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Excelência em Ensino Superior bem perto de você Revista da FARESE v.2 n.1, 2010 Apoio: Fundação de Apoio à Ciência e Tecnologia do Espírito Santo - FAPES Secretaria de Ciência e Tecnologia www.es.gov.br REVISTA DA FARESE Revista interdisciplinar semestral Nota: As opiniões e conceitos emitidos, nos artigos publicados, nesta revista são de inteira responsabilidade dos seus autores. Tiragem: 100 exemplares Coordenação Executiva: Sandra Maria Guisso Revisor de redação: Vanda Nogueira Coser Revisores de texto: Carlos Alberto Lima Dalva Câmara Jaqueline Scalzer Ozirlei Teresa Marcilino Sandra Maria Guisso Bibliotecária: Débora do Carmo Conselho Editorial: Carlos Alberto Lima - Coopeavi Charles Moura Netto - CBX Dalva Câmara - FARESE Gerlinde Merklein Weber - FARESE Ismael Tressmann - FARESE Jaquelini Scalzer - ESFA José Roberto Gonçalves - Coopeavi Luciene Perini - FARESE Ozirlei Teresa Marcilino - Polo UAB-UFES Rudson Franz Rudio - UNESC Sandra Maria Guisso - FARESE INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR DA REGIÃO SERRANA Presidente Arildo Castelluber Coordenação de Pesquisa e Extensão Sandra Maria Guisso Coordenação de Licenciatura Arildo Castelluber Coordenação de Ciências Gerenciais Ozirlei Teresa Marcilino Arte e Impressão: Gráfica e Editora Quatro Irmãos Ltda. Coordenação de Ciências Ambientais Sandra Maria Guisso REVISTA DA FARESE. v.2, n.1, 2010. Semestral 1. Cultura – Periódico. 2. Educação – Periódicos. I. Instituto de Ensino Superior da Região Serrana – FARESE. CDU 002 Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca da Faculdade da Região Serrana. SUMÁRIO 05 Arildo Castelluber Editorial 07 Charles Moura Netto Nadja Valéria dos Santos Ferreira Desenvolvimento Economômico e Educação Ambiental: Uma Reflexão 12 Juliana da Silva Armine Interfaces entre Direito Ambiental e Direito do Consumidor 22 Adriana Vieira Guedes Hartuwig Cultura(s) e Interculturalidade: conceitos, questões e perspectivas de construção de saberes 32 Ederson Abeldt Carlos Francisco Meneghel José Roberto Gonçalves Audrey Ferreira Dias Leite Viabilidade econômica de propriedades leiteiras no Município de Santa Maria de Jetibá-ES 45 Arildo Castelluber A história do Currículo mínimo dos Cursos de Licenciatura em Matemática 55 Aline Ferreira Dias Leite Audrey Ferreira Dias Leite Uma questão de Ética: Resenha sobre o filme Fora de Controle 62 Normas para Publicação EDITORIAL A Revista da FARESE, criada em 2008, tem a finalidade de divulgar os resultados dos trabalhos e pesquisas desenvolvidas pela nossa comunidade acadêmica. O lançamento do primeiro número foi motivo de orgulho para todos nós e agora nos sentimos vitoriosos por podermos continuar o trabalho que requer muitos esforços de todos os envolvidos, visando manter a qualidade e a diversidade dos artigos. O segundo número da Revista FARESE apresenta contribuições relacionadas à Cultura, à Educação, ao Direito, à Economia e à Ética, com discussões que muito contribuem para o entendimento de nossa sociedade tão complexa. A preocupação com o desenvolvimento econômico e a preservação ambiental faz parte do universo dos pesquisadores Charles de Moura Netto e Nadja V. dos Santos Ferreira. Estes apresentam uma proposta de educação que proporcione o avanço tecnológico junto com a preservação ambiental. No campo do Direito, Juliana da Silva Armine procura refletir acerca da importância alimentar e da necessidade de uma produção de alimentos sustentáveis. No campo da Cultura, Adriana Vieira Guedes Hartuwig procura refletir sobre os conceitos de “Cultura" em seus diferentes contextos e tempos históricos. Já os docentes José Roberto Gonçalves e Audrey Ferreira Dias Leite, juntamente com os discentes Carlos Francisco Meneghel e Ederson Abeldt, procuram apresentar algumas características de produção observadas nos rebanhos do Município de Santa Maria de Jetibá-ES. Na área da Educação Matemática, apresento o trabalho de pesquisa que objetivou historiar o currículo mínimo da Matemática desde o parecer do Conselho Federal de Educação em 1962 até os dias atuais. Por fim, o leitor é brindado com uma resenha, produzida por Aline F. D. Leite e Audrey F. D. Leite do filme “Fora do Controle", que aborda a ética e a moral. Boa leitura! Arildo Castelluber Diretor da FARESE DESENVOLVIMENTO ECONOMÔMICO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UMA REFLEXÃO Charles Moura Netto1 Nadja Valéria dos Santos Ferreira2 1 Professor da FARESE / Mestrando em Técnologia Ambiental - FACHA Instituto de Ensino Superior da Região Serrana Rua Hermann Roelke, 230 - Centro Santa Maria de Jetibá - ES - Brasil - CEP 29645-000 E-mail: [email protected] 2 Doutora em Educação - UFES E-mail: [email protected] Resumo O mundo, nos dois últimos séculos, passou por profundas transformações técnico-científicas. Houve avanços tecnológicos em todos os setores da sociedade, resultando em um elevado desenvolvimento econômico e, em contrapartida na degradação ambiental. Estas conseqüências levaram cientistas, pensadores e ambientalistas, do Brasil e do mundo, a repensarem valores éticos, coletivos e, principalmente, numa proposta de educação que proporcionasse adaptação a este avanço tecnológico junto à preser vação ambiental. Palavras-chave: Desenvolvimento Econômico, Degradação Ambiental, Educação Ambiental. Introdução O trabalho se insere no contexto da questão socioambiental que desperta preocupações e crescente interesse social, devido à condição de crescimento e desenvolvimento econômico, pela degradação de valores éticos e coletivos. O homem também experimenta uma levada queda de qualidade de vida ocasionada pela rápida degradação ambiental com: desmatamentos, queimadas, deg radação do solo, esgotamento das reservas naturais, grilagem, conflitos agrários, megalópoles, Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 07 08 crescimento econômico insustentável, poluição ambiental, tão presentes na mídia. A degradação ambiental e a desigualdade social estão bastante associadas, levando-nos à reflexão de que a crise mundial não é só ambiental e sim socioambiental (NOVICKI; MACCARIELLO, 2002). Guattari (1990) relata que o planeta vive uma intensa transformação técnico-científica tendo o agravante dos aumentos dos fenômenos de desequilíbrios ecológicos que, se não forem revistos e mitigados ameaçam a vida em sua superfície. Ao lado de tais perturbações, o modo de vida dos humanos evolui no sentido de uma progressiva deterioração. A questão sócio-ambiental emerge como problema significativo, em nível mundial, expressando um conjunto de contradições entre o modelo dominante de desenvolvimento econômico e a realidade socioambiental. Segundo Jacobi (2003) a questão ambiental cria situações marcadas pelo conflito, esgotamento e pela destruição que se expressam: nos limites materiais ao crescimento econômico; na desigualdade econômica; na expansão urbana e demográfica; na tendência ao esgotamento de recursos naturais e energéticos não-renováveis; no crescimento acentuado das desigualdades socioeconômicas, que alimentam e tornam acentuados os processos de exclusão social; no avanço do desemprego; na perda da biodiversidade e na degradação crescente dos ecossistemas. São todas situações que comprometem a qualidade da vida humana, em particular, ameaçam a continuidade da vida global do planeta. Guattari (1990) questiona a maneira de viver da sociedade mundial, no contexto da aceleração das mutações técnico - científicas e do considerável crescimento demográfico. De fato, a questão ambiental revela o retrato de uma crise complexa que aponta para a exaustão de um determinado modelo de sociedade que produz, desproporcionalmente, criando mais problemas que soluções e, onde as soluções propostas constituem-se em nova fonte de problemas. Educação ambiental: A construção de um saber A partir da Conferência Intergovernamental, organizada pela UNESCO e em colaboração com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, sobre Educação Ambiental, realizada em Tbilisi (ex-URSS), em 1977, inicia-se um amplo processo em nível mundial direcionado para criar um fomento a uma nova consciência sobre o valor da natureza e para reorientar a produção de conhecimento baseada nos métodos da interdisciplinaridade e nos princípios da complexidade. No mundo e no Brasil, embora de formas diferenciadas, essa consciência ecológica cresceu e, gradualmente, foi se materializando no seio da opinião pública, nos movimentos sociais, nos meios científicos, nos organismos do terceiro setor e políticas públicas, nos veículos de comunicação social, nos organismos e bancos internacionais, nas organizações civis e nas iniciativas empresariais (DIAS, 1994). Viola e Leis (1991) analisam a evolução do movimento e da consciência ambientalista mundial e brasileira. Concluem que o movimento no Brasil, iniciado a partir de minorias militantes Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 ambientalistas, organizadas em torno da denúncia de agressões ambientais e da degradação de certos biomas , foi aos poucos se ampliando, até evoluir à feição multidisciplinar que hoje o caracteriza. Segundo Lima (1999) a partir da conferência de Tbilisi foram elaborados os objetivos, princípios, metas, estratégias e recomendações para a educação ambiental. Entre os resultados da reunião surgiram critérios orientadores para o desenvolvimento da proposta que sugerem que a educação deve: a) ser atividade contínua, acompanhando o cidadão em todas as fases de sua vida; b) ter caráter interdisciplinar, integrando o conhecimento de diferentes áreas; c) ter um perfil pluridimensional, associando os aspectos econômico, político, cultural, social e ecológico da questão ambiental; d) ser voltada para a participação social e para a solução dos problemas ambientais; e) visar a mudança de valores, atitudes e comportamentos sociais . Especificamente no Brasil, Dias (1991) relata que a escassez de recursos , as divergências e a incompetência política , impediram a continuação daquela importante proposta de EA pela Conferência de Tbilisi e após tentativas infrutíferas de instalar um plano educacional por quase uma década. Na véspera da II Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental em Moscou (1987) o Plenário do Conselho Federal de Educação (MEC) aprovou Parecer 226/87 que considerava necessária a inclusão da EA dentre os conteúdos a serem explorados nas propostas curriculares das escolas de 1º e 2º graus. Ao nos referimos à educação ambiental, contextualizamos numa forma holística, a educação para a cidadania, configurando-a como elemento crucial para a consolidação de sujeitos cidadãos. O desafio da construção da cidadania para a população em geral, e não para um g r u p o s e l e t o, e s t a b e l e c e p e l a possibilidade de cada pessoa ser portadora de direitos e deveres, e de se converter, portanto, em ator coresponsável na defesa da qualidade de vida. O principal eixo de atuação da educação ambiental deve buscar, acima de tudo, a solidariedade, a igualdade e o respeito à diferença através de formas democráticas de atuação baseadas em práticas interativas e dialógicas. Isto se evidencia no objetivo de criar novas atitudes e comportamentos diante do consumo na nossa sociedade e de estimular a mudança de valores individuais e coletivos (JACOBI, 1997). A educação ambiental transita por vários campos do conhecimento, o que a situa como uma abordagem multidisciplinar, e a complexidade ambiental (LEFF, 2001) reflete um tecido conceitual heterogêneo, “onde os campos de conhecimento, as noções e os conceitos podem ser originários de várias áreas do saber”(TRISTÃO, 2002). Neste sentido, (LEFF, 2001) cita que podemos redefinir a prática educativa como aquela que, juntamente com outras práticas sociais, está implicada no fazer histórico, é produtora de saberes e política onde se exerce a ação humana. Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 09 O desenvolvimento com Educação 10 Ao falarmos de educação e meio ambiente, coloca-se o problema das más atitudes. Atitudes de agressão à natureza e aos espaços coletivos são considerados atitude negativas que a educação, como um instrumento de socialização, deve mu d a r, r e f o r ç a n d o a t i t u d e s d e conservação e respeito à natureza. É ainda corrente, em educação ambiental, construirmos a imagem do mundo como um lugar estático e constituído por um meio ambiente físico que já está dado desde sempre, onde os homens são os usuários, consumidores que podem se comportar melhor ou pior em relação ao seu ambiente, confor me forem sensibilizados pela educação. Dias (2001) cita que o mundo, com as relações sociais que constituem, não pode ser traduzido num conjunto de comportamento, ao contrário, o comportamento, e mesmo a experiência subjetiva dos homens num determinado momento histórico, são, em grande parte, produzida socialmente. Nestes tempos em que a informação assume um papel cada vez mais relevante, multimídia, internet, a educação para a cidadania representa a possibilidade de motivar e sensibilizar as pessoas para transformar as diversas formas de participação na defesa da qualidade de vida. Nesse sentido cabe destacar que a educação ambiental assume, cada vez mais, uma função transformadora, na qual a co-responsabilização dos indivíduos torna-se um objetivo essencial para promover um novo tipo de desenvolvimento – o desenvolvimento sustentável. Entende- se, portanto, que a educação ambiental é condição necessária para modificar um quadro de crescente degradação socioambiental, mas ela ainda não é suficiente, o que, no dizer de Tamaio (2000), se converte em “mais uma ferramenta de mediação necessária entre culturas, comportamentos diferenciados e interesses de grupos sociais para a constr ução das transfor mações desejadas”. O educador tem a função de mediador na construção de referenciais ambientais e deve saber usá-los como instrumentos para o desenvolvimento de uma prática social centrada no conceito da natureza. A educação ambiental, nas suas diversas possibilidades, abre um estimulante espaço para repensar práticas sociais necessárias para que os indivíduos adquiram uma base de compreensão essencial do meio ambiente global e local, da interdependência dos problemas e soluções e da importância e da responsabilidade de cada um para construir uma sociedade planetária mais equitativa e ambientalmente sustentável. Referências DIAS, Genebaldo Freire. Educação ambiental: princípios e práticas. 7. ed. São Paulo: Gaia, 2001. GUATTARI, Félix. As três ecologias. Tradução Maria Cristina F. Bittencourt. Campinas: Papirus,1990. JACOBI, Pedro. Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, mar. 2003, n.118, p.189-206. ________. Meio ambiente urbano e sustentabilidade: alguns elementos para a reflexão.In: CAVALCANTE, Carlos. (org.). Meio ambiente, desenvolvimento sustentável e políticas Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 públicas. São Paulo: Cortez, 1997, p.384390. LEFF, E. Epistemologia ambiental. São Paulo: Cortez, 2001. LIMA, G. C.. Questão ambiental e Educação: contribuições para o debate. Ambiente & Sociedade. São Paulo, ano 2, n. 5, p. 135-153, 2° sem. de 1999. NOVICKI, V; MACARIELLI, M. C. Educação ambiental no ensino fundamental: as representações sociais dos profissionais da educação. In: REUNIÃO ANUAL DA ANPED, 25° Caxambu, 2002. Disponível em http://www.educacaoambiental.pro.br . Acesso em: 15 de mar 2010. TAMAIO, I. A Mediação do professor na construção do conceito de natureza. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2000. TRISTÃO, M. As Dimensões e os desafios da educação ambiental na sociedade do conhecimento. In: RUSHEINSKY, A. (org.). Educação ambiental: abordagens múltiplas. Porto Alegre: Artmed, 2002. p.169-173. VIOLA, Eduardo & LEIS, Hector. “A evolução das políticas ambientais no Brasil, 1971-1991: do bissetorialismo preser vacionista para o multissetorialismo orientado para o desenvolvimento sustentável”. In: HOGAN, D. J. & VIEIRA, P. F.. Dilemas socioambientais e desenvolvimento sustentável. Campinas, SP: UNICAMP, 1995, p. 73-102. Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 11 INTERFACES ENTRE DIREITO AMBIENTAL E DIREITO DO CONSUMIDOR Juliana da Silva Armine Professora da FARESE / Especialista em Direito Ambiental Instituto de Ensino Superior da Região Serrana Rua Hermann Roelke, 230 - Centro Santa Maria de Jetibá - ES - Brasil - CEP 29645-000 E-mail: [email protected] Resumo O presente trabalho faz uma interface entre o direito do consumidor e o direito ambiental, destacando os pontos de contato entre ambos, principalmente no que se refere aos princípios embasadores destes dois ramos do direito. Com base nestas análises primeiras, passa-se a discorrer sobre a influência do direito ambiental no direito do consumidor, e vice versa. Por fim, estabelece a importância da segurança alimentar e a necessidade de uma produção de alimentos sustentáveis. A proposta é de que a segurança alimentar seja um dos aspectos da interface discutida no texto. Introdução 12 No século XX e, sobretudo, no período pós Segunda Guerra, com o avanço tecnológico, a aceleração do processo produtivo e o advento do consumo em massa, surge uma nova categoria vulnerável - a dos consumidores - e a necessidade de protegê-la, o que dá origem ao direito do consumidor. Ao mesmo tempo, há o avanço da indústria, das tecnologias e de um desenfreado consumo. Desenvolvem-se e intensificam-se os problemas ambientais, ameaçando a sobrevivência do homem no planeta. No Brasil, os diversos modelos de desenvolvimento aplicados, foram responsáveis por uma série infinita de Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 alterações introduzidas na natureza, algumas delas praticamente irreversíveis, uma vez que implicaram no desaparecimento de espécies animais e vegetais, não raro, únicas em todo o mundo. Assim, no final dos anos 60 e início da década de 70, a humanidade toma a consciência de toda essa problemática e surge o movimento ambientalista, que culminou, em 1972, com a Conferência de Estocolmo, da Organização da Nações Unidas – (ONU) e em 1992, com a ECO 92, documento resultante da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, realizada no Rio de Janeiro, a qual elenca como principais objetivos: a conservação da biodiversidade e a utilização sustentável dos recursos naturais. Entretanto, o direito do consumidor e o direito ambiental surgem conjuntamente com o processo evolutivo do homem. Pois os meios de proteção do meio ambiente e ao consumidor são de certa maneira correlatas, tendo em vista que o direito do consumidor estabelece meios de proteção ao uso de bens e produtos, e o direito ambiental defende todos os meios de proteção ao meio ambiente dando ênfase ao desenvolvimento sustentável. 2 Interfaces Entre Direito Ambiental E Direito do Consumidor 2.1 Direitos Difusos Uma vez que os interesses difusos são uma espécie do gênero de interesses meta-individuais. Podemos definir aqueles como um vínculo extremamente genérico entre pessoas em número indeterminável e fatores conjunturais transitórios, de caráter acidental, como residir em área de alto índice de poluição, por exemplo. Ademais disso, atentar-se para o fato de que o artigo 81 do Código de Defesa do Consumidor – (CDC), define o conceito de direito difuso como sendo os “transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato”. É mister observar, desta forma, que o Direito Ambiental possui uma relação com o Direito do Consumidor, porque tanto um como outro fazem parte de um conteúdo de direito difuso, uma vez que eles são de derradeira importância e interesse social. 2.2 Competência concorrente da União, Estados e Distrito Federal O princípio geral que norteia a repartição de competência entre as entidades componentes do Estado Federal é o da predominância do interesse, e é nesse contexto que observamos que há um interesse mútuo entre a União, os Estados e o Distrito Federal de legislarem concorrentemente em matérias que versem sobre a responsabilidade por dano ao meio ambiente e ao consumidor, conforme artigo 24, VIII da CF/88. Percebe-se então que o legislador constitucional coloca a preocupação em legislar sobre o meio ambiente e o consumidor na mesma linha de interesse das entidades, conectando ainda mais os ramos de Direito Ambiental e de Direito do Consumidor. Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 13 2.3 Conexão entre os Princípios do Direito Ambiental Brasileiro com o Código de Defesa do Consumidor 2.3.1 Princípio da dignidade da pessoa humana 14 A dignidade humana é um conceito jurídico indeterminado com forte carga de abstração. A pessoa é um bem a ser protegido pelo Estado e a dignidade é o seu valor. Trata-se de princípio absoluto, que todo estatuto jurídico deve garantir. A afirmação da dignidade humana, em termos éticos, apresenta-se como reconhecimento dos direitos fundamentais do homem. A dignidade da pessoa humana é a base lógica dos direitos do homem, pressupondo-se como condição primária à vida, à integridade física e psíquica, à liberdade, à igualdade e à segurança. É fundamental, para a concretização da dignidade humana, a existência de condições mínimas materiais para a vida. Se um fornecedor coloca no mercado, por exemplo, um produto de alta periculosidade, capaz de colocar em risco a saúde e a segurança dos consumidores, sem informar sobre os riscos de seu manuseio fere diretamente o princípio da dignidade humana, bem como se este produto estiver fora dos padrões ambientais exigidos por lei. A Constituição Brasileira de 1988 elevou o princípio da dignidade da pessoa humana à posição de fundamento da República Federativa do Brasil. Dessa forma, não fez outra coisa senão considerar que o Estado existe em função de todas as pessoas e não estas em função do Estado. 2.3.2 Princípio do desenvolvimento sustentável O desenvolvimento sustentável é um princípio tão basilar do Direito Ambiental que faz direta conexão com Direito do Consumidor, que a ONU, ao traçar os Direitos Fundamentais dos Consumidores, incluiu o Direito a um Meio Ambiente saudável, de tal forma que os padrões ambientais viessem a contribuir para as satisfações dos consumidores nos desfrutes das utilidades dos bens e serviços. Assim, a Carta Magna ditou regras para esse desenvolvimento em seu artigo 170, VI, VII, VIII, que orientam a ordem econômica do país, bem como no art. 225, quando discorre sobre o dever de todos de proteção do meio ambiente para as gerações atuais e futuras, já que esta é uma das finalidades da sustentabilidade. Já no diploma consumerista, o desenvolvimento sustentável encontra respaldo no artigo 4º, III e V. Art. 4º. A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência de consumo, atendidos os seguintes princípios: (...) III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art.170 da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores; (GRIFO NOSSO). (...) V - incentivo à criação pelos fornecedores de meios eficientes de controle de qualidade e segurança de produtos e serviços, assim como de mecanismos alternativos de solução de conflitos de consumo; (...). (GRIFO NOSSO) Bibiana Pinto conclui que: Pela interpretação deste inciso, III, do art.4º, deduzimos que embora a Política Nacional de Relações de Consumo não se proponha, a versar sobre proteção ambiental, ela deve ser compatível com a mesma, sendo portanto, essa proteção, uma condição sine qua non, um prérequisito a ser observado.1 Dessa forma, o desenvolvimento econômico em consonância com o meio ambiente sempre pressupõe de certa maneira um desenvolvimento sustentável, que proporciona à sociedade o suprimento de seus interesses e a satisfação de suas necessidades, mediante a utilização certa dos recursos ambientais, garantindo tanto as presentes, como as futuras gerações, uma forma de vida e de consumo. 2.3.3 Princípio da Prevenção Preconizado no artigo 225, §1º, IV, da Constituição Federal - (CF) de 1988, é o princípio da prevenção que informa tanto o licenciamento ambiental como os próprios estudos de impacto ambiental. Ambos são realizados sobre a base de conhecimentos já adquiridos sobre uma determinada intervenção no ambiente. Neste contexto, Antunes ressalta que: O licenciamento ambiental, como principal instrumento de prevenção de danos ambientais, age de forma a prevenir os danos que uma determinada atividade causaria ao ambiente, caso não tivesse sido submetida ao licenciamento ambiental.2 Em comparação, segundo o artigo 6º do CDC, são direitos básicos do consumidor: “I- a proteção da vida, saúde, e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos”. Ora, se o consumidor tem direito à proteção contra os riscos (inclusive ambientais) oriundos de práticas comerciais consideradas perigosas ou nocivas, evidentemente o que se deseja é prevenir que tais riscos se tornem ações ou fatores determinantes dessas práticas. Ademais, tendo em vista que a maioria dos produtos e serviços gera um impacto ambiental, sabe-se também, que o consumidor deve estar atento em dar preferência a produtos que gerem menos degradação ao meio ambiente ou aos ecossistemas, pois somente dessa maneira, pode-se ter um mundo melhor para todos os seres que o habitam, ou caso contrário, ter-se-á o fim, não só da sociedade de consumo, mas também do planeta. Ou seja, o princípio da prevenção é, também, uma conduta a ser absorvida pelo consumidor-cidadão. Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 15 2.3.4 Princípio do Limite Com assento ambiental constitucional no artigo 225, §1º, V, este princípio é citado com primazia por Anunes que o delimita da seguinte forma: A expressão mais notável da aplicação do princípio do limite faz-se quando a Administração Pública estabelece padrões de qualidade ambiental que se concretizam em limites de emissões de partículas, de limites aceitáveis de presença de determinados produtos na água, etc.3 Dessa forma, se a Constituição Federal de 1988 reza pela necessidade de se controlar a poluição através do emprego de técnicas, métodos e substâncias que não extrapolem o limite tolerável para uma sadia qualidade de vida, o CDC protege (artigo 6º, I) exatamente esse consumidor-cidadão que poderá sofrer com os abusos cometidos, se desrespeitado o princípio do limite. Paulo de Bessa Antunes ressalta que “o princípio do limite deve ser aplicado e compreendido simultaneamente com o princípio da prevenção”4. Tal necessidade se torna visível, já que os limites devem ser estabelecimentos exatamente em função da necessidade de se prevenir danos que comprometam o equilíbrio ambiental. 16 2.3.5 Princípio da Educação e da Informação Tanto a educação, quanto a informação, são direitos e princípios postos pelo direito ambiental em vários diplomas legais. É o que se percebe no artigo 225, §1º, VI, da CF/88, quando se incumbe ao Poder Público o dever de “promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente” e no artigo 4, V, da Lei 6.938/81, que estabelece que a Política Nacional do Meio Ambiente visará a difusão de tecnologias, a divulgação de informações ambientais e a formação de uma consciência pública, para a preservação e equilíbrio do meio ambiente. Também na esfera consumerista, podemos encontrar tal princípio no artigo 6º, II, colocando como direitos básicos do consumidor: “a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços (...)” e “a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, característica, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem” (inciso III). Ademais, ainda encontramos no artigo 8º e 10º do CDC normas de proteção à saúde e segurança do consumidor, quanto ao dever de ser informado sobre a nocividade de um produto ou serviço. Tendo em vista, por tanto, a complexidade das questões ambientais, o desenvolvimento só é possível se equilibrarmos as relações entre as dimensões sociais, políticas, ecológicas, econômicas, espaciais e culturais, sendo necessário, para isto, que exista uma conscientização, que se inicie com a educação ambiental, desde os ensinos fundamentais até o superior, para que todos saibam que são importantes as relações de consumo, mas que também Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 elas somente existirão caso se apresente um meio ambiente equilibrado e sadio, onde todos os seres possam usufruir do mesmo, desde as gerações atuais até as posteriores. opção por produtos que se mostrem ecologicamente corretos, tanto nos aspectos de poderem ser reciclados ou substituídos, como na ótica de serem evitados aqueles que não sejam biodegradáveis ou degradáveis. 2.3.6 Princípio da responsabilidade 2.3.7 Princípio da participação Apesar de ser difícil a tarefa de se encontrar no Código de Defesa do Consumidor, algum dispositivo que responsabilize o consumidor em alguma situação, o artigo 14, §3º, II, prevê essa responsabilização, se por culpa exclusiva, o consumidor der ensejo a um dano na prestação de serviços. O que, ao contrário, não é tarefa dispendiosa encontrarmos o princípio da responsabilidade preconizado no artigo 225, §3º, que responsabiliza, objetivamente, o causador do dano ambiental pelo suporte das sanções penais e administrativas e pela reparação daquele. Nos ensinamento de Antunes, “pelo princípio em tela, busca-se impedir que a sociedade arque com os custos da recuperação de um ato lesivo ao meio ambiente causado por poluidor perfeitamente identificado”5. Assim, é importante que exista um zelo, tanto dos consumidores quanto dos fornecedores, no tratamento e destinação das embalagens dos produtos, para que as mesmas não contaminem nem ataquem o meio ambiente, uma vez que identificado o infrator as sanções legais poderão ser interpostas. Quando vamos além da responsabilidade quanto ao dano propriamente dito, verificamos que existe uma responsabilidade preventiva que o consumidor tem que ter quanto à sua Princípio de extrema importância, o princípio da participação tanto no Direito Ambiental como no Direito do Consumidor, vem ratificar as diretrizes de um Estado Democrático de Direito, como o é o Brasil, uma vez que proporciona ao cidadão uma participação efetiva na defesa de seus direitos. Mas para entendermos melhor o sentido dessa participação, vejamos o que dizem alguns autores. Segundo Mukai: A participação popular na proteção do meio ambiente está prevista expressamente na Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 92. O princípio da cooperação, uma atuação conjunta do Estado e sociedade, ocorre na escolha de prioridades e nos processos decisórios. Ele está na base dos instrumentos normativos criados com o objetivo de aumentar a informação e a ampliação de participação nos processos da política ambiental, dotando-a de flexibilidade, legitimidade e eficácia.6 Paulo Leme Machado complementa este pensamento da seguinte forma: Os indivíduos isolados, por mais Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 17 18 competentes que sejam, não conseguem ser ouvidos facilmente pelos governos e pelas empresas. Os partidos políticos e os parlamentos não podem ser considerados os únicos canis de reivindicações ambientais.7 Constata-se, então que a participação popular no Direito Ambiental, não se trata da defesa processual do meio ambiente, e sim, da participação no que tange às consultas para a formação de idéias, discussões que possam originar normativas para a proteção ambiental, ou seja, uma participação social. É o que acontece no artigo 5º,III e artigo 22, §2º, da Lei 9.985/00, quando se faz necessária à consulta pública na criação e gestão de unidades de conservação, bem como no princípio 10 da Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de 1992. No mesmo sentido, outorga o artigo 55, §3º do CDC um direito de participação ao consumidor através da criação de comissões permanentes para a elaboração, revisão, atualização das n o r m a s r e l a t i v a s à p r o d u ç ã o, industrialização, distribuição e consumo de produtos e serviços. Neste diapasão, não há que se discordar, salvo melhor juízo, com a autora Bibiana Graeff Chagas Pinto, que faz, em seu artigo “A Conexão entre Princípios do Direito Ambiental e o CDC” a interface do princípio da participação nos campos consumerista e ambiental, utilizando a conexão existente entre o artigo 55, §3º do CDC e o artigo 2º, X, da Lei 6.938/81. Se o artigo 55, §3º do CDC, oferece uma participação no âmbito administrativo ao consumidor, através de comissões permanentes de normatização, o mesmo não o faz o artigo 2º, X da Lei 6.938/81 quando impõe a “educação ambiental a todos os níveis do ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente”, já que entendemos ser esta participação ativa uma invocação aos meios processuais de defesa ao meio ambiente (como a Ação Civil Pública, Ação Popular etc.). Ademais, não se confundem as participações administrativas e processuais no âmbito do CDC, já que para esta última é dispensado um único capítulo: da defesa do consumidor em juízo, onde se vê claramente a palavra “defesa” ligada a “juízo”, dando uma idéia de participação processual na defesa do direito. Para finalizar, faz-se mais acertada, portanto, a conexão existente entre o diploma consumerista em seu artigo 55, §3º e a legislação ambiental de nº 9.985/00, em seus artigos 5º, III e 22, §2º, a fim de equiparar a compreensão de uma participação social e/ou administrativa. 3 Segurança Alimentar – Um Aspecto da Interface: Direito do Consumidor e Direito Ambiental O termo "Segurança Alimentar" começou a ser utilizado após o fim da Primeira Guerra Mundial. A experiência da guerra, adquirida, principalmente, na Europa, fez surgir a idéia de que um país poderia dominar o outro controlando seu fornecimento de alimentos. Desta forma, a questão da produção de alimentos adquiriu um significado de segurança nacional para cada país, apontando para a necessidade de formação de estoques de alimentos, o que fortaleceu a idéia de que a soberania de um país dependia de sua Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 capacidade de auto-suprimento de alimentos.8 O juízo de que a questão alimentar estaria estritamente ligada à capacidade de produção manteve-se até a década de setenta. Entendia-se que o problema da fome e da desnutrição no mundo desapareceria com o aumento da produção agrícola. No entanto, apesar desse aumento significativo na produção alimentícia, a desnutrição e a fome continuaram a atingir grande parcela da população mundial. Assim, neste contexto, percebeu-se que, mais do que a oferta, a capacidade de acesso aos alimentos por parte dos povos em todo o planeta mostra-se como a questão crucial para a Segurança Alimentar. Embora a fome e a desnutrição, sejam as manifestações mais cruéis da situação de insegurança alimentar, e a incapacidade de acesso aos alimentos a sua principal causa, outros aspectos puderam ser também identificados. Um primeiro aspecto diz respeito à qualidade dos alimentos e sua sanidade. Outro aspecto refere-se ao respeito aos hábitos e à cultura alimentar. No terceiro aspecto está a sustentabilidade do sistema alimentar, ou seja, a segurança alimentar depende não apenas da existência de um sistema que garanta, presentemente, a produção, distribuição e consumo de alimentos em quantidade e qualidade adequadas, mas que também não venha a comprometer a mesma capacidade futura de produção, distribuição e consumo.9 Dentro dessa perspectiva propõe-se uma concepção que busca ser, suficientemente, abrangente para dar conta de todas as preocupações atinentes à segurança alimentar. Desta forma destaca-se a definição de Maluf, Menezes e Marques: Segurança Alimentar e Nutricional é a garantia do direito de todos ao acesso a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente e de modo permanente, com base em práticas alimentares saudáveis e respeitando as características c u l t u r a i s d e c a d a p ovo, manifestadas no ato de se alimentar. Esta condição não pode comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, nem sequer o sistema alimentar futuro, devendo se realizar em bases sustentáveis. É responsabilidade dos estados nacionais assegurarem este direito e devem fazê-lo em obrigatória articulação com a sociedade civil, dentro das formas possíveis para exercê-lo. Os atributos de qualidade dos alimentos tornaram-se, também, um requisito comercial em função da referida demanda crescente por produtos elaborados e da preocupação com a segurança dos alimentos. Com este intuito, referente à qualidade dos alimentos, as entidades de defesa dos consumidores lutam pela garantia dos seguintes direitos: a) direito de acesso a alimentos seguros; b) direito à infor mação, inclusive face ao risco de informações erradas e mesmo enganosas; c) direito à reclamar e à justa compensação por danos; d) direito à uma educação alimentar que dote o Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 19 consumidor de habilidades e conhecimentos que permitam escolher e consumir de forma segura e adequada os alimentos, com vistas à introdução de práticas saudáveis de alimentação; e) direito de ser escutado, através da participação dos consumidores na formulação de políticas públicas, na avaliação de normas e regulamentos e na implementação de ações relativas aos alimentos; f) direito a um ambiente saudável com vistas a promover um consumo sustentável, em função dos impactos ambientais da produção, do processamento e do consumo (no aspecto do descarte) de alimentos.11 As entidades de consumidores têm destacado papel em campanhas de segurança alimentar, notadamente nas mais recentes dela, ligadas aos produtos produzidos através do Organismo Geneticamente Modificados – (OMGs). de defesa em relação ao meio ambiente, trivial entre os dois ramos do direito. Assim sendo, é perfeitamente possível e comum de se estabelecer uma interface entre o direito ambiental e o direito do consumidor, tendo em vista a conexão existente entre ambos. Notas 1 PINTO, Bibiana Graeff Chagas. A Conexão entre princípios do Direito Ambiental e o CDC. Caderno do programa de pós-graduação em Direito. Reflexões jurídicas sobre o meio ambiente – Vol. III, nº VI. UFGS: Maio. 2005. p. 12. 2 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 7. ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2005, p. 37. 3 Idem. p. 38. 4 ANTUNES, Paulo de Bessa. op. cit. p. 38. 5 ANTUNES, Paulo de Bessa. op. cit. p. 59. 4 Considerações Finais 6 20 O objetivo da pesquisa é relatar a relação que há entre o direito ambiental e o direito do consumidor, mostrando assim a conformidade, a aderência, bem como a relação em comum que se vislumbra entre os dois ramos difusos do Direito. Ademias, conforme demonstrado acima, os princípios de direito estabelecido por cada ramo em separado, possuem perfeita harmonia, estabelecendo assim, pontos e objetivos MUKAI, Toshio. Direito Ambiental Sistematizado. 3. ed. São Paulo: Forense, 1998. p. 37. 7 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 11. ed. São Paulo: Malheiros, 2003. p. 81. 8 MALUF, Renato S., MENEZES Francisco, colaboração de MARQUES, Susana Bleil (Partes 1) Caderno 'Segurança Alimentar'. Disponível em: Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 <www.dhnet.org.br/direitos/sos/alimen tacao/tconferencias.html>. Acesso em 30.06.2006. 9 MALUF, Renato S., MENEZES Francisco, colaboração de MARQUES, Susana Bleil (Partes 1). Op. cit. 10 PINTO, Bibiana Graeff Chagas. A conexão entre princípios do direito ambiental e o CDC. Caderno do programa de pós-graduação em Direito Reflexões jurídicas sobre o meio ambiente- Vol.III, nºVI. UFRGS: maio. 2005. Idem. 11 MALUF, Renato S., MENEZES Francisco, colaboração de MARQUES, Susana Bleil (Partes 1). Op. cit. Referências ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. 7. ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2005. MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 11. ed. São Paulo: Malheiros, 2003. MALUF, Renato S., Menezes Francisco, colaboração de Marques, Susana Bleil (Partes 1) Cader no 'Segurança Alimentar'. Disponível em: <www.dhnet.org.br/direitos/sos/alimen tacao/tconferencias.html>. Acesso em 30.06.2006. MUKAI, Toshio. Direito ambiental sistematizado. 3. ed. São Paulo: Forense, 1998. OLIVEIRA, Zacharias Bezerra de. O que é consumo sustentável. Disponível e m : < w w w. t e r r a z u l . m 2 0 1 4 . n e t / article.php3?id_article=151 - 21k> Acesso em: 23.05.2006. Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 21 Adriana Vieira Guedes Hartuwig CULTURA(S) E INTERCULTURALIDADE: CONCEITOS, QUESTÕES E PERSPECTIVAS DE CONSTRUÇÃO DE SABERES Resumo Professora da FARESE / Mestranda em Educação - UFES Instituto de Ensino Superior da Região Serrana Rua Hermann Roelke, 230 - Centro Santa Maria de Jetibá - ES - Brasil - CEP 29645-000 3E-mail: [email protected] 22 O presente texto pauta-se na necessidade de refletir sobre os diferentes conceitos atribuídos ao termo cultura, em diferentes contextos e tempos históricos, bem como analisar a maneira como seu conceito se expandiu gerando distintas formas de situá-lo, defini-lo e interpretálo. A partir dos estudos no campo da antropologia, lingüística, filosofia e sociologia, iniciados no século XX, e recentemente, os Estudos Culturais começaram a surgir questionamentos sobre o conceito eurocêntrico de cultura que foi tomado como modelo de referência mundo afora. Esses estudos valeram para nos mostrar o entendimento de que é mais adequado falarmos em culturas no plural em vez de cultura no singular. O texto traz também os conceitos que tentam incluir outras narrativas culturais no campo da educação, como o multiculturalismo e o interculturalismo (interculturalidade, intercultural). Considera-se que o interculturalismo supera a proposta do multiculturalismo. A crítica é que o multiculturalismo reconhece a pluralidade de culturas, porém não propõe o diálogo entre as culturas. Por fim, são apresentadas algumas reflexões e questões sobre as relações entre educação e cultura(s) demonstrando a relevância da perspectiva intercultural na educação, pois esta proposta possibilita a crítica da Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 racionalidade moderna e também representa uma alternativa para analisar e valorizar as diferentes manifestações de culturas propondo uma ação dialógica, considerada por Paulo Freire a verdadeira atribuição da educação. Palavras-chave: Cultura; Identidade; Multiculturalismo, Interculturalismo; Diálogo. Introdução A temática da diversidade de culturas é uma das questões de primeira ordem discutidas na atualidade. Esse debate tem se intensificado por causa de alguns movimentos provocados pelo fenômeno da globalização, principalmente, os intercâmbios culturais que transitam em diferentes espaços, desde o campo da informação até as migrações e lutas das minorias que buscam o reconhecimento de identidades culturais como estratégia de luta pela inclusão. Alguns estudiosos e intelectuais da educação argumentam que esse movimento é uma resposta à ação da modernidade que impôs sobre os diferentes povos e coletivos um padrão único e hegemônico de cultura. São justamente esses intercâmbios entre as identidades culturais que irão provocar uma série de deslocamentos e questionamentos a respeito da nossa identidade e dos conceitos sobre os “outros” e sobre as diferenças. A partir daí surgem distintas abordagens culturais no campo das Ciências Humanas e Sociais que discutem o conceito de identidade, cultura e outros termos derivados como multi, pluri, trans e inter cultural. A crítica que se faz diante dessas terminologias, é se tais conceitos contribuem para fortalecer a lógica cultural do “capitalismo selvagem” entendido aqui como a má distribuição dos recursos naturais, culturais e bens de consumo - ou podem oferecer a fertilização teórica e prática de uma nova forma de existência onde seja possível uma convivência dialógica entre as culturas. Nesse sentido, o texto pauta-se na necessidade de refletir criticamente sobre os diferentes conceitos atribuídos ao termo cultura, em diferentes contextos e tempos históricos, e os conceitos que tentam incluir outras narrativas culturais no campo da educação, como o multiculturalismo e o interculturalismo (interculturalidade, intercultural). Defende-se que o interculturalismo supera a proposta do multiculturalismo em sua versão liberal e também porque não propõe a interlocução entre as culturas. O estudo das diferentes perspectivas multiculturais, especialmente o das propostas críticas e interculturais são importantes porque trazem uma reflexão contra um modelo de sociedade hegemônico e excludente. Fazer essas diferenciações é muito importante para compreendermos as concepções que direcionam a escolha de conhecimentos escolares e o desenvolvimento de práticas pedagógicas que influenciam diretamente a formação de identidades tocando no cerne da relação entre educação dos povos e coletivos diversos e o padrão único de civilização. A análise crítica das racionalidades que interferem em nossa existência humana nos move ao aprendizado e à intervenção em processos e mecanismos de discriminação, exclusão e desigualdade social. Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 23 Como apreciação final, propomos algumas reflexões acerca das relações entre educação e cultura argumentando a importância da interculturalidade na educação, entendida como uma proposta dialógica, plural e democrática já sinalizada por Paulo Freire na década de 60. Com isso abre-se o espaço para reeducar nossos olhares diante dos coletivos culturais diversos inseridos na escola e assim, reconhecer suas histórias na história, no presente, fomentando uma educação a favor da valorização e equilíbrio dos saberes, sejam eles do campo, da aldeia ou da cidade. Cultura: Diferentes concepções, contextos e Tempos Históricos “O futuro depende da faculdade que o homem terá para transcender os limites das culturas individuais.” Edwuard T. Hall 24 Abordar o termo cultura exige de nós a consciência de que estamos lidando com um dos conceitos mais amplos e polissêmicos da nossa língua, havendo diversas maneiras de situá-lo, defini-lo e interpretá-lo. Além disso, a expressão cultura se configura como um tema polêmico, pois muitos estudiosos e pesquisadores das ciências sociais chegam a afirmar que a busca por sua definição incita mais perguntas do que respostas. Embora considera-se a natureza, comumente, considerada um produto da cultura, o significado etimológico da palavra “cultura” é derivada do conceito de natureza. Cultura provém do ato ou maneira de cultivar a terra ou o seu próprio cultivo, o cultivo do que cresce naturalmente. Porém, a definição deste conceito foi sendo expandido e adquiriu vários sentidos distintos que refletem diferentes pressupostos epistemológicos, diversas concepções a respeito da evolução humana e diferentes campos de interesse – entre eles, a sociologia, a antropologia, psicologia e a educação, nosso principal foco de reflexão neste texto. O termo cultura passou a fazer parte de nosso vocabulário há dois séculos, tendo como sentido básico a referência à formação do homem, ou seja, às suas características humanas, significando um ser social que necessitava ser cultivado para tornar-se culto, refinado, em evidente oposição a um inocente estado original “de natureza”. Para compreendermos como o sentido de cultura foi expandido, precisamos conhecer as características políticas e econômicas da Europa no século XVIII: Características da política no século XVIII: ? permanência do absolutismo = centralização do poder nas mãos do monarca; ? inexistência de prática dos poderes legislativo, executivo e judiciário. Características da economia no século XVIII: ? desenvolvimento das manufaturas; ? tímido desenvolvimento da mão-deobra assalariada; ? vestígios marcantes do regime de servidão. O mundo estava mudando... assim, esse período foi marcado por grandes realizações intelectuais, especialmente na Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 França, Inglaterra e Alemanha. Há um significativo aumento da população e, consequentemente, grande desenvolvimento das cidades. Milhares de pessoas saem do campo e vão trabalhar em ateliês de manufatura. A ideia de um novo mundo construído por obra dos homens foi sendo desenvolvido, um mundo novo, moderno. É nesse contexto que o vocábulo “civilização” passou pertencer ao espírito geral do iluminismo francês, com o ideal moderno de autodesenvolvimento secular e progressista. O civilizado se opõe ao bárbaro, primitivo, selvagem. Segundo as pesquisas de Williams apud Silva (2009), a tensão entre “cultura” e “civilização” foi um marco no século XVIII e XIX devido à rivalidade existente entre franceses e alemães. O modelo de “civilização era a França – considerada uma nação de civilizados – que tinha como objetivo tanto o processo de refinamento social como o ideal utópico rumo ao progresso. “Cultura” era uma noção alemã, chamada por alguns intelectuais germânicos de Kultur, referiam-se à sua própria contribuição para a humanidade, entre elas, as maneiras de estar no mundo, de produzir e apreciar obras de arte e literatura, de pensar e organizar sistemas religiosos e filosóficos (VEIGA - NETO, 2003). Como destaca Santos (2003) encontramos aqui a idéia de cultura associada aos conhecimentos impostos como universais alicerçados em determinados critérios de valor, estéticos, morais e cognitivos. Bauman (2005), explica que o conceito de “Cultura” baseado na noção republicano-iluminista se originou num “Estado sem nação”, que tentou afirmar sua identidade tentando impor um pouco de coesão num conglomerado de etnias, dialetos e “culturas locais” – costumes, crenças, mitologias, calendário. Desta forma, entendemos que para garantir a eficácia dessa afirmação, foram usados todos os conhecimentos que eles consideravam superiores e que os diferenciava do resto do mundo. Com efeito, a cultura é o mecanismo que mais tarde será associado à “hegemonia” moldando os seres humanos aos interesses de novo tipo de sociedade. Outro sentido de cultura muito difundido nessa época por teóricos evolucionistas do século XIX foi o de transpor a teoria de Darwin sobre a evolução do homem para o plano social e cultural. Para esses pensadores, a humanidade passaria por estágios de evolução cultural, de sociedades primitivas até ao modelo civilizado. Essa visão justificava o estabelecimento de uma escala de civilização que colocava no topo as nações européias, e abaixo delas, as demais nações cujos os povos eram considerados primitivos e selvagens. É a partir dessas idéias que surge a diferenciação entre alta cultura e baixa cultura. A alta cultura passou a funcionar como modelo daquele que é culto, que possui valores da cultura intelectual e artística, ao contrário da baixa cultura sinônimo daqueles de cultura inferior, popular. Isso também explica a marca elitista da concepção de cultura tão presente no imaginário social, vinculada à cultura culta, ao grau de instrução adquirida por meio da escolarização capaz de propiciar o acesso aos bens culturais gerais, às obras artísticas e a comportamentos sociais refinados. Entretanto, esta é uma concepção equivocada a respeito do que realmente significa o termo “cultura”, pois não se pode dizer que um índio, o Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 25 negro, o camponês, dentre outros, não possuem cultura. Logo, “a cultura pode ser entendida como tudo aquilo que é produzido pelo ser humano” (CANDAU, 2002, p.72). Se é assim, toda pessoa humana é produtora de cultura independente de classe social a qual pertence e do acesso à escolarização formal. A cultura é um fenômeno plural, multifor me, heterogêneo, dinâmico. Envolve criação e recriação, é atividade, ação. É considerada também como um sistema de símbolos que fornece as indicações e contornos de grupos sociais e sociedades especificas (CANDAU, 2002, p. 72) 26 Aprendemos com Geertz (1989), que os seres humanos ao transitarem da natureza para o mundo da cultura, teceram eles mesmos suas teias de significados, esse mesmo autor assume “a cultura como essas teias e a sua análise; portanto, não como uma ciência experimental em busca de leis, mas como uma ciência interpretativa, à procura do significado” (GEERTZ, 1989, p. 4). Um conceito de cultura ainda muito vigente entre nós é pensar a cultura como um conjunto de características imutáveis e acabadas, que permanece fixa ao longo dos anos, além de outros traços como genuidade, pureza, autenticidade. Porém ela deve ser entendida como dinâmica produzida e modificada no tempo histórico, de acordo com a situação do contexto social vivido. A cultura, portanto é um processo contínuo de construção reinventada, recriada e transformada a todo momento, a partir da interação social. Assim, não há como ser humano e viver uma vida humana fora do tecido social da cultura. Somos seres naturais e fazemos parte da natureza, mas a cultura é o que nos torna humanos. Somos seres culturais justamente por causa da nossa capacidade de transformar a natureza em nós e para nós criando sentidos, palavras, códigos, símbolos que só possuem significados a partir da interação e da reciprocidade que geram nossos saberes e aprendizagens próprios e locais, tão importantes como os universais. Assim, precisamos aprender a pensar “transversalmente” as interações entre os universos de referências individuais e sociais. De Cultura para Culturas: O Multiculturalismo e Interculturalidade Além das contribuições de estudos no campo da antropologia, lingüística, filosofia e sociologia, iniciados no século XX, recentemente, os Estudos Culturais tem sido eficazes em questionar, ou até mesmo desmoronar a racionalidade moderna sobre o conceito eurocêntrico de cultura. Segundo Silva (2009), o campo de teorização e investigação conhecido como Estudos Culturais surgiram em 1964, no Centro de Estudos Culturais Contemporâneos da Universidade de Birminghan, na Inglaterra. A incitação inicial surgiu a partir de inquietações sobre a compreensão de cultura dominante presente na crítica literária Britânica, que refletia preceitos ligados à cultura das chamadas “grandes obras” da literatura e das artes em geral, e logicamente, restrita à elite. Assim, a desconstrução desse termo Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 teve início com a concepção de cultura construída por Raymond Williams em Culture and society (1958) e Richard Hoggart em Uses of literacy (1957). Para Williams, a cultura deveria ser entendida como o modo de vida global de uma sociedade, como experiência vivida de qualquer agrupamento humano. Nessa visão, não haveria graus de superioridade e inferioridade entre as culturas e suas produções e conhecimentos. Esses estudos valeram para mostrar a importância de entendermos que é melhor falarmos de culturas no plural em vez de falarmos em Cultura no singular e com letra maiúscula. Os estudos culturais interpretam a cultura como um conceito estratégico para a afirmação da diferença e um campo de luta política em torno de significados sociais, nos quais os diferentes grupos sociais, situados em diferentes posições de poder, tentam e lutam para impor seus significados à sociedade em geral para marcar sua identidade. A cultura é nessa concepção um campo contestado de significação. O que está centralmente envolvido nesse jogo é a definição da identidade cultural e social dos diferentes grupos. A cultura é um campo onde se define não apenas a forma que o mundo deve ter, mas também a forma como as pessoas e os grupos devem ser. A cultura é um jogo de poder (SILVA, 2009, p. 134). Nesse jogo de poder, a globalização tem se mascarado como uma força capaz de atingir uma totalidade homogênea e uniforme, onde indivíduos locais seriam transformados em seres planetários, com linguagens, culturas e identidades gerais, mas alguns fatos nos provam o contrário: O b s e r va m o s u m a e x p l o s ã o d e manifestações e expressões de grupos dominados como forma de resistência aos discursos hegemônicos. A compreensão antropológica de que nenhuma cultura pode ser julgada superior a outra é que impulsionam os chamados multiculturalismo e interculturalismo. Porém, o multiculturalismo é um termo que também possui um desafio conceitual, pois existem muitas interpretações sobre o conceito de multiculturalismo. Conhecer esses conceitos nos permite questionar concepções que historicamente fizeram parte da produção de desiguais. McLaren faz uma classificação do multiculturalismo em quatro tendências: o multiculturalismo conser vador (baseado no legado colonialista de supremacia branca deslegitima dialetos, línguas, saberes e valores de outros grupos étnicos), o humanista liberal (em nome de uma humanidade comum defende a igualdade intelectual entre diferentes etnias e grupos sociais), o liberal de esquerda (tende a essencializar as diferenças não levando em conta que estas são construções históricas, culturais, atravessadas por relações de poder) e o crítico e de resistência (questiona a construção da diferença no contexto de relações culturais e de poder). Ao entender a cultura como conflitiva, MacLaren (2000) afirma que é preciso estar atento à questão da diferença. Diferenças são determinadas por processos históricos, pelas mentalidades e ideologias, pelas relações de poder e influenciam processos políticos e sociais. “Como educadoras(es) e trabalhadoras(es) culturais, precisamos intervir Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 27 28 criticamente naquelas relações de poder que organizam as diferenças” (MCLAREN, 2000, p. 135). Existem inúmeras críticas ao multiculturalismo, principalmente em sua versão liberal. Para alguns estudiosos, esse termo abrange a questão do reconhecimento das diversas culturas, entretanto não há uma preocupação na questão da inter-relação entre esses grupos sócio-culturais, no sentido de possibilitar um diálogo entre os diversos sujeitos nas suas diferenças, para uma troca de saberes. O multiculturalismo também é acusado de ser uma nova forma de racismo, onde o “outro” diferente deve ser “tolerado” e “respeitado”, como se existisse uma situação permissividade dada por aquele pertencente a uma cultura superior. Dessa forma, a proposta intercultural daria conta de preencher essa lacuna deixada pelo multiculturalismo, pois não acredita em uma supercultura capaz de conceder respostas aos problemas universais. A interculturalidade questiona e investiga quais são estes problemas ditos universais e se abre para o diálogo na busca solidária da resolução das perguntas. Candau (2002) sugere o interculturalismo como a possibilidade de promover a inter-relação entre diferentes gr upos socioculturais afetando principalmente a educação em todas as dimensões, numa dinâmica de crítica e autocrítica, valorizando a interação e a comunicação recíprocas. Essa proposta tem por base o reconhecimento do direito à diferença e a luta contra as discriminações e desigualdades sociais, e nesse sentido, tenta promover relações dialógicas entre aqueles que pertencem a diferentes universos culturais, trabalhan- do os conflitos presentes nesta realidade. A educação intercultural trata-se de um enfoque global que deve atingir a cultura da escola e a cultura escolar, todos aqueles que fazem parte desse processo, ou seja, todas as dimensões do sistema de ensino, e de todo o universo educacional. Sendo assim, essa proposta contribui para a construção de relações democráticas que fortaleçam os diversos sujeitos presentes nos diversos contextos interculturais. Conforme Candau: A promoção de uma educação intercultural é uma questão bastante complexa, que exige problematizar diferentes elementos da cultura escolar e da cultura da escola e do sistema de ensino como um todo. Tratase de uma abordagem educativa que aponta para questões radicais que têm a ver com as funções da escola hoje. (CANDAU 2002, p.100) Considerações sobre a relação entre Educação e Cultura(s) Tomando como referência a origem do caráter monocultural e dominador do conceito de cultura citado anteriormente, foi dada à educação a tarefa de levar os “incivilizados” a alcançar as formas mais elevadas da cultura, através da dominação e da negação “do outro”, tido como “estranhos”, “fora do ninho”. A partir da situação política e econômica da Alemanha no século XVIII (um “estado sem nação”, tentando resistir às imposições do absolutismo francês e assistindo a decadência da aristocracia alemã) a educação foi apontada como Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 saída para as gerações futuras apostando na educação escolarizada capaz de alcançar o ideal utópico de um novo mundo. Sendo assim, o paradigma pedagógico moderno foi construído sob a base das três características essenciais do conceito de cultura: único, elitista e idealista. Em termos gerais, a educação brasileira se configurou como um espaço classificatório, onde os alunos mais “civilizados”, mais “capazes, mais “competentes” eram bem sucedidos e aprovados, recebiam boas notas e eram bem classificados. Aqueles que não se adequavam ao modelo idealizado estavam condenados à exclusão e à reprovação. Existem diferentes formas de abordar a questão das relações entre educação e cultura(s) no contexto escolar. A partir dos anos 60, muitos paradigmas foram formulados por estudiosos que se propunham a explicar o fracasso escolar de estudantes oriundos das chamadas camadas populares ou determinados grupos étnicos. Banks apud Candau (2002) privilegia em sua análise dois paradigmas: o da privação cultural e o da diferença cultural. O primeiro deles parte do pressuposto de que o fracasso escolar desses alunos ocorre devido à cultura em que estão inseridos que os impede de ter acesso aos conhecimentos da “alta cultura” ou conhecimento das Humanidades. Os defensores desse paradigma acreditam que o problema se localiza na cultura de origem desses alunos e não na cultura da escola. Sendo assim, propõe que o que deve ser mudado é a cultura do aluno e não a cultura da escola. Nesse tipo de paradigma a diversidade cultural é reconhecida, porém a relação entre as culturas são hierarquizadas e classificadas em graus de superioridade e inferioridade. O segundo paradigma se baseia na concepção de que diferentes culturas possuem linguagens, valores, símbolos, e modos de comportamentos diferentes, que precisam ser compreendidos tal como existem. Seus defensores se opõem ao paradigma da privação cultural e afirmam que as relações entre as culturas não podem ser analisadas numa perspectiva hierarquizadora. Sendo assim, também defendem que a cultura da escola, construída e orientada a partir de um modelo cultural hegemônico e monocultural, é que precisa ser modificada. Como visto não basta reconhecer a diversidade cultural, é preciso desfazer a hierarquia entre as diferenças culturais, que as concebem como superiores ou inferiores. Paulo Freire, por meio de suas experiências educativas a partir dos anos 60, nos recordava que o submetimento à opressão levava à internalização da autoimagem de oprimido, de inferior. Ao expor sua famosa frase: “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”, Freire (1970) já fertilizava a idéia de uma proposta educacional baseada no interculturalismo quando em seus textos propunha a verdadeira atribuição da educação: a proposição de uma ação dialógica. Suas preocupações quanto ao respeito à cultura do aluno, ao diálogo e à liberdade, oferecem respaldos elementares para a compreensão das relações entre educação e cultura(s). Paulo freire defendia uma educação que devesse se afastar de ações manipuladoras e massificadoras e dizia que toda educação deveria ser um encontro entre os homens (e mulheres), Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 29 30 “que mediatizados pelo mundo, o “pronunciam”, isto é, o transformam, e, transformando-o, o humanizam para a humanização de todos” (FREIRE, 1970, p.43). Para que a educação intercultural hoje avance, precisamos enfrentar alguns desafios, como o de reconciliar os saberes dos(as) alunos(as) com a cultura escolar e desconstruir o legado dessa educação que nega a cultura do(a) aluno(a). A potência da educação – não só no sentido da escolarização, mas no sentido mais amplo - consiste em dialogar os saberes e fazer com que cada um deles encontre o interesse e a relevância no outro. Outro desafio que se destaca dentro da perspectiva intercultural é a superação da polarização entre igualdade e diferença. No âmbito das políticas públicas e das práticas pedagógicas, o reconhecimento da diferença deve estar articulado com as questões referentes à igualdade e ao direito à educação de qualidade para todos. Na tentativa de articular educação e cultura, os defensores da educação indígena tem sido os que mais avançaram na busca de articular políticas públicas e propostas pedagógicas que trabalham e buscam reconhecimento de sua cultura, mesmo diante de inúmeros conflitos e adversidades. Ao assumir o olhar de que existem diferentes culturas, nós educadores(as), devemos nos questionar: Qual o nosso olhar diante dos coletivos diversos inseridos na escola? Como somos formados e preparados para atuar neste contexto? Como podemos superar as visões e representações preconceituosas sobre os diferentes? Essas questões se colocam como essenciais, pois se queremos combater os preconceitos e as discriminações, devemos primeiro entender como os valores e as relações entre as culturas em nosso sistema e a própria docência contribuíram e ainda contribuem na produção das desigualdades e hierarquização das culturas por meio da racionalidade moderna de ciência, de progresso, conhecimento, cultura e civilização, de avaliação e segregação. Nessa dimensão a educação intercultural se configura como uma prática que propicia a democracia valorizando os distintos saberes t o r n a n d o - s e i n c e n t i va d o r a d a s transformações indispensáveis na geração da justiça social e da melhoria da qualidade de vida. Referências BAUMAN, Sigmundo. Identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2005. CANDAU, Vera Maria (org). Cultura(s) e educação: entre o crítico e o póscrítico. Rio de Janeiro: DP&A, 2005. ______. Multiculturalismo e educação: Questões, tendências e perspectivas. In Sociedade, Educação e cultura(s).Petrópolis: Vozes, 2002. EAGLETON, Terry. Idéia de cultura. São Paulo: Editora UNESP, 2005. FREIRE, Paulo. Peda gogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1970. FORQUIN, Jean Claude. Escola e Cultura: As bases e epistemológicas do conhecimento escolar. Porto Alegre: Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 Artes médicas, 1993. GERRTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1989. McLAREN, Peter. Multiculturalismo crítico. 3. ed. São Paulo: Cortez/ Instituto Paulo Freire, 2000. ______________. Multiculturalismo revolucionário: pedagogia do dissenso para o novo milênio. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000. SANTOS, Boaventura de Souza; NUNES, João Arriscado. 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Gerenciamento e Consultoria de Empresas Rurais pela UFV. E-mail: [email protected] Instituto de Ensino Superior da Região Serrana Rua Hermann Roelke, 230 - Centro Santa Maria de Jetibá - ES - Brasil - CEP 29645-000 32 VIABILIDADE ECONÔMICA DE PROPRIEDADES LEITEIRAS NO MUNICÍPIO DE SANTA MARIA DE JETIBÁ-ES Resumo Este trabalho foi realizado em 18 propriedades leiteiras localizados no município de Santa Maria de Jetibá, com objetivo de analisar algumas características de produção observadas nos rebanhos neste município. Para isso, foram utilizadas as respostas obtidas em questionários aplicados aos produtores e analisadas a ocorrência de algumas características relacionadas com o produtor, a propriedade e o rebanho. Também foram analisados a presença de assistência técnica, as culturas forrageiras predominantes, o tipo de estruturas existente em cada propriedade, o for necimento de concentrado e suplementação mineral, a execução de práticas de silagem de volumosos e o tipo de comercialização do produto. Consideraram-se a margem bruta e margem liquida como indicadores de eficiência econômica. O nível tecnológico influenciou nos itens componentes do custo de produção da atividade leiteira. A margem bruta e liquida positiva, nos três níveis tecnológicos analisados, indicaram que a atividade leiteira no município é viável através da realidade encontrada. Palavras-chave: Custo de produção, nível tecnológico, bovinocultura de leite. Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 Introdução A bovinocultura de leite é uma atividade de suma importância para a economia mundial, mesmo tendo sua maior concentração em alguns países da América do Sul e Europa. No ano 2008, a produção mundial registrou 693 bilhões de litros de leite, tendo um aumento de 12% em relação a 2007. Os quinze maiores produtores mundiais em 2008 foram responsáveis por 63,4% da produção, com destaque os 12% dos Estados Unidos (FAO, 2008). O Brasil se encontra no sexto lugar neste rank, com 27,579 bilhões de litros leite (IBGE, 2008). A região Sudeste lidera na produção de leite no Brasil, conquistou em 2007, 37,5% da produção nacional, tornandose muito superior a outras regiões tradicionais na atividade leiteira, como a região Sul e Centro Oeste, as quais contribuíram com 28,7% e 14,6%, respectivamente. O maior estado produtor de leite do país, Minas Gerais, alcançou um crescimento de 5,3% no ano de 2008, comparado com o mesmo período de 2007. Acompanhando o aumento da produção de leite no Brasil no ano de 2008 (5,5% em relação a 2007), a região Sudeste onde se situa o Espírito Santo obteve um crescimento e manteve seu posto de maior captadora de leite do país. (IBGE, 2008). No estado do Espírito Santo, a atividade leiteira possui um papel importante na economia. No ano 2008 esta atividade teve a representatividade de aproximadamente 9,95% da produção nacional, com rebanho de aproximadamente 2.142.342 cabeças de vacas em lactação. O município de Santa Maria de Jetibá tem esta atividade como secundária na maioria dos casos, já que possui maior concentração de produtores na atividade da avicultura industrial (postura), horticultura e monoculturas (café e gengibre). Mesmo assim o município obteve uma representatividade de 0,24% (aproximadamente 1,1 milhões de litros de leite anual) em relação à produção estadual e possui um rebanho de aproximadamente 2.034 cabeças de vacas em lactação (IBGE, 2008). O estudo da viabilidade de qualquer atividade é primordial a elaboração do custo de produção. Na bovinocultura de leite não é diferente, sendo analisada a soma dos valores de todos os recursos (insumos) e operações (serviços) utilizados no processo produtivo (LOPES E CARVALHO, 2000). O custo de produção na teoria neoclássica é dividido em dois grupos: custos fixos e custos variáveis. Os custos fixos são todos aqueles que ocorrem quando se toma a decisão de produzir e que não podem ser evitados mesmo que a quantidade produzida seja nula (depreciação das benfeitorias, máquinas e cercas destinadas à produção de leite). Os custos variáveis são todos aqueles que, como o nome indica, dependem da quantidade produzida (custos da alimentação do rebanho) (PEIXOTO; MOURA; FARIA, 2000). De acordo com Martins (2003), além da divisão do custo de produção entre fixos e variáveis, também podem ser divididos em diretos e indiretos. Os custos diretos são todos os custos que se conseguem identificar com as obras, do modo mais econômico e lógico (mão de obra, alimentação, etc.), já os custos indiretos são todos os outros custos que dependem do emprego de recursos, de taxas de rateio, de parâmetros para débito Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 33 às obras. A bovinocultura de leite em Santa Maria de Jetibá embora não seja a principal atividade econômica do município, possui um importante papel para a sociedade, uma vez que contribui para a sustentabilidade de várias famílias na região e é uma possível estratégia para diversificação rural nas propriedades. Sendo assim, objetivou-se com este trabalho o estudo da viabilidade econômica da atividade de produção de leite no município. Metodologia 34 Os dados desta pesquisa foram coletados durante o mês de maio de 2009, em 18 propriedades, denominadas sistemas de produção de leite, localizadas no município de Santa Maria de Jetibá ES. A escolha das propriedades foi levada em consideração o rank de quantitativo mensal (1999 a 2008) dos maiores compradores de rações na Cooperativa Agropecuária Centro Serrana (Coopeavi) e os produtores que são referência na atividade no município. Este levantamento foi realizado através de um relatório de comercialização de rações da linha de bovinos na região de Santa Maria de Jetibá, pela Coopeavi, onde foram identificados 140 produtores atuantes em compras, dentre estes se destacou os 15 maiores compradores de rações desta linha (bovinos) os quais se integraram na análise deste estudo como os três maiores produtores da região os quais possuem produção de ração própria. Ao chegar às propriedades leiteiras avaliadas, através de um questionário realizou-se o levantamento do inventário completo dos bens, apurando-se o valor e a vida útil de cada ativo, posteriormente agrupou-se em: benfeitorias, máquinas, veículos, equipamentos, alimentação, sanidade (práticas aplicadas no controle sanitário, vacinas, tipo de ordenha, adoção de práticas higiênicas e número de ordenhas), ser viços (familiar ou contratada), rebanho, produção diária, produção (período das águas e seca), implementos agrícolas e meios de comercialização utilizados. De acordo com metodologia proposta por Gonçalves et al. (2000), foram contabilizados os valores de receita originados na propriedade, porém somente considerados os valores da venda de leite, não sendo considerados os valores originados da vendas de bezerros, descarte de animais e resíduos desta atividade. Foram utilizadas duas estruturas de custo de produção: custos totais de produção, que envolvem os custos fixos e variáveis, utilizados por Reis (1999), e despesas operacionais proposto por Matsunaga et al. (1976). Para estimar a influência do nível tecnológico sobre o custo de produção de leite, os 18 sistemas de produção foram enquadrados em níveis tecnológicos: baixo (1), médio (2) e alto (3). O enquadramento baseou-se nas informações obtidas no inventário, na sofisticação de equipamentos, como, por exemplo, máquinas agrícolas novas ou seminovas e nas observações feitas durante a visita. No nível tecnológico alto (3), foram enquadrados os sistemas de produção que possuíam ordenhadeira mecânica do tipo de leite canalizado, investimentos constantes em máquinas e implementos agrícolas e instalações sofisticadas. Nesse nível, foi levada em consideração a média de produção de leite encontrada por animal, o que leva a Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 deduzir que estas médias altas por animal, se devem a um nível mais tecnificado da genética adotada pelos produtores. No nível baixo (1) foram enquadrados os sistemas de produção que não possuíam máquinas, equipamentos e implementos agrícolas, ordenhadeira mecânica e com pequenos investimentos em instalações. Para encontrar um possível perfil genético foi avaliada a média de produção por animal na propriedade, o que leva a afirmar que os níveis de genética trabalhados por este nível provavelmente sejam de animais sem perfil de alta produção. No nível tecnológico médio, foram enquadrados os sistemas de produção intermediários. A metodologia utilizada para o cálculo de margem bruta e margem líquida foi adotada por Reis e Guimarães (1986). Os itens que compõem o custo de produção do leite foram divididos em: mão-deobra, alimentação, sanidade, ordenha e despesas diversas (LOPES E LOPES, 1999). Os índices produtivos e econômicos foram comparados por meio de análises descritivas, utilizando o aplicativo MS Excel e agrupados em tabelas. Resultados e Discussão Nas 18 propriedades leiteiras avaliadas constatou-se que a alimentação do rebanho além do fornecimento de ração balanceada e suplementação mineral, 45% recebia complementação a pasto e 55% utilizam com silagem. Nestas propriedades, pode-se constatar que 11% utilizam o sistema de criação no método intensivo (animais confinados em instalações apropriadas), que consiste em um dos meios de criação mais recomendados para o gado de alto padrão racial (alto potencial produtivo), exigindo assim adoções de melhores tecnologias no seu manejo, como também a utilização de mão de obra especializada (SARCINELLI; VENTURINI; SILVA, 2007). O método de criação intensivo é utilizado no município de Santa Maria de Jetibá, em duas propriedades, as quais se caracterizam como os maiores produtores da região. Das propriedades leiteiras avaliadas 89% utilizam o método de criação semiintensivo, o qual consiste no método de criação mais utilizado entre os bovinocultores que possuem animais com um bom padrão racial. Este sistema se caracteriza em manter o gado no pasto e reforçar a sua alimentação em regime de confinamento parcial, quando necessário, permitindo maior estabilidade de produção (SARCINELLI; VENTURINI e SILVA, 2007). Os valores de investimentos em estruturas para os animais neste sistema são menores em r e l a ç ã o a o m é t o d o i n t e n s i v o, possibilitando a redução de custo com manejo dos animais e utilização de mão de obra. Nos 18 sistemas de produção analisados além dos tipos de alimentações já mencionados, identificou-se a utilização de volumosos provenientes de capineiras (capim triturado servido verde no cocho), combinadas com 44% ao fornecimento do milho (planta com espiga em ponto de pamonha triturada) e 11% a cana-de-açúcar. Neste contexto, 55% fazem o processamento de silagem com estes volumosos e 45% utilizam o alimento na forma in natura. Através dos resultados encontrados, observa-se que o cultivo de volumoso na forma de capineira predomina nas propriedades, o Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 35 36 que reflete em baixos investimentos na produção de volumosos, a fim de reduzir consequentemente os seus custos com a alimentação. As propriedades que utilizam, na dieta das vacas em lactação, o milho na forma de silagem, embora aumente o custo de produção estão fornecendo um alimento mais energético para os animais e consequentemente mais apropriados para produção de leite. Resultados semelhantes foram relatados pelo SEBRAE-PI (2005) em levantamentos realizados na bacia leiteira de Parnaíba-PI, onde a maior utilização da alimentação é à base de ração balanceada, silagem e suplementação mineral. Estes tipos de alimentação do rebanho possuem um alto valor nutricional, tornam a conversão alimentar muito mais benéfica à produção de leite, refletem em um bom estado de saúde para os animais e consequentemente proporcionam economia, praticidade e produtividade para o produtor (BARUSELLI, 2008). Os 18 sistemas de produção de leite de Santa Maria de Jetibá se caracterizaram com um nível tecnológico médio, onde na sua grande maioria foram encontrados equipamentos e máquinas com médio grau de tecnificação. As propriedades avaliadas demonstraram estruturas voltadas à atividade agropecuária, mesmo que a grande maioria dos equipamentos não seja destinada unicamente para a bovinocultura leiteira no município, onde a centralização de recursos destina-se a o u t r a s a t iv i d a d e s ( av i c u l t u r a e horticultura). Nas propriedades avaliadas neste estudo 89% realizam todas as vacinações obrigatórias (aftosa e brucelose) e 11% além das obrigatórias fazem uso de outras vacinas (raiva, carbúnculo, IBR/BUD, leptospira, mastite, entre outras). De acordo com os percentuais encontrados nas vacinações obser va-se que existe um baixo investimento por parte dos produtores na prevenção de doenças em seus rebanhos. A grande maioria utiliza somente as vacinas obrigatórias, ou seja, as que são exigidas por órgãos federais, desta forma os gastos com as vacinações obtém valores insignificantes na composição no custo de produção desta atividade. No que refere ao controle de ectoparasitas (carrapatos, moscas do chifre) e endoparasita (vermes, nematódeos) em torno de 94,4% realiza esta prática (77% básico e 16,6% completo) e os poucos que não utilizam relatam que não vem sendo adotada por tratar-se de sistema de total confinamento dos animais e pouca ação destes agentes parasitas. Neste estudo, observou-se que 83% das propriedades avaliadas utilizam a ordenha manual e 17% a mecânica, e em geral, 89% fazem duas ordenhas diárias e 11% três ordenhas. De acordo com estes resultados nota-se o profissionalismo dos produtores desta atividade leiteira na região com a adoção de três ordenhas diárias, o que indica o alto potencial de produção do plantel e maior produtividade. De acordo com Erdman e Varner (1995) o aumento nas ordenhas, de duas para três, proporcionou um aumento de 3,5 kg leite/dia, além do aumento na quantidade de proteína e gordura produzida, o que vem a melhorar a qualidade do leite produzido para fabricação de derivados (manteiga, queijo, etc.). Através desta prática, o aumento da produção viabiliza a utilização da mão de obra empregada na atividade. Na avaliação dos serviços empregados na atividade leiteira em Santa Maria de Jetibá, observou-se que 72% empregam a Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 mão de obra familiar e 28% a contratada. De acordo com relatos dos produtores da região, a atividade leiteira no município é utilizada como uma estratégia de diversificação na sua propriedade. Já no que se refere aos serviços de mão de obra especializada, nenhuma das propriedades possuem gastos com técnicos agrícolas e agrônomos, e as vezes que precisam como são associados da Coopeavi, não possuem gasto. A assistência veterinária embora também seja fornecida pela cooperativa, 33% das propriedades remuneram um profissional desta área. Conforme se nota, os sistemas de produção analisados, fazem somente a adoção de serviços prestados por veterinários, o que na maioria das vezes corresponde a prática de utilização destes serviços para âmbitos sanitários, higiênicos e de saúde do animal, ou seja, medicação corretiva em animais. Na análise dos itens de benfeitorias, foram avaliados os investimentos feitos em cada sistema de produção. Diante dos resultados encontrados foi possível chegar aos seguintes percentuais: 100% dos sistemas possuem casa sede, o que leva em consideração que a propriedade passa por supervisão de um gerente ou administrador que pode ser o próprio fazendeiro; 22% casa para vaqueiro; 17% centro de manejo (local onde as vacas são alimentadas e ordenhadas); 67% depósito para armazenagem; 83% utilizam cochos de sal (saleiros); 17% possuem sala de ordenha; 11% tanque de imersão e tanque de resfriamento; 78% possuem açude; 5,6% barragem de águas; 78% poços artesianos; 11% poços tubulares; todos possuem energia elétrica em seus sistemas de produção; 61% adotam o sistema de bebedouro coletivo e 89% possuem cercas para a contenção de animais na propriedade. Esta boa estruturação das propriedades para atividade leiteira em Santa Maria de Jetibá se dá em grande parte a outra atividade empregada em larga escala na região que é a horticultura. Resultados semelhantes foram encontrados por Silvestre (1997), na região de M u z a m b i n h o - M G, a f i r m a n d o a importân-cia de uma boa estruturação das propriedades para prática da atividade leiteira. De acordo com Campos (2007) o objetivo básico para a construção de instalações para a exploração de bovinos leiteiros é abrigar os animais e o homem (mão de obra), das intempéries climáticas, proporcionando melhores condições naturais de conforto, facilidade de manejo, de movimentação de animais de máquinas e equipamentos de forma racional e econômica, facilitando com isso a produção, a conservação e distribuição do produto. Os dados de produção das propriedades avaliadas foram levados em consideração o número total de animais e a produção média de leite no período das águas e seca. Com relação ao número de animais, 34% é composta por vacas em lactação, 16% composta por vacas secas, 2% de reprodutores, 33% novilhas, 11% bezerras fêmeas e 4% de bezerros machos. De acordo com os resultados encontrados, obser va-se a maior porcentagem de animais com objetivo de produção de leite, o que indica a focalização dos produtores para esta atividade, já que a prática de engorda ou corte para bovinos no município torna-se inviável devido o tamanho das propriedades e o relevo da região ser muito acidentado. A produção média de leite nos 18 sistemas de produção em Santa Maria de Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 37 38 Jetibá está bem equilibrada com 48,7% no período das águas, onde a oferta de alimento para os animais é maior e conseqüentemente os preços menores e 51,3% no período da seca, época de maior escassez de alimento e melhores preços do leite. Esta diferença favorável ao período da seca em relação ao período das águas refere-se à estratégia dos produtores da região (programação de partos na época seca), em obter os melhores retornos financeiros com o maior preço do produto nesta época de entressafra, aumentando a viabilidade econômica da atividade na região. Re s u l t a d o s s e m e l h a n t e s f o r a m observados por Moreira (2002), na região Nordeste do país, onde se observou menor sazonalidade entre os períodos da seca e das águas. Segundo o autor, não basta ter apenas um maior número de vacas em lactação é necessário manter uma alimentação constante e de qualidade para os animais durante o ano todo, através deste método as oscilações alimentares são menores e consequentemente as alterações na produção também diminuem. De acordo com Baruselli (2005), o período das águas inicia a partir de outubro/novembro, sendo a época onde se concentram as maioridades chuvosas, proporcionando maior desenvolvimento das forrageiras utilizadas na alimentação do rebanho (piquetes de pastagens, capineiras, etc.) o que vem a possibilitar reduções no custo de produção. Já o período da seca consiste no intervalo entre os meses de abril/maio a setembro/outubro, onde as pastagens tornam-se mais escassas, forçando assim o produtor utilizar um maior fornecimento de volumosos processados (triturado) e ensilados, como alternativa ou suplementação alimentar para seu rebanho. Esta prática eleva os custos com alimentação de sua produção. A média de produção de leite dos 18 sistemas de produção de Santa Maria de Jetibá está em níveis satisfatórios comparados, por exemplo, a pequenas propriedades rurais que tenham entre suas opções de produção a prática da bovinocultura de leite. Ao confrontar estes resultados com bacias leiteiras no país, o volume encontrado está muito abaixo da realidade nacional. No entanto, sua realidade é muito parecida com as pequenas propriedades leiteiras no Brasil que compunham a grande maioria de produtores de leite do país. Resultados semelhantes foram relatados pelo EPAGRI (1998), fazendo uma correlação com a região Oeste de Santa Catarina, onde se observou na sua grande maioria as propriedades analisadas uma produção de leite com cerca de 900 litros dia. A forma de comercialização adotada pelos 18 sistemas de produção de leite analisados neste estudo, se concentram em 48,2% na venda in natura e 51,8% destinados a produção de derivados (queijos, manteigas entre outros) na própria propriedade. Já em relação ao transporte da produção in natura apenas 5,6% utilizam o fretamento de veículos terceirizados. Desta forma, o preço médio recebido pelos produtores é de R$ 1,10, com as formas de pagamento à vista e 3 0 d i a s, t e n d o 5 5 % e 4 5 % respectivamente. De acordo com Loureiro (2009), os preços recebidos pelos produtores de Santa Maria de Jetibá, estão muitos além dos praticados em outras regiões do estado do ES, mais tradicionais na pecuária leiteira, como também os meios de comercialização nestas regiões, onde a grande maioria dos Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 produtores concentra suas vendas para as cooperativas leiteiras. As oportunidades de comercialização do leite que os produtores de Santa Maria de Jetibá possuem é a venda direta ao c o n s u m i d o r, c o m é r c i o s l o c a i s, cooperativa de laticínios, atravessadores, usinas de pasteurização. No entanto, somente está sendo explorada a comercialização direta aos consumidores (89%), para atravessadores (24%), para cooperativa de laticínios (8%) e o comércio local (4%). Logo, esta forma de comercialização do leite explica o preço médio recebido pelos produtores da região ser muito além do preço médio recebido pelos pecuaristas do ES que é de R$ 0,50/litro de leite (IBGE, 2008). Re s u l t a d o s s e m e l h a n t e s f o r a m encontrados na bacia leiteira de TeresinaPI, onde o maior percentual da comercialização do leite se concentra no consumidor direto (SEBRAE-PI 2005). Neste estudo ficou constatado que o número médio de vacas em lactação em cada nível tecnológico torna-se bastante característico, já que exemplos como o nível (1) mostra realmente a baixa produtividade encontrada na propriedade. Isso nos leva a constatar que o produtor deste nível possui poucos animais em fase de lactação e na sua maioria, animais de baixa produtividade. Já no caso do nível (2) possuem médias intermediárias de produção. Neste caso os produtores possuem animais de melhor genética em relação ao nível (1) e na sua maioria animais de média para alta produção. No nível (3) observa-se um maior volume de leite produzido dentre os sistemas de produção analisados, como também as maiores médias de produção em relação ao total de vacas, o que corresponde a animais de melhor genética produtiva. Tudo isso comprova na relação vaca lactação/vaca total (%) que possui percentual abaixo do nível (2) que se afirma na utilização de animais de maior produtividade, o que pode acarretar em maior produção em menor número de vacas (Tabela 1). Tabela 1. Quantitativo de produção mensal de litros de leite distribuídos em três níveis nos 18 sistemas de produção de leite localizados na microrregião de Santa Teresa, no município de Santa Maria de Jetibá-ES. O coeficiente econômico e financeiro, que compõe o custo de produção dos 18 sistemas de produção de leite em Santa Maria de Jetibá foi determinado através dos valores de mão-de-obra, sanidade e alimentação do rebanho. De acordo com Hofer e Shikida (2000), basicamente dois destes pontos são os maiores responsáveis pelo custo de produção, que consistem na mão de obra e alimentação Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 39 dos animais, os quais correspondem por cerca de 25,12% e 53,64%, respectivamente. Na tabela 2, pode-se avaliar a rentabilidade mensal de cada nível com a comercialização correspondente à venda de leite nas propriedades analisadas. Conforme Lopes et al. (2006), em estudos realizados em pequenas propriedades produtoras de leite no Sul de Minas Gerais este tipo de receita na atividade é responsável pela maior porção significativa do negócio (58,92%). No entanto, em se tratando do levantamento realizado em Santa Maria de Jetibá, esta porcentagem torna-se muito maior, já que as propriedades que exercem atividade leiteira no município, possuem em sua grande maioria animais destinados à lactação e posteriormente ao abate, sendo pouco utilizada a prática de venda de animais em grande escala, na região. Observa-se no item de composição dos fluxos de saídas que os valores referentes ao nível 2, são superiores aos outros níveis, não havendo correlação ao total de produção de cada nível. Este resultado deve-se ao valor encontrado com os investimentos feitos pelos sistemas de produção que compõe este nível serem de bens (máquinas) e equipamentos com vida útil inferiores às tecnologias dotadas pelo nível 3, elevando assim a taxa de depreciação dos mesmos. Isto se portou muito superior aos demais, aumentando assim os valores com investimentos, já que a utilização de equipamentos com menor período de vida, o desgaste dos mesmos é bastante antecipada, tendo assim a necessidade da sua substituição em períodos mais curtos que o nível 3. Estes valores se fizeram importantes para a definição do saldo dos fluxos, que caracteriza os valores individuais da margem bruta e líquida de cada nível em valores presentes (R$). Tabela 2. Coeficientes econômicos e financeiros da atividade leiteira em 18 sistemas de produção localizados na microrregião de Santa Teresa, no município de Santa Maria de Jetibá-ES. 40 O acompanhamento do custo de produção é fundamental para se avaliar a rentabilidade econômica e financeira do empreendimento. Se o preço do leite se mantiver abaixo do custo de produção por longo período, o produtor é forçado a Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 melhorar a eficiência produtiva, principalmente pela adoção de novas tecnologias, sob pena de ter de trocar de atividade econômica (ALVES e ASSIS, 2000). Na avaliação do item outros coeficientes, onde pode ser considerado como um bom indicativo da viabilidade de cada nível da atividade observou-se inicialmente que os valores recebidos pelos sistemas de produção no município de Santa Maria de Jetibá, estão muito acima da média estadual (R$ 0,50/litro de leite), onde a maior média de preço recebido pelos produtores no ES em 2007 não se comparou aos valores encontrados na região de Santa Maria de Jetibá (IBGE, 2008). Estes valores se baseiam segundo relatos dos produtores entrevistados, que grande parte da população do município por ter uma forte relação com o campo, tem preferência por leite produzido no mesmo dia entregue em domicílio, embora em alguns casos esta comercialização seja informal. Na avaliação do custo operacional, nota-se que estes resultados tornaram-se muitos característicos para cada nível, onde o nível 1, portanto obteve um menor custo de produção em relação aos demais níveis, e conseqüentemente em menores índices de margem bruta e líquida. Mesmo assim diante dos sistemas de produção avaliados foi observado que todos obtiveram valores positivos no final do exercício (Tabela 2). Segundo Uliana (2009), mesmo os sistemas de produção avaliados ter demonstrado viabilidade da atividade, em Santa Maria de Jetibá a bovinocultura de leite é inviável, já que o relevo do município não corresponde a mais adequada para este fim e a cultura adotada pelos produtores da região é priorizar o cultivo de hortaliças e a criação de aves industriais. Além disso, os investimentos a serem realizados para atividade são de alto risco, já que os preços recebidos pela produção, geralmente oscilam com freqüência, o que não dá segurança para o exercício desta atividade. Após análise dos 18 sistemas de produção de leite do município de Santa Maria de Jetibá, nota-se que: ? A maioria das propriedades já se preocupa com a qualidade da alimentação dos animais fazendo a adoção de métodos mais tecnificados (ração balanceada, suplemento mineral e volumosos de qualidade); ? As estruturas disponíveis para a atividade leiteira (benfeitorias, sistemas de criação, máquinas, equipamentos, e t c. ) c o r r e s p o n d e m a n í ve i s tecnológicos médios; ? Os sistemas de produção têm em grande parte a utilização de mão de obra no sistema familiar (redução de custo com mão de obra) ? Maioria por animais nos sistemas de produção apresentam perfil destinado à lactação (menores oscilações de produção); ? O mercado interno do município de Santa Maria de Jetibá ainda permite a prática de vendas para consumidores diretos, o que acarreta em melhores preços (maior rentabilidade). Este cenário tende a permanecer por muito tempo, uma vez que a exigência mínima da Organização Mundial de Saúde de consumo per capita de leite e derivados no Brasil está muito abaixo do consumo da população. Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 41 Conclusão p.11-12, 2005. Através dos resultados obtidos no presente trabalho, concluímos que a atividade leiteira é viável nos 18 sistemas de produção analisados, por grande parte já obter em suas propriedades um nível tecnológico médio, e o mercado interno de Santa Maria de Jetibá ainda permitir o recebimento de preços do leite em níveis muito superiores encontrados no mercado estadual, o que acarreta em melhores margens de lucro. Ressalta-se que na avaliação realizada com este trabalho tomou-se somente como base os dados relatados pelos produtores responsáveis pelos sistemas de produção analisados, sendo assim a incrementação dos sistemas que não foram citados neste trabalho ou a adoção de novos sistemas de produção em propriedades de Santa Maria de Jetibá, necessita inicialmente da realização de novos estudos, para a avaliação de pontos importantes como: se o mercado interno deste município suportaria uma maior oferta de leite, ou seja, se haveria demanda suficiente para um possível aumento na produção; os valores a serem investidos para a elevação do nível tecnológico, já que como toda a atividade agropecuária apresenta riscos eminentes para o ing resso sem planejamento. BARUSELLI, M.S. Vantagens da suplementação mineral ao pé da vaca. BeefPoint, São Paulo, 2008. Disponível em<http://www.beefpoint.com.br/vant agens-da-suplementacao-mineral-dobezer ro-ao-pe-da-vaca_noticia_ 43396_57_172_.aspx>. 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Entrevista concedida a Carlos Francisco Meneghel, Santa Maria de Jetibá, 04 junho 2009. 44 Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 A HISTÓRIA DO CURRÍCULO MÍNIMO DOS CURSOS DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA Arildo Castelluber Resumo Diretor da FARESE / Doutorando em Educação - UFES Instituto de Ensino Superior da Região Serrana Rua Hermann Roelke, 230 - Centro Santa Maria de Jetibá - ES - Brasil - CEP 29645-000 E-mail: [email protected] Trata-se de um capítulo da dissertação de mestrado intitulada “Os currículos de matemática em universidades públicas da região sudeste e os professores egressos do IMPA” apresentada em 2003 na Universidade Federal do Espírito Santo – UFES. O trabalho de pesquisa objetivou historiar o currículo mínimo de matemática desde o Parecer do Conselho Federal de Educação, número 295, de 14 de novembro de 1962, até os dias atuais (2003), passando por importantes reuniões promovidas pela Sociedade Brasileira de Matemática -SBM, que culminaram na reunião conjunta da Sociedade Brasileira de Matemática-SBM e a Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada-SBMAC SBM/SBMAC, em fevereiro de 1985, finalizando com uma proposta de um currículo mínimo para os cursos de Licenciatura em Matemática no Brasil. Palavras-chave: Currículo; História da Educação; Licenciatura em Matemática. 1 Introdução A proposta de trabalho no Mestrado em Educação foi conhecer os currículos prescritos de Licenciatura em Matemática em universidades públicas da região sudeste e as influências dos professores egressos da Associação Instituto de Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 45 Matemática Pura e Aplicada- IMPA como foi a evolução do currículo mínimo nesses currículos. da licenciatura em Matemática no Brasil O IMPA desde a sua criação em 1952, nos últimos anos da história da educação. vem sendo um pilar importante na formação de professores e pesquisadores para o ensino superior do Brasil, 2 A evolução do currículo mínimo formando profissionais que atuam nas principais universidades públicas do país, Em 14 de novembro de 1962, o currículo principalmente nos cursos de mínimo para os cursos de Licenciatura Bacharelado e Licenciatura em em Matemática foi regulamentado por Matemática, ratificando, assim, o meio do Parecer nº. 295, para ser importante papel desse instituto no ministrado durante quatro anos, no total ensino da matemática. de 2.200 horas/aula. A fim de analisar os currículos das Com base nas informações deste parecer, Licenciaturas em Matemática nas elaborou-se a Tabela 1 com as disciplinas principais universidades públicas da do currículo mínimo: região sudeste, procurou-se entender Tabela 1 - Currículo mínimo da Licenciatura em Matemática constante no parecer número 295 de14/11/1962 DESENHO GEOMÉTRICO E GEOMETRIA DESCRITIVA FUNDAMENTOS DE MATEMÁTICA ELEMENTAR FÍSICA GERAL CÁLCULO DIFERENCIAL E INTEGRAL GEOMETRIA ANALÍTICA ÁLGEBRA CÁLCULO NUMÉRICO Fonte: Parecer 295. Nota: Dados trabalhados pelo autor 46 Este parecer cita a inclusão da disciplina “Fundamentos de Matemática Elementar” para uma análise e revisão dos assuntos lecionados nos cursos dos Ginásios e dos Colégios da época. Em publicações do Noticiário da Sociedade Brasileira de Matemática, de abril e maio de 1978, de abril de 1979 e abril de 1985, obtivemos informações sobre reuniões importantes sobre a evolução do currículo da Licenciatura em Matemática no Brasil. Descrevemos a seguir alguns eventos publicados por este noticiário. 2.1 A Reunião Interamericana sobre o Ensino da Matemática No Noticiário Brasileiro de Matemática de 30 de abril de 1965, o artigo intitulado “Melhoramento do Ensino da Matemática no Brasil”, cita a reunião Interamericana sobre o ensino da matemática realizada no Rio de Janeiro promovida pela “National Science Foundation” de 30 de novembro a 2 de dezembro de 1964. Esta reunião objetivou o melhoramento do ensino da matemática no Brasil. Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 Neste noticiário sobre a reunião, o professor Alfredo Pereira Gomes da Universidade do Recife apresentou um relatório referente ao ensino da Matemática no Brasil. O segundo tópico apresentado na época foi uma proposta de elaboração de um novo currículo da Licenciatura dando aos futuros professores uma preparação adaptada às necessidades do ensino. O autor cita que após a “Lei das Diretrizes e Bases - LDB”, referindo-se à LDB de 1961, os programas das Licenciaturas em Matemática ficaram mais maleáveis mediante a instituição de um “currículo mínimo” obrigatório, como parte de um currículo pleno definido por cada faculdade. O autor faz menção à importância da inclusão da Álgebra e do Cálculo Numérico que representavam inovações com importantes conseqüências na atualização da formação do professor de Matemática. No sexto tópico sobre o assunto “Ensino Universitário Elementar Cursos de pós-graduação”, o autor relatou que a modernização do ensino da Matemática no nível Universitário vinha sendo feita por meio de várias atividades, dentre as quais destacou a criação de Institutos de Matemática, para o ensino e pesquisa, atuando em paralelo com as faculdades. Destaca ainda a posição de destaque do Instituto de Matemática Pura e Aplicada-IMPA que exerceram influência na orientação matemática dos jovens universitários brasileiros. 2.2 O I Simpósio sobre o ensino da Matemática Continuando a pesquisa nos noticiá- rios da Sociedade Brasileira de Matemática - SBM, encontramos um artigo que trazia assuntos importantes acerca de currículos da Licenciatura em Matemática. (MACHADO, 1978). Em 1977 a nova diretoria da SBM convidou três professores: Elza Furtado Gomide (USP), Luiz Adauto da Justa Medeiros (UFRJ) e Hilton Vieira Machado (UnB) para formarem a comissão de ensino da SBM que organizou o I Simpósio sobre o Ensino da Matemática. Esse encontro realizado em abril de 1978, em Brasília, apoiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Te c n o l ó g i c o - C N P q t r a z i a recomendações quanto ao ensino da matemática no 1o e 2o g raus, promovendo a discussão da estrutura da Licenciatura em Ciências e a Habilitação em Matemática e sobre a abertura prevista da própria Licenciatura em Matemática em termos da formação básica de professores de 1º e 2º graus, de programas e de currículos. O parecer da comissão foi amplamente divulgado e encaminhado pela SBM ao Conselho Federal de Educação - CFE e demais órgãos responsáveis pelo ensino, como possível subsídio a estudos e planejamentos (Noticiário da SBM, 1979). 2. 3 O II Simpósio sobre o ensino da Matemática A comissão de ensino da SBM promoveu no Rio de janeiro, em novembro de 1978, o I Simpósio sobre o ensino da matemática, com o apoio da Academia Brasileira de Ciências (Noticiário da SBM, 1979). Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 47 Neste encontro, várias instituições de ensino estiveram representadas por dezenove professores que formalizaram recomendações específicas para o ensino superior e sobre os aspectos mais relevantes do ensino elementar. Essa reunião procurou dar continuidade aos debates e conclusões do I Simpósio sobre o Ensino da Matemática, sugeria ainda a integração da matemática com disciplinas de outras áreas afins e uma atenção a certos tópicos de matemática considerados clássicos, como a Geometria Euclidiana e o estímulo à resolução de problemas. Recomendou-se um núcleo comum inicial para os cursos de bacharelado e Licenciatura em Matemática, composto das disciplinas de Cálculo Diferencial e Integral, Geometria Analítica, Álgebra Linear, Estruturas Algébricas e Física. Sugeriu-se ainda a realização de outra reunião a ser promovida pela SBM, para estudar o currículo mínimo do Bacharelado em Matemática e outros assuntos profissionais deste curso, devido a sua importância na formação de pesquisadores, professores universitários e matemáticos aplicados. Esse simpósio ressaltou a necessidade de implantação de cursos de Licenciatura em Matemática habilitando o professor para o ensino da 5ª série em diante. Este curso de Licenciatura em Matemática deveria ser separado do núcleo comum da Licenciatura em Ciências. Com base nas informações do II Simpósio, que recomendou o currículo mínimo para a Licenciatura em Matemática, elaborou-se a tabela com as disciplinas apresentadas a seguir: Tabela 2 - Currículo mínimo da Licenciatura em Matemática, proposto pelo 2º Simpósio sobre o Ensino da Matemática, no Rio de Janeiro, novembro de 1978. CALCULO DIFERENCIAL E INTEGRAL GEOMETRIA ANALÍTICA ÁLGEBRA LINEAR ESTRUTURAS ALGÉBRICAS COMPUTAÇÃO FÍSICA I CÁLCULO DAS FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL COMPLEXA ANÁLISE REAL EQUAÇÕES DIFERENCIAIS ORDINÁRIAS GEOMETRIA EUCLIDIANA ALGEBRA E ARITMÉTICA ELEMENTAR PROBABILIDADE E ESTATÍSTICA 48 Fonte: Noticiário da Sociedade Brasileira de Matemática, 1979. Nota: Dados trabalhados pelo autor. Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 A disciplina de computação foi indicada para as escolas que dispusessem de Centros de Computação. Nessa época poucas escolas dispunham deste recurso. Esta proposta de currículo diferenciava da proposta do Parecer 295/62 pela inclusão das disciplinas de Álgebra Linear, Cálculo das Funções de Uma variável Complexa e Computação. Alterou a denominação da disciplina de Álgebra para Estruturas Algébricas e eliminou as disciplinas de Desenho Geométrico e Geometria Descritiva, Fundamentos de Matemática Elementar e Cálculo Numérico. O professor Hilton Vieira Machado faz uma observação importante ao lembrar que a comissão de ensino da SBM paralelamente aos I e II Simpósios se envolveu sistematicamente na área de ensino da Matemática no Brasil promovendo, participando e mesmo financiando algumas atividades. Segundo o autor, essa atuação teve efeito catalisador em níveis de instituições, de regiões e nacional (Noticiário da SBM, 1979). Os professores que participaram deste encontro foram Antônio Assis de Car valho (UNESP-RC), Antônio Gervásio Colares (UFCE), Aristides C. Barreto (PUC RIO), Celso Volpe (UNESP-SJRP), Edson Durão Júdice (UFMG), Elon Lages Lima (IMPACNPq), Elza F. Gomide (USP), Hilton Vieira Machado (UnB), João Bosco Pitombeira (PUC-RIO), Lúcia A . Tinoco (UFRJ), Luiz Adauto da Justa Medeiros (UFRJ), Luiz R. Dante ( UNESP-RC), Manfredo Perdigão do Carmo (IMPACNPq), Matilde G. Gus (UFRS), Paulo F. Lima (UFPE), Remo L. Brunelli (UFMG), Renata Watanabe (UN. MACKENZIE), Standard Silva (UFES) e Ubiratan D'Ambrozio (UNICAMP). No encontro, o IMPA foi representado por dois professores: Elon Lages Lima e o Manfredo Perdigão do Carmo. Os egressos do IMPA nesta reunião foram três professores: Aristides C. Barreto (Doutorado 1964), Luiz Adauto da Justa Medeiros (Doutorado 1965) e Standard Silva (Mestrado 1975), Essas cinco pessoas ligadas ao IMPA representaram 26,3% do total dos participantes. 2.4 O III Simpósio sobre o ensino da Matemática O III Simpósio foi promovido pela SBM com o apoio da Academia Brasileira de Ciências no Rio de Janeiro em maio de 1979 e reuniu cerca de trinta matemáticos e educadores para debater o ensino da matemática em nível do 3º grau, com ênfase no curso de Bacharelado. Os quatro assuntos de pauta foram: problemas gerais do ensino universitário; Licenciatura em Matemática - recomendações complementares; objetivos do curso de Bacharelado em Matemática e currículo mínimo do Bacharelado. Com base nas informações do III Simpósio, que recomendou o currículo mínimo para o Bacharelado em Matemática, elaborou-se a tabela abaixo com estas disciplinas. Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 49 Tabela 3 - Currículo mínimo proposto para o Bacharelado em Matemática no 3º Simpósio sobre o Ensino de Matemática, Rio de Janeiro, maio de 1979. CALCULO DIFERENCIAL E INTEGRAL GEOMETRIA ANALÍTICA ÁLGEBRA LINEAR ESTRUTURAS ALGÉBRICAS COMPUTAÇÃO FÍSICA CÁLCULO DAS FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL COMPLEXA ANÁLISE REAL EQUAÇÕES DIFERENCIAIS ORDINÁRIAS GEOMETRIA EUCLIDIANA PROBABILIDADE E ESTATÍSTICA EQUAÇÕES DIFERENCIAIS PARCIAIS CALCULO NUMÉRICO Fonte: Noticiário da Sociedade Brasileira de Matemática, 1979. Nota: Dados trabalhados pelo autor. 50 A proposta deste currículo recomendava a presença de disciplinas optativas em campos como: Cálculo Numérico, Processamento de Dados, Física-Matemática, Probabilidade e Estatística, Economia Matemática, Matemática Pura, Educação Matemática, etc., que permitiriam a formação de matemáticos capazes de interagir com outras áreas. Na especialização (opção) em Matemática Pura, além das disciplinas acima, sugeriu-se as disciplinas: Geometria Diferencial, Introdução à Topologia e Mecânica Racional. Nesta proposta de currículo mínimo a disciplina de Álgebra e Aritmética Elementar sugerida anteriormente no II Simpósio foram eliminadas do núcleo comum, pois se tratavam de conteúdos do 1o e 2o graus. A disciplina de Geometria Euclidiana também foi eliminada. Os participantes desta reunião foram Adilson Gonçalves (UFPE), Alberto C. P. Azevedo (CNPq), Antônio Carlos do Patrocínio (UNICAMP), Antônio Fernandes Ize (UFSCARLOS), Antônio Gervásio Colares (UFCE), Arnoldo de Hoyos (UNICAMP), Arthur Oscar Lopes (UFRS), Augusto J. M. Wanderley (UFRJ), Carlos Alberto Barbosa Dantas (USP), Carlos Isnard (IMPA), Djairo Guedes de Figueiredo (SBM, Presidente), Djalma Pessoa (IMPA), Helon Lajes Lima (IMPA), Elza Furtado Gomide (USP), Genésio Lima dos Reis (UFGO), Geraldo Severo de Souza Ávila (CAPES), Guilherme M. de La Penha (SESUMEC), Heitor Gurgulino de Souza (CFE, CNPq), Hilton Vieira Machado (UNB), Jack Schechtman (IMPA), João B. Pitombeira de Carvalho (PUC-RIO), João Lucas Marques Barbosa (FCE), Luiz Adalto da Justa Medeiros (UFRJ), Matilde Groisman Gus (UFRS), Paulo Figueiredo Lima (UFPE), Paulo Roberto Grossi Sad (UFMG), Sérgio Alves (FINEP), Standard Silva (UFES), Walter da Bona Castelan (UFSC). Nesta reunião estiveram quatro representantes do Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 IMPA: os professores Carlos Isnard, Djalma Pessoa, Elon Lajes Lima e Jack Schechtman. Os egressos do IMPA participantes dessa reunião foram sete professores: Adilson Gonçalves (Mestrado 1967), Artur Oscar Lopes (mestrado em 1974 e doutorado 1977), Augusto J.M. Wanderley (mestrado em 1978), Genésio Lima do Reis (mestrado em 1968 e doutorado 1978), Luis Adauto da Justa Medeiros (doutorado em 1965), Paulo Roberto Grossi Sad (mestrado 1974 e doutorado em 1977) e Standard Silva (mestrado em 1975). Comparando-se o número de participantes deste encontro com a reunião do 2º Simpósio em 1978 houve um aumento de dois para quatro de representantes do IMPA e um aumento de três para sete de egressos do IMPA, totalizando 11 professores com alguma formação no IMPA, que representaram 37,9 % do total dos participantes. 2.5 A Reunião Conjunta SBM/SBMAC de 1985 Em 26 e 27 de fevereiro de 1985 realizou-se no Rio de Janeiro, a Reunião Conjunta SBM/SBMAC (Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada Computacional) que tratou de assuntos pertinentes ao ensino de graduação e de certos aspectos da política universitária (Noticiário da SBM, 1985). Os grupos de trabalho discutiram três assuntos: estruturas curriculares dos cursos de graduação em matemática; for mação básica nos cursos de Engenharia e Computação; e problemas atuais das universidades: política científica em nível de pós-graduação e pesquisa. O grupo de trabalho de Estrutura Curricular dos cursos de graduação em Matemática recomendou no primeiro tópico um Núcleo Comum à Licenciatura e o Bacharelado, composto das seguintes disciplinas: Cálculo Diferencial e Integral, Geometria Analítica, Álgebra Linear, Estr uturas Algébricas, Física e Computação. No segundo tópico intitulado “Licenciatura em Matemática Currículo”, a SBM recomendou as quinze disciplinas para o curso de Licenciatura em Matemática. A Tabela 4 mostra como ficaram estabelecidas as disciplinas do currículo mínimo. Tabela 4 - Currículo mínimo para a Licenciatura em Matemática, proposto pela reunião conjunta SBM/SBMAC, Rio de Janeiro, Fevereiro de 1985. CALCULO DIFERENCIAL E INTEGRAL GEOMETRIA ANALÍTICA ÁLGEBRA LINEAR ESTRUTURAS ALGÉBRICAS COMPUTAÇÃO FÍSICA CÁLCULO DAS FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL COMPLEXA ANÁLISE REAL Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 51 EQUAÇÕES DIFERENCIAIS ORDINÁRIAS GEOMETRIA EUCLIDIANA ÁLGEBRA E ARITMÉTICA ELEMENTARES PROBABILIDADE E ESTATÍSTICA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS (OPTATIVA) MODELAGEM MATEMÁTICA (OPTATIVA) HISTÓRIA DA MATEMÁTICA (OPTATIVA) Fonte: Noticiário da SBM, 1985. Nota: Dados trabalhados pelo autor. 52 Também nessa reunião acrescentaramse à proposta anterior três disciplinas optativas: a História da Matemática, a Resolução de Problemas e Modelagem Matemática. Como recomendações gerais, a comissão pretendia dentre outras coisas: a) Sugerir ao CFE que a disciplina Geometria Descritiva e Desenho do currículo mínimo obrigatório para Licenciatura em Matemática fosse substituída por uma disciplina obrigatória de Geometria Euclidiana e Desenho; b) Elaborar e divulgar junto ao MEC, professores de 3º grau e instituições de ensino de graduação uma lista mínima de bibliografias para a biblioteca de matemática para as escolas de 3º grau. As disciplinas de Análise Real, Equações Diferenciais Ordinárias e Probabilidade e Estatística sugeridas para o currículo mínimo do Bacharelado na Reunião do Simpósio de 1979, mantémse nesta proposta de currículo mínimo para a Licenciatura em Matemática. Os participantes desta reunião foram Adilson Gonçalves (UFPE), Alciléia A. H. de Mello (IME-USP), Antônio Gervásio Colares (UFCE), Aristides C. Barreto (PUC-RJ), Arthur Darezzo Filho (UFSCAR), Carlos Antônio de Moura (LNCC), Carlos Augusto M. Barbosa (UFCE), Carlos Frederico Palmeiras (PUC-RJ), Claus Ivo Doering (UFRS), Djairo Guedes de Figueiredo (UNB), Geraldo Severo Àvile (UnB), Gilberto Frederico Loibel (ICMSC-USP), Gilda de La Roque Palis (PUC-RJ), Imre Simom (IME-USP), Ivan Tribuzy (UAM), Jair Koiller (UFRJ), João Pitombeira de Carvalho (PUC-RJ), João Lucas M. Barbosa (UFCE), Keti Tenembleti (UnB), Luis Adalto da Justa Medeiros (UFRJ), Luís Carlos Guimarães (UFRJ), Luís Carlos Pavlu (UFSCAR), Manfredo Perdigão do Carmo (IMPA), MartinTygel (UNICAMP), Pedro Mendes (UFMG), Tomasz Kowaltowski (UNICAMP), Wellinghton Santiago da Rocha (UnB). O único representante do IMPA foi o professor Manfredo Perdigão do Carmo, dentre dez professores egressos do IMPA: Adilson Gonçalves (mestrado em 1967), Aristides C. Barreto (doutorado em 1964), Carlos Frederico Palmeira (doutorado em 1976), Claus Ivo Doering (mestrado em 1974), Gilda De La Roque Palis (doutorado em 1974), Ivan Tribuzy (mestrado em 1971), Keti Tenemblat (doutorado em 1972), Luis Adauto da Justa Medeiros (doutorado em 1965), Luis Carlos Guimarães (mestrado em 1974) e Pedro Mendes (doutorado 1972). Comparando o número de participantes desta reunião com o III Simpósio em 1979, constatou-se que Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 houve uma redução de quatro para apenas um representante do IMPA compensando com um aumento de sete para dez egressos do IMPA, totalizando onze pessoas envolvidas com o IMPA. Em relação de professores dos três encontros observou-se que foram apenas nove os professores que participaram do II Simpósio (1978) e do III Simpósio (1979). Cinco professores participaram do III Simpósio (1979) e da Reunião Conjunta (1985). Constatou-se que apenas três professores participaram das reuniões entre 1979 a 1985: Antônio Gervásio Colares, João Bosco Pitombeira de Carvalho e Luiz Adauto da Justa Medeiros. Observou-se também que o número de professores ligados ao IMPA nas duas últimas reuniões não se alterou. No entanto, nesse último encontro representou 40,7% do total dos participantes, visto que o número de participantes reduziu de vinte e nove para vinte e sete. Analisando o número de representantes diretos e de egressos do IMPA nas três reuniões, observa-se que houve um crescimento a cada encontro chegando a 40,7% no último encontro. Este número é significativo considerando o aspecto qualitativo dos profissionais com formação no IMPA. Supõe-se com isso que vários posicionamentos nas reuniões tiveram influências diretas destes profissionais, principalmente no que se refere ao currículo da Licenciatura em Matemática. A influência deles foi marcada na reunião de 1978 no III simpósio, pois dentre as disciplinas sugeridas para o currículo mínimo do Bacharelado, observa-se que as disciplinas de Análise Real, Equações Diferenciais Ordinárias, Probabilidade e Equações Diferenciais, estão presentes até os dias atuais no programa de Mestrado em Matemática Pura do IMPA. 2.6 O currículo mínimo atual da Licenciatura em Matemática E o currículo mínimo atual? Para responder a pergunta, pesquisamos o Parecer CNE/CES nº. 1.302, aprovado em 06 de novembro de 2001, que estabelece os seguintes conteúdos básicos comuns aos cursos de Licenciatura em Matemática: Cálculo Diferencial, Geometria Analítica, Álgebra Linear, Fundamentos de Álgebra, Fundamentos de Análise e Fundamentos de Geometria. A parte comum deve ainda incluir: a)Conteúdos matemáticos presentes na Educação básica nas áreas de Álgebra, Geometria e Análise; b)Conteúdos de áreas da Matemática, que são fontes originadoras de problemas e campos da aplicação de suas teorias; e c)Conteúdos da Ciência da Educação, de História e Filosofia das Ciências e da Matemática. Nesse parecer recomenda-se ao aluno licenciando o uso do computador como instrumento de trabalho desde o início do curso incentivando sua utilização para o ensino da Matemática. Para comparar o currículo mínimo oficial atual com a proposta de currículo da Reunião Conjunta SBM/SBMAC de 1985 incluímos a História, a Computação e a Física, ao núcleo comum apresentado acima e construímos a Tabela 5. Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 53 CALCULO DIFERENCIAL GEOMETRIA ANALÍTICA ÁLGEBRA LINEAR FUNDAMENTOS DE ÁLGEBRA COMPUTAÇÃO FÍSICA FUNDAMENTOS DE ANÁLISE FUNDAMENTOS DE GEOMETRIA HISTÓRIA DA MATEMÁTICA Fonte: PARECER CNE/CES 1302/2001. Dados trabalhados pelo autor. Ao compararmos o currículo mínimo proposto pela Reunião Conjunta SBM/SBMAC de 1985 com o currículo mínimo atual observou-se que todas as disciplinas do currículo atual estão presentes no currículo da Reunião Conjunta de 85, sendo que esta apresenta um número maior de disciplinas. 3 À Guisa de Conclusão 54 A SBM com a participação ativa do IMPA na Reunião Conjunta da SBM/SBMAC de 1985 recomendou a inclusão de disciplinas nos currículos mínimos das Licenciaturas em Matemática. Observou-se que essas disciplinas e também os programas e os conteúdos sugeridos pela Reunião estão presentes nas propostas curriculares das universidades públicas da Região Sudeste em estudo, a saber, Universidade de São Paulo, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade Federal de Minas Gerais e Universidade Federal do Espírito Santo, até os dias de hoje. A partir das análises é possível inferir que o IMPA teve uma participação significativa na construção da história do currículo mínimo dos cursos de Licenciatura em Matemática, por meio de participações de seus egressos em importantes reuniões promovidas pela SBM nas últimas décadas do século XX. 4 Referências MACHADO, Hilton Vieira. A comissão de ensino da SBM - Um retrospecto. Noticiário da Sociedade Brasileira de Matemática, Rio de Janeiro, Ano X, número 1, p.29-32, maio 1978. REUNIÃO conjunta SBM/SBMAC. Noticiário da Sociedade Brasileira de Matemática. Brasília-DF, ano X, número 1, p. 3-18, abr. 1985. SEGUNDO Simpósio sobre o Ensino da Matemática. Noticiário da Sociedade Brasileira de Matemática, Rio de Janeiro, ano XI, número especial, p. 9-15, abr. 1979. TERCEIRO Simpósio sobre o Ensino da Matemática. Noticiário da Sociedade Brasileira de Matemática, Rio de Janeiro, ano X, número 1, p. 33-41, maio 1978. Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 UMA QUESTÃO DE ÉTICA RESENHA SOBRE O FILME FORA DE CONTROLE Aline Ferreira Dias Leite1 Audrey Ferreira Dias Leite2 1 Mestranda em Serviço Social - PUC/SP Rua Monte Alegre, 984 São Paulo - SP, 05014-000 E-mail: [email protected] 2 Professora da FARESE/ Jornalista e Esp. Gerenciamento e Consultoria de Empresas Rurais pela UFV. Instituto de Ensino Superior da Região Serrana Rua Hermann Roelke, 230 - Centro Santa Maria de Jetibá - ES - Brasil - CEP 29645-000 E-mail: [email protected] Resumo O trabalho consiste numa resenha sobre ética e moral, baseada no filme: “Fora de Controle”, além de conceitos bibliográficos sobre os mesmos. Objetivamos é ressaltar simulações que ocorrem no dia-a- dia das pessoas e, como os comportamentos adotados por estas refletem nas ações de outros membros da sociedade. Contudo, é notável que seja preciso ter domínio das suas atitudes e ações para que a ética esteja presente em todos os instantes da vida de um ser humano, sem entrar em conflito com a liberdade e o direito do individuo. Com este assunto não queremos focar apenas o ou certo ou errado, pois não estamos aqui para julgar, e sim, analisar questões, comportamentos e fatos reais de acordo com conceitos filosóficos da ética. É importante frisar que existem vários prismas de análise e estamos abordando apenas um: o ponto de vista social. Palavras-chave: ética, comportamento, filme “Fora de Controle”. Apresentação O trabalho se inicia com a contextualização dos fundamentos ontológicos e sócio-históricos da ética. Para identificarmos os fundamentos do homem, ou seja, o conjunto de atributos que fazem dele um ser específico, o que contribuirá para a discussão da temática sobre a ética, Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 55 o significado da moral em nossa sociedade e a liberdade. Ética 56 Primeiramente passamos pelos fundamentos do ser social, pautada numa compreensão de que a ética é uma construção histórica dos homens. Podemos afirmar que os homens expressam o modo de ser existente na realidade sócio-histórica. Um Ser Social que em seu convívio passou a desenvolver valores e hábitos que são construídos dentro das relações sociais cotidianas da sociedade. O homem, para construir a si mesmo em busca de um novo ser, deu o primeiro passo, rompendo com o padrão imediato e instintivo que estabelecia com a natureza. E nesse processo, ele começa a criar novas possibilidades de se comportar como um ser ético, pois se transformou em ser social capaz de construir mediações, dominando a natureza e a si mesmo. Entretanto, continuou a se relacionar com ela, pois precisava da natureza para sobreviver e assim vai adaptando-a ao contexto social. Seguindo esta lógica, o homem definido aqui como ser social, surge da natureza e da construção das capacidades essenciais ao seu processo de humanização, sendo o ser social autor e produto de si mesmo, indicando a sua historicidade. A história é composta por relações dos homens entre si e com a natureza, dotados de objetividades sóciohistóricas. E nessa perspectiva, afirmamos que “o ser social fundamentase em categorias ontológicas-sociais, pois os modos de ser que o caracterizam são construções sócio-históricas (...)”. (BARROCO, 2008:20). Em muitos aspectos o homem se diferencia dos animais, dotados de razão e se desenvolve como um ser consciente, universal e livre, sendo capaz de produzir situações ou objetos, sem a necessidade física, mas, pensando num objetivo a ser alcançado e também a sua utilidade. É através de sua autoconsciência de sujeito que transforma a natureza, e a essas capacidades transformadoras que, de acordo com Marx, podemos caracterizar como “trabalho”, ou seja, “ a necessidade eterna de efetivar intercâmbio entre o homem e a natureza, e, portanto, manter a vida humana”. (BARROCO, citando MARX, 21:2008). Através do trabalho, o homem cria, naturalmente, mecanismos e alternativas de interação com outro ser e dentro deste contexto, passa a surgir a necessidade de regras, normas, para regular a vida em sociedade. Normas que também podem ser definidas através dos costumes das tradições e da história. O homem, através da razão, é capaz de responder às suas necessidades de forma que as respostas possam sempre sugestionar novas perguntas, num processo incessante de transformações, tanto da natureza como dos próprios homens. A esta ação podemos denominála como práxis, seguindo os pensamentos de Vasquez: “a práxis é a categoria central da filosofia que concebe a ela mesma como interpretação de mundo, mas também como guia de transformação”. (1977). A ação da práxis realizada pelo homem começa a partir do domínio que o mesmo exerce sobre a natureza, através de um modo que é específico e próprio do ser humano, no qual rompe o domínio da natureza para instituir-se como ser de Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 projetos e um mundo de liberdade. Elaborou-se o conceito de que o homem é um ser de projetos. Podemos dizer também que através do trabalho, ele projeta a sua finalidade, visando obter um determinado resultado com direção já programada. Finalidade que contém uma intenção e um conjunto de valores direcionados ao que se julga melhor em relação ao presente. Portanto, o homem possui um conjunto de atributos que fazem dele um ser específico, cujas capacidades são criadas pelos próprios homens em seu processo de desenvolvimento. Portanto, podemos afirmar que o homem é criador de si mesmo e que a história é este processo de autocriação. Neste movimento, é importante tecer o conceito de ética. A ética é, antes de tudo, concebida como práxis, ou seja, a prática social dos homens que transforma e apresenta uma nova realidade. Na origem dos termos que compõem a ética, encontramos, de uma maneira geral, a idéia de costume, associados ao termo “ethos” como morada, internalização de costumes à tradição, complementada pelo conceito “physis” e “práxis”. O sentido de “ethos” como morada traz o sentido de um lugar onde o homem irá permanecer, criar hábitos e construir seu abrigo protetor. O “ethos” vem surgir como costume, como um estilo de vida e ação. Nesse sentido, o ser social consegue na constância natural e permanente de realizar algo, transformar o mundo em habitável de tal modo que passa a atender as suas necessidades. O homem, ao romper com o domínio da natureza (physis) constrói um espaço de abertura para a criação e efetivação de seus projetos e necessidades. Ele rompe com as necessidades instituídas pela natureza para atender as suas necessidades que foram e são criadas no dia a dia. E na construção desse movimento, o homem proporciona a criação incessante de hábitos, costumes, regras, normas e leis para a vida em sociedade. É no costume que se expressa as características de internalização das regras, das normas e hábitos de tal maneira, que possamos compreender com a busca do domínio de si mesmo, a busca contínua de se satisfazer. Toda ação do homem é composta por ação ética. Ao mencionarmos ação, estamos falando de práxis, ou seja, de ações que se articulam entre nossos hábitos e costumes, visando transformações da realidade, criação de algo e situações novas. Seguindo os pensamentos de Ferreira (2007), a ética é uma linguagem, é uma forma de dar significado à vida, à forma de um saber demonstrativo. Surge daí um movimento de constituição de uma linguagem universal, codificada e socialmente reconhecida. O homem passa a criar os espaços que tem e a instituir regras para as coisas e situações cotidianas, o que deverá ocorrer no espaço da ética. A Moral A moral está associada ao particular, ao comportamento individual de cada ser social que nasce dentro de cada individuo. São as decisões tomadas por cada pessoa, de acordo com o lugar em que vive e ocupa dentro da sociedade. A moral busca traduzir a realidade, o uso da razão, com o objetivo de saber se os hábitos, costumes, leis e regras estão dentro do que a sociedade prega como Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 57 certo. O campo da moral é o campo que nos permite atribuir valorações às coisas e julgar as ações como certas/erradas, bem/mal etc., e de acordo com nossos comportamentos e atos cometidos por outras pessoas. A moral influencia no comportamento e nas decisões do homem, e ela nos permite possuir a consciência de nos responsabilizarmos por nossas escolhas. A ética, já é mais ampla e universal, sua significação mais abrangente e , embora seja pouco parecida com a moral, não são sinônimas. A ética é considerada uma necessidade de saber o certo e o errado sobre todas as ações do homem, voltando-se para a reflexão e o agir do ser social. A ética não se limita apenas aos costumes, mas à liberdade e à racionalidade. “A reflexão ética (...) é um espaço específico de reflexão sobre o modo de ser constitutivo do homem como sujeito ético, ou seja, sujeito racional capaz de escolher valorações e ações que conduzem à liberdade, entendida como um bem”. (CURSO DE CAPACITAÇÃO ÉTICA AGENTES MULTIPLICADORES, 2003:19). Liberdade 58 Depreende-se que a liberdade possui um valor ético fundamental, uma reflexão histórica e critica, que tem como objetivo estudar os significados e fundamentos da moral. A partir das objetivações criadas pelo homem, em que ele constrói alternativas atribuindo-as a valorações dos fatos. Ele também cria possibilidades alternativas de escolha, e a essas, segundo Marx, denomina-as de liberdade. Agir com liberdade é agir eticamente, é poder escolher, conscientemente, entre várias alternativas. A liberdade é conquistada, é resultado de atividades humanas que respondem as suas necessidades. Pensando de acordo com as afirmações anteriores, percebe-se que a liberdade não é fato absoluto, pois se os homens têm desejos e necessidades diferenciadas projetam-nos de forma diferente, a liberdade para cada um acontecerá de maneira diferente, pode até na maioria das vezes, causar conflito, pois o desejo de um poderá impedir a realização do desejo do outro. Filme: Fora de Controle Dirigido por Roger Michelli, EUA, 2002. Numa cidade de Nova York, os carros de Gavin Banek (Ben Affleck) e Doyle Gipson (Samuel L. Jackson), sofrem uma colisão, quando Banek, um advogado, precisa ir ao tribunal para levar uma procuração que dá à empresa do sogro, o direito de administrar uma fundação com capital de milhões de dólares. Banek estava com muita pressa, portanto, não tinha tempo para negociar sobre a colisão e deixou um cheque em branco para Gibson consertar seu carro e foi embora. O carro de Banek estava em condições de prosseguir, mas o de Gipson estava totalmente destruído, o que o impediu de se retirar rapidamente, daquele local. Devido a este acidente, Gipson chegou atrasado ao tribunal, onde lutava pela guarda dos dois filhos. Quando conseguiu chegar à audiência, em que estava Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 atrasado apenas vinte minutos, tudo estava encerrado. O juiz havia definido a guarda das crianças à sua ex-mulher, que iria residir com os infantes em outra cidade distante. Por outro lado, Banek tinha uma audiência importantíssima, que selaria o futuro da empresa de advocacia em que trabalhava, mas na hora de apresentar a procuração em que uma fundação transmitiria à empresa em que trabalhava o direito de administrar o seu capital, ele não achou o documento e concluiu que poderia ter perdido no local do acidente. Deste momento em diante, cada um destes homens se sentem cada vez mais prejudicados e farão todo o possível para prejudicar um ao outro em uma luta insana e fora de controle. Numa batalha em que não medirão as consequências para conquistar o que desejam e complicar a vida do outro, como forma de vingança. Ao analisarmos o filme, percebemos que o contexto social em que está engajado, demonstra dois mundos diferenciados, marcados pelo “status sociais” e divisão de classes. Um personagem é vendedor de seguros e passa por dificuldades financeiras, já o outro, exerce advocacia numa grande empresa que lhe permite possuir um padrão de vida elevado. Embora ambos possuam mundos sociais distintos, as situações de conflito vivenciadas por eles se cruzam em alguns momentos, que a c a b a m p e r d e n d o a ve r d a d e i r a identidade, e por um determinado período, os seus valores e os significados que atribuem aos fatos, mudam drasticamente. O filme expressa o comportamento pessoal e profissional dos personagens, atitudes que levantam uma série de questionamentos, como: o que somos, em que acreditamos? Onde estão nossos valores morais? Como eles foram criados? A partir de qual construção histórica e cultural estes seres foram formados? A liberdade existe? Temos como exemplo um advogado que não obtém o sucesso ao tentar recuperar a pasta com a procuração de volta, até o final do dia, eles travam uma verdadeira luta sem escrúpulos, evidenciado o lado do ser humano que é capaz de tudo. O filme nos faz refletir, se estivermos diante de uma oportunidade de abocanhar milhões de dólares, como devemos agir diante de nossos princípios éticos? Como eles foram formados? É possível cometer atitudes que podem levar até a morte? Entre outras situações, Banek pede ajuda a um poderoso “hacker” para manipular o crédito de Gipson e levá-lo à falência, e este por sua vez, de temperamento instável, causa um acidente, quase fatal, com o carro do rival, mesmo sendo, constantemente alertado de seus erros por um amigo. Sem contar que Banek ainda tem uma amante no trabalho, que foi descoberta por sua esposa, que aceita que o marido tenha vida extra-conjugal, como também, aprova as atitudes desleais cometidas pelo pai para conseguir ganhar as causas defendidas e assim, possuírem um padrão de vida elevado. Banek sente-se pressionado, pois o tempo limite para apresentar a procuração está encerrando. Situação que o deixa mais nervoso e preocupado com o desfecho da ação. Então, resolve contar para seu chefe/sogro o ocorrido. O sogro não acredita e o denomina como incompetente, e que eles seriam Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 59 60 obrigados, por outros meios, a forjar uma procuração, pois não podiam perder a administração daquela fortuna. Diante de tais circunstâncias, Banek começa a questionar a atitude do sogro e a vasculhar as pastas do escritório, descobrindo assim, inúmeras irregularidades que a empresa comete para estar no topo da pirâmide social. Mas, neste momento, ele continua ainda agindo de maneira a atingir Gibson, pois não aceita a situação que vivencia. Para isso, resolve atingir o seu ponto fraco, criando uma cilada para que perca, de vez, o contato com os filhos e a ex-esposa, levando-o a ficar detido. No final do dia, Gipson é liberado da prisão, sua esposa e seus filhos mudam para outra cidade. Banek não conseguiu receber a pasta em tempo hábil, mas seu sogro já havia forjado o documento e o apresentado. Apesar de terem utilizado de todos os meios sórdidos, ambos não obtiveram sucesso em suas ações. Estas foram necessárias para que ambos pudessem analisar e refletir os seus comportamentos, e se estes valores que apresentaram até então, são importantes ou se devem ser descartados. Observa-se que ambos conquistaram uma liberdade, que até então, não a tinha, pois no início, não escolheram alternativas, pois não analisaram a situação de forma crítica e nem pensaram nas consequências de suas atitudes. Posteriormente, há todo um conflito vivenciado nas irregularidades que foram reveladas. Eles puderam fazer uma análise e optar qual caminho seguir; seja ele de conflitos, roubos, golpes, uso de bebidas, honestidade, reparação de erros ou estar preparados para viverem em família. No tocante aos acontecimentos apresentados pelo filme, percebe-se, nitidamente, que os valores são construções sócio-históricas. Se o homem do século XXI age de modo diferente do homem do século passado é porque a cultura em que se encontra inserido é outra; os padrões sociais vividos, as relações entre outros seres, a valorização do trabalho e os relacionamentos familiares têm hoje outro significado que contribuem para as atitudes e comportamentos modernos. A essência do indivíduo é construída através da história, e se esta história é marcada por desamor, violência, disputas, riquezas etc, são os valores que irão dominar a vida do homem. Então, diz-se que esses comportamentos são advindos da conduta moral do indivíduo. A moral é um sistema de normas, princípios e valores, segundo o qual são regulamentadas as relações mútuas entre os indivíduos ou entre estes e a comunidade. Estas nor mas, de caráter histórico e social, devem ser a c a t a d a s l i v r e e conscientemente, por uma convicção íntima e não de maneira mecânica e impessoal. ( BA R RO C O, 2 0 0 3 a p u d VASQUEZ). A partir do momento em que os personagens levam um susto e passam a refletir suas ações, eles começam a analisar seus comportamentos e atitudes, passando a julgar suas ações práticas e as dos outros como corretas e incorretas e, o mais importante, o reconhecimento e o julgamento de valores das próprias ações, deparando-se com situações que os colocam em dúvidas sobre a melhor escolha, criando projeções para a vida a partir de valores que julgam positivamen- Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 te ou negativamente. Ao adotar posturas que são valoradas como positivas de acordo com sua cultura, eles acreditam estar agindo em consonância com os seus princípios morais. Quando estas ações interferem num campo maior e atingem o maior número de indivíduos e a sociedade positivamente, dentro de parâmetros estabelecidos pela lei, eles adotam uma postura que podemos dizer ser ética. Revela-se, enfim, que o campo das objetivações ético-morais apresentado neste drama, ocorreu a partir da organização do trabalho e da vida social de cada indivíduo. Organizações construídas pelo conjunto dos modos de seres éticos e morais edificadas pela longa trajetória do filme, observa-se que Banek e Gipson não agiam como “sujeito éticomoral”, pois não apresentavam capacidade de discernir entre os valores do bem/mau, certo/errado, justo/injusto etc. Eles não assumiam que outras pessoas poderiam estar sofrendo e sendo prejudicados diante dos atos por eles praticados. Em suas relações não existia respeito ao outro e nem responsabilidade por seus atos perante os outros seres sociais; demonstrando apenas a existência dos desejos e das paixões singulares, sendo incapazes de pensar no outro e como afirma Barro, 2008: “(...) sair da condição de indivíduo egoísta, voltado para si mesmo”. estaremos a caminho de uma ética efetivada para nós no tempo presente e no futuro. Sendo assim, somos capazes de construir a nossa própria história e constituir a ética. Referência BARROCO, Maria Lucia S. Ética e serviço social: fundamentos sóciohistóricos o. São Paulo, Cortez, 2008. _________________. Ética e serviço social: fundamentos ontológicos. São Paulo, Cortez, 2001. _________________. Ética e sociedade, Curso de Capacitação Ética para Agentes Multiplicadores. Conselho Federal de Serviço Social. Brasília, CFESS, 2000. Módulo I. FERREIRA, Anderson D'arc. Filosofia e ética. Belo Horizonte, FEAD, 2007. VÁSQUEZ, A.S. Filosofia da práxis. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1977. Filme: Fora de controle. Ano de Lançamento (EUA): 2002. Direção: Roger Michell. Conclusão Depreende-se que precisamos saber quem somos, buscar e construir nosso caminho levam ao nosso lado amigos, bem como, a alteridade e o respeito mútuos. Se formos capazes de ter o domínio de nossas próprias vidas, Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 61 NORMAS PARA PUBLICAÇÃO comunicação do resultado da avaliação. Após esse prazo, as contribuições serão eliminadas, garantindo-se nesse processo a total destruição. 1 Normas editoriais 1.1 A Revista da FARESE: o ponto de vista docente e discente, tem por finalidade divulgar a produção acadêmica do corpo discente e docente gerada a partir das atividades desenvolvidas. A revista é distribuída como permuta para instituições de ensino superior de todo o Brasil. 1.2 Poderão também ser publicadas contribuições enviadas por pesquisadores, professores e alunos de outras instituições de ensino superior em parceria com os professores da instituição, bem como por outros profissionais, independente de vinculação institucional, do Brasil e do exterior. 1.3 Os conceitos emitidos serão de responsabilidade exclusiva do (s) autor (es), não refletindo a opinião do Conselho Editorial. 1.7 As contribuições publicadas passam a ser propriedade da Revista da FARESE: o ponto de vista docente e discente ficando sua reimpressão, total ou parcial, sujeita à autorização expressa dos Editores da revista. Cada autor receberá, gratuitamente, duas separatas do artigo que inclui sua contribuição. 1.8 Serão considerados para publicação trabalhos nas seguintes categorias: a)artigos teórico-científico; b)artigos de pesquisa; c)entrevistas transcritas. 1.9 Ao receber os originais, a Revista da FARESE: o ponto de vista docente e discente não assume o compromisso de publicá-los sem antes submetê-los ao processo de avaliação. 2 Avaliação das contribuições 1.4 O texto deve ser inédito e não ter sido enviado a outra revista para publicação. 62 1.5 Os originais aprovados poderão sofrer alterações de ordem normativa, ortográfica e/ou lingüística, respeitando, porém, o estilo dos autores. Os originais publicados não serão devolvidos aos autores nem as provas finais serão reapresentadas, exceto em caso de extrema necessidade. 1.6 As contribuições recusadas ficarão à disposição do autor responsável pelo prazo de 90 dias, a contar da data de 2.1 O Conselho Editorial decidirá sobre a conveniência ou não da publicação dos originais, avaliando-os como totalmente, parcialmente ou não aceitos, bem como poderá sugerir modificações. 2.2 A Revista da FARESE: o ponto de vista docente e discente não devolverá os originais. 2.3 As contribuições serão enviadas para avaliação sem identificação da autoria. Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 3 Encaminhamento 3.1 A contribuição deve ser encaminhada aos editores da revista, acompanhada de: ? Carta de encaminhamento assinada por todos os autores, explicitando: a concordância com as condições e normas adotadas pela revista; e a indicação de apenas um autor como responsável pelo contato, incluindo seu endereço completo, inclusive telefones e endereço eletrônico; ? Declaração de Responsabilidade; ? Termo de Transferência de Direitos Autorais; ? Procedência do artigo com entidade financiadora; 4Estrutura das contribuições 4.1 É recomendável que a contribuição enviada esteja de acordo com as normas da ABNT referentes a artigos em publicação periódica científica impressa (NBR 6022:2203); citações em documentos (NBR 10520:2002); numeração progressiva de documentos (NBR 6024:2003) e resumo (NBR 6028:2003), bem como com a norma de apresentação tabular do IBGE, publicada em 1993 (última edição). 4.2 A contribuição deve ser redigida em português, espanhol ou inglês, com estilo de redação claro e coerente na exposição das idéias, observando o uso adequado da linguagem. Deve ser digitada em extensão ".doc" (Word), impressa em três vias e gravada em disquete (3½) ou CD-ROM. Na etiqueta do disquete ou CD-ROM deverão constar: título do trabalho, autoria. 4.3 O texto deve estar configurado para papel A4, digitado em fonte garamond 12, com margens superior, inferior, direita e esquerda de 3cm, folhas devidamente numeradas no canto superior direito, alinhamento justificado, parágrafo em bloco e entrelinha com espaço 1,5. 4.4 Na primeira lauda do texto deverá constar: a)título, digitado na mesma fonte do texto, em tamanho 14, em letras maiúsculas, com alinhamento centralizado e em negrito. Deve ser breve, específico e descritivo; b)nome completo do(s) autor(es), logo após o título na mesma fonte do texto; OBS: A titulação e vinculação institucional, endereço postal completo, telefones e endereço eletrônico dos autores, deve vir inseridos em notas de rodapé da primeira lauda. 4.5 Na segunda lauda deverá constar: a)resumo, de caráter informativo, expondo o objetivo, metodologia, resultados e conclusões da contribuição, contendo até 250 palavras, digitado em espaço simples, estruturado em um único parágrafo; b)palavras chaves, no mínimo 03 e no máximo 05, que identifiquem o conteúdo do artigo. 4.6 O texto, iniciado a partir da terceira lauda, deverá estar estruturado conforme as características específicas da contribuição (artigo, resenha, relato de projeto ou de pesquisa), com paginação numerada no canto superior direito. 4.7 As citações de fontes no texto podem ser diretas e indiretas devem conter Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010 63 sempre: sobrenome do autor, seguido do ano de publicação da obra, observados os seguintes critérios de estrutura: ? com até 3 linhas, devem estar incluídas no corpo do texto, respeitando o tamanho da fonte do texto e entre aspas; ? com mais de três linhas, devem vir em parágrafo isolado, recuado da margem esquerda em 4cm, fonte tamanho 10, sem aspas e com entrelinha espaço simples. 4.8 As notas contidas no artigo deverão ser do tipo explicativo, usando chamada numérica para remeter para o final do artigo, limitando-se ao mínimo possível. 4.9 As ilustrações devem ser numeradas consecutivamente com algarismos arábicos, na ordem de citação no texto e de acordo com sua tipologia (tabelas, gráficos, quadros, desenhos, etc.) e apresentar título conciso. Devem ser utilizadas somente quando indispensáveis à compreensão e clareza do texto e na sua legenda deve ser usada fonte garamond tamanho 10 e entrelinha simples. 64 4.10 A lista de referências deve ser estruturada atendendo às regras da NBR 6023:2002, sendo de inteira responsabilidade do autor sua exatidão e adequação, devendo constar da lista apenas as obras que foram citadas no corpo do texto. Na indicação de autoria das obras citadas, o sobrenome dos autores deve ser em caixa-alta, com os nomes e prenomes apresentados de forma abreviada. As referências poderão sofrer alterações de ordem normativa, com vistas a manter o padrão mínimo exigido pela NBR 6023:2002 e deverão estar à disposição da revista para caso de consulta pela equipe de normalização. Exemplos de referências: a)Livros FEIL, I. T. S. Alfabetização: um desafio novo para um novo tempo. 13. ed. Petrópolis: Vozes, 1991. b)Capítulos de livro ou partes de coletânea FERREIRO, E. A escrita como sistema de representação. In: ____.Reflexões sobre alfabetização. 24. ed. São Paulo: Cortez, 2001. p. 10-16. c) Artigos em periódicos CASTELLAR, S. M. V. Educação geog ráfica: a psicogenética e o conhecimento escolar. Cadernos Cedes, Campinas, v. 25, n. 66, p. 209-225, maio./ago. 2005. d)Textos da Internet RIBEIRO, V. M. Alfabetismo funcional: referências conceituais e metodológicas para a pesquisa. Educação & Sociedade., Campinas, v. 18, n. 60, 1997. D i s p o n í v e l e m : http://www.scielo.br/scielo.php?. Acesso em: 10 out. 2006. Revista da FARESE, Santa Maria de Jetibá, ES, v. 2, n.1, jan./jul. 2010