Vi, N.1 jul-dez, 2010
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V.i, N.1 jul-dez, 2010 Copyright© Dezembro de 2010 by Faculdade de Tecnologia Intensiva Endereço eletrônico: www.saudeemdialogo.com.br Conselho Editorial Editora Chefe Prof.ª Dr.ª Milena Abrão de Sena (FATECI) Editores Técnicos Prof. Ms. Filipe de Menezes Jesuino (FATECI) Prof. Ms. Clauberson Sales do Nascimento Rios (FATECI) Conselheiros Prof. Ms. Antônio Alexandre Iorio (FATECI) Prof. Dr. Cézar Augusto Walter (UECE) Prof.ª Ms. Rosana Iorio Ferreira (FATECI) Prof.ª Ms. Silvana Mara Rocha Sidney Montenegro (FATECI) Comitê Científico Cristina Tonin Beneli (FGF) Danielle Malta Lima (UFC) Gisele Façanha Diógenes Teixeira (FATECI) José Clerton de Oliveira Martins (UNIFOR) José Rogério Santana (UFC) Junia de Vilhena (PUC-Rio) Paulo Sérgio Ferreira Barbosa (UECE) Vânia Marilange Ceccatto (UECE) Consultores Geraldo Jesuino da Costa Henrique Figueiredo Carneiro Secretaria Sergiana Reis Projeto Gráfico e Editoração Filipe de Menezes Jesuino Faculdade de Tecnologia Intensiva Rua Barão de Aratanha, 51 60050-070. Fortaleza - Ce Telefone/Fax: (85) 3253.7050 Web Design Luis de Sousa Filho Diretora Acadêmica Michelle Rabelo Publicação Dezembro de 2010 Diretor Geral Clauder Ciarlini Filho Revista Eletrônica Saúde em Diálogo / Faculdade de Tecnologia Intensiva. v. 1, n.1 (Jul./Dez. 2010) . Fortaleza: Ed. Fateci, 2010v. ; 28 cm Semestral Resumo em português e inglês ISSN 1. Saúde Periódico I. Faculdade de Tecnologia Intensiva Sumário 5 Editorial artigos 7 Imobilização: aspectos fisiológicos, clínicos e nutricionais santos-júnior, ffu; santos, efa; ribeiro júnior, hl; rocha, ds; ceccatto, vm 16 Representação social e Centro de Referência de Assistência Social (CRAS): um estudo sobre a Psicologia Social santos, nma; lima, dma 24 Disfonia e stress no dia-a-dia de professoras picanço, lp 36 Considerações neuropsicológicas sobre agressividade e violência no trânsito a partir dos achados no psicodiagnóstico miocinético (PMK) holanda filho, rg; silva, lp 46 Efeitos do ultrassom pulsado de baixa intensidade na regeneração óssea marques, lc; teixeira, gfd; brasil, aco Sessão especial 59 Alterações na densidade óssea pós-imobilização em ratos vasconcelos, apt; santos-júnior, ffu 66 Arthur Bispo do Rosário: senhor e escravo do labirinto vieites, so; soares , mef; jesuino, fm 72 Instruções para submissão de originais 76 Modelo de parecer Table of Contents 5 Editorial artigos 7 Immobilization: physiological, clinical and nutritional aspects santos-júnior, ffu; santos, efa; ribeiro júnior, hl; rocha, ds; ceccatto, vm 16 Social Representation and Reference Center for Social Assistance (CRAS): a Study on the Social Psychology santos, nma; lima, dma 24 Dysphonya and stress in teachers daily life picanço, lp 36 Neuropsychological considerations on aggression and violence in traffic from the findings in myokinetic psychodiagnosis (PMK) holanda filho, rg; silva, lp 46 Effects of pulsed ultrasound of low intensivity in the bone regeneration marques, lc; teixeira, gfd; brasil, aco Sessão especial 59 Bone density alterations in rats post immobilization vasconcelos, apt; santos-júnior, ffu 66 Arthur Bispo do Rosário: Master and slave of the labirynth vieites, so; soares , mef; jesuino, fm 72 Instructions to text submission 76 Model of Report Editorial 5 Editorial Caros leitores, No mês de dezembro, nasce o primeiro número da revista eletrônica da Faculdade de Tecnologia Intensiva – FATECI que, sob a sigla Saúde em Diálogo, compreende o somatório de esforços coletivos de professores e pesquisadores que atuam em áreas distintas como Biomedicina, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Psicologia e Radiologia. De caráter semestral o foco da Revista Eletrônica Saúde em Diálogo centra-se no fato de que os resultados obtidos sejam relevantes para a comunidade em geral e se firme como fonte de publicações. Este projeto foi concebido para construir um vinculo permanente de caráter cientifico de estudos e pesquisas e referendar mais precisamente a missão da FATECI que é produzir e socializar o conhecimento, prioritariamente na área de saúde, através do ensino, da pesquisa e extensão, contribuindo para o desenvolvimento científico, social e cultural. Trata-se de mais um dentre os inúmeros desafios que a Instituição tem para com a sociedade. No campo da Psicologia apresentamos duas contribuições relevantes: a primeira, Representação Social e Centro de Referência de Assistência Social (CRAS): Um Estudo sobre a Psicologia Social, trabalho este onde as autoras Nara M.A. dos Santos e Deyseane M.A. Lima enveredaram pelo campo das representações feitas em nome da Psicologia neste ambiente de promoção de saúde; e o segundo, no caso: Considerações neuropsicológicas sobre agressividade e violência no trânsito a partir dos achados no psicodiagnóstico miocinético (PMK ), dos autores Raimundo Gomes de Holanda Filho e Luciane Ponte e Silva, que traz indícios pertinentes para o entendimento de uma situação que toca em cheio uma das preocupações mais atuais em termos de saúde pública, ou seja, o crescimento vertiginoso de situações violentas que acompanhamos cotidianamente não apenas no trânsito cearense, mas no brasileiro de uma forma geral. Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.05-07, jul-dez, 2010 6 Sena, Milena Abrão de No contexto da Fisioterapia neste primeiro número, temos dois artigos: Imobilização: aspectos fisiológicos, clínicos e nutricionais, dos autores Francisco Fleury Uchoa Santos-Júnior, Manuela Freire de Almeida, Howard Lopes Ribeiro Júnior, Davi Sousa Rocha, Vânia Marilande Ceccatto e o trablaho Efeitos do ultrassom pulsado de baixa intensidade na regeneração óssea, dos autores Luan Cavalcante Marques, Gisele Façanha Diógenes Teixeira e Ana Cristhina de Oliveira Brasil. Ambos tratam-se de revisões bibliográficas criteriosas e aprofundadas em suas respectivas especialidades. No campo da Fonoaudiologia temos o relevante artigo Disfonia e stress no dia a dia de professora, no qual a autora Luciana Picanço articula duas temáticas que interessam não apenas àqueles profissionais específicos da área fonoaudiológica, senão a todos que direta e indiretamente se encontram envoltos com a questão da relação ensino e aprendizagem, seus benefícios e suas vicissitudes. Em novembro de 2010, aconteceu na FATECI, a II Semana de Ciência, Tecnologia e Saúde, que proporcionou aos alunos e professores exposições e apresentações de seus trabalhos, incentivando a pesquisa Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.05–06, jul-dez, 2010 e o gosto pelas publicações. Na Seção Especial deste fascículo dois trabalhos eleitos como os melhores do evento merecem destaque. O primeiro Alterações na Densidade Óssea Pós-Imobilização em Ratos, da autora Ana Paula Teixeira Vasconcelos orientada pelo Prof. Ms. Francisco Fleury Uchoa Santos-Júnior e o segundo Arthur Bispo do Rosário: senhor e escravo do Labirinto, dos autores Saulo de Oliveira Vieites e Maria Emanuela Freire Soares orientados pelo prof. Ms. Filipe de Menezes Jesuíno. É importante ressaltar que os professores Ms. Filipe de Menezes Jesuíno e Ms. Gisele Façanha Diógenes Teixeira integrantes do corpo editorial participam, conforme vimos, como coautores neste primeiro exemplar. A Comissão Editorial da Revista Eletrônica Saúde em Diálogo agradece aos alunos, professores, a direção da instituição FATECI e a todos que contribuíram para que essa edição se transformasse em realidade. Até nossa próxima edição. Profa. Dr.ª Milena Abrão de Sena Editora-Chefe Imob: Fisio, Clínica, Nutrição 7 Imobilização: aspectos fisiológicos, clínicos e nutricionais Francisco Fleury Uchoa Santos-Júniori [email protected] Emanuela Freire de Almeida Santosii Howard Lopes Ribeiro Júnioriii Davi Sousa Rochaiv Vânia Marilande Ceccattov resumo abstract A vivência de situações de limitações físicas temporárias é uma constante em nossos dias, em virtude de uma imobilização, buscando restabelecer a função orgânica. A imobilização em seus aspectos fisiológicos, clínicos e nutricionais, foi avaliada através das bases científicas Pubmed, Science Direct e Bireme enfocando 51 trabalhos dos últimos 30 anos, recuperados por meio das palavras-chave: repouso no leito, imobilização, imobilidade física e nutrição. Vários efeitos deletérios ocorrem no músculo após um período de imobilização, como encurtamento e atrofia muscular, diminuição da área da fibra, número de sarcômeros em série e aumento do tecido conjuntivo. A ingestão de carboidratos e proteínas deve ser estudada de modo mais amplo visando minimizar os efeitos deletérios da imobilização. Every day many people experience situations of temporary physical limitations, because of a tie, with the goal of restoring the organ function. The aim was to review the literature in this paper about the detention in their physiological aspects, and clinical nutrition through scientific PubMed, Science Direct and Bireme focusing on 51 pieces of the past 30 years and recovered through the keywords: bed rest, immobilization, Physical immobility. Several deleterious effects occur in the muscles after a period of restriction, such as shortening and muscle atrophy, decreased the area of fiber and number of sarcomeres, increase in connective tissue. The intake of carbohydrates and protein should be better studied to minimize the effects after immobilization. Palavras-chave: repouso no leito, imobilização, imobilidade física, nutrição. Keywords: bed rest, immobilization, Physical immobility, nutrition I Fisioterapeuta; Mestre em Ciências Fisiológicas/UECE (Universidade Estadual do Ceará); Doutorando em Biotecnologia/RENORBIO-UECE; Docente da FATECI (Faculdade de Tecnologia Intensiva); Laboratório de Bioquímica e Cultura de Células/UECE. II Fisioterapeuta; Especialista em Terapia Manual e Postural/CESUMAR; III Graduando em Biologia; Laboratório de Bioquímica e Cultura de Células/UECE. IV Profissional de Educação Física. Mestrando em Ciências Fisiológicas - UECE V Bióloga; Docente do Mestrado Acadêmico em Ciências Fisiológicas/UECE; Laboratório de Bioquímica e Cultura de Células/UECE Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.07–15, jul-dez, 2010 8 Santos-Jr., F.F.U.; Santos, E.F.A.; Ribeiro-Jr., H.L.; Rocha, D.S.; Ceccatto, V.M. 1 INTRODUÇÃO A vivência de pacientes em uma situação onde se padece de limitações físicas temporárias é uma constante no trabalho do profissional de saúde. Seja por acidentes ou patologias, estas pessoas passam pela inconveniente situação de ter uma parte de seu corpo imobilizada, algumas vezes com tala gessada, outras por meio de fixadores internos ou externos. Ambas as situações levam o paciente a um quadro de limitação provisória de suas habilidades plenas, podendo limitar sua locomoção, assim como suas atividades de rotina. A imobilização é um recurso frequentemente utilizado na prática clínica, sendo comum em patologias álgicas e nas fraturas. Poucos trabalhos experimentais têm buscado contribuir para o seu entendimento. Sabe-se, entretanto, que mesmo pequenos períodos acarretam diversos prejuízos a região imobilizada, especialmente atrofia muscular.(1) Outra questão importante é que a imobilização causa transtornos em outras partes do organismo, alterando o metabolismo, o qual é uma questão ainda pouco explorada.(2-4) A atrofia muscular esquelética constitui um processo altamente ordenado e regulado com diversas alterações metabólicas, bioquímicas e estruturais que afetam a funcionalidade dos músculos envolvidos. A estrutura e a função dos músculos esqueléticos são condicionadas pela atividade proprioceptiva, pela inervação motora, pela carga mecânica imposta ao tecido, pela realização de ciclos de estiramento/encurtamento e pela mobilidade das articulações. Se por acaso algum desses fatores for comprometido, desenvolver-se-á um quadro de atrofia muscular.(5) O tecido muscular é caracterizado por realizar contrações (ciclos de estira- Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.07–15, jul-dez, 2010 mento/encurtamento) e essa atividade contrátil parece ser determinante na massa muscular e pode preceder os sinais endócrinos para a depleção de proteínas no músculo. Além disso, os músculos mantidos inativos são mais sensíveis aos sinais catabólicos dos hormônios contraregulatórios.(6,7) Estudos com músculos isolados mostram que a taxa de transporte de aminoácidos está diretamente ligada à atividade contrátil.(6,8) A perda de massa muscular associada à perda de força é uma das primeiras e mais óbvias modificações que ocorrem como resultado da imobilização. Essa perda é mais acentuada nas primeiras setenta e duas horas, com índices que diminuem de 14 a 17%. Tendo decorrido aproximadamente uma semana, o ritmo de perda parece diminuir.(9-11) A velocidade de síntese protéica começa a declinar seis horas após o início da imobilização.(10) Observa-se ainda que o acúmulo do tempo de imobilização acarreta ainda mais prejuízos a saúde do paciente, de modo que três semanas de imobilização podem resultar em uma perda de 47% da força muscular.(12) A atrofia da musculatura esquelética resultante da ausência de cargas é uma das maiores mudanças associadas com o descondicionamento físico, interferindo inclusive em atividades de rotina.(13) 2 MATERIAIS E MÉTODOS Este trabalho buscou revisar a literatura através das bases científicas Pubmed, Science Direct e Bireme enfocando 50 trabalhos dos últimos 30 anos e trazendo um apanhado a respeito da imobilização em seus aspectos fisiológicos, clínicos e nutricionais, recuperados por meio das palavras-chave: bed rest, immobilization, physical immobility, nutrition. Imob: Fisio, Clínica, Nutrição 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram selecionados 51 artigos dos quais vinte abordavam as alterações fisiológicas, seis enfocavam as questões clínicas e vinte tratavam dos aspectos nutricionais. 3.1 Aspectos fisiológicos da imobilização A atrofia muscular parece ser um processo altamente ordenado e regulado, caracterizado pela diminuição do tamanho da fibra muscular(9-11,14), área de secção transversal e conteúdo protéico(10,14), redução da potência muscular, maior fatigabilidade e aumento da resistência à insulina. Sabe-se que a diminuição da síntese e o aumento da degradação protéica envolvidas neste processo contribuem para a perda total de proteína muscular devido ao desuso. Embora os acionadores que causam atrofia sejam diferentes, a perda de massa muscular, em cada caso, envolve um programa comum que estimula a proteólise muscular. Baseado no conhecimento atual da atrofia muscular por um período de imobilização, considera-se que a mesma é um processo que envolve a interação entre duas ou mais vias de sinalização, ao invés da idéia de se trabalhar com um via isolada como responsável.(14) Essas correlações se baseiam na redução no tamanho do músculo e na possível queda na tensão por unidade de área de secção transversal do músculo.(9-11) Outras duas situações em relação a uma imobilização por suspensão do membro realizada em trabalho de Guillot et al.,(15) são as seguintes: a primeira é que a suspensão gerou uma mudança no recrutamento neuronal dos músculos imobilizados, favorecendo flexores em relação a extensores, já a segunda diz que a atrofia muscular esta relacionada com o tamanho inicial da fibra, ou seja, músculos com um diâmetro maior 9 de suas fibras apresentam uma atrofia mais expressiva em relação aos músculos com menor diâmetro. Em animais submetidos a método de imobilização com uso de atadura gessada com o intuito de analisar a musculatura respiratória, verificou-se hipotrofia muscular do diafragma, associada a redução de peso do próprio músculo. O que afirma que modelos de imobilização que envolvam o tronco dos animais podem limitar a amplitude da inspiração levando a musculatura respiratória a uma situação de subutilização e consequente atrofia.(16) O desenvolvimento ou a atrofia do músculo esquelético dependem do balanço entre a taxa de síntese e a taxa de degradação das proteínas intracelulares.(17) As ações da insulina sobre o metabolismo das proteínas e dos aminoácidos são orientadas no sentido do anabolismo.(18) A insulina, após interação com o receptor de membrana, estimula os transportadores de glicose, principalmente receptores protéicos do tipo GLUT-4, facilitando a entrada do carboidrato para a célula, e exercendo ação anabólica sobre o metabolismo protéico através dos seguintes mecanismos: estimulando o transporte de aminoácidos para dentro da célula; aumentando, ao nível ribossômico, a eficiência do processo de tradução, atuando na etapa de iniciação da síntese protéica.(19) Em diversas condições fisiológicas, o transporte de glicose através da membrana celular é um fator limitante na utilização de glicose pelo músculo esquelético.(20,21) A in sulina e o exercício físico são os estimuladores fisiologicamente mais relevantes do transporte de glicose no músculo esquelético.(22,23) O estilo de vida sedentário é um fator que contribui para o desenvolvimento ou aumento da resistência à insulina.(24) Portanto, a imobilização gera uma situação que vai à contra mão da síntese protéica, modificando os níveis de glicose dentro Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.07–15, jul-dez, 2010 10 Santos-Jr., F.F.U.; Santos, E.F.A.; Ribeiro-Jr., H.L.; Rocha, D.S.; Ceccatto, V.M. do músculo, por meio de uma alteração da resistência a insulina, o que gera um padrão de difícil acesso a este hormônio que está diretamente ligado à questão. Essas ações da insulina sobre o metabolismo protéico são especialmente importantes no músculo, mas estão também presentes, em maior ou menor grau, em outros tecidos. Além de sua ação ao nível ribossômico, a insulina partilha com os chamados fatores de crescimento (IGFs) a capacidade de estimular o crescimento celular e, portanto, a síntese protéica, atuando na transcrição e aumentando a síntese de RNAm. Os efeitos anabólicos desse hormônio são reforçados por suas ações anticatabólicas. A insulina inibe a proteólise, suprime a liberação e inibe a oxidação dos aminoácidos essenciais.(25) 3.2 Aspectos clínicos da imobilização Dentre as complicações clínicas decorrentes de um período de imobilização, estão: aumento da freqüência cardíaca (FC), diminuição da reserva cardíaca, hipotensão ortostática, e tromboembolismo venoso. Uma relação direta com os tecidos cardíacos é o aumento da FC (geralmente a mais de 80 batimentos / min) em virtude da imobilização, provavelmente devido a um aumento da atividade do sistema nervoso simpático. Durante o repouso, a FC basal aumenta um batimento por minuto a cada dois dias. Devido a este aumento, tem-se um menor tempo de diástole e, consequentemente termina por afetar a sístole. Assim o coração é menos capaz de responder às demandas metabólicas acima do nível basal. Portanto, um tempo mais curto de diástole reduz o fluxo sangüíneo coronariano e diminui o oxigênio disponível para o músculo cardíaco.(26) O tecido muscular esquelético é constituído basicamente de elementos contráteis, existindo também uma íntima relação entre Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.07–15, jul-dez, 2010 estes elementos e o tecido conjuntivo (TC) intramuscular. Deste modo, o comportamento elástico do músculo esquelético é determinado não só pelos componentes contráteis, mas também por este segundo tecido.(27) No músculo esquelético, encontra-se de 1-10% de tecido conjuntivo, sendo este percentual variável entre os músculos com diferentes funções.(28) Esse aumento de TC forma uma barreira mecânica, dificultando o suprimento sangüíneo das fibras musculares que o cercam, diminuindo os capilares para a fibra. Essa proliferação do TC aumenta o contato das fibras colágenas entre si, estimulando a formação de ligação cruzada anormal e obtendo como resultado final deste processo a perda da extensibilidade e aumento na rigidez tecidual.(29) Um dos possíveis mecanismos de disparo das mudanças subsequentes à imobilização é a modificação do grau de atividade neural sobre o tecido muscular. (10) Mudanças nas propriedades contráteis musculares observadas após três semanas de imobilização articular, têm a causa relacionada com modificações na modulação do nível de energia dos motoneurônios do referido músculo.(30) Observa-se ainda que estas alterações nos motoneurônios devam ter início muito antes de três semanas de imobilização.(31) A consequência direta é o aumento da fatigabilidade devido à menor capacidade oxidativa.(10) 3.3 Aspectos nutricionais da imobilização Um processo de imobilização gessado, ou por fixação externa ou interna de uma articulação faz com que, muitas vezes, não haja descarga de peso corporal sobre o membro imobilizado. Ou seja, é possível gerar um quadro de ausência de contração muscular capaz de realizar uma variação na amplitude articular, assim como, sem uma atuação muscular contra a gravidade, asse- Imob: Fisio, Clínica, Nutrição melhando-se a um quadro de voo espacial. Nesta última situação, é válido um consumo adequado de proteínas assim como de energia de um modo geral, associado com exercícios para os grandes grupos musculares a fim de manter os músculos e a massa magra corporal.(32) Uma outra questão é a utilização de uma dieta de baixa caloria em situações de pósoperatório. Considerando este último como um item geral, existe a situação nutricional associada a este momento terapêutico. Estudos sugerem que três dias de alimentação de baixa caloria, uma prática comumente utilizada após cirurgia, por si só, induz resistência à insulina e alterações nos marcadores de utilização de substrato.(33) Uma proposta para a redução dessa resistência a insulina é a utilização de um tratamento oral préoperatório com carboidratos ao invés do tradicional jejum, objetivando minimizar efeitos advindos de um período de imobilização ou de restrição ao leito pós cirúrgico, podendo ainda, teoricamente, tornar os pacientes mais suscetíveis à uma nutrição mais adequada em sua recuperação. (34) Considerando que existe uma grande importância na questão metabólica em relação aos estados imobilizados, pós-operatórios e de restrição ao leito, esta pode ser diretamente afetada e ainda agravada se associada a breves períodos de restrição calórica em sua alimentação.(35) Em situações de recuperação de estruturas ligadas a questão da imobilização, é fundamental um aporte protéico para dar suporte à recuperação do paciente(36), otimizando sua recuperação e reduzindo o tempo de desuso. Já que histologicamente o mecanismo de crescimento do tecido ósseo como em situações de fratura, relacionadas a longos períodos de imobilização, é aposicional, sempre presente nos processos de reparação de fraturas nos organismos jovens e adultos, o que necessita de uma alta 11 requisição de células fontes. Isto enfatiza a justificativa de um uso maior de proteínas nos estados imobilizados(37), pós-cirúrgicos e outros relacionados à questão de restrição ao leito, mesmo que por breves períodos.(38) No que diz respeito a fraturas traumáticas, imobilizadas, cicatrizam adequadamente caso o paciente seja alimentado com dieta balanceada contendo cerca de 21% de proteína bruta, entretanto haverá um processo regenerativo mais precoce se a dieta contiver 27% de proteína bruta ou mais.(39) Tanto a análise radiológica quanto histopatológica revelaram que a alimentação com maior nível proteico ofereceu melhor qualidade cicatricial, embora a dieta de manutenção também tenha ofertado condições satisfatórias de cicatrização. Considerando que o processo cicatricial depende da presença de proteína, pesquisas apontam que uma oferta alimentar com um teor proteico mais elevado é mais eficiente na manutenção do balanço nitrogenado positivo, um fator importante a ser mantido no pós-operatório, assim como na imobilização como um todo.(40,41) Em relação ao padrão de alimentação pós-traumático, alguns estudos verificaram a influência de uma dieta hiperproteica nas primeiras fases de consolidação da fratura e concluíram que esta é favorável ao processo de reabilitação, especialmente na fase de formação cartilagínea do calo ósseo na consolidação endocondral, pela melhora da quantidade orgânica do calo.(42) Entretanto, esta prática alimentar não deve ser incentivada por longos períodos, já que uma quantidade excessiva de proteínas pode levar a uma excreção aumentada de cálcio e em situações extremas a insuficiência renal.(43,44) Uma outra linha de raciocínio que vem sendo utilizada é a de uma suplementação durante o período de imobilização para a manutenção de um padrão energético adequado(45,46), em especial com sulfato de Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.07–15, jul-dez, 2010 12 Santos-Jr., F.F.U.; Santos, E.F.A.; Ribeiro-Jr., H.L.; Rocha, D.S.; Ceccatto, V.M. vanadil que é um composto que favorece a glicogênese e a manutenção dos níveis de glicogênio muscular.(47,48) Considerando a suplementação no período de imobilização muscular, há a necessidade mais estudos com os compostos contendo o elementotraço vanádio, que já demonstraram exercer efeitos insulino-miméticos, dentre eles o aumento do transporte de glicose, oxidação da glicose e síntese de glicogênio, além de impedir a lipólise e gliconeogênese.(49) Um dos efeitos de maior importância dos sais de vanádio é a translocação do transportador GLUT4 do seu compartimento intracelular, para a superfície da célula, aumentando assim a captação de glicose. (50) Em um estudo com ratos o tratamento com sulfato de vanadil promoveu elevação das reservas de glicogênio muscular tanto no grupo controle quanto no imobilizado, além de impedir a redução do peso muscular. O que sugere a manutenção de um padrão nutricional diferenciado no tecido muscular em desuso, melhorando as condições do músculo imobilizado durante o período de restrição.(51) 4 Conclusão Apesar de ser um recurso muito utilizado para tratamento de lesões músculo-esqueléticas, vários efeitos deletérios ocorrem no músculo após um período de imobilização, tais como encurtamento e atrofia muscular, diminuição da área da fibra, número de sarcômeros em série e aumento do tecido conjuntivo. A ingestão de carboidratos no pré-operatório deve ser melhor estudada como fonte energética visando evitar ou minimizar o quadro de resistência a insulina gerado, assim como o aumento no consumo protéico durante o período de imobilização visando restabelecer mais rapidamente a lesão reduzindo o período Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.07–15, jul-dez, 2010 total de imobilização, e minimizando os efeitos negativos que aparecem no período pós imobilização/restrição ao leito. Além do uso de suplementos como é o caso do sulfato de vanadil como um meio de manutenção da massa muscular, reduzindo o padrão de perda em função de um processo de imobilização. Notas 1. Caierão QM, Teodori RM, Minamoto VB. A influência da imobilização sobre o tecido conjuntivo muscular: uma revisão. Fisioterapia em Movimento 2007; 20(3):87-92. 2. Appell HJ. Muscular atrophy following immobilization: a review. J Sports Med 1990; 10(1):42-58. 3. Coutinho EL, Gomes ARS, França CN, Oishi J, Salvini TF. 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Rev Bras Med Esporte 2006; 12(6): 356-360. Recebido em 11 de agosto 2010 Aceito 26 de outubro de 2010 Revisado em 19 de dezembro de 2010 Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.07–15, jul-dez, 2010 16 Santos,N.M.A.; Lima,D.M.A. Representação Social e Centro de Referência de Assistência Social (CRAS): um Estudo sobre a Psicologia Social Nara Maria Alves dos Santosi [email protected] Deyseane Maria Araújo Limaii [email protected] resumo abstract O presente artigo tem como objetivo analisar a relação entre a representação social e a psicologia social, a partir de estudos teóricos sobre a atuação do psicólogo no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS). Este se constitui como instrumento estratégico dentro da rede de proteção e promoção social. O psicólogo que atua no CRAS tem um papel fundamental no sentido de facilitar o resgate dos vínculos afetivos e comunitários. A representação social constitui-se com base no senso comum. Diante disto, analisamos as representações sociais do CRAS e do psicólogo neste estudo. Assim, concluimos o quanto é importante conhecer a representação social do psicólogo e do CRAS para romper os preconceitos e valores negativos gerado pelo senso comum que impedem a concepção equivocada da atuação do psicólogo. This article aims to analyze the relationship between social representation and social psychology, from theoretical studies on the role of psychologists in the Reference Center for Social Assistance (CRAS). This constitutes as a strategic tool within the network of social protection and promotion. The psychologist who serves on the CRAS has a key role in facilitating the rescue of affective bonds and community. The social representation constitutes the basis of common sense. Given this, we analyze the social representations of CRAS and the psychologist in this study. We conclude how important it is to understand the meaning of social psychologist and the CRAS to break the prejudices and negative values generated by common sense that prevent the misconception of the psychologist. Palavras-chave: representação social, atuação profissional, saúde Keywords: Social Representation, Professional Activities, Health I Estudante do curso de Psicologia da Faculdade de Tecnologia Intensiva (FATECI). II Psicóloga e Mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Especialista em Educação Inclusiva pela UECE e em Educação a Distância pelo SENAC. Professora do curso de Psicologia da Faculdade de Tecnologia Intensiva (FATECI). Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.16–23, jul-dez, 2010 Representação Social e CRAS 1 INTRODUÇÃO O presente estudo busca analisar a impor tância de conhecer a representação social do psicólogo que atua no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), junto às famílias da comunidade, ressaltando a importância do seu papel exercido na tentativa de promover a reintegração social dos moradores da comunidade. Bem como, compreender a relação existente entre a Representação Social e a Psicologia Social, com base na bibliografia pesquisada sobre a temática e de reflexões sobre a problemática. A comunidade é um espaço vivenciado por um grande número de famílias no seu cotidiano, sendo assim, necessário estabelecer uma atuação contextualizada dos profissionais que atuam neste âmbito com o intuito de promoção de saúde e de reintegração social. O desemprego, a violência, a desigualdade, as doenças, a exclusão, dentre outras problemáticas sociais, podem contribuir direta ou indiretamente para uma desintegração das famílias que compõe a comunidade. Neste estudo, escolhemos o CRAS por ser a instituição que promove o apoio para manter e promover os vínculos familiares e comunitários. É um campo de atuação do psicólogo social na unidade básica de assistência social, que precisa ser problematizado pelos estudantes, profissionais, estudantes e pesquisadores da área da psicologia social, com o intuito de promover o engrandecimento da área e novas formas de atuação profissional. Neste sentido, o psicólogo que atua no CRAS tem uma vertente na Psicologia Comunitária. Esta área da Psicologia Social foca-se nos problemas sociais e visa à transformação pautada no compromisso com as camadas populares. Pautamos no estudo dos sentimentos e valores pessoais e cole- 17 tivos da comunidade, com o intuito de direcionar o morador da comunidade para a autonomia e para uma tomada de consciência pessoal e social, além da promoção da saúde mental e qualidade de vida. Para isso utilizamos articuladamente a atividade comunitária (atividades socialmente significativas com ações e reflexões sobre a realidade) e o processo de conscientização, que integra um sistema de representações sociais e a vinculação afetiva.(1) Os Centros de Referência de Assistência Social encontra-se, geralmente, localizados nas camadas populares da nossa sociedade, voltados para o atendimento socioassistencial e comunitário. As representações sociais representam uma categoria de estudo da Psicologia Social, que contribuem para a construção da realidade social, pois facilitam a interpretação e conhecimento de um determinado assunto. E o CRAS demonstra uma forma de representação social, pois ele é constituído com as pessoas e por elas, ou seja, deve refletir a participação conjunta da comunidade local. Por isso, para Lane(2), este conceito está extremamente ligado à linguagem, pois os sujeitos podem expressar seu posicionamento sobre determinado assunto ou fato, isto é, o homem utiliza a linguagem para reproduzir a sua opinião sobre uma situação, ou para demonstrar o seu saber popular ou científico, ou ainda reflexões sobre uma temática. Muitas vezes, esta percepção é idealizada a partir do senso comum e gera preconceitos, como veremos nos próximos tópicos detalhadamente. 2 REPRESENTAÇÃO SOCIAL Em um processo histórico e dialético, a psicologia social concebe o homem como um ser capaz de mudar a sua realidade e ser Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.16–23, jul-dez, 2010 18 Santos,N.M.A.; Lima,D.M.A. modificado por ela. Visa, então, para Lane “recuperar o indivíduo na intersecção com a sua história e a história de sua sociedade”.(4) Assim, o homem é um ser histórico, social e cultural. Não se detendo somente a uma perspectiva biológica, mas na percepção das relações e nas mudanças sociais presentes na sua realidade.(3) O profissional de psicologia que atua na área social enfoca o seu trabalho no atendimento psicossocial e comunitário, facilitando momentos de ação e reflexão dos sujeitos e das suas famílias, baseado em um posicionamento crítico e no compromisso social. Desta forma, focamos na tomada de consciência pessoal e coletiva e na mudança da realidade dos sujeitos envolvidos na sua atuação. De acordo com Martín-Baró(5) o quefazer(6) do psicólogo deve pautar-se nas dificuldades e problemáticas presenciadas pelas classes excluídas socialmente, promovendo assim a conscientização, por meio da superação das situações de opressão e alienação presentes no seu contexto. Visando esta libertação e luta contra as desigualdades sociais, para Góis(7) surge a Psicologia Comunitária, que é uma área da Psicologia Social, que foca seu estudo no modo de vida da comunidade, visando o desenvolvimento comunitário através de atividades comunitárias, que são atividades práticas que requer um engajamento coletivo com ênfase no diálogo e na cooperação. Reforçando este pensamento, Lima(8) aponta, Desta forma, na América Latina e no Brasil, a psicologia comunitária surge de uma psicologia social comprometida com a realidade brasileira relacionada às necessidades e problemáticas de nosso contexto. Diante disso, esta área ganha contornos próprios, conceitos específicos e formas de intervenção.(9) Um dos focos da psicologia comunitária é a atuação do psicólogo com a comunidade em grupos. Esta é espaço de troca Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.16–23, jul-dez, 2010 de experiências, de interação social, de aprendizado, de prevenção de doenças, promoção de saúde, engajamento social e mobilização. A comunidade para Góis(7) é onde são observadas as necessidades comuns, culturas semelhantes, e um mesmo nível econômico em um espaço delimitado geograficamente. Há uma vinculação afetiva entre as pessoas e a comunidade, um mesmo sistema de representações sociais e demandas semelhantes. A comunidade apresente um sistema de representações que é compartilhado pelos moradores, sendo necessário que o psicólogo conheça estas concepções na sua atuação no processo de inserção comunitária, de entrada na comunidade, reconhecendo a sua importância deste saber popular para os seus moradores e facilitando o processo de desconstrução, quando for necessário. Para Moscovici(10) a representação social se relaciona com a perspectiva psicológica e sociológica, pois visa o questionamento de ações humanas e a comunicação entre os sujeitos e grupos sociais. É relevante esta relação com a sociologia, pois promove um engrandecimento do saber psicológico em uma vertente interdisciplinar, gerando assim conhecimento sobre instituições sociais e grupos. A representação social é uma categoria de análise da psicologia social, que está vinculada a linguagem, já que esta representa as regras sociais que se referem à cultura em que estamos inseridos e a sociedade em que vivemos. Para Lane, a linguagem como produto de uma coletividade, reproduz através dos significados das palavras articuladas em frases ou conhecimentos – falsos ou verdadeiros – e os valores associados a práticas sociais que se cristalizaram, ou seja, a linguagem reproduz uma visão de mundo, produto das relações que se desen- Representação Social e CRAS volveram a partir do trabalho produtivo para a sobrevivência do grupo social. (11) Podemos relacionar este fato, com uma comunidade em que os sujeitos inseridos neste contexto, podem reproduzir algumas ideias sobre a adolescência e a infância, que são compartilhadas por aquele grupo social que refletem na forma de agir estas crianças e jovens. Por exemplo, os moradores concebem o adolescente como um mero consumidor, como é divulgado na mídia, estes podem não permitir espaços para participação dos jovens nas ações comunitárias, por causa da sua percepção preconceituosa sobre o mesmo. Sendo necessário que o psicólogo problematize esta realidade com os seus moradores e possa ajudar no processo de desconstrução, possibilitando a percepção de outras possibilidades sobre o ser jovem e ser criança, por exemplo. As representações sociais são “teorias sobre saberes populares e do senso comum, elaboradas e partilhadas coletivamente, com a finalidade de construir e interpretar o real”.(12, 13) A mídia é um dos meios de comunicação que ajuda na constituição e reprodução das representações sociais, bem como no seu conhecimento e no seu posicionamento crítico. No caso da gripe H1N1, muitas pessoas passaram a não comer carne de porco por causa do nome popular denominado a doença de “gripe suína”. Diante disto, a mídia juntamente com o Ministério da Saúde fez uma campanha com a finalidade de conhecer as formas de contágio da doença e seus riscos, com um viés de promover o conhecimento da população brasileira sobre o assunto, que neste caso, não tinha relação com o consumo de carne. A criação de representações sociais, para Oliveira & Werba(12) facilita aos sujeitos 19 tornar familiar o que era desconhecido. É uma forma de amenizar o caráter ameaçador do que é diferente ou estranho ao nosso conhecimento, então classificamos um conceito, uma doença, ou um grupo de pessoas a partir da nossa percepção de maneira valorativa. Observamos, geralmente, esta afirmação na percepção sobre os grupos de presidiários ou prostitutas que podem ser julgados como “pessoas perigosas” ou “mulheres de vida fácil”, como forma de promover um afastamento destas pessoas da sociedade e gerar exclusão social. Moscovici(10) afirma que as representações sociais têm um caráter dinâmico, modifica-se na interação entre sujeito e mundo. É uma maneira dos sujeitos se apropriarem da realidade, de construção do saber cotidiano, que é fundamental para a vida comunitária e societal. Percebemos que estas podem ser modificadas e transformadas a partir da problematização da realidade em que estes sujeitos estão inseridos. E também não constitui um viés negativo de conhecimento, mas sim uma forma de valorização do saber popular, das experiências já vivenciadas e produtora de conhecimentos, como no exemplo, o psicólogo pode perguntar em um grupo de mulheres qual a representação social da violência doméstica, algumas mulheres podem retratar que sofrem este tipo de violência, mas não sabem como modificar a realidade e procuram o atendimento psicológico. Pode-se questionar no grupo o que seria esta violência, como foi gerada, retratar a história de vida (casos na família), entre outros aspectos. A representação social é uma concepção relevante para o trabalho do psicólogo, especialmente o psicológico social, pois permite re-pensar a realidade e transformá-la a partir de reflexões e ações transformadoras. Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.16–23, jul-dez, 2010 20 Santos,N.M.A.; Lima,D.M.A. 3 CENTRO DE REFERÊNCIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (CRAS): UM LUGAR DE (RE)FAZER HISTÓRIAS O CRAS é a unidade básica de atendimento e promoção de ações do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Trabalha na perspectiva preventiva com o intuito de amenizar as dificuldades ou superar as desigualdades sociais.(14) [...] a proteção social básica objetiva prevenir situações através do desenvolvimento de potencialidades e aquisições, e o fortalecimento de vínculos comunitários e familiares. Destina-se à população que vive em situação de vulnerabilidade social decorrente da probreza, com precário acesso aos serviços públicos e/ou fragilização dos vínculos afetivos. [...] (15,16) O trabalho é voltado para o atendimento das famílias com um foco na potencialização comunitária e na participação social, buscando assim a transformação da realidade com ênfase na afetividade e transformação social. É um espaço propício para perceber novas possibilidades de atuação no mundo e ressignificação das problemáticas vivenciadas, promovendo o (re)fazer e o (re)construir de novas histórias de vidas. As unidades dos CRAS, para Brasil(16) são voltadas para o atendimento socioassistencial, em locais com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Os espaços físicos oferecem o acolhimento das famílias, algumas salas são destinadas ao atendimento individualizado (quando necessário, numa perspectiva da clínica ampliada), e ao atendimento em grupos (o foco maior do trabalho). São disponibilizados serviços de proteção básica e os encaminhamentos necessários. A equipe dos CRAS identifica as necessidades dos sujeitos e das famílias, acolhe e insere em atividades coletivas e/ou, se necessário, encaminha os integrantes do Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.16–23, jul-dez, 2010 grupo familiar para outros tipos de atendimentos. Nessa condição, eles se configuram como instrumento estratégico dentro da rede de proteção e promoção social no Brasil. Cada unidade do CRAS conta com profissionais diversos que trabalham 40 horas semanais, sendo eles: assistentes sociais, psicólogos, auxiliar administrativo, pedagogos, dentre outros (podendo variar em sua formação de acordo com cada unidade).(14) 4 A REPRESENÇÃO SOCIAL E A PSICOLOGIA SOCIAL Ao propormos a relação entre a Representação Social e a Psicologia Social, começamos com a percepção que a comunidade tem do psicólogo: uma pessoa que só trata de doentes mentais, ou que tem um trabalho voltado somente para a prática clínica, entre outros aspectos. Este viés deve ser questionado e desconstruído logo nas primeiras intervenções do psicólogo social, pois reconhece qual a concepção do grupo sobre o seu trabalho, os preconceitos que estão imbricados, os obstáculos previstos e problematiza a sua atuação neste âmbito. Desta forma, é possível atingir os objetivos do trabalho, pois o grupo conhece os limites e as possibilidades da intervenção do psicólogo social, podendo assim construir conjuntamente de forma dialógica e cooperativa, articulando o saber científico e o saber popular. No entanto, se a comunidade espera e/ou necessita de um trabalho clínico e este não for correspondido pelo profissional, pode causar uma frustração do grupo que não é verbalizada, promovendo assim a evasão do mesmo e a não continuidade do trabalho do psicólogo social. Ressaltamos a relevância desta desconstrução, pois ao reconstruir um conheci- Representação Social e CRAS mento a partir da problematização e das experiências dos moradores da comunidade, pode propiciar um processo de conscientização e a continuidade do processo grupal e comunitário. Portanto, ressaltamos que a representação social, para Moscovici, [...] é a construção social de um saber ordinário (de senso-comum) elaborado por e dentro das interações sociais, através de valores, das crenças, dos estereótipos, partilhada por um grupo social no que concerne a diferentes objetos (pessoas, acontecimentos, categorias, objetos do mundo etc.), dando lugar a uma visão comum das coisas. (17) Por outro lado, o CRAS demonstra uma forma de representação social, pois ele é constituído pelos profissionais e pelos moradores da comunidade (são participantes e não somente usuários, ou beneficiários). O papel do psicólogo seria de identificar em cada família as suas dificuldades, as suas potencialidades, que distinguem umas das outras, pois cada uma tem demandas e histórias de vidas diferenciadas. Além disto, é fundamental reconhecer o sistema de representações sociais do grupo comunitário, pois é essencial captar qual a forma que representam os idosos, se nosso intuito é de desenvolver um grupo da terceira idade, ou se vamos fazer um grupo de jovens, qual a concepção de juventude para aquela realidade. É um ponto de partida para o trabalho de construção e de reconstrução de novos significados e sentidos para a comunidade, bem como de possibilitar a participação e o aprofundamento da consciência3. Desta forma, para Lane(18) “as representações sociais implicam então conhecer não só o discurso mais amplo, mas a situação que define o indivíduo que as produz”. O psicólogo do CRAS, juntamente com outros profissionais que atuam na institui- 21 ção, trabalha com dinâmicas em grupos e atividades artísticas / lúdicas, facilitando assim a interação dos indivíduos. A linguagem que está constantemente sendo problematizadas nessas dinâmicas é fundamental para o desenvolvimento da consciência pessoal e social. Pelas intervenções do psicólogo no CRAS serem pautadas nas classes populares, pode-se percebê-la como uma instituição que trabalha somente com “os pobres” em uma vertente assistencialista como um mero beneficiário ou usuário do serviço. Por isso, moradores de uma área mais nobre, muitas vezes não possuem nem mesmo o conhecimento dos serviços oferecidos pelos profissionais do CRAS e, geralmente, não procuram os serviços por ter uma visão preconceituosa da instituição. Diante disto, ressaltamos que o trabalho do psicólogo social, especialmente o psicólogo comunitário, prioriza sim as classes oprimidas e excluídas socialmente, com um viés de transformação da realidade a partir do resgate dos vínculos sociais e afetivos. Não como um benefício, mas como um direito social.(17) Então, os participantes do CRAS são reconhecidos na construção do seu processo pelo psicólogo e outros profissionais, que atuam gerando autonomia e posicionamento crítico, de forma dialógica e cooperativa. Isto pode ser percebido quando os jovens procuram os cursos profissionalizantes e aguardam um retorno para um possível encaminhamento para uma empresa, ou os adolescentes frequentam o CRAS para debates e para confecções de informativos sobre diversos temas da atualidade, ou os idosos buscam realizar atividades que promovam a socialização, ou gestantes discutem sobre depressão pós-parto e aleitamento materno, entre outros. O psicólogo social atua na demanda destes grupos sociais, promovendo assim, Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.16–23, jul-dez, 2010 22 Santos,N.M.A.; Lima,D.M.A. a construção da saúde com seus participantes, fortalecendo as suas relações culturais e buscando conhecer o modo de vida da comunidade (a sua dinâmica, as suas problemáticas, os seus potenciais...). Estabelecendo também o vínculo afetivo com as famílias da comunidade e promovendo a re-inserção social. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS É necessário conhecer a representação social do psicólogo social, pois, muitas vezes, as pessoas deixam de procurar os seus serviços por ter uma visão preconceituosa, associando-o a um profissional sem importância e distante da realidade, ou por não saber qual a função que o psicólogo realmente exerce. Gerando assim, através do senso comum um conceito equivocado da atuação do psicólogo. A visão que a comunidade possui do psicólogo social é gerado a partir da visão que tem do CRAS, desta instituição social referente à proteção básica. Muitas vezes, este profissional atua de forma um pouco distante da comunidade (somente na instituição, sem caminhar e conhecer a comunidade), ou assume uma postura eminentemente clínica, por conta de diversas dificuldades encontradas pelos profissionais que atuam no CRAS, tais como: transporte, falta de material e outras questões burocráticas. Isto reflete nos fatores geradores da percepção negativa dos moradores da comunidade em referência ao psicólogo. O psicólogo deveria empenhar-se cada vez mais para quebrar a visão preconceituosa e promover a reconstrução do seu papel e do CRAS, por meio da facilitação dos processos de conscientização da comunidade. É importante demonstrar com os moradores, não atuando somente dentro da instituição e buscando conhecer as reais demandas da comunidade. Desta forma, Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.16–23, jul-dez, 2010 é possível promover a vinculação afetiva entre os moradores e a comunidade, e a atuação ética e compromissada do profissional de psicologia social. Assim, de acordo com Lima e Bomfim(19) a emoção incita as pessoas a se agruparem enquanto sujeitos comprometidos com a realidade em que vivenciam, com a transformação da sociedade, uma forma de superar o sofrimento, a construção da sua cidadania e a conquista dos seus direitos. Sujeitos que se emocionam, que têm afecções, que estão inseridos dialeticamente em um contexto social, econômico e histórico.(20) notas 1. Góis CWL. Saúde comunitária: Pensar e Fazer. São Paulo (SP): Aderaldo & Rothschild; 2008. 2. Lane SMT. Linguagem, Pensamento e Representações sociais. In: Lane, STM. Codo W, eds. Psicologia Social: O homem em movimento. São Paulo (SP): Brasiliense; 1984b. p. 32-39. 3. Lane STM. A Psicologia Social e uma nova concepção de homem para a Psicologia. 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Petrópolis (RJ): Vozes; 2010. Cap. 1: A Constituição da assistência social como política pública: interrogações à psicologia. 9. Lima, 2009, p.492. 17.Moscovici, 2003. p.14. 10. Moscovici S. Representações sociais: investigações em psicologia social. Rio de Janeiro (RJ): Vozes; 2003. 18.Lane, 1984b. p.37. 11. Lane, 1984b, p.32-33. 12.Oliveira FO, Werba GC. Representações sociais. In: Strey MN, org. Psicologia social contemporânea. Petrópolis (RJ): Vozes; 2003. 13.Oliveira; Werba, 2003. p.104-117. 14.Brasil. CRAS: Institucional. Ministério do Desenvolvimento Social e combate à fome [on line]. [capturado em 19 set. 2010] Disponível em: URL: http:// www.mds.gov.br 16.Cruz; Guareschi, 2010. p.30. 19.Lima DMA, Bomfim ZAC. Vinculação afetiva pessoa-ambiente. Revista Psico [on line]. 2009. [capturado em 03 set. 2010]; 40(4). Disponível em: URL:http://www2.pucpr.br/reol/ i n d e x . p h p / PA ? d d 1 = 3 2 5 0 & d d 9 9 = view. 20. Lima; Bomfim, 2009, p.239. Recebido em 29 de setembro de 2010 Aceito em 29 de novembro de 2010 Revisado em 29 de novembro de 2010 Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.16–23, jul-dez, 2010 24 Picanço, L.P. Disfonia e Stress no Dia-a-dia de Professoras† Luciana Picanço Pereirai [email protected] resumo abstract O professor está entre os profissionais que mais sofrem de stress. Objetivo: investigar o impacto da voz e os sintomas de stress em professoras. Métodos: foram sujeitos desta pesquisa professoras com e sem diagnóstico de disfonia que responderam ao Voice Handcap Index e ao Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp. Resultados: As professoras disfônicas sentem-se mais impactadas pela suas vozes e que esse impacto é percebido em nível de sintomas físicos e que 47,6% possuem sinais de stress. Conclusão: As professoras de ambos os grupos demonstraram sinais de stress excessivo sugestivo de que o stress não é marcado pela disfonia e sim pelo exercício profissional. Teachers are one of the professionals that most suffers from stress. Aim: investigate the impact of voice and the symptoms of stress in female teachers. Method: female teachers with and without dysphonia diagnostic responded the Voice Handcap Index and the Lipp´s Symptoms of stress in Adults Inventory. Results: dysphonic female teachers are more impacted by their voices and this impact is noticed as physical symptoms. 47.6% showed signs of stress. Conclusion: teacher from both groups showed excessive signs of stress, suggesting that the stress comes from the professional duties rather than from the dysphonia itself. Palavras-chave: disfonia; estresse; docentes Keywords: dysphonia; stress; faculty † Pesquisa financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq I Prof.ª do Curso de Fonoaudiologia da Faculdade de Tecnologia Intensiva; Mestre pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.24–35, jul-dez, 2010 Disfonia e Stress 1 INTRODUÇÃO O professor, dentre os profissionais da voz, é o que mais procura por atendimento fonoaudiológico(1). Para alguns professores, somente a utilização de exercícios vocais e orientações quanto a hábitos vocais e mudanças de comportamento abusivo, muitas vezes, não é suficiente para suprir a queixa e sintomas que esses profissionais apresentam. Esses sintomas, além da alteração na qualidade vocal revelam condições físicas e psíquicas do professor, pois esses profissionais quase sempre se mostram “estressados” e sem ânimo. Em pesquisas que avaliaram o impacto da disfonia no dia-a-dia de professoras os resultados apontaram para o fato de que a saúde geral das professoras com queixa vocal é pior do que de professoras sem queixa, sendo possível afirmar que professoras com queixa vocal têm qualidade de vida pior, quando comparadas a professoras sem queixa vocal.(2) De modo geral, o conceito de stress é freqüentemente apresentado de forma distorcida. No senso comum, o stress é sempre associado a situações negativas e desgastantes e em muitas ocasiões a palavra stress é utilizada em substituição a outros termos tais como raiva, cansaço, ansiedade e frustração. No entanto, o stress corresponde a uma síndrome específica, que afeta o indivíduo cada vez em que esse se encontra em alguma situação diferente da que vivencia habitualmente. Acreditamos que não existe vida sem stress. De certa forma, o stress pode ser benéfico em doses moderadas.(3) As situações de stress produzem, um aumento geral da ativação do organismo, há um aumento na produção de adrenalina que proporciona ao indivíduo uma sensação de ânimo, vigor, energia e entusiasmo a fim de que o indivíduo possa reagir preparando-o para fugir ou enfrentar as situações que lhe são impostas no cotidiano. Essa preparação 25 produz uma resposta que varia de pessoa para pessoa, cuja intensidade depende em parte da avaliação que cada um, subjetivamente, faz do momento.(4) Atualmente várias pesquisas estão sendo desenvolvidas em busca de um melhor entendimento do processo de stress e como ele afeta as mais diversas classes de trabalhadores.(2,5,6,7,8) Os resultados apontam para o fato de que todos vivenciam o stress em menor ou maior grau, mas para os profissionais que tem na voz o seu principal instrumento de trabalho, uma alteração vocal pode causar maior impacto na qualidade de vida, gerando maior stress. O aspecto psicológico para estes profissionais está relacionado com os diferentes papéis sociais que o sujeito desempenha no seu dia-a-dia. Para os professores em geral, a entonação, ênfase, intensidade, altura, ressonância, qualidade, entre outros, são aspectos vocais que podem se modificar para atender melhor a condição de relação com o outro. (1,9) Mesmo considerando as variações anatômicas existentes entre os indivíduos, o fator stress está presente em um grande numero de professores que iniciam uma terapia fonoaudiológica.(1,5) O stress por vezes está presente como um dos fatores etiológicos predisponentes à manifestação dos quadros de disfonias funcionais e orgâno-funcionais.(10) O desenvolvimento de um processo de stress depende do estado de saúde geral em que o indivíduo se encontra.(4) Por este motivo, nem todos desenvolvem o mesmo tipo de resposta, quando são submetidos a um mesmo estressor. O risco de um estressor gerar uma doença é aumentado se esse estiver associado à exaustão física ou a fatores orgânicos. O stress pode originar-se a partir da ansiedade no trabalho, nas atividades sociais, profissionais ou de lazer. O mau uso da voz é uma prática que pode ser agravada ou até Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.24–35, jul-dez, 2010 26 Picanço, L.P. mesmo iniciada pelo stress. Portanto, todo stress pode mudar a voz, e essa mudança normalmente é para pior.(11) A maioria do professores considera a profissão docente muito estressante o que compromete o bem estar destes em nível pessoal e profissional.(12) Estudos Brasileiros recentes revelam que uma grande parte dos professores desistem da profissão e entre os motivos da desistência que os professores vivenciam no trabalho está o stress, entendido como um dos sintomas do chamado “mal-estar docente”.(13) Apesar de, atualmente, o stress ser considerado responsável por uma grande contingência de males que afligem o indivíduo, principalmente os que se relacionam ao estilo de vida em grandes cidades (13,14) , um pouco de stress é importante para que o indivíduo possa se proteger em momentos de perigo, pois em situações estressantes, o organismo entra em alerta preparando-se para lidar com essas condições. De acordo com o médico canadense Selye(15), qualquer agente causa stress em maior ou menor grau. Uma reação ao stress é desencadeada quando o cérebro, independente da vontade do indivíduo, avalia a situação como ameaçadora, preparando o organismo para fugir ou lutar contra a situação. O mesmo autor, ao estudar o conceito de stress no sentido biológico, o definiu como “um estado manifestado por uma síndrome específica, constituída por todas as alterações não-específicas produzidas num sistema biológico”. A essa síndrome denominou Síndrome de Adaptação Geral (SAG), que engloba todas as alterações que ocorrem no organismo durante a exposição contínua a um agente de stress. Selye dividiu a SAG em três fases: a fase de alerta, a fase de resistência e a fase de exaustão.(15) Na fase de alerta ocorre uma reação a um estímulo externo. A principal ação do stress que ocorre nessa fase é a quebra da home- Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.24–35, jul-dez, 2010 ostase, condição de equilíbrio geral do indivíduo. A fase da resistência é a luta do organismo contra a fase de alerta. Essa fase pode durar muitos anos, e ela é a maneira pela qual o organismo se adapta à nova situação. De acordo com Quando a fonte de stress, também chamada de estressor, é de longa duração, o organismo tenta restabelecer seu equilíbrio, utilizando para isso sua energia de reserva. Se a resistência do indivíduo não for suficiente para lidar com o estressor, o processo de stress evolui para a fase de exaustão. Nessa fase ocorre uma perda de resistência, há em parte, um retorno parcial e breve à fase de alerta e, posteriormente, se o estímulo estressor permanecer, o resultado é o aparecimento dos sintomas específicos de uma doença e o órgão mais vulnerável concentra a reação do stress.(16) Nesse sentido, o stress dificilmente é causado por uma única fonte. Na maioria das vezes, ocorre um efeito cumulativo de inúmeros estressores que se somam para criar o estado de tensão.(4,13) E que essa resposta ao stress é resultado da interação entre as características da pessoa e as demandas do meio, que compreende aspectos cognitivos, comportamentais e fisiológicos. Na tentativa de buscar uma adaptação a um estímulo estressor, o organismo concentra a reação do stress em um único órgão, o “órgão de choque”. Alguns têm cefaléia, outros gastrite(17), e para os disfônicos a laringe talvez seja seu órgão mais vulnerável.(13) Utilizando o ISSL, pesquisadores realizaram estudo com o objetivo de avaliar a freqüência dos sintomas físicos e psicológicos apresentados por 12 professoras de uma creche do interior da cidade de São Paulo. Os itens de sintomas físicos mais presentes foram relacionados aos problemas com memória, cansaço, sensação de desgaste físico e tontura ou sensação de estar flutuando. Os itens de sintomas psicológicos mais presentes foram relacionados à sensibilidade emotiva Disfonia e Stress excessiva e pensar constantemente em um assunto apenas.(17) De acordo com pesquisas realizadas em um centro de controle do stress em São Paulo, aproximadamente 32% da população adulta brasileira possui sinas significativos de stress e que 1% chega à exaustão.(18) Portanto, o objetivo deste estudo é, por meio de questionários, investigar os sintomas de stress e o impacto da voz em um grupo de professoras disfônicas comparando-os aos achados em grupo controle formado por professoras sem alteração vocal. 2 MÉTODO Esta pesquisa foi aprovada pela Comissão de Ética e Pesquisa da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, processo nº Ética 0093/2003. Participaram 35 professoras do ensino fundamental ao superior, das redes pública e particular – não é objetivo desta pesquisa verificar fontes de stress e sim os sintomas do stress em professoras. Por esse motivo não foi privilegiada nenhuma faixa de ensino ou tipo de escola – do município de Fernandópolis, estado de São Paulo. Todas as professoras assinaram termo de consentimento para a realização e divulgação dos resultados deste estudo conforme Resolução 196/96. A escolha por uma cidade do interior do estado de São Paulo foi feita na tentativa de diminuir os efeitos de estressores típicos de uma grande metrópole, tais como poluição, trânsito e violência.(8,13) Não se pode afirmar que os professores desta pesquisa estão livres do stress, pois uma cidade do interior provavelmente oferece outros estressores. O importante para este trabalho é entender como os professores de uma cidade, relativamente pequena, vivenciam situações de stress. Os sujeitos foram selecionados para esta pesquisa obedecendo aos seguintes critérios: ser do gênero feminino, pois para tal gênero há uma maior incidência de proble- 27 mas vocais causados por ansiedade(19) e pelo fato de mulheres estarem mais expostas à condição de stress(17); Ter idade entre 18 e 40 anos, pois se entende que o limite inferior garante o processo final de muda vocal e o superior o início de uma série de alterações estruturais na laringe, com um maior ou menor impacto vocal(20); Não ter realizado terapia fonoaudiológica, pois se acredita que o fato do professor disfônico ter realizado terapia fonoaudiológica minimiza o efeito do stress diminuindo assim seus sintomas.(13) ◊ As professoras que voluntariamente concordaram em fazer parte desta pesquisa foram submetidas a:Exame laringoscópico: realizado por meio de nasoendoscópio e telelaringoscópio (nasoendoscópio MACHIDA 3,2mm, telelaringoscópio ASAP 70°, microcâmera TOSHIBA e videocassete PANASONIC) em consultório otorrinolaringológico, por dois otorrinolaringologistas e na presença de uma fonoaudióloga; ◊ Avaliação perceptivo–auditiva: realizada para observação do comportamento vocal. Nessa avaliação as provas vocais foram realizadas por uma mesma fonoaudióloga. A seguir procedeu-se a divisão das professoras em dois grupos: ◊ Grupo de professoras com alteração vocal (GPA), constituído por 21 professoras com diagnóstico de disfonia. As professoras desse grupo apresentaram alterações no exame videolaringoscópico, na avaliação perceptivo–auditiva e possuíam queixa vocal. ◊ Grupo de professoras sem alteração vocal (GPS), composto por 14 professoras que não apresentavam disfonia. As professoras desse grupo, além de não apresentarem alterações no exame videolaringoscópico e na avalia- Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.24–35, jul-dez, 2010 28 Picanço, L.P. ção perceptivo-auditiva, também não apresentavam queixas vocais. Para a coleta dos dados foram utilizados protocolos para obtenção dos dados necessários, que foram apresentados da seguinte maneira: 1 Questionário de Identificação Pessoal, incluindo nome, idade, estado civil, entre outras, para caracterização da amostra; 2 Voice Handcap Index (VHI), traduzido para o português pelo Prof. Geraldo Jotz da Universidade Luterana de Porto Alegre 21. Esse questionário descreve o impacto da voz na vida das pessoas e é dividido em três escalas: Funcional - com informações que descrevem o impacto dos distúrbios na vida das pessoas (Parte I – F). Física - os itens que compreendem a escala física representam a autopercepção e desconforto da laringe e das características vocais (Parte II – P) e Emocional - que representa a resposta emocional do paciente ao distúrbio vocal (Parte III -E).Cada pergunta recebe uma pontuação de acordo com a resposta dada pelo indivíduo. As possibilidades de resposta são: nunca = O ponto; quase nunca = 1 ponto; às vezes = 2 pontos; quase sempre = 3 pontos e sempre = 4 pontos. Quanto mais elevada a pontuação maior o impacto vocal. 3 Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) com o objetivo de avaliar se o indivíduo possui sintomas de stress, o tipo de sintoma (se físico ou psicológico) e a fase de stress em que se encontra. Apresenta um modelo quadrifásico de stress baseado inicialmente no modelo trifásico de Selye.(15) Essa nova fase, chamada de quase-exaustão, caracteriza-se por um enfraquecimento da pessoa que não está mais conseguinSaúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.24–35, jul-dez, 2010 do resistir ao estímulo estressor. Esse inventário foi publicado e é comercializado pela Casa do Psicólogo. Sua correção e interpretação devem ser realizadas por psicólogo de acordo com as diretrizes do Conselho Federal de Psicologia quanto ao uso de testes. Os dados obtidos nos questionários aplicados foram compilados e digitados em planilhas eletrônicas, com o intuito de criar um banco de dados para posterior aplicação de testes estatísticos. O pacote estatístico utilizado na análise foi o SPSS versão 9.0 e o nível de significância adotado foi de 5% (p < 0,05). 3 RESULTADOS 3.1 Caracterização da Amostra O grupo denominado GPA foi composto por 21 professoras com média de idade de 33,71 anos. Desse grupo, onze professoras eram solteiras, nove casadas e uma separada sendo doze sem filhos e nove com filhos. Com relação ao GPS, esse foi composto por 14 professoras com média de idade de 31,54 anos, sendo que quatro professoras eram solteiras, cinco casadas, três separadas e uma viúva e dessas quatro sem filhos e nove com filhos. 3.2 Voice Handicap Index (VHI) Para cada sujeito da pesquisa, observou-se qual aspecto é predominante quanto ao impacto da voz. Assim, se uma determinada professora atribuiu uma maior pontuação ao aspecto funcional, ela foi classificada nessa categoria. Se ela atribuiu maior pontuação ao aspecto físico, foi classificada como físico e assim sucessivamente. Um único caso foi observado em que a professora da pesquisa não se sentiu impactada em nenhum aspecto, e foi, portanto classificada como sem impacto Disfonia e Stress 29 grau de liberdade 2. De acordo com os resultados do teste, as professoras sem disfonia sentem impacto da voz nos níveis físico e funcional. A fim de testar a hipótese nula de que não há diferença de média entre os grupos GPA e GPS para cada um dos domínios do VHI, foi utilizado o teste não paramétrico de MannWhitney, que evidenciou que há diferença significativa entre o GPA e GPS quanto ao domínio físico do VHI e quanto ao impacto da voz. As professoras com disfonia sentem-se mais impactadas pelas suas vozes do que as professoras sem disfonia (Tabela 2). Tabela 01 – Distribuição Numérica e Percentual para os Domínios do Questionário Vhi Fonte: elaborada pela autora O resultado do teste estatístico de Kruskal-Wallis aplicado para os valores do posto médio apontou para o fato de que existiu pelo menos um par de domínios que apresentou diferenças entre suas médias. Os resultados do teste mostraram um nível de significância calculado de p = 0,000. O valor do Qui-Quadrado foi de 25,560 com grau de liberdade igual a 2. Esses resultados permitem dizer que o domínio físico do questionário VHI possui média de postos maior que o domínio funcional e emocional para o grupo de professoras com disfonia. De acordo com os resultados do teste, pode-se dizer então que para o grupo de professoras disfônicas o domínio físico do questionário VHI é estatisticamente maior que os domínios funcional e emocional. Na aplicação do teste não paramétrico de Kruskal-Wallis para as subescalas do VHI do grupo de professoras sem alteração vocal, os resultados do teste mostraram um nível de significância calculado de p = 0,003 e o valor do Qui-Quadrado foi de 11,844 com Tabela 02 – Resultado do Teste de Mann-Whitney para Diferença de Médias entre os Grupos GPA e GPS Fonte: elaborada pela autora Quadro 01 - Os Cinco Sintomas Físicos mais Frequentemente Mencionados pelas Professoras do Grupo com Alteração Vocal, de Acordo com o Questionário VHI Fonte: elaborado pela autora Esse resultado era esperado em virtude de existir um grupo com alteração vocal comprovada, e assim o avanço se deu no sentido de conseguirmos entender que para as professoras com disfonia o impacto percebido é em nível de sintomas físicos. Quadro 1 mostra os cinco sintomas mais freqüentemente mencionados pelas professoras do GPA, entre os dez pesquisados pela escala física do VHI. Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.24–35, jul-dez, 2010 30 Picanço, L.P. 3.3 Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) As Tabelas a seguir apresentam os resultados da distribuição numérica e percentual para o questionário ISSL, no que se refere à presença de sintomas do stress para o grupo com alteração vocal (GPA) e grupo sem alteração vocal (GPS). de sintoma de stress, se físico ou psicológico, em que as professoras dos dois grupos pesquisados se encontram. Quadro 02 - Os Cinco Sintomas Físicos mais Frequentemente Mencionados pelas Professoras do Grupo com Alteração Vocal, de Acordo com o Questionário VHI Tabela 03 – Distribuição Numérica e Percentual para o Questionário ISSL, Segundo a Presença de Sintomas do Stress Fonte: elaborado pela autora Fonte: elaborada pela autora O Quadro 2 mostra os cinco sintomas Tabela 04 – Distribuição Numérica e Percentual mais freqüentemente para o Questionário ISSL, Segundo a Fase do Stress mencionados pelas professoras com alteração de voz que se encontram na fase de resistência, sendo três de natureza física e dois psicológicos. Das professoras com alteração vocal Fonte: elaborada pela autora que se encontram na fase de resistência, 66,66% têm predomiTabela 05 – Distribuição Numérica nância de sintomas físicos. e Percentual para o Questionário ISSL, Segundo o Tipo de Sintoma de Stress Quadro 02 - Sintomas de Stress mais Freqüentes nas Professoras do GPS Fonte: elaborada pela autora A Tabela 5 mostra os resultados da distribuição numérica e percentual para o questionário ISSL, no que se refere ao tipo Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.24–35, jul-dez, 2010 Fonte: elaborado pela autora Disfonia e Stress O Quadro 3 mostra os cinco sintomas mais freqüentemente mencionados pelas professoras do grupo GPS que se encontram na fase de resistência. Todas as professoras desse grupo, que se encontram na fase de resistência também tem predominância de sintomas físicos. 3.4 Correlação Disfonia X Stress A Tabela 6 mostra os resultados do teste estatístico Qui-Quadrado de Pearson, aplicado para testar se existe relação entre disfonia e presença de sintomas do stress pesquisada pelo ISSL, para os dois grupos estudados. Tabela 06 – Valores do Teste do Qui-Quadrado de Pearson 31 o bem estar desses profissionais em nível pessoal e profissional.(5,6) Apesar disso, quase todos os professores quando questionados sobre sua profissão, afirmam que não mudariam e a escolheriam novamente.(14) Os professores, considerados profissionais da voz, para os quais a voz é um elemento indispensável(23), e sendo assim, o impacto de uma alteração vocal deveria ser muito forte. Essa profissão vem sendo amplamente estudada com o objetivo de caracterizar condições de trabalho e de qualidade de vida desses profissionais.(9,23) São muitos os indícios de uma estreita relação entre os processos de stress e disfonia.(8, 13) Contudo, poucos estudos abordam o stress como interferente e potencializador dos sintomas vocais em professores. 4.1 Quanto aos Domínios do Voice Handicap Index (VHI) Fonte: elaborada pela autora Os resultados do teste Qui-Quadrado de Pearson demonstraram que para os grupos GPA e GPS não existe correlação significativa entre disfonia e presença de stress. 4 DISCUSSÃO Há na literatura vários estudos que relatam a importância do stress no cotidiano dos indivíduos. Esses trabalhos apontam para uma insatisfação parcial ou total em relação ao trabalho, principalmente em profissionais cujas atividades envolvem cuidado com outras pessoas, como é o caso do professor. (5,8,17,18,22) A profissão de professor é considerada muito estressante(14), fato que compromete Os resultados demonstraram também que para o GPA, o impacto físico foi significativamente maior do que os impactos funcional e emocional e que para 90,5% das 21 professoras com alteração vocal, o índice de incapacidade vocal (handicap index) também é refletido nos aspectos físicos da voz. O impacto físico é expresso pela autopercepção do desconforto da laringe e das características vocais e relatado em estudos como sendo os mais problemáticos para as professoras.(2) Em relação ao VHI emocional, somente uma professora do GPA (4,8%) sente sua voz impactando nesse domínio, o qual representa a resposta emocional do indivíduo a um distúrbio em sua voz. Isso sugere que para as professoras da amostra pesquisada há uma aceitação em relação ao distúrbio o que faz com que a percepção em relação ao impacto vocal emocional seja minimizada. Esse não parece ser um comportamento comumente encontrado em professores Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.24–35, jul-dez, 2010 32 Picanço, L.P. com alteração vocal, visto que esses quase sempre não estão satisfeitos com sua voz e gostariam de mudar.(9) Talvez, para as professoras desta pesquisa, uma alteração vocal não é suficiente para interferir na relação com o outro, tampouco em suas atividades diárias. Para essas professoras a alteração vocal é percebida em nível de desconforto físico, ou seja, sempre está associada a sensações do tipo falta de ar e esforço para falar. Ainda sobre esse aspecto, em geral, os distúrbios da voz são sintomas reveladores de que algo não está bem, mas que não existe necessariamente uma correlação entre alteração orgânica e conseqüência funcional.(24) Não é raro encontrar professoras com sérias alterações na qualidade vocal, sem que isso se configure, pelo menos para essa professora, como um impedimento para a efetividade comunicativa. Para o GPS, os intervalos de confiança de Bonferroni para as sub-escalas mostram que, para as respostas das professoras sem alteração vocal, o impacto físico é significativamente maior do que o impacto emocional, mas o mesmo não pode ser dito em relação ao impacto funcional. Embora exista uma tendência nesse grupo a perceber um maior impacto físico da voz, esse dado não é estatisticamente significante. Isso sugere que as professoras sem alteração não percebem a voz como fator que interfere na efetividade da sua comunicação e na sua interação com o mundo que a cerca. A disfonia afeta a vida social do sujeito, causando impacto em sua qualidade de vida principalmente no que se refere a professores.(8,9,13) A falta de condições de trabalho a qual a maioria dos professores está exposta(24), leva a uma desmotivação desse professor que sente seu ritmo de trabalho estressante, além de alguns sentirem depressão e ansiedade(8), fatores potencializadores de estados de stress.(9,13) Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.24–35, jul-dez, 2010 4.2 Quanto aos Domínios do Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) 4.2.1 Para a variável presença de stress Considerando os dois grupos estudados, 18 professoras possuem sintomas mais acentuados de stress, independente da existência de uma alteração vocal. Este achado vai ao encontro dos estudos que afirmam que os sintomas de stress não se alteram entre disfônicos e não disfônicos, mas que existe uma tendência por parte dos disfônicos a apresentarem maior impacto ao stress.(10) Ao analisar esse dado pode-se perceber o quanto a profissão de professor é estressante, fato confirmado por estudos recentes. (9,13) Para algumas pessoas, a profissão pode ser fonte causadora de stress. Para essas pessoas o trabalho é sinônimo de desânimo ou de repetição, e nessas situações a expectativa gerada é de continuidade, sem a possibilidade de mudanças ou melhoria. 4.2.2 Para a variável fase do stress em que a professora se encontra Para o grupo de professoras com diagnóstico de disfonia (GPA) que apresenta sintomas mais siginficativos de stress, nove possuem sinais de stress da fase de resistência, que caracteriza a segunda fase do stress. Somente um professora apresentou sinais de stress da fase de quase-exaustão e uma da fase de exaustão. Para que se entenda bem o significado desses números é importante considerar as propriedades da fase de resistência uma vez que essa é predominante entre as professoras. A fase de resistência ocorre quando o organismo está com uma carga excessiva de tensão devido a um problema constante e está utilizando as reservas de energia adaptativa que acumulou através dos anos. Além disto, nessa fase é comum Disfonia e Stress que a produtividade sofra alguma queda e que o desânimo e apatia ocorram. Uma das professoras com alteração vocal encontra-se na fase de exaustão que é caracterizada pelo surgimento de doenças graves, queda significativa de produtividade e incapacidade para trabalhar adequadamente e essa fase exige cuidados com especialistas na área do stress. Os resultados demonstram que para o grupo de professoras sem alteração vocal (GPS), cinco encontram-se na fase de resistência ao stress, uma na fase de alerta que é a primeira fase do processo de stress e uma na fase de quase exaustão, onde doenças mais sérias começam a surgir. É importante enfatizar que o nível de stress detectado entre as professoras está alto, com 100% das professoras na fase de resistência mostrando sinais acentuados de cansaço excessivo. As professoras mais prejudicadas são as professoras com alteração vocal, uma vez que 11 apresentam sintomas de stress contra sete sem alteração de voz e, dentre a amostra global, a única professora que se encontra em uma fase grave do stress possui alteração de voz. 4.2.3 Para a variável tipo de sintoma de stress referido pela professora Com referência ao tipo de sintoma de stress, nove professoras com disfonia sentem sintomas físicos do stress. Para as professoras do GPA que se encontram na fase de resistência, dos sintomas de stress mais freqüentemente mencionados, três são de natureza física, entre eles sensação de desgaste físico e tensão muscular. Paralelamente, observa-se que os professores demonstram um alto nível de ansiedade, nervosismo e exaustão(5,8,9), quadro esse que se torna agravado na presença de uma alteração vocal.(8,13) A ansiedade está relacionada à quadros de stress excessivo, independente da pro- 33 fissão do indivíduo.(4) Ela é considerada como um sentimento de aflição, acompanhado de sensações físicas. No caso das professoras deste estudo, acredita-se que o stress causado por um diagnóstico de disfonia, considerado aqui como um estressor, potencializa o estado de ansiedade das professoras, fato que parece interferir diretamente na sua qualidade de vida(8,13), perturbando a percepção dela a respeito de si mesma e a respeito do que acontece no ambiente. Um fator importante nas situações de stress é exatamente a avaliação que o indivíduo faz do momento pelo qual está passando. Dependendo da forma como o estressor é avaliado, o impacto do stress é negativo ou positivo. Quanto às professoras do grupo sem alteração vocal, cinco também referiram sentir sintomas físicos de stress, igualmente relacionados à tensão, ansiedade e exaustão (Quadro 3). No caso dessas professoras, se os níveis de stress não forem controlados, as doenças podem se manifestar. O que determina se essas professoras irão ou não desenvolver uma alteração vocal é a sua vulnerabilidade ao stress, associada a condições de esforço vocal, mau uso e abuso da voz a qual elas estarão expostas, principalmente por haver um desconhecimento por parte do professor, sobre o processo de produção vocal, com sobrecarga de trabalho, em presença de situações adversas.(9) Cabe aqui ressaltar que muitas ações relacionadas à promoção de saúde vocal de professores vêm sendo desenvolvidas por fonoaudiólogos(24), com o objetivo de informar e orientar o professor sobre cuidados com a voz. Essas ações que são baseadas em pesquisas como a citada anteriormente, têm como foco principal o cuidado com a voz e a eliminação de abuso e mau uso vocais, por meio da conscientização do professor quanto a sua problemática vocal. Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.24–35, jul-dez, 2010 34 Picanço, L.P. Mas, a despeito do uso de tais técnicas, um grande número de professores com queixa de disfonia buscam por atendimento fonoaudiológico.(9) Baseado nesse aspecto, torna-se muito importante que as professoras, independente do diagnóstico de disfonia, ao serem expostas a tais técnicas e orientações relacionadas à hábitos, sintomas, fisiologia vocal e aos comportamentos vocais, essas aprendam também a lidar com o stress a fim de se tornarem menos vulneráveis a ele, partindo do princípio de que não existe vida sem stress. Assim, os programas de promoção de saúde para professores, talvez conseguissem maior efetividade se além do enfoque na voz tivessem também como objetivo a identificação de fontes e sintomas de stress, partindo do princípio de que a qualidade de vida engloba o bem estar físico, social e emocional. or de que uma terapia fonoaudiológica não deve ser pautada na eliminação do sintoma vocal e que é impossível pensar as alterações de voz sem pensar no sujeito portador dessas alterações. Tais resultados sugerem que o nível de stress observado para as professoras desta pesquisa não é marcado pela presença ou ausência de alteração vocal e sim pelo exercício profissional. Ficam como recomendações a realização de pesquisas futuras com objetivo de se conhecer as fontes causadoras de stress ocupacional para esses profissionais, assim como as estratégias de enfrentamento utilizadas. Faz-se importante ainda um estudo que avalie o desempenho de professores disfônicos que são expostos à uma abordagem sobre o stress comparando os achados desse grupo aos achados dos grupos que não foram expostos a tal prática. 5 CONCLUSÃO 1. Ferreira L.P.; Algodoal M.J.; Andrade E Silva M.A.; A Avaliação da Voz na Visão (e no ouvido) do Fonoaudiólogo: Saber o que se procura para Entender o que se Acha. In: Marchesan I.Q.; Zorzi J.L.; (org.) Tópicos em Fonoaudiologia VII Rio de janeiro: Revinter, 2002/2003. Embora a literatura aponte para o fato de que indivíduos com uma alteração diagnosticada têm maior vulnerabilidade ao stress(9), observada principalmente em mulheres(17), e que existe uma íntima relação entre voz e situações de stress, em especial se o indivíduo é um profissional da voz, como o professor(13), para as professoras desta pesquisa os resultados do teste estatístico aplicado para estabelecer uma correlação entre disfonia e presença de stress não apontaram para uma diferença estatisticamente significante. Para as professoras desta pesquisa o stress não está diretamente relacionado às alterações vocais. É importante comentar que além de um impacto vocal significativo o nível de stress detectado entre as professoras disfônicas é alto, mostrando sinais de cansaço excessivo, fato que corrobora com a afirmação anteriSaúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.24–35, jul-dez, 2010 NOTAS 2. Abbud IE. SF-36 e VHI : Avaliando o Impacto da Disfonia no dia-a-dia de Professoras do Ensino Fundamental da rede Pública e Particular. Pesquisa de Iniciação Científica. PUC. São Paulo, 2001. 3. McEwen, B. S.; The neurobiology of stress: from serendipity to clinical relevance. Brain Reserch, 886: 172-189, 200 4. Margis R.; Picon P.; Cosner A. F.; Silveira R. O.; Relação entre estressores, estresse e ansiedade. Rev. Psiquiatria, 25 (1): 6574, 2003. 5. Reinhold H. H.; Fontes e sintomas de stress ocupacional do professor. Estudos de Psicologia, 2 (2 e 30), 20-50, 1985. Disfonia e Stress 35 6. Witter G. P.; Estresse e desempenho nas matérias básicas: variáveis relevantes. Estudos de Psicologia, 14 (2): 3-10, 1997. na manifestação de stress em adultos jovens. Psicologia: Reflexão e Crítica, 16(2), p. 257- 263, 2003. 7. Silva F. P. P.; Burnout: um desafio à saúde do trabalhador. Rev. Psicologia Social e Institucional, 2 (1): 1-22, 2000. 18.Moucachen Filho J.H.L.; Tenelotto J.M.F.; Manolio C.L.; Alves G.M.; Silva J.F.; Stress em professores de creche. Anais – Congresso Brasileiro de Stress. São Paulo, 2003. 8. Pereira L.P.; Queiroz Telles M.; Ferreira L.P.; O estresse ocupacional da professora. Anais – Congresso Brasileiro de Stress. São Paulo, 2003. 9. Ferreira L.P.; Giannini S.P.P.; Figueira S.; Silva E.E.; Karmann D.F.; Souza T.M.T.; Condições de produção vocal de professores da prefeitura do município de São Paulo. Revista Distúrbios da Comunicação, São Paulo, 14(2): 275-307, jun.,2003. 10.Coelho M.A.B.C.; Sinais Psicofisiológicos vocais de Ativação por Stress no Telejornalismo ao Vivo. [Tese de Doutorado]. Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, 2002. 11. Boone D.; Sua voz está traindo você? Como encontrar e usar sua voz natural. Tradução Dayse Batista. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. 19.Mattiske J.A.; Oates J.M. Greenwood K.M.. Vocal Problems among teachers: A review of prevalence, causes, prevention and treatment. J. Voice, 12(4), p. 489-499, 1998. 20. Machado, M. A. M. P.; Aldrighi, J. M.; Ferreira, L. P. Os sentidos atribuídos à voz por mulheres após a menopausa. Rev. Saúde Pública, vol.39, no.2, p.261269, 2005. 21.Jacobson B.H.; Grywalski C.; Silbergleit A.; Jacobson G.; Benninger M.S.; Newman C.W. The voice handicap index (VHI): development and validation. American Journal of Speech – Language Pathology. Vol. 6(3): 66-70, 1997. 22. Felton J. S. Burnout as a clinical entity its importance in healthcare workers. Occup. Med., 48 (4), 237-50, 1998. 12.Marques K.S.; Lima S.M.F.; França C.A.; Leal E.Q.; Implicação do stress na voz do professor. Anais – Congresso Brasileiro de Stress. São Paulo, 2003. 23.Fuess V. L.; Lorenz M.C. Disfonia em profess ors do ensino municipal: preva lência e fatores de risco. Rev. Bras. 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Recebido em 19 de outubro de 2010 Aceito em 29 de novembro de 2010 Revisado em 19 de dezembro de 2010 Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.24–35, jul-dez, 2010 36 Holanda Filho, R.G.; Silva, L.P. Considerações Neuropsicológicas sobre Agressividade e Violência no Trânsito a Partir dos Achados no Psicodiagnóstico Miocinético (PMK) Raimundo Gomes de Holanda Filhoi [email protected] Luciane Ponte e Silvaii resumo abstract A psicologia entende que o homem, com seus múltiplos fatores sensoriais, motivacionais, emocionais e de personalidade, é o maior responsável pelas diferentes causas dos acidentes de trânsito. Segundo a Organização Mundial de Saúde(1), o Brasil tem o quinto maior número de mortes causadas por veículos automotores. Investigar os fatores humanos que podem influenciar para a ocorrência de acidentes, com vítimas ou não, tem sido um estudo recente para os psicólogos que atuam na área do trânsito. No que diz respeito à obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH), cabe ao psicólogo a tarefa de avaliar a percepção, a inteligência e a personalidade dos candidatos. Para a Avaliação Psicológica o Psicodiagnóstico Miocinético – PMK tem sido usado como um dos principais instrumentos. Embora não exista um perfil básico para a função de motorista, sabe-se que existem características de personalidade que estão mais predispostas à ocorrência de acidentes. O presente trabalho possui o objetivo de analisar a conexão entre a agressividade e os acidentes de trânsito, a partir dos resultados apontados pelo PMK, bem como, saber quais as habilidades cognitivas prejudicados numa perspectiva da Neuropsicologia. Psychology believes that the man, with its multiple sensorial, motivational, emotional and personality factors, is most responsible for the different causes of traffic accidents. According to World Health Organization (1), Brazil has the fifth highest number of deaths caused by automotive vehicles. Investigate the human factors that may influence the occurrence of accidents with victims or not, has been a recent study for researchers working in the area of traffic psychology. In the process of obtaining the Brazilian Driver’s License, the task of the psychologist is assess perception, intelligence and personality of candidates. In the Psychological Evaluation for this situation, the myokinetic psychodiagnosis has been used as a major instrument. Although there is not a basic profile for the role of driver, it is known that there are personality characteristics that are more prone to accidents. This paper has the objective to analyze the connection between aggressiveness and traffic accidents, from the findings of the myokinetic psychodiagnosis, as well as, find out which cognitive abilities are prejudiced in the perspective of Neuropsychology. Palavras-chave: trânsito, violência, agressi vidade, psicodiagnóstico miocinético (PMK), neuropsicologia. Keywords: transit, violence, aggression, myokinetic psychodiagnosis, neuropsychology. I Psicólogo graduado pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR) e neuropsicólogo pela Faculdade Christus (CE). II Psicóloga pela Universidade Federal do Ceará, mestre em Psicobiologia pel Universidade Federal de São Paulo. Professora da UNIFOR e da Faculdade Christus Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.36–45, jul-dez, 2010 Agressividade e Violência no Trãnsito 1 INTRODUÇÃO Os veículos automotores têm influenciado decisivamente o desenvolvimento das sociedades, aumentando a capacidade e a rapidez da locomoção das pessoas, comercialização de produtos, conhecimentos, tecnologias e cultura. Pesquisa divulgada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o Departamento Nacional de Trânsito e a Associação Nacional de Transportes Públicos(2), considera o acidente de trânsito como um dos maiores problemas de saúde pública no mundo, com conseqüências negativas nas questões ambientais e com altos custos sociais e emocionais para os envolvidos. Alchieri e Silva(3-4) constataram que no Brasil, ao final da década de quarenta, já era possível perceber alguns desses aspectos, principalmente os acidentes de trânsito, levando assim as autoridades a desenvolverem e implementarem na década seguinte, medidas para conter o aumento nos índices de mortos e feridos, e citando Hoffman, que a obrigatoriedade do processo de avaliação psicológica, para adquirir a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) foi uma dessas medidas, sendo atualmente uma exigência para todo o território nacional. Nesse contexto, os psicólogos vêm exercendo suas atividades, avaliando as informações mensuradas nos instrumentos psicológicos no que diz respeito às funções mentais e a personalidade dos futuros condutores, para que possam caracterizá-los como aptos ou inaptos, colaborando assim para a segurança no trânsito. Blasco(5) cita em seu trabalho pesquisa realizada por Alchieri & colaboradores que demonstras que embora as primeiras aplicações de testes psicológicos no âmbito do tráfego datem da década de 1920, a literatura utilizada para embasar esta prática 37 profissional em nosso país ainda configurase escassa. E esclarece que apenas na década de 1950, foram publicadas trabalhos sobre a seleção psicotécnica de motoristas e sua importância na diminuição dos acidentes de trânsito, bem como, os primeiros resultados de exames psicotécnicos e normas para a população brasileira nos diversos testes usados em exames de habilitação, como os testes de Atenção Difusa, Inibição Retroativa, Visão Noturna e Ofuscamento, Volante Dinamógrafo e o Psicodiagnóstico Miocinético – PMK.(5) O autor enfatiza citando que Spagnhol(5), ao analisar o desenvolvimento e as perspectivas da psicologia do trânsito no Brasil, evidenciou que após trinta anos do estabelecimento da obrigatoriedade dos exames psicológicos, apenas seis artigos sobre a validade dos exames psicológicos, estatísticas e reflexões teóricas sobre a ocorrência de acidentes tinham sido publicados. Alchieri & Stroeher(6) identificaram diversos problemas no desenvolvimento da psicologia do trânsito brasileira e concluíram que, desde o início da psicotécnica aplicada ao trânsito, os psicólogos ainda não haviam conseguido responder com precisão o que eles observam nos testes que caracteriza uma indicação ou não à habilitação. Várias revisões de literatura sobre a influência das características de personalidade na condução veicular têm sido realizadas em determinados momentos. Mira(7) apresentou resultados de pesquisas conduzidas fora do país e realizadas com o PMK em amostras de motoristas pluriacidentados e não acidentados. O trânsito no Brasil, de modo geral, tem causado preocupações com relação à falta de segurança, pois diariamente ocorrem acidentes, deixando pessoas mortas ou feridas, evidenciando a violência no trânsito. Só Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.36–45, jul-dez, 2010 38 Holanda Filho, R.G.; Silva, L.P. no Estado do Ceará foram 22.730 só no ano de 2009, segundo dados do Departamento Estadual de Trânsito no Estado do Ceará.(8) Lamonier(9) relata que dentro dos fatores apontados que favorecem a ocorrência de um número tão elevado, aparece o fator humano como principal. A inteligência, a percepção e a personalidade são fatores que podem estar associados à ocorrência de acidentes, e segundo os estudos realizados há indícios de que a irritação, a agressividade e o comportamento violento no trânsito estão aumentando. E complementa afirmando, baseado em dados apontados pelo teste Rorschach, que aqueles envolvidos em acidentes eram mais agressivos, apresentando uma maior sobrecarga de estresse. Noutro estudo, Ferreira & Tebaldi(10) investigaram os comportamentos agressivos no trânsito com o intuito de saber as causas da agressividade, a partir das respostas dos próprios condutores. Foram pesquisados 94 condutores de veículos automotores, homens e mulheres, de faixa etária, escolaridade e tempo de habilitação diferentes residentes na cidade de Concórdia, em Santa Catarina. Dos fatores apontados como responsáveis pela agressividade no trânsito, na percepção dos condutores, o mais apontado foi o nervosismo – caracterizado como falta de tolerância, pressa, seguido do estresse e desatenção. Podemos inferir que a soma das características de personalidade de uma pessoa às condições externas geram comportamentos e atitudes diferentes diante de uma situação de trânsito, que na sua maioria precisam ser rápidas e assertivas. O PMK busca prevê o tipo comportamento que o indivíduo efetivamente emitirá, pois o instrumento permite estabelecer inferências sobre o psiquismo do indivíduo testado. Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.36–45, jul-dez, 2010 Considerando que há uma forte conexão entre agressividade e acidentes de trânsito, o presente trabalho propõe analisar essa relação, a partir dos resultados apontados pelo PMK. Para Mira(11) a agressividade é a força que leva o sujeito à ação, a um comportamento caracterizado por “ir para a frente” sem fugir aos obstáculos ou a luta. Do ponto de vista da Neuropsicologia, Interessa-nos saber quais as habilidades cognitivas prejudicadas que justificam a incompatibilidade para conduzir veículos automotores, apontadas pelos psicólogos quando usam o PMK. 2 PSICODIAGNÓSTICO MIOCINÉTICO (PMK) E AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA PARA OBTENÇÃO CNH O PMK é um teste de expressão gráfica, baseado na neurofisiologia, que avalia algumas características de personalidade, quais sejam, emoção, tensão, agressividade, tônus vital, adaptabilidade, relacionamento inter e intrapessoal e impulsividade. O instrumento proporciona a investigação dos aspectos da personalidade através do estudo de sua “fórmula atitudinal mediante a análise das tensões musculares involuntárias, que revelam as tendências fundamentais de reação, constituídas por suas peculiaridades temperamentais e caracterológicas”.(12) O PMK através de movimentos em três planos do espaço, em sentido sagital, horizontal e vertical, permite determinar qual o tônus postural que predomina nos pares de músculos: extensor-flexor, abdutor-adutor e elevador-depressor do braço. Como explica Boccalandro(13) “a técnica de aplicação do teste permite o registro de movimentos que evidenciam qual o músculo de cada um dos três pares citados, que predomina. Isto se Agressividade e Violência no Trãnsito evidencia por um desvio involuntário em relação ao modelo utilizado no teste.” O autor complementa explicando que para determinar qual o tônus postural predominante no indivíduo testado, permitese que ele realize movimentos utilizando-se de um lápis sobre folhas de papel especial, que contém os desenhos com as formas dos movimentos. Inicialmente a pessoa controla com a visão tais movimento, e depois, deve continuá-los tendo a visão impedida pela colocação de um anteparo. A base teórica do PMK repousa na Teoria Motriz da Consciência que foi lançada inicialmente, por Willian James e Lange(11), separadamente, dando uma primazia ao aspecto fisiológico. A Teoria postula que “toda intenção ou propósito de reação acompanha-se de uma modificação do tônus postural, que propende a favorecer os movimentos à obtenção dos objetivos e a inibir os movimentos contrários”. Como esclarece Boccalandro(14), os fundamentos dessa Teoria foram estudados por diversos autores que procuraram analisar as “relações entre os movimentos expressivos (ou seja, que acompanham a exteriorização de emoções e ou idéias) e a personalidade do indivíduo”. No manual do PMK estão elencados os fatores operacionais que são mensurados pelo teste, baseados nos conceitos formulados por Mira y López(11), distribuídos em seis grupos, da seguinte forma: ◊ Tônus Vital – 10 dados, 5 para cada mão: Elação – Depressão – “É o nível de energia vital e circulante em certo momento da vida, representando uma medida de potencial biológico capaz de ser liberado ante qualquer situação ou emergência”. ◊ Agressividade – 12 dados, 6 para cada mão: Hetero-agressividade – Autoagressividade – “(...) é a força propul- 39 sora que leva o indivíduo a uma atitude de afirmação e domínio pessoal perante qualquer situação”. ◊ Reação Vivencial – 18 dados, 9 para cada mão: Extratensão – Intratensão – “É o nível de energia psíquica dirigida para fora, em atitude de doação, de exteriorização ou para dentro, de interiorização, de retenção do conteúdo psíquico”. ◊ Emotividade – 10 dados, 5 para cada mão – “É a reação de emergência que se produz quando o organismo não tem pautas pré-estabelecidas para reagir normalmente a uma situação”. ◊ Dimensão Tensional – 18 dados, 9 para cada mão: Excitação – Inibição – “Corresponde ao processo fisiológico básico e complexo do Sistema nervoso, em que os reflexos da inibição e excitação se manifestam pelas vias neuroelétricas de acordo com determinada estimulação e energia química”. ◊ Predomínio Tensional – 8 dados, 4 para cada mão: Impulsividade – Rigidez – “Deriva do próprio processo fisiológico. As estimulações podem se manifestar num processo estável, irregular ou por graves alterações que podem chegar a crises convulsivas”. Os elementos extrínsecos que temos que levar em consideração na interpretação dos dados fornecidos pelo PMK, corresponde a idade, nível de instrução, mão dominante, uso de remédios e tempo de execução global do teste. As atitudes de reações permanentes são expressas pela mão dominada (esquerda para os destros e direita para os canhotos) e as transitórias são reveladas pela mão dominante (direita para destros, esquerda para canhotos). Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.36–45, jul-dez, 2010 40 Holanda Filho, R.G.; Silva, L.P. 3 PMK COMO FERRAMENTA para IDENTIFICAR TRAÇO DE AGRESSIVIDADE EM CONDUTORES DE VEÍCULOS AUTOMOTORES Como mostram os estudos feitos por Vieira, Pereira & Carvalho(15) as principais causas de inaptidão durante o processo para obtenção da CNH, que utilizaram o PMK como instrumento de avaliação, foram indivíduos que apresentaram traços de hiperagressividade e de hiperemotividade, aliados a outros distúrbios. Segundo Alves e colaboradores(16) que realizaram estudos com motoristas profissionais verificou-se que 31% deles foram considerados inaptos na perícia para motoristas em uma Universidade. As características avaliadas e ponderadas para tal decisão foi agressividade, maior emotividade e excitabilidade em relação aos aptos. Pesquisas mais recentes realizadas com motoristas acidentados e infratores apresentam características no PMK que fortalecem os estudos anteriores relacionados aos critérios para se considerar um candidato inapto temporário, e cita a pesquisa de Mira(12), que constatou nos motoristas acidentados, uma maior agressividade, com manifestações de excitabilidade e impulsividade; forte inibição; forte emotividade e diminuição do tônus vital. Conforme alertam Hoffmann, Cruz e Alchieri(17), o homem ou a mulher ao volante é um ser humano que, além de uma série de aptidões, de uma personalidade, hábitos e atitudes definidos, possui necessidades fisiológicas, psicológicas e socioculturais. O equilíbrio entre estas várias instâncias e necessidade e a capacidade de supri-las ou adaptar-se a elas permitem o funcionamento psicofísico normal do indivíduo. Quando o ser humano sente que algo pode ameaçar este equilíbrio, reage. Esta reação às vezes é de adaptação ao meio ou Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.36–45, jul-dez, 2010 de luta, pois algo ameaça o seu equilíbrio interior, podendo reagir com agressividade. Ressalta Menezes(18) que um comportamento agressivo refere-se a toda e qualquer ação que tenha por objetivo ferir o outro física ou verbalmente. Uma agressão, constantemente é o resultado de sentimentos de desprazer e frustrações, quando o indivíduo não consegue lidar de forma assertiva com tal condição. Mira(11) complementa que a agressividade é um componente inato da natureza humana e necessária pois leva o indivíduo a uma atitude de afirmação e domínio pessoal perante qualquer situação. No PMK a avaliação do nível de agressividade do indivíduo aparece nas folhas com desenhos no plano sagital, nas suas cinco configurações: 1) Lineogramas; 2) Zigue-zagues; 3) Cadeias; 4) Paralelas e, finalmente, 5) o “U” sagital. Uma agressividade quantitativamente dentro do padrão de normalidade do teste caracteriza-se pela maior facilidade dos movimentos nesse plano. Segundo Mira(11) uma agressividade quantitativamente maior aliada a uma boa coerência intrapsíquica, a um equilíbrio tensional e a um bom nível ideomotor, seria positiva e favorável. A autora alerta que uma agressividade quantitativamente maior aliada a uma fraca coerência intrapsíquica, acompanhada por um sensível aumento da excitabilidade, com reações emocionais, com uma instabilidade geral e certa imaturidade práxica, seria negativa, nociva, violenta e destrutiva, “pois impulsiona o homem a atos reprováveis. Mira(11) afirma, ainda, que quando a agressividade quantitativamente menor que a normal e estiver dentro da faixa diminuída é sinal de autoagressividade, caracterizando indivíduos “dependentes, submissos, passivos, calmos, com dificuldades para tomar decisões”. Agressividade e Violência no Trãnsito Para uma correta interpretação dos dados mensurados pelo PMK sobre a agressividade (heteroagressividade – HA ou autoagressividade – AA) devemos analisar a sua relação com os outros fatores mensuráveis pelo teste. Para a consecução dos objetivos desse trabalho, e considerando os fatores apontados pelos estudos anteriores (Vieira, Pereira & Carvalho(15), Alves e colaboradores(16) e Mira(11)), analisaremos os aspectos negativos da relação da agressividade quantitativamente maior e menor que o padrão proposto pelo teste com: a Emotividade, a Excitação e a Impulsividade, e a reação comportamental dos indivíduos com essas características de personalidade. ◊ Indivíduo Agressivo com Emotividade aumentada – HA – agressividade lábil, instável, explosivo / AA – comportamento autopunitivo; ◊ Indivíduo Agressivo com Excitação aumentada – HA – agressividade descontrolada / AA – atitude afobada, impaciente; ◊ Indivíduo Agressivo com Impulsividade – HA – comportamento imprevisível, explosivo / AA – agressividade sádica. 4 CONSIDERAÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS SOBRE TRAÇOS DE AGRESSIVIDADE MENSURADOS NO PMK O PMK é um teste com pouca interação com o campo da Neurologia, apesar de ter contribuído com o tema. Encontramos em Boccalandro(19), um dos seus estudiosos, uma menção sobre essa relação. O autor ressalta que os sinais que parecem no PMK estão em correspondência com o sistema nervoso central (SNC). E sustenta essa afirmativa, citando: 41 (...) quando o sistema nervoso está predominantemente excitado, os impulsos nervosos passam com rapidez pelas sinapses e isto aparece no teste pelo aumento do tamanho dos movimentos. Da mesma maneira, nos processos de inibição encontramos que o bloqueio dos impulsos nervosos a nível das sinapses, aparece como diminuição gradativa do tamanho.(19) Tomando como base os resultados mensurados pelo PMK, no que diz respeito ao diagnóstico da agressividade desviante do padrão proposto pelo teste, seja para maior ou menor, passamos agora a articular com a Neuropsicologia, que habilidades cognitivas apresentam-se comprometidas e que justificam a incompatibilidade para conduzir veículos automotores. Assentados na Neuropsicologia tornase necessário uma breve recapitulação do campo de atuação dessa ciência para prosseguirmos adiante com o nosso propósito. A neuropsicologia é uma área muito nova que, de forma geral, objetiva buscar a compreensão do funcionamento mental global, em termos das chamadas funções cognitivas e que vem crescendo no Brasil, seja na clínica ou no campo da pesquisa. Rao(20) estabelece uma distinção entre a Neuropsicologia Humana e a Neuro psicologia Clínica. Segundo este autor, a primeira é multidisciplinar, enquanto que a Neuropsicologia Clínica é tipicamente praticada por psicólogos clínicos, que são encarregados de aplicar o conhecimento científico derivado da pesquisa para avaliar e tratar indivíduos com suspeita de disfunção cerebral. Segundo Lezak(21) os estudos neuropsicológicos tem demonstrado que não há função cognitiva ou intelectual geral, mas muitas funções que trabalham integradas quando o cérebro está intacto, que a cognição é experimentada como função única. Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.36–45, jul-dez, 2010 42 Holanda Filho, R.G.; Silva, L.P. Na maneira apresentada pelo autor o comportamento pode ser classificado em termos de três sistemas funcionais: Cognitivo, que caracteriza a aquisição da informação; Afetivo, que se refere a sentimentos e motivações e Executivo, que determina o comportamento expresso. E complementa afirmando que o sistema cognitivo possui quatro classes de funções, 1 – Receptivas; 2 – Memória e Aprendizagem; 3 – Pensamento e 4 – As funções Expressivas. A partir da classificação proposta e descrita pelo autor, podemos inferir que as funções referem-se às capacidades de selecionar, adquirir, classificar e integrar; armazenar e relembrar; organizar e, finalmente, comunicar as informações. Buscamos em Fuentes & colaboradores(22), uma definição para Neuropsicologia, segundo os autores: [...] é um campo do conhecimento interessado em estabelecer as relações existentes entre o funcionamento do sistema Nervoso Central (SNC), por um lado, e as funções cognitivas e o comportamento, por outro, tanto nas condições normais quanto nas patológicas.(22) Centenaro, em um estudo recente, ressalta que o “sistema responsável pela cognição social e pela modulação da agressão envolva o córtex pré-frontal, além das áreas da amígdala medial que enviam projeções através da estria terminal para o hipotálamo e dele para a porção dorsal da substância cinzenta periaquedutal”.(23) A maior parte das funções do lobo préfrontal está reunida sob o termo funções executivas e correspondem: [...] a um conjunto de habilidades que, de forma integrada, permitem ao indivíduo direcionar comportamentos a metas, avaliar a eficiência e a adequação desses comportamentos, abandonar estratégias Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.36–45, jul-dez, 2010 ineficientes em prol de outras mais eficientes e, desse modo, resolver problemas imediatos de médio a longo prazo.(24) Schlindwein-Zanini & colaboradores(25) complementam que as funções executivas também têm “papel no controle do comportamento inibitório em geral, principalmente do comportamento agressivo e impulsivo”. Fuentes & colaboradores(26) apontam que se as funções executivas estão comprometidas o indivíduo falha em avaliar as conseqüências de suas ações, apresenta labilidade emocional, aumento da agressividade, falta de empatia, perda do juízo crítico envolvendo valores sociais, falha do controle inibitório, além de irritabilidade ou, ao contrário, apatia, déficit de atenção, prejuízo na memória de trabalho e prospectiva, além de alterações de conduta. Como explanamos no início desse trabalho a agressividade pode ser considerada como um comportamento adaptativo quando empregada para uma função específica. É inato ao seres humanos e garantiu a sobrevivência da espécie no decorrer do seu desenvolvimento. A agressividade associada a outros fatores, tais como: impulsividade, emotividade alterada ou excitação gera comportamentos agressivos e violência, seja física ou verbal. Para conceituar a emotividade, Alves e Esteves(27) enfatizam o conceito de Vels e a sua caracterização: vibrações, choques ou comoções interiores das funções psicológicas e fisiológicas, e ainda que quando a emotividade é aumentada, os choques e mudanças de ânimo são violentos as emoções atuam sobre as funções orgânicas e psíquicas excitando ou deprimindo a sua atividade e apresentam o modelo de Dorin sobre a impulsividade que se caracteriza pelo comportamento irrefletida ou que não pode ser contida pelo indivíduo, e ressal- Agressividade e Violência no Trãnsito tam a definição de Vels para a impulsividade que é uma “tendência imperiosa, às vezes, irresistível ao ato brusco, explosivo, instintivo, com um reflexo privado de avaliação, de controle e freio inibitório”. 5 CONCLUSÕES Levando-se em consideração o material pesquisado é importante salientar a significativa escassez de publicações que tratam da avaliação psicológica de aspectos da personalidade de condutores no Brasil, sendo mais escassos estudos que tratam em específico, da utilização do Psicodiagnóstico Miocinético – PMK nos processos de habilitação para condução de veículos automotores. Do que trata o objetivo desse trabalho nenhuma publicação foi encontrada, o que sinaliza a necessidade de estudos posteriores, dada a importância do tema, considerando que a agressividade dos condutores tem relação direta com a violência no trânsito, sendo esta considerada como um problema social e de saúde pública no Brasil. Nesse cenário a utilização do PMK tornase um instrumento adequado para a avaliação das características de personalidade que estão mais predispostas à ocorrência de acidentes, com vítimas fatais ou não, e pontualmente, a importância de mensurar o nível de agressividade dos futuros condutores. Estudos com PMK tem demonstrado que os portadores de fortes traços de agressividade aliados a outros distúrbios, tais como, emotividade, excitação e impulsividade salientam o perigo dos condutores com esse perfil psicológico ao volante e as suas respostas comportamentais no contexto do trânsito brasileiro. Do ponto de vista da Neuropsicologia a agressividade estando relacionada com o córtex pré-prontal, comprometimentos 43 nessa área responsável pelas funções executivas tendem a revelar-se mais globalmente, afetando todos os aspectos do comportamento, podendo afetar a atenção, alerta e concentração, planejamento, e tomada de decisões. Considerando a relevância das alterações cognitivas faz-se necessário ao Psicólogo ter uma visão multidisciplinar na sua prática agregando os conhecimentos da Neuropsicologia para compreender o funcionamento do sistema Nervoso Central as funções cognitivas e o comportamento, sabendo identificar as condições normais e patológicas dos indivíduos avaliados. Para finalizar mencionamos que na impossibilidade de aplicação do PMK, outros instrumentos podem ser utilizados para atender a grande demanda de avaliação psicológica, seja para a primeira habilitação ou no caso de seleção de motoristas, sugerimos para avaliar a Atenção Concentrada, Difusa e Discriminativa, associado a um teste de expressão gráfica que possibilite a investigação dos diferentes aspectos da personalidade e motores. Notas 1. Agência Brasileira de Inteligência. Brasil: última atualização 03/2010; citado em 08/2009. Disponível em: http://www. abin.gov.br/modules/articles/article. php?id=4504. 2. Associação Brasileira de Educação no Trânsito. Brasil: última atualização 03/2010; citado em 08/2009. Disponível em: http://abetran.org.br/index.php? option=com_content&task=blogcatego ry&id=18&Itemid=77&limit=9&limitst art=72. 3. Silva FHVC, Alchieri, JC. Revisão das pesquisas brasileiras em avaliação psicológica de habilidades e Inte ligências de condutores. Psico-USF, 2008;13:57. Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.36–45, jul-dez, 2010 44 Holanda Filho, R.G.; Silva, L.P. 4. Hoffman MH, Cruz, RM. apud Silva FHVC, Alchieri JC. Revisão das pesquisas brasileiras em avaliação psicológica de habilidades e Inteli gências de condutores. Psico-USF, 2008;13:57. 14.Boccalando apud Bardelha JG, Alves ICB, Esteves C, Guedes MBB, Almeida. Comparação dos resultados do Psicodiagnóstico Miocinético – PMK de Belo Horizonte com os de Recife e de São Paulo. PSIC, 2004;5:37. 5. Blasco RD, Hoffman, MH, Cruz, RM, Tortosa F, Montoro L. apud Silva, FHVC, Alchieri, JC. Revisão das pesquisas brasileiras em avaliação psicológica de habilidades e Inteligências de condutores. Psico-USF, 2008;13:58. 15. Vieira MVM, Pereira, A. O, Carvalho AV. apud Lamounier R, Rueda FJM. Avaliação psicológica com o PMK no contexto do trânsito. Psicologia, pesquisa e transito, 2005;1:27. 6. Alchieri JC, Stroeher F. apud Avaliação psicológica no trânsito: o estado da arte no Brasil sessenta anos depois. In: RM Cruz, JC Alchieri, J Sardá (eds), Avaliação e Medidas Psicológicas. Casa do Psicólogo, 2002, p. 234-345. 7. Mira AMG, apud Alchieri JC, Silva FHV. Avaliação psicológica da personalidade de condutores: uma revisão de literatura. Psico-USF, 2007;12:190. 8. Departamento Estadual de Trânsito. Brasil. Última atualização 03/2010; citado em 03/ 2010. Disponível em: http://www.detran. ce.gov.br/site/arquivos/estatisticas/ Acidentes/2009/ÍNDICE%20DE%20 ACIDENTES%20POR%20100.000%20 HABITANTES%20-%202002%20-%20 2009.pdf. 9. Lamounier R, Rueda, FJM. Avaliação psicológica com o PMK no contexto do trânsito. Psicologia, pesquisa e transito, 2005;1:26. 10.Ferreira VRT, Tebaldi Eliza. Compor tamentos no trânsito e causas da agres sividade. Revista de Psicologia da UnC, 2004;2:18-19. 11. Mira AMG. PMK: Psicodiagnóstico miocinético. São Paulo: Vetor; 1987. 190p. 16. Alves ICB, Colosio R, Custódio EM, Ballas YG, Meneses SRP, Megale FCB. apud Lamounier R, Rueda FJM. Avaliação psicológica com o PMK no contexto do trânsito. Psicologia, pesquisa e transito, 2005;1:27. 17.Hoffmann MH, Cruz RM, Alchieri JC. apud Ferreira, VRT, Tebaldi Eliza. Comportamentos no trânsito e causas da agressividade. Rev. De Psicologia da UnC, 2004;2:16. 18. Menezes P. apud Ferreira, VRT, Tebaldi Eliza. Comportamentos no trânsito e causas da agressividade. Rev. De Psicologia da UnC, 2004;2:16. 19.Boccalandro ER. Diagnóstico de Disritmia no PMK. São Paulo: Vetor, 1977. 172p. 20.A Expressão Comportamental dos Processos Mentais. Brasil: última atualização 11/2009; citado em 03/ 2010. Disponível em : http://www.psicologia.com.pt/ artigos/textos/A0249.pdf 21.Lezak MD. apud Tosi Silésia MV Delphino. TIG-NV: Teste de inteligência não-verbal: instrumento para avaliação psicológica e neuropsicológica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2008. 138p. 12. Mira AMG. apud Lamounier R, Rueda FJM. Avaliação psicológica com o PMK no contexto do trânsito. Psicologia, pesquisa e transito, 2005;1:26. 22.Fuentes, Daniel; Malloy-Diniz, L, F; R. M. A evolução das idéias sobre a relação entre cérebro, comportamento e cognição. In: Neuropsicologia: teoria e prática. São Paulo: Artmed, 2008. p. 15. 13.Boccalandro ER. Diagnóstico de Disritmia no PMK. São Paulo: Vetor, 1977. 172p. 23.Centenaro LA. Provocação social e comportamento agressivo: envolvimento Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.36–45, jul-dez, 2010 Agressividade e Violência no Trãnsito dos receptores 5-HT1A e 5-HT1b no córtex pré-frontal [dissertação]. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2008. 24.Fuentes, Daniel; Malloy-Diniz, L. F; Sedo, M. Neuropsicologia das funções executivas. In: Neuropsicologia: teoria e prática. São Paulo: Artmed, 2008, p. 187. 25.Schlindwein-Zanini R, Portuguez MW, Costa JC. Epilepsia do lobo frontal na infância: aspectos psicológicos e neuro psicológicos.2007;17:93. 45 26. Fuentes, Daniel; Malloy-Diniz, L. F; Sedo, M. Neuropsicologia das funções executivas. In: Neuropsicologia: teoria e prática. São Paulo: Artmed, 2008, p. 189-191. 27. Alves. I. C. B., Esteves. Cristiano. O teste palográfico na avaliação da personalidade. 2ª edição. São Paulo: Vetor, 2004, 199p. Recebido em 20 de outubro de 2010 Aceito em 17 de dezembro de 2010 Revisado em 22 de dezembro de 2010 Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.36–45, jul-dez, 2010 46 Marques, L.C.; Teixeira, G.F.D.; Brasil, A.C.O. Efeitos do Ultrassom Pulsado de Baixa Intensidade na Regeneração Óssea Luan Cavalcante Marquesi [email protected] Gisele Façanha Diógenes Teixeiraii [email protected] Ana Cristhina de Oliveira Brasiliii resumo abstract O aumento da abordagem terapêutica do ultrassom pode ser observado nos últimos anos, em decorrência de estudos experimentais no sistema nervoso. Após a descoberta da propriedade piezoelétrica do tecido ósseo, que quando alterado pode gerar uma polarização e transformar energia mecânica em elétrica, o ultrassom passou a ser uma forma de intervenção biofísica no processo de reparação óssea. Este estudo visa à realização de um levantamento bibliográfico de estudos realizados com ultrassom pulsado de baixa intensidade na neoformação óssea em humanos e animais. Increasing the therapeutic approach of ultrasound can be seen in recent years, due to experimental studies in the nervous system. After the discovery of the piezoelectric property of bone tissue, which when changed can generate a polarization and transform mechanical energy into electrical, ultrasound has become a form of intervention in the biophysical process of bone repair. This study aims to develop a bibliography of studies performed with ultrasound pulse of low intensity in the neo-bone formation in humans and animals. Palavras-chave: ultrassom; fratura; regeneração óssea. Keywords: ultrasound; fracture; bone regeneration. I Acadêmico de Fisioterapia. Faculdade de Tecnologia Intensiva. II Fisioterapeuta. Mestre em Cirurgia. Docente do Curso de Fisioterapia. Faculdade de Tecnologia Intensiva. III Fisioterapeuta. Mestre em Saúde Pública. Docente do Curso de Fisioterapia. Faculdade Integrada do Ceará. Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.46–58, jul-dez, 2010 Ultrassom na Regenerção Óssea 1 INTRODUÇÃO O aumento da abordagem terapêutica do ultrassom pode ser observado nos últimos anos, em decorrência de estudos experimentais no sistema nervoso.(1) Porém, as vibrações mecânicas de alta frequência não são utilizadas apenas para o tratamento de afecções neste conjunto de órgãos, os efeitos físicos e fisiológicos do ultrassom podem ser aplicados também na aceleração do processo cicatricial, síntese protéica(2), alívio álgico(3) e regeneração no foco de fratura óssea(4,5), pois as vibrações, ao serem transmitidas para o interior do corpo, causam microdeformações na área estimulada e geram estímulos para iniciar ou acelerar o processo de consolidação óssea.(6) Apesar de ser uma modalidade não terapêutica não-farmacológica, o ultrassom promove a absorção de drogas por meio da pele, facilitando a chegada em seu campo de atuação.(7) A regeneração de ossos tubulares pode ser dividida em seis estágios(8): ◊ No primeiro estágio, também chamado de estágio de hematoma, ocorre um extravasamento de sangue dos vasos rompidos para o periósteo, que ocorre após algumas horas e pode se estender por dias. ◊ O segundo estágio, ou estágio inflamatório, caracteriza-se pela formação de um exsudato serofibrinoso e pela liberação de pirógenos angiogênicos pelos tecidos necróticos. Neste estágio ocorre também o aumento das células antecessoras dos osteoblastos, que começam a reabsorver o tecido ósseo necrosado, dois dias após a fratura. ◊ O terceiro estágio caracteriza-se pela formação de tecido de granulação que atua na angiogênese e na organização 47 dos tecidos e estruturas e ocorre entre o segundo e décimo segundo dia após a fratura. A partir do quarto estágio, inicia-se o processo de consolidação óssea. ◊ O quarto estágio é evidente após a primeira semana e pode durar vários meses. Nesta fase, o calo ósseo mole, ou fibroso, começa a se formar e vai se transformando gradativamente em calo duro, o calo ósseo propriamente dito. ◊ O quinto estágio se dá quando o calo ósseo está formado. ◊ No sexto estágio, chamado de estágio de remodelação, o osso maduro é substituído por tecido ósseo lamelar. Esse processo se dá em todos os indivíduos ao longo da vida, mas é mais evidente nos meses que sucedem uma fratura.(8) Após a descoberta da propriedade piezo elétrica do tecido ósseo, que quando alterado pode gerar uma polarização e transformar energia mecânica em elétrica(9), o ultrassom passou a ser uma forma de intervenção bio física no processo de reparação óssea, que pelos vários mecanismos acelera a neoformação do tecido em questão.(10) O ultrassom é uma energia mecânica que se transmite por meio de ondas sonoras com uma frequência abaixo do limiar auditivo do ser humano. É usado na Medicina tanto na área de diag nóstico quanto na área terapêutica. O ultrassom terapêutico é empregado em intensidades entre 1 e 3 W/cm².(11) A profundidade de absorção de suas ondas é inversamente proporcional à sua intensidade.(3) Os efeitos desta modalidade terapêutica podem ser divididos em térmicos e atérmicos.(11) Os efeitos térmicos só serão obtidos se a temperatura do tecido for elevada a 40-45° durante no mínimo cinco minutos. Estes efeitos consistem em diminuição da dor, do Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.46–58, jul-dez, 2010 48 Marques, L.C.; Teixeira, G.F.D.; Brasil, A.C.O. espasmo muscular, promoção dos processos de cicatrização(11), redução do processo inflamatório(5), diminuição da rigidez articular e aumento do fluxo sanguíneo.(2) Os efeitos atérmicos são aqueles que produzem alguma ação nos tecidos sem aumentar sua temperatura significativamente(2) e são os seguintes: aumento da permeabilidade da membrana celular e alteração de suas taxas de difusão, aumento da permeabilidade vascular, do fluxo sanguíneo, da atividade fibroblástica, da fagocitose, produção de tecido de granulação sadio, síntese de proteínas, redução de edemas, síntese de colágeno, difusão de íons, regeneração dos tecidos.(12) Alguns estudos sugerem que as propriedades térmicas e atérmicas do ultrassom devem ser empregadas no reparo ósseo principalmente nas fases iniciais de regeneração(5), exercendo pouca ou nenhuma influência nas fases de consolidação e remodelação óssea.(5,13) Em contrapartida, existem trabalhos que empregam com sucesso o ultrassom pulsado de baixa intensidade em fraturas não consolidadas ou com retardo na união.(14,15,16) Pounder e Harrison(17) sugerem ainda que ultrassom pode ser utilizado em todos os estágios da consolidação óssea. A aplicação desta terapia pode ser feita tanto transcutaneamente (18) quanto colocando o transdutor imerso na água.(19) Embora o mecanismo de ação não seja claro, existem algumas especulações sobre o modo pelo qual esta energia mecânica age, acelerando a restituição óssea ao seu estado anterior, como os microestresses mecânicos transferidos pelo sinal do ultrassom, estimulando a ossificação endocondral.(14) Estudos histológicos apontam o aumento do número de células envolvidas na cicatrização óssea, incluindo os osteoblastos, osteoclastos e condrócitos em fraturas tratadas com ultrassom, em comparação a fraturas não tratadas.(5) Pesquisas realizadas com Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.46–58, jul-dez, 2010 animais(20), in vitro(21) e ensaios clínicos(22) têm demonstrado um aumento da síntese protéica, da permeabilidade da membrana plasmática, bem como de outros indicadores, em resposta ao ultrassom pulsado de baixa intensidade.(23) Existem relatos na literatura apontando que quando aplicado ultrassom de baixa intensidade em áreas onde existem implantes metálicos, o mesmo não aumenta a temperatura do tecido ósseo e muscular, portanto, seu uso nestas situações não é contra-indicado.(24,25) Devido à importância do ultrassom nos tratamentos fisioterápicos, o aumento da sua utilização e a sua aplicação no que diz respeito à fase de consolidação em que a fratura se encontra, este estudo visa à realização de um levantamento bibliográfico de estudos realizados com ultrassom pulsado de baixa intensidade na neoformação óssea em humanos e animais, tendo como objetivo de analisar os efeitos do ultrassom pulsado de baixa intensidade na regeneração óssea. 2 DESENVOLVIMENTO Ultrassom é estudado em várias pesquisas tanto estudos experimentais em animais quanto estudos de caso, em humanos. 2.1 Pesquisas realizadas com ultrassom pulsado de baixa intensidade em animais Os estudos com ultrassom pulsado de baixa intensidade são realizados utilizando animais de várias espécies, entre elas, ratos(26), coelhos(27), cachorros(28), macacos(29), carneiros.(30) A primeira pesquisa utilizando esta modalidade terapêutica em ossos longos de animais foi publicada em 1977, quando Duarte aplicou ultrassom pulsado de baixa intensidade em fíbula, fêmur e costelas de Ultrassom na Regenerção Óssea coelhos osteotomizados. Observando exames radiográficos, histológicos e a medida da área do calo ósseo, verificou que a consolidação óssea dos animais tratados com ultrassom estava avançada, em comparação aos animais não tratados.(31) Em 2000, para investigar os efeitos do ultrassom, Shimazaki et al.(32), utilizou um modelo de distração osteogênica em coelhos, por meio do alongamento da tíbia direita em 70 coelhos machos. Em 64 animais, foi utilizada uma distração normal, com tempo de espera de sete dias, afastamento de 0,5 mm por dia durante 10 dias e as amostras foram submetidas a exames radiológicos, aferição de densidade da massa óssea, testes mecânicos e histológicos. Em 6 animais, foi realizada uma distração óssea rápida, sem tempo de espera, com afastamento de 1,5 mm durante sete dias. Metade dos animais foi tratada com ultrassom. Nos animais submetidos à distração normal, todos os resultados se mostraram significativamente melhores nos animais tratados com ultrassom, já na distração rápida, foi observado radiologicamente que no grupo controle o osso estava imaturo, o que não ocorreu com o outro grupo, concluindo-se que o ultrassom pulsado de baixa intensidade acelera o processo de maturação óssea mesmo quando o alongamento gradual não é ideal. Em 2001, Azuma et al.(20), com o objetivo de verificar se os efeitos do ultrassom pulsado de baixa intensidade dependiam da duração do tratamento e da fase em que a fratura se encontra, utilizou, com uma frequência de 3mW/cm², durante 25 dias, em quatro grupos de animais. Todos foram submetidos a uma resistência capaz de fraturar o fêmur, após o implante de fio de Kirschener em ambos os fêmures. Um fêmur era tratado com ultrassom e o outro foi usado como controle. O primeiro grupo recebeu tratamento do primeiro ao oitavo 49 dia após a fratura. O segundo grupo, do nono ao décimo sexto dia após a fratura. O terceiro grupo, do décimo sétimo ao vigésimo quarto dia após a fratura. O quarto grupo, do primeiro ao vigésimo quarto dia. Todos os animais foram sacrificados no vigésimo quinto dia. O torque e a rigidez dos ossos tratados com ultrassom foram significativamente maior, em relação fêmur contralateral nos três primeiros grupos. O torque dos animais do quarto grupo, no lado tratado com ultrassom foi significativamente maior, em comparação aos três outros grupos. Na observação radiológica, a linha da fratura do lado tratado com ultrassom estava mais avançada que a linha de fratura no lado controle, em todos os grupos. Observaram ainda que o tratamento mais longo foi o mais eficaz. Frente a estes resultados, os autores concluíram que o processo de consolidação da fratura pode ser acelerado, quando exposto ao tratamento com ultrassom pulsado de baixa intensidade, que age nas reações celulares envolvidas em cada etapa da consolidação, embora o mecanismo permaneça sem esclarecimentos. Com o objetivo de determinar se o ultrassom pulsado de baixa intensidade (LIPUS) estimula a regeneração óssea após distração, Mayr et al.(33) realizaram cirurgicamente uma falha óssea 15mm em ovelhas, sustentada por anel fixador. Na fase de distração, os animais eram submetidos a um afastamento de 0,5mm por dia, durante 21 dias e a fase de maturação seguia-se após isto, até 84° dia de pós-operatório. Durante esta fase, um grupo de animais (grupo 1) era tratado com LIPUS diariamente, por 20 minutos. A cada duas semanas eram obtidas radiografias e passada a fase de maturação os animais eram sacrificados. Concluiu-se, com base em estudos radiológicos, de tomografias computadorizadas, que o ultrassom parece estimular o Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.46–58, jul-dez, 2010 50 Marques, L.C.; Teixeira, G.F.D.; Brasil, A.C.O. calo ósseo, a densidade óssea e o conteúdo mineral durante a consolidação óssea neste modelo animal. Yang e Park(34) submeteram 10 cães mestiços a dois grupos, um que apresentava uma pequena lacuna óssea e o outro, uma grande lacuna óssea, com o objetivo de observar os efeitos do LIPUS nos dois grupos. Nas ulnas de ambos, as lacunas eram cirurgicamente fraturadas, sendo uma tratada com ultrassom e a outra usada como grupo-controle randomicamente escolhidas. As aplicações iniciavam-se após no primeiro dia de pós-operatório, durante 15 minutos por dia, 6 dias por semana. Após a avaliação radiológica, concluiu-se que a neoformação óssea nas pequenas e grandes fraturas pode ser reforçada pela utilização de ultrassom pulsado de baixa intensidade. O índice de não-união óssea também diminuiu com o uso do LIPUS no grupo de grandes lacunas ósseas. Em 2004, foi realizado um estudo utilizando coelhos, objetivando identificar o tempo de estimulação mais adequado na aceleração do reparo ósseo. Para tanto, os animais foram divididos em grupos pelo tempo de terapia: 5, 10, 20 e 40 minutos, que foram comparados entre si e com o grupo controle, que não recebeu tratamento com ultrassom. Após terem os rádios osteotomizados, os animais receberam aplicação terapêutica de ultrassom pulsado de baixa intensidade de acordo com o seu grupo, durante 15 dias. Os resultados foram obtidos mediante estudos radiológicos e análise morfométrica do calo ósseo. A exceção do grupo de 5 minutos, todos os outros apresentaram uma maior qualidade na formação do calo ósseo. E quanto maior o tempo de exposição, mais eficiente o ultrassom se mostrou para o tratamento das fraturas.(35) Sakurakichi et al.(36) realizaram cirurgicamente o alongamento unilateral de tíbia direita com fixadores em 75 coelhos brancos Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.46–58, jul-dez, 2010 machos, para investigar o efeito do LIPUS nas fases de distração óssea. Os animais foram divididos em 4 grupos, tendo como base a fase em que a distração se encontravam. O grupo da fase de espera recebeu terapia por ultrassom durante os 7 dias anteriores à distração. No grupo da fase de alongamento, foram feitas aplicações de ultrassom durante os 7 dias de afastamento (índice de 1,5mm por dia). No grupo da fase de maturação foi empregado o ultrassom nos 7 primeiros dias após o término do período de distração óssea. O quarto grupo não recebeu nenhum tratamento, sendo utilizados apenas como grupo controle. Os animais foram submetidos a exames radiológicos e histológicos toda semana, durante quatro semanas. A densidade e a resistência foram testadas após 2 semanas do términos da distração. O grupo da fase de alongamento teve maior densidade óssea, enquanto que a resistência e a regeneração óssea se mostraram estatisticamente mais aumentadas no grupo da maturação óssea. Os exames histológicos mostraram que a formação óssea ocorreu mais precocemente nos grupos de alongamento e maturação óssea que nos demais, concluindo-se que o LIPUS estimula a neoformação óssea em modelos de distração osteogênica e é mais eficaz na fase de alongamento. Em um estudo realizado no ano de 2006, Chan et al.(37) investigaram se a baixa intensidade do ultrassom pulsado de baixa intensidade também é eficaz no reforço da remodelação óssea durante a fase de maturação óssea, em um modelo de distração osteogênica, utilizando coelhos machos. Foi realizada osteotomia aberta na tíbia de 17 animais, sendo 10 tratados com ultrassom e 7 utilizados como grupo controle, em que nenhum tratamento foi realizado. O índice de alongamento, na fase de distração foi de 1mm por dia. A aplicação do ultrassom foi feita durante 20 minutos por dia, durante Ultrassom na Regenerção Óssea as quatro primeiras semanas do estágio de maturação. Para a avaliação dos resultados, foram realizados testes de torção e obtidos radiografias e tomografias computadorizadas. A partir da segunda semana, o tecido de granulação foi gradualmente substituído por tecido ósseo, e as fraturas, que foram estimuladas com LIPUS, apresentaram uma maior área de substituição na mesma época, comparada com as que não receberam nenhuma terapia. A densidade óssea também se mostrou maior no grupo dos animais tratados. Conteúdo mineral ósseo, volume do calo ósseo duro, resistência óssea, quantificados pela tomografia computadorizada que foram significativamente maiores do que os dos controles. Na quarta semana, o calo ósseo dos tratados com LIPUS mostraram o desenvolvimento de cortical óssea na região proximal e distal da fratura. Já o conteúdo mineral ósseo, o volume do calo ósseo duro e a resistência óssea diminuíram e não se mostraram estatisticamente diferentes do grupo controle. Em conclusão, o efetivo período de tratamento com LIPUS foi na fase inicial de consolidação, com aceleração da formação óssea e remodelação. El-Bialy et al.(29), em um estudo utilizando 14 babuínos jovens da raça Hamadryas, avaliaram o efeito do LIPUS no crescimento mandibular. Os animais foram divididos em grupos, um grupo que utilizava uma moldeira para morder e o outro grupo que não recebeu. Em todos os animais a articulação esquerda recebeu tratamento com ultrassom pulsado de baixa intensidade e o lado direito usado como controle. Após quatro meses de tratamento, os animais foram sacrificados e submetidos a exames radiológicos e histológicos, que demonstraram que o ultrassom pulsado de baixa intensidade reforça o crescimento mandibular, especialmente quando combinado com a utilização de moldeiras. 51 Em 2008, Sousa et al.(31) realizaram um estudo utilizando 16 cães de espécies variadas, entre 6 meses e 6 anos de idade, pesando entre 2,5 e 43 quilogramas, apresentando fraturas diafisárias fechadas da tíbia, fêmur, fíbula, rádio ou ulna. Divididos em dois grupos, com oito animais cada, o grupo controle e o grupo que recebeu tratamento com ultrassom pulsado de baixa intensidade. Os animais foram submetidos a aplicações diárias em cima do foco da fratura, durante 20 minutos, por 21 dias consecutivos, tendo o seu tratamento iniciado entre o primeiro e o nono dia após a redução da fratura. Após avaliação radiológica, pode-se observar uma diminuição significativa na média do tempo de consolidação entre o grupo que recebeu aplicações diárias de ultrassom e o grupo controle. Com o objetivo de avaliar os efeitos do ultrassom no crescimento ósseo no modelo unilateral de ulnas com enxerto ósseo, Walsh et al.(38) realizaram uma imperfeição unilateral nas ulnas de 18 coelhos brancos, utilizando enxerto ósseo sintético beta tricálcio fosfato. Nove animais foram tratados com LIPUS durante 20 minutos diariamente. Destes, três animais foram sacrificados na quarta semana e os outros 6 após 12 semanas, contadas a partir do primeiro dia de pós-operatório. As radiografias demonstraram alguma reabsorção no enxerto ósseo em 12 semanas, tanto no grupo controle, quanto no grupo tratado com ultrassom, que não acelerou essa reabsorção. Revelou também mais tecido ósseo neoformado nos animais tratados durante 4 e 12 semanas. O aumento da densidade óssea foi significante no grupo tratado durante 4 semanas em relação ao controle, o que não ocorreu com o grupo tratado durante 12 semanas. O estudo histológico revelou a formação da trama óssea nos animais que foram submetidos ao tratamento com LIPUS. Tendo como conclusão a estimulação por parte do Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.46–58, jul-dez, 2010 52 Marques, L.C.; Teixeira, G.F.D.; Brasil, A.C.O. ultrassom pulsado de baixa intensidade do processo de formação óssea na consolidação de fraturas ulnares com enxerto ósseo sintético. 2.2 Pesquisas realizadas com ultrassom pulsado de baixa intensidade em humanos As pesquisas com ultrassom em humanos descritas deste estudo, estão sob a forma de ensaios clínicos(33), relatos de caso(39) e estudos retrospectivos(40), organizadas em ordem cronológica. Fujioka et al.(41) apresentaram um caso em que o paciente apresentou, após 4 meses, uma fratura não consolidada do osso hamato, que pôde ser constatada por meio de radiografia e tomografia computadorizada. O referido paciente foi submetido ao tratamento com ultrassom no foco da fratura, por mais 4 meses. Depois de realizadas novas radiografias e tomografias computadorizadas, os autores observaram a consolidação da fratura. Em 2001, Nolte et al.(40) fizeram um estudo retrospectivo, de caráter documental, com objetivo de evidenciar a utilização do ultrassom em fraturas não consolidadas. Os casos registrados foram revisados de acordo com o período do último procedimento cirúrgico e evidências de retardo na consolidação ou não consolidação, durante pelo menos três meses antes do início da terapia com o ultrassom pulsado de baixa intensidade. Vinte e nove casos de fraturas na tíbia, fêmur, rádio, ulna, escafóide, úmero, metatarso e clavícula apresentaram critérios para inclusão nesta pesquisa, com o tempo médio após a fratura de 61 semanas. Em 21 casos, o tratamento inicial foi cirúrgico, e em 8 casos, conservador. Quando o tratamento com ultrassom foi iniciado, os pacientes receberam aplicações diárias, durante 20 minutos. Pelos resultados, observou-se que vinte e cinco dos vinte Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.46–58, jul-dez, 2010 e nove casos (86%) obtiveram a consolidação da fratura em uma média de tempo de 22 semanas, independente de idade, sexo, doença concomitante, tempo de fratura, tipo de não consolidação, fixação antes e durante o tratamento, intervalo de tempo entra a última intervenção cirúrgica e o início da terapia por ultrassom, demonstrando que o ultrassom pode ser eficiente, quando utilizado no tratamento de fraturas não consolidadas. Com o objetivo de investigar a influência do ultrassom pulsado de baixa intensidade na distração osteogênica em humanos, Esenwein et al.(18) realizaram um trabalho envolvendo 20 pacientes que haviam sido submetidos à distração osteogênica, sendo 16 deles por fratura em um dos ossos da perna, dois por fratura no fêmur e dois para aumentar o membro. O ultrassom foi aplicado transcutaneamente durante 20 minutos sob o foco da fratura, todo dia. A cada 3 ou 4 semanas, eram realizadas radiografias e ultrassonografias para o acompanhamento da consolidação da fratura. Quinze dos vintes pacientes envolvidos na pesquisa tiveram sucesso na distração osteogênica, sendo que os pacientes fumantes apresentaram uma evolução mais lenta que os pacientes que não fumaram durante o tratamento. Dois apresentaram osteíte tiveram de ser amputados e outros três necessitaram de tratamento cirúrgico adjuvante, inclusive com o uso de enxertia óssea. Em conclusão, o ultrassom pode acelerar o processo de maturação óssea, mesmo em condições adversas, sem apresentar efeitos deletérios. Leung et al.(42) realizaram um estudo com o objetivo de verificar o efeito do ultrassom pulsado de baixa intensidade nas fraturas complexas da tíbia. Foram eleitas de forma aleatória 16 fraturas para receber tratamento com ultrassom, 20 minutos diários, por 90 dias, e 14 para receber Ultrassom na Regenerção Óssea um tratamento placebo. As fraturas foram imobilizadas interna ou externamente, de acordo com a recomendação médica. Após avaliações clínicas, radiológicas, bioquímicas e densitométricas, constatou-se que o grupo tratado com ultrassom apresentou uma cicatrização óssea com maior qualidade, estatisticamente significante, quando comparada ao grupo controle. Em 2004, Tsumaki et al.(43) realizaram um estudo com objetivo de avaliar os efeitos do ultrassom pulsado de baixa intensidade na maturação óssea quando aplicado após distração de membros tratados com osteotomia alta da tíbia por distração osteogênica. Foram selecionados vinte e um pacientes idosos, que tinham o mesmo grau de osteoartrite, níveis semelhantes de deformidade em varo nos joelhos, bilateralmente e foram submetidos à osteotomia alta da tíbia por distração osteogênica. Foi realizada a mensuração da densidade mineral óssea do calo, após a conclusão da distração, para em seguida, ser escolhido randomicamente um membro de cada paciente, para iniciar o tratamento com ultrassom pulsado de baixa intensidade por vinte minutos diários até a retirada do fixador externo. O membro contralateral foi deixado sem tratamento para servir de controle. Após quatro semanas de tratamento, a densidade foi novamente mensurada, quando comparadas com a primeira aferição, observou-se que o aumento médio da densidade mineral óssea no calo foi significantemente maior nas tíbias tratadas com ultrassom, chegando à conclusão que este tratamento quando aplicado durante a fase de consolidação na distração osteogênica acelera maturação após osteotomia alta da tíbia por distração osteogênica, em pacientes idosos. Giannini et al.(39) relataram um caso de fratura traumática da mão em um goleiro de elite tratada com uma aplicação diária de ultrassom pulsado de baixa intensidade de 53 20 minutos durante 24 dias. Foram realizadas radiografias, ultra-sonografias, tomografias computadorizadas a fim de diagnosticar e acompanhar a evolução da fratura durante o tratamento. O emprego do ultrassom mostrou-se um sucesso e após 24 dias de tratamento o paciente foi autorizar a reiniciar suas atividades desportivas, com uma adaptação da luva. Após dois meses, as radiografias revelaram a completa consolidação, sem deslocamento dos focos de fratura. Em 2005, investigou-se o efeito do ultrassom pulsado de baixa intensidade na distração osteogênica da tíbia. Foram eleitos vinte pacientes com defeitos tibiais variando de 5 a 8 cm, com distração osteogênica Ilizarov e utilizando o fixador externo. Após a conclusão da distração, dez pacientes receberam 20 minutos de estímulos ultrassônicos pulsados de baixa intensidade sobre o alongamento ósseo local (grupo A), enquanto a fixação rígida foi mantida nos demais pacientes (grupo B). Todos os pacientes foram acompanhados semanalmente com radiografias para determinar a formação de um córtex externo e um canal intramedular, a partir do momento em que o fixador foi removido. A média do índice do tempo de cicatrização no grupo A foi menor, quando comparada ao grupo B, evidenciando a eficácia do ultrassom pulsado de baixa intensidade na consecução da maturação óssea e na redução do tempo de distração osteogênica.(44) O relato de caso apresentado por Dudda et al.(45) é referente a uma paciente do sexo feminino, 18 anos de idade, que adquiriu uma osteíte quando criança no braço direito, resultando na redução do membro em 10 cm. Esta foi submetida a uma distração osteogênica do membro atingido pela afecção. Devido aos bons resultados obtidos com ultrassom de baixa intensidade em trabalhos anteriores, os autores resolveram usá-lo como tratamento adicional. A duração do tratamento do paciente foi reduzida Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.46–58, jul-dez, 2010 54 Marques, L.C.; Teixeira, G.F.D.; Brasil, A.C.O. pela aplicação adicional de ultrassom pulsado de baixa intensidade. Com o objetivo de investigar se a terapia precoce com ultrassom pulsado de baixa intensidade estimula a formação óssea em mandíbula submetida à distração osteogênica, Schortinghuis et al.(46) submeteram oito pacientes à distração mandibular vertical sobre uma distância média de 6,6 mm. A terapia com ultrassom ou terapia com placebo foi iniciada no primeiro dia de distração e continuou diariamente até os implantes serem inseridos. Após 31 dias de consolidação, o dispositivo de distração transmandibular foi removido, uma biópsia foi realizada, e dois implantes foram inseridos. O exame histológico indicou que o tecido ósseo estava presente no interior da área de distração apenas adjacente à osteotomia, sem diferenças aparentes entre o grupo tratado e o grupo controle. A formação de osso lamelar fora da distração fosso parecia ter começado. Os autores concluíram que durante o período de 31 dias de consolidação, o tratamento com ultrassom não parece estimular a formação óssea na mandíbula severamente reabsorvida e submetida à distração osteogênica, porém aparentemente o período é breve para avaliar de forma adequada se houve um efeito, portanto, um período mais longo consolidação tem de ser estudado. Os relatos de casos apresentados por Luthje e Nurmin-Luthje(47) foram sobre o tratamento com ultrassom pulsado de baixa intensidade em atletas de elite que foram acometidos por fratura não consolidada na clavícula e retardo na consolidação da fratura de metatarso. Nos dois pacientes, foi utilizado ultrassom pulsado de baixa intensidade por 20 minutos diários, durante 3 meses. A consolidação da fratura da clavícula foi acompanhada por ressonância magnética e da união retardada proximal do quinto metatarso, por radiografias. Em Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.46–58, jul-dez, 2010 ambos os casos, os resultados finais foram excelentes e os jogadores continuaram a jogar no mais alto nível. O tratamento com ultrassom foi bem sucedido e proporcionou aos pacientes um rápido retorno à atividade esportiva. Em um estudo retrospectivo, foram investigados 71 casos, que ocorreram em 2000 e 2003, de pacientes que sofreram fraturas na tíbia que não foram consolidados, com o objetivo de avaliar o efeito do ultrassom neste tipo de enfermidade. Com pacientes de ambos os sexos, sendo 56 homens e 15 mulheres, com a média de idade de 40 anos. O ultrassom pulsado de baixa intensidade foi o único tratamento utilizado. Os resultados obtidos mostraram que 52 dos 71 pacientes apresentaram a consolidação total da fratura após o tratamento, que se mostrou estatisticamente significante, quando comparado aos achados encontrados na literatura sobre o percentual de consolidação espontânea de fraturas. Os autores concluíram que o ultrassom é eficaz no tratamento das fraturas não consolidadas de tíbia e pode ser visto como uma boa, segura e mais barata alternativa à cirurgia.(16) Em 2007, Jingushi et al.(15), com o objetivo de esclarecer os efeitos do ultrassom pulsado de baixa intensidade na não união ou retardo na consolidação das fraturas, realizaram um estudo multicêntrico, prospectivo, que envolvia 72 casos de fraturas em ossos longos, sendo eles fêmur, tíbia úmero, rádio e ulna. O tempo médio entre o procedimento cirúrgico e o início do tratamento com ultrassom foi de 11,5 meses. Concluiu-se que quando o tratamento com ultrassom é iniciado após 6 meses do procedimento cirúrgico mais recente, é mais eficaz, provocando um aumento estatisticamente significante na união das fraturas. Kumahashi et al.(22) relataram dois casos de dor em patela bipartida, em que a união Ultrassom na Regenerção Óssea óssea foi obtida após o tratamento com ultrassom pulsado de baixa intensidade. Ambos os pacientes com 13 anos de idade, do sexo masculino, que foram submetidos ao tratamento com ultrassom pulsado de baixa intensidade durante 20 minutos por dia. O intervalo entre o início da dor e do tratamento foi entre 2 e 4 meses. A dor patelar desapareceu aproximadamente dois meses após o início das aplicações deste método terapêutico. A consolidação óssea foi observada radiograficamente em 4 meses. Com o objetivo de investigar como o ultrassom pulsado de baixa intensidade afeta a consolidação óssea em nível tissular em pacientes com retardo na união de fíbulas osteotomizadas usando análise histológica, histomorfométrica para determinar a formação óssea e os parâmetros de reabsorção óssea, Rutten et al.(48) obtiveram biópsias de 13 pacientes, com retardo na consolidação de uma osteotomia fibular, tratados entre 2 e 4 meses, com ou sem ultrassom, com uma triagem randomizada duplo cega do grupo controle. Os resultados sugeriram que o ultrassom pulsado de baixa intensidade acelera a consolidação das fraturas clínicas que apresentam retardo de união na fíbula, aumentando a densidade dos osteóides, o índice de aporte mineral e o volume ósseo, o que indica o aumento das atividades osteoblásticas na formação do calo ósseo. Aumenta estabilidade do fluxo sanguíneo, mas provavelmente não aumenta a angiogênese, o que pode explicar as diferenças entre o modo de ossificação entre o grupo tratado com ultrassom e o grupo controle. 3 METODOLOGIA Esta pesquisa foi de caráter bibliográfico, descritivo, transversal com utilização de documentação indireta, tendo como método de pesquisa o estudo monográfico. 55 O trabalho bibliográfico abrange a bibliografia já tornada pública em relação ao tema estudado. Não é mera repetição do que já foi dito ou repetido sobre o assunto, mas propicia o exame de um tema sobre novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões inovadoras. Foram utilizados livros, revistas e pesquisa na Internet como fonte bibliográfica, feita às consultas em bibliotecas de faculdades públicas e particulares da cidade de Fortaleza/CE. Todo assunto foi ordenado por fichas às quais continham cabeçalho, referência bibliográfica e corpo. Sendo o conteúdo que constitui o corpo é do tipo bibliográfico. Toda referência foi analisada e interpretada de forma crítica para poder selecionar a ideia principal de cada texto. Os sites de pesquisa utilizados foram o Pubmed, Bireme, Scielo, Periódicos CAPES, Google Acadêmico. Os descritores procurados foram: ultrassom; fraturas; ultrassom + fraturas; ultrassom + regeneração óssea; ultrassom + pulsado; ultrassom + baixa intensidade; terapia + por + ultrassom; ultrassom + osso; ultrassom + ensaio + clínico; revisão + ultrassom + em + humanos, após a pesquisa abrangente, escolhia-se a opção ‘refinar resultados’ e restringia a pesquisa em cada um dos assuntos com os itens ‘pesquisa com animais’ e logo após ‘pesquisa em humanos’. Nos mesmos sites ainda com a mesma metodologia, foram pesquisadas as seguintes palavraschave em inglês: “Low-intensity pulsed ultrasound; ultrasound”; “lipus”; “lipus + bone”; “lipus + bone + regeneration”. Foram excluídos da pesquisa, trabalhos que utilizavam ultrassom para outros fins que não a regeneração óssea, trabalhos que utilizavam ultrassom na consolidação, porém o paciente apresentasse outra afecção concomitante, como o caso de diabetes, ultrassom diagnóstico, aplicação por imersão, artigos publicados antes de 2000. Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.46–58, jul-dez, 2010 56 Marques, L.C.; Teixeira, G.F.D.; Brasil, A.C.O. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Tendo como bases os trabalhos averiguados, pode-se concluir que o ultrassom pulsado de baixa intensidade tem um papel importante no que diz respeito à consolidação óssea. Esta modalidade terapêutica parece intervir de maneira positiva em todas as fases da regeneração de ossos longos e curtos, em animais e humanos, que tenham apresentado fraturas, falhas ósseas distração osteogênica, alongamento ósseo, e ainda em condições adversas, como fraturas não consolidadas, retardo na cicatrização óssea e ossos pouco mineralizados. Apenas um trabalho observado não apresentou resultados conclusivos, com a justificativa do período de exposição ter sido reduzidas em sua pesquisa.(46) Nos relatos de casos, os pacientes submetidos à terapia por ultrassom de baixa intensidade obtiveram sucesso na consolidação das fraturas e puderam voltar mais cedo às suas atividades desportivas. O tempo de exposição ao ultrassom não foi uniformizado em todos os trabalhos, porém, ao que parece, quanto maior o tempo de exposição, melhor é a resposta tissular ao tratamento(35), sem efeitos deletérios ao paciente ou ao curso da fratura óssea. O exame de eleição para o acompanhamento e avaliação dos resultados foi o radiológico, embora outros exames tenham sido usados nos estudos com sucesso, como a tomografia computadorizada, a densitometria óssea, a ressonância magnética e os exames histológicos e de torque. Porém, embora os resultados sejam conclusivos no que diz respeito à eficácia do ultrassom pulsado de baixa intensidade na regeneração óssea, ainda necessita-se de mais trabalhos acerca deste assunto, no sentido de padronizar os parâmetros do aparelho, como comprimento de onda, intensidade e frequência, o tempo de exposição, a duração do tratamento, a Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.46–58, jul-dez, 2010 forma de aplicação e ainda descobrir com clareza quais os mecanismos fisiológicos usados pelo ultrassom para acelerar o processo de maturação em cada estágio da consolidação óssea. NOTAS 1. Morano JACOD. Efeitos da Talidomida, PTK-ZK, Bevacizumab, Imatinib,Sulfato de Condroitina e Cartilagem de Tubarão no Tumor de Walker 256 Submetido à Hipertermia Induzida por Ultra-som em Ratos [Tese]. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará; 2007. 2. Kitchen S, Bazin S. Eletroterapia de Clayton. 10ed. São Paulo: Manole; 1998. 3. Low J, Reed A. 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Objetivo: Avaliar as alterações da Densidade Mineral Óssea (DMO) relativas à imobilização em ratos Wistar. Metodologia: 10 ratos Wistar fêmeas divididos em 2 grupos: controle (GC) e imobilizado (GI). A pata direita dos animais do GI foi imobilizada por uma semana, radiografada e as imagens analisadas para obtenção da DMO do fêmur e da tíbia. Utilizou-se ANOVA One-Way com post Hoc de Tukey para comparar todas as patas de todos os grupos (p<0,05). Resultado: Observou-se diferença estatística na DMO do fêmur esquerdo do GC (148,1±3,947) em relação ao fêmur esquerdo GI (166,7±4,051), p=0,0246. Conclusão: Houve um aumento na DMO do fêmur esquerdo no GI, como forma de compensar a redução da mobilidade do animal pela imobilização. Introduction: The bone tissue is the major constituent of the skeleton, the supporting soft tissues and to protect vital organs such as those contained in the skull, chest and spine. Objective: To evaluate changes in bone mineral density (BMD) related after immobilization in rats. Methods: 10 female Wistar rats were divided into 2 groups: control (CG) and immobilized (IM). The right paw of the animals of IM was immobilized for a week, imaged and analyzed to obtain images of the femur and tibia. We used one-way ANOVA with post hoc Tukey for all legs of all groups (p <0.05). Results: There was a statistical difference in BMD of the left femur of CG (148.1 ± 3.947) over IM left femur (166.7 ± 4.051), p = 0.0246. Conclusion: There was an increase in BMD of the left femur in GI as a way to compensate for the animal reduced mobility by immobilization. Palavras-chave: ossos, imobilização, ratos Keywords: bone, immobilization, rats † Artigo premiado como primeiro lugar na II Semana de Ciência, Tecnologia e Saúde da FATECI na área de Biomedicina e com primeiro lugar geral do evento. I Discente do curso de Biomedicina da Faculdade de Tecnologia Intensiva (FATECI); aluna do programa de iniciação científica da FATECI. II Fisioterapeuta; Mestre em Ciências Fisiologicas pela Universidade Estadual do Ceara (UECE); Doutorando em Biotecnologia (RENORBIO/UECE); Docente dos cursos de Biomedicina e Fisioterapia da FATECI; Orientador do Programa de Iniciação Científica da FATECI Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.59–65, jul-dez, 2010 60 Vasconcelos, .A.P.T.; Santos-Jr., F.F.U. 1 INTRODUÇÃO Frequentemente utiliza-se, na prática clínica, técnicas de imobilização como alternativa para reverter quadros de patologias álgicas e de fraturas. Mesmo pequenos períodos de imobilização acarretam prejuízos à região imobilizada, sendo os principais, hipotrofia e atrofia muscular e redução na Densidade Mineral Óssea (DMO). Isto é vivenciado diariamente por pessoas que se encontram em situações de limitações físicas temporárias decorrentes de uma imobilização, a fim de restabelecer a função orgânica. É importante ressaltar também, que a imobilização causa transtornos em outras partes do organismo, interferindo inclusive no metabolismo, limitando provisoriamente as atividades cotidianas do paciente e podendo afetar, inclusive, sua locomoção.(1) O tecido ósseo é o principal constituinte do esqueleto, serve de suporte para as partes moles e protegem órgãos vitais, como os contidos na caixa craniana, torácica e canal raquidiano. Proporciona apoio aos músculos esqueléticos, transformando suas contrações em movimentos úteis, e constitui um sistema de alavanca, ampliando as forças geradas pela contração muscular. Além dessas funções, os ossos funcionam como depósitos de cálcio, fosfato e outros íons, armazenando-os ou liberando-os de maneira controlada para manter constante a concentração destes importantes constituintes nos líquidos corporais.(2) Devido aos rápidos efeitos da perda de carga no esqueleto, mesmo por curtos períodos de imobilização, é comum o enfraquecimento ósseo. Desta forma, tratamentos médicos comuns para doenças músculoesqueléticas (fraturas, lesões ligamentares, hérnias de disco, recuperação pós cirurgia), que envolvam imobilização temporária por meio de talas ou repouso forçado, representam risco de iatrogenia e podem ser responSaúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.59–65, jul-dez, 2010 sáveis por fraturas, quando utilizados de modo incorreto.(3) Estudos demonstram que períodos de sete ou quatorze dias de ausência de contato com o solo são suficientes para promover alterações ósseas, principalmente naqueles que servem de apoio para o peso corporal como, por exemplo, o fêmur e a tíbia.(4) A redução óssea decorrente de um longo período de imobilização normalmente ocorre em três estágios: no primeiro, verifica-se uma rápida perda óssea; no segundo que tem início por volta da 12ª semana, a perda óssea se dá de forma mais lenta, porém apresenta uma maior duração e o terceiro, caracteriza-se pela estabilização que pode reduzir a massa óssea entre 40% e 70% da original.(5) A densidade mineral óssea é o resultado de um processo dinâmico de formação e reabsorção do tecido ósseo chamado de remodelação. A reabsorção causa a deterioração desse tecido enquanto a formação do mesmo é responsável pela reconstrução e fortalecimento do tecido deteriorado.(6) Esse processo ocorre ao longo da vida em ciclos de quatro a seis meses de duração.(7) A manutenção da DMO é muito importante para a prevenção da osteoporose, e normalmente, encontra-se comprometida em situações de imobilização, no qual a matriz e os minerais ósseos são perdidos devido ao excesso de reabsorção óssea em relação à formação. Numerosos estudos indicam que a imobilização está negativamente relacionada com a DMO e que o exercício físico é um importante fator na sua manutenção.(8) Vários fatores, além da imobilização, tais como: nutrição, atividade hormonal, atividade física (estímulo mecânico) influenciam o balanço entre a reabsorção e a formação óssea. O estímulo mecânico, quando diminuído por hábitos sedentários e pelo desuso causado por condições sistêmicas Densidade Óssea na Imobilização ou regionais, como a imobilização, pode levar a um processo de adaptação com aumento da reabsorção óssea e, consequentemente, ao enfraquecimento ósseo observado em imobilizações terapêuticas.(9) Há evidências significativas de que um ambiente destituído de estímulo mecânico produza efeitos diretos na estrutura e função óssea, uma vez que o tecido ósseo é um tecido dinâmico em constante remodelamento; tem por função: suportar partes moles, proteger órgãos, armazenar íons, apoiar músculos e produzir células sangüíneas. É um tipo especializado de tecido conjuntivo formado por células e material extracelular calcificado.(10) Desta forma buscou-se, neste trabalho, caracterizar a imobilização quanto a sua variação de densidade mineral óssea em ratos. 2 Materiais e Métodos O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética para o Uso de Animais (CEUA) da Universidade Estadual do Ceará (UECE) sob o número sob o nº08351785 5 de 26/08/2008. Foram utilizados 10 (dez) ratos (Rattus norvegicus) fêmeas da raça Wistar, adultos jovens (16 semanas de idade), com peso corporal médio de 300g (variação 270g – 330g) provenientes do Biotério da UECE, mantidos sob temperatura de 22 a 25 oC, com ciclo 12 horas claro e 12 horas escuro, recebendo ração e água ad libitum. Os animais foram distribuídos em 2 grupos experimentais de 5 (cinco) animais cada (grupos controle e imobilizados). Os 05 animais do grupo controle (GC), no início do experimento, foram separados dos demais, pesados e deixados nas gaiolas por 1 semana. Os 05 animais do grupo imobilizado (GI) apresentavam as mesmas características físicas do Grupo Controle, com o membro posterior direito e o tronco imobilizados durante 61 uma semana e depois radiografados junto com o grupo controle. A imobilização foi realizada segundo o modelo de Santos-Junior et al.(1), na qual o membro posterior direito, incluindo a pelve, o quadril, o joelho (ambos em extensão) e o tornozelo (em flexão plantar) foram imobilizado com esparadrapo impermeável (marca Cremer® com 10 cm de largura), depois de serem previamente anestesiados com Cetamina 60mg/Kg e Xilasina 8mg/Kg de acordo com o peso do animal. Ataduras de algodão com 4 cm de largura foram utilizadas nas articulações para prevenir a formação de úlceras de pressão e em seguida os animais foram enfaixados com o esparadrapo de modo convencional em pequenas tiras de 5 cm de largura e 15 cm de comprimento cada, tiras diferentes para o membro e o tronco, sem muita pressão de toque. (Figura 1) Figura 1 – Modelo de imobilização de pata utilizado, baseado em Santos-Junior et al., 2010 (1) Fonte: arquivo dos autores. Os animais já divididos em seus respectivos grupos foram colocados em gaiolas plásticas com livre acesso à ração e água. Os experimentos envolvendo os animais e as análises foram conduzidos no Laboratório de Bioquímica e Cultura de Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.59–65, jul-dez, 2010 62 Vasconcelos, .A.P.T.; Santos-Jr., F.F.U. Células (LABICULT), e radiografados mizar os erros de análise nas regiões de na clínica da Faculdade de Tecnologia interesse. Para a análise estatística foi utiliIntensiva - FATECI com uso do matezado o teste ANOVA One-Way com post Hoc rial radiográfico da própria instituição. O de Tukey, admitindo-se significância com exame radiográfico da tíbia dos animais p< 0,05. Os resultados foram expressos na em película de raio-x, em um aparelho VMI forma de média ± erro padrão através do Compacto 500 amperes. A técnica utilizada Software Graphpad Prism versão 5.0 para foi a de 48kV e 4 mAs. O tubo do equiWindows, GraphPad Software, San Diego pamento foi posicionado verticalmente e California USA. os animais colocados a 80cm do foco de 3 Resultados emissão, em decúbito dorsal, em filme de 35cm por 43cm. As peças de todos os gruComo resultado pode-se observar diferenpos estudados foram colocadas 3 películas ças estatisticamente significativas na DMO (Kodak®), sendo o tempo de exposição de do fêmur esquerdo do Grupo Controle 0,04 segundo. Após a obtenção do filme, o (148,1±3,947) e do fêmur esquerdo (nãomesmo foi digitalizado por meio de fotoimobilizado) do Grupo Imobilizado (166,7± grafia, em câmera digital Olimpus u1040 4,051), p=0,0246. Os valores médios da com resolução de 5 megapixels à 50cm do DMO do fêmur foram: Controle Direito negatoscópio no qual estava a película. De (153,1±4,487), Controle Esquerdo (148,1± cada filme foram realizadas duas imagens 3,947), Imobilizado Direito (164,6±6,439) e digitais, de modo que o N de cada região Imobilizado Esquerdo (166,7±4,051), conanalisada foi igual a 10. forme figura 2A. As imagens digitalizadas foram analiPara a tíbia encontrou-se os seguintes sadas através do Software Image J 1.41o, valores: Controle Direito (135,9±5,244), sendo demarcada cada região específica, Controle Esquerdo (129,2±5,948), Imobi no osso, e verificadas as regiões de intelizado Direito (13716±6,487) e Imobilizado resse: diáfise da tíbia e fêmur de ambos os Esquerdo (139,1±6,436). Não foram verificalados (imobilizado e não imobilizado). Em das diferenças estatisticamente significativas cada área em questão foi calculada a denentre as tíbias. (Figura 2B) sidade óptica, como forma de inferência da densidade mineral óssea. B Em cada sítio, o software A forneceu a medida e histogramas, obtendo-se a seguir a radiodensidade média de cada grupo e os dados relativos à média de valores dos pixels foram tabulados. O programa utiliza uma escala de 8 bits para fornecer os dados sobre média dos valo- Figura 02 – Comparação entre as patas direita res dos pixels. Os retângulos e esquerda dos animais do grupo Controle e Imobilizado para as mensurações foram A- Comparação entre os fêmures. B – Comparação entre as tíbias. ANOVA One-Way, post hoc de Tukey, com significância fixada em p<0,05. * diferente do mantidos os mesmos em controle esquerdo, p=0,0246. todas as amostras para mini- Fonte: arquivo dos autores. Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.59–65, jul-dez, 2010 Densidade Óssea na Imobilização 4 Discussão O modelo de imobilização gessada é utilizado em modelos animais, porém, algumas dificuldades podem ser encontradas. Uma das mais frequentes é o edema de pata do membro imobilizado, por redução da vascularização local, quer seja pelo apare lho gessado como um todo, quer seja por um único fio do gesso que tenha um pouco mais de pressão. Quando aplicada pouca pressão para reduzir essa problemática, o animal pode, simplesmente, escapar do aparelho gessado, já que o mesmo possui alta capacidade de movimentação corporal, facilitando sua passagem por locais de tamanho fixo e estreito.(1) Já no modelo utilizado por Silva e Volpon10 que consiste na suspensão do animal pela calda, observou-se que alguns ratos se soltaram antes de completar o período estabelecido, provavelmente, devido a agitação e afrouxamento do sistema. E outros animais apresentaram necrose da extremidade da calda, o que também foi relatado por Norman et al.(11) e Shimano.(12) O modelo utilizado nesta pesquisa foi baseado no proposto por Santos-Júnior et al.(1), o qual utiliza fita adesiva ao invés de gesso, afim de promover a fixação do aparato ao animal e de manter a imobilização durante todo o experimento, o que foi realizado com êxito. O equilíbrio entre a reabsorção e a formação de tecido ósseo é influenciado por vários fatores, como nutrição, atividade hormonal, atividade física (solicitação mecânica), e outros. A ingestão ou absorção inadequada de cálcio, afecções que causam alterações na produção e ou na atividade de hormônios (paratormônio, insulina e calcitonina) podem levar ao desequilíbrio entre formação e reabsorção óssea. Não menos importante é a solicitação mecânica que, quando diminuída por hábitos sedentários, pelo desuso 63 causado por condições sistêmicas ou locais, como a imobilização, leva a um processo de adaptação com aumento da reabsorção e, conseqüente, enfraquecimento ósseo observado durante períodos mais longos, caracterizando a osteopenia.(13) No presente estudo, não foi verificada alterações ósseas no sentido do enfraquecimento do mesmo, provavelmente em função do tempo de imobilização ter sido de apenas uma semana. O osso é um tecido adaptativo que desenvolve sua estrutura e função em resposta a forças mecânicas e demandas metabólicas. A deposição do osso é parcialmente regulada pela quantidade de deformação (carga) que lhe foi imposta. Assim, quanto maior a deformação aplicada, maior a ativação dos osteoblastos. Consequentemente, os ossos se tornam mais resistentes. A ausência de deformação óssea torna-os enfraquecidos. Portanto, o estímulo mecânico é necessário para regular a resposta óssea local e, assim, proporcionar seu crescimento e remodelamento.(14) Menkes et al.(15) verificaram que o au mento na DMO se deve à estimulação da formação óssea e não pela atenuação da reabsorção que ocorre nesse tecido. Andreoli et al.(16) complementam essa teoria sugerindo que, em nível celular, o processo de remodelamento induzido pela sobrecarga, é realizado pela ação dos osteócitos, que atuam como receptores mecânicos do estresse aplicado, e liberam um fator químico estimulador da proliferação de osteoblastos no local estressado. Este processo pode estar ligado aos achados deste estudo, no que diz respeito à sobrecarga imposta ao grupamento extensor da musculatura contra-lateral a imobilização, como forma de compensação. A deformação mecânica na matriz óssea é transmitida para as células ósseas, o que possibilita alterações na regulação da proliferação celular, diferenciação, morfogênese e expressão genética.(17) A deformação óssea Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.59–65, jul-dez, 2010 64 Vasconcelos, .A.P.T.; Santos-Jr., F.F.U. promove diminuição da reabsorção e estimula a formação óssea na região submetida à carga.(18) Pead e Lanyon(19), ao submeterem o osso à carga externa, observaram número aumentado de osteoblastos na região do periósteo. Neste estudo, o aumento de osteoblastos pode ser sugerido pelo aumento na DMO dos fêmures contra-laterais aos imobilizados em relação ao grupo controle, o que pode ser explicado pela maior solicitação e conseqüente, sobrecarga da pata não imobilizada. 5 Conclusão Neste trabalho, buscou-se avaliar as alterações da densidade mineral óssea em função da imobilização, no entanto as patas imobilizadas do GI não apresentaram diferenças estatísticas em relação às patas do grupo controle. Diferenças estatísticas foram observadas somente nas patas não-imobilizadas do GI quando comparadas às patas do grupo controle. Diante disso, sugere-se que houve um aumento no uso da musculatura extensora do quadril esquerdo dos animais imobilizados como forma de compensar a redução da mobilidade da pata direita (imobilizada). E um consequente aumento na densidade mineral óssea do fêmur esquerdo destes animais, em função do aumento do estímulo de formação óssea imposto pela musculatura esquelética local. Notas 1. Santos-Junior, F.F.U; Alves, J.S.M.; Machado, A.C.N.; Carlos, P.S.; Ferraz, A.S.M.; Barbosa, R. et al. Alterações morfométricas em músculo respiratório de ratos submetidos à imobilização. Rev Bras Med Esporte. V.16, n.3, mai/jun, p 215-218, 2010. 2. Junqueira. J.C.; Carneiro, J. Histologia Básica. Guanabara, p. 159-178, 2004. Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.59–65, jul-dez, 2010 3. Maeda, H.; Kimmel, D.B.; Raab, D.M.; Lane, N.E. Musculoskeletal recovery following hindlimb immobilization in adult female rats. Bone, v 14, 1993. 4. Johnson RB. The bearable lightness of being: bones, muscles, and spaceflight. Anat Rec. 1998; 253: 24-27 5. Dittmier D.K.; Teasell R. Complications of Immobilization and bed rest. Part 1: Musculoskeletal and cardiovascular complications. Canadian Family Phy.sician V 3. Jun, 1993. 6. Creighton DL, Morgan AL, Boardley D, Brolinson PG. Weight-bearing exercise and markers of bone turnover in female athletes. J Appl Physiol 2001;90:565-70. 7. Bemben DA, Fetters NL, Bemben MG, Nabavi N, Koh ET. Musculoskeletal responses to high- and low-intensity resistance training in early postmenopausal women. Med Sci Sports Exerc 2000;32:1949-57. 8. Cadore, El; Brentano, Ma; Kruel, Lfm. Efeitos da atividade física na densidade mineral óssea e na remodelação do tecido ósseo. Rev Bras Med Esporte [online]. 2005, vol.11, n.6, pp. 373-379. ISSN 1517-8692. 9. Volpon JB, Cecim PES, Miyase CI, Gava NF. O alendronato de sódio na prevenção da osteopenia secundária à imobilização gessada, em ratas: avaliação histomorfométrica. Rev. bras. ortop. [online]. 2008, vol.43, n.10, pp. 442-451. ISSN 0102-3616. doi: 10.1590/S010236162008001000004 10.Silva, Av; Volpon, Jb. Modelo de suspensão pela cauda e seu efeito em algumas propriedades mecânicas do osso do rato. Acta ortop. bras. [online]. 2004, vol.12, n.1, pp. 22-31. ISSN 1413-7852. Densidade Óssea na Imobilização 11. Norman TL, Bradley-Popovich G, Clovis N, Cutlip, G, Bryner, R.N. Aerobic Exercise as a countermeasure for microgravity-induced bone loss and muscle atrophy in a rat hindlimb suspension model. Aviat Space Eviron Med, v 71, n. 6, 2000. 12.Shimano, M.M. Microestruturas e propriedades mecânicas de osso cortical e trabecular de ratos, após período de suspensão pela cauda e exercitação. Tese de Doutorado – Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP – 2006. 13.Akkari M, Santili C. Metabolismo do cálcio e do fósforo. In: Pardini Júnior AG, Souza JMG, Cunha LAM, editores. Clínica ortopédica. Rio de Janeiro: Medsi; 2003. p. 253-9. 65 modeling in middle-aged and older men. J Appl Physiol 1993;74:2478-84. 16.Andreoli A, Monteleone M, Van Loan M, Promenzio L, Tarantino U, De Lorenzo A. Effects of different sports on bone density and muscle mass in highly trained athletes. Med Sci Sports Exerc 2001;33:507-11. 17.Duncan RL, Turner CH. Mechanotransduction and the functional response of bone to mechanical strain. Calcif Tissue Int 1995;57: 344-58. 18.Gross TS, Edwards JL, Mcleod KJ, Rubin CT. Strain gradients correlate with sites of periosteal bone formation.J Bone Min Res 1997;12:982-8. 14.Guyton AC. Tratado de fisiologia médica. 6a ed. Rio de Janeiro: Guanabara; 1988. 19.Pead MJ, Lanyon LE. Indomethacin modulation of load-related stimulation of new bone formation in vivo. Calcif Tissue Int 1989;45:34-40. 15. Menkes A, Mazel S, Redmond RA, Koffler K, Libanati CR, Gundemberg CM, et al. Strength training increases regional bone mineral density and bone re- Recebido em 11 de novembro 2010 Aceito em 13 de novembro de 2010 Revisado em 19 de dezembro 2010 Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.59–65, jul-dez, 2010 66 Vieites, S.O.; Soares, E.F.; Jesuino, F.M. Arthur Bispo do Rosário: Senhor e Escravo do Labirinto† Saulo de Oliveira Vieitesi [email protected] Emanuela Freire Soaresi [email protected] Filipe de Menezes Jesuinoii [email protected] resumo abstract O presente artigo propõe, à luz da teoria de Michel Foucault, que entende a psicopatologia como um evento marcado pela angústia como seu fator crítico, e da biografia de Arthur Bispo do Rosário descrita por Luciana Hidalgo, compreender o sentido de angústia vivido por Bispo em sua psicopatologia. Constitui, assim, estudo bibliográfico de reflexão acerca da história de Bispo, um esquizofrênico paranoide, passou cinquenta anos de sua vida internado na Colônia Juliano Moreira. Ao longo deste tempo, reproduziu o mundo em miniatura, acreditando ser esta uma ordem do TodoPoderoso, devendo ser prontamente cumprida e apresentada no dia do juízo final. Em 1989 morreu “o senhor do labirinto”, e nasceu um consagrado artista plástico. Consideramos, aqui, que talvez sua maior contribuição nem bem tenha sido a arte, mas a comprovação de que, mergulhada na angústia da esquizofrenia e do cerceamento social decorrente, ainda pode uma vida ser legitimamente vivida. The purpose of this essay is to understand, according to the theory of Michel Foucault, which comprehends the psychopathology as an event marked by anguish as his pivotal factor, and to the biography of Arthur Bispo do Rosário written by Luciana Hidalgo, the meaning of the anguish lived by Bispo in his psychopathology. It is a reflection, which has a bibliographical method, on the life of Bispo, a paranoid schizophrenic, who lived the last fifty years of his life as a patient in Juliano Moreira Colony. During that time, he reproduced the world in miniatures, believing that it was a Lord Almighty’s order, which should be promptly done and presented in the Doomsday. In 1989, the “master of the labyrinth” died, and a famous plastic artist was born. We have considered, in the present text, that maybe his most important contribution was not the art itself, but proving that deep in schizophrenia anguish and despised by society, it is still possible to legitimately live a life. Palavras-chave: Psicopatologia, Esquizo frenia, Psicologia Keywords: Psychopathology, Schizophrenia, Psychology † Artigo premiado como primeiro lugar na II Semana de Ciência, Tecnologia e Saúde da FATECI na área de Psicologia. I Alunos do curso de Psicologia da Faculdade de Tecnologia Intensiva (FATECI). II Psicólogo e mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará e professor da FATECI, orientador do trabalho. Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.66–71, jul-dez, 2010 Arthur Bispo do Rosário 1 INTRODUÇÃO Arthur Bispo do Rosário, que até o natal de 1938 fora um empregado doméstico extremamente deferente, surtou e foi internado na Colônia Juliano Moreira onde passaria os próximos cinquenta anos de sua vida sob o diagnóstico de esquizofrênico paranoide. Ao longo deste tempo criou mantos, estandartes, assemblages e reproduziu “o mundo em miniatura”, acreditando ser esta uma ordem do Todo-Poderoso, a quem sua obra seria apresentada no dia do juízo final. Em 1989 morreu o senhor do labirinto e nasceu um consagrado artista plástico. O presente artigo propõe-se a compreender o sentido de angústia vivido por Bispo em sua psicopatologia com fundamento em pesquisa bibliográfica. Para tal partimos da teoria de Michael Foucault(1), que entende a psicopatologia como um evento marcado pela angústia como fator crítico. Utilizamos ainda o conceito de esquizofrenia paranoide, como entendido por Jung(2), e a biografia de Bispo(3) descrita por Luciana Hidalgo. 2 DESENVOLVIMENTO De acordo com Hidalgo(3) Arthur Bispo do Rosário nasceu na cidade de Japaratuba, não se sabe ao certo em que data; no registro da Light (4) consta 16 de Março de 1911, e na Marinha 14 de Maio de 1909. Contudo, existem documentos que alegam o dia 05 de Outubro de 1909 como o dia do seu batizado, realizado na única paróquia de Japaratuba. Filho de Claudino (ou Adriano) Bispo do Rosário e Blandina Francisca de Jesus, negro, nasce 21 anos após a abolição da escravatura. Segundo Michel Foucault(1), a psicopatologia é uma tentativa intencional da estrutura psíquica de irrealizar o presente 67 quando este, por se apresentar em contradição afetiva severa, torna-se insuportável para a consciência do sujeito. Dessa forma, no quadro patológico, o sujeito regride a fases anteriores do desenvolvimento, fazendo desaparecer aquisições recentes e redescobrindo as formas de condutas normalmente ultrapassadas. Podemos, pois, admitir que a psicopatologia não deve ser vista apenas pela noção de negativismo ou como exclusivamente danosa para o sujeito. No quadro patológico de Bispo, perce bemos grande influência da cultura religiosa de Japaratuba, uma pacata cidade do interior de Sergipe, cuja população em sua grande maioria é descendente de escravos impregnados pelos dogmas e tradições católicas, mescladas ainda com elementos de religiões tribais, indígenas e africanas. Os japaratubenses cumpriam à risca as leis da religião, como a homilia do padre na missa de domingo e a agenda da Semana Santa. A quarta-feira de cinzas marcava o primeiro dia de jejum da Quaresma, que ia até a sexta-feira da Paixão; vivia-se com um olho na purificação e outro na salvação. A cidade era uma usina de tradições e alegorias; as festas começavam com semanas de antecedência, nos dedos ligeiros das costureiras que cerziam as roupas dos folguedos. Cada traje era devidamente respeitado, e os bordados eram a mais perfeita tradução da cultura de Japaratuba. Assim sendo, a infância de Bispo foi marcada por procissões, quadrilhas e desfiles em que os participantes se destacavam por suas vestes coloridas e bordadas.(3) Constatamos que um dos aspectos do conflito angustiante de Bispo a ser irrealizado seria a sua condição de submissão, visto que ao longo de sua vida sempre fora forçado a obedecer ordens desde a infância. Embora a narrativa não deixe claro detalhes da infância de Bispo, o conceito que ele desenvolveu de Deus nos possibi- Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.66–71, jul-dez, 2010 68 Vieites, S.O.; Soares, E.F.; Jesuino, F.M. lita supor que seu pai teria sido bastante rígido. A submissão se manteve na adolescência, representada pela estadia de Bispo na Escola de Aprendizes Marinheiros, tendo sido levado pelo pai e onde ficou até seus 23 anos. Ao longo destes oito anos Bispo dedicou-se ao pugilismo. A passagem pela marinha instituiu um sujeito contraditório, que oscilava do comportamento exemplar à indisciplina, sendo, por duas vezes, punido severamente ,e por diversas vezes elogiado por apresentar comportamentos exemplares. Em Julho de 1933 Bispo foi desligado do corpo da marinha por motivos obscuros; supostamente ele teria praticado atos aviltantes ou infames. O mesmo aconteceu na Light, onde trabalhou logo após sair da Marinha, na qual exerceu inicialmente a função de lavador de carros. Promovido, passou a ajudante de vulcanizador, função na qual sofreu um acidente que supostamente o deixou manco. Permaneceu ainda por um ano na empresa e foi demitido por se recusar a cumprir ordens de um encarregado e ainda ameaçá-lo. Constatamos novamente uma ambivalência de comportamentos – submissão e insubordinação –, núcleo do conflito dilacerante de Bispo. Naquele momento, Bispo procurou os serviços jurídicos de Humberto Leone, o qual o defendeu, ganhou a causa e o levou para residir com a sua família. Agregado à casa dos Leone, Arthur Bispo do Rosário era responsável pelos serviços gerais. Era um empregado devoto, pacato, excessivamente humilde, não aceitando remuneração por seus serviços e nunca se comportando de maneira insubordinada. A relação extremamente submissa que Bispo desenvolveu com a família Leone nos permite supor a presença de alguns aspectos patológicos. Sendo exemplificado por quando o mesmo ofereceu as próprias mãos para servirem de cinzeiro a Humberto. Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.66–71, jul-dez, 2010 Outro aspecto que reforça essa idéia foi a elaboração que Bispo fez de uma santíssima trindade, sendo formada por José Leone no trono de Deus, Humberto Leone no papel de Jesus Cristo e Bispo como São José. No dia 22 de dezembro de 1938, Bispo surtou. Segundo o mesmo, Jesus Cristo desceu a Terra rodeado por uma corte de anjos azuis e lhe mandou reconstruir o universo. Bispo saiu do casarão dos Leones, vagou por dois dias pelas ruas do Rio de Janeiro e foi até a igreja de São José, onde foi preso e levado ao Hospital dos Alienados na Praia Vermelha em 24 de dezembro do mesmo ano. Segundo Luciana Hidalgo, O dia 24 de dezembro de 1938 foi um divisor de águas psíquico para Arthur Bispo do Rosário. Os sinos dobravam por ele naquele Natal, os céus se abriram para reverenciar a sua majestade, mas ele acabaria sob o domínio da autoridade máxima da Terra.(5) Em janeiro de 1939 Bispo foi transferido para a Colônia Juliano Moreira, lugar onde viveu alternando entre idas e vindas, de acordo com sua própria vontade, os cinquenta anos seguintes de sua vida. Ao longo do tempo que passou na Colônia, Bispo submeteu-se rigorosamente a ordem do Pai (de quem era ao mesmo tempo filho e escravo), reconstruindo o mundo em miniaturas para apresentar a Deus no juízo final. Nas mãos hábeis de Bispo tudo serviu de matéria prima, desde o uniforme da Juliano Moreira a objetos do lixo, tais como latas, papelão, tubo de creme dental etc. Segundo compreensão favorecida pelo entendimento da teoria de Foucault, a estrutura psíquica de Bispo regrediu a uma fase do seu desenvolvimento na qual a condição de submissão não seria em demasiado angustiante, fase essa na qual a ambivalência se instala como dimensão natural da afetividade: Arthur Bispo do Rosário Com a identificação e o desenvolvimento da musculatura, a criança organiza todo um sistema de defesa agressiva, que marcará os primeiros momentos de sua independência. Mas é também o momento no qual as disciplinas – e, num grau maior, a disciplina esfincteriana – se impõe à criança, tornando-lhe presente a instância paterna sob forma repressiva.(6) Segundo Hidalgo (1996), a partir desse momento a Santíssima Trindade muda e Bispo não é mais São José, o homem justo. Agora ele se vê no lugar do próprio Cristo, o filho submisso que nunca questiona o Pai e está sempre disposto a dizer “todavia seja feita a tua vontade”, independentemente de quão amargo seja o Cálice. Seria essa, portanto, a maneira de salvar a humanidade: servindo-a. Isolado em um quarto, Bispo (O Cristo) trabalhava horas a fio. Ele precisava ter pressa em reconstruir o mundo, pois o que não fosse reconstruído seria destruído. Nessa ânsia ele chegava a passar anos trancado. Perdia a noção do tempo, dormia pouco e alimentava-se apenas de água e frutas, pois precisava “secar para virar santo”.(7) Era através dos jejuns que Bispo acreditava ser possível chegar à purificação. Bispo estaria assim começando a viver como “um beija flor, nunca pousando e ficando sempre a dois metros do chão”(8), oscilando entre momentos de convivência social e momentos de enclausuramentos. Ao perceber que estava chegando a hora de sua “transformação” (surtos), Bispo pedia que os funcionários o trancassem. Segundo Foucault(1) o enclausuramento, no caso de alguns esquizofrênicos, seria em função da ausência de uma unidade interna na disposição das coisas; logo, seria preciso protegêlas do exterior e mantê-las numa unidade que não lhes é natural. Como era sempre o próprio Bispo quem solicitava que o trancafiassem, percebemos 69 que o mesmo desenvolve, a certo nível, uma consciência de que algo nele se modifica; atribui, porém, a estes significantes, significados místicos, e nunca se percebe como fora da realidade. Em sua vida a lei sempre vinha de cima e não tinha outras regências; assim sendo, ao receber as ordens do pai, deveria cumpri-las. Na nova configuração da Trindade, além do próprio Bispo no papel de Cristo, o Espírito Santo foi substituído por Maria, nos braços da qual Bispo um dia teria aparecido no mundo; José Leone perdeu o papel de Deus, pois agora, como Jesus Cristo, Bispo recebe ordens diretas do próprio Pai, constatamos uma configuração perfeita do triângulo edípico. Maria aparece como uma mãe protetora, que lhe orienta a se afastar dos impuros. Deus seria o castrador que sentado no trono determina o que Bispo, o filho, deve fazer, caso contrário, nas palavras do Próprio Bispo: “È severo pra mim... Se eu desobedecer, me pega, me suspende [...] eu fico descontrolado, eu vou ficando torto, torto...”(9) Consoante Jung, (1999) os esquizofrênicos também possuem causalidade e finalidade psíquica. Todavia, diferentemente da vida mental de um sujeito normal, na qual o eu é o sujeito da experiência, no esquizofrênico o eu fragmenta-se em diversos complexos psíquicos autônomos que desconhecem a unidade subjetiva e, consequentemente, não se percebem como integrantes de um mesmo sujeito. Como decorrência o eu deixa de ser o sujeito da experiência e tornase apenas um dos vários sujeitos. Ainda de consoante o autor no caso da esquizofrenia de Bispo, de tipo paranoide, o sujeito se sente vitima de uma perseguição; quando a angústia gerada pelo sentimento de perseguição torna-se insuportável emerge um segundo sujeito que substitui o eu normal. Dessa forma, ocorre uma quebra na hierarquia dos complexos Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.66–71, jul-dez, 2010 70 Vieites, S.O.; Soares, E.F.; Jesuino, F.M. e o eu perde sua função sistemática e sistematizadora da empiria. O complexo se torna severamente autônomo em relação à personalidade consciente, que o percebe, pois, como objetividade. Embora a biografia de Bispo não sugira que alguém tivesse a intenção de perseguilo, podemos asseverar que Bispo sente-se como tal. Por exemplo, ele afirmou que precisou parar de lutar boxe, por ser perseguido por oficiais e empresários que não queriam ver marinheiros em jornal, em outros casos ele se diz perseguido por psiquiatras, por Deus, pelos anjos etc. Independentemente de essa perseguição ocorrer no plano material, o que não é o problema em foco, Bispo a vivia como real; ele, de fato, estava sendo perseguido. Neste caso, podemos constatar que quando o sentimento de angústia tornou-se insuportável, o segundo eu que emergiu foi o próprio Cristo, fruto da vítima clamando por autonomia, segundo Jung “ameaçado por inimigos invisíveis o outro eu sobe a tona”(10); ou nas palavras do próprio Bispo o sujeito se torna “... um homem vivo guiado por um morto [...] um ausente que se sabe ausente e se vê durante semanas em busca do seu ser, como um morto ao lado de um vivo que não é mais ele, que exige sua volta e no qual ele não pode mais entrar.”(11) 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Arthur Bispo do Rosário faleceu no dia 5 de julho de 1989, ainda imerso na ambivalência de ser senhor e escravo do labirinto de sua própria existência. Seu corpo estava purificado, emagrecido pelos intensos jejuns. A ideia da própria morte nunca pareceu lhe assustar, pois sabia que os anjos já estavam a postos, prontos para lhe assaltar a existência; os céus se abririam, sua obra seria apresentada a Deus e a contagem do mundo Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.66–71, jul-dez, 2010 recomeçaria. Um novo mundo surgiria, onde não mais angustiado pela submissão Bispo seria glorificado como Cristo. Embora o reconhecimento como artista nunca tenha sido a intenção de Bispo, o mundo reconstruído por ele ganhou status de obra de arte, chegando a representar o Brasil na Bienal de Veneza em 1995. Enquanto vivo, Arthur Bispo relutou em permitir que o “seu universo” saísse dos limites da Juliano Moreira, disse “não” a diversos convites, não queria que sua obra caísse em desgraça corrompida pelo mundo externo. Mesmo quando consentiu numa exposição, limitou segundo um critério próprio as obras que poderiam ser expostas: apenas os estandartes e um dos mantos. Quanto às demais, entrara num entendimento com elas, nada mais seria retirado dali. Antes de levarem as obras ele conversou com todas pedindo que não se corrompessem com o mundo. Quando questionado se desejava ir ao Museu de Arte Moderna-MAM para assistir a uma das exposições, Bispo foi enfático: “meus olhos não estão preparados para ver aquilo.”(12) A exposição durou dois meses que foram extremamente angustiantes para Bispo; constatamos que a sensação de faltar peças em seu labirinto lhe era dilacerante, ele estava perdendo o que sua estrutura psíquica desenvolveu como subterfúgio para irrealizar sua angústia. Quando Maria Amélia ou Hugo Denizart (responsáveis pela exposição) chegavam à colônia, Bispo os cravava de questionamentos, queria saber como estavam suas obras, se estariam se comportando bem, se gostavam da nova casa e principalmente quando voltariam. Nunca se preocupou em saber o que os outros achavam de suas obras “É recordação pra mim, não pras pessoas...”.(13) Os trabalhos de Bispo chamaram atenção da crítica, ele chegou a receber um convite para expor suas obras numa sala Arthur Bispo do Rosário inteira do MAM, podendo inclusive ficar alojado com elas por um tempo. Bispo do Rosário sequer pensou no assunto, já que a consagração como artista não lhe interessava. Seu objetivo era salvar o mundo, ser reconhecido pelo Pai, não pelos homens “eu vou me transformar a fim de me apresentar a ele (Deus) que é meu vigário... essas miniaturas que eu fiz permitem minha transformação”.(14) A proposta da arte contemporânea abriu a possibilidade de interesse em relação às meticulosas obras de vanguarda de Bispo, grande valor para os que estão resguardados dos muros do manicômio e da incompreensão. O quanto essa apreciação estética nos diz de uma compreensão real de uma vida que foi vivida por via dessa arte, de uma forma de expressar a subjetividade silenciada em outros caminhos pela estrutura mesma da patologia e pela sociedade que lhe repugna? Reconhecer como obra de arte a expressão de Bispo talvez forneça mais condições para que apenas continuemos a conhecer o que já sabemos de nós mesmo do que nos forneça condições de aproximação de uma vida vivida com singular autenticidade. Tal oportunidade, de fato, deveria ser considerada. Como Foucault nos adverte em seu texto, o reconhecimento de certos fenômenos como “doença” mostra muito não apenas do funcionamento da loucura mas, talvez muito mais, dos limites da assimilação e da diferenciação psicológica de uma sociedade. Reverbera, ainda, a consideração de Ronald Laing(15), que podemos somar ao questionamento a respeito da doença de Bispo. Uma sociedade pode ela estar fora de rota, adoentada, e o dito doente, apenas fora da formação da sociedade, mais próximo da rota de uma saúde compreendida 71 de acordo com sua dimensão evolutiva, histórica e existencial.(1) Laing nos advertia que os sintomas esquizofrênicos expressam tanto afecção quanto saúde, desenvolvimento. Quanto ao Bispo, não viveu tendo recebido reconhecimento positivo para os seus delírios. Eram estes sinais de doença ou, de fato, da salvação... ou ambos? NOTAS 1. Foucault, Michel. Doença Mental e Psicologia. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2000. 2. Jung, C.G. Psicogênese das doenças mentais. Petrópolis: Vozes, 1999. 3. Hidalgo, Luciana. Arthur Bispo do Rosário: o senhor do labirinto, Rio de Janeiro: Rocco, 1996. 4. Light: Companhia de distribuição de energia elétrica do Rio de Janeiro. 5. Hidalgo, 1996, p. 14. 6. Foucault, 2000, p.27 7. Hidalgo, 1996, p.25 8. idem, p.44 9. idem, p.140 10. Jung, 1999, p.214 11. Hidalgo, 1996, p.45 12. idem, 1996 p.154 13. idem, 1996 p. 142 14. idem, 1996 p. 138 15. Laing, Ronald D. A política da experiência e a ave-do-paraíso. Petró polis: Vozes, 1974. Recebido em 11 de novembro 2010 Aceito em 13 de novembro de 2010 Revisado em 19 de dezembro de 2010 Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.66–71, jul-dez, 2010 72 Revista Saúde em Diálogo Instruções para Submissão de Originais 1 Linha Editorial A Revista Saúde em Diálogo é uma publicação eletrônica científica de periodicidade semestral, editada pela Faculdade de Tecnologia Intensiva (FATECI), que possui uma proposta editorial multidisciplinar, visando publicar prioritariamente artigos originais sobre temáticas relevantes e inéditas que privilegiem o campo da saúde em diálogo com as seguintes áreas: Biomedicina, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Psicologia e Radiologia. Além disso, propõe-se a divulgar outras contribuições de caráter descritivo e interpretativo, tais como: ensaios acadêmicos, relatos de experiência, resenhas e trabalhos de estudantes. 2 Fluxo Editorial O texto original deverá ser enviado para o e-mail da Revista Eletrônica Saúde em Diálogo ([email protected]). Ao ser recebido, o material será avaliado inicialmente pelos Editores Chefe e Técnicos. Nesta triagem inicial, a equipe decidirá, seguindo os critérios estabelecidos pelo Conselho Editorial, se o material corresponde à linha editorial do periódico e aos critérios técnicos. No caso negativo, o trabalho será recusado e o autor informado. Em caso positivo, o material será encaminhado para um parecerista seguindo o processo de revisão anônima, em que as identidades dos autores e dos avaliadores são mantidas em sigilo. O resultado final da avaliação dos originais deverá ser informado aos autores em um prazo de 90 dias desde o envio dos mesmos. Os autores deverão, em seguida, considerar as revisões recomendadas (se houver) e devolver o documento revisado em até 15 dias. A ordem de publicação dos textos aprovados será definida pelo Conselho Editorial e informada aos autores. Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.72–75, jul-dez, 2010 Instruções para Submissão de Originais 3 Instruções A revista eletrônica Saúde em Diálogo aceita para publicação trabalhos originais na forma de artigos científicos e de resenhas relacionados à área de saúde. Esses podem ter sido desenvolvidos por pesquisadores ou estudantes nacionais ou internacionais. Os trabalhos enviados pelos autores não deverão ter sido submetidos, simultaneamente, à avaliação por outro periódico ou já ter sido publicados em outro periódico. 3.1 instruções para preparação de originais Os trabalhos devem se organizar com princípio (introdução), desenvolvimento e final (conclusão ou recomendação) claros, indicados ou não por título de seção. Devem obedecer às seguintes recomendações gerais: a.Laudas em formato A4 (210mm x 297mm) com margens de 2,5 cm (todas); b.Fonte Times New Roman, corpo 12, entrelinha com espaçamento duplo; c.Páginas numeradas acima do requadro do texto, fora do gabarito, alinhado à direita; d.A folha de rosto do documento deve conter título do artigo em português e em inglês; nomes dos autores e sua filiação institucional; nome da instituição ou departamento ao qual o trabalho deve ser atribuído (se houver); endereço, telefone e email do autor responsável pela correspondência; fontes de apoio à pesquisa (na forma de bolsa, equipamento, fornecimento de fontes) e título resumido com não mais que 30 caracteres. O título resumido do artigo deve constar no cabeçalho de todas as páginas do corpo do texto; 73 e.Resumo e palavras chave em português e inglês: o resumo é requisito para todo trabalho da categoria Artigos Originais, mas não para resenhas. Deve ser redigido com 200 a 300 palavras (usar contador de palavras do software de edição de textos). Os autores devem apresentar de 3 a 5 des critores (palavras chave) de acordo com a lista da Biblioteca Virtual em Saúde (http://regional.bvsalud.org/) ou, quando não for possível, à sua escolha, desde que em consonância com o conteúdo do manuscrito. f.O documento deve utilizar o padrão numérico das normas Vancouver para referências, citações e notas. A fonte do modelo de referências encontra-se na página da US National Library of Medicine (http://www.nlm.nih.gov/ bsd/uniform_requirements.html) e pode ser encontrada em português com facilidade na internet. g.O arquivo deverá ser apresentado em formato de arquivo do Microsoft Word© (doc, rtf ou docx), BrOffice (odt) ou equivalente. h.Não deve haver qualquer identificação dos autores no artigo, exceto na folha de rosto, nem mesmo nas propriedades do arquivo. Os autores não podem, também, referir trabalhos ou publicações anteriores de sua autoria em primeira pessoa, devendo preservar linguagem neutra nesse aspecto. A única forma de identificar o texto será pelo título resumido no cabeçalho das páginas. Esse critério deve ser obedecido à risca, sob pena de reprovação do trabalho; i. Cada tabela, se houver, deve ser formatada em espaço duplo numa folha sepa- Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.72–75, jul-dez, 2010 74 Revista Saúde em Diálogo rada após o desenvolvimento do texto e das referências. Forneça um breve título para cada uma. Não use linhas horizontais ou verticais internas. Os autores devem colocar material explicativo em notas abaixo da tabela, não no título. Indicar no texto, o lugar onde deverá ser incluída, com referências do tipo: Tabela 01. Caso apresente dados de outra fonte, a mesma deve ser citada por completo e os autores devem ter conseguido autori zação para sua reprodução. Tal constitui responsabilidade dos autores j. As figuras (se houver) devem ser apresentadas ao final do documento, após as tabelas (se houver) em uma folha separada para cada. O formato deve ser JPG ou GIF e a resolução mínima de 200dpi. Os autores se responsabilizam pelo direito de publicação de imagens de outras fontes. 3.2 Categorias de originais aceitos para publicação 3.2.1 Artigos Originais Trata-se de produções científicas originais que desenvolvam e aprofundem temas relacionados às ênfases da publicação. a.Pesquisas: apresentam resultados de pesquisas científicas. Devem ter extensão 15 a 30 laudas; b.Ensaios: desenvolvem análise crítica e reflexão acerca de temas de relevância que não compartilham com os relatos de pesquisa a formalidade de fontes ou provas empíricas ou dedutivas. Devem ter extensão de 10 a 25 laudas; c.Relatos de Experiência: expõem des crição de experiências acadêmico- Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.72–75, jul-dez, 2010 científicas, cujo valor de relato seja significativo para a área de diálogo. Devem apresentar de 10 a 20 laudas. Obs.: Em caso de submissão de artigos por parte de estudantes de graduação das áreas de ênfase contempladas pelo periódico, estes podem submeter originais para avaliação e publicação desde que cumpram um dos critérios a seguir: 1. Seja apresentado em coautoria com um professor-orientador; 2. A carta de submissão seja acompanhada de uma carta de recomendação do professor-orientador declarando concordância com a publicação sem seu nome como coautor. 3.2.2 Resenhas Texto em forma de síntese informativa e crítica acerca de determinada produção cultural. Para este periódico são aceitos três tipos de resenha: a.De livros: discorre a respeito de documento bibliográfico relevante. Até 06 laudas. As resenhas de livros devem conter a capa do livro escaneada, o número de páginas, o autor e a editora. b.De filmes: discorre sobre obra audiovisual relevante. Até 06 laudas. Devem conter capa do filme escaneada, duração, diretor, ano de filmagem, tipo de produção, local de produção e produtora; c.Temáticas: discorre acerca de conjunto de textos que tenham um assunto (tema) em comum. Até 10 laudas. 3.3 Seções do periódico a. Editorial b. Artigos Instruções para Submissão de Originais c. Resenhas d. Seção Especial (em casos excepcionais aprovados pelo conselho editorial) 3.4 normas para publicação de produção dos membros do conselho acadêmico e do comitê científico 3.4.1 Conselho Editorial a. no máximo uma produção do conselho editorial por fascículo; b. o texto deve ser aprovado em reunião de conselho após parecer favorável; c.em razão de seu caráter especial, a publicação deve ser mencionada no editorial. 3.4.2 Comitê Científico O avaliador deve interromper sua colaboração com o periódico por um número inteiro (um ano). 3.5 documentos necessários para submissão de originais a.Manuscrito com o artigo ou resenha originais: deverá seguir as instruções apresentadas neste documento e enviado ao seguinte endereço eletrônico: [email protected] 75 d.Cópia da aprovação por comitê de ética: no caso de pesquisas que envolvam seres humanos nos termos do inciso II da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, ou seja, investigações que envolvam o ser humano de forma direta ou indireta, em sua totalidade ou partes dele, incluindo o manejo de informações ou materiais, deverá ser encaminhado um documento de aprovação da pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição onde foi realizada. No caso de instituições que não disponham de um Comitê de Ética em Pesquisa, deverá ser apresentada a aprovação pelo CEP onde ela foi aprovada. Os documentos dos itens b, c e d deverão ser enviados para o seguinte endereço: Faculdade de Tecnologia Intensiva Revista Eletrônica Saúde em Diálogo Aos cuidados da Prof.ª Milena Abrão de Sena Rua Barão de Aratanha, 51. Centro. CEP 60050-070. Fortaleza – Ce. 4 direitos autorais b.Carta de submissão de artigo conforme modelo disponível no sítio eletrônico da revista: www.saudeemdialogo.com.br; A Revista Eletrônica Saúde em Diálogo não exige transferência de direitos autorais, apenas a concessão para a publicação original do artigo ou resenha, podendo o autor, posteriormente, publicar sua produção em outro veículo sem necessidade de autorização deste periódico. c.Carta de autorização do orientador para publicação: somente quando se tratar de produção de estudantes de graduação em que o professor orien tador não seja coautor. (v. modelo no site da revista). Atenciosamente, os Editores Prof.ª Milena Abrão de Sena Prof. Clauberson Sales do Nascimento Rios Prof. Filipe de Menezes Jesuino Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.72–75, jul-dez, 2010 76 Revista Saúde em Diálogo Roteiro para Elaboração de Parecer Código de Registro Interno: Título do trabalho: Área de diálogo: Nome do parecerista: Por favor, marque sua opção nas questões abaixo e anexe seus Comentários por escrito. 1. Aspectos formais: o trabalho enviado se encontra em acordo com as normas de publicação da Revista? ( ) Sim ( ) Não (especifique reformulações em seus Comentários) 2. Área de diálogo: a “Área de diálogo” proposta reflete o conteúdo do artigo? ( ) Sim ( ) Não 3. Título: o título apresentado é pertinente com o conteúdo do artigo? ( ) Sim ( ) Não 4. Resumo: o resumo contempla de forma clara e precisa os aspectos fundamentais do trabalho? ( ) Sim ( ) Não 5. Palavras-chave: as palavras-chave são adequadas? ( ) Sim ( ) Não 6. Relevância: o assunto tratado se constitui em uma importante contribuição para o diálogo acadêmico-científico? ( ) Sim ( ) Não (justifique sua opinião em seus Comentários) 7. Método: o trabalho apresenta, de forma clara e precisa, o método empregado? ( ) Sim ( ) Não Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.76–77, jul-dez, 2010 Modelo de Parecer 8. Linguagem: o trabalho obedece às exigências apresentadas a seguir? Quando não, sugira modificações nos seus Comentários. a) objetividade: b) estilo: c) concisão: d) correção: ( ( ( ( ) Sim ) Sim ) Sim ) Sim ( ( ( ( ) Não ) Não ) Não ) Não 9. Seqüência lógica: o trabalho possui uma seqüência lógica na apresentação nos seguintes aspectos? a) identificação: b) descrição: c) argumentação: d) conclusão: ( ( ( ( ) Sim ) Sim ) Sim ) Sim ( ( ( ( ) Não ) Não ) Não ) Não 10. Literatura: o trabalho menciona referências bibliográficas relevantes, que contribuem efetivamente para a melhor compreensão e especificação para o assunto tratado? Caso haja omissões, indique em seus Comentários ( ) Sim ( ) Não 11. Conteúdo: sobre o conteúdo, responda os itens abaixo e comente o que for necessário em seus Comentários: 11.1 Há caráter inovador do conjunto das idéias principais apresentadas no trabalho? ( ) Sim ( ) Não 11.2 Há correção das afirmações sobre fatos, provas ou evidências e informações pertinentes? ( ) Sim ( ) Não 12. Fundamentação: o trabalho apresenta ar gumentação fundamentada, relativa ao tema? ( ) Sim ( ) Não (comente) 77 13. Interpretação: o autor deu interpretação adequada aos dados? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não se aplica 14. Conclusão: acerca da conclusão, responda: 14.1 As conclusões são relevantes para o avanço dos conhecimentos no campo da saúde? ( ) Sim ( ) Não (recomende modificações) 14.2 Há indicações de possíveis linhas de pesquisa a partir daí? ( ) Sim ( ) Não 15.PARECER FINAL ( ( ( ) aceito para publicação (sem modificações) ) aceito para publicação (com modificações) ) não publicar. Caro parecerista, se for considerado que o trabalho deve ser “aceito para publicação (com modificações)”, solicitamos que as alterações e sugestões necessárias sejam apontadas no espaço Comentários. No caso de trabalho onde o parecer final for “não publicar”, é importante que no espaço Comentários seja elaborada uma justificativa detalhada, destacando o percurso a ser cumprido no intuito de torná-lo publicável. Atenciosamente, os Editores Saúde em Diálogo, Fortaleza, V.I, N.1, P.76–77, jul-dez, 2010