um sistema para a criação de ringnecks

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um sistema para a criação de ringnecks
UM SISTEMA PARA A CRIAÇÃO DE RINGNECKS
A criação de Ringnecks Psitaculla krameri sp. está actualmente num período de estagnação após ter atingido um pico
de popularidade no início deste século.
O Ringneck é um psitacideo de médio porte com 4 subespécies, duas delas africanas o Psitacula krameri krameri e o
Psitacula krameri parvirostris e duas asiáticas o Psitacula krameri manilenssis e o Psitacula krameri borealis, destas
apenas 2 foram importadas para a Europa em número significativo, nomeadamente o Psitacula krameri krameri e o
Psitacula krameri manilenssis, a subespécie africana apesar de ter sido importada em grandes números nas décadas
de 80 e 90 nunca foi muito popular, em parte devido ao seu baixo preço, mas também por ser mais pequena que a
subespécie asiática e não apresentar naquela época mutações. A subespécie asiática rapidamente conquistou
admiradores devido à sua robustez, facilidade de criação, dimorfismo sexual, e muitas mutações existentes, o seu
único inconveniente são os gritos que emite ao amanhecer e ao fim do dia que podem ser algo incomodativos,
especialmente se os vizinhos quiserem ficar a dormir ao fim de semana.
Existem várias maneiras de manter estas aves em cativeiro com sucesso, o objectivo deste pequeno artigo é descrever
o sistema por mim seguido quando os mantinha, e dar algumas ideias sobre as suas mutações, para quem quer
começar a sua criação.
O sistema que eu recomendo para criar Ringnecks é mais complicado do que o normal e é de gestão mais intensiva,
mas permite obter um maior número de crias por casal, e tem a vantagem que pode ser facilmente adaptado ás
possibilidades de cada um.
As minhas aves são mantidas num sistema duplo, ou seja aos casais na época de reprodução e em bando fora desta,
isso permite-me maior flexibilidade em termos de escolhas de casais ao mesmo tempo que facilita-me a ida para ferias,
uma vez que ficam muito menos gaiolas para tratar.
É possível criar Ringnecks numa variedade de instalações e seria fútil estar a indicar um modelo tipo, porque vamos
estar sempre condicionados pelo clima da zona e pelo espaço disponível, o que eu aconselho é que façam as
melhores instalações que possam dentro do orçamento, mais vale gastar mais nas instalações e atrasar a compra de
alguns casais do que poupar nas instalações e ter depois problemas devido a isso.
Dito isto:
- Os Ringnecks precisam de espaço para voar e é portanto aconselhável que as gaiolas tenham um comprimento
acima dos 2 metros, sendo este o comprimento mínimo para tentar a sua reprodução;
-Num sistema ideal a comida seria fornecida no lado oposto ao ninho, mas tal é raramente possível, já que obriga a ter
uma instalação fechada com corredores de acesso tanto à frente como atrás e isso raramente é viável em termos de
espaço, o essencial é que seja possível tratar das aves no menor espaço de tempo possível se a zona de alimentação
ficar junto ao ninho;
- O ninho pode ser interno ou externo, mas tem que ser acessível externamente e de tal modo que seja prático uma
vistoria diária, as dimensões podem variar, os meus são caixas com 60 de alto por 30x30 com um buraco perto do topo
de 6 cm e uma escada de rede, a porta de inspecção está situada a 10 cm do fundo do ninho no lado oposto ao buraco
de entrada, isto permite que a ave tenha facilidade em sair do ninho sempre que o formos ver e o facto de ter uma
“borda” de 10 cm impede que os ovos rebolem para fora;
- Outro ponto importante são os poleiros, é imprescindível que eles fiquem a uma distância tal da parede da gaiola que
a ave não roce a sua cauda nesta, alem disso deve ser possível proceder à sua troca sempre que necessário.
O sucesso na época de criação começa a ser construído com as instalações é portanto altamente conveniente que o
futuro criador visite tantos aviários quantos possíveis para tirar ideias, e tente conversar com os criadores sobre que
alterações fariam se pudessem.
Construídas as instalações está na altura de comprar as aves, aqui a regra é sempre a mesma, só comprar crias do
ano ou jovens com 2 anos, adultos só em ultimo caso e só se merecer mesmo a pena, e só e é mesmo só se estiverem
anilhados (claro que se comprarem directamente ao criador e por qualquer motivo ele não tiver anilhado as crias é uma
excepção), nunca comprar adultos em loja e mesmo em criadores só se houver uma boa razão para a venda.
A melhor altura para se proceder as novas aquisições é em Setembro, as aves novas já fizeram a muda e não está
nem, muito calor nem muito frio, as novas aquisições devem ser sempre isoladas fisicamente do restante do plantel e
serem tratados separadamente para evitar contaminações cruzadas.
Os Ringnecks tem um dimorfismo sexual que consiste no anel à volta do pescoço que o macho adulto exibe, este anel
consiste em duas partes, na parte inferior é preto na parte superior é rosa e preto, a cabeça do macho é também mais
azulada (depende da subespécie) O dimorfismo só é visível a partir da segunda ou da terceira muda, no entanto se
arrancarmos algumas penas na zona do colar a uma ave jovem que já tenha feito a 1ª muda, as penas que nascem
podem vir já com a cor definitiva, permitindo conhecer o sexo. Existem mutações como o albino e o malhado recessivo
em que o dimorfismo sexual está ausente, nestes casos teremos que nos guiar pelo comportamento.
Em termos comportamentais, os machos jovens começam a exibir o comportamento típico da corte após o seu
primeiro ano de vida, assim eles “empinam-se” e dilatam/contraem as pupilas, tentam também alimentar os
companheiros de gaiola. No entanto para se ter a certeza a 100% é preciso esperar pelo aparecimento do colar ou
fazer uma sexagem por endoscopia ou analise do DNA.
O meu sistema de alimentação é extremamente simples, a base é uma boa mistura de sementes com pouco girassol,
de dois em dois dias maças, a agua é mudada todos os dias, e tem sempre à disposição casca de ostra e grit, ao
aproximar-se a época de reprodução é fornecida uma boa papa seca que é humedecida na hora de dar com agua, a
frequência do fornecimento da papa vai aumentado e ao chegar a época de reprodução é mudada diariamente e a
fruta também passa a ser dada diariamente.
A alimentação é mantida neste esquema até à muda, após esta estar concluída é removida a papa, e passam outra
vez a comer só sementes secas e fruta dia sim, dia não.
Como as aves são mantidas em bando até aos fins de Novembro, é necessário para alem das gaiolas de criação, um
viveiro comunitário, que deve ser o maior possível, especialmente na altura e na largura de modo a permitir a
colocação do maior nº de poleiros possíveis e reduzir assim a agressividade, como os Ringnecks são aves belicosas, 6
é o nº mínimo de aves adultas para serem colocados em bando o que impede que foquem a atenção num único
individuo, se forem crias podem ser colocados menos, por norma eu vou colocando as crias no viveiro e só depois
destas terem sido todas colocadas é que coloco todos os casais adultos ao mesmo tempo.
Quando chega o fim de Novembro separo os casais, espero por norma até ter um fim-de-semana que passe em casa e
faço a separação logo no sábado de manha, isto permite-me ter o fim-de-semana inteiro para observar se à algum
problema com os casais. Ao colocar os casais é necessário ter em atenção alguns cuidados, se tiverem outras
espécies de psitacideos coloquem-nas intercaladamente com os casais de Ringnecks, se tal não for possível, tentem
evitar que fiquem adjacentes dois casais novos, uma vez que os elementos do casal não se conhecem, podem dar
preferência ao membro do casal da gaiola ao lado, se por qualquer razão tiverem que ser colocados dois casais novos
lado a lado ponham um casal e passado 2-3 semanas coloquem o outro, assim o 1º casal já tem uma relação
estabelecida quando os seu vizinhos forem colocados.
No final de Dezembro começo a preparar os ninhos, lavo-os com uma solução diluída de hipoclorito de sódio, após
estarem secos, ponho no fundo uma camada de casca de pinheiro com pedaços bem grandes (do género que se
vende para jardins), e coloco os ninhos nas gaiolas de criação, nos casais que vão servir de ama a colocação dos
ninhos é efectuada 1-2 semanas após os restantes casais, procedendo assim garanto que os casais reprodutores irão
começar a postura primeiro que as amas.
Assim que o ninho é colocado a dieta é mudada, e para alem da mistura de sementes, a papa é dada fresca todos os
dias, e é dada uma maça dia sim, dia não.
As fêmeas geralmente começam a entrar no ninho no inicio de Fevereiro, e começam a reduzir a casca de pinheiro a
fragmentos, nesta fase o macho faz constantemente a corte à fêmea que é normalmente prolongada e destina-se a
reduzir os riscos de agressão da fêmea ao macho, quando a fêmea começa a postura é fundamental que tenha
disponível uma fonte de cálcio e no caso de não ter acesso à luz solar tem que ter um suplemento rico em vitamina D3.
Quando a fêmea começa o choco eu habituo-a a inspecções periódicas, abrindo todos os dias a caixa para ver como
ela está, se ela não sair de cima dos ovos não faz mal, o importante nesta fase é garantir que a fêmea está bem e que
está a chocar.
È nesta fase que tem que ser verificados os ovos dos vários casais para ver quais contem embriões em
desenvolvimento, isto deve ser feito de uma só vez, de preferência na 2º semana de choco.
Quando sabemos ao certo quantos ovos viáveis temos, podemos planificar a sua distribuição pelos casais, no caso de
termos casais de amas começamos por eles, retirando os seus ovos e substituindo-os por 4-5 ovos dos outros casais
tendo o cuidado de identificar os ovos com canetas de acetato, deste modo sabemos a que casais pertencem os ovos,
as crias à nascença podem ser identificadas de igual modo de maneira a não haver confusões até ser possível anilhalas, nos restantes casais acertamos os ninhos de modo a termos 4-5 ovos viáveis, isto vai permitir (em principio)
libertar alguns casais, como é natural devemos tentar libertar os casais que nos interessam mais.
Ao serem retirados os ovos a tendência natural da fêmea é repetir a postura permitindo assim duplicar o número de
crias que podemos tirar dos casais principais numa época.
Em relação aos outros casais (excluindo as amas) podemos fazer ainda outra coisa para aumentar o rendimento, ás 3
semanas podemos tirar as crias, nesta fase eles já se aguentam com um menor nº de refeições, e já não precisam de
temperaturas tão altas, tendo o equipamento básico (Maternidade, seringas, recipientes para as crias, etc..) podemos
com um mínimo de trabalho criar estas crias permitindo que os pais façam nove postura.
Sempre que forem retirados ovos ou crias a um casal eu deixo a fêmea voltar a entrar no ninho para ela poder verificar
que já não tem a ninhada, após algum tempo se ela não sair do ninho eu tiro-a e procedo à limpeza do mesmo,
colocando nova camada de casca de pinheiro, mas não coloco o ninho de imediato, deixo passar 2-3 dias para garantir
que a fêmea já não está choca, de um modo geral a fêmea começa pouco depois a demonstrar interesse pelo ninho e
recomeça o ciclo.
Os casais com crias são acompanhados quase diariamente para garantir que tudo vai bem, e as crias são anilhadas
aos 8-10 dias, se o ninho se mantiver seco eu não limpo o ninho enquanto as crias não saírem do mesmo, após a
saída das crias o ninho é substituído por outro o que pode ajudar algumas fêmeas a fazerem nova postura, isto tem
lógica porque em estado selvagem não à reutilização do ninho devido ao risco de parasitas externos, caso não seja
possível substituir o ninho, procedo a uma limpeza geral e volto a coloca-lo com nova camada de material.
As crias ficam ao cuidado dos pais até eu observa-las a comerem por si mesmas, sendo então separadas para o
voador em conjunto com outras crias, nunca ponham crias recentemente separadas dos pais juntamente com adultos
ou crias mais velhas, usem sempre uma gaiola intermédia onde colocam apenas crias de um mesmo grupo etário até
as mesmas estarem capazes de se defender no viveiro.
Eventualmente podem haver situações em que por qualquer motivo tenhamos que deixar as crias ao cuidado de só um
dos progenitores, nesse caso temos que ter em atenção o seguinte, a fêmea dá comida e calor ás crias nas primeiras
semanas, se ela não estiver presente o macho alimentará as crias mas não vai aquece-las é portanto vital que a fêmea
esteja presente nas primeiras semanas, se ela morrer, fugir, não alimentar ou agredir as crias estas terão que ser
transferidas, no entanto podemos deixar as crias só com o macho após estas estarem emplumadas já que nesta fase o
macho sozinho é perfeitamente capaz de tratar delas, o inverso também é verdade se a fêmea é indispensável nas
primeiras semanas o macho é o depois das crias saírem do ninho, já aconteceu que após o macho ter morrido logo no
inicio da incubação uma fêmea ter levado a incubação até ao fim e tratado das crias até elas saírem do ninho, mas
depois destas saírem do ninho recusou-se a alimenta-las, por isso na fase final do ciclo é mais necessário o macho do
que a fêmea.
Seguindo o método anteriormente descrito podemos geralmente duplicar e em alguns casos até triplicar o numero de
crias por casal, mas é fundamental para o sucesso que o criador conheça as suas fêmeas e aquilo que pode esperar
delas, algumas fêmeas não farão 2º postura, mesmo que se lhes tire os ovos, e neste caso não vale a pena tentar darlhes a volta, outras por outro lado farão dois ciclos reprodutivos completos todos os anos, portanto também não é
produtivo remover-lhe os ovos.
No meu caso, a 1ª época de criação, era sempre destinada a avaliar a fêmea e a permitir que ela ganhasse
experiência, nunca lhes tirava os ovos, e só lhes tirava as crias se visse que elas não lhes davam de comer, conforme
a fêmea se portasse fazia os meus planos para as épocas de criação seguintes.
À dois anos vi-me forçado a desfazer-me dos meus casais de Ringnecks, e com muita pena minha vendi os casais
reprodutores, mas conservei os casais de amas, e isto porque é relativamente fácil arranjar aves com dois anos de
quase todas as cores que queiramos, mas casais de amas de absoluta confiança não são assim tão fáceis de
encontrar, e como o período reprodutivo dos Ringnecks é superior a 20 anos se mais tarde quiser recomeçar já tenho
os casais de amas.
Mutações
Actualmente o Ringneck apresenta varias mutações primárias que podem ser combinadas num sem número de
combinações
Ino: Mutação recessiva ligada ao sexo, existe um ino não ligado ao sexo mas é muito raro, na linha verde são
conhecidos como lutinos na linha azul como albinos, caracteriza-se por não apresentar melaninas nas penas e pele, os
olhos são vermelhos.
Canela: Mutação recessiva ligada ao sexo, as eumelaninas não se formam completamente e em vez de apresentarem
a cor preta ficam castanhas.
Pálido: É uma alelo do ino, codominante em relação a este, mas recessivo em relação ao alelo normal, anteriormente
era conhecido como lacewing, mas o termo lacewing deve ser usado apenas para a combinação canela ino.
Azul: Mutação recessiva que dá origem a uma ave sem pigmentos amarelos.
Turqueza: Alelo do ino, apresentam uma distribuição não uniforme dos pigmentos amarelos e os machos tem um colar
de um rosa esbatido.
Cinzento: Mutação dominante em que a camada reflectora de azul desapareceu, na linha verde são chamados de
verdes cinzentos.
Factor de escurecimento: Este factor é codominante, com o heterozigotico à ser chamado de verde-escuro e o
homozigotico de oliva, o homozigotico na linha azul fica muito parecido com o cinzento. Esta mutação causa uma
diminuição de uma estrutura na pena que recobre as melaninas tornando-as mais visíveis.
Violeta: Este factor é codominante, a ave apresenta um tom violeta na linha azul, na linha verde apresenta um tom
verde-escuro com reflexos violeta, neste caso a camada reflectora de azul sofre uma modificação e passa a reflectir
noutro comprimento de onda.
Diluído dominante: Antigamente chamado de fallow dominante, é uma mutação dominante em que a ave deposita
menos melaninas nas penas.
Fallow: Existem vários tipos de falow nos ringnecks, todas são recessivas, com olhos vermelhos e pele clara a
mutação Butercup (Cabeça amarela) é na realidade um fallow.
Cabeça Amarela Cauda Amarela: Esta mutação causa uma diminuição de pigmentos na cabeça e na cauda do
macho e na cauda da fêmea.
© Copyright, Pedro Ramalho 2007

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