nas trilhas do fogoi - IFSP-PRC

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NAS TRILHAS DO FOGOI
OdisséaBoaventurade Oliveira
'Os homenstêm datasde nascimento'mas o nomem não a tem."
(Geertz)
"A
O Íilme Guerrado Fogol" apresentaum intervalo ou uma trajetóriacurtada históriaevolutivahumaapreenderalgumascaracterísticas
na, possibilitando
que faz questãode aparentarbastanteevidentescomo:
alimentaçãovariada;práticasexual; percepçãoolfativa desenvolvida;práticae superaçãodo canibalismo;
diÍerençasf ísicasentretribos;caça; aprendizagemdo
domíniode técnicas;
da linguagem;
riso;complexidade
Íogo.
e
moradia
armas,
Por outrolado o Íilmetambémapontaparaalguns
de
aspectosbastantediscretos,como:domesticação
animais;cataçãode piolhos;liderança;posiçãoÍemido núcleofamiliar.
nina no grupo;constituição
Pretendonestaanáliseprivilegiaro últimoaspecto
listadoacima, tomando-ocomo fio condutorpara o
comentáriodos demais,procurandoentenderassim
a derivaçãoda famíliadentrodo que hoje é chamado
de modeloocidentalcom uma conÍiguraçãopatriarcal
- monogâmica.Para tal dentreas leiturasÍeitasescolhia visãode EdgardMorin2que propõea comunicaçãoentrea Biologiae a Antropologiaparao estudo
d a e v o l u ç ã oh u m a n a . N o m e s m o n í v e l u t i l i z a r e i
no homemconDesmondMorrisque buscaidentiÍicar
primitivos.
traços
de
presença
evolutiva
temporâneoa
visão
de outros
a
secundariamente,
Tambémutilizarei,
e
Kristeva
Julia
Bronowski,
autores como Jacob
F
r
e
u
d
.
Sigmund
Antes de apresentarminhasprópriasobservações
sobreo tema da formaçãodo núcleoÍamiliar,gostaria
de tazer uma referênciaà crítica feita por Ricardo
Picchiarinie EliasThoméSalibapublicadana revista
"Apontamentos"
da FDE (Fundaçãopara o Desenvolvimentoda Educação- Secretariade Educaçãodo
Estadode São Paulo)em que os comentadorescitados reÍerem-seà pretensãodo drretor,Jean-Jacques
Annaud,em realizarum épico sobre a conquistado
um modelode romanceatual
Íogoque acabaprojetando
na pré-História.Vejo, no entanto,a despeitodisto,
muitosaspectosapontadosde forma bastanteinteressanteDaraseremdiscutidosem sala de aulacom alun o s d o e n s i n om é d i o ,e m d i s c i p l i n acso m o B i o l o g i ae
Filosofia.Concordocom os críticosque muitasidéias presentesno filme foram subaproveitadas,até
mesmoem relaçãoà utilizaçãodo Íogo pelastribos,
assuntoque preÍirodiscuti-lomais adiante.
Retomando meu propósito, a título de
queroinicialmente
aproÍundara análiembasamento,
se das cenas da evoluçãohumanaque o Íilme apresentade Íorma bastanteevidente,como a diferença
cultural e evolutiva entre as várias tribos' Os asao visualdos indivíduoectosdestacadosreferem-se
os, ao domíniode técnicas,aos hábitose à incorpoE possívelobservar
raçãode certasaprendizagens.
a primeirade triaqui
três níveisevolutivos,chamarei
"peluda",a segundade "intermediária"
e a terceira
bo
"pelada".
de tribo
Neste caso acredito que o diretor queira'
metodologicamentm
e ,o s t r a ra s v á r i a sÍ a s e s p e l a s
quaiso Homo sapiensatravessouaté chegarao que
é hoje,sem se preocuparse existiramtantasdiÍerenças num mesmoperíodo,já que as apresentadasequivaleriam,cremos,a séculosde evoluçãobiológicae
cultural.Aparecemno filme homenscom muitospêlos cobrindoo corpo,guardandomuita semelhança
Íísica com os macacos.Estes,podemosconsiderápois utilizam-sede armasenlos mais rudimentares,
contradasna naturezacomo pedras,galhosde árvod e c a r n e ,i n c l u s i v eh u m a n a 'O
res e alimentam-se
aqui mostradoé abominadoé apresentacanibalismo
do como práticajá interditadapelo grupode homens
da segundatribo.
O Íoco do Íilme se dá basicamentesobre estatria qual alimenta-sedos mais variabo intermediária,
dos tipos de substânciascomo piolho,osso, plantas,
Íolhas,carne crua, carneassada,ovos e frutos.Os
galhos das árvores, utilizadoscomo armas já são
aÍiladospara
emborarudimentarmente,
manualmente,
pele de anide
vestimentas
usam
intmigos,
atingiros
mãossão
Suas
naturais.
em
cavernas
residem
e
mais
ainda rudimentaresem termos de habilidadespara
movimentosminuciososno manuseiode objetos.
Já os homensda terceiratribo,praticamentenão
possuempêlos, lazem pinturano corpo,usam máscaras no rosto,residemem cabanasconstruídas,produzem potes e jarros decoradosde barro' caçamcom
instrumentosque lançamÍlechas,incluemo leiteem
s u a a l i m e n t a ç ã od, o m i n a ma t é c n i c ad e p r o d u z i ro
fogo. Possuemrituaiscomo a oferendadas Íêmeas
parao prisioneiroter relaçõessexuais,provavelmente mais com o objetivode obtergravidezsegurado que
o de proporcionarprazerao visitante.
Os itensapontadosacimademonstrama vivência
de uma organizaçãosocialem que já se sinalizaalde uma culturapartigunstraçosde desenvolvimento
:::,r::ii,:::;.il:::.rilillll
cular,isto é, a criaçãode elementosque identificam
o grupo,inclusivepor meiode pinturascorporais,
dando-lhes uma marcacaracterística,
estandopresente
a transÍormação
da naturezaem seu proveito.Também
lhes é peculiara domesticação
de animais,uma vez
que se alimentamde leite.O Íato de conhecerema
produçãodo fogo vem acompanhadoda práticade divulgaçãode conhecimentos
adquiridoscertamentepor
tentativas.Destacoque a tribo intermediária,
assim
como a "peluda",procuravamevitara facilitaçãoda
possedo Íogopelaoutratribo,invariavelmente
consideradarivale ameaçaà sobrevivência
do grupo.
Esta tribo,a "pelada",praticao riso,que segundo
Morris(1967)é uma maniÍestação
aindamaisespecializadaque o choro,já que este é partilhadopor milharesde outrasespéciesanimaisquandosentemdor
ou estão assustados.Segundoeste zoólogo o riso
evoluiudo choro,umavez que guardamsemelhanças
como tensãomuscular,aberturada boca,retraçãodos
lábios,exageroda respiraçãocom expiraçõesintensas, vermelhidão
da Íace e lacrimejar.
Diferenciam
as
vocalizaçõesque no chorosão estridentesde tonalidade elevada.Paraele, quandose diz "rir até chegarem as lágrimasaos olhos"refere-sea relaçãoíntima
riso-choro.Porém,em termosevolutivosteriaocorrido o contrário_ "choramosaté rirmos".
Outra diÍerençapresenteentre a tribo "pelada"e a
tribo "intermediária"
é o posicionamento
dos corposno
momentoda cópula.Enquantoa tribo menos evoluída
praticasexo com o machoatrás da íêmea,coito a tergo,
a tribo mais evoluídapratica-ode Íorma que os parceiros fiquem de Írenteum para o outro.Ao que pareceo
homem é o únicoanimaloue realizatal ato destamaneira_face-a-Íace,
o que é natural,poisdada as característicasde sua sexualidade,
seus própriosatrativose
zonas erógenascomo a boca, o ruborfacial,os seios
arredondados,
o pênise a genitáliaÍemininacomomasculina situam-sena frentedo corpo,semprevisíveis
segundoa posturaerectadefinitivamente
assumida.
Vale mencionarque, segundoFreud,apresentada
em Totem e Tabu,esta postura que resultou de um
aÍastamentoou elevaçãodo homem em relaçãoao
chão, o que teriafragilizadoa importânciado olÍato,
possibilitoua exposiçãopermanentedos órgãossexuaise zonaserógenas,doravantealvoda visualização
que dá primaziaaos olhos em detrimentodo nariz.
Relacionando
a questãodo envolvimento
sexualdo
filmeaos dias atuaispercebe-sepassagensopostas,
ou melhor,atualmenteo comportamentosexualdos
homens, segundoMorris,atravessatrês Íases que
seguem geralmenteesta ordem:formaçãode pares
(namoro),atividadepré-copulatória
e cópula.No Íilme
ocorre o contrário,a primeiraimagemrelacionadaà
práticasexualmostrauma fêmeasendo"estuprada",
segundoo padrãosexualatual.lgualmente,no decorrer do Íilme, a cópulanas outrasduas cenas, ainda
que com o consentimento
e até mesmopor desejoda
Íêmea, não demonstraqualquersinal de namoroanteriorou da Íase pré-copulatória.
No entanto,a última
cena do Íilmerefere-seao casalobservandoa lua, com
os corposentrelaçados.
Seria entãoo Íato de que o
machoe a Íêmeanecessitamsentir-sevinculadosum
ao outroparaque haja trocade afagos,o que evidenciariauma maturidadeafetivae sexual.
F a z e n d ou m p a r a l e l oc o m a i d é i ad e B r o n o w s k i
(1983),a preocupação
com a escolhado par é a continuaçãodo eco da força evolutivamaispoderosa,através da qual evoluímos.A ternurae a horado casamento são a expressãoda importânciaatribuídaao descobrimentode qualidadesocultasno par. Traço universalque permeiatodasas culturas.Paraele o sexo
é Íundamentalna evoluçãocultural,uma vez que as
m u l h e r e ss e c a s a m c o m h o m e n si n t e l e c t u a l m e n t e
afins.PreÍerênciaesta que se iniciouhá mais de um
milhãode anos,é a chamadaseleçãode habilidades,
os ágeis e inteligentes,capazesde manter o maior
númerode cônjugese filhosem melhorescondições
de alimentação,
desÍrutama vantagemseletiva.
No Íilme,a Íêmea"pelada"se aproximado macho
por contadeletê-lalivradodos
da tribo"intermediária"
canibais,o que o colocouno papelde"herói",evidenciandoas virtudesocultasque despertariam,
segundo Bronowsky,o interessesexuale aÍetivoque tornouos enamorados.
A caça, segundoMorris,surge como uma característicaque levao machoa estabelecer
uma tendência para o acasalamentocom uma únicaÍêmea, criando portantoa capacidadede se apaixonar.Outro
aspectoque podeter contribuídoparaa Íormaçãode
p a r e s e x c l u s i v o st e r i a s i d o a p e r d ad o s p ê l o s , q u e
permitiuchamara atençãopara determinadosatrativ o s c o m o , m a m a s e m a m i l o s s a l i e n t e s ,ó r g ã o s
genitaisexpostos,alteraçõesna cor da pele em momentosde excitaçãoe tambémmaiorpercepçãodas
sensaçõestáteisno corpo.
Com o aumentoda excitabilidade
sexual, houve
necessariamente
a introduçãode restriçõesculturais
comoo uso de vestuáriosparacobriras partesgenitais
e mais recentementea proibiçãodo incesto,pois, segundoFreud(1974),os selvagensestãomaissujeitos
por isso desena esta práticado que nós civilizados,
volvemmaiorproteçãopara evitá-lo,que se conÍigura
na forma do horrorao incesto.Na análisefreudiana,
existeuma relaçãoentretotemismoe exogamia,já que
todosos que descendemdo mesmototem_o guardião
do clã_ são consideradosparentesconsangüíneos,
então nestes lugareshá uma lei contraas relações
sexuaisentreDessoasdo mesmototem.
VistodestaÍorma,no filme,o fogopoderiaser consideradouma espéciede totemparaas tribosque não
detinhamo domíniode sua conÍecção,pois representa
um elementode transÍormaçãoculturale biológica.
SegundoBronowski,ele é o símbolodo lar, ou ainda
pelaorigemdo sonho,comoapontaMorin3.
responsável
Na visãode Morin,a caça intensiÍicae complexiÍica
que por sua vez
a relaçãopé-mão-cérebro-instrumento
tambémintensiÍica
e complexiÍica
a caça,ela é o grande
continuumna evolução,poissurgiuhá algunsmilhões
i'i::::::l::] l::::l::i:::::::l :::.i:r::::i
acelerounos últimos500 milanos
de anos,progrediu,
e só decaiupor voltade 8 mil anosatrás.Elatambém
que os primitipeloolÍatodesenvolvido
é responsável
que os possibilitava
recovos possuíam,característica
nhecera presençade presase predadoresa longas
predos instrumentos
distâncias.O aperfeiçoamento
mental.
um desenvolvimento
sumee proporciona
A p e s a r d a a u s ê n c i ad e v e s t í g i o sq u e p e r m i t a m
socialno sentidoda
seguira evoluçãoda organização
tomando-sea caça como atividadecohominização,
letivaé possívelimaginaras sujeiçõese as aberturas
que ela determinasobre a sociedade.Por exemplo,
entreos primatas,machose Íêmeasmantinham-seno
m e s m o e s p a ç o , o q u e n ã o a c o n t e c i ae n t r e o s
hominídeoscaçadoresque separavamos sexos,de
um lado os homenseretos,empunhandosuasarmas
e indoatrásde suas presascadavez maislongee de
outroas mulheres,sedentáriasnos abrigoscurvadas
aos cuidadosmatersobreas crianças,dedicando-se
j
u
n
t o a o s j o v e n s .E s t a
v
e
g
e
t
a
l
,
nais,ou colhendo
primeiro
modelo
de dominaçãode
marca
o
dualidade
um gênerosobreo outro.
Acreditoque o filme não tenha tido a preocupação
em demonstrarestasdiferençasentresexos.As cenas
envolvendofigurasÍemininassão bastantesutisquanto
à submissão,o que constade maisevidenteé em relação à práticasexual,pois logono tnícioas mulheresestão
no rio e um dos machoscopulapor detrásde umadelas
sem que a mesmatome parte do ato. Apesardisso é
perceptívelque
são do sexo
a maioriados personagens
"intermediária"
que saem
masculino,os líderesda tribo
"guerreiros
peludos"do
à buscado Íogosão machos,os
iníciodo Íilmetambémo são. Apenasé dadodestaque
"pelada"comoveículode integração
individualà Íêmea
cultural,emboraem muitasocasiõestame transmissão
bém ela é mostradaem situaçõesde submissão,como
de acasalamentocom o protagonista
a impossibilidade
quandoesteé capturadopelasuatriboe colocadoà disposiçãosexualde determinadasmulheresescolhidas
pelolídermasculino.
Outro aspectobastantedestacadono Íilmeé a linque segundo
guagem utilizadapara a comunicação,
de organiMorinteve na caçacoletivaa necessidade
zaçáo social mais complexae esta requerendocada
Kristeva(1969)apontanesvez maisa comunicação.
te sentidoao aÍirmarque a linguagemnão é umaf une de
ção biológica,ela é uma Íunçãode diÍerenciação
signiÍicação,isto é, uma Íunção social possibilitada
peloÍuncionamento
biológico.
"a
Diante da pergunta: linguagemsurgiu por um
processo de desenvolvimento,de progressãolenta ou
desde o princípio a linguagem estava formalmente
completa?"(Kristeva,1969 : 64), Morin colocamais
u m a p o s s i b i l i d a d ea, d e q u e o d e s e n v o l v i m e n tdoa
c o m o l e x i d a d es o c i o c u l t u r ael d o c é r e b r oa n t e s d o
sem
homo sapiens,possibilitoua intercomunicação
reaque signiÍiqueque tudojá fossegramaticalmente
lizado,mas que Íaltariaà palavraa lógicado imaginário e das ideiasabstratas,istoé, a criaçãode mitose
llii,:i
ir,.ii.li :i:ii.,,,ilif',',i
,'::::::::::iiiii:i:ll:ir....l'lii.::.iiiiiii.
..,,iii..lliii:iii::ii
1,,:,i,tÌ:;i,,i,,i,,i,i::i...iii,rli'til':l:'"iii:',,,
"Todavia,issoquer dizer que é mais sensato
teorias.
pensar que foi a linguagem que criou o homem e não
o homem a linguagem, desde que se acrescente que
o hominidacriou a linguagem"(Morin, 1975 : 80)
a primeira
MorrisdistingueÍormasde verbalização,
permitiu
que
Íoi a
aos
chamadade conversainÍormativa,
nossosantepassadosnomearos objetos,que adquirindo Íunçõescomplementaresassumiua Íorma de
conversade expressãoemocionala qual irá acompajâ expressapor meio
nhar ou reÍorçara comunicaçáo
que
e
grunhidos
sentimentos
exprimem
gemidos
e
de
forma
de
A
terceira
raiva.
de
dor
ou
emoções
traverbalizaçãoé chamadade conversaexploratória,
por
por
últifalar
e
falar
do
estética,
da
conversa
ta-se
mo a conversacatadoraa qual náo exprimetroca de
sentimennemos verdadeiros
idéiasou de informações,
tos das pessoas.Ela tem por Íunção mantero ajuntamento social,atua como substituÌivado catar social.
mostradoem uma das primeiras
O espiolhamento
cenasdo Íilme é uma manifestaçãode afeiçãoentre
os indivíduos,substituídoatualmentepela conversa
catadora,conformejá dito acima. E interessantea
formaoue Morrisrelacionao ato de catar piolhosentre os seres primitivos,medidahigiênicae de maniÍestaçãosocial,presenteem nossosdias sob várias
Íormasalémda conversa,como a ida ao cabeleireiro
ou os males que convidamà catação(gripe,tosse,
doresde cabeça,doresde gargantaetc).Tambémsão
bastantepresentesas cenas em que os integrantes
das triboslambem-sequandoÍeridose a isso Morris
relacionaum indíciode assistênciamédicacooperativa, ou seja, uma cataçãoespecializada.
Voltandoagora para a nossaquestãocentralqueé
a de analisara formaçãodo núcleoÍamiliar,aspecto
poucoexploradono filme.Morinconcebeque a Íamília
seja o núcleoprimeiroda sociedade,enquantode um
ladoos gruposprimitivosde um sÓmachoconstituem
um esboçorudimentarde família,por outro,no grupo
de váriosmachosa Íormaçãoda Íamíliaé atroÍiada,pois
existea ligaçãomãe - Íilho,macho- Íêmea,mas não
existea ligaçãopai - Íilhoe apesarde a Íigurado pai
não estaroresentenão se veriÍicao incestoentremãe
e Íilho,mesmoapós a maturidadesexual,inibiçãoligada a um estatutoou papel de Íilho e de mãe que
persistiuapós a infância.No entanto,a possibilidade
de incestoentrepai e filhaé maior,já que a noçãode
pai não emergiucom igualintensidade.
Somentequandoo homemintroduzentreos jovens
rapazeso aprendizadodas armas,das técnicas,da organizaçáosocial sob a orientaçãodos adultos,criamse ligaçõespessoaise em especialentreo filhoe o pai,
antesdela
a paternidade
o que esboçapsicologicamente
(Morin,
Portanto,
a
1975).
genitalmente
ser reconhecida
paique
núcleo
trinitário
um
esboça
cena finaldo Íilme
mãe{ilho,certamentenão pretendeaparentaro reconhecimentode talÍormação,mas sim a idealizaçãode uma
nova fase em que se cria o mito da geração,sendono
caso,o Íilhoque dentroda barrigada mãe se assemelha muitoao seu supostoprogenitor,a lua.
:.iiiii:iii:.:.!1..:.1
A i n d a u t i l i z a n d oa s i d é i a sd e M o r i n ,o p a i t r a z a
c o m p l e x i d a d ea, Í a m í l i a ,m a s n ã o é s u f i c i e n t ep a r a
q u e s e i n s t i t u aa r e l a ç ã op a i - m ã e -i lf h o ,i s t o é , p a r a
q u e a Í a m í l i as e c o n s t i t u aE
. p r e c i s oq u e j á a d u l t aa
paise que estesperpermaneça
seus
criança
filhade
p
a
i
s
,
c
a
s a l .S u r g e e n t ã o , o
m a n e ç a mc o m o
como
j
u
v
e
n
i
l
i z a ç á od a e s p é c i e
e f e i t o s o c i o l ó g i c od a
prolongamento
período
biológicoda
Este
do
sapiens.
i n Í â n c i ae a d o l e s c ê n c ieas t á i n t i m a m e n t ree l a c i o n a do ao progressoda cerebralizaçáo,pois a lentidão
no desenvolvimento
ontogenéticoé favorávelà aptiintelectuale
dão para aprender,ao desenvolvimento
p o r t a n t oà t r a n s m i s s ã o
cultural4.
segunDestaÍorma,esta revoluçãoorganizacional,
do cérebroque
do o autor,estáligadaa complexidade
maisvastase compliacabapor levara organizações
cadas, pois a unidadesocial Íechadatransforma-se
num sistemasocialaberto.isto é, as tribosadotando
a exogamiacaminhamparaa sociedadeaberta,o clã.
Outraconseqüência
da exogamiaé o aumentoda vaÍavorecendo
a diÍeriedadedos genótiposindividuais,
renciaçãoe o fortalecimento
das raças.
que para Morino cérebroé o epicentro
Percebe-se
da hominizaçãoe esta caracleriza-seinicialmenteno
a n d a r s o b r e o s p é s l i b e r a n d oa s m ã o s ,a s m ã o s l i bertamos maxilares,a libertaçãodos maxilarese a
verticalizaçãolibertaa caixa craniana.Contudo,ele
não reduz a hominizaçãoao desenvolvimentocerebral, mas que ele provocaoutrosdesenvolvimentos
e estes outrostambém o provocam,enÍim o essen" um processo de
cial da hominização é
complexificação multidimensio-nalem função de um
princípio de auto-organização ou autoprodução."
(Morin,1975:62)
Parafinalizar,acreditoque esteÍilmepode funcionar como um provocadorde muitasdiscussõesalém
das possibilidades
oÍerecidaspelostemas mais evidentescitadasno iníciodestetexto.Destacandoa tentativade amarrara constituiçãoda família,sendo este
inicialmente
à caça,
um aspectoque está relacionado
pois os machossaem em buscade alimentoenquanto as Íêmeas permanecemno abrigo,sendo este o
Íator desencadeador
da monogamiae conseqüentementelevandoà dominaçãodo machosobrea Íêmea.
A monogamiarequera formaçãode pares,para isso
a atraçãosexualexclusiva,que para
é imprescindível
maiorefeitoe exibiçãoleva o homema perderos pêl o s . n o e n t a n t o .o a u m e n t od a s e x u a l i d a d ei n d u za
certasrestriçõesculturaiscomo vestimentassobreo
corpodesnudoe proibiçãodo incesto.
Com a constituiçãoda Íamília,prolonga-sea Íase
i n Í a n t i el a d o l e s c e n t ed o h o m e m ,p e r m i t i n d om a i o r
períodopara a aprendizagem
e com issoo progresso
cerebrale intelectual,portantocultural.
evolutivaadvindacom a caçaé
Outracaracterística
de comunicaçãoentreos homenscaa necessidade
da
assimmaiordesenvolvimento
çadorespossibilitando
sociaismais
organizações
linguagem
e estaprovocando
já que a palavracria mitose teorias.
complexas,
"A guerrado fogo" é um Íilme que oferecemuitas
p o s s i b i l i d a d edse d i s c u s s õ e sc o n f o r m ej á c i t a d oe
tambémabre caminhoparaa introduçãodas visõese
de diversosautoresaindaque de áreas
contribuições
mas que estãoextremamenterelaciodiferenciadas,
nadase mesmo complementares.
Até mesmoo Íato do filmeser construídosobreuma
linhade progressãobiológicae culturalque caminha
parauma ordem,onde os gruposétnicossão colocados numaevoluçãode menospara mais e não de diÍerenças,é um aspectoa ser observadocom reserva,
poisapesardas provasarqueológicas
nada existede
veracidade.
conÍirmando
sua
conclusivo
E como diz EliasThomé Salibana revistajá cita"A Guerra do Fogo ainda
da Apontamentos(FDE),
pode ser um pretexto para se refletir sobre a fortuna
ingrata do período conhecido como pré-Historia no
ensino e, até, para uma revisão de nossos vícios pedagogicosnessa área temática".
Notas
1981,
1. "A guerrado Íogo"(OuesÍforfire,Canadá/França,
Annaud,duração100min.)
direçãode Jean-Jacques
ReÍerências
B R O N O W S K IJ, a c o b . ( 1 9 8 3-) A e s c a l a d a d o h o mem. São Paulo: MartinsFontes
FREUD,Sigmund.(1974) - Totem e tabu e outros
trabalhos. Rio de Janeiro:lmago.
K R I S T E V AJ, u l i a . ( ' 1 9 6 9 -) H i s t ó r i a d a l i n g u a g e m .
Lisboa:Edições70.
M O R I N ,E d g a r d ( 1 9 7 5 )- O e n i g m ad o h o m e m . R i o
de Janeiro:Zahar Editores.
M O R R I SD
, e s m o n d (. 1 9 6 7 )- O m a c a c o n u . R i o d e
Janeiro:Record.
do DTPEN
de Oliveiraé proÍessora
OdisséaBoaventura
Federaldo Paraná,mestrandana FEI
da Universidade
U n i c a m pe m e m b r od o g e p C E i F E / U n i c a mEp -. m a i l :
odisseal2 @hotmail.com
tliii

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