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Edição 25, volume 1, artigo nº 4, Abril/Junho 2013
D.O.I.: 106020/1679-9840/2504
TWITTER: FERRAMENTA POTENCIALIZADORA DO
TRABALHO JORNALÍSTICO
TWITTER: IMPROVING TOOL OF THE JOURNALISTIC
WORK
Carlos Henrique Medeiros de Souza 1, Rosalee Santos Crespo Istoe 2,
Ruana da Silva Maciel3 , Milena Ferreira Hygino Nunes 4
1
Universidade Estadual do Nort e Fluminense, Laboratório de Estudos de Educação e
Linguagem, Campos dos Goytacazes, RJ, Brasil, [email protected]
2
Universidade Estadual do Nort e Fluminense, Laboratório de Estudos de Educação e
Linguagem, Campos dos Goytacazes, RJ, Brasil, [email protected]
3
Universidade Estadual do Nort e Fluminense, Laboratório de Estudos de Educação e
Linguagem, Campos dos Goytacazes, RJ, Brasil, [email protected]
4
Universidade Estadual do Nort e Fluminense, Laboratório de Estudos de Educação e
Linguagem, Campos dos Goytacazes, RJ, Brasil, [email protected]
Resumo – O presente artigo intenta delinear algumas considerações sobre
as especificidades da rede social Twitter direcionadas para o trabalho
jornalístico. A análise baseia-se em como a utilização da plataforma pelos
jornalistas, na atualidade, tem se intensificado e modificado o padrão de
produção e disseminação de notícias, potencializando, assim, o trabalho
desses profissionais da comunicação. Trata-se de uma pesquisa
exploratória, a partir de alguns perfis de jornalistas no Twitter, também com
base em uma revisão bibliográfica. Ao final, verifica-se que o Twitter pode
ser um aliado ou um vilão do trabalho jornalístico, dependendo do modo
como os profissionais utilizam esta rede social.
Palavras-chave: Twitter. Jornalismo. Internet.
Abstract – This article attempts to delineate some considerations about
the specificities of the social network Twitter with reference to journalistic
work. The analysis is based on the use of the platform by journalists has,
nowadays, intensified and modified the standard of production and
dissemination of news, increasing the work of these communications
workers. This is an exploratory study, based on some journalists’ profiles on
Twitter and also in a literature review. At the end, it was concluded that
Twitter can be an ally or villain of journalistic work, depending on how the
professionals use this social network.
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Keywords: Twitter. Journalism. Internet.
1.
Introdução
O ambiente da internet tem propiciado a difusão massiva de informações e
intensificado a comunicação entre sujeitos sociais ao redor do mundo. Nesse
contexto, observa-se uma variedade de suportes e espaços comunicacionais que se
multiplicam rapidamente na web.
A internet permite também a criação de aplicativos e ferramentas. Esses
novos dispositivos são submetidos a diversos processos de apropriação por parte de
seus usuários (ZAGO, 2008). Uma dessas recentes ferramentas é o Twitter, que
popularizou-se em 2008.
Com características de microblog, o Twitter impõe que seus usuários
respondam à pergunta “O que está acontecendo?” num espaço limite de 140
caracteres. Desde que surgiu, a ferramenta tem conquistado milhões de adeptos,
incluindo jornalistas que encontraram na plataforma inúmeras funcionalidades
agregativas para o trabalho nas redações (SPYER, 2009).
Com base nesse cenário, levanta-se a seguinte questão-problema: como as
propriedades encontradas na plataforma do Twitter se relacionam e se tornam
ferramentas facilitadoras da atividade jornalística?
O objetivo deste trabalho é traçar uma breve análise de como a produção e a
disseminação de notícias ocorrem na plataforma do Twitter e como alguns
aplicativos desenvolvidos a partir dessa ferramenta são capazes de ajudar os
jornalistas na busca por informações, na manutenção de contato constante com
suas fontes, na mediação de debates sobre assuntos específicos e na interação
direta com seus leitores.
Pretende-se, ainda, tratar da seguinte questão: quem o jornalista representa
nesse ambiente: ele mesmo ou o veículo para o qual trabalha? Partimos da hipótese
de que é preciso adotar alguns parâmetros éticos na hora de lidar com a ferramenta,
pois, se não houver cautela, o Twitter pode acabar se tornando um mecanismo
prejudicial para o desenvolvimento de atividades jornalísticas.
Atualmente, muitos são os veículos de comunicação que fazem uso do Twitter
para disseminar seus conteúdos. De acordo com Cardoso (2010), na internet, o
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leitor se depara com muitas notícias ao mesmo tempo. Acredita-se que, pela sua
característica de imediatismo e dinamismo, o Twitter tenha cada vez mais a simpatia
deste tipo de usuário que busca incessantemente por informação quase que em
tempo real.
2.
O espaço Twitter
Ainda que apresentado ao mundo só em 2006, através da empresa Obvious, o
conceito de Twitter já havia sido pensado desde 2000, pelo programador Jacky
Dorsey. Tempos depois, o projeto foi ganhando forma e contou com a ajuda dos
cofundadores Biz Stone e Evan Williams.
O Twitter é basicamente um blog com entradas curtas. Kelsey (2010) o define
como uma rede social livre e microblogging capaz de permitir que os usuários
enviem e leiam mensagens com até 140 caracteres denominadas de tweets.
Cardoso (2010) acredita que o “[...] Twitter é uma mistura de blog e celular, um
espaço de troca de mensagens, assim como os torpedos de telefones celulares, só
que, na Internet, como um blog”.
Até meados de 2009, o slogan da ferramenta era “o que você está fazendo?”
(what are you doing?). Spyer (2009), autor do Guia do Twitter – Tudo o que você
precisa saber sobre o Twitter (você já aprendeu numa mesa de bar) – organizado
pela Talk, agência especializada na formulação de estratégias de marketing digital,
mídias sociais e tecnologias 2.0, esclarece que o Twitter foi desenvolvido
inicialmente para servir de encontro para grupos de pessoas conhecidas, porém,
depois de algum tempo, os usuários do serviço passaram a explorar o ambiente de
outra forma, por exemplo, para passar informações e participar de conversas
públicas. Cardoso (2010) explica que com “[...] a descoberta pelas potencialidades,
como a agilidade promovida pela ferramenta, a “utilidade” do serviço foi se
modificando e a atual pergunta que aparece na página inicial do site é: What’s
happening? (o que está acontecendo?)”.
Outra questão apontada pelo guia é a especificidade que o Twitter possui de
estipular que as mensagens sejam enquadradas num espaço-limite de 140
caracteres. Segundo o guia, esse limite foi estabelecido para que as postagens
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pudessem ser feitas através de celulares, utilizando o SMS, pois, quando o serviço
foi lançado, em 2006, o número de pessoas que dispunham de celulares com
serviço de conexão banda larga ainda era baixo.
Para explicar como se dá a dinâmica no ambiente do microblog, o Guia do
Twitter usa a metáfora da mesa de bar para representá-lo fora do ambiente da
internet. No bar, as pessoas criam e cultivam relacionamentos, amigos apresentam
amigos a amigos e novos enlaces se formam, é possível estar com pessoas
queridas e conversar sobre assuntos pessoais, conhecer gente nova ou ficar só
observando. Assim também é o Twitter.
Diferentemente do Orkut e do Facebook, onde, para se estabelecer um
vínculo de conexão entre dois usuários, é preciso que haja uma aceitação de ambas
as partes para que um apareça na lista de contato do outro, no Twitter, basta
“seguir” uma pessoa para saber as coisas que ela irá publicar. Não é necessário
permissão da pessoa para ser seguida, nem é obrigatório que ela se torne seguidora
das pessoas que a seguem. Portanto, no Twitter, o usuário possuirá duas listas de
contatos: umas das pessoas que ele segue (following) e outra das pessoas que o
seguem (followers) (SPYER, 2009).
O Twitter obteve sua ascensão em 2008, quando grandes acontecimentos ao
redor do mundo conseguiram concentrar a atenção das pessoas, tais como:
terremoto da China, as eleições para a presidência dos EUA, chuvas frequentes que
causaram desastres no estado de Santa Catarina, entre outros. Cardoso (2010)
lembra que, durante as eleições para a presidência dos EUA, os, na época,
candidatos Barack Obama e John MacCain mantinham seus perfis sempre
atualizados no Twitter, o que foi um reforço para o acompanhamento da campanha.
Através do Twitter, por exemplo, era possível acompanhar o que os
usuários comentavam da campanha. […] Ao mesmo tempo, durante essa
campanha, protagonizou-se um dos maiores índices de compareciment o de
todos os tempos nas eleições americanas (RE CUE RO, 2009, p.16).
Uma pesquisa realizada pela comScore 1 mostra que, em 2009, os usuários do
Twitter atingiram a marca de 44,5 milhões. Recentemente, de acordo com
informações do site Marketing Directo 2, o Twitter conquistou cerca de 200 milhões
1
2
www.comscore.com
www.marketingdirecto.com
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de usuários. No Brasil, uma pesquisa realizada pela eCGlobal 3, em julho de 2011,
apontou que 57% dos internautas brasileiros já são adeptos do Twitter.
Para Kelsey (2010), o Twitter realça o que ele chama de denominador comum
da comunicação, pois milhões de pessoas ao redor do mundo possuem a
prerrogativa de acessar a plataforma. Ainda de acordo com o mesmo autor, o Twitter
está evoluindo, capturando cada vez mais a imaginação pública e tornando-se uma
questão política.
3.
Uma análise do Twitter no âmbito do jornalismo
O fenômeno da comunicação mediada por computadores, na concepção de Recuero
(2009), está mudando as formas de organização, identidade, conversação e
mobilização social, devido à sua capacidade de permitir que os indivíduos se
comuniquem, ao seu potencial de ampla conexão e à sua possibilidade de criação
de redes sociais mediadas por computadores. “Essas redes não conectam
computadores, mas pessoas” (RECUERO, 2009, p. 17).
O fato é que há uma tendência universal de se intensificar cada vez mais as
interações e trocas de informações entre indivíduos através do ambiente da internet.
Zago (2008) observa que, na web, há uma proliferação de suportes e uma
diversidade de espaços comunicacionais, onde é possível realizar tais trocas de
informações.
Diferentes format os de publicação mobilizam diferentes formas de
apropriação e utilização, na medida em que apresentam especificidades
que não só podem como devem ser levadas em conta no momento da
produção e da distribuição de conteúdos (ZAGO, 2008, p.2).
A internet é um grande centro de recursos e de aportes digitais e muitas são
as redes sociais que nela se proliferam e ganham notoriedade perante os sujeitos
sociais. Crucianelli (2010) entende que essas redes sociais (Twitter, Orkut,
Facebook e outras) abriram as portas para a colaboração na apuração de
informações.
O público soube aproveit ar isso, e continua aproveitando, com um tremendo
impacto no campo das comunicações. Pessoas com uns podem fazer
contribuiç ões
reveladoras, trazendo
dados
que
revelam fatos
desconhecidos ou abrindo as portas de bancos de dados que cont êm
registros documentais de interesse inestimável para os jornalistas. Tudo
3
www.ecglobal.com
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isso está disponível online graças a um processo que democratizou a
“posse” da informação (CRUCIA NELLI, 2010, p.11).
Dentre as redes sociais mais acessadas em todo o mundo, o Twitter, objeto
deste trabalho, é, na opinião de Spyer, “[...] notícia, canal de notícia e plataforma
para a discussão da mídia” (SPYER, 2009, p. 60). Já Kelsey (2010) afirma que o
Twitter é apenas uma ferramenta, assim como o Facebook, sendo uma boa maneira
de compartilhar aquilo que está acontecendo com o usuário. No entanto, existe um
número considerável de empresas que o utilizam para fazer marketing, prospectar e
se relacionar com clientes. Assim, as organizações jornalísticas, também inseridas
nesse contexto de mercado, encontram na plataforma do Twitter um novo formato
tanto para a disseminação de conteúdos jornalísticos quanto para manter contato
com e múltiplas fontes, que ajudam no processo de apuração.
Spyer (2009) considera que o Twitter, além de ser uma plataforma para as
manifestações
de
descontentamento, possui
grande
eficiência
em passar
informações rapidamente. Em 2009, a imprensa de todo o mundo noticiou os
protestos por uma suposta fraude nas eleições presidenciais do Irã. A novidade foi o
fato de os opositores se organizarem, através do Twitter, as ações que limitavam o
acesso à rede e ao uso de SMS. Para Spyer (2009), “[...] se o mundo virtual está se
tornando também um espaço de convivência, é natural que os veículos de
informação também estejam lá” (SPYER, 2009, p. 57).
O Twitter, assim como o jornalismo on-line, possui a característica do
imediatismo. Os jornalistas utilizam a plataforma para divulgar informações, localizar
fontes, acompanhar o desdobramento de suas matérias e de veículos concorrentes,
promover a interação entre leitores e veículos e também para transmitir, em tempo
real, o conteúdo que produzem, já que através do microblog é possível enviar aos
internautas o link de atualizações de seus blogs, sites ou outros veículos de
comunicação online.
[...] os jornalistas utilizam essa rede para transmissões ao vivo,
independentemente do tipo de meio em que trabalhem. Um congresso, um
recital de música, um jogo de futebol podem ser transmitidos em qualquer
parte do mundo, em tempo real, por um telefone celular. [...] De maneira
mais pessoal, pode ser uma forma dos jornalistas se conectarem com os
seus leitores diante de um fat o es pecífico, como uma eleição presidencial
(CRUCIANE LLI, 2010, p. 89).
É importante ressaltar que, para que o trabalho jornalístico aconteça de forma
efetiva na plataforma do Twitter, é preciso que o profissional tenha a sapiência para
seguir as pessoas certas, de acordo com o segmento para o qual trabalha, visando
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filtrar e aumentar a qualidade das mensagens que chegarão às janelas de
atualizações. Consequentemente, poderá produzir conteúdos com maior qualidade e
garantir maior evidência entre as pessoas interessadas por assuntos específicos
(CRUCIANELLI, 2010; SPYER, 2009). Segundo Crucianelli (2010) esse sistema se
retroalimenta, porque, à medida que o repórter segue os usuários certos, aumenta o
número de usuários que seguem o repórter.
Outro desafio para os jornalistas é o enquadramento das notícias no espaço
rígido de 140 caracteres. É sabido que umas das principais características do
jornalismo on-line é a concisão das notícias, mas ainda assim a limitação de
tamanho nas postagens faz com que a produção de conteúdos seja repensada para
esse suporte. Spyer (2009) entende que elaborar mensagens para esse meio instiga
o profissional a chegar ao ponto central da notícia, conseguindo expressar a
diversidade de opiniões sobre o caso - ao invés de parecer parcial.
A especificidade de se limitar os caracteres da mensagem e a exposição das
atualizações em ordem inversa à cronológica tornam o Twitter uma ferramenta
interessante para ser utilizada em coberturas minuto a minuto de determinados
acontecimentos. As informações compactadas contam com a disposição de links no
fim das mensagens, que remetem o usuário para a notícia em si (ZAGO, 2008). Tais
links são produzidos a partir dos encurtadores de URL - no Brasil, o mais conhecido
é o migre.me -, que, além de comprimirem o endereço, dão a oportunidade de o
usuário ver o número de vezes que o link da mensagem foi clicado e repassado.
Um bom exemplo de atualização constante através do Twitter pode ser
observado no perfil do The New York Times, que divulga alerta das últimas notícias
publicadas em sua página on-line.
Nytime s The New York Times
Doctors Inc.: With More Doctorates in Health Care, a Fight Over a Title
http://nyti.ms/mTtDz4
09:45 AM Oct 2, 2011via The New York Times
Nytime s The New York Times
Israel Accepts Call for Peace Talks http://nyti.ms/ncThGR
09:22 AM Oct 2, 2011via The New York Times
Nytime s The New York Times
As the West Celebrates
http://nyti.ms/P2Qz3P
Awlaki’s
Death,
the
Mideast
Shrugs
08:00 AM Oct 2, 2011via The New York Times
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Outro exemplo é o perfil da revista Carta Capital, que faz publicações mais
esporádicas do que o The New York Times, mas também utiliza links que remetem
para a sua página na web, com mensagens mais enfáticas sobre o assunto de suas
notícias.
@cartacapital carta capital
Viva o barulho: Uma análise sobre a democracia, a corrupção e o c onflito
sobre a competência do CNJ. Por Mauricio Dias http://migre.me/5P oaV
09:35 AM Oct 2, 2011via Web
@cartacapital carta capital
Bravo! para ler: A investigação sobr e a criação da ideia do nacional
brasileiro; e os grafismos de Karlos Rischbieter
09:30 AM Oct 2, 2011via Web
@cartacapital carta capital
Os gritos não foram silenciados: Análise de Wálter Maierovitch sobre os
últimos episódios no Oriente Médio http://migr e.me/5OQx8
20:00 PM Oct1, 2011 via Web
Já as atualizações feitas pelo jornalista Ricardo Noblat, em seu perfil no
Twitter, remetem, na maioria das vezes, para o seu blog 4, hospedado na página do
Jornal O Globo.
BlogdoNoblat Blog do Noblat
Charge de Chico Caruso http://bit.ly/pdOrs0
10:37 AM Oct 2, 2011via O Globo
BlogdoNoblat Blog do Noblat
Incertezas http://bit.ly/r6HRao
09:59 AM Oct 2, 2011via O Globo
BlogdoNoblat Blog do Noblat
Imagens fort íssimas na campanha antifumo no Canadá http://bit.ly/r77zES
10:02 AM Oct 2, 2011via O Globo
Outros jornalistas usam seus perfis pessoais no Twitter para postar assuntos
relacionados à atividade jornalística, ou não, e interagem constantemente com seus
seguidores, intensificando debates, promovendo campanhas e chamando a atenção
dos internautas para os veículos onde trabalham, como é caso dos jornalistas
William Bonner (@realwbonner), apresentador do Jornal Nacional, e Serginho
Groisman (@oserginho), que comanda o programa Altas Horas, ambos da TV
Globo.
4
Blog do Noblat: http://oglobo.globo.com/pais/noblat/
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De acordo com Spyer (2009), em pouco tempo, o Twitter tornou-se uma
ferramenta essencial para a produção de reportagens. No entanto, esse advento
está provocando tensões nas redações.
A questão central desse debate é definir como o jornalista se posiciona ao
usar esses serviços, se o profissional representa ele mesmo ou a
organização, para ter a liberdade que precisa para fazer seu trabalho s em
se chocar com os interesses ou compromet er a reputação do veículo
(SPYER, 2009, p.57).
4.
Propriedades do Twitter para o jornalismo: principais
aplicativos
Quando se depara inicialmente com o Twitter, um jornalista pode ter dúvidas sobre
como realizar seu trabalho a partir daquela ferramenta. Porém o microblog oferece
inúmeras possibilidades de se fazer a mesma coisa, só que de um jeito totalmente
novo. Como já fora mencionado anteriormente, através do Twitter, é possível que o
jornalista interaja com seu público, mantenha contato com suas fontes e promova a
divulgação de seus conteúdos.
Diante desse conceito, é possível observar que o Twitter potencializa as
características básicas da atividade jornalística. Mas não é só isso. A plataforma
oferece outras funcionalidades específicas para a produção de notícias e divulgação
de informações. Entre os muitos aplicativos desenvolvidos a partir do Twitter,
existem o MuckRack e o MediaOnTwitter, que reúnem jornalistas e profissionais da
comunicação que utilizam o Twitter. Também é possível que uma redação utilize um
monitor coletivo para visualizar as notícias de última hora, através do TwitterFall, e,
ainda, utilizar o TweetBeep, que monitora e dispara mensagens sobre assuntos
específicos (SPYER, 2009, p. 61).
A autora Crucianelli (2010) elaborou a seguinte lista com os principais
aplicativos para o Twitter que são fundamentais para a atividade jornalística nesta
plataforma:
 TweetDeck: administra várias contas do Twitter, permite visualizar e filtrar
informações e integrar a conta de Twitter com a do Facebook. É possível criar
colunas temáticas por palavras-chave, para seguir um tema do seu interesse onde
quer que seja mencionado. Por exemplo, ao investigar um funcionário do governo,
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cria-se uma coluna com esse nome e, portanto, será possível acompanhar o que é
dito sobre essa pessoa.
 TwitterFall: filtra e localiza conteúdos. Em tempo real, mostra as
atualizações conforme o critério de busca. Em poucos minutos, o repórter pode ter
um panorama bastante claro se determinado assunto está sendo comentado ou não,
o que está sendo dito e o que as pessoas pensam a respeito.
 Twitdoc: permite fazer o upload de arquivos armazenados no computador
para o Twitter.
 Tweetree: ferramenta para carregar e compartilhar links ou sites.
 Tags: armazena os tweets dos usuários que incluem uma tag (palavras chave, que são antecedidas pelo sinal #). Para criar uma tag (muito útil para
classificar assuntos), basta colocar o sinal # antes da palavra. As tags mais
populares convertem-seem “trending topic” ou “assunto do momento”.
 Scoopler: busca no Twitter em tempo real. Excelente ferramenta para
monitorar o que se publica no Twitter sobre assuntos que os repórteres estão
cobrindo.
 Twittpoll: permite buscar dentro do Twitter assuntos ou tweets sobre uma
determinada pessoa ou grupo de pessoas.
 Reporting On: é uma espécie de Twitter, mas só para jornalistas. O
número de profissionais latino-americanos está aumentando.
 Twitpic: para publicar fotos no Twitter a partir de um telefone celular.
 GroupTweet: oferece recursos para formar grupos dentro do Twitter.
 TwitterVision: localiza geograficamente, em tempo real, as atualizações
do Twitter no mapa do mundo.
 YooMoot e TwitterWorks: permitem organizar debates ou grupos.
 TTT: torna possível compartilhar um parágrafo ou seleção de um texto
extenso, com uma URL curta.
 Twticam: ferramenta para transmitir vídeo ao vivo de um computador
através do Twitter.
 Simple Viewer: visor tridimensional do Twitter.
 Twtube: recurso para compartilhar vídeos do YouTube no Twitter.
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 Listiti: permite a criação de alertas através de um serviço oferecido pelo
Google, por meio do qual o profissional recebe na caixa de e-mail uma notificação
quando o tema de seu interesse é mencionado em alguma lista do Twitter.
5.
Twitter para redações
Recentemente, foi criado dentro do Twitter Media o Twitter for Newsrooms, uma
página exclusiva para auxiliar jornalistas ao redor do mundo. Dentro da página, os
profissionais encontram recursos que explicam como se dá o processo de
notificação e publicação. O #TfN foi pensado para tornar o Twitter uma espécie de
terreno comum que pode ser usado por todos os jornalistas, principalmente para os
que começaram suas carreiras em outros veículos como rádio, televisão e mídias
impressas.
A página do #TfN divide-se em cinco partes: #Report (relatórios), que auxilia
os jornalistas na apuração, ensinando estratégias para a pesquisa, dispondo e
explicando como usar os mecanismos de busca; #Engage (empenho), que mostra
exemplo de jornalistas que já estão usando a rede social como ferramenta de
trabalho; #Publish (publicar), que traz informações sobre quantidade de conteúdos
postados no site, nomes de usuários e tags, além de uma área que explica como
colocar gadgets do Twitter em outros sites; #Extra (extra), que traz informações
adicionais acerca de perfis e blogs oficiais; e #Security (segurança), que traz um
checklist para manter a segurança de uma conta no Twitter.
6.
Opiniões em contrário
Como já mencionado anteriormente, o Twitter, apesar de útil, gera foco de tensão
em algumas redações, pois há dúvidas quanto ao fato de o profissional estar
representando ele mesmo ou uma organização jornalística. De acordo com Spyer
(2009), alguns veículos ainda não se deram conta da importância do Twitter e, por
isso, ou proíbem ou não definem normas para que os jornalistas possam utilizar
esse e outros sites de redes sociais.
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Ou o jornalista, como profissional da comunicação, define que está sempre
a serviço da empresa que o cont rata ou estabelece-s e que s ua função se
resume a produzir conteúdo noticioso e que, fora desse âmbito, ele usa a
internet como quiser (SPYER, 2009, p. 59).
De acordo com informações do site Comunique-se 5, durante o Info@trends 6,
levantou-se o seguinte debate: o jornalista deve ou não ter perfil pessoal nas mídias
sociais? A ombudsman da Folha de São Paulo, Suzana Singer, levantou a bandeira
em opinião contrária. Segundo ela, jornalistas não devem ter perfil pessoal no
Twitter, porque ele pode acabar postando algo ofensivo e não sabe quem será seu
entrevistado de amanhã.
Já o diretor de conteúdo do Grupo Estado, Ricardo Gandour, também
participante do evento, defendeu a prática do bom senso que, segundo ele, é
fundamental a todo jornalista. Ele reiterou que esse princípio existe mesmo antes
das mídias sociais. No entanto, ainda não há uma regra ou um manual para a
regulamentação dessa prática. Spyer (2009) acredita que:
[...] aqueles que advogam que jornalista e veículo são elementos separados
devem considerar, entre outras coisas, que, a notícia do dia seguinte fica
menos import ante conforme ela já tiver chegado ao público pelo jornalista,
sem creditar o veículo (SPYER, 2009, p. 59).
Para André Rosa, especialista em comunicação on-line, não há regras e esta
questão fica sempre a cargo do veículo. Ele afirma ser legal o veículo enxergar que
há uma pessoa por trás do profissional e que, normalmente, as empresas acabam
inserindo-o em sua realidade, permitindo que o jornalista tenha uma página pessoal
dentro da página do próprio veículo.
Portanto, para que o jornalista obtenha sucesso em suas postagens nos perfis
pessoais ou profissionais (relacionadas ao veículo em que trabalha), é preciso que
se leve em conta a ética pessoal e profissional, pois comentários descabidos podem
acarretar prejuízos para o profissional. Em 2010, por exemplo, o Grupo Abril demitiu
o editor da revista National Geographic, Felipe Milanez, depois que ele publi cou uma
mensagem em seu Twitter criticando uma matéria da revista Veja, também
pertencente à editora Abril.
Também no mesmo ano, o fotógrafo Thiago Vieira, do jornal Agora São
Paulo, foi dispensado, depois de publicar uma mensagem que relacionava os
dirigentes do Palmeiras a porcos. Thiago estava fazendo uma cobertura na sede do
5
www.comunique-se.com.br
E vento que reúne personalidades import antes da área de tecnologia, internet e mobilidade. Foi
realizado em São Paulo, no dia 02/09/ 2011.
6
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time. Já, em 2011, uma funcionária do STF perdeu o cargo após questionar no
Twitter oficial do STF, quando o presidente do Senado, José Sarney, iria “pendurar
as chuteiras”.
Os jornalistas Alec Duarte, da Folha de São Paulo, e Carol Rocha, do Agora
São Paulo, foram demitidos do grupo Folha após postarem, em seus perfis no
Twitter, comentários sobre o jornal. Os dois relatavam a demora na publicação de
um obituário sobre o ex-vice-presidente da República José Alencar.
7.
Considerações finais
Esta pesquisa permitiu compreender que o Twitter possui diversos aplicativos e
funcionalidades que podem sustentar o trabalho jornalístico em sua plataforma e
permite, inclusive, a prática colaborati va de produção de conteúdo.
A grande circulação de informação no ambiente do Twitter tem atraído muitos
jornalistas que, ora o utilizam para buscar, ora para divulgar seus conteúdos.
Pensando nos profissionais que ainda não se familiarizaram com as caracte rísticas
deste microblog, criou-se o Twitter for Newsrooms, que pode ser classificado como
um guia para jornalistas iniciantes na navegação da ferramenta. Desse modo,
jornalistas de diversos veículos (rádio, televisão, impressos) tornam-se capazes de
utilizá-lo para organização e divulgação de seus trabalhos.
Acredita-se ser considerável o número de veículos de comunicação que
utilizam o Twitter como uma forma alternativa de distribuição de seus conteúdos. A
limitação de 140 caracteres demanda que os profissionais repensem sua forma de
produção
para
este
veículo. O
Twitter permitiu compreender as
muitas
potencialidades capazes de dar um novo recorte aos modos de produção e
circulação de notícias de uma forma geral, principalmente as que abordam grandes
acontecimentos, em tempo quase real. Através dele, as pessoas podem manifestarse, além de ser possível mensurar as opiniões a favor e contrárias a determinado
fato e evidenciar um tema criando campanhas que poderão ficar conhecidas em
todo mundo.
Muitos acreditam que este formato de divulgação jornalística não substituirá
os veículos até então tradicionais. Porém, é preciso reconhecer a contribuição do
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Twitter para a produção regular de notícias, através dos desdobramentos que se
obtêm delas, e também para a interação e troca de informações entre os jornalistas
e os internautas.
Referências
CARDOSO, Carla. A incidência da Normose Informacional no Twitter: a percepção
de Nativos e Imigrantes Digitais. Artigo científico apresentado ao eixo
temático “Redes Sociais, Comunidades Virtuais e Sociabilidade”, do IV
Simpósio
Nacional
da
ABCiber,
2010.
Disponível
em:
http://www.abciber2010.pontaodaeco.org/sites/default/files/ARTIGOS/1_RED
ES_SOCIAIS/CarlaCardosoSilvaVentura_REDESSOCIAIS.pdf
CRUCIANELLI, Sandra. Ferramentas digitais para jornalistas. Centro Knight para o
Jornalismo nas Américas, Universidade do Texas, Austin, 2010.
KELSEY, Todd. Social Networking Spaces: From Facebook to Twitter and Evrything
in Between. Springer Verlag, New York, 2010.
SPYER, Juliano. Guia do Twitter – Tudo que você precisa saber sobre o twitter (você
já aprendeu numa mesa de bar). Talk2, 2009. Disponível para download em:
http://www.talk2.com.br/debate/talk-show-sobre-o-twitter/
ZAGO, Gabriela da Silva. O Twitter como suporte para produção e difusão de
conteúdos jornalísticos. Trabalho apresentado no 6º Encontro Nacional de
Pesquisadores em Jornalismo, São Bernardo do Campo, São Paulo, 2008.
Sites pesquisados
http://www.publiabril.com.br/upload/files/0000/0383/info_trends-11.pdf - Acesso em
23/09/2011
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http://twitter.com/#!/oserginho - Acesso em 02/10/2011
http://twitter.com/#!/realwbonner - Acesso em 02/10/2011
Sobre os autores
Carlos Henrique Medeiros de Souza – Doutor em Comunicação, pela UFRJ;
Mestre em Educação; Bacharel em Direito e em Sistemas de Informação; licenciado
em Pedagogia; professor associado da Universidade Estadual do Norte Fluminense
(UENF) e coordenador do Mestrado em Cognição e Linguagem da UENF, e-mail:
[email protected].
Rosalee Santos Crespo Istoe – Doutora em Ciências pela Fundação Oswaldo Cruz
(IFF/RJ); Mestra em Psicologia da Saúde; graduada em Teologia e em Psicologia;
professora da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), e-mail:
[email protected].
Ruana da Silva Maciel – Mestranda do Curso de Cognição e Linguagem da
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF), bacharel em
www.interscienceplace.org - página 75 de 196
Comunicação
Social
-
Jornalismo,
pela
UNIFLU/FAFIC,
e-mail:
[email protected].
Milena Ferreira Hygino Nunes – Mestranda do Curso de Cognição e Linguagem da
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF), bacharel em
Comunicação Social - Jornalismo, pela PUC-Rio, e-mail: [email protected].
www.interscienceplace.org - página 76 de 196

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