Oriente Próximo: Ceylan, Farhadi, Makhmalbaf e Kiarostami

Transcrição

Oriente Próximo: Ceylan, Farhadi, Makhmalbaf e Kiarostami
PORTO ALEGRE, SEGUNDA-FEIRA, 25/2/2013 | ZERO HORA
SegundoCaderno
3
Um roteiro pelo cinema dos anos 2000 em oito regiões que merecem a nossa atenção | Por Daniel Feix | [email protected]
IMOVISION, DIVULGAÇÃO
“Era uma Vez na Anatólia”, de Nuri Bilge Ceylan
O
Ponte
imaginária
lhe para o top 10 ao lado.Ali,
pode apostar, só há filmes
realmente especiais. Para
elaborá-lo,foi preciso excluir
bons longas como O Círculo
(de Jafar Panahi) e Às Cinco da Tarde
(Samira Makhmalbaf), entre outras
produções iranianas,e A Bolha (Eytan
Fox) e A Banda (Eran Kolirin),entre
outras israelenses.Não houve espaço
para citar realizadores consagrados,como
Amos Gitai (Free Zone),nem revelações,
como a libanesa Nadine Labaki (Caramelo).É preciso reconhecer: nenhum outro
capítulo desta série reuniu dois cineastas
de obra tão poderosa quanto Abbas
Kiarostami e Theo Angelopoulos.
O problema é que não deu para dar
conta,plenamente,do que a crítica
internacional já chamou de“estranha”e
“pungente”nova onda do cinema grego
(da qual o indicado ao Oscar Dente Canino,de Giorgos Lanthimos,é apenas um
entre vários representantes).E nem de
um novíssimo movimento,no Egito,que
tem usado o cinema para falar da realidade do país ao fim do governo de Hosni
Mubarak (em títulos como o longa de
direção coletiva Tahrir 2011).
Mobilizações como essas não são novidade: em suas particularidades – bem
distintas entre si,destaque-se –,esses
países possuem cinematografias bastante tradicionais.O cinema egípcio,por
exemplo,entre as décadas de 1940 e 70,
esteve para o mundo árabe quase como
Hollywood está para o Ocidente,constituindo-se a segunda maior fonte geradora de riqueza para seu país,atrás apenas
do algodão.Neste novo milênio,não se
pode dissociar a cinematografia do Egito
das questões políticas e sociais – Cairo
678 (de Mohamed Diab) e Asmaa (Amr
Salama), ambos com boa circulação
internacional, são dois exemplos conhecidos a confirmar essa tese.
Numa ponte imaginária (sobre o Mar
Mediterrâneo e o Oriente mais próximo),
pode-se associar essa produção emergente à de nações como o Irã,cuja cinematografia está difundida globalmente
desde as últimas décadas do século 20,
e a Turquia.Esta última ganhou força a
partir de 2000,com títulos voltados para
o grande público,como a série de humor
Vizontele (de Yilmaz Erdogan),e experiências de linguagem mais elaboradas,
caso de toda a obra de Nuri Bilge Ceylan
(Distant,Climas,Três Macacos),um dos
raros diretores que bem poderiam figurar
com mais de um filme na lista ao lado,
tamanha a qualidade de seu trabalho.
Fatih Akin (Contra a Parede),na
Alamanha,e Ferzan Ozpetek (Um Amor
Quase Perfeito),na Itália,são exemplos de
cineastas de origem turca que têm feito
sucesso produzindo em países mais tradicionais.Na Turquia propriamente dita,
além de Ceylan,têm chamado a atenção
nomes como Ulas Inan Inaç (Türev) e
Çagan Irmak (Meu Pai e Meu Filho).
Mas não é demais ressaltar: a ponte
aqui estabelecida é menos estética e mais
geográfica,o que quer dizer que está se
falando ao mesmo tempo de Grécia e Irã,
Turquia e Líbano,para que se possa de
fato contemplar as cinematografias que,
como diz o enunciado desta série,estão
fazendo por merecer a nossa atenção.E,
já que a viagem cinematográfica intercontinental está chegando ao fim,nada
mais adequado do que citar uma obraprima que resume alguns dos preceitos
do melhor cinema global produzido no
novo milênio: Valsa com Bashir.Dirigida
por Ari Folman,esta produção internacional que conta com recursos de oito
países,entre eles Israel,França e Austrália,
é ao mesmo tempo uma animação,um
drama de guerra,um ensaio memorialístico e um contundente tratado político
contra a violência dos conflitos no Oriente
Médio.Mais contemporâneo impossível.
MEDITERRÂNEO
ORIENTAL
Fim de viagem. A parada
final da série sobre grandes
cinematografias do século 21,
que ZH apresentou ao longo
das oito segundas-feiras de
janeiro e fevereiro, propõe
uma reunião inusitada, de
países com produções bem
diferentes, embora próximos
geograficamente: as nações
do Oriente Médio e três
vizinhos (Grécia, Turquia
e Egito) com os quais
abraçam a ponta oriental
do Mar Mediterrâneo.
10
| top
| filmes
■ A Caminho de Kandahar
De Mohsen Makhmalbaf (Irã, 2001)
■ Dez
De Abbas Kiarostami (Irã, 2002)
■ O Vale dos Lamentos
De Theo Angelopoulos (Grécia, 2004)
■ Paradise Now
De Hany Abu-Assad (Israel, 2005)
■ Lemon Tree
De Eran Riklis (Israel, 2008)
■ Valsa com Bashir
De Ari Folman (Israel, 2008)
■ Dente Canino
De Giorgos Lanthimos (Grécia, 2009)
■ Líbano
De Samuel Maoz (Líbano, 2009)
■ Era uma Vez na Anatólia
De Nuri Bilge Ceylan (Turquia, 2011)
■ A Separação
De Asghar Farhadi (Irã, 2011)

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