ROREVISTA DE ODONTOLOGIA
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ROREVISTA DE ODONTOLOGIA
RO Ano 1 Nº 1 2001 REVISTA DE ODONTOLOGIA Maio/Junho/Julho 2001 História da Academia O Ministro Paulo Renato fala sobre Ensino de Odontologia As Dores em Odontologia SUMÁRIO Academia Pierre Fauchard ................................................................................................................. Profª. Dra. Lucy Dalva Lopes.................................................................................................. “História da Cirurgia Buco Maxilo Facial no Brasil – Antes e Depois de João Jorge de Barros”..... Prof. Dr. Clóvis Marzola ......................................................................................................... Tratamento Medicamentoso da Neuralgia do Trigêmeo .................................................................... Dr. Gabriel Denser Campolongo ............................................................................................ Dr. André Ricardo Nosé .......................................................................................................... Dr. Gabriel Denser Campolongo ............................................................................................ Dr. André Ricardo Nosé .......................................................................................................... “As dores de cabeça e o cirurgião dentista”....................................................................................... Prof. Tarley Pessoa de Barros................................................................................................. Prof. Oswaldo Brás Daniel dos Santos.................................................................................... Dr.ª Ana Paula Novaes dos Santos .......................................................................................... Dr. José Carlos de Vivo ........................................................................................................... Atualidades......................................................................................................................................... Ministro concede Entrevista para Revista de Odontologia: Qualidade de Ensino............................. Ministro Paulo Renato de Souza.............................................................................................. Contribuição para o Ensino da Anatomia em Escolas de Odontologia no Estado de São Paulo ....... Dr. Tarley Eloy Pessoa de Barros ........................................................................................... Prof. Dr. Aldo Staccbini........................................................................................................... Corantes de Extratos de beterraba e espinafre para placa dental........................................................ Dr. José Carlos de Vivo ........................................................................................................... Prof. Dr. Camillo Anauate Neto .............................................................................................. Hipersensibilidade Dentinária ............................................................................................................ Dr. Cyro Siqueira Filho........................................................................................................... Dr. Josiel A. Pereira de oliveira.............................................................................................. Dr. Renato Murcia ................................................................................................................... Dr.ª Rosemary Pereira de Araújo Carvalho ........................................................................... 4 6 15 19 22 23 25 29 32 1 PALAVRA DO PRESIDENTE Estimados Confrades É com grande prazer e orgulho que fazemos chegar à vossas mãos este primeiro número da revista nacional de nossa academia. Evidentemente que é o resultado de um trabalho árduo e profícuo de colegas que se dedicam há anos pela nossa academia, como a Dra. Lucy Dalva Lopes, Prof. Dr. Clovis Marzola, Dr. Alfredo Campos Pimenta, Dr. J.J. Barros (in memoriam), Dr. José Carlos de Vivo, entre outros, que assumiram essa responsabilidade com muito amor antes de tudo e de todos. Temos a certeza que este não é o final, mas sim o princípio de uma grande jornada e, queremos enfatizar que esta revista será o veículo de comunicação de todos confrades da Pierre Fauchard Academy e, portanto, estará à sua disposição para suas publicações como também, aguardamos sua participação e ajuda para torná-la cada vez melhor. Um fraternal abraço e até breve RENATO O. F. GEROMEL PRESIDENTE DA PIERRE FAUCHARD ACADEMY SECÇÃO DO BRASIL 2 ACADEMIA PIERRE FAUCHARD Profª. Dr.ª Lucy Dalva Lopes – Past President Academia foi o nome universalmente escolhido para representar uma corporação de eleitos, elevados ao ponto de ter direito, ao tributo, de “imortais”. Inalterado permaneceu, durante séculos, o antigo preceito Socrático de: saibam o que querem!, lema este escolhido desde Platão. Em 1936 , nos EUA surgiu a idéia de fundar uma Academia Internacional, baseada nos princípios e fundamentos, já expostos, cujos anseios filosóficos não eram somente a ilustração e exposição doutrinarias, mas desde então, as pesquisas matemáticas e astronômicas, procura no campo da natureza, da história, da constituição do universo, da organização do Estado, do endereço científico do ensino. E o objetivo era congregar os profissionais da Odontologia, que em seus vários locais tivessem se destacado e prestado relevantes serviços a causa comum. E sabendo o que queriam, escolheram para nominar a Academia em sua fundação, Pierre Fauchard, justamente o pai da Odontologia moderna e portanto Pierre Fauchard Academy. Fauchard (1678-1761) inicia sua luta contra o mais cru empirismo e charlatanismo da Odontologia da época. Tornou-se um grande Mestre em Paris e em 1728 publicou “Le Cirurgen Dentist on Traité des Dens”, marcante, prodigioso e firme abre caminho para a Era Atual da Odontologia. Sendo que a Academia nele se inspirou. Em 1986, no Brasil, chegou esta chama, através do então cônsul americano no Brasil, na época, contatado pelo então representante da América Latina. Este representante após várias tentativas, conseguiu motivar a classe através de um convite, em nosso meio a um representante da Classe odontológica, cirurgião buco maxilo facial, criador e fundador, e um entusiasta pela Odontologia, o Prof. Dr. J. J. Barros. Com dedicação e inspirado nos preceitos acadêmicos, conseguiu implantar e organizar a secção Brasil da academia. Após quatro anos de atividades, foi eleita para nova gestão o Prof. Alfredo Campos Pimenta como Chairman, passando o Prof. Barros a Past Presidente, não deixando de prestar sua colaboração aos novos eleitos. Foi nesta fase que tivemos a felicidade de vê-la florescer ainda mais. O prof. Pimenta, um entusiasta da Odontologia, soube aumentar nossas fileiras com dedicação, trazendo o brilho desejado por todos. Conseguiu, em quatro anos, congregar cerca de 500 sócios, fellows, das mais distantes localidades do território nacional. Em Caxambu, todos os anos, florescia a P.F.A, no Brasil em encontros memoráveis e alto cunho científico, cultural e humano. Sendo que em 1996 a nova diretoria toma posse, tendo sido indicada para presidir a Academia, Profª. Lucy Dalva Lopes. Embuída do espírito acadêmico, já tendo participado de diretorias anteriores, e com muito entusiasmo, procurando novos ramos ainda não explorados na secção Brasil. Através de cursos, congressos, reuniões paralelas nacionais e internacionais, foi se desenvolvendo um relacionamento científico, cultural, social, nacional e internacional. 3 Conseguindo a Bolsa Prêmio, publicações em revistas internacionais, de suas atividades, como a da ADA. Em novembro de 2.000, durante evento dos dez anos da Academia Pierre Fauchard no Brasil, foi eleita e empossada a nova diretoria, que é a atual, presidida pelo Chairman Dr. Renato O. F. Geromel, passando a Profª. Lucy Dalva Lopes a Past President. Aproveitamos para deixar uma mensagem, que somos uma família sem fronteiras voltados aos mesmos ideais acadêmicos, homenageando nosso Patrono o qual representa uma mágica ligação do passado com o presente, garantia maravilhosa e simultânea para um auspicioso amanhã. Saibam o que querem, quando puderem sentir a presença de Deus em todos, veremos um belo jardim. Nossos agradecimentos ao nosso eterno amigo, confrade Acadêmico Dr. Amadeo Bobio, do qual retiramos algumas informações históricas. 4 “HISTÓRIA DA CIRURGIA BUCO MAXILO FACIAL NO BRASIL – ANTES E DEPOIS DE JOÃO JORGE DE BARROS” Prof. Dr. Clóvis Marzola1 Parte 1: introdução e idade antiga Parte 2: idade média até atualidade Parte 1 INTRODUÇÃO A cirurgia bucal é a especialidade da Odontologia que inclui o diagnóstico, assim como o respectivo tratamento cirúrgico de alterações, injúrias e falhas dos ossos da face e estruturas correlatas. Geralmente abrange o tratamento de feridas, redução de fraturas maxilares e da mandíbula, tratamento cirúrgico das infecções crônicas e agudas, incluindo abcessos e osteomielites, reparo das enfermidades congênitas e adquiridas, além do uso dos enxertos ósseos, correção cirúrgica dos prognatismos e retrognatismos, bem como de anomalias da oclusão, excisão de tecidos moles e duros, tais como cistos e neoplasias benignas ou malignas, extração de dentes normalmente implantados e dos retidos, preparo da boca com finalidade protética, tratamento das infecções dos seios maxilares de origem dental, tratamento das alterações glandulares, além das cirurgias de nervos, como naqueles casos de nevralgias rebeldes. Além disso, atualmente a cirurgia bucal tem suas vistas voltadas para o campo dos transplantes e dos implantes dentais, bem como o trauma dental, com a esperança de ver num futuro bem próximo, resolvido o grande problema da ausência e da perda dos elementos dentais, que tantos males trazem às comunidades, provocando sérias e graves mutilações. Os implantes, além dos dentes, também já são empregados em Odontologia, quer com respeito às dentaduras implantadas, quer com relação aos implantes de materiais aloplásticos no interior de lojas cirúrgicas, tais como: o osso sintético, o sulfato de cálcio, os diferentes tipos de hidroxiapatitas, o HTR (hard tissue replacement), o osso anorgânico liofilizado, a Biohapatita, o osso liofilizado, o aglutinógeno para a mesclagem dessas substâncias, o BMP a proteína morfogenética, as membranas protetoras, além de outros já em pleno uso em nossa especialidade. As técnicas exodônticas atuais atingiram um nível de perfeição tão elevado, que já não mais existe o fantasma das extrações pavorosas, que ocorria tão freqüentemente até há algum tempo. O preparo da boca com a finalidade de receber uma prótese em condições razoáveis, também, é outro tópico que pode ser considerado de grande importância em nossa especialidade, visto que 1 Professor Titular de Cirurgia da Faculdade de Odontologia de Bauru da USP. Membro Titular Praticante do Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Buco Maxilo Facial e seu Ex. Presidente. Membro da Academia Pierre Fouchard e “Life Fellow”. “Life Fellow” da International Association of Oral and Maxillofacial Surgeons. Fellow do International College of Dentistry. Professor Titular Convidado dos Cursos de Pós-Graduação em Cirurgia das Faculdades de Odontologia da PUC de Porto Alegre e das Faculdades de Odontologia da Universidade Estadual e Federal de Pernambuco. Professor “Honoris Causa” da UNIGRANRIO. Membro do Gruppo Italiano di Studi Implantari de Bologna – Itália. Membro Honorário do International Research Comitee of Oral Implantology. Membro Honorário da Academia Mineira de Odontologia. Membro Honorário da Fundación de Investigación y Servicio Estomatológico “Oswaldo Chavez Jaramillo” do Equador. Coordenador do Curso de Especialização em CTBMF da FUMBEO da FOB-USP. Membro do Corpo Clínico do Hospital de Base da Associação Hospitalar de Bauru e, do Hospital Beneficência Portuguesa de Bauru. Prêmio “Antonio de Souza Cunha” em quatro oportunidades, pelo Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia BUCOMAXILOFACIAL. Cruz do Mérito Cívico e Cultural da Sociedade Brasileira de Heráldica, Medalhística, Cultural e Educacional de São Paulo. Prêmio “Personalidade 500 anos” na área da Odontologia, do Centro de Educação Estadual e Empresarial do Estado de São Paulo”. Membro Titular da Academia Brasileira de Odontologia a partir de 2000. Cavaleiro da Academia Brasileira de Arte, Cultura e História, em janeiro de 2001. 5 bocas deficientes não têm condições para sustentar uma prótese correta, advindo daí uma série de problemas, tanto para o paciente quanto para o profissional. Além do mais, as cirurgias plásticas feitas atualmente dentro do campo da Odontologia mostram ainda mais que o Cirurgião-Dentista já atingiu um grau de diferenciação bastante satisfatório dentro do conceito geral com as demais profissões. Assim, o profissional com Curso de Especialização e com corretos conhecimentos científicos, éticos e morais, além de devidamente autorizado pelos centros competentes, estará em condições de realizar plásticas de correções de lábios leporinos e fissuras palatinas, além de correções de deformidades labiais e mentonianas. Ao falar-se desta maneira, não significa que antigamente os profissionais não lutassem por uma Odontologia melhor, mas sim porque naquela época, talvez, não possuíam os recursos atuais, desde instrumental, esterilização, técnicas modernas e anestesias perfeitas, até problemas relacionados com as atitudes psíquicas do indivíduo. Por este motivo que este trabalho está sendo realizado e dedicado na sua totalidade a um dos maiores baluartes da Cirurgia no Brasil, que muito batalhou para que fosse atingido esse auge. Esta é uma referência toda especial ao Prof. Dr. João Jorge de Barros, Professor da USP de São Paulo, Professor da Universidade de Mogi das Cruzes, atualmente como Professor Titular da UNIP, além de ser professor de todos nós e, da grande maioria dos cirurgiões Buco Maxilo de todo Brasil, que se em toda a convicção, sem sua luta, os cirurgiões atuais certamente não desfrutariam do conceito que hoje têm em todo o Brasil, assim como no exterior. Portanto, nosso querido e estimado amigo Barros, onde você estiver e, temos toda a certeza de que está num lugar privilegiado pois sempre fez bondade enquanto aqui esteve, aceite nosso muito obrigado por tudo que fez por nós e pela Cirurgia no Brasil. A Cirurgia no Brasil deve muito a você. Não queremos com isso nos adiantar em qualquer tipo de homenagem desse tipo, pois tivemos o grande prazer de realizarmos essa homenagem a esse grande homem ainda em vida, quando foi levado a Bauru e lhe demos como presente uma “Esta foi a sua vida”, que o deixou realmente muito sensibilizado e emocionado. 6 A HISTÓRIA Assim, pode-se notar que os primeiros documentos sobre o estado da medicina e odontologia nos tempos mais remotos apareceram no Papiro de Ebers, encontrado na Biblioteca da Universidade de Leipzig. É um tratado completo das ciências biológicas conhecidas até então, não se descuidando das enfermidades dos dentes e das gengivas, notando-se ainda várias prescrições para curá-las. Ah, não há nenhuma menção à cirurgia dental, devendo-se supor que na época em que se escreveu este documento não se realizavam operações dentais, pois não existiam instrumentos para tal. De acordo com as próprias indicações do documento, chegou-se a estabelecer que foi escrito 1550 anos aC, entretanto algumas partes de seu conteúdo referem-se a ocorrências sucedidas a 3700 anos aC. O Papiro Cirúrgico de Edwin Smith de 1600 anos aC, contém informações mais antigas a respeito do tratamento de fraturas praticadas no Egito. Hieróglifos dão uma idéia de como eram realizados o exame, o diagnóstico e o tratamento. Este, talvez, seja o primeiro trabalho que relate a respeito da cirurgia bucal praticada antigamente. Alguns autores da antigüidade afirmam que a extração dos dentes era praticada naquela época, não com finalidade terapêutica, mas sim como pena infamante, como ocorreu com Santa Apolônia, que ficou sendo a padroeira dos dentistas, pois teve todos seus dentes arrancados, por não querer renunciar a sua fé. No livro Nuei-Kieng, escrito na China, 2670 anos aC, pelo imperador Huang-Ty; fundador da medicina naquele país, encontram-se reunidos conhecimentos médicos da época, sendo nele mencionada a extração dental, descrevendo-se também o tratamento das fraturas da mandíbula. Um grande médico grego chamado Esculápio, que viveu no século XIII antes da era cristã e, que a tradição converteu em “Deus da Medicina”; deu origem à cirurgia dental, tendo inventado os primeiros instrumentos destinados à extração dos dentes. Estes instrumentos eram de chumbo e denominavam-se “odontagogo” e “rizagra”; sendo o primeiro destinado aos dentes com coroa, e o outro para a extração de raízes: Hipócrates (460 anos aC), ainda que não dedicasse em suas obras um capítulo especial às enfermidades dos dentes, menciona algumas passagens, podendo-se deduzir daí a grande importância que foi atribuída aos dentes e a suas enfermidades. Narra, além disso, acidentes que acompanham freqüentemente o irrompimento dos dentes decíduos e sua substituição. Diz ainda que: “nos casos de odontalgia, se os dentes estão enfermos e com mobilidade, é necessário cauterizá-los”. Acreditava que somente deveriam ser extraídos dentes com mobilidade, sendo natural que não fosse considerada sua extração como uma operação difícil. Aristóteles (384 anos aC), o maior filósofo da antigüidade, falava, também, dos dentes e de suas enfermidades, e ao lado de alguns absurdos como aquele de que o homem possuiria maior número de dentes que a mulher, ainda descrevia um instrumento destinado à extração dos dentes denominado “odontagra”. Cornélio Celso (30 anos aC), nos princípios, da era cristã, descreve no livro VII de sua obra “De Medicina”; a sindesmotomia prévia à extração dental, recomendando-a para evitar-se a fratura do dente. Além disso, para reparar esta fratura, aconselhava o preenchimento da cavidade com chumbo. Sugeria, também; fazer a tração na direção do longo eixo do dente, para evitar a fratura óssea. Quando fossem raízes que deveriam ser extraídas e, o instrumento a ser usado deveria ser aquele denominado pelos gregos com o nome de “rizagra”. 7 PARTE 2 Na Idade Média, Avicena inclui em sua “Cantica”; um capítulo sobre as fraturas mandibulares, enquanto Guglielmo de Piacenza foi o primeiro a recomendar em seu “Liber in Scientia Medicinale”; a fixação intermaxilar. Galeno (130 anos dC), continuava considerando a extração dental como perigosa e dolorosa, sugerindo uma série de medicamentos e processos destinados a combater a odontalgia quando esta terapêutica fracassasse, julgando ter chegado o momento para proceder à eliminação do dente. Para tal, indicava aplicação de pós de pelitre e vinagre na cavidade dental, com o que no “final de uma hora o dente moveria e poderia ser extraído com os próprios dedos ou com pinças”. Desde Aristóteles até Galeno, durante quinhentos anos, pouco se adiantou no conhecimento da anatomia e da patologia dentais. Sem dúvida, dever-se-ia ter em conta que durante esse período floresceram na escola de Alexandria, Herófilo e Erasistrato, que iniciaram a dessecação de cadáveres humanos, estudando minuciosamente a anatomia de todos os órgãos. Apesar de não aparecer nada relacionado com os dentes nesses trabalhos, é quase certo que, também, realizaram pesquisas a este respeito, não chegando até nos dias de hoje suas publicações pois a maior parte delas perdeu-se na destruição da biblioteca, queimada no ano 642 de nossa era. Não há dúvida de que Herófilo e Erasistrato, ou mesmo Herácisto de Tarento (300 anos aC) preocuparam-se com as enfermidades dos dentes e sua extração, pois segundo Aureliano, estes autores relataram mortes de diversas pessoas provocadas pelas extrações de dente. O mesmo Aureliano refere-se a Erasistrato, que considerava a extração como uma operação perigosa, pelo que havia depositado no templo de Apólo em Delfos, algumas tenazes para a extração de dentes, como uma oferenda à prudência com que todos deveriam atuar neste tipo de cirurgia. Sem dúvida, outros autores afirmam que o depósito de tais instrumentos no templo de Apólo foi realizado por Erasistrato em homenagem a seu inventor, que foi Esculápio. Esta versão parece ser a verdadeira, porque o instrumento era uma reprodução em chumbo do “odontagogo” usado por Esculápio mil anos antes. Pablo de Egina (600 anos dC), formulou algumas regras para a extração dos dentes, aconselhando descolar-se a gengiva o mais profundamente possível do rebordo alveolar extraindo-se imediatamente com pinças denominadas de “acetábulos”, que como seu próprio nome indica, são empregadas para extrair corpos estranhos. Albucasis (1050 anos dC), o mais famoso dos autores árabes, descrevendo abcessos de origem dental, indicava seu tratamento pela cauterização. Aconselhava ainda a completa extirpação dos épulis e, em caso de sua recidiva, repetir a exérese e a cauterização do local. Referente à extração, sugeria que tudo deveria ser realizado para a conservaçâo do dente, “por ser órgão muito nobre”. Quando fosse indispensável realizar uma extração, indicava a seguinte técnica: “o cirurgião deveria manter a cabeça do paciente fortemente entre seus joelhos e, com um par de fórceps extrair o dente, tirando-o numa só direção, para ser evitada a fratura e, ocorrendo a fratura, deveria-se insinuar uma alavanca por baixo do dente, devendo-se fazer todo o possível para extraí-lo”. “Assim, seria necessário não atuar como os ignorantes charlatões, que não observam nenhuma das regras mencionadas, produzindo ainda grandes danos aos pacientes, fraturando o osso, deixando raízes nos alveólos, ou ainda arrancando com o dente partes do maxilar”. Os instrumentos descritos e usados por Albucasis eram imperfeitos e, examinando-se detalhadamente poder-se-ia imaginar o martírio a que se submetiam aqueles que deveriam fazer uma extração. Este mesmo autor fala da existência de outros instrumentos dentais, provavelmente mais perfeitos e, que seriam aqueles utilizados pelos barbeiros e charlatões, a quem ele tratava muito desprestigiosamente. Dedica um capítulo especial à extração das raízes e fragmentos do maxilar e, para a extração destes últimos aconselhava empregar o mesmo instrumento indicado para a extração das raízes, ou um par de fórceps, afirmando: “o osso que fica deveria ser eliminado”. Lanfranchi de Milão (ano 1200) não é de opinião favorável à extração dental, especialmente dos molares, “por ser muito perigosa”. 8 Gaddasden, médico de Oxford (1350), considerava a extração dos dentes por meio de fórceps desnecessário, pois “conseguia sua eliminação de maneira segura e imediatamente untando-o com graxa de sapo”. Quando o dente está firmemente implantado, a operação é muito difícil, devendo-se tornálo mais móvel, usando para isso substâncias ácidas ou ferro quente. Guy de Chauliac (1300), que se tornou famoso pela publicação de sua obra “Magna Cirurgia”, que mereceu ser traduzida em seis idiomas e cuja última edição é de 1890, não agregava nada ao que falou Albucasis 250 anos antes. No capítulo dedicado à extração dental transcrevia a obra do citado autor, quase palavra por apalavra, afirmando que esta operação é bastante grave, devendo ser praticada somente pelos “doutores”. Ambroise Paré (1550) menciona, também, a transplantação, dedicando um capítulo às fraturas da mandíbula. Fabricius de Acquapenden (1570) aconselhava grande prudência para realizar as extrações, classificando os instrumentos que nela se empregavam em nove classes. A maior quantidade era denominada genericamente de “fórceps” e, eram designados com nomes especiais tomados de sua semelhança com a boca ou o bico de certos animais. Lázaro Riviére (1610) sugeria coibir a hemorragia após as extrações com aplicação de uma boa gaze compacta no alvéolo, a qual deveria ser mantida sob pressão durante uma ou duas horas. Wurflein e Dekkers (1650) referem-se a casos de necroses extensas da mandíbula, nos quais a parte necrosada foi extraída, tendo o osso regenerado completamente. Anton Nuck, cirurgião alemão (1650), aconselhava nunca extrair dente durante as regras, salvo casos de extrema urgência e, sobretudo evitando a extração de canino superior (o dente do olho), pois poderia determinar efeitos perniciosos sobre o órgão visual do feto. Pierre Dionis, cirurgião francês (1700), em sua obra de cirurgia falava extensamente das enfermidades da boca e dos dentes. Garangeot (1740), célebre cirurgião francês, tornou-se famoso na Odontologia, por haver-se acreditado na França, ser ele autor do instrumento que levava seu nome. Para alguns, o verdadeiro inventor seria Hermano Come (1735) e, para outros o instrumento era conhecido e usado pelos dentistas da Inglaterra com o nome de “chave inglesa”, muito antes de Garangeot. Pierre Fauchard, o fundador da Odontologia científica moderna, chamado por muitos de o “pai da odontologia”; nasceu na Bretanha em 1690 e morreu em Paris em 1761. Sua obra monumental “Chirurgien Dentiste” publicada em 1728, marcou o início de nova era na história da arte dental. Num dos capítulos o autor enumerava diversas operações, chamando-as de reimplantes, transplantes e de extração de dentes. Sobre a extração dental, diz que estas unidades só deveriam ser extraídas quando todos os meios para salvá-las houvessem fracassado. O autor combatia a idéia de que dentes não poderiam ser extraídos durante as regras e a lactação. Da mesma maneira que Fauchard, R. Bunon em “Essai sur les maladies des dents” publicado em Paris em 1743, descrevia grande parte das cirurgias bucais. Na Grã-Bretanha o “Treatise on the disorders and deformation of the teth and gums” por Thomas Berdmore (1768), o “Dental surgery” por John Thomes (1859) que inventou o fórceps dental, o “System of surgery” por T. Holmes (1870) e, o “Science and practice of surgery” por F. T. Grant (1878), consideravam alguns processos em cirurgia oral. Nesta época, a prótese dental já era utilizada no tratamento de fraturas dos ossos da face. Nos Estados Unidos pelo trabalho que realizou e pela dedicação à profissão, Simon P. Hullihen (1810-1857), foi reconhecido como o primeiro cirurgião oral dos EUA. Com pequena formação técnica, desenvolveu-se extraordinariamente, tornando-se um dos maiores expoentes da Medicina e da Odontologia do país. Durante sua curta carreira profissional, operou mais de duzentos pacientes com 9 alterações sinusais, mais de noventa lábio-leporinos e de cinqüenta a sessenta fissuras palatinas, realizando ainda mais de cem operações de câncer da face e da boca, além de outros tipos de cirurgias, além da confecção de instrumentos muito bem idealizados. James E. Garretson (1828-1895), também chamado de o “pai da cirurgia bucal nos USA”, por haver apresentado em 1864 ao Philadelphia Dental College, hoje a Escola de Odontologia da Temple University, um maravilhoso “Curriculum vitae”. Ele foi o primeiro professor de cirurgia bucal apontado por esta faculdade, tendo enfatizado a necessidade do aperfeiçoamento de novos dentistas. No livro intitulado “A system of oral surgery” (1869), ele descreve a Dentística Operatória e os processos cirúrgicos bucais. Este livro contém um capítulo sobre fraturas, feridas, malformações e alterações dos maxilares, sinusite e alterações da língua. Possui ainda informações sobre cistos, neoplasias benignas e malignas, operações de lábio-leporinos e, um capítulo sobre a eliminação de ossos maxilares. Com todas estas considerações, pode-se dizer que a cirurgia desenvolveu-se através dos tempos com o crescente estudo de aperfeiçoamento de métodos, manobras além de instrumentos cirúrgicos. Entretanto, o que marca uma sensível mudança, quase que radical mesmo nos rumos da cirurgia, foram o advento da Anestesia, da Assepsia e da Radiologia. Sem este trio, seria quase que impossível um programa de avanço considerável na cirurgia. Após a análise de todos estes conhecimentos históricos, poder-se-ia concluir pela forma que foi julgada a mais razoável, dividindo-se o desenvolvimento da cirurgia em três épocas evolutivas, bastantes características de acordo com o grande mestre e professor da grande maioria dos grandes cirurgiões brasileiros e, que recentemente nos deixou, o Professor MÁRIO GRAZIANI, a quem também homenageamos publicamente O primeiro período, de 1844 a 1900, sendo talvez o mais importante da história da cirurgia, pois em 10 de dezembro de 1844 o Cirurgião-Dentista Horace Wells descobria a Anestesia. Foi, também, a época da vitória e do progresso da Anti-sepsia, com as grandes descobertas de Pasteur e Lister. E, finalmente, concluindo com chave de ouro este período, a descoberta dos Raios-X pelo físico Roentgen em dezembro de 1895. Já o segundo período foi o da técnica, sendo marcado pelo aprimoramento e aperfeiçoamento das manobras cirúrgicas. Métodos foram modificando-se, com a radiologia entrando definitivamente para a prática cotidiana e, com a assepsia substituindo a anti-sepsia. O final desta época coincidiu com a Primeira Grande Guerra Mundial, que sem dúvida ao lado da tragédia e do horror, exerceu sem dúvida alguma, uma grande influência sobre o desenvolvimento dos métodos e técnicas cirúrgicas, tornando-as muito mais reparadoras e envolventes. Daí por diante, já na terceira fase, os progressos continuavam, sendo que nos últimos anos, as manobras cirúrgicas têm sido pormenorizadas nos mínimos detalhes, como a influência do “laser” na terapêutica odontológica e, também, em algumas ocorrências cirúrgicas. A Segunda Grande Guerra Mundial e o período pós-guerra trouxeram novos progressos, consolidando-se definitivamente os rumos da nova cirurgia, formando-se desta maneira a Cirurgia Buco Maxilo Facial como uma importante e completa especialidade. Este fato, aqui no Brasil, deve-se sem dúvida alguma a pioneiros liderados pelos professores Mário Graziani (+ 1997) e João Jorge de Barros (+ 2001 ) em São Paulo, destacando-se também, com inegáveis méritos, batalhadores como Laet de Toledo César, Oswaldo de Castro e Ygar Ribeiro Gandra (+) em São Paulo, Eurico Kramer de Oliveira (+) em Pelotas - RS, Omar Seiler Camargo em Curitiba PR, Gaspar Soares Brandão (+) em Porto Alegre - RS, Edgard Carvalho e Silva em Belo Horizonte MG, Samuel Fonseca (+) em Florianópolis - SC, Gustavo Demerval da Fonseca em Brasília - DF, João Hildo Carvalho Furtado (+) em Fortaleza - CE e Cláudio José Maia Nogueira (+) em Maceió - AL, além de outros a quem a cirurgia brasileira muito deve seu completo amadurecimento técnico e científico. 10 Destaque todo especial deve ser atribuído àquele que foi o pioneiro na introdução de toda programação didática da Cirurgia como disciplina dentro de uma Faculdade de Odontologia, o Prof. Dr. Ruy dos Santos Pinto, quando foi convidado pelo Prof. Dr. Carlos Aldrovandi (+), para sua organização, por volta de 1957, iniciando o Primeiro Curso Oficial de Cirurgia em Escolas de Odontologia no Brasil em 1959, na Faculdade de Odontologia de Araçatuba - São Paulo. Sinto-me muito honrado por haver tomado parte nessa equipe que para lá foi, juntamente com os professores Oswaldo Carro Buendia e Mercês Cunha dos Santos Pinto, juntando-se a esta equipe a partir de 1961, o professor Tetuo Okamoto, hoje um dos maiores esteios da pós-graduação em Cirurgia no Brasil, que, apesar de já aposentado, ainda está intimamente ligado à Faculdade de Odontologia de Araçatuba da UNESP. Atualmente, procura-se a criação e o aperfeiçoamento ainda maior das novas técnicas, verificando-se cada vez mais o valor e a utilidade dos conhecimentos de todas as ciências relacionadas diretamente com a cirurgia, como a anatomia, a histopatologia, a fisiologia, a microbiologia, a bioquímica, etc. Assim, o primeiro passo para realizar cirurgia é tornar-se cirurgião, dedicando-se exclusivamente a esta especialidade e, cada vez mais ao conhecimento de todas as disciplinas auxiliares, tanto aquelas relacionadas indiretamente, quanto aquelas mais estritamente relacionadas. Desta maneira, o cirurgião deverá ser, antes de tudo, um bom clínico, devendo ter pleno conhecimento de tudo que está diretamente relacionado com as estruturas a intervir, para assegurar perfeito andamento e o final das manobras que se propôs a realizar. Com isto estará valorizando-se inicialmente, pois todos os conhecimentos e habilidade técnica o capacitam e, indubitavelmente estará engrandecendo o paciente, o principal fator de tudo que aprendeu e para quem estará praticando o bem, acima de tudo e de todos, procurando observar sempre o lado humano dele, sabendo-o constituído de alma e de uma personalidade, além de uma individualidade característica. 11 BIBLIOGRAFIA APRILE, E. C. Anatomia y fisiologia patológica bucodental. Buenos Aires, Ed. Ateneo, 1954. ARCHER, W. H. A manual of oral surgery. 4ª ed. Philadelphia, W. B. Saunders Co. 1966. AVELLANAL, C. D. Cirugia odontomaxilar. Buenos Aires, Ed. Ediar, 1946. BARROS, J. J.; MANGANELO, L. C. Traumatismo Buco maxilo facial. 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Tel Res: (14) 223-6998 Cel: (014) 9772-4383 Sala FOB: (14) 235-8250 Mailto: [email protected] - ICQ 38752800 Mailto: [email protected] - ICQ 23662675 Mailto: [email protected] o0o 13 TRATAMENTO MEDICAMENTOSO DA NEURALGIA DO TRIGÊMEO Dr. Gabriel Denser Campolongo Dr. André Ricardo Nosé A neuralgia do trigêmeo é resultado de distúrbios nos ramos do nervo trigêmeo, nos quais geram repetitivos potenciais de ação. As drogas que agem no alívio desta doença. deprimem este potencial de ação. Os anticonvulsivantes possuem esta função e têm se mostrado eficazes no tratamento da neuralgia do trigêmeo. Será comentado o tratamento medicamentoso quanto as principais drogas disponíveis (Carbamazepina, baclofen, fenetoína, pimozida, gabapentina, lamotrigene), incluindo suas utilizações e efetividades. Palavras-Chave: neuralgia do trigêmeo, anticonvulsivantes, tratamento. ABSTRACT Campolongo, G.D.; Nosé, A.R. Medical treatment of trigeminal neuralgia [Tratamento medicamentoso da Neuralgia do Trigêmeo]. Trigeminal neuralgia results from disturbances in the trigeminal branch wich gerate repetitive action potencials. Drugs which relieve the pain of trigeminal neuralgia depress these potentials. Anticonvulsants which exert this or related effects, and which have been demonstrated to be effecacious in trigeminal neuralgia. We will be coment about the medical treatment of the principal drugs (carbamazepine, baclofen, phenytoin, pimozide, gabapentin, lamotrigene), include their utilizacion and efectives. Key words: trigeminal neuralgia, anticonvulsants, treatment INTRODUÇÃO A Neuralgia do Trigêmeo (NT) é uma dor paroxística cruciante, que dura alguns segundos (geralmente de 10 a 30 segundos), iniciando após a estimulação sensorial de regiões chamadas de "zonas de gatilho", estas confinadas à distribuição de um ou mais ramos aferentes do nervo trigêmeo (V par Craniano), sendo na maioria das vezes unilateral, sem déficit neurológico, onde o paciente após a crise dolorosa passa por um período de remissão completa da dor (Youmans, 1996) Na população esta doença tem a incidência de 4/100.000, onde as mulheres são mais afetadas que os homens (1,8:1), geralmente ocorrendo em pessoas com mais de 50 anos. Tem maior incidência do lado direito (60%) e geralmente envolve o ramo maxilar (33% dos casos na região nasoorbital) e o ramo mandibular (62% na região situada entre a boca e a orelha) do nervo trigêmeo (Greenberg, 1997). A etiologia é desconhecida, sendo que hoje existem teorias onde esta doença estaria ligada provavelmente a um bloqueio do nervo trigêmeo, podendo ocorrer principalmente de três formas, compressão vascular do nervo trigeminal na altura do tronco do nervo, tumor na fossa Posterior do Crânio, paciente portadores da Esclerose Múltipla. 14 O conhecimento do diagnóstico diferencial é muito importante, já que existem muitas doenças que podem dificultar o diagnóstico definitivo da neuralgia do trigêmeo, entre elas temos as disfunção da articulação temporo-mandibular, herpes zosters, odontalgia, tumor intracraniano, entre outras. A história da doença e o exame clínico são fundamentais para o correto diagnóstico e assim estabelecer o tratamento definitivo. Devemos investigar a localização exata da sintomatologia dolorosa, para podermos identificar qual o ramo que esta sendo afetado, verificar a presença das zonas de gatilho, saber se há ou não intervalos entre crises dolorosas e qual o tempo de intervalo (a ausência de um intervalo livre de dor é incomum nas neuralgias do trigêmeo), investigar qual a resposta dos pacientes frente a medicamentos (como alergia, dosagem, efeitos colaterais), além de pesquisar sobre os possíveis diagnósticos diferenciais. O tratamento para a neuralgia do trigêmeo inclui a neurectomia periférica, onde a raiz sensitiva do nervo trigêmeo é seccionada, interrompendo a inervação das estruturas afetadas. A injeção de álcool em troncos do nervo trigêmeo também pode ser utilizada a fim de determinar a necrose do nervo (Henderson, 1967). Hoje em dia o terapêutica medicamentosa, através de drogas anticonvulsivantes é muito utilizado, e consiste no tratamento de primeira escolha para esta doenças (Greene e Selman, 1991). REVISTA DA LITERATURA E DISCUSSÃO As drogas anticonvulsivas são os medicamentos de eleição para o tratamento da neuralgia do trigêmeo (Greene e Selman, 1991). A carbamazepina é para muitos autores o medicamento de primeira escolha para o tratamento desta doença (Aspesi, 1967; Selman et al, 1967; Tomson et al, 1980; Taylor et al, 1981). A dose inicial de carbamazepina recomendada é de 600 mg, dividida em três doses diárias, sendo que esta dose geralmente proporciona um alívio para os paciente em torno de 24 horas (Aspesi, 1967; Selman et al, 1967; Tomson et al, 1980; Tayior et al, 1981). Mas alguns exigem doses elevadas para o controle da dor, existem relatos onde houve a necessidade de 1.600 mg ao dia (Taylor et al, 1981). O principal problema da carbamazepina é que alguns pacientes são sensíveis a ela e desenvolvem reações adversas, sendo as principais: sonolência, vertigem, vômito, diarréia, erupções cutâneas ( Selman et al, 1967; Al-Ubaidy et al, 1976) ou até mesmo bradicardia (Herzberg, 1979), mas estes efeitos podem ser minimizados quando aumentamos a dose gradualmente (Greene e Selman, 1991). Na tentativa de se descobrir como age a carbamazepina na neuralgia do trigêmeo, muitos autores resolveram estudar os metabólitos desta droga (Tomson et al, 1980; Tomson e Bertilsson, 1980), e constataram que o mais importante é a carbamazepina-10,11-epóxido, responsável por grande parte do poder antineuralgico da carbamazepina (Tomson e Bertilsson, 1980). Este metabólito é sensível ao suco gástrico e por isso deve ser administrado em conjunto com um anti-ácido quando tomado em forma de comprimido. A grande vantagem desta droga é que a absorção é muito rápida, atingido o nível plasmático em torno de 6 horas (Tomson e Bettilsson, 1980). Ainda na tentativa de se achar alternativas para minimizar o efeito colateral da carbamazepina, foi criada a carbamazepina-controlada, que é formada por minúsculos cristais sendo revestida, retardando assim a absorção gastrointestinal e evitando o pico de concentração plasmática. Acredita-se que assim os efeitos colaterais são menores em relação a carbamazepina convencional (Dahatla et al., 1991). 15 Nos últimos anos surgiram algumas drogas alternativas que se mostraram muito eficazes no tratamento da neuralgia do trigêmeo. O pimozida é administrado em doses diárias de 4 mg a 12 mg, sendo que foi comprovado uma grande eficácia em pacientes que não respondem ao tratamento convencional com a carbamazepina (Lechin et al, 1989). Já o baclofen tem um grande poder de sinergismo quando administrado em conjunto com a CBZ ou a feitoína, sendo uma alternativa quando estas últimas não surtem efeitos terapêuticos em doses convencionais. (Fromm et al., 1984) Outro medicamento que surgiu é a gabapentina, que ainda esta em estudo mas foi comprovada sua ação terapêutica na dosagem de 300 mg ao dia, podendo chegar a 1.200 mg ao dia ( Sist et al., 1997; Khan, 1998), alguns autores afirmam que a incontinência urinária e fecal pode estar associada a esta droga ( Gil-Nagel et al., 1997). A ultima droga que surgiu para o tratamento da neuralgia do trigêmeo é o lamotrigene, que age provavelmente no bloqueio do canal de sódio (Lunardi et al., 1997). A dosagem média necessária para o alívio da dor foi de 250 mg ao dia ( Canavero et al., 1995; Canavero e Bonicalzi, 1997; Lunardi et al., 1997; Leandri et al, 2000), a grande vantagem desta droga é que causa pouco efeito colateral, já que necessita de doses menores para o alívio da sintomatologia dolorosa, o principal sintoma da neuralgia do trigêmeo. CONCLUSÃO A carbamazepina é considerada a droga de primeira escolha, já que tem demostrada grande eficácia no tratamento da neuralgia do trigêmeo. Cerca de 30% dos pacientes não respondem a terapêutica ou apresentam grandes efeitos colaterais com esta droga, devendo portanto optar por outras drogas ou até mesmo associações entre elas. 16 BIBLIOGRAFIA AL-UBAIDY S.S.; NALLY F.F. Adverse reactions to carbamazepine (tegretol). Br J Oral Surg v.13, n.3, pág. 289-293, Sep, 1976. ASPESI, N. Control of trigeminal neuralgia with G 32883. Rev Bras Med v.24, n.l, pág. 33 à 35, Jan, 1967. 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YOUMANS, J.R. Neurological Surgery . Vol. 5, 4ª ed., Saunders, Philadelphia, 1996. 17 AS DORES DE CABEÇA E O CIRURGIÃO DENTISTA Prof. Tarley Pessoa de Barros Prof. Oswaldo Brás Daniel dos Santos Dra. Ana Paula Novaes dos Santos Dr. José Carlos De Vivo A dor é sem dúvida uma das principais causas dos problemas de saúde da população e fator fundamental para levar o paciente à procura de tratamento médico e odontológico. O Estudo da dor nos Estados Unidos, mostrou que grande parte da população apresentou diversos tipos de dor no ano. Trabalhos relacionados a dor, relataram que 16% da população apresentaram dor nas 2 últimas semanas. Sendo que Van Korff e cols. mostraram que 12% da amostra da pesquisa, apresentaram dores de cabeça e ou facial. Portanto diante deste quadro estatístico sobre a dor em especial a dor orofacial, região oral ou bucal e facial, se torna imprescindível que o dentista responsável pela avaliação, nesta área tenha um conhecimento generalizado e adequado sobre a dor orofacial; observando por exemplo que as mulheres apresentam maior incidência na procura pelos serviços de dor, porém sem nenhum dado científico que comprove. A busca da eliminação da dor talvez seja a principal atuação do profissional da saúde, em muitos momentos temos de lançar mão de técnicas e procedimentos paliativos como utilização de relaxamento, anestesias para o alívio imediato ou diagnóstico e partir para busca das possíveis causas. A presença dos odontólogos nas dores orofaciais tem se mostrado cada vez mais conturbada, devido a constante discussão em relação as causas das mesmas: será que tem origem psicológica ou gengivo-dentária. Portanto todas as dores orofaciais necessitam de uma análise odontológica, afim de avaliarmos os sintomas relacionados as estruturas mastigatórias e em caso positivo a eficácia, o sucesso do tratamento no alívio e cura da dor. Isso não coloca o cirurgião dentista como líder ou guia para as dores e simplesmente como parte integrante da equipe multidisciplinar, as vezes responsável pela terapia outras vezes atuando como colaborador no processo. As doces relacionadas à cabeça é fato corrente para pacientes procurarem por um cirurgião dentista. Muitas vezes estas dores são de origem intra oral (dentro da boca) e dizem respeito a processos bucais, dentários, gengivais e em outras situações, são extra oral (face) e elas podem atingir a articulação temporomandibular, causando as desordens temporomandibulares, DTM, que apresenta zumbido, vertigens, estalidos e as vezes redução de acuidade, processo que hoje afeta a maior parte da população. Ainda podemos encontrar as neuralgias afetando ramos dos nervos cranianos, principalmente o nervo trigêmeo, as neuralgias do trigêmeo, com dor unilateral, começo abrupto e bastante forte podendo durar de segundos a poucos minutos, sendo que estas necessitam de tratamento com equipe multiprofissional. Além destes tipos de dor, elas podem estar relacionadas diretamente a doenças como câncer, AIDS, entre outras e também serem dores associadas, como as glandulares, ouvido, coluna cervical, cefaléias por exemplo. Sendo de fundamental importância o profissional elaborar um diagnóstico diferencial das doenças que permita a elaboração de um plano de tratamento para sanar a dor. Quando das dores intra orais, as de dente são mais difíceis, pela característica (visceral) e localização, enquanto as periodontais, músculo esqueléticas, é mais fácil o diagnóstico e as não odontogênicas como mucosa e língua apresentam aspectos específicos. 18 Fica claro a responsabilidade do cirurgião dentista no diagnóstico e tratamento das dores extra orais, onde existe uma participação bem definida e muito importante para o sucesso do tratamento e bem estar do paciente, na interferência de outras áreas como, médicos, psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e outros. Cabe ao cirurgião dentista um papel bem definido no sentido de uma correta avaliação, lançando mão de todos os recursos disponíveis, anamnese correta e direcionada a dor, testes e exames necessários, como físicos, radiológicos, laboratoriais, partindo daí para um correto diagnóstico, estando excluído os demais tipos de dor, elaborar um plano de tratamento normalmente com equipe multidisciplinar, nas vezes em que pela complexidade o profissional optar pelo encaminhamento, sem dúvida também é um plano de tratamento visando a saúde do paciente. Sendo que em toda avaliação, diagnóstico, não pode haver pressa, ou seja “a pressa é inimiga da perfeição”, podendo levar a descuidos ou desinteresse no processo, principalmente quando a causa aparente for distinta e distante do complexo mastigatório. Tendo em vista a grande quantidade de doenças, sinais e sintomas de dor semelhante na região da cabeça e pescoço, se torna fundamental o diagnóstico diferencial, que é difícil porque na maioria das vezes as causas são variáveis e desconhecidas. Isto posto, obriga o profissional a ampliar seus conhecimentos, técnicas e habilite-se em áreas afins e não comumente comentadas em odontologia. O importante é o desprendimento, a ausência de vaidades, onde todos trabalham em prol da saúde da população. Ficando claro a necessidade de uma ação multidisciplinar rotineira, numa troca de experiências, sempre em busca do bem estar do paciente. As dores em odontologia são um vasto campo de trabalho, o que sem dúvida aumenta em muito as obrigações do profissional, perante o paciente e a sociedade. BIBLIOGRAFIA ROSENBAUER, A.K. E COLS. Anatomia Clínica de Cabeça e Pescoço Aplicada à Odontologia. Editora Artmed. Porto Alegre. 2001. OKESON, J. P. Dor Orofacial - Guia de Avaliação, Diagnóstico e Tratamento. Editora Quintessence. 1998. SIMBIDOR, Arquivos 5° Simpósio Brasileiro Internacional sobre Dor. Editora Lemos editorial e gráficos. São Paulo. 2001. TEIXEIRA M.J. Critérios de diagnóstico da dor facial atípica. Simbidor, 3ª 1997. p.17-33. SIQUEIRA JTT E CHING LH. Dor Orofacial e ATM. Editora Maio. Curitiba. 1999. 19 Unidor Unidade de dor Orofacial A Unidor - Unidade de Dor Orofacial, constitui um centro especializado e de referência para assistência, pesquisa e ensino em dor orofacial, cirurgia e traumatologia buco maxilo facial. Instalado no Hospital São Lucas, mantido pela Fundação Para o Progresso da Cirurgia, conta com apoio integral da unidade hospitalar. Com caráter multiprofissional, conta em sua equipe com clínicas como Neurologia, Otorrinolaringologia, além de serviços não médicos como psicologia, fisioterapia, fonoaudiologia entre outros de acordo com a necessidade. Realizando também atendimento domiciliar a dor orofacial, para pacientes especiais, impedidos de locomoção ou outros que se façam necessários. A Unidor desenvolverá acordos de cooperação científica e tecnológica com outras instituições, buscando a participação da iniciativa pública, privada e da comunidade. Quanto as atividades assistenciais será dada atenção integral a dor orofacial, inclusive domiciliar, quanto as atividades de ensino e difusão de conhecimento serão desenvolvidas pesquisas, reuniões científicas, jornadas, congressos e cursos em parceria com outras instituições, se necessário e oportuno. Haverá uma central de informações, para controle das informações administrativas, assistenciais, científicas, podendo assim criar protocolos, manuais, padronizações que poderão ser apresentadas e discutidas junto a comunidade científica. A necessidade da criação de centros especializados em dor orofacial se faz necessário pelo aumento significativo de pacientes portadores destas disfunções, alem da ausência de equipes multidisciplinares, o que dificulta e onera o atendimento final. Rua: Pirapitingui n° 80 Liberdade. São Paulo/Brasil Cep. 01508-020 Fone: (011) 278.4411 20 ATUALIDADE Motivação Em Odontogeriatria Ana Lúcia Figueiredo P. Barros A motivação em Saúde Bucal torna-se cada vez mais atuante e com necessidade de novos métodos para as ações coletivas. As atividades coletivas visam propiciar um maior número de atendimentos e um trabalho de educação e prevenção em Odontologia. Para tanto é necessário definir a quem se destina a ação, ou seja qual é o público alvo, pois assim podemos definir o tipo de material a ser usado, a linguagem a ser aplicada, que facilite à compreensão. As técnicas, os materiais em Saúde Bucal devem ser sempre atualizados, criativos e abranger grupos especiais de trabalho como crianças, gestantes, e a odontogeriatria entre outros, pois selecionado o grupo de atuação tentaremos desenvolver nossas atividades em seu próprio meio, clubes, associações, escolas ou nas unidades de saúde, o que sem dúvida facilitará em muito a cooperação do usuário. Hoje em dia com o avançar da idade da população, se torna imprescindível um aprimoramento profissional em função das necessidades da terceira idade, que deixa de pertencer ao grupo dos pacientes especiais, para assumir sua importância dentro da odontologia. Provocando inclusive acaloradas discussões para a necessidade de uma reforma curricular nas universidades. A odontogeriatria tem sido constantemente debatida, com objetivos claros de se elaborar condutas que proporcionem ao idoso uma vida saudável, melhorando assim sua qualidade de vida. O tratamento dos pacientes idosos envolve uma grande quantidade de situações que obrigam o profissional responsável pelo caso a desenvolver conhecimentos adequados sobre a terceira idade tanto no que diz respeito aos aspectos clínicos em geral, como principalmente no desenvolvimento de dinâmicas especiais e voltadas para essa nova realidade. Podemos elaborar material e técnicas que motivem nossos pacientes, como um auto exame bucal, cuidado com as próteses, alimentação adequada, higiene, sempre mostrando e discutindo a importância da dinâmica e nunca esquecendo que muitas vezes devemos preparar atividades voltadas aos cuidadores, pessoas que auxiliam os pacientes, que não conseguem mais desenvolver suas atividades normais. A odontogeriatria tem se tornado uma das mais novas áreas de desenvolvimento gerando com isso a necessidade do aparecimento de material próprio, sendo que a simples conversa sobre o assunto já permite um aprendizado. É indiscutível que a terceira idade já é uma realidade e como tal merece toda nossa atenção e empenho no seu desenvolvimento para melhorar a qualidade de vida da nossa população. Não podemos esquecer de que a simples manutenção da saúde bucal, conservação dos dentes por exemplo é fundamental para o sucesso e bem estar do paciente. BIBLIOGRAFIA 1. Materias de Motivação em Saúde Bucal, Projeto Qualis, Fundação Zerbini, 2001. 2. Atendimento ao idoso: despertar a atenção de dentistas brasileiros. Profª. Christa Feller e Prof. Ruy Fonseca Brunetti. 3. Odontologia geriatrica no Brasil uma realidade para o novo século. Prof. Ruy Fonseca Brunecti, Fernando L. B. Montenegro e Carlos Eduardo Manetta. 4. Odontologia geriatrica: um panorama geral. Prof. Leonardo Marchini e Vicente de Paula Prisco da Cunha. 21 MINISTRO CONCEDE ENTREVISTA PARA REVISTA DE ODONTOLOGIA: QUALIDADE DE ENSINO Ministro Paulo Renato de Souza Como o ministro avalia o desempenho do curso de Odontologia no Exame Nacional de Cursos, o Provão? Bem, em primeiro lugar eu quero cumprimentar os alunos de Odontologia de todo o País porque foram os que mais responderam às questões do Provão, demonstrando que estão sintonizados com a proposta e com seus objetivos. Os resultados do Provão revelam que os cursos de Odontologia têm apresentado desempenho médio, e isso quer dizer que há maior concentração de cursos com notas em torno da nota média de 50 pontos. Os dados revelam, também, que o desempenho entre eles foi heterogêneo: Nos dois últimos Exames, as notas médias dos cursos variaram, em 1999, de 32,8 a 60,3 e em 2000, de 45,2 a 66,0. Como o senhor avalia uma prova única e teórica de quatro horas, sendo curso de Odontologia eminentemente prático? Em primeiro lugar, é preciso esclarecer que o Provão pretende avaliar os cursos por meio de prova escrita para verificar o grau de conhecimentos dos formandos. Isto não significa que o Ministério da Educação ignora que a formação de profissionais, em nível de graduação, envolve outras dimensões, na esfera de atitudes e de atividades práticas, que implicam em outros procedimentos (instrumentos e técnicas) de avaliação e nem significa que o MEC entenda-os como de menor importância. A prova escrita, como é concebida e estruturada, cobre a dimensão pretendida do processo de aprendizagem, em nível de graduação, e permite também verificar se, em nível de conhecimento, os graduandos dominam atitudes e práticas que se espera de sua formação. Embora a prova escrita não possibilite a plena verificação de atitudes e desempenho prático, é preciso ter claro, que a prova não é o único instrumento do Provão. E que também não é o único mecanismo de avaliação do sistema de avaliação do ensino de graduação. O questionário-pesquisa que é aplicado aos graduandos fornece informações importantes a respeito das condições que as instituições oferecem aos seus alunos para o aprendizado nos aspectos afetivo e psicomotor. Por outro lado, além do Provão, existe o mecanismo de avaliação das condições de oferta. Essa avaliação é feita nas instituições por uma comissão de especialistas que examinam a qualidade do curso em relação ao corpo docente, instalações e projeto pedagógico. Quando essa comissão verifica as instalações e o projeto pedagógico, complementasse a avaliação da. qualidade dos cursos de graduação e constata-se, no contexto avaliado, outros aspectos sobre o aluno e a instituição. Portanto, a proposta do MEC de avaliação da qualidade do ensino de graduação é bem abrangente. Existe no Brasil um grande número de escolas de Odontologia e outras em processo de abertura, como se avaliam as solicitações e autorizações? A autorização para a abertura de cursos depende da qualidade constatada de suas condições iniciais de oferta. Além das avaliações a comissão de especialistas em ensino de Odontologia do MEC se incumbe de autorizar, reconhecer e supervisionar, periodicamente a qualidade dos cursos no País. Esta supervisão é amparada por uma legislação educacional que prevê sanções aos cursos e instituições que não mantiverem a qualidade do ensino. 22 Se existem diferenças estruturais entre os cursos, como carga horária, relação docente/discente, como avaliar os resultados do Provão? Como é possível fazer comparações? Em relação à carga horária pressupõe-se, no Provão, que mesmo se existirem diferenças entre os cursos, todos devem estar estruturados em conformidade com a legislação vigente. Sobre a relação docente/discente, nós sabemos que há diferenças, mas, nessa relação, incluem-se outras variáveis, como regime de trabalho e outros encargos docentes, além das atividades de ensino de sala de aula, que variam entre as instituições de ensino superior. O Provão busca avaliar a qualidade do ensino da graduação que, em última instância, significa avaliação da qualidade dos projetos pedagógicos. É por isso que o Exame Nacional de Cursos leva em consideração a divergência entre os projetos pedagógicos, na medida em que as comissões que normatizam o Provão - para estabelecerem as suas diretrizes - tomam conhecimento dos projetos pedagógicos dos cursos a serem avaliados, que são enviados por essas instituições a pedido do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep/MEC). Além disso, essas comissões são constituídas por professores de diferentes regiões e de cursos vinculados a diferentes tipos de dependência administrativa, e o fazem tendo em vista atender a qualquer curso do País. Esses professores têm larga experiência no ensino de graduação e por isso possuem uma ampla visão do ensino na área. A proposta de ensino que está sendo avaliada em cada Provão se enquadra, perfeitamente, ao currículo vigente em qualquer curso avaliado. E ainda quero ressaltar, as provas são adequadas ao ensino ministrado nos cursos de graduação e aos alunos a que se destinam. Portanto, as comparações são possíveis mas, é claro, que são comparações entre os resultados de desempenho entre cursos que foram avaliados no mesmo ano, e não em anos diferentes. 23 CONTRIBUIÇÃO PARA O ENSINO DA ANATOMIA EM ESCOLAS DE ODONTOLOGIA NO ESTADO DE SÁO PAULO Autor: Tarley Eloy Pessoa de Barros Orientador: Prof. Dr. Aldo Stacchini RESUMO Com a crescente abertura de novos cursos de Odontologia no estado de São Paulo, a preocupação com a qualidade no ensino pelas autoridades instituindo critérios de avaliação como o “Provão”, que avalia os formandos. Desenvolvemos no nosso trabalho a averiguação de como se processa o ensino de Anatomia, através de um questionário aplicado junto aos professores da disciplina. Com o intuito de estabelecermos um padrão básico, estatístico, para o ensino de anatomia e que servisse de referência para professores, escolas entre outros. Observamos que existem diferenças significativas em alguns itens, porem similaridade em outros entre as diversas escolas. INTRODUÇÃO Nos últimos anos a Odontologia vem sofrendo uma renovação permanente, graças ao aparecimento de novas tecnologias, técnicas avançadas, novos materiais, aparelhagem e equipamentos. Assim sendo, o curso vem atraindo um número significativo de novos profissionais e consequentemente, propiciando o crescimento quantitativo de escolas em todo o país, especificamente no estado de São Paulo. Estariam estas escolas aptas, a desenvolver um padrão de ensino de qualidade? Seus programas e métodos estão adequados as exigências do mercado? Seus professores estão qualificados? O número de docentes é suficiente para atender a demanda ou será preciso recorrer a improvisações? Será que o aumento de profissionais no mercado conseguiu manter a qualidade profissional? Buscamos em nosso trabalho informações específicas sobre o assunto, encontramos Vieira (1975) que diz, há escolas com diferentes equipamentos, qualidade e qualificação dos professores, gerando posturas e níveis de ensino diferentes, não aceitando assim o paralelismo entre os vários cursos. Montenegro (1993) desenvolve pesquisa para avaliar o ensino da Prótese Parcial Removível no estado de São Paulo. O Ministério da Educação e Cultura, tem se mostrado extremamente preocupado com a qualidade de ensino nas escolas de nível superior, tentando encontrar meios para avaliar os egressos da diversas instituições. É importante salientar que na escola médica já se analisa docentes, discentes e modelos pedagógicos através da “Comissão Interinstitucional Nacional de Avaliação do Ensino Médico”. Partindo desses fatores que podem levar ao insucesso do ensino e consequentemente do aprendizado de Anatomia, disciplina básica de fundamental importância na formação do profissional de Odontologia, desenvolvemos um questionário para aplicá-lo junto as escolas públicas e privadas do nosso estado. MATERIAL E MÉTODO O material consistiu em avaliarmos as disciplinas de Anatomia Humana dos cursos de Odontologia no estado de São Paulo, especificamente daquelas que apresentaram no mínimo 75% do curso concluído, pois estariam isentas de modificações. Esta apreciação foi através de questionário padronizado, de modo a facilitar as respostas e tabulações das mesmas. A pesquisa apresentada sob a forma de questionário, defendida por vários autores como Bowman (1970), em muito facilitou o nosso trabalho, sendo que a grande maioria foi aplicado pessoalmente, apesar das distâncias e custos, quando não foi possível pessoalmente, foi feito através de 24 correio, com pelo menos dois contatos telefônicos para explicar a importância da pesquisa e dirimir possíveis dúvidas de interpretação. O questionário apresentava um número de perguntas similares a media de outras publicações, cerca de 30 (trinta) perguntas, e se ateve a aspectos cruciais e vitais para o ensino de Anatomia em Odontologia, como número de docentes por turma, número de discentes, qualificação docente, carga horária da disciplina, geral e específica, escultura do dente, dissecação, bibliografia, área física entre outros. A partir da tabulação das perguntas, pudemos estabelecer o padrão básico, estatístico, para compará-lo a literatura existente e utilizada. RESULTADOS Encontramos 30 (trinta) escolas que se enquadraram nas classificações da pesquisa. Para nossa satisfação obtivemos 100% de respostas, o que demonstra o interesse dos professores pela qualidade de ensino de Anatomia. Entre os diversos itens abordados iremos comentar os que mais chamaram a atenção: 1. carga horária total da disciplina, onde encontramos média de 226 horas/aula/mês, porem variando de 160 à 320 horas/aula/mês. 2. carga horária teórica e prática. Onde o tempo correspondente a teoria é em média de 36% enquanto para a pratica é de 63% e algumas escolas utilizam os seminários com 1%. 3. programa: encontramos 34% em aulas de anatomia geral e 66% de aulas de anatomia específica, anatomia de cabeça e pescoço. 4. docentes: temos média de 3,6 docentes para uma turma de 96 alunos. Sendo que a qualificação dos docentes encontrada é de 71%, com título universitário entre mestre, doutor e livre docente. 5. métodos de ensino: 42,5% de escolas dissecam, enquanto 60% delas desenvolvem a escultura do dente como método de aprendizagem de anatomia. 6. bibliografia: dividimos em livros-textos e atlas, observamos que os textos mais indicados são Figun e Garino 57% e Madeira 50%, para os atlas Wolf Heidgher e Sobotta 18%. DISCUSSÃO Nosso estudo teve como objetivo avaliar a maneira como ensinamos Anatomia em Odontologia. Analisando o número de respostas em outras pesquisas com questionários encontramos média de 72,5% e maior máximo de 86,36% segundo Montenegro (1993), o que mostra uma clara preocupação de todos com a qualidade do ensino de Anatomia, tendo em vista que todas as escolas responderam a pesquisa, não se furtando a mostrar a intimidade da disciplina em prol da qualidade, defendida por vários como Ponde (1982), Pinto(1998), Randolph( 1975). No que diz respeito a carga horária existe grande discrepância, escolas com 160 (cento e sessenta) horas, enquanto outros apresentam 320 (trezentos e vinte) horas, chegando a 100%, apesar do recomendado pela USP (1971), porém com carga horária média acima daquela apontada por Vieira (1975). Entre a relação docente/discente encontramos 1 para 26, muito acima daquela apontada por Cury (1994) que fala em 1 para 8 ou o roteiro de avaliação da Associação Brasileira de Ensino odontológico (1997), cita 1 para 10. Quanto a área física existe similaridade entre as diversas escolas. Porem em relação ao Museu Anatômico, só encontramos nas escolas públicas, o que talvez justifique a pesquisa e o plano de carreira. 25 Em relação a bibliografia encontramos significativo número de autores nacionais na parte de livro-texto, quanto aos periódicos nacionais e internacionais praticamente não foram comentados no trabalho. Observamos que diversos autores sugerem a necessidade imediata de uma reformulação do currículo de Odontologia em especial da Anatomia, como Barros (1984), e Kina (1996) entre outros. CONCLUSÕES Padrão básico, estatístico encontrado: 1. Alunos: 96 2. Recursos Humanos: 2.1: Professores: 3,5 2.2: Qualificação: 02 mestre/doutor 1,5 especialista/graduado 2.3: Hora / aula: R$ 21,42 3. Recursos Físicos: 3.1: Laboratório: 3.1.1 176 metros 3.1.2 19 mesas 3.1.3 96 bancos 4.Recursos Didáticos: 4.1: carga horária: 226 horas 4.1.1 teóricas: 083 4.1.2 práticas: 143 4.1.2.1 dissecação 4.1.2.2 escultura 4.2: programa: 4.2.1 anatomia geral: 34% 4.2.2 anatomia específica: 66% 4.2.2.1 anatomia cabeça e pescoço: 62% 4.2.2.2 anatomia do dente 38% 4.3: bibliografia: 4.3.1 texto: 4.3.2 atlas: Figun e Garino 57% Madeira 50% Picosse 21% Wolf Heidegger 18% Sobotta 18% Mc Minn 14% 4.4: anexos: 4.4.1 museu: 60% 26 4.4.2 biblioteca: 4.4.2.1 departamento: 25% 4.4.2.2 geral: 100% BIBLIOGRAFIA Associação Brasileira de Ensino Odontológico. Roteiro de Avaliação e Padrões de Qualidade dos Cursos de Odontologia, Uberlândia 1997. BARROS, E.R.C. Currículo tradicional e inovador, Revista Faculdade de Odontologia, 41p. 26-37,RGS. 1984. BOWMAN, J.F. Removable partial prosthodontics comparision surveys of 64 and 1969. J. dent. Educ., 34(1)p.93-7. EUA.1970. CURY, J.C.S. E PRATES, J.C. Organização de um laboratório de anatomia. São Paulo. Dissertação. Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Estado de São Paulo. KINA, S.; CONRADO, C.A.; BRENNER, A.J.; KURIHARA, E. O ensino de estomatogeriatria no Brasil: a experiência de Maringá. Revista de Odontologia USP, 10(1) p. 69-73, SP.1996. MONTENEGRO, F.L.B. Avaliação sabre o ensino da Prótese Parcial Removível em Faculdades de Odontologia Públicas e Particulares do Estado de São Paulo. São Paulo, 1993. 85p. Tese (Doutorado). Faculdade de Odontologia da USP. PINTO, M. Breve história da odontologia brasileira: ontem e hoje. Jornal do CFO, 1998 p.6:7, n° 25 RJ. PONDÉ, L.A. Parecer n° 370/82, aprovado em 09/07/82 Conselho Federal de Educação. MEC. RANDOLPH, R.V. A projection of the dental curriculum in 1975. J.dent.educ. 29(2) p.133:141, Jan. 1965. Universidade São Paulo, Artigo 16. Portaria Gn. 1380 de 1/2/71. “Estabelece normas relatias as atividades didáticas na Universidade de São Paulo”. D.O. 2/12/1971, p.35-6. VIEIRA, D.F. Planejamento de uma Faculdade de Odontologia. Bauru, 1975. P.102:13. 27 CORANTES DE EXTRATOS DE BETERRABA E ESPINAFRE PARA PLACA DENTAL Dr.José Carlos De Vivo Prof. Dr. Camillo Anauate Neto Este trabalho tem a finalidade de pesquisar as propriedades corantes de extratos da Beterraba e do Espinafre e elaborar uma substância própria que possua capacidade para corar a placa bacteriana ou placa dental com substâncias naturais. RESUMO A placa bacteriana é um dos fatores responsáveis pelas doenças periodontais, que podem causar danos irreparáveis nas estruturas dentais e tecidos adjacentes, como a cárie dental que pode levar o elemento dental a variados níveis de destruição até a sua perda total. A prevenção para que não se forme a placa bacteriana é muito importante, pois sem ela não existirá um substrato muito importante para a desenvolvimento destas doenças. Para se evitar a formação da placa bacteriana deve-se começar com uma boa higienização bucal, etapa esta que se constitui de um quase ritual que compreende a escovação dos elementos dentais e lingua e passagem do fio ou fita dental nos espaços interproximais que não são alcançados pela escovação, além de bochechos com soluções antissépticas e/ou antimicrobianas. É extremamente difícil para o paciente e também para o profissional visualizar esta placa bacteriana que se deposita sobre os dentes, principalmente no seu estágio inicial, pois possui coloração muito próxima a dos dentes naturais, e não apresenta ainda espessura suficiente para alterar significativamente o brilho da estrutura dental. . Existem substâncias utilizadas a muito tempo na odontologia que tem a capacidade de corar esta placa bacteriana, porém com o inconveniente de poderem causar efeitos colaterais nos tecidos moles especificamente e no organismo como um todo . Dentre as soluções corantes utilizadas em odontologia podem ser citados o verde de malaquita, a fucsina e a eritrosina que, segundo revisão da literatura, podem apresentar risco de cocarcinogenicidade. A proposição deste trabalho é comparar a atividade de corantes a base de substâncias químicas como a eritrosina, com corantes extraídos de produtos naturais como a BETERRABA e o ESPINAFRE, a fim de se obter uma substância eficaz na evidenciação da placa, e que seja segura para os tecidos adjacentes e para o organismo. FORMAÇÃO DA PLACA O padrão de crescimento e maturação da placa bacteriana tem sido estudado nas superfícies duras naturais da cavidade oral, como o esmalte e dentina, ou nas superfícies artificiais, como metais ou resinas, utilizando microscópio de luz, microscópio eletrônico e cultura bacteriana (Theilade & Theilade 1985). 28 A colonização primária é feita predominantemente por cocos gram-positivos anaeróbios. Eles são adsorvidos dentro das superfícies recobertas pela película, em um curto período de tempo após uma limpeza mecânica. A placa colhida após 24 horas consiste principalmente em estreptococos; S. sanguis é o mais numeroso destes microrganismos. Na próxima fase, bastonetes gram-positivos que estão presentes em pequeno número inicialmente, gradualmente aumentam e, eventualmente superam em número os estreptococos. A heterogeneidade da placa aumenta gradualmente com o tempo, incluindo um grande número de microorganismos gram-negativos. PLACA DENTAL COMO UM BIOFILME O termo BIOFILME descreve uma comunidade microbiana indefinida associada à superfície do dente, ou qualquer outro material duro não descamativo (Wilder & Charaklis. 1989). Nos níveis inferiores da maioria dos biofilmes, uma densa camada de microrganismos está unida a uma matriz de polissacarídeos com outros componentes orgânicos e inorgânicos. No topo do biofilme, encontra-se uma camada solta, que freqüentemente tem aparência altamente irregular e estende-se para o meio circundante. A camada fluída que circunda o biofilme possui uma subcamada "estacionária” e uma camada fluída em movimento. Componentes nutricionais podem penetrar neste meio fluído por difusão molecular. Gradientes de difusão impregnados, especialmente com oxigênio, existem nas regiões compactas mais profundas dos biofilmes. Os biofilmes protegem efetivamente as bactérias dos agentes antimicrobianos. O tratamento com substâncias antimicrobianas freqüentemente fracassa, a menos que os depósitos sejam removidas mecanicamente. Em resumo, a placa dental como um depósito microbiano de ocorrência natural representa um biofilme verdadeiro que consiste em bactérias em uma matriz composta principalmente de polímeros extra-celulares de origem bacteriana e procedentes do exsudato do sulco gengival e/ou saliva. Conseqüentemente notamos através dos parágrafos acima que a placa dental ou biofilme se não remomdas pode causar prejuízo as estruturas dentais bem como os tecidos adjacentes. Para combatermos a placa dental ou biofilme temos que removê-la através de técnica mecânica e para obtermos resultados positivos, teremos que lançar mão de evidenciadores eficazes. Além de lançarmos mão da técnica de escovação correta, temos que contar também com produtos que evidenciem esta placa dental para que a escovação se torne eficaz. Temos conhecimento de evidenciadores de placa dental de natureza química (eritrosina, azul de metileno dentre outros), por que náo podemos encontrar uma substância para evidenciação de placa dental em produtos naturais, os quais temos certeza que os efeitos danosos que os evidenciadores a base de agentes químicos causam as ~srruturas dentais os de substâncias naturais não irão causar. MATERIAL E MÉTODOS PROCEDIMENTO QUE SERÁ UTILIZADO NA EXTRAÇÃO DOS PIGMENTOS DOS VEGETAIS Os vegetais (espinafre e beterraba) serão secos a 35 C em estufa com circulação de ar (durante 2 dias). Quantidades conhecidas das folhas secas do espinafre (27,2 gr) e da raiz da beterraba (59,9 gr) ficarão imersas em etanol durante 24h (400 ml). Este procedimento será repetido pelo menos 4 vezes. O extrato obtido será concentrado para um pequeno volume (a formação de precipitados deve ser evitada). A evaporação dos extratos será realizada sob pressão reduzida à 40 C. O peso seco dos pigmentos será devidamente anotado com a finalidade de quantificar as substâncias isoladas. 29 ISOLAMENTO DE SUBSTÂNCIAS CONTIDAS NOS EXTRATOS: O extrato etanólico será fracionado em coluna cromatográfica de vidro de 70 cm de comprimento Poe 5 cm de diâmetro e sílica gel 60 (70-230 mesh ASTM) como absorvente. A eluição do extrato etanólico será iniciada com etanol e etanol-água nas proporções de 4:1 e 3:2. Após a coleta de cada fração, o solvente será evaporado a pressão reduzida até o volume de aproximadamente 1 ml. Essas frações serão submetidas a cromatografia em camada delgada para verificação da composição dos pigmentos, sendo a seguir reunidas as que apresentarem comportamento semelhante. BIBLIOGRAFIA ALLEN, D. L. & KEER, D. A. (1965). Tissue response in the guinea pig to sterile and non-sterile calculus. Journal of Periodontology 36, 121-126. BERTHOLD, C. H., BERTHOLD, P. & SÖDER, P. O. (1971). The growth of dental Plaque on different materials. Svensk Tandläkare Tidsskrift 64, 863-887. BOWEN, W. H. (1976). Nature of plaque. Oral Sciences Reviews 9, 3-21. LANG, N. P., CUMMING, B. R. & LÖE, H. (1973). Toothbrusing frequency as it relates to plaque development and gengival health. Journal of Periontology 44, 396-405. LIE, T. (1978). Ultrastructural study of early dental plaque formation. Journal of Periodontal Research 13, 391-409. LINDHE, J. (1997) Tratado de periodontia clínica e implantologia ora, pp. 66-91. LÖE, H., THEILADE, E. & JENSEN, S. B. (1965). Experimental gengivitis in mem. Journal of Periodontology 36, 177-187. MC DOUGALL, W. A. (1963). Studies on dental plaque, II. The histology of the developing interproximal plaque. Australian Dental Journal 8, 398-407. REMBERG, P., LINDHE, J., DAHLÉN, G. & VOLPE, A. R. (1994). The influence of gengival inflammation on the novo plaque formation. Journal of clinical Periodontology 21, 51-56. THEILADE, E. (1986). The no-specife theory in microbial etiology of inflammatory periodontal diseases. Journal Clinical Periodontology 13, 905-911. 30 HIPERSENSIBILIDADE DENTINÁRIA Dr. Cyro Siqueira Filho Dr. Josiel A Pereira de Oliveira Dr. Renato Murcia Dr.ª Rocemary Pereira de Araújo Carvalho INTRODUÇÃO É muito comum atendermos pacientes que apresentam sensibilidade dolorosa em um ou mais dentes frente a diversos estímulos térmicos, mecânicos ou químicos, como a simples ingestão de bebidas geladas ou quentes, o contato com alimentos ácidos ou o mero ato de escovar os dentes. Esta hipersensibilidade dentinária frente aos prazeres básicos do dia a dia pode tornar-se um martírio para o paciente de acordo com Brannstrom et al (1998). Observamos que indivíduos de faixas etárias e história clínica distintas variando conforme o grupo dentário, mas sem diferenças tanto no tecido dentinário quanto no pulpar comparativamente com dentes normais que não apresentem hipersensibilidade. Segundo Bramante e Vale (1996) a exposição dos túbulos dentinários, via de acesso ao complexo pulpar, torna-se suscetível à ação dos estímulos agressivos devido a dentina estar exposta ao meio bucal. A teoria mais aceita para explicar este mecanismo é a Teoria Hidrodinâmica de Fluídos, relacionada com a movimentação de líquido no interior dos túbulos dentinários. Devido as diferentes etiologias, muitos tratamentos têm sido propostos sem, no entanto termos encontrado um que seja aceito com unanimidade para total e definitiva eliminação destas manifestações dolorosas. Medicamentos de uso tópico, soluções fluoretadas, váríos tipos de dentifrícios são alguns dos meios utilizados como forma de tratamento. É nosso objetivo, apresentar as causas mais comuns para o surgimento de tal sensibilidade, bem como algumas formas simples de tratamentos disponíveis que contribuam para o alívio dos nossos pacientes. REVISTA DE LITERATURA Addy e col. (1985) concluíram que diferentes tipos de dentifrícios podem obstruir os túbulos dentinários dependendo dos componentes neles utilizados. Orshardson e col (1987) deduziram por sua vez que a dentina sensível reduz o índice de higiene oral pelo paciente, gerando com isso um ciclo vicioso. Dor Retração Falta de Escovação Doença Gengival 31 Sobral et al (1994) considera como fatores etiológicos da sensibilidade dentinária cervical dois tipos de lesões, aquelas com perda de estrutura dental correspondendo à abrasão, erosão e abfração e as que não apresentam perda estrutural, que são as exposições radiculares. Foi demonstrado em estudo clínico que 1 (um) a cada 6 (seis) pacientes em tratamento apresentavam hipersensibilidade dentinária, sendo maior à incidência em adultos jovens, igual para homens e mulheres, a região cervical vestibular a face mais afetada e o grupo dos pré-molares o mais comprometido, segundo Sobral et al (1995). Bramante e Vale (1996) adotaram a Teoria Hidrodinâmica dos Fluídos para explicar a sensibilidade dentinária devido à exposição dos túbulos dentinários como via de acesso do complexo pulpar. Sobral (1997) selecionou quatro técnicas para tratamento de hipersensibilidade dentinária utilizando verniz fluoretado, cimento de ionômero de vidro resino-modificado, oxalato de potássio ou resina composta associada a adesivo dentinário, concluiu que eliminando os fatores etiológicos e aplicando uma das técnicas descritas, há uma tendência de regressão da hipersensibilidade. Brannstron et al (1998) salienta o desconforto para o paciente aos prazeres básicos cotidianos como ingestão de líquidos gelados ou quentes, alimentos ácidos ou escovação dental, o que representa estímulos térmicos, químicos e mecânicos. Cury (1998) afirma a ação do nitrato de potássio presente nos dentifrícios como redutor da sensibilidade ao jato de ar frio. Martinelli (1999) demonstrou que formulações à base de oxalato de potássio reduzem significativamente a hiperestesia dentinária, variando de acordo com o estímulo utilizado, sonda ou ar. Oda et al (1999) conclui que a utilização de glutaraldeidos, oxalatos e fluoretos acompanhado de condicionamento ácido da dentina não foi eficaz para a formação de uma película impermeabilizante com glutaraldeidos e oxalatos e eficaz por um tempo restrito com fluoretos no tratamento da hipersensibilidade dentinária. CONCLUSÃO A hipersensibilidade dentinária pode ser classificada como uma patologia real de dor estimulada, bastante freqüente, presente em uma entre seis pessoas, com a maior incidência atingindo adultos jovens, sendo que um ou mais dentes podem ser afetados. As manifestações resultantes de estímulos térmicos, mecânicos e químicos são provenientes de dois fatores como lesões estruturais do dente ou exposições radiculares. A busca insistente de variadas formas de tratamento não resultou em soluções definitivas obtendo-se apenas alívio temporário da sintomatologia dolorosa. 32 BIBLIOGRAFIA ADDY M., MOSTAFA P., ABSI EG, ET AL. Cervical dentin hypersensibility: Etiology and management with particular reference to dentifrices. In Rowe NH (ed): Hipersensitive Dentin: Origin and Management, University of Michigan, p. 43 – 1985. BRANNSTROM, MARTIN; OLIVEIRA JÚNIOR, FERNANDO DE CARVALHO. Hipersensibilidade: escravo da dor. Rev. ABO Nac; 6 (2): 122-4, abr.-maio 1998. ilus CURY, JAIME A. Pastas dentais (dentifrícios). Rev. APCD; v. 52 n. 6: 477 Nov/Dez 1998. MARTINELLI, ANA CHRISTINA BONATO FIGUEIREDO. Avaliação da hiperestesia dentinária após tratamento com diferentes formulações à base de oxalato de potássio utilizando-se um placebo como controle. Bauru; s.n.; 1999, 162 p. ilus, tab. NETTO, NARCISO. Prevalência de hipersensibilidade dentinária cervical. Rev. Odontol. Univ. São Paulo; 9 (3): 177-81, jul-set. 1995. ilus ODA, MARGARETH; MATOS, ADRIANA BONA; LIBERTI, EDSON APARECIDO. Morfologia da dentina tratada com substâncias dessensibilizantes: avaliação através de microscopia eletrônica de varredura. Rev. Odontol. Univ. São Paulo; 13 (4): 337-42, out-dez. 1999 ilus ORSHARDSON R; COLLINS WJN. Clinical features of hipersensitive teeth. Br. Dent. J.: 162:253 – 1987. SOBRAL, MARIA ANGELA PITA; CARVALHO, RUBENS CORTE REAL DE; GARONE SOBRAL, MARIA ANGELA PITA. Aspectos clínicos da etiologia da hipersensibilidade dentinária cervical e Avaliação clínica de algumas técnicas de tratamento. São Paulo; s.n.; 1997. 157 p. ilus, tab. (BR) SOBRAL, MARIA ANGELA PITA; GARONE NETTO, NARCISO. Aspectos clínicos da etiologia da hipersensibilidade dentinária cervical. Rev. odontol. Univ. São Paulo; 13(2):189-95, abr-jun. 1999 tab VALE, ILAN SAMPAIO DO; BRAMANTE, ALEXANDRE SILVA. Hipersensibilidade dentinária: diagnóstico e tratamento. Rev. Odontol. Univ. São Paulo; 11(3):207-13, jul.-set. 1997. 33 Copyright © 2001, Pierre Fauchard Academy. Direitos reservados. Proibida a reprodução, mesmo parcial, e por qualquer processo, sem autorização expressa dos autores e do Editor. 34