penadinho - Deus no Gibi

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penadinho - Deus no Gibi
Deus no Gibi
Entretenimento a serviço da educação e da espiritualidade
http://www.deusnogibi.com.br
PENADINHO
Um dia, a morte passa a fazer parte das nossas conversas. Falamos do time de futebol, da
nova série de TV, do alto preço das coisas, daquele restaurante novo e, também, da morte.
Pode ser numa referência ao amigo que se envolveu em um acidente de trânsito. Ou a respeito
daquele colega que se afastou para tratar uma doença. E, talvez, sobre a idade avançada do
pai, da mãe, tio, tia…
Na infância, na ordem ‘correta’ da existência, falar da morte não é um problema. Nesse caso,
ela tem outro valor. Quem não se lembra de brincar de “morto ou vivo”? Ou de uma partida do
“Jogo da Vida”, lotando o carrinho de plástico com filhos e filhas, fugindo da morte? E no
videogame, então? Morreu, começa de novo e tenta conseguir um “continue”, para seguir em
frente. Dá até para escolher com qual nível de crueldade vamos massacrar nosso adversário,
no Mortal Kombat. Já na batalha dos soldados de brinquedos, muitos morrem todo dia e voltam
pra caixa, esperando um novo confronto.
Mas, depois que a gente se torna adulto, não gosta de falar sobre a morte, sobre a verdadeira
perda da vida. Se a pessoa não é profissional da saúde, nem de segurança, certamente vai
evitar esse assunto na roda de amigos. Alguns dizem que falar disso dá azar, e tem outros que
nem em velório vão.
Até que a morte, silenciosamente, entra na rotina. E quem ouvia falar pouco de falecimentos,
não passa um mês sem saber de algum conhecido que passou dessa para outra, “melhor”.
Vizinho, amigo, conhecido, colega, parente. Assim, involuntariamente, todos passam a se
“interessar” pelo assunto – foi do quê? onde? demorou? sofreu?
Chega um ponto no qual já imaginamos como será a “vez” de alguma pessoa muito próxima –
isso se ela não trouxer o assunto à tona com frequência. Como aquele pai ou aquela mãe que,
dia sim dia não, anunciam que logo vão morrer; a tia que insiste em dizer que a pressão subiu
e quase “foi de vez”; o irmão que reclama da palpitação constante e do desmaio que sofreu…
Lembra de alguém?
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Essa constância do assunto não quer dizer que é possível encarar qualquer morte com
tranquilidade. É mentira. As tragédias provam isso.
A perda das crianças também.
Porque, na infância, morte deveria apenas parte do faz-de-conta, das brincadeiras. Não devia
colocar medo nas crianças doentes, nem assustar aquelas que moram em regiões violentas.
Não podia ser real. Deveria ser uma mentirinha, como um bicho-papão.
Na Turma do Penadinho, de Maurício de Sousa, é assim. Todo mundo ali passa a noite se
divertindo, mas já morreu. As criaturas assustam as pessoas, organizam brincadeiras, ajudam
os ‘vivos’. Não importa como foram parar naquele mundo de assombrações, nem se ele existe
de verdade. Na ‘aventuras’ desses personagens de terror, a morte é uma parceira de folia.
Ninguém guarda rancor daquela senhora de manto preto e foice, que tirou a vida de cada um.
E, talvez, você não tenha percebido: muitos ali são crianças. Penadinho, Alminha. Zé Vampir,
Muminho. A morte devia tomar os pequeninos só assim, na brincadeira, na ficção – como nas
histórias em quadrinhos.
Mas ela, a morte real, cedo ou tarde, vai nos amedrontar. Um dia, chegará. Ninguém sabe
como, quando, onde.
O que fazer? Não tenha medo de falar dela, de encarar a perda da vida. E aprenda a limitação
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da existência. Sêneca, o filósofo, escreveu:
“Ouvirás a maioria dizendo: ‘Aos cinquenta anos me dedicarei ao ócio. Aos sessenta, ficarei
livre de todos os meus encargos’. Que certeza tens de que há uma vida tão longa? (…) Não te
envergonhas de destinar para ti somente resquícios da vida e reservar para a meditação
apenas a idade que já não é produtiva? Não é tarde demais para começar a viver, quando já é
tempo de desistir de fazê-lo? Que tolice dos mortais a de adiar para o quinquagésimo e
sexagésimo anos as sábias decisões e, a partir daí, onde poucos chegaram, mostrar o desejo
de começar a viver? (…)
Deve-se aprender a viver por toda a vida e, por mais que te admires, durante toda a vida se
deve aprender a morrer.”
(extraído do livro “Sobre a brevidade da vida”)
Busquemos a plenitude da existência.
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