Second Chances

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Second Chances
Second Chances
by Barbarella
“SECOND CHANCES”
By Barbarella
Descrição: pós “Luthor”, universo paralelo. Clark Luthor é capturado por Oliver, mas
Lois está mesmo disposta a dar uma segunda chance a ele. Seria ele capaz de redenção?
Disclaimer: Todos os personagens envolvidos nessa história pertencem a Warner Bros.
***
CAPÍTULO 1
“Eu não posso viver em um mundo em que você não me ama.”
As palavras daquele homem ainda martelavam na cabeça de Lois Lane após as várias
horas que haviam se passado desde que ele a largou, sozinha, no telhado da LuthorCorp
Media. O dia amanhecera cinzento, como sempre, e o vento frio da noite seguiu os
primeiros raios de sol como se fossem cúmplices do sofrimento pelo qual Metropolis
havia de passar todo santo dia. A cidade estava o mesmo caos de sempre, mas Lois não
tinha olhos para os problemas do mundo exterior naquele momento. Estava ela própria
conturbada com os momentos que vivera, e sequer compreendia o que de fato havia
acontecido.
A jornalista estava em seu escritório, no vigésimo andar da LM. Passara horas ali,
pensando no que havia acontecido, pensando no estranho homem idêntico a Clark
Luthor, mas ao mesmo tempo tão diferente. E Oliver? Por alguma razão, sabia que o
noivo estava bem, mas a preocupação por não saber onde ele se encontrava a estava
matando.
Quando o telefone enfim tocou, ela atendeu sem esperar um segundo toque, agarrou o
aparelho sobre sua mesa como se daquele gesto dependesse sua vida.
“Alô”, ela disse ansiosa. Soltou a respiração ao ouvir a voz de Oliver do outro lado.
“Graças a Deus, você está bem?”
“Estou. Eu preciso que você venha até aquele lugar. É muito importante, não deixe que
ninguém te veja.”
“Ok, Ollie, já estou indo”, ela disse para desligar depois. Levantou-se agarrando a bolsa
e um longo casaco, o qual jogou por cima dos ombros, cobrindo um pouco o vestido da
noite anterior. Pegou o elevador imaginando o que poderia estar acontecendo e apenas
uma coisa lhe ocorreu: Oliver queria que ela fosse até aquele lugar, até a “jaula” de
meteoritos. Ele provavelmente havia aprisionado o homem que se parecia com Clark
Luthor. Lois se deu conta de que realmente precisava ir até lá, pois se era aquele o
caso, Oliver teria que soltá-lo. Ele não era Luthor, era a única certeza de Lois em toda a
história.
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*
Dois taxis e várias voltas depois, ela enfim chegou ao prédio, à cobertura que Oliver
comprara para armar sua armadilha perfeita. Armadilha essa que havia custado mais do
que milhões de dólares, mas a confiança de milhares de pessoas que viam em Oliver
Queen uma esperança de mundo melhor, e agora estavam todas contra ele por conta das
aquisições de terra em Smallville. Como poderiam explicar q
ue tudo aquilo era
para o bem de todos? Nem mesmo Lois era capaz de angariar a desculpa perfeita.
Parou tensa diante da porta e deu uma batida estratégica, para que Oliver soubesse que
era ela. Menos de dez segundos depois, ele a abriu, visivelmente nervoso. O brilho
esverdeado que soou junto às sombras mostrou que ele não estava sozinho, mas Lois não
pôde ver muito. Foi imediatamente envolvida por um abraço aliviado do noivo:
“Você está mesmo bem, agora eu acredito completamente que ele estava dizendo a
verdade!”
“Ele?”, Lois perguntou, acariciando o rosto de Oliver, “O que houve?”
“Sei que vai ser difícil de acreditar, mas o homem que te levou não era quem você
pensa que é. Eu não sei como, não sei quando ou por quê, mas ele veio de um outro
universo, trocou de lugar com sua contra-parte daqui. Só que agora a coisa toda foi
desfeita por causa de uma caixa estranha e ele desapareceu junto com Lionel Luthor!”
“Lionel?”, Lois se viu realmente perdida com a história, mas entendeu o suficiente para
saber que não estava louca. O homem que vira, que a sequestrara. Não era mesmo Clark
Luthor.
“Foi louco, Lois”, explicou Oliver fechando a porta atrás de Lois, “Mas agora, ele está
aqui.”
Lois adentrou o lugar pouco iluminado até que o viu, caído no chão e acorrentado pelas
mãos e pés.
“Clark Luthor...”, ela disse evidentemente surpresa, porém não tanto mais pela
revelação de seu segredo. “Ultraman.”
Clark se virava no chão, tentando de todas as maneiras romper as correntes que o
seguravam, mas era em vão. A kryptonita lhe tirava as forças e infligia uma dor
inigualável.
Lois voltou-se para Oliver e se deu conta de que ele tinha uma arma na mão. Fitou-o,
tensa, “O que vai fazer?”
Oliver tentou passar alguma segurança em seu ato, mas tudo aquilo era estranho para
ele, “Eu não sei... Se entregarmos ele à polícia, sendo quem é... Não ficará preso muito
tempo. Nem temos como provar que ele é o Ultraman”. O bilionário encarou Clark
novamente, cheio de raiva, “Talvez o mais fácil e definitivo seja...”
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“O que está dizendo?”, Lois o repreendeu, segurando-o pelo braço e fazendo-o encarála, “Você não é como ele! Se cruzar essa linha, Ollie, como poderá viver consigo
mesmo?”
“Me contentarei em não dormir à noite, Lois, sabendo que nosso mundo está livre desse
monstro!”
“Não podemos fazer isso”, ela insistiu séria, segurando-o firme pelos dois braços dessa
vez, “EU não vou permitir que você próprio se torne um monstro por causa de outro!”
Oliver se deixou penetrar pelas palavras de Lois e respirou fundo, fechando os olhos.
Olhou para Clark Luthor sem esconder o ódio que tinha por ele, mas considerou que
matá-lo não era uma opção, ainda que seu dedo coçasse no gatilho da arma. Luthor o
fitou de longe, ouvindo a conversa que decidia sobre sua própria vida. Não sabia porque
Lane se esforçara em salvar sua vida naquele momento, mas tudo o que ela fizera fora
ganhar tempo. Ele se soltaria uma hora ou outra, e mataria os dois de uma vez por
todas, como já deveria ter feito há muito tempo atrás.
“Então a única solução é mantê-lo aqui”, Oliver concluiu ponderando diante de zero
opções. Lois observou Clark, que agora estava atento à conversa entre ela e Oliver.
“Me deixe falar com ele”, ela pediu, “a sós.”
“Ficou louca? De jeito nenhum!”, Oliver protestou, e Lois mais uma vez o chamou para a
razão,
“Ele não irá conversar com você, Ollie. Acho que tenho melhores chances aqui já que,
ao final das contas, ele é meu chefe... Por favor, eu vou ficar bem.”
“Ele não é seu chefe”, Oliver respondeu olhando com desdém para Clark, “Ele é um
assassino covarde. Se esconde por trás dessa coisa toda, Ultraman? Apenas para rir nas
nossas caras como dono da LuthorCorp Media, publicando as notícias que quer publicar!
Por isso boicotou você todo esse tempo, Lois, para que você não o desmascarasse, não
descobrisse que o maior inimigo de Metropolis está bem diante de seus olhos...”
“Exatamente”, ela disse de volta, usando aquilo como seu argumento, “E é por isso que
eu tenho o direito de saber a verdade. Você me chamou aqui, agora me deixe falar com
ele a sós...”
Oliver se viu relutante, o que era natural. Não gostava da idéia de ver Lois em perigo, se
a levara até ali era por uma única razão: não confiava em ninguém além dela, Lois era
sua cavalaria inteira, como ela própria dissera na noite anterior. No entanto, o Ultraman
estava acorrentado e rodeado pelos meteoritos verdes, não iria a lugar nenhum. Alguns
minutos não iriam ser um problema tão grande.
“Está certo”, Oliver concordou por fim, mas não completamente convencido, “Eu vou
esperar lá fora. Qualquer coisa, apenas grite, e esse maldito será história..”
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Lois fez um positivo com a cabeça, e observou Oliver saindo da cobertura. Virou-se
então para Clark Luthor, que dava uma risada baixa, mas insistente, ao ver que estava
sozinho com Lois Lane.
“Tenho que confessar, vocês me confundem com essa baboseira toda”, ele disse
tentando se erguer um pouco, mas travou os dentes diante da dor constante provocada
pela kryptonita.
Lois se aproximou devagar, cautelosa. Deu a volta em torno de Luthor até parar do outro
lado da cobertura, de costas para a vidraça que se encontrava lacrada por um painel de
aço, revestido de kryptonita. Era difícil para Lois estar ali, lidar com o que lhe
acontecera. Mas todas as respostas estavam naquele homem caído a poucos metros de
seus pés.
“O que você quer, Lois? Deveria estar agradecida por eu permitir que você vivesse o
suficiente para se tornar um pé no saco dentro do meu jornal... Mas eu pretendo corrigir
o meu erro, não se preocupe...”
“Por que não fez antes?” Lois perguntou dando alguns passos para perto dele. “Teve
milhares de chances para me fazer desaparecer... Por que não fez?”
“Seu senso de justiça me diverte...”, Clark respondeu, cínico, “Ver você tentando
desesperadamente encontrar a verdade sem enxergar o que está diante de seu nariz...
Buscando as migalhas do que eu deixo para trás... É divertido.”
Lois escutou aquilo com um aperto no coração. Não conseguia acreditar que alguém
podia ser tão cruel. Ajeitou o vestido e se agachou um pouco mais próxima de Clark,
encarando-o como nunca fizera antes. Tentou encontrar nele alguma coisa que lhe
mostrasse, que lhe fizesse sentir o outro, mas o olhar de Luthor era um espelho de
amarguras e ódio. Tudo o que podia ver nele era a si própria, buscando um milagre onde
não havia nenhum. Ou talvez a sua própria amargura e ódio não a permitisse enxergar
que o milagre não existia porque ainda não havia sido cultivado. Por alguma razão, ela
acreditou que fosse essa a sua missão, incumbida pelo misterioso outro que tocou e
tomou seu coração em um mísero milésimo de segundo, como se a ele pertencesse. O
misterioso outro que a conhecia como ninguém, que lhe dissera as coisas mais
desconexas e, ao mesmo tempo, mais reais. Se havia um outro Clark, havia uma outra
Lois, e ela estava com ele. O misterioso outro a amava e não podia viver sem ela. Muito
diferente do que Clark Luthor jamais viria a sentir por esta Lois que estava diante dele.
Por ela, sentia apenas ódio, tal como ela própria sentira anteriormente. Mas Lois se viu
diferente desde o momento em que o viu acorrentado no chão, a fitá-la com ironia e
desdém.
Sentiu pena. Pena por ele não ser como o outro, por não ser nada além de um monstro.
Clark Luthor ficou intrigado com o olhar fixo de Lois sobre ele. Ela costumava ser mais
hiperativa, e normalmente o confrontava em todas as oportunidades, mas havia algo
diferente nela. Por um instante, se lembrou da outra Lois Lane que encontrara no
universo paralelo ao seu, pouco antes de ser jogado de volta no seu próprio mundo. A
não ser pelo visual, eram muito pouco diferentes. O gênio, por certo, era o mesmo,
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assim como a coragem. Ele ainda se recordava da forma como a outra Lois tentara
contê-lo para que o outro Oliver conseguisse pegar as armas. Ele a arremessara longe,
duas vezes, e ainda assim ela o encarava como se não compreendesse como ele era
capaz de fazer aquilo com eles. Talvez a outra Lois e o outro Clark fossem próximos, e
por isso ela achou que poderia se aproximar dele e sair ilesa. Doce ilusão.
Contudo, esta Lois o deixara curioso. Ela sabia de algo. E a forma como o encarava...
Procurava algo nele, algo que não parecia encontrar.
“Você não é como ele, é?”, Lois perguntou, desesperada por encontrar algo que
mostrasse o quão errada estava.
“Como quem?”, Clark não compreendeu.
“Como o que veio para cá, quando você foi para... eu nem sei para onde.”
“Para o universo espelho?” Clark questionou. Não era mais segredo para ninguém, e
àquela altura, a caixa já devia ter sido destruída pela sua contraparte, como Oliver
deixara a entender momentos antes de Lane aparecer. Seu plano havia fracassado, pelo
menos em parte. Se Lionel estivera ali e desaparecera também, não seria mais capaz de
voltar.
“Você me diz... Eu não sei como você fez isso, como desfez. Eu... Só quero saber uma
coisa”, Lois indagou, mas não precisou ir além. Clark pareceu ter lido seus pensamentos.
“Como é? O quão diferente é daqui?”, ele reproduziu a pergunta que ela faria. Balançou
a cabeça sorrindo, negativamente, diante das desilusões de Lois, para então encará-la
novamente, quase ameaçando-a pelo olhar, “É tão diferente que não há como explicar.
É calmo, pacífico... Eu te vi lá. E Oliver. Vocês não estão juntos lá.”
Toda a conversa soava absurda, mas Lois tendia a acreditar nas palavras de Luthor. O
outro havia dito a verdade sobre ela. Lois soube instintivamente que só podia ser
apaixonada por aquele homem, pois quase foi tomada por este sentimento nos poucos
instantes em que tiveram juntos. Luthor não precisaria dizer muita coisa, pois apenas
confirmaria o que ela acreditava ser um sonhar acordado. Um mundo no qual havia o
bem, e que este bem era mais forte do que o mal.
Clark notou que aquilo mexia com Lois e decidiu provocá-la ainda mais, “Eu posso ver...
Você se encontrou com ele, não é? Encontrou o meu outro eu e ficou imaginando como
seria... Eu posso lhe mostrar, Lane, como seria...”
“Não precisa”, ela respondeu, tentando esconder a tristeza em seu olhar, “O pequeno
instante em que passamos juntos, eu vi como seria.. Eu vi que existe um mundo tão
diferente desse que é como se nós tivéssemos sido abandonados aqui, sem esperança...
Mas eu quero acreditar que isso tudo foi um sinal de que nós podemos tornar este mundo
melhor... E deve haver alguma coisa dentro de você, por mais fundo que esteja...
Alguma coisa que nos devolva a esperança. Seja lá o que você for, de onde tenha vindo
com esses poderes... Agora eu sei que o que você se tornou foi graças a Lionel, à vida
que você teve. Tudo poderia ser diferente, tudo foi diferente nesse outro mundo. E se
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você e o outro foram capazes de mudar de lugar um com o outro, mesmo por um dia, eu
tenho, eu preciso acreditar que você é capaz de mudar a si mesmo...”
Clark ouviu atentamente às palavras de Lois, e tentou, em meio à dor que sentia, se
aproximar um pouco mais dela. Queria olhar bem dentro de seus olhos. Lois mencionou
recuar, mas controlou o medo. Sentiu-se invadida pelos intensos olhos azuis de Clark
Luthor, no instante em que ele entreabriu os lábios,
“Você sabe que eu a mataria antes de mudar a mim mesmo, não é?”
Era a resposta que ela poderia esperar do Ultraman. De um homem que não tinha
consideração por nada que representasse a humanidade. Foi a vez de Lois se aproximar
dele.
“Se a minha vida é o preço a ser pago para que este mundo conheça um amanhã
melhor... Então me mate.”
Clark Luthor permaneceu com o olhar fixo em Lois Lane, imaginando o que podia passar
pela cabeça dela naquele momento. Mesmo enfraquecido pela kryptonita, ainda era
capaz de ouvir seus batimentos cardíacos com precisão. Batiam um pouco rápido, mas
não tanto quanto deveria. Ela não parecia ter mais medo. Ainda assim, ele imaginou que
poderia assustá-la se quisesse.
“Eu irei. Vocês não poderão me manter aqui para sempre. Seu namoradinho acha que
possui todas as respostas, mas ele não sabe de nada. Ele não pode me deter..”
“Eu sei que ele não pode”, Lois respondeu resignada, “Não significa que não haja um
meio. E eu acho que a resposta é muito mais simples do que toda essa rocha verde...”
Clark não respondeu, apenas a fitou, quase sério. E Lois não se moveu de onde estava,
nem se deu conta de que entrara no perímetro de perigo perto do Ultraman. Contudo,
ela pareceu se aproximar mais e mais, tão lentamente que era quase imperceptível à
sua própria lucidez. Clark percebeu a aproximação da jornalista, como se ela estivesse
realmente se entregando à morte. Estava próxima o suficiente para que ele pudesse
arrastá-la, quebrar-lhe o pescoço. Contudo, ele esperou um pouco mais, queria saber o
que ela tinha em mente.
Lois se aproximou mais e mais, até chegar a apoiar um dos joelhos no chão. A distância
entre seus corpos já não era mais significativa, e Clark não fez menção para que ela
parasse. Sua curiosidade crescia a cada centímetro de aproximação de Lois Lane. E ela
continuou a se aproximar, os olhos fixos nos dele, até que não havia mais para onde ir.
Ela havia chegado ao seu horizonte de eventos, e cruzá-lo seria dizer adeus a tudo o que
havia vivenciado até aquele dia. Ela prestes a cometer o maior dos pecados, o grande
erro de sua vida. Ou talvez fosse seu destino correr o risco infinito em alimentar o que
não deveria ser alimentado. Ela não conhecia as respostas, nem mesmo as perguntas.
Tudo o que fez foi seguir seu coração até os lábios de Clark Luthor.
Ela primeiro os tocou, para depois fechar os olhos, em sintonia com seu próprio respirar.
Surpreendeu-se com a maciez dos lábios dele, os quais entreabriram gentilmente no
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instante em que ela repousou entre eles. Eram quentes, e por mais incrível que pudesse
parecer, dóceis. E assim permaneceram até o momento em que Lois os sugou em câmera
lenta, até soltá-los completamente.
Lois se afastou, abrindo os olhos. Levantou-se rapidamente sem olhar para Luthor,
tentando se situar de volta na realidade. O que havia feito? Um segundo após seguir os
instintos de seu coração, Lois estava de volta à razão, sem compreender que espécie de
transe fora aquele que a arrebatara. Mas não importava mais, ela precisava sair dali.
Deu a volta o mais longe possível de Luthor e saiu da cobertura com pressa, sem olhar
para trás.
Clark Luthor demorou a abrir os olhos. Quando o fez, foi somente após ouvir os passos
dela se distanciando atrás de si. Ele olhou em volta, relembrando da dor pela
kryptonita. De tudo o que havia se passado até aquele instante.
Mas agora, havia algo diferente.
Serrou os dentes, incerto do que estava sentindo, mas sabia que aquela kryptonita não
era mais capaz de detê-lo. Em um movimento brusco, ergueu-se do chão arrebentando
as correntes que lhe seguravam os pulsos. Arrebentou as correntes das pernas e saltou
na direção do painel metálico, arrebentando-o junto com a janela.
Saltou para a imensidão de seu velho mundo, vendo-o redesenhar-se por conta de um
simples beijo. O beijo que ele gostaria que Lois Lane jamais lhe tivesse dado.
***
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CAPÍTULO 2
Quando Lois saiu da cobertura, abrindo a porta com pressa e seguindo o corredor em
meio a entulhos de reforma, ela ainda buscava compreender suas motivações para beijar
aquele homem. Não havia nada que pudesse justificar os seus atos, nenhuma forma de
racionalizar aquele gesto como sendo benéfico a algum dos dois. Se sentiu louca,
abruptamente invadida por um vácuo de consciência. E se ele a matasse naquele exato
instante em que ficou à mercê do monstro? Certamente chegou perto, Lois pôde sentir o
hálito do perigo a beliscar-lhe a face, ainda que seus lábios tenham beliscado muito
além.
Oliver caminhou até ela, estava sentado sobre algumas caixas de madeira, recostado em
um palette. Ele percebeu o quão tensa ela estava e a segurou procurando dar-lhe um
pouco de tranquilidade.
“O que houve”? perguntou, mas não houve tempo hábil para respostas. Um barulho
intenso e uma estremecida despertaram os dois para algo que acontecia dentro da
cobertura.
Oliver imediatamente correu, ao contrário de Lois que ainda parecia anestesiada pelo
que lhe acontecera. Somente ao ouvir Oliver novamente ela se mexeu, voltando ao
local. Estava vazio, não havia sinal de Clark Luthor e as correntes que o aprisionavam
estavam arrebentadas ao chão. A janela, quebrada, indicava o lugar por onde ele havia
fugido, lugar sobre o qual Oliver havia subido a fim de tentar ver alguma coisa. Em vão.
“Ele escapou!”, Oliver disse para Lois, sem conseguir compreender, “Mas como?”
Lois abriu os lábios nervosa, mas as palavras não saíram. Clark Luthor estava muito bem
acorrentado no momento em que ela saiu, mas a jornalista sabia instintivamente que ela
tivera alguma coisa a ver com sua fuga. Não sabia como, mas sentiu que aquele beijo
havia mudado alguma coisa em seu mundo.
Talvez tivesse mudado o mundo de Clark.
***
Do outro lado da cidade, Clark Luthor tomava ar após sentir-se à beira do fim. A
kryptonita o enfraquecia lentamente, lhe consumindo as energias. Havia sido assim
desde que sentiu seu efeito pela primeira vez, por acidente, enquanto brincava com seu
irmão Lex. E mostrando os primeiros traços de seu caráter maléfico, Lex passou a se
divertir torturando o irmão, até o dia em que lhe deixou a marca que o acompanharia
por toda a vida. Por todos esses anos, Clark sentira os efeitos das diversas modalidades
de kryptonita, se sentia vulnerável por não ir de encontro a elas. Nunca havia sido capaz
de resistir tanto, muito menos combatê-las.
Até aquele momento.
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Por alguma razão, ele foi capaz de resistir. Clark parou no terraço de um prédio baixo e
travou os músculos, sentindo o poder que continuava a emanar de si. Sentia-se forte,
revigorado, ainda que tivesse passado por maus bocados em ambos os mundos. E a única
razão que lhe ocorria era o mesmo evento que permeava sua mente desde que fugira da
armadilha de Oliver Queen:
Lois Lane.
Ela havia mexido com a cabeça dele, e não apenas. Seja lá o que tivesse feito, atingira
seu corpo. Ele se sentia diferente após estar com ela, após o beijo. Beijo que ela nunca
deveria ter-lhe dado, embora lhe ocorrera arrancar-lhe à força uma ou duas vezes no
LM. Ela era linda, desejável ao limite, ele não poderia negar jamais, mas sua incessante
busca pelo bem e pela justiça o irritava ao ponto de boicotá-la em todas as
oportunidades. Lois Lane era um problema, e Clark não se enganou por conta do que
havia acontecido entre eles: ela continuava a ser um problema.
Por outro lado, Clark deu-se conta de que o mundo de fato havia mudado. Lionel Luthor
era história, não voltaria do universo espelho. Seu caminho estava livre para fazer do
mundo o seu caos pessoal.
A começar por Lane.
***
Foi difícil para Lois explicar a Oliver que ela não havia soltado Luthor, embora ele
tivesse certeza de que o Ultraman estava muito bem acorrentado e ela não teria
conseguido sozinha. Ela própria não podia aceitar, não podia compreender que aquilo
havia acontecido logo após o seu ato de insanidade. Ainda assim, era o menos estranho
de tudo. Aquelas 24 horas marcaram com surpresas, fenômenos inexplicáveis, visitas
inesperadas, um beijo destinado a não ser.
Lois se sentia cansada, mas sua curiosidade era maior do que seu senso de perigo mais
uma vez. Contra as recomendações de Oliver, a jornalista seguiu para o LuthorCorp
Media, havia tantas perguntas sem resposta em sua mente. Ela precisava saber o que
havia de diferente entre o seu mundo e este outro, de onde vinha o misterioso Clark.
Clark Kent, ela se recordou em um estalo de memória.
Seguiu para a sala do arquivo trancando-se lá dentro. Sentou-se diante do computador e
digitou as palavras, em busca de respostas. “Clark Kent” não era um nome tão incomum
quanto parecia, aquilo não a levaria a lugar nenhum.
“A não ser...”, Lois disse para si mesma, intrigada. “As rochas, Smallville...”
Ela pensou com mais cautela e retirou o “Clark” da busca, naturalmente ele não existia
em seu mundo. Buscou por alguma relação entre Smallville e o nome “Kent”. Tinha que
haver algo. Ela sabia através da pesquisa de Oliver que a condição do Ultraman estava
relacionada à chuva de meteoros que atingira Smallville 20 anos antes. Sabia que sua
fraqueza provinha de rochas que vieram na chuva de meteoros, mas talvez sua própria
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origem estivesse atrelada ao acidente cósmico. Lois havia sido a primeira a levantar a
hipótese de que talvez Ultraman fosse um ser de outro planeta. Não lhe era difícil crer,
principalmente após ter provas de que os poderes do inimigo n. 1 de Metropolis não se
comparavam a nada na superfície da Terra. Seja lá o que Clark Luthor ou Clark Kent
fossem, tinha a ver com os meteoros de 20 anos atrás.
Apenas duas buscas depois, ela encontrou o que procurava.
“Jonathan Kent”, repetiu para si mesma enquanto anotava o nome e tudo mais que
encontrara a respeito de sua melhor pista.
***
Clark Luthor chegou ao LM no início da tarde, já recomposto de suas aventuras matinais.
Elegante em um terno negro e camisa vermelha, ele seguiu para a sua sala. Lembrou-se
do que havia acontecido no mundo espelho e se perguntou por Tess. Não a vira desde
que chegara, teria Lionel feito algo com ela? Não era algo que lhe importava tanto
naquele momento. Iria atrás de sua “irmãzinha” uma outra hora.
Sentou-se em sua poltrona com um copo de uísque e lançou os pés sobre a mesa, no
momento em que uma assistente entrou na sala.
“Sr. Luthor, mandou me chamar?”, a jovem loira perguntou, um tanto tensa por estar na
presença do temido chefe.
“Mande Lane vir aqui”, ele ordenou sem olhar para a cara da moça. Manteve sua postura
relaxada na poltrona, como sempre fazia.
“Ela... Não está no jornal, Sr. Luthor”
“Não está?..”
“Eu a vi saindo de carro na hora que cheguei, Sr.”
“Para onde ela foi?”, ele perguntou girando o líquido do copo, depositando-o sobre a
mesa.
“Eu não sei, Sr..”
“Você não sabe...”
Clark se levantou, caminhando até perto da assistente. A jovem tentou não demonstrar
medo, mas era praticamente impossível. Clark Luthor sabia como despertar temores
apenas pelo olhar, por vezes apenas descarado, mas quase sempre psicopata. De fato
ele fitara a assistente como se seu movimento seguinte fosse quebrar-lhe um ou dois
braços. No entanto, ele se conteve,
“O que ainda está fazendo aqui?”
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Foi o suficiente para que a assistente desse no pé o mais rápido possível, assustada e
aliviada ao mesmo tempo. Luthor caminhou então até a série de documentos postados
em uma estante próxima, catou pela ordem alfabética rapidamente até encontrar o
arquivo que desejava encontrar.
Lois Joanne Lane.
Mais rápido do que o som, ele leu tudo o que havia para ler em sua ficha pessoal. Filha
de um famoso General já morto, herói de guerra. Orfã de mãe, criada em bases
militares até alcançar a liberdade e iniciar sua carreira jornalística. Formada na
Metropolis University, admitida na LuthorCorp Media ainda como estagiária. Se destacou
rapidamente como uma das melhores jornalistas da cidade, e nesse meio tempo
conheceu Oliver Queen. Essa parte da história não era tão desconhecida para Clark, pois
ele próprio conhecia Queen há um bom tempo. Sabia do envolvimento dos dois, ainda
que o noivado fosse uma surpresa. Não teria descoberto se não visse a aliança na mão de
Lois Lane enquanto ela o encarava, tentando fazê-lo mudar.
Se sua curiosidade havia sido estimulada por conta dos arquivos sobre Lane, sua
ansiedade em encontrá-la não ficava atrás. A idéia fixa em sua mente dizia que não
haveria nada que infligisse maior dor em Oliver Queen do que matar sua recém noiva, e
aquela seria uma ótima vingança. Por outro lado, ensinaria a Lois a lição definitiva de
não se meter com o Ultraman.
Mataria Lois Lane, destruiria Oliver Queen no processo e assumiria o legado dos Luthor.
E tudo voltaria ao normal, como deveria ser.
***
Após horas de buscas, Lois enfim chegou ao endereço que procurava em uma pequena
cidade vizinha à Smallville. Estacionou diante de uma típica casa de interior, cercada
por um jardim considerável. Lois não conseguia se lembrar do dia em que vira flores
brotando com tanta facilidade, certamente não em Metropolis. Não se debruçou por
muito tempo sobre a visão, fez questão de seguir em frente, batendo na porta.
Alguns poucos segundos se passaram até que uma mulher ruiva, aparentando seus 50
anos, abriu a porta. Seus traços deixaram claro a luta que era viver da terra naquelas
regiões, principalmente após a queda do meteoro, 20 anos atrás. A mulher olhou para
Lois com curiosidade, e a jornalista fez o primeiro contato:
“Sra. Martha Kent?”
“Sou eu”, respondeu a mulher, intrigada. Lois sorriu ligeiramente,
“Sou Lois Lane, da Luthor--“
“Sei quem você é”, interrompeu Martha de maneira abrupta, “É namorada de Oliver
Queen.”
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Lois sabia onde aquilo iria chegar, mas preferiu não adentrar na questão. “Eu gostaria de
conversar com a Sra. e o Sr. Kent, se não for muito incômodo...”
Martha Kent pareceu receosa a principio, mas havia algo na jornalista que a deixava um
tanto menos preocupada. Convidou Lois e ela entrou, passando a vista pela modesta
casa. As poucas fotos que havia espalhadas sobre alguns móveis não mostrava filhos. Lois
imaginou se estava exagerando na dose, mas não custaria investigar.
Quando Jonathan Kent surgiu na sala, Lois se surpreendeu. O homem provavelmente
tinha a mesma idade da esposa, mas parecia bem mais velho. Estava sentado em uma
cadeira de rodas, na qual deslizou pela sala até perto do sofá.
“O que deseja, Srta. Lane?”, ele a questionou com uma tristeza inerente ao olhar, ainda
que misturada a certa raiva. Aquelas pessoas culpavam Oliver pela situação atual de
Smallville, e Lois não poderia explicar a eles que seu noivo agia por boa fé. Como contar
as reais razões pelas quais Oliver se vira obrigado a desapropriar terras de pessoas
inocentes?
“Ela quer nos perguntar umas coisas sobre o passado..” Martha disse trazendo uma
bandeja com xícaras de café. De maneira simpática, ofereceu uma a Lois, que aceitou
de bom grado.
“Obrigada... Na verdade, eu estou investigando um evento que ocorreu há algum tempo.
É difícil de explicar, porque nem eu sei exatamente o que estou procurando, eu...”
Lois sabia que aquela conversa não a levaria a lugar nenhum, mas a expressão de
Jonathan e Martha lhe dizia que eles falariam com ela. Martha colocou um pouco de
café para Jonathan, depois para ela. Lois deu um rápido gole no seu próprio e se viu
feliz com o sabor fantástico do café preto, puro.
“Vocês nunca... tiveram um filho, não é mesmo?”
“Não, não tivemos”, Jonathan respondeu antes de Martha, evitando que a esposa
precisasse falar sobre aquilo. Ele sabia o quão difícil fora para ela passar uma vida sem
realizar seu maior sonho.
“Por que está nos perguntando isso?”
“Me perdoem...”, Lois procurou uma maneira melhor de se expressar, “É apenas que
eu... Havia uma criança, um menino... Tudo indica que ele deveria ter sido adotado por
vocês.”
“Como assim tudo indica?”, indagou Jonathan. Lois balançou a cabeça, ela própria
estava confusa.
“Quero dizer, de alguma forma, eu não sei como... Ele deveria ter cruzado o caminho de
vocês, 20 anos atrás. Eu me pergunto por que isso não aconteceu...”
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“O que quer dizer com cruzar nosso caminho?”, foi a vez de Martha perguntar. A menção
dos vinte anos pareceu mexer com o casal, e Lois percebeu.
“Vocês sabem de algo?”, a jornalista questionou curiosa, seu olhar incapaz de disfarçar a
ansiedade pela resposta. Jonathan Kent interveio.
“Não sei exatamente o que quer ouvir, Srta. Lane.”
“Vamos colocar dessa forma”, Lois decidiu refazer sua linha de questionamentos, “Eu sei
que vocês viviam em Smallville durante a chuva de meteoros, vi a foto de vocês em
jornais da época. Eu gostaria de saber se vocês não viram nada estranho naquele dia, ou
nos dias que se seguiram. Algo mais extraordinário do que o meteoro em si...”
Jonathan encarou Lois realmente intrigado dessa vez. Trocou um olhar com Martha, que
o fitou da mesma maneira. Pareciam esconder algo, pois a pergunta de Lois não soou
para eles tão estranha quanto houvera sido.
“Vocês sabem de algo”, Lois deduziu, “Por favor, isto é muito importante. Não estou
aqui por causa de nenhuma matéria ou nada disso, eu só preciso saber a verdade sobre o
que aconteceu naquele dia...”
“Você quer a verdade? Ninguém nunca acreditou na verdade”, explicou Jonathan, “A
verdade é que aquele meteoro não foi a única coisa que chegou a Smallville naquele
dia.”
Lois se manteve atenta e calada, escutando a narração de Jonathan. Ele continuou.
“Martha e eu vínhamos da cidade pelo milharal, até que aquilo veio dos céus e adentrou
a plantação, mergulhou de vez.. O caminhão tremeu, mas não saiu da pista. Estávamos
longe, mas deu pra ver que havia sido algo diferente do meteoro. Como se fosse o
próprio epicentro de tudo...”
“E vocês foram até lá olhar, ver o que era?”, Lois perguntou, mas Jonathan negou com a
cabeça.
“Não éramos os únicos no milharal naquele dia. Havia um outro carro à nossa frente,
uma limusine. Quem quer que estivesse dentro foi o primeiro a chegar, mas saiu de lá
logo depois. Só então que nós paramos o carro, demos meia volta. Pedi a Martha que
ficasse no carro e me aproximei até onde tive coragem... Até que a vi.”
“A viu?”
“A nave”, explicou Jonathan. Seu olhar era quase como se ele pudesse ver novamente
cada detalhe em meio ao milharal denso, “Estava lá, aberta. Alguma coisa havia saído
dali.”
Lois engoliu em seco diante da confirmação de suas suspeitas, mas deixou que o casal
continuasse a história, desta vez com Martha,
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“Mas daí um helicóptero se aproximou rápido. Fomos embora com medo do que aquilo
poderia ser...”
“... E poucos minutos depois, a nave já havia desaparecido, junto com todos os seus
vestígios.” Jonathan completou.
“Meu Deus...”, Lois disse baixo, encaixando as peças do quebra-cabeça. A limusine que
chegara ao milharal pertencia a Lionel Luthor, e por isso ele encontrara Clark, e não os
Kent. Aquele havia sido o ponto crucial, ainda que Lois não pudesse explicar as razões
para aquilo tudo. A própria realidade de que Clark Luthor era de outro planeta já
serviria para deixar-lhe chocada, mas Lois já cultivava aquela idéia há um bom tempo. A
única coisa de que tinha certeza e compreendia era que o Clark Kent que conhecera tão
rapidamente jamais existiria em seu mundo, pois aqueles que supostamente seriam seus
pais não o haviam encontrado, conhecido, criado. Este papel coube a Lionel Luthor, e o
resultado fora catastrófico. Tudo aquilo fez Lois pensar em como as coisas poderiam ter
sido diferentes. Se Clark houvesse sido criado pelos Kent, provavelmente cultivaria
valores diferentes. Poderia ser um herói no lugar de uma ameaça, ou talvez nunca
deixasse Metropolis, de modo que eles nunca se conheceriam, já que Lois não havia
colocado os pés em Smallville até o dia em que Oliver começou a manter negócios por
lá. Mas e no outro mundo, como a Lois Lane e Clark Kent teriam se conhecido? No jornal,
seria ela uma jornalista lá também? Teria Lois ido a Smallville? Teriam se visto ao acaso,
se apaixonado à primeira vista? Teriam sofrido por amor até terminarem um nos braços
do outro?
Apenas uma coisa ainda a deixava intrigada: como tanto um como o outro poderiam ter
o mesmo nome, “Clark?” Uma mera coincidência ou o verdadeiro nome do ser
intergaláctico? Lois duvidou na existência de um alien que genuinamente se chamasse
Clark, mas era igualmente difícil acreditar em uma similitude como aquela. Algo não
batia, mas Lois deixou essa questão um pouco de lado, afinal de contas, descobrira
enfim a essência da verdade sobre as origens do Ultraman.
***
Clark Luthor saiu do LM com um plano traçado. Não havia discrição ou cuidados com sua
identidade secreta, era tarde demais para isso. Tudo o que queria era aquecer antes de
confrontar-se com Lane, que provavelmente estaria sob os cuidados de Oliver Queen, o
que significava mais kryptonita. Mas Clark acreditava piamente que se conseguira
superar a kryptonita verde uma vez, o faria de novo. Mataria Lane diante de Oliver,
ocasionando a maior dor que um homem apaixonado poderia obter.
Mas ele estava errado, pois Oliver não estava com Lois Lane. Luthor se deu conta disso
ao vê-lo a caminhar por uma rua estreita e deserta, na periferia de Metropolis. O
Ultraman observou Queen do alto de um prédio, usando sua visão de raio-x para
acompanhar os detalhes do percurso. Notou uma arma em seu bolso, provavelmente com
balas de kryptonita. Ainda assim, Clark tinha consciência de que era muito mais rápido
do que Oliver, e quando a kryptonita lhe tirasse as forças, Oliver já estaria morto no
chão.
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De repente, os planos de Clark Luthor mudaram e um brilho tomou conta de seu olhar
perverso. Por que matar Lois diante de Oliver se ele poderia fazer exatamente o
contrário? Eliminar Oliver, mostrando a Lois que ela não poderia mudá-lo com um beijo.
Aproximou-se um pouco mais pelo telhado, procurando a melhor visão do noivo de Lane.
Àquela distância, poderia fritá-lo com o olhar tranquilamente sem sequer sentir os
efeitos da kryptonita. Oliver nem veria o caminhão que o atingira. Clark preparou-se,
mirando o inimigo no instante em que Oliver se virou para o lado onde ele estava, mas
sem olhar para cima ou o teria visto. Os olhos de Clark tornaram-se vermelhos com a
rajada de fogo iminente, prestes a sair pelos seus olhos. Oliver continuava distraído,
morreria em segundos. Tudo o que Clark precisava fazer era liberar o poder dentro de si
em sua direção.
Mas não o fez.
O calor dissipou no olhar irritado de Clark Luthor, que observou Oliver desligar o celular
e seguir na direção do seu carro, partindo em seguida. Poderia matá-lo outra hora,
pensou Clark. O que não compreendia totalmente era a razão pela qual não o fizera
naquele exato instante.
Apenas ficou mais furioso consigo próprio.
***
Lois retornou para seu apartamento em Metropolis um pouco depois das 10 pm. Estava
cansada da viagem do interior próximo a Smallville, ainda que tenha valido totalmente a
pena. Os Kent eram boas pessoas ao final das contas, contando detalhes sobre o que
viram, ou mesmo o que não foi possível ver. Lois sabia que se tratava de uma criança,
que só podia ser Clark Luthor. Lionel o tirara da nave e o criara como um filho. E por
filho, entende-se um monstro à imagem e semelhança do homem que era dono de
praticamente toda a cidade.
Lois mal entrou no apartamento e seu celular disparou em tocar. Ela atendeu
rapidamente, após verificar que se tratava de Oliver.
“Ollie? E então?”, ela perguntou, sabendo exatamente o que se passava na cabeça do
noivo naquele momento.
“O desgraçado foi visto na Luthorcorp Media! Nem mesmo se assustou com o que
aconteceu com ele, age como se estivesse tudo como sempre! Lois, por favor, não vá até
o LM até resolvermos isso!”
“Não irei, você tem razão”, ela disse sem revelar que já passara por lá pela manhã.
“Eu deixei uma caixa em seu apartamento, tem uma rocha verde dentro. Mantenha-a
perto de você, só para garantir, ok? Eu estou seguindo uma pista do outro lado da
cidade, vejo você amanhã de manhã..”
“Me prometa que tomará cuidado, Ollie”, Lois pediu, aflita, “Ele deve estar irado agora,
pode tentar te matar como aos outros que viram seu rosto!”
16
“Eu o levo comigo, Lois, eu juro que levo”, Oliver advertiu, “Tenha cuidado, ok? A
pedra, sempre perto, não se esqueça... Eu te amo”
“Eu também te amo”, ela disse desligando o celular junto com o noivo. Respirou fundo,
altamente preocupada com Oliver. Algo lhe dizia que Clark Luthor iria atrás dele muito
antes do que se pudesse imaginar.
Lois entrou em seu quarto, observando a vidraça que dava para a varanda, fechada.
Acendeu a luz e tirou as roupas, desesperada por um banho quente. Nem mesmo nua
dentro do box, sentindo a maravilhosa água a acariciar-lhe o corpo, parou de pensar na
conversa com os Kent. O que lhe incomodava mais era a dúvida em comentar ou não
suas descobertas com Oliver. Não eram úteis à captura do Ultraman, apenas revelavam
uma outra verdade, sobre o que poderia ter sido e não foi. Ela poderia confirmar que
Ultraman era um alienígena sem entrar nos detalhes que a levaram a descobrir, mas
Oliver iria querer saber mais, ir a fundo na história, e Lois não estava certa de que falar
toda a verdade seria o melhor. Oliver não precisava saber sobre o que houvera entre ela
e Clark Kent, muito menos entre ela e Clark Luthor.
A jornalista saiu do banheiro envolta em uma toalha e imediatamente vestiu uma fina e
curta camisola de seda branca. Prendeu os cabelos secos em um rabo de cavalo e seguiu
para o banheiro novamente quando as luzes simplesmente se apagaram todas.
“Brincadeira...”, Lois disse saindo do banheiro, olhando em volta para o quarto escuro.
Seu coração quase saiu pelos pulsos ao ver a vidraça da varanda aberta, as cortinas
agitadas ao vento.
Ele estava ali.
“Olá, de novo...” a voz de Clark soou pelo quarto. Lois olhou em volta no escuro até que
viu a silhueta dele na poltrona em um dos cantos mais escuros. Estava sentado, olhando
para ela. Analisando-a.
Lois não pôde evitar o susto, mas tentou conter o medo de todas as maneiras. “O que
você quer?”
“O que eu quero...” Clark repetiu, ainda recostado na confortável poltrona. “O que acha
que eu quero?”
Lois não esperou para saber. Ingenuamente, acreditou que poderia ainda escapar dele.
Só precisava encontrar a caixa com a kryptonita. Correu na direção da porta, mas um
vento forte lhe atravessou, lançando-a de volta para o quarto. Era o próprio Clark
Luthor, que em um super movimento, acelerou até ela e a colocou contra a parede com
uma das mãos.
“Onde pensa que vai?”, Clark disse com a mão travada no pescoço de Lois. Ela tentou
mexer-se, mas era em vão. Ainda que ele não estivesse apertando com muita força, ela
simplesmente não tinha reação. Ele era incrivelmente forte, como se fosse feito de aço.
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“O que quer de mim?”, Lois disse com certa dificuldade por conta da garganta
levemente espremida. Ainda que estivesse no escuro, podia visualizar os olhos azuis de
Clark sobre ela, correndo os detalhes de seu corpo.
“Não importa. Você não vai precisar se preocupar com isso amanhã. Não haverá amanhã
para você.”
“Então eu estava certa sobre você”, Lois disse, seu corpo tenso como sua alma, “Você é
mesmo um monstro sem chance de redenção...”
“Quem você pensa que é para falar comigo assim?”, Clark disse com um meio sorriso,
cínico e arrogante. Levou a outra mão ao ombro de Lois e correu o dedo na direção do
busto dela, por entre os seios ofegantes. “As coisas poderiam ter sido diferentes, Lane,
se você não fosse tão enxerida, se não ficasse ao lado do idiota do Queen!”
“As coisas nunca poderiam ser diferentes, porque eu nunca ficaria ao lado de um
assassino”, ela disse irritada com a arrogância de Luthor, “E pensar que por um
momento eu achei que você... Eu sou uma idiota mesmo! Você é um monstro e Oliver é
um herói!”
Aquilo irritou Clark profundamente e ele forçou seu corpo contra o de Lois, travando os
dedos na garganta dela verdadeiramente dessa vez. A jornalista estremeceu, sentindo o
ar a esvair-se rapidamente, sufocada ao limite. Agarrou o braço dele com os seus,
tentando se soltar de todas as formas, mas era impossível. Ele então aproximou o rosto
do dela e falou forte ao pé de seu ouvido,
“Então você pode ir para o inferno com o seu herói!”
As lágrimas correram pelo rosto de Lois ao momento em que começou a ficar azul pela
falta de oxigênio. Mas ainda lhe restavam forças para dizer uma única coisa a Luthor, e
ela balbuciou como pôde até ele dar-se conta de que ela queria dizer-lhe algo.
“Suas últimas palavras?”, ele questionou encarando-a, procurando ler seus lábios, até
que conseguiu.
“Não.. po...de... ma..tar...”, ela balbuciou,
já..es..tá..mor..ta... por... den..tro...”
perdendo
as
forças,
“quem..
Aquelas foram as últimas palavras de Lois antes de perder a consciência, quando seus
braços enfim se soltaram dos de Clark, desabando inertes ao lado de seu corpo. Clark
ainda segurava o pescoço de Lois contra a parede infringindo-lhe a pior das mortes,
lenta e sufocante. Mas foi quando ele encarou seu rosto desfalecido que algo lhe atingiu.
As lágrimas que ainda marcavam seu rosto não haviam sido para ela, mas para ele.
Ele a havia matado por dentro muito antes de tentar contra seu corpo.
A feição de Clark mudou, do deleite para alguma coisa que ele não sabia explicar. Focou
seus sentidos nos batimentos de Lois, notando-os erráticos, cada vez mais lentos, até
que cessaram por completo. Ele soltou o pescoço dela apenas para seu corpo deslizar
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pela parede em direção ao chão, mas o próprio Luthor a segurou antes que caísse por
completo. Tomou-a nos braços surpreso por aquilo ter acontecido, por ter mesmo feito
aquilo com ela.
Sem pensar muito, ele a carregou na direção da cama, colocando-a sobre o edredom
ainda arrumado. Lois estava totalmente inerte, entregue à morte iminente, mas Clark se
colocou sobre ela e, com um movimento gentil, impulsionou a palma de sua mão contra
o peito dela, em sua versão adaptada do que seria uma massagem cardíaca. Apertou
uma, duas, três vezes, mas não houve resultado. Se viu nervoso e inclinou-se sobre ela,
lançando sua boca contra a dela. Assoprou o mais fraco possível, o que em seu caso era
praticamente uma entubação de emergência. Assoprou seu ar para os pulmões dela,
esperando que aquilo pudesse trazê-la de volta.
Depois de pouco mais de meio minuto, um batimento discreto soou nos ouvidos de Clark
Luthor, seguido de outro, e mais outro. Lois deu um forte suspiro, buscando tomar ar
com todas as forças. Clark a observou ainda inconsciente, mas reagindo. Viu-se aliviado
por ela estar viva, mas ergueu-se da cama no instante em que percebeu que ela iria
abrir os olhos novamente. Superacelerou até a varanda, observando-a por trás das
cortinas.
Lois abriu os olhos e tossiu intensamente, sentindo uma forte dor na garganta e na
cabeça. Sentia-se zonza, desnorteada, mas se lembrava com precisão do que havia
acontecido. Ergueu-se um pouco olhando pelo quarto escuro, mas ele não estava mais
lá. Ao dar-se conta de que estava sozinha novamente, não conseguiu conter as lágrimas.
Estava assustada e destruída ao mesmo tempo, e chorou copiosamente por estar tão
errada. O outro havia ido embora e a deixado com um vazio que nem ela mesmo havia
se dado conta que tinha, que a consumia tão intensamente todos esses anos. Por um
golpe do destino, Lois dera-se conta de que viveria em um mundo que perdera sua
possível alma gêmea, tornando-a seu algoz sem coração.
O que ela não sabia era que, do lado de fora do quarto, sua alma gêmea a observava
claramente confuso e arrependido por tê-la machucado, mas sem coragem de fitá-la
uma vez mais após sugar-lhe e devolver-lhe a vida.
Clark Luthor soube, naquele exato segundo, que viveria eternamente com a dor por ter
enfim matado Lois Lane no exato lugar onde nasce o verdadeiro amor.
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CAPÍTULO 3
Clark Luthor retornou à mansão incerto sobre o que iria fazer. Estava irritado com Lois,
consigo, com tudo. Irritado com Lois por ela o estar fazendo sentir coisas que ele nunca
sentira, irritado consigo por se permitir a tais sentimentos. Irritado com o tempo, por
não podê-lo fazer voltar algumas horas, mudar tudo. Apagar da história o fato de que ele
quase tirou a vida de Lois Lane, ou de sequer pensar em fazer isso.
Ele sabia agora que não poderia.
Entrou no escritório de Lionel Luthor e olhou em volta, possesso pelo ódio. Caminhou até
a mesa de seu velho “pai”, observando os objetos que faziam parte de sua própria
história, misturados a documentos da LuthorCorp. Lá estava também o estojo com as
espadas de blue-k, com as quais Lionel adorava mostrar-se superior a Clark. Em um
ímpeto de raiva, Clark simplesmente agarrou o estojo e o lançou contra o mosaico de
vidro, atirando o estojo para fora da mansão. E não parou por aí. Desceu o punho contra
a mesa fazendo-a rachar no meio em duas.
“Obrigada, pai, por me fazer o que sou...”, disse ironicamente cerrando os dentes. O
olhar irado tomou a cor do fogo e risco de brasa praticamente todo o escritório, mas o
que Clark Luthor realmente gostaria de fritar já estava bem longe dali. Ainda assim,
destruiria tudo o que visse na frente. Só parou quando viu, diante da porta a observá-lo,
Tess Luthor.
A irmã olhou assustada para Clark, para seu braço. De longe viu a cicatriz do L e respirou
aliviada, “é você, está de volta...”
Tess caminhou com pressa na direção de Clark Luthor e o abraçou aliviada. Clark
permitiu apenas por alguns instantes, mas logo depois a afastou de seu corpo.
“Onde estava?”, perguntou sério.
“Onde estava? Nosso querido pai me expulsou da LuthorCorp, eu estava atrás de você,
ou do outro você! O que houve?”
“O que acha que houve?”, Clark andou pelo escritório, sob o olhar de Tess, “O imbecil
que acionou a caixa do lado de lá conseguiu acioná-la aqui também, me fez voltar. E me
fez voltar em uma armadilha montada pelo idiota do Queen.”
“Queen? Oliver?”, Tess ouviu surpresa, “O que ele sabe?”
“Sabe quem eu sou”, Clark disse buscando conter a raiva ao lembrar dos eventos do dia
anterior.
“Sabe sobre o Ultraman? Então temos um problema, Clark”, Tess disse preocupada com
o que aquilo poderia significar. “Queen vai anunciar para toda Metropolis sobre quem
você é”
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“Metropolis é minha, não estou preocupado com isso. Mas com certeza Oliver é um
problema”, Clark disse refletindo a respeito, mas por razões completamente diferentes
das de Tess. “Ela sempre me odiará enquanto ele estiver por perto, envenenando-a
contra mim”
“De quem está falando?” Tess não compreendeu o raciocínio de Clark, mas ele
desconversou.
“Ninguém. O que realmente importa é que Lionel não vai voltar. Ele foi para o outro
lado e a caixa foi destruída, o que significa que não temos mais que ficar na sombra
daquele maldito...”
“Significa muitas coisas...”, Tess sorriu se aproximando novamente de Clark, seu olhar
guloso sobre seus lábios, “E se ele agora está do outro lado, é problema do outro
Clark... Que aliás, não chega aos seus pés.”
“Esteve com ele?” Clark perguntou curioso. “Como ele é?”
“Não tão divertido quanto você... Nem compartilha os mesmos sentimentos... Nem
mesmo somos irmãos no outro mundo, pelo que entendi.”
“As coisas são bem diferentes no outro mundo. LuthorCorp não está por todo lugar como
aqui.”
“E como sou eu do outro lado?”
“Alguém que eu tive vontade de matar, quase que imediatamente...”, ele sorriu da
forma cínica como sempre fazia, “Aparentemente, você é aliada de Queen e Lane,
tentaram me matar.”
“Amiga de Queen e Lane?”, Tess riu, imaginando o quão improvável aquilo seria, “E
Lane? Aquela jornalista da LuthorCorp Media? Não me diga que somos amiguinhas no
outro mundo..”
“Você tentou protegê-la de mim”, Clark disse se lembrando do exato momento. Aquela
cena já havia passado pela sua mente inúmeras vezes, era um filme a ser visto e revisto,
pois tivera a perfeita chance de ficar naquele mundo, até que confrontou a cara metade
de seu outro. Por mais que Tess e Oliver tivessem lhe atacado com kryptonita, foi o salto
de Lois sobre ele que o deteve tempo suficiente para que os outros dois montassem um
ataque efetivo. Tudo porque ele, mesmo não tendo sentimento algum por aquela Lois,
recuou da possibilidade de matá-la. A lançou longe, mas não forte como poderia ter
feito. Imaginou por um instante como o outro Clark se sentiria se ele a houvesse
matado. Se assim havia acontecido com a outra, o que dizer da Lois de seu mundo, por
quem ele não sabia exatamente o que sentir?
Seu rápido devaneio foi interrompido pela risada de Tess, “Proteger Lois Lane, essa é
boa. Se você quiser...” Tess se aproximou mais de Clark, correndo a mão pelo rosto dele
em leve carícia, “Eu posso acabar com a jornalista desse mundo, me redimir...”
21
Clark fitou Tess de forma sutil, mas altamente ameaçadora, e agarrou a mão que o
acariciava com força, “Você não vai tocar nem um dedo em Lane, entendeu?”
Tess se viu surpresa com a reação de Clark, “Qual o problema? Última vez que chequei,
você não dava a mínima para ela...”
“As coisas mudaram”, ele se limitou a dizer. Tess puxou o braço da mão de Clark,
intrigada,
“Está comendo ela? Não me importo em te ver com aquelas garotas que você sempre
coloca em sua cama, mas Lois Lane? Não acredito!”
“Lois Lane não é problema seu, irmãzinha...” Clark manteve o tom de ameaça, "Ela é
território proibido para você, e não estou brincando...”
“Eu acredito... Este outro mundo mexeu com você. O Clark que eu conheço nunca se
importaria com aquela songa monga...”
“O Clark que você conhece... Mataria qualquer um que fosse de encontro aos seus
desejos... Qualquer um, Tess.”
“Então você a deseja?”
Clark olhou Tess de cima a baixo, uma meia ironia brotando em seus lábios. Preferiu
não responder, não havia porquê. Apenas alertou a irmã mais uma vez,
“Fique longe dela.”
Clark Luthor se retirou do escritório, mas não sem antes levar a porta consigo. Suas
reações deixaram Tess bastante intrigada, e preocupada. Definitivamente ele não era o
mesmo e ela não sabia até que ponto Lois Lane tinha algo a ver com isso.
Mas iria descobrir.
***
Oliver usou sua chave na porta do apartamento de Lois e entrou em silêncio. Era quase
dez da manhã, mas ela ainda não havia dado sinal de vida desde que conversaram à
noite. Oliver seguiu para o quarto e só foi tomado pelo alívio ao vê-la deitada sobre a
cama, dormindo tranquilamente.
Ou quase.
Oliver se sentou à beirada da cama e observou Lois até que ela abriu os olhos em um
sobressalto.
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“Não queria te assustar, desculpa...”, ele disse sorrindo para ela. Lois instintivamente
deu um pulo da cama e se agarrou ao pescoço de Oliver, visivelmente feliz e aliviada em
vê-lo.
“Ainda bem que está bem!”, ela disse nervosa.
“Hei, hei...”, Oliver sorriu, tocado pela preocupação dela, mas o que realmente o
impressionou foi a forma como o corpo de Lois tremia entre seus braços, “O que houve,
meu amor?”
Lois não queria sair do abraço de Oliver, mas ele a soltou gentilmente, preocupado.
“Você está quente”, disse levando a mão à testa dela, “Muito quente, está com
febre...”
“Não é nada...”, Lois desconversou, mas não imaginava que o pior estava por vir. Oliver
jogou os cabelos dela para trás e desceu o olhar até o seu pescoço. Arregalou os olhos
assustado,
“Lois, o que foi isso?!” ele se ajeitou na cama de modo que a luz vinda pelas janelas
iluminassem o corpo de Lois um pouco mais. Pôde então ver que havia marcas no
pescoço dela, criando uma intensa roxidão ao seu redor. “Seu pescoço... Isso é a marca
de uma mão?”
Lois não sabia o que dizer, estava tensa para além do que poderia imaginar. Em uma
outra situação, teria ido à polícia, ou feito ela mesma uma marca no maldito do Luthor.
Mas dizer a Oliver o que havia acontecido era colocá-lo em um perigo maior do que o
que ela enfrentara na noite anterior.
No entanto, não era preciso dizer nada. Oliver sabia que só havia uma resposta para Lois
estar ferida daquela maneira.
“Ele esteve aqui... Tentou te matar...”, Queen disse tentando conter a raiva, que vinha
junto às lágrimas, ele simplesmente não podia evitar. “Meu Deus...”
“Oliver, me escuta, por favor..”, Lois tentou interceder perante o que estava por vir,
mas Oliver não iria ouvi-la naquele momento.
Já estava completamente tomado pela ira.
“Vou matá-lo!!”, disse se erguendo da cama, possesso.
“Ollie!!!”, Lois se levantou para segurá-lo, mas ele saiu como uma bala, batendo a porta
atrás de si. Lois não sentiu forças no corpo para ir atrás dele, mas precisava encontrar.
A vida de Oliver dependia disso.
***
23
A noite tomou Metropolis mais cedo graças à forte neblina do inverno. Clark Luthor
observava a tudo do alto do globo da LuthorCorp Media enquanto mexia no anel em seu
dedo. Ele olhou para aquele mundo e não teve dúvidas de que ele lhe pertencia
completamente agora. Não havia mais Lionel Luthor para conter-lhe, não havia nada que
pudesse detê-lo. Suas fraquezas haviam ficado para trás, ainda que houvesse surgido
uma nova:
Lois Lane.
Uma vez mais ela era pivô e centro de seus pensamentos. A mulher que esteve sempre
perto dele de alguma maneira, e ainda assim tão distante. Ela era tão cheia de ideais
enquanto Clark não possuía nenhum. Ela era uma simples humana e ele um Deus entre
os humanos. Como poderia notá-la no meio daquela multidão que lhe dava repúdio?
Como perceber que, naquele mundo onde fora abortado pelos seus verdadeiros pais,
havia alguém que poderia ser tão especial quanto tudo?
Clark se surpreendeu com os próprios pensamentos. Ele estava, de fato, pensando em
Lois em termos especiais. Se um beijo havia feito tudo aquilo com ele, uma conversa...
O que ele poderia ter sido se tivessem, os dois, se encontrado antes, ficado juntos? Se
ele não tivesse sido sempre tão cruel com ela nos momentos raros que compartilharam
na LM? Ela chegara a ter uma inclinação para perdoá-lo pelo o que ele era, mas Clark a
jogou no limbo sem piedade. Ele se sentiu mal por isso, mas era por demais conflitante.
Ele não dava a mínima para o mundo, mas não conseguia parar de pensar em Lois Lane.
Olhou para o alto, o céu negro querendo cair sobre si. Alguns pingos de chuva
começaram a cair, e Clark pensou em se recolher. Pensou, mas algo mais chamou sua
atenção.
“Ultraman!!”
O chamado veio claro por conta de sua super audição e Clark caminhou até a beira do
telhado da LM, olhando para baixo. Era Oliver Queen, estava parado na rua deserta
olhando para o alto. Clark deu um leve sorriso imaginando o que estava para acontecer.
Com um leve impulso, tomou os céus e deixou o telhado.
Oliver estava irado, e mais irado ainda ficou ao ver o Ultraman voando nos céus. Tentou
acompanhar o movimento negro que cortava a atmosfera escura, mas era rápido demais
para os olhos. Entretanto, não era intuito de Clark Luthor fugir da luta. Sobrevoou
alguns prédios e pousou com violência a vários metros de Oliver, longe dos efeitos que a
kryptonita poderia lhe causar. Tinha certeza de que Oliver a estava portando em algum
lugar do corpo.
Os dois homens ficaram parados um de frente para o outro, a quase uma rua de
distância. Fitaram um ao outro como se aquele fosse o último dos duelos, mas para
Oliver, não havia honra ali. Estava diante do covarde que havia tentado matar sua noiva,
a pessoa mais importante de sua vida.
Faria Luthor pagar com sangue.
24
“Luthor! Não deveria ter feito o que fez!!!”, Oliver berrou, ao tempo em que a chuva,
antes fraca, começou a tomar a cidade como um temporal, “Vai pagar pelo que fez a
ela!”
“Eu não quero te machucar, Oliver”, Clark disse ainda passando a mão sobre seu anel,
“Mas se eu tiver que tocar em você, não acho que irá sobrar alguma coisa...”
“Você esquece que eu conheço sua fraqueza?!”
“Eu tenho apenas uma única fraqueza”, Clark respondeu, “E você não faz a mínima idéia
de quem seja”
“E você acha que eu sou algum estúpido?”, retrucou Oliver, “Acha que não sei que
aconteceu alguma coisa entre você e Lois quando os deixei sozinhos naquela torre? Seja
lá o que você fez, acaba essa noite! Eu não vou permitir que você volte a machucar a
mulher que eu amo!!!”
“Você vai tentar...”, Clark sorriu, certo de que realmente acabaria naquela noite.
Oliver caminhou na direção de Clark, decidido a enfrentá-lo. Estava desarmado, ao
menos em parte. Assim como Clark, Oliver usava um anel no dedo mínimo, mas o brilho
verde indicava o perigo da kryptonita. Oliver era corajoso o suficiente para tentar uma
luta direta com Clark, e com o anel, se colocava até mesmo em vantagem.
Ou não.
Clark pensou em fritar Oliver à distância, mas se era para se divertir, o faria nos termos
do “amigo de infância”. Retirou o terno, jogando-o na rua, e arregaçou as mangas da
blusa. Oliver continuou vindo em sua direção e, surpreendentemente para Clark, a
kryptonita fez efeito total sobre ele. Por um momento, achou que poderia resistir aos
seus efeitos como o fizera na armadilha da Torre, mas sentiu seu efeito com força. Suas
pernas tremeram e ele ameaçou ceder, mas Oliver acabou chegando nele antes,
socando-lhe com força.
Clark foi ao chão, catando ficha e se reerguendo antes que Oliver investisse contra ele
novamente. Lançou o braço na direção do noivo de Lois, mas Oliver esquivou com
destreza, havia treinado muito tempo para aquele momento. Tentou atingir Clark
novamente, mas dessa vez o Ultramam segurou seu punho e os dois se atracaram com
força. Clark lançou o cotovelo contra Oliver e, embora a kryptonita reduzisse seus
poderes, ainda era forte. Oliver cuspiu sangue, mas se manteve travado a Clark e o
socou novamente, fazendo com que o próprio Ultraman sangrasse dessa vez. Se
afastaram por um rápido instante e voltaram a se encontrar entre socos, cada um
deixando sua própria marca no outro.
Mas a kryptonita era demais para Clark. Ele mal podia se manter em pé, quanto mais
revidar com força contra Oliver. Caiu com o golpe seguinte junto à quina da calçada e
Oliver o chutou na sequência, um golpe forte na altura do queixo. Clark cuspiu mais
sangue ainda, e olhou irritado para Oliver.
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“Olhe para você, no lixo onde deveria estar sempre”, Oliver disse limpando os beiços do
sangue que escorria, “Eu vou te mandar para o inferno, porque nesse mundo não há
lugar pra você!”
Clark o encarou, mas não respondeu. Buscava juntar forças para reagir ou seria o seu
fim. A chuva caía ainda mais intensa e seu próprio sangue corria pela rua em direção ao
bueiro bem próximo. Oliver iria golpeá-lo novamente, e pela forma como se sentia,
poderia ser fatal.
“O outro Clark me disse que fazíamos um time no outro mundo, que lá era tudo
diferente... Eu gostaria que tivesse sido aqui assim, Luthor! Mas você não me dá escolha!
Eu não posso viver sabendo que Lois nunca estará a salvo, não enquanto você estiver por
perto! Ela me disse para não fazer isso, mas não há outra saída!”
Oliver enfim sacou a arma que guardava por todo o tempo, receoso em usá-la. Apontou
para Clark decidido a atirar, mas Luthor reagiu rapidamente diante da morte iminente e
lançou seu corpo com força contra Oliver, que voou alguns metros para o meio da rua.
E nenhum dos dois pôde ver o que estava para se seguir.
Oliver se ergueu, mas era tarde. Com a chuva e a neblina, o motorista da caminhonete
simplesmente não foi capaz de ver ou frear diante do que se apresentou de repente à
sua frente. Atropelou Oliver Queen com força, fazendo-o voar por cima do teto da
caminhonete e rolar vários metros no asfalto molhado. O próprio Clark se viu sem ação,
pois por mais incrível que pudesse parecer, sentiu um aperto imediato ao ver seu rival
inerte no chão.
E então veio Lois.
Ela procurara por Oliver horas a fio, desesperada para encontrá-lo antes que ele
encontrasse Clark. Na falta de opções, decidira ir até a LM. Estava perto o suficiente
para ouvir o forte baque e, quando parou o carro diante do jornal, notou Clark Luthor
caído junto à calçada, olhando fixamente para alguma coisa que também estava no
chão.
“Oliver!!!” Lois gritou desesperada ao dar-se conta de que era o noivo estirado no
asfalto, jogado como se fosse qualquer coisa. O motorista da caminhonete parou alguns
metros à frente e saiu do carro para ver o estrago.
“Não foi minha culpa, o cara estava no meio da rua!”, defendeu-se, mas calou-se ao ver
as conseqüências do que ocasionara sem querer.
Lois correu na chuva em desespero e se ajoelhou diante de Oliver, já em prantos,
“Ollie?! Ollie!!!”
Oliver estava tão machucado que mal podia se mexer. Um braço e perna quebrados, mas
nada parecia pior do que a quantidade de sangue que escorria pela sua orelha, além de
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um profundo corte na cabeça. Oliver entreabriu os olhos ao ouvir a voz de Lois e, entre
gemidos, procurou dizer o que considerava mais importante naquele momento,
“Me perdoe... Por..Isso..”
“Ollie, não..”, Lois disse fungando e tremendo, enquanto passava a mão sobre ele,
temendo mexê-lo, mas ao mesmo tempo, desesperada por fazer alguma coisa. Olhou
para o homem parado diante deles e implorou, “Chama uma ambulância, por favor!!”
O homem correu até o orelhão próximo e olhou para Clark Luthor, que ainda estava no
chão, pasmo.
“Você está bem?”
Clark não respondeu, não tinha olhos para outra coisa que não fosse a cena a se
desenhar no meio da rua entre Lois e Oliver. O desespero dela o estava consumindo.
“Ollie? Você vai ficar bem, eu prometo..”, ela disse chorando, incapaz de conter o
nervosismo diante da situação, “Eu te amo tanto...”
Oliver deu um leve e sincero sorriso em meio à dor, “Eu vivi uma vida para te ouvir dizer
isso...” disse chorando, “Porque não importa o que tenha havido, Lois... Eu sempre vou
te amar, e proteger você, eu prometo... Eu só peço desculpas por...”
Oliver parou de falar, contorcendo-se em dor. Começava a perder os sentidos, além de
tossir sangue. Lois se inclinou um pouco mais sobre ele, os olhos tensos fitando seus
lábios em busca de qualquer palavra que fosse. E ele concluiu, trêmulo,
“Desculpas por te deixar sozinha nesse mundo terrível...”
“Não, não!” Lois negou com os olhos tomados pelas lágrimas, “Ollie...”
“De todo o pesadelo que vivi nesse mundo... Você foi o precioso instante que me
manteve acordado, para acreditar.. Acreditar que, ugh... que...”
“Ollie?” Lois o chamou, mas ele não conseguiu completar o que iniciara. Seus olhos não
se fecharam, mas perderam o brilho da vida no instante seguinte ao que parecia ser o
último suspiro de Oliver Queen.
“Não, nãããooo...”, Lois apertou os lábios e levou as mãos ao rosto de Oliver, com o
carinho que aprendera a sentir por ele, como se somente seu gesto pudesse devolver à
vida a ele “Não me deixe, não me deixe!!..”
Mas era tarde demais, Oliver jazia morto nos braços de Lois. Ela se debruçou sobre seu
corpo sem vida chorando copiosamente, perdida e sozinha, com uma dor que era maior
que ela própria.
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Clark enfim se ergueu, dando alguns passos na direção dos dois. Não teve coragem de se
aproximar, porque sabia que ele havia matado Oliver de uma maneira ou de outra. Era
sua culpa, e o rápido olhar que Lois lançara em sua direção provavelmente o diria isso.
Mas não foi o que aconteceu. O olhar que Lois lançara era de desespero por perder a sua
última esperança. Ela olhou em volta, como se buscasse por ajuda e tudo o que houvesse
fossem portas trancadas, um mundo que lhe dera as costas. Não havia nada que pudesse
fazer por Oliver, e ela estava mesmo sozinha no pior mundo que poderia existir.
Daquele pesadelo, sabia que não acordaria jamais.
(continua)
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CAPÍTULO 4
O dia amanheceu cinza, sem nenhum traço do que se poderia considerar um céu por trás
daquela cortina de nuvens. A chuva da noite se transformara em uma fina garoa, como
se ao mesmo dissesse que aquele era um novo dia, mas ainda parte do que fora antes,
um epílogo para fechar o capítulo trágico de Oliver Queen.
Até onde Lois fora capaz de se lembrar, a chuva estava sempre lá. Havia chuva no dia
em que sua mãe falecera, tal como chovera também no dia do assassinato de seu pai, o
General Lane. Um temporal tomou Metropolis em seu baile de formatura do último ano,
fazendo com que seu acompanhante, um jovem alto e moreno chamado Thomas, não
pudesse chegar a tempo da última dança. Estava também chovendo no dia em que
discutira terrivelmente com sua irmã Lucy há quatro anos, e foi a última vez em que a
viu. E também garoava na tarde de domingo em que Lois conhecera Oliver, o loiro
bilionário que freqüentava uma única aula em comum com ela na Met University. Por
acaso eles se esbarraram em uma festa beneficente oferecida pelas indústrias Queen,
por acaso acabaram se envolvendo e descobrindo que podiam ir muito além da amizade.
Estava chovendo na noite em que Oliver pedira Lois em casamento, apenas duas
semanas antes de sua morte.
A memória era tão vívida para Lois que simplesmente doía, fisicamente. Oliver fora
especial em sua vida desde o dia 1. Era a pessoa presente, alegre e companheira até nos
momentos em que ele próprio se via destruído. Oliver era um sonhador acima de tudo,
desejava com todas as forças um mundo justo e pacífico. E nos anos maravilhosos que
passaram juntos, um mundo no qual eles pudessem viver felizes era tudo o que Oliver
podia pensar. Seus atos eram movidos pela crença de que, ao final, tudo ficaria bem. O
que Oliver não podia prever era que a maior de suas lutas estava tão perto, tão próximo
que era praticamente impossível notar. Como poderiam imaginar que Clark Luthor era o
Ultraman? Que aquele playboy herdeiro de toda Metropolis era também o seu grande
predador? Nem mesmo Lois, que era boa em sentir as más vibrações ao seu redor, deu-se
conta de que Clark Luthor era a personificação do mal em seu mundo. O odiara desde o
primeiro dia em que o conheceu, mas apenas isso, nunca deu-lhe maior importância. E
curiosamente, havia Sol naquela manhã de segunda-feira quando chegou a LuthorCorp
Media e se reuniu com seu novo editor, o arrogante Luthor.
Era um assassino, era tudo o que Lois Lane conseguia pensar. Sabia que Oliver havia sido
atropelado, mas a razão pela qual tudo ocorrera era sim Clark Luthor. Ou seria sua
culpa? Culpa por ter acreditado que era possível mudar Clark, que ele merecia o risco
que ela correra? Oliver fora guiado até Clark Luthor, movido por puro ódio, por culpa
dela. Lois não pôde detê-lo quando mais precisou e por conta disso ele estava morto,
não voltaria para ela jamais. A deixara sozinha com suas culpas e com o motivo de tais
culpas, Clark Luthor.
Vários carros pretos estavam estacionados à beira do longo gramado, o qual estava
tomado por uma camada de neve. O caixão prateado, já posicionado próximo ao lugar
onde seria enterrado, estava cercado pelos poucos amigos que Oliver ainda tinha em
Metropolis. Todos carregavam seus guarda-chuvas, com exceção de Lois. Estava ao lado
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de uma outra jornalista, amiga em comum dos dois. A mulher alta e loira segurava seu
guarda-chuva de modo a proteger Lois também, que estava visivelmente abatida. A
aliança em sua mão esquerda mostrava a todos o tamanho da dor que ela estava
sentindo naquele momento, mas para Lois, era muito mais do que isso. Não havia
objetos ou gestos que mostrassem o tamanho de seu sofrimento. Sentia-se em cacos
estilhaçados, jogados à neve de forma que ninguém jamais fosse capaz de recompô-la.
Próximo ao caixão, um sacerdote recitava algumas palavras com a bíblia nas mãos.
“E assim como há a luz e a escuridão, nosso amigo Oliver passou do dia para a noite. A
dor e o sofrimento ficaram para trás, pois seu caminho agora está repleto de luz ao
lado de nosso Senhor, como dizem suas sagradas palavras. E mesmo que caminhe pelo
vale da sombra da morte, tu estás junto a mim...”
Lois se aproximou do caixão e se agachou junto a ele, tomando em suas mãos um
punhado de terra gelada. Olhou para o caixão com lágrimas nos olhos no instante em
que ele começou a descer para a sepultura e soltou, delicadamente, a terra de suas
mãos derrubando-a sobre o metal.
Não muito longe dali, um homem de óculos escuros, trajando calça e jaqueta negras,
permanecia recostado em uma bela moto. Observava a tudo como se estivesse
realmente próximo, e assistia em detalhes ao gesto de Lois próxima ao caixão de Oliver
Queen. Não havia ninguém mais próximo daquele momento do que ele, afinal fizera
parte do evento que tirara a vida de Oliver. Estava lá, lutando contra ele quando tudo
aconteceu. Clark tinha dúvidas do que aconteceria se aquela caminhonete não
atravessasse o caminho dele e de Oliver. Teria Queen atirado? Teria Luthor o matado?
Era uma incógnita que não se resolvia na cabeça de Clark, e tudo por conta da variável
Lane. Ela estava dentro de sua cabeça e movia suas ações, mesmo sem querer. Desde
que retornara do outro mundo, Luthor ainda não havia matado, ferido ninguém com
exceção da própria Lois. Era seu plano matar Oliver e infringir-lhe o sofrimento pelo
qual ela estava finalmente a passar. Mas ele não fizera, não matara Oliver. E vê-la sofrer
daquela maneira o fazia se sentir, em algum nível, triste também.
Os demais presentes seguiram Lois, um a um em suas homenagens, deixando o cemitério
aos poucos. Ao fim, somente Lois e as pessoas que lhe eram mais próximas restaram. A
jornalista levantou o olhar e notou o misterioso homem recostado na moto metros de
distância, mas para ela não havia mistério. Sabia que era ele.
“Lois?”, Dinah, a jornalista que estava ao seu lado, chamou-lhe ao perceber que Lois
estava com a mente distante.
“Eu preciso de um pouco mais de tempo...”, Lois respondeu olhando para o caixão.
“Ok... Estamos esperando no carro..”
Dinah e os demais se afastaram, deixando Lois sozinha com a sepultura ainda aberta. O
afastamento dos demais foi tudo que precisou para que Clark Luthor se aproximasse.
Parou de frente para Lois, fitando o caixão sério enquanto retirava os óculos escuros.
30
“Lois...”
“O que faz aqui?” Lois perguntou com a voz totalmente embargada pelo choro
incessante de toda a noite.
“Não fui eu”, ele disse imaginando que era o que se passava pela cabeça dela, “Eu não o
matei, Lois.”
Lois respirou profundamente, ainda que o ar gelado estivesse doendo em seus pulmões.
Encarou Clark Luthor sem medo.
“Ele foi atrás de você porque você é um assassino. Se você o empurrou contra aquela
caminhonete ou não, não faz a mínima diferença... Você é um monstro e Oliver morreu
porque nesse mundo não há lugar para heróis...”
“Ele morreu porque era estúpido o suficiente para achar que poderia me deter”, Clark
respondeu sem pensar muito. “Ele foi atrás de mim com aquele anel de kryptonita e se
eu não tivesse reagido, ele teria me matado.”
“E eu fico pensando que se eu não o tivesse impedido da primeira vez, nada disso teria
acontecido...”, ela disse cheia de rancor, “Ou se você tivesse me matado naquela noite,
eu não teria que ver isso acontecer... Foi por isso que não me matou? Para que me visse
morrer aqui hoje, destruída pela perda?!”
Clark ficou sem palavras. Sentia mais ódio de Oliver dentro daquele caixão do que vivo,
pois agora ele alimentava o ódio de Lois por Clark. Seria sempre um fantasma,
recordando Lois dos erros que ela havia cometido e que custou a vida do homem que ela
amava. Clark sabia que era um Deus entre os homens, mas nenhum de seus poderes o
ajudaria a lutar contra aquilo. Ela o odiaria para sempre.
Lois também não queria dizer mais nada. Deu as costas para Clark e seguiu na direção do
carro que estava ao seu aguardo. Clark permaneceu ao lado da sepultura de seu rival,
observando-a enquanto ela se distanciava dele, provavelmente para sempre. Ele podia
não ter certeza do que sentia por ela, mas estava certo de que jamais seria recíproco.
E a chuva, que por um pequeno instante havia cessado, voltou a cair com força no
instante em que Lois entrou no carro e foi embora.
***
Clark retornou à mansão Luthor com cara de poucos amigos. Dirigiu-se quase que
imediatamente ao bar no escritório que havia destruído no dia anterior e colocou algum
uísque para si em um pequeno copo. Bebeu o conteúdo de vez, enchendo o copo
novamente. Era apenas uma maneira de se enganar, já que o álcool não fazia efeito em
seu corpo. Ainda assim, desejou que pudesse mesmo encher a cara, convidar várias
mulheres para uma noitada e esquecer de tudo o que havia acontecido.
Mas sua vida não era tão simples assim.
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Não demorou a ouvir passos no corredor, mas também não olhou na direção de onde
antes havia uma porta. Tess surgiu e sorriu ao ver Clark. Bateu palmas.
“Ora, ora, quem deu um show ontem à noite! Parabéns, irmãozinho!”
“Tess... Não é uma boa hora”, ele disse bebendo o líquido de vez novamente.
“Não me diga que se arrependeu”, ela questionou. Clark voltou-se para ela,
“Arrepender do quê?”
“De matar Oliver Queen, do que mais?”
“Eu não matei Queen”, Clark disse, mas Tess não o levou a sério.
“Oh, Clark, conta outra. Eu soube que vocês dois estavam brigando, as câmeras da
LuthorCorp Media flagraram tudo! Mas não se preocupe, foi tudo apagado já...”
“Está me espionando agora?”, ele a indagou se aproximando.
“Clark, eu estou do seu lado aqui. Aliás, sou a única que está, não se esqueça disso.”
Ele preferiu não insistir no assunto. Olhou a irmã de cima a baixo com o tom ameaçador
de sempre e limitou-se a dizer novamente o que não cansava de repetir para si mesmo.
“Eu não matei Oliver.”
Tess não demorou a compreender qual era o problema ali. Sorriu, incrédula,
“Foi o que disse a Lane, que não o matou? Sabe, ontem eu pensei realmente que era
apenas uma queda, desejo puro e simples. Mas ouvindo você falar agora, eu começo a
achar que você realmente gosta daquela jornalista... Está apaixonado por ela?”
Clark desviou o olhar de Tess, respirando profundamente. Bebeu a última gota do uísque
no copo e se aproximou de Tess, segurando o copo bem próximo ao rosto dela. Sem dizer
qualquer coisa, fechou a mão com força, quebrando o copo em vários pedaços, os quais
voaram em todas as direções. A própria Tess sentiu um ou dois cacos voarem em sua
direção, mas por sorte não se feriu. O susto fora grande, mas Clark nem mesmo se
mexera. A encarou com o mesmo semblante irritado e saiu do escritório sem dizer
nenhuma palavra sequer.
Para Tess, no entanto, não era preciso. Em algum nível pervertido da mente de Clark,
ele tinha sentimentos por Lois Lane. Ela precisava fazer algo.
***
Lois não ficara para o velório, não tinha forças para isso. Seguiu para o único lugar no
mundo onde gostaria de estar naquele momento. O apartamento de Oliver era uma das
32
poucas coberturas que não havia sido comprada pelos Luthor em Metropolis, e era um
belo lugar com uma vista considerável. Lois entrou no apartamento com sua própria
chave, familiarizada com aquele que era seu segundo lar já há algum tempo. Fechou a
porta e se encostou junto a ela, emocionada com o reencontro do lugar onde passara
tantos momentos com Oliver. Bem junto à porta, sobre uma pequena mesa de madeira,
havia uma foto dos dois, abraçados e sorridentes com a Estátua da Liberdade ao fundo.
Ela podia se lembrar do quão feliz se sentira naqueles dias, quando o mundo ainda
parecia ser um bom lugar para viver um grande amor.
Seguiu para o quarto, olhou para a larga cama onde passara tantas e tantas noites com
ele. Sobre os lençóis desfeitos, havia ainda a camisa branca que ele usara na noite da
festa de noivado, mesma noite em que tudo mudara em suas vidas. Ela se lembrou das
palavras dele para ela, sobre o porquê dela amá-lo, se não havia um alguém melhor do
que ele.
“Se há alguém, eu nunca encontrei..”
As lágrimas voltaram a escorrer pelo rosto de Lois quando ela se sentou na beira da
cama e abraçou a camisa, sentindo o cheiro de Oliver no tecido macio. Sentia-se mal,
por dentro e por fora, mas nada era pior do que a certeza de que ele havia ido embora
para sempre. Deitou-se ainda abraçada à camisa e encolheu-se sobre a cama chorando
copiosamente, totalmente despedaçada. Rezou para que dormisse profundamente e
pudesse esquecer que vivia um eterno pesadelo.
***
Clark Luthor saiu da mansão e sobrevoou Metropolis um tanto sem rumo. A noite veio
mais uma vez, tão fria quanto as outras, mas somente os eventos da anterior lhe
tomavam a mente. Clark se viu impressionado, porque não tinha vontade de manter seus
hábitos de Ultraman após tudo aquilo. Era como se nada mais importasse fora de sua
nova obsessão, seu novo mundo.
E Lois Lane havia se tornado seu mundo inteiro, pois não havia nada além dela em sua
cabeça.
Ele sobrevoou o apartamento dela, mas estava vazio. Ela também não estava na LM ou
em nenhum outro lugar que Clark pudesse imaginar. Ele realmente não sabia muito
sobre ela, sobre seus hábitos, mas havia um último lugar para procurá-la.
O apartamento de Oliver Queen.
Como nunca se importara com Oliver também, não fazia idéia de onde ele poderia
morar. Sabia apenas que Queen possuía alguns imóveis na cidade, nada mais. Lois
poderia estar em vários lugares, mas Clark pensou em algo inusitado. Pousou sobre o
telhado da LuthorCorp e fechou os olhos, concentrando-se na cidade ao seu redor. Todos
os tipos de sons atravessaram seus sentidos, de gritos a risos, de discussões a conversas
entre amigos. O som dos carros e das máquinas, do caminhar de milhões de pessoas,
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cada uma seguindo seu próprio caminho. Mas nada daquilo interessava a Clark Luthor,
ele estava em busca de um único som.
Um batimento.
Clark se concentrou em todos os batimentos que pôde captar e ao mesmo tempo os
excluiu, pois fugiam daquele que ele buscava. O ouvira em duas ocasiões distintas e o
guardara na memória como um item raro. Apenas alguns poucos segundos depois, foi
capaz de ouvi-lo pela terceira vez, não muito longe dali, mas fraco como se estivesse
fora de seu mundo.
Clark voou na direção do som, atraído pelo batimento cardíaco de Lois Lane. Pousou na
varanda de uma cobertura que, não teve dúvidas, pertencia a Queen. Estava escuro, mas
a porta de vidro desta vez estava completamente aberta e ele não precisou forçar a
entrada. Adentrou o quarto e caminhou com cuidado, bem mais silencioso do que o
vento que insistia em assobiar, dando o tom obscuro da noite.
Lois estava deitada sobre a cama encolhida, ainda abraçada na camisa de Oliver. Parecia
dormir profundamente, mas algo parecia diferente na percepção de Clark. Ele caminhou
até a beira da cama para vê-la melhor e decidiu tocá-la. Surpreendeu-se ao sentir a pele
de Lois queimando de febre. Seu pulso estava um pouco fraco e o corpo estava um tanto
trêmulo. Clark imediatamente deu-se conta de que aquilo não era uma mera soneca,
Lois havia perdido os sentidos.
Delicadamente, Clark se inclinou diante dela e a fez soltar a camisa de Oliver, largandoa sobre a cama. Lois não reagiu ao movimento, confirmando as suspeitas de Clark de que
ela estava mesmo em um profundo grau de inconsciência. Com mais cuidado ainda, ele a
tomou nos braços, fazendo com que a cabeça dela recostasse em seu peito. Encarou-a
por um instante buscando compreender o que se passava, mas preferiu não esperar
mais. Superacelerou com ela para longe dali.
***
Poucos instantes depois, Clark já havia submetido Lois ao olhar clínico do médico da
família Luthor, o qual dissera que o estado dela era conseqüência de uma inflamação na
garganta, somado ao alto nível de stress que estava passando. A febre alta baixaria com
alguma medicação, e algum repouso. O médico recomendou que Clark a deixasse no
hospital onde ele poderia monitorá-la, mas o Ultraman desapareceu com ela antes
mesmo que o médico concluísse a frase. Ele tinha outros planos.
Seguiu para o celeiro da fazenda Kent, um lugar que costumava ir desde que fora
desapropriado dos antigos moradores. Havia uma espécie de cama na parte de cima, a
qual Clark e Tess chegaram a utilizar algumas vezes em seus encontros pervertidos.
Clark trocou os lençóis na velocidade da luz e só então repousou Lois sobre o colchão,
com todo o cuidado. Ela permanecia inconsciente, ainda que seus lábios balbuciassem
palavras desconexas de tempos em tempos. A febre estava tão alta que Clark não se
surpreendeu que ela estivesse delirando.
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Luthor acelerou até a torneira mais próxima e molhou uma pequena toalha. Voltou para
o lado de Lois e dobrou a toalha sobre a testa dela. Ela tremeu mais uma vez,
evidenciando o quão desbalanceada estava sua temperatura corpórea. Clark
superacelerou e retornou praticamente no mesmo instante, carregando mais lençóis e
um punhado de velas. Cobriu Lois com os novos lençóis e espalhou as velas em volta,
ascendendo-as com seu olhar de calor. Com alguns rápidos sopros, também foi capaz de
retirar praticamente toda a poeira e teias de aranha próximas aos dois. Era o melhor que
podia fazer pelo celeiro, ainda que houvessem outros lugares mais adequados para Lois.
Clark não soube dizer o porquê de levá-la para lá, mas também não estava em seus
planos movê-la novamente. Estava preocupado com seu estado e cuidaria dela, mesmo
que fosse contra a vontade de Lois.
Segurou a toalha molhada encostando-a sobre o rosto de Lois, no que aproveitou para
tirar o cabelo dela da frente de seu rosto. As marcas da agressão no pescoço ganharam
evidência e Clark fitou o lugar por um bom tempo, vendo as conseqüências de seus
próprios atos desenhadas no corpo frágil de Lois. Ela nunca o perdoaria por aquilo, por
Oliver.
Lois mexeu-se um pouco, entreabrindo os lábios novamente. Parecia dizer algo no auge
de seu delírio, e Clark encarou os lábios dela tentando decifrar suas palavras. Foi então
que ela balbuciou, dessa vez com mais clareza,
“Por que veio... até este mundo, só para... ir embora de novo... Me mostrar o que...
nunca terei...”
Clark Luthor não precisou ouvir mais. Sabia que ela não estava se referindo a Oliver, não
em seus delírios. Era no outro que ela pensava, que idealizava uma vida diferente. Um
outro muito diferente dele, opostos como água e óleo. Luthor continuou passando a
toalha molhada pelo rosto dela imaginando o que teria acontecido se houvesse destruído
a caixa enquanto ainda estava do outro lado. Teria matado a outra Lois, assim como
Tess e Oliver, e teria tomado aquele mundo como seu. Enquanto essa Lois teria
enfrentado o outro Clark até dar-se conta de que ele não era como Luthor. Ela por certo
o amaria, pois era tudo o que sua febre alta estava a deixar em evidência. Viveria uma
vida, um amor diferente. Enquanto ele, o Ultraman e um novo mundo, ficaria
eternamente sozinho após conquistar a tudo e todos. Não parecia tão bom quanto antes,
quando apenas idealizava livrar-se de Lionel Luthor. De repente, não conseguia mais
imaginar um mundo sem Lois Lane.
E foi naquele instante, enquanto cuidava da mulher que havia mudado o seu mundo, que
Clark Luthor sentiu uma pequena fagulha de humanidade nascer dentro de si.
(Continua)
35
CAPÍTULO 5
Quando Lois recobrou a consciência, já passava das cinco da manhã. O dia frio começava
a se desenhar do lado de fora da janela de madeira sobre sua cabeça, mas estava
estranhamente quente. Ela se sentiu aquecida, mas não pensou nisso por muito tempo.
Apesar do latejo em sua cabeça e da clara sensação de dormência em todo o corpo, Lois
se deteve ao fato de que não estava onde supostamente deveria estar. Aquele não era o
apartamento de Oliver, longe disso. Havia madeira e velas por todos os lados, ela não
fazia idéia de onde poderia estar. Ergueu um pouco o corpo e olhou em volta. Aquilo
parecia ser o andar de cima de um celeiro a julgar pelo feno, visível entre pequenas
frestas de madeira no chão. Embora um pouco zonza, Lois percebeu também que havia
uma bacia de água próxima à cama onde estava, junto com algumas toalhas e mais
velas, quase todas derretidas até o fim. Jogadas ao chão também estavam suas próprias
roupas! Aquilo despertou o radar da jornalista e ela se voltou para o próprio corpo,
envolto em lençóis. Felizmente não estava nua, mas também não reconhecia a camisa
longa que a estava vestindo. E se estava vestindo, alguém vestira nela e Lois não fazia
idéia de quem poderia ter sido. Olhou em volta, mas não havia ninguém no local além
dela.
Sentindo uma pitada de medo, Lois retirou os lençóis de sobre seu corpo e tentou
levantar-se, em vão. Se sentia mesmo muito fraca para se erguer.
“Não faria isso se fosse você...” a voz masculina soou no andar de baixo. Para ser mais
preciso, soou exatamente sob Lois. Ela tentou olhar, mas o chão do celeiro lhe impedia
de ver qualquer coisa.
“Oh, meu Deus..”, Lois sussurrou para si mesma ao dar-se conta de quem era aquela
voz. Puxou o lençol novamente, cobrindo suas pernas nuas, mas o suspense não se
manteve por muito tempo.
Clark Luthor subiu os degraus do celeiro trazendo consigo uma bandeja. A aproximação
dele deixou Lois nervosa, mas ele revidou com um ar compenetrado e tranqüilo,
“Não precisa ter medo. Não vou te machucar..”
“Não? E qual é a idéia me raptando então?”
“Não te raptei. Você estava doente e precisava de ajuda. Cuidei de você.” Ele continuou
a se aproximar e se agachou próximo a ela com a bandeja, “Quer um pouco de suco?”
Lois olhou para a bandeja rapidamente. Havia suco de laranja em uma jarra, além de
alguns pequenos pães, com fatias de queijo ao lado. Um pequeno pote de mel também
estava sobre a bandeja, ao lado de um punhado de uvas.
“O que está fazendo?”, ela perguntou sem entender a atitude de Luthor. Ele
simplesmente colocou a bandeja sobre uma pequena caixa ao lado da cama e colocou
um pouco de suco da jarra para o copo,
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“Tentando fazê-la se sentir melhor...”
“Você não tem como fazer isso”, ela respondeu de maneira ríspida, “Não pode fazer
com que eu me sinta melhor, não você.”
“Você ainda acha que eu matei o Oliver...”, Clark disse oferecendo o suco de laranja a
Lois, mas ela se recusou. “Eu passei uma longa noite aqui, Lois... Pensando nas coisas. E
se há alguma que eu me arrependa, algo que eu gostaria de voltar atrás e fazer
diferente... Pois bem, eu não teria aceitado o desafio de Oliver e nada daquilo teria
acontecido. Ele ainda estaria aqui e você não me odiaria tanto...”
Lois escutou Clark atentamente, confusa com as palavras dele. Parecia tão sincero, mas
ainda assim ela não podia esquecer as coisas terríveis das quais ele fora capaz. No final
das contas, estava diante do Ultraman. Clark a encarou imaginando que era exatamente
aquilo que se passava na cabeça dela. Ofereceu o suco novamente.
“Se não se sentir forte, como irá fugir de mim?”
Era uma boa questão. Lois ponderou ainda por alguns segundos até pegar o belo copo de
vidro e entornar um pouco do suco fresco. Estava gostoso, não pôde negar. Ainda assim,
não baixou a guarda diante de Luthor. Deu dois bons goles, fitando-o atentamente
enquanto ele abria um pão e colocava queixo dentro.
“Que lugar é esse?” Lois perguntou, tentando manter-se mais calma já que Luthor não
parecia infringir-lhe perigo.
“É um lugar que costumo vir às vezes... Na antiga fazenda dos Kent, em Smallville.”
“Fazenda Kent?” Lois achou aquilo estranho, mas não entrou em detalhes. Clark parecia
querer dizer algo mais.
“Às vezes... Eu sonho com esse lugar, não sei por que. Eu gosto da tranqüilidade, do
silêncio...”
Clark entregou o pão a Lois, que acabou aceitando também.
“Obrigada”, disse não tão receosa quanto antes. “Por cuidar de mim. Eu acho que não
estava mesmo me sentindo bem ontem...”
“Você estava fervendo de febre, o médico me disse.”
“Você me levou a um médico?”, Lois se viu surpresa.
“Você estava inconsciente, eu não sabia o que fazer. E foi por minha causa, pelo que fiz
com você naquela noite...”
Clark lutava com seus sentimentos e Lois podia perceber. Notou que ele não se sentia
bem perto dela por conta de tê-la machucado, mas que ao mesmo tempo ansiava por
aquilo. Era estranho para ela estar ali também. Sabendo quem ele era, o mais correto e
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lógico seria sair correndo, sem olhar para trás, mas da mesma forma Lois desejava ficar
e ouvir o que ele tinha a dizer, sua curiosidade a consumia de maneira incontrolável.
Além, é claro, do fato de que se ela corresse, ele o alcançaria de qualquer jeito. Não
havia saída, mas ao mesmo tempo Lois não parecia estar em busca de uma.
“Onde conseguiu isso?”, Lois perguntou apontando para a bandeja. Clark respondeu com
naturalidade,
“Eu roubei de uma cafeteria em Smallville, eles servem um ótimo café da manhã...”
“Você roubou? Viu, é disso que estou falando, qual é o seu problema? Você é rico, nem
precisaria roubar qualquer coisa!”
“Eles nem mesmo me viram pegando isso!”, Clark se defendeu.
“Claro que não, porque você superacelerou enquanto roubava. Boas pessoas não roubam
cafés da manhã, Clark.”
“E você já havia me dito que eu não era uma pessoa boa, então qual é a crise? Além do
mais, eles demorariam demais para dar meu troco, eu estava com pressa.”
Lois se deu por vencida, até porque das coisas que Clark Luthor era capaz de fazer,
roubar um café da manhã o fazia quase um anjo.
“Apenas me diga que você não machucou ninguém enquanto roubava a comida...”
Clark negou com a cabeça, mas parou por um instante, “Havia uma garota de olhos
puxados e cabelos negros, eu acho que ela é a dona do café... Na pressa, eu meio que
enterrei a cara dela em um café quente, mas não foi por mal...”
Lois o encarou de forma reprovadora, “Você fez o quê?”
“Estou brincando”, ele mentiu. “Podemos mudar de assunto?”
“Boa idéia...” Lois concordou. “Como o quê?”
“Que tal falarmos sobre como você pode começar a confiar em mim?”
Clark tinha aquele sorriso malicioso na cara novamente e Lois imediatamente se viu
desconfiada. Mas era mesmo esse o rumo da conversa que ela esperava e não se
intimidou. Sabia que estava arriscando muito ali, mas precisava tentar.
“Acho que é mútuo. Estou em desvantagem aqui, porque eu sei que você tem minha
ficha da LM, mas eu não sei nada sobre você, fora que você é um Luthor.. e Ultraman”
“Não há nada mais para saber.”, ele se colocou na defensiva, se sentando no chão no
celeiro e recostando-se em uma grade de madeira. Lois viu sua deixa surgir e se sentou
na cama com as pernas cruzadas, de frente para Clark.
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“Eu sei que você não é deste planeta... Que foi encontrado quando criança por Lionel e
criado como filho dele. Eu sei que tudo tem a ver com a chuva de meteoros e que de
alguma forma, seus poderes estão atrelados a eles...”
“Meus poderes estão atrelados ao Sol”, ele a corrigiu. “Aquelas rochas verdes se
chamam kryptonita e vieram de Krypton, assim como eu. Krypton era um planeta
distante, que foi destruído logo depois que eu fui enviado para cá. Eu sou o único
sobrevivente, o último filho de Krypton... Satisfeita?”
Lois se viu impressionada com aquela rápida narrativa, que apesar de louca, se
encaixava perfeitamente no relato dos Kent. Ou quase perfeitamente.
“Obrigada por me contar a verdade... Embora você não pareça um fã dela...”
“Eu me pergunto o que os meus pais tinham na cabeça me enviando para cá...” Clark se
perguntou mexendo em seu anel como lhe era habitual, “Eles disseram que queriam me
salvar, mas...”
“Eles te disseram?”
“Eles... Meu pai.. fala comigo às vezes, em um lugar...” Clark não soube como explicar
melhor. “Você precisaria ver para compreender. Talvez eu te leve lá, se você quiser...”
Lois deu um leve sorriso, mas fazer uma nova turnê ao lado do Ultraman não estava nos
planos, nem mesmo pela sua curiosidade. Até porque tinha outra coisa em mente, algo
que lhe incomodava o suficiente para querer ir embora.
“Eu gostaria de ir para casa agora... Por favor?”
Clark não pensou em protestar. Imaginou que sua história a havia assustado, o que era
esperado. Se levantou e caminhou na direção dela, pegando suas roupas no chão. Lois
nem mesmo se deu conta, mas no segundo seguinte estava sentada em sua própria
cama, com suas roupas no colo. Clark já caminhava em direção à varanda, claramente
infeliz por Lois querer ir embora. Antes que saísse, contudo, ela o interrompeu.
“Eu acho que seus pais lhe enviaram para cá pela mesma razão que qualquer ser humano
faria... Para salvar aqueles que amamos.”
Claro deu um sorriso leve, sarcástico. “Nem todos os humanos amam, Lois. Eu sei bem
disso...” E então decolou como um foguete, sumindo da vista da jornalista.
Lois deu uma longa afagada, aliviada e preocupada ao mesmo tempo. Mas acima de
tudo, estava intrigada.
***
Tess desceu do cavalo praticamente dentro do antigo celeiro dos Kent e seguiu até o
andar de cima. Buscava por Clark Luthor e aquele era um dos poucos lugares previsíveis
que ele poderia estar. O cheiro de pão fresco a fez ter ainda mais certeza.
39
“Enfim te encontrei, Clar—” ela começou a dizer, mas não concluiu a frase. O lugar
estava vazio, embora houvesse mesmo uma bandeja de comida, o que parecia ser o
resto de um café da manhã. Sobre a cama, lençóis bagunçados e diferentes dos que
estavam desde a última vez que Tess estivera ali, com Luthor.
“Só pode estar brincando...”, ela disse para si própria. Olhou em volta, e ainda que a
bacia de água não lhe fizesse muito sentido, deduziu toda a cena. Ela estava certa,
Clark estava mesmo transando com Lois, era óbvio que os dois haviam passado a noite
juntos ali, até mesmo tomaram café da manhã na cama.
Mas como era possível?
A única resposta que ocorreu a Tess foi a cumplicidade de Lois junto ao Ultraman. Ela
estava ao lado dele durante todo o tempo, contra Oliver Queen. De que outra forma a
noiva do bilionário das indústrias Queen poderia dormir com o homem que o matou no
dia seguinte à sua morte? Clark Luthor havia matado Luthor, deduziu Tess, e Lois havia
sido a mandante. Ou talvez Clark o havia matado por ciúmes e Lois concordou ao fim,
fazendo de seu choro no funeral a mais perfeita das atuações.
“É uma cínica”, Tess disse chutando a bandeja no chão, fazendo-a se espatifar
juntamente com a jarra de suco pela metade. Olhou para a comida jogada ao chão e
pensou no que iria fazer agora que havia sido passada para trás por Clark, “Se ele pensa
que vai ficar assim, está muito enganado... MUITO enganado!”
E foi embora, sem encontrar limites para sua ira.
***
Lois já se sentia bastante melhor quando decidiu sair. Vestiu-se rapidamente, pois o que
tinha para fazer, não poderia esperar. Estava mais convicta do que nunca e iria em
busca de mais aquela verdade sobre Clark Luthor. Não havia outra maneira.
Saiu do quarto já pegando sua bolsa quando a campainha tocou. Como já estava mesmo
para sair, não demorou em abrir. Era um homem alto e moreno, aparentando seus mais
de 50 anos. Usava óculos com aros finos e olhava por sobre eles.
“Srta. Lane.”
“Olá, Dr.”, Lois disse ao reconhecer o advogado de Oliver Queen.
“Tem um minuto?”
“Bem.. Sim”, Ela disse indicando que ele entrasse. O advogado, que trazia uma pasta
nas mãos, adentrou o apartamento retirando os óculos.
“Não tivemos a chance de conversar durante o funeral ontem... Eu sinto muito pela sua
perda.”
40
A simples menção do funeral fazia Lois ter vontade de chorar, mas ela se conteve.
Respirou fundo, confirmando que aceitava as condolências do advogado. O momento era
desconfortável para ela e principalmente para ele, por isso o homem decidiu ir direto ao
ponto.
“Eu sei que este não é o momento mais indicado, mas o Sr. Queen me deixou ordens
específicas caso isso viesse a acontecer.”
“Ordens específicas?”, Lois não compreendeu.
“A respeito do testamento dele”, o advogado esclareceu. “Como a Srta. bem sabe, Sr.
Queen não tinha mais ninguém, nenhum parente no mundo. Além disso, vocês estavam
comprometidos e eu sei o quanto Oliver a admirava, assim como eu a admiro também. O
fato, Srta. Lane, é que Oliver Queen, há alguns meses atrás, a tornou sua única
herdeira”
“Ele o quê?”, Lois se viu realmente surpresa, “Não, é impossível. Eu fiz questão de
assinar um acordo pré-nupcial alguns dias atrás, justamente porque eu não queria o
dinheiro dele. Ele sabia disso, ele estava de acordo!...”
“Eu sei, ele comentou a respeito, Srta. Lane. Na verdade, ele pediu que seus desejos
não fossem a público. Ele sabia que a Srta. não aceitaria, por isso manteve em segredo.”
“Eu não sei o que dizer...”, Lois tentou conter as lágrimas. “O que eu devo fazer agora?”
Era demais para ela.
***
Mesmo com a cabeça a mil por conta das últimas novidades a respeito de Oliver, Lois
decidiu seguir com seu plano. Pegou o carro e dirigiu quilômetros até a cidade vizinha a
Smallville, seguindo com facilidade pelo caminho que fizera dias atrás. Parou em frente
a casa dos Kent e bateu à porta. Não demorou para que Martha Kent abrisse e se
surpreendente com a visita da jornalista.
“Lois Lane?”
“Olá... Seu marido está?”
“Sim, ele está...”
“Posso falar com ele também?” Lois disse já entrando na casa, visivelmente invocada.
Martha não teve como reagir e fechou a porta após ela entrar, acompanhando-a até a
sala onde Jonathan Kent estava sentado em sua cadeira de rodas. “Srta. Lane... O que
está havendo?”
“Vocês mentiram para mim”, Lois disse de vez, “Usaram meias verdades, mas
essencialmente mentiram para mim.”
41
“O que quer dizer?” Jonathan também estava confuso com a invasão da jovem mulher.
“Eu achei muito estranho que os dois pudessem se chamar Clark, mas então me ocorreu
que não era apenas improvável... Era praticamente impossível.”
“Os dois?” Martha se viu confusa, mas Lois pulou os detalhes.
“Não importa, vocês não iriam entender. A questão aqui é que não foi Lionel quem deu o
nome de Clark a Clark... Foram vocês.”
Martha e Jonathan se entreolharam com a afirmação pesada de Lois Lane, e ela
percebeu.
“Podem parar. Vocês mentiram, não era de vocês o carro atrás do de Lionel no milharal
quando a nave caiu, era o contrário. Vocês encontraram uma criança dentro da tal nave
e a trouxeram para casa, deram um nome a ela, um lar, mesmo sabendo que ela não era
humana. E Lionel a tirou de vocês depois”
“Srta. Lane, tem noção do quão absurdo é o que está dizendo?”, Martha disse tentando
rir, mas Lois a bloqueou,
“Clark Luthor se lembra do celeiro. Celeiro da casa onde vocês moraram, e não venha
me dizer que não é verdade. Podem parar com essa besteira, porque eu sei bem o que
estou dizendo, e a única história que faz sentido nisso tudo foi a que eu montei com as
migalhas que vocês e o próprio Clark me deu!”
O casal se deu conta de que não adiantaria mais ocultar os fatos. Jonathan foi o
primeiro a confessar.
“Naquele dia, Martha e eu vimos o fogo no milharal e seguimos até lá. Achamos a nave,
que se abriu. Havia uma criança dentro...”
Jonathan olhou para a esposa, que parecia emocionar-se novamente. Ele continuou,
ainda que fosse difícil para ambos,
“Levamos a criança conosco quando vimos que um carro se aproximava atrás do nosso. O
escondemos, mas não foi possível esconder a nave, não houve tempo.”
“Lionel a encontrou...”, deduziu Lois. Jonathan confirmou com a cabeça.
“Durante dias ele rondou nossa fazenda. Nós percebemos imediatamente que havia algo
diferente com a criança, ela tinha uma força descomunal... Nós sabíamos os riscos de
vê-la cair nas mãos do governo, ou coisa pior. Mas Lionel não desistiu, até que descobriu
que havíamos dado entrada em um registro. Estávamos para registrar Clark como nosso
filho, mas ele se adiantou. Levou seus homens à fazenda, revirou tudo até achar Clark
nos braços de Martha...”
42
Jonathan se emocionou com aquilo. Levou a mão ao rosto, enxugando as lágrimas que
desciam. Lois o observou sem saber o que dizer, mas Martha, que também lacrimejava,
acabou por continuar:
“Jonathan tentou detê-los, mas Lionel atirou nele por trás. O condenou a essa cadeira
naquela noite...”
“Meu Deus...”, Lois escutou à história atônita. Entendia que os Kent jamais falariam a
respeito daquilo, pois seria revelar o maior dos segredos que a humanidade havia de
conhecer.
“Lionel ameaçou matar Martha caso eu dissesse qualquer coisa”, Jonathan continuou, “E
nós vimos Clark crescer nas mãos de Luthor, nós acompanhamos da maneira que era
possível... E vimos as coisas acontecerem sem que pudéssemos fazer nada. Acha que não
sabíamos que era ele por trás dessa coisa toda de Ultraman? Sabíamos, mas o que
podemos fazer?”
Lois quase não tinha palavras, mas encontrou forças para dizer algo. “Acredite, há algo
a fazer. O Clark que vocês conheceram ainda está lá fora e Lionel não é mais uma
influência sobre ele. Ele precisa saber a verdade, ele precisa saber que há algo sobre
suas origens de que ele não tem conhecimento!”
“Como isto?”, Martha disse após abrir um pequeno baú ao lado do sofá. Tirou de lá um
pequeno manto vermelho. Grafado no pequeno manto, o que parecia ser um escudo com
um „S‟, amarelo.
Lois olhou para aquele manto e ficou muda, embora não soubesse explicar a razão.
***
Clark Luthor já estava no alto da LM há várias horas, imaginando que o tempo não
voltaria e ele não poderia tornar as coisas menos difíceis com Lois. Pensar nela já havia
se tornado uma terapia e ele gostava de ter aquele propósito na vida. Seu celular tocava
de maneira incessante no bolso da calça, mas não estava interessado de falar com
ninguém. Sem mesmo olhar quem poderia estar ligando, lançou o aparelho para o alto e
o fritou com sua visão de fogo. Estava entediado e depressivo por não ter controle sobre
o que desejava.
Talvez fosse esse o charme, não ter controle sobre Lois Lane.
Ainda pensava sobre isso quando a porta do telhado se abriu, e para a grande surpresa
de Clark, era a própria Lois. Ele se virou para ela, surpreso.
“Espero que seja uma visita cordial...”
“Eu tentei te ligar...”, ela disse. Clark se mordeu por não ter percebido antes de fritar o
celular.
“Vejo que está bem melhor...”
43
“Meio que estou... Mas o que eu tenho a dizer não poderia esperar pela minha completa
recuperação...”
Aquilo deu algum ânimo a Clark e ele se aproximou de Lois, o suficiente para invadir o
espaço pessoal dela. A encarou compenetrado em seu olhar, seus lábios.
“O que não podia esperar?”
Lois respirou fundo, tentando não olhar para os lábios de Luthor, os quais exerciam uma
estranha fascinação sobre ela. Fitou-o nos olhos,
“Eu sei por que você gosta daquele celeiro. O que você tem não são sonhos... São
lembranças.”
“O que está dizendo?”, Clark não compreendeu e Lois continuou, abrindo a bolsa,
“Você está enganado sobre o seu passado. Não foi Lionel Luthor quem te resgatou,
foram os Kent. Eles te deram o nome de Clark, cuidaram de você quando você chegou à
Terra.”
Clark sorriu, não entendia o que Lois queria com aquelas coisas. E a morena não esperou
que ele entendesse, simplesmente sacou o manto de dentro da bolsa e mostrou para
Clark, convicta de que aquilo representava algo para ele.
A julgar pelo olhar pasmo de Clark Luthor ao ver o S gravado no manto vermelho, ela
não fazia idéia do quanto.
44
CAPÍTULO 6
Clark encarou aquele manto atônito. Era o „S‟ de sua família, da casa de El. Como
poderia ser?
“Onde conseguiu isso?” ele perguntou tomando o manto das mãos de Lois, “Onde?”
“Com Jonathan e Martha Kent”, ela respondeu, “Eles te encontraram enrolado neste
manto... Eles te salvaram, Clark.”
“Você está louca,” Clark se negou a acreditar, “Lionel me encontrou, foi ele que me
resgatou!”
“Não, ele te roubou dos Kent, Clark” Lois segurou Clark percebendo-o confuso, levou a
mão ao queixo dele de modo que ele a encarasse, “Lionel percebeu o que você poderia
representar, por isso te tirou da fazenda Kent, para que você fosse criado sob o brasão
dos Luthor, sob a imagem distorcida dele!”
“Eu SOU um Luthor!” Clark protestou jogando o manto no chão irritado, mas Lois não se
intimidou,
“Você foi criado por Lionel, mas isso não significa que você tem que ser como ele!”
“E o que espera que eu seja? Então era isso o que queria? A coisa com o outro Clark, era
esse o ponto? Ele foi criado pelos Kent, se tornou um caipira idiota no lugar de ser quem
eu sou?”
“E o que você é?”, Lois o questionou quase ironizando o rumo grotesco que a vida dele
havia tomado, “O outro Clark teve a oportunidade de ser amado pelas pessoas que o
criaram, eu não tenho dúvida nenhuma disso. Mas você, tudo o que deve ter recebido de
Luthor foi ódio.”
“Você não sabe nada sobre mim!”, Clark se colocou na defensiva, mas seu olhar
transpirava raiva.
“Eu não quero saber sobre o Luthor que há em você”, Lois respondeu, “Mas sobre o lado
que sobreviveu a Lionel, que te trouxe a mim... Eu sei que ele está em algum lugar...”
Lois fitou os olhos azuis de Clark buscando ali a resposta que procurava, mas ele se
fechou, confuso diante da perda de referências pelo seu passado. A fitou de volta
rangendo os dentes,
“Saia da minha cabeça...”
E tomou vôo, sumindo nos céus de Metropolis. Lois parou a olhar para o alto por um
longo momento, até que respirou pesadamente, como se houvesse prendido todo o ar
durante a conversa. De certa forma, estar diante de Clark Luthor era como um interlúdio
para a sua respiração, pois ela nunca sabia o que viria depois. O fato de ela estar viva
era um fator positivo, mas o manto havia ficado para trás. Lois o recolheu no chão e
45
ponderou se aquilo ainda poderia ter um final feliz. Talvez não estivesse mesmo
destinado a ser.
***
Alguns andares abaixo do telhado, Tess seguia firme para o escritório de Clark na LM.
Trancou a porta por dentro e voltou-se para a sessão de arquivos pessoais, mas a pasta
que procurava não estava lá. Olhou para a mesa de Clark, cheia de arquivos e alguns
documentos para assinar e voilá.
“Lois Lane...”, a ruiva disse para si mesma ao ver o arquivo que procurava sobre a mesa
de Luthor. Folheou a pasta lendo algumas informações por alto, mas não pretendia fazer
aquilo ali, precisava ir embora. Enfiou os arquivos de Lane dentro de uma pasta de couro
contendo outros papéis e seguiu novamente para a porta, destrancando-a. O que ela não
esperava era dar de cara com Clark Luthor parado do outro lado ao abrir a porta.
O moreno fitou a irmã com os braços cruzados de uma maneira perigosamente calma.
“Com pressa, Sis?”
“Clark...”, Tess sorriu um pouco sem graça, mas logo adentrou em sua perfeita máscara,
“Eu vim aqui ver se você...”
“Se eu estava? Por isso trancou a porta, para que eu fizesse uma entrada triunfante pela
janela?”
Tess sorriu, “Queria fazer uma surpresa...”
“Estou surpreso”, Clark respondeu empurrando-a gentilmente para dentro do escritório
e fechando a porta, “Surpreso com sua coragem.”
“Do que está falando?”, Tess disse com algum medo.
Clark olhou para a mesa, logo em seguida para a pasta que Tess carregava. Só então a
encarou, quase sádico, “Encontrou o que procurava?”
“Eu não sei o que você--” Tess tentou dizer, mas foi interrompida pelo movimento
brusco de Clark arrancando a pasta da mão dela.
“Minha visão de raio-x não serve apenas para ver além de suas roupas, irmãzinha...” Ele
disse abrindo a pasta e pegando o arquivo de Lois Lane. “Eu te dei um aviso, Tess, não
vou te dar outro...”
“É o que me espanta, Clark... Antigamente você não costumava dar aviso algum...”
“Estou levando em consideração quem você é... Considerando que eu até gostava de
você.”
“Foi por isso que levou Lois Lane para o lugar onde costumávamos nos encontrar?”
46
A revelação de Tess pegou Clark de surpresa, e a ruiva tirou vantagem disso,
“Você matou Oliver Queen porque ele era seu rival no coração de Lois Lane? Ou foi
porque ela mandou?”
Clark sorriu, lançando o arquivo de Lois no ar. As páginas voaram, enquanto ele fitava
Tess, “Você não sabe nada sobre Lois Lane. E a não ser que queira ser transformada em
nada, sugiro que fique longe dela. Como eu disse, Sis, não haverá outro aviso...”
Tess segurou a raiva, mostrando-se serena diante de Clark. O olhar dele a dizia que o
melhor seria ir embora imediatamente, pois ainda que estivesse mudado, algumas coisas
simplesmente não mudam. A ruiva deu a volta e saiu da sala, sem olhar para trás.
Clark escutou os passos de Tess se afastando e olhou para os arquivos de Lois atirados ao
chão. Pegou uma pequena foto entre as páginas e admirou por um longo instante. Se
perguntou se valeria a pena sofrer por dentro daquela maneira para estar com ela. As
coisas antes eram tão fáceis, mas agora o que desejava estava tão fora de alcance que
ele apenas poderia imaginar como seria. Até mesmo quando ela se aproximava dele
parecia distante, principalmente quando buscava nele o outro. Clark Luthor nunca seria
como Clark Kent.
Ainda assim, Clark se sentou em sua poltrona e colocou-se diante do laptop, buscando
qualquer informação disponível sobre a família Kent. Algo lhe dizia que havia alguma
verdade na história absurda de Lois.
***
O entardecer do dia seguinte foi agitado em Smallville. Uma pequena multidão se
aglomerava diante da fazenda Kent, todos em volta do advogado de Oliver Queen, que
distraía a todos até o almejado momento.
Dentro da casa, Lois recebia um caloroso abraço de Martha Kent, assim como de
Jonathan.
“Não temos como agradecer, Lois..”, Martha disse com lágrimas nos olhos. “O que fez
por nós...”
“Não acabou, Sra. Kent”, Lois respondeu também emocionada, “Meu maior desafio está
em outro patamar...”
“Você acredita que ele..”, Jonathan perguntou, pouco esperançoso.
“Eu acredito que ele não está pronto... Mas ele vai estar, um dia ele vai, irá fazer a
coisa certa. Mas por enquanto... Faço eu a coisa certa, não é?”
O casal de fazendeiros concordou e seguiu com Lois até a varanda, onde o mutirão de
jornalistas a aguardava. Lois foi até o advogado de Oliver, que sorriu para ela contente,
47
“Oliver Queen estava certo, Srta. Lane. Você é mais do que admirável...”
Lois sorriu em agradecimento ao cumprimento, “Obrigada pela sua ajuda..”
Os jornalistas permaneciam agitados à espera do tão esperado e misterioso anúncio de
Lois Lane, até que ela parou diante dos degraus da varanda, tendo o advogado de um
lado, os Kent do outro.
“Obrigada a todos por vir”, ela iniciou seu discurso, segurando a emoção como lhe era
possível, “Os últimos dias foram muitos difíceis para todos nós que sempre fomos
próximos a Oliver Queen... E eu posso dizer que muitos outros dias foram igualmente
difíceis para o próprio Oliver. Mas nada foi mais difícil do que retirar essas terras de seus
donos. Nunca foi intenção de Oliver machucar ninguém. Ele acreditava, assim como eu,
que este mundo pode ser um lugar melhor se lutarmos por isso, e de uma forma que eu
não posso explicar, Smallville possuía um potencial para essa luta. Oliver descobriu isso
e tomou todas as decisões difíceis, pelas quais foi questionado, odiado até. O que eu
gostaria de dizer é que ele nunca perdeu de vista que estava fazendo o melhor para
todos...”
Os jornalistas escutavam atentos, assim como os Kent e alguns outros fazendeiros que
estavam também presentes na fazenda. O anúncio seguia transmitido pela TV, sob o
olhar incrédulo de Lutessa na mansão Luthor, e principalmente, sob a atenção inabalada
de Clark Luthor, parado em um campo próximo à fazenda, longe do olhar de todos, mas
perto o suficiente para ver Lois em seu discurso.
“Por uma série de razões, eu estou aqui hoje com o intuito de devolver aos habitantes
de Smallville as terras que lhe pertenciam por direito. Todas as propriedades que foram
compradas pelas indústrias Queen serão restituídas aos donos sem que precisem
devolver qualquer valor... Como eu disse, há coisas que não posso explicar, mas eu
posso sim dizer que se Oliver Queen estivesse aqui hoje e visse os fatos como eu tive a
oportunidade de ver, ele tomaria a mesma decisão..”
Lois deu uma rápida olhada para o casal Kent ao seu lado, e seguiu com suas palavras,
sem poder conter as lágrimas,
“Eu estou fazendo isso pelos habitantes de Smallville... Pela família Kent, que me
ajudou a fazer isso aqui hoje, como as pessoas maravilhosas que são... E estou fazendo
também pelo homem que eu admirei e amei... Pelo herói que ele foi em vida, e pela
memória que o manterá vivo após sua morte...”
Lois concluiu seu discurso em meio às lágrimas, mas sendo ovacionada pelas pessoas
presentes no local, inclusive os jornalistas que não puderam negar a comoção em ver a
ex-futura esposa de Queen tomando a decisão que há muito se esperava que ele
houvesse tomado. A morena voltou-se mais uma vez em direção a Martha Kent, que a
abraçou como se estivesse diante de uma filha que lhe enchera de orgulho. Ela não
podia explicar, mas os poucos momentos que tivera ao lado de Lois Lane a tornara
exatamente isso, uma mãe. Mãe pelo filho que não tivera, e mãe pelo filho que não teve
a chance de criar. Lois resgatava todos esses sentimentos nela, sem pedir nada em
troca.
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“Venha...”, Martha a chamou para dentro da casa novamente, em meio ao grande
tumulto dos repórteres. A jornalista adentrou a casa novamente acompanhada de Martha
e de Jonathan, mas não houve tempo para mais nada. Um vulto negro adentrou a casa
rapidamente e arrastou Lois dali. Martha e Jonathan se olharam estupefatos sem
entender, mas era tarde demais.
***
Quando Lois desacelerou instantes depois, estava na torre de Oliver e Clark Luthor
estava parado à sua frente. Não havia levado ela até aquele lugar a toa, ali fora onde
tudo começara.
“Por que estamos aqui?”, Lois questionou.
“Por que fez aquilo?”, Clark a questionou de volta.
“Aquilo?”
“O manto...” Clark disse caminhando na direção de Lois ao tempo em que ela recuava
dele, “O que me disse no telhado, sobre os Kent...”
“Você precisava saber a verdade, de onde veio. A verdade sobre seu passado, sobre
quem Lionel realmente é.”
“Eu sei o que Lionel é, acredite”, Clark disse mostrando a cicatriz em L no seu
antebraço, “Eu sei do que os Luthors são capazes...”
“Você não precisa ser como eles”, Lois disse, “Eu preciso acreditar que, se seus pais
biológicos tiveram tanto trabalho para te enviá-lo à Terra, não foi para que você
sucumbisse daquele jeito. Talvez... talvez eles tenham te enviado aos Kent.”
Clark considerou aquilo por um segundo, era possível embora improvável. Lois
continuou,
“Eu apenas posso imaginar as coisas que Lionel fez para ter controle sobre você, sobre
seus poderes... Mas não precisa ser assim, não é seu destino viver nas sombras dele..”
“Eu não estou mais na sombra de Lionel, ou de ninguém”, Clark respondeu convicto e
impetuoso.
“Está sim, na sua própria sombra”, Lois revidou, “Você estava certo, eu estava buscando
em você um Clark que você não é... Mas agora eu entendo que você pode ser muito mais
do que isso, porque você viu o pior e pode renascer dele... Você tem a chance de mudar
seu destino, de todo esse mundo...”
“Eu não me importo com o mundo, Lois”, Clark disse fitando-a, “Eu só me importo com
você. Você é o meu mundo. Eu não sei se algum dia entenderei como, ou por que... É
49
muito mais sério do que a forma como eu me sinto a seu respeito... Você é tudo o que
eu sinto.”
Lois se riu encurralada no ferro da escada em espiral e Clark se colocou diante dela,
próximo o suficiente para que ela sentisse a respiração dele a tocar sua pele.
“Clark...”, ela disse tentando se afastar dele, mas o Ultraman fechou o caminho com o
braço.
“Não sei como pude acreditar que o que eu vivia era uma vida... Se você não estava
nela...”
Lois ainda fez uma nova tentativa de desvencilhar-se, mas o corpo de Clark estava
próximo demais do dela, praticamente contendo-a junto à escada. Ele moveu o rosto em
direção ao de Lois, engolindo em seco ao tocar seu nariz no dela, o olhar fixo em seus
lábios. Inclinou o rosto para o lado, buscando o melhor ângulo dos seus lábios. Lois se viu
paralisada, imobilizada pelo ato de Clark Luthor, até que ele raspou o beiço no dela, um
toque morno e molhado, para depois levar os lábios ofegantes completamente ao
encontro dos dela...
50
CAPÍTULO 7
Lois viu Clark fechar os olhos ao tocar seus lábios e, diante de sua incapacidade de
resistir, entregou-se ao beijo abrindo a boca e deixando que Clark encontrasse seu
caminho dentro dela. Tal como da primeira vez, foi um toque dócil e suave, como se não
houvesse nada mais precioso no mundo para os dois. Clark tocou a língua de Lois com a
sua e a massageou com delicadeza, usando seu corpo para impulsionar-se mais contra
Lois, mas sem apertá-la. A jornalista, que até então usava as mãos para se afastar-se de
Clark, deslizou a mão pelo braço dele que a prendia contra a escada, mas por um
instante apenas. Como se recobrasse a consciência daquele momento mágico, ela soltou
os lábios dele de forma brusca e saiu-se do moreno passando por baixo dos braços dele.
Saiu correndo sem dizer nada, sob o olhar surpreso de Clark.
Sem soltar a escada, ele se manteve parado naquele lugar especial, quase anestesiado
pelo beijo. Ainda que ela tivesse fugido, ele não podia se sentir mal, pelo contrário.
Mordeu os próprios lábios e sorriu ao pensar na forma como ela havia correspondido.
***
Lois saiu da torre quase alucinada, sem acreditar em si própria. Beijar Clark daquela
maneira, e ainda por cima na torre de Oliver! Era como ter saído de si por um minuto,
perdido a órbita, a razão. Tal como perdera da primeira vez, beijando-o sem mensurar o
perigo, mas desta vez havia feito muito pior. Sentia como se estivesse traindo a
memória de Oliver de alguma maneira.
Mais do que rapidamente a jornalista seguiu para o jornal e foi até o seu escritório.
Ainda que o prédio fosse propriedade da LuthorCorp, seu escritório era um lugar onde se
sentia segura e segurança era o que desejava acima de tudo. Precisava de um lugar
familiar para respirar, recuperar o fôlego de seu momento de insanidade.
Mas tranqüilidade não foi exatamente o que encontrou na LuthorCorp Media.
“Ora ora”, disse uma voz atrás de Lois no exato instante em que ela adentrou o
escritório, “Se não é a ex-senhora Queen...”
Lois se viu surpresa ao ver uma Luthor em sua sala.
“Lutessa Luthor..” Lois disse pelo próprio prazer em recitar o nome bizarro da herdeira
de Lionel, “O que deseja?”
“Vamos cortas as formalidades, certo?” Tess disse se aproximando, “Até porque não
deve fazer o estilo de uma viúva negra como você...”
O comentário soou mal para Lois mesma sem ela compreender totalmente o que Tess
queria dizer com aquilo. Imediatamente fechou a cara, decidida a ir embora antes
mesmo de ter estacionado no escritório. Tentou passar pela ruiva, mas viu seu caminho
bloqueado.
51
“Eu não disse que você podia ir..”, Tess disse bloqueando Lois com uma mão contra seu
ombro. Lois deu um rápido sorriso e afastou a mão de Tess com rispidez,
“E quando eu assinei para ser jornalista da LM, não disse que qualquer Luthor viria até
meu escritório me dar ordens... Qual seria o diminutivo de Lutessa Luthor, Lulu?”
Tess engoliu a piada a seco.
“Você é arrogante, não era apenas impressão vendo você com aqueles discursos
inflamados contra o Ultraman”, Tess disse, “Finalmente entendi o que Clark viu em
você.”
“Olha, eu sei o que você pensa que está fazendo, ou dizendo... Mas eu te sugiro a sair
da minha frente. Seu „irmão‟ pode ter super poderes, mas eu acho que vocês não
compartilham essa herança genética...”
“O que quer dizer com isso?”
“Precisa de uma placa?”, Lois disse, “Estou dizendo que se não quiser sua cara quebrada
ao meio, você não vai me tocar novamente e nem se meter na minha vida...”
“Eu vou fazer exatamente o que eu bem entender”, Tess respondeu fitando Lois,
“Porque você não é ninguém. Você não pode mesmo esperar que um Deus como Clark
possa se apaixonar por uma qualquer como você.”
“E você parece ter um problema com isso”, Lois rebateu, “Agora eu posso ver
claramente quem de fato herdou toda a canalhice de Lionel...”
“Não se atreva a falar do meu pai”, Tess ergueu o dedo na direção de Lois, mas a
jornalista revidou com o olhar,
“Eu sinto muito que seu pai tenha sido lançado para outra realidade, porque o lugar dele
é o inferno. Pelo o que ele fez com Clark e com as pessoas que estavam destinadas a
cuidar dele. Seu pai é um canalha miserável que não pensa em ninguém além dele
próprio, e que só dá valor ao poder, não é verdade? Porque até onde eu sei, Clark
sempre foi o queridinho dele, e não é difícil saber a razão... Enquanto que você... Você
sim é a qualquer Luthor.”
“O que você sabe sobre ter um pai?”, Tess replicou, “Minha pequena pesquisa me disse
que seu pai foi um grande General que não deu a mínima para você..”
“Meu pai foi um herói e morreu para me salvar”, Lois respondeu por fim, “Enquanto o
seu pai.. te mataria para salvar a si próprio... Deve doer, hun? Saber que não é nada
mais do que um incidente na vida de Lionel, um fruto de um caso com a babá?” Tess
olhou surpresa para Lois e a morena deu um leve sorriso, “Oh, yeah, eu também fiz
minha pequena pesquisa, queridinha. Posso não saber tudo sobre você, mas sei o que te
incomoda...”
Lois deu a volta em torno de Tess e seguiu para sair do escritório.
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“Fique longe do meu irmão, Lane”, Tess a alertou, sem virar-se para ela. Da mesma
maneira, Lois parou à porta, deixando seu último aviso.
“Eu acho que sei por que te deram esse nome... Seu pai deveria precisar de um esforço
muito grande para se recordar de que você era um deles...”
A pequena provocação de Lois foi o suficiente para fazer Tess virar-se em sua direção,
mas Lois não lhe deu maiores atenções.
“Fique longe de mim... Lulu”
Lois se retirou sob o olhar incomodado de Tess. A ruiva, contanto, se conteve, não era
de seu feitio explodir sem precisão. Pegou o celular e discou um número préprogramado. Quando a voz masculina atendeu do outro lado, ela deu o aviso, como
planejado,
“Ela está saindo do jornal.”
***
Lois saiu da sede da LM com pressa, observando a noite tomar conta de Metropolis. Com
a confusão entre ela e Clark, acabara deixando suas coisas em Smallville, teria que
seguir andando para casa. Felizmente seu apartamento não ficava tão longe do centro, e
assim que chegasse poderia entrar em contato com os Kent, explicar o que houve.
Voltaria lá para buscar suas coisas e conversar melhor com o casal sobre Clark Luthor.
Ansiava por isso, principalmente após o encontro deles. Lois sentiu que a mudança era
mesmo possível e que não se equivocara em devolver as terras em Smallville e
interromper o garimpo de kryptonita. Ela não precisava das rochas verdes para lidar com
Clark.
Lois seguiu pelo quarteirão do jornal e virou na esquina do parque. Seguiu por uma rua
estreita e deserta, suja como todas as outras da cidade. Entretanto, sentiu algo
diferente. Olhou para trás, mas só viu as sombras dos prédios. Isso não eliminava a
sensação de estar sendo seguida.
Caminhou mais alguns metros atenta para todos os lados, mas não foi rápida o suficiente
para evitar o empurrão que recebeu ao passar na frente de um beco. Desequilibrou-se
na direção da rua e um homem surgiu das sombras do beco, empunhando uma arma. Lois
moveu-se para reagir, mas um outro homem, fora de sua linha de visão, a agarrou por
trás e a arrastou para o beco. Lois tentou gritar, mas o grito foi abafado pela mão de um
dos bandidos. Um terceiro homem ainda surgiu, segurando um taco de beisebol. O que
agarrava Lois a lançou contra a parede, encurralando-a enquanto sacava sua própria
arma,
“Oi, belezinha... Sem ressentimentos, espero..”
Lois se viu assustada e irritada ao mesmo tempo, mas não havia o que fazer. Os homens
usavam meias no rosto e dois deles apontavam armas na sua direção.
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“Boa noite, cinderela”, disse um deles puxando o gatilho.
O tiro soou alto e a bala seguiu certeira na direção da cabeça de Lois, mas antes que a
alcançasse, parou nas mãos de Clark Luthor, vestido como Ultraman. Ele imediatamente
voltou-se na direção dos bandidos e lançou o que havia atirado na direção oposta do
beco, fazendo-o chocar-se violentamente contra a parede dos fundos de algum prédio. O
movimento foi muito mais rápido do que os olhos poderiam ver e os bandidos sequer
notaram o que havia atingido um deles. Apenas olharam para a jornalista, que
continuava viva, embora assustada.
“Droga, é ele!” Gritou um dos bandidos restantes correndo para o fundo do beco. Não
foi o suficiente, pois logo depois sumiu pelos ares em um grito estarrecedor de
desespero.
“Maldição!”, o terceiro bandido berrou em pânico, mas ainda assim voltou-se para Lois
com a arma em punho a fim de terminar o trabalho. Não houve a chance de atirar, pois
foi nocauteado pelo Ultraman e lançando contra uma grade de ferro. O homem caiu
inconsciente e, no instante seguinte, estava novamente contra a grade, tendo seu corpo
erguido pelo Ultraman.
Lois tentava se recompor do choque e notou Clark Luthor a segurar o homem contra a
grade, as mãos fechadas contra o pescoço do bandido.
“Quem te mandou?! QUEM!!!” Clark berrou contra o homem inconsciente.
“Oh meu Deus, não!”, Lois gritou correndo na direção de Clark e segurando seu braço,
“O que está fazendo, ele não vai te responder mais nada!”
“Então eu vou matá-lo!” Clark disse com os olhos vidrados, possuído pela ira.
“Não, não vai, pelo amor de Deus, Clark!” Lois implorou puxando a mão dele do pescoço
do bandido, “Ele vai pagar pelo que fez, mas não assim, por favor!”
A força que Lois empunhava contra a mão de Clark era nada mais do que um ligeiro
formigamento para ele, mas ainda assim se manifestava forte como se fosse o próprio
efeito da kryptonita azul. Clark estava prestes a matar aquele indivíduo, como fizera
tantas vezes, mas Lois estava disposta a tudo para evitar.
“Por favor... Se o que você me disse naquela torre é verdade, eu te imploro, largue esse
homem!!”
O pedido de Lois penetrou Clark aos poucos e ele enfim soltou o homem, ofegante, com
a adrenalina a mil. Lois respirou aliviada, porém tremendo com a situação. Virou Clark
para si e segurou seu rosto com ambas as mãos.
“Obrigada, eu sabia que você podia, eu sabia...”
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Mas não era o suficiente para Clark. O pedido de Lois o havia detido contra aqueles
bandidos que intencionaram matá-la, mas talvez não fosse o suficiente para detê-lo
diante da pessoa que os havia enviado em primeiro lugar.
Mais uma vez ele superacelerou na escuridão, deixando Lois sozinha e angustiada com o
que iria acontecer.
***
55
CAPÍTULO 8
Como uma força da natureza, Clark Luthor surgiu na LuthorCorp Media e encurralou Tess
ainda no corredor do escritório de Lois. Estava mergulhado em fúria, mas ainda assim se
deu ao trabalho de arrastar a irmã de volta para a mansão dos Luthor. Adentrou o
escritório com ela e a lançou contra o assoalho, fazendo-a voar longe.
“Eu lhe disse, mas você não se importou em me contrariar e ir atrás de Lois!”
“Do que está falando?!”, Tess se ergueu com um pouco de sangue em sua boca, “Clark,
eu..”
“Você enviou aqueles homens para matá-la!!” Ele vociferou circundando-a, “Mas você
vai pagar por isso, Tess!”
“O que está dizendo, Clark? Eu fiz o que fiz por nós dois, porque eu te amo!”
Clark parou por um instante, dando chance a Tess de se expressar completamente.
“Tudo o que sempre fiz, sempre foi por amor a você, Clark... Nosso pai jamais
permitiria, ele achava que eu o fazia fraco... Mas não é verdade, eu sempre te fiz forte!
Forte para lutar contra a influência dele, para ser o Ultraman!”
“E você chama isso de amor?” Clark rebateu, “As pessoas tem medo de mim, Tess! Eles
não me admiram pelo que me tornei, eles me temem!”
“E não era isso o que você sempre buscou?”
A pergunta de Tess era válida e fez Clark se questionar. Pela primeira vez, contudo, ele
se viu diante de um erro. Aquilo tudo era um erro.
“Você matou Lex...”, Tess fez questão de recordá-lo, “E teria matado nosso pai se
tivesse a chance.”
“Matar Lex foi um erro...” Clark admitiu para Tess, e para si mesmo, “Matar foi um erro.
E eu terei que viver com isso... Eu posso ver agora, posso ver claramente depois do que
houve essa noite. Eu não farei mais nada do que possa me arrepender...”
“Eu sei que você jamais me mataria, Clark..” Tess disse se aproximando, “Porque nós
nos amamos, eu sei.. Lá no fundo, você sempre me amou...”
Clark ponderou sobre a questão durante o tempo em que Tess se aproximava dele.
Quando ela tentou tocar-lhe, ele recuou, convicto do que realmente sentia.
“Algo nessa vida fez que nós gostássemos um do outro, que curtíssemos a presença um
do outro... Mas nunca foi amor, Tess. Não se engane, porque o que você sente por mim
não é amor... Assim como o que senti por você jamais foi.”
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“Como pode acreditar nisso, depois de tudo o que passamos juntos? Eu sei que eu tinha
seu coração!” Tess disse, desacreditada pelas palavras de Clark. De uma maneira
surpreendentemente gentil, ele a fitou com a sua própria verdade,
“Você não poderia ter meu coração, Tess, porque até conhecer Lois, eu sequer sabia
que tinha um coração... E agora que eu sei que tenho, eu também sei a quem ele
pertence.”
As palavras de Clark atingiram Tess de uma maneira dura, ela não estava preparada para
ouvir dele uma confissão tão sólida. Lois era muito mais importante para ele do que ela
podia supor, e isso não se resolveria com uma simples conversa. Tess se sentiu escornada
por dentro, mas precisou manter-se firme por fora, não demonstrar fraqueza maior do
que o já havia feito. A confissão de Clark era pior do que a morte. Após tudo o que
viveram, Tess se deu conta de que nunca enfrentaram nada pelos dois, mas apenas por
Clark. Ela viveu à sombra dele, da mesma maneira que ele vivera à sombra do pai. Era
apenas mais um Luthor que a havia ludibriado e a trocado por um outro alguém. Lionel
havia trocado não somente ela, mas o próprio Lex por Clark. E Clark a estava trocando
por Lois. Era demais para ela.
“Então você venceu...” Tess disse por fim, uma lágrima escorrendo pelo seu rosto.
“Deixou claro o que você realmente deseja...”
Clark não soube o que dizer, e na verdade, não pretendia mesmo dizer mais nada.
Chegara ali com a intenção de fazê-la sofrer pelo que fizera a Lois, mas sentiu alguma
espécie de compaixão pela irmã. No final das contas, ela sofrera nas mãos de Lionel
tanto quanto ele, ainda que dificilmente fosse capaz de assumir.
Clark se retirou do escritório, disposto a não mais retornar. Saiu caminhando sob o olhar
de Tess, que sentia muitas coisas em relação ao irmão, não havia dúvidas.
Mas compaixão certamente não era uma delas.
***
Clark deixou a mansão e voou para longe, para o Norte. Pousou diante da Fortaleza de
Cristal e entrou cauteloso, observando a parafernália que Lionel havia montado no lugar.
Arrancou absolutamente tudo de lá, tudo que remetesse ao mundo dos humanos. Deixou
a fortaleza da maneira que ela surgira, sem vestígios de que um Luthor havia pisado os
pés ali. A não ser o próprio Clark. Ele olhou para si próprio e rasgou a blusa preta de
Ultraman, atirando-a ao chão e queimando-a com sua visão de fogo. O fazia se sentir
melhor, mas não o suficiente. Olhou em volta para a fortaleza que se negava a falar com
ele depois do que ele se tornara.
“Jor-El!!” Clark berrou, olhando para o alto, “É verdade que me mandou para os Kent?
Que era esse o seu plano?!”
Não houve resposta por parte da Fortaleza. O moreno respirava ofegante, seu peito nu a
brilhar por conta dos cristais,
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“Ela está certa? Eu não sou o que deveria ser?”
Mais uma vez, total silêncio. Clark se deu por vencido, caindo de joelhos, angustiado
pela falta de respostas.
“O que eu deveria ser?”
***
“Um herói”, respondeu Lois conversando com os Kent, “Me salvou como um verdadeiro
herói, derrubando os bandidos e resistindo bravamente a matar um deles. Verdade que
tive que agarrá-lo como um urso, mas enfim, ele resistiu, já é alguma coisa...”
24 horas haviam se passado desde os eventos da noite anterior e Lois estava mais uma
vez na fazenda dos Kent, reunida com eles em um jantar feito especialmente para ela.
Jonathan e Martha Kent não sabiam como começar a expressar a eterna gratidão pela
jovem jornalista, principalmente depois de vê-la tão determinada a ajudar Clark.
“Eu fico pensando...”, Martha comentou enquanto servia um pouco mais de vinho para
Lois, “Ele era um menino tão dócil. O pouco tempo que tivemos juntos... Acho que você
tem razão. Ele pode mudar, não é? Nunca é tarde demais...”
“Nunca é”, Lois concordou, “Mas eu não sei se conseguirei sozinha, por isso pedi a ajuda
de vocês... Eu sei que será difícil para ele no início, mas no fundo ele ainda precisa do
amor de uma família. Ele precisa saber que existem pessoas nesse mundo que o amaram
quando ele ainda era um bebê, apesar de ter vindo de Krypton...”
“Krypton?” Jonathan repetiu impressionado.
“Foi de onde ele veio”, Lois disse tomando um pouco do vinho, ela própria ainda
buscando se acostumar com a idéia, “Seja lá onde fica... Ficava, ele disse que o planeta
foi destruído.”
“Meu Deus...” Martha comentou impressionada.
Os três ainda seguiram com a conversa por várias horas, até a hora em que Lois sentiu
que deveria retornar para Metropolis. Jonathan insistiu para que ela ficasse na fazenda
até o dia seguinte, mas Lois declinou gentilmente do convite. Se despediu dos dois e
seguiu pelo jardim na direção de seu carro, o qual enfim pegaria de volta. Antes de abrir
a porta, contudo, avistou um vulto atrás da cerca. Sua curiosidade natural fez com que
seguisse até o lugar em vez de simplesmente entrar no carro e dar o fora.
Andou alguns metros até que notou a clara silhueta de um homem. Era Clark, estava
vestido apenas em uma calça preta, descalço e com o torso totalmente nu. Os cabelos
um pouco desgrenhados não lembravam tanto o Clark Luthor, editor chefe da LuthorCorp
Media.
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“O que faz aqui... Assim? Foi atropelado por um cometa?” Lois perguntou tentando
imaginar o que poderia estar se passando pela cabeça dele naquele instante.
Surpreendentemente, apesar do semblante transtornado, Clark estava perfeitamente
lúcido.
“Eu queria vê-la, falar com você..”, ele respondeu olhando para ela e depois para a casa
amarela atrás de Lois. A jornalista se deu conta do interesse de Clark no imóvel e
arriscou,
“Não gostaria de entrar?”
Clark continuou olhando para a casa, mas negou com a cabeça, “Eu não acho que eles
estão prontos para o que eu sou... Seja lá o que era para acontecer, Lois, não
aconteceu. Não posso negar o que fui, o que sou...”
“Eu sei... Mas quando você estiver pronto, eles estarão esperando por você.”
“E quanto a você?”, Clark questionou, “Estará esperando por mim?”
“Eu estou aqui...”, ela respondeu incerta de qual seria a melhor resposta para aquela
pergunta. Repensou suas palavras, imaginando se havia sido efeito do vinho. Clark
ultrapassou a cerca de madeira e se aproximou dela.
“Eu não estava pronto para ser confrontado a você... Você estava lá, tão perto de mim e
ainda assim eu não fui capaz de ver, eu estava cego... E você não me viu, como poderia?
Como poderia me notar se eu era tudo o que você mais rejeitava nesse mundo? Mas
graças àquela caixa, você me notou pelos olhos de um outro eu... Eu tive a oportunidade
de ver o que você se tornaria tendo um Clark ao seu lado. Eu vi, e lutei contra aquilo,
mas daí eu voltei e você já não era a mesma, me fez não ser mais quem eu era... E me
fez ver, Lois, o que eu nunca pensei que veria: o amor. Eu te amo, Lois...”
Lois parou atônita, trêmula por ouvir aquelas palavras saindo da boca de Clark Luthor.
“Acho que exagerei mesmo no vinho...”, Lois disse ainda incrédula, “Eu não sei se o que
está acontecendo aqui é real... Se é real para você, porque... tem noção do que está me
dizendo?”
Clark não pensou duas vezes. Segurou Lois e superacelerou dali com ela, rumo ao que
era verdadeiro. Apenas alguns poucos minutos depois, parou dentro da Fortaleza da
Solidão, deixando Lois ainda mais atônita ao ver-se naquele lugar inacreditável.
“Onde estamos?” ela disse assustada e encantada ao mesmo tempo. Era como um
palácio de gelo, ainda que horrendo em suas formas, era encantador.
“Você queria conhecer o verdadeiro Clark, aqui está” ele abriu os braços exibindo o
lugar que os rodeava, “É tudo o que resta de Krypton. É tudo o que me faz kryptoniano!
Porque todo o resto, Lois, vive em conflito graças ao que você me fez ser...”
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“Eu quero ir embora”, Lois disse nervosa, aquilo era intenso e completamente fora de
controle.
“Eu te deixarei ir, mas eu quero saber como se sente”, Clark disse indo na direção dela,
“Quero que seja honesta comigo, como eu fui com você”
“Por favor, me deixa ir..”, ela disse recuando, mas Clark a segurou pelo braço,
“Eu preciso saber que você não correspondeu aquele beijo por pena de mim.. Eu preciso
saber se o que eu sinto, eu sinto dessa forma porque é como você se sente também!”
“Eu quero ir, Clark!” Lois implorou, tinha medo de seus próprios sentimentos, medo de
confessá-los não a Clark, mas a si mesma.
“Eu te deixarei ir, se disser que não sente nada por mim”, ele a desafiou puxando-a para
ele e beijando-a de surpresa. Lois buscou desvencilhar-se com todas as forças, mas era
praticamente impossível soltar-se de Clark. Ele a tomou violentamente, quase sem
controle, chupando seus lábios da maneira mais intensa possível. Lois continuou sua luta
contra o corpo dele, mas era em vão, ele não era apenas mais forte, era infinitamente
mais poderoso. E não era apenas pela super força.
Lois continuou a resistir, mas a resistência decaia a cada chupada de lábios que recebia
de Clark. Ela resistiu e resistiu, até que seus braços perderam as forças, e a vontade de
lutar se esvaiu. Ofegante, ela finalmente se rendeu ao beijo dele e entreabriu os lábios,
deixando que ele a tomasse completamente. Era tudo o que Clark queria, a resposta
pela qual ansiava. Enfiou sua língua dentro da boca de Lois tomado pelo desejo e a
excitação. Com o fim da resistência dela, ele levou uma das mãos que a segurava pelos
ombros em direção às costas dela, firmando-a contra seu peito. Segurou-a praticamente
pelo pescoço, fazendo com que suas bocas se fundissem ainda mais.
Completamente entregue e sentindo a excitação crescer, Lois correu com os braços para
o pescoço dele, enlaçando-o com força. Impulsionou-se na direção do corpo dele e
mordeu-lhe o lábio, sem muita certeza se aquilo poderia infringir dor a Clark. Pelo
sorriso malicioso dele, ficou claro que ela não poderia feri-lo, mas sua ação o deixara
ainda mais louco. Clark levou o dedo indicador ao busto de Lois e, com um movimento
rápido, rasgou tanto a blusa como o sutiã que a jornalista usava, abrindo-os pela frente.
Lois ofegou com o movimento e deixou Clark terminar o trabalho, arrancando a parte de
cima de sua roupa para fora de seu corpo. Seus seios nus apontaram para a direção dele
sem esconder a excitação e Clark a abraçou novamente, afagando os seios recémdescobertos com uma das mãos enquanto lançava a outra ao pescoço de Lois novamente,
travando mais um beijo violento, descontroladamente excitado. A respiração alterada
de Lois fazia com que ela se perdesse nos lábios de Clark, seus batimentos quase tão
ensurdecedores quanto os estalidos de beiço dos dois. Clark massageava seu seio como
se só aquele movimento fosse um ato sexual em si e a morena deixou que a sensação
morna entre suas pernas tomasse conta de seus desejos.
Clark deitou Lois cuidadosamente sobre um grande e liso cristal da fortaleza, uma
espécie de pedestal largo. Curiosamente para Lois, não era gelado. Ou talvez fosse, mas
o calor em seu corpo estivesse mudando as referências naturais das coisas. De qualquer
60
maneira, Clark se inclinou sobre ela e desabotoou sua calça jeans com surpreendente
paciência. Puxou a calça e admirou a mulher a sua frente por um longo instante, com
um olhar que faria Lois fugir imediatamente se não estivesse tão desejosa quanto ele.
Ela própria não podia negar o quão bonito e atraente Clark era, principalmente com
aquele peito forte e lustroso à mostra. Era másculo, era literalmente de outro planeta.
Lois se perguntou por um lapso de segundo como seria, mas sabia que estava muito
prestes a descobrir. O ato seguinte do último filho de Krypton só fez reforçar sua
expectativa. Ele retirou sua própria calça, ficando completamente nu diante de Lois. Ela
correu os olhos de cima a baixo pelo corpo escultural de Clark, com especial atenção ao
excitado Jr. que parecia pronto para visitá-la.
Clark moveu seu corpo na direção do de Lois, colocando-se entre as pernas dela. A fitou
de maneira maliciosa e desceu com a cabeça para a altura da pélvis, segurando as coxas
de Lois com especial capricho. Lois manteve-se boquiaberta, as mãos de Clark correndo
pelo seu corpo era uma descarga fina e constante de prazer. Quando ele aproximou o
rosto de suas partes íntimas, o mínimo respirar daquele super homem a fez rejubilar
sobre o cristal. De todas as coisas que Clark Luthor sabia fazer muito bem, enlouquecer
mulheres era provavelmente o seu dom maior, ainda que nenhuma mulher o tivesse
enlouquecido o suficiente até aquele dia. Por mais que estivesse apaixonado por Lois,
ele próprio não sabia o que esperar. Estava curioso e ansioso, mas antes iria saciar-se
por meio do prazer dela.
Clark a tocou firmemente, primeiro com um dos dedos, logo depois com a língua.
Firmou-se em seus grandes lábios como se fosse a boca de Lois, beijando-os de maneira
intensa, apaixonada. O corpo de Lois ondulou de prazer ao primeiro toque, e Clark a
segurou firme pelos quadris. Correu a língua com um movimento direto, buscando todas
as cavidades possíveis, mas sempre se detendo ao ponto mágico. Seu termômetro eram
os batimentos de Lois, cada vez mais acelerados e desconexos. Prestou bastante
atenção, pois para o que ele tinha em mente, talvez fosse preciso levar o coração de
Lois ao máximo, matá-la de prazer, mesmo que por um instante. Iniciou então um
movimento ritmado com a língua, o qual ficava cada vez mais rápido. Só aquilo seria
suficiente para fazer Lois saltar até o topo da Fortaleza, mas Clark acelerou mais e mais,
além do que seria imaginável para qualquer humano. Em poucos segundos, sua língua se
movia tão rápido em Lois que era como se o vibrador mais potente a ser criado estivesse
a fazer as honras. Lois se contorceu, arqueou gemendo intensamente, para depois se
contorcer novamente e agarrar os cabelos de Clark que saltavam no horizonte de sua
barriga. Puxou os fios negros como se implorasse a Clark que parasse e continuasse ao
mesmo tempo. Naturalmente ele continuou, mais e mais rápido, até sentir que se
houvesse maior atrito ali, tocariam fogo os dois. A resposta de Lois, contudo, veio
molhada entre os lábios dela, diretamente para os dele. Se havia sido um orgasmo ela
não tinha certeza, pois fora tão intenso o que sentira que talvez fosse preciso criar um
novo nome para definir. De certo, sentira seu coração parar e voltar a bater pelo longo
instante em que tocou os céus por conta da língua de Clark. E era apenas a língua.
Satisfeito pela resposta gozada de Lois, Clark subiu pelo corpo dela, beijando-a e
acariciando as partes de seu corpo que entravam no alcance de suas mãos. Subiu
completamente até alcançar os seios dela, sugando-os com a língua ainda quente pela
aventura recente. A essa altura, Lois não possuía mais qualquer noção de espaço ou
tempo, apenas reagia aos toques majestosos de Clark sobre seu corpo. Abriu um pouco
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mais as pernas, deixando claro para ele o que ela queria. E como um mau rapaz
disfarçado de bom, Clark fez o que ela queria, deslizando seu pênis para dentro dela.
A sensação era tão inacreditável quanto tudo o que Lois já havia experimentado até
aquele instante. Ela trancou a perna sobre a parte de trás da coxa de Clark, fazendo-o
entrar ainda mais. Lois sequer parecia se importar com o cristal duro sob seu corpo,
mesmo tendo Clark sobre ela. Ele lançou-se para dentro dela tentando não fazer tanto
peso contra o corpo frágil da jornalista. Para isso, flutuou alguns poucos centímetros,
como se não houvesse mais gravidade naquele ínfimo espaço. Lois não percebeu a
princípio, mas Clark então a puxou para ele, flutuando um pouco mais alto. Lois se viu
sem chão, literalmente nos céus. Clark se colocou na vertical, como se sentasse no ar, e
Lois, sobre seu colo, encaixou-se perfeitamente a ele como se formassem os dois uma
flor de lótus flutuante. Aquilo deu confiança a Lois para mover-se sobre Clark, tomando
o controle do ato pela primeira vez. Se para ele as coisas deveriam ser rápidas, com o
máximo de movimento, Lois o apresentou às maravilhas da câmera lenta. Segurou-se no
corpo dele e movimentou seu quadril bem devagar, deixando que o pênis de Clark saísse
quase todo e voltasse a penetrá-la, tão devagar que era possível sentir cada atrito, do
início ao fim. Ao contrário de todas as mulheres com que Clark já estivera, o olhar
intenso de Lois sobre ele era o próprio sexo, um ato de amor em movimento. Seus
cabelos castanhos caiam sobre o rosto estarrecido pelo prazer, tocando o de Clark
enquanto os dois buscavam os lábios um do outro. Os dois já estavam a alguns metros do
chão, mas Clark continuava no controle de seus poderes, ainda que começasse a perder
o controle de todo o resto. Estar dentro de Lois era muito mais incrível do que ele
poderia idealizar. Lois não poderia concordar mais, Clark era mesmo um Deus entre os
homens. Seu movimento seguinte só fez reforçar isso.
Sem pensar muito, Clark agarrou Lois ainda dentro dela e tomou vôo para fora da
fortaleza. Subiu com ela pela atmosfera até onde os atributos humanos dela o permitiam
ir, e isso os levou ao céu escuro do norte, tomado por estrelas. Lois olhou para baixo
rapidamente, um pouco assustada a princípio, mas completamente maravilhada. Clark
planou com ela e deitou-se no ar, deixando-a sentada sobre ele. Sem pensar muito no
que poderia acontecer, Lois repousou as mãos sobre o peito dele e deixou-se penetrar
mais e mais, cavalgando lentamente sobre Clark Luthor. Ele levou as mãos para detrás
da cabeça em um primeiro momento, brincando com o perigo, mas depois depositou as
mãos nos quadris de Lois, correndo para as nádegas, e contribuiu para o movimento
dando um pouco mais de velocidade. Lois atendeu, subindo e descendo com força para o
deleite de Clark, a falta de ar por conta da altura fazendo tudo parecer mais intenso. O
próprio Clark começava a sentir os efeitos de Lois Lane querendo explodir dentro de si e
deixou-se cair com ela, praticamente em queda livre. Lois se assustou, mas o olhar de
Clark sobre ela lhe disse para não ter medo e ela correspondeu, agarrando-se a ele com
todas as forças. Clark a segurou firme e impôs seu ritmo, arremetendo forte dentro de
Lois ao tempo em que despencava dos céus. Seus gemidos se confundiram com os de
Lane, embora ela não soubesse se estava prestes a desmaiar ou ter um orgasmo, ou os
dois. Gemeu forte com as arremetidas de Clark, que gemia em resposta, movendo-se
cada vez mais rápido até que atingiu o limite. Explodiu de prazer juntamente a Lois,
interrompendo a queda e tomando altura novamente, como se subisse junto com seu
próprio gozo. Lois sentiu seu corpo quente e gelado ao mesmo tempo, mas nada mais
importava, não queria que Clark saísse de dentro dela nunca mais. E se dependesse
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dele, provavelmente não o faria. Tomado pelo prazer extremo, ele se perguntou quem
havia levado quem até o limiar dos céus...
CAPÍTULO 9
Os primeiros raios de Sol invadiram a entrada da fortaleza se fazendo visíveis para Lois
Lane e Clark Luthor. Os dois estavam deitados basicamente sobre a roupa de Lois, ambos
nus e abraçados um ao outro. Lois tinha sua cabeça repousada sobre o peito de Clark,
ouvindo atentamente aos batimentos fortes e serenos em seu peito, enquanto ele fazia
algo que nunca lhe ocorrera fazer em nenhuma outra mulher: alisava os cabelos da
jornalista, acariciando-a da maneira mais suave que lhe era possível. Os dois já estavam
daquela maneira há quase uma hora, recompondo-se da tórrida noite de amor que
vivenciaram na fortaleza. Não se sentiam cansados, pelo contrário, poderiam seguir na
maratona sexual por horas e horas, se dependesse de suas libidos. Contudo, era o
momento para os dois curtirem apenas aquele momento singular de paz na presença um
do outro. O próprio Clark se sentia radiante, mas temia dizer qualquer coisa e estragar
aquele instante perfeito. Já Lois, parecia ter mais coisas passando pela mente, embora
estivesse leve e segura de que aquela havia sido a melhor noite de sua vida.
Clark levou o braço direito na direção do próprio peito e Lois o conteve, buscando olhar
melhor para aquela terrível cicatriz.
“Lionel fez isso?” ela perguntou, passando a mão sobre o relevo da pele cicatrizada.
“Lex fez...” Clark respondeu sério, carregando a lembrança do momento consigo. “Eu
gostaria que ela não existisse, não gosto de olhar para ela...”
“Cicatrizes nos dizem que o passado foi real”, Lois respondeu ainda correndo o dedo
sobre o „L‟ marcado no ferimento antigo de Clark, “Talvez você devesse associar a
cicatriz a uma nova lembrança... Como essa agora..”
Clark sorriu para as palavras de Lois e pela própria carícia que ela mantinha com os
dedos sobre a cicatriz. “Eu não precisaria de um grão de areia para me ajudar a lembrar
do que houve. Eu não acho que poderei um dia deixar de lembrar, eu não acredito que
deixe de pensar em você a cada minuto que eu existir.”
“É um bocado de minuto..”, alertou Lois com humor. “Você vive... Como nós vivemos?
Ou ainda estará assim bonitão quando eu tiver 90 anos?”
“Serei um velho de 90 anos bonitão”, ele respondeu bem humorado. Observou o
movimento de Lois com os dedos em seu braço, até que a sua atenção se voltou para
outra coisa.
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A aliança na mão de Lois.
Continuava lá, desde o dia em que Oliver a colocara. Lois percebeu o olhar de Clark
sobre a aliança, ela própria a fitara por longos instantes antes dos dois engatarem a
rápida conversa. Havia algo a ser feito em relação aquilo tudo, e Lois sentia que não
seria certo seguir em frente sem acertar as questões do passado.
“Não são apenas as cicatrizes que trazem lembranças..”, ele comentou, fazendo Lois
fitá-lo por um momento.
“Eu ainda não fechei este livro, Clark. É difícil pra mim... Eu o amei muito.”
“Eu sei”, Clark respondeu, “E eu compreendo se você quiser ir. Eu compreendo...”
Lois deu um sorriso discreto para Clark, feliz pela compreensão dele, e o beijou mais
uma vez como fizera durante toda a noite. Clark retribuiu, quase hipnotizado pelos
lábios da morena. A envolveu em seus braços e flutuou mais uma vez com ela, colocando
os dois de pé.
“Precisa me ensinar a fazer isso”, Lois disse encantada pelas habilidades de Clark.
“Ao que me consta, não preciso dar lições”, Clark respondeu agarrando as roupas de Lois
no chão, além de sua calça, “Se não me falha a memória, foi você que me fez flutuar
durante a noite inteira..”
Rápido como uma bala, Clark levantou vôo mais uma vez, surgindo alguns poucos
minutos depois já em Smallville novamente. Desceu devagar e colocou Lois, já vestida,
no chão. Ela olhou para a blusa rasgada na frente e deu um nó criando dois bojos para
não deixar os seios à mostra. Clark olhou para a blusa e sorriu mordiscando os lábios,
vendo-se completamente culpado pela roupa rasgada de Lois. Ela balançou a cabeça em
negação e caminhou enfim na direção do seu carro, que permanecia no mesmo lugar.
Seria melhor passar na casa dos Kent antes, eles poderiam estar preocupados se
chegaram a ver aquele carro parado ali durante toda a noite. Clark, ainda vestido
somente em suas calças e com o peito nu brilhando ao Sol, manteve-se flutuando e
tomou os céus novamente.
Lois acompanhou o vôo de Clark até ele sumir de vista e caminhou até o carro. Abriu o
porta-malas e de lá retirou uma blusa de alça, sempre andava com roupas extras para o
caso de uma emergência. Aquilo certamente não se enquadraria nas categorias de Lois,
mas ela não se preocupou muito, olhou para um lado e para o outro trocando a blusa
rapidamente. Foi então que um forte vento a tomou novamente. Era Clark, se
aproximando pelo alto e dando-lhe um beijo, suave e quente em seus lábios. Lois foi
tomada pela surpresa, mas Clark reengatou vôo rapidamente, retomando seu destino.
Ela sorriu sem acreditar no que estava vivendo e voltou-se para a casa dos Kent, para
logo depois retornar à Metropolis.
***
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Já eram quatro da tarde quando Tess desligou o telefone na Luthorcorp. Arranjara tudo,
não havia como dar errado dessa vez. Levantou-se da poltrona de seu pai e seguiu na
direção da porta do escritório quando Clark Luthor surgiu. Tess o fitou a princípio, ele
estava vestido em seus habituais trajes, perfeitamente engravatado por baixo do colete
e do terno. Seu olhar, contudo, não era o mesmo.
“A que devo a honra de seu retorno?” Tess perguntou dando alguns passos para trás e se
recostando na mesa.
Clark levou a mão ao terno e tirou de lá um envelope branco. Caminhou até Tess e jogou
o envelope sobre a mesa.
“São documentos assinados por mim. Estou abrindo mão da herança dos Luthor. De tudo,
Tess. É tudo seu agora. Até mesmo a LuthorCorp Media.”
Tess observou Clark surpresa com a atitude dele, “Então eu imagino que esteja se
entregando completamente às suas origens?”
“Eu não preciso de dinheiro, Tess. Eu tenho tudo que preciso.”
“E imagino mais uma vez que „tudo‟ inclui Lois Lane.”
Clark preferiu não responder. Olhou uma última vez para Tess e deu meia volta, saindo
do escritório para não mais voltar,
“Adeus, Tess.”
“Adeus, Clark...”, a ruiva respondeu enquanto observava Clark a sair. Só então
caminhou na direção da estante na parede lateral do escritório, área que Clark não
atentou em sua rápida visita. Não pôde ver então que Tess estava lendo absolutamente
tudo o que havia para ser lido sobre ele e krypton.
E ela tinha um plano.
***
Enquanto Clark deixava a LuthorCorp, Lois seguia para um outro destino. Nem mesmo o
vento gelado a impediu de sair de seu carro e seguir pelo campo aberto do cemitério,
seguindo pela grama até o túmulo de Oliver Queen. Vestida em um longo sobretudo
preto sobre um simples jeans e camiseta, Lois se ajoelhou completamente diante do
túmulo, sorrindo de maneira emocionada.
“Hei...”, ela disse e as lágrimas desceram antes mesmo que ela pudesse processá-las.
“Hi, Ollie...”
Algumas das flores do funeral ainda permaneciam em torno da lápide de mármore. Lois
levou a mão à pedra por um instante, buscando forças para conversar com o que ela
imaginava que poderia representar Oliver.
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“Eu sei que você pode me ouvir... Afinal, você disse que me protegeria, não é? Eu tenho
que acreditar que eu não seguiria este caminho se não fosse o correto.. Porque você não
deixaria, certo?”
Naturalmente, não houve resposta. Lois seguiu em seu desabafo,
“Foi tão difícil, Ollie... Eu não sei se um dia irei compreender... A razão pelas coisas
terem acontecido desse jeito, eu.. Eu acho que só posso me apegar à idéia de que tudo
acontece por uma razão... Que talvez tudo o que houve tenha acontecido para que você
visse seu maior sonho se realizar, que você visse Metropolis segura, um mundo melhor...
E eu sei... Eu posso te garantir, Ollie, que as coisas estão mudando... Clark não é mais o
que era, e eu nunca o deixarei ser. Eu sinto que preciso aproximá-lo dos Kent, eles são
pessoas maravilhosas e encontraram Clark, deram um nome a ele. Lionel o roubou dos
Kent, mas a vida quis que houvesse uma reviravolta, que ele tivesse uma segunda
chance...”
Segunda chance. Lois pensou naquilo por um longo momento, apertou os beiços
angustiada com seus sentimentos. Acima de tudo, com o mais intenso deles, que se
confundia com o amor que sentia por Oliver.
“Eu acho que no fundo, todos nós precisamos dessa segunda chance, Ollie. E eu sinto
que estou tendo uma. A chance de colocar este universo nos trilhos, de ser feliz... Você
estava certo em suas preocupações, eu nunca me senti completa, Ollie... Toda a minha
vida, senti que faltava algo que completava a minha existência, que dava sentido a ela.
E agora, mais do que nunca eu tenho certeza de que eu realmente era infeliz por ser
incompleta. Eu queria dizer, Ollie, que eu não me sinto mais assim... Eu me sinto
completa, eu sinto que Clark me faz ser o que nós nunca poderíamos ser juntos... Mas
mesmo assim, Ollie... Mesmo assim eu nunca poderei tirar essa dor de mim. A dor por
ter te perdido, porque por mais que eu me sinta completa ao lado do Clark... Parte de
mim sempre irá sofrer pelo amor que senti por você... Um amor diferente, mas ainda
amor.”
As lágrimas desceram ainda mais fortes no momento em que Lois levou sua mão à
aliança, retirando-a do dedo.
“Eu gostaria tanto que me perdoasse, Oliver... Eu sempre o amarei por tudo o que você
foi... Mas agora eu preciso seguir em frente...”
Tomada pelo pranto, Lois depositou a aliança sobre a lápide e se levantou, enxugando as
lágrimas. Manteve-se parada diante do túmulo por um longo momento, assimilando ela
própria tudo o que acabara de dizer. Ao fim sorriu emocionada, em meio às lágrimas que
ainda lhe tomavam as forças. Com um movimento delicado, enxugou o rosto com a
própria manga do sobretudo e virou-se na direção do seu carro, mas algo estava errado.
“O quê..” Lois se perguntou ao ver um carro estranho parado junto ao dela. Não pôde
identificar mais nada contudo. Ao primeiro passo dado, levou um tiro de dardo certeiro
nas costas e caiu no gramado, desacordada.
***
66
Na LuthorCorp Media, Clark seguiu contente pelo corredor e adentrou o escritório de
Lois. Esperava encontrá-la lá, já que não estava em casa ou em nenhum outro lugar e a
noite se aproximava. Contudo, ela também não estava lá.
Ainda assim, Clark se aproximou ao notar uma espécie de bilhete sobre a mesa. O pegou
em suas mãos e abriu, lendo rapidamente.
“Me encontre no telhado, L.”
Ele sorriu e dobrou o papel no bolso, superacelerando em direção ao telhado do jornal.
Ao chegar lá, contudo, deu de cara com quatro homens os quais reconheceu como
seguranças da LuthorCorp.
Antes mesmo de tomar qualquer atitude ou de compreender o que estava acontecendo,
cada um dos homens abriu um invólucro de chumbo expondo pequenos pedaços de
kryptonita verde. Clark imediatamente caiu em seus joelhos, tomado pela dor que
aquele artefato lhe provocava. Os homens cercaram Clark e se aproximaram, um deles
dando um forte chute na cara do ex-Ultraman.
Desnorteado, Clark nada fez além de se deixar carregar pelos homens até o heliporto,
onde um helicóptero já estava preparado para levá-lo tendo ninguém menos do que
Lutessa a bordo.
“Estava certo, Clark”, ela disse no momento em que os homens o jogaram dentro do
helicóptero, algemado e rodeado por kryptonita, “Você tem tudo que precisa. Assim
como eu...”
E tomaram vôo, rumo a um local desconhecido.
***
67
CAPÍTULO 10
Quando Clark Luthor acordou, várias horas depois, sentia-se profundamente confuso. Sua
vista turva foi tomando forma até perceber que estava em um lugar escuro e fechado,
um galpão. Uma forte luz verde imanava de baixo e ele finalmente percebeu que estava
de pé, pendurado na verdade. Não podia ver o que o segurava, mas o barulho das
pesadas correntes esclareceu a questão no instante em que ele tentou se mexer. Olhou
para baixo, contudo: dois a três círculos verdes emanavam do chão, kryptonita. Era
aquilo o que o estava enfraquecendo. Clark tentou se soltar lembrando-se que já havia
sido vitorioso sobre a kryptonita uma vez, mas foi em vão. Seu corpo estava
praticamente dormente pela dor que o tomava, a quantidade da rocha ao seu redor era
infinitamente superior à que Oliver Queen utilizara.
“Finalmente”, uma voz conhecida soou a alguns metros a frente de Clark. Ele levantou a
cabeça engolindo em seco e percebeu a cabeleira avermelhada se aproximando na
escuridão. Uma pequena luz foi acesa perto dela e Clark pôde ver Tess com absoluta
nitidez.
“Tess...” Clark disse ainda tentando se soltar. Estava sem camisa e parecia ter levado
umas porradas enquanto estava inconsciente, a julgar pelo gosto de sangue em sua boca.
Percebeu que havia outras pessoas na parte escura do galpão, os seguranças da
LuthorCorp que o contiveram no telhado da LM. Ele se voltou para a irmã, “Você foi
longe demais..”
“Não faz idéia do quanto”, Tess respondeu se aproximando mais, “Mas estou fazendo
isso por você, Clark. Eu ainda não acredito que você jogou tudo o que tinha fora... E
tudo por uma mulher que mal conhece”
Clark sorriu com o canto de boca, “Não espero que entenda, Tess... Com os poderes que
tenho qualquer um me teria como um Deus entre os homens, então esse „tudo‟ que você
fala é nada para mim... A única coisa que eu poderia querer nesse mundo teria que ser
maior do que eu, não é?... E o amor é maior do que tudo”
“Juro que te ouço e não te reconheço falando”, Tess disse fitando-o, “Se não fosse pela
cicatriz, eu diria que você ainda é o outro”
“Posso não ser o outro, mas com certeza sou outro”, ele respondeu.
“Poderíamos ter ficado juntos, Clark. Mas você me trocou por ela. E agora eu vou te
mostrar que não valeu a pena, porque ela não te ama. Ela nunca disse que te amava, já
disse?”
Clark manteve-se calado, já que ainda que os dois tivessem se amado por toda a noite,
Lois nunca emitira aquelas palavras. Ele compreendia que ainda levaria muito tempo
para que ela pudesse aceitar uma idéia como aquela, mas também estava convicto de
que teve Lois de corpo e alma na Fortaleza e a alma não conseguiu esconder que havia
algo sim. Algo que a fez lutar por Clark quando nem mesmo ele acreditava que era
possível mudar.
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“O que você quer, Tess?” ele enfim questionou, sem compreender as reais intenções da
meia irmã com tudo aquilo.
“Mostrar que você cometeu o maior erro de sua vida me traindo, me trocando por ela.
Ela não o ama como eu, nunca amará. Para ela, você sempre será o Ultraman, o
assassino do verdadeiro amor dela, Oliver Queen... Um homem sem coração que a
mataria na primeira chance. Ela não esqueceu quem você é, Clark, quem você é de
verdade... E eu vou te mostrar.”
Tess fez um sinal para um dos capangas e ele acendeu a luz da parede atrás de Tess. Na
verdade era uma grande vidraça, mostrando um outro aposento. Clark enfim reconheceu
o lugar onde estava, era um dos galpões da LuthorCorp. Aquilo diante de si não era um
vidro comum, mas uma janela espelhada para o outro aposento. Mais luzes se
acenderam, dessa vez dentro do outro aposento visto através da janela espelhada, e a
silhueta dela enfim se mostrou para seu olhar temeroso.
“Lois?!” Clark disse contendo o grito, procurando entender o que acontecia. Uma última
luz foi acionada sobre a morena e ele enfim interpretou toda a cena. Lois estava
pendurada, da mesma forma que ele, sua camiseta suja pelo sangue que escorria de sua
boca. A jornalista deu dois fortes suspiros mostrando estar acordada, ainda que não
pudesse ver nada a seu redor por conta de uma venda preta que cobria seus olhos. Clark
não teve dúvidas que a julgar pelos machucados no corpo de Lois, ela havia sido
brutalmente torturada.
Clark olhou aquilo atônito e forçou seus braços contra as correntes, sem sucesso. Urrou
em raiva na direção de Tess, “Solte-a!! O que está fazendo, solte ela agora!”
“Eu vou soltá-la, viva ou morta eu irei”, respondeu Tess se aproximando do vidro para
observar Lois em detalhes, “Mas não antes que ela revele quem você é. Porque ela vai,
Clark, ela não é fiel a você como eu sou..”
Tess observa dois de seus capangas se aproximando de Lois dentro do aposento. O corpo
pendurado de Lois parecia não agüentar mais a dor a que tem sido afligido nas últimas
horas, mas ela também não pensara em desistir um só instante. Não sabia o que estava
lhe acontecendo, mas se tivesse de morrer ali, morreria digna consigo mesma.
Um dos capangas se aproximou e lhe dirigiu uma pergunta, a primeira desde que
chegara.
“Quem é o Ultraman?”
“Como é?” Lois fingiu não compreender a pergunta e o outro homem a socou no
estômago, arrancando um gemido de Lois que estava impossibilitada de se curvar.
Clark reagiu no mesmo instante, angustiado com a situação, “LOIS!!!”
“É uma sala blindada e com acústica à prova de som, ela não pode te ouvir...”,
esclareceu Tess se deliciando com os detalhes.
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O homem dentro da sala questionou Lois novamente, desta vez com mais ímpeto, “Qual
é a verdadeira identidade do Ultraman? Ele é um assassino e você sabe quem ele é! Diga
quem ele é!”
“Você pode me socar com mais força, amigo, porque vai ser preciso um trator para me
fazer falar sequer meu número de telefone...” Lois respondeu com desdém, chegando a
dar um leve sorriso antes de receber mais um soco, desta vez na altura das costelas. Por
certo a pancada havia quebrado uma ou duas, fazendo Lois cuspir mais sangue ainda.
“Yeap, ugh!! Essa foi para eu dizer bom dia, seus idiotas? Eu não vou falar nada!”
Os dois homens trocaram olhares e o que fazia as perguntas se aproximou de Lois,
rasgando sua camiseta e arrancando-lhe com força, deixando-a de sutiã. Clark
continuava seu esforço inútil para se soltar, mas não conseguia, não tinha como reunir
poder suficiente para libertar-se daquela prisão e principalmente, libertar Lois do
martírio que sofria. O segundo homem que batia em Lois sumiu de vista por alguns
segundos e retornou com um balde de água e dois bastões ligados a fios. O questionador
pegou o balde e jogou toda a água contra o corpo de Lois, fazendo-a ofegar
rapidamente. Somente no instante em que o segundo homem tocou um bastão no outro,
fazendo-os faiscar fortemente, Clark teve idéia do que estava por vir.
“Tess, não faça isso!” Ele disse quase implorando, ao mesmo tempo em que buscava se
soltar com raiva. A ruiva apenas sorriu, ansiosa pelo que iria acontecer.
“Vamos ver se ela vai continuar engraçada agora, não é?”
Dentro do aposento, Lois ainda procurava compreender o arranque de sua camiseta ou a
água gelada em seu corpo quando o homem voltou a lhe fazer perguntas.
“Lois Lane, estamos prontos para fazer você enfrentar o pior dos tormentos. Você pode
evitar tudo isso, só precisa nos dizer quem é o Ultraman.”
“Mesmo que eu soubesse, não diria a você, seu imbecil!”
A resposta não agradou aos torturadores e o segundo levou os bastões até o corpo de
Lois, tocando-lhe nas costas e no estômago. O corpo molhado fez com que a descarga
elétrica se espalhasse com intensidade e Lois foi sacudida de maneira aterrorizante, mal
conseguindo gritar com o intenso choque. Apenas depois de alguns segundos, o homem
afastou os bastões, deixando uma atordoada Lois a balançar, enquanto Clark se
balançava desesperado e tenso com o que estava presenciando.
“Quem é o Ultraman, Lois? Você pode acabar com este martírio agora mesmo. Não
queremos matar você, só saber quem ele é. Não deve ser difícil para você dizer seu
nome, já que ele matou seu noivo Oliver Queen...”
“Oliver foi atropelado por uma caminhonete”, Lois respondeu trêmula e ofegante,
“Ultraman não teve nada a ver com a morte de Oliver!”
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“Mentindo por você?” Tess comentou com o nervoso Clark Luthor surpresa ao ouvir a
afirmação de Lois. Os homens voltaram a torturá-la com os bastões de choque várias
vezes, até o ponto em que Lois realmente não era mais capaz de agüentar.
“Ok, ok!!! Eu vou dizer o que vocês querem ouvir!!” Ela berrou quase implorando para
que parassem. Os dois homens pararam atentos ao que ela iria dizer, assim como uma
Tess em deleite e um Clark Luthor aliviado. Ele queria que ela revelasse a verdade, pois
somente aquilo eliminaria seu tormento. Não fazia diferença para ele se ela contasse ou
guardasse seu segredo no jogo doentio de Tess, pois ele havia sido de fato um assassino.
Ele só queria que aquela agonia acabasse.
Lois respirou fundo tentando conter as lágrimas que escorriam pelo seu rosto. Ela sabia
que iria morrer, pois não havia sentido naquilo tudo que estava acontecendo. A única
saída para si própria era a verdade.
“O homem que vocês procuram não é mais o Ultraman, ele não é mais aquele assassino
cruel!”
“Nos diga quem ele é, Srta. Lane...” perguntou o torturador mais uma vez, com uma voz
de tolerância diante das lágrimas de Lois.
“Eu não posso...”, ela respondeu mordendo os lábios para então sussurrar algo que
nenhum dos dois foi capaz de compreender,
“Eu o amo”
“O que disse?” O homem com os bastões perguntou, mas Lois não repetiu. Os dois
entreolharam-se e voltaram-se para o espelho, sabendo que Tess os observava. Se eles
não haviam escutado, muito menos ela.
Contudo, Clark havia escutado. Por mais kryptonita que houvesse naquele galpão, nada
impediria sua super audição de ouvir as palavras que jamais imaginaria ver Lois proferir.
E ela o fez, em um sussurro próprio, como se admitisse somente para si mesma o que
não podia mais negar ou resistir. Ela se deu por vencida não para seus torturadores, mas
para seus sentimentos. Clark se sentiu feliz e culpado, mas não houve tempo para mais
nada. Tess ordenou que a tortura continuasse, pois ela queria saber o que Lois havia
dito. A jornalista gemeu a cada toque do bastão em seu corpo, se contorcendo sem saída
e sem mais forças. Para ela estava perdida e sozinha, não podia ver que a poucos metros
de si estava um homem desesperado para soltar-se e salvá-la. Gritou por fim, em
desabafo ao mundo,
“Eu o amo!!! Me mate de uma vez, porque eu nunca vou falar! Eu o amo, eu o amo...”
berrou mergulhando novamente nas lágrimas, parte pela dor, parte pela confissão.
Tess escutou atônita, pois não esperava que todo o processo culminasse em uma
declaração de amor. Olhou para Clark sem esconder sua irritação pela teimosia de Lois,
“Se é assim que ela quer, assim será...” ela disse e olhou para um dos seguranças,
“Matem-na.”
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O segurança passou um rádio e os dois homens dentro do aposento com Lois receberam a
mensagem de imediato. Clark olhou nervoso, travando os maxilares e reunindo forças
dentro de si pois falar com Tess não lhe adiantaria de mais nada. Só havia um único foco
para o qual teria que concentrar suas energias, e era Lois.
O capanga interrogador acionou um dispositivo que fez com a corrente descesse com
Lois, fazendo-a tocar o chão cansada até ficar de joelhos, enquanto o outro homem
desligava os bastões de choque e os jogava ao chão. Puxou então uma pistola da cintura
e apontou para a cabeça de Lois que, ainda que vendada, sabia exatamente o que estava
para acontecer.
E o homem atirou.
“NÃÃÃOO!!” gritou Clark na fração de segundo que para ele viria a se tornar uma
década. O estampido da arma acionou consigo toda a força que restava a Clark e ele
arrebentou as correntes que o continham, tocando o chão em desespero. Correu em
direção ao vidro com sua super velocidade, vendo o mundo ao seu redor em câmera
lenta, como se toda uma vida passasse em frames diante dele. Lançou-se contra a janela
espelhada cerrando os dentes e viu-se na sala de tortura perante Lois e os dois homens,
tal como uma bala viajando tão rápida quanto o próprio Clark. Estava tão próxima a Lois
que tentar pará-la não seria mais uma opção, o melhor seria tomar o lugar de seu alvo
em sua trajetória mortal.
E Clark o fez.
Lois ouviu o tiro ser dado, mas em lugar da bala, sentiu dois fortes braços a envolvê-la
completamente. O atirador, surpreso com o resultado inesperado de sua ação, apontou a
arma novamente e disparou contra as costas de Clark, assim como o outro. Os gritos de
Tess podiam ser ouvidos do lado de fora ordenando que matassem os dois, mas Lois não
podia processar nada além daquele corpo forte a envolvendo, protegendo-a. A corrente
parecia ter sido arrebentada no processo e Lois pôde remover a venda que cobria seus
olhos. Olhou enfim para Clark, que a encarava de volta trêmulo.
“Você?..” Ela disse choramingando e feliz por vê-lo. Clark sorriu levemente, sem revelar
para ela que as balas que recebera em suas costas eram na verdade de kryptonita e já
estavam alojadas em seu corpo. Ele a protegera com sua vida para um dano que lhe era
o mais mortal de todos. Tess havia pensado em tudo.
Lois pareceu sentir que havia algo errado, pois sua expressão mudou. O olhar de Clark
para ela era de extrema agonia, ainda que tentasse sorrir. Os homens se prepararam
para atirar mais uma vez, mas Clark se ergueu rapidamente e, mesmo ferido, os
desarmou com destreza, nocauteando-os contra as paredes. Sabia contudo que não
poderia com todos, não naquele estado. Os reforços de Tess estavam praticamente
dentro do aposento e só havia uma coisa a ser feita.
Clark agarrou Lois e correu com ela arrebentando as paredes que via pela frente. Foram
três até encontrar o fim do galpão localizado nas docas. Saltaram para o mar frio da
madrugada com a única esperança de que tudo terminasse bem...
72
***
“Martha, venha ver isso!” gritou Jonathan dos jardins da Fazenda Kent. Era um belo dia
de verão, bem diferente dos tempos negros que Smallville havia um dia enfrentado.
Martha correu preocupada com o chamado de Jonathan, mas ao parar diante da porta e
ver o motivo do chamado, parou sem palavras.
“Lois! Mas o que...”, disse a ruiva caminhando até Jonathan que brincava com um
cachorro de pêlos macios e castanhos.
“Gostou? Lindo, não é? Eu meio que quase o atropelei vindo pra cá...” a jornalista
explicou observando a felicidade de Jonathan com o cachorro, “E eu sou alérgica,
então...”
“Trouxe para ficar aqui?” Martha disse contente, pois adorava animais.
“Yeah, tenho certeza de que ele terá alguma chance com vocês, porque comigo nós
brigaríamos feito gato e rato... Ou gata e cachorro.”
“Ele já está se sentindo em casa”, comentou Jonathan, e Martha se agachou para
também acariciar o animal, “O que acha, querida? Podemos chamá-lo de...”
“Shelby?” sugeriu Martha. Jonathan pensou por um segundo e olhou para Lois, que
concordou,
“Bem melhor do que o nome que eu havia sugerido, com certeza...”
“E você, minha querida?” Martha disse caminhando até ela e a abraçando, “Como foi a
viagem?”
“Foi boa, Sra. Kent, eu estava realmente precisando...”
“Venha, vamos tomar um café...”
“Eu vou deixar vocês conversarem um pouco” disse Jonathan Kent voltando-se para o
cachorro, “Não é Shelby? Acho que já estamos nos entendendo, não é?”
Martha e Lois sorriram, entrando na casa em seguida. Martha serviu um pouco do café já
pronto e quente para Lois e esta agradeceu, sentando-se em um dos bancos de madeira
no balcão da cozinha. Martha a fitou de cima a baixo,
“Você está linda, Lois, ficou ainda mais linda com os cabelos mais longos...”
“Obrigada... Essa casa ficou maravilhosa” ela comentou olhando em volta.
“Exatamente como era antes”, respondeu Martha colocando um pouco de café para si.
“Eu estou feliz que esteja de volta, Lois. Já se passaram quase seis meses...”
73
“Seis meses, uma semana e três dias...” precisou Lois. Martha se surpreendeu com
aquilo, mas via em Lois uma mulher em paz.
“Ainda pensa no que houve?”
Lois sorriu levemente, tentando disfarçar a dor na lembrança cruel, “Às vezes eu acordo
escutando o som da sirene do barco, da guarda costeira... Tudo, do minuto que me
retiraram do mar até darem as buscas por encerrada, vem tudo à mente de novo... Mas
eu tenho que aceitar que ele está em algum lugar melhor, não é? Ele me salvou, não foi?
Seu último ato foi receber um estojo inteiro de balas por mim, então acho que isso deve
lhe dar alguns créditos seja lá onde ele estiver...”
Martha notou que por trás do tom de humor, Lois ainda guardava a dor pela morte de
Clark. Em uma forma muito particular, ela sentia o mesmo. Caminhou rapidamente até a
sala e abriu uma gaveta na cômoda do corredor, pegando uma pequena caixa de
madeira. Retornou para o lado de Lois e entregou a caixa a ela.
“É algo que eu gostaria de lhe dar...” Martha disse feliz e Lois abriu a caixa. Dentro, um
colar de prata com um coração como pingente. Lois olhou impressionada para o colar e
Martha prosseguiu, “Eu ganhei da mãe de Jonathan quando nos casamos... Porque eu
conquistei o coração do filho dela, acredito.”
Lois sorriu, assim como Martha, “Sra. Kent, eu não sei o que dizer...”
“Você ganhou o coração do único filho que tive nessa vida, Lois. E você o salvou,
resgatou a criança que Jonathan e eu conhecemos por tão pouco tempo... Ainda que as
coisas tenham tomado o rumo que tomaram, eu sempre vou lembrar que, por um
momento, um dia, o que seja... Ele foi heróico ao morrer por você... Assim como você
foi heróica por ele...”
Lois encarou Martha emocionada, tomando o belo colar em suas mãos. Após perder
tantas coisas na vida, jamais imaginaria ganhar uma família.
E pela forma como Martha a abraçou no instante seguinte, Lois era de fato uma filha
para eles.
***
E seis meses haviam realmente se passado, Lois deu-se conta ao estacionar seu carro
próximo ao mar no fim da tarde. Tirou os sapatos e caminhou pela areia da praia,
atravessando alguns poucos rochedos até se ver completamente sozinha, ela e o mar. O
vestido de alça branco de tecidos finos balançavam diante do vento que não vinha como
sempre viera. Parecia saber que ela estava ali para conversar com alguém.
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Lois observou o mar, nunca o vira tão calmo. Por dentro guardaria a fúria daquela
terrível noite para sempre, mas em sua superfície, trazia apenas paz.
“Hei...” ela disse olhando para o mar enquanto dava mais alguns passos, sentindo a
areia sob seus pés, “Nunca pensei que fosse ver um céu tão lindo assim... Ou o Sol, tão
vivo...”
O vento continuava a brincar com seus cabelos e Lois passou a mecha de sua recém
cortada franja para trás da orelha. Sorriu tímida e seguiu em sua conversa, “Eu não
consegui acusar Tess pelas coisas que ela fez, mas ao menos baixei a crista dela em
Metropolis... Comprei a LuthorCorp Media e mudei o nome do jornal... Se chama “Daily
Planet” agora.. Nem sei de onde tirei essa ideia para nome, acho que foi de tanto olhar
para o globo girando acima do prédio, sabe? Como se só o nome dos Luthors não se
encaixasse no cenário...”
Lois respirou fundo para continuar. Era como se só naquele momento estivesse entrando
realmente no campo das lembranças que a faziam sofrer, ainda que começasse a lidar
com elas.
“É difícil, sabe?”, ela disse quase para si mesma, “Eu olho em volta e nada faz sentido...
Este mundo... Meu mundo, não faz sentido sem você...”
Uma lágrima solitária escorreu pelo rosto de Lois, mas ela prosseguiu em seu desabafo,
"Eu nunca vou entender porque as coisas aconteceram da maneira que aconteceram...
Nós perdemos tanto, todos perderam... Mas agora o mundo parece estar ganhando...
Acho que era esse o preço, não é? Perder tudo para que este mundo encontrasse algo em
que se apoiar, se tornar mais forte? Os Kent são mais fortes hoje, e felizes... Mas até
eles sentem sua falta, sentem sua falta há mais de 20 anos... E eu sinto sua falta,
provavelmente senti sua falta a vida inteira... E só o conheci verdadeiramente por
alguns poucos dias... E foi o suficiente, não foi? Para saber que havia uma alma gêmea
para mim em algum lugar desse mundo e eu só podia enxergar isso?... E que nosso
caminho seria muito mais difícil, porque eu teria que desaprender a te odiar antes de
aprender a te amar... E ao fim, eu aprendi... Mas este é um amor que eu terei que
guardar para sempre, dá-lo às pessoas que precisam de ajuda nesse mundo.. Sendo herói
a cada passo, como você foi em seu último... Eu te amo, Clark.. E você vai morar aqui
para sempre...”
Lois recitou suas últimas palavras depositando a mão sobre o coração que ganhara de
Martha, procurando conter as lágrimas que não paravam de escorrer pelo rosto
emocionado. O vento assoprou um pouco mais forte e ela olhou para o mar, mas este
não parecia reagir à mudança de clima. Ela olhou em volta, curiosa, pois o vento ficava
cada vez mais forte, sem explicação aparente, até deixou de ser uma mera carícia para
tornar-se uma forte ventania.
Lois fechou os olhos procurando manter-se no lugar, mas a ventania passou tão rápido
quanto viera. Levou a mão aos cabelos bagunçados e os jogou completamente para trás
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tentando compreender o que havia acontecido. Olhou em volta, o céu seguia azul e
limpo, o mar calmo, exatamente como antes.
Lois então olhou para a areia, e mal pôde acreditar no que viu. Sorriu quase chorando,
mas imersa em uma grande felicidade. A areia antes lisa, estava agora marcada
profundamente, com cavidades que indicavam uma espécie de símbolo. Lois olhou em
volta ao dar-se conta de que estava de pé exatamente sobre o centro de um grande
escudo.
De um grande „S‟.
Ainda sorrindo, Lois olhou para os céus certa de que em algum lugar, seu verdadeiro
amor podia ouvi-la ou mesmo vê-la. Sorriu pela certeza de que tudo acabaria bem.
Era a mesma certeza que aquele que a observava a milhares de quilômetros de distância
também tinha. Flutuando sobre a órbita terrestre, vestido em um suntuoso uniforme
azul e envolto em uma imensa capa vermelha, Clark observou Lois Lane a sorrir para os
céus, para ele. Sorriu para si mesmo ao compreender enfim o significado da segunda
chance que recebera.
Para aquele Clark, era apenas o início.
FIM
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