O uso de tecnologias pré e pós-colheita e boas práticas agrícolas

Transcrição

O uso de tecnologias pré e pós-colheita e boas práticas agrícolas
1
ARTIGO DE REVISÃO
O uso de tecnologias pré e pós-colheita e boas práticas agrícolas na
produção de plantas medicinais e aromáticas.
Marchese, J.A.1, Figueira, G.M.2
1
Laboratório de Bioquímica e Fisiologia Vegetal do CEFET-PR/AGRONOMIA, Pato Branco-PR, CEP 85503-390
([email protected]); 2Divisão de Agrotecnologia do CPQBA-UNICAMP, Paulínia-SP, CEP 13140-000
([email protected]).
RESUMO: A qualidade das plantas medicinais é obtida durante todo o processo produtivo, desde
a identificação botânica, escolha do material vegetal, época e local de plantio, tratos culturais,
determinação da época de colheita e cuidados na colheita. A pós-colheita das plantas medicinais
é o conjunto de processos realizados visando preservar a qualidade do produto adquirida através
das técnicas adequadas de cultivo, para aumentar o período de conservação deste produto. As
“boas práticas agrícolas em plantas medicinais e aromáticas” são um conjunto de tecnologias
usadas na obtenção do máximo da qualidade para a droga vegetal.
Palavras-Chave: cultivo, plantas medicinais, secagem, metabolismo secundário.
ABSTRACT: The use of pre and post-harvest technologies and good agricultural practices
in the production of medicinal and aromatic plants. The quality of the medicinal plants is
obtained during the whole productive process, from the botanical identification, the choice of the
vegetal material, the time and plantation place, the cultural treatments, the determination of the
harvest time and the care for the crop. The post-harvest of the medicinal plants is the group of
processes used to preserve the quality of the product acquired through the suitable techniques of
cultivation to increase the period of conservation of this product. The “good agricultural practices”
in medicinal and aromatic plants are a group of technologies used for the obtaining of the maximum
of the quality for the vegetal drug.
Key words: medicinal plants, cultivation, drying, secondary metabolism.
INTRODUÇÃO
A qualidade das plantas medicinais e
aromáticas é obtida durante todo o processo produtivo
(pré-colheita) desde a identificação botânica, escolha
do material vegetal, época e local de plantio, tratos
culturais, determinação da época de colheita e
cuidados na colheita de modo a garantir o máximo
da qualidade para o produto. Não é possível melhorar
esta qualidade através do processamento póscolheita, mas sim, minimizar suas perdas.
A pós-colheita de um produto agrícola é o
conjunto de processos realizados visando preservar
a qualidade do produto adquirida através das técnicas
adequadas de cultivo, para aumentar o período de
conservação deste produto.
A produção de plantas medicinais e
aromáticas apresenta aspectos técnicos que podem
definir a sua viabilidade econômica. O produto agrícola
(planta medicinal, aromática ou condimentar), matéria
prima para a indústria farmacêutica e/ou alimentícia,
em geral é processado em locais distantes de seu
cultivo, podendo ser armazenado para ser processado
durante um período após sua colheita. Sendo assim,
a secagem representa uma operação amplamente
utilizada, porém as condições variam de acordo com
a infra-estrutura de cada propriedade, muitas vezes
comprometendo a qualidade do produto no final de
seu processo produtivo. Portanto o processamento
pós-colheita envolve desde a colheita, observandose uso de mão-de-obra e equipamentos adequados;
a separação da parte de interesse, eliminando-se
partes deterioradas e materiais estranhos; o processo
da secagem; nova separação do produto; a
embalagem e o armazenamento.
PRÉ-COLHEITA
De nada adianta observar que os
procedimentos durante a colheita e o processamento
Recebido para publicação em 03/05/2004
Aceito para publicação em 21/03/2005
REV.BRAS.PL.MED., Botucatu, v.7, n.3, p.86-96, 2005.
2
pós-colheita sejam adequados (no sentido de se
preservar a qualidade do material vegetal), se durante
o processo produtivo (pré-colheita) não se verificam
os mesmos cuidados.
Além da correta identificação botânica, é
necessária a escolha de genótipos superiores que
produzam grande quantidade de fitomassa e altos
teores de principios ativos ou complexos ativos. A
variação do número de cromossomos (Tabela 1), a
presença de quimiotipos dentro de uma mesma
espécie medicinal, além da ontogenia, pode
influenciar o teor e a constituição dos compostos
secundários.
A definição do local e da época de plantio
também são fundamentais para se obter o máximo
de rendimento de fitomassa e de substâncias
bioativas. Os fatores do ambiente que mais afetam o
crescimento e o desenvolvimento das plantas são o
fotoperíodo, a radiação e a temperatura.
Plantas sensíveis a duração do dia ou da
noite têm seu desenvolvimento condicionado ao
fotoperíodo indutivo (FI), e florescem, entram em
dormência ou tuberizam, quando o FI é satisfeito.
Um exemplo de planta sensível ao fotoperíodo é a
Jacaranda decurrens (carobinha), planta medicinal do
cerrado brasileiro que possui os princípios ativos de
interesse no sistema radicular e prioriza o acúmulo
de biomassa na raiz/xilopódio durante os períodos
de outono/inverno, quando o fotoperíodo e a
disponibilidade hídrica diminuem (Figura 1). Outro
exemplo é a Artemisia annua L., classificada como
uma planta de dias curtos obrigatória, que somente
floresce sob dias curtos (Marchese et al., 2002, 2005)
e apresenta o maior acúmulo de artemisinina após a
indução floral (Morales et al., 1993).
A variação da intensidade luminosa
(irradiância) e temperatura durante o ano são função
da sazonalidade e latitude dos locais de cultivo. Em
geral, para plantas de clima tropical que são
termoperiódicas e heliófitas (plantas de sol), as
estações mais quentes e de maior radiação coincidem
com a fenofase de maior produção de biomassa. A
mesma lógica vale para a produção de óleos
essenciais, onde geralmente a maior produção está
associada a maior radiação e maior taxa fotossintética
das plantas. Sabe-se hoje da ocorrência da
biossíntese completa de terpenos em plastos, como
os cloroplastos, através da via do Metil-eritritol-fosfato
ou 3-PGA/Piruvato (Lichtenthaler, 1999; Chappell,
2002), fato que associa diretamente a produção de
óleos essenciais com a fotossíntese. Todavia, altas
irradiâncias em plantas esciófitas (plantas de sombra)
como Photomorphe umbellata, normalmente causam
sintomas de clorose e necrose com a fotodegradação
dos cromopigmentos, levando a redução da
fotossíntese (Marchese et al., 2004) e da biomassa
(M\ttana et al., 2004) (Figura 2). Estas espécies
sempre produzirão mais biomassa em condições de
luz difusa e recomenda-se o seu cultivo em consórcio,
sob o dossel de plantas de maior porte ou em subbosque.
Segundo Ming et al. (2003) a busca do
melhor local para cultivar uma espécie vegetal e a
melhor época de plantio, caminha necessariamente
TABELA 1. Influência do número de cromossomos nos constituíntes secundários de algumas plantas medicinais
(adaptado de Trease & Evans, 1989).
PLANTA
FORMA
CONSTITUINTES
2n
4n
OUTROS
Atropa belladonna
Alcalóides tropânicos totais (%MS)
68% > 2n
Datura innoxia
Iozina (%MS)
0,21
0,14-0,11 (1n)
Atropina (%MS)
0,03
0,01 (1n)
60-150% > 2n
Datura stramonium
Alcalóides tropânicos totais (%MS)
Hyoscyamus niger
Alcalóides tropânicos totais (%MS)
Chinchona succirubra
Quinino (%MS)
Opium poppy
Morfina (prod./área)
Lobelia inflata
Alcalóides (%MS)
0,25
0,32-0,46
Carum carvi
Óleo essencial (%)
6,0
10,0
Mentha spicata
Óleo essencial (%)
0,48
0,05
Digitalis lanata
Glicosídeos totais (%)
< ou = 2n
Digitalis purpurea
Glicosídeos totais (%)
< ou = 2n
Capsicum sp.
Ácido ascórbico (%)
8n 30% > 2n
0,53
1,12
0,27 (1n)
3n 100% >
0,04-0,09
0,04-0,15
REV.BRAS.PL.MED., Botucatu, v.7, n.3, p.86-96, 2005.
3
2,0
1,8
1,6
1,4
1,2
1,0
0,8
0,6
0,4
início do
outono
0,2
y = 8E-05x2 - 0,0544x + 9,1674
2
R = 0,9839
p < 0,0001
5
Massa seca de raiz (g)
Massa seca de folha (g)
6
y = -2E-05x2 + 0,0228x - 4,9533
2
R = 0,9893
p < 0,0001
4
3
2
início do
outono
1
0,0
0
250
300
350
400
450
500
550
600
250
300
350
DAE
400
450
500
550
600
DAE
FIGURA 1. Biomassa seca de folha e de raíz em função de diferentes épocas de colheita – dias após a germinação (DAE)
- em Jacaranda decurrens (02/09/02 – 290 DAE; 02/12/02 – 380 DAE; 02/03/03 – 470 DAE; 02/06/03 – 560 DAE). UNESP/
BOTUCATU-SP, 2002/2003. Adaptado de Guerreiro et al. (2004).
8,5
y = -2E-07x3 + 0,0004x2 - 0,2182x + 79,569
R2= 1
p < 0,0007
8,0
50
y = -3E-08x3 + 7E-05x2 - 0,0396x + 11,125
R2 = 1
p < 0,052
45
µ
40
35
30
Fotossíntese (µmol m-2 s-1)
)
Massa seca de folhas (g/planta)
55
7,5
7,0
6,5
6,0
5,5
5,0
25
4,5
200
400
600
800
1000
1200
1400
(
PAR
Irradiância (µmol m-2 s-1)
200
400
600
800
1000
1200
1400
PAR
Irradiância (µmol m-2 s-1)
FIGURA 2. Massa seca de folhas e fotossíntese em pariparoba ( Pothomorphe umbellata) sob diferentes níveis de
Radiação Fotossintéticamente Ativa (PAR) ou sombreamento (1254 mmol m-2 s-1 = pleno sol; 835 mmol m-2 s-1 = 30%
sombra; 580 mmol m-2 s-1 = 50% sombra e 284 mmol m-2 s-1 = 70% sombra). UNESP/BOTUCATU-SP, 2003. Adaptado de
Mattana et al. (2004) e Marchese et al. (2004).
pela definição de um zoneamento agroclimático para
as plantas medicinais e aromáticas.
Com relação aos tratos culturais, irrigação e
adubação são os principais fatores que afetam o
rendimento das substâncias bioativas e, por
conseqüência, a qualidade das plantas medicinais e
aromáticas. Um dos fatores mais importantes que
afetam a produção de metabólitos secundários é a
água (Franz, 1983; Palevitch, 1987). Usualmente,
quantidades limitadas de água tem um efeito negativo
sobre o crescimento e desenvolvimento das plantas.
Entretanto, a deficiência hídrica moderada muitas
vezes têm se mostrado positiva no acúmulo de
substâncias bioativas em espécies medicinais,
REV.BRAS.PL.MED., Botucatu, v.7, n.3, p.86-96, 2005.
4
aromáticas e condimentares, como pode ser
verificado na Tabela 2 (Gershenzon, 1984; Palevitch,
1987). Neste caso, segundo Marchese (1999), é
importante ressaltar que um aumento na
concentração ou teor de compostos secundários sob
condição de estresse, não significa necessariamente
um aumento no rendimento destes compostos
(produção por planta ou por área cultivada), pois
geralmente ocorre uma redução da fitomassa em face
da concorrência por assimilados entre o metabolismo
secundário e o metabolismo primário (Figura 3).
Na Tabela 3 pode-se verificar um resumo de
como a deficiência nutricional pode afetar o teor das
diversas classes de substância bioativas. Nesta
situação, vale a mesma observação feita no parágrafo
anterior sobre o comportamento das plantas em
condição de estresse, quando a carência de um
nutriente pode estimular a produção de uma
determinada classe de compostos, p.ex. fenóis.
Todavia, isso ocorrerá em detrimento da produção de
fitomassa, podendo afetar o rendimento das
substâncias de interesse.
A tentativa de definir um comportamento
padrão ou uma regra para a produção de substâncias
bioativas das plantas medicinais e aromáticas sob
estresse é equivocada, sendo necessários estudos
por espécie e entre variedades de uma mesma
espécie, para poder inferir sobre o manejo adequado
destas plantas na etapa pré-colheita.
COLHEITA
A colheita de cada planta medicinal deve ser
realizada quando houver, preferencialmente, a maior
produção conjunta de biomassa e princípio ativo de
acordo com a característica da espécie e da parte de
interesse da planta.
TABELA 2. Resumo do efeito da deficiência hídrica na concentração de metabólitos secundários em plantas superiores.
Legenda: (?) varia conforme a espécie (Adaptado de Gershenzon, 1984).
CLASSE DE METABÓLITO SECUNDÁRIO
DEFICIÊNCIA HÍDRICA
glicosídeos cianogênicos
aumenta a concentração
glucosinolatos e outros compostos sulfurosos
aumenta a concentração
alcalóides
aumenta a concentração
?
fenóis
terpenos
herbáceas e arbustos
árvores
aumenta a concentração
diminui a concentração
ASSIMILAÇÃO
LÍQUIDA
TAXA DE
CRESCIMENTO
RELATIVO (TCR)
MATABOLISMO
SECUNDÁRIO
BAIXA
DISPONIBILIDADE DE RECURSOS
ALTA
FIGURA 3. Taxa de assimilação líquida, taxa de crescimento relativo e metabolismo secundário, em resposta a mudanças
na disponibilidade de recursos (Adaptado de Herms & Mattson, 1992).
REV.BRAS.PL.MED., Botucatu, v.7, n.3, p.86-96, 2005.
5
TABELA 3. Resumo do efeito da deficiência nutricional na concentração de metabólitos secundários em plantas
superiores. Legendas: (+) aumenta; (-) diminui; (?) varia conforme a espécie (Adaptado de Gershenzon, 1984).
CLASSE DE METABÓLITO SECUNDÁRIO
-N
-P
-K
glicosídeos cianogênicos
-
glucosinolatos e outros compostos sulfurosos
+
alcalóides
-
?
+
fenóis
+
+
+
?
-
+
?
-S
+
terpenos
herbáceas e arbustos
árvores
Existem algumas regras gerais que indicam
a melhor época em função da parte da planta:
a) raízes, rizomas, tubérculos e bulbos
devem ser colhidos durante o inverno, após o período
de máximo acúmulo, quando entram em repouso
(Figura 1);
b) cascas devem ser colhidas nas estações
de maior umidade, quando a retirada das mesmas é
facilitada, reduzindo riscos de danos permanentes
as plantas;
c) folhas em geral são colhidas no início da
floração. Algumas espécies permitem vários cortes.
Colheitas no final do período seco permitem uma boa
regeneração durante o período chuvoso;
d) flores e sumidades floridas devem ser
colhidas antes da formação das sementes, porém
devem estar completamente abertas, o que facilita a
secagem;
e) frutos devem ser colhidos pouco antes da
maturação.
Além da época de colheita, as substâncias
bioativas apresentam variação em funcão do período
do dia em que as plantas são colhidas, como por
exemplo, os óleos essenciais, que geralmente
atingem o teor máximo nos horários da manhã (Reis
& Mariot, 2000).
A possível explicação para a maior produção
dos óleos essenciais ser matutina, deve-se ao fato
de existir mais radiação fotossintéticamente ativa
(PAR) disponível pela manhã e uma maior taxa
fotossintética. A maior produção terpenos,
principalmente os monoterpenos, é dependente da
fotossíntese e ocorre nos cloroplastos, através da via
do Metil-eritritol-fosfato. No final da manhã e durante
a tarde, devido a elevação da temperatura do ar, há
um aumento na respiração celular e uma diminuição
da condutância estomática, provocando uma redução
da fotossíntese, contribuindo para a queda da síntese
de terpenos e do teor de óleo essencial nas plantas
nesses horários.
Com relação a colheita de uma maneira geral,
deve-se observar as condições climáticas mais
favoráveis como: não colher com chuva, solo molhado,
ou elevada umidade relativa do ar, pois o processo de
secagem e a qualidade do material podem ser
prejudicados.
Equipamentos utilizados na colheita e
acondicionamento para o transporte das plantas
devem estar limpos e em boas condições. A colheita
deve garantir ao produto o mínimo de partículas de
solo, não devendo ser colocado em contato com o
chão.
Após a colheita deve-se separar todo material
estranho como insetos, partes de outras plantas, além
de partes da própria planta deterioradas por pragas
ou doenças, sendo o material de interesse colocado
no local de secagem.
A distribuição do produto no local a ser
utilizado para a secagem deve ser uniforme para
garantir a homogeneização da secagem,
preferencialmente sem a necessidade de
movimentação do material, que pode danificá-lo, além
de ser mais uma etapa que envolve mão-de-obra e
um risco a mais de contaminação.
O PROCESSO DE SECAGEM
A secagem é a eliminação da água de um
produto por evaporação, com transferência de calor e
massa. É necessário o fornecimento de calor para
retirar a umidade do produto e um agente que absorve
o vapor d’água formado na superfície do produto. O
resultado é a separação entre a parte líquida (em geral
água) e a parte sólida.
No caso de material vegetal, a parte sólida
contém metabólitos primários, metabólitos
secundários e minerais, em concentrações variáveis.
Na secagem ocorre o arraste da água (vapor) devido
a diferença entre a pressão parcial do vapor de água
na superfície do produto (maior) e a pressão parcial
do vapor de água no ar.
As características específicas de cada
produto, associadas as propriedades do ar de
secagem e ao meio de transferência de calor adotado,
determinam diversas condições de secagem.
REV.BRAS.PL.MED., Botucatu, v.7, n.3, p.86-96, 2005.
6
A transferência de calor e de massa entre o
ar de secagem e o produto é um fenômeno comum a
qualquer condição de secagem. O processo de
secagem, baseado na transferência de calor e massa,
pode ser dividido em três fases (Figura 4).
Na Figura 4, as curvas de evolução do teor
de água do produto (a), cinética de secagem (b) e
evolução da temperatura do produto (c) descrevem
fases do processo de secagem, que são divididas
em zero, um e dois.
O período 0 representa o início da secagem,
quando o produto está mais frio do que o ar e a pressão
parcial de vapor da água na superfície do produto é
mínima, não havendo transferência de massa. Com
a elevação da temperatura do produto e da pressão
da água, atinge-se o ponto em que há transferência
de massa.
No período 1, a taxa e a velocidade de
secagem são constantes. Neste período a quantidade
de água livre a ser removida é grande, e enquanto a
migração de água do interior até a superfície do produto
for suficiente para acompanhar a perda por evaporação
as curvas permanecem constantes. Dependendo do
material biológico muitas vezes existe uma resistência
para a transferência de massa do interior do produto
fazendo com que a taxa de evaporação seja superior
a taxa migração de umidade do interior a superfície.
O período 2 é quando se observa uma taxa
decrescente na velocidade de secagem. Nesta fase
há uma redução significativa na velocidade de
migração da umidade do interior para a superfície do
produto. A temperatura do produto aproxima-se da
x
temperatura do ar de secagem e quando o produto
atinge o ponto de umidade de equilíbrio o processo é
encerrado.
O teor de umidade em plantas varia conforme
a parte da planta e/ou espécie utilizada, e o processo
de secagem reduz este teor a valores entre 5 e 12%.
As sementes e os frutos secos geralmente
possuem uma umidade entre 10 a 20% no momento
de colheita; as cascas contém entre 30 e 40%; as
folhas entre 60 e 90%; as raízes entre 70 e 85% e
flores e frutos carnosos entre 80 e 90% de umidade.
O processo de secagem interrompe a
degradação por processos metabólicos, e impede o
desenvolvimento de microorganismos. A temperatura
do ar de secagem pode variar entre 35 e 70ºC
dependendo da parte da planta e conhecimento sobre
a substância de interesse. Plantas que contenham
substâncias voláteis devem ser secas em
temperaturas inferiores a 40ºC (Corrêa Júnior et al.,
1994; Furlan, 1998; Silva, 1998; Martins, 2000; Arruda
et al., 2002; Chagas et al., 2003; Figueira et al.,
2003).
Para plantas com substâncias termolábeis,
deve-se verificar a temperatura segura para evitar a
degradação do princípio ativo. A perda de princípio
ativo em muitos casos não é evitada, mas cuidados
no processo de secagem minimizam tal perda,
sabendo-se que a presença da água após a colheita
também levaria a perdas por degradação e
deterioração.
As reações químicas ocorrem entre os
próprios componentes da planta, podendo ocorrer logo
dx/dt
Ta
c
b
0
1
2
a
t
FIGURA 4. Curvas características de cinética de secagem (curvas de evolução do teor de água do produto (a), cinética de
secagem (b) e evolução da temperatura do produto (c) descrevem fases do processo de secagem, que são divididas em
zero, um e dois) (Adaptado de Cornejo, 1987).
REV.BRAS.PL.MED., Botucatu, v.7, n.3, p.86-96, 2005.
7
As condições de secagem devem ser
documentadas assim como as demais etapas da
produção da matéria prima. Após o final do processo
da secagem o material de interesse vai ser separado
e acondicionado em embalagem apropriada para evitar
risco de ataque de pragas de armazenamento e
absorção de umidade do ambiente.
A embalagem deve conter um rótulo de
identificação do produto, data, peso, e demais
informações relevantes.
ARMAZENAMENTO
O local de armazenamento deve ser seco,
ventilado, protegido da luz, de insetos e de roedores
(Furlan, 1998). As embalagens devem permanecer
levantadas do chão em estantes.
Recomenda-se os seguintes critérios para a
estocagem dos produtos: prédios com pisos de fácil
limpeza; embalagens mantidas sobre estrados;
manter distância suficiente das paredes; manter
separação física entre os produtos diferentes para se
evitar uma contaminação cruzada.
CONSIDERAÇÃO FINAL
A qualidade da matéria prima vegetal será
obtida
mediante
o
uso
de
boas
práticas agrícolas em plantas medicinais e
aromáticas (Máthé & Franz, 1999) durante todo o
processo produtivo, desde a identificação botânica,
escolha do material vegetal, época e local de plantio,
tratos culturais, determinação da época de colheita,
cuidados no processamento, embalagem e
armazenagem até o momento do seu uso, de modo
a garantir o máximo da qualidade para o produto. Não
é possível, portanto, melhorar esta qualidade através
do processamento pós-colheita, mas sim minimizar
suas perdas.
Em anexo encontra-se a versão européia de
um guia de boas práticas agrícolas para a produção
de plantas medicinais e aromáticas. Este é um
importante guia a ser observado por todos aqueles
que desejam produzir uma matéria prima de qualidade,
além de possibilitar uma capacitação para atingir o
mercado internacional.
.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
ARRUDA, V.M., CASALI, V.W.D., COSTA, C.C. et
al. Qualidade da matéria-prima de Melissa
officinalis L.) após manejo pós-colheita e
secagem. Horticultura Brasileira, v. 20, n.2, supl.
2. CD ROM, 2002.
CHAGAS, J.H., BERTOLUCCI, S.K.V., PINTO,
J.E.B.P. et al. Rendimento de óleo essencial em
canfora submetida a diferentes tipos de secagem.
Horticultura Brasileira, v.21, n.2, supl.2 - CD
ROM, 2003.
CHAPPELL, J. The genetic and molecular genetics
of terpene and sterol origami. Current Opinion
in Plant Biology, v.5, p.151-157, 2002.
CORNEJO, F.E.P. Estudos dos parâmetros de
secagem e construção de um secador de
baixo custo para filés salgados de pescado.
1987. 86f. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de
Engenharia Agrícola, Universidade Estadual de
Campinas, Campinas.
CORRÊA JÚNIOR, C., MING, L.C., SCHEFFER, M.C.
Cultivo de plantas medicinais, condimentares
e aromáticas. Jaboticabal: Fundação de Estudos
e Pesquisas em Agronomia, Medicina Veterinária
e Zootecnia,1994, 162p.
FIGUEIRA, G.M., SARTORATTO, A., SILVA, C.A.L.
Efeito da secagem em espécies do gênero
Cymbopogon na composição do óleo essencial.
Horticultura Brasileira, v.21, n.2, supl.2 - CD
ROM, 2003.
FRANZ, C. Nutrient and water management for
medicinal and aromatic plants. Acta
Horticulturae, v.132, p.203-15, 1983.
FURLAN, M.R. Cultivo de plantas medicinais.
Cuiabá: SEBRAE-MT,1998, 137p.
GHERSHENZON, J. Changes in levels of plant
secondary metabolites under water and nutrient
stress. In: TIMMERMANN, B.N., STEELIN, C.,
LOEWUS, F.A. (eds.) Recent advances in
phytochemistry: phytochemical adaptations to
stress. New York: Plenum Press, 1984 v.18,
p.273-320.
GUERREIRO, C.P.V., MING, L.C., MARCHESE, J.A.
Production of aerial and underground biomass of
Jacaranda decurrens Cham. Bignoniaceae, in
different harvest times. In: INTERNATIONAL
SYMPOSIUM: BREEDING RESEARCH ON
MEDICINAL AND AROMATIC PLANTS, 3., LATIN
AMERICAN SYMPOSIUM ON THE PRODUCTION
OF MEDICINAL AND AROMATIC PLANTS, AND
CONDIMENTS, 2., 2004, Campinas.
PROCEEDINGS ... Campinas, 2004.
HERMS, D.A., MATTSON, W.J. The dilemma of
plants: to grow or defend. The Quarterly Review
of Biology, v.67, n.3, p.283-335, 1992.
LICHTENTHALER, H.K. The 1-deoxy-D-xylulose-5phosphate pathway of isoprenoid biosynthesis in
plants. Annual Review Plant Physiology and
Plant Molecular Biology, v.50, p.47–65, 1999.
LOEWER, O. J., BRIDGES, T.C., BUCKLIN, R.A. Onfarm drying and storage systems. ST. Joseph:
ASAE, 1994. 560p.
MARCHESE, J.A., BROETTO, F., MING, L.C. et al.
Aplicação exógena de artemisinina e indução floral
em Artemisia annua L. Revista Brasileira de
Plantas Medicinais, 2005 (no prelo).
MARCHESE, J.A. Produção e detecção de
artemisinina em plantas de Artemisia annua
REV.BRAS.PL.MED., Botucatu, v.7, n.3, p.86-96, 2005.
8
L. submetidas a estresses abióticos. 1999. 88p.
Dissertação (Mestrado) – Instituto de Biologia,
Universidade Estadual de Campinas, Campinas.
MARCHESE, J.A., MING, L.C., MATTANA, R.S.
Trocas gasosas em plantas de pothomorphe
umbellata (l.) miq. submetidas a diferentes níveis
de irradiância. Horticultura Brasileira, v.22, n.2,
supl.2, CD ROM, 2004.
MARCHESE, J.A., REHDER, V.L.G., CASIRAGHI,
V. et al. Flowering in plants of Artemisia annua L.
standed to diferent conditions of photoperiod and
temperature. Acta Horticulturae, v.569, p.275-80,
2002.
MARTINS, P.M. Influência da temperatura e
velocidade do ar de secagem no teor e na
composição química do óleo essencial de
capim limão (Cymbopogon citratus (D.C.)
STAPF.). 2000. 77f. Dissertação (Mestrado em
Engenharia Agrícola), Universidade Federal de
Viçosa, Viçosa.
MÁTHÉ, A., FRANZ, C. Good agricultural practices
and the quality of phytomedicines. Journal of
Herbs, Spices & Medicinal Plants, v.6, p.101113, 1999.
MATTANA, R.S., MING, L.C., MARCHESE, J.A.,.
Production of biomass in Pothomorphe umbellata
(L.) Miq. submitted to different photosynthetically
active radiation. In: INTERNATIONAL
SYMPOSIUM: BREEDING RESEARCH ON
MEDICINAL AND AROMATIC PLANTS, 3., LATIN
AMERICAN SYMPOSIUM ON THE PRODUCTION
OF MEDICINAL AND AROMATIC PLANTS, AND
CONDIMENTS, 2., 2004, Campinas.
PROCEEDINGS ... Campinas, 2004.
MING, L.C., SILVA, S.M.P., SILVA, M.A.S. et al.
Manejo e cultivo de plantas medicinais: algumas
reflexões sobre perspectivas e necessidades no
Brasil In ______. Diversos olhares em
etnobiologia, etnoecologia e plantas
medicinais. Cuiabá: Unicen, 2003. p.149-56.
MORALES, M.R., CHARLES, D.J., SIMON, J.E.
Seasonal accumulation of artemisinin in Artemisia
annua L. Acta Horticulturae, v.344, p.416-20,
1993.
PALEVITCH, D. Recent advances in the cultivation of
medicinal plants. Acta Horticulturae, v.208, p.2935, 1987.
REIS, M.S., MARIOT, A. Diversidade natural e
aspectos agronômicos de plantas medicinais. In:
SIMÕES, C.M.O. (ed.). Farmacognosia: da
planta ao medicamento. 2. Ed. Porto Alegre/
Florianópolis: Ed. da UFRGS/ Ed. da UFSC, 2000.
p.39-60.
SILVA, A.A. Plantas medicinais. Itajaí: EPAGRI,
1998. CD-ROM.
TREASE, G.E., EVANS, W.C. Pharmacognosy. 12.
ed. London: Baillière Tindall, 1983. 812p.
ANEXO 1 – REPRODUÇÃO DO GUIA PARA
BOAS PRÁTICAS AGRÍCOLAS (BPA) EM
PLANTAS MEDICINAIS E AROMÁTICAS (versão
européia n0 1, de 05/08/1998, segundo MÁTHÉ &
FRANZ, 1999).
Este guia de Boas Práticas Agrícolas de
Plantas Aromáticas e Medicinais se aplica à produção
e processos primários de todas as plantas utilizadas
na União Européia, para fins medicinais, flavorizantes,
perfumaria e alimentação. Também se aplica a todos
os métodos de produção, incluindo agricultura
orgânica. O objetivo deste guia é reduzir ao mínimo a
contaminação microbiana, e reduzir ao máximo
efeitos negativos durante o cultivo, processamento e
estocagem.
1. Sementes e material de propagação
1.1 Sementes devem ser identificadas
botanicamente, indicando a variedade, cultivar e
origem. O material empregado deve ser 100%
rastreável. O mesmo se aplica a material propagado
vegetativamente.
1.2. Material deve ser livre de pragas e
doenças.
1.3. A presença de plantas ou partes de
plantas com diferenças em relação ao material original
deve ser controlado ao longo do processo (cultivo,
colheita, secagem, empacotamento). Qualquer
impureza deve ser eliminada.
2. Cultivo
2.1. Método convencional ou orgânico.
Rotação de culturas.
2.2. Solo e fertilização
2.2.1. Não devem ser cultivadas em
solos contaminados com metais pesados, resíduos
de defensivos ou outro produto químico.
2.2.2. Estrumes devem ser livres de
fezes humanas e totalmente compostados.
2.2.3. Fertilizantes devem ser
aplicados de forma reduzida e de acordo com a
demanda da planta. É importante canalizar esforços
para se evitar a lixiviação.
2.3. Irrigação
2.3.1. Deve ser minimizada ao
máximo e somente aplicada de acordo com as
necessidades da planta.
2.3.2. Uso de água praticamente livre
de contaminantes, como fezes,
metais pesados, pesticidas, herbicidas e substâncias
toxicologicamente perigosas.
2.4. Manutenção e proteção da cultura
2.4.1. A terra deve ser própria ao
crescimento e requerimentos das plantas.
2.4.2. Aplicação de pesticidas e
REV.BRAS.PL.MED., Botucatu, v.7, n.3, p.86-96, 2005.
9
herbicidas deve ser evitada ao máximo. Quando
necessário, deve ser empregado o mínimo indicado
para o controle. Produtos para proteção química das
plantas devem estar em conformidade com os limites
máximos de resíduos estabelecidos pela União
Européia (European Pharmacopoeia, European
Directives, Codex Alimentarius). A aplicação desses
produtos deve ser feita por pessoal treinado e com
uso de equipamento aprovado e deve ser feita antes
da colheita respeitando o período definido pelo
fabricante. O uso de pesticidas deve ser
documentado.
2.4.3. Todas as dosagens de
suprimento nutricional e proteção química, devem
estar dentro da margem de segurança. É obrigatório
que o comprador seja informado sobre a marca,
quantidade e data de aplicação do pesticida usado.
3. Colheita
3.1. A colheita deve ser feita quando as plantas
estiverem com a melhor qualidade, de acordo com
as diferentes utilizações.
3.2. Deve ser feita quando as condições forem
favoráveis (solo úmido, orvalho, chuva ou alta umidade
do ar devem ser evitadas). Caso a colheita seja feita
em condições úmidas, cuidados extras devem ser
tomados.
3.3. Os equipamentos devem estar limpos e
em perfeito estado de funcionamento. As partes que
estarão em contato direto com as plantas devem ser
regulamente limpas e livres de óleo ou outros agentes
contaminantes.
3.4. Cortadeiras devem ser ajustadas para
levantar ao mínimo as partículas de solo, evitando
entrar em contato.
3.5. Durante a colheita cuidados devem ser
feitos para que ervas daninhas sejam misturadas ao
material colhido.
3.6. Plantas danificadas ou estragadas devem
ser prontamente eliminadas.
3.7. Todos os recipientes utilizados na colheita
devem ser limpos e livres de qualquer resíduo de
colheitas prévias; recipientes não utilizados devem
ser mantidos em ambiente seco, limpo e inacessível
a roedores ou outros animais.
3.8. O material colhido não deve entrar em
contato com o solo. Deve ser prontamente
transportado em condições secas e limpas (pode-se
usar sacos, cestas, etc.)
3.9. Danos mecânicos e compactação da
colheita pode resultar em perda da qualidade.
3.10. Entrega de material recém colhido para
processamento deve ser o mais rápido possível para
se evitar perdas da qualidade.
3.11. O material colhido deve ser protegido de
pestes, roedores, ou outros animais domésticos.
Medidas de controle devem ser documentadas.
4. Processamento primário
Entende-se como processamento primário
após a colheita, a lavagem, congelamento, secagem,
etc. Todos esses processos sejam eles para uso
alimentar ou medicinal, devem estar em conformidade
com as regulamentações da União Européia.
4.1. O material colhido ao chegar na unidade
de processamento, deve ser imediatamente
descarregado e desempacotado, não deverá ser
exposto diretamente ao sol (exceto em casos
específicos, p.ex. destilação) e deverá ser protegido
da chuva.
4.2. Prédios usados no processamento
devem ser limpos, muito bem ventilados e não
utilizado para manter animais domésticos.
4.3. Os edifícios devem ser construídos para
proteger a colheita de pássaros, insetos, roedores e
outros animais, inclusive domésticos. Todas as áreas
devem ser monitoradas contra estas pestes utilizandose iscas e equipamentos elétricos para matar insetos.
4.4. Equipamentos regularmente utilizados
devem ser mantidos limpos.
4.5. No caso de secagem natural, a cultura
deve ser espalhada em camadas finas, mantidas a
uma suficiente distância do chão para uma boa
uniformidade da secagem, evitando com isto o
aparecimento de fungos. Ao se usar secadores a óleo
devem ser evitadas as emanações da exaustão para
a secagem.
4.6. Exceto no caso da secagem natural,
todas as condições como temperatura, duração, etc.
devem levar em consideração o tipo de material (raiz,
folha, flor), e a substância ativa que se deseja. Todas
as condições de secagem devem ser documentadas.
4.7. Secagem diretamente no chão com
exposição direta ao sol deve ser evitada, a menos
que seja requerida por um motivo específico.
4.8. Todo material deve ser classificado ou
peneirado, eliminando-se corpos estranhos. As
peneiras devem ser mantidas limpas.
4.9. As lixeiras devem estar próximas,
diariamente limpas e vazias.
4.10. O produto seco deve ser prontamente
embalado para proteção microbiológica e reduzir a
risco de ataques de pragas.
5. Empacotamento
5.1. Após repetidos controle e eventuais
eliminações de materiais de baixa qualidade e
impurezas, o produto deverá ser embalado
preferencialmente em sacos, sacolas ou caixas
novas, limpas e secas. A identificação deve ser clara
e permanente.
5.2. Produtos empacotados devem ser
estocados em ambiente limpo e seco, livre de pragas
e inacessível a animais. Deve ser garantido que não
REV.BRAS.PL.MED., Botucatu, v.7, n.3, p.86-96, 2005.
10
ocorra contaminação devido ao material empregado
no empacotamento, particularmente no caso de
sacos de fibras.
5.3. Na reutilização de material de embalagem
a mesma deve estar limpa e seca, garantido a não
contaminação do produto.
6. Estocagem e transporte
6.1. Após embalagem, produtos secos e óleos
essenciais devem ser estocados em ambientes com
boa aeração e secos, onde a variação de temperatura
seja limitada. Produtos frescos devem ser estocados
entre 1oC e 5oC enquanto produtos congelados devem
ser mantidos a –18oC (ou abaixo de –20oC para
estocagem por longo período de tempo).
6.2. Utilize telas na portas e janelas para evitar
a entrada de pragas, pássaros, etc.
6.3. Recomenda-se os seguintes critérios para
estocagem dos produtos:
- prédios com pisos de fácil limpeza; sobre
estrados; manter distância suficiente das paredes;
uma boa separação física entre os produtos diferentes
para se evitar contaminação cruzada; produtos
orgânicos devem ser estocados separadamente.
6.4. No caso de se transportar grandes volumes,
é importante assegurar-se de que as condições do
transporte sejam adequadas, ou seja, seca e
recipientes ventilados a fim de reduzir o risco de
desenvolvimento fúngico ou processos fermentativos.
Veículos que atendam a essas e outras condições
são recomendados.
6.5. A fumigação para controle pragas deve ser
realizada caso seja extremamente necessária e
realizada exclusivamente por pessoal qualificado.
Somente os produtos químicos registrados devem ser
empregados. Todo o procedimento deve ser
documentado.
6.6. Para a fumigação dos armazéns, somente
as substâncias permitidas devem ser usadas de
acordo com a União Européia ou regulamentos
nacionais.
6.7. Sempre que se empregar congelamento
ou vapor saturado para controle de pragas a umidade
do material deverá ser controlada após cada
tratamento.
7. Equipamentos
7.1. Equipamentos empregados no cultivo e
processamento devem ser de fácil limpeza, para se
eliminar o risco de contaminação.
7.2. Todos os equipamentos devem ser
montados em condições adequadas para sua
manipulação. Devem ter manutenção periódica e
estarem regularmente limpos. Equipamentos
utilizados na aplicação de fertilizantes e pesticidas
devem ser calibrados regularmente.
7.3. Preferivelmente não devem ser empregados
equipamentos de madeira, a não ser que seja
necessário. Neste caso, deve-se tomar cuidados para
se evitar contaminação do material vegetal por
contaminantes químicos ou microbiológicos.
8. Pessoal
8.1. Tarefas que necessitam conhecimento
botânico das plantas devem ter pessoal qualificado.
8.2. Todos os procedimentos de higiene devem
estar em conformidade com aqueles adotados para
manuseio de alimento.
8.3. Todo pessoal envolvido na manipulação do
material vegetal deve exibir alto grau de higiene pessoal
(inclusive os trabalhadores do campo), e receber
treinamento adequado sobre a responsabilidade de
uma boa higiene. As dependências onde o material é
processado devem ter todos as facilidades para uma
boa higiene pessoal.
8.4. Pessoas que apresentam qualquer tipo de
doença infecciosa devem ser impedidas de entrar em
contato com o material vegetal e áreas de
processamento
8.5. Pessoas que apresentam feridas,
inflamações em geral, inclusive cutâneas, devem ser
mantidas afastadas da áreas de processamento, ou
ter vestimenta e luvas apropriadas, até sua
recuperação.
8.6. Pessoas devem estar protegidas do contato
de material vegetal potencialmente tóxico ou alérgico,
por meio de EPIs apropriados.
8.7. Todos os cuidados e preocupação com o
bem estar de todo o pessoal, do cultivo ao
processamento de plantas medicinais e aromáticas
devem ser garantidos.
9. Documentação
9.1. Todo o material vegetal de origem e as
etapas de processamento, incluindo-se a localização
do cultivo, devem ser documentadas. Informações
prévias sobre o cultivo da cultura e outras observações
devem ser registradas.
9.2. Todos os lotes de material colhido devem
ser identificados de modo claro e inequívoco.
9.3. Lotes de diferentes áreas de cultivo de uma
mesma cultura poderão ser misturados se garantido
que a mistura seja homogênea. Este procedimento
deve ser documentado.
9.4. É importante documentar o tipo, quantidade
e data da colheita, bem como fertilizantes, herbicidas,
pesticidas e reguladores de crescimento usados
durante a produção.
9.5. A aplicação de agentes fumigantes deve
ser claramente anotada na documentação do lote.
9.6. Qualquer processo ou procedimento que
possa causar qualquer tipo de impacto na qualidade
do produto deve ser anotada na documentação do
lote.
REV.BRAS.PL.MED., Botucatu, v.7, n.3, p.86-96, 2005.
11
9.7. Todos os acordos estabelecidos entre
produtor e compradores devem ser regidos por
contratos. Deve estar discriminado no documento que
o cultivo, colheita e processamento está de acordo
com os procedimentos descritos neste guia. Outras
informações como a localização geográfica do cultivo,
país de origem e o produtor responsável devem estar
presentes no documento.
9.8. Todo o material resultante de uma auditoria
deve ser mantido por no mínimo 10 anos.
9.9 Qualquer eventualidade que ocorra durante
o período de crescimento que possa de alguma forma
influenciar na composição química da planta, p.ex.
variação climática extrema, pragas, particularmente
durante o período de colheita, devem ser
documentadas.
10. Educação
É extremamente prudente educar todo o
pessoal envolvido na produção ou gerenciamento da
produção e processo, no desenvolvimento de técnicas,
bem como no uso adequado de herbicidas e
pesticidas.
11. Garantia de Qualidade
Um documento legal reconhecido
internacionalmente ou por meio de instituições locais,
deve especificar quais elementos devem ser
considerados para garantir a qualidade de um produto.
Questões como princípios ativos e outros ingredientes,
propriedades óticas e sensoriais, limite de
contaminação microbiológica, quantidade de resíduos
químicos e metais pesados, entre outras devem estar
presentes.
REV.BRAS.PL.MED., Botucatu, v.7, n.3, p.86-96, 2005.

Documentos relacionados