Rotary e Alfabetização

Transcrição

Rotary e Alfabetização
ROTARY E A
ALFABETIZAÇÃO
COOPERATIVA EDITORA BRASIL ROTÁRIO
ROTARY E A
ALFABETIZAÇÃO
Coletânea de Textos Referenciais
Novembro, 2006
© Cooperativa Editora Brasil Rotário - 2006
Cooperativa Editora Brasil Rotário
Av. Rio Branco, 125 - 18º andar
Cep: 20040-006 Rio de Janeiro - RJ
Tel.: (21) 2509-8142 - Fax: (21) 2509-8130
e-mail: [email protected]
Presidente: Roberto Petis Fernandes
Edições Brasil Rotário
Coordenador: Edson Avellar da Silva
Projeto Editorial: Edson Avellar da Silva
Produção: Maurício Amilton G. Teixeira
Capa: Ninja
Editoração Eletrônica: Maurício Amilton G. Teixeira
1ª Edição Novembro 2006
Ficha Catalográfica
Silva. Edson Avellar da (Org.), 1931
Rotary e a Alfabetização - coletânea de textos publicados na “Revista Brasil
Rotário” RJ: Brasil Rotário. 2006
1. Coletânea de textos. 1. título
164p. 23cm
Índice
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Prefácio...........................................................................................................7
Histórico do Concurso....................................................................................9
Regulamento do 14º Concurso de Monografias............................................12
Conceitos e definições...................................................................................15
Rotary, Universidade do Servir......................................................................21
Conheça mais o Rotary.................................................................................23
Histórias do Rotary I.....................................................................................35
Histórias do Rotary II.............................................................................. .....41
Histórias do Rotary III...................................................................................47
Histórias do Rotary IV...................................................................................53
Histórias do Rotary V....................................................................................59
Histórias do Rotary VI...................................................................................65
Histórias do Rotary VII.................................................................................71
Histórias do Rotary VIII................................................................................77
Histórias do Rotary IX...................................................................................83
Histórias do Rotary X....................................................................................89
A comprovada eficiência do Lighthouse.......................................................95
Por que não me ufano................................................................................101
Analfabetismo um mal que tem cura...........................................................105
Sem defeito de fabricação......................................................................... 109
América Latina e Caribe - Brasil: cidadania começa na escola..................113
O combate à pobreza..................................................................................115
Onde começa a cidadania...........................................................................119
Escola é ampliada com subsídio de US$ 850 mil.........................................123
Educação para a Paz..................................................................................127
A maior ONG rotária dedicada à Educação...............................................131
Rotary e a alfabetização.............................................................................137
Projeto Renascer - alfabetização de adultos...............................................139
A montanha da Eperança, Caminho para a paz..........................................141
Farol da Alfabetização................................................................................145
Por que o raciocínio científico?..................................................................149
Alfabetização Funcional.............................................................................153
Alfbetização Funcional - um grande programa do Rotary International.....157
O Analfabetismo Funcional ........................................................................161
Exemplo edificante......................................................................................163
Prefácio
Seja bem-vindo, professor.
Temos a maior satisfação em recebê-lo nesse 14º Concurso de Monografias,
cujo tema é: Rotary e a Alfabetização.
Essa promoção é uma homenagem a você que pertence a uma categoria
profissional praticamente ignorada pelas autoridades e, muitas vezes, esquecida até
pela própria sociedade à qual presta o inestimável serviço do primeiro contato na
formação da cidadania dos jovens. É o nosso modesto reconhecimento ao seu
abnegado esforço para, apesar de tudo, dar ao ensino o destaque merecido.
Nós, como nossos parceiros no concurso, vemos na educação o fertilizante que
germina a semente da cidadania; que amadurece o fruto do conhecimento; que
robustece a árvore da ciência; que amplia o cultivo da tecnologia; que alarga a floresta
do desenvolvimento e que, acima de tudo, ajuda a distribuir e humanizar a colheita
do crescimento.
Como base de pesquisas, reproduzimos nessa coletânea artigos publicados na
Revista Brasil Rotário abrangendo o período da década de 40 até os dias de hoje,
assim como trabalhos inéditos.
Esperamos, desta forma, fornecer àqueles que pretendem concorrer ao 14º
Concurso de Monografias, material útil para suas pesquisas. Este material, entretanto,
não substitui, de forma alguma, o contato com a organização rotária de sua
comunidade.
Lembramos, ainda, que a Revista Brasil Rotário mantém uma biblioteca com um
grande e precioso acervo sobre o Rotary, o qual poderá ser consultado a qualquer
momento. De sua leitura, poderão ser recolhidos subsídios para a formação do texto
do tema em questão.
Edson Avellar da Silva
EGD 1993-94 D.4570
Rotary e a Alfabetização
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Histórico do Concurso
Em 1993, o presidente da Cooperativa Editora Brasil Rotário Luiz Phelippe
Saldanha da Gama Murgel e o vice Roberto Petis Fernandes resolveram criar o
Concurso de Monografias Brasil Rotário para Professores. Este lançamento além de
divulgar Rotary e valorizar a imagem do professor, tão esquecida e sacrificada,
possibilitou a construção de uma ponte entre o meio académico e os clubes de Rotary.
Porém, o objetivo maior era o correto entendimento, apreço e o apoio dos
professores da comunidade aos objetivos de Rotary e a seus projetos, programas
e realizações, que permanece até os dias de hoje. Então, em 1º de novembro de
1993, foi lançado o 1º Concurso de Monografias Brasil Rotário para Professores.
Com o tema: O Rotary. Valor social dos seus projetos e programas 1993-94
Sendo os vencedores:
1º Lugar - Maria Lúcia Pereira Guimarães
2º Lugar - Elizete Dall’Comune Hunhoff
O 2º e o 3º concurso tiveram o mesmo tema do 1º. Sendo os vencedores:
2º Concurso 1994-95
1º Lugar - Rosângela das Dores Paula Chaiben
2º Lugar - Iracema da Costa Baumeyer
3º Concurso 1995-96
1º Lugar - Tânia Sperry Ribas da cidade de Curitiba - PR
2º Lugar - Rosângela das Dores Paula Chaiben da cidade de Carangola – MG
A partir do 4o Concurso, os temas foram variados e o número de
participantes foi crescendo gradativa mente. O que demonstra um
expressivo interesse.
4º Concurso: Tema - O papel do Rotary na Educação - 1996-97
1º Lugar - Carmen Lúcia Souza da cidade de Tubarão - SC
2º Lugar - Arlene Pereira Santna Santos da cidade de Montes Claros - MG
De 1997 em diante, tendo como presidente da Cooperativa Editora Brasil Rotário
Roberto Petis Fernandes (desde 1994), a coordenação do concurso passou a
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ser feita pelo EGD Edson Avellar da Silva até os nossos dias.
5º Concurso: Tema - 75 anos de Rotary no Brasil - 1997-98
1º Lugar - Katya Mitsuko Zuquim da cidade de São Paulo - SP
2º Lugar - Êlda Auristela Godinho Guimarães da cidade de Goianésia - GO
6º Concurso: Tema: O Rotary e a Educação Ambiental - 1998-99
1º Lugar - Neide Alves Vecchia da cidade de Marmeleiro - PR
2º Lugar - Deise Maria Dias Gonçalves da cidade do Rio de Janeiro - RJ
7º Concurso: Tema - O Rotary, a Educação e a Cidadania - 1999-2000
1º Lugar - Simone do Amaral Fonseca Araújo da cidade de Uberlândia - MG
2º Lugar - Cirlei Fátima Baldo da cidade de Francisco Beltrão - PR
8o Concurso: Tema - O Rotary, a Ética e a Dignificação do Ser Humano 2000-01
1º Lugar - Cacilda Rigonatto da cidade de Aparecida do Taboado
2º Lugar - Cilmara C. de Castro Silva da cidade do Rio de Janeiro - RJ
9o Concurso: Tema - O Rotary e o Crescimento Populacional - 2001-02
1º Lugar - Maria Severina Batista Guimarães da cidade de São Luis de Montes
Belos - GO
2º Lugar - Márcia Lanes Sampaio da cidade do Rio de Janeiro - RJ
10° Concurso: Tema: O Rotary e a Paz - 2002-03
1º Lugar - Geci do Amaral Freitas da cidade de Sete Lagoas - MG
2o Lugar - Leila Maria Suhadolnik O. de Pádua da cidade de Passos - MG
11° Concurso: Tema - O Rotary e a Família - 2003-04
1º Lugar - Leila Maria Suhadolnik O. de Pádua da cidade de Passos - MG
2º Lugar - Margarida Maria Padilha e Silva da cidade de Garanhuns - PE
José António Carlos David Chagas da cidade de Rio Claro - SP
12° Concurso: Tema - Rotary: Um Século de Serviço - Um Novo Século de
Sucessos - 2004-05
1º Lugar - Marina Irene Beatriz Polónio da cidade de Cambé - PR
2º Lugar - Sandra Regina Sanchez Baldessin da cidade de Rio Claro - SP
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Rotary e a Alfabetização
13° Concurso: Tema - Rotary, a Juventude e o Esporte - 2005-06
1º Lugar - Aparecida Maria Cantarino Barbosa de cidade de Juiz de Fora - MG
2º Lugar - Reiles Maria Nunes da Silveira da cidade de Resende - RJ
A comissão julgadora é integrada por rotarianos de vários clubes e diversos
distritos do Brasil.
Há uma grande mobilização dos funcionários da editora desde seu lançamento
até a premiação.
Somos parceiros da Folha Dirigida desde 1995 até hoje.
E ressaltamos que o Concurso de Monografias para Professores é único no
mundo rotário. Isto é muito importante.
Quem sabe, se os candidatos que, após a pesquisa, travaram
conhecimento com os ideais rotarios sintam-se seduzidos por ingressar de peito aberto,
nessa grande jornada?
As sementes foram plantadas. Esperemos que floresçam.
E nós, rotarianos, estamos de braços abertos para recebê-los.
Sejam bem-vindos!
Maria Regina de Andrade Corrêa da Câmara,
do RC do Rio de Janeiro (D.4570) e
Carmen Lucia Araújo
Rotary e a Alfabetização
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14º Concurso de Monografias
Brasil Rotário para Professores
Período Rotário 2006-07
R E G U L A M E N T O
I. Objetivo
Correto entendimento, apreço e o apoio dos professores e da comunidade aos objetivos
de Rotary e a seus projetos, programas e realizações.
II. Tema
“ROTARY e a Alfabetização”.
III.Matéria
A matéria deverá expressar o pensamento do autor sobre a contribuição do Rotary
efetivada através de projetos, programas e realizações dos clubes rotários e seus parceiros.
A matéria deverá, também, sugerir caminhos, posições e indicar projetos para os clubes
rotários e seus parceiros, com ênfase para as áreas de alfabetização funcional.
IV. Participantes
Professores em atividade ou que já tenham comprovadamente exercido o magistério, não
podendo concorrer aqueles que sejam associados de clubes rotários.
V. Informações e Subsídios
Poderão ser obtidos nos clubes de Rotary ou em outras instituições rotárias como Rotaract,
Interact e Casa da Amizade, locais.
Se necessário, contatar a revista Brasil Rotário: Av. Rio Branco, 125/18º andar, Cep:
20040-006, Rio de Janeiro - RJ - Telefone: (21) 2509-8142 - Fax: (21) 2509-8130 - e-mail:
[email protected] - que poderá fornecer os endereços das unidades rotárias
e subsídios.
VI. Apresentação
Em língua portuguesa, gramaticalmente correta, datilografada ou digitada, em espaço
simples, corpo 12, devidamente numeradas, com no mínimo 10 (dez) laudas e no máximo
20 (vinte) laudas (excluindo, às relacionadas com a bibliografia, tabelas, gráficos,
ilustrações e anexos).
VII. Sigilo
1 - Os trabalhos deverão ser remetidos em duas vias, sob pseudônimo, para: Brasil
Rotário - Av. Rio Branco, 125/18º andar, Cep: 20040-006, Rio de Janeiro – RJ, constando
no envelope os dizeres: “14º Concurso de Monografias”.
OBS: Qualquer ação que permita a identificação do concorrente implicará na sua eliminação
sumária do concurso.
2 - Em um envelope grande, além das duas vias da monografia, deverá ser anexado outro
envelope menor, devidamente lacrado, contendo um breve currículo do autor(a) da
monografia com nome completo, endereço, telefones, e-mail e o seu pseudônimo; nome
da pessoa que motivou o autor(a) a participar do Concurso, assessorou-o(a) ou
intermediou a remessa do trabalho, seu nome e endereço. Sendo essa pessoa membro do
Rotary, Rotaract, Interact ou Casa da Amizade, o nome da unidade rotária à qual pertença.
OBS: As monografias deverão ser entregues, também, em CD/disquete.
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Rotary e a Alfabetização
VIII. Premiação
1º Lugar
Prêmio Senador José Ermírio de Moraes..... R$ 5.000,00 (Cinco mil reais)
2º Lugar
Prêmio Doutor Guilherme Arinos..................R$ 3.000,00 (Três mil reais)
3º Lugar
Prêmio Doutor Jorge Gertum Carneiro..........R$ 2.000,00 (Dois mil reais)
4º Lugar
Prêmio Professora Neli Mendes....................R$ 1.500,00 (Hum mil e quinhentos reais)
5º Lugar
Prêmio Governador Luiz Murgel....................R$ 1.000,00 (Hum mil reais)
Diplomas
Serão conferidos Diplomas a todos os trabalhos inscritos e que tiverem preenchido
todos os requisitos do Regulamento do Concurso.
Prêmios para os Clubes
Para cada um dos Rotary Clubs do qual façam parte os rotarianos que motivaram,
assessoraram os candidatos e/ou intermediaram a remessa dos trabalhos classificados,
serão concedidos prêmios para serem utilizados em projetos do clube.
1º Prêmio
2º Prêmio
3º Prêmio
4º Prêmio
5º Prêmio
R$ 2.000,00 (Dois mil reais)
R$ 1.500,00 (Hum mil e quinhentos reais)
R$ 1.000,00 (Hum mil reais)
R$ 800,00 (Oitocentos reais)
R$ 500,00 (Quinhentos reais)
Prêmio Governador José Alves Fortes
Será concedido um prêmio de R$ 2.000,00 (Dois mil reais) ao Rotary Club que tiver
intermediado a remessa do maior número de monografias. Ocorrendo empate, a premiação
se fará pelo critério da qualidade dos trabalhos.
IX. Prazo
1 - Os trabalhos devem chegar a Brasil Rotário – ou serem postados – impreterivelmente,
até o dia 30 de abril de 2007.
X. Julgamento
Os trabalhos que atenderem aos requisitos deste Regulamento serão registrados e julgados
por uma Comissão constituída por rotarianos de todo o Brasil. O julgamento da Comissão
é soberano, não cabendo recurso.
XI. Outorga dos Prêmios
O resultado do Concurso será anunciado até o dia 30 de maio de 2007. A outorga dos
prêmios será realizada na instituição onde o professor/a lecione e/ou em um evento
distrital do Rotary, com a presença do governador do distrito e/ou representante da
Brasil Rotário, do presidente do Rotary Club patrocinador, do diretor do estabelecimento
de ensino, alunos, rotarianos, rotaractianos, interactianos, meios de comunicação e, se
possível, em ato solene.
XII. Disposições Gerais
Os trabalhos remetidos e destinados ao Concurso não serão devolvidos.
A critério da direção da revista, eles poderão ser, oportunamente, publicados na Revista
Brasil Rotário e na Folha Dirigida. Nesse sentido, os respectivos autores serão
solicitados a preparar uma versão reduzida.
Os casos omissos serão resolvidos pela Comissão Julgadora.
Rotary e a Alfabetização
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Conceitos e
Definições
Edson Avellar da Silva
ROTARY
Dentre os conceitos fixados pelos fundadores do Rotary, o primeiro deles se
reporta ao compromisso de realizarem as reuniões semanais rotativamente no
escritório da empresa de cada um deles. Esta a razão pela qual a nova Associação
passou a se chamar “Rotary” que em inglês significa rodízio ou rotação. Da mesma
forma a nascente instituição adotou a denominação “Club” que para os povos de
língua saxônica define grupos de associados de qualquer natureza, contrariamente
aos povos de língua latina que reservam a denominação Clube para grupos de
Associados de Natureza esportiva, social e de lazer.
O conselho de legislação de 2001 aprovou proposta de resolução tornando
facultativo o uso da denominação clube para as unidades que assim desejarem.
ROTARY INTERNATIONAL
É a associação formada por todos os Rotary existentes no mundo. Para pertencer
ao Rotary International, cada unidade deve adotar os Estatutos e o Regimento Interno,
estabelecidos pelo Rotary International. Desta forma cada unidade rotária mantém a
sua individualidade e seu caráter paroquial, sem perder a sua visão global. Assim
podemos afirmar que cada Rotary Club tem uma ação local com uma visão global.
ROTARIANO
O Rotarino é a base da instituição. Cada um é profissional ativo participante de
um segmento de negócios ou profissão reconhecidamente útil à sociedade, dotado
de elevados princípios de ética que pratica cotidianamente e de forma voluntária o
“Ideal de Servir”.
OBJETIVO DO ROTARY
O objetivo do Rotary é estimular e fomentar o ideal de servir, como base de
Rotary e a Alfabetização
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todo empreendimento digno, promovendo e apoiando:
1o - O desenvolvimento do companheirismo como elemento capaz de
proporcionar oportunidades de servir;
2o - O reconhecimento do mérito de toda ocupação útil e a difusão das normas
da ética profissional;
3o - A melhoria da comunidade pela conduta exemplar de cada um na vida
pública e privada;
4o - A aproximação dos profissionais de todo o mundo, visando a consolidação
das boas relações, da cooperação e da paz entre as nações.
DISTRITO
Com a expansão do movimento rotário, Rotary International criou aquilo que se
denomina Distrito Rotário, que é uma região geográfica na qual o Rotary International,
mantém um Administrador, o Governador de Distrito, que é um Conselheiro do Rotary
International junto aos clubes daquele distrito. Existem atualmente no mundo 530
Distritos sendo 38 no Brasil. Um Distrito pode abrigar mais de um país ou como no
caso do Brasil ter vários distritos. O Distrito atua nos clubes de forma normativa
através da ação consultiva do Governador.
REUNIÕES E ENCONTROS
Ao nível do clube são realizadas semanalmente as reuniões plenárias em local e
horário previamente definidos. Um dos procedimentos herdados dos fundadores é a
realização das reuniões plenárias que são reuniões de trabalho no horário de almoço
ou jantar. Esta prática visa usar racionalmente o tempo na hora que todos temos que
parar. Nada mais lógico que praticar o “Servir” na hora de compartilhar com amigos.
Além das plenárias os clubes realizam ainda regularmente outras reuniões como
“Fóruns de Serviços”, seminários etc.
No âmbito distrital realizam-se a cada período rotário que se inicia em 1o
de julho e termina em 30 de junho dois grandes eventos: A Assembléia Distrital
realizada no mês de abril ou maio, e destina-se ao treinamento dos dirigentes
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Rotary e a Alfabetização
entrantes e a Conferência Distrital que é uma grande reunião de companheirismo e
de avaliação das ações dos clubes.
Da mesma forma são realizadas a cada período rotário duas importantes reuniões
de caráter Internacional.
A Assembléia Internacional que se realiza atualmente em San Diego/Califórnia/
EUA, na qual durante uma semana são treinados os governadores entrantes e no
mês de junho a cada ano em país diferente se realiza a Convenção Internacional
onde se afirma a Internacionalidade do Rotary e onde são eleitos os novos dirigentes:
Presidente, Diretores e Governadores.
LEMAS DE ROTARY INTERNATIONAL
Desde o período 1949-50 tornou-se uma prática constante o Presidente Eleito
de Rotary International lançar um “Lema” que servirá de inspiração a todos os
rotarianos naquele período. Reproduzimos a seguir alguns dos lemas e seus respectivos
presidentes lançados desde 1955-56.
1955-56 A.Z. Beker
Desenvolvamos nossos Recursos
1956-57 Gian Paolo Lang
Mais Rotary nos Rotarianos
1957-58 Charles G. Tennent
Servir
1958-59 Clifford A. Randall
Ajudem a Moldar o Futuro
1959-60 Harold T. Thomas
Construam Pontes da Amizade
1960-61 J. Edd McLaughlin
Vocês são Rotary
1961-62 Joseph A. Abey
Agir
1962-63 Nitish C. Laharry
Alimentemos a Centelha Interior
1963-64 Carl P. Miller
Linhas de Orientação para Rotary na Era
Espacial
1964-65 Charles Pettengitl
Vivam Rotary
1965-66 C. P. H. Teenstra
Ação, Consolidação, Continuidade
Rotary e a Alfabetização
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1966-67 Richard L. Evans
Um Mundo Melhor Através do
Rotary
1967-68 Luther H. Hodges
Tornem Eficiente a sua Afiliação
Rotária
1968-69 Kiyoshi Togasaki
Participem
1969-70 James F. Conway
Revisar e Renovar
1970-71 Willian E. Walk Jr.
Transponham as Barreiras
1971-72 Ernst G. Breitholtz
A Boa Vontade Começa Conosco
1972-73 Roy D. Hickman
Examinemos Novamente
1973-74 Willian C. Carter
É Hora de Agir
1974-75 Willian R. Robbins
Renove o Espírito de Rotary
1975-76 Ernesto Imbassay de Mello
Dignificar o ser Humano
(brasileiro)
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1976-77 Robert Manchester II
Eu Creio em Rotary
1977-78 W. Jack Davis
Servir Para Unir a Humanidade
1978-79 Clem Renouf
Estenda a Sua Mão
1979-80 James L. Bomar Jr.
Que o Ideal de Servir Ilumine o
Caminho
1980-81 Rolf J. Klarich
Encontremos Tempo Para Servir
1981-82 Stanley E. McCaffrey
Compreensão e Paz Mundial
Através do Rotary
1982-83 Hiroji Mukasa
Construa Pontes de Amizade
1983-84 William E. Kelton
Compartilhemos Rotary, Sirvamos
nossos Semelhantes
Rotary e a Alfabetização
1984-85 Carlos Canseco
Descubra um Novo Mundo de
Serviço
1985-86 Edward F. Cadman
Você é a Chave
1986-87 M.A.T. Caparas
Rotary Traz Esperança
1987-88 Charles C. Keller
Rotarianos Unidos Para Servir
Dedicados à Paz
1988-89 Royce Abbey
Dê vida ao Rotary: Viva-o
Intensamente
1989-90 Hugh M. Archer
Desfrute Rotary
1990-91 Paulo Viriato C. da Costa
Pratique Rotary com Fé e
Entusiasmo
(brasileiro)
1991-92 Rajendra K. Saboo
Olhe Mais Além de Si Mesmo
1992-93 Clifford Dochterman
AVerdadeira Felicidade Está em
Ajudar o Próximo
1993-94 Robert R. Barth
Acredite no Que Faz, Faça Aquilo
Que Acredita
1994-95 William H. Huntley
SejaAmigo
1995-96 Herbert G. Brown
Aja com Integridade, Sirva Com
Amor, Trabalhe Pela Paz
1996-97 Luis Vicente Giay
Construa o Futuro Com Ação e
Visão
1997-98 Glen W. Kinross
Mostre que Rotary se Interessa
1998-99 James L. Lacy
Torne Real seu Sonho de Rotary
1999-00 Carlo Ravizza
Rotary 2000: Aja com Coerência
Confiança e Continuidade
Rotary e a Alfabetização
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2000-01 Frank J. Devlyn
Criar Consciência Ser Atuante
2001-02 Richard D. King
A Humanidade é Nossa Missão
2002-03 Bhichai Rattakul
Plante Sementes de Amor
2003-04 Jonathan B Majiyagbe
Dê a Mão ao Próximo
2004-05 Glenn E. Estess Sr.
Celebremos Rotary
2005-06 Carl-Wilhelm Stenhammar
Dar de Si Antes de Pensar em Si
2006-07 Wiliam B. Boyd
Mostremos o Caminho
FUNDAÇÃO ROTÁRIA
Desde 1917 quando foi criada a Fundação Rotária vem se constituindo no braço
humanitário do Rotary, através dos seus programas nas áreas de saúde, combate à
Fome e Educação.
Com as contribuições voluntárias de rotarianos e amigos espalhados por todo o
mundo a Fundação Rotária construiu um patrimônio invejável que a torna a maior
Fundação privada existente no mundo com aplicações de mais de 1 bilhão de dólares.
Em 1985 o Rotary International lança o programa Polio Plus com o objetivo de
imunizar todas as crianças do mundo contra a pólio até o centenário da organização.
Cerca de 1 milhão de rotarianos em todo o mundo iniciam uma campanha de
arrecadação de 120 milhões de dólares, um valor que, três anos depois havia sido
duplicado.
Até 2005 o Rotary contribuiu para a campanha com cerca de 800 milhões de
dólares. Além das contribuições financeiras os rotarianos assumiram também as tarefas
práticas e indispensáveis de mobilizar a comunidade, emprestar seu veículo para o
transporte das vacinas e equipamentos, fornecer refeições e administrar doses de
vacinas às crianças.
Outro programa de muito sucesso da Fundação Rotária é aquele denominado
de “Subsídios Equivalentes” que financia projetos de cunho humanitário reunindo
dois parceiros de países diferentes (Clube ou Distrito). Cada um destes parceiros
aporta 25% do valor do empreendimento, cabendo à Fundação Rotária contribuir
com os restantes 50%. Desta forma milhares de projetos no mundo inteiro asseguram
aos clubes uma ação local sem que ele perca sua visão Internacional.
O autor é rotariano, associado do RCRJ Ramos e
Governador 1993-94 do Distrito 4570 de RI
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Rotary e a Alfabetização
Rotary,
Universidade do Servir
Edson Avellar da Silva
Rotary é uma organização composta por homens e mulheres das mais variadas
atividades profissionais, nacionalidades, raças e religiões, comprometidos com a
melhoria de sua comunidade como única forma de alcançar a paz e a compreensão
entre os povos.
O Rotary não é uma sociedade beneficente. Tem como filosofia a sadia missão
do servir, promovendo a melhoria da comunidade, celebrando o mérito profissional,
desenvolvendo o companheirismo, sobretudo, promulgando o respeito e a dignidade
do ser humano no seu todo e na sua coletividade.
É a única instituição privada a sentar-se à mesa do Conselho Comunitário da
ONU ao lado do UNICEF e da própria ONU, participando intensamente dos projetos
humanitários dessa organização mundial.
Rotary desenvolve obras notáveis como a “Campanha Polio Plus” quando serão
aplicados mais de 500 milhões de dólares doados por rotarianos para a erradicação
total da Poliomielite.
O rotariano é identificado pela sua atuação permanente e desinteressada em
prol da sua comunidade, pela participação nas atividades da sua entidade de classe,
pela conduta ética no exercício de sua profissão ou atividade empresarial, pelo seu
envolvimento no trabalho com a juventude e com a comunidade, pelo seu esforço
em favor da aproximação dos povos e paz entre as nações, pelo respeito à pessoa
humana, pelo seu esforço em aprimorar as estruturas sociais, pelo seu trabalho em
favor da educação, saúde, promoção humana e assistência social.
Cada clube rotário é independente, estando ligado apenas por razões normativas
a Rotary International.
Administrativamente, o mundo do Rotary está dividido em 530 Distritos em
cada um dos quais existe um governador que é um administrador do Rotary
International e age como um Conselheiro dos clubes. No Brasil existem 38 Distritos
com 2.317 clubes e 50.713 rotarianos.
O autor é rotariano, associado do RCRJ Ramos e
Governador 1993-94 do Distrito 4570 de RI
Rotary e a Alfabetização
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Conheça mais
o Rotary
O Rotary International, a mais
antiga organização do mundo
dedicada à prestação de
serviços, reúne mais de 32 mil
clubes espalhados por quase
170 países. Esses clubes são
integrados por líderes executivos
e profissionais que dedicam seu
tempo e talento para servir às
suas comunidades locais e
internacionais.
O principal lema da organização,
Dar de Si Antes de Pensar em
Si, personifica o espírito
humanitário que anima os mais
de 1,2 milhão de rotarianos. O
Rotary também é caracterizado
pelo forte companheirismo que
existe entre seus sócios e pelos
significativos projetos de
prestação de serviços
comunitários e internacionais que
desenvolve.
O Rotary ostenta uma tradição e
uma estrutura organizacional
ricas e às vezes complexas, com programas e costumes que a princípio podem ser
difíceis de entender, especialmente para quem é novo na organização. Nas páginas
a seguir, apresentamos alguns fatos fundamentais sobre o Rotary que possibilitam
ao leitor conhecê-lo um pouco melhor e orgulhar-se ainda mais de pertencer a
uma organização tão destacada.
Rotary e a Alfabetização
23
A Estrutura do Rotary
Rotary é essencialmente uma organização que conta com a dedicação e o trabalho
dos rotarianos em projetos implementados pelos Rotary Clubs. Uma estrutura distrital
e internacional foi elaborada para apoiar os clubes nas atividades de prestação de
serviços em suas comunidades e no exterior.
CLUBES
Os rotarianos são os sócios dos Rotary Clubs, que por sua vez estão ligados ao
RI – Rotary International. Cada clube escolhe seus dirigentes e desfruta de uma
considerável autonomia, respeitando os estatutos e o regimento interno da organização.
DISTRITOS
Os clubes estão agrupados em 530 distritos em todo o mundo, cada qual liderado
por um governador, que junto com os governadores assistentes e as várias comissões
formam o grupo de liderança distrital que apóia os clubes.
CONSELHO DIRETOR
Entre os 19 rotarianos que integram o Conselho Diretor do RI, figuram o atual
presidente da organização e o presidente eleito. O Conselho reúne-se trimestralmente
para tomar decisões que ditam os caminhos da organização. O presidente do RI,
eleito anualmente, escolhe o lema e a ênfase que darão a tônica a seu mandato.
A SECRETARIA
O Rotary International está sediado em Evanston, cidade vizinha a Chicago, no
estado de Illinois, nos EUA. A organização possui sete escritórios internacionais
localizados na Argentina, Austrália, Brasil, Coréia, Índia, Japão e Suíça. O escritório
do RI para o RIBI – o Rotary na Grã-Bretanha e na Irlanda – fica na Inglaterra e
atende os clubes e distritos daquela região. O secretário-geral é o responsável pela
administração do RI e comanda um quadro de cerca de 650 funcionários que
trabalham para atender os rotarianos de todo o mundo.
***
“O Rotary permite que cada um faça a sua parte como membro da
maior família humana dedicada ao bem”
DEANNA ANN,
DUGUID-INDONÉSIA
24
Rotary e a Alfabetização
Responsabilidades do sócio
O clube é a pedra angular de nossa organização. Os Rotary Clubs eficazes
possuem quatro características principais: mantêm ou aumentam seu quadro social,
participam de projetos de prestação de serviços que beneficiam a comunidade local
e de outros países, apóiam a Fundação Rotária (contribuindo financeiramente e
participando de seus programas) e desenvolvem líderes capazes de servir ao Rotary
além dos limites do clube.
O que os rotarianos recebem do Rotary depende em larga escala daquilo que
investem nele. Muitos dos requisitos para a associação visam fazer com que os sócios
desfrutem as oportunidades de crescimento oferecidas pela organização.
FREQÜÊNCIA
O comparecimento às reuniões semanais do clube permite aos rotarianos vivenciar
um caloroso companheirismo e enriquecer seus conhecimentos pessoais e
profissionais. Muitas comunidades contam com mais de um Rotary Club, com várias
opções de horário para reuniões, inclusive durante a manhã, o almoço, após o
expediente e à noite.
Quando rotarianos estiverem impossibilitados de comparecer a uma reunião,
eles podem recuperar a freqüência em qualquer Rotary Club do mundo. Para saber
os locais e horários de reunião de todos os clubes, basta consultar o “Official
Directory” ou a seção Club Locator na página inicial do site do Rotary International,
<www.rotary.org>
Em alguns casos, a recuperação da freqüência poderá ser feita através da
participação em um projeto de prestação de serviços, numa reunião de Rotaract ou
Interact, numa reunião do Conselho Diretor do clube ou mesmo virtualmente, através
dos Rotary E-Clubs.
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS
Ao participar dos projetos de prestação de serviços do clube, os sócios aprendem
sobre o envolvimento da organização em projetos locais e internacionais e oferecem
seu tempo e talento na execução de trabalhos voluntários.
RECRUTAMENTO E RETENÇÃO DOS SÓCIOS
Para fortalecer os clubes, todo rotariano deve procurar trazer novas pessoas
para o Rotary. Novos sócios podem trazer amigos ou colegas às reuniões ou convidálos a participar de projetos de prestação de serviços. O valor do Rotary fala por si
mesmo, e a melhor maneira de estimular o interesse de sócios em potencial é deixálos experimentar o companheirismo rotário em primeira mão.
Rotary e a Alfabetização
25
Manter os sócios motivados com o Rotary é outra tarefa importante. Um ambiente
de camaradagem no clube e o engajamento em projetos são as melhores maneiras
de fazer com que os rotarianos não percam o interesse pela organização. A composição
ideal do quadro social de todo Rotary Club deve refletir a diversidade profissional,
etária e étnica da comunidade onde ele está presente, de forma a enriquecer todos
os aspectos da prestação de serviços e companheirismo do clube.
Princípios que norteiam o Rotary
Ao longo da história de nossa organização, diversos princípios básicos têm sido
desenvolvidos para que os rotarianos atinjam o ideal de prestação de serviços e os
mais altos padrões de ética.
OBJETIVO DO ROTARY
Formulado pela primeira vez em 1910 e adaptado sempre que a missão da
organização se expandiu, define resumidamente o propósito do Rotary e as
responsabilidades dos rotarianos.
O Objetivo do Rotary é estimular e fomentar o Ideal de Servir como base de
todo empreendimento digno, promovendo e apoiando:
PRIMEIRO.
O desenvolvimento do companheirismo como elemento capaz de proporcionar
oportunidades de servir.
SEGUNDO.
O reconhecimento do mérito de toda a ocupação útil e a difusão das normas de
ética profissional.
TERCEIRO.
A melhoria das condições de vida da comunidade através da conduta exemplar
de cada indivíduo, em sua vida pública e privada;
QUARTO.
A aproximação dos profissionais de todo o mundo, visando a consolidação das
boas relações, da cooperação e da paz entre as nações.
PRINCÍPIO DE CLASSIFICAÇÃO
Sistema que garante que o quadro social de cada clube espelhe a sociedade
local com representantes dos seus vários ramos de negócios e profissões. De acordo
com esse sistema, cada sócio é classificado conforme sua ocupação, e o número de
sócios em cada classificação é limitado conforme o tamanho do clube. O benefício
dessa estrutura é a diversidade profissional que estimula a vida social de um Rotary
Club: ao contar com as diferentes experiências de seus sócios, o clube aumenta as
suas chances de executar projetos diferenciados.
26
Rotary e a Alfabetização
Programas do R.I.
Ajudam os rotarianos a atender as necessidades de suas comunidades e auxiliar
pessoas de outros países.
Interact
Organizado e patrocinado por Rotary Clubs, este programa é voltado para jovens
de 14 a 18 anos, que estão reunidos em mais de 10.500 Interact Clubs espalhados
por 109 países.
Rotaract
Organizado e patrocinado por Rotary Clubs, o programa promove as qualidades
de liderança e o desenvolvimento profissional entre pessoas de 18 a 30 anos,
congregadas em mais de 8.000 Rotaract Clubs em 139 países.
Núcleos Rotary de Desenvolvimento Comunitário (NRDC)
Organizados e patrocinados por Rotary Clubs, esses grupos – que já somam
mais de 6.000 em 60 países – são formados por não-rotarianos que se esforçam
para melhorar suas comunidades.
Rede Global de Grupos de Rotarianos
Formada por Grupos de Companheirismo (de cunho profissional e recreativo) e
pelos Rotarianos em Ação (dedicados à prestação de serviços), já congrega mais de
90 grupos abertos a rotaractianos, rotarianos e cônjuges que possuem interesses
afins.
Intercâmbio Rotário da Amizade
Visitas internacionais recíprocas feitas por rotarianos e seus familiares.
Voluntários do Rotary
Rotarianos com habilidades específicas colaboram com projetos humanitários
prestando serviços voluntários em seus próprios países ou no exterior.
Intercâmbio de Jovens do Rotary
Clubes e distritos patrocinam e hospedam aproximadamente 7.000 jovens de
15 a 19 anos, que passam férias ou um ano letivo no exterior.
Prêmios Rotários de Liderança Juvenil (RYLA)
Seminários patrocinados por clubes e distritos que cultivam as habilidades de
liderança em pessoas de 14 a 30 anos.
Rotary e a Alfabetização
27
Serviços à Comunidade Mundial (SCM)
Parcerias internacionais formadas entre clubes e distritos para fornecer assistência
a projetos comunitários desenvolvidos em outro país.
Oportunidades para Prestação de Serviços
Segundo orientação do RI, os clubes que planejam empreender atividades de
prestação de serviços devem considerar as seguintes áreas: Crianças em Situação
de Risco, Deficientes Físicos, Saúde, Compreensão e Boa Vontade Internacional,
Alfabetização e Ensino da Aritmética, Problemas Populacionais, Pobreza e Fome,
Preserve o Planeta Terra e Assuntos Urbanos.
***
AVENIDAS DE SERVIÇOS
Baseadas no Objetivo do Rotary, as quatro Avenidas de Serviço dão
sustentação às atividades do clube. Elas se dividem em :
• Serviços Internos: enfocam o fortalecimento do companheirismo e o
funcionamento eficaz do clube.
• Serviços Profissionais: iniciativas que incentivam os rotarianos a servir
aos outros através de suas ocupações e da obediência a altos padrões de ética.
• Serviços à Comunidade: atividades empreendidas pelo clube para
melhorar as condições de vida na comunidade.
• Serviços Internacionais: ações tomadas para expandir o alcance
humanitário do Rotary ao redor do mundo e para promover a paz e a
compreensão mundial.
“O Rotary dá um novo significado ao conceito de amizade, uma amizade
que não é privada nem estritamente relacionada ao mundo dos negócios”
SUSANNE PRAHL-LANDZO,
BÓSNIA-HERZEGÓVINA
28
Rotary e a Alfabetização
A Fundação Rotária
Entidade sem fins lucrativos cuja missão é apoiar os esforços do Rotary
International no cumprimento de seu objetivo e na busca da paz e da compreensão
mundial através de programas humanitários, educacionais e culturais em âmbito
nacional e internacional.
APOIO FINANCEIRO
Em 2004-05, a Fundação Rotária recebeu contribuições no valor de US$ 117,9
milhões e alocou mais de US$ 110,2 milhões para apoiar programas educacionais e
humanitários implementados por clubes e distritos. As contribuições dos rotarianos
são creditadas em três fundos:
• Fundo Anual de Programas, que financia os programas da Fundação Rotária;
• Fundo Permanente, do qual apenas parte dos rendimentos são empregados,
para assim garantir a viabilidade dos programas da Fundação a longo prazo;
• Fundo PolioPlus, que provê recursos para a concretização do sonho de um
mundo livre da paralisia infantil.
Cada dólar contribuído pelos rotarianos ajuda a financiar os programas
humanitários, educacionais e culturais, além dos custos operacionais envolvidos. Clubes
e distritos de todo o mundo se candidatam e recebem subsídios da Fundação Rotária
para executar bons projetos em suas comunidades. Visando garantir um nível adequado
de recursos para o financiamento dos programas vitais da Fundação Rotária, foi
lançada a iniciativa “Todos os Rotarianos, Todos os Anos”, que procura aumentar
para US$ 100 per capita a média das doações anuais.
PROGRAMAS HUMANITÁRIOS
Os Subsídios Humanitários permitem a rotarianos potencializar seu apoio a
projetos de prestação de serviços internacionais, como abertura de poços artesianos,
assistência médica, alfabetização e execução de outros serviços essenciais. A
participação dos rotarianos é a chave para o sucesso desses projetos.
• Subsídios Distritais Simplificados: permitem aos distritos usar parte de seu
Fundo Distrital de Utilização Controlada para apoiar atividades de prestação de
serviços em benefício da comunidade local ou internacional.
• Subsídios para Serviços Voluntários: visam cobrir as despesas de viagem
Rotary e a Alfabetização
29
de rotarianos e seus cônjuges para locais de implementação de projetos ou de
prestação de serviços voluntários.
• Subsídios Equivalentes: ajudam Rotary Clubs e distritos a desenvolver
projetos humanitários com a colaboração de clubes e distritos de outro país.
• Subsídios 3-H - Saúde, Fome e Humanidade: financiam projetos de longo
prazo, de auto-ajuda e de desenvolvimento local que são onerosos demais para
serem implementados por apenas um clube ou distrito.
• Subsídios Blane de Imunização Comunitária: equiparam até US$ 1.000
doados por Rotary Clubs e distritos dos EUA para que haja um aumento nos níveis
de imunização de suas comunidades.
PROGRAMAS EDUCACIONAIS
Promovem a compreensão internacional ao congregar pessoas de diferentes
países e culturas.
• Bolsas Educacionais: O maior programa privado de bolsas de estudo do
mundo, patrocina 750 alunos qualificados, de nível universitário, para que eles estudem
no exterior e atuem como embaixadores da boa vontade.
• Bolsas Rotary pela Paz Mundial: Outorgadas para os cursos de nível
equivalente ao mestrado que são ministrados nos Centros Rotary de Estudos
Internacionais da Paz e Resolução de Conflitos.
• Bolsas Rotary de Estudo sobre Paz e Conflitos: Concedidas para
patrocinar um programa de curto prazo desenvolvido no Centro Rotary de Estudos
Internacionais da Paz e Resolução de Conflitos que está localizado na Tailândia.
• Intercâmbio de Grupos de Estudo (IGE): Intercâmbio de curto prazo
realizado entre distritos de diferentes países com o objetivo de promover a interação
profissional e cultural de pessoas de ambos os sexos com idades entre 25 e 40 anos.
• Subsídios Rotary para Professores Universitários: Outorgados a
professores de nível superior para que lecionem em países pobres.
***
“A Fundação Rotária é o laço que mantém os rotarianos unidos em prol
da paz e da compreensão internacional”
CALUM THOMSON,
ESCÓCIA
30
Rotary e a Alfabetização
Principais encontros
Os rotarianos participam de vários encontros importantes para trocar idéias,
celebrar sucessos, desfrutar companheirismo e planejar o futuro.
CONVENÇÃO DO RI
O maior desses encontros, a convenção internacional é realizada anualmente,
em maio ou junho, em algum lugar do mundo rotário. O evento dura quatro dias,
durante os quais há apresentações de líderes da organização e de relevância mundial,
com uma programação de entretenimento típico da cultura local e inúmeras
oportunidades de vivenciar a amplitude do companheirismo internacional.
CONFERÊNCIAS DISTRITAIS
No âmbito local, os rotarianos são incentivados a participar de suas respectivas
conferências distritais, que unem aprendizado e companheirismo e permitem aos
rotarianos influenciar o rumo de seus distritos.
***
A PROVA QUÁDRUPLA
Seguida por rotarianos de todo o mundo, foi elaborada em 1932 pelo
rotariano Herbert J. Taylor – que mais tarde seria presidente do Rotary
International – e já foi traduzida para mais de 100 idiomas.
Do que nós pensamos, dizemos ou fazemos:
1) É a VERDADE?
2) É JUSTO para todos os interessados?
3) Criará BOA VONTADE e MELHORES AMIZADES?
4) Será BENÉFICO para todos os interessados?
Rotary e a Alfabetização
31
Linha do Tempo
1905
Em 23 de fevereiro, o advogado Paul Harris convoca a reunião que deu origem ao
Rotary Club de Chicago, semente do movimento rotário.
1906
O Rotary Club de Chicago patrocina seu primeiro projeto de serviços à comunidade:
a construção de um sanitário público na entrada do prédio da prefeitura da cidade.
1910-11
Paul Harris é eleito o primeiro presidente da Associação Nacional de Rotary Clubs
na primeira convenção do Rotary.
1911-13
São fundados clubes no Canadá, na Grã-Bretanha e na Irlanda, e o nome da
organização é alterado para Associação Internacional de Rotary Clubs.
1915-16
Um clube é fundado em Cuba – o primeiro de um país de língua não-inglesa.
1916-17
O presidente Arch Klumph propõe o estabelecimento do Fundo de Dotações,
precursor da Fundação Rotária.
1942-43
Conferência rotária em Londres sobre educação e intercâmbio cultural lança as bases
para a criação da Unesco.
1945-46
Quarenta e nove rotarianos colaboram na redação da carta de fundação da ONU.
1946-47
Paul Harris morre em Chicago. As inúmeras doações feitas por rotarianos para
homenageá-lo postumamente são utilizadas para financiar bolsas de pós-graduação.
32
Rotary e a Alfabetização
1948-49
Os primeiros 18 bolsistas do Rotary vão estudar no exterior. É o começo do programa
de bolsas educacionais.
1962-63
Fundado o primeiro Interact Club, na cidade de Melbourne, na Flórida, EUA.
Lançado o programa de Serviços à Comunidade Mundial.
1965-66
Lançados os programas de Subsídios Especiais (hoje Subsídios Equivalentes) e de
Intercâmbio de Grupos de Estudos.
1968-69
Lançado o programa Rotaract.
1979-80
A Fundação Rotária concede um subsídio para imunizar 6 milhões de crianças contra
a poliomielite nas Filipinas, iniciativa que acabaria sendo a base do programa Polio
Plus.
1984-85
O Rotary aprova a realização do programa Polio Plus e sua campanha para captar
US$ 120 milhões, destinados a imunizar as crianças do mundo.
1987-88
Os rotarianos levantam US$ 247 milhões para o programa Polio Plus.
1988-89
As mulheres começam a ingressar no Rotary. A organização volta a marcar presença
na Hungria e na Polônia.
1994-95
Atestada a erradicação da poliomielite do Hemisfério Ocidental.
1998-99
Fundados os Centros Rotary de Estudos Internacionais da Paz e Resolução de
Conflitos.
Rotary e a Alfabetização
33
2000-01
A região do Pacífico Ocidental é declarada livre da poliomielite.
2001-02
A Europa é declarada livre da poliomielite.
2002-03
O Rotary lança sua segunda campanha de captação de recursos em prol da
erradicação da pólio, arrecadando mais de US$ 129 milhões.
2004-05
Os clubes celebram os 100 anos do Rotary implementando centenas de projetos
comunitários e doando milhares de horas de trabalho voluntário às comunidades
mundias.
2005-06
O Rotary chega à China e a Cuba.
***
O Rotary oferece aos seus sócios a oportunidade de servir à comunidade – seja
erradicando a paralisia infantil, ajudando as crianças a ter uma vida mais saudável ou
colaborando na reconstrução das regiões atingidas por calamidades.
***
Entre os muitos projetos dos Rotary Clubs voltados à juventude, destacam-se
os que atendem necessidades básicas como a saúde e a alfabetização, e o programa
de intercâmbio que oferece aos jovens a oportunidade de aprender sobre a vida em
outros países.
***
Em seu esforço para erradicar a pólio, os rotarianos ajudam a transportar a
vacina até os lugares mais remotos do planeta.
***
Através do Rotary, os sócios têm a chance de empregar sua energia e seus
talentos para melhorar as condições de vida em suas comunidades e ajudar outras
pessoas a realizarem seus sonhos.
34
Rotary e a Alfabetização
Histórias do
Rotary I
“Estou mudando as vidas das pessoas
por ser rotariano.
Onde mais se poderia encontrar uma
oportunidade como esta?
Ela não está à venda.”
Bradford R. Howard
Rotary e a Alfabetização
35
O serviço internacional ajuda um pai a
incutir compaixão em seus filhos
Alan Steinberg
No momento em que Bradford R. Howard nasceu seu pai estava numa reunião
do Rotary. Decorridos 27 anos, quando era governador do distrito 5170, em 198485, Howard pediu ao seu filho que fundasse um novo Rotary Club em Oakland,
Califórnia, EUA, cidade natal da família, para que Brad pudesse convidar seus amigos
para se tornarem sócios. Três semanas depois, Brad casava-se e interrompia sua
lua-de-mel em Napa Valley para participar do banquete de fundação do RC de
Oakland Sunrise. Um exemplo típico de “tal pai, tal filho?”
“Não!”, ri Brad Howard, atual governador do distrito 5170. “Eu agi por puro
egoísmo. Não estava pensando em retribuir nada à minha comunidade, ou em contribuir
para sanar uma grande aflição da humanidade. Eu só queria fazer com que meu velho
largasse do meu pé!”
Naquele verão, Brad Howard pouco se dedicou ao Rotary, pois estava
empenhado em desenvolver os negócios internacionais da família. “Algumas pessoas
só compareciam às reuniões do Rotary por rotina, e por isso havia muita inércia. Eu
definia o Rotary como areia movediça: se você não se mexer, sobreviverá; mas, se
fizer algum movimento, começará a afundar. Assim, permaneci o mais quieto possível”.
Ele admite que não participou com vigor durante 13 anos. “Era maravilhoso
ajudar os outros”, afirma Howard hoje, aos 45 anos de idade. “Mas antes eu só
observava o Rotary intelectualmente, sem fervor, e deixava-me levar passivamente”.
Em 1998, Howard mudou bruscamente de atitude ao receber um telefonema de
Jim Walker, um EGD do distrito 5170 e um dos pioneiros do programa Parceiros da
Polio Plus. Sabedor de que Howard era operador de turismo, Walker pediu a ele
que organizasse e liderasse um grupo de voluntários numa viagem a Gana, para
participar de um Dia Nacional de Imunização (DNI). “Lembrei-me que, quando fui
presidente do meu clube, em 1987-88, a campanha para arrecadação de fundos:
para a Polio Plus foi extremamente desgastante. Então pensei: ‘Se eu desligasse o
telefone, ele ficaria muito ofendido?’”
Howard, é claro, não fez isso. Ele concordou - ligeiramente temeroso - com a
proposta. “Eu não tinha idéia de como aquilo mudaria a minha vida,” disse.
Dois eventos ocorridos durante e logo depois da viagem a Gana concorreram
para esclarecer Howard sobre o significado do Rotary. O primeiro se deu quando
ele ministrava a vacina oral a crianças na cidade de Fotobi, na montanha. “Lembrome com clareza. Eu estava em pé, sob uma mangueira, ao lado do companheiro
36
Rotary e a Alfabetização
Sidney Baeta, do RC de Acra Leste, em frente a uma fila de crianças. Bebês eram
trazidos a mim - um completo estrangeiro - por seus irmãos, irmãs e avós, para
serem imunizados. Eles me encaravam com tanta confiança que eu mal acreditava.
Eu dizia a mim mesmo: ‘Esta é a sua tarefa. Cumpra-a.’ Eu tinha que pôr nas bocas
daquelas crianças as duas gotas de vacina, e não havia tempo para emoções.”
Mas quase logo em seguida, Howard foi tomado por sentimentos muito intensos.
“Senti, subitamente, como se estivesse exclamando: ‘Uau, olhe só o que estou
fazendo,’” ele conta. “Isto é formidável! Estou erradicando uma doença, estou
mudando as vidas das pessoas, tudo porque sou rotariano. Aonde mais se poderia
achar uma oportunidade como esta? Ela não está à venda.”
O segundo evento desenrolou-se em duas etapas, com início dois dias depois,
quando ele viajava com Baeta a Kumasi, a capital da tribo Ashanti. Durante a viagem,
Baeta pedia, com insistência, que Howard ajudasse a arrecadar US$50 mil para
uma clínica de Kokrobite, uma pobre aldeia de pesca com 50 mil habitantes. Ele
contou a Howard que a idéia da clínica nascera quando um dentista, também sócio
do clube de Acra Leste, tinha assistido a um habitante de Kokrobite ser mordido no
dedo por uma serpente venenosa. Antes que o rotariano o pudesse socorrer, o
homem tomou de uma faca e decepou seu próprio dedo. Quando o dentista levava
o homem ao médico, a 15 km dali, ele compreendeu a necessidade da clínica. Howard
levou a idéia ao Rotary Club, e coube a Baeta liderar a campanha para levantamento
de recursos. Não sem relutância, Howard finalmente resolveu atender aos persistentes
pedidos de Baeta. “Eu disse sim para acalmar Sidney e, a exemplo do meu pai,
livrar-me dele.”
Mas foi só no retorno a casa que Howard teve a percepção definitiva que ele
define como o “momento decisivo” da viagem. Como parte de sua missão, ele levava
27 sacolas com roupas usadas para serem distribuídas às crianças e idosos
necessitados. Muitas das vestes de crianças haviam pertencido à sua filha de três
anos, e já não lhe serviam mais. Ela mesma fez á seleção. “Quando Blair pediu-me
para ver as fotos das crianças ganenses vestindo suas roupas, e eu tinha uma, ela
mostrou-se um tanto decepcionada,” relembra Howard. Mas logo em seguida ela
refletiu e sua atitude mudou, provocando a seguinte reação: “Pai, nós agimos muito
bem”. Isto deu a Howard o verdadeiro sentido da viagem a Gana.
“Veja o benefício que esta criança extraiu da minha viagem,” diz Howard. “Desde
então, ela tem se mostrado ansiosa em ajudar os outros, e o mesmo aconteceu ao
meu filho Evan, o que me fez concluir que através do Rotary eu não estava somente
ajudando os necessitados, mas transmitindo às minhas crianças valores difíceis de
comunicar, mesmo nas circunstâncias mais favoráveis.”
A partir dali, Howard passou a se dedicar fortemente ao Rotary, com o mesmo
fervor de seu pai.
Rotary e a Alfabetização
37
Em novembro de 1999, Howard retornou a Gana para uma nova rodada de
DNIs, e para entregar um cheque de US$ 50 mil ao RC de Acra Leste em favor da
clínica de Kokrobite.
Os recursos foram levantados através de um projeto de Subsídios Equivalentes
da Fundação Rotária do Rotary International, em parceria com os Rotary Clubs de
Acra Leste e de Oakland Sunrise. Em 2000, quando ele foi mais uma vez a Acra
para assistir à abertura oficial da clínica, foi assaltado por outra tocante experiência.
Depois de percorrer aquelas movimentadas instalações, Howard foi convocado a se
dirigir ao centro da praça, onde havia uma multidão composta por habitantes, chefes
tribais, estudantes, funcionários da saúde e rotarianos. Um cidadão idoso proclamou
que Howard seria “entronado” como chefe tribal - em Gana, os chefes tribais sentamse em bancos cerimoniais que simbolizam liderança e poder.
Numa cerimônia elaborada, Howard foi elevado a chefe do povo Ga, o grupo
étnico majoritário na região ao redor de Acra.
“Os habitantes locais e todos aqueles que viajaram comigo cumprimentavamme efusivamente, e eu evoquei a figura do meu pai, que havia falecido recentemente:
“você está vendo isso, pai? Devo a você tudo isso. Muito obrigado por ter-me
proporcionado isso.”
Em outubro de 2002, Howard trouxe sua mulher, Mareia, e seus filhos Blair e
Evan (então com 7 e 12 anos de idade, respectivamente) na sua quinta viagem a
Gana. Evan e Blair ministraram a vacina em escolas de Acra. Eles também foram ao
estacionamento de uma igreja local para auxiliar na doação de cadeiras de rodas a
60 vítimas da pólio. Depois que Evan ajudou um homem a ajustar sua primeira
cadeira de rodas e conversou um pouco com ele, o homem sorriu e disse: “Sei que
todos aqui me amam, em especial este menino”. Evan sorriu, cheio de orgulho, e
declarou que aquela foi uma “experiência inesquecível”.
Howard estava igualmente excitado. “Aqui está o Rotary ajudando a erradicar
uma doença, e meus filhos se encontraram com pessoas afetadas por ela. Eles poderão,
algum dia, afirmar: ‘Ajudei a terminar com este mal”’.
Essas lições de vida não terminaram em casa. Howard arrumou as fotografias
da viagem e mostrou-as numa apresentação para a escola local. Aquilo foi
especialmente eficaz na sétima série, turma em que Evan estudava, e que estava, por
coincidência, estudando Gana como parte do Setor de Estudos Africanos e
Americanos. “Evan falou e eu trouxe o computador e o projetor,” diz Howard. “A
emoção tomava o ambiente. No final, seu professor pediu: ‘Se reuníssemos livros
didáticos usados, você poderia nos ajudar a enviá-los para Gana?’” Howard replicou
que ele auxiliaria a encontrar uma classe irmã em Gana, de tal forma que as crianças
pudessem se tornar correspondentes (através de e-mails) dos alunos locais, e que os
rotarianos ajudariam a enviar todos os livros que pudessem ser coletados. Todos os
38
Rotary e a Alfabetização
400 alunos da sétima série adotaram o projeto. “O mais significativo é que Evan está
inserido num processo de benemerência que tem um valor tangível. Ele está aprendendo
a ajudar o próximo sem ter necessidade de empreender uma grande cruzada. Isso
faz parte, hoje, do seu dia-a-dia, tal como as partidas de basquete que disputa. Isso
é mais alguma coisa que podemos fazer em família. Por causa do Rotary, meus dois
filhos compreendem que nem todos vivem como nós, e que algumas pessoas precisam
ser socorridas. E isso faz parte do nosso cotidiano, como ir à escola e praticar
esportes. Ajudamos pessoas que nem mesmo conhecemos. Meus filhos serão pessoas
diferenciadas; eles serão mais cosmopolitas e compassivos. Eles têm amigos em
Gana! Eles chamam Robert Atta, governador do distrito 9100, e sua mulher, de ‘tio
Robert’ e ‘tia Esther’, porque os vêem como extensões da sua própria família”.
“No meu entender, este é o aspecto mais notável do serviço rotário. Ele
proporciona momentos definidores que enriquecem sua vida e o colocam no caminho
correto, modificando cada pessoa envolvida”.
O autor é um escritor de
“best-sellers” e vive em Chicago.
Rotary e a Alfabetização
39
Histórias do
Rotary II
“Ajudei a transformar as vidas de
algumas pessoas.
Sinto-me agora responsável por fazer ainda mais para ajudar a melhorar a vida de
cada uma delas individualmente.”
Marie-Irène Richmond-Ahoua
Rotary e a Alfabetização
41
Erradicar a pólio tornou-se a missão de
vida de uma mãe do Oeste da África
Alan Steinberg
Marie-Irène Richmond-Ahoua ouviu falar do Rotary pela primeira vez em 1985,
quando seu irmão, um rotaractiano, participava de uma conferência do Rotary
International em sua cidade natal, Abidjã, na Costa do Marfim. Ela ficou intrigada
com a existência de uma organização que prestasse serviço voluntário em âmbito
mundial, e seu interesse surgiu na hora certa: Marie-Irène se tornaria uma das primeiras
mulheres a fazer parte do Rotary na África.
Em 1991, Cheickna Sylla, governador 1991-92 do distrito 9100, pediu a MarieIrène para ajudá-lo a criar um clube “misto,” em que mulheres pudessem ser admitidas.
Desta forma, aquela gerente de vendas corporativas, com 31 anos de idade, tornouse a primeira secretária do nascente RC de Abidjã-Biétry, e logo recrutou cinco
mulheres para se juntar aos 25 sócios homens que estavam fundando o clube.
Três anos mais tarde, Marie-Irène tornou-se a primeira mulher a presidir um
clube rotário na África Ocidental. Ela se sentiu muito estimulada por se encontrar na
vanguarda de uma verdadeira reforma social. “Era uma grande honra para mim e
para todas as mulheres do meu país”, afirma ela com orgulho. “O fato de ser presidente
aumentou o meu potencial de ajudar os outros, mais até do que eu havia aprendido
com meus pais. Tenho hoje mais compreensão com as pessoas que não são como
eu.”
O Rotary tornou-se sua missão de vida. “O Rotary é uma paixão; mais ainda, é
hoje a minha segunda família,” afirma Marie-Irène, mãe de um menino de cinco anos,
Pierre-Charles Emmanuel. “Tal paixão se justifica porque descobri que rotarianos
são pessoas de muito mérito, que têm honra e integridade. Eles se importam com
outros seres humanos – em especial com os mais necessitados – e isso é muito
enriquecedor, pois eles semeiam a esperança, a fé e o amor.”
Sua primeira participação em projetos da organização foi num programa de
alfabetização para mulheres de Abidjã. O grande problema, ela relata, é que dois
terços da população feminina do país são incapazes de ler, escrever, ou realizar
simples cálculos aritméticos. “A maioria delas são jovens,” conta Marie-Irène, que
ostenta um mestrado em línguas estrangeiras. “A cultura local impede que os pais
matriculem suas filhas nas escolas. Como elas costumam casar muito cedo, eles
acham que as escolas não importam. Escolas são coisas para homens, eles pensam.
Mas o nosso programa de alfabetização começou a modificar as coisas.”
O RC de Abidjã-Biétry iniciou seu projeto num centro comunitário onde as
mulheres aprendiam principalmente a cozinhar. O clube recrutou professores na
42
Rotary e a Alfabetização
secretaria de Educação de Abidjã e contratou jovens adultos para ministrar a educação
básica. Marie-Irène confessa que ainda não tinha percebido a profundidade e o
alcance do programa até que uma mulher lhe disse em particular, chorando: “Senhora
Marie-Irène, sinto-me orgulhosa, verdadeiramente orgulhosa, por poder escrever e
ler. Agora, quando minha filhinha está doente, eu sei como dar-lhe os remédios. E
quando me desloco para qualquer lugar, sei qual ônibus devo tomar, porque aprendi
a ler os números.”
Esta simples revelação emocionou profundamente Marie-Irène. “Senti uma
grande satisfação moral por poder ajudar aquelas mulheres a ler, escrever e fazer
contas, de forma a lhes permitir que administrassem suas famílias e seus próprios
negócios” , diz ela. “Refleti, então: ajudei a transformar as vidas de algumas pessoas.
Sinto-me responsável por fazer ainda mais para ajudar a melhorar a vida de cada um
de agora em diante”.
Desde 1997, quando ela se apresentou para servir como voluntária num Dia
Nacional de Imunização (DNI) ministrando a vacina antipólio, Marie-Irène tem
dedicado grande parte do seu tempo ao Programa Polio Plus. Durante sete anos, ela
foi a coordenadora da Comissão Nacional Polio Plus na Costa do Marfim e
recentemente foi indicada para continuar na função até 2005, além de coordenar a
Comissão do Distrito 9100 para o Levantamento de Fundos para a Erradicação da
Pólio.
“Sou muito sensível a esse programa por constatar que ainda existem crianças
lutando contra essa doença terrível,” declara. “Minha maior recompensa é saber que
no futuro poderemos ver crianças felizes, capazes de sustentar-se sobre suas próprias
pernas. Minha alegria é ver suas mães sorrindo durante os DNIs, e perceber a
esperança estampada em seus olhos.”
Ela admite que a participação na Polio Plus mudou sua vida. Três experiências,
em especial, afetaram-na profundamente. A primeira foi em 1998, quando ela estava
imunizando crianças na região rural de Bonoua. Cinqüenta voluntários afetados pela
pólio ainda na infância participaram da ação prestando auxílio. “Um jovem estudante
de medicina, com 20 anos de idade, chamado Drissa Coulibaly, parecia bastante
triste”, recorda. “A pólio havia afetado suas duas pernas, mas apesar disso ele podia
ajudar outras crianças, dando-lhes as vacinas em gotas”. O jovem admitiu para MarieIrène que se sentia deprimido pelo fato de a campanha de erradicação não ter existido
anteriormente, a tempo de evitar sua doença. Ela respondeu: “Sim, certamente nós
chegamos tarde para você, mas pense em seus irmãos e irmãs. Pense também nos
dois bilhões de crianças que agora estão livres da pólio em todo o mundo. E você
está fazendo a sua parte para ajudá-las”, concluiu Marie-Irène.
Quando chegou a hora de se despedir das famílias de Bonoua, o ânimo do
jovem era outro. “Drissa pôde sentir o amor e a gratidão nas faces de todas aquelas
Rotary e a Alfabetização
43
pessoas,” relembra Marie-Irène, foi aí que ele me confessou: ‘Senhora Marie-Irène,
você está certa. Sou muito egoísta. No entanto, sinto-me orgulhoso pelo que o Rotary
está fazendo aqui e no mundo.’ Aquilo levantou tanto o espírito de Drissa que ele
continuou a me ajudar no DNI. Fiquei sabendo recentemente que ele deverá terminar
seus estudos de medicina já neste ano. Por isso, esse rapaz é um símbolo da esperança
que o Rotary traz a pessoas desanimadas e da alegria que empresta a corações
entristecidos em toda parte. Ele é um exemplo a ser seguido por todos”.
Outro marco na vida de Marie-Irène aconteceu em 1999. Enquanto imunizava
crianças numa área densamente povoada, próxima a Abidjã, ela reparou numa mulher
de meia idade, as costas curvadas, mancando de uma perna, que se movia com
dificuldade, em direção aos voluntários. “Ela trazia um bebê às costas e conduzia um
menininho pela mão,” conta Marie-Irène. “Aquilo me tocou profundamente, mas
agora, graças ao Rotary, suas duas crianças crescerão saudáveis, vigorosas, e poderão
contribuir para o futuro da sua pátria, num continente onde ainda existe tanto por
fazer. A visão daquela mulher tão valente e maravilhosa fez-me compreender que a
grande recompensa do Rotary é proporcionar às pessoas tristes o sorriso, a água a
quem tem sede, a cura aos doentes e a salvação a todas as crianças. Comecei a
mudar minha maneira de ser. Agora eu vejo além de mim mesma, e penso nos outros
em primeiro lugar. Quando você ajuda os outros dessa forma, adquire a certeza de
que uma só pessoa pode fazer a diferença.”
Tempos depois toda confiança e determinação de Marie-Irène manifestaram-se
outra vez. Em dezembro de 1999, um movimento militar depôs o presidente do país.
O novo chefe de Estado, general Robert Guei, cancelou abruptamente os DNIs
programados para aquele ano. Foi aí que Marie-Irène apelou diretamente à mulher
dele, Rose Doodou Guei.
“Rose concordou em receber-me, por saber que, na qualidade de rotariana, e a
serviço do bem-estar da população, eu poderia contribuir para o sucesso da gestão
do seu marido,” conta. “Não era a primeira vez que eu me encontrava com uma
primeira-dama. Eu havia estado com a mulher do presidente deposto por diversas
vezes, nas ocasiões em que ela presidia os DNIs. Assim, eu apelei a Rose: ‘Você é
uma mulher, uma mãe. Por favor, diga ao seu marido, o presidente da República, que
estamos prontos para imunizar as crianças. Elas são inocentes. Elas não têm nada a
ver com o golpe de Estado. Elas não devem pagar pelos erros dos adultos. Elas têm
o direito de ver o fim da pólio.”
Pouco depois, o ministro da Saúde telefonou a Marie-Irène para dizer que o
presidente Guei havia concordado com seu pedido. Passados alguns dias, Rose
Guei presidiu uma cerimônia de DNI na presença de Marie-Irène. “Por isso o Rotary
é enriquecedor”, ela afirma. “Tenho a certeza permanente de que estou trabalhando
pela compreensão mundial. E fico ainda mais esperançosa em poder ajudar o mundo
44
Rotary e a Alfabetização
todo. Quando vejo a doença, o sofrimento, a morte, ou mesmo a guerra, sei que não
estou sozinha, porque o Rotary traz a solidariedade, o amor e a esperança.”
Marie-Irène recebeu inúmeros prêmios por seus serviços rotários. O maior deles
foi concedido em setembro de 2000, quando ela foi convidada a fazer um
pronunciamento na ONU, para relatar o sucesso do distrito 9100 em prol da
erradicação da pólio. A cerimônia foi presidida pelo secretário-geral das Nações
Unidas, Kofi Annan. “É motivador receber homenagens e falar perante a ONU,”
reconhece Marie-Irène. “Mas como rotariana, devo sempre ter em mente que não
tenho o direito de estar feliz enquanto as pessoas à minha volta estiverem pobres e
doentes. Não posso falhar. Tenho que vencer. É um privilégio ser rotariana, e temos
a obrigação de falar sobre o Rotary a todos para que possamos mudar o mundo.”
O autor é um escritor de
“best-sellers” e vive em Chicago.
Rotary e a Alfabetização
45
Histórias do
Rotary III
“Todos temos a necessidade de receber
amor e o reconhecimento pelo fato de
sermos pessoas úteis.”
D’ Lisa Simmons
Rotary e a Alfabetização
47
Uma estudante nicaraguense cega ajuda
uma rotariana do Texas a ver a importância
de “enxergar até mesmo os menores gestos”
Alan Steinberg
O primeiro contato de D’Lisa Simmons com o Rotary foi na escola secundária.
Como veterana em Texas City, no Texas, EUA - uma refinaria de petróleo na Costa
Oeste - ela se ocupava com arte dramática, coros, bandas e ajudava nos ensaios de
grupo. Tocava trompa inglesa e oboé, e sonhava com uma carreira de “maestrina ou
uma famosa oboísta.”
Em reconhecimento ao seu desempenho escolar, o Rotary Club local fez dela
uma jovem “Rotary Ann”, designação que antecipou a admissão de mulheres na
instituição no final da década de 80, e homenageou-a com um almoço. “Eu não
pensava em ser uma rotariana,” afirma Simmons, que hoje tem 40 anos de idade.
“Só me lembro de estar enrolando o espaguete com o garfo, como aprendera com
meu pai, e falando sobre as minhas atividades escolares para uma porção de idosos,
de cabelos brancos. Isto é o que parecia ser o Rotary.”
Em 1987, ela voltou a topar com o Rotary. Ela deixou a música e formou-se em
Administração pela Universidade de Houston. Os escândalos bancários e o declínio
dos preços do petróleo devastaram a economia local e o mercado de trabalho.
“Nem para secretária eu poderia me candidatar, pois a minha datilografia era digna
de pena,” relembra com uma risada. Ela, então, se decidiu a entrar para uma faculdade
de Direito, para estudar Direito Empresarial. Foi nessa época que a febre de viagens
tomou conta dela.
Um dos seus melhores amigos foi para a Áustria, para uma bolsa de estudos da
Fundação Rotária do RI e contou-lhe o quanto aquilo valia a pena. Simmons animouse com o relato e resolveu tentar uma bolsa, também. Um amigo de sua mãe
encorajou-a a conhecer o mundo primeiro, e só depois retornar à escola. “Pensei: se
o Rotary puder me proporcionar isso, será ótimo,” conta Simmons. “E essa decisão
mudou a minha vida.”
Ela conseguiu a bolsa e foi a Cingapura, país de que pouco havia ouvido falar.
“Lembrei-me de velhos filmes de guerra, e como eu me sentiria aterrissando numa
pista de areia no meio da selva, a bordo de um avião de dois lugares,” diz sorrindo.
Mas ela chegou, em verdade, num aeroporto moderno, de classe internacional. Foi
a primeira das muitas lições que aprendeu sobre o mundo situado além do Texas.
Enquanto estudava Direito na Universidade Nacional de Cingapura, Simmons
48
Rotary e a Alfabetização
freqüentou reuniões do RC de Cingapura, o maior do país. “Sua Avenida de Serviços
Internacionais tinha um projeto para as Filipinas. Tratava-se do levantamento de
dezenas de milhares de dólares para poços de água em localidades rurais. Foi ali que
eu percebi que o Rotary realiza trabalhos importantes”. À medida que ela explorava
a Ásia, durante seu tempo disponível, uma sucessão de fatos “abriram-me os olhos
para o mundo.”
Quando visitava a Índia, acompanhada de um amigo rotariano, ela pôde
testemunhar a extrema pobreza, pela primeira vez. “As pessoas viviam em andrajos
pelas ruas. As crianças imploravam por comida, e quando dávamos algo, brigavam
por ela nas ruas imundas.” Em Srinagar, um local onde as famílias da Índia passam os
verões, Simmons viu jovens correndo, descalços, na frágil geada. Ela queria ajudar,
mas não sabia como.
Excursionando pelo Himalaia, Simmons presenciou cenas semelhantes. “Lá estava
uma menininha numa colina, nua em pelo, e fazia frio. Tudo o que ela vestia eram
bugigangas penduradas nos cabelos e um colar de contas plásticas, como se fosse o
Carnaval de Nova Orleans. Pensei com meus botões: ela é tão bonita, mas sua vida
é tão difícil.”
Não é fácil permanecer aquecido no Nepal. Encontrar alimento é tarefa dura.
Percebi que eu desperdiço mais comida num dia do que essas pessoas comem numa
semana. Aquilo me envergonhou.”
De retorno ao Texas, Simmons terminou a faculdade, graduou-se em advocacia
e entrou para o RC de Galleria Area, em Houston. Em 1997, seu clube, com mais
outros oito da região de Houston, participou de um projeto da Comunidade de
Serviços Mundiais em Chinandega, Nicarágua, que se tornou um marco em sua vida
rotária.
Sua participação aumentou logo depois do Furacão Mitch, que deixara ao
desabrigo centenas de famílias, no final de 1998. Imagens de crianças escavando em
meio ao lixo à procura de comida tornaram ainda mais urgentes a ação dos rotarianos.
Em junho de 2000, como presidente eleita de seu clube, Simmons visitou Chinandega
e viu algumas daquelas crianças com seus próprios olhos. “Vi uma criancinha com
uma boneca quebrada,” disse. “Era lamentável, mas era uma boneca. É a visão de
um povo sem qualquer esperança.”
Os rotarianos texanos juntaram-se a outros grupos como “Alimentos para os
Pobres,” uma ONG baseada em Arkansas, EUA, para fornecer moradias de baixo
custo às famílias de Chinandega. Os fundos arrecadados foram cobertos por um
projeto de Subsídio Equivalente da Fundação Rotária, e aquele total dobrado pela
“Alimentos para os Pobres,” o que entusiasmou os rotarianos. “Nem precisamos
pensar muito,” afirma Simmons. “A idéia disseminou-se rapidamente em nosso distrito.
Todos queriam ajudar. O projeto resultou em 330 casas, e aquelas pessoas estão,
Rotary e a Alfabetização
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agora, afastadas do despejo sanitário, do lixão.”
Outras doações serviram para melhorar as condições de fornecimento de água
e de instalações sanitárias, serviram para levantar cercas para as propriedades
individuais e desenvolver um projeto agrícola, para que os habitantes se autoabasteçam de colheitas de subsistência e de criação de aves.
Na mesma viagem, Simmons visitou a Escola Santa Lúcia para Cegos,
patrocinada pelo Rotary, um refúgio para os jovens que, de outra forma, teriam uma
triste existência. Algumas crianças vinham de lares onde tinham os pés e as mãos
atados pelos pais desesperados, para evitar que eles se movimentassem pela casa.
Simmons lembra-se de uma menina que jamais sentira o vento no rosto durante uma
corrida, pois sempre vivera amarrada. “Na Nicarágua,” Simmons explica, “se você
é cego, você também é invisível. Não existem serviços sociais para cegos. O padre
Marco mantém 20 pessoas na escola, onde elas aprendem Braille, a se vestir sozinhas
e comer com talheres. Alguns matricularam-se em escolas normais e estão se saindo
muito bem.”
Ainda na escola, Simmons encontrou uma estudante de 20 anos chamada Evelyn
Urbina Zapata, que lhe disse de imediato: “Quero ser advogada!” Quando Simmons
respondeu, “Se você continuar estudando, mantiver boas notas e obtiver o seu diploma
secundário, você poderá chegar lá”, o rosto de Evelyn iluminou-se. Simmons percebeu
que aquela era a primeira vez que alguém havia pronunciado uma palavra de incentivo
para a moça. Semanas depois, ela enviou a Evelyn um presente: um belo braceletetalismã, com um anjo, e um bilhete onde se lia: “Espero que tudo esteja bem. Não
abandone a escola e saiba que estamos pensando em você.”
Em março de 2002, Simmons retornou à Nicarágua e levou uma máquina de
escrever com caracteres em Braille para Evelyn, que era, então, uma segundanista
na escola secundária de Leon. Aquele tinha sido o único presente de aniversário que
Simmons havia pedido ao marido. Ela sabia que Evelyn sonhava com a faculdade,
mas que necessitava conhecer a linguagem Braille para freqüentar uma escola pública.
“Eu estava muito animada,” relembra Simmons. “Quando entreguei-lhe o
embrulho, ela pulou de alegria, sorrindo de orelha a orelha. Evelyn colocou
imediatamente um papel na máquina e começou a datilografar. Sua exuberante alegria
foi um dos melhores presentes de aniversário que já ganhei.”
Simmons reuniu-se, em seguida, com o Dr. Ernesto Medina, chanceler da
Universidade da Nicarágua em Leon. Ele prometeu que se Evelyn mantivesse o seu
rendimento escolar, teria garantida uma vaga na universidade. Simmons correu de
volta a Chinandega para contar a Evelyn, que ficou muito feliz com a notícia. Enquanto
Simmons esteva fora, Evelyn datilografou uma mensagem, a ela dirigida, e Simmons
pôs-se a lê-la em voz alta, em espanhol. Frank Huezo, um sócio do RC de Humble
Continental, Texas, e líder de projetos em Chinandega, traduziu o texto:
50
Rotary e a Alfabetização
“Sinto-me emocionada e feliz por ter recebido o seu presente. Ele me será
útil na escola e muito servirá nos meus estudos universitários. Sempre tenho
você em meus pensamentos. Não tenho palavras para agradecer o talismã e o
cartão. Guardo-os sempre comigo. Você me fez sentir uma pessoa útil. Agradeçolhe pelo gesto generoso. Deus concedeu-me a graça de encontrar um anjo como
você.”
Simmons perguntou-lhe, então, impulsivamente: “Evelyn, você gostaria de tocar
o meu rosto?”
A jovem irrompeu em soluços, e Simmons sentiu-se mortificada, até que Huezo
explicou-lhe que ela chorava porque estava sem coragem de pedir uma oportunidade
para finalmente “ver” a sua amiga. “Eu disse a Evelyn que tudo estava bem, mas
mesmo assim ela não me tocou,” conta Simmons. “Finalmente, levei suas mãos ao
meu rosto, e ela o acariciou como se fossem “beijos de uma borboleta,” levemente,
como um bater de asas. Ela percebeu meus grandes olhos e “viu” que os meus
cabelos eram curtos e crespos, como os dela. Foi um dos momentos mais íntimos
que já privei com alguma pessoa.”
Seis meses mais tarde, quando ia para Aspen, Colorado, EUA, Simmons
encontrou-se no aeroporto de Denver com uma ex-campeã de esqui de
paraolimpíadas, chamada Nancy Stevens. Simmons impressionou-se com a facilidade
com que aquela mulher cega se movimentava, com a ajuda do seu cão. As duas
conversaram durante a viagem até Aspen.
“Comoveu-me o fato de que à Nancy nunca foi dito que estava impedida de
fazer algo,” recorda-se Simmons. “Em contraste, na Nicarágua os cegos são logo
rotulados de incapazes.”
Quando ela soube que Nancy obtivera um diploma universitário em educação
musical, e que vive sozinha, que trabalha no Serviço Norte-Americano de Seguridade
Social examinando pessoas que se queixam de incapacitações, e que gosta de andar
de bicicleta e de alpinismo, Simmons logo chegou à conclusão de que aquela mulher
poderia servir de fonte de inspiração para os estudantes de Santa Lúcia. Nancy
concordou, e uma viagem foi organizada, para novembro de 2002.
Nancy levou uma máquina de escrever com teclado em Braille para os estudantes
e bengalas para caminhar, que ensinou a usar.
Ela também mostrou o seu “piloto de mão para cegos” um aparelho eletrônico
equipado com um teclado Braille e um ativador de voz que repete todos os comandos.
A viagem de Nancy a Santa Lúcia foi um sucesso, e inspirou os rotarianos do
distrito 5890 a intensificarem seu apoio à escola. Simmons conta que os planos
incluem a organização de equipes de oftalmologistas voluntários e o pedido de
recursos à Fundação Rotária para suprir a escola com computadores e impressoras
com caracteres em Braille. “Eles precisam da nossa ajuda, pois ninguém deve
Rotary e a Alfabetização
51
permanecer invisível.”
“Isto é o que o Rotary faz, não é mesmo? Ajuda os invisíveis e os que necessitam
de auxílio. O Rotary me ensinou muito sobre a vida. O tempo que passei fora mostroume que há mais de uma maneira de encarar a vida, e que há muitas formas de atingir
um objetivo, se alguém se importar. E a alegria de Evelyn Zapata, por causa de um
talismã, ensinou-me que o menor gesto, ou algumas palavras de encorajamento,
podem alterar toda uma vida. Mais ainda, o serviço rotário nos lembra que, como
Evelyn disse, todos temos a necessidade de receber amor e o reconhecimento pelo
fato de sermos pessoas úteis.
O autor é um escritor de
“best-sellers” e vive em Chicago.
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Rotary e a Alfabetização
Histórias do
Rotary IV
“Esse é um outro aspecto que as
mudanças provocadas pelo Rotary
trazem à nossa vida: desenvolver
laços duradouros com as pessoas que
nós ajudamos.
É a grande bagagem de bondade que
mantém nossos corações felizes.”
Linda Coble
Rotary e a Alfabetização
53
Uma ex-jornalista encontrou em dedicados
rotarianos do Havaí uma extensão de sua família
Alan Steinberg
Linda Coble chegou ao Estado norte-americano do Havaí em junho de 1969
para aproveitar a viagem que ganhara da avó como presente por sua formatura na
faculdade. Já em Honolulu, ela foi seduzida a ficar pela atmosfera de boas-vindas do
lugar – que ela mesmo descreve como o “espírito aloha”.
Jornalista especializada em radiodifusão pela Universidade de Oregon, com
sonhos de se tornar apresentadora de telejornal, Coble pretendia começar logo a
sua carreira. No entanto, apesar de todo o seu esforço, parecia difícil que alguém
fosse lhe dar uma chance.
“Havia poucas mulheres trabalhando como jornalistas na TV dos EUA naquela
época. Mas eu considerava os noticiários televisivos um serviço público, e queria ser
a responsável por informar minha vizinhança a respeito de sua própria comunidade”,
ela conta. E acrescenta, rindo: “E lá estava aquela lourinha, uma moleca de praia
aproveitando as férias no verão havaiano, à procura de um emprego em que as
mulheres não eram aceitas. Eu era realmente um peixe fora d’água!”
Apesar disso, na semana em que o homem colocava os seus pés na Lua pela
primeira vez, Coble conseguia um emprego como secretária na KHVH-TV, uma
emissora de televisão do Havaí. Lá ela atendia ao telefone e administrava a limpeza
na sala dos apresentadores, mas alguns repórteres começaram a encaminhá-la pelo
mundo da notícia. Meses mais tarde, já atrás de seu primeiro furo – uma inesperada
entrevista com o senador pelo Arizona, Barry Goldwater, realizada na pista do
aeroporto – Coble transformou-se na primeira repórter feminina da televisão havaiana.
Logo depois, tornava-se a apresentadora do telejornal da emissora.
Em 1971, Coble foi mencionada em um artigo publicado na revista “Newsweek”
sobre as mulheres pioneiras na mídia, aparecendo ao lado de outras notáveis como
Pia Lindstrom e Connie Chung. Mas naquela ilha – o Havaí – Coble ainda se sentia
como uma estrangeira. “Eu era uma mulher haole – palavra havaiana que significa
‘pessoa branca’, ou ‘homem branco’ – numa comunidade formada por gente bastante
variada: chineses, filipinos, havaianos, japoneses, samoanos. Eu não tinha muita
familiaridade com todas aquelas culturas, mas precisava ter credibilidade entre eles.
Daí a minha decisão de me envolver mais com a comunidade”.
Depois de produzir uma reportagem sobre a forma como o Centro para Suicídios
e Crises de Honolulu auxiliava os jovens com problemas, Coble se ofereceu para
trabalhar como voluntária na central de atendimento telefônico da instituição. Depois
54
Rotary e a Alfabetização
de um treinamento que durou oito semanas, ela começou a trabalhar, atendendo às
ligações depois de apresentar o telejornal das 22h. Os telefonemas que ela recebeu
a assustam até hoje. Um deles foi o de um menino samoano muito confuso porque
sua mãe – uma mulher espancada e problemática – o obrigava a ir à escola com
roupas de menina. “Houve ainda o caso de uma adolescente que, depois de ingerir
vários comprimidos, queria falar com alguém antes de morrer”, ela relembra.
“Conseguimos socorrê-la a tempo”.
Coble não sabia nada sobre o Rotary até novembro de 1987, quando Tucker
Gratz, membro de um RC local, abordou-a no hall da estação de televisão
oferecendo-se para apadrinhá-la em seu clube. Os Rotary Clubs haviam começado
a admitir mulheres, e Gratz tinha sido incumbido de recrutar candidatas qualificadas.
“Tucker imaginava que uma mulher de nome conhecido tinha as melhores chances”,
ela diz.
Coble considerou o desafio irresistível e aceitou o convite. No grande dia em
que foi apresentada a 300 de seus novos companheiros, ela diz que, em frente ao
microfone, sentia-se outra vez como “a jovem mulher combativa da década de 1960.”
Foi inspirada nesse espírito que Coble esbravejou, diante da elite empresarial de
Honolulu: “Já era tempo de vocês aceitarem mulheres no Rotary!”
A afirmação causou mal-estar entre os presentes. “Eu não tinha idéia do quanto
os havia insultado”, ela conta, ainda sem jeito com essa lembrança. “Mas aquela
atmosfera de desapontamento poderia ser cortada com uma faca”. Coble diz que na
verdade estava muito emocionada com a ocasião; e fica feliz ao recordar que sua
gafe não surtiu maiores efeitos a partir do momento em que ela e seus companheiros
de clube passaram a se conhecer melhor.
À medida que se engajava em projetos de serviço com alguns dos mesmos
homens de negócio que ela perseguira durante anos atrás de um furo jornalístico,
Coble foi percebendo que eles eram, acima de tudo, pessoas atenciosas e engajadas.
Por exemplo, ela logo soube que Howard Stephenson, um proeminente banqueiro,
jamais havia faltado a uma reunião do Rotary. “Aquilo me mostrou como ele dava
importância àquela hora semanal”, Coble esclarece. “Aquilo não tinha nada a ver
com dinheiro, negócios ou com a condução de uma grande companhia. Significava
estar junto de pessoas boas, sensíveis, preocupadas com a vida dos outros, dos seus
vizinhos e dos seus companheiros de clube. Aquilo me mostrou que ser rotariano era
uma honra e o reflexo dos mais nobres padrões éticos”.
Antes de entrar para o clube, Coble havia participado de muitas iniciativas de
caridade, principalmente recorrendo ao seu prestígio para atrair doadores em eventos
voltados à arrecadação de fundos. Um trabalho relativamente fácil para a “Linda
Coble da TV”, mas que não a obrigava a “colocar a mão na massa”. Foi o Rotary
que mudou tudo isso. Agora, ela estava arrancando as ervas daninhas dos jardins do
Rotary e a Alfabetização
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Centro para Pacientes de Alzheimer, ou sentava-se numa mesa de cozinha com a
mãe de uma criança portadora de deficiência, trocando abraços e lágrimas de alegria.
“Você não experimenta esse tipo de emoção quando participa de conselhos
consultivos”, diz. “Aquilo era bem mais pessoal”..
Em 1994, ano em que Coble tornou-se a primeira mulher a assumir a presidência
do seu clube, um projeto em especial contribuiu para o crescimento pessoal dela.
Todos os anos, como parte das comemorações do Dia de Ação de Graças, os
clubes do Distrito 5000 comprometiam-se a terminar um projeto antes do feriado
que marca essa tradicional data para os norte-americanos. Naquele ano, o clube de
Coble havia decidido construir um pátio com uma quadra de basquete para a mãe
adotiva de cinco meninos extremamente ativos. Empunhando uma pá, Coble suou
um bocado ao lado de seus companheiros para terminar o projeto antes do anoitecer.
Concluído o trabalho, ela orgulhosamente fincou o seu distintivo rotário no cimento
fresco, como se ele fosse uma bandeira. “Nunca me senti tão elevada em trabalhar
com qualquer outro grupo”, ela garante.
Um ano depois, o clube de Coble decidiu construir uma rampa de acesso numa
casa onde uma criança adotada – um menino portador de deficiência física – acabara
de receber sua primeira cadeira de rodas. Terminada a rampa, eles perceberam que
a cadeira de rodas não passava pela porta do banheiro da casa, e modificaram o
cômodo. Aquilo os levou a adaptar o quarto dos pais adotivos do menino, e em
seguida os closets. O que a princípio deveria ser um projeto para se concluir em
apenas um dia tornou-se uma reforma da casa que durou seis meses. A cada fim de
semana, um grupo de dedicados rotarianos comparecia para ajudar nas obras. “Foi
uma coisa inesquecível”, afirma Coble, com orgulho. “O melhor arquiteto da cidade
cortava a lenha; o contador mais importante colocava as telhas. E a família do menino
nos é grata até hoje. Esse é um outro aspecto que as mudanças provocadas pelo
Rotary trazem à nossa vida: desenvolver laços duradouros com as pessoas que nós
ajudamos. É a grande bagagem de bondade que mantém nossos corações felizes”.
Em 1988, Coble saiu da televisão para trabalhar na KSSK, uma emissora de
rádio. Ela era a apresentadora das notícias num show matutino. Dez anos depois, a
emissora precisou reduzir suas atividades, e ela foi embora. “De repente, eu não era
mais a “Linda Coble da KSSK”, mas somente eu mesma. Aquilo mudou
instantaneamente o meu senso de personalidade”, ela recorda. Tal fato também
significava que dali em diante ela estaria livre para se dedicar ao Rotary com
exclusividade, decisão que teve o total apoio de seu marido, o também apresentador
de televisão Kirk Matthews.
Coble foi governadora do Distrito 5000 – que abrange todos os 41 clubes do
Havaí – no ano rotário de 2000-01. Durante esse período, foram realizadas eleições
gerais nos EUA, o que lhe deu a oportunidade de participar de um de seus projetos
56
Rotary e a Alfabetização
favoritos, o Crianças Votando no Havaí, em que os rotarianos proporcionam aos
alunos das escolas da região a oportunidade de participar de eleições simuladas.
Parte integrante do projeto Crianças Votando nos EUA, o programa foi
introduzido no Havaí em 1994 pela educadora Lyla Berg. O clube de Honolulu
montou um projeto-piloto para as eleições de 1996. Com Coble liderando os
voluntários rotarianos, o projeto se espalhou para todo o Estado durante as eleições
de 1998, 2000 e 2002.
“Ocorre uma sinergia interessante entre as crianças e seus pais: eles falam sobre
política!”, diz Coble. “E os pais nos contam: ‘Eu jamais votaria, mas meu filho me
convenceu do contrário, e ainda me pediu para levá-lo à seção eleitoral no dia da
eleição’. Essa é uma ação rotária perfeita, e muito satisfatória, porque nós sabemos
como realizá-la”. [N.E.: Vale lembrar que o voto não é obrigatório nos EUA].
Nas últimas eleições gerais, os estudantes havaianos participaram da simulação
votando via internet, uma iniciativa pioneira em todo o país.
As maiores satisfações de Coble em seu engajamento rotário tiveram origem
nos laços desenvolvidos entre os próprios rotarianos, aspecto que ganha importância
neste ano pela prioridade dada à Família Rotária pelo presidente do RI Jonathan
Majiyagbe.
“O Rotary é realmente uma grande extensão da família”, concorda Coble.
“Quando um de nós fica doente ou se acidenta, todos se preocupam, socorrendo
esse companheiro ou enviando-lhe uma mensagem. Quando alguém morre, nós vamos
ao funeral e consolamos a família. Quando você perde o emprego, sua ohana –
“família”, em havaiano – rotária cerra fileiras para ajudá-lo a superar isso. Conheço
essa experiência pessoalmente: mesmo estando longe da minha terra natal, a minha
vida expandiu-se de forma incomensurável porque o Rotary tornou-se a minha
ohana”.
Essa “química especial” também melhorou o relacionamento de Coble e seu
marido, e lhes trouxe uma sensação de segurança. Ela explica que se sente realizada
por ajudar os outros, o que a torna uma parceira melhor. O Rotary ajudou-os mesmo
a aliviar as preocupações que qualquer casal sente quando alcança a meia-idade.
Seu marido certa vez confessou-se preocupado com a reação que ela teria caso ele
viesse a faltar. Ela relembra o que ele disse depois: “Mas agora eu sei que você
nunca estará sozinha, Linda. Seus amigos rotarianos sempre estarão ao seu lado”.
Coble acredita que uma das razões pelas quais os rotarianos sentem-se tão
próximos é o fato de eles se encontrarem o tempo todo, o ano inteiro, mesmo nos
períodos entre as reuniões semanais, os eventos de companheirismo e as participações
em projetos de serviços. “Fiz algo em torno de 250, 300 amigos, que revejo todas
as semanas”, declara. “Se eu não for a uma das nossas reuniões de terça-feira, eles
sentem a minha ausência. Tenho amigos rotarianos em quase todos os países, e
Rotary e a Alfabetização
57
convites abertos para visitá-los. Nestes tempos de mudança, o Rotary proporciona
uma seleção de amigos permanentes que compartilham compaixão e ética, que são
amáveis, desembaraçados, e que se preocupam com os outros. Ter um exército de
amigos como esse é como ter uma ohana perpétua. Isso é profundamente confortador
– e muito raro”.
O autor é um escritor de
“best-sellers” e vive em Chicago.
58
Rotary e a Alfabetização
Histórias do
Rotary V
“Gostaria de viver num mundo melhor, em
que houvesse solidariedade, justiça, paz e
oportunidades para todos.
Percebi que teria que me unir a pessoas que
compartilhassem essas mesmas metas e
quisessem torná-las realidade.”
Gustavo Giay
Rotary e a Alfabetização
59
Uma doação modesta, mas feita com coração por
uma mulher à beira da morte, deixa uma impressão
duradoura no filho de um líder rotário
Alan Steinberg
Educado em Arrecifes, Argentina, Gustavo Giay absorveu o espírito do servir
que impregnava sua família e o lar em que morava. Ele acompanhava com freqüência
o seu pai, o EPRI Luis Vicente Giay, às reuniões rotárias, e ficava impressionado
com as calorosas discussões que presenciava por lá.
“Eu apreciava bastante as palestras sobre os problemas sociais que eles tentavam
resolver,” relembra o advogado de 32 anos de idade. “Foi o Rotary, e não a escola,
que me trouxe a consciência sobre tais problemas. Na escola, eles não eram apontados
com a mesma ênfase com que eram debatidos no Rotary. ‘Vamos situar o problema,
vamos ajudar as pessoas’, eles diziam. Eu sempre admirei aquela paixão, mesmo
sem saber bem o porquê.”
Sua afinidade pelo Rotary foi causada, em parte, pela influência do pai, que se
tornara rotariano aos 22 anos de idade. Luis Vicente chegou à presidência do Rotary
International em 1996-97.
As mais caras lembranças de criança de Gustavo Giay foram formadas na tarefa
do servir: ver seu pai levantar fundos para bolsas escolares e crianças necessitadas;
ajudar sua mãe, Celia, a preparar refeições e fazer a decoração das mesas para a
comunidade. Ele também apreciava a exuberância dos encontros de fim de semana
que reuniam a família e os amigos rotarianos de seus pais.
“Durante toda a minha infância, eu assistia àquelas pessoas chegarem à minha
casa para jantar e praticar um agradável companheirismo. Era como se elas formassem
uma grande família. Aquilo representava o outro lado da moeda: enquanto meus pais
estavam ocupados, trabalhando por uma sociedade melhor, também faziam amizades
para toda a vida.”
Gustavo recorda-se, intensamente, da primeira vez em que participou de uma
atividade rotária. Ele tinha sete anos de idade na ocasião. Seu pai levou-o a uma
campanha especial, que durou um dia inteiro, destinada à arrecadação de fundos
para uma escola local que se dedicava a cuidar de crianças com problemas físicos e
emocionais. Naquela época, o RC de Arrecifes unia-se anualmente a grupos privados
para executar o projeto Campanha do Milhão, cujo objetivo era arrecadar 1 milhão
de pesos argentinos. Todos os anos, os rotarianos auxiliavam na arrecadação,
encorajando os motoristas a depositarem suas moedas na alcancia, uma espécie de
cofre.
60
Rotary e a Alfabetização
Curioso e intrigado com a idéia, Gustavo, um dos quatro filhos de Luis Vicente
e Celia Giay, disputava com seus irmãos quem iria carregar o cofre para seu pai. Um
quarto de século mais tarde, a memória ainda o emociona: “Lembro-me da felicidade
em segurar a alcancia enquanto as pessoas depositavam nela suas moedas. Aquilo
fazia com que eu me sentisse importante.”
A participação nesse evento serviu para Gustavo concluir que seu pai praticava
uma série de atos para ajudar as pessoas, em especial as crianças. Mas ele não tinha
entendido bem o que significava aquela campanha em particular. A primeira lição a
respeito daquilo só foi aprendida por ele aos dez anos de idade, na verdade, quando
Luis Giay levou os quatro filhos à escola beneficiada. O jovem Gustavo surpreendeuse: ele nunca havia visto uma criança inválida. Ali ele encontrou algumas delas, inclusive
com a mesma idade que ele tinha na época; algumas apoiando-se em muletas, e
outras sofrendo de males emocionais que ele não conseguia identificar. Mas a maioria
delas parecia ansiosa por receber seus visitantes.
“Aquilo causou-me um impacto imediato,” diz Gustavo. “Lembro-me de imaginar
se elas tinham pais ou alguém para cuidar delas. Quando descobri que algumas não
tinham ninguém, concluí que havia pessoas menos felizes do que eu.” Aquela
experiência repercutiu na vida de Gustavo. Aos 14 anos, ele tornou-se muito ativo na
igreja, pois pretendia “fazer algo pessoalmente pela comunidade, em particular por
aquelas crianças com problemas.” Em seguida, ele e alguns companheiros voluntários
passaram a visitar a escola semanalmente para brincar com as crianças e “dar-lhes a
atenção de que tanto necessitavam.” Ainda hoje, muitos daqueles estudantes
permanecem seus amigos.
Na escola secundária, Gustavo recebeu o seu segundo “batismo” em serviços
humanitários. Ele e alguns amigos operavam a estação de rádio do colégio, e
semanalmente contavam histórias curiosas e fatos sobre os eventos escolares. Algumas
vezes, um deles era informado sobre creches que necessitavam de acomodações
extras. O grupo então decidiu usar o fórum da rádio para “fazer o bem à comunidade”,
procedendo ao levantamento de recursos. Aquela decisão afetou profundamente a
vida de Gustavo Giay.
Preocupados com o eventual insucesso da coleta de fundos na cidade, os alunos
resolveram criar um novo método: quando anunciaram o projeto no ar, avisaram
também que não iriam parar as pessoas nas ruas. Eles propunham que o inverso
acontecesse. “Em lugar de abordarmos os pedestres, andaríamos de bicicleta pelas
ruas da cidade, carregando bandeiras vermelhas. Se alguém desejasse contribuir,
bastava nos parar. Ou, se preferisse, poderia nos telefonar, e nós iríamos recolher a
doação,” conta Gustavo.
Nos 40 dias que se seguiram, 40 entusiasmados estudantes, guiando bicicletas
com bandeiras vermelhas, vagaram pela cidade. As pessoas literalmente os abordavam
Rotary e a Alfabetização
61
para fazer suas doações, e a estação de rádio respondia a telefonemas durante todo
o dia. Um dos telefonemas, respondido por Gustavo, era de uma senhora que parecia
muito idosa: “Mande alguém à minha casa,” ela pediu. Gustavo pegou o cofre e
dirigiu-se a um bairro muito pobre da cidade. Chegando ao endereço, ele imaginou:
como é que alguém morando num local tão miserável pode contribuir?
Depois que ele tocou a campainha, uma jovem abriu a porta. Ela olhou para a
bicicleta e para a bandeira vermelha, e disse: “Estávamos esperando por você. Minha
mãe está no quarto. Entre, por favor”. Gustavo entrou e encontrou uma senhora de
quase 85 anos de idade, frágil e muito doente, deitada na cama. Ela colocou uma
moedinha de cinqüenta centavos de peso na alcancia e disse: “Eu sei que vou morrer,
mas essas crianças poderão ter uma vida melhor se eu fizer isto.”
“Fiquei profundamente emocionado com aquilo. Meu coração chorava. Eu garanti
que as crianças apreciariam imensamente aquela doação”, relembra Gustavo.
Ao final da campanha, os estudantes arrecadaram 4.500 pesos, excedendo em
1.500 pesos a meta original – um volume suficiente para cobrir os custos da metade
de um novo quarto. “Aquilo foi um sucesso,” ele afirma, com orgulho. “Provamos
que as pessoas, mesmo sem ser solicitadas, doam. Também compreendi que existem
mais pessoas que se importam com seus semelhantes do que eu imaginava.”
A experiência levou o adolescente a enxergar seu futuro sob uma nova ótica.
“Gostaria de viver num mundo melhor, em que houvesse solidariedade, justiça, paz e
oportunidades para todos. Percebi que teria que me unir a pessoas que
compartilhassem essas mesmas metas e quisessem torná-las realidade.”
Em conseqüência desse desejo, Gustavo Giay entrou para o Interact Club, onde
foi eleito presidente aos 17 anos. Ele disse que o Interact não ajudou-o somente a
fazer amigos: lá ele também aperfeiçoou suas qualificações sociais. Ele se lembra,
por exemplo, de ter encontrado o prefeito da cidade para pedir-lhe a permissão de
interromper o tráfego durante uma campanha de levantamento de fundos realizada
por estudantes. “Eu tinha de convencê-lo de que, embora fôssemos adolescentes,
nós desejávamos fazer o bem para a comunidade. Eu tinha que liderar 40 jovens e
canalizar suas energias para uma causa comum. Quantos indivíduos têm a oportunidade
de liderar pessoas naquela idade? Isso eu devo ao Interact”.
Gustavo sabia que estava no caminho certo. De fato, seu entusiasmo era tão
motivador que ele acabou tornando-se bombeiro voluntário. “Quando eu era criança,
e os alarmes de emergência soavam, eu sempre me perguntava onde estavam os
meus pais e irmãos,” conta ele. “Eu ficava assustado com a possibilidade de que eles
tivessem sofrido algum acidente. Por isso, corria até o quartel dos bombeiros para
saber o que havia ocorrido, e onde. Um dia, eu pensei: se eu venho aqui todas as
vezes em que o alarme soa, eu deveria fazer algo para ter certeza de que a minha
família está a salvo.”
62
Rotary e a Alfabetização
Sobre esse período, ele afirma: “A satisfação pessoal que eu extraí de minhas
atividades no Interact e no trabalho com os bombeiros fechou o círculo da minha
vida, e aí eu pude ter um sentimento sobre o meu destino. Eu descobri que deveria
estar onde ocorresse uma necessidade.”
Em 1989, os pais de Gustavo levaram-no à Convenção do Rotary International
realizada em Seul, Coréia. Ele se impressionou com o fato de que tantas pessoas, e
de culturas tão diversas, compartilhassem interesses comuns. “Terminada a convenção,
estávamos passeando pelas ruas de Tóquio, quando um japonês notou o emblema
rotário que meu pai tinha na lapela,” ele recorda. “Ele nos parou e exclamou, em
inglês: ‘Você é rotariano!’ Meu pai respondeu: ‘Sim. Você também é?’ ‘Sim, eu
sou!’, respondeu o homem. Em seguida, eles apertaram as mãos e o homem nos
convidou para almoçar em seu restaurante. Sua mulher também compareceu, e durante
duas horas tratou meus pais como se fossem velhos amigos. Aquele foi o mais
conclusivo exemplo de companheirismo internacional que eu experimentei.”
Logo depois, Gustavo Giay passou a freqüentar a Faculdade de Direito da
Universidade de Buenos Aires. Assim que obteve sua graduação, ele voltou para
casa e entrou para o Rotary Club do seu pai. Gustavo mudou-se, em seguida, para
Buenos Aires, onde foi para trabalhar na área de legislação sobre propriedade
intelectual na maior firma argentina do gênero – e uma das maiores da América do
Sul – a Marval, O’Farrell & Mairal. Há pouco tempo, ele tornou-se sócio da firma.
Em 2001, Gustavo participou da fundação do Rotary Club de Costanera NorteNuevas Generaciones, clube especialmente fundado para reunir jovens profissionais.
Ele foi presidente do clube em 2002-03.
No ano passado, Gustavo viveu uma outra experiência definidora em sua carreira
de serviço. Um sócio do clube declarou existir uma “necessidade urgente” num bairro
pobre localizado nas cercanias de Buenos Aires. O clube foi analisar a questão e, nas
palavras de Gustavo, encontrou “a aldeia mais pobre que se pode imaginar.” Famílias
viviam em barracos arruinados. A água potável e a eletricidade eram escassas. O
desemprego era quase total. Uma pequena instalação, chamada Casa del Anciano
– Casa dos Idosos, em espanhol – fornecia, diariamente, um magro almoço aos
residentes mais velhos da comunidade. O cardápio compunha-se de uma sopa rala
de arroz, chamada olla popular, cozinhada num velho tambor de óleo, sobre o fogo
aberto.
“Aquilo me fez lembrar como era abençoada a minha vida,” ele diz. “Eu me senti
obrigado a ajudar. O mundo em que eu sonhava viver não comportava gente naquelas
condições. Bem sei que é impossível eliminar a injustiça, mas se eu puder ajudar
alguém, estarei ao menos em paz comigo mesmo.”
O clube de Gustavo organizou campanhas para levantamento de fundos e solicitou
um projeto de Subsídios Equivalentes à Fundação Rotária. Nesse meio tempo, os
Rotary e a Alfabetização
63
rotarianos forneciam alimentos mensalmente à comunidade, e se asseguravam de
que as refeições estavam sendo preparadas adequadamente.
Agora, Gustavo Giay está em condições de refletir, pela primeira vez, sobre o
valor de sua jornada rotária. “O Rotary me dignifica,” ele garante, “e me faz concluir
que a dignidade reside mais em servir do que em ser servido, e que a generosidade
não tem fronteiras. O Rotary também me oferece a oportunidade de trabalhar por
um mundo melhor. E, mais ainda, sei que não estou sozinho: há, no mundo inteiro,
mais de 1,2 milhão de pessoas fazendo o mesmo. O Rotary oferece aos necessitados
a oportunidade de uma vida melhor – esta é a razão porque sempre serei um rotariano.
Só espero contribuir para que muitos outros jovens sintam-se assim também.”
O autor é um escritor de
“best-sellers” e vive em Chicago.
64
Rotary e a Alfabetização
Histórias do
Rotary VI
“Eu gostava muito do que já havia conseguido
em minha vida, mas ainda faltava algo.
Quando somos jovens, não sabemos o quanto é
necessária a recompensa emocional advinda de
ajudarmos os outros, algo que reabastece a nossa alma.”
Kathleen Cattrall
Rotary e a Alfabetização
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Uma fiel defensora das crianças promete refletir a
luz do Rotary depois de sobreviver aos terríveis
acontecimentos de 11 de setembro de 2001
Alan Steinberg
Quando pensa em sua infância, a rotariana Kathleen Cattrall diz se lembrar que
os seus pais estavam sempre prontos a ajudar o próximo. Sua memória mais remota
é de sua mãe, Janis, auxiliando uma amiga mais idosa, Eva, que morava sozinha no
andar de cima do consultório onde ela trabalhava como assistente de dentista, em
Niagara Falls, no estado de Nova York, EUA. Todos os anos, o pai de Kathleen,
Ron, convidava Eva para passar o Natal com a família. “Nós enchíamos uma meia
com presentes para ela”, relembra Kathleen. “Queríamos que ela se sentisse uma
pessoa especial.”
Kathleen também se lembra da devoção de seus pais à Igreja Presbiteriana de
Riverside, onde eles semanalmente faziam uma oferenda. “Eu também levava o meu
envelope amarelo, contendo dez centavos de dólar, porque meus pais afirmavam
que a igreja ajudava as pessoas em qualquer situação,” ela diz. “Esse foi o meu
primeiro comprometimento moral – e isso aos dez anos de idade.”
No final da década de 60, era a sua consciência social que despertava. Por
ocasião da Guerra do Vietnã, os jovens ficaram conhecidos por usar calças jeans e
óculos verdes, e organizar passeatas e manifestações. Nos anos 70, ela trocou de
faculdade e casou-se, mudando para Kent, em Ohio, onde seu marido freqüentava a
Universidade Estadual. Embora Kathleen tivesse se graduado como professora em
Nova York, estava difícil conseguir um emprego, e por isso ela começou a trabalhar
como vendedora de livros, de porta em porta. Um dia, um cliente indicou-a para um
trabalho na cidade de Ravenna, bem próxima de Kent.
No dia seguinte, Kathleen foi contratada pela Escola Elementar de Ravenna
como professora-ajudante para trabalhar numa classe destinada a alunos com graves
deficiências como distrofia muscular, coluna vertebral fissurada e paralisia cerebral.
Muitas dessas crianças estavam indo à escola pela primeira vez por força de uma lei
federal que proporcionava iguais oportunidades de educação a pessoas com
deficiências. “Ensinamos-lhes muitas coisas”, ela afirma. “Aquilo era muitíssimo
gratificante, e eu guardei uma lição daquela época: quando você explica algo de
novo ou lê uma história para pessoas assim, seus olhos se iluminam. Aquelas crianças
possuíam uma inteligência ativa, embora muitas não pudessem se expressar. Aquilo
me partia o coração, e aí eu pensei: ‘Algum dia eu lhes ensinarei a se comunicar’”.
Mas como não tinha condições nem mesmo de se sustentar com o magro salário
66
Rotary e a Alfabetização
que recebia – e logo depois, em 1980, nascia Chris, seu filho – ela se engajou numa
série de ocupações que, apesar de mais lucrativas, traziam-lhe uma sensação de
vazio. “Eu gostava do que já tinha conseguido em minha vida, mas alguma coisa
estava faltando”, ela explica. “Quando somos jovens e estamos absorvidos em nosso
trabalho diário, não conseguimos avaliar a necessidade de se obter as recompensas
emocionais advindas da ajuda que prestamos a terceiros, algo que reabastece a
nossa alma.”
Em 1987, ocasião em que desenvolvia programas para uma importante empresa
de treinamento de pessoal, Kathleen dividia seu tempo entre os escritórios de
Connecticut e Nova York. Nessa época, ela já estava divorciada e educava Chris
sozinha – e numa fase em que viajava muito, por cerca de 80% da semana.
Em 1994, ela e o filho foram morar em Rochester, no estado de Nova York, e
Kathleen começou a pensar naqueles jovens incapacitados que haviam sido seus
alunos em Ohio, entre eles um menino de 12 anos, sempre tristonho, que se chamava
Willy e sofria de distrofia muscular avançada. Sabendo que ele adorava música
folclórica, Kathleen levou-o a um festival no estado de Kent.
Numa das oficinas, as crianças puderam tocar em instrumentos simples, junto
com os artistas. Willy ficou fascinado por um objeto chamado Jumping Jack –
“Jack, o pulador”, em inglês – um boneco de madeira que era, a um só tempo,
brinquedo e também instrumento de percussão. Willy era capaz de fazer o boneco
dançar ao ritmo da música, equilibrado numa ripa de madeira. “Ele tocou o instrumento
e sentiu-se arrebatado,” ela conta. “Eu nunca o tinha visto sorrir daquela forma.
Pensei que gostaria de sentir novamente a alegria que experimentei ao ajudá-lo”.
Por coincidência, ao reencontrar Gay Maney, um velho amigo dela, Kathleen foi
apresentada ao RC de Rochester, clube com 350 sócios. Em 1995, na primeira
reunião de que participou como sócia, ela finalmente encontrou o que tanto buscava.
A fala inaugural do presidente concentrou-se no Acampamento de Sunshine,
organizado pelo clube, um programa recreativo voltado a crianças portadoras de
deficiências, e que vinha sendo realizado há mais de 75 anos num campo bucólico de
157 acres – cerca de 630 mil metros quadrados. “O presidente disse: ‘Temos este
campo magnífico para as crianças deficientes e eu lhes desafio a partilhar dessa
magia. Vão ao acampamento e passem algum tempo com elas. Essas crianças
precisam de vocês’”, ela recorda. “Eu não pude esperar”.
No seu primeiro dia no acampamento, Kathleen participou das atividades
pintando camisetas e nadando com as crianças. Mas foi um momento tranqüilo que
mudou sua vida para sempre. “Eu estava sentada em uma mesa de piquenique com
uma menina de 15 anos de idade que sofria de paralisia cerebral,” ela conta. “Ríamos
e falávamos sobre Rafe Martin, seu autor preferido de livros infantis, que eu conhecia.
E percebi que ela era como uma daquelas crianças que eu ensinava em Ohio, com a
Rotary e a Alfabetização
67
diferença de que conversava fluentemente, com a ajuda de uma máquina de soletrar.
Notei que as novas gerações de crianças portadoras de deficiências podem ter acesso
a uma educação completa, como os meninos e meninas ‘normais’. Fui tocada por
aquilo: eu não havia participado daquele progresso, mas poderia fazer parte dele dali
em diante. Foi uma mudança real, uma reflexão que despertou-me novamente o
senso de urgência em ajudar os outros, e acabou tornando concreto o meu
engajamento no Rotary.”
Esse engajamento seria testado ao máximo algum tempo depois, durante a mais
angustiante experiência de toda sua vida. Em 11 de setembro de 2001, quando
trabalhava como gerente de contabilidade sênior em uma firma de consultoria e
treinamento, Kathleen fez uma de suas costumeiras viagens a Manhattan para realizar
contatos com seus clientes. Naquele dia, ela e sua colega Peg Bowers encontraramse para tomar o café da manhã no restaurante de um hotel que ficava no nível da rua,
a cerca de 20 passos da Torre Sul do World Trade Center.
Quando se levantavam para ir embora, as duas foram impactadas por uma
tremenda explosão, no momento em que o primeiro avião seqüestrado era
arremessado contra a Torre Norte. As pessoas corriam, em pânico. Algumas, feridas
gravemente, entravam assustadas no restaurante, enquanto montanhas de lixo e entulho
choviam no lado de fora. Ao tentar segurar a alça de sua pasta, Kathleen caiu da
cadeira, e foi arrastada até o chão pelo peso da valise. Naquela posição, ela podia
ver os restos humanos espalhados na calçada. “Eu disse para mim mesma: ‘Levantese e mexa-se, ou você morrerá!’”, ela recorda. Kathleen e a amiga correram para
fora do lugar, mas o motorista de um carro de entregas alertou-as: “Não saiam, ou
vocês serão atingidas pelos tijolos!”
De volta ao restaurante, Kathleen viu uma jovem garçonete gritando de medo.
Ela tentou acalmá-la, mas seu pavor era incontrolável. Peg insistiu: “Temos que sair
daqui!” Kathleen estava em lágrimas, mas não havia o que fazer: ela deixou a jovem
lá dentro e seguiu com a amiga para a porta dos fundos, alcançando em seguida o
Battery Park. Foi aí que elas ouviram o ronco de um outro avião. “Quando o vi, ele
estava voando tão baixo que parecia capaz de tocá-lo. Logo depois... bum!!! Senti
a explosão quando a aeronave se chocou contra a Torre Sul do World Trade Center.
Corremos até o lobby do hotel, onde vi uma outra jovem curvada junto ao elevador,
soluçando desesperadamente. Aquelas visões me deixaram desarvorada: não havia
nada que eu pudesse fazer, a não ser tentar proteger minha própria vida. Credito a
Peg ter me salvado. Seu instinto me ordenou: corra!”
As duas mulheres chegaram em seguida à Rua Washington, de onde é possível
avistar a Estátua da Liberdade. Hoje em dia, as lembranças de Kathleen a respeito
daqueles episódios são uma coletânea de imagens desconexas: um carro queimado,
com o motorista caído sobre uma das rodas; pedaços dos dois aviões espalhados
68
Rotary e a Alfabetização
por todo lado; um homem sacudindo o pé calçado, mas cheio de borracha queimada
e pegajosa. Num beco sem saída, quando passavam por cima de um parapeito e
corriam em direção ao Battery Park, elas viram um sem-teto relatando a partir do
seu rádio portátil o que ocorria a uma multidão de executivos com telefones celulares
que não funcionavam. “Foi como soubemos sobre os ataques ao Pentágono e sobre
o avião na Pensilvânia”, ela conta.
Uma nuvem espessa e negra de fumaça vinha na direção delas, por trás dos
prédios. Ao ouvirem o ruído de jatos militares, as duas amigas pensaram que a cidade
estivesse sob um ataque aéreo. O caos reinava por todos os lados, e então a Torre
Sul desabou. “A primeira coisa que observei foi que milhares de pombos enxameavam
à nossa volta”, conta Kathleen. “Em seguida, houve um rumor surdo e grosso, e uma
nuvem de poeira cinzenta avançava sobre nós, cobrindo a cidade em ondas mais
altas que os prédios de 50 andares que nos cercavam. Pensei: será que está tudo
desabando à nossa volta?”
Com as cinzas cobrindo todos e tudo, Kathleen pôs seu casaco sobre a cabeça
para proteger os olhos. Delicadamente, uma senhora se aproximou e pediu o casaco
de Kathleen para limpar os olhos. Aquela era uma cena surrealista. “Parecia o fim do
mundo, mas aquela mulher, ‘cheia de dedos’, pedia-me para limpar os olhos com um
casaco sujo,” diz a rotariana. Finalmente, ela e Peg conseguiram abrigar-se sob um
trailer de construção, onde estavam outras oito pessoas. Ali não havia rádio nem
TV, mas Kathleen pôde enxergar a Torre Norte desabando através de uma fenda.
As amigas conseguiram chegar ao ferry-boat de Staten Island, onde as pessoas
estavam em choque. Muitos exibiam o que Don Navor, um veterano da guerra do
Vietnã e amigo de Kathleen, descreveria mais tarde como “o olhar das mil milhas.”
De fato, quando Navor finalmente conseguiu fazer contato com ela através do celular,
aconselhou Kathleen – baseado na sua experiência obtida na guerra: “Salve-se.
Mantenha-se em movimento, e encontre água e comida”. “Ele me dizia: ‘Você está
numa zona de guerra’”, ela lembra.
Naquela noite, já na casa de Peg, situada em Princeton, New Jersey, elas fizeram
uma série de telefonemas, assistiram às notícias pela TV e tentaram relaxar com uma
boa refeição e uma garrafa de vinho. Mais tarde, sozinha no quarto de hóspedes,
Kathleen foi tomada pelo silêncio. Não havia gritos, nem sirenes, nem aviões – só as
cigarras que cantavam no lado de fora. “Aquela calma era a maior prova de que tudo
estava bem no mundo exterior”, ela diz.
Dois dias depois, quando finalmente retornou a Rochester, Kathleen se sentiu
saudada por bandeiras norte-americanas pendendo de todas as janelas de sua casa.
Outras, um pouco menores, foram estendidas sobre o calçamento. Tiras vermelhas,
brancas e azuis – as cores oficiais dos EUA – enfeitavam a cerca. No seu gramado,
havia 75 de seus companheiros de clube acenando com mais bandeiras e cantando.
Rotary e a Alfabetização
69
Então ela pensou consigo mesma: “Estas pessoas são a minha família”.
“No Rotary”, ela diz, ainda comovida com aquela lembrança, “nós sempre
pensamos em dar mais do que recebemos. Mas aquele gesto de doação me marcou
muito, me fazendo mudar para sempre. Aquelas pessoas que cantavam no meu jardim
pareciam dizer: ‘Nós amamos você, Kathleen!’ Aquilo me trouxe à lembrança algo
que aprendi na escola, quando ainda era criança: nós podemos não ser a luz, mas
temos a responsabilidade de refleti-la e fazer com que ela brilhe através da gente.
Naquele momento, eu concluí que Deus deu-me o poder, a vontade, a energia e a
paixão para refletir a luz do Rotary. E eu tenho feito isso desde então.”
O autor é um escritor de
“best-sellers” e vive em Chicago.
70
Rotary e a Alfabetização
Histórias do
Rotary VII
“Você nunca sabe o que pode acontecer
quando você se destaca - e esse destaque é
dado pelo Rotary, não é?”
Danny Brock
Rotary e a Alfabetização
71
Um jovem intercambiado do Japão prova a uma unida família de Utah, nos Estados Unidos, que um simples abraço pode causar um efeito mágico
Alan Steinberg
O Rotary entrou na vida de Danny Brock com uma oferta que ele simplesmente
não poderia recusar. Em 1988, os sócios do RC de Bountiful, em Utah, nos EUA,
aceitaram Danny – um líder escoteiro e co-proprietário de uma firma de vendas e
instalação de clarabóias, então com apenas 30 anos – para participar de um
Intercâmbio de Grupos de Estudos na Escócia. Seis semanas mais tarde, ele escreveria
um relatório apaixonado que capturava a essência do IGE: promover a boa vontade
através da exposição de jovens profissionais a diferentes culturas. O relatório levou
o governador do distrito 5420 a convidá-lo para se tornar sócio do RC de CentervilleFarmington, e a oferecer-lhe um lugar na Comissão Distrital de IGE, uma indicação
valiosa para alguém tão jovem. Sua condução à governadoria do distrito com apenas
44 anos, que não chegou a ser uma surpresa para ninguém, tornou-o um dos três
mais jovens governadores no ano rotário 2001-02. Atualmente, Danny Brock é sócio
do RC de Salt Lake City.
“Antes daquela viagem à Escócia”, ele diz, “eu pensava que o Rotary não era a
minha. Achava que estava reservado aos McDonnells e aos Douglas”. Esta referência
é um eco de sua infância em Huntington Beach, perto de Long Beach, na Califórnia,
onde seu pai construía aviões para a McDonnell-Douglas. “Meu pai era um doador
nato”, recorda. “Desde que soube que no Rotary também se doa, ele logo quis
participar.” Mas, acrescenta Danny, os clubes locais pareciam nunca ter uma vaga:
“Por isso aceitei ser um rotariano assim que fui convidado. Era uma forma de
homenagem ao meu pai”.
Mesmo sem nunca ter sido um rotariano, Charlie – o pai de Danny – acabou
desempenhando um importante papel na vida rotária do filho ao participar de uma
experiência familiar que demonstrou, segundo as palavras de Danny Brock, “o
fenomenal poder do Rotary em influir positivamente nas vidas das pessoas”.
Em 1991, Danny e sua mulher Kelly, uma enfermeira que trabalha em partos,
voluntarizaram-se para hospedar um jovem intercambiado do Japão. Havia, porém,
uma dificuldade. Charlie Brock tinha se alistado no exército norte-americano logo
depois do ataque japonês a Pearl Harbor, em dezembro de 1941, episódio que
levou os EUA à Segunda Guerra Mundial.
Dois anos depois, como membro da 81ª Divisão “Wildcat” de Infantaria do
72
Rotary e a Alfabetização
exército, ele integrou um grupo que iria em direção à ilha de Angar, no Sul do Pacífico.
A missão deles era ocupar a ilha e construir uma pista de pouso. Duzentos e cinqüenta
soldados desembarcaram no local, acreditando que a ilha estava abandonada. No
entanto, à medida que avançavam terra adentro, eles toparam com minas enterradas
nas colinas. Subitamente, uma dúzia de carros de assalto emergiu da entrada das
minas, carregados de soldados japoneses armados de metralhadoras. Sob fogo
cerrado, Charlie Brock carregou seus companheiros feridos, um de cada vez, de
volta à praia – até que ele mesmo não conseguiu resistir aos ferimentos que havia
sofrido.
Mais tarde, Charlie ficou sabendo que tinha sido um dos poucos sobreviventes
da missão. Seus atos valeram-lhe a Medalha de Bronze por Bravura, e ele também
recebeu três Corações Púrpuras pelos ferimentos que teve. Mas Charlie jamais se
curaria das feridas emocionais provocadas por aquela experiência.
“Avancemos até 1991”, diz Danny, “e me imaginem contando às pessoas mais
próximas: ‘Vamos hospedar um jovem japonês’. Meu pai avisou: ‘Ele jamais colocará
os pés em minha casa’”.
“Nunca pensei que aquele homem pudesse ser rancoroso em relação a qualquer
pessoa, por isso me surpreendi tanto”, admite Danny. Mas ele também compreendia
aquele comportamento ao recordar as muitas vezes em que seu pai acordava gritando,
atormentado pelos pesadelos da guerra. Para Charlie, os japoneses eram “o inimigo”,
e ele sempre evitou que sua família possuísse carros, artigos eletrônicos ou qualquer
outro produto fabricado no Japão.
“E lá estava eu, pedindo-lhe que desse as boas-vindas a um adolescente japonês
em sua própria casa”, conta Danny. “Eu lhe disse que aquele jovem nada tinha a ver
com a guerra, mas ele não se comovia”. No dia marcado para que o visitante chegasse,
Danny Brock fez mais uma tentativa, dizendo ao pai que se ele não mudasse sua
forma de pensar o estudante passaria todo o seu estágio em Utah sem pôr os pés na
casa dos pais da família anfitriã.
Ouvindo aquilo, Charlie disse: “Traga o jovem. Não pare no caminho, nem nas
lojas. Traga-o diretamente para cá. Quero vê-lo.”
“Fiquei perplexo”, Danny revela. Ele descreve o jovem estudante Hoyu
Shimamura como “um excelente menino” que aprendeu que os membros de uma
família norte-americana abraçam-se uns aos outros e chamam seus avós de “vovô” e
vovó.” Tanto que, quando Danny e sua mulher chegaram com Hoyu, o adolescente
imediatamente saudou os pais deles com fortes abraços e os gritos de “Vô!” e “Vó!”.
Danny e Kelly prepararam-se então para a reação de Charlie. “Meu pai disse
calmamente: ‘Tudo certo, vamos comer’”, ele recorda. “Observei meus pais
encaminhando-se para a cozinha com Hoyu entre eles. Kelly começou a chorar, e
eu quase fiz o mesmo. Sempre rezei para que meu pai um dia encontrasse paz de
Rotary e a Alfabetização
73
espírito em relação àqueles acontecimentos – e foi justamente aquele japonesinho
quem a trouxe com ele”.
“Mais tarde, perguntei ao meu pai porque ele se abrandara, e ele me respondeu
que estava cansado do ódio que havia carregado por todos aqueles anos.” Danny
recorda-se bem de sua mulher perguntando-lhe se ele compreendia “que tudo aquilo
que estava acontecendo devia-se ao Rotary”.
Hoyu esteve com os Brocks por cinco meses, e desde então Charlie não teve
mais pesadelos. “Acho que nem milhares de dólares gastos em terapia teriam operado
uma mágica como aquela”, desconfia Danny. “A chegada de um adorável jovem
japonês curou num só instante uma ferida que estava aberta havia 50 anos – e mudou
toda a vida da minha família”.
Atribuindo aquela “mágica” ao Rotary, Danny Brock e sua mulher redobraram
seu entusiasmo em relação ao Ideal de Servir. Kelly, por exemplo – atualmente sócia
do RC de Centerville-Farmington – visitou a África por três vezes para executar
projetos rotários. Ela se engajou inteiramente junto ao Hospital da Fístula, situado
em Adis Adeba, na Etiópia, e dirigido pela cirurgiã australiana Catherine Hamlin. Lá
são tratadas jovens mães – muitas delas ainda adolescentes – que têm fístula obstétrica,
um mal que ocorre quando o feto rompe um orifício no canal do nascimento, causando
muitas vezes uma incontinência urinária crônica.
A equipe da doutora Hamlin atende a mais de 1.000 mulheres todos os anos.
Quando voltou para casa, Kelly Brock começou a produzir colchas destinadas às
pacientes da doutora Hamlin. Ela também costuma falar em público sobre sua viagem
e recolhe centenas de dólares em doações para o hospital.
Desde a visita de Hoyu, os Brocks hospedaram mais dois intercambiados do
México, um da Holanda e outro do Brasil. Em 1997, Molly – a filha do casal,
atualmente com 25 anos – decidiu passar pela mesma experiência. Pertencente à
Igreja Mórmon e aluna da Escola Secundária de Bountiful, ela cursou a última classe
do nível secundário numa instituição educacional católica de Mazatlan, no México.
No ano passado, Joe – o filho mais jovem dos Brocks, com 17 anos – passou duas
semanas reconstruindo toaletes e instalando cercas na Escola para Surdos de Ngala,
no Quênia, como parte do Juventude Linc, um programa de serviços voluntários
voltado aos adolescentes e patrocinado pelos clubes rotários de Utah. “A viagem
proporcionada pelo Rotary serviu-lhes muito”, diz Danny. “As lições que eles
aprenderam sobre a vida e sobre si mesmos permanecerão para sempre. Isso jamais
teria acontecido se não tivéssemos hospedado todos aqueles intercambiados durante
tantos anos”, declara. “Meus filhos acham perfeitamente normal receber estrangeiros
de todos os lugares do mundo em nossa casa”.
Treze anos depois, ao refletir sobre o impacto causado pela visita de Hoyu,
Danny afirma: “O Rotary fala sobre Dar de Si Antes de Pensar em Si. Mas o serviço
74
Rotary e a Alfabetização
prestado por Hoyu aconteceu sem que ele mesmo percebesse. Aprendi naquele dia
uma lição preciosa: você nunca sabe o que pode acontecer ao se destacar. E é isso
que o Rotary faz, não é? Compareça às reuniões, participe dos projetos, preste
serviços, ajude alguém. O mundo sempre melhora todas as vezes em que os rotarianos
deixam a sua marca. Depois que o meu pai abraçou Hoyu naquele dia, eu disse a
Kelly: ‘Quer saber? Eu sempre serei um rotariano. Servirei sempre. Doarei sempre’”.
O autor é um escritor de
“best-sellers” e vive em Chicago.
Rotary e a Alfabetização
75
Histórias do
Rotary VIII
“Quando vi a alegria e a gratidão nos olhos
daquelas crianças sul-africanas, soube que
era uma rotariana de coração.”
Lourdes Perez
Rotary e a Alfabetização
77
Seu clube não terá dificuldades para retê-la
como sócia, pois ela herdou do pai a
vocação para ajudar aos outros
Alan Steinberg
Lourdes Perez, de 34 anos, sócia do RC de Davie-Cooper City, na Flórida,
EUA, reconhece que sofreu uma grande influência de seu pai, Jorgé. Quando ele
perdeu o emprego de administrador de almoxarifado, função que exerceu ao longo
de 25 anos, começou a organizar excursões à Europa para pessoas que, como ele,
se interessavam por espiritualidade. “Papai era muito espiritualista, e eu também sou.
Embora nada soubesse sobre o Rotary ou qualquer outra organização de serviços,
ele se dedicava a ajudar aos outros em suas crises espirituais”, ela conta.
Mas Jorgé não ajudava as pessoas apenas nas questões ligadas ao espírito. Em
certa ocasião, Lourdes relembra, ele amparou um amigo da família que havia contraído
Aids – e isso numa época em que a doença representava um grande tabu social:
“Meu pai me ensinou uma lição importante: se você tentar, pode fazer a diferença na
vida de alguém. Eu tento seguir seu conselho o tempo todo, porque desejo adquirir
aquela força especial que ele tinha em fazer as pessoas se sentirem tão bem.”
Mas a vida de Lourdes Perez nem sempre foi assim. Depois de se graduar em
Administração de Recursos Humanos, ela passou a se dedicar a um regime de trabalho
de 12 horas por dia como gerente regional de uma empresa de locação de mão-deobra temporária. Sua função permitia que as pessoas se mantivessem empregadas,
mesmo em épocas difíceis, o que a deixou satisfeita com esse trabalho durante muito
tempo.
Em 1998, a morte de Jorgé deixou Lourdes profundamente abalada. Ao perceber
que havia herdado sua capacidade de interagir espiritualmente com outras pessoas,
ela passou a querer desfrutar mais e mais aquela característica na sua vida diária. Foi
quando começou a se sentir confusa com o fato de que sua atividade profissional não
produzia efeitos duradouros nas vidas das pessoas, embora pudesse ajudá-las no
curto prazo. “Elas saíam de casa todos os dias para realizar algum trabalho – montar
escovas de dentes, por exemplo – mas, quando aquele projeto estava terminado,
elas eram geralmente dispensadas”, conta. “A minha intenção original era
proporcionar-lhes um treinamento individual, que lhes possibilitasse desenvolver suas
aptidões pessoais e profissionais, de forma a torná-las auto-suficientes para o mercado
de trabalho. Mas nunca tive tempo para isso, pois minha função limitava-se a encontrar
empregadores para aquelas pessoas – e não necessariamente treiná-las para um
emprego.”
78
Rotary e a Alfabetização
Foi então que Lourdes Perez tomou a decisão de se envolver mais com o dia-adia da comunidade, passando a freqüentar as reuniões da Câmara de Comércio da
província de Davie-Cooper – atualmente, ela é a presidente-eleita do conselho diretor
da entidade. Um rotariano que ela conhecia falou-lhe certa vez sobre o IGE –
Intercâmbio de Grupos de Estudos, programa da Fundação Rotária voltado ao
desenvolvimento das relações internacionais e profissionais de pessoas com idades
entre 25 e 40 anos. Meses depois, Lourdes ficou sabendo que haveria um IGE para
a África do Sul, e resolveu se candidatar. Em julho de 2001, ela foi convidada para
se juntar às outras três pessoas que integrariam o grupo.
Foi na África do Sul, onde visitou 22 diferentes cidades, que Lourdes teve suas
primeiras impressões sobre o Rotary. O momento mais comovente da viagem, ela
lembra, foi quando o grupo visitou uma escola na província de KwaZulu-Natal. A
choupana em ruínas era capaz de acomodar apenas 20 alunos, obrigando as outras
380 crianças matriculadas a estudar sob os galhos de um grande espinheiro. Quando
a equipe de IGE entrou na pequena sala de aula, os estudantes – muito animados
com sua presença – começaram a dançar e mostrar seus deveres de casa. “Fiquei
surpresa! Nós fomos lá apenas para fazer uma visita, e não levamos muita coisa. Eu
tinha alguns lápis na bolsa, mas nós ainda não conhecíamos as necessidades do
projeto”, ela diz. Naquela mesma época, havia uma campanha apoiada pelo Rotary
voltada à arrecadação de US$ 50 mil para a construção de uma nova escola. “Quando
vi a alegria e a gratidão nos olhos daquelas crianças, soube que era uma rotariana de
coração.”
Ao voltar para casa, Lourdes já havia sido definitivamente conquistada pelo
Ideal de Servir. “Enviei um e-mail ao ex-presidente do RC de Davie-Cooper City e
perguntei-lhe o que eu deveria fazer para me tornar uma rotariana”, relembra. Numa
reunião do clube, ela fez um relato da viagem aos sócios, e contou como sua vida
havia mudado com aquela experiência. “Após a morte do meu pai e a minha viagem
à África”, ela revela hoje em dia, “senti que os meus objetivos profissionais já não
tinham a mesma importância para mim, e vi que o Rotary era perfeito para preencher
aquela lacuna.”
Três meses mais tarde, Lourdes Perez tornou-se uma rotariana. Ela era então a
mais jovem sócia do clube, com 31 anos. Atenta às reuniões, observou que o RC
priorizava seus esforços nos trabalhos junto à comunidade local, apesar dos projetos
internacionais que já havia realizado no passado: “Mas eu queria ajudar a África do
Sul! Desejava que o nosso clube, através de um projeto de Subsídios Equivalentes
da Fundação Rotária, apoiasse um ambulatório que havíamos visitado em KwaZuluNatal, chamado Centro de Atendimento de Twilanga.”
Lourdes conta que ficou assustada com os rigorosos procedimentos que são
necessários à obtenção dos recursos: “Quando se é novo na organização, o processo
Rotary e a Alfabetização
79
pode ser desanimador.” Foi então que ela decidiu que a melhor forma de enfrentar
aquele ritual seria aprender o máximo possível sobre o Rotary, a começar por seu
próprio clube. Com o objetivo de identificar todos os seus companheiros pelo nome,
ela passou a recepcioná-los nas reuniões. Em seguida, começou a comparecer às
conferências e reuniões distritais: “Descobri quem fazia o quê nos clubes e distritos,
e aprendi muito sobre a Fundação Rotária nesses encontros. Nunca mais me senti
como uma iniciante.”
Lourdes também passou a freqüentar as reuniões do conselho diretor do clube
e em quatro meses acabou sendo indicada para participar do conselho no ano seguinte.
Assim que passou a dominar a dinâmica do clube, ela estava à vontade para apresentar
seus próprios projetos, e o primeiro deles foi justamente o do Centro de Atendimento
de Twilanga. “Tudo lá estava em decadência. Não havia colchões e os leitos eram
cobertos com panos velhos. Eles necessitavam de equipamentos básicos com muita
urgência”, explica.
Oferecendo-se como voluntária para liderar o projeto, preencher os formulários
e fazer os contatos necessários, desde que fossem liberados US$ 1,5 mil para um
projeto de Subsídio Equivalente, ela conseguiu sensibilizar a todos no clube. Resultado:
foram viabilizados recursos para a compra de 85 colchões, além de aparelhos
modernos para medir a pressão arterial e outros equipamentos essenciais. “Nunca
me senti tão gratificada!”, diz.
Ela se recorda muito bem do dia em que Gerald Sieberhagen, ex-presidente do
RC de Umhlanga, o parceiro sul-africano do seu clube no projeto, ligou para o
escritório dela. Gerald tinha sido um dos anfitriões da equipe do IGE na visita à
África do Sul. Lourdes conta: “Eles tinham recebido um cheque de US$ 3 mil e iriam
entregá-lo ao ambulatório. Gerald falou: ‘Queremos dizer-lhe uma coisa...’ E então
eles estavam cantando para mim: ‘Porque ela é uma boa companheira!...’ Comecei
a chorar... O pessoal do escritório tentava adivinhar o que estava acontecendo. Aquilo
aguçou ainda mais o meu apetite pelo Servir”.
Uma das conseqüências de tudo isso: Lourdes acabou trocando de emprego.
Atualmente, é recrutadora e instrutora no Centro Técnico McFatter, uma escola
profissionalizante para adultos em Broward County. Ela também desenvolveu um
programa para habilitar os sem-teto a um reemprego, por meio de cursos de
computação básica e matemática, e treinamento para entrevistas e apresentação de
currículos. “Este não é um projeto rotário”, ela explica, “mas está diretamente
relacionado à minha ‘descoberta’ do Rotary, pois se destina a ajudar as pessoas.
Não estamos tratando somente de portadores de deficiências ou alcoólatras. Em
muitos casos, lidamos com pessoas instruídas que, devido a uma decisão errada,
acabaram por ter que viver na rua. Sinto-me muito recompensada por estar
desenvolvendo este trabalho”.
80
Rotary e a Alfabetização
Lourdes acredita que ajudar as pessoas é muito mais recompensador do que
ganhar dinheiro ao longo de uma carreira profissional: “Sinto-me ainda mais feliz
como rotariana porque, assim como Deus, o Rotary transformou a minha vida. Quando
agimos em favor de alguém mais necessitado, o sentimento é o mais satisfatório
possível. E tudo isto me faz lembrar de meu pai. Até essa emoção profunda eu devo
ao Rotary.”
No entanto, ela se sente frustrada pelo fato de que nossa quase centenária
organização e seus feitos sejam tão pouco conhecidos pelas pessoas: “Alguns talvez
tenham sabido das grandes campanhas, como a Polio Plus, mas o Rotary não costuma
divulgar muito as suas realizações. Não fazemos autopromoção. Somos grandes,
mas muito calados... Deveríamos ser menos tímidos e comunicarmos o que fazemos.
Gente como eu, então, que jamais havia ouvido falar do Rotary, poderia juntar-se a
nós, ajudando-nos a mudar mais vidas – inclusive as nossas próprias.”
O autor é um escritor de
“best-sellers” e vive em Chicago.
Rotary e a Alfabetização
81
Histórias do
Rotary IX
“Não basta apenas ajudar as pessoas; você
deve desenvolver laços de amizade com
elas. Isto é muito gratificante.
Se não conseguir desfrutar deste sentimento
é porque você, certamente, ainda não
absorveu inteiramente o ideal rotário de
‘Olhar além de si mesmo’”.
Rick Leaman
Rotary e a Alfabetização
83
O serviço internacional revela a um rotariano
a alegria em ajudar as crianças necessitadas e
reforça o seu desejo em se tornar um pai adotivo.
Alan Steinberg
Em fevereiro de 2001, depois de um exaustivo vôo de 30 horas, desde sua
casa, em Atlanta, até a cidade Ho Chi Min, no Vietnã, o rotariano Rick Leaman mal
teve tempo de se barbear antes de se dirigir a um orfanato para ter nos braços, pela
primeira vez, sua filha de três meses, Elizabeth. “Mesmo não a tendo visto
anteriormente, senti imediatamente que nos ligávamos intensamente, tão logo a
segurei,”diz Rick, hoje.
“Nunca tinha visto uma criança vietnamita e quando a segurei eu vi que era um
bebê que precisava de um pai.” Em 22 de março, quando ele e sua mulher, Maribeth,
retornaram ao Vietnã para completar o processo de adoção, Rick sabia que ele era
aquele pai, e sua vida, desde então, mudou.
“O serviço internacional prestado através do Rotary mostrou-me que somos
todos parte de um único e grande mundo,” conta Rick Leaman, 49 anos de idade.
“Podemos fazer muito mais coisas além das nossas fronteiras, e o Rotary é o meio
mais efetivo para isso. Um dos objetivos que fixo, em minhas viagens internacionais
pelos projetos do Rotary, é desfazer o mito de que os americanos são malvados.
Trabalhamos com tanto afinco nestes projetos que se destinam a melhorar a vida das
pessoas, que não há como não desenvolver um forte vínculo com elas. É um sentimento
maravilhoso. Quem não nutrir essa sensação estará deixando de ‘Olhar Além de Si
Mesmo,’ que é o ideal do Rotary. Trata-se de uma aventura fascinante.”
A trajetória de Rick Leaman começou quando ele ainda tinha 20 anos de idade,
na Universidade de Indiana, ocasião em que dava aulas para crianças desfavorecidas,
como parte de sua missão comunitária. Embora isto tenha ocorrido há quase três
décadas, Rick ainda se recorda que aqueles jovens necessitavam ter contato com
adultos que pudessem agir como modelo e mentores. Ele não sabia, naquela época,
que se tornaria um desses adultos. Mas seis anos depois, concluída a faculdade,
quando trabalhava para um banco da sua cidade natal, em Milwaukee, Wisconsin,
EUA, decidiu dedicar seu tempo livre para ajudar os estudantes de uma escola
secundária. “Crianças na escola ainda são moldáveis,” afirma ele. “É quando temos
uma oportunidade real de fazer a diferença.”
Rick iniciou o levantamento de fundos para os Clubes de Meninos e Meninas da
América e a ajudar os estudantes a organizar projetos viáveis, comerciais, depois
84
Rotary e a Alfabetização
das aulas, como parte do programa Empreendimentos dos Jovens. Nos anos 80, ele
iniciou um compromisso de 20 anos, para ensinar economia, uma vez por semana,
em algumas escolas urbanas e suburbanas, depois se transferir para a região de
Atlanta, em escolas secundárias de Washington, onde os negros predominavam. “O
que mais me chamou a atenção foi que os problemas daquelas crianças eram bem
diferentes dos da maioria de outras crianças suburbanas: gravidez, prevalência de
drogas e de gangues, um grande número de lares desfeitos, e a forma como toda
aquela problemática atuava na capacidade de aprendizado. Pensei que, se pudesse
influenciar ao menos um daqueles estudantes, meu trabalho já teria valido a pena.”
Sua dedicação foi logo recompensada quando, anos depois, um ex-estudante
secundário de Washington, que se formara em marketing, contatou-o para dizer o
quanto era agradecido a ele. Rick Leaman era sócio do RC de Milwaukee-Sunrise
quando começou seu trabalho voluntário com estudantes secundários. Seu
envolvimento com o Rotary, reconhece, limitava-se em comparecer às reuniões e
pagar suas obrigações financeiras rotárias. “Aquilo ainda não havia afetado a minha
vida,” diz ele. “A missão do Rotary não me havia sido explicada, ou eu ainda não
havia dedicado meu tempo para compreendê-la.”
Em 1995, Rick mudou-se para o subúrbio de Alpharetta, em Atlanta, para
trabalhar para a Pro Media, uma empresa baseada em Milwaukee, vendendo
produtos promocionais: chapéus, material para golfe, copos para café. Dois anos
mais tarde, ele entrou para o RC de Alpharetta-North Fulton County, com o objetivo
principal de conhecer as pessoas de sua nova comunidade.
Foi em 1998, quando o furacão Mitch devastou Honduras, que os sócios do
clube resolveram ajudar as vítimas, fornecendo suprimento médico obtido através
da organização Map International, especializada no auxílio a vítimas de tragédias.
Dias antes da partida da equipe de Alpharetta, um dos sócios ficou doente e
Rick voluntarizou-se para substituí-lo.
Em Honduras, ele ajudou a entregar remédios a hospitais e clínicas, tomando
conhecimento da mais abjeta e generalizada pobreza. “Aquilo abriu-me os olhos,”
ele se recorda. “Ninguém está preparado para tal devastação. Casas destroçadas
tinham sido transformadas em montanhas de lama, diversos povoados haviam
desaparecido do mapa.”
Rick e os outros companheiros ajudaram os outros voluntários a reconstruir um
povoado sobre um terreno mais alto. Os habitantes fizeram blocos de cimento num
forno, protegido por um muro.
“Eles transportaram os blocos manualmente, até o topo do morro – uma trilha
de cerca de 100m – para lançar as novas fundações,” conta ele. “O acordo tácito é
que se você fosse até o cume, tivesse seis ou 96 anos, tinha que transportar, no
Rotary e a Alfabetização
85
mínimo, um bloco de cimento ou um saco de argamassa. Aquele que não carregasse
nada caía no ostracismo. Levei dois blocos.” Rick conta que os voluntários
“emocionavam-se ao ver criancinhas e velhas avós carregarem aqueles pesados blocos
nas costas, cada um trabalhando duro para reconstruir o que tinham perdido.” Ele
pensou naqueles jovens norte-americanos e sua tendência em achar que a vida era
fácil, e se comprometeu a relatar sua experiência às suas turmas de jovens, quando
retornasse à Geórgia.
Logo depois daquela viagem, já como diretor de serviços internacionais no seu
clube, Rick ofereceu-se para missões voluntárias até cidades remotas, nas florestas
da Costa Rica. Em sua primeira viagem à região de Boca Tapada, próxima à fronteira
com a Nicarágua, ele fez-se acompanhar de três outros rotarianos do clube de
Alpharetta, e os quatro consertaram e pintaram uma pequena escola feita com blocos
de concretos de cinzas, e acrescentaram um refeitório. Os estudantes, que iam a pé
ou a cavalo, percorrendo a árida estrada que levava à escola da rede estatal, “ficaram
fascinados”, recorda-se ele, “embora tímidos, no começo”.
A situação mudou quando vários pais ofereceram-se para ajudar os rotarianos a
reconstruir as carteiras e cadeiras, danificadas pela umidade. “Fornecemos novos
compensados e compramos ferramentas elétricas,” conta Rick, “para depois descobrir
que não havia energia. Usamos, então, serras manuais para, literalmente, entalhar
novos encostos e assentos. Aquilo reforçou ainda mais a minha lembrança de que os
americanos ignoram quanta facilidade lhes é proporcionada.”
Os voluntários também ofereceram aos estudantes novos livros, roupas,
brinquedos e bolas de futebol. “O olhar excitado em seus rostos e a gratidão de seus
pais não têm preço,” afirma ele.
Nos dois anos seguintes, os rotarianos retornaram para ajudar outros povoados
na região, e eram recebidos de forma cada vez mais entusiasmada. “As crianças
ficavam extremamente felizes e agradecidas com a nossa ação,” conta Rick.
“Eu não tinha filhos, por isso desejava recolhê-los, todos, e levá-los para casa
comigo. Durante três anos, jamais saí da Costa Rica sem lágrimas nos olhos, por
saber que tínhamos feito a diferença. E hoje eu reconheço que aquelas visitas
influenciaram a minha decisão de adotar uma criança.”
Rick conta que as experiências da Costa Rica mostraram-lhe como aproveitar
ao máximo a sua condição de rotariano. “Aquilo aumentou o meu senso de
humanidade,” explica ele com orgulho. “Isso me fez concluir que existem mais pessoas
desafortunadas no exterior do que podemos ajudar nas nossas comunidades
suburbanas mais ricas, e que o Rotary tem o poder de mudar vidas em todos os
lugares, porque possui um enorme potencial de fazer as coisas acontecerem.”
Nos dois últimos anos, Rick participou de missões médicas no Panamá. Numa
86
Rotary e a Alfabetização
visita que fez em maio de 2003, ele e sete outros voluntários do clube, incluindo um
dentista e um médico, trabalharam em colaboração com quatro clubes panamenhos
para organizar uma feira na qual 10 mil pessoas foram examinadas e tratadas, num só
dia. A função de Rick era abastecer as salas de exames, dirigir o tráfego e, a exemplo
de outros voluntários, ajudar no que fosse necessário – ele se lembra que um dos
voluntários, um contador, ajudou um dentista a extrair dentes.
Em novembro de 2003, seu clube trabalhou com o RC do Panamá-Nordeste na
organização de uma feira de saúde similar, que tinha como alvo diversas gerações de
famílias, muitas das quais não acreditavam em programas governamentais de saúde,
mas não tinham recursos para pagar pela assistência médica privada.
“Foi somente através do Rotary que aqueles habitantes puderam conseguir os
cuidados médicos de que tanto necessitavam,” diz Rick. “Isto se tornou possível
porque o Rotary não é uma organização política, e é composto só de pessoas que
prestam ajuda, onde identificarem uma necessidade. É motivo de um imenso orgulho
chegar a uma situação em que conseguimos servir e conquistar a confiança do povo,
ajudando-o a resolver suas necessidades imediatas. Isto, para mim, é a essência do
Rotary: é uma mão que ajuda, um ser humano ajudando outro, incondicionalmente.”
Ao refletir sobre a influência cada vez mais profunda do Rotary em sua vida,
Rick Leaman pensa em sua filha adotada, Lizzie, agora com três anos e meio de
idade. “Lembro-me quando visitamos o orfanato vietnamita pela primeira vez, antes
mesmo de saber que ela existia. O diretor conduziu-nos por diversos pátios, repletos
de crianças. O local era limpo e as crianças estavam bem tratadas, mas era triste ver
que existiam tantas. Era de rachar o coração; Maribeth e eu queríamos levá-las
todas para casa – exatamente o mesmo impulso que tive nas minhas visitas rotárias à
Costa Rica”.
“É estranho,” reconhece Rick, “mas desde que Lizzie representou o fim de um
arco de ajuda a crianças, em diversos projetos voluntários penso que sua adoção é
o ápice do ideal dos serviços rotários e do meu mais profundo desejo de salvar
crianças. Quem sabe, Lizzie talvez seja o mais importante serviço internacional da
minha vida!”
O autor é um escritor de
“best-sellers” e vive em Chicago.
Rotary e a Alfabetização
87
Histórias do
Rotary X
“Nada me motivou tanto na vida como a
prestação de serviços. Por isso decidi me
tornar uma rotariana: eu queria pertencer à
maior organização de serviços do mundo”.
Heather Yarker
Rotary e a Alfabetização
89
Estes rotarianos da Austrália agora se dedicam em
tempo integral à ajuda humanitária, enquanto
rodam pelo mundo para satisfazer seus ideais rotários.
Alan Steinberg
Eles geralmente completam as frases um do outro, dizendo sempre nós em vez
de eu. Na realidade, Ian e Heather Yarker compartilham quase tudo, especialmente
sua paixão pelo serviço rotário. Mas eles não se limitam aos projetos do RC de
Ashmore Gold Coast, Austrália (D. 9640), do qual são sócios, ou às atividades
desenvolvidas por seu distrito. Atualmente é o serviço internacional que ocupa a
maior parte do tempo dos Yarker. Quando não estão ajudando a construir casas em
Fiji ou um centro para portadores de deficiência nas Ilhas Salomão, eles estão
ocupados providenciando cirurgias na Etiópia, montando tendas para tratamento de
olhos na Índia, sistemas de irrigação na Tailândia ou um orfanato na Indonésia.
“Nada me motivou tanto na vida como a prestação de serviços”, diz Heather.
“Por isso decidi me tornar uma rotariana: eu queria pertencer à maior organização de
serviços do mundo. Antes de 1989, eu não podia ingressar no Rotary, mas garantia
ao Ian: ‘Um dia ainda serei uma rotariana, você vai ver!’”
“Hoje em dia estamos sempre trabalhando juntos em serviços voluntários”,
acrescenta Ian. “Acho que isso se deve ao fato de termos vindo de famílias que não
tinham nada, mas que acreditavam no serviço comunitário. Ou ainda porque
partilhamos da crença do EPRI Clem Renouf a respeito de nossa organização: ‘O
Rotary proporciona a pessoas normais a oportunidade extraordinária de fazer das
suas vidas mais do que poderiam sonhar’. É justamente isso o que nos acontece
diariamente”.
Ian e Heather dizem que se apaixonaram logo no primeiro encontro. Casados
desde 1966, eles tiveram três filhos. Ian tornou-se rotariano em 1975; Heather, em
1990 – “Para ajudar no que fosse necessário”, dizem. Desde o início, os dois
procuraram se envolver em projetos internacionais inovadores. Ian comenta que
alguns rotarianos têm dificuldade em atuar fora de seus locais de origem: “Eles não
viajam, seja por não possuírem recursos ou por terem outras obrigações. Ou ainda
por temerem o desconhecido. Heather e eu estamos sempre prontos para ir a qualquer
lugar”.
Ian Yarker largou a carreira de avaliador de propriedades rurais e Heather desistiu
de ser professora para abrirem uma estufa de plantas. Isso lhes proporcionava maior
flexibilidade de tempo. Quando necessário, eles deixavam os filhos à frente do negócio
90
Rotary e a Alfabetização
para que pudessem viajar como emissários da palavra de esperança do Rotary.
Mas esse engajamento teve um preço. “Não temos mais tempo para nossas
vidas pessoais”, admite Heather. “Estamos deixando de curtir nossos amigos, filhos
e netos. Algumas pessoas acham que temos dinheiro, o que não é verdade. Nós
gastamos grande parte dele fazendo a diferença para os outros”. Ian acrescenta,
sutilmente: “Algumas pessoas gastam seu dinheiro com outras coisas, como cigarro,
bebida ou ingressos para o futebol. Nós temos um outro hobby, um verdadeiro vício,
que nós chamamos de ‘nossa mania rotária.’ Esse hobby transformou nossas vidas!”,
brinca.
Essa metamorfose ainda era imperceptível em janeiro de 1995, época em que
Ian era o governador do distrito 9640. Em sua primeira viagem internacional, ele e a
mulher lideraram um grupo que tinha mais sete voluntários. Arcando com as despesas
da viagem, eles trabalharam num projeto na Ilha Karkar, próxima a Papua-Nova
Guiné. O objetivo do grupo era reunir rotarianos e outros voluntários na finalização
de um dormitório com 80 leitos para meninas, localizado na única escola secundária
da ilha. Quando propôs o projeto, Ian queria que seu distrito participasse até o final
– e ele realmente acreditava que aquilo seria possível.
Quando os integrantes da equipe chegaram ao aeroporto de Karkar, eles foram
saudados pelos habitantes, que ofereceram frutas como presentes de boas-vindas.
No campo de esportes da escola, o grupo foi recebido por centenas de estudantes,
que aplaudiam e cantavam em sua homenagem. “Aquele foi um gesto de amizade e
agradecimento que fez com que nos sentíssemos seguros, como se estivéssemos em
casa”, recorda Heather.
A construção do dormitório levou duas semanas. A escola e o Ministério da
Educação de Papua-Nova Guiné forneceram os recursos e o material. Os rotarianos
entraram na empreitada com seus músculos e sua força de vontade. Heather liderou
a equipe, composta por seis homens e três mulheres, entre elas a filha mais velha do
casal, Peta, então com 23 anos – ela era a mais jovem do grupo.
Todos colaboraram sob a orientação do único profissional em construções do
grupo. No começo, os homens do vilarejo surpreenderam-se ao ver mulheres
trabalhando com homens, ombro a ombro. Diariamente, mais e mais homens vinham
constatar, com incredulidade, aquelas três estranhas “Marys” – como eles chamavam
as mulheres – instalando telas contra insetos, carregando pranchas e martelando
pregos. Dias depois, alguns dos curiosos já estavam colaborando. Rapidamente,
aceitação e confiança tornaram-se tão preciosas na construção do dormitório quanto
argamassa e pregos.
De acordo com Ian, a experiência da Ilha Karkar afetou profundamente a vida
de Peta: “Ela não passava de uma garota tímida, que era capaz e esperta, mas
inexperiente fora da fazenda onde foi criada. Trabalhar ao lado dos moradores da
Rotary e a Alfabetização
91
ilha fez com que ela aprendesse a respeitar outras culturas”.
Karkar também mudou Heather e Ian. A principal razão foi uma visita que eles
fizeram ao Hospital Gaubin, instalado no meio da floresta. Com 200 leitos, ele tinha
apenas um médico e uma parteira à disposição dos pacientes. O único aparelho de
raio X era anterior à Segunda Guerra Mundial. Os banheiros estavam sujos e o
esgoto era despejado in natura do lado de fora do prédio. “Só havia uns poucos
colchões em condições de uso, e os pacientes dormiam sobre pedaços de papelão
ou roupas estendidas no chão. E não havia mosquiteiros”, relembra Ian. Por isso, a
malária era o maior problema do hospital: metade dos pacientes havia sido contaminada
pela doença. Heather conta: “O hospital estava localizado junto a um pântano infestado
de mosquitos. As pessoas estavam tão acostumadas com aquilo que chegavam a ter
filhos para que alguém pudesse cuidar delas quando envelhecessem. Naquela época,
o orçamento anual de Papua-Nova Guiné para a saúde era de US$ 4 per capita. Eu
pensei: ‘Eles são felizes com nada, mas precisam de ajuda’”.
De volta à Austrália, os Yarkers submeteram um projeto à Fundação Rotária,
que foi aprovado. Meses depois, assim que receberam treinamento da OMS –
Organização Mundial da Saúde – e de outros colaboradores, Ian e Heather
retornaram a Gaubin, dessa vez para uma viagem de um mês. Trabalhando em parceria
com o pessoal do hospital e líderes locais, eles realizaram testes de malária nos
habitantes e ensinaram métodos de prevenção, principalmente o uso de mosquiteiros
nas camas e leitos. Contando com a ajuda do chefe da aldeia, eles transmitiram
diversas informações sobre a doença aos moradores. “Caminhando desde o nosso
escritório – a única mesa da redondeza, colocada sob uma mangueira, na beira da
praia – podíamos ver os cartazes informativos que distribuíamos afixados nas paredes
das cabanas. Concluímos então que eles estavam levando a sério nossa lição”, diz
Ian.
Cerca de 29% dos habitantes já estavam infectados pelo que Heather chamava
de “a malária má” – Plasmodium falciparum, ou malária cerebral, que pode ser
fatal. Os outros sofriam da malária normal (Plasmodium vivax) e aceitaram com
alegria os medicamentos enviados pelo distrito 9640.
Os Yarker explicaram aos habitantes sobre os mosquiteiros e como mergulhálos num inseticida próprio para o combate ao mosquito transmissor da doença. Embora
muitos deles tivessem recebido os mosquiteiros da OMS e do Ministério da Saúde
de Papua-Nova Guiné, eles ignoravam a proteção ou usavam os mosquiteiros como
redes para pescar. O motivo: os habitantes só aceitavam usar as redes que acreditavam
ter conquistado por mérito. Por exemplo: alguém que colhesse dois sacos de coco,
suficientes para comprar uma rede, sentia-se no direito de usá-la. Depois que Ian e
Heather facilitaram esse processo de trocas em toda ilha, o uso dos mosquiteiros
tornou-se quase que um hábito.
92
Rotary e a Alfabetização
O casal prosseguiu na luta para combater a malária. Em 1997, eles ajudaram a
levantar 800 mil dólares australianos, doados pelo governo da Austrália ao RC de
Port Moresby, do distrito 9600, em Papua-Nova Guiné, e ao Ministério da Saúde
daquele país. O dinheiro foi utilizado em programas de educação sobre a malária e
na compra de 400 mil mosquiteiros. Uma doação de mais 400 mil dólares australianos
é aguardada para este ano. O RC de Port Moresby está conduzindo o projeto
Adote uma Aldeia, promovido pela TV, rádio e jornais com o slogan “Chegou a hora
de cuidar dos seus mosquiteiros!”
O Hospital Gaubin passou a integrar a agenda de Serviços à Comunidade Mundial
do distrito 9640, apoiada pela família Yarker através da arrecadação de recursos,
financiamento e a distribuição de equipamento e de suprimentos. Ao longo de sua
vida rotária, Heather e Ian levaram sete outras equipes de voluntários a Papua-Nova
Guiné, Ilhas Salomão, Fiji, Tailândia e Indonésia.
“Fomos marcados profundamente por nossa primeira experiência em PapuaNova Guiné. As pessoas de lá eram maravilhosas. Como abandoná-las?”, diz Heather.
“Aprendemos que duas pessoas podem fazer a diferença, e que não podemos basear
nossa filosofia de serviço em ‘sermos bonzinhos’. Devemos nos esforçar para
compreender a cultura e os valores das pessoas que estamos ajudando, e não tentar
interferir nisso”.
Os habitantes estranhavam o fato de os rotarianos não pedirem nada em troca
por seus esforços. “No passado, as pessoas de fora levavam vantagens,
contrabandeando a fauna ou a madeira do lugar sem oferecer nada em troca”, explica
Heather. “Isso não acontecia com o Rotary. Não pedíamos nada, nem mesmo
reconhecimento. Por isso eles nos respeitaram – e essa é uma outra lição de como
servir corretamente no exterior”.
Ian completa: “Costumam dizer que nossa maneira de viver é determinada pelo
que ganhamos, mas que nossa vida é definida pelo que conseguimos dar. É isso o
que o Rotary proporciona: o poder de nos entregarmos por inteiro, dando um objetivo
à nossa vida. Não existe nenhuma outra grande organização, pelo menos que eu
conheça, capaz de permitir essa auto-expressão tão eficaz em benefício dos outros
ou que se dedique a tantas ações, que vão da alfabetização ao combate à pólio, ao
auxílio a pessoas de todas as idades e estudantes, ou a criações como os bolsistas
pela paz mundial. O Rotary é de fato um paradigma na luta para melhorarmos o
mundo”.
O autor é um escritor de
“best-sellers” e vive em Chicago.
Rotary e a Alfabetização
93
A comprovada eficiência
do Lighthouse
Sucesso em outros países, método tem custos baixos
e se baseia no desenvolvimento de valores como
o respeito ao próximo e ao meio ambiente
Hipólito Ferreira
Uma história conta que, durante o vôo de uma nave espacial norte-americana, a
ausência de gravidade levou ao mau funcionamento das canetas esferográficas dos
tripulantes. Quando a nave retornou à Terra, a Nasa solicitou a dois cientistas de
diferentes nacionalidades que buscassem a solução.
Ao final de um ano, depois de gastar milhões de dólares na produção de um
trabalho científico, o primeiro deles explicou todas as causas do mau funcionamento
da caneta esferográfica em centenas de páginas. O segundo cientista simplesmente
concluiu que, após algumas pesquisas, a melhor solução seria substituir a caneta
esferográfica por algo que funcionaria bem em qualquer gravidade, e em seguida
tirou do bolso a solução: um lápis.
Esta história nos mostra que o primeiro cientista estava focado no problema, e o
segundo, na solução. Nosso programa de combate à paralisia infantil somente foi
bem-sucedido porque todo o esforço estava focado na solução. A Polio Plus foi,
sem dúvida, nossa campanha mais inteligente porque em nenhum instante o nosso
dinheiro foi investido na pesquisa dos motivos pelos quais o mundo viveu o pesadelo
da paralisia infantil por mais de 3.000 anos. Quando motivos religiosos criavam
obstáculos para a imunização em algumas regiões do mundo, construíam-se pontes
de entendimento. Se uma guerra civil assolava um país, o Rotary carregava na mão
direita a bandeira branca da paz, e na esquerda, a caixa com as vacinas.
A alfabetização também é um desafio que somente será vencido se nosso foco
estiver na solução, e não no problema. Neste mês, comemoramos o Dia Internacional
da Alfabetização (08 de setembro) e a ONU decidiu estabelecer o período entre
2003 e 2012 como a Década da Alfabetização. No entanto, esta tem sido uma
preocupação dos rotarianos e da Fundação Rotária há muito tempo. Em todo o
mundo, apoiamos projetos voltados ao tema, e em 1985 o RI publicou The Right to
Read (“O Direito à Leitura”, em inglês), uma coletânea de artigos sobre o problema
do analfabetismo em 11 países.
Em 1986, o Conselho Diretor do RI aprovou uma ênfase na alfabetização com
Rotary e a Alfabetização
95
dez anos de duração. Desde então, o Rotary vem acumulando uma extensa lista de
projetos de sucesso em todo o mundo.
Direito negado
Ao abrir os jornais para tomar conhecimento das notícias do Brasil e do mundo,
você usufrui de um direito que é negado a 20% da população da Terra. Ler uma bula
de remédios ou as instruções de como operar um equipamento são algo impensável
para 1 bilhão de pessoas, dos quais 2/3 são mulheres. Se considerarmos que os
analfabetos funcionais existem num número maior ainda, veremos que a alfabetização
é um problema global.
O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, afirmou: “Para milhões de mulheres,
as atividades de alfabetização podem oferecer uma oportunidade rara de aprender
um novo vocabulário de possibilidades que lhes abre um novo mundo, mais além de
sua existência imediata e de sua família”. Neste caso, o que se diz em relação à
família também é aplicável às comunidades onde vivem essas pessoas e, claro, em
última análise, a países inteiros.
Em outras palavras, a alfabetização não é simplesmente um objetivo em si: é um
pré-requisito para um mundo saudável, justo e próspero. O direito de todos à
alfabetização faz parte da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Os custos
de construção de uma sociedade alfabetizada são relativamente baixos quando
comparados aos custos de seu fracasso, em termos de prosperidade, saúde, segurança
e justiça.
Tal como para o sucesso de nossa campanha contra a pólio, devemos trabalhar
em parceria com governos, sociedade civil, ONU e outras organizações internacionais.
Essa é uma tarefa de gerações, cuja responsabilidade cabe aos governos. No entanto,
no anseio de um mundo melhor, todos os rotarianos poderão ser líderes de uma
parceria coerente com os valores que nossa organização prega. Por falar em valores,
isto nos lembra do projeto 3H 1154, que foi implantado no Brasil como uma grande
contribuição do Rotary à alfabetização em nosso país. Estou me referindo ao Projeto
Lighthouse, que alfabetiza através da formação de valores.
Segundo o psiquiatra infantil Haim Grünspun, o ser humano nasce com valores
inatos que precisam ser desenvolvidos. Não vamos falar aqui dos valores econômicos,
políticos ou religiosos, mas sim daqueles convergentes com a filosofia do Rotary. A
criança nasce com valores inatos que precisam ser desenvolvidos, tais como os
instintos de interação, amor, vida e educação. Nas escolas onde se utiliza a metodologia
Lighthouse, vimos as professoras desenvolverem nas crianças os chamados valores
adquiridos, como fé, sentido do dever cumprido, honestidade, trabalho, cultura e
tradição, moral e bem.
96
Rotary e a Alfabetização
Todos estes valores não se esgotam na temática deste artigo, porque a educação
na realidade é um sofisticado processo de construção do indivíduo e,
conseqüentemente, da comunidade e do país. A ética e a moral são valores
inestimáveis para a humanidade. A criança formada hoje é o cidadão de amanhã que
poderá estar conduzindo os destinos do país. Os valores devem ser reconhecidos,
divulgados e repetidos porque precisam ser trabalhados e consolidados.
Seguindo esta linha, o Rotary prega um grande serviço ao divulgar a Prova
Quádrupla. Por questão de princípios, nossa organização entende que fomentar a
alfabetização é apenas a base de um processo que tem como resultado uma sociedade
mais justa. Quando o foco é o resultado podemos afirmar que a alfabetização é o
outro nome da paz que buscamos.
Explicando o Lighthouse
Descobri a metodologia Lighthouse em 1988 quando conheci o EGD australiano
Dick Walker, que me contou sobre o sucesso da alfabetização na Tailândia.
Impressionado com seu relato de que em poucos anos todo o país foi alfabetizado,
disse a ele: “Só conheço os milagres feitos por Cristo há quase 2000 anos!” Dick
respondeu: “Também acredito em Deus, mas nosso caso foi a técnica associada ao
espírito de servir dos rotarianos. Que tal conhecer esse projeto?”
Assim, em 1989, sem custos para o Rotary, fui à Tailândia pela primeira vez. Lá,
tornei-me amigo da professora Saowalak Rattanavich, que mais tarde se tornaria
rotariana e governadora distrital, e também de Noraseth Pathmanand, hoje diretor
do RI. Anos mais tarde, como chairman do Comitê de Alfabetização para a América
Latina, realizei dezenas de projetos de subsídios. Em 2000, tivemos um Projeto 3H
de US$ 345 mil aprovado pela Fundação Rotária, através da parceria entre os distritos
4520, 4560 e 4760 com os distritos 6900 (EUA) e 7080 (Canadá).
Os passos do sucesso
Em síntese, a metodologia Lighthouse segue os seguintes passos:
1º A escolha de um livreto que tem como resultado final a formação de valores.
A professora faz uma leitura interativa.
2º Negociação do texto: instintivamente, o aluno passa a torná-lo seu em diversas
linguagens:
• Oral – através do reconto
• Corporal – através da encenação
Rotary e a Alfabetização
97
• Pictórica – através do desenho
• Escrita – mesmo antes da escrita convencional
3º Construção do Big Book (“Livrão”, em inglês) para o trabalho coletivo.
4º Construção de um pequeno livro para o trabalho individual.
Numa primeira fase, desenvolvem-se valores como cooperação e autonomia. O
processo permite aos alunos a reflexão e o exercício da compreensão, que mais
tarde haverá de torná-los bons argumentadores e negociadores, sem o risco de serem
analfabetos funcionais. A cada dia, a professora busca novos textos que podem ser
direcionados para projetos de cidadania, como proteção ao meio ambiente, respeito
às outras pessoas, fraternidade e lealdade.
Para formar multiplicadores, todos os distritos poderão mandar professores para
os cursos ministrados no centro de capacitação de Contagem, em Minas Gerais,
patrocinado pela Fundação Rotária.
Brasil alfabetizado e FRSP
Os rotarianos brasileiros apóiam outras iniciativas em prol da alfabetização, como
o programa Brasil Alfabetizado, promovido pelo governo federal, com quem firmamos
uma parceria no começo de 2005, estabelecida através de um protocolo de intenções
assinado pelo ministro da Educação à época, Tarso Genro, e pelos então diretor de
RI Luiz Coelho de Oliveira e o coordenador da Força Tarefa de Alfabetização,
Themístocles Pinho, atualmente diretor indicado do RI.
Uma outra iniciativa na área de alfabetização muito importante é a da FRSP –
Fundação de Rotarianos de São Paulo, criada em 1946, e que sob a presidência do
EGD Eduardo de Barros Pimentel atingiu sua culminância. Nestes 60 anos de trabalho
incessante, a FRSP caminha adiante do Brasil de hoje. A instituição viu o país passar
do extrativismo para uma economia industrializada que promete a esperança de um
futuro com menos desigualdades sociais. Para a formação de idéias avançadas, muito
somam as contribuições dos EGDs que dão seu precioso tempo na equipe de Eduardo
Pimentel, como por exemplo Nahid Chicani, Carlos Alberto Hernandez, Romeu Giora
Júnior, Flávio Farah, Antônio José da Costa, Carlos J. Gueiros e muitos outros.
A Fundação de hoje vai do bê-a-bá ao http, e se consolidou no cenário das
lideranças educacionais brasileiras com a criação das Faculdades Rio Branco, que
oferecem ensino superior de alta qualidade. Nós temos muito orgulho da Fundação
98
Rotary e a Alfabetização
de Rotarianos de São Paulo porque ela é a maior obra educacional do Rotary em
todo o mundo. Mais que seu tamanho, o importante é que ela está assentada nos
princípios do Rotary, como está expresso nestas palavras de Eduardo Pimentel: “A
educação é um imperativo para o crescimento social e econômico. É um fator
preponderante para que se alcance a felicidade e se conquiste a paz”.
Para finalizar, gostaria de lembrar que Paul Harris também direcionava seu foco
para o resultado. Em 1912, ele disse: “O mundo é uma grande orquestra na qual
cada um de nós tem seu pequeno e insignificante papel. O sucesso do seu instrumento
e do meu não depende do nível do som que eles produzem, mas de quão perfeitamente
eles se harmonizam com os instrumentos daqueles que estão ao nosso redor. Se o
Rotary incutir em nós a consciência de que não somos músicos solistas, mas sim
pequenas partes de um todo, nossas vidas irão se harmonizar com as vidas daqueles
que nos cercam”.
Em breve será anunciada nossa vitória contra a paralisia infantil. Certamente, a
nova partitura para a paz mundial se chamará alfabetização.
***
A alfabetização é um desafio que não se limita às nossas crianças: segundo o
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 34% dos
brasileiros com 60 anos ou mais não sabem ler nem escrever. Este quadro tem levado
diversos Rotary Clubs a desenvolverem ou apoiarem cursos de alfabetização de
adultos, como é o caso do RC de Campos-São Salvador, RJ (D. 4750) que com
recursos próprios diplomou no final de junho mais uma turma, dessa vez com 27
alunos, formada por moradores da comunidade do Morro do Coco.
***
O autor é EDRI e sócio
do RC de Contagem-Cidade
Industrial, MG (D.4760).
Rotary e a Alfabetização
99
Por que não me ufano
Apesar de ser o caminho mais curto para a
conquista da cidadania e o desenvolvimento,
educação fundamental continua esquecida no Brasil
Jório Coelho
O título deste artigo foi emprestado de uma coluna sobre educação escrita pelo
jornalista Daniel Piza no jornal “O Estado de São Paulo”. Alguns fatos me fizeram
conhecer a erradicação do analfabetismo na Tailândia, país onde surgiu a metodologia
CLE – Concentrated Language Encounter – base do Lighthouse, o projeto mundial
de alfabetização do Rotary. No Brasil, minha motivação a respeito do assunto se
deve a três fatos: ao trabalho realizado pelo EDRI Hipólito Ferreira e pelos EGDs
Carlos Alberto Peçanha (D. 4560) e Francisco Borsari Netto (D. 4730) para
sensibilizar os rotarianos brasileiros a respeito do método; ao trabalho do governador
Barry Smith, do distrito 6900 (EUA), na busca de parceiros para projetos de
alfabetização no Brasil; e, finalmente, ao fato de eu ter conhecido Dick Walker, um
dos criadores do CLE. É impressionante ver esses rotarianos falando sobre educação,
e aproveito para citar Rita Corrêa da Costa, viúva de Paulo Viriato Corrêa da Costa,
nosso saudoso presidente 1990-91 do RI, que – com a mesma garra dos demais –
é outra personagem dessa luta.
Mordi a isca e hoje me considero um dos melhores discípulos desse grupo.
Aliás, perdi um pouco a minha condição de mineiro quando falo de educação, e
embarquei conscientemente nessa canoa, que nem de longe é furada – embora essa
luta nos ponha numa batalha contra moinhos, como um Dom Quixote dos nossos
dias.
A esse grupo veio se juntar a professora Glória Guiné, da Universidade Federal
de Ouro Preto, que esteve na Tailândia. Lentamente, temos quebrado tabus e
implantado a metodologia CLE em nosso país. Tornei-me um aluno dedicado nas
questões relacionadas ao método, acompanhando a professora Glória em todos os
cursos realizados em municípios como Ouro Preto e Carangola, em Minas, ou nas
cidades paulistas de Araras e São Paulo, além de outras. Dediquei-me ao tema para,
de forma convicta, falar não somente aos rotarianos, mas aos professores e às nossas
autoridades governamentais.
Rotary e a Alfabetização
101
Uma pesquisa intitulada “A Escola Vista por Dentro”, realizada em parceria por
João Batista Araújo e Oliveira, ex-secretário geral do ministério da Educação, e
Simon Schwartzman, ex-presidente do IBGE, tentou descobrir, pelas respostas dadas
a um questionário, o que é considerado “normal” entre os professores, escolas e
sistemas de ensino em relação à educação no Brasil:
* é normal o aluno não cumprir o ano letivo;
* é normal perder de 30% a 40% dos alunos sem que eles adquiram os
conhecimentos para prosseguir seus estudos;
* é normal culpar os pais e os próprios alunos pelo fracasso destes;
* é normal colocar os alunos em classes onde eles não conseguem acompanhar
o conteúdo e os ritmos dos trabalhos;
* é normal passar deveres de casa que necessitam da ajuda dos pais, mesmo
sabendo que eles não podem ajudar;
* é normal começar o ano letivo sem professores designados para as turmas;
* é normal destacar professores sem habilitação para lecionar e sem
conhecimentos elementares de português e matemática;
* é normal que escolas sem coordenação pedagógica, sem bibliotecas ou sem
livros estejam funcionando;
Investimento equivocado
Esse panorama da situação escolar brasileira é bastante preocupante e justifica
investimentos maciços em educação. Porém, a atual administração brasileira prefere
investir no aumento do número de vagas nas universidades (vagas para negros, para
estudantes de escolas públicas), como se isso fosse a salvação do país. A
demonstração da falha educacional pode ser vista quando tomamos conhecimento
de que a OAB – Ordem dos Advogados do Brasil – reprova cerca de 80% dos
bacharéis que fazem seu exame. Isso provavelmente aconteceria também se os demais
órgãos fiscalizadores (Crea, CRM e outros) introduzissem testes como o da OAB.
Aliás, tornou-se mais importante para os administradores municipais “dar merenda e
uniforme” que investir na qualidade dos professores, algo impensável para nossa
administração pública. Muitos educadores fazem cursos caros – se comparados à
qualidade oferecida – e visam apenas melhorar seus salários. Conheço casos de
alguns que estão fazendo mestrado em educação no Paraguai. Nada pode abonar
essa decisão de estudar num país sem qualquer expressão na área educacional a não
ser o salário aviltado dos nossos professores dos níveis primário e secundário.
E por que não me ufano? Há cinco anos ou mais, venho lutando pela educação
dentro de nossa organização e vejo, preocupado, a pouca importância dada ao tema
pelos clubes, distritos e administradores rotários. Muito brevemente, isso poderá
102
Rotary e a Alfabetização
desmotivar os pioneiros dessa empreitada, aqueles que ainda lutam. No Segundo
Encontro Internacional de Educação Infantil, realizado em São Paulo com mais de
1800 participantes, tive a certeza do potencial que o CLE representa, pois todas as
propostas dos palestrantes brasileiros e estrangeiros que lá estiveram estão
contempladas nele. Aliás, a aplicação do método para jovens e adultos na cidade de
Araras (SP) reduziu a evasão escolar a zero – e já nos preparamos para atingir as
crianças que, em função dos ciclos, estão defasadas.
Por esse motivo, ao ler nossa revista rotária e tomar conhecimento a respeito de
nossas propostas para a educação, vejo que as atividades mostradas e/ou propostas
por distritos e clubes são extremamente paternalistas (como a entrega de cestas
básicas, brinquedos, cadernos e óculos). A revista Veja [edição 1892; fevereiro de
2005] trouxe uma magnífica reportagem sobre a Coréia, mostrando que este país
“concentrou os recursos públicos no ensino fundamental – e não nas universidades –
enquanto a qualidade nesse nível fosse sofrível”. Isso não significou ações paternalistas,
mas investimento no professorado – o mesmo que o Rotary International fez na
Tailândia.
Basta dizer que a alfabetização é a melhor arma para se conquistar a verdadeira
cidadania, aquela que permitirá ser possível o sonho de todos os rotarianos: um
mundo de paz. E conhecendo a força dos rotarianos, espero mudar muito em breve
a minha opinião a respeito desse assunto – e também o título do meu artigo, que vou
alterar com prazer para “Por que me ufano”.
Algumas experiências brasileiras com o CLE
Entre os dias 22 e 24 de março, o EGD Jório Coelho e a professora Glória
Guiné estiveram na cidade de São Pedro, em São Paulo (distrito 4590), ministrando
um curso de alfabetização baseada no método CLE para os professores da rede
municipal. A iniciativa, promovida pelo Rotary Club local e pela Secretaria Municipal
de Educação, teve a participação de 42 professores da cidade e de outros dois do
município paulista de Marília. Na cidade de Araras, também no distrito 4590, foi
implantado um projeto Lighthouse que, até o final de 2004, havia formado dez turmas,
com um total de 217 alunos adultos alfabetizados e outros 40 encaminhados ao
Ensino Supletivo Regular da Rede Municipal. Para que todo esse sucesso fosse
alcançado, até então 67 professores do município haviam sido capacitados para
trabalhar com a metodologia.
Em 1999, foi criado no distrito 4710, no Paraná, um projeto de alfabetização
baseado no CLE que cobre diversas cidades do estado. Para que o projeto tivesse
Rotary e a Alfabetização
103
esse alcance, os rotarianos firmaram convênios com a Universidade Norte do Paraná
e com órgãos como a companhia Municipal de Trânsito e Urbanização da cidade de
Londrina.
O ensino no Brasil
O autor é EGD e sócio do
RC de Ouro Preto, MG (D.4580).
104
Rotary e a Alfabetização
Analfabetismo um mal
que tem cura
Roberto Petis Fernandes
O desafio do saber, que não perdoará os inadimplentes dos bancos escolares, e
a densidade intelectual exigida pela Era do Conhecimento, que estamos atravessando,
obrigam o Brasil a um enorme e sistemático esforço para tirar das trevas cerca de 16
milhões de analfabetos com 15 anos ou além, e mais de 30 milhões de analfabetos
funcionais – conceito aplicado às pessoas com menos de quatro anos de estudo.
Segundo diagnóstico produzido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (INEP), reunindo indicadores levantados pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pelo Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento (PNUD), apesar das conquistas alcançadas nos últimos
anos, especialmente através do programa Alfabetização Solidária, a partir de 1999,
a situação permanece crítica, quando comparada aos parâmetros internacionais.
Mostrando que, em nosso país, as pessoas incapazes de ler e de escrever concentramse nas grandes metrópoles.
Em 125 municípios, de um total de 5.507, estão 25% dos analfabetos brasileiros
e 586 cidades respondem pela metade dos iletrados, na faixa etária de 15 ou mais
anos.
Entre os cem municípios com maior número de analfabetos, surgem 24 capitais.
A cidade de São Paulo apresenta o mais expressivo contingente de habitantes que
não sabem ler e escrever: 383 mil. Em seguida, aparece o Rio de Janeiro, com 199
mil.
O Estado de São Paulo lançou este ano as Escolas de Tempo Integral que
funcionam das 7 horas às 16 horas. Pela manhã, os alunos têm aulas do currículo
escolar e à tarde têm atividades artísticas, culturais, esportivas e ainda uma ajuda
para aprender a estudar e pesquisar por conta própria, o que é fundamental na
sociedade atual. Nesse período, eles têm também aulas de língua estrangeira, filosofia
e empreendedorismo.
É claro que isso custa mais caro, pois os alunos têm de ser alimentados e assistidos
por um número maior de professores. Mas a taxa de retorno compensa. Os jovens
educados nesse sistema darão melhores profissionais e serão bons cidadãos.
O Estado do Rio de Janeiro pretende seguir o exemplo.
No estudo intitulado “Mapa do Analfabetismo no Brasil”, considerado uma
verdadeira radiografia da escolaridade nacional, editado em 2000, os autores fazem
Rotary e a Alfabetização
105
uma advertência: “O mais preocupante é que, a despeito dos avanços conseguidos,
ainda observamos o baixo desempenho dos sistemas de ensino, caracterizado pelas
deficientes taxas de sucesso escolar, sobretudo nos primeiros anos de escolaridade”.
O alerta leva-me a recordar comentário do presidente 2006-07 do RI, William
B. Boyd, durante Seminário de Revistas Regionais do RI, em Los Angeles, no ano
de 1997.
Natural da Nova Zelândia – região com população de 3,9 milhões de habitantes
em 2000 e taxa de analfabetismo menor de 5% – William B. Boyd foi enfático ao
afirmar:
“Meu país só poderá ser considerado do Primeiro Mundo quando conseguir
reduzir substancialmente o analfabetismo, principalmente dos nossos aborígines
(maoris 10%); dos samoanos e ilhéus do pacífico que somam 4%.”
A preocupação com a erradicação do analfabetismo em todo o planeta tem sido
uma constante em nossa instituição. Realçada pelo presidente 2005-06 do RI, CarlWilhelm Stenhammar, em sua mensagem de janeiro, Mês da Conscientização Rotária,
defendendo a necessidade de assegurar às crianças, até 2015, a oportunidade de
concluir a educação em nível primário. E, ainda, eliminar a discriminação entre sexos,
no que toca à educação primária e secundária em todos os níveis, nos próximos 10
anos.
Ainda no campo da educação, o empresário Antônio Ermírio de Moraes, sócio
do RC de São Paulo, diz em sua coluna dominical do JB: “Os indicadores de
quantidade vêm melhorando. Mas os indicadores de qualidade continuam
precários. A repetência é alta e a evasão é enorme. Apenas 50% das crianças
que entram no ensino fundamental chegam à 8ª série. Entre os formados, a
maioria não consegue passar nos testes de linguagem e aritmética
correspondentes ao seu nível de escolarização”.
Diferenças
A análise do grau de escolarização da sociedade brasileira, ou seja, o número
médio de séries concluídas, mostra que, em apenas 19 cidades, a população possui
um índice que corresponde às oito etapas do Ensino Fundamental. Em outros 1.796
municípios do país, a escolarização média dos habitantes é inferior a quatro séries
concluídas, número insuficiente para o término do primeiro ciclo de aprendizado
básico.
O levantamento do INEP revela a existência de uma forte correlação entre o
grau de instrução e a taxa de analfabetismo.
Em Niterói, no Rio de Janeiro, a população possui o maior número médio de
séries concluídas no país, com 9,5 anos, registrando a taxa de analfabetismo de 3,6%.
106
Rotary e a Alfabetização
No outro extremo, está a cidade de Guaribas, no Piauí, onde a população tem,
em média, apenas 1,1 série concluída. No município, a taxa de iletrados é de 59%,
enquanto o analfabetismo funcional alcança quase 93% da população.
As diferenças regionais ficam evidentes quando levado em conta o grau de
instrução das populações. Todos os dez municípios com melhores indicadores estão
situados no Sul e no Sudeste. E as 10 cidades com o menor número médio de séries
concluídas localizam-se nas regiões Norte e no Nordeste.
As taxas de analfabetismo estão diretamente relacionadas à renda familiar, segundo
revelam os dados expostos pelos pesquisadores do INEP.
Nos domicílios que possuem renda superior a 10 salários mínimos, o índice é de
apenas 1,4%, enquanto nas famílias que auferem renda inferior, a marca é de 29%.
O contraste é ainda maior na Região Nordeste, onde nos domicílios com renda
de um salário mínimo, o índice é de 37%, e nas famílias com renda superior a 10
salários mínimos, o analfabetismo é de 1,8% da população de 15 anos ou mais.
O analfabetismo atinge pessoas de todas as faixas etárias com intensidades
diferentes. No eixo entre 10 e 19 anos, 7,4% da população é de iletrados.
A maior concentração de analfabetos está localizada na população de 60 anos
ou mais, onde 34% de homens e mulheres não sabem ler nem escrever.
O trabalho recomenda que os alunos recém-alfabetizados sejam imediatamente
encaminhados ao ensino regular, para evitar uma das características mais comuns em
programas de alfabetização em massa: o retorno à condição de analfabeto em curto
espaço de tempo.
Pegando um gancho no que disse Ermírio de Morais linhas atrás, constata-se
que aqueles que ingressam no mercado de trabalho recém-alfabetizados estão
educacionalmente despreparados e encontram, assim, dificuldades para competir
nesse mercado.
Contingente
O Brasil dispõe de cerca de 49 mil professores atuando no primeiro ciclo do
Ensino Fundamental na modalidade Educação de Jovens e Adultos, cerca de 800
mil no primeiro ciclo do Ensino Fundamental Regular e mais de 700 mil no segundo
ciclo.
Pela avaliação do INEP, um programa de alfabetização que trabalhasse com um
ciclo semestral – prazo capaz de deixar o educando atendido em condições de
ingressar nos sistemas de ensino – e que tivesse a meta de erradicar o analfabetismo
em quatro anos exigiria a participação de 200 mil professores.
O trabalho é enfático ao advertir “tratar-se de um número, embora avantajado,
absolutamente realista. Em especial considerando que as matrículas de 1a a 4a séries
Rotary e a Alfabetização
107
do Ensino Fundamental estão em queda no país, liberando salas e docentes”.
Ao considerar a erradicação do analfabetismo como meta factível, recomendo a
necessidade de um grande esforço nacional, a exemplo do ocorrido em outros países.
Todo este quadro registrado nas pesquisas mostra que a intensa migração de
áreas mais pobres do país para as metrópoles é uma das principais responsáveis
pelo expressivo quinhão de iletrados. Se nas zonas menos desenvolvidas o
analfabetismo é uma ameaça, nas regiões urbanas ele tem efeito devastador. Consolida
a exclusão social, ao praticamente eliminar a possibilidade de emprego qualificado,
num mercado de trabalho cada vez mais exigente e competitivo.
Preocupado com o analfabetismo no mundo e com suas indesejáveis
conseqüências para as sociedades menos assistidas, o Rotary tem dedicado especial
atenção às ações para reduzir o número de iletrados nos cinco continentes. E, ainda,
para estimular o aprimoramento cultural, através de iniciativas como os Programas
de Intercâmbio de Jovens, de Bolsas Educacionais para Professores, de Bolsas
Educacionais para Especialização, dos Concursos de Monografias para Professores
e dos Centros Rotary de Estudos Internacionais da Paz e Resolução de Conflitos.
Parafraseando o companheiro EDRI Hipólito S. Ferreira, em seu artigo
“Alfabetização é um novo desafio”, publicado na Brasil Rotário (julho/03), ouso
repetir: “os efeitos do analfabetismo são tão destrutivos quanto os de uma doença,
com a diferença de que não existe nenhum antibiótico ou vacina capaz de eliminálos ou preveni-los”.
O Rotary tem exemplos positivos nesta área a relatar: talvez o maior do universo
rotário ocorra no Estado de Minas Gerais, no Centro de Treinamento da
municipalidade de Contagem que fornece material escolar, administra salas de aula
em todo o Estado e treina cerca de 2.600 professores que ensinam 83.400 alunos
anualmente através da estratégia CLE – Concentrated Language Encounter.
É notório em nossa pátria que na ansiedade de cada classe, cada organização,
cada indivíduo, sente-se o desejo de obter maior participação no espaço nacional.
Os brasileiros, ao longo de sua história, sempre souberam dar resposta aos
desafios que têm enfrentado.
Estes fatores constituem forte razão para juntarmos forças e trabalharmos pela
erradicação do analfabetismo.
O autor é engenheiro, sócio do RC do Rio de Janeiro, RJ(D.4570),
presidente 1985-86 do clube, tem o Curso de Altos Estudos de
Política e Estratégia da Escola Superior de Guerra e é o
atual presidente da Cooperativa Editora Brasil Rotário.
108
Rotary e a Alfabetização
Sem defeito de fabricação
Política educacional brasileira deve ser de longo prazo e
contemplar todos os níveis de ensino
O professor Eduardo Portella é ex-ministro da Educação, Cultura e Esporte,
presidente do Fundo Internacional de Promoção e Cultura da Unesco, em Paris, e
membro da Academia Brasileira de Letras. Em sua palestra na mesa redonda sobre
as conjunturas sociopolítica e econômica brasileiras realizada pela Brasil Rotário
no dia 18 de março – que reproduzimos resumidamente nas páginas a seguir – Portella
debateu os desafios do nosso país no campo da educação e da cultura e avaliou a
importância desses instrumentos de desenvolvimento num mundo que investe cada
vez mais no conhecimento e nas novas tecnologias.
“A questão da educação assume um papel fundamental no Brasil e no mundo
atuais. Além dos papéis tradicionais que sempre teve – de formação de geração e de
quadros – a educação é o instrumento com o qual nos situamos devidamente no
cenário da competição internacional, porque nunca na história da humanidade o
nacional foi tão internacional.
Falar da educação em um mundo globalizado abrange um espectro formador
onde tudo é prioritário. Nós não podemos e não devemos falar em privilegiar o
ensino superior ou as estruturas básicas, pois existe uma conexão profunda entre
eles. Se as estruturas básicas não funcionam, começa a haver uma espécie de ‘defeito
de fabricação’ nas estruturas superiores – e é por isso que insisto em valorizar inclusive
a pré-escola. Os índices de repetência, a evasão e o abandono que se verificam ao
longo do ensino fundamental se devem, na maioria das vezes, à ausência de um préescolar satisfatório. A educação é, portanto, um caminho que vai da pré-escola à
pós-graduação.
Para ser levado a bom termo, um programa educacional deve ser democrático,
propositivo e transformador. Democrático no sentido de atingir camadas diversas e
diversificadas da população brasileira, pois não acredito em reforma que não assuma
esse compromisso transformador e esse alargamento democrático. Isso significa
também que educação e cultura são coisas que se interconectam. Na verdade, se
nós pensarmos bem, a educação é um processo de transmissão cultural. Já a cultura
é a educação transescolar, porque pode estar em diferentes recintos e não exatamente
numa sala de aula ou num estabelecimento de ensino, mas nos discos, nas músicas,
nos espetáculos teatrais ou cinematográficos, que não têm exatamente um espaço
Rotary e a Alfabetização
109
fixo, determinado, insubstituível – e que podem acontecer e ampliar o espaço da sala
de aula. Por isso tenho dúvidas quanto a uma educação que não inclua a cultura ou
que não pense simultaneamente estratégias combinadas de cultura e educação.
Política de cotas e profissionalização
O compromisso educacional envolve, inevitavelmente, a qualidade. É necessário
também que haja uma reflexão técnica com alta taxa de legitimidade. Para isso é
preciso estabelecer pré-requisitos precisos e negociados. Isso significa que as
coordenadas devem ter seu desenho mais ou menos nítido, resultante de um diálogo
o mais amplo possível, com as representações legítimas ou as emergentes, em alguns
casos. Se olharmos com um pouco de rigor o panorama recente da educação
brasileira, vamos perceber que o ensino fundamental continua entregue ao ‘ocioso
debate federativo’ – expressão que utilizo para não dizer uma outra, popular e mais
dura, que é o ‘jogo de empurra’, disputado entre a federação, os estados e os
municípios. Depois nós vamos perceber que o ensino fundamental tem sido
grandemente responsável pela discriminação social, pois ele é congenitamente produtor
de desigualdades. E porque não funciona satisfatoriamente, precisamos de políticas
de cotas. Se o ensino fundamental funcionasse verdadeiramente, a política de cotas
estaria estabelecida de uma maneira natural, sem nenhuma pressão de nenhum tipo.
Dessa maneira, tentamos corrigir uma falha com uma segunda falha.
O mais conveniente seria talvez abrir o leque da oferta educacional, com
profissionalização já no ensino médio e formação no superior. Podemos conseguir
níveis substanciais, necessários e fundamentais de profissionalização antes do ingresso
à universidade – uma exigência da urgência do processo social brasileiro. Essa
velocidade quase que exclui o longo prazo. Às vezes tenho vontade de afirmar
enfaticamente – mas preciso pensar um pouco mais para afirmá-lo – que no Brasil
não existe longo prazo. Vivemos num país com os prazos basicamente vencidos.
A universidade brasileira
Por que a universidade brasileira está tão perplexa, quase perdida? Ela se debate
interminavelmente entre a nação e o mundo. O conhecimento deve estar a serviço da
nação, mas é normal que estabeleça intercâmbios, formas de cooperação, modalidades
de atualização com o mundo. Então esse diálogo entre nação e mundo é necessário,
não precisa ser prejudicial.
Temos também um outro debate, que gira em torno do público e do privado.
Essa discussão ignora, em primeiro lugar, as possibilidades reais de investimento do
Estado brasileiro. Em segundo, que o ensino público é aquele que está comandado
por um espírito público. Se a universidade privada for capaz de desenvolver, de
110
Rotary e a Alfabetização
desdobrar, de obedecer a um espírito público, não será necessariamente privada. O
que faz a diferença é a qualidade, e a qualidade desertou. Com faculdades não
implementadas tecnicamente, professores desestimulados e alunos mais ou menos
perdidos, fica difícil se esperar uma universidade correspondente às necessidades
atuais do Brasil.
Um outro nível de perturbação questiona valores como o virtuoso e o virtual. O
virtual se empenha em reduzir ou eliminar o virtuoso, quando nós devíamos, pelo
contrário, levar o virtuoso para o virtual – e fazer até um acordo de paz, se possível,
em que um alimentasse o outro. Nosso humanismo zeloso, porém nostálgico, não
tem sabido saltar esse precipício. Deixa que a sociedade de redes acrescente à
exclusão social uma outra: a exclusão digital.
Preocupada em nos ensinar a comprar e a vender, nossa educação deixa de
ampliar o espaço de construção da personalidade individual, deixa de nos ensinar a
viver juntos, uma lição que vai desde as pequenas e privadas relações interpessoais
até a compreensão e a necessidade de paz no mundo. Daí a posição modesta que o
Brasil ocupa na cena internacional. Mas estou certo de que com a multiplicação de
diálogos como esse, promovido pela Brasil Rotário, poderemos alertar a nossa
sociedade, a nossa história e o nosso possível protagonismo mundial para
determinadas necessidades que são inadiáveis em nosso país.”
***
Rotary e a Alfabetização
111
América Latina e Caribe
Brasil: cidadania começa na escola
Desde que se estabeleceu na América Latina em 1916 — com a fundação de
um clube em Havana, Cuba - o Rotary, além de ter prestado uma especial atenção à
saúde nos países latino-americanos, vem lutando para melhorar as condições de
educação na região através de programas profissionalizantes, de alfabetização e
orientação vocacional. As crianças e os jovens são o principal foco destes esforços,
como no caso da Escola Padre Francisco da Motta, que encerrou o ano passado
com mais de 1.000 alunos matriculados - em lugar dos 450, em 2003 - a maioria
moradores de uma região pobre do Rio de Janeiro onde a escola está localizada.
Administrada por uma ordem religiosa, ela foi ampliada e totalmente reformada com
um subsídio de US$ 850 mil, levantados pela Fundação Rotária e por parceiros
públicos e privados do Brasil e da Alemanha. O projeto tornou-se uma das maiores
iniciativas educacionais desenvolvidas pela FR em todo o mundo.
No estado do Espírito Santo, os rotarianos têm proporcionado a muitas crianças
que vivem nas ruas uma segunda oportunidade de vida através do projeto Montanha
da Esperança, voltado a profissionalização de meninos e meninas pobres de Vitória,
capital do estado. Ao todo - numa área de 200 mil m2 cedida pelo governo estadual
em contrato de comodato - são atendidos 80 estudantes em regime pleno e 110 em
regime diário. Criado com o apoio de um projeto 3-H da Fundação Rotária - com
valor total de US$ 500 mil - o projeto é dirigido pela ONG Hope Unlimited, fundada
pelo rotariano Philip Smith, sócio do RC de Campinas-Alvorada, SP(D.4590).
Recentemente, 32 jovens atendidos pelo Montanha da Esperança receberam
certificados de conclusão em um curso de mecânica de automóveis, composto por
852 horas de aula.
Destaque também para o Espro - Sociedade de Ensino Social Profissionalizante
- mantido desde 1979 por seis RCs da capital paulista, entre eles o RC de São
Paulo, ao lado de diversas empresas parceiras. Dividido em dez unidades, o projeto
não pára de crescer, atendendo atualmente a cerca de 2.500 alunos, que recebem
capacitação básica para o trabalho e são encaminhados posteriormente ao mercado
profissional.
Outro patrimônio do rotarismo brasileiro é a FRSP - Fundação de Rotarianos
de São Paulo, criada em 1946. Maior obra educacional rotária já realizada em todo
o mundo, a FRSP é responsável pelo Colégio e pelas Faculdades Integradas Rio
Branco e por projetos como o Centro de Ensino Profissionalizante Rotary e o Mutirão
Digital.
Rotary e a Alfabetização
113
O combate à pobreza
Jésus Rubens Soares
O conceito de pobreza se expressa pelo percentual da população com renda
mensal per capita de até meio salário mínimo. Aqueles que não têm renda familiar per
capita são considerados indigentes. Aplicando-se esses critérios aos dados coletados
pela PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, verificamos que, em
números redondos, 50 milhões de brasileiros são pobres e, destes, 24 milhões estão
na indigência. Com quase 170 milhões de habitantes, temos uma taxa de pobreza de
28,4%, sendo que, dado o caráter urbano de nossa população, as cidades
concentram 65% do total de pobres.
Dados recentes divulgados pela Cepal - Comissão Econômica para a América
Latina e Caribe - indicam as estimativas de que, em 2003, os pobres sejam 225
milhões na região, e os indigentes, 100 milhões. Esses números são fruto da estagnação
econômica e da queda no fluxo de investimentos nestes países nos últimos anos.
Em sua primeira mensagem como presidente do RI, Jonathan Majiyagbe disse:
“Milhões de pessoas sobrevivem na mais abjeta pobreza. Nas regiões mais carentes
do mundo, homens e mulheres vestem-se literalmente em farrapos, as crianças andam
nuas, com seus corpos esquálidos à vista, denunciando a fome que passam. Esse
cenário macabro não é incomum nos países em desenvolvimento, fato que muitos
rotarianos conhecem bem. A pobreza tem muitos rostos. Em países ricos ela pode se
esconder, e por isso é freqüentemente ignorada”.
“A nossa obrigação de rotarianos”, continua o presidente, “é manter os olhos
abertos, à procura daqueles que não têm onde morar, que são privados de cuidados
médicos, alimentos e outros bens essenciais. A essas pessoas devemos dirigir os
nossos projetos e atenções, de forma compassiva, mas pragmática. Peço a todos os
rotarianos que elejam a atenuação da pobreza como sua prioridade número um”.
Até hoje, atendemos os maiores desafios que a nossa instituição nos colocou,
como é o caso do programa Polio Plus, que já nos parece vitorioso. Mas agora se
trata da pobreza, um problema milenar, visto por muitos como uma fatalidade sem
solução. O que o Rotary pode fazer?
Reunindo esforços
Sabemos que centenas de clubes em vários distritos nossos, com o auxílio dos
familiares das Casas da Amizade e da Sociedade de Senhoras, promovem várias
atividades em benefício dos mais carentes, doando cestas básicas, auxiliando creches
e lares de idosos, fornecendo vestuário, atendendo incapacitados e drogados,
Rotary e a Alfabetização
115
contribuindo para divulgar noções de planejamento familiar, como se faz agora no
Rio de Janeiro, segundo nossa sempre atuante EGD Adelia Villas.
Além disso, já tivemos no Brasil exemplos da realização do chamado Projeto
Shelter, que dá abrigo aos mais pobres, hoje substituído pelo patrocínio da construção
de casas populares destinadas às famílias de baixa renda.
Dedicando-me há mais de dez anos em meu distrito ao programa de Subsídios
Equivalentes, um dos melhores projetos que realizamos envolveu os RCs de Campinas
e de Campinas-Norte - primeiro afilhado daquele - e os clubes argentinos de Villa
Adelina, Don Torcuato e San Nicolás Sud - todos do Distrito 4820. Com a quantia
de US$ 23.676, adquirimos um caminhão para o uso de uma cooperativa,
administrada por uma ONG, que passou a empregar 40 pessoas selecionadas entre
desempregados para o recolhimento mensal de 100 toneladas de lixo reciclável,
colaborando com o meio ambiente da cidade de Campinas.
O atual governo, pelo visto, também procura fazer sua parte, iniciada com o
programa Fome Zero. No final de junho do ano passado, o Banco do Brasil foi
convocado a lançar um programa de microcréditos capaz de abrir as portas do
sistema financeiro para mais de 25 milhões de brasileiros que ainda não têm cidadania
financeira. A primeira experiência do gênero ocorreu na Índia, em 1976, com o
Banco das Aldeias, criado pelo economista Muhammad Yunes, o chamado “Banqueiro
dos Pobres”.
Educação em primeiro lugar
Penso que a melhor contribuição que poderíamos dar no combate às causas da
pobreza - e não aos seus efeitos, como muitas vezes acontece - seria direcionarmos
os nossos esforços a uma campanha de alfabetização em todos os quadrantes do
país. Se há 40 anos um trabalhador braçal analfabeto poderia conseguir emprego, eu
estou convencido de que hoje isso se tornou quase impossível diante das novas
exigências do mercado globalizado.
E nós temos os instrumentos para essa empreitada, sucedânea da campanha
Polio Plus. Eles vêm sendo utilizados há alguns anos em nossos distritos, como no
caso do Projeto Lighthouse - do qual o EDRI Hipólito Sérgio Ferreira é entusiasta,
e que tem como principais contatos os EGDs Francisco Borsari Neto e Eduardo
Krafetuski. Acrescento que no Paraná ocorreram também experiências de
alfabetização calcadas no programa do Banco do Brasil, o BB Educar, que continuam
à disposição dos nossos clubes e distritos.
Em abono da nossa sugestão, trago aos companheiros a afirmação do presidente
Jonathan Majiyagbe: “Creio que uma das mais importantes prioridades é a educação.
Se educarmos as pessoas, elas escaparão do ciclo da pobreza”. No mesmo sentido,
116
Rotary e a Alfabetização
manifesta-se o nosso diretor Luiz Coelho de Oliveira: “Reafirmo minha convicção
num Rotary solidário, pró-ativo e comprometido com as nossas bases e,
principalmente, num profundo envolvimento dos rotarianos no alívio à pobreza, no
combate ao analfabetismo, no apoio à saúde pública”.
Não poderia encerrar estas considerações sem recorrer ao brilho e à sensibilidade
das palavras de Mário Antonino sobre os projetos rotários: “É muito especial a ação
isolada de se propiciar estudo a um jovem; é muito especial se oferecer um lar - uma
família - a uma criança que estaria no abandono; é muito especial o carinho para com
o idoso solitário, como é muito especial a cirurgia para quem está à beira da morte.
Há muita coisa que parece pequena, imperceptível, mas que se constitui em ações
que têm a dimensão de uma vida. E a vida é um dom incomensurável, que não é
dimensionado com as medidas terrenas”.
Mais do que nunca, o lema deste ano rotário sintetiza todo o objetivo maior do
presidente do Rotary International, de tão extraordinário significado. Num século de
mais compaixão e solidariedade, vamos todos combater a pobreza com redobrado
vigor, dando a mão ao próximo.
O autor é EGD e sócio do
RC de Campinas, SP (D.4590).
Rotary e a Alfabetização
117
Onde começa a cidadania
Nas próximas décadas, a implementação de um novo sistema educacional
será um dos maiores desafios do Brasil. Precisamos urgentemente dele para
preparar cidadãos capazes de construir uma nação forte e rica.
Dirceu Ferreira
As escolas de ensino fundamental, médio e superior devem estar voltadas
à preparação de alunos pensando no futuro. Para que isso aconteça, a qualidade e
o modelo de ensino vigentes em nosso país devem ser repensados.
Para sustentar essa afirmação, cito alguns argumentos:
• A participação do Brasil na requisição de patentes está entre as menores do
mundo;
• Pesquisas realizadas junto às empresas demonstram que grande parte dos
profissionais do país chegam ao emprego com deficiências básicas;
• A existência de vagas para quem tem qualificação está em oposição à alta taxa
de desemprego;
• Os resultados do Provão no ensino médio estão demonstrando a mediocridade
dos nossos avanços. Ou seriam recuos? - sem ignorar que o Provão foi um pontapé
inicial positivo;
• Estamos criando frustração nos nossos jovens, que tentam conquistar um espaço
na sociedade;
• A restrição econômica dificulta cada vez mais o acesso ao ensino de boa
qualidade;
• E, por último, o mais importante: precisamos entender que as riquezas do
futuro serão geradas com o conhecimento, e não mais com a produção.
Diante desses fatos, ficamos numa posição extremamente vulnerável em relação
ao futuro. Se estamos na era do conhecimento, onde a perspectiva de geração de
riquezas está intimamente ligada ao capital intelectual de uma nação ou empresa, e
olharmos para o modelo educacional que temos, veremos que continuamos nos
esforçando para, no máximo, chegar pelo menos atrás dos líderes, mas nunca na
liderança.
Essa posição de “ficar correndo atrás” das nações desenvolvidas pode ser
revertida se começarmos a nos mover agora para colhermos os frutos na próxima
geração. Essa demora é exatamente o motivo do descaso político e econômico em
relação a esse tema no Brasil. As ações na educação não geram retornos eleitorais e
financeiros a curto prazo. Muitos políticos gostam de construir escolas porque isso
dá visibilidade política.
Rotary e a Alfabetização
119
No campo privado, vemos que as projeções dos futurólogos falam sobre a
importância que a educação continuada tem para os profissionais de nível gerencial e
superior. Basta olharmos a febre mundial de MBAs e o corrente descaso com os
níveis médio e fundamental.
A riqueza está no conhecimento
Isso é ruim? Não, mas é apenas o mínimo a ser feito. Esses esforços ainda são
incapazes de nos transformar em uma nação líder. Em países como o Brasil, ações
desse tipo são apenas uma pequena parcela das oportunidades possíveis. Nossa
educação fundamental e média não está preparando os jovens para o futuro que os
espera. Estamos condenando-os a permanecer como escravos do eterno paradigma
das indústrias instaladas para a geração de empregos baratos - e esse período já
acabou, é só olhar para a região do Grande ABC, em São Paulo. Nossa educação
ainda está voltada para a era industrial, num momento em que o mundo já passou
pela era da informação e está na transição para a era do conhecimento.
Nossos jovens desejam apenas conquistar um emprego? Por que será que as
formas ilícitas de geração de riqueza - como tráfico de drogas, contrabando,
falsificação, entre outras - cresceram tanto nas últimas décadas? Considerando-se o
baixo nível intelectual de nossa população, estas não seriam as formas de se ganhar
mais dinheiro e de se viver com mais dignidade, na opinião de muitos? A escolha
dessas pessoas está dividida entre ganhar um salário mínimo dentro da lei, como
faxineiro ou trabalhando no comércio, ou faturar uma “bolada” com apenas um
“servicinho” de levar daqui para lá - dinheiro que muitos precisariam de 15 anos para
juntar trabalhando legalmente.
Desculpem-me os nossos líderes, mas precisamos de outra coisa, além de postos
de trabalho: precisamos construir uma nação rica, e isso começa na escola. Onde
estão os valores que constróem, que nos fazem lutar por alguma coisa? Estão
escondidos em nossos pensamentos, indignados e mediocrizados com o dia-a-dia,
desvalorizados pela mídia e perdendo força, porque sobreviver tornou-se mais
importante que viver com dignidade. Nos violentarmos em nossos valores tornou-se
algo tão natural e necessário para sobreviver que a impunidade virou regra.
Não basta oferecer vagas nas escolas, construindo mais salas de aula na rede
pública. Podemos resolver os problemas usando a massa cinzenta que Deus nos
deu, e lembrando que qualquer idéia somente se tornará realidade se existir uma
visão comum entre todas as partes envolvidas. Para conquistarmos isso, serão
necessárias lideranças que pensem diferente, que ousem, que queiram evoluir e não
apenas manter seu patrimônio pessoal, sobrevivendo com regalias. O que precisamos
é de uma gestão voltada à educação de olho no futuro.
Aprendendo a ver o amanhã
Voltando à era do conhecimento, quem vocês acham que serão as economias
120
Rotary e a Alfabetização
líderes do futuro? Seria muita pretensão adivinhá-las, mas algumas perguntas podem
esclarecer a questão: quem está à frente do Projeto Genoma? Quem está à frente no
uso da bioengenharia? Resposta rápida: as nações que valorizam a educação como
forma de desenvolvimento, e que sonham e traçam seus objetivos.
Mas qual é o tipo de educação que precisamos? Para responder a esta pergunta,
teremos primeiro que começar a trabalhar sua discussão nas escolas, criando uma
visão sobre onde queremos chegar. Em segundo lugar, é preciso avaliarmos: por que
normalmente perguntamos às nossas crianças o que elas querem ser quando adultas,
se a resposta é geralmente baseada no seu ambiente atual? Por que não ensinamos
às crianças a prática da visão, da construção de cenários, e a pensar no futuro para
que não cheguem lá na frente com pensamentos e ferramentas do passado? Isso vai
agregar valor ao mundo.
Aonde queremos chegar: na liderança ou no papel de coadjuvante de uma grande
potência econômica? Mas como chegar na liderança? Precisamos mudar nossas
concepções do que são gestão escolar, aulas, professores, alunos, pais, enfim: de
tudo que diz respeito à escola, à educação e à comunidade.
Você já pensou que daqui a uns anos nossos filhos estarão num mundo com
muito mais gente, muito mais competitivo que o nosso, e que suas chances nesse
mundo serão menores que as nossas hoje em dia? Espero que meus filhos tenham
um futuro melhor que o meu. E você?
“Educação sem valores” e “visão de futuro” são o mesmo que tomar café
instantâneo: ninguém gosta, não rende e só dá resultado para o fabricante do produto.
Um compromisso sem fronteiras
Em sua história quase centenária, o Ideal de Servir do Rotary International vem
sendo marcado por duas iniciativas: o combate ao analfabetismo e o desenvolvimento
do maior programa privado de bolsas de estudos do mundo. Democratizar o
conhecimento - uma ferramenta indispensável na luta contra a pobreza, as doenças e
a incompreensão entre os povos - tem sido uma preocupação constante dos
rotarianos, demonstrada em projetos globais como o Lighthouse, os Centros Rotary
para Estudos Internacionais da Paz e Resolução de Conflitos, e em iniciativas dos
próprios clubes junto à comunidade. Este é o caso, por exemplo, dos Projetos de
Alfabetização de Jovens Adultos implementados pela Casa da Amizade de Marília,
SP (D. 4510), nos Núcleos Habitacionais Santa Paula e Homero Zaninoto, onde como em outras diversas localidades brasileiras - a presença do Rotary tem ajudado
a tirar a palavra cidadania do dicionário.
O autor é sócio do RC São José
dos Campos-Norte, SP (D.4600).
Rotary e a Alfabetização
121
Escola é ampliada com
subsídio de US$ 850 mil
Um dos maiores projetos educacionais financiados pela Fundação Rotária
do RI é inaugurado no Rio de Janeiro
Nuno Virgílio Neto
Em 22 de novembro do ano passado, uma grande cerimônia marcou a conclusão
das obras de expansão da Escola Padre Dr. Francisco da Motta - EPFM, situada no
bairro da Saúde, na zona portuária do Rio de Janeiro. O evento contou com a presença
de diversas autoridades rotárias e de companheiros do Brasil e da Alemanha que,
trabalhando em parceria, foram os principais responsáveis por esse que já é um dos
maiores projetos de educação financiados pela Fundação Rotária do RI em todo o
mundo. A cerimônia também reuniu representantes do governo alemão no Brasil,
inclusive o embaixador Uwe Kaestner, autoridades estaduais, o corpo docente da
escola, alunos e seus familiares. Antes das comemorações, houve uma missa de ação
de graças celebrada pelo cardeal dom Eusébio Scheid, arcebispo do Rio de Janeiro.
Administrada pela Venerável Ordem Terceira de São Francisco, cuja obra social
é dirigida pelo frei alemão Eckart Hermann Höfling, a escola sempre desempenhou
um papel fundamental no processo de inclusão social das crianças carentes moradoras
daquela região, oferecendo-lhes ensino gratuito desde sua fundação em 1897, como
a Brasil Rotario mostrou em sua edição de maio de 2003. Depois de viver um
período de grandes dificuldades financeiras, a instituição passou a receber, a partir
de 1998, o apoio dos RCs Guanabara, Méier, Saúde e Tijuca -todos do distrito
4570 - e de rotarianos alemães dos RCs Schliersee e Lohr-Marktheidenfeld,
respectivamente dos distritos 1840 e 1950 - clubes que obtiveram cinco projetos de
Subsídios Equivalentes da Fundação Rotária. O projeto também contou com a
colaboração dos governos da Alemanha e do Estado alemão da Baviera que,
sensibilizados com os apelos do frei Eckart, resolveram unir forças com os rotarianos.
Os recursos disponibilizados por todos os parceiros atingiram cerca de US$
850 mil. Parte desse dinheiro foi empregada na compra de nove casas vizinhas ao
prédio da escola. Elas foram reformadas e incorporadas à área do colégio,
transformando-se em nove salas de aula, seis oficinas, vestiários, um refeitório e
espaços recreativos de alta qualidade, somando aproximadamente 2.500 metros
quadrados construídos. Por serem tombados pelo Patrimônio Histórico, os contornos
Rotary e a Alfabetização
123
e as fachadas dos imóveis precisaram ser preservados, o que obrigou os engenheiros
e operários a realizarem um trabalho demorado e cuidadoso. As obras tiveram a
supervisão do EGD Yutaka Okumura.
Com as mudanças no espaço físico da EPFM, foi possível ampliar o curso de
ensino fundamental, que há pouco tempo ia apenas até a 4ª série. Hoje, os alunos só
deixam a escola depois de concluírem a 8ª série. O número de alunos matriculados
pulou de 240 para 750 no ano passado, podendo chegar a 1.000 neste ano. Os
planos de manter todos estes jovens em período integral na escola, fazendo aulas de
reforço, música ou cursos profissionalizantes, entre outras atividades, vão sendo
concretizados aos poucos - no ano passado, os estudantes já cumpriam parte do
regime integral durante três dias da semana. A EPFM ainda oferece alimentação e
atendimento médico aos alunos.
Como salientou a EGD Adélia Villas, coordenadora do projeto, a conclusão das
obras marca uma nova fase para a instituição, seus alunos e familiares. “A escola será
o coração do bairro e da renovação da zona portuária da cidade”, ela disse, durante
a cerimônia cívica que abriu as comemorações.
A palavra do arcebispo
Dom Eusébio Scheid elogiou a iniciativa, lembrando a importância dos projetos
voltados às crianças, em especial às carentes. Segundo ele, o exercício de um
“humanismo sadio” marcou a seriedade e o comprometimento de todos os envolvidos
na reforma. “Creio que essa obra tem toda a psicologia do Evangelho, e muito da
santidade de São Francisco”, afirmou o cardeal.
Representando o presidente do RI e a Fundação Rotária, o EDRI e curador da
FR José Alfredo Pretoni felicitou a parceria envolvendo rotarianos brasileiros e da
Alemanha, e o governo daquele país. “O sucesso desse projeto está diretamente
ligado à credibilidade de todos os envolvidos”, disse. Pretoni lembrou que o ensino
é um dos principais focos dos projetos financiados pela Fundação Rotária, hoje a
maior instituição privada do mundo em projetos educacionais, tendo doado ao longo
de sua história mais de 80 mil bolsas de estudos a custo zero para os beneficiários.
“Essa escola não está entrando na comunidade, mas trazendo a comunidade para
dentro da escola. Isso influi diretamente no processo de inclusão social dos moradores
dessa região. Estamos próximos de vencer o vírus da poliomielite em todo o mundo.
E com projetos como este aqui, estaremos combatendo um outro vírus terrível: o do
analfabetismo. Mas para que tenhamos sucesso, será preciso que todos nós
continuemos trabalhando juntos”, afirmou Pretoni.
124
Rotary e a Alfabetização
Porque o Rotary é capaz
O governador do distrito 4570, Luiz Osair de Medeiros, agradeceu a todos os
colaboradores e deu as boas-vindas aos companheiros alemães e às autoridades de
governo presentes. Em seguida, Dieter Klingenberg, representante dos rotarianos
alemães e presidente da Associação de Amigos do Padre Eckart Höfling na Alemanha
- entidade que apóia a escola - explicou as principais motivações para a parceria:
“Tudo que nós fazemos como rotarianos está dirigido principalmente a uma maior
compreensão entre os povos e à promoção da paz. Ao participarmos dessas obras,
apenas cumprimos com o nosso dever. Todos os envolvidos trabalharam diariamente
nesse projeto desde que ele começou a ser esboçado. Queríamos provar que os
Rotary Clubs são capazes de concretizar projetos humanitários de pequeno e grande
porte em todos os lugares do mundo”.
Ao final, Klingenberg passou às mãos da direção do projeto uma doação de 60
mil euros - cerca de US$ 75 mil - feita em conjunto pelos RCs Schliersee e LohrMarktheidenfeld, pelo RC Rio de Janeiro-Guanabara, pela Fundação Rotária do RI
e pela Associação de Amigos do Padre Eckart. Esse dinheiro será destinado à
alimentação dos alunos.
Günter Kill, ex-diretor do Pax Bank de Colônia, na Alemanha, desejou sucesso
aos alunos e entregou um cheque de 35 mil euros - aproximadamente US$ 43 mil ao frei Eckart. A doação foi feita em nome da Associação de Apoio à Escola Padre
Dr. Francisco da Motta, fundada por Kill em 1987.
O embaixador da Alemanha no Brasil, Uwe Kaestner, elogiou o envolvimento
crescente dos brasileiros em projetos voltados à melhoria das condições sociais do
país. “A sociedade civil brasileira é cada vez mais dinâmica, não espera tudo do
Estado”, ele disse. “Eu gostaria de parabenizar em especial os rotarianos brasileiros,
que eu sempre vi envolvidos em trabalhos dessa natureza”.
Frei Eckart agradeceu a todos que trabalharam na obra, e também às crianças,
o motivo principal de todo o esforço dos participantes: “Apesar das dificuldades,
elas nunca desanimaram”.
Em seguida, houve a apresentação dos alunos das oficinas de música. As crianças
executaram clássicos universais e brasileiros, como um conjunto de valsas de Strauss,
obras de Dorival Caymmi, Luiz Gonzaga e Ary Barroso. Os números foram
coreografados pelos alunos, que dançaram carregando estandartes com as cores do
Brasil e da Alemanha.
Encerrando a cerimônia, houve o descerramento das placas em agradecimento
aos benfeitores e, em seguida, um almoço de confraternização reunindo todos os
convidados. A noite, aconteceu a entrega dos diplomas de conclusão da 8ª série a
Rotary e a Alfabetização
125
duas turmas, numa cerimônia que teve a presença de rotarianos alemães e brasileiros.
Além do que aprenderam nas salas de aula, esses alunos levam da EPFM um belo
exemplo de solidariedade e companheirismo que uniu todos os benfeitores dessa
grande obra de educação. Valores que cruzaram fronteiras e foram capazes de
transformar um colégio e as perspectivas de vida de centenas de jovens cariocas - e
que podem mudar o mundo, se todos dermos as mãos.
O autor é jornalista profissional
126
Rotary e a Alfabetização
Educação para a Paz
Em outubro de 2003, participando do Fórum Multidistrítal sobre Resolução
de Conflitos, Desarmamento e Paz, na Universidade del Salvador, em Buenos
Aires, um dos Centros Rotary para Estudos Internacionais da Paz, Eduardo
de Barros Pimentel fez um pronunciamento que, pelo seu imenso valor didático
e cultural, reproduzimos aqui para conhecimento de todos os rotarianos
brasileiros.
Eduardo de Barros Pimentel
Ao abordar um tema, que hoje se resume na busca da paz, faço através da visão
de quem acompanha, há mais de cinqüenta anos, os caminhos da educação de um
país em desenvolvimento num mundo cada vez mais globalizado. Educação num
sentido muito mais amplo, que começa nos primeiros anos de vida, na infância, e
segue para além dos cursos de pós-graduação, sem jamais terminar.
É assim que me aventuro colocar ao abordar alguns conceitos sobre a
Educação para a Paz.
A escola sofreu, nas últimas décadas, enormes transformações. Deixou de ser
instrumento conservador de transmissão de conhecimentos para se tornar fator de
vanguarda e inovação; passou de objeto a sujeito da sociedade. A origem desse
turbilhão está na transformação do próprio mundo. Não foi a educação em si que
mudou, mas as novas relações sociais que exigiram dela a transformação.
A sociedade atual, centrada na informação e no conhecimento, está a exigir um
novo profissional, com características bem diversas das que eram requeridas até
então. Características como disciplina, obediência, respeito restritos a normas deram
lugar à criatividade, ao trabalho em equipe, à capacidade de aceitar críticas e ao
pensamento múltiplo.
A causa de tudo isso está na velocidade das transformações tecnológicas e
científicas que, além de superar conhecimentos adquiridos, provocam constantes
modificações nas relações sociais, principalmente no mundo do trabalno.
É fundamental trazer à tona a constatação de que todo esse avanço tecnológico
e científico não trouxe a igualdade, o pleno emprego e a paz.
Pelo contrário, temos uma multidão de excluídos, que, sem acesso à informação,
não vêem perspectivas; temos o acirramento das desigualdades e a multiplicação
dos conflitos. A construção da paz, da liberdade e da justiça social passa a ser hoje
tarefa fundamental da educação.
A escola sempre deu ênfase ao saber. A transmissão e a aquisição de
Rotary e a Alfabetização
127
conhecimentos eram o fim primeiro do processo de ensino e aprendizagem. O acúmulo
de conhecimentos para um posterior fazer no exercício profissional representava o
papel da educação. Duas conseqüências, hoje, são evidentes: o distanciamento da
escola do mundo em que está inserida e a radicalização do processo de desigualdade,
tendo a educação como seu instrumento.
Por outro lado, esse novo mundo não está a exigir apenas o saber. Mesmo
porque este se torna efêmero em vista da velocidade e da superação que a tecnologia
e a ciência impõem. Não se justifica a memorização de conhecimentos, rapidamente
ultrapassados. O que se impõe é a existência do ser, enquanto cidadão e profissional.
Não há mais como separar ou desvincular um do outro.
Não podemos negar que a escola sempre influiu no ser. Todos nós, de uma
forma ou de outra, fomos marcados, em nossa personalidade, pela escola que
freqüentamos. Não estavam aí, no entanto, as maiores atenções de nossos
educadores, exceto na busca de um comportamento para melhor assimilação de
conhecimentos. Hoje, tanto quanto o saber, o ser é fundamental à formação e à
educação de nossos jovens. Mais importante que conteúdos específicos, devese priorizar a formação ética, a autonomia intelectual e o pensamento crítico. Um
volume cada vez maior de informações está a nos invadir, seja em nosso espaço
público ou privado, e afeta profundamente a construção do coletivo e do individual
na sociedade que se forma.
A escola deixa, portanto, de ser ponto de manutenção social para atuar como
elemento de construção, tanto no que diz respeito ao ser quanto ao saber, conviver
e fazer.
Não basta saber, é preciso aprender a fazer e só se consegue ser se antes se
aprender a conviver.
Jacques Delors, num relatório da Unesco, identifica os quatro pilares da
educação: aprender a conhecer; aprender a fazer; aprender a conviver e aprender a
ser.
Aprender a conhecer; mas antes e mais importante é aprender a aprender, porque
a escola é uma oportunidade, mas o conhecimento se constrói durante a vida inteira.
O conhecimento bem adquirido se transforma em saber; e para um ser que aprendeu
a conviver, em sabedoria.
O progresso científico e tecnológico avança mais rápido do que a nossa
capacidade de achar soluções para os problemas que ele causa às pessoas e à
sociedade.
A dimensão ética da educação se impõe para evitar ou instrumentalizar a resolução
de conflitos e a conquista da paz.
Paz, não só pela ausência de guerra, mas pela convivência harmônica em um
128
Rotary e a Alfabetização
mundo multicultural, pelo respeito às diferenças, pela vivência segundo valores
universais e pela existência de uma consciência mais atenta e compassiva em
relação ao outro.
Assim eu entendo a Educação para a Paz e assim estão conformados os projetos
pedagógicos das entidades educacionais mantidas e dirigidas pela Fundação de
Rotarianos de São Paulo:
• Colégio Rio Branco
• Cepro - Centro de Ensino Profissional izante Rotary
• ITAE - Instituto de Tecnologia Avançada em Educação
• EECS - Escola Especial para Crianças Surdas
• FIRB - Faculdades Integradas Rio Branco, onde está inserida a
Faculdade de Relações Internacionais.
A Fundação de Rotarianos de São Paulo, que tenho a honra de presidir, nasceu
há 57 anos no seio do Rotary Club de São Paulo e tem como missão “servir, com
excelência, por meio da educação, formando cidadãos éticos, solidários e
competentes”; e como visão, “ser referência nacional e internacional na área da
educação”.
Vale a pena ser rotariano, trabalhar pela educação e sonhar com a paz.
O autor é EGD, sócio do RC São Paulo,
SP (D.4610) e presidente da Fundação de
Rotarianos de São Paulo
Rotary e a Alfabetização
129
A maior ONG rotária
dedicada à Educação
Eduardo de Barros Pimentel
Dois fatos, hoje, estão na consciência de todos como da maior relevância: a
importância da Educação e a do Terceiro Setor. Vivemos um período de transição,
em que começa a tomar corpo a sociedade pós-capitalista com sua nova economia,
a economia do conhecimento, atropelada, fustigada pelas tecnologias digital e da
inforrnação. A educação e a escola passam a ser as verdadeiras riquezas das nações.
De outro lado, a globalização e a complexidade de inúmeros problemas desafiam
os governos, desnudando a sua incapacidade de soluciona-los. Com isso, passam a
proliferar organizações privadas com responsabilidades públicas para ajudar, ou
substituir, o poder público em suas funções.
Terceiro Setor: ONGs
As Organizações Não-Governamentais - ONG’s, crescem em número e
importância, constituindo-se no que se passou a chamar de Terceiro Setor.
A comunidade passa a assumir responsabilidades e a realizar trabalhos que,
anteriormente, cabiam, apenas, ao Poder Público.
A prestação de serviços cresce em quantidade e qualidade e o custo é,
drasticamente, reduzido, em benefício da sociedade. A cidadania se fortalece e a
democracia passa a exibir, não só como ideologia, mas, concretamente, na prática
do dia-a-dia. As representações governamentais se reúnem para, em conjunto,
equacionar os seus problemas, e paralelamente, as ONGs fazem o mesmo, abordando
os mesmos assuntos, nas mesmas localidades e no mesmo momento.
Isto aconteceu em Jostiem, na Tailândia, em 1991, quando 155 países
coordenados pela Unesco decidiram, entre outras coisas, dar prioridade à área da
Educação, colocando em prática políticas que garantissem a universalização do acesso
ao ensino e a redução do analfabetismo à metade.
Em 26, 27 e 28 de abril do ano passado, em Dacar, no Senegal, realizou-se
nova reunião para avaliar os resultados dessas políticas e, apesar de um grande
avanço, as metas não foram plenamente atingidas. Existem ainda 113 milhões de
crianças, de 7 a 14 anos, fora da escola, e 880 milhões de analfabetos, dos quais
60% são mulheres. O Brasil apresentou resultados significativamente bons. As
mulheres já são maioria em todos os níveis de ensino, do infantil ao curso superior.
Da população, 86% de crianças, de 7 a 14 anos, que estavam na escola em 1991,
Rotary e a Alfabetização
131
subiram para 95%, em 1998. O analfabetismo recuou, de 20,1% em 1991, para
13,8%, em1998.
Precisamos melhorar essa performance, atingindo 100% de crianças na escola e
reduzindo o analfabetismo a 6% nos próximos 15 anos. Temos ainda que garantir a
expansão de oferta do ensino médio com qualidade e ampliar a cobertura na educação
infantil.
Há 54 anos, o Rotary Club de São Paulo, preocupado com a juventude em seu
município, iniciou estudos para encontrar caminhos para ajudá-la. Motivados por
esses estudos, 20 companheiros resolveram criar a Fundação de Rotarianos de São
Paulo, centrando a sua ação na oferta de ensino, de alto padrão de qualidade, na
construção da cidadania e na valorização da postura ética.
Com um patrimônio de 100 milhões de dólares, a Fundação de Rolarianos de
São Paulo mantém o Colégio Rio Branco, o Curso de Ensino Profissionalizante RotaryCEPRO, o Curso Especial para Crianças Surdas, o Instituto de Tecnologia Avançada
em Educação -ITAE, o Mutirão Digital e as Faculdades Domus.
O Colégio Rio Branco tem, matriculados nas duas unidades Granja Vianna e
Higienópolis, cerca de 5 mil alunos, nos cursos infantil, fudamental e médio. Com
excelentes instalações e projeio pedagógico moderno, ele se uliliza de todos os
recursos da mais avançada tecnologia.
Com telas retráteis, sistema de som, acesso à Internet e à rede de computadores
da escola em todas as salas; com kits móveis, compostos de um microcornputador
multimídia, um projetor que capta sinal de vídeo e compulador, um amplificador de
som, um videocassete e um retroprojetorr o professor pode levar para a sala de aula
softwares, apresentações de powerpoint, vídeos e acessar o mundo através da
Internet.
Os alunos se servem, também, desses mesmos equipamentos para apresentações
aos professores. Esta é a sala de aula que viabiliza a aplicação da nova pedagogia,
onde o conhecimento é produzido pela informação interpretada, relacionada e
processada, e onde o professor tem um novo papel e uma nova postura.
Com biblioteca de mais de 90 mil volumes, hemeroteca, videoteca, laboratórios,
que se rivalizam com os das melhores universidades e acima de tudo, com um corpo
docente altamente qualificado e atualizado, o Colégio Rio Branco é síntese de tradição
e modernidade fazendo escola.
Modernização
O antigo Lar Escola Rotary, de 54 anos atrás, deu lugar ao moderno Centro de
132
Rotary e a Alfabetização
Ensino Profissionalizante Rotary-CEPRO, onde se formam 4.800 alunos por ano.
Os jovens do CEPRO passam, obrigatoriamente/ pelo curso de Capacitação Básica
para o Trabalho, para depois escolherem outro, entre dez,de Capacitação Específica
para o Trabalho. São cursos atuais como Informática, Hardware PC, Computação
Gráfica, Desenho Arquitetônico, Desenho Publicitário, Telemarketing, Técnica de
Vendas, Serigrafia, Cabeleireiro e Eletricista.
Dois outros importantes programas são oferecidos aos jovens: Programa Jovem
Empreendedor e Monitoria. No primeiro, um grupo de jovens organiza uma empresa
e a dirige e, ao final de seis meses de trabalho contabiliza lucro ou prejuízo. Na
Monitoria, uma equipe se forma e se ocupa de uma tarefa. Durante a realização
dessa tarefa se estimulam e aperfeiçoam as qualidades de liderança dos componentes
do grupo,
A empregabilidade dos ex-alunos do CEPRO atesta a eficiência do ensino e o
aproveitamento desses jovens, todos oriundos da escola média do ensino público.
A Escola Especial para Crianças Surdas, funcionando em prédio recémconstruído, trabalha com crianças surdas a partir de quatro anos, ministrando cursos
regulares de ensino infantil e fundamental primeiro ciclo. Após a conclusão do 1º
ciclo, os alunos passam a frequentar o 2º ciclo do curso Fundamental, em escola
pública. A Fundação contrata intérpretes da linguagem de sinais para traduzir para
os alunos as aulas dos professores e as suas indagações.
Apoiados por fonoaudiólogos, computadores, professores especializados e,
também, por alguns auxiliares surdos, os jovens se preparam para atuar na sociedade
onde predominam os ouvintes, mas vão desenvolvendo e assimilando a cultura surda.
Nesse processo, a educação dos pais e familiares é condição sine qua non para a
aceitação do aluno na escola. Tanto quanto para os alunos do CEPRO, o curso é
totalmente gratuito, e reservado apenas para filhos de famílias sem condições
financeiras para pagar por essa educação.
O prestígio de nossa Escola Especial para Surdos já transpôs fronteiras e é
considerada do mais alto padrão de ensino e instalações em nível internacional
O Instituto de Tecnologia Avançada em Educação-ITAE, é um fórum aberto e
permanente, para o estudo e discussão do todos os assuntos e atividades, pedagógicas
ou administrativas, que influenciam a Educação. Além de ser fórum permanente,
promove cursos de reciclagem e aprimoramento para profissionais ligados à Educação,
valendo-se de recursos humanos e técnicos nacionais e internacionais.
O Mutirão Digital, que visa à melhoria da escola pública através da Internet,
pretende colocar em toda escola pública computadores, como recurso pedagógico,
e treinar seus professores para usá-los em todo o território nacional. Este programa,
que já vai para o terceiro ano de atividade, conta corn o apoio técnico da Escola do
Rotary e a Alfabetização
133
Futuro da USP, do Colégio Rio Branco e a parceria do Rotary, no Brasil. Conta,
também, com o apoio de empresas como o Banco Itaú, Microsoft e Carrefour, entre
outras, e tem celebrado convênios com o poder público, através das Secretarias de
Educação, estaduais e municipais. É um programa ambicioso que, começando pela
Educação, caminhará para o desenvolvimento das comunidades, através da enorme
rede de comunicação altamente qualificada e respeitável com base nas escolas e nos
Rotary Clubs locais.
Em termos modelares e estimuladores pelo exemplo, a Fundação de Rotarianos
de São Paulo adotou a mais antiga escola pública do Estado de São Paulo, fundada
em 1894, a Escola Estadual de São Paulo, o antigo Ginásio do Estado ou Colégio
Presidente Roosevelt. O objetivo é dar a essa escola pública as condições de oferecer
a mesma qualidade de ensino do Colégio Rio Branco. O trabalho conta com o apoio
da Associação dos Antigos Alunos e o acompanhamento do Unicef. O resultado,
certamente, terá repercussões profundas na melhoria do ensino em geral, e em
particular, no ensino público de São Paulo.
Ensino superior
Talvez por ser o maior desafio e a maior conquista, deixamos para falar no final
de nossas Faculdades Domus. Com uma bagagem educacional alicerçada nas
conquistas do passado, adentramos, somente agora, no Ensino Superior, apesar dos
instituidores da Fundação já contemplarem, nos estatutos de sua constituição, o ensino
universitário como um de seus objetivos.
Ganhamos respeitabilidade, capacitação e sustentação para empreender e realizar
esse grande objetivo. Já somos a maior obra rotária do mundo, no campo da educação,
e estamos caminhando agora para nos tornarmos a mais importante e abrangente
entidade educacional do Terceiro Setor, no Brasil, sem a conotação de pública ou
confessional.
Temos pressa, mas priorizamos a qualidade. Iniciamos com cinco faculdades Comunicação Social, Pedagogia, Relações Internacionais, Turismo e Análise de
Sistemas -, já temos sete em funcionamento, com a abertura do processo de seleção
para as faculdades de Administrarão e Letras. Neste mês teremos nove com o início
das Faculdades de Economia e Direito. Com um corpo docente composto por 70%
de doutores, 28% de mestres e 2% de especialistas, já somos Faculdades Unidas
caminhando para Centro Universitário para nos tornarmos, finalmente, Universidade.
Faculdades Domus, Faculdades Rio Branco, Universidade Rio Branco,
Universidade Rotary, não importa. O que importa é que o ideal de Rotary está
fluindo, atuando e movendo as engrenagens que ajudam o crescimento do nosso
povo e propiciarão o ingresso do Brasil no concerto das nações desenvolvidas.
134
Rotary e a Alfabetização
Somos rotarianos e não temos o direito de ter sonhos pequenos. Nosso destino
é acalentar sonhos ambiciosos e concretizá-los.
Construir nosso Campus para daqui a dez anos e abrigar 15 mil alunos numa
universidade-modelo não é tarefa pra qualquer um. Esta tarefa é própria para
rotarianos, e a Fundação de Rotarianos de São Paulo sem dúvida, e se Deus quiser,
dela irá se desincumbir bem.
O autor é EGD, sócio do RC São Paulo,
SP (D.4610) e presidente da Fundação de
Rotarianos de São Paulo
Rotary e a Alfabetização
135
Rotary e a alfabetização
Plínio S. Guimarães Lage
Todos os dias, ao abrir o jornal para tomar conhecimento das notícias mundiais
e da comunidade, você está usufruindo de um direito que não está disponível a 25%
da população do mundo. São pessoas analfabetas, que não podem ler nem escrever.
Milhares de outras são analfabetas funcionais, ou seja, capazes de ler e escrever mas
não em um nível que permita que enfrentem, com sucesso, as diversas demandas da
vida diária.
As estatísticas no Brasil, infelizmente, não são confiáveis e, por esta razão, não
temos dados estatísticos. É certo, porém, que 96% dos analfabetos vivem no mundo
em desenvolvimento. Para se ter uma idéia, nos Estados Unidos 27 milhões de pessoas
não podem ler e escrever o suficiente para exercer bem suas funções na sociedade e
45 milhões são apenas marginalmente competentes. A situação é semelhante em
outros países industrializados.
Um estudo recente demonstrou que na França, 15% dos adultos são totalmente
analfabetos, enquanto cerca de 60% lêem o seu idioma nativo com dificuldade. O
que dizer então do Brasil, onde a educação nunca foi prioridade do governo. O alto
preço do analfabetismo e do analfabetismo funcional é pago por todos. A indústria
perde bilhões de dólares por ano por causa dos trabalhadores que não sabem ler
suficientemente bem para desempenhar suas funções, diminuindo a qualidade e a
produção, aumentando o índice de acidentes no local de trabalho. Numa época de
tanto avanço tecnológico, ainda vemos crianças de seis a onze anos de idade que
não têm acesso à escola. Outras deixam, prematuramente, a escola, devido à pobreza
e a pouca esperança em relação ao futuro.
Desde há muito, o analfabetismo tem sido uma preocupação do Rotary
International. Diz Aldeus Huxley sociólogo, que “a pessoa que sabe ler tem o poder
de enriquecer a sua vida, de expandir seus horizontes, de fazer a sua vida mais
completa, significativa e interessante”.
Quantos adultos em nossa comunidade não terminaram a escola primária? Existem
crianças em nossa comunidade que não têm acesso à escola? E, sobre a evasão
escolar, o que fazer? Jã pensou nisto? Enquanto ao Estado caberá o papel gestor
das finanças públicas, intervindo menos e com mais qualidade, definindo e realizando
prioridades para a saúde, educação e segurança, caberá a instituições da qualidade
do Rotary International, a homens e mulheres preocupados, dedicarem o seu talento,
a sua inteligência, a sua vontade, e ação, realizar suas idéias e seus ideais, para que o
Rotary e a Alfabetização
137
mundo seja cada vez melhor e que tenhamos, neste novo século, melhor qualidade
de vida.
Construindo as Letras
Um ótimo exemplo da atuação do Rotary na alfabetização de adultos é dado
pelo RC Santos-Oeste, SP, D.4420, com o projeto Construindo as Letras (Brasil
Rotário, junho de 2000).
Operários da construção civil são alfabetizados na própria obra em que
trabalham. Essa iniciativa dos companheiros santistas conta com a parceria da prefeitura
da cidade, através de sua secretaria de Educação - que fornece o material escolar e
os professores, das construtoras que cedem o espaço físico, de entidades ligadas
aos empresários da construção civil, como a Assecob e o Sinduscon e, finalmente,
de vários rotarianos que apadrinham os núcleos que vão se formando, acompanhando
o desenvolvimento de cada grupo e atendendo às suas necessidades imediatas.
O autor é sócio do Rotary Club de Cruzeiro,
SP (D.4600) e governador 1997-98 do distrito
138
Rotary e a Alfabetização
Projeto Renascer
alfabetização de adultos
João César Carvalho de Faria
O Distrito 4410 do RI, correspondente ao Estado do Espírito Santo, firmou um
convênio com o Governo Estadual para erradicar, em três anos, o analfabetismo de
adultos acima de 15 anos. Será o primeiro estado do Brasil a conquistar essa vitória.
São, hoje, ao todo, 271.600 analfabetos adultos , dos quais, a Secretaria Estadual
de Educação já está, através de um outro programa, alfabetizando 75 mil. Graças ao
Rotary e ao projeto Lighthouse, os outros 196.600 poderão, também, ser
alfabetizados.
Estaremos desta forma contribuindo decisiva e corajosamente para reduzir
sensivelmente, a violência que tantos males tem trazido para todas as classes sociais.
Não nos esqueçamos de que um adulto analfabeto, hoje, não consegue trabalhar na
posição mais simples, pois qualquer empresa exige, pelo menos, o primeiro grau em
suas contratações.
Seminário
A metodologia usada foi objeto de um seminário realizado em Vitória, em agosto
do ano passado, sob a coordenação do então governador do disrito, João César
Faria, e a orientação do coordenador regional do Lighthouse, companheiro Carlos
Al berto Peçanha. Participaram do evento as autoridades estaduais e municipais do
Espírito Santo, que aprovaram, inteiramente, o uso da nossa metodologia.
Tudo teve origem na Austrália, quando houve necessidade de se manter
comunicação com os aborígenes que ali residiam e estavam sendo dizimados por
doenças trazidas pelos novos habitantes dessa ilha da Oceania. Ocorre que a língua
falada pelos aborígenes tinha uma base conceitual inteiramente diferente do inglês.
Até mesmo o seu sistema numérico era binário. Era quase como tentar comunicar-se
com seres de outro planeta. A necessidade de salvar aquelas vidas, porém, fez com
que esforços adicionais e extraordinários fossem desenvolvidos para se conseguir
que alguns australianos desenvolvessem uma forma eficiente e positiva de comunicação
que, afinal, funcionou. Este foi o início da metodologia Lighthouse.
O Rotary International decidiu, então, realizar um teste da nova metodologia na
Tailândia, país que apresentava um elevado contingente de analfabetos. Para tal,
foram identificadas quatro escolas do interior do país onde todas as tentativas
anteriores para alfabetizar as crianças que ali residiam, foram infrutíferas. Após a
Rotary e a Alfabetização
139
aplicação do sistema, o sucesso foi enorme. Tão grande que ficou decidido estender
o teste a outras 20 escolas tailandesas. E, novamente, o resultado foi excepcional, a
tal ponto que o governo central decidiu utilizar o Lighthouse em todas as suas escolas.
Em 1991, eram 93% de analfabetos; hoje, menos de dez anos depois, são 7%.
O fato é que o Lighthouse oferece vantagens impressionantes, quer no custo do
material didático requerido - 60 dólares por aluno/ ano, nos métodos convencionais
de alfabetização de adultos, contra quatro dólares no Lighthouse -, quer no tempo
necessário para a alfabetização - dois a três anos em média nos métodos convencionais,
contra sete meses em média no Lighthouse.
Iniciou-se, então, uma difusão rotária deste sucesso alcançado, pelo mundo inteiro.
E assim chegou ao Brasil a notícia que o Rotary estava propiciando às inúmeras
comunidades da Terra. E uma vez mais, constatou-se a importância das comunicações
interna e externa entre as diversas células do Rotary. As divulgações das realizações
de sucesso permitem que distritos e clubes de outras regiões possam fazer uso de
experiências positivas e aplicar soluções similares, já testadas e reconhecidas por
sua excelência.
O Rotary é uma organização exemplar; ele através de bons exemplos e da
participação das nossas comunidades, ajudará a acelerar a chegada de uma nova
era para a humanidade. É ele que contribuirá para transformar a Terra num mundo
de paz, onde o desenvolvimento social será alcançado e a distância entre ricos e
pobres reduzida. Estaremos, então, em um mundo onde as disputas serão minimizadas
e a violência não terá mais lugar.
No limiar de um novo século, nós, rotarianos, já temos as ferramentas suficientes
para preparar o Rotary para os novos desafios que virão e que serão sobrepujados
pela ação do nosso conjunto. Teremos um Rotary cada vez mais forte e atuante. E
no futuro, nossos filhos e netos sentirão orgulho pelo muito que teremos feito,
sobretudo observando em que condições o fizemos.
O autor é sócio do Rotary Club de Vitória-Praia
de Camburi, ES (D.4410) e
governador 1999-2000 do distrito
140
Rotary e a Alfabetização
A montanha da Esperança
Caminho para a paz
João César Carvalho de Faria
Tudo começou em 1971, na Etiópia, quando um grupo de homens decidiu fazer
a diferença em uma comunidade que carecia de quase tudo e, por isso mesmo, se
caracterizava por um elevado índice de violência e criminalidade.
As famílias viviam em condições subumanas, não tinham as mínimas condições
de vida, quase nada em termos de recursos sanitários, nem mesmo água potável
para beber, seus filhos não recebiam instrução e sequer o atendimento médico básico,
os locais em que viviam não podiam de fato ser chamados de casas, homens e
mulheres não tinham qualquer esperança de melhorar, nem mesmo um sonho. Drogas,
prostituição, abuso infantil e toda a sorte de outros crimes eram comuns naquelas
localidades.
Os meninos de rua
Ali nasciam os meninos de rua, ali eram criados, no meio dos maus hábitos que
adquiriam e dos exemplos maléficos que recebiam. Sua expectativa de vida era menor
do que 29 anos. Eram potencialmente os marginais do futuro próximo. Não podiam
amar seus semelhantes, não podiam entender porque haviam nascido em tais
condições e não as aceitavam, eram corroídos pela inveja, começavam um processo
de ódio por tudo que os cercava.
Na capital do país, Adis-Abeba, foi criado um internato para cuidar desses
meninos, dar-lhes instrução, profissionalização, hábitos saudáveis, religião, sua
reintrodução na sociedade e vários outros benefícios que qualquer ser humano merece.
No início eram cerca de 100 meninos. Com o advento do comunismo, o grupo
fundador deixou o país, mas a comunidade local entendeu a importância do instituto
e o manteve em operação, tendo sido, inclusive, bastante ampliado para cinco mil
meninos. A semente havia sido bem plantada, foi cultivada e germinou. O resultado
foi tão excepcional que o atual presidente do país, Negassu Gidada, e o embaixador
da Etiópia no Reino Unido, passaram pelo instituto.
Em 1991, os Rotary Clubs de Campinas, São Paulo e New Jersey, Estados
Unidos, juntamente com os descendentes daquele grupo inicial, implantaram a primeira
unidade no Brasil. Os maravilhosos resultados esperados foram confirmados e a
Cidade dos Meninos, em Campinas, passou a ser um exemplo do que poderia ser
obtido com aqueles meninos de rua, se fossem acolhidos com carinho e tratados
Rotary e a Alfabetização
141
como nossos filhos. Hoje aquela unidade já tem o primeiro Interact Club do mundo
composto de ex-meninos de rua. Os interactianos colaboram de todas as formas
com a população carente da região e em particular com os habitantes da favela
Moscou. Usam suas qualificações profissionais adquiridas no instituto para reparar e
construir casas para aqueles que não tiveram, como eles, sorte no núcleo em que
nasceram, promovem campanhas para arrecadação de alimentos e utensílios para
minorar o sofrimento daquela população mais carente. Enfim, aqueles interactianos,
com essas atitudes, demonstram, claramente, a sua recuperação e o seu desejo de
participar de uma sociedade mais saudável e com menos injustiças sociais, que possa
colaborar com a tão almejada paz entre as nações, que é o objetivo maior do nosso
Rotary International.
Em junho de 1998, durante a Convenção Internacional de Indianápolis, tomamos
conhecimento desse tipo de atendimento humano, através de um estande lá colocado.
O empreendimento se encaixava perfeitamente em nosso programa distrital para
1999-2000, que enfoca o menor carente.
Somos um Distrito rotário que corresponde a um estado brasileiro, cuja capital,
de acordo com a Unesco, apresenta o maior índice relativo de criminalidade, e em
que cerca de 80% de seus presos estão com idades entre 14 e 25 anos.
A realidade
Coincidentemente, essa faixa etária é aquela em que se concentra a maciça
quantidade daqueles que morrem por mortes violentas no Estado do Espírito
Santo. Nada mais justo para o nosso programa. Não há qualquer dúvida, porém,
de que espelhamos aqui o quadro que se observa em grande número das nossas
cidades e em incontáveis países do mundo. Esta é a realidade da nossa vida
contemporânea, que coexiste com um aumento cruel da violência. Não podemos
simplesmente culpar a nossa Justiça, nossa polícia, nossas autoridades ou nossos
governos. É claro que administrações incapazes agravam o problema. Porém, o
núcleo da questão está posicionado de maneira muito mais profunda. Enquanto
não pudermos realizar aquele nosso sonho de minimizar as diferenças sociais, de
promover projetos que ampliem as condições de competitividade dos nossos
cidadãos mais carentes, não podemos pretender elevadas taxas de redução da
violência, não podemos pretender acelerar o processo de obtenção de objetivos
maiores em termos de melhoria da vida no planeta. Não podemos pensar ainda
na Paz entre as nações.
E a responsabilidade maior de enfrentar esses problemas é da comunidade
e, prioritariamente, de organizações como o Rotary International. Este é, pois, o
nosso sonho de cuidar do problema em seu nascedouro, ou seja, na redução
142
Rotary e a Alfabetização
drástica do quadro violento do menor carente, de onde provém a quase totalidade
dos nossos criminosos.
Aprendemos desde cedo que “Quando sonhamos sozinhos, é apenas um sonho,
mas quando sonhamos em conjunto, é o começo de uma realidade”.
Nossa realidade começou em Indianápolis, durante a Convenção do RI. Lá os
Distritos 4410 - Espírito Santo, Brasil - e 7510 - New Jersey, EUA - começaram a
idealizar um sonho real. Acordamos visitar juntos o nosso estado para confirmar as
necessidades de um empreendimento voltado para o nosso menor de risco, ou seja,
aquele que já cometeu pequenos delitos/crimes, ou que não tem convivência viável
com suas famílias. Constatamos, desde logo, a dura realidade e, ainda na segunda
semana de julho, identificamos o local ideal para concretizar o nosso sonho.
Em 29 de julho de 1998, apenas 45 dias após aquele primeiro contato rotário,
pudemos assinar um contrato de comodato com o Governo do Estado do Espírito
Santo, para cessão, por 50 anos, daquele local que compreende 200 mil metros
quadrados, e já tem um prédio construído de 7.000 metros quadrados. O imóvel
estava abandonado há dez anos, havia sido idealizado para ser a sede do Iesbem instituto que cuidaria do bem-estar do menor no Espírito Santo -, e estava em
lastimável estado de conservação. Janelas e portas haviam sido roubadas, bem como
todo o telhado; as instalações haviam desaparecido e ainda outros danos foram,
também, constatados. A localização, porém, é ideal; o terreno é adequado para o
que queremos e a edificação é recuperável. Estabelecemos, desde logo, uma parceria
com uma entidade especializada e experiente em operação de projetos desse tipo, e
que, também, é sem fins lucrativos, a Hope Unlimited. Seu presidente, é rotariano e
filho do líder daquele grupo inicial da Etiópia.
Após a publicação do contrato no Diário Oficial do Estado, confirmamos o
orçamento e realizamos o detalhamento. Decidimos sonhar um pouco mais e, por
isso, idealizamos um empreendimento modelo e celular, que pudesse ser multiplicado
por todo o Brasil e por quaisquer outros países. Estamos, firmemente, convictos de
que se esta multiplicação se realizar no mundo, estaremos chegando a uma nova era
para a humanidade.
Não estamos falando de um novo milênio que, inexoravelmente, se aproxima,
mas de fato de um novo mundo, diferente deste, sem violência, um mundo em que os
homens possam viver em paz e se desenvolver como seres civilizados que devemos
ser. O Rotary International, por certo, estará diretamente compartilhando com os
nossos sonhos! Na ocasião, estaremos então, todos os rotarianos, sonhando juntos.
Já estamos a caminho, pois demos entrada em um Subsídio 3H na Fundação Rotária.
O objetivo do “Montanha da Esperança” é infundir, nos nossos meninos de
risco, a Esperança. Esperança através da instrução, ampliando o seu contato com o
Rotary e a Alfabetização
143
mundo através do saber. Esperança através da profissionalização, desenvolvendo
oportunidades reais de subsistência, Esperança através de um local digno e seguro
para morar. Esperança através da reintrodução na sociedade, buscando uma vida
normal de cidadãos de bem que serão.
Nosso caminho já está sendo trilhado. Nosso objetivo é realizar o nosso sonho, em
conjunto com todos e cada um dos rotarianos, e assim encurtar o nosso percurso
para a paz completa em nosso planeta.
O autor é sócio do Rotary Club de Vitória-Praia
de Camburi, ES (D.4410) e
governador 1999-2000 do distrito
144
Rotary e a Alfabetização
Farol da Alfabetização
Richard F. Walker
Em resposta ao desafio lançado pelo presidente Glen W. Kinross, a Força Tarefa
de Alfabetização e Ciência do Rotary desenvolveu uma estratégia para levar a
alfabetização a mais de um bilhão de pessoas dos países em desenvolvimento. E
pede aos rotarianos de todo o mundo para instalarem, em cada continente, o que
chama de Faróis da Alfabetização, para ajudar a quebrar o círculo de pobreza que
vem cercando as pessoas há muitas gerações.
A estratégia do Farol já foi desenvolvida. O primeiro Projeto Farol de
Alfabetização, realizado na Tailândia, levou ao desenvolvimento de outros bemsucedidos em muitos países. O projeto partiu de um Subsídio Equivalente para o
patrocínio do projeto Encontros Intensivos do Idioma - CLE, com a finalidade de
desenvolver técnicas de ensino em quatro escolas de áreas rurais remotas, onde os
trabalhos de alfabetização haviam falhado. O CLE ensina aos alunos a ler, escrever
e confeccionar seus próprios livros, além de promover a compreensão da herança
cultural do país e a conscientização sobre saúde, meio ambiente e outros assuntos
importantes para a sociedade a que pertencem.
O sucesso desse trabalho resultou em um Subsídio 3H (Saúde, Fome e
Humanidade), para desenvolvimento do programa na Tailândia, entre 1987 e 1991,
levando-o a 400 escolas em diversas províncias, mesmo as mais remotas.
O sucesso veio rápido. O ministro da Educação tailandês reconheceu a
importância do projeto e o introduziu em todas as regiões com problemas sérios de
analfabetismo. A seguir, adotou um programa para o país inteiro, dentro do Plano
Nacional de Desenvolvimento 1992-96, funcionando, agora, em todas as escolas
públicas. O secretário geral de Educação Elementar, Komol Pruprasert fez,
recentemente, um agradecimento público ao Rotary: “O trabalho amplo e substancial
realizado pelos rotarianos tornou possível a grande melhoria da educação em toda a
Tailândia.” Eis alguns dos principais elementos da estratégia Farol da Alfabetização.
1. O projeto é desenvolvido de modo a apresentar soluções para problemas de
analfabetismo, em larga escala, nos países em desenvolvimento.
2. Inspira, guia e apóia autoridades nacionais, com o intuito de reduzir o
analfabetismo por todo o país.
3. Inspira e incentiva, também, sua implementação em outros países.
4. Organizações internacionais trabalham em conjunto com o Rotary para
implementar o projeto em todo o mundo.
Rotary e a Alfabetização
145
A prática
A realização prática da alfabetização, entretanto, é bastante complexa, como
vemos a seguir.
1. Já que o Rotary não pode custear os projetos a nível mundial, um subsídio 3H
deve servir, primeiramente, como um projeto Farol da Alfabetização, influenciando
e auxiliando o governo a completar a cobertura de toda a nação.
2. Há a necessidade de vários tipos de projetos Farol da Alfabetização, mesmo
dentro de uma mesma região, devido a fatos como: educação formal anterior; crianças
mais velhas que não estão na escola; grupos especiais; adultos analfabetos funcionais,
especialmente mulheres; treinamento de professores.
3. As técnicas de ensino e desenvolvimento de programas são adaptáveis de um
país, ou contexto, para outro, mas o programa em si não é; ele deve ser desenvolvido
por pessoas do local, para que se encaixem em sua cultura, necessidades e recursos.
Diferentemente da Polio Plus, o Farol da Alfabetização não irá precisar de uma
campanha de arrecadação de fundos em larga escala.
Projetos bem-sucedidos
O sucesso do primeiro projeto na Tailândia já inspirou clubes de Bangladesh e
do Distrito 9800 (Austrália) a iniciarem programas-piloto em Bangladesh. Um projeto
3H completo já foi lançado lá, em conjunto com o Ministério da Educação.
Em seguida, o Rotary Club de Toorak patrocinou um programa-piloto nas Ilhas
Salomão, contando com o apoio técnico da Tailândia, havendo, lá, proposta de um
projeto 3H, com a intenção de disseminar o trabalho para outras 11 nações do
Pacífico Sul.
A coordenadora da equipe de alfabetização da Tailândia, Saowalak Rattanavich
- sócia do RC de Bangrak - está ajudando o Ministério da Educação a treinar
especialistas. O projeto no Laos tem apoio do Banco Mundial, e está progredindo
mais rapidamente do que o da Tailândia.
A eficácia da estratégia já foi testada durante um bom tempo, e em diferentes
países e culturas. Este não é um projeto “paliativo”; através de um ataque sistemático
ao analfabetismo nos países em desenvolvimento, nação por nação, a estratégia de
alfabetização do Rotary tem, claramente, a capacidade de mudar o mundo.
Patrocínio
Para lançar o Farol da Alfabetização em todo o mundo, é preciso, urgentemente,
o patrocínio de clubes e distritos para os seguintes projetos:
Encontros Intensivos de Idiomas em escolas
• África do Sul: Norte e cabos oriental e ocidental da África do Sul, Malawi,
146
Rotary e a Alfabetização
Moçambique, Zâmbia.
• Norte da África: Argélia, Egito, Nigéria.
• Ásia: Filipinas, Índia, Indonésia, Paquistão.
• Pacífico Sul: Fiji, e outras localidades em estudo.
Projetos para adultos, com ênfase nas mulheres
• África: Egito, Moçambique, Quênia, províncias do norte da África do Sul.
• Ásia: Bangladesh, Índia (do tipo desenvolvimento comunitário), Indonésia.
• América Latina: República Dominicana.
Projetos para crianças de rua
• Brasil, Egito (alto), Filipinas, Peru, Suazilândia.
Projetos para grupos especiais
• EUA, Polônia.
Apoio
Será necessária uma resposta rápida dos rotarianos dos países em
desenvolvimento para o início dos projetos:
Essa campanha de alfabetização não é um exercício de arrecadação de fundos apenas os recursos usuais serão utilizados, com os subsídios oferecidos pelas agências
de auxílio. Mas, à medida em que os clubes e distritos patrocinarem os projetospiloto, verão que estão sendo pioneiros no caminho para uma vida melhor para os
milhões de analfabetos dos países em desenvolvimento, que, de outra forma, não
teriam como progredir.
É necessário o apoio imediato dos clubes e distritos. Pedimos aos rotarianos
que se movimentem imediatamente, entrando em contato com o coordenador de sua
zona, cujo nome aparece no Official Directory.
Ao saber do que cada um precisa, o coordenador irá apresentar, a todos, um
projeto que irá ajudar os rotarianos a realizarem o que têm em mente, principalmente
nas áreas de planejamento de projetos; requisição de um Subsídio Equivalente; apoio
técnico para o projeto; fornecimento de fundos posteriores, se o programa-piloto
tiver continuidade e proposta para um Subsídio 3H.
O patrocínio de um projeto do Farol da Alfabetização tem grande propósito
econômico. A melhor forma de se conseguir retorno contínuo do dólar rotário é
lançar projetos que inspirem e guiem pessoas diferentes com problemas semelhantes
e, depois, encorajar agências nacionais e internacionais a se encarregarem dos
trabalhos aos quais demos início.
Rotary e a Alfabetização
147
Os rotarianos podem ser a luz-guia da esperança ao liderarem o caminho que
levará a alfabetização a um bilhão de pessoas nos países em desenvolvimento.
Coordenadores de área
• Norte da África - Salem Mashour (Egito), fax: 20-2-341-1582;
e-mail: <[email protected]>
• Sul da África - Tony Whitehead (África do Sul), fax: 27-21-419-9493;
e-mail: <[email protected]>
• Á s i a - N o r a s e t h P a t h m a n a n d ( Ta i l â n d i a ) , f a x : 6 6 2 - 2 6 4 - 0 2 5 5 ;
e-mail: <[email protected]>
• Europa - Eve J.T. Malmquist (Suécia), fax: 46-431-61351
• América Latina - Hipólito Ferreira (Brasil), fax: 55-31-241-4417;
e-mail: <[email protected]>
• América do Norte - J. Barry Smith (EUA), fax: 770-698-0223;
e-mail: <[email protected]>
• O c e a n i a - R i c h a r d Wa l k e r ( A u s t r á l i a ) , f a x : 6 1 7 - 3 2 7 9 - 5 0 9 2 ;
e-mail: <[email protected]>
• RIBI- Anthony F. de St.Dalmas (Inglaterra), fax: 44-181-883-2181
Materiais sobre o programa
A Força Tarefa de Alfabetização e Ciências preparou materiais especiais para
ajudar os coordenadores de zona e os clubes a iniciarem projetos nos países em
desenvolvimento. Esses itens, que incluem diretrizes para projetos Farol da
Alfabetização, um vídeo e um manual do professor para ensino através do CLE,
podem ser obtidos com o coordenador de área.
O autor é EGD, coordenador-geral da Força Tarefa de
Alfabetização e Matemática do Rotary
International para 1997-98, e sócio do
RC de Salisbury, Qld., Austrália (D.9630).
148
Rotary e a Alfabetização
Por que o raciocínio científico?
Marjorie C. Carss
Uma das questões abordadas pela Força Tarefa de Alfabetização e Ciências é a
necessidade de incluir o raciocínio como uma das necessidade das pessoas dos
países em desenvolvimento. Realmente, para vários grupos - incluindo mães solteiras,
mulheres em geral, crianças de rua, fazendeiros, agricultores, coletores - a força
tarefa observa que os conhecimentos de matemática têm um papel mais relevante do
que a alfabetização geral.
Em muitos casos, indivíduos e grupos consideram a matemática como parte da
alfabetização. Embora a Unesco, em seu Ano Internacional da Alfabetização, tenha
acrescentado a expressão “e Ensino de Matemática”, essa última questão recebeu
pouca atenção na maioria dos países. Nos lugares onde levantou algum interesse, foi
geralmente considerada como dentro do contexto do aprendizado sobre
computadores e da matemática ensinada nas escolas regulares. Porém, de acordo
com o relatório “Todos sabem contar: um relatório à nação sobre o futuro do ensino
da matemática”, lançado pelos EUA, o aprendizado de matemática “requer mais do
que uma simples familiaridade com os números. Para lidar com confiança com as
demandas da sociedade atual, os indivíduos devem ser capazes de compreender as
implicações de muitos conceitos matemáticos como, por exemplo, probabilidade,
lógica e gráficos - que permeiam as notícias diárias e as decisões de rotina.”
Em 1996, a Associação Australiana de Professores de Matemática - AAMT publicou uma declaração de “Conhecimento e Compreensão da Matemática para a
Participação Efetiva na Sociedade Australiana”. Nessa declaração, enfatizou a
necessidade de se comunicar em linguagem matemática, de ter experiências na
aplicação da matemática para a solução de problemas práticos e de pensar
matematicamente. Acima de tudo, ela assinalava a necessidade de mudar e expandir
o conceito de numérico necessário para assimilar o amplo uso das novas tecnologias
de informação.
Preocupado com o fato de que muitos estudantes estavam abandonando a escola,
por não serem capazes de se locomoverem eficazmente dentro do mercado de
trabalho, ou para se candidatarem a uma educação ou treinamento mais aprimorados,
o governo australiano estabeleceu um comitê para identificar algumas aptidões básicas.
As seis aptidões - todas elementos do pensamento abstrato - incluíam coletar e
analisar informação, comunicar idéias e conhecimentos, planejar e organizar atividades,
usar idéias e técnicas matemáticas, resolver problemas e usar tecnologia.
Rotary e a Alfabetização
149
Como parte do projeto sobre a aptidão que utiliza a matemática, a AAMT
compilou casos do uso, que as pessoas fazem, das idéias e técnicas matemáticas em
uma grande variedade de meios profissionais e da vida diária. A maioria das pessoas
observadas durante um dia inteiro de atividades não tinha consciência de quantas
vezes, da variedade de formas e do âmbito de contextos nos quais usaram idéias e
técnicas matemáticas. O relatório do comitê enfatiza que o comportamento em relação
a números varia de pessoa para pessoa, e em relação a uma pessoa, varia de acordo
com o contexto em que ela vive e trabalha. Além disso, a capacidade de lidar com
números é sempre relativa, nunca absoluta.
Embora a habilidade e o conhecimento matemático inerentes à ciência/ abstração
estejam contidos nas aulas de matemática onde quer que a educação seja universal,
nem todas as aulas têm como objetivo desenvolver alunos com pensamento científico.
Alguns aspectos do currículo se dirigem especificamente à matemática como um
campo da investigação e do esforço humano. Embora os alunos possam receber sua
base com o conteúdo do currículo - aquisição de conhecimento, habilidade e
compreensão para alcançar o pensamento científico - os professores de matemática
não são os únicos responsáveis pelo desenvolvimento do pensamento científico. Assim
como acontece com a alfabetização, todas as outras matérias do currículo escolar
têm o dever de assegurar que os estudantes sejam capazes de alcançar o nível de
abstração que a sua área de atuação demanda. Em um mundo crescentemente
dominado pela proliferação das tecnologias de informação, e com o impacto da
comunicação global, a capacidade de raciocínio abstrato está se tornando cada vez
mais importante para o uso das enormes quantidades de dados que podem ter impacto
no dia-a-dia.
A menos que a alfabetização e o pensamento científico sejam adquiridos por
todos, o século XXI verá a divisão entre países e comunidades e entre ricos e pobres
se tornar maior; e a pobreza, a fome e a violência continuarão a tomar conta da vida
de muitos dos nossos semelhantes. Embora a capacidade de pensar cientificamente
seja considerada, atualmente, tão importante quanto a alfabetização nos países
desenvolvidos, ela é um ponto crítico para os países em desenvolvimento, pois, com
a globalização das viagens, comércio e comunicação, eles ficam expostos ao perigo
de permanecerem atrasados e sensíveis à exploração.
Para os projetos do Rotary nos países em desenvolvimento, a alfabetização e a
ciência podem, juntas, servir como um elo entre os projetos profissionais, econômicos
e de saúde. Para as pessoas cujo dia-a-dia se resume em fornecer alimento e abrigo
para as suas famílias, a maior capacidade de raciocínio preenche suas necessidades
de forma mais imediata. Um dos problemas enfrentados por muitos projetos é que
os adultos não vêem a alfabetização como algo que vá servir a seus propósitos
150
Rotary e a Alfabetização
diretamente, então eles param de freqüentar” as aulas. Os rotarianos são, desse
modo, obrigados a modificar a estratégia dos seus projetos para ajudar essas pessoas
a encontrar uma forma de ganhar dinheiro e melhorar a vida de alguma forma,
entretanto, não há mais como introduzir a alfabetização novamente no esquema.
Assim, os rotarianos deveriam desenvolver trabalhos que focalizassem o raciocínio,
que teriam um impacto direto na vida da comunidade a que querem servir.
A autora é membro do corpo docente da
Escola de Graduação em Educação da
Universidade de Queensland,
Brisbane, Austrália.
Rotary e a Alfabetização
151
Alfabetização Funcional
João Paulo Savioli
Eu, vocês, todos nós usufruímos de um direito que não está disponível a 25% da
população do mundo. As pessoas que fazem parte destes 25% não participam de
quase nada, não sabem preencher um simples cheque nem ler as instruções em um
vidro de remédio. Infelizmente, essas pessoas são analfabetas.
Outras existem também, são as chamadas analfabetas funcionais. Elas podem
até saber ler e escrever, mas não num nível de compreensão. Elas, de acordo com
estudos realizados nos EUA, não têm habilidades para obter informações e saber
usá-las em seu próprio benefício, enfrentando as demandas que a sociedade apresenta
no seu dia-a-dia.
O que é Alfabetização Funcional?
Em palavras bem simples, podemos dizer que é dominar a leitura e a escrita,
de modo a saber interpretar o que se lê e o que se fala, de maneira correta, para
se poder fazer bem o seu trabalho. É comum vermos nos ambientes profissionais
inúmeros atritos, conflitos e, até mesmo, trabalho feito de maneira errada porque a
pessoa que ouviu ou leu uma ordem, não soube interpretá-la devidamente. Isso é
uma forma de Analfabetismo Funcional.
Um exemplo: “Se o indivíduo vai trabalhar em uma máquina nova, o primeiro
passo seria ler e interpretar como operá-la. Se ele não possui a alfabetização
necessária é evidente que não saberá interpretar as instruções e, fatalmente, poderão
ocorrer erros na produção e até acidentes de trabalho.”
Em dados estatísticos, sabe-se que 25% da população do mundo, são
analfabetos. No Brasil 54% das crianças que entram na 1ª série, a abandonam no
primeiro ano de estudos. Logo, permanecem analfabetas. Essa situação vai influir em
muito e de maneira extraordinária em todos os setores da vida do indivíduo e, por
conseguinte, na vida de uma nação. Estes analfabetos não têm condições de realizar
as tarefas mais simples, como interpretar sinais de trânsito, saber usar um medicamento
etc, tornando-se eternamente dependentes de outros, e colocando-se até um tanto
marginalizados da sociedade. Isso sem contar a estreita relação que o analfabetismo
tem com a produção econômica de um país.
Rostov, cientista russo, fez uma análise da relação educação-desenvolvimento,
apresentando os seguintes resultados:
- Um analfabeto aumenta a produção de 12 a 16%;
Rotary e a Alfabetização
153
- com um ano de estudos, aumenta a produção em até 30%;
- com quatro anos de estudos, aumenta a produção em até 79%;
- com sete anos de estudos, aumenta a produção em até 235%;
- com nove anos de estudos, aumenta a produção em até 280%;
- com quatorze anos de estudos, aumenta a produção em até 320%.
Note-se a importância fundamental da alfabetização e da alfabetização funcional.
Observem a relação de distância que existe entre o analfabeto com o de quatro anos
de estudos!
Ainda chamamos a atenção para outros exemplos que selecionei, onde o papel
da alfabetização funcional é relevante: “Há alguns anos, forte grupo empresarial
resolveu instalar uma fábrica de grande porte. Mandou comprar maquinaria das mais
modernas, instalando-a em prédio planejado pelos melhores arquitetos. Hoje esta
indústria está em fase de desagregação.” O que aconteceu foi o esquecimento total,
por parte dos seus dirigentes, de que uma indústria é dirigida, mantida e controlada
por homens. Esqueceram que ao lado do fator maquinaria e instalação existe o fator
humano.
Podemos citar numerosos exemplos nesse sentido, como o de um laboratório
no qual mandaram instalar instrumentos de valor imenso, instrumentos que até hoje
ninguém soube manejar. Exemplo mais freqüente ainda do esquecimento do fator
humano pode ser observado em inúmeros escritórios, onde máquinas de escrever
ultramodernas registram erros clamorosos feitos por datilógrafos inaptos.
Por muito tempo acreditou-se, no início do século, que o maquinismo e a
economia resolveriam o problema da produtividade. A experiência mostrou que isto
não é muito verdade. A multiplicação dos acidentes de trabalho, o aparecimento das
doenças profissionais, os fracassos dos indivíduos inaptos, os problemas das relações
humanas — atritos, rivalidades, incapacidade de dirigir — levaram empreendimentos
promissores a fracassos totais. E (vejam bem!) sempre voltamos para o problema
da alfabetização funcional. Em todos os setores as relações humanas estão presentes.
O estudo do fator humano e a resolução dos problemas não podem mais ficar ausentes
da organização moderna, pois o homem sempre será mais importante que a máquina,
o homem é capaz de fabricar uma máquina, mas nunca se viu uma máquina
fabricar um homem.
Em vista disso tudo, podemos concluir que a alfabetização é necessidade por
demais importante na vida de cada um. Se olharmos somente para nós, para a situação
brasileira, vamos ver que ela é calamitosa e, face a tudo que vemos, não podemos
cruzar os braços, pois ao nosso redor pessoas se marginalizam por falta de instrução,
por falta de um amparo.
Se dizem que quando nasce uma escola deixa de existir uma cadeia, a relação
154
Rotary e a Alfabetização
deve ser verdadeira. O alto preço do analfabetismo e do analfabetismo funcional é
pago por todos. A indústria perde bilhões de dólares por ano por causa de
trabalhadores que não sabem ler suficientemente bem para desempenhar suas funções,
diminuindo a qualidade e a produção, aumentando assim o índice de acidentes no
local de trabalho. O desenvolvimento em muitas partes do mundo é lento devido à
falta de trabalhadores que podem ler instruções simples. A qualidade de vida na
comunidade também cai devido ao analfabetismo, que quase sempre está relacionado
ao crime, ao uso abusivo da droga, do álcool, ocasionando vários problemas de
saúde e morte em acidentes de tráfego. Vejam na Índia, por exemplo: uma alta
porcentagem dos 40 mil acidentes fatais de tráfego por ano deve-se ao fato de que
a maioria dos motoristas de caminhão não pode ler os sinais de trânsito.
Algumas sugestões para combatermos o problema
Antes de iniciarmos qualquer projeto de Alfabetização ou Alfabetização Funcional
em nossa comunidade, devemos primeiro descobrir onde é maior a necessidade: no
local de trabalho? Na periferia da cidade onde os recursos são escassos? Onde?
Podemos começar com levantamento de dados, através de diversos órgãos
públicos e ou privados, através das escolas, de preferência as de magistério, pois
sabemos que os seus alunos, para concluírem os seus estudos, necessitam realizar
estágios, que são levados a efeito nas escolas da rede pública. Através desses alunos
facilmente vamos descobrir as dificuldades das crianças e dos adultos. Podemos
também começar fazendo perguntas deste tipo: — Quantos adultos na sua
comunidade não terminaram a escola primária? O curso secundário? Qual o índice
de desemprego? Quais as suas principais causas? Existe algum programa de
alfabetização? Há crianças que não têm acesso às escolas? etc, etc.
E assim, depois de termos uma posição real dos fatos, podemos propor junto às
comunidades carentes: a) organização de cursos rápidos de alfabetização de adultos,
onde os alunos do curso de magistério poderiam atuar gratuitamente, pois para eles
é uma forma de realizarem os seus estágios, estando ao mesmo tempo contribuindo
para a melhoria do futuro de sua comunidade; b) efetuar campanhas de exercícios de
leitura aos semi-alfabetizados para a melhoria do seu nível de compreensão, com
recursos da própria empresa e da comunidade; c) incentivar, com campanhas, o
hábito de ler, o uso de bibliotecas, e conseguir doações para as mesmas; d) usar a
imprensa para a divulgação da necessidade da leitura, dos cursos montados e dos
recursos disponíveis e necessários; e) efetuar campanhas nas empresas, para
treinamento em serviços de tarefas específicas; f) efetuar campanhas de conscientização
nas empresas para treinamento de pessoal nas tarefas comuns a todos, como por
exemplo nas relações interpessoais. Com campanhas, também, incentivar o próprio
Rotary e a Alfabetização
155
indivíduo, conscientizando-o de que, para ser útil a si mesmo e aos outros, é necessário
que ele seja alfabetizado funcionalmente. Mil maneiras podemos criar, não podemos
é ficar de braços cruzados quando muitos estão, talvez, dependendo de um simples
empurrão.
Vamos lembrar ainda o que nos pede o presidente Saboo:
Que possamos alcançar a meta da alfabetização funcional da população mundial.
Com os resultados positivos, podemos considerar que cada adulto que se alfabetiza
através de um programa patrocinado por Rotary será capaz de ajudar seus filhos a
aprender a ler, quebrando assim para sempre o legado do analfabetismo.
Como rotarianos devemos acreditar piamente no conceito de auto-ajuda.
Sabemos que o maior presente que podemos ofertar a alguém carente é o meio de
progredir. Para todas as pessoas analfabetas do mundo, a habilidade de ler significaria
o instrumento para auxiliá-las a ganhar a vida, cuidar melhor de seus filhos e contribuir
de maneira importante nas comunidades e com a sociedade como um todo.
O autor é membro do RC
Araçatuba-Noroeste, SP (D.4470)
156
Rotary e a Alfabetização
Alfabetização Funcional
Um Grande Programa do
Rotary International
Rodolpho de Camargo
Em agosto de 1991, todos os Presidentes de Rotary Clubs receberam do
Presidente do Rotary International, Rajendra K. Saboo, correspondência incitandoos ao envolvimento em um significante projeto de assistência às pessoas de sua
própria comunidade ou comunidades de outros países. Na mesma ocasião, fez o
presidente Saboo um apelo a que fosse dada ênfase especial a projetos de
alfabetização funcional, lembrando que, na maior parte das comunidades do mundo,
existem pessoas que ainda não podem ler e escrever o suficiente e necessário para a
obtenção de um emprego, carência que os impede de adequadamente exercer funções
na sociedade e inibe suas habilidades de levar uma vida produtiva.
São palavras do Presidente do RI: “A alfabetização funcional é o direito que
todo indivíduo tem de possuir a habilidade de ler e escrever necessária para total
participação com dignidade em todos os aspectos da vida comunitária.”
Diz-se que alfabetização funcional é uma das necessidades do mercado de
trabalho dos anos 90. E por quê?
Porque todos os dias, ao abrir o jornal para tomar conhecimento das notícias
mundiais e da comunidade, está-se usufruindo de um direito que não é disponível a
25% da população do mundo. Ao se preencher um cheque, ler a bula de um remédio
ou seguir direções em um mapa, está-se executando atividades que um bilhão de
pessoas no mundo não podem executar. Estas pessoas são analfabetas, elas não
podem ler e nem escrever. Outras milhares mais são analfabetas funcionais; elas
podem ser capazes de ler e escrever mas não em um nível que permite que enfrentem
com sucesso as diversas demandas da vida diária. Pessoas funcionalmente analfabetas
não têm a “habilidade de obter informações e de usá-las para o seu próprio benefício
e para enfrentar as demandas que a sociedade lhes apresenta; e não têm a capacidade
de resolver problemas que enfrentam no dia-a-dia.”
Como 98% dos analfabetos vivem no mundo em desenvolvimento, muitas pessoas
erroneamente acreditam que o analfabetismo não representa um problema nos países
industrializados. Entretanto, apenas nos Estados Unidos, 27 milhões de pessoas não
podem ler e escrever o suficiente para exercer bem suas funções na sociedade e 45
milhões são apenas marginalmente competentes, isto é, analfabetos funcionais. Como
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resultado, estas pessoas compõem 75% dos desempregados da nação, dependendo
do governo ou de outros para se sustentarem e a suas famílias.
A situação é semelhante em outros países industrializados. Na França, por
exemplo, estima-se que cerca de 15% dos adultos sejam analfabetos, enquanto 60%
lê seu idioma nativo com dificuldade. O Programa de Alfabetização Funcional tem,
portanto, objetivos muito mais amplos do que se possa imaginar numa primeira análise.
Sua meta abrange o mundo inteiro, com especial destaque numérico obviamente dos
países do terceiro mundo.
O alto preço do analfabetismo e do analfabetismo funcional é pago por todos. A
indústria perde bilhões de dólares por ano por causa dos trabalhadores que não
sabem ler suficientemente bem para desempenhar suas funções, diminuindo a qualidade
e a produção e aumentando os índices de acidentes no local de trabalho. O
desenvolvimento é lento devido à falta de trabalhadores que podem ler instruções
simples. E o que o governo perde em impostos é impressionante — cerca de 225
bilhões de dólares somente nos Estados Unidos!
A qualidade de vida na comunidade também cai devido ao analfabetismo que,
queira-se ou não, está relacionado ao crime, uso de drogas e álcool (90% dos
delinqüentes juvenis e 65% dos prisioneiros são analfabetos funcionais).
Pergunta-se: por que, numa época de tanto avanço tecnológico, tantas pessoas
não têm as habilidades básicas? Um dos motivos é que mais de 100 milhões de
crianças de seis a onze anos de idade não têm acesso a uma escola. Milhões mais
deixam a escola numa idade bem tenra devido à pobreza e à pouca esperança em
relação ao futuro. A Colômbia relata um índice de 75% de crianças que abandonam
os estudos no final do primeiro ano, e 54% das crianças do Brasil deixam a escola
nessa mesma época. Aliás, o nosso país constitui-se num laboratório ideal para o
Programa de Alfabetização Funcional. Nosso sistema educacional nos mostra
estatísticas desalentadoras, comportando-se como a imagem de um funil. De cada
100 alunos que se matriculam na 1ª série do 1º Grau, 55 passam à 2ª série, 38
chegam à 5ª série e 21 à 1ª série do 2° Grau. Para ir ao ensino superior o gargalo é
ainda mais estreito; dos 100 alunos iniciais, só seis chegam à faculdade. Como
conseqüência, temos 17,6 milhões de analfabetos com 15 anos ou mais, estando
fora da escola 4,9 milhões de crianças entre 7 e 14 anos de idade (17,8% do total)
e não se matriculando no 2º Grau 12,5 milhões de jovens entre 15 e 19 anos (83,3%
do total). Outros países têm problemas ainda mais graves. Na Índia, por exemplo,
mais de 90% das meninas encerram seus estudos aos 10 anos de idade.
Voltando ao mundo industrializado, sabe-se também que centenas de milhares
de jovens são vítimas de sistemas educacionais ultrapassados e inadequados que
deixam os alunos passar de ano sem certificar-se de que aprenderam algo, mal do
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Rotary e a Alfabetização
qual também padecemos.
Há muito tempo a alfabetização tem sido uma preocupação dos rotarianos, e
por muitos anos projetos de alfabetização têm sido desenvolvidos ao redor do mundo.
Nos últimos anos, o Rotary International tem tentado ativamente aumentar o
envolvimento dos rotarianos nesta área vital. Em 1985, o RI publicou “The Right to
Read”, uma coletânea de artigos sobre o problema de analfabetismo em 11 países.
Ela representa um recurso útil para os rotarianos que estão planejando desenvolver
projetos de alfabetização.
Em 1986, o Conselho Diretor do RI aprovou uma ênfase na alfabetização de 10
anos de duração a ser implementada através de seus programas existentes. Desde
então, a publicação “Alfabetização — Um Chamado à Ação” foi produzida e a
revista The Rotarian e revistas regionais têm apresentado muitos artigos sobre
projetos de alfabetização a nível de clube e de distrito.
Mas, apesar do apoio do Conselho Diretor e da preocupação genuína dos
rotarianos ao redor do mundo, o suficiente não está sendo feito para combater o
analfabetismo — principalmente porque clubes e distritos não receberam orientação
suficiente sobre como organizar programas eficazes de alfabetização. Acredito que é
neste ponto que os esforços dos objetivos do presidente Saboo se concentram,
convidando os distritos do mundo inteiro a organizar seminários e distribuir literatura
pertinente, de forma a preencher a lacuna existente. Programas, descrições de projetos-modelos que estão em andamento e informações sobre recursos do RI são
disponíveis, não nos esquecendo que aqui estão incluídos os programas e subsídios
dos NRDC, Rotaract e Interact Clubs, SCM, Programa Voluntários de Rotary,
Subsídio 3H e Subsídios Descoberta Cari P. Miller.
Como complemento, a criatividade e o desejo de servir dos rotarianos do mundo
inteiro.
O autor é EGD 1988-89 e membro do
RC de Piracicaba, SP (D.4620)
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O Analfabetismo Funcional
Paulo Botelho
O Analfabetismo Funcional constitui um problema silencioso e perverso que
afeta as empresas. Não se trata de pessoas que nunca foram à escola. Elas sabem
ler, escrever e contar; chegam a ocupar cargos administrativos, mas não conseguem
compreender a palavra escrita. Bons livros, artigos e crônicas, nem pensar!
Computadores provocam calafrios e manuais de procedimentos são ignorados; mesmo
aqueles que ensinam uma nova tarefa ou a operar uma máquina. Elas preferem ouvir
explicações da boca de colegas. Entretanto, diante do chefe - isso quando ele é
mesmo um chefe - fingem entender tudo, para depois sair perguntando aos outros o
que e como deve ser realizado tal serviço. E quase sempre agem por tentativa e erro.
O meu caro leitor deve estar imaginando que esse problema afeta apenas uma parcela
mínima da população. Não é verdade. Calcula-se que no Brasil, os analfabetos
funcionais somem 70% da população economicamente ativa. No mundo todo há
entre 800 e 900 milhões deles. São pessoas com menos de quatro anos de
escolarização; mas pode-se encontrar, também, pessoas com formação universitária
e exercendo funções-chave em empresas e instituições, tanto privadas quanto públicas!
Elas não têm as habilidades de leitura compreensiva, escrita e cálculo para fazer
frente às necessidades de profissionalização e tampouco da vida sócio cultural.
A queda da produtividade provocada pela deficiência em habilidades básicas
resulta em perdas e danos da ordem de US$ 6 bilhões por ano no mundo inteiro. Por
que? Porque são pessoas que não entendem sinais de aviso de perigo, instruções de
higiene e segurança do trabalho, orientações sobre processo produtivo,
procedimentos de normas técnicas da qualidade de serviços e negligência dos valores
da organização empresarial. Eis aí o “Calcanhar de Aquiles” de tantas organizações:
Declaração e Prática de Valores. E o que são esses Valores? São crenças e princípios
que orientam as atividades e operações de uma empresa, independente de seu porte
ou ramo de atividade. Seus dirigentes devem mostrar, na prática, que os sistemas,
procedimentos e atitudes comportamentais são respeitados e coerentes com os valores
estabelecidos em função de seus clientes e da ética dos negócios. Se não for assim,
os resultados serão desastrosos. Quem não se lembra de manchetes de jornais
mencionando “problemas inesperados” que abalaram a imagem de tantas empresas?
Um defeito no chip Pentium da Intel levou-a a substituir o produto no mercado. Um
número desconhecido de cápsulas de Tylenol contaminado com cianureto mata oito
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pessoas nos Estados Unidos; a Johnson & Johnson retira todos os frascos do mercado
americano e tem um prejuízo de US$ 100 milhões! Alguém tem dúvida de que tais
exemplos, entre tantos, não sejam efeitos da ignorância?
Para que o analfabetismo funcional se erradique só existe uma saída: educar e
treinar para a qualidade. E qualidade não tem custo; é investimento. O custo da
qualidade é a despesa do trabalho errado, mal feito, incompleto, sem profissionalismo.
É o custo do analfabetismo funcional!
O autor é Professor e Consultor de Empresas para
Programas de Engenharia da Qualidade, Antropologia
Empresarial e Gestão Ambiental. Membro
da SBPC - Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência
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Rotary e a Alfabetização
Exemplo edificante
José Nelson Nogueira
Todos nós conhecemos, apoiamos e nos orgulhamos do programa do Rotary
“Intercâmbio Internacional de Jovens”, por meio do qual, todos os anos, centenas
de jovens vão viver em outros países, promovendo a integração e a paz entre os
povos.
Mas raramente pôde-se ver com toda clareza os magníficos resultados deste
programa como no caso de uma nossa ex-intercambiada. Há exatos dois anos, antes
de deixar o Brasil e retornar a seu país de origem, Friederike Meyer, uma alemã de
16 anos na época, fez uma promessa: voltar para cá e realizar algum trabalho social
em uma favela. O sonho acalentado por todo esse tempo começou por acaso. “Ao
andar de ônibus pela cidade durante a época em que estudava no Magister (como
intercambiada pelo RC SP-Interlagos), pude observar várias favelas e as pessoas
carentes que viviam nelas”, conta Friederike. “Cheguei a visitar uma, com a Marcela,
uma amiga do colégio, e fiquei surpresa com a experiência. Vivendo com tão pouco,
aquelas pessoas conseguiam sorrir. Aquilo mexeu realmente comigo”.
No início de setembro de 2002, Rike, como ficou sendo chamada pelos amigos
do Magister durante o intercâmbio que fez, de agosto de 1999 a agosto de 2000,
desembarcou novamente em São Paulo decidida a cumprir o trato. Veio para se
engajar no projeto social da Associação Comunitária Monte Azul, organização nãogovernamental que conheceu por intermédio de sua igreja, na Alemanha.
Empolgada, procurou pesquisar mais sobre a organização fundada em 1979
pela também alemã Ute Craemer. Sua pesquisa virou, inclusive, tema de trabalho na
escola européia. “Como precisávamos realizar a parte teórica e prática do tema que
havíamos escolhido”, relata, “cheguei a tocar flauta transversa na Alemanha, como
parte do trabalho escolar, durante eventos, arrecadando mais de 800 euros”.
O dinheiro conseguido por meio da música Rike entregou à instituição que cuida
das favelas Monte Azul e Peinha, além do Jardim Horizonte Azul, na região de Santo
Amaro. “Meu intuito não era só esse. Queria realizar um trabalho de doação em que
pudesse contribuir como ser humano”, testemunha.
Para custear a sua vinda (passagens e despesas pessoais) foi trabalhar na linha
de montagem da fábrica Mercedes-Benz, na Alemanha, instalando baterias. Foi assim
que conseguiu o suficiente para ficar aqui um ano.
Morando com mais oito voluntários do Japão, Noruega, França, Itália e Suíça,
Friederike se anima com o trabalho diário de entrega à população carente. “Trabalho
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das 8h às 17h, às vezes dando aulas de flauta ou de alemão e até visitando as famílias
em seus barracos. Dessa forma, percebendo que existe alguém que se preocupa
com elas, integram-se novamente à sociedade”, conta Rike, que também é uma das
educadoras da pré-escola que funciona com atividades que complementam o horário
escolar das crianças. A garotada aprende tricô, pintura, tecelagem e várias outras
coisas no período em que não está na escola. “É uma oportunidade de as crianças
terem educação e saírem das ruas. Acho que o Brasil deveria investir mais nesse
aspecto”, sugere. “Às vezes, fico triste com o que vejo, mas é o que me impulsiona
a querer ajudar cada vez mais e não desistir”. A cada dia, a ex-intercambiada diz
aprender algo novo com esse trabalho. “O maravilhoso é descobrir o Brasil como
ele realmente é. E, o que é mais importante, posso me conhecer melhor intimamente”.
A palavra cidadania entrou para o vocabulário de Rike recentemente. Porém, há
muito tempo faz parte de seu cotidiano recheado de valores altruístas e atitudes
enobrecedoras. “Realizar esse trabalho voluntário me faz perceber que a felicidade
está nas pequenas coisas”, diz, irradiando em seus olhos azuis o brilho de alguém que
sabe que na ajuda ao próximo está a esperança de um mundo muito melhor e mais
humano.
No último dia 14 de novembro, Rike voltou ao RC Interlagos. Da tribuna, em
perfeito português, fez uma das mais emocionantes e gratificantes palestras que este
clube já ouviu. E ao final, todos, do presidente ao garçom que nos atende, ficamos
emocionados e sentimos na plenitude que “nós servimos”.
O autor é sócio do
RC de São Paulo-Interlagos, SP (D.4420)
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