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Volume 28 No. 1 2015
ARTIGO
CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA TECNOLÓGICO DA
SUBCOLEÇÃO LAMING-EMPERAIRE DO LÍTICO XETÁ
DEPOSITADA NO MAE-UFPR
Fabiana Terhaag Merencio*
RESUMO
O Setor de Antropologia da Universidade Federal do Paraná enviou expedições
de pesquisa entre 1956 e 1961 para a região onde foram identificados
acampamentos Xetás, coletando informações sobre a cultura material deste
grupo. Nestas expedições foram coletados 160 artefatos polidos e lascados que
compõem a coleção de lítico Xetá depositada no MAE-UFPR. A partir de
informações de contexto deste material, optou-se em dividi-lo em duas
subcoleções para fins analíticos e comparativos: os artefatos coletados por
Loureiro (sem dados de proveniência) e por Laming-Emperaire (com
informações). Este artigo expõe os resultados obtidos com a análise baseada em
sequências reducionais do material coletado por Laming-Emperaire em 1961.
Os tipos identificados para os Xetás nas poucas publicações, como chooppers e
chopping-tools, podem ser associados a outras tradições arqueológicas definidas
para região sul, em especial o lítico de grupos ceramistas Proto-Jê e
Tupiguarani.
Palavras-chave: lítico Xetá, sistema tecnológico, sequência reducional.
ABSTRACT
The Departament of Anthropology from the Federal University of Paraná sent
between 1956 and 1961 research expeditions for the area where were identified
camps associated with the Xetá group, collecting information about their
material culture. In these expeditions were collected 160 polished and chipped
artifacts that comprise the collection of lithic Xetá deposited at the Museum of
Archaeology and Ethnology (MAE-UFPR). Based on the context information of
this material, it was decided to divide it in two subcollections for analytical and
comparative purpose: artifacts collected by Loureiro (no data provenance) and
Laming-Emperaire (with information). This article presents the results obtained
from the analysis based on reduction sequence of the material collected by
Laming-Emperaire in 1961. The types identified for Xetá in the few
publications, as chooppers and chopping-tools, can be associated with other
archaeological traditions defined for the southern region, especially the lithic
from ceramist groups Proto-Je and Tupiguarani.
Key words: lithic Xetá, technological system, reduction sequence.
* Pesquisadora Associada do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE/UFPR).
Email: [email protected]
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INTRODUÇÃO
Os Xetás foram localizados oficialmente em 1954 na região da Serra dos
Dourados1, no noroeste do Paraná. No entanto, já em 1946 funcionários
responsáveis pelos levantamentos topográficos das companhias de colonização,
que adentravam na região nesse período, localizaram acampamentos
abandonados, que posteriormente foram associados com a presença dos Xetás.
No momento do contato, os Xetás foram apontados como um grupo de
caçadores-coletores com alta mobilidade e ocupavam uma área
tradicionalmente associada aos Guaranis, entre os rios do Veado, da Anta,
Indovaí, Tiradentes e os córregos 215 e Maravilha, na margem esquerda do rio
Ivaí, região conhecida como Serra dos Dourados, tendo sido identificado
acampamentos em uma área de 967km². Contudo, os sobreviventes Xetá
indicam que o território ocupado por seu grupo era muito maior, abrangendo o
rio Ivaí e seus afluentes, tanto na margem esquerda como direita, até o rio
Piquiri, em uma área de aproximadamente 28mil km² (SILVA, 1998: 120-22;
figura 1).
Estima-se que a população Xetá era de aproximadamente de 100 a 300
indivíduos, distribuídos em pequenos núcleos familiares (FERNANDES, 1959a,
1959b; LAMING-EMPERAIRE et al, 1978; SILVA, 1998). Em estudos recentes,
o Xetá foi associado ao sub-ramo I da família Tupi-Guarani, que juntamente
com os sub-ramos II e III formam o ramo meridional da família Tupi-Guarani.
Ainda segundo os pesquisadores, mesmo com as diferenças lexicais e
fonológicas, o Xetá está intimamente ligado ao Mbyá (RODRIGUES, 1985,
1999; VASCONCELOS, 2008).
A partir do estabelecimento de contato entre Xetás e moradores da
Fazenda Santa Rosa, este local passou a ser um local estratégico para realização
do contato com os índios Xetás, motivando a criação de um posto de
aproximação por parte do Serviço de Proteção aos índios (SPI, atual FUNAI)
(FERNANDES, 1959b). Foram realizadas diversas expedições de pesquisa na
região da Serra dos Dourados entre os anos de 1956 e 1961, pela equipe do
professor José Loureiro Fernandes, com intuito de recolher informações da
cultura material, ritos, informações linguísticas e registro de imagens e vídeos
dos Xetás. As expedições realizadas entre 1956 e 1958 estabeleceram que os
índios presentes na Serra dos Dourados, eram sobreviventes do grupo Xetá
localizado por Fritch nas margens do rio Ivaí (LAMING-EMPERAIRE et al,
1978: 21). Especificamente nas expedições de 1960 e 1961, foi possível a
permanência dos pesquisadores em uma aldeia ocupada por duas famílias Xetá:
“o chefe Ayatukã e sua mulher, Arigã, e sua mulher, dois meninos, uma menina”
(LAMING-EMPERAIRE et al, 1978: 24).
1
Embora a região seja denominada Serra dos Dourados, Haracenko enfatiza que o relevo não é montanhoso, como o nome
sugere, mas sim um pouco mais acentuado que o relevo do terceiro planalto, com altitudes médias entre 500 e 700 metros.
(HARACENKO, 2007: 122-23).
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Figura 1 - Território Xetá segundo sobreviventes, área ocupada pelos Xetás, e sítios
arqueológicos na região.
A COLEÇÃO DE LÍTICO XETÁ DO MAE-UFPR E AS ABORDAGENS
TIPOLÓGICAS E TECNOLÓGICAS REALIZADAS
Segundo Fernandes (1962:152) foram coletados 105 peças da cultura
material, além de filmagens das atividades cotidianas, incluindo o lascamento e
polimentos de objetos. O material coletado nestas expedições resultou na
coleção de lítico Xetá, que atualmente está depositada na Reserva Técnica do
Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade Federal do Paraná (MAEUFPR), composta por 181 peças2.
De modo geral, a coleção pode ser subdividida em duas partes,
considerando o contexto e informações existentes do momento de coleta:
sistematicamente por Annette Laming-Emperaire, com 54 peças, e
assistematicamente por José Loureiro, e talvez outros pesquisadores, com total
de 127 artefatos. Em primeiro lugar, a não localização de dados referentes às
coletas de José Loureiro, assim como a inexistência de um catálogo das peças,
dificulta a correlação direta desse material ao grupo Xetá, principalmente pela
falta do contexto das coletas: se foram em acampamentos recém-abandonados
por Xetás, ou em áreas que poderiam também ser sítios arqueológicos, sem
contar se havia a presença dos informantes Tuca e Kaiuá. A subcoleção de
2
A discrepância do número de peças da coleção contabilizada por Loureiro Fernandes em relação ao total verificado, pode
ser justificada pela possibilidade de não terem sido incluídos os artefatos coletados por Laming-Emperaire, na expedição de
1961, bem como na incorporação posterior de artefatos provenientes da coleção pessoal de Kozák (1981, p. 83, nota de
rodapé 2).
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Laming-Emperaire apresenta informações de contexto divulgadas em uma
publicação (LAMING-EMPERAIRE et al, 1978), na qual consta uma pequena
sistematização do catálogo do material coletado, informando proveniência de
algumas peças: se coletadas em superfície, sondagens, áreas abandonadas e além
do inventário do estojo de Ayatukã (LAMING-EMPERAIRE et al, 1978).
Através dessas informações foi possível indicar como local de proveniência
para o material coletado na expedição de 1961, e que constitui a subcoleção
Laming-Emperaire, o acampamento número 18, próximo à Fazenda Santa Rosa
(figura 2). Devido à falta de informações de proveniência disponíveis para a
subcoleção Loureiro, pressupõe-se hipoteticamente que o material tenha sido
coletado nos demais acampamentos identificados no mapa abaixo. A divisão da
coleção de lítico Xetá nestes dois grupos de acordo com o contexto e
informações existentes possibilita a comparação entre ambos, e verificar se há
recorrência de tecno-tipos, estratégias de redução e sequências de lascamento,
que caracterizam os saber-fazer compartilhados pelo grupo.
Figura 2 - Localização dos acampamentos Xetás e sítios arqueológicos na região.
A análise do lítico Xetá realizada por Laming-Emperaire seguiu uma
classificação tipológica, constituída em quatro séries: seixos sem marcas de uso;
seixos com marcas de uso; pedra lascada (lascas, objetos de bloco, núcleos,
resíduos de lascamento, fragmentos e seixos lascados) e pedra polida (LAMINGEMPERAIRE et al, 1978: 44-54). A partir dessas informações, LamingEmperaire apontou que o instrumental lítico Xetá é grosseiramente trabalhado,
sendo composto por lesmas, raspadores ou rabotes, lascas não retocadas,
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choppers e chopping-tools, associando diretamente a morfologia dos instrumentos
à sua função.
As análises tipológicas em arqueologia foram impulsionadas pela lista de
tipos para o Paleolítico Médio, especialmente para o período Musteriense,
formulada por François Bordes, em Typologie du Paléolithique Ancien et Moyen de
1961. O método Bordesiano, ou tipológico, postulava a noção básica de
estratégias de redução de núcleos, combinando uma classificação
majoritariamente tipológica, considerando alguns aspectos tecnológicos (como
diferentes tipos de retoques e modificações secundárias), que possibilitava
classificar conjuntos líticos provenientes de diferentes níveis estratigráficos e
sem conexão entre si. O método tipológico de Bordes focava dois aspectos: a
variabilidade formal dos artefatos e a variabilidade na frequência relativa
dos tipos (BORDES, 1961; DIBBLE, 1987: 34).
Com relação à variabilidade formal dos artefatos era utilizada uma
classificação tipológica formal, também morfodescritiva, buscando-se analisar
os grupos de artefatos através de atributos quantificáveis que possibilitavam a
identificação de tipos, considerados uma “população homogênea de artefatos” e
seus diferentes níveis de atributos pertencentes a um determinado tipo, como
por exemplo, um raspador formal e um raspador côncavo (BORDES, 1961;
EIROA, 1999: 23). Já a variabilidade na frequência relativa dos tipos,
considerava a frequência relativa estatística para identificação dos conjuntos
representativos (BORDES, 1961). Assim, as informações qualitativas e
quantitativas provenientes deste tipo de análise, possibilitaram a substituição da
utilização do artefato guia ou fóssil guia, onde um instrumento particular era
tomado como marcador cultural.
Na prática, no entanto, a análise tipológica permaneceu isolada de seu
objetivo original, o contexto comportamental, devido às dúvidas a respeito da
eficiência da utilização das tipologias morfológicas em interpretações da
variabilidade cultural no registro arqueológico. Assim, a utilização da
classificação sistemática dos artefatos pelas análises tipológicas restringiu-se na
elaboração de uma descrição histórico-cultural, concentrada também em uma
concepção normativa de cultura (BAR-YOSEF, 2009).
A principal crítica a esta metodologia, centrou-se na impossibilidade de se
compreender a natureza da variabilidade das indústrias líticas somente a partir
das características morfológicas, ou no foco de instrumentos retocados e brutos
com marcas de usos, sem considerar a dinâmica do processo de produção lítica,
englobando uma interpretação que inter-relacionasse os demais vestígios do
registro arqueológico, como núcleos e lascas, fornecendo uma compreensão das
atividades técnicas desenvolvidas. Complementando essa questão, Fogaça (2003)
enfatiza que a tipologia desconsidera a gênese do artefato (os processos de
produção, com aquisição de matéria-prima, produção, uso e função, reciclagem
e descarte) ao pressupor que a forma do objeto corresponde somente a conceitos
mentais estabelecidos e não a eventuais readequações e reformulações de uso e
acidentes provocados durante a produção do instrumento. Assim, ao
desconsiderar o artefato como resultado de um processo tecnológico,
proveniente de uma relação entre agente, objeto técnico e material, as análises
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tipológicas priorizavam o aspecto final do instrumento, ao vincular a forma a
uma função, a partir de analogias a objetos presentes na experiência pessoal de
cada pesquisador (MELLO, 2005).
Os estudos de tecnologia em arqueologia, também denominados sequência
reducional (SHOTT, 2003), foram impulsionados sobretudo a partir do
desenvolvimento de conceitos vinculados à antropologia social, filosofia da
ciência e pré-história, por Mauss, Leroi-Gourhan e Lemonnier, com o objetivo
de explicar a evolução da tecnologia (VIANA, 2005; SELLET, 1999). Dentre
esses conceitos, destaca-se a ideia embrionária de chaîne opératoire cunhado
inicialmente por Mauss, como ferramenta na descrição das técnicas tradicionais,
baseados em observações etnográficas, concebendo o ato técnico como uma
sucessão de etapas inter-relacionadas. No entanto, Mauss enfatizava que a
técnica existe independente do instrumento, pois há técnicas do corpo,
caracterizadas pelo modo de caminhar, falar e correr, e técnicas instrumentais,
reduzindo estas a uma tendência funcional de aquisição e consumo de objetos
(VIANA, 2005; FOGAÇA, 2003; MELLO, 2005).
Leroi-Gourhan, em Le geste et la parole de 1965, difundiu o conceito de
cadeia operatória, apontando que a produção de instrumentos técnicos é
proveniente de três grandes processos: aquisição (matéria prima), fabricação e
consumo. Na totalidade de sua obra, o autor também enfatizava o movimento e
seu resultado, ao considerar o instrumento como uma exteriorização do
homem, sendo impossível analisar um instrumento isoladamente, já que esse,
tecnicamente, só existe com os gestos, permitindo a dinamização entre técnicas
do corpo e instrumentais de Mauss. Assim, Leroi-Gourhan concretizou o
conceito de cadeia operatória ao considerar a técnica como “simultaneamente
gesto ou utensílio, organizados em cadeia para uma verdadeira sintaxe que dá às
séries operatória a sua fixidez e subtileza” (1985 [1965]: 117).
Os estudos de cadeia operatória foram muito utilizados por antropólogos
sociais na década de 1970, destacando-se o trabalho de Balfet (1973 apud
VIANA, 2005) a respeito da tecnologia cerâmica e crafts female, levantando
questões como os acidentes ocorridos ao longo do processo de produção do
objeto, e Lemonnier (1994 apud VIANA, 2005) que aprofundou as possibilidades
do estudo da cadeia operatória ao apontar três níveis de análise que permitem
compreender as escolhas técnicas realizadas. O nível básico corresponde aos
subprodutos e instrumentos, resultantes de processo de produção, responsáveis
pela ação sobre a matéria. O segundo nível compreende o processo em si,
permitindo identificar as sequências de gestos executadas durante a produção.
O terceiro nível, considerado abstrato, aponta os conhecimentos técnicos,
podendo ser estes comuns em um grupo, ou não (HOELTZ, 2005). Dessa forma,
os trabalhos de Balfet e Lemonnier possibilitaram ampliar a noção de cadeia
operatória ao agregarem elementos como conhecimento, processo técnico e
saber- fazer, observados em suas pesquisas com sociedades vivas.
As proposições acima também são compartilhadas por Boëda (1997 apud
HOELTZ, 2005), pois, segundo o autor, um ato técnico é desencadeado pela
execução de conhecimentos técnicos e de saber-fazer, transmitidos e
compartilhados precocemente em um grupo. Por sua vez, o compartilhamento
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precoce de conhecimento, possibilita o estabelecimento de certa estabilidade no
sistema tecnológico empregado por um grupo, pois os conhecimentos e saberfazer adotados são transmitidos sem serem pensados ou discutidos, permitindo
“reconhecer, individualizar e diferenciar as sociedades” (HOELTZ, 2005: 104).
Nos EUA, estudos pautados na sequência reducional foram propostos por
Collins (1975) e posteriormente sistematizados por Andrefsky (1998),
postulando as seguintes etapas presentes no contexto cultural, onde o artesão
está inserido: 1. aquisição de matéria-prima; 2. redução inicial ou preparação de
núcleos; 3. modificação primária; 4. modificação secundária ou refinamento
(retoque); 5. uso; 6. reciclagem para modificação ou manutenção de artefatos
alterados pelo uso e 7. abandono do artefato. Uma característica fundamental da
sequência reducional desenvolvida nos EUA é a predominância da classificação
em estágios de redução, e também de classes de artefatos, como pré-formas.
Vincent LaMotta e Michael B. Schiffer (2001), em uma ramificação da
sequência reducional, mas direcionado para a arqueologia comportamental,
enfatizam a realização de estudos voltados para a apreensão da história de vida
dos instrumentos e das cadeias comportamentais. Segundo os autores, a história
de vida de qualquer artefato possui um importante papel na construção de
inferências sobre o comportamento passado e de sistemas comportamentais.
Considera-se que a história de vida de um artefato é a sequência de
comportamentos, desde a procura de matéria prima e produção, incluindo
estágios de uso, reuso e reciclagem, até seu descarte, sendo que tais informações
podem ser obtidas tanto de dados históricos ou etnográficos como do registro
arqueológicos. Além da reconstrução da cadeia comportamental, tal estudo
fornece variáveis relevantes, como tipos de atividades e grupos sociais, seus
respectivos valores associados, que são utilizados para estabelecer as condições
limitantes ou o contexto comportamental de uma lei experimental ou princípio
geral.
O desenvolvimento de estudos tecnológicos na análise de lítico tem como
objetivo compreender os vetores responsáveis pela variabilidade dos conjuntos
líticos, além de compreender a organização e funcionamento deste em
sociedades pretéritas. De acordo com Dias e Silva (2001: 95-97) e Dias (2003:
41) o conceito de sistema tecnológico “implica na compreensão de que as
técnicas desenvolvidas por uma dada sociedade estão sistemicamente
constituídas”. Os estudos sobre o tema têm-se desdobrado em dois enfoques, o
materialista e idealista3. O primeiro compreende que o sistema tecnológico
resulta da utilização de estratégias adaptativas impulsionadas pelo meio natural
no qual está inserido o homem e pelas necessidades sócio-econômicas do grupo:
“Desta forma, os sistemas tecnológicos são analisados como um modo a partir
do qual o homem viabiliza sua existência frente ao meio natural” (DIAS, 2003:
3
Em sua tese, Dias (2003) utiliza os termos materialista para designar o iconológico, e estruturalista para isocréstico.
Contudo, o emprego do termo estruturalista é melhor compreendido como idealista, no sentido dados pela autora: “Os
sistemas tecnológicos como uma construção social resultante de escolhas culturalmente determinante.” (2003: 41). O termo
estruturalismo remete à análise estruturalista de Lévi-Strauss, que basicamente consiste em trazer à superfície as estruturas
cognitivas inconscientes empregadas por diferentes grupos para classificar o mundo, deduzir a lógica subjacente a essa
estrutura, para assim alcançar a “’lógica das lógicas’ universal da comunicação humana” (ERIKSEN & NIELSEN, 2001:
1280129). Assim, acima de tudo, a estrutura é construção analítica do pesquisador, e não uma construção social (LÉVISTRAUSS, 2008 [1958]).
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41). A vertente idealista, por sua vez, entende que os sistemas tecnológicos são
uma construção social pautada em escolhas culturais. Assim, a tecnologia
utilizada por um grupo é compreendida como o corpus “de artefatos,
comportamentos e conhecimentos transmitidos de geração a geração e
utilizados nos processo de transformação e utilização do mundo material”
(DIAS, 2003: 41). Os estudos de estilo tecnológico estão vinculados à percepção
de sistema tecnológico idealista, e apesar de ser abordado por diferentes
perspectivas teóricas, há dois pontos que são centrais nos trabalhos: primeiro, o
estilo corresponde ao modo de se fazer algo; e segundo, o estilo corresponde a
uma escolha entre alternativas (HEGMON, 1992: 517-518). Segundo DIAS
(2003: 42) o estilo também pertence a um tempo e lugar. Assim, a escolha de
determinadas matérias primas, as técnicas utilizadas, a escolha de determinadas
sequências de produção e os resultados obtidos nestas escolhas, indicado pelas
categorias de artefatos, representam os estilos tecnológicos
Tais atribuições permitiram ampliar a gama de interpretações possíveis na
análise de lítico, ao incluir a dimensão social e cognitiva das técnicas, apontando
a necessidade de se abordar os conhecimentos técnicos utilizados por um grupo,
enfatizando o saber-fazer e saber-técnico, sendo estes compartilhados em uma
esfera social (VIANA, 2005). Assim, as experimentações na produção de
artefatos líticos tornam-se fundamentais para a descrição e leitura das técnicas
empregadas. Nessa perspectiva, há o trabalho de Tom O. Miller Jr sobre o lítico
Xetá, desenvolvido a partir das observações das atividades de lascamento de
Kwen e Nheengo. A realização desse trabalhou permitiu identificar a
preferência dos Xetás por lascas com quebras irregulares, sendo essas mais úteis
na realização de suas tarefas. O objetivo principal de Miller Jr. foi descrever as
técnicas utilizadas, como o “lasqueamento espatifado”, onde são obtidos
fragmentos e lascas com ângulos abertos (45°-95°) propícios para o trabalho com
madeira e osso. (MILLER, 2009: 18-21). A indústria lítica Xetá, de acordo com
as observações apontadas por Miller Jr., estaria baseada em estratégias
expedientes, suprindo necessidades imediatas e sendo descartadas ao fim da
tarefa (BINFORD, 1980; MILLER, 1979; 2009).
A partir dos resultados apresentados por Laming-Emperaire (et al, 1978) e
por Miller Jr. (1979; 2009), verificou-se que esses não fornecem uma
caracterização adequada do material lítico Xetá, identificando-se a ausência de
uma análise tecnológica com foco no processos de produção, uso, estratégias de
reciclagem e descarte. Além disso, a caracterização tipológica do conjunto lítico
Xetá, assim como das tradições arqueológicas definidas pelo Programa Nacional
de Pesquisas Arqueológicas (PRONAPA), entre as décadas de 1960 a 1980, é
extremamente frágil, pois a caracterização existente do lítico Xetá não fornece
subsídios claros para a sua identificação em campo, já que os tipos descritos,
como rapadores, rabotes, chopperse chopping-tools, também são associados a
outras tradições arqueológicas, como a Umbu e Humaitá, para grupos
caçadores-coletores, e Tupiguarani e Itararé-Taquara, para grupos ceramistas.
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O PROBLEMA DAS TRADIÇÕES LÍTICAS NO SUL DO BRASIL
A definição das tradições arqueológicas no Brasil baseou-se
fundamentalmente na identificação de artefatos guias aliada a análises
tipológicas e consequente identificação e caracterização de instrumentos líticos
a partir de suas funções assumidas pela morfologia, como facas e raspadores.
Este modelo metodológico de caracterização do material lítico foi incorporado
nas pesquisas brasileiras a partir da presença de pesquisadores estrangeiros na
década de 1950, sobretudo franceses, como Joseph Emperaire e Annette
Laming-Emperaire, e americanos, como Betty J. Meggers e Clifford Evans.
Sobre a perspectiva de pesquisa francesa, arqueólogos brasileiros
enfatizaram a realização de escavações de superfícies amplas em sítios précerâmicos, além do desenvolvimento de análises de material lítico pautado na
terminologia e tipologias em voga na França, sobretudo de sítios paleolíticos. A
adoção de uma metodologia francesa de análise de lítico no Brasil é considerada,
atualmente um problema, pois foram utilizadas categorias de classificação
definidas para o contexto europeu, onde há certa predominância de
instrumentos “formais” ou “curados”, o que teria forçado arqueólogos brasileiros
a encaixar artefatos “informais” ou “expeditos” nas categorias francesas4, não se
considerando adequadamente as especificidades do contexto brasileiro,
sobretudo sobre aspectos funcionais e tecnológicos (BARRETO, 2000).
A escola americana, por sua vez, buscou uma normatização das atividades
arqueológicas desenvolvidas no país. Clifford Evans publicou em 1965 o Guia
para prospecção arqueológica no Brasil, enfatizando a realização de atividades de
prospecção e de coletas de amostras superficiais, objetivando o estabelecimento
de padrões cronológicos a partir de seriações e da definição de tradições
arqueológicas. A publicação doe guia fomentou a criação de um programa de
arqueologia de âmbito nacional, o Programa Nacional de Pesquisas
Arqueológicas (PRONAPA), que reuniu o Museu Paraense Emílio Goeldi, o
Smithsonian Institution e a Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (SPHAN – atual IPHAN). O objetivo principal do programa, pautado
em pressupostos teóricos relacionados ao histórico-culturalismo5 e
4
Na terminologia lítica, são considerados artefatos curados/formais, peças onde são identificadas mais etapas de redução
(retoques), apontando alto investimento de tempo na produção e geralmente são confeccionados em antecipação ao uso,
possuem alto nível de reciclagem, e raramente são descartados (ANDREFSKY 1998, 2008; DIAS, 2003: 223-4). Artefatos
expedientes/informais, por sua vez, são aqueles com baixo investimento de tempo em sua produção, com poucas etapas de
redução e com alta taxa de descarte. Esta terminologia foi introduzida na década de 1970 por Binford, a partir de seus
estudos etnoarqueológicos entre os Nunamiut. Andrefsky (2008) enfatiza que a adoção de tal terminologia tem trazido
muitos problemas, principalmente pelo fato de Binford não ter oferecido uma definição clara do que seriam artefatos
curados, utilizando o termo na relação com várias ideias interessantes para análise de material lítico, como instrumentos
que são transportados de um local para outro (o tool kit – prevendo a realização de tarefas em outro local) e também
associando com a eficiência de uso de instrumentos. Além desses problemas, tal dicotomia tem sido empregada para
identificação dos modelos de uso da paisagem (forrageiro e coletor), também proposto por Binford (1980); assim, artefatos
curados são associados com grupos forrageiros, e instrumentos expedientes com coletores, sendo desconsiderando fatores
como disponibilidade de matéria prima, além de considerações funcionais.
Sobre tal assunto, Andrefsky enfatiza que a categoria de artefato curado deve ser considerada “as a process associated with tool
use rather than a tool type.(...) There are no curated tools, but only tools in various phases of being curated from very low use relative to
maximum potential use to very high use relative to maximum potential use. In this way, curation can be measured from low to high,
allowing investigators to plug curation into models of human organizational strategies and into the life histories of tools.” (2008: 8).
5
Nesta escola teórica enfatiza-se a difusão de novas tecnologias – como a produção de cerâmica – como fator primordial
na ocupação e povoamento de diversas áreas. Dessa forma, postula-se que, por exemplo, a invenção da cerâmica ocorreu
uma única vez em uma determinada localidade, e depois repassada por contato interétnicos. Ignora-se as questões de
adaptabilidade de populações a diversos ecotonos.
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neoevolucionismo, era investigar e mapear as ocupações pretéritas através da
identificação do maior número possível de sítio em cada região do país, visando
o estabelecimento de um quadro cronológico de desenvolvimento da cultura
material deixadas por populações pretéritas no território brasileiro (NOELLI,
2000).
Para organizar e sistematizar os dados foram definidas as categorias de
tradição e fase, em uma perspectiva muito próxima definida por Willey e Phillips
(1958), de uma abordagem difusionista e particularista, pois tais categorias
representavam variações étnicas ou culturais. Logo, neste período inicial,
adotou-se uma concepção normativa de cultura, imbuída na abordagem de
análise tipológica, considerando a importância da definição e identificação de
artefatos guia para a construção das cronologias regionais.
A ocupação pré-cerâmica, especificamente da região Sul do Brasil, foi
divida em duas tradições tecnológicas, Humaitá e Umbu, de modo a simplificar
a proliferação de fases que vinha ocorrendo a partir do PRONAPA (PROUS,
1992: 167). Contudo, a variabilidade tipológica apontada pelas primeiras
pesquisas para os contextos de caçadores-coletores tem sido recentemente
questionada com a utilização de análises dinâmicas voltadas para a sequência
operacional, focando na história de vida de um instrumento, e que apontam que
a variabilidade não ocorre somente em termos tipológicos, sendo percebida ao
longo de todo o processo de produção, resultando, portanto em variabilidade
técnica e econômica (HOELTZ, 2005; DIAS, 2003). O foco da discussão está,
sobretudo, na inclusão de grupos díspares dentro da tradição Humaitá, como
artefatos sobre seixos com lascamentos unifaciais (LAMING e EMPERAIRE,
1959), e outro com instrumentos bifaciais retocados, como é o caso da fase
Pirajuí (CHMYZ,1976), apontando-se que aparentemente a única razão para
inclusão destes grupos é tão somente a inexistência de pontas de projétil,
artefatos guias da tradição Umbu.
Uma alternativa de análise visando solucionar tal problema tem sido a
adoção de estudos tecnotipológicos, voltados para a apreensão da variabilidade
econômica e técnica das indústrias líticas no sul do país. Adotando como
metodologia de análise a sequência reducional de Collins (1975), Adriana S. Dias
(2003) demonstrou que, no nordeste do RS, vale do rio dos Sinos, sítios
arqueológicos anteriormente classificados como Humaitá (com grandes
instrumentos bifaciais), correspondem na realidade a sítios de atividade
específicas de grupos ceramistas Proto-Jê e Tupiguarani. Por meio da análise
tecnotipológica, a pesquisadora conclui que os instrumentos desses sítios líticos
não diferem dos encontrados em associação com a cerâmica, e não mostram
continuidade com o período pré-cerâmico.
Contudo, não é possível afirmar que todos os pesquisadores do PRONAPA
não tenham atentado para a existência de instrumentos morfologicamente
iguais em ambas as tradições definidas para caçadores-coletores, e também para
grupos ceramistas. Igor Chmyz, por exemplo, já tinha identificado a presença de
choppers e chopping-tools tipologicamente semelhantes em vários sítios précerâmicos e cerâmicos, considerando em especial os artefatos provenientes dos
sítios José Vieira, Três Morrinhos, Barracão, Wobeto, Estirão Comprido e Passo
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do Iguaçu (CHMYZ, 1969). A utilização de abordagens tecnotipológicas tem
possibilitado uma melhor compreensão da variabilidade das indústrias líticas, já
percebidas em pesquisas realizadas por pesquisadores do PRONAPA.
Dessa forma, aponta-se que a caracterização tipológica do instrumental
lítico Xetá existente não fornece subsídios claros para sua identificação em
campo, já que os tipos descritos, como raspadores, rabotes, chopper e chopping tools, também são associados a outras tradições arqueológicas (figura 3). Como
apontado acima, uma classificação tipológica mascara uma realidade muito mais
complexa no processo de produção de instrumentos, podendo ocorrer variações
tanto técnicas como econômicas. Com relação aos artefatos líticos, os estudos
tecnológicos, apoiados no conceito de cadeia operatória, têm apresentado
resultados significantes e contribuído na compreensão da variabilidade lítica nas
regiões sul e centro-oeste do país (DIAS, 2003; HOELTZ, 2005; VIANA, 2005;
MELLO, 2005).
Figura 3 - O problema dos tipos na definição de conjuntos líticos.
METODOLOGIA
A análise da coleção pautou-se nos preceitos básicos indicados pelos
estudos de cadeia operatória6 desenvolvidos por Boëda (1997 apud HOELTZ,
2005; MELLO, 2005), os quais se norteiam sob dois eixos principais. O
primeiro, denominado tecno-psicológico, trata dos aspectos cognitivos
envolvidos na produção de instrumentos, focando no esquema operatório
formado pelos métodos, técnicas e processos necessários e compartilhados pelo
grupo. O segundo, o tecno-econômico, compreende a cadeia operatória em si,
objetivando a identificação das etapas técnicas sucessivas, avaliando os aspectos
econômicos, como a qualidade, acessibilidade e disponibilidade de matériaprima.
6
Segundo Boëda (1995 apud MELLO, 2005), a cadeia operatória é a totalidade dos estágios técnicos necessários na
produção de instrumentos, desde a aquisição de matéria prima até o descarte, e inclui os vários processos de transformação
e utilização de instrumentos.
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A partir desses eixos, e seguindo a metodologia de análise empregada por
Fogaça (2003), Hoeltz (2005), Viana (2005) e Mello (2005), foram focados os
seguintes aspectos de uma cadeia operatória: aquisição de matéria prima,
produção (gerenciamento e/ou uso), e manutenção/descarte.
A aquisição de matéria-prima, por se tratar de uma coleção proveniente de
coletas assistemáticas, consistiu na avaliação de dois fatores: acessibilidade
(indicando os tipos de matérias primas utilizadas e sua disponibilidade na
região), e características (qualidade de lascamento, origem da matéria prima –
transporte terrestre ou fluvial).
A análise da produção focou na descrição das etapas de lascamento
empregadas na produção de um instrumento, objetivando a leitura diacrítica
dos gestos técnicos, almejando o detalhamento dos conhecimentos cognitivos
utilizados. Além disso, permite estabelecer os esquemas de produção (debitage7 e
façonnage8) e inferir o funcionamento do objeto (Unidades Tecno-Funcionais9).
A partir dos dados levantados na etapa anterior, foi possível identificar possíveis
estratégias de manutenção de determinados instrumentos, como o
reavivamento do gume, ou reutilização de instrumentos quebrados, alterando os
sistemas de função (para que) e de funcionamento (como) projetados
inicialmente para o objeto técnico. A impossibilidade técnica de transformação
do instrumento ou inadequação ao uso, por exemplo, são aspectos que podem
levar ao descarte do objeto.
Visando uma perspectiva de análise comparativa entre coleções de líticos
das tradições arqueológicas Humaitá, Itararé-Taquara e Tupiguarani, que como
demonstrado acima representam o cerne da discussão sobre a variabilidade
lítica na região sul, além da descrição qualitativa de cada peça e consequente
elaboração do diagrama do sistema tecnológico Xetá (apontando as diferentes
etapas de redução), também foram utilizadas tabelas quantificadoras de
determinados atributos tecnológicos, pois como apontado por alguns
pesquisadores (TRYON e POTTS, 2011), a utilização somente de uma
abordagem qualitativa pode mascarar uma variabilidade interna ao se buscar
uma simplificação para construção dos esquemas de redução de cada conjunto,
e, por conseguinte, o emprego combinado de abordagens quantitativas e
qualitativas resultam em uma poderosa ferramenta para compreensão da
7
“A debitagem consiste em produzir retiradas, em detrimento de um bloco, que servirão imediatamente como instrumentos
ou que serão objeto, num segundo momento, de uma transformação em instrumento” (FOGAÇA e BOEDA, 2006: 675-6). O
objetivo deste procedimento é a obtenção de suportes, no caso lascas, que poderão ser usados imediatamente, ou
configurados a partir de lascamentos subsequentes, indicados pela façonnage. Neste processo, são identificados, portanto,
lascas e núcleos.
8
“O façonnage consiste na redução por etapas sucessivas de um bloco de matéria prima tendo em vista conseguir um
instrumento ou uma matriz cujas bordas serão, num segundo momento, arranjadas para a obtenção de vários instrumentos.
(FOGAÇA e BOEDA, 2006: 676). Neste procedimento, o alvo é a configuração de um suporte, seja uma lasca ou um bloco,
em um instrumento, não havendo núcleo, pois o interesse do artesão é produzir um instrumento a partir do suporte. Como
o suporte pode ser uma lasca, este procedimento pode complementar a produção de instrumento iniciado com o processo
de debitagem.
9
Segundo Lepot (1993 apud HOELTZ, 2005) um instrumento é formado por três partes: a receptiva, a qual recebe a energia
necessária para o funcionamento do objeto, a preensiva, que permite o instrumento funcionar – sobrepondo-se a primeira
em muitos casos, e a transformativa. Segundo Boeda (1997 apud HOELTZ, 2005) cada uma destas partes pode ser formada
por uma ou mais Unidades Tecno-Funcionais (caracteres técnicos que coexistem em uma sinergia de efeitos), possibilitando
a compreensão de uma complexidade organizacional no funcionamento do instrumento.
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variabilidade de conjuntos líticos, apesar de ocorrerem discrepâncias entre
ambas (TRYON e POTTS, 2011).
Os atributos tecnológicos quantificados nesta análise seguem a proposta de
Dias e Hoeltz (1997), pautada na proposta conductal de Collins (1975),
apresentam as seguintes etapas presentes no contexto cultural, no qual o artesão
está inserido: 1. aquisição de matéria-prima; 2. redução inicial ou preparação de
núcleos; 3. modificação primária; 4. modificação secundária ou refinamento
(retoque); 5. uso; 6. reciclagem para modificação ou manutenção de artefatos
alterados pelo uso e 7. abandono do artefato.
Buscou-se, dessa forma, uma reflexão dos diferentes processos de produção
dos instrumentos e dividindo-se a análise em três categorias: resíduos de
lascamento (núcleos e lascas), artefatos bifaciais e unifaciais, e artefatos brutos e
polidos. Cada categoria está subdividida em quatro blocos de informações:
identificação da peça (número de catálogo, localização/sítio, estratigrafia10),
dados básicos (matéria-prima, estado de preservação, presença de córtex,
alterações de superfície, dimensões), indicadores tecnológicos (origem e
características tecnológicas do artefato) e indicadores de modificação (retoques,
marcas de uso). A seguir será apresentado a quantificação dos atributos
tecnológicos da subcoleção Laming-Emperaire do lítico Xetá, focando na
escolha e obtenção da matéria prima, nas tecnologias de produção empregadas e
tipos de artefatos resultantes, que em conjunto, refletem o estilo tecnológico.
RESULTADOS PRELIMINARES – SUBCOLEÇÃO LAMING-EMPERAIRE
A subcoleção Laming-Emperaire foi obtida durante a expedição de 1961 na
Serra dos Dourados, nas proximidades da Fazenda Santa Rosa, muito
possivelmente no acampamento número 18, ocupados na época por sete
pessoas: o chefe Ayatukã, sua mulher, e Arigã, sua mulher e três crianças (uma
menina e dois meninos).
O gráfico abaixo ilustra a composição artefatual geral da subcoleção
Laming-Emperaire, formada por 54 peças. Predominam no conjunto os
instrumentos lascados (61,11%), seguido de resíduos (25,93%), pigmentos
(calhaus – 5,56%), peças sem marcas de uso (seixos e blocos sem marcas de uso –
5,56%). Os gráficos apresentados a seguir foram gerados sem a contabilização
das peças sem marcas de uso e pigmentos, totalizando o número de observações
de 48 (n=48).
É notável o predomínio de instrumentos bifaciais (37,50%), seguido de
lascas unipolares com marcas de uso (20,83%), com suporte predominante em
lascas unipolares primárias. Complementando os instrumentos, têm-se
instrumento sobre lasca unipolar com retoques (8,33%), instrumentos unifaciais
(2,08%) e percutores (2,08%), assim os instrumentos totalizam 68,75% da
amostra total. Os resíduos de lascamento não utilizados correspondem ao total
de 29,17%, dos quais 10,42% correspondem à lascas unipolares iniciais, 8,33% a
lascas unipolares primárias, 4,17% a fragmentos de lascas, 2,08% a detritos,
2,08% as lascas unipolares secundárias e 2,08% a núcleo unipolar com várias
10
Laming-Emperaire afirma que realizou sondagens com profundidades de até 30 cm na área do acampamento de Arigã.
Estes dados serão registrados na identificação da peça.
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plataformas. São incluídos ainda artefatos sem uso especificado e sem marcas de
uso (4%) (Gráfico 1).
Gráfico 1 - Classes e tipos de artefatos.
A matéria prima predominante é o silexito, com 46 peças (98%), tendo
apenas 1 instrumento em arenito (2%). A proveniência do silexito é em sua
maioria terrestre (rugoso) com 32 peças (67,35%), além de 11 peças com
superfície cortical lisa, indicando proveniência fluvial (24,49%) e três peças
acorticais (6,12%), não sendo possível identificar a proveniência da matéria
prima. Com relação ao silexito de proveniência terrestre, ressalta-se que nove
peças apresentam alteração de superfície, sendo cinco com lustre fluvial, três
com pátina e um com ambos.
Em mapas geológicos é possível constatar que não há pontos com silexito
disponível na região ocupada pelos Xetás, cujo substrato geológico é formado
principalmente pelo Grupo Bauru - Formação Caiuá, no qual predominam
arenitos com granulação média e fina, como siltitos arenosos e leitos sílticosargilosos, com coloração avermelhada. Por outro lado, os arenitos da Formação
Caiuá na região apresentam em sua granulação elementos de feldspato e
calcedônia, além de ocasionalmente possuir pequenas quantidades de
hidróxidos de ferro e argila, o que resulta em uma intensa cimentação de sílica,
tornando-as rochas duras e de alta resistência.
O mapeamento geológico e geomorfológico no curso inferior do rio Ivaí,
possibilitou a identificação de seis unidades morfoestratigráfias: Planície
Paraná-Ivaí, Planície Ivaí, Terraço Paraná, Terraço Ivaí, Leque Aluvial e Canal
Fluvial. A partir deste trabalho, identificou-se a presença “discordante de
cascalhos polimíticos com matriz arenosa, com seixos de calcedônia, arenito e
sílex imbricados” (SANTOS et. al., 2008: 27) juntamente com o arenito da
Formação Caiuá, especificamente na unidade Terraço Paraná, ao norte da foz
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do rio Ivaí, onde há a presença de inúmeras lagoas. Devido à escala ampla
utilizada em levantamentos geológicos e geomorfológicos, a identificação de
silexito ao norte da foz do rio Ivaí, não excluí totalmente a possibilidade da
presença dessa matéria prima em outros pontos, pois durante as atividades de
campo realizadas11 na região foi possível constatar que o silexito, tanto de
transporte terrestre e fluvial, ocorre localmente nas proximidades de córregos e
rios, sendo, portanto matéria prima abundante na região. A presença do lustre
fluvial em peças de superfície cortical rugosa corrobora esta informação.
Com relação às estratégias de redução adotadas nas 10 lascas do conjunto,
quatro são unipolares iniciais (8,33%), correspondendo a lascas que
apresentaram quantidade cortical na face dorsal total até ½, tendo tamanho
médio de 4 x 4,3 x 2 cm; o talão é cortical em 4, acortical liso em 2, e acortical
facetado em 1, sendo que 1 não há informações devido ao pequeno tamanho do
talão; a morfologia do talão é irregular e triangular, e somente 3 lascas possuem
canto dorsal com macerados e formação de lábio na face ventral; com relação ao
bulbo, 5 lascas possuem bulbo proeminente e 3 são do tipo difuso. Foram
identificadas ainda cinco unipolares primárias (10,42%), com até ¼ de superfície
cortical na face dorsal, e com dimensões médias de 3,1 x 2,7 x 1,5 cm; o talão é
acortical liso como morfologia triangular e sem redução dorsal; o bulbo é
proeminente, sendo que 1 lasca apresentou bulbo duplo (X39). Por fim, há no
conjunto uma unipolar secundária (2,08%), apresentando ¼ de superfície
cortical na face dorsal, com dimensões 3,5 x 2,4 x 1cm, talão triangular acortical,
redução no canto dorsal e bulbo pronunciado sem formação de lábio.
A produção de artefatos na amostra analisada é voltada majoritariamente
para configuração de instrumentos bifaciais a partir de blocos (37,50% - 18
instrumentos). Em segundo lugar está a utilização de lascas unipolares com
marcas de uso lascas unipolares (20,83%), seguida de lascas unipolares com
retoques (8,33%). Os instrumentos bifaciais são produzidos a partir de retiradas
de debitage e/ou façonnage, configurando uma redução primária periférica,
formando gume irregulares, côncavos e convexos com angulações semiabruptas e abruptas, possuindo a parte cortical como zona preensiva. Ressalta-se
que dentre os 18 bifaces e 1 uniface, observou-se que 57,89% tiveram como
primeira intenção a obtenção de lascas, ou seja a debitage de suportes, sendo
portanto caracterizados como núcleos, e dessa forma ; além disso, a presença de
pátina nas primeiras retiradas, indicam um período de abandono e posterior
reinserção no sistema tecnológico.
Com relação ao gume dos instrumentos, grande parte da amostra (81,81%)
possuem ângulos entre 60° e 100°, propícios para raspar e com maior
durabilidade, enquanto apenas 18,18% possuem ângulos entre 5° e 40° mais
eficientes para cortar. Na análise diacrítica realizada, observou-se que grande
parte da amostra dos instrumentos coletados apresentam uma única UTF(t),
sendo 24,24% para raspar e 15,15% para cortar. Os instrumentos que
apresentam de 2 a 5 UTF(t)s possuem ângulos de bico voltados para atividades
de raspar, totalizando 42,42% da amostra. Por fim, os instrumentos
11
Prospecções superficiais prévias referentes às obras de Pavimentação da BR-487 (Estrada da Boiadeira) cujo traçado
percorre área próxima ao território Xetá.
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multifuncionais são pouco representativos, com 18,18%, e apresentam de 2 a 4
UTF(t)s, sendo que 12,12% são voltados para atividades de raspar/cortar e 6,06%
para raspar/percussão.
Com relação aos suportes para produção de instrumentos, verificou-se que
essa é voltada majoritariamente para a configuração de instrumento bifaciais a
partir de blocos (36,36;%), seguido de seixo (3,03%), bases não identificadas
(6,06%). Os instrumentos sobre lasca com marcas de uso são 12,12% em lasca
unipolar secundária, 12,12% em lasca unipolar primária e 6,06% em lasca
unipolar inicial; as lascas retocadas são em sua maioria sobre lasca unipolares
iniciais (9,09%) e lasca unipolar primária (3,03%). Por fim, o uniface identificado
foi produzido sobre seixo (3,03%) (Gráfico 2).
Os instrumentos retocados apresentam as seguintes características:
•
IV.3148a e b: sobre lasca unipolar inicial, possui retoques diretos
curtos e regulares com morfologia subparalela; foi fragmentado
durante a realização de retoques e fazia parte do estojo de Ayatukã
(LAMING-EMPERAIRE et al, 1978: 33). Mede 11 x 4,5 x 2,4 cm;
•
IV.3149: sobre lasca unipolar inicial com redução massiva e retoques
curtos regulares localizados nas porções mesial direita e esquerda,
onde há gume côncavos e abruptos. Mede 8,2 x 3,4 x 3,3 cm;
•
IV.3158: em lasca unipolar inicial, com redução reduzida, retoques
diretos, curtos irregulares e morfologia escamosa. Mede 3,3 x 3,8 x
1,3cm;
•
IV.3161: sobre lasca unipolar primária, com retoques diretos e
curtos irregulares, subparalelos. Possui as seguintes dimensões 4 x
3,5 x 2,5cm.
Gráfico 2 - Suporte x Tipo de Instrumento.
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Em geral, as lasca unipolares primárias apresentam superfície cortical em
aproximadamente ¼ da face dorsal ou apenas o talão cortical e sem formação de
lábio, enquanto as lasca unipolares iniciais apresentam maior quantidade de
córtex, variando entre ½ a ¾ da face dorsal, também sem formação de lábio,
com bulbos tanto difusos como proeminentes (4 cada), sendo que 1 lasca não
apresentava esta informação. Com relação às características tecnológicas, o talão
apresenta maior variabilidade entre as lascas unipolares primárias, com 4
acortical facetado, 3 acortical liso, 1 cortical e 1 sem informação, apresentando
morfologia também variada: 3 irregulares, 1 asa, 1 linear e 1 sem informação,
sendo que 5 apresentam redução dorsal. As lascas unipolares secundárias não
apresentam superfície cortical, possuem talão acortical liso com morfologia de
asa e irregular, além de redução no canto dorsal e tanto bulbos difusos como
proeminentes. Já as lascas unipolares iniciais possuem talão acortical liso ou não
possuem informação, com morfologia triangular, e bulbo difuso.
CONCLUSÃO: SISTEMA TECNOLÓGICO XETÁ – SUBCOLEÇÃO LAMINGEMPERAIRE
Durante a expedição de 1961, Laming-Emperaire solicitou a Arigã a
confecção de um instrumento em pedra, resultando no instrumento IV.314512,
considerada um tanto quanto frustrante pela mesma. O instrumento
confeccionado a princípio é formado apenas com as retiradas das lascas IV.3123
(sequencia 1) e IV.3122 (sequencia 2), aproximando-se tipologicamente do
instrumento IV.3136. Os resíduos dessa etapa são apontados pelos Xetás como
“bons instrumentos”. Insatisfeita com o resultado, Laming-Emperaire solicita
que o lascamento continue, pois deseja algo mais “curado”, sem, no entanto
explicitar o que deseja. O lascamento prossegue, mas de forma, aparentemente
aleatória, resultando no instrumento IV.3145 e demais resíduos (lascas) também
apontados como “bons instrumentos” (Figura 4, 5 e 6).
A partir desse episódio, em um primeiro momento pressupõe-se que o
instrumento IV.3145 não seja de fato um instrumento no sistema tecnológico
Xetá, tomando-o como um núcleo, já que todas as lascas extraídas são “bons
instrumentos”. Mas, considerando-se todo conjunto analisado, compreende-se
que o sistema tecnológico Xetá não está organizado da forma como é descrita a
façonnage, com o alvo na configuração de um suporte (seja uma lasca ou um
bloco) em um instrumento e resíduos. A façonnage identificada, além de produzir
instrumentos a partir de um determinado suporte, também produz lascas de
gumes com ângulos propícios para o trabalho em madeira, que quando
necessários, são utilizados prontamente, caracterizando uma façonnage com
reaproveitamento oportunístico ou sistemático.
12
Trata-se do código adotado no livro tombo da Reserva Técnica do MAE-UFPR. Na publicação original (LAMINGEMPERAIRE et al, 1978) esse instrumento está identificado como X11.
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Figura 4 – Instrumento bifacial produzido por Arigã (IV.3145).
Figura 5 – Lasca com marcas de uso IV.3144, resultante da sequencia de lascamento nº3 do
instrumento IV3145.
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Figura 6 – Instrumento bifacial IV.3136, com primeira intenção de núcleo.
De todo modo, verificou-se o uso complementar de estratégias de
produção, entre os processos de debitage e façonnage, e posterior reinserção
oportunística ou sistemática os resíduos de ambos os esquemas de produção
(Figura 7). A debitage, como mencionado, foi observado na presença de
instrumentos que tiveram suas primeiras intenções de núcleos, com alvo na
obtenção de suportes para uso como instrumentos com ou sem a adição de
retoques. Os núcleos, assim, podem ser reinseridos oportunisticamente no
sistema tecnológico como instrumentos, ou o processo de debitage já segue uma
ordem mental para produção de gumes, indicando uma reinserção sistemática
desses núcleos como instrumentos. A descrição do lascamento do instrumento
IV.3145 e demais resíduos representa adequadamente o processo complementar
entre debitage e façonnage.
O abandono, por último, é uma etapa complexa, pois há a reutilização tanto
de lascas oriundas do processo de façonnage de instrumentos, como núcleos de
debitage de suportes, e não há a possibilidade de se afirmar se essas lascas e
núcleos são mantidos separadamente para um uso futuro, ou se estão
disponíveis no chão do acampamento. Exceto nos casos em que há presença de
pátina em negativos de retiradas anteriores, o que indica um período de
abandono muito maior.
De todo modo, e considerando o tamanho pequeno da amostra que
compõem a subcoleção Laming-Emperaire, e também que pode haver erros
amostrais, esta caracterização inicial do sistema tecnológico Xetá, como
apresentado na figura 4, é uma hipótese a ser testada comparando-se os dados
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desta análise com as informações provenientes da subcoleção Loureiro, e
demais coleção de artefatos líticos da região noroeste do Paraná.
Figura 7 - Organização do sistema tecnológico Xetá.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a orientação do professor Laércio L. Brochier neste trabalho; ao
apoio financeiro da CAPES para o desenvolvimento nesta pesquisa; à Dra.
Márcia Cristina Rosato diretora do Museu de Arqueologia e Etnologia da
Universidade Federal do Paraná (MAE-UFPR) por autorizar a análise do
material, ao professor Luís Claúdio Symanski, Jonas Gregorio de Souza (Exeter),
Antônio C. M. Cavalheiro (EPPC – Consultoria) e Sady Carmo Júnior (MAEUFPR) pelo apoio e contribuições ao presente trabalho.
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