Clipping Fenep 26-10 Clipping 26/10
Transcrição
Clipping Fenep 26-10 Clipping 26/10
Clipping Nacional de Educação Segunda-feira, 26 de Outubro de 2015 Capitare Assessoria de Imprensa SHN Qd2Edifício Executive Office Tower Sala 1326 Telefones: (61) 3547-3060 (61) 3522-6090 www.capitare.com.br Valor Econômico 26/10/15 POLÍTICA Parlamentar que quer cortar Bolsa Família se sente um "pop star" Por Vandson Lima | De Brasília do Congresso Nacional, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da presidente Dilma Rousseff, que foi às redes sociais garantir que não haverá tesourada no programa. Barros: vice-líder de Dilma é casado com a vice-governadora do Paraná e aliado do tucano Beto Richa. Barros diz não ter se surpreendido nem se ofendido com as reações. E garante que não vai recuar. "Vamos decidir isso lá na Comissão de Orçamento. Eu proponho o corte. Eles que apresentem um destaque e proponham tirar de outras rubricas para preservar o Bolsa Família." "O Bolsa Família me tornou um pop star". Aos risos no telefone, o deputado Ricardo Barros (PP-PR) contava ao ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha (PMDB), que passou a ser reconhecido na rua, conceder dezenas de entrevistas por dia e receber conselhos até da ascensorista da Câmara depois de propor, na semana passada, um corte de 35% nos recursos destinados ao programa que é vitrine do governo após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003. A postura de enfrentamento com o Executivo na questão faz com que muitos esqueçam, mas Barros é um dos vice-líderes da base governista da Câmara. Surgido na política pelas mãos do antigo PFL (hoje DEM), Barros foi eleito prefeito de Maringá, no norte paranaense, aos 28 anos, em 1989. Está em seu quinto mandato como deputado federal, tendo sido líder do governo no Congresso durante o segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e vicelíder na gestão Lula (PT). Criticado por petistas, como o líder da bancada no Senado, Humberto Costa (PE), que o chamou de "Robin Hood do avesso", que quer "tirar dos pobres e dar aos empresários", o relator do Orçamento de 2016 recebeu também a contrariedade de oposicionistas, do presidente Companheiros de partido o descrevem como um pragmático, que se adapta ideologicamente à melhor circunstância. De família de políticos - a filha Maria Victoria, de 23 anos, é deputada estadual e a esposa, Cida Borghetti, vice-governadora do Paraná, deve, segundo ele, concorrer à sucessão de Beto Richa (PSDB) em 2018 -, Barros compõe a burocracia do PP como tesoureiro, mas não pertence a grupos. É visto como inteligente, mas seus críticos o consideram algo arrogante. Engenheiro civil por formação, é dono de várias cotas de capital em empresas diversas, de construtoras a empresas de rádio e locação de veículos, como aponta sua prestação de contas eleitoral. Sem ligação com o sistema financeiro, até onde sabem os colegas, está capitalizando o fato de vender com insistência o discurso de que o mercado precisa acreditar no Orçamento que será aprovado pelo Congresso. Na eleição de 2014, arrecadou R$ 3,1 milhões em doações de campanha, sendo a maior parte proveniente de repasses do PP de doações da JBS (R$ 1,25 milhão) e da Galvão Engenharia (R$ 583 mil). Entre seus maiores doadores diretos, com R$ 65 mil, está a Usina Alto Alegre S/A Açúcar e Álcool. Defensor de um aumento de R$ 0,40 na Cide sobre a gasolina, Barros diz que a medida traria sobrevida ao setor sucroalcooleiro. Franco, Barros duvida que as contas de 2014 do governo, que tiveram recomendação de rejeição do Tribunal de Contas da União 26/10/15 (TCU) por conta das chamadas pedaladas fiscais, serão igualmente desaprovadas na Comissão Mista de Orçamento (CMO), responsável pelo parecer que será votado pelo Congresso Nacional. "A tradição da CMO é não acatar as recomendações do TCU", crava. Favorável à volta da Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras (CPMF), Barros repete que não vai mesmo inclui-la na previsão de receitas para 2016. A seguir, trechos da entrevista com o Valor: Valor: O senhor foi chamado de Robin Hood às avessas por petistas por propor um corte no Bolsa Família. Até a presidente Dilma rechaçou essa possibilidade. Vai recuar? Ricardo Barros: Quando anunciei a proposta, o fiz porque estudei a matéria. Não estou atirando a esmo. No 'site' do Bolsa Família está escrito que 75% dos beneficiados declaram estar no mercado de trabalho. Não vejo nenhuma dificuldade de se implementar esse ajuste, retirando os 700 mil que normalmente têm rotatividade no programa e fazendo uma peneirada para acabar com as fraudes, que são muitas. Estou propondo um corte de 35%. Serão preservados R$ 18,8 bilhões. Todos os programas sociais tiveram cortes de 50% para 2016. Pronatec, Minha Casa Minha Vida, Ciência sem Fronteiras. Não há porque o Bolsa Família ficar de fora desse corte. Valor: Então vai manter a proposta? Como recebeu as críticas? Barros: Ninguém do governo falou comigo [sobre isso] até o momento. Não vejo como crítica. Eles estão defendendo o programa, não querem cortar, mas estou convencido de que, se tirar esses R$ 10 bilhões, não vai prejudicar ninguém que realmente precise do programa. Vamos decidir isso lá na Comissão de Orçamento. Eles que apresentem um destaque e proponham o corte em outras rubricas para preservar o Bolsa Família. Valor: O senhor também tirou R$ 4,5 bilhões do PAC para atender as emendas de bancadas estaduais. Não é incoerente? Barros: Sou vice-líder do governo, mas sou antes de tudo parlamentar. E minha obrigação é empoderar o Parlamento. Nos últimos quatro anos, o anexo de metas da LDO [Lei de Diretrizes Orçamentárias], que recebe centenas de emendas, é vetado integralmente. A gente pode considerar que é um desrespeito à decisão do Congresso. As emendas de bancada envolvem os governadores, prefeitos de capitais e também não são executadas. Valor: Isso vai mudar? Barros: Nós vamos mudar isso. No meu relatório separarei 0,6% da Receita Corrente Líquida para a execução impositiva de uma prioridade de cada Estado. Cada um de nós poderá chegar no seu Estado e dizer: esta obra está acontecendo porque os deputados federais e senadores decidiram que era prioridade. Isso é valorizar o Congresso. "Estou convencido que, se tirar R$ 10 bilhões, não vai prejudicar ninguém que realmente precise do programa" Valor: Isso amarra as possibilidades do governo, certo? Barros: Se nós fazemos um Orçamento muito elástico, como nos últimos três anos, o governo escolhe o que quer executar, pois tem uma autorização ampla do Congresso. O que temos de fazer agora é resgatar a nossa prerrogativa, que é autorizar um orçamento que se realize da forma mais precisa possível. Se nós é que temos direito de dizer como serão gastos os impostos pagos pela população, queremos fazer um orçamento enxuto, claro, realista, para que o governo execute o que autorizamos. Valor: Não haverá CPMF na previsão orçamentária de 2016? Barros: Sou favorável e votarei a favor da proposta, mas não computarei nos recursos do Orçamento do ano que vem. O mercado não acredita que virá. Falo com analistas políticos e economistas-chefes de várias instituições, que querem entender nossa visão do Orçamento. 26/10/15 Ninguém acredita que a CPMF vai passar. Eu até acredito. A presidente vai mobilizar governadores, prefeitos, dividir os recursos para criar musculatura para aprovar. Valor: O momento é adequado para alta de impostos? Barros: Sou contra aumento da carga tributária, mas estamos em um momento em que é preciso pagar um pouco mais de imposto. É melhor do que perder o grau de investimento. Para o mercado, é pior perder o grau. O mercado quer um orçamento crível, que olhe para as receitas e despesas e acredite que aquilo vai se realizar, que o governo vai sair desses déficits consecutivos. Valor: O senhor fala muito em mercado. Qual a sua relação? Barros: Eu falo tanto em mercado porque são as empresas as que empregam o trabalhador. O governo precisa fazer o que tem de ser feito, não o que ele gostaria de fazer. Valor: Passou a ser consultado depois de virar relator? Barros: Com muita frequência. Tenho atendido pessoas do mercado que querem saber quais são as chances de a peça orçamentária chegar com superávit à sua aprovação. Valor: E vai ter superávit primário de 0,7% do PIB no Orçamento? Barros: O governo pretende. Eu, com os instrumentos que tenho, não sei se consigo chegar a isso. Se o governo cooperar com receitas que sejam críveis... a Cide [Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico] sobre gasolina, por exemplo, é uma receita crível, só depende da presidente Dilma Rousseff assinar. Não depende do Congresso. Valor: O governo indicou que topa a Cide? E que outras receitas extraordinárias podem aparecer? Barros: Não, o governo estudou a Cide e não quis fazer nesse momento. Propôs o aumento do Imposto de Renda (IR) sobre o ganho de capital e acho que a Câmara vai aprovar. O governo retirou alguns benefícios fiscais de alguns setores, como Reintegra e outros, que já estão produzindo resultado de arrecadação. E propôs uma contribuição do Sistema S, mas ainda não mandou para o Congresso. Valor: O senhor diz que é preciso mudar a Previdência. Como? Barros: Idade mínima é uma das coisas. Igualar homem e mulher [na idade para aposentadoria] é outra, importante. As mulheres têm expectativa de vida de quatro anos a mais que os homens. Precisamos ajustar as contas. A Previdência gastou R$ 40 bilhões a mais de 2014 para 2015 e gastará outros R$ 40 bilhões a mais em 2016. É uma CPMF. Ou vamos conter esse gasto, ou não conseguiremos estabilizar as contas públicas, porque não poderemos criar outra CPMF no próximo ano. O mercado entenderá mais medidas previdenciárias que não criam receitas para 2016, mas que ajustam os próximos orçamentos, do que arranjar uma receita nova. Eles sabem que em 2017 o problema retorna. Valor: O governo tem feito sua parte ou pode fazer mais? Barros: O governo já fez cortes muito profundos. A consultoria da Câmara produziu 47 propostas para o ajuste do orçamento, sendo que 30 delas tratam sobre Previdência. Se fossem todas implementadas, gerariam uma economia, uma diferença positiva de R$ 120 bilhões para o Orçamento de 2016. Daquelas medidas anunciadas pelo governo para evitar o déficit de R$ 30,5 bilhões, aproximadamente 80% estavam nessa proposta. Estamos tentando convencer o governo a continuar a fazer o que precisa. Valor: As contas de 2014, rejeitadas pelo TCU por conta das pedaladas, serão também rejeitadas pela Comissão de Orçamento (CMO) e pelo Congresso? Barros: A tradição da Comissão de Orçamento é não acatar as recomendações do TCU. Em 95% dos casos, ela não acata. Todos os anos isso acontece com pedidos de paralisação de obras. É difícil prever porque não sabemos quando as contas serão votadas, mas se tramitarem rapidamente, 26/10/15 pelo ambiente que temos neste momento, elas serão aprovadas pela CMO. Valor: Aprovadas? Barros: Sem nenhuma dúvida. Essa é a tradição. Avalie como a CMO tratou todas as demais recomendações do TCU. Fui membro da comissão de obras irregulares. Nós que decidimos a paralisação das quatro refinarias da Petrobras em 2010. Mas liberamos as obras da Valec, da Infraero, do Dnit. Só não liberamos da Petrobras porque o presidente deles na época, o José Sérgio Gabrielli, não quis firmar um acordo, como fizeram os outros, comprometendo-se a não cometer mais aquelas irregularidades observadas pelo TCU. Se o governo tomar as providências para que não se repitam os erros apontados pelo TCU, as contas serão aprovadas. Valor Econômico 26/10/15 OPINIÃO Para quem não gosta da 'detestável' matemática Por Flavio Comim Se você não gostava e tem más lembranças das suas aulas de matemática dos tempos da escola, você não está sozinho. Uma pesquisa feita pelo Instituto TIM/ O Círculo da Matemática do Brasil mostrou que 65% dos brasileiros maiores de 25 anos têm lembranças desagradáveis das aulas de matemática da escola. Percentual idêntico disse simplesmente que não gostava e não achava fácil essas aulas. Isso fez com que a matemática fosse eleita por 43% das pessoas como a "'matéria mais detestada" da escola. Curioso que 91% das pessoas expressaram a opinião de que o conhecimento da matéria não é decisivo para encontrar um bom trabalho. De modo similar, 89% delas afirmaram que não usa a matemática que aprenderam na escola nos problemas do dia-a-dia. A triste realidade é que vivemos em um país onde as pessoas não apenas não sabem matemá tica, mas parecem não se importar muito com isso. Seguimos como "zumbis da matemática" levando vidas socialmente e economicamente incompletas. Não é nenhum exagero dizer que o berço da desigualdade social no Brasil hoje é o ensino da matemática. Já no 3º ano do ensino fundamental 57% das crianças de 8-9 anos não tê conhecimento adequado de matemática. A matemática intimida, desmotiva, cria ansiedades, reforça preconceitos, diminui aspirações, consolida barreiras de gênero e de raça para milhões de crianças e jovens no Brasil, principalmente as que estão nas escolas públicas. Esse hiato cognitivo (e psicossocial) apenas cresce durante a vida escolar de nossas crianças e jovens. De fato, 90% delas concluem o ensino médio sem o aprendizado desejado na matéria. Deixar de ser um país de 'zumbis da matemática' não é só uma questão de desenvolvimento, mas de justiça social Mas isso é somente parte da história. O nosso problema escolar não é apenas de "fluxo" (das crianças e jovens que ainda estão na escola e não aprendem), mas sim de "estoque" (das pessoas jovens e adultas que já saíram da escola e não aprenderam o que deveriam ter aprendido). A pesquisa do Instituto TIM traz dados aterradores sobre "a matemática dos adultos": 75% dos brasileiros não conseguem fazer médias simples com 3 números, 75% não entendem frações, 59% não conseguem fazer uma regra de três, 32% não conseguem fazer multiplicações básicas. Esses números não deveriam surpreender na teoria em um país, cujo último Censo informa que 49% de sua população acima de 25 anos não chega a ter o ensino fundamental completo, mas devem surpreender a todo momento na prática quando as pessoas não conseguem fazer as operações mais elementares para sua sobrevivência econômica e social. Estamos falando no "nível micro" de pessoas que não conseguem resolver logicamente situações corriqueiras e práticas do seu cotidiano, como nas respostas acima, calcular um desconto nas compras, ou aplicar uma regra de três para saber como usar ingredientes em uma receita de bolo, ou adicionalmente, planejar um trajeto de ônibus para não chegar tarde (70% erraram a hora de sair de casa) ou calcular uma taxa de juros (69% não souberam calcular) ou mesmo avaliar o risco de um tratamento médico não dar certo (a pergunta 'qual número representa o maior risco de um tratamento médico dar errado? 1 em 100, 1 em 10.000 ou 1 em 10?' teve 50% de respostas erradas). Fica claro que um número excessivo de pessoas no Brasil não sabe matemática suficiente para tomar decisões práticas no seu cotidiano relacionadas não somente a esses elementos 26/10/15 avaliados, mas a uma ampla gama de decisões pessoais nas áreas da saúde, educação, oferta de trabalho, cuidado dos filhos etc. De fato, o mais dramático de tudo é que 63% não conseguem sequer entender e calcular percentuais. Se você consegue é sinal que você deveria gostar mais da matemática do que diz que gosta, pois ela lhe dá acesso a vários mundos que estão fechados para aqueles que não a entendem. Esses resultados são coerentes com os dados de uma pesquisa de 2012 do Instituto Paulo Montenegro e Ação Educativa sobre analfabetismo funcional, que sugeria naquele momento que 77% dos brasileiros entre 15 e 64 anos não tinham níveis adequados de conhecimento funcional da matemática. Por outro lado, no "nível macro", falamos de um país que recentemente caiu 18 posições no ranking de competitividade global do Fórum Econômico Mundial, que não figura como relevante na maioria dos índices de inovação do mundo - como o Índice de Inovação Global da Bloomberg-, que enfrenta grandes dificuldades para realizar seu potencial de ciência e tecnologia e cuja população enfrenta altos níveis de endividamento (mesmo no précrise) e baixa educação financeira. Nem tudo pode ser associado aos resultados insatisfatórios na matemática medidos por testes nacionais e internacionais, principalmente porque esse não é apenas um problema de fluxo, mas de estoque de analfabetismo matemático da população brasileira. Sabemos que a escola pública brasileira ensina muito pouco. Mas pouco também sabemos sobre a falta de conhecimento básico de matemática dos adultos e de suas consequências "micro" (para os indivíduos e suas famílias) e "macro" (para o país). As evidências coletadas pela pesquisa do Instituto TIM sugerem que o problema parece ser muito mais sério do que se considera normalmente e exige pesquisas sistemáticas para entendermos os desdobramentos também em termos de gênero e desigualdade do conhecimento matemático e lógico entre as pessoas. Nossas estatísticas de fluxo escolar são como a ponta de um iceberg de disfuncionalidade matemática acumulada cuja parte principal, constituída pelos que saíram da escola, fica "escondida" nas relações econômicas e sociais que marcam nossa vida pública e nosso subdesenvolvimento. Se não reconhecermos que somos uma nação de "zumbis da matemática" vamos perder tempo e recursos discutindo problemas para os quais uma melhoria de nossa capacidade de raciocínio lógico e matemático pode ser decisiva. Essa não é somente uma questão de eficiência e desenvolvimento econômico, mas principalmente de justiça social. Flavio Comim é professor de economia associado da UFRGS e professor visitante da Universidade de Cambridge. Valor Econômico 26/10/15 EMPRESAS Kroton vende Uniasselvi para Carlyle e Vinci Por Beth Koike | De São Paulo A Kroton fechou, na madrugada de sábado, a venda da Uniasselvi para os fundos Carlyle e Vinci Partners por cerca de R$ 1 bilhão. A transação deve ser anunciada hoje, conforme antecipou ontem o Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor. A compra da Uniasselvi por cerca de R$ 1 bilhão é a segunda grande transação do Carlyle no Brasil neste ano. Em abril, a gestora americana adquiriu 8,3% da Rede D'Or, maior rede de hospitais do país, por R$ 1,75 bilhão. A Uniasselvi, instituição de ensino a distância, estava sendo negociada desde o ano passado, após determinação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) que aprovou com restrições a fusão entre Kroton e Anhanguera. A Uniasselvi foi adquirida pela Kroton no começo de 2012 por R$ 510 milhões, ou seja, a companhia vendeu o ativo pelo dobro do valor adquirido há três anos. Os recursos chegam em momento oportuno para a Kroton, que engordará seu caixa, enquanto há drástica redução e atrasos no pagamento do Fies, financiamento estudantil do governo. O fundo Carlyle estreia no setor de educação no Brasil com a Uniasselvi, instituição que já foi totalmente reorganizada pela Kroton e que atua em ensino a distância. Este segmento ganhou relevância com as restrições ao Fies e cenário macroeconômico fraco, uma vez que a mensalidade de um curso a distância é inferior ao dos cursos presenciais. Para a Vinci Partners, o setor de educação não é totalmente desconhecido, pois em 2009 participou da transação da Fanor, instituição de que atua no Nordeste e pertence ao grupo americano DeVry. O principal concorrente do Carlyle em ensino a distância será a Kroton que tem mais de 500 mil alunos matriculados nesta modalidade. Além disso, o Ministério da Educação (MEC) liberou muitos polos de ensino a distância neste ano a fim de tornar esse mercado mais competitivo. A Uniasselvi tem cerca de 80 mil alunos matriculados no ensino a distância e outros 10 mil estudantes em cursos presenciais. A instituição registrou em 2012 uma receita líquida de R$ 224 milhões e lucro operacional de R$ 45 milhões, segundo dados divulgados na época da aquisição. O Carlyle e Vinci Partners disputaram a Uniasselvi com vários fundos e grupos de ensino. Na última etapa do processo competitivo, os fundos concorreram com outro grupo formado pelo fundo inglês Actis e pela Cruzeiro do Sul que fez uma proposta bem distinta. A ideia era fazer uma cisão entre Kroton e Uniasselvi, mas manter essa segunda empresa listada e absorver as ações da Cruzeiro do Sul. Segundo fontes do setor, as negociações entre Carlyle e Kroton emperraram na última etapa porque o fundo americano queria reduzir o montante da transação devido ao cenário macroeconômico no país e restrição ao Fies, que fez o valor das ações das companhias de educação despencar neste ano. No entanto, a Kroton não teria aceito uma redução nos valores e chegou a procurar novamente a Cruzeiro do Sul e Actis que, por sua, vez também não quiseram negociar nos mesmos patamares da proposta anterior. Um ponto a favor da Kroton neste cenário nebuloso foi que, na semana passada, a companhia anunciou um crescimento de 5% na base total de alunos no processo seletivo do meio ano, percentual bem acima dos seus concorrentes, e que fez os analistas manterem as recomendações de compra dos papéis de Kroton. Valor Econômico 26/10/15 CARREIRAS Escolas de negócios se unem por visão global Por Della Bradshaw | Do Financial Times Depois de apenas uma hora da primeira aula do programa de MBA executivo Trium, da London School of Economics (LSE), de Londres, o professor Robert Falkner, especialista em política econômica, faz a pergunta: "Por que a globalização é controversa?". Quando os 69 alunos se juntam em grupos de dois ou três para apresentar respostas, fica claro que os pontos de vista da turma são variados. "A única coisa controversa é o fluxo de capital", declara um aluno. Outros, no entanto, têm um foco diferente e citam questões como poluição, incertezas e corrosão da identidade nacional. Para Eitan Zemel, vice-reitor de ensino global e executivo da NYU Stern - que desenvolveu o programa Trium juntamente com a LSE e a HEC Paris -, essa mescla de ideias é exatamente o que torna o programa tão especial. "Quando começamos não sabíamos o quão oportuno ele seria e como ele iria repercutir." O Trium é um dos cinco cursos no topo do ranking do "Financial Times" de programas de MBA executivo (EMBA), voltados para profissionais que já possuem experiência gerencial. Embora cada um dos programas aproveite a bagagem de duas ou mais escolas, eles têm características bem diferentes entre si. Os cursos da London Business School e da Columbia, por exemplo, reúnem as competências de dois dos maiores centros financeiros do mundo, enquanto os três restantes trazem perspectivas sobre a Ásia e suas relações com os Estados Unidos e a Europa. Urs Peyer, reitor dos programas de graduação da Insead, diz que um dos pontos fortes do curso conjunto que a escola têm com a Tsinghua é o grande conhecimento dos professores chineses sobre seu país e sua economia. "Gostamos da visão que eles nos passam. Na China, você precisa ter um conhecimento regulador e político interno." Já o ponto forte do Trium está em trabalhar perspectivas de mundo muito diferentes e os estilos de ensino das três instituições, afirma o professor Zemel. "Não conseguiríamos criar nada parecido com isso por conta própria." A maioria das 11 escolas de negócios que estão ministrando esses cinco programas também tem cursos próprios. Essa fragmentação e diversificação contrasta com o MBA em período integral, em que as escolas mais bem ranqueadas possuem apenas um programa. Mesmo para aquelas instituições de ensino que oferecem apenas seus próprios EMBAs, esses programas executivos são invariavelmente os mais globalizados. Até os mais bem estabelecidos reservam um tempo para receber e ensinar participantes de outros países. O da Chicago Booth, por exemplo, que afirma ser o mais antigo EMBA do mundo, agora ensina estudantes de Chicago, Londres e Hong Kong. A mudança do local para o global não está ocorrendo apenas nos Estados Unidos e Europa. Camelia Ilie-Cardoza é reitora de ensino executivo da escola de negócios Incae, da Costa Rica, que hoje leva seus participantes de EMBA para Boston, nos Estados Unidos, Espanha e China. Como resultado, o número de alunos está crescendo, assim como as receitas. No ano passado, houve 80 participantes e, este ano, são 117. Junto com o aumento das taxas, isso fez a receita do EMBA crescer em 53% na comparação com o ano anterior, segundo Ilie-Cardoza. O bom número de matrículas é evidente em toda a indústria dos EMBAs, o que evidencia o contraste com as fracas matrículas dos programas tradicionais de 26/10/15 MBA em período integral. Um dos motivos é que o mercado de EMBA vem se mostrando na vanguarda da experimentação no ensino reforçado pela tecnologia. Isso permite às escolas atrair estudantes de muito longe para seus cursos, além de proporcionar uma grande flexibilidade na maneira como os programas são ministrados. Diane Morgan, reitora associada de programas da Imperial College Business School, de Londres, afirma que essa flexibilidade vai aumentar, com as empresas buscando uma combinação de cursos executivos de curta duração com outros personalizados, que possam ser combinados e certificados como EMBA. Para muitos participantes de programas de EMBA, a riqueza cultural e as diferentes bagagens encontradas na sala de aula podem ser tão valiosas quanto o conhecimento do corpo docente. "Quando o professor olha para a turma, ele vê 1.200 anos de experiência", diz o professor Zemel sobre o curso Trium. E os alunos estão preparados para pagar por isso. Um dos maiores desafios do mercado de EMBA na última década tem sido o financiamento dos participantes. Vinte anos atrás, quase todos os alunos eram bancos por suas empresas, mas agora a grande maioria paga o programa por conta própria. Outros aspectos também precisam mudar. Há anos as escolas de negócios tentam descobrir como aumentar o número de mulheres nesses programas executivos de alto nível - o número raramente fica acima de 30%. Este ano, a Yale School of Management registrou um recorde de 41% de mulheres entre os 63 participantes, segundo o reitor sênior associado David Bach. Mais significativo ainda é a sua adesão, com 90% das mulheres admitidas no programa efetivamente fazendo suas matrículas - em comparação a 82% dos homens. O professor Bach acredita que o foco de Yale em negócios e seu impacto na sociedade ajudou. "O curso não quer apenas acelerar sua carreira em Wall Street." No entanto, ele destaca a importância do apoio pessoal dado durante o processo de admissão. "As mulheres percebem que o programa é muito mais voltado para a comunidade e não apenas transacional", diz. O ESTADO DE S. PAULO 26/10/15 METRÓPOLE Tema da Redação provoca polêmica 26/10/15 26/10/15 O ESTADO DE S. PAULO 26/10/15 METRÓPOLE Índice de abstenção, de 25,5%, foi o menor desde 2009 26/10/15 O ESTADO DE S. PAULO 26/10/15 METRÓPOLE Segundo dia teve filas na entrada, desespero de atrasados e revisão 26/10/15 CORREIO BRAZILIENSE 26/10/15 POLÍTICA O corte das bandeiras históricas dos petistas encontrar áreas para promover cortes, a recessão econômica vai se aprofundar. Aposto que, entre os benefícios e os empregos, governo e oposição esperam a manutenção dos segundos”, justificou Barros. As críticas retumbantes feitas pelo PT e pelo governo à proposta do relator do orçamento 2016, deputado Ricardo Barros (PPPR), de promover um corte de R$ 10 bilhões no orçamento do Bolsa Família — o que significa aproximadamente 35% dos recursos destinados ao programa — não contêm apenas uma questão ideológica ou econômica para preservar o principal programa social petista. É a prova da dificuldade de ver que já não há mais onde cortar nas bandeiras programáticas e nas promessas de campanha da presidente Dilma Rousseff. Levantamento feito pela Organização Não governamental Contas Abertas mostra que tudo o que a presidente prometeu na corrida eleitoral do ano passado foi alvo de tesouradas orçamentárias. Só o Bolsa Família tem permanecido intacto. Até agora. “Cortar o Bolsa Família significa atentar contra 50 milhões de brasileiros que hoje têm uma vida melhor por causa do programa”, protestou a presidente Dilma Rousseff nas redes sociais. “Não podemos permitir que isso aconteça. Estou certa que o bom senso prevalecerá na destinação de recursos para o programa”, declarou a presidente. O relator Ricardo Barros (PP-PR) defendeu que boa parte dos beneficiários do programa social têm emprego. E que o seu esforço é garantir a permanência desses postos de trabalho. “Se não conseguirmos A situação não é tão simples como se parece. Nos cálculos da equipe econômica, a cada R$ 1 pago no Bolsa Família, aproximadamente R$ 1,75 retorna graças ao aumento da atividade econômica. “É injeção na veia contra a recessão. Se tirarmos isso, aí mesmo que a economia para de vez. O Bolsa Família é o carrochefe do nosso governo, é praticamente uma cláusula pétrea”, resumiu o líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PTMS). “Qualquer corte no programa seria parecido a uma expressão que adotamos no Mato Grosso do Sul: estamos jogando o boi com a corda dentro do rio. É inviável”, resumiu o petista. Até porque o governo federal já mexeu demais em outros programas. A Pátria Educadora, slogan escolhido pelo marqueteiro João Santana para definir o segundo mandato de Dilma, já foi vítima das tesouradas orçamentárias. O Fies —Programa de Financiamento Estudantil — distribuiu, entre janeiro e agosto de 2014, R$ 9,71 bilhões para que estudantes pudessem cursar a 26/10/15 universidade e pagar os empréstimos para as mensalidades depois que já estivessem formados. No mesmo período deste ano, foram disponibilizados R$ 9,103 bilhões. O Pronatec, uma das maiores vitrines da gestão dilmista com cursos profissionalizantes, teve uma queda ainda maior. Nos primeiros oito meses do ano eleitoral, foram investidos R$ 3,27 bilhões. Em 2015, foram R$ 2,25 bilhões. Recursos Lançado com estrondo pelo expresidente Luiz Inácio Lula da Silva em janeiro de 2007 — primeiro mês de seu segundo mandato — o Programa de Aceleração do Crescimento despencou de R$ 47,19 bilhões, investidos entre janeiro e agosto de 2014 para R$ 30,21 bilhões no mesmo intervalo deste ano. “Voltamos, em termos nominais, aos níveis de investimento de 2012”, resumiu o fundador do site Contas Abertas, Gil Castelo Branco. No Minha Casa, Minha Vida, outra iniciativa cara à presidente, as reduções também foram significativas. Em 2014, foram liberados R$ 7,63 bilhões em recursos entre janeiro e agosto. Neste ano, apenas R$ 4,45 bilhões. Para Gil, o governo não tem outro caminho a não ser avançar nos programas sociais para garantir um reequilíbrio orçamentário. “Como o orçamento tem praticamente 90% de seus recursos engessados e vivemos em um país no qual o Congresso Nacional não é solidário, restam pouco menos de 10% das chamadas receitas discricionárias (que incluem investimentos) para serem cortados. Não existe mágica a ser feita”, disse o fundador do Contas Abertas. O líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), garantiu o empenho da oposição para manter os recursos do Bolsa Família. “Ele é fundamental para a economia do país e para garantir renda aos mais necessitados. Pena que o ex-presidente Lula sempre omite que o Bolsa Família teve sua gênese nos programas sociais lançados pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Lula teve o mérito de unificar os cadastros e ampliar a base de atendimento”, acrescentou Cássio. O tucano paraibano criticou o governo Dilma por chegar à situação de que é preciso discutir cortes nos programas sociais. “Estamos pagando quase R$ 500 bilhões de juros. Chegaremos ao ponto de uma dominância fiscal, momento no qual qualquer política monetária será insuficiente para fechar as contas do país”, apontou Cássio. “É injeção na veia contra a recessão. Se tirarmos isso, aí mesmo que a economia para de vez. O Bolsa Família é o carrochefe do nosso governo, é praticamente uma cláusula pétrea” Delcídio Amaral, líder do governo no Senado 26/10/15 CORREIO BRAZILIENSE 26/10/15 OPINIÃO MARCELO AGNER » Enem, um espetáculo [email protected] Na divertida viagem no tempo que fizemos na semana passada, inspirada pelo filme De volta para o futuro, deparei-me com essa notícia publicada pelo Correio em 26 de outubro de 1985 (data em que o personagem Marty McFly inicia outra aventura maluca): “UnB defenderá o fim do vestibular”. Há 30 anos, a Universidade de Brasília repensava a fórmula para avaliar os estudantes. Dez anos mais tarde, em 1995, a instituição inovou com a criação do PAS, um verdadeiro avanço. Mas, até hoje, a seleção por meio de uma maratona de provas resiste no sistema educacional do país. O Enem simboliza e reforça essa tradição difícil de derrubar. Nos anos 1970 e 1980, os vestibulares chegavam a durar uma semana. Eram grande eventos. No Rio de Janeiro, por exemplo, o Maracanã era usado como local de provas. O Enem trouxe mais organização ao processo, mas manteve as características desse tipo de seleção. Pior, cresceu tanto que se transformou num gigante. E assusta: são sete milhões de candidatos que demandam caríssimas estruturas para aplicação das provas e para a segurança. O governo aposta alto no exame e até o ministro da Educação dá plantão e entrevistas após cada dia de provas. O atual sistema parece ser mais eficiente que os velhos vestibulares. E tem ares democráticos. Teoricamente, um brasileiro do Amazonas pode concorrer a uma vaga no Rio Grande do Sul! Mas, no fundo, nada muda em relação aos certames tradicionais. O Enem continua incentivando a cruel disputa entre os jovens e mantém o abismo entre os ricos, que podem pagar escolas caras e cursinhos, e os pobres, que dependem da sucateada rede pública. Com ele, surgiu um questionável ranking, que serve mais ao marketing dos colégios que à melhora da educação. O Enem não provocou significativas mudanças no ensino médio e acredito que dificilmente será um instrumento inovador. A prioridade nas escolas continua sendo preparar os estudantes para as provas e o consequente ingresso nas faculdades e universidades. A formação do ser humano, do cidadão, fica em evidente segundo plano. Há uma espetacularização do processo — ou alguém acredita que uma aula com um professor vestido de Darth Vader, na véspera da prova, vai acrescentar algo ao candidato? —, conveniente a muitos setores envolvidos, e discussões importantes acabam ofuscadas pelos dramas dos alunos barrados nos portões. CORREIO BRAZILIENSE 26/10/15 OPINIÃO Crianças e famílias invisíveis NATACHA COSTA diretora-executiva da Associação Cidade Escola Aprendiz ELIANA SOUSA SILVA diretora da Redes da Maré e Diuc -UFRJ A cidade do Rio de Janeiro vem tentando desatar um dos nós mais intrincado da educação brasileira: a identificação de crianças de 6 a 14 anos ainda fora da escola e a sua recondução à sala de aula. A missão é complexa.O Brasil atingiu 97,7% de matrículas na faixa etária assinalada. A conquista foi impulsionada pelo fato de a maioria dos programas de transferência de renda criada nos últimos anos condicionar a liberação dos recursos à presença das crianças na escola. Mesmo assim, quase um milhão delas continua fora da instituição. No caso da capital fluminense, elas somavam 24.455, em 2010 — 3,1% do universo total —, de acordo com o Censo IBGE. Essas crianças e suas famílias são o maior desafio social do país, visto que continuam invisíveis para as políticas públicas. O fenômeno não é privilégio do Brasil. Por isso, foi estabelecida no âmbito das Nações Unidas, como a segunda Meta do Milênio, a universalização da educação fundamental. Ela prevê a matrícula de todas as crianças a partir de 6 anos. Em todo o mundo, a meta é inserir pelo menos 10 milhões de crianças e adolescentes de 34 países. O projeto Aluno Presente — uma parceria entre a Prefeitura do Rio, a ONG Cidade Escola Aprendiz e a Fundação Education Above All (Educação Acima de Tudo), do Qatar — é parte desse esforço. A estratégia elaborada no projeto para encontrar essas crianças e famílias passa pelo cruzamento de informações da própria rede municipal de ensino — a maior parte delas já passou pela escola e saiu por motivos diversos — com as informações coletadas por 50 profissionais encarregados de buscá-las em todos os bairros da cidade. Em geral, elas estão nos mais pobres e periféricos locais e muitas têm necessidades especiais. Depois de localizadas, o desafio é superar as condições que geraram sua saída ou não ingresso: falta de documentação, mudança frequente de residência, negligência ou falta de estrutura familiar, inserção precoce no mercado de trabalho informal, grau de violência no território de moradia etc. Os relatos de vida dessas pessoas demonstram que o fenômeno — assim como o da evasão — só será resolvido quando reconhecerem que a educação é importante demais para ser responsabilidade apenas da escola e de seus profissionais. De fato, atendê-la plenamente, assim como as outras demandas básicas da população, exige a construção de políticas intersetoriais que levem em conta educação, saúde, desenvolvimento social, habitação, transporte, geração de trabalho e renda etc. Significa dizer que o cidadão não pode ser atendido de forma fragmentada, mas na globalidade, considerando-se as suas características singulares, as condições objetivas e a inserção territorial. Da mesma forma, é central que se amplie a compreensão da coisa pública para além do Estado. Os desafios sociais contemporâneos exigem ação compartilhada entre os órgãos estatais e os atores da sociedade civil, além da contribuição, em circunstâncias específicas, das empresas em seus territórios de atuação. Essas instâncias devem ser pensadas de forma complementar, cada uma cumprindo funções específicas, mas articuladas, sem disputa pelo protagonismo em relação às ações e sua expressão pública. À medida que se exercita essa experiência de integração solidária na gestão social, vai se criando e consolidando uma tecnologia 26/10/15 social inovadora, capaz de dar conta da complexidade do atendimento das populações invisíveis para o Estado. O Aluno Presente é uma demonstração cabal da importância dessa integração. Ele já reconduziu mais de 5 mil crianças à escola e está consolidando um banco de dados global sobre o perfil delas, suas famílias e as principais causas de estarem fora da escola. Ao fim do projeto, em 2016, as instituições que conduzem a iniciativa entregarão à cidade do Rio e ao país tecnologia capaz de ser replicada não apenas em cidades brasileiras, mas em todos os países onde houver crianças e famílias que sofrem processo de invisibilidade social ofensivo à dignidade humana. CORREIO BRAZILIENSE 26/10/15 CIDADES EDUCAÇÃO » Uma chance de conscientização Tema da redação do Enem é comemorado por especialistas e professores. Candidatos escreveram sobre a persistência da violência contra a mulher » RICARDO DAEHN » MARYNA LACERDA » ALESSANDRA OLIVEIRA ESPECIAL PARA O CORREIO Emanuelly se baseou no cotidiano das mulheres para escrever o texto e achou o exame tranquilo Clara recebeu o apoio da mãe e do cão de estimação antes de começar a prova No país que amarga a sétima posição no ranking mundial de violência contra a mulher — 15 são mortas a cada dia no Brasil — , a escolha do tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi comemorada por especialistas e professores. Cerca de 5,8 milhões de candidatos participaram dos dois dias de exame e completaram a maratona de provas escrevendo redações sobre “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”. “Depois que planos nacionais ameaçaram retrocesso no tema, no começo do ano, o Ministério da Educação mostra que a escola não pode ignorar a sexualidade. E faz acertadamente o papel de levar aos cidadãos questionamentos importantes”, opina a antropóloga Debora Diniz, professora da Universidade de Brasília (UnB). Ela se refere à retirada da palavra gênero de diversos planos locais de educação, inclusive o do Distrito Federal. Larissa Souza, supervisora de redação do Sistema Ari de Sá Cavalcante, comemorou o tema selecionado. “Comum, viável e esperado”, observa a especialista, e acrescenta que o assunto trouxe conformidade em relação ao momento atual. O quanto vale cada opinião e argumento dos estudantes, no entanto, fica difícil de prever. A exposição de estratégias de solução para o problema da violência é o que poderia contribuir, na avaliação de Larissa. “Apontar motivos da persistência do ato; descrever fatores que levam à condição das mulheres, apesar dos avanços governamentais, como a Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio; além de levar em conta índices alarmantes dos casos de agressão, trariam um bom texto”, analisa a professora. Para alcançar a nota máxima na prova, de mil pontos, a professora acredita que o tratamento dado a entraves culturais, como o machismo, e a crítica às delegacias sem estrutura e às limitações que desencorajam denúncias devem ser pontos valorizados pelos examinadores. “O aluno não deve ser superficial, mas mostrar um conhecimento de mundo livre de clichês. Pode avançar na proposição de solução concreta e viável”, assinala. Para Clara Demeneck, 19 anos, a questão com a citação da autora francesa Simone de Beauvoir, na prova de sábado, foi um indicativo de que o assunto estaria presente no segundo dia. A jovem considerou o tema importante e válido para conscientizar a população. “Ontem, cheguei a pensar em algum tema relacionado ao feminismo por causa da questão 26/10/15 da Simone Beauvoir. No entanto, acabei desconsiderando porque as provas do Enem não são temáticas”, afirma. Essa é a terceira vez que Clara presta a prova com o objetivo de conseguir uma vaga em medicina. Ela estava acompanhada da mãe, do namorado e do cachorro de estimação, Joaquim. “O beijo dele é para me dar sorte, assim como a presença do meu namorado e da minha mãe. Eu me sinto mais confiante este ano”, conta. Emanuelly Lima, 15 anos, fez a avaliação para treinar os conhecimentos e foi uma das primeiras a deixar o local de prova e também não se surpreendeu com a temática proposta. “O tema da redação não era óbvio, mas foi tranquilo de escrevê-lo. No cursinho, eles tinham colocado esse assunto em discussão”, disse. Seja por debates prévios, seja por informações da imprensa ou pelo contexto social, cada estudante deveria encontrar argumentos para discorrer sobre o assunto. “Fiz o Enem pela primeira vez. Para a redação, mantive a calma e usei mais a minha opinião para escrever. Não me baseei em nenhuma notícia. Fui mais pelo que as mulheres vivem no dia a dia”, acrescenta o estudante Caio Alves, 19 anos. Para Flávia Taiane de Jesus Silva, 27 anos, o tema da redação não foi um problema. “Sou feminista, então, 30 linhas foram pouco para escrever”, conta ela, que cursa direito e pretende pleitear bolsa integral na faculdade. A oferta de textos de apoio foi um ponto positivo. “Teve um gráfico com as denúncias de casos da Lei Maria da Penha de 2007 a 2011, e ainda um banner de ‘basta ao feminicídio’”, lembra. Além da redação, foram aplicadas ontem as questões de linguagens e código e de matemática. Pixinguinha, Cecília Meireles e Olavo Bilac foram alguns dos autores citados na prova. Na parte de exatas, foram cobrados conteúdos como análise combinatória e probabilidade. Confira ao lado o gabarito extraoficial elaborado por professores do Sistema Ari de Sá. Confusão Jackson Teixeira, 24 anos, tem problema cardíaco e precisou ser atendido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Ao chegar ao local de prova, na Asa Norte, e deparar-se com os portões fechados, ele passou mal. O jovem alega que se atrasou por causa de uma pane no ônibus em que estava. Ele saiu de Samambaia às 10h30, mas, mesmo assim, não conseguiu chegar no horário para fazer a prova. Ao ter a entrada impedida pelos fiscais, ele vomitou e, em seguida, desmaiou. “A gente gasta com cursinho o ano todo e estuda para isso. Meu sonho está lá dentro. Essa é a oportunidade que eu tenho”, reclamou. Ele tentava uma vaga para tecnologia da informação. Enquanto alguns candidatos ficaram de fora da prova por terem chegado com minutos de atraso, outros ganharam um tempo extra para ter acesso ao local de avaliação. Em uma escola na Asa Sul os portões foram reabertos por alguns minutos depois das 13h e candidatos atrasados conseguiram entrar. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) informou que todos os incidentes são relatados na ata pelo coordenador do local de provas e que, depois, o órgão avalia as atas. No mesmo local, uma candidata saiu da sala com caderno de provas por volta das 16h, ou seja, duas horas e meia antes do permitido. Os fiscais correram atrás dela para recuperar o documento. Os inscritos têm autorização para deixar os locais de prova às 15h30, mas sem o caderno de questões. Participaram da cobertura Isa tacciarini, Flávia Maia e Mariana Niederauer, especial para o Correio » Leia mais na página 16 » Para saber mais Divulgação e resultados O gabarito oficial do Enem 2015 será divulgado em portal.inep.gov.br até a próxima quarta-feira. O Ministério da Educação ainda vai definir as datas de divulgação dos resultados individuais, no início de janeiro de 2016. Os candidatos devem acessar o site para conferir e precisam informar CPF e senha. CORREIO BRAZILIENSE 26/10/15 CIDADES EDUCAÇÃO » Enem registra a menor abstenção em 6 anos Índice é o menor desde 2009, quando a prova passou a adotar o modelo atual. Segundo ministro, vagas do Sisu devem diminuir em 2016 por causa de cortes » RODOLFO COSTA de Seleção Unificada (Sisu), que, segundo Mercadante, poderá apresentar número menor de vagas em razão da conjuntura do governo e da redução do orçamento das instituições federais de ensino superior. No mesmo período deste ano, foram oferecidas mais de 205,5 mil vagas. Investigação O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, voltou a destacar, ontem, que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2015 foi um sucesso, ressaltando que a edição deste ano teve o menor índice de abstenção desde 2009. Ao todo, 1,975 milhão dos 7,746 milhões de inscritos não realizaram a prova, ou seja, apenas 25,5% não fizeram as provas, contra um índice de 28,9% registrado no ano passado (veja o quadro). Aloizio Mercadante acrescentou que problemas pontuais, como a candidata que saiu de sala com a prova e os que entraram após o fechamento dos portões na Asa Sul, serão avaliados individualmente. “Se for constatado que houve falha, os responsáveis serão excluídos de qualquer outro exame do Enem no futuro”, declarou. Ao todo, 743 participantes foram eliminados: 677 por uso de equipamentos inadequados, 63 por objetos não permitidos descobertos pelos detectores de metal e três por postarem fotos das provas em redes sociais. No ano passado, 1.519 alunos tiveram suas provas canceladas. A “cultura de respeito às regras”, de acordo com Mercadante, teria sido o motivo para a queda no número de eliminados. “Nossa avaliação é que foi o mais completo êxito”, afirmou o titular da pasta de Educação. A expectativa do MEC é de que as notas do Enem sejam divulgadas na primeira semana de janeiro, quando também deverá sair o edital com as vagas do Sistema A formação dos fiscais, que estariam “mais qualificados e prontos para atender às demandas de aplicação do exame”, segundo o ministro, também contribuiu para o sucesso da prova. Mercadante elogiou ainda o uso da tecnologia e No segundo dia do exame, candidatos chegaram mais cedo aos locais de prova para evitar imprevistos o trabalho da Polícia Federal. Os esforços orçamentários para reduzir as despesas do exame compensaram: o MEC economizou R$ 40 milhões. O tema da redação — A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira —, também foi abordado na coletiva de imprensa. “O tema foi estimulante para o Brasil, para a cultura e para os estudantes”, resumiu Mercadante. “Ainda há muita violência contra a mulher, apesar das políticas públicas existentes. Precisamos refletir sobre isso.” R$ 40 ilhões Valor economizado pelo Ministério da Educação este ano com a prova do Enem CORREIO BRAZILIENSE 26/10/15 CIDADES Prova bomba nas redes sociais » RICARDO DAEHN » MARIANA NIEDERAUER ESPECIAL PARA O CORREIO Internautas fizeram alusão à derrota do Brasil na Copa de 2014 O Enem 2015 bombou nas redes sociais. Memes com os atrasados e em relação à redação foram postados durante todo o segundo dia de provas. As hashtags #Enem2015 e #ShowDosAtrasados2015 foram usadas para identificar as piadas, que vinham acompanhadas de fotos feitas durante a cobertura do exame. O tema da redação — A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira — também foi alvo de aplausos e de críticas na internet. A hashtag #EnemFeminista foi usada tanto para exaltar o espaço dado à discussão sobre agressões sofridas por mulheres quanto por pessoas que criticaram a opção dos formuladores da prova. Além de ser tratada na redação, a discussão sobre gênero apareceu em uma das questões da prova de sábado. Os deputados federais Marco Feliciano (PSC/SP) e Jair Bolsonaro (PP/RJ) voltaram a causar polêmica. Desta vez, os dois criticaram o que chamaram de doutrinação na prova do Enem. O alvo das reclamações dos parlamentares foi essa questão, que trazia uma citação da escritora Simone de Beauvoir. “Não adianta usar desses rasteiros expedientes. Vamos protestar sempre e extirpar de nossos currículos teorias alienígenas que nada acrescentam ao engrandecimento de nossa cultura e tradições”, escreveu Feliciano. Bolsonaro, por sua vez, acusou o Partido dos Trabalhadores (PT) de doutrinação marxista. “O sonho petista de querer nos transformar em idiotas materializa-se em várias questões”, escreveu. A antropóloga Debora Diniz, professorsa da Universidade de Brasília (UnB), defende o tema abordado na prova. “Uma onda de repercussão contrária ao tema tão somente demonstra limitação do interlocutor que seja incapaz de ver a mulher como distanciada daquela predestinada à casa, à inferioridade e à subalternização”, afirma a Debora. Memória A filósofa francesa ficou conhecida pelas obras que retratavam o papel da mulher na sociedade. Morreu em 1986. A frase publicada na prova foi: “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico,síquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam o feminino”. CORREIO BRAZILIENSE 26/10/15 CIDADES Saudosa trajetória O Curso de Verão da Escola de Música de Brasília é considerado o maior da América Latina. Ainda não há verba para a próxima edição. Quem participou relembra momentos marcantes CAROLINE POMPEU Especial para o correio Passar quase dez dias entre músicos renomados, ouvindo concertos, shows, recitais e participando de workshops, tudo isso de graça, é algo que a Escola de Música de Brasília (EMB) oferece. O Curso de Verão de Brasília (Civebra), que chegará à sua 38ª Edição, em 2016, começou em 1978. Foi criado pelo primeiro diretor da escola, o maestro Levino de Alcântara. Em janeiro, alunos da escola e de outras regiões do Brasil, e até do mundo, vêm até a capital para participar do curso, considerado o maior da América Latina e o quarto do mundo, em ensino e aprendizagem musical. Professores de vários países são convidados para ministrar aulas. Diversos gêneros, entre eles a MPB, o jazz, o choro, a música erudita antiga e contemporânea, têm espaço. Professores e funcionários lutam para manter o curso, mesmo em momentos de crise, com a falta de verba. Com orçamento apertado para a edição que ocorreu no começo de 2015, a seleção dos alunos foi rígida. Em 2006, por exemplo, 3,5 mil alunos candidataram-se, mas apenas 800 participaram. Neste ano, a participação foi menor. Foram apenas 491 alunos e 44 professores, mas a qualidade do curso, de acordo com o diretor da Escola de Música, o maestro Ayrton Pisco, não caiu. Para se adaptar à crise, muitos cortes no orçamento foram realizados. Alguns professores deixaram de apoiar a realização do evento no fim do ano passado, porque ele aconteceria em locais que não tinham estrutura. O investimento do governo para a edição de 2015 foi de R$ 900 mil e todas as atividades foram realizadas, pela primeira vez, dentro da Escola de Música. Apesar das dificuldades, o diretor dá o seu depoimento, emocionado. “Em 1980, cheguei a Brasília para o Curso de Verão e, há quase 36 anos, sempre participo. Ele representa um momento único, principalmente, para estudantes carentes. É quando eles podem respirar o oxigênio musical com pessoas do mundo inteiro. Mesmo com o desgaste emocional que tivemos este ano para a realização, quando vi vans velhas e quebradas chegando de estados como Piauí e Rondônia; e estudantes descendo, vindo me abraçar, agradecendo pela oportunidade, isso faz com que qualquer sacrifício valha a pena.” Ainda não há previsão de como será o curso, em 2016. “Não tem verba, por enquanto. Vamos começar a planejar quando o dinheiro aparecer”, disse o diretor. Apesar da crise, a edição mais recente chegou ao fim em grande estilo: pela primeira vez, o Teatro da Escola de Música de Brasília acolheu em seu palco uma ópera, com a encenação de Gianni Schicchi, do italiano Giacomo Puccini. Confira uma retrospectiva de eventos marcantes, em anos anteriores. 26/10/15 Depoimentos 1997 “Um ano marcante do Curso de Verão foi o de 1997. Houve intercâmbio entre os professores de música erudita e popular. Tive a oportunidade de estar com grandes nomes da música como Hamilton de Holanda, Gustavo Tavares, Marco Pereira e Mario Ulloa, professor de violão na Universidade da Bahia. Foi um intercâmbio muito forte. Logo depois, em 2001, no meu primeiro curso como professor, trabalhei com a orquestra de violões, fundada por mim e pelo Paulo André Tavares. Foi muito bonito porque dessa orquestra no curso, acabou que um aluno, o Ulisses, um rapaz de Taguatinga, fez um movimento de orquestra de violões na região dele e que existe até hoje” Jaime Ernest Dias, violonista, compositor e arranjador, aluno de 1974 a 1977 e professor da EMB, de 1979 a 2013 2005/2007 “Entre 2005 e 2007, estava dando aula na orquestra de violões e fizemos uma apresentação muito bonita em que participaram outros professores, como Eduardo Meirinhos, professor da Universidade Federal de Goiânia, também, André Vidal, professor de canto erudito. Foi um momento de grande integração no concerto entre alunos e professores. Foi uma orquestra grande, com 20 e poucos alunos, foi muito legal. A Escola de Música de Brasília é a maior referência de música do país” trompista Sören Hermansson e da Alemanha, além de Roth, o contrabaixista Gottfried Engels. Paulo André Tavares, aluno da Escola de Música em 1968. Em 1977, ele se tornou professor de violão clássico e atuou até 2013 2006 O curso ofereceu aulas de gaita pela primeira vez em quase 30 anos. O professor que ministrou as aulas foi um dos maiores artistas do instrumento no Brasil: o carioca Maurício Einhorn, à época com 50 anos de carreira. Aulas de etnomusicologia e oboé barroco também foram novidades. Com duração de 18 dias, foram 67 professores do país e do exterior. Alunos vieram de diversas regiões, como Argentina, Uruguai, Venezuela, Peru e, pela primeira vez, do Chile e dos Estados Unidos. 2000 Em um dos anos de maior repercussão no exterior do curso, uma expedição estrangeira aportou na Escola de Música de Brasília para o 22º Curso Internacional de Verão. Entre os convidados estavam a soprano nova-iorquina Deborah Birnaum e o regente alemão Gerhart Roth. Da Suécia, veio o 2002 Além do lado artístico e profissional, o curso tem uma tradição distante das partituras e instrumentos: a de unir casais que, a partir da convivência em sala de aula, resolvem construir uma vida em comum. Nesse ano, o Correio homenageou as dezenas de histórias de amor vividas ali. O GLOBO 26/10/15 RIO Vai ser difícil passar de ano LUIZ GUSTAVO SCHMITT MARCO GRILLO Orçamento de 2016 prevê verba 46% menor para investimentos em universidades estaduais Em discussão na Assembleia Legislativa do Rio, o orçamento de 2016 para as cinco universidades do estado prevê um corte de 27,7% nas despesas de manutenção e de 46% nos investimentos. A crise financeira do estado já provocou cortes em vários setores este ano e deverá tornar os gastos de áreas essenciais, como a educação, mais enxutos em 2016. Uma proposta orçamentária apresentada pelo governo, que se encontra em discussão na Assembleia Legislativa (Alerj), prevê uma redução drástica nos recursos destinados às instituições de ensino superior, entre elas a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e a Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf ). No custeio, que envolve as despesas para a manutenção básica — incluindo água, luz, segurança e limpeza —, a queda prevista é de 27,7%. Em relação a investimentos, como aquisição de equipamentos para laboratórios e reforma ou construção de salas de aula, haverá uma diminuição de 46% em comparação a 2015. MARCELO CARNAVAL Problemas. Em um corredor da Uerj, equipamentos e móveis quebrados que deveriam ir para o lixo: universidade começou 2015 com paralisação de prestadores de serviço Em números absolutos, a previsão é que as verbas para custeio caiam de R$ 618,1 milhões para R$ 446,5 milhões. Quanto ao investimento, deve passar de R$ 109,5 milhões para R$ 58,7 milhões. O levantamento foi feito com base na comparação entre o projeto de lei em tramitação na Alerj e o orçamento aprovado para 2015. A conta levou em consideração cinco unidades de ensino superior: além da Uerj e da Uenf, o Centro Universitário Estadual da Zona Oeste (Uezo), a Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec) e a Fundação Cecierj, que atua na educação à distância. ARROCHO MAIOR NA UENF E NA UEZO Os cortes mais expressivos são vistos na Uenf, que tem unidades em Campos dos Goytacazes e Macaé, ambas cidades do Norte Fluminense, e na Uezo, que não conta com sede própria e funciona de maneira improvisada nas instalações do Colégio Estadual Sarah Kubitschek, em Campo Grande, desde a inauguração, em 2005. No caso da Uenf, serão menos 46% no total do custeio (de R$ 71,3 milhões para R$ 38,5 milhões) e menos 63% nos investimentos (de R$ 12,1 milhões para R$ 4,4 milhões). Enquanto isso, a Uezo só poderá investir R$ 134 mil em 2016, o que corresponde a apenas 1% do valor aprovado para 2015 (R$ 13,3 milhões). No custeio, o aperto chega a 41% (de R$ 8,3 milhões para R$ 4,8 milhões) na universidade, que já reduziu de 140 para cem o seu quadro de professores. Vice-reitor da Uenf, Edson Corrêa calcula que o valor mínimo necessário para o funcionamento da universidade gira em torno de R$ 150 milhões por ano, total que abrange os gastos com pessoal. O orçamento de 2015 previa R$ 190,7 milhões para a instituição, mas o governo anunciou contingenciamentos ainda no início do ano. Até o momento, R$ 120,4 milhões foram efetivamente repassados pelo tesouro estadual. — Esse valor (R$ 190,7 milhões) foi fictício, porque houve contingenciamento. O que vamos ter disponível é algo em torno de R$ 150 milhões. Com menos do que isso, não dá para manter a universidade — alerta o vicereitor. A proposta para a Uenf em 2016 é de R$ 161,6 milhões, mas cortes não estão descartados. — Já estamos no limite, não tem mais onde cortar. É só subsistência — garante Corrêa. 26/10/15 Segundo ele, a falta de pagamentos de terceirizados da limpeza e da segurança chegou a colocar as aulas em risco este ano. As linhas telefônicas ficaram cortadas por três dias, por inadimplência. Para o presidente da Associação de Docentes da Uenf, Raul Ernesto, os alunos ainda não foram prejudicados porque professores vêm ajudando na compra de material para aulas práticas em laboratórios e até na aquisição de cartuchos para impressoras. — O orçamento do ano que vem não dá para chegar até setembro. O governo está tratando as universidades como gasto supérfluo. Somos o papel higiênico caro do estado — diz Ernesto. Diretor de comunicação do DCE da Uenf, o estudante de Administração Pública Gilberto Gomes relata que, este ano, o pagamento das bolsas dos alunos atrasou ao longo de três meses. A direção da instituição foi procurada, mas não falou sobre o assunto. Em audiência pública na Alerj no último dia 14, o reitor da Uezo, Alex da Silva Cerqueira, contou ter solicitado mais R$ 10 milhões ao orçamento para concluir a primeira fase da construção do campus. PREOCUPAÇÃO COM A SITUAÇÃO DA UERJ Na Uerj, que tem o maior orçamento entre as universidades estaduais, a redução prevista é de 22% no custeio (R$ 394,2 milhões para R$ 306,1 milhões) e de 4% no investimento (R$ 37,1 milhões para R$ 35,4 milhões). Mas a instituição já vem sofrendo com problemas de caixa. O ano letivo de 2015 começou atrasado devido a uma greve. A paralisação provocou o caos: havia lixo espalhado pelos corredores e banheiros ficaram em estado insalubre. — O corte no orçamento só aprofunda a crise — afirma a presidente da Associação de Docentes da Uerj, Lia Rocha. — Quem está pagando a conta é a educação. Estamos trabalhando para produzir conhecimento, mas não somos prioridade. É um processo de sucateamento. O Colégio de Aplicação, que recebe verbas do orçamento da Uerj, também deve ser atingido. — Ainda persiste uma situação de incerteza em relação ao pagamento de terceirizados e professores substitutos — diz Lincoln Tavares, ex-diretor da instituição. A assessoria de imprensa da Uerj afirmou que a universidade não se manifestaria porque passa por um momento de transição. Na quinta-feira, o professor Ruy Garcia Marques foi eleito reitor. Ele não respondeu a um pedido de entrevista. Na rede Faetec, o contingenciamento teve impacto em unidades de referência como o tradicional Instituto Estadual de Educação (Iserj), na Tijuca, e os Centros de Vocação Tecnológicos (CVTs). No Iserj, as aulas começaram atrasadas este ano porque não havia merendeiros, faxineiros e inspetores. No CVT do Gradim, em São Gonçalo, que deveria ser voltado para a atividade pesqueira, hoje só há aulas de espanhol. A unidade, aberta desde 2009, chegou a ter 300 alunos e a oferecer 16 cursos, como mecânica e carpintaria naval e beneficiamento de pescado. O diretor da instituição, Sérgio de Mattos Fonseca, conta que, este ano, 15 professores tiveram seus contratos suspensos pela Faetec e só restaram 40 alunos. — Tudou parou porque não há professor. Um laboratório de alta tecnologia que custou R$ 70 mil está fechado — lamenta o professor. Procurada, a Faetec não retornou as ligações. O presidente do Cecierj, Carlos Eduardo Bielschowsky, ressalta que o orçamento em discussão para a fundação é o mesmo de 2015, já descontados os valores contingenciados pelo governo. Este ano, investimentos foram cortados, e os planos de construir mais unidades não saíram do papel. Presidente da Comissão de Educação da Alerj, o deputado Comte Bittencourt (PPS) reconhece que todas as áreas do governo devem participar do esforço financeiro em meio à crise. Contudo, ele afirma que os cortes em custeio nas universidades ficaram acima dos previstos para outros setores. — Em média, a redução em custeio feita por órgãos do governo varia de 15% a 20%. Mas, nas universidades, esses cortes chegam a passar de 30%. A comissão pretende fazer emendas ao orçamento para tentar alinhá-los à média praticada pelo Executivo 26/10/15 — adiantou o deputado. COMISSÃO DA ALERJ VAI APRESENTAR EMENDAS O secretário estadual de Ciência e Tecnologia, Gustavo Tutuca, cuja pasta é responsável pelas instituições, afirma que a saída para as universidades é buscar outras fontes de receitas: — É preciso inovar na gestão e buscar recurso novo. No mundo inteiro, há empresas que desenvolvem projetos em parceria com universidades. A UFRJ tem uma parceria com a Petrobras. Além disso, há um parque tecnológico onde muitas empresas pagam para estar ali. Temos que nos inspirar nesses modelos. Apesar do cenário de austeridade, o secretário descarta a possibilidade de um quadro caótico na educação em 2016. Ele afirma que greves, atrasos de salários e falta de insumos são problemas que não deverão se repetir: — Este ano foi complicado porque tínhamos restos a pagar (dívidas anteriores), além das despesas correntes. Mas a previsão é fechar o ano sem restos a pagar. Então, teremos mais fluxo de caixa. Em nota, a Secretaria estadual de Fazenda afirmou que tem priorizado os recursos para a educação e que o investimento na pasta em 2015 é de 26%, acima da exigência constitucional, de 25%. O órgão não comentou a previsão de cortes para as instituições em 2016. O GLOBO 26/10/15 SOCIEDADE Uma redação para elas Candidatas se identificam com tema violência contra a mulher, e prova gera debate nas redes RIO E CURITIBA- Um assunto dominou, ontem, as redes sociais e as rodas de conversa na saída do segundo e último dia do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem): o tema da redação. A prova pediu aos milhões de candidatos para escrever sobre “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”. Assim que a notícia foi divulgada, logo após o início do exame, às 13h (horário de Brasília), o debate tomou conta da internet no país. Mais tarde, ao deixar os locais de prova, candidatas contaram que o tema fez com que elas refletissem sobre suas próprias experiências. — Já passei por uma situação de violência e não denunciei, tive medo. Acabei saindo de casa e fui procurar abrigo na casa de parentes. Então, me identifiquei com a prova — contou Daiana dos Santos, de 26 anos, que fez o exame no campus da Uerj, no Maracanã. No mesmo local, Carla Carolina Souza, de 19 anos, disse que a redação foi um estímulo a todas as mulheres. — É uma forma de nos encorajar e mostrar que podemos lutar para nos libertar desse tipo de agressão. Já em Curitiba, a participante Angelina Baclan, de 21 anos, contou que conhece o drama da violência. Sua mãe fugiu de Londrina, interior do Paraná, carregando os filhos pequenos devido ao “comportamento agressivo" do pai de Angelina. — Meu pai veio atrás, ameaçou tirar a guarda dos filhos. Foi muito difícil. É um tema importante e interessante, que conheço muito — relatou. No segundo dia de Enem, os candidatos também tiveram que resolver 45 questões de Matemática e 45 de Linguagens. Todas objetivas. Mas a única prova escrita dos dois dias de exame foi também o maior alvo de comentários. O professor de redação Raphael Torres, da plataforma de ensino on-line QG do Enem, elogiou o enunciado da redação devido à relevância do assunto para a sociedade, mas fez uma ressalva. Ele disse que, por ser um tópico que desperta muito sentimento, era grande o risco de o candidato ser levado pela emoção, deixando de lado a estrutura a ser obedecida na redação do Enem. — É um tema que puxa para o lado da emoção. Um candidato menos preparado quanto à estrutura do texto exigido no Enem pode ter decidido usar um relato em primeira pessoa, por exemplo — pontuou o especialista. — Isso seria visto da pior forma possível pela banca. É muito problemático transformar algo pessoal em sustentação de uma ideia. No máximo, poderia ser usado um exemplo em terceira pessoa, desde que muito bem amarrado com o restante do texto. Como consta no edital, a redação do Enem deve ser elaborada como um texto dissertativo-argumentativo, a partir de uma situação-problema e de subsídios oferecidos pelos textos de apoio publicados na prova. Para uma boa avaliação, é fundamental o candidato apresentar argumentação consistente, a partir de um repertório sociocultural produtivo. ‘NECESSIDADE DE MUDANÇA’ De acordo com o professor de redação Rafael Pinna, do colégio e curso de Aa Z , o aluno deveria demonstrar senso de cidadania, com argumentos sobre violência de gênero como um problema cultural e legal. Nesse sentido, o caminho mais lógico, disse ele, seria a identificação das causas da violência de gênero, como a cultura do machismo, que leva à naturalização desse tipo de agressão, e a escassez relativa de punições. — O estudante poderia falar sobre a necessidade de se aplicar com maior eficácia a Lei Maria da Penha, sobre a importância da tipificação do feminicídio como crime hediondo no Código Penal 26/10/15 e, principalmente, sobre a necessidade de uma mudança de valores, que depende principalmente da mídia e das escolas — comentou. Para desenvolver a redação, o candidato tinha quatro conteúdos de apoio. Um deles era um cartaz de uma campanha contra o feminicídio. Também havia um gráfico com dados sobre o tipo de violência cometida contra mulheres, além de uma reportagem que abordava o impacto da Lei Maria da Penha e estatísticas do Mapa da Violência. Para a professora de redação do Colégio Objetivo, Cida Custódio, o tema trouxe uma discussão atual e fundamental: — A violência contra a mulher é indefensável, os candidatos não ficariam em dúvida sobre como abordar. Especialistas ligadas ao direito das mulheres também comentaram. Para Marlise Matos, coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher da Universidade Federal de Minas Gerais, a abordagem é oportuna. Ela destacou que isso também aconteceu no sábado, quando uma questão da prova de Ciências Humanas usou trecho da francesa Simone de Beauvoir, escritora e feminista. — Foi uma escolha feliz por fazer um contraponto num momento complicado no Brasil, em que sofremos ataques aos direitos das minorias, sobretudo no Congresso — avaliou Marlise. Por outro lado, o assunto também gerou polêmica. No sábado, o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) postou críticas à prova pelo Facebook. “Tão grave quanto a corrupção é a doutrinação imposta pelo PT junto a nossa juventude”, escreveu. O deputado Marco Feliciano (PSC) foi outro que se manifestou na rede social: “Vejo a imperiosa necessidade de questionar o exmo. ministro da Educação sobre a abordagem do assunto teoria de gênero, que já deveria estar sepultado.” Tão logo o tema da redação foi divulgado, comentários e piadas machistas correram as redes sociais. “O melhor jeito de acabar com a violência doméstica é minha roupa estar lavada e a comida estar na mesa na hora certa”, ironizou um usuário do Twitter. Mas a grande maioria dos posts elogiavam o conteúdo da prova. “Espero que os machistas que acham que a violência contra a mulher é algo normal saiam com vontade de pensar de outra forma”, escreveu um rapaz no Twitter. Participaram da cobertura Alessandro Giannini, Dandara Tinoco, Eduardo Vanini, Efrém Ribeiro, Elton Ponce, Flavia Aguiar, Giulia Mendes, Junia Gama, Paula Ferreira, Raphael Kapa, Renata Mariz, Sérgio Matsuura e Thais Skodowski. O GLOBO 26/10/15 SOCIEDADE O GLOBO 26/10/15 SOCIEDADE Matemática foi a parte mais difícil e teve ‘pegadinhas’, dizem professores Questões desta edição exigiram atenção a conceitos específicos e dedicação dos estudantes As provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) começaram a surpreender os professores desde o início da edição deste ano. Ontem, no segundo e último dia de prova, não foi diferente. A presença de um elemento que não costumava aparecer nos outros anos do Enem chamou atenção: as famosas “pegadinhas”. Professores do QG do Enem e da rede de ensino Eleva Educação corrigiram a prova deste domingo a pedido do GLOBO. Segundo Moysés Cohen, professor de Matemática, a avaliação desta disciplina veio recheada de artifícios que poderiam confundir os alunos. — Essa prova trouxe muitas questões com pegadinhas. Um aluno que não estivesse bastante atento acabaria errando. Isso é algo que não existia no Enem dos últimos anos — analisou Cohen. O professor afirmou ainda que a prova de Matemática foi mais trabalhosa e exigiu um pouco mais de conhecimento por parte dos candidatos: — Havia mais questões num nível médio de dificuldade do que fácil. Antes o que acontecia era o contrário. Além disso, apareceram pelo menos duas questões bem mais difíceis que o normal. Uma que envolvia logaritmo e conceitos de Bhaskara, e outra que exigia um conceito específico de trigonometria. De acordo com Márcio Cohen, também professor de matemática, apesar disso a prova manteve o perfil de trazer questões contextualizadas com o cotidiano. — Matemática vem apresentando uma linha constante de evolução. O Enem em geral foi bem contextualizado, e com surpresas. As chamadas pegadinhas realmente chamaram atenção — avaliou. A prova de Linguagens também trouxe um grau de dificuldade maior em relação às edições anteriores. Carolina Pavanelli, professora de Língua Portuguesa e Redação, considerou que as questões desse ano exigiram uma dedicação que os alunos não estão acostumados a dispensar na prova da disciplina. — Quem deixa a prova de Linguagens por último porque acha mais fácil teve um baque desta vez. Normalmente existem duas questões que geram mais dúvidas, mas desta vez o número foi maior. Eram questões difíceis. Se a redação ficou mais fácil em relação ao ano passado, a prova de linguagens ficou mais difícil. Uma coisa compensou a outra — comentou Carolina. A professora também chamou atenção para a presença de questões abordando a linguagem indígena e africana, algo que ainda não havia aparecido nas provas do Enem. Ao contrário dos outros anos, também houve presença forte de questões de Literatura: — Quem pensou que encontraria só questões de interpretação se surpreendeu. O GLOBO 26/10/15 SOCIEDADE Exame tem 740 eliminados por descumprir regras Número é 50% menor do que ano passado; estudante em Belo Horizonte foi desclassificado por uso de lápis -BELO HORIZONTE E BRASÍLIA- O estudante Elvis John, de 18 anos, se preparou, chegou cedo para fazer as provas, mas foi eliminado do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) por um detalhe: o uso de um lápis para fazer o rascunho da redação. Ele foi um dos 740 candidatos que perderam a chance de concorrer a uma vaga no ensino superior na edição deste ano do concurso por descumprimento das regras. GIULIA MENDES Regras rígidas. Elvis John foi eliminado por usar lápis para fazer a redação — Já tinha feito a prova toda, só faltava a redação, não sabia que não podia escrever o rascunho de lápis — lamentou Elvis, que fez o Enem na PUC-Minas, em Belo Horizonte. O número total de eliminados este ano foi 50% menor do que em 2014, quando 1.519 foram desclassificados. — As providências de segurança, como uso de detectores de metal e treinamento dos fiscais, estão surtindo efeito — disse o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, após o exame. Pela primeira vez, fiscais tiveram um período de 30 minutos entre o fechamento dos portões e o início das provas para inspeções de segurança. Do total de eliminados, 63 foram flagrados pelo detector de metais, e o restante desrespeitou outras normas do concurso, como o porte de equipamentos eletrônicos ou de material impresso. Destaque para a redução no número de candidatos que postaram fotos em redes sociais de dentro dos locais de prova. Em 2014 foram 236, contra três este ano: um no sábado e dois no domingo. A fiscalização foi rígida, até mesmo para pequenos deslizes como o cometido por Elvis John. Ele chegou a fazer toda a prova objetiva e, para escrever a redação, usou o lápis. Pelas regras, ele deveria usar apenas caneta transparente de tinta preta. Em Macapá, no Amapá, o estudante João Flávio Ribeiro, de 21 anos, foi eliminado após ir ao banheiro com um chaveiro com o controle remoto do portão de casa. O MEC destacou a taxa de abstenções, a menor desde a reforma do Enem, em 2009. Dos 7,7 milhões de inscritos, 25,5% não compareceram aos locais de prova. Contudo, Mercadante reconheceu que a queda “não é tão significativa” em relação a 2014, quando 28,9% dos candidatos faltaram. Para reduzir os custos, o ministério adotou algumas políticas nesta edição, como o reajuste no valor de inscrição, de R$ 35 para R$ 64, e o corte da isenção de taxa para alunos faltosos no concurso do ano que vem. — O benefício da isenção tem que ser condicionado a regras claras: alunos de escola pública e carente. Quem tem benefício, mas não o exerce, perde— disse o ministro. — A motivação para fazer o Enem vem crescendo. O ministério também divulgou os eventos que complicaram a realização dos exames em algumas praças. Ao todo, foram nove emergências médicas — cinco no sábado, incluindo o óbito de uma fiscal de provas, e quatro no domingo — e 23 interrupções no fornecimento de energia. Em um colégio em Marituba, no Pará, a falta de luz foi prolongada, e os 661 candidatos terão que refazer as provas nos dias 1 e 2 de dezembro, junto com os estudantes de Rio do Sul e Taió, que tiveram o concurso suspenso por causa das chuvas. FOLHA DE SÃO PAULO 26/10/15 COTIDIANO FOLHA DE SÃO PAULO 26/10/15 COTIDIANO FOLHA DE SÃO PAULO 26/10/15 COTIDIANO 28/10/15 PÁGINAS AMARELAS César Camacho Caminho para a excelência Um dos responsáveis por fazer do Impa um centro de relevo mundial na matemática diz que o mais difícil é escapar do peso do Estado, que emperra a pesquisa de alto nível no Brasil Instalado em meio à Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro, o Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa) ganhou relevância mundial levando o conceito da meritocracia às últimas consequências e desviando-se, sempre que possível, das amarras da burocracia federal. Em 2014, um pesquisador de lá conquistou a medalha Fields, que ombreia em prestígio com o Nobel. Um de seus mais antigos quadros é o matemático peruano César Camacho, 72 anos de idade e cinquenta de Brasil. Doutor pela Universidade da Califórnia em Berkeley, ele tornou-se testemunha e protagonista da história do Impa, fundado em 1952, que comandou nos últimos doze anos. Prestes a deixar o cargo (mas não o instituto), Camacho está convencido de que só um choque de gestão elevará as universidades brasileiras também ao topo da pesquisa. Como o Impa conseguiu estatura internacional enquanto a grande maioria dos centros de pesquisa no Brasil não tem nenhuma visibilidade? No DNA do Impa sempre houve a ambição de competir com os melhores do mundo. E sabemos que não há caminho para alcançar excelência máxima que não conte com mentes do mais alto nível, de dentro e de fora do país. Por isso, sempre fomos absolutamente intransigentes com a mediocridade, sem nenhum tipo de condescendência. Um matemático só se torna pesquisador permanente do instituto depois de quatro anos sendo avaliado, em caráter probatório, como ocorre em universidades americanas. Se não vai bem, ele é expelido por um sistema guiado única e exclusivamente pelo mérito, e não por interesses individuais ou de grupos. Por que não funciona assim nas universidades que produzem pesquisa no Brasil? Ali, muitas vezes, interesses alheios à produtividade sobrepõem-se aos demais. Para apaziguar disputas internas, não é raro que se criem divisões na pesquisa e novos departamentos. E quando os interesses de grupo falam mais alto do que o propósito comum. Não estou dizendo que em nossas universidades não existem pesquisadores de alto gabarito, sintonizados com os avanços e procedimentos dos melhores do mundo. Mas muitos deles acabam engolidos por um sistema que claramente não é feito para competir. Quais são os grandes obstáculos? As universidades brasileiras padecem do mesmo mal de outras instituições latino-americanas: estão todas engessadas por regras que impedem a busca pelos mais talentosos. Os concursos públicos recrutam gente que terá sua vaga garantida até a aposentadoria, à revelia dos resultados obtidos ao longo do trabalho. Essas pessoas não podem ser dispensadas. O sistema em vigor, em geral, ainda restringe a prova a quem fala português, uma limitação grave. Se você pode abrir seu leque de escolhas ao mundo inteiro, por que estabelecer uma norma que deixa de fora tantos estrangeiros? Os países de maior sucesso acadêmico caçam mentes brilhantes independentemente de fronteiras geográficas, e vão longe. Esses são alguns dos nós na cartilha de gestão das universidades que refreiam o progresso da pesquisa no país. Dinheiro também é um problema? Na comparação internacional, é verdade que o Brasil investe pouco em ciência e tecnologia. Enquanto os países mais desenvolvidos destinam em torno de 2,5% de seu PIB à área, os brasileiros não 28/10/15 chegam à metade disso. Mais recursos, portanto, ajudariam a expandir a pesquisa. Só que ainda faltariam os mecanismos essenciais para tornar as universidades competitivas no tabuleiro global. Além de mais liberdade para recrutar talentos, que mudanças precisam ocorrer nos centros de pesquisa para que se tornem mais competitivos? O modelo existente tem de ser inteiramente repensado. Hoje ele é voltado para dentro e não para fora dos muros universitários. Levanto aqui uma questão que considero das mais relevantes. Por que os reitores não podem ser executivos recrutados no mercado e talhados para a gestão, como acontece em tantos outros países? Por que eles precisam vir do corpo docente? A resposta reside em uma única palavra: corporativismo. A escolha acaba assim tendo um viés mais político do que meritocrático. Nenhuma universidade brasileira aparece entre as 100 melhores do mundo nos mais respeitados rankings internacionais. Elas têm, afinal, essa ambição? Do jeito que estão programadas para funcionar, fica difícil pensar em um projeto consistente, para daqui a cinquenta anos, visando ao pódio mundial. Os planos sempre vão depender do próximo reitor, que pode emergir de outra corrente ideológica e querer mudar tudo o que seu antecessor plantou. As universidades públicas no Brasil são instituições políticas que se devoram. Os que se destacam lá dentro, normalmente, vão adiante por iniciativas pessoais. É gente ao mesmo tempo muito capacitada e disposta a lutar contra as amarras da burocracia. Aliás, nunca vi nenhum reitor aqui dizer que tem por meta figurar entre os melhores do planeta. Quais são os riscos de ser uma exceção, como é o caso do Impa? O princípio geral é que uma ilha de excelência sempre corre perigo porque a entropia trabalha para torná-la igual ao ambiente mediano ao redor. É preciso de uma vez por todas disseminar boas práticas em outras instituições. Do contrário, o governo pode subitamente baixar uma regra que abranja a todos, alterando a lógica da meritocracia que sempre regeu o instituto. Já houve algum caso concreto nesses sessenta anos? Um episódio nos preocupou por seu potencial de pôr em xeque os princípios nos quais sempre nos baseamos. Quando veio a Constituição de 1988, ela definiu um regime único de contratação para 100% das universidades e núcleos de pesquisa federais, eliminando por uma década no Impa o sistema que nos permitia recrutar em caráter probatório, com a possibilidade de demitir quadros de baixa produtividade. A partir de 88, os pesquisadores passaram a ser chamados via concurso público, com as devidas garantias que essa carreira proporciona. Foi uma camisa de força com a qual tivemos de conviver. Um grande risco à qualidade. Como a história se reverteu? Em 2000, o governo federal abriu uma brecha importante, que o Impa aproveitou prontamente. O Ministério da Ciência e Tecnologia ofereceu a certos centros de pesquisa a ele ligados uma mudança de status: poderiam virar organização social, uma OS. O dinheiro viria sem carimbos, assim como as regras de gestão seriam definidas internamente, desde que cumprissem metas preestabelecidas. Aceitamos de bom grado, mas outros foram contra a ideia do ministério. Havia de fato um risco. A OS é uma organização privada. Fora do regime estatal, como garantir que o governo pagaria os salários? Também entrou em campo um discurso superficial e ideológico do tipo "isso não pode, estão privatizando o que é público". Esse poderia ser um caminho para as universidades federais? Nunca se ofereceu tal regime às universidades, mas tenho dúvida de que elas aceitariam. Afinal, isso traria vulnerabilidade a quem tem o emprego garantido e atingiria em cheio o coração do corporativismo. É preciso ter elevado grau de confiança para condicionar o repasse de dinheiro a metas ambiciosas. Como um centro de pesquisa que vive basicamente de verbas federais consegue há tanto tempo blindar-se contra decisões vindas da esfera política, como indicações para altos cargos? Além de acolher riscos quando eles podem trazer grandes avanços e tentar fugir sempre que der do 28/10/15 gesso público, há que ter no Brasil também um pouco de sorte. Olhe o nosso caso. As bases da pesquisa brasileira foram fincadas nos anos 1950, com o aparecimento da Capes e do CNPq, mas o Estado passou a apoiar a ciência para valer na década seguinte, enviando centenas de estudantes para o exterior. O Impa havia surgido, em 1952, pelas mãos de três matemáticos. Era portanto mínimo num tempo em que não havia ainda cérebros disponíveis. Essa foi uma sorte: se fosse maior, mais rico e vistoso, certamente se teria transformado em um cabide de empregos. Mas ficou meio que adormecido naqueles anos, para vir a despertar quando jovens muito bem formados começaram a regressar ao país. O senhor considera a exposição à cultura de universidades estrangeiras importante para moldar as instituições daqui? A influência americana na matemática brasileira foi determinante. Ela é muito objetiva e direta; menos teórica e mais baseada em problemas. Mas também lemos muito os franceses. Culturalmente, ir para fora reforça a ideia de que não há trilha para a qualidade que não passe pela valorização de talentos. Incute ainda um espírito empreendedor precioso aos pesquisadores. Falta uma maior integração entre a pesquisa e a indústria no Brasil? Sem dúvida. Esse elo acontece em casos isolados, mas está longe de ser regra. A ligação entre as duas partes requer justamente mentes empreendedoras e a organização de redes de cientistas de diferentes formações debruçados sobre um mesmo problema concreto do setor produtivo. Estamos falando aqui de algo distante da clássica postura do pesquisador brasileiro, interessado em resolver os próprios problemas restritos à sua área de atuação. Isso é necessário, claro, mas não suficiente em um país que quer ter condições de disputar lugar entre os grandes. O Impa também sofreu com os recentes cortes no orçamento para a pesquisa? Por enquanto, não. Mas só Brasília sabe dizer se haverá cortes mais adiante. O momento é de apreensão na academia. O que o senhor aprendeu com sua experiência de percorrer gabinetes em Brasília em busca de apoio e recursos? Brasília não é para amadores. Ali, é preciso construir caminhos para ter acesso aos centros de decisão maior. A olimpíada de matemática que organizamos (Obmep) funcionou como um bom cartão de visitas. É investimento público de grande visibilidade, chega aos estratos mais baixos de renda e efetivamente encaminha meninas e meninos talentosos a carreiras universitárias de qualidade. O Brasil aproveita mal os seus talentos? Não há dúvida. A olimpíada, inclusive, tem lançado luz sobre vários alunos de alto potencial que ficariam no meio do caminho se não tivessem recebido um empurrão. Imagine quantos ainda estão invisíveis por aí. Eles precisam ser rastreados, lapidados e levados adiante por várias vias. Nenhum país pode se dar ao luxo de desperdiçar seus talentos. A medalha Fields conquistada pelo matemático Artur Avila deu maior projeção ao Impa? Deu, e, quanto mais o tempo passa, isso se faz sentir. O próprio Artur experimentou momentos de pop star, virando ídolo de uma meninada que, quem sabe um dia, pode vir a se interessar por matemática na vida adulta. O Brasil está discutindo os rumos de seu primeiro currículo nacional. O castigado ensino da matemática no país pode se beneficiar da medida? É louvável que estejam providenciando um currículo unificado que sirva de roteiro e dê clareza sobre as metas de ensino. Mas essa é apenas a casca do problema. Sem um mestre que domine minimamente o conteúdo e que tenha capacidade para transmiti-lo, o currículo periga virar peça decorativa. É emergencial, portanto, aumentar o nível das faculdades que ainda preparam mal os aspirantes à docência. Esse é um papel para o governo federal. Especialmente na matemática — disciplina em que o aluno, se não assimila um conceito, fica boiando no seguinte —, um professor ruim representa grande perigo. Ele pode comprometer o futuro do estudante e do próprio país. 28/10/15 ARTIGO O valor do sabe medido em quilos Eduardo Oineque Em um país burocrático, cartorial, extremamente regulamentado, de alta e complexa carga tributária, com baixo nível educacional e baixíssima produtividade, o estímulo à competição tende a zero O Brasil exportou 225 bilhões de dólares em 2014 com uma pauta diversificada. Adubo, aeronaves, álcool, cerâmica, chocolate, ferragens, frutas, grãos, madeira, móveis, plástico, produtos farmacêuticos, refrigeradores, veículos, vidro. São 7 000 itens diferentes. Cinco deles, no entanto, concentram mais de 40% do valor das vendas — açúcar, carne, soja, petróleo e minério de ferro. O minério de ferro, que trouxe 26 bilhões de dólares em divisas para o Brasil no ano passado, exige gigantesca infraestrutura. Os caminhões nas minas têm 8 metros de altura. Só o pneu tem 4 metros. Em terra, antes de chegarem aos portos, os trens de minério formam gigantescas lagartas mecânicas de até 3,5 quilômetros sobre os trilhos. Em comprimento, os navios, de 340 metros, ocupariam quase quatro quarteirões. Tudo é superlativo quando se trata de minério de ferro. Tudo? Bem, quase tudo. O preço não é. Uma tonelada de minério de ferro vale 210 reais. Já custou mais que o triplo — 677 reais — em 2011, mas desde então perdeu dois terços do valor. Ferro, açúcar, carne, soja e petróleo são matériasprimas, ou commodities, termo em inglês universalmente consagrado para definir esses itens de exportação. As commodities têm várias características positivas. São essenciais, todo mundo precisa, todo mundo compra. São comercializadas em larga escala. Não ficam tecnologicamente ultrapassadas e nunca saem nem entram na moda. Ninguém diz “Você precisa ver as commodities que eu comprei em Londres”. O bom desempenho econômico do Brasil nos últimos anos e o equilíbrio das contas externas se devem à constante demanda mundial por esses produtos. Mas as commodities têm suas fragilidades. A mais assustadora é a volatilidade de preços. A exemplo do ferro, o preço do petróleo também desabou. O barril, cotado agora a 49 dólares, variou nos últimos quinze anos de um mínimo de 23 dólares (dezembro de 2000) a um máximo de 125 dólares (abril de 2011). Os preços das commodities são fixados em bolsas internacionais com base nos movimentos de oferta e procura e, portanto, dissociados das vontades do produtor. Daí por que é altamente recomendável que um país fortemente exportador de commodities invista paralelamente no desenvolvimento de produtos e serviços de consumo mundial que, no jargão dos economistas, “agreguem valor”. E o que significa agregar valor? Digamos que todos os produtos, mesmo os indivisíveis, pudessem ser comprados por quilo. Um quilo de minério de ferro custaria 21 centavos. Um quilo de leite, cerca de 2 reais. Já 1 quilo do carro popular zero-quilômetro mais vendido no Brasil, que pesa 920 quilos e é comercializado a 28 000 reais nas concessionárias, custaria 30 reais, o mesmo valor cobrado nos supermercados por 1 quilo de queijo fatiado. O que ocorreu na transformação de ferro (e, claro, outros insumos) em carro e de leite em queijo é o que os economistas chamam de agregação de valor. A tecnologia e o saber adicionaram valor ao leite e ao ferro, de modo que o produto final pôde ser ofertado a um preço bem maior do que a simples soma aritmética dos insumos utilizados em seu fabrico. Conhecimento e tecnologia são a chave. Automóveis mais avançados valem mais por quilo do que o carro popular. O quilo de um Ford Fusion pode ser vendido a 90 reais. O quilo de um BMW X6 chega a 233 reais. Ficou claro? Se não ficou, faça o exercício inverso. Pegue o carro popular comprado a 28 000 reais e procure um ferro-velho. Sabe quanto pagará por ele? Os 21 centavos por quilo do ferro. Daria 193 reais no 28/10/15 total, o equivalente a 0,7% do preço do carro novo com valor agregado pela marca, pelo estilo e pela tecnologia embarcada. A agregação de valor está na base do processo de enriquecimento das nações. Nações mais desenvolvidas vendem produtos mais elaborados. O produto interno bruto dos Estados Unidos quadruplicou em valor nos últimos cinquenta anos. Já o peso físico dessa produção toda se manteve mais ou menos inalterado. Os principais produtos da pauta de exportação da Alemanha são reatores nucleares, caldeiras, máquinas, aparelhos, automóveis, tratores, material elétrico e artigos farmacêuticos. Em 2014, as cinco principais commodities brasileiras exportadas renderam ao país 100 bilhões de dólares. No mesmo ano, só as vendas do iPhone renderam à Apple os mesmos 100 bilhões de dólares. Tudo calculado, descobre-se que a Apple precisou de apenas 24600 toneladas de iPhone para atingir o valor obtido pelo Brasil com a venda de um volume de commodities que se conta na casa das centenas de milhões de toneladas — só de minério de ferro foram 344 milhões. Colocado de forma ainda mais dramática: para faturar o mesmo que a Apple fatura com um único iPhone, o Brasil precisa exportar 8 toneladas de minério de ferro. O que nos salva — e de certa forma consola — é a crescente utilização de alta tecnologia na produção de commodities. A produção agrícola nacional mais do que triplicou em vinte anos, e a produtividade teve uma das maiores taxas de crescimento do mundo. O campo brasileiro é atualmente o mais capitalista do planeta. A safra bate recordes seguidos todo ano — e deve repetir o feito em 2015. Temos a maior produtividade mundial em algodão e em soja. A exportação de celulose mais do que triplicou em alguns anos. Somos recordistas em produção de laranja e é brasileira a maior empresa de processamento de proteína animal do mundo. Não podemos perder terreno nesse campo de modo algum. Mas também não podemos depender apenas de commodities, cujos preços são definidos por terceiros, segundo variáveis externas e internas incontroláveis. Investir em produtos de maior valor agregado é, portanto, uma forma não apenas de qualificar e fortalecer a economia, mas de diminuir a exposição a riscos. Fazer isso, no entanto, significa entrar em uma guerra igualmente cheia de desafios. Requer o acesso a investimentos e a garantia de educação de qualidade. O grupo dos países que exportam produtos de maior valor agregado investe pesado no ensino e na formação de cientistas. É preciso aplicar volumes monumentais de recursos em pesquisa e tecnologia para que um dia apareçam descobertas científicas que possam ser rapidamente transformadas em produtos e tecnologias comercialmente viáveis. Também não se chegará a canto algum sem o fortalecimento da indústria nacional e o estímulo à inovação. A indústria nacional vem perdendo espaço na economia, e seu grau de inovação é limitadíssimo. Uma pesquisa recente feita pela Confederação Nacional da Indústria mostrou que, para o empresário, a competição é o principal estímulo à inovação. Em um país burocrático, cartorial, extremamente regulamentado, de alta e complexa carga tributária, com baixo nível educacional e baixíssima produtividade, o estímulo à competição tende a zero. Vale mais aplicar os recursos excedentes no rentável mercado de papéis do governo do que arriscarse no desenvolvimento, fabricação e venda de um produto verdadeiramente inovador. A prova dessa limitação aparece no ranking internacional de países segundo o número de patentes registradas. O total de patentes que o Brasil precisa de um ano para registrar, o Reino Unido o faz em um único mês; a Coreia do Sul em vinte dias — e os Estados Unidos em apenas uma semana. Enquanto Brasília discute a baixa política, a Terra continua a dar uma volta em torno de seu eixo a cada dia e uma volta em torno do Sol a cada ano — e a cada novo raiar do dia o mundo lá fora está dizendo que não vai esperar pelo amadurecimento do Brasil. O GLOBO 25/10/15 O PAÍS Tempo parado entre a economia e a política Nos últimos 12 meses, governo navegou na tempestade da relação com o Congresso, da alta do dólar e da inflação SIMONE IGLESIAS CATARINA ALENCASTRO Passado um ano da reeleição da presidente Dilma Rousseff, que se completa amanhã, o país vive uma sensação de tempo perdido. A deterioração política virou combustível para a crise econômica, criando um círculo vicioso que o governo parece incapaz de romper. De outubro de 2014 até hoje, a situação da economia piorou, e a relação com o Congresso — ruim desde sempre — oscilou, mantendo-se o quadro de incapacidade de conquistar uma maioria governista fiel. Apesar do momento difícil, na avaliação de integrantes do governo, o mandato não está comprometido, e há saídas para a crise. A estabilidade na relação com o Congresso e a aprovação do ajuste fiscal são, segundo auxiliares presidenciais, cruciais para um novo ciclo. A receita é antiga, mas não foi cumprida nos últimos 12 meses. Na avaliação de ministros, Dilma tomou decisões erradas desde a reeleição, construindo seu novo governo sem ouvir os aliados, o PT e o expresidente Lula — acabou se isolando. Somado a isso, “caiu na armadilha” de estabelecer prazos e metas inexequíveis, especialmente em momento difícil da economia. Os dados mostram o tamanho da deterioração econômica. Quando foi reeleita, em outubro do ano passado, o dólar custava R$ 2,46, contra R$ 3,90 desta semana; a inflação anual estava em 6,75%, contra os 9,77% atuais; e a dívida bruta do setor público figurava em 61,7% do PIB, contra os 65,3% do mês passado. Pior: entre o 2º trimestre do ano passado e o deste ano, a economia regrediu 1,9%. Agora, a ordem é correr contra o tempo para estancar a sangria. Para isso, o governo quer contar com o principal algoz, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Para o Planalto, apoiar a estabilidade e o ajuste seria uma forma de Cunha manter do seu lado o apoio do empresariado, já que está vendo a adesão entre os partidos diminuir, na medida em que aumentam as denúncias de corrupção e lavagem de dinheiro. No governo, ninguém trabalha com a ideia de que Cunha deixará nas próximas semanas o comando da Casa, e este período é essencial para a aprovação do pacote. — Cunha é inteligente e sabe que não pode ser contra a agenda do crescimento, porque é pior para ele virar um problema para o Brasil. É uma questão de sobrevivência para ele manter imagem neutra e Expectativa e realidade. Dilma e Temer durante a cerimônia de posse para o segundo mandato, em janeiro, no Palácio do Planalto ser um agente da estabilidade — disse um ministro. Para garantir crescimento, o Executivo admite rever pontos do ajuste, como recriar a CPMF. Há setores do governo trabalhando com o aumento de arrecadação pela Cide, com a legalização dos jogos presenciais e eletrônicos, e também com anúncio de novo Refis (Programa de Recuperação Fiscal). — Se a gente conseguir aprovar a repatriação, a desvinculação de receitas da União e trabalhar com alternativas à CPMF, conseguiremos criar uma agenda e possibilitar um novo cenário de crescimento — avaliou um auxiliar presidencial. Ao falar no futuro, integrantes do governo voltam ao começo deste ano para exemplificar os motivos pelos quais o cenário ficou tão ruim: Dilma cometeu muitos erros. — Ela está enfrentando um batismo de fogo. Até a reeleição, administrou ancorada no Lula. Depois, confessou aos mais próximos que faria deste um governo com a cara dela. Foi altamente testada com a falta de apoio no Congresso, a ação do Tribunal de Contas, a Lava-Jato. Com isso, pode ter criado 25/10/15 condições para se firmar com as próprias forças — afirmou um ministro que pediu reserva ao GLOBO. O ex-ministro Delfim Netto, que foi conselheiro informal de Dilma no primeiro mandato, afirmou que, para dar a volta por cima, a presidente tem que “enfrentar os panelaços” e ir para as ruas apontar soluções “pensando no futuro de seus netos”. — Evidente que há solução, o Brasil não vai terminar. A situação é delicada, há um problema fiscal muito sério, e isso é estrutural, então, não vai ser resolvido com pequenas medidas, insistindo em soluções pequenas diante deste problema, como solucionar o superávit primário. É preciso uma ação muito forte, que faça o governo retomar o protagonismo — afirmou Delfim. Delfim crê que, daqui a dez anos, o Brasil terá crescimento de um ponto a mais no PIB por respeitar as instituições e evitar o afastamento de Dilma: — É melhor o Brasil ser visto como país que respeita as suas instituições, não como pastelaria. O Brasil não é uma pastelaria. Vai passar por isso, e daqui a dez anos vamos crescer 1% a mais ao ano pelo fato de termos respeitado as nossas instituições — analisou. (Colaborou Gabriela Valente) O GLOBO 25/10/15 SOCIEDADE Desistência passa de 25% Primeiro dia do exame teve 1,8 milhão de faltosos, confusão com atrasos e lições de perseverança No primeiro dia do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), mais de 1,8 milhão de candidatos, ou 25,31% do total de inscritos apurados, não compareceram aos locais de prova, sendo que 837.612 nem chegaram a consultar o cartão de confirmação pela internet. No ano passado, o índice de abstenções foi de 28,64% nos dois dias. O estado da Paraíba registrou a menor taxa, com 20,67% de faltosos; e Roraima, a maior: 34,91%. No Rio, o percentual foi de 25,32%. De acordo com o Ministério da Educação, em todo o país 364 candidatos foram eliminados, sendo 330 por uso de material impresso, por ausentaremse antes do horário permitido ou por desobedecerem fiscais. Os 34 restantes foram flagrados por detectores de metal com equipamentos eletrônicos proibidos. — Houve mais de uma tentativa de usar ponto eletrônico para fazer a prova. Todos foram encaminhados à Polícia Federal — disse, em entrevista coletiva, o ministro Aloizio Mercadante. As provas aplicadas ontem foram de Ciências da Natureza e Ciências Humanas. Hoje, será dia de Redação, Linguagens e Matemática. Diferentemente de anos anteriores, apenas uma candidata foi eliminada por publicar fotos em redes sociais de dentro dos locais de prova. No ano passado, foram 236 casos. —Mas qualquer participante pode ser eliminado a qualquer tempo — alertou Mercadante. O primeiro dia de exame também registrou um óbito. Uma fiscal de prova de 22 anos passou mal antes do início das provas, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Segundo informações, ela teve convulsões devido a uma alergia. Levada a uma unidade de saúde, faleceu em seguida. CORRERIA NO FECHAMENTO DOS PORTÕES Os portões foram fechados pontualmente às 13h, pelo horário de Brasília, e, como de costume, houve desespero entre os atrasados. Em São Paulo, sete candidatos tentaram invadir o campus da Universidade Nove de Julho (Uninove), na Barra Funda. Eles afrouxaram as barras de uma grade lateral e se espremeram para entrar no prédio, mas foram impedidos por seguranças e policiais militares. Uma estudante, identificada apenas como Evelyn, desmaiou após o tumulto e foi socorrida por uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Alguns candidatos culparam a falta de sinalização nas entradas dos locais de prova. Graziele Santos Fernandes, de 30 anos, e seu primo, Gabriel Ribeiro, perderam o exame. Chegaram às 12h55m, mas perceberam que estavam no portão errado da Uninove. O ministro Mercadante lamentou o episódio, mas afirmou que os culpados são os próprios candidatos. — Por que 25 mil entraram e cinco ou seis não conseguiram? O problema foi a sinalização? — provocou Mercadante. No Rio, os professores Augusto Melo e Victor Roberto, do curso Reforço, em Niterói, cumpriram uma aposta feita com alunos e foram para a prova fantasiados de Batman e Robin. Só houve um problema: a dupla dinâmica foi para o local errado. — Fizemos uma aposta com os alunos de que viríamos para a prova assim. Só não reparamos que o cartão de confirmação dizia que o local de prova era no campus da Uerj em São Gonçalo. Viemos para o Maracanã — contou Melo. Felizmente, a maioria dos candidatos se programou para chegar com tranquilidade. No Recife, uma tenda de oração foi montada perto da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) para motivar as pessoas. Na Uninove, em São Paulo, um professor que montou um quadro branco na rua foi cercado de estudantes interessados na última revisão. 25/10/15 Candidatos de todas as idades levaram histórias de perseverança. Em Belo Horizonte, a baiana Vanessa do Amaral, de 23 anos, que tem lesão na medula espinhal e por isso se locomove numa cadeira de rodas, chegou à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para fazer o Enem pela segunda vez. Quer estudar Psicologia. Na Uerj, antes do início das provas, o aposentado Carlos Alberto Barbosa, de 84 anos, estava ansioso. Ele participa do exame pela quarta vez. — Sempre quis ser médico, cheguei a ficar na lista de espera do vestibular para Medicina em 1967. Agora, quero fazer faculdade de Biologia — disse o exfuncionário da Comlurb, que tem três filhas, cinco netos e dois bisnetos. Já a estudante Camila Tobolski, de 23 anos, chegou à Uerj com a filha Ariel, de 3 meses. O sonho da jovem é cursar Publicidade. Por causa da filha recém-nascida, pensou em adiar os planos, mas, em cima da hora, mudou de ideia. Durante a prova, o bebê ficou em uma sala separada, sob os cuidados da avó, Ana Cláudia. — Não ia fazer a prova por conta da minha filha, mas resolvi participar. Não me preparei muito bem, devido aos cuidados com ela — contou Camila. — Esse foi o maior tempo que ficamos separadas em toda a vida da Ariel. Participaram da cobertura Alessandro Giannini, Eduardo Vanini, Efrém Ribeiro, Elton Ponce, Flavia Aguiar, Giulia Mendes, Junia Gama, Paula Ferreira, Raphael Kapa, Renata Mariz, Sergio Matsuura e Thais Skodowski O GLOBO 25/10/15 SOCIEDADE Provas foram mais exigentes do que em anos anteriores Questões cobraram muito conteúdo dos candidatos, afirmam professores Igualdade de gênero, crise hídrica, questão ambiental e até mesmo a “obsessão das selfies” foram alguns dos assuntos abordados em questões do primeiro dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), conhecido por recorrer a temas do cotidiano. Mas, para a surpresa de professores da rede de ensino Eleva Educação e QG do Enem, especialistas no processo seletivo do MEC ouvidos pelo GLOBO, as provas de Ciências Humanas e Ciências da Natureza este ano estavam muito mais exigentes do que nas edições anteriores. — Caíram conteúdos que nunca haviam aparecido, com questões mais difíceis e elaboradas que nos anos anteriores. A prova de Ciências da Natureza foi, certamente, a mais difícil dos últimos anos. Houve uma questão sobre interferência de ondas que nunca foi cobrada no Enem e que também não costuma aparecer em outros vestibulares do Rio — avaliou o professor de física Fábio Oliveira. — É um conteúdo superespecífico, que, geralmente, não é nem ensinado com profundidade nos colégios. Esta questão deve ter deixado muitos estudantes sem saber o que fazer. Mesmo o bom aluno não costuma estudar isso. Bastante comentada pelos estudantes, a prova de química também apresentou surpresas na edição deste ano. De acordo com o professor da disciplina Leonardo Fillipe, apesar de a prova manter a contextualização com uma dose de realidade, essa parte do exame se tornou mais complexa: — Apareceram questões sobre reações orgânicas, algo que raramente é cobrado. Houve muitas questões sobre isso. Não sei se é audacioso dizer, mas talvez essa tenha sido a prova mais conteudista dos últimos tempos, mudou bastante a cara. Não perderam a contextualização das questões, o que sempre foi uma marca do Enem, mas o exame deste ano se concentrou em nichos diferentes. O professor de biologia Pedro Sultano também enxergou temáticas novas, como perguntas sobre o sistema excretor e funções básicas de organelas celulares. — Com o passar dos anos, o exame vem melhorando em termos de conteúdo e aprofundamento da matéria. A prova vem assumindo uma nova cara— avaliou Sultano. SIMONE DE BEAUVOIR A parte de Ciências Humanas foi bastante elogiada pelos professores, que classificaram o Enem como uma prova “extremamente bem feita”. Segundo Marcelo Tavares, que ensina História, o exame trabalhou assuntos importantes, que estão na “crista da onda”, de maneira complexa. — Em alguns pontos foi mais difícil que no ano passado, mas foi uma prova de muita qualidade. Uma questão, com texto de Simone de Beauvoir, leva em consideração manifestações da década de 60 em favor das mulheres, que levanta um ponto superatual: a luta não só por liberdade sexual, mas, principalmente, da igualdade de gênero— analisou Tavares. Outro ponto inusitado foi o fato de a geografia física ter sido mais explorada que a geografia política. O professor Thiago Fernandes sentiu falta de geopolítica internacional nas questões do Enem. — Houve uma cobrança surpreendente de geografia física, algumas questões com nível de cobrança de terminologia bem alto. Especialmente de temas como erosão e conservação do solo— comentou o professor após a prova. FOLHA DE SÃO PAULO 25/10/15 MERCADO Recordar é viver: Dilma 2014 VINICIUS TORRES FREIRE Nas semanas que antecederam o segundo turno da eleição de 2014, havia uma brisa forte de otimismo no Brasil, apesar do clima político odiento, do noticiário crescente da roubança na Petrobras e do declínio econômico perceptível. Os humores melhoravam desde o início da campanha eleitoral, em meados do ano. O primeiro semestre fora de exasperações: protestos de rua, contra a Copa, contra tudo, incêndios de ônibus, greves de polícias, rolezinhos (lembra?). O desânimo econômico medido pelo Datafolha chegava a níveis vistos apenas nos piores dias de FHC. Em junho, 64% dos eleitores achavam que a inflação subiria. Um mês antes da eleição, ainda eram 50%. Na semana do segundo turno, apenas 31%. Em junho, eram 48% os que acreditavam em alta do desemprego; à beira da eleição, 26%. No caso da situação do país, seria pior para 36% em junho. Em outubro, 15%. Entende-se, pois, a explosão de pessimismo inédito em janeiro, exposta a traição do estelionato eleitoral; tais humores não vão escoar tão cedo. Recordar o logro é viver, vide os trechos do artigo publicado pela presidente-candidata nesta Folha, no dia da eleição. A reeleição faz um ano amanhã. "Diante da crise, ao contrário do que acontecia no passado, mantivemos o emprego e a renda. Hoje, enquanto boa parte do mundo desemprega e reduz salários e direitos, o Brasil tem a menor taxa de desemprego da sua história (4,9%) e continua a avançar na redução da pobreza e das desigualdades." O desemprego está em 7,6%. Deve chegar a 10% no fim de 2016. Não há dados suficientes para saber o que será da pobreza e da desigualdade neste ano. Em agosto, a renda do trabalho caía 4,3% nas seis maiores metrópoles, ante o ano passado. "Tudo isso foi acompanhado de um importante equilíbrio macroeconômico. Em meu governo, a inflação se manteve dentro do regime de metas. Governamos com responsabilidade fiscal...". O desequilíbrio macroeconômico é muito grave. Mesmo com uma recessão estimada em 3% para este ano, a inflação deve chegar a 10%, acima do limite superior de tolerância de descumprimento da meta, de 6,5%. As estimativas para 2016 se aproximam outra vez desse limite. A dívida do governo cresce sem limite. O deficit nominal, o excesso de gastos do governo, se aproxima de 10% do PIB, o maior em duas décadas. "Mas a grande prioridade estratégica do meu governo é e será a educação. Ela é fundamental para assegurar a competitividade do país e a continuidade dos processos de distribuição da renda." Além de cortar despesas em educação, nenhum programa foi lançado. Ainda não se sabe na prática (nem em teoria) o que Dilma quis promover com "Pátria Educadora". "...Implementamos o maior programa de ensino técnico da nossa história: o Pronatec... abrimos as portas das universidades para os mais precisavam, com o Prouni, o Reuni, as cotas, o Fies e o programa Ciência Sem Fronteiras. Este é um país que tem muito mais futuro." Os programas de subsídios à educação estão sendo drasticamente reduzidos, pois seus gastos cresceram de modo descontrolado, como reconheceu o próprio governo. "Vou dar absoluta prioridade à reforma política." Sem mais. FOLHA DE SÃO PAULO 25/10/15 COTIDIANO FOLHA DE SÃO PAULO 25/10/15 COTIDIANO FOLHA DE SÃO PAULO 25/10/15 COTIDIANO Estudantes trocam anotações em cadernos por foto da lousa no celular JULIANA GRAGNANI DE SÃO PAULO Copiar a lousa? Para que, se dá para fotografá-la? Estudantes de São Paulo usam agora um novo método para registrar a matéria ensinada pelo professor: tirar foto do quadro ao invés de copiar o conteúdo à mão, no caderno. Segundo os alunos, a lousa vai para o celular quando não dá tempo de copiá-la, quando dá preguiça, quando a lição é passada no fim da aula ou quando o desenho do professor é muito complexo (como os de biologia e química). Depois, as imagens circulam em grupos de salas no WhatsApp, aplicativo de mensagens pelo celular. O recurso é usado a partir do momento em que os jovens ganham celular –nos casos observados pela reportagem, pelo menos desde os 11 anos, no 6º ano– e com a anuência dos professores. Amanda, 16, aluna do Colégio Dante Alighieri, nos Jardins (zona oeste de SP), até criou pastas das disciplinas –como "história" e "biologia"– na galeria de fotos do celular para ficar organizado. João Vitor, 17, do Magno, diz que esse xerox moderno ajuda a passar o foco da escrita para o professor. Já Gustavo, também de 17, e aluno do Bandeirantes, admite que, "às vezes não dá tempo e, às é vezes, é a preguiça" que o motiva a tirar fotos. "Meu pai fala que, quando você escreve, aprende melhor", diz a aluna do Band Gabriela, 11. "Então eu tiro foto e depois passo para o papel." Psicóloga e professora da Faculdade de Educação da Unicamp, Ângela Soligo diz que não vê problema em tirar fotos da lousa, desde que o estudante se sinta confortável. "Muitos alunos precisam copiar para prestar atenção. Para eles, só tirar a foto não é tão adequado. Outros preferem e se dão melhor prestando atenção e não se distraindo com a cópia, daí a foto é uma vantagem", observa. É o argumento de Emerson Pereira, diretor de tecnologia educacional do Colégio Bandeirantes, na Vila Mariana (zona sul de SP). Ele diz que jovens assimilam o conteúdo de formas diferentes, e não é papel dos educadores inibir o mecanismo adotado por eles. Para o diretor do ensino médio do Móbile, Wilton Ormundo, "fotografar não faz o menor sentido". "A lousa é uma construção de um pensamento que 25/10/15 está sendo discutido em sala", diz. "Professores e alunos elaboram juntos um conceito. Com a foto, todo o mecanismo de construção desse saber se perde." Luciana Fevorini, diretora do colégio Equipe, em Higienópolis (região central de SP) diz que o recurso pode funcionar para um aluno que perdeu a aula, por exemplo, mas não deve ser corriqueiro. Um estudo da Universidade de Stanford, nos EUA, comparou a eficácia de anotações feitas à mão e pelo laptop. Os pesquisadores concluíram que a escrita era melhor para fixar o conteúdo visto em aula; ao usar o computador, os participantes testados só transcreviam sem reflexão. E anotar no caderno versus tirar foto da lousa? Segundo a psicóloga americana Pam Mueller, que coordenou a pesquisa, contar com o registro do celular no fim da aula pode atrapalhar a retenção de informação. "Quando você anota, você é forçado a processar a matéria", diz. 'CONSCIÊNCIA LIMPA' Consulte a galeria de fotos do smartphone de um adolescente. É provável que encontre muitas fotos de lousas, tiradas só para serem descartadas depois. Os adolescentes admitem que nem sempre reveem o conteúdo, mas se sentem seguros por tê-lo à mão. "Das cinco fotos que eu tirei hoje, só vou ver duas", diz um aluno do último ano do Bandeirantes. "A gente acaba tirando foto mais para ficar com a consciência limpa." "Com o caderno acontecia o mesmo", avalia a diretora do colégio Magno, Cláudia Tricate. "Há alunos que copiam e nunca mais olham o caderno, ou então que copiam o caderno do amigo para o professor passar o visto. Isso é do aluno, não tem nada a ver com a tecnologia", afirma a diretora. FOLHA DE SÃO PAULO 25/10/15 COTIDIANO Escolas em SP divergem sobre uso de smartphone nas salas de aula JULIANA GRAGNANI DE SÃO PAULO As cinco escolas no topo do ranking do Enem em São Paulo divergem quanto ao uso de celular em sala de aula. No colégio que ficou em primeiro lugar na prova de 2014, o Objetivo, há "um acordo de cavalheiros", segundo a coordenadora geral Vera Lúcia da Costa Antunes. A professora diz que o aluno tradicionalmente não usa celular durante a aula, mas a escola investe em recursos visuais e incentiva o uso do tablet. O estudante pode registrar a lousa com autorização do professor. Já no Bandeirantes, 5º no ranking do Enem do ano passado, o uso do celular é permitido – desde que não seja para atividades extraclasse. Segundo Emerson Pereira, diretor de tecnologia educacional da escola, alunos do 6º e do 7º ano usam cerca de 40 aplicativos. Para esses anos, o uso do tablet é obrigatório. "A sociedade está em rede. A escola não pode colocar um muro", justifica Pereira. No Vértice, 2º lugar no Enem, celular é proibido. O diretor do fundamental 2 e do ensino médio, Adilson Garcia, diz que "raramente os alunos podem utilizar o celular para pesquisa, sob supervisão dos professor ou, quando participam de projeto envolvendo foto nas aulas de artes". Slides das aulas são disponibilizados para suprir a necessidade da lousa, afirma. No Móbile, 3º no Enem, os celulares podem ser usados se houver necessidade pedagógica, mas não para fotografar a lousa, por exemplo. O Santa Cruz, 4º no Enem, informa que algumas atividades didáticas preveem a utilização do celular. Para Bruna Waitman, do Media Education Lab, empresa de inovação na área de educação, "quando a escola proíbe o uso do celular, ela inibe o aluno que poderia potencializar o aprendizado com aquela ferramenta". Waitman diz que as escolas que aceitam celular na sala dão aos alunos mais autonomia para decidir que forma de aprendizado é melhor, no caso das imagens de lousas. No Dante, placas em frente às salas alertam que é proibido tirar fotos ou gravar vídeos pelo celular sem a autorização do professor. Alunos dizem, porém, que a maioria permite fotografar o quadro. No colégio Equipe, o celular deve estar desligado e na mochila, porque chama a atenção do aluno, segundo a diretora Luciana Fevorini. As salas de aula do Magno têm QR codes (código de barras que podem ser escaneados por celulares e tablets) com informações como lição e cardápio do dia. O ESTADO DE S. PAULO 25/10/15 METRÓPOLE Enem tem abstenção de 25% no 1º dia e grupo tenta fraude JOSÉ MARIA TOMAZELA, LUIZ FERNANDO TOLEDO, PAULO SALDAÑA, RACHEL GAMARSKI E VICTOR VIEIRA - O ESTADO DE S. PAULO Candidatos com ponto eletrônico e jovem que tentou publicar prova foram eliminados no primeiro dia de provas SÃO PAULO - Apesar das novas regras para inibir faltosos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o primeiro dia de provas teve 25,31% de ausentes – 1,8 milhão dos 7,7 milhões de inscritos não fizeram o teste neste sábado, 24. O índice ainda é considerado alto se comparado a outros vestibulares, que têm taxas de abstenção inferiores a 10%. O Ministério da Educação (MEC) também eliminou 364 estudantes por violarem regras do edital. Neste ano, a pasta criou uma nova regra para inibir o número de ausentes no Enem. Candidatos isentos da taxa de inscrição que faltarem dois dias sem justificativa perdem o direito à gratuidade na edição seguinte da prova. Não precisam pagar candidatos de baixa renda e alunos da rede pública. No Enem 2014, a taxa de abstenção dos dois dias havia sido de 28,64%. A expectativa é que o impacto da mudança seja maior nas próximas edições. A queda na taxa de ausentes reduz o desperdício de dinheiro com impressão e transporte de provas. A nova regra sobre faltas também havia sido apontada pelo MEC como um dos motivos para a queda do número de participantes. O Enem teve 11% candidatos a menos do que em 2014. Foi o primeiro recuo desde 2009, quando o exame foi reformulado e passou a ser o principal vestibular do País. As 63 universidades federais usam o exame como parte ou como único o processo seletivo. O Enem também é obrigatório para concorrer à bolsas em faculdades privadas pelo ProUni e ao financiamento estudantil, o Fies. O balanço parcial é de 364 eliminados – 330 portavam equipamentos inadequados e 34 foram identificados pelos detectores de metal com objetos proibidos. Nos dois do Enem anterior, 1.519 foram eliminados por uso indevido de aparelhos. Entre os flagrados desta edição, alguns tinham pontos eletrônicos. A Polícia Federal está investigando os casos. “O ponto eletrônico não estava em uma única cidade e nem em um único Estado. Houve mais de uma tentativa e foram abertos inquéritos em todos os casos”, limitou-se a dizer o ministro da Educação, Aloizio Mercadante. Uma candidata usou redes sociais para publicar imagens da prova. A estudante assumiu o ato e foi eliminada. Nova data. As cidades de Taió e Rio do Sul, em Santa Catarina, são as únicas que poderão fazem o Enem em outra data, em decorrência das fortes chuvas das últimas semanas. Cerca de 4,5 mil alunos farão a prova até a primeira semana de dezembro. Dezenove locais tiveram quedas temporárias de energia, mas sem prejuízos. Uma aplicadora da prova morreu após convulsão no Mato Grosso do Sul. Em São Paulo e Belo Horizonte, atrasados culparam o trânsito. Em Sorocaba, parte dos candidatos desceu dos carros e chegou ao prédio da Unip a pé. Muitos deixaram para consultar de última hora o local de prova no sistema online. Após o meio-dia, eram 1,2 mil acessos a cada dez minutos. O ESTADO DE S. PAULO 25/10/15 METRÓPOLE Estudante tenta entrar à força para fazer o Enem e desmaia em SP O ESTADO DE S. PAULO 25/10/15 METRÓPOLE 25/10/15 O ESTADO DE S. PAULO 25/10/15 METRÓPOLE O ESTADO DE S. PAULO 25/10/15 METRÓPOLE 25/10/15 O ESTADO DE S. PAULO 25/10/15 ECONOMIA 25/10/15 O ESTADO DE S. PAULO 25/10/15 ECONOMIA CORREIO BRAZILIENSE 25/10/15 BRASIL EDUCAÇÃO » MEC comemora prova com poucos problemas No primeiro dia do Enem 2015, apenas um candidato foi desclassificado por postar foto do exame em rede social e a pasta não resgistrou falhas na segurança MARYNA LACERDA NATHÁLIA CARDIM João Pedro (D) e os colegas de cursinho só deixaram o local de prova após a liberação para sair com o caderno de questões Segurança e organização os pontos destacados pelo ministro da Educação, Aloizio Mercadante, no primeiro dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2015. Apesar das críticas de alguns candidatos de Sãoo Paulo em relação à sinalização dos pontos de avaliação, o exame foi avaliado como exitoso pelo ministro. No primeiro dia do certame, 7.369.321 milhões de candidatos de todo o país, responderam às questões de ciências humanas e ciências da natureza. Outros 1.865.255 milhão não compareceram aos locais de provas, o que corresponde 25,31% de abstenção. Além disso, 364 participantes foram eliminados, 330 deles por uso de equipamentos eletrônicos. Os outros 34 candidatos foram flagrados pelo detector de metais. Houve apenas uma expulsão por postagem de imagens da prova em redes sociais. As provas começaram às 13h, horário de Brasília, nos 14.455 locais distribuídos pelo país. Foram registrados apenas incidentes pontuais, como interrupção temporária de energia em 19 escolas, em diversos estados, mas não houve necessidade de estender o horário de aplicação. No entanto, cinco candidatos, na Uninove, em São Paulo, perderam a hora de entrada e tentaram invadir a instituição. Eles forçaram as barras dos portões e passaram entre elas. Houve empurra-empurra na porta. A Polícia Militar precisou tirar os candidatos da unidade. Uma delas desmaiou na calçada por causa da confusão. Em Campo Grande (MS), uma aplicadora de provas sofreu convulsão na sala de aula. Tatiana Macedo de Carvalho, 22 anos, foi atendida por uma equipe médica, mas não sobreviveu. Mais atenção A segurança nas redes sociais foi intensificada na edição deste ano e apenas uma pessoa foi impedida de permanecer na avaliação após ser identificada por postar uma foto do cartão de identificação em redes sociais. O Ministério da Educação (MEC) não divulgou o nome nem o local em que essa situação ocorreu. A Polícia Federal também flagrou tentativas de fraude por meio do uso de pontos eletrônicos em diversos estados. Investigações estão em curso para identificar se se tratam de quadrilhas. A avaliação do ministro foi positiva. “Nós tivemos, hoje, grande êxito. Não tivemos nenhum incidente que pudesse prejudicar a realização do exame. Os participantes tiveram as condições adequadas para fazer a prova. Estamos, portanto, celebrando um grande Enem. Bem organizado, seguro. Os nossos procedimentos e planejamentos se desenvolveram como nós prevíamos”, disse Mercadante. Expectativa Serão aplicadas, hoje, as provas de linguagens e códigos e de matemática. Além disso, os candidatos farão a redação. Por isso, o exame terá uma hora a mais de duração neste domingo e só terminará às 19h30. Ontem, por volta das 17h30, os candidatos começaram a deixar os locais do exame com os cadernos de prova em mãos. Os amigos Denise Cristiane Fonseca, 34 anos, Larissa de Oliveira, 20, Fábio José Pereira, 31, e Juciara Carneiro de Almeida, 25, combinaram de só 25/10/15 sair do exame quando o tempo terminasse, pois queriam levar o documento para casa. Fábio é projetista e tenta uma vaga pelo Programa Universidade para Todos (ProUni) no curso de engenharia civil. “Estou estudando para concurso e vou aproveitar matérias como português e matemática para me auxiliar também no Enem. Não achei o primeiro dia de prova tão difícil, mas tem muito texto, e isso toma muito tempo. Amanhã (hoje), acho que vai ser mais complicado. Estou ansioso para saber o tema da redação. O importante é vir mais descansado e também preparado para todas as horas de prova”, acredita. Outro grupo de estudantes de um mesmo cursinho do Distrito Federal também esperou o tempo limite para deixar o local de prova com os cadernos. Aluno do 2º ano do ensino médio, João Pedro Moretti Rangel, 16 anos, fez a prova como treineiro para testar os conhecimentos. Ele almeja entrar em uma universidade pública no curso de comunicação. “As questões estavam bem misturadas e eu consegui fazer o conteúdo do 1º e do 2º anos, mas, nos itens do 3º ano, tive mais dificuldade. Se comparar com a prova de amanhã (hoje), acho que foi menos cansativo, mas estava trabalhosa. Agora, acho que todo mundo fica na expectativa da redação”, ressalta. “Não tivemos nenhum incidente que pudesse prejudicar a realização do exame. Os participantes tiveram as condições adequadas para fazer a prova” Aloizio Mercadante, ministro da Educação ATENÇÃO Veja hoje à noite, no site do Correio, o gabarito extraoficial do Enem, elaborado pela equipe de professores do Sistema Ari de Sá. Essas respostas também estarão disponíveis na edição de amanhã do jornal. CORREIO BRAZILIENSE 25/10/15 CIDADES EDUCAÇÃO » DF tem abstenção de 29% O calor e a corrida dos atrasados marcaram o primeiro dia de provas do Enem. Candidatis que chegaram menos de cinco minutos depois do horário não conseguiram entrar. Hoje, estudantes farão as provas de linguagens e códigos e de matemática, além da redação » Alessandra Oliveira Especial para o Correio » Gláucia Chaves O tráfego próximo ao UniCeub estava intenso por volta das 13h Candidatos atrasados precisaram correr para pegar portões abertos Brenda saiu às 11h30 de casa, no Itapoã, mas não conseguiu entrar Otrânsito intenso nas proximidades dos locais de prova e, em alguns casos, a falta de planejamento, fez com que muitos candidatos ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2015 chegassem atrasados e perdessem o certame. A abstenção no Distrito Federal foi de 29,36%, superior à nacional, de 25,31%. Apesar de a chuva da última sexta-feira ter amenizado as altas temperaturas dos últimos dias, o clima não deu trégua no primeiro dia de provas. Além da caneta esferográfica preta, do documento de identificação original com foto e do cartão de confirmação da inscrição, a garrafa d’água tornou-se item obrigatório para a prova, graças ao calor de 31ºC, registrado na cidade pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Os portões foram fechados pontualmente às 13h. Alguns candidatos reclamaram da oferta insuficiente de transporte público e também de terem sido alocados em locais de prova muito distantes de onde moram. A estudante Brenda Fonseca, 18 anos, chegou a ver o portão fechando e correu, mas ficou de fora. “Meu irmão conseguiu entrar, ele correu mais rápido que eu, agora não sei o que faço”, disse. Brenda mora no Itapõa e saiu 11h30 de casa para chegar ao local da prova, na Asa Norte. “Eu estou decepcionada. Eles colocam a gente em um lugar distante, eu almoço de qualquer jeito para chegar aqui e acontece isso”, lamenta a estudante, que não sabe dizer se fará a segunda parte do exame hoje. Tempo para relaxar Quem chegou cedo conseguiu aproveitar o tempo antes da abertura dos portões para revisar conteúdos, ouvir música ou simplesmente se concentrar. Vanessa Barreira da Silva, 16 anos, foi a primeira a chegar ao Centro de Ensino Fundamental 1 (CEF 1) do Guará. Estudante do 3º ano do ensino médio, ela sonha com o diploma de advogada. Os estudos começaram para valer no ano passado: depois da escola, Vanessa estudava das 14h às 19h. Ela mora na Cidade Estrutural e se organizou para conseguir chegar com tempo de sobra para nada dar 25/10/15 errado: saiu de casa exatamente às 10h02. “Estou sempre muito atrasada, mas, hoje, sabia que, se deixasse para sair muito tarde, não chegaria a tempo”, justifica. O estudante Thiago Pereira Nonato, 17, também estava entre os primeiros a chegar ao local de prova do Guará. Visivelmente tenso, ele contou que se prepara para a prova desde o ano passado. Munido de duas barras de cereal e uma garrafa d’água, Thiago disse que refez todas as provas antigas, revisou os conteúdos e tirou todas as dúvidas na própria escola, já que não fez cursinho preparatório. “Vi na televisão que muita gente que chega um minuto atrasado não entra, fiquei com medo e preferi garantir”, contou o futuro educador físico. Essa foi a quarta vez que Érika Bezerra, 19, fez o Enem, agora, com um estímulo a mais. A mãe dela, Cleide Bezerra, 40, participou do exame com a filha. “O apoio dela ajuda a diminuir a tensão. Eu fico mais calma”, conta Érika. E ela tem motivos para ficar nervosa: está tentando uma vaga no curso de medicina, um dos mais concorridos. Cleide, que trabalha com contabilidade e sonha em fazer um curso na área, fez a prova por dois motivos: “Quero pegar o certificado de conclusão do ensino médio e também usar a nota para ingressar na universidade”. O companheirismo das duas não é só no dia da prova, mas também ao longo de toda a preparação, como conta Érika. “Eu faço cursinho, mas ajudo minha mãe em casa com as dúvidas dela e, assim, estudamos juntas”, relata. As duas fizeram a prova em uma escola particular na Asa Sul e moram no Lago Norte. “Sabemos que tem trânsito, por isso, nós nos organizamos para chegar mais cedo”, ressalta. Mãe e filha chegaram por volta de 11h da manhã e foram de carro para evitar qualquer estresse. CORREIO BRAZILIENSE 25/10/15 CIDADES Atualidades dominam Candidatos que fizeram a prova ontem destacaram os temas de atualidade cobrados, entre eles a crise hídrica, o grupo fundamentalista Estado Islâmico e discussões sobre gênero. Havia questões ainda que incluíram pensadores como David Hume, Karl Marx e Friedrich Nietzsche. opinou. A falta de água, inclusive, é a aposta do diretor para o tema da redação de amanhã. “A redação é o maior funil que existe para a aprovação do candidato”, alerta. “É um tema que pode ser abordado com muita força, mas a redação é uma antena social. É difícil saber qual tema será.” As questões de química foram consideradas as mais difíceis pela maioria e abordaram teoria de química orgânica. Em física, os candidatos encontraram itens sobre aceleração, e a parte de biologia abrangeu genética e citologia. Larissa de Oliveira, 20 anos, faz um curso técnico na área de edificações e pretende usar a nota do Enem para uma vaga no curso de arquitetura. “Eu me preparei com os conteúdos que achava mais importantes. As questões de química hoje (ontem) foram as mais difíceis, mas respondi as perguntas por etapas, para não ficar muito cansativo. Amanhã (hoje), espero uma prova mais difícil, mas pretendo manter a tranquilidade”, disse. Ademar Celedônio, diretor de ensino e de tecnologia educacional do Sistema Ari de Sá, classificou a prova da primeira parte do Enem como eclética. “Isso demonstra que o aluno precisa ter conhecimentos que vão além do conteúdo”, CORREIO BRAZILIENSE 25/10/15 CIDADES COLÉGIO PRESBITERIANO MACKENZIE » Ensino superior de qualidade no DF O Colégio Mackenzie tem 145 anos de história no Brasil e, agora, chega ao Distrito Federal como universidade Ciente da importância da educação, o Colégio Presbiteriano Mackenzie trabalha de forma a valorizar valores éticos e morais. Respeito, unidade e colaboração são alguns dos princípios seguidos pela instituição de ensino. Presente há 19 anos no Distrito Federal, a escola cristã completa, neste ano, 145 anos de história no Brasil. Na educação básica, atua em Brasília, São Paulo e Barueri. No ensino superior, está em Higienópolis, Alphaville, Campinas e Rio de Janeiro. A grande novidade é que, no próximo ano, a capital federal também fará parte dessa lista. Tudo começou em 1870, quando um casal de missionários decidiu interferir diretamente no ensino da juventude. Mary Annesley e George Chamberlain criaram a Escola Americana, que logo obteve destaque na cidade de São Paulo. A iniciativa chamou a atenção da comunidade pelas estratégias pedagógicas e pela prática da inclusão social, étnica e política. Daí em diante, teve início a trajetória do Mackenzie. “As décadas que encerraram o século 19 viram surgir o Mackenzie College, com seus primeiros cursos superiores de filosofia, comércio e, principalmente, a escola de engenharia”, lembra o diretor-geral da instituição, Walter Ribeiro, 61 anos. que abrigam os câmpus. “O programa promove a participação social como forma de aprendizagem e exercício da cidadania”, descreve o diretor-geral. Em resumo, a ideia é proporcionar aos voluntários a convivência com as mais diversas realidades sociais. O contato com comunidades carentes favorece a valorização do trabalho voluntário, consolidando comportamentos e atitudes solidárias. Para se fixar no mercado brasiliense, a escola busca oferecer um atendimento personalizado a pais e alunos. Como diferencial, a instituição disponibiliza material didático de excelência, segurança no câmpus, ampla estrutura física, além de turmas desde a educação infantil até o ensino médio, robótica e esportes. Fora isso, a unidade tem laboratórios modernos e um histórico de bons resultados em vestibulares, PAS e Enem. “Contamos com ambiente acolhedor e buscamos estabelecer uma parceria família entre aluno e escola”, detalha Walter. Durante o ano letivo, uma série de eventos possibilitam essa relação, como Festa da Família, Feira Cultural e Feira do Livro. Internacional O High School oferecido pelo Mackenzie permite ao aluno estudar disciplinas do currículo do ensino médio americano, simultaneamente ao do Brasil — sem a necessidade de sair do país. O processo funciona de maneira muito simples. Ao concluir o curso, o estudante recebe dois diplomas: um brasileiro e outro americano. Partindo desse sistema de ensino, o documento é emitido por uma universidade americana, que endossa e certifica o rigor dos resultados alcançados pelo aluno ao longo do currículo. “Ele sai preparado para buscar as melhores oportunidades no mundo acadêmico e profissional”, orgulha-se Walter. Desejando fazer a diferença na sociedade, a instituição também é protagonista em um projeto de voluntariado. O Mackenzie Voluntário foi implantado em 2004. O objetivo é sensibilizar, mobilizar e integrar gestores, colaboradores, alunos e familiares em um movimento de aproximação das comunidades "As décadas que encerraram o século 19 viram surgir o Mackenzie College, com seus primeiros cursos superiores de filosofia, comércio e, principalmente, a escola de engenharia” Walter Ribeiro, diretor-geral do Colégio Presbiteriano Mackenzie CORREIO BRAZILIENSE 25/10/15 TRABALHO EDUCAÇÃO INTERNACIONAL » Para estudar na Suécia Avaliada como a segunda melhor educação superior do mundo, o destino é boa opção para pós-graduação %u2014 a maior parte delas oferecidas em inglês. Com o Ciência sem Fronteiras, o país tem recebido cada vez mais brasileiros » ANA PAULA LISBOA Quando alguém diz que vai estudar na Suécia, é comum ouvir “por quê?” Apesar de não ser um destino popular entre brasileiros, o local chama a atenção de quem quer internacionalizar o currículo pela grande quantidade de cursos ministrados em inglês (só de mestrado são mais de 900 com duração de 1 ou 2 anos) e pelo fato de oferecer a segunda melhor educação superior do mundo — atrás apenas dos Estados Unidos — de acordo com a rede Universitas 21. A pergunta deveria ser, então, “por que não?” Outros fatores se juntam à lista de razões para escolher o país escandinavo: ambiente propício à inovação, cultura laica e com liberdade de pensamento, comunidade aberta a estrangeiros, bom sistema de transporte, segurança e alta qualidade de vida. A capital, Estocolmo, é a maior cidade universitária entre os países nórdicos, com 80 mil estudantes, dos quais 5 mil são internacionais. O maior entrave para brasileiros que escolhem estudar no reino nórdico está no alto custo. Uma lei de 2011 estabeleceu que o ensino superior só seria gratuito para suecos e moradores da União Europeia. A introdução das taxas reduziu drasticamente o número de estrangeiros nas instituições — a Universidade de Umeå, por exemplo, perdeu 90% dos estudantes internacionais. A ministra da Educação Superior da Suécia, Helene Hellmark Knutsson, revela que o governo “está trabalhando para atrair jovens de outros países”, já que a internacionalização, segundo ela, é essencial a um ensino de qualidade. Bolsas de estudo são um dos caminhos para isso (veja quadro). Universitários de diferentes nacionalidades provam que é possível vencer essa barreira. A indonésia Alicia Nevriana, 24 anos, está no segundo ano do mestrado em saúde pública no Instituto Karolinska e diz que, com um estilo econômico, dá para viver muito bem. “A maior despesa é a moradia, então é mais barato procurar uma por meio da universidade. Para economizar, comparo preços entre supermercados, cozinho em vez de comer fora e compro roupas de segunda mão. Vale a pena para ter uma experiência única e uma educação de qualidade.” Ficou interessado na terra do grupo ABBA? Então conheça três faculdades especializadas e três universidades que podem ser ótimas opções. Faculdades Os alunos Matheus, do Brasil; Huanling Lai, da China; Manjula Bhuma, da Índia; e Alicia Nevriana, da Indonésia instituto Karolinska (KI) Localização: Estocolmo Foco: medicina e ciências da saúde Fundação: 1810 Corpo discente: 6 mil alunos de graduação e mestrado, 2.071 de doutorado e pós-doutorado Equipe: 500 funcionários, dos quais, 367 são professores Informações: www.ki.se Com 22 departamentos, é responsável por mais de 40% da pesquisa acadêmica médica da Suécia. Professores da instituição são responsáveis por escolher os vencedores do Prêmio Nobel de Medicina. “Temos apenas uma faculdade, então temos excelência nessa área — aparecemos em 48º lugar no mundo e em 12º na Europa (de acordo com o Academic Ranking of World Universities)”, conta Maria Grazia Masucci, vicechanceler para internacionalização. Matheus Ravel Timo Barbosa é um dos 16 25/10/15 bolsistas do Ciências sem Fronteiras (CsF) na instituição. No geral, são alunos de graduação que cursam matérias de mestrado, já que são administradas em inglês. Originalmente aluno de medicina da Universidade de Brasília (UnB), ele está na Suécia há um mês e meio. “A troca de conhecimentos com estudantes de todo o mundo é muito rica. Voltarei para casa com conhecimentos globais sobre sistemas de saúde”, revela. Aluno de engenharia Yuri é um dos 35 bolsistas do Ciência sem Fronteiras na instituição Instituto Real de Tecnologia (KTH) Localização: Estocolmo Foco: engenharia, tecnologia e arquitetura Fundação: 1827 Corpo discente: 15 mil estudantes de graduação, 1,7 mil pós-graduandos Equipe: 4,9 mil funcionários, dos quais mil são professores Informações: www.kth.se/en Todo ano, a maior e mais antiga universidade técnica da Suécia recebe mais de mil estudantes de fora da União Europeia. Uma vantagem da instituição é a existência de parcerias com empresas e indústrias. Eva Malmström, vice-reitora, explica a tática. “Os estudantes trabalham com problemas reais e ganham conexões no mercado de trabalho.” Alunos e ex-alunos criaram companhias como a plataforma de comunicação Skype e os jogos Minecraft e Angry Birds. Uma boa notícia aos interessados em estudar lá é que 35% das vagas são destinadas a bolsistas. A instituição, visitada pela presidente Dilma Rousseff no último fim de semana, conta com 35 estudantes do CsF este ano. Entre eles, está Yuri Alexandre Moraski, 21, aluno de engenharia elétrica na Universidade Federal do Paraná (UFPR), que se interessou pelo país depois de estagiar na Volvo. “O aprendizado é muito prático. Sem contar que viver aqui é muito bom, a qualidade de vida é ótima, e tem floresta em todo lugar.” Getulio Vargas. Foi lá que se graduou Diana Pires, 24, que conseguiu uma bolsa para estudar mestrado em administração. “É muito bom estudar aqui, mas conseguir emprego é difícil. Mesmo que todo mundo fale inglês, aprender sueco é importante”, percebe. A maior diferença cultural, segundo Diana, está na postura mais fechada dos nativos. “Eles são educados e simpáticos, mas todo mundo se cumprimenta com aperto de mão, nada de beijinho!” Mestranda em administração, Diana percebe diferenças culturais entre os países Universidades Nimish Godble, aluno de mestrado da universidade mais antiga da Suécia Escola de Economia de Estocolmo (HHS) Localização: Estocolmo Foco: economia, administração, marketing, humanidades e artes Fundação: 1909 Corpo discente: 1.800 alunos Equipe: 100 funcionários e 120 professores Informações: www.hhs.se Na melhor escola de negócios do norte da Europa, todos os programas de mestrado são oferecidos em inglês. Com parcerias com mais de 110 empresas, a faculdade mantém uma incubadora de empresas. “Vários de nossos alunos abrem o próprio negócio. É um ambiente intelectualmente vibrante, com boa reputação. O que buscamos nos estudantes são pessoas ambiciosas com vontade de fazer mudanças no mundo”, explica o reitor Lars Strannegard. No Brasil, a única instituição parceira é a Fundação Universidade de Uppsala Localização: Uppsala (140 mil habitantes) Foco: direito, linguagens, artes, ciências educacionais, medicina, farmácia, ciência e tecnologia, ciências sociais e teologia Fundação: 1477 Corpo discente: 45.354 alunos e 2.848 de doutorado e pósdoutorado Equipe: 1.534 professores Informações: www.uu.se A primeira universidade da Suécia foi fundada para ensinar teologia e, com o tempo, expandiu o escopo de atuação para diversas áreas do conhecimento; 40 mestrados e mais de 800 disciplinas livres são oferecidos em inglês. A cidade cresceu com a universidade, e um dos fortes da comunidade são as “nações estudantis”. Essas associações de universitários são comuns na Suécia: os discentes pagam uma 25/10/15 mensalidade e, em contrapartida, tem desconto para almoço, participam de palestras, festas e outros eventos. A instituição abriga 1,6 mil estudantes de intercâmbio, além de diversos professores estrangeiros, como a indiana Suparna Sanyal, diretora do mestrado em biotecnologia aplicada. “Apesar de antiga, Uppsala junta tradição e modernidade.” O indiano Nimish Godble, 25, mestrando em saúde global, avalia a experiência positivamente. “Tem sido um dos melhores períodos da minha vida. A qualidade do ensino é alta, e a vida universitária é muito intensa.” Universidade de Lund Localização: Lund (110 mil habitantes), Foco: engenharia, tecnologia e arquitetura Fundação: 1666 Corpo discente: 42 mil alunos Equipe: 7.680 funcionários Informações: www.lu.se A 60ª melhor do mundo segundo o QS ranking e a segunda mais antiga da Suécia, a Universidade de Lund tem estudantes de mais de 130 países e parcerias com instituições de 70 nações. A cidade fica no sul do país e é considerada uma das melhores para estudantes, com um clima mais ameno. O custo total de um programa de estudo varia de SEK 100 mil a SEK 200 mil, mas 30% das bolsas oferecidas pelo Sweedish Institute são destinadas a Universidade de Lund. A instituição gira em torno da pesquisa, e 2/3 do orçamento é destinado a essa finalidade. Por causa disso, estudantes são estimulados a fazerem experimentos e invenções. O estudante sueco Kent Ngo, por exemplo, criou frutas em pó com grande prazo de validade para ajudar a erradicar a fome no mundo. Aluno de engenharia de produção da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Dante Padilha Uvo, 24, estuda gestão de cadeia de suprimentos em Lund e se sente muito acolhido. “Estou aqui há um mês e tenho amigos. Quero tentar estagiar numa empresa sueca, e estou me dedicando aos estudos”, diz o bolsista do CsF. Depois de ter feito intercâmbio na instituição com bolsa do governo federal, Hélio Munhoz, 22, graduado em arquitetura pela UFPR, conseguiu emprego em Kopenhagen, na Dinamarca, que fica a apenas 40 km de Lund. “O custo de vida é praticamente o mesmo, e essa experiência me abriu muitas portas.” Mestre em arquitetura, Gisele Paiva Nilsson, 33, foi a primeira brasileira a estudar na instituição. “Eu era aluna de graduação da UFRJ e queria fazer intercâmbio aqui. Mandei vários e-mails, batalhei muito. Como não havia parceria, diziam que era impossível, mas consegui. Depois voltei para fazer mestrado”, lembra. Hoje, ela trabalha num escritório de arquitetura. Universidade de Umeå Localização: Umeå (117 mil habitantes) Foco: arquitetura, design, negócios e economia, artes, pedagogia, gastronomia, tecnologia e educação física Fundação: 1965 Corpo discente: 31.506 estudantes Equipe: 4.335 funcionários e 2.035 professores Informações: www.umu.se Classificada como a melhor da Suécia e a terceira da Europa no International Student Barometer, que leva em conta a opinião de estudantes estrangeiros, a universidade tem 8% do corpo discente formado por estrangeiros e 32 programas em inglês (30 deles de mestrado). “Ficamos a duas horas do Círculo Polar. Os estudantes que vêm para cá aprendem a gostar da neve, e há intensas atividades em qualquer período do ano”, conta Greg Neely, diretor do escritório internacional. Um dos atrativos da cidade é o centro de esportes, em que qualquer um pode se exercitar pagando uma mensalidade acessível — foi lá que a jogadora de futebol Marta começou a carreira. A universidade recebe 34 alunos do Ciência sem Fronteiras e outros quatro brasileiros em 2015. Adriele Pradi, 25, e Madyana Torres, 24, se apaixonaram pelo país nórdico. “Vejo a aurora boreal da janela da minha casa”, conta Adriele, que faz mestrado em desenvolvimento de negócios e internacionalização. “Consegui bolsa de estudos, mas ainda tenho que bancar meus custos. Dá para viver com menos da metade das 8 mil coroas suecas que exigem por mês para o visto. Basta saber administrar: cozinho em casa e ando só de bicicleta”, conta a jovem natural de Jaraguá do Sul (RS). Mestranda em design de interação, Madyana veio para 25/10/15 Umeå depois de ter estudado no local pelo Ciência sem Fronteiras em 2013. “Consegui aproveitar as matérias e, agora, vou ficar um ano para completar o mestrado. Adoro estudar aqui. É um ambiente acolhedor, em que se preocupam muito com sua saúde mental e com seu bem-estar.” Custo de vida mensal Acomodação - SEK 3,2 mil Comida - SEK 2,3 mil Taxa de associação de estudantes e livros - SEK 500 Viagens locais - SEK 500 Lazer - SEK 500 Roupas - SEK 450 Telefone, internet, TV, jornal SEK 300 Produtos de higiene - SEK 250 Total: SEK 8 mil* (cerca de R$ 3.692) *Estudantes de fora da União Europeia precisam comprovar ter SEK 8,1 mil por mês para se manter Fonte: Sweedish Institute Mercado de trabalho Estudantes internacionais podem trabalhar. Depois do fim do curso, têm seis meses para arranjar emprego (que permite a concessão de visto de trabalho). Oportunidades de bolsa Toda universidade sueca oferece bolsas de estudo diretamente na instituição e é possível conferir informações no site de cada uma. Além disso, o Sweedish Institute fornece outras oportunidades que podem ser acessadas pelo link: eng.si.se. A jornalista viajou a convite do Sweedish Institute JORNAL DE BRASÍLIA 25/10/15 BRASIL MEC atrasa verba para escolas públicas 25/10/15 FOLHA DE SÃO PAULO 24/10/15 TENDÊNCIAS & DEBATES Nova lei que limita meia-entrada e torna carteirinha obrigatória beneficia estudantes? Sim Direito na mão de quem tem direito Carina Vitral "Você não sabia? A meia é a nova inteira e a inteira é o novo dobro." Assim ocorre o diálogo entre a atendente de um cinema e um espectador que tenta comprar um ingresso. São dois personagens do vídeo "Meia", do grupo de humor Porta dos Fundos, que revela a tragicomédia em que se transformou a meia-entrada nos últimos 15 anos. A enxurrada de falsas "carteirinhas" e de falsos estudantes, a confusão de diferentes regras estaduais e municipais, o sobrepreço e até subterfúgios como a "meia para todas as categorias" pintam o quadro da desmoralização e banalização de um direito legítimo e fundamental para os estudantes. A UNE (União Nacional dos Estudantes) batalhou por décadas pela criação dessa legislação e compreende que a cultura e o esporte são instrumentos essenciais de complementação da formação educacional, do desenvolvimento crítico e da cidadania da juventude. Agora, o cenário começa a mudar com a aprovação e regulamentação da lei federal nº 12.933/2013, que passará a valer a partir de 1º de dezembro de 2015. Pela primeira vez, a meia será regida por regras claras em todo o território nacional. A relação do movimento estudantil com a cultura tem marcos importantes desde os anos 1960, com o CPC (Centro Popular de Cultura) e o cinema novo. E se mantém até hoje, por meio da rede do Cuca (Circuito Universitário de Cultura e Arte) e bienais da UNE. A ditadura militar tirou direitos e colocou na ilegalidade as entidades estudantis. Somente após a reorganização do movimento, nos anos 1980, começaram a surgir as leis de retomada da meia-entrada. Entretanto, a perseguição não aconteceu somente no período ditatorial. Um grande retrocesso tomou a cena em 2001 com a medida provisória 2.208, uma clara tentativa de atacar o movimento estudantil. A medida permitiu a empresas e associações emitirem carteirinhas, alimentou uma verdadeira máfia no setor, mercantilizou um direito e golpeou diretamente as entidades representativas dos estudantes. Produtores, artistas e estudantes passaram então a discutir a elaboração de novas regras para combater a confusão e a falta de credibilidade no direito à meia. Fruto desse movimento, a nova lei pactua uma relação entre o setor cultural e a rede da economia da cultura. Acabaram as falsas carteiras e os falsos estudantes. Agora, haverá um padrão nacional definido pelas entidades estudantis –UNE, UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) e ANPG (Associação Nacional dos PósGraduandos)–, o que facilitará a fiscalização. O documento também será confeccionado pelas uniões 24/10/15 estaduais e municipais, centros acadêmicos, diretórios acadêmicos e diretórios centrais dos estudantes. Acabou também o argumento de que os eventos são caros por conta da confusão no acesso à meia. Estaremos vigilantes no cumprimento da reserva de pelo menos 40% de ingressos de meiaentrada por evento –antes a garantia era de 0%–, exigindo os relatórios que a própria lei nos assegura supervisionar. Portanto, os produtores culturais podem agora diminuir o valor total dos ingressos, como já anunciaram alguns representantes do setor que estimam redução de 20%. Lutaremos para que isso aconteça. Dessa forma, a nova lei beneficiará a todos, estudantes e não estudantes, e incentivará também a formação de público ao promover nos mais jovens o interesse em frequentar espetáculos teatrais e de música, cinemas e estádios. Cabe agora ao poder público e à sociedade civil fiscalizar o cumprimento da legislação em todo o país. Assim, ao retornar para as mãos de quem tem direito, a meia voltará a ser meia de verdade. CARINA VITRAL, 26, estudante de economia da PUC-SP, é presidenta da UNE - União Nacional dos Estudantes FOLHA DE SÃO PAULO 24/10/15 TENDÊNCIAS & DEBATES Nova lei que limita meia-entrada e torna carteirinha obrigatória beneficia estudantes? Não Meia-entrada sem meias palavras Luis Sobral Em 2001, ainda como representante estudantil, me incomodei com o monopólio da produção descontrolada de carteiras de estudantes pela UNE e contestei seu monopólio com um pequeno grupo. Fomos atendidos pela medida provisória 2.208/ 2001. O texto da MP, sobre comprovação da qualidade de estudante como condição de acesso à meia-entrada, foi aprovado e derrubou a reserva de mercado, consolidando a democratização do acesso à cultura para quem mais precisava. de sustentação política e de sobrevivência, decretou a regulamentação do direito à meiaentrada –com dois anos de atraso, diga-se–, obrigando os jovens a adquirir a CIE (Carteira de Identidade Estudantil), mais um documento da série que o brasileiro é obrigado a ter em pleno século 21. Agora, um jovem aos 18 anos em plena formação intelectual, mas que, por falta de oportunidade, tenha interrompido os estudos, teve seu direito de acesso à cultura extinto pela presidente Dilma por meio do decreto federal nº 8.537/ 2015. Isso não aconteceria se fosse estabelecido o critério de idade como garantia de acesso. Não bastasse retornar ao século passado, quando a emissão dos documentos de identificação estudantil era centralizada pela UNE, a nova legislação limita a meia-entrada a uma cota de 40% dos ingressos disponíveis para cada evento. Em segundo lugar, a descabida proliferação de beneficiários elevou os preços, resultando na máxima "tudo pela metade do dobro". Ocorreu, portanto, a maximização de preços ao longo dos anos, uma vez que 3 a cada 4 ingressos são adquiridos pela meia-entrada, por meio de algum tipo de benefício. Há dois anos, porém, o Estatuto da Juventude retomou esse debate e, por infelicidade, encerrou aquela conquista universal que não exigia a filiação associativa a uma entidade que pouco representa a classe. Há mais uma flexibilização esperta: o limite deverá ser respeitado até 48 horas antes do evento, o que significa que a partir dali os ingressos serão vendidos pelo preço inteiro. Agora, com a maior crise econômica brasileira já vivida pelas presentes gerações, a presidente da República, em busca Muitas coisas estão fora do lugar. A primeira delas é o fato de tratarmos equivocadamente o direito de acesso à cultura. Nesse contexto, a demanda de grandes grupos promotores e proprietários de equipamentos culturais pela redução de beneficiários foi atendida, mas atingiu quem mais deveria ter o direito: o jovem de até 29 anos, faixa etária abrangida pelo Estatuto da Juventude. 24/10/15 Em terceiro lugar, o momento da decisão não poderia ser pior. A crise econômica, a inevitável diminuição de recursos para a área cultural e a evidente diminuição de público farão com que todos percam. Nem os preços se ajustarão para baixo, dados a desconfiança econômica, a inflação e o silêncio do mercado, e tampouco aqueles que perderão o benefício, pela lógica da trava de 40%, pagarão valores inteiros. Arrisco dizer que assistiremos à mais acentuada queda de público em eventos culturais dos últimos tempos. Subtraída a ansiedade da geração jovem e tecnológica que tem necessidade de viver o minuto como se fosse uma década, não há o que substitua o tempo perdido às oportunidades de formação cultural. Haverá quem diga que isso será passageiro, que tudo se corrigirá e voltará ao normal. Aqueles que vociferarem essa tolice provavelmente tiveram seus direitos de acesso à cultura cassados na sua juventude. LUIS SOBRAL, 37, é diretorexecutivo da Apaa - Associação Paulista dos Amigos da Arte e foi secretário-adjunto da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo (2011 e 2012) FOLHA DE SÃO PAULO 24/10/15 MERCADO O ESTADO DE S. PAULO 24/10/15 METRÓPOLE 24/10/15 O ESTADO DE S. PAULO 24/10/15 METRÓPOLE 24/10/15 O ESTADO DE S. PAULO 24/10/15 METRÓPOLE O ESTADO DE S. PAULO 24/10/15 METRÓPOLE CORREIO BRAZILIENSE 24/10/15 Risco de inundação suspende Enem em Santa Catarina Cinco locais de prova do Exame Nacional do Ensino Médio em Santa Catarina não realizarão a avaliação neste fim de semana, devido a condições climáticas. Mais de 4 mil alunos com as provas agendadas em duas instituições no município de Rio do Sul e em três instituições de Taió terão as provas suspensas. Em entrevista coletiva, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, ressaltou que não existem condições físicas para que a avaliação aconteça na data programada. “A casa desses participantes está inundada. É uma situação muito difícil. Não faz sentido expor esses estudantes a fazer provas nessas circunstâncias”, disse. Os estudantes afetados devem realizar o exame até a primeira semana de dezembro. BRASIL CORREIO BRAZILIENSE 24/10/15 OPINIÃO Mais literatura nas provas ARNALDO NISKIER Membro da Academia Brasileira de Letras, da Academia de Letras de Brasília e presidente do CIEE/RJ recentes apontam uma diminuição gradual das questões de literatura nos últimos anos (com exceção de 2012). E há pouca presença em história da literatura brasileira, assim como a concentração em determinados períodos históricos e movimentos literários”. A iniciativa foi da deputada Maria do Rosário (PT/RS): a realização de audiência pública para debater a situação da leitura e do ensino de literatura na educação básica, particularmente no ensino médio. Assim, especialistas de diversos setores se reuniram no Anexo 2 da Câmara dos Deputados. Sob a inspiração da Comissão de Educação, com o apoio também da deputada Margarida Salomão (PT/MG), foram apresentadas e discutidas sugestões por parte do escritor Luís Augusto Fischer, de Zoara Failla (Instituto Pró-Livro), de Germana Maria Araújo Sales (Abralic), de Adelaide Ramos e Côrte (Conselho Federal de Biblioteconomia), de Volnei Canônica (Ministério da Cultura), de Ricardo Magalhães Cardozo (MEC) e do autor destas linhas, representante da Academia Brasileira de Letras. Tudo com base em texto preliminar, elaborado pela deputada Maria do Rosário, em que ela afirma lamentar a redução do número de leitores no Brasil e o Enem tem importância crescente: “Estudos No momento que o Brasil discute uma Base Nacional Comum Curricular, a Comissão de Educação da Câmara dos Deputados decide promover debates sobre o tema, o que é bastante auspicioso. O escritor gaúcho Luís Augusto Fischer condenou a concentração de questões em determinados autores e sugere aproveitar a discussão em torno da BNC para elaborar propostas de renovação. Além disso, propôs leituras renovadas no Enem. Zoara Failla, do Instituto Pró-Livro, mostrou que houve redução de 7 milhões de leitores em cinco anos corridos. Por outro lado, as mulheres assumiram a liderança dos índices de leitura. A especialista Germana Araújo Sales reclamou da redução do espaço da literatura no Enem e Volnei Canônica, do Ministério da Cultura, entende que o professor é o principal vetor de acesso ao livro. Pedimos a palavra para argumentar que no Japão essa responsabilidade também é dos pais: “Toda noite, o pai ou a mãe lê o capítulo de um livro para o filho, entronizando nele o gosto pela leitura”. Ricardo Magalhães Cardozo, da Secretaria de Educação Básica do MEC, entende que a atual discussão sobre a BNC é excelente oportunidade para corrigir essas distorções. O mesmo podendo ser dito sobre o Sistema Nacional de Educação, que deve ser muito valorizado. Há necessidade de maior entendimento com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacional (Inep), ao qual incumbe a montagem das questões do Enem. Não deve se deixar levar pelas divergências entre gramáticos e linguistas. Assim estará mais disponível para valorizar a literatura, como é o desejo de todos. Outro problema relevante é a qualidade da alfabetização, a partir dos primeiros anos do ensino fundamental. Hoje, é comum a criança chegar ao 4º ano sabendo escrever, mas não compreendo adequadamente o que lê. Isso influi no conjunto dessa etapa essencial. Melhorar a formação dos professores é tarefa fundamental. Fizemos questão de externar nossos pontos de vista. Primeiro revelando que nos falta clara definição sobre o que se entende por Política Nacional de Educação. Colocamos a Academia Brasileira de Letras à disposição dos interessados para transmitir a 24/10/15 sua experiência sobre projetos de defesa da língua portuguesa e valorização da cultura nacional, conforme, aliás, consta do artigo 1o do seu pétreo Estatuto, assinado por Machado de Assis. Aliás, sobre o patrono da ABL, praticamente todos os oradores da eficiente audiência pública confessaram sua convicção de que nenhum jovem estudante de ensino médio pode completar seus estudos sem conhecer plenamente as obras do Bruxo do Cosme Velho. CORREIO BRAZILIENSE 24/10/15 CIDADES CRISE NO GDF » Reajuste do servidor em outubro de 2016 Rodrigo Rollemberg: "Só não estamos pagando (agora) por total impossibilidade" Calendário divulgado ontem pelo governador Rodrigo Rollemberg deixa para o fim do próximo ano o pagamento dos reajustes concedidos pelo governo Agnelo Queiroz. Definição revolta sindicalistas, que mantêm as greves, apesar de declaradas ilegais » MATHEUS TEIXEIRA » JOÃO GABRIEL AMADOR Especial para o Correio O governador Rodrigo Rollemberg (PSB) anunciou ontem o calendário de pagamento dos reajustes concedidos pelo governo Agnelo Queiroz. Segundo o cronograma determinado pelo GDF, os servidores públicos perceberão as mudanças no contracheque a partir de outubro de 2016. O socialista pediu compreensão e afirmou que “a capital deve ser a única unidade da Federação a aumentar salarial em meio à crise”. “Só podemos garantir os aumentos, com responsabilidade, para outubro. Todos sabem as dificuldades em que vivemos. Escancaramos as contas públicas, os sindicatos podem designar especialistas para acompanhas os números. Só não estamos pagando por total impossibilidade”, afirmou Rollemberg. A situação revoltou os sindicalistas. O governador chegou cedo para a coletiva, por volta das 8h, acompanhado do chefe da Casa Civil, Sérgio Sampaio, e do secretário adjunto de Fazenda, José Antônio Fleury. O chefe do Executivo local comentou sobre o dia cinzento. “A chuva chegou para renovar as energias”, disse. Os auxiliares ficaram sentados à mesa com o governador, mas não conversaram com a imprensa: o socialista fez questão de passar todas informações e detalhar a situação financeira do GDF a fim de explicar o motivo da suspensão dos reajustes. Logo nas primeiras palavras, Rollemberg recordou a situação em que pegou o governo no início do ano. “Assumimos o GDF com 13º, horas-extras e outros benefícios atrasados. Comprometemo-nos e pagamos tudo como havíamos prometido”, ressaltou. E lembrou do rombo nas contas públicas. “Peguei o governo com um deficit de R$ 3 bilhões, mais um buraco de R$ 3 bilhões no orçamento deste ano, perfazendo um rombo de R$ 6 bilhões. Mesmo assim, chegamos a outubro com os salários em dia”, destacou. Sobre começar a pagar os reajustes no fim do ano que vem, o governador explicou que precisou de coragem para chegar a essa proposta. “De acordo com informações das secretarias da 24/10/15 Fazenda e Planejamento, deveríamos implementar os reajustes apenas em janeiro de 2017”, revelou. A todo momento, porém, ele lembrou que só será possível depositar os aumentos em outubro, caso as matérias do Executivo sejam aprovadas na Câmara Legislativa. “Estamos assumindo gastos contínuos. E muitos projetos nossos só garantem recursos para o ano que vem, como a venda de imóveis. Não representam uma arrecadação contínua.” Rollemberg disse confiar na aprovação dos projetos na Câmara, mas lembrou que sofreu derrotas na Casa (leia reportagem na página 26). “É importante lembrar que, desde que suspendemos o reajuste, algumas matérias que garantiriam arrecadação continuada foram recusadas na Casa, como as alterações na Contribuição de Iluminação Pública, na Taxa de Limpeza Pública e no IPTU”, recordou. Sobre pagar retroativo, ele rechaçou a possibilidade: “Não conseguimos. Como governador, adoraria implantar os aumentos já neste ano, mas estamos agindo com responsabilidade”. Assembleias Mesmo que a Justiça tenha decretado a ilegalidade dos movimentos da saúde e da educação, os profissionais decidiram continuar a paralisação Servidores da educação se reuniram na Praça do Buriti logo após o anúncio cronograma: mais protestos após o anúncio do GDF. Das 32 categorias, apenas a carreira socioeducativa decidiu retornar aos trabalhos. Na Praça do Buriti, 500 servidores da educação, segundo a Polícia Militar — ou 5 mil, de acordo com a organização do evento —, reuniram-se para debater os rumos da greve, iniciada no último dia 15. Além das queixas sobre a falta de diálogo, o atraso dos reajustes salariais causou revolta. “Esse anúncio é uma provocação. Só servirá como motivo para intensificarmos a luta”, discursou Cláudio Antunes, diretor do Sindicato dos Professores (Sinpro). Pouco tempo após o término da assembleia dos professores, foi a vez de os servidores da Saúde se manifestarem. Por volta das 14h, cerca de 450 funcionários da rede pública tomaram o auditório da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Indústria para analisar a greve, iniciada em 8 de outubro. “Não houve conversa ou proposta. Eles (governo) acham que pagar os salários é suficiente. É preciso manter o movimento para entenderem que estão tirando um direito nosso”, queixou-se a presidente do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde do DF (SindSaúde), Marli Rodrigues. Para a próxima semana, diversas assembleias estão marcadas. A do Sindicato dos Servidores da Assistência Social e Cultural do DF será na quinta-feira. 24/10/15 CORREIO BRAZILIENSE 24/10/15 CIDADES CRISE NO GDF » Distritais recuam diante da pressão Sociedade de Abastecimento de Brasília (SAB) e a negociação de 13 terrenos da empresa e a alteração nas poligonais do Parque Ecológico Ezechias Heringer para desapropriar e colocar em leilão uma área vizinha ao ParkShopping dariam a chance de arrecadar, por exemplo, mais de R$ 700 milhões. Pressão diante da Câmara: deputados devem colocar em pauta só projetos que não aumentam a arrecadação Com a insatisfação dos sindicatos grevistas, parlamentares descumprirão acordo feito com o Executivo local para votar, na próxima terça-feira, os projetos de aumento da receita. O governo, no entanto, acredita que ainda pode sensibilizar os deputados » GUILHERME PERA Pressionados por sindicalistas, os distritais mudaram o discurso. Um acordo entre integrantes do GDF, parlamentares e representantes das categorias em greve, firmado há 48h, dava como certa a votação de sete projetos do Executivo na próxima terça-feira. Após a repercussão do cronograma de pagamentos dos reajustes salariais, porém, o clima entre os deputados é de não colocar as matérias do governo em pauta. Sem uma base consolidada na Casa, o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) deve marcar novas conversas com os parlamentares. A presidente da Casa, Celina Leão (PDT), disse que a semana que vem será marcada por um “reinício nas negociações”. Até então, a ideia era aprovar, na primeira sessão da semana, projetos que poderiam render recursos a mais para os cofres públicos. A venda de 32 imóveis do GDF, a liquidação da Agora, apenas um consórcio entre cinco unidades federativas, conhecido como Brasil Central, deve ser posto em votação. A proposição daria ao Banco de Brasília (BRB) as condições para poder administrar o Fundo Financeiro Constitucional do Centro-Oeste (FCO). Projetos como Código de Obras, impermeabilização e Relatório de Impacto de Trânsito (RIT) também devem entrar na pauta da Câmara. “O acordo era dar o fim à greve antes de votar. Ficou difícil e virou uma loucura”, afirmou Celina. “O telefone não para de tocar, seja por parlamentares, seja por representantes sindicais. O descontentamento está grande. Devemos nos reunir na terça-feira para recomeçar as negociações”, explicou a distrital. Apesar do clima negativo, o secretário adjunto de Relações Institucionais, Igor Tokarski, disse que, na segunda-feira, haverá muitas conversas, e a ideia será “sensibilizar os distritais”. “Há projetos a apresentar, e os 24/10/15 deputados ainda não conhecem o teor de algumas matérias. A partir de segunda, detalharemos e vamos levar números à Câmara Legislativa para mostrar a importância da aprovação”, revelou o responsável do GDF pelas negociações com os distritais. “Inabilidade” Três líderes de blocos na Câmara — Chico Vigilante, do PT; Wellington Luiz, do PMDB; e Bispo Renato Andrade (PR), da Maioria — haviam assinado um comunicado de obstrução a todos os projetos de interesse do Executivo, enquanto não houvesse avanço nas negociações. Como os calendários não agradaram, o trio segue o mesmo discurso: pouca pressa para aprovar medidas que aumentem a receita do DF. O trio não economiza críticas ao GDF. “Mais uma vez, o governo mostra uma inabilidade sem tamanho. A depender de mim, não se vota nada na próxima semana”, disse Wellington. “Está faltando seriedade ao governo para negociar, falei para (o governador) Rollemberg conversar com cada sindicato para saber as prioridades, e isso, claramente, não aconteceu. Como é só em outubro de 2016, podemos votar projetos de aumento de receita no ano que vem”, defendeu Vigilante. “Ainda não conversei com os sindicalistas, mas tenho certeza de que essa data deve impedir os andamentos”, completou Bispo Renato. CORREIO BRAZILIENSE 24/10/15 CIDADES EDUCAÇÃO » Enem mobiliza 160 mil no DF Hoje e amanhã, estudantes enfrentam maratona de provas para ingressar na universidade. Fique atento aos detalhes de última hora » Alessandra Oliveira Especial para o Correio Yan Mateus aproveitou o aulão de ontem para revisar química, seu ponto mais fraco Chegou o tão esperado dia para mais 7 milhões de estudantes inscritos no Exame Nacional do Ensino Médio. No Distrito Federal, 160 mil candidatos estão aptos a fazer as provas, hoje e amanhã. A grande procura fez do Enem o segundo maior exame de acesso ao ensino superior do mundo. Ficando atrás apenas do Gaokao, realizado na China, que superou 9 milhões de inscritos. A corrida para fazer o exame ocorre por ele ser um facilitador de acesso às universidades públicas e às privadas, por meio de programas do governo, como o Sisu (Sistema de Seleção Unificada), o ProUni (Programa Universidade para Todos), o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil), entre outros. Renan Barros, 17 anos, está por dentro dos benefícios da prova e já se organizou para, assim que sair o resultado, tentar uma vaga no curso de medicina ou direito, por meio do Sisu. “Acho que o Enem facilitou a entrada dos estudantes na universidade, porque abrange o país todo. Diversificou as oportunidades.” Para o professor de geografia Paulo Macedo, estudar, neste momento, só pode resultar em ansiedade. “Se o aluno resolve dar uma revisada e descobre que há um conteúdo de que não se lembra, isso vai causar angústia. É preciso pôr na cabeça que o momento de preparação já passou.” O ideal mesmo é “não acordar em cima da hora da prova, dar uma caminhada para despertar o organismo e se organizar para chegar na hora”. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) recomenda que o estudante chegue ao local da prova até o meio-dia, pois os portões fecham, rigorosamente, às 13h. Para os alunos que vão em transporte público ao local da prova, é importante ficar de olho nos horários. As frotas do DFtrans serão reforçadas nos dois dias do exame. A operação se dará nas linhas circulares das regiões administrativas, principalmente nas que vão para o Plano Piloto, e que passam por locais onde estão concentradas as instituições de ensino nas asas Sul e Norte (L2, L4 e W3). O metrô, porém, não ampliará o número de trens nem o horário. Hoje, funcionará das 6h às 23h30 e, amanhã, das 7h às 19h. Aulão Mais de mil estudantes da rede pública do DF lotaram o auditório do Colégio Militar de Brasília. Os alunos aproveitaram a tarde de ontem, um dia antes do Enem, para rever o conteúdo das provas. O aulão contou com estudantes de escolas públicas do Plano Piloto, do Cruzeiro e de Ceilândia. As aulas foram ministradas voluntariamente por professores de escolas particulares e cursinhos. Com essa chance, os estudantes aproveitaram para tirar todas as dúvidas. Yan Mateus, 17 anos, estuda no Setor Leste e foi ao aulão com o intuito de prestar toda a atenção na revisão de química, matéria em que tem mais dificuldade. “A maior vantagem desse aulão é porque os professores ensinam a estrutura da prova do Enem, que é única, e eu não conhecia bem.” O aluno do terceiro ano quer entrar no curso de relações internacionais. 24/10/15 E não foram só alunos do ensino médio que aproveitaram a tarde. Isabela Castilho, 18, concluiu o ensino médio no ano passado, no Colégio Militar, mas precisa continuar atenta às matérias porque ainda não conseguiu ingressar no curso de nutrição. “Eu vejo esse dia como um bônus, uma forma a mais de fixar o que eu preciso, e compreender melhor o conteúdo.” Atenção Veja hoje à noite, no site do Correio, o gabarito extraoficial do Enem, elaborado pela equipe de professores do Sistema Ari de Sá. Essas respostas também estarão disponíveis na edição de domingo do jornal. CORREIO BRAZILIENSE 24/10/15 CIDADES Tempo precioso O Inep disponibiliza 270 minutos para responder as 90 questões e preencher o gabarito. Para o coordenador do prévestibular do Galois, Paulo Perez, o estudante deve reservar, no máximo, 2m30 por questão para que sobre tempo para ir ao banheiro e marcar o gabarito com calma. “É importante que o estudante foque nas questões mais fáceis para que sobre tempo para as mais difíceis”, acrescenta o professor de matemática Pedro Nakamura. No domingo, a prova tem uma hora a mais e todos os professores são unânimes: é necessário reservar essa hora apenas para a redação. É preciso atenção para marcar o gabarito. Só é permitida caneta de cor preta, e toda a bolinha que compreende a alternativa escolhida deve ser preenchida. Caso o estudante marque um item diferente do caderno da prova, não adianta remarcar a correta. A questão será anulada. O que comer? Como o Enem começa no horário do almoço, o ideal é fazer a refeição às 11h, mas a preparação deve vir desde o café da manhã, orienta a nutricionista Elisa Goulart. “O café deve ser tomado às 8h e ter, preferencialmente, carboidratos, para ajudar a manter o raciocínio e dar mais energia.” No almoço, é importante que o candidato inclua todos os grupos de alimentos. “Deve-se, porém, evitar alimentos de difícil digestibilidade, como massas e feijoada.” Como a prova é muito extensa, é importante ficar atento à hidratação e ao lanche. Elisa indica frutas como banana, que dá saciedade, como uma boa opção, além de barrinhas de cereal e chocolates — de forma moderada e, de preferência, amargo. Ela explica que o chocolate ajuda os ansiosos, é ótimo para manter o cérebro em atividade, deixa o raciocínio rápido e tira a sensação de sonolência. JORNAL DE BRASÍLIA 24/10/15 POLÍTICA Greve se amplia Jogo duro de todos os lados 24/10/15 JORNAL DE BRASÍLIA 24/10/15 POLÍTICA JORNAL DE BRASÍLIA 24/10/15 BRASIL