N - Arautos em Portugal

Transcrição

N - Arautos em Portugal
Número 79
Dezembro 2009
Deus
mais próximo
dos homens
Guimarães – Dia 17 de Dezembro, na Igreja de S. Francisco às 19h00
Porto – Dia 18 de Dezembro, na Igreja da Trindade às 21h00
Braga – Dia 19 de Dezembro, na Igreja do Pópulo às 16h00
Seia – Dia 21 de Dezembro, na Igreja de Nossa Senhora do Rosário às 18h00
Castelo Branco – Dia 22 de Dezembro, na Igreja de S. Miguel da Sé (lgo. da Sé) às 18h30
Lisboa – Dia 26 de Dezembro, na Basílica dos Mártires às 16h00
Évora – Dia 27 de Dezembro, na Igreja Paroquial Nossa Senhora de Fátima às 11h00
Anadia – Dia 28 de Dezembro, na Igreja de Vila Nova de Monsarros (a 5 Km do Luso) às 19h30
SumáriO
Flashes de
Fátima
Boletim da Campanha
“O Meu Imaculado Coração Triunfará!”
Ano XI  nº 79 - Dezembro 2009
Director:
Manuel Silvio de Abreu Almeida
Conselho de redacção:
Guy Gabriel de Ridder, Juliane
Vasconcelos A. Campos, Luis Alberto
Blanco Cortés, Mariana Morazzani
Arráiz, Severiano Antonio
de Oliveira
Editor:
Associação dos Custódios de Maria
R. Dr. António Cândido, 16
1050-076 Lisboa
I.C.S./D.R. nº 120.975
Dep. Legal nº 112719/97
Tel: 212 338 950 / Fax: 212 338 959
Escrevem os leitores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
4
Deus mais próximo
dos homens (Editorial) . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
5
A voz do Papa –
A fé fortalece a razão
........................
Comentário ao Evangelho –
Como encontrar
Jesus na aridez?
......................
Com a colaboração
da Associação
Privada Internacional de Fiéis
de Direito Pontifício
10
Os artigos desta revista poderão ser reproduzidos,
desde que se indique a fonte e se envie cópia à
Redacção. O conteúdo das matérias assinadas
é da responsabilidade dos respectivos autores.
......................
18
Ardor, símbolo e conceito
......................
38
Aconteceu na Igreja e
no mundo
40
......................
História para crianças...
O menino do tambor
......................
46
Os santos de
cada dia
Através da beleza
chega-se a Deus
......................
26
Arautos no mundo
......................
Tiragem: 40.000 exemplares
......................
22
48
O orvalho, o mar
e as virtudes
Membro da
Associação de Imprensa de
Inspiração Cristã
34
A palavra dos Pastores –
Irradiante e convincente
beleza espiritual de Maria
......................
Arautos do Evangelho
Impressão e acabamento:
Pozzoni - Istituto Veneto
de Arti Grafiche S.p.A.
Via L. Einaudi, 12
36040 Brendola (VI)
......................
O verdadeiro
significado do Natal
www.arautos.pt / www.arautos.org.br
E-mail: [email protected]
Assinatura anual: 24 euros
6
Mártir da fidelidade
ao Papado
28
......................
50
E screvem
os leitores
de Deus, e ir conhecendo os tesouros
de nossa Igreja, pois é assim que podemos amar a Religião Católica.
Luz Myriam Mendoza Vesga
Bucaramanga – Colômbia
Sigam em frente com
fé e entusiasmo
Manifesto-lhes meu mais sincero agradecimento por enviar-me a
revista Arautos do Evangelho, e faço extensivos meus cumprimentos
às novas Sociedades de Vida Apostólica: Virgo Flos Carmeli, clerical, e
Regina Virginum, feminina. Felicito também Sua Eminência, Cardeal Franc Rodé, por dirigir tão excelentemente a Congregação para os
Institutos de Vida Consagrada e as
Sociedades de Vida Apostólica. E
aproveito a oportunidade para expressar minhas saudações, por seu
aniversário, ao Mons. João Scognamiglio Clá Dias, fundador da Associação Arautos do Evangelho. Sem
dúvida, todos estes eventos constituíram motivo de celebração e de
felicitações, em meu nome e no da
Diocese de Tulcán. Acompanhoos sempre com minhas orações e
apoio constante, e desejo que sigam em frente, com fé e entusiasmo, nesse compromisso.
Dom Luis Antonio Sánchez, SDB
Bispo de Tulcán – Equador
Conhecer a beleza, verdade
e bondade de Deus
A revista me encanta! Nela encontro discernimento e mais vida interior, nos comentários feitos por
Mons. João Scognamiglio Clá Dias.
É um instrumento de apostolado que
enche nossa alma e nos prepara para correspondermos às graças que
Deus nos concede a cada dia. Gosto
muito de compartilhar a revista e fazer bem às almas, por meio dos conselhos apostólicos que ela transmite.
É fenomenal instruir-se, nesta revista, sobre a beleza, verdade e bondade
4      Flashes de Fátima · Dezembro 2009
A pulcritude aproxima
do Sumo Bem
A capa da edição de setembro de
2009 excedeu todas as anteriores em
beleza! Como é linda nossa Religião
Católica! Como é lindo ver com que
cuidado a Casa de Deus se reveste de
beleza, como nesta festa da Assunção da Virgem Maria! Não apenas
nas vestes, mas também na afabilidade no trato, no porte digno, no grande amor e respeito ao Santo Sacrifício da Missa! A pulcritude nos aproxima do Sumo Bem e nos leva a perseguir a graça santificante.
Margarida Guimarães G. Santos
Recife – PE
Convites à santidade
Nunca em minha vida li uma revista católica que convidasse tanto à
santidade quanto a revista Arautos
do Evangelho. A vida dos santos nos
dá forças para praticarmos a virtude. Os comentários sobre o Evangelho, feitos pelo Mons. João Scognamiglio Clá Dias, nos abrem os horizontes e nos guiam nos caminhos de
nossa Fé. Este homem é assistido pelo Espírito Santo para escrever maravilhas com tanta sabedoria. Oxalá cada lar católico, ou melhor, cada
lar, ainda que não católico, possa ser
agraciado mensalmente com a chegada da revista.
Maria Inês Pinheiro
São Paulo – SP
Autêntico aperitivo
para o espírito
Fiquei impressionado pela qualidade da revista, tanto na apresentação como, sobretudo, em seu conteúdo. E nele se destaca, em minha opinião, a seção Comentário ao
Evangelho. É um autêntico aperitivo
para o espírito, já que abre o apetite para reler e meditar a Palavra de
Deus. E quanto necessitamos desse alimento, especialmente nos tempos atuais! Devo reconhecer que os
Arautos do Evangelho fazem honra
a seu nome, e peço ao Senhor que
os ilumine para seguir sempre nessa
mesma linha.
José E. Martí Barios
Las Palmas de Gran Canaria – Espanha
Provoca uma conversa animada
A revista é maravilhosa! Assim
que a recebo, busco a seção Comentário ao Evangelho, do Mons. João
Scognamiglio Clá Dias. O deleite
que esta seção causa em minha alma é muito bom, sem falar nos ensinamentos nela contidos. Outra seção convidativa é a Histórias para
crianças.... Na minha casa ela é lida em família e depois da leitura a
história sempre provoca entre nós
uma conversa animada. Que Nossa
Senhora continue abençoando todas as pessoas que estão na raiz da
edição desta maravilhosa revista!
Maria Lúcia Alves Moreira Vieira Marques
Porciúncula – RJ
Belíssima da capa à contracapa
Gosto muito da revista. Ela é um
oásis no deserto da vida, onde podemos beber da água viva dos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Aprecio imensamente os comentários
sobre o Evangelho, de Mons. João, e
as Histórias para crianças.... Mas gosto também das ilustrações, das fotos
de Nossa Senhora e suas diversas invocações, da Voz do Papa e da vida dos
santos. A revista é belíssima, da capa à
contracapa. Que Nossa Senhora ajude
sempre sua divulgação, para que ela
seja conhecida por todos.
Henrique Leite
Joinville – SC
Editorial
Deus mais próximo
dos homens
N
79
Número
ro 2009
Dezemb
Deus
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mais pró
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dos
“Sagrada Família” Igreja da Santa
Cruz, Grijota
(Espanha)
(Foto: Carlos Henrique Dias
Bueno)
o supremo mirante da História — a eternidade —, muitas verdades desconhecidas na Terra serão entendidas, com maravilhamento, pelos Bem - aventurados, os quais não se cansarão de entoar loas por elas à Santíssima Trindade.
Entretanto, várias outras continuarão ocultas, por serem de exclusivo domínio divino.
Dentre estas, talvez esteja algo que transcende nossa capacidade de compreensão: o gratuito e incomensurável amor de Deus pelas criaturas, sobretudo por aquelas que mais foram amadas e aquinhoadas, os Anjos e os homens. Quanto a estes,
criados com alma racional, em estado de santidade e justiça, à imagem e semelhança divina, destinavam-se à mais elevada intimidade com Deus, participando inclusive da vida divina (CIC, n. 375). Mais não poderia o Criador fazer pela humanidade,
pensaríamos nós. Entretanto, Ele, por assim dizer, superou-Se a Si mesmo.
Uma parcela dos Anjos revoltou-se e “não houve mais lugar para eles no Céu”
(Ap 12, 8). E o primeiro homem, desejando ser como Deus, transgrediu a única
proibição que lhe fora imposta. Em consequência, perdeu o estado de graça e foi
expulso do Paraíso. Doravante, as portas do Céu lhe estavam fechadas. Privado do
dom de integridade, estava sujeito a padecer dores, fome e morte. Sobretudo, não
gozava mais daquela intimidade com Deus, o qual vinha às tardes passear com ele
no Éden... Fracassava, assim, o projeto de amor do Altíssimo para a humanidade, de
fazê-la partícipe de Sua vida e natureza.
Qual a resposta divina a essa imensa ingratidão?
Uma superação de amor. A Segunda Pessoa da Santíssima Trindade Se faz homem, para resgatar o pecado de Adão e Eva. Nasce de uma Virgem, criatura perfeita
que, por sua insuperável correspondência à graça, compensa o orgulho de Eva. E escolhe como pai adotivo um santo varão, José. Na Sagrada Família realiza-se o plano
primeiro de amor de Deus, numa inimaginável intimidade entre Criador e criaturas.
De fato, dentro das quatro paredes da pequena casa de Nazaré, vivia-se numa atmosfera mais elevada que a do Éden, pois lá estavam presentes Deus feito homem
e Maria Santíssima, o Paraíso do Novo Adão (cf. São Luís Maria Grignion de Montfort, Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, n. 18). Aí viveu Nosso Senhor trinta anos em sublime convívio com Nossa Senhora e São José, santificandoos. E com isso deu mais glória a Deus do que se tivesse, nesse período, percorrido a
terra inteira, operando os maiores milagres (Idem, ibidem).
Sua dolorosa Paixão e Morte na Cruz constitui o ápice de Sua dedicação aos homens. Inacessível mistério de amor!
Tendo subido de volta ao Pai, deixou-nos a Santa Igreja Católica Apostólica Romana para, através dos Sacramentos, prolongar o convívio que teve com os homens
na Terra, fazendo chegar a toda a humanidade os frutos do Seu Sangue redentor.
Nesse sentido, cada graça concedida por Deus ao longo da história das almas visa,
no fundo, incrementar ou reatar esse relacionamento, essa união, essa intimidade
do Criador com a criatura.
E, como não poderia deixar de ser, Deus sempre vence. Vence na pessoa de cada justo que, ao cruzar os umbrais da eternidade, contemplando-O face a face, se une definitivamente a Ele, num divino amplexo, realizando o plano primeiro da criação. 
Dezembro 2009 · Flashes
de Fátima      5
A voz do Papa
A fé fortalece a razão
Quando o amor vivifica a dimensão orante da teologia, o conhecimento,
adquirido através da razão, se dilata. A verdade é procurada com
humildade, acolhida com enlevo e gratidão: numa palavra, o conhecimento
cresce somente quando se ama a verdade.
T
ratarei hoje de uma interessante página da História, relativa ao florescimento da teologia latina
no século XII, que se efetuou por uma
série de coincidências providenciais.
Nos países da Europa Ocidental reinava nessa época uma relativa paz, que
garantia à sociedade o desenvolvimento econômico e a consolidação das estruturas políticas, e favorecia uma vigorosa atividade cultural, graças também
aos contatos com o Oriente.
Na Igreja, notavam-se os benefícios do amplo movimento conhecido
como “reforma gregoriana”, a qual,
promovida vigorosamente no século precedente, acarretara uma maior
pureza evangélica à vida da comunidade eclesial, sobretudo no clero, e
restituíra à Igreja e ao Papado uma
autêntica liberdade de ação. Por outro lado, propagava-se uma vasta renovação espiritual, sustentada pelo
exuberante incremento da vida consagrada: nasciam e se expandiam novas Ordens religiosas, enquanto as já
existentes experimentavam um promissor reflorescimento.
Teologia monástica e
teologia escolástica
Também a teologia refloresceu, adquirindo maior consciência de sua pró6      Flashes de Fátima · Dezembro 2009
pria natureza: aprimorou o método,
enfrentou novos problemas, progrediu
na contemplação do Mistério de Deus,
produziu obras fundamentais, inspirou
importantes iniciativas da cultura — da
arte à literatura — e preparou as obras
primas do século subsequente, o século
de Tomás de Aquino e de Boaventura
de Bagnoregio.
Essa fervente atividade teológica
desenvolveu-se em dois ambientes:
os mosteiros e as escolas urbanas —
as scholæ — algumas das quais logo
deram origem às Universidades, que
constituem uma das típicas “invenções” da Idade Média cristã. Precisamente a partir desses dois ambientes
— os mosteiros e as scholæ — podese falar de dois modelos diferentes de
teologia: a “teologia monástica” e a
“teologia escolástica”.
Os representantes da teologia monástica eram monges, em geral abades, dotados de sabedoria e de fervor
evangélico, empenhados essencialmente em suscitar e alimentar o desejo amoroso de Deus. Os representantes da teologia escolástica eram
homens cultos, apaixonados pela pesquisa; mestres desejosos de demonstrar a racionalidade e os fundamentos dos Mistérios de Deus e do homem, não só cridos pela fé, mas também compreendidos por meio da ra-
zão. A diferença de finalidade explica
a diversidade do método e da maneira de fazer teologia.
A teologia monástica: uma
ininterrupta exegese bíblica
Nos mosteiros do século XII, o método teológico ligava-se principalmente à explicação da Sagrada Escritura, da página sagrada, para nos exprimirmos como os autores desse período; praticava-se especialmente a teologia bíblica. Quer dizer, os monges
eram todos devotos ouvintes e leitores das Sagradas Escrituras, e uma de
suas principais ocupações consistia na
lectio divina, isto é, na leitura meditada da Bíblia. Para eles, uma simples
leitura do Texto Sagrado não bastava
para perceber nele o significado profundo, a unidade interior e a mensagem transcendente. Era-lhes, pois, necessário fazer uma “leitura espiritual”,
com docilidade à voz do Espírito Santo. Na escola dos Padres, a Bíblia era
assim interpretada alegoricamente, visando descobrir em cada página, do
Antigo e do Novo Testamento, o que
ela diz de Cristo e de sua obra de Salvação.
O Sínodo dos Bispos — realizado
no ano passado, sobre A Palavra de
Deus na vida e na missão da Igreja —
recordou a importância de uma abor-
L’Osservatore Romano
O Papa durante a catequese da Audiência Geral de 28 de outubro de 2009, realizada na Praça de São Pedro
dagem espiritual das Sagradas Escrituras. Para esse fim, é útil tirar proveito da teologia monástica, uma ininterrupta exegese bíblica, como também
das obras compostas por seus representantes, preciosos comentários ascéticos dos livros da Bíblia. À preparação literária, a teologia monástica unia, portanto, a espiritual. Ou seja, estava consciente de que não basta uma leitura apenas teórica e profana: para penetrar no cerne da Sagrada
Escritura, deve-se lê-la no mesmo espírito em que ela foi escrita e criada.
Preparação literária e
íntima atitude de oração
A preparação literária era necessária para conhecer o significado exato das palavras e facilitar a compreensão do texto, aperfeiçoando a sensibilidade gramatical e filológica.
O pesquisador beneditino do século passado, Jean Leclercq, intitulou assim o tratado no qual apresenta
as características da teologia monástica: L’amour des lettres et le désir de
Dieu (O amor das palavras e o desejo de Deus). Com efeito, o desejo de
conhecer e amar a Deus, o qual vem
ao nosso encontro através da sua Palavra que deve ser acolhida, meditada e praticada, conduz ao esforço para aprofundar os textos bíblicos em
todas as suas dimensões.
Há uma outra atitude sobre a qual
insistem aqueles que praticam a teologia monástica: uma íntima atitude de
oração, que deve preceder, acompanhar e completar o estudo da Escritura Sagrada. Já que, em última análise,
a teologia monástica é uma escuta da
Palavra de Deus, não se pode deixar
de purificar o coração para acolhê-la
e, sobretudo, acender nele o fervor
para encontrar-se com o Senhor.
A teologia torna-se, portanto, meditação, prece, canto de louvor, e incita a uma sincera conversão. Não
poucos representantes da teologia
monástica alçaram-se, por essa via,
aos mais altos patamares da experiência mística, e constituem um convite também para nós, a nutrirmos
nossa existência da Palavra de Deus,
por exemplo, mediante uma escuta
mais atenta das leituras e do Evangelho, especialmente na Missa domini-
cal. É importante, ademais, reservar
todo dia um certo tempo para a meditação da Bíblia, para que a Palavra
de Deus seja a lâmpada que ilumina
nosso caminhar cotidiano na terra.
A teologia escolástica, à procura
de uma síntese entre fé e razão
A teologia escolástica, ao contrário — como eu dizia —, praticavase nas scholæ, surgidas ao lado das
grandes catedrais da época, para a
preparação do clero, ou em torno de
um mestre de teologia e seus discípulos, para formar profissionais da cultura, numa época em que o saber era
cada vez mais apreciado.
No método dos escolásticos, ocupava lugar central a quæstio, ou seja,
o problema que se apresenta ao leitor
ao abordar as palavras da Escritura e
da Tradição. Ante o problema suscitado por esses textos dignos de acatamento, levantam-se as questões e nasce o debate entre o mestre e os alunos.
Nesse debate aparecem, de um lado,
os argumentos de autoridade, de outro, os da razão, e o debate se desdobra com o objetivo de encontrar, no fiDezembro 2009 · Flashes
de Fátima      7
nal, uma síntese entre a autoridade e a
razão para chegar a uma mais profunda compreensão da Palavra de Deus.
Diz São Boaventura, a esse respeito, que a teologia é “per additionem”
(cf. Commentaria in quatuor libros sententiarum, I, proem., q. 1, concl.), ou
seja, a teologia acrescenta a dimensão
da razão à Palavra de Deus, criando
assim uma fé mais profunda, mais pessoal e, portanto, também mais concreta na vida do homem. Nesse sentido,
encontravam-se diversas soluções e tiravam-se conclusões que começavam
a construir um sistema de teologia.
A organização das quæstiones conduzia à compilação de sínteses cada vez
mais extensas, isto é, combinavam-se
as diversas quæstiones com as respostas delas resultantes, criando assim
uma síntese: as chamadas summæ,
que eram, na realidade, amplos tratados teológico-dogmáticos nascidos da
confrontação da razão humana com a
Palavra de Deus.
A teologia escolástica visava apresentar a unidade e a harmonia da Revelação cristã com um método — chamado precisamente “escolástico”, da
escola — que confia na razão humana:
a gramática e a filologia estão a servi-
ço do saber teológico; mais, porém, está a lógica, ou seja, a disciplina que estuda o “funcionamento” do raciocínio
humano, de modo a tornar evidente a
verdade de uma proposição. Ainda hoje, lendo as summæ escolásticas, fica-se
admirado ao constatar a ordem, a clareza, a concatenação lógica dos argumentos e a profundidade de algumas
intuições. Por meio da linguagem técnica, atribui-se a cada palavra um significado preciso e, entre o crer e o compreender, se estabelece um recíproco
movimento de clarificação.
O conhecimento cresce somente
quando se ama a verdade
Caros irmãos e irmãs, fazendo eco
ao convite da Primeira Epístola de
Pedro, a teologia escolástica nos estimula a estarmos sempre prontos
a responder a qualquer um que nos
pergunte a razão de nossa esperança
(cf. I Pd 3, 15); a ouvirmos as perguntas como sendo nossas e sermos assim capazes também de dar resposta.
Ela nos lembra que há entre a fé e a
razão uma amizade natural, fundada
na própria ordem da criação.
O Servo de Deus João Paulo II escreve no início da encíclica Fides et ra-
tio: “A fé e a razão são como as duas asas
com as quais o espírito humano alça voo
para a contemplação da verdade”. A fé
abre-se ao esforço de compreensão por
parte da razão; esta, por sua vez, reconhece que a fé não a oprime mas, ao
contrário, a impele para horizontes
mais amplos e elevados.
Insere-se aqui a perene lição da
teologia monástica. Fé e razão, em
diálogo recíproco, vibram de alegria
quando estão ambas animadas pela
procura da íntima união com Deus.
Quando o amor vivifica a dimensão
orante da teologia, o conhecimento, adquirido através da razão, se dilata. A verdade é procurada com humildade, acolhida com enlevo e gratidão: numa palavra, o conhecimento
cresce somente quando se ama a verdade. O amor se torna inteligência e
a teologia se torna autêntica sabedoria do coração, que orienta e sustenta
a fé e a vida dos fiéis. Rezemos, pois,
para que o caminho do conhecimento e do aprofundamento dos Mistérios de Deus seja sempre iluminado
pelo amor divino.
(Discurso na Audiência Geral de
28/10/2009 – Tradução: Arautos do
Evangelho)
A Igreja no mundo das comunicações
Os meios de comunicação devem ser usados para a eficiente difusão
da mensagem evangélica, mas, por outro lado, a eficácia do anúncio do
Evangelho depende em primeiro lugar da ação do Espírito Santo.
A
o longo destes dias, detivestes-vos a refletir sobre
as novas tecnologias da comunicação. Mesmo um observador
pouco atento pode facilmente constatar que no nosso tempo, graças
precisamente às mais modernas tecnologias, está em curso uma autên-
8      Flashes de Fátima · Dezembro 2009
tica revolução no âmbito das comunicações sociais, da qual a Igreja vai
tomando consciência cada vez mais
responsável. Com efeito, essas tecnologias possibilitam uma comunicação veloz e penetrante, com ampla participação nas ideias e opiniões, e facilitam a aquisição de infor-
mações e de notícias de maneira minuciosa e acessível a todos. [...]
O Evangelho, única Palavra
que pode salvar o homem
Na Mensagem para o Dia Mundial
das Comunicações Sociais, deste ano,
ao acentuar a importância da qual se
L’Osservatore Romano
Os participantes da Assembleia Plenária do Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais
foram recebidos em audiência por Bento XVI, na Sala do Consistório
revestem as novas tecnologias, incentivei os responsáveis pelos processos
comunicativos, em todos os níveis, a
promover uma cultura de respeito à
dignidade e aos valores da pessoa humana, um diálogo fundamentado na
procura sincera da verdade, da amizade não voltada para si mesma, mas
capaz de desenvolver os dons de cada um para pô-los a serviço da comunidade humana. A Igreja pratica, assim, aquilo que poderíamos definir
como uma “diaconia da cultura” no
hodierno “continente digital”, percorrendo seus caminhos para anunciar o Evangelho, a única Palavra que
pode salvar o homem.
A cultura moderna traz um
desafio para a Igreja
As grandes mudanças sociais ocorridas nos últimos vinte anos solicitaram e continuam a solicitar uma
atenta análise da presença e da ação
da Igreja nesse campo.
Na encíclica Redemptoris missio
(1990), o Servo de Deus João Paulo II recordava que “o uso dos mass
media, no entanto, não tem somente a finalidade de multiplicar o anúncio do Evangelho: trata-se de um fato
muito mais profundo, porque a própria evangelização da cultura moderna depende, em grande parte, da sua
influência”. E acrescentava: “Não é
suficiente, portanto, usá-los para difundir a mensagem cristã e o Magistério da Igreja, mas é necessário integrar a mensagem nesta ‘nova cultura’, criada pelas modernas comunicações” (n. 37 c).
Com efeito, a cultura moderna surge, mais que dos conteúdos,
do próprio fato da existência de novos modos de comunicação que utilizam linguagens novas, servem-se
de novas técnicas e criam novas atitudes psicológicas. Tudo isso constitui um desafio para a Igreja chamada a anunciar o Evangelho aos homens do terceiro milênio, mantendo
inalterado o seu conteúdo, mas tornando-o compreensível também por
meio dos instrumentos e modalidades próprios à mentalidade e às culturas hodiernas. [...]
Importância da comunicação
em todo plano pastoral
Ao Pontifício Conselho para as
Comunicações Sociais cabe aprofundar cada elemento da nova cultura da
mídia, começando pelos aspectos éticos, e executar um serviço de orientação e de guia para ajudar as Igrejas
particulares a compreender a importância da comunicação, que já representa um ponto estável e irrenunciável de todo plano pastoral.
Por outro lado, precisamente as
características dos novos meios tornam possível, também em larga escala e na dimensão globalizada que ela
assumiu, uma ação de consulta, de
partilha e de coordenação que, além
de incrementar uma eficaz difusão da
mensagem evangélica, evita por vezes uma inútil dispersão de forças e
de recursos.
Para os fiéis, porém, a necessária valorização das novas tecnologias midiáticas deve estar sempre sustentada por
uma constante visão de Fé, conscientes de que, para além dos meios utilizados, a eficácia do anúncio do Evangelho depende em primeiro lugar da ação
do Espírito Santo, que guia a Igreja e o
caminho da humanidade.
(Excertos do discurso aos participantes da Assembleia Plenária do Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais, 29/10/2009 – Tradução:
Arautos do Evangelho)
Todos os direitos sobre os documentos pontifícios estão reservados à Libreria Editrice Vaticana.
A íntegra dos documentos acima pode ser encontrada em www.vatican.va
Dezembro 2009 · Flashes
de Fátima      9
Timothy Ring
Comentário ao Evangelho
Domingo da Sagrada Família
Como
encontrar Jesus
na aridez?
Há momentos de nossa vida espiritual em que
também nós “perdemos o Menino Jesus”. Ou
seja, com ou sem culpa, a graça sensível pode
desaparecer. Para reencontrá-Lo, devemos procuráLo por meio da oração e dos seus ensinamentos.
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP
I – O paradoxo da Sagrada Família
Uma bela metáfora oriental, relatada pelo presbítero Hesíquio de Jerusalém (séc. V), narra que a Santíssima Trindade estaria num verdadeiro impasse, por serem
as três Pessoas totalmente iguais. E seria preciso haver
algum acontecimento pelo qual o Pai pudesse ser louvado enquanto pai, o Filho ser inteiramente filho, e o Espírito Santo dar mais ainda do que já havia dado. Nessa
dificuldade, a solução teria surgido no momento em que
10      Flashes de Fátima · Dezembro 2009
“Encontro do Menino Jesus no
Templo” - Santuário do Sagrado
Coração de Jesus, São Paulo
Nossa Senhora aceitou a encarnação do Verbo em seu virginal corpo, tornando-Se, deste modo, o “complemento da
Santíssima Trindade”.1
Para a realização de tão grande mistério, “Deus Pai transmitiu a Maria sua fecundidade, na medida em que a podia
receber uma simples criatura, para que Ela pudesse produzir o seu Filho e todos os membros de seu Corpo Místico”,
afirma o grande São Luís Grignion de Montfort.2 E o “Espírito Santo, que era estéril em Deus, isto é, não produzia ou-
a  Evangelho  A
­
“Os pais de Jesus iam todos
os anos a Jerusalém, para a festa da Páscoa. 42 Quando Ele
completou doze anos, subiram
para a festa, como de costume.
43
Passados os dias da Páscoa,
começaram a viagem de volta,
mas o Menino Jesus ficou em
Jerusalém, sem que seus pais o
notassem. 44 Pensando que Ele
estivesse na caravana, caminharam um dia inteiro. Depois começaram a procurá-Lo entre os
parentes e conhecidos. 45 Não
41
O tendo encontrado, voltaram
para Jerusalém à sua procura.
46
Três dias depois, O encontraram no Templo. Estava sentado
no meio dos mestres, escutando e fazendo perguntas. 47 Todos os que ouviam o Menino
estavam maravilhados com sua
inteligência e respostas. 48 Ao
vê-Lo, seus pais ficaram muito
admirados e sua mãe Lhe disse: ‘Meu filho, por que agiste
assim conosco? Olha que teu
pai e Eu estávamos angustia-
dos, à tua procura’. 49 Jesus respondeu: ‘Por que Me procuráveis? Não sabeis que devo estar
na casa de meu Pai?’. 50 Eles,
porém, não compreenderam as
palavras que Lhes dissera. 51 Jesus desceu então com seus pais
para Nazaré, e era-Lhes obediente. Sua Mãe, porém, conservava no coração todas essas
coisas. 52 E Jesus crescia em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e diante dos homens
(Lc 2, 41-52).
Dezembro 2009 · Flashes
de Fátima      11
Na Sagrada
Família,
o que de si
tem menos
poder, exerce
a autoridade
sobre Nossa
Senhora, a
qual tem
a ciência
infusa e a
plenitude da
graça, e sobre
o Menino,
que é o Autor
da graça
tra pessoa divina, tornou-Se fecundo em Maria. É
com Ela, nEla e dEla que Ele produziu sua obra
prima, um Deus feito homem, e que produz todos
os dias, até o fim do mundo, os predestinados e os
membros do corpo deste Chefe adorável”.3
Assim, o Filho Se teria feito Homem não só
para nos redimir, mas também para, com toda propriedade, poder chamar de pai a Primeira
Pessoa Divina. Pois faria isto de dentro da natureza humana, inteiramente como filho e devedor,
porque, como homem, deveria a Ele sua existência e, portanto, teria obrigação de restituir-Lhe o
que dEle recebeu.
Eis o motivo pelo qual, segundo Hesíquio, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade aniquilouSe a Si mesma, fazendo-Se semelhante aos homens (cf. Fl 2, 7), e operou, de dentro da natureza
humana, a nossa Redenção. Qual novo Adão no
Paraíso Terrestre, “encontrou sua liberdade em Se
ver aprisionado no seio da Virgem Mãe”.4
Quem é mais, manda menos
À primeira vista, a constituição da Sagrada Família é um mistério. Pois nela quem tem mais autoridade é São José, como patriarca e pai, com
direito sobre a esposa e sobre o fruto de suas puríssimas entranhas.
A esposa é Mãe de Deus, Mãe da Segunda
Pessoa da Santíssima Trindade. Sendo Mãe, tem
Ela poder sobre um Deus que Se encarnou em
Seu seio virginal e Se fez seu filho.
Nosso Senhor Jesus Cristo, como filho, deve
obediência a esse pai adotivo, aceitando em tudo
a orientação e a formação dada por José; e também à sua Mãe, criatura Sua. Que imenso, insondável e sublime paradoxo!
Assim, na ordem natural, José é o chefe; Maria, a esposa e mãe; e Jesus, a criança.
Porém, na ordem sobrenatural, o Menino é o
Criador e Redentor; Ela, a Medianeira de todas as graças, Rainha do Céu e da Terra; e José, o Patriarca da Igreja. José, o que de si tem
menos poder, exerce a autoridade sobre Nossa Senhora, a qual tem a ciência infusa e a plenitude da graça, e sobre o Menino, que é o Autor da graça.
Deus ama a hierarquia
Por que dispôs Deus essa inversão de papéis?
Assim fez para nos dar uma grande lição: Ele
ama a hierarquia e deseja que a sociedade humana seja governada por este princípio, do qual o
próprio Verbo Encarnado quis dar exemplo.
12      Flashes de Fátima · Dezembro 2009
Bem podemos imaginar, na pequena Nazaré,
a prestatividade, a sacralidade e a calma de Jesus,
auxiliando José na carpintaria: serrando madeira,
pregando as peças de uma cadeira, quando bastaria um simples ato de vontade Seu, para serem
imediatamente produzidos, sem necessidade sequer de matéria prima, os mais esplêndidos móveis, jamais vistos na História.
Entretanto, afirma São Basílio, “obedecendo
desde sua infância a seus pais, Se submeteu Jesus humilde e respeitosamente a todo trabalho
braçal”.5 Assim, logo que São José mandasse —
e com que veneração! — o Filho fazer um trabalho, Este Se punha a executá-lo!
Pois agindo dessa maneira — honrando o pai
que estava na terra e aceitando, por exemplo, fazer um móvel de acordo com as regras da natureza — dava Jesus mais glória a Deus Pai, que O
havia enviado. Afirma São Luís Grignion, a propósito de sua obediência a Nossa Senhora: “Jesus
Cristo deu mais glória a Deus submetendo-Se a
Maria durante trinta anos, do que se tivesse convertido toda a terra pela realização dos mais estupendos milagres”.6
Assim, temos dentro da própria Sagrada Família um impressionante princípio de amor à hierarquia, porque, uma vez que Jesus havia desejado nascer e viver numa família, Ele honrava pai
e mãe, mesmo sendo onipotente e o Criador de
ambos.
Uma vida de aparência normal
Não devemos supor que na Sagrada Família
tudo era absolutamente místico, sobrenatural e
pleno de consolações.
Do Menino Jesus não se pode dizer que vivia de fé porque sua alma estava na visão beatífica. Entretanto, quis que seu corpo tivesse o desenvolvimento normal de um ser humano. Assim,
por exemplo, não nasceu falando, embora pudesse falar todas as línguas do mundo.
Nossa Senhora e São José levavam também
uma vida inteiramente comum na aparência e,
como todos os homens, sofreram perplexidades e
angústias. Disto nos dá um exemplo o Evangelho
deste domingo: “Teu pai e Eu estávamos, angustiados, à tua procura”.
II – Verdadeiro Deus e
verdadeiro homem
A descrição de São Lucas é a mais minuciosa apresentada pelos Evangelhos a respeito dos
trinta anos de vida oculta de Nosso Senhor,
junto aos pais, o que leva a supor que o episódio lhe tenha sido relatado pela própria Nossa Senhora.
A Sagrada Família cumpre o preceito
“Os pais de Jesus iam todos os anos
a Jerusalém, para a festa da Páscoa.
42
Quando Ele completou doze anos,
subiram para a festa, como de costume”.
Três eram as festas — Páscoa, Pentecostes e Tabernáculos — nas quais os varões judeus tinham o dever de comparecer ao Templo.7 Tendo Jesus completado
os doze anos, era obrigado também a fazêlo, pois, como lembra Fillion, ao atingir essa
idade todo jovem israelita se tornava “‘filho do
preceito’ ou ‘filho da Lei’, quer dizer, sujeito
a todas as prescrições da Lei mosaica, mesmo
as mais onerosas, como o jejum e as peregrinações ao Templo”.8
De Nazaré a Jerusalém são vários dias de viagem, feita em comitiva, em caravanas, com as estradas apinhadas pelos que iam cumprir o preceito nessas datas. Era costume os peregrinos passarem uma semana em Jerusalém. Assim, segundo
descrições feitas por autores da época, como Flávio Josefo, a cidade se tornava intransitável, superlotada de gente por todos os cantos.9
Dirigiu-Se Jesus à Casa de Deus para prestar culto ao Pai. Que magnífica manifestação
de amor à hierarquia, que sublime relacionamento entre as Pessoas da Santíssima Trindade! Quanta alegria teria sentido o Filho do Homem ao cumprir esse preceito da Lei mosaica,
por ocasião da festa da Páscoa! E vendo o cordeiro, símbolo de Si mesmo, sendo oferecido ao
Pai no Templo, deve ter considerado como, ao
redimir o gênero humano pelo sacrifício cruento na Cruz, Ele tornaria realidade essa imolação
simbólica.
Muito provavelmente caminhou por Jerusalém e fitou com olhos humanos os lugares nos
quais Ele iria padecer, e teve um arroubo de
amor semelhante àquele “desejei ardentemente comer esta Páscoa convosco” (Lc 22, 15) que
mais tarde manifestaria na Santa Ceia. E Nossa
Senhora não O terá acompanhado nesse percurso? Terão discorrido sobre a Paixão? Ignorados
pelos homens, eram, contudo, espetáculo para os
Anjos do Céu.
Sergio Hollmann
41
“Obedecendo desde Sua infância a Seus pais,
Se submeteu Jesus humilde e respeitosamente a
todo trabalho braçal” (São Basílio)
“Jesus carpinteiro” Basílica de Saint Laurent-sur-Sèvre (França)
Jesus não lhes deu nenhuma explicação
“Passados os dias da Páscoa, começaram a viagem de volta, mas o Menino Jesus ficou em Jerusalém, sem que seus
pais o notassem”.
43
Costumavam os judeus, durante essas viagens,
formar duas comitivas, uma de mulheres e outra
de homens, e as crianças caminhavam ora com o
pai, ora com a mãe. E à noite, pai, mãe e filhos se
juntavam para o jantar e algum tempo de convívio antes de cada qual ir descansar.
Assim deve ter sido a vinda para Jerusalém e
seria também a viagem de retorno, com a inevitável confusão própria à partida de uma caravana
que sai de uma cidade superlotada. Isso explica
o fato de que somente no final do primeiro dia,
Dezembro 2009 · Flashes
Não devemos
supor que
na Sagrada
Família
tudo era
absolutamente
místico,
sobrenatural
e pleno de
consolações
de Fátima      13
ao se encontrar com São José, Nossa Senhora deu-Se conta do desaparecimento do Menino. Começaram,
então, aflitos, a buscá-Lo entre
os parentes e conhecidos. Em
vão!
Aflição de Maria
e José
“Pensando
que Ele estivesse na caravana, caminharam um dia
inteiro. Depois começaram a procuráLo entre os parentes e
conhecidos. 45 Não O
tendo encontrado, voltaram para Jerusalém à
sua procura”.
44
Absortos pelo
sofrimento,
nem se deram
conta Maria
e José da
admiração
causada por
Jesus aos
doutores
Podemos bem calcular a
grande dor de Maria e José, atônitos diante desse fato, para o qual não encontravam explicação.
Sabiam que o Messias deveria ensinar
toda a Sua doutrina e
depois seria condenado à morte. Isto os deixava receosos, como afirma
a Glosa, de que “aquilo que Herodes tentara levar a cabo em sua primeira infância, agora, encontrando uma ocasião oportuna, o fizessem outros, matando-O nessa idade”.10 Procuravam-No,
então, pelo caminho — com que angústia! —, temendo achá-Lo morto.
Ao sofrimento da dúvida sobre a causa do desaparecimento de Jesus, somava-se o da incerteza sobre a ocasião. Como fora acontecer agora? Transida de dor, Nossa Senhora certamente
Se lembrava da profecia de Simeão: “Uma espada
transpassará a tua alma” (Lc 2, 35).
Preocupação, aflição e angústia, sim, mas
numa superior paz de alma. Maria Santíssima
talvez Se poria o problema de ser Ela a culpada pelo acontecido, por alguma falta de amor
a Deus. A separação do Seu adorável Filho seria, nesse caso, uma divina repreensão. Daí estar Ela na aflição das aflições e sentir no cora-
14      Flashes de Fátima · Dezembro 2009
ção a espada de dor! Ela e José talvez julgassem não terem sido dignos da guarda daquele Tesouro, de não terem correspondido à missão que receberam. E isso os deixava em grande desolação.
Nosso Senhor é ávido por dar testemunho
“Três dias depois, O encontraram no
Templo. Estava sentado no meio dos
mestres, escutando e fazendo perguntas.
47
Todos os que ouviam o Menino estavam maravilhados com sua inteligência e
respostas”.
46
Constatada a perda de Jesus, Nossa Senhora
e São José tiveram de aguardar até o amanhecer
para empreender a viagem de volta. Quando chegaram a Jerusalém, anoitecera já novamente; e,
assim, só no terceiro dia puderam ir ao Templo.
Bem sabia Ela que era esse o lugar mais provável
onde achar o Filho.
Quando afinal O encontraram, a Virgem Mãe
e São José, absortos pelo sofrimento, nem se deram conta da admiração causada pelo Menino
Jesus aos doutores — “maravilhados com sua inteligência e respostas” —, como ressalta o grande
exegeta Lagrange: “A aprovação dos doutores seria de molde a lisonjear os pais, e sobretudo teria
dado ocasião à doce complacência de uma mãe;
mas Maria estava assumida pela dor e tomada de
surpresa”.11
Diante dos mestres da Lei, o Menino Jesus estava dando testemunho de Sua missão, dezoito
anos antes de iniciar Sua vida pública, conforme
comenta São Beda: “Para provar que era Deus,
respondia-lhes de uma maneira sublime quando
O interrogavam”.12 Agindo assim, estava ajudando aquelas pessoas a se aperceberem de que chegara a hora do Messias e da libertação do povo
judeu. Libertação, não do domínio romano, mas
espiritual, em ordem à salvação eterna: as portas
do Céu iriam ser abertas!
Maria pergunta com admiração
“Ao vê-Lo, seus pais ficaram muito admirados e sua Mãe Lhe disse: ‘Meu filho,
por que agiste assim conosco? Olha que
teu pai e Eu estávamos, angustiados, à
tua procura’”.
48
A admiração de que nos fala este versículo pode ser entendida em dois sentidos. Primeiro no
sentido explicitado por São Tomás de Aquino:
estavam eles, em meio aos efeitos, à procura da
causa, da razão.13 Segundo, ficaram admirados ao
encontrar o Menino cumprindo Sua missão em
tão tenra idade e presenciar a manifestação que
Ele dava de Si mesmo.
Maria e José dão-nos aqui exemplo de como devemos nos comportar quando a graça
sensível se afastar de nós. Antes de tudo, evitar
qualquer atitude de revolta; se aconteceu, foi
porque Deus quis. São os percalços da vida, os
dramas, as dificuldades que a Providência permite para unir-nos mais a Ela. Aceitemos tudo
com o mesmo estado de espírito dos pais de Jesus. E quando revirmos Nosso Senhor, teremos
também admiração.
Na pergunta feita por Nossa Senhora, não
se nota uma manifestação de queixa. Com sua
retíssima consciência, Ela demonstra aflição
e perplexidade, desejando uma explicação para, assim, melhor servir a Deus. Essa deve ser
também nossa atitude, resignada e amorosa, face aos problemas que se nos deparam ao longo
da vida.
Resposta segundo a natureza divina
“Jesus respondeu: ‘Por que Me procuráveis? Não sabeis que devo estar na casa
de meu Pai?’”.
49
Em sua pergunta, na qual transparece bem a
preocupação de mãe em relação ao filho, a Virgem Maria toma em consideração a natureza humana de Jesus. E Ele, respondendo por meio de
outra pergunta chama a atenção para a Sua natureza divina.
Por essa resposta — a qual, segundo Fillion,
constituía “o programa de todo o seu ministério”14 —, podemos conjecturar ter o Menino Jesus instruído Nossa Senhora a respeito de como
Ele deveria cumprir a vontade do Pai. E de como esse chamado divino superava qualquer laço
de sangue. Ele quis dizer a seus pais terrenos que
Sua missão divina estava acima dos vínculos familiares.
Mas, com isso, estaria Ele reprovando Maria
e José porque se colocaram como seus pais? São
Beda faz um inspirado comentário: “Não os repreende porque O buscam como filho, mas os
faz levantar os olhos da alma para verem o que
Ele deve Àquele de quem é Filho eterno”.15 Jesus
Cristo tinha uma missão a cumprir e queria que
seus pais terrenos compreendessem que tudo devia se subordinar ao Pai Celeste.
O exemplo de Maria diante do não entender
“Eles, porém, não compreenderam as
palavras que lhes dissera”.
50
Por que Nossa Senhora e São José não entenderam? Deus não lhes deu luzes para isso naquele momento, a fim de que pudessem ter maior
mérito, compreendendo só mais tarde as razões
do comportamento do Menino Jesus.
Maria não entendeu as palavras de seu Filho, mas, como se vê no versículo seguinte, conservava no seu coração “todas essas coisas”, com
amor, sabendo que havia uma lição por do desse episódio.
Essa deve ser nossa atitude em relação a tudo
quanto nos transcende e que porventura não consigamos entender em nossa vida espiritual: com
paz e confiança, guardar os acontecimentos no coração e refletir sobre eles ao longo do tempo, lembrando-nos da promessa de Nosso Senhor: “O Paráclito, o Espírito Santo que o Pai vos enviará em
meu nome, vos ensinará tudo e vos lembrará tudo o que vos tenho dito” (Jo 14, 26). Mais cedo
ou mais tarde, o Espírito Santo nos fará compreender, na medida que isso for útil para nossa santificação e o cumprimento de nossa missão.
Neste episódio, ensina-nos também o Divino
Mestre que, por vezes, até nossos parentes podem não entender alguma atitude nossa, de firme
decisão de cumprir um dever moral ou religioso.
Portanto, se isso acontecer, não nos surpreendamos.
Na pergunta
feita por
Nossa
Senhora, Ela
demonstra
aflição e
perplexidade,
desejando uma
explicação
para, assim,
melhor servir
a Deus
O imenso valor do recolhimento
“Jesus desceu então com seus pais
para Nazaré, e era-lhes obediente.
Sua mãe, porém, conservava no
coração todas essas coisas”.
51
Visando provavelmente
evitar a interpretação errônea de que, para obedecer ao Pai Eterno, é preciso desobedecer aos
pais terrenos, São Lucas, com muita delicadeza, lembra logo a seguir que Nosso Senhor
passou o resto da vida
submisso a Maria e José. Pois, como afirma São
Beda: “O que haveria de fazer o Mestre da virtude, seDezembro 2009 · Flashes
de Fátima      15
não cumprir esse dever de piedade? O que haveria de fazer entre nós senão aquilo mesmo que
desejava que fizéssemos?”.16
Portanto, Ele aceitou que O levassem novamente para Nazaré e continuou a ser-lhes obediente até o início de Sua vida pública, quase duas décadas depois.
O que significaria esse longo período de vida
oculta? Bem pode exprimir ele o imenso valor
do recolhimento. Jesus, evidentemente, já estava preparado para cumprir a vontade do Pai.
Entretanto, depois de afirmar que veio cumprir
essa vontade, Ele segue Nossa Senhora e São
José, e fica mais dezoito anos na vida oculta e
recolhida.
Não esqueçamos, também nós, que o recolhimento, a contemplação e o isolamento são excelentes meios de nos prepararmos para executar
bem nossas ações. Nunca houve uma comunidade contemplativa excelsa como a de Nazaré: Jesus, Maria e José! Impossível imaginar algo supe-
Recolhimento,
contemplação
e isolamento
são excelentes
meios de nos
prepararmos
para executar
bem nossas
ações
rior. É por isso que, como lembra o grande teólogo padre Antonio Royo Marín, “alguns Santos
Padres se comprazem em dizer que a principal
ocupação de Jesus em Nazaré foi a doce tarefa
de santificar cada vez mais sua queridíssima Mãe,
Maria, e seu pai adotivo, São José. Nada mais sublime, e mais lógico e natural”.17
Crescimento em sabedoria, estatura e graça
“E Jesus crescia em sabedoria, estatura
e graça, diante de Deus e diante dos homens”.
52
Santo Agostinho, São Tomás e a generalidade
dos teólogos afirmam que Jesus possuía em grau
supremo, desde o primeiro instante de sua concepção, a graça, a sabedoria e a santidade.18 E
não só as possuía, mas era em substância a Graça,
a Sabedoria e a própria Santidade.
No entanto, Ele crescia fisicamente, de ano
em ano, tomando configuração de adulto, “mas
sem exceder exteriormente as
leis gerais do desenvolvimento humano”, sublinha Fillion.19
De acordo com a idade, ia Ele
manifestando mais a Graça e
a Sabedoria. Não Se tornava
maior em substância, mas sim
em manifestação. Isso, segundo o Doutor Angélico, porque
“à medida que avançava em
idade, fazia obras mais perfeitas para demonstrar que era
verdadeiro homem, tanto no
referente a Deus como no tocante aos homens”.20
François Boulay
Nunca houve
uma comunidade
contemplativa excelsa
como a de Nazaré:
Jesus, Maria e José!
Impossível imaginar
algo superior.
16      Flashes de Fátima · Dezembro 2009
"Jesus entre os Doutores"
- Oratório São José,
Montreal (Canadá)
1
Cf. JOURDAIN, Pe. Z. C.
Somme des grandeurs de
Marie. Paris: Hippolyte
Walzer Ed., 1900, t. I,
p. 56.
2
MONTFORT, São Luís G.
de. Tratado da Verdadeira
Devoção à Santíssima Virgem. Petrópolis: Vozes,
1994, n. 17.
3
Idem, n. 20.
4
Idem, n. 18.
5
SAN BASILIO MAGNO.
In lib. relig. apud AQUINO, Santo Tomás de. Catena Áurea. Buenos Aires: Cursos de Cultura
Católica, s.d., p. 73.
6
MONTFORT. Op. cit., n.
18.
7
Cf. Ex 23, 14; 24, 23; Dt
16, 16.
Paulo Mikio
III – Oração e doutrina
Que aplicação tem esta passagem do Evangelho para nossa vida espiritual?
Há momentos de nossa existência nos quais temos a sensação de ter “perdido o Menino Jesus”,
isto é, com ou sem culpa nossa, a consolação espiritual desaparece e nos sentimos desamparados.
O que fazer quando percebemos que estamos sem
graças sensíveis, sem aquilo que nos dava ânimo e
sustentação para praticar a virtude?
Esta passagem do Evangelho ensina-nos a imitar Maria e José: ir atrás do Menino Jesus, isto é,
pôr-se à procura da graça sensível, quando ela se
retirar. Quando estivermos aflitos, na aridez, devemos procurar Jesus no Santíssimo Sacramento.
Não há nada, absolutamente nada do necessário
para nossa santificação que, se pedirmos a Jesus
Eucarístico, não acabemos por obter.
Contudo, não nos esqueçamos de que, no
Templo, Nosso Senhor estava entre os mestres da
Lei, o que bem pode significar a importância da
doutrina para nos sustentar na hora da provação.
Daí decorre para nós a necessidade de uma boa e
sólida formação doutrinária.
Como quem vai fazer uma longa viagem providencia com antecedência documentos, roupas
apropriadas e tudo o mais, assim precisamos fazer
nós: rezar muito e conhecer bem a doutrina, a fim
de estarmos preparados para atravessar os períodos de aridez. Se tivermos os princípios bem vincados na alma, quando bater o vento da provação, as
folhas estarão firmes na árvore da Fé. 
Quando estivermos aflitos, na aridez, devemos procurar
Jesus no Santíssimo Sacramento
8
Cf. apud TUYA, OP, Pe.
Manuel de. Biblia Comentada – V Evangelios. Madrid: BAC, 1954,
p. 781.
9
Cf. Idem, ibidem.
10
11
12
BEDA, San. Apud AQUINO, Santo Tomás de. Op.
cit., p. 70.
13
AQUINO, São Tomás de.
Suma Teológica, I-II, q.
32, a. 8, Resp.: “A admiração é um certo desejo de saber, que surge no
homem porque vê o efeito e ignora a causa”.
14
Apud AQUINO, Santo
Tomás de. Op. cit., p. 71.
LAGRANGE, OP, Pe. Joseph M. Vida de Jesucristo según los Evangelios.
Madrid: Edibesa, 1999,
p. 52.
FILLION, Louis-Claude.
Nuestro Señor Jesucristo según los Evangelios.
Madrid: Edibesa, 2000,
p. 88.
15
BEDA, San. Apud AQUINO, Santo Tomás de. Op.
cit., p. 71.
16
Idem, p. 72.
17
ROYO MARÍN, OP, Pe.
Antonio. Jesucristo y la
vida cristiana. Madrid:
BAC, 1961, p. 274.
18
Cf. por exemplo: SANTO
AGOSTINHO, In Sermone LVII, de diversis;
Tract. 108 in Ioan., n. 5;
De trinitate, I, 15, c. 26, n.
4; AQUINO, São Tomás
de. Suma Teológica III, q.
7, a. 12.
19
FILLION. Op. cit., p. 86.
20
AQUINO, São Tomás de.
Suma Teológica III, q.7,
a.12, ad 3.
Dezembro 2009 · Flashes
de Fátima      17
O verdadeiro sig
Difícil é, num mundo marcado pelo laicismo,
ter bem presentes o autêntico significado do
Santo Natal e o benefício incomensurável que
representou para os homens a Encarnação da
Segunda Pessoa da Santíssima Trindade.
“E
o Verbo Se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 14).
Desse modo singelo resumiu o Discípulo Amado o
maior acontecimento da História. ­Suas
despretensiosas palavras sintetizam o
rico e insondável conteúdo do grandioso mistério comemorado a cada 25 de
dezembro: na obscuridade das trevas
do paganismo, raiou a aurora de nossa salvação. Fez-Se homem o Esperado das nações, Aquele que tinha sido
anunciado pelos profetas.
Gustavo Kralj
Cenário tomado pelo sobrenatural
Na noite em que Jesus veio ao mundo, pairava sobre Belém uma atmosfera de paz e alegria. A natureza parecia estar em júbilo enquanto, dentro
de uma gruta inóspita, um santo casal
contemplava seu Filho recém-nascido.
Ela é a Mãe das mães, concebida
sem pecado original, criatura perfeita,
na qual o Criador depositou toda a graça. Ao seu lado encontra-se São ­José,
esposo castíssimo, varão justo cujo
amor a Deus, integridade e sabedoria
o tornam digno de tão augusta Esposa.
E a Criança que ambos contemplam é
o próprio Deus, que assume nossa natureza para dar a maior prova possível
de seu amor à humanidade.
18      Flashes de Fátima · Dezembro 2009
Quão sublime atmosfera envolvia
aquele cenário paupérrimo! O ambiente no qual nasceu o Menino Deus devia estar tão tomado pelo sobrenatural
que, se alguém tivesse a dita de entrar
naquela gruta, ficaria imediatamente
arrebatado por toda sorte de graças.
Foi o que ocorreu com os pastores. Após o aviso dos Anjos, correram
em direção à gruta e lá encontraram o
Rei do Universo deitado sobre palhas.
Abismados pela grandeza dessa cena, que contemplavam também com
os olhos da Fé, não tiveram outra atitude senão a da adoração. Que extraordinária dádiva receberam, sendo os
primeiros a contemplar o Criador do
Céu e da Terra feito homem, envolto
em faixas, numa manjedoura!
Deus quis apresentar-Se de
forma exemplarmente humilde
Considerando as imponentes manifestações da natureza que acompanhavam as intervenções de Deus no Antigo Testamento — o mar se abre, o
monte fumega, o fogo cai do céu e reduz cidades a cinzas —, resulta surpreendente constatar a humildade e discrição com que Cristo veio ao mundo.
Não teria sido mais condizente
com a grandeza divina que, na noite
Diác. Leandro Cesar Ribeiro, EP
de Natal, sinais magníficos marcassem
o acontecimento no Céu e na Terra?
Não poderia, ao menos, ter nascido
Jesus num magnífico palácio e convocado os maiores potentados da Terra
para prestar-Lhe homenagens? Bastar-Lhe-ia um simples ato de vontade
para que isso acontecesse...
Mas, não! O Verbo preferiu a gruta a um palácio; quis ser adorado por
pobres pastores, ao invés de grandes
senhores; aqueceu-Se com o bafo dos
animais e a rudeza das palhas, em lugar de usar ricas vestes e dourados
braseiros. Nem mesmo quis dar ordem ao frio para que não O atingisse. Num sublime paradoxo, desejava
a Majestade infinita apresentar-Se de
forma exemplarmente humilde.
Pois, apesar das pobres aparências, Aquele Menino era a Segunda
Pessoa da Santíssima Trindade. NEle
dava-se a união hipostática da natureza divina com a humana, conforme
explica o renomado padre Boulenger: “União é o estado de duas coisas
que se acham juntas. Ela pode realizar-se ora nas naturezas, por exemplo, quando o corpo e a alma unemse para formar uma só natureza humana; e ora na pessoa, quando se
unem duas naturezas na mesma pes-
soa. Esta última união chama-se hipostática, porque, em grego, os dois
termos, hipóstase (suporte) e pessoa,
têm igual significação teológica”.1
E, depois da união, essas duas naturezas permaneceram perfeitamente íntegras e inconfundíveis na Pessoa de Cristo, que não é humana,
mas divina. Por esse motivo é Ele
chamado Homem-Deus.
Abismo intransponível
Mas, por que quis a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade encarnarSe em uma tão inferior natureza?
Os nossos primeiros pais foram
criados no Paraíso Terrestre em estado de inocência original, portanto em justiça e santidade.2 Além disso, na sua infinita bondade, Deus conferiu a Adão dons de três qualidades:
naturais, estando todas as propriedades do corpo e da alma perfeitamente ordenadas para alcançar o seu fim
natural; sobrenaturais, a graça santificante, ou seja, a participação na própria vida de Deus, e a predestinação à
visão de Deus na eterna bem-aventurança; e preternaturais, tais como a ciência infusa, o domínio das paixões e
a imortalidade, que constituem o dom
de integridade.
Dezembro 2009 · Flashes
Gustavo Kralj, por concessão do Ministério
dos Bens Culturais da República Italiana
nificado do Natal
“Madonna delle
Ombre” (detalhe),
por Fra Angélico
– Museu de
São Marcos –
Florença (Itália)
Não poderia
ter nascido
Jesus num
magnífico
palácio e
convocado
os maiores
potentados
da Terra
para
prestar-Lhe
homenagens?
de Fátima      19
de integridade; mas não está provado
que seja mais fraca do que teria sido
no estado de natureza”.3
O Pecado Original abriu entre
Deus e os homens um abismo intransponível. As portas do Céu se fecharam e o homem contingente só
podia oferecer a Deus uma reparação imperfeita da ofensa cometida. E
o Filho ofereceu-Se ao Pai para, “fazendo-Se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fl 2, 8), restituir ao homem a graça perdida com o pecado.
O próprio Criador fazia-Se criatura
para, com uma generosidade inefável, saldar nossa dívida.
O caminho da glória
passa pela Cruz
Entretanto, por que quis Jesus sofrer o desprezo dos seus coetâneos e
os tormentos da Paixão? Estando hipostaticamente unido à Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, qualquer
gesto da Sua natureza humana poderia ter redimido a humanidade inteira.
Um simples ato de vontade de Cristo teria bastado para obter de Deus o
perdão de todos os nossos pecados.
Mais uma vez, deparamo-nos com
um sublime paradoxo. Com o exemplo de Sua Vida e Paixão, queria Jesus ensinar-nos que, neste vale de lá-
Timothy Ring
Como
contrapartida a esses
imensos benefícios, foi
apresentada ao
homem uma prova. Devia ele cumprir de modo exímio a lei divina, guiando-se pelas exigências da lei
natural gravada no seu coração, e respeitar uma única norma concreta que
Deus lhe dera: a proibição de comer
do fruto da árvore da ciência do bem e
do mal, plantada no centro do Jardim
do Éden (cf. Gn 2, 9-17).
Narra-nos a Sagrada Escritura como a serpente tentou Eva, como caíram nossos primeiros pais e como foram expulsos do Paraíso (cf. Gn 3,
1-23). Em consequência do pecado,
boa parte desses privilégios lhes foram
retirados. Mas Deus, em sua infinita
misericórdia, manteve-lhes os privilégios naturais, como descreve o douto
padre Tanquerey: “Contentou-Se de
os despojar dos privilégios especiais
que lhes tinha conferido, isto é, do
dom de integridade e da graça habitual: conservam pois, a natureza e os
seus privilégios naturais. É certo que
a vontade ficou enfraquecida, se a
compararmos ao que era com o dom
grimas, a verdadeira glória só vem da
dor. E como o Pai desejava para Seu
Filho o máximo grau de glória, permitiu que Ele passasse pelo extremo
limite do sofrimento.
“O Filho do homem veio, não para ser servido, mas para servir e dar
sua vida em resgate de muitos” (Mt
20, 28). Já na manjedoura em Belém, nosso Salvador estava ciente de
ter vindo ao mundo para expiar nossos pecados. É esse o motivo pelo
qual em muitos presépios o Menino
Deus nos é apresentado com os braços abertos em cruz. Durante toda a
sua vida, de Belém ao Gólgota, Jesus
não fez outra coisa senão avançar ao
encontro do Sacrifício Supremo que
Lhe acarretaria o fastígio da glória.
A Terra toda foi renovada
Pode haver ser humano mais frágil do que uma criança, habitação mais
simples do que uma gruta e berço mais
precário do que uma manjedoura? Entretanto, a Criança que contemplamos
deitada sobre palhas na gruta de Belém haveria de alterar completamente
o rumo dos acontecimentos terrenos.
Afirma o historiador austríaco João
Batista Weiss: “Cristo é o centro dos
acontecimentos da História. O mundo
antigo O esperou; o mundo moderno e
Com o exem­plo de Sua
Vida e Paixão, queria Jesus
ensinar-nos que, neste vale
de lágrimas, a verdadeira
gló­ria só vem da dor.
"Menino Jesus
de Pichincha" Quito, Equador
20      Flashes de Fátima · Dezembro 2009
Gustavo Kralj
A vinda de Jesus ao mundo não só abriu-nos as portas do Céu e nos trouxe a Salvação,
mas também renovou toda a Terra
Vitral da igreja de Saint Mary, Waltham MA (Estados Unidos)
todo o porvir descansam sobre Ele. A
Redenção da humanidade por Cristo
é a maior façanha da História universal; sua Vida, a memória mais alta e bela que possui a humanidade; sua doutrina, a medida com que se há de apreciar todas as coisas”.4
Difícil é, num mundo marcado
pelo relativismo e pelo laicismo —
quando não pelo ateísmo —, ter bem
presentes o verdadeiro significado do
Santo Natal e o benefício incomensurável que representou para os homens a Encarnação da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade.
Cristo era o varão prometido a
Adão logo depois de sua queda, o
Messias anunciado durante séculos
pelos profetas. Mas a realidade transcendeu qualquer imaginação humana: quem poderia excogitar que Ele
seria o próprio Deus encarnado?
A vinda de Jesus ao mundo não
só abriu-nos as portas do Céu e nos
trouxe a Salvação, mas também renovou toda a Terra. Diz São Tomás que
Nosso Senhor quis ser batizado, entre outras razões, para santificar as
águas.5 E o mesmo aconteceu com
todos os outros elementos: a terra foi
1
BOULENGER, A. Manual de instrução religiosa. São Paulo: Ed. Paulo de Azevedo, 1927, v. 1,
p. 130.
3
TANQUEREY, Adolphe.
Compêndio de teologia ascética e mística. 6. ed. Porto: Livraria Apostolado
da Imprensa, 1961, p. 35.
2
Cf. AQUINO, São Tomás
de. Suma Teológica I,
q. 95, a. 3.
4
WEISS, Juan B. Historia
Universal. 5. ed. Barcelona: Tipografía La Educación, 1927, vol. 1, p. 29.
santificada porque seus divinos pés a
pisaram; o ar, porque Ele o respirou;
o fogo ardeu com maior vigor e pureza. Podemos sem dúvida dizer que
este nosso mundo nunca mais foi o
mesmo depois de nele ter vivido, feito homem, o próprio Criador.
Não é por acaso que se contam os
anos a partir do nascimento de Cristo, pois Ele, realmente, divide a História em duas vertentes. Antes dEle
a humanidade era uma, e depois passou a ser diametralmente outra. São
duas histórias. Quase poderíamos
afirmar serem dois universos! 
“Era conveniente que Cristo fosse batizado; 1º porque, como diz Ambrósio: ‘O Senhor foi batizado não porque quisesse
ser purificado, mas querendo purificar as águas,
para que limpas pela carne de Cristo, que não co-
5
nheceu o pecado, tivessem a força do batismo’.
E Crisóstomo acrescenta:
‘Para deixá-las santificadas para os que haveriam
de ser batizados depois’”
(Suma Teológica III, q.
39, a.1, Resp.).
Dezembro 2009 · Flashes
de Fátima      21
Entrevista com o Prof. Gonzalo Soto Posada
Ardor, símbolo e conceito
Tomando por base Dionísio Areopagita e São Tomás de Aquino, o Professor
Gonzalo Soto, catedrático de Filosofia Antiga e Medieval na Universidade
Pontifícia Bolivariana, de Medellín, analisa a profunda inter-relação entre
teologia mística, conceitual e simbólica, ressaltando a importância dessa
união para o pensamento e a cultura atuais.
Pe. Fernando Néstor Gioia Otero, EP
Como nasceu no senhor o
desejo de se dedicar ao estudo da
Filosofia Antiga e Medieval?
Fiquei muito impressionado ao ouvir dizer, no curso universitário, que a
Idade Média foi uma época de obscurantismo e de trevas, e que as produções científicas, filosóficas e teológicas medievais eram uma barbárie.
Pus-me então a estudar essa era
histórica, em suas expressões filosóficas e teológicas, bem como em suas manifestações literárias e culturais, sobretudo o românico e o gótico. E fui encontrando um mundo maravilhoso e deslumbrante, um
mundo provocante e incitante, um
mundo que de modo algum se parecia com o que eu ouvia dizer a respeito da Idade Média, ou seja, que
só se devia estudá-la para melhor
desprezá-la.
Era tudo ao contrário! Comecei a
apreciá-la e dar-lhe valor. Houve sem
dúvida problemas no mundo medieval, como em qualquer época histórica. Isso, porém, não me impediu de
apaixonar-me por esse mundo até o
ponto de, em meus estudos, falar de
uma segunda natureza medieval.
Minha tese de doutorado, eu a fiz
sobre um autor medieval: Isidoro de
Sevilha e sua obra Etimologias. Estudei
especialmente três místicos do mundo medieval: Santo Agostinho, Dionísio Areopagita e o mestre Eckhart, na
transição do século XIII para o XIV.
E como não se pode entender o
mundo medieval sem o mundo antigo,
fui levado a estudar a cultura e a filosofia gregas, porque, em última instância,
foi no diálogo entre o helenismo e o
Cristianismo que a cultura medieval se
tornou grandiosa em filosofia, em teologia, em arte e em literatura.
De onde veio seu interesse
pela obra de Dionísio?
No final de sua vida, Tomás de
Aquino teve uma experiência mística após a qual não voltou a escrever. Conforme revelou a um assistente, ele considerava ut palea (como palha), néscio e rude tudo quanto havia
escrito. Portanto, depois dessa experiência mística, Tomás julgou ser uma
22      Flashes de Fátima · Dezembro 2009
tolice a Suma Teológica e toda a sua
produção intelectual...
“Então, o que é a mística?” — eis
a pergunta que me ocorreu.
E para obter resposta, o único
meio era recorrer aos místicos. Já me
tinha dado conta de que na obra de
Tomás não só há um belo comentário
ao livro Dos Nomes Divinos, de Dionísio, mas também que Tomás o cita
muitas vezes em sua obra. Assim, a
experiência mística de Tomás levoume a Dionísio, que considero um dos
grandes místicos do Cristianismo,
tanto oriental como ocidental.
Em Dionísio aprendi que, em última análise, a experiência mística é
uma experiência do inefável, do incognoscível, do inominável, na qual
subsiste apenas a nuvem do não-saber; ou seja, a alma precisa pôr entre
parênteses tanto os símbolos quanto os conceitos, para, a partir de uma
teologia do silêncio, entrar em união
gozosa com Deus.
Isso é o que encontrei lendo Dionísio, e isso levou-me a Santo Agostinho e depois ao mestre Eckhart.
Iván Tefel
“Ao estudar a
Idade Média fui
encontrando
um mundo
maravilhoso e
deslumbrante,
um mundo que
de modo algum
se parecia com
o que eu ouvia
dizer”
Nota-se a presença de Dionísio em
todos os místicos. Não estudei São
João da Cruz nem Santa Teresa a partir de Dionísio, mas em seu livro Glória, o Prof. Urs von Balthasar remete
o leitor para um artigo do Dictionnaire
de Espiritualité, dizendo que pela primeira vez nós, católicos, havíamos elaborado um bom trabalho sobre Dionísio. Nesse artigo estuda-se a presença de Dionísio na mística cristã, desde a era medieval até a contemporânea, mostrando sua influência em toda a mística cristã, não só do mundo
oriental — grego, russo —, mas também do mundo ocidental.
Felizmente, porém, Dionísio afirma que deve-se fazer também teologia simbólica e conceitual. Ou seja,
além da experiência mística, o teólogo deve recorrer a símbolos e a conceitos, porque, seguindo o inefável e
o inexprimível, há uma teologia que
se chama positiva — a teologia simbólica e conceitual — na qual, através dos nomes, dos conceitos e dos
símbolos, alguma coisa se pode vislumbrar, se pode saber, de Deus.
Pode-se fazer hoje teologia
abstraindo-se do passado?
Sempre sustentei que, embora o
presente seja irredutível ao passado, é inexplicável sem o passado, assim como o filho, sendo embora irredutível ao pai, é inexplicável sem ele.
Por esse motivo, sustento que o mun-
do moderno é irredutível ao medieval, mas é, ao mesmo tempo, inexplicável sem o mundo medieval. Em outros termos, o mundo moderno faz-se
com a Idade Média ou contra a Idade
Média, mas não sem a Idade Média.
Friedrich Nietzsche, pensador crítico com o Cristianismo, reconhece que
o mundo ocidental é contra Platão ou
com Platão, não porém sem Platão, incluindo aí o platonismo de Agostinho.
Poderíamos dizer que para Nietzsche
mesmo toda a modernidade é contra
Santo Agostinho ou com Santo Agostinho, mas nunca sem Santo Agostinho.
Por isso não compartilho da tese das
descontinuidades, ou daquilo que tem
sido chamado de rupturas históricas,
ou do estabelecimento de paradigmas
que rompem com uma época anterior.
Isso porque toda época, embora seja
irredutível à época anterior, é inexplicável sem ela. Então, há uma descontinuidade contínua, não uma ruptura.
O mundo moderno não pode explicarse sem o mundo medieval, embora não
seja redutível ao mundo medieval.
Nesse sentido, creio que a partir da
encíclica Æterni Patris, de Leão XIII,
houve uma renovação do tomismo
que, de um modo ou de outro, havia
sido lançado à cesta de lixo pelo racionalismo esclarecido e inclusive por
aqueles cristãos para os quais o mundo medieval era obscurantista...
Para mim, a Æterni Patris tem uma
dimensão muito fecunda, que é de pôr
Tomás em diálogo com as exigências
do mundo naquele momento do século XIX. Isso dá origem ao célebre neotomismo, ou à chamada neoescolástica, que volta a Tomás. Mas a um Tomás que, sendo embora da Idade Média, põe-se em relação com a fenomenologia, ou com o positivismo, ou com
o estruturalismo, ou com o existencialismo. A Æterni Patris estabelece um
diálogo muito fecundo e aberto entre
o moderno e o medieval.
Qual é o principal contributo
da Idade Média à Filosofia
do século XXI?
Uma das vias mais fecundas, creio
eu, não só em termos filosóficos, mas
sobretudo teológicos, é que em Tomás, e dialogando com Dionísio, encontramos os três tipos de teologia:
simbólica, conceitual e mística.
A teologia deve trabalhar em torno
dos símbolos porque, em última análise, o pensamento do homem passa
por uma hermenêutica do simbólico:
somos animais simbólicos; as mediações simbólicas são o que nos permite habitar o mundo. Em outras palavras, a cultura é o conjunto de mediações simbólicas que nós, homens, inventamos para fazer do mundo nossa
morada, em termos de cultura.
Entretanto, Dionísio e São Tomás
falam também de uma cultura conceitual, ou seja, deve-se elaborar logos e
conceitos, produções conceituais a res-
Dezembro 2009 · Flashes
de Fátima      23
“Não tenham medo
de filosofar, não
tenham medo de
teologizar através
de símbolos e
conceitos, porque
isso conduz ao amor
a Deus”
André Velozo
peito de Deus. Em termos de
Dionísio, “Nomes Divinos”.
Além disso, porém, há
uma teologia mística. Ela não
suprime as outras duas: a simbólica e a conceitual. Para falar da teologia mística, costumo exemplificar com o episódio dos discípulos de Emaús,
narrado por São Lucas.
Quando iam caminhando,
os discípulos encontraram-se
com o personagem desconhecido e este começou a fazer
teologia simbólica e conceitual com eles. Eu diria que atua
como um exegeta, como um
intérprete: vale-se de símbolos e conceitos para explicar-lhes as Sagradas
Escrituras. Mas o relato termina assim: “Não se nos abrasava o coração,
quando Ele nos falava pelo caminho
e nos explicava as Escrituras?” (Lc 24,
32). Esse abrasar é o que eu chamo de
teologia mística: inflamar os corações
através do estudo dos símbolos e dos
conceitos, acerca de Deus.
Então, o bonito de Dionísio e de
Tomás de Aquino — e creio ser esta a grande mensagem para todos os
tempos, inclusive hoje — é que quem
trabalha sobre símbolos, e quem trabalha sobre conceitos, deve terminar
ardendo na fruição, no gozo, na teologia do silêncio.
É preciso, portanto, que
esses três tipos de teologia
constituam um só corpo...
Sim, a mística é teologia, é um logos a respeito de Deus. Depois de
produzir esse logos, é preciso explicálo em símbolos e conceitos. Aparece
então a luz, a luz radiosa que ofusca,
aparece o significado do perfume que
se difunde, aparece o sentido de bemestar. Dirá Santo Agostinho: “Tu me
chamaste, e teu grito rompeu a minha
surdez. Fulguraste e brilhaste e tua luz
afugentou a minha cegueira. Espargiste tua fragrância e, respirando-a, suspirei por Ti. Eu te saboreei, e agora
tenho fome e sede de Ti. Tu me tocas-
las conceitos e possibilidades
de experiência mística.
Quase que nos abre uma
via para a santidade...
te, e agora estou ardendo no desejo de
tua paz” (Confissões, l. 10, c. 27).
Nesse sentido, a mensagem que
vejo tanto em Tomás de Aquino
quanto em Dionísio é que deve-se fazer teologia simbólica, teologia conceitual e teologia mística, numa unidade na diversidade.
Quando se estabelecem abismos
entre uma e outra — ou seja, entre os
símbolos, os conceitos e o místico —
creio que se começa por esses abismos a atentar contra a totalidade do
homem. Se alguém a divide em compartimentos, atenta contra a unidade na variedade. E recordemos, era o
grande lema deste grande neotomista
que foi Maritain, ao escrever seu belo
texto: Distinguir para unir – Os graus
do saber. Julgo ser esta a grande mensagem de Tomás: distinguir para unir,
unidade na diversidade.
Quem se detém na teologia mística, separa o místico do conceitual e
do simbólico. Quem fica só no símbolo, só no conceito ou só no ardor,
passa — digamos assim — a coxear.
Então, parece-me que o episódio de
Emaús, Dionísio e Tomás de Aquino
o realizam plenamente.
Aí se encontra a genialidade desses autores e a grande aplicação que
vejo para sua obra num mundo marcado por símbolos. Ninguém duvida
de estarmos na época da imagem; é
preciso tomar essas imagens e torná-
24      Flashes de Fátima · Dezembro 2009
Quando uma magnífica
construção conceitual filosófica ou teológica, como forma de saber,
não se transforma em forma de viver...
Eu às vezes lanço duas expressões: podemos ser excelentes teólogos, mas
muito maus cristãos; ou podemos ser
ótimos filósofos, mas péssimas pessoas. Não! É preciso ser excelente teólogo e muito bom cristão; e deve-se ser
ótimo filósofo e ao mesmo tempo ótima pessoa. E essa é a dimensão do humanismo cristão de Dionísio e de São
Tomás. A meu ver, neste ponto, São
Tomás e Dionísio nos legaram uma
mensagem tão fundamental que isto
não é um patrimônio só do Cristianismo, mas de toda a humanidade.
É preciso continuar construindo teologia simbólica, teologia conceitual e
teologia do ardor — ou, na linguagem
de Dionísio, teologia afirmativa e teologia negativa — em diálogo com todas as exigências. Dionísio dialogou
com Proclo e Plotino. Tomás dialogou
com Aristóteles, Averróis e Avicena.
Hoje deve-se pôr em diálogo o
símbolo, o conceito e o ardor do coração, com os Proclos, os Plotinos e
os Aristóteles atuais, num desafio para o exercício filosófico e teológico
do cristão. É o que fizeram Dionísio
e São Tomás de Aquino.
Nesses sinais dos tempos, é preciso inculturar o Evangelho e evangelizar as culturas. E julgo que essa é a grande mensagem de Dionísio: inculturou o Evangelho e evan-
Como situaria aqui o diálogo
entre Fé e razão?
Quando alguém põe a Fé de um
lado e a razão de outro ou, por assim
dizer, põe os símbolos de um lado, os
conceitos de outro e o ardor do coração de outro, esse já não é homem.
Diz Kant que as intuições sem os
conceitos são cegas, e os conceitos
sem as intuições são vazios. Às vezes atrevo-me a dizer — embora não
no sentido kantiano — que a cultura sem Fé é cega, mas esta sem a cultura é vazia. O mesmo se poderia dizer para efeitos de Fé e razão: a razão sem a Fé é cega, mas a Fé sem a
razão é vazia. Então, é o mesmo: os
conceitos e os símbolos sem o ardor
místico, isso com certeza será cegueira; mas o ardor místico sem os conceitos e os símbolos, será vazio.
Não se pode afirmar,
então, que Fra Angélico
traduziu em pinturas os
escritos de São Tomás?
Em Dionísio, um dos nomes
fundamentais de Deus — ao lado
N
ascido em 1949, na cidade
de Caldas (Antioquia – Colômbia), Prof. Gonzalo Soto herdou de seu pai a paixão pela literatura, pela história e pelas línguas
grega e latina. Após fazer seus primeiros estudos no seminário menor de Medellín, graduou-se em
Filosofia pela Universidade Pontifícia Bolivariana. Aos 22 anos, foi
nomeado vice-decano da Faculdade de Filosofia e Letras dessa instituição e, aos 23, decano da mesma.
de amor, de luz, de bondade — é
o pulchrum latino. Isidoro e Dionísio faziam uma etimologia muito bonita. Calor vem de caleo, e o
verbo caleo significa incitar, provocar, chamar, convocar, atrair, entusiasmar. Nesse sentido, os símbolos
nos quais o pulchrum se manifesta,
incitam, provocam a que o coração
se inflame, se abrase. Santo Agostinho diz: “fulguraste e brilhaste [...]
e agora estou ardendo no desejo de
tua paz”.
Parece-me extraordinária essa comparação de como Fra Angélico pintou aquilo que São Tomás escreveu, porque — pelo que conheço de Fra Angélico — a pulcritude
de Fra Angélico, em termos do pulchrum, para efeitos da beleza, está ligada à luminosidade das cores. Até
mesmo as cores “opacas” estão brilhantemente iluminadas. Na minha
opinião, isso é tomista e dionisiano.
Deus é luz, Deus é fulgor, Deus é esplendor, Deus é fogo e por isso incita, chama, entusiasma, atrai.
Fra Angélico deveria ser exposto na internet, nos jornais e revistas, nas igrejas. É preciso difundilo! Porque a luminosidade de Fra
Angélico estimula o ardor e incita,
por seu esplendor, à elevação mística. Contudo, o bonito em Fra Angélico é que, não só leva ao ardor,
mas combina o símbolo e o conceito. Então, em Fra Angélico encon-
Em 1979, obteve o doutorado em
Filosofia pela Pontifícia Universidade Gregoriana, após um longo e
frutífero período de estudos na Cidade Eterna.
Nos últimos anos têm se dedicado exclusivamente à docência e à
investigação. É professor catedrático de Filosofia Antiga e Medieval na UPB, pertence à Sociedade
Colombiana de Filosofia e faz parte de diversos grupos de investigação acadêmica. Entre as suas pu-
tra-se também a mensagem símbolo, conceito e ardor.
É este o carisma dos Arautos do
Evangelho: a beleza, porta do místico. Li há pouco a muito bonita tese
de mestrado de uma irmã arauto, que
desenvolve essa ideia, “o belo, porta
da mística”. Mais que porta, eu diria
“entrada do místico”, e que seja bem
grande essa entrada! A meu ver, os
arautos precisam criar aqui um instituto de estética, um grupo de investigação de estética. Porque o pulchrum, o kalós, atrai, o kalós eleva, e
através do símbolo vem o conceito,
vem o ardor.
Que conselho o senhor daria
para os jovens que vão começar o
curso de filosofia ou de teologia?
Primeiro: não tenham medo de filosofar, não tenham medo de teologizar através de símbolos e conceitos,
porque isso conduz ao amor a Deus.
Segundo: que a filosofia e a teologia,
além de uma forma de saber, convertam-se também em uma forma de viver. Terceiro: que a vida esteja de
acordo com a doutrina; ou seja, que
o símbolo, o conceito e o ardor façam
essa junção entre a vida e a doutrina.
Por último, algo muito ­pessoal:
enamorem-se de Dionísio e ­sintam
em Dionísio o kalós. Deixem-se atrair
por Dionísio, leiam Dionísio. E creio
que isso vai produzir muito bons frutos em todos os sentidos. 
Hector Matos
gelizou a cultura, servindo-se de Proclo e de Plotino. E Tomás de Aquino,
utilizando-se de Platão, e também de
Aristóteles, que era o grande signo
dos tempos, e nesse diálogo fecundo
simbolizou, conceituou e, afinal, seu
coração ardeu muito... A tal ponto
que deixou de escrever!
blicações destacam-se Diez aproximaciones al medioevo e Filosofía
Medieval.
Dezembro 2009 · Flashes
de Fátima      25
Entrevista com o Pe. Carlos Arboleda Mora
Através da beleza
chega-se a Deus
Retornar à contemplação estética da beleza e, a partir dessa contemplação,
dar testemunho da verdade e da bondade, sem separá-las, é a proposta que
faz nesta entrevista o Pe. Carlos Arboleda Mora, Coordenador Administrativo
de Pós-Graduação em Teologia na Universidade Pontifícia Bolivariana.
Pe. Fernando Néstor Gioia Otero, EP
Quais são as funções do
senhor hoje na Universidade
Pontifícia Bolivariana?
Neste momento, meus trabalhos
se concentram todos na administração dos cursos de pós-graduação. Temos mestrado e doutorado em Filosofia e em Teologia, ambos com títulos canônicos e civis. Cabe-me toda a
parte administrativa, ou seja: abertura de cursos, professores, currículos,
programas e convênios.
Temos convênio atualmente com a
Conferência Episcopal Latinoamericana – CELAM, para oferecer licenciaturas canônicas em nível latinoamericano. E também com o Instituto
Teológico Pastoral para América Latina – INTEPAL, ao qual proporcionamos doutorado canônico em Teologia para toda a América Latina.
Neste momento, temos cerca de vinte
doutorandos em Teologia.
Nos nossos cursos de pós-graduação há hoje mais de 180 alunos, entre
os quais 24 arautos que obtiveram recentemente o mestrado em Filosofia
e outros que se encontram preparando a licenciatura canônica em Filosofia ou Teologia.
O senhor tem orientado vários
desses arautos na preparação das
respectivas teses. Poderia dizer
algo sobre essa experiência?
Desde o início, quando começamos a conhecer o carisma dos arautos, nos demos conta de sua preocupação com a beleza, o pulchrum, a
via pulchritudinis. Essa é uma via que
não só tem suas raízes na Idade Média, mas que hoje deve ser redescoberta. E esse redescobrimento é fundamental para o mundo contemporâneo, porque o mundo contemporâneo é estético, mas de uma estética
recortada, reduzida, posta muito no
sensorial, no biológico.
Por isso, criar algo como um instituto de Estética Teológica seria prestar um grande serviço ao mundo de
hoje. Mostrar como através da beleza
chega-se a Deus, “vive-se” Deus, e isso se traduz numa vida bela. Se podemos dizer que Cristo é o Homem belo por excelência, nós cristãos temos
obrigação de ser belos por testemunho. Eis aí uma importante tarefa para os Arautos do Evangelho.
Nesse hipotético Instituto de Estética Teológica, dever-se-ia considerar
26      Flashes de Fátima · Dezembro 2009
não só a reflexão filosófica e teológica sobre o pulchrum, mas também a
aplicação prática do pulchrum. Por
exemplo, fazer ali um estudo sobre a
Liturgia, os lugares litúrgicos, a música litúrgica, os gestos, tudo isso a serviço da Igreja. E expandir-se para outras expressões artísticas, como a arquitetura. Vê-se que é uma tarefa importante.
A “proposta estética” seria, então,
não apenas um elemento a mais
na Teologia, mas também um
instrumento de evangelização?
Procedemos de uma época de
muito racionalismo. Nós que vivemos nas décadas de 60 e 70, fomos
testemunhas de uma visão por demais racionalista — e racionalista
em sentido muito liberal — e fomos,
em certa medida, contagiados por
ela, pondo excessiva ênfase na autonomia do espiritual e do temporal.
Fomos também marcados pelos anelos da libertação dos povos, que conduziram à Teologia da Libertação, a
qual logo se tornou muito sociológica, e esqueceu-se do verdadeiro fundamento da Teologia.
“Nas teses de Filosofia
dos arautos nota-se essa
preocupação de fundo, e
alguns trabalhos tratam
especificamente disso”
Talvez por querer-se pôr uma excessiva ênfase na verdade como conceito, ou na bondade como mero imperativo, a verdade e a bondade como
que perderam força. Trata-se agora
então de, pela beleza, visar a recuperação da verdade e da bondade. São
três elementos, três transcendentais
que estão unidos. Mas pondo ênfase
no aspecto da beleza, creio que podemos recuperar a verdade e a bondade.
Observando os arautos, temos visto como há em seus trabalhos essa linha constante: o pulchrum como porta da mística, o pulchrum em relação
ao bem, a Liturgia como experiência
mística. São temas que não são novos, mas haviam sido relegados ao olvido e agora é preciso recuperá-los.
Nas teses de Filosofia dos arautos nota-se essa preocupação de fundo, e alguns trabalhos tratam especificamente disso: como a Igreja precisa retornar à mística, à contemplação estética da beleza e, a partir dessa contemplação, dar testemunho da
N
beleza, dar testemunho da verdade e
da bondade. Sem separá-las.
Quais as principais mudanças em
relação às décadas de 60 e 70?
De um excessivo racionalismo, talvez tenhamos passado para um exagerado esteticismo, ou seja, nada de
conceitos, mas simplesmente experiências sensoriais. De um violento
compromisso social, passou-se para
um indiferentismo social que é também muito grave, pois tão censurável é querer valer-se da violência para mudar o mundo, quanto desinteressar-se de mudar o mundo.
E creio ter havido na Igreja uma
transformação muito perigosa. De um
excessivo compromisso social — há 40
anos se dizia: “O dever de todo cristão
é ser revolucionário” — passou-se para o extremo de uns sacerdotes ou de
uns leigos demasiadamente desinteressados. E isso é também muito perigoso.
Daí vem a necessidade de uma renovação mística da Igreja, que leve
ascido em 1949, Pe. Carlos Arboleda Mora era ainda diácono quando deu suas primeiras aulas, no
Seminário Maior de Medellín, Colômbia. Após ser ordenado sacerdote, passou oito anos em missões na região do Madalena Médio, então perigosamente afetada
pela violência dos guerrilheiros e dos grupos paramilitares. Regressando a Medellín, em 1992, acumulou as funções de pároco e de professor na Pontifícia Universidade Bolivariana, onde lecionou Doutrina Social da Igreja, Sociologia da Religião, Ecumenismo e Metodologia
da Investigação (para as teses de mestrado e doutorado).
Atualmente, é Coordenador Administrativo de Pós-Graduação da Escola de Teología, Filosofía y Humanidades,
Poder-se-ia dizer
que no século XX a
universidade identificou-se como
uma fonte de conhecimentos,
não como uma escola também de
formação integral do estudante.
Seria este um desafio para as
universidades em nossos dias?
É um desafio, e isso é o que a Bolivariana trata de fazer. Um modelo pedagógico que comporte não
só a formação de profissionais muito competentes na respectiva área,
mas que, além da competência profissional, sejam muito competentes
no relativo ao aspecto humano. Ou
seja, uma formação integral que leve a pessoa a comprometer-se com
a transformação da sociedade, comprometer-se com os mais pobres,
com uma sociedade justa, com uma
sociedade pacífica.
A universidade precisa assumir esta tarefa: não só formar muito bons
profissionais, mas formar também
muito boas pessoas. Nisso consiste
uma formação integral. 
na mesma universidade e dirige
o grupo de investigação Religión
y Cultura.
Além de doutor em Filosofia
pela UPB, Pe. Arboleda é licenciado em Ciências Sociais pela
Universidade Gregoriana e mestre em História pela Universidade Nacional de Colômbia. Entre suas publicações mais recentes se encontram: El politeísmo católico; Guerra y Religión en Colombia; Diablo y posesión diabólica; Profundidad y cultura.
Dezembro 2009 · Flashes
de Fátima      27
Hector Matos
Iván Tefel
a ter santos que deem testemunho daquilo que eles
próprios experimentaram.
Erigida a Paróquia Nos
No último dia 18 de outubro, em solene cerimônia presidida por Dom
José Maria Pinheiro, Administrador Apostólico de Bragança Paulista,
os Arautos receberam o cuidado pastoral da recém-criada Paróquia
Nossa Senhora das Graças.
E
m carta datada de 5 de agosto de 2009 dirigida
ao seu Bispo diocesano, os padres Wagner da Silva Navarro e Pio José Braga da Silva, Párocos de
Santa Rita de Cássia, Caieiras, e de Nossa Senhora do Desterro, Mairiporã, propuseram a criação de
uma nova paróquia, a ser desmembrada de seus respectivos territórios.
Explicaram eles que essa ideia era há muito debatida,
dada a impossibilidade de atender adequadamente todas as comunidades das duas extensas paróquias. Tendo os
Arautos várias de suas casas instaladas nessa região, e dada a disponibilidade de presbíteros Arautos, propunham os
dois sacerdotes que a nova paróquia, abrangendo uma parte da Serra da Cantareira, ficasse sob os cuidados da Socie-
Fiéis de todas as comunidades encheram a igreja de Nossa Senhora do Rosário,
sede provisória da Paróquia Nossa Senhora das Graças.
28      Flashes de Fátima · Dezembro 2009
ssa Senhora das Graças
À esquerda, Dom José Maria Pinheiro, acompanhado pelo Pe. Caio Newton de Assis Fonseca, EP, incensa uma
imagem da padroeira da paróquia. À direita, o novo pároco emite a profissão de Fé antes de assumir o cargo.
dade Clerical de Vida Apostólica Virgo Flos Carmeli. Pois
os sacerdotes dessa Associação, ajudados pelos Arautos do
Evangelho e pelas irmãs da Sociedade de Vida Apostólica Regina Virginum poderiam dar um atendimento pastoral
mais adequado àquela porção do Povo de Deus.
Tomada de posse do pároco
Dom José Maria recebeu esse pedido de coração aberto e zelo apostólico, e, com a aprovação unânime do Conselho Presbiteral, determinou a criação da paróquia de
Nossa Senhora das Graças. Esse ato de louvor a Maria foi
o último de seu governo como Bispo diocesano. Simbólico fecho de ouro de tantas graças de que foi veículo para a
feliz Diocese de Bragança.
Durante a homilia, Dom José Maria Pinheiro fez menção especial ao novo Pároco, Pe. Caio Newton de Assis
Fonseca, e aos cinco Vigários Paroquiais — Pe. ­Pedro
Rafael Morazzani Arráiz, EP, Pe. Santiago Ignacio Morazzani Arráiz, EP, Pe. Hamilton José Naville, EP, Pe.
­Lourenço Isidoro Ferronatto, EP e o Pe. Rodrigo ­Alonso
Solera Lacayo, EP.
Na celebração, o Revmo. Pe. Caio Newton de ­Assis
Fonseca, EP, foi oficialmente empossado como pároco
por Dom José Maria. A cerimônia teve lugar na Igreja de
Nossa Senhora do Rosário, que ficará provisoriamente
como sede paroquial até ser construída a nova Igreja Matriz, dedicada a Nossa Senhora das Graças.
Conhecendo a paróquia e os paroquianos
Por iniciativa do Superior Geral dos Arautos, Mons.
João Scognamiglio Clá Dias, foi feita, nos dias 10, 11 e 12,
Festa de Nossa Senhora Aparecida, uma grande Missão
Mariana pelo território da nova paróquia.
Quarenta grupos de Arautos, conduzindo uma Imagem de Nossa Senhora, percorreram casa por casa, com
o intuito de tomar contato com o povo. Nos três dias
em que foi realizada a missão visitaram 1.929 famílias.
Em cada residência ou estabelecimento comercial foi
preenchida uma ficha onde constavam dados da situação, anseios e necessidades sacramentais de cada paroquiano.
18% (347 famílias) declararam cumprir o preceito dominical. 25 % (482 famílias) vão uma vez por mês à Missa. Esporadicamente, 49 % (946 famílias). Não católicos,
apenas 8 %.
Pediram cursos de preparação para a recepção de Sacramentos: 605 batismos, 914 primeiras comunhões, 1.014
crismas e 355 matrimônios, além de 61 pedidos de unção
dos enfermos.
700 pessoas se dispuseram a ser dizimistas da Paróquia
e 918 desejam integrar-se no Apostolado do Oratório Maria Rainha dos Corações promovido pelos Arautos. 376
fiéis se dispuseram a cooperar com as pastorais da catequese, visitas aos enfermos, música, limpeza e manutenção das capelas, e outras mais. 
Dezembro 2009 · Flashes
de Fátima      29
Nas ruas – Os paroquianos eram convidados a participar da Missa em suas respectivas comunidades.
Residências – Famílias inteiras se reuniam para receber a celestial visita e fazer juntos uma oração.
Os mais necessitados – Doentes e idosos eram consolados sob o maternal olhar de Maria.
Censo paroquial – Arautos tomaram nota das necessidades sacramentais e anseios de cada paroquiano.
30      Flashes de Fátima · Dezembro 2009
Bênção dos lares – Arautos diáconos abençoaram as casas visitadas pela Imagem do Imaculado Coração
de Maria, e seus respectivos moradores.
Atendimento às capelas
2
1
4
3
N
o vasto território da Paróquia Nossa Senhora das
Graças há espalhadas doze capelas, nas quais a Santa Missa era celebrada apenas esporadicamente.
No momento, os arautos sacerdotes se responsabilizam pela celebração de, ao menos, uma Eucaristia
semanal em cada uma das capelas (foto 1), reservan-
do também horários adequados para bênçãos especiais
(foto 2), o Sacramento da Reconciliação (foto 3), atendimento a doentes, etc.
Em resposta a pedidos feitos pelos paroquianos, estão
sendo ministradas regularmente aulas de catequese, música e preparação para os Sacramentos (foto 4).
Dezembro 2009 · Flashes
de Fátima      31
Procissão em Valongo
P
ara iniciar o mês do Rosário, a Comunidade de Valongo, realizou uma procissão pelas ruas da cidade com a imagem do Imaculado
Coração de Maria.
Na Capela de Nossa Senhora da Luz, a Imagem Peregrina foi coroada, e de lá partiu em procissão até à Igreja Matriz, seguida por numerosos
devotos que rezavam e cantavam com muito entusiasmo.
Seguiu-se a celebração da Eucaristia que foi presidida pelo pároco, Pe. José Alfredo Ferreira da
Costa e concelebrada pelo Pe. Luiz Henrique Alves
de Oliveira, EP, superior dos Arautos do Evangelho
em Portugal. A missa, foi animada pelos jovens do
coro e banda dos Arautos do Evangelho, fervorosamente acompanhados por todo o público.
À saída, um mar de lenços eram agitados ao ar,
em despedida da Imagem Peregrina.
Estive doente,
e fostes visitar-me
J
ovens do Sector Feminino e Terciários dos Arautos do Evangelho visitaram o lar da Santa Casa de Misericórdia de S. Félix da
Marinha, levando consigo a Imagem Peregrina do Imaculado Coração de Maria.
Idosos e enfermos reuniram-se em torno dela para recitar o terço, intercalado com cânticos marianos. Pe. Joaquim Paiva presidiu
à Eucaristia animada pelas jovens arautos e participada alegremente por todos os utentes, que receberam como lembrança um escapulário de Nossa Senhora do Carmo. “Este piedoso objecto é um sinal visível e efectivo da maternal protecção de Nossa Senhora a todos aqueles que o portarem com devoção” disse o Pe. Joaquim, encerrando o encontro.
32      Arautos do Evangelho · Dezembro 2009
Peregrinação de madeirenses
e retiro em Fátima
N
a primeira semana de outubro, foi com alegria que
os Arautos do Evangelho acolheram e acompanharam durante vários dias os 49 peregrinos oriundos da Ilha
da Madeira.
O percurso iniciou-se em Almada, no significativo Santuário a Cristo Rei, que este ano comemora o cinquentenário da sua inauguração. Em seguida, os peregrinos foram rezar ao convento das Irmãs Clarissas, em Lisboa, onde Nossa Senhora apareceu à Beata Jacinta Marto.
No mesmo dia, ainda tiveram oportunidade de conhecer a multi-secular Sé Patriarcal e, do outro lado da rua,
rezar no pequeno quarto onde nasceu Santo António.
Já em Fátima, juntaram-se a este grupo 61 coordenadores do oratório Maria Rainha do Terceiro Milênio
para participarem num retiro espiritual subordinado ao
tema: “Os novíssimos do Homem”, orientado pelo Pe.
Roberto Jose Polimeni, EP. Durante esses dois dias de
recolhimento houve espaço para uma intensa vida de
piedade e uma profunda reflexão sobre a finalidade da
vida do Homem. Os retirantes rezaram fervorosamente
o terço, bem como participaram diariamente das adorações ao Santíssimo Sacramento. A Missa de encerramento, contou com a presença do coro e orquestra da
Instituição, constituídos por jovens estudantes.
Depois de terem assistido por duas vezes à procissão das
velas, os peregrinos madeirenses ainda puderam adorar o
milagroso Corpo e Sangue de Jesus Eucarístico que se encontra na Igreja do Santíssimo Milagre, em Santarém.
Dezembro 2009 · Arautos
do Evangelho      33
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Santo Edmundo Campion
Mártir da fidelidade
ao Papado
Homem inteligente, cordial e corajoso, com um futuro brilhante
diante de si, renunciou a tudo para afervorar as almas que
cambaleavam na Fé numa época de sangrentas perseguições.
Irmã Hilary Loretta-Ann Bonyun, EP
O
s séculos XVI e XVII foram
tempos difíceis para a Igreja na Inglaterra. A outrora
cognominada Ilha dos Santos encontrava-se imersa em problemas de índole política que logo transcenderam para a esfera eclesiástica,
com as mais graves repercussões.
Em 1534, Henrique VIII se autonomeou Chefe Supremo da Igreja
na Inglaterra e declarou réu de morte a quem não reconhecer essa autoridade. Ao ano seguinte, foram decapitados dois dos mais proeminentes opositores ao Ato de Supremacia:
São John Fisher e São Thomas More. Os mosteiros, conventos e confrarias foram dissolvidos. Uma implacável perseguição se desatou contra os
que permaneciam fiéis ao Papa.
Foi nessas circunstâncias históricas
que nasceu em Londres, no dia 25 de
janeiro de 1540, Edmundo Campion.
Aluno brilhante, orador
eloquente, professor estimado
Filho de pais abastados, o pequeno Edmundo era dotado de inteli-
gência ímpar e de grande facilidade para o estudo das letras, o que
fazia abrir-se diante dele um futuro brilhante. Teve um tal progresso no colégio que, com apenas 13
anos, foi o estudante escolhido para fazer, em latim, o discurso de boas-vindas à Rainha Maria I, quando
esta entrou solenemente em Londres, em 1553.
O donaire e a vivacidade do menino cativaram os presentes. Entre estes estava Sir Thomas White, fundador do Colégio São João de Oxford,
que o tomou sob sua proteção e levou para essa instituição, a fim de
educá-lo e formá-lo.
Edmundo não defraudou seu benfeitor. Coroou seus estudos com brilho,
correspondendo às esperanças do mestre. Por sua privilegiada inteligência e
grande eloquência, era sempre o orador escolhido para discursar nas ocasiões importantes. Como professor,
destacou-se de tal forma que alunos
de outros cursos vinham assistir às suas aulas como simples ouvintes. Foi nomeado proctor (chefe dos inspetores de
34      Flashes de Fátima · Dezembro 2009
disciplina da Universidade). Em pouco tempo tornou-se estimado e popular entre os estudantes a ponto de “fazer escola”: formou-se em Oxford um
grupo de estudantes denominados “os
campionistas”, porque o imitavam na
maneira de falar, nos gestos, nos modo
de ser e até de vestir-se.
Encontro com a rainha Isabel I
Algum tempo depois de sua coroação como rainha, Isabel I visitou Oxford com uma grande comitiva, para passar alguns dias entre
os estudantes da célebre Universidade. Tinha por objetivo arregimentar para a sua causa jovens universitários ou professores de grande talento. A visita durou seis dias e
constou de vários atos acadêmicos,
entre os quais uma homenagem do
corpo docente. O orador escolhido
foi Edmundo Campion, então com
27 anos de idade.
A rainha escutou-o com muita satisfação, fez-lhe os mais lisonjeiros oferecimentos e colocou-o sob a tutela de
seu chanceler, William Cecil, que mais
Wikipedia
Em sua primeira
visita a Oxford,
Isabel I escutou
Edmundo
Campion com
muita satisfação,
fez-lhe os mais
lisonjeiros
oferecimentos
e colocou-o sob
a tutela de seu
chanceler
Wikipedia
“Elizabeth I Darnley
Portrait” - National
Portrait Gallery,
Londres. Ao fundo,
vista do Magdalen
College, Oxford
tarde referiu-se a ele como sendo “um
dos diamantes da Inglaterra”.1
Começa a batalha pela fidelidade
Quase que por instinto, Campion rejeitava as reformas implantadas na esfera espiritual por Henrique VIII e seus
sucessores. Inebriado, porém, pelas
possibilidades de uma brilhante carreira, deixou-se levar pelos acontecimentos e prestou o Juramento de Supremacia em 1564, reconhecendo a rainha como governadora suprema da Igreja na
Inglaterra. Quatro anos mais tarde, recebeu das mãos do bispo anglicano de
Gloucester a ordenação diaconal.
Entrementes, o futuro mártir dedicara-se aos estudos de filosofia aristotélica, de teologia natural e dos Santos Padres, e não tardou a tomar consciência de sua falta. Profundamente
perturbado pelos remorsos, procurou
um sacerdote católico, fez uma boa
confissão e assumiu publicamente sua
condição de filho da Igreja.
Tinha ele clara noção de que sua atitude o obrigaria a abandonar a carreira acadêmica, mas não hesitou em fa-
zer esse sacrifício. Também não ignorava que, se permanecesse na Inglaterra
nessas circunstâncias, estaria exposto a
grandes riscos. Por isso deixou Oxford
e mudou-se em 1569 para Dublin.
Um novo porvir: o
sacerdócio e o martírio
No ano seguinte, o Papa São Pio V
promulgou a bula Regnans in Excelsis,
excomungando a rainha Isabel I. Após
esse ato pontifício, os ânimos se acirraram, e a situação de Edmundo tornouse especialmente delicada. Os irlandeses o viam com maus olhos, por ter se
dedicado a escrever uma História desse país sob o ponto de vista inglês; os
católicos o olhavam com suspeitas, pelo fato de ele ter sido ordenado diácono anglicano; e os anglicanos e luteranos o detestavam por ser um “papista”.
Não teve outra alternativa senão
voltar à Inglaterra, com o nome de
Mr. Patrick e disfarçado de lacaio.
Chegou a Londres a tempo de testemunhar o juízo de um dos primeiros
mártires oxfordianos: São João Storey, jurista, executado em 1571 por
sua fidelidade ao Romano Pontífice. Percebeu, então, o quanto a Santa Igreja em sua nação necessitava de
almas dispostas a uma doação total,
para sustentar na Fé os católicos e
manter o estandarte da catolicidade
erguido naquela terra outrora conhecida como a Ilha dos Santos.
Este fato despertou em sua alma a
vocação ao sacerdócio, com a disposição de sacrificar tudo, inclusive a vida,
se preciso fosse, em defesa da Igreja de
Cristo. O martírio passou a fazer parte
de suas cogitações e de seu futuro.
No seminário em Douai
Decidido a corresponder sem tardança ao chamado do Divino Mestre,
empreendeu uma viagem para Flandres, num momento crítico em que todos os viajantes eram suspeitos. Após
muitas peripécias, conseguiu chegar ao seminário de Douai, fundado e dirigido pelo padre William Allen, o futuro Cardeal, também oxfordiano. Neste seminário, que foi ponto
de partida para muitos santos e mártires, ele estudou Teologia, Exegese e
Dezembro 2009 · Flashes
de Fátima      35
Divindade. A cópia da Suma Teológica usada por Campion em seus estudos existe até hoje, mostrando as anotações por ele feitas à margem do argumento de São Tomás sobre o “batismo de sangue”, isto é, o martírio.
Martírio parecia ser o único tema
de conversa no seminário de Douai,
naquela época. Todos se julgavam indignos de tão grande privilégio, mas
contavam com o auxílio da graça.
Convictos da realidade expressa na famosa frase de Tertuliano: “O sangue
dos mártires é semente de cristãos”,2
estavam realmente dispostos a tudo.
Santo Edmundo permaneceu aí nove anos e recebeu as ordens menores
e o subdiaconato. Mas tinha o coração
sempre atormentado por ter prestado
o Juramento de Supremacia. Desconfiando de suas próprias forças, colocava
sua confiança “nAquele que conforta”
(Fl 4, 13), e empenhava-se, ao mesmo
tempo, em preparar sua alma na humildade. Almejava, para isso, uma vida de
austera disciplina e obediência. Acreditava que assim talvez se tornasse “digno
do verdugo e da forca por seu Deus”.3
Sacerdote jesuíta
Partiu então para Roma, como peregrino, e solicitou ingresso na Companhia de Jesus. O Superior Geral,
padre Everardo Mercuriano, o recebeu como noviço e o designou para
Brunn, na Província da Áustria. Mais
tarde foi transferido para Praga, onde
estudou por mais cinco anos e recebeu a ordenação sacerdotal em 1578.
Começou para Santo Edmundo
uma fase de intensas atividades de
apostolado. Era constantemente chamado para pregar e atender Confissões nas cidades próximas, e não deixava de dar assistência aos fiéis nos
hospitais e nas prisões.
Um dia, recebeu uma carta do
Cardeal Allen, comunicando-lhe que
havia organizado uma incursão de
missionários na Inglaterra e que ele,
padre Edmundo, fazia parte do grupo. “O Geral acedeu às nossas súplicas; o Papa, verdadeiro pai de nosso país, consentiu; e Deus nos permitiu que nosso querido Campion,
com seus dotes extraordinários de sabedoria e graça, nos fosse afinal restituído”.4 Aproximava-se o almejado
martírio... Seus companheiros do Colégio de Praga deram-lhe um pergaminho com a profética inscrição: “Padre Edmundo Campion, mártir”.
Cem mil conversões em um ano!
Em 18 de abril de 1580, partiu de
Roma, com a bênção do Papa Gregório XIII, uma pequena caravana de
missionários, entre eles três jesuítas:
padre Robert Persons, superior, padre
Edmundo Campion e o irmão Ralph
Emerson. Receberam estes, também, a
bênção de São Felipe Neri, no Orató-
Apostolado
Maria Rainha
rio, e os incentivos de São Carlos Borromeu em Milão, por onde passaram.
Sua missão era puramente espiritual: procurar as ovelhas perdidas, recuperar os católicos que vacilavam ou
contemporizavam sob o regime persecutório, afervorar as almas fiéis. Jamais poderiam imiscuir-se em problemas políticos, menos ainda participar
de confabulações, ou mesmo simples
conversas, contrárias à rainha.
Não foi sem grandes riscos e dificuldades que conseguiram cruzar o
Canal da Mancha e entrar disfarçados em Dover, pois espiões ingleses
em Roma haviam enviado notícias da
sua partida, e em toda a Inglaterra a
força policial estava mobilizada para impedir a entrada desses “fora da
lei” em seu território.
Os católicos ingleses, animados
pela chegada dos sacerdotes, encarregaram-se de hospedá-los e dar-lhes
condições de exercer seu ministério
apostólico. Puderam eles, assim, durante mais de um ano, desempenhar
suas funções sacerdotais, sempre em
situação de risco. Disfarces, nomes
falsos, precários esconderijos, apreensões nos momentos de buscas policiais, tudo isso fazia parte da rotina
dos heroicos missionários.
Campion pregava com frequência sobre o primado de Pedro. Celebrava a Santa Missa, atendia Confissões, dava conselhos, alentava os fra-
do
Oratório
dos
Corações
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sua casa, um dia por mês. Seja também um coordenador
deste apostolado e organize a sua peregrinação
pelas casas da sua vizinhança.
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36      Flashes de Fátima · Dezembro 2009
Wikipedia
cos, “tudo como nas catacumbas”,5
diz um de seus biógrafos. Mais ainda,
trazia de volta ao Rebanho de Cristo
inúmeras ovelhas desgarradas. “Cem
mil conversões em um ano!”, exclama o mesmo autor.6
O “jesuíta sedicioso”
Refugiado em York, padre Campion escreveu, em latim, sua mais famosa obra: Decem Rationes (As dez
razões para ser católico), logo divulgada por todo o país. No dia 29 de junho
de 1581, apareceram sobre os bancos
da igreja de Santa Maria de Oxford
400 exemplares dessa obra, lá deixados por uma mão desconhecida...
Em resposta a essa audaciosa iniciativa dos missionários, a rainha ofereceu grande soma pela captura deles,
sobretudo do padre Campion. Em 16
de julho, festa da Virgem do Carmo,
ele e o irmão Emerson estavam em
uma casa de Lyford Grange, para ministrarem os Sacramentos. Disfarçado entre os fiéis, entrou lá um espião,
chamado George Eliot. Tal qual Judas
o Infame, saiu logo depois de receber
a Sagrada Comunhão, para denunciar
os missionários a quem lhe pagava o
salário de seu vil ofício.
Não tardaram a chegar os agentes
do governo, que vasculharam a casa
e prenderam os ministros de Deus.
Amarrados aos cavalos e cavalgando
de costas, foram conduzidos a Londres, onde entraram sob manifestações de escárnio de um pequeno populacho. No chapéu do padre Edmundo estava afixada uma inscrição:
“Campion, o jesuíta sedicioso”.
Julgamento e condenação
Na Torre de Londres, iniciou-se
processo do padre Campion. A rainha
quis falar pessoalmente com ele. Ofereceu-lhe a vida, a liberdade, honrarias e até mesmo a Diocese de Cambridge, com a condição de que ele reconhecesse sua supremacia espiritual no Reino da Inglaterra. O destemido varão recusou todas essas ofertas.
Deu-se, então, prosseguimento ao in-
Santo Edmundo Campion pediu
aos católicos presentes que
rezassem o credo durante sua
execução
Gravura de Johann Martin Lerch,
Alemanha, 1671-1680
quérito. Embora submetido a terríveis
torturas, o padre Campion defendeuse com tanto acerto que os acusadores
não encontravam meios de incriminálo. Foi preciso recorrer ao depoimento de falsas testemunhas.
Num ridículo julgamento realizado em Westminster, no dia 20 de novembro, é decretada a sentença de
morte na forca, seguida de estripação
e esquartejamento. Santo Edmundo e seus companheiros condenados,
o padre Sherwin e o também jesuíta Briant, acolheram-na com o cântico jubiloso do Te Deum laudamus e de
um versículo do salmo 117: “Este é o
dia que o Senhor fez: seja para nós dia
de alegria e felicidade” (v. 24).
George Eliot, o delator, procurou
o santo missionário no calabouço para pedir-lhe perdão. E foi perdoado
imediatamente.
erguer a cabeça o suficiente para saudar uma imagem de Nossa Senhora
que ali se encontrava em seu nicho.
Chegando a Tyburn, onde estavam levantadas as forcas, Campion
subiu com toda a firmeza que lhe
permitiam seus membros deslocados
pelas torturas. Ouviu-se um murmúrio de admiração entre espectadores, seguido de um longo silêncio.
Começou ali uma nova colheita de
conversões, entre as quais a de um
jovem que se fez jesuíta e sofreu, 14
anos depois, idêntico martírio: Santo Henrique Walpole.
Já com a corda colocada no pescoço, o padre Campion foi pela última
vez interrogado por um conselheiro
da rainha, que lhe exigiu uma confissão pública de suas “traições”.
A História registra suas derradeiras palavras: “Se ser católico é ser
traidor, me confesso como tal. Mas
se não, tomo a Deus — ante cujo Tribunal vou agora apresentar-me —
como testemunha de que em nada
ofendi a rainha, nem a Pátria, nem
qualquer pessoa, para merecer o título ou a morte como traidor”.7
Rezou por fim o Pai-Nosso e a Ave
Maria, e pediu aos católicos presentes que rezassem o Credo enquanto
ele expirava. Entregou, assim, sua alma ao Criador, como mártir da fidelidade à Cátedra de Pedro. 
1
WAUGH, Evelyn. Edmundo Campion. San Francisco: Ignatius Press,
2005, p. 68.
2
TERTULLIANO. Apologget., 50; PL
1, 534.
3
BRICEÑO J., SJ, Pe. Manuel. San
Edmundo Campion. In: ECHEVERRÍA, L., LLORCA, B., REPETTO BETES, J.L. (Org.). Año
Cristiano. Madrid: BAC, 2006, vol.
12, p.19.
4
WAUGH, Op. cit., p. 87.
5
BRICEÑO J., SJ, Op. cit., p. 21.
6
Idem, ibidem.
7
Idem, p. 23.
O martírio
Caía uma chuva fina e fria sobre
Londres, na manhã de 1º de dezembro de 1581. Os três condenados foram conduzidos ao patíbulo amarrados numa esteira de vime arrastada por cavalos. Ao passar o arco de
Newgate, Santo Edmundo conseguiu
Dezembro 2009 · Flashes
de Fátima      37
A Palavra dos Pastores
Irradiante e convincente
beleza espiritual de Maria
Com uma brilhante homilia, D. Carlos Azevedo, no dia 13 de
setembro, se dirigiu aos fiéis presentes na peregrinação internacional
aniversária de Setembro, no Santuário de Fátima, onde estiveram
presentes cerca de 90 mil peregrinos.
Dom Carlos Azevedo
Bispo Auxiliar de Lisboa
A
sede de maravilha, de admiração, é uma constante
dos corações, constitui um
peregrinar incessante da
alma humana. Na arte, na poesia, na
ternura da relação humana buscamos
saciar esta sede de encanto.
A Igreja vai ao encontro desta busca ao convidar-nos, nesta liturgia, a
contemplar, com íntima alegria, a beleza espiritual de Maria, a candura de
Maria Imaculada. Para nós, a beleza
consiste na santidade, em ser imagem
da bondade e da fidelidade de Cristo,
o mais santo e, por isso, “o mais belo
entre os filhos dos homens” (Sl 44,3).
Depois de Cristo, todo o esplendor
das criaturas, plasmadas pelo Espírito
criador de Deus, se reflecte no fulgor
espiritual de Santa Maria. Ela é “espelho inefável de um pensamento de divina perfeição”, como disse Paulo VI,
que, como poucos, delineou com vigor
o vibrar da beleza espiritual de Maria.
Nesta criatura vemos a luz irradiante do Espírito, graças à obra do artífice divino, do Supremo artista do universo. Em Maria, nós, Povo de Deus,
reconhecemos o modelo realizado da
verdade original a que os crentes são
chamados, por puro dom de Deus.
Esta celebração canta e transpõe para Maria a sapiência divina.
Na sua boca, como sede da Sabedoria incarnada, colocamos expressões sublimes como a de hoje: “Eu
sou a mãe do amor formoso”. “Em
mim está toda a graça do caminho e
da verdade, em mim está toda a esperança da vida e da virtude”. Estes
deliciosos textos da Sagrada Escritura tratam da sapiência divina, poeticamente personificada, como base das coisas criadas. A singular beleza de Maria decorre de ser expressão corpórea da beleza invisível.
Nela brilha o Hóspede que a habita, porque traz no seio e esplendor do
Novo Adão. Nela começam a manifestar-se as maravilhas de Deus que o
Espírito Santo realizará em Cristo e
na sua Igreja. Para reconstruir o paraíso perdido, a primeira célula desse mundo novo será Maria, admirável mãe de Jesus.
Porque lhe chamamos Formosa?
Santa Maria é formosa, antes de
mais, por ser “cheia de graça”, “adornada com os dons do Espírito Santo”
(Col 3), plena da harmonia dos bens
encantadores de Deus. “Alegra-te,
38      Flashes de Fátima · Dezembro 2009
cheia de graça”, é a saudação de inefável e exultante júbilo do mensageiro
Gabriel. É significativo que a primeira expressão dirigida à Graciosíssima,
no Novo Testamento, seja um convite
à alegria, à formosura vibrante da graça de Deus. Como não há-de gozar de
trepidante alegria aquela da qual nascerá Jesus, a alegria de todos os povos,
o mais engraçado, o mais belo na plenitude de humanidade, imagem perfeita da santidade do Altíssimo. A beleza das coisas terrenas é pálida diante do fulgor da superabundante vida
de Deus que habita Maria. A sua vocação única implica uma vontade de
amor singular da parte de Deus-amor,
que lhe oferece gratuitamente as primícias da plenitude da graça. Inaugurou-se um novo regime de beleza. Se
Moisés, os patriarcas e profetas tiveram graça aos olhos de Deus, quanto mais a alma de Maria, cheiinha, envolvida e plasmada pela beleza encantadora de Deus. Porque, agora, era a
raiz da sua existência, o núcleo profundo da sua realidade que acolhia o
Senhor, dava morada à Palavra.
Santa Maria é também formosa
por amar com amor formoso a Deus,
a Cristo e a toda a humanidade. Deus
primou nesta criatura toda a eficácia
da sua graça. Em Maria tem início a
maior das obras de Deus, na história
humana e na vida do mundo. Mas não
se reduz a uma perfeição pessoal, antes ordena-se a outros e atrai. A missão nova da cheia de graça, da mãe formosa corresponde a uma vasta e plena
qualidade excepcional do seu amor, do
seu programa de vida, dos traços admiráveis da sua maternidade virginal.
Porque a beleza cristã não se separa
da bondade, o cristão é chamado a fazer resplandecer Deus na própria vida.
Ora a mais luminosa e irradiante realização é Maria, que atinge o auge, acima de qualquer ser humano.
A Mãe de Cristo é, ainda, formosa por aderir e participar de modo admirável no mistério do seu nascimento, vida, morte e ressurreição, aderindo
“com fortaleza e suavidade, com harmonia e fidelidade ao plano salvador
de Deus”. (IGREJA CATÓLICA. Liturgia - Missas da Virgem Santa Maria:
Missal. Coimbra: CEP, 1997, p.173).
Esta plena adesão mostra a integridade da sua sublime beleza. Em todas as
estruturas e dinamismos do seu ser é
imagem da pureza absoluta, é luz brilhante, harmonia plena, integridade total. Esta beleza fora de série é densa
e convincente. Realmente, uma obraprima assim tem força de convicção irresistível e conquista os corações, mesmo rebeldes. Até incrédulos reconhecem em Maria uma beleza inatacável.
Maria Purifica o nosso olhar
Não é uma doçura descobrir em
Maria como a transparência divina é
uma possibilidade em nós? De facto,
diz a Palavra hoje proclamada: “Quem
trabalha comigo não pecará” porque
o pecado é feio. “A vontade de Deus
é que evite a impureza”. Deus não
nos chamou para a impureza mas para a santidade. Este Santuário, ao escolher como tema deste mês: “o pudor
protege o mistério da pessoa e do seu
amor”, integrado no tema do ano: “os
puros de coração verão a Deus”, está a indicar-nos um caminho, uma via
Fiés lotam o Santuário de Fátima
de beleza para que quem escuta a Palavra: “Saiba possuir o seu corpo em
santidade e honra, sem se deixar levar
pelas paixões desregradas”. Encontrar a harmonia no corpo é uma graça que evita muitas desgraças, estragos
da dignidade humana, deturpação do
projecto belo e bom do nosso Deus.
A ausência de pudor conduz à
provocação sedutora. A busca de excitação sensual no modo de vestir
não condiz com a autêntica atracção,
conduz a perder o verdadeiro fascínio que existe em cada criatura humana, banaliza a dignidade do corpo.
Há tanta diferença entre o fascínio
de um olhar sorridente e puro, que
aprecia a beleza humana e se eleva,
e a sensualidade possessiva, que perturba, agita e desregula os comportamentos! Há tanta diferença entre o
encanto da beleza inocente que suaviza a vida e a malícia do olhar, produto de mente obscurecida! Quando
projectos políticos apenas ratificam a
decadência humana, em lugar de dignificar a qualidade de vida e elevar o
nível das relações e dos vínculos entre as pessoas, contribuem para tornar a vida feia e confundir as mentes.
Nós aqui estamos a contemplar
Maria para purificar o nosso olhar.
Como modelo inspirador e esperança consoladora, na beleza que nela
resplandece, lavamos as seduções que
nos arrastam e prendem, as atracções
que nos desviam da fidelidade, as ten-
tações que conduzem à perda da bela harmonia do corpo. Pelas lágrimas
da penitência recuperamos a visão da
beleza divina, falseada ou perdida nos
desvarios contemporâneos. Temos necessidade de fixar a beleza de Maria
porque os nossos olhos são ofendidos
por imagens enganadoras de caducos e ilusórios impulsos. Precisamos
de restaurar, nas nossas mentes e nos
costumes à nossa volta, a experiência
feliz do que é verdadeiramente belo.
A Senhora de Fátima irradia para nós
atitudes puras, grandes, fortes.
Oração final
Perante esta criatura tão estupenda, tenho que terminar louvando a
glória de Deus.
Te louvamos, Deus de infinita beleza, por esta “Senhora mais brilhante que o sol”. É luz inspiradora para
redimirmos o nosso olhar de qualquer
marca de falsa e inferior beleza. Seduz homens e mulheres para a santidade, como atrai artistas e poetas para
a Beleza incontaminada. Motiva, qual
Mãe do amor formoso, as comunidades cristãs a caminhar na perfeição,
como concede aos doentes sentido e
serenidade. Liberta a nossa consciência política para nos batermos, com
determinação, por um Portugal e um
mundo orientados por ideais dignos
e nobres, mobilizadores da responsabilidade de todos, na alegria de unir
vontades para ser mais belo viver. 
Dezembro 2009 · Flashes
de Fátima      39
Fátima acolheu, nos dias 30 e 31
de Outubro, o VI Fórum Nacional
das Vocações subordinado ao tema
“Ide e anunciai o Evangelho da Vocação”.
A mudança cultural é marcante na
vida da sociedade, mas “a Igreja está
atenta e consciente desta realidade” —
disse D. António Francisco Santos,
Presidente da Comissão Episcopal
Vocações e Ministérios (CEVC), no
encerramento do VI Fórum Nacional das Vocações. “Os jovens são os
grandes protagonistas e intervenientes
nesta mudança” — realçou o prelado de Aveiro. E acentuou: “no campo
da vocação, os jovens devem ser os primeiros a serem ouvidos e acolhidos”.
Congresso de médicos
católicos latino-americanos
Com uma Missa de ação de graças no Santuário de Nossa Senhora
de Luján, encerrou-se o V Congresso
da Federação das Associações Médicas Católicas Latino-Americanas, realizado em Buenos Aires de 16 a 18
de outubro.
O ato inaugural contou com a presença do Núncio Apostólico na Argentina, Dom Adriano Bernardini e
de representantes diplomáticos do
Brasil, Chile, Colômbia, Indonésia,
México, Paraguai, Peru e Porto Rico.
Em torno do tema central Ciência,
tecnologia e Fé, 400 congressistas debateram em quarenta painéis importantes questões, tais como: Aspectos éticos da manipulação embrioná-
gutemberg.org
VI Fórum Nacional sobre
Vocações, em Fátima
ria; Aids: fatores de risco de transmissão vertical; Silêncio na síndrome pósaborto, e outros.
Durante o evento foi prestada
uma homenagem ao famoso geneticista francês Jérôme Lejeune (19261994), descobridor da causa da síndrome de Down, cujo processo de
beatificação iniciou-se há dois anos.
O Dr. Alejandro Nolazco, presidente
do Consórcio de Médicos Católicos
de Buenos Aires, incentivou os participantes a orar pelo bom êxito desse
processo para que, assim, seu exemplo possa ser proposto publicamente
a todos os médicos.
Hino Pontifício completa 60 anos
Em 16 de outubro, completou 60
anos o hino oficial do Vaticano, música do compositor católico francês
Charles Gounod e letra (em italiano)
de Antonio Allegra, organista da Basílica de São Pedro.
Composta em 1869, por ocasião
do 23º aniversário de coroação do
Beato Pio IX, a “Marcha Pontifical”
de Gounod foi adotada como Hino
Pontifício 80 anos depois, pelo Papa
Pio XII, em 1949.
Charles Gounod (1818-1893) começou a manifestar seus talentos
musicais aos 21 anos e tornou-se célebre pelas suas nove óperas e pela “Ave Maria”, universalmente conhecida. Nos últimos anos de sua vida, dedicou-se à composição de músicas sacras, entre as quais se destacam três missas: Missa de Réquiem,
40      Flashes de Fátima · Dezembro 2009
Missa de Santa Cecília e Missa Joana d’Arc.
Novo portal dos meios de
comunicação católicos
Está em funcionamento desde outubro o novo diretório on-line
dos meios de comunicação católicos
(www.intermirifica.net), uma iniciativa do Pontifício Conselho para as
Comunicações Sociais, do CELAM e
da Associação Católica Mundial para
a Comunicação – Signis.
O novo portal católico tem a estrutura do sistema wiki e apresentase como um diretório que os próprios
usuários podem completar ou atualizar. Funciona também como um pesquisador de rádios, televisões ou produtoras, em diferentes idiomas e países.
Seu principal objetivo é proporcionar a todos os meios de comunicação católicos a possibilidade de se comunicarem entre si, trocando ideias e
projetos comuns. Atualmente, intermirifica.net está à disposição em espanhol, mas em breve se apresentará também em inglês, francês e português.
Aumenta o número de
católicos no Vietnã
Um levantamento realizado pela diocese de Kontum, Vietnã, indica um crescimento significativo no
número de católicos nos planaltos
vietnamitas. No ano passado, 30 mil
montagnard (habitantes dessa região)
se converteram à Religião Católica, e
outros 20 mil estão em fase de preparação para o Batismo. Estes dados
— informa a agência AsiaNews — foram fornecidos pelo Bispo de Kontum, Dom Michael Hoang Duc Oanh, por ocasião da Jornada Missionária Mundial.
Os católicos vietnamitas celebram
neste ano o 350º aniversário da chegada dos missionários ao país. E os
Padres Redentoristas comemoram
quarenta anos do início de suas missões nos planaltos do país. Atual-
mente há no Vietnã cerca de 6 milhões de católicos, ou seja, 8% do total da população.
Legião de Maria celebrou 60
anos de apostolado em Portugal
Neste ano em que se comemora o
60º aniversário da fundação da Legião de Maria em Portugal, milhares
de membros, vindos de todas as Dioceses do País, reuniram-se em Fátima. A peregrinação foi presidida pelo Bispo de Coimbra, D. Albino Cleto, e teve como lema “Com Maria,
seguimos em missão” (Bento XVI).
A Peregrinação teve o seu início
com um encontro no Centro Paulo VI, onde, para além de momentos
de oração, de canto e de testemunhos
legionários, teve um tempo de formação pelo Senhor D. Albino e uma re-
presentação cénica, por jovens legionários, sobre a memória dos primeiros tempos da Legião de Maria em
Portugal, lembrando em particular o
Padre Francisco Lopes, fundador em
Portugal, em 31 de Maio de 1949.
Obras de Bento XVI
conquistam o grande público
Uma mesa redonda organizada
em 15 de outubro pela Libreria Editrice Vaticana na 61ª Feira Internacional do Livro (Frankfurt, Alemanha) pôs em evidência o êxito editorial das obras do Papa Bento XVI entre o grande público.
Segundo notícia a agência Zenit,
o Prof. Pierluca Azzaro, da Universidade Católica de Milão afirmou
que os títulos da autoria do Cardeal Ratzinger atualmente disponíveis
na Itália, através de 27 casas editoras, se eleva a 178. Dessas obras, 22
foram publicadas entre 1971 e 2004,
portanto, antes da ascensão ao Sólio
Pontifício.
O professor Azzaro lembrou também que os 1.200.000 exemplares da
primeira tiragem da encíclica Spes
salvi, de 30/11/2007, foram vendidos
em apenas dois meses. E esgotaramse rapidamente os 600.000 exemplares da tiragem inicial da Caritas in veritate, de 29/6/2009, que conquistou
em fins de julho o primeiro lugar na
classificação dos livros mais vendidos
na Itália, ultrapassando bestseller italianos e internacionais.
Para o Prof. Azzaro, estes números ilustram a ampla difusão do pensamento de Bento XVI na Itália, não
só entre o público estritamente cató-
D. Odilo Scherer em Portugal
O
Arcebispo de S. Paulo, Cardeal D. Odilo Pedro
Scherer, juntamente com dois dos seus bispos
auxiliares, D. Joaquim Carreira e D. João Mamede Filho, estiveram em peregrinação em Portugal
e Espanha durante 5 dias, a caminho de Roma, para a
visita ad limina.
No Santuário de Fátima, celebraram a Eucaristia na
Capelinha das Aparições, juntamente com D. António
Marto, bispo de Leiria-Fátima, e o bispo emérito D.
Serafim Ferreira (foto da esquerda).
A caminho de Santiago de Compostela, estiveram a
rezar no Santuário de Santa Luzia, em Viana do Cas-
telo, onde também puderam encontrar-se com D. José
Pedrosa, bispo da diocese.
Retornando a Portugal visitaram ainda a Casa dos
Arautos do Evangelho, no Santuário do Sameiro (foto da
direita), em Braga, onde participaram num agradável convívio e foram objecto de uma homenagem musical. Visitaram o Primaz de Braga, D. Jorge Ortiga, de onde seguiram para Coimbra e puderam conhecer a histórica biblioteca da universidade e encontrar-se com D. Albino Cleto.
Em Lisboa, além de visitar alguns lugares históricos, estiveram com o Cardeal Patriarca e seus bispos
auxiliares, num jantar no Seminário dos Olivais.
Dezembro 2009 · Flashes
de Fátima      41
70 mil jovens chilenos
em peregrinação
Mais de 70 mil jovens católicos
procedentes de todo o Chile participaram da 19ª peregrinação De Chacabuco ao Carmelo – Um caminho
de Santidade, que percorreu a pé, no
dia 17 de outubro, 27 quilômetros até
chegar ao Santuário de Auco, onde
se veneram os restos mortais de Santa Teresa de los Andes.
Na esplanada do Santuário, o
Cardeal Francisco Javier Errázuriz
Ossa, Arcebispo de Santiago, celebrou a Eucaristia que encerrou a peregrinação. Em sua homilia, incentivou as dezenas de milhares de jovens presentes a confirmarem sua
vocação de ser luz de Cristo para o
mundo. “Queremos ser luz do mundo por nosso espírito de serviço, e porque queremos semear esperança e alegria”, acentuou.
A popular peregrinação, que se
realiza anualmente desde 1989, foi
organizada pela Arquidiocese de
Santiago do Chile, através do Vicariato da Esperança Jovem, em conjunto com o Santuário de Santa Teresa de los Andes.
Pontifício Conselho Justiça e
Paz tem novo presidente
O Cardeal Peter Kodwo Appiah
Turkson, Arcebispo de Cape Coast
(Gana), foi nomeado em 24 de outubro presidente do Pontifício Conselho Justiça e Paz. Durante o Sínodo dos Bispos para a África, encerrado em 25 de outubro, Sua Eminência
desempenho o papel de relator principal.
Nascido em 1948, o Cardeal Turkson fez seu curso de teologia em Nova York e cursos de pós-graduação
em Roma, doutorando-se em Sagradas Escrituras. Fala inglês, francês,
italiano, alemão e hebreu. Recebeu
a ordenação episcopal em 1993 e foi
elevado ao Colégio Cardinalício em
2003. É membro de vários dicastérios da Cúria Romana, entre os quais
a Congregação para a Evangelização
dos Povos e a Congregação para o
Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos.
cattoliciromani.com
lico, mas também o secular. “Vivemos
numa época em que o homem, talvez
como nunca antes, manifesta sua necessidade vital de entrar em relação
com o Transcendente, o Eterno”, comentou ele. “O Papa responde a esse
desafio o mais naturalmente, e portanto o mais eficazmente possível: no centro do seu Magistério, ele põe o amor
do Criador por sua criatura, o desmesurado amor de Jesus Cristo pelo homem”.
Cardeal Cláudio Hummes visita
Colégio Sacerdotal Tiberino
Na inauguração do ano acadêmico do Colégio Sacerdotal Tiberino
de Roma, em 28 de outubro, o prefeito da Congregação para o Clero,
Cardeal Cláudio Hummes, recordou
que é preciso rezar pelo clero, especialmente neste Ano Sacerdotal. “Todas as comunidades deveriam rezar e
agradecer ao Senhor por seus sacerdotes”, afirmou.
Lembrou também aos estudantes que “todos nós temos necessidade
da luz de Cristo” e recomendou, aos
alunos que procurem voltar-se para o
amor a Jesus Cristo, pela celebração
da Eucaristia e pela meditação da Palavra do Senhor.
O Colégio Sacerdotal Tiberino
serve de residência para sacerdotes
diocesanos provenientes de todo o
mundo que estudam nas quatro faculdades da Universidade da Santa
Cruz, ateneu de estudos superiores
confiado à Prelatura da Santa Cruz e
ao Opus Dei.
Graças recebidas por
intercessão da Irmã Lúcia
Novo secretário do
Colégio Cardinalício
O Núncio Apostólico emérito na
Espanha e atual secretário da Congregação para os Bispos, Dom Manuel Monteiro de Castro, foi nomeado em 21 de outubro Secretário do
Colégio dos Cardeais.
A principal função desse alto Colegiado é a eleição de um novo Papa. Compete-lhe também — segundo
o Código de Direito Canônico, cân.
349 — assistir ao Romano Pontífice,
quando os Cardeais são convocados
para tratar em conjunto as questões
de maior importância.
Dom Monteiro de Castro nasceu em Santa Eufêmia, Portugal, em
1938 e recebeu a ordenação episcopal em 1985. É doutor em Direito
Canônico e destaca-se por sua longa
experiência diplomática a serviço da
Santa Sé.
42      Flashes de Fátima · Dezembro 2009
As religiosas do Carmelo de Coimbra, Portugal, colocaram à disposição
dos fiéis do mundo inteiro um endereço eletrônico ([email protected]) destinado especificamente a
receber testemunhos de graças obtidas por intercessão da Irmã Lúcia.
A iniciativa visa auxiliar na obtenção de dados e informações que possam ser úteis no processo de beatificação da vidente de Fátima, em curso na diocese de Coimbra. Segundo
informação do Diário de Notícias, de
Lisboa, também de outros países, notadamente dos Estados Unidos e da
Espanha, têm chegado relatos de favores recebidos.
Padres Combonianos têm
novo Superior Geral
O 17° Capítulo Geral dos Missionários Combonianos do Coração de
Jesus, realizado em Roma, elegeu
Aprovado o Acordo
entre o Brasil e o Vaticano
em 21 de outubro seu novo Superior
Geral: Pe. Enrique ­Sánchez Gonzáles. Nascido no México em 1958 e
ordenado sacerdote em 1984, exerceu ele o ministério no seu país até
1998 e na República Democrática
do Congo até 2004. No momento da
nomeação era o Superior da Delegação da América Central, na Guatemala.
A congregação, fundada em 1867
por são Daniel Comboni, conta hoje
com 1.702 membros: 18 Bispos, 1.252
sacerdotes, 266 irmãos e 173 estudantes na última fase de formação.
L’Osservatore Romano
A
ssinado em Roma, em novembro de 2008, e
aprovado pela Câmara Federal brasileira, em
agosto p.p., o Acordo entre o Brasil e o Vaticano sobre o Estatuto Jurídico da Igreja Católica no
Brasil foi sancionado pelo Senado no último dia 7 de
outubro, tendo como relator do projeto o Senador
Fernando Collor (PTB-AL).
Esse Acordo reafirma a personalidade jurídica da
Igreja Católica e de suas instituições, como a Conferência Episcopal, as dioceses, as paróquias e os institutos religiosos.
Dividido em 20 artigos, o convênio contém também
dispositivos sobre o ensino religioso católico nas instituições públicas de ensino fundamental, bem como a
prestação de assistência religiosa nos hospitais e presídios. Em relação ao Sacramento do Matrimônio, o
artigo 12 dispõe: “O casamento celebrado em conformidade com as leis canônicas, que atender também
às exigências estabelecidas pelo direito brasileiro para contrair o casamento, produz os efeitos civis, desde
que registrado no registro próprio”.
Na homilia da Missa de ação de graças celebrada
em 21 de outubro na capela da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o Núncio Apostólico Dom Lorenzo Baldisseri, ressaltou que esse Acordo “é um instrumento de sumo valor para a sociedade
e representa um marco histórico para o Brasil”.
Na mesma ocasião, o secretário geral da CNBB,
Dom Dimas Lara Barbosa, declarou que, com essa
O Acordo foi assinado em novembro de 2008
durante a visita do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, ao Papa Bento XVI
aprovação, o Congresso Nacional manifesta seu reconhecimento da “importância da Igreja Católica na
História e na formação da cultura do povo brasileiro”.
Segundo Dom Geraldo Lyrio Rocha, presidente da CNBB, a aprovação do acordo representa o
coroamento do esforço diplomático da Nunciatura
Apostólica, em nome da Santa Sé, junto ao governo brasileiro. Salientou também que o acordo não
compromete o laicismo do Brasil porque, na verdade, a questão religiosa se volta para a sociedade, e
não para o Estado.
Sua atuação se estende a 182 dioceses de 42 países.
Rezar as Bem-Aventuranças
No dia 4 de Outubro, na Igreja
do Calvário, em Évora, foi apresentado o livro “Rezar as Bem-Aventuranças”, que o Pe. Senra Coelho com
a colaboração do Pe. Ricardo Lameira acaba de publicar através da Paulus Editora.
O livro insere-se na Colecção Sabedoria e apresenta 9 reflexões seguindo as Bem-aventuranças, completados com uma proposta de ora-
ção a partir dos Salmos e de textos
patrísticos para cada Bem-Aventurança.
O livro conta com uma apresentação de D. Manuel Madureira Dias,
Bispo Emérito do Algarve, que diz:
“As bem-aventuranças são interpelações divinas, apelos de Deus, conselhos, propostas de vida para todos os
que se quiserem sintonizar com a mensagem de Jesus Cristo. Vale a pena ler,
meditar, rezar esse texto, e, através dele,
entrar na contemplação d’Aquele que
as pronunciou e nos fez tal proposta de
vida, dinamizada pelo amor. Que es-
Dezembro 2009 · Flashes
de Fátima      43
N
este ano, no dia 12 de outubro, festa de
Nossa Senhora Aparecida, o Santuário
do Cristo Redentor que coroa o Morro do
Corcovado, no Rio de Janeiro, tornou-se irmão do
Santuário de Cristo Rei, de Almada, cuja imagem se
ergue a 113 metros acima do nível do mar, dominando a embocadura do Tejo.
O “acordo de geminação” foi assinado pelo Arcebispo do Rio, Dom Orani Tempesta, pelo Bispo de Setúbal, Portugal, Dom Gilberto Reis, e pelos reitores dos Santuários. “Este acordo ajuda na
evangelização das pessoas que visitam ambos os locais”, afirmou Dom Orani. E Dom Gilberto, após
lembrar a forte ligação dessas duas nações, explicou: “Portugal apresentou Jesus Cristo ao Brasil, que construiu este maravilhoso monumento. E o
Brasil deu à Igreja, em Portugal, a inspiração de edificar um monumento ao Cristo Rei”.
diocese-setubal.pt
Carlos Henrique
Portugal
e Brasil têm
santuários
irmãos
ta edição possa contribuir para ajudar
as pessoas, que vierem a compulsar as
presentes páginas, a decifrar e penetrar
ainda mais o significado profundo do
texto evangélico que elas reflectem. Estou certo que, dentro da modéstia das
palavras humanas, pretensamente expressivas de conteúdos divinos, o Espírito Santo dará luz e fecundidade a todos os leitores”.
ca da Lectio Divina, preconizado no
seu anterior e actual Programa Pastoral, o Sector da Pastoral Juvenil da
Diocese do Algarve, procurando ir
ao encontro desse objectivo, promoveu no passado dia 7 de Novembro
um Encontro Formativo para Animadores Juvenis precisamente sobre aquele modo de oração a partir
da Bíblia.
Ajudar os jovens a
dialogar com a Bíblia
Congresso missionário
da Igreja indiana
Quando se tem falado tanto ultimamente sobre a Bíblia, da necessidade de fazer um leitura contextualizada e aprofundada dos textos sagrados e numa altura em que a diocese algarvia vive um tempo de particular de aprofundamento da práti-
Encerrou-se no dia 18 de outubro,
em Mumbai, o primeiro Congresso
Missionário da Igreja indiana, realizado sob o lema Deixe resplandecer a
sua luz. Dele participaram 1.500 delegados de 160 dioceses de todo o país, entre os quais 100 Bispos.
44      Flashes de Fátima · Dezembro 2009
Cristo Redentor,
Rio de Janeiro
Santuário
a Cristo Rei,
Almada
No seu discurso de início dos trabalhos o Núncio Apostólico na Índia,
Dom Pedro Lopez Quintana lembrou que “os cristãos têm o dever e
a responsabilidade de serem anunciadores da luz de Cristo que dissipa
a escuridão”, segundo informa Rádio
Vaticano.
Da sua parte, o Pe. Sebastian
Kizhakkeyil, docente de Sagrada
Escritura no seminário maior de
Ruhalaya, recordou aos presentes
“o exemplo de luminosidade espiritual e de ação caritativa oferecido
pela bem-aventurada Madre Teresa de Calcutá e por tantos outros fiéis indianos perseguidos por causa
da sua fidelidade à Palavra de Cristo, como ocorreu recentemente em
Orissa”.
História para crianças... ou adultos cheios de fé?
O menino do tambor
Dias depois, quando a estrela estava já muito próxima, o
menino divisou no horizonte uma longa fila de homens e
cavalgaduras. Foi correndo pegar seu tambor, tocou-o e cantou
em honra daqueles admiráveis viajantes, que pareciam reis.
Irmã Michelle Viccola, EP
H
á mais de dois mil anos,
nos imensos e longínquos arenais da Arábia,
onde as montanhas não
têm nome, pois o vento as faz e desfaz por sua força mutável e dominadora, vivia um menino muito pobre.
Órfão de mãe desde muito pequeno,
seu pai era o guardião de um oásis,
afastado das rotas mais frequentadas,
mas famoso entre os viajantes por sua
água abundante e cristalina.
Muitas vezes pensou o zeloso pai
em aliviar a solidão de seu filho dando-lhe de presente algum
brinquedo. Mas, nunca teve coragem de perguntar aos mercadores
o preço, certamente maior do que
podia pagar com as poucas moedas que possuía.
Decidiu então confeccionar para o menino um pequeno tambor.
Tomou um velho barrilzinho, retirou-lhe as tampas, envernizou-o
com óleo de palma e estendeu cuidadosamente sobre seus extremos
duas peles de cabra fortemente esticadas por tendões de carneiro.
A preparação do instrumento
levou-lhe semanas de trabalho. Teve de fazê-lo e refazê-lo várias vezes, até que ficou bom. Mas o es-
forço valeu a pena: o menino recebeu
o tamborzinho com essa capacidade
de alma que têm os inocentes de alegrar-se com um único presente, o que
vale mais que receber outros mil! Tocava-o constantemente, acompanhando músicas que ele mesmo compunha. Ah... e como eram belas! Tão belas que em todo o deserto, do mar às
montanhas, era ele conhecido sob o
nome de “o menino do tambor”.
Numa fria noite de inverno, a monótona rotina daquele oásis foi quebrada
“Não haverá abrigo em tua casa para
uma caravana que chega fatigada de
uma longa jornada?”
46      Flashes de Fátima · Dezembro 2009
por um fenômeno surpreendente: aparecera no céu, ao oriente, uma estrela
que brilhava mais do que todas as outras e parecia se deslocar lentamente
em direção ao ocidente. Tão luminosa
era que permanecia visível dia e noite,
aproximando-se deles sempre mais.
Perante tão extraordinário prodígio, o pai chegou a sentir algum receio, mas seu filho logo o tranquilizara: aquele astro era belo demais para
ser um mau presságio. Parecia, pelo
contrário, anunciar um acontecimento grandioso e feliz.
Dias depois, quando a estrela estava já muito próxima, o menino divisou no horizonte uma longa fila de
homens e cavalgaduras. Não se tratava de uma caravana comum. O
número de bestas de carga era incontável. Portavam fardos magníficos! E até o menor dos servos que
ali estava, vestia e se comportava
com a dignidade de um fidalgo.
No fim do longo cortejo, sentados no alto de vigorosos dromedários, vinham três nobres senhores,
vestidos com trajes coloridos e turbantes de seda. Um deles era um
ancião de longa barba, outro um
homem maduro de vivos olhos e
ruivos cabelos, o terceiro um vigo-
Edith Petitclerc
Agradado com a candura dessa alma inocente, o rosto de Jesus iluminou-se com um belo sorriso
roso árabe de pele escura. Dir-se-ia
que os três eram reis.
O menino foi correndo pegar seu
tambor, tocou-o e cantou em honra daqueles admiráveis viajantes. Quando
terminou, o venerável ancião da barba
longa inclinou-se em direção a ele, dizendo-lhe comprazido:
— Meu bom menino, que bela é
tua música! Não haverá abrigo em
tua casa para uma caravana que chega fatigada de uma longa jornada?
Fazendo uma profunda reverência, respondeu-lhe:
— Sim, senhor! Meu pai é guardião deste poço, e sempre dá pousada para homens de bem.
Pai e filho aplicaram-se em receber aqueles senhores com a mais esmerada hospitalidade. Serviram-lhes
suas melhores tâmaras e leite de cabra recém ordenhado. Deram de beber aos camelos, encheram os odres
com água e hospedaram-nos o melhor que puderam na choupana de
taipa e folhas de palmeira que haviam construído a modo de pousada.
À noite, quando todos já se recolhiam, o menino aproximou-se curioso do ancião que tão bondosamente o tratara e perguntou-lhe singelamente:
— Senhor, perdoe meu atrevimento, mas a que se deve a presença
de tão ilustres pessoas nestas desoladas paragens?
O bom homem sorriu e explicou-lhe
que vinham de muito longe. Lá em suas distantes terras souberam, por sonhos, que uma estrela haveria de guiálos até o local onde nasceria o Messias,
o enviado de Deus, anunciado pelos
profetas. Ao ver aparecer aquele astro
desconhecido, tomaram ouro, incenso e mirra e puseram-se a caminho. Há
meses o vinham seguindo e uma especial alegria de coração dizia-lhes estarem perto de seu destino.
O “menino do tambor” nunca ouvira falar de coisas semelhantes. Ele,
que não era um sábio como os ilustres viajantes, ficou emocionado ao
ouvir falar do Messias, do “anunciado pelos profetas”. Sentiu um irresistível desejo de ir conhecê-Lo.
No dia seguinte, acordou bem cedo. Despediu-se do velho pai e juntouse à caravana. Tinha procurado no oásis com afinco algum presente que levar para o Messias, mas nada encontrou digno dele. E pensou: “irei com
meu tambor, e quando estiver frente a
ele lhe direi: Senhor, sou pobre e não
tenho nada para oferecer-vos. Mas di-
zem que a minha música é bela e traz
alegria. Vim tocar para vós a mais linda das minhas canções!”.
Alguns dias depois, após contornar
o Mar Morto e remontar as íngremes
encostas que dele conduzem à Judeia,
a caravana fazia sua entrada em Belém
de Judá. Bem em cima de uma humilde casa, a estrela se detivera e os três
nobres senhores ali entraram.
Como se já estivesse à espera, encontrava-se um resplandecente Menino sentado majestosamente, como num trono, no colo de uma bela senhora. Logo compreenderam
ser aquele o Messias anunciado pelos profetas. Prosternaram-se, adorarando-O, e Lhe ofereceram os valiosos presentes que traziam: ouro, incenso e mirra.
Mas eis que, de repente, ouve-se o
rufar de um tamborzinho e uma harmoniosa voz infantil, quebrando a solenidade da cena. Era o “menino do
tambor” que cantava para o Salvador
a mais bela de suas melodias. Ao ouvi-lo, o rosto do Menino Jesus iluminou-se com um belo sorriso, agradado com a candura dessa alma inocente. Talvez tenha sido ele, antes mesmo de São João Batista, o primeiro
amigo do Menino Jesus! 
Dezembro 2009 · Flashes
de Fátima      47
________
Os Santos de cada dia 1. São Naum, profeta do Antigo
Testamento que, em suas exortações,
mostrou Deus como regente da História e justo Juiz das nações.
2. Beato Rafael Chyliński, presbítero (†1741). Religioso franciscano polonês de nobre origem. Exerceu
seu apostolado como pregador e confessor em Lagiewniki e Cracóvia.
3. Francisco Xavier, presbítero
(†1552).
São Birino, Bispo (†650). Enviado como missionário junto aos anglos
pelo Papa Honório I, logrou a conversão do rei Cynegils e fixou sua sede episcopal em Dorchester.
4. São João Damasceno, presbítero e Doutor da Igreja (†749).
Santa Bárbara, virgem e mártir
(†séc. III). Oriunda da Nicomédia,
atual Izmit (Turquia), seu pai enfureceu-se quando ela se tornou cristã e
entregou-a aos juízes.
5. Beato Nicolau Stensen, Bispo
(†1683). Nascido na Dinamarca num
lar luterano, converteu-se após assistir a uma procissão de Corpus Christi. Estudou Teologia e tornou-se sacerdote. O Beato Inocêncio XI o nomeou Vigário apostólico das cidades
nórdicas da Europa.
6. II Domingo do Advento.
São Nicolau, Bispo (†sec. IV).
Santo Obício, penitente (†1204).
Estando próximo de perder a vida
numa batalha, uma visão do inferno
mostrou-lhe que se morresse naquela
ocasião teria se condenado. Abandonou a carreira militar e fez-se oblato
beneditino no mosteiro de Santa Júlia, na Bréscia.
Sergio Hollmann
7. Santo Ambrósio, Bispo e Doutor da Igreja (†397).
Santo Atenodoro, mártir (†cerca de
304). Após suportar inúmeros suplícios
por não renegar a Fé, foi condenado à
pena capital durante as perseguições de Diocleciano na Síria.
8. Imaculada Conceição
da Bem-aventurada Virgem Maria.
Beato José Maria
Zabal Blasco, mártir
(†1936). Pai de família fuzilado em Valência durante
a Guerra Civil Espanhola.
9. Santa Leucádia, virgem
e mártir (†304). Condenada à
masmorra, em Toledo, por re"São João da Cruz" Paróquia de São João
da Cruz, Alba de
Tormes (Espanha)
cusar as ofertas de apostasia do governador Daciano.
10. Beato Marcos Antonio Durando, presbítero (†1880). Sacerdote vicentino. Favoreceu o crescimento das
Filhas da Caridade na Itália e fundou
as Irmãs Nazarenas, dedicadas ao
serviço dos que sofrem.
11. São Dâmaso I, Papa (†384).
São João Diego de Cuauhtlatoatzin, vidente de Guadalupe (†1548).
Beato Franco Lippi, religioso
(†1292). Jovem militar senense de
péssimos costumes, foi castigado pela
cegueira. Arrependido, peregrinou a
Santiago de Compostela e lá recuperou as vistas. Regressou à Itália, onde
viveu o resto da vida como eremita.
12. Nossa Senhora de Guadalupe,
padroeira da América Latina.
São Finiano, abade (†549). Fundou
diversos mosteiros na Irlanda, entre os
quais o de Clonard, do qual foi abade
e onde incentivou os estudos bíblicos.
13. III Domingo do Advento.
Santa Luzia, virgem e mártir
(†304).
Beato João Marinoni, presbítero
(†1562). Com São Caetano de Thiene, dedicou-se à reforma do clero e
assistência aos necessitados.
14. São João da Cruz, presbítero e
Doutor da Igreja (†1591).
São Venâncio Fortunato, Bispo
(†séc. VII). Famoso bardo de sua
época. Atraído pelas virtudes de rainha Santa Radegunda, tornou-se sacerdote e passou a viver em Poitiers,
de onde foi Bispo. A ele são atribuídos diversos hinos litúrgicos.
15. Beato Marino, abade (†1170).
Na abadia de Cava, Itália, promoveu
o esplendor da Liturgia e foi admirável na fidelidade ao Papa.
___________________ Dezembro
17. São Modesto, Bispo (†634).
Patriarca de Jerusalém, restaurou a
Cidade Santa devastada pelos persas, reconstruiu e encheu de monges
os mosteiros.
18.
Bispo
São
Flannano,
(†séc. VII). Filho do rei Toirdelbaig.
Abraçando a vida religiosa, foi eleito
Bispo de Killaloe, Irlanda.
19. São Francisco Xavier Hà Trong
Mâu, mártir (†1838). Terciário dominicano e catequista no Vietnã. Foi encarcerado, torturado e, por fim, estrangulado, por negar-se a pisotear a Cruz.
20. IV Domingo do Advento.
Beato Vicente Romano, presbítero
(†1831). Pároco de Torre del Greco,
Itália, dedicou-se com todo empenho
à instrução dos meninos e à assistência aos operários e pescadores.
21. São Pedro Canísio, presbítero
e Doutor da Igreja (†1597).
São Miqueias, profeta. Durante os
reinados de Joatão, Acaz e Ezequias,
condenou a idolatria e as injustiças, e
anunciou ao povo eleito Aquele que
nasceria em Belém e apascentaria Israel com a força do Senhor.
22. Santa Francisca Xavier Cabrini, virgem (†1917). Fundou o Instituto das Irmãs Missionárias do Sagrado Coração de Jesus e dedicou-se de
modo especial a socorrer os imigrantes necessitados.
23. São João Câncio, presbítero
(†1473).
Santo Ivo, Bispo (†1116). Na diocese de Chartres, França, reprimiu a
conduta do rei Filipe I que vivia em
adultério. Exerceu importante papel
em defesa do Papa na questão das investiduras.
Sergio Hollmann
16. Beata Maria dos Anjos Fontanella, virgem (†1717). Aos 15 anos
ingressou no Carmelo de Turim, Itália, do qual foi priora. Deixou muitos
escritos de vida espiritual.
24. Santa Irmina, abadessa (†710).
Tendo ficado viúva, consagrou-se a
Deus e tornou-se grande benfeitora
de São Wilibrordo. Fundou e dirigiu
o mosteiro de Öhren, Alemanha.
25. Natal de Nosso Senhor Jesus
Cristo.
Santo Alberto Chmielowski, religioso (†1916). Tendo estudado pintura em Paris, abandonou o ambiente
aristocrático em que vivia e fundou a
Congregação dos Irmãos da Terceira
Ordem de São Francisco, Servos dos
Pobres.
26. Santo Estêvão, diácono e protomártir.
São Dionísio, Papa (†268). Subiu ao Sólio Pontifício após a terrível
perseguição de Valeriano. Desde o
início procurou consolar os cristãos,
resgatar os que haviam perdido a liberdade e reconduzir os transviados.
27. Festa da Sagrada Família, Jesus, Maria e José.
São João, Apóstolo e Evangelista.
Beato José Maria Corbín Ferrer,
mártir (†1936). Encontrava-se estudando em Santander quando iniciou
a Guerra Civil Espanhola. Por sua Fé
foi levado ao “Alfonso Pérez”, um navio de carga transformado em prisão,
e lá martirizado.
28. Santos Inocentes, mártires.
Beato Gregório Khomyšyn, Bispo e
mártir (†1945). Bispo de Ivano-Frankivsk, Ucrânia, morto no cárcere em decorrência das torturas e pancadas recebidas durante os interrogatórios.
29. São Tomás Becket, Bispo e
mártir (†1170).
“Santa Bárbara” - Catedral
de Colônia (Alemanha)
Santa Benedita Hyŏn Kiŏng-nyŏn,
mártir (†1839). Jovem viúva dedicada à catequese na Coreia. Recusouse a apostatar e foi decapitada após
sofrer muitos suplícios.
30. Beato João Maria Boccardo,
presbítero (†1913). Pároco de Pancalieri, Itália. Fundou a Congregação
das Pobres Filhas de São Caetano de
Thiene, para auxiliar os órfãos, doentes e anciãos, e dar educação cristã à
juventude.
31. São Silvestre I, Papa (†337).
Santa Columba, virgem e mártir (†séc. IV). Presa aos 16 anos em
Sens, França, resistiu-se a abandonar
a Fé e foi decapitada por ordem do
imperador Aureliano.
Dezembro 2009 · Flashes
de Fátima      49
O orvalho, o mar
e as virtudes
Se soubermos, não só admirar as maravilhas opostas e
harmônicas da natureza, mas também praticar as virtudes
representadas por elas, nossas almas terão incomparavelmente
mais encantos do que todas as gotas de orvalho somadas e
mais grandeza do que todos os mares reunidos.
Q
uão pouco atraente seria
uma música que, do início ao fim, tivesse a mesma intensidade de volume, quase sem variação de tons, sem
as doçuras dos sons agudos e a imponência dos graves! Soaria quase tão
monótona quanto o canto da cigarra...
Para ser deleitável, uma peça musical deve ter ora maior intensidade
de volume, os fortíssimos, ora tender
para o suave, os pianíssimos, e percorrer harmonicamente toda a escala cromática. Comporta, pois, desde
o som delicado do violino até os acordes vibrantes do contrabaixo, formando um conjunto melodioso e variado.
No mesmo sentido, se analisarmos a sinfonia apresentada pela natureza, veremos que ela nos encanta
justamente por estar pervadida desses extremos harmônicos.
De fato, quanta maravilha pode
haver numa singela gota de orvalho!
Ela dá-nos a impressão de concentrar um oceano de doçura, de candura e de inocência. De tal modo essa minúscula e frágil gotinha parece
conter em si um universo de encan-
Renan Freitas
tos e esplendores, que seríamos levados a passar horas contemplando-a.
Por outro lado, quem poderia ser
insensível às grandiosas, misteriosas
e sublimes belezas do mar aberto? Ostentando majestade e força, parece ele
guardar em suas profundidades indecifráveis enigmas. E apesar de representar o oposto da fragilidade da gota de orvalho, o mar também nos atrai. Verifica-se o mesmo em outros
campos: apraz ao homem, de um lado, ouvir o doce canto de um passarinho, e de outro, o rugido avassalador
de um leão; admirar uma minúscula
pedra preciosa e contemplar enlevado essa imensa joia crivada de estrelas cintilantes, chamada firmamento;
acariciar uma aveludada e frágil pétala de rosa, e apalpar o áspero e forte
bloco de granito de uma muralha de
fortaleza ou parede de catedral.
O que leva os homens a serem
atraídos por realidades tão opostas?
É que elas são opostas, sim, mas
complementares, de maneira tal que
se lhes faltasse um dos polos, o panorama ficaria defectivo, não refletiria toda a gama de virtudes que de-
50      Flashes de Fátima · Dezembro 2009
vemos admirar no Divino Mestre, o
qual nos exortou: “Sede astutos como as serpentes, e inocentes como as
pombas” (Mt 10, 16)!
Disso, porém, mais do que nos legar palavras, Ele nos deu exemplo:
nasceu pobre numa gruta e teve por
berço uma manjedoura, mas quis entrar gloriosamente em Jerusalém,
aclamado pela multidão que atapetava com ramos de oliveira e com
seus mantos a estrada por onde Ele
iria passar; com indomável fortaleza expulsou os vendilhões do Templo,
mas com irresistível ternura atraiu a
Si as criancinhas; invectivou os fariseus, mas perdoou a mulher pecadora e curou os enfermos.
Deixou-nos, pois, o Divino Mestre, por palavras e pelo exemplo de
Sua vida, a lição de que devemos não
só admirar as maravilhas opostas e
harmônicas da natureza, mas também praticar as virtudes representadas por elas. Se assim fizermos, nossas almas terão incomparavelmente
mais encantos do que todas as gotas
de orvalho somadas e mais grandeza
do que todos os mares reunidos. 
Dezembro 2009 · Flashes
de Fátima      51
Tito Alarcón
Nivaldo Bueno
Gustavo Kralj
Gustavo Kralj
Gustavo Kralj
Sérgio Hollmann
D
eus Pai não deu ao mundo o Seu Unigênito
senão por Maria. Por mais ardentes que
fossem os suspiros dos patriarcas e as súplicas
que durante quatro mil anos Lhe fizeram
os profetas e os santos da Antiga Lei para
obterem esse tesouro, só Maria o mereceu. Só Ela
encontrou graça diante de Deus pela força das
suas orações e pela grandeza das Suas virtudes.
(São Luís Maria Grignion de Montfort)
"Virgen de la pera" - Museu
do Prado, Madri

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