados e um modelo que consideramos mais adequado, no qual zootecnistas desempenham papel essencial, é apresentado. 2. PECUÁRIA DE CORTE E O ENFOQUE DE AGRIBUSINESS O setor de carnes no Brasil modificou-se radicalmente nas últimas décadas. O desenvolvimento da avicultura de postura demonstrou o potencial de crescimento do setor e o impacto de inovações tecnológicas e gerenciais sobre a produção animal no país. A suinocultura tem evoluído na mesma direção. A pecuária bovina, apesar de ainda não incorporar tão rapidamente as novas tecnologias de produção e gestão, tem evoluído significativamente, com aumento da produtividade do rebanho e modernização de muitas empresas rurais. Estes avanços foram resultados de mudanças no mercado consumidor de alimentos e mudanças da própria economia. Diferentemente da situação das décadas de 50 e 60, aonde a demanda era maior que a oferta, a partir de meados dos anos 70, a situação se inverteu. As empresas podiam oferecer muito mais produtos do que o mercado poderia absorver, ou seja, a oferta é maior que a demanda. Com maior oferta e aumento da competição entre as empresas, as exigências dos consumidores tornaram- 272 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte se maiores. Esta tendência foi acompanhada de regras mais rígidas e maior fiscalização, principalmente nos países mais desenvolvidos. As agroindústrias foram forçadas a aumentar a eficiência produtiva e adequar-se à demanda, oferecendo produtos que atendessem aos desejos do mercado consumidor. Em relação a qualidade do produto, ficou evidente a importância da agricultura, pois a qualidade do produto industrializado depende, em última instância, da qualidade da matéria prima. A integração entre propriedades rurais e a indústria de transformação foi uma resposta à pressão em relação ao aumento da eficiência e controle da qualidade. Na avicultura e na suinocultura este processo avançou significativamente. A pecuária de corte é o segmento no setor de carne aonde a integração formal entre empresas rurais e agroindústria é menos avançada. Questões estruturais e históricas da produção neste setor dificultam esta integração. Entretanto, a importância do relacionamento mais eficiente entre os componentes deste complexo de produção pode ser comprovada pelos efeitos sentidos por todos os elementos da cadeia na questão, por exemplo, da febre aftosa. A impossibilidade de exportação em certas regiões penaliza desde os fabricantes de ração, passando pelos produtores chegando até aos setores de transporte e embalagem, ou seja, este problema que ocorre em propriedades rurais diminui a rentabilidade de praticamente toda a cadeia de produção. O aumento das exigências dos consumidores deve ser visto não só como mais um elemento que aumenta a complexidade da produção agrícola, mas também como oportunidade de negócios e conquista de mercados. O setor de carnes brasileiro está atento a estas alternativas. Recentemente, em uma feira internacional de produtos alimentícios na Alemanha (ANUGA) foram divulgadas informações de marketing relacionadas à carne verde (boi produzido a pasto). Esta iniciativa busca ocupar um segmento de mercado no qual os consumidores estão preocupados basicamente com a qualidade do produto e o processo de produção é mais importante, dispostos a pagar um adicional por isto. A preocupação com a eficiência de toda a cadeia de produção reforça a relevância do enfoque de agronegócio. Neste enfoque, as I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 273 interrelações entre os componentes de uma cadeia de produção assumem destaque na análise. No agronegócio, ou seja, a soma da produção de insumos, produção agrícola, transformação e distribuição ocorrem fluxos de materiais e o de informações. A importância do primeiro fica evidente quando utilizamos como exemplo uma grande integração. A empresa Sadia, S. A. por exemplo, conta com cerca de 12 mil fornecedores, ficando evidenciada a complexidade logística em adequar a entrega de matéria prima com a produção industrial. Mesmo abatedouros regionais, no caso da pecuária de corte, podem receber matéria prima de milhares de produtores rurais. A importância do fluxo de informações que ocorre no agronegócio pode parecer, a primeira vista, de menor importância, mas é exatamente a eficiência na troca de informações que permite alcançar níveis de eficiência adequados nos processos produtivos e de logística. 3. IMPORTÂNCIA DA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO A informação é o insumo básico para a administração de uma empresa rural. As funções de planejamento, implementação e controle só podem ser realizadas com eficiência se informações adequadas estiverem disponíveis no momento oportuno. O valor de uma informação pode ser medido pela diferença entre o resultado de uma decisão sem o resultado com a presença de informações. Na compra de um lote de novilhas, por exemplo, informações sobre a progênie do lote, demonstra, pelo menos conceitualmente, a relevância de informações. Entretanto, quantificar os benefícios de uma informação não é tarefa fácil. Uma quantidade imensa de informações, além de representar gastos com coleta e manipulação de dados, não garante a nenhuma empresas sucesso nas decisões. Informações corretas e no momento oportuno são imprescindíveis, porém não são por si só suficientes. O tomador de decisões deve ser capaz de interrelacionar estas informações e utilizá-las no contexto específico de cada decisão. Esta habilidade chama-se conhecimento e é obtida basicamente através de treinamento e experiência. Empresas modernas buscam administrar o conhecimento gerado na organização. Para tanto, devem ser implantados sistemas de informações 274 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte eficientes em conjunto com esforços de reestruturação e treinamento na empresa. O desenvolvimento da informática possibilitou a implementação de tecnologias avançadas a custo decrescentes. O armazenamento e a manipulação de dados são cada vez mais baratos. Atualmente, qualquer produtor rural de médio porte tem condições de armazenar e manipular uma quantidade de dados que há três décadas atrás somente grandes corporações com milhares de empregados tinham condições de realizar. Outra tecnologia que disponibiliza uma quantidade imensa de informações é a Internet. Através desta rede mundial de computadores, qualquer usuário pode obter informações sobre todos os assuntos e de todos os lugares do mundo, investindo pouco mais de US$ 1.000. Esta diminuição de custo levou a um erro conceitual importante. Imagina-se muitas vezes, que a disponibilização de informações garanta melhores decisões. 4. MERCADO BRASILEIRO DE INFORMÁTICA O mercado brasileiro de informática reflete em grande medida a abordagem que prioriza a disponbilização de um grande número de informações em detrimento da qualidade das informações e principalmente do relacionamento entre informações (conhecimento), ou seja, resolução de problemas nas propriedades rurais. Em relação à tecnologia de informação, a situação atual pode ser caracterizada pela alta demanda por sistemas de informações ao mesmo tempo que a adoção da informática é baixa e ineficiente. As causas para esta situação são: Œ desconhecimento dos benefícios da informática por parte dos beneficiários dos sistemas • benefícios esperados dos sistemas não obtidos Ž demandas por sistemas específicos não atendidas • difusão/comercialização de sistemas disponíveis é inadequada ou inexistente • falta de transparência no mercado de software I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 275 » deficiências de marketing, gerenciais e financeiras das empresas / empreendimentos de software A figura abaixo esquematiza o funcionamento atual do mercado brasileiro de informática. CLIENTES Œ•Ž• Software •» Software House Legenda: Œ desconhecimento da informática, • benefícios não obtidos, Ž demandas não atendidas, • falha difusão/comercialização, • falta de transparência mercado, » outras Existem diversos softwares para a agricultura e em especial para a pecuária de corte. Há esforços no sentido de disponibilizar informações sobre tais sistemas. O guia de software do núcleo softex de Juiz de Fora (Agrosoft) e o catálogo de software do Pólo Softex de Viçosa são alguns exemplos neste direção. Nos endereços www.agrosoft.br e www.ufv.br/softex informações sobre centenas de sistemas podem ser acessadas. Estes esforços somente poderão atingir o objetivo de disponibilizar instrumentos eficientes para produtores rurais se estiverem integrados a projetos de treinamento e divulgação da tecnologia da informação, de tal forma que profissionais que atuam no setor (zootecnistas, agrônomos e veterinários) possam participar ativamente desde o 276 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte desenvolvimento do sistema, passando pela seleção e escolha de sistema, até a manutenção e consultoria a partir dos resultados gerados. 5. ATUAÇÃO DO ZOOTECNISTA NA AGROINFORMÁTICA A baixa e ineficiente adoção da informática no meio rural pode ser minimizada com a implementação de um enfoque que consideramos adequado, ou seja, a informática, ou tecnologia da informação, não se restringe a um programa de computador. É necessário lembrar que a disponibilização de informações é essencial, porém não é suficiente para aumentar a eficiência do produtor rural e muito menos da cadeia de produção como um todo. O modelo ideal de funcionamento do mercado deve portanto, incluir consultores e especialistas que conheçam os problemas enfrentados pelo setor. Estes profissionais poderão preencher uma lacuna importante no mercado. Esta é uma oportunidade de atuação profissional de grande relevância para zootecnistas, os quais poderão agregar valor a seus serviços. As ações que deveriam ser desenvolvidas em conjunto por consultores, especialista e empresas de informática são: Œ divulgar benefícios da informática • estimular integração com consultores Ž viabilizar desenvolvimentos de sistemas específicos • apoiar difusão e comercialização de sistemas • divulgar informações sobre sistemas » viabilizar treinamento e captar recursos para empresas I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 277 Esquematicamente esta atuação pode ser apresentada como mostrado a seguir: CLIENTES Œ•• Consultoria + Informática Consultores • Software Especialistas » Informática sistemas específicos Software House Ž• Legenda: Œ desconhecimento da informática, • benefícios não obtidos, Ž demandas não atendidas, • falha difusão/comercialização, • falta de transparência mercado, » outras 6. CONCLUSÕES A tecnologia da informação é imprescindível no gerenciamento da pecuária de corte. Entretanto, a eficiência da adoção da informática está diretamente relacionada a existência de profissionais que capacitem os produtores rurais a utilizarem as informações processadas de forma eficiente. Tecnologia da informação na agricultura é muito mais que um programa de computador e só poderá se tornar um instrumento efetivo se zootecnistas e outros profissionais das ciências agrárias participarem ativamente do setor. 278 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte MAXIMIZAÇÃO DO USO DE TOUROS A CAMPO José Domingos Guimarães Departamento de Veterinária - Universidade Federal de Viçosa e-mail: [email protected] INTRODUÇÃO: Segundo Coulter et al. (1991) a reprodução é 10 vezes mais importante que o melhoramento e cinco vezes mais importante que a melhoria de carcaça. Certamente esta afirmação dos autores se deve ao fato de quanto maior a eficiência reprodutiva do rebanho, menor intervalo de parição e menores índices de mortalidade até os 505 dias de vida, melhores serão os resultados alcançados nas áreas de melhoramento e produção. Quando avaliamos a atividade pecuária Brasileira, esta preocupação aumenta em virtude da mesma ser predominantemente composta pela bovinocultura de corte, seguida da pecuária de leite. Sendo o segundo rebanho mundial com aproximadamente 150.276.778 de animais bovinos, sendo 80,9 % destinado a produção de carne (ANUALPEC, 1999). De acordo com o presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu, a utilização de biotecnologias tal como a inseminação artificial, encontra-se ainda em fase de expansão, e apenas 4,6 % do rebanho corte e leite são inseminados (ANUALPEC, 1999), sendo o restante servido por touros em regime de monta natural. Porém, há poucos rebanhos melhoradores destinados a produção de reprodutores, sendo capazes de produzir apenas 150.000 touros por ano, havendo um déficit anual de 1.350.000. Certamente, esta escassez somente será suprida a médio ou longo prazo. Portanto a maximização dos reprodutores deixa de ser um assunto de caracter inteiramente científico ou a pequeno grupo de empresas rurais e passa ser primordial sua adoção no manejo reprodutivo e produtivo como um todo. Contudo, se faz necessário a difusão dos conhecimentos dos fenômenos reprodutivos que acorrem do nascimento a senilidade desses animais, não de forma genérica, mas sim para cada região em 280 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte que os mesmos são criados, visto que o Brasil é um país extremamente extenso e bastante diversificado quanto a vegetação, clima e sistema de manejo. PUBERDADE E MATURIDADE SEXUAL Provavelmente entre os processos reprodutivos, o mais importante é a idade a puberdade, por tratar-se da fase em que todo o trato reprodutivo sofre uma transformação estrutural em função de iniciar-se a produção dos espermatozóides, como também os níveis gonadais e circulatórios de hormônios masculinos mostram-se compatíveis aos animais adultos. Da mesma forma, a idade à puberdade dos rebanhos nas diversas regiões do Brasil nos fornece noções conclusivas quanto a qualidade do manejo adotado para o rebanho. Há varias definições de puberdade na literatura mundial, onde a mesma é definida como a idade em que o animal apresenta níveis hormonais elevados de testosterona e inicio da produção gamética (Abdel-Raouf, 1960), desprendimento do freio peniano (Foote, 1969), primeiros espermatozóides no lúme do epitélio seminífero (Cardoso, 1977; França, 1987), primeiros espermatozóides nas caudas dos epididímos ( Igboeli & Ralha, 1971) e primeiros espermatozóides no ejaculado(Backer et al., 1955; Backer et al., 1988). Porém, a maioria dos estudos empregam a definição de Wolf et al. (1965), onde os autores definem a puberdade como sendo a idade em que o animal apresenta um ejaculado com 10 % de motilidade espermática e concentração espermática com no mínimo de 50 milhões de espermatozóides ( Lunstra et al., 1988, Freneau, 1991, Guimarães, 1993). Tal definição tornou-se a escolhida no manejo dos animais, em virtude de abranger todas as definições anteriores e ser facilmente obtida por meio de coleta e avaliação de sêmen. Diversos fatores de ambiente, tais como o manejo, nutrição, manejo sanitário, características climáticas, influenciam de forma marcante a idade à puberdade. Certamente, em condições de Brasil, o fator de maior impacto sobre a puberdade é a nutrição, onde os animais desde a desmama apresentam baixo índice de ganho de peso e desenvolvimento somático. Outro aspecto importante a ser considerado é grau de sangue dos animais que na maioria das vezes são animais I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 281 azebuados e a minoria são animais puros Bos taurus taurus ou Bos taurus indicus. Diversos estudos têm demonstrado idade muito avançada à puberdade nos animais zebuínos, estando em torno de 25 a 28 meses de idade, sendo esta muito elevada quando comparado aos taurinos (12 a 14 meses de idade), contudo, mesmo os taurinos nas condições tropicais, também apresentam-se tardios com relação as raças taurinas criadas nas condições de clima temperado (8 a 10 meses de idade). Deve-se ressaltar que em rebanhos zebuínos elite, onde os animais são criados em condições de manejo adequado, a idade à puberdade mostra-se muito próxima dos animais taurinos criados nas condições de trópicos, sendo relativamente comum a detecção da puberdade aos 10 meses de idade. A curto prazo, com programas de melhoramento, será possível alcançar idades precoces quanto a esta característica, onde diversos programas implantados no Brasil, trazem como um dos parâmetros reprodutivos avaliados a idade à puberdade. Guimarães (1991) observou idade a puberdade aos 12 meses de idade em animais da raça Gir, criados em regime semi-extensivo, idade esta semelhante aos registros de Castro (1989) em animais da raça Nelore, criados em regime de pastagem. Após a fase puberal, marcada mudança quantitativa e qualitativa ocorre no sentido de alcançar um platô, onde o potencial reprodutivo de um touro se faz presente. Observa-se neste período, o aumento do volume seminal, da motilidade espermática progressiva, do vigor, da concentração espermática total e do decréscimo das patologias espermáticas ( Almquist & Amann, 1962; Lunstra & Echternkamp, 1982; Garcia et al., 1987 e Freneau, 1991). Já a maturidade sexual , diferentemente do fenômeno apresentado nas fêmeas, ocorre em períodos diferentes da puberdade, normalmente ocorrendo 16 a 20 semanas após a puberdade (Lunstra & Echternkamp, 1982). Segundo Austin & Short (1991) a maturidade sexual é alcançada quando o crescimento gonadal e corporal, juntamente com níveis de testosterona e desenvolvimento sexual se estabiliza. Contudo de forma mais aplicada, a maioria dos estudos preconizam a maturidade sexual como a idade em que os animais apresentam-se com características seminais de no mínimo de 50 % de 282 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte motilidade espermática progressiva e morfologia espermática com no máximo de 10 % de defeitos espermáticos maiores e 20 % de defeitos espermáticos menores (Blomm, 1973; Lunstra & Echternkamp, 1982; Garcia et al., 1987 e Freneau, 1991). Em animais de origem taurina, a maturidade sexual é alcançada em torno de 13 a 16 meses de idade em condições de clima temperado, porém em condições de trópicos tal característica somente é atingida em torno de 16 aos 20 meses de idade. (Freneau, 1991). Já, em animais de origem indiana, os animais mostram extremamente tardios com relação a maturidade sexual, atingindo-a somente aos 30 a 36 meses de idade (Fonseca et al., 1976; Vale Filho et al., 1985). Tal como a puberdade, esta característica é altamente influenciada por fatores de ambiente, principalmente nutrição e condições climáticas, onde pode-se observar animais tanto precoce como também tardios com relação a esta característica, dependendo do manejo no qual os animais são submetidos. COMPORTAMENTO SEXUAL Como mencionado anteriormente, em apenas 4,6% do rebanho nacional, emprega-se a inseminação artificial, e o restante do rebanho, utiliza-se do manejo de monta natural. Neste contexto, os reprodutores são de fundamental importância na produção final do rebanho. Outro aspecto importante a ser considerado de acordo com Geymonat e Mendez, (1987), pelo fato de um touro acasalar em média com 25 fêmeas durante a estação de monta, o mesmo é responsável por mais de 80 % do melhoramento genético que se pode alcançar nas características produtivas do rebanho. O estudo comportamental em bovinos se baseia em dois parâmetros: a libido e a capacidade de serviço. Chenoweth (1997) os definiu a libido como a espontaneidade do macho em identificar, montar e efetuar a cópula com a fêmea e a capacidade de serviço como o número de montas completas (cópulas) que o reprodutor é capaz de realizar em um determinado tempo. Entre todas as características reprodutivas estudadas na bovinocultura de corte, provavelmente as características comportamentais são os que possui o menor número de trabalhos ( Pineda, 1995; Crudeli, 1990, Fonseca et al., 1997; Pineda et al., 1997), I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 283 e poderia-se aumentar consideravélmente os índices reprodutivos do rebanho, quando utilizar-mos a proporção touro/vaca correta. Ë consensual que a proporção atual de 1/25 touro/vaca, predominante no manejo, não demonstra nenhum desafio aos reprodutores, principalmente os de origem indiana são sub-utilizados, e que poderiamos aumentar sem nenhum esforço aos mesmo, para uma proporção de 1/40 touro/vacas, o que significaria uma economia aos produtores rurais na aquisição e reposição dos reprodutores do rebanho e custo por bezerro desmamado. Ressaltando que os estudos atuais (Galvani, 1998) apontam para proporções touro/vaca bem superiores. Segundo Hafez (1995) os animais de origem indiana possui menor libido que os animais taurinos, e entre os últimos, os de aptidão leiteira mostram-se mais ativos sexualmente do que os de aptidão de corte. Tais coclusões vão de encontro com as observações feitas pelos estudos realizados no Brasil, onde animais da raça Nelore demonstraram baixa libido em testes feitos em currais, tanto para a libido como para a capacidade de monta (Barbosa, 1987; Fonseca, 1989; Crudeli, 1991). Tais observações também foram feitas por Lunstra (1984) em animais da raça Brahman e Africander, e o autor preconiza a realização de provas sob condições mais naturais e de maior duração. Dentro deste contexto, há diversos estudos sendo realizados em provas de maior tempo ou feitas diretamente no campo, em condições naturais de manejo. Segundo Marcelo ( comunicação pessoal, 1999) quando o teste da libido é efetuado com tempo de 20 minutos, há um aumento superior a 30 % de animais aprovados no teste e Oliveira (comunicação pessoal, 1999) empregando teste em curral, porém com tempo de 3 horas de duração, verificou que a totalidade dos animais testados, efetuarão varias montas completas a partir de 58 minutos de prova. Certamente, diversos estudos devem serem conduzidos para determinar-se um tempo ótimo de teste, principalmente que venha a viabilizar estes testes, principalmente quando pensamos nos grandes rebanhos existentes no Brasil, que certamente, três horas de teste inviabilizaria qualquer tentativa de realização. 284 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte Atualmente o Colégio Brasileiro de Reprodução (Manual de andrologia, 1998), preconiza dois testes da libido, sendo um destinado aos animais de origem taurina e outro para os de origem indiana. O primeiro, segue os protocolos desenvolvidos por Osborne (1971), modificado por Chenoweth (1974) e o segundo foi desenvolvido por Pineda (1996), a partir de algumas modificações feitas no primeiro. Onde o segundo, se diferencia além das pontuações, no número de fêmeas, utilizando cinco fêmeas, onde somente duas se encontram no estro e apenas uma contida. Como pode ser observado nas tabelas abaixo, o protocolo para os animais zebuínos, embora seja um parâmetro que deve ser seguido, parece não ser definitivo, devendo serem realizados estudos para alcançarmos um protocolo que avaliam com maior margem de segurança, a capacidade de serviço ou a libido dos animais zebuínos. NOTA 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 ATITUDE Sem interesse sexual Interesse Sexual somente uma vez Interesse sexual mais de uma vez Ativa perseguisiçào pela fêmea, com persistente interesse sexual Uma monta ou tentativa de monta, sem cópula Duas montas ou tentativas, mas sem cópula Mais duas montas ou tentativas de monta, sem cópula Um serviço, seguido por nenhum interesse sexual Um serviço, Seguido de interesse sexual Dois serviços , seguidos por nenhum interesse sexual Dois serviços, seguidos por interesse sexual, incluindo montas, tentativas de montas ou serviço Fonte: Chenoweth (1974) I Simpósio de Produção de Gado de Corte NOTA 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 - 285 ATITUDE Sem interesse sexual Interesse de fêmea em cio (cheio) Cheiro e perseguisão insistente Tentativa de monta sem salto, com mugido, deslocamento ou masturbação Tentativa de monta sem salto, com pênis exposto Tentativa de monta com salto, sem pênis exposto Duas ou mais tentativas de monta com salto, sem pênis exposto Tentativa de monta com salto e pênis exposto Duas ou mais tentativas de monta com salto e pênis exposto Uma monta com serviço completo Duas ou mais montas com serviço completo Fonte: Pineda (1996) CIRCUNFERÊNCIA ESCROTAL A circunferência escrotal durante muitos anos, foi rejeitada como uma das características reprodutivas a serem selecionada em programa de seleção. Porém atualmente a mesma é altamente difundida, e seu emprego como um dos instrumento de seleção é adotado por grande maioria dos pecuaristas. Provavelmente em função de sua facilidade de obtenção e alta repetibilidade em suas mensurações (0,95) e não precisar de técnicos altamente qualificados para sua execução. O aspecto mais difundido entre a comunidade científica, é o fato da mesma apresentar alta correlação (0,67 a 0,94) com a idade a puberdade dos seus descendentes, tanto nas fêmeas como em machos (Rekwot et al., 1988; Smith et al., 1989). Embora correto, não devemos esquecer que quanto maior a circunferência escrotal, maior será a produção espermática e consequentemente maior o número de ejaculados fertéis o animal apresentará. De acordo com Halnes et al. (1969), um reprodutor de origem taurina efetua duas montas completas por fêmea em estro, já Freneau (1991) observou em média 0,67 montas completas e outros estudos não diferenciaram desses estudos, 286 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte apresentando uma amplitude de 0,6 a 3,2 montas por fêmea em estro ( ) e quando consideramos a capacidade de produção de quatro ejaculados diários pelo processo de espermatogênese, verifica-se que quanto maior a circunferência, maior a produção de ejaculados férteis. Dentro deste contexto, há uma preocupação muito grande na determinação de qual a circunferência ideal para cada fase de crescimento do animal e em que fase de desenvolvimento poderia-se selecionar por esta característica. Atualmente, O Colégio Brasileiro de Reprodução Animal, preconiza uma tabela desenvolvida por Fonseca et . (1989), destinados aos animais de origem indiana e uma outra desenvolvida pelo Sociedade de Theriogenologia (1976) para os animais de origem indiana. Para os reprodutores mestiços F1, oriundos de cruzamentos Bos taurus taurus x Bos taurus indicus, Guimarães (1997) recomenda a utilização do protocolo empregado para animais taurinos. Entretanto para animais mestiços com diversos graus de sangue (compostos) não há até o momento, nenhum protocolo a ser seguido, restando aos produtores seguir o bom senso e descartar os animais que estiverem muito a baixa da média do rebanho contemporâneo. RESERVA GONADICA E EXTRA GONADICA Este parâmetro, talvez um dos mais importantes entre as características reprodutivas do macho bovino, por refletir o potencial de cobertura com sucesso que o mesmo pode realizar durante determinado período ou estação de monta. Conhecendo a capacidade de reserva gonadica, pode-se estabelecer a relação touro/vaca, sem que haja diminuição da eficiência reprodutiva do rebanho. Através deste conhecimento, Hahn et al. (1969), determinaram a produção espermática por grama de parênquima testicular por ejaculado, dia e semana e Galloway (1989) determinou o número de ejaculados por dia, número de ejaculados por 21 dias e número de vacas cobertas com sucesso durante os 21 dias. Neste contexto, diversos estudos foram realizados em bovinos tanto os de origem taurina como os de origem indiana (Hahn et al., 1969; Galloway, 1989; Cardoso & Godinho, 1985; Berndtson & Igboeli, 1988; Palasz et al., 1994; Freneau, 1996). A reserva gonadica I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 287 e extra gonadica aumenta de forma acelerada da puberdade até a maturidade sexual, quanto então aumenta de forma gradativa até aproximadamente os seis anos de idade, quando então começa a diminuir em função de pequenas lesões que ocorrem normalmente nos túbulos seminíferos. De acordo com MacMillan & Hafez (1968) após a maturidade sexual, o aumento da reserva gonadica ocorre um função do aumento do peso testicular, sendo portanto diferente do processo antes da maturidade, no qual ocorre devido a melhoria no processo espermatogênico. Não diferente de todas as características reprodutivas, Igboeli & Rakha (1971) e Cardoso (1981) registraram valores bem inferiores de produção espermática total para animais de origem indiana quando comparada aos touros de origem taurina. Segundo ao último autor, se deve as menores mensurações apresentadas pela sub-espécie. Contudo, há uma tendência da produção por grama de parênquima testicular serem semelhantes entre as duas sub-espécies. Já os valores para os animais mestiços mostram próximos dos animais taurinos (Wildeus & Entwistle, 1983; Guimarães, 1997) Em animais taurinos a reserva espermática total encontra-se entre os valores de 2,83 a 5,26 x 109 células espermáticas por dia e nos animais de origem indiana os valores de 2,3 a 10,14 x 109 células espermáticas por dia e seus mestiços, concentrações espermática de 1,48 a 5,32 células espermáticas ( Amann & Almquist, 1962; Igboeli & Rakha, 1971; Tegegne et al., 1992; Berndtson & Igboeli, 1988 Freneau, 1996; Wildeus, 1993; Wildeus & Entwistle, 1982 e 1983; Guimarães, 1997. Certamente, as variações observadas deve-se as diferenças do peso testicular, observação esta corraborada pela alta correlação existente entre a produção espermática com o peso testicular. De acordo com a metodologia de Hahan et al. (1969) e Galoway (1989) o número de vacas cobertas em um ciclo de 21 dias de estação reprodutiva varia de 30 até 80 fêmeas, variando de acordo com a circunferência escrotal. Em animais mestiços F1, Guimarães (1997) registrou uma amplitude de 17 a 70 coberturas por ciclo. Diante dessas observações é sabido que a proporção touro/vaca tradicional de 1:25 é realmente muito baixa, onde os reprodutores são sub-utilizados. 288 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte VALORES ECONÔMICOS COM PROPORÇÃO TOURO X VACA Poucos estudos econômicos tem-se observado na literatura mundial, principalmente em condições de Brasil. Porém é unanimidade que os produtores rurais ganham sobre diversos aspectos, como por exemplo, a economia sobre o redução do número de touros a serem adquiridos na ocasião da reposição do rebanho na estação de monta; maior pressão de seleção dos reprodutores utilizados; maior número de fêmeas gestantes no inicio da estação e consequentemente maior número de partos no início da estação de parto; maior ganho de peso dos animais desmamados ou na ocasião da venda,em função do período do ano (Bergmann, 1993; Pineda, 1995; Pereira, 1996; Fonseca et al., 1997; Galvani, 1998). Adicionalmente, Barth (1997) preconiza que para cada ciclo estral não detectado ou perdido, há perdas de 22 a 27 kilos do peso final à desmama em bezerros de corte. Adicionalmente, Blockey et al. (1989), verificou maior taxa de concepção e consequentemente maior percentual de parto precoce ou no início da estação e melhores preços na ocasião da desmama, quando utilizou uma proporção touro/vaca de 1:40, alcançando desta forma ganhos adicionais de US$ 573,00 para cada 40 fêmeas ou US$ 14,32 por bezerro desmamado. Já Fonseca et al. (1997), empregando uma proporção touro/vaca de 1:60 em um rabanho de 6000 fêmeas, registraram uma redução de custo por bezerro desmamado de US$ 18,66. Da mesma forma, Galvani (1998) em uma simulação realizado a partir de dados obtidos a nível de campo, verificou um ganho por bezerro desmamado de US$ 51,37, correspondendo um ganho de 48,54 %. De acordo com Fonseca et al. (1995) quando se substitui a proporção touro/vaca tradicional de 1:25 para 1:40 ou 1:60, há uma redução no custo de produção por bezerro desmamado de 10,4 e 16,2 % repectivamente. Tais Observações foram corraborada posteriormente por Pineda (1996). Tais reduções ocorre em função do menor número de touros utilizados na estação de monta. Segundo Bergmann (1993), quando se emprega a proporção touro/vaca de 1:40; 1:60; 1:80 e 1:100, obtem-se respectivamente, uma redução de 37,5; 57,5; 67,5 e 75 % na aquisição de touros para a estação de monta. I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 289 Nestes estudos os autores tomam como base de cálculo, com pequenas modificações entre os mesmos, a seguinte fórmula: (rebanho base com 4000 fêmeas e proporção touro/vaca de 1:40) Ŷ = 100 x 2000 US$ + [(20 x 2000 US$ - 20 x 600 US$) x 5] Ŷ = US$ 340.000,00/ 5 anos Onde: Ŷ = 100 = número de touros necessários para 4000 vacas em reprodução na proporção de 1:40; 20 = número de touros descartados anualmente, obedecendo a uma taxa de reposição de 20 %; 2000 = custo de cada touro; 600 = valor da venda par abate dos touros descartados; 5 = período de cinco anos, quando todos os touros terão sido substituídos; sendo no tradicional (1:25) Ŷ = US$ 544.000,00 Então, teremos como diferencial de manejo o total de US$ 204.000,00 nos cinco anos de produção, o que equivale a US$ 40.800,00 anuais. Certamente, todos esses estudos nos leva a refletir o quanto os pecuaristas perdem economicamente em função de não adotarem um bom manejo dos reprodutores. Da mesma forma, os desafios imprimidos aos reprodutores aos estudos supracitados, nos indicam que ainda não se chegou a proporção touro/vaca ideal e que os estudos devem continuar. Entretanto, não deve-se esquecer que para qualquer aumento substancial neste números, cuidados especiais devem ser adotados no manejo do rebanho, tais como rodeios diários do rebanho 290 - I Simpósio de Produção de Gado de Corte para facilitar a detecção do estro pelos machos (principalmente para lotes de animais acima de 200 fêmeas, prática esta já realizada por fazendas de grandes rebanhos). CETIFICADO ANDROLÓGICO POR PONTOS – CAP O certificado andrológico por pontos, atribui uma pontuação baseada em três características reprodutivas, sendo a motilidade espermática progressiva (20 pontos), a morfologia espermática ( 40 pontos) e a circunferência escrotal ( 40 pontos), esta última de acordo com as idades dos reprodutores. Atualmente o CBRA, preconiza duas tabelas de pontuação, uma para animais de origem indiana segundo a tabela preconizada por Fonseca et al. (1989) e outra para animais da sub-espécie Bos taurus taurus , segundo os padrões indicados pela American Society for Theriogenology (1976). Estas avaliações permitem a classificação dos animais em quatro classes distintas, sendo: Excelentes, muito bons , bons e questionáveis. Contudo, quanto trata-se dos animais Bos taurus indicus, a pontuação do andrológico por pontos, tem demonstrado resultados poucos satisfatórios, onde os estudos não envidenciaram diferenças entre as classes de touros ( Neville et al., 1988; Crudeli et al., 1992; Costa e Silva et al., 1993), com exceção da classe de animais questionáveis. Entretanto, enquanto não se determina uma tabela de classificação, acreditamos que a tabela proposta, pode ajudar os técnicos e pecuaristas a adotarem uma conduta de manejo com os reprodutores, evitando grande prejuízos na eficiência do rebanho. IDADE IDEAL PARA INICIAR A VIDA REPRODUTIVA E A CONDUTA DE MANEJO DOS ANIMAIS A idade ideal para os touros iniciarem sua vida reprodutiva sempre foi um gargalo na reprodução, normalmente a maioria dos produtores rurais esperam que os animais atinjam quatro anos de idade, sendo esta muito tardia, mesmo em condições do manejo brasileiro, visto que na maioria dos trabalhos os animais alcançam a maturidade sexual entre os 30 e 36 meses de idade. Outro aspecto muito questionado, é se o processo da espermatogênese será suficiente para a produção de espermatozóides para fecundar as vacas em uma estação I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 291 de monta normal. Certamente não devemos esquecer que o processo espermatogênico é dinâmico e contínuo após a puberdade. Portanto, acreditamos ser suficiente para a produção espermática e garantir uma reserva extra gonádica para a produção de ejaculados normais. Portanto, pode-se aproveitar o potencial reprodutivo de touros a partir da maturidade sexual, porém, cuidados prévios devem ser adotados, tais como não utilizar animais jovens com fêmeas adultas e de estatura muito elevada com relação aos machos. Tais precauções evitam que os mesmos fiquem com medo das fêmeas principalmente pela dominância imposta por elas, onde muitas vezes os tourinhos apanham das fêmeas, que mesmo na ocasião do estro, não permitem a aproximação dos mesmos. Outro aspecto importante é não utilizar os tourinhos juntamente com machos adultos, onde a dominância é imediatamente imposta pelos adultos, fato este que poderá ocasionar conseqüências sérias no desempenho sexual futuro desses animais jovens. Devemos lembrar que a dominância é um dos fatores determinantes de baixa eficiência reprodutiva em rebanhos de corte numerosos. Com esta conduta de manejo, teria-se então pelo menos uma estação reprodutiva a mais durante a vida útil dos reprodutores, o que proporcionaria menor tempo para testar o potencial melhorador dos touros, como também o menor custo nos testes de progênie e principalmente maior produção. CONSIDERAÇÕES FINAIS A maior difusão dos conhecimentos fisiológicos e o real potencial reprodutivos dos bovinos, irá a curto prazo aumentar a produção do rebanho nacional. Certamente a proporção touro/vaca tradicional, com pequena exceção de algumas regiões do pantanal 1:10 ou 1:20, não desafiam dos machos bovinos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABDEL-RAOUF, M. The posnatal developmente of reproductive organs in bulls with special reference to puberty (Including growth of hypophysis and adrenals). Acta Endocr. 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