Caos na UFSC

Transcrição

Caos na UFSC
FLORIANÓPOLIS, 6 DE AGOSTO DE 2007, No 604
É ano de
eleição
para reitor
Acesso do Pantanal foi fechado na semana passada. Entrar na UFSC, só pela Carvoeira
Caos na UFSC
A
Apufsc vem a público manifestar-se sobre a deterioração das condições de
funcionamento da UFSC,
com a iminente impossibilidade de início do semestre 2007/02.
Entendemos que este semestre letivo está
comprometido e substancialmente prejudicado. Apesar da nota da Pró-Reitoria de
Ensino de Graduação, divulgada em 01/08,
a situação não está normal, pelo contrário:
agrava-se rapidamente a cada dia.
A irresponsável ausência de resposta do
governo federal à pauta de reivindicações
dos servidores técnico-administrativos,
num processo de “empurrar com a barriga” as negociações, leva à corrosão da
qualidade acadêmica, científica e administrativa da UFSC. Perguntamos: como é
possível estudar e pesquisar sem Biblioteca
Universitária e sem laboratórios? Sem o
funcionamento normal das secretarias?
Muitos estudantes não conseguem se
manter sem o funcionamento do RU. E
mais, como aceitar que, nós, professores,
neste período de greve dos servidores
técnico-administrativos, ignoremos os
prejuízos ocasionados por este movimento, mantendo a rotina acadêmica como se
fosse possível a universidade prescindir de
livros, de apoio logístico e de pessoal?
A não-resolução das justas reivindicações está levando a greve a se prolongar
no tempo, sem resposta efetiva. Como já
vem ocorrendo há várias semanas, muitos
setores da UFSC se encontram paralisados
totalmente, como, por exemplo, DAE
e NPD. Portanto, o caos está instalado!
Neste sentido, a diretoria da Apufsc
pede aos professores que reflitam se
devem iniciar o próximo semestre nas
precárias condições em que se encontra a
nossa universidade, pois há muito tempo
temos acumulado prejuízos que apenas se
mostram mais evidentes durante a greve.
É necessário enfatizar que o movimento
dos servidores técnico-administrativos
vem lutando para garantir a qualidade
do ensino, pesquisa e extensão nesta
instituição.
Os professores da UFSC, em sua última
Assembléia Geral (19/julho/07), aprovaram moção de apoio à greve dos servidores técnico-administrativos. A Apufsc
conclama, desta forma, as autoridades,
particularmente as desta universidade, a
exercerem suas funções e pressionarem
com toda a força possível o MEC e o
MPOG para uma solução imediata da
situação que perdura há mais de 66 dias.
Neste segundo semestre de 2007, um grande evento
se impõe: a eleição para a Reitoria, que deverá ocorrer até
o final do ano. Como é tradição em nossa universidade,
esta eleição acontece sempre no semestre que antecede a
posse. Portanto, é hora do Conselho Universitário tratar
das eleições para reitor, estabelecendo o calendário eleitoral, elegendo a Comissão Eleitoral e anunciando a toda
comunidade universitária o processo sucessório.
É bom lembrar que a luta pela escolha de reitor e
demais cargos dentro da universidade custou sangue e
suor de muitos, já que a ditadura se opunha a qualquer
tipo de eleição. Esta eleição é uma conquista consolidada
na história e tradição de uma comunidade de cerca de
30 mil pessoas. É importante que o processo eleitoral
garanta lisura e a igualdade de condições. Uma eleição
que propicie as condições para que a escolha da comunidade universitária seja respeitada. A votação paritária
dos três setores da UFSC já é um patrimônio político
que não permite mudanças de última hora nas normas
eleitorais, o que, com certeza, levaria a uma forte reação
de todos aqueles que defendem um processo transparente
e democrático nessa universidade.
Devemos iniciar, por último, um amplo processo de
discussão e reflexão sobre a universidade atual, tendo
em vista a construção de uma plataforma mínima que
leve em conta uma universidade pública, gratuita e de
qualidade, seja qual for o candidato.
Portanto, é hora de o CUn se manifestar.
LONA CULTURAL CONVIDA
PARA O 1º DEBATE SOBRE O
PROCESSO ELEITORAL NA UFSC
Iniciando uma série de atividades préeleitorais, a Apufsc convida para uma
discussão sobre a eleição e, a partir dela, os
rumos da universidade. Vai ser na sexta-feira,
dia 10, entre 15 e 18 horas, ao lado da Apufsc
Avisos:
- O processo de exclusão e inclusão dos usuários da
Unimed no mês de agosto será antecipado para o dia 15.
A data limite para envio de alterações cadastrais costuma
ser o dia 20 de cada mês. Em setembro a situação deve
se normalizar.
- O assessor jurídico que atende casos da Unimed
e das ações da Brasil Telecom, que costuma atender às
quartas, estará à disposição dos professores, expecionalmente nessa semana, na quinta-feira, dia 9 de agosto,
das 14 às 16 horas.
2
Ações afirmativas e desigualdades
em educação: quanto
desconhecem os acadêmicos?
Vânia Beatriz Monteiro da Silva¹
Regina Vasconcelos Antonio²
Justina Ines Sponchiado³
O debate sobre ações
afirmativas no ensino superior continua na UFSC.
Sim, pois há pelo menos
seis anos são realizadas
atividades específicas ou
integradas a eventos de
ampla divulgação em que o tema está aberto
às interrogações, aos esclarecimentos, enfim, ao
debate. Ainda mais, o Boletim da Apufsc incluiu
entre suas publicações manifestações e convites
para eventos com o tema! Ou desconhecem os
acadêmicos?
Lembrando alguns momentos de debate
recente – todos amplamente divulgados –: o
debate Cotas para negros nas universidades, em
outubro de 2001 com a participação do vereador
e professor Marcio de Souza e do professor Nildo
Ouriques, o debate “Cotas para negros: problema ou solução?”, ocorrido em 13 de fevereiro de
2003, com a participação da procuradora-geral
da UFPR. Dora Lucia Bertulio, do professor
Carlos Eduardo dos Reis e do sociólogo João
Carlos Nogueira e o debate de 26 de junho de
2003 “Cotas na UERJ. E na UFSC?”, promovido pelo Grupo de Trabalho de Etnia, Gênero e
Classe da Apufsc com a presença da pró-reitora
de Ensino de Graduação (à época, professora
Sonia Probst) e a docente da Faculdade de
Educação da UERJ; Maria Alice Rezende; a
Mesa Redonda Relações raciais e políticas em
educação no Brasil (02/2006) com a presença de
acadêmicos da UnB, UFRJ e do movimento de
Pré-vestibulares populares; o Seminário Cotas e
Ações Afirmativas na Universidade Federal de
Santa Catarina, promovido em junho de 2006,
com participação de representantes envolvidos
no debate e implementação na Unicamp, UFPR,
UnB e pesquisador do Laeser (Laboratório de
Análises Econômicas, Sociais e Estatísticas das
Relações Raciais) da UFRJ; seminários promovidos pela Coperve/UFSC sobre vestibular; os
encontros para debate promovidos pelo Centro
de Filosofia e Ciências Humanas e pelo Centro de
Ciências da Educação, o encontro da Comissão
de Ações Afirmativas e os gestores da UFSC; e
ainda a home page da Comissão da UFSC com
materiais que informaram das análises e posicionamentos sobre as ações afirmativas.
Com estas atividades foi possível trazer para
a UFSC conhecimentos relacionados às várias
questões que constituem o núcleo da responsabilidade política implicado na decisão pelas
ações afirmativas: o acesso à educação superior
publica e de qualidade como direito que deve ser
cada vez mais ampliado face ao reconhecimento
de que os estudantes – empobrecidos, negros
Florianópolis
e indígenas – da educação básica têm menos
oportunidades no percurso de seus anos de
estudo, em função da dinâmica excludente pela
qual a educação brasileira constituiu-se desde
seus primórdios quando da instauração das redes publicas pós-proclamação da República ao
final do século XIX. É disto, afinal, que se trata
o debate central das ações afirmativas!
Tais oportunidades são marcadas historicamente por múltiplas faces: desde a precariedade
que veio sendo imposta ao cotidiano do planejamento e das atividades escolares, às ‘violências’
que constituem visível e/ou invisivelmente as
interações escolares e o eurocentrismo patético
dos saberes consagrados nos currículos, que se
combinam com todas as demais relações sociais
que formam o tecido de sociabilidade das crianças e jovens. Vivemos um momento em que
nossos saberes sobre mobilidade educacional,
sobre direitos, sobre legalidade são fustigados e
seus alicerces fortemente questionados. Estamos
sendo convidados a avançar para o que Boaventura de Sousa Santos, sociólogo português,
nomeou de “viragem descolonial”, a assumirmos os desafios que muitos já enfrentaram para
combater a tragédia social que é o racismo.
Para tanto, contamos no Brasil, com densa
produção social que é capaz de subsidiar uma
nova compreensão para o que se oferece como o
real e o legítimo. Leiam, pois, senhores e senhoras
acadêmico/as, as análises sobre os tipos de escolas
que são destinadas aos pobres – entre os quais
negros sempre são maioria – e as relações raciais
que ali nutrem a construção da auto-imagem de
cada criança e cada jovem.Talvez seja desconhecido, para quem não acompanhe – porque não
é do seu oficio docente no ensino superior – as
pesquisas e as análises educacionais no Brasil
que desde os anos 1990 mostram a face perversa
das desigualdades no Brasil. Por exemplo, leiam
Do silêncio do lar ao silêncio escolar, de Eliane
Cavalleiro, onde a observação do cotidiano na
educação infantil (já) identifica as expressões dos
preconceitos sócio-raciais entre crianças e entre
professoras e crianças. Examinem os dados das
pesquisas de IBGE e Dieese sobre a relação entre
ocupação de postos de trabalho/escolaridade
quando comparados pretos/pardos e brancos.
Ou, se preferirem trabalho de feição acadêmica
mais familiar, leiam ao menos alguns dos textos
da Revista Estudos Avançados do Instituto de
Estudos Avançados da USP, edição de numero
50 como o dossiê O negro no Brasil.
Também pode ser desconhecido o debate
que já ocorria ao longo dos anos 1990, sobre
Constituição e ações afirmativas, momento em
que se esclareceu a gênese da definição estática
de igualdade, herdada da formulação jurídica
liberal que deu sustentação ao estado burguês, e
firmou-se a perspectiva de adoção da concepção
substancial de igualdade, conforme o professor
BOLETIM APUFSC
Joaquim Barbosa Gomes, “que levasse em conta
sua operacionalização não apenas em certas condições fáticas e econômicas, mas também certos
comportamentos inevitáveis da condição humana, como é o caso da discriminação” (2003).
Em outras palavras, não basta a Constituição
brasileira definir a igualdade, mas, exatamente
para que ela seja efetiva, deve o Estado atuar
de modo a fazer emergir o que o jurista acima
referido observa como “diversos ordenamentos
jurídicos nacionais e na esfera do Direito Internacional dos direitos humanos, de políticas
sociais de apoio e de promoção de determinados
grupos socialmente fragilizados” (idem).
Outrossim, as pesquisas voltadas para o
desenvolvimento humano no que se refere
às capacidades intelectuais – vamos nomear
assim – mostram que a construção de saberes
e disposições ocorre como relação de saber, ou
seja, na atuação dos indivíduos nas relações
com os outros, todos mediadores da produção
de conhecimento entre si. Isto certamente nos
coloca a responsabilidade de construir oportunidades reais, face ao que as ações afirmativas,
também compostas pelas cotas para ingresso
no ensino superior, são expressão nacional e
internacional de sensibilidade, autocrítica da
sociedade e compromisso que desafia nossos
saberes, valores e, em muitos casos, o conforto
que a ordem vigente propicia.
A larga experiência com as ações afirmativas no mundo mostra, outrossim, que
não se trata de facilitar, de privilegiar, mas
exatamente de prover mais pessoas ao direito
à educação, mas este é um debate rigoroso que
merece foco especifico para o qual podemos
destinar outro momento de interlocução. Por
fim, valem as palavras de Raquel de Queiroz,
em diálogo com um seu colega anônimo, na
revista O Cruzeiro (1948), contrapondo ao
que este chamara de “filosofia da mulataria”
para a problematização posta por sociólogos
em relação ao racismo. Um, outro e mais
outro, a escritora alinha exemplos das mais
diversas esferas da vida em sociedade e com
testemunho pessoal ou informações diversas
apresenta um quadro que ainda permanece
inalterado: a discriminação racial, além de
criar obstáculos ou mesmo interdições para as
ações mais corriqueiras das pessoas, impregna
para além, a auto-valorização e com isto, a
construção de projetos de vida! No presente,
muitas universidades brasileiras dizem não ao
racismo e a outras formas de discriminação
ao implementarem ações afirmativas e nos
oferecem oportunidade ímpar para ampliar
a democracia na sociedade.
¹ Prof. do Depto. de Metodologia de Ensino
² Prof. do Depto. de Bioquímica
³ Técnica em Assuntos Educacionais no CED
6 de agosto de 2007
3
a defesa da educação pública, os delegados presentes ao Conad deliberaram que
o Andes intensifique as ações de denúncia
junto aos Ministérios Públicos Estaduais
e Federal sobre as fundações de apoio
através do agendamento de audiências e
entrega, aos procuradores, do conjunto de
documentos elaborado pelo SN sobre esse
tema.
A defesa da integralidade da seguridade social, como definida na Constituição
de 1988, foi um dos temas tratados em
São Luís, e a indicação para que as seções
pedagógico realizado, sem falar na descasindicais e secretarias regionais realiracterização da universidade como lócus
zem debates e seminários para discussão
principal na formação de professores; e
sobre as graves conseqüências para as Ifes dos mecanismos de controle social das
políticas de seguridade social, em especom a aceitação do banco de professores
cial quanto às formas de participação
equivalentes que, associado ao Reuni e ao
PLP 01/2007, levará ao fortalecimento da dos representantes dos trabalhadores nos
conselhos de saúde e assistência social.
precarização do trabalho docente atraTambém foi deliberada a realização de
vés da crescente troca dos professores em
seminários regionais sobre os HU, “na
tempo integral e dedicação exclusiva por
docentes em regime de 20 horas, quebran- perspectiva de definir estratégias de luta
contra os ataques de que vêm sendo alvo,
do dessa forma com o tripé ensino-pesem particular a sua transformação em
quisa-extensão.
fundações estatais de direito privado“.
A luta pela revogação da Portaria InNo que diz respeito especificamente
terministerial nº 22, de abril de 2007, que
instituiu o banco de professor-equivalente aos professores das Ifes, o Conad deliberou pela continuação da atuação junto à
é ponto crucial na defesa da universidade
CNESF, sempre colocando em discussão
pública brasileira. Um dos temas mais
neste fórum a necessidade da unidade
discutidos durante o Conad foi a total
das categorias para se fazer o enfrentafalta de interesse do governo federal em
mento à retirada, pelo governo federal, de
estabelecer um efetivo e imediato prodireitos do funcionalismo público. A luta
cesso de negociações com os SPF, e em
unificada contra as reformas trabalhista,
particular com os professores, e para se
sindical, previdenciária e universitária, a
fazer frente a essa situação os delegados
exigência frente ao governo federal pela
presentes em São Luís decidiram pela neimplementação de uma
cessidade de se ampliar e
Mesa de negociação, em
fortalecer a mobilização
É PRECISO
conjunto com os demais
dos professores das Ifes
públicos
para se construir a greve,
mobilização para servidores
federais, e a retirada
que deverá ser avaliada
nas assembléias de base
forçar o governo do PLP 01/2007, foram
outras deliberações do
ainda no mês de agosto.
a negociar com
encontro de São Luís.
Embora todos os
Deverá também o Andes
delegados e observadores
seriedade
“dar ampla divulgação
tenham reconhecido as
à pauta de reivindicadificuldades criadas por
uma greve, admitiram também que ainda ção e à malha salarial aprovadas pelos
docentes das Ifes, trabalhando-as politinão foi possível criar e implementar um
instrumento de luta mais efetivo para en- camente como expressão da valorização
frentar as políticas de desmonte do ensino do trabalho docente“. Durante o segundo
semestre de 2007, as secretarias regiosuperior de todos os governos nos últimos
nais e seções sindicais do Andes deverão
25 anos. Somente após transcorrerem
realizar seminários sobre a lei antigreve e
muitos dias de paralisação o governo se
suas conseqüências sobre a ação sindical
dispõe a negociar, porém, sem paralisano país.
ção, apenas são marcadas mesas para que
A criação de três novas seções sindinada seja negociado. O governo sempre
cais do Andes, uma em cada setor, foi
aposta na fragilização do movimento
aprovada, sendo as novas seções sindicais
dos trabalhadores, porém só negocia a
saudadas como mais uma prova inconpartir do momento que já não é possível
testável da vitalidade e crescimento do
desconhecer o movimento. Depende de
nosso Sindicato Nacional.
nós um movimento forte o bastante para
pressionar o governo a negociar logo que
Observadoras do 52º Conad
iniciemos a paralisação.
e professoras da UFSC
Sempre tendo como objetivo principal
Conad e
o indicativo
de greve
Magaly Mendonça e Bartira Grandi
O 52º Conselho do
Sindicato Nacional
dos Docentes das
Instituições de Ensino
Superior (Conad)
aconteceu em São
Luís no período de 26
a 29 de julho, e teve como tema central
Em defesa da educação pública, construir a unidade, resistir e avançar a luta
e contou com a presença de delegados e
observadores vindos de todas as regiões
do país.
O Conad iniciou com um debate
sobre a conjuntura nacional, onde ficou
evidente que o avanço na implementação
das políticas neoliberais do governo Lula
requer do Movimento Docente (MD) um
reforço na construção da unidade com
os demais trabalhadores em defesa dos
nossos direitos, em geral, e da educação
pública, em particular. O Plano de Desenvolvimento para a Educação (PDE),
lançado pelo governo federal em abril
de 2007, através de resoluções, portarias
e decretos, redesenha a organização do
Sistema de Educação do país em todos os
níveis de forma autoritária, sem levar em
consideração sua qualidade, e sem previsão de novos recursos. Na luta contra
mais esse ataque à Educação Brasileira,
o Conad definiu que se amplie as campanhas de denúncia e esclarecimento junto
à população em geral, e junto à comunidade universitária em particular, sobre
o caráter nocivo do Reuni (“Decreto nº
6.096/07, que visa a ampliar, de modo
significativo, o número de matrículas
nas Ifes sem o correspondente aporte
financeiro, destacando que isso se dará
por meio da sobrecarga dos docentes e do
rebaixamento da qualidade da educação
superior pública”); sobre a criação dos
Institutos Federais de Educação, Ciência
e Tecnologia – Ifet (Decreto nº 6.095/
07), que intensificará a subordinação da
educação tecnológica aos interesses do
mercado e, através da ampliação de suas
atribuições no que diz respeito à formação de professores para a educação básica,
em especial os de ciências, trará efeitos
danosos sobre a qualidade do trabalho
Florianópolis
BOLETIM APUFSC
6 de agosto de 2007
4
5
Homenagem ao professor Raul Güenther
NESTA SEGUNDA, ÀS 19 HORAS, OCORRE UM CULTO EM MEMÓRIA DO PROFESSOR RAUL GÜENTHER, NO CENTRO ECUMÊNICO DA UFSC
Como forma de homenagear o professor Raul Güenther, falecido tragicamente no dia 23 de julho, o Boletim
de Apufsc publica o depoimento de alguns de seus amigos
e colegas na UFSC. Além disso, trechos de uma entrevista
concedida ao historiador César Félix em 10 de outubro de
2005 como parte do trabalho de levantamento da memória
história do movimento docente da UFSC.
Professor do Departamento de Engenharia Mecânica,
Güenther foi presidente da Apufsc por dois mandatos
(1980 a 1984), secretário-geral do Andes-SN também por
dois mandatos (1982 a 1986), candidato a governador do
estado pelo Partido dos Trabalhadores em 1986, além de
pesquisador respeitado por todos e reconhecido nacionalmente pelo trabalho desenvolvido na área de Robótica.
Sua atuação como professor e sua postura pessoal deixam
marcas indeléveis na vida da Universidade.
mento por uma coincidência histórica, tinha um grupo na
Apufsc que fazia essa discussão sobre autarquias e fundações. Lembro de alguns professores que fizeram parte desse
grupo: Célio Espíndola, Jorge Lorenzeti, Osvaldo Maciel,
Marli Auras, Daniel Hertz e Néri dos Santos.
Havia uma discussão muito consolidada aqui em Santa
Catarina, que também que se fazia em nível nacional. Nós
propusemos uma discussão com todos os professores da
UFSC e foi uma das primeiras vezes, não sei se foi a primeira, que nós paralisamos a universidade para fazer uma
discussão num dia. Pensávamos assim: vamos levar essa
discussão para os departamentos, vamos parar um dia e
pedir reuniões nos departamentos e só depois de ouvir os
departamentos, vamos nos posicionar a esse respeito. Para
a época, isso já era quase como uma revolução. Isso foi uma
coisa muito importante.
Apufsc – Grande parte dos dirigentes do Movimento Docente Nacional teve sua origem política e de
militância no movimento estudantil. O senhor também
veio do movimento estudantil? Como o senhor iniciou
sua participação no movimento docente?
Raul Güenther – Não, a primeira assembléia que eu fui
na minha vida foi como professor. Eu entrei no movimento
docente participando do conselho de representantes da
Apufsc. Houve uma eleição no Departamento de Engenharia Mecânica e um professor que depois seria adversário
político, o professor Abelardo Queiroz, me lançou como
candidato. Houve uma eleição, uma votação. Eu concorri
com dois outros candidatos e ganhei a eleição. A partir daí,
eu desenvolvi um trabalho de representante, que foi bastante
apoiado e reconhecido pelos meus colegas, não só nas questões sindicais mais próximas de salários, mas naquela ocasião também se discutia a transformação das universidades
em autarquias especiais. Esse era o mecanismo da ocasião
para dar um passo adiante no processo de privatização, e nós
resistimos a isso de maneira bem contundente, e participei
nesse trabalho como representante.
Aconteceu. Eu acabei entrando para a direção do movi-
Apufsc- Foi motivado por essas discussões que o
senhor decidiu entrar para a diretoria da Apufsc?
Raul Güenther - Vou contar essa história porque foi
algo muito importante: Fizemos essa discussão, em todos
os lugares e também no nosso departamento, mas nosso
departamento tinha uma característica especial: era o
departamento do então reitor, o professor Caspar Erich
Stemmer, que, no entanto, estava licenciado fo cargo da
reitoria, porque estava se preparando para fazer concurso
para professor titular. Aí fizemos a discussão e por uma
coincidência histórica aconteceu o seguinte. Os chefes de
departamento daquela ocasião eram nomeados pelo reitor,
não tinha eleição. E pela ordem das inscrições, o meu chefe
se inscreveu, todo mundo pediu inscrição e eu era o seguinte,
bem eu era representante do departamento na Apufsc, então
fizemos a discussão, o professor Stemmer foi lá, defendeu
a proposta em favor da transformação da universidade em
autarquias especiais, ou seja, em fundações. E fui eu quem
contra-argumentou, e isso depois foi votado no departamento e foi vencedora a proposta de autarquia, que era
defendida pelo movimento docente. Foi um fato histórico.
Quando chegamos para relatar na assembléia foi um fato
“
O que sempre me chamou
atenção no professor Raul
Guenther foi sua capacidade de
negociação, acolhimento e tolerância. Ele nos ensinou a manter
a serenidade e altivez na forma
de pensar e atuar. Raramente se
alterava, mesmo nas situações
mais conflituosas. Foi um grande lutador no início dos anos 80
na defesa do caráter público que
as universidades deveriam manter, contra a transformação das
universidades em autarquias
especiais, que o movimento
docente à época assinalava que
era um caminho para a privatização das IFES. Retirando-se
da atuação sindical nos anos
90, quando se dedicou à atividade de pesquisa, o professor
Raul retornou em 2003, como
candidato a vice-reitor, mostran-
do-nos que nunca abandonou
suas convicções e posições em
defesa de uma universidade
pública, gratuita e de qualidade.
E que era possível conciliar a
vida acadêmica com a luta pela
defesa das melhores condições
de ensino, pesquisa e extensão
e também de uma cidadania
crítica e atuante. Nestes últimos
anos, não convivi pessoalmente
com este inestimável professor,
mas, como se não bastasse,
arranjou tempo para a música e
a arte em sua vida, que muitos
desfrutaram. Estamos mais uma
vez órfãos de uma referência antes de tudo pessoal e como raro
pensador. Os sinos de nossos
corações não conseguem cessar de ecoar no silêncio e vazio
causados pela sua ausência no
campus da UFSC.
Lino Peres, vice-presidente da Apufsc
Florianópolis
“
O professor Raul Güenter era o nome da robótica
em Santa Catarina. No Brasil
também, era um dos pesquisadores mais reconhecidos.
Era pesquisador 1 do CNPq,
estava no auge da carreira.
Pelo levantamento que nós
estamos fazendo, havia cinco grandes projetos em que
ele estava envolvido. (...) É
uma grande perda, não só
do ponto de vista de uma
pessoa política, engajada,
mas academicamente a
perda é incalculável. Para
a instituição é irreparável.
O difícil da academia é tirar o melhor de cada um,
desencastelar, fazer com as
pessoas trabalhem com um
objetivo. O Raul percebia a
capacidade de cada um e
figura importante e a Apufsc também. Aconteceu que logo
na seqüência dessa greve, a gente criou a Andes – Associação
Nacional dos Docentes do Ensino Superior – e o professor
Maciel assumiu como primeiro presidente da entidade,
licenciou-se da Apufsc por um tempo maior, na verdade,
ele só assumiu outra vez num pequeno período, quando eu
me candidatei à presidência da Apufsc, aí eu tinha que me
afastar para concorrer e ele reassumiu. Então eu fui eleito e
voltei, quer dizer, eu fui presidente da Apufsc praticamente
por dois mandatos, um como vice do Maciel, mas de fato
em exercício, e depois de 1982 a 1984, como presidente
eleito. Em 1984, me afastei da Apufsc e assumi a secretaria
geral da Andes, onde fiquei até 1986. Então, na verdade,
foram dois mandatos na Apufsc e dois mandatos na Andes,
sendo que um foi com superposição, pois quando eu fui
presidente eleito aqui, também fui primeiro secretário da
Andes. Depois que eu foi só secretário-geral num mandato
que acabou em maio de 1986. Depois disso veio a época que
eu fui candidato a governador pelo Partido dos Trabalhadores em Santa Catarina, ainda no ano de 1986 e em 1987,
eu ainda fiquei aqui, mas em 1988 fui fazer meu doutorado
e a minha militância ficou mais esparsa.
meio impressionante. Na época eu era um menino, tinha 26
ou 27 anos e nossa posição acabou prevalecendo, também
em nível nacional. Esse fato me colocou numa posição de o
pessoal achar que eu tinha de participar da chapa seguinte.
Eu acho que a minha entrada para o movimento docente
foi devido a esse fato, eu atribuo a isso.
Apufsc – O senhor foi dirigente da Apufsc por
dois mandatos, ficando na direção em 1981 com o
afastamento do professor Osvaldo Maciel?
Raul Güenther – Foi. Nós assumimos a diretoria da
Apufsc no dia 15 de outubro de 1980, em 5 de novembro
veio a greve. A primeira greve nacional que fizemos. Quando
a greve foi deflagrada o professor Osvaldo Maciel, que era o
presidente eleito da Apufsc, pediu licença temporária, para
poder participar da coordenação nacional. Ele já era uma
direcionava as pessoas para
que elas fizessem aquilo
que gostassem. Direcionava
os trabalhos de mestrado,
de doutorado e de iniciação
científica de forma a ter
gente capacitada no tempo
certo para atender as demandas dos projetos. Era
uma pessoa que também
conversava com pessoal de
empresa, com pessoal de
fomento. Cada um desses
tem uma visão diferenciada.
Tudo que ele pensava era
no sentido do desenvolvimento – acadêmico, econômico, social. Ele entendia
como cada parte conversa
com as outras, cada expectativa e conseguia atender
as expectativas e atender a
um bem maior.
Daniel Martins, prof. do Depto. de Engenharia Mecânica
“
Lembro de um dos meus aniversários, acho que de 48 anos, Raul estava
aprendendo a tocar clarinete e o Zé
Raul, seu filho, flauta. Era noite e eu
estava saindo do banho e pensando
em tomar um café, quando minha
atenção foi desviada para os acordes
de clarinete e flauta doce vindo do meu
quintal. Ao abrir a porta me deparei
com o Raul e o Zé postados em frente
a ela ensaiando o tocar um chorinho
de aniversário para mim. No sábado
durante a festa de aniversário, o presente que recebi do meu amigo foi
à primeira apresentação pública dele
tocando clarinete.
Este é o meu amigo Raul que informa sua sensibilidade e afetividade nos
gestos que carinhosamente distribui
entre nós como se nada de mais eles
contivessem, a não ser informar para
nós, seus amigos, o quanto somos
importantes para ele. E quando em
Apufsc – Essa seqüência de acontecimentos externos à Apufsc colaborou para o seu afastamento
da associação, ou o senhor se afastou por uma compreensão política outra?
Raul Güenther – Foi por um entendimento meu. Nunca
exerci a atividade sindical profissionalmente, até porque
nem era sindicato. O Andes não era sindicato. A Apufsc não
era, e naquela época participamos muito de uma renovação
do movimento sindical, discutimos muito isso e existia um
grande sentimento de que tinha que haver uma renovação
no sindicato. Na época, a gente lutava para mudar pessoas
que estavam há 20 anos e hoje eu vejo em alguns sindicatos
as pessoas com quem eu lutei para mudar elas continuam
também, faz 20 anos.
Apufsc – Isso acontece isso na Apufsc também?
algum momento trazíamos esta sensibilidade nas conversas ele informava
que ela era fruto de seus filhos, de sua
vida, de sua música, de seu viver. E era
verdade, pois durante todos os anos de
nossa amizade o festejar seus filhos, o
dizer o quanto os amava e o quanto
era importante para ele a presença de
cada um deles em sua vida, foi marca
registrada do Raul.
Lembrar hoje o Raul significa recordar cada momento que convivemos
juntos, no viver cotidiano da vizinhança
entre casas que se desenhava com
diários acenos de mãos, com conversas rápidas no muro, com momentos
partilhados em churrascos, almoços e
jantares, com chimarrões ao final de
tarde. Lembrar hoje do Raul significa ter
claro que partilhei de uma existência
primorosa de conviver raro entre duas
pessoas que se consolidam em amigas, que se transformam em irmãos.
Neila Maria Machado, professora do Departamento de Nutrição
BOLETIM
M APUFSC
“
Raul Güenther – Não, na Apufsc é diferente. Lá o sujeito
voltou, não é que ficou.Inclusive, quando nós criamos a
Andes, isso foi uma grande discussão no primeiro congresso.
O resultado foi que no primeiro estatuto, nós estabelecemos
a cláusula que só podia ser reeleito uma vez. Você tem que
dar um tempo, de um mandato e voltar. Mas nós tínhamos
a compreensão que o sindicalismo não podia ser uma
atividade profissional, porque isso era uma coisa que nos
afastava da categoria, então eu fiz de fato, em 1986, a minha
opção, digo “agora está encerrado essa parte” e foi só aí que
fiz meu doutorado, que até então não tinha feito.
Apufsc – Em 1980 e 1981 aconteceram duas greves vitoriosas aqui na UFSC, o senhor participou
ativamente das duas. A história nos mostra uma
participação muito importante dos professores colaboradores nesse processo de luta. Pergunto: os
professores colaboradores eram como os substitutos
hoje ou existia uma relação de trabalho diferente?
Qual a diferença?
Raul Güenther – Não se fazia muita distinção entre professor auxiliar e professor colaborador. Era quase a mesma
categoria tanto no tratamento, quanto na remuneração.
Os professores colaboradores tinham uma condição muito
melhor que os substitutos de hoje. O problema é que eles
não eram do quadro efetivo. Eu entrei na universidade como
professor colaborador também, existiam muitos colaboradores. Acontece que nós vivíamos numa época de ditadura,
ninguém se sentia muito estável, então eu acho que mesmo a
diferença entre auxiliares e colaboradores não existia, podia
até existir formalmente, mas como no período da ditadura
ninguém era estável, todo mundo se sentia ameaçado. Então
a gente se sentia iguais aos outros. E uma grande parcela,
eu não posso te precisar, mas uma grande parcela do corpo
docente era feita por colaboradores, por pessoas que não
eram do quadro e a característica do movimento era que
ele era feito em grande parte pelo pessoal mais novo na
universidade, com o apoio e a participação dos mais velhos.
Porém, os mais novos é que botavam energia nisso tudo.
Penso que o professor Raul
deixa várias marcas aqui no Departamento. No ensino, ele era um
excelente professor, tinha um ótimo relacionamento com os alunos.
Na parte de pesquisa, trabalhava
desde o doutorado no sentido de
implantar um processo de pesquisa
cooperativa, que era uma coisa de
que ele falava muito nas conversas
que a gente tinha. Hoje, o sistema
de pesquisa é muito pautado na
concorrência, na competição. Para
ele, o resultado científico se faz para
a humanidade e deveria ser mais
um trabalho de cooperação entre
pesquisadores, alunos, entre os
diversos departamentos que fazem
pesquisas. É uma visão diferenciada. Enquanto alguns líderes de
pesquisa acham que o importante
é a competição, o mérito pela competição, o Raul achava que o mérito
deveria ser dado à cooperação, na
construção de um processo em
que o conhecimento aparece. Os
resultados que se tem aqui, que
se pode ver pelo currículo Lattes
do Raul, foram conseguidos trabalhando com diferentes pessoas.
Inclusive as que tinham diferenças
políticas muito grandes em relação ao que o Raul pensava. Ele
sempre dizia assim: “olha, o cara
pode ser ruim em política, mas é
bom naquilo que ele faz”. Então, a
gente tem que trabalhar em cima
de aproveitar o melhor, de uma
forma que com esse melhor todos
possam contribuir para o progresso
científico. O professor Raul conseguia visualizar isso, conhecia a
posição política de cada um, mas se
preocupava na construção de um
processo científico, no qual ganha
a humanidade.
Altamir Dias, professor do Departamento de Engenharia Mecânica
6 de agosto de 2007
6
Imperialismo e luta de
classes ainda existem?
educação” (p. 71). Isso estabelece um novo sistema político, assim
como a base legal para o controle de toda a estrutura socioeconôO debate sobre o imperialismo e a luta mica da América Latina.
O tema central do livro, no entanto, é o estudo feito por James
de classes, abandonado por uma parte da
esquerda e desterrado pela maioria dos pós- Petras e Robin Eastman-Abaya sobre a conexão EUA-Iraque-Israel
modernos, sempre esteve presente na vida e o sionismo. Os analistas de política internacional costumam
dos povos latino-americanos. O projeto de afirmar que o apoio estratégico-militar de Washington a Tel Aviv
construção de um Estado-nação foi o caminho é fundamental na manutenção de um Estado forte, belicoso e
percorrido pelos grupos organizados para se expansionista. A doutrina Nixon-Kissinger, ao reconhecer que os
contrapor à dominação imperial. Tanto que o Documento de Santa EUA “não poderiam mais fazer o papel de policial do mundo” e
Fé II (1988), que orientou a política externa da Casa Branca, que, portanto, “esperariam que outras nações fornecessem mais
afirmava que “o matrimônio do comunismo com o nacionalismo, guardas para a ronda de sua própria vizinhança”, atribuiu a
na América Latina, representava o maior perigo para a região e Israel, bem como a outros países, entre eles o próprio Brasil, a
função de atores regionais. Dentro desta perspectiva estratégica,
para os interesses dos Estados Unidos”.
Acaba de ser lançado pela Editora da UFSC, o livro do cientista tanto Israel como o Brasil desempenharam uma função subimpolítico estadunidense James Petras sob o título Imperialismo e luta perialista em suas áreas de influência. Hoje, porém, segundo
de classes no mundo contemporâneo. O autor analisa temas como Petras e Eastaman-Abaya, é Israel que, por meio de sionistas
a base econômica do poder imperial, o realinhamento de governos estadunidenses importantes, detém o poder dentro dos EUA. A
latino-americanos a Washington, a ALCA e sua pedagogia para a Casa Branca chega a adotar políticas altamente prejudiciais aos
opressão, a conexão EUA-Iraque-Israel e o sionismo, as políticas seus interesses, somente com o intuito de beneficiar a Tel Aviv. Um
antiimperialistas e, por último, o grande debate revisitado capi- exemplo é a guerra contra o Iraque, cujo principal beneficiário é
o Estado de Israel, já que conseguiu a destruição de seu inimigo
talismo versus socialismo.
Para Petras, as empresas multinacionais são um dos eixos árabe mais forte no Oriente Médio, ou seja, o regime que dava
que fundamentam o poder econômico do imperialismo. Os EUA apoio à resistência palestina.
Poucos são os analistas políticos que mostram “a excessiva
continuam sendo dominantes em termos absolutos e relativos:
contam com 227 (45%) das 500 multinacionais mais importantes, influência” que os governos israelenses exercem sobre os EUA,
seguidos pela Europa Ocidental, com 141 (28%), e Ásia, com 92 por meio de poderosos grupos de pressão e indivíduos sionistas
(18%). Esses três blocos regionais controlam 91% das principais nos setores estratégicos de sua economia, como também no Poder
multinacionais do mundo (p. 12). A dita globalização, para o Executivo, no Congresso, nos partidos políticos, na mídia e no
autor, pode ser entendida em seu sentido mais amplo como o sistema financeiro. Os mais conhecidos sionistas, segundo Petras
poder derivado de tais empresas, o que lhes permite movimentar e Eastaman-Abaya, são Alan Greenspan (ex-diretor do Banco
capitais e controlar o comércio, o crédito e o financiamento. Além Central), Paul Wolfowitz (ex-diretor do Banco Mundial), Richard
disso, as multinacionais estadunidenses mais importantes são Perle (Defense Policy Board), Douglas Feith (secretário de Defesa
indústrias militares relacionadas diretamente com a guerra e com Adjunto), David Frum (redator dos discursos de Bush), Elliot
a construção de seu império. Fred Halliday chamou “triângulo Abrams (encarregado da Política para o Oriente Médio) e tantos
de ferro” a esta conexão entre Congresso, Pentágono e complexo outros. Petras e Eastman-Abaya analisam, então, vários casos
industrial-militar destinado a aumentar os gastos com a defesa. pontuais em que os interesses dos EUA foram prejudicados para
Os EUA e a Europa são dois Estados imperiais que se diferen- favorecer Israel (p. 115-120). O mais recente, e de uma enorme
ciam apenas no método de dominação e exploração. Enquanto gravidade, diz respeito às Torres Gêmeas, já que os investigadores
o imperialismo europeu adota uma estratégia diplomática de federais estadunidenses têm razões para acreditar que o serviço
“comércio-investimento-mercado”, os EUA utilizam a via colonial de inteligência israelense sabia preventivamente do ataque de
militarista; enquanto Bruxelas propõe um estilo de controle mul- 11 de Setembro e não comunicou Washington porque a Tel Aviv
tilateral, consultivo e de cooperação, Washington lança mão da interessava a guerra como justificativa para destruir seus inimigos
ação unilateral e do monopólio do poder; enquanto a Europa busca árabes. Para ambos os autores, este domínio de Israel está baseado
na diáspora e nas redes judaicas muito
estabelecer uma cooperação com as elites
bem estruturadas, que têm acesso direto
dos países árabes e com Israel, Washington
Imperialismo e luta de classes no
aos centros de poder e propaganda do país
– influenciado pelos sionistas – prioriza
mundo contemporâneo
imperial mais poderoso do mundo. A reuma relação exclusiva com Tel Aviv.
James Petras.
lação EUA-Israel é a primeira da história
Ao analisar a Área de Livre Comércio
Editora da UFSC, 206 p.
moderna na qual um país acoberta crimes
das Américas (Alca), Petras mostra que
Coleção RIEN (Relações Internaciopraticados por terceiros contra si próprio.
esta organização “proporciona ao impenais e Estado Nacional).
Imperialismo e luta de classes também
rialismo estadunidense um amparo legal
analisa as políticas antiimperialistas e sua
e de tomada de decisões para determinar
forma de resistência ao longo do tempo. Se
o comércio, os investimentos, as políticas
LANÇAMENTO: 23 DE AGOSTO
no período da Guerra Fria os movimensobre a propriedade e a legislação trabaDE 2007 - 17 HORAS
tos antiimperialistas eram rotulados de
lhista, bem como a natureza, o gasto, a
GALERIA DE ARTE DA UFSC
conflitos entre blocos (socialismo versus
forma e o conteúdo dos sistemas de saúde e
Waldir José Rampinelli
Florianópolis
BOLETIM APUFSC
6 de agosto de 2007
7
capitalismo ou Terceiro Mundo contra Primeiro Mundo),
hoje eles têm uma conotação
de exploração de classes. Além
disso, a política econômica
imposta pelas autodenominadas instituições financeiras
internacionais (Fundo Monetário Internacional, Banco
Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento)
contribuiu decisivamente
para a transformação da
estrutura de classe em todo o
mundo.
O Iraque, juntamente com
a América Latina, são os lugares em que se verificam os
maiores descontentamentos
populares com a pilhagem
do imperialismo e, concomitantemente, com a queda
no nível de vida das pessoas.
Os atores deste movimento
são, em sua grande maioria,
trabalhadores pobres urbanos
e rurais, estudantes de classe
média baixa, professores, religiosos, movimentos sociais
radicais, grupos indígenas e
organizações guerrilheiras
e se baseiam nos impactos
negativos diretos sobre o nível
de vida, empregos, produção
agrícola e controle da política
econômica.
James Petras finaliza seu
livro analisando o grande
debate que permeou todo o
século XX e continua presente nos dias de hoje: capitalismo versus socialismo. O
autor mostra que as decisões
econômicas, assim como as
propriedades nacionais, eram
de domínio público no socialismo. Com o colapso deste
sistema, as empresas multinacionais estadunidenses e
européias se apropriaram de
todas as riquezas dos ex-países
comunistas. Isso tem gerado
desemprego em massa, quando não emprego temporário,
e uma grande emigração para
outras partes do mundo.
Imperialismo e luta de
classes no mundo contemporâneo é um livro polêmico,
atual e instigante, que por
certo deverá suscitar muitos
debates e, por que não dizer,
paixões também.
Professor do
Departamento de História
Florianópolis
Elogio à clareza da litania
Sérgio Michelin
É gratificante, e ao mesmo
tempo prazeroso, degustar o
boletim da Apufsc com seus
bem colocados artigos como
os de nossos colegas José J.
de Espíndola, Paulo César
Phillipi, Renato A. Rabuske,
Paula Brügger, entre outros tantos. Por outro
lado, é extremamente preocupante o fato de
que pouca ou nenhuma atenção se de aos fatos
e advertências ali postadas por nossos colegas.
Afinal, se poucas são as atitudes que podemos
tomar para defender nossos interesses, e de modo
geral aos de toda a comunidade da qual faz parte
a nossa Universidade, pelo menos nos restao
poder da escrita. Talvez, não com a eloqüência
de um Rui Barbosa, tampouco com a clareza e
sutileza de um Machado de Assis, ou mesmo com
a ferinidade de um Maquiavel. Mas com toda
certeza, não podemos ficar calados, ou melhor,
não podemos silenciar nossas penas de escrever.
Com toda certeza, sabemos que desde o
seu nascimento o homem já entra em batalha
corporal com a loucura denominada “vida”. É
forçado a sair de um local quentinho, agradável,
silencioso e que lhe proporciona relativa segurança. É abruptamente separado, mesmo que
momentaneamente, do único ser que ele conhece:
sua mãe. É conduzido por seres estranhos, a um
local estranho e lá é submetido a todo tipo de
experiências. Após algum tempo, se estiver tudo
certinho, ele é liberado com sua mãe e é levado
para seu lar. Lá, também, passará por algumas
situações muito loucas: Se a mãe trabalhar fora,
logo ele se verá as voltas com outras pessoas
encarregadas de cuidar e de o protegerem. Bom,
ora pode ser uma babá, um irmão mais velho,
se ele tiver um, ou mesmo o pai ou a avó ou
qualquer tia que estiver disponível. Inicia, aí
então, a mais ferrenha de todas as batalhas: a
luta pela sobrevivência em meio á guerra que se
lhe avizinha. Vivemos em constante batalha, ora
perdendo, ora ganhando.
Bem, continuemos com nossa análise deste
novo indivíduo que se forma. Ele, o outrora
bebê, já é um homem formado e foi moldado
durante toda a sua vida pelas circunstâncias que
ele encontrou pela frente. Logo ele aprende que,
nesta luta ferrenha pela sobrevivência, existem
algumas coisas mais e outras menos importantes. Ele sabe que uma das coisas que mais lhe
proporcionará uma relativa segurança, será o
quão alta será a sua conta bancária. Pronto.
Eis aí um futuro louco e ferrenho lutador. E ele
não está de todo incorreto, se não, vejamos que
nem a cuba de Diógenes ele poderá ter para seu
refúgio. Visto que a sociedade cobra de cada um
de nós seu quinhão e quanto podemos gastar para
obtermos mais ou menos conforto. Aí iniciam
as desigualdades, uns fazem conchavos, vendem
BOLETIM APUFSC
sua ética, sua moral, seu corpo, suas idéias, seus
valores, e o que mais for necessário. (Um claro
exemplo está aí, bem debaixo do nosso nariz, elegemos um presidente que vendeu a própria alma,
se é que ele alguma vez a teve. Pobre coitado dá
até pena de assistir aos seus pronunciamentos,
virou bola da vez, e serve de mote a todo tipo de
glosa. E, o que a meu ver, é muito pior, alguns
colegas nossos elogiam, aplaudem, babam-se
todo e travestem-se com a couraça do estoicismo
para defender tal “otoridade”. Arrufam-se todo
e tecem uma litania interminável em prol da
honra de tal chalreador. Bem, isto será tema
para outro artigo).
Assistimos, ou escutamos todos os dias na
mídia, que a polícia federal desbaratou ou este
ou aquele esquema para obter dinheiro fácil de
modo ilícito e completamente desonesto. Que a
operação moeda verde ou a operação sanguessuga (sei lá o que mais, pois pobre da polícia
federal; já não tem mais alcunhas para designar
suas operações, tantas são as artimanhas ilícitas
engendradas por aqueles que deveriam zelar
pelos bons costumes e dar bons exemplos em
sua conduta), desbaratou e prendeu políticos,
advogados, promotores, juízes, sei lá (novamente) quem mais. Escrófulas, estrompadores,
flauteadores, sanguessugas da pior espécie. Estes
que deveriam dar bons exemplos estão eivados
e arrufam completamente nossos sentimentos
mais puros e nobres.
Lemos toda semana no boletim da Apufsc, que
o PAC, o PDE, a Universidade Nova, as cotas o
Reuni estão aí, as portas, e a qualquer momento
podem arrombar esta frágil porta que separa a
tênue linha entre a privatização e a Universidade
pública, gratuita e de qualidade. O nefasto objetivo se escancara em nossa frente, mas insistimos
em não ver, o de retirar do estado, cada vez mais,
a responsabilidade com a educação, a saúde e a
esperança de toda uma nação.
Enquanto isto ocorre, bem debaixo de nosso
inelutável mecenantismo, se gasta aproximadamente 4 bilhões de reais com uma ridícula campanha esportiva, denominada: Pan 2007. Isto é
o que se informa oficialmente, porém, por detrás
dos panos, muita água rola por debaixo da ponte.
E o que fazemos nós? Que eu saiba, posso estar
enganado, nada. Talvez não sejam necessários
arroubos ou atos desvairados de patriotismo,
mas por que não algum ato mais simples como
a denuncia por escrito? Algum alerta na imprensa escrita, uma simples nota, um crônica bem
colocada, um alerta num rodapé de um grande
jornal, ou sei lá o que mais possa, pacificamente,
ser feito??? É por este motivo que parabenizo aos
nobres colegas que reservam algum tempo para
denunciar, para esclarecer, para dar vazão ao seu
descontentamento com toda esta garabulha que
assola este nosso País.
Professor do Departamento de Física
6 de agosto de 2007
8
Desumanização
e alienação do
trabalho docente
N
esta entrevista feita por e-mail, o
pesquisador João dos Reis Silva
Júnior, professor da Universidade
Federal de São Carlos (UFSCar), fala sobre
a pesquisa que desenvolve com Valdemar
Sguissardi que busca identificar as mudanças do trabalho do professor universitário
pesquisador depois do início da Reforma
do Estado em 1995, até os governos Lula,
“período marcado por uma única racionalidade histórica”.
Ele diz as IFES brasileiras são “uma das
melhores empresas prestadoras de serviços públicos e privados com os melhores
profissionais do mercado, alguns alienados, outros não, mas todos adoecendo
em função da intensificação do trabalho
imposto pela reforma em movimento e a
conta-gotas pelos governos FHC e Lula”.
João dos Reis é Doutor em História e
Filosofia da Educação pela PUC-SP com
Pós-Doutoramento em Ciências Políticas
pela Unicamp e autor de diversos livros e
artigos publicados no Brasil e no exterior,
entre os quais Novas Faces da Educação
Superior no Brasil - reforma do Estado
e da Produção, com Valdemar Sguissardi
(Ed. Cortez, 2001), Trabalho e Formação:
uma abordagem ontológica da sociabilidade (Ed. Xamã, 2001) e Reforma do
Estado e da Educação no Brasil de FHC
(Xamã, 2003).
- Quais as principais constatações do
estudo?
- Os resultados ainda são parciais, mas
já se pode indicar: 1) indução do auto-financiamento das IFES; 2) a formação do
cotidiano da IFES do professor empreende-
Publicação semanal da Apufsc
(Associação dos Professores da
UFSC), Seção Sindical do Andes
– Sindicato Nacional
DIRETORIA
GESTÃO 2006/2008
- O senhor fala em alienação e
desumanização do pesquisador. Por
favor, especifique os significados que
dor, que corre atrás do financiamento para
esses termos assumem no seu estudo.
poder trabalhar, desobrigando o estado de
- Toda atividade humana, por mais
seus deveres; 3) não se pode falar mais em
simples e comezinha, tem uma finalidade
autonomia universitária. Podemos falar
e envolve conhecimento acumulado ao
numa contradição, autonomia e seu pólo
longo da vida do sujeito que realiza tal atiantitético a heteronomia. De um lado, o
Estado privilegia e tutela a dimensão produ- vidade. Portanto, nessa atividade, encontiva da instituição universitária que interessa tra-se, concretamente, seu conhecimento
da realidade que o próprio ser humano
ao seu projeto político, e de outro, quem
construiu, e em geral grande parte das
pauta a pesquisa é a iniciativa privada. Sosociedades não tem consciência desse
mos uma das melhores empresas prestadoprocesso e não se reconhece no outro para
ras de serviços públicos e privados com os
quem a meta de sua atividade realizoumelhores profissionais do mercado, alguns
alienados, outros não, mas todos adoecendo se. Nesse processo, não se reconhece a si
mesmo. O trabalho do professor, por mais
em função da intensificação do trabalho
complexo que seja, por maior acúmulo
imposto pela reforma em movimento e a
que tenha, passa pelo mesmo processo. Ele
conta-gotas pelos governos FHC e Lula.
pode não reconhecer seu
vasto saber no seu tra- Medidas como
COMPARAR
balho, nem para quem
REUNI, Universidade
o Brasil com
foi feito e, portanto, não
Nova e professorse reconhece a si mesmo
equivalente podem
Coréia do Sul
como professor e pesquiagravar a situação?
sador. Isto é muito ruim
- Sem dúvida, pois
ou EUA é rir da
no plano político, pois
a proposta traz em seu
nossa desgraça
tal movimento lhe tira
núcleo um movimento
a identidade e dificulta
de neoprofissionalização
sobremaneira a organida instituição universização do movimento docente na direção
tária, acentuando e legalizando o que já
de uma universidade brasileira cuja idenvem ocorrendo. Novamente, com graves
conseqüências para o movimento docente, tidade seja uma contradição. De um lado,
contribui para o crescimento econômico
pois a carga horária docente subirá muito
e a cimentação ideológica do pacto social
e as atividades de pesquisa e prestação de
estabelecido, de outro, é crítica institucioserviço precisam ser feitas para manter a
nal de seu tempo histórico, e, sobretudo,
universidade em movimento.
de seus próprios objetivos sociais.
- Essa situação é típica do Brasil ou
Publicado originalmente
acontece em outros países?
- Este é o processo de Bologna brasileiro no Informandes online
1° Secretário: Idaleto Malvezzi Aued
Científicas: César de Medeiros Regis
2° Secretário: Edgard Matiello
Júnior
Diretora de Promoções Sociais:
Maristela Fantin
Tesoureiro Geral: Honório
Domingos Benedet
Diretora de Política Sindical: Doroti
Martins
1° Tesoureira: Sandra M. Bayestorff
Diretor de Relações Institucionais:
Carlos Becker Westphall
2° Tesoureiro: Roberto Ferreira de
Melo
Diretor de Divulgação e Imprensa:
Fernando Ponte de Souza
Presidente: Armando de Melo Lisboa
Vice-Diretora de Divulgação e
Imprensa:
Vice-Presidente: Lino Fernando de
Bragança Peres
Diretora de Promoções Culturais e
Científicas: Albertina Dutra Silva
Secretária Geral:
Vice-Diretor de Prom. Culturais e
Florianópolis
e está em pauta na maior parte dos países
do mundo, em geral com outras condições
sócio-econômicas diferentes da perversa concentração de patrimônio e renda
existente no Brasil. Em acréscimo, o Sr.
Eduardo Guimarães nos quer comparar
com a Coréia do Sul, Estados Unidos etc.
É de rir de nossa desgraça.
PRODUÇÃO
Jornalista Responsável Ney
Pacheco (SC - 735 JP)
Projeto gráfico e editoração
eletrônica Tadeu Meyer Martins
Impressão Gráfica Agnus
Tiragem 3.500 exemplares
Distribuição gratuita e dirigida
Diretora de Assuntos de
Aposentadoria: Irmgard Alba Haas
CONSELHO FISCAL
Efetivos: Ivo Sostisso, Jonas Salomão
Spricigo, Arthur Ronald de Vallauris
Buchsbaum
Suplentes: Marco Aurélio Da Ros,
Edmundo Vegini, Maurício Roberto
da Silva
BOLETIM APUFSC
ENTRE EM CONTATO
Endereço Sede da APUFSCSSind, Campus Universitário, CEP
88040-900, Florianópolis – SC
Fone/fax (048) 3234-2844
Home page www.apufsc.ufsc.br
E-mail [email protected]
6 de agosto de 2007

Documentos relacionados

Entidades de professores repudiam a invasão da Udesc

Entidades de professores repudiam a invasão da Udesc apoio às Ifes (Instituições Federais de Ensino Superior)”. A MP vai complementar a Lei 8.958, de 1994, que regula as relações entre Ifes e fundações de apoio, e legalizar critérios para definir com...

Leia mais

Assembleias Gerais Extraordinárias

Assembleias Gerais Extraordinárias que lutamos por um sindicato representativo e plural. Como mencionei em um artigo anterior, argumentos de que a AG dos dias 16 e 17 não foi legítima, pois a Apufsc não era filiada ao Andes (era fil...

Leia mais

UnB mantem greve pela URP

UnB mantem greve pela URP Professores e técnico-administrativos, com apoio de estudantes, discutem alternativas para fazer governo cumprir ordens judiciais e restabelecer URP “A situação é dramática e teremos que radicaliza...

Leia mais