Página 10 a 16 - Revista ASBHipnose

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Página 10 a 16 - Revista ASBHipnose
PROGRESSOS DA HIPNOLOGIA NO BRASIL
Miguel
Callile
Júnior*
No conceito de "progresso" implica-se a historicidade do que se pretende expor, pois refere-se a
algum fato social que, em sucessão continuada, cresce e se aperfeiçoa. É, assim, de bom alvitre lembrar que a Hipnologia é dos procedimentos psicossomáticos mais antigos e ligados à Medicina Mágica
das culturas mais remotas. Mesmo a concepção de "Magnetismo A n i m a l " , que procedeu da antiga e
precedeu a atual, envolvia poderes especiais, flufdicos, aos escolhidos que tivessem esse d o m . Considero como grandes marcos da evolução da teoria do conhecimento hipnológico e hipniátrico os seguintes fatos:
- O conceito de "sono nervoso".
- As pesquisas pavlovianas e da Medicina Córticovisceral.
- A aplicação clínica da atividade elétrica cerebral (EEG) »
- A descoberta do Sistema Límbico.
- A descoberta da Formação Reticular do Tronco Cerebral (FRTC).
- A descoberta dos neuro-hormônios.
Panoramizemos esses passos:
O Sono Nervoso - Desde os inícios do século X I X , JOSÉ CUSTODIO DE F A R I A , o abade
F A R I A , português de Gôa e Professor em Marselha, França, repudiando o fluido magnético do mesmerismo, chamou ao fenómeno hipnótico de "sono lúcudo". Mas é com JAMES B R A I D (1795-1860),
nos meados do mesmo século X I X , especialmente no seu livro " O Poder da Mente sobre o C o r p o "
(1846) que se cristalizaram, progressivamente, os conceitos de "sono nervoso", "neuro-hipnotism o " , "freno-hipnotismo" e, por f i m , " h i p n o t i s m o " . Inaugura a teoria da sugestão como explicadora
do fenomenismo hipnótico, tese já proposta pelo abade F A R I A (10). Note-se que nesta época importantes pesquisas e descobertas estavam sendo realizadas sobre o Sistema Nervoso Superior e que, em
1809, houvera sido publicado o trabalho de F. J. G A L L , alemão, sobre as localizações cerebrais (Anatomia e Fisiologia do Sistema Nervoso em Geral e do Cérebro em Particular, em 4 volumes). São dessa
mesma época as descobertas neurológicas de CHARLES B E L L , as fisiológicas de F R A N Ç O I S MAGENDIE sobre as raizes anteriores e posteriores da medula espinhal; de J A H A N N E S M U L L E R , sobre
a energia nervosa específica; a teoria celular de SCHLEIDEN-SCHWANN, sobre a estrutura básica, comum a toda e qualquer célula, bem como a organização celular, comum à matéria viva.
1
Os Estudos de P A V L O V — Corrigindo as localizações cerebrais de G A L L e a Frenologia de
SPURZEIN, P A V L O V chega a duas conclusões importantíssimas: — a de "mosaico cortical" e a de
"estereotipia dinâmica", além de reflexo condicionado, excitação e inibição etc. A estrutura da cortiça cerebral se apresentaria como um marchetado de zonas nervosas, com diferentes potencialidades,
intercomunicáveis por vias neuronais que as unificaria. Nessa perspectiva considera a Hipnose como
um fenómeno neuro-fisiológico devido a um reflexo de indução, condicionado por estímulos diversos,
do tipo excitador e condicionador.
— Ex-Presidente d a Sociedade Brasileira de Hipnose Médica
— L i v r e D o c e n t e d a Fac. M e d i c i n a d o R i o de J a n e i r o d a U n i v e r s i d a d e d o B r a s i l .
— Da A c a d e m i a Brasileira de M e d i c i n a de Reabilitação
— Da A c a d e m i a Brasileira de M e d i c i n a M i l i t a r
10
Tais estímulos provocam uma inibição cortical difusa e irradiada a todo o mosaico cortical,
mantendo conexões temporárias com o cérebro profundo. Permanece, entretanto, um ponto vigil excitável, que permite a relação " s u j e t " x hipnotista. Define-se a hipnose como um estado de fase do sono natural levando-se em conta o ponto vigil excitável. O sono natural é devido à inibição difusa, interna, completa e generalizada.
A explicação neuro-f isiológica liquidava, assim, com qualquer perspectiva mágico-religiosa e integrava, definitivamente, a Hipnose na ciência médico-psicológica. Note-se que, "psicológico", era
conceito que irritava profundamente a P A V L O V e ao qual reagia de maneira veemente. P A V L O V faleceu em 1936.
O Eletroencefalograma - O EEG é o registro gráfico das diferenças de potencial entre dois pontos sobre o crâneo, produzido pela atividade elétrica cerebral. Dá as características de r i t m o , regularidade e simetria que definem o traçado normal. Toda reação orgânica que comprometa o cérebro traduz-se por alterações daquela atividade e, consequentemente, do seu registro. É com BERGER, em
1933, que se demonstra a existência de ondas e ritmos que ocorriam durante as crises do chamado
"pequeno m a l " . Mas é com L E N N O X , D A V I E S e GIBBS, em 1935, que os traçados eletroencefalográficos passam a estabelecer correlações clínicas, mais ou menos, padronizadas. A inicial importância
do EEG era a de diagnosticar as formas clínicas da Epilepsia. Isto muito se ampliou e hoje o EEG é
instrumento valioso para uma série de informações sobre respostas do SNS a estímulos vários, instrumento que permite analfsar quantitativa e qualitativamente os ritmos cerebrais que são "sinais" do cérebro vivo, o órgão mais importante do ente humano.
O Sistema Límbico — Em 1937 J. W. PAPEZ faz sua comunicação sobre funções do Sistema
Límbico e sua importância no mecanismo das emoções. A expressão "sistema l í m b i c o " deriva-se do
que BROCA chamou, em 1878, de " l o b o l í m b i c o " , comum a todos os mamíferos. O importante das
investigações de PAPEZ são as conclusões de que o SL é a base anatomofisiológica das emoções. Combinando elementos do isocortex com os do alocortex, giro singular, hipotálamo, isto é, interrelacionando elementos de análise e de discernimento com impulsos de origem sub-cortical, chega a decompor as emoções, distinguindo-as em "expressão emocional", expontânea e gerada no elemento subcortical e "experiência emocional", pela qual seria responsável o elemento cortical, analisador e crítico.
Tal como P A V L O V corrigira G A L L , PAPEZ dá nova visão ao mosaico cortical e à estereotipia
dinâmica.
A Formação Reticular do Tronco Cerebral (FRTC) - Zona de integração e campo de convergência das excitações corporais levadas ao cérebro, bem como de suas respostas, fica situada entre o
diencéfaJo e o mesencéfalo, entre o bulbo raquidiano e a parte inferior do tálamo. Constituída por um
emaranhado de neurónios, em grande número e com fibras curtas, apresenta, consequentemente, um
número excepcional de sinapses. Dentre suas funções destaca-se: - o que interessa sobremaneira à
Hipnose - a de manter o cérebro (analítico) desperto através do Sistema Reticular Ativador. Seccionada a FRTC na sua parte mais superior, o cérebro entra em sono permanente, o animal não desperta
mais.
Historicamente o estado atual dos estudos sobre a FRTC iniciaram-se com as publicações de
C. J. HERRICK, na década de 30, com o que denominou de " n e u r o p i l " , estudado num anfíbio urodulo, a salamandra e, posteriormente, analisado no homem por D E L L , M A G O U N , M O R U Z Z I e muitos outros. A relação entre FRTC, sono e obnubilação trouxe importantes esclarecimentos ao processo fásico do sono, da excitação e da inibição corticais.
Os neuro-hormônios — Consideradas como mediadores químicos do impulso nervoso, denominei de "neuro-hormônios" àquelas substâncias, uma vez: que se comportam como mensageiros do impulso nervoso e são fabricadas nas células nervosas. A corrente de ação, depois de percorrer o neurònio, chega à sinapse onde a célula nervosa libera o neuro-hormônio, o qual age sobre os receptores moleculares da membrana pós-sináptica. A energia necessária para que o processo eletroquímico se realize é fornecida pelo condrioma, conjunto de granulações mitocondriais existentes no citoplasma. Parece ser a acetilcolina o neuro-hormônio necessário ao funcionamento normal das sinapses que integram
o Sistema Ativador Reticular Ascendente de Magoun-Moruzzi. Da qualidade e quantidade do neurohormônio existente na sinapse depende a normalidade ou a patologia da passagem do impulso nervo11
. so, facilitação, inibição ou inversão do impulso. Mais um dado neurofisiológico que explica neurofisiologicamente, como exigia P A V L O V , inibição e excitação, corrigindo os equívocos havidos na teoria
pavloviana.
Nenhum desses conhecimentos sobre EEG, S L , FRTC e neuro-hormônios houvera sido aplicado
à compreensão da fenomenologia hipnótica quando, em 1 9 6 1 , apresentei no I Congresso Pan-Ameri
cano e I Congresso Brasileiro de Hipnologia as primeiras e originais cobclusões as quais eu houvera
chegado.
Até então predominavam as explicações da Medicina Corticovisceraí como é fácil verificar nos
inúmeros, importantes e sérios trabalhos vindos de todas as Américas, alguns cia Europa e muitos brasileiros, arquivados na Sociedade Brasileira de Hipnose Médica.
A Hipnologia no Brasil
Não é de minha intenção, tal como venho fazendo até aqui, pormenorizar a história da Medicina
mas a de panoramizar acontecimentos que permitam a compreensão do progresso. O mesmo farei com
a hipnologia no Brasil. Excelentes tratados atuais, como os que cito na bibliografia ( D A V I D
A K S T E I N , MORAES PASSOS) detalham, primorosamente, aquela história para os interessados. Esboçaremos os Pioneiros, os Precursores, a Integração e as Teorias Originais. Capital do Império e, depois, da República, na Cidade do Rio de Janeiro é que se iniciaram, desde as primeiras décadas do século X I X , os primeiros estudos dos fenómenos denominados de "magnetismo animal". No dia 23 de
maio de 1861 foi ali fundada a Sociedade de Propaganda do Magnetismo e Juri Magnético, com permissão do governo imperial e com a exigência de que "só Médicos competentemente reconhecidos" f i zessem os tratamentos. Deixando de lado o fluidismo e adotando as ideias de B R A I D , em 1888
FRANCISCO F A J A R D O defende tese de doutoramento na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro
cujo tema era " H i p n o t i s m o " . F A J A R D O , em 1893, recebe o diploma de Membro Titular da Academia Nacional de Medicina. É possível que, entre os Pioneiros, o último trabalho realmente importante
sobre Hipnologia tenha sido o realizado por JOSÉ J O A Q U I M DE CAMPOS DE MEDEIROS E A L B U QUERQUE, em 1919, " O Hipnotismo e suas Aplicações"; em 1923 sai a segunda edição com o t í t u l o
" O Hipnotismo". Nesta edição li os prefácios de M I G U E L COUTO e de J U L I A N O M O R E I R A , bem
como nota de pé-de-página que se refere à correspondência entre o sábio leigo MEDEIROS E A L B U QUERQUE e o criador da Psicanálise SIGMUND F R E U D .
Em São Paulo,'é com A L C Â N T A R A M A C H A D O , em 1895, quando defende tese para lente
substituto de Medicina Legal e Higiene Pública da Faculdade de Direito de São Paulo, que aparece trabalho de fôlego sobre Hipnose, " O Hipnotismo — Ensaio Médico-Legal sobre o artigo 269 do Código
Penal Brasileiro". Em 1904, outro importante e sério trabalho, de D O M I N G O S J A G U A R I B E , q u e m ,
tratando alcoólatras pela hipnose, publica a "Monografia a Respeito do Alcoolismo e do seu Tratamento pela Hipnose e a Sugestão", relatando 90% de curas.
Não tenho conhecimento de outras experiências pioneiras em outras capitais de Estados da Federação, embora médicos de Pernambuco, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, e outros tenham exposto e publicado suas conclusões na então Capital.
Muitas décadas depois, com os fenómenos hipnológicos quase que esquecidos pela Medicina, é
que no Rio de Janeiro D A V I D A K S T E I N , F E R N A N D O NEGRÃO PRADO, JOSÉ DE P A I V A CARNEIRO, convidam TORRES N O R R Y , ilustre médico e hipnólogo argentino, para vir ao Brasil dar
cursos e formar hipnologistas. Isto, em 1956, mesma época em que A L V A R O B A D R A , de São Paulo,
faz convite idêntico à mesma personalidade. Este ano de 1956 é, portanto, aquele que assinala o que
considero como época pioneira do progresso da hipnologia no Brasil. TORRES N O R R Y , cientista de
formação córtico-visceral, expõe em seus cursos a teoria pavloviana que, então, passa a dominar, exclusivamente, o pensamento dos estudiosos do assunto. Entre os muitos médicos e odontólogos (nos
dois primeiros cursos matricularam-se mais de duzentos, no Rio de Janeiro) destacaram-se os que
iriam constituir as primeiras associações: — a Sociedade Brasileira de Hipnose Médica e a Associação
Brasileira de Hipnodontia. A primeira, em 1957 e a segunda em 1958. A N T O N I O REZENDE DE
CASTRO M O N T E I R O , A C Y L D O N A S C I M E N T O , D A R I O S E V E R I N O DE O L I V E I R A , ENIO L I M A ,
12
so, facilitação, inibição ou inversão do impulso. Mais um dado neurofssiológico que explica neurofisioiogicsmente, como exigia P A V L O V , inibição e excitação, corrigindo os equívocos havidos na teoria
pavloviana.
Nenhum desses conhecimentos sobre EEG, SL, FRTC e neuro-hormônios houvera sido aplicado
à compreensão da fenomenologia hipnótica quando, em 1 9 8 1 , apresentei no I Congresso Pan-Americano e i Congresso Brasileiro de Hipnologia as primeiras e originais conclusões as quais eu houvera
chegado.
Até então predominavam as explicações da Medicina Corticovisceral como é fácil verificar nos
inúmeros, importantes e sérios trabalhos vindos de todas as Américas, alguns da Europa e muitos brasileiros, arquivados na Sociedade Brasileira de Hipnose Médica.
A Hipnologia no Brasil
Não é de minha intenção, tal como venho fazendo até aqui, pormenorizar a história da Medicina
mas a de panoramizar acontecimentos que permitam a compreensão do progresso. O mesmo farei com
a hipnologia no Brasil. Excelentes tratados atuais, como os que cito na bibliografia ( D A V I D
A K S T E I N , MORAES PASSOS) detalham, primorosamente, aquela história para os interessados. Esboçaremos os Pioneiros, os Precursores, a Integração e as Teorias Originais. Capital do Império e, depois, da República, na Cidade do Rio de Janeiro é que se iniciaram, desde as primeiras décadas do sé
culo X I X , os primeiros estudos dos fenómenos denominados de "magnetismo animal". No dia 23 de
maio de 1861 foi ali fundada a Sociedade de Propaganda do Magnetismo e Juri Magnético, com permissão do governo imperial e com a exigência de que "só Médicos competentemente reconheciaos" f i zessem os tratamentos. Deixando de lado o fluidismo e adotando as ideias de B R A I D , em 1888
FRANCISCO F A J A R D O defende tese de doutoramento na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro
cujo tema era " H i p n o t i s m o " . F A J A R D O , em 1893, recebe o diploma de Membro Titular da Acade
mia Nacional de Medicina. É possível que, entre os Pioneiros, o último trabalho realmente importante
sobre Hipnologia tenha sido o realizado por JOSÉ J O A Q U I M DE CAMPOS DE MEDEIROS E A L B U QUERQUE, em 1919, " O Hipnotismo e suas Aplicações"; em 1923 sai a segunda edição com o t í t u l o
" O Hipnotismo". Nesta edição li os prefácios de M I G U E L COUTO e de J U L I A N O M O R E I R A , bem
como nota de pé-de-página que se refere à correspondência entre o sábio leigo MEDEIROS E A L B U QUERQUE e o criador da Psicanálise SIGMUND F R E U D .
Em São Paulo, é com A L C Â N T A R A M A C H A D O , em 1895, quando defende tese para lente
substituto de Medicina Legal e Higiene Pública da Faculdade de Direito de São Paulo, que aparece trabalho de fôlego sobre Hipnose, " O Hipnotismo — Ensaio Médico-Legal sobre o artigo 269 do Código
Penal Brasileiro". Em 1904, outro importante e sério trabalho, de DOMINGOS J A G U A R I BE, quem,
tratando alcoólatras pela hipnose, publica a "Monografia a Respeito do Alcoolismo e do seu Tratamento pela Hipnose e a Sugestão", relatando 90% de curas.
Não tenho conhecimento de outras experiências pioneiras em outras capitais de Estados da Federação, embora médicos de Pernambuco, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, e outros tenham exposto e publicado suas conclusões na então Capital.
Muitas décadas depois, com os fenómenos hipnológicos quase que esquecidos pela Medicina, é
que no Rio de Janeiro D A V I D A K S T E I N , F E R N A N D O NEGRÃO PRADO, JOSÉ DE P A I V A CARNEIRO, convidam TORRES N O R R Y , ilustre médico e hipnólogo argentino, para vir ao Brasil dar
cursos e formar hipnologistas. Isto, em 1956, mesma época em que A L V A R O B A D R A , de São Paulo,
faz convite idêntico à mesma personalidade. Este ano de 1956 é, portanto, aquele que assinala o que
considero como época pioneira do progresso da hipnologia no Brasil. TORRES N O R R Y , cientista de
formação córtico-visceral, expõe em seus cursos a teoria pavloviana que, então, passa a dominar, exclusivamente, o pensamento dos estudiosos do assunto. Entre os muitos médicos e odontólogos (nos
dois primeiros cursos matricularam-se mais de duzentos, no Rio de Janeiro) destacaram-se os que
iriam constituir as primeiras associações: — a Sociedade Brasileira de Hipnose Médica e a Associação
Brasileira de Hipnodontia. A primeira, em 1957 e a segunda em 1958. A N T O N I O REZENDE DE
CASTRO M O N T E I R O , A C Y L D O N A S C I M E N T O , D A R I O S E V E R I N O DE O L I V E I R A , ENIO L I M A ,
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JOSÉ RIOS, SILVESTRE FILIPPE, OSWALDO DOMINGUES DE MORAES e muitos outros, além
dos já citados, aos quais se incorpora o autor do presente trabalho, firmaram, no Rio de Janeiro, o novel prestígio das investigações sobre hipnologia. Em São Paulo, MORAES PASSOS ministra no Instit u t o de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica, em 1957, o primeiro Curso de Hipnologia.
EDMUNDO M A I A passa a ministrar, também, uma série contínua de cursos. JEFFERSON G O N Ç A L VES G O N Z A G A , em 1959, publica livros sobre Hipnose Médica e Odontológica. ERWIN
V O F E N B U T E L , OSCAR F A R I N A , S A L O M Ã O G U E L M A N S O B R I N H O , V L A D I M I R B E R N I K ,
F E R N A N D O DE O L I V E I R A BASTOS, JOÃO C A R V A L H A L RIBAS e muitos outros médicos e
odontólogos compõem o quadro precursor, preparatório da futura e próxima integração.
Essa integração se faz quando, no Rio de Janeiro, foram fundadas, como assinalei acima, a Sociedade Brasileira de Hipnose Médica, e.m 1957, tendo como primeiro Presidente D A V I D A K S T E I N e a
Associação Brasileira de Hipnodontia, em 1958, tendo como primeiro Presidente ENIO L I M A . Em
São Paulo f o i fundada, em 1973, a Sociedade de Hipnose Médica de São Paulo, tendo como primeiro
Presidente A N T O N I O CARLOS DE MORAES PASSOS. Em 1971, por proposta minha, f o i criada
anexa à Sociedade Brasileira de Hipnose Médica, a Escola Brasileira de Hipnologia e Hipniatria com a
finalidade de recolher dados, sistematizar conhecimentos e publicar informações, isto é, congregar
doutrinas e teorias que interessassem à hipnologia e informar aos interessados.
Realizaram-se a partir daí, seis Congressos Pan-Americanos e cinco Brasileiros (1961 a 1979).
Cerca de vinte Sociedades de Hipnose, médicas e odontológicas, são fundadas de norte a sul do Brasil.
Durante a minha Presidência na SB HM (1973/75) o Curso de Formação foi aberto aos Psicólogos,
apesar das restrições de alguns membros da Diretoria. No Nordeste f o i criada a Confederação Brasileira de Hipnologia em 1971. Na literatura médica, começam a aparecer livros e artigos sobre hipnologia
e hipniatria.
A insistente infiltração do pensamento mágico passa a ser sistematicamente repudiada, apesar da
persistência de alguns em confundir especulação com ciência, mal observável em qualquer outra atividade médico-psicológica. Mas agora, dispunha a hipnose de importante amparo: — a Lei n ° 51.009,
de 22.07.1961, promulgada no Governo J Â N I O Q U A D R O S , no final do I Congresso Pan-Americano
e I Brasileiro de Hipnologia (julho de 1961), Congresso este que se constituiu no marco definitivo da
integração Hipnológico-Hipniátrica.
ESTUDOS O R I G I N A I S B R A S I L E I R O S
1 - Hipniatria - Callile Jr. - 1961 (4 e 5)
Hipniatria, termo registrado no Centro de Catalogação da Câmara Brasileira do Livro sob número 615.8512 com a definição de C A L L I L E Jr. feita em 1961, é uma técnica que, a partir de então
se conceitua como "cura médica quando obtida através da utilização da hipnose como meio predominante no conjunto terapêutico". Não é hipnoterapia porque:
— a hipnose é, apenas, um dos instrumentos do conjunto terapêutico;
— a indicação prioritária é nas síndromes neuróticas;
— a hipnose é entendida como resposta bio-elétrica;
— tecnicamente se desenvolve nas fases de tranqúilização, confiança em si, conscientização das
informações e quitação, sendo que a última sem o uso de hipnose.
Três aspectos marcam a sua singularidade:
1 — Reavaliação, pela primeira vez, da doutrina pavloviana a luz dos novos e atuais conhecimentos técnicos e neuro-biológicos.
2 - A noção de consciência, que o Autor considera como " a t o neuro-biológico", como consciência de algo, de acordo com sua formação fenomenológico-existencial, não aceitando uma consciência-função, implícita, pré-reflexiva. A consciência é sempre reflexiva, como que luminosidade que
recebe luz ao iluminar. Luz esta que se dirige sempre para algo, com intencionalidade, ao visar, dá e
recebe valores, o que torna o que chamamos de "conhecimento" o próprio sujeito integrado no
mundo e de " f e n ó m e n o " o que aparece e brilha perante e para a consciência. O Autor não admite
13
sujeito sem mundo nem mundo separado do sujeito. Para ele, o mundo termina com o apagar-se do
ato neuro-biológico que a consciência é. A não existência, o " n a d a " é aquilo do que alguém não tem
conhecimento.
3 — A definição neuro-biológica de hipnose, conceituada como "resposta bio-elétrica de tipo
inibitório a estímulos sensoriais feitos com determinada técnica, resultando em fenómenos fisiológicos especiais e disposições psicológicas excepcionais, incidindo, principalmente, no estado de consciência e a partir da função afetivo-emocional".
2 - Terpsicoretranseterapia (TTT) - David Akstein - '\965(
1
2
)
e
3
Segundo o A u t o r , é uma Psicoterapia de Grupo cuja primeira comunicação em congresso foi em
1965, no Congresso Internacional de Hipnose e Medicina Psicossomática, havido em Paris.
Nessa Psicoterapia de Grupo os pacientes se liberam das tensões represadas mediante transe
cinético, o qual é induzido com o auxílio de uma orquestra que tem como instrumento mais importante o tambor. A indução do transe cinético é semelhante àquela que é empregada no V o d u , nos terreiros de Umbanda etc., sem qualquer conotação mística, no caso da T T T . Nesta técnica não há comunicação verbal e a área da vigilância cortical está submetida à estimulação sonora da música.
Transe cinético significa estado hipnótico no qual o " s u j e t " move-se, dança, rodopia, dá vazão
a expressões motoras e emocionais, conseguindo liberar emoções represadas e sob controle, aumentando o nível de resistência nervosa, desenvolvenvo o estado de tranquilidade. Como consequência melhora o equilíbrio psicossomático. O A u t o r considera a T T T como importante coadjuvante no tratamento psicossomático e psiquiátrico global.
3 - Modelo Cibernético - Lamartine Hollanda Jr. - 1 9 7 1 / 1 9 7 3 (
6
e
7
)
Considerando a Cibernética como a ciência da comunicação e da regulagem nos animais e nas
coisas, é de opinião que aquela ciência proporciona um modelo conceituai que permite extrapolar os
conhecimentos obtidos nos cérebros eletrônicos para o campo dos fenómenos psíquicos. A hipnose
seria um estado emocional intensificado.
Usando princípios matemáticos, bem como conceitos e fórmulas matemáticas (algoritmo e t c ) ,
os aplica a fenómenos hipnóticos e pretende haver alcançado um processo terapêutico o qual descreve
como educativo e reeducativo, por modulações adequadas de algoritmos.
Segundo o Autor "a palavra algoritmo tem sido empregada para designar qualquer operação,
qualquer processo de cálculo ou geração de números. É usada, também, para referir, os sinais que
representam tais operações".
4 — Dessensibilização mediante a Visualização Cénica — Moraes Passos — 1 9 7 4 (
8
e
9
)
É a partir do conceito de alucinação — percepção sem objeto, aprovada pelo j u í z o de realidade
— bem como do fenómeno alucinatório, conseguido comumente em hipnose, que MORAES PASSOS
desenvolve sua técnica de dessensibilização que, segundo o A u t o r , é especialmente útil em fobias.
Compreenda-se por "visualização cénica" a faculdade de serem percebidas imagens no espaço interior da mente (como num sonho) com tal perfeição que parecem ter sido vistas pelos olhos. Estas
representações que aparecem no espaço subjetivo interior, porém com aspectos determinados em
todos os detalhes, formam um quadro dinâmico e contínuo com os elementos sugeridos pelo terapeuta na etapa média do processo hipniátrico. Como o fenómeno alucinatório é comum em hipnose,
o referido fenómeno é aproveitado através sugestão do terapeuta.
É sugerida uma visualização cénica neutra e, em seguida, outra, específica. A primeira, como
que prepararia o " s u j e t " para o impacto da segunda, que é considerada como traumática e diretamente ligada à fobia.
Segundo o Autor, o que distingue sua técnica de outras semelhantes é:
— o não haver uma escala de dessensibilização, escala hierárquica que supõe do menos para o
mais traumático;
14
— o não serem necessárias sessões preparatórias para a efetivação da técnica;
— a efetivação de apenas duas visualizações: — a neutra e a fóbica específica;
— da segunda sessão em diante, apenas a apresentação da visualização fóbica.
Ocorrendo emoção angustiosa intensa, suspende-se a visualização e tranqúiliza-se o "sujet". Em
seguida, mantém-se o processo.
Se alguma omissão houve, nesta exposição sobre os progressos da hipnologia no Brasil, foi devida ao não-conhecimento do Autor. Para sanar estas omissões é que foi criada a Escola Brasileira de
Hipnologia e Hipniatria.> Todo estudioso brasileiro que se dedique ao assunto deve, portanto, remeter
à Sociedade Brasileira de Hipnose Médica, com destino à Escola, suas pesquisas e suas conclusões.
RESUMO
O A u t o r , inicialmente, traça os grandes momentos da evolução da hipnose, a f i m de fundamentar o progresso da mesma. Com relação ao que se passou no Brasil, faz apreciação idêntica falando
sobre os Pioneiros, os Precursores e a Integração em Sociedades. Finaliza analisando as novas e originais contribuições de estudiosos brasileiros, solicitando informações para a Escola Brasileira de Hipnologia e Hipniatria.
RÉSUMÉ
L'Auteur commence par délinéer les grands moments de 1'evolution de 1'Hypnose, avec la finalité de
etablir son progrés. Ensuite il fait des appreciation identique relativement a sa histoire dans le Brésil
en evocant les Pionniers, les Précuseurs et 1'lntegration en Societé. II f i n i t en analysant les contributions, nouvelles et originelles, des chercheurs bresiliens, en sollicitant des informations pour 1'École
Brésilienne d'Hypnologie et Hypniatrie.
SUMMARY
The author at
gress. In regard to
pioneers, percursors
butions of Brazilian
Hypniatry.
first draws the great moments of the hypnosis evolution in order to base its prowhat happened in Brazil, he makes identical appreciation talking about the
and the integration in Societies. He concludes analysing new and original contristudious, asking for some information to the Brazilian school of Hypnology and
BIBLIOGRAFIA
1.
2.
A K S T E I N , D. -Hipnologia
- V o l . I - Ed. Hypnos Ltda. - RJ. - 1973.
A K S T E I N , D. — Le T r a n c e s C i n e t i c h e nel T r a t t a m e n t o e nella Profilassi d e l l e M a l a t t i e P s i c o s o m a t i c h e ( T e r p s i c o r e t r a n c e t e r a p i a ) — C o n f e r ê n c i a p r o n u n c i a d a e m 1 2 . 0 9 . 9 6 6 na F u n d a ç ã o C a r l o E r b a , M i l ã o , I t á l i a e p u b l i c a d a e m p o r t u g u ê s na Rev. Brasil Médico, V o l . 8 0 , n ? 3 — M a i o - J u n h o de 1 9 6 6 — R J .
3.
C A S T R O M O N T E I R O , A . R. -
4.
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C A L L I L E J R . , M. — A H i p n i a t r i a nas N e u r o s e s — Rev. Brasileira
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