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REVISTA CIÊNCIAS DA SAÚDE Editora da UFSC REVISTA CIÊNCIAS DA SAÚDE ISSN 0101 – 9546 Revista Ciências da Saúde Florianópolis V. 25, N. 2 P. 1-150 2006 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA Reitor: Lúcio José Botelho Vice-Reitor: Ariovaldo Bolzan CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE Diretor: Cleo Nunes de Sousa EDITORA DA UFSC Diretor Executivo: Alcides Buss Conselho editorial Eunice Sueli Nodari (Presidente) Cornélio Celso de Brasil Camargo João Hernesto Weber Luiz Henrique de Araújo Dutra Nilcéia Lemos Pelandré Regina Carvalho Revista Ciências da Saúde é uma revista semestral editada pelo Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Santa Catarina. Comissão Editorial: Tânia Silvia Fröde (Editora-chefe), Roberto Henrique Heinish, Inês Beatriz Rath, Liliane Janete Grando, Elisabeth Wazlawik), Maria Itayra Coelho de Souza Padilha. Comissão Consultiva: Alvorita Leite Bittencourt (Instituo Geral de Perícia do Estado de Santa Catarina); Caio M. M. de Córdova (FURB); Denise Maria Guerreiro Vieira da Silva (UFSC); Eduardo M. Dalmarco (FURB); Eugênio Rodrigo Zimmer Neves (ANVISA); Letícia Scherer Koester (UFSC); Michel Fleith Otuki (FURB); Rossana Pacheco da Costa Proença (UFSC); João Luiz Gurgel Calvet da Silveira (FURB); Sylvio Monteiro Junior (UFSC); Cleusa Rios Martins (UFSC); Elisabeth Wazlawik (UFSC); Maria Itayra C. de S. Padilha (UFSC); Tania M. Bresolin (UNIVALI); Helena Cristina Ferreira Franz Vasconcelos (UFSC); Solange Blat (FURB). Editoração: Flávio Fontes de Oliveira e Claudia Crespi Garcia Capa: Paulo Roberto da Silva Revisão: Isabel Maria Barreiros Luclktenberg Secretário: Luiz Vicente Vieira (Catalogação na fonte pela Biblioteca Universitária da Universidade Federal de Santa Catarina) Revista Ciências da Saúde / Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Ciências da Saúde. -- v.1, n.1 (1982)- , - Florianópolis: Imprensa Universitária, 1982. v.: 27cm Semestral ISSN 0101-9546 1.Ciências Médicas. 2. Saúde – pesquisas I. Universidade Federal de Santa Catarina. II Centro de Ciências da Saúde. Indexada na Base de Dados LILACS Endereço: Revista Ciências da Saúde - Secretaria do Centro de Ciências da Saúde da UFSC Campus Universitário - Trindade Caixa Postal 476 88040 970 - Florianópolis - SC Telefone (0xx) 48 3721-9525 / 3721-9783 / (0xx) 48 3721-9712 ramal 211 SUMÁRIO Editorial............................................... 08 EDUCAÇÃO EM SAÚDE E SUA INTERFACE NO “CUIDAR E EDUCAR” CRIANÇAS DE 0 A 6 ANOS [Education in health and its interface in “taking care of and educating children of 0 to 6 years] Sandra Sandri..................................... 09 INTEGRAÇÃO DOCENTE ASSISTENCIAL: A EXPERIÊNCIA DE FLORIANÓPOLIS [Integration of teaching and care: the experience of Florianópolis] Haimée Emerich Lentz Martins; Magda Duarte dos Anjos Scherer; Maria Itayra Coelho de Souza Padilha……...................……………… 19 CONHECIMENTOS DE GESTANTES E MÃES RELACIONADOS À SAÚDE BUCAL: UMA ANÁLISE DA LITERATURA [Awareness of pregnant women and mothers regarding oral health: aliterature review] Mirelle Finkler; Dayane Machado Ribeiro; Denise Maria Belliard Oleiniski; Flávia Regina Souza Ramos................................................. 28 PROCESSO DE TRABALHO EM SAÚDE E CONTROLE SOCIAL: UMA REFLEXÃO NECESSÁRIA [Work process in health care and social control: a necessary reflection] Gladys Brodersen; Maria Itayra Coelho de Souza Padilha; Águeda Lenita Pereira Wendhausen....................................... 34 MERCADO DE TRABALHO DE NUTRICIONISTAS EGRESSOS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA: EMPREGO, DESEMPREGO, JORNADA DE TRABALHO E SALÁRIO [Labor Market for graduate nutritionists from Santa Catarina Federal University: employment, unemploymente, working hours and salary] Francisco de Assis Guedes de Vasconcelos; Camila Elizandra Rossi; Emilaura Alves......... 42 PROJETO ESCOLA – HEMOSC: NA BUSCA DA QUALIDADE DO SANGUE E DA SAÚDE PARA TODOS [School Project – hemosc: searching for everybody’s blood quality and health] Rosane Suely May Rodrigues Pereima; Maria do Horto F. Cartana.................. 49 OSTEOPOROSE: TRATAMENTOS DISPONÍVEIS NA ATUALIDADE [Osteoporosis: presently available treatments] Ana Paula de Oliveira Borella; Carolina Simone de Souza; Letícia Scherer Koester...................... 56 PRINCIPAIS MARCADORES TUMORAIS UTILIZADOS NA CLÍNICA PARA AUXÍLIO NO DIAGNÓSTICO DO CÂNCER – REVISÃO [Main tumor markets employed in the clinic as na aid for diagnosing câncer – review] Andréia R. Voigt; Ângela C. Bet; Silvana V. G. Vigil; Tânia S. Fröde........................... 73 DETERMINAÇÃO DO CORTISOL SANGUÍNEO E URINÁRIO E SUA RELAÇÃO COM O ESTADO DE ESTRESSE EM PACIENTES DE UM PROGRAMA DE PREVENÇÃO PARA DOENÇAS CARDIOVASCULARES [Determination of blood and urinary cortisol and its relationship to psychological stress in patients of a cardiovascular disease prevention program] Cláudia Cavalett, Juçara Deitos Bernardini; Manoela Maria Bagestan; Cláudia S. M. Silva; Elizabeth M. Hermes; Maria da Graça W. Balen; Geny Aparecida Cantos...................... 98 BIODISPONIBILIDADE DA VITAMINA E [The bioavailability of Vitamin E] Adriana Masiero; Vera Lúcia Cardoso Garcia Tramonte........................................... 103 CITOLOGIA CÉRVICO-VAGINAL EM MULHERES MENOPAUSADAS – ESTUDO COMPARATIVO ENTRE O EFEITO DA ISOFLAVONA E TERAPIA CONVENCIONAL [Cervico-vaginal cytolody in menopausal women – coomparative study between the effect of the isoflavone and the conventional therapy] J. M. Lopes; F. M. Hamada; C. L. Vituri.............................................. 111 PERFIL EANTROPOMÉTRICO DOS IDOSOS VINCULADOS AO PROATI – PROGRAMA DE ATENÇÃO À TERCEIRA IDADE DA PREFEITURA MUNICIPAL DE FLORIANÓPOLIS [Anthropometric profile of elderly citizens attended by a municipal attention program in Florianópolis (PROATI)] Ana Paula Warken do Valle Pereira; Ileana Arminda Mourão Kazapi................... 121 ANÁLISE DA ATIVIDADE ANTIBACTERIANA (IN VITRO) DE PLANTAS DA FLORA BRASILEIRA UTILIZADOS PELA MEDICINA POPULAR [The analysis of the antibacterial effects of brazilian plants used in popular medicine] Eduardo Monguilhott Dalmarco; Cláudio Laurentino Guimarães; Alessandro Guedes; Mirele Titon Calderari.................................. 128 Resumos Avaliação da atividade anti-inflamatória dos extratos aquosos de passiflora alata dryander e passiflora edulis sims, no modelo da pleurisia induzida por carragenina, em camundongos. Vargas, A; Fröde, T. S....................................137 Estudo do mecanismo de ação dos extratos de Passioflora edulis variação flavicapa degener em modelos de inflamação aguda em camundongos. Montanher, A. B.; Fröde, T. S........... 137 Análise da atividade anti-inflamatória do metotrexato e ciclosporina A, no modelo da pleurisia induzida pela carragenina em camundongos. Dalmarco, E. M.; Fröde, T.S......................................... 139 Estudo do efeito anti-inflamatório do Tacrolimus no Modelo de Pleurisia, em camundongos. Pereira, R. R.; Fröde, T. S........................................................ 139 Reações do tipo alérgico ao látex ocorridas em funcionários usuários de luvas em unidades públicas de saúde dem Florianópolis. Ziliani Buss, Fröde, T. S........................................................ 140 O cuidado humanístico a idosos fragilizados e seus familiares cuidadores em uma Unidade de Sáude. Stefanes, C.; Toledo G. B.; Nora, P. T.; Alvarez, A. M....................................................... 141 Humanizando o cuidado de enfermagem ao paciente submetido a cirurgia bariátrica fundamentado em Paterson&Zderad. Garcia, F. L.; Biesdorg, G.; Evaristo, S. M.; Scheidt, T. R.; Maia, A. R. C............................... 142 O cotidiano da unidade de internação neonatal, um espaço para viver: interagindo com a família e a equipe de enfermagem no cuidado ao recémnascido hospitalizado. Reple, F. de A.; Turazzi, J.; Ventura, L.; Souza, A. I. J. de; Nitschke, R. G............................. 142 Enfermagem na atividade física e no esporte: ampliando um novo espaço de trablaho da Enfermage. Silva, G. K.; Ramos, S. L.; Erdmann, A. L............ 143 O cuidado transdimensional através do Reiki e dos Florais de Bach, numa unidade básica de saúde. Santos, A. C. dos; Martini, J. G............................... 143 A Enfermagem Humanística no cuidado perioperatório à criança e seu familiar. Maceno, P. R.; Reis, S. da S.; Maia, A. R. C.; Eckert, E. R............................. 143 Educação permanente em saúde para trabalhadores da atenção básica: uma proposta à luz da Pedagogia Problematizadora de Paulo Freire. Martins, F.; Ferreira, F. R.; Freire, L. G.; Lino, M. M.; Backes, V. M. S............. 144 Pessoas com doença de Parkinson e seus cuidadores-familiares: a busca por uma nova perspectiva vivencial. Göller, D. da P.; Batista, E. de A.; Ghiorzi, A. da; Meirelles, B. H. S.; Ana Paula Warken do Valle Pereira; Ileana Arminda Mourão Kazapi.................................. 144 Normas de Publicação...................... 146 Revista Ciências da Saúde Editorial A leitura do número 1 volume 26 da Revista “Ciências da Saúde” permite constatar o quanto evoluiu essa publicação. A revista tem como objetivo principal à divulgação dos trabalhos realizados na área da saúde da UFSC. Nesta edição houve a implantação de uma nova linha editorial mais adequada e moderna às necessidades dos dias de hoje. A leitura dos artigos publicados nesse número permite identificar um amadurecimento dos autores no que concerne à publicação de trabalhos científicos. É válido destacar a publicação dos resumos dos trabalhos de dissertações de mestrado do curso de Farmácia da UFSC, além dos trabalhos de conclusão de curso, o que deveria se constituir numa rotina. A despeito do fato de que os trabalhos que venham a ser apresentados para publicação na Revista Ciência da Saúde, com vista à publicação, possam ter um elevado padrão, é inquestionável que todos eles devem passar pelo crivo de uma Consultoria Científica. Neste volume docente de várias Instituições conceituadas do Brasil participaram na avaliação dos artigos encaminhados para esta Revista. A Comissão deve também ter um papel educativo, orientando os menos experientes na tarefa de escrever trabalhos científicos a fazê-lo de forma clara, concisa e precisa e a seguir com rigor as normas exigidas para artigos originais, qualquer que seja a sua modalidade. Certamente a Comissão Editorial encontrará espaço para a publicação de biografias que apresentem às novas gerações aqueles que contribuíram para o crescimento da nossa Universidade e, em especial, para o engrandecimento do Centro de Ciências da Saúde. Também seria de bom alvitre a publicação de artigos históricos que descrevam a evolução de métodos de ensino, de aperfeiçoamentos técnicos ou farmacológicos e, principalmente, que contribuam para fixar a memória de fatos importantes ocorridos nos cursos da área da Saúde. Um dos objetivos dos responsáveis pela Revista é, sem dúvida, ampliar os seus horizontes. A esse propósito podem ser apresentadas sugestões para serem apreciadas quando oportunas. O importante é não esmorecer. Um longo caminho já foi percorrido, e, certamente, objetivos mais ousados serão atingidos. . Tânia Silvia Fröde 8 Sandri, S. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 09-18, jul./dez. 2006 EDUCAÇÃO EM SAÚDE E SUA INTERFACE NO “CUIDAR E EDUCAR” CRIANÇAS DE 0 A 6 ANOS [Education and health the interface between takecare of and teach children from 0 to 6 years] Sandra Sandri1 Resumo: O presente artigo relata o trabalho de Educação em Saúde em creches e Neis: a inserção e a adequação da proposta de acordo com a realidade encontrada; a interação entre profissionais da Educação e da Saúde e de como essa interação foi definitiva para a orientação das ações, bem como o resultado obtido. Palavras-chave: atenção básica, educação em saúde, educar e cuidar. Abstract: The paper is a report about a health education program that took place at nurseries and at NEIS (Infantile Education Center). The report includes aspects related to the insertion and adequacy of the proposal according with the reality; the interaction between professionals of the Education and the Health and their importance to instruct the staff conduct and the actions final results. Keywords: primary medical care, health education program, take care and teach. Introdução O trabalho de atenção básica em saúde, desenvolvido no ambulatório do Centro Social Urbano do bairro Saco dos Limões em Florianópolis, SC, em 1995, na época, campo de estágio para alunos das 6ª e 7ª fases da Faculdade de Medicina da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), incluía atividades na creche Nossa Senhora de Lourdes, localizada nas dependências do referido centro. Na ocasião, avaliamos individualmente as crianças, revisamos seu estado vacinal, orientamos sua dieta, seus hábitos de higiene e a limpeza do ambiente. Observamos a importância de um trabalho de apoio aos funcionários e às professoras, já que as mesmas são as responsáveis pelas crianças durante várias horas do dia. A alimentação, o tempo de exposição ao sol, o estímulo ao crescimento e o desenvolvimento também dependiam da sua atuação, uma vez que, muitas vezes, ao chegarem em casa, os pais não tinham disposição, motivação, tempo ou recursos para complementar o que a criança recebia na creche. As professoras, pela observação diária, muitas vezes, detectavam sinais ou sintomas de algum distúrbio ou deficiência. A partir deste quadro e por entender que o profissional de atenção básica pode ser um agente importante na instrumentalização dos profissionais da Educação para prevenção, identificação e cuidados de saúde das crianças sob sua responsabilidade, é que, de 1999 a 2000, propusemos e executamos, junto à equipe da unidade da rede básica de saúde municipal Centro de Saúde (de agora em diante CS) Agronômica, um projeto nas 8 creches, 5 públicas e 3 da Associação Florianopolitana de Voluntários (Aflov) e 2 Neis (Núcleo de Educação Infantil), localizados na área de abrangência da referida unidade. As reuniões eram realizadas nesses locais e a equipe do projeto orientava, então, pais, professoras e funcionárias quanto ao acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento da criança, à alimentação à vacinação, à saúde oral e aos cuidados com a higiene. _________________ 1 Médica do Programa de Saúde da Família da Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis. Especialista em Medicina de Família e Comunidade, em Saúde coletiva e em Gestão em Saúde. E-mail: [email protected] 9 As crianças eram encaminhadas para consulta médica/odontológica na unidade de saúde. Apesar da receptividade das professoras e funcionárias e do apoio dos pais, houve dificuldades para se manter o projeto. A demanda expressiva por consultas individuais fizeram com que não houvesse, em determinado momento, condições operacionais para a sua continuidade, uma vez que os profissionais envolvidos no projeto eram também os responsáveis pelo atendimento às consultas de atenção básica à comunidade da área. Em 2001, decidiu-se pela retomada do trabalho, mas optou-se por se desenvolver as atividades em um só local, e o mais próximo possível da unidade de saúde, haja vista as dificuldades encontradas. A creche Irmão Celso, no bairro Agronômica, por estar localizada próximo à unidade de saúde, foi a escolhida. O trabalho desenvolvido e aqui relatado teve como objetivos orientar os pais e instrumentalizar os profissionais da creche para o acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento das crianças, prevenindo doenças, protegendo as crianças saudáveis de possível contágio e auxiliando na recuperação dos agravos. Referencial teórico O Programa de Saúde da Família (PSF) é uma estratégia do Ministério da Saúde que tem como objetivos promover mudanças do atual modelo assistencial curativista a outro voltado também à promoção e proteção à saúde, identificação precoce, tratamento de doenças, além da democratização do conhecimento do processo saúde/doença, da organização dos serviços, da produção social da saúde e da humanização das práticas de saúde. O programa elege como ponto central o estabelecimento de vínculos e a criação de laços de compromisso e de co-responsabilidades entre os profissionais de saúde e a população. As ações são voltadas à família, entendida a partir do ambiente em que vive, trabalha e se relaciona. A família e seu espaço social são então o núcleo básico de abordagem no atendimento à saúde, que deve compreender sua promoção, prevenção, recuperação e reabilitação.1,2 Levar ao conhecimento da população as causas que provocaram as doenças e os resultados alcançados na sua prevenção e no seu tratamento, assim como desenvolver processos educativos para a saúde, voltados à melhoria do autocuidado, também são objetivos do Programa.3 No município de Florianópolis, o programa implantado na rede básica de saúde em 1997, ganhou, no que tange à criança, características próprias, na medida em que foi implantado na rede básica de saúde o Programa Capital Criança (PCC), que reforça as diretrizes para a população infantil, “normatiza a assistência e enfatiza a prevenção e a promoção à saúde, objetivando, em especial, promover a maternidade segura, juntamente com o crescimento e com o desenvolvimento do cidadão criança no município de 4 Florianópolis”. Para isso, propõe assistência pré-natal, parto e puerpério, operacionalizando métodos capazes de diminuir a morbi-mortalidade materna, perinatal e de crianças menores de 1 ano. Propõe-se a “oferecer às crianças de 0 a 5 anos assistência de qualidade e eqüidade nas condutas, procedimentos e rotinas, estabelecendo ações efetivas aos problemas prioritários de saúde, instituindo a informação educativa sobre conceitos básicos de saúde às mães, socializando e ampliando o conhecimento popular sobre o tema”.5 Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, no título ll, cap. l, art. 7, “A criança e o adolescente têm direito à vida e à saúde mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso em condições dignas de existência”.6 No art. 14, “O SUS promoverá programas de assistência médica e odontológica para prevenção de enfermidades que ordinariamente afetam a 10 Sandri, S. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 09-18, jul./dez. 2006 população infantil e campanhas de educação sanitária para educadores e alunos”.6 Esta orientação vem ao encontro das novas definições pelas quais passa a educação desde a constituição de 1988. Da mesma forma como aconteceu com a saúde, o Brasil teve um avanço nas políticas sociais. A urbanização, a participação da mulher no mercado de trabalho, as mudanças na organização e na estrutura das famílias e a consciência da importância das experiências na primeira infância, fizeram com que houvesse um movimento da sociedade civil e de órgãos governamentais para que o atendimento às crianças de 0 a 6 anos fosse reconhecido. A educação em creches e pré-escolas passou a ser então um direito das crianças nessa faixa etária (art. 208, inciso IV da Constituição de 1988 e LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Lei nº 9394 de 1996). A educação infantil passa a ser considerada, portanto, a primeira etapa da educação básica, que tem como objetivo o desenvolvimento integral da criança. O Ministério da Educação estabeleceu, assim, um conjunto de referências e orientações pedagógicas que visam contribuir para a implantação de práticas educativas de qualidade, ou seja, que promovam e ampliem as condições necessárias para o exercício da cidadania das crianças brasileiras.7 As experiências oferecidas devem considerar as especificidades afetivas, emocionais, sociais e cognitivas, embasadas nos seguintes princípios: o respeito à dignidade e aos direitos das crianças nas suas diferenças individuais, sociais, econômicas, culturais e étnico-religiosas; o direito de brincar como forma de expressão; o acesso aos bens socioculturais disponíveis à socialização, através da participação e da inserção nas mais diversas práticas sociais e o atendimento aos cuidados essenciais associados à sobrevivência e ao desenvolvimento de sua identidade.7 As instituições passam, pois, a incorporar de maneira integrada as funções de educar e de cuidar, considerando que a função de cuidado, antes, acontecia dentro de uma visão assistencialista, com cunho apenas de guarda e proteção da criança pequena.8 Educar significa propiciar acesso ao conhecimento da realidade social e cultural e a situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades de relação interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude de aceitação e respeito.7 A educação auxilia a apropriação, a construção do conhecimento e o desenvolvimento das potencialidades corporais, afetivas, emocionais, estéticas e éticas, na perspectiva de contribuir para a formação sadia das crianças. Cuidar, por outro lado, é considerado parte integrante da educação, embora exija conhecimentos, habilidades e instrumentos que extrapolam a dimensão pedagógica. Demanda integração com vários campos de conhecimento e cooperação de profissionais de diferentes áreas. A base do cuidado é compreender como ajudar o outro a se desenvolver como ser humano e implica procedimentos específicos. Os cuidados relacionais, por exemplo, além de compreenderem a dimensão afetiva, envolvem também os cuidados com os aspectos biológicos do corpo, como os cuidados com a saúde e a qualidade da alimentação, pois ambos são importantes para o desenvolvimento integral. A Secretaria Municipal de Educação de Florianópolis propõe diretrizes no trabalho com a criança, considerando-a sujeito com direitos e possibilitando o desenvolvimento de suas múltiplas dimensões. Estabelece também relações com a família, de forma a complementar sua ação, assim como com outras instituições sociais, e não perde de vista o eixo do trabalho explicitado no binômio educar/cuidar, que se torna um só no fazer pedagógico ao considerar a criança um sujeito integral.9 O trabalho em creches e Neis, locais que abrigam essas crianças, é uma estratégia importante para o cuidado sob o ponto de vista tanto da saúde quanto da educação. A OMS/OPS e o UNICEF também elaboraram uma proposta de Atenção 11 Sandri, S. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 09-18, jul./dez. 2006 Integrada às Doenças Prevalentes da Infância (AIDPI) para capacitação dos recursos humanos no nível primário de atenção e o Ministério da Saúde incorporou ações específicas com o objetivo de diminuir a mortalidade infantil em estratégias de atenção, como o Programa de Saúde da Família e o Programa de Agentes Comunitários de Saúde, com incentivo ao aleitamento materno, controle de doenças diarréicas, doenças respiratórias, imunizações, suplementação alimentar, acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento, entre outros. O profissional é também capacitado a reconhecer a criança gravemente enferma.10 Desenvolvimento O projeto foi desenvolvido no período de agosto de 2001 a dezembro de 2002. Caracterização da creche Localizada no bairro Agronômica, região central de Florianópolis, a creche dispunha de seis salas, um refeitório, dois banheiros para adultos e um infantil para cada duas salas, uma área para recreação externa com parque infantil, uma lavanderia e um solário. Atendia cento e sete crianças de 0 a 5 anos que permaneciam na creche em período integral, ou seja, das 7 às 19 horas. As turmas eram divididas conforme a faixa etária, segundo orientação da Secretaria Municipal de Educação de Florianópolis e do Conselho Municipal de Educação: quatro turmas com quinze crianças e duas turmas com vinte. Para o atendimento às crianças, havia duas professoras em cada sala, além de uma professora de educação física, três merendeiras, três serviços gerais, duas vigias, uma auxiliar de ensino, uma supervisora pedagógica e a diretora. O projeto político e pedagógico da creche definia como função social da unidade de ensino “o trabalho em múltiplas dimensões: a cognitiva, a afetiva, a biológica e a responsabilidade com o cuidar e o educar”. O objetivo geral da creche era “contribuir de forma efetiva e gradativa no desenvolvimento pleno e sadio das crianças”. Por ocasião do ingresso da criança na creche, era preenchida uma ficha cadastral, na qual eram colocados dados socioeconômicos da família, realização de pré-natal pela mãe, condições de nascimento da criança, desenvolvimento, doenças, alimentação habitual (inclusive a comida preferida da criança), hábitos, sono, medos, brincadeiras e brinquedos preferidos, relacionamento com outras crianças e com a família, atividades dos familiares e inclusão da criança nas mesmas, presença de animais domésticos. Era indagado também como a família “lidava com a questão de regras e limites”, e se havia interesse em discutir algum assunto nas reuniões de pais. Essa ficha era arquivada juntamente com a cópia do cartão de vacinas e consultada sempre que houvesse necessidade. No que diz respeito à alimentação, era oferecido um cardápio para as crianças até um ano de idade e outro para as demais crianças, e as professoras eram as responsáveis. A higiene era feita sempre antes e após as refeições. Atividades observadas diárias das crianças das 7h às 8h: chegada das crianças. Atividades livres na sala; 8h30min: lanche; atividades direcionadas em ambientes internos e externos, desenvolvimento de projetos, parque, oficinas de teatro, música, jogos, recreação; 11h: almoço; repouso; 13h30min: lanche; atividades direcionadas (idem ao turno da manhã) 16h: jantar; atividades livres em espaços internos e externos; das 17h às 19h: saída das crianças. 12 Sandri, S. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 09-18, jul./dez. 2006 Participantes do projeto A equipe do projeto era composta pela direção, professoras e funcionárias da creche, médica, enfermeira e odontóloga da Unidade de Saúde Agronômica, nutricionista da Secretaria Municipal de Educação de Florianópolis e professora e alunas do curso de Nutrição da Universidade Federal de Santa Catarina. Projeto constou de: Oficinas Foram realizadas cinco oficinas, nas quais os profissionais de saúde envolvidos discutiram com os profissionais da creche e com os pais das crianças sobre saúde oral, alimentação, doenças comuns da infância, crescimento, desenvolvimento e prevenção de acidentes. Esses temas foram elencados previamente pela equipe como sendo os de maior interesse e foram coordenados pelas odontóloga, nutricionista, enfermeira e médica, respectivamente. As oficinas foram realizadas na creche. Foram utilizados jogos, brincadeiras ou o próprio alimento como instrumento de apropriação das informações. Os presentes participaram com perguntas, depoimentos, sugestões ou até mesmo auxiliando na exposição do assunto, lendo os painéis projetados e estimulando a discussão, como na oficina sobre crescimento e desenvolvimento. Planejou-se também mas não se conseguiu realizar uma oficina sobre violência. carteira de saúde da criança, solicitada previamente aos pais e verificada individualmente pela médica: vacinação, crescimento, desenvolvimento, intercorrências, realização de consultas de puericultura/dentista estabelecidas conforme rotina do Programa Capital Criança. A partir da realidade individual, era estabelecida a conduta: encaminhamento à consulta médica ou odontológica e à vacinação, reforço da alimentação, orientação aos pais quanto a algum aspecto detectado, etc. Às professoras, era reforçada através da carteira de saúde, a importância do acompanhamento do crescimento / desenvolvimento pelo profissional da saúde, do conhecimento da rotina de consultas da médica, da enfermeira e da odontológa, preconizadas pelo Programa Capital Criança, e do calendário de vacinação apregoado pelo Ministério de Saúde. Arquivo individual Foi organizado um arquivo com uma ficha de registro das vacinas realizadas e a realizar, do crescimento e do desenvolvimento da criança e da rotina de consultas previstas no Programa Capital Criança (instrumentos utilizados pelas unidades de saúde). Esses registros eram feitos periodicamente pela médica que, transcrevendo os dados da carteira de saúde da criança, solicitada previamente aos pais pela direção da creche, tinha o conhecimento do seu estado de saúde, podendo auxiliar, através de orientação, as professoras e/ou os pais, caso houvesse necessidade. Reuniões Visitas da Enfermeira Eram realizadas semanalmente pela médica com a professora da sala e/ou diretora, com a finalidade de instrumentalizar a professora no reconhecimento precoce de alterações e/ou distúrbios. Aspectos relacionados a cada criança eram discutidos, baseados na observação de hábitos alimentares, vínculos familiares, relacionamento com colegas, sono, apetite, entre outros, e nos dados registrados na A enfermeira visitava periodicamente a creche, observando e orientando a limpeza, os hábitos de higiene e o uso adequado de produtos. Odontologia Constatado algum caso de cárie dental nas dependências da creche, a 13 Sandri, S. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 09-18, jul./dez. 2006 profissional responsável orientava a escovação e os cuidados com os dentes e providenciava o fornecimento de escova e creme dental, além de realizar uma triagem para tratamento clínico na unidade de saúde para as crianças de 3 a 6 anos. Discussão A educação e o cuidado de crianças de 0 a 6 anos saiu do âmbito da responsabilidade exclusiva e privada da família a partir de 1988, deixando de ser um benefício para ser uma atribuição do Estado.11 Este fato, segundo12, gerou conflitos pela indefinição de responsabilidades nos diferentes níveis de ensino. A descentralização da educação, conforme a autora, provocou uma desarticulação entre as diferentes esferas do governo. A educação e o cuidado se entrelaçando fortemente nas instituições de educação infantil transformaram a educação e a saúde, vistas sob esse prisma, em ação cidadã, na qual educadores - pessoas conscientes dos direitos das crianças - se empenham em contribuir positivamente para seu crescimento e desenvolvimento.12 Dessa maneira, o cuidar, ainda de acordo com12, proporciona bem estar físico, mental e espiritual, à proporção que se preocupa em adotar medidas de cuidados ambientais, em que promove o aleitamento materno, em que prevê ações nas rotinas em relação a alimentação, sono, banho de sol, higiene, prevenção de acidentes, gerando conhecimento sobre si próprio e autonomia. Para13, educação ou ação cultural para a libertação, ao invés de ser aquela alienante transferência de conhecimentos, é o autêntico ato de conhecer, no qual os educandos se inserem com os educadores na busca de novos conhecimentos. Então, quando se fala em cuidado e educação, nos referimos a um aspecto amplo ligado a emoção, afeto, tato, olfato, paladar, que estão presentes nas interações entre os profissionais e as crianças.14 Embora as necessidades básicas sejam comuns à identificação, à valorização e ao atendimento, são construídas socialmente. Para cuidar é preciso estar comprometido com o outro, com a sua singularidade, é preciso ser solidário às suas necessidades.7 Segundo 15, o profissional deve juntar ao compromisso genérico que lhe é próprio como homem, o seu compromisso de profissional. O verdadeiro compromisso, para o autor, é sempre solidário, e não pode se reduzir a gestos de falsa generosidade nem ser ato unilateral. O compromisso é um encontro dinâmico de homens. O cuidado segue os princípios de promoção à saúde. Os procedimentos e atitudes precisam estar baseados em conhecimentos específicos sobre o desenvolvimento biológico, emocional e intelectual das crianças, levando em consideração as diferentes realidades socioculturais.7 O professor precisa ser polivalente e, conforme7, deve trabalhar com conteúdos diversos, desde cuidados básicos até conhecimentos específicos de diferentes áreas do conhecimento. O professor de educação física, segundo16, já faz essa reflexão à medida que reconhece falhas na formação acadêmica que ainda privilegiam a formação eminentemente técnica com enfoque no desenvolvimento motor, recreação e psicomotricidade, em detrimento de outras como pedagogia, sociologia, filosofia, antropologia, história, etc. Isso, além de exigir uma formação ampla, exige que o profissional seja um aprendiz que reflita sua prática e dialogue com as famílias. A educação, de acordo com15, é possível quando o ser se sente inacabado. Apesar disso, os problemas de saúde, a desnutrição e a violência não são problemas que as instituições consigam resolver sozinhas, precisando, conforme7, de uma ação conjunta. O fato de muitas instituições atenderem em horário integral envolve uma responsabilidade maior quanto ao desenvolvimento e à aprendizagem da criança, assim como a oferta de cuidados 14 Sandri, S. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 09-18, jul./dez. 2006 adequados em saúde7, não desconsiderando a existência de tais responsabilidades nas instituições educativas que atendem crianças em período parcial. A instituição deve proporcionar condições para que todos os profissionais participem de momentos de formação, discussões e palestras. Nesse sentido, observamos que houve, por parte da direção da creche em questão, total apoio ao projeto. Mas as atribuições com que estavam comprometidas professoras e funcionárias muitas vezes as impediam de participarem mais ativamente. Em relação à rotina previamente implantada, observamos pouca flexibilidade em algumas situações, como hora do repouso ou sono das crianças. Em 14 encontramos o depoimento de funcionárias da cozinha, limpeza e serviços gerais: “às vezes tenho pena das crianças porque todo dia elas têm que fazer as mesmas coisas, dormir na mesma hora, comer na mesma hora, brincar na mesma hora” (p. 40) e “Eu acho que as crianças têm que brincar mais na creche. Ainda são muito pequenas e ficam quase todo o dia dentro da sala” (p. 40). Com respeito ao banho de sol, notamos uma inadequação nas atividades ao ar livre,com a exposição solar das crianças em horários impróprios. No que diz respeito à alimentação, 17 propõe que a criança sem apetite, que não acompanha a curva de crescimento ou que apresenta ganho de peso insuficiente para sua faixa etária, deva ser observada para investigação de causa orgânica ou emocional, muitas vezes reversíveis com a intervenção do professor. A orientação ainda é de que as crianças nunca devam ser forçadas a comer, mas estimuladas através de oferecimento de alimentos atraentes, bem preparados, oferecidos em ambientes afetivos, levando-se em consideração as suas preferências. Para 17, o ato de alimentar é fonte de inúmeras oportunidades de aprendizagem, contribui para a socialização, proporciona conforto e prazer quando sacia a fome, e estimula o paladar. No entanto, observamos que o horário das refeições era atribulado, com número insuficiente de professoras para dispensar a atenção necessária. Notamos também que a porção ingerida era pequena. As observações das entrevistadas em 14 sugerem, talvez, a necessidade de reavaliação da alimentação: “Por que a criança sempre tem que gostar da comida da creche? Às vezes elas não gostam da carne mas a gente não pode oferecer outra coisa. Só pode ser aquela comida que é igual para todo mundo...”(p. 41). Ainda, conforme 17, é importante deixar que as crianças experimentem os alimentos com a própria mão. Isso demanda um tempo maior para as refeições, mas não se deve esquecer que a organização da instituição deve estar atenta e a serviço da ação educativa, e não o contrário. Em relação à higiene, percebemos algumas dificuldades, pois, em razão do espaço disponível e do número insuficiente de funcionários, a troca de fraldas e o oferecimento de mamadeiras eram realizadas pela mesma pessoa, às vezes, concomitantemente. Em função disso, os cuidados para evitar a contaminação e a propagação de doenças como dermatites, diarréia, etc., eram prejudicados. Uma das ações previstas e executadas pela enfermeira do projeto foi a orientação para esse aspecto. A higienização das salas com material inapropriado e sem os cuidados para disseminação de alérgenos respiratórios também foram observados e orientados. As oficinas foram momentos de troca de experiências entre pais e professores. Discutimos prevenção de acidentes e alimentação utilizando jogos, o que tornou agradáveis os temas. A discussão do cardápio, com adequação de alguns itens, foi muito positiva para o grupo e contou com a integração e o apoio da nutricionista responsável pelo setor junto à Secretaria Municipal da Educação e ao curso de Nutrição da Universidade Federal de Santa Catarina, que auxiliou também na detecção de crianças com quadro de desnutrição e ganho insuficiente ou excessivo de peso. A essas crianças era dispensada uma atenção especial e elas eram encaminhadas ao cuidado médico. 15 Sandri, S. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 09-18, jul./dez. 2006 Nas oficinas, pudemos observar erros alimentares familiares, tais como consumo de alimentos industrializados com corantes e dieta rica em carboidratos. Frutas da época e verduras eram pouco ingeridas em detrimento de iogurte, batata frita, macarrão Miojo, catchup, salsicha e refrigerante. O encaminhamento à unidade de saúde para consulta médica, odontológica e aplicação de vacinas, de acordo com as diretrizes do Programa Capital Criança, foi bem recebida pelos pais. Observamos que o acompanhamento da criança após um ano de idade não era feito sistematicamente pelos pais, que passavam, a partir de então, a procurar a unidade de saúde apenas quando a criança apresentava alguma intercorrência. Em relação à equipe, esta era interdisciplinar, (assistente social, enfermeira, odontóloga, pedagoga, médica e nutricionista), o que enriqueceu ainda mais a vivência, à medida que havia uma especificidade inerente à cada área do conhecimento e uma complementaridade das ações. O trabalhar em equipe permite o aprendizado constante, especialmente quando se está em áreas afins, pois, em última análise, trabalhamos a Saúde sob o olhar da Educação. Além desse aspecto, outra peculiaridade trouxe enriquecimento. A abordagem escolhida para a Educação em Saúde através de ações de prevenção e controle de doenças compreendeu não só a origem e o desenvolvimento dos agravos à saúde e o autocuidado (pois democratizamos o saber instrumentalizando os professores ), mas também ações de cidadania, como a conscientização dos determinantes sociais do processo saúde-doença.18 Na oficina sobre doenças próprias da infância, por exemplo, enfocamos o quadro clínico e os cuidados básicos necessários, já que muitas vezes as primeiras providências são tomadas pelos professores (casos de vômito, diarréia, traumatismos, etc.). Em outras situações, a doença pode ser fonte de contágio (conjuntivite, dermatite, virose, entre outras), exigindo conduta adequada. Discutimos os determinantes de ambos os casos. Observamos e tentamos implantar um sistema de contra-referência com a unidade de saúde, solicitando ao médico assistente da criança, por ocasião de uma consulta, o envio, para a creche, de orientação necessária sobre os cuidados a serem tomados, assim como um alerta para o risco de contágio, se fosse o caso. Via de regra, isso não se constituía rotina na rede de atendimento, o que podia retardar a recuperação, agravar a doença ou tornar as demais crianças vulneráveis à doença. O projeto desenvolveu-se com total apoio da direção, professoras e funcionárias da creche. As situações não ideais, atribuímos principalmente à sobrecarga de trabalho e à necessidade de seguimento da rotina institucional preestabelecida, que, inclusive, foram revistas na medida do possível, como por exemplo, o cardápio e os cuidados com a higiene. Com relação à equipe de saúde envolvida e aos demais funcionários da unidade de saúde, ambos apoiaram as ações modificando, até mesmo, procedimentos administrativos na Unidade de Saúde para facilitar o agendamento de consultas, retornos e exames das crianças matriculadas na creche. Considerações Finais O cuidado com a saúde pode ser uma complementação, uma estratégia e uma atribuição do profissional da Educação, assim como a Educação em Saúde é um ato pedagógico do profissional da Saúde. Se isso não acontecer, será uma simples transferência de conhecimento, o que não quer dizer que o professor deva adotar uma atitude terapêutica em relação aos alunos, pois os mesmos não são pacientes em relação ao professor, nem que o médico deva ser um professor ou deva ensinar o professor a ensinar.19 As crianças são diferentes como são diferentes suas necessidades. Como afirma19, há crianças extrovertidas, retraídas, alegres, deprimidas, ágeis, lentas. Crianças que vêm de lares satisfatórios e que vão para a escola para que se adicione algo à sua vida. E, 16 Sandri, S. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 09-18, jul./dez. 2006 ainda, crianças que vêm de lares insatisfatórios, e que, às vezes, esperam que a escola lhes forneça o que o lar não lhes proporcionou. Essas crianças encontram-se na mesma classe e o professor adapta-se intuitivamente às diversas condições com que se defronta. Apesar disso, ainda segundo19, a compreensão intuitiva dos professores, mesmo que talentosos, pode não ser suficiente, e, talvez, fosse interessante que o professor, assim como o médico, se baseasse no “diagnóstico” de cada criança. A mudança do papel do professor como educador e cuidador é um desafio, mas o trabalhador social que opta pela mudança, segundo15, não teme a liberdade, não prescreve, não foge da comunicação. Ao contrário, desmistifica o mundo. Não vê na mudança uma ameaça e sabe que a ação transformadora não é só dele. Esse sentimento, percebemos na implantação do projeto, pois não só não encontrou resistência, como foi sendo enriquecido por sugestão das próprias professoras. Da mesma forma, o profissional da saúde que optar por trabalhar Educação em Saúde, optará pela mudança e também desmistificará perante si mesmo, seu próprio papel no processo. O “ensinar” deverá ser substituído pelo “interagir”, pois como diz19, o médico ou o profissional da saúde não pode ter a pretensão de ensinar um professor a ensinar. Acima de tudo, trabalhar em um enfoque de Educação em Saúde e conseguir intervir na realidade requer, conforme18, que o profissional relativize seu conhecimento para uma melhor compreensão do indivíduo, da coletividade e da realidade na qual se insere. Além disso, de acordo com20,” podemos ensinar as mães a prevenir doenças na família. Isso é muito bom, mas existem tantas mães que não dá para orientar todas. Precisamos encontrar e orientar as pessoas que são importantes na comunidade. Essas pessoas vão orientar os outros. Quando a comunidade trabalha unida é possível melhorar a saúde. Ajudar a comunidade a ajudar a si própria é a parte mais importante e mais difícil da educação em saúde”. Agradecimentos À equipe de saúde do CS Agronômica, em especial à enfermeira Norma de Oliveira e à odontóloga Sandra Osti,; ao coordenador da unidade, odontólogo Sergio Laus; às professoras e funcionárias das creches e Neis, em especial a Ana Lúcia da Cruz e a Márcia Maria M. de Deus, respectivamente, diretora e supervisora pedagógica da creche Irmão Celso. Apesar de todas as dificuldades e limitações, seu apoio, disposição e determinação não só em acolher a proposta como em permitir, estimular e auxiliar sua execução, foram decisivos. Sem esse apoio, esta experiência não teria sido possível. Referências Bibliográficas 1- BRASIL. Ministério da Saúde. Programa de Saúde da Família. Brasília, 1994. 18 p. 2- _______. _______. Saúde da Família: uma estratégia para a reorientação do modelo assistencial. Brasília, 1997, 36 p. 3- Ortiga A. Gaio T. Dias VR. Programa de Saúde da Família. In: A organização do novo modelo assistencial: a atenção primária à saúde e o PSF. Textos de Apoio. Mimeo. 4- Secretaria Municipal de saúde de Florianópolis. Programa Capital Criança. 1997,67 p. 5- Brasil. Ministério da Previdência e Assistência Social. Guia de pais para um programa de desenvolvimento da criança de 0 a 5 anos com a colaboração dos pais e da comunidade. Brasília, 1980.237 p. 6- _________. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei n. 8069/90 de 13 de julho de 1990. 5. ed., São Paulo: Saraiva; 1995. 7- _______. Ministério da Educação e Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional 17 Sandri, S. para a educação infantil. a;1:103 p. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 09-18, jul./dez. 2006 Brasília,1998 8- _______. Lei Orgânica da Saúde. Lei n. 8080/90, de 19 de setembro de 1990. 9- Elita T, Ribas W. Quadro geral da qualificação da educação infantil. In: Formação em serviço, partilhando saberes, vislumbrando novas perspectivas. Florianópolis: Prelo; 2004.p.21-26. 10- Brasil. Ministério da Saúde. Atenção integrada às doenças prevalentes na infância AIDP. Módulo 1. Brasília, 1999.16 p. 11- Weiss EMGO. O cuidado na educação infantil: contribuições da área da saúde. In: Formação em serviço, partilhando saberes, vislumbrando novas perspectivas. Florianópolis: Prelo; 2004. p.147-148. 12- Wiggers V. O cuidado e a educação da criança em alguns momentos da história da humanidade. In: Formação em serviço, partilhando saberes, vislumbrando novas perspectivas. Florianópolis: Prelo; 2004.p.109-116. 13- Freire P. Ação cultural para a liberdade. Rio de Janeiro (RJ): Ed. Paz e Terra; 1976.149 p. 14- Batista R, Wiggers V. A infância na educação infantil: o olhar dos educadores da cozinha, limpeza e serviços gerais. In: Formação em serviço, partilhando saberes, vislumbrando novas perspectivas. Florianópolis: Prelo; 2004.p.35-42. 15-Brasil. Educação e mudança.16 ed. São Paulo(SP): Ed. Paz e Terra; 1990.79 p. 16- Sayão D. O fazer pedagógico do/a professora de educação física na educação infantil. In: Formação em serviço, partilhando saberes, vislumbrando novas perspectivas. Florianópolis: Prelo; 2004.p.29-33. 17- Brasil. Ministério da Educação e Desporto. Brasília, 1998b;2:85 p. 18- Silva JO. Bordin R. Educação em saúde. In: Medicina Ambulatorial. 2 ed. Porto Alegre: Artes médicas; 1996.61-65 p. 19- Winnicott DW. A criança e o seu mundo. 4 ed. Rio de Janeiro (RJ): Zahar Editores; 1997. 20- King F, King M, Martodipoero S. Atenção primária para a criança. São Paulo (SP): Ed. Paulinas; 1988.335 p. 18 Martins, H. E. L. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 19-27, jul./dez. 2006 INTEGRAÇÃO DOCENTE ASSISTENCIAL: A EXPERIÊNCIA FLORIANÓPOLIS [Teaching care integration: the experience of Florianópolis] DE Haimée Emerich Lentz Martins1; Magda Duarte dos Anjos Scherer2; Maria Itayra Coelho de Souza Padilha3 Resumo: Estudo histórico social que utiliza a história oral como método, teve como objetivo analisar o surgimento, desenvolvimento, facilidades e dificuldades da Integração Docente Assistencial (IDA) em Florianópolis/SC (Brasil). Foram entrevistados seis profissionais de saúde de instituição de ensino e de serviços de saúde. Da análise dos dados emergiram duas categorias: o surgimento e a institucionalização da IDA. Os resultados apresentam experiências nos anos 70, institucionalização em 1981 e sua consolidação em 1997. Conclui-se que a IDA surgiu da necessidade dos serviços e da academia em resposta aos problemas de saúde e de formação, sobretudo, pela persistência dos profissionais envolvidos. Palavras-chave: história, integração docente-assistencial, educação. Abstract: This paper aims at tracing the history of the teaching care integration in the city of Florianópolis (Brazil), detaching its sprouting, development, as well as the opportunities and difficulties for its implementation. Uses oral history as method. Interviews with six health professionals from education institutions and from public health services had been carried through. The content analysis of the data resulted in two central categories: the sprouting and the institutionalization of the TCI one. The results show experiences with the TCI since the 70’, specially its institutionalization in 1981 with the training period and its consolidation in 1997 with the Teaching Care Program. The TCI has been built because of the needs of the health services and the university in giving answers to the current problems of health and education, but, over all, because of the persistence of the professionals involved. Keywords: history, teaching care integration, education. Introdução As primeiras propostas de articulação da universidade com os serviços de saúde – Integração Docente Assistencial – IDA – no Brasil, iniciam-se na década de 50 e intensificam-se nas décadas de 70 a 90.1 O projeto surgiu inicialmente como tentativa de enfrentar o modelo Flexneriano de ensino. As experiências concentraram-se nos departamentos de medicina preventiva de universidades públicas principalmente do sudeste e foram reforçadas pelas orientações traçadas na Conferência Internacional da Organização Mundial de Saúde - OMS em ______________ Alma Ata, que valorizava a atenção primária em saúde, um dos eixos norteadores da IDA.2 “A integração docente assistencial foi definida como união de esforços em um processo de crescente articulação entre instituições de educação e serviços de saúde, adequados às reais necessidades de saúde da população, à produção de conhecimento e à formação de recursos humanos necessários em um determinado contexto da prática de serviços de saúde e de ensino.3 Em 1985, foi formada a Rede IDA, com o objetivo principal de promover o intercâmbio de experiências entre seus membros.4 1 Enfermeira da Secretaria Estadual de Saúde / SC. Mestre em Saúde Pública pela Universidade Federal de Santa Catarina. Professora do Curso de Enfermagem da UNIVALI – Campus Biguaçú. [email protected] 2 Assistente Social. Sanitarista. Mestre em Saúde Pública pela ENSP/FIOCRUZ. Doutoranda em Enfermagem PEN/UFSC. Bolsista CNPq – Brasil. [email protected] 3 Drª. em Enfermagem pela EEAN/UFRJ, Profª Adjunto do Depto de Enfermagem da UFSC. Vice –Líder do Grupo de Estudos da História do Conhecimento da Enfermagem (GEHCE). Pesquisadora do CNPq. [email protected] 19 Martins, H. E. L. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 19-27, jul./dez. 2006 Integrada por diversos atores da Reforma Sanitária, cumpriu o papel de romper com o isolamento dos projetos esparsos no contexto da ditadura militar. Os projetos IDA contribuíram para o fortalecimento e propostas para o Sistema Único de Saúde – SUS, mas o seu impacto foi limitado sobre o processo da formação. Os serviços eram mais cenários do que parceiros.5 Em 1987, com apoio da Fundação W. K. Kellogg, foram realizados diversos estudos na América Latina, sendo seis deles localizados no Brasil, avaliando quatro profissões de saúde: medicina, enfermagem, odontologia e administração da saúde e as experiências de articulação docenteassistencial. Entre os resultados desses estudos, apontou-se a necessidade de avançar na integração docente-assistencial no sentido de transcender o trabalho de uma profissão e compor equipes multiprofissionais de estudantes, professores e profissionais dos serviços, bem como a necessidade de ampliar a participação da comunidade, ainda restrita nas experiências IDA. Como proposta de ação foi criado em 1991 o Programa UNI (Uma Nova Iniciativa na Formação de Profissionais de Saúde), como uma iniciativa para articular e empreender mudanças nos seus três elementos constitutivos: a Universidade, os Sistemas Locais de Saúde e a comunidade.1 Os projetos UNI, num total de seis que começaram a operar de 1993 a 1996, realizavam intercâmbio de experiências e de atividades conjuntas de integração. No processo, seus participantes entenderam essa articulação como insuficiente para garantir a sustentabilidade e aumentar a governabilidade de seus projetos.4 Nesse contexto, surgiu a proposta, em 1996, de unir os projetos UNI e IDA numa única Rede, a Rede UNIDA. A Rede foi concebida como “Espaço de troca e divulgação de experiências de articulação universidade, instituições de ensino e pesquisa, serviços, comunidade, constituído por projetos, Uni-Londrina; Uni-Botucatu; Uni-Marília ; UniBrasília ; Uni-Salvador ; Uni-Natal. instituições e pessoas interessados em promover mudanças no modelo de atenção, no modelo de ensino em saúde e nas formas de participação social coerentes com os princípios do SUS”.2 A Agenda Estratégica da Rede UNIDA para 2003-2005 que orienta os trabalhos desenvolvidos pela Rede está estruturada em quatro grandes eixos: mudanças na formação de recursos humanos; educação permanente em saúde; articulação e parceria; fomento e produção de conhecimento. No processo de reorientação dos sistemas de saúde, a formação de recursos humanos tem sido reconhecida como uma área crítica, tendo diversos fatores responsáveis, entre eles a desarticulação ensino-serviço. Sendo assim, de acordo com Scraiber et al citados por Teixeira “a articulação das práticas educativas aos processos de implementação de ações e serviços potencialmente capazes de indicar os caminhos para a construção de modelos gerenciais, organizativos e operacionais, ancorados em uma concepção de saúde enquanto qualidade de vida poderia contribuir para a reorientação dos processos de trabalho dos profissionais de saúde, em seus aspectos técnicos, éticos e políticos”.6 A expectativa era que o processo de IDA levasse à mudanças nos currículos das faculdades, a criação dos Distritos Docente Assistenciais (DDA), ao desenvolvimento dos serviços de saúde e a integração do hospital de ensino ao sistema de saúde, entre outros.7 Acreditava-se também que a IDA deveria contribuir para a formação do profissional generalista, que a educação permanente deveria ser desenvolvida para os recursos humanos dos serviços, que a definição da área do DDA deveria obedecer critérios epidemiológicos e demográficos, além de serem definidas as responsabilidades pela atenção a saúde entre as diferentes instituições. “Dentro das escolas a possibilidade de efetivamente mudar e de institucionalizar as mudanças dependia da capacidade dos projetos de construir processos participativos e de acumular recursos de poder para vencer as resistências 20 Martins, H. E. L. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 19-27, jul./dez. 2006 históricas, há muito tempo estabelecidas”.5 A participação ativa dos atores dos serviços de saúde e das organizações comunitárias seria fundamental, além das instituições de ensino, para a formação de profissionais comprometidos com a realidade social. Nesse sentido seria necessário também atuar no âmbito das políticas públicas de saúde. Os Projetos de IDA foram sendo construídos em vários municípios brasileiros, implementando experiências que permitiram avaliar ao longo do tempo as possibilidades de provocar mudanças no processo da formação. Considera-se, entre outros, para avaliar estas possibilidades, a capacidade de articulação que os projetos tiveram, tanto dentro quanto fora das universidades, no sentido de implementar um processo de gestão colegiada. Neste estudo pretendemos analisar historicamente a experiência de integração docente-assistencial do município de Florianópolis/SC, onde está situada a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), instituição de destaque nesse processo. O trabalho focaliza-se no surgimento da IDA, seu desenvolvimento, bem como as facilidades e dificuldades para sua implantação e efetivação. A sua realização foi motivada pelo interesse das pesquisadoras em conhecer a história da IDA, em razão da inserção em atividades docente assistenciais quando alunas de graduação e atualmente na condição de docentes. A importância do estudo está em desvendar uma parte da história da saúde coletiva em Florianópolis, a partir da visão dos atores que vivenciaram o processo de construção deste movimento em Santa Catarina. Esta experiência permitiu efetivamente a integração docente assistencial, e foi a incubadora de experiências como o programa de articulação docente assistencial, ora em implementação. Metodologia Como caminho metodológico optamos pela pesquisa histórico social, utilizando a história oral como método de coleta de dados. Na pesquisa histórica, o pesquisador tem como limitações a impossibilidade de manipular as variáveis, a incapacidade de ter controle sobre os documentos, arquivos e outros materiais disponíveis que sobreviveram apesar do tempo e que em muitas ocasiões, se apresentam com alguns vícios ou defeitos.8 Um dos objetivos da investigação histórica é lançar luzes sobre o passado para que este possa clarear o presente, inclusive fazer perceber algumas questões futuras. A metodologia histórica pode surgir dentro de uma abordagem quantitativa ou qualitativa, entretanto a natureza da história é fundamentalmente narrativa (qualitativa) e não numérica (quantitativa).9 Quando o que se investiga ocorreu num tempo relativamente recente e há falta de informações a respeito desse período, é possível identificar as pessoas que vivenciaram e participaram do processo histórico, a fim de integrarem a pesquisa. Neste caso pode-se utilizar a História Oral (H.O) ou a Historia de Vida (H.V.) como fontes históricas. Optamos neste estudo pela História Oral.10 Entendemos a História Oral como “um recurso moderno usado para elaboração de documentos, arquivamento e estudos referentes à vida social de pessoas. Ela é sempre uma história do tempo presente e é reconhecida como história viva”.11 Para traçar a história oral foram realizadas entrevistas com seis profissionais de saúde, cuja escolha obedeceu aos seguintes critérios: terem vivenciado o início da IDA em Florianópolis; estarem inseridos tanto no âmbito político quanto no pedagógico, no processo de efetivação da IDA, oriundos de instituição de ensino e do serviço de saúde; manifestarem sua disponibilidade para conceder a entrevista, sendo orientados quanto ao consentimento livre e esclarecido, bem como, validarem os dados da entrevista, de acordo com os pressupostos da Resolução 196/86.12 De maneira a preservar o sigilo quanto aos entrevistados, foram utilizados números para identificá-los (E1, E2, E3, E4, E5, E6). O critério de escolha não foi numérico, mas baseado na amostragem qualitativa que: 21 Martins, H. E. L. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 19-27, jul./dez. 2006 “a) privilegia os sujeitos sociais que detêm os atributos que o investigador pretende conhecer; b) considera-os em número suficiente para permitir uma certa reincidência das informações, porém não despreza informações ímpares cujo potencial explicativo tem que ser levado em conta; c) entende que na sua homogeneidade fundamental relativa aos atributos, o conjunto de informantes possa ser diversificado para possibilitar a apreensão de semelhanças e diferenças; d) esforça-se para que a escolha do locus e do grupo de observação e informação contenham o conjunto das experiências e expressões que se pretende objetivar com a pesquisa”.13 As entrevistas foram semiestruturadas, guiadas por um roteiro préestabelecido, que procurava identificar a perspectiva dos profissionais sobre o processo de integração docente assistencial em Florianópolis. Considera-se que na entrevista semi-estruturada “[...] não há a imposição de uma ordem rígida de questões, o entrevistado discorre sobre o tema proposto com base nas informações que ele detém e que no fundo são a verdadeira razão da entrevista”.14 O texto escrito não fala por si mesmo, necessita de perguntas adequadas. A intencionalidade passa a ser alvo de preocupação por parte do historiador, num duplo sentido: a intenção do agente histórico presente no documento e a intenção do pesquisador ao se acercar de tal documento.10 A coleta de dados ocorreu no período de outubro a dezembro de 2003 e foi complementada em março de 2005. O conteúdo obtido com a coleta de dados foi organizado seguindo uma ordem cronológica do relato dos entrevistados e a vivência das pesquisadoras. A análise dos dados utiliza a estratégia de análise de conteúdo proposta por Bardin, para categorização dos dados15, ou seja, realizou-se a leitura detalhada das entrevistas para selecionar as unidades de análise, que posteriormente subsidiaram a elaboração das categorias. Ao final do processo, chegamos a duas categorias centrais: o surgimento da IDA e a institucionalização da IDA. O surgimento da IDA Em Florianópolis, as primeiras experiências de IDA iniciaram na década de 80, segundo a maioria dos entrevistados. Entretanto, para E1 a primeira experiência aconteceu em 1972, no Campeche, com profissionais do Departamento Autônomo de Saúde Pública desenvolvendo atividades nas escolas com uma concepção marcadamente assistencialista. Já para E2 a primeira experiência ocorreu em 1979 num ambulatório da Prefeitura de Florianópolis, no bairro Capoeiras, com duração de quatro meses, porém considera que o Projeto Costeira, em 1981, é o projeto matriz da IDA. Divergindo, E3 considera que em 1979 a Costeira era uma atividade extracurricular da UFSC e a Prefeitura Municipal não contava com serviço de saúde neste bairro, o que acontece somente em 1985, quando é construída uma Unidade de Saúde. Dessa forma, esse entrevistado entende que é neste momento que começa o embrião da integração docente assistencial, com o trabalho de profissionais de ambas as instituições: Prefeitura e Universidade. Para E5 a IDA começa com a organização dos estágios de algumas disciplinas da universidade em centros de saúde, como atividade de extensão. Entretanto, considera que a extensão na Universidade Federal não se constituía num processo de integração, eram coisas isoladas, era uma disciplina fazendo estágio num centro de saúde. Não havia a integração escola/serviço (E5). Argumenta ainda que a extensão tradicionalmente tem um caráter de uso dos campos de estágio, não existe realmente envolvimento dos profissionais, não é um caminho de via dupla (E5). Em 1980, num contexto político onde a articulação entre Prefeitura Municipal de Florianópolis - PMF e Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC não era efetiva, foi criado o primeiro ambulatório da UFSC. Conforme os entrevistados, o local do ambulatório foi a Costeira do Pirajubaé, onde não havia serviço público de saúde. Surgiu como iniciativa de professores ligados ao 22 Martins, H. E. L. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 19-27, jul./dez. 2006 Departamento de Enfermagem e de Saúde Pública da UFSC, com objetivo de incluir na atividade curricular do curso de medicina a disciplina de saúde coletiva. No início o trabalho não tinha um caráter institucional, mas era fruto do empenho e dedicação de um grupo de profissionais que desejava proporcionar aos alunos um espaço que possibilitasse vivenciar um novo modelo de atenção a saúde. Os estágios eram extracurriculares, com alunos da enfermagem e da medicina.17 Segundo E3, a saúde coletiva tem tudo a ver com a Costeira do Pirajubaé, que surgiu como um anseio de alguns profissionais da enfermagem e da medicina de incluir no curso mais horas de saúde comunitária. Considera também que na época não havia integração docente assistencial na saúde coletiva como existe hoje, pois não havia interesse dos cursos em desenvolver atividades em saúde coletiva como parte do currículo (E3). Na visão de E6, o currículo deve contemplar as atividades de extensão articuladas com o serviço e em equipe multiprofissional. Segundo ele a proposta deve ser institucionalizada e de forma curricular, não pode ficar sob a responsabilidade de alguns docentes, algumas pessoas, alguns grupos da universidade. Os obstáculos existem tanto na rede como na universidade. Além do Projeto Costeira, foi implementado na década de setenta o Projeto Santarém, projeto de extensão, localizado em Santarém/Pará em que a UFSC desenvolvia atividades em local denominado Campus Avançado. Este é considerado por E3 como experiência fundamental no desenvolvimento da integração docente assistencial ultrapassando as fronteiras estaduais. Em Santarém atuavam alunos de diversos cursos, da UFSC e de uma Universidade do Pará, desenvolvendo até a década de oitenta atividades no posto de saúde montado pelas universidades e na comunidade onde este se localizava. Conforme dados das entrevistas estas atividades proporcionavam aos estudantes várias áreas experiências de convívio com uma realidade brasileira desconhecida da maioria, e conseqüentemente riquíssima para a sua formação profissional. O trabalho desenvolvido era quase que totalmente preventivo, visando a promoção da saúde, possibilitando um desvio na visão hospitalocêntrica do ensino da época.5 Institucionalização da IDA A partir de 1981 o trabalho na Costeira se tornou atividade de extensão da UFSC, fato que poderia ser considerado marco na institucionalização da IDA em Santa Catarina. A atividade na Costeira era extracurricular, tratava-se de um atividade desenvolvida pelo interesse dos alunos e dos professores que dela participavam, e todo esse pessoal que se vinculou conosco em 1981 continua fazendo a mesma coisa, de modo que a gente não tem a menor dúvida que isso era paixão. (...) uma possibilidade de integração com a população, de fazer uma prática diferenciada num momento em que a prefeitura não queria fazer essa prática diferenciada (E2). Ao fazer uma análise entre as experiências iniciais e o atual Programa de Articulação Docente Assistencial, E3 afirma que, levou 20 anos para que as pessoas vissem que a saúde coletiva é importante para a saúde das pessoas. (...) tão importante quanto a saúde hospitalar. (...) a briga era de trabalhar com pessoas na perspectiva da construção do sujeito, da cidadania, da participação do cidadão numa relação dialógica. Isto é propor um modelo contra hegemônico. De acordo com as informações, em 1982 outros cursos como o de farmácia e em 1983 o curso de nutrição passaram a fazer parte do projeto de extensão já desenvolvido pela medicina e pela enfermagem. Neste ano, foram ampliadas as atividades para os bairros Serrinha e Córrego Grande, contando a partir de então com o apoio do Hospital Universitário através da contratação de profissionais médicos para IDA na atenção primária em saúde. Estes médicos tinham vínculo com a PMF e atuavam em Centros de 23 Martins, H. E. L. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 19-27, jul./dez. 2006 Saúde, o que permitiu a realização da supervisão dos alunos nesses locais. A idéia era trabalhar a preparação de recursos humanos para o setor público da saúde dentro do SUS (E5). Finalmente, a partir de maio de 1989, é firmada parceria entre a Universidade Federal de Santa Catarina -UFSC e a Prefeitura Municipal de Florianópolis - PMF com o estabelecimento de convênio para realização de intercâmbio técnico-científico e cultural.16 Segundo E2, atividades de extensão eram desenvolvidas através de estágio não obrigatório em medicina comunitária e nessa mesma época o curso de psicologia também iniciou atividades nos Centros de Saúde. Em 1997 a Prefeitura e a Universidade assinam um Termo Aditivo ao convênio estabelecido em 1989, objetivando a implantação de um Programa de Articulação Docente Assistencial – PADA, entre o Centro de Ciências da Saúde (CCS) e o Serviço de Saúde Pública do Hospital Universitário - HU da UFSC e a Secretaria Municipal de Saúde e Desenvolvimento Social da PMF. Neste novo acordo a finalidade é atender à necessidade de formação de recursos humanos para o setor público de saúde, dentro da realidade do Sistema Único de Saúde – SUS, numa visão integral de atenção à saúde, trabalho multiprofissional e interdisciplinar e organização em Sistemas Locais de Saúde (SILOS).16 O Termo Aditivo também visava à configuração de um Distrito Docente Assistencial – DDA. O tempo de vigência do Termo Aditivo de 1997 era de três anos, renovandose automaticamente, caso não houvesse manifestação das partes. Entretanto, a Procuradoria Geral do Município recomendou a sua renovação, o que gerou novos Termos Aditivos. Os Termos de 1995 e de 2002 reafirmaram os propósitos do anterior e o seguinte, no ano de 2004, renovado por dois anos, retomou os objetivos do convênio assinado em 1989, mencionando apenas a realização de intercâmbio técnico, científico, cultural e administrativos entre as partes conveniadas, sem referência ao Sistema Único de Saúde.17 O Programa Docente Assistencial poderia ser considerado marco na consolidação da IDA. O PDA iniciou tendo como área de abrangência 14 Centros de Saúde – CS, dos quais sete funcionavam como Centros-Escola e o Hospital Universitário da UFSC, com ambulatórios de especialidades médicas e internação geral. Com esta estrutura, o PDA procurava garantir diferentes níveis de complexidade na atenção à saúde. Atualmente o PDA abrange 17 Unidades Locais de Saúde – ULS.16,17 Houve ampliação para uma área diferente do Sistema Local de Saúde anteriormente proposto, pois a partir da assinatura do último convênio(2002), todo o município poderia potencialmente ser parte do PDA. Esta condição foi necessária principalmente pela dimensão da mudança curricular efetuada pelo Curso de Medicina da UFSC, que ao introduzir o aluno precocemente (já na 1ª fase) no campo de atuação do sistema de saúde, demandava um número muito maior de territórios de trabalho e áreas físicas (E5). Nas ULS trabalham equipes orientadas pelo Programa de Saúde da Família – PSF. O Hospital Universitário destaca-se no convênio como referência e como co-gestor do Distrito, ao lado da Secretaria Municipal de Saúde e do Centro de Ciências da Saúde da UFSC.17 Em janeiro de 1998 teve início o internato obrigatório em Saúde Coletiva da 10ª fase de medicina e integraram-se ao PDA os cursos de nutrição e enfermagem, em 1999 o curso de farmácia, em 2001 os cursos de psicologia e serviço social, e em 2003 o curso de odontologia.17 O PDA é uma continuidade dos estágios curriculares, que se diziam IDA, mas que ainda deixavam a desejar. A proposta mais avançada, que existia antes do PDA, era o trabalho da medicina e da enfermagem, em formato de sistema local de saúde (SILOS). A idéia era de que os centros de saúde deveriam referenciar os usuários para que os docentes e discentes os encaminhassem para os ambulatórios de especialidades e para internação no Hospital Universitário, com uma organização sem exclusividade. Assim, o usuário seria 24 Martins, H. E. L. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 19-27, jul./dez. 2006 acompanhado em todo o seu itinerário de atendimento, ou seja, de efetivar o sistema de referência e contra-referência. Então toda rede de cuidados seria possível. Isto funcionou precariamente, mas funcionou. O PDA começou com a idéia de distrito, evoluindo para a cidade inteira através do PROMED que irá colocar em campo de estágio só com a medicina 600 alunos, claro que não todos simultaneamente (E5). De acordo com E5, o Distrito Docente Assistencial precisa ser ampliado, não é possível ficar só numa área pequena tendo, além do curso de medicina, todos os outros cursos que irão colocar alunos em campo. Então o sistema local de saúde acaba sendo o sistema municipal, porque esta proposta extrapolou para todo o município (E5). Para E1, o PDA significa continuidade e aprimoramento da IDA. Antes as atividades eram contrahegemônicas, paralelas, não reconhecidas, era tão não reconhecido que quando eu e [...] pedimos no nosso departamento para fazer atendimento ambulatorial teve um professor que fez um discurso dizendo que a saúde pública não era para fazer clínica, e nós fomos impedidos de colocar hora no nosso plano de trabalho para fazer supervisão de ambulatório. Nós ficamos um ano e meio trabalhando na Serrinha e depois no Córrego e na Costeira sem que pudesse contar como plano de trabalho departamental (E1). Com a implantação do PDA novas regras foram criadas, possibilitando a integração entre PMF e UFSC, com funções definidas para cada instituição e efetivando a possibilidade de ampliação com a participação de outros cursos da UFSC, além da medicina.17 É a integração das áreas da saúde, caminhando e trabalhando junto na construção do SUS (E3). Antes do PDA não havia área definida para o trabalho, nem adscrição de clientela. O Hospital Universitário passou a ser referência oficialmente, mas concretamente ainda há dificuldade de efetivar a referência e contrareferência (E3). A precária estrutura da universidade e dos centros de saúde é apontada como um fator limitante da integração docente assistencial. Os cursos são formados em disciplinas individuais, em grupo de pesquisa, é uma série de feudos, alegam que os alunos têm que cumprir a carga horária, ficam brigando dentro da disciplina e assim reproduzindo o velho modelo tradicional. Quebrar essa tradição de intra-muralidade dentro da universidade é muito difícil, isso demanda muita discussão e sacrifícios, o professor vai ter que se deslocar, vai demandar recursos (E6). Não dá para ser estágio (...) do semestre indo todos para o centro de saúde, sem integração ou contato com os profissionais da unidade, (...), tiram coisas da comunidade, fazem seu estágio, aparecem daqui a dois meses e depois vão embora. Além disso, (...) não temos infra-estrutura, é só ver a sala que nós estamos. Ainda estamos nessa proposta porque tem pessoas que acreditam nisso (E4). O Programa de Residência em Saúde da Família é, para E6, um exemplo concreto de integração docência/assistência, porque ele tem que fazer a residência prática na unidade de saúde e demanda recursos e muitas negociações. Na opinião dos sujeitos do estudo, a IDA e o PDA ocorrem, mesmo que paralelamente, graças ao empenho do Departamento de Saúde Pública e de alguns profissionais, apesar dos muitos conflitos políticos. Percebe-se nos discursos que uma mudança importante com o PDA foi a melhoria das relações entre as instituições de saúde, a UFSC e PMF, além da predisposição e a necessidade de ambas em trabalhar juntas. Hoje os representantes da PMF e da UFSC têm um discurso semelhante, mas ainda é preciso avançar na parceria melhorando o processo de tomada de decisões, que muitas vezes é unilateral. Entretanto, segundo E1, ainda persistem dificuldades tais como uma certa marginalidade na IDA, contra-hegemonia e voluntarismo, e o fato de não ser um projeto de Estado, podendo ser rompido a qualquer momento. Por outro lado, considera que hoje os Centros de Saúde têm boa estrutura, profissionais capacitados, central de 25 Martins, H. E. L. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 19-27, jul./dez. 2006 marcação de consultas especializadas, que facilitam o desenvolvimento das atividades. E4 afirma ainda que, já se passaram quase duas décadas de integração docente assistencial e felizmente ainda existem profissionais comprometidos e acreditando na proposta. Para ele, isso se confirma com o retorno dos alunos, agora como profissionais, às unidades de saúde, para trabalhar no Programa de Saúde da Família. Embora tendo o comprometimento por parte de alguns profissionais, o PDA, segundo E4, se apresenta como um sonho, um ideal de equipe que tem mais efetividade no papel do que na prática. Diversos fatores foram mencionados como facilidades e dificuldades no processo de IDA, que podem ser sintetizados na ilustração a seguir. Quadro 1 – Facilidades e dificuldades da IDA de acordo com os entrevistados Facilidades Dificuldades Profissionais que atuam no PDA têm sua Conflitos políticos. formação acadêmica ampliada. Marginalidade e voluntarismo. Comprometimento dos profissionais e dos Precária estrutura da Universidade e da gestores. Secretaria Municipal de Saúde. Profissionais das unidades de saúde vinculados Unilateralidade na tomada de decisões. à comunidade. O colegiado do PDA não discute a IDA. Melhoria da estrutura do sistema de saúde. Discurso semelhante dos parceiros. De acordo com o quadro acima, percebe-se que a contribuição da IDA na formação permanente de recursos humanos dos serviços ainda é muito limitada, embora os fatores facilitadores sejam mais amplos do que àqueles que dificultam a sua ocorrência. Na maioria dos casos conformam-se equipes paralelas, da UFSC e da PMF. Apesar das limitações apontadas, o PDA vem se estruturando de maneira a se constituir num espaço concreto de integração docente assistencial. Em 2003 foi criado o Regimento Interno do PDA, que definiu, entre outros, a estruturação de um colegiado técnicoconsultivo, que inclui, além dos representantes ligados ao serviço de saúde e à academia, representantes de usuários de Unidades de Saúde onde o PDA está presente, indicados pelo Conselho Municipal de Saúde.17 Considerações Finais A história da integração docente assistencial em Florianópolis foi contada por sujeitos que fizeram parte de sua construção e contribuíram para a sua implementação. É praticamente consensual que seu surgimento data do início dos anos 80 e que seu desenvolvimento tem sido marcado pelo comprometimento de docentes, discentes e outros profissionais com a proposta, o que lhe tem garantido continuidade. A implantação do Programa Docente Assistencial implicou em mudanças significativas no processo de IDA, que destacamos a seguir: melhoria das relações entre a Secretaria Municipal de Saúde e a Universidade; estabelecimento de regras de funcionamento mais claras; definição das funções institucionais, da área de trabalho e da clientela; ampliação do número de cursos envolvidos no processo; o Hospital Universitário passou a ser referência oficial; o PDA constituiu-se espaço propício para a criação dos cursos de Especialização e Residência em Saúde da Família da UFSC. Por outro lado, observou-se que as organizações comunitárias foram pouco mencionadas pelos entrevistados, o que sugere que este “ator”, considerado estratégico por autores que discutem a IDA no Brasil, não estaria participando na elaboração das propostas ou mesmo no acompanhamento dos trabalhos. A dimensão político-organizativa, que inclui o controle social, poderia ser objeto de outro estudo, avaliando a capacidade deste projeto de estar construindo processos participativos e acumulando recursos de poder, para a 26 Martins, H. E. L. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 19-27, jul./dez. 2006 consecução de seus objetivos. As questões apontadas pelos entrevistados demonstram a inevitável convivência entre o velho e o novo e a presença da contradição nos discursos – [...] duas décadas de integração docente assistencial[...]. [...] o PDA existe no papel, mas não na prática. Finalmente, pode-se dizer que a integração docente assistencial tem sido construída, sem dúvida, em função de uma necessidade real dos serviços e da academia de dar respostas aos problemas de saúde e de formação que se impõe no cotidiano, mas, sobretudo, pela persistência dos profissionais envolvidos. Referências Bibliográficas 1. Kisil M. Uma estratégia para a reforma universitária: a iniciativa UNI. Saúde para Debate 1996 jul;(12):5-14. 2. Rangel ML, Vilasbôas AL. Rede unida: breve histórico, concepção, organização e estratégias de ação. Divulgação em Saúde para Debate 1996 Jul;(12):15-8. 3. Feuerwerker LCM, Marsiglia R. Estratégias para mudanças na formação de RHs com base nas experiências IDA/UNI. Divulgação em saúde para Debate1996 jul,12,24-28. 4. Feuerwerker LCM, Costa HOG, Barbosa N, Khalil ME. O processo de construção e de trabalho na Rede UNIDA. Divulgação em saúde para Debate, 2000 dez;22,9-17. 5. Feuerwerker LCM. 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Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 28-33, jul./dez. 2006 CONHECIMENTOS DE GESTANTES E MÃES RELACIONADOS À SAÚDE BUCAL: UMA ANÁLISE DA LITERATURA [The pregnant and mother’s knowledge about oral health: a literature review] Mirelle Finkler1; Dayane Machado Ribeiro2; Denise Maria Belliard Oleiniski3; Flávia Regina Souza Ramos4 Resumo: Os conhecimentos e as práticas de gestantes e mães relacionados à saúde e, particularmente à saúde bucal, têm sido objeto de inúmeras pesquisas, mas a simples leitura do conjunto de trabalhos publicados não elucida a complexidade do tema. Neste intuito, o presente estudo discute os resultados de pesquisas publicadas, obtidas por meio de um levantamento bibliográfico, objetivando colaborar na construção de um corpo coeso de conhecimentos que possa ser efetivamente aplicado nos trabalho de educação em saúde. A análise destes resultados reforça o entendimento de gestantes e mães como um grupo estratégico na promoção da saúde bucal e aponta caminhos para a melhoria da assistência odontológica materno-infantil. Palavras-chave: gravidez, saúde bucal, conhecimentos, atitudes e práticas em saúde. Abstract: The pregnant and mother’s knowledge and practice related to health and, specially, to oral health, have been frequently studied, but the isolated reading of the articles available does not elucidate the complexity of that subject. Therefore, this study presents a literature review directed to the discussion of previous findings, contributing to the construction of a body of knowledge that can be useful to the health education work. The analysis emphasizes the agreement of pregnant women and mothers as a strategical group to the oral health promotion and indicates ways to improve dental care. Keywords: pregnancy, oral health, health knowledge, attitudes, practice. Introdução Para que a educação em saúde tenha resultados positivos, é necessário que se trabalhe a partir dos conceitos e conhecimentos já sedimentados pelas pessoas1, num claro diálogo entre os saberes científico e popular, respeitando-se a diversidade cultural e a multiplicidade de experiências. Considerando-se que os valores e as atitudes adquiridas durante a fase de socialização primária da criança ficam fortemente enraizados e são resistentes a mudanças, quanto mais cedo são iniciadas as atividades de educação em saúde e, havendo interação com o núcleo familiar, melhores são os resultados.2 Vale ressaltar a similaridade nas experiências de cárie entre familiares, que tem sido justificada pelas semelhanças biológicas entre esses indivíduos e pela transmissibilidade bacteriana, sobretudo entre mães e filhos. Entretanto, a importância que os fatores sociais e comportamentais têm na modulação da doença cárie deve ser adequadamente dimensionada: membros de uma mesma família compartilham um ambiente em comum que abrange aspectos relacionados à posição sócio-econômica, alimentação, higiene, entre outros, o que significa dizer que o estabelecimento de hábitos que geram saúde depende fundamentalmente do ambiente familiar.2 ______________ 1 Cirurgià-dentista. Mestre em Odontologia – área de concentração de Odontologia em Saúde Coletiva, pela UFSC. Professora substituta do departamento de Estomatologia/UFSC. 2 Cirurgià-dentista. Mestre em Odontologia – área de concentração de Odontologia em Saúde Coletiva, pela UFSC. Professora substituta do departamento de Estomatologia/UFSC. 3 Cirurgiã-dentista. Doutora em Odontologia. Professora adjunta II do Departamento de Estomatologia /UFSC. 4 Enfermeira. Doutora em Filosofia de Enfermagem. Professora Adjunta IV do Departamento de Enfermagem/UFSC. E-mail: [email protected] 28 Martins, H. E. L. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 19-27, jul./dez. 2006 Neste sentido, também se percebe que o grau de conscientização dos pais se reflete na saúde de seus filhos, pois as crenças, valores, atitudes e hábitos relacionados à própria saúde, participarão da conformação do padrão de comportamento de seus filhos.35 Pensando-se na família como um espaço primário de relacionamento social, as mulheres, como mães, exercem uma influência especial, principalmente nas questões relacionadas à saúde, pois atuam como agentes multiplicadoras de informações e atitudes que visam à promoção da saúde de toda a sua família.2,6,7 Partindo deste entendimento, diversas pesquisas da área da Odontologia têm sido realizadas com gestantes e mães a respeito de seus conhecimentos, atitudes e práticas de saúde. A diversidade destes trabalhos não é apenas numérica, mas também qualitativa: diferentes métodos, enfoques e diferentes comunidades estudadas. A necessidade de se compreender o tema conduz a um diálogo entre os autores, possibilitando o debate de seus resultados. Nesse sentido, um levantamento bibliográfico foi realizado nas bases de dados BBO (Bibliografia Brasileira de Odontologia) e LILACS (Literatura LatinoAmericana e do Caribe em Ciências da Saúde), através da biblioteca virtual de saúde da BIREME, buscando-se trabalhos publicados até o ano de 2003, sobre conhecimentos e comportamentos de gestantes e mães em relação à saúde bucal. A busca foi então ampliada por meio de fontes complementares (pesquisa na web e em listas de referências bibliográficas), encontrando-se 15 pesquisas, cujos seus principais resultados são apresentados e discutidos em seguida. Revisão e Análise da Literatura A renda familiar tem sido apontada como fator determinante no acesso e na posse de conhecimentos relacionados à saúde bucal7,8, o que não se verifica com relação à escolaridade8,9,10 que, no entanto, está associada à saúde bucal.11 Desta forma, a baixa renda pode ser um dos fatores implicados nos resultados de diversos trabalhos que relatam gestantes e mães com práticas inadequadas de cuidados bucais12,13 e com pouca informação sobre questões relacionadas ao assunto.3,8,12,14,15 Outros fatores como o paradigma tradicional da Odontologia, a cultura popular e o discurso científico também são apontados como parte de uma complexa explicação para essa realidade.16-18 Contudo, o interesse manifestado por gestantes e mães sobre a saúde bucal de seus filhos tem sido freqüentemente registrado, indicando que a intervenção para a educação e motivação nesta fase provavelmente encontraria uma reação positiva3,4,14,17,18, beneficiando a saúde bucal das crianças, desde pequenas.19 Também por essa razão, a importância das mulheres consultarem o cirurgião-dentista enquanto grávidas tem sido ressaltada12,13,17,18, bem como a assistência odontológica precoce, preventiva e regular à criança pois, conforme constatou Oliveira em 2002, as mães que mais realizam a higiene bucal em seus filhos são as mesmas que mais os levam ao dentista. Constata-se uma grande variação entre os resultados que relatam a proporção de gestantes e mães que conhecem o momento adequado para a primeira consulta odontológica do bebê mas, de um modo geral, tal informação tem sido considerada pouco conhecida. Verifica-se também que ainda existe o entendimento de que o momento adequado para o início do tratamento odontológico seria por volta dos 3 a 4 anos de idade e o de que se deve esperar para levar a criança ao profissional perante o surgimento de algum problema.3,5,20,21 Já o momento de se iniciar a higiene bucal da criança, por ocasião da irrupção dos primeiros dentes ou antes mesmo, é uma informação mais conhecida pelas gestantes e mães.3,18,21 O entendimento sobre saúde, problemas bucais, suas causas e prevenção parece ser mal compreendido4,14, apesar da maioria das gestantes considerarem que os 29 Finkler, M. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 28-33, jul./dez. 2006 problemas bucais afetam a saúde das pessoas e relacionarem saúde à qualidade de vida.4,6,18 A definição de cárie e a noção de que é evitável são insuficientemente conhecidas3,4,10,14,16, assim como a cárie de mamadeira3,14,18,20 e a doença periodontal.4,18 Apesar das gestantes e mães não saberem definir o que é o flúor, elas reconhecem a sua importância na prevenção à cárie4,21, da mesma forma que consideram que alimentos doces16, má-escovação e falta de tratamento são as principais causas de problemas bucais.4,20 Embora possuam alguns dos conhecimentos acima, percebe-se uma lacuna entre estes conhecimentos e os comportamentos que as gestantes adotam.4,5,7,12,20,21 A superação do conceito de saúde enquanto ausência de doença, o entendimento sobre a determinação social do processo saúde-doença e a ampliação da compreensão popular sobre as doenças bucais e seus meios de prevenção são conteúdos que precisam ser desenvolvidos nos trabalhos de educação em saúde, centrados nas necessidades sentidas e nas trocas de conhecimentos e experiências entre profissionais e comunidades. Dentre os trabalhos analisados, o realizado por Silva et al. em 1999, com gestantes da cidade de Curitiba (PR), foi o único cujos autores consideraram satisfatório o nível de conhecimentos sobre saúde bucal, ainda que sua amostra tenha sido composta por gestantes de baixa escolaridade. Nesse estudo, a maioria das entrevistadas sentia-se capaz de evitar a cárie em seus futuros filhos. Tais resultados foram atribuídos ao acesso facilitado aos serviços de assistência odontológica naquela cidade, proporcionando às pessoas a percepção de importantes fatores relacionados à saúde bucal.20 Do mesmo modo, Finkler em 2003 relata que as gestantes de sua pesquisa sentiam-se capazes de contribuir com a saúde bucal de seus filhos, assumindo plenamente sua responsabilidade enquanto mães-promotoras de saúde.18 Quanto ao acesso aos conhecimentos sobre saúde bucal, observa-se que, ainda hoje, o cirurgião-dentista é a principal fonte de informações. Outros meios divulgadores de conhecimentos apontados pelas gestantes foram a família (em especial as mães), a escola, materiais educativos, os médicos e também, em menor escala, a mídia.4,5,14,20,21 A esse respeito, Sarnat et al. em 1984 sugerem que o estabelecimento da saúde bucal como norma social, através da mídia de massa, seria capaz de aumentar a probabilidade de uma mudança comportamental ser aceita e adotada.19 Assim, uma maior aproximação entre a imprensa e os serviços de saúde, de forma a maximizar seus benefícios, tem sido recomendada.18 Analisando as representações sociais de gestantes, Finkler18 observou que o entendimento da influência da saúde da própria gestante na saúde do bebê foi mediada pela indissociabilidade entre seus corpos durante a gestação, por meio da alimentação, do uso de medicamentos, pela possibilidade de transmissão bacteriana e de complicações na gestação, decorrentes da falta de cuidados com a saúde bucal materna.18 Contudo, Maeda et al. em 2001 relatam que apesar da maioria de suas entrevistadas acreditarem na importância de se ampliar o autocuidado no período gestacional, sua rotina não foi modificada.1 Tal fato reforça a observação de que a relação entre conhecimentos, atitudes e práticas em saúde bucal é confusa12, não havendo uma relação direta de causa-efeito entre atitude (entendida como uma predisposição a fazer algo) e 19 comportamento. Possivelmente os fatores que intermedeiam essa relação possuem variadas origens (psicossociais, sócioeconômicas), mas sua discussão nos trabalhos analisados é apenas incipiente, a despeito de sua importância. Muitas das gestantes entrevistadas por Costa et al. em 1998 consideravam haver uma relação direta entre os cuidados bucais que a mãe tem consigo e a saúde do bebê.6 No mesmo sentido, Finkler18 verificou que as gestantes imaginavam haver uma relação entre a saúde bucal de mãe e filho, também após o parto, por conta do relacionamento 30 Finkler, M. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 28-33, jul./dez. 2006 físico íntimo (por meio da transmissibilidade bacteriana e do aleitamento materno), pelo exemplo que as mães passam aos filhos e pelos cuidados tomados em comum.18 Entretanto, o conhecimento a respeito da possibilidade de transmissão bacteriana vertical e das medidas para prevení-la tem sido considerado insuficiente1,5,6,21, sendo desejável sua ampliação como uma das orientações preventivas oportunas. Ainda assim, a percepção por parte das gestantes da inter-relação entre a própria saúde bucal e a de seus filhos pode ser considerada benéfica e desejável, à medida que as pré-dispõem para um maior autocuidado, não obstante as condições da realidade sócio-cultural em que vivem. Outro achado freqüente entre as pesquisas analisadas é a carência de orientação sobre a saúde bucal durante o período gestacional.4,14,18,21 Este dado pode ser atribuído à ausência do dentista na equipe de assistência pré-natal e, sobretudo, à resistência das gestantes em procurar o atendimento odontológico, decorrente dos preconceitos sobre a influência que este tratamento poderia exercer na gestação14,16,18, crença esta compartilhada por muitos profissionais que a assistem no pré-natal e até mesmo por cirurgiões-dentistas.17 Cabe considerar que o preparo do cirurgião-dentista para o atendimento de gestantes, para o trabalho em equipes interdisciplinares e para o seu papel de educador em saúde são requisitos prévios ao seu imprescindível engajamento junto às equipes de pré-natal e de Saúde da Família. Nessa situação, uma ampla discussão com os demais profissionais de saúde sobre a importância da educação para a saúde bucal na fase gestacional é sugerida14, quando conhecimentos básicos deveriam ser permutados, conceitos uniformizados e as crenças sobre possíveis prejuízos à saúde da gestante e do bebê por conta do tratamento odontológico, “desmistificadas”.18 Também tem sido relatada outra crença presente entre gestantes, a qual relaciona a gestação à descalcificação dos dentes, o que aumentaria a incidência de cárie e a perda de elementos dentários.17,18,20,21 A ausência de atendimento odontológico a gestantes, além de aumentar a precária situação de sua saúde bucal, também contribui fomentando tal crença.1 Diante de tais fatos, considera-se que atrelar o atendimento odontológico preventivo-reabilitador às consultas do prénatal, investir no trabalho educativo junto às gestantes, conscientizando-as sobre a importância deste atendimento durante a gestação17 e manter o suporte assistencial após o parto, às mães e bebês18, são etapas demasiadamente importantes no sentido de se promover à saúde materno-infantil e, particularmente, à saúde bucal. Considerações Finais A significativa quantidade de artigos que tratam dos conhecimentos e práticas de saúde de gestantes e mães reflete o elevado interesse profissional sobre este grupo que é considerado estratégico para a promoção da saúde. Ao mesmo tempo, o interesse deste grupo sobre as questões de saúde bucal, reforçam a motivação para o seu envolvimento em trabalhos educativos. A diversidade dos resultados relatados pelas pesquisas permite uma aproximação com o saber de gestantes e mães, embasando a elaboração de trabalhos de educação em saúde bucal que precisam ser incentivados e urgentemente desenvolvidos, especialmente no período pré-natal e, preferencialmente, com um enfoque interdisciplinar. Contudo, este embasamento não dispensa o importante contato entre profissionais e comunidade local, no sentido de se buscar compreender a sua realidade social e histórica, o seu senso comum, seus valores e crenças que influenciam comportamentos e práticas relacionados à saúde bucal. Com esta finalidade, recomenda-se o emprego da metodologia qualitativa de pesquisa, ainda incipiente na Odontologia, mas de resultados promissores, capaz de humanizar a prática profissional, melhorando a assistência odontológica materno-infantil. 31 Finkler, M. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 28-33, jul./dez. 2006 1. Maeda FHI, Toledo LP, Pandolfi M. A visão das gestantes quanto às condutas odontológicas na cidade de Franca (SP). Rev Odontol Vitória 2001;3(2):8-14. interferência na percepção de saúde bucal de gestantes. [resumo B166] In: 18ª. Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Pesquisa Odontológica; 2001 set. 1-5; Águas de Lindóia. Anais. São Paulo: SBPqO; 2001a.p.151. 2. Faria CF, Oliveira CMR, Pordeus IA. Avaliação de conhecimentos e atitudes relacionados à prevenção em odontopediatria: um estudo com gestantes, mães e profissionais da área médica. Parte I. Arq Odontol 1997;33(2):121-32. 10. Oliveira J. 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[Work process in health care and social control: a necessary reflection] Gladys Brodersen1; Maria Itayra Coelho de Souza Padilha2; Águeda Lenita Pereira Wendhausen3 Resumo: Organização histórica do setor saúde e a caracterização do processo de trabalho em saúde são os temas discutidos neste estudo, que tem por objetivo analisar a contribuição do controle social para a efetivação do Sistema Único de Saúde. O controle social na formulação das políticas de proteção e promoção à saúde é um dos elementos essenciais de construção da cidadania. A reorganização dos serviços de saúde através do controle social deve privilegiar o cuidado como seu objeto de trabalho centrada no usuário, produzindo vínculos através da reorientação das práticas assistenciais. Palavras-chave: políticas de controle social, trabalho, equidade. Abstract: The historic organization of health care and the characterization of the work process in health care are the subjects discussed in this paper. Its objective is to analyze the contribution of social control in the effectiveness of the Brazilian Public Health System. Social control in forming of protectionist and health promotion policies is one of the essencial elements in the construction of citizenship. Reorganization of health care services throug social control should privelege care as the object of its work, centered on the user, thus creating links through reorientation of assistencial practices. Keywords: social control politics, work, equity. Introdução Captar os determinantes sociais da doença e da forma de produção de saúde tem merecido especial preocupação por parte de vários profissionais de saúde. A distância entre os aspectos puramente clínicos e os condicionantes sociais aponta uma lacuna entre o reconhecimento das necessidades da população e as respostas destinadas pelos serviços de saúde para a melhoria da qualidade de vida. Estando no início do século XXI, fazse necessário refletir sobre o que passou e buscar novas propostas que sustentem a assistência à saúde prestadas pelos enfermeiros, superando a visão mecanicista tão presente em nossa prática cotidiana. A busca de um novo entendimento do processo saúde/doença, que atravessa o modo _______________ de produção e acumulação capitalista, deverá romper com os velhos conceitos positivistas mimetizados por explicações biológizantes para entendê-lo na sua articulação com a formação econômica/política do país na conjuntura atual. Devemos entender, pois saúde, além da visão de equilíbrio orgânico e eleger questões relativas a qualidade de vida, ou seja, não podemos conferir ao setor saúde a qualidade de ser a foz de todos os males provocados por políticas econômicas e sociais sofríveis. Para compreendermos as condições existentes entre a historicidade da assistência e as políticas sociais ditadas pelo Estado (mediado pelas correlações de força entre as classes sociais), necessário se faz analisa-la sob a ótica da dialéticidade da relação entre capital e trabalho. 1 Professora da UNIVALI. Mestre em Educação pela UFPR. Doutoranda em Enfermagem pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFSC. Membro do GEHCE. E-mail: [email protected] 2 Doutora em Enfermagem pela EEAN/UFRJ; Professora Adjunto do Depto de Enfermagem da UFSC. ViceCoordenadora do GEHCE. Pesquisadora do CNPq. E-mail: [email protected] 3 Professora da UNIVALI. Doutora em Enfermagem pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFSC. E-mail: [email protected] 34 Martins, H. E. L. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 19-27, jul./dez. 2006 Sabe-se que a organização dos serviços de saúde segue a lógica das especialidades, da fragmentação e do parcelamento do homem. Os serviços de saúde, organizados dessa maneira atuam sobre o processo de saúde/doença dentro do modelo biológico positivista, que atualmente mostra sinais de esgotamento. Este modelo tem-se mostrado insuficiente pelo entendimento das manifestações das doenças no homem e seu comportamento epidemiológico, assim como, para determinar medidas terapêuticas.1 Como proposta de superação deste modelo de saúde, foi criado o Sistema Único de Saúde, com o objetivo de municipalizar os serviços de saúde e as políticas públicas, aumentando a capacidade de decisão local, bem como o controle e a participação social. Neste sentido, este trabalho consiste em analisar a contribuição do controle social para a efetivação do Sistema Único de Saúde, a partir de uma reflexão sobre a organização do setor saúde no Brasil e o processo de trabalho em saúde. Um pouco da história do setor saúde O movimento da reforma social resultante de grande pressão social presente na década de 70, denunciou os efeitos do modelo econômico irracional e perverso do sistema de saúde vigente na época. Esse movimento, além de fazer denúncias contra o Regime Militar e os interesses econômicos hegemônicos no país, caracterizou-se fundamentalmente por apresentar propostas de um projeto de transformação no sistema de saúde. Com o início da abertura política nos anos 80, a queda do Regime Militar e o surgimento da Nova República em 1985, houve a possibilidade de intensificação de movimentos sociais como: sanitário, sindical e o popular. Esse novo cenário resultou na convocação da 8º Conferência Nacional de Saúde (1986), que tinha como objetivo a discussão de um sistema de saúde para o Brasil, cujas propostas seriam encaminhadas aos constituintes. O caráter participativo desta conferência, marcou um diferencial em relação às anteriores, de cunho tecnocrático e autoritário, com a participação aproximadamente de 4000 pessoas (lideranças comunitárias e sindicais, técnicos, estudiosos, dirigentes institucionais, políticos e representantes de entidades de pessoas portadoras de necessidades especiais e patológicas). A 8ª Conferência Nacional de Saúde discutiu e aprovou um relatório cuja as deliberações passaram a constituir o projeto da Reforma Sanitária. Com os movimentos sociais haviam se fortalecido, além do projeto de Reforma Sanitária outras propostas foram encaminhadas à Assembléia Nacional Constituinte, no sentido de fortalecer a discussão rumo ao novo sistema de saúde nacional. As propostas encaminhadas eram de vanguarda e por isso garantiam a inserção no texto constitucional de várias de suas pautas. Podemos destacar a inclusão no texto constitucional de proposta como o reconhecimento da saúde como direito de cidadania (Artigo 6º) e a criação do Sistema Único de Saúde SUS (Art. 198), integrado por uma rede organizada e hierarquizada e organizada de acordo com as diretrizes de descentralização, atenção integral e participação da comunidade. Estas inclusões rumo a um novo modelo de saúde garantem uma mudança radical de um modelo de saúde privatista e fragmentado, para outro democrático de qualidade e que busca na atenção básica de saúde e promoção à saúde.2 A Constituição Federal de 1988, a Lei Orgânica da Saúde – LOS 8080/90 e a Lei 8142/90 asseguram a participação popular e o controle social na saúde por meio de Conferências e Conselhos de Saúde em todas as esferas de governo (Nacional, Estadual e Municipal). Este espaço institucional possibilita aos representantes de vários segmentos da população exercitarem o direito de incorporar nas políticas públicas, as reivindicações e os interesses daqueles que representam. Em 1990 é sancionada a Lei nº 8142/90 que prevê fóruns de participação através da formação de conselhos federal, 35 Brodersen, G. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 34-41, jul./dez. 2006 estadual e municipal de saúde, e a realização periódica de conferências de saúde, nos três níveis de governo.3 Os conselhos de saúde passam a ser considerados os principais órgãos de controle social na definição do sistema e dos serviços de saúde, sendo que em sua composição deve haver paridade entre o número de usuários presentes no conselho e os demais segmentos ou seja, 50 % dos representantes do conselho são usuários e os demais segmentos do conselho seriam distribuídos entre os 2 demais componentes. A Legislação de Saúde vigente em nosso país, vem possibilitando avanços e transformações das práticas assistenciais, embora muitas vezes estes avanços legais não confiram por si só modificações reais no cotidiano de usuários, trabalhadores e instituições envolvidas. Em relação ao controle social, há avanços, mas há também muitos problemas.4-9 Dados recentes apontam que no Brasil temos 5201 conselhos (são 5506 municípios brasileiros) e em todos os 27 Estados. Embora em termos numéricos, estejamos avançados, sabe-se que a existência desses fóruns por si não é garantia de que efetivamente exista participação, ou ainda, não é garantia de que esta participação se faça com qualidade. Neste sentido, quais seriam nossas opções em desvelar tais equívocos? De que maneira como trabalhadores de saúde, poderíamos minimizar as divergências centenárias impostas pelo poder centralizador que impera em nossas práticas cotidianas? Estes questionamentos nos remetem a pensar na responsabilidade em relação a mudança assistencial e qual o papel dos trabalhadores da saúde em provocar uma atuação consciente e democratizadora. Não acreditamos ser esta uma tarefa fácil, nem por isso pensamos que deve ser abandonada. Por isso pensamos que seja necessário, um olhar mais atento às práticas de participação dos vários setores sociais, que foram instituídas pelo movimento da Reforma Sanitária, se quisermos avançar em direção à consolidação de um sistema democrático e resoluto na área da saúde. Há que se considerar também, que para desempenhar este importante papel político, de fóruns autônomos, os profissionais de saúde precisam participar de um processo continuo de ampliação de conhecimentos e politização. Em relação ao controle social instituído através dos conselhos e conferências, ocorre um avanço na democratização, não somente em relação ao sistema de saúde, mas também para a prática mais geral, ampliando os espaços e o poder de intervenção da população, o que provocaria a emergência de novos sujeitos políticos e identidades coletivas.7 Entendendo que a visão dos profissionais de saúde sobre o processo de saúde/doença e o processo de trabalho em saúde é necessária, quando os mesmos deverão participar da formulação das políticas públicas de saúde. Este é um dos principais motivos pelo qual se sustenta a importância da inserção do enfermeiro neste dado momento histórico. O enfermeiro ao longo dos anos vem modificando sua compreensão em relação à enfermagem e a saúde, embora sua prática ainda esteja centrada no modelo tradicional de assistir. Esta situação é percebida fortemente ainda em profissionais que atuam no Programa Estratégia de Saúde da Família, que possui como um dos pressupostos fundamentais a reformulação dos modelos de atenção à saúde no Brasil. Com isto evidencia-se uma aparente insatisfação com a profissão e uma certa indiferença da mesma para com a sociedade e vice e versa. Creio que nos falte, enquanto profissionais de saúde, a visão do real, do concreto, aliado a uma identificação do que somos e a quem devemos servir. Contextualizar, pois, o enfermeiro enquanto trabalhador de saúde seria perceber que o mesmo tem como prática o conteúdo social. Estamos então, no que tange a nossa prática, subordinados às políticas públicas de saúde e às determinações de estrutura social. Dessa maneira, constata-se que o discurso da Reforma Sanitária está longe de ser colocado em prática, enquanto não criarmos perspectivas de superação e avanços. Parte da possibilidade desta superação reside no 36 Brodersen, G. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 34-41, jul./dez. 2006 controle social. Trata-se de uma tarefa árdua, pois significa a construção de um processo que propõe a inclusão das classes populares na participação efetiva nas decisões da nação. O conjunto dos movimentos sociais e dos partidos políticos que têm como proposta a melhoria da qualidade de vidas das classes populares do país é insuficiente para gerar as mudanças necessárias, pois falta justamente a participação destas classes na proposta de controle público, que hoje é conduzida no Brasil essencialmente por profissionais e técnicos.6 A atual conjuntura aponta um momento privilegiado, onde o controle social incide para além da legitimidade conferida pelos conselhos municipais de saúde. Esta certeza, também deveria ser inerente aos profissionais de saúde, pois os mesmos tem um papel fundamental no processo de viver e ser saudável dos municípios que atuam, traduzindo seus olhares na política pública municipal através do Plano Municipal de Saúde, instrumentalizando os usuários nesta construção. Caracterização do processo de trabalho em saúde O início do século XXI é marcado por um processo de transformação no mundo do trabalho gerando insatisfações e insegurança para a maioria da população brasileira e mundial. Ocorre uma crise mundial, caracterizada pela desarticulação do padrão de desenvolvimento norte-americano, fordista que se configurou no Pós Segunda Guerra Mundial e proporcionou o maior período de prosperidade econômica da história do capitalismo.10 Desde este período, vem ocorrendo uma diminuição dos trabalhadores do setor industrial, e aumentado o número de trabalhadores em escritórios, comércios e serviços. A diminuição do emprego no setor industrial vem diminuindo; ao contrário do que vem acontecendo nos serviços, desde a 2ª Guerra Mundial. Estes trabalhadores possuem em comum a execução de atividades diferentes da produção material do tipo industrial e uma ampla diferenciação relacionada ao prestígio, níveis salariais e tipo de atividades desenvolvidas.11 Alguns estudiosos tem chamado as sociedades ocidentais fortemente industrializadas de sociedades de serviços ou sociedade administrada.1 O setor de serviços cresce nas sociedades capitalistas neste século porque a penetração do capital nos diversos setores da vida transforma antigas formas de cooperação mútua, social, comunitária e familiar, em atividades comercializáveis no mercado. Esta nova forma de prestação de serviços só ocorre em larga escala sob o capitalismo monopolista, que criou um mercado universal e transformou em mercadoria toda forma de atividade do ser humano, inclusive o que até então as pessoas faziam por si mesmo e não para as outras.11 O trabalho em saúde é um trabalho essencial para a vida humana e é parte do setor de serviços. É um trabalho da esfera não material, que se completa no ato de sua realização. Desta maneira, quem executa o trabalho não percebe a totalidade da ação e quem recebe assistência tem dificuldade de saber a quem solicitar ajuda.1 A assistência a saúde de um modo geral, é um serviço, em que o trabalho não se concretiza em coisas materiais, como seu produto, mas em mudanças que resultam em bem-estar e saúde, os quais, embora concretos e evidentes ao olhar observador, são experimentados pela própria pessoa que vai em busca dessa assistência e cuidado.12 Desde os primórdios, os homens tiveram suas vidas marcadas por problemas de saúde, e a assistência sempre incorporou um trabalho diferenciado, desenvolvido por pessoas com conhecimentos específicos ou grupos dotados de uma capacidade especial.1 Ao longo da história, a atenção à saúde dos indivíduos vem sendo desenvolvida de muitas formas e nunca envolveu uma única abordagem diagnóstico-terapêutica, assim como não foi um espaço exclusivo de abordagem profissional. Vários fatores explicam o porque da manutenção desse modelo tradicional de assistir em saúde em instituições públicas ou privadas. Dentre eles é possível apontar: a inexistência de 37 Brodersen, G. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 34-41, jul./dez. 2006 mecanismos de controle da qualidade da assistência prestada, a história da organização das profissões de saúde, o tratamento de quem recebe a assistência de saúde como “paciente” e não como “cliente”, a influencia da organização capitalista do trabalho no setor saúde e o modelo hegemônico de produção de conhecimento em saúde. Há um consenso de que o SUS representa um grande avanço no tocante às políticas públicas brasileiras, sendo o único sistema com propostas e práticas claras de controle social, transparência administrativa, gestão participativa e democrática. Mas os avanços são dificultados pelo fato de que a proposta do SUS – um sistema construído com base em princípios de solidariedade social que assegura a universalidade do acesso e a integralidade da atenção – não é compatível como o atual modelo econômico e num contexto social em que a cultura é marcada pelo autoritarismo, pelo clientelismo, pela exclusão. A luta pela preservação das conquistas sociais é dificultada pela frágil organização da sociedade, em especial dos setores que mais sofrem as conseqüências da pobreza e da iniqüidade social.2 Em relação ao acesso, sabe-se que o principal problema em saúde continua sendo a iniquidade na atenção à saúde (acesso, recursos disponíveis, utilização e qualidade). Estes fatores interagem entre si e causam inequidades no estado de saúde em geral. Para uma resposta mais efetiva a estas questões, faz-se necessário compreender este processo a partir das relações que se estabelecem entre os determinantes de saúde (sociais, econômicos, de gênero, éticos e outros), a nível regional, nacional e local. No entanto, todo este processo deve estar associado ao fortalecimento de grupos marginalizados, a criação de redes de apoio social e solidariedade entre as comunidades envolvidas.2 Os problemas de saúde no Brasil, na maioria das vezes pretendem ser solucionados através de políticas de saúde. Entretanto, seus discursos possuem conteúdos ideológicos, que acabam escamoteando as diferenciações de acesso e de condições de saúde das classes sociais, que percebem suas necessidades de saúde limitadas por determinações reais e muitas vezes ignoram a imposição ideológica das políticas de saúde frente as suas necessidades. O controle social na formulação das políticas de proteção e promoção à saúde precisasse constituir em um dos elementos de construção da cidadania. Esta implica na possibilidade de que as questões do campo da saúde pública sofram interferência da sociedade civil organizada de caráter popular, ou seja, que o controle governamental seja menor em detrimento ao social. Neste sentido, a construção da cidadania é um processo de fortalecer os interesses das organizações da sociedade civil que mais se preocupam com as condições de vida da maioria da população.2 No Brasil, as desigualdades sociais, a concentração de renda e a existência de um verdadeiro “estado de mal estar social” produzem condições que determinam a atual situação de saúde da população, onde o surgimento de doenças características das condições do desenvolvimento industrial e do estilo de vida da sociedade moderna soma-se a persistência de doenças típicas da pobreza e do subdesenvolvimento. Ainda que a atuação sobre os determinantes sociais seja fundamental na superação da situação de saúde do Brasil, devemos reconhecer que as lutas setoriais apresentam resultados significativos mesmo quando travadas numa perspectiva compensatória. Portanto elas devem existir somando-se as lutas por uma ordem social mais justa. As políticas e ações de saúde somente se efetivarão com o estabelecimento de uma parceria com a sociedade, onde haverá um desenvolvimento das atividades de educação em saúde, aliado à democratização da informação e ao fortalecimento dos mecanismos de controle social com a ocupação de espaços, hoje restritos ao poder público.6 De forma geral, a participação popular compreende múltiplas ações que diferentes forças sociais desenvolvem para influenciar a formulação, execução, fiscalização e avaliação das 38 Brodersen, G. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 34-41, jul./dez. 2006 públicas e/ou serviços básicos na área social.13 Frente a estas constatações, observase que enfrentar as desigualdades identificadas através da participação da sociedade, de todos os atores das comunidades, através de uma discussão aberta, democrática e participativa, seria um caminho adequado e efetivo de construir respostas às desigualdades estáveis, desnecessárias e injustas. Perceber saúde como um direito é perceber sua transformação paradigmática, na qual o sujeito passa a ser coletivo.14 Sob este prisma, a saúde não se restringe à busca individual e passa a ter afeição coletiva, na medida em que ela é apropriada como um direito social; um direito coletivo.o direito à saúde pode então ser visto como um dos elementos da cidadania, como um direito à promoção da vida das pessoas. Diante desta constatação, torna-se importante verificar a possibilidade de participação que os grupos sociais podem exercer na forma de organização, participação e articulação dos problemas de saúde com os quais se deparam. A complexidade dos problemas de saúde atuais, tem exigido um trabalho cooperativo, multiprofissional, do tipo interdisciplinar, que rompa com a visão fragmentada da superespecialização, onde o convencimento se sobreponta ao poder hierárquico.1 Este quadro propicia a organização dos movimentos sociais, no sentido de transformarem carências (necessidades) em direitos garantidos pela proposta de novas políticas sociais, garantidas quando aumenta o resultado das lutas concretas. Raramente o estado por si só, elabora políticas sociais com o intuito de prover justiça social. É necessária a mobilização dos movimentos populares no sentido de garantir o atendimento e suas carências de forma normatizada. Acreditamos que as políticas e ações de saúde somente se efetivarão com o estabelecimento de uma parceria com a sociedade, onde haverá o desenvolvimento das atividades de educação para a saúde, aliada a democratização da informação e o fornecimento dos mecanismos de participação popular com a ocupação de espaços, hoje restritos ao poder Público.13 Considerações Finais A década de 80 culmina com a mudança do paradigma do sistema capitalista de produção, ao incorporar a ciência e a tecnologia acumuladas em décadas anteriores, no processo produtivo. Esta transformação trás em seu bojo, impactos na organização e forma de produção com reflexos substanciais nas relações sociais em relação a participação nas esferas cultural e política. Vive-se sob o impacto de um novo paradigma de produtividade industrial e eficiência econômica, centrada numa revolução de base técnica, cuja a questão central é a substituição da rigidez pela flexibilidade e rapidez de resposta enquanto possibilidade concreta de se lidar com a incerteza. A nova concepção do modelo de produção fundamenta-se me conceitos de integração, flexibilidade, polivalência e motivação. Do atual trabalhador, exige-se que amplie cada vez mais o exercício de sua cidadania, aumentando os seus espaços de participação nas esferas social, política e produtiva, pelas novas formas que assumem as relações sociais e produtivas, mesmo no âmbito do capitalismo.15 A institucionalização da participação no Brasil, veio no rastro desta tendência mundial foram criados e institucionalizados vários instrumentos participatório no país, inclusive na saúde.5 Acredita-se que apesar desta institucionalização se efetivar de forma legal no país, não exista agravantes de maneira instantânea de participação popular nas decisões de saúde. Repensar a desinstitucionalização e a desmedicalização da saúde seria importante para que a participação popular acontecesse de modo a avançar na Reforma da saúde. As instituições de saúde vem impondo práticas conhecidas e aceitas pela população como filas intermináveis, banho, sonegações de informações entre outras. Isto ocorre de forma com que os usuários não consigam 39 Brodersen, G. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 34-41, jul./dez. 2006 perceber a existência de outra forma de relação com estes serviços e a conexão deste cotidiano mudo com os problemas da participação em instâncias políticas.13 Entendemos que os profissionais de saúde podem exercer um papel fundamental no sentido de que a população incorpore o controle social como uma prática de melhoria de qualidade de vida. Em especial o enfermeiro, que vem incorporando a educação em saúde como instrumento de trabalho, tem o papel de estimular e colaborar diretamente neste processo, seja na sua prática cotidiana junto a população e/ou líderes comunitários, ou atuando diretamente em fóruns específicos (associações de moradores, conselho municipal de saúde, conferências de saúde). A reorganização dos serviços de saúde, tendo como seu objeto a produção do cuidado e significando um processo de trabalho usuário centrado, acolhedor e capaz de produzir vínculos tem sido luta constante de alguns profissionais de saúde. O vínculo dos usuários com a equipe tendo a responsabilização desta pra com o cuidado, cria referências seguras e, sobre tudo, a forte idéia de empoderamento dos usuários, que se dá por processos de aprendizagem de como se cuidar e também processos de subjetivação que fazem com que eles se sintam com condições competentes e aptos a se cuidar.16 Algumas ações poderão colaboram na instrumentalização da população para o exercício do controle social, e poderão fortalecer o enfermeiro em relação à sua prática rumo ao SUS. Dentre elas está a preocupação da capacitação dos conselheiros, a implantação de conselhos locais de saúde, a implantação de um serviço de ouvidoria e melhorias do sistema de informação entre conselheiros e comunidade.13 Referências Bibliográficas 1. Pires D. Reestruturação produtiva e trabalho em saúde no Brasil. São Paulo: Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social;1998. 2. Ministério da Saúde (BR). O SUS e o controle social: guia de referencias para os conselheiros municipais. Brasília: O Ministério;1998. 3. Brasil, Ministério da Saúde. Lei Orgânica da Saúde. 2a ed. Brasília: Assessoria de Comunicação Social;1991. 4. Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva. Incentivo à participação popular e controle social em saúde, Relatório Final Movimento e Saúde. Rio de Janeiro: ABRASCO; 1993. 5. Cortes SMV. Participação na área da saúde: o conceito, suas origens e seu papel em diferentes projetos de reforma do Estado. Saúde. 1996;1:51-69. 6. Valla VV. 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Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 34-41, jul./dez. 2006 MERCADO DE TRABALHO DE NUTRICIONISTAS EGRESSOS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA: EMPREGO, DESEMPREGO, JORNADA DE TRABALHO E SALÁRIO [Labor market for graduate nutritionists from Santa Catarina Federal University: employment, unemployment, working hours and salary] Francisco de Assis Guedes de Vasconcelos1; Camila Elizandra Rossi2; Emilaura Alves2 Resumo: Este artigo apresenta os resultados de investigação transversal descritiva sobre o mercado de trabalho de nutricionistas egressos da Universidade Federal de Santa Catarina. A metodologia consistiu na aplicação de um questionário auto-resposta, o qual foi remetido aos egressos via Correios, endereços eletrônicos e fax. Os resultados demonstram que 84,9% dos nutricionistas atuam na profissão; 67,6% possuem apenas um emprego e 81,1% vinculam-se às instituições como empregados. Em relação à jornada de trabalho, 60,4% trabalham acima de 30 horas semanais (média de 34,9 ± 13,0 horas/semana). A média salarial foi 7,4 salários mínimos para uma jornada semanal média de 35 horas. Palavras-chave: mercado de trabalho, nutricionista, perfil profissional do nutricionista. Abstract: This article presents the descriptive and cross-sectional investigation results about the labor market for graduate nutritionists from Santa Catarina Federal University. The methodology involved applying a self-completion questionnaire, sent to the nutritionists through mail, electronic addresses and fax. The results show that 84.9% of the nutritionists practice professionally; 67.6% possessing a single job and 81.1% being linked to the institutions as employees. With regard to working hours, 60.4% work more than 30 hours per week (average of 34.9 ± 13.0 hours/week). The average salary was 7.4 times the minimum wage for an average 35-hour weeks’ work. Keywords: labor market, nutritionist, nutritionist’s professional profile. Introdução No Brasil, a profissão de nutricionista surgiu há cerca de sessenta e seis anos, quando, em 1939, foi implantado o primeiro Curso de Nutrição do país.1-3 Àquela época, frente à tortuosa tarefa de construção da nacionalidade brasileira e de implantação das bases de uma sociedade capitalista urbanoindustrial, o principal desafio que se colocava a este profissional era a superação do perfil epidemiológico nutricional, caracterizado, sobretudo pelas doenças carenciais (desnutrição energético protéica, hipovitaminose A, anemia ferropriva, etc.), associadas às condições de pobreza, de fome, de desigualdades regionais.4 Nas duas primeiras décadas de existência do nutricionista (1940-1950), o mercado de trabalho concentrou-se em duas áreas de atuação: Nutrição Clínica e __________________ Alimentação Coletiva. A Nutrição Clínica caracterizava-se por ações de caráter individual, em hospitais públicos e privados, tendo como base a assistência dietoterápica (o alimento como agente de tratamento). A Alimentação Coletiva, por sua vez, voltavase ao desenvolvimento de ações de administração de serviços de alimentação de coletividades sadias e enfermas de instituições públicas e privadas.4,5 Nas duas décadas seguintes (19601970), às duas primeiras áreas agregaram-se mais duas: Nutrição em Saúde Coletiva e Ensino da Nutrição, ampliando consideravelmente o mercado de trabalho do nutricionista. A Nutrição em Saúde Coletiva voltava-se às ações de caráter coletivo, visando à garantia de produção e consumo de alimentos adequados e acessíveis a todos os indivíduos da sociedade. 1 Professor titular do Departamento de Nutrição/CCS/UFSC. E-mail: [email protected] Nutricionistas egressas do Curso de Graduação em Nutrição/CCS/UFSC, bolsistas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC/CNPq/BIP/UFSC. 2 43 Vasconcelos, F. de A. G. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 42-48, jul./dez. 2006 Na área de Ensino caberia ao nutricionista o ensino de disciplinas de Nutrição nos Cursos de Graduação em Nutrição e outros da área de Saúde e afins.4,5 Nos últimos vinte e cinco anos, sobretudo a partir de 1996, com a instituição da nova Lei de Diretrizes e Base da Educação (LDB), observou-se uma intensa expansão no número de Cursos de Graduação em Nutrição.4,6-8 Segundo dados do Conselho Federal de Nutricionistas (CFN), até outubro de 2005 existiam 262 Cursos de Nutrição no país.9 Por conseqüência, dados do CFN apontam um efetivo de 37.238 nutricionistas registrados, até 30 de março de 2005, nos distintos conselhos regionais.10 Esta expansão do número de cursos e, conseqüentemente de nutricionistas no país, têm propiciado a ampliação e a diversificação do mercado de trabalho, provocando alterações nas condições de trabalho. Este contexto tem provocado o debate das distintas entidades da categoria (escolas, associações científicas, conselhos profissionais e sindicatos)11, bem como suscitado a realização de investigações que buscam retratar a realidade da atuação e das condições de trabalho do nutricionista.2,7,12-20 O presente artigo refere-se aos resultados de um estudo mais amplo que procurou traçar um perfil quanti-qualitativo da atuação do universo de egressos do Curso de Nutrição da UFSC, visando à criação de subsídios que possam contribuir para a melhoria do processo de ensino de graduação e pós-graduação em Nutrição. Este artigo descreve aspectos relacionados à situação profissional (índices de emprego, desemprego e abandono da profissão), à jornada de trabalho e aos níveis salariais dos nutricionistas egressos da UFSC, no período de dezembro de 1983 a fevereiro de 2000. Ressalta-se que o Curso de Nutrição da UFSC foi criado em 10 de agosto de 1979 e implantado no primeiro semestre de 1980. A primeira turma de egressos colou grau em dezembro de 1983. Até fevereiro de 2000, 343 nutricionistas haviam colado grau. Até fevereiro de 2005, ao completar 25 anos de implantação, vinte e duas turmas haviam colado grau, totalizando 509 nutricionistas egressos da UFSC.7,8,16,19 Método Realizou-se estudo transversal descritivo, cujos procedimentos metodológicos iniciaram-se com o levantamento dos endereços residenciais e telefônicos do universo de nutricionistas egressos da UFSC, ao longo de dezembro de 1983 a fevereiro de 2000. Recorreu-se às listagens de endereços dos profissionais cadastrados no Conselho Regional de Nutricionistas (CRN-2), na Associação Catarinense de Nutrição (ACAN) e nas malas-diretas de eventos organizados pelo Departamento de Nutrição da UFSC. Dispôsse também da relação de assinantes fornecida pelas Telecomunicações de Santa Catarina S.A. Ao final, localizaram-se 296 (86,3%) endereços. Não foram localizados os endereços de 47 (13,7%) egressos. Esses resultados são semelhantes aos de BOOG et al.12 sobre os egressos da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCCAMP), no qual 15,1% dos endereços não foram localizados. Aplicou-se um questionário autoresposta, desenhado especificamente para atender aos objetivos da pesquisa. A principal via de remessa do questionário foi o serviço de Correios. Utilizou-se também endereço eletrônico (e-mail), fax e contato pessoal para entrega dos questionários. As informações foram processadas no Microsoft Access 97. As variáveis foram analisadas a partir da distribuição de freqüência, acompanhada de cálculos de medidas de tendência central e dispersão (médias e desvios-padrão). Neste artigo apresentam-se os resultados relativos aos índices de emprego, desemprego e abandono da profissão; número de empregos por profissional; vínculos empregatícios e cargos ocupados; jornada de trabalho e níveis salariais, incluindo nível salarial médio em cada área de atuação profissional (Ensino, Nutrição Clínica, Nutrição em Saúde Coletiva e Alimentação Coletiva). 43 Vasconcelos, F. de A. G. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 42-48, jul./dez. 2006 Em relação aos índices de emprego e desemprego, considerou-se empregado o profissional que desempenhava atividades remuneradas na área da Nutrição no momento da pesquisa e desempregado aquele que não as exercia, mas estava à procura de emprego na área. Designaram-se vínculo empregatício quatro categorias de relações trabalho: empregados, empregadores, voluntários e/ou autônomos. O cargo designa a função específica do profissional junto ao órgão em que trabalha. Para especificar vínculo empregatício e cargo ocupado foi necessário estabelecer um emprego principal nos casos em que o profissional possuía mais de um emprego. Sendo assim, considerou-se emprego principal aquele de maior carga horária semanal e/ou de maior remuneração salarial e emprego secundário aquele de menor carga horária e/ou de menor remuneração salarial. Quanto à jornada de trabalho, considerou-se o total de horas trabalhadas semanalmente, sendo somadas as cargas horárias quando houvesse mais de um emprego. Em relação à variável nível salarial, os dados são apresentados em faixas salariais, tomando-se como referência o valor do salário mínimo vigente em agosto de 2001, igual a R$ 180,00 (cento e oitenta reais). O protocolo de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da UFSC. Um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido foi assinado pelos nutricionistas participantes da investigação, garantindo-se o sigilo e o anonimato das informações obtidas. Resultados e discussão Retornaram respondidos 131 questionários, perfazendo um índice de 44,2% de adesão à pesquisa. Esse resultado assemelha-se aos encontrados em estudos desta natureza realizados com 12,13,18,20 nutricionistas. Índices de emprego, abandono da profissão desemprego e De acordo com a tabela 1, verificouse que 84,7% dos egressos encontravam-se empregados e exercendo a profissão de nutricionista. Apenas 4,6% encontravam-se desempregados, destacando-se o percentual de abando da prática profissional (6,9%). BOOG et al.12, a respeito dos egressos da PUCCAMP, encontraram um percentual inferior de desempregados (2,4%), enquanto PRADO & ABREU15, entre os nutricionistas residentes no Estado do Rio de Janeiro, encontraram índices mais elevados de desemprego (13,2%). Ressalta-se que o percentual de desemprego encontrado apresentou-se bem inferior aos índices do período, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (10% da população ativa) e pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócioeconômicos (DIEESE) (20% em algumas metrópoles brasileiras).21-23 Tabela 1. Distribuição dos nutricionistas egressos da UFSC de acordo com sua situação profissional - Florianópolis, agosto de 2001. Situação profissional Empregado Abandonou a profissão Desempregado Nunca exerceu a profissão TOTAL N 111 9 6 5 131 Dentre os motivos de abandono alegados, destacam-se a baixa remuneração (44%), o zelo à família (22%), a não identificação com a profissão (22,2%) e a % 84,7 6,9 4,6 3,8 100,0 falta de emprego (11,1%). A maioria daqueles que nunca exerceram a profissão (60%), ingressaram na pós-graduação imediatamente após o término do curso de 44 Vasconcelos, F. de A. G. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 42-48, jul./dez. 2006 graduação, justificando que nunca tenham trabalhado. Houve apenas um caso (20%) de dedicação imediata à família e outro (20%) de insegurança para o exercício da profissão. Em relação ao número de empregos dos 111 que exercem a profissão, 75 (67,6%) possuem apenas um emprego, 25 (22,5%) possuem dois empregos e 11 (9,9%) possuem três. Este achado assemelha-se ao de Prado & Abreu15, onde 62,3% dos nutricionistas estudados possuíam apenas um emprego. Quanto ao vínculo do principal emprego exercido, 81,1% são empregados, 11,7% são autônomos, 4,5% são empregadores, 0,9% é voluntário e 1,8% não responderam. Os empregadores atuam como gerentes ou administradores comerciais de empresas, destacando-se a venda de carnes exóticas, panificados e refeições prontas. No emprego secundário, entre os 36 egressos que possuem mais de um emprego, 63,9% são autônomos, 27,7% são empregados, 5,5% são empregadores e 2,7% é voluntário. Ainda em seus empregos secundários, a maioria dos autônomos atua em consultórios clínicos, enquanto a maioria dos empregados atua como docentes. Em relação ao cargo ocupado no emprego principal, 55,0% dos egressos atuam como nutricionistas, 19,8% como docentes e os demais desempenham variados cargos, tais como administradores, assessores, empresários, fiscais sanitários, gerentes, representantes de vendas, responsáveis técnicos e supervisores comerciais. Jornada de trabalho e níveis salariais Verificou-se que a maioria dos egressos trabalha semanalmente até 40 horas (69,4%), destacando-se o percentual de nutricionistas trabalhando com jornada semanal superior a 40 horas (25,2%) (Tabela 2). A média de jornada de trabalho perfaz um total de 35 ± 12,5 horas semanais. GAMBARDELLA et al.18 observaram que 88,7% dos egressos da USP trabalhavam 40 horas ou mais por semana, índice superior ao encontrado entre os egressos da UFSC. Tabela 2. Distribuição da jornada semanal de trabalho dos nutricionistas egressos da UFSC. Florianópolis, agosto de 2001. Jornada semanal (horas) < 10 10 ├– 20 20 ├–30 30 ├– 40 > 40 Não responderam N 9 7 22 39 28 6 % 8,1 6,3 19,8 35,2 25,2 5,4 % acumulado 8,1 14,4 34,2 69,4 94,6 100,0 TOTAL 111 100,0 --- A média salarial encontrada foi de R$ 1.311,93, correspondente a 7,3 ± 4,3 salários mínimos. Resultado semelhante também foi encontrado por Boog et al.13 entre os egressos da PUCCAMP, onde se verificou uma faixa salarial média entre 6 e 8 salários mínimos mensais. Na tabela 3 apresenta-se a distribuição dos níveis salariais encontrados, onde se observa que a maioria recebe menos de 10 salários mínimos mensais (66,7%). Em estudo anterior realizado em Florianópolis, os resultados mostraram-se semelhantes, uma vez que 65% dos nutricionistas investigados ganhavam menos de 10 salários mínimos.16 Além disso, observa-se que esses resultados destoam com a reivindicação de um piso salarial de 10 salários mínimos para uma jornada de trabalho de 30 horas semanais, com proporcionalidade salarial à jornada que ultrapasse este limite, aspirada pelas entidades da categoria profissional em 45 Vasconcelos, F. de A. G. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 42-48, jul./dez. 2006 meados da década de 1980.16 Prado & Abreu15 verificaram que a carga horária média de trabalho dos nutricionistas do Estado do Rio de Janeiro totalizava 36,8 horas semanais, com remuneração média de 7,5 salários mínimos, demonstrando semelhança aos valores observados entre os egressos da UFSC. Tabela 3. Distribuição dos nutricionistas egressos da UFSC de acordo com a faixa salarial. Florianópolis, agosto de 2001. Faixa salarial (salário mínimo) < 3 3 ├– 5 5 ├– 10 10├– 15 15 Não responderam TOTAL N 9 23 42 15 7 15 111 Observou-se entre os 75 nutricionistas que possuem apenas um emprego uma média salarial de 7,8 ± 4,6 salários mínimos. Entre os 36 que possuem mais de um emprego, a média salarial encontra-se na faixa dos 6,4 ± 3,0 salários mínimos. Ou seja, os nutricionistas com apenas um emprego possuem rendimentos mensais médios superiores aos que possuem mais de um emprego. Por fim, observaram-se os maiores índices salariais na área de Ensino. As áreas da Alimentação Coletiva, Nutrição Clínica e Nutrição em Saúde Coletiva revelam níveis salariais semelhantes, correspondendo aproximadamente a uma média de 3,3 salários mínimos mensais. Boog et al.13 também não detectaram diferenças salariais importantes entre as distintas áreas de atuação do nutricionista. Conclusão Os resultados indicaram um baixo índice de desemprego entre os nutricionistas quando comparado aos índices encontrados pelo IBGE e DIEESE entre a classe trabalhadora em geral. A maioria dos profissionais encontra-se empregada e vincula-se à instituição onde trabalha como nutricionista. A maioria dos egressos possui apenas um emprego, recebendo remuneração salarial superior a dos egressos com mais de um vínculo empregatício. A área de Ensino % 8,1 20,7 37,9 13,5 6,3 13,5 100,0 % acumulado 8,1 28,8 66,7 80,2 86,5 100,0 --- revela-se como a que melhor remunera, enquanto as áreas de Alimentação Coletiva, Nutrição Clínica e Nutrição em Saúde Coletiva não demonstram diferenças salariais importantes. Apesar disso, a remuneração salarial média não atende às reivindicações da categoria profissional. Em relação aos índices de adesão à pesquisa, cabe apontar as limitações da presente investigação, embora o percentual de adesão obtido tenha sido semelhante aos de outros estudos realizados no país. Sendo assim, é preciso ressaltar que a generalização dos resultados da presente investigação para o universo dos nutricionistas egressos da UFSC, no período analisado, deve ser feita com bastante cautela. Enfim, a realização de investigações sobre perfil profissional e mercado de trabalho revela-se de grande importância. Para o campo da formação acadêmica, os resultados destes estudos poderão direcionar a formulação de propostas visando à melhoria do ensino de graduação e pósgraduação em Nutrição no país. Para o campo da atuação profissional, estudos desta natureza revelam-se não menos essenciais, uma vez que podem captar a dinâmica do processo de atuação do nutricionista na sociedade brasileira e, por conseqüência, sinalizar aos profissionais as atuais condições e as novas tendências e exigências do mercado de trabalho. 46 Vasconcelos, F. de A. G. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 42-48, jul./dez. 2006 Referências Bibliográficas 1. ASBRAN (Associação Brasileira de Nutrição). Histórico do Nutricionista no Brasil - 1939 a 1989: coletânea de depoimentos e documentos. São Paulo: Ateneu, 1991.444 p. 2. Bosi MLM. Profissionalização e conhecimento: a Nutrição em questão. São Paulo: Hucitec, 1996.205 p. 3. Vasconcelos FAG. Fome, eugenia e constituição do campo da nutrição em Pernambuco: uma análise de Gilberto Freyre, Josué de Castro e Nelson Chaves. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro,2001; VIII (2):315-339. 4. Vasconcelos FAG. 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[capturado em 03/04/ 2001]. 48 Pereima, R.S. M.R.; Cartana, M.R. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 49-55, jul./dez. 2006 PROJETO ESCOLA - HEMOSC: NA BUSCA DA QUALIDADE DO SANGUE E DA SAÚDE PARA TODOS [SCHOOL PROJECT – HEMOSC: SEARCHING FOR EVERYBODY’S BLOOD QUALITY AND HEALTH] Rosane Suely May Rodrigues Pereima1; Maria do Horto F. Cartana2 Resumo: A doação de sangue é um ato de solidariedade, cidadania e manutenção da vida. O Projeto Escola, desenvolvido pelo Setor de Captação de Doadores do Centro de Hematologia e Hemoterapia do Estado de Santa Catarina – HEMOSC, surgiu para desmistificar preconceitos e tabus sobre a doação, sensibilizar e educar jovens para “formar” futuros doadores ou multiplicadores da doação de sangue. Iniciou-se em 1996, envolvendo, até o final de 2005, mais de 60.400 alunos de escolas da Grande Florianópolis. Por meio deste projeto desenvolvem-se palestras sobre a doação de sangue, envolvendo a comunidade para torná-la co-responsável pela doação. Esta atividade contribui para a saúde da sociedade, segurança e qualidade do sangue a ser transfundido. Palavras-chave: saúde, educação, doadores de sangue. Abstract: Blood donation is an act of solidarity, citizenship and life maintenance. The School Project developed by the Donators Recruitment Department of Hematology and the Hemotherapy Center of the State of Santa Catarina – HEMOSC come into existence in order to modify prejudices and taboos regarding donation; to sensibilize and to educate young people to become future donators or multipliers of blood donation. It began in 1996 and it has involved until the end of 2005 more than 60.400 students from schools of Florianópolis and surrounding cities. Presentation has developed related to blood donation and involved the community to become responsible for donation. It has contributed for the health of society, security and the quality of the blood to be transfused. Keywords: health, education, blood donators. Introdução A VIII Conferência Nacional de Saúde1 preconiza a educação como um dos fatores condicionantes e determinantes da saúde. Com o conceito ampliado de saúde torna-se fundamental o acesso da população às informações. Dessa forma, o Projeto Escola (PE) é uma estratégia, por meio de ações sócio-educativas, para facilitar a socialização das informações referentes à doação de sangue e aos assuntos relacionados a esta temática. Este projeto contribui para o processo de “formação” ético-política dos jovens, buscando a conquista de futuros doadores e/ou multiplicadores da doação de sangue. O artigo 196 da Constituição Federal de 19882 declara a saúde como direito de todos e dever do Estado, garantindo a elaboração e execução de políticas sociais e econômicas a fim de diminuir o risco de __________________ doenças, facilitando o acesso universal e igualitário às ações e serviços de saúde. E ainda, conforme o 2º. parágrafo do artigo 2º da Lei Orgânica da Saúde – LOS, no. 8.080/903, “o dever do Estado não exclui o das pessoas, da família, das empresas e da sociedade.” Neste sentido, profissionais de Serviço Social do Setor de Captação de Doadores do HEMOSC desenvolvem o PE, a fim de contribuir para a qualidade do sangue a ser transfundido e, dessa forma, para a saúde da sociedade. Neste projeto, não somente alunos são envolvidos, mas toda a comunidade escolar na discussão sobre a doação de sangue e sua participação nesse processo. Além de alunos, são incentivados diretores, professores, funcionários e pais, para a doação de sangue e consequentemente, para o exercício da cidadania, refletindo sobre direitos e deveres no que diz respeito à doação de sangue. 1 Assistente Social do Centro de Hematologia e Hemoterapia de Santa Catarina - HEMOSC; Professora Substituta do Departamento de Serviço Social da UFSC. 2 Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem da UFSC; Coordenadora do Curso de Enfermagem da UFSC. E-mail: [email protected] 49 Pereima, R.S. M.R.; Cartana, M.R. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 49-55, jul./dez. 2006 Compreendendo a doadores de sangue necessidade de Entre as múltiplas necessidades de saúde pública está a do sangue humano. Apesar dos avanços da ciência, ainda não foi encontrado um substituto para esse componente. Sendo um elemento fundamental à vida, é preciso manter um estoque desse material biológico que eventualmente possa ser utilizado por todos. Como conseguir doadores para uma reserva suficiente, tem sido um desafio para o HEMOSC. Assim, surge a necessidade de sensibilização e motivação da sociedade para a doação voluntária que por meio do PE cria uma ligação entre Educação e a Saúde. Historicamente a doação de sangue tem sido acompanhada de preconceitos e tabus para explicar e justificar a falta de compromisso da sociedade com a doação de sangue. Mesmo com todas as facilidades de informação e comunicação da atualidade, ainda existem muitos mitos, gerando desconhecimento e equívocos sobre a doação de sangue. Por outro lado, a história da hemoterapia4 está ligada às grandes guerras mundiais que contribuíram para a expansão dos serviços hemoterápicos. Sabe-se que nos países mais desenvolvidos a doação voluntária responde a quase totalidade das doações de sangue. No Brasil, muito deve ser feito para desmistificar preconceitos e tabus em relação a esse tema e, então, mudar essa cultura. Uma dessas possibilidades configura-se no trabalho de conscientização e sensibilização de jovens para a doação de sangue como ato de solidariedade, cidadania e preservação da vida humana. Entende-se que os jovens de hoje serão os “futuros doadores de sangue”. E foi com a intenção de contribuir para a transformação da cultura sobre a doação de sangue, inicialmente na Grande Florianópolis e, posteriormente em todo o Estado de Santa Catarina, que foi criado o Projeto Escola do HEMOSC. A doação de sangue se inclui na saúde, um dos temas transversais abordados pelos Parâmetros Curriculares Nacionais5. Estes advogam o compromisso com a construção da cidadania que requer uma prática educacional propícia à compreensão da realidade social e dos direitos e responsabilidades em relação à vida pessoal, coletiva e ambiental. Correspondem a questões importantes, urgentes e presentes no cotidiano, configurando-se em um desafio às escolas. Um dos objetivos propostos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais é justamente provocar no aluno do ensino fundamental o conhecimento e o cuidado do próprio corpo, a valorização de hábitos saudáveis como um dos aspectos básicos inerentes à qualidade de vida para que possa agir com responsabilidade em relação à sua saúde e à saúde coletiva. Dessa forma, o Projeto Escola em parceria com a Educação, através da participação das instituições de ensino, procura contribuir para a saúde, para o exercício da cidadania, alertando e motivando o aluno para o cuidado com seu corpo e para que compreenda a saúde como direito e responsabilidade individual e coletiva. Segundo Radünz6, o homem compreende que é cidadão quando percebe que tem direitos e deveres e que como parte do todo precisa movimentar-se de forma consciente. Então, a Educação em Saúde, proposta pelo projeto em questão, está em consonância com os objetivos visados pelos Parâmetros Curriculares Nacionais5 e, dentre estes, compreender a cidadania como participação social e política requer atitudes de solidariedade e de cooperação. Dessa forma, a busca da educação em saúde vai ao encontro dos princípios apresentados pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, incentivados pelo Projeto Escola do HEMOSC e instituições escolares. Contextualizando o Projeto Escola O Ministério da Saúde preconiza que 3 a 5 % da população brasileira se torne doadora de sangue. Para isso, incentiva iniciativas voltadas ao desenvolvimento da Política Nacional de Sangue e 50 Pereima, R.S. M.R.; Cartana, M.R. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 49-55, jul./dez. 2006 Hemoderivados.7 Um dos objetivos desta política diz respeito à educação para a doação de sangue e, nesse sentido, o PE vem sendo desenvolvido com o objetivo de aumentar o número de doadores do HEMOSC. O PE tem aprovação da Fundação de Apoio ao Hemosc e Cepon- FAHECE, além da Secretaria Estadual da Saúde e da Secretaria Estadual da Educação. Originou-se porque apenas 30% das doações eram voluntárias e percebia-se a necessidade de intervir, junto à população catarinense, a fim de contribuir para a formação de uma cultura voltada à doação de sangue e, dessa forma, atuar de forma positiva e propositiva no processo de saúde da população. Este projeto iniciou-se no final de 1996, na rede pública estadual de ensino de Florianópolis, com a participação de 5 escolas e 500 alunos. Até o final de 2005, 60.433 alunos de escolas públicas e privadas da Grande Florianópolis participaram de atividades do projeto. Atualmente, mais de 120 escolas dessa região estão engajadas ao projeto, também desenvolvido, gradativamente, pelos hemocentros regionais da hemorrede pública, ampliando sua abrangência ao Estado de Santa Catarina. Na figura 1 é apresentada a evolução da abrangência do projeto na Grande Florianópolis: 10000 8642 9000 8000 7590 7975 7000 7336 7329 6351 6000 6051 5000 4589 4040 4000 3000 2000 1000 0 500 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Figura 1. Evolução da abrangência do PE Diante deste cenário, considera-se de fundamental importância a continuidade do projeto, pois vem envolvendo cada vez mais possíveis doadores, colaborando ao acesso das informações referentes à doação de sangue. Este fato é sugerido pela análise do banco de dados do HEMOSC onde o maior índice de doadores encontra-se entre 18 e 25 anos, ressaltando que, desde a sua criação, o projeto tem tido maior participação de alunos do Ensino Fundamental e Médio. A análise deste perfil vai ao encontro a uma pesquisa realizada pela ANVISA em 2003 com não doadores de sangue que revela que o maior índice desse universo encontrase entre jovens de 20 e 24 anos, o que incentiva à continuidade do projeto. Na figura 2 é apresentado o perfil em relação à faixa etária do doador de sangue do HEMOSC de Florianópolis. 51 Pereima, R.S. M.R.; Cartana, M.R. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 49-55, jul./dez. 2006 46-65anos 11% 36-45 anos 21% 26-35 anos 32% 18-25 anos 36% Figura 2. Perfil do doador de sangue do HEMOSC de Florianópolis em relação à faixa etária. Além da relevância dos dados apresentados, as doações voluntárias, após a última década, têm superado o índice das doações vinculadas aos pacientes. Hoje, 73 % das doações são voluntárias, apresentando a inversão da pirâmide em 1996, de aproximadamente 30 %. A execução de outros programas vem igualmente interferindo na mudança do perfil das doações, assim como o PE que contribui para tornar a população cada vez mais coresponsável pela saúde e manutenção da vida humana. Hoje, há adesão de escolas na participação efetiva da doação de sangue, por meio de campanhas como gincanas e coletas externas (iniciativas provenientes da conscientização e compromisso das escolas), contribuindo positivamente para a manutenção dos estoques de sangue do HEMOSC. A execução do projeto está direcionada à socialização de um saber de interesse e de direito de todos. Faz-se necessária a cumplicidade e o comprometimento da sociedade, especialmente de um público em formação. Conforme Freire8, só há compromisso quando existe o engajamento dos indivíduos com a realidade. Ressalta-se a importância da participação dos alunos e dos educadores nesse processo contínuo de “ação-reflexãoação”, processo que leva à busca constante de novos conhecimentos. Isso permite a ampliação dos horizontes de todos os envolvidos, contribuindo para a reflexão e discussão da saúde da população. Refletindo sobre a filosofia e metodologia do projeto A saúde de uma população revela seu grau de organização e de educação. Por isso, considera-se a escola como um espaço adequado para discussões e reflexões acerca da doação de sangue, temática que envolve diversos assuntos relacionados à saúde. A escola compreende um espaço de discussão de valores e princípios, especialmente os ligados à cidadania e à solidariedade humana. Laville e Dione9 vêem a escola como uma instituição cuja missão é a de ensinar, porém transcendendo essa tarefa, a ponto de oportunizar aos alunos condições de avaliarem criticamente o saber oferecido ou mesmo de dar preferência a um outro saber ou até mesmo de construir um saber diferente. Freire10 tem um entendimento semelhante quando afirma que ensinar não é transferir conhecimento, mas sim possibilitar a sua produção ou construção. Entre as múltiplas dimensões e facetas do processo ensino-aprendizagem, Freire11 em sua maneira de conceber o fenômeno educativo enfatiza a conscientização. A elaboração e o desenvolvimento do conhecimento estão ligados a esse processo 52 Pereima, R.S. M.R.; Cartana, M.R. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 49-55, jul./dez. 2006 que consiste no desenvolvimento crítico da tomada de consciência. Ainda, a conscientização não existe sem a ação-reflexão, ou seja, sem a práxis. É através desta que o homem se coloca no mundo ou o transforma. É também pela práxis que o homem se constrói e chega a ser sujeito de suas ações, palavras, fazendo-se presente no mundo, enfim, tomando consciência de sua historicidade.8 Sendo assim, Freire8 chama a atenção para o compromisso histórico do homem, como um ser situado no mundo: nesse sentido, quanto mais refletir sobre sua realidade, mais se conscientiza e mais se compromissará consigo e com a sociedade. Adotando essa abordagem sociocultural e acreditando na importância do engajamento do “ser no mundo”, o PE assumiu o compromisso de socializar os conhecimentos relativos à doação de sangue com a comunidade da qual faz parte. Porém, não há intenção de que esses conhecimentos sejam “captados”, ao contrário, que sejam discutidos, amadurecidos e que, pela reflexão constante, instalem um conflito, se for o caso. Propõe-se então que as pessoas criem seus próprios conceitos, desmistificando mitos e o próprio tabu relacionado à doação de sangue. Apesar do fácil acesso às informações, muitos conceitos ainda são distorcidos, causando equívocos. É possível que isso se deva ao fato de que o sangue, ao longo da história, teve sempre forte apelo emocional, carregando consigo significados opostos ou extremos: o de vida, pois permite o provimento de substâncias vitais a todos os órgãos e o de morte, quando ocorre a sua falta. A filosofia que norteia os princípios e diretrizes do PE identifica-se com o espírito de conscientização e de compromisso que caracteriza a proposta de Freire, acreditandose na participação do homem como sujeito na sociedade, fazendo sua história. O projeto incorpora, assim, um dos seus pressupostos básicos, segundo o qual essa participação se faz na medida de sua conscientização, a qual implica a co-responsabilidade. Boff12 ressalta que o caráter ético de uma pessoa é revelado pelo grau de responsabilidade com o futuro da vida e da humanidade. A metodologia adotada para a implementação do PE fundamenta-se nos pressupostos referidos acima. Dessa forma, o projeto é desenvolvido numa perspectiva de respeito ao ser humano, de igualdade perante direitos e deveres. Entende-se que a mediadora desse processo, mesmo detendo o saber pertinente ao seu objetivo, o qual deverá ser socializado, não deve ser considerada diferente do grupo, mas percebida como facilitadora da socialização desse saber. Quanto à metodologia operacional, em linhas gerais obedece aos seguintes critérios: inicialmente são contactadas as escolas para preenchimento de uma ficha de cadastro. Assim, os encontros, didaticamente denominados de palestras, são agendados e, basicamente, constituem-se nas atividades centrais do projeto. Esses se desenrolam num contexto de diálogo, de respeito aos valores e princípios de cada um. Entende-se que, apesar da heterogeneidade do grupo, há homogeneidade no que se refere aos direitos e deveres para todos os cidadãos, especialmente em relação à coleta e distribuição do sangue. As palestras ocorrem em sala de aula ou auditório, para as quais são utilizados vários recursos pedagógicos audiovisuais que, além de motivar os alunos, facilitam a visualização e a compreensão destes em relação ao ciclo de sangue. Durante essas atividades, entende-se que é de suma importância a participação dos alunos de forma crítica. Isso pode ser percebido pela maneira como são encaminhados os questionamentos, os testemunhos, as sugestões e as avaliações. Também é possível avaliar que os conhecimentos não são aprendidos de forma passiva ou mecânica pelas apresentações de trabalhos em feiras de ciências. E ainda, nas visitas que os educandos fazem ao HEMOSC ou mesmo por meio de outras atividades que por vezes são realizadas com o auxílio do professor, como produções textuais, relatórios, etc. Após os contatos, o desenrolar das palestras, assim como as diversas ações realizadas, faz-se o registro das atividades, 53 Pereima, R.S. M.R.; Cartana, M.R. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 49-55, jul./dez. 2006 como por exemplo, o número de alunos participantes, ficando arquivadas as listas de presença no Setor de Captação de Doadores do HEMOSC. Cabe ainda registrar que cada escola preenche uma ficha de avaliação, cujos dados são computados em um relatório de avaliação específico do PE. As avaliações são instrumentos valiosos para a continuidade ou não do projeto, pois permitem constatar o grau de importância e de necessidade deste por parte da comunidade escolar e ainda melhorar sua performance. Considerações Finais Mesmo com as possibilidades de socialização do conhecimento em saúde presentes nos dias atuais, faz-se necessária a elaboração e a execução de programas e projetos a fim de contribuir para o desafio de mudança na cultura da sociedade brasileira, conquistando-a para o engajamento à doação de sangue. Dessa forma, profissionais do HEMOSC desenvolvem o Projeto Escola a fim de contribuir para a saúde da população catarinense, discutindo e trocando idéias não somente sobre a doação especificamente, mas sobre assuntos correlatos como sexualidade, drogas, estimulando o cuidado com a sua saúde, pois esta interfere na saúde coletiva. O projeto vem sendo desenvolvido há dez anos, inclusive com a participação das primeiras escolas a engajarem-se neste trabalho, revelando credibilidade ao projeto. A cada ano novas escolas participam das atividades referentes ao projeto, com a elaboração e execução de desdobramentos pedagógicos como peças teatrais e músicas, apresentações de trabalhos em amostras culturais, produções textuais, trabalhos de artes, visitas ao hemocentro, organização de gincanas e coletas externas. O mais gratificante deste projeto é o encontro com jovens que se mostram entusiasmados a participarem da doação de sangue, interessados pelo assunto e preocupados com a saúde da população. E, ainda, encontrar no dia-a-dia no HEMOSC, alunos que participaram das atividades há alguns anos e que hoje são doadores de sangue, e destes, muitos realizaram a sua primeira doação ao completarem 18 anos. Outros, hoje são professores e, além de serem doadores de sangue, são também multiplicadores da doação. Cabe ressaltar que é através da educação, da construção do conhecimento que a responsabilidade é viável, pois não se é responsável pelo que não se conhece. Esta compreensão torna o HEMOSC responsável pela socialização das informações sobre a doação de sangue, além das discussões de assuntos que precedem a compreensão do ciclo do sangue. Referências Bibliográficas 1. VIII Conferência Nacional da Saúde (BR); 1986. 2. Constituição Federal Brasileira. Artigos 196 a 200; 1988. 3. Lei Orgânica da Saúde no. 8.080; 1990. 4. Junqueira PC. O essencial da transfusão de sangue. 1ed. São Paulo: Organização. Andrei; 1979. 5. Ministério da Educação e do Desporto. Parâmetros Curriculares Nacionais. Apresentação dos Temas Transversais e Ética. Vol.8. Brasília; 1997. 6. Radünz R. A formação do cidadão brasileiro. In: Giron LS, (Org.). Refletindo a cidadania: Estado e sociedade no Brasil. Caxias do Sul, RS: Educs; 2000. 7. Ministério da Saúde (BR). Programa Nacional de Doação de Sangue. Rio de Janeiro;1999. 8. Freire P. Educação e mudança. 12. ed. São Paulo: Paz e Terra; 1986. 9. Laville C, Dionne J. A construção do saber: manual de metodologia das pesquisas em ciências humanas. Porto Alegre: Artes Médicas Sul; Belo Horizonte: UFMG; 1999. 10. Freire P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática 54 Pereima, R.S. M.R.; Cartana, M.R. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 49-55, jul./dez. 2006 educativa. 13. ed. São Paulo: Paz e Terra; 1999. 11. Freire P. Conscientização: teoria e prática da libertação. Uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. 4. ed. São Paulo: Moraes; 1980. 12. Boff L. Ética e Moral a busca dos fundamentos. Petrópolis: Editora Vozes; 2003. 55 Borella, A. P. de O. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 56-72, jul./dez. 2006 OSTEOPOROSE: TRATAMENTOS DISPONÍVEIS [Osteoporosis: presently available treatments] NA ATUALIDADE. Ana Paula de Oliveira Borella1; Carolina Simone de Souza2; Letícia Scherer Koester3 Resumo: Este artigo traz uma revisão atualizada sobre os tratamentos disponíveis para a osteoporose na pós-menopausa, uma doença que vem crescendo em importância nos últimos tempos. Dentre as opções terapêuticas, destacam-se os suplementos de cálcio e vitamina D, bem como os agentes supressores da reabsorção óssea, tais como bifosfonatos, estrogênios, SERMs e calcitonina. É crescente o interesse no desenvolvimento de agentes anabólicos, merecendo destaque a teriparatida como a opção mais promissora. O uso das estatinas, tiazidas, ranelato de estrôncio, vitamina K, hormônio do crescimento e IGF-1 no tratamento da osteoporose ainda é controverso e requer mais estudos. Palavras-chave: osteoporose, osteoporose pós-menopausa, terapia, metabolismo. Abstract: This paper presents an up-to-date revision concerning the available therapies for the treatment of postmenopausal osteoporosis, a disease that continues growing in importance in the last times. Among the therapeutic options, we emphasize the supplements of calcium and vitamin D, as well as bone antiresorptive agents, such as bisphosphonates, estrogen, SERMs and calcitonin. It is growing the interest in the development of anabolic agents, among which teriparatide deserves attention as the most promising option. The use of the statins, thiazides, strontium ralenate, vitamin K, growth hormone and IGF-1 in the treatment of the osteoporosis is still controversial and requests further studies. Keywords: osteoporosis, osteoporosis, postmenopausal, terapy, metabolism. Introdução A osteoporose é a doença metabólica mais comum e a principal causa de fraturas por fragilidade esquelética.1 A doença é considerada um dos principais problemas de saúde pública, por sua prevalência crescente e pela associação a fraturas vertebrais e de outras localizações, com graves repercussões clínicas e sociais.2 A palavra osteoporose significa, literalmente, “porosidade do osso”, e é uma desordem do organismo em que um ou mais ossos ou regiões ósseas exibem um decréscimo da massa óssea por unidade de volume. Por convenção, é uma anormalidade relacionada a uma redução quantitativa da massa óssea.3 Estimativas mundiais indicam a existência de mais de 200 milhões de pessoas com osteoporose, número que tende a aumentar com o crescimento da população idosa do mundo.4 _________________ A osteoporose é predominantemente, mas não exclusivamente, um problema feminino. Este dado é atribuído ao menor pico de massa óssea das mulheres, devido ao fato da perda óssea se iniciar mais cedo, à maior taxa de perda óssea feminina do que masculina e à longevidade das mulheres.5 Aos 50 anos de idade, os riscos de vir a sofrer pelo menos uma fratura no quadril, coluna vertebral ou antebraço aproximam-se de 50 % para a população feminina branca e 20 % para a masculina branca. As fraturas na coluna vertebral são as complicações mais comuns da osteoporose, e estão associadas a taxas significativas de morbidade e freqüentemente não recebem atenção clínica.6 Os custos da osteoporose para os serviços de saúde aumentam consideravelmente, e há perspectivas de que possam dobrar em 2050. 1 Acadêmicas do Curso de Farmácia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Professor Adjunto do Departamento de Ciências Farmacêuticas da UFSC. Endereço: Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Campus Universitário – Trindade, CCS, CIF, Bloco K, CEP 88.040-900, Florianópolis, SC, Brasil. E-mail: [email protected] 2 56 Borella, A. P. de O. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 56-72, jul./dez. 2006 Na União Européia, por exemplo, durante o ano de 2000, foram estimados gastos em torno de 32 bilhões de euros pelos serviços de saúde no tratamento direto de pacientes com fraturas osteoporóticas.4 A disponibilidade de procedimentos para a realização de um diagnóstico efetivo da osteoporose (como por exemplo, a determinação da densidade mineral óssea), e a existência de um arsenal de fármacos relativamente seguros, tornam possível o estabelecimento de intervenções terapêuticas que previnam ou aliviem as mais severas conseqüências da osteoporose severa.7 Vale lembrar que a osteoporose é uma doença silenciosa, e que sua identificação pode acontecer tarde demais, na maioria das vezes mediante a ocorrência de fraturas que acarretam danos irreversíveis à qualidade de vida do indivíduo. O tratamento da osteoporose estabelecida continua sendo um grande desafio. O estrogênio e o cálcio, e outras terapias desenvolvidas, como as calcitoninas e os bifosfonatos, atuam principalmente retardando a reabsorção óssea ao invés de estimulando a formação de osso novo. Por isso, o principal desafio das pesquisas futuras neste campo se constitui no desenvolvimento de agentes que aumentem, com segurança, a massa óssea.8 Sendo assim, cresce o interesse no desenvolvimento de compostos capazes de estimular a formação óssea – para uso isolado ou em combinação com fármacos inibidores da reabsorção. Alguns candidatos incluem o PTH (hormônio paratireoidiano), o IGF-1 (fator de crescimento da insulina) e o hormônio do crescimento. O PTH é o mais promissor desses compostos.9 Além destes, estão também em desenvolvimento análogos da Vitamina D, fármacos da classe das estatinas e várias proteínas morfogenéticas.8 Os possíveis novos agentes inibidores da reabsorção óssea incluem a osteoprotegerina – um inibidor fisiológico da reabsorção óssea que se mostrou promissor em estudos clínicos preliminares, e as tiazidas, que exercem pequeno efeito na redução da perda óssea, podendo ser valiosas na terapia de combinação.9 Neste contexto, o presente trabalho traz uma revisão atualizada sobre a osteoporose com ênfase nas novas alternativas terapêuticas que podem ser aliadas à prevenção e/ou ao tratamento desta doença. Além disso, estudos que comprovem a eficácia e segurança desses produtos, bem como a existência ou não de justificativas para o seu uso, serão abordados. Remodelagem óssea Para uma melhor compreensão dos mecanismos de ação e da justificativa do uso das diferentes classes terapêuticas no tratamento e prevenção da osteoporose, fazse necessário o entendimento do processo de remodelagem óssea, descrito brevemente a seguir. O crescimento e desenvolvimento do osso endocondral são regulados por um processo chamado modelagem. Trata-se de um processo contínuo de degradação e renovação ao qual o osso novo é submetido e que se estende por toda a vida. Depois que o crescimento linear cessa e atinge-se a massa óssea máxima, a remodelagem torna-se a via final comum pela qual a massa de osso é ajustada na vida adulta.8 O processo de remodelagem envolve a atividade dos osteoblastos, que secretam nova matriz óssea, e os osteoclastos, que a degradam. Ao atuarem em conjunto, esses dois tipos de células formam a unidade multicelular básica (BMU, Basic Multicellular Unit)9, que estão distribuídas por todo o esqueleto, de forma independente. Além disso, a renovação do cálcio e fosfato e as ações de uma variedade de citocinas e diversos hormônios, como o paratormônio (PTH, hormônio paratireoidiano), a família da vitamina D, o hormônio do crescimento, os esteróides e a calcitonina9, são imprescindíveis para o processo de remodelagem. A remodelagem não causaria alteração visível na massa óssea se a substituição do osso reabsorvido fosse igual à 57 Borella, A. P. de O. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 56-72, jul./dez. 2006 quantidade removida. Todavia, pequenas falhas persistem no osso no final de cada ciclo, o que reflete certa ineficiência na dinâmica da remodelagem. Como conseqüência, o acúmulo vitalício das falhas da remodelagem dá origem ao fenômeno bem documentado da perda óssea relacionada com a idade, um processo que começa imediatamente após a parada do crescimento.8 A dieta, os fármacos e os fatores físicos (exercício, sobrecarga) também afetam a remodelagem. A perda de osso – 0,5 a 1,0 % ao ano – começa no grupo etário de 35-40 anos em ambos os sexos. A velocidade aumenta em até 10 vezes durante a menopausa nas mulheres (ou com a castração nos homens) e, a seguir, mantém-se gradualmente em 1 a 3 % ao ano. A perda durante a menopausa resulta do aumento da atividade dos osteoclastos, afetando principalmente o osso trabecular. A perda posterior observada em ambos os sexos com o avanço da idade é decorrente de uma redução do número de osteoblastos, que afeta principalmente o osso cortical.9 Agentes supressores da reabsorção Sais de Cálcio O suprimento de cálcio na dieta é um fator limitante para o crescimento e manutenção do osso, além de ser um nutriente necessário para a prevenção e tratamento da osteoporose.5 A suplementação de cálcio diminui lentamente a perda óssea, especialmente em mulheres idosas em que a dieta não supre as necessidades diárias deste elemento.2 Os efeitos do cálcio são melhorados quando ele é usado associado a outros medicamentos para a osteoporose ou com exercício físico. Por exemplo, a combinação de cálcio e vitamina D desacelera a perda óssea e diminui a incidência de fraturas não-vertebrais, vertebrais e de quadril. Sendo assim, o cálcio sozinho não é suficiente para prevenir a osteoporose e precisa ser associado a outras terapias.10 Não há consenso quanto às necessidades diárias dependentes da faixa etária, porém, recomenda-se a ingestão de 1200 a 1500 mg/dia para adolescentes, 1000 mg/dia para adultos com mais de 65 anos e 1500 mg/dia para mulheres pósmenopáusicas sem terapia de reposição hormonal e para mulheres mais idosas.2 Um importante fato a ser considerado na escolha de um suplemento diz respeito à porcentagem de cálcio elementar presente no sal.11 O carbonato de cálcio possui a maior quantidade de cálcio elementar por peso (40 %), além de ser o de menor custo.10 Além disso, a biodisponibilidade do cálcio obtido a partir de sais de cálcio parece ser melhorada pela ingestão de alimentos devido à estimulação da secreção gástrica.11 Cálcio Ativo Absorvível - Active Absorbable calcium (AACa) O cálcio ativo absorvível – Active Absorbable calcium (AACa) - é produzido pelo aquecimento de conchas de ostra a 800 ºC, sob baixa pressão de oxigênio, e difere do óxido de cálcio e do carbonato de cálcio pela forma cristalina com condutividade elétrica alta em solução aquosa e uma excelente absorção a partir do intestino, aumentando a densidade mineral óssea mais eficientemente que o carbonato de cálcio.12 O cálcio ativo de algas absorvível – Active Absorbable Algal calcium (AAACa) – é produzido pela adição de ingrediente de algas aquecido (HAI – heated algal ingredient) ao cálcio de concha de ostras. O AAACa é completa e eficientemente absorvido a partir do intestino e promove aumento da densidade mineral óssea em pacientes idosos com osteoporose.13 Estudos mostram que o AAACa é melhor absorvido que o carbonato de cálcio a partir do intestino, além de ser menos irritante para a mucosa digestiva.12 O AAACa é também melhor absorvido que o AACa e possui maior habilidade para aumentar a densidade mineral óssea – estes fatos podem ser explicados pela ação da HAI, que promove aumento da absorção 58 Borella, A. P. de O. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 56-72, jul./dez. 2006 intestinal de cálcio. Sendo assim, o AAACa parece ser mais útil que o AACa e o carbonato de cálcio na prevenção da osteoporose.13 Vitamina D A vitamina D é um pré-hormônio que é convertido no organismo em diversos metabólitos biologicamente ativos, os quais atuam como verdadeiros hormônios, circulando no sangue e regulando as atividades de diversos tipos de células9. É sintetizada na pele e, em condições ideais, não é necessária sua suplementação na dieta. Sua forma ativa liga-se a receptores específicos nos tecidos-alvo, resultando em um aumento da concentração do Ca2+ no plasma.8 A potência anti-raquitismo das vitaminas D2 e D3 são muito semelhantes nos seres humanos e, por isso, costuma-se usar o termo vitamina D como um termo conjunto para as duas vitaminas.8 São duas as fontes de vitamina D: o ergocalciferol (D2) dietético, derivado do ergosterol das plantas; e o colecalciferol (D3), produzido na pele a partir do 7-desidrocolesterol, pela ação da irradiação ultravioleta. O 7-desidrocolesterol é formado a partir do colesterol na parede do intestino9, sendo a principal pró-vitamina encontrada nos tecidos animais.8 O colecalciferol é hidroxilado no fígado, formando o calciferol, que por sua vez é convertido, no rim, em calcitriol.14 O calcitriol (1,25-dihidroxivitamina D3) é a forma ativa do colecalciferol. A síntese de calcitriol é regulada pelo PTH e também influenciada pela concentração plasmática de fosfato e pela própria concentração de calcitriol através de um mecanismo de retroalimentação negativa.9 As ações do calcitriol sobre o metabolismo ósseo são bastante complexas. Em condições fisiológicas, ele estimula a absorção de cálcio e de fosfato no intestino, mobiliza o cálcio do osso e aumenta a sua reabsorção pelos túbulos renais. Ainda, induz a diferenciação dos osteoclastos e estimula indiretamente a sua atividade, além de diminuir a síntese de colágeno pelos osteoblastos por um mecanismo que envolve receptores intracelulares e um efeito sobre o DNA. No entanto, em condições patológicas em que há comprometimento da mineralização do osso, a administração de vitamina D restabelece a formação óssea. Isto se explica pelo fato de que o calcitriol estimula a síntese de osteocalcina, uma proteína importante para a ligação do cálcio na matriz óssea.9 Em 1992, Tilyard et al.15 demonstraram que o tratamento da osteoporose na pós-menopausa com calcitriol, durante três anos, apresentou segurança satisfatória, e reduziu a incidência de fraturas vertebrais. Enquanto isso, a ingestão de 1900 mg de cálcio, pelo grupo controle, não mostrou eficácia na redução do risco de fraturas vertebrais. Lips et al.16, em um de seus estudos sobre a vitamina D parental (400 UI), demonstrou que a mesma não apresenta efeito na prevenção de fraturas em pessoas idosas. Resultado clínico similar foi apresentado no Congresso Mundial de Osteoporose, em 2000. Estes dados sugerem que, ao estabelecer o tratamento da osteoporose, deve-se optar não por suplementação de vitamina D, mas pela administração de sua forma ativa (calcitriol) como um agente terapêutico. Porém, é importante garantir a ingestão diária recomendada de vitamina D, inclusive por pacientes com osteoporose, uma vez que ela possui mais de 40 metabólitos (cujas funções fisiológicas ainda não foram totalmente elucidadas), e a administração de calcitriol não substitui as funções exercidas por esses metabólitos.17 Orimo et al.18, em estudos clínicos recentes, verificou que doses de 0,75 μg de alfacalcidol, um pró-fármaco do calcitriol, demonstraram efeitos promissores na massa óssea. Tilyard et al.15 e Sairanen et al.19, ao analisar os efeitos do calcitriol na densidade mineral óssea, a longo prazo, verificaram ganhos de massa óssea, que se mantêm mesmo após o término do tratamento, por aproximadamente quatro anos. Este efeito tem sido atribuído aos análogos da vitamina D ativa por estudiosos do mundo todo, o qual resulta da redução da remodelação óssea, um processo que ocorre, em parte, como 59 Borella, A. P. de O. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 56-72, jul./dez. 2006 conseqüência do aumento da absorção intestinal de cálcio e supressão dos níveis sanguíneos de PTH.17 Além dos efeitos exercidos nos ossos, intestino e glândula da paratireóide, a vitamina D atua sobre o tecido muscular, possuindo funções de natureza neuromuscular e agindo sobre a força muscular. Estudos clínicos mostraram que o calcitriol possui significativa ação preventiva da perda óssea, mas com pequeno efeito sobre o aumento da massa óssea, quando usado no tratamento da osteoporose na pósmenopausa. Além disso, observou-se redução na incidência de quedas no grupo tratado com calcitriol, em relação ao grupo de pacientes tratados com placebo. Sugere-se, então, que a redução das fraturas nãovertebrais decorram mais da diminuição do número de quedas que do aumento da densidade de massa óssea, quando analisado o grupo tratado com calcitriol.17,20 O calcitriol e seus análogos apresentam uma estreita janela terapêutica. Segundo Nishii17, se fosse descoberto um novo análogo da vitamina D, que exercesse efeitos diretos no tecido ósseo em doses menores que aquelas requeridas para suprimir o PTH, este seria um candidato promissor para o tratamento da osteoporose. Abe et al.21, durante um estudo que buscava diferenciar as atividades indutora da diferenciação celular e reguladora da calcemia exercidas pelo calcitriol, realizou modificações na sua estrutura química, as quais levaram ao desenvolvimento do 22oxacalcitriol (maxacalcitrol – OCT) e 2β(3hidroxipropoxi) calcitriol (ED-71). OCT mostrou-se mais potente que o calcitriol na indução da diferenciação. Por outro lado, ED-71, que apresentou pequeno efeito em termos de indução da diferenciação, apresentou maior eficácia que o calcitriol no tratamento da osteoporose. Estudos clínicos envolvendo OCT e ED-71 mostraram que ambos os agentes possuem diferentes aplicações terapêuticas.17 O novo análogo da vitamina D, o ED71, que possui efeitos relevantes sobre a formação óssea, aumentou consideravelmente a massa óssea e a força óssea em ratos ovariomectizados. Também previne a perda óssea, estimula a formação óssea e inibe a reabsorção com maior eficiência que a vitamina D parental e alfacalcidol. Assim, ED-71 parece surgir como o mais promissor candidato para o tratamento da osteoporose, e está sendo submetido a estudos clínicos de fase II no Japão.17 Bifosfonatos Os bifosfonatos foram sintetizados pela primeira vez em 1800, mas começaram a ser empregados na medicina no ano de 1960. São, atualmente, os principais fármacos usados no tratamento da osteoporose pós-menopáusica e representam a primeira escolha na terapia da maioria dos pacientes.22 Os bifosfonatos são uma família de sais de fosfato5 que se caracterizam por conter dois grupamentos fosfato ligados a um mesmo átomo de carbono7,9, sendo esta a porção responsável pela afinidade dos bifosfonatos aos ossos.22 Essa alta afinidade pelo mineral ósseo (hidroxiapatita) faz com que os bifosfonatos possuam uma ação seletiva sobre os ossos, reduzindo a reabsorção e remodelação ósseas por meio da sua interferência na atividade dos osteoclastos22, promovendo uma redução da função e indução da apoptose dos mesmos.7,22 Os bifosfonatos ligam-se à hidroxiapatita, acumulando-se em locais de reabsorção óssea e são seletivamente internalizados por osteoclastos ativos. Dentro dos osteoclastos, os bifosfonatos causam alterações que afetam sua habilidade para reabsorver o tecido ósseo, como desarranjos do citoesqueleto e dificuldade de migração ou ligação aos ossos.9 Além disso, os bifosfonatos estimulam indiretamente a atividade dos osteoblastos9 e podem proteger osteócitos e osteoblastos da apoptose induzida por glicocorticóides.22 Os bifosfonatos mais estudados para a terapia são o alendronato e o risedronato.23 Outros bifosfonatos incluem o etidronato dissódico, o pamidronato 60 Borella, A. P. de O. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 56-72, jul./dez. 2006 dissódico e o clodronato de sódio9. Esses agentes reduzem o risco de fraturas vertebrais e não-vertebrais em 40 a 50 % nas mulheres pós-menopáusicas com 2 osteoporose. Os bifosfonatos são administrados por via oral e sofrem pouca absorção.9,23 Segundo Rang, et. al.9, cerca de 50 % da dose absorvida acumula-se em locais de mineralização óssea, onde o fármaco permanece, potencialmente, durante meses ou anos, até ocorrer reabsorção óssea; contudo, outros autores sugerem que este valor possa ser ainda menor.23 Os bifosfonatos são relativamente insolúveis em água e se ligam a alimentos ou íons carregados positivamente, como cálcio, ferro e antiácidos.9 Sendo assim, a absorção é afetada pelos alimentos, particularmente o leite, de modo que esses fármacos devem ser tomados com o estômago vazio. O fármaco livre é excretado em sua forma inalterada pelo rim.9 O alendronato é um bisfosfonato de segunda geração que contém nitrogênio na sua cadeia lateral.23 Foi aprovado pelo Food and Drug Administration (FDA) tanto para a prevenção quanto para o tratamento da osteoporose em mulheres na pósmenopausa24, sendo atualmente o bifosfonato mais prescrito.9 Por ser um potente inibidor da reabsorção óssea mediada por osteoclastos, normaliza a taxa de remodelação óssea a níveis semelhantes àqueles observados em mulheres na prémenopausa e mantém a normalidade histológica dos ossos, reduzindo a incidência de fraturas vertebrais e não-vertebrais. Estudos mostram que o alendronato (10 mg/dia), associado a uma suplementação de cálcio (500 mg), promove o aumento da densidade mineral óssea e reduz a incidência de fraturas vertebrais, em comparação ao uso de placebo.7,9 O risedronato é um bifosfonato de terceira geração, que contém um anel piridina na cadeia lateral23 e é igualmente aprovado pelo FDA para a prevenção e o tratamento da osteoporose em mulheres na pós-menopausa. Está disponível em comprimidos de 5 mg para uso diário e comprimidos de 35 mg para uma dose semanal. Reduz a atividade dos osteoclastos e aumenta a densidade mineral óssea, desta forma, reduzindo o risco de fraturas.24 A mais recente novidade na classe dos bifosfonatos foi o lançamento do ibandronato de sódio (3 mg) na forma injetável com aplicações trimestrais. Este já estava disponível na forma de comprimidos de dose mensal, o que é uma vantagem no que diz respeito à adesão ao tratamento. Ainda, esta nova forma de apresentação surge como alternativa para pacientes que não podem tomar a medicação por via oral. Vale lembrar que para atingir os resultados esperados com o tratamento, não estão dispensadas as suplementações de cálcio e vitamina D.25 De maneira geral, os efeitos indesejáveis dos bifosfonatos consistem em distúrbios gastrintestinais, que podem ser graves, e, em certas ocasiões, dor óssea, além de úlceras pépticas.9 Compostos relacionados ao estrogênio O papel crítico do estrogênio no desenvolvimento da osteoporose foi postulado há mais de 50 anos, quando se percebeu que as mulheres com deficiência de estrogênio apresentavam quadro de perda óssea, capaz de ser revertido pela reposição de estrogênio.26 Durante a vida adulta os ossos vão sendo remodelados, nova matriz é sintetizada pelos osteoblastos e o osso velho é removido pelos osteoclastos. Os estrogênios provêem uma inibição tônica do recrutamento e atividade dos osteoclastos, de tal modo que a formação e a reabsorção permaneçam em equilíbrio. Na menopausa, seja ela natural ou induzida por medicamentos, a função ovariana diminui, e ocorre queda dos níveis de estrogênio.9 Consequentemente, a inibição da função osteoclástica é perdida e a reabsorção óssea passa a exceder a formação óssea, acarretando perda óssea até o fim da vida.5 Estudos randomizados e controlados confirmam evidências de que ambas as terapias de reposição de estrógeno e 61 Borella, A. P. de O. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 56-72, jul./dez. 2006 de estrogênio combinado a progesterona promovem aumento da massa óssea e reduzem o risco de fraturas da coluna vertebral e bacia, bem como outras fraturas osteoporóticas até mesmo em mulheres com osteopenia. Na realidade, esta é a única opção terapêutica que mostrou reduzir o risco de fraturas de bacia inclusive em mulheres com uma densidade mineral óssea normal.27 Os estrogênios utilizados na terapia de reposição hormonal (TRH) podem ser administrados por via oral (estrogênios conjugados, estradiol, estriol), por via vaginal (estriol), através de dispositivos terapêuticos transdérmicos (estradiol) ou implantes subcutâneos (estradiol).14 Segundo López7, doses de estrogênio menores que 1 mg/dia mostram-se eficazes na manutenção da densidade mineral óssea. Doses orais de 1 mg/dia de estradiol ou 0,625 mg/dia de estrogênios conjugados mostraram-se capazes de prevenir a perda de massa óssea, segundo estudos recentes.27,7 A dose total de estrogênios pode ser ainda mais reduzida se o esteróide for administrado por via transdérmica. Em estudos realizados por Weiss et al.28 ,várias doses de estradiol liberadas a partir de sistemas transdérmicos foram testadas em mulheres histerectomizadas. Em todos os grupos submetidos ao tratamento, os autores observaram uma significativa elevação na densidade mineral óssea na coluna lombar e quadril, além de alterações correspondentes nos marcadores bioquímicos do metabolismo ósseo como os níveis de osteocalcina e piridinolina/deoxipiridinolina. Sendo assim, concluiu-se que a TRH pode ser iniciada imediatamente após a menopausa com 17β estradiol, em doses de 50 µg/dia para controlar sintomas severos como ondas de calor. Após 3-4 anos do inicio da menopausa, a taxa de perda óssea está diminuída, e os sintomas controlados. Portanto, a dosagem pode ser gradualmente reduzida para 25 µg/dia, sem que haja prejuízo à proteção contra a perda óssea. Além disso, doses menores de estrogênios causam menos efeitos adversos, o que aumenta a adesão ao tratamento.7 A TRH, além de útil na prevenção e tratamento da osteoporose, é eficaz na melhora dos sintomas causados pela redução dos estrogênios, como, por exemplo, sintomas vasomotores (ondas de calor) e vaginite.9 O tratamento com estrogênio preserva a reposta intestinal à vitamina D, intensifica a reabsorção renal independente de paratormônio (PTH), de cálcio, e diminui a secreção de PTH durante quadros hipercalcêmicos.27 Todavia, há controvérsias acerca do uso da TRH. Estudos relatados por Rozenberg27 mostram que a mesma aumenta o risco de câncer de mama invasivo, doença cardíaca e embolia pulmonar com maior freqüência do que reduz o risco de osteoporose e câncer colorretal, geram questionamentos acerca da segurança da aderência ao tratamento e conduzem à idéia de que os riscos do mesmo se sobrepõem aos benefícios.27 Além disso, outros efeitos adversos importantes, como sangramento uterino e alterações do humor, associados ao uso da TRH, têm limitado o número de mulheres que aderem ao tratamento. Por conseguinte, a aquiescência à TRH é baixa: somente 20 % das mulheres, potencialmente beneficiadas pela TRH, está fazendo uso da mesma e mais de 30 % das prescrições da TRH são em vão.7, 9 O uso da TRH para o tratamento da osteoporose gera, ainda, controvérsias entre os profissionais da saúde. Atualmente, em virtude do surgimento de novas alternativas terapêuticas – os bifosfonatos e SERMS (moduladores seletivos dos receptores de estrogênio, com ação específica sobre o tecido ósseo), a TRH deixa, segundo Rozenberg27, paulatinamente, de ser a primeira escolha para o tratamento ou prevenção da osteoporose. Moduladores Seletivos dos Receptores de Estrogênio (do inglês, SERMs) Os SERMs (selective estrogen receptor modulators) atribuíram uma nova dimensão à terapia antireabsortiva, uma vez que agem no osso, mas não estimulam a mama e o útero26. Atualmente, o raloxifeno é 62 Borella, A. P. de O. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 56-72, jul./dez. 2006 o único SERM disponível no mercado para o tratamento da osteoporose5. Ele possui efeitos antiestrogênicos sobre o tecido mamário e endometrial, porém efeitos estrogênicos sobre o osso, o metabolismo dos lipídios e a coagulação sanguínea. Foi aprovado no Reino Unido para tratamento e prevenção da osteoporose pós-menopáusica.9 Este fármaco reduz os índices de renovação óssea para 10 a 30 % e aumenta a densidade óssea vertebral para 1 a 3 % durante 1 a 2 anos5. Um estudo realizado com 7705 mulheres osteoporóticas mostrou que o raloxifeno reduz em até 30 % os riscos de fraturas vertebrais, contudo ele não apresentou mudanças na incidência de fraturas não-vertebrais.5,26 Outros agentes com diferentes especificidades estão em fase de desenvolvimento, e a farmacologia dos receptores de estrogênios é uma área que merece atenção.9 O desenvolvimento de alguns novos SERMs foi abandonado porque aumentaram a incidência de prolapso do trato genital e incontinência urinária, mas este não parece ser um problema com o fármaco disponível atualmente. Sabe-se, porém, que seus efeitos a longo prazo no sistema nervoso central ainda são desconhecidos.5 No entanto, já está comprovado o aumento do risco de doenças tromboembólicas durante o tratamento, efeito adverso semelhante ao encontrado na terapia de reposição hormonal.5,26 Os SERMs podem ter um papel importante na prevenção da osteoporose. Contudo, o fato de seus efeitos na massa óssea serem menores do que os apresentados pela terapia de reposição hormonal e pelos bisfosfonatos, e por sua eficácia na prevenção de fraturas não-vertebrais não ter sido estabelecida, faz com que eles não sejam tão atrativos para pacientes com alto risco de fraturas.5 Calcitonina A calcitonina é um hormônio polipeptídeo de cadeia simples com 32 aminoácidos secretado pelas células 29,14,7 parafoliculares da glândula tireóide. Sua ação no organismo é oposta à ação do paratormônio, ou seja, ela diminui a concentração de cálcio sanguíneo. Sua secreção é estimulada por níveis de cálcio acima do normal, e seu efeito sobre a calcemia, a longo prazo, é pouco significativo, podendo esta ser considerada uma função quase exclusiva do hormônio paratireoidiano.29 Para que produza seu efeito final, a calcitonina dispõe de três mecanismos29: reduz a atividade dos osteoclastos, diminuindo o tamanho e a motilidade dos mesmos, cessando sua atividade de reabsorção23; aumenta a atividade dos osteoblastos, os quais retiram o cálcio do sangue e o depositam nos ossos; e, além disso, diminui a velocidade de formação de novos osteoclastos.29 A calcitonina exerce seus efeitos via receptores específicos localizados tanto nos osteoclastos quanto nos osteoblastos.30 Além disso, atua também no sistema nervoso central, controlando a dor, a curto-prazo, de pacientes com fraturas sustentadas. Acreditase, hipoteticamente, que este efeito deva-se à estimulação da liberação de endorfinas.23 Dentre as fontes de calcitonina disponíveis e viáveis, ressaltam-se a calcitonina de salmão e a de enguia, as quais merecem destaque por serem os hormônios naturais mais potentes, superando até mesmo a proteína humana. No entanto, os peptídeos de salmão e de enguia são em 50 % homólogos ao hormônio humano, o que causa certa antigenicidade – conseqüentemente, seu uso torna-se limitado devido ao desenvolvimento de resistência ou dessensibilização ao tratamento.7 A calcitonina de salmão difere da molécula humana por nove resíduos, mas é 20 a 40 vezes mais potente.31 Ensaios clínicos mostram que pessoas com osteoporose estabilizada aumentaram de 1 a 2 % a densidade mineral óssea da coluna lombar, após um ano de tratamento, e tiveram os riscos de fratura vertebral reduzidos após dois anos de tratamento com calcitonina de salmão.30 Um estudo de 5 anos, randomizado, duplo-cego e placebo controlado com a 63 Borella, A. P. de O. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 56-72, jul./dez. 2006 participação de 1255 mulheres foi realizado a fim de determinar se o spray nasal de calcitonina de salmão reduzia o risco de novas fraturas em mulheres na pósmenopausa com osteoporose. As participantes receberam calcitonina de salmão intranasal em doses de 100, 200 ou 400 UI por dia, juntamente com 1000 mg de cálcio e 400 UI de Vitamina D. As fraturas vertebrais foram avaliadas utilizando radiografias laterais da coluna. As mulheres que receberam a dose de 200 UI de calcitonina reduziram significativamente, em 33 %, os riscos de novas fraturas vertebrais comparado com o grupo placebo. Nas 817 mulheres que possuíam de uma a cinco fraturas vertebrais quando iniciaram o estudo, o risco foi reduzido em 36 %. Contudo, as reduções nas fraturas vertebrais não foram muito significativas nos grupos que receberam as doses de 100 e 400 UI. Os autores concluíram então, que o spray nasal de calcitonina de salmão na concentração de 200 UI diariamente, realmente reduz os riscos de novas fraturas vertebrais.23 No entanto, muitos autores olham com ceticismo e acreditam que os resultados não foram muito promissores, pois os efeitos nos marcadores bioquímicos da renovação óssea e densidade óssea foram muito menores do que os da TRH ou bifosfonatos; além disso, os riscos de fratura vertebral só foram reduzidos naqueles que receberam 200 UI por dia. Não houve também resultados significativos para outros tipos de fraturas. Então, a calcitonina intranasal parece ser menos efetiva que a TRH ou os bifosfonatos.5,31 Devido às reações imunológicas que acompanham o uso de calcitonina de peixes, cresce o interesse na identificação de análogos do hormônio humano com perfis de atividade aceitáveis. Kapurniotu et al.32 sintetizaram recentemente um análogo da calcitonina humana, que mostrou ser mais potente que a calcitonina humana original e a calcitonina de salmão. Por ser menos antigênico que a calcitonina de salmão e de enguia, abre as portas para uma nova geração de agentes terapêuticos.7 A calcitonina sintética foi aprovada pela FDA para o tratamento da osteoporose em mulheres que passaram pela menopausa há mais de cinco anos e que não toleram estrogênios, ou mesmo quando estes não se constituem uma opção.5,23 Vitamina K Estudos recentes deixam claro que a vitamina K pode melhorar a saúde dos ossos, não apenas por aumentar a densidade mineral óssea, como também por promover redução da incidência de fraturas. Além disso, ensaios clínicos recentes mostraram que ambas as vitaminas K e D atuam de forma sinérgica sobre a densidade óssea.33 Muitos são os mecanismos sugeridos para a ação da vitamina K sobre o metabolismo ósseo. Além de promover a carboxilação da osteocalcina, uma proteína envolvida na mineralização óssea, há evidências crescentes de que a vitamina K também afeta o balanço de cálcio.33 Estudos recentes mostram que a vitamina K2 (menatetrenona) reduz fraturas vertebrais e de quadril e melhora a qualidade do osso, estimulando a osteoblastogênese e inibindo a osteoclastogênese in vitro. Seu uso é aprovado no Japão tanto para a prevenção quanto para o tratamento da osteoporose.34 Agentes formadores de osso Paratormônio (PTH) O hormônio paratireoidiano, ou paratormônio (PTH), é um hormônio polipeptídico de cadeia simples, constituído de 84 aminoácidos. É produzido e secretado pela glândula paratireóide14, cujas células são sensíveis a mudanças na concentração do cálcio extracelular: um pequeno aumento na concentração de cálcio inibe a secreção de PTH, enquanto uma queda leva a um rápido aumento da secreção do hormônio.35 Os principais órgãos-alvo do PTH são os rins (aumentando a reabsorção tubular proximal de cálcio, a excreção de fosfato e a formação de calcitriol) e o esqueleto.35 Sendo assim, ele mantém as concentrações plasmáticas de cálcio ao mobilizá-lo do osso, 64 Borella, A. P. de O. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 56-72, jul./dez. 2006 ao promover a sua reabsorção pelo rim e, em particular, ao estimular a síntese de calcitriol que, por sua vez, aumenta a absorção de cálcio no intestino e atua de modo sinérgico com o PTH na mobilização de cálcio do osso.9 No entanto, o PTH, juntamente com fragmentos ativos tais como PTH 1-34 (teriparatida), possuem efeitos contrastantes no osso, dependendo da extensão da exposição. Em contraste com os efeitos catábolicos que ocorrem fisiologicamente, doses intermitentes de teriparatida aumentam o número de osteoblastos e a formação óssea pela ativação de osteoblastos pré-existentes e reduzem a apoptose dos mesmos.31 Estudos recentes mostraram que doses diárias de PTH são capazes de aumentar a massa óssea, a microarquitetura e a força em camundongos, ratos, coelhos, macacos e humanos. Em contrapartida, a infusão contínua de PTH levou a respostas catabólicas, com aumento no cálcio sérico e aumento da reabsorção óssea, em quase todas as espécies.36 A teriparatida é um polipeptídeo sintético, obtido por técnica de DNA recombinante, que contém os aminoácidos 1 a 34 da região amino-terminal do PTH37. Estudos iniciais com PTH utilizaram teriparatida (PTH 1-34), pois ela era similar ao produto de clivagem natural e retinha a bioatividade do paratormônio.35 Um grande ensaio (n=1637), randomizado, duplo-cego e controlado provou a eficácia da teriparatida em reduzir os riscos de fraturas vertebrais e não-vertebrais em mulheres osteoporóticas. As pacientes foram divididas em três grupos: placebo, teriparatida 20 g e 40 g/dia por via subcutânea. Houve redução significante de 65 % no risco de fraturas vertebrais e de 53 % para fraturas não-vertebrais no grupo tratado com 20 g. Observou-se também redução de 90 % no risco de fraturas moderadas a severas no mesmo grupo com relação ao placebo com a dose de 20 g.38 A teriparatida mostrou-se eficaz ao aumentar a densidade mineral óssea na coluna lombar e no colo femoral.35 A FDA aprovou, em 2002, a teriparatida para o tratamento da osteoporose em mulheres na pós-menopausa com alto risco de fraturas. A medicação, injetada uma vez ao dia na coxa ou abdome na dose de 20 μg, é o primeiro tratamento para osteoporose que aumenta a densidade mineral óssea pela estimulação de nova formação óssea.24 Alguns efeitos colaterais foram declarados, tais como, náusea, tontura e câimbra nas pernas. Devido ao aumento na taxa de osteosarcoma observado em ratos nos estudos pré-clínicos, a embalagem do fármaco salienta a possibilidade de humanos tratados com teriparatida desenvolverem este raro, mas sério câncer nos ossos.24 As pessoas não devem tomar este fármaco se possuem risco inicial elevado para osteosarcoma. Outros que não devem receber teriparatida incluem pacientes com outras doenças no metabolismo ósseo afora a osteoporose, pacientes com hipercalcemia, mulheres grávidas ou amamentando, ou aqueles que tiveram reações alérgicas a teriparatida ou a um de seus ingredientes.24 Em vista do exposto acima, e de acordo com Vieira39, acredita-se que apesar do inconveniente da necessidade de injeções diárias do peptídeo, e do custo elevado, a terapia com PTH (1-34) recombinante surge como a primeira real opção anabólica disponível, com aplicação bastante ampla e promissora. Existe um grande interesse no estabelecimento dos critérios de seleção pelos quais pacientes com osteoporose são escolhidos para receberem tratamento com análogos do PTH e em qual estágio da prevenção de fraturas os agentes anabólicos devem ser empregados. Numa relação custo/benefício, os bifosfonatos ainda levam vantagem sobre a teriparatida, sendo esta reservada àqueles que não respondem ou são intolerantes ao tratamento com bifosfonatos.35 A teriparatida é tipicamente administrada por 18 meses. Cessada a terapia, a densidade mineral óssea pode cair, apesar de não haver aumento no número de fraturas. Por isso, é necessária a continuidade do tratamento com agentes anti-reabsorção (bifosfonatos, SERMs), embora ainda faltem 65 Borella, A. P. de O. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 56-72, jul./dez. 2006 estudos que determinem a medicamentos mais adequada.35 classe de Hormônio do Crescimento e Fator de Crescimento Insulina-Símile (IGF-1) Tanto o hormônio do crescimento quanto o IGF-1 estão diretamente envolvidos na aquisição e manutenção da massa óssea. O IGF-1 é liberado pela matriz óssea após a reabsorção osteoclástica e estimula a diferenciação osteoblástica. Estudos prospectivos recentes descobriram que indivíduos com baixos níveis de IGF-1 possuem risco elevado de fraturas vertebrais ou femorais. Contudo, não há evidência de estudos prospectivos com hormônio do crescimento recombinante ou IGF-1 que possa reduzir o risco de fraturas ou induzir um aumento na densidade mineral óssea em mulheres com osteoporose pós-menopáusica. Além disso, efeitos colaterais são bastante comuns entre estes dois agentes.40 Ranelato de estrôncio Estudos in vitro e in vivo estabeleceram que o ranelato de estrôncio estimula a formação osteoblástica e inibe a reabsorção40. Estes efeitos parecem ser mediados pelo receptor sensível ao cálcio. In vitro, o estrôncio possui afinidade por este receptor e exibe efeitos calcimiméticos. Contudo, o mecanismo de ação detalhado permanece desconhecido.31 Um estudo na fase II avaliou a segurança e a eficácia dose-dependente do ranelato de estrôncio em mulheres osteoporóticas. Foram observados ganhos anuais de massa óssea que variaram entre 2,9 % no grupo que recebeu 500 mg, e 7,3 % no que recebeu 2000 mg.40 No entanto, é difícil acompanhar a evolução destes compostos porque a deposição do estrôncio no esqueleto altera a densidade mineral óssea (DMO), devido ao alto peso molecular do estrôncio em comparação ao cálcio26, fazendo com que haja uma superestimativa da densidade mineral óssea.40 Portanto, os valores da DMO foram corrigidos para 1,4 % para quem recebeu 500mg, e 3% para os tratados com 2000 mg, ambos os valores são significativamente maiores que os números encontrados para o grupo placebo. Todas as dosagens testadas foram bem toleradas, mas a dose de 2000 mg proveu a melhor proporção risco/benefício.40 O ranelato de estrôncio possui poucos efeitos colaterais. A diarréia pode ser vista inicialmente, mas freqüentemente diminui. Uma incidência pequena, mas significativa de doença tromboembólica pode ser vista, mas as bases fisiológicas para tal permanecem desconhecidas.31 Assim sendo, o ranelato de estrôncio é uma nova opção para o tratamento da osteoporose capaz de estimular o anabolismo e inibir a reabsorção óssea.40 Estatinas A primeira evidência de que as estatinas poderiam ter um efeito anabólico sobre os ossos veio de um estudo de 1999, relatado por Meunier9, no qual constatou-se que as estatinas, que costumam ser administradas para reduzir os níveis sanguíneos de colesterol, aumentam a expressão gênica da proteína morfogênica do osso-2 in vitro40,41 bem como aumentam a formação óssea in vitro9 e em ratos.41 Além disso, injeções de lovastatina e sinvastatina em camundongos “calvaria” causou 40 formação osteoblástica. O mesmo grupo mostrou que a terapia oral com estatinas preveniu a perda óssea que ocorre após a ooforectomia de ratos. Estes achados levaram os clínicos a reexaminarem dados de estudos epidemiológicos com o objetivo de determinar se o tratamento com estatinas a longo-prazo reduz o risco de fraturas osteoporóticas. Os resultados são controversos, alguns estudos encontraram uma redução nos riscos, enquanto outros não. Somente um estudo prospectivo comparando o tratamento com estatinas e placebo, sobre a incidência de fraturas, poderia por fim a esta controvérsia.40 Tiazidas 66 Borella, A. P. de O. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 56-72, jul./dez. 2006 A principal aplicação das tiazidas no tratamento de distúrbios do mineral ósseo consiste em reduzir a excreção renal de cálcio. As tiazidas podem aumentar a eficácia do hormônio paratireoidiano ao estimular a reabsorção de cálcio pelos túbulos renais; além disso, podem atuar secundariamente na reabsorção de cálcio através do aumento da reabsorção de sódio no túbulo proximal.14 Há evidências de que as tiazidas podem reduzir a perda óssea em mulheres pós-menopáusicas, podendo ser valiosas na terapia de combinação.9 Produtos disponíveis no mercado Alguns produtos disponíveis no mercado brasileiro para tratamento e prevenção da osteoporose, registrados junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária, são apresentados na tabela 1. Para o raloxifeno, a calcitonina e a teriparatida, todas as opções comercializadas no Brasil foram incluídas. No entanto, devido à grande variedade de medicamentos contendo bifosfonatos, optou-se por citar apenas alguns exemplos desta classe. 67 Borella, A. P. de O. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 56-72, jul./dez. 2006 Tabela 1. Medicamentos disponíveis no mercado brasileiro42 Substância Nome Forma de Apresentação Ativa Comercial Carbonato De Cálcio + Vit Comprimidos simples 1000 mg + Cálcio + Vit D. D 250 ui Carbonato De Comprimidos simples 600 mg + Ossotrat - D Cálcio + Vit D. 200 ui Carbonato De Biocal D Compr revest 500MG + 200UI Cálcio + Vit D3 Raloxifeno, Evista Compr. Revestido 60mg Cloridrato Raloxifeno, Osteofen Compr. Revestido 60mg Cloridrato Raloxifeno, Ovanta Compr. Revestido 60mg Cloridrato Raloxifeno, Raxiplen Compr. Revestido 60mg Cloridrato Alendronato Osteoral Compr simples 10mg Sódico Alendronato Sódico Alendronato Monossódico Alendronato Dissódico Alendronato Dissódico Alendronato Sódico Trihidratado Alendronato Sódico Trihidratado Laboratório Fedco Instituto Terapeutico Delta Ache Eli Lilly Do Brasil Marjan Pharmacia Brasil Zodiac Ache Alendronato Sódico Compr simples 10mg e 70mg Arrow Farmacêutica Cleveron Compr simples 10mg e 70mg Trb Pharma Osteotrat Compr simples 10mg e 70mg Biosintética Alendronato Sodico Compr simples 10 e 70mg Laboratório Globo Alendronato De Sódio Compr simples 10 e 70mg EMS Endrostan Compr simples 10 e 70mg Instituto Terapeutico Delta Calcitonina De Seacalcit Salmão Calcitonina De Miacalcic Salmão Calcitonina De Acticalcin Salmão Calcitonina Caltonin Sintética Calcitonina Sintética Calsynar Teriparatida Forteo Laboratório Sol inj 50 UI/0,5ml; 50 e Químico 100UI/1ml; 200UI/2ml; sol nasal Farmacêutico 50, 100 e 200UI/dose Bergamo Sol inj 50 e 100UI/1ml Novartis Sol nasal 200UI/dose Biociencias Sol inj 50 e 100UI/1ml Trb Pharma Sol nasal 50 e 100UI/dose Sol inj 50 e 100UI/1ml. Farmalab Sol nasal 50 e 100UI/dose Sol inj 50UI/0,5ml; 100UI/1ml. Pó liofilizado 50UI + diluente. Aventis Pharma Sol nasal 100 e 200UI/dose Eli Lilly Do Brasil Sol. Injetável 250/ml 68 Borella, A. P. de O. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 56-72, jul./dez. 2006 Considerações Finais O aumento da expectativa de vida da população mundial tem mudado a epidemiologia da osteoporose, uma das doenças metabólicas mais comuns atualmente, e que atinge principalmente mulheres na pós-menopausa e idosos. Um quadro comum, assintomático, e geralmente diagnosticado apenas mediante a ocorrência da primeira fratura, a osteoporose pode tornar-se extremamente debilitante, afetando inclusive o convívio social do indivíduo. Sendo assim, é de suma importância a conscientização da população leiga e dos profissionais da saúde acerca da necessidade de medidas preventivas e do diagnóstico precoce, além de informações atualizadas sobre os tratamentos disponíveis, quando se trata de quadros de osteoporose já estabelecidos. Após ampla revisão da literatura, pode-se considerar como realmente eficazes no tratamento da osteoporose aqueles medicamentos que, primariamente, reduzem o risco de fraturas em estudos controlados. A combinação de cálcio e vitamina D, uma das associações mais comumente utilizadas, é capaz de desacelerar a perda óssea e diminui a incidência de fraturas nãovertebrais, vertebrais e de quadril. Análogos da vitamina D estão sendo desenvolvidos, e a busca por sais de cálcio com melhor absorção intestinal é contínua. Os bifosfonatos, além de reduzirem o risco de fraturas, também promovem aumento da densidade mineral óssea, motivo pelo qual são a primeira escolha quando do estabelecimento de uma terapia. Ainda, possuem a vantagem de permitirem a administração semanal, mensal e trimestral, o que leva a uma maior adesão ao tratamento. Quanto à terapia de reposição hormonal, sua eficácia clínica está bem estabelecida. No entanto, o uso da mesma pelos profissionais da saúde gera controvérsias devido aos graves efeitos colaterais associados, o que faz necessária uma avaliação cuidadosa da relação risco-benefício. Sendo assim, SERMs, como o raloxifeno, surgem como alternativas para a prevenção e tratamento da osteoporose. Contudo, seus efeitos sobre a densidade mineral óssea são menores que os apresentados pela TRH e pelos bifosfonatos, além de sua eficácia na prevenção de fraturas não-vertebrais ainda não estar bem estabelecida. Os resultados referentes à calcitonina sobre a redução de fraturas provêm de poucos estudos, sendo por isso considerada uma segunda alternativa. Além do mais, os bifosfonatos possuem dados superiores quanto à redução de fraturas. Quanto aos agentes anabólicos, a teriparatida demonstra efetivamente aumentar a massa óssea, bem como reduz significativamente o risco de fraturas. Todavia, o tempo de tratamento é limitado a 18 meses, sendo que, então, faz-se necessário a continuidade da terapia com fármacos supressores da reabsorção. O ranelato de estrôncio, por sua vez, destaca-se tanto por estimular o anabolismo quanto por inibir a reabsorção óssea, e continua sendo fonte de pesquisa neste sentido. Existem, ainda, muitos estudos acerca da utilização das tiazidas, das estatinas, do IGF-1, do hormônio do crescimento e da vitamina K. Contudo, é cedo para se tirar conclusões sobre a eficácia destes últimos fármacos e, hoje, não há segurança suficiente para que seu uso seja justificado. 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Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 73-97, jul./dez. 2006 PRINCIPAIS MARCADORES TUMORAIS UTILIZADOS NA CLÍNICA PARA AUXÍLIO NO DIAGNÓSTICO DO CÂNCER – REVISÃO [Tumor markers used in the clinical for help câncer diagnosis – review] Andréia R. Voigt1; Ângela C. Bet2; Silvana V. G. Vigil3; Tânia S. Fröde4 Abreviações ADH AFP ALP β2-MG β HCG BTA CASA CEA CYFRA FDA GGT GH GHrH GST HCG hCGβcf Her-2 HPLC HVA hK IGF IL-6 MAPK MAO MIA LD-1 LDH NMP 22 NSE OG PAI PAP PBJ PLAP PSA PSAc PSAl PTH SCC SCLC SIADH Tg THS TPA TRH VMA Hormônio anti-diurético Alfa-feto proteína Fosfatase alcalina Beta 2-microglobulina Fração beta do hormônio gonadotrofina coriônica Antígeno de tumor de bexiga Antígeno sérico associado ao câncer Antígeno carcinoembrionário Fração do fragmento da citoqueratina 19 Food and Drug Administration Gama-glutamil transpeptidase ou transferase Hormônio de crescimento Hormônio liberador do hormônio de crescimento Genes supressores de tumores Gonadotrofina coriônica humana Fração β-core da gonadotrofina coriônica humana Receptor de fator de crescimento epidérmico humano-2 High Performance Liquid Chromatography Ácido homovanílico Calicreína humana Fator de crescimento semelhante à insulina Interleucina-6 Proteína quinase mitógena ativada Monoaminoxidase Proteína inibidora da atividade do melanoma Desidrogenase Láctica-1 Lactato desidrogenase Proteína da matriz nuclear 22 Enolase neuro-específica Oncogenes Inibidor-1 do ativador de plasminogênio Fosfatase ácida prostática Proteína de Bence-Jones Fosfatase alcalina placental Antígeno prostático específico Antígeno prostático específico complexado Antígeno prostático específico livre Hormônio da paratireóide ou paratormônio Antígeno carcinoma de células escamosas Câncer de células pequenas do pulmão Síndrome da secreção inapropriada de hormônio anti-diurético Tireoglobulina Hormônio tireoestimulante Antígeno polipeptídeo tecidual Terapia de reposição hormonal Ácido vanilmandélico 73 Voigt, A. R. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 73-97, jul./dez. 2006 Resumo: Este estudo enfoca uma revisão sobre os principais marcadores tumorais utilizados na triagem, diagnóstico, prognóstico, detecção de recidiva e monitoramento da terapia relacionada ao câncer. Os marcadores tumorais têm sido utilizados no diagnóstico e prognóstico de vários tipos de câncer, dentre eles destacam-se: câncer de testículo, da próstata, do colorretal, de ovário e endométrio, cervical, de mama, gástrico, de pulmão, da bexiga, da tireóide e paratireóide, hepático. Os marcadores tumorais podem ainda auxiliar no diagnóstico de: feocromocitomas, neuroblastomas e ganglioneuroma, prolactinoma, mieloma múltiplo e linfomas. Além disso, novos marcadores têm sido estudados como a fração Beta da gonadotrofina coriônica humana, antígeno de tumor de bexiga, antígeno sérico associado ao câncer, dentre outros. A sensibilidade e a especificidade dos marcadores tumorais ainda não é ideal, portanto a dosagem de dois ou mais marcadores auxiliam no diagnóstico da doença. Palavras-chave: marcadores tumorais, câncer, diagnóstico laboratorial. Abstract: This manuscript is direct to a review of de main tumor markers used in the clinic for screening, diagnosis, prognosis, relapse detection and cancer therapy monitoring. The tumoral markers it can be used to several cancer diagnosis, such as: testicular cancer, prostate cancer, rectal column cancer, ovarian and endometric carcinomas, cervical carcinoma, breast cancer, gastric cancer, lung cancer, bladder cancer, thyroid and parathyroid cancer, liver cancer. The tumors markers can also diagnosis other diseases such as: pheochromocytomas, neuroblastomas and ganglioneuromas, prolactinoma, melanoma, multiple mieloma and linfoma. Moreover, new markers have been studied as human chorionic gonadotrophin-beta fraction, bladder tumor antigen, amongst others. The sensitivity and specificity of the tumor markers are not ideal. Two ou more tumor markers can be used to diagnosis of the cancer. Keywords: tumoral markers, cancer, laboratorial diagnosis. Introdução Os marcadores tumorais são substâncias bioquímicas cuja detecção em tecido ou líquido biológico pode indicar a presença de um tumor. Os marcadores tumorais podem ser de origem protéica ou enzimática, como também podem ser receptores celulares, hormônios, compostos de baixo peso molecular e regiões gênicas.1 Estes marcadores podem ser detectados através de diferentes ensaios laboratoriais, tais como: imunocitoquímica, citometria de fluxo, enzimaimunoensaio, radioimunoensaio, quimioluminescência e testes genéticos.1 Uma vez que o tumor é composto por células heterogêneas, os marcadores tumorais não são expressos uniformemente, mesmo em tumores com origem no mesmo tecido. Por exemplo, somente 50-60% dos tumores de cólon expressam o antígeno carcinoembrionário (CEA), e aproximadamente 20-25% dos pacientes com câncer de próstata não exibem níveis séricos elevados do antígeno prostático específico (PSA).2 Logo, nenhum dos marcadores tumorais é 100% sensível para a detecção de qualquer câncer em particular. Para a escolha de um marcador é necessário o entendimento da utilização clínica dos mesmos. Essas substâncias podem ser utilizadas para fins de diagnóstico, triagem, prognóstico e monitoramento do pós-operatório e da terapia.3-5 A avaliação de múltiplos marcadores pode auxiliar melhor na monitoração do paciente. Como o câncer de cólon, mama, ovário e carcinomas pancreáticos são derivados de células epiteliais, todos eles podem expressar marcadores similares, mas em diferentes concentrações. Entretanto, um marcador dominante pode ser identificado em cada carcinoma 6,7. Este trabalho teve por objetivo realizar uma revisão bibliográfica sobre os principais marcadores tumorais utilizados na clínica para auxiliar na triagem, diagnóstico, prognóstico, bem como monitoramento da terapia do câncer. 74 Voigt, A. R. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 73-97, jul./dez. 2006 Marcadores tumorais utilizados na clínica Proteínas CA 125 O CA 125 é uma glicoproteína de alto peso molecular observada no desenvolvimento embrionário, reconhecida por um anticorpo monoclonal para carcinoma de ovário.8 Em tecidos adultos, níveis baixos de CA 125 podem ser detectados nas trompas de falópio, endométrio e endocérvix. Além disso, têm sido observados baixos níveis de CA 125 em células mesoteliais do lavado broncoalveolar de pacientes com câncer de pulmão9 (Tabela 1). O CA 125 é o marcador sérico mais utilizado para o carcinoma de ovário.9,10 Níveis séricos elevados de CA 125 (> 35 U/mL) podem ser detectados em aproximadamente 50% das pacientes em estágio inicial de câncer de ovário e em mais de 90% daquelas em estágio mais avançado da doença.10 Tumores mucinosos expressam este antígeno menos freqüentemente que os não mucinosos.9,10 O CA 125 também é utilizado no monitoramento da resposta à quimioterapia e acompanhamento de pacientes com carcinoma de ovário histologicamente comprovado. Concentrações de CA 125 diminuídas se correlacionam com a resposta ao tratamento mesmo quando a doença não é detectável pela palpação ou imagem.11-14 A análise de CA 125 é indicada no período pós-operatório em predizer a probabilidade de recidiva do tumor de ovário 9,11 (Tabela 1). Os níveis de CA 125 acima de 35 U/mL, detectados após cirurgia e quimioterapia, indicam doença residual e sugerem necessidade de quimioterapia adicional. Os níveis de CA 125 elevados também predizem o aparecimento de recidiva. Entretanto, valores negativos não excluem a presença da doença.11,15 O CA 125, ainda, é útil no diagnóstico diferencial de massas ovarianas benignas e malignas, particularmente na pósmenopausa.16 Em pacientes com câncer de endométrio, os níveis séricos de CA 125 avaliados no período pré-operatório correlaciona-se com o estágio do tumor, a profundidade da invasão do miométrio, a classificação histológica do tumor, a invasão cervical, a citologia peritoneal e, a possível metástase nos linfonodos.17,18 O CA 125 também é útil na triagem de metástase nos linfonodos, sendo que um valor acima de 35 U/mL, identificado no período pré-operatório, pode ser considerado um critério para uma linfadenectomia.18 A análise do CA 125 é um bom indicador da atividade do câncer de endométrio e uma ferramenta bioquímica útil para o acompanhamento de pacientes após o tratamento.11, 18 Níveis elevados de CA 125 também podem ser encontrados em alguns cânceres não-ginecológicos, como o câncer de pulmão, mama e gastrointestinal, porém sem significância clínica.15, 19 Utilizando-se a técnica de quimioluminescência, os valores de referência encontrados para o CA 125, considerados normais, são aqueles inferiores a 35 U/mL.10,15 Níveis elevados de CA 125 podem ser detectados em pacientes com a endometriose e a doença inflamatória pélvica12,15, durante o ciclo menstrual, gravidez, hepatite, pancreatite e a falência renal. Os níveis de CA 125 podem ainda estar falsamente elevado em algumas pacientes que se submeteram à radioterapia, pois a radiação pode estimular a secreção de CA 125 mesmo em células que normalmente não o fazem.11,18 A análise de CA 125 é feita no plasma. Interferências podem ser observadas se anticorpos heterófilos estiverem 15 presentes. CA 15-3 O CA 15-3 representa um epítopo identificado por um anticorpo monoclonal denominado de DF 3 e 115 9 8 e com alto peso molecular (300-450 Kd). É uma glicoproteína expressa por uma variedade de 75 Voigt, A. R. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 73-97, jul./dez. 2006 adenocarcinomas, especialmente os relacionados ao câncer de mama, em mulheres20 (Tabela 1). O CA 15-3 é um marcador tumoral que está presente em uma variedade de carcinomas incluindo mama, cólon, pulmão, ovário e pâncreas. Níveis elevados do CA 15-3 no soro são observados em 70% de pacientes com metástase, sendo estes indivíduos, geralmente, assintomáticos.21 Desta forma, o CA 15-3 pode ser útil em muitos casos para o diagnóstico precoce de metástase.21,22 O CA 15-3 é freqüentemente utilizado para monitorar pacientes com câncer de mama. A diminuição nos níveis deste marcador pode indicar uma boa resposta à radioterapia. O CA 15-3 é o marcador mais sensível e específico para o monitoramento de pacientes com metástase de câncer de mama21-23 (Tabela 1). Utilizando-se a técnica de quimioluminescência, os valores de referência encontrados para o CA 15-3, considerados normais, são aqueles inferiores a 35 U/mL.21 Os níveis de CA 15-3 também podem estar elevados no soro de pacientes com hepatite crônica, cirrose hepática, sarcoidose, tuberculose e lupus eritematoso sistêmico.22, 23 técnica de quimioluminescência, considerados normais, são aqueles inferiores a 37 U/mL.25,26 Níveis elevados de CA 19-9 também podem ser encontrados na pancreatite e na doença inflamatória intestinal.26,27 CA 50 Trata-se de uma glicoproteína relacionada ao CA 19-9.28 A glicoproteína CA 50 é expressa na maioria dos carcinomas epiteliais como câncer gastrointestinal e de pâncreas. Níveis elevados são também observados no câncer de mama e de ovário (Tabela 1). A sensibilidade e a especificidade do CA 50 para câncer de pâncreas e gastrointestinal são semelhantes àquelas do CA 19-928, 29 (Tabela 1). Os valores de referência encontrados para o CA 50 utilizando-se a técnica de quimioluminescência, considerados normais, são aqueles inferiores 20 U/mL.28, 29 Níveis elevados podem estar presentes no pâncreas normal e em outros tecidos, o que exclui seu uso em imunohistoquímica. O CA 50 pode estar elevado também na pancreatite, em doenças hepáticas e das vias biliares.28 CA 19-9 CA 72-4 O CA 19-9 é uma muciglicoproteína associada a tumor, cujo peso molecular varia de 200 a 1000 kd.24, 25 Níveis elevados de CA 19-9 são encontrados em pacientes com câncer de pâncreas, de vias biliares, de estômago e colo-retais24, 25 (Tabela 1). Este marcador, por ser inespecífico não deve ser utilizado isoladamente para fins de diagnóstico. O uso combinado com outros marcadores aumenta sua especificidade, permitindo que ele seja utilizado para auxiliar no prognóstico do câncer. Além disso, é útil no monitoramento da terapia e controle da reincidência da doença.24, 26 Os valores de referência encontrados para o CA 19-9, utilizando-se a O CA 72-4 é uma glicoproteína, denominada TAG 72, e identificada por meio de dois anticorpos monoclonais (B72.3 e CC49).30 Esta glicoproteína é um marcador tumoral utilizado no acompanhamento de pacientes com câncer gástrico, mas sua aplicação também tem sido investigada nos cânceres de ovário e de cólon. O CA 72-4 não apresenta sensibilidade e especificidade suficientes para ser utilizado isoladamente como método de triagem ou diagnóstico de qualquer neoplasia27,31 (Tabela 1). Estudos têm demonstrado que o CA 72-4 é útil no diagnóstico de câncer gástrico em estado avançado, com positividade de 76 Voigt, A. R. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 73-97, jul./dez. 2006 37,5%. Porém, apresenta baixa sensibilidade para tumores precoces. Entretanto, a dosagem conjunta do CEA e do CA 72-4 mostrou ser útil para o diagnóstico do câncer gástrico.30,31 Estudos realizados por CarpelanHolmstrom e colaboradores (2004) têm demonstrado que os níveis de CA 72-4 e de CA 19-9 em pacientes com carcinoma gástrico são importantes no diagnóstico de tumores em estágio avançado.27 Além disso, é também importante à realização de dosagens seriadas do CA 72-4, com freqüência igual ou superior a três meses, para avaliar a recorrência do câncer gástrico31 (Tabela 1). Os valores de referência encontrados para o CA 72-4, considerados normais, são aqueles inferiores a 6,7 U/mL, observados utilizando-se a técnica de quimioluminescência.30 Níveis elevados do CA 72-4 são descritos em pacientes com doenças gastrintestinais benignas (adenomas, pólipos, diverticulite, colite ulcerativa, pancreatite, cirrose hepática), pneumopatias, doenças reumáticas, cistos ovarianos e doenças benignas da mama.30 Antígeno Carcinoma de Células Escamosas O antígeno carcinoma de células escamosas (SCC) é uma subfração da glicoproteína TA-4. Este foi descrito pela primeira vez por Kato e colaboradores em 1977.31 O SCC pertence à família dos inibidores da serina-protease.16 O SCC é um marcador para cânceres de células escamosas em geral, porém é no câncer cervical de células escamosas no qual sua utilização é mais estudada (Tabela 1). O SCC não é muito sensível (particularmente nos estágios iniciais da doença) ou específico para uso na triagem do câncer cervical. Os níveis de SCC se correlacionam significativamente com o estágio e o tamanho do tumor quando este se encontra num estágio avançado.33,34 Os níveis de SCC extremamente elevados (acima de 8 μg/L) antes de qualquer tratamento, pode sugerir metástase nos linfonodos ou disseminação extracervical.34,35 Porém, níveis de SCC dentro dos valores de referência não podem excluir a presença de metástase nos linfonodos ou a disseminação extra-cervical.33 As dosagens de SCC e de CA 125 têm um valor preditivo positivo de 76% na detecção de metástase nos linfonodos ou envolvimento do espaço linfovascular.16 Níveis isolados e elevados de SCC antes de qualquer tratamento também têm sido identificados como fator de risco para baixa sobrevida.35 Os níveis de SCC se relacionam com a resposta à quimioterapia, durante o tratamento. A correlação entre o curso clínico da doença e as variações nos níveis de SCC é de 83% .35 Após o tratamento do câncer cervical, níveis de SCC persistentemente elevados ou crescentes sugerem persistência do tumor (doença residual) ou progressão da doença16,34 (Tabela 1). O SCC tem uma sensibilidade entre 56 e 86% e uma especificidade entre 83 e 100% para detecção de uma recorrência do câncer cervical de células escamosas.34,35 Níveis elevados de SCC têm sido encontrados em pacientes com carcinoma de células escamosas da vulva, vagina, cabeça e pescoço, esôfago, e pulmão.16,33 Os valores de referência do SCC estão entre 2,0 e 2,5 μg/L utilizando-se o método de enzimaimunoensaio (Elisa EIA).14,34 Os níveis de SCC podem aparecer aumentados em pacientes com doenças benignas da pele (ex. psoríase, eczema), pulmão (ex. sarcoidose), fígado e rim. Valores elevados (acima de 18 μg/L) têm sido encontrados em pacientes com falência renal e doença pulmonar.33 Alfa-Feto Proteína Trata-se de uma glicoproteína com peso molecular de 70 kd. A alfa-feto proteína (AFP) normalmente é produzida pelo feto em desenvolvimento. A concentração de AFP no plasma do feto atinge 3 mg/L na 12ª a 14ª semana de gestação decaindo até o final da gestação para uma concentração de 10 – 200 77 Voigt, A. R. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 73-97, jul./dez. 2006 μg/L. A produção da AFP diminui para um nível inferior a 10 – 15 μg/L depois do nascimento e permanece em níveis baixos na criança e no adulto saudável36,37 (Tabela 1). A AFP é amplamente utilizada para auxiliar no diagnóstico, prognóstico e monitoramento do câncer.38 Níveis elevados de AFP sérica, no adulto não grávido, sugere fortemente a presença de um câncer primário hepatocelular, câncer gastrintestinal ou câncer de célula germinativa (ovário ou testículo).38 Após ressecção curativa para carcinoma hepatocelular, os níveis séricos de AFP retornam aos valores normais. Elevações persistentes geralmente representam doença residual.39 Os valores de referência considerados normais de AFP para crianças e adultos nãográvidos são de 10 a 15 μg/L utilizando-se métodos de quimioluminescência. Níveis séricos superiores a 500 mg/L são fortemente sugestíveis de diagnóstico de tumor, no adulto.36,37 Os níveis de AFP podem estar acima dos valores considerados normais em pessoas que apresentam outras patologias, como cirrose, hepatite e em alguns casos de necrose hepática sub-aguda.37,39 Antígeno Carcinoembrionário O antígeno carcinoembrionário (CEA) é uma glicoproteína de 200 kd presente na superfície da membrana celular.40 O CEA é um marcador tumoral amplamente estudado e é encontrado no soro de pacientes portadores de diversas doenças, malignas ou não. Este marcador é indicado para o monitoramento do tratamento e do pósoperatório de indivíduos com câncer coloretal, mama, ovário, pulmão, dentre outros.41,42 Este marcador também é amplamente utilizado para avaliação no préoperatório, indicando bom ou mau prognóstico.13,43 Devido a sua baixa especificidade, o CEA não deve ser usado para fins diagnósticos, já que ele se encontra elevado em outras patologias (Tabela 1). A incidência nos níveis séricos elevados do CEA também está associada ao câncer de mama, ovário, pulmão, estômago, útero e tireóide.12,43 A incidência varia não apenas com o tipo de tumor como também com seu estágio, sendo geralmente mais elevado o nível em pacientes com metástase.12,42 Por outro lado, tumores indiferenciados ou pouco diferenciados podem não produzir níveis detectáveis deste marcador.12,42,43 O valor de referência encontrado para o CEA, considerado normal, é de 2-5 ng/mL, utilizando-se o método de enzimaimunoensaio.40,43 Esta glicoproteína encontra-se em níveis elevados no soro de fumantes e de pacientes portadores de polipose retal. Níveis elevados deste marcador também são encontrados em doenças como hepatite aguda e crônica, cirrose hepática, enfisema pulmonar e colite ulcerativa.43 NMP 22 É uma proteína da matriz nuclear, tendo um importante papel na expressão gênica. O NMP 22 é utilizado no diagnóstico de carcinomas de bexiga42,45 (Tabela 1). Este teste é o único aprovado pelo FDA para a triagem de câncer de bexiga. Pode ser útil no diagnóstico desta doença em pacientes expostos a carcinógenos de alto risco.45,46 O valor de referência do NMP 22 é de 10 U/mL, através do método de enzimaimunoensaio.46-48 Além disso, nestes testes laboratoriais podem ocorrer falsos positivos, como nos casos de cistite.46,48 Proteína de Bence-Jones Imunoglobulina de Cadeia Leve ou A proteína de Bence-Jones (PBJ) é formada por dímeros de cadeias leves (kappa e lambda) de imunoglobulinas monoclonais encontradas na urina. A presença ou a ausência da PBJ na urina depende da taxa e da quantidade de síntese de cadeias leves e do estado renal do paciente.49 A PBJ (ou imunoglobulina de cadeia leve) é encontrada em 60 a 70% de pacientes 78 Voigt, A. R. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 73-97, jul./dez. 2006 com mieloma múltiplo 50. Aproximadamente 20% dos mielomas múltiplos secretam apenas cadeias leves (PBJ), e cerca de 50% dos pacientes com mieloma produzem imunoglobulinas de cadeias leves livres, que são liberadas na urina 51. A monitorização da PBJ é útil na avaliação de recidivas da doença, na transição para uma forma mais agressiva e na resposta à terapia. A presença e a quantidade de PBJ podem determinar o prognóstico (Tabela 1). A PBJ tem um efeito nefrotóxico, assim, sua presença aumenta o risco de insuficiência renal. Mieloma de cadeias leves lambda têm pior prognóstico do que os de cadeias leves do tipo kappa.52 Após tratamento, os pacientes que apresentam uma diminuição de 50% a 74% na produção destas imunoglobulinas têm bom prognóstico.52 A presença de qualquer PBJ é anormal. Métodos turbidimétricos, usados até a alguns anos, não devem mais ser utilizados, por serem pouco sensíveis e pouco específicos. A pesquisa de PBJ (cadeias leves livres, monoclonais, de imunoglobulinas) deve ser feita através de concentração da amostra de urina, seguida de eletroforese e imunofixação.51 A PBJ é encontrada em 30% nas macroglobulinemias de Waldenstrom, em 20% nas doenças linfoproliferativas e também em aproximadamente 10% nas gamopatias monoclonais benignas. Pode estar presente também na amiloidose sistêmica.50 Beta 2 – Microglobulina A beta 2-microglobulina (2-MG) é um polipeptídeo de baixo peso molecular (11,8 kd).53 O aumento da 2-MG tem sido associado a uma variedade de doenças malignas, incluindo mieloma múltiplo, linfoma e tumores sólidos, bem como doenças não malignas. Recentemente seu papel como fator prognóstico para mieloma múltiplo e linfoma foi bem estabelecido, o que tornou a 2-MG um importante marcador tumoral53,54 (Tabela 1). Níveis elevados de 2-MG correlacionam-se com o volume tumoral e níveis elevados de creatinina sérica, que são fatores importantes na determinação do estágio e prognóstico do mieloma múltiplo.53 Pacientes com 2-MG com níveis séricos inferiores a 2 g/mL possuem baixo risco de desenvolverem a doença, e aqueles com níveis séricos superiores a 6 g/mL têm alto risco e baixa sobrevida. O monitoramento nos níveis de 2-MG durante a terapia é importante para avaliar a resposta, principalmente em pacientes com doença de cadeia leve. Nível crescente prediz recidiva. Níveis séricos elevados de 2-MG também têm mostrado insucesso terapêutico e baixa sobrevida em pacientes com linfoma.53,54 A concentração sérica normal de 2MG é de aproximadamente 0,9 a 2,5 g/mL detectados através de métodos como radioimunoensaio, enzimaimunoensaio ou nefelometria.53, 54 Os níveis elevados de 2-MG também são encontrados na amiloidose 54. Enzimas Antígeno Prostático Específico O antígeno prostático específico (PSA) é uma glicoproteína composta por uma única cadeia de peso molecular igual a 34 kd. É produzido pelas células alveolares e do epitélio ductal prostático normal e com alterações neoplásicas benignas ou malignas. O PSA é a principal proteína encontrada no líquido seminal55 (Tabela 1). O PSA é o marcador mais utilizado para o diagnóstico e o tratamento do câncer de próstata. O PSA total em circulação equivale à soma das frações de PSA livre (PSAl) e complexado (PSAc). O PSAc corresponde ao marcador ligado à alfa-1antiquimiotripsina. A fração livre corresponde de 5 a 30% do PSA total.55,56 O PSA livre é indicado para auxiliar na diferenciação entre uma condição benigna e maligna da próstata, principalmente em casos de biópsia negativa.57,58 Este marcador é produzido pelo tecido prostático em 79 Voigt, A. R. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 73-97, jul./dez. 2006 condições normais e malignas. Por essa razão, o teste do PSA nem sempre permite aos médicos distinguir entre condições benignas e câncer.58 Este marcador, em conjunto com o exame de toque retal, é indicado para a triagem do câncer de próstata, em pacientes com idade acima de 50 anos.55,59 Devido a sua especificidade, o PSA é empregado no monitoramento do sucesso da prostectomia e na detecção de recidiva do câncer.60 A remoção completa da próstata pode resultar em níveis indetectáveis de PSA no soro. Porém altos níveis do marcador, no soro, após a cirurgia é um forte indicativo da recorrência do câncer. Níveis elevados de PSA correlacionase também com o estágio da doença e o tamanho do tumor55,59 (Tabela 1). O valor normal do antígeno prostático específico em um indivíduo saudável é até 4 ng/mL, utilizando-se o método de enzimaimunoensaio.58 O PSA pode estar aumentado (4 – 10 μg/L) no soro de pacientes em casos de hiperplasia da próstata, prostatites e infartamento da glândula.57,58 Fosfatase Ácida Prostática A fosfatase ácida prostática (PAP) é uma glicoproteína intracelular de peso molecular de 100 kd e é um componente normal da secreção exógena da próstata. Embora a PAP seja produzida primariamente pela próstata, ela é também encontrada em eritrócitos, plaquetas, leucócitos, medula óssea, osso, fígado, baço, rim e intestino.61 A dosagem da PAP é utilizada principalmente para monitorar a resposta à terapia e determinar a condição clínica do paciente com câncer de próstata. Este marcador está presente apenas em pequenas quantidades no sangue.61,62 Os níveis da PAP no sangue estão elevados na maioria dos pacientes com câncer de próstata em estágio avançado. Os níveis de PAP, no soro, aumentam de forma progressiva de acordo com o estágio da doença e está relacionado com a presença de metástase.63 Os níveis elevados da PAP também estão associados com outros tipos de câncer, incluindo mieloma múltiplo e sarcomas.61,62 O valor de referência da fosfatase ácida prostática é de 2 ng/mL detectados através do método de enzimaimunoensaio.61 Os níveis séricos elevados da PAP podem ser também observados na hipertrofia prostática benigna, osteoporose e hiperparatireoidismo.61,62 Enolase Neuro-Específica A enolase neuro-específica (NSE) é a subunidade gama da isoenzima enolase, encontrada predominantemente em células neuroendócrinas64 (Tabela 1). Os níveis elevados de NSE podem ser encontrados em tumores originários em células do sistema neuroendócrino. Os níveis elevados são encontrados em carcinoma de células pequenas do pulmão (SCLC) e neuroblastoma (85%)65 Os níveis do NSE em pacientes com este tipo de neoplasia podem oferecer informações sobre a extensão da doença e do prognóstico do paciente, como também a resposta ao tratamento.64 Os níveis de NSE podem apresentar-se normais em pacientes com feocromocitoma.66 A NSE também é detectada em pacientes com tumor de Wilm (tumor renal), outros tumores neuroendócrinos, melanoma, e cânceres da tireóide, rim, testículo e pâncreas.65,66 O valor de referência da NSE, utilizando-se o método de radioimunoensaio é de 6 ng/mL.64 A NSE também se apresenta elevada em casos de lesão cerebral provocada por parada cardíaca, bem como em casos de acidente vascular cerebral.65 Lactato Desidrogenase A lactato desidrogenase (LDH) é uma enzima intracelular responsável pela oxidação reversa do lactato em piruvato. Esta enzima está amplamente distribuída em todas as células do organismo, concentrando-se mais especialmente no miocárdio, rim, fígado, hemácias e músculos. Seus valores 80 Voigt, A. R. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 73-97, jul./dez. 2006 encontram-se elevados em todas as situações em que ocorre grande destruição celular67 (Tabela 1). A LDH tem seus níveis séricos elevados em algumas neoplasias primárias ou secundárias (metastáticas), leucemias e linfomas.68 A LDH, no melanoma, está relacionada também à metástase hepática e ao crescimento tumoral em pacientes em estágio avançado da doença, indicando mau prognóstico e baixa sobrevida.67 Os valores séricos normais da LDH variam de 150-360 U/L, através do método piruvato a lactato.68 Os níveis séricos elevados da LDH podem ser encontrados na anemia megaloblástica e hemolítica, nas hemoglobinopatias, no infarto agudo do miocárdio, no infarto pulmonar, na insuficiência cardíaca congestiva, na insuficiência coronariana, no choque e na hipóxia importantes, nas doenças musculares, nas lesões hepáticas, nas hepatites, nas icterícias obstrutivas e na cirrose.67 Fosfatase Alcalina A fosfatase alcalina (ALP) é uma enzima que pode ser encontrada no sangue, intestino ou células ósseas, e sua estrutura química vária de acordo com o local onde foi produzida. A determinação das isoenzimas da ALP pode fornecer especificidade adicional. A ALP sérica de indivíduos adultos normais provém do fígado ou trato biliar69 (Tabela 1). Níveis elevados da ALP são observados no câncer hepático primário ou metastático. O nível sérico deste marcador pode ser útil na avaliação de câncer metastático comprometendo ossos ou fígado. Os níveis elevados são observados em pacientes com lesões osteoblásticas tais como as que ocorrem no câncer de próstata metastático. Este marcador também está elevado em pacientes com lesões osteolíticas conseqüentes do câncer de mama metastático.70 Se a ALP apresenta-se elevada no período pré-operatório, mensurações seguidas são recomendadas, pois os níveis elevados deste marcador após a cirurgia sugerem câncer metastático ou tumor residual.71 As concentrações elevadas da ALP combinadas com outros sintomas clínicos podem indicar metástase óssea. Os níveis elevados também são encontrados em pacientes com metástase hepática ou outras condições neoplásicas.72 Em casos de metástases hepáticas, o nível sérico da ALP se correlaciona com a extensão do comprometimento hepático. Para se diferenciar a origem dos níveis elevados da ALP, outras dosagens enzimáticas como a 5 - nucleotidase ou a gama-glutamil transferase são úteis no auxílio do diagnóstico do câncer.69,72 Outras neoplasias como leucemias, sarcomas e linfomas com infiltração hepática podem também gerar níveis séricos elevados da ALP.73 Em adultos, os valores normais da ALP estão entre 50 e 250 U/L detectados através de método colorimétrico.71 No crescimento ósseo, e nas doenças onde ocorre obstrução hepática, a concentração da ALP pode aumentar consideravelmente.69,72 Gama-Glutamil Transpeptidase / Gama Glutamil Transferase A gama-glutamil transpeptidase ou transferase (GGT) é uma enzima presente nas membranas celulares e nas frações microssômicas envolvidas no transporte de aminoácidos através da membrana celular. Esta está presente em ordem decrescente no túbulo proximal renal, fígado, pâncreas e intestino. Os níveis séricos da GGT são principalmente de origem hepática74 (Tabela 1). Os valores são aproximadamente 50% mais elevados nos homens do que nas mulheres, e são diretamente proporcionais à massa corporal, ao consumo de álcool, ao fumo e ao nível de atividade física.74 A GGT é utilizada na clínica na detecção de carcinoma hepático primário ou 81 Voigt, A. R. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 73-97, jul./dez. 2006 metástase hepática, e também em pocientes com neoplasmas metastáticos.74 Apresenta uma sensibilidade de 67% e especificidade de 76% no diagnóstico de carcinoma hepatocelular. Este marcador é utilizado no diagnóstico de carcinoma hepatocelular avançado ou inicial e também em complicações malignas conseqüentes da cirrose.72 Para uma maior sensibilidade e especificidade utilizam-se para diagnóstico a combinação da dosagem da ALP e da GGT.73 Os valores de referência da GGT variam de acordo com a idade, sexo e dieta. Para homens o valor de referência varia de 12 a 64 U/L, enquanto que para mulheres varia de 9 a 36 U/L. Recomenda-se que cada laboratório estabeleça seus valores de referência, sendo que o método mais utilizado é o enzimático cinético (Szasz modificado).73 Pacientes com diabetes mellitus, hipertireoidismo, artrite reumatóide e doença pulmonar obstrutiva crônica freqüentemente apresentam valores elevados de GGT. Os níveis de GGT também se apresentam elevados em cirrose sem carcinoma hepatocelular.75 Valores muito elevados são encontrados nos pacientes com colestase crônica, como na cirrose biliar primária ou na colangite esclerosante, e em outras patologias hepáticas e biliares. Este marcador ainda apresenta-se freqüentemente elevado em alcoólatras, mesmo sem hepatopatia, na obesidade e no uso de fármacos como analgésicos, anticonvulsivantes, quimioterápicos, estrogênio e contraceptivos orais. Nos períodos após infarto agudo do miocárdio, a GGT pode permanecer alterada por semanas.75 O álcool e os fármacos, como por exemplo a fenitoína e o fenobarbital, promovem aumento nos níveis séricos da GGT.76 Hormônios Gonadotrofina Coriônica Humana pela ligação não covalente de duas cadeias, alfa e beta. A HCG é secretada pelas células trofoblásticas da placenta em condições normais. A HCG é tipicamente ativa na forma de dímero, mas também é encontrada na forma de suas subunidades, alfa e beta77 (Tabela 1). Os níveis de HCG podem estar elevados no soro de pacientes com algum tipo de câncer de pulmão e de célula germinativa, como ovário e testículo.77 O câncer de células germinativas pode ser do tipo seminomatoso ou nãoseminomatoso. O câncer de testículo do tipo seminomatoso acomete homens mais velhos, responde bem a radioterapia e representa 60% dos casos.78 Já o não-seminomatoso tem maior poder metastático e acomete principalmente adolescentes e adultos jovens.79 O monitoramento da recorrência de cânceres de testículo do tipo nãoseminomatoso é realizado através do controle dos níveis séricos tanto da β HCG como da AFP.78,79 A fração β livre da HCG é útil no monitoramento do tratamento de pacientes com câncer do tipo seminomatoso, no qual nenhum outro marcador tumoral encontra-se elevado 80. Alguns tipos de tumores produzem apenas uma das frações da HCG. Nesses casos, ao se dosar uma fração e não a outra, observa-se resultado falso negativo.78,79 Utilizando-se a técnica de quimioluminescência para detecção da HCG, os valores de referência considerados normais são aqueles inferiores a 5 U/mL.77 A HCG está elevada (> 5 U/L) no soro e na urina durante a gravidez.77 A glândula tireóide também pode secretar HCG em baixas concentrações, que aumentam com o avanço da idade, principalmente em mulheres no período pósmenopausa.78, 80 Em adição, pacientes com doenças benignas, como doença inflamatória do intestino, úlceras duodenais ou cirrose, podem apresentar níveis elevados de HCG.81 A gonadotrofina coriônica humana (HCG) é uma sialoglicoproteína constituída 82 Voigt, A. R. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 73-97, jul./dez. 2006 Tireoglobulina Humana Sérica Hormônio da Paratireóide e Cálcio A tireoglobulina é uma glicoproteína produzida pelas células foliculares da tireóide.82 A tireoglobulina humana sérica (Tg) encontra-se aumentada em adenomas iniciais da tireóide e também no câncer da tireóide.83 Uma vez que a Tg é um produto das células foliculares da glândula, os níveis deste marcador não apresentam alterações em carcinomas medulares da tireóide.84,85 (Tabela 1). A Tg é um marcador tumoral altamente específico para a diferenciação do câncer da tireóide e tem um papel importante no monitoramento dos pacientes com adenomas da tireóide. Após uma tireoidectomia bilateral e uma ablação radioisótopa, a Tg encontra-se com valores inferiores a 2 ng/mL. Já nos pacientes que se submeteram a uma lobotectomia unilateral e submetidos à terapia hormonal, com ausência de doença metastática, os níveis de Tg encontram-se inferiores a 10 ng/mL.83 Níveis baixos de tireoglobulina no soro, em associação com os níveis de hormônio tireoestimulante (TSH) elevados, excluem câncer residual ou metastático em mais de 99% dos casos.84 Em contraste, os níveis séricos elevados de tireoglobulina e concentrações baixas de TSH, indicam tecido tireoideano anormal residual, embora não se possa distinguir doença nodular de uma lesão maligna.85 Infelizmente os métodos utilizados para a dosagem da Tg ainda não estão padronizados, o que leva a resultados inconsistentes devido à variação dos limites de detecção de cada método, dificultando desta forma a decisão clínica.84 Os níveis séricos normais de tireoglobulina variam de 3 a 42 ng/mL, utilizando-se o método de 85 quimioluminescência. Os níveis séricos de tireoglobulina podem aparecer elevados na tireoidetoxicose, tireoidites e em casos de deficiência de iodo.82,84 O hormônio da paratireóide ou paratormônio (PTH) é produzido pelas glândulas paratireóides, localizadas posteriormente à glândula tireóide, a partir de um precursor, o pré-pró-paratormônio. Este é um dos responsáveis pelo controle da calcemia, e o mais importante na regulação das alterações agudas das concentrações extracelulares de cálcio86. O PTH tem uma meia vida de aproximadamente 2 minutos, quando a sua metabolização ocorre na maior parte no fígado (70%), rins (20%) e em menor quantidade em outros tecidos, como o tecido ósseo. A ação do PTH ocorre diretamente no rim e no osso e indiretamente no trato digestivo, sempre resultando em incremento dos níveis séricos de cálcio87 (Tabela 1). As concentrações plasmáticas elevadas do PTH podem ser encontradas na maioria dos pacientes com hipercalcemia associada ao câncer.86 Em presença de hipercalcemia persistente, uma concentração elevada de PTH estabelece diagnóstico inicial de hipertireoidismo88 e exclui diagnóstico de hipercalcemia relacionado à malignidade em outros tecidos que não as glândulas da paratireóide. Entretanto, o hipertireoidismo não precisa estar necessariamente associado com um adenoma da paratireóide, hiperplasia ou carcinoma, pois outras condições não malignas também podem apresentar um hipertireoidismo.86 As concentrações elevadas de PTH e de cálcio total são encontradas em pacientes com carcinoma ou adenoma da glândula paratireóide.87 Aproximadamente 2/3 de todos os casos de carcinoma da glândula da paratireóide estão associados com valores séricos de cálcio entre 3,75 a 4,0 mmol/L (15 e 16 mg/dL), enquanto apenas 10% dos indivíduos com adenoma nas glândulas paratireóide têm valores séricos de cálcio total de 2,75 a 3,0 mmol/L (11 a 12 mg/dL).87 Além do mais, os níveis de PTH em pacientes com carcinoma da glândula 83 Voigt, A. R. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 73-97, jul./dez. 2006 paratireóide são consistentemente mais elevados que aqueles encontrados em pacientes com início de outras doenças na glândula paratireóide. Aproximadamente 70% dos pacientes com carcinoma da glândula paratireóide têm um nível de PTH cinco vezes maior que o limite normal de PTH.89 Os níveis séricos de cálcio são importantes indicadores de recorrência do tumor, particularmente no carcinoma de paratireóide e em pacientes que realizaram tireoidectomia.90 Pacientes com carcinoma da paratireóide e com processo de metástase apresentam aumento progressivo dos níveis de PTH89,90 (Tabela 1). Outras doenças malignas (incluindo carcinoma de células escamosas, renal, de bexiga e de ovário) também podem apresentar a hipercalcemia como um dos sintomas clínicos e, portanto, o PTH seria útil no diagnóstico diferencial.86 Os valores de referência do paratormônio, utilizando-se o método de quimioluminescência, varia de 16 a 62 pg/mL para adultos normais, 50 a 962 pg/mL em casos de hiperparatiroidismo primário e de 50 a 1238 pg/mL em pacientes com disfunções renais crônicas.86 A avaliação das concentrações de PTH pode ser útil na diferenciação do diagnóstico de hipercalcemia associada ao hipertireoidismo primário, sarcoidoma ou toxicidade da vitamina D.86 Pacientes com disfunção renal, sem hipercalcemia ou câncer, podem apresentar concentrações plasmáticas elevadas de PTH.87 monitoramento de pacientes portadores de carcinoma medular da tiróide91 (Tabela 1). Os níveis elevados de calcitonina ocorrem nas seguintes doenças malignas: câncer de mama, carcinóide, hepatoma, câncer de pulmão, tumores gastrointestinais e carcinoma medular da tireóide1,91, podendo indicar também, em alguns casos, metástase óssea.91,92 A calcitonina é utilizada na clínica na triagem de carcinoma medular da tireóide. Os níveis de calcitonina também se correlacionam com a extensão da doença e são importantes no auxílio do diagnóstico e na avaliação da resposta à terapia.91,92 Assim como outros peptídeos hormonais, a calcitonina sérica pode ser utilizada como marcador tumoral para SCLC.1,93 O valor de referência da calcitonina é de 100 pg/mL através do método de enzimaimunoensaio ou radioimunoensaio.92 A calcitonina pode estar elevada em pacientes com doença não maligna do pulmão, na pancreatite, na doença de Paget óssea, no hiperparatireoidismo, na síndrome de Zollinger-Ellison, durante a gravidez, na tuberculose, nas pneumonias agudas e em fumantes.90,93 Valores também elevados de calcitonina podem ser encontrados na insuficiência renal. A pró-calcitonina geralmente não é secretada para a circulação e, desta forma, os níveis plasmáticos de prócalcitonina são muito baixos em indivíduos saudáveis.91,93 Porém, em alguns casos, níveis elevados de pró-calcitonina podem confundir com a calcitonina a ser dosada. Calcitonina Prolactina A calcitonina é um hormônio polipeptídico composto por 32 aminoácidos, cuja secreção é originária preponderantemente das células C ou parafoliculares tiroideanas. Do ponto de vista terapêutico, este hormônio tem aplicações para o controle da hipercalcemia e da reabsrorção óssea. Do ponto de vista diagnóstico, a calcitonina representa um marcador tumoral para o diagnóstico e A prolactina é um hormônio polipeptídico sintetizado e secretado primariamente pela glândula pituitária anterior. Este é também sintetizado em alguns sítios extra-pituitários incluindo o tecido mamário, a placenta, o útero, o cérebro e o sistema imune. Evidências da produção de prolactina na glândula lacrimal e adrenal, no corpo lúteo, na próstata, nos testículos e no pâncreas existem também94 (Tabela 1). 84 Voigt, A. R. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 73-97, jul./dez. 2006 A prolactina é importante na avaliação de tumores hipofisários, sendo mais especificamente, o marcador do diagnóstico e monitoramento dos 95 prolactinomas. O adenoma hipersecretor de prolactina (prolactinoma) é a disfunção mais freqüente da hipófise anterior. Os tumores podem ser microadenomas ou macroadenomas, de crescimento lento ou rápido, secretores apenas de prolactina ou de prolactina e hormônio de crescimento.95 Níveis basais de prolactina superiores a 200 ng/mL, detectados através do método de quimioluminescência, sugerem fortemente adenoma.95,96 A dosagem de prolactina sérica é importante na avaliação de distúrbios menstruais, esterilidade feminina e 96 masculina, impotência e galactorréia. A prolactina também se encontra em níveis elevados na doença hepática grave, ovários policísticos, doença de Cushing, insuficiência renal crônica, e trauma da parede torácica. Além disso, alguns fármacos como por exemplo os antidepressivos, os anti-hipertensivos e a metoclopramida também promovem aumento da prolactina.95 A hipersecreção de prolactina pode ser conseqüência da ausência de inibição pela dopamina, como em casos de craniofaringioma, compressão da haste hipofisária por um adenoma ou formação granulomatosa. Nessas condições, o transporte da dopamina secretada pelo hipotálamo por meio da hipófise está prejudicado, o que diminui sua concentração na hipófise anterior.97 Existem fármacos que bloqueiam ou impedem a síntese de dopamina, como por exemplo, as fenotiazinas e a metildopa. A hiperprolactinemia pode ocorrer ainda como conseqüência do efeito estimulatório do estrogênio e do TRH, em casos de terapia com estrogênios ou hipotireoidismo primário.96 Concentrações muito elevadas de prolactina (na ordem de 1.000 a 10.000 vezes maiores que o normal) promovem resultados falsos negativos nos ensaios 96,97 imunométricos. Hormônio de Crescimento O hormônio de crescimento (GH) é um hormônio polipeptídico (com 191 aminoácidos) secretado pelas células somatotrópicas da parte anterior da hipófise em resposta a vários estímulos, principalmente do hormônio liberador do hormônio de crescimento (GHrH). A liberação do GH pela hipófise é inibida pela ação de somatostatina, conhecida como hormônio inibidor do hormônio de crescimento, que possui também um efeito inibidor na secreção de TSH pela adenohipófise, e também na secreção de glucagon e insulina pelo pâncreas.98, 99 O efeito geral do GH é promover o crescimento ósseo e cartilaginoso além de promover o crescimento anabólico em todos os tecidos98 (Tabela 1). A dosagem do GH em adultos e crianças mais velhas tem sido útil para o diagnóstico de acromegalia, um crescimento acelerado anormal ocasionado geralmente por adenomas da hipófise, que secretam quantidades excessivas de GH.100 Níveis de GH variam consideravelmente, uma vez que dependem de vários fatores, inclusive ambientais.100,101 Os níveis de referência para o GH estão em torno de 2 ng/mL. Este valor deve ser considerado de 30 a 60 minutos após a administração oral de glicose.98,101 A mensuração do GH em soro tem sido utilizada para a avaliação clínica da baixa estatura e problemas de crescimento em crianças.100,101 Hormônio Anti-Diurético O hormônio anti-diurético (ADH), ou vasopressina, é um nonapeptídeo, de peso molecular de 1228 kDa, secretado pela neurohipófise. A produção do ADH é regulada pela osmolaridade plasmática e pela pressão e volume sangüíneo. A variação da osmolaridade é detectada pelos neurônios do hipotálamo, conhecidos como osmoreceptores. Quando a osmolaridade plasmática está abaixo dos níveis normais (280 mOsm/kg), estes receptores não são 85 Voigt, A. R. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 73-97, jul./dez. 2006 ativados e a secreção do ADH é suprimida. Já quando esta ultrapassa a 295 mOsm/kg, os osmoreceptores são ativados e o estímulo para secreção do ADH é liberado.102,103 A diminuição da pressão ou do volume sangüíneo também estimula a secreção de ADH. Essas variações são detectadas por receptores presentes no coração e nas grandes artérias (baroreceptores), que quando ativados promovem a liberação de estímulo para secreção de ADH. Os baroreceptores são menos sensíveis que os osmoreceptores, desta forma, pequenas alterações na pressão e no volume sangüíneo não são detectadas. Entretando, a diminuição de 5 a 10% da pressão arterial ou a perda de 15 a 20% do volume sangüíneo promove uma secreção acentuada de ADH102,103 (Tabela 1). A Síndrome da Secreção Inapropriada de Hormônio Anti-diurético (SIADH) é uma doença caracterizada por hiponatremia (Na < 135mEq/L), osmolalidade inferior a 280 mOsmol/L, aumento de volume plasmático, hipertonicidade da urina e excreção de sódio superior a 20 - 25mmol/L. Na SIADH este quadro é resultado de uma secreção exagerada de ADH. As neoplasias representam a causa mais comum de SIADH, e parece ser responsáveis pela síntese ou secreção descontrolada de ADH. Dentre estes se citam o carcinoma pulmonar, de mama, pâncreas, estômago, ureter, próstata, bexiga, nasofaringe e duodeno.104,105 Adenomas hipofisários são tumores benignos da glândula hipófise que promove sintomas neurológicos e hormonais. Os sintomas neurológicos são decorrentes de compressão ou invasão do nervo ótico e nervos localizados ao lado da hipófise. Os sintomas endócrinos surgem em decorrência da deficiência ou excesso de produção dos hormônios hipofisários. Um número significativo de adenomas hipofisários não secreta qualquer hormônio hipofisário, promovendo alterações neurológicas e deficiências hormonais. Os adenomas hipofisários não possuem causa bem definida, sendo provavelmente induzidos por mutações isoladas de células hipofisárias normais.106,107 O valor de referência está entre 0,4 e 2,4 pg/mL, detectados através do método de quimioluminescência. Entretanto, de acordo com o quadro clínico do paciente, valores de até 4,2 pg/mL podem ser considerados normais.104,105 O ADH encontra-se aumentado em doenças benignas como no diabetes insípitus nefrológico. Os diabetes tipo 2 nefrológicos pode ser congênitos ou adquiridos. No diabetes tipo 2 nefrológico congênito há mutações nos genes que sintetizam os receptores de ADH. Estas mutações promovem a diminuição da afinidade do receptor pelo hormônio. O diabetes tipo 2 nefrológico adquirido pode resultar de reações adversas a fármacos, distúrbios hidroeletrolíticos, obstrução do trato urinário e doenças renais variadas.108,109 No diabetes tipo 2 há uma diminuição na concentração de ADH por deficiência na síntese ou secreção do hormônio. Este tipo de diabetes pode ser congênito, idiopático ou adquirido e está associado com traumas, tumor cerebral, neurocirurgias, alterações vasculares, doenças infecciosas ou 108,109 infiltrativas. Catecolaminas As catecolaminas são moléculas quimicamente pequenas e similares provenientes do aminoácido tirosina. As predominantes são a dopamina, noradrenalina e adrenalina. A dopamina é um neurotransmissor encontrado principalmente no cérebro; a noradrenalina é o principal neurotransmissor do Sistema Nervoso Simpático e também encontrado no cérebro; e a adrenalina que além de um neurotransmissor cerebral é também um dos hormônios mais importantes do organismo110 (Tabela 1). Níveis elevados de catecolaminas e seus metabólitos, ácido vanilmandélico (VMA) e ácido homovanílico (HVA), podem ser encontrados em feocromocitomas, neuroblastomas e ganglioneuroma. Assim, se as catecolaminas forem determinadas em períodos de normotensão, o resultado observado pode ser um valor falso-negativo. 86 Voigt, A. R. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 73-97, jul./dez. 2006 Desta forma, a determinação das catecolaminas em amostras de urina ou sangue coletadas após a crise adrenérgica pode ser de grande valor diagnóstico.111 Em portadores de neuroblastomas, a dosagem seriada é também importante para o seguimento da resposta terapêutica. Estudos têm estabelecido que os níveis do VMA e HVA estão presentes na urina em 75% a 95% dos casos de neuroblastoma. Pacientes que persistem com níveis elevados de catecolaminas tem prognóstico desfavorável, e mais de 80% dos pacientes nos quais os níveis de VMA voltam ao normal após tratamento, vivem mais de dois anos. Portanto o VMA é útil e importante marcador para o prognóstico da doença112 (Tabela 2). Os valores normais das catecolaminas oscilam entre 100 e 150 mg em 24 h. A maior parte dos pacientes com feocromocitoma apresenta valores de catecolaminas superiores a 250 mg/dia, detectados através de cromatografia líquida de alta resolução (HPLC).112 Vários medicamentos podem alterar os níveis plasmáticos e urinários das catecolaminas. Dentre eles citam-se: os antidepressivos tricíclicos e outros agentes psicoativos, tipo anfetaminas, buspirona (aumenta metanefrinas urinárias) e benzodiazepínicos.111,112 Os inibidores da MAO, a fenoxibenzamina e os beta-bloqueadores elevam as catecolaminas e metanefrinas. Outros agentes como levodopa, diuréticos, descongestionantes nasais e metildopa também interferem nos valores das catecolaminas. Muitas condições estressantes (insuficiência cardíaca, infarto do miocárdio, hipoglicemia, hipotensão, hipertensão craniana, hipóxia, acidose etc.) podem elevar as catecolaminas séricas.111 Alguns alimentos incluindo café, banana, chocolate, cacau, frutas cítricas podem aumentar as catecolaminas urinárias.112 Marcadores tumorais em estudo Vários estudos têm sido realizados no sentido de estudar outros marcadores tumorais para o diagnóstico do câncer. Estes novos marcadores têm a finalidade de aprimorar o diagnóstico e prognóstico do câncer, bem como auxiliar no monitoramento da terapia e recorrência da doença. Vários destes marcadores já foram utilizados em humanos, dentre eles citam-se: fração beta da gonadotrofina coriônica humana, antígeno de tumor de bexiga, Cálcio, Calcitonina, antígeno sérico associado ao câncer, fração do fragmento da citoqueratina 19, receptor de fator de crescimento epidérmico humano-2, fração β-core da gonadotrofina coriônica humana, calicreína humana, fator de crescimento semelhante à insulina-1, interleucina-6, proteína quinase mitógena ativada, proteína inibidora da atividade do melanoma, inibidor-1 do ativador de plasminogênio, proteína CA 242, proteína s100b, tireoperoxidase, antígeno polipeptídeo tecidual, ácido vanilmandélico (Tabela 2). Conclusão Atualmente, o aumento da sensibilidade, bem como a especificidade dos exames de imagem e de laboratório, tem contribuído para o diagnóstico preciso do câncer. Estas ferramentas são muito importantes, pois além de servirem para diagnosticar e monitorar o paciente, também decidem a terapia adequada, principalmente com o crescente avanço de novos quimioterápicos específicos para cada tipo de câncer. No entanto, dada complexidade da doença, bem como não existirem marcadores tumorais que sejam 100% específicos e sensíveis, ainda ocorrem resultados não coincidentes com a clínica. Desta forma, o conjunto de exames de imagem, raio X, laboratoriais, assim como anamnese detalhada e exame clínico irá auxiliar o médico no diagnóstico, prognóstico e terapia para o paciente com câncer. Além disso, estudos sobre novos marcadores tumorais surgem a cada dia. Esperamos que em um futuro próximo consigamos diagnosticar, bem como prevenir melhor esta doença que causa um importante impacto na população devido a seus altos índices de mortalidade. 87 Voigt, A. R. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 73-97, jul./dez. 2006 Referências Bibliográficas 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. Seregni E, Martinetti A, Ferrari L, Bombardieri E. Clinical utility of biochemical marker of bone remodelling in patients with bone metastases of solid tumors. Q J Nucl Med. 2001;45(1):7-17. Sherman M. Hepatocellular carcinoma: epidemiology, risk factors, and screening. Semin Liver Dis. 2005;25(2):143-54. Shah CP, Weis E, Lajous M, Shields JA, Shields CL. Intermittent and chronic ultraviolet light exposure and uveal melanoma: a meta-analysis. Ophthalmology. 2005;112(9):1599607. Chignolar R, Foroni RI. Estimating the growth kinetics of experimental tumors from as few as two determinations of tumor size: implications for clinical oncology. IEEE Trans Biomed Eng. 2005;52(5):808-15. Lewis JS, Osipo C, Meeke K, Jordan VC. Estrogen-induced apoptosis in a breast cancer model resistant to longterm estrogen withdrawal. 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UTILIZAÇÃO DOS MARCADORES TIPO DE CÂNCER Screening/ Detecção precoce Testicular Próstata PSA, PSAc, PSAl Colo retal CA 15-3 Ovário CA 125 Diagnóstico Prognóstico/ Estadiamento Detecção de Recorrência Monitorament o da Terapia AFP, HCG AFP, HCG HCG AFP PSA, PSAc, PSAl PSA, PSAc, PAP PSA, PSAc PSA, PSAc, PAP CEA; CA 19-9 CEA; CA 19-9 CEA; CA 19-9 CA 125 CA 125 CA 125 CA 125, CEA CA 125 SCC CA 125 SCC, CA 125 (metástase linfonodos) CA 15-3 (metástase) Endométrio Cervical Mama SCC SCC CA 15-3, CEA Gástrico CA 72-4, CEA CEA, CA 19-9, CA 72-4; CA 50 CEA, CA 19-9, CA 72-4, CA 50 CA 72-4 Pulmão (SCLC) NSE NSE, Calcitonina NSE NSE Tg Tg Bexiga NMP 22 NMP 22 Tireóide Tireóide medular Calcitonina Calcitonina Calcitonina Paratireóide Feocromocitomas, Neuroblastomas e Ganglioneuroma Catecolaminas, HVA, VMA Adenoma hipofisário ADH, GH, Prolactina, NSE Prolactinoma Prolactina Hepático AFP, GGT, ALP Melanoma Calcitonina PTH, Cálcio PTH Catecolaminas, HVA, VMA Catecolaminas, HVA, VMA Prolactina GGT, ALP (metástase óssea) LDH (metástase hepática) Mieloma Múltiplo 2-MG; PBJ Linfoma 2-MG GGT, ALP 2-MG, PBJ -2MG; PBJ 2-MG ADH - Hormônio Anti-Diurético; AFP – Alfa-feto proteína; ALP - Fosfatase Alcalina; 2MG - Beta 2-Microglobulina; Cálcio; Calcitonina; Catecolaminas; CEA - Antígeno Carcinoembrionário; GGT – Gama-Glutamil Transpeptidase ou Transferase; GH - Hormônio do Crescimento; HCG - Gonadotrofina Coriônica Humana; HVA - Ácido Homovanílico; LDH - Lactato Desidrogenase; NMP 22 - Proteína Matriz Nuclear 22; NSE - Enolase NeuroEspecífica; PAP - Fosfatase Ácida Prostática; PBJ - Proteína de Bence-Jones; Proteínas CA 15-3, CA 19-9, CA 50, CA 72-4, CA 125; PSA - Antígeno Prostático Específico; PSAc Antígeno Prostático Específico Complexado; PSAl - Antígeno Prostático Específico Livre; PTH – Hormônio da Paratireóide ou Paratormônio; SCC - Antígeno Carcinoma de Células Escamosas; Tg – Tireoglobulina Humana Sérica; VMA - Ácido Vanilmandélico. 96 Voigt, A. R. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 73-97, jul./dez. 2006 Tabela 2: Principais marcadores tumorais em estudo e sua aplicação. UTILIZAÇÃO DOS MARCADORES TIPO DE CÂNCER Screening/ Detecção precoce Diagnóstico Prognóstico/ Estadiament o Testicular Próstata Colo retal Ovário hK2 Detecção de Recorrênci a Monitorame nto da Terapia Referência βHCG βHCG 60, 61, 77, 113, 114 IGF-1 115, 116 CA 242 26, 117, 118 hK 9, 10, 11, 13, 14, 15; TPA; CASA; PAI-1; IL-6; hCGβcf; MAPK Her-2 119-125 Endométrio Cervical TPA, CYFRA 21.1 Mama PAI -1, Her-2 PAI-1, Her-2 128, 129 Pulmão CYFRA 21.1 TPA; Calcitonina 130-132 Melanoma s100b, MIA Tireóide Tireoperoxida se Tireoperoxida se 84 Paratireóide Cálcio Cálcio 135 Bexiga BTA BTA 136 Neuroblastom a VMA 33, 126, 127 132-134 VMA βHCG - Fração Beta da Gonadotrofina Coriônica Humana; BTA – Antígeno de Tumor de Bexiga; Cálcio; Calcitonina; CASA - Antígeno Sérico Associado ao Câncer; CYFRA 21.1 Fração do Fragmento da Citoqueratina 19; Her-2 - Receptor de Fator de Crescimento Epidérmico Humano-2; hCGβcf – Fração β-core da Gonadotrofina Coriônica Humana; hK Calicreína humana; IGF-1 – Fator de Crescimento Semelhante à Insulina-1; IL-6 Interleucina-6; MAPK - Proteína Quinase Mitógena Ativada; MIA - Proteína Inibidora da Atividade do Melanoma; PAI-1 - Inibidor-1 do Ativador de Plasminogênio; Proteína CA 242; Proteína s100b; Tireoperoxidase; TPA - Antígeno Polipeptídeo Tecidual; VMA - Ácido Vanilmandélico. 97 Cavallet, C. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 98-102, jul./dez. 2006 DETERMINAÇÃO DO CORTISOL SANGUÍNEO E URINÁRIO E SUA RELAÇÃO COM O ESTADO DE ESTRESSE EM PACIENTES DE UM PROGRAMA DE PREVENÇÃO PARA DOENÇAS CARDIOVASCULARES [Determination of blood and urinary cortisol and its relationship to psychological stress in patients of a cardiovascular disease prevention program] Cláudia Cavalett1, Juçara Deitos Bernardini2, Manoela Maria Bagestan3, Cláudia S. M. Silva4, Elizabeth M. Hermes5, Maria da Graça W. Balen6 e Geny Aparecida Cantos7 Resumo: Neste trabalho os autores relacionam o cortisol à condição psicofisiológica de 24 pacientes que fazem parte de um programa multiprofissional, o qual visa a prevenção de doenças cardiovasculares. Para tal, o cortisol foi dosado em amostras de sangue e urina de 24 horas, sendo também aplicado um questionário sobre o estado de estresse individualmente. Os resultados mostraram que 29,2% dos indivíduos apresentaram bem-estar ou positividade ao estado de estresse, 12,5% tiveram baixa positividade, 16,7% estavam em estado marginal e nenhum indivíduo apresentou sofrimento severo ao estresse. As dosagens médias de cortisol sanguíneo e urinário encontradas foram respectivamente de 15,23µg/dL e 78,83µg/24hs, estando estes valores dentro da faixa de referência. Não houve correlação entre as concentrações de cortisol e os resultados de estresse encontrados nesta população, provavelmente devido ao fato de que nenhum paciente apresentou sofrimento sério ao estresse. Estes resultados evidenciam a importância da intervenção multiprofissional e interdisciplinar, proporcionando mudanças no estilo de vida destas pessoas. Palavras-chave: cortisol sanguíneo, cortisol urinário, estresse psicológico, estilo de vida. Abstract: The authors trace a link between cortisol hormone level and psychophysiological condition in 24 individuals who take part in a multidisciplinary program, in which all the professionals work together in order to prevent cardiovascular diseases. Cortisol was measured in blood and 24h-urine samples, and a stress questionnaire was applied to all subjects. Twenty-nine percent of individuals showed well being or positivity related to stress board, 12,5% had low positivity, 16,7% were at a borderline and no one showed severe suffering at stress. The mean blood and urinary cortisol were respectively 15,23µg/dL e 78,83µg/24h, being these measures within the reference values. There was no correlation between cortisol concentrations and the finding of psychological stress in this population, probably due to the fact that none of the patients showed severe suffering at stress. These results stand out the importance of an intervention on a multiprofessional and interdisciplinary basis in order to provide changes in patients life style. Keywords: blood cortisol, urinary cortisol, psychological stress, life style. Introdução Os fatores emocionais exercem forte influência na evolução das doenças cardiovasculares. Pesquisas mostram que sentimentos como solidão, excesso de raiva, ansiedade, angústia e desestabilização emocional podem provocar palpitações, ________________ dores precordiais, bradicardia e hipertensão, levando inclusive ao colapso circulatório.1 Assim o estresse psicológico surge como um fator de risco independente, aumentando a probabilidade de aparecimento de doenças cardiovasculares. Por outro lado, pacientes que já possuem distúrbios cardiocirculatórios podem ter sua sintomatologia 1 Aluna do mestrado em Farmácia UFSC. Bioquímica do laboratório do Hospital Universitário (setor de Hormônios) – UFSC. 3 Aluna da graduação do curso de Farmácia – UFSC. 4 Cardiologista do Hospital Universitário – UFSC. 5 Bioquímica do Hospital Universitário (setor de Bioquímica) – UFSC. 6 Nutricionista do Hospital Universitário – UFSC. 7 Profa do Centro de Ciências da Saúde da UFSC. Contato: [email protected]. 2 98 Cavallet, C. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 98-102, jul./dez. 2006 agravada pela presença concomitante do estresse negativo ou diestresse.2-4 A resposta fisiológica a este tipo de situação está em parte relacionada a um estímulo que as glândulas supra-renais recebem de forma a produzirem em maior escala o cortisol.5, 6 Os níveis desse hormônio variam segundo o ciclo circadiano, e exercem efeitos importantes sobre o metabolismo das proteínas, carboidratos e lipídios, sobre a tonicidade dos músculos e outros tecidos, sobre a integridade do miocárdio e sobre as respostas inflamatórias.7 Assim, neste artigo teceremos algumas considerações sobre a importância do estresse negativo e as alterações que podem causar nos níveis do cortisol sangüíneo e urinário em pacientes que possuem o perfil lipídico alterado e que fazem parte de um programa de prevenção para doenças cardiovasculares. Metodologia Participaram deste trabalho 24 indivíduos que fazem parte do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa, Ensino e Atendimento a Dislipidemia do Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina (NIPEAD-HU-UFSC) no período de março a dezembro de 2005. A faixa etária variou de 40 a 74 anos, onde 05 pacientes eram do sexo masculino e 19 do sexo feminino. O estado de estresse (EE) foi determinado de acordo com os resultados obtidos dos questionários elaborados por Lipp et al, 1996.8 Por estes questionários, classificou-se o indivíduo em sete estados de risco de estresse: 1- indica positividade, bemestar; 2- baixa positividade; 3- marginal; 4problema de estresse; 5- sofrimento; 6- sério; 7- severo. O EE negativo foi considerado a partir do nível quatro. As dosagens de cortisol sanguíneo foram realizadas com o soro do paciente após coleta de sangue matinal (basal) em jejum de 12 horas. As dosagens de cortisol urinário foram realizadas utilizando amostras diretas de urina de 24 horas destes mesmos pacientes. O método utilizado para as dosagens tanto do cortisol sanguíneo como do cortisol urinário foi imunoensaio por quimiluminescência, utilizando os reagentes da Bayer. O equipamento utilizado foi o Automated Chemiluminescence System (ACS:180 Plus), também da Bayer. Os valores de referência considerados normais para o cortisol sanguíneo basal varia de 4,30 a 22,4µg/dL e os valores de cortisol urinário, de 28,5 a 213,7µg/24h. Para obter o valor do cortisol na urina de 24h, foi utilizado uma fórmula: concentração do cortisol na amostra (µg/dL x 10 x volume em litros de 24h). Esta formula é utilizada para converter µg/dL para µg/24hs. Todos os participantes deste estudo foram esclarecidos quanto aos objetivos e procedimentos a que seriam submetidos, assinando um termo de consentimento livre esclarecido. O trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Resultados e Discussão De maneira geral, são muitos os caminhos que podem levar ao estresse negativo, mas são também múltiplas as formas de evitá-lo. O nosso organismo é dotado de mecanismos adaptativos, nos quais todos os órgãos e tecidos exercem funções que ajudam a manter as condições do organismo estáveis. Então, programas que estimulem a mudança no estilo de vida servem como exemplo a ser seguido para o indivíduo manter o corpo e a mente saudáveis, prevenindo doenças associadas ao estresse, como as doenças do coração.9 O NIPEAD é um núcleo que trabalha na prevenção de doenças cardiovasculares. A preocupação com o estresse psicológico de pacientes com dislipidemia que estão inseridos no programa tem sido objeto de várias modalidades terapêuticas criadas pela equipe interdisciplinar e 10,11 multiprofissional , sendo que em todas as 99 Cavallet, C. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 98-102, jul./dez. 2006 modalidades os indivíduos são monitorados por meio de um questionário que avalia o estado de estresse (Lipp et al, 1996) e também por meio de exames 2,12,13 bioquímicos. Este programa oferece gratuitamente aos pacientes, consultas cardiológicas, nutricionais, exames laboratoriais, palestras e programas de atividade física como vivências lúdicas do coração. Este tipo de atividade contribuiu para que os pacientes realizassem exercícios físicos de forma prazerosa, contribuindo também para o bem estar das pessoas que o praticam, e conseqüente diminuindo também o diestresse Assim, no ano 2002, foi inserido a biodanza, que significa vida e movimento do corpo com o ritmo da música. Observouse que a maioria das pessoas que participavam de tal atividade melhorou o diestresse e também a dislipidemia apresentada.10 Por último, no ano 2005 foi oferecida aos participantes do grupo, uma modalidade terapêutica na água chamada de Watsu e Hallowick, as quais têm como base o relaxamento e a técnica de aprender a nadar. Devido a grande variabilidade de resultados e as dificuldades de se monitorar a condição de estresse, o NIPEAD tem investigado novos biomarcadores que possam medir a ação biológica de fato. Assim, considerou-se que o cortisol poderia ser um marcador bioquímico de estresse crônico, sendo um indicativo das circunstâncias vividas pelo indivíduo, retratando assim o esgotamento, ou não, da capacidade adaptativa.14,15 Considerou-se ainda que o peso atribuído ao valor preditivo deste elemento poderia ser relacionado ao equilíbrio emocional do indivíduo, de forma que seria possível interferir positivamente no tratamento e na prevenção das enfermidades somáticas, favorecendo o restabelecimento de processos psicológicos e de mecanismos homeostáticos orgânicos.16 O cortisol é um hormônio que tem um ritmo circadiano, sendo liberado em forma de "pulsos“. Também se aceita que o mesmo tenha grande variabilidade dos valores normais ao longo do dia, sendo que seus níveis são máximos pela manhã.17 Assim, neste trabalho a coleta de sangue basal de cortisol foi realizada entre 8 e 9 h da manhã. Por outro lado, a dosagem de cortisol livre na urina de 24 horas tem sido considerada por muitos como a dosagem mais útil em certas doenças, como as renais, pois reflete a produção desse elemento ao longo do dia, integrando as flutuações circadianas e eliminando o efeito de variações das proteínas carregadoras. Contudo, um dos problemas potenciais com o método é o incômodo da necessidade de coleta de urina de 24 horas, que é muito inconveniente para o paciente. Adicionalmente, a presença na urina de inúmeros esteróides potencialmente interferentes, especialmente conjugados e hidroxilados, faz com que o método urinário seja particularmente problemático quanto à especificidade analítica.18 Assim sendo, optou-se em realizar as dosagens de cortisol no sangue e também em urina de 24 horas, a fim de verificar qual seria a melhor opção para as dosagens subseqüentes e qual melhor se relacionaria com a condição de diestresse. Os resultados de cortisol em urina de 24hrs não apresentou discrepâncias em relação aos resultados de cortisol obtidos no soro dos pacientes, sendo então mais cômodo para o paciente a dosagem deste hormônio somente no sangue, excluindo a inconveniência da coleta de urina de 24 horas. Os resultados deste estudo demonstraram que as médias das dosagens de cortisol sanguíneo e urinário foram respectivamente de 15,23µg/dL e 78,83µg/24hs e que estes valores estão dentro dos valores de referência considerados normais para o cortisol. Isso demonstra que os pacientes em estudo devem estar relativamente controlados contra os efeitos negativos do estresse. De fato, a figura 1 mostra que a maioria da população não apresentou diestresse, ou seja, 29,2% da população apresentou bem-estar ou positividade ao estado de estresse, 12,5% apresentou baixa positividade, 16,7% marginal e nenhum dos pacientes analisados apresentou sofrimento severo ao estresse. Assim, acredita-se que estes resultados são conseqüência do trabalho realizado pela equipe multiprofissional e 100 Cavallet, C. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 98-102, jul./dez. 2006 interdisciplinar nesta população. De fato, a literatura aponta que níveis normais de cortisol são indicativos de maior autocontrole, maior previsibilidade de ação e envolvimento prazeroso e de motivação com a tarefa desenvolvida, pois ocorrem mudanças psicofisiológicas favoráveis da manutenção de condições homeostáticas e de recuperação do organismo.19,20 Severidade Sério sofrimento Sofrimento Problemas de estresse Marginal Baixa positividade Positividade, bem estar 0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% Figura 1- Porcentagem de pacientes em relação ao Estado de Estresse (EE). Conclusão Diante do exposto, considera-se que tanto o cortisol sangüíneo como o urinário são importantes marcadores para o estado de estresse. Os pacientes em estudo mostraram estarem relativamente bem em relação ao estado de estresse e em conseqüência disto não tiveram seus níveis de cortisol alterado. Porém, é importante buscar outros marcadores bioquímicos para monitorar a condição de estresse e também promover programas que possam minimizar os seus possíveis efeitos negativos. Estudos futuros devem considerar a utilização de um grupo amostral maior para confirmar os resultados alcançados ate o momento. Referências Bibliográficas 1) Araújo TM, Graça CC, Araújo E. Estresse ocupacional e saúde: contribuições do Modelo Demanda-Controle. Ciência saúde coletiva, 2003;8(4):991-1003. 2) Cantos GA, Waltrick CA, Silva CM, Hermes EH, Ronsein G, Souza SJ. Influência do estresse nos níveis sangüíneos de lipídeos, ácido ascórbico, de zinco e de outros parâmetros bioquímicos. Acta Bioquimica Clinica Latinoamericana. Buenos Aires 2004;38(1):35-38. 3) Santos JR, Enumo SRF. 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A diferença de atividade entre os isômeros de tocoferol, a forma de ingestão e a presença de gordura dietética são os principais interferentes encontrados e estão relacionados com os níveis plasmáticos de tocoferol e a maior concentração do tocoferol na forma α. A maioria das pesquisas estão relacionadas com a sua ação antioxidante na prevenção de doenças crônicas. Estudos sobre a biodisponibilidade da vitamina E ainda são poucos, porém possibilitam uma melhor compreensão de como esta se comporta no organismo. Palavras-chave: vitamina E, biodisponibilidade, tocoferol Abstract: The aim of this literature review is to understand the factors involved with vitamin E bioavailability. The difference among the activity of the tocopherol isomeric forms, the intake form and the presence of dietary fat are the main interferences found and they are related with the plasma tocopherol levels and the largest α-tocopherol concentration. The bioavailability of this vitamin is not very studied, most of the studies are related with antioxidant action in the prevention of chronic diseases. However, studies about bioavailability of the vitamin E are necessary to make possible a better understanding of your behavior in the human organism. Keywords: vitamin E, bioavailability, tocopherol Introdução Com o aumento do consumo de suplementos vitamínicos pela população, muitas vezes sem indicação médica ou nutricional, torna-se necessária à atualização das informações sobre a utilização, pelo organismo, destes micronutrientes. Dentre as vitaminas mais consumidas destaca-se a vitamina E.1 Estudar a biodisponibilidade de micronutrientes nos permite entender como estes se comportam em processos que ocorrem desde a liberação da matriz do alimento até sua utilização pelo organismo. A distribuição, absorção e utilização de nutrientes são dependentes de vários fatores, os quais chamamos de interferentes da biodisponibilidade, atuando como facilitadores ou inibidores. A principal função da vitamina E e a mais discutida é sua ação antioxidante celular, lipossolúvel, atuando no sistema de defesa antioxidante do organismo protegendo ______________________ as células do efeito prejudicial produzido pelos radicais livres e agressores de origem externa, cigarro e poluição.2 Sendo obtida exclusivamente da dieta, suas principais fontes são os óleos vegetais, sementes e alguns produtos de origem animal nos quais encontramos principalmente α- tocoferol e γtocoferol.2,3 A biodisponibilidade da vitamina E é dependente de vários fatores. Um dos fatores mais importantes é a diferença entre a biopotência de cada isômero de tocoferol e sua concentração no plasma.4,5 Dentre os interferentes exógenos, a presença de gordura dietética na alimentação é um importante limitante da absorção da vitamina E. A gordura dietética é um mediador na formação das micelas, nas quais o tocoferol é solubilizado e depois incorporado aos quilomicrons, que transfere o tocoferol para as lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDLs) e somente então é distribuído para os tecidos periféricos.2,6,7 1 Mestranda Programa de Pós-graduação em Nutrição - UFSC ([email protected]) Pofessora Titular do Departamento de Nutrição e Programa de Pós-Graduação ([email protected]) 2 - UFSC 103 Masiero,A.; Tramonte,V.L.C.G. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 103-110, jul./dez. 2006 A absorção da vitamina E quando oferecida na forma de suplementos pode ser limitada. A suplementação com alimentos fortificados ou emulsificações são mais biodisponíveis do que a vitamina E em cápsulas gelatinosas.8,9 Com o objetivo de entender melhor o processo de biodisponibilidade da vitamina E, foram selecionados alguns estudos que abordam este assunto, os quais demonstram que vários fatores podem influenciar na biodisponibilidade dessa vitamina. Biodisponibilidade O termo biodisponibilidade se refere à fração de qualquer nutriente ingerido que tem o potencial para suprir as demandas fisiológicas em tecidos alvos.6,10 O estudo da biodisponibilidade busca explorar e determinar os mecanismos de ação dos micronutrientes em alimentos, compreender os fatores que limitam sua liberação dos alimentos nos quais estão contidos.7 Cada isômero de vitamina E apresenta uma biodisponibilidade diferente, podendo ser evidenciado quando no referimos as concentrações plasmáticas de α e γtocoferol, onde mesmo a forma γ- tocoferol estando presente em maior quantidade na dieta a concentração plasmática de αtocoferol é aproximadamente dez vezes maior.1 A vitamina E é um antioxidante dietético presente nos alimentos que limita o dano causado pelo estresse oxidativo no trato gastrintestinal sem necessariamente ser absorvido, não precisando entrar na circulação sistêmica para que sejam bioativos. Desta forma, qualquer composto que for absorvido será bioativo desde que tenha conseqüências metabólicas, sendo que a quantidade que se torna biodisponível pode ser igual ou menor que a quantidade de antioxidante liberada da matrix do alimento.7 A biodisponibilidade da vitamina E pode ser observada através monitorização de isótopos-estáveis marcados, administrados por um determinado período de tempo sendo medidos através da concentração e do tempo máximo que estes isótopos estão presente no plasma.11 Compostos de Vitamina E, fontes e recomendações: O termo vitamina E se refere a grupos de compostos em relação à atividade biológica, enquanto que tocoferol indica um composto químico definido. Quando falamos de vitamina E estamos nos referindo a uma família de oito compostos homólogos de ocorrência natural que são sintetizados pelas plantas (α-, β-, γ-, δ- tocoferol e α-, β-, γ-, δtocotrienol) dentre os quais os mais importantes são o α- e γ- tocoferol, sendo apresentada também na forma sintética que consiste em uma mistura de oito esterioisomeros ou de sues ésteres em quantidades iguais, chamado de all-rac-αtocoferol.1,3 A vitamina E está naturalmente presente em dietas à base de plantas e produtos animais, e freqüentemente é adicionada em óleos vegetais e alimentos processados.2 Os óleos vegetais, alimentos que os contenham e aqueles preparados com óleo, são sua principal fonte, apresentando uma maior quantidade de α- e γ- tocoferol e tocotrienol.7 Gorduras animais, legumes e carnes fornecem em média 10% do total per capita de vitamina E, sendo que frutas, nozes, cereais e laticínios contribuem com aproximadamente 4 % e menos que 2 % são obtidos de ovos e peixes.2 A recomendação de vitamina E para adultos de ambos os sexos é de 15mg/dia de α-tocoferol. Outras formas de ocorrência natural dessa vitamina (β-, γ-, δ-tocoferol e os tocotrienóis) não tem recomendação adequada, pois não são convertidos para αtocoferol em humanos e são pouco reconhecidos pela proteína transferidora de tocoferol.3 Absorção e metabolismo: 104 Masiero,A.; Tramonte,V.L.C.G. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 103-110, jul./dez. 2006 A absorção de vitamina E ocorre no intestino sendo dependente da adequada função pancreática, secreção biliar e formação de micelas, na presença de gordura.12 Este processo resulta num agregado de micelas e moléculas de vitamina E, sendo transportadas para a membrana de borda de escova do enterócito provavelmente por difusão passiva. Dentro do enterócito, o tocoferol é incorporado aos quilomicrons e secretado no sistema linfático.2,6,7 Todas as formas de vitamina E são transportadas através do enterócito por lipoproteínas plasmáticas, liberadas na circulação com os quilomicrons e chegando ao fígado através dos quilomicrons remanescentes. O catabolismo dos quilomicrons acontece na circulação sistêmica pela ação da lipoproteína lipase, onde o tocoferol liberado pode ser transferido para os tecidos periféricos ou para lipoproteínas de alta densidade (HDLs), a partir dessas ser transferido para outras lipoproteínas circulantes, como LDLs e lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDLs). A maior parte do tocoferol entra nas células dos tecidos periféricos dentro de lipoproteínas intactas através do receptor de LDL.7,13 O aumento no transporte da vitamina E pelas lipoproteínas plasmáticas foi observado em um estudo com voluntários humanos que consumiram leite acrescentado de diferentes concentrações de gordura. Além disso, observou também um aumento na relação molar entre α-tocoferol e colesterol, sendo que o armazenamento em LDL era 30% menor, indicando que há uma perda do tocoferol durante o armazenamento e preparação dessa lipoproteína. Ainda na presença do leite, houve um atraso na oxidação onde a LDL apresentou maior resistência ao estresse oxidativo.14 Embora o processo de absorção de todos os homólogos de tocoferol presentes na dieta seja semelhante, o α-tocoferol é a forma que predomina no sangue e nos tecidos, situação essa decorrente da ação da proteína transferidora de tocoferol (α- TTP), que seleciona preferencialmente o α- tocoferol sobre as outras formas.1,2,7 A vitamina E é extensivamente metabolizada no fígado pelo citocromo P450 através de oxidação induzida, onde cada isoforma de tocoferol parece ser metabolizada por citocromos específicos, produzindo metabólicos presentes no plasma e na urina. Os metabólitos são excretados pela urina e possuem uma cadeia lateral encurtada com uma estrutura cromada aberta, indicando que estes metabólitos são derivados de tocoferóis que participaram de reações antioxidantes. Conseqüentemente esses metabólitos podem ser mencionados como prova da ação antioxidante do tocoferol in vivo.1,3,15 Estudos mais recentes identificaram uma nova estrutura, composta por uma corrente lateral encurtada e uma estrutura cromada intacta, a qual foi chamada de αCHEC identificada após a suplementação com RRR-α-tocoferol, tida como um análogo dos metabólitos de δ-tocoferol identificado em ratos e de α-tocoferol encontramos na urina de humanos.16 A deficiência de vitamina E só foi observada em experimentos de laboratório onde ocasionou em diferentes espécies animais, lesões neurológicas e ataxia cerebral. Em humanos, com exceção de anemia hemolítica e retinopatia em prematuros, não foi observada a deficiência dessa vitamina mesmo na presença de uma dieta inadequada. Porém, entre os possíveis causadores de deficiência da vitamina E em humanos que vem sendo discutidas, temos como exemplo as anomalias genéticas na proteína transferidora de tocoferol (α-TTP).1 Função antioxidante da vitamina E: Os antioxidantes dietéticos são substâncias encontradas nos alimentos diminuindo de forma significativa os efeitos adversos de espécies reativas de oxigênio ou nitrogênio, sobre a função fisiológica normal do organismo.3 A ação antioxidante da vitamina E é considerada sua principal função, através da qual projete os lipídios teciduais da ação de radicais livres, fenômeno freqüentemente chamado de estresse oxidativo que pode 105 Masiero,A.; Tramonte,V.L.C.G. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 103-110, jul./dez. 2006 ocasionar dano para moléculas biológicas. Ao reagir com os radicais livres à vitamina E forma moléculas estáveis (hidroperóxidos) que são capazes que interromper a reação em cadeia da peroxidação lipídica.17 Existem evidências consideráveis de que o estresse oxidativo pode aumentar a ocorrência de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), principalmente doenças cardiovasculares. Sendo assim, o consumo de alimentos ricos em antioxidantes, que são potencialmente capazes de extinguir ou neutralizar o excesso de radicais livres, pode desempenhar um papel importante na modificação do desenvolvimento de tais doenças.3,18 Entretanto, a ação antioxidante da vitamina E pode ser prejudicada em casos de suplementação somente com α-tocoferol, onde poderá ocorrer mudanças na biodisponibilidade de outras formas de tocoferol (γ- e δ-tocoferol) também envolvidos no mecanismo de ação antioxidante da vitamina E, e dessa forma podendo diminuir o efeito na modulação do estresse oxidativo.19 Interferentes na biodisponibilidade da vitamina E: A forma como a vitamina está apresentada e a sua natureza interfere na biodisponibilidade. Encontramos a vitamina E na forma natural e sintética que pode ser adicionada aos alimentos, oferecida na forma de cápsula gelatinosa ou ainda como uma emulsificação. Além destes fatores específicos, há ainda aqueles que se relacionam paralelamente com a vitamina E, como é o caso da gordura dietética, onde a sua presença é considerada um fator limitante em todo o processo de absorção desta vitamina lipossolúvel. Vitamina E natural versus vitamina E sintética A vitamina E natural está disponível em vários alimentos naturais e ambas as formas são facilmente encontradas no comércio, disponíveis na forma de suplementos e produtos fortificados. A relativa biopotência para cada forma de esterioisomeros de α-tocoferol vem sendo estudada.5 Burton et al4, comparou a biodisponibilidade das formas natural e sintética da vitamina E em dois grupos de adultos saudáveis. Cada grupo consumiu quantidades diferentes de uma mistura de RRR-α-tocoferol (natural) e all-rac-αtocoferol (sintética) em dois momentos. Os resultados mostraram que a concentração de vitamina E natural foi significativamente maior que a sintética, além de permanecer constante por um longo período de tempo. A relação entre vitamina E natural e sintética foi de aproximadamente 2:1. Utilizando outra metodologia, Lodge5 administrou as formas de vitamina E natural ou sintética em momentos distintos, num grupo de dez adultos saudáveis fumantes e não fumantes. O tratamento foi realizado por quatro semanas com a ingestão de 400mg/dia de RRR-α-tocoferol ou all-rac-α-tocoferol acetato com um intervalo de doze semanas entre cada tratamento. Antes e depois de cada período de tratamento os participantes receberam uma cápsula contendo 150mg de α-tocoferol acetato marcado com RRR-αtocoferol ou all-rac-α-tocoferol acetato. Como resultado observou que a relação entre vitamina E natural:sintética foi semelhante, aproximadamente 1,34:1,00. Concluiu que em condições basais as diferentes forma de tocoferol são equivalentes, com uma biodisponibilidade semelhante. Corroborando com este resultado, temos um estudo realizado em ratos induzidos à depleção das reservas de vitamina E, e em um grupo controle (sem a deficiência), que receberam uma administração intraperitoneal de RRR-αtocoferol ou all-rac-α-tocoferol durante sete dias. No grupo deficiente, a concentração plasmática de ambas as formas de tocoferol aumentaram após a administração intraperitoneal, enquanto que nos ratos controle, somente a forma natural teve sua concentração aumentada, indicando em casos de depleção, onde a necessidade de vitamina 106 Masiero,A.; Tramonte,V.L.C.G. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 103-110, jul./dez. 2006 E é maior, a biodisponibilidade da vitamina E natural e sintética são semelhantes.20 Hayes et al14 entretanto, compararam a eficácia de uma ingestão maior de vitamina E natural e uma baixa ingestão de vitamina E sintética e a diferença entre a ingestão junto com leite ou suco de laranja. Vinte e quatro indivíduos foram distribuídos em três grupos, onde dois grupos receberam leite contendo RRR-α-tocoferol ou all-rac-α-tocoferol e o terceiro grupo recebeu suco de laranja com all-rac-α-tocoferol. Não houve nenhuma diferença significativa entre os leites contendo vitamina E natural e sintética, ambos aumentaram a concentração plasmática de tocoferol em 110%, porém o aumento com o suco de laranja foi somente de 67%. Possivelmente, a diferença na biodisponibilidade das formas natural e sintética da vitamina E está relacionada com a ação hepática da α-TTP, que tem afinidade pela forma 2R de α-tocoferol, explicando então estas diferenças encontradas.21 Sendo assim, quando as formas natural e sintética da vitamina E são administradas simultaneamente e a concentração de ambas for alta, a preferência da α-TTP será para a forma natural (RRR-αtocoferol), enquanto que, se administradas separadamente a α-TTP captará a forma que estiver em maior concentração no plasma, ou seja, também poderá estar se ligando à forma sintética. Alimentos fortificados suplementação em cápsula versus A biodisponibilidade da vitamina E vai depender da concentração e da forma de administração. Alimentos fortificados são aqueles que apresentam a forma sintética da vitamina E na sua composição e as cápsulas são as que contém doses farmacológicas isoladas da vitamina.3,23 Considerando a taxa de absorção de diferentes formas de tocoferol, a suplementação com α- tocoferol e γtocoferol aumentou significativamente os níveis plasmáticos de ambas as formas, mantendo-se por aproximadamente 12 h após a ingestão, enquanto que após 24 horas da ingestão somente a concentração de αtocoferol, se manteve.22 A comparação entre a biodisponibilidade da suplementação com vitamina e a ingestão de alimentos fortificados, foi verificada em indivíduos saudáveis que receberam no café da manhã cereal matinal fortificado ou suplemento na forma de cápsula em jejum ou junto com a refeição. Comparando todos os grupos, a biodisponibilidade da vitamina E foi maior quando administrada na forma de cápsula juntamente com a refeição, porém a concentração plasmática desta permaneceu constante por aproximadamente 26 horas após a ingestão do cereal matinal.9 A análise da biodisponibilidade da vitamina E em uma emulsificação homogênea comparada com um produto comercial, disponível na forma de cápsula gelatinosa, confirmou a baixa biodisponibilidade da vitamina E administrada na forma de cápsula, apontando uma maior taxa de absorção e extensão para vitamina E da emulsificação homogênea.8 Sendo assim, é possível concluir com esses resultados, que a melhora na biodisponibilidade da vitamina E em cápsula acontece quando sua administração é feita junto com a refeição, onde sua absorção chega a ser cerca de 31,2% maior do que quando esta é administrada com o estomago vazio.22-24 Porém é importante destacar que a capacidade de absorção de tocoferol é limitada. A concentração plasmática normal de tocoferol é de aproximadamente 25μmol/L, podendo atingir no máximo duas a três vezes essa concentração, independente da quantidade e duração da suplementação.25 Absorção de vitamina E versus quantidade de gordura Acredita-se que gordura dietética seja importante para a formação de micelas no intestino delgado.12 Sendo assim, baseado nos mecanismos de absorção da vitamina E, é aceito que a gordura da dieta é necessária para a absorção intestinal dessa vitamina 107 Masiero,A.; Tramonte,V.L.C.G. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 103-110, jul./dez. 2006 lipossolúvel.12,26 Porém, a quantidade de gordura necessária para assegurar a absorção pode ser pequena.7 Hayes et al14, comparou a absorção da vitamina E sintética em diferentes tipos de leite acrescidos de ácidos graxos saturados e insaturados. Foram analisados leites misturados com nata, óleo de soja e uma mistura dessas desses dois ácidos graxos em diferentes quantidades, sendo que quatro grupos receberam leite acrescido de ácidos graxos mais vitamina E e um grupo recebeu somente leite acrescido de ácidos graxos. A concentração de vitamina E após o estudo foi comparada com dados base obtidos antes do inicio do tratamento, e essa comparação mostrou que todos os grupos que receberam leite adicionado de ácidos graxos e vitamina E aumentaram a concentração plasmática dessa vitamina em cerca de 80%, resultado que não foi observado no grupo que recebeu o leite sem adição da vitamina. Em relação à quantidade de gordura, a diminuição da ingestão desse macronutriente, muitas vezes devido à preocupação com a imagem corporal, pode causar uma diminuição também na ingestão e absorção da vitamina E. Considerando esta afirmação, um estudo foi realizado com o objetivo de investigar a quantidade de vitamina E absorvida quando adicionada a alimentos pobres em gordura. Os resultados mostraram que a ingestão de 7g/kg de gordura durante a refeição, possibilitou a absorção de 83% da vitamina E presente. Sendo assim, a troca de alimentos ricos em gorduras por alimentos pobres em gordura adicionados de vitamina E, é capaz de suprir as recomendações dessa vitamina.26 Da mesma forma Roodenburg et al12, em estudo relacionando a ingestão de gordura com a absorção da vitamina E, mostraram que diferentes quantidades de gordura ingerida não prejudicaram a concentração plasmática de vitamina E, apresentando concentração de 20% para refeição com 3g de gordura e 23% para a refeição com 36g de gordura. Confirmando que uma pequena quantidade de gordura é suficiente para assegurar as recomendações de vitamina E. Porém, estudos anteriores realizados com voluntários humanos, apontam para uma melhora na absorção da vitamina E na presença de uma alta quantidade de gordura, como no estudo realizado por Dimitrov et al25 com voluntários humanos que receberam suplementação de vitamina E em dose única e em doses contínuas por um período de vinte e oito dias, onde foi observada a elevação na concentração plasmática de tocoferol relacionada com a ingestão de gordura dietética. Os indivíduos que consumiram uma dieta rica em gordura mostraram concentrações plasmáticas significativamente maiores de tocoferol quando comparados com aqueles que se alimentaram de uma dieta pobre em gordura. Outras relações: Entre os fatores endógenos que influenciam a concentração plasmática de tocoferol podemos relacionar a ação da Proteína Transferidora de Tocoferol (α-TTP). A diferença de afinidade da α-TTP com as várias formas de vitamina E, respondem pelas diferenças na concentração plasmática entre α-tocoferol e outras formas de vitamina E.7 Quantidades maiores de α-tocoferol nas lipoproteínas de alta densidade (HLDs) e lipoproteínas de baixa densidade (LDLs), indicam a ação da α-TTP durante a montagem da lipoproteína de muito baixa densidade VLDL, incorporando a esta maiores quantidades de α-tocoferol, diminuindo assim a biodisponibilidade das outras formas de tocoferol.13 Outro fator presente nos alimentos, porém ainda não muito estudado em relação à vitamina E são as fibras dietéticas. Alguns estudos, como o de Riedl et al27, sugerem que a fibra dietética não interfere na absorção da vitamina E. Este estudo analisou a ação de várias formas de fibra alimentar (fibra dietética, pectina, goma guar, alginato, celulose e farelo de trigo) em mulheres após três dias recebendo uma dieta contendo carotenóides ( 13mg total) e tocoferol (0,4 mg) e verificaram que não houve redução 108 Masiero,A.; Tramonte,V.L.C.G. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 103-110, jul./dez. 2006 significativa da concentração plasmática de α-tocoferol pela ação das fibras dietéticas. Conclusão Nesta série de estudos, investigando a biodisponibilidade da vitamina E em humanos, encontramos fatores endógenos e exógenos influenciando sua utilização pelo organismo. A relação entre a vitamina E natural e sintética levanta um grande questionamento entre os autores, onde alguns estudos mostram que a vitamina E natural é duas vezes mais biodisponível que a sintética e outros demonstram que ambas as formas apresentam uma relação equivalente após a ingestão de uma dose única. Durante a suplementação de vitamina E, alguns fatores devem ser considerados. O uso de alimentos fortificados garante uma melhor biodisponibilidade da vitamina E quando comparados com a suplementação em cápsulas, que deve ser administrada junto com a refeição. A influência da gordura dietética na absorção da vitamina E é evidente pelo fato desta ser uma vitamina lipossolúvel, e necessitar da gordura para ser transportada. E como mostram os estudos, uma pequena quantidade de gordura é suficiente para garantir a adequada utilização da vitamina E pelo organismo. Apesar de todas essas variáveis interferindo na biodisponibilidade da vitamina E, sua deficiência é muito rara. São necessários muitos meses de depleção para que se comece a observar quedas significativas na concentração de tocoferol, indicando que o nosso organismo possui reservas relativamente grandes de vitamina E.6 Por isso, mais estudos precisam ainda ser realizados, sobre os fatores que influenciam a biodisponibilidade desta vitamina, principalmente em testes clínicos com maior duração.5 Recomenda-se, portanto, pesquisas com o objetivo de tentar elucidar os fatores interferentes na biodisponibilidade desta vitamina, pois, conforme mostra esta revisão, os dados disponibilizados atualmente são limitados e por muitas vezes contraditórios. Além disto, também é necessária a execução de testes clínicos mais amplos, para que se possa ter uma conclusão exata sobre a biodisponibilidade desta vitamina. Referências Bibliográficas 1. Brigelius-flohé R, Kelly FJ, Salonen JT, Neuzil J, Zingg J, Azzi A. The European perspective on vitamin E: current knowledge and future research. 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Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 111-120, jul./dez. 2006 CITOLOGIA CÉRVICO-VAGINAL EM MULHERES MENOPAUSADAS - ESTUDO COMPARATIVO ENTRE O EFEITO DA ISOFLAVONA E A TERAPIA CONVENCIONAL [Cervico-vaginal cytology in menopausal women - comparative study between the effect of the isoflavone and the conventional therapy] J. M. Lopes1; F. M. Hamada2; C. L. Vituri3 Resumo: Na menopausa a mulher passa por alterações vegetativas como: calorões, sudorese, cefaléias, vertigens e hipertensão. Alterações metabólicas como: atrofia cutânea e genital, obesidade, mialgias, osteoporose e arteriosclerose. O presente estudo tem como objetivo comparar, através do Método de Papanicolaou, a resposta do trofismo celular, padrão inflamatório e flora do epitélio cérvico-vaginal em mulheres menopausadas não usuárias de terapia de reposição hormonal (TRH), usuárias da TRH convencional e usuárias de isoflavona. Os resultados obtidos mostram uma tendência de atrofia vaginal nas pacientes que não usam TRH, alta eficácia da TRH convencional na recuperação da integridade epitelial e microflora vaginal e uma menor eficiência da isoflavona na recuperação tanto epitelial como da microflora vaginal. O estudo sugere que, embora a isoflavona não apresente uma resposta tão eficaz em curto prazo de tratamento como a TRH convencional, com maiores aprofundamentos nas pesquisas, pode ser uma alternativa promissora para as pacientes com contra indicações para TRH convencional, ou que simplesmente optarem por esta modalidade terapêutica. Palavras-chaves: menopausa, isoflavona, citologia cérvico-vaginal. Abstract: Menopausal woman passes for vegetative alterations as: Hot flushes, sweating, chronic headaches, vertigos and cardiovascular disease. Metabolic alterations as: cutaneous and genital atrophy, obesities, myalgias, osteoporosis and arteriosclerosis. The objective of this work was to compare, through the Method of Papanicolaou, the reply of the cellular, genital atrophy, inflammatory standard and flora of the cervical-vaginal epithelium in not using of HRT, users of the conventional HRT and using menopausal women of isoflavone. The observed results had shown, trend of vaginal atrophy in the patients who do not use TRH, high effectiveness of the conventional HRT in the recovery of the epithelial integrity and vaginal microflora and a lesser efficiency of isoflavone in the in such a way epithelial recovery as of the vaginal microflora. We conclude that, even so not being so efficient in short term of treatment as the conventional HRT, isoflavone with more research, can be a promising alternative for the patients with against indications for conventional HRT, or that simply to opt to this therapeutical modality. Keywords: menopause, isoflavone, cervico-vaginal cytology Introdução Na menopausa a mulher passa por alterações vegetativas como: calorões, sudorese, cefaléias, vertigens e hipertensão. Alterações metabólicas como: atrofia cutânea e genital, obesidade, mialgias, osteoporose e arteriosclerose. Alterações psíquicas como: ansiedade, insônia, irritabilidade, depressão, fadiga mental entre outras.1 As exigências da vida moderna, assim como o aumento da expectativa de vida, que faz com que a mulher passe um terço (1/3) de sua vida na menopausa se mantenha produtiva dentro da sociedade. Para tanto, há necessidade desta preservar sua qualidade de vida tanto física como emocional. A característica básica da menopausa é a falência completa da função ovariana, levando a uma deficiência de hormônios, principalmente o estrógeno e a progesterona. _______________ 1 Aluno do Curso Especialização em Citopatologia, Universidade Estadual de Ponta Grossa, Departamento de Análises Clínicas, Farmacêutico do Hospital, HguF. 2 Médico do Hospital de Guarnição de Florianópolis – SC. 3 Professora da Universidade de Santa Catarina, Departamento de Análises Clínicas. E-mail: [email protected] 111 Lopes, J. M. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 111-120, jul./dez. 2006 Desta forma, devido à atrofia urogenital, pode ocorrer uma diminuição da elasticidade e turgência da mucosa vaginal, do tecido perineal e peri-uretral, tecidos estes, fisiologicamente mais ressecados com a menopausa.1 A falta do estrógeno compromete a maturação das células do epitélio cérvico-vaginal, resultando em um tecido de revestimento fino, com predomínio de células para basais, o qual é denominado de epitélio atrófico, o que causa grande desconforto para mulher.1,2 Estes sintomas podem atenuar-se ou reverter-se com a terapia de reposição hormonal (TRH), que é a utilização de diversas formulações sintéticas contendo principalmente ou somente estrógeno.2 Em função das estruturas químicas das isoflavonas e estrogênios humanos serem semelhantes, inúmeros estudos estão sendo realizados no sentido de utilizar as isoflavonas, puras ou como suplemento alimentar, em substituição a terapia de reposição hormonal (TRH) na mulher pré ou pós-menopausada.2 O emprego das isoflavonas como alternativa para algumas doenças relacionadas a alterações hormonais resulta de observações de que as mulheres orientais apresentavam manifestações relacionadas à menopausa bem menores do que a maioria das mulheres ocidentais. Justificar estes achados pelas características da alimentação, em especial pelo uso da soja, foi uma conseqüência lógica. Muitos estudos procuram demonstrar se há correlação entre o uso da soja ou seus componentes e a melhora das doenças ginecológicas.3 Entretanto, a literatura ainda carece de maiores estudos capazes de esclarecer algumas duvidas acerca da eficácia quanto ao tratamento da osteoporose e demais sintomas da menopausa, no que se refere à tolerância, forma de administração e efeitos adversos.4 O objetivo deste trabalho foi comparar, através do Método de Papanicolaou, a resposta do trofismo celular, padrão inflamatório e flora do epitélio cérvico-vaginal em mulheres menopausadas não usuárias de TRH, usuárias da TRH convencional e mulheres usuárias de TRH natural com isoflavona. Metodologia Caracterização da área e população O estudo foi realizado na cidade de Florianópolis com amostras de mulheres na péri e pós-menopausa, dependentes de militares do Exército, Marinha e Aeronáutica. Todas as pacientes foram atendidas em consultas de rotina dos Serviços de Ginecologia do Hospital de Guarnição de Florianópolis, Ambulatório naval da Escola de Aprendizes de Marinheiro e Posto Médico da Base Aérea de Florianópolis. Modelo experimental Este estudo caracteriza-se como do tipo levantamento retrospectivo, pareado, pré-experimental no qual comparamos a resposta do epitélio cérvico vaginal de 48 mulheres, na péri ou pós-menopausa divididos em três grupos de 16 mulheres cada. O 1º grupo (G1) constituído por 16 mulheres, sem qualquer tratamento hormonal, como grupo controle; o 2º grupo (G2) constituído por 16 mulheres submetidas a TRH convencional; o 3º grupo (G3) constituído por 16 mulheres submetidas a TRH natural com isoflavona. Na tomada de amostras estabelecemos como critério, pacientes com idade inferior a 65 anos, tempo de menopausa entre 02 e 21 anos, e, no mínimo 3 meses tratamento para o 2o. e 3o. grupo. Esse estudo é integrante do projeto Estudo Citomorfológico de Lesões do Colo Uterino – Análise comparativa de diversas metodologias, aprovado pelo Comitê de Ética da UFSC em 29 de setembro de 2003. Obtenção da Amostra As amostras de células cervico vaginal, foram obtidas em consulta ginecológica de rotina de acordo com a 112 Lopes, J. M. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 111-120, jul./dez. 2006 técnica recomendada pelo método de Papanicolaou. Com o auxilio do especulo vaginal e luz dirigida, o colo da paciente é exposto para exame e coleta. Com a espátula de Ayre são esfoliadas células da exocérvice, do fundo de saco vaginal e das paredes laterais da vagina. A seguir confeccionou-se um esfregaço fino e homogêneo sobre lâmina de microscopia, que foi identificada com as iniciais do nome da paciente, e imediatamente fixada em álcool etílico a 96 GLº. Coloração das Amostras No laboratório de análises clínicas do HGuFl, as amostras foram coradas pelo método de Papanicolau.5 A coloração de Papanicolaou é composta por três corantes a saber; Hematoxilina de Harris que cora o núcleo celular, EA 36 que cora o citoplasma celular e o Orange G responsável por corar citoplasma queratinizado e nucléolo. A ação do orange G é dependente do PH citoplasmático. O processo de coloração executado ocorreu numa seqüência de sete fases. Fixação: Realizada imediatamente após a coleta do material, mergulhando as lâminas em álcool etílico 96 GL; Hidratação: passagem sucessiva das amostras por álcool etílico diluído em água destilada a 80%, 70% e 50% por 10 segundos; Coloração do Núcleo: passagem das amostras pela Hematoxilina de Haris por 2 minutos; Desidratação: passagem sucessiva das amostras por álcool etílico diluído em água destilada a 50%, 70%, 80% e álcool etílico 96 GL por 10 segundos; Coloração do Citoplasma e Nucléolos: passagem das amostras pelo orange G por 2 minutos para corar o citoplasma queratinizado e nucléolos, e pelo EA36 por 3 minutos para coloração do citoplasma nuclear; Clarificação: passagem das amostras pelo xilol por 1 minuto para clarificar o material; Montagem: última etapa após coloração, na qual foram montadas as lâminas e lamínula, interpostas por Entelan.5 Finalmente, após secas as lâminas foram levadas para avaliação microscópica citológico. comum e diagnóstico Análise das Amostras No estudo em questão, qualificamos as amostra quanto: Ao trofismo celular em Normotrófico, Hipotrófico e atrófico; o padrão inflamatório em Discreto, Moderado e acentuado; flora microbiana em: Bacilar, Mista e Escassa. Classificação Quanto ao Trofismo Celular de acordo com os critérios de Gompel e Koss5: Normotrofico: predomino de células intermediárias, esfregaço cervico vaginal refletindo atividade estrogênica; Hipotrófico: predomino de células intermediárias, com presença de uma minoria de células parabasais, esfregaço cervico vaginal refletindo discreta regressão estrogênica; Atrófico: predomínio de células para-basais em mais de 50% das células da amostra, esfregaço cervico vaginal refletindo profunda regressão estrogênica Classificação Quanto ao Padrão Inflamatório, as diversas características citológicas que representam o quadro inflamatório podem ser dividas em alterações citoplasmáticas, nucleares ou em ambos componentes celulares.5 A presença, associada à freqüência destas alterações nas amostras em estudo, permitiu classificar o quadro inflamatório da paciente em inflamatório discreto, moderado ou acentuado. Classificação das Amostras Quanto a Microflora Vaginal, considerando que a mulher na pré ou pós-menopausa, passa por fatores importantes de desequilíbrio do ecossistema vaginal que levam a desconforto e diminuição na qualidade de vida da paciente, o presente estudo classificou a microflora de acordo com a morfologia e equilíbrio qualitativo presente nas amostras em; flora bacilar predomínio franco de forma bacilar sugestivo de lactobacilos, flora normal, flora mista equilíbrio entre forma cocóide e bacilar e flora escassa flora cocóide ou bacilar qualitativamente diminuída. 113 Lopes, J. M. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 111-120, jul./dez. 2006 Análise Estatística Resultados Os atributos das variáveis, trofismo celular, padrão inflamatório, flora vaginal, foram avaliadas pelo teste qui-quadrado, buscando identificar variabilidade significativa ou não, entre os grupos de pacientes que fizeram reposição hormonal e o que não fez nenhuma TRH. 100 90 80 70 Dados Citológicos 60 % 50 40 30 20 10 0 No estudo comparativo das Variáveis Entre os Grupos de Pacientes Tratados e Não Tratados, as figuras 1, 2 e 3 apresentam respectivamente, a classificação do trofismo celular, padrão inflamatório e microflora vaginal nos três grupos de pacientes estudados. * * Normotrófico Hipotrófico Atrófico Paciente controle Paciente submetidas a TRH convencional Pacientes submetidas a terapia com isoflavona *O qui-quadrado (χ2) apresentou variabilidade significativa em relação ao grupo não tratado. Figura 1 - Trofismo celular em mulheres menopausadas. Grupo de pacientes não submetidas a nenhuma TRH, apresentou um menor percentual de normotrofismo vaginal em relação aos dois grupos tratados com reposição hormonal convencional e natural. No entanto o grupo de pacientes submetidas a TRH convencional apresenta maior percentual de normotrofismo vaginal em relação ao grupo sem tratamento e grupo tratado com isoflavona. O qui-quadrado (χ2) apresentou variabilidade significativa em relação ao grupo não tratado. Em relação ao grupo de pacientes tratados com TRH natural isoflavona apresentou um percentual de normotrofismo vaginal intermediário entre o grupo submetido a TRH convencional e o grupo não tratado. O qui-quadrado (χ2) entre o grupo tratado com isoflavona e o não tratado não apresentou variabilidade significativa, no entanto mostrou uma tendência de recuperação do epitélio quando consideramos que o percentual de atrofia no grupo tratado com isoflavona é menor que no grupo sem reposição hormonal (figura1). 114 Lopes, J. M. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 111-120, jul./dez. 2006 100 80 Dados citológicos % 60 40 20 0 Discreto Moderado Acentuado Paciente controle Pacientes submetidas a TRH convencional Pacientes submetidas ao tratamento com isoflavona Figura 2 – Padrão inflamatório em mulheres menopausadas Na avaliação do padrão inflamatório entre os três grupos de pacientes estudados, através da classificação Discreto, Moderado e Acentuado pelo do teste do qui-quadrado (χ2), apresentou variabilidade não significativa; no entanto é possível observar que o grupo de pacientes que foram submetidas ao tratamento por isoflafona, embora não tenham apresentado o mesmo padrão do tratamento convencional, mostrou uma tendência à melhoria do processo inflamatório vaginal próprio da menopausa (figura-2). 100 * 80 Dados 60 citológicos % 40 * 20 0 Bacilar Escasa Mista Paciente controle Pacientes submetidas a TRH convencional Pacientes submetidas ao tratamento com isoflavona * O qui-quadrado (χ2) apresentou variabilidade significativa Figura 3 – Microflora vaginal em mulheres menopausadas. 115 Lopes, J. M. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 111-120, jul./dez. 2006 A maioria das pacientes do grupo submetida a TRH convencional mostrou uma microflora vaginal com elevado predomínio de flora bacilar, considerada normal, em relação ao grupo não tratado. O qui-quadrado (χ2) apresentou variabilidade significativa entre estes dois grupos. No entanto, o grupo de pacientes sem reposição hormonal, apresentou a seguinte distribuição: a maioria mostrou flora bacilar, considerado normal, ou com flora escassa e um pequeno percentual de flora mista. Quando avaliamos o grupo de pacientes submetidos ao tratamento com isoflavona, observamos apenas um ligeiro predomínio de flora bacilar, considerada normal, no entanto o qui-quadrado (χ2) apresentou variabilidade não significativa entre este grupo e o sem qualquer tratamento (Figura-3). Discussão Os estrogênios produzidos pelos ovários são importantes para os sistemas metabólicos, ósseo, cardíaco e circulatório. Na maioria das mulheres menopáusicas, declínios na concentração destes hormônios, provocam distúrbios orgânicos degenerativos e vegetativos. Sintomas como nervosismo, ansiedade, depressão, dificuldade de concentração, insônia, perda do interesse sexual, e maior risco para osteoporose, câncer de mama, e infecções genito-urinárias causam grande redução na qualidade de vida destas mulheres.6 A terapia de reposição hormonal com estrogênio natural ou sintético, popularizada nos Estados Unidos na década de 50, foi por muitos anos a única opção para alívio dos sintomas climatérios. Desde seu surgimento e emprego, a TRH passou por grandes evoluções. No entanto, apesar de muitos estudos demonstrarem efeitos benéficos para as usuárias desta terapêutica, as controvérsias sobre possíveis efeitos colaterais nunca deixaram de existir e nem foram ainda totalmente esclarecidos. No início do emprego desta terapia, fatores como dosagem, características individuais das pacientes foram negligenciadas, até que estudos demonstraram maior incidência de câncer de endométrio nas usuárias de TRH em relação a mulheres não usuárias de reposição hormonal.7 O alívio dos sintomas proporcionado pela TRH e a possibilidade de prevenir as doenças degenerativas, estimularam por parte das mulheres, aumento na adesão ao tratamento, e entre os profissionais de saúde o interesse em pesquisar e selecionar conduta adequada e segura, frente às controvérsias existentes sobre TRH.8 Na mulher em fase reprodutiva, o eixo Hipotálamo – Hipófise – Ovário regula a produção de estrogênios que influenciam diretamente no trofismo celular do epitélio vaginal. A integridade e funcionalidade deste, são mantidas pelo trabalho conjunto de três sistemas: eixo, hipotálamo – hipófise – ovário, estratificação normal dos epitélios escamoso e cilíndrico e microflora vaginal.9 Desequilíbrios nestes compartimentos provocam alterações na composição e características morfológicas das células, as quais podemos identificar e qualificar através do Método de Papanicolaou. Na mulher menopausada, os ovários diminuem a produção de estrogênios, conseqüentemente a hipófise deixa de receber o feedback negativo para diminuir a secreção de FSH e LH. Assim, nestas mulheres, os níveis circulantes de estrogênios ficam menores, e os de FSH e LH tornam-se aumentados.10 A conseqüência do débito fisiológico dos hormônios estrogênios na mulher menopausica, é a redução da capacidade de maturação celular do epitélio, e por seguinte um desequilíbrio no ecossistema vaginal deixando-o mais delgado e suscetível a traumas e infecções. No presente estudo, a resposta do epitélio vaginal quanto ao débito hormonal, foi realizada observando nos três grupos de pacientes o trofismo celular. Nas amostras das pacientes menopáusicas que não fizeram uso de TRH, os resultados encontrados (50% atrófico, 31% hipotrófico e 19% normotrófico) estão de acordo com a literatura revisada, que indica tendência de 116 Lopes, J. M. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 111-120, jul./dez. 2006 atrofia urogenital e conseqüente aumento das infecções do epitélio cérvico vaginal na pósmenopausa.11 As amostras analisadas das pacientes submetidas a TRH convencional, apresentaram resultados de trofismo celular, estatisticamente significativos p = 0,023 (75% normotrófico, 19% hipotrófico e apenas 6% atrófico) quando comparadas ao grupo de pacientes sem TRH. Este dado confirma o mencionado na literatura, a qual indica alta eficácia de estrógeno-terapia oral ou local, na recuperação do epitélio vaginal.11 A resposta do epitélio vaginal, quanto ao trofismo celular das pacientes submetidas a TRH natural com isoflavona (figura 1), mostrou apenas uma tendência de melhora, em relação às pacientes não submetidas a TRH. Portanto, não apresentou diferenças estatísticas significativas em relação ao grupo de pacientes não tratadas, nem em relação ao grupo de pacientes tratadas com TRH convencional. A baixa atividade da isoflavona em relação ao estrogênio, o curto tempo de tratamento, e as diferenças intrínsecas das isoflavonas utilizadas por estas pacientes, provavelmente sejam os fatores responsáveis pela menor resposta do epitélio vaginal neste grupo de pacientes, quando comparadas as pacientes submetidas a TRH convencional. A inflamação é a resposta do tecido a agentes agressores vivos como fungos, vírus, bactérias ou não vivos como traumas, térmicos, químicos e outros. Na mulher menopausada as causas principais de processos inflamatórios são: hormonais, através da diminuição de estrogênios que leva a vaginite atrofica, infecções bacterianas inespecíficas, irritação crônica e infecção por fungos.12 A redução do estrogênio circulante, causa decréscimo do glicogênio intracelular do epitélio, esta diminuição reduz a acidez vaginal e conseqüentemente a flora de lactobacilos. Com isto, a proliferação de microorganismos patogênicos endógenos ou exógenos fica favorecida e os processos inflamatórios se instalam no epitélio vaginal.13 O presente estudo comparou o grau de inflamação do epitélio dos três grupos de mulheres menopausadas, e os resultados obtidos não apresentaram diferenças estatísticas significativas entre os mesmos (figura-2). No entanto, vale ressaltar que as amostras das pacientes submetidas a TRH convencional, apresentaram esfregaços com fundo mais limpos, e com menos critérios para inflamação de grau acentuado que nos outros dois grupos estudados. Esta observação, evidencia mais uma vez, a eficácia da estrógeno-terapia na recuperação do epitélio vaginal. O conhecimento da microflora vaginal se reveste de grande importância, pois muitos quadros infecciosos que se instalam no trato genital, são ocasionados por microorganismos da flora endógena. Esta, é constituída por uma ampla variedade de germes que interagem entre si, com outros microorganismos exógenos e com o epitélio vaginal. Vários estudos, utilizando técnicas de culturas quantitativas de material vaginal, indicaram população de 108 a 109 bactérias por mm3. Dentre estas, as anaeróbias ultrapassaram em número as aeróbias, na proporção de 5:1 a 10:1. As bactérias aeróbias que predominaram foram Lactobacillus, Corynebacterium, Streptococcus e Staphylococcus epidermidis. Entre as anaeróbias, Peptococcus, Peptostreptococcus, Lactobacillus anaeróbios, Eubacterium e Bacteróides. Além das bactérias registraram a presença de fungos como a Cândida sp e também de Micoplasmas como Mycoplasma hominis e o Ureaplasma urealyticum.13 Os microorganismos que compõem a flora vaginal, necessitam para sua manutenção, de um substrato nutricional que provém do tecido intacto, de epitélio descamado, de transudatos, do fluido menstrual e da secreção endocervical. Além disso requer meio físico adequado como; pH, temperatura, tensão de O2, grau de hidratação e também níveis de estrogênio e progesterona. Assim, o meio ambiente vaginal controla a sua microflora tanto 117 Lopes, J. M. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 111-120, jul./dez. 2006 qualitativa como quantitativa e esta, por sua vez, regula o seu meio ambiente.14 Vários fatores são determinantes para a manutenção da microflora vaginal normal. Entre estes, os principais são: condições de trofismo das superfícies epiteliais, a presença da flora autóctone que impede o crescimento de certos microorganismos, a capacidade de aderência ou penetração do microorganismo e principalmente a acidez que esta relacionado a quantidade de acido lático.15 Os lactobacilos, tolerantes a altos níveis de acidez, são os microorganismos mais abundantes na vagina da mulher na menacme. Os quais, contribuem para a manutenção do pH e restringem o crescimento de microorganismos potencialmente patogênicos. Além desta ação, os lactobacilos são capazes de produzir H2O2, tóxico, para muitos microorganismos patogênicos, espermatozóides e células tumorais.14 O valor do pH vaginal, oscila durante a vida da mulher e mantém um estreito paralelismo com os níveis de estrogênios circulantes. Na menacme, varia de 4 a 5. Na mulher menopáusica, onde a célula epitelial contém pouco glicogênio, os Lactobacilos são escassos e o pH em geral é igual ou superior a 6,0. Esta alcalinização diminuiria a proteção vaginal e seria responsável pela maior incidência dos sintomas urogenitais na pós-menopausa. Em três meses de tratamento com TRH convencional, administrada por via oral ou local, normalmente é capaz de recuperar a microflora vaginal totalmente em mais de 70% dos casos, e diminuir o pH em média de 6,7 para 4,5. Verificou-se que, mesmo quando não houve recuperação da flora vaginal, o pH diminuiu para valores iguais aos da mulher na menacme. Esta observação, indica que a produção de ácido parece depender sobretudo, da atividade ovariana. A qual, determina a quantidade de glicogênio presente na mucosa vaginal que será transformada em ácido por ação enzimática, além da degradação bacteriana.14 Os resultados observados para a microflora vaginal, no presente estudo (figura 3), confirmaram a eficácia da TRH convencional na recuperação da flora bacilar normal em mulheres menopáusicas, e a tendência das que não fazem uso de TRH, modificar sua microflora em relação às mulheres na menacme. A maioria das pacientes que fizeram uso da TRH natural com isoflavona, assim como as que não utilizaram TRH, apresentaram (figura 3), uma flora bacilar ou flora escassa e, uma minoria flora mista. Provavelmente, a não recuperação da flora bacilar qualitativa e quantitativa normal nas pacientes de TRH natural, foi em função da variabilidade intrínseca da isoflavona, de sua baixa atividade em relação ao estrogênio natural ou sintético e do pouco tempo de tratamento. A análise comparativa entre os grupos de pacientes estudadas, apresentou resultados compatíveis com a literatura revisada. No entanto, em função da amostra ser pequena, de não ter sido avaliado o estado inicial do epitélio vaginal antes dos tratamentos, de não termos controlado vias de administração, dosagens e qualidade dos medicamentos utilizados, não podemos afirmar se a TRH natural possui a mesma eficácia que a convencional, na recuperação da integridade e funcionalidade do epitélio vaginal. Entretanto, a tendência dos resultados permite-nos concluir que, se administrada isoflavona de boa qualidade, dosagens e tempo de tratamento adequado a cada paciente, a TRH natural é uma boa alternativa para mulheres menopausadas que tenham receios ou contra indicações absolutas para a TRH convencional. A maioria das mulheres ocidentais na menopausa, sofre com a síndrome climatéria e precisam de auxilio terapêutico para preservar sua qualidade de vida, e diminuir os riscos de desenvolver doenças degenerativas, como cardiopatias e osteoporose. Mudanças nos hábitos de vida, como manter dieta alimentar balanceada, atividade física regular e evitar vícios da vida moderna como, fumo, bebidas alcoólicas e stress seriam as medidas adequadas para diminuir os sintomas e riscos associados à menopausa. 118 Lopes, J. M. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 111-120, jul./dez. 2006 O risco-benefício da TRH, convencional continua sendo discutível, e as controvérsias acerca de suas contra indicações fazem com que a adesão a esta terapêutica, por parte das mulheres menopausadas, seja baixa na maioria dos países. A recuperação do epitélio vaginal, depende de fatores individuais de cada paciente, principalmente de níveis adequados de receptores alfa e beta e pH vaginal.15 Independente de qual opção terapêutica escolhida, o importante é que ela seja aplicada de maneira individualizada. Uma boa avaliação clínica pode identificar as pacientes sintomáticas que irão se beneficiar com TRH e quais teriam maiores riscos com seu uso.16 Portanto, serão necessários maiores estudos para avaliar as diferentes modalidades de TRH, visando o máximo de benefícios e menores riscos para a mulher menopausada. os dois grupos de pacientes submetidos a TRH convencional e natural mostraram um menor percentual de inflamação que o grupo de pacientes não submetidos a nenhuma TRH; a microflora do grupo submetida a TRH convencional mostrou um aumento significativo da flora bacilar, considerada normal, em relação ao grupo não tratado. A microflora do grupo submetida a TRH natural com isoflavona, mostrou ligeiro aumento da flora bacilar considerada normal em relação ao grupo não tratado, no entanto o teste do qui-quadrado (χ2) não apresentou variabilidade significativa entre este grupo e o sem qualquer TRH, mostrando novamente uma tendência à recuperação do ecossistema vaginal. Finalmente, este trabalho evidenciou a eficiência da estrógeno-terapia, na recuperação do epitélio cérvico-vaginal, e aponta para uma perspectiva que necessita maiores estudos quanto ao emprego da isoflavona para esta finalidade, e para outros sintomas relacionados ao climatério. Conclusão Referências Bibliográficas O estudo comparativo da população estudada (Hospital de Guarnição de Florianópolis) nos permitiu as seguintes conclusões: Grupo de pacientes submetidas a TRH convencional apresentou maior percentual de normotrofismo vaginal em relação ao grupo sem tratamento e grupo tratado com isoflavona. O teste do quiquadrado (χ2) apresentou variabilidade significativa apenas em relação ao grupo não tratado; grupo de pacientes tratados com TRH natural isoflavona apresentou um percentual de normotrofismo vaginal intermediário entre o grupo submetido a TRH convencional e o grupo não tratado. O teste qui-quadrado (χ2) entre o grupo tratado com isoflavona e o não tratado não apresentou variabilidade significativa, no entanto mostrou uma tendência de recuperação do epitélio, pois observamos que o percentual de atrofia no grupo tratado com isoflavona é menor que no grupo sem reposição hormonal; o padrão inflamatório dos três grupos de pacientes estudados, não apresentou variabilidade significativa, porém 1-Villoria EF, Tramullas AR. Menopausa y sociedad. In: Palacios, S. Climatério y Menopausia 1984;1:1-8. 1ª. Ed. Madrid; Editorial Mirpal. 2- Anderson JJB, Anthony MS, Cline JM, Washburn SA, Garner SC. Saude potencial da isoflavonas de soja em mulheres na menopausa. Public Health Nutrition, 2000;2(4):489-504, 2000. 3- Chambo FA, Chambo B, Chambo F. A soja como alimento funcional em ginecologia. Revista Brasileira Nutricional e Clinica 2000;15(2):326-9. 4- Grimbaum ML, Wehbaa S, Ferreira JAS, Azevedo LH, Fernandes CE. Fitoestrogenicos na Pos-menopausa-revisão. Reprodução e Climatério 2000;15,(1):24-7. 5- Gompel C, Koss LG. Citologia Ginecologia, 1 ed. São Paulo, Manole; 1997. 6- Ulizar JA. Definicion y epidemiologia de la menopausia. In: Palacios S. Climatério e Menopausia 1984;1:9-15. 1a. Ed. Madrid; Editorial Mirpal. 119 Lopes, J. M. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 111-120, jul./dez. 2006 7-Huber JC. Novas Diretrizes em TRH. Orgyn, 1999, São Paulo,p.3-5. 8-Spritzer PM, Reis FM. Reposição hormonal no climatério: Princípios embasados em evidencias. Reprodução e Climatério 1998;13(1):32-41. 9-Gil-Antunano SP. Ceno CM. Alteraciones del tracto genito-urinario bajo y menopausia. In: Palacios S. Climatério e Menopausia 1994;2:105-12. 1a. Ed. Madrid; Editorial Mirpal. 10- Schwarts RW. Ginecologia e obstetrícia. In: BERKOW R, FLETCHER AJMBB, editors. Manual Merch de Medicina. 2a. ed.Sao Paulo: Roca. 1995.p.112-20. 11- Nahas EP, Mattos MCFI, Lucas LA, Nahas Neto J, Pontes A. Avaliação colpocitologica de mulheres menopausadas com terapia de reposição hormonal. Revista Brasileira de Ginecologia Obstetrícia 1996;18(3):249-52. 12- Wanderley MS, Miranda CRR, Carneiro de Freitas MJ, Pessoa ARS, Lauand A, Lima RM Vaginose Bacteriana em Mulheres com Infertilidade e em Menopausadas 2001;23(10),641-646. 13- Galhardo CL. Flora vaginal e climatério. Femina 2001,29(4):241-4. 14- Galhardo CL. Efeitos da reposição estrogenica sobre a flora vaginal, o pH e a citologia hormonal de mulheres na posmenopausa. Dissertação de Mestrado em Ginecologia. São Paulo (SP): Universidade Federal de São Paulo; 1999. 15- Silva Filho A, Longatto Filho A. Colo uterino e vagina: processos Inflamatórios – Aspectos histológicos, citológicos e colposcopicos. Revinter. Rio de Janeiro: 2000. 16- Sobrac. Mais do que nunca e preciso individualizar a TRH, Editorial Reprodução e Climatério 2002 [cited 2003 mai 18]; 7 (2). Disponível em URL:http://www.sobrac.org.br.index.htm. 120 Pereira, do V.; Kapazi, .A. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 121-127, jul./dez. 2006 ANTROPOMÉTRICO DOS IDOSOS VINCULADOS AO PROATI –PROGRAMA DE ATENÇÃO Á TERCEIRA IDADE DA PREFEITURA MUNICIPAL DE FLORIANÓPOLIS [ Anthropometric profile of elderly citizens attended by a municipal attention program in Florianópolis (PROATI) Ana Paula Warken do Valle Pereira1; Ileana Arminda Mourão Kazapi2 Resumo: Avaliou-se o perfil antropométrico dos idosos do PROATI. Obteve-se os dados antropométricos de 149 idosos (10 homens e 139 mulheres) referentes ao peso, altura, circunferência da cintura e relação cintura e quadril. Foi encontrado pré - obesidade em mulheres encontradas nas regiões sul (52,9%) e leste (41,37%). A relação cintura e quadril foi semelhante ao da circunferência da cintura (90%), sendo encontrado em todos os grupos pesquisados valores acima do nível máximo de adequação em 95% dos entrevistados. Encontrou-se uma alta prevalência de sobrepeso e obesidade que pode Ter contribuído para o aumento dos valores dos outros indicadores. Palavras-chave: Idosos, perfil antropométrico, estado nutricional Abstract: The anthropometric profile of elderly citizens assisted by proati was evaluated. Anthropometric data from 149 elderly (10 men and 139 women) were collected: weight, height, waist circumference and wais-hip ratio. Pre-obesity was found in women from the southern and eastern regions (52,9% and 41,37%). Waist-hip ratio presented similar results to waist circumference (90%), all groups researched presented adequacy values above 95%. The high percentages of overweight and obesity may have contributed to the increased values of other indicators. Keywords: Elderly, anthropometric profile, nutritional status Introdução Para a OMS (Organização Mundial da Saúde), é considerado idoso o indivíduo que tiver 60 anos ou mais nos países em desenvolvimento, e 65 anos ou mais nos países desenvolvidos. Desde o final do século passado, o Brasil vêm assistindo a um acelerado crescimento da população idosa. Dados estatísticos demonstram que esse segmento no país passará dos 12 milhões existentes hoje, para 32 milhões no ano de 2025. O Brasil passará a ocupar o 6º lugar na escala mundial de população idosa.(IBGE, 2000)1 O crescimento do grupo etário de pessoas com mais de 60 anos no Brasil é evidente e exige um planejamento que atenda a demanda. No nosso país, onde as características da população variam de região para região, é preciso que se conheça a população local para favorecê-la de acordo com a realidade. Por isso tem-se direcionado _____________________ 1 2 a ação na busca de novas formas de atendimento ao idoso. A nutrição e a alimentação na terceira idade ainda são áreas pobres em investigação, sendo pouco exploradas e não tendo recebido a atenção que lhes é devida. Em alguns países desenvolvidos, muitas pesquisas têm sido feitas, visando a identificar o consumo alimentar de idosos. Na América Latina, particularmente no Brasil, essas investigações praticamente inexistem.(Najas, 1994)2 Em idosos no entanto, torna-se mais complexa a análise do estado nutricional em virtude da maior heterogeneidade entre os indivíduos deste grupo (Goodwin, 1989)3 e do fato de seu valor preditivo estar atrelado a um conjunto de fatores não apenas relacionado às mudanças biológicas da idade, doenças e mudanças seculares, como também às práticas ao longo da vida (fumo, dieta, atividade física) e aos fatores sócioeconômicos (WHO, 1995).4 Acadêmica do curso de graduação em Nutrição. Profª Orientadora. E-mail: [email protected] 121 Pereira, do V.; Kapazi, .A. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 121-127, jul./dez. 2006 As mudanças fisiológicas que interferem no estado nutricional são: alterações no sistema digestório, a diminuição do metabolismo basal e alterações sensoriais, redução da sensibilidade por gostos primários doce, salgado, amargo e ácido. Devido a isto, a maioria das pessoas comem menos, em conseqüência, a ingestão de nutrientes pode ser mais baixa que o recomendado, sugerindo, então deficiência de nutrientes essenciais. Para Moreira (1995) a alimentação e o estado nutricional podem estar associados com o processo de envelhecimento e estilo de vida. ( Monteiro, 2004)5 Um bom estado nutricional pode encurtar as estadias em hospitais e retardar a entrada em casa de repouso e menos mortalidade. (Krause, 1999)6 No entanto as poucas pesquisas realizadas revelaram que a situação nutricional dos idosos sofreu uma grande alteração. Nos últimos 15 anos estima-se uma redução de 36% no grupo de baixo peso, com aumento maior dos casos de sobrepeso e obesidade, em ambos os sexos, tendo reduzido o número de indivíduos eutróficos.(Campos, 2000)7 Segundo Passero, 20038 mantendo os adultos mais velhos em bom estado nutricional, pode-se ajudá-los a manter sua saúde e independência diminuindo, com isso, as demandas dos cuidados institucionais e a melhorar a qualidade de vida. A importância de um bom estado nutricional na manutenção da independência, entre os idosos, não se pode ser exagerada. Ficar velho não precisa ser peso para sociedade, mas atenção maior com a saúde é necessária. O estudo em questão irá avaliar o estado nutricional dos idosos residentes das comunidades onde atua o PROATIPrograma de Atenção á Terceira Idade, programa da Prefeitura Municipal de Florianópolis que atua junto aos idoso desde 1979, através da formação e organização de grupos de convivência e atividade física, oportunizando espaços de convívio, de expressão, reflexão e aprendizagem, buscando a valorização pessoal e social do idoso. Acredita-se na importância deste estudo, visto que é de suma importância conhecermos o perfil dos idosos que habitam o município de Florianópolis para que futuramente se possa aplicar ações mais diretas e dinâmicas, bem como a criação de políticas públicas para esse significativo segmento da nossa sociedade. Métodos Material: POPULAÇÃO: A população deste estudo contou com todos os idosos acima de 60 anos que freqüentam os grupos de convivência e atividade física vinculados ao Programa de Atenção á Terceira Idade, programa da Prefeitura Municipal de Florianópolis, que atua junto aos idoso desde 1979, através da formação e organização de grupos de convivência e atividade física, oportunizando espaços de convívio, de expressão, reflexão e aprendizagem, buscando a valorização pessoal e social do idoso. A referida população no ano de 2003 era de 845 idosos. SELEÇÃO DOS SUJEITOS: A escolha dos idosos que foram alvo da pesquisa seguiu o perfil dos idosos cadastrados nos grupos de atividade física e convivência no ano de 2003/2004, conforme o sexo, aplicando-se o percentual de 20% em cada grupo de acordo com o quadro abaixo; alguns grupos ultrapassaram este percentual e não se excluiu o idoso voluntário. Este percentual totalizou 149 idosos distribuídos em 4 regiões conforme tabela abaixo. 122 Pereira, do V.; Kapazi, .A. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 121-127, jul./dez. 2006 Quadro 1– Nome e local dos grupos pesquisados de acordo com a região e o número de idosos entrevistados por sexo. REGIÃO Central Nome do Grupo São Judas Tadeu Rainha da Gloria A Grande Família Esperança Alegria de Viver Nº de Nº de Entrevistado Entrevistado participante participante Comunidade s do sexo s do sexo s do sexo s do sexo masculino feminino masculino feminino Morro da caixa 02 14 - 03 BalneárioEstreito - 38 - 08 Centro - 45 - 09 Chico Mendes - 10 Mocotó - 17 Saco dos limões Canasvieiras Barra da Lagoa Ingleses Rio Vermelho Norte Leste Sul Renascer Primavera Esperança Vó Itelvina Alegria de Jurerê Viver Cantinho da Pontas das Amizade Canas Vida Saco Grande II Esperança N. Sra. Sambaqui Aparecida Sto. Antônio Renascer de Lisboa Renovação Monte Verde Ribeirão da Amor e União Ilha Costeira do Amizade Ribeirão Morro das Com Vivência Pedras Costa de N. Sra. Fátima Dentro Sempre Unidos Tapera N. Sra. Fátima Rio Tavares Alto Ribeirão Trevo II Alegria Alto Ribeirão I Fazenda do Rio Tavares Rio Tavares Felicidade Campeche Raio de Sol Carianos Unidas do Alto Ribeirão Canto TOTAL 03 - 04 03 05 01 04 28 28 50 36 01 01 06 06 10 07 - 23 - 05 - 29 - 06 - 38 - 08 04 34 01 07 03 44 01 09 - 19 - 04 - 22 - 04 07 23 02 05 02 17 - 03 01 11 - 02 03 - 31 08 01 - 06 02 02 17 - 03 03 23 01 05 05 28 01 07 06 21 37 01 04 07 02 28 - 06 51 719 10 149 123 Pereira, do V.; Kapazi, .A. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 121-127, jul./dez. 2006 Avaliação do estado nutricional Índice de Massa Corporal (IMC) ou Índice de Quetelet (Kg/ m²) O Índice de massa corporal (IMC) é um indicador que vem sendo incorporado aos estudos nutricionais de caráter populacional. Ele é um indicador do estado nutricional atual, utilizado em avaliação do estado nutricional de adultos. Para as medidas antropométricas foi verificado o peso através da balança eletrônica pessoal, marca: Tech Line, modelo Tec 10 com capacidade até 136Kg, a estatura foi mensurada utilizado uma fita métrica milimetrada, afixada na parede a 50 cm do chão, e uma régua milimetrada. Para a classificação do estado nutricional segundo o IMC utilizou-se a classificação proposta pela World Health Organization (1998) sendo esta apresentada abaixo: Tabela 1 - Classificação do estado nutricional segundo o IMC (WHO, 1998).9 Classificação IMC (Kg/m²) Baixo peso < 18,5 Eutrofia 18,5 – 24,9 Sobrepeso >= 25 Pré-obesidade 25 – 29,9 Obesidade grau 1 30 – 34,9 Obesidade grau 2 35,0 – 39,9 Obesidade grau 3 <= 40 Relação Cintura/ Quadril (RCQ) A relação da circunferência da cintura ou abdominal e do quadril ou glútea tem sido o índice mais utilizado para averiguar a distribuição local de tecido adiposo regional, que é parcialmente independente da adiposidade total. Esta relação esta associada a risco de doenças crônicas não transmissíveis. Determinou-se a circunferência da cintura através da área mais estreita, acima do umbigo, e a do quadril, sobre a protusão máxima dos glúteos. Foi utilizado o ponto de corte para risco de acordo com Bray (1991)10, onde para homens é > 0,95 e mulheres > 0,80. Esses limites são compatíveis com especificidade entre alta e moderada, conseqüentemente com uma taxa de falsopositivos reduzida. Nesse estudo classificaremos os idosos quanto a presença ou ausência deste fator de risco. A circunferência da cintura foi determinada através da área mais estreita, acima do umbigo. Os pontos de corte para riscos adotados foram os preconizados por Han e cols. (1995), onde para homens a circunferência da cintura é > 94cm e para as mulheres é > 80cm. COLETA DE DADOS A coleta de dados foi realizada nos dias e horários de reunião dos grupos (14:00 às 17:00 hs). A coleta de dados teve início em agosto de 2003 e término em julho de 2004. Os dados foram agrupados pela planilha eletrônica Excel. Os resultados foram expressos em número absoluto e em percentual e apresentados através de gráficos e tabelas. A pesquisa em questão obteve o parecer do Comitê de Ética da Universidade Federal de Santa Catarina em pesquisas com seres humanos de acordo com a legislação vigente sendo os resultados tornados públicos sendo eles favoráveis ou não, preservando o sigilo da identidade dos participantes. Circunferência da cintura: 124 Pereira, do V.; Kapazi, .A. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 121-127, jul./dez. 2006 RESULTADOS E DISCUSSÃO A tabela 1 mostra o estado nutricional dos idosos onde se verificou uma tendência de maior prevalência de sobrepeso e obesidade em ambos os sexos. As alterações nutricionais observadas não apresentam grande variação entre as regiões do município, sendo as maiores prevalências de pré - obesidade em mulheres encontradas nas regiões sul (52,9%) e leste (41,37%). A tendência de aumento do sobrepeso tem sido acompanhada em países desenvolvidos, questionando-se suas implicações na morbi-mortalidade futura, particularmente em populações que 11 envelhecem (Kuczs-marski et al, 1994). Os índices de sobrepeso elevados confirmam a tendência encontrada em um estudo realizado por Tavares em 1999 que teve com base os dados da Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição de 1989 onde se identificou desse problema em mulheres idosas brasileiras, principalmente das regiões sul (23,3%) e Sudeste (21,9%). Segundo esse autor, esses dados se aproximam a de países da Europa com altas prevalências de sobrepeso. O sobrepeso é um problema eminentemente urbano, com algumas diferenciações por região. Na região sul do Brasil, o excesso de peso em mulheres é também elevado na área rural. Ainda não há consenso sobre o impacto do sobrepeso na longevidade, porém vêm-se encontrando associações deste problema com mortalidade em idosos e questionando-se sua relação com incapacidade, que nestes indivíduos significa autonomia, favor imprescindível para uma boa qualidade de vida. (PopKins, 1994)12 Segundo Popkins (1994)12, esse processo estaria acontecendo pelo aumento proporcional do consumo de dietas caracterizadas com risco para doenças crônicas. Tem–se mais intenso justamente nas camadas sócio – econômicas intermediárias e baixas, situação que sinaliza a obesidade como questão de saúde pública e a necessidade de adoção de políticas preventivas (Monteiro et al, 1995).5 TABELA 1- Avaliação do estado nutricional de acordo com sexo dos grupos de idosos por região, segundo classificação do IMC, estabelecida pela FAO/OMS - 98, Florianópolis, 2004. ESTADO NORTE NUTRICIONA L M F n(%0) n(%) Baixo peso 0 Eutrofia 1(100) 16(38,09) Sobrepeso 1(2,38) Pré-obesidade 14(33,33) Obesidade G1 Obesidade G2 TOTAL 1(100) 9(23,8) 1(2,3) 41(100) CENTRO E CONTINENTE M F n(%) n(%) 0 7(26,08) 2(8,69) 10(30,4 3) 7(26,08) 2(8,69) 28(100) A proporção da circunferência de cintura e quadril tem sido usada em estudos populacionais, como uma preditora de risco de doenças cardiovasculares. O aumento da adiposidade central está associada com o aumento de doenças crônico degenerativas e maiores riscos de mortalidade. ( Passero, 2003)8 De acordo com a relação da cintura e quadril, observamos que o resultado foi SUL M n(%) 3(50) 2(33,33) NORTE F n(%) 1(1,96) 11(23,52) 0 24(52,94) 1(16,66) 6(15,68) 3(5,88) 6(100) 45(100) M n(%) 1(56) - F n(%) 0 11(41,37) 1(3,44) 10(41,37) 1(50) 4(13,79) 0 2(100 26(100) ) semelhante ao da circunferência da cintura, sendo encontrado em todos os grupos pesquisados valores acima do nível máximo de adequação em 95% dos entrevistados (Tabela 2). Segundo Machado, 200413 este dado isoladamente ou associado com a circunferência da cintura caracteriza mais um fator de risco para problemas cardiovasculares. 125 Pereira, do V.; Kapazi, .A. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 121-127, jul./dez. 2006 TABELA 2- Presença e ausência de risco para problemas cardiovasculares de acordo com a relação da circunferência da cintura e do quadril nos grupos de idosos por região, Florianópolis, 2004. GRUPOS NORTE CENTRO E SUL LESTE CONTINENTE M F M F M F M F n (%) n (%) n (%) n (%) n (%) n (%) n (%) n (%) Risco 2(100) 39(97,5) 0 27(96,4) 3(50) 43(95,5) 2(100) 26(100) Ausência 0 1 (2,5) 0 1(3,57) 3(50) 2 0 0 TOTAL 2(4,76) 40(100) 0 28(100) 6(100) 45(100) 2(100) 26(100) Segundo Machado, 200413 a circunferência da cintura isoladamente ou associado com a relação da cintura e do quadril caracteriza mais um fator de risco para problemas cardiovasculares. Podemos verificar através da tabela 3 que na maioria dos grupos mais de 90% dos entrevistados apresentaram valores de circunferência de cintura acima do nível máximo de adequação. Esse resultado vem de encontro aos achados por Machado, 2004, onde foram analisados 50 idosos do bairro de Copacabana no RJ, sendo encontrado em 68% dos homens e 60% das mulheres medidas de circunferência de cintura acima do recomendado. Essa situação foi observada também na pesquisa desenvolvida com 30 pessoas idosas residentes de uma comunidade de baixo nível sócio - econômico da cidade de Curitiba onde 53,3% dos entrevistados encontram-se acima de 100% do padrão de normalidade para relação cintura e quadril. TABELA 3- Presença e ausência de risco para problemas cardiovasculares de acordo com a circunferência da cintura nos grupos de idosos por região, Florianópolis, 2004. GRUPOS NORTE CENTRO E SUL LESTE CONTINENTE M F M F M F M F n (%) n (%) n (%) n (%) n (%) n (%) n (%) n (%) Risco 2(100) 36(90) 0 28(100) 3(50) 42(93,3) 2(100) 25(96,1) Ausência 0 4(10) 0 0 3(50) 3(6,6) 0 1(3,8) TOTAL 2(100) 40(100) 0 28(100) 6(100) 45(100) 2(100) 26(100) Conclusão: A pesquisa em questão buscou correlacionar diversos fatores que identificam o perfil nutricional de diferentes regiões do município de Florianópolis. De acordo com a população estudada podemos observar que o perfil antropométrico não apresentou grande alteração entre as regiões do município de Florianópolis. Quanto ao estado nutricional foi verificado um alto percentual de sobrepeso e obesidade em ambos os sexos, este fator consequentemente atuou negativamente para o aparecimento de valores acima do limite também em relação à circunferência da cintura e a relação cintura quadril em todas as regiões. Tal quadro é preocupante pois favorece o aparecimento de doenças crônico degenerativas como diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares. Porém considerando que as pessoas idosas constituem uma população de risco por apresentar alterações fisiológicas, particularidade de seus hábitos alimentares e déficit do estado nutricional devemos praticar ações e adotar medidas preventivas que mudem esta realidade já que estes são fatores modificáveis, a fim de melhorar a qualidade de vida desta população. 126 Pereira, do V.; Kapazi, .A. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 121-127, jul./dez. 2006 Referências Bibliográficas 1. Diretoria de pesquisas, Departamento de população e indicadores sociais. Censo Demográfico. Disponível em: http://www.ibege .gov.br Acesso em: 8 de maio de 2005. 2. Najas MS, Andreazza R, Souza ALM, Sachs A, Guedes ACB, Sampaio LR, et al. Padrão alimentar de idosos de diferentes estratos sócio - econômicos residentes em localidade urbana da região sudeste, Brasil. Rev. Saúde Pública 1994;187-91–3. 3. Goodwin, J.S. Social, psychological and physical factors affecting the nutrition status of elderly subjects: separating cause and effect. American Journal of Clinical Nutrition 1988;50:120-120s. 4. WHO (World Health Organization). Physical Status: The Use and Interpretation of Anthropometry. Geneva; WHO, 1995. 5. Monteiro CA, Mondini L, Souza ALM & Poppkins BM. Da desnutrição para a obesidade: A transição nutricional no Brasil. In: Velhos e Novos Males da Saúde no Brasil: A Evolução do País e de suas Doenças. São Paulo: Editora Hucitec, 1995. 6. Krause MV, Mahan LK. Alimentos, Nutrição & Dietoterapia. 9nd ed. São Paulo: Rocca, 1999. 7. Campos MTS, Monteiro JBR, Ornelas ARC. Fatores que afetam o consumo alimentar e a nutrição do idoso. Rev. Nutrição 2000;157:165-3. 8. Passero V, Moreira EAM. Estado nutricional de idosos e sua relação com a qualidade de vida. Rev. Brasil Nutrição Clínica 2003;1:7–1. 9. WHO (World Health Organization). Physical Status: The Use and Interpretation of Anthropometry. Geneva; WHO, 1998. 10. Bray G.A. Obesidad. In: Conocimientos actuales sobre nutricón. Washington: Organización Mundial de la salud, 1991,p.26-46. 11. Kuczs-Marski, R.J., Need for body composition in elderly subfects. American Journal of Clinical Nutrition 1989;50:11501157. 12. Popkins BM. The nutrition transition in lowincome countries: Na emerging crisis. Nutrition Reviews 1994;285:298–52. 13. Machado JS, Souza VV, Vidal AT, Ramos FRM, Frank AA. Perfil nutricional de idosos freqüentadores da associação recreativa de Copacabana, Rio de Janeiro. Nutrição Brasil 2004; 85:91–3. 127 Dalmarco, E. M. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 128-136, jul./dez. 2006 ANÁLISE DA ATIVIDADE ANTIBACTERIANA (IN VITRO) DE PLANTAS DA FLORA BRASILEIRA UTILIZADOS PELA MEDICINA POPULAR. [Antibacterial effects (in vitro) of brazilian plants used by popular medicine]. Eduardo Monguilhott Dalmarco1; Cláudio Laurentino Guimarães2; Alessandro Guedes3; Mirele Titon Calderari4. Resumo: Apesar do crescente interesse nas pesquisas de substâncias naturais com potencial antimicrobiano, os dados disponíveis atualmente revelam que apenas 15 a 17% das plantas foram estudadas quanto ao seu potencial medicinal. O objetivo deste estudo é pesquisar a atividade antibacteriana de plantas medicinais, que apresentam relatos populares de efeitos antimicrobianos. A atividade antibacteriana dos produtos naturais foi avaliada em um modelo experimental in vitro (modelo da microdiluição em caldo BHI contra cepas de Staphylococcus aureus ATCC 25923, Escherichia coli ATCC 25922, Pseudomonas aeruginosa ATCC 27853. Com isso, foi possível a determinação da CIM (Concentração Inibitória Mínima) e da CBM (Concentração Bactericida Mínima). Dentre os resultados observados, podemos destacar como “bons” possuidores de ação antibacteriana: Fração hexânica da Maytenus ilicifolia, frente ao Staphylococcus aureus. A ação das frações acetato de etila da Hedyosmum brasiliense e da Serjania erecta, frente a Pseudomonas aeruginosa e o extrato bruto da Baccharis trimera, frente a bactéria Staphylococcus aureus. Palavras-chave: atividade antimicrobiana, produtos naturais, flora brasileira. Abstract: Despite the increase of studies in this area, the available data disclose that only 15 - 17% of the plants had been studied how much to its medicinal potential. The aim of this study is to search for antibacterial activity of natural products, which have stories of regional popular use as possessing of antibacterial effect. The antibacterial activity of the natural products, was evaluated in an experimental model in vitro (Model of the microdilution in broth BHI) against cepas of Staphylococcus aureus ATCC 25923, Escherichia coli ATCC 25922, Pseudomonas aeruginosa ATCC 27853, with this, was possible the determination of the MIC (Minimum Inhibitory Concentration) and of MBC (Minimal Bactericidal Concentration). Amongst the observed results, we can detach: Hexane fraction of the Maytenus ilicifolia, was effective against Staphylococcus aureus. The crude extract and the fractions ethyl acetate and hexane of the Hedyosmum brasiliense, were effective against Pseudomonas aeruginosa and the crude extract of the Baccharis trimera, against the Staphylococcus aureus. Keywords: antibacterial activity, natural products, brazilian plants. Introdução A utilização de plantas, animais e minerais como fonte de medicamentos para tratar enfermidades que acometem o ser humano é uma prática há muito tempo empregada. A terapêutica moderna, composta de um grande número de medicamentos com ações específicas sobre receptores, enzimas e canais iônicos, não teria sido possível sem o suporte dos produtos naturais, especialmente as plantas superiores, as toxinas animais e os microorganismos. Dentre os quais se destacam a morfina, a pilocarpina, os digitálicos, a atropina, a escopolamina, drogas utilizadas no tratamento do câncer (vimblastina, vincristina, taxol, campotecinas), além dos imunossupressores e os antimicrobianos.1-6 A natureza continua sendo a maior fonte de medicamentos para a humanidade. O mercado mundial desse grupo de drogas atinge vários bilhões de dólares. Nos países desenvolvidos, os fitoterápicos movimentam cerca de 12 bilhões de dólares anuais. Estima-se que 41% dos medicamentos disponíveis na terapêutica moderna tenham sido desenvolvidos a partir de fontes naturais: 25% de plantas, 13% de microorganismos e 3% de animais. Embora até o momento apenas 10% da biodiversidade mundial tenham sido estudados, cerca de 140 mil metabólitos intermediários oriundos sobretudo de plantas superiores, já foram isolados e caracterizados. A maioria, no entanto, ainda 128 Dalmarco, E. M. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 128-136, jul./dez. 2006 não foi avaliada biologicamente, demonstrando o potente arsenal terapêutico que são as plantas medicinais.5,7,8 As dificuldades encontradas atualmente nos programas de pesquisa de produtos naturais ativos5,9, juntamente com a existência de milhões de espécies de organismos10, caracterizam a necessidade de inovação nas estratégias para a descoberta de novas moléculas para o desenvolvimento de fármacos, e assim tornar o processo mais eficiente, rápido e barato. Até o presente, entre as estratégias mais usadas, destacam-se duas: uma é a triagem de produtos naturais de fontes previamente inexploradas8 e a outra é o estudo de produtos naturais usados na medicina tradicional. Utilizando este última estratégia, decidimos verificar a atividade antimicrobiana de algumas plantas nativas da flora brasileira, as quais possuem dados etnobotânicos e etnofarmacológicos sobre atividade antimicrobiana. Entre as espécies estudadas Hedyosmum brasiliense, Maytenus ilicifolia e Baccharis trimera são encontradas na região de Mata Atlântica, e a espécie Serjania erecta pertencente ao cerrado. Esses dois ecossistemas são apontados hoje como um dos mais importantes refúgios da biodiversidade em todo o planeta. Em torno de 50% de espécies de árvores pertencem exclusivamente à Mata Atlântica que originalmente percorria todo o litoral brasileiro, estendendo-se do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul ocupando uma área de 1,3 milhões de Km2. Atualmente restam apenas cerca de 5% de sua extensão original. Pesquisas indicam que florestas tropicais possuem mais da metade das estimadas 500.000 espécies vegetais e menos de 1% destas plantas têm sido pesquisadas quanto as suas propriedades terapêuticas.11 Além disso, por existir um número crescente de infecções causadas por bactérias resistentes aos antibióticos tradicionais e conseqüentemente a busca por novas substâncias com atividade antibacteriana vem crescendo, como alternativa para o tratamento dessas infecções.12 A planta Maytenus ilicifolia Martius ex Reissek pertencente à família taxonômica Celastraceae, é nativa do Brasil na forma de arbusto de até 5 metros de altura13 encontrada em diferentes regiões, ocorrendo desde o Estado do Mato Grosso até o Rio Grande do Sul.14 É encontrada também em outros países como a Bolívia, Uruguai, Paraguai e Norte da Argentina.13 É popularmente chamada de espinheira-santa, cancerosa, salva-vidas, espinheira-divina devido à aparência de suas folhas ciliadas na margem, além de possuir propriedades terapêuticas muito utilizadas na medicina popular.14 A infusão de folhas é comumente utilizada para combater problemas estomacais. Possui atividade antiulcerogênica, cicatrizante, analgésica, antiespasmódica, adstringente, antiasmática, emenagoga e anti-séptica.14 Também é usada por diversas mulheres como contraceptivo, e para induzir aborto.13 Na análise fitoquímica de Maytenus ilicifolia nota-se uma predominância de terpenos, flavonóides, alcalóides, taninos hidrolisáveis, pseudotaninos e mucilagens, além de óleos fixos, que parecem estar restritos às sementes.14 Outro vegetal bastante utilizado na medicina popular é a Serjania erecta Radlk (Cinco Folhas), subarbusto pertencente à família Sapindaceae, é uma planta presente nos Estados do Mato Grosso, Goiás, Tocantins e no Distrito Federal. Utilizada popularmente em casos de problemas renais, úlceras gástricas e também como diuréticas.15 Alguns estudos tem demonstrado que a Serjania erecta possui diversas atividades, entre elas, efeito antiinflamatório, diurético e também efeito antimicrobiano.16,17 Seus constituintes químicos envolvem a presença de fenóis, taninos, flavonóides, flavonas, flavonóis, xantonas, catequinas, esteróides, triterpenos, ácidos fixos, resinas e saponinas.18 Baccharis trimera Less., popularmente conhecida como carqueja ou carqueja amargosa é uma espécie vegetal herbácea ou arbustiva19, incluída na Farmacopéia Brasileira20, nativa do sul do Brasil, Paraguai, Uruguai e norte e centro da Argentina.21 Popularmente, esta planta é 129 Dalmarco, E. M. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 128-136, jul./dez. 2006 utilizada como calmante e antidiarrêica. Além disso, seus efeitos antimicrobianos também já foram relatados por alguns autores, como antisséptica e até mesmo ação desinfetante.22 Hedyosmum brasiliense Mart. ex. Miq. pertence a família Chloranthaceae, é muito utilizada na medicina popular por apresentar propriedades antibacteriana, antifúngica, analgésica, antiinflamatória, é usada no tratamento de enxaquecas, doenças do ovários, frieira, afecções estomacais, além de doenças pulmonares, urinárias, feridas, reumatismos causados pelo frio, fraqueza e dor. Estudos anteriores realizados in vivo e in vitro, demonstraram a presença de propriedades analgésicas e 23,24 antibacterianas. É conhecida popularmente como erva cidreira, cidreira, âmbar-vegetal, canela cânfora, chá de bugre, chá de soldado, chá de índio, hortelã do brejo, erva almíscar. Materiais e Métodos Bactérias Padrões (Organismos Testes) Para a realização dos protocolos experimentais desta pesquisa, foram utilizadas as seguintes bactérias: Staphylococcus aureus ATCC 25923, Escherichia coli ATCC 25922, Pseudomonas aeruginosa ATCC 27853. As culturas estoque foram armazenadas em caldo Tripticase Soy Broth (TSB – Oxoid, Basingstoke, Inglaterra) a – 20oC, renovadas bimestralmente. Inóculo Bacteriano Foram transferidos 300µL de cada cultura estoque para 3mL de caldo BHI (Brain Heart Infusion, Oxoid, Basingstoke, Inglaterra). A incubação foi mantida por 24 horas a 36oC ± 1oC, e a pureza foi testada após 8 horas da incubação inicial. Após incubação, a suspensão bacteriana foi diluída em solução fisiológica estéril para a realização dos testes antibacterianos através da metodologia de microdiluição em caldo. A concentração de microorganismos foi ajustada à turvação correspondente a do tubo 0.5 da escala de McFarland (108 UFC/mL). Material Vegetal Foram utilizados os extratos hidroalcoólicos brutos das seguintes plantas: Maytenus ilicifolia, Serjania erecta, Baccharis trimera e Hedyosmum brasiliense, e suas respectivas frações (aquosa, hexano, diclorometano, acetato de etila e butanol), totalizando 20 frações. Preparação dos extratos hidroalcóolicos brutos de Maytenus ilicifolia, Bacharis trimera, Serjania erecta e Hedyosmum brasiliense. Os extratos foram preparados a partir de folhas secas trituradas deixadas em maceração em uma solução hidroalcoólica 70%. Esse processo ocorreu durante 7 (sete) dias em um recipiente de vidro âmbar, fechado e protegido da luz. Em seguida, os extratos foram concentrados em um evaporador rotatório sobre pressão reduzida, com uma temperatura controlada de 45ºC, e posteriormente secos com o auxílio de um jato de ar aquecido e de um dessecador.25 Fracionamento dos Hidroalcóolicos Brutos extratos Os extratos hidroalcoólicos obtidos a partir da metodologia citada no item anterior, foram submetidos a um processo de partição líquido-líquido com solventes de diferentes polaridades utilizados em ordem crescente, visando uma semi-purificação das substâncias através de suas polaridades. Os solventes utilizados foram: hexano, diclorometano, acetato de etila, butanol. Após a obtenção das frações correspondentes a cada solvente, efetuou-se a lavagem de cada fração com água destilada, em seguida as mesmas foram filtradas e o excesso de água foi retirado com sulfato de sódio anidro (exceto na fração butanol). Por fim, as frações foram concentradas em evaporador rotatório à vácuo com temperatura controlada de 45ºC.25 130 Dalmarco, E. M. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 128-136, jul./dez. 2006 Modelo de Avaliação Antibacteriana (in vitro) Avaliação da Mínima (CIM) Concentração Inibitória As substâncias teste (Extratos brutos e frações) foram dissolvidas em dimetilsulfóxido (DMSO). Posteriormente foram preparadas diluições seriadas em caldo BHI, com concentrações variando de 50 a 0,19 mg/mL, as quais foram distribuídas em volumes de 200 L em placa de microdiluição estéreis contendo 96 poços. Em cada orifício teste e de controle de crescimento, foi adicionado 10 L de inóculo bacteriano (0.5 da escala de McFarland). Os experimentos foram realizados em duplicata e as placas incubadas a 36º. C ± 1º.C por 24 horas. A leitura das microplacas foi realizada com auxílio de luz incidente sob fundo escuro, o que possibilitou a visualização de turvação no micropoço. O crescimento bacteriano foi interpretado positivo, quando houve uma turvação visível ao olho humano. Os resultados foram expressos em mg/mL e foram referentes ao último poço onde não houve visualização de crescimento bacteriano. Como controle da inibição bacteriana, foi utilizado o antibiótico Gentamicina (LABORATÓRIO CHILE, Santiago, Chile) e como controle de crescimento e esterilidade foram usadas apenas as misturas do caldo BHI (Brain Heart Infusion) e DMSO com e sem adição da bactéria teste, respectivamente. Avaliação da Concentração Bactericida mínima (CBM) Para a determinação da Concentração Bactericida Mínima (CBM), foi necessário à determinação prévia da Concentração Inibitória Mínima (CIM). Após determinado a CIM, o micropoço (Placa de Microtitulação) da diluição que representa este resultado, juntamente com mais dois (02) micropoços imediatamente anteriores (2 concentrações mais altas) e dois (02) micropoços imediatamente posteriores (2 concentrações mais baixas), foram semeados em Ágar Sangue de Carneiro, com o objetivo de visualizar qual a concentração do produto natural capaz de inibir completamente o crescimento bacteriano. Que determinou concentração bactericida mínima (CBM) do extrato ou fração testada. Reagentes Escherichia coli (ATCC 25922), Staphylococcus aureus (ATCC 25923) e Pseudomonas aeruginosa (ATCC 27853), Sangue de carneiro desfibrinado (NEWPROV, Paraná, Brasil); Base para Agar Sangue, Ágar Müller-Hinton (MERCK, Darmstadt, Alemanha); Caldo BHI (Brain Heart Infusion), Caldo TSB (Tripticase Soy Broth) (OXOID, Basingstoke, Inglaterra); Solução Fosfato Tamponada (PBS), Dimetilsulfóxido (DMSO) Álcool etílico absoluto, N-Hexano p.a., Diclorometano p.a., Acetato de etila p.a., Álcool butílico normal p.a., Álcool metílico p.a. (SYNTH, São Paulo, Brasil); Gentamicina (LABORATÓRIO CHILE, Santiago, Chile); Papel filtro no3, Solução salina (0.9%), Placas estéreis de microtitulação (96 poços), Placas de Petry (15x100) de diversas fontes comerciais. Resultados e Discussão Os extratos e frações que apresentaram valores de CIM (Concentração Inibitória Mínima) igual ou inferior a 0,39 mg/mL, foram considerados como possuidores de atividade antibacteriana “excelente”; já os extratos e frações que apresentaram resultados superiores a 0,39 mg/mL, e igual ou inferior a 1,56 mg/mL, a atividade antibacterina foi considerada “Boa”; quando a CIM foi superior a 1,56 mg/mL, e igual ou inferior 6,25 mg/mL, a atividade antibacteriana foi considerada “Sofrível”; quando a CIM foi superior a 6,25 mg/mL a atividade antibacteriana foi considerada “Ruim”. É importante enfatizar que os produtos naturais isolados de plantas, são rotineiramente classificados como possuidores de efeitos antibacterianos, 131 Dalmarco, E. M. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 128-136, jul./dez. 2006 quando a CIM apresentada, fica entre 0,1 e 1 mg/mL.26 Inicialmente foi avaliada a atividade antibacteriana do extrato hidroalcóolico e das frações da planta Maytenus ilicifolia, frente às três bactérias em estudo. Segundo os resultados obtidos, se observou que apenas a fração hexânica possuiu efeito antibacteriano considerado “Bom” (CIM = 0,39 mg/mL), quando testado frente a bactéria Staphylococcus aureus (Tabela 1), embora outros achados também tenham sido considerados importantes, como a ação da fração diclorometânica frente as três bactérias testadas e da fração butanólica frente à Escherichia coli, que apresentaram resultados antibacterianos classificados como “Sofríveis” (CIM = 3,12 mg/mL) (Tabela 1). As outras frações estudadas apresentaram apenas resultados considerados “Sofríveis” ou “Ruins” (Tabela 1). TABELA 1 - Análise da atividade antibacteriana do extrato e frações de Maytenus ilicifolia Maytenus ilicifolia Extrato e Frações Testadas (mg/mL) Hexano Diclorometano Acetato de Etila Butanol Aquosa Bactérias Extrato Bruto CIM CBM CIM CBM CIM CBM CIM CBM CIM CBM CIM CBM Staphylococcus aureus 6,25 6,25 0,39 1,56 3,12 6,25 6,25 6,25 6,25 6,25 12,50 25,00 Escherichia coli 6,25 6,25 6,25 6,25 3,12 6,25 6,25 6,25 3,12 3,12 12,50 12,50 Pseudomonas aeruginosa 6,25 6,25 6,25 6,25 3,12 6,25 6,25 6,25 6,25 6,25 6,25 6,25 * Os valores de Concentração Inibitória Mínima (CIM) e Concentração Bactericida Mínima (CBM), foram expressos em mg/mL. ** As bactérias padrões utilizadas foram: Staphylococcus aureus ATCC 25923; Escherichia coli ATCC 25922 e Pseudomonas aeruginosa ATCC 27853. Segundo alguns autores, outras espécies de Maytenus, como a Maytenus senegalensis e Maytenus catingarum apresentam alta atividade antibacteriana frente à bactéria Staphylococcus aureus, e esta atividade é resultado da grande presença de terpenos27-30, o que nos leva a sugerir a presença destes mesmos compostos na Maytenus ilicifolia, já que é exatamente na fração hexânica onde se observou este efeito e onde se concentram a maior parte destas moléculas.25 Já a avaliação antimicrobiana do extrato bruto e frações da Serjania erecta (Tabela 2), não foram observados resultados considerados “bons”. Exceto a fração Acetato de etila, que apresentou a CIM = 1,56 mg/mL, quando testado frente a Pseudomonas aeruginosa. Embora não se tenha dados relatados na literatura sobre ação desta planta ou outras espécies de Serjania frente a bactérias Gram negativas, acreditamos que o efeito observado frente a Pseudomonas aeruginosa, deveu-se a grande presença de compostos fenólicos nesta fração (acetato etílica), já que outras plantas da família Sapindaceae são ricas nestes compostos que já se mostraram ativos contra a Pseudomonas aeruginosa.31,32 Quanto ao efeito do extrato bruto hidroalcóolico da mesma (CIM > 6,25 mg/mL), verificamos que o efeito antimicrobiano do mesmo foi considerado “ruim” frente às três bactérias estudadas. Já as frações, acetato de etila, butanol e aquosa, apresentaram resultados considerados “sofríveis” (CIM > 1,56 e ≤ 6,25 mg/mL), frente as três bactérias pesquisadas (Tabela 2). Este incremento de atividade, quando comparamos o extrato bruto com as frações isoladas, pode ser explicado pela concentração de um ou vários constituintes com atividade antibacteriana nas respectivas frações, o que faz com que esta atividade esteja aumentada nas frações quando comparadas ao extrato bruto. 132 Dalmarco, E. M. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 128-136, jul./dez. 2006 TABELA 2 - Análise da atividade antibacteriana do extrato e frações de Serjania erecta Serjania erecta Extrato e Frações Testadas (mg/mL) Bactérias Hexano Diclorometano Acetato de Etila Butanol Aquosa Extrato Bruto CIM CBM CIM CBM CIM CBM CIM CBM CIM CBM CIM CBM Staphylococcus aureus 50,00 25,00 / / / / 6,25 6,25 3,12 6,25 6,25 6,25 Escherichia coli 25,00 25,00 / / / / 3,12 6,25 6,25 6,25 3,12 6,25 Pseudomonas aeruginosa 12,50 12,50 6,25 12,50 12,50 25,00 1,56 3,12 3,12 3,12 6,25 6,25 * Os valores de Concentração Inibitória Mínima (CIM) e Concentração Bactericida Mínima (CBM), foram expressos em mg/mL. ** As bactérias padrões utilizadas foram: Staphylococcus aureus ATCC 25923; Escherichia coli ATCC 25922 e Pseudomonas aeruginosa ATCC 27853. Os campos que não possuem valores são referentes à ausência de atividade antibacteriana. Avaliando a ação antibacteriana da Hedyosmum brasiliense (Tabela 3), podemos destacar a atividade antibacteriana do extrato bruto, fração hexânica (CIM = 1,56 mg/mL), bem como a fração acetato de etila (CIM = 0,39 mg/mL), consideradas “boas”, frente a Pseudomonas aeruginosa (Tabela 3), confirmando dados anteriormente obtidos com a metodologia de difusão em Agar.23 Este efeito pode ter sido resultado da grande presença de sesquiterpenlactonas na fração hexânica e de fenilpropanoides na fração acetato de etila estes compostos reconhecidamente possuidores de ação antibacteriana.23,25 Estes resultados nos incentivaram a iniciar um trabalho para purificar estas frações, com o objetivo de se isolar e confirmar os compostos com ação antimicrobiana presentes, já que esta bactéria (Pseudomonas aeruginosa) atualmente é alvo de intensos estudos na área de desenvolvimento de antimicrobianos pela “facilidade com que adquire” resistência frente os antibióticos de uso rotineiro, tornando a pesquisa de novos fármacos antimicrobianos à partir desta planta algo promissor.33,34 TABELA 3 - Análise da atividade antibacteriana do extrato e frações de Hedyosmum brasiliense Hedyosmum brasiliense Extrato e Frações Testadas (mg/mL) Bactérias Hexano Diclorometano Acetato de Etila Butanol Aquosa Extrato Bruto CIM CBM CIM CBM CIM CBM CIM CBM CIM CBM CIM CBM Staphylococcus aureus 12,50 12,50 12,50 12,50 3,12 6,25 3,12 6,25 6,25 12,50 6,25 6,25 Escherichia coli 12,50 3,12 / / 12,50 6,25 3,12 3,12 6,25 12,50 12,50 12,50 Pseudomonas aeruginosa 1,56 1,56 1,56 1,56 3,12 3,12 0,39 0,78 6,25 12,50 25,00 50,00 * Os valores de Concentração Inibitória Mínima (CIM) e Concentração Bactericida Mínima (CBM), foram expressos em mg/mL. ** As bactérias utilizadas foram: Staphylococcus aureus ATCC 25923; Escherichia coli ATCC 25922 e Pseudomonas aeruginosa ATCC 27853. Os campos que não possuem valores são referentes à ausência de atividade antibacteriana. Na tabela 4, podemos verificar a atividade antimicrobiana da planta Bacharis trimera, que demonstra que o melhor resultado antimicrobiano desta planta foi alcançado pelo extrato bruto frente à cepa de Staphylococcus aureus, o que nos leva a pensar que este resultado foi devido a um efeito sinérgico de substâncias presentes no extrato bruto, e que o fracionamento do mesmo, causou uma separação destas 133 Dalmarco, E. M. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 128-136, jul./dez. 2006 substâncias acarretando uma diminuição no efeito antibacteriano. Quanto ao efeito frente à bactéria Escherichia coli, os melhores resultados foram verificados nas frações acetato de etila e diclorametano (CIM = 3,12 mg/mL), considerados “sofríveis” (Tabela 4). Embora “sofríveis”, estes efeitos podem ter sido resultados da presença de flavonóides, os quais estão presentes em ambas as frações.25 Já referente ao efeito frente a Pseudomonas aeruginosa, não se pode destacar resultado significativo de nenhuma fração estudada, pois o extrato bruto e todas as frações apresentaram resultados considerados “ruins” (Tabela 4). TABELA 4 - Análise da atividade antibacteriana do extrato e frações de Baccharis trimera. Baccharis trimera Extrato e Frações Testadas (mg/mL) Bactérias Hexano Diclorometano Acetato de Etila Butanol Aquosa Extrato Bruto CIM CBM CIM CBM CIM CBM CIM CBM CIM CBM CIM CBM Staphylococcus aureus 0,39 1,56 6,25 6,25 3,12 12,50 6,35 25,00 6,25 25,00 6,25 25,00 Escherichia coli 6,25 25,00 6,25 25,00 3,12 25,00 3,12 25,00 12,50 50,00 12,50 50,00 Pseudomonas aeruginosa 6,25 12,50 6,25 12,50 6,25 12,50 12,50 12,50 6,25 12,50 6,25 12,50 * Os valores de Concentração Inibitória Mínima (CIM) e Concentração Bactericida Mínima (CBM), foram expressos em mg/mL. ** As bactérias utilizadas foram: Staphylococcus aureus ATCC 25923; Escherichia coli ATCC 25922 e Pseudomonas aeruginosa ATCC 27853. Conclusão Apesar da maioria dos extratos e frações das plantas testadas (Maytenus ilicifolia, Hedyosmum brasiliense, Serjania erecta e Bacharis trimera) terem apresentado efeito antibacteriano, apenas poucas frações podem ter seus efeitos destacados, por serem considerados “bons”. 1Fração Hexânica da Maytenus ilicifolia, frente à Staphylococcus aureus; 2Fração Acetato etílica da Hedyosmum brasiliense, frente à Pseudomonas aeruginosa; 3Fração Acetato etílica da Serjania erecta, frente à Pseudomonas aeruginosa; 4Extrato bruto da Bacharis trimera, frente à Staphylococcus aureus. A ação das frações Acetato etílicas da Hedyosmum brasiliense e da Serjania erecta, frente à Pseudomonas aeruginosa, deve ser destacada pois esta bactéria possui muitos mecanismos de defesa contra agentes antimicrobianos, como bombas de efluxo33, enzimas citoplasmáticas proteolíticas e a natural barreira imposta pela parede celular das bactérias Gram Negativas.35 Embora os resultados obtidos com as frações hexânica da Maytenus ilicifolia e o extrato bruto da Bacharis trimera não sejam desprezíveis, é importante ressaltar que a maioria das plantas produzem vários metabólitos secundários com objetivo de defendê-las do meio exterior que é rico em bactérias Gram Positivas, como o Staphylococcus aureus, por isso algum efeito frente a bactérias Gram Positivas sempre é esperado. Finalmente é importante salientar que nossos estudos continuam em progresso, agora com o objetivo de isolar os princípios ativos responsáveis pelas atividades antibacterianas observadas nesta pesquisa. Agradecimentos Ao Programa de Iniciação Científica (Pipe / Art. 170) patrocinada pelo governo do estado de Santa Catarina e a FAPESC, que possibilitaram a realização desta pesquisa. A Professora Lucy Parucker, do Departamento de Análises Clínicas pelo fornecimento das cepas padrões. Ao Engenheiro Agrônomo Maçao Tadano pelo fornecimento da espécie Serjania Erecta, ao Professor Dr. Ademir Reis e ao Parque Botânico Morro do Baú pela autorização de coleta de Hedyosmum brasiliense. 134 Dalmarco, E. M. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 128-136, jul./dez. 2006 Referências Bibliográficas 1- Verpoorte R. Exploration of nature’s chemodiversity: the role of secondary metabolites as leads in drug development. Drug Discovery Today 1998;3:232-238. 2- Grabley S, Thiericke R. The impact the natural products on drug discovery. In: Grabley S. and Thiericke R., editors. Drug Discovery from Nature, Springer;1999.p.100-120. 3- Rouhi AM, Washington C. 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Objetivos: No presente estudo, foram avaliados os efeitos dos extratos aquosos da Passiflora alata (Pa) Dryander e Passilflora edulis (Pe) Sims, sobre a resposta inflamatória induzida por carragenina, em camundongos. Os parâmetros estudados foram: influxo de leucócitos, exsudação, a atividade da mieloperoxidase (MPO) e adenosina-deaminase (ADA), os níveis de óxido nítrico (NOx) no exudato da cavidade pleural. Outros parâmetros analisados foram: o hemograma, a permeabilidade vascular em tecidos, os níveis de proteínas totais na cavidade pleural e soro, e os níveis de proteína-C reativa (PCR) no soro. Todos os parâmetros inflamatórios foram avaliados 4 h após a indução da pleurisia. Materiais e métodos: Os extratos aquosos foram obtidos de folhas secas pelo procedimento de spray-dried e foram administrados pela via intraperitoneal (i.p.). Camundongos de ambos sexos, pesando entre 18 e 22g, foram utilizados para pleurisia. A pleurisia foi induzida pela injeção intrapleural de carragenina a 1% e os parâmetros foram avaliados 4 h após a indução da inflamação. Todos os animais foram tratados previamente com solução de azul de Evans (25 mg/kg, i.p.) para análise do exsudato, exceto àqueles experimentos pelo qual, estudou-se as enzimas MPO e ADA, NOx, os níveis de proteínas totais e PCR. Diferenças estatísticas entre os grupos foram determinadas por ANOVA e quando necessário complementado com os testes de Dunnett e t de Student. Para as correlações entre as variáveis utilizou-se: regressão linear, testes de Pearson e Spearman. P < 0,05 foi considerado significante. Resultados: Os resultados demonstraram que a Pa foi efetiva em inibir o influxo de leucócitos (P < 0.01) para cavidade pleural, devido a uma inibição do influxo de polimorfonucleares (P < 0.05). Na avaliação do hemograma foi observado que a Pa provocou uma diminuição dos leucócitos (P < 0.05), as custas de mononucleares (P < 0.05). Além disso, a Pa inibiu as enzimas MPO (P < 0.01) e ADA (P < 0.01) do exsudato pleural e os níveis de PCR (P < 0.01) do soro. Em outros experimentos a Pe, inibiu a migração de leucócitos (P < 0.01) para cavidade pleural, devido a uma inibição do influxo de polimorfonucleares (P < 0.05) e mononucleares (P < 0.05). Na avaliação do hemograma a Pe somente causou alterações significativas na dose máxima avaliada, causando uma diminuição significativa dos leucócitos (P < 0.05), as custas de mononucleares (P < 0.05). A Pe também inibiu as enzimas MPO (P < 0.01) e ADA (P < 0.01). Além disso, Pe inibiu a exsudação (P < 0.05) e os níveis de proteínas totais (P < 0.01) do exsudato pleural e os níveis de PCR (P < 0.01) do soro. Conclusão: Em conjunto, esses resultados indicam evidências dos efeitos antiinflamatórios dos extratos aquosos de Passiflora alata Dryander e Passiflora edulis Sims no modelo da pleurisia induzida por carragenina, em camundongos, um importante modelo para o screening e avaliação de novos fármacos com propriedades antiinflamatórias. Estudo do mecanismo de ação dos extratos de Passiflora edulis variação flavicapa Degener em modelos de inflamação aguda em camundongos Montanher, A B.; Fr¨de, T.S. Introdução: Grande parte dos estudos farmacológicos de espécies do gênero Passiflora enfoca principalmente a atividade sobre o Sistema Nervoso Central (DHAWAN, DHAWAN, SHARMA, 2004), no entanto poucos estudos têm sido realizados na tentativa de avaliar o efeito antiinflamatório deste gênero. Objetivo: Este trabalho teve como objetivo estudar o mecanismo de ação antiinflamatório do extrato Passiflora edulis variação flavicarpa Degener, na resposta inflamatória induzida por diferentes agentes flogísticos (carragenina: Cg, bradicinina: BK, histamina: HIST ou substância P: SP), nos modelos da pleurisia e da bolsa de ar, 137 Resumos Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 137-145, jul./dez. 2006 em camundongos. Materiais e Métodos: Os extratos foram preparados na forma de chá, filtrados e liofilizados. Todos estes foram administrados pela via intraperitoneal (i.p.) em ambos modelos. Os animais utilizados foram camundongos albinos suíços, 18 e 30 g. A pleurisia foi induzida pela injeção intrapleural de um dos agentes flogísticos: Cg (1% 0,1 mL/cav.), BK (10 nmol/cav.), HIST (100 g/cav.) ou SP (20 nmol/cav.) e os parâmetros inflamatórios foram avaliados 4 h após. A bolsa de ar foi induzida por injeções subcutâneas de 1,5 mL de ar em três dias alternados e no sexto dia, a inflamação foi induzida por: Cg (1% 0,5 mL/cav.), BK (20 nmol/cav.), HIST (10 mol/cav.) ou SP (40 nmol/cav.) e a inflamação avaliada 24 h após. Para a avaliação da exsudação, os animais foram tratados com 0,2 mL de solução de azul de Evans (25 mg/mL, intraocular) 40 min ou 1 h antes da indução da inflamação no modelo da pleurisia ou da bolsa de ar, respectivamente. Os parâmetros de inflamação estudados em ambos modelos foram: leucócitos, exsudação, mieloperoxidase (MPO), adenosinadeaminase (ADA), nitrato/nitrito (NOx), fator de necrose tumoral alfa (TNF), interleucina 1 beta (IL-1), proteína inflamatória de macrófagos-2 (MIP-2) e quemocina de neutrófilos (KC). A análise estatística foi determinada pelos testes: ANOVA, Dunnett ou teste T de Student. Valores de P < 0,05 foram considerados significativos. Resultados: Na triagem dos extratos obtidos das folhas, raízes e pericarpo de frutos maduros de P. edulis observou-se que no modelo da pleurisia: o extrato do pericarpo não inibiu a inflamação (P > 0,05). O extrato das raízes (250 e 500 mg/kg, i.p., 0,5 h antes) inibiu os leucócitos (% de inibição: 250 mg/kg: 265; 500 mg/kg: 286) (P < 0,05) e os polimorfonucleares (% de inibição: 250 mg/kg: 7510; 500 mg/kg: 961) (P < 0,01). Já o extrato das folhas inibiu os leucócitos (% de inibição: 250 mg/kg: 6710) e os polimorfonucleares (% de inibição: 250 mg/kg: 855) (P < 0,05). Nenhum extrato inibiu a exsudação (P > 0,05). No modelo da bolsa de ar, o extrato P. edulis folhas (100-500 mg/kg, i.p., 0,5 h antes da Cg) inibiu os leucócitos (% de inibição: 100 mg/kg: 326; 250 mg/kg: 307; 500 mg/kg: 3411) (P < 0,05) e os polimorfonucleares (% de inibição: 100 mg/kg: 486; 250 mg/kg: 3511) (P < 0,05). Novamente, este extrato não inibiu a exsudação (P > 0,05). No estudo do perfil temporal nos modelos estudados, este extrato foi capaz de inibir os leucócitos e os polimorfonucleares somente no tempo de tratamento prévio de 0,5 h (P < 0,05). O extrato P. edulis folhas (100 e 250 mg/kg, i.p.) administrado 0,5 h antes da Cg inibiu a atividade da MPO (% de inibição: bolsa de ar: 100 mg/kg: 313; pleurisia: 250 mg/kg: 644) (P < 0,01), ADA (% de inibição: bolsa de ar: 100 mg/kg: 503; pleurisia: 250 mg/kg: 625) (P < 0,01), níveis de NOx (% de inibição: bolsa de ar: 100 mg/kg: 418; pleurisia: 250 mg/kg: 478) (P < 0,05) e IL-1 (% de inibição: bolsa de ar: 100 mg/kg: 313; pleurisia: 250 mg/kg: 591) (P < 0,05). As citocinas MIP-2 e TNF foram inibidas de forma diferente nos modelos de inflamação, MIP-2 (% de inibição: bolsa de ar: 100 mg/kg: 487) (P < 0,05) e TNF (% de inibição: pleurisia: 250 mg/kg: 791) (P < 0,01). Na inflamação induzida pela BK, a administração do extrato P. edulis folhas (100 e 500 mg/kg, i.p., 0,5 h antes) inibiu os leucócitos nestes modelos de inflamação (% de inibição: bolsa de ar: 100 mg/kg: 473; pleurisia: 500 mg/kg: 265) (P < 0,05), os polimorfonucleares (% de inibição: bolsa de ar: 100 mg/kg: 512; pleurisia: 500 mg/kg: 4514;) (P < 0,05) e os mononucleares (% de inibição: bolsa de ar: 100 mg/kg: 356; pleurisia: 500 mg/kg: 237) (P < 0,05). Na inflamação induzida pela HIST, o extrato P. edulis folhas (100 e 250 mg/kg, i.p., 0,5 h antes da HIST) inibiu também os leucócitos (% de inibição: bolsa de ar: 100 mg/kg: 534; pleurisia: 250 mg/kg: 396) (P < 0,05) e os polimorfonucleares (% de inibição: bolsa de ar: 100 mg/kg: 564; pleurisia: 250 mg/kg: 932) (P < 0,01). Os mononucleares foram inibidos apenas no modelo da bolsa de ar (% de inibição: 100 mg/kg: 574) (P < 0,01). Já na inflamação induzida pela SP, o extrato P. edulis folhas (100 e 250 mg/kg, i.p., 0,5 h antes) inibiu leucócitos (% de inibição: bolsa de ar: 100 mg/kg: 602; pleurisia: 250 mg/kg: 3612) (P < 0,01) e polimorfonucleares (% de inibição: bolsa de ar: 100 mg/kg: 636; pleurisia: 250 mg/kg: 8111) (P < 0,01). Mais uma vez os mononucleares foram inibidos apenas no modelo da bolsa de ar (% de inibição: 100 mg/kg: 573) (P < 0,01). Conclusão: O extrato obtido das folhas de P. edulis foi mais efetivo em inibir a inflamação que os extratos das raízes e do pericarpo. Os resultados sugerem que a inibição da inflamação principalmente àquela relacionada com a migração leucocitária deve estar relacionada à inibição de mediadores pró-inflamatórios relacionados a quimiotaxia celular como TNF, IL-1, MIP-2, BK, HIST, SP e NOx. Além disso, 138 Resumos Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 137-145, jul./dez. 2006 o extrato P. edulis folhas também foi efetivo em inibir enzimas relacionadas à atividade dos leucócitos como a MPO e a ADA. Estudos devem ser realizados na tentativa de elucidar melhor o mecanismo de ação antiinflamatório do extrato P. edulis folhas bem como identificar a(s) substância(s) responsável(is) por estes efeitos. Análise da atividade antiinflamatória do metotrexato e ciclosporina A, no modelo da pleurisia induzida pela carragenina em camundongos. Dalmarco, E.M.; Fröde, T.S. Introdução: A pleurisia induzida pela carragenina (Cg) é um modelo de inflamação bifásico pelo qual ocorre aumento significativo de exudação e de leucócitos, às custas de neutrófilos 4 h após a indução da pleurisia, esta também é denominada de fase recente da inflamação. A segunda fase, ou fase tardia ocorre 48 h após e é caracterizada também pelo aumento significativo da exudação e de leucócitos às custas de mononucleares. Objetivos: O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito de imunossupressores (metotrexato: MTX e ciclosporina A: CsA) sobre os parâmetros inflamatórios (leucócitos, exudação, enzimas e moléculas de adesão: CD11a e CD18), em ambas as fases (4 e 48 h) deste modelo experimental. Resultados: Ambos os fármacos foram capazes de inibir significativamente a migração de leucócitos para a cavidade pleural em ambas as fases (4 e 48 h) da pleurisia induzida pela Cg (P < 0,05). Além disso, tanto o MTX como a CsA inibiram também a exudação e os níveis de macrófagos na pleurisia induzida pela Cg 48 h (P < 0,01). Em relação à permeabilidade vascular observamos que ambos os fármacos inibiram de forma significativa a exudação pulmonar 4 e 48 h após (P < 0,05). O MTX e a CsA também inibiram as concentrações de MPO 4 h após a indução da pleurisia (P < 0,05). Por sua vez, na segunda (48 h) fase desta resposta inflamatória apenas o MTX inibiu os níveis da MPO (P < 0,01). Ao estudarmos os metabólitos do óxido nítrico, observamos que tanto o MTX como a CsA inibiram de forma significativa este mediador inflamatório na primeira (4 h) e segunda (48 h) fases da pleurisia induzida pela Cg (P < 0,01). Por outro lado o MTX aumentou ou diminuiu os níveis da ADA na pleurisia 4 e 48 h, respectivamente (P < 0,05). Em relação a infiltração de leucócitos teciduais ambos os fármacos inibiram a migração destas células para os pulmões, fígado e baço na pleurisia induzida pela carragenina 4 e 48 h (P < 0,01). Nas mesmas condições experimentais, ambos os fármacos inibiram a expressão de CD11a nos pulmões (4 e 48 h) (P < 0,01) e no baço (4 h) (P < 0,01). Além disso, o MTX, mais não a CsA inibiu a expressão de CD11a no baço 4 h após a indução da pleurisia (P < 0,01). Em relação a molécula de adesão CD18, tanto o MTX como a CsA inibiram a expressão desta integrina nos pulmões e baço (4 h) após a indução da pleurisia (P < 0,01). Além disso, a CsA e o MTX, foram capazes de inibir a expressão desta molécula de adesão no baço na segunda (48 h) fase desta resposta inflamatória. Já em relação à expressão desta molécula de adesão (CD18) nos pulmões na segunda (48 h) fase desta resposta inflamatória, apenas a CsA foi capaz de inibir significativamente este parâmetro (P < 0,01). Conclusão: Estes resultados suportam importantes evidências que tanto o MTX como a CsA, nas doses testadas possuem importantes propriedades antiinflamatórias, agindo principalmente sobre a migração leucocitária, exudação e enzimas que participam da resposta inflamatória no modelo da pleurisia induzida pela Cg, em camundongos. Estudo do efeito anti-inflamatório do Tacrolimus no Modelo de Pleurisia, em camundongos Pereira, R.R.; Fröde, T.S. Introdução: O tacrolimus é um agente imunossupressor isolado do Streptomyces tsukubaensis e é utilizado principalmente na prevenção de rejeição de órgãos. Além disso, muitos trabalhos têm demonstrado o uso do tacrolimus em doenças de caráter inflamatório crônico como à asma brônquica e artrite reumatóide. Objetivos: Estudar o efeito antiinflamatório do tacrolimus, na resposta inflamatória induzida por diferentes agentes flogísticos (carragenina: Cg, bradicinina: BK, histamina: HIST ou substância P: SP), em camundongos. Materiais e Métodos: A administração do fármaco foi realizada por via intra peritoneal (i.p.) ou via oral (v.o.). Os animais utilizados foram camundongos albinos Suíços, de ambos os sexos, pesando entre 18 e 30 g. A pleurisia foi induzida pela injeção de 0,1 ml por via intrapleural de um dos seguintes agentes flogísticos: Cg (1% 0,1 mL/cav.), BK (10 nmol/cav.), HIST (100 g/cav.) ou SP (20 nmo/cav.). Os lavados pleurais foram obtidos 4 h após a indução da inflamação. Na pleurisia induzida pela Cg foram avaliadas curvas dose e 139 Resumos Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 137-145, jul./dez. 2006 tempo-resposta. Escolhida a melhor dose e o tempo de tratamento prévio do fármaco que inibiram o influxo de leucócitos para a cavidade pleural, avaliou-se o efeito deste fármaco sobre os parâmetros inflamatórios: atividade da MPO, níveis de nitrato/nitrito (NOx), fator de necrose tumoral alfa (TNF-), interleucina-1 beta (IL1), proteína inflamatória de macrófago-2 (MIP2) e quemocina de neutrófilo (KC) e leucócitos sanguíneos. Os leucócitos também foram avaliados na cavidade pleural na inflamação induzida por BK, HIST ou SP. A análise estatística foi determinada pelos testes: ANOVA, Dunett ou teste T de Student. Valores de P < 0,05 foram considerados significativos. Resultados: Na pleurisia induzida por Cg, o tacrolimus administrado por via intraperitoneal (1mg/kg) ou via oral (10 mg/kg) 0,5 horas antes da indução da inflamação inibiu os leucócitos (P < 0,01) às custas de polimorfonucleares (P < 0,01) e demonstrou efeito antiinflamatório duradouro, pois inibiu os leucócitos quando administrado até 24 h (via i.p.) ou 48 h (v.o) (P < 0,01). O tacrolimus inibiu a atividade da MPO (P < 0,01) e os níveis TNFas concentrações de óxido nítrico, MIP-2 e KC (P > 0,05). Não houve alteração no nível de leucócitos sanguíneos na pleurisia induzida por Cg. Este fármaco também inibiu a migração de leucócitos na inflamação induzida por BK, HIST ou SP (P < 0,05). Esta redução foi devido a inibição de mononucleares na pleurisia induzida por BK ou HIST (P < 0,05) e polimorfonucleares na pleurisia induzida pela SP (P < 0,01).Conclusão: Em conjunto, os resultados obtidos demonstraram que o tacrolimus, neste modelo experimental, promoveu importante efeito antiinflamatório, principalmente em nível celular, inibindo os leucócitos, bem como mediadores liberados por células. Várias hipóteses podem ser formuladas para explicar a atividade antiinflamatória deste fármaco: i) Inibição de citocinas pró-inflamatórias do tipo ILde leucócitos, no modelo experimental estudado; ii) Inibição de outros mediadores próinflamatórios (BK, HIST e SP) também reconhecidos agentes quimiotáticos; iii) Inibição da ativação celular por meio de enzimas do tipo MPO, uma vez que esta enzima é reconhecida ser um marcador de neutrófilos ativados, iv) os resultados obtidos com o tacrolimus e a dexametasona foram também semelhantes, demonstrando que provavelmente os dois fármacos possuem vias comuns de ação antiinflamatória. Futuros estudos devem ser realizados na tentativa de melhor elucidar o mecanismo de ação antiinflamatório do tacrolimus. Reações do tipo alérgico ao látex ocorridas em funcionários usuários de luvas em unidades públicas de saúde em florianópolis Ziliani Buss, Fröde T.S. Introdução: Nos últimos anos surgiu uma nova doença ocupacional, a alergia ao látex, que afeta principalmente profissionais da área da saúde, tendo em vista a utilização constante de produtos contendo o antígeno látex ou derivados deste, especialmente as luvas. Objetivo: Avaliar a freqüência de reações do tipo alérgico (RTA) ao látex em funcionários usuários de luvas, de unidades públicas de saúde no município de Florianópolis. Metodologia: A alergia ao látex foi avaliada nos grupos por meio de um questionário específico para doenças alérgicas, testes cutâneos, dosagens de IgE total, IgE específica para o látex e hemograma. Os funcionários foram divididos em dois grupos de estudo: usuários de luvas (em contato freqüente com o látex), e grupo controle (funcionários de setores administrativos). Para avaliar as diferenças estatísticas das variáveis entre os grupos de estudo foram utilizados os Testes de Fisher, Quiquadrado ou “T” de Student. Neste protocolo por meio de uma análise de regressão logística foi calculado um fator preditivo de alergia ao látex, e desta forma, obtido um escore de risco para uma ou várias respostas afirmativas relatadas no questionário. Valores de p < 0,05 foram considerados significativos. Resultados: Neste estudo foram avaliados 140 funcionários usuários de luvas, com média de idadeerro padrão da média (e.p.m.) de 38,80,7 anos, e 120 funcionários do grupo controle, com média de idadee.p.m. de 38,40,9 anos. Neste estudo foram relatados sintomas de alergia ao látex em 80 (57%) dos usuários de luvas. Nos questionários analisados foram verificadas diferenças estatísticas entre usuários de luvas e grupo controle para os seguintes sintomas: dermatite de contato n=80 (57%) (p < 0,01); rash cutâneo nas mãos n=67 (52%), (p < 0,01, OR = 10,0, LC 95%: 4,8 - 20,9); asma ou rinite alérgica n=61 (43%), (p < 0,01, OR = 3,4, LC 95%:1,9 6,1); sintomas ao encher balão de ar n = 61 (43%), (p < 0,01, OR = 8,5, LC 95%: 4,1 - 17,6); sintomas respiratórios relacionados ao pó das 140 Resumos Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 137-145, jul./dez. 2006 luvas n=49 (35%), (p < 0,01, OR = 10,2, LC 95%: 4,1 - 24,9); alergia a alimentos n=35 (25%), (p < 0,01, OR = 6,3, 95% CL: 2,5 - 15,7); alergia às frutas n=32 (23%), (p < 0,01, OR = 11,5, LC 95%: 3,4 - 38,8) e história de múltiplos procedimentos cirúrgicos n=32 (23%), (p < 0,05, OR = 2,9, LC 95%: 1,4 - 6,1). Em relação a outros sintomas foram observadas freqüências menores que 20% tais como: sintomas após o uso de preservativos, sintomas após procedimentos médicos e anafilaxia durante procedimento cirúrgico (p < 0,05). Os funcionários do grupo usuários de luvas relataram um ou mais sintomas destes descritos acima. Embora a questão referente à anafilaxia durante algum procedimento cirúrgico tenha demonstrado baixa freqüência (9%), em relação aos demais sintomas analisados foi obtido um fator de risco (OR) de 12,2, LC 95%: 1,6 - 94,6. As diferenças estatísticas entre os grupo de estudo não foram observadas em relação aos sintomas: urticária e sintomas após o uso de utensílios de borracha (p > 0,05). A partir da análise estatística de regressão logística, foi estabelecida uma associação significativa entre o risco de sintomas de alergia ao látex, incluindo o teste cutâneo positivo ao látex e mais de quatro respostas positivas relatadas na entrevista, para os funcionários usuários de luvas (OR = 6,8, LC 95%: 0,7 – 60,3). O teste cutâneo com resultado positivo foi observado em 6 (4%) usuários de luvas. Os sintomas de dermatite de contato e rash cutâneo nas mãos foram relatados em 100% dos usuários de luvas com teste cutâneo positivo. As dosagens de IgE total em funcionários usuários de luvas com teste cutâneo positivo (n = 6) foram de 33,4 14,8 UI/mL, e para o grupo controle (n = 120) 47,6 3,2 UI/mL. Para o parâmetro IgE total não foi observada diferença estatística significativa entre os grupos de estudo (p > 0,05). As dosagens sorológicas para IgE específica foram negativas (< 0,35 kUA/L) em todos os funcionários usuários de luvas com teste cutâneo positivo. Em relação aos parâmetros hematológicos (hemograma) também não houveram diferenças estatísticas significativas entre os grupos analisados (p > 0,05). Conclusão: A identificação de profissionais sensíveis ao látex é essencial para que sejam estabelecidas ações profiláticas, bem como tratamento apropriado. O cuidado humanístico a idosos fragilizados e seus familiares cuidadores em uma Unidade de Saúde Stefanes, C.; Toledo, G. B.; Nora, P. T.; Alvarez, A. M O presente estudo trata-se do registro da prática assistencial implementada na Unida Local de Saúde (ULS) da Trindade, no período de 31 de março a 06 de junho de 2005, como trabalho de conclusão da disciplina de Enfermagem Assistencial Aplicada da VIII Unidade curricular do curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Esse estudo consistiu na implementação da assistência de enfermagem ao idoso fragilizado e seu familiar cuidador no cenário comunitário de saúde. Como metodologia norteadora utilizou-se a Teoria Humanística de Paterson Zderad, a qual considera o encontro, o relacionar-se, o diálogo vivido e a presença efetiva do enfermeiro como elementos terapêuticos de uma enfermagem existencial. As atividades desenvolvidas foram de caráter assistencial-educativas visando o bem estar e o estar melhor dos clientes envolvidos no processo de cuidado. Tais atividades foram realizadas tanto no serviço primário como em domicilio e vieram ao encontro das disposições legais previstas nas Políticas Publicas de Assistência ao Idoso. Fez parte desse estudo o desenvolvimento e implementação de passos metodológicos que contribuíram para a organização da assistência gerontológica na unidade local, como a consulta de Enfermagem; a visita domiciliária e a implementação de um grupo de ajuda mutua de familiares cuidadores de idosos fragilizados. Ainda emergiram outras ações políticas e administrativas de Enfermagem que permearam a prática e enriqueceram essa vivência. Conclui-se que se estabeleceu uma relação empática e um vinculo entre o ser idoso, ser familiar cuidador e o ser enfermeiro, possibilitando um cuidado humanizado e um olhar gerontológico aos usuários idosos da Unidade Local de Saúde. Assim como, foi possível também participar de um trabalho interdisciplinar com toda a equipe da Unidade. Por fim, esse trabalho permitiu a integração do enfoque humanístico aos conhecimentos já adquiridos durante a graduação contribuindo desta maneira para formação no sentido de uma sensibilização para um cuidado efetivamente integral e comprometido com a saúde de todos os seres humanos. 141 Resumos Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 137-145, jul./dez. 2006 Humanizando o cuidado de enfermagem ao paciente submetido a cirurgia bariátrica fundamentado em Paterson&Zderad Garcia, F. L.; Biesdorf, G.; Evaristo, S. M.; Scheidt, T. R.; Maia, A. R. C. Este estudo relata a prática assistencial que busca desenvolver um cuidar humanizado ao ser humano submetido à Cirurgia de Gastroplastia. Foi fundamentada na Teoria Humanística de Paterson & Zderad, que busca no encontro, no diálogo autêntico, na presença e no conhecimento científico e sensível/intuitivo, ajudar o paciente cirúrgico a experienciar/vivenciar o período perioperatório através do cuidado de enfermagem na busca do estar melhor. A obesidade é uma doença universal que vem adquirindo proporções epidêmicas, sendo um dos principais problemas de saúde pública da sociedade moderna. Atualmente a possibilidade de realizar um tratamento cirúrgico com o desenvolvimento de técnicas cada vez mais aperfeiçoadas e seguras, busca-se uma solução e uma nova esperança para indivíduos obesos. Novas tecnologias cirúrgicas exigem que os profissionais de enfermagem busquem conhecimento sobre este tema e construam uma prática de cuidar científica e humanizada. Os resultados desse estudo nos mostram que o apoio da enfermagem é fundamental para a segurança do paciente cirúrgico, durante o processo de internação e na sua recuperação. O cotidiano da unidade de internação neonatal, um espaço para viver: interagindo com a família e a equipe de enfermagem no cuidado ao recém-nascido hospitalizado Reple, F. de A.; Turazzi, J.. Ventura, L; Souza, A. I. J. de; Nitschke, R. G. Este trabalho trata do relato de prática assistencial desenvolvida durante o estágio curricular obrigatório da disciplina final do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina-Brasil que teve como objetivo principal desenvolver um cuidado que fortaleça a integração entre Família e Equipe de Enfermagem no cotidiano do cuidado ao recémnascido em Unidade de Internação Neonatal e foi realizado em um hospital do Sul do Brasil no período de março a junho de 2005, teve como população alvo RNs, seus pais e funcionários da equipe de enfermagem da unidade. Para abordar este tema, realizamos uma revisão de literatura acerca das temáticas que envolvem a assistência ao RN e família em unidade de neonatologia e escolhemos como referencial teórico a Teoria do Interacionismo Simbólico para embasar nossas ações durante a prática. O Interacionismo aborda, dentre outros aspectos, o significado que as coisas têm para cada pessoa a partir das experiências vivenciadas por elas mesmas ou por outras em seu cotidiano. A estratégia metodológica adotada para o desenvolvimento do processo de cuidar junto ao RN e família; integrar a realização de micro oficinas para conhecer o cotidiano da família e da equipe de enfermagem; a criação e aplicação de um instrumento para identificar as expectativas dos familiares e da equipe sobre o cuidado desenvolvido por ambos com o RN, da identificação acerca dos símbolos e significados dos familiares sobre a unidade neonatal entre outros. A prática desenvolvida evidenciou a importância da equipe de enfermagem no fortalecimento de uma interação saudável entre a família e o RN, bem como reforçou a importância desta entre os vários atores que transitam pelo espaço da neonatologia. Foi possível perceber que os familiares acompanhantes trazem consigo símbolos nem sempre positivos sobre a unidade de internação neonatológica. Contudo, estes experienciam a capacidade dos familiares acompanhantes em ressiginificá-los a partir do mergulho no ambiente da unidade de internação e pelo acolhimento dos membros da equipe de enfermagem. Constatou-se que a equipe de enfermagem, participante deste trabalho carrega consigo a essência do cuidado humanizado, embora ainda existam alguns conflitos relacionados aos diferentes símbolos e significados trazidos pelos diversos personagens que interagem neste ambiente. Entretanto, a equipe demonstra estar preparada para estabelecer interações saudáveis e positivas diminuindo s áreas conflituosas que possam existir. Ressaltamos que a Teoria do Interacionismo Simbólico contribuiu para a identificação das interações, papéis, símbolos e significados presentes no cotidiano da internação em UIN, possibilitando o fortalecimento de interações saudáveis no cotidiano hospitalar. 142 Resumos Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 137-145, jul./dez. 2006 Enfermagem na atividade física e no esporte: ampliando um novo espaço de trabalho da Enfermagem Silva, G. K; Ramos, S. L; Erdmann, A. L. Este trabalho trata de uma proposta de prática assistencial de enfermagem voltada a pessoas que praticam atividades físicas e esportes. Entendendo que onde existe ser humano, existe a possibilidade da assistência de enfermagem, centrada na teoria das Necessidades Humanas Básicas de Wanda de Aguiar Horta, temos como maior intuito através deste trabalho, propor e implementar uma nova possibilidade de área de atuação para a Enfermagem: a enfermagem na atividade física e no esporte. Desenvolvemos nossa prática assistencial em dois campos de estágio distintos: o Núcleo de Cardiologia e Medicina do Exercício da UDESC, onde pessoas portadoras de doenças crônicas como hipertensão e diabetes, praticam atividades físicas assistidas por diversos profissionais da saúde, com o objetivo de tratar suas patologias; e o Centro Desportivo e Cultural Arágua, uma espécie de ONG que tem como principal público alvo, surfistas profissionais e amadores, e qualquer outro membro da sociedade, que se interesse de alguma forma ou pratique esportes radicais, principalmente, o surf. No transcorrer das atividades desenvolvidas tivemos a oportunidade de vivenciar o cuidado ao público alvo, guiando toda nossa assistência nas Necessidades Humanas Básicas dos Indivíduos, e confirmamos a real viabilidade da assistência de enfermagem voltada a esses grupos de pessoas. Isso permite considerar que a prática de enfermagem pode ter como centro de atenção não só a reabilitação da doença, mas a prevenção de lesão e promoção de saúde. Portanto, há um vasto campo de atuação e capacitação dos profissionais de enfermagem na área da atividade física e no esporte. O cuidado transdimensional através do Reiki e dos Florais de Bach, numa unidade básica de saúde Santos, A. C. dos; Martini, J. G. Este trabalho trata de um relato de experiência desenvolvido numa unidade básica de saúde, em Tubarão – SC, Brasil, no período de 05 de setembro a 01 de novembro de 2005. Teve como objetivo desenvolver o cuidado em Enfermagem às pessoas usuárias da unidade, fundamentado na Teoria do Cuidado Transdimensional de Silva (1997). Para implementação da prática adotou-se como metodologia a realização de consultas de enfermagem com a aplicação de Reiki e indicação de Florais de Bach, utilizando o Processo de Enfermagem como possibilidade de acompanhamento da evolução terapêutica. A realização de uma dinâmica de sensibilização acerca do Reiki com os colaboradores do serviço, bem como, conhecer as demais atividades que envolvem as práticas naturais na instituição também fizeram parte das atividades desenvolvidas. A maioria das pessoas procuraram a consulta em conseqüência de problemas emocionais, apresentando a ansiedade e a depressão como queixas mais freqüentes. Das pessoas que utilizaram os florais, todas demonstraram surpresa com a rápida percepção de suas potencialidades, transformando as atitudes negativas em positivas, estimulando assim o próprio potencial de auto-cura e a liberação do sistema físico que ele proporciona. Quanto às reações observadas com o reiki, os resultados terapêuticos foram mais diversificados, com respostas imediatas e intensas. O floral mais indicado foi o Rock Water (para auto-cobrança e perfeccionismo), o que se justifica pelos altos números de pessoas ansiosas e estressadas em decorrência das exigências profissionais e sociais existentes no mundo de hoje. Nos depoimentos as pessoas referiram mudanças significativas em suas atitudes e estilo de vida. Os resultados desta experiência apontam para a possibilidade de alcançarmos um cuidado voltado para as práticas naturais, juntamente com a visão holística preconizada pela filosofia do PSF nos espaços públicos de saúde. A Enfermagem Humanística no cuidado perioperatório à criança e seu familiar. Maceno, P. R.; Reis, S. da S.; Maia, A. R. C.; Eckert, E. R. Este trabalho é o relato do desenvolvimento da prática assistencial, visando atender as necessidades da disciplina Enfermagem Assistencial Aplicada da VIII Unidade Curricular do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina. Nosso objetivo foi desenvolver uma assistência humanizada de Enfermagem durante os períodos pré, trans e pós-operatório, às crianças submetidas a cirurgias ambulatoriais no Hospital Infantil Joana de Gusmão, baseando-se na Teoria de Josephene E. Paterson e Loretta J. Zderad. A população de estudo foram crianças de um a dez 143 Resumos Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 137-145, jul./dez. 2006 anos submetidas à cirurgia ambulatorial , especificamente Herniorrafia. A metodologia assistencial utilizada foi a realização de consultas de enfermagem nas visitas domiciliares pré e pósoperatórias, acompanhamento à criança/família na chegada ao hospital, no trans-operatório, no pós-operatório imediato e mediato, bem como, o acompanhamento da criança na consulta pósoperatória. Desta forma percebemos que as visitas domiciliares pré-operatórias tiveram como resultado um trans-operatório menos estressante, pois à criança sentia-se confiante com a nossa presença no Centro Cirúrgico, facilitando o processo anestésico. Além disso, após as informações sobre o processo cirúrgico, fornecidos à criança/família houve uma melhor compreensão facilitando a segurança, tranqüilidade e auxiliando na recuperação cirúrgica. Concluímos que o cuidado de crianças em situações perioperatórias com a filosofia do cuidado humanizado assegura uma assistência de qualidade e restabelecimento mais rápido. Tornando o cuidador, a criança e sua família mais sensíveis e possibilitando o enfermeiro/cuidador ser reconhecido por sua humanidade/sensibilidade e competência técnico cientifica como um profissional do cuidado. Educação permanente em saúde para trabalhadores da atenção básica: uma proposta à luz da Pedagogia Problematizadora de Paulo Freire Martins, F.; Ferreira, F. R.; Freire, L. G.; Lino, M. M; Backes, V. M. S. Trata-se de um relato de experiência vivenciada na Unidade Local de Saúde da Fazenda do Rio Tavares, localizada no município de Florianópolis, realizada no período de 31 de agosto a 05 de novembro de 2005. As atividades foram direcionadas para a vertente da Educação Permanente junto aos trabalhadores da saúde, com o intuito de analisar os problemas relacionados ao cotidiano, de acordo com as necessidades levantadas por eles próprios. Acredita-se ser de vital importância a atuação junto a estes profissionais para sentirem-se motivados e instigados para que aconteçam melhorias no atendimento prestado e com isto a qualidade dos serviços tenda a superar-se a cada dia, transmitindo segurança à população. Foram utilizadas dinâmicas lúdicas no envolvimento dos participantes por meio de três oficinas embasadas na Pedagogia Problematizadora de Paulo Freire, bem como no Método do Arco de Charles Maguerez. O resultado demonstra um novo olhar por parte dos envolvidos, despertado por reflexões e discussões decorridas durante as atividades desempenhadas e reveladas nos depoimentos dos profissionais. Concomitante a essa atividade desenvolveu-se uma prática educativa e assistencial às gestantes por intermédio de consultas de enfermagem, grupos terapêuticos, sala de espera e de um evento intitulado “Sábado da Gestante”. A prática desenvolvida permitiu que trabalhadores e gestantes pudessem dialogar e refletir, promovendo trocas de conhecimento e buscando possíveis soluções às dificuldades de seu cotidiano. Pessoas com doença de Parkinson e seus cuidadores-familiares: a busca por uma nova perspectiva vivencial Göller, D. da P.; Batista, E. de A.; Ghiorzi, A. da; Meirelles, B. H. S. Desenvolvemos o trabalho aqui apresentado durante a oitava fase curricular do curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina. Tivemos como objetivo principal prestar cuidado de enfermagem integral domiciliar às pessoas com DP que se ausentaram do Grupo de Ajuda Mutua da Associação Parkinson de Santa Catarina (APASC), bem como ao seu cuidador-familiar, no intuito de fortalecer e/ou restabelecer o seu processo relacional, tendo como guia básico a teoria prescritiva de Ernestine Wiedenbach e o Interacionismo Simbólico e, como estratégia operacional, o movimento. As visitas domiciliares foram realizadas no período de 26 de setembro a 03 de novembro do ano de 2005. Para o trabalho contamos com a participação de três famílias residentes em três bairros da cidade de Florianópolis Pantanal, Estreito e Centro. Para cada família foram realizadas sete visitas, nas quais eram direcionadas especialmente às pessoas com Doença de Parkinson (DP). Em geral, os cuidados tiveram como objetivo recuperar a autoestima elevada e a alegria interna de cada um, fortalecendo suas potencialidades e seus aspectos saudáveis, para que sozinhos pudessem superar as limitações encontradas, recuperarem sua autonomia e independência relativa. Durante as VD s utilizamos também nossa intuição e a percepção como instrumentos importantes de diagnóstico, sempre confirmando com as pessoas cuidadas as nossas inferências, na intenção de suprir as reais necessidades destas pessoas. Por 144 Resumos Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 137-145, jul./dez. 2006 fim, constatamos a importância que há em realizar o cuidado domiciliar de acordo com o cotidiano real de cada um deles, centrado na saúde, o que os permitiu construir, desconstruir e reconstruir as concepções que possuíam sobre si mesmos, sobre o momento vivido: o da doença, sobre o outro e, sobretudo, sobre a parte saudável em si. Reconstruímos com eles uma concepção de cuidador em saúde que extrapola as ordens, a polícia e o controle exacerbado do que fazem, do que podem e do que deveriam fazer. Razão e emoção, inteligências emocional, cognitiva e espiritual complementaram-se sincronicamente, permitindo um processo relacional verdadeiro, sólido, real. 145 Normas de Publicação Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 146-149, jul./dez. 2006 NORMAS EDITORIAIS DA REVISTA CIÊNCIAS DA SAÚDE 1. Serão aceitos, no máximo 2 (dois) artigos originais por autor que, destinados exclusivamente à Revista Ciências da Saúde, serão submetidos à avaliação e aprovação de uma Consultoria Científica e Comissão Editorial. 2. A Comissão Editorial assegura o anonimato do(s) autor(es) no processo de avaliação pela Consultoria Científica. 3. Um dos autores, pelo menos, deverá ser assinante(s) da Revista Ciências da Saúde. Anexar comprovante de assinatura. 4. Trabalhos apresentados em eventos (congressos, simpósios, seminários...) serão aceitos desde que não tenham sido publicados integralmente em anais e autorizados, por escrito, pela entidade organizadora do evento, quando as normas do mesmo assim o exigirem. 5. Excepcionalmente, serão aceitos trabalhos já publicados em periódicos estrangeiros, desde que autorizados pela Comissão Editorial do periódico onde o artigo tenha sido originalmente publicado. 6. A Consultoria Científica se reserva o direito de sugerir eventuais modificações de estrutura ou conteúdo do trabalho, que serão acordadas com os autores. Não serão admitidos acréscimos ou alterações após o envio para composição editorial. 7. As opiniões emitidas nos trabalhos, bem como a exatidão, adequação e procedência das citações bibliográficas, são de exclusiva responsabilidade dos autores. 8. A revista classificará os textos encaminhados de acordo com as seguintes seções: 8.1 EDITORIAL – matéria de responsabilidade da Comissão Editorial da Revista. 8.2 ARTIGOS ORIGINAIS: a) PESQUISA – constará de relatos de investigações científicas concluídas. b) REVISÃO – abrangerá revisões de literatura sobre temas específicos. c) RELATO DE EXPERIÊNCIA/CASOS CLÍNICO – incluirá descrições de atividades acadêmicas assistenciais e de extensão. d) REFLEXÃO – apresentará materiais de caráter opinativo e/ou análise de questões que possam contribuir para o aprofundamento de temas relacionados à área a que se destina a revista. 8.3 OUTRAS SEÇÕES: a) ENTREVISTA – espaço destinado a entrevistas de autoridades / especialistas / pesquisadores. b) TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO / DISSERTAÇÕES DE MESTRADO E TESES DE DOUTORADO – RESUMOS E ABSTRACT c) PÁGINA DO LEITOR. 9. NORMAS DE APRESENTAÇÃO DE TRABALHOS 9.1 – FORMATO – O trabalho deverá ser encaminhado em 02 (duas) vias. Na digitação deverá ser utilizado espaço 1,5; com margem esquerda 3 cm; margem direita (superior e inferior) 2 cm; letra Times New Roman, tamanho 12, observando a ortografia oficial, editor Word For Windows. O título deverá ser em caixa alta, negrito, espaço 1,5 simples e justificado. Os autores deverão estar abaixo do título do artigo, em negrito, espaço simples e em caixa baixa. O texto deverá conter seus respectivos títulos, de acordo com as características do trabalho (ex. Artigo de pesquisa: Introdução, Métodos, Resultados e Discussão, etc.), formatados em caixa baixa, negrito. É obrigatório o envio de disquete ou CD-ROM na primeira etapa do trabalho. 9.2 – PADRÃO DE APRESENTAÇÃO – a) ARTIGOS ORIGINAIS – redigidos de acordo com as normas da Revista do CCS devendo conter no máximo 15 laudas de texto para artigos originais e 25 para revisões e observar o que segue: Título do artigo em português (caixa alta) e inglês (caixa baixa) e 146 Normas de Publicação Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 146-149, jul./dez. 2006 entre colchetes. Nome(s) completo(s) do(s) autor(es). Em nota de roda pé a(s) credencial(is) e local de atividade do(s) autor(es) (espaço 1,5 cm), email para correspondência. Resumo indicativo em português, de acordo com as normas da Revista do CCS, com até 100 palavras, em espaço 1,5. Palavras-chave - palavras ou expressões que identifiquem o artigo. Para determinação das palavras-chave consultar a lista de “Descritores em Ciências da Saúde – DECS-LILACS”, elaborada pela BIREME e/ou “Medical Subject Heading – Comprehensive Medline”. Texto – incluindo ilustrações (quadros, fotos, modelos, mapas, desenhos, gravuras, esquemas, gráficos e tabelas), com seus respectivos títulos e fontes (quando houver). Exceto gráficos e tabelas, todas as ilustrações deverão ser designadas como figuras. As despesas com os fotolitos de figuras somente coloridas serão de responsabilidade dos autores Abstract – tradução do resumo em inglês, em espaço 1,5 cm. Keywords – tradução das palavraschave para o inglês. As referências (Normas de Vancouver) no texto deverão ser numeradas consecutivamente de forma crescente e na ordem que aparecem no texto pela primeira vez, identificando assim os autores SOMENTE POR NÚMEROS. A numeração, no texto, portanto deve ser em ORDEM CRESCENTE e SOBRESCRITO. NÃO LISTAR OS NOMES DOS AUTORES NO TEXTO. No setor de referências: (Normas de Vancouver) A listagem de referências deverá seguir a mesma ORDEM NUMÉRICACRESCENTE do texto. NÃO COLOCAR OS AUTORES EM ORDEM ALFABÉTICA. EXEMPLOS DE REFERÊNCIAS A) Artigos de revistas 1. Artigo padrão de revista: Listar os primeiros seis autores seguido por et al. Vega KJ, Pina I, Krevsky B. Heart transplantation is associated with an increased risk for pancreatobiliary disease. Ann Intern Med 1996;124:980-3. Mais do que seis autores: Parkin DM, Clayton D, Black RJ, Masuyer E, Friedl HP, Ivanov E, et al. Childhood-leukaemia in Europe after Chernobyl: 5 year follow-up. Br J Cancer 1996;73:1006-12. 2. Organização como autor: The Cardiac Society of Australia and New Zealand. Clinical exercise stress testing. Safety and performance guidelines. Med J Aust 1996;164:282-4. 3. Sem menção de autor: Cancer in South Africa [editorial]. S Afr Med J 1994;84:15. 4. Volume com suplemento: Shen HM, Zhang QF. Risk assessment of nickel carcinogenicity and occupational lung cancer. Environ Health Perspect 1994;102 Suppl 1:275-82. 5. Número com suplemento: Payne DK, Sullivan MD, Massie MJ. Women's psychological reactions to breast cancer. Semin Oncol 1996;23(1 Suppl 2):8997. 6. Volume com parte: Ozben T, Nacitarhan S, Tuncer N. Plasma and urine sialic acid in non-insulin dependent diabetes mellitus. Ann Clin Biochem 1995;32(Pt 3):303-6. 7. Número com parte: Poole GH, Mills SM. One hundred consecutive cases of flap lacerations of the leg in ageing patients. N Z Med J 1994;107(986 Pt 1):377-8. 8. Número sem menção de volume: Turan I, Wredmark T, Fellander-Tsai L. Arthroscopic ankle arthrodesis in rheumatoid arthritis. Clin Orthop 1995;(320):110-4. 9. Sem menção de número nem de volume: 147 Normas de Publicação Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 146-149, jul./dez. 2006 Browell DA, Lennard TW. Immunologic status of the cancer patient and the effects of blood transfusion on antitumor responses. Curr Opin Gen Surg 1993:325-33. 10. Paginação em numeração romana: Fisher GA, Sikic BI. Drug resistance in clinical oncology and hematology. Introduction. Hematol Oncol Clin North Am 1995 Apr;9(2):xi-xii. 11. Indicação do tipo de artigo, se necessário: Enzensberger W, Fischer PA. Metronome in Parkinson's disease [carta]. Lancet 1996;347:1337. Clement J, De Bock R. Hematological complications of hantavirus nephropathy (HVN) [resumo]. Kidney Int 1992;42:1285. 12. Artigo contendo retratação: Garey CE, Schwarzman AL, Rise ML, Seyfried TN. Ceruloplasmin gene defect associated with epilepsy in EL mice [retractação de Garey CE, Schwarzman AL, Rise ML, Seyfried TN. In: Nat Genet 1994;6:426-31]. Nat Genet 1995;11:104. 13. Artigo retratado: Liou GI, Wang M, Matragoon S. Precocious IRBP gene expression during mouse development [retractado em Invest Ophthalmol Vis Sci 1994;35:3127]. Invest Ophthalmol Vis Sci 1994;35:1083-8. 14. Artigo com erratum publicado: Hamlin JA, Kahn AM. Herniography in symptomatic patients following inguinal hernia repair [erratum publicado encontra-se em West J Med 1995;162:278]. West J Med 1995;162:28-31. B- Livros e outras monografias 1. Autor(es) individual: Ringsven MK, Bond D. Gerontology and leadership skills for nurses. 2nd ed. Albany (NY): Delmar Publishers; 1996. 2. Editor(es), compilador, como autor: Norman IJ, Redfern SJ, editors. Mental health care for elderly people. New York: Churchill Livingstone; 1996. 3. Organização como autor e editor: Institute of Medicine (US). Looking at the future of the Medicaid program. Washington: The Institute; 1992. 4. Capítulo de um livro: Phillips SJ, Whisnant JP. Hypertension and stroke. In: Laragh JH, Brenner BM, editors. Hypertension: pathophysiology, diagnosis, and management. 2nd ed. New York: Raven Press; 1995. p. 465-78. 5. Livro de atos de conferência, congresso, encontro: Kimura J, Shibasaki H, editors. Recent advances in clinical neurophysiology. Proceedings of the 10th International Congress of EMG and Clinical Neurophysiology; 1995 Oct 15-19; Kyoto, Japan. Amsterdam: Elsevier; 1996. 6. Comunicação em conferência: Bengtsson S, Solheim BG. Enforcement of data protection, privacy and security in medical informatics. In: Lun KC, Degoulet P, Piemme TE, Rienhoff O, editors. MEDINFO 92. Proceedings of the 7th World Congress on Medical Informatics; 1992 Sep 6-10; Geneva, Switzerland. Amsterdam: North-Holland; 1992. p. 1561-5. 7. Relatório técnico ou científico: Publicado pela entidade financiadora ou patrocinadora: Smith P, Golladay K. Payment for durable medical equipment billed during skilled nursing facility stays. Final report. Dallas (TX): Dept. of Health and Human Services (US), Office of Evaluation and Inspections; 1994 Oct. Report No.: HHSIGOEI69200860. Publicado pela entidade executora: Field MJ, Tranquada RE, Feasley JC, editors. Health services research: work force and educational issues. Washington: National Academy Press; 1995. Contract No.: AHCPR282942008. Sponsored by the Agency for Health Care Policy and Research. 8. Dissertação: Kaplan SJ. Post-hospital home health care: the elderly's access and utilization [dissertação]. St. Louis (MO): Washington Univ.; 1995. 148 Normas de Publicação Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 25 n.2, p. 146-149, jul./dez. 2006 9. Patente: Larsen CE, Trip R, Johnson CR, inventors; Novoste Corporation, assignee. Methods for procedures related to the electrophysiology of the heart. US patent 5,529,067. 1995 Jun 25. C).Outras publicações 1. Artigo de jornal: Lee G. Hospitalizations tied to ozone pollution: study estimates 50,000 admissions annually. The Washington Post 1996 Jun 21;Sect. A:3 (col. 5). 2. Material audiovisual: HIV+/AIDS: the facts and the future [cassette video]. St. Louis (MO): MosbyYear Book; 1995 3. Texto legal: Legislação publicada Preventive Health Amendments of 1993, Pub. L. No. 103-183, 107 Stat. 2226 (Dec. 14, 1993). Legislação não promulgada: Medical Records Confidentiality Act of 1995, S. 1360, 104th Cong., 1st Sess. (1995). Code of Federal Regulations: Informed Consent, 42 C.F.R. Sect. 441.257 (1995). Audição: Increased Drug Abuse: the Impact on the Nation's Emergency Rooms: Hearings Before the Subcomm. on Human Resources and Intergovernmental Relations of the House Comm. on Government Operations, 103rd Cong., 1st Sess. (May 26, 1993). 4. Mapa: North Carolina. Tuberculosis rates per 100,000 population, 1990 [demographic map]. Raleigh: North Carolina Dept. of Environment, Health, and Natural Resources, Div. of Epidemiology; 1991. 5. Livro da Bíblia: The Holy Bible. King James version. Grand Rapids (MI): Zondervan Publishing House; 1995. Ruth 3:1-18. 6. Dicionário e referências semelhantes: Stedman's medical dictionary. 26th ed. Baltimore: Williams & Wilkins; 1995. Apraxia; p. 119-20. 7. Texto clássico: The Winter's Tale: act 5, scene 1, lines 13-16. The complete works of William Shakespeare. London: Rex; 1973. B) Material não publicado 8. Aguardando publicação: Leshner AI. Molecular mechanisms of cocaine addiction. N Engl J Med. Em publicação 1996. Material electrónico C) Material eletrônico 9. Revista em formato eletrônico: Morse SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Emerg Infect Dis [serial online] 1995 Jan-Mar [cited 1996 Jun 5]; 1(1):[24 ecrans]. Disponível em: URL: http://www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm 10. Monografia em formato eletrônico: CDI, clinical dermatology illustrated [monografia em CD-ROM]. Reeves JRT, Maibach H. CMEA Multimedia Group, producers. 2nd ed . Version 2.0. San Diego: CMEA; 1995. 11. Ficheiro de computador: Hemodynamics III: the ups and downs of hemodynamics [programa de computador]. Version 2.2. Orlando (FL): Computerized Educational Systems; 1993. 10.O(s) autores deverão encaminhar o artigo para análise acompanhado de uma carta com os seguintes dizeres: (Cidade, data) À Comissão Editorial Revista de Ciências da Saúde Os autores abaixo assinados transferem come exclusividade, os direitos de publicação, na Revista de Ciências da Saúde do artigo intitulado: (escrever título do artigo) e garantem que o artigo é inédito e não está sendo avaliado ou foi publicado por outro periódico. (incluir nome completo de todos os autores, endereço postal, telefone, email, fax, e assinaturas respectivas. 149 150