Coisa de - Folha Carioca

Transcrição

Coisa de - Folha Carioca
CIDADANIA &
SUSTENTABILIDADE
Mudanças de hábito
para um consumo1
consciente
comes &
bebes
A profunda ligação
entre cinema e
gastronomia
ARTE &
CULTURA
Literatura erótica:
Drummond, Brigitte
Causse, Mano Melo
e Enoli Lara
Coisa
de criança
Pérolas da lógica muito
peculiar dos baixinhos
2
3
www.pommerland.com.br
sumário
sumário
capa
Entrevista Zezé Motta
www.folhacarioca.com.br
Fundadora
Regina Luz
Conselho Editorial
Paulo Wagner (editor executivo)
Lilibeth Cardozo (editora de conteúdo)
Vlad Calado
Arquimedes Celestino
Fred Alves
A Folha deste mês oferece um
pouco da história de nossa grande
artista Zezé Motta, contada por ela
mesma. Maria José, a Zezé, é gente
nossa: brasileira, negra, artista de
viver, de interpretar e cantar. Nascida
em Campos dos Goytacazes, veio
ainda criança viver no Rio de Janeiro,
no morro do Cantagalo. Daí, Zezé
ganhou o mundo das artes e não
parou mais. Nos palcos, encanta.
Em casa, é mãe, amiga, mulher de
muitas tarefas. Amiga desde menina
de outras grandes atrizes como Marieta Severo e Marília Pera, guarda
suas amizades com carinho. Em um
país de história escravocrata, Zezé
não deixou de lutar pela libertação de
seu povo negro. Fez parte do elenco
de Roda Viva à época da ditadura, e
Xica da Silva foi seu grande papel ,
levando-a ao estrelato. Divirta-se
com um pouco da história de Zezé
e encante-se com o sorriso largo e
simpático de uma mulher carioca que
leva sua cor no colorido da arte aos
palcos do Brasil e do mundo.
Jorge Souto
[email protected]
Jornalista responsável
Fred Alves (MTbE-26424/RJ)
Design e Criação
www.Ideiatrip.com.br
Projeto gráfico
Vlad Calado
Foto de capa
Jorge Souto
4
Diagramação
Yuri Bigio, Carlos Pereira, Marcos
Vilaça
Fotografia
Arthur Moura, Fred Pacífico
Revisão
Marilza Bigio e Carmen Pimentel
Colaboradores
Alexandre Brandão, Ana Flores, André Leite, Arlanza Crespo, Carmen
Pimentel, Fred Alves, Gláucia Pinheiro, Gisela Gold, Haron Gamal,
Iaci Malta, Lilibeth Cardozo, Marilza
Bigio, Oswaldo Miranda, Renato
Amado, Sérgio Lima Nascimento ,
Suzan Hanson, Tamas
Distribuição
Gratuita, veja na página 42 os pontos
de distribuição e assinatura postal
Publicidade
Verônica Lima, Angela Bittencourt,
Solange Santos
(21) 2253-3879
[email protected]
Uma publicação:
22
colunas &
artigos
06 Arlanza Crespo
20 Alexandre Bandão
07 Lilibeth Cardozo
www.arquimedesedicoes.com.br
Av. Marechal Floriano, 38 / 705
Centro – Rio de Janeiro – RJ
CEP.: 20080-007
19 Iaci Malta
32 Oswaldo Miranda
Quem é Quem
12 Gisela Gold
18 Suzan Hanson
No Osso
28 Carmem Pimentel
Língua Portuguesa
30 Bijux in the Box
33 Tamas
33 Ana Flores
38 Haron Gamal
editorial
saúde &
bem-estar
9 Pele seca
envelhece:
hidrate
COMES &
BEBES
14 Cinema e
gastronomia
Educação &
conhecimento
26 Coisa de Criança
ARTE &
CULTURA
34 Literatura
erótica:Carlos
Drummond
de Andrade,
Brigitte Causse
Caferro, Mano
Melo e Enoli
Lara
cidadania &
sustentabilidade
40 Pequenas escolhas,
grandes transformações
Uma urna
de boa leitura
Nós fazemos a Folha Carioca para você, leitor. Queremos, a cada mês,
ganhar sua atenção e lhe oferecer uma leitura agradável, com uma apresentação
sempre muito bem cuidada. Portanto, nos escreva, comente, critique, sugira e
recomende a Folha aos amigos. Ninguém é mais importante que você.
Neste mês, com as eleições municipais, nossa cidade está vivendo intensamente a disputa partidária e de candidatos à prefeitura e à Câmara de
Vereadores. Quando quase todos os veículos de comunicação estão voltados
para as disputas, fizemos uma revista leve com textos agradáveis e interessantes.
Acreditamos seriamente na importância da administração de nossa linda cidade,
nos problemas e nas soluções propostas por homens e mulheres que têm
planos, mas, apartidários, preferimos oferecer poesia, histórias, personagens
e acontecimentos do Rio de Janeiro que sempre nos dão orgulho de sermos
cariocas. Assim, seguimos nossa linha de fazer comunicação: leveza com
muita seriedade. Vá folheando a revista e se divertindo. Alexandre Brandão,
em tempos de eleições, nos regala com uma crônica em que lemos pérolas
como “Democracia é também o ciscar da galinha, quero dizer, a coisa simples
da vida comezinha” (pág. 26).
Nossa capa já oferece ao leitor uma bela expressão de grito forte da grande
artista Zezé Motta, nossa entrevistada. Sua fisionomia bonita, forte e muito
expressiva, mostra o grito de cada carioca pedindo por nossa cidade. Pedimos
licença a Zezé para ilustrarmos com seu grito o quanto a Folha Carioca brada
pelo bem da cidade. É um grito de basta de desmandos, transgressões, inverdades. Queremos os e as “zezés” cariocas com largos sorrisos de alegria em
viver no Rio de Janeiro. Negra e guerreira como a Zezé Motta, trazemos um
personagem carioca que merece ovações. Confira quem é Laura, na página
6. Uma medalhista de velocidade nas raias de atletismo que acalma sua alma
e conserva sua aparência jovem com um belo sorriso, pescando nas tardes
bonitas na murada da Urca. Laura, com 76 anos, tem energia e alegria sobrando para oferecer a muitos jovens. Leia o exemplo de saúde, destemor e
batalha dessas duas mulheres! Zezé e Laura são nossas cariocas eleitas pelo
voto do reconhecimento!
No mês das crianças, trazemos algumas boas e divertidas falas dos pequenos
que estão sempre nos ensinando. Fazendo perguntas aos pequeninos, ouvimos
da pequena Maria Eduarda: você está perguntando por que é jornaleira, não é?
E selecionamos algumas frases que nos fazem rir. E risos celebram crianças! Leia
na página 18 e delicie-se com as fotos lindas dos nossos pequenos cariocas.
Carmen Pimentel , no texto Percalços da Língua, nos ensina e nos diverte
com as armadilhas dos verbos irregulares. Carmen quase escreve: “eu fazi um
texto legal”. Ela merecia!
Tem muito mais na edição de outubro. Nossos articulistas levam os leitores
ao amor de amantes, no erotismo de Drummond, Mano Mello e Enoli Lara.
Tem cuidados com a pele, comida e confiança e a boa mistura de cinema e
gastronomia muito bem sentido e escrito por André Leite. Oswaldo Miranda
rende homenagem ao grande Nelson Rodrigues, e não falta poesia e coisas
de família nos textos da revista do início da primavera carioca.
Boa leitura!
Conselho Editorial
5
A rlanza Crespo | QUEM É QUEM
[email protected]
Ser e não
transparecer
6
Quem quiser conhecer uma
das melhores velocistas do
mundo, que já representou
o Brasil em três continentes;
quem quiser saber sobre as
680 medalhas dessa grande
atleta da Seleção Brasileira,
também professora de
Educação Física, e tudo mais
sobre sua vida profissional é
só ir ao Google e digitar Laura
Eunice das Chagas. Vai encontrar muita coisa. Mas quem
quiser conhecer a Laura, sua
simpatia e alegria, leia esta
entrevista.
Marcamos por telefone, eu não a
conhecia pessoalmente. Ela me disse:
“Espero você às 16h no ponto final do
ônibus 511, na Urca”. “Mas como vou
saber quem é você?" perguntei. "É fácil, sou
pretinha e magrinha". E lá fui eu, de táxi.
Cheguei cinco minutos antes, mas ela já
estava lá, cheia de energia, com um sorriso
maior que o rosto. Simpatizei de cara!
Laura nasceu em 1936, em Santa Cruz. É formada em Educação
Física pela UFRJ em 1968, com pósgraduação em 1969. Fez também
Faculdade de Pedagogia e trabalhou
como professora em escolas particulares. É árbitra da Federação do RJ.
Para ela, tudo foi conseguido através
de muito estudo, e teve a sorte de
sempre estudar em bons colégios.
Sua mãe trabalhava como cozinheira
na casa do ministro Edgard Romero
e morreu quando Laura tinha quinze
anos. Mas Laura continuou morando
lá até se estabilizar na vida.
Estudava no Colégio Leitão da
Cunha em 1953 quando começou a
competir influenciada pela professora
de Educação Física, que fazia uns jogos
internos no Colégio. “Ela me observava e dizia que eu tinha nascido para
ser atleta. E eu perguntei: ‘O que é ser
atleta?’ Ela me explicou e disse que
no ano seguinte ia ter uns jogos pelo
Jornal dos Sports, e eu ia competir.
Comecei em corrida, 50 metros, e
venci o Anglo Americano no salto
em distância. Quando foi em 1955,
o Anglo Americano me chamou e me
deu uma bolsa de estudos. Fiquei lá
até 1959 e ainda tenho uma grande
amiga dessa época chamada Helena
Fernando Martins”.
Com 19 anos, Laura já era dona
do seu nariz e foi morar sozinha. Trabalhou no Hospital Souza Aguiar, no
Salgado Filho, fez concurso público,
passou em primeiro lugar, sempre
vencendo pelos próprios méritos.
Nunca quis se casar. Uma vez namorou um rapaz por quatro anos,
mas ele não estudava, não deu certo.
Laura sempre pensou no futuro.
Laura mora sozinha, no Méier.
Sua vida é baseada na disciplina, como
deve ser a de todo atleta. São cinco
refeições por dia, sem nunca sair do
sério. "Estou no que chamo de terceira fase da vida. Nessa fase, temos mais
do que nunca ter disciplina. A terceira
fase é o fecho do ser humano".
Quando não está competindo,
ela está pescando. São quarenta anos
ali na Urca. O que ela pesca? Olhode-cão, cocoroca, bagre. Mas os
recém-nascidos voltam para o mar, só
os maiores é que vão para a panela.
Setenta e seis anos, 1,54m de
altura, 680 medalhas no currículo,
sempre competindo. Laura foi atleta
do Vasco da Gama, de 1954 até 1965,
quando o clube acabou com o atletismo. Depois ela foi para o Botafogo,
onde está até hoje e é sócia emérita.
"Qual o reconhecimento que o país
lhe dá?", perguntei. De novo o sorriso
bonito: "Nenhum, sempre fiz tudo
às minhas custas, pagando do meu
bolso, sem patrocínio". Mas não tem
ódios nem rancores. Seu júbilo é ser
agraciada lá em cima: "Minha mãe
deve ter dito: Senhor, não dê nada
para mim, dê pra ela".
Só este mês, Laura já ganhou oito
medalhas. No Rio de Janeiro, agora
em outubro, tem o campeonato estadual, e tem só ela representando o
estado. "A crioula aqui é danadinha!".
Quando perguntei qual o título
que gostaria de ter na história de sua
vida, a resposta veio rápida: "Ser e
não transparecer". Realmente, quem
vê aquela baixinha, magrinha ali sentada no muro pescando, nem pode
imaginar que está diante de uma
grande atleta, várias vezes campeã
brasileira!
l
ilibeth cardozo
[email protected]
Voltar à casa materna
Escrevo um texto de saudade. Difícil não manchar o papel que fica enrugado, quase
solidário às minhas lágrimas. Fui visitar minha cidade natal, a casa dos meus pais. Lá, onde
nasci, cresci e fui velar os corpos dos meus irmãos recentemente. De coração apertado de
tantas saudades, fui buscar um pouco da minha história para me deleitar com lembranças.
Chegando ao município,
já fui sendo abraçada pelas
serras que enfeitam os limites
do território: ainda verdes,
serpentinas da Serra do Mar
envolvem a pequena cidade.
No centro, uma agressão aos
ouvidos: o barulho intenso
de muitos e muitos carros! A
cidade do automóvel! Mas não
me aborreci, embora sentisse
saudades dos tempos mais
silenciosos, quando as pessoas
caminhavam a pé. Meu intento
era ir à casa onde nasci e vivi até
vir para a Universidade, aos 17
anos. A casa da minha mãe era nossa
referência de origem, nosso ninho para
aconchegos, a casa para voltar, nossa
casa de festas. Morreram meus avós,
meus tios-avós, meus pais e todos
os filhos foram saindo. Ficaram meus
irmãos. Um deles, nunca saiu, e lá era
sua casa sempre. O outro, depois de
um casamento desfeito, voltou. Depois
de muitos anos, a referência da casa da
vovó, onde moravam os dois, num
repente, de um mês, velou os corpos
deles, meus únicos irmãos. No jardim
daquela casa, flores eram cuidadas por
um deles, os cães eram o xodó do
outro. O canto do corrupião do meu
irmão foi ouvido a noite toda de sua
partida. Ao voltar à casa, encontrei saudades. Tudo vazio. Entrei buscando os
sons de minha infância: a algazarra da
grande família, crianças, adultos e idosos, todo mundo família! No jardim, a
grama já não é tapete aparado. O mato
cresceu por entre as plantas que eram
bem cuidadas. Algumas já tombam por
falta das mãos que as regavam. Nunca
encontrei cores falsas nas flores do
jardim da minha mãe. Apesar de vazia
fica pouco espaço para ausências. Entro
e vejo logo que casa de mãe tem viga
forte e sustenta do chão à cumeeira.
Em casa materna, a vida inteira, as
imagens da família dançam nas sombras
de cada janela. É casa bem
assombrada! E saudade tem
som e cheiro. As lembranças
tomam meu coração e saem
desenhando as histórias das
emoções. Cheiro do barulho
das crianças e o barulhinho
de vida na fervura do feijão
na cozinha. Som entrecortado pelas batidas do alho
socado para o tempero. O
corrupião cantando solene
enquanto salta nos poleiros
da gaiola. Os latidos dos
cães, a vassoura de piaçaba
varrendo as folhas do quintal,
e as cores viçosas das flores que emolduram o muro envelhecido. Tudo tem
vida nas lembranças! Saudades podem
também fazer muito bem. Não tenho
vontade de chorar; só de recordar.
Onde estão todos? Casa vazia é quase
nada. O que dói, arranha, machuca, é a
falta daquele calor do corpo do irmão
que partiu. Mistério não é esse tanto
de vida que tivemos juntos . Mistério
é a morte!
7
SAÚDE
&
BEm-ESTAR
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O reducionismo da medicina
Terapêuticas diversas > apenas alopatia
8
Tive a honra de ter sido convidado para com ele trabalhar pelo professor Carlos Chagas Filho, diretor do
Instituto de Biofísica da Universidade
do Brasil e titular da cadeira na então
Faculdade Nacional de Medicina.
Foi ele o meu primeiro contato
com nossa profissão e, a cada tempo
que passa, aumenta o meu orgulho
em relação à nossa convivência. O
ano era 1959 e em julho fui convidado para participar do Congresso
Internacional de Fisiologia, presidido pelo Premio Nobel, Bernardo
Houssay. A maior produção brasileira
era do nosso Instituto. Em 1972 foi
convidado para presidir a Pontifícia
Academia de Ciência no Vaticano
e lá ficou por 16 anos. Foi um dos
(ou talvez o mais) que mais recebeu
prêmios nacionais internacionais.
Digo tudo isso para mostrar que
o meu pensamento médico teve
origem na área científica. Meu chefe
direto, Antonio Paes de Carvalho que
acabara de se formar e já era citado
no “Best and Taylor”, livro de fisiologia
adotado por quase todas as escolas
de Medicina. À nossa volta, cientistas
de reconhecimento internacional,
como Chagas, e simples como ele.
E com ele aprendi a humildade da
ciência que, na atualidade, se arvora
em dona da verdade. “Comprovado cientificamente” era um termo
nunca usado. Dizia ele que a ciência
demonstrava com os dados forneci-
dos para estudo, um pensamento que
poderia ser alterado por menor que
fosse a alteração dos dados. E era o que
víamos: demonstrações desmentidas
por novos estudos, sem acusar de errôneos os estudos anteriores. Mostrava
nas entrelinhas que a função da ciência
é saber fazer as perguntas e montar os
estudos. A veracidade das respostas
será sempre passageira.
Chagas não aceitava verdades
aleatórias. Quando disse a ele que eu
iria fazer o MBA disse: “Pela primeira
vez temo pela Clínica São Vicente”. Já
percebia que a administração estava
se tornando reducionista, como a
mente da maior parte das pessoas.
Eu me matriculara nesse curso logo
após terminar e defender a tese do
mestrado em filosofia que tinha como
sub-título “Medicina – um encontro de
pessoas”. Foi nesse mestrado e sempre
lembrando o comentário dele, que abri
as portas do conhecimento amplo da
Medicina. Fui às suas origens e percebi
então o que seria a ciência ela aplicada.
As curas eram, dependendo de onde
e da época, feitas por shamans, magos, sacerdotes, filósofos e finalmente
cientistas, a partir de Vesalius. Isto nos
mostra que a ciência tem pouco mais
de 600 anos enquanto as curas diversas
têm milênios. Por que então reduzir a
Medicina a um de seus métodos de
estudo?
Vemos em nossos dias a crescente conscientização dessa distorção.
Cresce o interesse e a crença em
métodos outros de terapia, alguns
antes descartados pela alopatia e alguns
reintegrados, ou seja, mostrando que
as verdades científicas são passageiras.
Entre outras tantas estão: Homeopatia, Acupuntura, Fitoterapia, Medicina
Ayurvédica, Medicina Ortomolecuar
e mais recentemente Medicina Quântica e Medicina Espiritual. A aceitação
dogmática da aloterapia traduz uma
crença cega de que o conhecimento
parou em outras épocas. Ela tem uma
ação reconhecida em situações agudas,
mas há algumas dúvidas em relação às
patologias cronificadas.
O estudo filosófico alargou meu
campo de conhecimento. Colocava
questões que eu não conseguia responder. Passei a ler, me comunicar e visitar
com pensadores diversos que tinham,
em relação à Medicina olhares mais
ricos, fruto de observações e reflexões
muito mais amplas que o olhar da Ciência. Entre outros Edmund Pellegrino e
Robert Veatch em Washington, David
Thomasma em Chicago, Eric Cassell
em Nova Iorque e, no Brasil, Genival
Veloso de França em João Pessoa
e Gilberto Freyre em Recife. Esses
mestres com sua envergadura pelo
visto conheciam mais a Medicina que
muitos professores e outros luminares
da prática médica.
A Medicina jamais progredirá se nos
ativermos aos conhecimentos atuais
e tomá-los como verdade absoluta e
imutável. Lembremos que a ciência
não explica a psicoterapia nem o
efeito placebo, mas aceita ambos,
mesmo que os seus resultados não
sejam “comprovados cientificamente”. Por que então se colocar frontalmente contra esses métodos?
Devemos sempre nos lembrar que
a ciência é um método de estudo e
a alopatia é um modo de praticar a
Medicina. Nem um nem outro são
verdades absolutas. Mas são a base
para desenvolvermos os novos
conhecimentos.
A Medicina alopática entregouse a medicamentos químicos com
efeitos colaterais e custos crescentes, a cirurgias agressivas por
vezes mutilantes, a máquinas cada
vez mais complexas, a próteses
diversas, a exames de todos os
tipos e passou a desconsiderar a
integralidade do paciente. Todos
eles podem ter um uso, mas rapidamente se institucionaliza o abuso.
E aí está a grande contribuição das
chamadas medicinas alternativas.
Crescem rapidamente em
tempo e intensidade os desvios
da Medicina. Mas vemos, no nascedouro, mas já tomando corpo,
a conscientização a esse respeito,
recolocando o paciente, para quem
deve estar voltada a missão médica
e entendendo que sem a relação
médico-paciente é o cerne da
Medicina.
EMERGÊNCIA
Tel.:2529-4505
Luiz Roberto Londres
é médico e diretor da Clínica
São Vicente.
GERAL
Tel.:2529-4422
Estética e beleza
Pele seca envelhece:
hidrate
CONHEÇA A
REVOLUCIONÁRIA
DEPILAÇÃO
SEM DOR.
O ressecamento da pele é comum nesta
época do ano e pode ser causado por
diversos fatores: desde um banho quente
e demorado até o mau uso do hidratante
Gláucia Pinheiro*
O mês de outubro é muito especial! Com a chegada da primavera,
a natureza nos dá de presente dias
quase perfeitos. Hoje, por exemplo,
ainda é de manhã e o sol está lindo,
o verde das matas está mais verde e
entremeado de árvores floridas, de
diferentes cores. O mar, só não está
mais azul do que o céu. A época também é de ventos… uma delícia sentir
esse ventinho fresco e perfumado
que agora está soprando mais forte!
Entretanto, é conveniente prevenir
nossa pele contra o ressecamento,
que envelhece.
A superficie da pele é constituída
pelo manto hidrolipídico, uma mistura
de sebo e suor, que tem função de
manter o nível de hidratação e de
lubrificação adequadas da pele. O
vento, as mudanças bruscas de temperatura, o ar seco e o ar condicionado provocam a evaporação da água
da nossa pele tornando-a desidratada.
Com o envelhecimento, ocorre diminuição das taxas hormonais, e a pele
se torna ainda mais desidratada. Alguns medicamentos também facilitam
esse processo como, por exemplo,
os diuréticos. É importante observar
que produtos que eliminam a gordura
superficial da pele também provocam a desidratação. Um exemplo
é o uso excessivo de adstringentes.
Uma pele oleosa pode ficar
desidratada.
Podemos identificar a
pele desidratada e seca porque ela se apresenta áspera,
sem brilho e sem elasticiddade. Cuidados devem
ser tomados com relação a algumas
práticas como banhos quentes e demorados e, principalmente, usando
sabonetes com pH alcalino (os em
barra apresentam pH próximo de
10). Os sabonetes líquidos podem
ter o pH ajustado para próximo ao da
pele, isto é, entre 5,5 e 6,0, o que os
torna menos agressivos. No final do
banho, ainda sob o chuveiro, passe
um óleo de semente de uvas ou de
amêndoas doces, retire o excesso
com água, e após secar o corpo com
a toalha, aplique um bom hidratante,
que deve ser aplicado enquanto a pele
ainda está úmida. Você encontra no
mercado hidratantes específicos para
o rosto e para o corpo, que podem
conter ureia, óleo de girassol, PCANa, aloe vera, ácido hialurônico, ceramidas, elastinol, colágeno marinho
ou de origem vegetal, óleo de arroz,
complexos vegetais tipo hidroglicólico
composto por cereja, framboesa e
amora, e muitos outros.
Para o rosto, é importante consultar um especialista que vai adequar
INDOLOR
UNISSEX
DURADOURO
as formulações de acordo com seu
tipo de pele. Se for oleosa, os ativos
hidratantes devem estar sob a forma
de géis ou loções oil-free; se for mista,
o tratamento é combinado, isto é, um
produto oil-free ou gel, ou gel-creme
na zona T (testa, nariz e queixo) e
outro nas bochechas.
Você também encontra ótimos
produtos para a hidratação das pálpebras e dos lábios, que são áreas mais
delicadas e deficientes em glândulas
sebáceas. Para os lábios, é indicado o
uso de formulações que contenham
hidratantes associados aos filtros solares. As formulações para os olhos
devem ser específicas, pois alguns
ativos são potencialmente irritantes e
podem entrar nos olhos quando aplicados, ou durante a noite, ao deitar.
Atenção, o protetor solar não
pode ser esquecido e deve seguir a
mesma regra. Inicie os cuidados agora
e prepare-se, pois o verão vem logo
depois!
* Glaucia Pinheiro é farmacêutica
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O grito da avó de Eduarda
Eduarda, de doze, tinha mania de ver as coisas sem perguntar
para o pai o que era para achar. E num desses desatinos, a menina
em excursão pelo colégio, viu um dos quadros em que um moço
aparecia com as duas mãos segurando a face, com a boca aberta.
A moça do museu falou que é um quadro famoso: “O Grito”,
de Munch. Ao chegar em casa, a menina contou ao pai sobre a
excursão e comentou o tal quadro.
12
- Paiê, a moça disse que o quadro
do tal do Munch, da Noruega, era
importante. Ouvi ela falando assim
pra moça mais velha, até anotei, ó: “A
obra representa uma figura andrógina
em momento de profunda angústia e
desespero existencial”. Parece outra
língua. Isso é Português, pai? A única
coisa que me lembrei é da mamãe
que fala muito essa palavra “angústia”
quando tem problema. Mas deve ter
alguma coisa de problema, claro, né,
pai, se tem grito, óbvio que vai ter
problema. Ããããã! Engraçado, não vi
nada disso. Pra mim aquela figura com a
cabeça entre as duas mãos me lembrou
a vovó quando a gente deu um susto
com a barata debaixo da poltrona dela.
A cara dela ficou assim. Mas depois que
ela soube que fui eu quem colocou a
barata, ela gritou e me deixou sem bolo
de chocolate de sobremesa. No dia
seguinte, eu escrevi que amava ela no
caderno de receita e ficou tudo bem.
Eduarda, de doze, tinha mania de
ver as coisas sem perguntar pro pai o
que era pra achar. No dicionário dos
afetos, isso se lê “liberdade”.
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comes
&
bebes
Cinema e
gastronomia
TEXTO_ANDRÉ LEITE
14
A gastronomia é uma arte que
envolve todos os sentidos; mas, sem
sombra de dúvida, tudo começa pelo
visual. Talvez seja por isso que com o
cinema haja um relacionamento tão
íntimo. O fato é que ambas as formas
de arte são extremamente eficientes
em emocionar as pessoas.
Desde os primeiros filmes, a gastronomia sempre esteve presente. A
arte dos irmãos Lumière reflete as nuances da vida, e a comida tem servido
no cinema para celebrar, reunir, seduzir,
presentear, matar e mostrar como os
relacionamentos quase sempre existem
em torno da mesa ou na cozinha.
Segundo Bruno Adnet, colunista
do site CineFanático Brasil, “todo filme
tem uma estória pra contar, e a culinária
pode ajudar muito a desenvolvê-la. Os
que têm cenas envolvendo gastronomia, seja na cozinha de um restaurante
gourmet ou de um pequeno apartamento, podem nos mostrar a magia
dessas duas artes juntas. O cinema
ajuda a mostrar para o mundo como
e quão importante é a arte de cozinhar
e preparar pratos, sejam eles complica-
dos ou simples. Grandes personalidades do mundo se expressavam através
de sua comida. Nunca poderemos
provar da cozinha ou conversar com
várias delas, mas os filmes sobre elas
nos ajudam a entender mais sobre o
grande amor e delicadeza que existe
dentro delas sobre a gastronomia.”
Também é lugar comum, durante
refeições memoráveis, perceber o
quanto as pessoas, além de comer,
gostam de saber como se faz cada
prato, e descobrir detalhes históricos
ou peculiares.
Um lugar, logo ali em Botafogo,
consegue capturar essa atmosfera. O
Espaço Carioca de Gastronomia é tão
especial que já está sendo considerado
como referência no mercado de gastronomia. Desde 2010, funciona como
um centro inovador, que dispõe de
estrutura e equipamentos necessários
que podem ser utilizados para a execução de cursos, workshops e degustações, voltados tanto para profissionais
quanto para amadores.
Criaram também uma programação de eventos temáticos regulares de
tirar o fôlego: Gastrologia, para combinar os sabores com os signos; Segunda
Cultural, com palestras sobre a história
da gastronomia; Quarta Carioca, quando são ensinados nossos pratos típicos;
e, para promover o convívio, existe a
confraria Gourmet, uma espécie de
clube que reúne amantes da boa mesa.
Mas, o que considero uma joia rara,
é o chamado CineBistrô, quando se
debate sobre um filme que fale da gastronomia, promovido com profissionais
da área de cinema e finalizando a noite
com um jantar envolvido na temática
apresentada do filme.
O formato do evento não é um
jantar baseado no cardápio do filme,
nem tão pouco uma sessão de cinema
seguida de degustação. Na verdade,
algumas das principais cenas são selecionadas, tanto pelo pessoal de cinema
como pelo chef. E, então, cada cena
é discutida sob os dois aspectos. Ao
longo desse delicioso bate-papo, são
servidos os pratos harmonizados com
vinhos, realçando a essência do filme,
e dando toda uma complexidade à
experiência.
“Já podemos ver em vários filmes
que os pratos feitos pelas personagens
demonstram seus sentimentos e suas
personalidades. As comidas presentes
nesses filmes têm um valor significativo
para o enredo ou para a construção
da personagem. Um hambúrguer
pode mostrar que, por mais que o
protagonista seja um assassino profissional, ele ainda é um ser humano que
se alimenta e gosta desse específico
sanduíche, mostrando outro lado do
assassino. No CineBistrô, analisamos
cenas e tecemos comentários sobre
o valor da gastronomia na sétima arte
e como ela tem o poder de mudar
qualquer coisa dentro do cinema”,
completa Bruno.
O clima de descontração e informalidade favorece a participação do
público. A troca de impressões é muito
enriquecedora. Os gourmets presentes
podem comparar as sensações e ouvir
novos pontos de vista. E, como é um
hábito comum entre os cinéfilos assistir
ao mesmo filme muitas vezes para
se ater a determinadas facetas, nesse
formato, o conhecimento acumulado
sofre o efeito sinérgico.
Algumas cenas marcantes guardadas em nossas memórias, muitas
vezes, refletem o caminho de nossa
criatividade e a maneira como nos
identificamos com a culinária. Por isso,
cinema e gastronomia sempre renderam uma boa mistura. É uma forma
nova de vivenciar a gastronomia... A
vinte e quatro quadros por segundo!
Vale conferir!
Espaço Carioca de Gastronomia
Rua Teresa Guimarães, 26, Botafogo
G ASTRONOMIA CARIOCA
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G ASTRONOMIA CARIOCA
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Anuncie no guia
G ASTRONOMIA CARIOCA
(21) 2253-3879
[email protected]
SAÚDE
&
S
BEm-ESTAR
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Comida e confiança
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De alguma forma sempre tive
certeza de que essas duas palavras
estão visceralmente ligadas. Como
comer algo vindo de alguém ou lugar
em que você não confia?
A etimologia da palavra confiança:
“vem do Latim CONFIDENTIA, “confiança”, de CONFIDERE, “acreditar
plenamente, com firmeza”, formada
por COM, intensificativo, mais FIDERE, “acreditar, crer”, que deriva de
FIDES, “fé””.
Ter fé, acreditar na comida de
alguém é reconfortante. Tem a amplitude que passa por navegar em
mares tranquilos e já conhecidos, até
se permitir deixar levar por rotas mais
tempestuosas e nunca antes navega-
das. De olhos fechados.
Falo de segurança e tranquilidade.
Do que há em comum e familiar, da
crença no talento, do crédito dado
para experimentar algo novo com o
carimbo de quem você confia.
Minha amiga poetisa, resumindo,
brincou com as palavras: COM +
FIANÇA = com aval. Com carimbo.
Minha relação com a comida se
faz em primeiro lugar através dessa
contínua afirmação. Sinto que quem
me conhece sabe que, ao compartilhar meus pratos, terá o melhor
de mim, toda a minha dedicação e
atenção. Da mesma forma, com quem
estabeleci essa relação, mergulho de
peito aberto, saboreio. O melhor é
que a confiança muitas vezes se
consolida através de pequenos
detalhes interessantes.
Como a música alimenta
minhas vivências na cozinha,
divido uma das minhas maiores confianças nessa arte: Abe
Laboriel Junior:
- com Paul McCartney :
http://www.youtube.com/
watch?v=9rofczyq12s, “Sargent’s Pepper Lonely Heart
Club Band” – onde aparece a
competência;
http://www.youtube.com/
watch?v=bzLEy1d8UVI , “Dance
Tonight” - onde se estabelece a confiança: quem tem coragem de dançar
de forma tão ingênua?;
- com Mylène Farmer
h t t p : / / w w w. y o u t u b e . c o m /
watch?v=FspTcSh00NM, “Les Mots”
- com a confiança adquirida, só prazer.
i aci malta
[email protected]
O amor de amantes
Após ler meu texto sobre o amar e o gostar, um dos meus
amigos leitores me encomendou uma reflexão sobre o que
chamarei de amor de amantes. Acho que todos entendem,
mas não custa nada deixar bem explícito que estou me referindo ao amor dos casais, daqueles que se encontram e se
escolhem (ou não) para tentar viver uma relação amorosa.
O amor sem adjetivos, simplesmente amor, aquele que eu disse não
depender de reciprocidade, aquele
que não se confunde com a necessidade ou desejo de ser amado, pode
ou não estar presente no amor de
amantes. Haja vista que o amor sem
adjetivos nunca pode se transformar
em ódio, como vemos acontecer
(infelizmente, não tão poucas vezes)
com o amor de amantes. Se o amor
é um mistério, o amor de amantes é
uma mistura (casamento?) do mistério
com o óbvio.
Antes de mais nada, não devemos
confundir paixão com amor de amantes. A paixão é um estado transitório
que tem por objetivo promover o
encontro dos futuros amantes. E tem
que passar para dar lugar ao amor
de amantes: se não passa, se torna
patológica. Antes que os eternamente
apaixonados se revoltem, esclareço
que considero “paixão eterna” (ou
duradoura) uma forma romântica de
expressar o amor de amantes que
inclui o amor sem adjetivos. A paixão
pode acontecer repentinamente; o
amor é algo construído na vivência
da relação.
O mistério: por que desejamos o
amor daquele que não nos quer amar?
Por que não amamos aquele que nos
quer amar? Por que desejamos alguém
que consideramos não ser a pessoa
adequada e não conseguimos desejar
aquele que acreditamos ser até ideal?
Por que nos sentimos atraídos sexu-
almente por uns e não por outros?
Eu sei que tem a tal da química, mas
será que química não é apenas uma
forma de nomear o mistério do amor
de amantes?
O óbvio: a necessidade de reciprocidade, a atração sexual, a admiração,
o deslocamento inconsciente de afetos
não recebidos no passado (busca de
preenchimento de faltas vividas no
passado), as ilusórias compensações
narcísicas (sou maravilhoso porque
sou amado por esse outro que todos
admiram), a necessidade da convicção
de possuir o ser amado (presente
mesmo naqueles que aceitam alguma
forma de compartilhamento – eu sou
o verdadeiramente amado).
Enfim, tentei.
Mas... admitindo que o amor de
amantes envolve algum mistério, para
atingirmos sua compreensão talvez
tenhamos que apelar para a Física
quântica – afinal de contas, atualmente,
para tudo que envolve algum mistério
há alguém que apresenta uma explicação quântica. No caso, a explicação
poderia ser: o amor de amantes nada
mais é do que um efeito quântico da
sexualidade. E com isso, como em
outros mistérios da vida, tudo estaria
entendido sobre o amor de amantes.
19
a LEXANDRE brandão
| no osso
[email protected]
Esfinge voraz
Estamos na época de digitar o voto na urna eletrônica —
orgulho tecnológico que deixa muita gente com a pulga atrás
da orelha — e apontar nossos futuros prefeitos e vereadores.
Elegemos no plural, mas o meu
ou o seu candidato podem muito bem
passar longe, bola chutada pra fora do
estádio. Ele ou ela terão ideias próprias
e, por essa razão, serão derrotados? Ou
ela ou ele não passarão de fanfarrões
corretamente sepultados pelo voto, ou
melhor, pela falta de voto?
Democracia: esfinge que, quanto
mais deciframos, mais nos devora. Sem
democracia não viria à tona a voz das
minorias, dos marginalizados ou dos
que, persuasivos, opõem-se à situação.
Mas, na democracia, elegem-se os que
têm tutu à beça ou os que, mesmo não
o tendo, acercam-se dos que têm. A
20
aliança circunstancial serve bem no dedo
de quem não se presta a casamento
duradouro, de quem gosta das festas do
matrimônio e, mais ainda, dos divórcios,
porta que se abre para nova conquista.
Não é jabuticaba, fruta que viceja
apenas em nosso solo gentil. Vejam a
eleição americana (se aproximando)
ou a francesa (recém-acontecida): nelas
também o dindim é o diapasão que
orienta a orquestra. Lá e cá, orquestra na
qual tocam célebres artistas ao lado de
burocráticos leitores de pauta. Péssima
metáfora, os burocráticos leitores de
pauta fazem mal ao ouvido e sensibilidade alheios; por sua vez, os maus políticos
subtraem os instrumentos da
orquestra e deixam o verdadeiro artista preso à pantomima.
Por isso encontramos muitos
spalle pelas ruas passando o
arco invisível no violino igualmente invisível.
Democracia não é apenas o espetáculo do sufrágio
universal. Esse é apenas o momento
de sua celebração. Democracia é também o ciscar da galinha, quero dizer,
a coisa simples da vida comezinha. É
minha relação com meus filhos, e a
deles com seus professores. E a dos
professores com seus superiores.
É o respeito aos mais velhos, aos
mais pobres. É a convivência com a
diferença. É a discussão de ideias. É,
ainda, a possibilidade de termos todos
as mesmas oportunidades.
Como a democracia se fixa também
na dinâmica do corriqueiro, podemos
atuar com mais desembaraço em sua
consolidação. Contraditoriamente,
maldita esfinge, é justamente esse o
espaço de maior dificuldade, pois temos
de brigar com nossos preconceitos mais
arraigados.
Meter o dedo na máquina é fácil,
viver democraticamente é que são elas.
21
capa
Entrevista Zezé Motta
Uma atriz e
cantora feita
de emoções
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TEXTO_Sérgio Lima Nascimento
FOTO_JORGE SOUTO
Maria José Motta de Oliveira mudou-se com a família de Campos para o
Rio de Janeiro quando tinha três anos de idade. Frequentou a escola do teatro
O Tablado, sendo aluna de Maria Clara Machado. Começou a carreira de atriz
em 1967, estrelando a peça Roda Viva, de Chico Buarque. Ao longo de sua
carreira, foram 27 novelas e 39 filmes. A carreira de cantora teve início em 1971
em casas noturnas paulistas, tendo gravado 10 discos e um DVD.
Na entrevista, ela fala do início de sua carreira, quando já na primeira peça,
Roda Viva, foi agredida por delinquentes, no período da ditadura militar; de Xica
da Silva, um marco para a mulher brasileira e para todos os afrodescendentes;
do Movimento Negro; e do seu coração de mãe maior que o mundo, pois ao
longo de sua vida adotou cinco meninas, hoje, adultas: Luciana, Nadine, Sirlene,
Carla e Cíntia, além de um menino, Robson. Ela criou sozinha as meninas desde
que elas eram bebês.
Seu início de carreira foi como
atriz, mas sua origem é de uma
família de músicos. Fale um pouco
de seu inicio de carreira, sua cidade
natal e a vinda para o Rio.
ZM: Eu nasci em Campos dos
Goytacazes. Minha avó era parteira e,
quando minha mãe começou a sentir
as dores do parto, ela foi para a casa
dela, que era do outro lado da linha do
trem, onde já era São João da Barra.
Mas eu não consigo dissociar a minha
identidade de campista. Entretanto,
quando vou a Campos, vejo que não
sou nem são-joanense nem campista,
e sim carioca (risos). Estou exagerando! Mas eu me identifico mais com o
Rio de Janeiro, pois vim para cá com
três anos de idade.
Meu pai era músico; minha mãe,
costureira, e eles foram morar no
Morro do Cantagalo. Como tinham
que trabalhar, não podiam me deixar
o dia inteiro sozinha em casa. Então, fui
morar com meus tios e uma prima no
Jacarezinho. Depois, morei com outro
tio, na Rua José Linhares, no Leblon,
onde ele era porteiro. Uma das moradoras do prédio era Marieta Severo.
E a vida inteira eu lembrava que dos
quatro aos seis anos de idade, a minha
melhor amiga se chamava Marieta
Severo. Como meu tio era porteiro e
só tinha filhos homens, eu ficava meio
perdida. Ia, então, para a casa do Dr.
Luís, pai da Marieta, brincar com ela.
Disso eu nunca esqueci. E quando
estreei numa peça do Chico Buarque
de Holanda, que já era casado com
a Marieta, quem descobriu que “eu
era eu” foi a mãe dela. Ela não me
reconheceu de imediato, pois fui para
o prédio muito pequena, e a gente se
reencontrou quando eu já tinha 21
anos! Demos um abraço daqueles.
Tem uma coisa muito bonita: toda
vez que encontro a Marieta, a gente
dá esse abraço, pois foi uma coisa
muito forte!
A vida a fez guerreira desde sua
estreia em Roda Viva, peça de Chico
Buarque no pior momento da ditadura, quando o CCC (Comando de
Caça aos Comunistas) perseguiu e
agrediu os atores no palco. Fale um
pouco desse episódio e dos atores
que sofreram essa agressão, ocorrido em 1968, que é desconhecido
das novas gerações.
ZM: É verdade, eu já estreei apanhando em vários sentidos! Roda Viva
era do Chico Buarque, com direção
do José Celso Martinez Corrêa. Um
grupo de universitários de extrema
direita ficou frequentando a peça durante algum tempo para estudar toda
a geografia do teatro. Isso foi em São
Paulo. A peça tinha sido proibida no
Rio de Janeiro, mas depois que fomos
para a rua protestar, voltamos com
a encenação e foi um sucesso. Seis
meses em cartaz no Teatro Princesa
Isabel! Era uma peça marcada pela
agressividade proposital com o intuito
de chocar o público para os problemas
que cercavam o país na época. Metade
do elenco representava policiais, e
“Aprendi com Marília Pêra que um
dos segredos para uma carreira bem
sucedida é ter disciplina”
outra metade, estudantes. Os policiais
entravam em cena espancando os
estudantes e estes gritavam: “Abaixo a
ditadura”. Em São Paulo, o CCC estudou todos os detalhes, por exemplo,
como se chegava ao camarim, a que
horas começava... De repente, um
dia, ao fim da peça, eles estavam tão
ansiosos para nos espancar e eram tão
violentos, que os últimos espectadores
foram empurrados por eles para sair
logo do teatro. Eu me lembro que
ouvi um tumulto, fui lá ver do que se
tratava e me deparei com uns homens
fortões, com soco-inglês, cassetete.
Saí correndo! Entrei no camarim com
o Rodrigo Santiago, que era protagonista da peça, e ficamos empurrando
a porta. Só que não conseguimos
segurar porque eles eram muito
fortes. Invadiram o camarim e saíram
espancando todo mundo. Me lembro
de ter levado muita cassetada. Teve
gente que foi parar no hospital! No
grupo de atores tinha André Valle,
aquele que foi o Visconde de Sabugosa
do Sitio do Pica-pau Amarelo, Pedro
Paulo Rangel, Paulo Cesar Pereio,
Marilia Pera que substituiu a Marieta
Severo, Samuca, Flavio Santiago...
Isso virou um grande pesadelo! Tinha
ator entrando em cena mancando,
com braço engessado... Pior foi em
Porto Alegre, onde distribuíram panfletos dizendo: “Se você é adepto das
drogas, maconha e do LSD, assista a
peça hoje, porque vai ser só hoje!”
Quando chegamos ao teatro, ele já
estava lacrado e cercado de policiais.
Tinha um ator de Porto Alegre que
nos escondeu na casa da avó, e nós
fingindo que era uma festa porque
estávamos ameaçados de morte, enquanto a vovó nos servia biscoitinhos.
Você é uma artista versátil levando a representação para o canto e,
muitas vezes, o canto para as personagens. O que você prefere fazer:
cantar, representar, ou as duas coisas
são indissociáveis?
ZM: Ah, que pergunta difícil! Eu
realmente me sinto em estado de
graça quando estou representando
e cantando. Se me encostassem na
parede e me fizessem decidir entre
cantar e representar, eu acho que
escolheria cantar.
Você estudou canto ou aconteceu de forma natural?
ZM: Canto foi uma coisa muito
louca na minha vida. Eu estudei doze
anos. No início da carreira, estava muito indefinido o que era ter um registro
vocal privilegiado. Eu sou contralto.
Eu não tinha consciência disso, então
cantava em qualquer registro. Com o
tempo e com as aulas, descobri que
meu grave era muito bonito.
Quem te inspirou no seu início
de carreira, no canto e na representação? Quem são seus grandes
ídolos?
ZM: Minha guru foi Marília Pêra,
que hoje em dia é minha amiga e comadre. No início da carreira, quando
vi que era muito difícil, queria desistir.
Pensava que, como eu tinha mãe, pai,
casa no Rio de Janeiro (nessa época
não morava mais no Cantagalo e sim
no Leblon) então não tinha porque
ficar passando sufoco em São Paulo,
comendo macarrão e sanduíche
porque era mais barato, correndo
o risco de ter problemas de saúde...
Um dia eu cheguei para a Marília,
estava no início de Roda Viva, e disse:
“Estou desistindo”. Ela respondeu:
“De jeito nenhum”; me levou para a
casa dela e lá morei uns quatro anos.
Ela me indicou para fazer “A moreninha”, “Beto Rockfeller”... Enfim,
a Marília Pêra é uma pessoa muito
importante na minha vida porque
foi minha madrinha, irmã, comadre
e, como eu morei com ela, aprendi
que um dos segredos para uma
carreira bem sucedida é a disciplina.
E ela nos dizia que um ator tem que
ser completo.
Na casa de Zezé, seu cantinho das lembranças, onde sempre cabe mais uma emoção
O Brasil não tem, como nos Estados Unidos, uma grande tradição
no gênero teatro musical. As peças
que fazem grande sucesso por aqui
são geralmente adaptações (Hair,
Noviça Rebelde, Hair Spray, Cabaret, My Fair Lady etc.). Como você
vê a produção desse gênero com
autores brasileiros? Você acha que
a repercussão junto ao público se
iguala às internacionais?
ZM: Os musicais aqui têm sido
um sucesso. Têm crescido cada vez
mais! Eu mesma participei de um com
músicas do Ed Motta “7 – o Musical”,
que... nossa! Foi uma das peças que a
gente tinha certeza de que a plateia já
estaria lotada todos os dias!
Um cantor tem geralmente seu
compositor preferido. Qual é o que
você mais se identifica?
ZM: É muito difícil escolher um
compositor preferido no Brasil porque
acho que nós somos privilegiados
neste tratamento. Mas eu tenho um
carinho especial pelo Luiz Melodia.
Foi o compositor que mais gravei.
Estou lançando agora um CD com
músicas dele e do Jards Macalé, “Negra Melodia”.
Você acha que essa posição
dos atores negros nos papéis da
dramaturgia mudou, ou mesmo nos
comerciais de TV?
ZM: Sempre me fazem essa pergunta, se houve uma mudança... É
claro que tenho que voltar quarenta
anos atrás, quando eu comecei. Um
ator ou atriz negro protagonizar uma
novela, era um evento raríssimo.
Nós hoje temos o Lázaro Ramos
como protagonista. Eu mesma fiz
várias empregadas domésticas, e nada
contra fazer esse papel. O que me
incomodava era ter tido o privilégio
de ganhar uma bolsa de estudo no
Tablado, ser aluna da Maria Clara
Machado e depois entrar numa novela
só para servir cafezinho, abrir porta e
dizer “Sim senhor, sim senhora”. Isso
me deixava muito angustiada. Batalhei
muito... eu e vários outros negros,
para mudar essa história!
O que é o CIDAN - Centro de
Informação e Documentação do
Artista Negro?
ZM: Quando fiz sucesso com Xica
da Silva, dava muitas entrevistas por
dia. Percebi que não estava preparada
para essas entrevistas quando me
faziam perguntas, por exemplo, sobre
a questão do negro. Sentia dentro
do meu coração que tinha que fazer
alguma coisa, que tinha algo errado,
que nós éramos injustiçados. Mas
23
capa
24
eu não tinha um discurso articulado
sobre isso, até que abri o jornal e li um
anúncio “Curso de Cultura Negra no
Parque Lage”. E lá fui eu. Tinha que me
preparar para aquilo. A minha ideia de
criar o CIDAN veio daí, que pode ser
visitada no endereço www.cidan.org.
br. Lá encontrarão mais de 500 atores
negros. Vocês estão vendo todos esses
atores negros em cena? Não! Mas,
apesar disso, de quarenta anos para
cá, as coisas mudaram. A gente não faz
mais aquele papel que estava destinado
só ao negro, que era o motorista, a
enfermeira, a empregada doméstica,
o mordomo... Nada contra fazer esses
personagens, pois todo ser humano é
importante na vida. O que mais me
incomodou foi que, antes de Xica da
Silva, eu conhecia 3 países. Depois
que o filme estourou no mundo, fui
bem recebida em mais de 16 outros e,
quando voltei para o Brasil, parecia que
nada disso tinha acontecido, e voltei a
fazer as mesmas coisas de antes!
A personagem Xica da Silva
virou um alter ego de Zezé Motta?
ZM: ...meu Deus, eu batalhando
para imprimir meu nome na mídia:
Zezé Motta! E aí, faço sucesso e só me
chamam de Xica. Depois descobri que
ela era minha fada-madrinha, que eu
não tinha que reclamar de nada, que
ela só me fez bem.
Como foi rever a personagem
feita por uma nova atriz, Thaís
Araújo, quando você fazia a mãe da
Xica, em 1996?
ZM: Estava em Cabo Verde fazendo um filme com Francisco Manso,
chego ao hotel e recebo uma ligação
do Walter Avancini perguntando se
Zezé atuou na telenovela Xica da Silva (1996), vinte anos depois de protagonizar o filme que a
consagrou internacionalmente. Na televisão atuou em diversas novelas e seriados
topava ser a mãe da Xica da Silva. Eu
tomei um susto. Perguntei se podia
pensar, ele disse: “Claro, amanhã você
me responde”. Fui fazer as contas, e
o filme já tinha 23 anos. Então, claro,
tinha idade para ser a mãe dela! (risos)
Percebi também que era uma homenagem muito bonita porque não se
sabia nada sobre a mãe da Xica. No dia
seguinte disse ao Avancini que topava.
Foi um trabalho muito importante na
minha carreira. Ser dirigida pelo Avancini era um privilégio! Ele foi um dos
maiores diretores desse país! Era tão
especial que combinava com o ator
qual deveria ser o olhar do personagem, como impostar sua voz, qual seu
signo... qual o orixá da personagem! E
Em seu CD mais recente
- Negra Melodia - Zezé
canta composições de Luiz
Melodia e Jards Macalé
Xica era de Iansã, certamente! (risos)
Você chegou a rodar dois filmes
em Cabo Verde. O que você acha
dessa nova interação entre Brasil e
países como Angola e Cabo Verde,
que tiveram o mesmo tipo de colonização portuguesa?
ZM: Eu acho emocionante, muito
bom. Já me apresentei em Portugal
numa dessas propostas, que era uma
noite só de cantores da língua portuguesa. Foi um dos maiores públicos
que já tive, cantando numa praça para
mais de 30.000 pessoas, e quando
chegou Gilberto Gil foi a 110 mil! Eu
estava fazendo um sucesso enorme
numa novela chamada Kananga do
Japão, que estava passando em Portugal. Eu acho isso fantástico, faria mais!
Tenho orgulho de ter um cinema com
o meu nome em Cabo Verde.
Países como Cabo Verde e
Angola têm capoeira, que hoje é
o maior divulgador da cultura brasileira e da língua portuguesa no
mundo. Como foi sua participação
nos Jogos Mundiais Femininos Abadá
Capoeira, que aconteceu em julho,
no Rio de Janeiro?
ZM: Foi uma emoção! Foi um
privilégio ter sido convidada para
participar. Eu tive várias surpresas, por
exemplo, não sabia que a capoeira
estava tão disseminada no mundo. De
repente, estava vendo lá uma americana, sei lá, uma alemã, uma inglesa
(risos) jogando capoeira. Fiquei muito
emocionada, pois não sabia que estava
ali presenciando uma cultura genuinamente brasileira e que é conhecida no
mundo inteiro! Foi muito interessante
essa experiência de poder falar para
essa gente e também cantar.
Em recente entrevista o jornalista Domingos Meirelles colocou
que a história tem dois lados: o da
vítima e o do algoz. Após séculos
de escravidão e outros tantos de
racismo, será que a história oficial
já começa a reconhecer e divulgar
como afrodescendentes grandes
nomes como Machado de Assis,
Mário de Andrade, Aleijadinho,
Chiquinha Gonzaga, ou mesmo o
berço da civilização, por exemplo,
o Antigo Egito?
ZM: Não é oficial, mas estamos
chegando lá. Ainda vai demorar algum tempo para essas coisas todas
“O Movimento Negro virou essa
coisa dos negros em movimento,
denunciando, cobrando, discutindo a
irem para seus lugares certos. Mas
esse reconhecimento do Machado
de Assis foi algo emocionante. Achei
que foi um bom começo. Acho que
a Academia Brasileira de Letras está
num momento muito especial. Eu
já assisti Escola de Samba no jardim
da Academia Brasileira de Letras. Já
fui homenageada lá e neste mês será
Martinho da Vila... quer dizer, eu acho
que são passos lentos, mas a gente vai
chegar lá.
Você que sempre foi uma ativista
do Movimento Negro. Como vê
hoje as conquistas alcançadas e as
ainda desejadas? Fale um pouco do
seu lado ativista em movimentos
sociais e anti-racistas.
ZM: Acho que o Movimento
Negro avançou bem! Avançou porque
me lembro do tempo em que a gente
se reunia, e eram encontros muito
fechados. Reuníamos muito para nos
queixar da vida e fazíamos movimento
em datas especiais, 13 de maio, que
passou a ser 20 de novembro, porque se concluiu que Zumbi era mais
importante que a Princesa Isabel...
Léa Gonzáles colocou então que não
havia mais tempo para lamúrias! O
Movimento Negro, hoje, não se reúne
mais. As pessoas da minha geração,
que criaram o Movimento nos anos
70, como diz o Milton Gonçalves,
são Negros em Movimento, cada
um tentando contribuir de alguma
forma. Então surgiram os bailes soul,
a revista Raça, uma empresa de vídeo
“Cor da pele” que documenta tudo
ligado ao movimento... O Movimento
Negro virou essa coisa dos negros em
movimento, denunciando, cobrando,
discutindo a questão das cotas...
O que você pensa dessa cota
racial em universidades?
ZM: Sou a favor das cotas pelo
seguinte motivo: acho que o Brasil tem
uma dívida com o negro. Se a cota é
uma forma de minimizar essa dívida,
sou a favor dela. E tenho certeza de
que essa questão das cotas não é
para sempre, é uma ação provisória.
Acredito que as cotas contribuíram
para que se discutisse a questão da
desigualdade, da falta de oportunidade
questão das cotas...”
do negro chegar à faculdade, porque
a maioria dos negros tem poder
aquisitivo baixo! Inclusive está comprovado que os cotistas se dedicam
mais, porque são muito gratos por
ter essa oportunidade. Eu mesma me
considero uma cotista, pois se eu não
ganhasse uma bolsa de estudo para
fazer o Tablado nos anos 60, não
sei se estaria aqui. Fico emocionada
quando me perguntam se alguma coisa
mudou nesses quarenta anos (Zezé
fala com os olhos marejados e muito
emocionada)... Na época falei: quero
entrar para esse movimento porque
eu quero preparar um mundo melhor
para os meus filhos, para os meus netos. Quando temos 20 anos de idade,
não sabemos se vamos viver até os
40. Quando temos 40 não sabemos
se vamos até os 60, e eu hoje com 68
fico muito emocionada de ter lutado
por isso, contribuído com isso e estar
aqui viva presenciando esta virada
lenta... mas que é uma virada!
Apesar da perseguição que certas seitas fazem a religiões de matrizes afro, será que o Candomblé e a
Umbanda têm hoje mais aceitação,
ou mesmo uma certa elitização, do
que em épocas passadas?
ZM: Acho que essas religiões estão sendo menos discriminadas do que
antes. Quando eu era adolescente, a
minha mãe frequentava a Umbanda.
Eu não comentava com as minhas
colegas que ela era umbandista e
meu pai kardecista, porque seríamos
discriminados. Acho que a gente
avançou um pouco nesse sentido.
Não me lembro de na época tantos
brancos se assumirem como umbandistas ou candomblecistas... brancos
e negros, as pessoas de um modo
geral! Infelizmente sofremos muita
perseguição por parte dos evangélicos.
Eu fui testemunha disso! Vi uma casa
de Umbanda ser totalmente destruída
por evangélicos, mas tive o privilégio
também de acompanhar sua reconstrução e ir à reinauguração. Acho
que isso não é tratado como crime,
mas deveria! É tratado apenas como
intolerância religiosa. É direito de
cada cidadão ser fiel a sua convicção
religiosa. Qualquer tipo de intolerância
é abominável!
Como você se posiciona religiosamente? Seria o teatro um templo
onde o artista exerce uma função
espiritual?
ZM: Quando minha mãe era da
Umbanda, ela dizia que eu era uma
médium nata e que eu tinha que
desenvolver, e de repente recebi um
recado que eu exercia isso no palco.
Fiquei aliviada, até porque é uma
grande responsabilidade se dedicar a
isso. Hoje me coloco como kardecista.
Minha mãe, que atualmente é Testemunha de Jeová, não aceita muito
minha relação com o Candomblé.
Você não teve filhos naturais,
mas adotou vários, além daqueles
que te consideram também como
mãe. Como é a Zezé Motta mãezona? Será que você vai levantar a
bandeira da “adoção” também no
seu ativismo social?
ZM: (risos) É uma boa ideia. São
três sobrinhas, duas órfãs e um menino, o Robson de Sousa, que o “Clube
da Luluzinha” nunca deixou morar na
casa e tive que adotá-lo num abrigo.
E a Erika, minha sobrinha, que mora
comigo e considero minha filha... que
a mãe dela não me ouça (risos). Tem
ainda a Luciana que eu adotei aos quatro anos de idade. São seis meninas.
A Luciana nunca me perdoou por ter
adotado outros, pois ela foi filha única
durante muitos anos. São seis meninas
e um menino como filhos e ainda
tenho seis netos.
25
educação
&
conhecimento
Coisa de criança
Laura
TEXTO_Lilibeth Cardozo
26
Criança, sem muita censura e
cheia de curiosidade, questiona e
fantasia, criando várias definições
que são expressões genuínas de sua
percepção do mundo e da realidade que a cerca. Ainda sem muito
conhecimento, vai descobrindo o
mundo, perguntando e opinando.
A alegria das crianças e a natural
curiosidade por tudo que as que
as rodeia, dizem muito sobre suas.
A Folha Carioca, para celebrar o
Dia da Criança, foi buscar máximas
de crianças que colocam os adultos
embevecidos diante de sua vivacidade, inteligência e questionamentos.
São incontáveis os momentos de
pais e filhos, adultos e crianças que
merecem registro. Algumas famílias
costumam registrar esses momentos
e guardar para mais tarde oferecer
a seus filhos as graças infantis que
passam a fazer o colar de registros
Pedro
preciosos das famílias. Selecionamos algumas passagens, relatadas
por familiares, que nos dão alegria
em publicar e ter a certeza de que
nossos leitores vão se divertir ao ler,
dando boas risadas com meninos e
meninas cariocas.
Bernardo, aos seis anos, super ligado na tecnologia de computadores
e jogos eletrônicos, pergunta a seu
pai: “Pai, nós já nascemos com senha
ou a gente tem que criar?”
Carolina
Gabriel, aos três anos, come
muito bem e quase não recusa alimentos. Mas não gosta de cebola.
Seu pai, que cozinha para a família,
lhe serviu o jantar. Gabriel, mexendo no prato servido, encontrou um
pedaço de cebola e perguntou: “Pai
o que é isto?” O pai respondeu: “É
peixe voador que eu pesquei”. Ele,
mais do que depressa, rebateu: “Pai,
quando você pescou o peixe, seu
olho ardeu?”
João costumava chamar seu
umbigo de “meu bigo”. Sua mãe explicou: “Não é bigo, João, é umbigo.
Ele, em sua lógica de criança de 5
anos, rebateu irritado: “Mãe, mas é
o meu bigo, não é um”.
Laurinha, é uma linda menina
com 3 anos. Vaidosa, inteligente e
astuta, manda cada uma que diverte
e encanta a todos. Filha de um jovem
casal de jornalistas, muito amorosos
e dedicados, tem sua história de três
anos registrada num blog muito lindo
feito por sua mãe, Luciana. Uma das
boas da Laurinha foi uma de suas
decisões verbalizadas para a mãe que
todos os dias sai muito cedo para o
trabalho: ”’Mamãe, não vou mais
usar fraldinha de noite. Vou pedir
para o papai me levar no banheiro
de noite, porque você, depois que
eu durmo, já era! Vai embora para o
trabalho!’ e, diante de seu crescimento, Laura verbaliza o que quer ou não
quer e seu entendimento
do que ouve. No seu blog,
a mãe registrou:
Cena 1:- Nossa, Laura!
Seu pé cresceu! Essas sandálias já não cabem mais...
Vamos trocar!
Cena 2:- Filha, sábado
nós vamos lá no salão cortar
o seu cabelo. Seu cabelo
cresceu.
- Cresceu, mamãe? Por
quê?
- Porque tudo cresce
filhinha... suas unhas, seu
pé, seu cabelo, tudo cresce.
- Mas mamãe, eu vou
ter que cortar o meu pé também?”
Pedro é um menino muito inteligente, esperto e falador. Aos 5 anos brincava
subindo numa escada perigosa. Sua avó
o repreendeu dizendo: “Pedro, se tua
mãe souber que você está subindo aí,
vai te bater. E Pedro retrucou do meio
da escada: “Vó, minha mãe é psicóloga,
e psicóloga não bate em filho”.
Um outro Pedro, aos 5 anos,
Maria Joana
gosta muito”. Mariana imediatamente
responde à professora: - Já sei, é o
dia do silicone!
A avó da Aninha, 7 anos, recomendou à neta: “Preste atenção à
aula e na hora da prova não fique
pensando na morte da bezerra”.
Aninha, depois de um dia de prova,
chega em casa e declara que não fez
nada na prova. E esclarece: “Vovó,
eu fiquei pensando o tempo todo na
morte da bezerra e não descobri do
que ela morreu”.
ouvia na casa de uma amiga de sua
mãe uma “ladainha” de conselhos
para não riscar as paredes de sua casa.
Olhando as paredes limpinhas da sala
onde ouvia os conselhos, parou seus
olhos num quadro de uma grande
artista que era uma colagem de papel
rasgado, pintado com lápis de cor.
Mais que depressa mandou: - E quem
fez aquela bobagem ali na sua parede?
Miguel estava na casa da avó. Saiu
da sala e foi ao banheiro. A família
ouviu o estraçalhar de um vidro no
banheiro, e o menino gritou: - É
mentira do barulho!
Mariana, uma linda menina na sala
de aula, no Dia da Bandeira, aos 5
anos ouve a professora dizer: “Hoje
é um dia muito importante para o
Brasil. É o dia de um símbolo que
guardamos no peito, e o Brasil inteiro
Felipe
Marina tinha 4 anos quando passava a semana inteira sozinha com sua
mãe e irmãos enquanto seu pai, por
razões de trabalho, só passava os fins
de semana com a família. Ao passear
com a mãe na cidade, viu homens
com cabelos longos, presos em rabos
de cavalo e perguntou à mãe se eram
homens. A mãe respondeu que sim
e que achava bonito. Dias depois,
andando na rua com o pai e a mãe
ela avistou um homem usando rabo
de cavalo na rua e denunciou logo:
“Mãe, olha lá, o tipo de homem que
você gosta”.
Pedro Henrique, descendo no
elevador com sua mãe, encontra
uma vizinha. A vizinha o vê com um
álbum de figurinhas na mão, e a mãe
comenta que estão indo comprar
figurinhas. A vizinha interpela: “Pedro, figurinha não enche barriga de
ninguém”. E ele responde de pronto:
“Mas enche álbum”.
João Marcelo era ainda um menino de cerca de 5 anos. Seus pais o levavam para cerimônias de formatura.
Eram muitas. Um dia João Marcelo,
muito zangado com a mãe, a xingou
com veemência: “Formatura!”. A mãe
não entendeu e perguntou: - O que é
isso João, porque está falando assim?
- Ele esclareceu: - Você é chata igual
a uma formatura.
Nossa colaboradora Arlanza nos
conta da vivacidade e inteligência de
sua neta Maria Joana, de 4 anos.
Entrando numa padaria, eu disse:
- Moço, tem pão de queijo?
- Tem sim, senhora!
- Eu quero cem gramas... (pedi).
E minha netinha, rebateu imediatamente: - E eu quero com...!
Sobre o sono, a menina aos 7 anos
se defende de um erro na escola: - Eu
não errei na prova. Só disse que o
Sol nasce no nascente e dorme no
dormente.
E uma das melhores. Uma menina
negra, pobre e muito bem cuidada por
sua mãe, ia sempre para a escola muito
bem arrumada, sempre se destacava
na escola pública por sua aparência.
Uma de suas amigas pergunta:
Você é rica? Ela responde: Não,
acho que sou bem de vida. Minha
mãe tem uma faxina e duas lavagens
de roupa!
E sobre definições, as crianças
são fantásticas. Eis algumas definições
infantis:
FUTURO – é tudo que vem
depois e, quando chega, já era.
PACIÊNCIA – é uma coisa que
mamãe perde sempre.
POLUIÇÃO – é sujeira do progresso.
GÊMEAS - duas meninas de cara
repetida.
NOITE - é o dia com luz apagada
W - são dois vês que nasceram
gêmeos
Y - é uma letra parecida com um
estilingue, que é intrometida.
Gabriel
27
educação
& conhecimento
C armen pimentel | língua portuguesa
[email protected]
Percalços da língua
Mês de outubro: mês das crianças. Aproveito, então, para falar dos verbos irregulares, aqueles que
foram sendo modificados ao longo do tempo, por conta da evolução da nossa língua. Você deve estar
se perguntando: o que uma coisa tem a ver com a outra? Pois vamos lá!
Quem já prestou atenção a uma
criança de mais ou menos 2 anos
falando, deve ter percebido que ela
diz “eu fazi”, “eu sabo”, “eu consego”, no lugar de “eu fiz”, “eu sei”,
“eu consigo”. Por que isso acontece?
28
Quando uma criança diz "fazi",
ela entende que a estrutura de
construção do pretérito perfeito do
indicativo do verbo fazer é radical faz
+ desinência de pretérito i, já que
é assim que acontece com outros
verbos que ela escuta a sua volta:
vender – vendi / comer – comi
/ perder – perdi, logo, fazer – “fazi”,
ou ainda,
cantar – cantei / falar – falei /
comer – “comei”
Em outras palavras: ela faz uma
analogia com a construção dos
verbos regulares, que são maioria
na língua portuguesa, portanto,
mais usados pelos falantes. Com
o tempo, ela vai percebendo essas
diferenças, e a correção acontece
automaticamente. Lá pelos 4 anos,
já fala direitinho. É claro que alguns
pais, na ansiedade que lhes é peculiar, dão uma ajudinha, repetindo
da forma correta para garantir que
a criança não vai falar assim para
sempre! Tudo bem, não faz mal,
nada de errado com isso... Aliás, é
assim mesmo que a criança aprende:
por repetição!
Os verbos podem ser classificados da seguinte maneira:
• Regulares – seguem o
paradigma de sua conjugação. São
conjugados no presente, no passado
ou no futuro sem sofrerem alterações em seu radical (por exemplo,
os verbos comer, cantar, partir);
• Irregulares – apresentam
modificação em algumas formas,
afastando-se do paradigma de sua
conjugação. Modificam-se no radical
e na flexão (exemplo: fazer, dizer,
pedir);
• Anômalos – apresentam
radicais primários diferentes (caso
dos verbos ser e ir que se alteram
demais);
• Abundantes – apresentam
duas ou três formas de igual valor e
função, principalmente no particípio );
• Defectivos – não apresentam todas as formas na sua
conjugação, por motivos de eufonia
e significação (os verbos chover e
abolir são exemplos desse caso: não
se diz “eu chovo” nem “eu abolo”).
Calma, não vou me deter nisso
com a profundidade que o tema necessita, mas apenas o suficiente para
tentar explicar o motivo de alguns
falantes cometerem certas gafes linguísticas... Se for criança, pode! Está
em fase de aquisição da linguagem
e experimenta diversas formas até
compreender os mecanismos da
língua materna.
Com criança, achamos bonitinho, fofo. Mas, se for com adulto...
Volta e meia a internet ou a tv
trazem à nossa lembrança as famosas pérolas futebolísticas. Você, com
certeza, já ouviu ou leu isto:
• “Haja o que hajar, o Corinthians vai ser campeão.” (Vicente
Matheus)
• “Eu peguei a bola no meio
de campo e fui fondo, fui fondo,
fui fondo e chutei pro gol.” (Jardel,
ex-jogador do Vasco e Grêmio, ao
relatar ao repórter o gol que tinha
feito)
• "A bola foi
fondo, fondo, fondo
e, quando eu vi, ela
iu." (Dudu, tentando
justificar um frango
inexplicável que sofreu)
• "Fiz que fui,
não fui, e acabei fondo!" (Nunes, ex-atacante do Flamengo)
Como explicar
esses desastres linguísticos???
Da mesma forma que a criança
faz a analogia com os verbos regulares para dizer “eu fazi”, as pessoas
que dizem essas pérolas também
generalizam as estruturas verbais.
Vejamos:
O verbo ir está no grupo dos verbos anômalos, aqueles que sofrem
muita variação durante sua conjugação: eu vou, eu fui, eu irei... Dessa
forma, na cabeça dos desavisados,
acontece o seguinte raciocínio:
foi/fui: deve ser do verbo “for”
(sic) / para fazer o gerúndio, acrescenta-se –ndo, logo “fondo” (sic)
sair – saiu / partir – partiu / ir –
“iu” (sic)
É de arrepiar os cabelos dos mais
afeitos à nossa língua portuguesa,
mas não deixa de ter certa lógica...
Incorreta! Assustadora! Mas, com um
pouco de benevolência da parte do
ouvinte, compreensível...
Outro caso, este bastante divertido:
Mais uma vez, o que vemos aqui
é o uso da língua por analogia:
Partir – partida
Dormir – dormida
Curtir – curtida
Fazer – “fazida”, no lugar do
particípio feita.
E, ainda:
Quem não partiu, parta.
Quem não dormiu, durma.
Quem não curtiu, curta.
Quem não pediu, “pida”. O verbo irregular pedir, na verdade, tem
como imperativo peça.
Se a intenção do vendedor foi
chamar a atenção dos consumidores para sua mercadoria ou se foi
desconhecimento dos pormenores
da língua, nunca saberemos... Pelo
menos, demos boas risadas!
(Não vou nem comentar agora
o “quebra queicho”, escondido pela
sacolinha... Fica para outra ocasião!)
educação
&
conhecimento
Publieditorial
Espaço Envolvimento:
evoluir e crescer
Para evoluir, às vezes
é preciso mudar, ficar, ir,
refletir por um tempo, para
depois vir, reunir, juntar as
experiências e multiplicar
conhecimento. Isso aconteceu recentemente com
duas instituições de ensino
infantil na Gávea: Ciranda
Cirandinha e Espaço Envolvimento. Agora as duas
são uma escola só. Renata
Brasil, Joana Figueira de Mello e
Juliana Baldaque Batista juntaram
suas experiências para criar um espaço onde a relação de confiança,
a afetividade, o cuidado e o lúdico
se fazem presentes diariamente
na vivência entre crianças, pais e
educadores.
Em uma rua tranquila e arborizada da Gávea, lá está ela... uma
casinha branca começando o dia,
recebendo seus pequenos alunos.
Cada criança que chega carrega
consigo, no seu olhar e no seu interior, uma grande vida para criar,
Rua Major Rubens Vaz, 537 – Gávea
Tel: 2274-3846 / 2529-2756
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contar, cantar e encantar. Assim
é o Espaço Envolvimento. Além
de um espaço físico privilegiado,
a escola conta com uma equipe
de profissionais especializados e
atualizados, que proporciona um
trabalho pedagógico de qualidade.
O Espaço Envolvimento tem
como objetivo construir o conhecimento junto às suas crianças,
num ambiente acolhedor, seguro
e estimulante, transmitindo-lhes
valores sociais e éticos, no qual a
parceria família/escola acontece a
todo momento.
29
educação
&
conhecimento
B ijux in the box
[email protected]
Vida inteligente na TV
Lá em casa, quando as crianças eram pequenas, a gente
chamava o horário eleitoral de 'Rá 'rê 'rê. Era pra facilitar, e dar
alguma graça ao sacrifício diário, além de uma maneira de fazer
os garotos saírem da frente da TV e ir brincar lá fora. Tá na hora
do 'rá 'rê 'rê, gente!- era uma debandada geral, todo mundo pro
quintal, ou pro play-ground.
30
Hoje as crianças nem sabem
o que está rolando, porque estão
ligadas na internet, ainda bem. Mas
os adultos sofrem. O troço entra
bem na hora da novela, atrasa ou
adianta os jornais, faz um estrago nos
horários do jantar, e principalmente
detona com a sagrada rotina dos
idosos - que, todos sabem, adoram
uma rotina!
Mas há males que vêm pra bem,
diz a sabedoria antiga. Desde o início do horário burro nacional, eu e
milhares de telespectadores usamos
o nosso poderoso controle para
fugir. Infelizmente, me refiro a quem
tem TV paga, pois a aberta não dá
nenhuma saída. Nos canais por assinatura, descobrem-se programas
até divertidos, ou recheados de boa
informação e debates.
Exemplos são o Em Pauta, da
Globo News, às 20:30h, capitaneado
por Sergio Aguiar, que traz momentos bem interessantes, com comentaristas bem informados falando desde
Nova York, São Paulo e Brasília. Os
temas são os do dia. O mesmo se dá
com o Studio I, que nos salva do 'rá 'rê
'rê das 13 horas. Com destaque para
a bela Maria Beltrão – que mulher
grande e linda é essa? Profissionais de
diversas áreas apresentam matérias
ou comentam vídeos e notícias. Tudo
sob a batuta da Beltrão, que comanda
com desenvoltura.
Há outras opções na TV paga:
informam-me que o Canal Brasil,
o History, o Discovery e o Futura
também nos oferecem boas atrações
durante o horário ridículo nacional.
Pena que a TV aberta ainda seja refém
do troço – e há mais de 20 anos.
Pelo menos sabemos que existe vida
inteligente na TV na maldita hora do
'rá 'rê 'rê.
Eu vi...
Hora da Arte
- A novela da seis
é sempre garantia de momentos de
beleza, poesia, valorização da nossa
História, cenas hilariantes e, ao mesmo
tempo, cenas de grande intensidade
dramática. Se tem uma coisa na qual
a Globo nunca erra, é na novela das
seis. Só pra citar algumas: A Padroeira,
Chocolate com Pimenta (ora em
reapresentação), Cordel Encantado, a
recente Amor, Eterno Amor.
Agora, temos esta linda Lado
a Lado, com aquele ambiente em
sépia que nos faz voltar no tempo,
com aquele verdadeiro hino que é o
samba-enredo (do Império Serrano?)
Liberdade, Liberdade. E mais: com
a volta da brilhante Patrícia Pillar, a
vilã delicada; com o comovente Tiago
Fragoso; com a Marjorie Estiano e sua
deliciosa risada, além de sua corretíssima atuação. E, claro, com a beleza e a
competência do casal principal, Lázaro
Ramos e Camila Pitanga.
formigas, besouros, cachorras e outros
bichos. Tenham paciência!
Desagradável – É ouvir repórteres
e apresentadores assassinando a língua
pátria com coisas como “seje”, “teja”,
“tava”. A linguagem falada também
tem as suas responsabilidades! Não
vou dedurar quem são, até porque
são muuuuitos.
Atrás da Grade
Hora do Pânico
– Em
compensação, temos aquele
momento Mundo Cão, aquele
programa que a cada dia faz mais
questão de afastar dele as pessoas que
têm ainda algum tipo de Si Mancol no
sangue. Já era ruim no outro canal,
agora na Band, mais solto, choca o
distinto público de todas as formas
possíveis. Até mesmo com baratas,
– A Globo tem uma grade de programação tão intensa, e tão rígida, que
acaba por ficar presa atrás dela. Digo
isso porque Record, Band e outras,
sem tais compromissos, arriscam mais,
e acabam por se tornar alternativas
para as novelas, filminho da tarde e
da segunda-feira (sempre velhos), e
programas pós-novela das 9.
*Bijux é Marilza Bigio,
jornalista e telespectadora fiel
31
educação
&O
conhecimento
swaldo miranda
[email protected]
Ainda Nelson
32
Miranda, você é torpe! Daqui a
pouco: – Não, me enganei, Miranda,
você é doce. – As imprevisibilidades
do Nelson... A redação do Última
Hora tinha uma mesa grande lá no fundo, dando para os trilhos da Central.
Máquinas de escrever, uma ao lado da
outra. Ele, Sérgio Porto, às vezes, Otto
Lara Rezende, eu... o menor de todos.
Fumava. Balbuciava, não. Mexia os
lábios, sem voz, quem sabe, ensaiando
com gestos, no seu imaginário, olhos
no nada, o que viria a escrever na
máquina. Com dois dedos. Articulava
o pensamento assim quando redigia.
Será que estou certo ao dizer que ele
foi também Suzana Flag?
Dois telefones, um à sua mão.
Eram mulheres, mulheres e mais
mulheres querendo falar com ele,
viva-voz... Ia dialogando como podia,
em meio à produção de uma de suas
“A vida como ela é”. Gostava, claro
que gostava! Estar sendo desejado...
Era como elas o entendiam, pelo
que sentiam nos seus escritos tão,
digamos, libertários para aquele tempo, década de 50. Sua expressão ao
telefone no papo com mil admiradoras
desconhecidas era de prazer, alegria,
sabendo-se então um cara capaz de,
a distância, alterar a libido de tantas
de suas leitoras tesudas... Não sei se
digo... Uma vez ali mesmo na mesa,
diante da máquina de escrever, me
pareceu estar chegado a um orgasmo, provocado por alguma das que
lhe teriam excitado demais em sua
fala - voz apaixonada. Sei lá. Sexo
por telefone. Está aí uma que nosso
Freud não deve ter explicado. Sigo. O
Pessanha, negrinho contínuo viu: - IIII,
seu Nelson tá engraçado...
***
No concurso de palpites de futebol, uma das minhas promoções, certa
vez quem ganhou era torcedora do
Flamengo e votou vitória do Vasco e
um escore maluco num Bonsucesso
x Olaria. Depois dos escores viáveis,
os leitores faziam os improváveis – 7
a 3, 8 a 5. E a vencedora era minha
conhecida! Nelson botou a boca no
trombone: - Não pode, Miranda! isso
é pior do que as dez pragas do Egito! A
matéria não saiu. Mas o Nelson insistia
e lá pela onze da noite, ele e equipe,
seu irmão Augusto, Carlos Renato,
Aparício Pires, Albert Laureneo bateram no apartamento, reforçando a
pressão: - Todo mundo vai dizer que
foi marmelada, Miranda. O povo não
Histórico: Brasil num pódio triplo!
Desde que me entendo por gente, acompanho as Olimpíadas, a dos deficientes, mais recente. E não me lembro de ter visto um momento inusitado, inédito
nas competições, qual seja, a de um único país no pódio. Sim, isso aconteceu na
competição que terminou em 9 de setembro, agora, em Londres. Nos 100m,
um pódio triplo com as ceguinhas Tereza Guilhermina, recorde mundial com
12s01, Jerusa Santos e Júlia Santos e seus respectivos guias, Guilherme Soares
de Santana, Luiz Henrique Barboza da Silva e Fábio Dias de Oliveira Silva. A
imagem desse feito maravilhoso só pode ser vista no canal 35, SPTV-3, que
com sua excelente equipe cobriu todo o belo evento, no caso, sem qualquer
registro em toda a mídia – lamentável! A Folha Carioca aqui está com a foto das
heroínas e seus guias no pódio triplo, exclusivo, só do Brasil, sil, sil!
No auditório da TV-Tupi, Nelson comenta meu “Desafios humanos” que o inspiraram
para um “A vida como ela é”. Ao nosso lado, a pernambucana Aglae de Oliveira, que
respondia sobre Lampião, e os representantes da censura, de olho em tudo o que eu
fazia – anos de chumbo...
vai engolir essa, um vexame para o
Última Hora. Dia seguinte, reunião à
espera que Samuel Wainer chegasse.
Ele e toda a direção: Bocaiúva Cunha,
Etcheverry, Octávio Malta... Argumento daqui, argumento dali, Samuel falou:
- Está tudo certo, Miranda? - Como
sempre, Samuel. - Então pode entregar o prêmio à moça, e todo mundo
para a redação. Acarinhei Nelson: - A
vida como Lea é... querido... Dei detalhes sobre o comportamento dos
leitores apostadores, exibindo-lhe
cupões, uma verdadeira mixórdia
de palpites e até ali mesmo tinha
flamenguista apostando no Vasco. O
Imprevisível de Almeida? Ele aceitou
minha exposição e ficamos de bem.
***
Numa noite, foi ver meus “Desafios humanos”, no programa que eu
produzia para J.Silvestre, na TV-Tupi.
20 de julho de 1970. Era a parte final
do “Show sem limite”, reportagens
pesadas. Dali ele saiu para produzir no
dia seguinte mais um “A vida como ela
é.” Vixe! Eu parceiro de um gênio da
moderna dramaturgia brasileira, cujo
centenário o Brasil celebrou até com
o mestre Daniel Filho no Fantástico,
dando formas televisivas à sua série
de sucesso em Última Hora.
t amas
REDE GLOBO - Coro cantando
melodia conhecida, com letra escrachada,
destaque para Salsichona, ator vestido de noiva, adentrando o vagão do metrô, gritando je t'aime, je t'aime!
Foi assim a abertura do Zorra Total de 8 de setembro.
Um achincalhe, sim! A melodia era nada mais, nada
menos do que A Marselhesa, o belíssimo hino nacional
da França, de Rouget de Lisle: Allons enfant de Ia Patrie
/ Le jour de gloire est arrivé...
Sherman, meu diretor, transformar A Marselhesa
em Salsichona, qual é a graça?
DATAFOLHA: Levantamento sobre o mensalão dá que 73% devem ir mesmo para cadeia, 11% não
acreditam nisso, e 37% acham que o grupo será punido apenas com prestação de serviços."
Já imaginaram o Zé Dirceu como cuidador aqui do velhinho?
CLASSIFICADOS: "Vende-se uma Orquestra Filarmônica da mais qualidade artística”. Maestro•Florentino
Dias, criador e regente, pondo dinheiro do bolso para mantê-la, desesperado, promete um concerto de
despedida dia 29 de outubro, depois de esgotadas todas as tentativas possíveis. Manutenção: 40 milhões por
ano. Aceita lances entre Mozart e Beethoven. Está aí uma boa para Marta começar sua gestão na Cultura.
O GLOBO: "Dilma lança Plano Brasil Medalha”. Um bilhão para o grande vestibular das
nossas Olimpíadas. Dinheiro para atletas, técnicos,
centros de treinamento e preparação em tempo
intensivo. “Que haja cada vez mais peitos para
medalhas e mais medalhas”. Incrível, Dilma leu
meu pensamento.
Pensamentos Pró-fundos
[email protected]
“O ovo e a galinha
discutindo filosofia
acabaram ambos
na panela da cozinha.”
“O som
do supersônico
sufoca
o silêncio
do meu sonho.”
“Temos dois braços
para que o abraço
seja envolvente,
apertado e terno.
Abrace.”
“Sem vencedor
e sem final,
prossegue a interminável
luta entre o bem e o mal.”
“O ouro brilha, ilude
e mata.”
“Leis são prosas
que gostariam de virar poesias.”
“O que é mais útil:
a língua ou o idioma?”
“Meu olhar
passeia pelo mundo
com vontade de sonhar.”
ESTADÃO: “Filme ofensivo ao Islam, com Maomé em cenas pornô, provocou a fúria dos muçulmanos
em onze países, com atentados a embaixadas americanas e morte de um embaixador e diplomatas”. Hillary
Clinton correu à televisão para dizer que os EUA não tinham nada com o filme, produção particular... mas
feito por um americano. Vai explicar à turba...
GNT - Semana do Jô: “Lawrence Whaba, documentarista
da natureza, denunciando que tubarões são sacrificados para
a retirada das barbatanas e depois são devolvidos ao mar”.
Dizem que com elas, as barbatanas, são feitas sopas deliciosas.
Sim, mas que a denúncia precisa ser apurada, lá isso, precisa.
O DIA: “Vende-se a Rua da Carioca. A Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, dona de todo o
lado esquerdo, faz negócio por 40 milhões de reais”. E a gente fica sem o Bar Luiz, sua salada de batatas, seu
doce de maçã?
A na flores
[email protected]
HERÓIS
Heróis não choram
não têm medo
não transgridem
não recuam
não desistem
não fogem
não sentem saudade.
Heróis não existem.
33
& &
arte artecultura
cultura
34
TEXTO_ricardo lindgren
arte_vlad calado
O que pretende um escritor
ao eleger o Erotismo como
tema prevalente em suas obras?
Causar impacto? Compartilhar
fantasias? Superar limites? Ou
uma mera opção comercial?
Dado que as respostas a essas
perguntas são próprias a cada
escritor, escolhemos quatro
perfis para nossa reflexão: Carlos
Drummond de Andrade, ícone
da nossa Literatura; o poeta e
ator Mano Melo; a jovem poetisa
Brigitte Caferro; e como atração
final, a multimídia Enoli Lara. O
nosso objetivo não é esgotar a
biografia e tampouco a dimensão
do trabalho desses autores, mas
dar aos leitores a chance de
entender um pouco das suas
almas e das suas obras.
Drummond
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE nasceu em Itabira - MG, em
31.10.1902. Educado em internatos
em Belo Horizonte e Friburgo, saúde
frágil, sem aptidão para as práticas
comuns da juventude, tornou-se um
adulto polivalente: boticário, professor,
repórter, editor, burocrata, romancista
e, principalmente, poeta! Irônico,
pessimista bem humorado, traçava
retratos existenciais facilmente entendidos pelos leitores. Aposentou-se do
Serviço Público e teve, no período
60/70, os seus anos mais produtivos.
Em 1987, escreveu o último poema.
Faleceu em 17 de agosto do mesmo
ano, 12 dias após a morte de sua
filha. Escreveu além da vida! O Amor
Natural, seu festejado livro de poemas
eróticos, só foi publicado após sua
morte, a seu pedido. O livro não é
um “desbunde” pontual do autor. Lançado em 1992, revelou a exuberância
desenvolvida a partir do Modernismo,
e um jeito moleque de escrever (Era
manhã de Setembro/ e/ ela me beijava
o membro).
O repórter e escritor Geneton
Moraes Neto, em Dossiê Drummond, diz que apesar do sucesso e
reconhecimento público, Drummond
era um homem sem orgulho e vaidade; desiludido; agnóstico; solitário;
cético; injusto com a própria obra;
um burocrata sem brilho e cargos
que exigissem decisões importantes
Brigitte
para mudar o destino da sociedade.
Sem ambições literárias, foi poeta pelo
desejo e pela necessidade de exprimir
sensações e emoções que perturbavam seu espírito e causavam angústia.
Fez da poesia o sofá do analista!
Mas o que tornava esse Clark Kent
de Itabira, jornalista tímido e burocrata
metódico, um SUPERMAN apaixonado, descontraído e brincalhão?
Segundo Geneton, o motivo tinha
nome e sobrenome: Lygia Fernandes
protagonizou com Drummond uma
bela história de amor. Um poeta e
uma bibliotecária, colegas do IPHAN,
ele com 49 anos e ela com 24, se conheceram e se apaixonaram. O amor
secreto durou 36 anos e mostrou ao
mundo um “outro” Drummond. O casamento com Dolores Dutra de Morais
sucumbiu aos encantos da bela e culta
Lygia, e os dois se amaram intensa e
secretamente até a morte do poeta.
Geneton pede perdão a Dona
Dolores, por ter sido um fã fervoroso
desse amor, mas certamente foi Lygia
quem o fez escrever versos fantásticos. A hipotética paixão incestuosa
pela filha Maria Julieta, e também a
suposta eutanásia, foram literalmente
desmentidas por Lygia. Ele encerra
seu dossiê dizendo que, após a morte
de Lygia Fernandes, em 2003, seus
familiares venderam seu apartamento,
recolheram o material contido no
imóvel, e recusaram-se a divulgá-lo,
ou mesmo falar sobre. “Isso me faz
crer, que versos maravilhosos Drummond deve ter colocado, ternamente,
nas mãos de Lygia, inspirados nos
momentos de amor adúltero, porém
divinos, e que um dia, quem sabe,
chegarão até nós”, afirma o autor.
No corpo feminino, esse retiro | - a doce bunda - é ainda o que
prefiro.| A ela, meu mais íntimo suspiro,| pois tanto mais a apalpo
quanto a miro.| Que tanto mais a quero, se me firo | em unhas
protestantes, e respiro | a brisa dos planetas, no seu giro | lento,
violento... Então, se ponho e tiro | a mão em concha - a mão, sábio
papiro | iluminando o gozo, qual lampiro | ou se, dessedentado,
já me estiro, | me penso, me restauro, me confiro,| o sentimento da
morte eis que o adquiro: | de rola, a bunda torna-se vampiro.
BRIGITTE CAUSSE CAFERRO
nasceu em 09.03.1985, em Saurimo, Angola. Cursava administração
pública na Universidade Agostinho
Neto, quando ganhou uma bolsa de
estudos do INABE, instituição conveniada com universidades públicas
brasileiras, e veio cá estudar. Chegou
ao Rio em fevereiro de 2008, mas
logo foi para Curitiba, onde vive.
Cursa administração na Universidade
Federal do Paraná e presta estágio na
Caixa Econômica Federal, além, é
claro, de escrever.
Brigitte nos conta: “Comecei a
escrever aos 13 anos, e profissionalmente aos 25, e o faço pela necessidade de compartilhar meus sentimentos
mais íntimos, mostrando ao mundo a
minha forma de pensar.”
Brigitte prossegue: “A vontade de
publicar um livro partiu do incentivo
de um amigo que apreciava meus
escritos. Vivências de Brigitte seria
o título do meu primeiro trabalho,
baseado em experiências pessoais, e
que por razões comerciais foi mudado
para Do Meu Íntimo Mais Íntimo. Para
citar alguns poemas, escolho Silêncio
porque é nele que a minha alma cria
asas e transforma palavras em arte;
Nosso Tempo Acabou fala da minha
ânsia em estar ao lado do meu amado,
o que, por uma força maior, não aconteceu; Monstruosa Escuridão também
fala do meu conflito sentimental por
estar longe desse mesmo amado. Os
que fazem maior sucesso com o público, medidos através de visualizações,
35
& &
arte artecultura
cultura
36
comentários, e links na internet, são:
Catarse, Cupido e Vulcão.”
Brigitte também divulga seus
trabalhos nas mídias sociais e conta:
“Além do perfil no Facebook, mantenho um blog onde mostro alguns
dos meus poemas e falo de outros
assuntos. Chama-se Muxima Camanga, palavras de duas línguas regionais
angolanas, que significam Coração de
Diamante, porque meus poemas vêm
do coração e têm para mim o valor
de um diamante.”
Quanto aos planos, Brigitte diz:
“Quero formar-me num futuro não
muito distante, ter um bom emprego
em Angola, ter meus negócios próprios e, é claro, escrever e publicar
os meus poemas. Quanto à família, o
bem mais precioso que se pode ter,
pretendo constituir a minha, com a
graça do Todo Poderoso.”
Sobre Angola e Cidadania, Brigitte
comenta: “O meu país passou por
um longo período de guerra civil.
Vulcão
Felizmente, em 2002, as armas se
calaram e, desde então, vivemos a
paz tão almejada. Ainda temos muito a
fazer, mas segundo o FMI, Angola tem
hoje uma das economias mais promissoras do Continente Africano. Se
tivesse condições, gostaria de ajudar
os menos favorecidos, principalmente
crianças e portadores de doenças.”
Curiosamente, Brigitte tem um
”Q” de timidez! Canta na paróquia
N.S. de Lourdes, igreja católica, no
bairro do Jardim Botânico, onde
reside. Acompanhada pelo violão de
Dario Júnior, a dupla se apresenta em
missas, inclusive no Natal, por amor à
fé. A criatividade de Brigitte está também no artesanato. Modela apliques
coloridos sobre as popularissimas
Havaianas. Imagens podem ser vistas
na sua página pessoal, no Facebook.
Brigitte finaliza a nossa entrevista
dizendo:
“A poesia tornou-se a minha vida
e o mundo a minha inspiração”
Vem meu ébano, | se arrocha, | na minha coxa, |
derreta-te em meus braços.| ...Deita-te na minha
cama, | me beija... | Diga que me ama. | Vem que
eu te cuido, | e não te deixo morrer nunca... | Cubrate com a minha colcha, | enrosca-te em meu corpo...
| Acende o vulcão que habita em mim... | Se
queimarmos o colchão, | faremos no chão. | Porque
onde o amor habita, | não há escuridão
Mano
Para entender MANO MELO,
pegue as chanchadas de Zé Trindade, Oscarito, e Grande Otelo; a
literatura de Zé Lins, Amado, Graciliano, Veríssimo, Guimarães Rosa,
Pessoa, Shakespeare, Homero, Goethe, Patativa e Baudelaire. Adicione
as correntes do cinema, teatro e
literatura, do clássico ao moderno.
Ponha tudo numa centrífuga, bata
por 55 anos, et voilà! Carioca há 16
anos, já publicou 8 livros de poesia
e o romance Viagens e Amores de
Scaramouche Araújo. Como ator,
foram 15 filmes, entre longas, curtas,
e documentários, além de peças de
teatro, e inúmeras aparições em
novelas e comerciais. No momento,
comanda o stand up poetry Mano a
Mano, sempre às primeiras terças de
cada mês no Zero-Zero da Gávea,
onde interpreta e recebe convidados, compartindo o palco com a atriz
Cristina Bethencourt.
O escritor comenta com a Folha
Carioca: “Meu interesse literário foi
precoce. Antes mesmo da escola,
já lia out-doors e itinerários dos
ônibus de Fortaleza. Nunca fui bom
de bola, nem de briga. Tímido com
as meninas, percebi que a literatura,
a poesia e o teatro me davam poder
de encantamento, impulso para o
autoconhecimento, e compreensão
do mundo e da nossa época.
A primeira manifestação ocorreu aos 11 anos em um concurso
promovido por uma rádio local. O
vencedor seria escolhido por aclamação da plateia. Fomos trancados numa cabine para escrever.
Meus concorrentes eram todos
adultos, e vieram com textos
piegas e chorosos como
boleros. Eu apresentei uma história
jocosa, em que dispensava a namorada após flagrá-la num amasso com
um soldado na Praça da Lagoinha,
abrigo preferido dos casais do centro de Fortaleza, cidade ainda sem
motéis. A plateia riu muito e ganhei
um prêmio em dinheiro e uma cesta
de produtos.
Percebi que poderia ganhar a
.... Encontrei a Madonna na
Praça da Paz | Numa limousine
Mitsubishi lilás | Calcinha preta
peitinhos soltos botas de salto | Algemas
na cinta corrente nos pulsos coleira no
pescoço | E incrustado num boné de
marujo que lhe cobria a cabeça | Um
crucifixo de ouro com um homem nu |
Abriu a porta do carro olhou pra mim
e disse assim: | - Entra aí seu bunda
suja, | Vamos tirar um sarro!
vida dessa forma, e não quis mais
outra coisa. Uma palavra ouvida
no ônibus, uma notícia no jornal,
uma frase em lugar público, sentimentos por uma namorada, amigo,
ou cidade, tudo pode virar poesia.
É o caso de Avenida Paulista, no
meu livro O Lavrador de Palavras.
Certa vez, em São Paulo, entrei no
banheiro de um boteco e vi escrito
na parede: “Uma mulher sem bunda
é como uma cidade sem igrejas”. Saí
rindo, sentei-me numa mesa, papel
e caneta na mão, e o poema surgiu
desse grafite.
São muitas as referências literárias, mas puxando a brasa para o
erótico, destaco Giácomo Casanova,
Henry Miller e Anais Nin. Gosto do
tema porque é energia vital, mas
algumas pessoas generalizam e me
veem como arauto da sacanagem,
carapuça que me recuso a vestir.
Madonna é um dos meus eróticos mais conhecidos. Quando me
perguntam se eu comi a Madonna,
respondo como o personagem de
James Stewart no filme O Homem
que Matou o Facínora: “Meu jovem, quando a lenda é maior que
o fato, publique-se a lenda”. O
poema é uma crítica ao star-system
e à indústria do entretenimento. A
personagem é uma referência para
satirizar o sistema.
Escrevi Sexo em Moscou numa
noite insone, brincando com o som
das palavras e ícones do comunismo. Não fui exilado, mas diante das
incertezas e restrições da ditadura,
achei que sair do país seria oportuno
e engrandecedor. Tinha dúvidas se o
título seria Amor, ou Sexo em Moscou, mas o grande Cazuza fechou
questão e batizou a criança, num
bar de Ipanema que já não lembro
o nome.”
“Poesia é arte para pequenas
multidões. Enquanto o destino me
conceder, estarei aí, a escrever e
interpretar. Um dia jurei que me
transformaria numa máquina de
escrever. Continuo tentando!”
Enoli
Trilogia do Prazer, a biografia de
ENOLI Maria de LARA, lançada em
2010 pela Nova Razão Cultural, é a
história da Sacerdotisa do Sexo no Reino
de Muirapuana, que professa o místico,
o erótico, e orgasma com o sedutor e o
seduzido. Mostra suas origens; a adolescência religiosa; as mulheres libertárias,
revolucionárias, e transgressoras que
nela habitam. Fala da paixão pelo Rio,
Carnaval, Maracanã, Flamengo e, claro,
das suas experiências de alcova.
Lara é curitibana, como sua mãe. O
pai era gaúcho, a figura masculina mais
marcante na sua vida. Aluna aplicada,
mesmo reprimida pela forte educação
religiosa, já deixava fluir o erotismo
precoce. Aos 17, ganhou a Maratona
Literária da Prefeitura de Curitiba. Linda
e articulada, trabalhou como recepcionista, manequim e modelo fotográfico.
Emprestou a bela voz para locução e
publicidade. Foi eleita por duas vezes a
Melhor Garota Propaganda da TV. Casou,
teve um filho, e separou-se um ano depois. Chegou ao Rio em 73 e tornou-se
carioca. Posou para Di Cavalcanti e Edgard Duvivier, com quem casou e viveu
por 10 anos. Da relação veio a paixão por
esculpir, tendo como temas preferidos o
calipígio e o fálico. Expôs suas obras no
Brasil, Estados Unidos e Europa.
Trilogia do Prazer mostra a trajetória
de Lara, tão polêmica quanto a de Elvira
Pagã, Luz Del Fuego ou Leila Diniz. No
Carnaval de 88, desfilou nua, com o corpo pintado, e em 89, exibiu o inédito nu
frontal, fazendo com que, a partir de 90,
a LIESA proibisse
a “genitália desnuda”. Ganhou fama
com o processo
contra a Globotec,
por uso indevido
da imagem do seu
bumbum. O país
inteiro quis vê-lo.
Um sucesso tão
arrebatador quanto os orgasmos de
Lara! Foi a primeira a estrelar um vídeo Playboy em segmento nacional,
Playboy Paixão Nacional, Enoli Lara,
um bumbum de 40 mil dólares. Eleita
uma das 200 playmates mais desejadas
no mundo, e um dos 10 mais belos e
perfeitos bumbuns da revista.
Candidata a vereadora em 92, distribuiu preservativos em vez de santinhos,
na luta pela educação sexual nas escolas.
Encenou Nelson Rodrigues, Shakespeare, e passou pelo O Tablado. Como
escritora, além de Trilogia do Prazer,
assinou crônicas para A Notícia, Ultima
Hora, Ele & Ela, e Internacional Big Man.
Na Rádio Manchete, em 2000, dava
dicas de alcova em Na Cama com Enoli.
Na TV, atuou em praticamente todas
as emissoras. Fez novelas, minisséries,
programas de humor, entrevistou e foi
entrevistada em inúmeros programas
jornalísticos e de variedades. Apresentou
A Mística do Nu, na extinta TV RIO,
dando origem ao video book de mesmo
nome, e que teve as imagens adquiridas
pela Abril Cultural, para produção do
famoso vídeo da Playboy. Participou
de Documento Especial, com a coluna
Sexualidade Feminina, na TV Manchete,
que precede o documentário em vídeo,
“Usufruo de inefável prazer em tudo que faço. Do orgasmo sexual,
ao transcendental, que possuem a mesma carga erótica. Algumas
modelos fazem o nu só pelo dinheiro. Eu não! Adoro estar nua,
e fotografo orgasticamente. Sou epicurista, tudo pelo prazer! (...)
Cleópatra tinha mais sede de poder do que de prazer. Eu, apesar
de toda a luxúria, tenho mais sede de saber do que de prazer. Meu
objetivo não é agradar, mas surpreender e provocar. Pode escrever
aí: Enolí é bem mais que uma bela bunda!”
homônimo, e oito vezes premiado. Lara
ainda se dedicou à música, como cantora
e compositora.
Lara sempre bebeu na fonte de
Drummond, e O Amor Natural é a
sua leitura de cama. Seus próximos
livros serão: Amantes de Alma, sobre
os pares perfeitos formados pela semelhança de almas; A Papisa Virtual, sobre
suas experiências na Internet. Lara quer
reviver os mitos de Cleópatra, Salomé,
Messalina e Joana D'Arc. Quer falar de
Santo Agostinho e sua vida pregressa,
devassa; de Santa Tereza D´Avila, e
a lança abrasadora que veio do céu,
penetrou-a e levou-a ao êxtase. Lara
abomina a Seita das Princesas contra
os Homens Cachorros e concorda
que as mulheres, incluindo a própria
mãe, influem na formação desse perfil
cafajeste. Aliás, o filho de Lara, Jefferson,
é um gentleman. Teólogo, Biólogo,
Professor de Criacionismo, deu a sua
mãe, recentemente, o primeiro neto,
Adrian, que continuará a dinastia de Lara.
“Você que já foi ousada não permita
que a amansem (Isadora Duncan)”
37
arte
& cultura
H aron Gamal
[email protected]
A perpétua busca da literatura
Novo livro de Magalhães estabelece diálogos entre poetas, musas e períodos literários
38
Publicar resenhas sobre livros de
literatura brasileira está se tornando
um grande problema. É vasto o
número de autores que se arriscam
nessa seara, mas pouco o espaço para
discutir suas obras. Uma das questões
que angustiam muitos ficcionistas e
poetas é a pouca divulgação dos seus
trabalhos, o que faz muitos buscarem
apadrinhamento no vasto aparato da
cultura de massa, como nos jornais
de grande circulação ou mesmo
na TV. Em contrapartida ao grande
número de publicações, observa-se
que a nossa literatura, embora de
nível elevado, carece na atualidade de
escritores geniais.
Um autor que engrossa a média,
podendo tornar-se genial daqui a alguns anos é Jorge Eduardo Magalhães.
Além de escrever também para teatro,
ele já está no seu quarto livro de ficção,
tendo até agora como o de maior sucesso o cult: Vagando na noite perdida.
Seu último livro, O retrato de Perpétua, apresenta trama muito interessante. Um poeta solitário, que vende
seus livros boca a boca, sobretudo à
noite, encontra num sebo a obra de
Ribeiro Gomes. Segundo o narrador,
trata-se de um poeta da literatura
portuguesa da primeira metade do
século 19, autor que escrevia poemas
a uma mulher idealizada, cujo nome é
Perpétua. Ao mesmo tempo, o poeta
de hoje descobre nas imagens de TV
uma repórter muito semelhante a tal
Perpétua do romantismo português.
Assim como o poeta esquecido, o
atual escreverá poemas para a sua
musa da pós-modernidade. O que o
livro apresenta de mais instigante é que
o autor criou não só dois poetas, mas
também dois tipos de literatura: uma
nos moldes românticos, outra
sob o ceticismo da contemporaneidade. O personagem
chega a procurar sua musa na
emissora de TV com o objetivo de presenteá-la com os
poemas dedicados a ela, mas
o encontro nunca se realiza.
O que se pode dizer é
que a tensão interna deste
pequeno romance é o diálogo
entre a literatura do poeta
esquecido, que viveu a maior
parte do tempo em Portugal,
e a do poeta dos dias atuais,
homem que se relaciona com
uma portuguesa pela internet,
que frequenta centros de lazer masculino para namorar
as prostitutas e que, mesmo
assim, amarga uma tremenda
solidão, vagando dias e noites
pelas ruas do centro do Rio,
tendo como companhia apenas a
febre, que reaparece a cada anoitecer.
O que se pode sugerir para que
Jorge Eduardo torne-se um autor
de destaque na literatura brasileira
contemporânea? Aconselho maior
cuidado com a linguagem, sobretudo
com a revisão, já que sua editora, a
Multifoco, não é uma casa voltada
para o fino acabamento de nenhum
tipo de livro. Quem se aventura nesse
mercado, não pode enviar para as lojas
livros com erros grosseiros, como
o que aparece logo no início e que
está corrigido com corretor manual.
Um autor, além de criador, não tem
como dar conta de todo o processo
de editoração, por isso a necessidade
de um bom revisor e de uma boa
casa editorial. Isso evitaria erros como
“imacular”, ao invés de “macular” (p.
68), “esquecia”, no lugar de “esquecida” (p. 69) etc.
Um problema estrutural, que
poderia também ter sido sanado com
olhar mais atento, ocorre na página 5.
O narrador diz “Fazia quase dois anos
que não via Priscila”; três parágrafos
abaixo, está escrito: “Naquele mesmo
ano, um pouco antes de conhecer
Priscila...”. O que se deduz é que,
no momento da primeira referência
à mulher, o narrador encontra-se no
presente, e que, na segunda, faz um
flashback para contar como conheceu
Priscila. Um bom revisor tiraria o segmento “naquele mesmo ano” e tudo
estaria resolvido.
A ideia de Jorge Eduardo é boa.
Eu mesmo, como leitor experiente,
fui averiguar sobre a suposta existência do poeta citado no livro. Como
nada encontrei, escrevi ao autor, que
me confessou ter sido tudo
criação sua.
Uma vez que Magalhães
tem verve para criar e citar
autores fictícios, enganando até
mesmo o resenhista, acredito
que seu talento seja maior para
olhar a própria obra com mais
cuidado. Assim, daqui a algum
tempo, não tardará a lermos
um autor genuinamente carioca, que saberá retratar com
esmero e minúcia as paixões e
os sofrimentos dos habitantes
desta cidade.
É digna de nota a passagem
do livro em que o poeta está
prestes a encontrar sua musa,
a repórter de TV. Ela apresenta
uma matéria ao vivo numa igreja ameaçada de desabamento,
no centro da cidade. Na verdade, ele quer entregar-lhe, em
mãos, o livro de sonetos que escreveu
inspirando-se nela. Mas, num último
momento, hesita:
“Não, uma musa não deve ser
tocada. O poeta nunca deve se aproximar de sua amada. A musa deve ser
sublimada, inatingível. Aquela era uma
mulher bonita e qualquer contato, por
menor que fosse, poderia desmistificála. Sentou no meio fio, escreveu uma
breve dedicatória na contracapa do
livro e pediu ao motorista da emissora
para entregar a P.H. Agradeceu e foi
andando sem olhar para trás. Tinha
certeza de que Ribeiro Gomes nunca
se aproximou de sua Perpétua.”
O retrato de Perpétua
Jorge Eduardo Magalhães
Anthology – Editora Multifoco,
89 páginas
arte
&
cultura
ROTEIRO BOÊMIO CULTURAL
Torre de Babel que se entende
Mochileiros de todo o mundo se encontram semanalmente em quiosque de Copacabana
TEXTO_Renato Amado
Que tal viajar e ficar hospedado
na casa de outra pessoa? Aluguel de
quarto? No CouchSurfing, o pagamento é a troca de experiências.
Criado em 2003, o projeto visa
aproximar pessoas de diferentes
partes do mundo. Não apenas através do “surfe de sofá”, ou seja, pela
hospedagem gratuita, como também
através de encontros em que locais e
turistas podem se conhecer. Por isso,
o domínio www.couchsurfing.org,
uma espécie de Orkut para mochileiros, além do perfil detalhado dos seus
usuários, conta com comunidades de
centenas de cidades, pelas quais os
cadastrados podem combinar diversos programas.
Uma da mais ativas, a comunidade do Rio de Janeiro percebeu,
há cerca de três anos, a necessidade
de fazer um evento semanal. Foi
criado então o CouchSurfing weekly
meeting. Inicialmente os encontros
eram no Mercadinho São José, em
Laranjeiras, mas a procura fez com
que se buscasse um local mais amplo.
Por isso, já há dois anos, os encontros
ocorrem no quiosque Pizza em Cone,
em frente à antiga Help - onde hoje
está sendo construído o Museu da
Imagem e do Som.
O público é variado. Tem desde
mochileiros bicho-grilo rodando o
mundo, a fiéis eleitores republicanos
passando um feriado num paraíso
tropical. E como um público tão
eclético consegue se entender tão
bem? “A grande sacada é perceber
que diferente não é melhor nem
pior, mas simplesmente diferente.
Com esse entendimento acho que
falar outro idioma se torna só um
mero detalhe”, conta Márcio Attie,
um dos assíduos frequentadores. E
realmente, os participantes querem
mesmo é diversidade. Por isso não
se espante se num dado momento se
der conta de que está numa roda de
bate-papo com um alpinista carioca,
uma cientista política americana e um
universitário indiano. “Conheci muitos
locais que foram ótima companhia e
que ajudaram a fazer com que minha
viagem fosse ótima”, conta o turista
britânico Thomas Forsayeth.
39
A quantidade de frequentadores,
assim como a proporção turistaslocais, varia de acordo com a temporada. Com não mais de cinquenta
pessoas numa semana de maio ou
setembro, o encontro se torna uma
bombação para cerca de quatrocentos mochileiros ávidos por curtição na
alta temporada, tendo o inglês como
língua franca. Segundo o carioca e
morador de Copacabana Juan Miguel,
“nas semanas próximas
ao carnaval fica até difícil
de passar no calçadão”.
E enquanto o verão
não chega, vale a pena ir
se ambientando. O encontro é aberto, mas o
cadastro é incentivado,
para que o frequentador
seja um membro da
comunidade mundial do
CouchSurfing. Simples e
gratuito, ele é realizado
no site do projeto.
CS weekly meeting
Todas as quintas-feiras, das 20h à1h
O local tradicional do evento é o Quiosque
Pizza em Cone, na Av. Atlântica, altura do
Museu da Imagem e do Som
Porém o local está em obras e é preciso
acompanhar no site o local das próximas
edições
Eventio Gratuito
Cerveja, refrigerante e comida com desconto para surfistas de sofá
cidadania
&
sustentabilidade
Consumo consciente
Pequenas escolhas,
grandes transformações
Para poder estar em dia com a sustentabilidade de suas ações, o consumidor deve ter informações
sobre origem, composição, embalagem e destino final dos produtos
40
No dia 15 de outubro é comemorado o Dia do Consumo
Consciente. A data foi instituída
pelo Ministério do Meio Ambiente
(MMA), no Brasil, para conscientizar
a população sobre os problemas
socioambientais que os padrões
atuais de produção e consumo estão
causando ao planeta Terra e aos
próprios seres humanos.
Ações cotidianas, concretas e
voluntárias de consumo consciente
permitem a qualquer pessoa contribuir para a preservação do meio ambiente e melhorar a qualidade de vida
de todos. Um amplo despertar de
consciências para esta nova realidade
é um dos desafios da vida moderna.
Você é o tipo de pessoa que
entra no supermercado e avalia
cada produto que vai colocar dentro do carrinho ou não está nem
aí para sua origem e se realmente
precisa daquilo naquele momento,
muitas vezes pagando caro por sua
escolha? Quem sabe, não chega a
esse ponto, mas adora produtos
bem baratos, de origem um tanto
quanto suspeita e que podem ser
consumidos de forma exagerada,
sem passar por sua cabeça que está
por trás desse baixo custo a exploração da mão-de-obra e geração de
problemas sociais ou, até mesmo, o
trabalho infantil?
A consciência tem um preço,
o qual nem todo mundo concorda
em pagar, já que aparenta ser mais
elevado do que se gostaria. Hoje
muitas questões, sobretudo as
ecológicas e ambientais, perpassam
pelo seu despertar, nem sempre
aceito com tanta prontidão quanto
necessário. Criar uma nova cultura
que abra espaço para a qualidade e
uma vida sustentável ainda parece
utópico e distante. No entanto, o
aumento populacional e o consumo
desenfreado há tempos vêm gerando problemas de grande monta que
se tornam cada vez mais críticos, ao
ponto de ameaçar a viabilidade de
toda espécie de vida sobre a Terra.
Esse contexto iminente faz parte de
todo um sistema, desencadeado por
uma lógica de funcionamento que
necessita ser repensada para uma
mudança urgente e global.
Para a formação de consumidores conscientes a estratégia
de mudança passa pelo processo
educativo, pois é uma ferramenta
poderosa, capaz de gerar um senso
crítico e ampliar a visão para que
novas escolhas sejam estabelecidas.
O processo de construção do conhecimento parte do princípio do
que as pessoas sabem sobre o tema,
possuindo liberdade para formular
seus próprios conceitos, A principal
organização não-governamental
focada neste conceito é o Instituto
Akatu, criado no âmbito do Instituto
Ethos de Empresas e Responsabilidade Social. Seu objetivo, desde o
princípio, foi educar e mobilizar a sociedade para o consumo consciente.
Os pilares do Instituto são: educar,
informar, sensibilizar, mobilizar e
animar cidadãos para assimilarem,
em seus comportamentos e atitudes,
o conceito e a prática do consumo
consciente. Para cumprir esta espécie de "missão" é necessário um trabalho com várias frentes de atuação,
como o desenvolvimento de atividades em comunidades; divulgação
de conceitos e de informações na
internet, em publicações, na mídia e
em campanhas publicitárias; geração
de pesquisas; e elaboração de instrumentos de avaliação e informação
sobre o consumo consciente.
O consumo consciente ou
sustentável é um conceito bem
mais aberto, que hoje está além da
direção da economia, dos direitos
do consumidor e da reciclagem de
lixo. Não é uma postura reativa, mas
leva o consumidor a se identificar
como um protagonista dentro desse
amplo contexto social, político e
cultural. O consumidor tem poder.
Pode e deve usá-lo em benefício
de uma sociedade mais sustentável.
Ele parte da forma básica do cidadão consumidor para se tornar um
consumidor cidadão.
Como ser um consumidor
socialmente responsável
• Leve uma sacola de pano ou plástico reutilizável para o supermercado e
evite as sacolinhas plásticas.
• Priorize serviços e produtos de empresas com responsabilidade socioambiental.
• Tente equilibrar a satisfação pessoal com o ambientalmente correto,
socialmente justo e economicamente viável.
• Consuma alimentos produzidos localmente e dê prioridade aos sem
agrotóxico.
• Não deixe torneiras pingando: uma gota por segundo desperdiça em
média 46 litros de água.
• Economize água no banho: diminua o tempo ou feche a torneira enquanto
estiver se ensaboando. Em 10 minutos, são gastos em média 160 litros
de água.
• Escove os dentes com a torneira fechada. A cada dois minutos, são gastos
13 litros de água.
• Vasos sanitários com caixa d’água acoplada e descarga diferenciada gastam
menos água.
• Use vassoura para limpar a calçada e o quintal de casa.
• Use bacias ou a própria pia tampada para lavar a louça. Ao lavar a louça
durante 15 minutos com a torneira aberta, gastam-se 240 litros de água.
Dicas para um
consumo consciente
no Dia das Crianças
Acerte no presente
Minimize o risco de errar nos presentes: pergunte o que as crianças querem ganhar ou, se preferir fazer surpresa, reflita bem antes de comprar,
buscando algo que tenha a ver com os gostos e interesses de quem você
irá presentear.
Controle o impulso consumista
Compre menos, planeje suas compras, estabeleça um limite de gastos e
não o ultrapasse.
Dê presentes alternativos
Faça você mesmo alguns dos seus presentes. Compre produtos artesanais
feitos por comunidades, cooperativas ou entidades do terceiro setor e opte
por objetos feitos com matéria-prima reciclada.
Não compre produtos piratas ou contrabandeados
Pagar menos por produtos piratas ou contrabandeados não compensa:
você estará contribuindo com o crime organizado e com o consequente
aumento da violência no seu bairro, na sua cidade, no seu país.
Escolha produtos de empresas social e ambientalmente responsáveis
Informe-se sobre as empresas das quais vai comprar.
Avalie bem quando comprar a prazo
Caso opte por comprar a prazo, verifique a taxa de juros e analise se a
prestação é adequada ao seu orçamento. Caso pague à vista, busque
negociar um desconto no preço. E não se esqueça de fazer uma reserva
no seu orçamento para os gastos que sempre ocorrem no início de ano.
Cuidado com as embalagens
Dê preferência a papéis e embalagens recicladas, escolha as embalagens
duradouras e que possam ser reutilizadas, e encaminhe para reciclagem
as que não puderem ser reaproveitadas.
Dissemine o consumo consciente
Aproveite a comemoração e dissemine o consumo consciente entre seus
amigos, colegas de trabalho e familiares. Esse é o melhor presente que você
pode dar à humanidade E lembre-se há coisas que por um milagre, quanto
mais consumimos, mais se multiplicam. Por isso consuma exageradamente
amor, beleza, alegria, carinho e amizade.
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O nde encontrar
OX Fitness Club Mourisco
Praia de Botafogo 501
Banca da Gávea
R. Prof. Manoel Ferreira, 89
Tel.: 2294-2525
OX Fitness Club Praia
Praia de Botafogo, 488
21 2295-2211
Banca Dindim da Gávea
Av. Rodrigo Otávio, 269
Tel.: 2512-8007
COPACABANA
Banca do Carlos
Rua Arthur Araripe, 1
Tel.: 9463-0889
BOTAFOGO
Banca Bolivar
Rua Bolivar, 134
Banca Dias da Rocha
Rua Dias da Rocha, 09
Banca do Babau
Rua Inhangá esquina c/ NSC
Banca Miguel Lemos, 24
Rua Miguel Lemos, 24
Banca Prado Jr.
Rua Prado Jr., 335
Banca New Life
R. Mq. de São Vicente,140
Tel.: 2239-8998
Banca Planetário
Av. Vice Gov. Rubens Berardo
Tel.: 9601-3565
Banca Raimundo Corrêa
Rua Raimundo Corrêa, 09
21 9824-0150
Banca Speranza
Praça Santos Dumont, 140
Tel.: 2530-5856
Banca Sá Ferreira
Rua Sá Ferreira, 44
Banca Speranza
Rua dos Oitis esq. Rua José
Macedo Soares
Banca Tia Vânia
Rua Xavier da Silveira, 45
42
Banca Feliz do Rio
Rua Arthur Araripe, 110
Tel.: 9481-3147
Banca Xavier da Silveira
Rua Xavier da Silveira, 40
Casa da Táta
R. Prof. Manoel Ferreira,89
Tel.: 2511-0947
Empório Occiale
Rua Siqueira Campos, 143 –
Loja 141-142
Chaveiro Pedro e Cátia
R. Mq. de São Vicente, 429
Tels.: 2259-8266 Espaço Brechicafé
R. Siq. Campos 143 - loja 31
Tel: 2497-5041
Igreja N. S. da Conceição
R. Mq.de São Vicente, 19
Tel.: 2274-5448
Farmácia do Leme
Av. Prado Jr.,237 – A
Menininha
Rua José Roberto Macedo
Soares, 5 loja C
Tel.:3287-7500
Graça Brechó
Av. N.S.Copabana 959 - Loja E
Ao lado do Cine Roxy
Livraria Nobel
Rua Barata Ribeiro, 135
Tel.: 2275-4201
Posto BR – loja de
conveniência
Rua Mq. São Vicente, 441
Quiosque de Inf. Turísticas
Av. Atlântica, Posto 3
Restaurante Villa 90
Rua Mq. de São Vicente, 90
Tel.: 2259-8695
Rest. Príncipe de Mônaco
Rua Miguel Lemos, 18- Loja A
HUMAITÁ
Sebo Baratos da Ribeiro
Rua Barata Ribeiro, 354
Shopping 195
Av. N.S.Copacabana, 195
Sorveteria Lopes
Av. N.S.Copa., 1.334 - loja A
FLAMENGO
Academia Max Forma
Rua Clarisse Índio do Brasil,20
Banca do Alexandre
R.Humaitá esq. R.Cesário Alvim
Tel.: 2527-1156
IPANEMA
Armazem do Café
Rua Maria Quitéria, 77
Banca do Renato
Rua Teixeira de Mello, 35
Centro Cultural Laura Alvim
Av. Vieira Solto, 176)
Mundo Verde
Rua Visconde de Pirajá, 35
Supervídeo
Rua Visconde de Pirajá, 86 lj.C e D
21 2522-6893
Via Verde
R. Vinicius de Moraes, 110, LJ. C
Wash Club
Visconde de Pirajá, 12, loja D
JARDIM BOTÂNICO
Carlota Portella
Rua Jardim Botânico, 119
Tel: 2539-0694
Le pain du lapin
Rua Maria Angélica, 197
Tel: 2527-1503
Livrarias • Bancas • Cafés • Restaurantes
Espaços Culturais • Lojas cadastradas • Academias
Banca do Mário
Rua Gen. Artigas, 325
Tel.: 2274-9446
Banca do Vavá
Rua Gen. Artigas, 114
Tel.: 9256-9509
Banca Encontro dos Amigos
Rua Carlos Goes, 263
Tel.: 2239-9432
Posto Ypiranga
Rua Jardim Botânico, 140
Tel:2540-1470
Banca HM
Rua Dias Ferreira, 154
Tel.: 9270-6337
Supermercado Crismar
Rua Jardim Botânico, 178
Tel: 2527-2727
Banca Largo da Memória
Rua Dias Ferreira, 679
Tel: 8079-8360
LAPA
Banca Luísa
Rua Cupertino Durão, 84
Tel.: 2239-9051
Restarante Nova Capela
Av. Mén de Sá, 96
Tel: 2252-6228
LAGOA
Bistrô Guy
Rua Fonte da Saudade, 187
LARANJEIRAS
Casa da Leitura
Rua Pereira da Silva, 86
Mundo Verde
Rua das Laranjeiras, 466 – loja D
3173-0890
LEBLON
Banca Miguel Couto
Rua Bartolomeu Mitre, 1082
Tel.: 3861-7989
Banca Rainha
R. Rainha Guilhermina,155
Tel.: 9394-6352
Banca Scala
Rua Ataulfo de Paiva, 80
Tel.: 2294-3797
Banca Top
Rua Ataulfo de Paiva, 900
esq. Rua General Urquisa
Tel.: 2239-1874
Café com Letras
Rua Bartolomeu Mitre, 297
Café Hum Leblon
Rua Gen. Venâncio Flores, 300
Tel.: 2512-3714
Armazém do Café
Rua Rita Ludolf, 87
Tel.: 2259-0170
Cidade do Leblon
Av. Ataulfo de Paiva, 135
Banca Café Pequeno
Rua Ataulfo de Paiva, 285
Entreletras
Shopping Leblon nível A 3
Banca Canto Livre
Rua Gen. Artigas, s/nº
Tel.: 2259-2845
Embalo Bar
R Dias Ferreira, 113
Maison 25 Haute Coiffeur
Rua Roberto Dias Lopes, 25
OX Fitness Clube Leme
Rua Gustavo Sampaio, 542
- loja A
OX Hair Lounge
Rua Gustavo Sampaio,
723 - loja B
Quiosque Espaço OX
Av. Atlântica, Posto 1
SANTA TERESA
Banca Chamarelli
Rua Áurea, 02
Banco do Lgo. dos Guimarães
Largo dos Guimarãess/nº
Bar do Gomes
Rua Áurea, 26
Café do Alto
Largo dos Guimarães, 143
URCA
Banca da Deusa
Banca da Teca
Fotografia Digital
Av. Afranio de Melo Franco, 310
Banca do Círculo Militar
em frente ao Círculo Militar
Banca do EPV
República Animal
R. Marquês de Abrantes, 178 lj. B
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Banca Ernesto e Bia
Av. Portugal, 936
15ª DP – Gávea
R. Major Rubens Vaz, 170
Tel.: 2332-2912
R$ 45,00 (12 edições mensais)
Vitrine do Leblon
Av. Ataulfo de Paiva, 1079
Banca Garota da Urca
Av. João Luíz Alves, 56
Banca da Bibi
Shopping da Gávea 1º piso
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Farmácia do Leme
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Bar e Restaurante Urca
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