- 1 - O PAPEL DA META-INFORMAÇÃO NA ESTRATÉGIA DE
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- 1 - O PAPEL DA META-INFORMAÇÃO NA ESTRATÉGIA DE
O PAPEL DA META-INFORMAÇÃO NA ESTRATÉGIA DE COMUNICAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Mário J. Silva Universidade de Lisboa, Faculdade de Ciências, Departamento de Informática A administração pública (AP) acompanhou nos últimos anos o processo de adopção da Internet como meio de interface com o cidadão, tendo contribuído com a construção de um número elevado de sítios web com informação institucional das várias organizações do estado. Em Março de 2003, o motor de pesquisa tumba!, desenvolvido na Universidade de Lisboa, recolheu e catalogou acima de 1 milhão de páginas Web em sites da AP central portuguesa (esta contagem inclui sítios de universidades públicas). Este número é provavelmente muito superior ao que a maioria imaginaria existir e demonstra objectivamente o esforço de colocação de informação em suporte informático e dinamização do seu acesso a partir da Web. Mais recentemente, assistimos à progressiva melhoria qualitativa dos serviços online, como por exemplo na entrega de declarações de impostos e pedido de certidões. Presentemente, o esforço está em grande medida na centralização da informação através da construção de portais de egovernment onde o cidadão poderá encontrar toda a informação devidamente organizada e facilmente acessível. No entanto, a proliferação de sítios e serviços ligados à AP tem tornado cada vez mais difícil a sua localização por parte do utente. Existem hoje mais de um milhar de domínios registados por instituições da AP central. A opção por organizar a informação publicada em portais temáticos, que agora se procura desenvolver, apenas terá interesse se se limitar a catalogar a informação de topo. Será infrutífero tentar manter organizada de forma consistente e inteligível para todos os possíveis usos num número reduzido de portais toda a informação de todos os organismos do estado. Sem uma estruturação dos processos de produção de informação, claramente documentada sob a forma de meta-dados, a informação que vier a ser inicialmente publicada manter-se-á actualizada durante um tempo muito reduzido, havendo o risco sério de o investimento realizado não vir a ter retorno, repetindo-se erros passados. Para -1- ser gerível e acessível, a informação publicada na Web pela AP necessita de dois instrumentos fundamentais: • Um processo de produção e controlo de meta-informação, que descreva com precisão os recursos on-line e possibilite a construção de ferramentas de gestão de conhecimento por terceiros com base nesta informação; • Um serviço público de pesquisa sobre a totalidade da informação da AP que, ao contrário dos motores de busca comerciais, indexe toda a informação de interesse e sirva de ajuda efectiva ao cidadão. Nesta comunicação, argumentarei pela necessidade de ambos. A meta-informação é essencial por vários motivos. Constitui uma representação inteligível por máquinas do ciclo de vida dos documentos, o que torna possível a sua gestão enquanto entidades vivas e em mutação. Quando estamos em presença de milhões de documentos produzidos por entidades independentes, os meta-dados constituem assim a única forma de certificação da qualidade da informação. A meta-informação é assim o elemento da estratégia de informação da AP que pode permitir a construção de relações simbióticas entre o estado e a iniciativa privada. A publicação da informação da AP de múltiplas formas por terceiros cria inúmeras possibilidades de organização da informação existente, mantendo o Estado o estatuto de produtor da informação vital para a sociedade. Em contrapartida, apesar de interessante, o modelo de publicação da informação pública em portais da AP vocacionado exclusivamente para fornecimento directo ao utilizador final, limitaria severamente as possibilidades de reutilização da informação produzida pela AP. A nível mundial, a Dublin Core Metadata Initiative constitui a principal referência, havendo inclusivé vários estados que participam no desenvolvimento de extensões desta referência para suporte de necessidades específicas das administrações públicas. Vários governos emitiram já mandatos sobre a necessidade dos seus órgãos publicarem metainformação, seguindo as directivas desta iniciativa. A este título, o que tem já sido feito por outros estados membros, como a Irlanda ou o Reino Unido, pode perfeitamente servir de referência para o caso português. A institucionalização da produção de meta-dados de qualidade é contudo difícil. Ao contrário dos projectos de construção de portais, não existe forma de as chamadas empresas de “prestação de serviços” realizarem eficientemente o trabalho de produção -2- de meta-informação da AP sob a forma de contrato chave-na-mão. Não porque o processo seja inerentemente interminável, mas porque este não é de renovação tecnológica mas essencialmente de reorganização administrativa. Impõe assim que esta seja conduzida a partir do interior para que a produção de meta-informação seja endogeneizada. Caso contrário, esgotados os recursos para financiamento do processo de modernização, esgotar-se-ão também os meios para produção de informação e metainformação. Uma segunda componente fundamental da modernização da AP será um motor de pesquisa exclusivamente dedicado à sua catalogação num único índice. A já referida quantidade de informação existente tornará impossível à quase totalidade dos cidadãos a construção de um modelo cognitivo estruturado reflectindo a estrutura de informação e a relação dos serviços da máquina administrativa. Será por conseguinte fundamental um serviço de pesquisa especializado na informação governamental para delimitar o seu âmbito. No entanto, ao contrário do que se observa noutros estados, este serviço público não é ainda oferecido aos cidadãos portugueses. Estes são forçados a recorrer a motores de índole comercial que não indexam apenas a informação governamental e a apresentam segundo critérios não necessariamente informativos. A premência de um serviço de busca na informação pública de um estado moderno cuja máquina administrativa assenta em tecnologias de informação justifica-se por várias razões: • Os motores servem interesses comerciais e podem, por essa mesma razão, ser utilizados malevolamente para induzir informação errada ou conduzir o leitor a sítios da Internet fora do alcance e adversos aos interesses do Estado. • Os motores comerciais utilizados pelo cidadão não são, regra geral, especializados no contexto da sociedade portuguesa ou nos temas da AP. Uma pesquisa por “IRS” num motor à escala global dificilmente levará o leitor às páginas da DGCI. • Os motores comerciais não indexam a totalidade da informação, mas apenas as páginas principais. O cidadão poderá estar interessado no acesso a documentos de informação que não sejam indexados, por exemplo, por os motores de pesquisa limitarem em geral o número máximo de páginas que indexam gratuitamente de cada domínio Web. -3- Um motor especializado para processamento da informação da AP faz assim sentido, visto centralizar uma função que é necessária a todos os seus portais e sítios web, implicando uma redução muito elevada tanto de recursos computacionais como de técnicos especializados. Por estar vocacionada para um fim específico, a operação de um motor pela AP iria permitir oferecer um serviço com uma qualidade superior ao dos motores comerciais ou ao que resultaria da instalação de serviços de pesquisa independente em cada um dos portais a suportar pelo estado. A história curta da Web na AP regista já um número elevado de serviços que passaram pela experiência de concretização desta última alternativa e redundaram em fracasso. Finalmente, a questão da produção dos meta-dados e da indexação da informação por um motor de pesquisa da AP não devem ser completamente desacopladas. Um motor de pesquisa moderno, como o tumba! pode vir a tirar partido da riqueza semântica adicionada aos documentos Web da AP pelos meta-dados, ajudando os utentes a localizar os serviços que procuram. Mas, os motores da AP não estariam em particular vantagem relativamente a outros que viessem também a tirar partido dessa metainformação. O objectivo da publicação de meta-dados é precisamente o de permitir a sua reutilização de formas não antecipadas ou de forma idêntica mas melhor e mais eficaz. É a meta-informação que abre as portas à criação de economias de serviços de informação, mas os motores de pesquisa são os guias incontornáveis a sua descoberta. -4-