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ISSN 1517-8595 volume 2, número 2, julho - dezembro, 2000 Universidade Federal da Paraíba Centro de Ciências e Tecnologia Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais Brazilian Journal Agro-industrial Products ISSN 1517-8595 Campina Grande, PB v.2, n.2, p.101-196, 2000 UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA AGRÍCOLA ÁREA DE ARMAZENAMENTO E PROCESSAMENTO DE PRODUTOS AGRÍCOLAS EDITOR Mario Eduardo R. M. Cavalcanti Mata EDITOR ASSISTENTE Francisco de Assis Cardoso Almeida CORPO EDITORIAL Alexandre José de Melo Queiroz - DEAg/UFCG/Paraíba Carlos Alberto Gasparetto - FEA/UNICAMP/São Paulo Evandro de Castro Melo - DEA/UFV/Minas Gerais Francisco de Assis Santos e Silva - DEAg/UFCG/Paraíba José Helvécio Martins - DEA/UFV/Minas Gerais Jose Manuel Pita Villamil - DB/UPM/Espanha Josivanda Palmeira G. de Gouveia - DEAg/UFCG/Paraíba Leda Rita D'antonino Faroni - DEA/UFV/Minas Gerais Maria Elita Martins Duarte - DEAg/UFCG/Paraíba INFORMAÇÕES GERAIS A Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais é publicada semestralmente, podendo editar números especiais caso exista essa necessidade. A Revista tem por objetivo divulgar trabalhos técnicos científicos, técnicos, notas prévias e textos didáticos, originais e inéditos, escritos em português, espanhol e inglês, nas áreas do conhecimento em: Propriedades Físicas dos Materiais Biológicos; Armazenamento e Secagem de Produtos Agrícolas; Automação e Controle de Processos Agroindustriais; Processamento de Produtos Agropecuários; Embalagens; Qualidade e Higienização de Alimentos; Refrigeração e Congelamento de Produtos Agrícolas e Processados, além do Desenvolvimento de Novos Equipamentos e de Produtos Alimentícios. Os artigos publicados na Revista estão indexados no AGRIS AGROBASE e no CAB ABSTRACT. INFORMACIONES GENERALES Lincoln de Camargo Neves Filho - FEA/UNICAMP/São Paulo Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva - EMBRAPA/Paraíba Rogério dos Santos Serôdio - CEPLAC/Bahia Rossana Maria Feitosa de Figueirêdo Sandra Maria Couto - DEA/UFV/Minas Gerais Satoshi Tobinaga - FEA/UNICAMP/São Paulo Silvio Luis Honório - FEAGRI/UNICAMP/São Paulo Tetuo Hara - CENTREINAR/Minas Gerais Vicente de Paula Queiroga - EMBRAPA/Paraíba Vivaldo Silveira Junior - FEA/UNICAMP/São Paulo REVISÃO DE TEXTOS Português: Marli de Lima Assis José Salgado de Assis Inglês: Ápio Cláudio de Lima Assis REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Renato Fonseca Aragão Os assuntos, dados e conceitos emitidos por esta Revista, são da exclusiva responsabilidade dos respectivos autores. A eventual citação de produtos marcas comerciais não significa recomendação de utilização por parte da Revista. REVISTA BRASILEIRA DE PRODUTOS AGROINDUSTRIAIS PUBLICAÇÃO SEMESTRAL Av Aprígio Veloso, 882 - Caixa Postal 10.087 La Revista Brasileña de Productos Agroindustriales tiene una edición semestral, pudiendo editar números especiales caso exista esta necesidad. La Revista tiene por objetivo hacer una divulgación de los trabajos científicos, técnicos, notas previas y textos didácticos, originales e inéditos, escritos en portugués, español o ingles, en las áreas de conocimiento en: Propiedades Físicas de los Materiales Biológicos; Almacenamiento y Secado de Productos Agrícolas; Automación y Control de los Procesos Agroindustriales; Procesamiento de los Productos Agro-pecuarios; Embalajes; Calidad y Higienización de los Alimentos; Refrigeración y Congelamiento de los Productos Agrícolas y Procesados, así como también el Desarrollo de nuevos Equipos y de nuevos Productos Alimentares. Los artículos publicados en la Revista están indexados en AGRIS AGROBASE y en el CAB ABSTRACT. GENERAL INFORMATION The Brazilian Journal of Agro-industrial Products will have a has a semestral edition, but it can have special numbers if this is necessary. The purpose of the Journal is to spread Scientific and technical works, previous notes and didactic, original and unpublished works, written in Portuguese, Spanish and English about Physical Proprieties of Biological Materials; Storage and Drying of Agricultural Products; Automation and Control of Agro-industrial Processes; Processing of Vegetal and Animal Products; Packing; Quality and Healthily of Foods; Refrigeration and Freezing of Agricultural Products already processed besides the Development of New Equipment FICHA CATALOGRÁFICA Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais/ Brazilian Journal Agro-Insustrial Products v.2, n.2, (2000). Campina Grande: Universidade Federal de Campina Grande, Centro de Ciências e Tecnologia, 2000. Campina Grande, Volume 2, Número 2, julho-dezembro, 2000. Semestral ISSN 1517-8595 ISSN 1517-8595 Tiragem 500 exemplares. CAPA: Coco de babaçu, amêndoas e óleo extraído da amêndoa Site da RBPA http://www.deag.ufcg.edu.br/rbpa. 1. Engenharia Agroindustrial-Períodicos. 2. Agroindústria. 3. Produtos Agroindustriais. 4. Engenharia de Alimentos. 5. Engenharia Agrícola. CDD 631.116 NÚMERO 2 VOLUME 2 JULHO-DEZEMBRO 2000 ISSN 1517-8595 Conteúdo Artigos Científicos EFEITO DO TEMPO DE TORREFAÇÃO DOS GRÃOS DA MUCUNA – PRETA (Stilozobium aterrimum L.) NA SUA COMPOSIÇÃO QUÍMICA, TÓXICA E SENSORIAL (Effect of the toasting time of the "mucunapreta" grains) Muniz, M.B.; Silva, C.L. da; Souza, Leossávio César de; Oliveira, A.R. de ............................................................... TEORES DE MINERAIS EM DIETAS UTILIZADAS NO BRASIL – UM DIRECIONAMENTO PARA O ENRIQUECIMENTO DE ALIMENTOS (Mineral contents in used diets in Brazil – A guideline to foods enrichment) Ferreira, Karla Silva; Gomes, José Carlos Rosado, Gilberto Paixão ........................................................................... PARÂMETROS FÍSICOS E QUÍMICOS DA ACEROLA (Malpighia punicifolia, L.) EM DIFERENTES FASES DE MATURAÇÃO (Physical and chemical parameters of acerola (Malpighia punicifolia L.) in different stages of maturation) Batista, M. de S.; Figueiredo, R. M. F. de; Queiroz, A.J. de M..................................................................................... CARACTERIZAÇÃO DOS PROBLEMAS PRÉ E PÓS-COLHEITA DO MELOEIRO PRODUZIDO EM PERÍODO CHUVOSO NO RIO GRANDE DO NORTE (Characterization of the pre and postharvest problems of the produced melon in the rainy season in Rio Grande do Norte) Alves, M.Z.; Menezes, J.B. Ito, S.C.S.; Nascimento, S.R. de C.; Sales Júnior. R.; Rocha, R.H.C. ............................ DRYING CURVES OF UMBU FRUITS WITH OSMOTIC PRE-DRYING (Curvas de secagem dos frutos de umbu com pré-secagem osmótica) Sousa, S. de Cavalcanti Mata, M.E.R.M.; Braga, M.E.D.; Monteiro Filho, A.F......................................................... DIMENSÕES PRINCIPAIS, MASSA E VOLUME UNITÁRIOS, ESFERICIDADE E ÂNGULO DE REPOUSO DE FRUTOS DE CAFÉ (Axial dimensions, mass, volume, sphericity and repose angle of coffee fruits) Magalhães, A.C.; Couto, S.M.; Queiroz D.M. de; Andrade, E.T. de ........................................................................... ESTUDO SOBRE A CONSERVAÇÃO DE QUATRO VARIEDADES DE FEIJÃO MACASSAR VERDE (Vigna unguiculata L. WALP.) : SUBMETIDOS A TEMPERATURAS DE REFRIGERAÇÃO E CONGELAMENTO (Preliminary study of the 4 varieties of "feijão macassar" (Vigna unguiculata L. Walp) conservation which have been subjected to the refrigeration and freezing temperatures) Lima, N.L.; Emanuelle, C.; Silva, C.L. da; Diniz M. do C.; Oliveira, M.R.T. de; Gadelha, T.S. ........................... POTENCIAL DE CONSERVAÇÃO DE ENERGIA NO PRÉ-PROCESSAMENTO DO CAFÉ (Conservation potential of energy in the coffee pre-processing) Andrade, E.T. de; Oliveira Filho, D. Vieira, G. ........................................................................................................... SECAGEM DE SEMENTES DE FEIJÃO VARIEDADE CARIOQUINHA USANDO BOMBA DE CALOR (Variety "carioquinha" beans seeds drying ( Phaseolus vulgares L.) by the of a heat pump) Cavalcanti Mata, M.E.R.M.; Oliveira, J.R. de; Braga, M.E.D..................................................................................... Página 101 109 119 125 133 139 157 171 183 Artigo Técnico CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS DE FRUTOS DE UMBU-CAJÁ Spondias sp. PROVENIENTES DOS PÓLOS BAIXO-JAGUARIBE (CE) E ASSU-MOSSORÓ (RN) (Physic-chemical characterization of umbucajá (Spondias sp.) from baixo-Jaguaribe and Assu-Mossoró the poles) Noronha, M.A.S. de; Cardoso, E. de A.; Dias, N. da S................................................................................................. 191 Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.101-108, 2000 ISSN: 1517-8595 101 EFEITO DO TEMPO DE TORREFAÇÃO DOS GRÃOS DA MUCUNA – PRETA (Stilozobium aterrimum L.) NA SUA COMPOSIÇÃO QUÍMICA, TÓXICA E SENSORIAL Marcelo Barbosa Muniz1, Claudécia Leite da Silva1, Leossávio César de Souza2, Anselmo Rodrigues de Oliveira2 RESUMO O presente trabalho foi conduzido em Laboratórios pertencentes a UFPB / CCA / Campus - III -Areia - PB, e teve como objetivo estudar a caracterização química, tóxica e sensorial, após a torrefação dos grãos de mucuna - preta enfatizando sua utilização para o consumo humano. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos inteiramente casualisados com 4 tratamentos (10', 15', 20' e 25') e 5 repetições. Pelo resumo da análise de variância, verificou-se que não ocorreu efeito significativo para os parâmetros percentagem de proteína bruta, percentagem de cinzas e percentagem de gordura bruta. Com relação ao parâmetro percentagem de fibra bruta, observou-se efeito significativo pelo teste F, ao nível de 5% de probabilidade. Na análise sensorial o melhor resultado com relação a preferência ao gosto dos provadores foi obtido na torrefação por 25' onde 70% correspondeu na escala hedônia a avaliação "gostei"", seguido da torrefação por 20' com 40%. Já os grãos submetidos a torrefação por 10 e 15 minutos foram menos aceitos pelos provadores (avaliação "desgostei" na escala ) com reprovação de 40% e 60%, respectivamente. Na análise para identificação de fatores tóxicos, não foi detectado presença de aglutinação das hemácias em nenhum dos tratamentos estudados. Palavras chave : mucuna-preta , torrefação, grãos, alimentação. EFFECT OF THE TOASTING TIME OF THE "MUCUNA-PRETA " GRAINS (Stilozobium aterrimum) ON ITS CHEMICAL, TOXIC AND SENSORY COMPOSITION ABSTRACT The present work was carried in the UFPB / CCA / Campus III -Areia - PB laboratories, and had the aim of studying the chemical, toxic, and sensory characterization, after toasting, of the "mucuna - preta" grains, emphasizing its use to the human consume. The used experimental design has been one of complete-randomized plots by four treatments (10', 15', 20' and 25') and five replicates. From the resume of the variance analysis it had been verified that there wasn’t significant effect to the percentage parameters of crude protein, ashes, and crude fat. In regard to the percentage parameter of crude fiber it has been observed significant effect by the test at level of 5% probability. The preference for the taste of the tasters has been obtained in toasting for 25' where 70% correspondent at the hedonic scale to the treatment " I liked", followed by the toasting for 20' with 40%. The grains that had been submitted to the toasting for a period of time of 1(10') and 2 (15') were the less accepted (statement " I didn't like" at the scale) with 40% and 60% disapproving, respectively. In the analysis it hasn’t been detected the presence of the halnatias in the studied treatments. Keywords : mucuna preta, toasting, grains, consume. Protocolo 21 2000 07 de 15/03/2000 1 Estudante de Pós-graduação, Departamento de Engenharia Agrícola, UFPB, CEP. 58.109-970 Campina Fone : (083) 321 - 8926, e-mail :[email protected]. Fax (083) 310 - 1185. 2 Professor do Departamento de Fitotecnia. UFPB / CCA - Campus III -Areia - PB. Grande - PB, 102 Efeito do tempo de torrefação dos grãos da mucuna-preta na sua composição química, tóxica e sensorial Muniz et al. INTRODUÇÃO De acordo com alguns autores, a mucunapreta (Stilozobium aterrimum) é originária das Antilhas, porém outros afirmam que essa leguminosa é oriunda da China; utilizada como forrageira, tanto verde como fenada, pela sua excelente composição química, facilidade de exploração e perfeita aceitação pelo gado. As sementes e vagens moídas constituem ótimo alimento concentrado, rico em material nitrogenado e carboidratos. Nas folhas, reside a maior parte dos princípios alimentícios com a mais elevada digestibilidade. Também é uma das leguminosas mais utilizadas para adubação verde e pela grande quantidade de matéria orgânica que produz. Dada a importância dessa espécie na alimentação, adubação e forragem, a maior parte das pesquisas aborda tais aspectos, econômicos, sendo muito restritos os dados sobre a localização e a caracterização de suas reservas.(Meneggario, 1996). A mucuna é uma leguminosa anual ou bianual de porte baixo, trepadeira, sendo até hoje uma das mais estudadas pela pesquisa, porém, com relação ao uso das sementes para o consumo humano, existem poucas informações. A mucunapreta pode ser semeada, desde a primavera até o outono, dependendo das culturas que virão depois, e, também, intercalada com o milho, quando este estiver com 40 até 60 dias de idade. A semeadura pode ser feita a lanço, após a colheita do milho, incorporando-se às sementes, através da gradeação. Destaca-se seu efeito em controlar a multiplicação de certas espécies de nematóides do solo, pois as raízes dessa planta não hospedam larvas do nematóide, fazendo com que a população dessa praga diminua no terreno (Miyasaka, 1984). Com isso, sabe-se que hoje em dia são poucos agricultores que utilizam as sementes de mucuna para o consumo, mesmo assim, eles usam as suas técnicas que se assemelham com a torragem do café, porém não conhecem os princípios dessa semente com relação ao seus efeitos que ela pode lhe oferecer. Dessa forma, o presente trabalho teve como objetivo avaliar o procedimento de torrefação dos grãos, para estudar em laboratório suas características química, tóxica e sensorial . MATERIAL E MÉTODOS Localização do experimento O experimento foi realizado no período de agosto a novembro de 1999, no município de Areia - PB, e as análises foram conduzidas nos Laboratórios de Tecnologia de Alimentos do Departamento de Solos e Engenharia Rural; de Nutrição Animal do Departamento de Zootecnia e no Laboratório de Bioquímica do Departamento de Ciências Fundamentais e Sociais, pertencentes ao Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba. Condução do experimento Inicialmente os grãos de mucuna-preta foram coletados em plantas encontradas na área do Campus III do CCA/UFPB. Após a colheita, procedeu-se a secagem natural por um período de 48 horas. Para a torrefação, os grãos foram separados conforme os tratamentos contendo cada amostra 100g dos mesmos. A seguir cada amostra foi torrada em panela-de-barro nos tempos de 10, 15, 20 e 25 minutos, sendo deixadas em repouso, logo depois da torrefação, em recipientes para o seu resfriamento. Depois de torrados, os grãos foram triturados e passados em uma de peneira de 30 "mesh" para obtenção do pó, sendo em seguida pesados numa balança analítica com precisão de 0,001g. e embalados em sacos de papel. Parâmetros avaliados Composição química As análises químicas foram realizadas no Laboratório de Nutrição Animal do Departamento de Zootecnia, onde se determinou o percentual de proteína bruta, fibra-bruta, gordura-bruta e cinzas, utilizando-se os métodos descritos pelas Normas do Instituto Adoph Luz (1982). Análise sensorial Os testes de palatabilidade foram realizados no Laboratório de Tecnologia de Alimentos do Departamento de Solos e Engenharia Rural da UFPB/CCA - PB, com uma equipe de dez pessoas selecionadas e não treinadas apenas orientadas para avaliar a importância relativa ao gosto da bebida feita de mucuna-preta. Foram avaliados os quatro tratamentos feitos com grãos de mucuna-preta torrada por 10, 15, 20 e 25 minutos. Com essas amostras, os "painelistas" foram submetidos aos testes sensoriais de preferência ao gosto, segundo Morais (1994), utilizando algumas modificações do modelo (Quadro 1) . Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.101-108, 2000 Efeito do tempo de torrefação dos grãos da mucuna-preta na sua composição química, tóxica e sensorial Muniz et al. 103 Quadro 1. Modelo para avaliação do Teste de Preferência e Aceitação. Areia, Paraíba, 2000. TESTE DE PREFERÊNCIA ( ESCALA HEDÔNIA ) Nome : ____________________________________________ Data: / / Avalie cada amostra usando a escala abaixo para descrever o quanto você gostou ou desgostou. 1. Desgostei 2. Indiferente 3. Gostei AMOSTRAS (Tratamentos) VALOR 1. ______________________________________________(______). 2. ______________________________________________(______). 3. ______________________________________________( _____ ). 4. ______________________________________________(______). Por favor dê a razão de sua avaliação: 1.__________________________________________________________. 2.__________________________________________________________. 3.__________________________________________________________. 4.__________________________________________________________. Análise toxicológica (atividade hemaglutinante) Para a obtenção do teste de fatores hemaglutinantes, ou seja, fatores tóxicos, foi utilizado o Laboratório de Bioquímica do Centro de Ciências Agrárias/Campus III/UFPB; seguindo o método descrito por (Moreira & Perrone, 1977). Nesta análise, usou-se hemácia obtida de coelhos. Com o intuito de evitar a coagulação, adicionou-se 3 gotas de EDTA, substância antiaglutinante em 5 ml de sangue. Após lavagem do sangue, fez-se a diluição das hemácias em NaCl (0,15M). As amostras a serem dosadas foram submetidas a diluições seriadas em NaCl 0,15 M. Os ensaios foram então incubados a 370C por 30 minutos e deixados em repouso à temperatura ambi- ente por mais 30 minutos, sendo em seguida feita a leitura visual. (Quadro 2). Delineamento experimental e análise estatística Neste trabalho, utilizou-se o delineamento experimental inteiramente casualisado com 4 tratamentos (10, 15, 20 e 25minutos) e 5 repetições. Cada parcela foi formada por uma amostra com 100g de sementes de mucuna, constituindo-se na parcela experimental. Na análise estatística, utilizou-se a metodologia proposta por Gomes (1985), por meio do programa Estat. Versão 2.0. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.101-108, 2000 104 Efeito do tempo de torrefação dos grãos da mucuna-preta na sua composição química, tóxica e sensorial Muniz et al. Quadro 2. Seqüência da lavagem do sangue para a determinação da atividade hemaglutinante. LAVAGEM DO SANGUE DE COELHO SANGUE (5ml) Adicionou-se 3 gotas de EDTA Pesou-se 0,5g do pó - de - mucuna . Adicionou-se 7,5 ml de NaCl . (0,15M) Realizou-se a agitação por por 3 horas Centrifugação por 10 min à 3000 rpm. PRECIPITADO (ELIMINADO) SOBRENADANTE Filtrou-se e separou-se o extrato em 8 tubos de . ensaios cada um contendo 100 l do extrato. Colocou-se 100 l de NaCl (0,15 M) Colocou-se 100 l do extrato. Colocou-se 100 l do sangue, Levou-se a estufa à 370C por 30 min. Retirou-se e deixou na bancada por 30 min. FEZ- SE A LEITURA. (visual) RESULTADOS E DISCUSSÃO Pelo resumo da análise de variância, verificou-se que não ocorreram efeitos significativos para a percentagem de proteína bruta, de gordura bruta e de cinzas. Com relação a percentagem de fibra bruta, observou-se efeito significativo pelo teste F, ao nível de 5% de probabilidade (Tabela 1). Tabela 1. Resumo da análise de variância dos dados referentes a estimativa de parâmetros para percentagem de proteína bruta (PB), percentagem de gordura bruta (GB), percentagem de fibra bruta (FB) e percentagem de cinza (CZ). Areia, Paraíba, 1999. FV Quadrados Médios ______________________________________________ GL PB GB CZ FB TRATAMENTO RESÍDUO TOTAL CV% 3 16 19 -- 3.0486 1.9936 0.5532 0.2626 5.36 13.56 0.1393 0.1847 27.0677 * 5.6658 11.10 29.78 * Significativo à 5% de probabilidade pelo teste F Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.101-108, 2000 Efeito do tempo de torrefação dos grãos da mucuna-preta na sua composição química, tóxica e sensorial Muniz et al. 105 28,5 Proteína bruta (%) 28 A 27,5 27 26,5 (26,02) 25,5 (26,28) A A (25,63) 26 A 25 A 24,5 A (27,44) A A 24 10' 15' 20' 25' Tempo de torrefação (min) Figura 1. Percentual de proteína bruta dos grãos de mucuna-preta quando submetidos à torrefação por 10, 15, 20 e 25 minutos. Os percentuais de gordura bruta, variaram de 3,38 a 4,15, sendo que segundo Silva (1990) este componente químico é um dos componentes que menos sofre oscilações nos grãos. Contudo os alimentos ricos em gorduras podem rancificar facilmente, dessa forma eles perdem grande quantidade de certos nutrientes essenciais como as próvitaminas A e D, o caroteno, as vitaminas do complexo B e alguns ácidos graxos que também podem sofrer destruição oxidativa. O processo de rancificação poderá provocar um grande aquecimento, podendo chegar à combustão do material. Dessa forma, os grãos torrados, por 25 minutos, mostraram-se ser o ideal com relação a qualidade do alimento, pois as perdas das próvitaminas e dos ácidos graxos devem ser menores. 5 4,15 3,65 4 3 3,941 5 3,38 A A A A 10' 15' 20' 25' 2 1 0 Tempo de torrefação ( minutos) Figura 2. Percentual de gordura bruta dos grãos de mucuna-preta quando submetidos a torrefação por 10, 15, 20 e 25 minutos. Com relação aos valores médios obtidos dos percentuais de cinzas, verifica-se que esses variaram de 3,70 a 4,09 onde se observa que os grãos torrados por 25 minutos tiveram um menor percentual de cinzas, embora não exista diferença significativa entre os tratamentos Tal fato pode ser explicado pois, segundo Silva (1990), o grão que recebe um período maior de torrefação possui uma maior quantidade de matéria seca, implicando em uma maior concentração de substâncias químicas. O mesmo autor afirma ainda que as cinzas constituem a fração mineral dos alimentos formada pelos micros e macrosnutrientes, os quais possuem relação direta com o solo onde foi cultivado. Em produtos vegetais, a determinação de cinzas tem relativamente pouco valor, pois o teor de cinza nesses produtos nos dá pouca informação sobre sua composição, uma vez que seus componentes minerais são muito variáveis e essa determinação fornece apenas um indicativo da riqueza da amostra nesses elementos em geral. Percentagem de cinzas (%) Os resultados médios obtidos dos percentuais de proteína bruta, gordura bruta e cinzas que não diferem, estatisticamente, ao nível de 5% de probabilidade, pelo teste de Tukey, encontram-se nas Figuras 1, 2 e 3 respectivamente. Os resultados obtidos demonstraram que os grãos de mucuna-preta podem receber uma torrefação de 10 a 25 minutos que os percentuais de proteína bruta, gordura bruta e cinzas não são afetados. Com relação à proteína, observa-se que os valores variaram de 25,63 a 27,45%, entendendose que um maior percentual de proteína bruta é desejável, pois a proteína é um elemento que forma a maior parte dos nossos músculos, órgãos internos, tecidos cartilaginosos e também dos tecidos externos, como a pele e os pêlos, dando assim, para os nossos tecidos, tenacidade e elasticidade. Gordura Bruta (%) Composição química 5 (3,81) (3,86) (3,70) (4,09) 4 3 A A A A 15' 20' 25' 2 1 0 10' Tempo de torrefação (min) Figura 3. Percentual de cinzas dos grãos de mucuna-preta quando submetidos a torrefação por 10, 15, 20 e 25 minutos. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.101-108, 2000 106 Efeito do tempo de torrefação dos grãos da mucuna-preta na sua composição química, tóxica e sensorial Dos elementos químicos determinados o percentual de fibra bruta foi único que apresentou diferença estatística ao nível de 5% de probabilidade pelo teste de Tukey para os diferentes tempos de torrefação dos grãos de mucuna-preta. No presente trabalho, os percentuais de fibra bruta mostraram-se mais elevados à medida que se aumentou o tempo de torrefação dos grãos de mucuna-preta. Desta forma, constatou-se que a torrefação, por 25 minutos, foi a que registrou maior percentual de fibra bruta, diferindo estatisticamente apenas dos grãos torrados por 10 minutos. As fibras representam os carboidratos não digeríveis, presentes principalmente no tegumento dos grãos e os seus percentuais dependem do estágio de formação desta camada. São constituídas de celulose e lignina insolúvel, sendo responsável pelo bom funcionamento dos intestinos (Silva, 1990). De acordo com Hughes, (1991) as leguminosas são capazes de produzir efeitos benéficos para a saúde, quando associadas a quatro ações fisiológicas, como aumento do bolo fecal e do trânsito intestinal, ligação com ácidos biliares, transformação em ácidos graxos de cadeia curta no intestino e aumento da viscosidade. Muniz et al. Figura 4. Percentual de fibra bruta dos grãos de mucuna-preta quando submetidos a torrefação por 10, 15, 20 e 25 minutos. Fatores sensoriais A Figura 5, representa o resultado das médias obtidas por uma equipe de 10 provadores para o teste de preferência e aceitação dos produtos, usando a escala hedônia com 4 tratamentos da bebida de mucuna-preta. As notas atribuídas referem-se ao teste de preferência, usando as avaliações 1. Desgostei 2. Indiferente 3. Gostei, já citado no Quadro 2. Aceitação (n. de pessoas (%) Teste de Palatabilidade 7 6 Preferência ao gosto 5 Desgostou 4 3 Indiferente 2 Gostou 1 0 10’ 15’ 20’ 25’ (Tratamentos) Figura 5. Análise sensorial da bebida feita com grãos de mucuna-preta submetidos a torrefação por 10, 15, 20 e 25 minutos. Os provadores deram sua opinião com relação à preferência ao gosto da bebida na qual foram analisados, de acordo com os diferentes tempos de torrefação dos grãos. A análise dos resultados teve como finalidade verificar a aceitação do produto nos diferentes tempos de torrefação, Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.101-108, 2000 Efeito do tempo de torrefação dos grãos da mucuna-preta na sua composição química, tóxica e sensorial tendo em vista que o produto pode vir a ser uma nova alternativa para substituição da bebida proveniente dos grãos de café (Coffea arabica) ou um componente para realização de uma mistura de grãos de café com grãos de mucuna-preta. Portanto, segundo a avaliação dos provadores (painelistas), o tratamento mais aceito foi a bebida feita com os grãos de mucuna-preta torrada durante 25minutos, com 70% da aprovação e 20% de reprovação e 10% de indiferença. Os grãos torrados, duração de 20 minutos, obteve aprovação de 40% dos provadores, 30% de reprovação e 30% de indiferença, enquanto que os grãos torrados por 10 e 15 minutos obtiveram uma aceitação e uma reprovação de 40% e 60%, respectivamente. Muniz et al. 107 A avaliação sensorial indicou que a preferência do gosto dos provadores é pela bebida torrada por 25 minutos (tratamento 4), tendo 70% da aprovação, correspondendo na escala hedônia a avaliação "Gostei". Os tratamentos analisados não apresentaram lectinas demonstrando a ausência de atividade hemaglutinante, ou seja, fatores antinutricionais (tóxicos). Sendo assim, o produto pode ser recomendado para o consumo sem que haja nenhum problema a saúde humana. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Análise toxicológica (fatores de hemaglutinação) Com a finalidade de identificar a presença de fator antinutricional (lectina) nos tratamentos estudados, foi utilizado o método de hemaglutinação. As análises foram realizadas com sangue de coelho preparadas de acordo com a metodologia proposta no Quadro 1 e, por meio destas, observou-se que não houve atividade hemaglutinante nos quatro tratamentos, indicando assim, a ausência de lectina. Boa parte das leguminosas apresenta lectina, e o fato de não ser encontrado esse elemento no pó de mucuna-preta, provavelmente indica que esse fator não é encontrado, quando o produto passa pelo processo de torrefação, no entanto a ausência da atividade hemolítica indicou que estes tratamentos não possuem lectinas, independente do tipo sangüíneo, da solução extratora, variedade e grau de maturação da semente. Araújo, A.A. Forrageiras para o sul do Brasil. Porto Alegre - RS: Secretária do Estado dos negócios da agricultura, indústria e comércio, 1941. 258p. Bobbio, F.O. Introdução à química de alimentos 15 ed. Campinas – SP : Cargill, 1985, 306p. Box, J.M.M. Leguminosas de grano. Barcelona : Salvat, 1961. 523 p. Brasil. 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O teor de fibra bruta obteve um efeito significativo em relação aos tratamentos 1 (10') com 5,75% e 4 (25') com 11,12%, podendo-se afirmar que a torrefação por 25 minutos é nutricionalmente mais indicada para o consumo . Centro Internacional de Agricultura Tropical. La mustia hilachosa del frijol y su control. Cali, 1982. 20p. (CIAT. Guia de estudo. Série 04SB 06. 12). Coelho, F.S.; Verlangia, F. Fertilidade do solo. 3 ed. Campinas - SP: Instituto Campineiro de Ensino Agrícola, 1973, 350p. p. 8-12. Mucunapreta como adubo verde. Côrrea, P.C. Avaliação destrutiva e não destrutiva da qualidade de produtos vegetais. In : Borém, F.M.; Chitarra, A.B. (Coord). Congresso Brasileiro de Engenharia Agrícola, 27, 1988, Poços de Caldas-MG. Anais... Poços de Caldas- MG : UFLA/SBEA, 1998. p.78-80. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.101-108, 2000 108 Efeito do tempo de torrefação dos grãos da mucuna-preta na sua composição química, tóxica e sensorial Muniz et al. Davies, N.; Olpin, S.E. Studies on the phytate: zinc molar contents in diets as determinant of zinc a vailability to young rats. British Journal Nutricion, London, v.41. p.590 - 596, 1979. Morais, L.F. Comportamento de três cultivares de feijão caupi (Vigna unguiculata L. Walp.) inoculadas com Bradyr rizobium sp. e submetidas à defict hídrico no solo. 1994. Areia- PB. Figueroa M.O.R.; Mancini-Filho, J.; Lajolo, F.M. Ação tóxica das fito-hemaglutininas de feijões (Phaseolus vulgaris). In: Simpósio Anual da ACIESP, 12, 1988. São Paulo - SP, Anais... São Paulo – SP : ACIESP, 1988. p.132-141. Moreira, R.A; Perrone, J.C. Purificacion and partial characterization of a lectin from Phaseolus vulgaris. Plant Physiol. v.59, p.783-787, 1987. Gomes, E.P. 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Elaboraram-se diferentes dietas, conforme ocorre no cotidiano brasileiro, de maneira que as quantidades de energia, proteínas e a proporção entre os nutrientes energéticos atendessem às recomendações para um indivíduo adulto do sexo masculino, segundo o National Research Council (1989). Para quantificar os teores de minerais nas dietas determinou-se o percentual de cálcio, magnésio, sódio, potássio, cobre, ferro, zinco e selênio nos alimentos incluídos nas mesmas, por meio de espectrofotometria de absorção atômica (cálcio, magnésio, cobre, ferro, zinco e selênio), usando-se a técnica de geração de hidretos para a determinação do selênio, e fotometria de chama para a determinação do sódio e potássio. Observou-se que as dietas adotadas no Brasil podem apresentar deficiências de diversos minerais dependendo dos tipos de alimentos selecionados. Os nutrientes mais limitantes foram o selênio e o zinco. Quanto ao sódio, embora seu teor nos alimentos “in natura” seja baixo, o uso de NaCl eleva sua ingestão. Os peixes são fundamentais para a ingestão adequada de selênio. O leite e derivados são importantes para a adequação de cálcio, zinco e selênio. O consumo de feijão é importante para a ingestão adequada de magnésio, ferro e zinco. Dietas vegetarianas podem suprir as recomendações de cálcio e de ferro, entretanto, mesmo contendo grande variedade e quantidade de alimentos, os teores de zinco e de selênio não atingem os valores recomendados. Dietas compostas apenas por cereais, feijão, óleo, sal e açúcar fornecem os teores recomendados apenas de sódio, potássio e ferro. Palavras-Chave: dietas – teor mineral, saúde pública – Brasil, alimentação – composição. MINERAL CONTENTS IN USED DIETS IN BRAZIL – A GUIDELINE TO FOODS ENRICHMENT ABSTRACT The consumed of minerals contents in diets by Brazilian population have been quantified in this piece of the work. Different diets have been elaborated, just like it happens in Brazilian routine, assuming that the energy and proteins quantities and the proportion among the energetic nutrients lived up to the recommendations to an individual adult male, according to the National Research Council (1989). In order to quantify the minerals contents in diets, the calcium, magnesium, sodium, potassium, copper, iron, zinc and selenium contents have been determined in each one of them by means of atomic absorption spectrophotometry (calcium, magnesium, copper, iron, zinc and selenium). It has been used the hydride-generation technique to determine the selenium, and flame photometry to determine sodium and potassium. It has been also observed that the adopted diets in Brazil can present deficiencies in several minerals depending on the types of chosen foods. The most limiting nutrients have been selenium and zinc. Concerning sodium, although its content in “in nature” foods is low, the use of NaCl raises its dietary intake. Eating fish is determinant to the dietary intake of selenium. Milk and its derived goods are important to the recommended daily intake of calcium, zinc and selenium. Beans consumption Protocolo 21 2000 10 de 25/03/2000 1 Laboratório de Tecnologia de Alimentos – Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias – Universidade Estadual do Norte Fluminense Av. Alberto Lamêgo 2000 28.015-620 - Campos dos Goytacazes – RJ Fone: (24) 726-3740 Fax: (24) – 726 – 3746 e-mail: [email protected] 2 Departamento de Tecnologia de Alimentos – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa - MG 3 Departamento de Química – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa – MG 110 Teores de minerais em dietas utilizadas no Brasil: Um direcionamento para o enriquecimento de alimentos Ferreira et al. is important to the suitable intakes of magnesium, iron and zinc. Vegetarian diets can supply calcium and iron recommendations, but, even having great variety and quantity of foods, the zinc and selenium contents don’t get to the recommended daily intake. The made diets only on cereals, beans, oil, salt and sugar only provide the recommended sodium, potassium and iron contents. Keyword: diets – mineral content, public health - Brazil, feeding habit – mineral content INTRODUÇÃO Os minerais desempenham suas funções no organismo na forma iônica, em solução nos fluidos corporais e, também, como constituintes de compostos vitais. De modo geral, eles regulam o metabolismo de diversas enzimas, mantêm o equilíbrio ácido-básico e a pressão osmótica, facilitam a transferência de compostos essenciais através das membranas, mantêm a excitabilidade muscular e nervosa e, em alguns casos, fazem parte dos elementos constituintes dos tecidos do organismo. A ingestão inadequada pode impedir a função celular, causar doenças e levar à morte (Mahan e Arlin, 1995; Organización Panamericana de la Salud, 1990; Organización Organización Panamericana de la Salud, 1997; Tolonen, 1990; Silva e Williams, 1993). A principal via de entrada dos elementos químicos no homem é por meio dos alimentos, sendo tradicionalmente aceito que dietas que contêm carnes, leite e derivados, cereais, leguminosas, frutas, hortaliças e óleos, em quantidades e proporções adequadas, suprem os requerimentos para todos os nutrientes necessários ao ser humano. No Brasil, não é habitual o consumo de cereais integral, sementes e outras leguminosas que não o feijão. Além disso, a escolha dos alimentos pelo ser humano é determinada, principalmente, pelos hábitos alimentares, renda e disponibilidade dos alimentos, e nem todos os indivíduos consomem dietas que contêm todos estes grupos de alimentos. Segundo a Organização Panamericana de Saúde e a Organização Mundial de Saúde, em muitos países, cinco das principais causas de morte: diabetes mellitus, cardiopatia isquêmica, acidentes cerebrovasculares, arteriosclerose e alguns tipos de câncer, associam-se com a dieta (Organizacion Panamericana, 1990). A desnutrição marginal é altamente prevalente nos países em desenvolvimento e mais comum que a desnutrição grave, acarretando prej uízos no crescimento, desenvolvimento psi- cológico, função imunológica e competência reprodutiva e social, o que resulta em maior morbidade e incapacidade para o aprendizado e para o trabalho (Allen, 1993). Três quartos das crianças que morrem em todo o mundo de causas relacionadas com a desnutrição se enquadram nas categorias de leve ou moderadamente desnutridas, e não acusam qualquer indício exterior de problemas perceptíveis a um observador ocasional. Além disso, deficiências nutricionais na infância correlacionam-se positivamente com doenças crônico degenerativas na idade adulta, por exemplo, câncer, hipertensão, diabetes e doenças cardiovasculares (Fundo das Nações Unidas para a Infância - UNICEF, 1998). No Brasil, 42,9% da população tem idade de até 19 anos. São 64.804.694 ainda em fase de desenvolvimento (Anuário Estatístico, 1996). Segundo o Programa Nacional de Alimentação e Nutrição - PRONAN (1976) a adição de nutrientes em alimentos de uso corrente poderá, a curto prazo, constituir procedimento permanente na indústria de alimentos, merecendo especial destaque, estudos no campo da alimentação e nutrição. A elaboração de guias de alimentação, estudos epidemiológicos, percepção de patologias associadas a deficiências nutricionais, programas de saúde preventivos e curativos, necessitam de conhecimentos prévios sobre aspectos nutricionais da população. No Brasil, estes estudos e as medidas interventivas na área da saúde preventiva e curativa são prejudicados em razão do desconhecimento sobre a ingestão de muitos nutrientes por parte da população, principalmente, os micronutrientes. As tabelas de composição utilizadas no País, além de não contemplarem todos os nutrientes, possuem muitos dados de composição de alimentos copilados de estudos realizados em outros países (Franco, 1992; Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e EstatísticaFIBGE, 1981). Portanto, este trabalho teve o objetivo de determinar e avaliar o teor de minerais em dietas utilizadas no Brasil. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.109-118, 2000 Teores de minerais em dietas utilizadas no Brasil: Um direcionamento para o enriquecimento de alimentos MATERIAL E MÉTODOS Para a determinação dos teores de minerais nas dietas utilizadas pela população brasileira, procedeu-se, primeiramente, à determinação de cálcio, magnésio, sódio, potássio, cobre, ferro, zinco e selênio nos alimentos incluídos nestas dietas. Amostras dos alimentos foram coletadas no comércio varejista da região sudeste e, em erlenmeyer de 125 ou 250 ml, foram pesadas exatamente de 2 a 10 gramas de alimento, em triplicata, utilizando-se balança eletrônica, modelo Sauter K1200, com duas casas decimais. Antes de serem pesados, os alimentos, cuja ingestão requer prévia higienização, foram lavados em água corrente, secos com toalha, picados em pedaços de aproximadamente 0,5 cm3 ou triturados, conforme o tipo de alimento. Procedeu-se à oxidação da matéria orgânica por via úmida, adicionando-se às amostras 25 ml de mistura nitroperclórica, na proporção de três partes de ácido nítrico para uma parte de ácido perclórico, e aquecimento em chapa acoplada com exaustor, a temperatura entre 170 e 190 oC. Nas amostras com teores elevados de gordura, foi necessária a adição de mais 5 a 15 ml de solução digestora. Após a completa eliminação da matéria orgânica, verificada, quando a solução se apresentava cristalina, transparente e, exalando vapores brancos, adicionou-se 1 ml de ácido clorídrico concentrado, retornando com a solução para a chapa aquecedora durante 30 minutos, à temperatura de 70 oC (Vidal, 1984). Estas soluções foram levadas a volume de 25 ml, utilizando-se água deionizada, e acondicionadas em frascos de polietileno até a determinação do teor de minerais. Quantificaram-se os teores de cálcio, magnésio, zinco, cobre, ferro e selênio em aparelho de absorção atômica, modelo GBC 932 AA. Para a determinação de selênio, utilizouse o mesmo aparelho de absorção atômica, porém acoplado com gerador de hidreto, modelo GBC HG 3000. Utilizou-se BHNa em solução de NaOH, para determinação de selênio e SrCl2 para determinação dos teores de cálcio e magnésio, conforme especificação no manual de Ferreira et al. 111 instrução do aparelho. Os teores de sódio e potássio foram determinados por meio de fotometria de chama, utilizando-se aparelho CELM FC 180. Utilizaram-se, para a determinação das concentrações de minerais nas soluções preparadas com amostras dos alimentos, curvas de calibração preparadas com soluçõespadrões de concentrações conhecidas, próprias para trabalho em absorção atômica. As soluções padrões de cálcio, potássio e cobre da marca Carlo Erba; de magnésio e selênio da marca Normex; de sódio, ferro e zinco da marca Fixanal - Riedel-de Haën. Toda a vidraria utilizada foi lavada em água corrente, deixada de molho de um dia para outro em solução ácida preparada com HCl e pH < 1,0 e posteriormente enxaguada três vezes em água corrente, três vezes em água destilada e três vezes em água deionizada. Os reagentes utilizados nesta pesquisa, todos de grau p.a. (pró-análise), foram os seguintes: HCl concentrado da marca Fixanal; HClO4 da marca Nuclear; HNO3, NaOH (lentilhas), BHNa e SrCl2 da marca Merck. Para quantificarem-se os teores de minerais em dietas utilizadas pela população brasileira, elaborou-se uma dieta completa, que contem todos os grupos de alimentos, uma dieta vegetariana, uma dieta ovolactovegetariana, uma dieta sem peixes, leite ou outros produtos lácteos e uma dieta composta apenas pelos alimentos básicos (arroz, feijão, macarrão, pão, fubá, farinha de mandioca, óleo e açúcar), conforme ocorre no cotidiano brasileiro. Em todas as dietas, procurou-se aliar os alimentos mais freqüentemente consumidos no Brasil com aqueles que apresentaram os teores mais elevados de minerais, utilizando-se o maior número possível de alimentos de um mesmo grupo, mas de maneira que, no total, a soma destas quantias fosse condizente com o possível de ser ingerido diariamente. Em todas as dietas as quantidades de energia, de proteínas e a proporção entre os nutrientes energéticos atenderam às recomendações para um indivíduo adulto do sexo masculino, segundo as recomendações do National Research Council - NRC (1989) (Quadro 1). Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.109-118, 2000 112 Teores de minerais em dietas utilizadas no Brasil: Um direcionamento para o enriquecimento de alimentos Ferreira et al. Quadro 1. Quantidades de alimentos nas dietas Alimentos Biscoito cream-cracker Pão francês Arroz polido cru Arroz integral Macarrão cru Farinha de mandioca Fubá Feijão (vermelho e preto) Ervilha, conserva Agrião Alface Couve Taioba Espinafre Brócolis Pimentão Couve-flor Pepino Tomate Batata-inglesa Cenoura Batata-baroa Batata-doce Beterraba Inhame Carne de boi, Contrafilé Carne de frango, peito Carne de porco, pernil Fígado de boi Filé de merluza Pescada Ovo de galinha inteiro Leite integral pasteurizado Queijo minas frescal Queijo tipo tilsit Abacaxi Laranja Melancia Banana (ouro, da terra e prata) Melão Ameixa seca Goiaba vermelha Maçã Mamão papaia Manteiga Margarina Sal Óleo Açúcar e doces Farinha láctea Nescau Total energético % de carboidrato % de proteína % de gordura Completa 50 50 100 30 170 15 15 15 15 20 20 20 30 30 25 25 25 25 25 25 25 200 50 100 100 100 50 25 50 25 5 Quantidades de alimentos nas dietas, expresso em gramas Vegetariana OvolactoveSem peixes, Só com alimengetairana leites e derivatos básicos dos 50 25 50 50 50 50 100 50 100 100 100 50 50 50 100 25 25 170 140 170 200 30 30 20 20 15 15 15 15 50 20 15 15 15 15 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 50 50 20 30 30 100 30 30 30 30 30 30 30 30 30 30 50 50 50 100 200 100 150 100 50 100 100 100 50 500 50 15 100 100 100 150 100 30 100 100 100 5 50 100 100 100 50 25 50 25 5 30 100 - 5 5 30 40 30 5 30 40 20 5 5 30 100 - 10 10 60 150 - 3.008 60,3 14,5 25,3 3.025 69,6 12,0 18,6 3.017 60,0 14,0 26,0 3.003 63,0 13,0 24,0 3.044 68,0 10,0 22,0 RESULTADOS E DISCUSSÃO Os teores de minerais nas dietas formuladas, comparados aos teores recomendados Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.109-118, 2000 Teores de minerais em dietas utilizadas no Brasil: Um direcionamento para o enriquecimento de alimentos pelo NRC (1989) são mostrados no Quadro 2. Conforme se pode observar neste quadro, a dieta vegetariana ficou deficiente em zinco e selênio. Dieta ovolactovegetariana apresentou teor de selênio inferior ao recomendado. Na dieta sem peixes, leites e derivados, mesmo que contenha 150g de carne e 50g de ovo, os teores de cálcio, zinco, cobre e selênio são inferiores aos valores recomendados. Dentre todas as dietas, a mais deficiente de minerais é a dieta composta apenas por arroz, feijão, macarrão, pão, óleo, açúcar, farinha de mandioca e fubá, que é a realidade alimentar de aproximadamente 50% da população brasileira. Nesta dieta, mesmo com elevado teor de feijão, apenas as recomendações de sódio, potássio e ferro foram atingidos. Entretanto, o ferro é de baixa biodisponibilidade e os alimentos desta dieta apresentam baixos teores de vitamina C. Em todas as dietas, mas principalmente na dieta composta apenas pelos alimentos básicos, os Ferreira et al. 113 teores de sódio são superiores aos valores recomendados. Os alimentos “in natura” apresentam baixo conteúdo de sódio, entretanto, o hábito de salgar os alimentos faz com que a ingestão deste mineral seja elevada. Por este motivo, quanto menor a quantidade de frutas e outros alimentos que costumam ser ingeridos sem adição de NaCl, mais a dieta torna-se dependente de alimentos temperados e cozidos e, em conseqüência, maior será o teor de sódio ingerido. Por outro lado, redução demasiada da ingestão de cloreto de sódio sem a inclusão de produtos marinhos na alimentação poderá comprometer a ingestão de iodo. Os minerais que se apresentaram mais deficitários nas dietas foram o zinco, selênio, cobre e cálcio. As deficiências de selênio e zinco podem atingir, inclusive, indivíduos de elevado poder aquisitivo, dependendo das quantidades ingeridas de determinados alimentos. Quadro 2. Teores de mineras nas dietas formuladas, valores recomendados e percentagem de adequação dos teores de minerais das dietas em relação aos valores recomendados Dietas Valor recomendado (NRC, 1989) Completa TOTAL na dieta % ADEQUAÇÃO Vegetariana TOTAL na dieta % ADEQUAÇÃO Ovolactovegetariana TOTAL na dieta % ADEQUAÇÃO Sem peixes, leite e derivados TOTAL na dieta % ADEQUAÇÃO Dieta só com alimentos básicos TOTAL na dieta % ADEQUAÇÃO Ca Mg (mg) (mg) 800 350 Na K Fe Zn Cu Se (mg) (mg) (mg) (mg) (mg) (mcg) 2000 2000 10 15 3 70 997,0 125 407,8 117 3482,6 5057,6 174 253 14,1 141 14,8 99 3,9 130 69,2 99 819,6 102 542,7 155 3142,7 7497,7 19,45 157 375 195 12,83 86 3,41 114 38,9 56 1626,8 203 500,8 143 3898,0 7131,4 195 357 18,3 183 15,2 101 2,9 97 56,2 80 459,5 57 373,7 107 2990,1 5106,3 14,14 150 255 141 13,95 93 2,51 84 52,2 75 305,8 38 270,4 77 4770,9 239 9,6 64 2,2 74 30,7 44 No Quadro 2 apresenta-se o efeito de cada grupo de alimentos no fornecimento de minerais para a dieta completa. Observa-se que a retirada de leite e derivados compromete a ingestão adequada de cálcio. O feijão é importante para a ingestão adequada de magnésio, ferro, zinco, e, dependendo dos demais alimentos utilizados na dieta, também é importante como fonte de cálcio. Embora as carnes sejam tradicionalmente consideradas, as principais fontes 3160 158 11,7 117 de ferro, sua retirada da dieta completa não levou o teor de ferro abaixo de 100% da IDR, entretanto, os teores de zinco, cobre e selênio ficaram abaixo dos valores recomendados. As carnes são importantes fornecedoras de microelementos, entretanto são também alimentos que contêm teores elevados de gorduras e colesterol. A retirada de peixes (50 g) prejudica a adequação de cobre e selênio, mas principalmente de selênio. Os peixes apresentaram-se como os Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.109-118, 2000 114 Teores de minerais em dietas utilizadas no Brasil: Um direcionamento para o enriquecimento de alimentos principais fornecedores de selênio para a alimentação. A retirada de cereais prejudica a adequação do magnésio, zinco e selênio. A reti- Ferreira et al. rada de todas as frutas e hortaliças prejudica a adequação de magnésio, zinco e selênio, porém em pequena proporção. Quadro 3. Teores de minerais na dieta completa e efeito da retirada de grupos específicos de alimentos nos teores de minerais Dietas Recomendação (NRC, 1989) Dieta completa Completa sem leite e derivados Completa sem carnes Completa sem peixes Completa sem feijão Completa sem cereais Completa sem frutas e hortaliças Teores de minerais na dieta completa e com isenção de grupos específicos de alimentos Ca Mg Na K Fe Zn Cu Se (mg) (mg) (mg) (mg) (mg) (mg) (mg) (mcg) 800 350 2000 2000 10 15 3 70 997,0 463,9 993,0 970,4 736,8 919,4 842,7 Os requerimentos nutricionais das mulheres, crianças e idosos são, em termos de quantidade de nutriente por kg de peso corporal, de modo geral, superiores aos requerimentos do homem. Por este motivo, se há possibilidade de deficiências nutricionais para o indivíduo adulto do sexo masculino, muito maiores são as possibilidades de deficiências nutricionais nos demais grupos populacionais, cujo consumo de alimentos é menor. Apenas com seleção criteriosa de alimentos, pode-se obter dietas que atendam às recomendações nutricionais para todos os minerais. Em razão das funções desempenhadas pelos minerais, suas deficiências, mesmo marginais, acarretam problemas de saúde que vão se manifestar a médio e a longo prazo. A função mais conhecida do selênio é como antioxidante, por meio da atuação da glutationa peroxidase. Além de atuar na detoxificação do peróxido de hidrogênio e outros peróxidos orgânicos, a glutationa peroxidase atua também na manutenção de grupos sulfidrils vitais na forma reduzida, na síntese de hormônios derivados do ácido araquidônico, no metabolismo de compostos estranhos ao organismo, e talvez, no transporte de alguns aminoácidos nos rins e melhoria da resposta imune (Levander e Burk, 1997; Brody, 1994; Reilly, 1996; Silva e Williams, 1993; Turner e Finch, 1991). Manifestações constatadas de deficiência de selênio incluem mialgia, músculos flácidos, miopatia cardíaca, aumento de fragilidade das 407,8 377,9 382,3 371,4 197,3 277,4 320,9 3482,6 2943,8 3407,8 3440,9 3431,1 2692,3 3449,0 5057,6 4692,8 4713,2 4905,5 1780,7 3748,3 3673,0 14,1 13,7 12,1 13,9 6,1 11,0 12,5 14,8 12,7 12,0 14,6 9,3 11,1 13,7 3,9 3,9 2,3 3,9 2,2 3,2 3,5 69,2 60,6 60,7 51,1 53,8 57,5 64,0 células vermelhas sangüíneas e degeneração pancreática (Levander e Burk, 1997; Brody, 1994; Reilly, 1996). Atualmente detectou-se que o selênio é um constituinte da 5'iodinase, enzima atuante no metabolismo dos hormônios da tireóide. Estudos mostraram que na deficiência conjunta de selênio e iodo as Síndromes de Deficiência de Iodo – SDI são muito mais graves (Organização Mundial..., 1998). O zinco, junto à vitamina B6, atua na formação das células vermelhas do sangue, onde a glicina e succinil-CoA são os materiais iniciais (Brody, 1994). A deficiência deste elemento produz anorexia, erupção facial, diarréia, hipogeusia, baixa imunidade, prejuízo no crescimento, fetos defeituosos e baixa eficiência alimentar. Nos casos de forçar a alimentação pode ocorrer morte. (Cousins, 1997; Brody, 1994; Mahan e Arlin, 1995; King e Keen, 1994). A ingestão adequada de cálcio, desde os primeiros meses de vida, é um dos fatores para a prevenção da osteoporose e, também, correlacionada à menor incidência de hipertensão (Arnaud e Sánchez, 1997; Tolonen, 1990; Waib et al., 1992). Na deficiência aguda de magnésio, a função fisiológica mais afetada é a atividade neuromuscular, ocorrendo tetania, arritmias cardíacas, falta de reflexos, tremores e debilidade muscular (Shils, 1997; Brody, 1994). Este mineral encontra-se envolvido com o cálcio na formação óssea e prevenção da osteoporose, no controle da pressão arterial, na prevenção da doença cardíaca isquêmica (Shils, Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.109-118, 2000 Teores de minerais em dietas utilizadas no Brasil: Um direcionamento para o enriquecimento de alimentos 1997; Brody, 1994; Sojka, 1995; Magnesium..., 1988) e melhorando o perfil lipídico sérico (Itoh, et al., 1997). O potássio é importante na transmissão dos impulsos nervosos, sendo utilizado para gerar diferença de carga elétrica através da membrana plasmática da maioria das células, produzindo polarização/ despolarização das membranas (Brody, 1994). Das metaloproteínas de ferro, a hemoglobina é a mais bem conhecida, participando no transporte de oxigênio. Entretanto, o ferro participa de uma variedade de outras metaloproteínas com funções distintas das do transporte de oxigênio, por exemplo na síntese e conversão do colesterol em hormônios, no metabolismo de ácidos graxos, na detoxificação de drogas, pesticidas, carcinógenos, compostos não-nutritivos de plantas, no metabolismo do álcool, na multiplicação dos linfócitos e na conversão do peróxido de hidrogênio em água e do cloreto em ácido hipocloroso (Fairbanks, 1994; Brody, 1994; Yip e Dallman, 1997). Estudos mostram que a deficiência de cobre acarreta anemia em muitas espécies animais, revelada por medidas do hematócrito e hemoglobina. Esta anemia não responde à terapia com ferro. Na deficiência de cobre, observa-se também aumento do coração, em particular das mitocondrias das células deste órgão, ruptura das artérias e defeitos no esqueleto (Brody, 1994; Mahan e Arlin, 1995; Turnlund, 1994; Linder, 1997). A recomendação para o cobre situa-se na faixa de 1,5 a 3,0 mg/dia para um adulto. Sendo satisfatória a quantia de 1,5 mg/dia, todas as dietas podem atingir as recomendações para o este elemento. O panorama de Saúde no Brasil é compatível com o que se observa com relação à ingestão de nutrientes. Doenças do aparelho circulatório contribuem com 33,3% do total de óbitos, sendo a primeira causa de morte no País. Tumores malignos contribuem com 11,4% do total de óbitos e doenças do aparelho respiratório com 10,3% do total de óbitos. É expressivo o gasto do Sistema Único de Saúde com internações hospitalares: R$ 3.192.437.638, 0,5% do Produto Interno Bruto. Deste gasto, aproximadamente 16,4 % são com doenças do aparelho circulatório; 14% com doenças do aparelho respiratório e 6% com neoplasias (Anuário Estatístico, 1996). O enriquecimento de alimentos tem sido uma prática de fácil execução e aceitação. Os primeiros estudos sobre padrões de quantidades de alimentos e nutrientes requeridos diariamen- Ferreira et al. 115 te por idade, sexo e atividade foram desenvolvidos por Hazel K. Stiebeling, por volta de 1930. Em 1941, estudos indicaram que muitas famílias americanas tinham ingestão inadequada de ferro, tiamina, riboflavina e niacina. Em 1942, o “Food and Nutrition Board” desenvolveu a primeira tabela de “Recommended Daily Allowances for Specific Nutrients” e propôs os níveis máximos e mínimos para o enriquecimento de pães e farinhas com tiamina, riboflavina, niacina e ferro (Ensminger et al., 1994). A evolução científica possibilitou a ampliação do conhecimento das substâncias essenciais para a vida, possibilitando o conhecimento de suas funções nas células e as interações que ocorrem entre os nutrientes. A literatura apresenta, atualmente, vasta informação sobre a participação do cobre, da vitamina A, da vitamina B12, do ácido fólico e da vitamina C no metabolismo do ferro, desde sua absorção até a síntese de hemoglobina, estando estes nutrientes envolvidos no desenvolvimento e na cura da anemia (Organización Mundial...., 1997; Bodwell e Erdman Júnior, 1988). Mas, a despeito dos avanços no campo da nutrição, os nutrientes eleitos para serem adicionados em alimentos continuam sendo as vitaminas tiamina, riboflavina e niacina, e os minerais ferro e cálcio. Deve-se levar em conta que a atuação dos nutrientes no organismo ocorre em padrões inter-relacionados, de forma que, tanto a ausência de um nutriente, quanto seu excesso podem prejudicar a função dos demais, sendo o desbalanceamento da dieta, pode ser tão prejudicial, quanto a deficiência de nutrientes específicos (Mahan e Arlin, 1995). No Brasil, assim como em outros países, as medidas interventivas, visando ao combate às anemias têm sido direcionadas com o propósito de elevar o consumo de ferro. Esta prática pode acarretar resultados positivos a curto prazo, com elevação dos níveis de hemoglobina. Entretanto, a longo prazo, podem acarretar danos irremediáveis. O controle do "pool" orgânico de ferro é feito por meio de sua absorção. O organismo não possui mecanismos para excreção deste nutriente. Sobrecarregar a alimentação com este mineral pode acarretar distúrbios gastrointestinais, prejudicar a absorção de outros elementos e forçar o organismo a uma adaptação para reduzir ainda mais sua absorção. Hurrell e Cook (1990) citam que o enriquecimento com ferro tem causado, em alguns grupos populacionais, aumento na incidência de infecções, intoxicação por ferro, câncer e preju- Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.109-118, 2000 116 Teores de minerais em dietas utilizadas no Brasil: Um direcionamento para o enriquecimento de alimentos Ferreira et al. ízo na assimilação de outros elementos-traços. O ferro compete com o zinco para ser absorvido (Cousins, 1997; Pedrosa e Cozzolino., 1993) e forma compostos de baixa solubilidade com o selênio (Reilly, 1996). Dessa forma, a adoção de enriquecimento de alimentos com ferro pode acentuar a deficiência de outros minerais, particularmente o zinco e o selênio. Os distúrbios orgânicos por deficiência destes elementos são pouco específicos, de forma que a correção destas deficiências pode não ocorrer em tempo hábil. O estado nutricional da população é fator decisivo para o desenvolvimento econômico. População com baixo nível nutricional implica em maior morbidade, maior gasto governamental com tratamento médico hospitalar, maior número de aposentadorias precoces e absenteísmo no trabalho, afastamento do trabalho com remuneração custeada pelo governo, formação de recursos humanos de baixa qualidade e maior incidência de complicações no parto e na gravidez. Esta situação constitui um ciclo no qual a pobreza da Nação favorece as deficiências nutricionais e estas impedem o desenvolvimento do País. O Banco Mundial sabe que o pagamento dos empréstimos pelos países devedores depende da qualidade de seus recursos humanos (Martorell, 1996). no Brasil são o selênio e o zinco, cujas deficiências podem atingir, inclusive, indivíduos de classes econômicas elevadas. Em razão da participação do zinco no metabolismo do ferro sua deficiência pode ser uma das causas da incidência de anemia. CONCLUSÕES Cousins, R.J. Cinc. In: Organizacón Mundial de la Salud/Organizacón Panamericana de la Salud. Conocimientos actuales sobre nutrición. 7.ed. Washington, D.C.: ILSI Press, 1997. cap.29, p.312-327 (Publicación Científica, 565). A alimentação da população brasileira pode apresentar deficiência de diversos minerais, dependendo dos tipos de alimentos selecionados. Haverá deficiência de cálcio nas dietas isentas de leite e derivados, deficiência de zinco e de cobre nas dietas vegetarianas, deficiência de selênio nas dietas sem peixes, deficiência de magnésio, ferro, zinco e, talvez, até de cálcio, nas dietas sem feijão; É preocupante a desnutrição mineral nas populações de nível econômico baixo, cujas dietas são compostas apenas por cereais, feijão, óleos, sal e açúcar. Nestes casos, têm-se deficiência de maior número de nutrientes e em maior intensidade. O sódio, em razão da utilização do sal de cozinha, pode constituir problema pelo excesso com que é ingerido. Entretanto, sua exclusão da alimentação poderá prejudicar a ingestão de iodo. Ao contrário do que tem sido amplamente divulgado, que a deficiência de ferro é uma dos maiores problemas de saúde pública no Brasil constatou-se, neste trabalho, que os minerais mais limitantes nas dietas utilizadas REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Allen, L.H. The nutrition CRSP: what is marginal malnutrition, and does it affect human function? Nutr. Rev., v.51, n.9, p.255-267, 1993. Anuário Estatístico do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, v.56, 1996. Arnaud, C.D.; Sánchez, S.D. Cálcio y fósforo. In: Organizacón Mundial de la Salud/Organizacón Panamericana de la Salud. Conocimientos actuales sobre nutrición. 7.ed. Washington, D.C.: ILSI Press, 1997. cap.24, p.260-271. (Publicación Científica, 565). Bodwell, C.E.; Erdman Junior, J.W. Nutrients interactions. New York: Marcel Dekker, 1988. 389p. Brody, T. Nutritional biochemistry. California: Academic Press, 1994. 658p. Ensminger, A.H.; Ensminger, M.E.; Konlande, J.E.; Robson, J.R.K. Foods & nutrition - encyclopedia. 2.ed. 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Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.109-118, 2000 Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.119-124, 2000 ISSN: 1517-8595 119 PARÂMETROS FÍSICOS E QUÍMICOS DA ACEROLA (Malpighia punicifolia, L.) EM DIFERENTES FASES DE MATURAÇÃO Myrla de Souza Batista1, Rossana Maria Feitosa de Figueirêdo2, Alexandre José de Melo Queiroz2 RESUMO Foi utilizada como matéria-prima para este trabalho acerolas (Malpighia punicifolia, L.) colhidas de duas plantas, propagadas por sementes, e cultivadas a uma altitude de 700m. Foram separadas amostras em três estádios de maturação: maduras, meio-maduras e verdes. Após esta classificação efetuou-se a caracterização física dos frutos. Através da medida dos seus diâmetros longitudinal e transversal, foram determinadas as dimensões dos exemplares e cada amostra individual teve seu peso determinado. Foram efetuadas determinações de pH, e teor de ácido ascórbico. A classificação das acerolas quanto ao estádio de maturação por meio da medida de consistência da polpa revelou uma resistência mecânica decrescente da polpa com o progresso da maturação. A resistência mecânica média das acerolas meio-maduras superou a resistência das acerolas maduras em um fator próximo de 2 enquanto que a resistência mecânica média das acerolas verdes superou a resistência das acerolas meio-maduras em um fator próximo de 3. Os frutos verdes e meio-maduros apresentaram oBrix médio em torno de 7,0 e maior que o oBrix dos frutos maduros, em torno de 5,5. As amostras apresentaram pH médio de 3,04, 3,26 e 3,46 para os materiais meio-maduro, verde e maduro, respectivamente. O teor de ácido ascórbico apresentou relação inversa com o estádio de maturação variando de 2.738 mg/100g do material verde a 1.650 mg/100g do material meio-maduro e 887 mg/100g do material maduro. Palavras-chave: Malpighia punicifolia, acerola, ácido ascórbico. PHYSICAL AND CHEMICAL PARAMETERS OF ACEROLA (Malpighia punicifolia, L.) IN DIFFERENT STAGES OF MATURATION ABSTRACT It was used as raw material for this work West Indian cherry (Malpighia punicifolia, L.) which had been picked of two plants, spread by seeds, and cultivated an altitude of 700m. Samples were separate in three maturation stages: ripe, middle-ripe and green. After this classification was realized the physical characterization of the fruits. The dimensions of the samples had been determined through the measure of their longitudinal and transverse diameters and each individual sample had determined its weight. It had been made pH determinations, and ascorbic acid content. The classification of the West Indian cherry according to the maturation stage through the pulp consistence measure revealed a decreasing mechanical resistance of the pulp with the progress of the maturation. The average mechanical resistance of the middle-ripe West Indian cherry have overcome the resistance to the ripe West Indian cherry in a close factor of two while the average mechanical resistance to the green West Indian cherry has overcome the resistance of the middle-ripe West Indian cherry in a close factor of three. The green and the middle-ripe fruits have presented medium oBrix around 7.0 and larger than the ripe fruits oBrix, around 5.5. The samples have presented a medium pH of 3.04, 3.26 and 3.46 for the materials middle-ripe, green and ripe, respectively. The ascorbic acid content has presented inverse relationship with the maturation stage varying of 2,738 mg/100g of the green material to 1,650 mg/100g of the middle-ripe material and 887 mg/100g of the ripe material. Keywords: Malpighia punicifolia, West Indian cherry, ascorbic acid. Protocolo 21 2000 12 de 25/03/2000 1 2 Graduanda em Engenharia Agrícola, UFPB. Professor do Departamento de Engenharia Agrícola, UFPB/CCT, Campus II, Av. Aprígio Veloso, 882. CEP 58.109-970, Campina Grande-PB. 120 Parâmetros físicos e químicos da acerola em diferentes fases de maturação INTRODUÇÃO Os mercados nacionais e internacionais apresentam uma demanda crescente por frutas e seus subprodutos, que constituem fontes importantes de vitaminas, nutrientes reconhecidos como fundamentais para a saúde humana. Diversos trabalhos têm-se direcionado ao estudo de frutas tropicais, ressaltando o exotismo de seus sabores e aromas. Porém, nem sempre a fruta possui uma relação acidez/oBrix atraente ao paladar dos consumidores. Uma fruta que possuí uma preferencia limitada, pela elevada acidez, porém, excepcionalmente, rica em vitaminas, é a acerola (Malpighia punicifolia, L.), também conhecida como cereja das Antilhas e já incluída na pauta de exportação da fruticultura brasileira. Os ácidos presentes no suco de acerola são o ascórbico (AA) dehidroascórbico (DHA), 2,3-dicetogulônico (DCG), L-málico e cítrico. Entretanto, a alta sensibilidade da acerola, quando madura constitui problema sério para a colheita e a comercialização, isto devido à instabilidade do ácido ascórbico (vitamina C) frente à luz, oxigênio e as altas temperaturas. O alto teor de vitamina C e a fragilidade apresentada por este fruto têm motivado diversos estudiosos, em diferentes partes do mundo, a trabalhar com a sua caracterização química e as mais variadas condições de processamento e armazenamento, visando a preservar sua qualidade e seus nutrientes, desde a colheita até o consumi-dor final. No que se refere às características físico-químicas, reporta-se que as mesmas são função das condições climáticas, do estádio de maturação, do local de plantio e da época da colheita. Com isso, o conteúdo de ácido ascórbico e dehidroascórbico também sofre influências desses fatores (Franco, 1998). As reações de degradação do ácido ascórbico dependem de vários fatores como pH, temperatura, presença de oxigênio ou metais como cobre. Os teores de ácido ascórbico determinados em acerolas e relatados em literatura variam em mais de 100%. De acordo com Mustard (1946) o máximo de conteúdo de ácido ascórbico dá-se entre 16 e 18 dias depois da frutificação (fruto verde), atingindo 4676mg/100g de polpa. Análises de acerola feitas na Índia revelaram níveis de ácido ascórbico de 1051-1730mg/100g, correspondendo ao maior teor às acerolas roxas (Muthukrishnan & Palaniswany, 1972). Batista et al. O objetivo deste trabalho é caracterizar fisica e quimicamente frutos de acerola e verificar a correlação destes fatores com o estádio de maturação. MATERIAL E MÉTODOS Este trabalho foi realizado no Laboratório de Armazenamento e Processamento de Produtos Agrícolas (LAPPA) do Departamento de Engenharia Agrícola – DEAg, da Universidade Federal da Paraíba. Matéria-prima Foi utilizada como matéria-prima as acerolas de duas plantas, propagadas por sementes, e cultivadas no município de Puxinanã, Paraíba, a uma altitude de 700m. As etapas do trabalho seguiram a ordem apresentada no fluxograma da Figura 1. Colheita Seleção Análise Física e oBrix Extração da Polpa Homogeneização Análise Química Figura 1. Fluxograma das etapas desenvolvidas Colheita das frutas A colheita foi procedida por coleta manual e o material foi acondicionado em recipientes termicamente isolados para evitar aquecimentos indesejáveis durante o transporte. Após recepção do material em laboratório foi feita uma pré-seleção, eliminando-se frutos malformados e danificados. Seleção Os frutos foram divididos em lotes, representando três estádios de maturação. Esta divisão foi levada a efeito por meio de uma Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.119-124, 2000 Parâmetros físicos e químicos da acerola em diferentes fases de maturação seleção visual, efetuada a partir da cor da casca classificada como vermelha, alaranjada e verde, correspondendo, respectivamente aos lotes de exemplares maduros, meio-maduros e verdes. Dentro de cada estádio, tomou-se ao acaso 20 frutos para caracterização física, quanto ao peso, diâmetros longitudinal (comprimento) e transversal (largura) e textura. Peso Foi determinado, pesando-se os frutos individualmente em balança analítica com precisão de 0,0001g. Diâmetros Utilizou-se técnica de medição direta dos diâmetros longitudinal e transversal em 20 frutos, com emprego de paquímetro. Textura Foi determinada nos frutos individualmente em penetrômetro Sato Ag (modelo FT327), com ponteira cilíndrica de 8mm de diâmetro. Batista et al. 121 RESULTADOS E DISCUSSÃO Diâmetro dos frutos Observa-se, nas Tabelas 1 e 2, a caracterização por tamanho das amostras de acerola. Dos vinte exemplares estudados, nos diversos estádios de maturação, verifica-se que não existe diferença significativa entre as médias dos diâmetros longitudinais (Tabela 2) dos frutos maduros e meio-maduros. Entre estas médias e as médias obtidas para os frutos verdes, verifica-se que estas últimas apresentam valores menores. O diâmetro transversal médio dos frutos verdes (Tabela 1) também é inferior à média dos exemplares maduros e meiomaduros. Isto demonstra que, apesar dos frutos verdes aparentarem pleno desenvolvimento, ainda ocorrem ganhos de volume até que atinjam o estádio meio-maduro e maduro. Tabela 1. Diâmetros transversal médios das acerolas. Amostras Sólidos Solúveis (°Brix) Diâmetro Desvio C.V. transversal Padrão (%) (cm) O ºBrix foi determinado através da leitura direta em refratômetro tipo Abbe. Fruto Maduro Fruto Meio-maduro Fruto Verde 2,14 b 2,40 a 1,84 c pH DMS = 0,09 MG = 2,13 0,09 0,17 0,07 4,20 7,08 3,80 O pH foi determinado por meio de potenciômetro (TE-902 DIGIMED) previamente calibrado com soluções tampões de pH 7,0 e 4,0, de acordo com a temperatura dos padrões e amostras. As médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a nível de 5% de probabilidade. MG - Média geral; CV - Coeficiente de variação e DMS - Desvio mínimo significativo. Ácido Ascórbico Tabela 2. Diâmetros longitudinal médios das acerolas. Para a análise do ácido ascórbico foi utilizado o suco obtido dos 20 frutos das etapas anteriores, processados em liqüidificador de uso doméstico. Adotou-se o método n.º 43.065 da A.O.A.C.(1984) modificado por Benassi (1990), onde substitui-se o ácido metafosfórico por ácido oxálico. Amostras Fruto Maduro Fruto Meio-maduro Fruto Verde DMS = MG = Análise estatística A análise estatística dos dados foi feita, utilizando-se o delineamento inteiramente casua-lizado, com três repetições e as análises de variância, usando-se o programa computacional ASSISTAT 6.1 (Silva, 1996). A comparação entre médias foi feita pelo teste de Tukey, a nível de 5% de probabilidade (Gomes, 1987). Diâmetro Desvio longitudinal Padrão (cm) 1,92 a 2,00 a 1,64 b 0,24 0,11 0,06 C.V. (%) 12,50 5,50 3,66 0,12 1,85 As médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a nível de 5% de probabilidade. MG - Média geral; CV - Coeficiente de variação e DMS - Desvio mínimo significativo Entre maduros e meio-maduros, estes últimos apresentaram maior média em diâmetro Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.119-124, 2000 Parâmetros físicos e químicos da acerola em diferentes fases de maturação 122 transversal. Como a diferença não supera 11%, poderia ser atribuída a quantidade pequena de exemplares estudados diante da variabilidade natural de tamanhos, hipótese reforçada pelo fato das médias dos diâmetros longitudinais não exibirem diferença significativa entre si. Peso dos frutos O peso médio dos exemplares verdes acompanhou a tendência observada nos diâmetros, situando-se em valor inferior, quando comparado aos frutos maduros e meiomaduros (Tabela 3), como se constata pela diferença significativa a nível de 5% pelo teste de Tukey. Assim como se observou em relação ao diâmetro transversal dos frutos, o mesmo se verifica em relação ao peso médio dos exemplares, com o peso médio dos meiomaduros, superando o peso médio dos maduros. Entre o peso médio calculado para os exemplares verdes e o peso médio calculado para os exemplares maduros e meio-maduros tem-se diferenças entre 56% e 100 % respectivamente. Tabela 3. Peso médio das acerolas. Amostras Fruto Maduro Fruto Meio-maduro Fruto Verde DMS = MG = Batista et al. superior a 6. Tais resultados sugerem a conveniência da utilização comercial de frutos meio-maduros e verdes, devido à sua maior capacidade de resistir às injúrias mecânicas decorrentes de manuseio e transporte, injúrias estas importantes na qualidade dos frutos de acerola, reportada como fruta de polpa frágil (Figueirêdo, 1998) e sujeita a perdas advindas dessa característica. Tabela 4. Pressão em libras (lbf) medida através do Penetrometro nos três estádios de maturação. Amostras Pressão (Lbf) Desvio Padrão C.V. (%) Fruto Maduro Fruto Meio-maduro Fruto Verde 1,7630 c 3,5450 b 10,8050 a 0,19 0,57 1,94 10,78 16,06 10,55 DMS = MG = 0,8941 5,3710 As médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a nível de 5% de probabilidade. MG - Média geral; CV - Coeficiente de variação e DMS - Desvio mínimo significativo. Sólidos Solúveis Peso (g) Desvio Padrão C.V. (%) 5,0850 b 6,5474 a 3,2735 c 0,5452 1,1445 0,2966 10,72 17,48 9,06 0,5708 4,9686 As médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a nível de 5% de probabilidade. MG - Média geral; CV - Coeficiente de variação e DMS - Desvio mínimo significativo. Os teores médios de sólidos sólúveis (oBrix) determinados para os três materiais estudados (Tabela 5) são vistos na Tabela 5. Não existe diferença significativa ao nível de 5% de probabilidade pelo teste de Tukey entre os teores médios presentes nos frutos verdes e meio-maduros. Em se tratando dos frutos maduros, existe diferença significativa em relação às amostras verdes e meio-maduras, com o teor de sólidos inferior a estas. Tabela 5. Médias dos valores obtidos para os sólidos solúveis (ºBrix) Textura Os valores obtidos para a textura das amostras, relacionando esta característica com a consistência do material é vista na Tabela 4. O frutos classificados como maduros, meiomaduros e verdes mediante seleção visual prévia apresentaram, nessa ordem, consistência crescente, conforme se vê nas médias apresentadas na Tabela 4. Entre os frutos maduros e meio-maduros a consistência aumentou em mais de 101% e entre os frutos meio maduros e verdes a consistência aumentou em mais de 204 %. Entre os frutos maduros e verdes a consistência aumentou em um fator Amostras °Brix Desvio Padrão C.V. (%) Fruto Maduro Fruto Meio-maduro Fruto Verde 5,50 b 6,93 a 6,96 a 0,7 0,8 0,7 12,73 11,69 10,78 DMS = MG = 0,5805 6,4633 As médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a nível de 5% de probabilidade. MG - Média geral; CV - Coeficiente de variação e DMS - Desvio mínimo significativo. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.119-124, 2000 Parâmetros físicos e químicos da acerola em diferentes fases de maturação pH Todos os materiais apresentaram diferenças significativas entre os valores médios de pH. O material maduro apresentou o pH mais alto dentre os três tipos de material, denotando o estabelecimento das transformações químicas decorrentes do avanço da maturação (Chitarra e Chitarra, 1990). Indícios destas transformações não são detectados nos valores determinados para o pH das amostras verde e meio-madura uma vez que o valor médio do pH dos frutos verdes superou em 6,7% a média do pH dos frutos meiomaduros, diferença que apesar de inferior a 10% é significativa ao nível de 5% de probabilidade. pH Desvio Padrão C.V. (%) Fruto Maduro Fruto Meio-maduro Fruto Verde 3,46 a 3,04 c 3,26 b 0 0,01 0,01 0 0,33 0,31 DMS = MG = 0,01 CONCLUSÕES A resistência mecânica média das acerolas meio-maduras superou a resistência das acerolas maduras em um fator em torno de 2. A resistência mecânica média das acerolas verdes superou a resistência das acerolas meio-maduras em um fator em torno de 3. Os frutos verdes e meio-maduros apresentaram OBrix médio em torno de 7,0 e maior que o OBrix dos frutos maduros, em torno de 5,5. As amostras apresentaram pH médio de 3,04, 3,26 e 3,46 para os materiais meiomaduro, verde e maduro, respectivamente. O teor de ácido ascórbico apresentou relação inversa com o estádio de maturação variando de 2738 mg/100g do material verde a 1650mg/100g do material meiomaduro e 887mg/100g do material maduro. Os maiores teores de ácido ascórbico determinados no material classificado como verde, aliados à superior resistência mecânica determinada em sua polpa, conferem a este material potencialidade como fonte natural de ácido ascórbico para produção em escala industrial, levando em conta a conveniência que estas características representam para o processamento. 3,25 As médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a nível de 5% de probabilidade. MG - Média geral; CV - Coeficiente de variação e DMS - Desvio mínimo significativo. Ácido Ascórbico Na Tabela 7 têm-se os valores médios de teor de ácido ascórbico presente nas amostras verdes, meio-maduras e maduras. Tabela 7. Ácido ascórbico médio das acerolas Amostras Ácido Ascórbico Desvio C.V. Padrão (%) (mg/100g da amostra) Fruto Maduro Fruto Meio-maduro Fruto Verde DMS = MG = 887,13 c 1650,56 b 2738,22 a 15,93 1,80 146,87 8,90 193,37 7,06 165,32 1758,64 As médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a nível de 5% de probabilidade. MG - Média geral; CV - Coeficiente de variação e DMS - Desvio mínimo significativo. 123 O teor médio de ácido ascórbico presente no material classificado como verde superou em mais de três vezes o teor determinado nas amostras maduras. O teor de ácido ascórbico presente no material meiomaduro revelou-se mais de 1,8 vezes superior ao teor do material maduro e cerca de 1,7 vezes inferior ao teor determinado no material verde, demonstrando clara correlação do teor de ácido ascórbico com o estádio de maturação dos frutos de acerola. Tabela 6. Médias dos valores obtidos para o pH. Amostras Batista et al. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Associaton of Official Analytical Chemists (A.O.A.C.) Official methods of analysis. 14.ed. Williams, S. (ed.) Arlington, 1984. 1141p. Benassi, M.T. Análise dos efeitos de diferentes parâmetros na estabilidade de Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.119-124, 2000 124 Parâmetros físicos e químicos da acerola em diferentes fases de maturação Batista et al. vitamina C em vegetais processados. Campinas: UNICAMP/FEA, 1990. 159p. (Dissertação de Mestrado). Gomes, F.P. Curso de Estatística Experimental. 12.ed. São Paulo: ESALQ/USP, 1987. 467p. Chitarra, M.I.F.; Chitarra, A.B. Pós-Colheita de frutos e hortaliças. Lavras: ESALFAEPE 1990, 1990. p.293. Mustard, M.J. The ascorbic acid content of some Malpighia fruit and jellys. Scienc, v.104, p.230-235, 1946. Figueirêdo, R.M.F. de Caracterização físicoquímica do suco e pó de acerola (Malpighia punicifolia L.). Campinas : UNICAMP/FEA, 1998. 184p. (Tese de Doutorado). Muthukrisshnan, C.R.; Palaniswamy, P. A study on the West Indian cherry products. 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DO NORTE Maria Zilderlania Alves1, Josivan Barbosa Menezes2, Silvio César Sartori Ito1, Selma R. de Carvalho Nascimento3, Rui Sales Júnior3, Railene Hérica Carlos Rocha1 RESUMO Realizou-se um levantamento objetivando identificar os principais problemas pré e pós-colheita que afetam a qualidade do melão produzido na época das chuvas no Agropólo MossoróAçu/RN. Foram feitas entrevistas nas 20 principais empresas utilizando-se questionários préestabelecidos. A área plantada com melão, no período chuvoso de 1999 correspondeu a 4.326 ha. A produção nesse período atingiu 113.756 ton, sendo 25,75 tonha-1 a produtividade média, com algumas empresas alcançando até 30,00 tonha-1. Os genótipos plantados foram: os híbridos AF 646 e AF 682, Gold Mine, Hy Mark, Pele de Sapo, Orange Flesh e Gália. Somente três das empresas entrevistadas utilizam a técnica do pré-resfriamento e, dentre essas, duas utilizam-na para os melões Gália e Orange Flesh. Na cultura, as doenças que ocorreram com maior freqüência foram míldio e oídio, e as pragas mais freqüentes foram mosca-minadora, moscabranca e broca-dos-frutos. As perdas na comercialização variam de 2 a 40%, com uma média de 20%. As perdas d’água dos frutos armazenados variam de 1 a 5%. Diversas medidas de controle são empregadas de maneira empírica sem suporte de pesquisas científicas, especialmente no caso dos médios e pequenos produtores. Palavra Chaves: melão – pré-colheita, pós-colheita, produção, doença CHARACTERIZATION OF THE PRE AND POSTHARVEST PROBLEMS OF THE PRODUCED MELON IN THE RAINY SEASON IN RIO GRANDE DO NORTE ABSTRACT A survey has been made to identify the main pre and post harvest problems, which affect the quality of the melons that ware produced during the rainy season in the Agropólo MossoróAçu/RN. The interviews have been made in the top of 20 farms with the use of previously prepared questionnaires. The melon planted area in the 1999 rainy period was 4,326 ha. The production in that period reached 113,756 tons, with an average yield of 25.75 tonha-1 . Some farms reached 30 tonha-1. The planted genotypes were: the hybrids AF 646 and AF 682, Gold Mine, Hy Mark, Pele de Sapo, Orange Flesh e Gália. Only three of the interviewed farms utilize the pre-cooling technique, and two of these utilize it for the Gália e Orange Flesh melons. For the crop, mildew and odium were the most frequent diseases, and leaf miner, whitefly, and pickleworm were the most frequent pests. Losses in the commercialization ranged from 1 to 5%. Several control procedures are empirically utilized without scientific research support, chiefly in the case of the median and small producers. Keywords: melon, pre-harvest, post harvest, production, diseases Protocolo 21 2000 13 de 30/03/2000 1 Engenheiro Agrônomo – ESAM, c.p. 137, CEP 59.625-900, Mossoró-RN. 2 Professor Adjunto- Departamento de Química e Tecnologia – QTC, ESAM-RN 3 Professor Adjunto- Departamento de Fitossanidade – FTS, ESAM-RN 126 Caracterização dos problemas pré e pós-colheita do meloeiro produzido em período chuvoso ..........Alves et al. INTRODUÇÃO Os minerais desempenham suas funções no organismo na forma iônica, em solução nos fluidos corporais e, também, como constituintes de compostos vitais. De modo geral, eles regulam o metabolismo de diversas enzimas, mantêm o equilíbrio ácido-básico e a pressão osmótica, facilitam a transferência de compostos essenciais através das membranas, mantêm a excitabilidade muscular e nervosa e, em alguns casos, fazem parte dos elementos constituintes dos tecidos do organismo. A ingestão inadequada pode impedir a função celular, causar doenças e levar à morte (Mahan e Arlin, 1995; Organização..., 1998; Organización..., 1997; Tolonen, 1990; Silva e Williams, 1993). A principal via de entrada dos elementos químicos no homem é por meio dos alimentos, sendo tradicionalmente aceito que dietas que contêm carnes, leite e derivados, cereais, leguminosas, frutas, hortaliças e óleos, em quantidades e proporções adequadas, suprem os requerimentos para todos os nutrientes necessários ao ser humano. No Brasil, não é habitual o consumo de cereais integral, sementes e outras leguminosas que não o feijão. Além disso, a escolha dos alimentos pelo ser humano é determinada, principalmente, pelos hábitos alimentares, renda e disponibilidade dos alimentos, e nem todos os indivíduos consomem dietas que contêm todos estes grupos de alimentos. Segundo a Organização Panamericana de Saúde e a Organização Mundial de Saúde, em muitos países, cinco das principais causas de morte: diabetes mellitus, cardiopatia isquêmica, acidentes cerebrovasculares, arteriosclerose e alguns tipos de câncer, associam-se com a dieta (Organizacion Panamericana..., 1990). A desnutrição marginal é altamente prevalecente nos países em desenvolvimento e mais comum que a desnutrição grave, acarretando prejuízos no crescimento, desenvolvimento psicológico, função imunológica e competência reprodutiva e social, o que resulta em maior morbidade e incapacidade para o aprendizado e para o trabalho (Allen, 1993). Três quartos das crianças que morrem em todo o mundo de causas relacionadas com a desnutrição se enquadram nas categorias de leve ou moderadamente desnutridas, e não acusam qualquer indício exterior de problemas perceptíveis a um observador ocasional. Além disso, deficiências nutricionais na infância correlacionam-se positivamente com doenças crônico degenerativas na idade adulta, por exemplo câncer, hipertensão, diabetes e doenças cardiovasculares (Fundo das Nações Unidas para a Infância - UNICEF, 1998). No Brasil, 42,9% da população tem idade de até 19 anos. São 64.804.694 ainda em fase de desenvolvimento (Anuário Estatístico, 1996). Segundo o Programa Nacional de Alimen-tação e Nutrição - PRONAN (1976) a adição de nutrientes em alimentos de uso corrente poderá, a curto prazo, constituir procedimento permanente na indústria de alimentos, merecendo especial destaque estudos no campo da alimentação e nutrição. A elaboração de guias de alimentação, estudos epidemiológicos, percepção de patologias associadas a deficiências nutricionais, programas de saúde, preventivos e curativos, necessitam de conheci-mentos prévios sobre aspectos nutricionais da população. No Brasil, estes estudos e as medidas interventivas na área da saúde preventiva e curativa são prejudicados em razão do desconhecimento sobre a ingestão de muitos nutrientes por parte da população, principalmente os micronutrientes. As tabelas de composição utilizadas no País, além de não contemplarem todos os nutrientes, possuem muitos dados de composição de alimentos copilados de estudos realizados em outros países (Franco, 1992; Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e EstatísticaFIBGE, 1981). Portanto, este trabalho teve o objetivo de determinar e avaliar o teor de minerais em dietas utilizadas no Brasil. MATERIAL E MÉTODOS Para a determinação dos teores de minerais nas dietas utilizadas pela população brasileira, procedeu-se, primeiramente, a determinação de cálcio, magnésio, sódio, potássio, cobre, ferro, zinco e selênio nos alimentos incluídos nestas dietas. Amostras dos alimentos foram coletadas no comércio varejista da região sudeste e, em erlenmeyer de 125 ou 250 ml, foram pesadas exatamente de 2 a 10 gramas de alimento, em triplicata, utilizando-se balança eletrônica, modelo Sauter K1200, com duas casas decimais. Antes de serem pesados, os alimentos cuja ingestão requer prévia higienização, foram lavados em água corrente, secos com toalha, picados em pedaços de aproximadamente 0,5 cm3 ou triturados, conforme o tipo de alimento. Procedeu-se à oxidação da matéria orgânica por Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.125-131, 2000 Caracterização dos problemas pré e pós-colheita do meloeiro produzido em período chuvoso ..........Alves et al. via úmida, adicionando-se às amostras 25 ml de mistura nitroperclórica, na proporção de três partes de ácido nítrico para uma parte de ácido perclórico, e aquecimento em chapa acoplada com exaustor, a temperatura entre 170 e 190 oC. Nas amostras com teores elevados de gordura foi necessária a adição de mais 5 a 15 ml de solução digestora. Após a completa eliminação da matéria orgânica, verificada, quando a solução se apresen-tava cristalina, transparente e exalando vapores brancos, adicionou-se 1 ml de ácido clorídrico concentrado, retornando com a solução para a chapa aquecedora durante 30 minutos, à temperatura de 70 oC (Vidal, 1984). Estas soluções foram levadas a volume de 25 ml, utilizando-se água deionizada, e acondicionadas em frascos de polietileno até a determinação do teor de minerais. Quantificaram-se os teores de cálcio, magnésio, zinco, cobre, ferro e selênio em aparelho de absorção atômica, modelo GBC 932 AA. Para a determinação de selênio, utilizou-se o mesmo aparelho de absorção atômica, porém acoplado com gerador de hidreto, modelo GBC HG 3000. Utilizou-se BHNa em solução de NaOH para determinação de selênio e SrCl2 para determinação dos teores de cálcio e magnésio, conforme especificação no manual de instrução do aparelho. Os teores de sódio e potássio foram determinados por meio de fotometria de chama, utilizando-se aparelho CELM FC 180. Utilizaram-se, para a determinação das concentrações de minerais, nas soluções preparadas com amostras dos alimentos, curvas de calibração preparadas com soluções-padrões de concentrações conhecidas, próprias para trabalho em absorção atômica. As soluções padrões de cálcio, potássio e cobre da marca Carlo Erba; de magnésio e selênio da marca Normex; de sódio, ferro e zinco da marca Fixanal - Riedel-de Haën. Toda a vidraria utilizada foi lavada em água corrente, deixada de molho de um dia para outro em solução ácida preparada com HCl e pH < 1,0 e, posteriormente, enxaguada três vezes em água corrente, três vezes em água destilada e três vezes em água deionizada. Os reagentes utilizados nesta pesquisa, todos de grau p.a. (pró-análise), foram os seguintes: HCl concentrado da marca Fixanal; HClO4 da marca Nuclear; HNO3, NaOH (lentilhas), BHNa e SrCl2 da marca Merck. Para quantificar-se os teores de minerais em dietas utilizadas pela população brasileira, elaborou-se uma dieta completa, que contem todos os grupos de alimentos, uma dieta vegetariana, uma dieta ovolactovegetariana, 127 uma dieta sem peixes, leite ou outros produtos lácteos e uma dieta composta apenas pelos alimentos básicos (arroz, feijão, macarrão, pão, fubá, farinha de mandioca, óleo e açúcar), conforme ocorre no cotidiano brasileiro. Em todas as dietas, procurou-se aliar os alimentos mais freqüentemente consumidos no Brasil com aqueles que apresentaram os teores mais elevados de minerais, utilizando-se o maior número possível de alimentos de um mesmo grupo, mas de maneira que, no total, a soma destas quantias fosse condizente com o possível de ser ingerido diariamente. Em todas as dietas, as quantidades de energia, de proteínas e a proporção entre os nutrientes energéticos atenderam às recomendações para um indivíduo adulto do sexo masculino, segundo as recomendações do National Research Council NRC (1989) (Quadro 1). RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram visitados 20 produtores de melão, representando uma área plantada de 4.326 ha, sendo, 2540 ha no Município de Mossoró; 961 ha em Baraúna; 809 ha em Carnaubais e 16 ha em Ipanguaçú. . O município do Alto do Rodrigues (Região de Açu), não realizou plantios comerciais devido aos altos custos envolvidos no controle de doenças e pragas que ocorrem no período chuvoso (Tabela-1). Os valores de superfícies dedicados a este cultivo oscilam desde 4 à 2000 ha, nas zonas produtoras (Tabela-1). A produção obtida no período chuvoso (Janeiro à Abril) de 2000 foi de 113.756 ton, dos quais, apresentou valores extremos de 120 à 60.000 ton (Tabela-1). Quanto à produtividade, obteve-se uma média de 25,75 tonha-1. No entanto, há empresas que chegam a alcançar uma produtividade superior a 30,00 tonha-1 (Tab.1). Segundo dados obtidos, as principais cultivares de melão plantadas no Estado do Rio Grande do Norte, em período chuvoso da região, se encontra refletidos na (Tabela -2). Cabe destacar os híbridos do tipo “Amarelo” AF 646; AF 682; Gold Mine e outros que não se identificou a cultivar, onde juntos somam uma área de 3.121 ha. No entanto, outras cultivares como Pele de Sapo, Orange Flesh e Rochedo, são plantados em menores escalas, visando a atender a preferancia de alguns mercados importadores. Cultivares do tipo Gold Axe, Net Melon, Ruideira, Pégaso e Manchado, são plantadas em Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.125-131, 2000 128 Caracterização dos problemas pré e pós-colheita do meloeiro produzido em período chuvoso ..........Alves et al. área menores que 10 ha, de forma experimental, por grandes empresas, visando resultados futuros. O período de colheita foi realizado aos 60 a 70 dias após o plantio, com duração de 10 a 30 dias (Tab. 3). Neste intervalo , o número de colheitas realizadas foi reduzido para 2 a 3, para cultivar do tipo amarelo, devido ao período chuvoso da região. Já na cultivar do tipo Orange Flesh, em algumas empresas, foram realizadas de 4 a 6 colheitas, isso devido às condições edafo-climáticas favoráveis de algumas empresas (Tabela 3). Já os valores do Sólido Solúveis Totais (SS), oscilam entre 8 à 11 para o mercado externo e, de 10 à 13 para o mercado interno (Tabela 3). Das 20 empresas consultadas, somente 3 delas utilizaram o pré-resfriamento como técnica de conservação pós-colheita, sendo que duas delas, utiliza-o somente para as cultivares tipo Gália e Orange Flesh; uma outra empresa, utiliza-o para secagem de frutos. Outros dados obtidos indicam que somente duas das 20 empresas visitadas, controlam a umidade relativa e a temperatura nos galpões; sendo que uma desta usa esse controle para o melão que é destinado a exportação. As perdas na comercialização no Rio Grande do Norte, no período chuvoso, segundo dados fornecidos pelos produtores nas 20 empresas consultadas, variam de 2 a 40%; tendo uma média em torno de 20%. As perdas de água dos frutos armazenados estão entre 1 a 5%. As perdas mais comuns encontradas foram devidas ao ataque de microorganismos, manejo e acondicionamento inadequado, assim como uma rede de armazenamento insuficiente. Os principais agentes fitopatogênicos detectados nas 20 empresas consultadas, em período chuvoso, foram: Míldio (Pseudoperonospora cubensis), com uma ocorrência marcante em 17 das 20 áreas consultadas. O ataque de Oídio (Oidium sp.) também foi bastante significativo, apresentando-se em 15 das 20 empresas (Figura-1). Houve também, em algumas das áreas, a presença de crestamento gomoso do caule (Didymella bryoniae) e Myrothecium sp. e Alternaria sp., nos frutos; esses são dados fornecidos referentes à amostras realizadas em laboratórios, enviados pelo produtor “P”. A presença de outros agentes fitopatogênicos foi detectada, ainda que não fossem realizadas análises laboratoriais. Segundo dados dos produtores, também foram detectadas doenças provocadas por bactéria, vírus e nematóides. Em 9 das, 20 empresas visitadas apresentaram um ataque de Barriga d’água (Xanthmonas campestre pv. melonis). Assim como, se detectou a presença de Mancha Angular e Erwinia em 6 e 3 empresas, respectivamente. A presença de Virose foi detectada em 4 das, 20 áreas visitadas, e, em 6 delas, foi observado ataque de Nematóides do gênero Meloidogyne sp (Figura 1). Por um outro lado, as pragas identificadas foram: Mosca Minadora, Mosca branca e Broca dos Frutos, onde apresentaram uma ocorrência em 16, 17 e 17 áreas sobre as 20 áreas visitadas, respec-tivamente. Foi relatado que todas as empresas consultadas apresentaram áreas isentas de Mosca das frutas (Figura-2). Houve também a incidência de Pulgões, Vaquinhas e Broca das Hastes, porém, em menor ocorrência em relação às demais pragas. Um outro problema detectado neste estudo foi o aparecimento pôr distúrbio fisiológico conhecido como “Amarelão”, em 2 das 20 empresas entrevistadas. As medidas de controle, segundo informações dos produtores em pré-colheita foram: antecipação da colheita, monitoramento da cultura, aumento do número de pulverizações para 2 vezes por semana com produtos recomendados, redução da irrigação em 50% antes da colheita para evitar distúrbios fisiológicos. Em pós-colheita, foram realizadas lavagem dos frutos em água clorada à 2%, e no ato da classificação se efetuam o pincelamento do pedúnculo com uma substância bactericida (Kasumin- 40g.100 -1l), fungicida ou cera de Carnaúba. Do melão produzido no Estado, no período chuvoso, apenas 30% da produção é exportada, sendo todos os demais destinados ao mercado interno. Principalmente, para a região Nordeste, especialmente, as cidades de Natal, Fortaleza e Recife; e Sudeste, às cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. A comercialização é feita, em sua totalidade, pelos grandes empresários, que destinam 40% da produção para o mercado externo e 60% para o mercado interno. O transporte utilizado na comercialização é do tipo rodoviário e marítimo, onde este último, geralmente é utilizado para exportação do produto. Já para o mercado interno, comumente utiliza-se a carga seca, ou seja, caminhão com lona. Estas medidas são adotadas principalmente para o melão amarelo; o qual é Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.125-131, 2000 Caracterização dos problemas pré e pós-colheita do meloeiro produzido em período chuvoso ..........Alves et al. resistente ao transporte e armazenamento. Quanto aos tipos Orange Flesh e Gália, algumas empresas utilizam o caminhão refrigerado desde a fazenda até o porto, devido ao fato de serem frutos mais sensíveis a injúrias e danos pós-colheita. Segundo Botrel (1994), os prejuízos causados pelas perdas pós-colheita em países, em desenvolvimento, situam-se em torno de 3040 %, sendo parte deles resultantes do uso inadequado de um sistema de colheita, transporte e armazenamento. Já as perdas relacionadas ao ataque de organismos fitopatógenos são potencialmente significativas, podendo ser maiores que 30 %, dependendo do país, e para alguns produtos agrícolas, as perdas 129 econômicas, durante a estocagem, equivalem as perdas que ocorrem no campo (Sams, 1994). Não obstante, Sanders & Schwartz (1980) consideram que a maioria das estimativas de perdas da produção na América Latina tem sido determinadas com base em resultados experimentais e, portanto, deve ser considerada como estimativas sob condições de solos férteis, alta tecnologia de manejo, uso de grande número de insumos e geralmente alta incidência de doenças. Sendo, pois, necessária a adoção de tecnologia adequada na pós-colheita, visando a reduzir as perdas quantitativas e qualitativas de frutos e hortaliças, mantendo-as em condições ótimas de consumo. Tabela 1. Área plantada, produção e produtividade da cultura do melão, nas regiões de Mossoró, Baraúnas e Açu, em período chuvoso de (janeiro/abril) de 2000. Produtores A B C D E F G Sub-total H I J L K M N O Sub-total P Q(1) R(2) S(2) T(2) Sub-total Regiões Baraúna Mossoró Produção (ton) 160 30 60 4,0 42 2000 210 34 2540 4000 750 1800 120 966 60000 4830 780 73.246 25 25 30 30 23 30 23 23 809 16 15601 22 825 15601 4.326 113.756 3500 7500 5200 3200 2860 2064 585 24.909 Produtividade (ton.ha-1) 25 25 26 32 26 24 23 Açu TOTAL (1) (2) Área plantada (ha) 140 300 200 100 110 86 25 961 25,75 (X) Os melões não haviam sido colhidos Não houve plantio Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.125-131, 2000 130 Caracterização dos problemas pré e pós-colheita do meloeiro produzido em período chuvoso ..........Alves et al. Tabela 2. Cultivares de melão e respectivas áreas plantadas (ha) no Rio Grande do Norte, produzido em período chuvoso de 2000. Cultivares AF 646 AF 682 Gold Mine Piele de Sapo Orange Flesh Rochedo Gália Hy Mark Gold pride Cantalupe(1) Outros tipos(2) Área plantada (ha) 1020 578 473 317 281 100 86 32 30 29 1050 (1) (2) Não foi identificado a variedade do grupo Cantalupe Não foi identificado as variedades do grudo Amarelo Tabela 3. Dados de colheita da cultura do melão, nas regiões de Mossoró, Baraúnas e Açu, em período chuvoso de (janeiro/abril) de 2000. Produtores Início A B C D E F G H I J L K M N O P Q(e) R(f) S(f) T(f) 60 62 65 65 65 – 67 60 – 70 60 60 60 60 60 65 60 60 65 62 68 COLHEITA Duração (dias) 10 15 15 21 21 21 15 30 15 10 20 15 15 25 30 15 15 BRIX0 Nº de colheitas 2–3 3 2 2 3 2(c), 4 – 6(d) 3 3 3 4 3 2 4 3 3–4 3 2 (a) ME 11 10 9 10 11 10 9 10 10 10 9 10 10 8–9 9 – 10 9 – 10 11 MI(b) 12 12 13 12 12 12 12 13 12 12 12 12 12 10 – 12 12 11 – 12 12 (a) Mercado Externo Mercado Interno (c) Para o melão Piel de Sapo (d) Para o melão Orange Flesh (e) Os melões não haviam sido colhidos (f) Não houve plantio (b) CONCLUSÕES Diante dos resultados obtidos, podemos concluir que: 1. Somente 3 das 20 empresa entrevistadas, em Mossoró-RN utiliza o pré-resfriamento como técnica de conservação pós-colheita. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.125-131, 2000 Caracterização dos problemas pré e pós-colheita do meloeiro produzido em período chuvoso ..........Alves et al. Sendo que duas delas utiliza somente para as cultivares tipo Gália e Orange Flesh; 2. As doenças que ocorreram com maior freqüência na época das chuvas no Rio G. do Norte foram: Míldio, Oídio, Podridão de Frutos e Raízes, Barriga d’água e viroses; 3. As pragas que ocorreram com maior freqüência na época das chuvas, foram Mosca minadora, Mosca branca e Broca dos frutos. 4. As perdas na comercialização, segundo as 20 empresas consultadas no Estado em período chuvoso, variam de 2 a 40%; tendo uma média de 20%. Quanto as perdas por perda d’água, estão entre 1 a 5%. 5. Diversas mediadas de controle são empregados de maneira empírica sem suporte de pesquisas científica, especialmente para médios e pequenos produtores. 131 Cadeia produtiva do melão no Nordeste. In: Castro, A M.G. de; Lima, S.M.V.; Goedest, W.J.; Freitas Filho, A de; Vasconcelos, J.R.P. Cadeias Produtivas e Sistema Naturais. Brasília; MAA/ EMPRAPA, 1998. 441p. Dusi, A.N.; Tasaki, S.; Vieira, J.V. Metodologia para avaliação de resistência a Didymella bryoniae em melão. Horticultura Brasileira, Brasília, v12, n.1, maio 1994. Fao, Dados agrícolas de FAOSTAT producción - Disponível na Internet via www.url:http//: apps.fao.org (1999). Idec. Anuário Estatístico do Rio Grande do Norte. Natal-RN, v.23, 1996. Sams, C. E. Management of postharvest disease resistance in horticultual crops: intoduention to the colloquium. Hort Science., v.29, n.7, p.746-747, 1994. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Sanders, J.H.; Schwartz, H.F. La produccion de frijol y limitaciones impuestas por las plagas em América Latina. In: Schwartz, H.F.; Gálvel, G.E. Problemas de produccion del frijol, CALI, CIAT, 424p. 1980. Botrel, N. Sistema de armazenamento. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.17, n.180, p.9-13, 1994. (Qualidade pós-colheita de frutos – II). Sousa, M. da C. Caracterização das operações pós-colheita do melão (Cucumis melo L.) no Rio Grande do Norte. Mossoró: ESAM, 1992. 34p. [Monografia]. CODEVASF. Exportação de frutas brasileiras. Brasília: CODEVASF, 352p. 1989. Souza, M.C.; Menezes, J.B.; Alves, R.E. Tecnologia pós-colheita do Rio Grande do Norte, Horti-cultura Brasileira, Brasília, v.12, n.2, p.188-19, 1994. Dias, R de C.S.; Costa, N.D.; Cerdan, C.; Silva, P.C.G.; Queiroz, M.A.; Zuza, F.; Leite, L.A De S.; Pessoa, P.F.A de; Terao, D. A Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.125-131, 2000 132 UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA AGRÍCOLA Centro de Ciências e Tecnologia PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA AGRÍCOLA CAMPINA GRANDE – PB MESTRADO Reconhecido pela CAPES – Conceito 4 ÁREAS DE CONCENTRAÇÃO IRRIGAÇÃO E DRENAGEM Linhas de Pesquisa Manejo de Solo, Água, Planta Salinidade Engenharia de Irrigação e Drenagem Sensoriamento Remoto Planejamento de Áreas Irrigadas PROCESSAMENTO E ARMAZENAMENTO DE PRODUTOS AGRÍCOLAS Linhas de Pesquisa Armazenagem de Produtos Agrícolas Processamento de Produtos Agrícolas Crioconservação de Produtos Agrícolas Propriedades Físicas de Materiais Biológicos Tecnologia Pós-Colheita CONSTRUÇÕES RURAIS E AMBIÊNCIA Linhas de Pesquisa Construções de Silos Materiais Convencionais e Não-convencionais em Construções Rurais Madeira e Estrutura de Madeira Conforto Térmico de Instalações para Animais e Vegetais INSCRIÇÕES Documentos exigidos: Formulário de inscrição fornecido pela COPEAG, acompanhado de 2 fotos 3x4 Currículum Vitae, com cópia dos documentos comprobatórios Cópia autenticada do diploma de graduação ou documento equivalente Histórico escolar da graduação Documento militar, cédula de identidade e título de eleitor 2 cartas de recomendação (modelo fornecido pela COPEAG) Declaração da IES de origem, atestando a inclusão do candidato no Programa Institucional de Capacitação Docente e Técnico (PICDT-CAPES), se for o caso Declaração da empresa ou órgão público de origem, atestando a liberação do candidato por tempo integral, com ou sem recebimento de remuneração, se for o caso Períodos de Inscrição: Maio para início do Curso em Setembro Setembro para início do Curso em Março Endereço: COPEAG – Coordenação de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola Av. Aprígio Veloso, 882, Bloco CM, 1o. Andar, C.P. 10087, Bodocongó CEP 58.109-970, Campina Grande, PB Fone: (0xx83) 310.1055, Fax: (0xx83) 310.1185 http://www.deag.ufpb.br/~copeag, Email: [email protected] Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.132, 2000 Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.133-138, 2000 ISSN: 1517-8595 133 DRYING CURVES OF UMBU FRUITS WITH OSMOTIC PRE-DRYING Severina de Sousa1, Mário Eduardo R. M. Cavalcanti Mata2, Maria Elita Duarte Braga2, Antonio Fernandes Monteiro Filho1 ABSTRACT Ripe and semi-ripe umbu fruits (Spondias tuberosa Arruda Câmara) have been undergone into an osmotic pre-drying in a sucrose solution at 76ºBrix, from an initial moisture content to its stability. After the osmotic drying, fruits have been dried up to final water rates of 40, 35 and 30%b.u., in the experimental fixed dryer at temperatures of 70, 80 and 90ºC and drying air speed of 1.27m.s-1. Proposed equations by Page and Fick have been set up to experimental dada (by using one, two and three series terms) by non-linear regression. The obtained results allow the conclusion that the best found adjusts have been the ones with Page’s equation, where the determining coefficients were over 99.5%. However, Fick’s equation, even having used three terms from the series, hadn’t shown a satisfactory adjust for all temperatures in study, although it was used three terms from the series. Keywords: umbu, drying, osmotic drying CURVAS DE SECAGEM DOS FRUTOS DE UMBU COM PRÉ-SECAGEM OSMÓTICA RESUMO Frutos de umbu (Spondias tuberosa Arruda Câmara) maduro e semimaduro frutifica foram submetidos a uma pré-secagem osmótica, em uma solução de sacarose à 76ºBrix, de um teor de umidade inicial até sua estabilidade. Depois da secagem osmótica, as frutas foram secas até os teores de umidades finais de 40, 35 e 30%b.u., em um secador experimental a temperaturas de 70, 80 e 90ºC e velocidade do ar de secagem de 1,27m.s-1. Foram ajustadas aos dados experimentais as equações propostas por Page e Fick (usando um, dois e três condições de série) por meio de regressão não-linear. Os resultados obtidos permitem concluir que o melhor ajuste foi obtido utilizando-se a equação de Páge onde o coeficiente de determinação encontrava-se acima de 99,5%. Porém, a equação de Fick, mesmo utilizando-se três termos da série, não mostrou um ajuste satisfatório, para todas as temperaturas estudadas. Paalvras-chave: umbu, secagem, pré-secagem osmótica Protocolo 21 2000 15 de 03/04/2000 1 Eng. Agrônomo, M.Sc. em Engenharia Agrícola. Rua São Vicente, 31 Alagoa Grande, PB-Brasil E-mail: [email protected] and E-mail: [email protected]. 2 Universidade Federal da Paraíba, Departamento de Engenharia Agrícola, P.O.Box 10.087, 58109-970 Campina Grande, PB – Brasil E-mail: [email protected] and E-mail: [email protected] 134 Drying curves of umbu fruits with osmotic pre-drying INTRODUCTION Brazil has traditionally imported dried fruits, and the main acquired fruits in the Brazilian market are grapes, plum, tamara, apricot, and fig, although there are other fruits which are consumed less than those, which are pear, peach, and apple (Canto et al., 1997). The drying process of tropical fruits, to be consumed in form of raisin or dried fruit, is an aspect that is getting attention of several national farmers, due to their interest towards the exporting market. One of the traditional applied methods to obtain raisin is the drying process, which has as its aim the decreasing water activity, and consequently the food conservation. Since fruits present high moisture content, the drying process goes to a remarkable reduction on packing, storage and transportation costs, besides of preventing against deterioration, increasing storage life of these products. One of the used methods to increase the final product conservation and drying of raisin fruits is the osmotic pre-drying, where the material suffers a water partial loss due to its immersion in a sucrose solution for a stabilized period of time. After this osmotic pre-drying, the fruit goes to a traditional dryer, some water is taken off till the fruit presents a semi-consistent tissue, which is the raisin fruit characteristic, not undergoing into a total dehidratation. According to Sousa (1999), for the umbu fruit, the moisture content varies from 30% to 40% wet basis. Regarding the physical aspect, food drying is a simultaneous process of heat and mass transfer and it is affected by several internal and external conditions such as food properties and air condition. This process has been studied by several authors (Fusco et al., 1991; Jayaraman & Das Gupta, 1992; Waananen et al., 1993; Mulet, 1994). According to Gabas (1998), in the drying studies, after obtaining the curves and characterizing the drying periods, it is interesting to describe mathematically the process, so that the equations can be used in the proper kinetic studies or in dryer projects. According to Soares (1996), several thinlayer drying equations are found in the literature and have been proposed by several authors for many products. The parameters that have major influence in the drying curves are: tem- Sousa et al. perature, product initial moisture content, drying air flow, and relative humidity. The thin layer equation is the basis for the knowledge of the thick layer drying process for a certain product. So, it’s necessary to know the thin layer drying curves of the referred product to design studies update and simulate dryers, (Cavalcanti Mata & Braga, 1999). Therefore, the present work aims to determine the drying curves of ripe and semi-ripe umbu fruit in thin layer, after an osmotic predrying at 76o Brix, for temperatures of 70, 80, and 90o C and drying air speed of 1.27m. s-1, starting from an initial moisture content and drying up to moisture contents of 30, 35, and 40% wet basis. MATERIAL AND METHODS This research has been conducted in the Storage and Processing of Agricultural Products Laboratory of the Agriculture Engineering Department of the Federal University of Paraíba. Ripe and semi-ripe umbu fruits had been, used as first material, they was chosen to present a similar ripeness degree. The selected and cleared fruit have been put into a sucrose solution at 76% for a necessary period of time until they reach the osmotic equilibrium. Afterwards, the product at each ripeness stage has been transferred to a tray dryer with forced air circulation, at temperatures of 70, 80, and 90o C in order to allow a supplementary drying until the product reaches the moisture content of 30, 35, and 40%. The decrease of the fruit moisture content has been followed by the loss of the product weight, checked with a Metler PC 440 scale, with 0.001g accuracy. To determine the dynamic equilibrium moisture content, a fruit sample has been left in the dryer until it reaches the constant weight. After drying, the experimental data has been fitted to two drying models: Page’s (Eq.1) and Fick’s equations (Eq.2). For the Fick’s equation three terms of the series have been used. RU U Ue EXP K t n Ui Ue U U e 6 RU 2 U i U e (1) n 2 . 2 1 (2) exp D t 2 r2 n 1 n Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.133-138, 2000 Drying curves of umbu fruits with osmotic pre-drying D = diffusion coefficient, m2.h-1 r = radius of the sphere equivalent to the product, m t = time, h U = moisture content, decimal, dry base K, n = coefficient depending on the material 135 Sousa et al. Figure 1 shows experimental and calculated data for Page’s equation, that was elaborated from the average drying data of ripe and semi-ripe umbu fruit and which had been obtained after osmotic pre-drying. We can observe in this figure that all curves present coefficients of determination superior to 99.5%. These results indicate good fitting of the proposed equation by Page to experimental data, and confirms made statements by several authors (O’Callaghen et al.; 1971; Misra & Brooker, 1980; Soares, 1996; Cavalcanti Mata, 1993; Christ, 1996; Cavalcanti Mata, 1997) that this equation is one of the best to represent the thin layer drying curves of agricultural products. Subscripts i = initial e = equilibrium The coefficients of Fick’s and Page’s equations have been determined by non-linear regression with help of the Statistica version 5.0.program RESULTS AND DISCUSSION Drying curves of umbu fruit Page's equation 1,0 0,8 MR = exp ( - 0,0362).t 0,970 R 2 = 99,50% - 70°C MR = exp ( - 0,0563).t 0,930 R 2 = 99,81% - 70°C MR = exp ( - 0,0212).t 1,328 R 2 = 99,75% - 80°C MR = exp ( - 0,0220).t 1,272 R 2 = 99,63% - 80°C MR = exp ( - 0,0281).t 1,317 R 2 = 99,78% - 90°C MR = exp ( - 0,0330).t 1,241 R 2 = 99,58% - 90°C 0,6 Drying with osmotic pre -drying of semi -ripe umbu at 70ºC Drying with osmotic pre -drying of ripe umbu at 70ºC Drying with osmot ic pre -drying of semi -ripe umbu at 80ºC Drying with osmotic pre -drying of ripe umbu at 80ºC Drying with osmotic pre -drying of semi -ripe umbu at 90ºC Drying with osmotic pre -drying of ripe umbu at 90ºC Moisture Ration (dimensionless ) 0,4 0,2 0,0 0 10 20 30 40 50 60 70 Drying Time (h) Figure 1. Experimental and predicted curves of semi-ripe and ripe umbu fruit obtained by Page’s equation for osmotic drying at temperature of 70, 80, and 90o C. The K and n coefficients of Page’s equation for different temperatures (70, 80, and 90o C) are presented in Table 1 to semi-ripe and ripe pre-drying osmotic umbu fruit. On this figure, it can be observed that the K and n coefficients of Page’s equation vary from –0.021 to –0.056 and from 0.93 to 1.32, respectively. Checking this table, one can observe that the K coefficient is bigger, in absolute terms, to ripe umbu fruit if it’s compared to drying of the semi-ripe umbu fruit. It is also possible to observe that the n coefficient presents very close values for temperatures of 80 and 90o C for both states of ripeness. Several researchers which have studied Page’s equation, for different temperatures, have found very close values for n and they have adopted an average value for it, and they’ve established that only the K coefficient is a function of temperature. Dalpasquale et al. (1987), with his studies involving soybean drying found a value of 0.6 for n for this product and Cavalcanti Mata (1997) has found a value of 0.8 for beans. Thus, in this study, an average value of 1.2 has been assumed for n, and new Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.133-138, 2000 Drying curves of umbu fruits with osmotic pre-drying 136 regression equations have been developed to establish new K coefficients as a function of Sousa et al. temperature. Table 1. Page’s equation coefficients, obtained by non-linear regression of the ripe and semi-ripe umbu drying datas with osmotic pre-drying at different temperatures (70, 80, 90o C) Type of drying Osmotic drying of Semi-ripe umbu fruit Osmotic drying of Ripe umbu fruit Page’s equation RU EXP K t n Temperature (ºC) K 70ºC 80ºC 90ºC 70ºC 80ºC 90ºC Table 2 presents the average values of obtained K coefficient by non-linear regression as a temperature function with fixed value of n equal to 1.2. The values for coefficients a and b, necessary to calculate K coefficient, are also shown on this table. Observing Table 2 it can be noted that, when the coefficients are expressed as a temperature function, the coefficient of determination decreased to 98%, although they are still considered high, they are inferior to those that are obtained for each temperature separately. Considering umbu fruit as a sphere, Fick’s equation has been used to get diffusion coefficient values, taking into consideration up to the third term of the series. Figure 4 shows, respectively experimental data and when it’s calculated with Fick’s equation. It’s used up the third term of -0.036162 -0.021208 -0.028129 -0.056265 -0.022013 -0.032988 n R2 0.972067 1.328479 1.317028 0.929609 1.272225 1.240724 99.50 99.75 99.77 99.81 99.63 99.59 the series, for semi-ripe and ripe umbu fruit drying, with osmotic pre-drying at temperatures of 70, 80, and 90o C. On this figure and Table 3 we can observe that the determining coefficients are quite inferior to Page’s equation, which has presented determining co-efficient superior to 99.5%. This does not mean that Fick’s equation isn’t satisfactory to experimental data, but the number of used terms isn’t satisfactory. This fact has been also observed by Prado (1998) in his work with tamaras, where it was necessary to use 5 series terms so that Fick’s equation can be considered satisfactory. Sousa (1999) tells that 20 series terms has been necessary for some products. In this case, Fick’s equation comes to be hard to use, and the researcher should chose empiric equation with better results. Table 2. Values of coefficient K for Page’s equation, obtained by non-linear regression of semi-ripe and ripe umbu fruit drying data with osmotic drying as a temperature function, assuming an average value for n of 1.2. Page’s equation Semi-ripe umbu fruit Temperature (ºC) K a bT 70 80 90 K = 0.06819 + 0.00121. T R2=98.23% -0.0165 -0.0286 -0.0407 RU EXP K t1, 2 Ripe umbu fruit K a bT K = 0.01988 + 0.00061. T -0.0229 -0.0291 -0.0352 R2=98.30% Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.133-138, 2000 Drying curves of umbu fruits with osmotic pre-drying 137 Sousa et al. Drying curves of umbu fruit Fick's equation 1,0 MR = 0,608.exp ( -0,01824.t) + 0,152.exp ( -0,0730.t) + 0,06687.exp ( -0,2317.t) R 2= 84,41% - 70ºC MR = 0,608.exp ( -0,02553.t) + 0,152.exp ( -0,1021.t) + 0,06687.exp ( -0,2422.t) R 2= 87,06% - 70ºC MR = 0,608.exp ( -0,02980.t) + 0 ,152.exp ( -0,1192.t) + 0,06687.exp ( -0,3477.t) R 2= 83,19% - 80ºC MR = 0,608.exp ( -0,02750.t) + 0,152.exp ( -0,1100.t) + 0,06687.exp ( -0,2834.t) R 2= 82,44% - 80ºC MR = 0,608.exp ( -0,03610.t) + 0,152.exp ( -0,1444.t) + 0,06687.exp ( -0,3796.t) R 2= 83,8 5% - 90ºC 0,8 MR = 0,608.exp ( -0,03512.t) + 0,152.exp ( -0,1410.t) + 0,06687.exp ( -0,3475.t) R 2= 84,29% - 90ºC (dimentionless) Moisture Ration 0,6 Drying with osmotic pre Drying with osmotic pre Drying with osmotic pre Drying with osmotic pre Drying with osmotic pre Drying with osmotic pre 0,4 -drying of semi -ripe umbu fruit at 70°C -drying of ripe umbu fruit at 70°C -drying of semi -ripe umbu fruit at 80°C -drying of ripe umbu fruit at 80°C -drying of semi -ripe umbu fruit at 90°C -drying of ripe umbu fruit at 90°C 0,2 0,0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 Drying Time (h) Figure 4. Experimental and predicted curves of semi-ripe and ripe umbu fruit obtained by three terms solution of Fick’s equation for osmotic drying at temperature of 70, 80, and 90o C. Table 3. Diffusion coefficients of Fick’s equation, obtained by no-linear regression of semi-ripe and ripe umbu fruit drying with osmotic pre-drying at different temperatures (70, 80, and 90o C). Fick’s equation RU 22 2 3 2 . 2 6 6 . exp D t . exp D t . exp D t 2 2 2 2 2 2 2 2 r r r .2 .3 6 Type of drying Osmotic drying of Semi-ripe umbu fruit Osmotic drying of Ripe umbu fruit 2 Temperature (ºC) 70ºC 80ºC 90ºC 70ºC 80ºC 90ºC CONCLUSIONS According to the results of this work the following conclusions can be drawn: 1. In comparison with Fick’s equation using three terms series solution, Page´s equation have presented the best fit to the experimental data of ripe and semiripe umbu fruit and drying data with osmotic pre-drying. D R2 (%) 4,59167 10-11 6,26944 10-11 8,58056 10-11 6,19678 10-11 6,40278 10-11 8,06667 10-11 90,85 83,20 83,40 93,06 84,39 84,47 2. The K coefficient of Page’s equation haave presented bigger module values for ripe umbu fruit than for semi-ripe one. For the n coefficient the biggest values have been obtained for semi-ripe fruit. BIBLIOGRAPHY REFERENCE Canto, W.L.; Siveira, E.T.F.; Leite, R.S.S.F.; Maia, M.L.; Gasparino, J.Fo; Yatsuyanagy, K. Processamento e Mercado de Frutas Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.133-138, 2000 138 Drying curves of umbu fruits with osmotic pre-drying Secas, Estudos Econômicos – Alimentos Processados, 1987. 208 p. Cavalcanti Mata, M.E.R.M. Efeito da secagem em altas temperaturas por curtos períodos de tempo em camada estacionaria, sobre a armazenagem de sementes de feijão (Phaseolus vulgaris L.) variedade ”carioca”. Campinas. Universidade Estadual de Campinas, 1997. 254p. (Tese de Doutorado) Cavalcanti Mata, M.E.R.M. 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Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.133-138, 2000 Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.139-156, 2000 ISSN: 1517-8595 139 DIMENSÕES PRINCIPAIS, MASSA E VOLUME UNITÁRIOS, ESFERICIDADE E ÂNGULO DE REPOUSO DE FRUTOS DE CAFÉ Anderson Chagas Magalhães1, Sandra Maria Couto2, Daniel Marçal de Queiroz2 Ednilton Tavares de Andrade2 RESUMO As características e propriedades físicas dos materiais são parâmetros decisivos nas pesquisas e nos desenvolvimentos de novas metodologias e equipamentos, mais adequados e de menores custos, para a execução mais rápida de determinadas tarefas. Devido à escassez de informações relacionadas às características físicas de frutos de café e à sua importância para o desenvolvimento de novas tecnologias e para a implementação de equipamentos relacionados ao processamento deste produto, este trabalho teve por objetivo a determinação dos efeitos do teor de umidade, variedade, grau de maturação do fruto e época de colheita em algumas das características físicas deste produto (dimensões principais, esfericidade, massa e volume unitários e ângulo de repouso). O efeito do grau de maturação inicial dos frutos, antes do processo de secagem, foi sempre maior do que aquele devido à época de colheita do produto. Os valores da esfericidade, massa e volume dos frutos de café da variedade Catuaí, independentemente do grau de maturação, foram maiores do que aqueles para a variedade Timor. O ângulo de repouso dos frutos de café, função quadrática do teor de umidade do produto, apresentou um máximo no intervalo de umidade investigado. Palavras-chave: café, umidade, características físicas AXIAL DIMENSIONS, MASS, VOLUME, SPHERICITY AND REPOSE ANGLE OF COFFEE FRUITS ABSTRACT Physical characteristics and properties of materials are decisive parameters in the developments of new methodologies and equipments (more appropriate and of low costs) to the execution of a particular task in a fast way. Due to the lack of related information to the physical characteristics of coffee fruits and its importance for the development of new technologies and equipments that are related to this product processing, this work have the objective of determination the effects of the moisture content, variety, fruit maturation degree and product harvesting time in some of the physical characteristics of this product (axial dimensions, sphericity, mass, volume and repose angle). The effect of the fruit maturation degree, before the drying process, has been always more evident than that due to the product harvesting time. The values of the sphericity, mass and volume of the variety Catuaí product have been larger than those to the Timor variety, independently of the fruit maturation degree. The repose angle of the coffee fruits, quadratic function of the product moisture content, presented a maximum at the investigated moisture interval. Keywords: coffee, moisture content, physical characteristics Protocolo 21 2000 17 de 23/04/2000 1 Doutorando, Dep. Eng. Agrícola, UFV, Viçosa, MG, CEP-36571-000. 2 Prof. Adjunto, Ph.D., Dep. de Eng. Agrícola, UFV, Viçosa, MG, CEP-36571-000, [email protected]. 140 Dimensões principais, massa e volume unitários, esfericidade e ângulo de repouso de frutos de café INTRODUÇÃO A produtividade e a qualidade de grãos agrícolas são altamente dependentes, além da eficiência no uso de insumos e na aplicação dos tratos culturais, dos processos de colheita, transporte, separação e das técnicas de secagem, armazenamento e beneficiamento. O avanço tecnológico tem exigido e vem permitindo a implementação de técnicas e de projetos de equipamentos, mais adequados e de menores custos, para a execução mais rápida de determinadas tarefas. Neste sentido, as características e propriedades físicas dos materiais envolvidos são parâmetros decisivos nas pesquisas e nos desenvolvimentos de novas metodologias e equipamentos. As características e propriedades físicas de materiais têm sido usadas diretamente em diferentes setores. Mbuvi et al. (1989), na investigação de novas metodologias para a separação de sementes de soja sadias das infeccionadas por fungos e vírus, estudaram a viabilidade de se usar algumas das características físicas da semente, como parâmetro diferenciador. Verificaram que, para alguns tipos de infecção, o volume e o peso das sementes sem danos foram, significativamente, maiores do que aqueles para sementes danificadas. A massa específica, a forma e a área superficial dos grãos foram menos afetadas. A dureza de grãos de milho, relação entre a massa do endosperma duro e a massa do endosperma total, é um parâmetro essencial nas indústrias de moagem e vem sendo determinada por meio de técnicas que variam desde as mais simples, baseadas em características físicas mais comuns dos grãos (Watson, 1987), até aquelas mais sofisticadas que medem, por exemplo, a transmitância do grão perto do infravermelho (Siska & Hurburgh, 1996). Vários pesquisadores têm demonstrado que a taxa de escoamento de materiais granulares varia com as propriedades do produto (Chang et al., 1984; Moysey et al., 1985; Gregory & Fedler, 1987). Embora não exista, ainda, uma equação padrão para ser adotada, vários modelos, usando como entradas propriedades do material, vêm sendo propostos para descrever corretamente tal processo. Moysey et al. (1985) sugeriram que a esfericidade, enrugamento da superfície e tamanho da partícula contribuem para variações na taxa de escoamento de materiais granulares. O grau de esfericidade de um corpo usado para Magalhães et al. descrever sua forma pode ser estimado pela razão entre o diâmetro de uma esfera, com o mesmo volume do corpo, e o diâmetro da menor esfera circunscrita no corpo ou, em geral, a maior dimensão do objeto (Mohsenin, 1978). Gregory & Fedler (1987) desenvolveram um modelo para predizer a resistência de materiais granulares ao escoamento que considera o comprimento mínimo das dimensões da partícula e o enrugamento de sua superfície. Propriedades friccionais de materiais granulares, tais como sementes e grãos, são de grande importância no desenvolvimento de equipamentos para o escoamento de partículas sólidas, no projeto de estruturas para a armazenagem destes materiais, para as determinações das capacidades estática de silos e de correias de transporte e nos dimensionamentos de moegas, dutos e rampas de descargas (Silva, 1995). Sempre que um corpo é pressionado contra outro, por uma força igual ao seu próprio peso (W), o primeiro corpo não se movimentará na direção transversal até que a força friccional (F) entre os dois corpos seja superada. O coeficiente de fricção, f, entre dois corpos é a razão entre a força friccional, F, e a força normal à superfície de contato, W. O coeficiente de fricção entre materiais granulares é igual à tangente do ângulo de fricção interna do material e, muitas vezes, é denominado ângulo de repouso; ângulo formado com a horizontal no qual um material permanece, quando empilhado, Figura 1. Segundo Mohsenin (1978) e Stewart (1968), o tamanho, a forma, o teor de umidade, o peso e a orientação das partículas influenciam no ângulo de repouso. Stewart (1968) determinou o ângulo de repouso para três variedades de grãos de sorgo e concluiu que a variedade não era um parâmetro significativo. Fowler & Wyatt (1960) observaram um aumento do ângulo de repouso de alguns grãos (trigo, areia e outros) com a adição de umidade. A variação do valor desta grandeza com o teor de umidade foi justificada pela formação de uma camada superficial de umidade em torno da partícula, resultando em uma tensão superficial que se torna predominante para manter as partículas agregadas. Devido à escassez de informações relacionadas às características físicas de frutos de café e à sua importância para o desenvolvimento de novas tecnologias e para a implementação de equipamentos relacionados Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.139-156, 2000 Dimensões principais, massa e volume unitários, esfericidade e ângulo de repouso de frutos de café ao processamento deste material, este trabalho teve por objetivo a determinação do efeito do teor de umidade em algumas das características físicas deste produto. Magalhães et al. A esfericidade de cada fruto determina-da, usando-se a equação: a.b.c 3 141 foi 1 a (1) em que : - esfericidade (adimensional); a, b e c - dimensões dos frutos segundo os eixos x, y e z, respectivamente (m). Ângulo de repouso Frutos empilhados Figura 1. Representação esquemática do ângulo de repouso. Especificamente, investigou-se o efeito do teor de umidade do fruto nas alterações de suas dimensões principais, esfericidade, massa e volume unitários e ângulo de repouso. A massa unitária dos frutos de café foi determinada, usando-se uma balança semianalítica ( 0,001 g), e amostra de 50 frutos retirados aleatoriamente dos lotes do produto. Na determinação do volume unitário foi usada uma metodologia de complementação de volume (Moreira et al., 1985), utilizando-se provetas de 50 ml ( 0,05 ml) e, como líquido de complementa-ção de volume, o tolueno. Em cada determinação foram usados vinte frutos (três repetições). MATERIAIS E MÉTODOS Foram utilizados, neste trabalho, frutos de café provenientes de uma região de ViçosaMG, localizada a uma latitude de 20o 52’ 04’’ oeste e a uma altitude de 657 m. Os frutos foram colhidos no sistema convencional na forma de derriça no pano e para a obtenção de amostras com diferentes teores de umidade, o produto foi submetido a um processo de secagem, em terreiro de cimento. Os teores de umidade dos frutos, em todas as etapas do trabalho, foram determinados pelo método da estufa a 1053oC por 96 h, em três repetições. Na determinação das dimensões principais e esfericidade do produto, usou-se uma amostra aleatória de 50 frutos. A Figura 2 mostra um esquema dos três semi-eixos, mutuamente perpendiculares, segundo os quais as dimensões foram medidas por meio de um paquímetro. Figura 2. Dimensões principais do fruto de café. Os ângulos de repouso, , das amostras de café foram determinados, utilizando um recipiente de madeira, na forma de um paralelepípedo, dotado de uma porta lateral deslizante, esquematizado na Figura 3. recipiente porta lateral 0,47 m h = 0,40 m y frutos de café 0,10 m 0,265 m Figura 3. Esquema do dispositivo usado na determinação do ângulo de repouso. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.139-156, 2000 142 Dimensões principais, massa e volume unitários, esfericidade e ângulo de repouso de frutos de café Cada lote de frutos de café, acomodado em um vasilhame de plástico, era revirado de uma só vez no recipiente de madeira. A borda do vasilhame era, sempre, apoiada na parte superior do recipiente, para garantir uma mesma altura de queda do produto. Após o preenchimento do recipiente com frutos, até uma altura h, abria-se a porta lateral e o ângulo de repouso, , era determinado. As determinações do ângulo de repouso das amostras de café foram realizadas em três repetições. Dois tipos de experimentos, denominados no texto de “Experimento 1” e “Experimento 2”, foram realizados. Detalhes de cada um são descritos a seguir. Experimento 1 As variáveis dependentes investigadas no experimento 1 foram dimensões principais, esfericidade, massa e volume unitários e ângulo de repouso. As variáveis independentes envolvidas foram: (a) teor de umidade dos frutos (cinco níveis); (b) variedade de café (Catuaí e Híbrido Timor); (c) época de colheita (frutos da variedade Catuaí foram colhidos em duas épocas diferentes e são distinguidos no texto pela denominação lotes 1 e 2) e (d) grau de maturação (frutos de café de cada uma das variedades, após a colheita, foram classificados nas categorias “verde” e “cereja”). Magalhães et al. Experimento 2 As variáveis dependentes investigadas no experimento 2 foram dimensões principais, esfericidade, massa unitária e ângulo de repouso. Uma única variedade de café, Catuaí, foi usada e, após a colheita, os frutos não foram classificados quanto ao grau de maturação. Portanto, neste experimento, a única variável independente foi o teor de umidade (seis níveis). O grau de maturação dos frutos foi confundido, propositadamente, no experimento para simular a situação real que ocorre na colheita de café. No Experimento 2, a determinação do ângulo de repouso dos frutos de café foi realizada por meio do aparelho esquematizado na Figura 3 (apropriado para pequenos grãos agrícolas) e, também, através de um outro dispositivo construído com dimensões mais apropriadas para os frutos de café. O equipamento construído, Figura 4, consiste de um recipiente cilíndrico (“a”, de 0,490 m de diâmetro e 0,280 m de altura) acoplado, na sua parte inferior, a um funil (“b”, altura de 0,274 m e diâmetros superior e inferior iguais a 0,490 e 0,160 m) dotado, na sua saída, de um mecanismo (c), tipo diafragma, para a retenção ou liberação dos frutos. No interior do recipiente cilíndrico foi instalada uma plataforma circular (“d”, de 0,320 m de diâmetro), fixada através de hastes (e). (a) recipiente cilíndrico frutos de café (d) plataforma circular (b) funil (e) hastes de sustentação (c) diafragma Figura 4. Esquema do dispositivo construído para determinação do ângulo de repouso de frutos de café. Para as determinações do ângulo de repouso, o diafragma era totalmente fechado e um lote de frutos de café, contido em um vasilhame, era revirado de uma só vez no recipiente. A borda do vasilhame era sempre apoiada a uma mesma distância vertical da parte superior do recipiente cilíndrico. O diafragma era, então, totalmente aberto e, após o escoamento dos frutos, media-se o ângulo de repouso dos frutos empilhados na plataforma circular. No “Experimento 2”, as determinações do ângulo de repouso das amostras, em cada teor de umidade, foram realizadas em quatro repetições. Nos dois experimentos, para descrever o comportamento de cada uma das variáveis dependentes (D): dimensão do produto, massa, volume e ângulo de repouso em função do teor Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.139-156, 2000 Dimensões principais, massa e volume unitários, esfericidade e ângulo de repouso de frutos de café de umidade (U), foram ajustados aos dados experimentais (regressão) polinômios, de até o segundo grau, cujas equações encontram-se representadas na forma genérica: D = A + B U + C U2 (2) em que A, B e C são os coeficientes das regressões. A escolha do grau da melhor equação ajustada baseou-se no maior coeficiente de determinação. Magalhães et al. 143 RESULTADOS E DISCUSSÃO Experimento 1 A Tabela 1 apresenta valores médios, acompanhados dos respectivos desvios padrão (D.P.), das dimensões principais, da esfericidade, da massa, do volume e de ângulos de repouso de frutos de café das duas variedades, a diferentes teores de umidade e graus de maturação. Tabela 1. Dimensões principais (a, b e c), esfericidade, massa e volume unitários e ângulo de repouso (A.R.) de frutos de café, das duas variedades, a diferentes teores de umidade (TU), classificados nas categorias “verde” e “cereja”. Dimensão principal (cm) TU % b.u. a Média Catuaí (Lote 1) 67,9 1,479A 61,4 1,267A 51,1 1,311A 30,3 1,294A 17,2 1,267A Catuaí (Lote 2) 68,0 1,413A 61,0 1,345A 50,7 1,297A 35,9 1,287A 12,6 1,227A Timor 65,2 1,430A 55,1 41,5 1,367A 18,5 1,346A 9,5 1,342A b c Esfericidade (%) D.P. Média D.P. VERDE Massa (g) Média D.P. Volume (cm3) Média D.P. A.R. (graus) Média D.P. D.P. Média D.P. Média 0,082 0,055 0,058 0,080 0,079 1,22B 1,109B 1,039B 0,966B 0,974B 0,108 0,037 0,052 0,031 0,071 1,170B 0,963C 0,991C 0,910C 0,895C 0,107 0,036 0,010 0,044 0,045 86,8 87,4 84,3 80,7 81,7 5,0 3,0 4,3 2,3 3,7 1,037 1,039 0,841 0,600 0,448 0,132 0,035 0,089 0,022 0,018 0,968 0,992 0,838 0,695 0,658 0,136 0,038 0,046 0,040 0,014 43,6 41,7 40,6 38,1 36,9 1,43 0,70 0,36 1,08 0,69 0,064 0,047 0,079 0,088 0,079 1,174B 1,083B 0,981B 0,999B 0,936B 0,081 0,049 0,083 0,040 0,073 1,137B 1,028C 0,915B 0,949B 0,873B 0,062 0,025 0,110 0,069 0,084 87,4 85,1 81,0 83,1 81,6 3,8 1,9 2,8 3,7 3,9 1,227 1,007 0,846 0,587 0,384 0,045 0,054 0,023 0,023 0,029 1,150 0,952 0,850 0,677 0,600 0,078 0,065 0,025 0,016 0,025 39,6 40,6 38,3 37,2 34,3 0,01 0,36 0,01 0,39 0,84 0,087 0,085 0,070 0,040 1,115B 1,073B 1,052B 1,002B 0,082 0,052 0,071 0,046 1,077B 0,978C 0,954C 0,891C 0,059 83,8 0,057 82,6 0,074 82,1 0,064 79,1 CEREJA 2,1 2,3 3,2 3,2 0,924 0,785 0,567 0,420 0,399 0,045 0,036 0,013 0,030 0,043 0,933 0,842 0,663 0,592 0,733 0,038 0,008 0,013 0,029 0,231 42,9 41,8 43,2 38,6 35,6 1,32 0,70 1,15 0,41 0,01 0,036 0,005 0,018 0,026 0,027 1,415 1,242 0,955 0,842 0,763 0,030 0,088 0,018 0,038 0,055 40,2 44,5 53,9 41,2 40,0 1,08 1,69 1,33 0,78 0,72 0,055 0,007 0,103 0,016 0,050 1,500 1,147 0,850 0,880 0,763 0,050 0,084 0,087 0,018 0,055 41,7 51,7 39,4 38,9 36,7 0,70 0,48 0,99 0,65 0,79 0,043 0,022 0,025 0,010 0,016 teste de 1,017 0,029 41,3 1,84 0,897 0,038 43,9 0,57 0,608 0,038 44,8 0,32 0,591 0,028 39,9 0,38 0,567 0,058 37,3 0,39 Newman Keuls em nível de 5% de Catuaí (Lote 1) 67,5 1,504A 0,092 1,294B 0,114 1,248B 0,114 89,3 2,8 1,552 61,4 1,485A 0,095 1,242B 0,060 1,154C 0,063 86,7 2,1 1,232 46,9 1,429 A 0,038 1,123B 0,072 1,012B 0,043 82,2 2,5 0,953 A B C 29,3 1,378 0,049 1,034 0,072 0,959 0,061 80,5 3,2 0,750 18,6 1,347 A 0,083 1,041 B 0,028 0,922 C 0,024 80,5 3,2 0,596 Catuaí (Lote 2) 70,4 1,532 A 0,118 1,393 B 0,109 1,334 B 0,089 92,6 2,9 1,686 57,8 1,476 A 0,107 1,239 B 0,052 1,114C 0,085 86,0 2,3 1,218 40,4 1,393 A 0,100 1,075 B 0,067 0,988 C 0,093 81,8 2,9 0,779 A B C 28,8 1,350 0,127 1,089 0,148 0,960 0,078 83,0 3,3 0,730 13,3 1,356 A 0,092 1,088 B 0,074 0,955 C 0,058 82,7 2,6 0,557 Timor 62,6 1,383 A 0,108 1,136 B 0,106 1,024 C 0,110 84,7 4,0 1,037 53,0 0,841 40,1 1,433 A 0,070 1,088 B 0,061 0,923 C 0,069 78,8 3,0 0,549 A B C 22,9 1,391 0,086 1,037 0,052 0,899 0,050 78,5 3,8 0,485 11,0 1,377 A 0,068 1,008 B 0,030 0,862 C 0,038 77,1 3,0 0,397 Médias seguidas pela mesma letra na linha não diferem estatisticamente entre si pelo probabilidade. Pode-se observar da Tabela 1 que as dimensões principais e a esfericidade dos frutos, no caso da variedade Timor, só foram avaliadas em quatro teores de umidade. Interrupção de energia elétrica, durante a fase experimental, provocou a deterioração das amostras que se encontravam com umidades de 55,1% b.u., para frutos “verde” e de 53,0% b.u., para frutos “cereja”. Nota-se, também, desta tabela que os valores de umidade das amostras Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.139-156, 2000 144 Dimensões principais, massa e volume unitários, esfericidade e ângulo de repouso de frutos de café de cada combinação “variedade-grau de maturação” diferem, o que dificultou a análise estatística dos dados. Cada um dos parâmetros avaliados é discutido nos itens apresentados a seguir. Dimensões principais Nota-se da Tabela 1, para cada combinação “variedade-grau de maturação”, que existe uma tendência das dimensões principais aumentarem com um acréscimo no teor de umidade do fruto. Testes de média (Newman Keuls), a um nível de 5% de probabilidade, foram aplicados aos dados experimentais para comparar os valores das três dimensões dos frutos de cada combinação “variedade-grau de maturação-teor de umidade”. Os resultados destes testes podem ser visualizados na Tabela 1, simbolizados pelas letras A, B e C sobrescrito em cada valor médio de dimensão. Em cada linha, a ocorrência de letras iguais significa igualdade estatística das médias, enquanto a presença de letras diferentes indica a existência de diferença significativa. Pode-se observar da Tabela 1 que os valores da dimensão a, em todos os casos, foram sempre os maiores. As dimensões b e c do produto, que contêm o maior teor de umidade (igual ou superior a 62,6% b.u.), são estatisticamente iguais, exceto para Timor “cereja”, para a qual a dimensão b é maior que Magalhães et al. a c. Na maioria dos outros casos, os valores da dimensão b foram maiores do que os da dimensão c, exceto para a variedade Catuaí, lote 2, “verde”, para qual estas duas dimensões são estatisticamente iguais. Os coeficientes das equações ajustadas para descrever o comportamento de cada uma das dimensões do produto em função do teor de umidade, para cada combinação “variedadegrau de maturação”, acompanhados dos coeficientes de determinação (R2), encontramse na Tabela 2. Não se conseguiu ajuste para a dimensão a, das variedades Timor “cereja” e Catuaí “verde” (lote 1) e para a dimensão c da variedade Catuaí “verde” (lote 1). As curvas das equações ajustadas para as dimensões principais a, b e c dos frutos de café, em função do teor de umidade, podem ser visualizados nas Figuras 5, 6 e 7, respectivamente. Em cada uma das figuras, são exibidos os valores médios experimentais e os seus respectivos intervalos de variação, construídos, usando-se os desvios-padrão. A dimensão b dos frutos da variedade Timor parece não ser influenciada pelo grau de maturação do produto. Entretanto, observa-se destas figuras que as dimensões dos frutos “cereja”, na maioria das vezes, são maiores do que aquelas para frutos “verde”. Apenas no caso da dimensão c, para a variedade Timor, é que os últimos superam os primeiros. Tabela 2. Coeficientes das equações polinomiais (D = A B U C U 2 ) ajustadas para dimensões principais (D) em função do teor de umidade (U) de frutos de café “cereja” e “verde” com os respectivos coeficientes de determinação (R2). Variedade Catuaí Lote 1 Lote 2 Timor D a b c a b c a b c Grau de maturação inicial Cereja Verde Coeficientes da equação Coeficientes da equação A Bx103 Cx104 R2 A Bx103 Cx104 R2 1,303 2,117 0,130 0,999 1,085 -4,893 1,197 0,992 1,095 -9,603 1,655 0,966 1,003 -6,612 1,497 0,979 1,362 -1,719 0,601 0,970 1,236 -0,946 0,488 0,874 1,184 -9,051 1,710 0,970 0,984 -4,374 1,008 0,775 1,052 -9,120 1,837 0,976 0,929 -4,902 1,111 0,699 1,349 0,853 0,321 0,995 0,981 2,528 0,993 1,000 1,797 0,868 0,859 0,429 0,348 0,943 0,874 2,99 0,899 Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.139-156, 2000 Dimensões principais, massa e volume unitários, esfericidade e ângulo de repouso de frutos de café Magalhães et al. 145 1,7 "verde"experimental "verde"ajustado "cereja"experimental "cereja"ajustado Dimensão a (cm) 1,6 1,5 1,4 1,3 1,2 Catuaí (lote 1) Timor Catuaí (lote 2) 1,1 00 20 20 40 40 60 60 80 80 0 100 20 120 40 140 60 160 80 180 0 200 20 220 40 240 60 260 80 280 Teor de umidade (% b.u.) Figura 5. Variação da dimensão a de frutos de café, classificados inicialmente como “verde” e “cereja”, com o teor de umidade do produto. 1,8 1,7 Dimensão b (cm) 1,6 "verde"Experimental "verde"ajustado "cereja"Experimental "cereja"ajustado Peneira #1 Peneira #2 1,5 Catuaí Lote 1 1,4 Catuaí Lote 2 Timor 1,3 1,2 1,1 1 0,9 0,8 00 20 20 40 40 60 60 80 100 120 140 160 0 20 40 60 0 Teor de umidade (%b.u.) 180 20 200 40 220 60 240 Figura 6. Variação da dimensão b de frutos de café, classificados inicialmente como “verde” e “cereja”, com o teor de umidade do produto. 1,5 "verde"experimental 1,4 "verde"ajustado "cereja"experimental Dimensão c (cm) 1,3 "cereja"ajustado 1,2 Catuaí (lote 2) 1,1 1 0,9 Catuaí (lote 1) 0,8 Timor 0,7 0 0 20 20 40 40 60 60 80 80 100 0 120 20 140 40 160 60 180 80 200 0 220 20 240 40 260 80 280 60 Teor de umidade (% b.u.) Figura 7. Variação da dimensão c de frutos de café, classificados inicialmente como “verde” e “cereja”, com o teor de umidade do produto. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.139-156, 2000 146 Dimensões principais, massa e volume unitários, esfericidade e ângulo de repouso de frutos de café A Tabela 3 apresenta valores médios de relações entre as dimensões dos frutos, elaboradas de modo a permitir uma investigação dos efeitos da variedade de café, do grau de maturação dos frutos e da época de colheita do produto nos valores das dimensões principais a, b e c. Os valores das dimensões dos frutos usados nestas relações foram para umidades do produto no intervalo de (18,6 62,6)% b.u., comum a todas variedades, graus Magalhães et al. de maturação e épocas de colheita. Nos casos em que não se conseguiu ajuste, os valores experimentais das dimensões do produto, em teores de umidade na faixa comum, foram usados nas comparações. Nos outros casos, os valores das dimensões principais foram estimados das equações ajustadas para as mesmas umidades correspondentes aos casos não ajustados. Tabela 3. Relações entre as características físicas dos frutos usadas para investigar os efeitos da variedade, do grau de maturação e da época de colheita do produto nos valores das dimensões principais, esfericidade (ESF), massa (M), volume (V) e ângulo de repouso (AR). Comparações Entre variedades Fruto “cereja” *Catuaí 1/Timor *Catuaí 2/Timor Fruto “verde” Timor/Catuaí 1 Timor/Catuaí 2 Entre graus de maturação Fruto “cereja/verde” Catuaí 1 Catuaí 2 Timor Entre épocas de colheita Catuaí 1/Catuaí 2 “cereja” “verde” a 1,011 1,007 0,975 1,067 Dimensão b 1,019 1,041 1,066 1,084 c 1,112 1,122 1,065 1,068 ESF 1,333 1,333 0,902 0,941 M 1,042 1,059 0,997 0,969 V 1,407 1,340 0,876 0,888 AR 1,063 1,005 1,058 1,106 1,001 1,090 1,018 1,096 1,139 1,009 1,102 1,089 0,909 1,198 1,263 1,012 0,995 0,983 0,958 1,229 1,266 1,066 1,143 1,142 1,024 1,005 1,096 0,979 1,017 0,991 0,991 1,000 1,057 0,984 0,972 1,050 1,084 1,046 *Catuaí 1 = catuaí lote 1 e Catuaí 2 = Catuaí lote 2 Pode-se observar da Tabela 3 que as dimensões principais dos frutos “cereja” da variedade Catuaí são maiores que aquelas apresentadas pelos frutos da variedade Timor. Entretanto, quando o produto se encontra na coloração “verde”, as dimensões dos frutos da variedade Timor, na maioria dos casos, são maiores. Nota-se, também, que, para o produto da variedade Catuaí, os frutos “cereja” apresentaram dimensões maiores que os “verde”. Para o produto da variedade Timor, os valores das dimensões a e b dos frutos “cereja” e “verde” foram aproximadamente iguais, entretanto, a dimensão c dos frutos “verde” apresentou-se maior que aquela para os frutos “cereja”. A época de colheita (Tabela 2), em comparação com os outros parâmetros, parece não ter afetado significativamente as dimensões do produto. A maior diferença detectada, neste caso, foi de 2,1%. Assim, os valores das dimensões principais dos frutos variam com o teor de umidade do produto e com o seu grau de maturação antes de serem submetidos a um processo de secagem. A época de colheita do fruto, entretanto, parece não influenciar nas dimensões principais. Baseando-se na variação das dimensões dos frutos com o seu teor de umidade, pode-se investigar a viabilidade de um processo de peneiragem para a classificação dos frutos de um lote de acordo com o seu teor de umidade. A dimensão b, neste caso, seria o parâmetro crítico para a retenção do fruto em uma peneira com furos circulares de determinado diâmetro. Pode-se observar da Figura 6 que os intervalos de variação da dimensão b, na maioria das vezes, se sobrepõem. Isto indica uma baixa eficiência no uso de qualquer procedimento para uma tal classificação. Contudo, um processo de peneiragem poderia ser aplicado, com algum sucesso, para frutos com altos teores de umidade. Logo após o recebimento das amostras de café, se as duas variedades estivessem misturadas, uma peneiragem, usando crivos de 1,28 cm de diâmetro, permitiria a retenção de apenas frutos da variedade Catuaí. Do lote 2, ficariam retidos 100% e 20% de frutos “cereja” e “verde”, Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.139-156, 2000 Dimensões principais, massa e volume unitários, esfericidade e ângulo de repouso de frutos de café respectivamente, e do lote 1, 30% dos frutos “verde” e 60% dos “cereja”. Uma peneiragem posterior, com um crivo de furos de 1,10 cm de diâmetro, permitiria a passagem de 60% e 40% de frutos “verde” e “cereja”, respectivamente, da variedade Timor e, também, de 10% de frutos “verde” da variedade Catuaí, lotes 1 e 2. Assim, se algum tipo de classificação tiver que ser realizada, baseando-se nas dimensões, esta deverá acontecer com frutos a altos teores de umidade. Esfericidade Os valores das esfericidades apresentados na Tabela 1, provenientes da média de 50 frutos, tendem a aumentar, com acréscimos nos teores de umidade dos frutos. A faixa de variação dos valores da esfericidade para frutos “verde” foi de 79,1 a 87,4% e, para frutos “cereja”, foi de 77,1 a 92,6%. Os desvios, máximo e mínimo, nos valores médios da esfericidade dos frutos “verde” foram de 5,0% e 1,9%, respectivamente. Quando se considera a média para todos teores de umidade e variedades, as esfericidades para frutos “verde” e “cereja” foram de (83 3)% e (83 4)%, respectivamente. Os coeficientes das equações ajustadas para expressar a esfericidade dos frutos de café das variedades Catuaí e Timor em função do teor de umidade com os respectivos coeficientes de determinação (R2) são apresentados na Magalhães et al. 147 Tabela 4. Não se obteve ajuste para frutos “verde” da variedade Catuaí, lote 2. As curvas destas equações, assim como os valores médios experimentais e seus intervalos de variação, podem ser visualizados na Figura 8. Observa-se uma tendência dos valores de esfericidade dos frutos “verdes” serem maiores que os dos “cereja”, em uma grande faixa de umidade, para as variedades Catuaí (lote 1) e Timor. Para investigar os efeitos da variedade, grau de maturação e época de colheita dos frutos de café nos valores da esfericidade do produto, a Tabela 3 apresenta valores médios de relações entre valores de esfericidade, estimados pelas equações ajustadas, para um intervalo de umidade comum a todas as variedades e graus de maturação (18,6 a 62,6% b.u.). A metodologia adotada para a construção das relações, nos casos em que não se conseguiu ajuste, é similar à que foi usada para as dimensões principais. Pode-se observar da Tabela 3 que os valores de esfericidade para os frutos “cereja” e “verde” da variedade Catuaí, lotes 1 e 2, foram superiores aos valores para os frutos da variedade Timor. Para a variedade Catuaí, a esfericidade dos frutos “verde” e “cereja” do lote 2 são maiores que aquelas apresentadas pelos frutos do lote 1. Esta diferença encontrase na faixa de valores dos desvios experimentais, sendo, portanto, um indicativo de que a época de colheita não influenciou os valores de esfericidade. 100 "verde"experimental "verde"ajustado 95 Esfericidade (%) "cereja"experimental "cereja"ajustado 90 85 80 75 Catuaí (lote 1) Catuaí (lote 2) Timor 70 00 20 20 40 60 80 80 100 120 140 160 180 0 20 40 60 80 Teor de umidade (% b.u.) 200 0 220 20 240 40 260 60 280 80 Figura 8. Variação da esfericidade de frutos de café, classificados inicialmente como “verde” e “cereja”, com o teor de umidade do produto. Para as variedades Catuaí, lotes 1 e 2, e Timor, os valores da esfericidade dos frutos “verde” são, em média, superiores aos dos frutos “cereja”. As diferenças para as esfericidades dos frutos da variedade Catuaí encontram-se na mesma faixa dos desvios experimentais, Tabela 1, indicando, assim, não haver diferenças relevantes do grau de maturação na esfericidade dos frutos. Entretanto, para a variedade Timor, a esfericidade do fruto “verde” é maior que a do “cereja”. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.139-156, 2000 148 Dimensões principais, massa e volume unitários, esfericidade e ângulo de repouso de frutos de café Magalhães et al. Tabela 4, Coeficientes das equações polinomiais (D = A B U C U 2 ) ajustadas para descrever o comportamento da esfericidade (D) em função do teor de umidade (U) de frutos de café “cereja” e “verde”. Grau de maturação inicial Cereja Verde Variedade Coeficientes da equação Coeficientes da equação A Bx103 Cx104 R2 A Bx103 Cx104 R2 Catuaí Lote 1 85,461 -348,768 60,026 0,999 81,948 -85,999 25,142 0,802 Lote 2 86,994 -364,324 62,083 0,913 Timor 78,252 -99,914 32,080 0,885 79,579 68,470 0,630 Massa unitária Nota-se da Tabela 1 que os valores da massa unitária dos frutos tendem a aumentar com o teor de umidade. Observa-se, também, uma tendência das massas dos frutos “cereja” serem maiores do que as dos “verde”. A faixa de variação dos valores da massa para frutos “verde” foi de 0,384 a 1,227 g e, para frutos “cereja”, foi de 0,397 a 1,686 g. Em média, para todos teores de umidade e variedades, as massas dos frutos “verde” e “cereja” foram de (0,7 0,3)g e (0,8 0,4)g, respectivamente. Os coeficientes das equações ajustadas para descrever o comportamento da massa dos frutos em função do teor de umidade e os respectivos coeficientes de determinação (R2) são apresentados na Tabela 5. As curvas destas equações são apresentadas na Figura 9, juntamente com os valores médios experimentais, acompanhados dos respectivos intervalos de variação, construídos através dos desvios-padrão. Nesta figura, pode-se observar a tendência dos valores da massa dos frutos “cereja” serem maiores que os dos “verde”, principalmente para a variedade Catuaí. A Tabela 3 apresenta valores médios de relações entre valores de massa dos frutos de café construídas para investigar os efeitos da variedade, grau de maturação e época de colheita. Os valores de massa foram estimados pelas equações ajustadas, usadas em um intervalo de umidade comum a todas as variedades e graus de maturação (18,6 a 62,6% b.u.). Os valores de massa para os frutos “cereja” e “verde” da variedade Catuaí, lotes 1 e 2, foram superiores aos valores da grandeza para os frutos da variedade Timor, como pode ser observado da Tabela 3. No caso de frutos “cereja”, esta superioridade é mais acentuada. Para a variedade Catuaí, a massa dos frutos “verde” e “cereja” do lote 1 são maiores que aquelas apresentadas pelos frutos do lote 2. Quando o produto se encontra nas colorações “cereja” e “verde”, as massas dos frutos da variedade Catuaí, lotes 1, são respectivamente, 5,0 e 8,4% superiores às daquelas dos frutos do lote 2. Esta diferença é um indicativo de que a época de colheita influenciou nos valores de massa dos frutos. As massas dos frutos “cereja” das variedades Catuaí, lotes 1 e 2, e Timor são superiores às dos frutos “verde”, sendo a diferença mais acentuada para a variedade Catuaí. Para a variedade Catuaí, as variações nos valores da massa do produto resultantes do efeito do grau de maturação dos frutos são maiores do que aquelas devido à época de colheita. É interessante notar que, devido aos pequenos desvios apresentados pelos valores da massa, logo após o recebimento do produto, se poderia, através de uma simples pesagem, determinar a variedade dos frutos e, no caso particular da variedade Catuaí, a época de colheita. Esses pequenos desvios indicam, também, que a massa unitária dos frutos é um bom parâmetro para ser usado em processos de separação do produto. Volume Os valores determinados para o volume unitário dos frutos de café, Tabela 1, tendem a aumentar com incrementos do teor de umidade. Em média, os valores de volume variaram de 0,57 a 1,50 cm3 e os de desvios de 0,008 a 0,23 cm3. Observa-se, da Figura 10, que apresenta os volumes unitários dos frutos de café com os respectivos intervalos de variação, a tendência dos valores do volume dos frutos “cereja” serem maiores que os dos “verde”, principalmente para a variedade Catuaí. A Figura 10 apresenta, também, curvas das equações ajustadas aos dados experimentais para a variação do volume dos frutos com o teor de umidade. Os coeficientes das equações ajustadas e os de determinação (R2) são apresentados na Tabela 6. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.139-156, 2000 Dimensões principais, massa e volume unitários, esfericidade e ângulo de repouso de frutos de café Em média, para todos teores de umidade na faixa comum (18,6 a 62,6% b.u.), o maior valor de volume foi de (0,9 0,2) cm3, para Magalhães et al. 149 frutos “cereja” da variedade Catuaí, lotes 1 e 2, e o menor valor foi para frutos “verde” da variedade Timor, (0,70 0,09) cm3. Tabela 5. Coeficientes das equações quadráticas (D = A B U C U 2 ) ajustadas para descrever o comportamento da massa unitária (D) de frutos de café em função do teor de umidade (U). Grau de maturação inicial Cereja Coeficientes da equação Ax103 B x104 C x105 R2 Catuaí Lote 1 650,475 -69,232 29,245 0,980 Lote 2 687,515 -119,429 36,336 0,962 Timor 465,710 -72,735 26,254 0,963 Variedade Verde Coeficientes da equação Ax103 B x104 C x105 R2 232,351 123,231 -0,0275 0,972 361,063 -5,370 19,143 0,992 409,317 -26,512 16,432 0,992 Tabela 6. Coeficientes das equações quadráticas (D = A B U C U 2 ) ajustadas para descrever o comportamento do volume unitário (D) de frutos de café “cereja” e “verde”. Grau de maturação inicial Cereja Coeficientes da equação Ax103 Bx104 Cx105 R2 Catuaí Lote 1 900,088 -115,396 28,103 0,983 Lote 2 890,792 -111,014 27,660 0,943 Timor 661,874 -105,826 26,449 0,918 Variedade Verde Coeficientes da equação Ax103 Bx104 Cx105 R2 601,744 17,1758 6,1703 0,909 653,857 -66,2002 19,9700 0,974 811,797 -139,488 24,903 0,847 2 "cereja"experimental 1,8 "verde"experimental 1,6 "cereja"ajustado Catuaí lote 1 Massa unitária (g) 1,4 Catuaí lote 2 "verde"ajustado 1,2 Timor 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 00 20 20 40 40 60 60 80 0 100 20 120 40 140 60 160 0 180 20 200 40 220 60 240 Teor de umidade (% b.u.) Figura 9. Variação da massa de frutos de café com o teor de umidade em uma faixa comum a todas variedades e graus de maturação (18,6 a 62,6% b.u.). A Tabela 3 apresenta valores médios de relações entre valores de volume dos frutos de café construídas para investigar os efeitos da variedade, grau de maturação e época de colheita. Os valores de volume foram estimados pelas equações ajustadas, usadas em um intervalo de umidade comum a todas as variedades e graus de maturação (18,6 a 62,6% b.u.). Independente do grau de maturação dos frutos de café, os valores determinados para o volume do produto da variedade Catuaí, lotes 1 e 2, foram superiores àqueles apresentados pelo produto da variedade Timor, como pode ser observado da Tabela 3. No caso de frutos “cereja”, esta superioridade é mais acentuada. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.139-156, 2000 150 Dimensões principais, massa e volume unitários, esfericidade e ângulo de repouso de frutos de café Para a variedade Catuaí, os volumes dos frutos “verde” e “cereja” do lote 1 são bastante próximos aos daqueles apresentados pelos frutos do lote 2. As pequenas diferenças são um indicativo de que a época de colheita não influenciou significativamente nos valores de volume dos frutos. Observa-se, também, da Tabela 3, que os volumes dos frutos “cereja” das variedades Catuaí, lotes 1 e 2, e Timor são superiores aos dos frutos “verde”, sendo a diferença mais Magalhães et al. acentuada para a variedade Catuaí. Para a variedade Catuaí, as variações nos valores do volume do produto resultantes do efeito do grau de maturação dos frutos são maiores do que aquelas devido à época de colheita. Os pequenos intervalos de variação apresentados pelos valores do volumes dos frutos, para cada umidade, é um indicativo de que este é, também, um bom parâmetro diferenciador para ser usado em processos de separação do produto. 1,7 "cereja"ajustado 3 Volume unitário (cm ) 1,5 "verde"ajustado "cereja"experimental 1,3 "verde"experimental 1,1 0,9 0,7 0,5 Catuaí (lote 1) Catuaí (lote 2) Timor 0,3 00 20 40 60 60 80 80 0 100 20 120 40 140 60 160 80 180 0 200 20 220 40 240 60 260 80 280 Teor de umidade (% b.u.) Figura 10. Variação do volume de frutos de café com o teor de umidade. Ângulo de repouso Os valores dos ângulos de repouso (em graus), Tabela 1, para frutos classificados, inicialmente, como “verde” tendem a aumentar com acréscimos no teor de umidade do produto. Já, para frutos “cereja”, o ângulo de repouso aumenta com o teor de umidade apenas até um determinado valor de umidade e, a seguir, decresce. Isto pode ser mais bem visualizado na Figura 11 que apresenta valores médios experimentais do ângulo de repouso de café, “cereja” e “verde” juntamente com intervalos de variação baseados nos desvios-padrão. Observa-se a tendência dos valores do ângulo de repouso dos frutos “cereja” serem maiores que os dos “verde”, principalmente para a variedade Catuaí. Altos valores de ângulos de repouso foram determinados para amostras de café da variedade Catuaí “cereja”, lotes 1 e 2, para frutos a 46,9 e 57,7% b.u., respectivamente. Não existe, prontamente, nenhuma explicação para os altos valores de ângulo de repouso determinados para o café e nem para o comportamento deste parâmetro, quando apresenta um máximo para amostras que contêm frutos a uma determinada umidade. Existe a possibilidade de que este fato possa estar relacionado com um aumento de umidade na superfície do produto o que poderia causar um aumento de adesão e, como conseqüência, um aumento na fricção. Durante as determinações de ângulos de repouso, observou-se que amostras de frutos a altos teores de umidade exibiam, na sua superfície, um líquido viscoso e pegajoso. Em amostras a teores de umidade médios, aparen-temente, não se observava a presença deste líquido e a superfície dos frutos apresentava-se rugosa e o fruto parecia estar chocho. Quando as amostras se encontravam a teores de umidade mais baixos, notou-se uma atenuação da rugosidade da superfície, acompanhada de um encolhimento e endurecimento da casca do fruto. Os coeficientes das equações ajustadas, representativas da variação do ângulo de repouso dos frutos com o teor de umidade, para cada combinação “variedade-grau de maturação” e os respectivos coeficientes de determinação (R2) são apresentados na Tabela 7. As curvas dessas equações são apresentadas na Figura 11. Nota-se que não se conseguiu ajuste para os fruto “cereja” da variedade Catuaí. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.139-156, 2000 Dimensões principais, massa e volume unitários, esfericidade e ângulo de repouso de frutos de café Para investigar os efeitos da variedade, grau de maturação e época de colheita dos frutos de café nos valores do ângulo de repouso do produto, a Tabela 3 apresenta valores médios de relações entre valores de ângulo, estimados pelas equações ajustadas, para um intervalo de umidade comum a todas as variedades e graus de maturação (18,6 a 62,6% b.u.). A metodologia adotada para a construção das relações, nos casos em que não se conseguiu ajuste, é similar à que foi usada para as dimensões principais. Da Tabela 3, observa-se que os valores do ângulo de repouso para frutos “cereja” da variedade Catuaí foram maiores do que aqueles para o produto da variedade Timor. Entretanto, quando os frutos se encontravam na coloração “verde”, os ângulos de repouso do produto da variedade Timor foram os maiores. Para as duas variedades, os valores dos ângulos de repouso dos frutos “cereja” foram maiores do que aqueles para frutos “verde”. Os valores dos ângulos de repouso dos frutos “verde” da variedade Catuaí parecem ter sido afetados pela época de colheita do produto, no entanto, o grau de maturação do produto parece ter uma maior influência. Experimento 2 Magalhães et al. 151 dimensões principais, esfericidade, massa unitária e ângulo de repouso de frutos de café da variedade Catuaí a diferentes teores de umidade, acompanhados dos respectivos desvios-padrão. Para uma determinada umidade do produto, cada valor da tabela representa a média de 50 determinações, exceto no caso de ângulo de repouso, em que cada valor é proveniente de quatro determinações. Cada um dos parâmetros avaliados é discutido nos itens apresentados a seguir. Dimensões principais Nota-se da Tabela 8 que existe uma tendência das dimensões principais aumentarem com um acréscimo no teor de umidade do fruto. Para cada teor de umidade, os valores determinados para a dimensão a parecem ser maiores que os da dimensão b que, por sua vez, se apresentaram ligeiramente superiores aos da dimensão c. Uma comparação dos valores das três dimensões em cada teor de umidade (teste de Newman Keuls a 5% de probabilidade) mostrou que os valores da dimensão a foram sempre os maiores, e que os valores da dimensão b foram superiores aos da dimensão c. A Tabela 8 apresenta valores das 60 Catuaí (lote 1) Catuaí (lote 2) Timor Ângulo de repouso (grau) 55 50 45 40 35 30 25 "cereja"experimental "cereja"ajustado "verde"experimental "verde"ajustado 20 00 20 20 40 40 60 60 80 80 100 120 40 140 60 160 80 180 0 20 Teor de umidade (% b.u.) 200 220 40 240 260 0 20 60 280 80 Figura 11. Variação do ângulo de repouso do café com o teor de umidade, curvas ajustadas e valores experimentais. Os coeficientes das equações ajustadas para expressar o comportamento das dimensões a, b e c dos frutos de café em função do teor de umidade, acompanhados dos coeficientes de determinação (R2), encontram-se na Tabela 9. As curvas dessas equações podem ser visualizadas na Figura 12. Nesta figura, são exibidos, também, os valores médios Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.139-156, 2000 152 Dimensões principais, massa e volume unitários, esfericidade e ângulo de repouso de frutos de café experimentais dessas grandezas e os seus respectivos intervalos de variação, construídos, usando-se os desvios-padrão. Pode-se observar da Figura 12 que os intervalos de variação dos valores da dimensão b, na maioria das vezes, se sobrepõem para os Magalhães et al. diferentes teores de umidade dos frutos. Isto indica uma baixa eficiência no uso de qualquer procedimento de peneiragem para uma classificação dos frutos de um lote de acordo com o seu teor de umidade. Tabela 7. Coeficientes das equações quadráticas (D = A B U C U 2 ) ajustadas para descrever o comportamento do ângulo de repouso (D) em função do teor de umidade (U)de frutos de café “cereja” e “verde”. Grau de maturação inicial Cereja Verde Variedade Coeficientes da equação Coeficientes da equação A Bx103 Cx104 R2 A Bx103 Cx104 R2 Catuaí Lote 1 36,355 15,570 12,797 0,975 Lote 2 32,799 141,845 -4,948 0,856 Timor 30,719 616,705 -70,538 0,858 32,193 414,432 -39,684 0,890 Tabela 8. Dimensões principais (a, b e c), massa unitária, esfericidade e ângulo de repouso de frutos de café, com respectivos desvios-padrão (D.P.). Teor de umidade (% b.u.) 61,0 36,1 19,5 15,6 13,9 13,0 a Média 1,424 1,389 1,365 1,308 1,304 1,239 Dimensão (cm) B D.P. Média 0,11 1,173 0,08 1,098 0,07 1,074 0,07 1,031 0,08 1,023 0,06 0,984 c D.P. Média 0,08 1,060 0,06 0,955 0,06 0,916 0,05 0,899 0,05 0,887 0,05 0,882 Massa (g) Esfericidade (decimal) D.P. Média D.P. Média 0,07 1,179 0,23 0,851 0,07 0,861 0,19 0,817 0,05 0,599 0,08 0,808 0,05 0,526 0,07 0,816 0,05 0,497 0,06 0,812 0,05 0,485 0,05 0,827 D.P. 0,03 0,03 0,03 0,03 0,03 0,03 Ângulo de repouso (graus) Média D.P. 30,8 1,1 33,9 0,6 32,0 0,6 32,1 0,5 31,0 0,6 30,3 0,4 Tabela 9. Coeficientes das equações polinomiais (D = A1 A2 U A3 U 2 ) ajustadas para dimensões principais (D) em função do teor de umidade (U) de frutos de café com os respectivos coeficientes de determinação (R2). Dimensão A B C A1 1,1606 0,9347 0,8543 Coeficientes da regressão A2 A3 0,01067 -0,0001053 0,006518 -0,00004372 0,002343 0,00001664 Na Tabela 10, encontram-se valores para diversas relações entre as dimensões dos frutos usados no Experimento 2 (Catuaí*) e as dos frutos usados no Experimento 1 (Catuaí, lotes 1 e 2, nas colorações “cereja” e “verde”). Os valores das dimensões principais dos frutos de ambos experimentos foram estimados, usando-se as equações ajustadas em uma faixa comum de umidade (18,6 a 61,0% b.u.). Pode-se observar da Tabela 10 que os valores das dimensões principais dos frutos “cereja” da variedade Catuaí do “Experimento R2 0,719 0,859 0,987 1” foram bastante próximos daqueles para os frutos do “Experimento 2”, sendo a diferença máxima em torno de 5%. Entretanto, os valores das dimensões dos frutos do “Experimento 2” parecem ser diferentes daqueles dos frutos “verde” da variedade Catuaí, usados no “Experimento 1”; a diferença máxima é em torno de 13%. Isto apresenta coerência, visto que as amostras do produto usadas no “Experimento 2” continham, aproximadamente, 90% dos seus frutos “cereja”. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.139-156, 2000 Dimensões principais, massa e volume unitários, esfericidade e ângulo de repouso de frutos de café Esfericidade Os valores de esfericidade apresentados na Tabela 8 parecem não ser afetados pelo teor de umidade do produto. A faixa de variação dos valores da esfericidade dos frutos foi de 73,1 a 93,7%. A esfericidade média para todos teores de umidade foi igual a 82,2% e os desvios, máximo e mínimo, foram de 3,3 e 2,5%. Os valores médios da esfericidade dos frutos de café, com os seus intervalos de variação, podem ser visualizados na Figura 13. Não se obteve ajuste para a esfericidade em função do teor de umidade, indicando, assim, que esta pode ser considerada constante no intervalo de umidade investigado Massa unitária Nota-se da Tabela 8 que os valores da massa unitária dos frutos tendem a aumentar com o teor de umidade. A faixa de variação dos valores da massa dos frutos foi de 0,350 a 1,640 g e, em média, para todos teores de umidade, a massa dos frutos foi igual a (0,7 0,3) g. A equação (regressão) que melhor se ajustou aos dados experimentais para descrever o comportamento dos valores da massa dos frutos em função do teor de umidade pode ser expressa por: Massa = 0,3044 + 0,01459 (R2 = 0,995) A Figura 13 apresenta a curva, proveniente da equação ajustada e, também, os valores médios experimentais com os respectivos intervalos de variação, construídos, usando os desvios-padrão. Nota-se que os Magalhães et al. 153 desvios envolvidos nos valores da massa dos Se forem considerados os desvios experimentais, verifica-se que existe sobreposição dos intervalos para as massas de frutos “cereja” da variedade Catuaí, lotes 1 e 2 e daqueles para os frutos usados neste experimento; isto é uma indicação de que as massas dos frutos podem ser consideradas iguais nos dois experimentos. frutos aumentam com o teor de umidade do produto, variando de 0,05 a 0,2 g. Deve-se notar que, no “Experimento 1”, a massa dos frutos “cereja” foi descrita como uma função quadrática do teor de umidade do produto, o que parece estar em contradição com os resultados do “Experimento 2”. No entanto, quando se considera um ajuste em uma faixa de umidade comum aos dois experimentos, ou seja, ao se despezar o último ponto do “Experimento 1” (umidade mais alta), verificase que uma função linear é a que melhor se ajusta aos dados deste experimento. A distribuição percentual dos frutos de café com diferentes teores de umidade, de acordo com faixas de valores de massa, é mostrada na Figura 13. Observa-se que frutos com um teor de umidade de 13,0% b.u. possuem suas massas menores que 0,65 g, enquanto que as massas dos frutos a 13,9 e a 15,6% b.u. são menores que 0,75 g. As massas dos frutos a 36,1% b.u. variaram de 0,55 a 1,35 g, sendo que 84% do produto possuem a massa entre 0,55 e 1,05 g. Frutos, que contêm a umidade mais alta, apresentaram, na sua maioria (98%), massas iguais ou superiores a 0,75 g. Apenas 24% dos frutos, com a umidade mais alta, apresentaram massas acima de 1,35 g. 1,6 1,5 Dimensão (cm) 1,4 1,3 1,2 1,1 1 Dimensão A Dimensão B Dimensão C 0,9 0,8 10 20 30 40 50 60 70 Teor de umidade (% b.u.) Figura 12. Variação das dimensões a, b e c de frutos de café com o teor de umidade do produto. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.139-156, 2000 154 Dimensões principais, massa e volume unitários, esfericidade e ângulo de repouso de frutos de café Magalhães et al. 1,6 Massa Esfericidade Massa unitária (g) e Esfericidade 1,4 1,2 1 0,8 0,6 0,4 10 20 30 40 50 60 70 Teor de umidade (% b.u.) Figura 13. Variações da massa e da esfericidade de frutos de café com o teor de umidade do produto. Tabela 10. Comparação das características físicas dos frutos usados no Experimento 2 (Catuaí*) e as dos frutos usados no Experimento 1 (Catuaí, lotes 1 e 2). Comparações Dimensão Massa a b c Frutos “cereja” Catuaí lote1/Catuaí* 1,007 0,985 1,027 1,001 Catuaí lote 2/Catuaí* 1,000 1,007 0,951 0,955 Frutos “verde” Catuaí*/Catuaí lote 1 0,899 0,815 Catuaí*/Catuaí lote 2 1,090 0,884 0,951 0,755 Ângulo de repouso Resultados preliminares dos valores de ângulos de repouso de frutos de café, a quatro teores de umidade na faixa de 13 a 20% b.u., determinados por meio dos dois dispositivos, um usado para pequenos grãos e o outro construído para café, são mostrados na Figura 14. Nesta figura, encontram-se presentes, também, intervalos de variação dos ângulos baseados nos desvios-padrão. Pode-se observar que os ângulos de repouso determinados pelo dispositivo para grãos foram sempre maiores (em média, 1,2 vez superiores) que aqueles acusados pelo dispositivo para café. Isto se deve, provavelmente, a uma maior influência dos efeitos das paredes do dispositivo para grãos, indicando não ser este apropriado para café. Assim, nas determinações dos ângulos de repouso dos frutos de café em função do teor de umidade, no “Experimento 2”, optou-se pela utilização apenas do dispositivo construído. Os valores dos ângulos de repouso (em graus), Tabela 8, tendem a aumentar com acréscimos no teor de umidade do produto até um determinado valor de umidade e, a seguir, decrescem. Isto pode ser mais bem visualizado na Figura 15 que apresenta valores médios experimentais do ângulo de repouso de café juntamente com intervalos de variação baseados nos desvios-padrão. Os valores do ângulo de repouso variaram de 29,6 a 34,6o e apresentaram desvios de 0,4 a 1,1o. O valor médio, para todos teores de umidade foi igual a 31,7o. As amostras de café apresentaram um ângulo de repouso máximo (34,0o), determinado através da equação ajustada, quando os seus frutos se encontravam a um teor de umidade igual a 36,9%b.u. O fato de ocorrência de um ângulo de repouso máximo, também foi detectado no “Experimento 1” para os lotes 1 e 2 de frutos “cereja” da variedade Catuaí (umidades experimentais, aproximadamente, 47 e 58%b.u., respectivamente). Deve-se observar que, no Experimento 2, a descrição do comportamento do ângulo de repouso do fruto com o incremento de seu teor de umidade, após a umidade de 19,5%b.u., baseia-se em apenas dois pontos experimentais. Assim, o ângulo de repouso máximo poderia ter ocorrido em um outro ponto qualquer pertencente ao intervalo de umidade (19,5; 61,0). A ocorrência de um ângulo de repouso máximo, para o produto a um determinado teor de umidade, provavelmente esteja relacionada à perda de líquido pelo fruto (mais proeminente quando este se encontra a um teor de umidade mais alto) devido às rupturas na casca do produto as quais ocorrem durante a colheita. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.139-156, 2000 Dimensões principais, massa e volume unitários, esfericidade e ângulo de repouso de frutos de café Um aumento de umidade na superfície do produto pode causar uma maior adesão e, como conseqüência, um aumento na fricção. A equação da curva ajustada para descrever a variação de ângulo de repouso (AR) de amostras de café, compostas de frutos não Magalhães et al. 155 selecionados, em função do teor de umidade (U) pode ser expressa por: AR = 26,3959+0,4093*U-0,005539*U2 (R2= 0,859) umidade (% b.u.) 70 Percentual de frutos 61,0 60 36,1 50 19,5 15,6 40 13,9 13,0 30 20 10 [>=1,35) [1,25-1,35) [1,15-1,25) [1,05-1,15) [0,95-1,05) [0,85-0,95) [0,75-0,85) [0,65-0,75) [0,55-0,65) [0,45-0,55) [0,35-0,45) 0 Faixa para massa (g) Figura 14. Distribuição percentual de frutos de café, a diferentes teores de umidade, em faixas de valores de massa. 43 ângulo de repouso (graus) 41 39 37 35 33 31 29 Para café Para grão 27 25 12 13 14 15 16 17 18 19 20 Teor de umidade (%b.u.) Figura 15. Comparação de dois dispositivos para determinação de ângulos de repouso. A Figura 16 apresenta esta curva e, também, valores de ângulos de repouso, encontrados em literaturas, para grãos de milho, trigo e cevada em alguns teores de umidade próximos aos dos frutos de café usados neste trabalho. Nota-se que os valores dos ângulos de repouso de grãos de cevada são os que mais se aproximam daqueles de frutos de café. 45 Ângulo de repouso (graus) Café 40 Milho Cevada 35 Trigo 30 25 20 0 10 20 30 40 50 60 70 Teor de umidade (% b.u.) Figura 16. Variação do ângulo de repouso do café com o teor de umidade. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.139-156, 2000 156 Dimensões principais, massa e volume unitários, esfericidade e ângulo de repouso de frutos de café CONCLUSÕES Magalhães et al. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS A análise dos resultados apresentados neste trabalho nos permite expor as seguintes conclusões: os frutos de café possuem uma das dimensões maior do que as outras. As duas dimensões menores têm valores diferentes quando os frutos se encontram a teores de umidade mais baixos (inferiores a 62,6% b.u.); os valores da esfericidade, massa e volume do produto da variedade Catuaí, independen-temente do grau de maturação dos frutos de café, foram maiores do que aqueles para a variedade Timor. Entretanto, os valores das dimensões principais e do ângulo de repouso do produto da variedade Catuaí, quando os frutos se encontravam na coloração “cereja”, foram maiores do que aqueles para o produto da variedade Timor, enquanto que os valores para o produto da variedade Timor, quando os frutos se encontravam na coloração “verde”, foram os maiores; os valores das dimensões principais, esfericidade, volume e ângulo de repouso dos frutos “cereja” são maiores do que aqueles para frutos “verde”, para todas variedades investigadas. A massa, no entanto, dos frutos “verde” foi superior àquela para o produto “cereja”; as dimensões principais, esfericidade, massa, volume e ângulo de repouso dos frutos parecem não ter sido afetadas significativa-mente, pela época de colheita do produto da variedade Catuaí. O efeito do grau de maturação inicial dos frutos, antes do processo de secagem, foi sempre maior do que aquele devido à época de colheita; a massa unitária de frutos de café, com um teor de umidade abaixo de 61,0% b.u., cresce linearmente com um aumento da umidade do produto; o ângulo de repouso dos frutos de café é uma função quadrática do teor de umidade do produto, apresentando um máximo no intervalo de umidade investigado; a utilização de instrumentação para determinação de ângulos de repouso de grãos de pequenas dimensões mostrou-se inadequada para grãos de café. Chang, C.S.; Converse, H.H.; Lai, F.S. Flow rate of corn through orifices as affected by moisture content. Transactions of the ASAE, v.27, n.5, p.1586-1589, 1984. Gregory, J.M.; Fedler, C.B. Equation describing granular flow through circular orifices. Transactions of the ASAE, v.30, n.2, p.529-532, 1987. Mbuvi, S.W.; Litchfield, J.B.; Sinclair, J.B. Physical properties of soybean damaged by fungi and a virus. Transactions of the ASAE, v.32, n.6, p.2093-2096, 1989. Moreira, S. M.C.; Chaves, M.A.; Oliveira, L.M. Comparação da eficiência de líquidos na determinação da massa específica aparente de grãos agrícolas. Revista Brasileira de Arma-zenamento, Viçosa, v.9, n.1 e 2, p.22-24, 1984/85. Mohsenin, N.N. Physical properties of plant and animal materials. Gordon and Breach Science Publishers, New York, 2a edição, 1978. Moysey, E.B.; Lambert, E.W.; Wang, Z. Flow rates of grains and oilseeds through orifices. ASAE Paper 85-3530, St. Joseph, MI, ASAE. 1985. Silva, J.S. Pré-processamento de produtos agrícolas. Instituto Maria Juiz de Fora, 1995, 509p. Siska, J.; Hurburgh Jr., C.R. 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Walp.) : SUBMETIDOS A TEMPERATURAS DE REFRIGERAÇÃO E CONGELAMENTO Nayara Lia Lima1, Clara Emanuelle1, Claudécia Leite da Silva 1, Maria do Carmo Diniz1, Márcia Roseane Targino de Oliveira2, Tatiane Santi Gadelha2 RESUMO O presente trabalho foi desenvolvido com o objetivo de avaliar métodos de conservação do feijão macassar verde, armazenado por 30 e 35 dias, feijões in natura e por 40 e 50 dias, os feijões pré-cozidos e cozidos, sob baixas temperaturas ( refrigeração e congelamento), utilizando embalagens plásticas, respectivamente sacos e recipientes. As amostras do feijão foram adquiridas na forma de molhos e em feiras livres do Município de Campina Grande – PB e destinados à análise sensorial. As variedades adquiridas, debulhadas, foram submetidas a análise microbiológica não sendo identificadas bactérias e fungos patogênicos. O armazenamento foi realizado em oito de dezembro de 1998. As análises sensoriais foram feitas após 30, 35, 40 e 50 dias. Aos 30 e 35 dias a refrigeração diminuiu o tempo de cocção e o congelamento aumentou esse tempo, embora não tenha conservado muito bem, as características organolépticas. Aos 40 e 50 dias a refrigeração diminuiu o tempo de cocção dos pré-cozidos a exemplo do fígado de galinha. O congelamento manteve as características de sabor e textura ( fígado de galinha e corujinha ). Aos 50 dias não foi possível submeter os tratamentos refrigerados à analise sensorial, devido a deterioração. Os pré-cozidos congelados permaneceram reduzindo o seu tempo de cocção ( fígado de galinha ). A refrigeração e o congelamento modificaram a coloração dos grãos, sendo menos intensa no congelamento. Palavras - chaves: Feijão, armazenamento, refrigeração, congelamento. PRELIMINARY STUDY OF THE 4 VARIETIES OF "FEIJÃO MACASSAR" (Vigna unguiculata L. Walp) CONSERVATION WHICH HAVE BEEN SUBJECTED TO THE REFRIGERATION AND FREEZING TEMPERATURES ABSTRACT This present research has been the objective of evaluating some methods of Feijão Macassar Verde conservation of, which stored from 30 to 35 days (in natura) and from 40 to 50 days (precooked and cooked) at low temperatures (both cooling and freezing processes), with the use of plastic packing, both bags and containers. The samples of beans had been obtained in the gravy form in some fairs in Campina Grande - PB and they were assigned to some sensorial analysis. The obtained varieties had been thrashed and subjected to a microbiological analysis and, as a result, no bacteria or patliogenic fitngus was identified. The storage was held on Dec. 8, 1998 and the sensorial analysis was done after 30, 35, 40 and 50 days. On the 30th - 35th days, the refrigeration reduced the decoction time and the Freezing increased its time, even though some characteristics such as smell and taste were not observed. On the 40th - 50th days the refrigeration reduced the pre-cooked decoction time. The freezing process kept the characteristics of texture and taste (Fígado de galinha e Corujinha). On the 50th day it was not possible to submit them to a sensorial analysis because the deterioration was detected. The frozen pre-cooked kept on reducing the decoction time (Fígado de galinha). Both the refrigeration and the freezing processes changed the grains color, and it was less intense in the freezing process. Keywords: been, stock, refrigeration , freezing. Protocolo 21 2000 23 de 17/05/2000 1 Estudante de Pós-graduação, Departamento de Engenharia Agrícola, UFPB, CEP. 58.109-970 Campina Fone : (083) 321 - 8926, e-mail :[email protected]. Fax (083) 310 - 1185. 2 Professor do Departamento de Fitotecnia. UFPB / CCA - Campus III -Areia - PB. Grande - PB, 158 Conservação de quatro variedades de feijão macassar verde a temperaturas de refrigeração e congelamento Lima et al. INTRODUÇÃO O feijão é um grão produzido para autoconsumo. Nos países desenvolvidos é relativamente pequena sua utilização devido ao hábito alimentar e à suposta baixa elasticidade-rendaconsumo. À medida que prevalecem níveis de renda mais altos, outros alimentos são incorporados à cesta do consumidor (Comissão De Financiamento da Produção, 1981) . Das regiões brasileiras, o Nordeste é a que emprega mais recursos financeiros da renda familiar com o feijão verde, destacando-se em produção e consumo, principalmente, na Zona Rural (Bezerra, 1988). De acordo com o IBGE (1996), na Paraíba ele é cultivado em todo o Estado, que detém 75% das suas áreas com o cultivo de feijão, alcançando referido ano, uma produção de 62.570t, sendo plantado, principalmente, pelos pequenos agricultores do Agreste e Sertão. O feijão macassar representa hoje 20% do total da produção brasileira de feijão. De modo geral, nos Estados de Alagoas, Pernambuco e Paraíba, o consumo de feijão macassar nas capitais é maior sob a forma de grãos verdes (Teixeira et al.,1988). O feijão macassar é mais encontrado no mercado durante a estação chuvosa. Um aspecto importante, do ponto de vista nutricional, é o aumento da qualidade protéica de dietas mistas, que contêm feijão e cereais, tais como, o arroz e o feijão, em decorrência do efeito complementar do alto conteúdo de lisina do feijão com aminoácidos sulfurados dos cereais ( Bressani, 1993). Nos últimos anos, principalmente com a formação dos blocos econômicos, como o Mercosul, pode ser notado um crescimento considerável das exigências de qualidade dos produtos agrícolas. A escolha de um produto pelo consumidor está baseada, principalmente, nos atributos visíveis e na presença e extensão de danos físicos. A qualidade dos produtos vegetais é o resultado da conjugação de diversos fatores, dentre os quais a conservação tem um papel fundamental Corrêa citado por Borem (1998). Grãos verdes, assim chamados por não terem atingido a maturação fisiológica, apresentam um alto percentual de água e, conseqüentemente, uma alta perecibilidade, necessitando do emprego de métodos de conservação dispendiosos, quando comparados com o grão seco. Considerando-se alto o consumo do feijão ver- de e a necessidade de sua disponibilidade no mercado, principalmente, por compor um dos pratos mais característicos da culinária nordestina, mais, especificamente a paraibana, necessário se faz o uso de métodos de processamento capazes de torná-lo disponível em todas as épocas do ano com o máximo do seu valor nutritivo e palatabilidade. Segundo Borem (1998), a qualidade dos produtos vegetais é o resultado da conjugação de diversos fatores, dentre os quais, a conservação tem um papel fundamental, principalmente, nos dias de hoje, onde o fator tempo é cada vez mais valorizado. O presente trabalho teve como objetivo estudar o comportamento de grãos de feijão macassar verde, conservados sob temperaturas baixas (refrigeração e congelamento), “in natura” e processados (pré-cozido e cozido). MATERIAL E MÉTODOS Local O presente trabalho foi desenvolvido nos Laboratórios de Tecnologia de Alimentos do Departamento de Solos e Engenharia Rural e Fitossanidade do Departamento de Fitotecnia do Centro de Ciências Agrárias, Campus III, da Universidade Federal da Paraíba, Areia – PB. Amostra As amostras (Fig. 1), num total de 4 variedades de feijão macassar verde, manteiguinha, vajão, fígado de galinha e corujinha, foram adquiridas nas feiras livres de Campina Grande, PB. Parte dos grãos verdes (“in natura”) foi acondicionada em sacos plásticos e submetida à refrigeração e a congelamento, e parte foi submetida ao tratamento de pré-cozimento e cozimento, sendo posteriormente acondicionadas em um recipiente plástico não tóxico, transparente (Fig. 2) e levadas, após um resfriamento rápido, à temperatura de refrigeração entre 6 e 7ºC e ao congelamento à mais ou menos -18ºC. O produto foi submetido a análise sensorial após a debulha e o armazenamento de 30 e 35, 40 e 50 dias sob congelação, refrigeração, respetivamente para os “in naturas”, précozidos e cozidos. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.157-169, 2000 Conservação de quatro variedades de feijão macassar verde a temperaturas de refrigeração e congelamento Lima et al . FÍGADO DE GALINHA CORUJINHA VAJÃO MANTEIGUINHA 159 Figura 1. Variedades de feijão macassar verde. Figura 2. Tipos de embalagens utilizadas para o armazenamento (Refrigeração e congelamento) do feijão macassar verde. Sacos herméticos do tipo Zip Bag e copos plásticos atóxicos resistentes ao freezer e Microondas. Análises desenvolvidas nos feijões Coloração Tempo de cocção As sementes foram submetidas ao calor até atingir o ponto de maciez aceitável numa proporção de 1:2 de feijão (130g) e água. Determinou-se assim, o tempo de cocção das variedades armazenadas e “in natura”. A avaliação da cor como índice de qualidade do produto, grão (macassar) “in natura”, pré-cozido e cozido foi realizada de forma subjetiva, utilizando-se tabelas de cores comerciais. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.157-169, 2000 160 Conservação de quatro variedades de feijão macassar verde a temperaturas de refrigeração e congelamento Lima et al. A leitura foi diária, deixando apenas em evidência a graduação de mudança da cor. Análise sensorial A análise sensorial (Fig.3), foi realizada por dez painelistas não treinados, selecionados ao acaso, estudantes do Curso de Agronomia, Campus III . Foram avaliadas as quatro variedades de feijão (manteiguinha, corujinha, vajão e fígado de galinha) tanto “in natura” quanto os processados e acondicionados em temperaturas baixas. Os grão ``in natura`` foram submetidos a cocção como também os précozidos. Os cozidos foram aquecidos até fever. Com essas amostras, os painelistas submeteram-se aos testes sensoriais de preferência e textura, segundo Morais (1983) com algumas modificações. As análises sensoriais, tiveram como finalidade verificar a aceitação do produto após um certo período de armazenamento, tendo em vista que o feijão verde é um produto altamente perecível. ANÁLISE SENSORIAL ( 30 E 35 DIAS ) Refrigeração ( sacos plásticos) in natura ( sacos plásticos) Congelameto AMOSTRA - Cozido refrigerado - Pré-Cozido refrigerado ( Recipientes) in natura - Cozido Congelado - Pré-Cozido Congelado ( Recipientes ) ANÁLISE SENSORIAL ( 40 E 50 DIAS ) Figura 3. Esquema representativo do processamento, conservação e armazenamento do feijão macassar verde. Análises microbiológicas Foram testadas 4 variedades para a determinação da microflora associada às sementes de feijão macassar verde (Vigna unguiculata L Walp. ) O método utilizado foi o descrito por Neergard (1979), denominado o método de Agar (Agar method), em que as sementes prétratadas, são inoculadas em placas de Petri contendo meio de cultura BDA. O pré tratamento consistiu na imersão das sementes em uma solução de hipoclorito a 1% durante cinco minutos. A seguir, as sementes foram lavadas em água destilada estéril e colocadas em número de 6 nas 10 placas (repetições). Com relação ao uso do meio de cultura, este foi preparado na proporção de 200g de batata, 10g de dextrose e 20g de Ágar-Ágar. Em seguida, as placas foram foi esterilizadas a 120oC durante 30 minutos. As sementes foram distribuídas nas placas de Petri. Para cada variedade de feijão macassar utilizou-se dez repetições. Os plaqueamentos foram submetidos, durante oito dias, às condições naturais do laboratório, com iluminação natural durante o dia e obscuridade total à noite. Decorrido este período, fez-se a contagem e identificação de algumas bactérias e fungos presentes nas sementes. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.157-169, 2000 Conservação de quatro variedades de feijão macassar verde a temperaturas de refrigeração e congelamento Lima et al. RESULTADOS E DISCUSSÃO A aplicação dos processos aos quais o feijão macassar verde foi submetido, teve como finalidade armazenar os grãos sob temperaturas baixas, de modo que, o tempo de preparo dos mesmos, facilite o cotidiano da população em geral. A Tabela 1 apresenta os tempos de précozimento e cozimento obtidos para as quatro variedades de feijão macassar verde. Como tempo de pré-cozimento, estabeleceu-se a metade do tempo de cozimento dos grãos. Observando-se a tabela, estes tempos variaram entre 20 a 30 minutos, nas variedades fígado de galinha e vajão, respectivamente. O pré-cozimento consiste num aquecimento rápido, aplicado aos vegetais, como tratamento prévio de alguns processos de conservação, principalmente congelamento (Camargo et al 1986). Tabela 1. Tempo de pré-cozimento e cozimento das quatro variedades de feijão macassar verde, logo após a debulha. Variedades Fígado de galinha Manteiguinha Corujinha Vajão Tempo de Tempo de Pré – cozimento Cozimento 20 min. 25 min. 20 min. 30 min. 48 min. 50 min. 44 min. 60 min. O pré-cozimento tem como principal função inativar as enzimas e pré-gelatinizar o amido e o seu tempo varia com o tipo de produto (Gava,1986) . Como tempo de cozimento foi estabelecido, aquele correspondente ao desenvolvimento da maciez e sabor característicos dos grãos. A análise revelou uma variação de 44 a 60 minutos para atingir a cocção. Ficando o menor tempo para a variedade corujinha e o maior para a vajão. O cozimento consiste num tratamento hidrotérmico que permite o desenvolvimento de características específicas como maciez, sabor e odor (Oliveira, 1999). De acordo com a referida tabela, os maiores tempos de cozimento e pré-cozimento foram obtidos pelo feijão macassar, variedade vajão. As Tabelas 2 e 3 apresentam a compilação dos dados obtidos nas determinações do tempo de cocção e análise sensorial, referente à textura e ao sabor das quatro variedades de feijão macassar verde acondicionadas em sacos 161 plásticos do tipo Zip Bag e submetidas às temperaturas de refrigeração e congelamento por um período de 30 e 35 dias respectivamente. Os dados sobre tempo de cocção do feijão macassar “in natura” foram colocados nas Tabelas, apenas para facilitar a visualização dos resultados, visto que serviram para as avaliações realizadas. Os resultados determinados revelaram uma tendência de aumento dos tempos de cocção para os grãos armazenados sob congelamento e de leve redução para grãos submetidos à refrigeração. Quanto à textura dos produtos armazenados sob refrigeração, houve uma variação de macia a regular, para os produtos com 30 dias, e de rígida a macia, para aqueles com 35 dias de refrigeração. Quando comparados aos grãos, cozidos recém-debulhados, só foi percebida uma leve mudança na textura dos grãos aos 35 dias de refrigeração, para a variedade vajão. O fator preferência, que se refere ao sabor dos grãos, variou entre “gostei e desgostei ”, mostrando uma propensão de perda do sabor com o aumento dos dias de armazenamento sob temperaturas de congelamento. Com base nos resultados expostos e em citações bibliográficas da EMBRAPA, nas Tabelas 2 e 3, podemos deduzir que os tempos de cocção são influenciados pela alta sensibilidade dos feijões às alterações pós-colheita, no que se refere à qualidade de cocção e palatabilidade ( EMBRAPA, 1997). Pode ter ocorrido, também, uma possível interferência dos diferentes graus de maturação dos grãos contidos nas vagens, pois foram observados durante a debulha, grãos muito pequenos e intensamente verdosos, juntamente com grãos em estágios mais avançados de maturação numa mesma vagem. Como também, vagens em diferentes estágios de tamanho e de coloração da casca num mesmo molho. A redução no tempo de cocção dos grãos refrigerado pode ter sofrido a interferência da embalagem em sacos plásticos, pois aos trinta dias, verificou-se a presença de água em seu interior, tornando-os grão amolecido, o que é referenciado por Brackman e Chitarra (1998) quando afirmam que, os alimentos frescos, embalados em filmes plásticos, podem criar meio de elevada umidade. Kader et al (1983), Weichmann (1987), Hardenburg et al (1990), também, trabalhando com hortaliças frescas, concluiram que, pelas mesmas apresentarem alto teor de umidade (65 a 95%) a qualidade é afe- Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.157-169, 2000 162 Conservação de quatro variedades de feijão macassar verde a temperaturas de refrigeração e congelamento Lima et al. tada, originando um produto murcho, sem bri- lho e mole. Tabela 2. Tempo de cocção, análise sensorial e armazenamento de feijão macassar verde. Cocção (min.) Textura Armazenamento (dias) 30 35 Preferência 0 30 35 0 0 30 Refrigerado in natura Fígado de 48 42 42 Regular Regular Regular Indiferente Indiferente Galinha Manteiguinha 50 40 40 Macia Macia Macia Gostei Indiferente Corujinha 44 45 45 Regular Regular Regular Desgostei Gostei Vajão 60 42 40 Regular Regular Rígida Indiferente Indiferente Congelado in natura Fígado de 48 55 55 Regular Macia Regular Indiferente Indiferente galinha Manteiguinha 50 60 50 Macia Regular Regular Gostei Indiferente Corujinha 44 50 55 Regular Macia Regular Desgostei Desgostei Vajão 60 50 50 Regular Rígida Regular Indiferente Desgostei O acondicionamento Refrigerado e Congelado do feijão foi realizado em sacos plásticos fechados in natura = grão cru. 35 Indiferente Indiferente Indiferente Indiferente Indiferente Indiferente Indiferente Indiferente Tabela 3. Tempo de cocção, análise sensorial e armazenamento de feijão macassar verde. Cocção (min.) Preferência 0 40 50 48 37 - Regular Regular - Indiferente Desgostei - 50 44 60 60 50 45 - Macia Regular Regular Regular Macia Rígida - Gostei Desgostei Indiferente Indiferente Indiferente Desgostei - 48 - - Regular Regular - Indiferente Indiferente - 50 44 60 - - Macia Regular Regular Regular Macia Regular - Gostei Desgostei Indiferente Indiferente Indiferente Desgostei - 48 37 40 Regular Regular Regular Indiferente Indiferente Indiferente 50 60 65 Macia Rígida Rígida Gostei Indiferente Indiferente Corujinha 44 50 45 Regular Regular Macia Desgostei Desgostei Gostei Vajão Congelado cozido Fígado de galinha Manteiguinha Corujinha Vajão 60 45 55 Regular Regular Regular Indiferente Desgostei Indiferente Refrigerado Pré-cozido Fígado de Galinha Manteiguinha Corujinha Vajão Refrigerado cozido Fígado de galinha Manteiguinha Corujinha Vajão Congelado Pré-cozido Fígado de galinha Manteiguinha 0 Textura Armazenamento (dias) 40 50 0 40 50 48 - - Regular Macia Macia Indiferente Gostei Indiferente 50 44 60 - - Macia Regular Regular Macia Macia Macia Regular Macia Macia Gostei Desgostei Indiferente Indiferente Gostei Indiferente Desgostei Indiferente Indiferente O acondicionamento Refrigerado e Congelado do feijão foi realizado em sacos plásticos fechados in natura = grão cru. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.157-169, 2000 Conservação de quatro variedades de feijão macassar verde a temperaturas de refrigeração e congelamento Lima et al. A textura dos grãos também foi alterada pelo tempo de armazenamento sob temperaturas baixas e uma das explicações encontra-se no alto conteúdo de água deles, pois de acordo com Cruz (s/d), vegetais que contêm muita água perdem a textura. O fator água, quando em excesso, também foi considerado por Lima (1981) como responsável por modificações profundas nas propriedades físicas dos alimentos, provocando endurecimento e pegajosidade, principalmente, quando embalados com materiais permeáveis. As modificações do sabor, expressas pela análise sensorial, sofreram influências do tipo de processo aplicado, talvez por não terem sido previamente aquecidos. Segundo Gava (1978), os feijões devem ser aquecidos para destruir as enzimas que, caso contrário, tornariam os produtos congelados inaceitáveis. Essas modificações, expressas nas tabelas com um número expressivo de rejeição do produto podem ser explicadas, pelo fato dos grãos terem sido preparados sem nenhum aditivo, quando, na realidade, o comum é consumir feijão com outros alimentos, tipo: arroz, verduras, ovos, carnes, farinha, cuscuz e outros. A Tabela 4 apresenta as informações referentes aos tempos de cocção, textura e preferência dos feijões macassar verde variedades Manteiguinha, Corujinha, Fígado de Galinha e Vajão, pré-cozidos e cozidos, fica sob tempo de refrigeração, durante 40 dias. O acondicionamento dos feijões précozidos e cozidos ( refrig. e congel.) foi realizado em copos plásticos não tóxicos, transparentes, fechados e resistentes à temperatura de freezer e microondas. in natura = grão crú Tendo como padrão comparativo os grãos “in natrura” recém debulhados, constatouse uma tendência de redução do tempo de cocção para os grãos pré-cozidos, variando de 37 a 60 min, com destaque para a variedade Fígado de Galinha, que atingiu o cozimento em 37 min. Em relação aos grãos pré-cozidos e congelados persistiu a tendência de redução do tempo de cocção variando de 37 a 60 min, e continuando o destaque para a variedade Fígado de Galinha. Isto comprova a ação da temperatura, como tratamento prévio, reduzindo o tempo de cocção dos grãos. A análise da textura dos grãos précozidos e cozidos refrigerados revelou, de uma forma geral, resultados semelhantes, variando de macia a regular, não apresentando alterações, quando comparados com os grãos “in 163 natura”, com exceção do feijão pré-cozido, variedade Vajão, apresentou textura rígida aos 40 dias de armazenamento refrigerado. Quanto aos pré-cozidos congelados, observaram-se modificações apenas na textura do feijão Manteiguinha, que de macia passou a rígida. Este mesmo parâmetro sofreu alterações para os grãos cozidos congelados, em todas as variedades, que foram consideradas macias pela equipe analisadora .Esse resultado se enquadra nas afirmações de Camargo (1986), quando aponta o feijão como uma das espécies vegetais que respondem satisfatoriamente ao congelamento. O sabor desses grãos, avaliados pelo teste de preferência, indicou para os feijões précozidos refrigerados uma clara tendência à perda da qualidade com o tempo de estocagem, o que não foi muito evidente nos grãos cozidos sob as mesmas condições. Quanto aos grãos pré-cozidos e cozidos congelados, foi observado, pelos resultados apresentados, um certo grau de incoerência, partindo-se do princípio que os grãos foram comparados aos cozidos recém debulhados (in natura). Não foi possível a obtenção de um resultado preciso. Esta avaliação vem ser respaldada pela citação de Gava (1986), que recomenda um aquecimento prévio dos feijões antes do congelamento como medida para controlar a perda de sabor dos grãos. Essa incoerência observada na avaliação do sabor, pode ser explicada pela ausência do sal, aditivo reconhecidamente importante na melhoria de sabor dos alimentos em geral e também, por constituir a qualidade sensorial dos alimentos, num conjunto de atributos dependentes do julgamento humano, os quais são percebidos pelos sentidos e enviados para o cérebro que registra a impressão da qualidade. Na Tabela 5, são visualizados os resultados referentes aos tempos de cocção textura e preferência dos grãos de quatro variedades (Vajão, Manteiguinha, Figado de Galinha e Corujinha) de feijão macassar verde, submetidos ao armazenamento sob refrigeração e congelamento após o processo de pré – cozimento, por um período de 50 dias. Foram observadas, em todos os grãos pré-cozidos e cozidos, submetidos à refrigeração, alterações na aparência dos grãos de todas as variedades, apresentando amolecimento, pegajosidade, formação de espumas, mudanças na coloração e (escurecimento) presença de odor desagradável, lembrando pescado. Diante desse quadro, o produto não foi submetido à Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.157-169, 2000 164 Conservação de quatro variedades de feijão macassar verde a temperaturas de refrigeração e congelamento Lima et al. análise sensorial, possibilitando afirmar que os processos empregados não resistem a um período superior a 40 dias de armazenamento a frio. O acondicionamento dos feijões précozidos e cozidos (refrig. e congel.) foi realizado em copos plásticos não tóxicos, transparentes e fechados. Tabela 4. Coloração dos grãos de feijão macassar verde logo após a debulha e aos 30 e 35 dias de refrigeração e congelamento. Tempo de Coloração Inicial Armazenamento (dias) Fígado de galinha in natura Verde água / vinho / marfim. Corujinha in natura 0 Verde primavera/platina; marfim/camurça ou marrom Manteiguinha in natura Verde água / marrom; marfim / marrom. Vajão in natura Verde água / camurça; marfim / camurça. Mudança de Coloração Refrigerado Fígado de Galinha Mostarda*; camurça; verde água/ marrom . Corujinha 30 Mostarda / marrom; verde água / verde musgo. Manteiguinha Camurça / tabaco; marfim / marrom. Vajão. Mostarda*; camurça; amarelo canário; marfim. Fígado de Galinha Mostarda/marrom; camurça/marrom; marrom; verde água Corujinha 35 Mostarda/marrom; verde água/marrom; creme/marrom. Manteiguinha Mostarda/marrom; marfim/marrom; verde água/marrom. Vajão Mostarda; amarelo canário; marrom; tabaco. Mudança de Coloração Congelado Fígado de galinha Verde água/marrom; mostarda/marrom; marfim/marrom. Corujinha 30 Mostarda/marrom*; areia/camurça; verde água/verde escuro. Manteiguinha Verde água / marrom; marfim / marrom. Vajão Verde água / camurça; mostarda. Fígado de galinha Mostarda/marrom; areia/marrom; marfim/marrom Corujinha 35 Mostarda/marrom; verde água/platina; marfim/cinza. Manteiguinha Marfim/marrom; verde primavera. Vajão Mostarda; marrom; verde água; marfim. O acondicionamento do feijão foi realizado em sacos plásticos, transparentes, atóxicos e resistente à temperatura de freezer. * Predominância da cor Variedades /Tratamentos Os produtos pré-cozidos e cozidos congelados foram passíveis de avaliação. Quanto ao tempo de cozimento, os grãos pré-cozidos mantiveram a tendência da redução do tempo de cocção, com destaque para a variedade Fígado de Galinha que atingiu esse ponto aos 40 dias. Em se tratando da textura, a tendência observada foi da textura no sentido de enrijecimento para os grãos pré-cozidos, representada pela variedade Manteiguinha que, recém debulhada, foi considerada macia e aos 50 dias de refrigerados passou a rígida. Em relação ao sabor, não houve mudanças dos grãos anteriormente analisados, caracterizando uma análise subjetiva como demonstra a variedade Corujinha, que “in natura” recebeu o atributo “Gostei” e “ Desgostei” e após 50 dias sob congelamento recebeu o atributo “Gostei”. A partir dessas análises, pode-se indicar o feijão verde, variedade Corujinha, como aquele que melhor se comportou, quando précozido e armazenado sob congelamento por um período de 50 dias, pois apresentou o menor tempo de cocção e a melhor textura. Os produtos cozidos congelados foram em sua maioria classificados como de textura macia, apenas uma resalva para a variedade Manteiguinha que quando in natura e aos 40 dias de armazenamento foi considerada de textura macia aos 50 dias passou a regular. Com relação a preferência, notou-se uma perda de qualidade do sabor. A cor dos grãos é um dos principais parâmetros de caracterização dos feijões, inclusive, é determinante para identificação do ponto de colheita, como também o tempo de armazenamento. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.157-169, 2000 Conservação de quatro variedades de feijão macassar verde a temperaturas de refrigeração e congelamento Lima et al. Nas tabelas 6, 7 e 8 estão expostas as cores predominantes nos grãos verdes de quatro variedades de feijão macassar na forma “in natura”, pré-cozido e cozido, como também as modificações desenvolvidas com o tempo de armazenamento sob refrigeração e congelamento. De um modo geral, foi observada uma intensa diversificação de cores, porém, nos grãos “in natura” houve predominância dos tons verdes, representando a cor básica e teores e tons 165 camurça e marrom a cor secundária. Essas observações estão coerentes com a citação de Vilhordo (1996), que registra a cor básica do tegumento dos feijões a de maior evidência e a secundária, como sendo as manchas, pontos e rajões. A refrigeração e o congelamento provocaram mudanças nas cores dos grãos in natura a partir de 30 dias, sendo menos intenso nos grãos congelados. Tabela 5. Coloração dos grãos de feijão macassar verde logo após o pré-cozimento e cozimento após 40 dias de armazenamento sob refrigeração e congelamento. Variedades/tratamentos Pré-cozido Fígado de galinha/ Corujinha/Pré-cozido Manteiguinha/Pré-cozido Vajão/Pré-cozido Cozido Fígado de galinha Corujinha/cozido Manteiguinha/cozido Vajão/cozido Coloração Inicial Concreto*; camurça Marfim/camurça; verde claro/camurça Verde água*; marfim*. Verde água*; concreto; marfim Camurça. Concreto/camurça*;marrom/camurça; concreto. Camurça. Camurça*; marrom. MUDANÇA DE COLORAÇÃO Tempo de ARMAZENAMENTO Pré-cozido Refrigerado Fígado de Galinha Corujinha 40 dias Concreto*. Concreto/platina; verde água/platina concreto/marrom. Concreto*; verde água. Concreto* 50 dias Tabaco; concreto; marrom. Mostarda/marrom Manteiguinha Concreto*/marrom; verde água/marrom. Vajão Marrom; camurça; tabaco; concreto Cozido Refrigerado Fígado de galinha Camurça/marrom; concreto/marrom Concreto/marrom; camurça/marrom Corujinha. Concreto/marrom; concreto/platina Mostarda/marrom Manteiguinha. Concreto/marrom. Concreto Vajão. Camurça; marrom. Concreto; marrom Pré-cozido Congelado Fígado de Galinha. ** Concreto/marrom; mostarda/marrom Corujinha. ** Concreto/platina Manteiguinha/ ** Concreto/marrom; verde água/marrom Vajão/Pré-cozido Cong. Concreto; verde água Concreto; marrom Cozido Congelado Fígado de galinha ** Concreto* Corujinha/Cozido Cong. ** Concreto* Manteiguinha/Cozido Cong. ** Concreto; camurça Vajão/Cozido Cong. Camurça Concreto; marrom O acondicionamento do feijão foi realizado em sacos plásticos, transparentes, atóxicos e resistente à temperatura de freezer. *Predominância da cor. **Não houve mudança na coloração. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.157-169, 2000 166 Conservação de quatro variedades de feijão macassar verde a temperaturas de refrigeração e congelamento Lima et al. Tabela 6. Percentagem de grãos verdes recém debulhados de feijão macassar (Vigna unguiculata L. Walp.), afetados por bactérias e fungos. Microorganismos Variedades de Feijão Macassar Verde* Fígado de Galinha Manteiguinha Corujinha Bactérias Xanthomonas 56,00 31,66 Pseudomonas 00,00 00,00 Erwinia 00,00 10,00 Não Identificadas 00,00 5,00 Fungos Aspergillus 1,66 00,00 Penicillium 00,00 1,66 Rhizoctonia 10,00 38,03 Fusarium 00,00 00,00 Não identificados 1,66 00,00 *Material obtido na feira livre do Município de Campina Grande-PB. A temperatura de pré-cozimento e de cozimento também provocaram leve escurecimento nos grãos, com maior intensidade para os cozidos, como a tabela 7 e 8. Essas cores foram usadas como padrão comparativos para identificar as mudanças sofridas pelos grãos, assim armazenados, sobre refrigeração e congelamento, durante 40 e 50 dias. Nas duas condições de estocagem foram identificadas escurecimento gradual dos grãos, predominando os tons concreto para os 40 dias e os tons marrons para os 50 dias. Dentre os métodos de armazenamento, a refrigeração provocou modificações acentuadas. Diante dos resultados expostos, pode-se afirmar que, o congelamento preserva por um maior tempo, a cor dos grãos, por provocar uma paralização nas reações químicas e enzimáticas deles. As variações de cores observadas em todas as variedades estudadas podem ser explicadas através de Jonhson et al. (1974), quando afirma que, o controle da cor é difícil por ser esta determinada pela composição química dos grãos a qual depende dos fatores ambientais, genéticos, transporte e armazenamento. Dentre as quatro variedades cozidas e congeladas, o fígado de galinha conservou sua cor predominante (concreto), quando armazenado por um período de 40 e 50 dias. Nas feiras livres, o produto é comercializado erroneamente, não obedecendo aos padrões de higiene recomendados pela saúde pública. O feijão é manuseado pelos vendedores, consumidores, sem que haja nenhuma preocupação com o nível de contaminação por microorganismos. Há um engano por parte da população em geral, pois o produto submetido à ação Vajão 25,00 3,33 00,00 10,00 46,66 00,00 00,00 10,00 3,33 00,00 40,00 8,33 1,66 3,33 00,00 33,33 00,00 00,00 de altas temperaturas nem sempre elimina os microorganismos. Os gêneros de bactérias e fungos identificados nos grãos de feijão macassar verdes não representa importância para a saúde humana, pois são microoganismos comuns de qualquer substrato. Uma exceção, porém, deveria ser feita com relação a Aspergillus. Como não se fez identificação em nível de espécie, a espécie Aspergillus flavus, produz uma toxina denominada aflatoxina, que é letal, ou pelo menos provoca graves perturbações. Mesmo que os grãos sejam submetidos ao cozimento, como de fato os são, ainda há perigo. CONCLUSÕES Nas condições em que esse trabalho foi realizado conclui-se que: A variedade corujinha, dentre as quatro estudadas, recém debulhadas obteve o menor tempo de cocção. As variedades refrigeradas “in natura” obtiveram menor tempo de cocção e as congeladas maior tempo, quando armazenadas aos 30 e 35 dias em sacos plásticos herméticos. Dentre os grãos in natura, refrigerados e congelados por um período de 30 e 35 dias destacou-se a variedade vajão com menor tempo de cocção. O pré-cozimento reduziu o tempo de cocção dos grãos verdes. Grãos pré-cozidos da variedade fígado de galinha, armazenados durante 40 dias sob Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.157-169, 2000 Conservação de quatro variedades de feijão macassar verde a temperaturas de refrigeração e congelamento Lima et al. refrigeração e congelamento, obtiveram o menor tempo de cocção. O armazenamento sob refrigeração dos grãos verdes in natura, pré-cozidos e cozidos, só foi satisfatório por um período de 35 dias. Sacos plásticos herméticos, acondicionando grãos verdes (feijão verde), contribuíram para uma má qualidade do produto. O feijão recém-debulhado, manteiguinha, foi a melhor em todos os sentidos, segundo análise sensorial. As variedades vajão e corujinha in natura tenderam a perder o sabor paulatinamente, expressando esta característica a partir dos 35 dias de armazenamento sob congelamento. O armazenamento sob congelamento, dos grãos verdes pré-cozidos e cozidos apresentou resultados satisfatórios até um período de 50 dias. O congelamento e principalmente a refrigeração provocam mudanças nos grãos verdes in natura, pré-cozidos e cozidos. O armazenamento recomendado para grãos de feijão macassar verde é temperatura de congelamento com grãos cozidos. Todos os feijões pré-cozidos e cozidos, não suportaram os cinquenta dias de refrigeração, sendo descartados da análise sensorial por motivo de deterioração. Em si tratando da textura dos grãos cozidos congelados por 50 dias não mudou sua textura, permanecendo macia. Fígado de galinha e, principalmente, a vajão pré-cozidas aos 40 dias de armazenamento, quanto à análise sensorial, classificam-se no pior desempenho. Os tons claros (cores básicas) predominam em todos os feijões in natura sendo as cores secundárias mais escuras. A refrigeração e o congelamento provocam mudanças nas cores dos grãos armazenados, com menor intensidade para grãos congelados. O pré-cozimento e o cozimento dos feijões macassar verde, provocaram escurecimento tornando-os mais intensos com o armazenamento. Os fungos e bactérias encontrados em feijões verdes debulhados nas feiras livres não representam importância para saúde humana. 167 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Aguiar, P.A.. Armazenamento e conservação de grãos. I noções básicas de conservação II armazenamento em propriedades agrícolas. Petrolina. EMBRAPA – CAPTSA. 1982. 31p. (Circular técnico n.10.) Andersen, M.H. Práticas de congelamento. Técnica em congelamento. São Paulo: Nobel. Campo e Cidade. 1989. 62p. Athié, I.; Castro, M.F.P.M, Gomes, R.; Valentini, S.R. de T. Conservação de grãos. Fundação Cargil. São Paulo, Campinas. ITAL. 1998. 236p. Balbach, A. As hortaliças na medicina doméstica. 20a ed. Edições "A Edificação do Lar". Editora. M.V.P. São Paulo. (s/d). 406p. 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Este trabalho tem como objetivo avaliar a eficiência energética dos processos pós-colheita do café, em unidades experimentais com relação aos gastos médios estaduais, propondo melhorias para racionalizar os gastos de energia no aspecto pós-colheita de café. A secagem de café é uma das operações que demanda de muita energia (cerca de aproximadamente 80% do total gasto no pré-processamento), e com algumas medidas de economia é possível reduzir razoavelmente o consumo de energia com esta atividade, como também os gastos com beneficiamento. Considerandose um cafeicultor que tenha outra atividade agropecuária, além da cafeicultura em sua propriedade, é possível adequar-se racionalmente ao sistema tarifário horo-sazonal. Palavras-chave: café, pré-processamento, racionalização CONSERVATION POTENTIAL OF ENERGY IN THE COFFEE PRE-PROCESSING ABSTRACT The economic and social importance that the coffee occupies, from its introduction in South America and, particularly, in Brazil, is due to happens because this product stands out among the ones that lead the agricultural economy of this continent. Minas Gerais detain a coffee growing, which has reasonable technique, it has favorable climate to activities and it has great potential for its expansion, especially in the closed ones. Nowadays the state has more than 40% of the coffee park and of the national production, and it’s responsible for 60% of the volume of exports of Brazilian coffee. This work has the objective of evaluating the energy efficiency of the powder-crop processes of the coffee, in experimental units that’s related to the state medium expenses, and propose improvements to rationalize the expenses of energy in the aspect after the crop of coffee. The drying of coffee is one of the operations that demands much energy (approximately 80% of the total worn energy in the preprocessing), but with the use of some economy methods it is possible to reduce the expense of energy reasonably with this activity, as well as the process spending. If is a coffee grower that has other agricultural activity besides the coffee growing in its property it is possible to adapt rationally to the horo-sazonal tariff system. Keywords: preprocessing, coffee, rationalization Protocolo 21 2000 29 de 27/05/2000 1 Doutorando em Engenharia Agrícola, Universidade Federal de Viçosa, Dep. Eng. Agrícola, 36571-000, Viçosa, MG, [email protected]. 2 Professor Adjunto, Universidade Federal de Viçosa, Dep. Eng. Agrícola, 36571-000, Viçosa, MG, [email protected]. 172 Potencial de conservação de energia no pré-processamento do café INTRODUÇÃO A importância econômica e social que ocupa o café, desde sua introdução na América do Sul e, particularmente, no Brasil, deve-se ao fato de que este produto destaca-se dentre os que lideram a economia agrícola deste continente. A partir de sua introdução no Brasil, a cafeicultura passou a exigir dos órgãos governamentais uma política cada vez mais ampla, coerente e objetiva, visando sensíveis melhorias no processo de produção. Minas Gerais detém uma cafeicultura razoavelmente tecnificada, possui clima favorável à atividades e dispõe de grande potencial para sua expansão, especialmente nos cerrados. O Estado responde, hoje, por mais de 40% do parque cafeeiro e da produção nacional. E é responsável por 60% do volume de exportações de café do Brasil. A qualidade do café, por sua vez, está correlacionada, entre outros fatores, às praticas adotadas nas operações pós-colheita, onde o consumo de energia tem peso considerável. A instabilidade e as limitações das fontes energéticas, principalmente, a petrolífera, fizeram com que o uso, racional de energia assumisse caráter prioritário. Até 1973, o uso eficiente dos recursos energéticos, de modo geral, era relegado a plano secundário, em favor, sobretudo, do custo inicial da instalação e dos custos operacionais. Os custos energéticos tendem a representar percentuais cada vez maiores na composição de despesas das indústrias. O levantamento energético auxilia a compreensão do modo como a energia e os combustíveis são utilizados nas instalações e na identificação de áreas, setores ou departamentos onde ocorrem desperdícios ou em locais cuja eficiência pode ser aumentada. Grande parte das indústrias, em funcionamento, foi projetada numa época em que o racionamento energético não era fator de primordial importância. Atualmente, os elevados custos de energia requerem, a curto prazo, diversas medidas, que permitem a redução do consumo energético e melhoria dos rendimentos. Uma empresa deve conhecer suas necessidades de energia para cada operação unitária, procedendo a uma verificação periódica do uso de energia. A realização de balanços energéticos de cada uma das operações unitárias auxilia a identificação de etapas eficientes e ineficientes. A secagem é a etapa do processamento do café que consome a maior quantidade de energia. O Brasil é o maior produtor mundial de café, e com isso se deve prezar para que o processo de secagem seja o mais racional possível. No Brasil, o Andrade et al. café é colhido, quando a percentagem de frutos verdes é inferior a cerca de 10% (Silva & Berbert, 1999), ou seja, o café é colhido com maturação fisiológica heterogênea dos frutos. O teor de umidade dos frutos também se apresenta heterogêneo e a sua homogeneização somente é conseguida com secagem lenta ou parcelada. A secagem do café é uma das mais importantes operações no processamento. Se ela for mal conduzida, poderá acarretar grandes prejuízos ao cafeicultor. O custo da energia utilizada na secagem de café depende, principalmente, da temperatura de secagem, do fluxo de ar, do tempo de secagem e do preço dos energéticos. Como o café é um dos produtos agrícolas que requer grande tempo de secagem em virtude de seu elevado teor de umidade inicial, o consumo de energia, nesse processo, por unidade de produto seco é elevado. No Brasil, apesar de novas tecnologias de secagem terem sido desenvolvidas e de vários tipos de secadores se encontrarem à disposição dos agricultores, a secagem em terreiros é, ainda, muito utilizada. A pré-secagem em terreiro tem sido recomendada tecnicamente até que o café atinja cerca de 33 a 48 %b.u., (Vieira, 1994). Assim diminui-se o gasto de energia na secagem mecânica. Ressalva-se, no entanto, que, principalmente, os pequenos produtores rurais utilizam, em sua maioria, a secagem em terreiro. A secagem em terreiro demanda muito mais tempo do que a secagem mecânica, podendo acarretar um produto de qualidade inferior. Por outro lado, a maioria dos equipamentos de secagem disponível no país apresenta, em geral, baixa eficiência de secagem, e não foram projetados para o café. Geralmente, estes secadores são de custo muito elevado, tornando-se, incompatíveis com o poder aquisitivo do pequeno e do médio produtor rural (Tascon, 1984). O Acordo Internacional do Café - AIC, garantia ao Brasil uma cota de 30% do mercado mundial de café, independente de sua qualidade. A partir da extinção do acordo, em 1989, os países importadores passaram a optar por produto de melhor qualidade, o que em curto prazo não beneficiou o Brasil. Assim, o grande desafio da nossa cafeicultura na atualidade, consiste na oferta de produto de melhor qualidade que possibilite ao setor maior competitividade no mercado internacional e, consequentemente, a obtenção de preços compensadores. O aumento da produtividade e, sobretudo, a melhoria da qualidade, via adoção de novas tecnologias, deverá ser a tendência natural do setor como meio de melhorar suas relações de troca, Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.171-182, 2000 Potencial de conservação de energia no pré-processamento do café conquistar novos mercados e elevar a rentabilidade da cafeicultura. A qualidade do café está relacionada, entre outros fatores, às praticas adotadas nas operações de pós-colheita, onde o consumo de energia tem peso considerável. A seguir será feita uma abordagem sobre: lavagem, secagem, qualidade e beneficiamento do café. Lavagem do café Após a colheita por derriça no chão, no pano ou por processos mecânicos, o café deve ser conduzido, no mesmo dia, para secagem, passando antes pela limpeza, que geralmente é feita por meio de lavadores. O lavador é uma das estruturas mais importantes na fase de preparo do café, uma vez que proporciona a separação, não só das impurezas, como também dos frutos, nos seus diferentes estágios de maturação. Consta, basicamente, de um tanque de alvenaria ou chapa de aço galvanizado com bicas, comportas e artefatos mecânicos para retirada de impurezas. A separação dos frutos é feita pela densidade que caracteriza os diferentes estágios. A separação dos frutos é feita pela densidade, dependendo dos diferentes estágios de desenvolvimento, i. e., ou dos diferentes teores de umidade (verdes 60 a 70%, cereja 45 a 55%, passa 30 a 40% e coco 20 a 30%). Assim, a fração constituída pelos frutos verdes e cereja afunda na água, saindo por uma bica do lavador, recebendo simplesmente a denominação de “cereja”. A outra fração, constituída por frutos, passa e seco, que são mais leves e não afundam, recebe a denominação de “bóia”, e sai por outra bica. Por apresentarem tempos de secagem diferentes, estas duas frações deverão ser secadas, separadamente, para que se obtenha um produto final mais uniforme e de melhor qualidade. A lavagem deve ocorrer no mesmo dia da colheita do café. É importante nunca deixa-lo amontoado para ser lavado nos dias seguintes. Esses lavadores gastam em torno de três litros de água por litro de café. Em lavadores mecânicos, com recuperação de água, o consumo é bem menor, em torno de 0,3 litro de água por litro de café (Bartholo et al., 1989). A lavagem é uma operação importante, tanto para o preparo por via úmida, quanto por via seca, visando a: (i) separação por densidade e (ii) pré-limpeza. Na pré-limpeza do produto, separam-se as impurezas, aumentando, consequentemente, a vida útil dos secadores e máquinas de beneficiar por Andrade et al. 173 diminuir a abrasão, excluindo pedras, terras, folhas e paus, que vêm da lavoura com os frutos colhidos; Lavadores de alvenaria: em geral esses lavadores são constituídos por um tanque com capacidade para 1 a 2 m3 e uma calha de madeira ou metal, provida de fundo falso por onde cairá o café mais denso (cereja e verdoengo). Uma entrada de água medindo cerca de 10 cm faz com que o café mais pesado, que afundou no tanque, retorne à superfície, através de outra saída, separando-se, assim, do café bóia que passou pela bica sem afundar no tanque. Nos lavadores mecânicos, o sistema de lavagem é semelhante ao dos lavadores de alvenaria. Os lavadores mecânicos são construídos com chapa metálica e possuem bombas para reciclagem de água. O café é retirado do lavador por meios mecânicos (Silva, 1995). Secagem A secagem de produtos agrícolas é uma operação que tem por objetivo a retirada de água em um nível que propicie condições adequadas para o beneficiamento, armazenagem e comercialização. A adoção generalizada da secagem para conservação de produtos deve-se a fatores como o menor custo e a facilidade de execução. Estimativas indicam um consumo anual de energia em Minas Gerais, apenas na secagem do café, em torno de 94,52 GWh de eletricidade para força motriz e 2.700 TJ por ano de lenha para gerar calor, ou seja, aproximadamente 700.000 m3 de lenha (CEMIG, 1994). Existem dois tipos de secagem, a natural e a artificial. A natural consiste na exposição do produto a condições ambientes de radiação solar, vento e temperatura, sendo realizada na própria planta. Este tipo de secagem é muitas das vezes dificultado por períodos de baixas taxas de radiação além de pequena incidência de vento e de temperaturas baixas, em razão do índice de nebulosidade. Outro fator a ser considerado é a possibilidade de degeneração do produto, em virtude do ataque de microorganismos e insetos. Estes fatores também são influentes na secagem natural em terreiros. A secagem artificial, utilizando-se secadores mecânicos, caracteriza-se por permitir: antecipação da colheita, reduzindo perdas no campo; planejamento do calendário agrícola, o que possibilita usar o tempo mais racionalmente; execução independente das condições climáticas. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.171-182, 2000 174 Potencial de conservação de energia no pré-processamento do café O método de secagem a ser empregado depende de vários fatores, dentre eles o nível de instrução do produtor e do operador, do poder aquisitivo do produtor, do volume de produção, da velocidade de colheita e do sistema de recepção e do fim a que se destina o produto (Silva, 1991). A seguir são discutidos, brevemente, os principais tipos de sistemas de secagem de café: em terreiros, em camada fixa e em secadores tipo fluxo concorrente e fluxo contracorrente. Secagem de café em terreiro O método mais utilizado no Brasil ainda é a secagem de café em terreiros. Este método, além de estar sujeito a perdas, pela ação de agentes biológicos e condições meteorológicas adversas, requer um tempo de secagem maior que o requerido pela secagem mecânica, além de uma maior demanda por mão-de-obra. O tempo de secagem relativamente elevado é, talvez, um dos principais fatores que influenciam na qualidade do produto. Graner et al. (1967), citado por Lacerda Filho (1986), conceituam “terreiro” como sendo uma superfície plana, com declividade variável entre 0,5 e 1,5 %. O seu piso pode ser construído com terra, cimento, asfalto ou tijolo. O piso de tijolo é o mais utilizado comumente por ser relativamente barato. Andrade et al. produtores, em função, principalmente, do seu custo. Na secagem em camada fixa, ou camada estática de grãos, o produto permanece em um recipiente de fundo perfurado, por onde passa o ar de secagem, insuflado por um ventilador. O ar de secagem movimenta-se da camada inferior para a superfície da massa de grãos. A troca de umidade ocorre entre os grãos e o ar, que acontece em uma região denominada zona de secagem. Esta zona de secagem move-se no sentido da camada inferior, para a superfície da massa, conforme ocorre o prosseguimento da secagem. Os grãos da camada inferior atingem a umidade de equilíbrio com o ar, antes dos grãos da camada superior. Podem então ser estabelecidos dois gradientes distintos durante a secagem: o primeiro é o gradiente de umidade dos grãos, e o segundo é o gradiente de temperatura. Esses gradientes ocorrem entre as camadas inferior e superior da massa (Lacerda Filho, 1986). Recomenda-se um revolvimento periódico da massa de grãos. Para café, o revolvimento deve ser feito em intervalos de 180 minutos, aproximadamente, para uma espessura de camada de 40 a 50 cm. Tal procedimento reduz para níveis aceitáveis os gradientes de umidade e de temperatura existentes (Castro, 1991; Silva & Berbert, 1999), contribuindo para uma melhor uniformidade de secagem e um melhor produto final. Secagem de café em camada fixa Tendo em vista os problemas existentes durante a secagem dos grãos em terreiro, a secagem artificial, em secadores mecânicos, é hoje uma opção técnica econômica de fundamental importância para o produtor. De modo geral, os secadores de leito fixo são os mais acessíveis aos Figura 1. Secador camada fixa (Vieira, 1984). Figura 2. Secador de fluxo concorrente (Silva et al., 1992) Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.171-182, 2000 Potencial de conservação de energia no pré-processamento do café Secagem de café em fluxo concorrente Nos secadores de fluxos concorrentes, ar e produto fluem, no mesmo sentido, dentro do secador. Altas taxas de evaporação ocorrem na parte superior da camada, uma vez que o ar mais quente encontra o produto mais úmido. As trocas intensas e simultâneas de energia e massa na entrada do secador causam rápida redução na temperatura inicial do ar de secagem, assim como no teor de umidade do produto. Por esta razão, a temperatura do produto permanece, consideravelmente, abaixo da temperatura inicial do ar de secagem (Silva, 1995). Os secadores de fluxo concorrente são secadores que operam com alto fluxo de ar e baixa pressão estática, portanto, a potência do ventilador requerida é semelhante à dos secadores de fluxo cruzado. Além disso, a sua manutenção é mínima, devido à ausência de paredes perfuradas, características de secadores de fluxo cruzado, que exigem limpezas periódicas e reparos freqüentes (Osório, 1982). Secagem de café em fluxo contracorrente A secagem em fluxo contracorrente é caracterizada pelo fato dos grãos e ar de secagem movimentarem-se em sentidos contrários. Neste secador, à frente de secagem permanece sempre próxima ao fundo perfurado. À medida que ocorre a secagem, o produto seco é retirado por transportadores helicoidais que retiram o produto, conduzindo-o para a parte superior do secador ou, então, para um silo armazenador, passando a funcionar de forma contínua. Assim, a massa do produto tem sentido descendente, enquanto o ar é insuflado em sentido ascendente. A ativação do sistema de movimentação do produto é coordenada Andrade et al. 175 por um termômetro colocado a 0,5 metro do “plenum”. A escolha da temperatura de acionamento é função da umidade final desejada. Nos silos secadores de fluxos contracorrentes, à medida que a massa de produto vai descendo, sua temperatura é aumentada, atingindo valores muito próximos à temperatura do ar de secagem. Qualidade do café A secagem de café deve ser feita de maneira que a massa de grãos não seja submetida a altas temperaturas. Teixeira et al., (1977) trabalhando com diversos secadores concluiu que a temperatura na massa de grãos de café não deve ultrapassar a 45ºC. E para evitar danos ao produto, a temperatura do ar de secagem não deve ultrapassar 70oC (Silva, 1995). Temperaturas mais elevadas, por exemplo 85oC, são prejudiciais ao produto, uma vez que muitos grãos ficam super secos, enquanto outra parte não atinge o ponto de seca. Nessas condições, a uniformidade do produto torna-se muito difícil (Castro, 1991). É recomendável que a temperatura na massa de grãos não seja superior à recomendada, para que se possa ter um produto final de boa qualidade, sendo esta temperatura fator importante para definir a eficiência energética e a rapidez da secagem. Alguns trabalhos de pesquisa como Lacerda Filho (1986), Osório (1982), Silva (1991), Castro (1991) e Vieira (1994), concluíram que pode ser feita a utilização dos vários tipos de secadores, citados, para realizar a secagem de café, tendo como ressalva o controle do desempenho energético e operacional, para minimizar os gastos com energia e garantir a qualidade final do café. Figura 3. Secador de fluxo contracorrente (Silva et al., 1992). Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.171-182, 2000 Potencial de conservação de energia no pré-processamento do café 176 A qualidade do café brasileiro tem como fatores desfavoráveis à presença de grãos podres, verdes e, principalmente, ardidos. Estes têm origem na má condução da colheita e, ou, secagem. Um dos fatores que poderia contribuir para a melhoria da qualidade do café brasileiro seria o conhecimento, por parte dos cafeicultores, das normas de classificação. Assim passariam a dispensar maiores cuidados no processamento, o que, conseqüentemente, resultaria em maior valorização do produto. A secagem do café é um dos mais importantes pontos para se controlar a qualidade do café principalmente a temperatura utilizada na secagem. Beneficiamento O beneficiamento do café envolve diferentes etapas. A Figura 4 apresenta um fluxograma de possíveis etapas do beneficiamento do café realizadas após a secagem. Andrade et al. Máquina de pré-limpeza A máquina de pré-limpeza é um equipamento destinado a fazer a limpeza preliminar do café colhido, removendo impurezas leves, tais como folhas e talos, e corpos estranhos como terra, pedras, etc. São constituídos de peneiras vibratórias e de um aspirador. A prélimpeza é uma operação importante para se ter um produto de boa qualidade. Maquina de beneficiar e/ou descascar A máquina de beneficiar ou descascador além de limpar, descasca e pode ainda classificar o café em escolha boa e bica corrida. Constitui-se de uma peneira de pré-limpeza conjugada com um catador de pedras, um cilindro descascador e peneiras onde são separadas as cascas, cafés brocados, conchas, café miúdos e não descascados. Completam a máquina um aspirador, um soprador e elevadores de canecos. Lavagem e separação hidráulica Separadoras densimétricas As separadoras densimétricas, também chamadas de mesa de gravidade, promovem a separação dos grãos em camadas de pesos específicos diferentes por meio da flutuação dos mesmos em um colchão de ar criado por ventiladores, sobre um tabuleiro. O movimento de vibração do tabuleiro, combinado com as inclinações longitudinal e lateral reguláveis transforma as camadas em faixas ordenadas de diferentes pesos específicos, que são desviadas para cada bica coletora, de acordo com a conveniência técnica e comercial da seleção. Despolpador Pré-limpeza Secagem Máquina de descascar Separador densimétrico Catador eletrônico de café Catador eletrônico Figura 4. Etapas do benefeciamento do café. Despolpador Despolpadores são equipamentos que agem por pressão e possuem dispositivos para separar os frutos maduros dos verdes, uma vez que esta parcela faz parte do café cereja (separado no lavador). O despolpador consiste na retirada da casca do fruto maduro ou cereja, para posterior fermentação e retirada da mucilagem (degomagem) por lavagem. Os catadores eletrônicos de café são destinados a separar os grãos de café pela cor, dando uniformidade aos lotes. Esta operação é a última a ser executada, depois de eliminados os defeitos e classificado por peneira. Essa máquina se baseia no uso de células fotoelétricas e separa os grãos por jatos de ar comandados pelas células. Essa operação é rápida e a produtividade do equipamento é relativamente elevada. Sistema Tarifário Horo-Sazonal O sistema tarifário de energia elétrica em vigor prevê que a taxação seja em função da Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.171-182, 2000 Potencial de conservação de energia no pré-processamento do café demanda e do consumo de energia elétrica. Esta taxação é função também da hora do dia e da época do ano. O sistema de taxação é denominado de tarifa horo-sazonal. O horário de ponta para efeito da tarifa é definido como sendo três horas consecutivas no período de 17:00 às 22:00 h. Em geral as tarifas de ponta para consumo e demanda são mais que 230% mais caro do que para fora da ponta. O cálculo da Tarifa Horo-Sazonal (THS) é feito a partir da expressão: F Dfp Tdp Dffp Tdfp DUfp TdUp DUfp TdUfp Cp Tcp Cfp Tcfp (1) em que, Dfp = Tdp = Dffp = Tdfp = Cp = Tcp = Cfp = Tcfp = DUfp = TdUfp = DUp TdUp Demanda faturada na ponta, kW Taxa de demanda na ponta, R$ / kW Demanda faturada fora da ponta, kW Taxa de demanda fora da ponta, R$ / kW Consumo na ponta, kWh Taxa de consumo na ponta, R$ / kWh Consumo fora da ponta, kWh Taxa de consumo fora da ponta, R$ / kWh Demanda de ultrapassagem fora da ponta, kW Taxa de demanda de ultrapassagem fora da ponta, R$ / kWh = Demanda de ultrapassagem na ponta, kW = Taxa de demanda de ultrapassagem na ponta, R$ / kWh Em vista do exposto, este trabalho tem como objetivo principal avaliar a eficiência energética dos processos pós-colheita do café de unidades experimentais localizadas no Estado de Minas Gerais em relação à eficiência média observada no Estado. Os objetivos específicos são: (i) propor Andrade et al. 177 melhorias para racionalizar o uso de energia no pré-processamento de café; (ii) Estimar demandas de contrato de energia elétrica em sistema tarifário horo-sazonal, THS em propriedade rural produtora de café. MATERIAL E MÉTODOS Realizou-se neste trabalho a estimativa da quantidade média de energia elétrica gasta no préprocessamento do café em fazendas previamente selecionadas, localizadas no Estado de Minas Gerais, (CEMIG, 1994a). As etapas do préprocessamento do café consideradas, foram: (i) lavagem mecânica; (ii) despolpamento; (iii) secagem mecânica e (iv) beneficiamento. O consumo de energia foi estimado para cada uma das etapas em kWh/kg de café préprocessado e depois comparado com a quantidade média de energia gasta nestas mesmas etapas para o Estado de Minas Gerais, (CEMIG, 1994a e CEMIG, 1994b). As unidades experimentais estudadas foram escolhidas por meio de sorteio dentro de sua faixa de consumo de energia elétrica nas quatro maiores regiões produtoras de café do Estado de Minas Gerais (Sul de Minas, Triângulo/Alto Paranaíba, Mata/Rio Doce e Jequitinhonha). Para este estudo foram consideradas cinco faixas de consumo mensal (kWh/mês). A participação percentual de cada faixa de consumidores de energia elétrica, e o número de unidades produtoras de café amostradas no Estado de Minas Gerais são apresentados no Quadro 1. Quadro 1- Participação percentual de cada faixa de consumidores de energia elétrica, e o número de unidades produtoras de café amostradas no Estado de Minas Gerais. Faixa de consumo (kWh) 0 a 100 101 a 300 301 a 600 601 a 1000 Acima de 1001 Total Participação (%) 30,3 37,3 14,3 8,5 9,6 100,0 RESULTADOS E DISCUSSÃO Medidas de economia na lavagem Deve-se observar o rendimento do equipamento em plena carga com o rendimento Número de unidades produtoras amostradas 182 224 86 51 58 601 estabelecido pelo fabricante, para assim poder detectar falhas no equipamento ou no sistema. Apesar da lavagem mecânica consumir relativamente pouca quantidade de energia elétrica, média de 3,5 kWh para lavar 10.000 litros de café (CEMIG, 1994b), a eliminação das Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.171-182, 2000 178 Potencial de conservação de energia no pré-processamento do café impurezas e a separação dos grãos nos diferentes estádios de maturação concorre para a obtenção de resultados importantes em termos de qualidade do produto e minimização do consumo de energia, durante a secagem do café. Pode-se obter até 20% de economia, no processo de lavagem do café, se as seguintes medidas forem seguidas: manutenção do lavador com limpezas diárias, pintura e lubrificação no final de cada safra; diminuir o máximo possível impurezas do café a ser lavado; realizar a alimentação de maneira contínua, uniforme e com o máximo fluxo de café admitido pelo equipamento, aumentando o seu rendimento horário; reduzir ao mínimo necessário, o fluxo de água, principalmente, quando se faz o recalque com motobomba. Medidas de economia na secagem O processamento do café demanda um gasto de energia substancial. É importante ressaltar que a colheita e processamento do café só ocorrem uma vez no ano, ou seja, na época de safra, tornando esta demanda sazonal. A secagem de café é uma das operações que mais demanda energia (aproximadamente 80% do total gasto no préprocessamento). O consumo total de energia para diversos tipos de secadores de café depois de pré-secagem em terreiro, com teor de umidade inicial de aproximadamente 40% b.u. está exposto no Quadro 2 (Teixeira et al., 1977). O Quadro 2 apresenta, na primeira coluna, os dez tipos de secadores utilizados para secagem de café. Quando se trabalha com secador rotativo horizontal, ou seja, o secador 5, tem-se um maior consumo de energia. CEMIG (1993a), CEMIG (1993b), CEMIG (1993c) e CEMIG (1993d), trabalhando na análise energética em varias propriedades rurais de Minas Gerais concluíram que o gasto médio de energia para pré-secagem e secagem completa de café, em secador rotativo horizontal, foi de 65,8 a 97,7 kWh e 135,8 a 190,3 kWh para 10.000 litros, respectivamente. E, trabalhando com secador vertical, houve um consumo médio de energia de 81,9 kWh, correspondendo a uma variação de 39,1 a 125,3 kWh para 10.000 litros de café, respectivamente, para os secadores estudados. Pelo Quadro 2, podemos concluir que os secadores 2, 4 e 8 foram os que apresentaram menor consumo de energia para secagem, sendo que o secador 4 foi o que apresentou menor Andrade et al. consumo entre os três. Os secadores 2 e 4 foram os que apresentaram melhor rendimento, sendo que o rendimento do secador 2 foi cerca de 10% superior ao rendimento do secador 4. Os secadores 2, 4 e 9 são os que apresentaram menor consumo de lenha para secagem de um mesmo volume de café. Os secadores número 3 e 5 foram os que apresentaram pior rendimento em termos de consumo de lenha e os mesmos secadores 3 e 5 foram os que apresentaram maior consumo de energia total para a secagem de um mesmo volume de café. Os secadores 3 e 5 foram os que pior se comportaram para secagem de café, em termos de consumo de lenha, consumo total de energia e rendimento. Pode-se concluir pelo Quadro 2 que, independentemente do secador, deve-se ficar atento com o teor de umidade inicial, final e temperatura durante a secagem para que se possa ter um melhor controle da secagem e, consequentemente, uma boa qualidade do produto. É possível que se diminuam os gastos de energia com a secagem, considerando os seguintes pontos: fazer a pré-secagem em terreiro, quando os frutos saírem do lavador. Haja vista que, a secagem do produto em terreiro até o teor de umidade de armazenagem pode influenciar negativamente na qualidade final do produto. secar o café por lotes (não misturar dias de colheitas, nem diferentes tipos de café), assim, evita-se a mistura de café com diferentes estádios de maturação, garante-se economia de energia e mão-de-obra, além de uma maior homogeneidade do produto. paralisar a secagem, quando o produto atingir, aproximadamente, 13 a 14 % b.u. de teor de umidade e, assim, o calor latente residual da secagem possibilitará uma redução do teor de umidade para cerca de 11 a 12% b.u., que é o teor de umidade recomendado para o armazenamento e a comercialização. monitorar a temperatura da massa de grãos durante a secagem, evitando-se que a mesma não ultrapasse os limites recomendados, para a obtenção de produto final de melhor qualidade. utilizar sempre termômetros calibrados para aferir adequadamente a temperatura da massa de grãos e do ar aquecido. Medidas de economia no descascador de cerejas O processo de produção de cereja descascado reduz em até 40% o volume do produto pela remoção da casca e polpa, e concorre sobremaneira para a economia de energia, durante a secagem. Entretanto, esta etapa ainda é Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.171-182, 2000 Potencial de conservação de energia no pré-processamento do café relativamente pouco utilizada, não se acreditando no aumento de sua utilização, em curto prazo, em grande escala. O consumo médio de um equipamento despolpador de cereja está em 0,85 kWh por saca de 60 quilogramas beneficiada (CEMIG, 1994b). Portanto a utilização do descascador permite a redução do consumo de lenha de 1,2 a 4,8 m3 / 10.000 litros para 0,72 a 2,88 m3 / 10.000 litros, e de eletricidade de 62 a 279,92 kWh / 10.000 litros para 37,2 a 167,52 kWh / 10.000 litros, aproximadamente. Medidas de economia no beneficiamento A pré-limpeza consiste na retirada da casca do café em coco, já seco e a separação das cascas e sementes (café beneficiado). Estas máquinas podem limpar, descascar e podem ainda classificar o café em uma boa escolha. Esta operação apresenta algumas vantagens, quando realizada em nível de fazenda, tais como: Andrade et al. 179 possibilidade de aproveitamento da palha como adubo orgânico, cama de frango ou combustível, etc...; economia em transporte com a eliminação da palha; aumento da receita com a venda do produto beneficiado. O consumo médio de energia elétrica para esta atividade está em aproximadamente, 0,6 kWh por saca de 60 quilogramas de café beneficiado (CEMIG, 1994b). Para racionalizar a utilização de energia elétrica, deve-se sempre ficar atento para: (i) adequação de força motriz, i.e., se o motor utilizado é dimensionado de forma a maximizar o rendimento do processo e minimizar os gastos com energia elétrica (Campana et al., 2000); (ii) correção do fator de potência; (iii) esticar e alinhar correias. Quadro 2 - Quantidade total de energia gasta na secagem do café para os diversos secadores após présecagem em terreiro. Tempo médio Consumo de Capacidade Potência de secagem Total Umidade final Rendimento Consumo de Lenha Energia Elétrica 3 (l) (cv) (hs) (kWh) %b.u. (l/h) (m /10.000l) (kWh/10.000 l) 9.000 8,0 19,38 115,65 13,08 465 2,70 128,50 1 1T1 15.000 7,5 22,63 129,67 13,50 663 1,20 86,44 2 1T2* 6.800 7,5 27,08 151,53 12,96 251 3,70 222,84 3 1T3 16.000 5,0 26,63 99,33 13,36 601 1,90 62,08 4 1T4* 10.000 12,5 30,02 279,92 13,08 333 4,80 279,92 5 1T5 5.000 4,0 18,25 54,95 13,44 272 3,20 109,91 6 1T6 15.000 11,5 31,32 268,65 12,20 479 2,90 179,09 7 1T7 7.500 5,0 18,03 67,30 13,06 416 2,90 89,73 8 1T8 13.000 9,5 27,03 191,57 13,32 481 1,80 147,36 9 1T9 8.000 1,0 216,00 135,00 13,50 10 2T10* 1 (TEIXEIRA, 1977), 2 Secador de Leito Fixo, café despolpado, utilizando-se ar ambiente para secagem (FREIRE et al., 1998). * Secadores de fogo direto. Tipo de Secador Devem-se utilizar máquinas e processos mais eficientes, contribuindo para a melhoria do rendimento das operações, isto é, processando uma maior quantidade de café, num menor tempo com um menor gasto. A produção de café, para fins comerciais exige que se tenha uma produção suficiente para se pagar o custo de produção dele. Os processos de lavagem, despolpamento, secagem e beneficiamento do café consomem energia, a qual é gasta em apenas uma época do ano, ou seja na colheita em sua maior parte. Por isso é possível se fazer um sistema de tarifação para o préprocessamento de café. O consumo médio de energia elétrica por saca de 60 kg beneficiada, em cada etapa do préprocessamento de café é relacionado a seguir: (i) lavador mecânico 0,35 kWh; (ii) despolpador 0,85 kWh; (iii) secador vertical 2,4 kWh; (iv) secador horizontal 2,9 kWh; (v) beneficiamento 1,26 kWh. Do gasto total de energia elétrica no préprocessamento de café de cerca de 45 a 60%, são gastos com a etapa de secagem. No entanto do total de energia elétrica e térmica no préprocessamento de café 80% aproximadamente, é gasto com a etapa de secagem. O suprimento de energia elétrica nas propriedades cafeeiras, é normalmente feito em baixa tensão, com transformadores de até 75 kVA. A tarifa praticada é a convencional, na maioria dos casos e não existe um sistema de tarifação horosazonal. Tem-se que 60% dos equipamentos não funcionam no horário de ponta, que são três horas consecutivas no horário compreendido entre 17:00 e 22:00 horas. A demanda de potência elétrica no horário de ponta é de cerca de 40% da demanda Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.171-182, 2000 Potencial de conservação de energia no pré-processamento do café 180 Andrade et al. máxima, sendo que cerca de 26% devido à secagem e 14% aos outros processos. Pelo Quadro 3, pode-se observar que existe um grande potencial de economia de energia elétrica no pré-processamento de café, de cerca de 21.988 kWh/safra nas unidades estudadas. Com medidas de racionalização, pode-se conseguir substancial economia de energia. A etapa do préprocessamento que mais possibilita racionalização é a secagem, indicando que além de ser a fase que mais gasta energia, também é a fase que tem maior desperdício, mostrando que essa fase merece maior atenção. Pode-se ver, neste mesmo quadro, que, na lavagem existe uma grande possibilidade de racionalização, apresentando gastos elevados de energia e, também, perdas elevadas. Este é um processo que pode ser racionalizado, assim, reduzindo o gasto com energia na lavagem de café, e, consequentemente, no pré-processamento. O descascador permite possibilidades de redução de gasto mais este processo, em âmbito geral, não é muito utilizado, sendo alvo de economia apenas em propriedades grandes produtoras de café, ou seja, que possui o equipamento em funcionamento. Considerando a unidade produtora e beneficiadora de café do Quadro 4, podemos ver os principais horários de funcionamento dos equipamentos para beneficiamento do café. consumos de energia para o processamento de café. Vê-se, também, que a propriedade, além do café, produz também aves de corte (Figura 6), e esta atividade de produção de aves de corte é paralisada na época de processamento de café. Haja vista a sazonalidade da demanda e no consumo de energia elétrica, no processamento do café, tem-se que, se for possível a integração desta atividade com outra, como, por exemplo, a produção de aves, a curva de carga da propriedade irá aumentar o fator de carga, o que racionalizará a utilização de energia elétrica. Pode-se ver pelo gráfico que a maior demanda de potência para o café é no horário de 17 e 18 horas (156,6 kW), e que os horários de 19 às 22 horas também apresenta um consumo elevado (144,6 kW), mas nos horários restantes, a demanda é baixa (16,4 kW a 38,4), já para a avicultura, podemos ver que a maior demanda se concentra nos horários de 19 as 7:00 horas, em 168,2 kW, sendo possível se adequar esta propriedade a uma THS. Esta propriedade por ter sazonalidade verificada, no mês em que as duas atividades estiverem paradas (limpeza, troca de matrizes, etc.), ela será taxada em 10% do valor de seu maior consumo nos últimos 11 meses, ou seja do valor cobrado na colheita do café. Segundo Turco (1999), o consumo médio, por hora, de energia elétrica ativa para galpões é de 7,24 KWh, sendo necessários 6,91 10-4 KWh, por hora para a produção de um frango de corte. Fazendo-se um remanejamento de cargas Proposta de uma tarifa horo-sazonal para o pode-se ajustar esta propriedade para uma THSpré-processamento de café Verde, com equipamentos desligados por três Pelo Quadro 4 e pela Figura 5 pode-se ver horas consecutivas das 17 as 22:00 horas, e com os potência do transformador acima de 75kVA. Quadro 3 - Potencial de otimização energética no processamento de café em Minas Gerais. Etapa Lavador Descascador Secador horizontal Secador vertical Medidas Melhoria do rendimento Redução do consumo d’água Melhoria do rendimento Controle de umidade Controle de temperatura Enchimento, vão 20 cm Controle de umidade Controle de temperatura Carregamento total Beneficiadora Sem sugestão de economia Instalação Elétrica Total Reduzir queda de tensão _ Economia estimada de energia elétrica % kWh/safra* 15,0 326 6,0 111 25,0 382 17,0 5.718 10,0 2.792 7,0 1.759 9,0 3.080 10,0 3.114 12,0 3.364 2,0 25,9 1.342 21.988 Consumo específico (kW / 10.000 l) Atual Racionalizado 3,5 2,8 22,4 16,8 92,6 64,3 81,9 59,0 0,6 kWh/ sc.60kg - - * O potencial de economia se refere a um processamento anual de 10.000 litros de café ** CEMIG (1994b) Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.171-182, 2000 Potencial de conservação de energia no pré-processamento do café 181 Andrade et al. Quadro 4 - Utilização horária de cargas elétricas em unidade produtora de café e aves. Equipamentos P(kW) Cafeicultura1 0-5 Lav. 6,0 Mecânico 6 7 8 9 Horário de Funcionamento 10 11 12 13 14 15 16 17 6,0 Despolpador 112,2 112,2 horário de ponta 18 19 20 21 22 6,0 6,0 6,0 6,0 6,0 23 24 112,2 112,2 112,2 112,2 112,2 Sec. Horiz. 10,0 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 Sec. Vertical 6,4 6,4 6,4 6,4 6,4 6,4 6,4 6,4 6,4 6,4 6,4 6,4 6,4 6,4 6,4 6,4 6,4 6,4 6,4 6,4 6,4 12 12 12 12 12 12 12 12 12 12 12 0,7 0,9 1,5 1,7 2,0 1,7 1.9 1,9 2.5 4,5 6,0 7,0 5,5 2,5 2,0 0,9 0,3 Beneficiadora 12,0 Casa de colono 10,0 0,3 0,5 0,5 Avicultura2 Iluminação 168,2 168,2 168,2 168,2 Força motriz 36,0 TOTAL1 28, 130, 156,6 16,7 16,9 16,9 29,1 29,3 29,9 30,1 30,4 30,1 28,4 30,3 145,1146,6 135,6 134,1131,1 17,3 16,7 4 6 36, 36, 168, 168, 204,2 168,2 168,2 168,2 36,0 36,0 36,0 36,0 36,0 36,0 36,0 36,0 36,0 168,2 168,2 168,2 168,2 0 0 2 2 36,0 36,0 36,0 36,0 36,0 36,0 36,0 36,0 É interessante para este proprietário se enquadrar no sistema de THS, e, assim, diminuir sua despesa com energia elétrica, pois seu consumo de energia não varia durante o ano, e este proprietário poderá, além do mais, ter outras atividades econômicas tal como a produção de aves para melhorar o seu fator de carga ou modulação. É importante notar, na figura, que, com os consumos atribuídos à propriedade rural, seu enquadramento a um THS é viável, assim se enquadrando em uma THS-Verde. . 180 36,0 36,0 36,0 poderá resultar em economia com os gastos com demanda de energia elétrica, bem como com a otimização do uso dos equipamentos elétricos 160 140 120 Potência (kW) TOTAL2 168,2 168,2 168,2 168,2 168,2 168,2 100 80 60 40 20 0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 Horários (hs) Figura 6- Consumo de energia nos diversos horários de uma unidade produtora de aves. 160 CONCLUSÕES Potê ncia (kW) 140 120 100 80 60 40 20 0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 Horários (hs) Figura 5- Consumo de energia nos diversos horários de uma unidade produtora de café. O fator de carga razão entre a demanda média e a máxima para a unidade processadora de café e para a granja avícola é de cerca de 0,35 e 0,64 respectivamente. Contudo, quando se integram as duas atividades rurais, o fator de carga passa a ser de 0,53. Na realidade, a melhoria do fator de carga poderá ocorrer na ponta e fora de ponta.Portanto, a integração destas duas atividades Com base no exposto pode-se concluir que: - A secagem é o processo que mais demanda energia no pré-processamento, e também é o que possui um maior potencial de economia de energia, assim possibilitando maior racionalização. A lavagem é um processo que possibilita substancial economia de energia. Deve-se acompanhar o funcionamento e o gasto dos equipamentos de pré-processamento, visando, sempre, detectar pontos onde exista um gasto excessivo de energia, para a sua racionalização. É possível se adequar uma tarifa horosazonal para uma propriedade produtora de café, principalmente, se esta propriedade tiver outra atividade econômica em consórcio com a produção de café. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.171-182, 2000 182 Potencial de conservação de energia no pré-processamento do café AGRADECIMENTOS Os autores deste trabalho são agradecidos a CEMIG (Companhia Energética do Estado de Minas Gerais), EMATER-MG (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais) e EPAMIG (Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais) pelas informações prestadas e subsídios, sem os quais se tornaria inviável a realização deste trabalho de pesquisa. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Bartholo, G.T.; Magalhães Filho, A.A.R.; Guimarães, P.T.G. Cuidados na colheita no preparo e no armazenamento do café, Informe Agropecuário, Belo Horizonte, a.14, n.162, p.3334,1989. Campana, S.; Oliveira Filho, D.; Soares, A.A.; Oliveira, R.A. Adequação de força motriz em sistemas de irrigação por aspersão convencional e pivô central, In: ENCONTRO DE ENERGIA NO MEIO RURAL, 3, 2000, Campinas: Anais... 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Diagnóstico agroenergético em operações pós-colheita, fazenda Três Barras Guaxupé, Belo Horizonte, 1993c. 14p. CEMIG, Companhia Energética de Minas Gerais. Diagnóstico agroenergético, relatório, Andrade et al. Sítio Paineiras, Machado, Belo Horizonte, 1993d. 26p. Freire, A.T. Projeto e avaliação de um sistema para secagem combinada de café (Coffea arabica L.) despolpado. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 1998. 76p. (Dissertação de Mestrado). Lacerda Filho, A.F. Avaliação de diferentes sistemas de secagem e suas influência na qualidade do café (Coffea arábica L.). Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 1986. 136p. (Dissertação de Mestrado). Osório, A.G.S. Projeto e construção de um secador intermitente de fluxo concorrente e sua avaliação na secagem de café. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 1982. 57p. (Dissertação de Mestrado). Silva, J.S. Pré-processamento de produtos agrícolas, Instituto Maria, Juiz de Fora, 1995. 509p. 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Nesse processo o ar ambiente passa pelo evaporador, condensando parte do vapor de água existente no ar, e em seguida esse ar se movimenta por parte de condensador do sistema, quando então é aquecido. Por meio do controle da vazão mássica do fluído refrigerante e do fluxo do ar de secagem, foi possível obter temperaturas e umidade relativa de 28 oC e UR 40%; 32 oC e UR 35%; 36°C e UR 30%. O fluxo do ar de secagem utilizado neste trabalho foi de 95 m3.min-1.m-2. Diante dos resultados obtidos e para as condições do ar de secagem, produzidas pela bomba de calor, podese concluir que é possível secar 50 quilos de sementes de feijão de um teor de umidade inicial médio de 35%b.s. para 13,5% b.s., em um período de tempo médio de 45, 21 e 18 horas, respectivamente, não havendo diminuição significativa da germinação das sementes que foi de 92%. Palavras-chave: bomba de calor, secagem, sementes VARIETY "CARIOQUINHA" BEANS SEEDS DRYING (Phaseolus vulgares L.) BY THE OF A HEAT PUMP ABSTRACT A heat pump has been built for air production that’s close to room temperature and low relative humidity in order to have dried thermo-sensible products like beans seeds. The process uses a refrigerating system by steam pressure. It’s used R22 as refrigerating gas, where room air condenses part of its water steam in the air, this air passes through the refrigerating system's "steamer", and then this air is heated by passing along part of the condensator. Through the control of drain mass of the refrigerating fluid and the air flow, it has been possible to get temperatures and relative humidity of 28o C and RH 40%; 32o C and RH 35%; 36°C and RH 30%. For these obtained air conditions, there was used a beans seed drying at a rate of 95 m3. min.-1.m-2. Due to the obtained result we could get the conclusion that for produced air conditions by the heat pump, it is possible to dry 50 kg. of beans seeds at an average initial moisture content of 35% d.b. for 13.5% of moisture content, d.b. in an average time period of 45, 21, and 18 hours, respectively, without significant changes in seeds germination that has been 92%. Keywords: heat pump, drying, seed Protocolo 21 2000 31 de 18/06/2000 1 Agricultural Engineering Department, Federal University of Paraíba. P.O.Box 10.087, CEP 58.109-970 Campina Grande, PB – Brazil E- mail: [email protected] 22 Mechanical Engineering, Postgraduate Student of Agricultural Engineering. POB 10.087 CEP 58.109-970 Campina Grande, PB-Brazil E-mail: [email protected] 33 Agricultural Engineering Department, Federal University of Paraíba. P.O.Box 10.087, CEP 58.109-970 Campina Grande, PB – Brazil E-mail: [email protected] 184 Secagem de sementes de feijão variedade carioquinha usando bomba de calor INTRODUÇÃO As sementes representam um mecanismo de sobrevivência e perpetuação das espécies, sendo consideradas produtos nobres de alto valor agregado e portadoras de determinadas características genéticas que fazem com que cerca de 1/3 a 3/4 da população dos países, em nível mundial, se alimentem de grãos de cereais e leguminosas. Depois da produção as sementes de feijão necessitam ser secas para preservar sua qualidade durante a sua armazenagem. Nesta etapa o teor de umidade é reduzido de aproximadamente 35% para 12% base úmida, sendo os processos mais utilizados: a) secagem natural e b) secagem em secadores de camada estacionária. A secagem natural tem sido utilizada só, quando as condições do ar ambiente permitem a secagem dos produtos. Como no Nordeste Brasileiro, o período de colheita do feijão é um período chuvoso, a secagem artificial é a mais empregada, utilizando-se secadores de camada estacionária Algumas unidades beneficiadoras de sementes usam sistemas alimentados por resistências elétricas para aquecer o ar de secagem. Do ponto de vista técnico, as resistências são eficientes, confiáveis e de fácil manuseio. No que diz respeito aos custos, em virtude dos programas de subsídios à eletrificação rural, tanto o investimento inicial como as manutenções são baixas. No entanto, com a privatização do setor energético, é provável que estes custos não se mantenham nos mesmos patamares. Além do mais, o uso indiscriminado dos secadores de resistência pode causar sobrecarga nas linhas de alimentação e distribuição de energia. O uso de bomba de calor no condicionamento de ar para secadores apresenta todas as vantagens dos sistemas de secagem a baixas temperaturas e manifesta as mesmas características desejáveis das fontes de calor resistivas. Do ponto de vista termodinâmico, é consideravelmente mais eficiente. O consumo de eletricidade é 52% menor que as cargas resistivas e viabiliza a obtenção de um produto de qualidade mais homogênea (Hogan et al., 1983). Estudos feitos por Sathler (1979) e Cavalcanti Mata (1997) mostraram que as sementes de feijão, quando secas a temperaturas acima de 35°C diminuem seu poder germinativo em torno de 30%, caracterizando-se como um produto Cavalcanti Mata et al. termosensível. Desta forma, para que a semente de feijão não seja afetada e esse produto possa ser seco, seria necessário fornecer às sementes um ar que tenha uma temperatura em torno de 30 °C e baixas umidades relativas (inferiores a 50%). Assim sendo, nos processos de secagem com temperaturas do ar de secagem próximas à temperatura ambiente, pensou-se em utilizar um ciclo de refrigeração aberto simples, onde o ar ambiente úmido passasse primeiramente pelo evaporador, fazendo com que o ar resfriado atingisse uma temperatura abaixo do ponto de orvalho, condensando-o, e, em seguida, passasse por um condensador que aquecesse este ar até a temperatura em torno de 30°C. Desta forma, os objetivos deste trabalho foram: a) construir uma bomba de calor para secagem de produtos termosensíveis (sementes de feijão); b) secar sementes de feijão nas diversas condições de secagem geradas pela bomba de calor; c) correlacionar os dados experimentais com os simulados pelo modelo de Thompson, utilizando o software aplicado à secagem de grãos – SASG 5.0 – desenvolvido para o feijão carioca por Cavalcanti Mata et al. (1995). MATERIAIS E MÉTODOS Este trabalho foi realizado no Laboratório de Processamento e Armazenamento de Produtos Agrícolas do Departamento de Engenharia Agrícola da Universidade Federal da Paraíba. Para realização deste trabalho, foram obtidas sementes de feijão junto a Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba – EMEPA, proveniente do seu campo de produção de sementes no município de Lagoa Seca – PB, safra 1999. Bomba de calor bomba de calor para secagem de sementes, Figura 1, foi construída a partir de um condicionador de ar doméstico, com capacidade de 18.000 BTU/h, tendo como fluido de trabalho o R-22. Duas modificações foram feitas no equipamento: A primeira consistiu na adição de um trocador de calor, “condensador”, de dimensões menores (520mm x 180mm), interligado em série com o circuito Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.183-190, 2000 Secagem de sementes de feijão variedade carioquinha usando bomba de calor frigorífico já existente, sendo que este ficou localizado na parte frontal superior do equipamento, fazendo com que o ar ambiente atravesse as superfícies do evaporador e do condensador e troque as energias neles contidas; a segunda modificação foi a substituição da hélice original, cujo diâmetro era de 380mm, por outra de diâmetro inferior, 340mm. Os demais componentes foram mantidos. As modificações efetuadas no condicionador de ar têm por objetivo o aproveitamento Axial Fan Cavalcanti Mata et al. 185 simultâneo dos fluxos energéticos gerados no condensador e no evaporador. O sistema proposto consiste em fazer com que o ar ambiente troque calor com o evaporador, resfriando este ar abaixo do seu ponto de orvalho. O ar saturado que sai do evaporador passa em seguida por parte da energia dissipada pelo condensador (condensador 2), fazendo com que saia, deste engenho, um ar a baixa temperatura (próximo a temperatura ambiente) e com baixa umidade relativa. Evaporator Condenser 2 Condenser 1 air Drying Compressor Centrifugal Fan valve Expansion valve Figura 1. Esquema de produção de ar para secagem de sementes, com baixa temperatura e baixa umidade relativa, utilizando uma bomba de calor. A secagem das sementes de feijão foi realizada com as condições do ar de saída da bomba de calor, em um secador com capacidade de 50 kg de sementes, a uma altura da camada de 50 cm e fluxo do ar de secagem de 95m3.min-1.m-2. entrada do evaporador (5), conforme indicado na Figura 2. A formulas utilizadas para determinação do coeficiente de performance e do fator de performanace foram: COP Coeficiente e fator de performance da bomba de calor h2 h4 h2 h1 (1) em que O coeficiente de performance da bomba de calor foi avaliado para as condições médias do ar durante a secagem. Foi determinado também o fator de performance. Para essas determinações, foram conectados termopares, na linha do refrigerante nas posições: entrada do compressor (1), na saída do compressor (2), na entrada do condensador 1 (3), na saída do condensador 2 (4) e na COP h1 h2 h4 Coeficiente de performance, adimensional entalpia na entrada do compressor, kJ/kg entalpia na saída do compressor, kJ/kg entalpia na saída do condensador 2, kJ/kg Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.183190, 2000 186 Secagem de sementes de feijão variedade carioquinha usando bomba de calor PF h1 h5 h2 h1 (2) Os dados experimentais obtidos da secagem de sementes de feijão foram comparados com os simulados por meio do Programa computacional denominado SASG 5.0 (Software Aplicado à Secagem de Grãos), desenvolvido por Cavalcanti Mata et al. (1995). em que PF h5 Cavalcanti Mata et al. fator de performance entalpia na entrada do evaporador, kJ/kg Seed drying Condenser 2 Pressure ( MPa ) Condenser 1 2 3 4 W 5 1 Evaporator Ambiental air Enthalpy ( kJ.kg-1.°K-1 ) Figura 2. Esquema de um diagrama Pressão – Entalpia para determinação do coeficiente de performance (COP) do sistema. chuvas, conforme mostra a Tabela 2. Como o equipamento adota condensação a ar, consequentemente, ocorreram pequenas variações nos dados coletados. Assim sendo, tomou-se como parâmetro a média de cada mês, tanto para as temperaturas como para a umidade relativa do ar. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os testes de avaliação do equipamento foram feitos durante os meses de julho, agosto e setembro de 1999. Vale ressaltar que, nessa época do ano, a temperatura e a umidade relativa do ar sofrem oscilações bruscas, na cidade de Campina Grande, ocasionadas pelas Tabela 2. Dados meteorológicos de Campina Grande Mês Precip. (mm) julho 95,8 agosto 36,5 setembro 16,7 T. ar b. s. (ºC) máxm mínm média 24,6 19,4 21,6 24,5 19,9 21,5 26,3 20,4 22,6 Umid. Rel. (%) T. amb. b. s. (ºC) máxm mínm média máxm mínm média 96 58 76 26,2 18,6 22,4 94 55 73 26,7 18,1 22,4 93 53 77 28,2 19,3 23,7 Fonte – Estação Meteorológica da EMBRAPA - CNPA Na operação de secagem das sementes, o ar de circulação é submetido à uma pressão estática proporcionada pela camada do produto. O ventilador centrífugo usado no condicionador de ar não teve capacidade para vencer pressões dessa magnitude, (1,13mm c.a.m-1 de coluna de grãos) sem alterar o ciclo de refrigeração, pois ocorreu uma diminuição do fluxo de ar de circulação que incide sobre o evaporador, acarretando uma redução no efeito refrigerante do sistema, causando assim, modificações no ciclo termodinâmico do equipamento. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.183-190, 2000 Secagem de sementes de feijão variedade carioquinha usando bomba de calor Cavalcanti Mata et al. 187 Visando solucionar este problema, aumentou-se o fluxo de ar que passa pelo evaporador e pelo condensador 2, utilizando-se um ventilador centrífugo auxiliar de média pressão, marca JOMAR, modelo R8, de 7000rpm e 0,25 CV. Esse ventilador auxiliar utilizado permite vencer pressões estáticas mais altas do que as necessárias, portanto, para evitar um aumento demasiado da vazão e da temperatura do ar de secagem, a rotação da ventoinha foi controlada por meio de um potenciômetro. Desta forma, trabalhou-se com uma rotação apenas o suficiente para evitar o congelamento do ciclo. Nestas condições, a vazão do ar de secagem foi de 1,94 m3.s-1. Esta observação implica dizer que os dois ventiladores (axial e o centrífugo) que trabalham no mesmo eixo de rotação devem sofrer uma alteração que possibilite a colocação de ventiladores com características de potência, vazão e rotação diferentes. Na Tabela 3, encontram-se os valores do rendimento da bomba de calor obtido durante a secagem de sementes de feijão. Os valores encontrados na Tabela 3 estão compatíveis com a capacidade do equipamento e próximos aos encontrados por Takeuchi et al. (1991) que projetaram um sistema para secagem de produtos agrícolas com capacidade de 15000 a 23000 BTU/h, obtendo um fator de performance da ordem de 4 a 5. Na literatura, poucos são os trabalhos envolvendo a secagem de produtos agrícolas, utilizando condicionador de ar como bomba de calor. Segundo Gomes (1995), geralmente, os trabalhos, envolvendo o uso de condicionador de ar como bomba de calor destina-se ao aquecimento do ar ambiente ou da água, obtendo-se um coeficiente de performance médio em torno de 2,9. Tabela 3. Rendimento da bomba de calor durante a secagem das sementes de feijão Bomba de Calor Variáveis F.P. COP COPteórico 6,3 5,3 7,95 Secagem das sementes de feijão e sua simulação RM Inicialmente, utilizou-se um programa de computação que simulasse a secagem de sementes de feijão, desenvolvido por Cavalcanti Mata (1997), usando o modelo de Thompson (1976), com validade para temperaturas entre 40 e 80ºC. No entanto, os dados experimentais e simulados não foram satisfatórios, o que é compreensível, pois estava na faixa de extrapolação de sua validade. Diante desse fato, procurou-se determinar, para o modelo de Thompson, uma nova equação de camada fina para a faixa de temperatura entre 21 e 41ºC, sendo que os valores das constantes obtidas para a equação de Thompson [ t = A.ln(RM) + B(ln(RM))2 ] foram: A = -91,7178 x Exp.(-0,147T); B = 9,947 x Exp. (-0,07704T) (3) em que A B coeficiente que depende do material coeficiente que depende do material Nc 0,67 M Me Mi Me (4) RM = Razão de umidade, adimensional M = Teor de umidade, decimal, base seca t = Tempo, h Na Tabela 4, encontram-se as três diferentes condições de secagem experimentais e simuladas, das sementes de feijão, realizadas utilizando-se a bomba de calor de 18.000 BTU/h. As sementes de feijão tiveram o seu teor de umidade reduzido, de 25 para 12% base seca, num período de tempo de 45, 21 e 18 horas para as condições do ar de secagem de 28o C e UR de 40%; 32o C e UR de 35%; 36°C e UR 30%, respectivamente. As curvas de secagem das sementes de feijão, mostradas na Figura 3, são para as condições de secagem de 32°C e 35% de umidade relativa do ar e compreendem uma média de duas repetições. Nessa Figura, encontram-se também as curvas de secagem das sementes de feijão calculadas pelo programa de simulação SASG 5.0. Mesmo assim, como pode ser observado na Figura 20, o tempo de secagem no processo de simulação foi de 25 horas, Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.183190, 2000 188 Secagem de sementes de feijão variedade carioquinha usando bomba de calor enquanto que, na secagem experimental, foi de 21 horas, verificando-se uma diferença no tempo de secagem de 19%, o que é aceitável, tendo em vista que, segundo Martins (1982), os erros entre os valores experimentais e os simulados podem estar em torno dos 20%. Contudo, constata-se, ainda na Figura 3, que os valores simulados podem estar próximos em Cavalcanti Mata et al. termos de média, mas não em termos de cada camada individualmente, o que sugere que o modelo de simulação para feijão necessita ainda de alguns ajustes e de investigações mais apuradas. Tabela 4. Condições da simulação de secagem obtidas a partir dos dados experimentais. Temperatura ambiente (°C) Umidade relativa ambiente (%) Temperatura do ar secagem (°C) Umidade relativa do ar de secagem (%) Teor de umidade inicial das sementes, % base seca Teor de umidade final das sementes, % base seca Fluxo de ar ( m3.min-1.m-2 ) Altura da camada (m) 22 77 28 40 25 12 8 0,5 21,6 76 32 35 25 12 8 0,5 21,3 73 36 30 25 12 8 0,5 Tempo de secagem experimental (h) Tempo de secagem simulada (h) 45 49 21 25 18 21 20 24 18 22 20 16 18 16 14 14 Teor de umidade b.u.(%) Teor de umidade b.s.(%) 26 12 12 0 2 4 6 8 10 12 Tempo (h) 1ª 2ª 1ª 2ª 1ª 2ª 3ª camada, camada, camada, camada, camada, camada, camada, 1ª secagem, (0,12m) 1ª secagem, (0,24m) 2ª secagem, (0,12m) 2ª secagem, (0,24m) valores simulados valores simulados valores simulados Figura 3. Dados experimentais e simulados da secagem em camada delgada de sementes de feijão, à temperatura de 32ºC (±0,5ºC) e 25% de umidade inicial em base seca. Eficiência da secagem Na Tabela 5, verifica-se que o equipamento consome, em média, 2,35kW.h e que, no período de 21 horas, foram retirados 6,35 kg de água, sendo a eficiência desses equipamento, durante o processo de secagem Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.183-190, 2000 Secagem de sementes de feijão variedade carioquinha usando bomba de calor das sementes de 7,6 kW.h por quilograma de água evaporada. Hogan (1983) utilizando um sistema com capacidade de aquecimento de 24 kW, na secagem de 100 toneladas milho, obteve um consumo de 0,557kW.h por quilograma de água evaporada. Contudo, vale ressaltar que o sistema utilizado por Hogan, por destinar-se à secagem de grãos, trabalhou com temperaturas de secagem mais altas, enquanto que o objetivo Cavalcanti Mata et al. 189 desse experimento foi o de secar sementes de feijão a temperaturas mais baixas, por tratar-se de um produto termosensível. Assim sendo, o valor obtido neste trabalho pode ser considerado satisfatório, uma vez que no ciclo termodinâmico do sistema de refrigeração muita energia ainda permanece disponível para outra finalidade, sugerindo-se o seu uso na présecagem das sementes, ainda na vagem, até o ponto de debulha. Tabela 5. Eficiência de secagem da bomba de calor durante a secagem das vagens, secagem das sementes e secagem simultânea das vagens e das sementes de feijão Secagem Consumo (kW.h) Tempo (h) Qevap (kg) E. S. (kW.h/kg) sementes 2,35 21,0 4,54 7,6 Testes de vigor e de germinação das sementes de feijão Os testes de vigor e de germinação, observados na Tabela 6, realizados durante este trabalho mostram que, para as condições de secagem utilizadas, o processo de secagem não afetou a qualidade fisiológica das sementes, logo após os experimentos, confirmando que, quando as sementes são secas a uma baixa temperatura (31 ±1)ºC, a sua qualidade é preservada. Isto também foi observado por Sathler (1979), que secou sementes de feijão sob temperaturas de 30, 35, 40, 45 e 50ºC, e chegou à conclusão de que sementes secas a temperaturas abaixo de 35ºC não são afetadas na sua qualidade fisiológica. Tabela 6. Valores médios dos percentuais de germinação e de vigor, obtidos para sementes de feijão. Condição Antes da secagem Após secagem Teor de umidade b.s. 25 12 Vigor (%) 92 92 sementes, foi de respectivamente. CONCLUSÕES Germinação(%) 98 98 A utilização da bomba de calor no aquecimento do ar ambiente para secagem de vagens de feijão mostrouse viável, na medida em que se produziu ar com baixa umidade absoluta e temperatura próxima de 50°C. O coeficiente de performance da bomba de calor, trabalhando com carga e sem ela, no secador de 4,6 e 4,9, Caso o sistema tenha que ser projetado para realizar secagens com uma camada de sementes igual ou superior a 0,5m, é necessário substituir o ventilador centrífugo original do condiciona-dor, por um ventilador centrífugo de média pressão, de modo que se tenha uma vazão mínima de 1,94m3/s. O sistema projetado tem uma eficiência de secagem de 4,65 kW.h Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.183190, 2000 Secagem de sementes de feijão variedade carioquinha usando bomba de calor 190 por quilograma de água evaporada na secagem das sementes de feijão, com teor de umidade inicial de 25% b.s. até 12% b.s. A germinação (98%) e o vigor (92%) das sementes de feijão não foram afetados pelas condições de secagem utilizadas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Almeida, M.M. Armazenagem refrigerada de umbu (Spondias tuberosa Arruda Câmara): alterações das características físicas e químicas de diferentes estádios de maturação. Campina Grande, PB. Univer-sidade Federal da Paraíba, 1999. 89p. (Tese de Mestrado ). Brooker, D.B., Bakker-Arkema, F.W., Hall, C.W. Drying and storage of grains and oilseeds. New York, The AVI Van Nostrand Reinhold, 1992. 450p. Cavalcanti Mata et al. Cavalcanti Mata, M.E.R.M. Efeito da secagem em altas temperaturas por curtos períodos de tempo em camada estacionaria, sobre a armazenagem de sementes de feijão ( Phaseolus vulgaris L.) variedade ”carioca”. Campinas. Universidade Estadual de Campi-nas. 1997. 229p. (Tese de Doutorado). Crank, J. The mathematics of diffusion. Pergamon Press, Oxford, 1975. Daudin , J.D. Calcul des cinétiques de séchage par láir chaud des produits biologiques solides. Sciences des Aliments, v.3, n.1, p.1–36, 1983. Fortes, M.; Okos, M. Drying theories: their bases and limitations as applied to foods and grains. Advances in Drying, ed., Arum S. Mujundar, Hemisphere Publishing Corporation. Washin-gton. v.1, pp.119154, 1980. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.183-190, 2000 Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.191-196, 2000 ISSN: 1517-8595 191 ARTIGO TÉCNICO CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS DE FRUTOS DE UMBU-CAJÁ Spondias sp. PROVENIENTES DOS PÓLOS BAIXO-JAGUARIBE (CE) E ASSU-MOSSORÓ (RN)1 Milene Arcângela Souza de Noronha2, Eudes de Almeida Cardoso3, Nildo da Silva Dias2 RESUMO Frutos de umbu-cajá (Spondias sp.), foram colhidos de 9 árvores, sendo seis localizadas no pólo Baixo-Jaguaribe, e três localizadas no pólo Assú-Mossoró, com o objetivo de estudar as características físico e químicas de frutos de umbu-cajá. De cada planta foram coletadas aleatoriamente 20 frutos com boas características externas de qualidade, os quais se encontravam nos estádios de maturação: maturo e maduro. No aspecto físico o comprimento médio dos frutos variou entre 28,88 e 29,60 mm; a largura do fruto variou de 29,11 a 29,57 mm; espessura da polpa de 13,99 a 14,57 mm e o peso médio oscilou entre 12,60 a 13,24 g, nos dois estádios de maturação e o rendimento da polpa corresponde a aproximadamente 72% do peso do fruto, não havendo efeito significativo entre os dois estádios de maturação. Os valores obtidos nos dois estádios de maturação para os sólidos solúveis totais (SST) variaram entre 11,04 e 12,88%, para a acidez total titulável (ATT) entre 18,04 e 16,83 mmol (H +)/100 g. Para o pH constatou-se valores entre 3,15 e 3,27, açúcares redutores 6,77 e 7,70% e o teor de umidade foi 86,02 e 86,62%. Palavras-chave: umbu-cajá, qualidade, pós-colheita de frutos. PHYSIC-CHEMICAL CHARACTERIZATION OF UMBU-CAJÁ ( Spondias sp.) from BAIXO-JAGUARIBE AND ASSU-MOSSORÓ THE POLES ABSTRACT Umbu-cajá fruits (Spondias sp.) have been picked from 9 trees, six trees which are located in the Baixo–Jaguaribe pole and tree ones that are located in the Assu-Mossoró pole, to evaluate its physic-chemical characteristics. 20 fruits have been collected de each plant by chance. They had good external characteristics of quality, which were in the maturation stadiums: semimatured and matured. The physical aspect of the medium fruits length varied from 28.88 and 29.60 mm; the fruit width varied from 29.11 to 29.57 mm; the pulp thickness varied from 13.99 to 14.57 mm and the medium weight oscillated from 12.60 to 13.24 g, in the two maturation stadiums and the pulp revenue corresponds approximately 72% of the fruit weight, without having significant effect between the two maturation stadiums. The obtained values in the two maturation stadiums for the total soluble solids (SST) varied from 11.04 and 12.88%, they varied from 18.04 and 16.83 mmol (H+)/100 g to the total titulavel acidity (TTA). Values between 3.15 and 3.27, reducers sugars 6.77 and 7.70% has been verified to pH and the moisture content has been 86.02 and 86.62%. Keywords: umbu-cajá, quality, powder-crop of fruits. Protocolo 21 2000 33 de 28/06/2000 1 Parte da monografia de graduação apresentada pelo primeiro autor à Escola Superior de Agricultura de Mossoró- ESAM, como requisito para obtenção do título de Engenheiro Agrônomo 2 Engenheira Agrônoma, Mossoró-RN 3 Professor, M.Sc., Departamento de Fitotecnia da ESAM, CP 137, CEP 59625-900, Mossoró, RN. (0xx84) 312 21 00. e-mail: [email protected]. 192 Características físico-químicas de frutos de umbu-cajá dos pólos do baixo-Jaguaribe (CE) e assu-Mossoró (RN) Noronha et al. frutos do umbu-cajá provenientes do pólos Baixo-Jaguaribe e Assu-Mossoró. INTRODUÇÃO As frutas têm sido, historicamente, um componente necessário e comum na alimentação humana. Portanto, estudos que redundem em conhecimento para facilitar a exploração e a expansão de seu cultivo se revestem de um caráter importante. Apesar disso, pouco se tem estudado sobre as frutas comestíveis nativas ou introduzidas nos trópicos. Muitas espécies poderiam ser exploradas, economicamente, porém o desconheci-mento quase total de sua biologia apresenta-se com um fator limitante (Medeiros, 1985). O Nordeste brasileiro destaca-se como um grande produtor de frutos tropicais nativos e cultivados, em virtude das condições climáticas prevalecentes. A fruticultura, nesta região, constitui-se em atividade econômica bastante promissora, devido ao sabor e aroma exótico de seus frutos e à sua enorme diversificação. O conhecimento do valor nutritivo desses frutos assume importância considerável, pois alimentação adequada e aplicação de métodos tecnológicos eficientes só se tornam possíveis mediante conhecimento do valor nutricional dos alimentos (Macedo, et al. 1995). Segundo Gibson (1972), citado por Pires (1990), a industrialização de frutos no Nordeste brasileiro ainda não atingiu os níveis desejados, tanto do ponto de vista quantitativo, como qualitativo, limitando-se as empresas deste ramo ao aproveitamento de frutos já tradicionais ao processo de transformação industrial. Dentre os frutos que vêm despertando interesse, especialmente para a agroindústria, destacam-se os do gênero Spondias. A procura pelos frutos deste gênero deve-se principalmente às boas características para a industrialização e para o consumo “in natura” ou para o fabrico de sorvetes, polpas, geléias, etc. Seus frutos são comercializados em feiras livres ou destinados ao abastecimento da indústria. Pelas potencialidades apresentadas por esse gênero, pode-se afirmar que se trata de um recurso fitogenético importante para o Nordeste, onde as condições edafoclimáticas favorecem o seu cultivo e a sua produção. O fruto do umbu-cajá assume posição de destaque no tocante ao aspecto comercial em função do aroma, sabor e palatabilidade que oferece ao ser degustado nas mais variadas formas. Desse modo, objetivou-se, neste trabalho, avaliar as características químicas e físicas de MATERIAL E MÉTODOS Os frutos de umbu-cajá utilizados neste trabalho foram colhidos de 9 árvores provenientes da região semi-árida no mês de junho, época de plena frutificação, sendo 6 árvores localizadas na fazenda “Timbaúba” pertencente ao empresário Marcelo Ramalho Dantas localizada no Pólo Baixo-Jaguaribe, município de Russas-CE e 3 árvores localizadas na fazenda experimental “Rafael Fernandes” pertencente à Escola Superior de Agricultura de Mossoró, localizada no pólo Assu-Mossoró, município de Mossoró-RN. O município de Mossoró-RN apresenta coordenadas geográficas de 5o 11’ de latitude Sul, 37o 20’ de longitude Oeste e altitude de 18 m. De acordo com a classificação climática de Köppen, o clima da região é do tipo BSWh, que significa clima muito seco e quente com estação chuvosa no verão, atrasando-se para o outono. As precipitações médias anuais estão entre 450 e 650 mm. Quanto à insolação média, é de 236 horas mensais e a umidade relativa média mensal é de 68,9% (Carmo Filho & Oliveira, 1989). O município de Russas-CE apresenta coordenadas geográficas de 4o 56’ de latitude Sul e 37o 58’ 14” de longitude W. Gr. e altitude de 60 m. O município goza do clima do sertão nordestino: quente e seco no verão, e temperado durante o inverno, que é de março a junho. A temperatura média é 36o C precipitação anual 608 mm (IBGE, 1959). As plantas do pólo Baixo-Jaguaribe se encontram em um solo tipo aluvião pesado, com 70% de argila, 30% de silte e areia, numa região de várzea, próximo ao rio Jaguaribe. O solo do pólo Assu-Mossoro é do tipo latossolo vermelho amarelo. De cada planta foram coletados aleatoriamente 20 frutos que apresentavam boas características externas de qualidade, para serem caracterizados físico e quimicamente. Após a coleta, os frutos foram trazidos ao Laboratório do Núcleo de Estudos em Póscolheita (NEP), da Escola Superior de Agricultura de Mossoró (ESAM). Os frutos analisados se encontravam nos estádios de maturação a seguir descritos: Ifrutos maturos (estádio intermediário entre verde e maduro) e II- frutos maduros. As análises se basearam na comparação entre os Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.191-196, 2000 Características físico-químicas de frutos de umbu-cajá dos pólos do baixo-Jaguaribe (CE) e assu-Mossoró (RN) estádios de maturação dos frutos em geral e não referentes a comparação entre árvores. As análises foram feitas 90 dias aproximadamente após a coleta. Durante esse período os frutos foram congelados em um freezer à temperatura de - 18 o C. Inicialmente os frutos foram caracterizados fisicamente, após o congelamento, quanto ao comprimento, largura, espessura, rendimento de casca, polpa e caroço. As análises referentes ao comprimento, largura e espessura foram realizadas com o auxílio de um paquímetro com precisão de 0,05 mm. Os pesos dos frutos foram determinados com o auxílio de uma balança analítica de marca AINSWORTH com precisão de quatro casas decimais. O rendimento em polpa foi obtido pela diferença entre o peso do fruto inteiro, subtraindo do peso da casca + caroço correspondente, expressando o resultado em porcentagem. A extração da polpa para se determinarem as características químicas do fruto foi feita através de um multi processador, deixando-a bastante homogênea. Os frutos foram analisados quimicamente quanto ao teor de sólidos solúveis (SST), acidez total titulável (ATT), açúcares redutores em glicose (AR), potencial hidrogeniônico (pH) e teor de umidade, conforme a metodologia utilizada pelo Núcleo de Estudos em Póscolheita da ESAM, descrita a seguir: Determinou-se o conteúdo de sólidos solúveis totais por leitura em refratômetro digital, modelo PR-100, Palette (Atago Co., LTD., Japão) com compensação de temperatura automática. O pH foi registrado em Phmetro digital modelo DMPH-2 marca Digimed com precisão de 0,01 unidades de pH. A ATT foi obtida por titulação da polpa ( diluição 1:5) com NaOH padronizado, sendo os resultados expressos em mmoles(H+)/ 100g de polpa. As análises de açúcares foram feitas após quinze dias da extração da polpa, tendo neste período sido mantida em freezer. Os açúcares redutores e não-redutores foram analisados pelo método de Somoghy-Nelson (Southgate, 1991). Partiu-se inicialmente com uma alíquota de 3 g de polpa , a qual foi diluída para 100 ml, usando-se 10 ml para hidrólise da sacarose e, em seguida, 3 ml para desproteinização. O doseamento foi monitorado a partir de 0,2 ml do extrato desproteinizando no caso dos açúcares redutores e 0,8 ml da solução após hidrólise da sacarose desproteinizada. Os resultados foram Noronha et al. 193 expressos em glicose por 100 g de polpa. Utilizou-se 10 g de polpa de cada amostra, determinando-se por gravimetria com auxílio de estufa com circulação forçada, mantida na estufa por 72 horas, a 700 C. Para as variáveis das caracterizações físicas e químicas, a comparação entre as médias dos estádios de maturação maturo e maduro, foi realizada, utilizando-se o teste de “Student” para confirmar diferenças entre médias, ao nível de 5% de probalidade, conforme Spiegel (1994). RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Tabela 1, são apresentados os valores das características físicas dos frutos mensurados nas 9 plantas de umbu-cajá, nos estádios de maturação estudados. Observa-se que não houve efeito significativo em nenhuma característica avaliada, quando aplicado o teste de “Student”. Embora os frutos estudados tenham sido coletados de plantas dispersas em áreas diferentes, praticamente não ocorreram variações nas características físicas estudadas, conforme se constata através dos coeficientes de variações determinados. Isto demonstra que apesar de existir variabilidade genética em plantas de polinização aberta, não se constataram variações expressivas nas determinações realizadas. Estes resultados das mensurações físicas são considerados ótimos, quando se pretende comercializar frutos “in natura”, classificandoos pelo tamanho e peso uniformes, tornando-se melhor o acondicionamento. Analisando-se a Tabela 1, percebe-se que os valores médios encontrados para o comprimento, variaram entre 28,88 a 29,60 mm nos dois estádios de maturação. Estas dimensões são próximas das determinadas por Santos (1996), quando trabalhou com a mesma espécie cujos valores oscilaram entre 29,35 e 29,60 mm de comprimento. Para a largura do fruto, foram encontrados valores que oscilaram entre 29,11 a 29,57 mm, que também se aproximam das mensurações efetuadas por Santos (1996). Comparando-se as dimensões do comprimento e largura, nota-se que os valores são bem próximos, levando o fruto a uma forma quase cilíndrica (Figura 1 a 9), o que facilita o acondicionamento em embalagem para venda “in natura”. Com relação à espessura da polpa, os valores encontrados para os dois estádios de maturação encontram-se na faixa de 13,99 a Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.191-196, 2000 194 Características físico-químicas de frutos de umbu-cajá dos pólos do baixo-Jaguaribe (CE) e assu-Mossoró (RN) 14,57 mm. Embora a espessura da polpa seja uma característica importante, não foram encontrados na literatura trabalhos que Noronha et al. discorressem sobre esta determinação com a espécie em estudo. Tabela 1. Características físicas e percentuais das partes componentes de frutos de umbu-cajá (Spondias sp) 90 dias após as colheitas procedentes dos Pólos Baixo-Jaguaribe e Assú-Mossoró. Estádio Comprim. Largura Espaçam Comprim. do Fruto do fruto da polpa do de Maturação (mm) (mm) (mm) caroço (mm) I 28,88a 29,11a 13,99a 18,27a II 29,60a 29,57a 14,57a 18,09a TTESTE 0,20 0,54 0,72 0,27 CV 1,74 1,11 2,87 0,70 Largura do caroço (mm) 15,04a 14,92a 0,20 0,57 VARIÁVEIS Peso Peso Rendim. Peso Rendim. Peso do de de do de de fruto polpa polpa caroço caroço casca (g) (g) (%) (g) (%) (g) 12,60a 9,25a 72,87a 1,99a 16,38a 1,37a 13,24a 9,67a 72,40a 2,25a 16,18a 1,51a 0,64 0,53 1,13 0,19 0,16 1,16 3,50 3,14 0,46 8,67 0,87 6,87 Rendim. de casca (%) 10,91a 11,49a 0,97 3,66 * Médias seguidas pela mesma letra minúscula na vertical não diferem, entre si, pelo teste t ao nível de 5% de probabilidade. I – Estádio de maturação maturo. II – Estádio de maturação maduro. TTabelado = 2,12 O peso médio dos frutos variou entre 12,60 a 13,24 g, nos dois estádios de maturação. Esta pequena variação pode ser explicada através do crescimento do fruto, ou seja, depois que atinge um determinado tamanho, não volta mais a crescer, apenas sofre transformações bioquímicas que culminam com a maturação. Santos (1996) e Sacramento (1998), quando trabalharam com esta mesma espécie encontraram valores de peso semelhantes aos obtidos no presente trabalho. Os rendimentos de polpa obtidos nos frutos nos dois estádios de maturação corresponderam a aproximadamente 72% do fruto. Estes percentuais são considerados excelentes, quando o objetivo é a utilização no processamento industrial. Os resultados referentes às análises químicas da polpa de umbu-cajá estão apresentados na Tabela 2. Observando-se essa tabela verifica-se que houve diferenças significativas em relação ao teor de SST e ATT, entre os dois estádios de maturação. Os valores obtidos no presente trabalho em relação ao teor de SST foram 11,04 e 12,88. Estes resultados são inferiores aos encontrados por Santos (1996), quando trabalhou com umbu-cajá e por Sacramento et al. (1998) e Lima (1995), quando utilizou as mesmas determinações químicas no cajá. Frutos produzidos em regiões tropicais tendem a apresentar maior teor de SST do que em outras regiões, por desenvolverem-se sob altas temperaturas e elevada intensidade luminosa, o que reflete positivamente na fotossíntese (Pantastico, 1975). Tabela 2 - Característica Químicas das frutas de umbu-cajá (Spandis sp), 90 dias após a colheita dos frutos procedentes do Pólo Baixo-Jaguaribee do Pólo Assú-Mossoró. Estádio de Maturação I II TTESTE CV VARIÁVEIS SS (%) pH 11,04b 12,88a 3,75 10,88 3,15a 3,27a 0,62 2,64 Acidez (mmol (H+)/100 g) 18,04a 16,83b 2,56 4,91 Umidade (%) 86,02a 86,62a 0,93 0,49 AR (%) 6,77a 7,70a 1,76 9,10 * Médias seguidas pela mesma letra minúscula na vertical não diferem, entre si, pelo teste t ao nível de 5% de probabilidade. I – Estádio de maturação maturo. II – Estádio de maturação maduro. TTabelado = 2,12 Para a acidez total titulável (ATT), constataram valores entre: 18,04 e 16,83 mmol (H+) / 100 g, sendo inferiores aos encontrados por Sacramento et al. (1998) e Silva et al. (1995), em relação ao cajá. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.191-196, 2000 Características físico-químicas de frutos de umbu-cajá dos pólos do baixo-Jaguaribe (CE) e assu-Mossoró (RN) A perda da acidez é desejável em grande parte dos frutos e marcante no processo de amadurecimento. Os valores obtidos, no presente trabalho, em relação ao teor de ATT confirmam, segundo Kays (1991), citado por Fernandes (1996), que após a coleta e durante o armazenamento, a concentração de ácidos orgânicos tende a declinar na maioria dos frutos, devido à larga utilização desses compostos como substrato respiratório e como esqueletos de carbono, para a síntese de novos compostos. Verificou-se efeito não significativo em relação ao pH e o teor de açúcares redutores, entre os dois estádios de maturação. Para o pH, constataram valores entre: 3,15 e 3,27, sendo superiores aos encontrados por Santos (1996) e Lima et al. (1990), com relação ao umbu-cajá; Sacramento et al. (1998), Silva et al. (1995), Lima (1995) e Lima et al. (1990), em relação ao cajá. Para os açúcares redutores, constataram valores compreendidos entre: 6,77 e 7,70, valores estes inferiores ao encontrado por Sacramento et al. (1998), quando fez as mesmas determinações na polpa do cajá. A síntese muito elevada de glicose durante a maturação é importante devido ao fato de glicose e frutose possuírem juntas um poder adoçante maior que o da sacarose, conferindo ao suco sabor mais agradável (Nascimento et al., 1998). O teor de umidade da polpa não diferiu, estatisticamente, em relação aos dois estádios de maturação. Os resultados obtidos no presente trabalho foram: 86,02 e 86,62%. Mostraram-se inferiores ao encontrado por Santos (1996), em relação ao umbu-cajá. Em relação aos resultados obtidos por Almeida & Valsechi (1996), referindo-se ao cajá, os valores do presente trabalho mostraram-se inferiores. Noronha et al. 195 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Carmo Filho, F. do; Oliveira, O.F. de Mossoró, um município do semi-árido nordestino: características climáticas (e) aspectos florísticos. 1ed. Mossoró-RN: ESAM, Coleção Mossoroense, 1989. 672 p. Carvalho, V.D. de. Qualidade e conservação pós-colheita de goiabas. Informe Agropecuário. Belo Horizonte: EPAMIG, n.179, p.48-54, 1994. Fernandes, P.M. de G.C. Armazenamento am-biente e refrigerado de melão, híbrido orange flesh, submetido à aplicação póscolheita de cloreto de cálcio. Lavras: UFLA, 1996. 86p (Dissertação de Mestrado). Instituto Brasileiro De Geografia E Estatística. Enciclopédia dos municípios brasileiros: Ceará. Rio de Janeiro, 1959, v. 16, 565p. Lima, E.D.P.A.; Cardoso, E.A.; Silva, H.; Lima, C. 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Para os açúcares redutores e teor de umidade, verificou-se efeito não significativo entre os dois estádios de maturação. Medeiros, P. D. de. Estudo anatomofisiológico da unidade de dispersão de Spondias-cytherea sonn (cajarana), Recife: UFRPE, 1985. 99p. (Dissertação de Mestrado). Nascimento, T. B. do; Ramos, J. D.; Menezes, J. B. Características físico-químicas do maracujá amarelo (Passiflora edulis f. flavicarpa Degener) produzido em diferentes épocas. Revista Brasileira de Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.191-196, 2000 196 Características físico-químicas de frutos de umbu-cajá dos pólos do baixo-Jaguaribe (CE) e assu-Mossoró (RN) Fruticultura. Cruz das Almas, v.20, n.1, p.33-38, 1998. Pantastico, E.B. Índices para cosecha. In: Pantastico, E.B. Fisiologia de la postrecolección, manejo y utilizacion de frutas y hortalizas tropicales y subtropicales. Espa-nha: Companhia Editorial Continental, 1975. p. 77-98. Pires, M dos G. de M. 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Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.2, n.2, p.191-196, 2000 NORMAS DE PUBLICAÇÃO NORMAS DE PUBLICACIÓN PUBLICATION NORMS Os textos deverão ser encaminhados ao Editor da Revista em disquete e 2 vias impressas, ou via e-mail [email protected]. Artigos Científicos: deverão ter a seguinte seqüência: Título, Autor(es), Resumo, Palavras-chave, Título em inglês, Abstract, Key words, Introdução, Materiais e Métodos, Resultados e Discussão, Conclusões, Agradecimentos (facultativo) e Referências Bibliográficas. Artigos Técnicos: Devem ser redigidos em linguagem técnica de fácil compreensão, sobre assuntos de interesse da comunidade que demonstrem uma contribuição significativa sobre o assunto. Os artigos devem conter: Titulo, Autor(es), Resumo, Palavras-chave, Título em inglês, Abstract, Key words, Introdução, Descrição do Assunto, Conclusões e Referências Bibliográficas. Texto: A composição dos textos deverão ser feitas no Editor de texto - Word para Windows versão 6.0 ou superior, utilizando fonte Times New Roman, tamanho 11, exceto para as notas de rodapé e título, que deverão apresentar tamanho 8 e 12, respectivamente. O formato do texto deverá ter a seguinte disposição - tamanho carta, orientação de retrato disposto em duas colunas, margens superior e inferior, direita e esquerda de 2,5 cm, numeradas, espaço simples e no máximo de 20 laudas. Todos os itens deverão estar em letra maiúscula, negrito, itálico e centralizados, exceto as Palavras-chave e Keywords e Subítens que deverão ser alinhados a esquerda em letras minúsculas e com a primeira letra em maiúscula. Os nomes dos autores deverão estar dois espaços simples abaixo do título, escritos por extenso e em negrito, separados por vírgula. Os nomes dos autores serão numerados com algarismos arábicos que terão a cada número uma chamada de rodapé onde se fará constar a sua função, titulação, instituição, endereço postal e eletrônico (email), telefone e fax. O texto deverá ser alinhado nos dois lados e com a tabulação de 1cm para o inicio de cada parágrafo. Figuras Tabelas e Fotos - Deverão ser inseridas logo abaixo do parágrafo onde foram citadas pela primeira vez. Nas legendas, as palavras Figura, Tabela e Foto devem estar em negrito e ter a letra inicial maiúscula e seu enunciado deverá ser alinhado à esquerda abaixo da primeira letra após a palavra Figura. As grandezas devem ser expressas no Sistema internacional. Exemplos de citações bibliográficas quando a citação possuir apenas um autor: ...Almeida (1997), ou ...(Almeida, 1997); quando a citação possuir dois autores: .... Almeida & Gouveia (1997), ou ....(Almeida & Gouveia, 1997); quando a citação possuir mais de dois autores: ....Almeida et al. (1997).... ou (Almeida et al., 1997). A referência deverá conter os nomes de todos os autores. Los textos deberán ser encaminados al editor de la Revista en disquete y 2 vías impresas, o por e-mail [email protected]. Artículos Científicos: deberán tener la siguiente secuencia: Titulo, Autor(es), Resumen, Palabras-claves, Titulo en ingles, Abstract, Keywords, Introducción, Materiales y Métodos, Resultados y Discusión, Conclusiones, Agradecimientos (facultativo) y Referencias Bibliográficas. Artículos Técnicos: Deben ser escritos en lenguaje técnica de fácil comprensión, en asuntos de interés de la comunidad que demuestren una contribución significativa en el asunto. Los artículos deben contener: Titulo, Autor(es), Resumen, Palabras-claves, Titulo en inglés, Abstract, Keywords, Introducción, Materiales y Métodos, Resultados y Discusión, Conclusiones, Agradecimientos (facultativo) y Referencias Bibliográficas. Texto: La composición del texto deberá ser echa en el Editor de texto - Word para Windows versión 6.0 o superior, utilizando la fuente Time New Roman, tamaño 11, excepto para la notas de rodapié y titulo, que deberán tener tamaño 8 y 12 respectivamente. El formato del texto deberá tener la siguiente disposición – Tamaño carta, orientación de retrato en dos columnas, márgenes suprior y inferior, derecha y izquierda de 2,5 cm, enumeradas, espacio simples y en el máximo de 20 laudas. Todos los ítems deberán estar en letra mayúscula, negrito, itálico y centralizadas, excepto las Palabras-claves, Keywords y subítems que deberán ser alineadas por la izquierda en letras minúsculas y con la primera letra en mayúsculo. Los nombres de los autores deben estar dos espacios simples abajo del Título, escrito por extenso y en negrito, separados por vírgula. Los nombres de los autores serán enumerados con algaritmo árabe que tendrán a cada numero una llamada de rodapié donde se hará constar la función, titulación, institución, dirección postal y electrónica (e-mail), teléfono y fax. El texto deberá ser alineado por los dos lados y con la tabulación de 1 cm para el inicio de cada parágrafo. Figuras, Tablas y Fotos – deberán ser colocadas luego abajo del parágrafo donde fuera citada pela primera vez. En las legendas, las palabras Figuras, Tabla y Foto deben estar en negrito y tener la letra inicial mayúscula y en su enunciado deberá ser alineada por la izquierda con la primera letra después de la palabra Figura. Las unidades deben ser expresas en el sistema internacional Ejemplos de citaciones bibliográficas cuando la citación tiene un solo autor: ...Almeida (1997), o ...(Almeida, 1997); cuando la citación tiene dos autores: .... Almeida & Gouveia (1997), o ....(Almeida & Gouveia, 1997); cuando la citación tiene mas de dos autores: ....Almeida et al. (1997).... o (Almeida et al., 1997). Las referencias deberán contener los nombres de todos los autores. The texts should be sending to the Editor of the Journal in diskette and 2 printed sheets, or by e-mail [email protected]. Scientific articles: they should have the following sequence: Title, Author (s’), Abstract, Keywords, Title, Abstract and Key words in Portuguese, Introduction, Materials and Methods, Results and Discussion, Conclusions, Acknowledgements (optional) and Bibliographic References. Technical articles: They should be written in technical language of easy understanding, on subjects of the community's interest that demonstrate a significant contribution on the subject. The goods should contain: I title, Author (s’), Abstract, Keyword, Title in Portuguese, Abstract, Key words, Introduction, Description of the Subject, Conclusions and Bibliographic References. Text: The composition of the texts should be made in the text Editor - Word for Windows version 6.0 or superior, using source Times New Roman, size 11, except for the baseboard notes and title, that should present size 8 and 12, respectively. The format of the text should have the following disposition - size letter, orientation of arranged picture in two columns, margins superior and inferior, right and left of 2,5 cm, numbered, simple space and up to a maximum of 20 pages. All main items should be in capital letter, bold type, italic and centralized, except for Keywords and sub-items that should be aligned to the left in lower letter and with the first letter in capital letter. The authors' name should be two simple spaces below the title, written for complete name and in boldface, separated by comma. The authors' names will be numbered with Arabic ciphers that they will have to each number a baseboard call where it will make to consist its function, title, institution, postal and electronic address (email), telephone and fax. The text should be aligned in the two sides and with the tabulation of 1cm to the beginning each paragraph. Figures, Tables and Photos - they should be inserted soon below the paragraph where they were mentioned for the first time. In the legend, the words illustration, Controls and Photo should be in boldface and have the initial letter capital one and its statement should be aligned to the left below the first letter after the word it represents. The units should be expressed in the international system. Examples of bibliographical citations when the citation just possesses an author: ....Almeida (1997), or ....(Almeida, 1997); when the citation possesses two authors: .... Almeida & Gouveia (1997), or ....(Almeida & Gouveia, 1997); when the citation possesses more than two authors: ....Almeida et al. (1997).... or (Almeida et al., 1997). The reference should contain all the authors' names. Exemplos de referências bibliográficas: Ejemplos de referencias bibliográficas: Example of the bibliographic references: As referências bibliográficas deverão estar Las referencias bibliográficas deben ir en orden The list of bibliographic references must be in dispostas, em ordem alfabética, pelo sobrenome alfabética considerando el apellido del primer alphabetic order according to surname of first do primeiro autor. autor. author. a) Livro Martins, J.H.; Cavalcanti Mata, M.E.R.M. Introdução a teoria e simulação matemática de secagem de grãos. 1.ed. Campina Grande : Núcleo de Tecnologia em Armazenagem, 1984. 101p. b)Capítulo de Livros Almeida, F. de A.C.; Matos, V.P.; Castro, J. de; Dutra, A.S. Avaliação da quantidade e conservação de sementes a nível de produtor. In: Almeida, F. de A.C.; Cavalcanti Mata, M.E.R.M. (ed.). Armazenamento de grãos e sementes nas propriedades rurais. Campina Grande: UFPB/SBEA, 1997. cap. 3, p.133-188. c) Revistas Cavalcanti Mata, M.E.R.M.; Braga, M.E.D.; Figueiredo, R.M.F.; Queiroz, A.J. de M. Perda da qualidade fisiológica de sementes de arroz (Oryza sativa L.) armazenadas sob condições controladas. Revista Brasileira de Armazenamento. Univ. Federal de Viçosa, Viçosa-MG. v.24, n.1, p.10-25, 1999. d) Dissertações e teses Queiroz, A.J. de M. Estudo do comportamento reológico dos sucos de abacaxi e manga. Campinas: UNICAMP/FEA, 1998. 170p. (Tese de Doutorado). e) Trabalhos apresentados em Congressos (Anais, Resumos, Proceedings, Disquetes, CD Roms) Figueirêdo, R.M.F. de; Martucci, E.T. Influência da viscosidade das suspensões na morfologia do particulado de suco de acerola microencapsulado. In: Congresso Brasileiro de Sistemas Particulados, 25, 1998, São Carlos, Anais... São Carlos: UFSC, 1998. v.2, p.729-733. ou (CD Rom). No caso de disquetes ou CD Rom, o título da publicação continuará sendo Anais, Resumos ou Proceedings, mas o número de páginas será substituído pelas palavras Disquete ou CD Rom. f) WWW (World Wide Web) e FTP (File Transfer Protocol) BURKA, L.P. A hipertext history of multi-user dimensions; MUD history. htpp://entmuseum9.ucr.edu/ENT133/ebeling/ebeling7.ht m1#sitophilusgranarius).10 Nov. 1997. a) Libro Cox, P.M. Ultracongelación de alimentos. 1.ed. Zaragoza : Editorial Acribia, 1987. 459p. b)Capítulo de Libro Moreno, F. Alteraciones fisicoquímicas en alimentos durante su congelamiento y subsecuente almacenaje. In: Parada, A.; Valeri, J. (ed.). Biología de los alimentos a baja temperatura. Armazenamento de grãos e sementes nas propriedades rurais. 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In: InterAmerican drying Conference, 1, 1997, Itu Proceedings… Campinas-SP, Brazil : UNICAMP, July, 1997. v. B, p.508-515. or (CD Rom). In case of diskettes or CD Rom, the title of the publication still will be Annals, Abstract or Proceedings, but the page number should be substituted by words Diskettes or CD Rom. h) WWW (World Wide Web) e FTP (File Transfer Protocol) BURKA, L.P. A hipertext history of multi-user dimensions; MUD history. htpp://entmuEn caso de disquetes o CD Rom, el título de la seum9.ucr.edu/ENT133/ebeling/ebeling7.htm1# publicación continuará siendo Anales, sitophilusgranarius).10 Nov. 1997. Resúmenes o Proceedings, mas el número de las páginas serán substituido por la palabra Disquete o CD Rom. g) WWW (World Wide Web) e FTP (File Transfer Protocol) BURKA, L.P. A hipertext history of multi-user dimensions; MUD history. htpp://entmuseum9.ucr.edu/ENT133/ebeling/ebeling7.ht m1#sitophilusgranarius).10 Nov. 1997. ENDEREÇO ADDRESS DIRECCIÔN Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais Caixa Postal 10.078 CEP. 58109-970 - Campina Grande, PB, BRASIL Fone: (083)2101-1288 Telefax: (083)2101-1185 E-mail: [email protected] ou [email protected] Home Page: http//www.lappa.deag.ufpb.rbpa LABORATÓRIO DE CRIOGENIA O Laboratório de Criogenia da Área de Armazenamento e Processamento de Produtos Agrícolas do Departamento de Engenharia Agrícola da Universidade Federal de Campina Grande, desenvolve trabalhos de ponta a ultrabaixas temperaturas de modo a atender o desenvolvimento tecnológico do País. As pesquisas com criogenia concentram-se em: Crioconservação de sementes Sementes de espécies florestais Sementes de interesse econômico das regiões do País Sementes de plantas medicinais Sementes de espécies ameaçadas de extinção Congelamento a ultrabaixas temperaturas de alimentos Congelamento de carnes (bovinos, caprinos, suínos) Congelamento de moluscos e crustáceos Congelamento de pescados Esterilização de materiais biológicos Limites de termo-resistência de fungos e bactérias Sistemas de agregação de partículas de sujidade Coordenação da Área de Armazenamento e Processamento de Produtos Agrícolas Av. Aprígio Veloso, 882 - Caixa Postal 10.087 - Fones: (83) 2101-1288; 2101-1551 - Fax: (83) 2101-1185 E-mail: [email protected] EFEITO DO TEMPO DE TORREFAÇÃO DOS GRÃOS DA MUCUNA PRETA (Stilozobium aterrimum L.) NA SUA COMPOSIÇÃO QUÍMICA, TÓXICA E SENSORIAL (Effect of the toasting time of the "mucuna-preta " grains) Marcelo Barbosa Muniz Claudécia Leite da Silva Leossávio César de Souza Anselmo Rodrigues de Oliveira TEORES DE MINERAIS EM DIETAS UTILIZADAS NO BRASIL UM DIRECIONAMENTO PARA O ENRIQUECIMENTO DE ALIMENTOS (Mineral contents in used diets in Brazil A guideline to foods enrichment) Karla Silva Ferreira José Carlos Gomes Gilberto Paixão Rosado PARÂMETROS FíSICOS E QUíMICOS DA ACEROLA (Malpighia punicifolia, L.) EM DIFERENTES FASES DE MATURAÇÃO (Physical and chemical parameters of acerola (Malpighia punicifolia L.) in different stages of maturation) Myrla de Souza Batista Rossana Maria Feitosa de Figueiredo Alexandre José De Melo Queiroz CARACTERIZAÇÃO DOS PROBLEMAS PRÉ E PÓS-COLHEITA DO MELOEIRO PRODUZIDO EM PERÍODO CHUVOSO NO RIO GRANDE DO NORTE (Characterization of the pre and postharvest problems of the produced melon in the rainy season in Rio Grande do Norte) Maria Zilderlania Alves Josivan Barbosa Menezes Silvio César Sartori Ito Selma R. de Carvalho Nascimento Rui Sales Júnior Railene Hérica Carlos Rocha DRYING CURVES OF UMBU FRUITS WITH OSMOTIC PRE-DRYING (Curvas de secagem dos frutos de umbu com pré-secagem Osmótica) Severina de Sousa Mário Edardo R. M. Cavalcanti Mata Maria Elita Duarte Braga Antonio Fernandes Monteiro Filho DIMENSÕES PRINCIPAIS, MASSA E VOLUME UNITÁRIOS, ESFERICIDADE E ÂNGULO DE REPOUSO DE FRUTOS DE CAFÉ (Axial dimensions, mass, volume, sphericity and repose angle of coffee fruits) Anderson Chagas Magalhães Sandra Maria Couto Daniel Marçal de Queiroz Ednilton Tavares de Andrade ESTUDO SOBRE A CONSERVAÇÃO DE QUATRO VARIEDADES DE FEIJÃO MACASSAR VERDE (Vigna unguiculata L. WALP.) : SUBMETIDOS A TEMPERATURAS DE REFRIGERAÇÃO E CONGELAMENTO (Preliminary study of the 4 varieties of "feijão macassar" (Vigna unguiculata L.Walp) conservation which have been subjected to the refrigeration and freezing temperatures) Nayara Lia Lima Clara Emanuelle Claudécia Leite da Silva Maria do Carmo Diniz Márcia Roseane Targino de Oliveira Tatiane Santi Gadelha POTENCIAL DE CONSERVAÇÃO DE ENERGIA NO PRÉ-PROCESSAMENTO DO CAFÉ (Conservation potential of energy in the coffee pre-processing) Ednilton Tavares de Andrade Delly Oliveira Filho Gilmar Vieira SECAGEM DE SEMENTES DE FEIJÃO (Phaseolus vulgares L.) VARIEDADE CARIOQUINHA USANDO BOMBA DE CALOR (Variety "carioquinha" beans seeds drying (Phaseolus vulgares L.) by the of a heat pump) Mário Eduardo R. M. Cavalcanti Mata José Rildo Oliveira Maria Elita Duarte Braga CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS DE FRUTOS DE UMBU-CAJÁ (Spondias sp.) PROVENIENTES DOS PÓLOS BAIXO-JAGUARIBE (CE) E ASSU-MOSSORÓ (RN) (Physic-chemical characterization of umbu-cajá ( Spondias sp.) from baixoJaguaribe and Assu-Mossoró the poles) Milene Arcângela Souza de Noronha Eudes de Almeida Cardoso Nildo da Silva Dias