Caos na UFSC
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Caos na UFSC
FLORIANÓPOLIS, 6 DE AGOSTO DE 2007, No 604 É ano de eleição para reitor Acesso do Pantanal foi fechado na semana passada. Entrar na UFSC, só pela Carvoeira Caos na UFSC A Apufsc vem a público manifestar-se sobre a deterioração das condições de funcionamento da UFSC, com a iminente impossibilidade de início do semestre 2007/02. Entendemos que este semestre letivo está comprometido e substancialmente prejudicado. Apesar da nota da Pró-Reitoria de Ensino de Graduação, divulgada em 01/08, a situação não está normal, pelo contrário: agrava-se rapidamente a cada dia. A irresponsável ausência de resposta do governo federal à pauta de reivindicações dos servidores técnico-administrativos, num processo de “empurrar com a barriga” as negociações, leva à corrosão da qualidade acadêmica, científica e administrativa da UFSC. Perguntamos: como é possível estudar e pesquisar sem Biblioteca Universitária e sem laboratórios? Sem o funcionamento normal das secretarias? Muitos estudantes não conseguem se manter sem o funcionamento do RU. E mais, como aceitar que, nós, professores, neste período de greve dos servidores técnico-administrativos, ignoremos os prejuízos ocasionados por este movimento, mantendo a rotina acadêmica como se fosse possível a universidade prescindir de livros, de apoio logístico e de pessoal? A não-resolução das justas reivindicações está levando a greve a se prolongar no tempo, sem resposta efetiva. Como já vem ocorrendo há várias semanas, muitos setores da UFSC se encontram paralisados totalmente, como, por exemplo, DAE e NPD. Portanto, o caos está instalado! Neste sentido, a diretoria da Apufsc pede aos professores que reflitam se devem iniciar o próximo semestre nas precárias condições em que se encontra a nossa universidade, pois há muito tempo temos acumulado prejuízos que apenas se mostram mais evidentes durante a greve. É necessário enfatizar que o movimento dos servidores técnico-administrativos vem lutando para garantir a qualidade do ensino, pesquisa e extensão nesta instituição. Os professores da UFSC, em sua última Assembléia Geral (19/julho/07), aprovaram moção de apoio à greve dos servidores técnico-administrativos. A Apufsc conclama, desta forma, as autoridades, particularmente as desta universidade, a exercerem suas funções e pressionarem com toda a força possível o MEC e o MPOG para uma solução imediata da situação que perdura há mais de 66 dias. Neste segundo semestre de 2007, um grande evento se impõe: a eleição para a Reitoria, que deverá ocorrer até o final do ano. Como é tradição em nossa universidade, esta eleição acontece sempre no semestre que antecede a posse. Portanto, é hora do Conselho Universitário tratar das eleições para reitor, estabelecendo o calendário eleitoral, elegendo a Comissão Eleitoral e anunciando a toda comunidade universitária o processo sucessório. É bom lembrar que a luta pela escolha de reitor e demais cargos dentro da universidade custou sangue e suor de muitos, já que a ditadura se opunha a qualquer tipo de eleição. Esta eleição é uma conquista consolidada na história e tradição de uma comunidade de cerca de 30 mil pessoas. É importante que o processo eleitoral garanta lisura e a igualdade de condições. Uma eleição que propicie as condições para que a escolha da comunidade universitária seja respeitada. A votação paritária dos três setores da UFSC já é um patrimônio político que não permite mudanças de última hora nas normas eleitorais, o que, com certeza, levaria a uma forte reação de todos aqueles que defendem um processo transparente e democrático nessa universidade. Devemos iniciar, por último, um amplo processo de discussão e reflexão sobre a universidade atual, tendo em vista a construção de uma plataforma mínima que leve em conta uma universidade pública, gratuita e de qualidade, seja qual for o candidato. Portanto, é hora de o CUn se manifestar. LONA CULTURAL CONVIDA PARA O 1º DEBATE SOBRE O PROCESSO ELEITORAL NA UFSC Iniciando uma série de atividades préeleitorais, a Apufsc convida para uma discussão sobre a eleição e, a partir dela, os rumos da universidade. Vai ser na sexta-feira, dia 10, entre 15 e 18 horas, ao lado da Apufsc Avisos: - O processo de exclusão e inclusão dos usuários da Unimed no mês de agosto será antecipado para o dia 15. A data limite para envio de alterações cadastrais costuma ser o dia 20 de cada mês. Em setembro a situação deve se normalizar. - O assessor jurídico que atende casos da Unimed e das ações da Brasil Telecom, que costuma atender às quartas, estará à disposição dos professores, expecionalmente nessa semana, na quinta-feira, dia 9 de agosto, das 14 às 16 horas. 2 Ações afirmativas e desigualdades em educação: quanto desconhecem os acadêmicos? Vânia Beatriz Monteiro da Silva¹ Regina Vasconcelos Antonio² Justina Ines Sponchiado³ O debate sobre ações afirmativas no ensino superior continua na UFSC. Sim, pois há pelo menos seis anos são realizadas atividades específicas ou integradas a eventos de ampla divulgação em que o tema está aberto às interrogações, aos esclarecimentos, enfim, ao debate. Ainda mais, o Boletim da Apufsc incluiu entre suas publicações manifestações e convites para eventos com o tema! Ou desconhecem os acadêmicos? Lembrando alguns momentos de debate recente – todos amplamente divulgados –: o debate Cotas para negros nas universidades, em outubro de 2001 com a participação do vereador e professor Marcio de Souza e do professor Nildo Ouriques, o debate “Cotas para negros: problema ou solução?”, ocorrido em 13 de fevereiro de 2003, com a participação da procuradora-geral da UFPR. Dora Lucia Bertulio, do professor Carlos Eduardo dos Reis e do sociólogo João Carlos Nogueira e o debate de 26 de junho de 2003 “Cotas na UERJ. E na UFSC?”, promovido pelo Grupo de Trabalho de Etnia, Gênero e Classe da Apufsc com a presença da pró-reitora de Ensino de Graduação (à época, professora Sonia Probst) e a docente da Faculdade de Educação da UERJ; Maria Alice Rezende; a Mesa Redonda Relações raciais e políticas em educação no Brasil (02/2006) com a presença de acadêmicos da UnB, UFRJ e do movimento de Pré-vestibulares populares; o Seminário Cotas e Ações Afirmativas na Universidade Federal de Santa Catarina, promovido em junho de 2006, com participação de representantes envolvidos no debate e implementação na Unicamp, UFPR, UnB e pesquisador do Laeser (Laboratório de Análises Econômicas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais) da UFRJ; seminários promovidos pela Coperve/UFSC sobre vestibular; os encontros para debate promovidos pelo Centro de Filosofia e Ciências Humanas e pelo Centro de Ciências da Educação, o encontro da Comissão de Ações Afirmativas e os gestores da UFSC; e ainda a home page da Comissão da UFSC com materiais que informaram das análises e posicionamentos sobre as ações afirmativas. Com estas atividades foi possível trazer para a UFSC conhecimentos relacionados às várias questões que constituem o núcleo da responsabilidade política implicado na decisão pelas ações afirmativas: o acesso à educação superior publica e de qualidade como direito que deve ser cada vez mais ampliado face ao reconhecimento de que os estudantes – empobrecidos, negros Florianópolis e indígenas – da educação básica têm menos oportunidades no percurso de seus anos de estudo, em função da dinâmica excludente pela qual a educação brasileira constituiu-se desde seus primórdios quando da instauração das redes publicas pós-proclamação da República ao final do século XIX. É disto, afinal, que se trata o debate central das ações afirmativas! Tais oportunidades são marcadas historicamente por múltiplas faces: desde a precariedade que veio sendo imposta ao cotidiano do planejamento e das atividades escolares, às ‘violências’ que constituem visível e/ou invisivelmente as interações escolares e o eurocentrismo patético dos saberes consagrados nos currículos, que se combinam com todas as demais relações sociais que formam o tecido de sociabilidade das crianças e jovens. Vivemos um momento em que nossos saberes sobre mobilidade educacional, sobre direitos, sobre legalidade são fustigados e seus alicerces fortemente questionados. Estamos sendo convidados a avançar para o que Boaventura de Sousa Santos, sociólogo português, nomeou de “viragem descolonial”, a assumirmos os desafios que muitos já enfrentaram para combater a tragédia social que é o racismo. Para tanto, contamos no Brasil, com densa produção social que é capaz de subsidiar uma nova compreensão para o que se oferece como o real e o legítimo. Leiam, pois, senhores e senhoras acadêmico/as, as análises sobre os tipos de escolas que são destinadas aos pobres – entre os quais negros sempre são maioria – e as relações raciais que ali nutrem a construção da auto-imagem de cada criança e cada jovem.Talvez seja desconhecido, para quem não acompanhe – porque não é do seu oficio docente no ensino superior – as pesquisas e as análises educacionais no Brasil que desde os anos 1990 mostram a face perversa das desigualdades no Brasil. Por exemplo, leiam Do silêncio do lar ao silêncio escolar, de Eliane Cavalleiro, onde a observação do cotidiano na educação infantil (já) identifica as expressões dos preconceitos sócio-raciais entre crianças e entre professoras e crianças. Examinem os dados das pesquisas de IBGE e Dieese sobre a relação entre ocupação de postos de trabalho/escolaridade quando comparados pretos/pardos e brancos. Ou, se preferirem trabalho de feição acadêmica mais familiar, leiam ao menos alguns dos textos da Revista Estudos Avançados do Instituto de Estudos Avançados da USP, edição de numero 50 como o dossiê O negro no Brasil. Também pode ser desconhecido o debate que já ocorria ao longo dos anos 1990, sobre Constituição e ações afirmativas, momento em que se esclareceu a gênese da definição estática de igualdade, herdada da formulação jurídica liberal que deu sustentação ao estado burguês, e firmou-se a perspectiva de adoção da concepção substancial de igualdade, conforme o professor BOLETIM APUFSC Joaquim Barbosa Gomes, “que levasse em conta sua operacionalização não apenas em certas condições fáticas e econômicas, mas também certos comportamentos inevitáveis da condição humana, como é o caso da discriminação” (2003). Em outras palavras, não basta a Constituição brasileira definir a igualdade, mas, exatamente para que ela seja efetiva, deve o Estado atuar de modo a fazer emergir o que o jurista acima referido observa como “diversos ordenamentos jurídicos nacionais e na esfera do Direito Internacional dos direitos humanos, de políticas sociais de apoio e de promoção de determinados grupos socialmente fragilizados” (idem). Outrossim, as pesquisas voltadas para o desenvolvimento humano no que se refere às capacidades intelectuais – vamos nomear assim – mostram que a construção de saberes e disposições ocorre como relação de saber, ou seja, na atuação dos indivíduos nas relações com os outros, todos mediadores da produção de conhecimento entre si. Isto certamente nos coloca a responsabilidade de construir oportunidades reais, face ao que as ações afirmativas, também compostas pelas cotas para ingresso no ensino superior, são expressão nacional e internacional de sensibilidade, autocrítica da sociedade e compromisso que desafia nossos saberes, valores e, em muitos casos, o conforto que a ordem vigente propicia. A larga experiência com as ações afirmativas no mundo mostra, outrossim, que não se trata de facilitar, de privilegiar, mas exatamente de prover mais pessoas ao direito à educação, mas este é um debate rigoroso que merece foco especifico para o qual podemos destinar outro momento de interlocução. Por fim, valem as palavras de Raquel de Queiroz, em diálogo com um seu colega anônimo, na revista O Cruzeiro (1948), contrapondo ao que este chamara de “filosofia da mulataria” para a problematização posta por sociólogos em relação ao racismo. Um, outro e mais outro, a escritora alinha exemplos das mais diversas esferas da vida em sociedade e com testemunho pessoal ou informações diversas apresenta um quadro que ainda permanece inalterado: a discriminação racial, além de criar obstáculos ou mesmo interdições para as ações mais corriqueiras das pessoas, impregna para além, a auto-valorização e com isto, a construção de projetos de vida! No presente, muitas universidades brasileiras dizem não ao racismo e a outras formas de discriminação ao implementarem ações afirmativas e nos oferecem oportunidade ímpar para ampliar a democracia na sociedade. ¹ Prof. do Depto. de Metodologia de Ensino ² Prof. do Depto. de Bioquímica ³ Técnica em Assuntos Educacionais no CED 6 de agosto de 2007 3 a defesa da educação pública, os delegados presentes ao Conad deliberaram que o Andes intensifique as ações de denúncia junto aos Ministérios Públicos Estaduais e Federal sobre as fundações de apoio através do agendamento de audiências e entrega, aos procuradores, do conjunto de documentos elaborado pelo SN sobre esse tema. A defesa da integralidade da seguridade social, como definida na Constituição de 1988, foi um dos temas tratados em São Luís, e a indicação para que as seções pedagógico realizado, sem falar na descasindicais e secretarias regionais realiracterização da universidade como lócus zem debates e seminários para discussão principal na formação de professores; e sobre as graves conseqüências para as Ifes dos mecanismos de controle social das políticas de seguridade social, em especom a aceitação do banco de professores cial quanto às formas de participação equivalentes que, associado ao Reuni e ao PLP 01/2007, levará ao fortalecimento da dos representantes dos trabalhadores nos conselhos de saúde e assistência social. precarização do trabalho docente atraTambém foi deliberada a realização de vés da crescente troca dos professores em seminários regionais sobre os HU, “na tempo integral e dedicação exclusiva por docentes em regime de 20 horas, quebran- perspectiva de definir estratégias de luta contra os ataques de que vêm sendo alvo, do dessa forma com o tripé ensino-pesem particular a sua transformação em quisa-extensão. fundações estatais de direito privado“. A luta pela revogação da Portaria InNo que diz respeito especificamente terministerial nº 22, de abril de 2007, que instituiu o banco de professor-equivalente aos professores das Ifes, o Conad deliberou pela continuação da atuação junto à é ponto crucial na defesa da universidade CNESF, sempre colocando em discussão pública brasileira. Um dos temas mais neste fórum a necessidade da unidade discutidos durante o Conad foi a total das categorias para se fazer o enfrentafalta de interesse do governo federal em mento à retirada, pelo governo federal, de estabelecer um efetivo e imediato prodireitos do funcionalismo público. A luta cesso de negociações com os SPF, e em unificada contra as reformas trabalhista, particular com os professores, e para se sindical, previdenciária e universitária, a fazer frente a essa situação os delegados exigência frente ao governo federal pela presentes em São Luís decidiram pela neimplementação de uma cessidade de se ampliar e Mesa de negociação, em fortalecer a mobilização É PRECISO conjunto com os demais dos professores das Ifes públicos para se construir a greve, mobilização para servidores federais, e a retirada que deverá ser avaliada nas assembléias de base forçar o governo do PLP 01/2007, foram outras deliberações do ainda no mês de agosto. a negociar com encontro de São Luís. Embora todos os Deverá também o Andes delegados e observadores seriedade “dar ampla divulgação tenham reconhecido as à pauta de reivindicadificuldades criadas por uma greve, admitiram também que ainda ção e à malha salarial aprovadas pelos docentes das Ifes, trabalhando-as politinão foi possível criar e implementar um instrumento de luta mais efetivo para en- camente como expressão da valorização frentar as políticas de desmonte do ensino do trabalho docente“. Durante o segundo semestre de 2007, as secretarias regiosuperior de todos os governos nos últimos nais e seções sindicais do Andes deverão 25 anos. Somente após transcorrerem realizar seminários sobre a lei antigreve e muitos dias de paralisação o governo se suas conseqüências sobre a ação sindical dispõe a negociar, porém, sem paralisano país. ção, apenas são marcadas mesas para que A criação de três novas seções sindinada seja negociado. O governo sempre cais do Andes, uma em cada setor, foi aposta na fragilização do movimento aprovada, sendo as novas seções sindicais dos trabalhadores, porém só negocia a saudadas como mais uma prova inconpartir do momento que já não é possível testável da vitalidade e crescimento do desconhecer o movimento. Depende de nosso Sindicato Nacional. nós um movimento forte o bastante para pressionar o governo a negociar logo que Observadoras do 52º Conad iniciemos a paralisação. e professoras da UFSC Sempre tendo como objetivo principal Conad e o indicativo de greve Magaly Mendonça e Bartira Grandi O 52º Conselho do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Conad) aconteceu em São Luís no período de 26 a 29 de julho, e teve como tema central Em defesa da educação pública, construir a unidade, resistir e avançar a luta e contou com a presença de delegados e observadores vindos de todas as regiões do país. O Conad iniciou com um debate sobre a conjuntura nacional, onde ficou evidente que o avanço na implementação das políticas neoliberais do governo Lula requer do Movimento Docente (MD) um reforço na construção da unidade com os demais trabalhadores em defesa dos nossos direitos, em geral, e da educação pública, em particular. O Plano de Desenvolvimento para a Educação (PDE), lançado pelo governo federal em abril de 2007, através de resoluções, portarias e decretos, redesenha a organização do Sistema de Educação do país em todos os níveis de forma autoritária, sem levar em consideração sua qualidade, e sem previsão de novos recursos. Na luta contra mais esse ataque à Educação Brasileira, o Conad definiu que se amplie as campanhas de denúncia e esclarecimento junto à população em geral, e junto à comunidade universitária em particular, sobre o caráter nocivo do Reuni (“Decreto nº 6.096/07, que visa a ampliar, de modo significativo, o número de matrículas nas Ifes sem o correspondente aporte financeiro, destacando que isso se dará por meio da sobrecarga dos docentes e do rebaixamento da qualidade da educação superior pública”); sobre a criação dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia – Ifet (Decreto nº 6.095/ 07), que intensificará a subordinação da educação tecnológica aos interesses do mercado e, através da ampliação de suas atribuições no que diz respeito à formação de professores para a educação básica, em especial os de ciências, trará efeitos danosos sobre a qualidade do trabalho Florianópolis BOLETIM APUFSC 6 de agosto de 2007 4 5 Homenagem ao professor Raul Güenther NESTA SEGUNDA, ÀS 19 HORAS, OCORRE UM CULTO EM MEMÓRIA DO PROFESSOR RAUL GÜENTHER, NO CENTRO ECUMÊNICO DA UFSC Como forma de homenagear o professor Raul Güenther, falecido tragicamente no dia 23 de julho, o Boletim de Apufsc publica o depoimento de alguns de seus amigos e colegas na UFSC. Além disso, trechos de uma entrevista concedida ao historiador César Félix em 10 de outubro de 2005 como parte do trabalho de levantamento da memória história do movimento docente da UFSC. Professor do Departamento de Engenharia Mecânica, Güenther foi presidente da Apufsc por dois mandatos (1980 a 1984), secretário-geral do Andes-SN também por dois mandatos (1982 a 1986), candidato a governador do estado pelo Partido dos Trabalhadores em 1986, além de pesquisador respeitado por todos e reconhecido nacionalmente pelo trabalho desenvolvido na área de Robótica. Sua atuação como professor e sua postura pessoal deixam marcas indeléveis na vida da Universidade. mento por uma coincidência histórica, tinha um grupo na Apufsc que fazia essa discussão sobre autarquias e fundações. Lembro de alguns professores que fizeram parte desse grupo: Célio Espíndola, Jorge Lorenzeti, Osvaldo Maciel, Marli Auras, Daniel Hertz e Néri dos Santos. Havia uma discussão muito consolidada aqui em Santa Catarina, que também que se fazia em nível nacional. Nós propusemos uma discussão com todos os professores da UFSC e foi uma das primeiras vezes, não sei se foi a primeira, que nós paralisamos a universidade para fazer uma discussão num dia. Pensávamos assim: vamos levar essa discussão para os departamentos, vamos parar um dia e pedir reuniões nos departamentos e só depois de ouvir os departamentos, vamos nos posicionar a esse respeito. Para a época, isso já era quase como uma revolução. Isso foi uma coisa muito importante. Apufsc – Grande parte dos dirigentes do Movimento Docente Nacional teve sua origem política e de militância no movimento estudantil. O senhor também veio do movimento estudantil? Como o senhor iniciou sua participação no movimento docente? Raul Güenther – Não, a primeira assembléia que eu fui na minha vida foi como professor. Eu entrei no movimento docente participando do conselho de representantes da Apufsc. Houve uma eleição no Departamento de Engenharia Mecânica e um professor que depois seria adversário político, o professor Abelardo Queiroz, me lançou como candidato. Houve uma eleição, uma votação. Eu concorri com dois outros candidatos e ganhei a eleição. A partir daí, eu desenvolvi um trabalho de representante, que foi bastante apoiado e reconhecido pelos meus colegas, não só nas questões sindicais mais próximas de salários, mas naquela ocasião também se discutia a transformação das universidades em autarquias especiais. Esse era o mecanismo da ocasião para dar um passo adiante no processo de privatização, e nós resistimos a isso de maneira bem contundente, e participei nesse trabalho como representante. Aconteceu. Eu acabei entrando para a direção do movi- Apufsc- Foi motivado por essas discussões que o senhor decidiu entrar para a diretoria da Apufsc? Raul Güenther - Vou contar essa história porque foi algo muito importante: Fizemos essa discussão, em todos os lugares e também no nosso departamento, mas nosso departamento tinha uma característica especial: era o departamento do então reitor, o professor Caspar Erich Stemmer, que, no entanto, estava licenciado fo cargo da reitoria, porque estava se preparando para fazer concurso para professor titular. Aí fizemos a discussão e por uma coincidência histórica aconteceu o seguinte. Os chefes de departamento daquela ocasião eram nomeados pelo reitor, não tinha eleição. E pela ordem das inscrições, o meu chefe se inscreveu, todo mundo pediu inscrição e eu era o seguinte, bem eu era representante do departamento na Apufsc, então fizemos a discussão, o professor Stemmer foi lá, defendeu a proposta em favor da transformação da universidade em autarquias especiais, ou seja, em fundações. E fui eu quem contra-argumentou, e isso depois foi votado no departamento e foi vencedora a proposta de autarquia, que era defendida pelo movimento docente. Foi um fato histórico. Quando chegamos para relatar na assembléia foi um fato “ O que sempre me chamou atenção no professor Raul Guenther foi sua capacidade de negociação, acolhimento e tolerância. Ele nos ensinou a manter a serenidade e altivez na forma de pensar e atuar. Raramente se alterava, mesmo nas situações mais conflituosas. Foi um grande lutador no início dos anos 80 na defesa do caráter público que as universidades deveriam manter, contra a transformação das universidades em autarquias especiais, que o movimento docente à época assinalava que era um caminho para a privatização das IFES. Retirando-se da atuação sindical nos anos 90, quando se dedicou à atividade de pesquisa, o professor Raul retornou em 2003, como candidato a vice-reitor, mostran- do-nos que nunca abandonou suas convicções e posições em defesa de uma universidade pública, gratuita e de qualidade. E que era possível conciliar a vida acadêmica com a luta pela defesa das melhores condições de ensino, pesquisa e extensão e também de uma cidadania crítica e atuante. Nestes últimos anos, não convivi pessoalmente com este inestimável professor, mas, como se não bastasse, arranjou tempo para a música e a arte em sua vida, que muitos desfrutaram. Estamos mais uma vez órfãos de uma referência antes de tudo pessoal e como raro pensador. Os sinos de nossos corações não conseguem cessar de ecoar no silêncio e vazio causados pela sua ausência no campus da UFSC. Lino Peres, vice-presidente da Apufsc Florianópolis “ O professor Raul Güenter era o nome da robótica em Santa Catarina. No Brasil também, era um dos pesquisadores mais reconhecidos. Era pesquisador 1 do CNPq, estava no auge da carreira. Pelo levantamento que nós estamos fazendo, havia cinco grandes projetos em que ele estava envolvido. (...) É uma grande perda, não só do ponto de vista de uma pessoa política, engajada, mas academicamente a perda é incalculável. Para a instituição é irreparável. O difícil da academia é tirar o melhor de cada um, desencastelar, fazer com as pessoas trabalhem com um objetivo. O Raul percebia a capacidade de cada um e figura importante e a Apufsc também. Aconteceu que logo na seqüência dessa greve, a gente criou a Andes – Associação Nacional dos Docentes do Ensino Superior – e o professor Maciel assumiu como primeiro presidente da entidade, licenciou-se da Apufsc por um tempo maior, na verdade, ele só assumiu outra vez num pequeno período, quando eu me candidatei à presidência da Apufsc, aí eu tinha que me afastar para concorrer e ele reassumiu. Então eu fui eleito e voltei, quer dizer, eu fui presidente da Apufsc praticamente por dois mandatos, um como vice do Maciel, mas de fato em exercício, e depois de 1982 a 1984, como presidente eleito. Em 1984, me afastei da Apufsc e assumi a secretaria geral da Andes, onde fiquei até 1986. Então, na verdade, foram dois mandatos na Apufsc e dois mandatos na Andes, sendo que um foi com superposição, pois quando eu fui presidente eleito aqui, também fui primeiro secretário da Andes. Depois que eu foi só secretário-geral num mandato que acabou em maio de 1986. Depois disso veio a época que eu fui candidato a governador pelo Partido dos Trabalhadores em Santa Catarina, ainda no ano de 1986 e em 1987, eu ainda fiquei aqui, mas em 1988 fui fazer meu doutorado e a minha militância ficou mais esparsa. meio impressionante. Na época eu era um menino, tinha 26 ou 27 anos e nossa posição acabou prevalecendo, também em nível nacional. Esse fato me colocou numa posição de o pessoal achar que eu tinha de participar da chapa seguinte. Eu acho que a minha entrada para o movimento docente foi devido a esse fato, eu atribuo a isso. Apufsc – O senhor foi dirigente da Apufsc por dois mandatos, ficando na direção em 1981 com o afastamento do professor Osvaldo Maciel? Raul Güenther – Foi. Nós assumimos a diretoria da Apufsc no dia 15 de outubro de 1980, em 5 de novembro veio a greve. A primeira greve nacional que fizemos. Quando a greve foi deflagrada o professor Osvaldo Maciel, que era o presidente eleito da Apufsc, pediu licença temporária, para poder participar da coordenação nacional. Ele já era uma direcionava as pessoas para que elas fizessem aquilo que gostassem. Direcionava os trabalhos de mestrado, de doutorado e de iniciação científica de forma a ter gente capacitada no tempo certo para atender as demandas dos projetos. Era uma pessoa que também conversava com pessoal de empresa, com pessoal de fomento. Cada um desses tem uma visão diferenciada. Tudo que ele pensava era no sentido do desenvolvimento – acadêmico, econômico, social. Ele entendia como cada parte conversa com as outras, cada expectativa e conseguia atender as expectativas e atender a um bem maior. Daniel Martins, prof. do Depto. de Engenharia Mecânica “ Lembro de um dos meus aniversários, acho que de 48 anos, Raul estava aprendendo a tocar clarinete e o Zé Raul, seu filho, flauta. Era noite e eu estava saindo do banho e pensando em tomar um café, quando minha atenção foi desviada para os acordes de clarinete e flauta doce vindo do meu quintal. Ao abrir a porta me deparei com o Raul e o Zé postados em frente a ela ensaiando o tocar um chorinho de aniversário para mim. No sábado durante a festa de aniversário, o presente que recebi do meu amigo foi à primeira apresentação pública dele tocando clarinete. Este é o meu amigo Raul que informa sua sensibilidade e afetividade nos gestos que carinhosamente distribui entre nós como se nada de mais eles contivessem, a não ser informar para nós, seus amigos, o quanto somos importantes para ele. E quando em Apufsc – Essa seqüência de acontecimentos externos à Apufsc colaborou para o seu afastamento da associação, ou o senhor se afastou por uma compreensão política outra? Raul Güenther – Foi por um entendimento meu. Nunca exerci a atividade sindical profissionalmente, até porque nem era sindicato. O Andes não era sindicato. A Apufsc não era, e naquela época participamos muito de uma renovação do movimento sindical, discutimos muito isso e existia um grande sentimento de que tinha que haver uma renovação no sindicato. Na época, a gente lutava para mudar pessoas que estavam há 20 anos e hoje eu vejo em alguns sindicatos as pessoas com quem eu lutei para mudar elas continuam também, faz 20 anos. Apufsc – Isso acontece isso na Apufsc também? algum momento trazíamos esta sensibilidade nas conversas ele informava que ela era fruto de seus filhos, de sua vida, de sua música, de seu viver. E era verdade, pois durante todos os anos de nossa amizade o festejar seus filhos, o dizer o quanto os amava e o quanto era importante para ele a presença de cada um deles em sua vida, foi marca registrada do Raul. Lembrar hoje o Raul significa recordar cada momento que convivemos juntos, no viver cotidiano da vizinhança entre casas que se desenhava com diários acenos de mãos, com conversas rápidas no muro, com momentos partilhados em churrascos, almoços e jantares, com chimarrões ao final de tarde. Lembrar hoje do Raul significa ter claro que partilhei de uma existência primorosa de conviver raro entre duas pessoas que se consolidam em amigas, que se transformam em irmãos. Neila Maria Machado, professora do Departamento de Nutrição BOLETIM M APUFSC “ Raul Güenther – Não, na Apufsc é diferente. Lá o sujeito voltou, não é que ficou.Inclusive, quando nós criamos a Andes, isso foi uma grande discussão no primeiro congresso. O resultado foi que no primeiro estatuto, nós estabelecemos a cláusula que só podia ser reeleito uma vez. Você tem que dar um tempo, de um mandato e voltar. Mas nós tínhamos a compreensão que o sindicalismo não podia ser uma atividade profissional, porque isso era uma coisa que nos afastava da categoria, então eu fiz de fato, em 1986, a minha opção, digo “agora está encerrado essa parte” e foi só aí que fiz meu doutorado, que até então não tinha feito. Apufsc – Em 1980 e 1981 aconteceram duas greves vitoriosas aqui na UFSC, o senhor participou ativamente das duas. A história nos mostra uma participação muito importante dos professores colaboradores nesse processo de luta. Pergunto: os professores colaboradores eram como os substitutos hoje ou existia uma relação de trabalho diferente? Qual a diferença? Raul Güenther – Não se fazia muita distinção entre professor auxiliar e professor colaborador. Era quase a mesma categoria tanto no tratamento, quanto na remuneração. Os professores colaboradores tinham uma condição muito melhor que os substitutos de hoje. O problema é que eles não eram do quadro efetivo. Eu entrei na universidade como professor colaborador também, existiam muitos colaboradores. Acontece que nós vivíamos numa época de ditadura, ninguém se sentia muito estável, então eu acho que mesmo a diferença entre auxiliares e colaboradores não existia, podia até existir formalmente, mas como no período da ditadura ninguém era estável, todo mundo se sentia ameaçado. Então a gente se sentia iguais aos outros. E uma grande parcela, eu não posso te precisar, mas uma grande parcela do corpo docente era feita por colaboradores, por pessoas que não eram do quadro e a característica do movimento era que ele era feito em grande parte pelo pessoal mais novo na universidade, com o apoio e a participação dos mais velhos. Porém, os mais novos é que botavam energia nisso tudo. Penso que o professor Raul deixa várias marcas aqui no Departamento. No ensino, ele era um excelente professor, tinha um ótimo relacionamento com os alunos. Na parte de pesquisa, trabalhava desde o doutorado no sentido de implantar um processo de pesquisa cooperativa, que era uma coisa de que ele falava muito nas conversas que a gente tinha. Hoje, o sistema de pesquisa é muito pautado na concorrência, na competição. Para ele, o resultado científico se faz para a humanidade e deveria ser mais um trabalho de cooperação entre pesquisadores, alunos, entre os diversos departamentos que fazem pesquisas. É uma visão diferenciada. Enquanto alguns líderes de pesquisa acham que o importante é a competição, o mérito pela competição, o Raul achava que o mérito deveria ser dado à cooperação, na construção de um processo em que o conhecimento aparece. Os resultados que se tem aqui, que se pode ver pelo currículo Lattes do Raul, foram conseguidos trabalhando com diferentes pessoas. Inclusive as que tinham diferenças políticas muito grandes em relação ao que o Raul pensava. Ele sempre dizia assim: “olha, o cara pode ser ruim em política, mas é bom naquilo que ele faz”. Então, a gente tem que trabalhar em cima de aproveitar o melhor, de uma forma que com esse melhor todos possam contribuir para o progresso científico. O professor Raul conseguia visualizar isso, conhecia a posição política de cada um, mas se preocupava na construção de um processo científico, no qual ganha a humanidade. Altamir Dias, professor do Departamento de Engenharia Mecânica 6 de agosto de 2007 6 Imperialismo e luta de classes ainda existem? educação” (p. 71). Isso estabelece um novo sistema político, assim como a base legal para o controle de toda a estrutura socioeconôO debate sobre o imperialismo e a luta mica da América Latina. O tema central do livro, no entanto, é o estudo feito por James de classes, abandonado por uma parte da esquerda e desterrado pela maioria dos pós- Petras e Robin Eastman-Abaya sobre a conexão EUA-Iraque-Israel modernos, sempre esteve presente na vida e o sionismo. Os analistas de política internacional costumam dos povos latino-americanos. O projeto de afirmar que o apoio estratégico-militar de Washington a Tel Aviv construção de um Estado-nação foi o caminho é fundamental na manutenção de um Estado forte, belicoso e percorrido pelos grupos organizados para se expansionista. A doutrina Nixon-Kissinger, ao reconhecer que os contrapor à dominação imperial. Tanto que o Documento de Santa EUA “não poderiam mais fazer o papel de policial do mundo” e Fé II (1988), que orientou a política externa da Casa Branca, que, portanto, “esperariam que outras nações fornecessem mais afirmava que “o matrimônio do comunismo com o nacionalismo, guardas para a ronda de sua própria vizinhança”, atribuiu a na América Latina, representava o maior perigo para a região e Israel, bem como a outros países, entre eles o próprio Brasil, a função de atores regionais. Dentro desta perspectiva estratégica, para os interesses dos Estados Unidos”. Acaba de ser lançado pela Editora da UFSC, o livro do cientista tanto Israel como o Brasil desempenharam uma função subimpolítico estadunidense James Petras sob o título Imperialismo e luta perialista em suas áreas de influência. Hoje, porém, segundo de classes no mundo contemporâneo. O autor analisa temas como Petras e Eastaman-Abaya, é Israel que, por meio de sionistas a base econômica do poder imperial, o realinhamento de governos estadunidenses importantes, detém o poder dentro dos EUA. A latino-americanos a Washington, a ALCA e sua pedagogia para a Casa Branca chega a adotar políticas altamente prejudiciais aos opressão, a conexão EUA-Iraque-Israel e o sionismo, as políticas seus interesses, somente com o intuito de beneficiar a Tel Aviv. Um antiimperialistas e, por último, o grande debate revisitado capi- exemplo é a guerra contra o Iraque, cujo principal beneficiário é o Estado de Israel, já que conseguiu a destruição de seu inimigo talismo versus socialismo. Para Petras, as empresas multinacionais são um dos eixos árabe mais forte no Oriente Médio, ou seja, o regime que dava que fundamentam o poder econômico do imperialismo. Os EUA apoio à resistência palestina. Poucos são os analistas políticos que mostram “a excessiva continuam sendo dominantes em termos absolutos e relativos: contam com 227 (45%) das 500 multinacionais mais importantes, influência” que os governos israelenses exercem sobre os EUA, seguidos pela Europa Ocidental, com 141 (28%), e Ásia, com 92 por meio de poderosos grupos de pressão e indivíduos sionistas (18%). Esses três blocos regionais controlam 91% das principais nos setores estratégicos de sua economia, como também no Poder multinacionais do mundo (p. 12). A dita globalização, para o Executivo, no Congresso, nos partidos políticos, na mídia e no autor, pode ser entendida em seu sentido mais amplo como o sistema financeiro. Os mais conhecidos sionistas, segundo Petras poder derivado de tais empresas, o que lhes permite movimentar e Eastaman-Abaya, são Alan Greenspan (ex-diretor do Banco capitais e controlar o comércio, o crédito e o financiamento. Além Central), Paul Wolfowitz (ex-diretor do Banco Mundial), Richard disso, as multinacionais estadunidenses mais importantes são Perle (Defense Policy Board), Douglas Feith (secretário de Defesa indústrias militares relacionadas diretamente com a guerra e com Adjunto), David Frum (redator dos discursos de Bush), Elliot a construção de seu império. Fred Halliday chamou “triângulo Abrams (encarregado da Política para o Oriente Médio) e tantos de ferro” a esta conexão entre Congresso, Pentágono e complexo outros. Petras e Eastman-Abaya analisam, então, vários casos industrial-militar destinado a aumentar os gastos com a defesa. pontuais em que os interesses dos EUA foram prejudicados para Os EUA e a Europa são dois Estados imperiais que se diferen- favorecer Israel (p. 115-120). O mais recente, e de uma enorme ciam apenas no método de dominação e exploração. Enquanto gravidade, diz respeito às Torres Gêmeas, já que os investigadores o imperialismo europeu adota uma estratégia diplomática de federais estadunidenses têm razões para acreditar que o serviço “comércio-investimento-mercado”, os EUA utilizam a via colonial de inteligência israelense sabia preventivamente do ataque de militarista; enquanto Bruxelas propõe um estilo de controle mul- 11 de Setembro e não comunicou Washington porque a Tel Aviv tilateral, consultivo e de cooperação, Washington lança mão da interessava a guerra como justificativa para destruir seus inimigos ação unilateral e do monopólio do poder; enquanto a Europa busca árabes. Para ambos os autores, este domínio de Israel está baseado na diáspora e nas redes judaicas muito estabelecer uma cooperação com as elites bem estruturadas, que têm acesso direto dos países árabes e com Israel, Washington Imperialismo e luta de classes no aos centros de poder e propaganda do país – influenciado pelos sionistas – prioriza mundo contemporâneo imperial mais poderoso do mundo. A reuma relação exclusiva com Tel Aviv. James Petras. lação EUA-Israel é a primeira da história Ao analisar a Área de Livre Comércio Editora da UFSC, 206 p. moderna na qual um país acoberta crimes das Américas (Alca), Petras mostra que Coleção RIEN (Relações Internaciopraticados por terceiros contra si próprio. esta organização “proporciona ao impenais e Estado Nacional). Imperialismo e luta de classes também rialismo estadunidense um amparo legal analisa as políticas antiimperialistas e sua e de tomada de decisões para determinar forma de resistência ao longo do tempo. Se o comércio, os investimentos, as políticas LANÇAMENTO: 23 DE AGOSTO no período da Guerra Fria os movimensobre a propriedade e a legislação trabaDE 2007 - 17 HORAS tos antiimperialistas eram rotulados de lhista, bem como a natureza, o gasto, a GALERIA DE ARTE DA UFSC conflitos entre blocos (socialismo versus forma e o conteúdo dos sistemas de saúde e Waldir José Rampinelli Florianópolis BOLETIM APUFSC 6 de agosto de 2007 7 capitalismo ou Terceiro Mundo contra Primeiro Mundo), hoje eles têm uma conotação de exploração de classes. Além disso, a política econômica imposta pelas autodenominadas instituições financeiras internacionais (Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento) contribuiu decisivamente para a transformação da estrutura de classe em todo o mundo. O Iraque, juntamente com a América Latina, são os lugares em que se verificam os maiores descontentamentos populares com a pilhagem do imperialismo e, concomitantemente, com a queda no nível de vida das pessoas. Os atores deste movimento são, em sua grande maioria, trabalhadores pobres urbanos e rurais, estudantes de classe média baixa, professores, religiosos, movimentos sociais radicais, grupos indígenas e organizações guerrilheiras e se baseiam nos impactos negativos diretos sobre o nível de vida, empregos, produção agrícola e controle da política econômica. James Petras finaliza seu livro analisando o grande debate que permeou todo o século XX e continua presente nos dias de hoje: capitalismo versus socialismo. O autor mostra que as decisões econômicas, assim como as propriedades nacionais, eram de domínio público no socialismo. Com o colapso deste sistema, as empresas multinacionais estadunidenses e européias se apropriaram de todas as riquezas dos ex-países comunistas. Isso tem gerado desemprego em massa, quando não emprego temporário, e uma grande emigração para outras partes do mundo. Imperialismo e luta de classes no mundo contemporâneo é um livro polêmico, atual e instigante, que por certo deverá suscitar muitos debates e, por que não dizer, paixões também. Professor do Departamento de História Florianópolis Elogio à clareza da litania Sérgio Michelin É gratificante, e ao mesmo tempo prazeroso, degustar o boletim da Apufsc com seus bem colocados artigos como os de nossos colegas José J. de Espíndola, Paulo César Phillipi, Renato A. Rabuske, Paula Brügger, entre outros tantos. Por outro lado, é extremamente preocupante o fato de que pouca ou nenhuma atenção se de aos fatos e advertências ali postadas por nossos colegas. Afinal, se poucas são as atitudes que podemos tomar para defender nossos interesses, e de modo geral aos de toda a comunidade da qual faz parte a nossa Universidade, pelo menos nos restao poder da escrita. Talvez, não com a eloqüência de um Rui Barbosa, tampouco com a clareza e sutileza de um Machado de Assis, ou mesmo com a ferinidade de um Maquiavel. Mas com toda certeza, não podemos ficar calados, ou melhor, não podemos silenciar nossas penas de escrever. Com toda certeza, sabemos que desde o seu nascimento o homem já entra em batalha corporal com a loucura denominada “vida”. É forçado a sair de um local quentinho, agradável, silencioso e que lhe proporciona relativa segurança. É abruptamente separado, mesmo que momentaneamente, do único ser que ele conhece: sua mãe. É conduzido por seres estranhos, a um local estranho e lá é submetido a todo tipo de experiências. Após algum tempo, se estiver tudo certinho, ele é liberado com sua mãe e é levado para seu lar. Lá, também, passará por algumas situações muito loucas: Se a mãe trabalhar fora, logo ele se verá as voltas com outras pessoas encarregadas de cuidar e de o protegerem. Bom, ora pode ser uma babá, um irmão mais velho, se ele tiver um, ou mesmo o pai ou a avó ou qualquer tia que estiver disponível. Inicia, aí então, a mais ferrenha de todas as batalhas: a luta pela sobrevivência em meio á guerra que se lhe avizinha. Vivemos em constante batalha, ora perdendo, ora ganhando. Bem, continuemos com nossa análise deste novo indivíduo que se forma. Ele, o outrora bebê, já é um homem formado e foi moldado durante toda a sua vida pelas circunstâncias que ele encontrou pela frente. Logo ele aprende que, nesta luta ferrenha pela sobrevivência, existem algumas coisas mais e outras menos importantes. Ele sabe que uma das coisas que mais lhe proporcionará uma relativa segurança, será o quão alta será a sua conta bancária. Pronto. Eis aí um futuro louco e ferrenho lutador. E ele não está de todo incorreto, se não, vejamos que nem a cuba de Diógenes ele poderá ter para seu refúgio. Visto que a sociedade cobra de cada um de nós seu quinhão e quanto podemos gastar para obtermos mais ou menos conforto. Aí iniciam as desigualdades, uns fazem conchavos, vendem BOLETIM APUFSC sua ética, sua moral, seu corpo, suas idéias, seus valores, e o que mais for necessário. (Um claro exemplo está aí, bem debaixo do nosso nariz, elegemos um presidente que vendeu a própria alma, se é que ele alguma vez a teve. Pobre coitado dá até pena de assistir aos seus pronunciamentos, virou bola da vez, e serve de mote a todo tipo de glosa. E, o que a meu ver, é muito pior, alguns colegas nossos elogiam, aplaudem, babam-se todo e travestem-se com a couraça do estoicismo para defender tal “otoridade”. Arrufam-se todo e tecem uma litania interminável em prol da honra de tal chalreador. Bem, isto será tema para outro artigo). Assistimos, ou escutamos todos os dias na mídia, que a polícia federal desbaratou ou este ou aquele esquema para obter dinheiro fácil de modo ilícito e completamente desonesto. Que a operação moeda verde ou a operação sanguessuga (sei lá o que mais, pois pobre da polícia federal; já não tem mais alcunhas para designar suas operações, tantas são as artimanhas ilícitas engendradas por aqueles que deveriam zelar pelos bons costumes e dar bons exemplos em sua conduta), desbaratou e prendeu políticos, advogados, promotores, juízes, sei lá (novamente) quem mais. Escrófulas, estrompadores, flauteadores, sanguessugas da pior espécie. Estes que deveriam dar bons exemplos estão eivados e arrufam completamente nossos sentimentos mais puros e nobres. Lemos toda semana no boletim da Apufsc, que o PAC, o PDE, a Universidade Nova, as cotas o Reuni estão aí, as portas, e a qualquer momento podem arrombar esta frágil porta que separa a tênue linha entre a privatização e a Universidade pública, gratuita e de qualidade. O nefasto objetivo se escancara em nossa frente, mas insistimos em não ver, o de retirar do estado, cada vez mais, a responsabilidade com a educação, a saúde e a esperança de toda uma nação. Enquanto isto ocorre, bem debaixo de nosso inelutável mecenantismo, se gasta aproximadamente 4 bilhões de reais com uma ridícula campanha esportiva, denominada: Pan 2007. Isto é o que se informa oficialmente, porém, por detrás dos panos, muita água rola por debaixo da ponte. E o que fazemos nós? Que eu saiba, posso estar enganado, nada. Talvez não sejam necessários arroubos ou atos desvairados de patriotismo, mas por que não algum ato mais simples como a denuncia por escrito? Algum alerta na imprensa escrita, uma simples nota, um crônica bem colocada, um alerta num rodapé de um grande jornal, ou sei lá o que mais possa, pacificamente, ser feito??? É por este motivo que parabenizo aos nobres colegas que reservam algum tempo para denunciar, para esclarecer, para dar vazão ao seu descontentamento com toda esta garabulha que assola este nosso País. Professor do Departamento de Física 6 de agosto de 2007 8 Desumanização e alienação do trabalho docente N esta entrevista feita por e-mail, o pesquisador João dos Reis Silva Júnior, professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), fala sobre a pesquisa que desenvolve com Valdemar Sguissardi que busca identificar as mudanças do trabalho do professor universitário pesquisador depois do início da Reforma do Estado em 1995, até os governos Lula, “período marcado por uma única racionalidade histórica”. Ele diz as IFES brasileiras são “uma das melhores empresas prestadoras de serviços públicos e privados com os melhores profissionais do mercado, alguns alienados, outros não, mas todos adoecendo em função da intensificação do trabalho imposto pela reforma em movimento e a conta-gotas pelos governos FHC e Lula”. João dos Reis é Doutor em História e Filosofia da Educação pela PUC-SP com Pós-Doutoramento em Ciências Políticas pela Unicamp e autor de diversos livros e artigos publicados no Brasil e no exterior, entre os quais Novas Faces da Educação Superior no Brasil - reforma do Estado e da Produção, com Valdemar Sguissardi (Ed. Cortez, 2001), Trabalho e Formação: uma abordagem ontológica da sociabilidade (Ed. Xamã, 2001) e Reforma do Estado e da Educação no Brasil de FHC (Xamã, 2003). - Quais as principais constatações do estudo? - Os resultados ainda são parciais, mas já se pode indicar: 1) indução do auto-financiamento das IFES; 2) a formação do cotidiano da IFES do professor empreende- Publicação semanal da Apufsc (Associação dos Professores da UFSC), Seção Sindical do Andes – Sindicato Nacional DIRETORIA GESTÃO 2006/2008 - O senhor fala em alienação e desumanização do pesquisador. Por favor, especifique os significados que dor, que corre atrás do financiamento para esses termos assumem no seu estudo. poder trabalhar, desobrigando o estado de - Toda atividade humana, por mais seus deveres; 3) não se pode falar mais em simples e comezinha, tem uma finalidade autonomia universitária. Podemos falar e envolve conhecimento acumulado ao numa contradição, autonomia e seu pólo longo da vida do sujeito que realiza tal atiantitético a heteronomia. De um lado, o Estado privilegia e tutela a dimensão produ- vidade. Portanto, nessa atividade, encontiva da instituição universitária que interessa tra-se, concretamente, seu conhecimento da realidade que o próprio ser humano ao seu projeto político, e de outro, quem construiu, e em geral grande parte das pauta a pesquisa é a iniciativa privada. Sosociedades não tem consciência desse mos uma das melhores empresas prestadoprocesso e não se reconhece no outro para ras de serviços públicos e privados com os quem a meta de sua atividade realizoumelhores profissionais do mercado, alguns alienados, outros não, mas todos adoecendo se. Nesse processo, não se reconhece a si mesmo. O trabalho do professor, por mais em função da intensificação do trabalho complexo que seja, por maior acúmulo imposto pela reforma em movimento e a que tenha, passa pelo mesmo processo. Ele conta-gotas pelos governos FHC e Lula. pode não reconhecer seu vasto saber no seu tra- Medidas como COMPARAR balho, nem para quem REUNI, Universidade o Brasil com foi feito e, portanto, não Nova e professorse reconhece a si mesmo equivalente podem Coréia do Sul como professor e pesquiagravar a situação? sador. Isto é muito ruim - Sem dúvida, pois ou EUA é rir da no plano político, pois a proposta traz em seu nossa desgraça tal movimento lhe tira núcleo um movimento a identidade e dificulta de neoprofissionalização sobremaneira a organida instituição universização do movimento docente na direção tária, acentuando e legalizando o que já de uma universidade brasileira cuja idenvem ocorrendo. Novamente, com graves conseqüências para o movimento docente, tidade seja uma contradição. De um lado, contribui para o crescimento econômico pois a carga horária docente subirá muito e a cimentação ideológica do pacto social e as atividades de pesquisa e prestação de estabelecido, de outro, é crítica institucioserviço precisam ser feitas para manter a nal de seu tempo histórico, e, sobretudo, universidade em movimento. de seus próprios objetivos sociais. - Essa situação é típica do Brasil ou Publicado originalmente acontece em outros países? - Este é o processo de Bologna brasileiro no Informandes online 1° Secretário: Idaleto Malvezzi Aued Científicas: César de Medeiros Regis 2° Secretário: Edgard Matiello Júnior Diretora de Promoções Sociais: Maristela Fantin Tesoureiro Geral: Honório Domingos Benedet Diretora de Política Sindical: Doroti Martins 1° Tesoureira: Sandra M. Bayestorff Diretor de Relações Institucionais: Carlos Becker Westphall 2° Tesoureiro: Roberto Ferreira de Melo Diretor de Divulgação e Imprensa: Fernando Ponte de Souza Presidente: Armando de Melo Lisboa Vice-Diretora de Divulgação e Imprensa: Vice-Presidente: Lino Fernando de Bragança Peres Diretora de Promoções Culturais e Científicas: Albertina Dutra Silva Secretária Geral: Vice-Diretor de Prom. Culturais e Florianópolis e está em pauta na maior parte dos países do mundo, em geral com outras condições sócio-econômicas diferentes da perversa concentração de patrimônio e renda existente no Brasil. Em acréscimo, o Sr. Eduardo Guimarães nos quer comparar com a Coréia do Sul, Estados Unidos etc. É de rir de nossa desgraça. PRODUÇÃO Jornalista Responsável Ney Pacheco (SC - 735 JP) Projeto gráfico e editoração eletrônica Tadeu Meyer Martins Impressão Gráfica Agnus Tiragem 3.500 exemplares Distribuição gratuita e dirigida Diretora de Assuntos de Aposentadoria: Irmgard Alba Haas CONSELHO FISCAL Efetivos: Ivo Sostisso, Jonas Salomão Spricigo, Arthur Ronald de Vallauris Buchsbaum Suplentes: Marco Aurélio Da Ros, Edmundo Vegini, Maurício Roberto da Silva BOLETIM APUFSC ENTRE EM CONTATO Endereço Sede da APUFSCSSind, Campus Universitário, CEP 88040-900, Florianópolis – SC Fone/fax (048) 3234-2844 Home page www.apufsc.ufsc.br E-mail [email protected] 6 de agosto de 2007
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