o Por Que Creio - Nuevo Tiempo Perú

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o Por Que Creio - Nuevo Tiempo Perú
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L E I N° 9.610, D E 19 D E F E V E R E IR O D E 1998.(Legislação de Direitos Autorais)
Art. 46. Não constitui ofensa aos direitos autorais:
I - a reprodução:
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POR QUE
CREIO
D o z e pesquisadores falam
sobre ciência e religião
Michelson*Borges
Direitos de publicação reservados à
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31edição
2* impressão: 2 mi! exemplares
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2013
Editoração: Neila D. Oliveira e Zinaldo A. Santos
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Revisão Técnica: Mareia O. Paula (Núcleo de Estudos das Origens)
Capa: Eduardo 01s2ewski
IMPRESSO NO BRASIL/ Printed in Brazil
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasilein do Livro, SP, Brasil)
Por que creio : doze pesquisadores falam sobre
ciência c religião / |entrevistados por]
Michelson Borges. - 2. ed. - Tatuí, SP: Casa
Publicadora Brasileira, 2010.
Bibliografia.
1. Criacioiiismo 2. Evolução - Aspectos
religiosos 3. Fé e razão 4. Religião e ciência
I. Borges, M ichelson. II. Título: Doze pesquisadores
falam sobre ciência e religião.
04-0439
____________________________________________ CDD-215
índices para catálogo sistemático:
1. Ciência e religião 215
2. Religiáo
e ciência 215
Todos os direiros reservados. Proibida a reprodução total
ou parc ial, por qualquer meio, sem prévia autorização
escrita do autor e da Editora.
Tiptlogu: Opttmt, U M - 7797/28 ) >> - ISBN 97S-85-345-0836-0
Dedicatória
Para minha esposa, Débora, e minhas filhas,
Ciovanna e Mareei la, presentes do Criador
Sumário
• Introdução..............................................
• Filosofia criacionista..............................
Ruy Carlos de Camargo Vieira
7
18
• Problemas do evolucionismo...............
Mareia Oliveira de Paula
42
• A arqueologia e a Bíb lia.......................
Paulo F. Bork
61
• A grande catástrofe................................
Nahor Neves de Souza Júnior
72
• O projetista cósmico.............................. 97
Urias Echterhoff Takatohi
• Uma fonte confiável...........................
Siegfried julio Schwantes
112
• Em defesa do criacionismo.................
120
Euler Pereira Bahia
• A obra do grande artista.....................
Queila de Souza Garcia
125
•Vestígios de D eus...............................
136
Rodrigo Pereira da Silva
• O milagre da vida............................... 147
Roberto César de Azevedo
• A origem das etn ia s........................... 162
Orlando Rubem Ritter
9 A caixa-preta de Darwin..................... 1 79
Michael j. Behe
9 Digitais do Criador............................. 190
Textos criacionistas de Micheison Borges
9 Conclusão - A terra dos planos............219
"Uma coisa é desejar ter a verdade
do nosso lado, outra é desejar sinceramente
estar do lado da verdade." Richard Wh ateiy
In tr o d u ç ã o »
De onde veio tudo isso?
" Houve no passado a tendência de pensar
que religião e ciência nâo poderiam coexistir, o
que é um fato totalmente errôneo." - Ronaldo
Rogério de Freitas Mourão, astrônomo (para a
revista Sinais dos TemposJ
Qual foi a última vez que você se deteve para
observar as estrelas, numa noite escura de céu lim­
po? Lembro-me de que, quando criança, frequen­
temente ficava fascinado ao contemplar a imensi­
dão da abóbada celeste. Os milhares de pontinhos
cintilantes sugeriam muitas interrogações à minha
mente infantil. Mas a pergunta que mais me intriga­
va era: "De onde veio tudo isso?" Sentia-me minús­
culo diante de tamanha grandiosidade, ao mesmo
tempo em que o pensamento de que Alguém devia
ter criado tudo aquilo me trazia conforto.
Por Que Creio •
O tempo passou e hoje já não disponho de
tanto tempo para contemplar o céu. Mas o pen­
samento de que o Criador do Universo cuida de
mim ainda me traz conforto nos bons e maus
momentos. É bom ver as digitais do Projetista
Cósmico em tudo o que olho. "Os céus decla­
ram a glória de Deus; o firmamento proclama a
obra das Suas mãos" (Salmo 19:1 NVl). As in­
contáveis galáxias com bilhões de estrelas, as
minúsculas moléculas - o macro e o micro proclamam que há um Deus que tudo mantém
e nos ama incondicionalmente. Mas há quem
duvide disso, adotando um modelo materialista
conhecido como teoria da evolução.
No entanto, uma analogia mostra que o mo­
delo evolucionista pode não ser a maneira mais
lógica de se explicar a origem da vida: vamos
supor que estejamos andando pelas dunas de
areia de uma praia, após uma rápida chuva. A
certa altura de nossa caminhada, deparamo-nos
com uma mensagem recentemente escrita sobre
a areia molhada: "No princípio, criou Deus os
céus e a terra" (Gênesis 1:1). Ninguém, em sã
consciência, diria que o surgimento de tai frase
sobre a areia foi obra do acaso. Entretanto, para
os evolucionistas, a incrível e complexa mensa­
gem química do código genético, por exemplo,
..— —----------►• ♦—
* Os átomos se combinam quimicamente para formaras moléculas.
O dióxido de carbono, por exemplo, é um gás cujas moléculas
têm um átomo de carbono e dois átomos de oxigênio. Uma
substância como essa, que consisto de mais de uma espécie de
átomos, é uni composto químico ou substancia química.
• Introdução
surgiu por acaso! As partículas de areia não con­
têm, em si mesmas, nenhuma mensagem. Mas
elas podem armazenar uma mensagem, quando
escrita sobre elas por alguém que tenha capa­
cidade intelectual para escrever. De semelhante
modo, os nucleotídeos do DNA não contêm, em
si mesmos, mensagem nenhuma. Mas eles são
o "alfabeto" que permite armazenar uma qua­
se infinitamente complexa mensagem química
que regula todos os processos vitais que acon­
tecem no organismo. A única conclusão lógica
possível é que essa mensagem, sob a forma de
código químico, foi escrita por uma Inteligência
Superior, exterior à matéria e transcendendo o
material.
O criacionismo - que defende a criação do
Universo por Deus - está além dos limites da
ciência natural e, por isso, muitas vezes é com­
pletamente rejeitado como não científico pelos
evolucionistas. No entanto, são esses mesmos
evolucionistas que, para sustentar seu pensa­
mento e filosofia materialistas, negam a própria
ciência, contradizendo o que está claramente
demonstrado como uma impossibilidade cien­
tífica - a saber, a origem do código sem um
codificador.
Portanto, quer olhemos através de uma lu­
neta ou de um microscópio, podemos ver as
digitais do Criador. Basta abrir bem os olhos e
perguntar - como fiz em meus tempos de crian­
ça: "D e onde veio tudo isso?"
Por Que Creio •
Ciência x ciência
Em livro recentemente publicado em por­
tuguês, o presidente da Federação Mundial de
Cientistas, Dr. Antonino Zichichi, faz afirma­
ções bastante corajosas e nada convencionais
no mundo científico. Segundo ele, há flagran­
tes mistificações no edifício cultural moderno
e que passam, muitas vezes, despercebidas do
público em geral. Eis alguns exemplos:
Faz-se com que todos creiam que ciência e fé
são inimigas. Que ciência e técnica são a mesma
coisa. Que o cientificismo nasceu no coração da
ciência. Que a lógica matemática descobriu tudo
e que, se a matemática não descobre o "Teorema
de Deus", é porque Deus não existe. Que a ciên­
cia descobriu tudo e que, se não descobre Deus,
é porque Deus não existe. Que não existem pro­
blemas de nenhum tipo na evolução biológica,
mas certezas científicas. Que somos filhos do
caos, sendo ele a última fronteira da ciência.
fóra Zichichi, a verdade é bem diferente. E a
maneira de se provar a incoerência das mistifi­
cações acima consiste em compreender exata­
mente o que é ciência.
Foi Galileu Galilei quem lançou as bases da
ciência experimental. A grandeza desse físico e
astrônomo italiano, para quem "o Universo é um
texto escrito em caracteres matemáticos", não
reside tanto em suas extraordinárias descober­
tas astronômicas, mas na busca de verificar se o
resultado de experiências era ou não contrário à
• Introdução ^
validade de determinadas leis. Rara Galileu, as
teorias* deveriam ser testadas e os experimentos
repetidos a fim de serem validados como teorias
consideradas verdadeiras. Graças a ele, pôde-se
fazer separação entre o imanente (o físico) e o
transcendente (metafísico). Como dizia um dos
pais da física moderna, Niels Bohr, resumindo
o pensamento galileano, "não existem teorias
bonitas e teorias feias. Existem apenas teorias
verdadeiras e teorias falsas".
Por isso, Zichichi afirma: "Nem a matemá­
tica nem a ciência podem descobrir Deus pelo
simples fato de que estas duas conquistas do
intelecto humano agem no imanente e jamais
poderiam chegar ao transcendente."**
Uma teoria como a da evolução das espécies,
com tantos "elos perdidos", desenvolvimentos
milagrosos (olho, cérebro, DNA, etc.), extinções
inexplicáveis e fenômenos irreprodutíveis, não
é ciência galileana. "Eis por que", diz Zichichi,
"a teoria que deseja colocar o homem na mes­
ma árvore genealógica dos símios está abaixo do
nível mais baixo de credibilidade científica. [...]
Se o homem do nosso tempo tivesse uma cultura
* * Em ciência, uma teoria é simplesmente uma afirmação geral que
se usa para tentar descrever ou explicar algo. fàra ser chamada
de teoria, a declaração deve ser apoiada por fortes evidências,
que, no entanto, ainda não constituem prova. (Hipótese é algo
semelhante a uma teoria, sem ainda nenhuma evidência real
encontrada para apoiá-la.)
** Antonino Zichichi, Por Que Acredito Naquele que Fez o Mundo,
p. 16 (Editora Objetiva).
o
Por Que Creio •
verdadeiramente moderna, deveria saber que a
teoria evolucionista não faz parte da ciência galileana. Faltam-lhe os dois pilares que permitiriam
a grande virada de 1600: a reprodução e o rigor.
Em suma, discutir a existência de Deus, com base
no que os evolucionístas descobriram até hoje,
não tem nada que ver com a ciência. Com o obs­
curantismo moderno, sim."*
Premissas
Em 1916, cientistas norte-americanos partici­
param de uma pesquisa sobre suas crenças reli­
giosas. A mesma pesquisa foi repetida em 1996.
Surpreendentemente, houve pouca mudança
nesses 80 anos. Em ambos os casos, cerca de
40% dos cientistas disseram acreditar em um
Deus pessoal, 45% disseram não acreditar nisso
e 15% não responderam.** É curioso observar que
em quase um século, com o tremendo avanço
da ciência, a crença (ou a falta dela) dos cientis­
tas tenha permanecido inalterada. Isso demons­
tra que, a despeito de alguns tentarem passar a
ideia de que a ciência provou a inexistência de
Deus, as coisas não são bem assim. Do contrá­
rio, não haveria sequer um cientista crente, pois
eles se pautam pelo método científico.
Esse tipo de pesquisa deixa claro que, por mais
que se queira ignorar a realidade, especialmente
' * * * /ò/d, p. 81 e 82.
** Ariel Roth, "Inteligent Design", Perspective Digest, v. 6, n° 3,
2001
.
• Introdução
no que diz respeito ao modelo da evolução, as
premissas e a filosofia de vida dos pesquisado­
res influem diretamente em suas pesquisas. Bom
exemplo é o do geólogo e pensador evolucionista
da Universidade de Harvard, Stephen Jay Gould.
Ele era marxista (faleceu em 2002) e é o autor da
teoria do equilíbrio pontuado, que é quase uma
transposição literal da ideia de revolução para o
mundo natural. Por isso mesmo, embora Gould
faça bastante sucesso como escritor, grande par­
te da comunidade científica rejeita suas ideias
"evolucionistas marxistas".
E a conclusão de José Luiz Goldfarb, presiden­
te da Sociedade Brasileira de História da Ciência,
é a de que "nenhum cientista entra no laboratório
sem uma visão de mundo mais complexa. O fato
de a ciência funcionar em bases experimentais
não significa que o cientista não tenha crenças
ou pressupostos sobre a realidade7'.*
Isso explica por que, entre os cientistas, há
crentes e ateus (como entre a população em
geral). Se a existência de Deus (ou Sua inexis­
tência) fosse algo demonstrável nos domínios
da ciência (galileana), só haveria um grupo de
cientistas: crentes ou descrentes.
"Frequentemente [...] o processo de descober­
ta científica está carregado de emoção. Quando
apresenta uma nova ideia, é provável que um
cientista esteja pisando nas teorias de outros. Os
que sustentam uma ideia mais antiga podem não
* Revista Época, 27IM /99.
Q
Por Que Creio •
a abandonar de bom grado. [...] É comum que
alguma questão sutil, ou não tão sutil, ligada a
crenças e valores, esteja subjacente ao debate.
[...] Os cientistas são suscetíveis de emoções hu­
manas, [...] são influenciados pelo orgulho, cobi­
ça, beligerância, ciúme e ambição, assim como
por sentimentos religiosos e nacionais; [...] eles
estão sujeitos às mesmas frustrações, cegueiras e
emoções triviais que o restante de nós; [...] eles
são, na verdade, completamente humanos/'*
Rara Zichichi, Deus transcende a lógica ma­
temática e a ciência. Por isso, " é inconcebível
que possa ser descoberto pela lógica matemática
ou pela ciência. A lógica matemática pode des­
cobrir tudo aquilo que faz parte da Matemática.
E a ciência, tudo o que faz parte da ciência. [...]
O ateu, na verdade, diz: "Por amor à lógica, não
posso aceitar a existência de Deus/ Mas o rigor
lógico não consegue demonstrar que Deus não
existe"/* Quando a "ciência" opta por excluir o
conceito de um Criador, deixa claro, com isso,
que não é uma busca aberta da verdade, como
tantas vezes parece querer ser.
O matemático austríaco Kurt Gõdel já havia
demonstrado que nenhum sistema de pensa­
mento, mesmo científico, pode ser legitimado
por qualquer coisa dentro do próprio sistema.
* Hal Hellman, Grandes Debates da Ciência (Ed. Unesp), p. 14,
16e 18.
** Antonino Zichichi, Porque Acredito Naquele que Fez o Mundo
(Ed, Objetiva), p. 159, 162.
Introduçõo ©
Faz-se necessário sair de dentro do sistema e
contemplá-io de uma perspectiva mais ampla e
diferente a fim de avaliá-lo, coisa que nenhum
ser humano pode fazer, já que faz parte, está
imerso nesse sistema. Assim, algumas perguntas
se impõem: Como se pode sair de um sistema
para uma estrutura de referência mais ampla
quando o próprio sistema se arroga abranger
toda a realidade? O que acontece quando atin­
gimos as margens do Universo? O que há além?
Se houvesse uma estrutura de referência mais
ampla a partir de onde julgá-lo (talvez Deus),
então o próprio sistema não seria todo abran­
gente, como o materialismo científico muitas
vezes alega.
Na verdade, tudo ficaria mais claro (e lógico)
se as pessoas admitissem, como fez Galileu, que
tanto a natureza quanto as Escrituras Sagradas
são obra do mesmo Autor e, embora utilizem
linguagem diferente (mas apontem para o amor
e o poder de Deus), não estão em contradição
para o observador atento. "Não sabemos o que
e quanto desconhecemos", escreveu o zoólogo
Dr. Ariel Roth. "A verdade precisa ser buscada,
e devia fazer sentido em todos os campos. De­
vido ao fato de ser tão ampla, a verdade abran­
ge toda a realidade; e nossos esforços para encontrá-la deveriam também ser amplos."*
A proposta deste livro é buscar respostas, sob
a ótica da ciência e da religião, para perguntas
* Ariel A. Rolh, Origens (Casa Publicadora Brasileira), p. 51.
Pof Que Creio •
fundamentais como: De onde viemos? Fàra onde
vamos? Por que estamos aqui? Ou, talvez, suscitar
ainda mais perguntas que nos façam perceber hu­
mildemente que, como seres finitos, ainda estamos
longe de compreender o Universo e seu Autor.
Respondendo ao desafio
Em agosto de 2001, a revista Galileu pu­
blicou um artigo intitulado "Criacionismo - a
religião contra-ataca". No fim do texto, clara­
mente preconceituoso, há uma entrevista com a
professora de história da ciência Vassiliki Betty
Smocovits. Ela faz sérias afirmações: "É irritante
ver esses 'especialistas autoproclamados' fazen­
do pronunciamentos sobre a estrutura e legiti­
midade da biologia evolutiva, quando eles não
têm absolutamente nenhuma credencial, treina­
mento ou reconhecimento na área. f...] Quanto
aos criacionistas modernos, eu acho que eles
apelam para um certo sentimento anti-intelectual populista. [...] Para eles, os evolucionistas
são um bando de dogmáticos, uma elite pedan­
te." Será mesmo essa a realidade? Não haverá
nenhum pesquisador autorizado no campo do
criacionismo? Este livro visa provar o contrário.
A fé em uma inteligência superior, um
Criador pessoal Todo-poderoso, é algo bas­
tante subjetivo; portanto, além dos domínios
do laboratório e da demonstração concreta.
Mas nem por isso incompatível com a ciência
experimental.
• Introduçõo ^
"A ciência sem a religião é manca; a religião
sem a ciência é cega", disse Albert Einstein. E
para demonstrar que é possível conciliar a fé
em Deus com a pesquisa científica, este livro
traz doze entrevistas com pesquisadores sérios,
nas áreas de Biologia, Engenharia, Bioquímica,
Arqueologia, Física, Geologia, Teologia e Mate­
mática - todos falando da razão que têm para
acreditar no Criador do Universo. Com exceção
do bioquímico Michael Behe, que é norte-ame­
ricano e não é criacionista, os demais são brasi­
leiros e criacionistas.
Tenho o prazer de apresentá-los a você. Boa
leitura!
Michelson Borges
[www.criacionismo.com.hr]
• F ilo so fia
? CRIACIONISTA
R u y Carlos d e Cam argo Vieira
Adentramos um novo milênio mas a discus­
são em torno da ciência e da religião mostra-se
longe de chegar ao fim. Vários livros abordando
o assunto da origem da vida e do Universo têm
sido publicados. Mais e mais pessoas têm-se
conscientizado a respeito da com plexidade
inegável do micro e do macrocosmo. Desde
o m icroscópico átomo às gigantescas galáxias,
um enorme campo de pesquisa se abre tanto a
cientistas como a teólogos.
Um desses pesquisadores apaixonado pelo
assunto é o Dr. Ruy Carlos de Camargo Vieira.
Ele nasceu em 1930, é natural de São Carlos, SP,
e é engenheiro mecânico e eletricista, formado
pela Escola Politécnica da Universidade de São
Paulo. Dedicou-se à carreira docente, lecionando
Mecânica dos Fluidos, de 54 a 56, no ITA (Instituto
Tecnológico de Aeronáutica). Em julho de 1956,
passou a lecionar Física Técnica (nome italiano dado
Filosofia criacionista
<3cadeira de Mecânica dos Fluidos, Transmissão de
Calor e Aplicações Tecnológicas) na Universidade
de São Paulo (U SP), Campus de São Carlos, onde
fez a livre docência e se tornou catedrático.
Em 1970, assumiu a chefia do departamento
de Hidráulica e Saneamento naquela universi­
dade, fundando a pós-graduação que é conside­
rada a melhor da área no Brasil. Foi convidado,
em 1972, a integrar a Comissão de Especialistas
do Ensino de Engenharia do Ministério da
Educação e Cultura, responsável pelas escolas
de engenharia, currículos, formação de profes­
sores, reconhecimento de cursos, etc.
Segundo o Dr. Ruy Vieira, após a aposenta­
doria (em 1986) é que ele começou a trabalhar
"de verdade". Atualmente representa o MEC
no Conselho da Agência Espacial Brasileira,
participando de suas reuniões periódicas e
empreendendo viagens por locais em que se
desenvolvem atividades espaciais.
De três em três meses participa, também,
de reuniões na Sociedade Bíblica do Brasil, da
qual é diretor-tesoureiro.
Além dessas ocupações, durante meio período,
o Dr. Ruy atua como consultor do PNUDE (Plano
das Nações Unidas para o Desenvolvimento) junto
à Secretaria de Educação Tecnológica do MEC.
No outro meio período, dedica-se a traduções
de livros e edita a Revista Criacionista (ex-Folha
Criacionistaj, publicação da Sociedade Criacionista
Brasileira (www.scb.org.br), da qual é presidente.
Por Que Creio •
Quais são as principais diferenças entre os
modelos criacionista e evolucionista?
O criacionismo parte do pressuposto de pla­
nejamento, desígnio e propósito no Universo.
Ao passo que o evolucionismo parte de um
princípio inteiramente oposto: o acaso. Segun­
do o evolucionismo, portanto, não há planeja­
mento na natureza, as coisas acontecem casual­
mente, aleatoriamente. Fundamentalmente, os
modelos criacionista e evolucionista são duas
posições filosóficas e não científicas, que têm a
ver com pressupostos a respeito do Universo no
qual estamos inseridos.
O que é um modelo ou teoria?
No estudo do Universo, há a necessidade de
uma certa sistematização. Daí surge uma metodo­
logia para esse estudo e são feitas hipóteses. Existem
certas teses pré-concebidas e as hipóteses, muitas
vezes, são feitas para auxiliar a defesa dessas teses.
E é aí que começa toda a estruturação da filosofia
da ciência, pois para se trabalhar com ciência, há
necessidade de certos parâmetros e a investigação
do Universo se dá dentro desses parâmetros.
Modelo é sempre algo estruturado mentalmen­
te para tentar reproduzir da maneira mais aproxi­
mada possível a "realidade" {que no campo da fi­
losofia é inatingível, pois nem tudo é mensurável).
O que acontece é que muitas hipóteses acabam
sendo assimiladas e divulgadas como verdades
absolutas, "científicas", quando, de fato, não são.
• Filosofia criacioflisfa ^
A primeira distinção que deve ser feita é entre a
filosofia da ciência e a ciência propriamente dita.
Um bom exemplo é o desenvolvimento da civiliza­
ção em torno de 4.000 a.C. Não hã absolutamente
registros de nenhuma natureza que nos permitam
tirar conclusões "científicas" a respeito desse de­
senvolvimento; só podemos criar hipóteses, que
permanecem no campo das conjecturas. Por outro
lado, quando podemos mensurar as três grandezas
fundamentais (comprimento, tempo e massa), e as
demais grandezas delas derivadas, podemos ter
um conhecimento experimental das coisas: isso é
ciência na mais pura acepção da palavra. A partir
disso, devem-se utilizar hipóteses e construir mode­
los que devem então ser testados para verificar sua
adequação ou não, permitindo, depois, a teorização
daquilo que está sendo estudado.
É possível harmonizar fé e ciência ?
Essa pergunta constitui um aspecto específico
do caso mais geral que tem que ver com a cres­
cente influência da ciência e da tecnologia mo­
dernas na vida diária em nossos dias, que, em seu
extremo, leva à alegação de que o cristianismo em
geral e a Bíblia em particular estão superados em
face de numerosas "comprovações científicas" que
desautorizam a crença nos seus ensinos básicos.
Nesse sentido, diversos questionamentos são
feitos usualmente, como os seguintes:
(1) Pode um cristão hoje ainda ser cientista? Pode
um cientista ser hoje ainda um cristão?
Por Que Creio •
(2) A ciência moderna já não demoliu a base da
fé cristã?
(3) A fidelidade ao cristianismo exige que sejam re­
jeitadas todas as teorias da ciência moderna?
(4) Devemos viver considerando a ciência e a
fé cristã como coisas inteiramente separadas
entre si?
(5) Teria a ciência comprovado a fé cristã, como
alguns cristãos alegam?
(6) O que dizer dos que afirmam que o desen­
volvimento científico atual exige que se in­
ventem uma nova ciência e uma nova teolo­
gia mais adequadas para o novo milênio?
Questões como essas podem ser respondidas
de forma satisfatória tanto para a autêntica fé
cristã como para a ciência autêntica, desde que
sejam levadas em conta as perspectivas corretas.
Por isso, deve-se evitar a falsa dicotomia entre fé
e razão. De fato, fé e razão constituem aspectos
essenciais de todas as atividades humanas, aí in­
cluídas tanto a ciência como a teologia cristã.
Ambas fazem suposições (fé) e, a partir delas,
tiram conclusões (razão). A fé em ser o Universo
algo racionalmente compreensível constitui uma
hipótese da ciência. A fé nessa hipótese não so­
mente motiva os cientistas a pesquisar, mas re­
almente torna a pesquisa possível e eficaz. Essa
mesma fé pode constituir uma conclusão razoá­
vel proveniente do ensino bíblico a respeito de
o Universo ter sido criado por um Deus racio­
nal. Assim, ciência e fé não são conceitos que
Filosofia criacionista
se contrapõem. Blaise Pascal, filósofo naturalista
cristão, afirmava que a ciência é a atividade de
"acompanhar os pensamentos de Deus".
Há vantagens na combinação entre a fé que provém das Escrituras
e a ciência. Qualquer delas sozinha pode conceder-nos informa­
ções valiosas, como ilustrado nas extremidades da esquerda e da
direita do diagrama acima. As riquezas de interpretação resultam
quando ambas - ciência e Bíblia - se combinam, como ilustrado
na porção central
É possível ser evolucionista e crer na Palavra
de Deus ao mesmo tempo ?
Não. Evolucionismo e Bíblia não se har­
monizam, pois a Bíblia é essencialmente cria­
cionista. Qualquer tentativa de se harmonizar
a evolução com a Palavra de Deus leva a difi­
culdades que se somam: as dificuldades que o
criacionismo tem com as dificuldades próprias
do evolucionismo. É muito pior querer fazer
um híbrido. No entanto, tanto o híbrido quanto
qualquer dos dois extremos são aceitos pela fé.
Não há como se "comprovar" cientificamente
qualquer um dos modelos, porque são filoso­
fias. Não são ciência.
Q
Por Que Creio •
Mencione algumas incoerências que sur­
gem ao se tentar hibridizar o evolucionismo
com a Bíblia.
Essa "hibridização" do evolucionismo com
a Bíblia, pensam alguns (às vezes designados
como "concordistas"), seria possível na tentati­
va de conciliar a teoria evolucionista com a fé
em um Deus Criador. Rara esses concordistas, a
matéria criada por Deus teria a faculdade ine­
rente de evoluir, pois Deus a teria criado para e
pela evolução.
Pelo menos os seguintes pontos fundamentais
podem ser destacados nessa tentativa concordista, quanto ao aspecto de incoerência resultante:
No âmbito científico, já que a tese transfor­
mista não apresenta o caráter de "quase certe­
za" que se deseja atribuir a ela, seria temerário
comprometer a fé, de qualquer modo, com um
terreno tão inseguro.
No âmbito religioso existe, na realidade,
uma incompatibilidade evidente, pois os textos
bíblicos sobre a Criação ensinam exatamente o
contrário da noção básica do transformismo. A
tentativa concordista exige a interpretação dos
primeiros onze capítulos do livro de Gênesis
como relatos simbólicos ou folclóricos, des­
caracterizando o significado histórico e literal
das raízes fundamentais do cristianismo - uma
Criação perfeita, uma queda subsequente e um
plano para a salvação do ser humano, centrado
na morte substitutiva de Cristo. A aceitação da
• Filosofia criacionista
posição concordista (como de qualquer outra
posição baseada na concepção evolucionista)
lança por terra a figura de Cristo como Salvador
e Sua atuação como Redentor.
Além disso, a concepção fundamental da te­
oria da evolução é a atuação do acaso, ao longo
de extensos períodos de tempo, com a exclusão,
a priori, das causas supra naturais (planejamento,
desígnio, etc.) na origem e no desenvolvimento
da vida. Envolve também a inclusão de proces­
sos sucessivos de tentativa e erro, incompatíveis
com o poder, sabedoria e bondade de um Cria­
dor revelado na Bíblia como um Deus de amor.
Com relação a este assunto, recomendamos a
leitura do livro Em Busca das Origens: Evolução
ou Criação, traduzido pela Sociedade Criacio­
nista Brasileira. Ele trata, entre outras coisas, das
dificuldades da visão de mundo evolucionista,
como também da impossibilidade de harmoni­
zação das duas visões extremas: evolucionista
e criacionista.
A Bíblia fala sobre ciência?
A palavra ciência em nossa língua provém do
latim scientia, que tem o sentido de "conheci­
mento", e "habilidade" ou "capacidade". Essa
palavra em latim é derivada de sc/o (do verbo
scire), que originalmente significava "decidir", e
que no decorrer do tempo tomou a acepção de
"saber". Podemos ver aí interessante paralelismo
com o texto bíblico de Gênesis 2, versos 9 e 17,
Por Que Creio •
onde a árvore do conhecimento (ou ciência) do
bem e do mal está intimamente relacionada com
a capacidade de decisão ou o livre-arbítrio.
Evidentemente os termos usados nos origi­
nais hebraico e grego da Bíblia com o sentido
de "ciência", "conhecimento", nem sempre são
traduzidos pela mesma palavra em português,
pois existe liberdade para os tradutores escolhe­
rem os sinônimos que preferirem, logicamente
sem prejuízo do sentido do texto original. Exem­
plo dessa liberdade é exatamente aquele que já
mencionei - com relação à árvore da ciência
(ou do conhecimento) do bem e do mal.
Se escolhermos a tradução da Bíblia em por­
tuguês feita por João Ferreira de Almeida, co­
nhecida como Edição Revista e Atualizada no
Brasil, e pesquisarmos a palavra ciência, encon­
traremos 12 passagens no Antigo Testamento,
e seis no Novo Testamento, nas quais aparece
a palavra ciência no singular ou no plural. No
plural são quatro as passagens, todas no livro de
Êxodo, referindo-se sempre às "ciências ocul­
tas" dos magos do Egito, expressão esta traduzi­
da em outras edições da Bíblia como "encanta­
mentos", "artes secretas", ou "artes mágicas".
No singular, são traduzidas por "ciência"
palavras que em outras traduções têm o sen­
tido de "conhecimento" e "sabedoria", desta­
cando-se particularmente em seis passagens do
Novo Testamento a tradução da palavra grega
gnosis (ou de palavra cognata) como "ciência",
Filosofia criacionista Q
no sentido de ''conhecimento". Nas traduções
mais usuais em língua inglesa, a tradução de
gnosis é knowledge (palavra derivada do verbo
to know - "conhecer" - também proveniente da
mesma raiz de gnosis). Diga-se, de passagem,
que "conhecimento" e "conhecer" são palavras
portuguesas também derivadas do grego gnosis,
através da raiz latina gnos, que se encontra por
exemplo no verbo gnosco, "conhecer".
A palavra "ciência", com esse sentido de
"conhecimento" e "sabedoria", encontra-se em
quatro passagens do Antigo Testamento, além
das seis passagens específicas do Novo Testa­
mento, sendo traduzida usualmente na língua
inglesa por knowledge, e também por wisdom.
Além dessas passagens, mais outras três asso­
ciam à ciência outros atributos, como sabedo­
ria, destreza e entendimento.
Resta uma passagem, no Antigo Testamento,
onde "ciência" vem associada mais diretamen­
te ao conceito moderno de ciência aplicada.
Essa passagem se encontra no primeiro livro de
Reis, capítulo 7, verso 14. Ali, fala-se de Hirão,
artífice famoso que colaborou na construção
dos palácios de Salomão, e do Templo de Jeru­
salém, e é dito que ele "era cheio de sabedoria
(wisdom, em inglês), e de entendimento, e de
ciência para fazer toda obra de bronze".
Observa-se, portanto, que na Bíblia "ciência"
tem um sentido peculiar (como se pode inferir das
passagens que mencionei), nada tendo que ver
©
Por Que Creio •
com o conceito atualmente associado à palavra
em seu sentido mais usual. Na realidade, o próprio
conceito moderno de "ciência" passou a corres­
ponder a uma acepção que aos poucos foi sendo
formada no âmbito dos círculos eruditos, chegan­
do a caracterizar algo que apresenta um conteúdo
inquestionável, uma verdade absoluta acessível
somente aos iniciados, correspondendo à única
visão de mundo aceitável da "filosofia natural".
Mas é bom deixar claro que, onde a Bíblia
fala sobre ciência (mesmo de acordo com a
compreensão moderna da palavra), ela é exata.
Os chamadospais da ciência moderna - Newton,
Galileu, Kepler e outros - eram cristãos. isso não
sugere que é perfeitamente possível conciliar a
religião bíblica com a pesquisa científica?
De fato, uma das grandes falácias propagadas
pela doutrinação evolucionista é que o cristianis­
mo bíblico está em conflito com a ciência, e que
portanto os cientistas não podem crer no que diz
a Bíblia. Os evolucionistas fazem isso utilizando
os meios de comunicação e principalmente livrostextos em todos os níveis escolares. Entretanto, mi­
lhares de grandes cientistas do passado e do pre­
sente foram e são cristãos que adotaram e adotam
a Bíblia como revelação inspirada por Deus, per­
feitamente compatível com um Universo criado
pelo próprio Deus e regido por leis estabelecidas
por Ele mesmo, para dar estabilidade aos sistemas
daquilo que chamamos de "natureza".
• Filosofia criocionista
©
No contexto de sua pergunta, seria interes­
sante considerarmos algo mais a respeito tanto
dos chamados "pais" da ciência moderna quan­
to dos que hoje dedicam a vida à pesquisa cien­
tífica, por isso chamados "cientistas" no senso
estrito da palavra.
Assim, pode-se dizer que, de maneira geral,
o surgimento da ciência moderna está associado
ao período da Renascença, embora suas raízes
se aprofundem até a Antiguidade Clássica. De
maneira mais específica, o início do que se pode
chamar de "revolução científica" ocorreu a partir
do movimento da Reforma Protestante, embora
também anteriormente possam ser citados no
seio da comunidade católica numerosos grandes
cientistas. Mesmo que nesse alvorecer da ciência
moderna houvesse um amplo espectro de opi­
niões teológicas e de interpretações da Bíblia, algo
era comum a esses cientistas nos seus esforços
para a organização das bases da ciência que en­
tão estavam lançando: ao procurarem explicação
para os fenômenos observados na natureza, eram
conduzidos pela firme convicção na existência
de um Deus Criador, e também na necessidade
absoluta de existir um planejamento inteligente
com leis coerentes que poderiam ser inferidas me­
diante metodologias de pesquisa adequadas. Este é
o testemunho da história da ciência, embora nem
* Nota do entrevistador: Movimento artístico e científico dos
séculos XV e XVI, que pretendia ser um retorno à Antiguidade
Clássica.
Por Que Creio •
sempre seja devidamente destacado pelos meios
de comunicação e pelos livros-textos escolares.
Por outro lado, atualmente há entre os cientistas
cada vez mais pessoas que passaram pelos cami­
nhos árduos de estudo e aprendizagem, subme­
tendo-se ao crivo da crítica de seus colegas mais
experientes, até chegarem a ser reconhecidos como
membros da "comunidade científica". Devido à for­
te ênfase dada no campo da ciência ao empirismo,*
à lógica e ao rigor matemático, não surpreende que
geralmente os cientistas também demonstrem em
suas atitudes e comportamento pessoais caracte­
rísticas correspondentes a essa ênfase. Entretanto,
a imagem que se faz do cientista como pessoa des­
provida de fé, em função dessas características, não
corresponde à realidade, pois não obstante sua for­
mação e suas realizações e contribuições no campo
da ciência, eles são pessoas comuns como quais­
quer outras, com suas necessidades emocionais e
espirituais, não havendo nenhuma razão pela qual
devam se sentir impedidas de exercer fé religiosa
como qualquer outra pessoa. O próprio trabalho do
cientista parte de pressuposições que ele procura
comprovar mediante a utilização do método cien­
tífico, processo este que é absolutamente idêntico
ao processo do desenvolvimento da fé no plano
espiritual. Por esse motivo, também hoje nada há
que se oponha à firme convicção dos cientistas na
existência de um Deus Criador e na necessidade
* N.E.: Empirismo é a crença de que o conhecimento é derivado
da experiência dos sentidos.
• Filosofia criacionista ©
absoluta de um planejamento inteligente, como
"pano de fundo" para a condução de suas pesqui­
sas na procura de explicação para os fenômenos
observados na natureza, apesar dos enganos pro­
pagados pela doutrinação evolucionista. Trata-se,
na realidade, apenas de escolha entre um ou outro
pano de fundo, ou na linguagem mais erudita da
filosofia da ciência, entre duas estruturas conceitu­
ais igualmente válidas para a pesquisa da natureza.
Sendo a ciência uma invenção humana, não é
pretensão querer mensurar ou descobrir o abso­
luto (Deus) com algo humano e, portanto, finito?
Realmente. Tanto na ciência como na teolo­
gia, penso que deve haver uma dose maior de
humildade por parte de todas as pessoas que se
envolvem na discussão a respeito da origem de
todas as coisas.
O sucesso da ciência experimental não es­
taria fazendo com que as questões que dizem
respeito à ciência histórica acabem sendo acei­
tas sem questionamento?
Creio que, inicialmente, seja oportuno expli­
citar os conceitos de "ciência experimental" e
"ciência histórica". Quanto a essas definições,
permito-me fazer referência à conceituação,
talvez mais apropriada, de "ciência teórica" e
"ciência histórica" que se encontra no livro pu­
blicado pela Sociedade Criacionista Brasileira,
intitulado Evolução - Um Livro-Texto Crítico.
Por Que Creio •
Em síntese, a "ciência experimental" parado­
xalmente é a "ciência teórica", isto é, o proces­
so pelo qual se pesquisa experimentalmente se
as previsões deduzidas a partir de uma teoria
previamente estabelecida efetivamente corres­
pondem à realidade. Se essa comprovação não
ocorrer, a teoria deverá ser modificada ou rejei­
tada. Conforme afirmou Einstein: ''Apenas uma
teoria pode nos dizer quais experimentos são
de interesse."
Quando se procura esclarecer a história dos
seres vivos atuais a partir de observações dire­
tas ou de análises experimentais, esbarra-se em
uma dificuldade intransponível, pois informa­
ções a esse respeito só poderiam ser fornecidas
por documentos históricos que são as testemu­
nhas e os vestígios imediatos ou indiretos do
passado. Assim, a pesquisa da origem da vida e
das espécies tem que ser considerada primor­
dialmente como ciência histórica.
Neste caso, como também na ciência teóri­
ca, somente é possível dizer que uma teoria não
está em contradição com os dados, mas nun­
ca que ela pode ser provada irrevogável mente
como verdadeira.
* * N.E.: Espécie é a unidade básica da classificação biológica.
Os membros de uma espécie guardam semelhanças entre si,
e geralmente podem se cruzar somente com outros membros
da mesma espécie. Os biólogos utilizam o seguinte sistema
hierárquico (cada categoria 6 uma subdivisão da que a ante­
cede): Reino, Filo (animais), Divisão (plantas), Classe, Ordem,
Família, Gênero e Espécie.
• Filosofia críacionistu
Em face dessas observações, é muito difícil
falar em "sucesso da ciência experimental". A
esse respeito, deve-se lembrar também os escla­
recimentos deThomas Kuhn sobre a "estrutura
das revoluções científicas",* no que diz respeito
às precauções quanto a aceitar quaisquer teo­
rias sem o devido questionamento sobre seu
campo de validade, dentro das limitações esta­
belecidas na sua estruturação.
Talvez esta pergunta tenha que ver mais com
o comportamento dos meios de comunicação
e dos livros didáticos do que com a atitude dos
cientistas que desenvolvem suas pesquisas com
conhecimento das limitações inerentes ao pró­
prio método científico.
O senhor vê evidência de planejamento no
Universo?
Sem dúvida. Desde o microcosmo até o macrocosmo; em tudo. Consideremos, por exem­
plo, a estrutura atômica, molecular e cristalina
das substâncias. Como explicar o surgimento
* N.E.: O livro de Kuhn, A Estrutura das Revoluções Científicas
(Ed. Perspectiva), trata de forma convincente das mudanças de
paradigmas ao longo do tempo. Kuhn afirma que os pesquisa­
dores são treinados para ver o mundo de acordo com sua for­
mação científica. Um bom exemplo é mencionado nas páginas
75 e 76: Um átomo de hélio é ou não uma molécula? Para o
químico, é uma molécula porque se comporta como tal do
ponto de vista da teoria cinética dos gases. Para o físico, o hélio
não é uma molécula porque não apresenta espectro molecular.
E Kuhn conclui: "Suas experiências na resolução de problemas
indicaram-lhes o que uma molécula deve ser."
©
Por Que Creio •
dessas coisas por acaso? Moléculas orgânicas
que têm a ver com a vida... Tudo isso indica que
houve um planejamento. Se tudo fosse meio
caótico, não haveria cristal, tudo seria amorfo.
Não haveria átomos* específicos em uma ca­
deia da tabela periódica. (A própria existência
de uma tabela periódica, onde se podem fazer
previsões a respeito das características dos ele­
mentos, significa que há uma ordem, que é o
contrário da desordem característica da aleatoriedade, do acaso. A ordem é característica de
planejamento, desígnio.)
Considerando a Terra, o sistema solar, a nossa
e outras galáxias, vemos uma estrutura coerente
e lógica a tal ponto de podermos estabelecer
modelos que indicam planejamento. Tente fazer
um modelo do comportamento da economia de
certos países do chamado Terceiro Mundo, por
exemplo. É algo extremamente difícil, pois há
muitos fatores caóticos e aleatórios que aca­
bam interferindo, como a bolsa de Hong Kong,
portarias do governo, ou mesmo uma geada em
outro país; tudo isso influi.
O próprio fato de poder existir ciência - que pres­
supõe que a determinadas causas vão corresponder
* N.E.: Os átomos são os "blocos de construção" básicos com
os quais tudo é feito. Consistem de uma "nuvem" de elétrons
carregados negativamente rodeando um núcleo formado de
prótons carregados positivamente, e em geral também de
numerosos nêutrons sem carga elétrica. O átomo é uma
partícula extremamente pequena, podendo ser "visto" apenas
com microscópio eletrônico.
• Filosofia criacionista
determinados efeitos - já mostra planejamento no
Universo. Senão, hoje largaríamos algum objeto eele
cairia. Amanhã, subiria. Depois, iria para o lado; e
assim por diante. Mas não. As coisas invariavelmente
têm a tendência de cair, o que permitiu a Nevvton
descobrir (pois já existia) a Lei da Gravidade.
O conceito de uma criação divina transcen­
de a Bíblia, não é mesmo?
O conceito de mundo ordenado, provindo de
planejamento, propósito e desígnio realmente
transcende o pensamento judaico-cristão, como
se pode verificar nas breves citações muito bem
documentadas transcritas do livro Depois do Di­
lúvio (SCB), de autoria de BiII Cooper: "É com um
misto de surpresa que descobrimos exatamente
que o conhecimento e a apreciação profundos
de um Deus Criador eterno e todo-poderoso, a
Sua paternidade de toda a humanidade, e Seus
atributos infinitos, encontram-se nos escritos de
vários historiadores no mundo antigo, bem como
nos ensinamentos dos mais antigos filósofos. É de
suma importância que nos familiarizemos com
esta verdade ao começarmos nossas pesquisas
sobre a Tabela das Nações e o conhecimento
que aqueias nações, apesar de pagãs, tinham
daqueles patriarcas e eventos tão familiares para
nós através do relato do livro de Gênesis.
* N.E.: A Tabela das Nações é um dos mais antigos documentos
históricos do mundo, que compreende os capítulos 10 e 11 do
livro de Gênesis.
o
Por Que Crew •
"Tão profundos eram a concepção e o co­
nhecimento de Deus entre certos povos pagãos
do mundo antigo, e em particular no mundo
greco-romano, que até mesmo iniciou-se então
a controvérsia (que deveria manter-se acesa du­
rante muitos séculos) entre os que propagavam
e preservavam aquele conhecimento de Deus
como Criador, e os que procuravam destruí-lo
atribuindo a criação do Universo a forças pu­
ramente naturais. É deveras surpreendente a
notável semelhança entre essa controvérsia no
mundo pagão e a que hoje se alastra entre criacionistas e evolucionistas. [...] Primeiramente,
entretanto, devemos compreender algo a res­
peito da profundidade da concepção filosófica
pagã sobre a existência de um Deus verdadeiro.
Deparamo-nos com essa concepção em lugares
mais distantes entre si, e entre culturas tão di­
versas social e politicamente como as da Grécia
e da China. Por exemplo, os escritos do taoista
Lao-tsé floresceram na China do sexto século
a.C. Desses escritos é extraída esta afirmação
profunda relativa à existência e aos atributos de
Deus: 'Antes do tempo, e durante todo o tem­
po, tem existido um Ser com existência própria,
eterno, infinito, completo, onipresente... Para
além deste Ser, antes do início, não havia nada/
"E claro que Lao-tsé possivelmente não teria
retirado de alguma cópia do livro de Gênesis tal
percepção a respeito de Deus. Entretanto, visto
que também outros filósofos pagãos de diferentes
Filosofia çriaáonista O
culturas juntaram suas próprias convicções à do
sábio chinês Lao-tsé (sem mesmo levarmos em
conta todos aqueles que viveram anteriormente
a ele), torna-se óbvio, imediatamente, que até
mesmo aquela cópia de Gênesis não teria sido
necessária. Fàrece que, contrariamente à maio­
ria das hipóteses da psicologia moderna sobre o
assunto, o conhecimento de Deus é de fato inato
ao ser humano. É uma percepção interior que
bem pode ser despertada e aperfeiçoada me­
diante o recebimento da Raiavra de Deus, porém
é certamente algo que existe muito independen­
temente do conhecimento das Escrituras. ...
"Não sendo das Escrituras, que eram desco­
nhecidas desses povos, de onde seria? Não sen­
do de ensinamentos de missionários cristãos, que
inexistiam então, de quem seria? Pois, imperfeito
como pudesse ter sido o conceito de Deus en­
tre os povos pagãos da Antiguidade, na realida­
de ele era muito real, frequentemente profundo,
e somente poderia ter-se fundamentado sobre
um corpo de conhecimentos que houvesse sido
preservado entre as raças antigas a partir de um
determinado ponto na História. Isso se torna
evidente ao nos depararmos com as famílias hu­
manas em dispersão a partir de um determina­
do local em direção a todo o globo. Entretanto,
dificilmente poderá ser negado que o conceito
de Deus fosse realmente profundo, e em muitos
casos inspirador, como testifica este antigo tex­
to de Hierápolis, no Egito: 'Eu sou o criador de
©
Por Que Creio •
tudo que existe ... que surgiu a partir de minha
boca. Os céus e a terra não existiam, nem tinha
sido criada a erva do campo nem as coisas que
rastejam. Eu as fiz surgir do abismo primordial, a
partir de um estado de não existência../
"Não seria demasiado insistir que o concei­
to egípcio da criação divina do Universo era tão
arraigado, que em todo o Egito ele comandava
todas as esferas de pensamento e ação política,
educacional, filosófica, etc. Merece também ser
considerado que, entre a vasta quantidade de li­
teratura recuperada do antigo Egito, não existe
nenhum registro que sugira alguma vez ter sido
desafiado esse ponto de vista. Em lugar algum em
toda a longa história do Egito, nenhum filósofo
surgiu preparado para propagar a noção de que o
Universo tivesse vindo à existência pela atuação
de forças e processos não divinos. Na realidade,
houve outros tipos de heréticos e dissidentes, den­
tre os quais, de maneira notável, o faraó Akhenaton, que procurou persuadir todo o Egito de que
havia somente uma divindade e não as muitas que
os egípcios adoravam, o que, porém, não era um
conceito ateísta ou materialista que negasse a po­
sição e a realidade de um Criador. Ao contrário,
foi um esforço por parte de Akhenaton, apesar de
finalmente não ter sido bem-sucedido, para varrer
muito do entulho que naqueles dias encobriam a
pureza do conceito de um tal Criador/'
Evidentemente, a civilização greco-romana
e posteriormente o pensamento medieval, nada
• Filosofia criacionista O
mais fizeram do que dar continuidade a essas
antiquíssimas concepções, que entendo deriva­
rem de uma revelação divina dada ao ser hu­
mano em sua própria origem. Lamentavelmen­
te, o espaço é limitado para destacarmos outros
interessantes aspectos relacionados com essa
pergunta específica, mas recomendamos aos
interessados a leitura do livro de Bill Cooper.
O que é a Sociedade Criacionista Brasileira,
da qual o senhor é presidente?
Na minha carreira de docente universitário,
como também no acompanhamento dos estudos
de meus filhos no curso secundário e no preparo
para o concurso vestibular, bem como na observa­
ção dos acontecimentos sociais, políticos, econô­
micos, científicos e tecnológicos, pude perceber
como as doutrinas evolucionistas foram sendo in­
troduzidas nos livros-textos e assimiladas e divul­
gadas gradativamente pelos meios de comunica­
ção, passando mesmo a pautar o comportamento
social em vários setores da atividade humana.
Peia providência divina, chegaram às minhas
mãos (isso há cerca de trinta anos) notícias sobre a
existência de sociedades criacionistas no exterior,
com intensa atividade de divulgação de literatura
a respeito da controvérsia entre o criacionismo e
o evolucionismo. Devido às circunstâncias que
mencionei, interessei-me peta fundação de uma
sociedade congênere no Brasil, já que era extrema­
mente escassa a literatura criacionista em língua
Por Que Creio •
portuguesa, e se fazia sentir bastante a sua falta.
Assim, em 1972, foi fundada a Sociedade Criacionista Brasileira, tendo início a publicação do seu
periódico - a Folha Criacionista (hoje Revista Criacionista) - que chegou a mais de 60 edições, ao
longo desse período de três décadas.
A continuidade desse trabalho durante tanto
tempo foi um verdadeiro milagre, devendo-se
agradecer a Deus o sucesso alcançado em ter­
mos de um enorme número de pessoas interes­
sadas que se beneficiaram, de uma forma ou
de outra, com o trabalho realizado. Agradeci­
mentos devem também ser estendidos a muitas
pessoas que colaboraram de diferentes formas
para tornar realidade esse empreendimento.
(Mais detalhes sobre a Sociedade Criacionis­
ta Brasileira e suas atividades podem ser encon­
trados na Internet, no site www.scb.org.br, ou
pelo e-mail [email protected], ou ainda pela Caixa
Postal 08743, CEP 70312-970, Brasília, DF.)
Por que o senhor é criacionista?
Entendo que tornar-se criacionista é uma con­
sequência lógica de tornar-se cristão. Ser cristão é
aceitar Cristo como Salvador e, portanto, aceitar
a revelação exposta na Bíblia, especialmente no
que diz respeito ao relato da criação de um mun­
do perfeito, da provação e da queda subsequen­
tes, com todas as suas consequências deletérias.
Não tive educação religiosa no lar, e dada a
minha educação escolar até o nível universitário
Filosofia criacionista Q
ter sido centrada nos parâmetros agnósticos, e
mesmo ateístas, vigentes em nosso país, não tive
educação religiosa também nos bancos escola­
res. Dessa forma, só vim a conhecer o cristianis­
mo como experiência pessoal, pela providência
de Deus, já no fim de meu curso de Engenharia.
Evidentemente então ocorreram conflitos em mi­
nha mente entre o conhecimento adquirido até
então e a nova perspectiva que se abria diante de
mim, de um mundo criado, mantido e dirigido
por um Deus que manifesta propósito, desígnio
e planejamento em todas as Suas obras.
Dou graças a Deus por ter conseguido su­
perar todas as barreiras que se interpuseram no
caminho de minha conversão! Hoje posso as­
sociar de forma bastante coerente a imagem de
um mundo perfeito criado por Deus, e a degra­
dação decorrente da entrada do pecado neste
mundo, com princípios básicos da ciência que
aprendi na minha carreira de estudante, e que
posteriormente integraram o conteúdo de disci­
plinas que vim a ministrar como docente uni­
versitário. Por exemplo, a Primeira e a Segunda
Lei da Termodinâmica, envolvendo considera­
ções filosóficas sobre o conceito de entropia,
ordem e desordem, direcionalidade, decaimen­
to e degradação.
Hoje, em todos os campos do conhecimento
humano com os quais tive de me relacionar, vis­
lumbro a perfeita coerência da visão criacionista
com os fatos e as evidências neles encontrados.
• Probi rmas no
? EVOLUCIONISMO
M areia O liveira de Paula
A Dra. Mareia Oliveira de Paula é bióloga, forma­
da em licenciatura e bacharelado pela Universidade
Federal de Minas Gerais (U FM G ), onde também
concluiu seu mestrado em Ciências, com ênfase
em Microbiologia. De 1989 a 1991, lecionou as
disciplinas Genética, Evolução e Embriologia em
várias universidades e faculdades particulares, em
Minas Gerais. Em 1998, concluiu seu doutorado na
USP (também na área de Microbiologia).
Atualmente *, além de professora das discipli­
nas Genética l, Genética II e Evolução, é também
coordenadora do curso de Ciências Biológicas
do Centro Universitário Adventista de São Paulo
(U N ASP), campus São Paulo, e do Núcleo de
Estudos das Origens (NEO ). O grupo desenvolve
trabalho de divulgação de estudos criacionistas
em igrejas, universidades , escolas, etc.
A Dra. Mareia nasceu no dia 23 de maio de
1960, em São Paulo. Porém , morou a maior parte
• Problemas do évolueionismo
de sua vida em Minas Gerais, principalmente em
Juiz de Fora e Belo Horizonte. Só voltou para São
Paulo em 1991, para fazer o doutorado.
O caderno "Mais!", do jornal Folha de S.
Paulo (31/12/98), apresentou artigos sobre o
evolucionismo, dizendo que essa teoria é um dos
principais debates deste início de século. Por que>
depois de quase um século e meio da formulação
da teoria de Darwin, os evolucionistas ainda não
chegaram a um consenso?
Nenhuma das teorias atuais explica todos os
pontos da evolução. Embora muitos experimen­
tos tenham sido feitos e muita coisa tenha sido
discutida, não se tem uma teoria para explicar a
origem da vida, de maneira clara.
Temos que lembrar, também, que a ciência não
é algo estático. Ela está sempre mudando. À medi­
da que se conhece mais, novas opiniões surgem.
Além disso, grande parte dos cientistas considera
a evolução um fato. Acreditam que são as teorias
que mudam para explicar a evolução. E nós, criacionistas, contestamos isso porque evidências não
são provas. E a evolução só dispõe de evidências.
A ideia de um Criador não pode ser provada
por experiências de laboratório. Mesmo assim,
podemos considerar o criacionismo "científico"?
Particularmente, não gosto da expressão
"criacionismo científico" porque, na verdade,
o criacionismo científico que existia há alguns
©
Por Que Creio •
anos, talvez com poucas exceções, tentava ape­
nas contradizer o evolucionismo. Não era "cria­
cionismo" mas sim um "antievolucionismo".
A ciência atual não aceita a presença do so­
brenatural e tenta explicar tudo pelos mecanis­
mos naturais. Os cientistas procuram explicar o
comportamento do universo físico em termos de
causas puramente físicas e materiais, sem invocar
o sobrenatural. Visto que o criacionismo explica a
origem de tudo como tendo sido criado por Deus,
ou seja, aceita a ação do sobrenatural, não pode
ser encaixado na definição moderna de ciência.
Porém, vários cientistas criacionistas têm traba­
lhado em pesquisas científicas que, embora não
provem que o mundo foi criado por Deus, mos­
tram evidências de alguns aspectos do criacionis­
mo (por exemplo, de um dilúvio universal).
Mas por que não se pode invocar o sobrenatu­
ral para explicar a origem de tudo? Michael Behe,
autor do livro A Caixa Preta de Darwin, diz que
"a preocupação é que, se o sobrenatural fosse ad­
mitido como explicação, não haveria maneira de
deter a tendência - seria invocado com frequência
para explicar numerosas coisas que, na realidade,
têm explicação natural. Trata-se de um medo ra­
zoável?" Ele continua dizendo: "A origem da vida
e o aparecimento da vida são os alicerces físicos
que resultaram em um mundo cheio de agentes
conscientes. A priori, não há razão para pensar
que esses eventos básicos devam ser explicados
da mesma maneira que outros eventos físicos."
• Problemas do evolucionismo ^
Um movimento que vem ganhando força nos
últimos anos e que talvez possa ser chamado de
uma versão atual do criacionismo científico é o do
Planejamento Inteligente {Inteiligent Design, em
inglês). Os adeptos desse movimento, formado por
biólogos, bioquímicos e matemáticos, tentam mos­
trar a inconsistência do evolucionismo com base
na biologia molecular. Para eles, a complexidade
da vida requer a existência de um planejamento
inteligente. Pórém, ao contrário dos criacionistas
tradicionais, os adeptos da teoria do planejamen­
to inteligente geralmente não especulam sobre a
existência de um Criador ou Suas intenções.
O criacionismo também tem evidências da­
quilo que defende?
Temos muitas evidências do planejamento
do Universo e da vida. Mas isso não prova a
existência de Deus. Até que ponto se pode pro­
var que Deus existe? Eu acredito que Deus não
quer ser provado. As pessoas devem acreditar
nEle pela fé. Os evolucionistas têm evidências
que apoiam sua teoria, mas nós também temos
evidências que apoiam o criacionismo.
Quais são as maiores incoerências do evo­
lucionismo?
Antes, deixe-me dizer que alguns criacionistas
mal-informados acham que não existe nenhuma
base para se acreditar na evolução, mas essas pes­
soas realmente não conhecem a ciência. É lógico
o
Por Que Creio •
que a teoria da evolução faz algum sentido, por­
que, se ela fosse totalmente absurda, não haveria
milhares de cientistas e uma boa parte da popu­
lação que a aceitariam. Existem várias evidências
que apoiam o evoíucionismo, mas também mui­
tas outras que apoiam o criacionismo.
Não dá para explicar, por exemplo, a origem
dos sistemas vivos pela evolução. Isso não era
um problema para os evolucionistas do século
passado, como Darwin, que acreditavam que as
células eram organismos muito simples. Mas,
hoje em dia, cada vez mais os estudos de bio­
logia molecular e bioquímica estão mostrando
que a célula e os sistemas celulares são altamen­
te complexos e o surgimento desses sistemas não
pode ser explicado através de etapas sucessivas.
E o problema da "complexidade irredutível".
Muitos sistemas biológicos são considerados
irredutível mente complexos, ou seja, efes de­
pendem de várias partes que têm que interagir.
E essas partes não poderiam ter surgido de forma
gradual simplesmente porque, se tirarmos uma
delas, o todo não funciona mais. Isto é um golpe
para a evolução darwiniana, que tenta explicar
a evolução de sistemas complexos através de
numerosas, sucessivas e ligeiras modificações.
* Nota do entrevistador: As células são as unidades básicas com
as quais os seres vivos são formados. Cada célula é formada
de um núcleo central (que contém o D NA), organelas com
funções específicas e uma membrana que a separa de outras
células. Os biólogos estimam que o corpo humano contém
aproximadamente cem trilhões de células.
• Problemas do evolucionismo 9
E cada uma dessas lentas modificações deveria
conferir vantagem ao organismo, ou então seria
eliminada pela seleção natural.*
Mencione um desses sistemas de complexi­
dade irredutível.
Tomemos o exemplo da coagulação do san­
gue. A Hemofilia A é uma doença que impede
a coagulação devido à falta de uma substância
chamada Fator VIII da Coagulação. Portanto,
se faltar somente essa substância na circulação
sanguínea, e a pessoa não se tratar, ela irá mor­
rer. Então, como a coagulação, que é um pro­
cesso em cascata, onde um componente ativa
o outro, poderia ter se desenvolvido a partir do
nada, se quando falta uma única proteína, ele
não funciona?
Esses sistemas biológicos irredutível mente com­
plexos realmente indicam planejamento. Só que a
ciência, em vez de estar comemorando a existên­
cia do Planejador, se calou diante dessas evidên­
cias. Por quê? Porque admitir Deus exige compro­
misso com Ele. E as pessoas querem fugir de um
*
N.E.: Seleção natural é o meio pelo qual a evolução, supos­
tamente, dá origem a novas espécies. De acordo com essa
ideia, algumas plantas ou animais têm traços que os fazem
mais aptos para competir por coisas como alimento e espaço
para viver. Por causa disso, eles teriam maior probabilidade
de sobrevivência, e então geneticamente transmitiriam essas
características favoráveis para seus descendentes. No decorrer
de muitas gerações, os melhoramentos ocasionados pelas
"boas” mutações, favorecidos pela seleção natural, suposta­
mente levariam à formação de espécies inteiramente novas.
©
Por Que Creio •
compromisso com o Criador. Se, ao contrário, sur­
gimos pela evolução, somos livres para fazer o que
quisermos, sem dar satisfação para ninguém.
Estrutura básica do olho humano. A, corte transversal; B, região
da fóvea ampliada; C, parede do olho ampliada; D, bastonetes
(a) e cones (b) da retina ampliados. Diante de tamanha comple­
xidade, torna-se compreensível o que Darwin escreveu: "Parece
impossível ou absurdo, reconheço-o, supor que a [evolução] pu­
desse formar a visão" (A Origem das Espécies, p. 168).
• Problemas do evolocionismo ©
A "explosão cambriana" não é outra evidên­
cia em favor do criacionismo?
Há pelo menos dois problemas relaciona­
dos com esse assunto e que apoiam realmente
o criacionismo. No princípio do período Cambriano* você tem praticamente todos os fi los re­
presentados. Se todos os organismos aparecem
no começo do Cambriano, de onde eles evo­
luíram? Onde estão os ancestrais deles? Alguns
dizem: "Ah, no Pré-Cambriano." Mas olhando
para o Pré-Cambriano, não encontramos abso­
lutamente nada, a não ser bactérias, algas azuis
(cianobactérias) e algas verdes, que são organis­
mos muito menos complexos do que os orga­
nismos encontrados nas camadas superiores da
coluna geológica. E todo mundo sabe que, para
uma bactéria dar origem a um trilobita, seria
um salto absurdo, porque os trilobitas são seres
altamente complexos. De onde eles evoluíram,
então? Alguns poderiam dizer: "Evoluíram de
animais mais simples." Mas por que nenhum
deles se fossilizou? Esse é o "grande salto" que
a evolução não explica.
A falta de elos intermediários no registro paleontológico é outro grande problema para a
evolução. Se o darwinismo é verdadeiro, onde
estão os fósseis intermediários entre os grupos de
organismos? Deveria haver, na coluna geológica,
* N.E.: Posição na coluna geológica onde aparecem abruptam­
ente grandes quantidades e variedades de fósseis (voltaremos
a este assunto na página 77).
Por Que Creio •
milhares de fósseis de organismos em transição,
com características intermediárias entre dois gru­
pos, mas estes nunca foram encontrados.
Como já disse, no início do período Cambriano são encontrados praticamente todos
os filos animais. Graficamente, o que vemos
ali está mais para um "gramado" do que para
uma "arvore", como sugeriu Darwin. Isso cor­
responde à descrição bíblica da criação dos
"tipos básicos" que depois sofreram algum
tipo de microevolução e adaptações.
Alguns evolucionistas alegam que não
existem fósseis de animais no Pré-Cambriano
porque estes eram espécies que não possuíam
partes duras, passíveis de ser fossilizadas.
Mas, mesmo que os ancestrais dos animais do
Cambriano não possuíssem partes duras, eles
deveriam ter deixado fósseis de pistas, pega­
das, perfurações, tubos e outros indícios de
presença de animais (denominados icnofósseis). O registro fóssil do Fanerozoico é rico
em impressões deixadas por animais de corpo
mole. Só que no Pré-Cambriano não se en­
contra nada disso, absolutamente, exceto no
finalzinho do Pré-Cambriano (Vendiano, onde
começam a aparecer os icnofósseis). E, em
certos locais, como no Grand Cannyon, as ca­
madas do Cambriano e do Pré-Cambriano são
muito parecidas, exceto pelo fato de o Cam­
briano ser rico em fósseis e estes serem abso­
lutamente ausentes no Pré-Cambriano.
• Problèmes do evolucionismo
Alguns autores evolucionistas calculam que
animais tão complexos como os trilobitas, que
são artrópodes, devem ter levado pelo menos
1 bilhão de anos para evoluir a partir de seres
unicelulares. Mas aparecem perfeitamente bem
formados no início do Cambriano, sem indício
algum de ancestrais no Pré-Cambriano. Esse é o
"grande salto" que a evolução não explica.
Por que o salto evolutivo das algas e bacté­
rias para os trilobitas é algo tão incrível assim?
As bactérias e algas azuis (cianobactérias) são
organismos denominados procariotas, porque
não têm núcleo organizado e suas células não
possuem organelas, além de outras diferenças. As
algas verdes já são consideradas eucariotas, pois
suas células possuem núcleo e organelas. Além
disso, elas são multicelulares (compostas por
muitas células), mas possuem clorofila e fazem
fotossíntese, o que as distingue dos animais, que
precisam de fonte de alimento externa. Trilobitas
são animais (portanto, eucariotas), multicelu la­
res e extremamente complexos, pois possuem
tecidos e sistemas de órgãos diferenciados, Eles
são animais extintos, porém foram classificados
como artrópodes, representados atualmente pe­
los insetos, aranhas, crustáceos e centopeias. São
animais que possuem sistemas digestório, repro­
dutor e nervoso bem desenvolvidos. Possuem
também olho composto, semelhante ao dos in­
setos, que é extremamente complexo.
©
Por Que Creio •
Nenhum evolucionista acredita que uma
bactéria ou protozoário poderia ter originado
um trilobita. Seriam necessárias milhares de
formas de transição entre estes organismos, pas­
sando por formas multicelulares simples, ver­
mes e anelídeos. O problema é que os fósseis
desses intermediários não são encontrados.
Trilobitas são animais multicelulares e extremamente complexos.
Por que aparecem subitamente no registro fóssil? Seriam necessá­
rias milhares de formas de transição, passando por formas multi­
celulares simples, vermes e anelídeos até se chegar a esses artró­
podes. O problema é que os fósseis desses intermediários não são
encontrados.
• Problemas do evoluciomsmo
E a falta de elos intermediários no registro
fóssil é um grande problema para a evolução.
Sim. Se o darwinismo é verdadeiro, onde estão
os fósseis intermediários entre os grupos de orga­
nismos? Deveria haver, na coluna geológica, mi­
lhares de fósseis de organismos em transição, com
características intermediárias entre dois grupos,
mas poucos exemplos de organismos que pode­
riam ser realmente considerados como transição
entre dois grupos foram encontrados. O próprio
Archaeopterix, que era considerado transição en­
tre répteis e aves, possui penas verdadeiras e por
isso deve ser considerado uma ave. Os terapsídeos, um grupo de répteis considerado transição en­
tre répteis e mamíferos, talvez seja um dos poucos
bons exemplos. Até agora, nenhum evolucionista
conseguiu me dar uma explicação convincente
para essa ausência de fósseis de transição.
James Gibson diz o seguinte sobre o assunto:
"O registro fóssil mostra grupos separados em
toda a sua extensão. Os grupos fósseis raramen­
te se unem em ancestral idade comum no registro
fóssil, com exceção, talvez, de uns poucos exem­
plos nos níveis taxonômicos inferiores, tais como
espécies e raças. Os grupos maiores, como filos
e classes, mantêm suas identidades separadas em
toda a coluna geológica. Isto apoia a teoria das
múltiplas ancestral idades separadas. Apesar de se
expl icar este fato como sendo devido a um registro
fóssil incompleto, parece estranho que as maiores
lacunas no registro fóssil devam ocorrer onde se
o
Por Que Creio •
propõem as maiores quantidades de mudança.
Por exemplo, existem muitos fósseis de moluscos
e muitos fósseis de artrópodes, mas nenhum fóssil
que seja um elo razoável entre estes dois grupos/'*
A biologia molecular e a bioquímica têm
sido uma "pedra no sapato" dos evolucionistas. Por quê
A biologia molecular e a bioquímica estão mos­
trando cada vez mais a complexidade da célula.
Antigamente, os cientistas consideravam os proto­
zoários (organismos unicelulares) muito simples,
achando que eles poderiam ter surgido do nada.
Isso era conhecido como geração espontânea. E
era fácil acreditar na geração espontânea, pois se
considerava que a célula era simples como um
pedacinho de gelatina. Mas quando se começou a
estudar as células em microscópios mais potentes,
verificou-se que a única célula de um protozoário,
por exemplo, é altamente complexa. Não dá para
explicar a origem desses sistemas como vindo do
nada. A teoria da evolução não consegue explicar
nem a origem das moléculas biológicas. Até hoje
não se conseguiu obter a síntese de uma única
molécula de proteína sob as supostas condições
da "terra primitiva", e nem uma molécula de D NA,
que na célula é a molécula encarregada da pro­
dução das proteínas. Lipídios, da mesma forma.
Até hoje, o máximo que se conseguiu produzir em
laboratório, utilizando as supostas condições da
* Anais do 3° Encontro Nacional de Criacionistas, UNASP, 2002.
• Problemas do evolucionismo
"terra primitiva", foram alguns aminoácidos, que
são os componentes das proteínas. Mas mesmo
que se conseguisse juntar aminoácidos para formar
proteínas ou nucleotídeos para formar moléculas
de D NA, isso não resolveria o problema, já que
moléculas funcionais necessitam ter uma sequên­
cia precisa para que possam ter alguma função.
Cálculos matemáticos mostram a impossibilidade
de essas sequências precisas serem obtidas. Além
disso, mesmo que fossem obtidas moléculas de
proteína e de DNA funcionais, isso ai nda não seria
vida. Precisaríamos colocar todas essas moléculas
em uma célula, que tivesse uma membrana, e que
conseguisse se reproduzir.
As proteínas nas células são produzidas pelo
DNA. E o DNA, para se duplicar, precisa de
muitas proteínas e de enzimas. Aí vem aquela
história do ovo e da galinha: "Quem surgiu pri­
meiro: o DNA ou a proteína?" Os evolucionistas criaram a hipótese do "mundo de RNA", ao
descobrirem moléculas de RNA autocatalíticas,
ou seja, capazes de se auto-reproduzir. Só que,
na verdade, mesmo que isso tenha existido no
passado, hoje em dia os sistemas biológicos não
funcionam com esse RNA, e sim com DNAs. As
proteínas são produzidas numa organela da cé­
lula chamada ribossomo, que, por sua vez, é for­
mado por dezenas de proteínas diferentes e mais
alguns tipos de RNA (que também são produzi­
dos a partir do DNA). Então, para fabricarmos a
"máquina" de produzir proteínas, teremos que
Por Que Creio •
ter muitas proteínas. Mesmo que elas tivessem
surgido por acaso, no começo, como poderiam
ter sido produzidas depois?
Quando se começou a estudar as células em microscópios mais
potentes, verificou-se que elas são altamente complexas. Não dá
para explicar a origem desses sistemas como vindo do nada
Louis Pasteur demonstrou a impossibilidade
de vida surgir de matéria inorgânica. Por que>
mesmo assim, a abiogênese ainda é defendida
por muitos cientistas?
No passado acreditava-se na abiogênese, isto é,
que a vida podia surgir de não-vida. Muitos cientis­
tas, como Redi, Malpighi e outros, demonstraram
essa impossibilidade. Mas, quando os micro-organismos foram descobertos, imaginava-se que, por
serem organismos minúsculos e simples, estes po­
deriam surgir por geração espontânea (abiogênese).
•
Problemas do evolucionismo
Coube a Spallanzani e a Pasteur demonstrar que
mesmo esses seres minúsculos só podiam surgir
da reprodução de outros seres. Pasteur deu então
o golpe mortal na teoria da abiogênese.
Porém, para um evolucionista, se a vida não se
originou por fenômenos sobrenaturais, ela só pode
ter se originado de matéria não-viva. Todo evolu­
cionista precisa então acreditar em algum tipo de
abiogênese. A abiogênese atual não recebe mais
esse nome, e sim outros nomes mais sofisticados,
como "síntese pré-biótica em uma sopa primitiva"
(ideia proposta por Oparin e Haldane). A origem
da vida passa a ser então um fenômeno raríssimo,
que demorou milhões de
anos para acontecer e só
ocorreu devido a uma sé­
rie de condições especiais
que teriam existido na Ter­
ra primitiva, que não exis­
tem mais. Mas, no fundo,
ainda é abiogênese.
Pasteur demonstrou cientificamen­
te a impossibilidade da abiogênese
O que a senhora acha da origem extrater­
restre, ou panspermia cósmica ? Existe essa pos­
sibilidade? Não é uma forma de jogar o proble­
ma para um campo de discussão inacessível?
Há uma concordância entre os cosmologistas
de que o sistema solar, incluindo a Terra, teria se
©
Por Que Creio •
originado há cerca de 4,6 bilhões de anos. Nos
primeiros 500 milhões de anos, nosso planeta teria
sido castigado por imensos meteoros, o que impos­
sibilitaria a origem da vida. Os fósseis mais antigos
encontrados são estromatólitos* datados de 3,5 bi­
lhões de anos. Essas estruturas são formadas por
colônias de cianobactérias, muito semelhantes aos
organismos atuais, que provavelmente já seriam
capazes de realizar fotossíntese. A fotossíntese é
um processo bioquímico extremamente comple­
xo, que nunca seria esperado nos primeiros seres
vivos, que supostamente deveriam ser muito sim­
ples. Isso indica, portanto, que a vida deve ter se
originado em períodos anteriores a 3,5 bilhões de
anos, de acordo com a teoria da evolução. Há ou­
tros indícios também de atividade biológica há 3,8
bilhões de anos. O período disponível então para
a origem da vida na Terra seria de cerca de 300
milhões de anos. Esse período, em termos evoluti­
vos, é extremamente curto para explicar a origem
de células vivas. Outras hipóteses foram então pro­
curadas para explicar a vida na Terra. Uma delas,
a panspermia cósmica, diz que a vida se originou
em outros planetas, que apresentariam condições
mais favoráveis, e deve ter sido trazida para a Terra
através de meteoros. Realmente, essa hipótese não
* N.E.: Estromatólitos são estruturas sedimentares que consistem
de lâminas finas sucessivas. São, em geral, em forma de
montículos, mas variam grandemente em forma e tamanho,
indo de milímetros a metros. São produzidos por uma fina
camada de micro organismos sobre sua superfície que captam
e/ou precipitam os minerais que íormam as lâminas.
• Problemas do evducunismo
resolve o problema, pois ainda assim teria que ser
explicada a origem da vida nesse outro planeta.
No livro Viagem ao Sobrenatural (da Casa
Publicadora Brasileira), o autor Roger Morneau
diz que a teoria da evolução é uma arma eficaz
nas mãos do inimigo de Deus. Por quê ?
Porque desvia o pensamento de Deus como
Criador. Rara os que creem em Deus e, ao mes­
mo tempo, aceitam a evolução (evolucionistas
teístas), o Senhor não criou o homem de manei­
ra pessoal e não criou a Terra para ser habitada.
Rara eles, Deus teria dado início à vida através
da evolução. Só que isso elimina a credibilida­
de das Escrituras porque, se passarmos a con­
siderar o livro de Gênesis como uma alegoria,
também poderemos considerar os demais livros
da Bíblia como não verdadeiros.
Então é impossível conciliar a teoria da evo­
lução com a doutrina da Criação...
Algumas pessoas até tentam, mas não dá. Se
você se torna um evolucionista teísta, tem que
deixar de crer em grande parte da Bíblia. Você
deixaria de crer no Gênesis, portanto não acredi­
taria no plano da salvação. E também questiona­
ria a existência de Satanás, porque iria achar que
o mal está dentro do ser humano. Que sentido
teria a volta de Cristo se o homem tem a capa­
cidade de melhorar? Será que as profecias estão
se cumprindo mesmo? Não seriam linguagem
Por Que Creio •
figurada, poesia, etc.? Realmente, acho muito di­
fícil conciliar as duas coisas.
Os evolucionistas teístas acham que conse­
guem fazer essa conciliação. O problema é que
muitos deles não conhecem, não aceitam e não
ieem a Bíblia. Na verdade, alguns até aceitam al­
gumas partes que lhes convêm, mas não aceitam
a fàlavra de Deus como um todo, porque não dá
para fazer isso e continuar sendo evolucionista.
A senhora acha, então>que a experiência da
conversão é fundamentaI para que se aceite a
Bíblia e o criacionismo?
Sem dúvida. Duvido que, algum dia, alguém
consiga convencer um evolucionista a se tornar
criacionista sem aceitar a Deus primeiro. Acre­
dito que um evolucionista se torna criacionista
quando passa pela experiência da conversão,
quando encontra e aceita a Deus. Aí, sim, ele vai
tentar explicar a origem das coisas de uma outra
maneira, porque saberá que Deus é o Criador.
É lógico que, se apresentarmos respeitosa­
mente e de maneira lógica as incoerências da
teoria da evolução, poderemos despertar na
pessoa algumas interrogações que abrirão ca­
minho para a busca de Deus.
A
AROl IF.OI OGIA •
E a B íblia ?
Paulo F. Bork
O arqueólogo brasileiro Paulo F. Bork nasceu
na cidade de Cristina, M G , a 8 de janeiro de
1924. Logo após seu nascimento, os pais, Max
e Helena B orkresolveram se mudar para São
Paulo, a fim de prover educação cristã para
Paulo e seus irmãos. De 1939 a 1942, Paulo
Bork fez o curso primário no então Colégio
Adventista Brasileiro (hoje UNASP, campus 1).
Para auxiliar nas despesas escolares , Bork colportou' nas cidades de Assis (SP), Presidente
Prudente (SP) e Joinville (SC). Em 1945 con­
cluiu o curso de Contabilidade , no CAB.
No ano seguinte foi para os Estados Unidos,
onde reside até hoje. Estudou no Emmanuel
Missionary College, atual Universidade Andrews
de 1946 a 1948. Nos dois anos seguintes estudou
no Pacific Union College, onde bacharelou-se em
* Nota do entrevistador: Colportagem é a venda de livros de
cunho religioso e educacional.
©
Por Que Creio •
Teologia. Obteve seu mestrado em História da
Igreja no Seminário Teológico Adventista, que na
época localizava-se em Takoma Park, Washington,
D.C. Posteriormente fez outro mestrado, em
Divindade, pela Universidade Andrews. Alcançou
ainda o título de Doutor pela Califórnia Graduate
School of Theology, em 1971.
No campo da Arqueologia, o Dr. Bork fez
cursos em várias universidades, como a Pacific
School of Religion, da Califórnia, a Universidade
Hebraica de Jerusalém e a Universidade de
Londres, Inglaterra. Participou de diversas pes­
quisas e expedições ao redor do mundo.
No ministério, destacam-se seus trabalhos
como pastor da igreja alemã de Nova Iorque e
diretor de Jovens na Greater NewYork Conference.
Também foi pastor nas igrejas inglesa e portugue­
sa da Southern New England Conference. Foi
professor de Bíblia na Academia de Loma Linda,
de 1960 a 1967 e, em seguida, lecionou História
e Arqueologia Hebraica na Faculdade de Teologia
do Pacific Union College, até 1989.
De 1987 a 1989 foi diretor da Faculdade de
Teologia no Pacific Union College. Em 1989 obte­
ve a aposentadoria form alm as, desde então,
continua em intensa atividade, viajando e minis­
trando palestras, bem como dando assistência à
pesquisa no Centro de Pesquisas Ellen C. White,
da Universidade de Loma Linda.
Tem alguns livros publicados, como The World
of Moses, em inglês e holandês, e A Viagem da
• A arqueologia e a Bíblia
Promessa, publicado pela Casa. O museu de
arqueologia bíblica do UNASP, campus Engenheiro
Coelho>SP, leva seu nome.
Qual é o saldo sobre sua própria vida espiritual
após anos e anos lidando com a Arqueologia
A Arqueologia tem transformado minha vida.
Já não leio a Bíblia do mesmo jeito que a lia an­
tes de trabalhar como arqueólogo. Meus pontos
de vista foram mudados e minha fé na Bíblia se
firmou. As pesquisas arqueológicas têm demons­
trado que Deus realmente inspirou as Escrituras.
O senhor participou de várias expedições
arqueológicas. Qual foi a que lhe deu mais sa­
tisfação? Por quê?
Fiz escavações em Israel, Egito, lêmen, Jor­
dânia, Turquia e em outros lugares, mas em Is­
rael ocorreram as pesquisas mais significativas,
pois lá se permitem mais escavações. São 20 es­
cavações cada ano. Trabalhei emTel Gezer, que
foi um lugar filisteu, do tempo cananita. Fica­
mos vários anos lá e constatamos que, de fato,
os filisteus tinham seus próprios deuses e sua
própria maneira de adorar. Infelizmente, naque­
le tempo ofereciam sacrifícios não somente de
animais mas de seres humanos também. Acha­
mos ossos queimados que, sem dúvida, foram
de sacrifícios humanos.
É interessante notar também que, segundo a
Bíblia, aquela cidade foi tomada pelos egípcios,
Por Que Creio •
a pedido de Salomão, e doada ao rei por meio
da princesa com quem ele havia se casado. Sa­
lomão construiu muros e portas para a cidade.
E tudo isso foi encontrado.
Sem as descobertas da Arqueologia, como
seria hoje o nível de credibilidade da Bíblia?
Sempre existirão aqueles que não creem na
Bíblia e a criticam. Muitos não vão mudar sua
forma de pensar, independentemente das evidên­
cias arqueológicas. Por outro lado, temos des­
coberto tantas evidências que iluminam a parte
histórica da Bíblia que isso tem tornado muitos
céticos em crentes.
Sob o patrocínio do Museu Arqueológico de
Jerusalém>foi realizado entre 1975 e 1978 um
trabalho arqueológico para traçar e definir a
localização dos muros e portões de Jerusalém.
O que o senhor pode revelar sobre isso?
Quando examinamos os muros, em primeiro
lugar, chamaram-nos a atenção as rochas com que
eram feitos. Algumas têm até dez metros de compri­
mento por um metro de altura e um metro e meio de
largura, e pesam toneladas! Como é que consegui­
ram erguer aquelas pedras? Além disso, a Bíblia afir­
ma que aqueles muros foram destruídos em várias
guerras. Isso também deve ter exigido muita força.
Nosso trabalho consistiu em descobrir as pedras que
foram usadas e derrubadas, para ver onde estava
localizado o muro e de que altura ele era.
•
A arqueologia e a Bíblia
Por que 1798 é um ano especial?
O ano de 1798 inaugurou o tempo do fim,
de acordo com as profecias. Nesse mesmo ano a
Arqueologia teve seu início, tendo como marco
a descoberta da Pedra de Roseta, uma das cha­
ves para a compreensão da Antiguidade. A partir
de então, grande luz incidiu sobre as Escrituras.
A Pedra de Roseta é um marco na
Arqueologia, pois permitiu a deci­
fração dos hieróglifos egípcios e se
constituiu numa das chaves para a
compreensão da Antiguidade
Poderia mencionar mais alguns exemplos
de relatos bíblicos que foram confirmados por
descobertas arqueológicas?
No Egito foi encontrada escrita num muro a pa­
lavra "Israel". Essa inscrição data de mais ou me­
nos 1200 ou 1300 antes de Cristo. Os críticos sem­
pre disseram que Israel não existia naquele tempo.
Agora está confirmado que realmente existia.
* N.E.: A Pedra de Roseta foi encontrada por um soldado de
Napoleão Bonaparte, em 1799, na região de Roseta, no delta
do Rio Nilo. Graças a ela, o francês Champollion pôde decifrar
os hieróglifos egípcios.
©
Por Que Creio •
Outro exemplo: Moisés foi educado em toda a
ciência do Egito, como nos diz a Bíblia; e foi edu­
cado como sacerdote, porque era dessa classe que
vinham os faraós. Sendo sacerdote, ele tinha que
aprender tudo sobre a medicina da época. Quan­
do lemos as receitas nos textos médicos do Egito,
daquele tempo, encontramos ingredientes como
estes: gordura de crocodilo, gordura de cobra, dente
de burro moído, sangue de rato, etc. Estes eram os
medicamentos usados no Egito. No entanto, o que
Moisés escreveu na Bíblia? "Lavem as mãos, lavem
o corpo, lavem a roupa." Hoje é comum se ouvir,
nos Estados Unidos: "Se quiser evitar doenças, lave
as mãos." As noções de medicina preventiva dos
escritos mosaicos demonstram que a Bíblia é um
documento antigo incomparável na área de saúde.
No antigo Egito, a idade média do povo era de 35
anos. Mas Deus disse para Seu povo: "Eu quero que
vocês tenham mais vida e vida com mais saúde."
Por isso Ele deu, por meio de Moisés, todas as re­
comendações que estão na Bíblia.
Apesar de toda a grandiosidade do Egito antigo, sua medicina
nem se comparava à medicina preventiva dos hebreus
• A arqueologia e a Bíblia
Recentemente foi descoberta uma urna funerá­
ria que chamou muito a atenção da mídia. A
caixa de pedra é um ossuário, usado no Israel
antigo para conservar os ossos dos falecidos, e
tem uma inscrição em aramaico: "Tiago, filho
de José, irmão de Jesus". Alguns eruditos bíbli­
cos dizem que os nomes eram comuns na épo­
ca. A informação sobre a inscrição procede de
André Lemair, um especialista francês em escri­
ta, e foi divulgada pela revista Bibfical Archaeology Review. Mas há muitos pesquisadores
que creem que a inscrição poderia ser de fato
autêntica, já que Lemair é um erudito de grande
reputação. Ele autenticou o ossuário como de
cerca do ano 60 d.C. Seria uma peça adicional
de evidência que demonstra a autenticidade do
Novo Testamento.
Outra descoberta recente é uma pedra ori­
ginária do Mar Morto. É um bloco de pedra, do
tamanho de um caderno escolar, com inscrições
em fenício, onde se lê que o rei israelita Joás
instruiu os sacerdotes a recolher dinheiro para
pagar as reformas do primeiro Templo de Jerusa­
lém, construído por Salomão. O texto da pedra é
similar à descrição do mesmo fato em 2 Reis. Os
exames feitos no artefato indicaram a presença de
salpicos de ouro fundido na superfície da pedra,
que poderiam ter sido causados por um incêndio,
como o que destruiu o Templo de Salomão, em
586 a.C. Evidências arqueológicas desse famoso
templo nunca tinham sido encontradas.
©
Por Que Creio
Há pessoas que indagam :" Como confiar num
livro que já tem tantos séculos de existência? O
que me garante que a Bíblia não foi alterada com
o tempo por algum copista descuidadoCom o
o senhor costuma responder a essa pergunta?
Existem cópias de textos bíblicos do Novo Tes­
tamento que datam do primeiro século, e quando
comparamos os escritos bíblicos daquele perío­
do com a Bíblia atual, as diferenças são insignifi­
cantes. Do Antigo Testamento há manuscritos de
mais ou menos 200 anos antes de Cristo. Comparando-os também com os textos contemporâ­
neos, não se nota quase nenhuma diferença.
O que os estudos revelaram sobre a civiliza­
ção maia, no México e na Guatem ala?
Rassei muito tempo no Egito, trabalhando per­
to das pirâmides. Fui para a Mesopotâmia, e en­
contrei o mesmo tipo de construção, no território
da antiga Babilônia. Já que no México e na Gua­
temala também existem pirâmides, resolvi ir lá
para estudá-las. Vi que a arquitetura e a forma de
Pirâmides précolombianas
• A arqueologia e a Bíblia
construção dos povos americanos eram as mesmas
do Egito e da Mesopotâmia. Como é que esses
povos se comunicaram há quatro mil anos? Creio
que esse é um mistério que vou ter de esperar até
chegar ao Céu para descobrir.
Como professor de Arqueologia, qual foi a
sua maior realização na vida?
Como já disse, a Arqueologia me fez ver a
fé de outra maneira. Minhas convicções foram
confirmadas. E quando posso transmitir isso
para meus alunos, para os membros da igreja e
para outras pessoas, sinto-me plenamente rea­
lizado. É maravilhoso ajudar as pessoas a ver
que podemos depender das Escrituras como a
verdade em que podemos confiar.
Poderia mencionar a experiência de alguém
que passou a crer na Bíblia como resultado da
análise de descobertas arqueológicas?
Levei muitos estudantes para Israel. Lá fazía­
mos nosso trabalho arqueológico e tínhamos clas­
ses de estudo. Alguns desses alunos iam só para
passear. Mas certa vez, depois de passarmos dois
ou três meses lendo as Escrituras do ponto de vista
histórico/arqueológico, alguns estudantes, consta­
tando que a Bíblia realmente é a verdade, chega­
ram a mim e disseram: "Queremos ser batizados."
E assim, depois de devidamente preparados, nós
os levamos ao rio Jordão, onde Jesus foi batizado,
e lá realizamos o batismo. Pára mim, aquilo foi de
Por Que Creio •
grande significado. Foi uma das maiores recom­
pensas que tive como professor.
Fale sobre as escavações em busca de Sodoma e Gomorra.
Escavamos aquela região por vários anos e
descobrimos coisas muito interessantes, que res­
paldam o relato bíblico. Existiam cinco cidades
na parte leste do Mar Morto. Quando as escava­
mos, encontramos grande quantidade de cinzas.
Em alguns lugares havia uma camada de um
metro de cinzas. Não há outra maneira de expli­
car tamanha destruição e tanta cinza em um só
local, a não ser pelo trágico relato de Gênesis.
Anos antes, em 1924, o famoso arqueólogo
William F. Albright, juntamente com M. Kyle, já
haviam feito investigações profundas na região
do Mar Morto, concluindo que seria ali a locali­
zação das duas cidades destruídas por Deus. Só
que na época lhes faltavam equipamentos sofisti­
cados dos quais dispomos hoje. Em 1960, Ralph
Barney explorou o fundo do Mar Morto com um
sonar e encontrou várias árvores a certa profun­
didade. Isso demonstra que a água do Mar Morto
submergiu uma vasta área fértil. Mas ele não en­
controu vestígios de civilização ali. Se aquele era
o vale que encantou o sobrinho de Abraão, onde
estariam as cidades? No lado oeste do Mar Mor­
to há restos de uma cidade que chama bastante
a atenção. Esse sítio arqueológico foi batizado
com o nome árabe de Bab eh dra. A cidade que
• A arqueologia e a Bíblia O
ali existiu data de mais ou menos 2200 a.C, e ali
também há grande quantidade de cinzas.
Em outras palavras, Bab eh dra foi destruí­
da pelo fogo. Nem seu cemitério escapou das
chamas, pois parte das tumbas também contêm
vestígios de fogo. Mas o que causou esse gran­
de incêndio? E importante frisar que não há na
região presença de atividades vulcânicas. Além
disso, quando os exércitos inimigos destruíam
as cidades com fogo, geralmente poupavam
seus cemitérios. Logo, há uma razoável possi­
bilidade de que essa região contenha de fato
os restos do que um dia foi uma região visitada
pelo juízo de Deus.
Dos trabalhos que o senhor já escreveu; qual
lhe deu mais satisfação e por quê?
The World of Moses, livro sobre a vida e a
época de Moisés, publicado em inglês e holan­
dês. Eu me encantei com o Egito. O país inteiro
é um grande museu devido a seu clima seco,
com poucas chuvas, o que preserva os vestígios
históricos. Moisés foi para mim uma grande
fonte de inspiração.
Para saber mais: visite o blog
www.arqueologiabiblica.blogspot.com
•A GRANDE
? CATÁSTROFE
Nahor Neves de Souza Júnior
\\ Para os cientistas; não se deve buscar harmonia
entre ciência e religião, principalmente quando o
assunto é a origem da vida em nosso mundo. O
geólogo Nahor Neves de Souza Júnior, em sua
tese doutoral pela Universidade de São Paulo
(USP), quebra a regra. Ele acha que a Bíblia tem
razão quanto aos relatos do livro de Gênesis sobre
a Criação e o Dilúvio. Em seu trabalho científico,
ele apresenta uma posição contrária ao ensino
evolucionista de que a coluna geológica pode ser
demarcada por intervalos de milhões de anos. Sua
afirmação é baseada em pesquisas feitas em rochas
basálticas, muito comuns na região Sul do Brasil.
Entre 1982 e 1995, o Dr. Nahor lecionou Geologia
em duas das mais conceituadas universidades do
País: Universidade do Estado de São Paulo (UNESP)
e USP. A partir de 1995, tem desenvolvido suas
atividades junto ao Centro Universitário Adventista
(UNASP), como coordenador do Departamento
• A grande catástrofe
de Pós-Graduação; Pesquisa e Extensão, diretor
da Faculdade de Engenharia Civil e professor de
Geologia e Ciência e Religião. É autor do livro Uma
Breve História da Terra, e tem apresentado palestras
por todo o Brasil.
Por que o senhor escoiheu ser um geólogo
criacionista?
Antes de me envolver com a Geologia/ minha
visão do mundo fundamentava-se na Bíblia e na
estrutura conceituai criacionista. Em minha forma­
ção, tanto em nível de educação familiar como de
estudante do ensino fundamental e médio, sempre
recebi instrução criacionista. Mas, como todo jo­
vem, procurei por mim mesmo entender a questão
das origens. Assim, ao concluir o ensino médio,
decidi cursar Geologia, onde prevalece o evolucionismo, e o criacionismo sequer é mencionado.
Após cinco anos de estudos na faculdade, as minhas
convicções criacionistas estavam fortalecidas.
Como os colegas e professores da faculdade
reagiam às suas convicções?
A partir do segundo ano, fiquei frente a fren­
te com a evolução. Na ocasião, foram oferecidas
disciplinas mais específicas como Paleontologia
e Geologia Histórica. Tive de prestar exames em
que tanto a origem das rochas como a origem do
* Nota do entrevistador: Geologia á a ciência que estuda a Terra
e suas formações rochosas. Alguns utilizam a expressão "ciên­
cias da Terra", que, naturalmente, tem o mesmo significado.
^
Por Que Creio •
homem estavam em questão. Com base em mi­
nhas convicções e nos novos conhecimentos
então adquiridos, escrevia duas respostas; prati­
camente eram duas provas. Primeiro, procurava
responder às questões elaboradas no contexto
requerido pelo professor, e em seguida colocava,
numa segunda parte da folha, minhas considera­
ções. Apesar disso, nunca percebi perseguição ou
coisa parecida. Sempre houve bom relacionamen­
to e respeito da parte dos colegas e professores.
A Geologia pode comprovar o Dilúvio bíblico?
A Bíblia fala de um dilúvio universal e eu di­
ria que temos muitas evidências de uma grande
catástrofe. Verificamos sinais de eventos rápidos
e sucessivos no estudo das rochas e dos fósseis.
Minhas convicções se tornaram mais fortes quan­
do, como professor universitário e pesquisador da
USP e UNESP, passei a analisar as rochas basálticas. No início das pesquisas com essas rochas,
eu residia em Ilha Solteira, e nas proximidades
existiam as obras de construção de grandes usi­
nas hidrelétricas, implantadas em áreas basálticas.
Tive então a oportunidade de estudar de maneira
detalhada afloramentos extensos de rochas basál­
ticas. E, ao analisar essas rochas, de origem vulcâ­
nica, não verifiquei evidências de longos espaços
de tempo entre uma camada rochosa e outra; e
ao mesmo tempo descobri que o resfriamento de
alguns derrames de lava ocorreu em questão de
semanas. Esses derrames em todo o Brasil e países
• A grande catástrofe ^
adjacentes correspondem ao volume de 750.000
km3de material vulcânico. Fenômenos vulcânicos
de abrangência e magnitude semelhantes ocorreram
em outras regiões continentais (África, índia, EUA,
etc.), inclusive nas vastas áreas oceânicas, afetando
praticamente metade da superfície do globo ter­
restre. Interessante é notar que praticamente todos
esses eventos vulcânicos se desenvolveram quase
que simultaneamente, separados, quando muito,
por pequenos intervalos de tempo. Isso para mim
só pode evocar uma catástrofe, um grande dilúvio
num passado não tão remoto como se imagina.
O senhor teria outras evidências de um dilú­
vio universal?
Tenho em minha coleção um fóssil* de peixe,
um tipo muito comum no Brasil. Pertence a um
peixe que morreu e foi soterrado de modo muito
rápido. Os detalhes desse fóssil e de outros congê­
neres são incríveis. As estruturas minúsculas, em
nível celular, são preservadas nesse peixe. Só que
a composição química atual é diferente da original.
Não é mais o tecido orgânico do peixe; na realidade
todo o material original foi substituído por material
inorgânico ou mineral. Isso é possível quando o ani­
mal é rapidamente soterrado. Se ele ficasse exposto
algum tempo, teria desaparecido ou mesmo as
* N.E.: Fóssil é o que restou de plantas, animais ou vida humana,
em antigas formações rochosas. Esses restos podem incluir coisas
tais como marcas de conchas do mar, madeira e ossos petrifica­
dos e até pegadas, conservadas na rocha. A evidência fóssil é
extremamente importante para a controvérsia criação/evolução.
©
Por Que Creio •
Cedida por Ariel A. Roth
características de deterioração teriam ficado eviden­
tes no fóssil. O mesmo aconteceu com pequenos
animais, insetos e até com os grandes dinossauros.
São fortes as evidências de que inundações catastró­
ficas sepultaram rapidamente esses animais.
Ossos de dinossauros
numa camada de are­
nito da Formação Mor­
rison do Jurássico. Esses
ossos estão localizados
no Dinosaur National
Monument:, perto de
Jersen, Utah. Os ossos
mais longos têm 1,5 a
2 metros de compri­
mento. Sua disposição
desordenada sugere
algum transporte antes
da deposição final
Existem registros paleontológicos do Dilúvio?
Darwin procurou estabelecer passagens de tran­
sição entre as espécies. Segundo o modelo evolucionista, desde os primeiros organismos unicelulares
até o homem decorreram bilhões de anos. Rara essa
teoria, entre um peixe e um anfíbio, entre um anfíbio
e um réptil, entre um réptil e um mamífero, haveria
o que a paleontologia denomina de macro ou megaevolução. O problema é que se passaram quase
150 anos desde a publicação do livro de Darwin,
A Origem das Espécies, e ainda não se encontrou,
ao longo de toda a coluna geológica, o registro de
fósseis dos seres intermediários. Os fatos nos mos­
tram exatamente o contrário - as semelhanças e as
A grande catástrofe
O
diferenças entre os seres hoje fossilizados (do Cambriano ao Quaternário) praticamente são as mesmas
observadas entre os seres atuais. Ou seja, os seres
de transição ou foram misteriosamente ocultados
ou teriam sido sobrenaturalmente selecionados e
eliminados, ou ainda nunca existiram (esta parece
ser a hipótese mais confiável).
Explique o que é Cambriano.
O período Cambriano corresponde ao início da
era Raleozoica ou do abrangente éon Fanerozoico,
posição na coluna geológica em que aparecem
abruptamente grandes quantidades e variedades
de fósseis ("explosão cambriana"). Nas rochas précambrianas os fósseis estão praticamente ausentes.
F^ra nós criacionistas o dilúvio universal compre­
ende as camadas rochosas e respectivos fósseis do
Cambriano ao Terciário. Assim, as rochas pré-cambrianas corresponderiam ao período Pré-Diluviano.
Os raros fósseis pré-cambrianos podem ser interpre­
tados como seres vivos, da época do Dilúvio, que
tinham hábitos subterrâneos.
De que forma o modelo do Dilúvio esclare­
ce muitas dúvidas no campo da Geologia?
Os dados disponíveis no campo da Geologia
se ajustam com perfeição a um modelo de eventos
* N.E.: Fanerozoico é a porção da coluna geológica do Cambriano
até o presente. Trata-se daquela porção que contém abundân­
cia de fósseis e é dividida nas eras do Paleozoico, Mesozoico
e Cenozóico.
Por Que Creio •
catastróficos e abrangentes, claramente compatíveis
com os fenômenos geológicos globais defendidos
pelos geocientistas do mundo inteiro, quais sejam:
impactos de meteoritos; tectônica de placas; vulcanismo basáltico fissural; ação devastadora de
grandes volumes de água; extinção em massa;
vastos depósitos sedimentares e extensas camadas
carboníferas. Interessante é notar que neste modelo
(principal objeto de análise do meu livro Uma Breve
História da Terra), os referidos eventos geológicos
globais se encontram coerentemente interligados.
Assim, é possível construir um modelo geológico
unificador em que se destaca nitidamente uma
grande catástrofe que alterou rápida e radicalmente
a superfície da Terra em um passado recente.
Poderia detalhar um pouco mais esses even­
tos geológicos?
Atualmente, quase 200 crateras de impacto
(astroblemas) já foram identificadas, ao longo de
toda a coluna geológica e em toda a superfície da
Terra. Estima-se que muitos dos correspondentes
meteoritos teriam diâmetros superiores a 10 km,
cujos impactos teriam provocado destruição em
massa e alterado drasticamente a superfície da
Terra. À semelhança dos efeitos de uma bomba
atômica, a destruição se alastraria a uma veloci­
dade impressionante (segundos a poucas horas).
O desencadeamento de determinadas ativida­
des geológicas globais, a repetição ou pulsos des­
ses mesmos fenômenos, certamente demandariam
A grande catástrofe
tremendas quantidades de energia. O suprimento
e a liberação de fabulosas quantidades de energia,
no âmbito da crosta terrestre, sugerem um estreito
vínculo entre uma extraordinária "chuva meteorítica"
na história da Terra e outros fenômenos geológicos,
igualmente catastróficos, como a tectônica de placas.
O termo tectônica, de origem grega (tektonike),
significa "arranjo" ou "disposição". Portanto, a teoria
da tectônica de placas procura expl icar a disposição
e movimentação das placas litosféricas,* no espaço
e no tempo. Na configuração original das referidas
placas teria existido um continente único e gigan­
tesco (Protopangea), que poderia ter se fragmentado
ao ser atingido pela chuva de meteoritos.
Segundo essa hipótese, determinadas partes
ou fragmentos desse megacontinente teriam se
separado mutuamente, originando, a princípio,
fendas enormes e, posteriormente, as atuais áreas
oceânicas (em especial a do Atlântico e a do Ín­
dico). Ou seja, à medida que esses fragmentos ou
placas tectônicas se separam, as fendas ou fissuras
que as delimitam se alargam, ocorrendo simulta­
neamente seu preenchimento por lava vulcânica
(basáltica). É provável que esse processo tenha
ocorrido de maneira extraordinariamente rápida,
relativamente à velocidade de afastamento obser­
vada hoje (taxas de poucos centímetros ao ano).
O processo de abertura dessas enormes fen­
das (com milhares de quilômetros de extensão e
i •
-------* N.E.: "Delgada camada" periférica do globo terrestre frag­
mentada em várias partes.
^
Por Que Creio •
dezenas de quilômetros de profundidade) teria
propiciado a liberação de grandes volumes de
magma ou Java {material rochoso fundido). Sabese, no entanto, que nas erupções vulcânicas, an­
tes da subida do material magmático, colossais
quantidades de água podem ser liberadas.
Consequentemente, a rápida ascensão des­
ses grandes volumes de água, a partir do manto
superior, e seu catastrófico extravasamento, teria
desencadeado a formação de gigantescas e des­
truidoras ondas. O efeito arrasador dessas ondas,
somado àquelas produzidas pela colisão de me­
teoritos com a própria superfície dos mares préexistentes, teria provocado a remoção violenta e
a rápida deposição (no prazo de dias, semanas
e meses) de grandes quantidades de sedimentos,
plantas e animais.
Após, e mesmo durante a liberação de gran­
des volumes de água através das imensas fissu­
ras, extravasaram-se quantidades inimagináveis
de lava basáltica, cobrindo praticamente metade
da superfície da Terra. Esse abrangente fenômeno
vulcânico se desenvolveu nas vastas bacias oce­
ânicas em expansão (zonas de afastamento de
placas tectônicas), bem como em sete grandes
províncias continentais.
Na Província Fàraná (Formação Serra Geral),
na porção meridional da América do Sul, se desen­
volveu a maior manifestação de energia vulcânica,
* N.E.: Camada concêntrica do globo terrestre, imediatamente
abaixo da crosta terrestre.
• A grande catástrofe Q
em áreas continentais, da história geológica. A es­
pessura máxima do pacote magmático {dezenas
de derrames superpostos) se aproxima dos dois mil
metros, se estendendo por uma área de 1.200.000
km2, totalizando um impressionante volume de
750.000 km1de material vulcânico. Evidências de
campo sugerem que a duração desse fenômeno
envolve semanas e não milhões de anos.
Esses fenômenos geológicos globais seriam
uma boa explicação para a abundância de fós­
seis no mundo>o que sugere morte catastrófica
de inúmeros seres vivos marinhos e terrestres.
Exatamente. Não é tarefa difícil compreen­
der a possibilidade de esses fenômenos geo­
lógicos estarem interligados e, evidentemente,
terem provocado morte catastrófica e rápido so­
terramento, a curto (segundos a poucas horas) e
a médio prazo (semanas e meses), de quantida­
des imensas de seres, hoje fossilizados.
A própria Geologia convencional identifica
várias extinções em massa, destacando-se as se­
guintes: alguma catástrofe (provável meteorito de
20 km de diâmetro) teria extinguido 95% de todas
as espécies no Raleozoico Superior; e vários gru­
pos de animais, inclusive os dinossauros, foram
drasticamente eliminados no fim do Mesozoico,
como resultado do impacto de um gigantesco bó­
lido na Península deYucatán (México).
As evidências de campo não justificam a ideia
prevalecente de enormes períodos de tempo entre
Por Que Creio •
as referidas extinções em massa. Assim, as pro­
longadas lacunas entre as camadas sedimentares
superpostas (com seu respectivo conteúdo fossilífero), defendidas pela geologia convencional,
simplesmente não existem.
Nenhum fenômeno geológico, presentemente
observado, pode explicar de maneira coerente a
existência de camadas geológicas extensas e ge­
neralizadas na superfície da crosta terrestre, por
exemplo: Formação Botucatu (Brasil) - arenitos
com espessura média de 100 m, estendendo-se
por 1.500.000 km2; Formação Morrison (EUA)
- camadas sedimentares, ricas em fósseis de di­
nossauros, com aproximadamente 100 m de es­
pessura, cobrindo cerca de 1.000.000 km2.
Verifica-se ainda que a superposição das ca­
madas sedimentares se desenvolveu rapidamen­
te, o que pode ser evidenciado pelos seguintes
fatores: a identificação de turbiditos (depósitos
sedimentares que se espalham rápida e ampla­
mente em ambiente submarino) em inúmeras ro­
chas sedimentares, no mundo inteiro; os contatos
plano-paralelos entre as rochas sedimentares em
geral, estendendo-se lateralmente por grandes
áreas e sem vestígios de erosão, paleossolos, ve­
getação, etc. Assim, as deposições dos espessos e
extensos estratos sedimentares (que caracterizam
a coluna geológica), associadas evidentemente
aos cinco fenômenos geológicos globais que já
mencionei, se desenvolveram de maneira rápida
e contínua (dias, semanas e meses).
• A grande catástrofe
O carvão e o petróleo sugerem, também>um
evento catastrófico no passado?
Esses combustíveis fósseis extremamente im­
portantes para a economia mundial são resultan­
tes de colossais acumulações de matéria orgânica
- plantas e seres planctônicos respectivamente transportadas e rapidamente soterradas. Posterior­
mente, esse material orgânico submetido a pro­
cessos naturais de transformação (fossilização),
sob condições especiais de temperatura e pressão,
originou as extensas e espessas camadas carboní­
feras e os vastos depósitos de petróleo.
As espessas camadas de carvão apresentam
fortes evidências que favorecem uma origem
alóctone - quantidades fantásticas de material
vegetal foram drasticamente removidas, trans­
portadas e depositadas, ou rapidamente soterra­
das, por grandes volumes de água, juntamente
com extraordinárias quantidades de sedimentos.
Assim, a "Teoria dos Pântanos'', ou seja, a super­
posição vertical de eventos lentos, de desenvolvi­
mento de vegetação, intercalados por soterramentos
rápidos - origem autóctone-, carece de argumentos
sólidos que possam justificá-la. Muito embora os
processos de "incarbonização" (transformação de
material vegetal em carvão) possam demandar pe­
ríodos relativamente maiores de tempo, a natureza
das camadas carboníferas, bem como as caracte­
rísticas dos estratos sobre e subjacentes apontam
para eventos rápidos e contínuos (episódios com
duração equivalente a dias, semanas e meses).
©
Por Que Creio •
Em seu livro Uma Breve História da Terra, o
senhor propõe um modelo unificador. Poderia
falar um pouco sobre isso?
É na verdade um novo paradigma de tempo
geológico, relativamente à geocronologia padrão,
que valoriza períodos de milhões de anos. Nesse
"novo enfoque", considera-se que os eventos geo­
lógicos globais e interligados, e as correspondentes
extinções em massa, teriam produzido profundas
modificações na crosta terrestre que se manifesta­
ram, inicialmente (antes da deposição dos estratos
sedimentares), de maneira catastrófica e extraordi­
nariamente rápida (segundos a poucas horas).
Por outro lado, após a deposição das cama­
das sedimentares (depois da ação devastadora
e generalizada dos fenômenos geológicos glo­
bais), determinados processos provavelmente
tenham se desenvolvido mais lentamente, como
por exemplo a fossilização dos seres soterrados
e a diagênese (consolidação) das rochas sedi­
mentares (poucos anos a centenas de anos).
Parece-nos razoável, então, admitir que os
períodos mais importantes para a geologia histó­
rica (durante a deposição dos estratos sedimen­
tares), passíveis de serem correlacionados com
os dados de campo (aspectos estruturais e textu­
ra is das rochas sedimentares), correspondem a
valores intermediários - dias, semanas e meses.
Os sete fenômenos geológicos globais a que me
referi não estão ocorrendo atualmente ("o presente
não é a chave do passado"), muito menos podem
• A grande catástrofe
ser reproduzidos experimentalmente. Assim, neces­
sitamos de outra fonte de informação disponível,
além dos dados fornecidos pela própria Geologia,
que nos possibilite o desenvolvimento de um mo­
delo, onde os referidos eventos geológicos sejam
ajustados consistentemente em uma determinada
ordem cronológica, com breves períodos de tempo.
A fonte alternativa de informação que procura­
mos está acessível não apenas àqueles mais privi­
legiados academicamente, mas a qualquer um que
esteja em busca da verdade. A coerência verificada
entre a provável duração dos fenômenos geológi­
cos globais e os intervalos de tempo mencionados
na narrativa bíblica do Dilúvio (dias e meses), nos
leva a valorizar esse relato (Gênesis 7 e 8) e a uti­
lizar sua sequência cronológica como a melhor
alternativa disponível para substituir a geocronologia padrão.
O modelo unificador, portanto, procura conci­
liar os fenômenos geológicos globais com o Dilúvio
de Gênesis. O conjunto de todas essas informações
nos permite reconstituir, em uma sequência lógica
e consistente, a "breve história da Terra", possibili­
tando ainda uma coerente ligação da Grande Ca­
tástrofe com eventos pré e pós-catástrofe.
Como poderíamos organizar essa breve his­
tória da Terra ?
Em sete etapas, como seguem:
1.
Período Pré-Dilúvio (1,7 x 103...? anos).
Esse período corresponderia ao Pré-Cambriano.
Por Que Creio •
As características da superfície da Terra, nessa
primeira fase da sua história, não estão bem de­
finidas em termos geológicos. Entretanto, é nes­
sa fase que identificamos a "época áurea" ou o
"período edênico", quando a Terra era perfeita,
pois não havia impactos meteoríticos e a estabi­
lidade geológica era total (ausência de fenôme­
nos vulcânicos, de terremotos, etc.).
2. Período das violentas tempestades (40 dias).
É na interface entre o período anterior e este que
se manifesta a mais importante descontinuidade
ou discordância geológica. Não existe nenhuma
justificativa para mudanças lentas e graduais do
Pré-Cambriano para o Cambriano. É a partir des­
se momento (Gênesis 7:11) que os fenômenos
geológicos globais e interdependentes começam
a atuar repentinamente. É nesse instante que se
inicia o Grande Cataclismo. Principia-se então a
mortandade mais terrível e generalizada de toda
a história da vida. Os primeiros soterramentos
vitimam grande quantidade ("Explosão Cambriana") e variedade de invertebrados marinhos (braquiópodes, trilobitas, moluscos, etc.).
3. Período da transgressão marinha gene­
ralizada (110 dias). O início de uma invasão
ou transgressão marinha generalizada pode ser
detectado nas rochas sedimentares de todo o
mundo, no espaço de tempo entre o Ordoviciano e o Devoniano. As águas prevalecem exces­
sivamente sobre a Terra até o fim do Raleozoico
(Gênesis 7:17-24).
• A grande catástrofe
Os invertebrados marinhos continuam sen­
do rapidamente sepultados. As grandes massas
de vegetação (samambaias, cavai inhas, pteridospermas, licopódios, etc.) são soterradas logo
a seguir (Carbonífero e Permiano) para, pos­
teriormente, serem convertidas em espessas e
extensas camadas de carvão. Peixes, anfíbios e
répteis são também rapidamente soterrados.
Nesse cenário dantesco de morte e destrui­
ção (Gênesis 7:21-23), não há como justificar
longos períodos de tempo, nem mesmo con­
dições mínimas de estabilidade, onde os seres
pudessem desenvolver-se naturalmente.
4.
Período das grandes oscilações transgressivo-regressivas (74 dias). Muito embora as tem­
pestades tenham sido gradualmente atenuadas,
durante o período anterior, até cessarem com­
pletamente no Permiano (Gênesis 8:2), a ação
intensa e devastadora da água prossegue. Enor­
mes ondas destruidoras, mobilizadas por bóli­
dos impactantes, continuam o processo inin­
terrupto de rápido soterramento de seres ainda
vivos e de outros já mortos (apenas flutuando).
Além das plantas e animais mencionados, no­
vos tipos de plantas (coníferas, cicadáceas, etc.)
e de animais (destacam-se os dinossauros) são
sepultados nesse período, que corresponde
aproximadamente ao Mesozoico.
Nesses dois meses e meio de intensa atividade
geológica, o vulcanismo basáltico fissural se ma­
nifesta de maneira extraordinária - os fragmentos
Por Que Creio •
do megacontinente ftmgea ou as placas tectônicas movimentam-se rápida e catastroficamente
(afastamentos de vários quilômetros por dia), pro­
movendo a abertura de imensas fissuras e o extra­
vasamento de milhões de quilômetros cúbicos de
lava incandescente.
5. Período da regressão marinha generali­
zada (90 dias). Nesse período, os fenômenos
geológicos globais atuam com menor intensi­
dade. Entretanto, as condições reinantes ainda
são catastróficas. Movimentos epirogenéticos
positivos (levantamento de amplas áreas con­
tinentais), associados ao abaixamento dos lei­
tos oceânicos, resultam em expressivo recuo
das águas (regressão marinha - Gênesis 8:3, 4).
Em determinados locais, onde as placas tectônicas se colidem (movimentos compressivos),
desenvolvem-se as grandes cordilheiras (Andes,
Himalaia, etc.), no início do Terciário (Gêne­
sis 8:5). As águas, em movimentos enérgicos,
ainda estão sobre a face da Terra (Gênesis 8:9),
propiciando condições de rápido soterramento,
especialmente de mamíferos e angiospermas.
6. Período semelhante ao atual (56 dias). Nes­
sa ocasião, os impactos meteoríticos são muito
raros. Os fenômenos geológicos globais se de­
senvolvem de maneira bastante atenuada e res­
trita, de tal forma que em vastas regiões não mais
se verifica a ação catastrófica das águas (Gênesis
8:13). No entanto, o ambiente ainda é hostil à
vida - Noé, sua família e os demais ocupantes da
A grande catástrofe
m
Arca devem ainda, pacientemente, esperar por
quase dois meses.
As atividades geológicas, em alguns locais,
são suficientemente enérgicas para desenvolver
processos de sedimentação e soterramento de
muitos seres (invertebrados, peixes, anfíbios, rép­
teis, aves gigantescas, enormes mamíferos, etc.).
Finalmente, o Grande Cataclismo chega ao
seu termo (Gênesis 8:14-19). Em apenas um
ano, quantas modificações ocorreram na superfí­
cie da Terra! O relato bíblico do Dilúvio fornece
importantes dados que, conjugados com aque­
les obtidos em campo e analisados no contexto
dos fenômenos geológicos globais, possibilitam
a construção, mais completa possível, do quadro
de maior interesse no campo das geociências.
7.
Período Pós-Dilúvio (4,3 x W 1anos). De
acordo com a geocronologia clássica ou conven­
cional, este período corresponde ao Quaternário,
que se divide em duas épocas - Pleistoceno e
Holoceno. Representaria então um cenário de
vagarosa e gradual estabilização Pós-Dilúvio (efei­
tos secundários da Grande Catástrofe), em que
determinados fenômenos geológicos ocorreram
localmente. Por exemplo, nessa ocasião desen­
volveu-se no hemisfério norte A Crande Idade
do Gelo ou a Glaciação Pleistocênica.
A época seguinte, o Holoceno, refere-se ao tem­
po atual ou às condições geológicas e climáticas
presenciadas no momento presente: sismos esporá­
dicos, eventuais manifestações vulcânicas pontuais
Por Que Creto •
(vulcanismo não fissura I) e o recrudesci mento da
degeneração climática (resultante da ação antrópica
irresponsável - Isaías 24:4-6).
O senhor então considera possível a asso­
ciação entre ciência e religião?
Certamente, em um primeiro instante, podese considerar um absurdo compatibilizar qual­
quer cronologia bíblica (no máximo, alguns
milhares de anos) com a geocronologia padrão
(intervalos de dezenas a centenas de milhões de
anos). Entretanto, depois de 25 anos desenvol­
vendo atividades no campo da Geologia, estou
convencido de que o relato bíblico do Dilúvio
não só é coerente com os dados geológicos dis­
poníveis como também contém informações
extremamente importantes para o melhor en­
tendimento da geologia histórica.
Os terremotos, fenômenos vulcânicos e dis­
túrbios climáticos, observados atualmente, cons­
tituem ecos esporádicos, e extremamente ate­
nuados de um passado recente em que esses e
outros eventos geológicos se manifestaram de
maneira rápida e muito mais intensa.
A impressionante congruência entre a cro­
nologia dos capítulos 7 e 8 do livro de Gênesis
e a geocronologia fundamentada nos fenôme­
nos geológicos globais constitui apenas parte
das muitas evidências de que a Bíblia é um livro
singular, digno de respeito e merecedor de nos­
sa total confiança. A historicidade, coerência
A grande catástrofe
interna, imparcialidade, exatidão profética, e
muitos outros atributos exclusivos das Sagradas
Escrituras, deveriam nos estimular a conhecer
em maior profundidade seu Autor, o Deus Cria­
dor (Gênesis 1:1).
Na coluna geológica pode-se observar certa
organização dos seres mais simples; abaixo>para
os seres mais complexos; acima. Os evolucionistas acreditam que isso é uma evidência de evolu­
ção biológica. O que dizem os criacionistas?
Nota-se mesmo certa organização dos fós­
seis na coluna geológica. Mas a associação de
determinados fatores parece também explicar
essa organização, sem a necessidade de se
recorrer aos prolongados períodos de tempo
preconizados pelo modelo evolucionista.
Uma sugestão da distribuição geral de organismos antes do
Dilúvio de Gênesis. A teoria do zoneamento ecológico propõe
que a destruição gradual desses ambientes pelas águas em ascen­
são do Dilúvio produziria a sequência de fósseis agora encontrada
na crosta terrestre.
Q
Por Que Creio •
Os fatores principais - zoneamento paleoecológico, mobilidade diferenciada dos seres e
flutuabiiidade seletiva - proveem uma explica­
ção bastante satisfatória.
Qual é a idade da Terra?
No meio geológico existe praticamente um
consenso de que ela existe há 4,6 bilhões de
anos. Ao princípio era como uma massa incan­
descente. Depois teria se esfriado, há mais ou
menos 3 bilhões de anos, quando haveria situa­
ção ideal para o aparecimento da vida. O sur­
gimento do sistema solar, e consequentemente
do planeta Terra, corresponderia, convencional­
mente, a um dos inumeráveis sub-produtos do
Big Bang. A teoria cosmogônica mais popular é
a do Big Bang, segundo a qual o Universo se
originou a partir de uma grande explosão, há
aproximadamente 15 bilhões de anos, dela sur­
gindo a matéria e suas partículas elementares;
e daí alguns elementos mais pesados até existi­
rem todos os elementos químicos. E, finalmente,
através de interações e colapsos gravitacionais,
o surgimento de todo este Universo repleto de
constelações, nebulosas e galáxias, que deixa
assombrados os astrônomos e todos nós.
* N.E.: Parece existir comportamentos distintos dos seres, quanto
à capacidade de flutuação após a morte. Experimentos prelimi­
nares, com organismos recentes, indicam que as aves flutuam
em média 76 dias, os mamíferos 56 dias, os répteis 32 dias e
os anfíbios 5 dias.
A grande catástrofe
O que os cri acionistas pensam disso tudo?
A idade da Terra e do Universo é assunto que
tem gerado bastante discussão e estudos entre
os criacionistas. É difícil explicar como uma explo­
são geraria tanta orga­
nização, como vemos
[
no sistema soiar, por
exemplo.
A idade da Terra é assunto que
ainda gera muita polêmica, mas
há evidências de que não seja tão
antiga como alguns propõem
Os métodos usados para datar rochas são
confiáveis?
O principal deles, e talvez o mais utilizado, é
o método da datação radiométrica. Ele indica que
algumas rochas parecem ter realmente centenas de
milhões de anos. Mas surgem várias perguntas: Esse
método é plenamente confiável? Os vários métodos
de datação radiométrica são compatíveis entre si?
Será que se chega a resultados equivalentes e preci­
sos ao usar este ou aquele método? Eu diria que não.
Poderíamos ainda afirmar que a taxa de desintegra­
ção radioativa dos elementos, como conhecemos
hoje, sempre ocorreu com a mesma velocidade nas
condições do passado? Eu diria que é precário afir­
mar, em termos científicos, que o que está ocorrendo
hoje tenha ocorrido bilhões de anos atrás.
^
Por Que Creio •
Existem evidências de que a Terra é jovemf
No que diz respeito à vida, certamente sim. Já,
quanto à idade da Terra, no seu aspecto físico ou
inorgânico, ainda não temos elementos suficien­
tes nem conclusivos. No entanto, existem hipóte­
ses interessantes que defendem uma Terra jovem,
destacando-se o modelo apresentado por Robert
Gentry, incontestável perito mundial em halos ra­
dioativos. Os radiohalos correspondem a micros­
cópicas feições encontradas preferencialmente
em biotita, um dos minerais essenciais das rochas
graníticas. Essas minúsculas estruturas são origina­
das pela emissão de partículas-alfa, a partir de um
pequeno grão de material radioativo. No seu tra­
jeto, essas partículas danificam a porção mineral
circunjacente. Tendo em vista o contínuo processo
de desintegração radioativa de "pai" para "filho",
partículas-alfa com energias ou velocidades dife­
renciadas são produzidas, gerando então uma es­
trutura equivalente a várias esferas concêntricas,
cujo centro conteria o referido grão radioativo.
Segundo o próprio Gentry, sua maior descoberta
foi verificar a surpreendente presença de radiohalos
compostos exclusivamente por Polônio-218 (meiavida de 3,5 minutos), de origem primária, em gra­
nitos pré-cambrianos. A conclusão é imediata-os
granitos "pré-cambrianos" foram formados "a frio"
• • •—.----------* N.E.: Granito é uma rocha grosseiramente cristalina, que
consiste de cristais claros e escuros que se entrelaçam, não
em camadas; às vezes derivada do metamorfismo de rochas
sedimentares, também de origem vulcânica a partir do lento
resfriamento de magma.
• A grande catástrofe
de maneira praticamente instantânea. Considera-se
ainda a possibilidade de, na semana da Criação, ter
ocorrido uma aceleração das taxas de desintegração
radioativa. Desta forma, as idades determinadas por
radiometria estariam excessivamente majoradas.
Como os críacionistas interpretam a origem
de nosso planeta?
De cinco maneiras diferentes, mas todas partindo
de Gênesis 1:1: "No princípio criou Deus os céus e
a terra." A primeira delas seria uma postura neutra,
analisando apenas a criação como está na Bíblia,
em seis dias literais. Fàra esses é irrelevante se a Terra
inorgânica existia antes ou não. A segunda postura
está ligada aos teólogos que, após estudo minucioso
da Bíblia, assumem uma posição também neutra,
considerando que é impossível saber a condição
exata da Terra antes da semana da Criação. A terceira
posição é a daqueles que usam o texto bíblico e
alguns argumentos científicos para mostrar que a
Criação foi feita em duas etapas. Uma etapa, con­
forme a geologia convenciona! apresenta, há 4,6
bilhões de anos; e outra, na semana da Criação,
quando Deus teria modelado a Terra, criado a hi­
drosfera, a atmosfera, a biosfera e assim por diante.
Mas também existem aqueles (a quarta possibilida­
de interpretativa) que imaginam um universo pre­
existente, provavelmente com bilhões de anos. E
no que se refere à Terra, tanto no seu aspecto físico
quanto orgânico, consideram-na um planeta "re­
cente". Finalmente, existeo ponto de vista de alguns
©
Por Que Creio •
criacionistas que creem numa criação recente de
todo o U niverso, inc Iuindo a Terra.
Cite duas evidências de planejamento inte­
ligente no Universo.
Conhecemos bem pouco do Universo que
nos rodeia. A escala ao nível do sistema solar
nos parece mais adequada para uma análise
mais fidedigna, tendo em vista a expressiva
quantidade de dados disponíveis (extraordiná­
rias imagens e fotos obtidas pelas naves espa­
ciais Mariner, Pioneer, Voyager, Galileu, etc.).
Dos nove planetas, a Terra se destaca de ma­
neira excepcional por apresentar características
únicas, todas elas favoráveis à vida - a distância
do Sol, os tempos de rotação e translação, a com­
posição da atmosfera, a abundância de água, etc.
A própria vida que se manifesta de maneira exu­
berante e variada em todos os ambientes, inclusive
naqueles mais inóspitos (regiões polares, áreas de­
sérticas, planícies oceânicas abissais, etc.), parece
apontar para algo muito além daquilo que o acaso
e o tempo possam oferecer.
Na verdade, o planeta Terra e a vida nele contida
não podem ser mero produto da associação fortuita
de várias situações altamente improváveis. A neces­
sidade de um projetista inteligente impõe-se, pelo
menos, como exigência da própria razão humana.
Este Grande Arquiteto e Planejador é o soberano e
amorável Deus que você e eu, consciente ou incons­
cientemente, desejamos conhecer e adorar.
O PROIETISTA#
CÓSMICO f
Urias EchterhoffTakatoni
Urias EchterhoffTakatohi nasceu em Recife, PE, no
dia 23 de agosto de 1949. Iniciou seu bacharelado
no Instituto de Física da Universidade de São Paulo
(USP) e concluiu a licenciatura em Física na Organi­
zação Santamarense de Educação e Cultura (antigo
nome da Universidade de Santo Amaro, UNISA). Fez
mestrado e doutorado em Física também na USP.
Foi professor de Física e Matemática no Instituto
Educacional LuzWelI, em São Paulo; professor de
Matemática e Educação Religiosa no Instituto Adventista Caxiense, em Duque de Caxias, RJ; profes­
sor de Física, Matemática e Química no Instituto
Petropolitano Adventista de Ensino, em Petrópolis,
RJ; professor de Matemática, Física e Linguagem de
Programação no Ensino Médio do Centro Universi­
tário Adventista (UNASP), campus I, em São Pau­
lo; professor de Física, Cálculo Numérico, Matemá­
tica Aplicada e Ciência das Origens, para os cursos
de Matemática e Biologia no UNASP, campus 1.
Q Por Que Creio •
É membro do Núcleo de Estudos das Origens
(NEO ), sediado no UNASP, campus São Paulo, e
tem feito palestras por todo o Brasil.
Fale um pouco sobre seu tempo de acadê­
mico. Houve conflitos com sua visão criacionista? Como foram contornados?
Fiz minha graduação em Física no Instituto de
Física da USP, em São Fâulo, de 1968 a 1971. A
Física estuda os fundamentos do funcionamento
da natureza. Sua preocupação principal é enten­
der como as coisas funcionam e praticamente
não se discutiam as questões filosóficas sobre a
origem do espaço, do tempo e da matéria. Assim,
não havia nenhum conflito. Lembro-me apenas
de uma aula em que o professor Giorgio Moscati discutiu a questão da realidade das leis físicas
como as conhecemos, expressando-se mais ou
menos assim: "Não sabemos se as leis que de­
senvolvemos ou descobrimos correspondem exa­
tamente ao modo como Deus faz as coisas fun­
cionarem." Naquela ocasião um colega de classe
se alarmou com a menção de Deus feita pelo
professor, mas não houve nenhuma discussão.
No mestrado, que cursei na mesma instituição^
de 1982 a 1988, realizei um trabalho de pesquisa
que utiliza uma propriedade dos sólidos que pode
ser utilizada em datação. Meu orientador pensou
em utilizar esse fenômeno (da termoluminescência),
que em geral é utilizado para datação arqueológica,
para datar fósseis de peixes do Cretáceo. Como os
• 0 projetista cósmico
resultados aparentes não eram compatíveis nem
com a cronologia geológica convencional nem
com uma cronologia bíblica, conduzi o enfoque
da pesquisa para o estudo das propriedades do
material utilizado sem discutir a utilização dessas
propriedades para uma tentativa de datação.
Alguns acreditam que a teoria do Big Bang
confirma que tudo teve um início. O que o
senhor pensa disso ?
A teoria do Big Bang, também chamada de Mo­
delo Padrão para a Origem do Universo, começou
a ser desenvolvida com as descobertas em astrofí­
sica e desenvolvimentos da física teórica, a partir
do início do século 20. Ao longo de todo o século
20 foram sendo acrescentadas peças ao modelo
e modelos concorrentes foram sendo gradualmen­
te abandonados por não serem adequados para
explicar os dados observacionais acumulados.
Apesar de ter sido concebido num contexto cul­
tural naturalista/o modelo padrão resultou num
quadro que afirma que o Universo teve um início
(inclusive o espaço e o tempo em que ele existe).
Esta conclusão foi mal recebida por vários cien­
tistas e filósofos, pois um modelo naturalista mais
* Nota do entrevistador: A visão de mundo {ou cosmovisão)
naturalista considera que o Universo observável é a realidade
fundamental, existindo por si, tendo se desenvolvido sem a
participação de uma divindade criadora. Somente o acaso e as
leis naturais promovem todos os processos, inclusive a origem
e evolução da vida a ponto de produzir seres pensantes que
tomam tempo para discutir sua própria origem.
Púr Que Creio •
confortável deveria levar à ideia de que o Universo
é estável, não apresentando indícios de um início.
Se alguma coisa tem um início, a lógica pede que
se procure uma causa para esse início, Muitos na­
turalistas viram nisto uma brecha para se discutir
a existência de uma divindade que transcende o
próprio Universo.
Como exemplos de tentativas de fuga desta
conclusão temos:
Arthur S. Eddington: "Filosoficamente, a no­
ção de um início da ordem atual da natureza é
repugnante para mim" ("The end of the world:
from the standpoint of mathematical physics",
Nature 127:450, 1931).
Albert Einstein desenvolveu a teoria geral da
relatividade. Suas equações mostravam que não é
possível que o Universo seja estático. A alternativa
para isto seria um Universo em expansão. Um Uni­
verso em expansão sugere que há algum tempo no
passado todo o Universo estaria concentrado num
ponto, e isto implica que teria um início. Fàra fugir
dessa conclusão ele acrescentou em suas equações
um termo conhecido como fator cosmológico, que
permitiria um Universo estático. Somente alguns
anos depois, quando Edwin Hubble anunciou sua
descoberta de que o espectro da luz proveniente
de galáxias distantes apresenta deslocamento para o
vermelho proporcional à distância dessas galáxias, e
que essa observação poderia ser interpretada como
uma expansão do Universo, é que Einstein admitiu
que o fator cosmológico era desnecessário.
• O projetista cósmico
Fred Hoyle, Hermann Bondi eThomas Gold
propuseram a teoria de um Universo estável
motivados pelo interesse de poder escapar de
um início para o Cosmo. Apesar disso, o pró­
prio Hoyle deu uma grande contribuição para
o modelo do Big Bang ao mostrar que a melhor
explicação para a proporção de 1 átomo de hé­
lio para cada 10 de hidrogênio, observada no
Universo, é uma origem densa e quente.
A ideia de que tudo teve um início é com­
patível com textos bíblicos tais como: Gênesis
1:1 ("No princípio, criou Deus os céus e a ter­
ra"); Hebreus 11:3 ("Pela fé, entendemos que o
Universo foi formado pela palavra de Deus, de
maneira que o visível veio a existir das coisas
que não aparecem"); e Provérbios 8:26 insinua
um tempo em que não havia nem "o princípio
do pó do mundo".
O que se deve evitar é tentar encontrar algum
paralelo entre a sequência de eventos propostos
pelo Modelo fàdrão com a sequência de eventos
da semana da Criação de Gênesis 1, que pode ser
interpretado como descrevendo eventos criativos
apenas na superfície do pfaneta Terra.
O Modelo Radrão lida com situações extre­
mas no início do Universo, muitas das quais não
podem ser verificadas experimentalmente, de
forma que pode conter bastante especulação.
O Modelo Padrão sugere que as condições
iniciais do Universo, as constantes físicas e as
relações entre os diferentes tipos de forças da
Por Que Creio •
natureza (força gravitacional, eletromagnéti­
ca, e as forças fraca e forte) devem ter sido
muito bem afinadas para resultar no Universo
que observamos, com a possibilidade de exis­
tir um planeta como o nosso, com seres vivos
como nós. Pequenos desvios nessa afinação
resultaria num universo completamente dife­
rente e incapaz de conter vida como a nossa.
Esta conclusão sugere um início planejado e
é compatível com uma visão de mundo teísta.
Então, a existência de leis físicas que regem
o Universo pode nos levar à conclusão de que
houve lógica e planejamento em sua criação.
A reação de diversas pessoas a respeito da
existência de leis físicas e leis com estrutura ma­
temática pode ser vista nestes exemplos: "O alvo
principal de todas as investigações do mundo
externo deve ser descobrir a ordem racional e
harmonia que foi dada a ele por Deus e que Ele
nos revelou na linguagem da Matemática" (Johannes Kepler, 1571-1630); "As equações da Física
têm uma simplicidade incrível, elegância e bele­
za. Isto em si é suficiente para provar para mim
que deve haver um Deus responsável por essas
leis e responsável pelo Universo" (Raul Davi es,
1984); "Nós sabemos que a natureza é descrita
pela melhor de todas as matemáticas possíveis
porque Deus a criou" (Alexander Pòlykov, 1986,
"Scientists at the frontiers", Fortune, 13/10/86); "A
enorme utilidade da Matemática é algo à beira do
• 0 projetista cósmico
misterioso, f...] Não há uma explicação racional
para isto... O milagre da adequação da linguagem
da Matemática para a formulação das leis da Físi­
ca é um dom maravilhoso que nem entendemos
nem merecemos..." (Eugene Wigner, The Unreasonable Effectiveness of Mathematics in the Physical Sciences, 1960); "Você pode estranhar que
eu considere a possibilidade de compreender o
mundo como um milagre ou um mistério eterno.
Bem, a priori deve-se esperar um mundo caótico,
que não possa ser apreendido pelo pensamento
de nenhuma forma... O tipo de ordem criada, por
exemplo, pela teoria da gravitação de Newton é
algo bem diferente. Mesmo que os axiomas da
teoria tenham sido elaborados por um ser hu­
mano, o sucesso de tal empresa pressupõe uma
ordem no mundo objetivo em um alto grau, que
não se tem direito de esperar a priori. Este é o mi­
lagre que se torna cada vez mais persuasivo com
o crescente desenvolvimento do conhecimento"
(Albert Einstein, Letters a Maurice Solovine)*
Note que Kepler (assim como outros pais
da Física, nos séculos 16 e 17) acreditava que
o Universo é ordenado de forma que suas leis
podem ser expressas matematicamente, porque
Deus assim o tinha feito. Alguns cientistas mo­
dernos como Polykov e Davies estão admitindo
a mesma ideia.
* Estas citações foram extraídas do capítulo 12 do livro Signs of
Intelligcnce - Understanding Intelligent Design, de Walter L.
Bradley {Brazos Press, Grand Rapids Michigan, 2001).
Por Que Creio •
Em contraste, Wigner e Einstein consideram
esse fato um mistério ou "milagre". Esse modo
de ver o fato sugere que Wigner e Einstein usa­
ram um pressuposto naturalista. Eles não soube­
ram explicar por que a natureza é assim.
E como explicar fisicamente a origem da
informação genética?
Não há como. As leis físicas que regem o com­
portamento dos átomos não explicam a origem
da informação contida nas estruturas dos seres
vivos. A molécula do D NA, que contém infor­
mações sobre a maneira de construir as proteínas
necessárias para o organismo, é formada por um
arcabouço de fosfatos e desoxirriboses que não
varia ao longo de toda a molécula. Ligadas a esse
arcabouço, mas não ligadas entre si, encontramse quatro tipos de bases (A, G, C e T), que formam
sequências que levam informação, assim como
uma sequência de letras constitui uma sentença.
A "leitura" dessas sequências é feita agrupandose as bases de três em três, de forma que, na rea­
lidade, temos um "alfabeto" de 4-1= 64 "letras". A
origem da informação nesse tipo de estrutura não
pode ser atribuída às leis físicas, assim como as
leis físicas não explicam a origem da informação
neste texto que você está lendo. Toda a nossa ex­
periência indica que informação desse tipo sem­
pre é o resultado da ação de seres inteligentes.
Essa é uma forte evidência de que os seres vivos
foram inteligentemente planejados.
• 0 projetista cósmico
Representação esquemática da estrutura do DNA. A espiral dupla é
ilustrada à esquerda. Um nuclcotídeo seria a combinação de P, D e
uma A, T, G ou C.
informações genéticas do homem têm cerca
de três bilhões de pares desses em cada célula. A , T , C e C represen­
tam as bases: adenina, timina, guanina e citosina, respectivamente.
D representa um açúcar desoxirribose, c P é o grupamento de fos­
fato. Os dois conjuntos são unidos por pontes de hidrogênio (linhas
interrompidas no diagrama da direita) formadas entre as bases.
De que forma a Segunda Lei da Termodinâmica
fere a base conceituai evolucionista?
A Primeira Lei da Termodinâmica é a da conser­
vação da energia. Ela afirma que em qualquer tipo
de transformação de energia sua quantidade total é
a mesma desde que seja contabilizada toda energia
que vem de fora do sistema e toda energia que
sai do sistema. A Segunda Lei da Termodinâmica
descreve como a energia flui. Sabemos por expe­
riência que o calor sempre flui espontaneamente
de lugares com temperatura mais alta para lugares
com temperatura mais baixa. Da mesma forma, a
matéria flui de lugares onde a concentração é maior
para lugares onde a concentração é menor.
Em termodinâmica estudam-se sistemas que
podem ser isolados ou não isolados, fechados ou
Por Que Creio •
abertos. Sistema é uma porção de matéria em es­
tudo. Num sistema isolado não há troca nem de
matéria nem de energia com sistemas em volta.
Num sistema fechado pode haver troca de energia
com outros sistemas, mas não troca de matéria.
Rara um determinado sistema, algumas quan­
tidades são definidas e medidas, tais como a
quantidade de matéria contida, a energia interna
e a entropia. Essas quantidades são denominadas
extensivas. Outras quantidades, tais como tem­
peratura e pressão, também são definidas e me­
didas. Estas últimas são denominadas intensivas.
A Segunda Lei da Termodinâmica afirma que
um determinado sistema isolado evolui sempre no
sentido de tornar máxima a sua entropia. Fica difícil
explicar o significado disso sem as definições preci­
sas das relações entre as grandezas mencionadas.
Rara ilustrar, suponha um sistema em que a
temperatura em uma região é maior do que em
outra. A entropia máxima será alcançada quando
a temperatura em todo sistema for homogênea. Su­
ponha ainda um sistema composto por cristais de
açúcar em um copo de água. A entropia máxima
será alcançada quando o açúcar tiver se dissolvido
e difundido pela água até sua concentração ficar
homogênea. Sistemas isolados evoluem no sen­
tido de chegar ao equilíbrio termodinâmico. Isso
corresponde ao estado de máxima entropia.
Uma extrapolação dessa ideia da Segunda Lei
da Termodinâmica é a observação de que se o Uni­
verso é tudo o que há (uma ideia naturalista), então
• 0 projetista cósmico
o Universo é um sistema fechado. Como tal, sua
entropia deve estar aumentando, buscando seu
máximo. Esse máximo seria atingido quando a tem­
peratura em todo o Universo estivesse homogênea.
Nesta situação, nenhum processo poderia mais
ocorrer. Seria a morte final de todo o Universo.
Quando se considera o Universo como algo
criado, o Criador está fora dele e o Universo não
é mais um sistema fechado. Isso abre a perspec­
tiva de que o Criador possa fazer a manutenção
deste sistema, evitando sua morte final.
£ o que dizer da Termodinâmica em reiação
à origem de sistemas vivos?
Os seres vivos são sistemas termodinâmicos
abertos. Termodinamicamente, de acordo com
Peter M. Molton, a vida tem sido definida como
"regiões de ordem que usam energia para man­
ter sua organização contra as forças desagregadoras da entropia". Entretanto, os seres vivos
fazem essa tarefa adequadamente usando um
complexo maquinário bioquímico. A formação
desse maquinário a partir de suas peças, sem a
interferência de um processo dirigido por uma
inteligência, apresenta obstáculos intransponí­
veis. A Segunda Lei da Termodinâmica não ex­
clui essa possibilidade se estivermos tratando
de sistemas abertos com fluxo livre de energia
e matéria. No entanto, não se conhece nenhum
mecanismo natural que dirija essa energia para
produzir a complexidade específica necessária
Por Que Creio •
para a formação dos compostos e estruturas es­
senciais para a criação de um ser vivo.
Rara mais detalhes, sugiro a leitura do livro
The Mystery of Life's Origin: Reassessing Cur­
rent Theories, de Charles B. Thaxton, Walter L.
Bradley e Roger L. Olsen.
Os cientistas evolucionistas frequentemente
fazem referência a milhões e bilhões de anos,
baseados nos métodos de datação radioativos.
Fale um pouco sobre esses métodos.
A datação de eventos fora do alcance do regis­
tro histórico depende de fenômenos que possuam
alguma regularidade, e de pressupostos sobre as
condições iniciais e sobre os processos envolvidos.
Vários fenômenos foram explorados, tais como:
acúmulo de sedimentos e acúmulo de sal nos ma­
res. O problema com esses fenômenos é que a taxa
de acúmulo pode não ser constante.
Com a descoberta da radioatividade e da lei
de desintegração radioativa, veio também a ideia
de utilizar esse fenômeno para datação de rochas.
Nesse caso, a taxa de desintegração é proporcional
à quantidade do material radioativo presente, de
forma que se pode prever como sua quantidade vai
diminuir com o tempo. O tempo necessário para
metade do material radioativo se desintegrar é cha­
mado de meia-vida e tem um valor determinado para
cada isótopo radioativo. Um isótopo radioativo A,
* N.E.: Que têm o mesmo número atômico, mas números de
massa diferentes.
O projetista cósmico
mediante sua desintegração, resulta num outro isótopo B. Se numa dada rocha ou num cristal de uma
rocha as quantidades de A e B forem conhecidas
num dado instante, e se nem A nem B forem introdu­
zidos ou retirados do material, então as quantidades
de A e B são uma função do tempo decorrido desde
o instante inicial. Admite-se que se conhecem as
quantidades iniciais de A e/ou B a partir de hipóteses
de que, acima de uma determinada temperatura,
todo B tenha escapado da rocha ou do cristal, ou
que as quantidades de A e B ficaram homogêneas
em todo o material se este ficou durante um tempo
suficiente acima de uma determinada temperatura.
Admite-se ainda que nem A nem B foram introdu­
zidos ou retirados do material, se depois de um
evento que aqueceu a rocha, ela tenha se resfriado
e ficado a uma temperatura suficientemente baixa
para que os elementos químicos não se difundam no
interior do material nem haja fluxo de água através
dele, o que poderia dissolver ou depositar algum
mineral trazido pela água. Assim, o método deve
datar o último evento de aquecimento da rocha.
Rochas sedimentares podem ser datadas se ficarem
entre rochas ígneas que tenham se formado antes
e depois da deposição da rocha sedimentar. Essa
relação antes e depois é determinada pela posição
relativa em que se encontram.
Esses métodos são confiáveis?
Tanto quanto se conhece, a taxa de desintegração
de isótopos radioativos é constante e praticamente
^
Por Que Creio •
não influenciada por variações ambientais comuns.
Já a garantia de que se conhecem as quantidades
dos isótopos A e B iniciais e de que o material se
manteve fechado com respeito aos isótopos A e/ou
B é mais incerta. F^ra quem crê numa existência
curta da vida na Terra (há poucos milhares de anos),
os resultados de datação de rochas sedimentares
contendo fósseis, mesmo que de forma indireta, pe­
los métodos radioativos, constitui um problema. A
esperança é que haja algum problema fundamental
com esses métodos, ainda não descoberto.
Em seus estudos na área da Física o senhor
vê evidências de um planejamento inteligente
no Universo? Pode apontar algumas?
Ver evidência de planejamento inteligente de­
pende muitas vezes da nossa disposição para ver.
O fato de que o Universo funciona por meio de leis
regulares que podem ser expressas na linguagem
da Matemática é evidência de que ele foi concebi­
do por planejamento inteligente. Entretanto, alguns
admitem isso enquanto outros consideram isso um
mistério ou um "milagre" (e milagre aqui tem o
sentido de algo não esperado e inexplicável).
Como mencionei antes, o Modelo Fàdrão para
a Origem do Universo (popularmente conhecido
como o modelo do Big Bang) sugere que várias
constantes fundamentais da natureza e várias con­
dições iniciais precisam estar finamente ajustadas
para resultar no Universo que observamos. Se o
modelo está correto, estas são outras evidências de
O projetista cósmico ^
planejamento inteligente. No entanto, há pessoas
que procuram contornar essa necessidade de pla­
nejamento inteligente propondo esquemas como
o princípio antrópico. Segundo esse princípio, to­
das as condições observadas no Universo têm os
valores que têm porque, se assim não fosse, não
estaríamos aqui para observá-las. Outros propõem
ideias tais como: deve haver uma infinidade de
universos e este em que moramos e observamos
é o que "deu certo"; isto é, tem as características
certas para resultar em seres pensantes como nós.
Entretanto, se removemos essa indisposição
para ver planejamento inteligente na natureza,
podemos vê-lo em quase tudo. Na estrutura do
Universo, na estrutura da matéria, nas condições
físicas e químicas do planeta Terra, nos seres vi­
vos, no ser humano, etc. Basta estudar um pou­
co do funcionamento das coisas da natureza.
Como Fàulo diz, na carta aos Romanos: "Porque
os atributos invisíveis de Deus, assim o Seu eter­
no poder como também a Sua própria divindade,
claramente se reconhecem, desde o princípio do
mundo, sendo percebidas por meio das coisas
que foram criadas" (1:20).
Pãra saber mais: leia o livro A Ciência Descobre
Deus, do Dr. Ariel A. Roth (Casa).
• U m a fonte
? CONFIÁVEL
Siegfried Julio Schwantes
O Dr. Schwantes nasceu em Poços de Caldas>
Minas Gerais, em 24 de julho de 1915. Aos 11 anos
foi para o Colégio Alemão, em Rio Claro, SP. Algum
tempo depois, seus pais resolveram mudar-se para
São Paulo», para favorecer a educação dos filhos.
Schwantes prestou então o exame de admissão para
o Ginásio do Estado, que era o estabelecimento pa­
drão para todo o Estado de São Paulo, na época.
Os demais estudos foram feitos nos Estados Unidos:
bacharelado em Física e Química no Pacific Union
College, em 1938; mestrado em Teologia na antiga
Potomac University (hoje Andrews University), em
1949; doutorado em Estudos Veterotestamentários na
Johns Hopkins University em 1963. Este doutorado
incluía estudos das línguas sem íticaso que fez com
que no segundo ano Schwantes tivesse que estudar
cinco línguas simultaneamente: hebraico, aramaico>
árabe>egípcio antigo (inclusive a leitura de hieróglifos)
e acádio (a língua-mãe do assírio e do babilónico).
• Uma fonte confiável
Desde o tempo em que foi professor de
Ciências no antigo Colégio Adventista Brasileiro
(hoje Centro Universitário Adventista, campus
1), durante cinco anos, sua vida foi dedicada ao
ensino e à pesquisa. Foi diretor do Instituto Teo­
lógico Adventista (hoje IPAE) durante três anos e
meio; professor no Spanish-American Seminary,
durante um ano; oito anos como professor de
Teologia, no Instituto Adventista de Ensino (hoje
U N A SP); quatro anos lecionando Teologia, na
Andrews University; cinco anos como diretor do
Departamento de Teologia do Middle East College, Líbano; diretor do Departamento de Teologia
no Collonges-sous-Salève (Seminário Adventista
da França), durante seis anos e meio; professor
de Teologia na Universidade de Montemorelos,
México, durante um ano e meio, de onde saiu
aposentado, em 1980. A seguir lecionou em vá­
rias faculdades, incluindo o Avon da le College,
na Austrália, e o Adventist International Institute
of Advanced Studies, nas Filipinas, até sua "apo­
sentadoria definitiva", em 1995.
Suas principais obras publicadas são: Colunas
do Caráter (publicado em 1957 pela Casa); A
Short History of The Ancient Near East, publicado
pela Baker Book House, em 1965; The Biblical
Meaning of History, Pacific Press, 1970; O Des­
pontar de Uma Nova Era (Casa), Mais Perto de
Deus (livro de meditações do ano de 1991); Estu­
dos em Arqueologia (IAE, 1983); além de artigos
publicados em diversas revistas.
Por Que Creio •
Antes de falecer, em 2009, o Dr. Schwantes re­
sidia em Silver Spríng, Maryland, EUA.
Ao longo de tantos anos como pesquisador
da arqueologia bíblica e das línguas semíticas,
o que mais lhe chamou a atenção quanto à
confiabilidade das Escrituras?
A Arqueologia não prova a Bíblia, mas de­
monstra que o quadro cultural e histórico da Bí­
blia corresponde à realidade. Se este quadro é fi­
dedigno, segue-se que a mensagem religiosa que
ela comunica ao leitor é também digna de fé. A
Arqueologia, projetando luz sobre a língua, histó­
ria e religião de povos contemporâneos de Israel,
permite-nos compreender muitos termos técnicos
e alusões históricas, que de outro modo nos es­
capariam. Como exemplo, podemos citar o termo
Miqweh, de 1 Reis 10:28, que permaneceu obs­
curo até que o Dr. William F. Albright reconheceu
nele uma referência a Qweh, nome antigo da Cili­
cia, de onde Salomão importava cavalos.
Há quem acredite que o texto bíblico, ao ser
traduzido>pode ter sido alterado de tal forma
que já não se pode confiar integralmente em
sua mensagem. Isso é assim?
Não há perigo de que o texto bíblico tenha so­
frido seriamente ao ser traduzido de uma língua
para outra. O Antigo Testamento, por exemplo, foi
traduzido do hebraico para o grego entre 250 e 150
antes de Cristo, para benefício de congregações
• Uma fonte confiável
judaicas no Egito que não mais estavam familiari­
zadas com a língua materna. O Antigo Testamento
resultante é conhecido como a Septuaginta. Há
várias cópias da Septuaginta, e ela é citada por mui­
tos estudiosos, conhecidos como "pais da igreja",
inclusive por escritores do Novo Testamento. Pois
bem, essas citações podem ser comparadas com
o texto hebraico, e verifica-se que as pequenas
divergências não afetam nenhuma doutrina fun­
damental. Jerônimo traduziu o Antigo Testamento
do hebraico para o latim, e o texto resultante, co­
nhecido como a Vulgata, foi a única Bíblia que a
Europa conheceu durante a Idade Média. Longe
de as traduções corromperem o texto bíblico, elas
permitem comparar as várias traduções e constatar
um elevado grau de respeito pelo texto original.
Fale sobre os Manuscritos do Mar Morto.
Os Manuscritos do Mar Morto, que começa­
ram a vir à luz em 1947, contêm além de livros
próprios da seita dos essênios, dois manuscritos
de Isaías e um comentário do livro de Habacuque, além de muitos fragmentos que resistiram
à passagem do tempo. Os estudiosos têm aí a
oportunidade de comparar os textos bíblicos tais
quais eram no tempo de Cristo com os melhores
textos do Antigo Testamento em hebraico, que
chegaram até nós. De novo as diferenças são mí­
nimas, geralmente diferenças de ortografia, uso
de sinônimos, e outras pequenas variantes, que
não afetam nenhuma doutrina bíblica.
Por Que Creio •
A datação do material foi facilitada pelo fato de
que muitas moedas foram ali achadas. Como de
Vaux observou, "as datas são confirmadas [também]
pela cerâmica em diferentes partes do edifício".
Note que mil anos separam os textos bíblicos
achados nas cavernas de Qumran dos melhores
manuscritos do Antigo Testamento. Havia grande
oportunidade para que erros fossem introduzidos
no texto bíblico. A concordância dos textos atesta
o esmero com que os copistas fizeram seu trabalho
para preservar a pureza do texto do Antigo Testa­
mento que chegou até nós.
Tomando como exemplo o Rolo A de Isaías,
de todos o mais completo, pode-se afirmar que
seu texto consonantal é praticamente idêntico ao
texto de Isaías contido na Bíblia Hebraica, edita­
da por Jacob Ben Chayyim, em 1527.
Podemos aceitar que os dias da Criação foram
reaimente dias de 24 horas? O que a língua origi­
nal de Gênesis nos diz a respeito?
A língua original de Gênesis só conhece um
valor para o termo yom, que significa "dia''. Ne­
nhum texto bíblico apoia a ideia de que yom pos­
sa significar "época".
Numa tentativa de evitar maiores problemas com
o evolucionismo, algumas pessoas aplicam a teoria
dos dias-eras ao relato de Gênesis 1. Fàra elas, os
seis dias da Criação, na verdade, são longos períodos
de tempo. Será que isso é possível? Antes de mais
nada, é preciso deixar claro que o termo yom em
• Uma fonte confiável ^
Gênesis 1 não se liga a nenhuma preposição; não
é usado em uma relação construtiva; e não tem ne­
nhum indicador sintático que seria de se esperar para
um uso extensivo não literal. Nas Escrituras, a palavra
yom invariavelmente significa um período literal de
24 horas, quando precedida por um numeral, o que
ocorre 150 vezes no Antigo Testamento. Obviamen­
te, no relato da Criação existe sempre um numeral
precedendo aquela palavra - primeiro, segundo,
terceiro... sétimo dia; e essa regra para a tradução
de yom como um dia literal aplica-se neste caso.
O que parece ser significativo, também, é a ênfase
dada à sequência dos numerais 1 a 7, sem hiato
algum ou interrupção temporal. Esse esquema de
sete dias (seis dias de trabalho seguidos por um
sétimo dia de repouso) interliga os dias da Criação
como dias normais em uma sequência consecutiva
e ininterrupta. O relato da Criação em Gênesis 1
não somente liga cada dia a um numeral sequencial,
como também estabelece as fronteiras do tempo
mediante a expressão "tarde e manhã" (versos 5,8,
13,19,31 ). A frase rítmica "e houve tarde e manhã"
provê uma definição para o "dia" da Criação; e se
o "dia" da Criação constitui-se de tarde e manhã,
é, portanto, literal. O termo hebraico para "tarde" 'ereb - abrange toda a parte escura do dia (ver dia/
noite em Gênesis 1:14). O termo correspondente,
"manhã" (em hebraico bqer) representa a parte clara
do dia. "Tarde e manhã" é, portanto, uma expressão
temporal que define cada dia da Criação como
literal. Não pode significar nada mais.
Por Que Creio •
Outra espécie de evidência interna no Antigo
Testamento para o significado dos dias resulta de
duas passagens sobre o sábado no Pentateuco, que
se referem aos dias da Criação. Elas informam ao
leitor a respeito da maneira pela qual os dias da
Criação são compreendidos por Deus. A primeira
passagem faz parte do quarto mandamento do De­
cálogo, e está registrada em Êxodo 20:9-11: "Seis
dias trabalharás [...], mas o sétimo dia é o sábado
do Senhor teu Deus [...] porque em seis dias fez o
Senhor os céus e a terra [...] e ao sétimo dia descan­
sou; por isso o Senhor abençoou o dia de sábado
e o santificou." Estas palavras foram proferidas por
Deus (verso 1). A ligação com a Criação transparece
no vocabulário ("sétimo dia", "céus e terra", "des­
cansou", "abençoou", "santificou") e no esquema
"seis mais um". Evidentemente as palavras usadas
nos Dez Mandamentos deixam claro que o "dia"
da Criação é literal, composto por 24 horas, e de­
monstram que o ciclo semanal é uma ordenança
temporal da Criação. Argumentar em contrário é
forçar o texto bíblico a dizer o que não diz.
Forque o senhor considera o criacionismo uma
filosofia mais aceitável que o evolucionismo?
Porque não posso conceber que o Universo ma­
ravilhoso em que vivemos possa ter vindo à existên­
cia a partir do nada. Não posso conceber, tampou­
co, que o caos pudesse se transformar num cosmos
sem a intervenção de um Deus infinitamente sábio
e poderoso. "Os céus declaram a glória de Deus"
• Uma fonte confiável ^
(Salmo 19:1). A entropia, um princípio básico da
Física, sugere degradação e desordem crescentes,
e não organização e harmonia. Nem o criacionismo, nem o evolucionismo podem ser verificados
no laboratório, como exige a ciência. Ambos não
passam de filosofias, e como filosofias só são aceitos
pela fé. Se é questão de fé, prefiro aquela que requer
menos credulidade. Rara mim, é mais crível que um
Deus infinitamente sábio e onipotente trouxe este
Universo à existência, do que crer que o Universo
surgiu do caos espontaneamente.
Para o senhor, quais sào as maiores evidências
da existência do Criador
Creio que seja justamente este Universo com
toda a sua beleza e harmonia. O Big Bang pressu­
põe energia inicial que explode e se expande, para
produzir o Universo tal qual existe hoje. De onde
veio essa energia, se do nada, nada pode surgir?
A complexidade irredutível observada mesmo em
uma célula viva não poderia ter vindo à existência
por um processo evolucionário, de incremento em
incremento. A razão é que os mecanismos biológicos
não funcionariam antes de todos os componentes
estarem presentes e funcionando. Uma célula viva
mais se parece com uma fábrica sofisticada do que
com um glóbulo de proteína, como Darwin ima­
ginava. O desígnio evidente em toda natureza só
pode ser produto de um Planejador infinitamente
sábio e onipotente. E é a esse Planejador que eu
adoro como meu Deus.
• E m d efesa d o
? CRIACIONISMO
I
O professor Euler Pereira Bahia tem 48 anos e
é matemático. Atuou vários anos como professor
de Matemática no Ensino Superior, foi diretor da
Faculdade Adventista de Ciências durante 9 anos,
e é o fundador do Núcleo de Estudos das Origens,
com sede no Centro Universitário Adventista
(UNASP), campus São Paulo. Atualmente é o
reitor do UNASP.
Q ual deve ser a postura dos professores
criacionistas ao abordar o criacionismo em
escolas confessionais e não confessionais
Entendo que esta deve ser, em primeiro lugar,
inteligente. O professor deve conhecer as virtudes
do modelo criacionista confrontado com o modelo
evolucionista. A grande maioria dos estudantes tem
algum tipo de formação religiosa que antecede sua
formação escolar e sua iniciação nas ciências. Por
essa razão, há, na maioria dos casos, abertura para
• Em defesa do criocionismo
uma abordagem integrativa entre fé e ciência. Se o
professor for competente, seus alunos reconhecerão,
respeitarão, e se curvarão às evidências apresentadas
por ele, que são ricas, fortes e consistentes.
É claro que o professor deve ser também sufi­
cientemente hábil para fazer uma leitura do con­
texto escolar e equilibrar os conteúdos e enfoques
que serão mais bem recebidos pela escola e pelos
estudantes.
Quais são os principais desafios enfrentados pelos
acadêmicos criacionistas e como enfrentá-los?
Penso que são praticamente os mesmos em
todos os tempos e lugares. Alteram-se as formas;
porém, em essência, os maiores desafios são os de
defrontarem-se com o estímulo à crença no erro
como se este fosse a verdade; a tendência de mini­
mizar a autoridade da Ralavra de Deus e a ênfase
em dar relevância à sabedoria humana em substi­
tuição ao conhecimento revelado. No entanto, é
bom acentuar que os desafios são inversamente
proporcionais ao preparo para enfrentá-los. Quem
tem raízes profundas, subsiste a essas intempéries.
Venham elas de onde vierem. Que fantástico de­
safio para pais e professores!
Pode mencionar algum desafio de seu tempo
de estudante?
Obtive minha graduação em uma universida­
de católica. No terceiro ano do curso me deparei
com as disciplinas relacionadas à Evolução. Meus
Por Que Creio •
professores, um casal de evolucionistas reconhe­
cidos, D rs. Osvaldo Frota Pessoa e Ariane Luna
Pessoa, da UFRJ, logo perceberam que tinham na
classe um aluno criacionista. Rara conquistar sua
simpatia de modo a poder desenvolver algum diá­
logo construtivo, decidi que deveria ser o melhor
aluno da classe na disciplina de Evolução. A es­
tratégia funcionou. Logo passei a ser reconhecido
e a gozar do respeito e consideração por parte do
casal. No ano seguinte veio a prova de fogo. Metade
das aulas semanais seriam oferecidas aos sábados
e, certamente, eu seria reprovado por frequência,
pois, como adventista do sétimo dia, não assistiria
às aulas no sábado.* Decidi reafirmar diante deles
que preferia a reprovação a transigir com um prin­
cípio que tinha, particularmente, estreita relação
com minhas convicções a respeito das origens. Eles
ficaram de estudar o caso e apresentar uma resposta
depois de alguns dias. Enquanto isso, orei muito.
No dia do encontro marcado, eles me trouxeram
uma sugestão. Disseram-me: "Nós o apreciamos
muito. Se você mantiver o mesmo desempenho
que tem tido até agora, nós lhe daremos a pre­
sença necessária para sua aprovação." E assim foi.
Deus me abençoou e continuei sendo o aluno da
confiança deles. Apenas dei a eles algum trabalho
extra, pois quando as provas eram realizadas aos
* Nota do entrevistador: Baseados em textos bíbl icos como Gênesis
2:2, 3; Êxodo 20:8-11; Mateus 5:17-18; Lucas 4:16, 23:44, 50-56;
Atos 16:13; Ezequiel 20:20; Levítico 23:32, dentre outros, os adventistas reservam as horas entre o pôr do sol de sexta-feira e o pôr do
sol de sábado para atividades religiosas e de cunho assistencial.
• Em defesa do críacíonismo
sábados, por solicitação da classe, eles tinham que
elaborar uma prova exclusiva para mim.
Qual é o melhor caminho/estratégia para o cris­
tão defender suas convicções frente a uma pessoa
cética ou de formação unicamente científica?
As convicções dos evolucionistas são construí­
das a partir da aceitação de pressuposições natura­
listas. Além disso, há toda uma lógica que estrutura
o pensamento do evolucionista. Na concepção
dele, essa lógica é soberana. Não se pode esperar
que essa visão moldada segundo pressupostos,
ainda que equivocados, seja destruída com argu­
mentação simplista ou com ataques pessoais. Além
disso, é necessário entender que, para o evolucio­
nista de hoje, renunciar às suas "crenças" signifi­
ca praticamente a sua exclusão do estahlishment
científico atual, o que não é algo desprezível. Por
isso, defendo que a estratégia cristã deve ser a de
coerência com os princípios gerais do cristianis­
mo; isto é, que o cristão tenha uma sólida base
de conhecimentos bíblicos e científicos, para fun­
damentar as razões de suas convicções e a lógica
criacionista. Além disso, que ao confrontar-se com
um evolucionista tenha sempre em mente que seu
propósito deve ser o de combater o modelo da
evolução e não o evolucionista.
O que é o NEO?
É o Núcleo de Estudos das Origens, sediado e
mantido pelo Centro Universitário Adventista de
Por Que Creio •
São Fbulo. É um grupo multidisciplinar de estu­
dos e produção acadêmica. Pretendemos fortale­
cer esse trabalho através da agregação de novos
pesquisadores, e da oferta de condições para que
desenvolvam mais produção científica mediante
pesquisa de campo e experimental.
(Contatos com o NEO podem ser feitos pela Cai­
xa Postal 12630, CEP 04744-970, São Raulo, SP)
Que áreas da pesquisa científica oferecem
maiores dificuldades para o criacionista?
Particularmente, considero que, uma vez que os
eventos históricos dos quais temos conhecimento
são relativamente recentes, e levando-se em conta
que os atos da Criação e do Dilúvio representaram
intervenções diretas da Divindade no tempo, pareceme que as questões relativas à medição de tempo e
de idades, sejam de fósseis, sejam das rochas, são
ainda um campo que deve ser melhor conhecido,
de modo a oferecer respostas mais precisas tanto
para os criacionistas quanto para os evolucionistas.
Que áreas oferecem mais respaldo às pre­
missas criacionistas?
Vejo que certos tópicos da Matemática, da Física
e, principalmente, os notáveis progressos da atuali­
dade na Bioquímica e na Biologia Molecular, são os
grandes campos que apresentam argumentos que
corroboram o modelo criacionista das origens.
Rara saber mais: visite o site www.scb.org.br
A OBRA DO
GRANDE ARTISTA ?
Queila de Souza Garcia
Queila de Souza Carcia nasceu em Juiz de
Fora, M G > em 1963. Graduou-se em Ciências
Biológicas na Universidade Federal do Espírito
Santo, em 1989. Concluiu o Mestrado em
Biologia V e g e ta le m 1 9 9 2 e o Doutorado
em C iê n c ia se m 1997, ambos na UNICAMP.
Desde 1994 é professora de Fisiologia Vegetal
na Universidade Federal de Minas Gerais; além
disso , é orientadora de mestrado e doutora­
do nos cursos de pós-graduação em Biologia
Vegetal e em EcologiaC on servação e Manejo
de Vida Silvestre da U FM G. Tem vários artigos
publicados em revistas científicas nacionais e
internacionais.
Nesta entrevista, fala sobre as evidências de
planejamento inteligente na natureza.
Num artigo publicado na Revista Adventista/
a senhora menciona a semelhança morfológica
Por Que Creio •
entre os diferentes grupos de vertebrados. De
que forma esse fato aponta para o Criador?
O que identifica o autor de uma extensa
obra literária, ou a obra de um artista plás­
tico, ou de um arquiteto? Não é exatamente
a capacidade de criar obras distintas a par­
tir de um mesmo estilo ou padrão? Ou seja,
mantendo características particulares que se
tornam sua marca registrada e permitem sua
identificação? Por exemplo, como é possível
identificar a capacidade criativa de Michelangelo nas suas esculturas e pinturas feno­
menais ou a genialidade de Gaudi nas formas
orgânicas da sua arquitetura? Se esses pro­
fissionais tivessem produzido obras comple­
tamente diferentes, sem nenhum caráter co­
mum, seria impossível identificá-los através
de uma análise das suas criações. Desta for­
ma, penso que Deus, em Sua extraordinária
sabedoria, é capaz de criar formas animais
infinitamente diferentes, que habitam am­
bientes aquáticos, terrestres e aéreos, a partir
de um único modelo. Com uma morfologia*
padrão, os animais podem rastejar, pular, ca­
minhar, nadar e voar! Para o evolucionista
isso é uma evidência de evolução, uma vez
que a similaridade das estruturas aponta para
um ancestral comum. Para mim, isso é uma
evidência da identidade do Criador.
* Nota do entrevistador: Morfologia é o estudo da forma, espe­
cialmente de um organismo ou suas partes.
• A obra do grande artista
f as similaridades também existem no âmbi­
to genético?
Sim, a genética confirma que, em linguagem
evolucionista, parte do genoma está "conserva­
do filogeneticamente", de bactérias (organismos
mais simples) a mamíferos (seres mais comple­
xos, incluindo o homem). Isto quer dizer que
não só as formas, mas também as informações
genéticas, que produzem essa infinidade de se­
res diferentes, mantêm o mesmo padrão.
O padrão celular é muito semelhante e al­
guns processos metabólicos, como a respira­
ção mitocondrial e a apoptose, são estritamente
idênticos em plantas e animais. A respiração
mitocondrial é um processo metabólico bas­
tante conhecido, no qual o oxigênio (O,) é
consumido na quebra dos açúcares, liberando
energia (ATP) e gás carbônico (CO J. A apoptose,
também conhecida como morte celular progra­
mada, representa um mecanismo de eliminação
seletiva de células, cuja sobrevivência poderia
prejudicar o bem-estar do organismo. Consiste
em um tipo de morte programada, desejável e
necessária. É o caso da queda das pétalas das
flores após a fecundação, das folhas das árvores
no outono e da morte das células do xilema para
a condução de água na planta. A apoptose em
taxas acima das normais pode ser a causa de
doenças neurodegenerativas, como o mal de
Alzheimer, e em taxas inferiores pode induzir
o desenvolvimento de tumores malignos.
Ror Que Creio •
Na área da fisioiogia vegetala que a senho­
ra se dedica há mais de uma década e meia,
existem evidências de planejamento inteligente?
Cada processo biológico envolve grande nú­
mero de enzimas, funcionamento perfeito das
membranas, reparação de organelas e progra­
mas celulares perfeitamente sincronizados. Todo
o funcionamento de uma planta, suas estratégias
adaptativas às condições ambientais a que ela está
exposta, nos mostram um sistema extremamente
bem planejado. Como as plantas não podem se
deslocar, elas necessitam estar perfeitamente "sin­
tonizadas" com o ambiente em que vivem, princi­
palmente aquelas que habitam regiões em que as
condições ambientais são extremas. Põr exemplo:
as espécies arbóreas de regiões temperadas per­
dem suas folhas durante o outono. Isso acontece
porque nessas regiões o inverno é extremamente
rigoroso, sendo frequentes as geadas e nevascas
durante esse período. Porém, como as plantas sa­
bem o momento exato de perder as folhas? Esse
fato está relacionado com as mudanças na duração
dos dias (fotoperíodo) ao longo do ano. As plantas
são dotadas de um aparato fisiológico que percebe
as alterações do fotoperíodo. À medida que o com­
primento dos dias vai diminuindo (do verão para o
inverno), ocorrem alterações no balanço hormonal
da planta que culminam em profundas mudanças
no seu metabolismo. Essas alterações se iniciam
quando as condições ambientais ainda são favo­
ráveis e desencadeiam a drenagem dos nutrientes
• A obra do grande artista
das folhas para o caule, com subsequente libera­
ção ou descarte das folhas no fim do outono.
Esse procedimento é extremamente importante
para a sobrevivência dessas plantas. As folhas são
órgãos ricos em proteínas e nutrientes minerais.
Se os nutrientes contidos nas folhas não fossem
drenados, eles seriam perdidos, porque durante
o inverno as folhas se congelariam e morreriam.
Portanto, percebendo com antecedência as mudan­
ças nas condições ambientais, a planta se prepara
para o inverno, estocando nutrientes para a forma­
ção de novas folhas, bem como para a floração e
a frutificação, quando as condições se tornarem
favoráveis na primavera seguinte.
O que pensar, também, dos mecanismos antioxidantes, que sequestram radicais livres provenientes
dos vários tipos de estresse? Os radicais livres em
reações químicas intracelulares são responsáveis
pela peroxidação dos lipídios das membranas celu­
lares. Esse processo tem como consequência direta
a alteração da permeabilidade e de funções espe­
cíficas das membranas e, dependendo do grau da
lesão, leva à morte da célula. Exemplos dos resulta­
dos dos danos fotoxidativos nos seres vivos são o en­
velhecimento e o desenvolvimento de alguns tipos
de câncer. As plantas sintetizam suas próprias subs­
tâncias antioxidantes, que as protegem dos efeitos
deletérios do estresse, como o excesso de radiação
solar. Portanto, quando nos alimentamos de plantas
ingerimos antioxidantes naturais, que tornam nossa
vida mais saudável e com mais qualidade.
Por Que Creio
Todo o funcionamento de uma planta, suas estratégias adaptativas às condições ambientais a que ela está exposta, mostram uma
perfeição inimaginável.
É impossível aceitar que esses mecanismos ex­
tremamente complexos surgiram por acaso, com
tamanha perfeição, sem nenhum planejamento!
Se pedirmos que dois botânicos, um criacionista e outro evolucionista, analisem uma
"sim ples" folha e expliquem a origem de seus
• A obra do grande artista
mecanismos bioquímicos, obteremos respostas
diferentes. Por que isso ocorre f
O botânico criacionista certamente se reporta
aos mecanismos bioquímicos das plantas como
processos criteriosamente planejados por Deus
para que a vida seja harmônica e haja uma in­
teração entre os diferentes organismos vivos e
o ambiente em que vivem. Afinal, a vida como
a conhecemos seria impossível sem as plantas,
uma vez que dependemos diretamente do oxi­
gênio liberado durante as reações fotoquímicas
da fotossíntese. O evolucionista procura vestígios
desses processos em seres menos complexos, vi­
sando encontrar uma ancestral idade que explique
a origem deles.
Essas divergências ocorrem porque as pessoas
acreditam naquilo em que querem acreditar. Al­
guns acreditam na evolução por sua convicção
plena; porém, a maioria não compreende bem
os fundamentos da teoria e vai na "onda" do
mundo científico - "se os cientistas estão dizen­
do, deve estar correto". Além disso, existe muito
* N.E.: Esse é outro ponto falho e questionável da teoria da
evolução. Ela tem algumas hipóteses para essa situação, como o
equilíbrio pontuado, que serra determinado por grandes mudanças
ambientais. Mas a verdade é que a explicação para essa questão é
muito difícil, já que as plantas com flores, por exemplo, aparecem
de repente, completamente formadas e em abundância no registro
fóssil. Onde estão os fósseis dos estágios anteriores, os "elos perdi­
dos", que originaram as angiospermas? Darwin chamou a origem
das plantas com flores de "um mistério abominável". Quase um
século e meio depois, alguns dos mais destacados paleontólogos
ainda chamam o problema de "abominável".
^
Por Que Creio •
preconceito com a religião dentro do universo
científico, com um pouco de razão, porque du­
rante séculos a religião foi usada como instru­
mento para impedir o avanço do conhecimento,
uma vez que a igreja oficial se sentia ameaçada
por ele. Lamentavelmente, a Bíblia também aca­
bou sendo considerada uma barreira para a ciên­
cia. Porém, a Bíblia não faz nenhuma referência
negativa em relação à aquisição de conhecimen­
tos e, inclusive, menciona o avanço da ciência
(Daniel 12:4).
Quanto a esse conflito de ideias, que leva a
conclusões tão antagônicas {criacionismo/evolucionismo), a Bíblia nos revela que "Deus esco­
lheu as coisas loucas do mundo para envergo­
nhar os sábios" (1 Coríntios 1:27), "para que a
vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana,
e sim no poder de Deus" (1 Coríntios 2:5).
Como a senhora enfrentou as controvérsias
em relação à sua posição criacionista durante o
tempo de graduação e mesmo pós-graduação?
Nunca tive problemas com minha posição
criacionista na Universidade. Na graduação, ao
iniciarmos a disciplina de Evolução, foi-nos comu­
nicado que seriam abordados apenas os aspectos
da teoria da evolução e que não estariam abertas
discussões sobre criacionismo e evolucionismo.
Isso ocorreu porque na turma anterior havia uma
aluna protestante, cujos questionamentos religio­
sos durante as aulas criaram um "clima pesado"
A obra do grande artista
entre ela e os colegas evolucionistas, prejudicando
o andamento do curso. Os professores e colegas
com os quais eu tinha mais intimidade conhe­
ciam minha posição criacionista e, geralmente
com respeito, faziam perguntas sobre o assunto.
Porém, uma vez que o criacionismo também não
apresenta provas científicas, sempre procurei evitar
os embates para explicar minha fé, porque acredi­
to que fé é uma questão pessoal e intransferível.
Sob seu ponto de vista, por que alguns cris­
tãos deixam de ser criacionistas ao estudar a
teoria da evolução?
Conheço alguns casos, tanto entre meus co­
legas de faculdade como entre meus alunos.
Penso que esse fato ocorre porque as igrejas, de
maneira geral, tratam a evolução de uma forma
simplista, fazendo com que a teoria pareça total­
mente sem sentido e ridícula. É bom que se diga
que a teoria da evolução apresenta aspectos
bastante complexos, com certa lógica e alguns
pontos corretos, como as bases da seleção natu­
ral, da deriva genética e da especiação. Inclusi­
ve muitos criacionistas leigos pensam que Deus
* N.E.: Especiação é o processo de formação de "novas espécies";
isto é, quando uma espécie se diferencia em duas. Geralmente
acontece quando uma população de indivíduos da mesma
espécie é dividida em duas por algum tipo de barreira (rio,
montanha, etc.). Diz-se então que aconteceu um isolamento
geográfico. Essas duas populações agora podem se diferenciar.
Se, depois de algum tempo, elas não conseguirem mais cruzar
entre si, considera-se que pertencem a duas espécies diferentes.
Por Que Creio •
criou as espécies estritamente da forma como
elas se apresentam hoje e desconhecem o surgi­
mento de novas espécies devido, por exemplo,
ao isolamento geográfico de populações.
Creio que devido a essas particularidades, sen­
do necessário abordar o assunto na igreja, é dese­
jável que seja feito apenas por pessoas ponderadas,
que tenham conhecimento do tema, para evitar si­
tuações constrangedoras e interpretações errôneas.
Muitos jovens cristãos que ouviram falar de uma
teoria "idiota", ao se depararem com esses conhe­
cimentos mais elaborados, se sentem fragilizados
e alguns abandonam a fé. Por isso, creio que os
jovens, antes de ser bombardeados com filosofias
"antievolucionistas", devem ser orientados a ter
uma relação pessoal com Deus e com Sua Pala­
vra, para que, quando se defrontarem com novos
conhecimentos, sejam científicos ou filosóficos,
saibam filtrá-los e mantenham inabalável sua fé no
Criador. Esta é a única forma de não sermos enre­
dados pelas sutilezas que se nos apresentam dia­
riamente.
Por que você é criacionista?
Não sou criacionista por ser difícil explicar
a origem da vida e a organização estrutural dos
seres vivos e, desta forma, optei pelo caminho
mais fácil. Sou criacionista porque creio na exis­
tência de Deus e tenho uma experiência pessoal
com Ele, que fortalece minha fé. A experiência
com Deus é imprescindível para que acredite-
• A obra do grande artista
mos incondicionalmente na criação em seis
dias, na instituição do sábado como memorial
da Criação e na necessidade absoluta de Jesus
para a salvação. Não vejo nenhuma possibili­
dade de conciliar a teoria da evolução com a
salvação em Cristo. Se evoluímos por acaso, do
nada, por que Deus Se interessaria pelo ser hu­
mano, a ponto de enviar Seu Filho para morrer
em seu lugar? E por que Jesus deveria morrer,
se o homem não se distanciou de Deus e não
existe lei moral nem pecado?
Não sou criacionista militante e nunca senti
a necessidade de estudar a evolução para com­
batê-la e assim reforçar minha fé na Criação.
Porém, à medida que adquiro conhecimentos
mais detalhados sobre a ecofisiologia das plan­
tas, através das minhas investigações científicas,
percebo com mais clareza e intensidade a inte­
ligência e sabedoria do Criador. Dessa forma,
posso afirmar que as informações sobre a biolo­
gia das espécies, que têm confundido tanto cien­
tistas quanto leigos, me tornam cada vez mais
convicta da identidade do Criador, que deixou
Sua marca registrada em toda a Sua obra.
• V estígios de
• Drus
R odrigo Pereira da Silva
Rodrigo Pereira da Silva nasceu em Belo
Horizonte, M G , no ano de 1970. É bacharel
em Teologia, licenciado em Filosofia e mestre
em Teologia, pelo Centro de Estudos Superiores
da Companhia de Jesus. Especializado em
Arqueologia (pela Universidade Hebraica
de Jerusalém), participou de escavações em
Cesareia Marítima e Shar Ha Golan).
Em 2001 com pletou seu doutorado em
Teologia do Novo Testamento pela Pontifícia
Faculdade Católica de Teologia N. S. Assunção,
em São Paulo.
Foi professor de História e Ensino Religioso
no Instituto Adventista de Ensino do Nordeste
(IAENE) e no Centro Universitário Adventista
(U N ASP), campus 2. Atualmente leciona Ética
Filosofia e Antropologia no UNASP, campus 2.
É autor dos livros Eles Criam em Deus e
Escavando a Verdade (Casa), entre outros.
• Vestígios de Deus ^
Qual é a importância da Arqueologia* para
o conhecimento da Bíblia
Evidentemente é impossível provar a existên­
cia de Deus através da pesquisa arqueológica.
O papel dela se limita à verificação da autentici­
dade de fatos narrados na Bíblia, o que contribui
com a expectativa de que, se a história descrita é
real, a mensagem religiosa que a permeia também
será. Por outro lado, se a Arqueologia apresentasse
elementos que desmentem o relato escrito pelos
profetas, então, automaticamente seria posta em
dúvida a confiabilidade da doutrina transmitida.
Wayne Jackson, em seu livro Biblical Studies
in the Light of Archeoiogy, sistematizou em cin­
co pontos as contribuições da Arqueologia para o
entendimento e confirmação da narrativa bíblica.
Ele diz: "A ciência da Arqueologia tem sido uma
grande benfeitora dos estudantes da Bíblia. Ela
tem (1) ajudado na identificação dos lugares e no
estabelecimento de datas; (2) contribuído para o
melhor conhecimento de antigos costumes e obs­
curos idiomas; (3) trazido luz sobre o significado de
numerosas palavras bíblicas; (4) aumentado nosso
entendimento sobre certos pontos doutrinários do
Novo Testamento; e (5) silenciado progressivamen­
te certos críticos que não aceitam a inspiração da
Palavra de Deus."
* Nota do entrevistador: A Arqueologia é o ramo da ciência que
procura recuperar o ambiente histórico e a cultura dos povos
antigos, através de escavações e do estudo de documentos
deixados por esses povos.
Por Que Creio •
Por que é tão importante confirmar a histo­
ricidade de Gênesis?
No que diz respeito à fenomenologia religiosa,
entendo que o Gênesis é a mola mestra de toda
cosmovisão do cristianismo, bem como do judaís­
mo e do islamismo, religiões que, juntas, perfazem
quase a metade da população mundial. Falando
especificamente da teologia cristã, especialistas em
Novo Testamento dizem que a doutrina de Cristo
está edificada sobre a revelação do Antigo Testa­
mento, que, por sua vez, repousa inteiramente so­
bre o relato de Gênesis. Se a história do Éden não
aconteceu de fato, então a humanidade não come­
teu o chamado "pecado original" e não havia do
que ser salva. Ou seja, a crença na morte expiatória
de Cristo perde completamente seu significado.
Portanto, a pergunta que a Teologia dirige ao
arqueólogo é: Podem as escavações contribuir
de alguma forma para a confirmação e aceitação
do relato escriturístico? A resposta é sim, embora
seja reconhecido que ainda não foram desco­
bertos nem 20% do grande tesouro arqueológi­
co que permanece oculto sob o solo de cidades
como o Cairo, Jerusalém, Teerã, Bagdá e outras.
É curioso perceber que a Bíblia é tão criticada,
quando se sabe que outros documentos antigos,
talvez nem tão confiáveis, são aceitos facilmente.
Realmente. Desde o advento do método cientí­
fico e a consequente mudança nos modos de com­
preensão racional, muitos questionamentos têm
• Vestígios de Deus ^
sido levantados quanto à validade histórica da nar­
rativa bíblica. Especialmente durante o lluminismo
alemão (século 18), a força maior do método crítico
histórico pesava sobre a falta de evidências fora da
Bíblia que validassem a história descrita por ela.
Uma vez que a Bíblia é um livro religioso, as­
sim argumentavam muitos pensadores, não faz
nenhum sentido tomá-la ao pé da letra, reputando
seu texto como genuína fonte de acontecimentos
reais. É interessante, contudo, notar que esse prin­
cípio de avaliação crítica não foi empregado com
o mesmo rigor sobre outros tipos de documentos
antigos, muito embora vários deles também se
pautassem por um background religioso. Heinrich Schliermann não pôde provar que Heitor e
Raris de fato estiveram na cidade de Troia, mas
suas alegações não foram tão criticadas quanto à
teoria de Leonard Wooley, ao afirmar que o nome
Abraão, encontrado nas ruínas de Ur, pudesse ser
uma referência ao patriarca bíblico.
Embora não seja possível confirmar cada inci­
dente descrito na Bíblia, é possível afirmar que os
achados arqueológicos têm, desde o século 18,
contribuído grandemente para a confirmação da
história narrada pelos escritores canônicos.
Até o fim de 1893, muitos eruditos não acre­
ditavam que Moisés pudesse de fato ter escrito os
livros do Pentateuco. Por quê?
A razão era muito simples. Segundo o pensa­
mento dos historiadores da época, não havia no
Por Que Creio •
tempo de Moisés uma organização formal de es­
crita alfabética que lhe possibilitasse escrever esses
textos. A escrita alfabética e gramatical teria surgido por volta do século 8 a.C., o que impossibilita­
ria Moisés de ser o verdadeiro autor de Gênesis.
Mas a descoberta de vastas bibliotecas préabraâmicas em Ereque, Lagash, Ur, Kish, Babilô­
nia e outras cidades demonstra que já pelo terceiro
milênio antes de Cristo, os sistemas gráficos (tanto
pictogrâmicos quanto cuneiformes) estavam em uso
corrente, produzindo livros e anais que ecoam muito
mais de perto a história bíblica do que os documen­
tos tardios, datados de 600 a.C.
E foi providencial o fato de Moisés ter esco­
lhido uma escrita alfabética para redigir o
Pentateuco, ao invés dos complicadíssimos hie­
róglifos egípcios, que só foram decifrados muitos
séculos depois.
Exatamente. Se não fosse assim, teríamos que
esperar até o século 19 para ter a oportunidade de
ler os livros que Moisés escreveu. Afinal, foi apenas depois que Champoliion conseguiu decifrar
a Pedra de Roseta, que os especialistas se viram
capacitados a ler inscrições hieroglíficas. Além
do mais, a escrita ideogrâmica, especialmente a
pictográfica, era bastante inspirada na mitologia
pagã, que era recheada de sabor idolátrico. Se
Moisés usasse aquela forma de escrever, incorre­
ria no risco de que alguns se inclinassem a adorar
o texto, em vez do Deus que ali Se revela.
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!
:
j
•
Vestígios de Deus
Além da Bíblia, existem outros documentos
que mencionam o D ilúvio?
Sim. Já foram encontradas e decifradas mais de
40 versões antigas sobre o Dilúvio, que datam de
até 2100 a.C. Gravadas em antigos códigos ainda
preservados, essas versões contêm extraordinárias
semelhanças com o texto de Gênesis. A mais fa­
mosa delas é o Épico de Gilgamesh (ou Gilgamés),
encontrado na biblioteca de Nfnive e que hoje
pertence ao acervo do Museu Britânico de Lon­
dres. Segundo especialistas, se somarmos as tradi­
ções orais e escritas que encontramos ao redor do
mundo, fora as do Oriente Próximo, chega a mais
de 100 o número de versões e relatos a respeito de
um dilúvio universal que cobriu toda a Terra. Isso
demonstra que Moisés não foi o criador da história
diluviana, mas apenas o transmissor de um antigo
fato que antecedeu seu próprio tempo.
O décimo primeiro
tablete do Epico de
Gilgamesh, que con­
tém um relato de dilú­
vio notavelmente se­
melhante à história
bíblica do Dilúvio. O
tablete, que data do
sétimo século a.C.,
foi descoberto em
Nfnive
Museu Britânico - Divulgação
^
Por Que Creio •
E sobre o relato da Criação?
Importantes documentos como o Enuma Elish, o
êpico de Atrahasis e o Épico de Gilgamesh possuem
fortes paralelos com a descrição bíblica da criação
do mundo, a queda do ser humano e a vinda de
um dilúvio sobre a Terra. Especialmente com rela­
ção ao Enuma Elish e o Gênesis, temos a seguinte
relação de paralelos: (1) em ambos os livros a água
está presente nos estágios iniciais da Criação; (2) no
Enuma Elish, a luz emana dos deuses, enquanto no
Gênesis é Yahweh quem a cria; (3) o firmamento
é criado; (4) aparecem as terras secas; (5) as lumi­
nárias celestiais são estabelecidas; (6) o homem é
criado no sexto dia, enquanto no Enuma Elish a
Criação é descrita no tablete número 6; e (7) no
Enuma Elish os deuses descansam após a Criação
e a celebram, enquanto no Gênesis, Deus também
"descansa" no sétimo dia e celebra a Criação.
Por causa dessas similaridades, alguns histo­
riadores têm sugerido que o relato bíblico não
passa de um plágio de documentos mais anti­
gos. Entretanto, as diferenças (que são muito
mais significativas que as similaridades) fazem
supor não uma cópia de material, mas antes
uma referência múltipla aos mesmos eventos.
K. A. Kitchen escreveu, em Ancient Orient and
OldTestament "A suposição comum de que este
relato [bíblico] é simplesmente uma versão simpli­
ficada de lendas babilónicas é um sofisma em suas
bases metodológicas. No antigo Oriente Próximo,
a regra é que relatos e tradições podem surgir (por
• Vestígios de Deus
acréscimo ou embelezamento) na elaboração de
lendas, mas não o contrário. No antigo Oriente, as
lendas não eram simplificadas para se tomar pseudohistória, como tem sido sugerido para o Gênesis."
Muitos pesquisadores, como Levi Strauss, que
consideram o relato da Criação um mero mito,
admitiram que uma grande surpresa e perplexi­
dade surge do fato de que esses temas básicos
para os mitos da Criação são mundialmente os
mesmos em diferentes áreas do globo.
A. G. Rooth analisou cerca de 300 mitos da
Criação encontrados entre tribos indígenas norteamericanas e concluiu que, a despeito de certa
variação de costumes e outros fatores culturais,
os mais variados grupos concordavam em alguns
temas principais. Por que essas similaridades de
ideias míticas e imagens são abundantes em cul­
turas tão distantes umas das outras? A resposta,
creio, não poderia ser outra senão a de que todas
as tradições se encontram num mesmo evento real
que, de fato, ocorreu em algum ponto da história
antiga. Esse evento tem que ver com a criação di­
vina do planeta Terra e a conseguinte queda moral
da humanidade, que então se coloca à espera da
redenção prometida.
Mas as "coincidências" não se restringem
ao Oriente Próximo e às tradições indígenas
norte-americanas...
De fato. Antigos hinos pertencentes à mais
remota tradição do povo Karen, da Birmânia,
Por Que Creio •
foram traduzidos de um primitivo dialeto sinotibetano para o inglês do fím do século 13. Uma
das estrofes litúrgicas diz que um deus chama­
do l'wa deu ordens bem detalhadas, mas Umkaw-lee, o ser rebelde, enganou duas pessoas,
fazendo-as comer o fruto da tentação. Por causa
disso, os homens ficaram sujeitos à doença, en­
velhecimento e morte.
No norte de Calcutá, na India, viviam dois
milhões e meio de pessoas conhecidas como o
povo Santhal. Sua antiquíssima tradição conta
que um deus chamado Thakur Jiu criou o pri­
meiro homem chamado Haram e a primeira
mulher, chamada Ayo. Eles foram colocados
num jardim bonito, chamado Hihiri Pipiri. Ali,
um ser malvado chamado Lita fez cerveja de
arroz e ofereceu ao casal. Eles não deviam ter
bebido, mas o fizeram e acabaram dormindo.
Ao acordarem, descobriram que estavam nus.
O estudioso Merryl Unger conclui que "es­
sas não são tradições peculiares aos povos e
religiões semitas que se desenvolveram a par­
tir de características comuns. Elas são tradições
comuns a todas as nações civilizadas da anti­
guidade. Seus elementos coincidentes apontam
o tempo em que a humanidade ocupou o mes­
mo espaço e praticou a mesma fé. Suas seme­
lhanças se devem a uma mesma herança, onde
cada grupo de homens manteve, de geração em
geração, os históricos orais e escritos da história
primeva da raça humana". O Gênesis, portanto,
• Vestígios de Deus ^
se torna o elemento de convergência literária
dessas semelhanças e esboça a forma original
dessas tradições hoje espalhadas pelo mundo.
Alguns podem supor que o relato bíblico ape­
nas ecoou uma coleção de lendas primitivas.
Acho que isso seria bastante improvável. Pri­
meiro, pela própria universalidade que vemos
em relação a esses relatos. O fato de se acha­
rem presentes em culturas tão diversas e distan­
ciadas pelo tempo e pela geografia, aponta mais
para a transmissão de um antigo acontecimento
do que para a interdependência de mitos. Em
segundo lugar - e aqui vou direto ao relato bí­
blico -, é bastante estranho (do ponto de vista
da interdependência histórica) que a Bíblia ape­
nas ecoasse outros mitos quando a mola mestra
de sua teologia é o monoteísmo, que se choca
frontalmente com a cosmovisão politeísta en­
contrada nos demais textos.
Como suas pesquisas têm influenciado sua
fé no Deus Criador do Universo?
Louvo a Deus pelo dom da fé que Ele conce­
de aos seres humanos. Estou também certo de
que sem fé é impossível agradá-Lo. Contudo,
cada dia que passa, minhas pesquisas revelam
que essa fé não está solta num mundo virtual
de imaginações religiosas, sem nenhum contato
com a realidade humana. Em outras palavras,
há tantas evidências empíricas em relação ao
For Que Creio •
relato bíblico da Criação, que acho pertinente
o binômio "fé racional". Há bastante lógica na
fé e Deus é muito mais do que uma hipótese
"razoável"; Ele é real e, no momento em que
oro, quase dá para tocá-Lo.
Quando participo de uma escavação arque­
ológica ou estudo documentos antigos deixados
pela humanidade, o que mais vejo são os ras­
tros históricos de um Deus que caminhou entre
nós. E como se o passado me dissesse: "Deus
passou por aqui!"
fara saber mais: leia o livro Escavando a Verdade,
do Dr. Rodrigo Silva (Casa).
O MILAGRE ♦
DA VIDA Î
Roberto César de Azevedo
Na opinião de Bill Gates, não há Windows xp
que se compare em sofisticação a um só gene, mui­
to menos a um genoma completo. "Gene é o mais
sofisticado programa que roda por aí", diz o dono
da Microsoft. Poucos feitos científicos tiveram o im­
pacto do anúncio do sequenciamento do genoma
humano, embora pouca gente entendesse realmen­
te do que se tratava e de suas consequências.
Roberto César de Azevedo, diretor do Departa­
mento de Educação Adventista na América do Sul,
fala nesta entrevista, dentre outras coisas, das mara­
vilhas do genoma. Ele é formado em Ciências Bioló­
gicas pela Universidade de São Paulo, onde também
fez o Mestrado em Ciências da Comunicação.
De 1964 a 1971, foi professor de Ciências e
Biologia no Instituto Adventista de Ensino, hoje
Centro Universitário Adventista (UNASP), cam­
pus São Paulo. Nos dois anos seguintes, trabalhou
como assessor do Departamento de Educação da
Por Que Creio •
Associação Paulista da Igreja Adventista do Sétimo
Dia. Dirigiu a obra educacional na antiga União
Sul-Brasileira, de 1972 a 1984, passando a atuar
como diretor geral do Centro Universitário Adventista (os dois campi) nos cinco anos seguintes.
É autor dos livros A Origem Superior das
Espécies (Editora Universitária Adventista), O
Enigma das Estátuas e O Tempo do Fim (Casa
Publicadora Brasileira).
Por que o evolucionismo ainda domina os
meios científicos e de comunicação?
A teoria da evolução ainda domina os meios
científicos porque, durante as últimas gerações, foi
ensinada como verdade científica, e os evolucionistas são um grupo militante e ideologicamente
ativo. Além disso, os meios de comunicação
utilizam, via de regra, como fonte de consulta,
pesquisadores e pensadores evolucionistas, geral­
mente ateus, não abrindo espaço para a discussão
da controvérsia criacionismo x evolucionismo.
Para se expiicar o assunto Origens, qual seria
o currículo (programa) ideal para as escolas ?
O assunto das Origens, e os grandes temas
biológicos controversos, devem estar disponíveis
para todos os estudantes, desde as séries iniciais,
e até o nível de pós-graduação {mestrado e dou­
torado), de maneira cíara, escrita por especialistas
em criacionismo e evolucionismo, com base em
evidências, ou fatos científicos comprovados.
j
• O milagre da vido
A comparação entre os modelos deve ser ob­
jetiva e sintética. No caso específico da origem
da vida, devem-se colocar lado a lado as duas
propostas. Um exemplo: Como surgiu a vida?
Posição evolucionista:
Surgiu casualmente, por geração espontânea, a
partir de substâncias químicas sem vida. A forma
inicial era simples, incompleta, inferior, primitiva,
sem características genéticas definidas.
Posição criacionista:
Surgiu de um ato criativo de um Deus inte­
ligente. As formas de vida iniciais eram com­
pletas, complexas, superiores, desenvolvidas
plenamente, com características genéticas pró­
prias e definidas para cada espécie.
A partir desse contraste entre modelos devem
ser debatidas as evidências científicas, empíricas,
de cada item, com a participação dos alunos.
De idêntica maneira, em temas controversos, as
posições devem ser claramente conhecidas. É o
caso, por exemplo, da explicação de como efe­
tivamente surgiram os fósseis, as novas espécies,
os seres humanos, etc.
Quais o senhor acha são as maiores fragilidades da teoria da evolução?
Creio que uma delas é a falta de evidência e a
observação limitada e até descuidada em certos
Por Que Creio •
casos, embora haja pesquisadores evolucionistas
criteriosos, é verdade. Os postulados são extre­
mamente frágeis, e são de modo geral opinativos.
Representam a imaginação peculiar de seus auto­
res, que em geral extrapolam os fatos científicos e
imaginam que seus postulados são críveis.
Por exemplo, para substituir o Deus
Planejador e Criador, os evolucionistas inven­
taram o mito do acaso cego. Atribui-se ao acaso
a responsabilidade por planejamento, ordem e
complexidade vistos no Universo, eliminandose a relação causa/efeito. Não seria uma fuga à
realidade dos fatos? Ciência requer observação
cuidadosa e relacionamento de causa e efeito.
A crendice na geração espontânea é outro
problema ao qual me referi há pouco. Apesar
de Darwin ter lido os trabalhos de Rasteur, que
demonstrou elegantemente que "vida só provém
devida", em todos os livros de Ciências e Biologia
aparece a anticientífica e medieval crendice da
geração espontânea. Na verdade, isso é um aten­
tado à ciência, pois nunca houve demonstração a
respeito. A atmosfera primitiva reducionista (sem
oxigênio) e as famosas experiências de MillerUrey estão desacreditadas porque, a partir da
década de 1980, surgiram evidências fortes de
que a atmosfera primitiva possuía oxigênio.
Outro problema: o testemunho fóssil mostra
que o surgimento de cada espécie foi repenti­
no, e as espécies surgiram prontas, completas,
funcionais e plenas. A explosão da vida no
0 milagre do vida
Cambriano destrói o conceito da "árvore univer­
sal", porque repentinamente surge a maioria dos
"Filos" animais, complexos e altamente especia­
lizados, Nada de elos intermediários. Não há
uma "árvore" de espécies, mas uma "floresta",
onde cada árvore é uma espécie-tronco ou
espécie básica. O grande erro é ficar inventan­
do essas cadeias evolutivas. Se tomarmos cada
espécie de per si e analisarmos os fósseis e as
congêneres atuais, encontraremos de modo geral
uma continuidade da mesma espécie. Assim, a
familiar "árvore filogenética'" é uma invenção
que não corresponde aos fatos. A genética atual,
na verdade, mostra o contrário: a manutenção, a
perpetuação das características do "gene-pool"
das espécies.
Comente o uniformismo* e os chamados
elos perdidos.
Com base no conceito do uniformismo geo­
lógico de Charles Lyell, Darwin inventou o
uniformismo biológico de milhões de anos. Um
processo lentíssimo, que foi imperceptível mente
mudando as espécies. Mas os fatos desmen­
tem também o uniformismo. Os fósseis, para
surgirem, necessitam de soterramento rápido e
* Nota do entrevistador: Sob o ponto de vista uniformista,
pretende-se explicar a origem, o desenvolvimento e mesmo o
significado de todas as coisas e seres em termos estritos de leis
naturais e de processos operando tanto hoje quanto no passado
(assim, o presente seria a chave do passado). Também é conhe­
cido como atualismo.
Por Que Creio •
abundância de água. Catástrofes que Darwin não
aceitava. Para ele, os fósseis seriam raríssimos.
Mas o que se vê são grandes quantidades de
fósseis, com a peculiaridade de se encontrarem
cemitérios imensos de animais gigantescos, sepul­
tados conjuntamente sem a presença dos vegetais
daquele ecossistema.* Ou como no caso da Forma­
ção Santana, onde há milhões de fósseis que evi­
denciam morte súbita e soterramento imediato.
De outro lado, no Carbonífero, estão trilhões
de toneladas de vegetais sepultados e compri­
midos em extensas camadas. Em geral com
poucos animais de seu ecossistema. Catástrofe
completa. Nada de uniformismo.
Os geólogos, a partir dos trabalhos de Bretz,
e aceitando a teoria da deriva continental
de Wegener {um criacionista diluvionista), já
perceberam que grandes catástrofes ocorre­
ram na história da Terra. O uniformismo, que
se cristalizou na década de 1980, carece de
embasamento científico. Portanto, os biólogos
evolucionistas continuam a insistir num concei­
to totalmente superado e equivocado.
E os chamados "elos perdidos"?
Rara Darwin, deveria haver "incontáveis"
elos perdidos ou fósseis de organismos de
transição. No entanto, o que se percebe é jus­
tamente o oposto: a quase inexistência de tais
* N.E.: Ecossistema é o conjunto de populações de organismos que
vivem em determinado local, junlarnente com o ambiente inerte.
•
0 milagre da vida
fósseis. E os que são apontados como tais são
altamente duvidosos, constituindo evidência
frágil* e trazendo grande confusão, e em certos
casos evidências de fraude.
Vejamos o caso do elo réptil/ave. O
Archaeopteryx é considerado o fóssil mais valioso
do mundo. Está em todos os livros de Ciências e
Biologia. Foram encontrados oito exemplares - os
dois últimos em 1970 e 1987 - que aparentemente
não possuem penas. Estranhamente, nos dois pri­
meiros as penas são similares às das aves moder­
nas, trazendo a suspeita de que seu descobridor,
Karl Haberlein, teria
"ajudado" a evolução
e feito as impressões.
Hoje o Archaeopteryx
é considerado uma
ave, não o elo de liga­
ção réptil/ave.
/\ Archaeopteryx já foi con­
siderado o elo de transição
entre os répteis e as aves. Hoje
é tido como uma ave extinta
que possuía características em
comum com os répteis
* N .E.: Bons exem plos são o Eusthenopteron e o Ichthyostega,
que sugeririam a passagem de peixes para anfíbios, e o famoso
Archaeopteryx, que seria a passagem dos répteis para as aves.
H o je se sabe que são apenas organism os que apresentavam
características em com um com outros organismos. U m exem ­
plo atual seria o ornitorrinco: é mamífero, põe ovos, tem bico e
não é uma forma de transição.
Por Que Creio •
Recentemente começou uma corrida para
substituir esse "elo duvidoso". Escolheram o
Protoarchaeopteryx, em 1998, seguido de um
respeitoso silêncio.
No ano seguinte, em novembro, surgiu
o Archaeoraptor, amplamente divulgado por
todo o mundo, inclusive com a ajuda da revista
National Ceographic. No início do ano 2000 o
paleontólogo chinês Xu Xing (apresentado pela
revista como o descobridor do fóssil) anunciou
pela agência Nova China que havia caído na
armadilha de um grupo de contrabandistas, que
inventaram o "elo evolucionário" para ganhar
dinheiro à custa dos pesquisadores.
E tem mais: os museus estão tirando a cadeia
evolutiva do cavalo, também presente na maio­
ria dos livros didáticos de Ciências, porque
confundiram um dos "elos" com uma anta.
O peixe celacanto também se demonstrou
uma falsa evidência.
Sim. Thomas Huxley, o grande defensor de
Darwin, escolheu o celacanto como o elo transicional de animal aquático para terrestre.Teria 400
milhões de anos. Só que em 1938 o celacanto foi
redescoberto, vivol O celacanto trouxe desagra­
dáveis e contundentes desmentidos: (1) os peixes
são marinhos, portanto não frequentavam lagoas
ou riachos onde teriam começado o processo
de passar do ambiente aquático para o terrestre;
(2) vivem a 400 metros de profundidade e estão
•
0 milagre da vida
adaptados a ela. Não estão próximos da terra nem
fazem passeios para "treinar as futuras patas"; (3)
os peixes estão completamente adaptados para
seu hábitat. Possuem cartilagem flexível, como
os tubarões, e olhos adaptados à profundidade,
com predominância de bastonetes com altíssimo
grau de fotossensibilidade; (4) a bexiga natatória
não tem nada a ver com animais terrestres. Nela
há líquido oleoso, e isso novamente desmente
Darwin, que afirmava categoricamente que "não
tinha dúvidas" quanto ao "fato de que todos os
vertebrados de pulmão descendam de um ances­
tral primitivo... com uma bexiga natatória"; (5)
as nadadeiras jamais poderiam ser usadas para
a locomoção terrestre - o peixe pesa 80 quilos.
O peixe celacanto era
tido como um elo transicionaI de animal aquá­
tico para terrestre, e era
considerado extinto há
vários milhões de anos,
até que foi encontrado
vivo, em 1938
Nos últimos anos têm sido publicados livros
de pesquisadores evolucionistas criticando
aspectos do evolucionismo (um bom exemplo
é o livro A Caixa Preta de Darwirv do bioquí­
mico M ichael Behe*). A que se deve isso?
De fato, o evolucionismo enfrenta pressão con­
siderável pela ausência de fatos científicos que o
* N.E.: Leia a entrevista com Michael Behe nas páginas 179 a 189.
^
Por Que Creio •
sustentem. Especialmente a partir da década de
1980, as grandes vigas de sustentação da teoria
evolucionista começaram a demonstrar "fadiga
de material", exatamente porque o volume de
evidências contrárias cresceu intensamente.
Além de Behe, têm surgido dezenas de
autores, dentro e fora do paradigma evolutivo,
questionando o evolucionismo. Alguns exem­
plos: Francis Crick {Life Itself. It's Origin and
Nature), Michael Denton (Evolution: A Theory
in Crisis), Francis Hitching (The Neck of the
Giraffe: Where Darwin Went Wrong), Mae Wan
Ho e Peter Sounders (Beyond Neo Darwinism:
An Introduction to the New Evolutionary
Paradigm); Soren Lovtrup (The Refutation of a
Myth), Mark Ridley (The Problems of Evolution),
Robert Shapiro (Origins: A Skeptic's Guide to
the Creation of Life on Earth), Gordon Rattray
Taylor (The Great Evolution Mistery), Phillip E.
Johson (Darwin no Banco dos Réus e Defeating
Darwinism), Scott M. Huse (The Collapse of
Evolution), Jonathan Wells (Icons of Evolution
- Science or Myth), Richard Milton (Shattering
the Myths of Darwinism), e outros.
O Projeto Genoma favorece, de alguma
forma, a posição criacionista?
Sem dúvida! Ele foi liderado por Francis
Collins, ex-ateu, hoje cristão, que declarou
* N.E.: Paradigma é um conceito amplo aceito como verdadeiro
e que influencia a interpretação dos dados.
• O milagre da vida
publicamente, por ocasião do anúncio oficial
do projeto, em 26 de junho de 2000, que o
genoma humano é "o nosso livro de instruções,
previamente conhecido somente por Deus".
Para alguns, ficou evidente que o criacionismo
estava de volta.
O genoma humano é um código com três
bilhões de letras, as quais preencheriam o
equivalente a 200 catálogos telefônicos de 500
páginas cada um, em rigorosa ordem sequen­
cial, contendo todas as instruções para a forma­
ção de um ser humano,
O tamanho de cada genoma humano é de
aproximadamente 1,5 metro de comprimento,
cuidadosamente enovelado e distribuído de
modo planejado, ordenado e específico pelos
23 pares de cromossomos humanos. E isso em
todos os 30 trilhões de células do ser humano.
A informação genética necessária para
especificar todas as características de cada
um de nós está contida no DNA de forma
codificada. Essas instruções serão seguidas
desde o momento da fecundação. E se há um
código, há um codificador, um Criador inte­
ligente, um tremendo arquiteto e um artista
grandioso. É inconcebível a ideia de acaso
cego, falta de ptano, intenção ou projeto,
quando consideramos a complexidade do
genoma. O Projeto Genoma (tanto humano,
quanto de animais e plantas), na minha opi­
nião, aponta para o Criador.
Por Que Creio •
Por que o senhor é criacionista?
Sou criacionista porque, ao estudar Biologia,
observei claramente nos seres vivos os indícios,
as evidências de um assombroso plano criativo.
Em meu tempo de universidade, não conseguia
entender como professores e alunos aceitavam
tão facilmente as ideias evolucionistas. Então,
resolvi estudar a fundo o assunto para entender
as razões deles. Fiquei ainda mais assombrado
com a fragilidade dos postulados evolucionis­
tas. Comecei a questionar meus professores,
mas as respostas que recebia deles eram desca­
bidas e ilógicas para mim.
Lembro-me de que, em 1987, a professora
Nair Elias Ebling e o Dr. Admir Arrais lançaram
o primeiro livro didático criacionista no Brasil,
para o nível fundamental. Ambos, biólogos e
professores de carreira, realizaram um trabalho
pioneiro e difícil. Casualmente, acompanhei
uma entrevista que deram ao jornal Folha de
S. Paulo, e apoiei a iniciativa fazendo alguns
comentários que foram publicados.
Mas a reportagem se revelou uma armadi­
lha. Em vez de elogiar o livro, havia um ataque
monstruoso de duas páginas, destruindo a
reputação dos autores e desqualificando total­
mente o material.
Pude perceber, então, o dogmatismo evolucionista e a grande ignorância do que é realmente
o criacionismo. Chocou-me o tratamento desle­
al, desonesto e destrutivo daqueles que deveriam
• O milagre da vida
primar pela verdade científica e a informação
clara e precisa. Lamentavelmente, a mídia pouco
tem contribuído, nesse campo, nos últimos anos.
A partir daquele momento, compreendi que
muito deveria ser feito para ajudar as pessoas a
perceber melhor, dentro desse tema controver­
so, o que é evidência e fato científico.
Continuei estudando, A leitura exaustiva do
livro A Origem das Espécies, de Darwin, e de
dezenas de outros livros de grandes evolucionistas, ajudou ainda mais a cristalizar minha posi­
ção criacionista. Não conseguia entender como
um autor com ideias tão confusas como Darwin
tinha muito mais fama do que Mendel, o pai da
Genética; Lineu, o pai da Sistemática; e o grande
Fàsteur, com sua participação decisiva, sepultan­
do a crendice da geração espontânea. Todos eles
- criacionistas - foram, de modo deliberado e
consciente, relegados a um plano secundário.
A conclusão mais decisiva de minhas pes­
quisas foi verificar que as evidências, os fatos,
a observação acurada, a precisão - que consti­
tuem o cerne da ciência
não apontam para
o evolucionismo. Ao contrário, para um plano,
projeto, inteligência, ordem e precisão.
Como professor de Ciências, ficava e fico
indignado quando os evolucionistas colocam
conceitos inadequados, fraudes e meias verdades
nos livros de Ciências e Biologia, mesmo depois
de décadas de evidências opostas ao evolucio­
nismo. Um cientista tem o compromisso com a
^
Pof Que Creio •
verdade, e ela pode ser gradativa. Mas quando
se sabe que Haeckel fraudou os desenhos do
embrião - e este apóstolo de Darwin confessou
isso há um século - e hoje a mesma fraude é
reproduzida nos livros-texto de nossos alunos,
conclui-se que isso é propagar a fraude. Ou quan­
do sabemos que Rasteur provou que a geração
espontânea é uma crendice popular, e o professor
e o autor evolucionistas afirmam que, de alguma
forma, há geração espontânea, isso é compactuar
com o pensamento anticientífico.
Devo acrescentar, porém, que ao me depa­
rar com essa controvérsia, isso me levou a ler
e estudar com muito mais atenção e afinco o
livro que o Criador colocou em nossas mãos:
a Bíblia. Nela estão claramente delineados, de
forma compacta, em poucas páginas, nosso iní­
cio e nossa nobre origem: somos criaturas do
Deus todo-poderoso, o Criador dos bilhões de
constelações e sistemas planetários. É só levan­
tar a cabeça e perguntar: Quem fez tudo isso?
Falar que galáxias, estrelas, sistemas planetá­
rios, minerais, leis físicas e químicas são produto
do acaso, significa a priori rejeitar a relação de
causa e efeito. Mas os seres vivos constituem mila­
gre ainda mais surpreendente! Representam um
nível mais elevado do projeto do Criador. Numa
perspectiva geral, cada espécie de ser vivo é uma
obra de arte e um núcleo infindável de sabedoria.
Desde os unicelulares até os seres humanos, feitos
à imagem e semelhança do Criador
• O milogre da vida
Pense agora na incrível máquina humana.
Trilhões de células, com seu ultracomplexo
código genético ao qual já me referi, cuidado­
samente projetadas e completamente inter-relacionadas. Sistema nervoso, sistema circulatório,
músculos, aparelhos... Tudo bem "encaixado" e
funcional - como pensar que os seres humanos
não são obra de um plano inteligente?
Esta imensa sala de aula chamada Universo
estará à disposição daqueles que honrarem ao
Criador neste planeta, os quais se tornarão Seus
alunos na grande "universidade do futuro".
Assim, a principal razão por que sou criacionista é que o Criador é, além de tudo o que foi
dito, nosso Rai, nosso Mestre e Mantenedor do
milagre da vida.
Para saber mais: leia o livro História da Vida, de
Michelson Borges (Casa).
•A
ORIGEM
? DAS ETNIAS
Orlando Rubem Ritter
O criacionismo defende que, após a Criação>,
havia uma só língua, ou seja\, uma só estrutura linguís­
tica, com um vocabulário comum, como pode ser
observado em Gênesis 11:1. Entretanto, essa língua
comum foi um dos fatores utilizados pelo ser humano
para violar uma das primeiras recomendações divinas:
a de encher e dominar a Terra. De fato, opondo-se a
esse claro desígnio de Deus, o ser humano começou
a construir uma cidade e uma torre, "para não serem
espalhados pela superfície da Terra". Foi essa, em
parte, a razão pela qual o mesmo Deus que havia
dado a linguagem aos homens deu origem a várias
famílias linguísticas (Gênesis 11:7), em resultado do
que a humanidade acabou se espalhando por todo
o planeta. O ponto de vista criacionista, baseado no
relato bíblico, explica assim não só a unidade, mas
também a diversidade das línguas.
É sobre isso que o professor Orlando Rubem
Ritter fala nesta entrevista. Ritter é natural de Porto
• A origem das etnias <6
Alegre, RS. Formado em Matemática pela USP, é
também mestre em Educação pela Andrews University, nos Estados Unidos. Além de ter sido diretor
de faculdades e fundador de escolas, foi professor
de Matemática e Física por mais de 30 anos, e pro­
fessor de Ciência e Religião por mais de 40 anos.
Na época da entrevista, ele era coordenador do
curso de Pedagogia do Centro Universitário Adventista (UNASP), campus São Paulo.
Fale um pouco sobre a variedade linguística
e étnica* no mundo.
A variedade é um fato marcante neste planeta.
Enquanto alguns seres humanos foram capazes
* Nota do entrevistador: Na verdade, cm nível genético, essa
diferença acaba sendo mínima, o que está de acordo com a
visão cri acionista. Note o que a revista Veja publicou, em sua
edição de 5 de maio de 1999 (p. 113): "Pesquisas de cientistas
da Universidade da Califórnia, campus de San D iego, indicam
que a hum anidade por um tempo esteve às raias da extinção, e
as razões apresentadas para tanto vão desde a provável queda
de um meteoro que feria dizim ado muitas espécies de vida, a
epidemias por doenças trazidas por grupos nômades, mudanças
bruscas na temperatura, ele. [E por que não um d ilú vio global?]
" O fato é que foi descoberto que 'a diversidade genética das
pessoas, mesmo entre populações disíintas e de lugares muito
distantes entre si, como a Am azônia c a Sibéria, é muito pequena.
[...] Isso leva à conclusão de que 'os seres humanos descendem
todos de um pequeno grupo de ancestrais'. D aí entra a explicação
de que uma imensa mortandade teria ocorrido em algum ponto da
pré-história, ninguém sabendo exatamente o que ocorreu.
"'A variedade genética da humanidade hoje é muito pequena
para uma arvore evolucionária que tem tantos elementos e
ramificações',, afirmou o coordenador da pesquisa, D avi d
W oodruff. [...] 'É com o se fôssemos todos clones de uma única
matriz, com o na experiência com a ovelha D o lly.'"
Por Que Creio •
de pintar a Capela Sistina e compor belíssimas
sinfonias, há tribos que ainda não sabem usar o
fogo. t um grande contraste. No que diz respeito
aos aspectos étnicos, ou raciais, e linguísticos,
também há grande variedade. Só na Africa são
mais de mil etnias. Os ramos linguísticos são
cerca de cinco mil.
Existe consenso com relação à origem
comum de toda a humanidade, a partir de um
casal original?
Sim. E a Antropologia Descritiva (ou a Etnolo­
gia) que estuda as etnias humanas. A Linguística
estuda as línguas. Conhecer a origem das etnias
e das línguas é realmente algo empolgante. A
origem comum da humanidade a partir de um
par original é chamada monogenismo, e esse
conceito também se aplica à origem das línguas.
Para se ter uma ideia de como se deu a ori­
gem das etnias e das diversas línguas, podemos
utilizar a Bíblia como fonte de hipóteses, sus­
tentadas, é claro, por evidências.
O que a Bíblia fala sobre o primeiro homem?
Adão, ou Adam, em aramaico, quer dizer "tor­
nar vermelho" ou "ficar vermelho", o que suge­
re que a pele dele tinha coloração avermelhada
* N.E.: A Linguística Histórica surgiu no fim do século 18, com a
descoberta feita na índia - por um juiz britânico que se inclinou
ao estudo das línguas e suas relações - de que muitas línguas da
Europa e do Oriente estavam reunidas como em uma família, à
qual se deu o nome de indo-europeia.
• A origem das etnias ^
(e é bom lembrar que ele foi feito da terra). Na
tradição hindu, aparece o ancestral Adamu; e
na tradição sumeriana, a mais antiga civilização
pós-diluviana, aparece Adapa. Segundo essa tra­
dição, Adapa vivia num país em que não havia
morte, o ar era puro e a água, limpa. Mas Adapa
acabou perdendo o direito à imortalidade. Várias
culturas possuem relatos que mostram uma ori­
gem comum para a humanidade, com Adão e
Eva, no Jardim do Éden.
Por que o mundo antediluviano não promo­
via muita variabilidade?*
A humanidade primeva vivia em um mundo
bem diferente. O apóstolo Pedro fala do "mundo
* N.E.: A ação da seleção natural ocorrendo nos diferentes
ambientes pós-diluvianos juntamente com o total isolamento
geográfico a que as populações humanas estavam submetidas
no passado, pode ser uma boa explicação para a origem das
etnias humanas. Por exemplo, se após o Diluvio um grupo de
indivíduos migrou para o sul da África, acabou se isolando
totalmente dos grupos que viviam na Ásia, pois as viagens
eram difíceis naquele tempo, e eles nunca mais voltaram a
casar-se entre sí. Em lugares quentes, como a África, a pele
negra apresenta vantagem em relação à pele branca ; então, os
indivíduos que nasciam com pele mais escura levavam van­
tagem seletiva em relação aos indivíduos de pele mais clara.
Com o passar de muitos anos e total isolamento reprodutivo
(ou seja, estes indivíduos de pele mais escura não se casavam
com os de pele clara, pois estavam isolados geograficamente),
a pele gradualmente se tornou mais escura. Atualmente esta­
mos vendo o processo inverso acontecer: devido às facilidades
de transporte, as barreiras geográficas estão sendo quebradas.
Pessoas de etnias diferentes estão se casando e gradualmente
estão desaparecendo as diferenças marcantes entre as "raças".
©
Por Que Creio •
daquele tempo" ou "mundo de então" (2 Pedro
3:6), deixando clara a ideia de que o mundo antediluviano era bem diferente do nosso. Os criacionistas e os evolucionistas concordam em que
havia um continente único, a Rangea, com clima
e topografia diferentes dos atuais. Esses fatores, e
outros, promoviam a relativa invariabilidade de
então, situação que perdurou até o Dilúvio.
As características dos filhos de Noé suge­
rem alguma coisa ao pesquisador?
Noé tinha 480 anos quando Deus lhe ordenou
que construísse a arca. Com 500 anos nasceu-lhe
o primeiro filho: Jafé. Os dois seguintes nasceram
com dois anos de diferença cada: Sem e Cão.
Creio que as características diferenciadas entre
eles seja uma possibilidade de explicação para
a variação étnica verificada entre os humanos.*
Jafé possivelmente tenha nascido com uma
pele diferente da dos pais e um pouco mais cla­
ra, considerando-se as etnias que se originaram
dele, ou seja, os caucasianos.
Curiosamente, o significado do nome Sem é
"nome". Isso mesmo. Nunca vi alguém chama­
do "Nome", mas o piano de Deus era que esse
filho de Noé preservasse justamente o nome
•
•
•
—
.... —
.........-
—
- ■
■
■
■
* N.E.: Essa diferença também poderia ser explicada pelas espo­
sas dos filhos de N oé. Elas poderiam ser bastante diferentes
entre si, já que provavelm ente não tinham parentesco. Assim,
entre os netos de Noé já poderia haver certa diferenciação.
Mas certamente essas diferenças se acentuaram mais com o
isolamento geográfico que ocorreu depois do D ilú vio.
•
A origem das etnias ©
da família e o nome de Deus. Sem originou os
povos semitas que, de fato, contribuíram para
manter viva a religião monoteísta.
Cão significa "quente". Possivelmente sua ba­
gagem genética tenha sido remodelada por Deus
para enfrentar as regiões mais quentes que haveria
no mundo, após o Dilúvio. Mas é claro que tam­
bém devemos levar em conta o fato da adaptação
biológica natural e o fator isolamento geográfico.
Gênesis 9:19 diz que desses três homens Sem, Cão e Jafé- se povoou a Terra, originandose as etnias e as línguas. O mundo passou por
grande fragmentação geográfica e mudanças
climáticas e topográficas, o que favoreceu a
variabilidade em diversos aspectos.
As condições do mundo pós-diluviano podem ser uma explicação
para a diversidade humana
Por Que Creio •
Por que o senhor acha que Deus promoveria
essa diferenciação entre e/es ou teria dotado a
humanidade com essa capacidade adaptativa?
Vejo aqui a presciência de Deus em dotar a hu­
manidade renascente com características que lhes
ajudariam a se adaptar melhor ao estranho mundo
pós-diluviano. Além disso, era também uma forma
de conter a maldade, isolando os povos.
Coincidentemente com a visão bíblica, os
etnólogos classificam as etnias a partir de três
grandes "raças" e troncos linguísticos. Mas o
centro de dispersão, segundo a Bíblia, fica na
Ásia Menor, no Cáucaso, ou terra de Ararate, e
não na África, como querem alguns.
Aliás, na África, na última metade do século
20, foram encontrados fósseis de criaturas com
aparência e características simiescas, como bai­
xa capacidade craniana, membros aptos para
agarrar e segurar, mas com o andar ereto, den­
tes pequenos, etc., e foram chamados de australopitecíneos (Australopithecus africanus foi o
nome de um dos primeiros encontrados).
Por causa das marcas humanas e de acordo
com teorias correntes, muitos foram levados a
considerá-los como antepassados pré-humanos
e a África, como o "berço da humanidade". Nes­
se contexto, causou muita sensação o achado de
um esqueleto quase completo de australopiteco,
que inclusive recebeu o nome de Lucy.
Nos anos 1960 foram descobertos, num desfila­
deiro da África Oriental, fragmentos fósseis de uma
• A origem das etnias
criatura jovem com abóbada craniana maior que a
dos australopitecos. Como nas vizinhanças desse
local alguns anos antes haviam sido encontradas
pedras lascadas de modo bastante rude, presumiu-se
que tivessem sido produzidas por essa criatura, razão
pela qual foi-lhe dado o nome de Homo habilis.
Como era de se esperar, alguns viam nessa
criatura um elo intermediário entre os gêneros
Australopithecus e Homo. Contudo, após estudos
posteriores e não pouca discussão, prevaleceu a
tendência de considerá-la como um australopiteco, por causa de características tipicamente simiescas nas proporções corporais e na dentição.
Não parece simples colocar os Australopithecus
numa linha filogenética evolutiva indo de primatas
extintos em direção ao homem. O peso das carac­
terísticas simiescas é muito grande e são observados
diferentes graus de variabilidade nas diversas partes
do corpo, não permitindo formar uma linha evolu­
tiva, mas sim uma disposição em mosaico dentro
do grupo. Por isso, para muitos, parece prevalecer
a ideia de considerar os Australopithecus apenas
como um grupo diferente e peculiar de pri matas.
Os traços peculiares dos três filhos de Noé
podem ser identificados ainda hoje?
Sem dúvida. Até hoje os povos semitas (des­
cendentes de Sem) podem ser reconhecidos pe­
los traços fisionômicos. As línguas que falam,
apesar das variações, também podem ser iden­
tificadas através dos sons guturais fortes, como
Por Que Creio •
no árabe, e das raízes triliteras, compostas uni­
camente de consoantes (só mais tarde os massoretas acrescentaram vogais ao hebraico).
Jafé deu origem aos povos indo-europeus, ou
caucasianos, ou ainda arianos. Os Jafetitas, além
de povoarem a Europa, imigraram para o vale do
Rio Indo (índia), ocorrendo a miscigenação com
os povos que lá já havia. Os hindus têm, portan­
to, ascendência jafetita e sua língua tem como
base o sânscrito, que é uma língua jafetita. Dessa
língua surgiu uma grande família que originou
idiomas como o latim, o grego e o português, "a
última flor do Lácio". São línguas agradáveis, "de
cultura" e ampla flexão nominal e verbal, que
permitem expressar ideias profundas, o que não
ocorria com as línguas semíticas.
Um dos sete filhos de Jafé, Gômer, originou os
europeus; Javã originou os gregos; Magog, os po­
vos eslavos (russos); e Madai, os medo-persas.
Cão, por sua vez, deu origem às etnias negroides,
australoides e mongoloides - ou camíticas. Suas lín­
guas sofreram grande fragmentação. São silábicas
e aglutinantes. Exemplo: Itatiaia, palavra indígena
que significa pedra (ita) de muitas pontas.
Do filho mais velho de Cão, Cush, surgiram os
cushitas, que deram origem aos etíopes, sudaneses e
núbios, ou seja, os negros. Ninrod, também filho de
Cão, fundou Babei, onde houve a grande fragmenta­
ção linguística. Misrain originou os egípcios; e Canã,
que quer dizer púrpura, deu origem aos cananitas.
Quando os gregos entraram em contato com os
• A origem das etnias
cananitas, na costa mediterrânea, chamaram-nos de
fenícios, que quer dizer justamente "púrpura".
Fale um pouco mais sobre as características
das três grandes etnias.
Os semitas tinham propensão à religiosida­
de. Apegavam-se a Deus, ou a deuses. Como
disse, o hebraico, por exemplo, é uma língua
rígida, invariável, própria para transmitir verda­
des imutáveis. Cogitavam do mundo espiritual,
característica que nossa cultura cristã herdou.
Os jafetitas, por causa de sua linguagem e
estrutura mental, tinham vocação intelectual.
Suas línguas eram próprias para a literatura, a
poesia e o canto. Buscavam a verdade, o que
fizeram de fato os grandes filósofos.
Já os povos camíticos foram os desbravadores
do mundo. Preocupavam-se mais com o "aqui e
agora", eram práticos. Desenvolveram tecnologia
náutica e de outras naturezas. Veja o bumerangue
dos aborígenes australianos, por exemplo. Uma
maravilha da engenharia. Quando os outros po­
vos se lançaram a descobrir novos territórios, os
descendentes de Cão já estavam lá. Tome como
exemplo a América.
Como se pode ver, todas essas etnias têm ca­
racterísticas positivas que ajudaram a humani­
dade, dc uma ou de outra forma.
E o que dizer sobre os restos fossilizados de seres
humanos com marcas divergentes das normalmente
^
Por Que Creio •
apresentadas pelo homem atual (Homo sapiens) e
encontrados no Vale de Neanderthal, na Alemanha,
e posteriormente em muitos lugares da Europa?
Foi um esqueleto completo, encontrado em
1908, na gruta Chapelle-aux-Saints, na França,
que serviu de base para a descrição desse ho­
mem fóssil pelo paleontologista francês Marcelin. Conhecido como "homem das cavernas", o
neandertal (Homo neanderthalensis) era baixo,
atarracado, com cabeça volumosa (capacidade
craniana igual à do homem moderno), face lon­
ga, ossos nasais enormes e desenvolvidos, osso
frontal fugidio, arcadas superciliares salientes,
órbitas enormes e arredondadas, e outras mar­
cas diversas, consideradas primitivas, que lhe
davam um aspecto um tanto bestial.
Deve ter sido dos primeiros habitantes da
Europa, onde enfrentou as agruras de um clima
hostil e condições ambientais extremamente
adversas. A adaptação ao frio daquelas regiões,
segundo a regra de Alien, teria resultado em
criaturas humanas com cabeça grande, corpo
atarracado e estatura baixa, como ainda hoje se
pode observar nos esquimós e nos lapões.
Por outro lado, segundo a mesma regra, a adap­
tação ao calor implicaria o desenvolvimento de
criaturas com estatura elevada, membros longos e
crânios pequenos, com capacidade variando entre
750 e 1.300 cm3, como pode ser verificado nos
restos do chamado Homo erectus, encontrados
na Ásia e na África (Homem de Java ou Pithecan-
• A origem dos etnias
tropus erectus, Homem de Pequim, Homem da
Rodésia, etc.). Num contexto criacionista, parece
certo considerar o Homo erectus uma variedade
do Homo sapiens profundamente modificada.
Não parece difícil concluir que imediatamente
após o dilúvio universal tenha havido condições para
o aumento da variabilidade em pequenas populações,
especialmente se sujeitas a isolamento geográfico e
a profundas e rápidas mudanças ambientais.
Num contexto assim, haveria condições para a
sobrevivência de eventuais aberrações decorrentes
de genes mutantes que se espalhariam com mais
facilidade graças à diminuição da competitividade
resultante do pequeno número de indivíduos e do
surgimento rápido de novas condições ambientais
entrando em cena.
É o que pode ter ocorrido com populações
desgarradas logo após o Dilúvio. Pequenas po­
pulações enfrentando condições muito adversas
tendem a sofrer acentuada variabilidade física,
preservando, contudo, suas marcas culturais.
Por outro lado, grandes populações tendem a
sofrer menor variabilidade física em vista da pos­
sível eliminação de genes mutantes, podendo ao
mesmo tempo, em semelhante contexto, desen­
volver maior variabilidade cultural, como se pode
observar no estudo dos povos e etnias.
À luz da visão criacionista, não parece tão di­
fícil explicar a tremenda diversidade física e cul­
tural humana, evidente não só na humanidade do
passado, mas em pleno século 21.
©
Por Que Creio •
Quais o senhor acha são as maiores evidên­
cias de que o homem foi criado por Deus?
Há um grande número de atributos que con­
ferem ao homem um status singular que jamais
poderia ter se desenvolvido gradualmente a
partir de atributos animalescos. Tampouco po­
deriam existir num mundo sem significado ou
propósito. Vejamos alguns:
Capacidade para raciocínio abstrato e para
o uso de linguagem complexa .* É significativa a
* N.E.: Sobre o ponto de vista evolucionista, a própria evolução da
linguagem não teria explicação sem a aceitação de uma convivên­
cia social de grupos de seres humanos cooperando entre si. Assim,
não se pode adotar a hipótese da sobrevivência do mais apto por
seleção natural, o que serve de alerta em relação à aplicação indis­
criminada dos conceitos biológicos darwinistas - questionados até
mesmo no âmbito da própria Biologia - a outros setores da ciência.
Outra dificuldade para o evolucionismo é explicar o surgimento
da capacidade de raciocínio abstrato, que envolve a potencialidade
cerebral para a compreensão e a utilização dos conceitos de concreto
e abstrato. Max Muller, o eminente filólogo alemão, contemporâneo
de Darwin, confrontando-o, criticou a teoria da evolução com as
seguintes palavras: "E nosso dever advertir aos ilustres discípulos de
Darwin que, antes de conseguirem uma verdadeira vitória, antes de
poderem declarar que o homem descende de um animal mudo,
devem cercar formalmente uma fortaleza que não se renderá por
uns poucos tiros disparados ao acaso - a fortaleza da linguagem,
que até o momento permanece inamovível exatamenle na fronleira
entre o reino animal e o homem” (Linguagem e Antropologia, citado
em Folha Criacionista nQ22, p. 46).
Curiosamente, o que não se conseguiu na Biologia, no
sentido de se construir uma árvore genealógica dos seres vivos
(o que confirma a estrutura conceituai criacionista, segundo a
qual os seres vivos foram criados independentemente, "cada um
segundo a sua própria espécie"), está se conseguindo aos poucos
na Linguística, já que os fatos apontam para uma árvore com
muitos galhos e um tronco em comum (confirmando, também,
• A origem das etnias ^
conclusão de linguistas de que as línguas pos­
suem uma subestrutura universal que compreen­
de a gramática, o vocabulário e, eventualmen­
te, a fonologia. Por isso, não existem "línguas
primitivas" ou "pré-línguas", mesmo entre os
povos considerados atrasados. Por outro lado, é
reconhecida a existência de uma superestrutura
não universal transmitida culturalmente, o que
explica a existência de "línguas de cultura", mos­
trando que a língua que a pessoa fala e o modo
como é falada influi na vida intelectual. Os seres
humanos estão, portanto, pré-programados para
a fala, o que é em si forte evidência de plane­
jamento.
Capacidade de produzir cultura "cultivan­
do" a mente ao prover-lhe conhecimento e ao
interagir com outros nos modos de pensar, crer,
relacionar-se e comportar-se.
Senso de história e temporalidade. E marca
humana sui generis descobrir-se imerso no tem­
po, "datado", sentindo o presente, o hoje, sem
a ele ficar preso, podendo atingir o ontem, o
passado, e reconhecer o amanhã, o futuro.
Senso de responsabilidade e dever. Tremen­
da é a peculiar capacidade humana de possuir
a posição criacionista baseada no relato de Gênesis, e estando
plenamente de acordo com as declarações do apóstolo Paulo,
feitas no Areópago de Atenas, perante os mais ilustres sábios
da época: "O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe,
sendo Ele Senhor do céu e da Terra, não habita em santuários
feitos por mãos humanas [...] de um só fez toda a raça humana
para habitar sobre a face da Terra" (Atos 17:24 e 26).
^
Por Que Creio •
e de poder desenvolver uma consciência que o
dirige ao que é certo, de acordo com códigos
morais que o homem pode conhecer, entender,
cumprir e ele mesmo elaborar.
Transcendência. O ser humano, embora
consciente da realidade objetiva na qual se situa
e imerso na matéria, é capaz de libertar-se da
unidimensionalidade e do seu senso de finitude
e transcender ao sobrenatural e ao espiritual.
Capacidade de fazer escolhas livres. Outro
grande atributo do ser humano que normalmen­
te possui o senso de que "existe" e não mera­
mente de que "vive" ou "acontece". Ele é capaz
de defrontar escolhas e opções, refletir antes de
agir, e depois de haver optado e já tendo agido,
bem ou mal, sente ainda que poderia ter agido
diferentemente.
Apreciação da beleza e gratificação estética
são outras marcas essencialmente humanas.* Ape­
nas um ser muito singular em toda a natureza se­
ria capaz de extasiar-se ante um amanhecer, ante
uma noite estrelada ou na contemplação de uma
paisagem calma. Somente o ser humano é ca­
paz de apreciar a beleza, que parece estar sendo
* N.E.: É interessante ler o que Darwin escreveu a seu amigo
norte-americano Asa Cray, em The Life and Letters o f Charles
Darwin, v. 2, p. 296: "Lembro-me muito bem do tempo quando
pensar no olho me dava calafrios, mas já superei esse estágio da
doença, e agora pequenos particulares insignificantes de estrulura muitas vezes me deixam muito pouco à vontade. A visão
de uma pena na cauda de um pavão, toda vez que a observo,
me deixa doente!"
A origem das etnias
esbanjada, às vezes parece escondida e outras ve­
zes se encontra até perdida na bagagem genética
dos seres vivos. Interessante... há a beleza que pa­
rece proposital mente existir para ser apreciada e
há o ser humano que, de propósito, parece feito
para apreciá-las, desde o ciciar da brisa mansa até
os acordes de uma Nona Sinfonia.
Por que apreciamos a beleza, desfrutamos a
música, e temos essa grande indagação quanto
à existência? Essas características mentais pare­
cem ir além do nível mecanicista e estar acima
dos requisitos de sobrevivência esperados da
seleção natural.
Feitos incríveis da humanidade. É realmente
notável perceber as culminâncias atingidas pela
humanidade. Em todos os domínios do conhe­
cimento e das realizações, são notáveis as rea­
lizações humanas, alcançadas em decorrência
da tremenda força do espírito humano, capaz
de enfrentar obstáculos e desafios os mais di­
versos e atingir aituras quase inimagináveis.
É impressionante o elenco de obras humanas,
desde o busto de Nefertiti (rainha egípcia do 14a
século a.C.), até a estátua de Moisés, esculpida
por Michelangelo; desde a pintura da Capela Sistina, até os Girassóis deVan Gogh; desde a obra
Les Misérables, de Victor Hugo, até Os Sertões, de
Euclides da Cunha; desde o Salmo 19, de Davi,
até a obra Kosmos, de Alexander von Humboldt;
desde a Didática Máxima, de Johan Amos Commenius, até o livro Educação, de Ellen G. White.
©
Por Que Creio •
Notáveis são no ser humano seus atributos
racionais, morais, estéticos e espirituais, que,
quando cultivados, permitem não só empreen­
der a busca da verdade, mas desenvolver o amor,
a bondade, o desprendimento, como se obser­
va, por exemplo, nas vidas de Albert Schweitzer,
Madre Tereza de Calcutá e tantos outros.
Lamentavelmente, está sendo consumada a
grande tragédia humana, que consiste na opção
pelo acaso e na renúncia a uma origem nobre.
A comunidade intelectual, e especialmente a
comunidade científica, escolheu a visão natu­
ralista do mundo como cenário para a ciência,
limitando assim o conhecimento e estreitando
a visão de mundo. A visão naturalista, tanto
quanto a visão criacionista, são emolduradas
por pressuposições e atos de crença. A opção
depende muito da formação, do contexto vivencial e da estrutura mental de cada um. É só
pensar e escolher.
Rara saber mais: leia o livro Origens, do Dr. Ariel
A. Roth (Casa).
A
CAIXA-PRFTA»
d e D a r w in •
Divulgação
Michael J. Behe
Michael J. Behe nasceu em 1952 e cresceu em
Harrisburg, Pennsylvania, EUA. Bacharelou-se em
Química, em 1974, pela Universidade Drexel, em
Philadelphia. Fez pós-graduação em Bioquímica, na
Universidade da Pennsylvania, e obteve seu douto­
rado em 1978, sendo o tema de sua tese a anemia
falsiforme. De 1978 a 1982 fez pós-doutorado sobre
a estrutura do D NA, no National Institute of Health.
Entre 1982e 1985 foi professor assistente de Quími­
ca no Queens College, na cidade de Nova Iorque.
Em 1985 mudou-se para a Universidade Lehigh,
onde atualmente é professor de Bioquímica.
Em sua carreira profissional escreveu mais de 40
artigos técnicos e um livro, Darwin's Black Box: The
Biochemical Challenge to Evolution (A Caixa-Preta
de Darwin: O Desafio da Bioquímica à Teoria da
Evolução, publicado no Brasil pela Jorge Zahar),
no qual argumenta que os sistemas vivos, em nível
molecular, são mais bem explicados como sendo o
Por Que Creio •
resultado de planejamento inteligente. Esse livro foi
resenhado por mais de uma centena de periódicos,
entre eles: The New York Times, Nature, Philosophy
of Science e Christianity Today. Atualmente, o Dr.
Behe e a esposa residem nas proximidades de Bethlehem, Fennsylvania, com seus oito filhos.
Em seu livro A Caixa-Preta de Darwin o
senhor descreve os sistemas de complexidade
irredutível. O que são eles?
Sistemas de complexidade irredutível são
aqueles que necessitam de partes múltiplas
para funcionar; se uma parte é removida, o
sistema não funciona mais.
Para Darwin e seus contemporâneos do século
19, a célula, por exemplo, era uma "caixa-preta".
Era simplesmente muito pequena, e a ciência
daquela época não dispunha de ferramentas para
investigá-la. Os microscópios daquele tempo
eram bem rudimentares e as pessoas podiam ver
só os contornos da célula. Assim, muitos cientistas
pensavam que a célula era bastante simples,
como um pedacinho de gelatina microscópica.
A partir daquela época, a ciência tem mostrado
queacélulaéumsistemaextremamente complexo,
que contém proteínas, ácidos nucleicos e diversos
tipos de "máquinas miniaturizadas". No meu
livro eu examino várias dessas "máquinas" e
argumento que a seleção natural darwiniana não
pode tê-las produzido justamente por causa do
problema da complexidade irredutível.
• A caixa-preta de Darwin ^
Acredito que tais sistemas são mais bem
explicados como o resultado de um deliberado
planejamento inteligente. Cheguei a essa conclusão
por um tipo de argumento lógico indutivo: sempre
que vemos tais sistemas no mundo real, no
mundo macroscópico de nossa vida cotidiana,
concluímos naturalmente que eles foram, de fato,
projetados. Ninguém se depara com uma ratoeira
e se pergunta se foi projetada ou não.
Essa é uma das anaiogias usadas em seu livro.
Explique melhor que relação o senhor estabelece
entre uma ratoeira e os sistemas bioquímicos.
Certo. Suponhamos que queiramos fabricar
uma ratoeira. Na garagem, podemos ter uma
tábua de madeira velha (para a plataforma ou
base), a mola de um velho relógio de corda, uma
peça de metal (para servir como martelo) na for­
ma de uma alavanca, uma agulha de cerzir para
segurar a barra, e uma tampinha metálica de gar­
rafa, que julgamos poder usar como trava. Essas
peças, no entanto, não poderiam formar uma
ratoeira funcional sem modificações excessivas
e, enquanto elas estivessem sendo feitas, as par­
tes não poderiam funcionar como ratoeira. Suas
funções anteriores as teriam tornado impróprias
para quase qualquer novo papel como parte de
um sistema complexo.
Assim, para que a ratoeira exista e funcione, é
preciso que todas as suas partes funcionem perfeita­
mente, da mesma forma como deve ocorrer com os
Por Que Creio •
sistemas bioquímicos. Nada pode faltar e, por isso,
não podem ter evoluído em etapas sucessivas.
Poderia mencionar alguns desses sistemas
irredutivelmente complexos?
Os sistemas de complexidade biológica
irredutível incluem o flagelo bacteriano, que é
literalmenteummotorexternoquealgumasbactérias
usam para nadar: tem hélice, eixo acionador,
motor, uma parte fixa, um mancai e outras partes
mais. Outro exemplo é o sistema de transporte
intracelular, que é um sistema de "rodovias",
"sinais de trânsito" e "vagões moleculares" que
transportam carga por toda a célula.
Por ter contestado o paradigma evolutivo,
seu livro tem causado bastante polêmica nos
meios científicos. O senhor já previa isso ? Quais
foram os principais tipos de contestação?
Com certeza, eu previa que meu livro causaria
controvérsia. Os darwinistas têm replicado
dizendo, principalmente, que explicarão os
sistemas moleculares no futuro, talvez dentro
de dez ou vinte anos. Para dizer o mínimo, sou
bastante cético quanto a essa pretensão.
A primeira reação da maioria dos críticos é
dizer: "Isso é apenas criacionísmo levemente
disfarçado." E em resenhas escritas por cientistas
eles falam frequentemente sobre os primeiros
capítulos de Gênesis e do "julgamento da Criação",
de Arkansas, nenhum dos quais eu menciono no
• A caixq-preta de Darwin
livro. Assim, eles tentam condenar meu trabalho
através do processo de associação. Eles também
não veem que há uma distinção entre chegar a
uma conclusão simplesmente pela observação do
mundo físico, como se espera que um cientista
faça, e chegar a uma conclusão baseado na Bíblia
ou em convicções religiosas.
Que influência o livro de Michael Denton
(tvolution: A Theory in Crisis) teve em sua mudan­
ça de pensamento em relação ao evolucionismo?
O livro de Michael Denton foi muito impor­
tante para meu ponto de vista. Ele foi o primeiro
cientista, dos que eu li, que questionava a evo­
lução baseado estritamente na ciência. Era algo
novo para mim e me mostrou que havia muitos
problemas inexplicáveis no Darwinismo.
A partir de então, procurei pesquisas que
pudessem dizer como os sistemas bioquímicos
foram gradualmente produzidos durante a evo­
lução. Descobri rapidamente que tais documen­
tos não existiam. Assim, com o passar do tempo,
percebi que, de fato, esses sistemas só poderiam
ser o resultado de um planejamento inteligente.
Estive isolado durante algum tempo. Então li o
livro Darwin on Trial, de Phillip Johnson, e gostei
bastante. Vi num número da revista Science que
havia uma resenha do livro de Johnson. Eu fiquei
muito entusiasmado e pensei: "Isso é demais! Eles
terão que discutir alguns desses assuntos, e verei
o que eles têm a dizer sobre isso." Mas quando
(^ ) Por Que Creio •
li mais detidamente o texto, percebi que não era
uma resenha, era simplesmente uma advertência
dizendo: "Este livro é antievolucionista. Advirta
seus estudantes, pois ele está confundindo o
público/' Fiquei bastante desapontado, pois eles
não discutiam o conteúdo do livro. Não era nem
mesmo uma refutação. Pensei: não é assim que a
ciência deve ser.
Escrevi uma carta ao editor de Science, mos­
trando que eles deveriam discutir os assuntos
envolvidos, e não apenas rejeitá-los. Science publi­
cou minha carta, Johnson a viu e me escreveu. Foi
assim que nós começamos a nos corresponder.
Desde então tenho sido convidado a algumas
reuniões nas quais ele está envolvido, e essa é a
maneira como eu me envolvi nessa comunidade
de pessoas interessadas no assunto Intelligent
Design (Planejamento ou Design Inteligente).
No que seu livro difere de outros sobre
evolucionismo ?
O argumento em favor da evolução é melhor
resumido no livro O Relojoeiro Cego, de Richard
Dawkins. É uma leitura fascinante, e é interessan­
te notar como Dawkins e Denton usam exemplos
semelhantes, mas chegam a conclusões completa­
mente diferentes. Denton usa uma analogia com
o idioma inglês dizendo que frases são difíceis de
se criar. Dawkins tem uma seção onde ele usa um
computador para gerar uma frase, tentando mostrar
com isso que a evolução é fácil. Percebi que esses
• A caixa-preta de Darwin
livros discutiam o problema num nível muito bási­
co, não apenas em relação à ciência, mas ao co­
nhecimento em geral. Quer dizer, como você sabe
algo? Como você apoia uma teoria com evidência?
E quais extrapolações são legítimas? Em meu livro,
procurei aprofundar a questão.
Em sua opinião, por que movimentos como
o Intelligent Design (Planejamento ou Design
Inteligente) têm crescido tanto?
Porque o Intelligent Design incorpora o ceti­
cismo que muitas pessoas têm acerca do Darwinismo, e desafia a evolução em seu próprio terri­
tório, como uma teoria científica.
Como sua mudança de foco>no que concer­
ne à evolução bioquímica, afetou sua forma de
lecionar?
Não afetou muito minha forma de lecionar, ex­
ceto pelo fato de que eu mostro aos alunos a natu­
reza intrincada dos sistemas bioquímicos e salien­
to que ninguém demonstrou como eles podem
ser produzidos através de processos aleatórios.
No fim de 1980, a Universidade Lehigh decidiu
desenvolver um programa de seminários para ca­
louros. São cursos que têm o objetivo de fazer os
novatos ficarem entusiasmados com a carreira que
escolheram. Assim, a administração estava procu­
rando voluntários que sugerissem cursos. Eu criei
um curso que chamei de "Argumentos populares
sobre evolução", no qual lemos Denton e Dawkins.
^
Por Que Creio •
Esse curso tem sido muito popular entre os estu­
dantes. A maioria deles entra para a universidade
acreditando na teoria da evolução, mas muitos
deles, quando terminam o curso, dizem que, em­
bora ainda acreditem na evolução, agora veem o
assunto como muito mais complexo e problemáti­
co. Como professor é meu objetivo fazê-los pensar
por si mesmos e não simplesmente confiar no que
as pessoas dizem, como eu fiz uma vez.
Pode-se aceitar a teoria do Intelligent
Design como puramente científica, sem apelar
para a religião?
Sim, o Intelligent Design pode ser uma teoria
puramente científica, porque está totalmente base­
ada em evidência física - a estrutura de sistemas
celulares. Não se baseia em argumentos filosóficos,
teológicos ou bíblicos, mas em evidência física.
Uma analogia que eu gosto de traçar é com
a Física: muitos físicos estavam infelizes com a
ideia do Big Bang porque parecia ter implicações
teológicas óbvias. Todavia, os físicos a aceitaram
como uma teoria científica legítima e trabalharam
sobre ela. Eu vejo o Intelligent Design do mesmo
modo: pode ter implicações religiosas mas é uma
teoria científica clara baseada apenas em obser­
vações de sistemas bioquímicos, e nós devería­
mos aceitá-la e trabalhar a partir dela.
O senhor fez diversas pesquisas em publicações de divulgação científica como o Journal of
\
• A catxa-preta de Darwín
Molecular Evolution, em busca de explicações
para os mecanismos da evolução biológica. O
que concluiu?
As publicações científicas não apresentam
detalhes, modelos testáveis, nem evidências ex­
perimentais mostrando que os processos darwinianos poderiam desenvolver sistemas de com­
plexidade irredutível. Concluo que a evidência
está faltando porque sistemas complexos não
podem ser desenvolvidos por forças aleatórias,
O Journal of M olecular Evolution tem apro­
ximadamente 25 anos e publicou mais de mil
artigos desde sua primeira edição. Essa revista
publica muitos artigos sobre comparações de
sequências de moléculas de proteínas, DNA e
outras, na tentativa de determinar uma ancestralidade comum. Assim, organismos que possuís­
sem sequências semelhantes de aminoácidos em
determinada proteína, por exemplo, seriam des­
cendentes de um ancestral comum. Isso pode ser
interessante, e pode ser uma questão legítima,
mas comparar sequências simplesmente não lhe
diz nada quanto a maneira pela qual essas com­
plexas máquinas moleculares surgiram. Assim,
durante seus 25 anos de existência, o Journal of
M olecular Evolution evitou completamente a
questão de como esses sistemas extremamente
complexos poderiam ter surgido.
Lamentavelmente, a maioria dos cientis­
tas ignora completamente a evolução no seu
funcionamento, e aqueles que pensam no
Por Que Creio •
assunto simplesmente procuram por asso­
ciações e não se preocupam com o Darwinismo em si. Extraordinariamente, isso tem
muito pouco a ver com o trabalho cotidiano
da ciência e serve basicamente como um su­
porte filosófico que, na minha opinião, está
apenas inibindo a verdadeira pesquisa sobre
a vida e seu desenvolvimento.
Já que a ciência procura se caracterizar
pela busca da verdade, por que é tão difícil
por exemplo, publicar um artigo com opinião
discordante do evolucionismo?
Apesar da imagem popular, os cientistas
são pessoas normais, com seus próprios pre­
conceitos. Se alguém pretende desafiar uma
crença profundamente defendida, pode espe­
rar resistência.
Em entrevista concedida a uma revista bra­
sileira de divulgação científica, a professora de
história da ciência da Universidade da Flórida,
Vassiliki Betty Smocovitis, disse, referindo-se aos
criacionistas, que eles são "especialistas autoprodamados", sem credenciais científicas. O que o
senhor pensa a respeito?
Alguns criacionistas não têm credenciais,
mas outros têm. Os que têm credenciais incon­
testáveis têm chamado a atenção para muitos
problemas sérios no Darwinismo, os quais não
se pode honestamente descartar.
A caixa-preta de Darwin
O senhor vislumbra algum tipo de mudança
de paradigma no futuro? Quem deverá mudar
mais: a igreja ou a ciência f
A ciência muda à medida que mudam os da­
dos, embora leve tempo. Acredito que a ciência
acabará se voltando ao Intelligent Design, pois é
nessa direção que os dados apontam. Ao contrá­
rio da ciência, a essência da religião não muda.
Vários cientistas, como o zoólogo adventista
Dr. Ariel Roth, defendem uma integração entre fé
e ciência. Como cientista cristão, o senhor acha
possível conciliar a visão científica e a religiosaf
Acredito que por fim a ciência e a religião
convergirão para a mesma verdade, pois só exis­
te uma verdade.
O que a Teologia tem a oferecer à ciência
na busca da verdade?
A Teologia pode mostrar à ciência que exis­
te algo mais além da matéria e do movimento,
que o mundo é mais complicado do que muitos
cientistas creem. A Teologia também pode sal­
vaguardar a ciência do orgulho que acompanha
a tentativa de explicar todas as coisas.
Para saber m ais: leia outras entrevistas na seção
"Entrevistas", no blog www.criacionismo.com.br
♦ D ig ita is
d o C riad o r
Textos criacionistas de
Michelson Borges
Examinando a Criação
O que você pensaria se eu lhe dissesse que
as palavras deste texto surgiram aqui por acaso?
Que, em algum momento, gotas de tinta acabaram
caindo nesta folha e se agrupando - casualmente
e ao longo do tempo - em letras, palavras e frases.
Meio difícil de se aceitar, não? No entanto, é mais
ou menos dessa maneira que os evolucionistas
entendem (e tentam explicar) o surgimento do
Universo e da vida neste planeta.
Para eles (os evolucionistas) que defendem a
origem de tudo sem a necessidade de um Criador,
por processos naturais, tempo e acaso são os
heróis da história. Dado tempo suficiente, dizem,
até "milagres" acontecem. Por outro lado, há os
criacionistas - aqueles que sustentam a ideia de
que vida só provém de vida e que todo efeito de­
riva de uma causa (no caso, a energia, a matéria
e a vida teriam provindo de Deus).
• Digitais do Criador <8>
É preciso deixar bem claro que tanto o criacionismo quanto o evolucionismo são apenas
teorias e que, portanto, carecem de provas. Mas
os meios de comunicação nem sempre mos­
tram as coisas dessa forma. Não posso provar
por A mais B que Deus criou o Universo; mas
também não posso provar que Ele não o criou.
Portanto, tudo o que temos são evidências.
O fato de muitos cientistas serem ateus ou ag­
nósticos acaba influenciando as pessoas. Mas esses
profissionais se definem assim pelas convicções
que nada têm que ver com a ciência. Querem, por
isso, acreditar que o mundo natural que estudam
é tudo o que existe e, sendo humanos, tentam per­
suadir a si mesmos de que a ciência lhes dá argu­
mentos para apoiar suas crenças pessoais.
É preciso abrir a mente e o coração para ver as di­
gitais do Grande Projetista, como diz certa música:
"Há no céu, no mar, na flor,
Um detalhe de amor;
Há também no entardecer
A poesia do nascer!
Na beleza natural
Eu contemplo o digita!
Dessa mão que me criou."
Olhe atentamente o mundo ao seu redor: as
plantas, as flores, os pássaros, as montanhas, as
estrelas, o corpo humano... e você verá as digitais
do Criador.
Por Que Creio •
Impressões microscópicas
Talvez uma das melhores evidências de plane­
jamento na natureza venha de algo que se pode
considerar a forma de vida mais primitiva: a bactéria.
Muitos tipos de bactérias têm um sistema propulsor
chamado "flagelo", que é uma estrutura móvel seme­
lhante a um chicote. Ao girar, o flagelo faz com que
o organismo deslize pela água, impulsionado sobre
o substrato no qual vive. Esse mecanismo apresenta
detalhes incríveis, a começar pelo tamanho: é um
aparato de menos de 25 nanômetros de diâmetro,
algo como um bilionésimo de centímetro.
O ser humano tem orgulho de sua criatividade
na invenção da roda. O flagelo bacteriano é cons­
truído sobre o mesmo princípio da roda. Na ver­
dade, há uma série de rodas que giram sobre um
eixo. E é a rotação dessas rodas - que giram numa
superfície sem fricção a mais de 18 mil rotações
por segundo - que faz com que o flagelo se mova.
A indústria tem grande interesse nesse sistema ro­
tor bacteriano por causa de sua eficiência.
Mas o que faz esse rotor funcionar? Um motor
elétrico! A membrana celular na qual esse apara­
to está encaixado produz uma corrente elétrica
ao bombear íons {principalmente de hidrogênio)
pela membrana. Essa corrente elétrica é assimila­
da pelo rotor do flagelo e o faz girar. Além disso,
a bactéria é capaz de controlar seu deslocamen­
to com velocidades variadas, podendo girar o
flagelo mais devagar ou mais rápido.
Digitais do Criador
Design e engenharia. Os melhores enge­
nheiros não conseguiram desenvolver mecanis­
mos como o rotor bacteriano. "Tudo na bactéria
parece dizer: engenharia, inteligência, planeja­
mento", afirma o Dr. Richard Lumsden, ex-pro­
fessor daTuIane University.
Se entrássemos numa loja e víssemos uma
máquina desse tipo, o que pensaríamos? Que as
peças se juntaram por acaso, sem planejamen­
to, sem propósito ou sem um processo criativo?
É claro que não! Teria sido construída pela Ge­
neral Electric ou por outra empresa. As bacté­
rias* não foram feitas pelo ser humano, mas são
muito mais sofisticadas do que qualquer meca­
nismo que a humanidade já construiu.
A máquina mais complexa do Universo
"Não há prazer mais complexo que o de pen­
sar", já dizia o poeta e escritor argentino Jorge
Luís Borges. De fato, o aparentemente simples
processo do pensamento é algo de complexida­
de espantosa. Nosso corpo é controlado e co­
ordenado por trilhões de células nervosas, nove
bilhões das quais situadas no córtex cerebral. Se
elas fossem alinhadas ponta a ponta, sua exten­
são atingiria mais de 75 quilômetros! Tudo isso
é coordenado por 120 trilhões de "caixas de co­
nexão". Esse intrincado sistema é compactado
* Lembre-se de que, apesar de haver bactcrias nocivas, há lam­
bem as que são benéficas aos seres vivos.
Por Que Creio •
em um insondável complexo de caminhos neurais. A tarefa de contar cada terminação nervosa
do cérebro à velocidade de uma por segundo
levaria 32 milhões de anos!
Impulsos nervosos se deslocam a velocidades
altíssimas nas fibras nervosas para transmitir infor­
mações a cada ponto do corpo. O sistema é se­
melhante a uma nação moderna interconectada
por bilhões de fios telefônicos. Essa imensa rede
de comunicações recebe ou emite 100 milhões
de impulsos eletroquímicos por segundo. Ela está
conectada a cada milímetro quadrado da pele, a
cada músculo, vaso sanguíneo, osso ou órgão. E
tudo isso através da medula e do cérebro, que pesa
cerca de 1,5 quilo e, no entanto, consome sozinho
mais de 20% da energia requerida pelo corpo.
Pense na batida inconsciente do coração, nas
pálpebras piscando, na respiração contínua dos
pulmões, nos alimentos sendo processados pe­
los intestinos, nas pernas que se movem. Tudo
isso é organizado e dirigido pelo cérebro. Pense
nas emoções, na atração sexual, no amor entre
pais e filhos, nos sonhos e pensamentos. Eles
também são produtos do cérebro. Sua missão
mais elementar é recolher os estímulos externos,
captados pelos sentidos, e transformá-los em
impulsos elétricos que percorrem os neurônios.
Toda essa informação é catalogada e arquivada
na memória. É a ela que o cérebro recorre quan­
do precisa tomar decisões, comandar os movi­
mentos corporais e organizar o pensamento.
• Digitais do Criador ^
Neste exato momento, seu sistema nervoso está
processando uma série de informações ao mesmo
tempo: a interpretação destas palavras, a textura
do papel deste livro, os sons de fundo no ambien­
te, os odores, etc. E você quase nem percebe isso.
O profundo e novo conhecimento sobre o cére­
bro, adquirido em grande escala nos anos recentes,
mostra que esse órgão foi maravilhosamente proje­
tado, e capacitado além das maravilhas que a imagi­
nação ignorante lhe atribuía. Num questionamento
bastante simplista, seria possível uma mera combi­
nação acidental de massa, energia, acaso e tempo
produzir órgão tão maravilhoso e complexo?
Por inspiração, há três mil anos, o rei Davi
escreveu palavras que não podem ser superadas:
"Pois Tu formaste o meu interior, Tu me teceste
no seio de minha mãe. Graças Te dou, visto que
por modo assombrosamente maravilhoso me for­
maste; as Tuas obras são admiráveis, e a minha
alma o sabe muito bem" (Salmo 139:13 e 14).
As leis do Universo
"Quando se percebe que as leis da natureza são
sintonizadas de modo a produzir o Universo visí­
vel, chega-se à conclusão de que a vida não acon­
teceu simplesmente, que existe um propósito por
trás disso tudo", disse o físico John Pblkinghorne.
Pelo modelo da evolução, teríamos de admitir que
leis constantes e imutáveis - como a da gravidade
Por Que Creio •
- teriam evoluído do nada. E, se ainda evoluirão,
nada garante que estaremos aqui, no futuro. Algo
muito intrigante a respeito dessas leis, contudo, é
que há nelas certos fatores cujos valores têm de ser
fixados com precisão para que o Universo, como
o conhecemos, exista. Entre estas constantes fun­
damentais há a unidade de carga elétrica sobre o
próton, as massas de certas partículas fundamentais
e a constante universal da gravitação de Newton,
comumente referida pela letra "G".
Sobre isso, o Prof. Raul Davies escreveu na re­
vista New Scientist: "Poucos são os cientistas que
não se impressionam com a quase inconcebível
simplicidade e elegância dessas leis. ... Até mes­
mo mínimas variações nos valores de algumas
delas alterariam drasticamente a aparência do
Universo. Por exemplo, Freeman Dyson enfatizou
que, se a força entre os núcleos (prótons e nêu­
trons) fosse apenas alguns por cento mais forte,
o Universo ficaria sem hidrogênio. Estrelas, como
o Sol - para não mencionar a água - talvez não
existissem. A vida, como a conhecemos, seria im­
possível. Brandon Carter mostrou que mudanças
muitíssimo menores na constante 'G ' transforma­
riam todas as estrelas em gigantes azuis ou anãs
vermelhas, com consequências igualmente funes­
tas sobre a vida/' E Davies conclui: "Neste caso, é
concebível a existência de apenas um único Uni­
verso. Se assim for, é um notável pensamento que
nossa existência como seres conscientes é uma
inescapável consequência da lógica
• Digitais do Críodor
Alguns podem chamar de "lógica" a harmo­
nia das leis naturais. Prefiro, no entanto, crer que
as evidências de planejamento sugerem a exis­
tência de um Criador inteligente. A declaração
bíblica tem ecoado ao longo dos séculos: "Os
céus manifestam a glória de Deus e o firmamen­
to anuncia a obra de Suas mãos" (Salmo 19:1).
Muitos cientistas têm chegado à conclusão
sobre a qual os teólogos e religiosos se debru­
çam há muito: é difícil admitir o surgimento de
tudo o que nos rodeia pelo simples acaso. Ao ser
perguntado por um repórter se acredita em Deus,
o astrofísico francês Hubert Reeves deu uma res­
posta sincera: "Você me pergunta se acredito em
alguma coisa. Eu acho que acredito, mas não sei
em quê. Posso dizer no que não acredito, ou seja,
que apenas o acaso ou a sorte criaram uma músi­
ca maravilhosa como a de Mozart."
O espetáculo da luz
A luz, tão comum em nosso dia a dia, é um
fenômeno que fascina os pesquisadores. Ainda
hoje não é possível defini-la como onda ou partí­
cula, pois ela se comporta das duas formas. Cari
Sagan, em seu livro Bilhões e Bilhões, reconhe­
cendo a singularidade da luz, escreveu que "esse
dualismo onda-partícula nos lembra mais uma
vez um fato humilhante fundamental: a natureza
nem sempre se ajusta às nossas predisposições e
Por Que Creio •
preferências, ao que consideramos confortável e
fácil de compreender" (p. 47).
Nas palavras do jornalista Francisco Lemos, "luz
é [...] um tipo de energia especial que viaja pelo
espaço como se estivesse empacotada em bolinhas
muito pequenas, conhecidas como fótons. Essas
partículas viajam enfileiradas, formando raios lu­
minosos. [...] As partículas que formam a luz são a
coisa mais rápida do Universo. Elas viajam a 300
mil quilômetros por segundo. Isso é velocidade su­
ficiente para dar oito voltas ao redor da Terra em
um segundo!" (Natureza Viva, p. 268).
Ao analisar o fenômeno da visão, surgem
algumas dúvidas: Por que nossos olhos captam
apenas o espectro da luz visível? Por que não te­
mos olhos capazes de visualizar os raios gama,
por exemplo? A resposta, mais uma vez, tem que
ver com planejamento inteligente. A maioria dos
materiais absorve pouco a luz visível, razão pela
qual vemos as coisas - a partir da luz refletida
nelas. No entanto, o ar é geralmente transparente
à luz visível. Assim, a luz atravessa a atmosfera e
chega até nós, possibilitando-nos o fenômeno da
visão. Os raios gama, por outro lado, são inteira­
mente absorvidos pela atmosfera antes de chegar
ao chão. Olhos de raios gama, portanto, teriam
emprego limitado numa atmosfera que torna tudo
negro como breu no espectro de raios gama.
A multiplicidade das bênçãos recebidas do Sol
da Justiça, como Deus é comparado na Bíblia,
é bem ilustrada pelo espectro da radiação solar.
• Digitais do Criador (^ |
Cerca de 70% da energia irradiada pelo Sol situase entre os comprimentos de onda de 0,3 a 1,5
microm, correspondente à banda da luz visível,
acrescida do infravermelho e da luz ultravioleta.
Essa é exatamente a faixa da radiação necessária à
manutenção da vida. Notável "coincidência" que
constitui mais uma evidência de planejamento
na Criação!
Um milagre chamado vida
Ao longo da História - e especialmente em
nossos dias - o sexo foi tão banalizado que poucos
veem a sublime união de dois seres como um dom
divino. O ato de gerar uma vida através do encon­
tro dos gametas masculino e feminino é fruto de
uma engenharia além de nossa imaginação.
Como teriam se desenvolvido ao longo das
eras e por processos casuais os complexos me­
canismos da reprodução?
Existe um paradoxo que sempre intrigou os pes­
quisadores: os seres vivos gastam um tempo precio­
so em busca de um parceiro e, quando o encon­
tram, muitas vezes precisam proteger o "achado"
de rivais. Mas, mesmo quando todo o esforço vale
a pena, no caso individual ou da espécie, o sexo
como forma de reprodução perde, de longe, para
a reprodução assexuada. É pura matemática: en­
quanto cada indivíduo assexuado é capaz de ter
um filho, na reprodução sexuada são necessários
Por Que Creio •
dois indivíduos. O resultado é que, desconhecen­
do o sexo, uma espécie pode se reproduzir duas
vezes mais depressa. Como uma lei biológica
elementar faz com que qualquer espécie tenda a
propagar ao máximo seu estoque genético - isto
é, mediante o nascimento do maior número possí­
vel de indivíduos - então o certo seria antes só do
que acompanhado.
Mas não é isso o que se observa na natureza e aí
está o paradoxo: apenas a minoria de 15 mil espé­
cies animais, das cerca de 2 milhões existentes no
planeta, "prefere" se reproduzir assexuadamente,
ou seja, crescendo e se dividindo. Talvez alguns
respondam que os animais "preferiram" a reprodu­
ção sexuada pois, assim, é possível embaralhar as
características maternas e paternas, criando em uma
mesma espécie seres geneticamente diversificados
e, portanto, com maiores chances de sobreviver.
Na verdade, o sistema nervoso de todo animal
já nasce programado para o sexo. Como uma es­
pécie de seguro adicional, os genes* ainda fazem
com que certas glândulas jorrem hormônios, que
desencadeiam o desejo, a atração sexual. Amar, de
certo modo, é ter reações químicas em cascata. No
caso da espécie humana, quatro milhões de recep­
tores na pele podem captar os estímulos recebidos
e enviar a mensagem do prazer ao cérebro. Como
* Genes são porções de material microscópico existente no inte­
rior das células de cada ser vivo. Os genes são, na realidade,
seções da hélice de DNA, que por sua vez são moléculas muito
longas e complexas.
• Digitais do Criador ^
se pode perceber, é outro tipo de sistema perfeita­
mente ajustado e planejado, cuja perfeição deveria
existir desde o início.
Se o ato conjugal é algo biologicamente maravi­
lhoso, o que dizer da concepção e da gestação? Uma
única célula ovo, formada pela união do esperma­
tozóide com o óvulo, passa a se multiplicar e a se
diferenciar, dando origem a células diferentes que
farão parte de tecidos e órgãos especializados.
É interessante como Jó descreveu esse proces­
so: "Não me derramaste como leite e não me coa­
lhaste como queijo? De pele e carne me vestiste
e de ossos e tendões me entreteceste" (jó 10:10
e 11). E o rei Davi, mil anos antes de Cristo, tam­
bém ficou fascinado com a formação de um ser
humano: "Pois Tu formaste o meu interior. Tu me
teceste no seio de minha mãe. Graças Te dou, vis­
to que por modo assombrosamente maravilhoso
me formaste; as Tuas obras são admiráveis, e a mi­
nha alma o sabe muito bem; os meus ossos não Te
foram encobertos, quando no oculto fui formado
e entretecido como nas profundezas da terra. Os
Teus olhos me viram a substância ainda informe,
e no Teu livro foram escritos todos os meus dias,
cada um deles escrito e determinado, quando nem
um deles havia ainda" (Saímo 139:13-16).
Feitos para voar
As aves foram magnificamente projetadas
para voar. A maioria de seus ossos são ocos ou
Por Que Creio •
esponjosos, o que os torna muito leves. Seu cor­
po é aerodinâmico, oferecendo pouca resistên­
cia ao ar. Além disso, elas são dotadas de mús­
culos fortes, capazes de produzir movimentos
vigorosos.
As penas são uma verdadeira maravilha da en­
genharia. Formadas por uma substância proteica
denominada queratina, são compostas por um
tubo, o cálamo, que está preso à epiderme; um
eixo, a ráquis, que vai se estreitando até sua pon­
ta; e o escapo, que é a mais axial. A ráquis leva
o estandarte, que é formado de cada lado pelas
barbas e pelas bárbulas, que são as verdadeiras
unidades anatômicas das penas. Algumas penas,
as rêmiges das asas e as retrizes da cauda têm por
função o voo - tudo interconectado por um eficientíssimo sistema de nervos e sensores na pele.
O voo é uma função altamente especializada
que requer muitos detalhes. Seria de se esperar
que a evolução gradual do voo e mesmo das penas
(que supostamente evoluíram das escamas dos
répteis) deixasse alguma evidência no registro
fóssil. No entanto, aves, insetos e morcegos apa­
recem na coluna geológica com a capacidade de
voar plenamente desenvolvida.
Além dos músculos associados ao voo, as aves
têm a visão e a audição muito desenvolvidas. Os
olhos são de grande importância. Devido à posi­
ção deles e à capacidade de virar a cabeça mais
de um semicírculo para cada lado, as aves têm um
campo visual mais extenso que o dos mamíferos.
• Digitais do Criador
Os olhos são enormes, por vezes maiores do
que o cérebro. Têm grande capacidade de aco­
modação ocular, podendo focalizar rapidamente
objetos. Podem servir como telescópio e como
lentes de aumento, e foram concebidos para captar
o máximo de luminosidade. O olho da coruja, por
exemplo, capta uma quantidade de luz 100 vezes
superior à captada pelo olho humano.
E o que é ainda mais impressionante: sabe-se
que as aves usam ritmos muito parecidos com os
usados na música feita pelo homem. Segundo pes­
quisadores da área, Mozart escreveu uma melodia
inspirada no canto do estorninho.
Agora pense um pouco. Suponha que uma ave
desenvolvesse certo tipo de asa, mas os músculos
do peito não tivessem força suficiente. Seria capaz
de voar? E se não conseguisse enviar energia para
os músculos rapidamente? Voaria? E se suas penas
tivessem sido feitas como escamas de peixe ou de
réptil, por exemplo? E se elas não tivessem a forma
intrincada que têm, permitindo mudanças cons­
tantes? E se essas mudanças não se refletissem no
ouvido interno e não fossem enviadas ao cérebro
para a coordenação ser perfeita? E se uma peça do
equipamento estivesse ausente ou ainda em forma­
ção, ela voaria?
As aves sempre fascinaram o ser humano. E
a própria Bíblia utiliza-se da águia como figura
de linguagem: "Mas os que esperam no Senhor
renovam as suas forças, sobem com asas como
águias, correm e não se cansam, caminham e não
®
Por Que Creio «
se fatigam." Ouça a "voz das aves'' declarando que
Deus é o Criador.
Amor escrito nas estrelas
O Sol é uma estrela de tamanho médio e cor
amarela. O processo de fusão nuclear transforma
0 hidrogênio, seu gás mais abundante, em hélio e
emite energia. É uma verdadeira bomba atômica
sob controle.
Pertencente à Via Láctea, o Sol é a estrela mais
próxima da Terra e a única de todo o sistema so­
lar. Sua luz leva cerca de 8 minutos para chegar
à Terra (a uma distância de 150.000.000 km). Ele
é muito importante para a vida na Terra, atuando
como motor da dinâmica atmosférica e oceânica,
e fonte para a fotossíntese das plantas.
A superfície visível do Sol, a fotosfera, tem um
aspecto granulado. Os grãos são o lugar por onde
emerge o calor. Numa ampla faixa equatorial se per­
cebem zonas escuras, as chamadas manchas sola­
res, que cumprem um ciclo dei 1anos. O chamado
Astro-Rei é 333.400 vezes maior que a Terra e tem
mais de 99% da massa de todo o sistema solar. Sua
temperatura é de cerca de 6.000°C, na superfície,
e de mais de 15.000.000°C no núcleo. Na coroa,
a parte mais externa, a temperatura pode chegar a
1 milhão de graus - o que os cientistas ainda não
conseguem explicar.
Nossa estrela de quinta grandeza é uma dentre
trilhões que existem pelo Universo afora. O que
• Digitais do Criador
surpreende os leitores da Bíblia é saber que Deus
conhece todas as estrelas, "e as chama pelo seu
nome" (Salmo 147:4). Isso é um grande motivo
de conforto. Os seres humanos estão na faixa dos
6 bilhões, o que é bem pouco em comparação com
a quantidade de estrelas. Se Deus conhece cada
estrela, o que dizer das pessoas, que são o alvo
supremo de Sua consideração?
Alimento perfeito
Enquanto observava minha filhinha Giovanna
sendo amamentada, fiquei pensando no maravi­
lhoso e perfeito alimento a que chamamos leite
materno. Esse líquido supercomplexo é uma dá­
diva do Criador ao bebê. Protege contra as infec­
ções (contém agentes antibacterianos e antivirais),
acalma, ajuda o bebê a ter um sono mais tranqui­
lo, regulariza a digestão, torna-o forte, saudável
e resistente. É um dos alimentos mais complexos
que existem na natureza. Tem 300 componentes já
identificados, que criam um mecanismo de defesa
no organismo contra as infecções e reduz o risco
de diarreia. E um alimento perfeito.
O leite materno também ajuda no desenvol­
vimento da inteligência. Um grupo de cientistas
da Nova Zelândia acompanhou várias crianças
até os 18 anos de idade e descobriu que, quanto
maior for o tempo de amamentação, maior será
o nível de inteligência do adolescente. A razão
disso? Descobriu-se que o leite materno tem dois
Por Que Creio •
ácidos naturais que ajudam no crescimento e ama­
durecimento das células do cérebro, facilitando e
estimulando a ligação mais rápida dos neurônios.
Isso sem mencionar a proximidade e o afeto tro­
cados pela mãe e a criança, e que são também
fundamentais para o desenvolvimento do bebê. A
amamentação é tão importante para o amadureci­
mento da criança que o UNICEF recomenda que o
bebê seja amamentado até um ano de idade.
Há outros dois detalhes interessantes. A oxitocina é o hormônio responsável pelo reflexo de
descida e ejeção do leite durante a amamenta­
ção. Ela é liberada em pequenos jatos em respos­
ta à sucção. Além disso, ao nascer, o bebê tem
o queixo pouco desenvolvido (retrognatismo fi­
siológico), exatamente para facilitar o encaixe da
boca no seio da mãe. Isso evidencia um sistema
interdependentemente projetado, incapaz de ter
surgido ao longo das eras por mutações casuais.
Quem projetou o leite materno para atender to­
das as necessidades humanas em seus primeiros e
fundamentais anos de vida? Quem regulou todos
os nutrientes na proporção adequada ao desenvol­
vimento do bebê? Quem programou no cérebro
do recém-nascido o instinto de sucção, sem o qual
ele não conseguiria se alimentar? O salmista Davi
responde de forma poética: "Tu criaste cada parte
do meu corpo; Tu me formaste na barriga da mi­
nha mãe. [...] Tu me viste antes de eu ter nascido'"
(Salmo 139:13 e 16). O Deus Eterno é o criador do
alimento perfeito.
* Digitais do Criador
Ambiente planejado
Inúmeras constantes físicas fundamentais no
Universo estão delicadamente relacionadas com
as necessidades dos sistemas vivos. Se fossem
diferentes, mesmo numa fração minúscula, a vida
seria impossível, isso é conhecido como Princípio
Antrópico. Muitos cientistas acham nele razões
para crer no Deus Criador.
Mesmo na antiguidade, houve aqueles que
perceberam as evidências de planejamento na
natureza. O escritor romano Cícero {106-43 a.C.)
foi quem deu a esse conceito talvez sua mais
elevada expressão nos tempos pré-cristãos. São
dele as palavras: "Ao observarmos um gnomon
[relógio de sol] ou uma clepsidra [relógio de água],
vemos que eles indicam o tempo de maneira
propositada, e não por acaso. Como podemos
imaginar, então, que o Universo como um todo
seja destituído de propósito e inteligência, ao
abarcar tudo, incluindo esses próprios artefatos
e seus artífices?''
O terceiro planeta do sistema solar também
traz as digitais do Criador. Quanto mais se estuda
e se conhece a Terra, mais se evidencia a inter­
dependência ambiental e mais se conclui que se
trata de um planeta proposital mente planejado e
preparado para acolher e preservar a vida. Pode-se
dizer que a vida na Terra torna a vida possível, o
que significa que seres viventes foram feitos para
se apoiarem mutuamente. A interdependência
Por Que Creio •
observada nos seres vivos sugere que essas rela­
ções foram criadas intencionalmente.
Para que os átomos de carbono (a base da vida)
existam, com as propriedades que eles têm, é ne­
cessário um ajuste fino das constantes físicas, como
a escala QCD (Cromodinâmica Quântica), a carga
elétrica e até mesmo a dimensão do espaço-tempo.
Se essas constantes tivessem valores significativa­
mente diferentes, ou o núcleo do átomo de carbono
não seria estável, ou os elétrons se desmoronariam
para dentro do núcleo. A vida seria impossível.
Há outros fatores que sugerem esse planeja­
mento: a distância adequada da Terra ao Sol, ga­
rantindo, entre outras coisas, a existência de água
no estado líquido; uma lua com tamanho suficien­
te para fazer com que as marés oceânicas perma­
neçam em movimento sem, contudo, submergir
vastas regiões terrestres, e órbita a uma distância
que minimize qualquer mudança na inclinação
do eixo do planeta, garantindo assim estabilida­
de no clima; o campo magnético, que se consti­
tui numa proteção planetária maravilhosa; a força
da gravidade, que permite ordem e estabilidade; a
adequação da atmosfera, com o oxigênio na pro­
porção ideal de 21 %, o nitrogênio como gás inerte
e isolante na proporção de 79%, e o gás carbônico
na pequena proporção de 0,03%, mas o suficien­
te para manter o ciclo do carbono e a vida, sem
favorecer o chamado "efeito estufa", como acon­
tece no superaquecido planeta Vênus. Por outro
lado, não ocorrem na atmosfera os compostos de
• Digitais do Criador
enxofre com seus efeitos desagradáveis, nem amó­
nia, metano ou hidrogênio, como acontece em
outros planetas, e nem o perigosíssimo monóxi­
do de carbono, que apenas ocorre na atmosfera
quando o próprio ser humano a polui.
Além desse equilíbrio vital dos gases, a com­
posição da atmosfera é tal que permite justamente
a passagem das radiações necessárias à manuten­
ção da vida, amortecendo as radiações perigosas.
A Terra também se beneficia de uma posição no
sistema solar e na galáxia onde os níveis de ra­
diação cósmica não são altos. Mais: conta com a
proteção de um planeta como Júpiter, o maior de
nosso sistema solar, com tamanho que lhe dá uma
gravidade que acaba atraindo para si cometas e
asteroides que poderiam destruir nosso planeta.
Por isso e muito mais, pode-se perceber que
a Terra foi planejada com carinho pelo Criador
para ser um lar sob medida para seus habitantes.
Memória vital
A National Ceographic exibiu há algum tempo um
documentário sobre as zebras. Um detalhe fascinante
da reportagem diz respeito ao momento em que a
zebra dá à luz. Quando chega a hora, o animal vai
para a extremidade do rebanho - não muito distante,
tendo em vista sua segurança, mas suficientemente
longe para estar no controle da situação.
Quando o filhote nasce, deve levantar-se imediata­
mente e caminhar. Sua sobrevivência depende disso.
Por Que Creio •
E depende também de outro fator impressionante:
quando a cria se põe em pé, a mãe cuida para que
ela não veja as listras das outras zebras, mas apenas
as suas, por aproximadamente quinze minutos.
Aparentemente, sugerem os estudiosos, o cé­
rebro do potrinho grava as listras da mãe no "dis­
co rígido" de seus neurônios. É sabido que cada
zebra possui um padrão de listras diferente, como
se fossem suas impressões digitais. Por isso, é vital
que o filhote memorize a configuração das listras
de sua mãe. Se ele olhar, nesse momento crucial,
para outra zebra e gravar as listras dela, poderá
morrer porque ficará confuso quanto a onde bus­
car alimento e proteção. Gravar as listras corretas
nos primeiros minutos da vida faz diferença en­
tre a sobrevivência e a tragédia. A mãe circunda e
abriga o filhote da curiosidade das outras zebras,
porque sabe que ele não deve ver outras listras
além das suas.
Como explicar esse comportamento intuitivo e
imprescindível das zebras? Como ele poderia ter
se desenvolvido ao longo dos milênios, se, sem
ele, os filhotes não sobreviveriam? Fica evidente,
para o criacionista, que o Criador dotou as ze­
bras com esse comportamento que lhes garante a
sobrevivência. Afinal, o cuidado dos animais faz
parte das atividades de Deus, como afirmou Jesus:
"Vejam os passarinhos que voam por aí: eles não
semeiam, não colhem, nem ajuntam em depósi­
tos. No entanto, o Fài que está no Céu dá de co­
mer a eles" (Mateus 6:26, BLH).
• Digitais do Criador
Água da vida
Nem sempre pensamos na maravilha quí­
mica que está por trás de um simples copo de
água ou de uma gota de chuva. Nesta era de
alta tecnologia e engenharia avançada, a mistu­
ra de hidrogênio e oxigênio (H O ) é a imagem
da simplicidade. No entanto, a água é uma das
substâncias mais notáveis do Universo. E os fe­
nômenos relacionados a ela são prova disso.
1. Ação capilar. É a capacidade que a água
possui de subir dentro de tubos finos, desafiando
a força da gravidade. Quando se coloca a água
em um tubo de ensaio, por exemplo, percebese que as bordas do líquido em contato com
as paredes de vidro se curvam levemente. Isso
acontece porque o hidrogênio no material sóli­
do atrai o oxigênio do líquido, fazendo com que
a água "se empurre para cima". Quanto mais
fino é o tubo, mais rapidamente a água sobe.
É justamente o fenômeno da ação capilar
que mantém vivas todas as plantas, pois do con­
trário a água e os nutrientes do solo não conse­
guiriam chegar às folhas mais altas. Desafiando
a gravidade e sem a necessidade de bombas, a
água sobe através dos veios das plantas.
2. Gelo. Por que o gelo flutua? É uma ocorrên­
cia tão normal que achamos o fato comum. Mas o
gelo não deveria flutuar, pois é sólido. As moléculas
dos sólidos são muito mais unidas do que as dos
líquidos. Por isso, quase todas as substâncias são
^
Por Que Creio •
mais pesadas no estado sólido. Mas não a água.
Ela parece seguir uma lei própria.
A princípio, quando a água é resfriada, ela
segue o comportamento usual dos líquidos:
contrai-se, fica mais densa. Mas quando ela
esfria abaixo de 4 graus negativos, de repente,
começa a se expandir, a ficar menos densa, gra­
ças a uma propriedade especial das pontes de
hidrogênio de suas moléculas.
É justamente devido ao fato de a água conge­
lada ser mais leve que á líquida, que a vida nos
rios e lagos pode ser mantida. Caso a água não se
comportasse dessa forma, os rios, lagos e mares
ficariam congelados por inteiro no inverno. Mas
o que ocorre é que o gelo sólido flutua acima da
massa de água líquida, formando uma camada de
isolamento que impede o congelamento da água
abaixo. Assim, os peixes e outros animais aquáti­
cos são protegidos durante as estações frias.
3.
Capacidade de absorver calor sem ferver.
A regra é: quanto mais leve a substância, mais
baixo o ponto de fervura. Se a água, que está
entre as substâncias mais leves, se comportas­
se como deveriâ, ferveria a 53 graus negativos!
Isso significaria que mesmo o gelo dos poios
ferveria. O sangue também ferveria no corpo
dos seres vivos. Enfim, seria uma catástrofe!
Felizmente, a água, mais uma vez, se comporta
de modo único. Ela tem ponto de fervura bastante
alto, 100°C. Portanto, é capaz de absorver grande
quantidade de calor sem ferver. Por isso mesmo
Digitais do Criador
é usada como agente resfriador no motor dos au­
tomóveis, por exemplo. E é ela que serve como
moderador climático, pois a grande quantidade de
umidade na atmosfera regula os extremos de tem­
peratura, tornando a vida possível neste planeta.
Na próxima vez que você beber um copo de
água, pense no amor e no cuidado de Deus em
criar um líquido tão singular, sem o qual a vida
seria impossível.
Engenharia animal
A história está repleta de exemplos de engenhei­
ros, cientistas e artistas que se inspiraram na natureza
para realizar seus projetos. Inspirado na estrutura
dos ossos, Eiffel projetou a famosa torre que leva
seu nome, e que suporta um peso enorme sobre
curvas elegantes. Outros exemplos sâo as pontas
das agulhas hipodérmicas, moldadas como presas
de cobras; o velcro, que foi baseado no mesmo
princípio dos carrapichos que grudam na roupa; e
as tintas autolimpantes que imitam a superfície da
flor de lótus.
Mas há ainda outro exemplo de "engenharia
animal" que fascina e desafia os pesquisadores:
a teia de aranha. Inúmeros cientistas em todo o
mundo tentam copiar as propriedades da seda
que as aranhas produzem e reproduzir o méto­
do que elas utilizam para fabricar a teia.
São as propriedades dessa seda que causam in­
veja e deixam abismados os seres humanos. Mais
Pof Que Creio •
fina que um fio de cabelo, mais leve que o algodão
e (nas mesmas dimensões) mais forte que o aço, a
teia é capaz de se estender por até 70 km sem se
quebrar sob seu próprio peso, e pode ser esticada
até 30 ou 40% além de seu comprimento inicial,
sem se romper (o náilon, por exemplo, suporta
apenas 20% de estiramento). Caso fosse possível
construir uma teia com a espessura do fio equi­
valente ao de uma caneta esferográfica, ela seria
capaz de parar um Boeing 747 em pleno voo!
Uma vez sintetizada,'a teia seria sem dúvida um
material revolucionário. Ela poderia ser utilizada
na fabricação de roupas e sapatos à prova d'água,
cabos e cordas, cintos de segurança e paraquedas
mais resistentes, revestimento antiferrugem, parachoques para automóveis, tendões e ligamentos ar­
tificiais, coletes à prova de balas, e um longo etc.
A seda da teia de aranha é produzida por vá­
rias glândulas localizadas no abdômen do animal,
e cada glândula das sete conhecidas produz um
fio para propósitos específicos. "A seda da teia é
constituída principalmente de uma proteína que
tem peso molecular de 30 mil daltons, enquanto
dentro da glândula. Fora da glândula, ela se polimeriza para dar origem à fibroína, que tem peso
molecular em torno de 300 mil daltons", explica
Rivelino Montenegro, doutorando do Max Planck
Institute of Colloids and Interfaces e membro da
Sociedade Criacionista Brasileira.
Segundo os evolucionistas, as aranhas teriam
surgido há cerca de 125 milhões de anos. Porém,
Digitais do Criador
estudos recentes mostram que a teia parece ter
sofrido pouquíssimas modificações ao longo do
tempo, o que sugere que as aranhas foram criadas
com seu complexo sistema de fabricação de teias
já plenamente desenvolvido e funcional.
A maestria com que a aranha tece e controla a
composição química da teia (processos ainda longe
de serem copiados) para cada finalidade específica,
mostra o quanto sistemas biológicos como esse re­
querem planejamento e, portanto, um planejador.
Esses pequenos "engenheiros" da natureza
apontam para o grande Engenheiro cósmico - o
Criador do Universo.
Líquido fantástico
Quando cortamos o dedo ou temos uma pe­
quena hemorragia nasal, dificilmente paramos
para pensar no líquido vermelho fantástico que
circula através de um sistema pressurizado em
nossas veias e artérias, e nos complexos meca­
nismos que atuam para conter o "vazamento".
Um coágulo tem que se formar rapidamente ou,
do contrário, sangramos até a morte. Se o sangue
coagular no tempo ou lugar errados, porém, o coá­
gulo pode bloquear a circulação, como acontece
nos ataques cardíacos e nos derrames. Além dis­
so, o coágulo tem que interromper o sangramento
ao longo de toda a extensão do corte, fechando-o
completamente. E mais, deve se limitar ao corte ou
então todo o sistema sanguíneo pode se solidificar,
Por Que Creio •
ocasionando a morte. Por isso, a coagulação tem que
ser controlada de forma precisa para que o coágulo
se forme apenas quando e onde for necessário. É
uma reação bioquímica em cascata, com fatores in­
terdependentes que devem funcionar perfeitamente.
O bioquímico norte-americano Michael Behe
gasta algumas páginas de seu livro A Caixa Preta de
Darwin para descrever o complexo mecanismo da
coagulação: "Ofortalecimento, formação, limitação
e remoção de um coágulo sanguíneo constituem
um sistema biológico integrado e problemas com
componentes isolados podem levá-lo a parar de
funcionar. A falta de alguns fatores coagulantes
no sangue, ou a produção de fatores defeituosos,
resultam frequentemente em problemas graves de
saúde ou em morte."
Seria possível que esse sistema ultracomplexo
tivesse evoluído casualmente, ao longo de milhões
de anos, como propõe o evolucionismo? O para­
doxo é que, se todas as proteínas envolvidas no
processo dependem de ativação por outra, de que
modo o sistema pode ter surgido? Que utilidade
teria qualquer parte dele sem todo o conjunto?
Behe diz que "a coagulação do sangue é um
paradigma da espantosa complexidade subjacente
até mesmo a processos corporais aparentemente
simples. Diante dessa complexidade, existente in­
clusive em fenômenos simples, a teoria darwiniana cai em silêncio". Resta, então, a conclusão ló­
gica de que o líquido fantástico chamado sangue
foi projetado pelo Criador da vida.
• Digitais do Criador ^
Planeta restaurado
Se a matéria realmente evoluiu ao acaso atra­
vés de etapas sucessivas, até formar elementos, es­
trelas, polímeros químicos, células vivas, vermes,
peixes, anfíbios, répteis, mamíferos e, finalmente,
o ser humano, então deve haver algum princípio
poderoso e universal que impele os sistemas a ní­
veis cada vez mais altos de complexidade.
O problema é que essa ideia contradiz frontalmente a Segunda Lei da Termodinâmica, universal­
mente aceita pelos cientistas, Essa lei atinge direta­
mente teorias sobre a origem espontânea da vida
ou de qualquer tipo de processo ordenado. "O que
a Segunda Lei nos diz, portanto, é que no grande
jogo do Universo, não somente não conseguimos
vencer; não conseguimos nem empatar", escreveu
Isaac Asimov, num artigo publicado no Journal of
Smithsonian Institute, em junho de 1970. Feira Asi­
mov, "tanto quanto sabemos, todas as modificações
são na direção de entropia crescente, de desordem
crescente, de acaso crescente, de declínio" (Science
Digest, maio de 1973, p. 76).
As propostas criacionistas, por outro iado, são
plenamente confirmadas pelas Leis da Termodinâ­
mica, já que defendem uma criação originalmente
completa e perfeita, além de proposital. O pecado
se intrometeu nessa criação perfeita, introduzindo
modificações danosas. Conclui-se, portanto, que
a filosofia evolucionista em relação ao sistema fe­
chado chamado Universo, no que diz respeito às
^
Por Que Creio •
Leis da Termodinâmica, não está na esfera dos da­
dos científicos observáveis.
Feira ficar um pouco mais claro, imagine que
você tenha acabado de comprar um automóvel.
Você resolve usá-lo apenas como decoração de
jardim e o deixa lá, exposto ao tempo. Dentro de
alguns anos, esse automóvel estará todo enferru­
jado e feio, pois a entropia agiu sobre ele. Não
existe nenhum sistema no Universo que parta
do simples para o complexo sem a interferência
de um agente exterior, tudo tende à desordem.
A ordem tende ao caos. A decadência é certa. E
isto é uma lei comprovada, não teoria.
É exatamente como escreveu o apóstolo Pau­
lo, em Romanos 8:22: "Porque sabemos que
toda a criação, a um só tempo, geme e supor­
ta angústias até agora." Por outro lado, a Bíblia
garante que logo serão feitos "novo céu e nova
terra" (Apocalipse 21:1), nos quais não haverá
mais efeitos danosos.
Durante milhares de anos, este planeta vem
sofrendo a decadência como consequência do
pecado. Mas Deus ainda conserva o projeto ori­
ginal e vai reaplicá-lo a este mundo, que então
se chamará Nova Terra.
Rira saber mais: leia os textos da seçao "Digitais do
Criador", no blog www.criacionismo.com.br
A TERRA#
DOS PLANOS ?
"M eu filho, se você aceitar as Minhas pa­
lavras e guardar no coração os Meus manda­
mentos; se der ouvidos à sabedoria e inclinar
o coração para o discernimento; se clamar por
entendimento e por discernimento gritar bem
alto; se procurar a sabedoria como se procura
a prata e buscá-la como quem busca um tesou­
ro escondido, então você entenderá o que é
temer* o Senhor e achará o conhecimento de
Deus" {Provérbios 2:1-5, NVU.
Imagine um país estranho onde tudo é per­
feitamente plano. Chamemo-lo de Terra dos Pla­
nos.** Alguns de seus habitantes são quadrados,
outros, triângulos, alguns possuem formas mais
complexas. Correm para dentro e para fora de
suas construções planas, ocupados com seus
* "Temer a Deus", na Bíblia, significa respeitar ou reverenciar a
Deus, reconhecendo Sua grandeza e santidade. "Temor a Deus"
não quer dizer medo de Deus; é, antes, respeito (Lucas 23:40;
Hebreus 12:28), amor (Mateus 22 :37 ), obediência (Eclesiastes
12: 13 ) e adoração a Ele (Deuteronômio 6: 13- 15; Salmo 2:1 1).
* * Adaptado do livro Flatland, de Edwin Abbot.
^
Por Que Creio •
afazeres e brincadeiras planos. Todos na Terra
dos Planos têm largura e comprimento, mas não
altura. Sabem sobre esquerda e direita, para fren­
te e para trás, mas não têm ideia alguma, nem
remota compreensão, sobre em cima e embaixo.
Toda criatura quadrada na Terra dos Planos
vê outro quadrado meramente como um pe­
queno segmento de reta, o lado do quadrado
mais próximo dela. Ela pode ver o outro lado do
quadrado somente se caminhar um pouco. Mas
o interior do quadrado é sempre misterioso.
Um dia, um ser tridimensional (digamos, uma
esfera) chega à Terra dos Planos e anda a esmo por
lá. Procurando companhia, entra na casa plana de
certo quadrado e, num gesto de amizade interdimensional, diz: "Olá! Sou um visitante da terceira
dimensão." O infeliz quadrado olha à sua volta e
não vê ninguém. Talvez ele esteja realmente mui­
to cansado e precisando de umas férias.
A esfera resolve, então, descer à Terra dos
Planos. Mas um ser tridimensional pode existir
somente em parte na Terra dos Planos; pode ser
visto dele somente um corte, somente o ponto
de contato com a superfície plana daquela terra.
À medida que a esfera desce, o quadrado
vê um ponto aparecendo no quarto fechado de
seu mundo bidimensional e lentamente cres­
cer, transformando-se em um segmento de reta.
Um ser estranho que, para o quadrado, surgiu
de algum lugar. Se a esfera resolvesse erguer o
quadrado, o que aconteceria? O quadrado não
• A terra dos planos ^
conseguiria entender nada: seria algo totalmen­
te fora de sua experiência.
Muitas vezes nos assemelhamos ao quadrado
bidimensional desta alegoria. Ignoramos - deli­
berada ou inconscientemente - aquilo que não
podemos ver ou tocar, que está além de nossas
capacidades sensoriais ou métodos de aferição.
E é normal que resistamos à realidade de nossa
limitação física, intelectual e espiritual. Quantas
vezes já nos perguntamos: Como é Deus? Como
Ele pode ser eterno, sem fim nem começo? Como
a Divindade pode ser três Pessoas? Mas é justa­
mente nesses momentos que precisamos aceitar
o que escreveu Moisés: "Há coisas que não sabe­
mos, e elas pertencem ao Eterno, o nosso Deus;
mas o que Ele revelou ... é para nós e para os nos­
sos descendentes" (Deuteronômio 29:29, BLH).
Na verdade, "pode ser inofensivo pesquisar
além do que a Palavra de Deus revelou, se nos­
sas teorias não contradizem fatos encontrados
nas Escrituras" (Patriarcas e Profetas, p. 39). Sa­
muel Coleridge disse: "Nunca tenha medo da
dúvida, se você tem a disposição de acreditar."
A dúvida e o questionamento são a base da pes­
quisa científica, e Deus nos dotou de curiosida­
de suficiente para não nos contentarmos com
o conhecimento superficial. No entanto, a es­
colha de um método de pesquisa não nos deve
cegar para realidades transcendentais.
É mais ou menos como uma história que re­
cebi por e-mail certa vez:
Por Que Creio •
Um dia, na sala de aula, a professora estava
explicando a teoria da evolução aos alunos. Ela
perguntou a um dos estudantes:
-Tomás, você está vendo a árvore lá fora?
- Sim - respondeu o menino.
A professora voltou a perguntar:
-Você vê a grama?
E o menino respondeu prontamente:
- Sim.
Então a professora mandou Tomás sair da sala e
lhe disse para olhar para' cima e ver se ele enxerga­
va o céu. Tomás saiu, voltou para a sala, e disse:
- Sim, professora. Eu vi o céu.
- E você viu Deus?
O menino respondeu que não. A professora,
olhando para os demais alunos da sala, disse:
- É disso que eu estou falando. Tomás não
pode ver Deus, porque Deus não está ali! Pode­
mos concluir, então, que Deus não existe.
Naquele momento, Pedrinho se levantou e
pediu permissão à professora para fazer mais
algumas perguntas a Tomás.
-Tomás, você vê a grama lá fora?
- Sim.
-Vê as árvores?
- Siiiiim.
-Vê o céu?
- É claro que sim!
- Consegue ver o cérebro da professora?
- Não - respondeu Tomás, achando a per­
gunta meio estranha.
• A terra dos planos
Pedrinho, dirigindo-se então aos companhei­
ros de classe, disse:
Colegas, de acordo com o que aprende­
mos hoje, concluímos que a professora não tem
cérebro.
Essa é uma história um pouco exagerada, pois
ninguém seria tão tolo para ignorar aquilo que não
se pode ver, mas ajuda a mostrar que nem sempre o
tangível, visível ou testável éa única realidade. Pre­
cisamos aceitar que Deus é infinito ("multidimen­
sional"), e que uma das maiores dificuldades com
as quais nós, seres humanos finitos nos deparamos,
é a tentativa de conhecê-Lo de forma abrangente
em Sua revelação. "Os mais poderosos intelectos
da Terra não podem compreender Deus. Se, de
fato, Ele Se revela aos homens, é envolvendo-Se em
mistério. Seus caminhos estão fora da possibilidade
de serem descobertos" (Mensagens Escolhidas, v. 3,
p. 306). No entanto, nas palavras de Victor Hugo,
"Deus é o invisível evidente".
Cristo (à semelhança da Bíbíia), sem dúvida, foi o
grande milagre da revelação. Jesus Se "esvaziou" (Filipenses 2:7), tornou-se "plano" para revelar o Deus
multidimensional às criaturas dimensionalmente
limitadas deste mundo. Sua vida e ensinamentos
são a maior e mais completa revelação do infinito;
e são o suficiente para nos garantir a vida eterna e o
acesso futuro às realidades que "os olhos não viram,
nem os ouvidos ouviram" (1 Coríntios 2:9).
"O céu e o Céu dos céus" não podem conter
a Deus (2 Crônicas 2:6; 6:18). Ele é infinitamente
ri
-vi-iíÁ
Por Que Creio •
maior do que tudo que possamos imaginar. Nos­
sos conceitos humanos, nossas leis científicas e
conjecturas não se aplicam às realidades divinas.
Aceitemos, pois, aquilo que nosso maravilhoso e
todo-poderoso Deus achou por bem revelar (su­
ficiente para termos um vislumbre de Seu imen­
surável amor), e aguardemos ansiosos aquele dia
bem-aventurado da volta de Cristo. Aí, sim, ha­
bitando uma Terra recriada e libertos das maiores
limitações humanas - o pecado e a mortalidade
- seremos capazes de vislumbrar dimensões até
então inimagináveis e poderemos obter respos­
tas às nossas mais profundas inquietações - com
o próprio Criador do Universo!
Mas não se esqueça: primeiro é preciso chegar lá.
Michelson Borges
Deus existe? Será que um Designer criou nosso Universo, ou
ele evoluiu de maneira espontânea? Pode a ciência manter
objetividade em sua busea pela verdade enquanto admite a
possibilidade de que Deus existe? Isso faz diferença? Ariel Roth,
o mesmo autor do livro Origens, analisa os pontos-chaves
relacionados com a questão de Deus e a existência do Universo.
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Computadores, naves espaciais, livros,
medicamentos - tudo isso é produto de inteligência, pla­
nejamento e trabalho. Mas, para alguns, as pessoas que
projetaram essas maravilhas tecnológicas são produto de
acidente e acaso. Será?
Neste livro, o jornalista Michelson Borges entre­
vista pesquisadores em áreas como Biologia, Geologia,
Bioquímica, Física, Matemática, Arqueologia e Teologia.
Todos eles - como o bioquímico mundialmente conhecido
Michael Behe - mostram que é possível conciliar a fé com
a pesquisa científica. E afirmam que existem evidências de
planejamento inteligente no Universo.
Leia este livro e descubra de que forma as diversas áreas
do conhecimento podem auxiliar na busca de resposta às
perguntas fundamentais da humanidade, que dizem respei­
to à origem e destino da vida.

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