a importância do manejo no período seco

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a importância do manejo no período seco
A IMPORTÂNCIA DO MANEJO NO PERÍODO SECO
Ricardo Dias Signoretti
1
Na prática, o período seco e transição (pré-parto) constituem-se num desafio aos
técnicos e produtores de leite, que devem ficar atentos à esta questão, pois a lactação
da vaca tem início antes do parto. Se o manejo, a sanidade e a dieta não forem
adequados nestes períodos, os prejuízos serão enormes e em muitos casos
irreversíveis.
A secagem da vaca deve ser realizada, ao redor de 60 dias antes do parto provável,
buscando restabelecer ou manter as reservas corporais e maximizar a produção de leite
na lactação posterior. Para tanto, as vacas devem ser alimentadas de forma
diferenciada e se possível deveriam ser manejadas nos seguintes grupos:
Início do período seco (60 – 21 dias antes do parto provável):
- vacas;
- novilhas;
Final do período seco – pré-parto (21 dias antes do parto provável):
- vacas;
- novilhas;
Vale ressaltar que, as vacas primíparas terão que se adaptar a gestação, lactação,
interação social e ambiente. Além disso, as vacas primíparas têm que satisfazer suas
exigências por nutrientes para crescimento corporal e fetal e, síntese de leite.
1
Engenheiro Agronômo graduado pela Escola Superior de Agricultura e Ciências de Machado - MG. Mestre em Zootecnia pela
UFV/Viçosa-MG. Doutor em Zootecnia, Área de Concentração em Nutrição de Ruminantes pela UFV/Viçosa - MG. É pesquisador
Científico do Polo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios da Alta Mogiana - Colina/SP. É Coordenador da
divisão de Consultoria Técnica em Bovinocultura de Leite da COAN Consultoria. E-mail: [email protected]
E, ainda, elas têm a capacidade de ingestão de matéria seca inferior à das vacas
multíparas (com mais de uma lactação). Portanto, a densidade de nutrientes deve ser,
em média, 20% maior do que para vacas com maior número de lactação.
Na impossibilidade de separação de vacas primíparas das multíparas, no manejo
alimentar, o produtor deve estar atento ao espaço no cocho e disponibilidade de
alimentos, deste modo não permitindo competição por alimentos e causando prejuízo na
lactação seguinte.
Outra prática de manejo importante é o fato das vacas, principalmente no pré-parto,
necessitarem de áreas adequadas para a prática de exercícios diários, reduzindo muito
as desordens relacionadas ao parto e problemas de pernas, etc.
Este é um método simples de avaliação da gordura corporal do animal. Influi
diretamente na produção leiteira e na eficiência reprodutiva.
As vacas são classificadas por intermédio de palpações no terço médio do dorso e da
garupa, ponto de inserção da cauda e na região das costelas, para verificar o estado de
tecido gorduroso nesses locais (Figura 1). A escala varia de 1 a 5; onde 1 indica que a
vaca está magra, e 5 gorda (Figura 2).
Figura 1 – Locais para determinantes do escore da condição corporal
Insersão da cauda
Ísquios
Íleos
Vértebras transversas
Figura 2 - Escore da condição corporal no ciclo de lactação
A avaliação do escore de condição corporal das novilhas e das vacas é fundamental
para se evitar uma série de transtornos metabólicos, redução drástica nos índices
produtivos e reprodutivos durante a vida do animal. Para tanto, os produtores devem
evitar as seguintes situações:
A - Vacas muito magras terão (Figura 2):
• Redução na produção leiteira devido à falta de reservas corporais adequadas
no início da lactação,
• Maior incidência de doenças metabólicas (cetose, deslocamento do abomaso,
etc.);
• Atraso no aparecimento do primeiro cio pós- parto;
B - Vacas muito gordas terão (Figura 2):
•Mais complicações no parto (distocias);
• Redução da ingestão voluntária de matéria seca que predispõe o aumento de
certas doenças metabólicas (síndrome da vaca gorda, cetose, etc.);
• Redução da produção de leite.
Assim, os Escores de condição corporal recomendados para os vários estágios
da lactação são:
- Parição : 3,5 a 3,75 (vacas adultas) e 3,0 a 3,5 (novilhas);
- Cobertura : 2,5;
- Término lactação : 3,0 a 3,5;
- Período seco : 3,0 a 3,5
Os principais distúrbios metabólicos que queremos evitar com alimentação e manejo
corretos no pré-parto são: retenção de placenta, fígado gorduroso, hipocalcemia,
síndrome acidose-laminite, deslocamento de abomaso, etc. Todos esses são problemas
que irão comprometer severamente a produção de leite e a reprodução do rebanho,
requerendo gastos com medicamentos, descarte de leite, ou seja, prejuízos diretos no
bolso do produtor.
Se o produtor de leite não ficar atento a estes fatores os prejuízos serão enormes. Os
cálculos das perdas econômicas promovidas pelos distúrbios metabólicos se encontram
na Tabela 1.
Tabela 1 - Perdas econômicas causadas pelos distúrbios metabólicos no periparto
Incidência média das Redução na Redução da produção de Perdas econômicas
doenças do periparto produção de leite leite durante os primeiros (R$ 0,40/litro)
(% da lactação) 30 dias de lactação
Febre do leite (6%)
4,70%
276
110,40
Deslocamento de
16%
470
188,00
abomaso (3%)
Retenção de placenta
4,10%
321
128,40
(8%)
Cetose (5%)
7,60%
371
148,40
Metrite (8%)
3,80%
298
119,20
Total
1736
694,40
Observa-se que os prejuízos são da ordem de R$ 694,40 (preços de novembro de
2005) durante os primeiros 30 dias de lactação, porém este valor pode ser muito maior
se computarmos outros gastos tais como: medicamentos, mão-de-obra, assistência
veterinária, aumento do intervalo de partos, etc.
Neste sentido, será quanto custa alimentar de maneira correta as novilhas e as vacas
no início do período seco e no pré-parto (transição)? Os cálculos do custo da
alimentação foram realizados de acordo com as exigências nutricionais das vacas e dos
períodos mencionados acima e, adicionando-se os gastos com mão-de-obra, vacinas,
vermífugos, etc. (denominados de outros na Tabela 2).
Tabela 2 – Custos médios da vaca durante o início do período seco e o pré-parto
Custo da vaca no período seco
Itens
1° ao 30° dia
31° ao 60° dia
(Vaca seca)
(Pré-parto)
Silagem de milho
R$ 45,00
R$ 45,00
R$ 90,00
Concentrado
R$ 15,75
R$ 40,50
R$ 56,25
Outros
R$ 15,00
R$ 15,00
R$ 30,00
Total
Total
R$ 176,25
Observa-se que o investimento na alimentação é o mais oneroso no período seco da
vaca. No entanto, este assegura maior produção de leite na lactação subseqüente e
melhoria significativa nos índices reprodutivos, promovendo maior rentabilidade na
atividade leiteira.
3. Algumas recomendações para pré-parto ideal
-
Atenção à qualidade do volumoso a ser oferecido aos animais,
lembrando que nesta fase, estão com apetite diminuído, fornecer
volumoso de boa palatabilidade e níveis adequados de todos os
nutrientes;
-
Remover o sódio (Na) e potássio (K) das dietas do pré-parto para evitar a
hipocalcemia e/ou febre (Evitar o fornecimento das principais fontes de
sódio nas dietas: cloreto de sódio (Sal comum) e bicarbonato de sódio);
-
Oferecer concentrado especialmente formulado para o período de
transição ( Níveis adequados de energia, proteína, minerais (Selênio) e
vitaminas (Vitamina E);
-
Observar os horários de fornecimento do alimento no cocho, sempre nos
períodos mais frescos do dia e não esquecer de retirar as sobras de
comida do trato anterior;
-
Manter acesso freqüente aos cochos e garantir conforto máximo aos
animais;
-
Lembrar que estes animais têm que consumir o que há de melhor na
propriedade, pois é um investimento na lactação que está preste a iniciar.
Não podemos deixar de esclarecer que, antes de tudo, é necessário que o produtor
consiga efetivamente, manejar corretamente os animais no período pré-parto ao longo
do ano, para posteriormente, em casos mais específicos, tentar obter uma melhoria nos
índices produtivos e reprodutivos e menor incidência de distúrbios metabólicos via
intensificação de manejo que deve ser discutida e decidida, se possível com orientação
do nutricionista da propriedade.

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