UM PRELÚDIO DA ARTE DE AMAR NAS ELEGIAS II, 2 E II,10 NOS
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UM PRELÚDIO DA ARTE DE AMAR NAS ELEGIAS II, 2 E II,10 NOS
UM PRELÚDIO DA ARTE DE AMAR NAS ELEGIAS II, 2 E II,10 NOS AMORES DE OVÍDIO Vanessa de Souza Peres Mestranda em Letras Clássicas, UFRJ. [email protected] RESUMO O trabalho possui o objetivo de analisar a forma com que o amor é apresentado nas elegias II,2 e II,10 na obra Amores de Ovídio tendo por base a comparação entre esta representação de amor e aquela vista em Epidicus de Plauto. Embora os autores pertençam a períodos diferentes, apresentam semelhanças curiosas. Palavras-chave: Ovídio – comédia- fingimento RESUMEN El trabajo posee el objetivo de analizar la forma con que se presenta el amor en las elegías II,2 y II,10 en la obra Amores de Ovidio, basándose en la comparación entre este representación del amor y aquélla vista em Epidicus, de Plauto. Aunque los autores pertenezcan a períodos distintos, presentam curiosas semejanzas. Palabras-clave: Ovidio, comedia, actuación Levando-se em consideração que o amor é um tema universal e que, por isso, se faz presente em todas as épocas na história do ser humano, é interessante observar através de obras literárias a forma com que ele é tratado dependendo do universo cultural de quem o aborda. Observando por esta perspectiva, o sentimento amoroso é um dos objetos mais interessantes de análise e compreensão dos costumes humanos. Segundo Grimal, Preenchendo uma grande parte da vida pessoal, o sentimento amoroso, sob uma forma ou outra, tem ecos em muitos domínios. Não há nenhuma literatura que não lhe dedique um lugar proeminente; até as epopeias heroicas das épocas mais antigas conhecem os amores dos heróis, ou mesmo dos deuses. (2005, p. 11) Assim, embora o sentimento amoroso faça parte da consciência coletiva universal, não se pode analisá-lo sob a mesma perspectiva, uma vez que a manifestação/representação desse sentimento está ligada a valores e costumes morais, a aspectos religiosos e culturais de uma sociedade em um determinado espaço e tempo. Quando o objeto de pesquisa se trata da Roma antiga, não se pode analisar a forma com que o amor aparece em determinada obra sob a mesma perspectiva que temos atualmente. Grimal (2005, p. 14-15) afirma que o amor dos romanos, a partir de uma concepção contemporânea, goza de má reputação. Para os romanos, na verdade, o ato de amor em si não poderia ser julgado bom ou mau; o julgamento em bem ou em mal depende apenas do objeto com o qual se realiza e das consequências que acarreta. Tendo essas considerações em mente, este trabalho visa analisar, mesmo que de forma breve, como o amor é apresentado pelo poeta Ovídio em algumas elegias da sua obra amores. Para isto, dentre três livros que compõem esta obra, escolheram-se as duas elegias II, 2 e II,10 a partir de suas semelhanças com a representação de amor vista na comédia Epidicus, de Plauto. Apesar de pertencerem a épocas diferentes, não seria esdrúxulo compará-los visto que, Segundo Elisabete Costa, A elegia erótica apresenta um variado quadro de personagens um tanto quanto burlescas, como o caso do jovem apaixonado diante da porta fechada de sua amada, ou o do marido ciumento. Esses são personagens em cujo lugar o poeta se coloca, pois escreve na primeira pessoa do singular, mas existe também uma outra personagem igualmente importante e burlesca, o escravo que, cheio de artimanhas, tenta enganar o seu senhor e ajudar sua senhora em suas fugas. Dentro desse elenco de personagens-tipo tão apreciados nos tempos antigos do teatro romano, encontra-se a figura feminina que era objeto da intriga amorosa. (2006, p.13) Ovídio e sua obra Segundo Elisabete Costa (2006, p.14), a elegia apareceu na Grécia junto a outras manifestações da poesia lírica; inicialmente não era reconhecida como um gênero literário, mas era uma forma muito comum entre os poetas devido ao fato de dar mais liberdade para expressar qualquer forma de sentimento, pois servia para exposição de um ponto de vista, indo da expressão patriótica à de caráter moral e sentimental. Junto com o iambo, a elegia representará, entre os séculos VIII e VII a.C., no período chamado de Idade Lírica, uma liberdade e uma evolução em relação à poesia épica, ao acrescentar ao hexâmetro o pentâmetro, formando o dístico elegíaco. Durante o século V, a elegia perde um pouco de sua influência, mas a recupera com os Alexandrinos, que a transformam em sua forma literária preferida e modificam seu tema. A elegia passa, então, a tratar de temas mitológicos, e especialmente, faz uso da temática amorosa. Como poesia erótico-mitológica, a elegia é introduzida em Roma, através de Calímaco, onde recebeu uma grande acolhida entre os poetae noui. De forma geral, os latinos Propércio, Tibulo e Ovídio passaram a desenvolver um tipo de poesia tida como elegia amorosa. Públio Ovídio Nasão nasceu em 20 de março de 43 a.C. em Salmona, na Itália. Filho de família abastada, teve educação privilegiada e formação esmerada. Durante sua educação percebeu que não tinha vocação para o direito embora fosse essa a carreira que seu pai queria que abraçasse. Para completar sua formação, viajou por muitos lugares, inclusive Atenas e, a partir daí, consolidou sua fascinação pela arte e pela poesia. Segundo Maria Pimentel e Nuno Rodrigues (2010, p.p 5-6), entre os anos 20 a.C. e 8 d.C., Ovídio Nasão conheceu os maiores elogios, sendo reconhecido pela sua dramaturgia, pelos seus poemas eróticos, pela epistolografia literária e pelas suas obras magistrais. Sabe-se através do mesmo que teria composto uma tragédia, Medeia, hoje perdida. Pertencem a ele os Amores, três livros de elegias amorosas; a Ars amatoria, manual prático do amor; os Remedia Amoris, manual de como pôr termo ao amor; os Medicamina faciei femineae, um opúsculo poético que trata de cosmética chegando até nós incompletos. As Heroides, que originalmente consistiam em quinze cartas fictícias escritas por heroínas da história e mitologia Greco-romana aos seus amados. As classificadas como “obras magistrais” são as Metamorphoses e os Fasti. A primeira é, sobretudo, uma epopeia em quinze livros, mais longa do que a própria Eneida de Vergílio, consistindo numa série de relatos lendário mitológicos romanos, gregos e orientais, cujo elo comum é o tema da metamorfose, ainda que este seja considerado às vezes por alguns o tópico menos importante na narrativa. As Metamorphoses viriam a se tornar um dos textos mais importantes na constituição da matriz cultural europeia, com ecos nas artes plásticas (pintura, escultura e azulejaria) e na literatura (teatro, epopeia, lírica, romance e contemporaneidade. consequentes adaptações ao cinema), do medievo à Elegia II, 2 II, 2 Quem penes est dominam seruandi cura, Bagoe, dum perago tecum pauca, sed apta, uaca. Hesterna uidi spatiantem luce puellam Illa, quae Danai porticus agmen habet. Protinus, ut placuit, misi scriptoque rogaui. rescripsit trepida 'non licet!' illa manu; et, cur non liceat, quaerenti reddita causa est, Quod nimium dominae cura molesta tua est. Si sapis, o custos, odium, mihi crede, mereri desine; quem metuit, quisque perisse cupit. Vir quoque non sapiens; quid enim seruare laboret, unde nihil, quamuis non tueare, perit? Sed gerat ille suo morem furiosus amori, et castum, multis quod placet, esse putet; huic furtiua tuo libertas munere detur, quam dederis illi, reddat ut illa tibi. Conscius esse uelis—domina est obnoxia seruo; conscius esse times:dissimulare licet. scripta leget secum:matrem scripsisse putato. Venerit ignotus: postmodo notus erit. Ibit ad adfectam, quae non languebit, amicam: uisat, iudiciis aegra sit illa tuis. Si faciet tarde, ne te mora longa fatiget, inposita gremio stertere fronte potes. Nec tu, linigeram fieri quid possit ad Isim, quaesieris; nec tu curua theatra time. Conscius adsiduos commissi tollet honores. Quis minor est autem quam tacuisse labor? Ille placet, uersatque domum, neque uerbera sentit; ille potens;alii, sordida turba, iacent. huic, uerae ut lateant causae, finguntur inanes; atque ambo domini, quod probat una, probant. Cum bene uir traxit uultum rugasque coegit, quod uoluit fieri, blanda puella, facit. Sed tamen interdum tecum quoque iurgia nectat, et simulet lacrimas carnificemque uocet. Tu contra obicies, quae tuto diluat illa, in uero falso crimine deme fidem. Sic tibi semper honos, sic alta peculia crescent. haec face, et exiguo tempore liber eris. Adspicis indicibus nexas per colla catenas; squalidus orba fide pectora carcer habet. quaerit aquas in aquis et poma fugacia captat Tantalus;hoc illi garrula lingua dedit. Dum nimium seruat custos Iunonius Io, ante suos annos occidit; illa dea est. Vidi ego conpedibus liuentia crura gerentem, unde uir incestum scire coactus erat. poena minor merito. Nocuit mala lingua duobus: uir doluit, famae damna puella tulit. Crede mihi, nulli sunt crimina grata marito, nec quemquam, quamuis audiat, illa iuuant. Seu tepet, indicium securas perdis ad aures; Siue amat, officio fit miser ille tuo. Culpa nec ex facili, quamuis manifesta, probatur; iudicis illa sui tuta fauore uenit. Viderit ipse licet, credet tamen ille neganti damnabitque oculos et sibi uerba dabit: adspiciet dominae lacrimas; plorabit et ipse, et dicet: 'poenas garrulus iste dabit!' quid dispar certamen inis? tibi uerbera uicto adsunt, in gremio iudicis illa sedet. Non scelus adgredimur, non ad miscenda coimus toxica, non stricto fulminat ense manus. Quaerimus, ut tuto per te possimus amare. Quid precibus nostris mollius esse potest? Tradução: Bagoas, nas tuas mãos está o cuidado de guardar a tua senhora, enquanto falo contigo umas poucas palavras, mas apropriadas, descansa. Vi ontem uma jovem passeando naquele pórtico que tem a descendência de Dânao. Sem mais delongas, como me agradou, enviei-lhe um recado e por escrito a cortejei. Ela, com a mão trêmula, escreveu em resposta: não é permitido! E ao lhe perguntar por que não é possível, replicou-me o motivo: que teu excessivo cuidado é custoso a tua senhora. Se sabes, ó guarda, creia em mim, deixa de merecer ódio; aquele que teme alguém deseja ter morrido. O homem também não é sábio, na verdade, por que se esforçar em guardar, de onde mesmo sem proteção nada desaparece? Mas que ele se renda desvairado ao seu amor, e que pense ser casto aquilo que a muitos agrada; e lhe seja dada com a tua graça uma furtiva liberdade, a que tu deres, que ela lhe dê. Queiras ser cúmplice, a senhora está submetida ao seu escravo; temes ser cúmplice: é permitido fingir. Lerá cartas consigo: pensarás que foi a mãe quem escreveu, se chegar um desconhecido: logo será conhecido. Irá ver uma amiga enferma que não está doente: que visite, que esteja doente com teus pareceres. Se ficar tarde, para que uma longa espera não te canse, podes deixar cair a cabeça sobre o peito e tirar um sono. Não questiones tu aquilo que possa fazer no templo de Ísis, a deusa que aprecia o linho. Nem temas o que faz nas arcadas do teatro. Um cúmplice consegue que lhe sejam dadas honras sem fim. No entanto, que trabalho é menor do que ficar calado? Aquele agrada, volta para casa e não sente os açoites; aquele tem poder, os outros, gente desprezível, jazem. Para que as verdadeiras razões permaneçam escondidas para ele, falsas são forjadas; e aquilo que uma confirma, ambos confirmam para o senhor. Quando o homem, com razão, contrai o rosto e franze as rugas, o que a meiga jovem quiser que seja feito, ele o faz. Mas que ela também por vezes invente querelas contigo e simule lágrimas e te chame de carrasco. Que tu em troca exponhas fatos que ela explique sem perigo, arranque a crença na verdade com um falso argumento. Assim, tu terás sempre recompensas. Assim, tuas economias crescerão. Faz isso, em breve tempo serás livre. Olhas para os laços que entrelaçam os pescoços dos denunciadores. Um cárcere horrível tem os corações privados de felicidade. Tântalo procura água na água e procura apanhar os frutos que fogem, sua língua fofoqueira lhe deu isto. Enquanto em demasia o guarda de Juno guarda Io, morre antes do tempo; e ela vira deusa. Eu vi alguém arrastando as pernas roxas por causa dos grilhões, de onde um homem era forçado a dizer sobre o adultério. É mais brando o castigo que merecia, a má língua prejudicou ambos: o homem sofreu, a jovem recebeu os danos da má reputação. Creia em mim, os adultérios não são gratos a nenhum marido e apesar de ouvir falar neles, a ninguém agradam. Ou se ele tem algum sentimento, tu perdes as denúncias com orelhas surdas; ou se a ama, ele se torna infeliz com o teu serviço. Nem a culpa por evidente que seja não é facilmente comprovada; ela vem com segurança nas boas graças de quem a julga. É permitido ao próprio que tenha visto, contudo ele crê naquela que nega e condenará os próprios olhos e dará palavras para si: olhará as lágrimas da senhora, não só o próprio chorará, mas também dirá: “Este linguarudo sofrerá castigos!” Que combate desigual começas? Haverás açoites para ti que foi vencido, aquela repousa no colo do juiz. Não cometemos um ato criminoso, não nos juntamos para preparar venenos, não fulmine as mãos com uma espada desembainhada. O que buscamos é poder amar em segurança com tua ajuda. O que pode ser mais brando do que nossos pedidos? Nesta elegia, assim como o jovem apaixonado, personagem-tipo da comédia nova herdado pela comédia romana, cuja uma das características é a necessidade da figura do escravo para lhe ajudar a resolver as suas conquistas amorosas, o poeta interpela a Bágoas cuja condição de escravo é expressa através da designação da mulher pelo vocábulo dominam e pelo gerúndio seruandi. No entanto, esse jovem representado pelo eu elegíaco do poema, ao contrário do que acontece na comédia, dita as regras do jogo, fornecendo artimanhas para o escravo. Pelo fato do poeta estar tão preocupado com a ajuda do mesmo, pode-se entender que a mulher seria de difícil acesso, provavelmente casada, mas isto fica mais claro nos versos seguintes, nos quais é descrito o lugar em que ela foi vista porticus Danai, sendo este lugar conhecido por passeios que a sociedade elegante fazia. Em seguida, o poeta deixa claro que a mesma aceitou ser cortejada, embora a presença do escravo seja o empecilho, dando a entender que dependeria apenas do escravo a possibilidade de realização do relacionamento. Os sintagmas Manu trepida e non licet denunciam a aceitação do flerte. De uma forma geral, este poema pode ser fragmentado em algumas etapas. Neste primeiro segmento versos 1-8 o poeta apresenta a situação deixando explícitos alguns fatores desse jogo amoroso como se fosse um prólogo: há o objeto, uma mulher de boa situação financeira; o empecilho, apenas o escravo, porque a mulher já foi conquistada. Pode-se entender que na medida em que o poeta apaixonado precisa da ajuda de outrem para conquistar o seu objeto de desejo, sua condição muda nesse jogo. Para cair nas graças de sua amada, o poeta do amor vira escravo de sua própria necessidade de ser amado, não vê empecilho como homem livre humilhar-se, ao recorrer à ajuda do escravo, tentando lhe convencer. No verso 9 há a inserção de outra interpelação, o vocativo o custos ainda se referindo ao escravo. Nesta segunda parte, o poeta parece tentar conquistar a parceria do escravo em seu intento, uma espécie de captatio beneuolentiae, argumentando que se não ajudasse a sua senhora poderia adquirir o seu ódio e que isto não seria sábio. Além disso, afirma que aquilo que pede não é difícil de conseguir, visto que o marido expresso na elegia pelo vocábulo uir não perceberia as artimanhas, já que este é non sapiens. Com isso, o marido irá continuar pensando que o seu amor é casto, a mulher ganhará alguma liberdade graças ao escravo e em troca ela fará o mesmo por ele. Por fim, para fechar essa segunda etapa, o poeta resume o pedido perguntando se o escravo aceita ser cúmplice dos amantes. Neste jogo, nota-se até este momento que a mulher está submetida ao seu escravo domina est obnoxia seruo, o escravo não está submetido a ninguém e o poeta também está submetido ao escravo, pois precisa do seu consentimento para facilitar os encontros. No verso 19 aparece o poeta como se fosse escravo, apto nas artimanhas de enganar, ensina truques para Bagoas, argumenta que não precisa ter medo e que para favorecer os amantes é permitido fingir. As lições de como o escravo deve se comportar se estendem pelos próximos 9 versos, lições estas que, de modo geral, poderiam ser atribuídas a qualquer um que quisesse vivenciar o que o poeta experimenta no seu escrito. Já que se associa Ovídio ao tema amor por se tratar do poeta latino que mais se destaca na explicitação do sentimento amoroso romano, no período de transição entre a República e o Império, podem-se encontrar vestígios nos amores do que viria a ser a obra A Arte de Amar,a qual goza de reputação escandalosa segundo algumas percepções não apenas para os padrões atuais, mas que também assim foi considerada em sua época. Acredita-se que tal obra foi o motivo que levou o imperador Augusto a exilar Ovídio por considerar seu poema impróprio para os padrões morais da sociedade romana da época. No entanto, Ovídio, como já pode ser notado neste fragmento, apenas pretendia ensinar as práticas amorosas vistas na época, pois o autor entendia que o amor é acima de tudo o desejo. Pelo que se sabe a vida de Ovídio, no que diz respeito ao aspecto amoroso, pode ser considerada familiar, uma vez que amou e foi fiel à sua esposa. Assim, Ovídio parece ter usado mais de sua criatividade do que de experiência própria para escrever sua obra tão famosa. No verso 28 quis minor est autem quam tacuisse labor? Além de ser fácil o trabalho que o poeta fornece ao escravo, de uma forma implícita lhe ameaça com chicotadas se não os ajudar, afirmando que o escravo que ajuda a sua senhora consegue adsiduos honores e neque sentit uerbera. Logo após, continua a dar ideias de como a senhora e o escravo devem se comportar até chegar a um ponto crucial desta análise Cum bene vir traxit uultum rugasque coegit, quod uoluit fieri, blanda puella, facit mostrando a superioridade da mulher na relação amorosa. Assim, é interessante notar que apesar de não haver uma presença significativa da figura feminina neste poema, Ovídio dá voz a ela mesmo que implicitamente, na medida em que ela adquire uma posição ativa e mais proeminente nesse jogo da sedução e conquista, na medida em que a companheira é onipotente; seu poder se exerce primeiro sobre aquele a quem outrora (num casamento à moda antiga) ela deveria respeito e obediência. Por uma curiosa inversão, o homem se torna escravo porque ama, porque não conta com a proteção das leis: se deseja manter uma ligação que lhe dê felicidade, deve saber que tal felicidade não depende dele, e sim de uma dessas criaturas ditas mutáveis, apaixonadas, mentirosas, infiéis. (GRIMAL, 2006, p. 160) Isso é compreensível porque os tempos são outros, Ovídio vivendo na segunda metade do século I a.C e nos primeiros anos da nossa era, durante o período de Augusto, e no início do governo de Tibério, presenciou as modificações decisivas que ocorreram nessa época: pôde ver os movimentos que consolidaram a Pax Romana, a implantação das políticas do princeps, observou a evolução social e cultural que se processava em Roma e viveu as consequências da estrutura vigente. Segundo Gálan, Ocasionando não somente a troca de conduta feminina nas últimas décadas da República, inscrita num clima de agitação sociopolítica de Guerras Civis que habita um espaço de crescente importância para os interesses e gostos individuais e pelo descrédito no ideal comunitário do Estado. O matrimônio se enfraquece como instituição reguladora da concórdia civil e aumento social, e se perseguem novas formas de relação impulsionada por filosofias helenísticas e expressões religiosas orientais que buscam a felicidade pessoal do indivíduo desprendido de compromissos diretos com a República. (GÁLAN in O feminino na obra Arte de Amar de Ovídio: livro III , p.8) A instituição do casamento era considerada sagrada, à medida que era objeto de perpetuação da raça. Portanto, podemos concluir que o amor em Roma tinha duplo caráter, isto é, havia maior tolerância quanto ao amor sob a perspectiva de mera realização carnal, mas era visto com mais rigor, de caráter sagrado como objetivo de reprodução dentro do casamento. O eu elegíaco encerra este fragmento com o desejo mais profundo daquele que possui o status de escravo, a liberdade. O poeta, para finalizar, em vez de utilizar argumentos relacionados ao amor, tenta convencer o escravo a ajudar os amantes com este argumento. Desse modo, com as recompensas adquiridas através dos favores feitos ele poderá comprar a sua liberdade. Nos versos seguintes, o poeta se utiliza de fatos pertencentes à mitologia não só para mostrar a sua erudição, mas também para sustentar o discurso ao seu favor na sua empreitada a favor do seu jogo amoroso. Um discurso voltado para aqueles que são denunciadores, cujo castigo é o cárcere e os grilhões carcer squalidus e conpedibus. Vale ressaltar que o exemplum citado pelo poeta amante ainda apresenta uma moral favorecendo o lado feminino a partir do momento em que no final a mulher triunfa e que, no final, todos se prejudicam com a denúncia do adultério; aquele que delata recebe castigo, a mulher adúltera recebe má fama e o marido não acredita no crime cometido. É interessante notar que quanto ao amante não se tem notícia na elegia, talvez pelo fato de a persuasão se dirigir ao escravo da senhora, para este pouco importa o que poderá acontecer ao amante se for descoberto o relacionamento. A partir do verso 52 a elegia ressalta a superioridade da mulher nessa relação. Se o adultério for descoberto pelo marido, este ainda ficará ao lado de sua esposa e punirá o escravo pela denúncia, assim como o exemplum citado pelo poeta demonstrara em relação ao castigo. Talvez essa defesa de Ovídio em relação às mulheres tenha respaldo nas próprias transformações sociais da época. Segundo Costa, a maior parte dos leitores de elegias consistia em mulheres. A emancipação da mulher dentro da sociedade romana, que começou pouco depois das Guerras Púnicas, contribuiu não só para o aumento da liberdade sexual das mulheres, mas também para um desejo maior de instrução. Nos versos finais fica evidente que há uma distinção entre aquilo que pode ser mostrado e aquilo que deve ser omitido, vida privada versus vida pública quanto à questão da abordagem amorosa. Na peça Epidicus, de Plauto, também há esse tipo de questionamento envolvendo fatores que diferenciam a vida amorosa pública e privada para os romanos, no entanto com problematizações daquela época, como por exemplo, o casamento entre meio irmãos permitido na Grécia. De uma forma geral, pode-se notar que nesta elegia não é a condenação do adultério que está em voga, mas o seu esconderijo, o que importa é não passar pela humilhação aos olhos dos outros ou mesmo com as palavras de André, A infidelidade deixa de ser uma questão essencial; o importante é a capacidade de dissimular. Em outras palavras: desde que não seja afetada aos olhos de outros (e também aos seus olhos) a imagem da amada, todas as traições são consentidas; consentidas porque ignoradas. A moral é substituída pelo culto da vergonha e pelo culto do amor-próprio. (André, 2011 p.90) Ainda sobre esse jogo amoroso presenciado nessa elegia, ganha destaque o papel do escravo; assim como na comédia supracitada, cabe a ele resolver as intrigas amorosas dos senhores, fazendo uso, principalmente, da dissimulação. Enfim, segundo Veyne, “La ficción prescinde de la realidad, y la forma desmiente al contenido: pero cierta sinceridad puede ser amanerada; si nos atenemos al texto, esta estética instituía un equilibrio indeciso entre la verdad y el juego”. ( 2006, p.16) Elegia II, 10 II, 10 Tu mihi, tu certe (memini) Graecine, negabas uno posse aliquem tempore amare duas. Per te ego decipior, per te deprensus inermis— ecce, duas uno tempore turpis amo. Vtraque formosa est, operosae cultibus ambae; artibus, in dubio est, haec sit an illa prior. Pulchrior hac illa est, haec est quoque pulchrior illa; et magis haec nobis, et magis illa placet. Errant, ut uentis discordibus acta phaselos, diuiduumque tenent alter et alter amor. Quid geminas, Erycina, meos sine fine dolores? Nonne erat in curas una puella satis? Quid folia arboribus, quid pleno sidera caelo, in freta collectas alta quid addis aquas? Sed tamen hoc melius, quam si sine amore iacerem. Hostibus eueniat uita seuera meis! Hostibus eueniat uiduo dormire cubili et medio laxe ponere membra toro; at mihi saeuus amor somnos abrumpat inertes, simque mei lecti non ego solus onus. Me mea disperdat nullo prohibente puella, si satis una potest, si minus una, duae! Sufficiam (graciles, sed non sine uiribus artus; pondere, non neruis corpora nostra carent) et lateri dabit in uires alimenta uoluptas: decepta est opera nulla puella mea. Saepe ego lasciue consumpsi tempora noctis utilis et forti corpore mane fui. Felix, quem Veneris certamina mutua rumpunt! Di faciant, leti causa sit ista mei! Induat aduersis contraria pectora telis Miles et aeternum sanguine nomen emat. Quaerat auarus opes, et quae lassarit arando aequora periuro naufragus ore bibat. At mihi contingat Veneris languescere motu, quum moriar, medium soluar et inter opus; atque aliquis nostro lacrimans in funere dicat 'conueniens uitae mors fuit ista tuae'. Lembro-me que tu, Gracino, certamente me negavas poder amar ao mesmo tempo duas mulheres. Por tua causa fui iludido, por tua causa fui surpreendido... Eis que amo vergonhoso duas as mesmo tempo. Uma e outra são formosas, ambas esmeradas em seus adornos; nas artes, estou em dúvida se acaso esta supera aquela. Aquela é mais bela que esta, esta é também mais bela que aquela; ao mesmo tempo esta e aquela nos agrada mais. Andam sem destino como um barco impelido por ventos e tem-me dividido um e outro amor. Ericina, por que tu dobras minhas dores sem fim? Acaso não seria o bastante uma mulher para meus cuidados? Por que tu acrescentas folhas às árvores, estrelas ao repleto céu, contidas águas aos altos mares? Mas isto é melhor que morrer sem amor. Que uma vida austera chegue aos meus inimigos! Que aos inimigos caia em sorte dormir em cama vazia e estender os membros largamente no meio do leito; que o furioso amor arranque meus sonos entorpecidos, que eu não seja o único peso do meu leito. Que a minha amada me esgote sem que ninguém impeça, se uma pode tanto, se uma é pouco, duas! Hei de aguentar minhas articulações frágeis, mas não sem força; nossos corpos carecem de peso e não de nervo. O prazer dará alimentos e forças para o nosso corpo: minha amada não foi enganada em nenhuma tarefa. Muitas vezes eu consumi lascivamente toda uma noite e de manhã estava bem com o corpo forte. Feliz aquele a quem os mútuos combates de Vênus esgotam! Que os deuses façam com que esta seja a causa da minha morte! Que o soldado ofereça o peito hostil às armas inimigas e compre um nome eterno com sangue. Que o avarento busque riqueza e beba com sua boca perjura as águas do mar que um náufrago cansou de sulcar. A mim que caiba extinguir-me no movimento de Vênus quando morrer e for destruído no meio do trabalho; e que alguém, chorando em nosso funeral, diga: esta morte foi de acordo com a tua vida. Esta elegia endereçada supostamente a um amigo Gracine aborda a questão de possuir como objeto de desejo duas mulheres ao mesmo tempo, tal qual também pode ser visto na peça Epidicus de Plauto. Esta apresenta como enredo principal a história de um jovem que se apaixona por duas mulheres e vários elementos são inseridos aos poucos ao enredo desta peça, fazendo com que a mesma se torne um emaranhado de relações amorosas e confusões. Sendo a atenção do espectador/leitor voltada para as ações do escravo Epídico, cujo dever era resolver os problemas criados pelo seu senhor Estratípocles, apresenta duas jovens que servem como objeto da intriga amorosa. Tanto lá como aqui parece haver dois discursos que se contrapõem, um repreende a inconstância do amor e outro a apoia como pode ser visto, cada obra a sua maneira, nos versos per te ego Per te ego decipior, per te deprensus inermis— ecce, duas uno tempore turpis amo. O eu elegíaco é criticado por amar duas mulheres ao mesmo tempo turpis, isto também acontece com o jovem Estratípocles em Epidicus como pode ser visto no diálogo abaixo: TH. Est causa qua causa simul mecum ire ueritust. EP. Quidnam id est? TH. Patrem uidere se neuolt etiamnunc. EP. Quapropter? TH. Scies. quia forma lepida et liberali captiuam adulescentulam de praeda mercatust. EP. Quid ego ex te audio? TH. Hoc quod fabulor. EP. Cur eam emit? TH. Animi causa. EP. Quot illic homo animos habet? nam certo prius quam hinc ad legionem abiit domo, ipsus mandauit mihi ab lenone ut fidicina, quam amabat emeretur sibi; id ei impetratum reddidi. (PLAUTO, 1972 versos 41- 48 p.121-122) TH. Há uma razão... Por esta razão ele teve medo de vir comigo. EP. Que razão é esta? TH.Ainda agora não quer se encontrar com o pai. EP. Por quê? TH.Saberás.Porque ele comprou uma jovem cativa presa de guerra graciosa e formosa. EP.O que eu ouço de ti? TH.Isto que falo. EP. Por que a comprou? TH.Por causa do coração. EP. Quantos corações tem esse homem? Na verdade, antes de sair daqui de casa para a guerra, ele próprio me mandou comprar uma tocadora de lira do leno,a qual andava enamorado e queria para si; e eu consegui para ele o que pediu. O poeta não consegue decidir entre uma e outra já que ambas o agradam, interessante notar que em ambas as obras (elegia II,10 e Epidicus) há a metáfora da embarcação impelida pelos ventos errant, ut uentis discordibus acta phaselos (verso 9) e Vtcumque in alto uentust, Epicidice,exim uelum uortitur (verso 50) para afirmar que a mudança rápida que existe entre um amor e outro é natural. No verso 11 a elegia é direcionada à própria deusa do amor Vênus quis geminas, Erycina, meos sine fine dolores? O poeta lhe questiona o porquê de amar duas ao mesmo tempo, mas ainda agradece, pois para o mesmo é melhor do que morrer sem amor. Na verdade, poderia ser dito que o próprio amor impulsiona a vida do poeta, que mais do que experimentá-los, este é a sua matéria, a sua obra. Nos versos seguintes é perceptível que o amor para o poeta amante possui sempre uma configuração física, assim pode ser traduzido como troca de favores sexuais. O amor apresentado é dificilmente compreensível à margem dessa dimensão física; nas duas elegias apresentadas neste trabalho não há uma espécie de celebração de sua amada, enquanto amante, a noção ovidiana de amor implica a entrega dos corpos, a partilha e a reciprocidade do prazer hostibus eueniat uita seuera meis! Hostibus eueniat uiduo dormire cubili. O tom jogoso do poeta torna-se evidente nos versos 21-22 me mea disperdat nullo prohibente puella, si satis una potest, si minus una, duae! A problemática da dúvida no amor é resolvida, o amante precisa ter as duas. Segundo Veyne, Esta heroína, aunque adorada por poetas nobles, no es una dama noble, a diferencia de su posteridad literaria; entonces, ¿ qué se supone que es? Una “irregular”, una de aquellas com quienes uno no se casa: nuestros poetas no dan más información, y veremos que no necessitan decir más para que el género elegiaco sea lo que es. He aquí, pues, a unos oradores que están dispuestos a todo por su dama, salvo a desposarse con ella. (VEYNE, 2006 p.8) Na elegia II, 2 a relação entre amantes distingue-se da que existe entre cônjuges. Enquanto que a primeira é furtiva, a segunda possui legitimidade legal, o que significa que está mais fundamentada no interesse, pois segundo Costa, apesar da desvalorização da instituição do casamento na época de Augusto, a moral cívica ainda pregava que “casar-se era um dos deveres do cidadão” O casamento era um dever entre outros, uma opção, assim como era entrar para a carreira pública ou permanecer na vida privada, tornar-se orador ou militar. Assim, enquanto que a relação entre cônjuges não pressupõe o prazer como objetivo, a dos amantes o possui como fundamento. Na elegia II,10 isso é claro pelo uso constante de vocábulos que remetem ao corpo. A metáfora do combate amoroso, tão usada pelos elegíacos, nos faz entender a sua pertinência para o tema que nos ocupa neste momento, a força física aqui ligada ao prazer, tão necessária na guerra, quanto no amor Felix, quem Veneris certamina mutua rumpunt! Cabe ressaltar que em ambas as elegias não há uma moral que reprima esse tipo de relação amorosa, mas em momento algum o poeta faz menção de casar-se, o que vai de encontro com episódio tão conhecido em que Catão, o Censor, um dia, ao voltar do fórum, viu um jovem com o rosto coberto saindo de um prostíbulo. Ao reconhecer Catão, o rapaz enchera-se de vergonha, mas, no entanto, em vez de criticá-lo, o censor exclamou, dizendo que ele fazia bem em frequentar essas mulheres e não perturbar as moças honestas. O episódio ainda acrescenta que no dia seguinte, orgulhoso da aprovação de Catão, o jovem voltou ao mesmo lugar sendo flagrado outra vez pelo velho censor, que, em vez de cumprimentá-lo, o repreendeu: “Elogiei-te por frequentar essas mulheres, é verdade, mas não por morar com elas!” Por fim, Ovídio mesmo na arte de amar insistia em manter, mesmo que algumas vezes de maneira fugaz, a fronteira entre as matronas e as cortesãs, entre a fidelidade respeitosa das primeiras e o prazer amoroso desfrutado pelas segundas. Segundo Veyne, La elegía no pinta nada en absoluto y no impone a sus lectores el pensar en la sociedad real; ocurre en un mundo de ficcíon en que tambíen las heroínas son mujeres ligeras, en que la realidade sólo se evoca por relámpagos, más aún, por relámpagos poco coherentes. De una página a otra, Delia o Cincia podrían ser cortesanas, esposas adúlteras, mujeres libres; las más de las veces no se sabe lo que son, y nadie se preocupa por averiguarlo; son “irregulares”, y eso es todo. (VEYNE, 2006 p.15) CONCLUSÃO Quando se fala em antiguidade Clássica Greco-Latina é muito difícil emitir qualquer afirmação a respeito de uma realidade objetiva, já que as “certezas” históricas nascem de hipóteses. Neste trabalho levou-se em consideração o verossímil e o imagético, não apenas com o real do que nos apresentou o corpus escolhido. Quanto à ligação feita entre o amor representado em Epidicus e nas duas elegias, ambas apresentam em comum um relacionamento sem compromisso afetivo quando se tem por objeto uma amica, meretrix ou puella cuja característica básica é a infidelidade ou a partilha do seu amor, características da meretrix e das tocadoras de lira já retratadas, de um modo geral, no teatro plautino. Apesar de ambas as obras apresentarem, uma mais explícita do que a outra, um discurso mais tradicional, mais relacionado à moral, a família, funcionando como uma espécie de iniciação erótica e sentimental pré-matrimonial dos adolescentes romanos como os teóricos normalmente afirmam; por exemplo, os amores ovidianos dificilmente podiam ser ofensivos da moral, tradicionalmente tolerante com esses amores, desde que não estivesse em causa o património familiar, a reputação ou o cumprimento dos deveres cívicos, como foi visto tendo por base o fingimento; cada obra representa o amor de sua forma, em Plauto como pano de fundo herdado da comédia nova e em Ovídio como temática central, força motora do poeta. Pode-se dizer que essas semelhanças apesar da compartimentação de épocas, tanto em literatura como em história, a qual dificulta perceber aquilo que consideramos próprio de uma época, não são mais do que o ponto de chegada ou a síntese de tendências ou problemas que têm uma já longa elaboração. A maior diferença vista entre uma e outra obra se dá em relação às mulheres, para isto devem-se levar em consideração desenvolvimentos sociais e políticos na época de Augusto, cujas raízes seguramente se encontram na longínqua época das Guerras Púnicas, abrindo espaço de atuação para estas mulheres. Enfim, na elegia era cabível que o poeta cantasse temas modestos como o amor de uma perspectiva pessoal, já que cada poeta elegíaco o abordou de uma forma, se formos compará-los, e apaixonada, porque trazia, como eixo temático, as aventuras de um sujeito que não pretendia ser o herói da narrativa, nem descrito por seus feitos, mas era um sujeito que também militava e gostaria de morrer da mesma forma que viveu ‘conueniens uitae mors fuit ista tuae.’ REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CABECEIRAS, Manuel R. de V. Representações culturais e publicização da vida social na literatura latina: A mulher e o amor no ‘corpus ovidianum’.Publicado na revista Phoînix / UFRJ, Laboratório de História Antiga, Ano IV, Rio de Janeiro: Sette Letras, 1998, págs. 287-298. CAVALLO, Guglielmo; FEDELI, Paolo; GIARDINA,Andrea. O espaço literário da Roma antiga. Vol I: A produção do texto. Tradução: Daniel Peluci Carrara, Fernanda Messender Moura. Tessitura. Belo Horizonte, 2010. COSTA, Elisabete da S. 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