MONOGRAFIA CARLOS LUIZ GON_ALVES DE ANDRADE

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MONOGRAFIA CARLOS LUIZ GON_ALVES DE ANDRADE
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UNIP UNIVERSIDADE PAULISTA
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA DO TRÂNSITO
CARLOS LUIZ GONÇALVES DE ANDRADE
MEDO DE DIRIGIR EM RELAÇÃO À DEPENDÊNCIA EMOCIONAL
MACEIÓ - AL
2013
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CARLOS LUIZ GONÇALVES DE ANDRADE
MEDO DE DIRIGIR EM RELAÇÃO À DEPENDÊNCIA EMOCIONAL
Monografia apresentada à Universidade
Paulista/UNIP, como parte dos requisitos
necessários para a conclusão do Curso
de Pós-Graduação “Lato Sensu” em
Psicologia do Trânsito.
Orientador: Prof. Ms. Alessio Sandro de
Oliveira Silva
MACEIÓ - AL
2013
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CARLOS LUIZ GONÇALVES DE ANDRADE
MEDO DE DIRIGIR EM RELAÇÃO À DEPENDÊNCIA EMOCIONAL
Monografia apresentada à Universidade
Paulista/UNIP, como parte dos requisitos
necessários para a conclusão do Curso de
Pós-Graduação “Lato Sensu” em Psicologia
do Trânsito.
APROVADO EM ____/____/____
____________________________________
PROF. MS. ALESSIO SANDRO DE OLIVEIRA SILVA
ORIENTADOR:
____________________________________
PROF. DR. LIÉRCIO PINHEIRO DE ARAÚJO
BANCA EXAMINADORA
____________________________________
PROF. ESP. FRANKLIN BARBOSA BEZERRA
BANCA EXAMINADORA
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DEDICATÓRIA
A Deus, o que seria de mim sem a fé que eu tenho nele.
Aos meus pais, irmãos e minha família que com muito carinho e apoio não mediram
esforços para que eu chegasse até esta etapa de minha vida.
Quero agradecer em especial ao Professor Manoel Ferreira do Nascimento Filho,
Coordenador do Curso, pelo convívio, pelo apoio, pela compreensão e paciência e
amizade dedicado nesse longo período de pesquisa.
A todos os professores do curso, que no período que passamos juntos foram
importantes para o desenvolvimento e conclusão de mais uma especialização.
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RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo apresentar a relação homem, veículo e via e
como se apresenta o comportamento dos indivíduos que possui o medo de dirigir em
relação à dependência emocional que muitas das vezes surge na complexa
dinâmica familiar, potencializando-se ao longo da vida nos relacionamentos
interpessoais, da nova constituição familiar e fatores ambientais e sociais que
emerge este medo de dirigir apresentando diversas outras características implicadas
no ato de dirigir, como nível de ansiedade exagerado, insegurança, fatores
psicossomáticos externalizados pelo sujeito que possui fobia. A metodologia
utilizada para a elaboração deste trabalho, trata-se de um estudo exploratóriodescritivo, com dupla combinação de abordagens, a saber, quantitativa e qualitativa
abordando condutores habilitados com a CNH na cidade de Macapá-AP dispostos a
responder um instrumento estruturado, ou seja, um questionário com perguntas
objetivas que levavam a respostas fechadas composto por 15 perguntas abrangendo
variáveis como idade, sexo, profissão, nível de escolaridade, porque não dirige e o
tempo que não dirige foram perguntas importantes para a aplicação. Os resultados
obtidos foram tratados e analisados com auxilio de dados estatísticos (citados no
site). Quanto à parte qualitativa recorreu-se a análise das respostas marcadas
quanto ao medo de dirigir. Identificar as características apresentadas por condutores
que possui o medo de dirigir e esses fatores internos e externos que influenciaram
na potencialização desta fobia foi o desafio deste extenso trabalho de monografia.
Esta monografia não tem como finalidade esgotar o assunto proposto em face da
complexidade que é analisar o comportamento humano e as variáveis internas e
externas deste comportamento e mais precisamente o medo de dirigir e sua relação
com a dependência emocional. Este trabalho é dedicado a todos que desejam se
aprofundar no assunto como acadêmicos, profissionais do trânsito, da área da saúde
e profissionais de áreas afins com um tema tão pouco explorado, sendo necessário
maiores pesquisas acerca deste tema tão corriqueiro no dia-a-dia de muitos
indivíduos. Finalizando é importante ressaltar que a ajuda de um profissional é
fundamental para o sucesso do tratamento, sabendo que neste processo para uns
pode ser trabalhado e superado de forma mais rápida enquanto que para outros
pode se dá num processo mais lento, ou seja, cada indivíduo possui seu tempo e
seu momento necessário para ultrapassar os obstáculos para conduzir veículos de
forma que seja prazerosa em todas as esferas da vida, quanto à social, profissional,
familiar e pessoal.
Palavras-chave: Medo; Dirigir; Transito.
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ABSTRACT
The present work, aims the relationship between man, vehicle and route and how
does the behavior of individuals who have a fear of driving in relation to emotional
dependence that often arises in complex family dynamics, powering up throughout
life, interpersonal relationships, the family constitution of environmental and social
factors that emerge from the fear of driving, showing different features involved in the
act of driving with excessive level of anxiety, insecurity, psychosomatic factors,
externalized by the subject who has phobia. The methodology used for the
elaboration of this work, is guided in a descriptive exploratory study with double
combination of approaches, namely quantitative and qualitative approaching drivers
enabled with CNH in the city of Macapá-AP, willing to answer a structured
instrument, or is a questionnaire with objective questions that will bore closed
answers, consists of 14 questions covering such variables as age, sex, occupation,
education level, why not drive and do not drive time, were important questions to the
application. The results were processed and analyzed with the aid of statistical data
(cited on the site).The part we used qualitative analysis of the responses marked as
the fear of driving. Identify the characteristics presented by drivers who have a fear of
driving and the internal and external factors that influenced the potentiation of this
phobia was the challenge of this extensive work monograph. For the understanding
of these factors was important to elucidate on transit, understood as the triad can be
called a man, route and vehicle. This monograph is not intended to be exhaustive
proposed in the reason of complexity, which is to analyze human behavior and the
internal and external variables of this behavior and more precisely the fear of driving
and its relationship with emotional dependency. This work is dedicated to all who
wish to deepen their subject as: academics, practitioners transit, healthcare and
allied professionals, with a theme so little explored, requiring further research on the
topic that seems so commonplace on to day life of many individuals. Finally, it is
important to note that the help of a professional is key to successful treatment,
knowing that in this process, for each can be worked on and overcome more quickly,
while for others it may give a slower process each individual has its time and time
necessary to overcome obstacles to drive in a pleasant way in all spheres of life, as
the social, professional, family and personal.
Keywords: Fear; Driving, Traffic.
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.............................................................................................
8
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA......................................................................
10
2.1 O Comportamento do Participante e Antecedente dos
Acontecimentos do Trânsito..................................................................
10
2.2 A Psicologia do Trânsito e as Possibilidades de Interface com a
Psicologia Ambiental..............................................................................
13
2.3 O Papel do Psicólogo do Trânsito........................................................
14
2.4 Ansiedade e Medo de Dirigir..................................................................
17
2.5 Superando o Medo de Dirigir nas Auto-Escolas..................................
28
3.0 MATERIAS E MÉTODOS..........................................................................
30
3.1 Ética...........................................................................................................
30
3.2 Tipo de Pesquisa......................................................................................
30
3.3 Universo....................................................................................................
30
3.4 Sujeitos da Amostra................................................................................
30
3.5 Instrumentos de Coleta de Dados..........................................................
31
3.6 Planejamento para Coleta dos Dados....................................................
31
3.7 Planejamento para Análise dos Dados..................................................
31
4.0 RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................
32
5.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................
46
REFERÊNCIAS...............................................................................................
50
APÊNDICE......................................................................................................
51
ANEXOS.........................................................................................................
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1 - INTRODUÇÃO
Considerando o Trânsito como um fator ambiental é fundamental falarmos do
ambiente, no qual o trânsito está inserido. No ambiente é que vive o ser humano e
onde cria suas regras, leis e normas de convivência assim como na relação familiar,
com os amigos e no ambiente profissional onde este é também um ser ambiental. Já
a Psicologia do Trânsito tem por seu objeto o comportamento dos cidadãos que
participam do trânsito no ambiente em que vivem onde homem, veículo e via são os
elementos essenciais neste complexo sistema. O ser humano possui deveres e
direitos que devem ser respeitados e no trânsito não é diferente. Dentre a
diversidade dos comportamentos apresentados, o comportamento humano é o mais
estudado e avaliado neste campo de trabalho, assim como a ansiedade, síndrome
do pânico e o medo de dirigir como tema deste estudo enfatizado com maior
relevância, pois acomete uma grande parte da população.
O medo funciona como um alerta diante de determinada situação nova ou
perigosa. Ele representa a cautela, o cuidado. Tem como função orientar o homem
para que ele perceba que não pode tudo, que não é onipotente, e que nem tudo é
possível, pois há limites físicos e emocionais. Quando o limite é ultrapassado pela
sensação de onipotência, algo perigoso pode acontecer, é a sensação de que se foi
longe demais.
Porém, como o ser humano sabe dos seus próprios limites sem ultrapassálos? Evidentemente, ele não vive num mundo fechado e com plena consciência de
seus limites sem a possibilidade de experimentação. As experiências desafiadoras
costumam ser fundamentais e significativas na vida. O desafio envolve riscos, e o
risco, por sua vez, gera medo. Mas é somente se arriscando que o homem terá
consciência de seus limites.
Arriscar-se envolve aventura e abertura ao novo. Não existe experiência de
aventura inteiramente perfeita e correta, em que nada de errado aconteça. Portanto,
o erro faz parte da vida. Quem se arrisca na vida em qualquer situação vai errar.
Acertará também, mas errará repetidamente.
As pessoas muito ansiosas sentem muito medo; em alguns momentos, um
medo desproporcional. Sentem muito medo de errar, demonstrando aspectos rígidos
de comportamento, um superego duro e uma tendência ao perfeccionismo. Grande
parte da energia dessas pessoas está voltada para as cobranças internas.
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O medo de errar bloqueia a possibilidade do desafio, já que, para enfrentá-lo,
é preciso ter disponibilidade para errar. Ao errar, a sensação é desagradável, e essa
sensação pode ser insuportável a ponto de desencadear um processo de
desmotivação. Pode ocorrer a desistência de um desafio que estava apenas
começando. Ao sentir-se frágil e com sentimento de inferioridade diante de várias
tentativas e erros, a estrutura psíquica poderá frear a experiência.
Dirigir um automóvel é um comportamento aprendido, que envolve
habilidades motoras, ou seja, para algumas pessoas aprender a dirigir é um
processo mais rápido, normal, tranquilo enquanto para outras pode levar um tempo
maior e não ser tão agradável e fácil. Dentro desse universo na cidade de Macapá o
número da amostragem de 10 sujeitos que possui habilitação é, expressivo uma
grande porcentagem como predominante o medo de dirigir.
Contudo o objetivo deste trabalho é buscar maiores informações acerca da
Psicologia do Trânsito e fatores psicológicos e sociais que estão intrinsecamente
ligados ao trânsito, ao comportamento e ao medo de dirigir. Considerando um tema
pouco explorado, que deve ser mais abordado e estudado, pois, uma parcela da
população é acometida deste sentimento, que há restringe nos afazeres pessoais,
familiares e que atrapalha a vida profissional e o convívio social.
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2.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 O Comportamento do Participante e Antecedente dos Acontecimentos do
Trânsito
O estudo do comportamento do participante do trânsito é uma preocupação
antiga dos pesquisadores, embora os resultados desses estudos nem sempre sejam
comunicados com rigor científico. De qualquer forma, a tendência histórica dos
estudos sobre comportamento humano no trânsito deriva da necessidade de
compreender particularmente a influência dos eventos privados (fatores de
personalidade) sobre as condutas.
No fim da primeira metade do século passado, Tillmann e Hobbs (1949, apud
ROZESTRATEN, 1988) afirmavam que:
A personalidade não muda quando nos sentamos diante do volante do
carro. O que pode acontecer é que certos traços que normalmente são
controlados na nossa convivência com os outros, comecem a se manifestar
mais abertamente: o desejo de ser o melhor, ser mais corajoso, querer
mostrar que se é capaz de arriscar sem incorrer em acidentes, etc.
Normalmente pode-se dizer que o homem dirige assim como vive.
Mais recentemente, Bassani ( 2003, apud DOTTA, 2000), servindo-se de sua
experiência como diretor do DETRAN do Rio Grande do Sul, revela preocupações
semelhantes:
A condução de um veículo está matizada pelo caráter que cada um possui.
O veículo é apenas uma peça metálica, mas, no momento que está sendo
dirigido, passa ter a inteligência, a alma, a sensibilidade e o comportamento
do condutor. O veículo tem, portanto, a característica da personalidade de
quem o estiver conduzindo.
Historicamente, a preocupação de alguns teóricos e especialistas com os
desvios de conduta no trânsito contribuiu, ao menos, para constatar a necessidade
de criar alternativas de investigação, monitoramento e busca de soluções para a
redução dos acidentes. Em meio a isso tudo, entretanto, nem sempre a população
tem sido ouvida sobre o assunto.
O comportamento no trânsito pode ser considerado uma manifestação do
sistema cultural de um povo. Se existe algo que diferencia os seres humanos das
outras espécies é a herança cultural, no sentido de costumes do dia-a-dia,
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compartilhados e transmitidos de uma geração para outra. Onde o complexo cultural
trânsito abriga uma grande quantidade de comportamentos contingentes à situação
(ambiente físico e relacional), ao meio de transporte e aos objetivos do
deslocamento. Os conflitos resultantes deste complexo cultural geralmente se
manifestam como comportamentos inadequados, desagradáveis, destrutivos (auto e
hetero) e estressantes. E, os problemas do trânsito são, portanto, em grande parte,
de ordem comportamental. O trânsito é o típico sistema no qual se tenta controlar o
comportamento pelas regras. A criança, segundo Baum (1999), pode aprender a
obedecer algumas regras de sua cultura sem que seja explicitamente instruída a
fazê-lo. No entanto, o comportamento no trânsito é também controlado por regras
legais previstas no Código de Trânsito Brasileiro (CTB), nas portarias e nas
resoluções baixadas pelo Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN).
O comportamento é adquirido de várias formas, mas no trânsito, além das
técnicas de condicionamento para aprender a dirigir, as decisões, muitas vezes, são
moldadas pela imitação da atitude não punida. Escoradas na condição do livrearbítrio, as pessoas podem escolher como se comportar em determinada situação.
Os acidentes nas estradas e ruas brasileiras têm suscitado pouco mais que
dados estatísticos ou discussões sobre aqueles que geraram vítimas. Não se leva
em conta o comportamento transgressor do motorista ao longo das rodovias. Os
meios de comunicação parecem banalizar o tema na atualidade e, assim, o
escândalo e a indignação tornam-se parte apenas da vida de pessoas que se
tornaram vítimas. O comportamento irresponsável das pessoas ao volante parece
ter se constituído em um hábito corriqueiro.
Apesar da gravidade do problema e das vultosas despesas despendidas, as
iniciativas oficiais à prevenção parecem voltar-se apenas à divulgação das
repercussões desses fatos, como estratégia de atemorização a motoristas e
pedestres.
Rozestraten (1988) afirma que o trânsito consiste em uma constelação de três
eixos – o comportamento do participante do trânsito, da via e do veículo.
Continuamos, por enquanto, com o primeiro eixo, o comportamento do participante.
Como compreender, prever e, na medida do possível, controlar o comportamento do
participante do trânsito? Podemos identificar três dimensões de antecedentes a
partir das quais se tenta predizer o comportamento: conhecimento, práticas e
atitudes.
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O primeiro preditor do comportamento no trânsito é o grau de conhecimento
sobre o que diz respeito ao trânsito e pode ser verificado de maneira bastante
objetiva. Resta saber, entretanto: o que é relevante para ser conhecido, com que
grau de profundidade e para qual nível de participação no trânsito? Embora o
conhecimento das regras de trânsito e de certas leis da física constitua o sine qua
non para atuar como participante no trânsito, ele está longe de ser suficiente, pois
antes de mais nada o conhecimento precisa ser colocado em prática, na hora certa.
Assim, prática é o segundo preditor de comportamento. Prática é uma
habilidade que se adquire no decorrer do tempo. Tipicamente, antes de conceder à
pessoa a permissão para dirigir um veículo motorizado, exige-se que ela realize um
certo número de horas de treino e seja submetida a uma prova prática.
As atitudes configuram o terceiro preditor. A definição clássica de atitudes foi
dada, em 1935, por Allport: “estado neuropsíquico de prontidão para atividade
mental e física” (ALLPORT, 1935, p. 799). Esta definição aponta, no caso do
trânsito, para a questão da prontidão, presteza ou disposição de utilizar o
conhecimento e a prática em benefício de um comportamento no trânsito de tal
maneira “que nenhuma outra pessoa passa ser prejudicada, colocada em perigo, ou,
considerando as circunstâncias inevitáveis, impedida ou incomodada mais do que o
necessário” (Strabenverkehrsordnung – StVO, Código de Trânsito da Alemanha,
2003).
Expandimos a conceituação de Rozestraten (1988) dos três eixos da
Psicologia de Trânsito: participante, veículo e via. Neste contexto, pode-se incluir um
quarto: as regras e normas da sociedade. Desta maneira, podemos refletir sobre as
seguintes perspectivas:
- participante, veículo e via (para falar nos termos de Rozestraten (1988) e da
Psicologia do Trânsito;
- indivíduo e sociedade (para falar nos termos de Allport (2003) e da
psicologia social;
- indivíduo e meio ambiente, composto pela sociedade, isto é, vias, veículos,
normas sociais e, incidentalmente, outros participantes do trânsito.
O ponto comum a essas três perspectivas é que a relação indivíduo e meio
ambiente (vias, veículos, normas sociais, etc.) é recíproca. Em outras palavras, o
comportamento da pessoa, pedestre ou motorista, tem raízes também externas a
ela, raízes estas que, por sua vez, são consequência do seu comportamento e de
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outras pessoas. Reciprocamente entre o comportamento do ator e os eventos do
ambiente físico e social sumariza os preceitos da psicologia ambiental.
2.2 A Psicologia do Trânsito e as Possibilidades de Interface com a Psicologia
Ambiental
A Psicologia do Trânsito tem por seu objeto o comportamento dos cidadãos
que participam do trânsito. Ela procura entender esse comportamento pela
observação com outras ciências que estudam o trânsito e ajudar, por meio de
métodos científicos e didáticos, na formação de comportamentos mais seguros e
condizentes com o exercício de uma perfeita cidadania.
A Psicologia do Trânsito nasceu em 1910. Seu precursor foi Hugo
Münsterberg, aluno de Wundt, que a convite de William James foi para os Estados
Unidos para ser o diretor do laboratório de demonstração de psicologia experimental
da Universidade de Harvard. Inicialmente se opondo à tendência americana de tirar
a psicologia dos laboratórios e mostrar sua aplicabilidade na sociedade, alguns anos
após, se tornou o arauto da psicologia aplicada. Criou a Psicologia Forense e foi o
primeiro psicólogo a submeter os motoristas dos bondes de Nova York a uma
bateria de testes de habilidade e de inteligência (SCHULTZ & SCHULTZ, 1999).
O sucesso dos testes Army Alpha e Army Beta, durante a Primeira Guerra
Mundial, de certa forma facilitou a introdução das técnicas psicométricas (os
chamados testes psicológicos) nas indústrias com o fim de diminuir os acidentes e
aumentar a produtividade. Das indústrias, os testes psicológicos invadiram mais e
mais o campo do trânsito. O objetivo era diminuir os acidentes por intermédio da
testagem dos candidatos a motorista em geral e de candidatos a motoristas nas
empresas, selecionando os indivíduos que apresentavam capacidades atualizadas
para desempenho intelectual, motor, reacionais e emocionais satisfatórios e
necessários à operação de transitar.
A interface da Psicologia do Trânsito com a Psicologia Ambiental está
exatamente no próprio ambiente. Sem ambiente não há trânsito. O trânsito
desenrola-se no ambiente do veículo e da via, sendo que ambos influenciam e
determinam o comportamento do condutor, dado que qualquer mudança na via
provoca alterações no seu comportamento. O ambiente da via e, também, o
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ambiente especializado do trânsito constrangem o comportamento do condutor a
produzir ações seguras.
Infelizmente, o automóvel não é muito grato ao ambiente em que ele se
movimenta, haja vista a poluição provocada pela combustão e pelo ruído provocado
por milhões de carros que trafegam nas cidades e o modo como afetam os seres
vivos e os recursos naturais (BORMANS & HAMERS, 1985).
Dirigir um automóvel ou mesmo andar na calçada são comportamentos
continuamente regulados e orientados pelo ambiente. Podemos dizer que existem
poucos comportamentos que são tão continuamente e completamente regidos pelo
ambiente como os comportamentos no trânsito. Um momento de distração poderá
ser fatal. Existem poucos comportamentos tão estreitamente ancorados no
ambiente. Isso apenas quando se fala do ambiente material ou o ambiente mais
específico de trânsito, com semáforos, faixas e placas.
O comportamento no trânsito e sua convivência com ambiente social e o
ambiente normativo não podem ser considerados de fácil dimensão e controle. É o
que pode ser verificado anualmente nas estatísticas comunicadas nos relatórios dos
órgãos governamentais e veiculadas nos meios de comunicação de massa, algo em
torno, atualmente, de meio milhão de pessoas que morrem no trânsito, no mundo.
Por tudo isso, é papel da Psicologia Ambiental colaborar para fazer um
ambiente no qual o homem se sinta bem para desenvolver suas diversas tarefas.
Podemos dizer que o ambiente material adequado é a primeira condição para
um trânsito seguro. Um ambiente bem cuidado, onde os buracos feitos para fazer
consertos em sistemas de escoamento de água, esgoto ou de distribuição elétrica
não precisam esperar meses para serem tampados. Em países como a Holanda, as
calçadas são da responsabilidade da prefeitura e se usam pequenas lajotas de
cimento nas calçadas que podem ser removidas e recolocadas imediatamente após
os consertos necessários. Atitude simples, mas que torna as calçadas “andáveis”.
2.3 O Papel do Psicólogo do Trânsito
Argumentamos que o papel do psicólogo do trânsito consiste não somente em
estudar e avaliar as características do participante no trânsito, isto é, do grau de sua
adequação e adaptação às condições dadas pelos engenheiros e políticos, tarefa
tradicional da avaliação psicológica para o trânsito. Mas, a atuação do psicólogo de
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trânsito precisa se expandir para realizar pesquisas sobre as condições sociais e
mecânicas com as quais o participante do trânsito se envolve no momento que
coloca o pé na frente da sua porta. Obviamente, isto inclui todos os participantes do
trânsito, não somente os motoristas que, pelo jeito, muitas vezes se comportam
como se nunca colocassem o pé na frente da sua porta, mas diretamente para
dentro do carro. Em outras palavras, segundo Abreu (2001), o psicólogo do trânsito
precisa colaborar:
- com o desenhista industrial, engenheiro mecânico e ergonomista para estudar e
avaliar as condições de segurança, conforto e eficiência dos veículos, desde patins
até caminhões;
- com o urbanista e engenheiro de trânsito para estudar e avaliar as vias – desde
trilhas e calçadas até vias expressas;
- com o legislador para estudar, avaliar e propor regras de trânsito exequíveis.
Voltando ao exemplo: não basta proibir estacionamento numa rua quando se
providencia estacionamento fora da via apropriada; não basta proibir e multar a alta
velocidade ao mesmo tempo em que se constroem vias cada vez melhores e mais
rápidas e se a potência do veículo constitui um argumento para a venda.
Na perspectiva da reciprocidade e da psicologia ambiental é importante
compreender que o psicólogo de trânsito não faça apenas uma coisa ou outra, quer
dizer, ou estudar e avalia o indivíduo, ou estuda e avalia o veículo ou a via ou as
normas sociais. O importante é que tudo isto seja realizado de maneira integrada
para não perder a perspectiva da reciprocidade entre o comportamento do
participante do trânsito e seu ambiente. A história da atuação do psicólogo do
trânsito no Brasil normalmente está associada ao período em que se tornou
obrigatório o exame psicológico para os candidatos a motoristas profissionais, mas
que, em 1962, se estendeu a todos os candidatos a motorista (HOFFMAN, 1995).
Esses questionamentos de Hoffman (1995) nos levam a avaliar as possíveis
ações que podem ser desenvolvidas por psicólogos em relação ao trânsito, para
além dos recursos usuais.
- trabalhar com as fobias de pessoas que, apesar de possuírem a Carteira Nacional
de Habilitação e terem carro na garagem, não tem coragem de trafegar na via
pública. Já existem métodos psicoterapêuticos realizados no próprio carro ou em
situações similares que procuram dessensibilizar comportamentos fóbicos e suas
variantes;
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- propor intervenções com alcoólicos, dado que eles frequentemente se envolvem
em acidentes e que estatisticamente 50% dos acidentes fatais nas rodovias ocorrem
em virtude da ingestão de álcool. Não é a toa que em alguns países motoristas
alcoolizados perde a carteira de habilitação;
- desenvolver atividades e estudos com viciados em drogas. Ainda que os efeitos
das drogas sobre o comportamento no trânsito não sejam totalmente conhecidos,
sem dúvida os efeitos de euforia e o aumento de traços de agressividade têm
reflexos evidentes sobre o comportamento do adicto ao volante, com consequências
inevitavelmente desagradáveis;
- trabalhar nas comunidades de bairro, avaliando com a população quais as
dificuldades enfrentadas em relação ao trânsito, de que forma ocorrem os acidentes,
como é o serviço dos transportes coletivos;
- trabalhar junto às empresas que operam ônibus e outros veículos que atendem à
população. Munir-se de vídeos e outros meios para mostrar as situações e as
manobras perigosas, nas quais muitos motoristas e pedestres morreram ou se
acidentaram;
- promover a educação e motivar os professores a falar sobre o trânsito; organizar
conferências ou discussões sobre o CTB nas últimas séries do Ensino Fundamental
ou no Ensino Médio de forma a preparar os jovens para o trânsito. A maioria das
vítimas fatais de trânsito está numa faixa de 17 a 28 anos;
- ajudar na promoção da educação ambiental na qual também deve ser incluída a
educação ambiental para o trânsito (ABREU, 2001);
- promover, na área da psicologia hospitalar, terapia de apoio para os acidentados
de trânsito. Os eventos traumáticos associados ao luto (perda de entes queridos) e a
sequelas de acidentes não têm merecido o tratamento devido. Quem está cuidando
disso e de que forma tem atuado?
- lutar pela introdução ou reintrodução de medidas que mundialmente são
reconhecidas como boas, como a colocação das luzes vermelhas que acusam
frenagem à altura dos olhos do motorista que segue. A frenagem correta é, às
vezes, questão de segundos;
- lutar pelo melhoramento das calçadas nas nossas cidades, sobre o qual já falamos
neste texto, e de acostamentos nas estradas e rodovias;
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- pesquisar junto a grupos ativos de cidadãos e profissionais, quais os pontos de alto
risco na cidade e movimentar os órgãos e instâncias oficiais a tomarem medidas
para sanar e prevenir os problemas detectados;
.+- formar, nas universidades, núcleos interdisciplinares de estudo sobre o problema
do trânsito, de forma a conduzir pesquisas avançadas e a contribuir com cursos e
palestras sobre as responsabilidades das universidades para o bem-estar da
sociedade frente à problemática do trânsito;
- promover o intercâmbio entre núcleos e laboratórios de estudos e pesquisas na
área do trânsito visando intensificar trabalhos conjuntos e a acelerar a difusão dos
resultados de pesquisas. Criar um espaço virtual (site na internet) que possa
congregar esses núcleos e laboratórios e no qual se possam publicar artigos e
informar a respeito de congressos nacionais ou internacionais da área. Com um
mínimo de coordenação pode-se pensar em organizar uma associação de
pesquisadores do trânsito, que possa ser interligada a professores, profissionais e
estudantes de graduação e pós-graduação. Existem espaços em congressos
nacionais que podem ser utilizados, como por exemplo, aquele que nos oferece
anualmente a Sociedade Brasileira de Psicologia para fazer workshop, simpósio ou
outro tipo de reunião científica na qual todos possam se conhecer e trocar
experiências.
2.4 Ansiedade e Medo de Dirigir
A Resolução nº 80 do Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN), anexa ao
Código de Trânsito Brasileiro, instituída pela Lei nº 9.503 de 23 de setembro de 1997
(BONA PORTÃO, 1999), lista uma série de características psicológicas necessárias
aos motoristas, entre elas, a ansiedade que, além de ser uma das características
avaliadas influencia o desempenho das demais. Considerando a sua importância, é
de relevante interesse que a Psicologia realize estudos sobre a ação que a
ansiedade exerce sobre o comportamento das pessoas envolvidas no trânsito.
Etimologicamente, o conceito ansiedade é concebido como uma emoção e
emoção é aquilo que põe a pessoa em movimento. De modo geral, a emoção se
manifesta quando a pessoa é surpreendida ou quando determinada situação
ultrapassa suas possibilidades de adaptação. A emoção traduz a desadaptação e o
esforço
do
organismo
do
indivíduo
a
fim
de
restabelecer
o
equilíbrio
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momentaneamente rompido. Segundo Hoffmann (1999) as variáveis pessoais, com
as variáveis do ambiente, incidem radical e complexamente nas capacidades
psicofísicas dos condutores, na sua percepção de risco, na sua análise da situação
e na sua tomada de decisão.
Dentre os comportamentos emocionais do homem, a ansiedade configura-se
como um fator importante na situação de trânsito por interferir na capacidade
cognitiva e perceptual dos indivíduos. Os estudos sobre a ansiedade ganharam
destaque no campo da psicologia pela necessidade de explicar a natureza dos
comportamentos
ansiógenos.
A
ansiedade
caracteriza-se
por
um
estado
psicobiológico desencadeado no ser humano ao se deparar com situações que
precisam de atitudes incisivas ou imediatas (KAPLAN E SADOCK, 1993; CID 10,
1993; DSM IV 1995; MASCI, 1999). Este estado, inerente ao ser humano, tem suas
reações normalizadas ao término da situação. Em algumas pessoas essas reações
se prolongam e, até mesmo, são desencadeadas por situações irreais, promovendo
uma ansiedade incontrolável e um medo exagerado.
A ansiedade por ser considerada como um sentimento que acompanha uma
percepção geral do perigo. O seu objetivo é advertir que há algo a ser temido, ao
mesmo tempo, ela respalda o planejamento de ações na tentativa de buscar saídas,
alternativas e permite a aprendizagem de ações de enfrentamento ou fuga do
perigo. Para Masci (2008), a maioria das pessoas possui um sentido geral de perigo
que muitas vezes leva a uma interpretação catastrófica da realidade. Provavelmente
isto se deva à jornada evolutiva do homem, sua evolução biológica. Na Idade da
Pedra, ou período Pleistoceno, os perigos eram reais, imediatos e constantes, a
humanidade enfrentava em seu dia-a-dia inundações, ataque de animais e outras
adversidades que colocavam sua vida em risco.
O convívio cotidiano com riscos de vida tornou as pessoas mais alertas para
poder identificar com rapidez o perigo e assim ter mais chances e sobrevivência.
Dessa forma, a humanidade tem como herança os comportamentos de antecipação,
preocupação constante com a integridade física, mantendo-os como se a sua
preservação dependesse desse estado de constante alerta. Essa provável herança
somada com a complexidade atual da civilização, com as mudanças cada vez mais
numerosas e rápidas e com as alterações dos valores culturais acarretam novos
conflitos e ansiedades para os indivíduos. O medo, na era tecnológica, não é dirigido
19
apenas a um objeto real, mas a situações que são vivenciadas de maneira
distorcida, despertando um medo exagerado do real.
A ansiedade possui correspondentes psicológicos e fisiológicos. Com relação
aos efeitos da ansiedade no contexto psicológico observam-se confusões e
distorções perceptivas que podem interferir no aprendizado, na concentração, na
memória e, dessa forma, prejudicar a capacidade de associação (KAPLAN E
SADOCK, 1993). Se um estímulo é percebido de forma distorcida em virtude de uma
descarga ansiógena, as soluções buscadas pelo indivíduo para aquela situação
estarão pautadas na percepção equivocadas do real, levando a uma ação que pode
não ser a melhor na situação de trânsito. Onde os processos psíquicos ficam
alterados. Uma descarga forte de ansiedade pode provocar problemas de memória e
o motorista ou pedestre pode ficar sem saber como reagir frente à situação; pode
provocar distorções da atenção deslocando o foco e levando a distrações; os objetos
ou situações podem ser percebidos como próximo ou distante, rápidos ou lentos
demais, diferentemente do que de fato são. Enfim, uma descarga ansiógena pode
provocar reações inadequadas no âmbito dos processos psicológicos: pensamento,
percepção, memória, aprendizagem, atenção. No contexto fisiológico observam-se
sintomas gastrointestinais (vazio na boca do estômago, náuseas, vômitos, cólicas,
súbita necessidade de evacuar ou de micção); sintomas cardiovasculares
(batimentos cardíacos acelerados, sudorese, respiração superficial); sintomas
musculares (cefaléia, opressão no peito, tensão muscular, espasmos, torcicolo,
inquietação
e
desejo
de
movimentar-se).
Assim,
esta
sensação
difusa,
desagradável, acompanhada por uma ou mais das reações corporais anteriormente
citadas e que é chamada de ansiedade, está cada vez mais presente no cotidiano
das pessoas. Essa presença pode ocorrer de duas formas distintas, uma é dita
como normal e a outra patológica.
A ansiedade normal e patológica distinguem-se pelo tipo e efeito no
comportamento do individuo. (KAPLAN E SADOCK, 1993; MASCI, 1999). Nesse
sentido, a avaliação depende da proporcionalidade que são apresentados o perigo e
o grau de paralisação da pessoa frente à situação. “A boa ansiedade é proporcional
às dificuldades, e promove o enfrentamento saudável. A má ansiedade é
desproporcional à dificuldade e/ou improdutiva diante das dificuldades”. Assim
sendo, a “boa ansiedade” tem funções adaptativas que facilitam e protegem o
indivíduo. Ela pode atuar como um alerta a uma situação de ameaça interna ou
20
externa, promovendo a preservação, preparando o organismo para ações visando
remover ou diminuir a ameaça. Kaplan e Sadock (1993, p 415) listam situações nas
quais a ansiedade atua dessa forma, como: “ameaças de danos corporais, dor,
impotência, possível punição ou frustração de necessidades sociais ou corporais, de
separação de pessoas amadas, de uma ameaça ou sucesso ou situação social e,
em última análise, de ameaças à unidade ou integridade próprias.”.
A dualidade da relação da ansiedade no comportamento humano nos permite
afirmar que certo grau de ansiedade é até desejável durante o ato de dirigir, mas a
ansiedade exagerada deve ser controlada. Enquanto ansiedade “boa” ela pode
proporcionar um estado de atenção e concentração maior na circulação das
pessoas, Pode servir como um auxiliar mantendo as pessoas alertas e respeitando
as leis do trânsito considerando perigo constante e iminente que é circular. Bem se
sabe que ao dirigir um veículo em uma estrada cheia de curvas a atenção do
motorista é maior do que se ele dirigisse por uma estrada reta. A ansiedade
desencadeada pelo perigo (real neste caso) da estrada desperta a atenção e
concentração do motorista. A ansiedade “má” pode servir como um dificultador no
momento de tomar decisões rápidas e inesperadas provocando, pelo fato de o
estímulo ser sentido pelo sujeito de forma tão intensa, reações psicológicas de
extrema
perturbação,
causando
confusões
e
distorções
perceptivas,
comprometendo o aprendizado, a concentração e a memória, prejudicando a sua
capacidade de associação.
A ansiedade pode ser entendida como sendo um processo interno do sujeito,
desencadeado por um estímulo externo. Isto é, frente à situação de dirigir as ações
realizadas ao se deslocar – ter de ultrapassar carros, parar, aumentar ou diminuir a
velocidade, virar para a esquerda ou direita, trocar a marcha, etc. – são
comportamentos exigidos pelas vias e sobre o qual o motorista terá de adaptar o
carro para fluir e atingir seu objetivo. Estas exigências remetem as pessoas à sua
história com outras situações semelhantes que tenha vivenciado, nas quais interagiu
com o meio e aprendeu como fazê-lo, e por isso desencadeiam maior ou menor grau
de ansiedade quando tiver de decidir o que fazer. Nesse sentido, frente a uma
situação na qual exige uma tomada de decisão (estímulo externo) o indivíduo
resgatará (em sua memória) situações semelhantes já vivenciadas para saber como
se comportar, se essas ações foram eficazes em outras ocasiões, não tendo ele se
envolvido em acidentes, a ansiedade desencadeada será menor e maior controle o
21
motorista terá na situação. Mas, se sua ação anterior o levou a se envolver em
acidentes ou se ele não vivenciou situações semelhantes, a ansiedade
desencadeada provavelmente será maior, dificultando a sua tomada de decisão.
A resolução nº 80 do CONTRAN (BONA PORTÃO, 1999) fornece critérios
psicológicos a serem avaliados e indispensáveis ao ato de dirigir. Entre eles
encontram-se a atenção; a percepção; a tomada de decisão; a motricidade e reação;
a cognição; o nível mental, bem como a ansiedade e excitabilidade; a ausência de
quadro patológico; o controle da agressividade e da ansiedade; o equilíbrio
emocional; o ajustamento pessoal e demais problemas correlatos que podem ir
contra a segurança no trânsito. Além disto, há habilidades específicas que também
devem ser consideradas como o tempo de reação; a atenção concentrada; a rapidez
de raciocínio; as relações espaciais e outras que se achar necessárias. Essas
características a serem observadas são inter-relacionadas e a ansiedade deve ser
analisada como exercendo efeitos sobre e recebendo influências das demais
características do comportamento.
A atenção pode ser entendida como um esforço sobre alguma coisa, que fica
completamente comprometido em uma pessoa que se apresenta ansiosa, nervosa,
preocupada, cujo interesse é achar ou evitar o seu temor, desviando, assim, seu
foco, sua atenção. Considerando que a atenção é uma preparação para a percepção
de algum objeto ou situação, por si a percepção também será afetada pela
ansiedade. Aprofundando um pouco mais, deve-se lembrar que a percepção é a
tomada de consciência do real e é realizada pelos órgãos dos sentidos. Assim
sendo, tem de ser admitir que a ansiedade altera as sensações, provocando uma
percepção equivocada do real, e consequentemente, dos mecanismos sensórioperceptivo.
A dificuldade de concentração, a irritabilidade, a fadigabilidade podem
influenciar negativamente na tomada de decisão, que é outro aspecto relevante ao
ato de dirigir, pois é o elo entre o que está acontecendo no ambiente (sinalização,
pedestres, outros veículos, condições das vias, etc.) e as ações compatíveis com
esse ambiente, que devem ser realizadas. Se a percepção e a capacidade de
julgamento estiverem comprometidas pela ansiedade, a reação dessa pessoa, seja
ela reflexa ou voluntária, também ficará comprometida e, numa situação na qual se
exija uma resposta rápida, a possibilidade de equívoco dessa, aumenta
consideravelmente. Como indica Kaplan e Sadock (1993), a memória também fica
22
comprometida com a ansiedade excessiva e a aprendizagem (diretamente
relacionada com a memória) também sofre prejuízos levando o sujeito ao
esquecimento, ao “branco”, de fatores importantes do trânsito.
A condução de veículos exige uma série de conhecimentos prévios (obtidos
pela aprendizagem), tais como: legislação de trânsito, sinalizações, funções e forma
de utilização dos equipamentos do veículo e outros. Assim como exige também a
compreensão dessas informações advindas do ambiente para poder tomar uma
decisão e agir de maneira apropriada. Durante todo esse processo, o indivíduo como
um todo é acionado, ou seja, todas as suas capacidades cognitivas, emotivas,
motoras entram em ação a fim de chegar ao seu objetivo. Um certo nível de
ansiedade é necessário para que o indivíduo permaneça atento e alerta. No entanto,
se o nível de ansiedade for elevado, por sua vez, todo esse processo fica
prejudicado.
Segundo Rozestraten (1988), pesquisas apontam que um dos mais
importantes fatores humanos causadores de acidente é a falta de atenção,
chegando a ser indicada como a principal causa, numa pesquisa do Transport Road
Research Laboratory, com índices de 23% referente ao erro do motorista e 44%
como erro do pedestre.
Em um estudo realizado na cidade de Londrina (PR) por Andrade e Jorge
(2001) evidenciam que entre os acidentes com pedestres, uma parcela considerável
de vítimas sofre acidentes nas proximidades ou defronte à própria residência, bem
como esses pedestres se constituem, sobretudo, por crianças e idosos, grupo que
tem maior restrição de mobilidade, tornando-se, dessa forma, mais exposto a
acidentes nos arredores de sua própria residência. De acordo com Rozestraten
(1988), quando há uma “falha na detecção de um indício, ou na concentração sobre
um indício detectado, significa, quase com certeza, um acidente”. Assim, um nível de
ansiedade elevado pode prejudicar a atenção do motorista ou pedestre, promovendo
percepções distorcidas do real, induzindo ao erro na manobra e, consequentemente,
ao acidente. Como lembra Rozestraten (1988), o trânsito supõe deslocamento de
pessoas e veículos e os deslocamentos se realizam por meio de comportamentos,
sejam estes assertivos ou não.
Por outro lado, a origem do medo de dirigir está nos motivos particulares de
cada pessoa que, em sua história de vida, apresenta dificuldades peculiares. Se, o
indivíduo sofreu algum acidente automobilístico ou não teve apoio adequado da
23
família ou do instrutor, isso poderá desencadear o medo. Se, no momento inicial do
aprendizado, sentiu-se desamparado, tal fato pode gerar dificuldade, sentimento de
inferioridade e resistência em dirigir um automóvel. (VIECILI, J. 2003).
O aprendizado é algo delicado e, muitas vezes, as pessoas não se dão conta
disso. É como uma criança que está aprendendo a andar ou como uma criança ou
um idoso que está aprendendo a nadar.
Mais do que um sentimento o medo é uma emoção. Não apenas humana,
mas uma emoção presente em todos os seres vivos. Pesquisas realizadas
comprovam que quanto maior a capacidade cerebral de um ser maior a
possibilidade de se prever o futuro e, com isso, temê-lo. Assim, sobra o ser humano
o legado de ser o mais medroso entre todas as espécies. (VIECILI, J. 2003).
Na verdade, e isto é algo de que ás vezes demoramos em nos dar conta, o
medo é muito mais do que útil, é decisivamente necessário para a sobrevivência de
qualquer ser. O medo é um fator de autoproteção, de autopreservação. Sem o
componente medo funcionando em nossas vias, certamente faríamos coisas que
nos colocariam em sérios apuros e dificilmente teríamos qualquer chance de
sobreviver.
Aos
poucos,
conforme
a
vida
se
desenvolve,
vamos
aprendendo,
intercambiando com o ambiente e interiorizando aquilo que emoção e razão
saberão, conjuntamente, identificar como objetos de temor. Aprendemos sobre o
mundo e sobre o que dele nos ameaça. O medo torna-se, assim, um amigo, um
cúmplice, um cão de guarda que dará o sinal quando o perigo estiver próximo.
Há, entretanto, situações que ocorrem na vida de muitas pessoas, em que o
medo se apresenta de uma forma exagerada ou mal direcionada causando, em
muitas destas vezes, prejuízos e complicações. De um modo genérico, deixando de
lado, por ora, subdivisões ou classificações mais específicas, chamamos a este
medo exagerado ou desproporcional de fobia. (VIECILI, J. 2003).
Como todos sabem, há inúmeros tipos de fobias ou, e outras palavras,
incontáveis situações ou coisas que podem ser estímulos ou objetos aversivos para
diferentes pessoas. Temos, assim, pessoas que têm fobia de lugares fechados ou
lugares abertos, falar em público, ou as mais específicas como de cachorro, água,
altura ou dirigir.
Muitas vezes, e é daí que temos a desagradável realidade da incompreensão
que o fóbico em geral enfrenta acerca de seu problema junto aos que o cercam, as
24
fobias se referem a coisas ou atividades que são absolutamente normais e
corriqueiras para a maioria das pessoas. (VIECILI, J. 2003).
É importante observar que o medo, ou fobia de dirigir tem algumas
características extremamente peculiares, ou seja, características que não vemos em
outros tipos de medo. Primeiramente, o medo de dirigir pode ter diferentes vertentes
ou estímulos, uma vez que dirigir é uma atividade múltipla e que envolve uma
enorme gama de comportamentos. Desta forma, há pessoas cujo medo refere-se
especificamente à possibilidade da perda do controle da máquina, para outras, o que
causa ansiedade é atropelar alguém, passar por túneis ou viadutos. Há, ainda, o
fator da exposição que pode fazer a pessoa apresentar os medos de ser observada,
criticada ou de dar vexame. (BELLINA, 2005).
Dirigir é um comportamento aprendido, que envolve habilidades motoras.
Para que esse comportamento se torne automático é necessário que a pessoa que
esteja voltando a dirigir ou mesmo começando a fazê-lo, exercite esta nova
habilidade enfrentando o trânsito real. (BELLINA, 2005).
Enfrentar o trânsito real gera, nos fóbicos de volante, uma série de
preocupações. Estar exposto à observação e crítica dos outros é uma situação que
incomoda muitas pessoas. Além disso, parte dos motoristas e pedestres que está
nas ruas sente-se no direito de avaliar e julgar a atuação dos outros, sendo estes
novatos ou experientes no volante. (BELLINA, 2005).
Dirigir, então, é um aprendizado que deve ser desenvolvido diante das
condições reais, enfrentando o trânsito e todas as situações que ocorrem no dia-adia de uma cidade.
Um aspecto extremamente importante de qualquer fobia, e neste ponto a de
dirigir não é diferente, é o fato de que, ainda que com certeza se possa dizer que ela
é um problema na vida de qualquer pessoa, pois não há como se a conceber de
outro modo, este problema será maior ou menor de acordo com a importância da
limitação que ele impõe a esta pessoa. Exemplificando, imaginemos uma pessoa
com fobia de cobra e que more em uma cidade grande. Isto não a atrapalharia, pois
é pouco provável que ela entre em contato com seu objeto fóbico. Obviamente esta
pessoa não terá maiores problemas em seu dia a dia, já que em nada lhe
atrapalhará o fato de temê-las. Já com o medo, ou fobia, que se refere ao carro, não
acontece assim. Quem tem este tipo de temor, quase que invariavelmente,
experimenta dificuldades sérias em seu dia a dia. (BELLINA, 2005).
25
Um outro ponto bastante relevante passa pela questão da autoestima, que
normalmente, para o fóbico de volante, é bastante afetada. Como dizer para o meu
chefe que não posso fazer certo trabalho porque sou, apesar de habilitado, incapaz
de dirigir até determinado lugar? Como dizer a meu filho que, apesar de eu ter um
carro, não posso levá-lo ao clube porque passar por aquela avenida é algo que me
aterroriza?
A sociedade, o mundo, são, via de regra, muito cruéis com o fóbico de
volante, julgando-o, diminuindo-o e o ridicularizando, acusando-o de fraqueza,
frescura ou incompetência, já que para muitos o aprendizado de uma habilidade
motora (como é o dirigir) é algo muito simples e natural, ficando inconcebível para
eles entender que indivíduos não dirijam por terem medo. Fica implícito, portanto,
que o “medo de dirigir”, está ligado à incapacidade de aprender. Nada disso! O
medo de dirigir, como qualquer fobia, é um transtorno psicológico e, como tal, pode
e deve ser tratado. Muitas vezes, e isto é importante que se sublinhe desde já, o
primeiro passo é o mais difícil de ser dado. No campo das fobias, mesmo com o
enorme número de pessoas que pelo mundo afora sofrem com este tipo de
problema, admiti-lo, tanto diante dos outros quanto para si próprio, é a parte mais
difícil. Que se medite sobre isto! Em todos os campos da vida, admitir um problema
é o primeiro degrau para se chegar à sua solução. Negá-lo é, sem dúvida, torná-lo
ainda mais forte. (BELLINA, 2005).
O primeiro, e extremamente significativo, dado que temos nos mostra que
mais de 95% dos pacientes são do sexo feminino. A maior parte está na faixa etária
que vai dos 30 aos 48 anos de idade. 50% tem curso superior completo e outros
40% o segundo grau. Mais de 95% possuem habilitação. 85% possuem carro
próprio. Grande parte queixa-se de outros tipos de fobias, sendo que as de água e
de altura são as campeãs. 28% nunca sofreram nenhum acidente de carro e 40% o
sofreram, mas não estavam dirigindo. Devo ressaltar que, em nossa pesquisa, o
termo acidente refere-se qualquer evento que ocorra, desde pequenas batidas até
acidentes de grandes proporções. (ROZESTRATEN, J. A. 2003).
Entre as reações físicas consequentes da fobia, temos como mais citadas à
sudorese (55%), os tremores (49%), a taquicardia (42%) e a secura na boca (33%).
Quanto às consequências sociais do problema, vamos dos problemas profissionais
ao lazer, passando quase sempre pelo âmbito familiar e amoroso. (ROZESTRATEN,
J. A. 2003).
26
Uma das causas de ansiedade na infância é o medo do abandono. Talvez
esse medo do abandono, do desamparo, da solidão e do desconhecido permaneça
ao longo da vida, remetendo-nos, assim, a uma necessidade primitiva do outro para
alívio da ansiedade. (BELLINA, 2005).
Dirigir um automóvel é uma situação desconhecida. Pode ser sentida como
uma situação de perigo que rememora a sensação de desamparo vivida na infância.
O carro é sentido como objeto ameaçador ao equilíbrio psíquico. O estado
emocional ao dirigir é um estado de ansiedade. Alguns sintomas físicos são:
taquicardia, sudorese, falta de ar, tremor, fraqueza nas pernas, tontura, dor de
cabeça, dores no corpo, diarreia e outros. Os sintomas psicológicos são: sensação
de que se está num ambiente estranho (o carro), pesadelos, sensação de
incapacidade e impotência, sensação de que o pior vai ocorrer (acidentes, por
exemplo) e outros. Pela manifestação dos sintomas, o sujeito poderá perceber como
está agindo, o que está evitando, de que forma está conduzindo essa questão em
sua vida. (BELLINA, 2005). É próprio do ser humano sentir angustia e medo, e
pode-se pensar se o carro não está representando a angustia do sujeito, uma
angustia que é muito mais ampla (existencial). Ele elege um objeto para representar
a sua angústia existencial, constrói essa representação mental: “É o carro que me
dá angústia”, e controla a sua própria, criando justificativas para evitar o ato de
dirigir. As justificativas são não dirigir porque ainda não comprou o carro, não dirigir
porque o carro precisa passar pelo mecânico, etc.
A vida cotidiana estável, já estabelecida há vários anos, conduz a uma
acomodação que pode esconder a agressividade, sendo mais fácil manter a vida
num estado de passividade. A mulher, por exemplo, que se acostumou a depender
do marido que dirige ou do filho que dirige, certamente não encontrará motivos
suficientes para assumir a posição de motorista. Está acostumada a ser passageira.
O interessante é que essa mulher poderá aparentar ser calma e passiva, mas onde
está a sua agressividade? Controla-se com sua rigidez mental, com medo de a
agressividade escapar.
Todo ser humano possui agressividade, seja voltada para dentro, seja para
fora. Ela se volta para dentro quando a pessoa se culpa, se pune, acha que está
sempre errada e tem uma sensação de insatisfação constante. E se volta para o
externo quando a pessoa consegue canalizar a sua agressividade para a ação.
Dirigir um carro, fazer uma faculdade, escrever um livro, etc. (BELLINA, 2005).
27
Quanto maior a defesa, maior o medo. As pessoas muito defensivas e muito
rígidas sentem um medo enorme. Situações em que as pessoas negam os
problemas e os escondem por meio de alguma euforia (uma falsa alegria) são sinais
de que o medo é imenso. Há momento em que o medo e o desejo estão juntos: há
vontade de dirigir e há medo de dirigir. É um conflito de forças opostas na mente:
uma força dizendo sim, e outra dizendo não. A mente humana sempre busca
satisfação e equilíbrio. Então trabalhará no sentido de evitar o desprazer. Se dirigir
provoca uma tensão desagradável (uma quantidade de dor excessiva), o desprazer
será evitado. O psiquismo produzirá prazer pelo alívio que acontece ao parar de
dirigir. Mas quando a pessoa pára de dirigir poderá surgir à culpa porque ela parou
novamente por alguns meses ou anos, e terá de começar tudo de novo em outros
momentos da vida. É como um regime de emagrecimento, dependência de álcool e
drogas. A pessoa consegue melhorar, passa por uma fase mais agradável, depois
sofre uma recaída. E, às vezes, a história se repete interminavelmente. (BELLINA,
2005).
Como o medo tem a função de proteger, estabelece um limite que diz:
“Pare!”. Então se pode perguntar se esse limite está sendo restrito demais na vida.
Pode-se questionar sobre a possibilidade de esse limite ser mudado ou reformulado.
Ele está antigo demais e já está sendo uma armadilha contra uma vida repleta de
possibilidades. Será que esse limite chamado medo não está excluindo as
potencialidades que não estão conseguindo aparecer?
Outra questão: como se explica o fato de que todas ás vezes em que tem a
oportunidade de se libertar do medo e de sentir prazer em dirigir, a pessoa adoece?
O prazer pode ser ameaçador e pode promover um rompimento do modelo mental
antigo e conhecido. Diante da possibilidade de prazer, a pessoa libera a angústia
reprimida (do passado). Talvez no passado não pôde ter prazer porque ele gerava
culpa. Então a pessoa fica na armadilha: não consegue se abrir ao novo e
experimentar a felicidade. Reclama, vive insatisfeita numa situação que parece sem
saída. (BELLINA, 2005).
O passageiro é dependente de alguém que dirige para ele, e aqui se
estabelece uma relação de filho pequeno. Ele foi assim no passado com os pais.
Continua assim. Essa posição traduz conforto. Os outros fazem as coisas para ele,
ele é conduzido para os lugares e não precisa tomar a iniciativa. Sente-se querido e
ainda pequeno para enfrentar a direção da vida. Não conquistou o seu lugar ou
28
ainda não sabe qual é o seu lugar. É o sujeito sem identidade, excluído, culpado. Ao
mesmo tempo em que ele se cobra para esclarecer qual é o seu lugar, as outras
pessoas também o cobram. A culpa nada mais é do que a reafirmação daquilo que a
pessoa acredita que é: sem identidade. Não consegue sair dessa situação porque
tem medo da mudança, é mais cômodo manter a subjetividade com essa
organização estável, sendo o passageiro e não o motorista. Tornar-se o motorista
não será uma mudança assustadora, mais difícil ainda do que ficar na mesma? Essa
é a pergunta que demonstra o temor e a tendência forte de ficar na mesma posição.
(BELLINA, 2005). Existem pessoas que não conseguem entrar em lugares fechados,
pois começam a passar mal. O que há de ruim no lugar? Nada. É um problema
interno: é um fantasma que atua na vida da pessoa. O mesmo ocorre com o carro.
Não é o carro. O carro pode ser eliminado, mas o sentimento ruim e fingir que está
tudo bem, mas ele permanece ali (na memória). Todas as experiências são
vivenciadas e registradas na memória. A pessoa pode não querer falar sobre isso,
mas o sentimento existe. A pessoa pode resolver dirigir ou não, mais o sentimento
existe.
O medo intenso do carro abre a possibilidade de pensar mais sobre si
mesmo. Se há esse medo, que tem a sua expressão no automóvel, como será que
está a vida emocional? Quais as emoções que estão assustando? Como estão os
relacionamentos? O que é temido nos relacionamentos? Os relacionamentos geram
medo: de perder a pessoa amada, de não ser querido, etc.
O medo, como qualquer outra emoção humana, é aprendido. É uma
sensação que precede alterações corporais bem marcantes: suor, taquicardia,
desconforto abdominal etc. Quando essas reações físicas se apresentam de forma
intensa o individuo é levado a uma situação extremamente insuportável. Sendo
pressentida como se algo de muito ruim fosse lhe acontecer.
2.5 Superando o Medo de Dirigir nas Auto-Escolas
O motorista novo vai sempre pelo mesmo caminho. Sente medo de
experimentar algo diferente. Quando tenta algo diferente, sente medo de não
consegui. Então ele pensa e tenta decidir se fica no mesmo caminho conhecido ou
se experimenta outro. Se resolver experimentar, é um desafio a ser vencido. Vence
e sente-se vitorioso. Apesar de todas as dificuldades para acertar o caminho,
29
acertou. Se a experiência foi boa, com um nível de ansiedade suportável, ele vai
querer tentar de novo. Se a experiência foi extremamente ansiosa e com algum
receio de tentar novamente. (BELLINA, 2005).
Quando a ansiedade não diminui e as experiências com o carro passam a ser
muito difíceis, o aluno poderá tentar algum curso de aperfeiçoamento ou um curso
específico para perder o medo de dirigir. Atualmente, há vários cursos com a
finalidade de ensinar a técnica ao aluno e desenvolver a autoconfiança. Os cursos
geralmente oferecem um atendimento psicológico e aulas práticas no carro, onde os
instrutores das escolas para medo de dirigir colocam-se como especializados neste
trabalho. Eles estão mais acostumados com alunos com dificuldades e parecem ter
mais paciência.
Muitas pessoas tentam aprender com o marido, namorado, pai, irmão, etc.,
mas não parecem ter bons resultados. Como a pessoa que se propõe a ensinar não
tem um preparo técnico, o relacionamento pode se desgastar e acabar com uma
sensação de que não se sabe. Quando a pessoa sente e diz: “Eu sei”, ela está
segura e certa, está em uma posição confortável. Quando a pessoa sente e diz: “Eu
não sei”, ela está insegura pelo próprio fato de não saber, pelas pressões sociais,
pelas cobranças internas, por uma enorme expectativa em saber e aprender logo,
pela sensação de estranheza, entre outras emoções. Ela pensa em quem vai ter
paciência com as suas dificuldades, com o ritmo de seu aprendizado, com o seu alto
grau de ansiedade. (BELLINA, 2005).
O próprio aluno é que é testado e exigido nesta situação com relação ao seu
grau de paciência. Ele terá que desenvolver uma grande paciência com seus erros e
com as várias fases do aprendizado. Muitas vezes, a sensação de incapacidade é
intensa e o faz desistir. A sua convicção o leva a tentar por vários motivos, sua força
o leva a crer que vai prosseguir, mas em determinado momento, uma emoção forte
o impede. Depois de algum tempo, o aluno poderá retornar ao aprendizado e
parecer renovado e com uma força nova. Esse desenvolvimento da força interna é
gradual, não ocorre automaticamente e rapidamente. Cada pessoa tem o seu tempo
interno de elaboração de emoções. O grau de ansiedade pode ser muito elevado e
não sumir como uma mágica. Há, entretanto, um trabalho de persistência e
autoconhecimento. (BELLINA, 2005).
30
3 . MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 Ética
A presente pesquisa segue as exigências éticas e científicas fundamentais
conforme determina o Conselho Nacional de Saúde – CNS nº 196/96 do Decreto nº
93933 de 14 de janeiro de 1987 – a qual determina as diretrizes e normas
regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos:
A identidade dos sujeitos da pesquisa segue preservada, conforme apregoa
a Resolução 196/96 do CNS-MS, visto que, não foi necessário identificar-se ao
responder o questionário. Todos assinaram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE). Foram coletados dados a respeito de condutores que possui o
medo de dirigir, para que se possa obter maiores informações sobre a população
pesquisada.
3.2- Tipo de Pesquisa
Trata-se de um estudo exploratório-descritivo, com dupla, combinação de
abordagens, a saber, quantitativa e qualitativa.
3.3 – Universo
O presente estudo abrangeu a população da cidade de Macapá-AP. As quais
foram abordadas o quantitativo de 10 indivíduos para responder o questionário.
3.4 – Sujeitos da Amostra
A amostra deu-se por conveniência quando lançou-se mão os peritos
psicólogos a abordar condutores habilitados com a CNH, que estavam disponíveis
para responder o questionário no período 20/10/2012 à 02/11/2012 por meio de
indicação.
31
3.5 – Instrumentos de Coleta de Dados
Construiu-se um instrumento estruturado, um questionário com perguntas
objetivas que levavam a repostas fechadas. Composto por 15 perguntas, que
abrange a caracterização dos sujeitos, cujas variáveis incorporadas tais como idade,
profissão, sexo, nível de escolaridade, porque não dirige e o tempo que não dirige
foram importantes para aplicação.
3.6 – Planejamento para Coleta dos Dados
Na oportunidade, o questionário foi entregue pessoalmente aos candidatos e
condutores com carteira nacional de habilitação num total de 10 participantes, que
concordaram em responder e participar da pesquisa. Foi respondido 1 (um)
questionário com 11 perguntas.
3.7 – Planejamento para Análise do Dados
Os dados foram tratados e analisados com auxílio de dados estatísticos
(citados no site). Quanto à parte qualitativa recorreu se a análise das respostas
marcadas quando ao medo de dirigir.
32
4.0 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados obtidos na pesquisa de campo realizada com aplicação do
questionário com perguntas fechadas foram os seguintes:
Gráfico 01 - Percepção do medo ao dirigir, em porcentagem, de acordo com o gênero do
motorista.
SEXO
0% 0%
30%
Masculino
Feminino
70%
Fonte: Dados de Pesquisa. Macapá/AP. 2012.
O gráfico 1, predominantemente o sexo masculino apresenta o resultado com
uma incidência maior em ter medo de dirigir na cidade de Macapá.
33
Gráfico 02: Sintomas apresentados pelos motoristas que sentem medo de dirigir.
Fonte: Dados da Pesquisa. Macapá/AP. 2012.
O gráfico apresenta uma característica dos sujeitos que tem medo de dirigir
quando “pegam” um veículo para dirigir apresentam no contexto fisiológico sintomas
gastrointestinais (vazio na boca do estômago, náuseas, vômitos, cólicas, súbita
necessidade de evacuar ou de micção); sintomas cardiovasculares (batimentos
cardíacos acelerados, sudorese, respiração superficial); sintomas musculares
(cefaleia, opressão no peito, tensão muscular, espasmos, torcicolo, inquietação e
desejo de movimentar-se).
De acordo com, Tillmann e Hobbs (1949, apud Rozestraten, 1988) afirmavam
que a personalidade não muda quando nos sentamos diante do volante do carro. O
que pode acontecer é que certos traços que normalmente são controlados na nossa
convivência com os outros, comecem a se manifestar mais abertamente.
Normalmente pode-se dizer que o homem dirige assim como vive.
34
Gráfico 03: Respostas apresentadas ao medo de dirigir
Fonte: Dados da Pesquisa. Macapá/AP. 2012.
A sociedade, o mundo, são, via de regra, muito cruéis com o fóbico de
volante, julgando-o, diminuindo-o e o ridicularizando, acusando-o de fraqueza,
frescura ou incompetência, já que para muitos o aprendizado de uma habilidade
motora (como é o dirigir) é algo muito simples e natural, ficando inconcebível para
eles entender que indivíduos não dirijam por terem medo. Fica implícito, portanto,
que o “medo de dirigir”, está ligado à incapacidade de aprender. Nada disso! O
medo de dirigir, como qualquer fobia, é um transtorno psicológico e, como tal, pode
e deve ser tratado. Muitas vezes, e isto é importante que se sublinhe desde já, o
primeiro passo é o mais difícil de ser dado. No campo das fobias, mesmo com o
enorme número de pessoas que pelo mundo afora sofrem com este tipo de
problema, admiti-lo, tanto diante dos outros quanto para si próprio, é a parte mais
difícil.
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Gráfico 04: Reação apresentada ao obstáculos
Quando você pensa em dirigir já começa a
imaginar se houver algum desvio ou um
obstáculo no traçado do meu caminho, eu:
0% 0%
a) Vou desistir, sei que não vou
conseguir mesmo vencer tantos
obstáculos.
40%
b) Vou tentar, mas quero que
alguém vá comigo.
60%
c) Não me preocupo, vou pegar
o carro e sair.
Fonte: Dados da Pesquisa. Macapá/AP. 2012.
O gráfico apresentado mostra uma grande porcentagem que diz que vai tentar
mais precisa que alguém a acompanhe no ato de dirigir para dar mais segurança
pois nesse espaço urbano, há uma disputa e uma competição pelo espaço onde o
mesmo é organizado para o automóvel e não para os pedestres, ciclistas e outros
não motorizados. Se o espaço é orientado para o automóvel, é também para a
velocidade, e os outros participantes se tornam fortemente ameaçados, tornando o
espaço público um local de perigo constante, conforme entende Vasconcelos (1985):
o dono de um veículo se sente com mais direito à circulação do que um pedestre,
por exemplo. Assim como um profissional do Trânsito (caminhoneiro ou motorista de
ônibus) se sente com mais direitos do que um ciclista ou um motociclista.
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Gráfico 05: Medo de perder o controle do veículo
Fonte: Dados da Pesquisa. Macapá/AP. 2012.
No gráfico mostra-se que a maioria dos entrevistados diz que às vezes
sentem medo de perder o controle do veículo.
É importante observar que o medo, ou fobia de dirigir tem algumas
características extremamente peculiares, ou seja, características que não vemos em
outros tipos de medo. Primeiramente, o medo de dirigir pode ter diferentes vertentes
ou estímulos, uma vez que dirigir é uma atividade múltipla e que envolve uma
enorme gama de comportamentos. Desta forma, há pessoas cujo medo refere-se
especificamente à possibilidade da perda do controle da máquina.
37
Gráfico 06: Respostas ao medo de serem percebidas no trânsito
Fonte: Dados da Pesquisa. Macapá/AP. 2012.
Primeiramente, o medo de dirigir pode ter diferentes vertentes ou estímulos,
uma vez que dirigir é uma atividade múltipla e que envolve uma enorme gama de
comportamentos sendo o que causa a ansiedade é o medo de atropelar alguém,
passar por túneis ou viadutos. Há, ainda, o fator da exposição que pode fazer a
pessoa apresentar os medos de ser observada, criticada ou de dar vexame.
Enfrentar o trânsito real gera, nos fóbicos de volante, uma série de
preocupações. Estar exposto à observação e crítica dos outros é uma situação que
incomoda muitas pessoas. Além disso, parte dos motoristas e pedestres que está
nas ruas sente-se no direito de avaliar e julgar a atuação dos outros, sendo estes
novatos ou experientes no volante.
38
Gráfico 07: Oculta o medo de dirigir com falta de prática e/ou insegurança
Fonte: Dados da Pesquisa. Macapá/AP. 2012.
O gráfico mostra o resultado predominante onde os indivíduos que tem medo
de dirigir falam sobre esse medo diferentemente da realizada encontrada geralmente
onde as famílias, nas escolas e na sociedade, em geral, há um desmerecimento em
relação ao medo, um desprezo como se fosse algo menor, sem importância alguma.
Não se fala sobre o medo, e, quando ele é sentido, às vezes é percebido como se
fosse algo proibido. Os meninos, desde pequenos são acostumados a brincar de
carrinhos e têm de ser os “fortes”. As meninas vivem num ambiente mais protegido e
têm de ser as “belas”. Sentir medo é visto como algo sem importância ou é
interpretado como algo patológico. Dessa forma, os nossos medos são mal
compreendidos.
39
Gráfico 08: Renovar a Carteira Nacional de Habilitação
Fonte: Dados da Pesquisa. Macapá/AP. 2012.
É próprio do ser humano sentir angustia e medo, e pode-se pensar se o carro
não está representando a angustia do sujeito, uma angustia que é muito mais ampla
(existencial). Ele elege um objeto para representar a sua angústia existencial,
constrói essa representação mental: “É o carro que me dá angústia”, e controla a
sua própria, criando justificativas para evitar o ato de dirigir. As justificativas são não
dirigir porque ainda não comprou o carro, não dirigir porque o carro precisa passar
pelo mecânico, etc.
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Gráfico 09: Quando pensa em outros condutores
Fonte: Dados da Pesquisa. Macapá/AP. 2012.
De acordo com o gráfico apresentado a maioria dos participantes respondeu
que considera que atrapalha os outros motoristas e se preocupa com isso. Nós
sabemos que a ansiedade por ser considerada como um sentimento que
acompanha uma percepção geral do perigo. O seu objetivo é advertir que há algo a
ser temido, ao mesmo tempo, ela respalda o planejamento de ações na tentativa de
buscar saídas, alternativas e permite a aprendizagem de ações de enfrentamento ou
fuga do perigo. Para Masci, a maioria das pessoas possui um sentido geral de
perigo que muitas vezes leva a uma interpretação catastrófica da realidade. Esses
são os pensamentos e sentimentos dos condutores que tem medo de dirigir.
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Gráfico 10: Você consegue dirigir sozinho(a)
Fonte: Dados da Pesquisa. Macapá/AP. 2012.
As dificuldades no ato de dirigir em si praticamente não existem; geralmente,
as pessoas com trauma dirigem bem, tecnicamente. O desprazer ao dirigir vem do
material reprimido do passado que está tentando se expressar agora no ato de
dirigir. Então a pessoa chora, sente-se tão mal física e emocionalmente que pode
não conseguir levantar da cama por causa da depressão.
Nessa situação difícil, o emocional é testado: se vai ter força psíquica para
mudar a situação ou se vai manter a defesa para se proteger da explosão de um
material reprimido doloroso do passado.
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Gráfico 11: Se já pensou em procurar ajuda
Fonte: Dados da Pesquisa. Macapá/AP. 2012.
Muitas pessoas tentam aprender com o marido, esposa, namorado, namorada
pai, irmão, etc., mas não parecem ter bons resultados. Como a pessoa que se
propõe a ensinar não tem um preparo técnico, o relacionamento pode se desgastar
e acabar com uma sensação de que não se sabe. Quando a pessoa sente e diz: “Eu
sei”, ela está segura e certa, está em uma posição confortável. Quando a pessoa
sente e diz: “Eu não sei”, ela está insegura pelo próprio fato de não saber, pelas
pressões sociais, pelas cobranças internas, por uma enorme expectativa em saber e
aprender logo, pela sensação de estranheza, entre outras emoções. Ela pensa em
quem vai ter paciência com as suas dificuldades, com o ritmo de seu aprendizado,
com o seu alto grau de ansiedade.
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Gráfico 12: Acha que você tem
Fonte: Dados da Pesquisa. Macapá/AP. 2012.
No gráfico citado acima, o índice mais elevado dos condutores avaliados
acreditam que tem medo, fobia, falta de prática e insegurança no ato de dirigir.
Entende-se que a origem do medo de dirigir está nos motivos particulares de
cada pessoa que, em sua história de vida, apresenta dificuldades peculiares. Se, o
indivíduo sofreu algum acidente automobilístico ou não teve apoio adequado da
família ou do instrutor, isso poderá desencadear o medo.
Há, entretanto, situações que ocorrem na vida de muitas pessoas, em que o
medo se apresenta de uma forma exagerada ou mal direcionada causando, em
muitas destas vezes, prejuízos e complicações. De um modo genérico, deixando de
lado, por ora, subdivisões ou classificações mais específicas, chamamos a este
medo exagerado ou desproporcional de fobia.
A atuação do Psicólogo consiste em trabalhar com as fobias de pessoas que,
apesar de possuírem a Carteira Nacional de Habilitação e terem carro na garagem,
não tem coragem de trafegar na via pública. Já existem métodos psicoterapêuticos
realizados no próprio carro ou em situações similares que procuram dessensibilizar
comportamentos fóbicos e suas variantes.
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Gráfico 13: O que você aprendeu na AutoEscola.
Fonte: Dados da Pesquisa. Macapá/AP. 2012.
A maioria dos candidatos responder que aprenderam na Autoescola tudo que
era necessário para realizar uma direção segura e uma direção defensiva.
Gráfico 14: Quando pensa em sair de casa
Fonte: Dados da Pesquisa. Macapá/AP. 2012.
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Para algumas pessoas, aos 18 anos não era importante dirigir, não havia
interesse, outras coisas na vida eram mais interessantes. Não havia motivação, pois
suas vidas estavam bem estruturadas, andando de táxi, metrô ou ônibus. Outras
pessoas tentaram dirigir e desistiram porque não gostaram da experiência, elas
assumem não ter gostado e não querem mais tentar.
Em relação ao medo de dirigir, a pessoa vai procurar um auxílio profissional
quando percebe que sua vida está muito “impedida”. Percebe que ela não está
fluindo como o desejado. Se essa sensação for muito forte, será transformadora, ou
seja, mudará a vida de alguma forma. Caso contrário, a pessoa aprenderá a lidar
com a vida de tal forma a “comportar” esse medo. Perceberá vantagens ao não
dirigir como, por exemplo, proteção de alguém que dirige, vida menos sedentária
(poderá caminhar mais para ir até o ponto de ônibus, andar de bicicleta, etc).
Acabará por encontrar várias formas de evitar a situação de dirigir um automóvel.
Gráfico 15: Tempo, em anos, em que os motoristas que tem medo de dirigir passam sem pegar
no volante de um automóvel.
Fonte: Dados da Pesquisa. Macapá/AP. 2012.
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Identificar as características apresentadas por condutores que possui o medo
de dirigir e esses fatores internos e externos que influenciaram na potencialização
deste medo tornando- exagerado foi o desafio deste extenso trabalho de
monografia. Para o entendimento destes fatores foi importante à elucidação sobre o
trânsito, entendido como tríade que podemos chamar de homem, via e veículo.
Para atingir o resultado apresentado abaixo foi necessário a realização de
entrevista investigando fatores apresentados com o medo de dirigir. Entende-se que
algumas características são fundamentais para que se realize uma direção segura e
defensiva. A primeira característica é a ansiedade. Todos nós possuímos ansiedade,
só que uns possui mais e outros menos. É saudável possuirmos um pouco de
ansiedade que leva o indivíduo a se preparar para um evento que irá realizar,
exemplo, quando vai fazer a prova prática para a CNH, a tendência é que se prepare
antecipadamente aprendendo a dirigir. O que se torna prejudicial é um nível de
ansiedade exagerado que leva o sujeito a ter medo de errar apresentando uma
característica de pessoas perfeccionistas. Um sujeito que apresenta este perfil
geralmente possui baixa autoestima, pois sabemos que ninguém faz algo perfeito
ainda mais quando se está aprendendo, quando se refere ao ato de dirigir no qual se
aprende diariamente aprimorando as experiências no veículo e para isso o erro faz
parte do processo de aprendizagem. Percebemos que cada fator desencadeia
outros, a partir desta exigência interna de sempre querer fazer o considerado
“perfeito” o sujeito pode apresentar um nível de ansiedade exagerado dificultando
assim todo o ato de dirigir que leva o mesmo a vários sintomas psicológicos como:
sensação de que se está num ambiente estranho (o carro), pesadelos, sensação de
incapacidade e impotência, sensação de que o pior vai ocorrer (acidentes, por
exemplo) e outros. Com o nível de ansiedade exagerado altera a senso-percepção,
ou seja, todos os sentidos ficam distorcidos e isso desencadeia outros fatores como
o nível de estresse elevado, aumentando o nível de agressividade que se torna
prejudicial para o trânsito, pois este condutor com o nível exagerado pode agredir
verbalmente, agredir fisicamente no trânsito, andar em alta velocidade e etc, então
se torna prejudicial pois o nível de atenção diminui consideravelmente com estresse
e agressividade elevado. Outra característica afetada é a memória, sabemos dá
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importância da memória na vida do ser humano para lembrar quem é, reconhecer o
ambiente em que vive, os amigos, familiares, um indivíduo sem memória “não existe”
a vida perde o sentido e no trânsito a memória é fundamental para reconhecer as
regras de trânsito, reconhecer as placas de sinalização, com os conhecimentos
adquiridos compreendendo o funcionamento lógico do trânsito que acontece através
da inteligência para compreensão destes fatores.
Outra característica fundamental no trânsito é o medo, todos possuem medo
de alguma coisa, mas uns possui mais e outros menos medo. O medo em si é um
fato intrínseco de cada ser humano que advém da própria história de vida e
experiência que vivenciou, ou seja, é algo tão subjetivo que cada sujeito responde
ao ambiente de forma diferente. Mas todo ser humano possui o medo, pois o mesmo
é fundamental para a sobrevivência da espécie, esse medo tem relação com a
autoproteção e mostra os limites que são necessários para a sobrevivência não se
expondo totalmente a uma situação que pode acarretar a um risco da sobrevivência
do sujeito. O que atrapalha e influencia na vida diária do ser humano é o medo
exagerado impedindo e atrapalhando a vida social, familiar, profissional e pessoal do
indivíduo, a este medo exagerado chamamos de fobia.
O processo de dirigir é aprendido, o que pode ocorrer do indivíduo ter medo
de dirigir bloqueando totalmente essa etapa de desenvolvimento e aprendizado. O
medo de dirigir advém de motivos particulares de cada ser humano, de cada história
de vida. É importante salientar que o medo em si é um fator de autoproteção e
autopreservação da espécie levando este sujeito a evitar situações de perigo
iminente. Para o indivíduo obter um conhecimento sobre o medo que possui é
fundamental o equilíbrio entre razão e emoção para assim favorecer um aprendizado
e consciência dos fatores implicados neste medo ultrapassando-os e sabendo lidar
diariamente com o mesmo, diferente do medo exagerado que se torna fora de
controle.
O medo exagerado é desproporcional a ponto de atrapalhar a vida pessoal,
familiar, profissional e social do indivíduo. Para este medo exagerado chamamos de
fobia, no qual se apresenta sempre de coisas corriqueiras para a maioria das
pessoas mais que o impede o sujeito dos seus afazeres cotidianos.
Acontece diariamente a crítica social já que para muitos o aprendizado de
uma habilidade motora (como é o dirigir) é algo muito simples e natural, ficando
inconcebível para eles entender que indivíduos não dirijam por terem medo. Das
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reações físicas consequentes da fobia, temos como mais citadas à sudorese (55%),
os tremores (49%), a taquicardia (42%) e a secura na boca (33%). Quanto às
consequências sociais do problema, vamos dos problemas profissionais ao lazer,
passando quase sempre pelo âmbito familiar e amoroso como vimos.
São vários os fatores que influenciam no medo de dirigir como a fobia social
onde o sujeito tem medo da crítica, do julgamento, medo do que iram pensar e falar
do erro cometido no ato de dirigir. Sabemos que o trânsito por si só possui variáveis
externas que não são de controle do indivíduo, ou seja, ocorrerão sempre fatos
inesperados no trânsito, pois envolve uma série de comportamentos tanto de
condutores, de pedestres, ciclistas, motociclistas e até de animais no ambiente. Há
outros fatores neste caso como o Estresse Pós-Traumático que podemos definir
como sendo um transtorno de ansiedade que acomete algumas pessoas que
viveram ou testemunharam situações extremamente estressantes de violência, de
risco ou ameaça à vida, na qual atingiram uma sensação extrema de pavor, angústia
ou impotência. Qualquer incidente no trânsito e no ato de dirigir um veículo pode
desencadear um grande sofrimento para o individuo apresentando sentimento e
comportamento de irritabilidade, recordações e sonhos aflitivos e recorrentes,
sofrimento, agir ou sentir como se o evento traumático estivesse ocorrendo
novamente (flashbacks), cansaço, sobressalto, insônia, além de um comportamento
de evitação fóbica, ou seja, de fuga permanente e irracional daquela situação em
que o mesmo ocorreu.
Diante do trabalho apresentado resta aos psicólogos peritos do trânsito
realizar um trabalho diferenciado não apenas com aplicação de testes psicológicos
restringindo suas atuações a clínicas com avaliação para o trânsito mais pode-se
abranger este trabalho para fora das clínicas com indivíduos que possui o medo de
dirigir contribuindo para a perda deste medo contribuindo para que possam retornar
a vida social e familiar com qualidade.
No trabalho apresentamos várias técnicas para o indivíduo perder o medo de
dirigir. Este processo se dá de forma lenta e gradual, o mais importante e primeiro
passo fundamental para quem tem medo de dirigir é reconhecer conscientemente
que possui este medo, a partir daí procurar profissionais especializados que possam
ajudar a tratar este medo, sabendo que neste processo para uns pode ser
trabalhado e superado de forma mais rápida enquanto que para outros pode se dá
num processo mais lento, ou seja, cada indivíduo possui seu tempo e seu momento
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necessário para ultrapassar os obstáculos para conduzir veículos de forma que seja
prazerosa em todas as esferas da vida, quanto à social, profissional, familiar e
pessoal.
50
REFERÊNCIAS
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HOFFMANN, M. H.; CRUZ, R. M.; ALCHIERI, J. C. (Org.). Comportamento
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CRUZ, R. M.; ALCHIERI, J. C. (Org.). Comportamento Humano no Trânsito. São
Paulo: Casa do Psicólogo, 2003.
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APÊNDICE
QUESTIONÁRIO
Nome:______________________________________________________
Data____________________ Idade____________ Sexo_________________
Nível de Escolaridade________________ Profissão______________________
Possui CNH:__________________
1. Quando você pensa em dirigir:
a) Você tem algum destes sintomas; taquicardia (coração acelerado),
transpiração excessiva, tontura, dor de estômago, transpira
excessivamente e sente tremores?
b) Você sente um frio na barriga e treme um pouco, pensando nos carros
grandes e nos obstáculos que vai encontrar pela frente?
c) Você sente-se alegre e não vê a hora de dirigir
2. Quando alguém questiona porque você não dirige:
a) Você cria desculpas que convencem todo mundo, menos você mesma?
b) Você fala do seu medo de dirigir sem receio algum?
c) Você nem responde... cada um que cuide de sua vida.
3. Quando você pensa em dirigir já começa a imaginar se houver algum
desvio ou um obstáculo no traçado do meu caminho, eu:
a) Vou desistir, sei que não vou conseguir mesmo vencer tantos obstáculos.
b) Vou tentar, mas quero que alguém vá comigo.
c) Não me preocupo, vou pegar o carro e sair.
4. Você pensa que seu carro tem “vida própria”, que você vai perder o
controle a qualquer momento?
a) Sempre
b) Às vezes
c) Nunca
5. Ao pensar que as pessoas vão olhar você dirigindo:
a) Se incomoda muito, pois pensa que vai atrapalhar o trânsito.
b) Você fica um pouco incomodado, tem medo de o carro morrer e você não
saber o que fazer.
c) Não liga para isso.
6. Você oculta das pessoas que tem medo, falta de prática ou insegurança
ao dirigir?
a) Comenta apenas para algumas pessoas confiáveis
b) Muitos sabem do seu medo
c) Não esconde de ninguém, pois não tem medo.
7. Ao pensar em renovar a sua carteira de habilitação:
a) Você até renova sua carteira de habilitação (ou não), mas continua não
dirigindo.
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b) Você segue a lei e renova a acredita que vai conseguir dirigir um dia.
c) Você renova e continua a dirigir.
8. Quando você pensa em outros motoristas no trânsito:
a) Você pensa que atrapalha os outros motoristas e se preocupa.
b) Você pensa que gostaria de dirigir assim um dia.
c) Não liga para eles.
9. Você consegue dirigir sozinho?
a) Nunca
b) Às vezes
c) Sempre
10. Você já pensou em procurar ajuda para resolver o problema, mas...
a) Adiou, várias vezes, pois sente vergonha e não acredita que vai dar certo.
b) Já tentou algumas vezes, com o pai, o namorado(a) e em autoescola,
porém não teve o retorno esperado e desistiu.
c) Vai rapidinho resolver o seu problema buscando ajuda especializada.
11. Acha que você tem?
a) Fobia, medo de dirigir, falta de prática e insegurança.
b) Falta de prática e insegurança.
c) Um pouco de falta de prática, pois tirou a Carteira Nacional de Habilitação
(CNH) recentemente.
12. O que você aprendeu na Auto-Escola?
a) O básico (1º e 2º marcha).
b) Nada
c) Tudo
13. Quando você pensa em sair de casa
a) Pede carona a um amigo ou familiar
b) Utiliza transporte público ou privado
c) Vai andando
14. Há quanto tempo você não dirige
a) Menos de dois anos
b) Há 4 anos.
c) Mais de 4 anos
53
ANEXO