Relatório Levar esperança ao - FMSI | Fondazione Marista per la

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Relatório Levar esperança ao - FMSI | Fondazione Marista per la
LEVAR ESPERANÇA AO HAITI
Atualizações sobre a solidariedade marista depois do terremoto
Publicado pela: Fondazione Marista per la Solidarietà Internazionale Onlus
Departamento projetos e comunicação
Roma, 12 de janeiro de 2014
Índice
»4
Introdução
»
O que aconteceu
5
»6
A resposta do Instituto Marista
»
Os primeiros projetos
7
»15
Prestação de contas
»
Os doadores
17
Introdução
Prezados amigos e benfeitores,
Há quatro anos, nesses dias, em 12 de janeiro de
2010, um terremoto terrível atingiu o Haiti, trazendo
destruição e morte para a ilha.
Como já acontecera no passado, depois da erupção
do vulcão de Goma (República Democrática do
Congo), em 2002, e o Tsunami de 2004 no Sri Lanka e
na Índia, as comunidades maristas locais se tornaram
protagonistas na ajuda à população. Junto com elas,
todo o Instituto Marista.
Também para o Haiti chegaram doações de todos os
lugares do mundo, às quais a Administração Geral do
Instituto acrescentou aquilo que restava do Fundo
Tsunami1, enquanto que os Irmãos Maristas presentes
no local sugeriam alguns projetos para reconstruir e
dar uma contribuição ao desenvolvimento do país, a
partir da escola e dos jovens.
A FMSI esteve ao centro desta iniciativa: angariou
fundos, examinou os projetos a serem financiados,
distribuiu o dinheiro arrecadado e acompanhou as
várias atividades financiadas.
1. Veja a relativa nota da prestação de contas.
4
O objetivo deste relatório é principalmente agradecer
aqueles que contribuíram com as suas generosas
doações e, ao mesmo temo, prestar contas de como
foi utilizado o “fundo Haiti”. Estas páginas ilustram o
uso que se fez do Fundo até dezembro de 2013.
O processo de reconstrução do país e de melhoramento
das condições de vida dos haitianos certamente não
terminou e nem mesmo o Fundo cessou de existir:
os projetos continuarão em 2014 e também o nosso
trabalho.
Entre as boas notícias está o fato que os habitantes
do Haiti não se dão por vencidos. O grande mercado
de Port-au-Prince, com as milhares de pessoas que
vêm vender e comprar nas inúmeras pequenas bancas,
testemunha essa realidade, assim como também
as tantas crianças que contam o próprio sonho. A
idade média da população haitiana é de 21 anos. Nós
da FMSI temos a convicção de que o futuro do pais
depende da instrução e da promoção social dos jovens.
Ir. Mario Meuti, 12 de janeiro de 2014
O que aconteceu
Eram 16:53 de 12 de janeiro de 1010, quanto um
terremoto de 7.0 graus golpeou o Haiti. Um cisma que,
segundo os dados das Nações Unidas, atingiu 4 milhões
de pessoas – dois terços da população – provocando
quase 250 mil mortos.
Naqueles poucos trágicos minutos, há 4 anos, foram
destruídos ou gravemente atingidas a maior parte das
casas, escolas, hospitais e serviços essenciais na vasta
zona do terremoto.
Hoje, há quatro anos de distância, espertos e
observadores externos continuam dizendo que tem
ainda muita coisa estragada, porque as instituições
haitianas são frágeis, muitos doadores não mantiveram
as promessas e o governo e a comunidade internacional
não souberam estabelecer com clarividência as ações
prioritárias.
Todos sabem que, depois do terremoto, Haiti
experimentou contínuas epidemias de cólera (até
mesmo a ONU é acusada por isso2), principalmente
depois da passagem dos furações Isaac e Sandy, no
outono de 2012, quando as chuvas provocaram
o transbordamento dos esgotos a céu aberto. É
igualmente sabido que, já antes de 12 de janeiro
de 2010, a maioria da população não tinha acesso a
água potável, serviços higiênicos, assistência sanitária
e tantos outros serviços. O terremoto e as outras
catástrofes naturais pioraram a situação.
Várias organizações da sociedade civil fizeram
pressão para que o governo destinasse terrenos
para a construção de casas e administrasse de forma
adequada os fundos recebidos para a reconstrução.
Exigiram que prestasse atenção sobretudo nas
necessidades das pessoas mais vulneráveis, sempre
pouco consideradas pelos políticos.
As obras maristas, todas longe da capital e, portanto,
longe da área gravemente atingida, não sofreram
danos sérios. Apesar disso, o inteiro mundo marista se
ativou para recolher fundos e ajuda para a população,
além da necessidade imediata...
2. Do jornal italiano Il Sole 24 Ore de 10-10-2013 http://www.ilsole24ore.com
5
A resposta do Instituto Marista
A FMSI está inteiramente envolvida na operação Haiti:
desde o início, de fato, participou nas discussões
da Província México Ocidental (as comunidades
maristas de Haiti pertencem a essa Província) e do
Conselho Geral do Instituto para coordenar os recursos
recolhidos no mundo marista e responder, da melhor
maneira possível, às enormes necessidades do país,
com planos de média e longa duração.
O objetivo era ajudar os Irmãos Maristas do Haiti
a participar da reconstrução e da melhoria de seu
país. Não só, portanto, levar ajuda imediata àqueles
que estavam sofrendo pela destruição provocada
pelo terremoto, mas ativar projetos educativos de
ampla perspectiva, capaz de levar desenvolvimento
e de melhorar, de forma duradoura, as condições
de vida, especialmente das crianças e dos jovens. O
Instituto Marista deu à FMSI a tarefa de distribuir as
contribuições, em sintonia com a Província México
Ocidental e o Setor Haiti. Todos os recursos recolhidos
através da Fundação seriam usados para projetos
educativos em benefício das crianças e jovens a
serem realizados quando a emergência fosse passada,
enquanto que aqueles que queriam dar uma ajuda às
necessidades imediatas foram orientados a se dirigir
a outras agências internacionais. A FMSI, em seguida,
participou da operação de captação de recursos,
contribuiu na avaliação dos projetos e se tornou
responsável principal de todo o processo de envio dos
financiamentos.
Melhorar as condições de VIDA, especialmente
das CRIANÇAS e dos JOVENS.
6
Os primeiros projetos
EM
e promovendo, ao mesmo tempo, a formação dos
professores.
Merceron é uma localidade a 35 quilômetros de Portau-Prince. Na região existem 4 cidadezinhas próximas
(Hatte Drouillar, La Perriere, Merceron, Joineau),
cujas características mudaram radicalmente depois
do terremoto. Nelas moravam cerca de 4.000 pessoas
e faltava uma escola primária, depois que aquela de
La Perriere foi destruída.
Era preciso, primeiro de tudo, ter como ponto de
referência um edifício bem construído, seguro contra
furacões e terremotos. Precisava, além disso, incutir
nas pessoas a certeza da importância da instrução e
fazer com que todos participassem no papel educativo.
E isto está acontecendo, pois a manutenção do
edifício e a gestão da escola são de responsabilidade
direta da comunidade local.
CONSTRUÇÃO
MERCERON
DE
UMA
NOVA
ESCOLA
As Irmãs de Jesus e Maria, que promoveram o projeto
de reconstrução da escola, pensaram em construí-la
em Merceron, pois – como explica a Ir. Isabela Sola –
“aqui está o maior número de crianças, constatamos
a vontade dos pais de colaborar e porque o terreno é
maior e é possível fazer um campo de futebol”.
Os trabalhos para a construção de seis salas, um
escritório administrativo e os banheiros começaram
em janeiro de 2011, com a contribuição da ONG
marista espanhol SED (Solidaridad Educación
Desarrollo) e das próprias Irmãs de Jesus e Maria. A
contribuição da FMSI (que, como lembrado acima,
tinha a tarefa de gerenciar também os fundos da
Administração Geral dos Irmãos Maristas) foi de
40.000 euros.
Criou-se entre os cidadãos das quatro localidades
uma associação para vender o arroz a um atacadista
local, que também participa do projeto da escola. A
associação deposita uma parte do lucro em uma conta
especial, usada somente para o salário dos professores
e as despesas gerais. A escola se tornou também um
lugar de encontros, reuniões dos pais, encontros da
associação... Ou seja, tem um movimento que está
gerando na comunidade uma certa prospectiva de
saída da habitual situação de pobreza e isolamento.”
A escola, já terminada, acolhe hoje cerca de
240 crianças de Merceron, mas também das
cidades vizinhas.
Lemos na redação final do projeto: “O nosso projeto
consistia em promover a instrução primária na zona
rural de Thomazeau de Merceron construindo a
escola, oferecendo uma refeição diária às crianças
7
AMPLIAÇÃO DA ESCOLA DE NOTRE DAME DE LA
NATIVITÉ
È uma escola secundária de propriedade da Diocese,
da qual os Irmãos Maristas assumiram a direção e
gestão por meio da Província México Ocidental. Depois
do terremoto, um número grande de pessoas vindas
de Port-au-Prince se transferiram para aquela região,
junto a amigos ou familiares. A escola de Notre Dame
de la Ntivité, que já superava 40 alunos por classe, foi
invadida por nossos pedidos de matrícula, coisa que
acelerou a ideia de ampliação, que já vinha sendo
estudada. Três novas salas já tinham sido construídas
pela Província México Ocidental no final de 2010; a
segunda fase de ampliação, invés, foi financiada pela
FMSI, através do Fundo Haiti.
sendo a área privada de uma rede elétrica nacional.
O total doado pelo Fundo Haiti para esse projeto foi
de 160.087,12 Euros. Com todas as novas instalações,
a escola passou gradualmente de 300 a 400 alunos:
o serviço que presta cresceu e melhorou; mesmo se
ainda não consegue satisfazer plenamente todas as
necessidades de instrução, pode oferecer ao menos
espaços para o jogo a todas crianças e jovens da região.
Em seguida, a Província México Ocidental acrescentou
uma ulterior sala e um escritório para as atividades
pastorais e formativas.
Foi possível realizar a construção de outras
salas, de um ambiente multiuso, de um
laboratório de informática com a necessária
instalação e compra de 20 computadores.
Foram realizados ainda um campo de basquete,
banheiros e uma cobertura em volta das salas.
Por fim se instalou um gerador de energia elétrica,
MISSÃO NO HAITI EM MAIO DE 2011: NASCEM NOVOS PROJETOS
Angela Petenzi, coordenadora de projetos da FMSI, e Angélica Alegría Formoso, naquele momento coordenadora
do Escritório de Solidariedade da Província México Ocidental, realizaram uma missão conjunta no Haiti. A viagem
tinha o objetivo de supervisionar os projetos começados com os recursos recolhidos depois do terremoto e
estudar as novas propostas apresentadas pelas comunidades maristas locais. Também participaram da missão
Luis Barba Berlanga e Nancy Walker Olvera, responsáveis da associação mexicana Kóokay, especializada em
projetos de desenvolvimento comunitário e tecnologia sustentável. A associação doou um conjunto de painéis
solares para a iluminação da escola de Latibolière e ofereceu a própria colaboração para desenvolver projetos
para o acesso à água potável e à energia elétrica com tecnologias eco sustentáveis.
A primeira etapa da viagem foi na capital Port-au-Prince, onde os participantes da visita puderam ver os sinais
do terremoto e tanta gente morando nas barracas. O grupo visitou os escritórios do Banco Mundial e da União
Europeia para conhecer de perto os seus programas de cooperação e as chances de financiamento.
O grupo prosseguiu a visita nas localidades de Dame Marie, Latibolière e Jérémie, onde estão as comunidades
maristas. O Ir. Antonio Cavazos, responsável do Setor Haiti para a Província México Ocidental, acolheu os visitantes.
Durante o encontro em Dame Marie, o grupo viu os trabalhos que estão sendo feitos para a ampliação da escola
de Notre Dame de la Nativité e pode comprovar a necessidade de novas estruturas, além daquelas previstas na
segunda fase do projeto.
8
Em Latibolière, localidade a 12 quilômetros ao sul de Jérémie, os Irmãos Maristas conduzem uma escola
secundária diocesana, o Collège Alexandre Dumas, chamado com esse nome em homenagem ao famoso autor,
de origem haitiana, dos “Três Mosqueteiros” e de “O Conde de Monte Cristo”. Toda manhã, nesse local, chegam
alunos das localidades que ficam no meio das florestas, depois de quilômetros de caminhada; a maior parte
deles pode frequentar a escola somente graças a bolsas de estudo doadas pela comunidade dos Irmãos. O
protagonista desta iniciativa é o ir. Antonio Cavazos, um mexicano que vive no Haiti há tantos anos, que conseguiu
criar uma rede internacional de doadores. Todavia, a coisa que mais chamou a atenção de todos nesta escola
foi a experiência realizada pelo Ir. Laurent Beauregard com as crianças trabalhadoras, da qual falaremos abaixo.
A última etapa se deu na cidade de Jérémie. Desde o início da sua presença em Jérémie (1985), a comunidade
marista desenvolve atividades sociais e de animação para crianças e jovens que, na maioria das vezes, têm a
rua como único ponto de encontro. A comunidade começou um projeto de produção agrícola, projetado pela
Universidade Marista de Mérida (México), com a intenção de promover a difusão junto à população local.
A partir dos encontros daqueles dias, nasceu uma outra importante proposta apresentada à FMSI para o Fundo
Haiti: a construção de um centro juvenil comunitário para o desenvolvimento de atividades sociais, recreativas
e esportivas, apoio escolar para as crianças que abandonaram a escola, cursos de alfabetização para adultos e
iniciativas para a promoção da mulher. Trata-se também de um local propício para a realização de formação de
professores e a difusão de novo material didático, que parece ser muito carente em todas as localidades visitadas.
“Porque – escreve Angela na conclusão da visita – no Haiti o trabalho mais difícil e cumprido não é retirar os
escombros do terremoto, mas remover os obstáculos que até agora conduziram à pobreza e à exclusão uma
grande parte da população.”
9
PROGRAMA PARA O ACESSO À ESCOLA DAS
CRIANÇAS TRABALHADORAS DOMÉSTICAS - A
“école d’après-midi” do Ir. Laurent Beauregard
Uma parte do Fundo Haiti foi destinada ao programa do
Ir. Laurent Beauregard, um irmão marista do Canadá que
há tempo trabalha com a alfabetização e a reintegração
escolar de crianças marginalizadas, utilizando – como
mencionado acima – as estruturas da Escola Alexandre
Dumas de Latibolière.
A escola para essas crianças é de tarde (aprésmidi, em francês), durante três horas, quando
os cursos normais terminaram. Muitas delas
são “trabalhadores domésticos” junto às
famílias as quais foram “confiadas”, porque são
órfãos ou provêm de famílias muito pobres.
Para essas crianças se trata praticamente de um sonho
poder frequentar a escola, pois estão ocupados durante
todo o dia em trabalhos cansativos, em casa e na
agricultura, às vezes beirando a escravidão. Algumas
delas nem poderiam inscrever-se na escola, pois
não têm uma certidão de nascimento. O programa
vespertino do Ir. Laurent junto ao Collège Alexandre
Dumas oferece às crianças cursos de escola primária
para que possam ser reintegrados no percurso
escolástico oficial. Está também prevista uma refeição
integrativa, para combater a desnutrição e favorecer
a aprendizagem, atividades recreativas e educação
sanitária que contribui a prevenir novos contágios
da cólera. As crianças sem documentos são inscritas
oficialmente nos cartórios.
A primeira contribuição (8.782 Euros) do Fundo Haiti,
em 2011, serviu para pagar o salário dos professores, os
livros e materiais didáticos, os uniformes das crianças, a
10
refeição, o necessário para as atividades recreativas e as
práticas burocráticas para a legalização dos documentos
das crianças. A contribuição se repetiu em 2012 e 2013
(12.620 Euros e 13.316 euros respectivamente), para
a segunda e terceira anuidades e as atividades estão
atualmente sendo realizadas com o compromisso da
FMSI de ainda apoiar o programa vespertino no futuro.
Toda a atividade educativa está constantemente ligada
ao trabalho de assistência e promoção social para uma
incidência maior nas condições de vida das crianças.
Muitas dificuldades de aprendizagem derivam do
fato que se sentem pouco estimadas, “não capazes
como os outros”; o objetivo é que estas crianças, de
abandonadas que são, se sintam acudidas na maneira
melhor possível. Por isso, cada grupo não supera 20
alunos.
Os Irmãos Maristas visitam as famílias que hospedam
as crianças trabalhadoras e pressionam para que se
reconheça o direito delas à escola. Ao mesmo tempo
criam sensibilidade na comunidade local, convidando-a
a indicar a existência de crianças que estão na mesma
situação.
Quem é o Ir. Laurent Beauregard?
A “école d’après-midi” de Latibolière
È um Irmão Marista do Canadá, nascido em
Ville-St-Pierre, no Québec, em 1934. Depois dos
primeiros anos como professor nas escolas da
sua Província, passou quase toda a sua vida fora
do país natal. Ele mesmo nos conta:
“Em 1968, os meus superiores perguntaram se aceitava
ser vice mestre de noviços em Save, em Ruanda. Estive 10
anos, entre Ruanda e República Democrática do Congo. Em
1978 fui chamado em Roma e trabalhei seis anos na equipe
de formação permanente dos Irmãos3. Em 1986 pediram
que ajudasse na nova fundação no Haiti. Desde então, estou
aqui.”
3. Chamava-se então “Segundo noviciado”, destinado aos Irmãos de 35 a 45 anos de idade.
11
“Enquanto era diretor da escola primária de Dame Marie, vi muitas crianças que não podiam fazer a
matrícula na escola porque não tinham dinheiro. Comecei, então, timidamente, convidando algumas
crianças a vir à escola comigo de tarde... Depois fui transferido para Latibolière, onde fiz a mesma
coisa, ou seja, ensinar de tarde às crianças, excluídas das escolas oficias, a ler, escrever e contar.
As nossas aulas começam às 14:00, mas às 13:00 já estou diante da escola para praticar a leitura
com aqueles que chegam antes: desta forma a aprendizagem deles é mais rápida. Tem crianças que
chegam ao meio dia, sinal de muita vontade de aprender. Neste período, estou preparando também
cerca de 15 jovens para o batismo e outros 15 para a primeira comunhão.
Domingo de tarde vou até às montanha aqui próximas para encontrar as pessoas que vivem em
extrema pobreza. Sinto-me impotente diante desta situação e cada vez tenho vontade de deixar
tudo... Mas no domingo seguinte vou encontrá-las novamente e levo a eucaristia àqueles que
desejam. Apesar de toda a pobreza, encontro gente com grande dignidade e coragem. O povo do
Haiti é forte e sabe enfrentar a vida, não perdendo nunca a esperança em dias melhores.
Esta é a minha pequena parte em uma missão que me dá tanta satisfação e que recomendo cada dia
a Jesus e Maria.”
Quem são as crianças da “école d’après-midi”?
“Na nossa escola vespertina temos atualmente 50 crianças e jovens, de 8 e 20 anos. Estão divididos
em duas classes: primeiro e segundo ano. A maior parte delas são crianças, chamados aqui ‘ti
Moun’, que vêm das montanhas – às vezes de bem longe – e que são confiadas a famílias ‘host’ (que
hospedam), que geralmente não têm nenhuma ligação de parentesco.
Essas crianças são mão-de-obra para todo tipo de trabalho. A maioria é órfã, de várias idades,
sem certidão de nascimento, sem instrução, sem afeto, sem nenhuma consideração e com pouca
autoestima. São chamados de ‘ti mon sèvis’ ou ‘rest-avèk’. Acredito que no Haiti existam mais de
300.000. É uma verdadeira forma de escravidão, mas que aqui não provoca grande escândalo …
Um dia, enquanto um menino lia comigo, notei que as calças dele estavam rasgadas em vários
lugares. Perguntei se tinha brigado com alguém. Respondeu com muita simplicidade: ‘não! São os
ratos que roem as minhas calças!’
Um dos meninos vive com os avós, enquanto a mãe nunca está presente. Como pode uma criança
crescer em tal situação? De fato, desenvolveu vários sistemas de autodefesa...
Outro diz que não pode vir para a escola porque não tem sapato para colocar...
Outro chega atrasado porque de manhã tem que trabalhar na lavoura e volta às duas da tarde, sem
forças...
Alguns vêm de longe, atravessam o rio e sobem pela montanha, chegando molhados, mas com um
sorriso bonito. Que coragem!
Tem um menino que vem com a irmã. Ficaram 3 dias embaixo dos escombros do terremoto de 12 de
janeiro de 2010. A perna do menino estava bloqueada contra o corpo de outra irmã morta. Quando
foi encontrado nessa situação, o seu pé estava praticamente comprometido e queriam amputá-lo,
mas a criança disse: NÃO! Conseguiram fazer uma cirurgia delicada e agora caminha e é um dos
nossos assistidos. Todavia ainda tem traumas que não lhe permitem se concentrar...
12
Mas a coisa mais bonita é ver a evolução deste pequeno mundo. A toda criança que chega damos
nossa mão para mostrar que é considerado e que tem uma dignidade. Um gesto pequeno, mas
importante para nós. Preciso dizer que as crianças gostam de vir conosco: isso é evidente pelo fato
que chegam antes das 14:00, horário de início das aulas, para se exercitar na leitura e para repassar
as matérias que não entenderam.”
Ir. Laurent Beauregard
HISTÓRIAS DE “PEQUENOS TRABALHADORES
DOMÉSTICOS”
» G. P., 9 anos, de Latibolière
Vive com a mãe e a vó, ambas sem trabalho, e
também por isso, em casa, não é tratada bem.
Come uma única vez por dia e deve trabalhar para os
vizinhos.
»M. L., 8 anos. Mora a alguns quilômetros de
Latibolière
Menina muito pobre, não conhece a mãe e o pai
morreu há pouco. Vive junto a uma família a quem
serve. Dorme sobre papelões em um canto da casa.
Levanta cedo para fazer a limpeza, lavar os pratos
e roupas no rio e depois precisa procurar lenha na
floresta. Ao meio dia come alguma coisa...
» N. M., 8 anos, de Latibolière
Um menino sem mãe e abandonado pelo pai. Vive a
serviço de uma família. Trabalha tanto, levantando
cedo para limpar a casa e o quintal, pegar água, cuidar
da criação e procurar comida... A sua autoestima é
quase zero.
» J. G. D., 9 anos, vive numa localidade perto de
Latibolière
Nasceu de uma família muito pobre e por isso
foi destinado a viver junto a outras famílias para
trabalhar para elas. Não tem cama e dorme em um
canto da casa. Tem que se levantar cedo e limpar a
casa, buscar água, lavar os pratos e colher frutas das
árvores. Come ao meio dia, mas sofre de desnutrição
e tem problemas de saúde.
» N. T., 9 anos, de Latibolière
Menina sempre sorridente, não tinha mãe e o seu
pai a abandonou na rua. Vive a serviço de uma
família, que cuida pouco dela. Dorme das 21 às 4
da manhã. Depois tem que acender o foto, varrer
a casa, lavar os pratos, lavar roupa... É uma menina
inteligente. Consegue comer duas vezes por dia, mas
é desnutrida e doentia.
13
REALIZAÇÃO DE UM CENTRO SOCIAL PARA JOVENS
E A COMUNIDADE DE JÉRÉMIE
Uma parte importante do Fundo Haiti foi destinado,
logo no início, à criação de um centro comunitário na
zona de Carocolie, em Jérémie.
Já começou a construção da estrutura. Não foi
fácil projetar um edifício simples, antissísmico,
resistente a furações e outros eventos naturais.
Por isso o projeto teve uma longa fase de
estudo e finalmente começou a ser colocado
em prática no final de 2013, com a realização
dos fundamentos do centro.
da pobreza. Bastaria considerar alguns dados do
país: entre as crianças abaixo de 5 anos, 18,9% estão
abaixo do peso; a porcentagem das pessoas que
sabem ler e escrever é apenas de 48,7%; existem
mais de dois milhões de crianças trabalhadoras (idade
entre 5-14 anos), apenas citando alguns dados mais
impressionantes4. Precisamos dizer também que
para uma grande parte da população faltam as coisas
básicas como água potável e serviços de higiene. A
essas coisas se acrescenta o fato de que no país há
poucos professores preparados e os jovens (a idade
média da população é de 21,9 anos) pagam o preço
mais caro de toda a incerteza que vive o país. As
mulheres, mesmo se em muitos casos são chefes de
família, são socialmente pouco consideradas e têm
pouca chance de ganhar um salário. A consequência
é que em tantas famílias se sofre de desnutrição
permanente. As crianças em risco são de verdade
tantas: órfãs, abandonadas ou pobres demais para
frequentar a escola; vivem muitas vezes na miséria e
na exploração.
O complexo servirá para os cursos de alfabetização,
escola primária, atividade social e associativas, cursos
de atualização para professores e pequenas atividades
produtivas em nível experimental. Tudo isso para a
promoção das crianças, dos jovens e das mulheres
da área, que depois do terremoto são mais pobres e
vulneráveis do que antes. A construção desse centro
comunitário é uma meta muito importante para A ambição dos Irmãos Maristas é fazer com que
os Irmãos Maristas: ter locais adequados permitirá Caracolie seja o centro propulsor de uma vida social
institucionalizar, dar continuidade e ampliar aquelas participativa e organizada. Ter um lugar para encontraratividades que desenvolve há anos em Caracolie em se como comunidade e onde brincar e aprender
favor das crianças e dos jovens.
deveria servir para que as crianças e jovens de Jérémie
possam crescer humanamente e melhorar as próprias
O contexto de Jérémie, como de toda a ilha, certamente condições. Portanto, não se trata apenas de reconstruir
não é desenvolvido. Ao contrário: do ponto de vista a partir dos escombros do terremoto, mas de colocar
social está marcado pelas inevitáveis consequências as bases para uma sociedade mais desenvolvida.
4. Dados: www.cia.gov (The World Factbook)
14
Prestação de contas
Os números apresentados em seguida se referem
às somas recolhidas pela FMSI, ao dinheiro enviado
à Administração Geral dos Irmãos Maristas e ao que
restava do Fundo Tsunami do Instituto Marista em 9
de fevereiro de 20105, depois destinados à emergência
no Haiti.
De fato, logo depois do terremoto, a FMSI foi indicada
como o canal para administrar as ajudas recolhidas
pelo Instituto Marista, em colaboração com a Província
México Ocidental e o Setor do Haiti. As doações foram
destinadas, desde o início, a projetos educativos em
benefício das crianças e jovens, para serem realizados
durante e principalmente depois da emergência.
A resposta do mundo marista diante da tragédia do
povo do Haiti foi muito generosa: na data de publicação
deste relatório, o dinheiro angariado soma 459.316,04
euros. O dinheiro que se gastou para a realização dos
profeto foi de 319.653,61 euros, restando recursos a
serem utilizados que somam 139.662,43 euros, que
serão usados em 2014 para terminar o centro de
Jérémie.
Nota. As doações chegaram entre 2010 e 2013, em
euros e em dólares americanos; por questões práticas,
neste relatório são apresentados todos os números em
euros e o câmbio aplicado foi de 1 euro = 1,32 dólares.
O uso de uma taxa de câmbio convencional explica
eventuais discordâncias com números apresentados
em outras ocasiões. A mesma coisa vale para o dinheiro
gasto nos projetos.
QUADRO DE ENTRADAS E SAÍDAS - FUNDO EMERGÊNCIA HAITI
ENTRADAS em euros
459.316,04
FMSI
120.621,77
Administração Geral
175.765,44
Ex Fundo Tsunami
162.928,83
SAÍDAS em euros
319.653,61
Construção de uma nova escola em Merceron
Ampliação da escola de Notre Dame de la Nativité
40.000,00
160.087,12
Programa para o acesso à escola das crianças trabalhadoras domésticas
34.718,00
Realização de um centro social para os jovens e a comunidade de Jérémie
84.848,48
SALDO em Euros (Inteiramente destinados ao completamento de Jérémie até final de 2014)
139.662,43
5. O Fundo Tsunami foi recolhido pelo Instituto Marista para levar ajuda às missões maristas na Índia e no Sri Lanka, depois da devastação
provocada pelo maremoto que atingiu a Ásia Meridional no dia 26 de dezembro de 2004. Tendo sido realizados os projetos de reconstrução
nos dois países, depois de 5 anos da criação do fundo, o dinheiro que não foi gastao foi destinado ao Haiti, por decisão do Conselho Geral do
Intituto Marista.
15
ENTRADAS por ORIGEM em euros
Províncias maristas
Comunidades maristas
7.577,27
Escolas maristas
7.859,52
Outras entidades maristas
Privados
Irmãs Maristas
Total
13.772,73
da obra marista no mundo. Uma contribuição
importante chegou das Irmãs Maristas.
Construção de uma nova escola em Merceron
Ampliação da escola de Notre Dame de la Nativité
16
162.928,83
459.316,04
SAÍDAS para PROJETOS em euros
40.000,00
160.087,12
Programa para o acesso à escola das crianças trabalhadoras
domésticas
34.718,00
Realização de um centro social para os jovens e a comunidade
de Jérémie
84.848,48
Total
10.494,26
9.112,79
Ex Fundo Tsunami
As doações chegaram de várias partes do mundo
marista: unidades administrativas do Instituto,
comunidades dos Irmãos, escolas, escritórios de
solidariedade e ONG, ex-alunos, amigos e benfeitores
247.570,64
319.653,61
Os doadores
PROVÍNCIAS MARISTAS
» Província Marista Ibérica
» Província marista América Central
» Província marista Europa Centro-Ovest
» Distrito Marista do Pacífico
» Província Marista dos Estados Unidos
» Província marista Santa María de los Andes
» Província Marista Compostela
COMUNIDADES MARISTAS
» Comunidade da Casa Geral dos Irmãos Maristas (Roma, Itália)
» Comunidade marista de Sainte Marie (Paita, Nova Caledônia)
» Comunidade marista de Lisboa (Portugal)
» Comunidade marista de Montalembert (Lione, França)
» Comunidade Marista de Furth (Alemanha)
ENTIDADES MARISTAS
» Marist College (Ashgrove, Austrália)
» Colégio La Inmaculada (Valladolid, Espanha)
» Kinharvie Institute of Facilitation (Glasgow, Reino Unido)
» College-Lyceé Montalembert Notre Dame (Lione, França)
» Institut Sainte Marie (Couvin, Bélgica)
» St. Henry’s Marist College (Durban, África do Sul)
» Escola marista de Cham (Alemanha)
» Maristen-Fuersorge-und Missionsverein (Alemanha)
» MAPS Mission (Austrália)
OUTRAS ENTIDADES
» Irmãs Maristas
» Paróquia de Furth (Alemanha)
PRIVADOS
» Carmine Iodice (Itália)
» Carlos Rojo (Espanha)
» Ir. Teófilo Minga (Portugal)
» Marinette Badoud (Suíça)
» Fr. Jean-Claude Christe (Suíça)
» Andrea Marrazzo (Itália)
» Ida Knott (Alemanha)
» Marie Claire Fusulier (Bélgica)
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Escritório Oficial
Paese
Progetto
Partner locale
Euro
Bolivia
Piazzale M. Champagnat, 2
00144 Roma, Italia
La Scuola della Pace a Cochabamba
Tel.: +39 06 54517 1
Ricostruire
vite,54517
superare
Fax: +39 06
500ostacoli
Ente
finanziatore
Comunità di S. Egidio
3.800,00
FMSI
Progetto “Construindo
o Amanha”
3.600,00
FMSI
Cambogia
Manutenzione del Centro Studenti della
Chiesa
Cattolica
Phnom Penh
Escritório
de di
Genebra
Vicariato di Phnom
Penh
3.620,00
FMSI
Cameroon
Progetto musicale per la pastorale gio37-39 Rue de Vermont
vanile
Diocesi di Kumbo
3.600,00
FMSI
Cile
Attività di lobby e advocacy per la promoTel.: +41 (0) 22 779 4011
zione di una legge di tutela integrale dei
Fax: +41
(0) 22 740 2433
bambini
in Chile
Equipo de Solidaridad
Marista de Chile
5.900,00
FMSI
Colombia
Programma di formazione sui diritti
dell'infanzia per direttori, insegnanti,
operatori
sociali
Escritório
para Asia
Provincia marista di
Norandina
14.856,00
FMSI,
Misean Cara
62.680,06
CEI
Fundemar
20.000,00
Misean Cara
Fratelli Maristi
3.800,00
FMSI
Progetto musicale per i giovani di Bouaké
Fratelli Maristi
3.050,00
FMSI
El Salvador
Progetto educativo per i bambini della
Colonia Nueva Ilamatepec
Fundamar, Centro scolastico Ilamatepec
3.800,00
FMSI
Haiti
Programma per l'accesso alla scuola primaria dei bambini lavoratori domestici
Fratelli Maristi di Haiti
12.620,00
FMSI
Liberia
Scuola di giornalismo per gli studenti
della Sr. Shirley Kolmer
Fratelli Maristi della
Liberia
3.650,00
FMSI
Malawi
Formazione professionale per i giovani
del carcere di Maula
Fratelli Maristi, Maula
Prison of Lilongwe
52.000,00
Misean Cara
Completamento del centro giovanile
Champagnat
Fratelli Maristi Centro
Giovanile Champagnat
3.500,00
FMSI
Costruzione di aule per la scuola primaria
di Nkhwangu
Comunità di Nkhwangu, S. Denis Parish
6.500,00
FMSI
Completamento delle abitazioni degli
insegnanti per la scuola di Nkwangu
Comunità di Nkhwangu, S. Denis Parish
Catholic Church
1.750,00
FMSI
Costruzione di un dormitorio
Centro indigeno di formazione de las Casas
5.000,00
FMSI
Semi di vita per i bambini e i giovani
indigeni
Comitato Pedro Lorenzo de la Nada
3.970,00
FMSI
Brasile
1211 Genève 20, Suisse
Coltivazione idroponica per l'autosuffi- th
Fundemar
St. Gabriel’s
Foundation
Building,
6 Floor
cienza
alimentare
delle famiglie
sfollate
2, Soi Thong Lo 25, Sukhumvit 55 Road
Promozione economica e sociale delle
Bangkok 10110, Thailand
donne sfollate tramite attività artigianali
Costa d'Avorio
Tel.: +66 2 7127976
Fax: +66
2 7127974
Progetto
musicale
per i giovani di Korhogo
www.fmsi-onlus.org
[email protected]
Messico
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