Bordado de Tibaldinho

Transcrição

Bordado de Tibaldinho
Acção de Formação: ” História do Património Local”
Centro de Formação Penalva e Azurara
Bordado de Tibaldinho
Formandas:
Maria Ilda Rodrigues da silva Barreiros
Cristina Maria Barros de Matos
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Bordados de Tibaldinho ou Bordados de Alcafache
O Meio histórico-geográfico e social:
Os bordados que actualmente se designam por bordados de Tibaldinho têm a sua origem
numa área geográfica que compreendia várias aldeias do concelho de Mangualde e de Viseu.
Eram executados nas freguesias de Alcafache, Fornos de Maceira Dão e São João de
Lourosa.
A freguesia de Alcafache era a que possuía mais e melhores bordadeiras, daí este
bordado ser mais conhecido, primeiro por bordado de Alcafache e mais tarde (devido talvez à
perfeição que as bordadeiras de Tibaldinho demonstraram), por bordados de Tibaldinho.
Alcafache é o nome da freguesia, embora não haja qualquer localidade com esse
nome. No entanto, esta designação é dada à Paróquia, às Termas, à ponte sobre o rio Dão e à
estação dos caminhos de ferro ( agora encerrada ) entre Mangualde e Nelas.
É em Tibaldinho que ainda hoje se pode encontrar maior número de bordadeiras ( e parece
que foi sempre assim ). No entanto o bordado de Tibaldinho tem vindo a decair de ano para ano e
mais notoriamente nos últimos vinte e cinco anos, devido à proliferação dos tapetes tipo Arraiolos
a cuja manufactura as bordadeiras de Tibaldinho se têm vindo a dedicar.
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“Riscando” um bordado.
Cabe aqui anotar que, nesta freguesia e desde sempre, o homem ajuda a mulher nas “voltas”
da casa para ela poder bordar.
Antigamente as bordadeiras de Tibaldinho percorriam grandes distâncias, (geralmente a pé)
para irem vender os seus bordados de porta em porta. Chegavam a ir até Mangualde, Viseu, Nelas,
Caldas da Felgueira, Carvalhal de Alva, S. Pedro do Sul e, até, Luso e Buçaco.
Algumas bordadeiras iam trabalhar aos dias (por vezes às semanas e aos meses…) para as
casas ricas da região, a bordar os enxovais das noivas.
Eram executados lençóis, almofadões, almofadas, aventais de servir à mesa, jogos de quarto
e sala de jantar, toalhas, e panos decorativos em diversas dimensões e formatos (rectangular,
quadrangular e circular). A toalha de Páscoa, de grande tradição na Beira Alta, era das mais
bordadas, assim como as toalhas de baptizado.
Bordadeiras
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Em Tibaldinho os bordados eram usados apenas em ocasiões especiais, daí ser possível ainda
encontrar alguns exemplares muito antigos em boas condições.
Ainda hoje, dia de Santa Bárbara, santa venerada em Tibaldinho, se podem ver às janelas e
durante a procissão, exemplares antigos destes bordados que causam a admiração de quem os vê. É
nesta altura que saem das arcas, são lavados e engomados e aí regressam, para só no ano seguinte
voltarem à luz do dia.
Era uso em Tibaldinho, aquando da morte da bordadeira , esta levar para a cova a sua
“bandeira“, exemplar bordado por ela para esse efeito e que a acompanhava até à eternidade.
Alguns autores defendem que os bordados de Tibaldinho, tal como a maior parte dos
bordados a branco, têm a sua origem nos bordados ingleses. A sua origem perde-se nos tempos,
havendo quem a reporte à Idade Média.
Podemos classificar estes bordados em três tipos distintos, conforme as suas características:
Tibaldinho Antigo - exemplares anteriores à Primeira Grande Guerra.
Tibaldinho Regional - exemplares com oitenta a quarenta anos e que apareceram após a
Primeira Grande Guerra Mundial.
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Tibaldinho Moderno - surge com a eclosão da Segunda Guerra Mundial.
As segunda e terceira fases têm coexistido no tempo. Em Tibaldinho tanto se borda regional
como moderno.
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Materiais empregues na confecção dos bordados de Tibaldinho
Estes bordados eram originalmente executados em linho caseiro ou algodão ( tipo lençol ).
No bordado utilizavam-se fios de algodão baço, embora, em alguns exemplares antigos já
apareça o algodão ligeiramente mercerizado.
Actualmente são empregues os materiais que a seguir se descrevem:
Linhas:
No bordado de Tibaldinho empregam-se, no mesmo trabalho, linhas de diferentes espessuras:
de dois ou três cabos ( como são designadas em Tibaldinho as linhas de dois ou três fios).
Assim, e conforme se trata de ilhós, óculos de rede, rodízios, crivos e folhas abertas é
usada a linha de dois cabos. Nos bordados a cheio, folhas, machocas, pastas e recorte usa-se a
linha de três cabos.
Ultimamente algumas bordadeiras usam o mesmo fio para todo o bordado.
As linhas vendem-se em meadas ou novelos nas lojas comerciais de Mangualde e Viseu.
São usadas linhas comerciais da marca “ Águia” nº 12, 15 e 16, “ Coração “ “ D. M C” e “Âncora”.
Actualmente as bordadeiras dão-lhe o nome de “linhas de lustro”.
Panos:
Os bordados mais antigos eram executados em linho de fabricação caseira, facilmente
reconhecida pela estreiteza e urdidura. Eram ligados à mão em ponto de “luva” e alguns, mesmo
depois de cem anos ainda conservam os pontos em bom estado.
A partir da fase regional, empregam-se panos de algodão ( tipo lençol ) de qualidades
variáveis.
Na actualidade, tem vindo a empregar-se o linho industrial, talvez devido ao elevado preço e
qualidade dos bordados que justificam um maior investimento nos tecidos.
A maior parte dos panos são adquiridos nas casas comerciais de Mangualde e Viseu.
Antigamente eram comprados nos armazéns, muitas vezes ao peso, aproveitando-se
geralmente restos de peças.
Agulhas:
Empregam-se agulhas normais, de preferência do tipo mais curto.
Luva:
Pequena almofada que a bordadeira usa sobre os joelhos, feita de trapos, de forma oval
arredondada com uma dobra num dos lados, onde se guarda a tesoura, dedal, agulhas e pontas de
linha.
A tesoura é presa à luva por um “ourelo” de cerca de 60 cm.
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Neste bordado popular não se usam “ furadores” na feitura dos ilhós. Estes são feitos à
tesourada, conforme se vão bordando. Daí raramente ficarem redondos, mas, sim, ligeiramente
quadrados ou ovais.
Esta característica transmite ao bordado uma beleza própria.
Os crivos ou rede são feitos sem “arcos” e pelo direito.
Os enleios têm uma maneira particular de serem feitos ( que focaremos em pormenor mais à
frente)
As bordadeiras de Tibaldinho trabalham normalmente ao ar livre, sentadas nos degraus
de suas casas.
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Coroa de Rei
Baseada num original com cerca de 150 anos é uma verdadeira fonte que tem inspirado a
evolução dos bordados de Tibaldinho. É riquíssima de elementos: remate da coroa, óculos de
rede, machocos redondos canotilhos, ilhós (simples e com sombra) curvas espiraladas, crivo,
pontos entrançados, trevos, arcos bordados, com ponto entrançado sobreposto e o característico
pompom.
Alguns pontos do bordado de Tibaldinho
Ilhós
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Ponto Espinhado ou Espinha de cobra:
Aparece a contornar e a incorporar vários motivos (letras, curvas, espirais, etc.). Nas hastes
finas usa-se simples, nas mais partes usa-se duplo.
Ponto de pompom
Muito empregue nos bordados primitivos (ver a Coroa de Rei)
Ponto de Cordão ou lançado:
Na forma simples - usa-se na execução de ilhós, rodízios, folhas abertas, hastes florais,
contornos e na segunda espiral de alguns “enleios”.
Na forma trabalhada era usado nos bordados antigos, nas letras, monogramas, hastes das
folhas de carvalho, ramagens e folhagens.
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Verdes Gaios
Quatro pequenas folhas abertas, dispostas em cruz, com uma pasta minúscula no meio.
Usam-se isolados ou na decoração de espaços.
Ponto de Recorte ou caseado
Aplica-se no típico remate que limita os bordados de Tibaldinho. Utiliza-se nos “óculos de
rede”, e nos “arquinhos”. Também se utiliza no contorno de alguns crivos.
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Borbotos ou nozinhos
Também se fazem a seguir uns aos outros, como os “enleios”. Quando feitos em carreiras
paralelas preenchendo espaços, formam um”ponto de fundo”.
Patas de Galinha
Parecidas com a impressão deixada pelos galináceos no chão.
São três folhinhas abertas ou cheias, dispostas em ângulo recto ou agudo. As laterais são
recuadas e a do meio, na bissectriz, mais avançada. Saem todas três de um ilhó, de uma haste, de
um rodízio, etc.
Correntes ou cadeados
São arcos de ilhós que fazem a ligação entre os “enleios”. Têm um só arco de três, cinco ou sete
ilhós.
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Estrelas
Motivos em forma de estrela constituída por pequenas folhas abertas ou fechadas. Decoram
espaços, intervalos ou ocupam centros de composição. Por vezes, formam conjuntos ou aparecem
em alternância com outros motivos.
Silvas
São um dos mais belos motivos de Tibaldinho.
Desenvolvem-se agrupadamente num plano perpendicular ao eixo da nervura das curvas ou
dos enrolamentos, uma de cada lado, simetricamente
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Canoas
São arcos constituídos por séries de ilhós alternados de um e outro lado com uma cercadura
de borbotos ou de cordão paralelo. Normalmente são intercaladas com outros motivos.
Crivos ou redes
Podem ser :
“De uma perna” – quadrícula mais aberta e feitos na diagonal.
“De duas pernas”- abertos medianos ladeados de abertos mais pequenos.
“De três pernas” – abertos médios, intercalados de dois outros mais pequenos.
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Pastas
Elementos decorativos arredondados, aplicados isoladamente. Fazem-se a ponto lançado,
cheio. Alguns apresentam forma de pevide.
Óculos de rede
Motivo de Tibaldinho, por excelência. Consistem em aberturas de forma circular
contornadas a “ponto de recorte” e preenchidas por passadeiras duplas torcidas. Podem ter de oito a
catorze passadeiras. Aparecem como centros florais isolados ou como elementos intercalares. Por
vezes, são enriquecidos por borbotos à volta.
Rodízios
Semelhantes às “cavacas” da Madeira, usam-se isolados ou a preencher espaços. Podem
formar conjuntos de sequências e cercaduras. Por vezes empregam-se como centros de outros
motivos principais, decorados com folhas.
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Dentes de rato ou machocas serrilhadas
Devem ser feitas com o bico bem acentuado. Executam-se com o ponto lançado, mais largo
na parte média, mas saliente e muito reduzido na parte mais funda. Empregam-se na feitura de
folhas e no contorno de corações, flores, arcos, crivos, letras, etc.. Quando são arredondados tomam
o nome de machocos que podem ser redondos ou de pevide conforme a configuração.
Ponto a fugir ou ponto-pé-de flor
Usa-se nas hastes ou nos contornos. Faz-se de forma alongada (daí o nome).
Enleios
Trata-se de uma série de ilhós geralmente em espiral. São feitos de uma maneira peculiar: a
bordadeira faz o primeiro ilhó de uma série e, logo a seguir, passa às metades exteriores de toda a
série, sem partir a linha, passando de metade para metade (pelo avesso). Quando atinge o último
ilhó, este é feito inteiramente e procede-se ao acabamento das outras metades.
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Exemplares de Tibaldinho antigo
Monograma
Monograma
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Toalha de Páscoa
Toalha de mãos “Borboleta”
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Toalha de Páscoa com Girassóis e Sementes
Esquema do “risco”
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Toalha (ou lençol?) com “arcos ogivais”
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Lençol do “Coração com chave”
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Bibliografia consultada
Almeida , Fernando Louro de “Bordados de Tibaldinho ou Bordados de Alcafache”
Magalhães, Calvet de “Bordados e rendas de Portugal”
Silva, José Manuel Azevedo e “Bordados de Tibaldinho”
Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira
Escola Democrática
Trabalho realizado por:
- Maria Ilda Rodrigues da Silva Barreiros
- Cristina Maria Barros de Matos
no âmbito da Acção de Formação “História e Património Local” do Centro de
Formação Penalva e Azurara.
Mangualde, 8 de Abril de 2002
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