AFINAL, QUAL É O PAPEL DO ESTADO?
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AFINAL, QUAL É O PAPEL DO ESTADO?
FÓRUM HSM DEBATE INOVAÇÃO E EXCELÊNCIA ENTREVISTA | GLEISSON RUBIN GestãoPública Uma revista a serviço do País GOVERNO SOCIEDADE & Desenvolvimento Ano XXIII - T II - R$ 14,80 - Nº 93 - Setembro de 2015 AFINAL, QUAL É O PAPEL DO ESTADO? 9 770103 732009 ISSN 0103-7323 93 Seminário internacional promovido pela Enap debate soluções para melhorar a gestão pública POLÍTICAS DA UNIÃO ESTADOS E MUNICÍPIOS JUDICIÁRIO Orçamento no vermelho leva agência a rebaixar o Brasil Governadores cortam gastos, param obras e elevam tributos Investigações trazem à tona o mapa da mina da corrupção MAIS IDEIAS, ECONOMIA E COMUNICAÇÃO DENTRO DAS EMPRESAS E ÓRGÃOS PÚBLICOS. Gestor, você pode reduzir seus custos com aquisição de softwares e uma rede de prestadores de serviço capacitados para resolver seus problemas. Acesse PLANEJAMENTO.GOV.BR/SPB e descubra as soluções disponíveis. Diversos órgãos já se beneficiaram e o seu pode ser o próximo. É o Governo Federal trabalhando para o Brasil avançar. Baixe o nosso aplicativo www.revistagestaopublica.com.br GestãoPública GOVERNO SOCIEDADE & Desenvolvimento Fundadores Francisco Alves de Amorim João Batista Cascudo Rodrigues (In Memoriam) Conselho Editorial Francisco Alves de Amorim - Presidente Ricardo Wahrendor Caldas - Professor - UnB João Bezerra Magalhães Neto - Administrador José Osmar Monte Rocha - Professor universitário e Auditor/MF (Aposentado) Diretor de Comunicação e Distribuição Geilson Barros Coelho Diretora Administrativa Mirielle Fideles Alves Coelho Diretor Nacional de Comunicação Dantas Filho Departamento Jurídico Ramiro Laterça de Almeida Relações Institucionais Eraldo Pinheiro de Andrade Editor-Chefe Washington Sidney Jornalistas Ana Seidl, Carla Lisboa, Julciara Abreu, Menezes y Morais e Washington Sidney Colaboradores nesta edição Antonio Teixeira Leite, Cláudio Emerenciano, José Osmar Monte Rocha, Marcus Vinicius de Azevedo Braga e Michael Kain Editor de arte/finalização Elton Mark Revisão Carla Lisboa Editor de Fotografia Luiz Antônio Atendimento e Redação [email protected] Publicação: Mensal Circulação: Nacional Tiragem: Quarenta mil exemplares Brasília SCLN 104 - Bloco D - Sala 104 - 70.733-540 - Brasília-DF Telefax.: 55.61. 32016018 - 9972 6018 Site: www.revistagestaopublica.com.br Sucursal São Paulo Diretor: Cristovan Grazina (licenciado) Diretor comercial: Nilton Zanca Diretor Região Norte: Edson Oliveira Secretário-Executivo: Luiz Alberto Corrêa Rua Anhanguera 697 - Barra Funda - SP CEP: 01.135.000 Representantes Belo Horizonte/MG - Márcio Lima -Tel.: 319986-4986 Rio de Janeiro/RJ - Rizio Barbosa - Tel.: 21 2222-2414 Natal/RN - Tania Mendes -Tel.: 84 9991 1111 Salvador/BA - Eliezer Varjão - Tel.: 71 91650547 CARTA AO LEITOR Em uma época de graves conflitos e de grandes transformações, algumas perguntas ocupam lugar de destaque na agenda das sociedades modernas: afinal de contas para que serve o Estado? De que forma ele pode se tornar mais efetivo como instrumento de construção da cidadania e de promoção do desenvolvimento? Esses temas mobilizaram especialistas em gestão pública, governantes brasileiros e pensadores de sete países, neste mês de setembro, no Seminário Internacional O Papel do Estado no Século XXI, promovido pela Escola Nacional de Administração Pública (Enap). O evento, dentro da estratégia de internacionalização da entidade, ensejou a discussão de diversos temas, como empreendedorismo, sustentabilidade, inovação e governança, além de estimular o debate de novos pressupostos e estratégias que favoreçam a ampliação da eficiência e da qualidade nos serviços públicos. O seminário promovido pela Enap é o principal destaque desta edição da revista Gestão Pública & Desenvolvimento, juntamente com o 1º Fórum HSM sobre Gestão Pública, evento que contou com a presença de Rudolph Giuliani, ex-prefeito de Nova York, e que debateu questões como liderança, conhecimentos técnicos, método, treinamento, nível organizacional, meritocracia e ética. Uma edição imperdível para todos aqueles que se preocupam com o universo da gestão pública. Também brindamos nossos leitores com uma matéria sobre o agravamento da crise dos estados brasileiros, como reflexo da recessão que se abateu sobre o país e da herança deixada por administrações anteriores, pouco afeitas à eficiência, à transparência e a outros atributos que deveriam nortear os nossos gestores. Por causa dos déficits orçamentários, os novos governadores estão apelando para cortes de gastos e de investimentos e aumento de tributos, como o ICMS. Alguns deles estão tendo dificuldades até para honrar o pagamento dos salários dos servidores públicos, caso, por exemplo do Distrito Federal e do Rio Grande do Sul. Por fim, abordamos os problemas econômicos que, juntamente com a crise política, paralisaram o governo federal, os quais acabaram levando a agência de risco Standard & Poor’s a rebaixar a nota de crédito do Brasil. Aceso o sinal de alerta, a presidente Dilma Rousseff tratou de correr atrás do prejuízo. Ela mudou a rotina do Palácio da Alvorada: fez reuniões extraordinárias com auxiliares e ministros de Estado para discutir corte de gastos no Orçamento de 2016 e a criação de impostos a fim de sanear as contas públicas. O resultado do envio de uma peça orçamentária deficitária ao Congresso foi um pacote de medidas duras, que deverá se refletir de forma negativa na baixa popularidade da presidente Dilma Rousseff. Boa leitura! Washington Sidney, editor-chefe. ISSN 0103-7323 Registrado no 1º. Ofício de Registro Cível das Pessoas Naturais e Jurídicas - Brasília- DF As matérias assinadas são de responsabilidade dos autores. São reservados os direitos inclusive os de tradução. É permitida a citação das matérias, desde que identificada a fonte. FILIADO PARCEIRO INSTITUCIONAL IASIA International Association of Schools and Institutes of Administration Colaboração: Ministério do Planejamento DPADM/ONU Divisão de Administração Pública e Gestão do Desenvolvimento das Nações Unidas Informação e conhecimento para o fortalecimento da cidadania Desde 1991 GestãoPública GOVERNO SOCIEDADE & Desenvolvimento NESTA EDIÇÃO CAPA SEÇÕES 6 ENTREVISTA GLEISSON RUBIN 14 12 ESPLANADA EM FOCO 43 POLÍTICA E PODER 48 GOVERNANÇA E GESTÃO MARCUS VINICIUS DE AZEVEDO BRAGA As sete faces da função controle 68 INTERNACIONAL MICHAEL KAIN A economia mundial continua em compasso de espera ARTIGOS 61 JOSÉ OSMAR MONTE ROCHA Convulsão social, econômica e política no Brasil 73 CLÁUDIO EMERENCIANO Entre o joio e o trigo ESTADOS E MUNICÍPIOS 44 RECESSÃO Crise econômica atinge finanças dos estados brasileiros JUDICIÁRIO Seminário debate o papel do Estado neste novo século Promovido pela Enap, evento reuniu ministros de Estado e pensadores brasileiros e de outros países com o objetivo de discutir melhorias na gestão pública ESPECIAL 26 APERFEIÇOAMENTO 50 LAVA JATO O mapa da mina da corrupção que abalou o Brasil AGENDA BRASÍLIA Encontro sobre gestão pública põe inovação e excelência em debate 56 AJUSTE FISCAL Medidas duras para reequilibrar as finanças do DF LEGISLATIVO 32 NOVAS SIGLAS Rede Sustentabilidade autorizada a disputar as eleições municipais 64 TRABALHO SOCIAL Projeto de incentivo à leitura de Ceilândia é modelo para o país POLÍTICAS DA UNIÃO 38 TRAPALHADA Déficit no Orçamento leva agência de risco a rebaixar o Brasil Setembro de 2015 - Gestão Pública & Desenvolvimento 5 ENTREVISTA 6 Gestão Pública & Desenvolvimento - Setembro de 2015 GLEISSON RUBIN Uma nova página na história da Enap Escola adota estratégia de internacionalização e promove eventos como o Seminário Internacional Papel do Estado no Século XXI, realizado neste mês de setembro, que prometem qualificar a gestão pública no Brasil F ormado em matemática pela Universidade de Brasília (UnB), com especialização em Matemática e Estatística pela Universidade Federal de Lavras (UFLa), o atual presidente da Escola Nacional de Administração Pública (Enap), Gleisson Rubin, assumiu no início deste ano o desafio de montar uma estratégia de atuação que permita à instituição contribuir de uma forma mais efetiva para o fortalecimento da gestão pública, em um momento em que a cobrança por eficiência nas políticas públicas e por qualidade nos serviços prestados pelo Estado mobiliza a sociedade em grandes manifestações públicas. Qualificado para o cargo, Gleisson já atuou como secretário de Gestão na Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, como diretor do Programa Brasil Profissionalizado no Ministério da Educação e como coordenador-geral de Supervisão dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia. Integra a carreira de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental (EPPGG) desde 1998. O senhor assumiu a presidência da Enap em fevereiro deste ano. Como vê esse desafio? GLEISSON RUBIN – A minha chegada à Enap esteve acompanhada de alguns aspectos de relevante valor simbólico: pela primeira vez, em 29 anos de existência, a Escola passaria a ser conduzida por um integrante da carreira de Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental (EPPGG), cuja criação possui fortes vínculos com a própria história da Enap. Trata-se, também, da primeira oportunidade em que um ex-aluno preside a instituição. Esses fatos certamente aumentam nossa responsabilidade de corresponder às expectativas depositadas. Entretanto, o maior desafio continua sendo o de conceber, em conjunto com a equipe de dirigentes e servidores da Escola, uma estratégia de atuação que permita à Enap prestar uma contribuição efetiva ao fortalecimento da gestão pública, por meio de ações qualificadas de formação e capacitação dos quadros técnicos e de direção nos diversos órgãos da Administração Pública Federal. E isso em um momento em que a cobrança por eficiência nas políticas públicas e por qualidade nos serviços prestados pelo Estado aglutina manifestações provenientes de todos os estratos da população. A Enap foi criada para qualificar gestores a fim de aprimorar a administração pública. Depois desses anos todos, a Escola mantém esse papel com qualidade? GLEISSON RUBIN – Felizmente, a Enap ainda é vista como uma instituição de referência na formação de gestores públicos, o que em boa medida se deve à opção do governo federal por manter um calendário regular de concursos para carreiras estratégicas para o Estado brasileiro, como as de Gestores Governamentais, Analistas de Planejamento e Orçamento, Analistas Técnicos de Políticas Sociais, Analistas de Infraestrutura, entre outras. A cada ingresso de uma nova turma, a Escola Setembro de 2015 - Gestão Pública & Desenvolvimento 7 ENTREVISTA se vê obrigada a refletir sobre a matriz de competências de cada uma dessas carreiras, atualizar a proposta pedagógica dos cursos de formação e dos programas de aperfeiçoamento e ajustar as estratégias de aprendizagem e os mecanismos de inserção dos novos servidores na estrutura da Administração Pública. O fato é que uma estratégia consistente de renovação dos quadros acaba por proporcionar à Enap sucessivas oportunidades de renovação de sua própria prática pedagógica. Neste ano, mesmo não havendo ingressos previstos para nenhuma das chamadas carreiras transversais, dedicamos alguns meses à construção de uma nova proposta para o Programa de Aperfeiçoamento para Carreiras, cujos cursos serão, a partir de agora, organizados em trajetórias temáticas de capacitação, com novas possibilidades de certificação e aproveitamento para os Cursos de Especialização oferecidos pela Escola. A organização em trajetórias temáticas busca orientar o servidor para uma capacitação em campos estratégicos do Estado brasileiro e facilitar o planejamento do seu desenvolvimento profissional. Fale dos objetivos estratégicos dessa nova gestão da Enap. GLEISSON RUBIN – Em primeiro lugar, é preciso reconhecer que a Enap é uma Escola de governo de abrangência nacional. Em que pese estar sediada em Brasília, suas ações devem possuir incidência sobre o conjunto de todos os servidores públicos, em GLEISSON RUBIN cada uma das esferas de governo. Entre os servidores civis do Poder Executivo Federal, apenas 12% trabalham no Distrito Federal, de modo que quase 90% dos servidores federais – público prioritário da Enap – estão distribuídos nos demais estados. Essa constatação é o ponto de partida do Programa Enap em Rede, que objetiva levar as ações de capacitação na modalidade presencial a todas as 27 unidades da Federação, em parceria com escolas de governo dos estados e com os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia. Nesse momento, 20 estados já contam com oferta regular de cursos, distribuídos em seis áreas de concentração. Para 2016, esperamos ofertar até 10 mil capacitações, com pontos de presença da Enap em todas as capitais brasileiras. Há, também, objetivos associados à ampliação da oferta de cursos por meio de tecnologias de 8 Gestão Pública & Desenvolvimento - Setembro de 2015 educação a distância, que devem capacitar até o final do ano mais de 70 mil pessoas. Outra frente de atuação da Escola a ser dinamizada diz respeito às parcerias firmadas com instituições acadêmicas estrangeiras e ao adensamento de ações de capacitação para dirigentes de nível sênior. Um desses objetivos estratégicos é a política de internacionalização da Enap. Qual o objetivo dessa estratégia? De que forma isso poderá contribuir para melhorar nossa administração pública? GLEISSON RUBIN – Nossa política de internacionalização se propõe a cumprir um duplo propósito: de um lado, resgatar a missão precípua de uma escola do porte da Enap, que deve atuar em plena coordenação e cooperação em nível nacional e internacional junto a seus homólogos; de outro, identificar potenciais parceiros que ajudem a repensar a gestão pública para lidar com os novos desafios que surgem num contexto de crise internacional, de reconfiguração dos modelos econômicos tradicionais e de necessidade de fortalecimento das capacidades do Estado para responder de forma qualificada às demandas da sociedade. A Enap deve atuar como locus da reflexão, do debate qualificado e da convergência de ideias, possuindo como diferencial sua rede de colaboradores, pesquisadores, instituições e think tanks associados, os quais podem agregar novos atores, conhecimentos e estudos à formulação de políticas, planos e referenciais para a melhoria da Administração Pública. É importante frisar que a internacionalização da Enap é tratada como via de mão dupla, em que se busca tanto uma maior interface com a produção de conhecimento e o chamado “estado da arte”, para o desenvolvimento de pesquisas, aprimoramento de metodologias e conteúdos, além da qualificação da oferta, como também se tenciona fortalecer parcerias e vínculos com outras instituições cuja vocação seja semelhante à nossa, pela possibilidade de cooperação e sinergia em projetos conjuntos. A Enap também tem contribuições a dar em nível internacional? GLEISSON RUBIN – Sem sombra de dúvidas. A Enap participa hoje de importantes redes internacionais de escolas de governo, como a Escola Ibero-Americana de Administração e Políticas Públicas cooperação institucional, em especial no que diz respeito ao apoio direto aos servidores que atuam na formulação e implementação de políticas públicas. O resultado é a formação de uma rede de intercâmbio e de cooperação entre alunos e professores, nas quais a escola não é um agente passivo, mas também protagonista na definição dos temas a serem pesquisados e estudados, nos programas a serem apoiados e nos cursos a serem ministrados. ““ A estratégia de internacionalização da Enap conta hoje com quatro eixos: atuação proativa nas redes e programas internacionais ” (EIAPP), vinculada ao Centro Latino-Americano de Administração para o Desenvolvimento (Clad); o Instituto Internacional de Ciências Administrativas (Iias) e a Escola Ibero-Americana de Governo e Políticas Públicas (Ibergop). Também atuamos como sócio-coordenador no âmbito do Eurosocial II, que é um programa de cooperação entre a União Europeia e países da América Latina. A participação nessas e em outras redes tem permitido à Enap fomentar o intercâmbio de experiências e a Que passos já foram dados dentro dessa política de internacionalização da Enap? GLEISSON RUBIN – A estratégia de internacionalização da Enap conta hoje com quatro eixos: atuação proativa nas redes e programas internacionais, que mencionei anteriormente; atuação como locus de debate qualificado por meio de seminários e eventos internacionais; cooperação para realização de programas de capacitação internacionais e projetos de consórcio interinstitucional para pesquisa; e cooperação sul-sul. Acabamos de promover o nosso primeiro Seminário Internacional “Papel do Estado no Século XXI: desafios para a gestão pública”, evento que reuniu mais de 800 participantes de 250 órgãos e entidades da Administração Pública Federal, de estados e de municípios. Trouxemos ao Brasil nomes de grande expressão de países como Inglaterra, Estados Unidos, Itália, França, Austrália e Chile. Considerando o êxito dessa Setembro de 2015 - Gestão Pública & Desenvolvimento 9 ENTREVISTA primeira edição, os seminários internacionais serão realizados anualmente, sempre com o cuidado de privilegiar temas de interesse e relevância para a Administração Pública brasileira. Ainda em setembro inauguramos a série Diálogos Internacionais, cujo objetivo é trazer à Enap uma oferta mais diversificada de eventos educativos de curta duração, como palestras, workshops e mini-cursos, com a participação de especialistas internacionais, para discutir temas identificados como prioritários para gestão pública. No eixo relativo à cooperação para realização de programas internacionais de capacitação e pesquisa, visitamos, entre maio e agosto, 14 Embaixadas em Brasília e temos mantido também contato direto com renomadas instituições acadêmicas, como as Universidades de Harvard e Columbia, o Institute of Social Studies GLEISSON RUBIN ““ Se formos considerar somente a primeira perspectiva, a da crise, iremos tratar de problemas fiscais, de conjuntura econômica e de governança política, temas com os quais a Enap lida de forma tangencial ” (Holanda), Shanghai Administration Institute (SAI-China), Korea Development Institute (KDI), com as quais realizamos sessões informativas, na própria Enap, para munir de informação os servidores públicos interessados em participar de cursos naquelas instituições. Com a Kennedy School of Government, da Universidade de Harvard (HKS), temos já uma parceria concreta 10 Gestão Pública & Desenvolvimento - Setembro de 2015 para a implementação do Programa Internacional de Desenvolvimento de Executivos, que enviará ao campus daquela escola duas turmas de dirigentes de alto nível para um programa de formação de executivos. E ainda temos algumas atividades previstas até o final do ano: em outubro, realizaremos o Curso Internacional sobre Desenvolvimento e Proteção Social na América Latina e na Europa, no âmbito do Programa Eurosocial II; em novembro, a Enap sediará atividades da 4ª Semana de Inovação Brasil-Suécia e promoverá o curso de Avaliação de Programas Sociais, em parceria com a Escola Ibero-Americana de Administração e Políticas Públicas (EIAPP/Clad). De que forma a aproximação com a comunidade internacional pode fortalecer a Enap? GLEISSON RUBIN – Ao estreitarmos os laços com a comunidade internacional de escolas de governo e com instituições acadêmicas de excelência, nosso intuito é avançar no intercâmbio de conhecimentos e de experiências, fornecendo aos dirigentes da Administração Pública Federal brasileira a oportunidade de explorar novas ideias e métodos para lidar com o contexto de transformações e atuar de forma efetiva na implementação e gestão das políticas públicas. Não há como almejar que a Enap se constitua como uma instituição de excelência na formação e aperfeiçoamento dos servidores públicos federais se não somarmos à trajetória construída pela Escola nas últimas três décadas os novos conhecimentos, estudos e pesquisas produzidos pelas mais renomadas instituições ao redor do mundo, sob pena de nos distanciarmos das discussões que hoje pautam, em nível internacional, a agenda da gestão pública para o século XXI. Quais são os principais problemas que o senhor vê na administração pública brasileira e o que poderia ser feito para superá-los? GLEISSON RUBIN – Durante o Seminário Internacional Papel do Estado no Século XXI, ouvimos de vários dos palestrantes – tanto dos nacionais quanto dos estrangeiros – que o momento atual pelo qual passa o país pode ser visto sob duas perspectivas absolutamente distintas: a da crise, mais óbvia e que nos remete para o trato emergencial de problemas presentes, e a da oportunidade, não tão fácil de ser reconhecida, mas que nos impulsiona para um olhar mais estratégico e de longo alcance. Se formos considerar somente a primeira perspectiva, a da crise, iremos tratar de problemas fiscais, de conjuntura econômica e de governança política, temas com os quais a Enap lida de forma tangencial. Sob a outra perspectiva, a da oportunidade, talvez seja o melhor e mais apropriado momento para discutirmos a ampliação de capacidades estatais, este, sim, um tema de interesse direto da Escola e central para as suas atividades. Deve-se atentar também ao fato de que o próprio cenário mundial tem passado por significativas alterações sociais, culturais, econômicas e políticas. Essas mudanças têm afetado a capacidade administrativa dos governos, principalmente em se tratando de países emergentes como o Brasil, ao colocá-los perante problemas inusitados, que exigem a adoção de novos paradigmas e estratégias de ação. A esses fatores somam-se o desafio de democratização do próprio Estado e de transformação das administrações públicas em instrumentos eficientes, transparentes e justos, capazes de garantir o desenvolvimento social e econômico dessas sociedades. A configuração do setor público é um aspecto crucial na definição das respostas que serão dadas às demandas sociais e na condução das políticas públicas. E nessa configuração, eficiência da máquina administrativa e qualidade dos serviços públicos prestados seguramente serão as capacidades estatais mais cobradas pela sociedade e das quais nenhum programa de governo poderá se descuidar. l Setembro de 2015 - Gestão Pública & Desenvolvimento 11 ESPLANADA EM FOCO “Qualquer forma de encurtar o caminho da rotatividade democrática é golpe, sim. É golpe. Principalmente quando esse caminho é feito só de atalhos questionáveis. Conquistamos a democracia com imenso esforço. Qual a base da democracia? É a legalidade e a legitimidade dada pelo voto de cada um” Dilma Rousseff, presidente da República “Quando se leva em conta o retorno baixíssimo que o brasileiro tem em termos de saúde, educação e segurança, é possível dizer que temos a maior carga tributária do mundo, já que ficamos em último lugar no ranking de benefícios oferecidos à população com esses recursos” João Eloi Olenike, presidente executivo do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário “O governo Dilma resultou em um governo fraco, no sentido de fixar propósitos, persegui-los, materializá-los e antecipar os acontecimentos. Ele vai sempre atrás daquilo que está acontecendo” José Serra, senador (PSDB-SP) 12 Gestão Pública & Desenvolvimento - Setembro de 2015 “O expediente conhecido por pedaladas (fiscais) seria mais que suficiente para ensejar o impedimento da presidente da República. No entanto, a sucessão de escândalos e o comportamento por ela reiteradamente adotado revelam dolo, consubstanciado na adoção, no mínimo, da chamada cegueira deliberada” Hélio Bicudo, jurista e fundador do PT, ao pedir a abertura de processo de Impeachment da presidente Dilma Rousseff ●● PRESIDENTE DO PT DEFENDE VACCARI Na contramão das investigações da Operação Lava Jato, o presidente nacional do PT, Rui Falcão (foto), defendeu o ex-tesoureiro da sigla João Vaccari Neto, condenado a 15 anos de prisão por envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras. Ele considerou um “equívoco” a decisão do juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba, Sérgio Moro, e disse que ela foi baseada “exclusivamente em delações premiadas, sem qualquer prova material”. Vaccari foi condenado por lavagem de dinheiro, corrupção e associação criminosa. Também terá de pagar multa de R$ 820 mil. Foi acusado de repassar R$ 4,3 milhões desviados de obras da Petrobras para o partido. Segundo as investigações do Ministério Público Federal, o dinheiro foi encaminhado à sigla por meio de doações oficiais ou contratos de fachada. ●● LEVY COBRA SACRIFÍCIO DOS BRASILEIROS Depois de reunião com do o presidente Senado, Renan Calheiros, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, disse que toda vez que há uma desaceleração econômica há um sacrifício de todo mundo ●● SENADOR CONDENA A ALTA CARGA TRIBUTÁRIA O senador Raimundo Lira (PMDB-PB) protestou contra a elevada carga tributária paga pelos brasileiros. Para ele, nenhum país subdesenvolvido ou emergente chega ao nível de país desenvolvido com a carga tributária muito alta. O parlamentar disse que os impostos no Brasil representam 36% do Produto Interno Bruto, enquanto no maior país do mundo, os Estados Unidos, equivalem a apenas 25%; e na Índia, a 19%. Após lembrar que, em janeiro de 2016, a Índia assumirá o posto de sétima maior economia do mundo, desbancando o Brasil, Raimundo Lira observou que aquele país também passou por uma grave crise, mas seus governantes decidiram não aumentar os impostos, ao contrário do que está ocorrendo no Brasil. e acrescentou que o esforço nunca é pequeno. “Mas é uma discussão importante para dar rumo”. No fim de agosto, o governo enviou ao Congresso uma proposta de orçamento para 2016 com meta de déficit primário de R$ 21,1 bilhões para todo o setor público, o equivalente a 0,34% do PIB (ou de R$ 30,5 bilhões para o governo - 0,5% do PIB). O envio foi mal recebido pelo mercado financeiro e ajudou no rebaixamento da nota brasileira pela Standard & Poors. Uma semana depois o governo recuou e anunciou um pacote de bloqueio de gastos e alta de tributos com o objetivo de reequilibrar as contas públicas e atingir um superávit de R$ 43,8 bilhões, ou 0,7% do PIB. Setembro de 2015 - Gestão Pública & Desenvolvimento 13 CAPA NOVOS DESAFIOS Seminário debate o papel do Estado neste novo século Promovido pela Enap, evento reuniu ministros de Estado e pensadores do Brasil e do exterior com o objetivo de discutir melhorias na gestão pública ●● Menezes y Morais O exemplo de setembro de 2015 será repetido pela Escola Nacional de Administração Pública (Enap) no ano que vem: Brasília vai reunir especialistas em gestão pública, entre eles ministros de Estado, líderes governamentais, pesquisadores, pensadores nacionais e de outros países, cientistas sociais e professores para dar continuidade à série de seminários internacionais sobre o papel do Estado. A primeira edição aconteceu nos dias 3 e 4 deste mês de setembro: o Seminário Internacional Papel do Estado no Século XXI: desafios para a gestão pública, promovido pela Enap, com apoio do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Durante dois dias, com transmissão ao vivo pela internet, foram realizadas mesas-redondas, sessões magnas e interativas, palestras e debates. Participaram da abertura do evento o ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão, Nelson Barbosa; o ministro da Previdência Social, Carlos Gabas; o presidente da Enap, Gleisson Rubin; o vicepresidente de governo da Caixa, Paulo José Galli; o coordenadorresidente do Sistema das Nações Unidas e representante-residente do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), Jorge Chediek, e o secretário-executivo adjunto da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal), Antonio Prado. GERAÇÃO E DIFUSÃO DE CONHECIMENTO O Estado nasceu no século XVI, ou ao menos a ideia dele, quando Thomas Hobbes publicou o livro Leviatã, num momento histórico em que a Inglaterra deixava de ser 14 Gestão Pública & Desenvolvimento - Setembro de 2015 DURANTE DOIS DIAS, COM TRANSMISSÃO AO VIVO PELA INTERNET, FORAM REALIZADAS MESASREDONDAS, SESSÕES MAGNAS E INTERATIVAS, PALESTRAS E DEBATES monarquia e passava a ser República, governada por um militar (1651). Hobbes identificava o Leviatã como Abertura do Seminário Internacional Papel do Estado no Século XXI contou com a presença de representantes de diversas instituições Centro Internacional de Convenções do Brasil (CICB), localizado no Setor de Clubes, no Lago Sul, em Brasília (DF). Para a professora titular do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Ana Célia Castro, os seminários internacionais são momentos para se lançar novas ideias, que serão desenvolvidas, criticadas, superadas e, criativamente, reinventadas. “Os diálogos têm grande importância como ponto de partida para a criação de um espaço de geração e difusão de conhecimento para o setor público brasileiro. O debate sobre o desafio de pensar o núcleo estratégico do Estado e sobre como ele pode enfrentar as questões estratégicas e mudar o futuro é muito profícuo”, afirmou Ana Célia. um monstro, uma espécie de grande hipopótamo de que fala a Bíblia (Velho Testamento, Livro de Jó). Para Hobbes, o Estado tem tanto “poder sobre a Terra que se possa comparar”. Da Inglaterra ao Brasil do século XXI, do Estado democrático de direito, o Estado continua sendo repensado. A série Seminários Internacionais – que reunirá especialistas e pensadores de todos os continentes – configura-se como um espaço qualificado de discussões sobre temas de interesse nacional e que igualmente repercutem no cenário internacional. Nesta primeira edição, o evento contou com representantes de sete países. Foram feitas 1.100 inscrições, de pessoas que falam em nome de 247 instituições e que representam 38 municípios. A diversidade e capilaridade das instituições envolvidas superaram todas as expectativas do comitê organizador do evento, que aconteceu no REPENSAR O ESTADO Durante dois dias, foram debatidos o futuro do Estado, os papéis e capacidades que devem ser desenvolvidos para enfrentar as novas demandas da sociedade e os desafios para fortalecer a gestão pública como instrumento catalisador do processo de desenvolvimento das nações. As atividades começaram às 9h, com intervalo para o almoço, e duraram até as 18h30. O evento teve como público-alvo gestores, executivos Setembro de 2015 - Gestão Pública & Desenvolvimento 15 CAPA da Administração Pública e pesquisadores. Para a Enap, logrou-se como resultado ampliar a reflexão e fortalecer debates sobre empreendedorismo, sustentabilidade, inovação e governança, além de estimular a discussão de novos pressupostos e estratégias que favoreçam a ampliação da eficiência e da qualidade nos serviços públicos. NOVOS DESAFIOS O ministro Nelson Barbosa falou da importância da realização de eventos que repensem o Estado. Segundo ele, o evento permite a discussão dos problemas diários e ajuda o gestor público a olhar para frente e planejar em longo prazo. “A série de eventos anuais atende às demandas da sociedade. Países como Inglaterra, Estados Unidos, Japão e da União Europeia promovem esse tipo de seminário e fazem debates orçamentários”, observou. Outro ministro que participou do evento, Carlos Gabas, afirmou que “o grande desafio é definir o papel do Estado e investir na transformação dele. É necessário compreender para que serve o Estado”. No Estado brasileiro, pobres pagam mais impostos No Estado desenvolvimentista brasileiro, as parcelas mais ricas deveriam pagar mais impostos. Foi o que afirmou a professora Mariana Mazzucato, na abertura da Sessão Magna 1 do seminário – O Estado Desenvolvimentista –, que contou com a participação de outros especialistas. Professora de Economia da Inovação da Unidade de Pesquisa em Ciência Política da Universidade de Sussex, no Reino Unido, Mariana falou sobre intervenção e formação de mercados: implicações para o crescimento inclusivo inteligente. No que diz respeito ao sistema tributário brasileiro, Mariana condenou o sistema regressivo adotado no Brasil, em que “os mais pobres pagam mais” – com impostos incidindo fortemente sobre o consumo –, o que deveria ser repensado e estar na base do debate. “Nenhum país pode perder tempo em função da crise global. A investigação sobre os casos de corrupção no Brasil deve ““ A investigação sobre os casos de corrupção no Brasil deve seguir, mas de um modo em que as instituições continuem desempenhando suas funções e não somente se defendendo de acusações ” Mariana Mazzucato, professora de Economia da Inovação da Unidade de Pesquisa em Ciência Política da Universidade de Sussex, Reino Unido 16 Gestão Pública & Desenvolvimento - Setembro de 2015 seguir, mas de um modo em que as instituições continuem desempenhando suas funções, e não somente se defendendo de acusações”, afirmou a professora. Ela destacou o papel do Estado na liderança do investimento em inovação de longo prazo para o crescimento econômico. Falou da importância e dinamismo da intervenção estatal na história do capitalismo moderno. Para ela, o Estado é responsável não apenas pela “correção de falhas”, mas também pela formação e criação de mercados. “A natureza da atuação estatal permite socializar o custo do erro e, com isso, investir em áreas de maior incerteza, nas quais o setor privado não teria interesse, a princípio”. Na avaliação da professora, para fortalecer o Estado, quatro questões deveriam integrar os debates e as políticas eleitorais: Como estabelecer parcerias simbióticas para o alcance dos desafios enfrentados pelas instituições públicas? Como construir organizações em termos de políticas e de processos, fortalecendo a atuação estatal? Como compartilhar os riscos e as recompensas? E como recompensar o setor privado de forma criativa e inovadora? Mariana disse que o crescimento do Estado deve se dar de forma inteligente, com mais inovação. “O crescimento sustentável (mais verde) precisa vir junto com o crescimento inclusivo (menos desigualdade). Homens pragmáticos, ““ Somos um Estado de redistribuição de renda, além de responsáveis por políticas geradoras de crescimento. O grande desafio é preservar as conquistas sociais e melhorar a eficiência das políticas públicas ” Dyogo Oliveira, secretário-executivo do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. que acreditam serem eles próprios isentos de qualquer influência intelectual, são usualmente os escravos de algum economista morto. Eu estou certa de que o poder de interesses escusos é vastamente exagerado comparado à gradual intrusão das ideias”, ressaltou. Entre os autores citados, Mariana destacou John M. Keynes, na obra A Teoria Geral, de 1936. INDUTOR DO DESENVOLVIMENTO Também participou da Sessão Magna 1 o secretário-executivo do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, Dyogo Oliveira, falando sobre Programa de Investimento em Logística: uma agenda de desenvolvimento para o Brasil. A sessão foi moderada pelo chefe de gabinete do Ministério Setembro de 2015 - Gestão Pública & Desenvolvimento 17 CAPA do Planejamento, Miguel Ragone. Dyogo Oliveira defendeu o papel do Estado como indutor do desenvolvimento econômico. Para ele, é preciso desmistificar a crença de que Estado e mercado são antagônicos: “Esse antagonismo não existe, pois não há desenvolvimento e crescimento econômico NOVOS DESAFIOS sem instituições sólidas. A existência de uma atuação estatal que coordene, resolva conflitos e direcione as decisões para o melhor aproveitamento dos recursos e para o alcance dos resultados é base para o funcionamento dos mercados e para o crescimento da economia”, afirmou. E destacou: “O Estado brasileiro tem a desafiadora tarefa de conciliar a função de Estado indutor com as demais funções”. “Somos um Estado de redistribuição de renda, além de sermos responsáveis por políticas geradoras de crescimento. O grande desafio é preservar as conquistas sociais e melhorar a eficiência das políticas DESAFIOS PARA O DESENVOLVIMENTO DE PAÍSES EMERGENTES ““ O Estado precisa ser mais proativo em dar um impulso direcional com políticas industriais ” Robert Wade, professor de Política Econômica e Desenvolvimento da London School of Economics, Inglaterra Os desafios para o desenvolvimento de países emergentes foi o tema da Sessão Magna 6 do Seminário Internacional. Os palestrantes debateram o tema com a moderação da secretária de Orçamento Federal do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, Esther Dweck. Ela observou que “a discussão sobre o papel do Estado se tornou mais importante e necessária no contexto da crise global”. Robert Wade, professor de Política Econômica e Desenvolvimento da London School of Economics (LSE), na Inglaterra, disse que os dois principais desafios dos países emergentes são mudança climática e a chamada “armadilha da renda média”, definida pela teoria econômica como a situação em que economias que antes cresciam rapidamente desaceleram ao atingir a faixa de renda média. 18 Gestão Pública & Desenvolvimento - Setembro de 2015 De acordo com Wade, “o Brasil enfrenta essa situação: no período entre 1950 e 2010, o país passou os sete primeiros anos como baixa renda e os próximos 53 como média-baixa”. ESTADO PROATIVO Como enfrentar essa condição? “O Estado precisa ser mais proativo em dar um impulso direcional com políti- públicas, garantindo os investimentos e ampliando a participação do setor privado”. Para o secretário-executivo do Ministério do Planejamento, o papel do Estado no Brasil diz respeito à promoção dos direitos individuais e sociais, ao provimento da seguridade social e da infraestrutura, e indução ao desenvolvimento sustentável. “O Estado tem uma especificidade no Brasil: conciliar ação indutora e inovadora com a distribuição de renda e a ampliação dos serviços públicos (saúde, educação, previdência social, saneamento, habitação, segurança pública etc.)”, afirmou o secretário-executivo. Para isso, Dyogo defende a parceria para o desenvolvimento produtivo na saúde, cooperação público/privada para desenvolvimento, transferência e absorção de tecnologia, produção, e capacitação produtiva e tecnológica do país em produtos estratégicos, como o Sistema Único de Saúde (SUS). Na encruzilhada do subdesenvolvimento cas industriais”, disse o professor. Ele também discorreu sobre como a mudança climática apresenta o desafio de alcançar um desenvolvimento econômico de baixo carbono e resiliente ao clima. Ainda na Sessão Magna 6, o secretário-executivo adjunto da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal), Antonio Prado, falou sobre desaceleração da economia mundial e o impacto na América Latina, que começou a sentir seus efeitos a partir de 2010. Segundo ele, “a região se beneficiava de um período de crescimento, com distribuição de renda e queda significativa da taxa de pobreza. No entanto, não soubemos aproveitar o momento para fazer as reformas estruturais que eram necessárias”, lamentou. Prado entende que o momento demanda a redefinição de uma nova equação Estado-mercado-sociedade, que envolva pactos de longo prazo de cada um dos atores. Antonio Prado falou sobre o tema Nova Equação Estado-MercadoSociedade para o desenvolvimento na América Latina e no Caribe. Em sua exposição, ele disse ser necessário criar uma nova arquitetura estatal que permita posicionar o Estado no lugar que lhe corresponde, na condução das estratégias de desenvolvimento dos países da região. “A partir de um olhar crítico – acrescentou –, de seu desempenho histórico, devemos ser capazes de perfilar esse papel, dotando-o com as ferramentas suficientes e encontrar seu lugar exato, em equilíbrio com o mercado e com o cidadão, procurando alcançar o equilíbrio ótimo desta trilogia na dinâmica do desenvolvimento”, afirmou. O secretário-executivo adjunto acredita que, para sair da “encruzilhada” e do “complexo contexto internacional”, características da atual equação, o Estado-mercadosociedade (cidadania) precisa celebrar pactos para a igualdade como instrumento para a construção da nova equação. “Após anos de bonança, a região enfrenta desaceleração econômica. Não se fez o suficiente para aumentar a produtividade e reduzir a desigualdade”, destacou. Prado reconhece, porém, que houve progressos sociais, mas eles se estagnaram e a região continua com a pior distribuição de renda e outras desigualdades. Segundo ele, os desafios de sustentabilidade ambiental são fundamentais para percorrer caminhos com menores emissões de carbono. “Com democracias estáveis, mas com novos desafios e caminhos de integração de geometria variável”. A estrutura produtiva da região está desarticulada, ponderou. ECONOMIA ENCOLHEU Para agravar a situação, Prado observou que, na América Latina, o emprego informal de baixa produtividade predomina e existe também Setembro de 2015 - Gestão Pública & Desenvolvimento 19 CAPA NOVOS DESAFIOS ““ Após anos de bonança, a América Latina enfrenta desaceleração econômica. Não se fez o suficiente para aumentar a produtividade e reduzir a desigualdade ” Antonio Prado, secretário-executivo adjunto da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal) uma baixa eficiência dinâmica. “O crescimento econômico é menor e dependente do consumo. Há insuficiência de investimento. Existe estagnação da queda da pobreza e uma fraca governança dos recursos naturais e do meio ambiente”. Para agravar o quadro, citou a escassez de bens públicos de qualidade e o que chama de “debilidade institucional” na região da América Latina e Caribe. Na visão do secretário-executivo adjunto da Cepal, a economia mundial não se expandiu como se esperava. “As projeções de crescimento de 2015 se reduziram em um ano, de 3,2% para 2,8%”. Enquanto isso, a recuperação do crescimento nos Estados Unidos (acima de sua estimativa inicial de 2,8% em 2015) gera impacto positivo no México, na América Central e no Caribe por remessas, turismo e comércio”, afirmou Prado. DESEQUILÍBRIO FISCAL Por outro lado, a crise também se insinua nos desequilíbrios fiscais e na falta de competitividade nos países da Zona do Euro, com altos níveis de 20 Gestão Pública & Desenvolvimento - Setembro de 2015 desemprego e com um crescimento em 2015 de 1,6%, com impacto na redução do comércio global. Prado disse que há uma desaceleração na China de 9,2%, em 2011, para 7% em 2015, com impacto nos países exportadores de recursos naturais. E destacou que “existe incerteza sobre o momento em que os Estados Unidos subirão sua taxa de juros e uma nova etapa na Europa, o que geraria condições financeiras mais voláteis”. Para o representante da Cepal, “o mercado é bom na produção, mas ruim para distribuir”. “Sem regulação, reproduz estruturas centralizadas em atividades pouco intensivas em conhecimento e ambientalmente ineficientes. O Estado pode fazer muito, mas não pode fazer tudo. A sociedade (cidadania) demanda transparência, voz, participação, democracia. É inegável o papel do setor privado como agente central do mercado. O investimento público inclui as empresas públicas”, disse. China: exemplo de estratégia de governança e inovação Politicamente, o Estado chinês é uma ditadura mas, economicamente, de capitalismo de Estado. Três mulheres deram o tom do debate na quarta e última sessão interativa do Seminário Internacional Papel do Estado no Século XXI. Marizaura Camões, diretora de Comunicação e Pesquisa da Enap – que moderou a sessão; Anna Jaguaribe, diretora do Instituto Brasil-China; e Ana Célia Castro, professora do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), debateram estratégias, governança e inovação com o professor Renato Boschi, do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). ALTERNATIVAS DE REFORMA Anna Jaguaribe apresentou o resultado de uma pesquisa de quatro anos que trata da experiência da China e das alternativas de reforma e estratégias socioeconômicas que constituíram a ascensão e afirmação daquele país como segunda economia global. “O crescimento da China, nos últimos 35 anos, se deu através da inovação. Os chineses implodiram alguns modelos de governança e reinventaram outros”. A especialista disse que os desafios chineses implicam na ““ O crescimento da China, nos últimos 35 anos, se deu através da inovação. Os chineses implodiram alguns modelos de governança e reinventaram outros ” Anna Jaguaribe, diretora do Instituto de Estudos Brasil-China (Ibrach) criação de novos eixos para o crescimento e na adoção de reformas fiscal e financeira, para consolidar a economia de bem-estar. Na geopolítica asiática, a nova economia de inovação requer maior competitividade por valor adicionado. Exige ainda maiores custos e riscos para inovações primárias, menores vantagens para inovações secundárias, inserção internacional, para intensificar a inserção tecnológica. Segundo ela, é preciso adaptar-se ao contexto de baixo crescimento da economia global, sem embates hegemônicos, para maximizar o espaço econômico asiático. FRONTEIRA TECNOLÓGICA Outro tema debatido foi a fronteira tecnológica e os desafios para Setembro de 2015 - Gestão Pública & Desenvolvimento 21 CAPA NOVOS DESAFIOS políticas públicas. Ele entende que os caminhos para a retomada do crescimento do país combinam elementos de trajetórias e recuperam o papel protagonista do Estado. “É preciso pensar novas capacidades estatais para promover uma agenda de desenvolvimento em políticas públicas, por meio de um novo projeto que inclua a participação civil e envolva inovação, políticas industriais, infraestrutura, formas de proteção social e sustentabilidade”, concluiu. a governança do conhecimento, com base nos estudos da evolução de empresas e outros atores em diferentes fases dos processos de transformação agrícola no Brasil, à luz do modelo de catching up em curso. Segundo a professora Ana Célia Castro, a existência de um consenso estruturado sobre quais setores merecem maior investimento é fundamental para o crescimento do país. “O Brasil está na fronteira tecnológica da economia de baixo carbono”. O professor Renato Boschi fez apresentação das capacidades estatais como desafio para as ““ É preciso pensar novas capacidades estatais para promover uma agenda de desenvolvimento em políticas públicas, por meio de um novo projeto que inclua a participação civil e envolva inovação, políticas industriais, infraestrutura, formas de proteção social e sustentabilidade ” Renato Boschi, professor do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento da UER 22 Gestão Pública & Desenvolvimento - Setembro de 2015 NA CENA POLÍTICA O professor Renato Boschi discorreu ainda sobre o conceito de capacidades estatais, que aparece na literatura da ciência política a partir dos anos 1970. Citou autores como Peter Evans (“Bringing the State Back In”, de 1985) e Charles Tilly que, segundo ele, trouxeram o Estado de volta à cena política, enfatizando o seu papel “no retorno de uma perspectiva desenvolvimentista”. Renato Boschi defendeu políticas de inclusão social e instauração de um modelo de crescimento fundado no mercado interno nos anos 2000. Citou a crise financeira sistêmica de 2008 e a reconfiguração no sistema internacional. Sugeriu algumas perguntas sobre espaços para alterações nas posições relativas dos países. E indagou: quais as capacidades estatais que se definem como estratégicas do ponto de vista do desenvolvimento brasileiro? “Na história do capitalismo, os casos de desenvolvimento exitosos são escassos e concentrados no eixo Atlântico Norte (Estados Unidos, Europa) e nas economias do Leste Asiático (Japão e Coreia)”. Por fim, falou da importância da mudança institucional nas dinâmicas de interação entre os atores estratégicos para o desenvolvimento. E das vantagens institucionais comparativas referentes aos benefícios que um adequado arcabouço institucional propicia para a consolidação de uma dinâmica de desenvolvimento. “Um país pode ter vantagem em uma área e deficiências institucionais em outra”. Reconheceu, porém, “capacidades estatais em políticas estratégicas para um projeto de desenvolvimento: inovação como capacidade de gerar e ampliar o uso de tecnologia (Estados Unidos, Alemanha, Japão, Newly Industrializing Countries – NICs – asiáticos, Cingapura, Coreia etc.)”. Desigualdade econômica, um problema global ““ As desigualdades intensas e duradoras devem ser consideradas traços de subdesenvolvimento. Nesse sentido, as políticas desenvolvimentistas devem se comprometer em combater esse problema ” Celia Lessa Kerstenetzky, professora da Faculdade de Economia da UFF. A professora Celia Lessa Kerstenetzky, da Faculdade de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF), afirmou que a desigualdade social é um problema que atinge todos os países do mundo. “As desigualdades intensas e duradoras devem ser consideradas traços de subdesenvolvimento. Nesse sentido, as políticas desenvolvimentistas devem se comprometer em combater esse problema”, complementou. Celia Kerstenetzky analisou a situação do Brasil. “O país, que é a 7ª economia do mundo, é o 79º em Índice de Desenvolvimento Humano. Quando esse índice é ajustado pela desigualdade, o Brasil despenca para a posição de número 95. Estamos entre os países mais desiguais do mundo”, disse. Depois de 2001, o país passou por uma queda sustentada da desigualdade, em decorrência de fatores como os programas de transferência de renda e das políticas governamentais na área do trabalho. Setembro de 2015 - Gestão Pública & Desenvolvimento 23 CAPA DÉCADA DE OURO “A partir do início do século XXI até o ano 2012, o Brasil viveu o período denominado ‘década de ouro’, ao combinar crescimento econômico, democracia e equidade”, afirmou. Para ela, “o Brasil tem crescimento redistributivo incompleto, puxado pelo consumo das famílias e estimulado pelo aumento do rendimento domiciliar, com o acesso da população ao crédito e NOVOS DESAFIOS incitado pelo mercado de trabalho e as transferências governamentais”. A professa entende que o país ainda precisa avançar em pontos como expansão dos serviços sociais públicos e fazer alterações na forma de tributação. Além de ações focadas na distribuição de renda, o Brasil tem o desafio de melhorar sua competitividade. Segundo o diretor do Columbia Global Center na América Latina, Thomas Trebat, esse “é o fator chave na criação de empregos, oportunidades e prosperidade, ou seja, para o crescimento econômico do país”. Trebat destacou: “A economia brasileira ocupa o 57º lugar no ranking mundial de competitividade, entre os 144 países pesquisados”. FATORES MACROECONÔMICOS Trebat avalia que a competitividade é influenciada pelos fatores REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO GANHA VERSÃO ELETRÔNICA Outro lançamento da Enap foi a versão eletrônica do terceiro número da Revista do Serviço Público 2015, o volume 66, nº 3. Entre as melhorias feitas na revista está a adequação ao Manual de Boas Práticas da Publicação Científica da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (Anpad), conforme afirmou a diretora de Comunicação e Pesquisa da Enap, Marizaura Camões. Marizaura comemorou a mudança da classificação do periódico no Qualis da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) em Administração, que passou de B4 para B2, e em Ciência Política e Relações Internacionais, que passou de B2 para B1. “Temos trabalhado para o fortalecimento da produção qualificada de conhecimento, em especial da RSP, que representa um grande instrumento de ligação entre a academia e o setor público”, disse. Este número reúne cinco artigos inéditos, além da seção RSP Revisitada, que republica artigo original de 1988. Os trabalhos tra- Revista do Serviço Público 2015, o volume 66, nº 3 a formulação de políticas públicas; e reforma administrativa e papel do Estado. tam de temas como burocracia local e implementação de políticas públicas; gestão por competências; corrupção e pobreza na África; percepção dos contadores em relação às Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público; subsistemas, comunidades em rede e suas relações com 24 Gestão Pública & Desenvolvimento - Setembro de 2015 AÇÃO EM PARCERIA A plenária de encerramento do Seminário Internacional, que reuniu os professores Mariana Mazzucato, Jan Kregel, Ana Celia Castro e Gleisson Rubin, tratou de sistematizar os painéis e debates realizados no evento, de forma a traçar os desafios postos ao Estado do século XXI. Esse momento de conclusão levantou questões relevantes, como o papel de instituições que, dentro do Estado, atuam no desenvolvimento de capacidades, na geração e sistematização do conhecimento e na promoção da reflexão. A ressignificação de papéis, segundo os painelistas, é necessária para responder aos novos desafios que se colocam aos Estados nacionais em momentos de crise e macroeconômicos, como taxa de juros e inflação; fatores institucionais – que tratam do tamanho dos mercados, da infraestrutura da economia e da credibilidade do governo – e fatores microeconômicos, que determinam a qualidade do ambiente de negócio e afetam as estratégias das operações das empresas públicas e privadas. Ele enfatizou que o principal desafio brasileiro é aprimorar a qualidade do ambiente de negócios. “Os dados continuam a sugerir que pequenos esforços para melhorar o ambiente de negócio trazem benefícios. Essa alta pode ser conquistada em nível estadual e municipal. Além disso, essas mudanças exigem mais foco e diálogo do que necessariamente a aplicação de recursos”, disse. Por outro lado, citou os aspectos positivos do Brasil, como a capacidade de absorver inovação, qualidade dos centros de pesquisas e sofisticação das empresas. Thomas Trebat e Celia Kerstenetzky participaram da Sessão Interativa 3, sobre o impacto das desigualdades no desenvolvimento dos países. Os palestrantes mostraram que as políticas públicas podem melhorar as taxas de crescimento econômico e combater as causas sistêmicas da desigualdade. ENAP LANÇA EDITAL PARA BOLSAS DE PESQUISAS CIENTÍFICAS rápidas mudanças. Durante dois dias, palestrantes de vários continentes se revezaram diante de um público ávido pelo conteúdo que os conferencistas estavam expondo e debatendo. O seminário contou com o apoio do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), e da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal). O evento foi patrocinado pelo Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Conselho Nacional do Serviço Social da Indústria (Sesi). O vice-presidente da Caixa, Paulo Galli, elogiou a oportunidade de a instituição participar como patrocinadora de um evento que instigará “reflexões importantes para o desenvolvimento brasileiro e dos outros países”. A presença de público estratégico da Administração Pública e da Academia foi potencializada para que a Escola lançasse novas iniciativas e divulgasse suas ações de forma ainda mais efetiva. No último dia do seminário, a Enap lançou edital para concessão de bolsas de pesquisa mediante seleção pública. O prazo para apresentar propostas de pesquisa se encerra no dia 12 de outubro, conforme o Edital de Chamada Pública nº 11/2015. De acordo com o coordenador-geral de Pesquisa da Enap, Pedro Palotti, a oferta de bolsas de pesquisa é essencial para aprofundar as relações da Enap com a comunidade acadêmica e fomentar a produção de conhecimento científico que possua consonância com os programas e projetos estratégicos para a Administração Pública. “Nós temos a chance de compartilhar, trocar experiências e obter produtos de pesquisa que contribuam com a tomada de decisão na Administração Pública Federal”, afirmou Palotti. Serão selecionados até quatro bolsistas doutores, cujas propostas de projeto versem sobre a linha de pesquisa Papel do Estado no Século XXI: desafios para a gestão pública. O foco da pesquisa é nos seguintes temas: Serviços Integrados, Redes e Parcerias, Governo Eletrônico e Transparência e Governo Aberto. A concessão da bolsa de pesquisa tem duração prevista de 12 meses, com financiamento mensal de R$ 3.000. A seleção tem o objetivo de contribuir para o fomento de pesquisas científicas na área de gestão pública e com a disseminação do conhecimento gerado. As atividades de pesquisa serão norteadas pelos mesmos princípios de desenvolvimento de estudos e pesquisas na Escola. l Setembro de 2015 - Gestão Pública & Desenvolvimento 25 ESPECIAL APERFEIÇOAMENTO Encontro sobre gestão pública põe inovação e excelência em debate Liderança, conhecimentos técnicos, método, treinamento, nível organizacional, meritocracia e ética foram alguns dos temas discutidos durante o primeiro Fórum HSM ●● Ana Seidl A HSM Educação Executiva realizou, no dia 3 de setembro, o 1º Fórum HSM sobre Gestão Pública, que contou com a presença de Rudolph Giuliani, ex-prefeito de Nova York. Ícone norte-americano e um dos prefeitos mais bem-sucedidos da história recente dos Estados Unidos, Giuliani t ornou-se referência mundial em gestão pública e foi caracterizado como um dos grandes líderes mundiais, cuja atuação apaziguou Nova York depois dos atentados terroristas de 11 de setembro. A palestra dele abriu o fórum e foi fechada à imprensa. O UniCEUB patrocinou o evento, realizado no Centro Internacional de Convenções de Brasília, o qual reuniu mais de 600 pessoas. A HSM Educação Executiva trabalha na formação de líderes. Por meio de programas customizados, metodologias práticas, vivência com grandes pensadores e conteúdo multiplataforma, desenvolve executivos que contribuem para o futuro das empresas e o aperfeiçoamento da gestão pública. Nas últimas décadas, o administrador público, em novo ambiente global, passa por vários desafios, exigências sociais, novas tecnologias e cenários. Adaptar-se a esse contexto e agir proativamente na busca de soluções passou a ser uma prioridade. A programação contou com a presença de Vicente Falconi, o mais renomado consultor de gestão no Brasil; Rivadávia Drummond, presidente da HSM Educação Executiva e professor especializado em gestão da inovação; e Clóvis de Barros, célebre professor e autor nas áreas de ética, filosofia e comunicação. Falconi, professor emérito da Universidade 26 Gestão Pública & Desenvolvimento - Setembro de 2015 NAS ÚLTIMAS DÉCADAS, O ADMINISTRADOR PÚBLICO, EM NOVO AMBIENTE GLOBAL, PASSA POR VÁRIOS DESAFIOS, EXIGÊNCIAS SOCIAIS, NOVAS TECNOLOGIAS E CENÁRIOS. ADAPTARSE A ESSE CONTEXTO E AGIR PROATIVAMENTE NA BUSCA DE SOLUÇÕES PASSOU A SER UMA PRIORIDADE Considerado um dos prefeitos mais bem-sucedidos dos Estados Unidos, Rudolph Giuliani abriu o Fórum com uma palestra fechada ao público Patrocinado pelo UniCEUB, o evento atraiu cerca de 600 pessoas ao Centro Internacional de Convenções de Brasília Federal de Minas Gerais (UFMG), tem seus conceitos e métodos de liderança adotados pela maioria das empresas de primeira linha do país, caso da Ambev/InBev e Gerdau, além da Amil, Klabin e Companhia Vale do Rio Doce. Ele destacou que a gestão pública precisa de liderança, conhecimento técnico e método. “É preciso liderança e qualidade do time, treinamento, nível estruturas, conduzir a análise de prazos e indicadores de acompanhamento e controle.” Para ele, deve ser refeito o que não vai bem. organizacional. Meritocracia é justiça com as pessoas”. O consultor criticou a administração pública, observando que, antes de definir o problema, o time de gestão já está escalado. Ele ressaltou que toda a organização do Estado que tem uma escola associada é melhor e citou como órgãos de excelência a Polícia Federal e a Receita Federal. “A gente não faz uma coisa bem se não houver estudo. Método é fundamental. Conhecimento técnico é entender das coisas, saber estabelecer metas, projetar PÚBLICO X PRIVADO “Não acredito que a área pública brasileira esteja condenada a ter resultados inferiores somente por causa da governança. Sempre tem espaço para melhorar e existem exemplos excepcionais no país que mostram que pode funcionar”, destacou Falconi. De acordo com o consultor, no caso do trabalho de melhoria da gestão executado em diversos estados e municípios, não basta uma consultoria elaborar um relatório para o gestor público. “É Setembro de 2015 - Gestão Pública & Desenvolvimento 27 ESPECIAL APERFEIÇOAMENTO Telmo Ximenes Fotografia preciso integrar conhecimento e atuar junto com os líderes nas organizações, estabelecer metas, comparar com órgãos do mesmo porte, treinar os profissionais”, completou. Entre os casos de sucesso citados, Falconi mencionou o trabalho na educação realizado durante o segundo mandato do governador Sérgio Cabral, no Rio de Janeiro. Além da reestruturação da Secretaria de Educação e da política de bônus para profissionais da área, o foco do trabalho foi junto às próprias escolas, com treinamento do quadro diretor e dos professores. Em quatro anos, o estado saiu do penúltimo para o terceiro lugar na qualidade da educação nacional. “Um dos segredos para alcançar resultados efetivos é o acompanhamento direto do trabalho por parte das lideranças. Os indicadores devem ser avaliados permanentemente e então os problemas ““ Não acredito que a área pública brasileira esteja condenada a ter resultados inferiores somente por causa da governança. Sempre tem espaço para melhorar ” Vicente Falconi, consultor de gestão também serão solucionados a cada dia”, destacou Falconi. O consultor disse que na área pública, muitas vezes, as pessoas não sabem projetar e organizar projetos, mas são orgulhosas. Lembrou que não há tanta diferença entre a governança do setor público e privado. “A iniciativa pública não está condenada a ser pior. A governança pode melhorar sempre. Há hospitais 28 Gestão Pública & Desenvolvimento - Setembro de 2015 que são verdadeiros desastres, mas outros são exemplos”, ponderou. Consultor do Hospital Alberto Einstein, em São Paulo, há mais de nove anos, ele destacou que se deve reduzir o tempo médio de internação dos doentes nos hospitais. “O doente está recuperado, precisa de alta e, para isso, precisa de médico na sexta-feira, por exemplo, mas este só vai na segunda”. Ele falou da necessidade de se focar na redução do tempo médio de internação das pessoas nos hospitais. “Hoje este tempo é de cerca de 15 dias. No Alberto Einstein reduzimos para dois a três dias.” Para Falconi, melhorar a saúde não depende de muita coisa. “Em um estado descobrimos que 44% da receita não era cobrada do SUS”, observou. SEGURANÇA Em relação à segurança, ele deu exemplo do trabalho desenvolvido no governo do Rio de Janeiro com o governador Sérgio Cabral. Disse que há as ações corretivas e preventivas. “Começamos pelo processo corretivo, porque o preventivo já estava sendo realizado: iniciativas sociais, presença de polícia e Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).” Foi feito um fluxograma para verificar a situação. “A pessoa comete um crime, é detida pela PM, faz-se o processo que vai para a justiça. Esta pode aceitar ou não. Depois a justiça julga, libera ou condena, manda a lista de condenados para a polícia, que prende de novo.” Telmo Ximenes Fotografia A primeira dificuldade para se fazer um fluxograma, segundo Falconi, é a informação. Faltam dados. “Tivemos de arrancar dados na unha, entrevistando pessoas e estimando números”. Ele destacou que, ao analisar um processo, é preciso identificar os gargalos. No Rio de Janeiro o problema era o sistema prisional. Havia 50 mil mandados de prisão sem poder ser executados. “O sujeito cometeu um crime, foi julgado, mas está na rua por falta de vaga”, lamentou. Foi sugerida e aceita pelo governador a análise de cada processo. Com apoio da Secretaria foi possível liberar 6 mil vagas, o equivalente a duas penitenciárias. “Muita gente já tinha cumprido pena e continuava presa. Dos 50 mil condenados, definimos os seis mil mais perigosos. A criminalidade no Rio caiu 35%”, conta. “Em Pernambuco, o governador Eduardo Campos (morto no dia 13 de agosto do ano passado) contratou a nossa empresa e fizemos a mesma coisa. O problema lá era na justiça”. ““ Deveríamos todos arregaçar as mangas e contribuir coletivamente para o país, em vez de simplesmente apontar o erro do outro. A vida é o resultado da nossa liberdade de escolha inteligente ” Clovis de Barros Filho, professor de Ética da USP e pesquisador da Unesco Segundo ele, foi utilizado o mesmo método aplicado no Rio. “Fizemos um fluxograma. Mas o problema não era no Executivo. Neste caso, foi feito contato com os juízes e realizou-se um esforço para desafogar a justiça”. Logo no primeiro ano do governo de Campos houve uma melhoria grande na segurança. No segundo ano, apareceu o problema de falta de vagas no sistema prisional. “Resolve um problema, aparece outro. Com a celeridade dos julgamentos, faltou cadeia. Os presídios estão superlotados, falta investimento nesta área. Cerca de 80% dos criminosos voltam a cometer crimes”, observou. Segundo ele, o sonho no Brasil é construir presídios que consigam recuperar presos. “Mas como conseguir isso se numa cela existem 50 presos se matando, em condição subumana?”, questiona. Há oito anos era preciso o investimento de R$ 1 bilhão e 200 milhões em presídios. Crise energética não foi por falta de aviso O professor e cientista político Luiz Felipe D´Ávila, mediador do fórum, abordou o tema a crise energética. Ele foi um dos responsáveis pela solução do apagão ocorrido durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. O consultor lembrou que, na época, o general Cardoso era ministro da Agência de Informações e foi feito um estudo do que aconteceria se houvesse um apagão no país. “Como nossa energia era 95% de hidrelétricas, dependia-se da quantidade de água estocada. E se o estoque acabasse, o apagão seria total”. Na época, o Exército avaliou o que poderia acontecer e apresentou um quadro de proporção mundial. “Começamos a trabalhar e aí apareceu deputado, senador, cada um oferecendo uma ideia para resolver o problema. Eu falei com o então chefe da Casa Civil, ministro Pedro Setembro de 2015 - Gestão Pública & Desenvolvimento 29 ESPECIAL APERFEIÇOAMENTO Telmo Ximenes Fotografia Parente, para saber qual era a meta de economia. Depois de uma avaliação, descobriu-se que tínhamos de economizar 20% de energia. C ortou-se 25% por segurança. Esta foi a meta e tudo foi muito bem feito. Isso é que chamo de gestão. Dividimos o esforço para atingir a meta de forma justa”, observou. De grandes consumidores (fábricas de ferro liga), foi comprada a produção toda. “Nós negociamos, eles não podiam gastar energia, despedir ninguém, e aceitaram na hora. O país saiu da crise. Os americanos se interessaram e nós explicamos a eles como conduzimos o processo”. Em relação à crise atual, Falconi economizou palavras. Mas enfatizou que alguns economistas já vêm alertando sobre esse problema há alguns anos. “Eu não sou economista e não tinha notado que já estavam acontecendo alguns desajustes. Percebi ““ Também dificultam o processo a incapacidade de liderar, a falta de resiliência para chegar até o fim e a dificuldade de comunicação com atores que estão dentro e fora da organização pública ” Rivadávia Drummond, presidente da HSM Educação Executiva só depois. O Brasil, ao contrário dos países latino-americanos, conta com economistas muito bons, melhores do que alguns do governo. Eles já estavam prevendo o que aconteceu”. ÉTICA Clovis de Barros Filho, professor de Ética da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da USP, pesquisador da 30 Gestão Pública & Desenvolvimento - Setembro de 2015 Unesco e autor de 20 livros nas áreas de ética, filosofia e comunicação, palestrante e consultor em ética corporativa, defende que o país se una para solucionar os problemas de gestão pública. “Deveríamos todos arregaçar as mangas e contribuir coletivamente para o país, em vez de simplesmente apontar o erro do outro. A vida é o resultado da nossa liberdade de escolha inteligente”, destacou. O tema da palestra do brilhante orador, que empolgou o público, foi ética. Ele disse que nunca esta palavra foi tão empregada, “usada para denunciar comportamentos com os quais não concordamos”. Observou que devemos supor que todos saibam seu significado, mas, quando as pessoas são indagadas sobre o que ética quer dizer, a maioria não sabe do que se trata. Foi o grego Aristóteles quem inventou o conceito, 350 anos antes de Cristo. “O que a vida tem que ter para valer a pena”. A ética seria um indicador da vida. Aristóteles comparava a vida humana a uma planta que tem todas as potencialidades para se tornar uma grande árvore e, com a ajuda da natureza, algum tempo depois alcança o que pretendia com sucesso. Para Aristóteles, a vida que vale a pena é o pleno desabrochar. No entanto, se a planta não tiver água, nutrientes e sol, não atingirá o objetivo. Vai fracassar e a vida não valerá a pena. Clóvis fez uma analogia: “Se você nasceu com dom para o desenho, seja o melhor desenhista; se canta bem, torne-se o melhor cantor; e se tem habilidade para ensinar coisas difíceis de forma fácil, torne-se o melhor professor. Cada um de nós tem as suas habilidades. A natureza particular de cada um é rica em habilidades; plural, diversificada, como no reino vegetal. “A vida valerá a pena se a natureza dentro de nós alcançar o pleno desabrochar”, comparou. Para Aristóteles, a vida é como uma máquina chamada Cosmos, que, para dar certo, precisa que tudo funcione. “O vento venta; a chuva chove, para que haja irrigação, etc. É importante que cada um cumpra seu papel e aí aprendemos com Aristóteles: não há como não relacionar a vida de alguém com o resto, com o todo. Por isso a nossa responsabilidade ética, em qualquer escola de filosofia que você considerar, é maior que nossa própria vida”, ressaltou. Segundo o professor, todo aquele que quer viver mal, em desarmonia com o Cosmos, atrapalha além de si mesmo. “Ele impede uma boa vida para os outros. A ética sempre apontou para uma vida boa para quem vive e para todos impactados por ele”, observou. O professor lembrou que a ética de Aristóteles era rigorosa. Mas não basta ter a potência e o talento inicial. É preciso determinação e perseverança para a excelência. É possível dedicar a vida à perfeição. Citou o caso de Neymar, que se tornou um dos melhores jogadores do mundo. “Aristóteles aplaudiria a vida dele O UNICEUB PATROCINOU O EVENTO, REALIZADO NO CENTRO INTERNACIONAL DE CONVENÇÕES DE BRASÍLIA, O QUAL REUNIU MAIS DE 600 PESSOAS – alguém que luta para fazer desabrochar seus talentos”. Citou também César Cielo, que, aos cinco anos, foi jogado numa piscina em Santa Bárbara do Oeste (SP). “Nunca tinha tido uma aula de natação. Qualquer um teria afundado como um tijolo. Ele parecia um espermatozoide na piscina. Extraordinária habilidade”. INOVAÇÃO O presidente da HSM Educação Executiva, Rivadávia Drummond, professor especializado em gestão da inovação, pontuou que os fatores que mais impactam negativamente a inovação na gestão pública, além da falta de união, são a descontinuidade de projetos e políticas. É preciso o entendimento de que inovação não está atrelada apenas a soluções tecnológicas, mas também a acertos na gestão e estrutura dos processos. “Também dificultam o processo a incapacidade de liderar, a falta de resiliência para chegar até o fim e a dificuldade de comunicação com atores que estão dentro e fora da organização pública”, complementou. Em sua palestra ele falou das razões por que algumas organizações fazem muito sucesso e outras fracassam e desaparecem. Lembrou os casos da Kodak, Mesbla, Varig, Embrafilme. E citou o exemplo de Israel. O que explica o milagre econômico de Israel, país com algumas décadas de existência, menor que Sergipe e com pouco mais de oito milhões de habitantes, com inimigos por todos os lados? Israel tem várias inovações: wase, irrigação por gotejamento e inovações na área de tecnologia e nanotecnologia, engenharia e medicina. Ele destacou três fatores que podem fazer isso acontecer: alocação de recursos, valores usados para a tomada de decisão e gestão de processos. l Setembro de 2015 - Gestão Pública & Desenvolvimento 31 LEGISLATIVO NOVAS SIGLAS Rede Sustentabilidade autorizada a disputar as eleições municipais Registrado no TSE, novo partido ganha, além de um senador, cinco deputados federais. Com isso, passa a ter status de bancada na Câmara ●● Da redação A Rede Sustentabilidade, partido idealizado pela ex-senadora e ex-ministra Marina Silva, finalmente conseguiu a autorização legal para atuar como agremiação política. O registro da sigla foi autorizado no dia 22 deste mês de setembro, por unanimidade, pelo plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Com a decisão favorável, os candidatos do partido poderão estrear nas urnas já nas eleições municipais do ano que vem. O tribunal negou a criação da Rede em outubro de 2013, porque o grupo político não apresentou o mínimo de assinaturas certificadas exigidas. Na ocasião, o partido teve apoio de 442 mil eleitores em assinaturas validadas, menos que o mínimo de 491 mil. Agora, a sigla apresentou mais 56 mil assinaturas de apoio e teve validado um total de 498 mil. Sem a criação da sigla, Marina Silva se filiou ao PSB nas eleições de 2014 e disputou a Presidência da República após a morte do ex-governador Eduardo Campos. Integrantes da Rede assistiram ao julgamento no TSE. Marina Silva ocupou uma cadeira na primeira fileira. O relator do caso, ministro João Otávio de Noronha, disse que o partido precisará adequar artigos do estatuto à jurisprudência do TSE, o que não impede seu registro. Ele disse não ter exigido a mudança antes do julgamento para não atrasar o registro, o que implicaria em “perda da oportunidade de participar das próximas eleições”. Alguns políticos do Partido Socialista Brasileiro (PSB), como o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, e Beto Albuquerque, que foi candidato a 32 Gestão Pública & Desenvolvimento - Setembro de 2015 O TRIBUNAL NEGOU A CRIAÇÃO DA REDE EM OUTUBRO DE 2013, PORQUE O GRUPO POLÍTICO NÃO APRESENTOU O MÍNIMO DE ASSINATURAS CERTIFICADAS EXIGIDAS vice-presidente na chapa encabeçada por Marina Silva na disputa eleitoral do ano passado, também assistiram à sessão ao lado da ex-ministra. Com a aprovação do registro da Rede, Ex-senadoras do PT, Heloísa Helena e Marina Silva são as estrelas da Rede Sustentabilidade, partido que já começa com bancada na Câmara representantes políticos do campo da esquerda se filiaram ao novo partido. ADESÕES O deputado Miro Teixeira (RJ) foi o primeiro parlamentar a aderir à nova sigla. Em sua 11ª legislatura, ele anunciou, em plenário, no dia seguinte à decisão do TSE, sua saída do Pros e a filiação à Rede. “A unanimidade do Tribunal Superior Eleitoral reconheceu, até com palavras candentes dos ministros, o esforço que foi feito para a criação dessa legenda, que não será, exclusivamente, mais uma, com todo respeito às demais, mas será uma legenda que vai mostrar que o discurso e a prática são absolutamente iguais”, declarou o deputado, no plenário da Câmara. Em seu discurso, Miro agradeceu ao Pros pela “filiação temporária democrática”. Quando o TSE negou o registro da Rede, em 2014, o deputado se filiou ao Pros para não correr o risco de ter o mandato reivindicado por seu partido anterior, o PDT. Miro chegou à Câmara em 1971, para seu primeiro mandato. De lá para cá, só esteve fora de uma legislatura, quando concorreu sem sucesso ao governo do Rio de Janeiro. Aos 70 anos, tem o mesmo número de legislaturas dos ex-presidentes da Câmara Ulysses Guimarães e Henrique Eduardo Alves (PMDB). Heloísa Helena, ex-senadora e atual vereadora de Maceió, deixou o Psol, partido que ajudou a fundar há 11 anos, para engrossar as fileiras da Rede. A relação de Heloísa com o Psol estava estremecida desde o ano passado, quando declarou apoio à candidatura de Marina (PSB), embora seu partido, na época, tivesse candidatura própria ao Planalto, Luciana Genro (RS). Na ocasião, Heloísa disse que o Brasil merecia ter Marina como presidente. O discurso foi repetido neste final de semana. A vereadora postou em página pessoal do Twitter uma foto ao lado de ex-ministra, ambas sorridentes, com a seguinte frase: “Rede sim! Porque Marina merece e o Brasil precisa!” Em seu perfil no Facebook, disse que se empenhará para o crescimento do partido em seu estado: “Vamos organizar a vivência da Rede em Alagoas, respeitando nossas próprias histórias, sem o vergonhoso artificialismo da corrida ‘filiação pra disputar eleição’”. Foi a segunda perda do Setembro de 2015 - Gestão Pública & Desenvolvimento 33 LEGISLATIVO Psol para a Rede. Antes dela, o senador Randolfe Rodrigues (AP) também havia anunciado a saída do partido e o ingresso na nova sigla. Este é a terceira legenda da caminhada política de Heloísa. Ela iniciou sua carreira como integrante do PT. Em 1994, elegeu-se deputada estadual e, quatro anos depois, conquistou uma cadeira no Senado. Em 2003, por discordar da reforma da Previdência do primeiro mandato do governo Lula, foi expulsa do partido. No ano seguinte, fundou o Psol, pelo qual disputou as eleições em 2006 em coligação formada com outros partidos de esquerda (PCO e PSTU), obtendo o terceiro lugar. OUTRAS FILIAÇÕES Deputado federal mais bem votado pelo PT no Rio de Janeiro nas eleições do ano passado, Alessandro Molon deixou o PT e se filiou à Rede NOVAS SIGLAS ““ Essa legenda, que não será, exclusivamente, mais uma, com todo respeito às demais, mas será uma legenda que vai mostrar que o discurso e a prática são absolutamente iguais ” Miro Teixeira, deputado federal (RJ) dois dias depois do registro da nova sigla. Em nota oficial, ele afirmou que “dará continuidade às lutas que sempre o nortearam na política: defesa da democracia, justiça social e desenvolvimento sustentável”. Ele também agradeceu ao PT pelos “18 anos de luta por um Brasil melhor”. Nos últimos meses, Molon demonstrava descontentamento com 34 Gestão Pública & Desenvolvimento - Setembro de 2015 o PT e com a política econômica deste segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. O deputado carioca fazia parte da corrente petista contrária ao ajuste fiscal instituído pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Com a filiação da deputada federal Eliziane Gama (MA), a Rede Sustentabilidade ganhou seu quinto deputado federal, chegou ao mesmo número de parlamentares do Psol e passou a ter status de bancada na Câmara. Com isso, terá tempo de liderança para discursos e direito de apresentar destaques em votações em plenário. Além de Eliziane, já tinham anunciado filiação à Rede, além de Miro Teixeira (RJ) e Alessandro Molon (RJ), Aliel Machado (PR) e João Derly (RS). Aliel e Derly eram do PCdoB e a deputada Eliziane Gama se elegeu pelo PPS. Evangélica e amiga de Marina Silva, Eliziane era uma das articuladoras da Rede no Maranhão e foi uma das maiores incentivadoras da criação do novo partido. “Nós ajudamos a construir a Rede Sustentabilidade no Maranhão e agora fazemos parte. Agora pela Rede nós continuaremos nossa atuação aqui no Congresso Nacional e também nosso projeto para São Luís”, destacou a parlamentar. “Minha missão como filiada ao PPS foi concluída, agora continuo como amiga. Essa não foi uma decisão fácil, sobretudo pelos vínculos afetivos com o partido. Agora, minha missão continua na Rede Sustentabilidade, um partido novo que nasce no viés do desenvolvimento sustentável e dos direitos humanos. Essas causas são minha luta de vida!”, comentou a deputada em redes sociais. Eliziane foi do PT (1988-1994), do PDT (1994-1999), voltou para o PT (2000-2006) e se filiou ao PPS (2006-20015). A Rede também ganhou um senador: Randolfe Rodrigues. Único senador do Psol, ele oficializou seu ingresso na nova sigla ao lado de Marina Silva. O parlamentar destacou sua admiração pela trajetória da ex-senadora e afirmou que sua escolha “não é um outro caminho” e sim “um novo jeito de caminhar”. “Estou fazendo um encontro de velhos companheiros que há muito tempo escolheram uma jornada para caminhar”, disse. “Estou apostando muito no que virá a ser a Rede.” Ele observou que não tem mágoa com o Psol, destacando que o partido é “irrepreensível do ponto de vista ético e de prática parlamentar irretocável”. Tribunal veta a recriação do PL Os ministros do Tribunal Superior Eleitoral decidiram por não reconhecer uma questão de ordem no registro do Partido Liberal (PL) nacional. A legenda pretendia o deferimento do registro definitivo, com aprovação de seu estatuto e programa, apesar de não ter apresentado o apoiamento mínimo de eleitores previsto na legislação. A Lei dos Partidos Políticos (9096/1995) prevê que o registro do estatuto de partido político que tenha caráter nacional, considerando-se como aquele que comprove o apoiamento de eleitores não filiados a partido político, correspondente a, pelo menos, 0,5% dos votos dados na última eleição geral para a Câmara dos Deputados, não computados os votos em branco e os nulos, distribuídos por um terço, ou mais, dos estados, com um mínimo de 0,1% do eleitorado que tenha votado em cada um deles. O relator, ministro Tarcísio Vieira de Carvalho Neto, informou que o PL apresentou 67.924 assinaturas Gilberto Kassab tentou fundir o PL com o PSD, em uma articulação que peemedebistas acreditam ter sido planejada pelo Palácio do Planalto consolidadas e 99.703 certificadas, totalizando 167.924 assinaturas. O restante para a integralização do mínimo necessário, que é de 484.169 assinaturas, segundo o partido, foi colhido e está em procedimento de certificação perante os Tribunais Regionais Eleitorais (TREs). O ministro ressaltou que “os requisitos legais para o registro partidário devem estar integralmente preenchidos no momento da formalização do pedido no Tribunal Superior Eleitoral”. O partido havia pedido que esse número fosse apresentado no Setembro de 2015 - Gestão Pública & Desenvolvimento 35 LEGISLATIVO decorrer do trâmite processual. Argumentou que “alguns cartórios eleitorais não têm observado os prazos para cumprimento do processo de verificação das assinaturas de apoiamento e também têm rejeitado muitas assinaturas sem justificativas”. A sigla ainda ressaltou já ter o montante de assinaturas suficiente para o registro, “mas que, por motivos alheios à sua vontade, ainda tramitam nas zonas NOVAS SIGLAS eleitorais para conferência”, o que justificaria o pedido. De acordo com o relator, o pedido não preencheu os requisitos legalmente impostos. Para ele, “a ausência de apoiamento mínimo – requisito substancial do pedido de registro – veio lealmente admitida na própria petição inicial do pedido, sem qualquer justificativa plausível para a flexibilização da regra”. “Aliás, impressiona o fato de o requerente ter arregimentado apenas 34,62% do total de apoiamentos necessários ao longo de oito anos. Não se percebe o mínimo de representatividade”, salientou o ministro Tarcísio Vieira. No entanto, a decisão de mandar arquivar o processo não impede que, uma vez recolhidas assinaturas suficientes a comprovar, por certidões, o apoiamento mínimo do eleitorado brasileiro, “sobrevenha OUTRAS NOVIDADES NO CENÁRIO POLÍTICO Outras duas siglas tiveram o registro aprovado pelo Tribunal Superior Eleitoral. São elas o Partido Novo e o Partido da Mulher Brasileira, o que elevou para 35 o número de legendas em condições de disputar as eleições municipais do ano que vem. O Partido Liberal (PL) teve o registro indeferido pelo plenário do tribunal. Os ministros entenderam que não havia como o processo de registro correr sem a exigência do mínimo de assinaturas de eleitores que apoiam a nova sigla. Presidido pelo empresário João Dionísio Filgueira Barreto Amoêdo, o Partido Novo é uma agremiação política de inspiração liberal e foco na eficiência da gestão pública. Tem entre os dirigentes administradores, engenheiros, médicos, economistas, advogados e outros profissionais do setor privado. Nas eleições municipais de 2016 será identificada nas urnas com o número 30. O presidente da sigla no Distrito Federal, Cláudio Barra, disse que o Partido Novo passou quatro anos 36 Gestão Pública & Desenvolvimento - Setembro de 2015 ““ O Novo nasce para resgatar a participação efetiva do cidadão de bem no processo político, ajudando na construção de um Brasil melhor para nossos filhos ” Cláudio Barra, presidente do Partido Novo no DF aguardando sua vez de poder participar formalmente da vida política do país. “O Novo nasce para resgatar a participação efetiva do cidadão de bem no processo político, ajudando na construção de um Brasil melhor para nossos filhos”. Já o Partido da Mulher Brasileira (PMB), 35ª legenda oficialmente reconhecida no país, adotará nas urnas o número 35. O estatuto do partido não proíbe a filiação de homens e rege-se "sem restrições de novo pedido de registro, juridicamente ajustado”, sustentou o relator. ARTICULAÇÃO A tentativa de recriação do PL partiu do ministro das Cidades, Gilberto Kassab. Peemedebistas acreditam que tenha sido articulada pelo Palácio do Planalto com o intuito de conter o PMDB. Sob influência de caciques do partido, o Congresso Nacional aprovou no início do ano um projeto que dificulta a fusão de partidos. Pelo texto, as novas legendas só podem se juntar a outras siglas após cinco anos de sua criação. O PL se apressou para apresentar o pedido de registro ao TSE antes da sanção da nova lei, na expectativa de que a sigla ficasse de fora da exigência. Com isso, o PL poderia se unir ao PSD, de Kassab, formando um partido da base governista capaz de ameaçar o espaço do PMDB. Em março, quando o pedido de registro foi apresentado ao TSE, a criação do PL foi um dos principais pontos de confronto entre o Palácio do Planalto e o PMDB. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), chegou a acusar o governo de “patrocinar” a criação do partido articulado por Kassab para diminuir o espaço dos peemedebistas. l qualquer ordem: sexual, social, racial, econômica ou da Mulher Brasileira, para que possamos ter os nossos religiosa". O partido começou o processo de criação em direitos garantidos, afirmados, dentro de tudo aquilo 2008 e, desde então, obteve apoio de 501 mil eleitores, que sempre buscamos". quantidade que supera o mínimo atualmente exigido No site da legenda, o PMB se define como um pela lei, de 486 mil (o equivalente partido de "mulheres progresa 0,5% dos votos dados para o sistas", "ativistas de movimentos Agora é um cargo de deputado federal nas sociais e populares" e que, junto novo caminho que vamos eleições do ano passado). com homens, "manifestaram trilhar, dentro do Partido O PMB também comprovou sempre a sua solidariedade com da Mulher Brasileira, para possuir mais de nove direas mulheres privadas de liberque possamos ter os nossos tórios no país, outro requisito: dades políticas, vítimas de direitos garantidos, afirmados, já existem unidades em Alagoas, opressão, da exclusão e das terdentro de tudo aquilo que Amapá, Amazonas, Bahia, ríveis condições de vida". Em Ceará, Distrito Federal, Espírito outro trecho, o partido diz sempre buscamos Santo, Maranhão, Minas Gerais, que "a balança da história está Pernambuco, Rio de Janeiro, mudando; a força perde seu Suêd Haidar Nogueira, presidente do Partido da Mulher Brasileira Roraima e Sergipe. A funímpeto e, com satisfação, obserdadora e presidente da legenda, vamos a Nova Ordem Mundial Suêd Haidar Nogueira, diz que a ideia do PMB surgiu que será menos masculina, mas permeada pelos ideais da necessidade de maior participação e respeito das femininos ou, melhor dizendo, será uma Era na qual mulheres em instâncias partidárias. "Agora é um os elementos masculinos e femininos estarão em maior novo caminho que vamos trilhar, dentro do Partido equilíbrio". ““ ” Setembro de 2015 - Gestão Pública & Desenvolvimento 37 POLÍTICAS DA UNIÃO TRAPALHADA Déficit no Orçamento leva agência de risco a rebaixar o Brasil Envio de peça orçamentária ao Congresso com despesa maior que receita ajudou a agravar a crise econômica e política que atingiu o governo ●● Menezes y Morais P erdido diante da crise econômica que provocou nos últimos quatro anos com gastos além do limite da arrecadação, o governo da presidente Dilma Rousseff conseguiu a proeza de piorar ainda mais a situação ao enviar para o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Congresso Nacional, o Orçamento Geral da União para 2016 com um déficit de R$ 30,5 bilhões. Foi a gota d’água para a agência americana de avaliação de crédito Standard & Poor’s rebaixar a nota de crédito do Brasil, retirando o país da classificação de investimentos. Para a Standard & Poor’s – que via o Brasil com bons olhos desde 2008, na lista de país confiável e bom pagador –, a economia brasileira em setembro de 2015 deixou de ser estável e confiável para os investidores. Até o fechamento desta edição, duas outras agências de análise de risco – a Moody’se e a Fitch – mantinham o Brasil na categoria grau de investimento. Mas sinalizaram: se a economia brasileira não se estabilizar, se o aumento da dívida pública não for contido, haverá rebaixamento. Aceso o sinal de alerta, a presidente Dilma Rousseff tratou de correr atrás do prejuízo. Ela mudou a rotina do Palácio da Alvorada: fez reuniões extraordinárias com auxiliares e ministros de Estado para discutir corte de gastos no Orçamento para 2016 e a criação de impostos a fim de sanear as contas públicas. Dilma também se reuniu com deputados, senadores e governadores aliados. Depois anunciou um pacote de medidas. 38 Gestão Pública & Desenvolvimento - Setembro de 2015 ATÉ O FECHAMENTO DESTA EDIÇÃO, DUAS OUTRAS AGÊNCIAS DE ANÁLISE DE RISCO – A MOODY’SE E A FITCH – MANTINHAM O BRASIL NA CATEGORIA GRAU DE INVESTIMENTO. MAS SINALIZARAM: SE A ECONOMIA BRASILEIRA NÃO SE ESTABILIZAR, SE O AUMENTO DA DÍVIDA PÚBLICA NÃO FOR CONTIDO, HAVERÁ REBAIXAMENTO Levy e Nelson Barbosa se reuniram com a Comissão Mista de Orçamento a fim de buscar uma solução para o déficit orçamentário PROBLEMA DO GOVERNO O envio do Orçamento ao Congresso com déficit – algo inédito na história do Brasil – foi uma tentativa malograda do governo de dobrar a resistência dos parlamentares à adoção de medidas amargas para a recuperação do equilíbrio fiscal. Os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros, devolveram a bola para o Palácio do Planalto. Eles entendem ser responsabilidade do governo encontrar uma solução para o rombo no orçamento. Ambos são contra o orçamento no vermelho e a criação de impostos. Eles acreditam que os parlamentares incluirão despesas obrigatórias de R$ 3,4 bilhões no orçamento. Se a hipótese virar realidade, as contas do governo podem ficar negativas em até R$ 70 bi. Mesmo contrariado com a exposição do rombo no orçamento de 2016, o ministro Levy continuou se reaproximando dos parlamentares e líderes aliados, a fim de buscar solução para o déficit. Ele e o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, se reuniram com a Comissão Mista de Orçamento. A impressa foi impedida de assistir. “A gente sabe aonde quer chegar, sabe como vai chegar. Nós precisamos de firmeza para lidar com essa situação. A maré mudou e a ficha tem que cair”, disse Levy. Especialistas em contas públicas dizem que orçamento com déficit é inédito. É negativo para o setor público, que inclui estados e municípios. O déficit de R$ 30,5 bi representa 0,5% do PIB. Um orçamento com previsão de déficit significa que as despesas irão superar as receitas. Assim, o governo Dilma admite formalmente: a meta fiscal, de 0,7% do PIB em 2016, fixada em julho deste ano, não será atingida. Em novembro de 2014 o governo anunciou que o setor público registraria superávit primário de pelo menos 2% do PIB em 2016 – o que correspondia a R$ 126,7 bi. Mas o déficit entrou na pauta da discórdia. Para o economista piauiense Raul Velloso, especialista em contas públicas, déficit primário significa que o país está se endividando mais, "além do serviço da dívida” pago pelo governo. O professor Luiz Alberto Machado, vice-diretor da Faculdade de Economia da FAAP, diz que a previsão de déficit é o resultado da equação entre o dinheiro que o governo arrecada e o que gasta. AUMENTO DA RECEITA Veloso e Machado entendem que os cortes anunciados pelo governo Setembro de 2015 - Gestão Pública & Desenvolvimento 39 POLÍTICAS DA UNIÃO para cobrir o rombo do déficit são insuficientes. "No fundo, o que você precisa fazer é a receita e a despesa casarem", diz Machado. O professor lembra: com as pessoas físicas e empresas, é basicamente isso que acontece. “Agora vamos pensar no caso de um país: a gente diz que um país não tem como falir, embora possa entrar em moratória. Mas observamos: em vários países, como o Brasil, toda vez que se encontram dificuldades para equilibrar um orçamento, a opção é o aumento de receita”. Machado acrescenta: “É muito difícil ver corte de despesas. O governo deveria fazer mais cortes no custeio, não no investimento." O economista Veloso lembra: superávit é conhecido como a economia para pagar os juros da dívida do país. Na prática, o déficit quer dizer que o governo prevê que não vai conseguir economizar ou ter “sobra” nas contas do depois de pagar as despesas, exceto juros da dívida pública. “Não há impedimento legal no fato de o governo ter enviado orçamento ao Legislativo com déficit, mas é inédito”, observa Veloso. De acordo com a proposta de Orçamento, a dívida líquida do setor público deverá somar 36,1% em 2015; 39% do PIB em 2016; 40,2% do PIB em 2017 e 40,1% do PIB em 2018. A dívida bruta do setor público deverá terminar este ano em 65,5% do PIB, passando para 68,4% do PIB em 2016, para 68,8% do PIB em 2017 e para 68,2% do PIB em 2018. TRAPALHADA ““ Toda vez que se encontram dificuldades para equilibrar um orçamento, a opção é o aumento de receita. É muito difícil ver corte de despesas. O governo deveria fazer mais cortes no custeio, não no investimento ” Luiz Alberto Machado, vice-diretor da Faculdade de Economia da FAAP Em dezembro de 2014 a estimativa oficial para a dívida líquida era de 37,4% do PIB no fim de 2015 e 2016, passando para 37,1% do PIB em 2017. Para a dívida bruta, a previsão era de 64,1% do PIB no fechamento de 2015, recuando para 63,3% do PIB no fim de 2016 e para 62,5% do PIB em 2017. 40 Gestão Pública & Desenvolvimento - Setembro de 2015 GOVERNO ANUNCIA MEDIDAS AMARGAS O resultado das reuniões extraordinárias que a presidente Dilma Rousseff fez com assessores próximos, ministros de Estado, deputados, senadores e governadores da base aliada foi configurado no dia 14 de setembro com o anúncio de um pacote de medidas para tirar o Orçamento do vermelho. O ministro Joaquim Levy, da Fazenda, queria um corte mais substancial nas despesas públicas. Ele receia que a crise atual seja tão grave como as crises da década de 1980, quando a inflação ultrapassou a casa de dois dígitos. O pacote de medidas para equacionar o déficit orçamentário de R$ 30,5 bi foi anunciado por Levy, tendo ao lado o colega Nelson Barbosa (Planejamento). Levy falou dos novos cortes orçamentários. O governo anunciou cortes de R$ 26 bilhões em gastos no Orçamento de 2016 para aumentar a arrecadação em R$ 32 bilhões. Pelas medidas, Antonio Cruz/Agência Brasil Oito governadores foram ao Congresso Nacional tentar convencer os parlamentares a ressuscitar a CPMF o governo “corta na própria carne”, mas a sociedade é que paga a conta. Dilma cogita aumentar a alíquota do Imposto de Renda e criar impostos até para legalizar jogos de azar em cassinos, o que gerou mais críticas contra o governo no Parlamento. Ao recriar o imposto sobre movimentação financeira, nos moldes da antiga CPMF, o governo pretende arrecadar R$ 32 bilhões em 2016. A alíquota proposta pelo Palácio do Planalto é de 0,2% e a contribuição seria “temporária”, conforme o ministro da Fazenda. “Não vai precisar durar mais de quatro anos”, afirmou Levy. Dilma discutiu a volta da CPMF com governadores de 23 estados, prometendo partilhar com eles uma parcela do tributo, que seria elevado para 0,38%, dos quais 0,18% iriam para estados e municípios. O aceno de Dilma teve apoio formal de nove governadores, que saíram em romaria pedindo apoio do Congresso. A volta da CPMF interessa aos governadores de Alagoas, Acre, Amapá, Piauí, Rio de Janeiro, Sergipe, Minas Gerais e Tocantins. Para convencer seus pares, o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB), afirma que a CPMF “só caiu no passado porque não era compartilhada com estados e municípios, mas nunca é tarde”. Pezão ouviu do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que a ideia está “fadada ao fracasso”. ALÉM DOS MINISTÉRIOS No início de setembro Dilma dissera que o governo cortou “tudo” que poderia, ao anunciar a extinção (ou fusão) de 10 dos 39 ministérios para economizar R$ 200 milhões. A extinção de ministérios trouxe o ex-presidente Lula a Brasília. Ele se reuniu com Dilma e ministros na noite do dia 17 e no dia 18 saiu em romaria legislativa, quando pediu ao deputado Cunha para “ajudar o governo”. As críticas a Dilma, porém, não cessaram. Pelo contrário, se agravaram na Câmara – onde avança o movimento pró-impeachment da presidenta, que deverá ser apresentado em dezembro. As críticas ao governo Dilma se agravaram também no Senado e junto à opinião pública, especialmente após o rebaixamento do grau de credibilidade a que o Brasil fora colocado pela agência americana Standard & Poor’s. Para uma boa parcela da população, o governo Dilma não dura até 2018, marco das novas eleições presidenciais, conforme revela sondagem feita pela consultoria Ideia Inteligência Setembro de 2015 - Gestão Pública & Desenvolvimento 41 POLÍTICAS DA UNIÃO a pedido do Brazil Institute de Washington, divulgada no dia 17. De acordo com o levantamento da Ideia Inteligência, apenas 32% dos entrevistados acreditam na hipótese de que Dilma terminará o mandato em 2018. O Palácio do Planalto não comentou. Mas, antevendo que algo parecido iria acontecer após a revelação do déficit orçamentário, Dilma anunciara as medidas de contenção de gastos. Dos mil 29 mil cargos comissionados, Dilma disse que apenas mil serão extintos. O presidente do Senado, Renan Calheiros, defende a extinção de “pelo menos 10 mil”. CONCURSOS CANCELADOS Dilma anunciou ainda a redução de aluguel, segurança e veículos, limitação de diárias e passagens de servidores. Tudo somaria uma economia de R$ 2 bilhões. Os concursos públicos previstos para 2016 foram cancelados, para gerar economia de R$ 1,5 bilhão. O governo também cogita a Medida Provisória 691, que autoriza a União a vender imóveis de sua propriedade. Os cortes na economia da União atingem os servidores públicos federais. O primeiro deles adia o reajuste salarial do funcionalismo para agosto de 2016. Os valores seriam corrigidos em janeiro de 2016. O governo estima um impacto de R$ 7 bilhões a menos com este adiamento. O teto de remuneração para o setor público também traria uma economia de R$ 800 mil. Outra medida de contenção de despesas TRAPALHADA anunciada pelo governo é o fim do abono permanência, o que significa R$ 1,2 bi de economia. Assim, a União deixaria de pagar benefícios aos servidores que optam pela não aposentaria quando atingem o tempo necessário. AS DESPESAS DISCRICIONÁRIAS COM CARGOS COMISSIONADOS FORAM REDUZIDAS PARA FAZER CAIXA NO VALOR DE R$ 2 BI. SOBRE OS LIMITES PARA GASTOS COM SERVIDORES, ELES SERÃO R$ 200 MILHÕES A MENOS As despesas discricionárias com cargos comissionados foram reduzidas para fazer caixa no valor de R$ 2 bi. Sobre os limites para gastos com servidores, eles serão R$ 200 milhões a menos. No Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) os cortes atingem o programa Minha Casa Minha Vida, menina dos olhos do governo. A economia é de R$ 4,8 bi. Diante das medidas de arrocho que atingem a categoria, os servidores públicos anunciaram greve geral a partir do dia 23. CORTES NA SAÚDE Ainda sobre o Minha Casa Minha Vida, as renegociações de contratos de aluguel, manutenção e segurança economizarão mais R$ 1,6 bi. Quer 42 Gestão Pública & Desenvolvimento - Setembro de 2015 dizer: vem aumento para prestações de quem comprou a casa própria financiada. O governo acredita que mais R$ 3,8 bi serão economizados na área da Saúde, um dos itens que mais geram críticas dos que não podem pagar plano de saúde. Quer dizer: se o atendimento às demandas da saúde pública é péssimo, a tendência é piorar. No item saúde, o governo anunciou que despesas posteriores serão pagas com verbas das emendas parlamentares. Isto desagrada até deputados aliados. É notório: os 513 deputados, sem exceção, querem mais verbas para as emendas parlamentares, dinheiro com o qual encaminham seus interesses nos estados que representam. Dilma também anunciou corte num tema polêmico: reduzir em 64% a verba do Fundo Partidário, utilizado pelos partidos para pagar propaganda, funcionários, dirigentes e manter a estrutura partidária. O governo havia alocado R$ 289,5 milhões para o fundo, composto por dotações da União, doações e arrecadação com multas. Mas o relator do Orçamento de 2015, senador Romero Jucá (PMDB-RR), aumentou para R$ 867,5 milhões. No Orçamento, o governo reservou R$ 311,4 milhões para as legendas, sendo R$ 230,2 milhões de recursos da União e R$ 81,2 milhões de multas e outras penalidades. Os ministros Levy e Barbosa acreditam que, com os cortes orçamentários, o governo economizará outros R$ 35 bilhões para pagar os juros da dívida pública. l POLÍTICA E PODER WASHINGTON SIDNEY ●● THE ECONOMIST E A CRISE BRASILEIRA Numa análise do desempenho do governo da presidente Dilma (foto) no mês de setembro, o jornal britânico The Economist diz que ela está dentro de um redemoinho e, juntamente com a grande mídia brasileira, estimula a crise para forçar a retomada do Estado mínimo – modelo de gestão econômica cujas regras são ditadas por banqueiros privados internacionais. No artigo, o jornal faz um paralelo entre o comportamento dos animais diante de uma pessoa com medo e o mercado financeiro. Ou seja, comparam os banqueiros a animais selvagens, famintos das riquezas brasileiras. O texto, traduzido e publicado no jornal Estadão, diz que, “se os animais têm faro para perceber quando um ser humano está com medo, os mercados financeiros farejam de longe a paralisia e a divisão interna de um governo”. ●● SUÍÇA CONGELA CONTAS DE EDUARDO CUNHA O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDBRJ), abriu empresas de fachada em paraísos fiscais para esconder seu nome nas contas registradas na Suíça. Isso é o que disse o Ministério Público suíço à Procuradoria Geral da República brasileira. Autos de uma investigação contra Cunha foram enviados, neste mês de setembro, para as autoridades brasileiras. A Suíça congelou cerca de cinco milhões de dólares de quatro contas bancárias cujos beneficiários são Eduardo Cunha, a mulher e a filha dele. Auditoria interna do banco que guarda esses valores é a responsável pelo informe que levou à abertura de uma ação criminal contra o presidente da Câmara na Suíça por suspeita de lavagem de dinheiro e corrupção passiva. Ao saber de tudo isso, Cunha adiou uma viagem à Itália. ●● MINISTRO JOAQUIM LEVY PEDE JUÍZO AO PT O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, apelou. No meio da crise brasileira, ele pediu aos petistas que acabem com essa história de “ambiguidade política” e alertou para a necessidade de uma unidade a fim de combater os problemas econômicos do país. O ministro avisou que criar “cizânia” em torno do ajuste fiscal só contribui para o aprofundamento da crise econômica. Levy avalia que a conturbação política está atrelada à desorganização da economia e que nenhuma das duas se resolvem sem que se encontrem soluções para ambas. Foi um recado claro para certos setores do PT que insistem em criticar o ajuste fiscal e para lideranças dos movimentos sociais, que têm se colocado contra a política econômica. Setembro de 2015 - Gestão Pública & Desenvolvimento 43 ESTADOS E MUNICÍPIOS RECESSÃO Crise econômica atinge finanças dos estados brasileiros De pires na mão, governadores cortam gastos e aumentam impostos. Muitos estão com obras paradas e com servidores públicos em greve ●● Da redação A crise econômica atingiu fortemente os estados brasileiros. A maioria dos governadores está fazendo cortes de custeio e de investimentos. O resultado são obras paralisadas, projetos adiados, atrasos de pagamento de serviços e de fornecedores. Para se ter uma ideia, o governo de Minas Gerais tem 497 obras paradas, 346 por falta de verbas. Entre elas dois hospitais no norte do estado, estimados em R$ 196 milhões. O déficit na saúde chega a R$ 1,5 bilhão, as polícias Militar e Civil estão sucateadas, a situação de 74% das escolas públicas é precária, o investimento em tecnologia caiu e o gasto anual com o custeio da Cidade Administrativa soma R$ 120 milhões. Com as contas zeradas e a possibilidade de fechar o ano com déficit de R$ 10 bilhões, o governo mineiro decidiu cortar o Prêmio por Produtividade, bônus criado em 2003 para incentivar os servidores públicos a cumprirem metas. “Não temos condições de pagar. Com o estado em déficit, não podemos ter esse adicional. Reconhecemos como dívida, mas não podemos pagar. O impacto é quase o de uma folha (de pagamento)”, avisou o secretário de Planejamento e Gestão (Seplag), Helvécio Magalhães. A previsão do governador Fernando Pimentel (PT) é de que o estado deve fechar o ano com um déficit da ordem de R$ 7,2 bilhões. Em dificuldades, os governadores buscam manobras para equilibrar as contas e apelam para medidas impopulares. Nem o estado de São Paulo, considerado a unidade mais rica da Federação, escapa da crise. Neste mês de setembro, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) resolveu 44 Gestão Pública & Desenvolvimento - Setembro de 2015 EM DIFICULDADES, OS GOVERNADORES BUSCAM MANOBRAS PARA EQUILIBRAR AS CONTAS E APELAM PARA MEDIDAS IMPOPULARES. NEM O ESTADO DE SÃO PAULO, CONSIDERADO A UNIDADE MAIS RICA DA FEDERAÇÃO, ESCAPA DA CRISE restringir a distribuição de leite para crianças carentes. Antes, 353 mil crianças entre seis meses e seis anos e 11 meses eram atendidas. Agora, o programa só atende a 37 mil crianças entre um ano e cinco anos e 11 meses. Crise: a construção do Hospital Regional de Governador Valadares, no norte de Minas Gerais, foi paralisada por falta de dinheiro Outra medida impopular do governador paulista foi o adiamento do pagamento dos créditos da Nota Fiscal Paulista, instrumento criado para reduzir a sonegação e ampliar a receita. Ele decidiu não liberar em outubro os créditos a que os contribuintes teriam direito e prometeu pagá-los somente em abril de 2016. O objetivo dos cortes de despesas é compensar a redução das receitas. Até este mês de setembro, foi registrada uma queda de arrecadação da ordem de 3% em relação ao mesmo período de 2014. A previsão é de que a receita em 2015 fique R$ 5 bilhões abaixo do orçamento de R$ 188 bilhões. CAOS O Rio Grande do Sul também enfrenta situação bastante delicada. No final de agosto, o governo do estado encaminhou aos parlamentares da bancada gaúcha no Congresso Nacional um material de apoio que contextualiza a situação econômica atual. Segundo o documento, o governador José Ivo Sartori (PMDB) assumiu o Palácio do Piratini faltando R$ 5,4 bilhões em caixa, o equivalente a três folhas de pagamento do funcionalismo. A equipe do governador fez uma analogia para explicar o endividamento do estado: cada gaúcho nasce hoje com uma dívida de R$ 6,84 mil. O pagamento da folha do funcionalismo público virou um desafio para o governo estadual. O desequilíbrio nas finanças do estado, que já dura décadas, chegou a um ponto em que o governo já não consegue pagar os servidores na integralidade e tem de pedalar dívidas para o mês seguinte. O mês de agosto foi pago em quatro parcelas, o que gerou uma greve de quatro dias dos servidores e ampliou o cenário de tensão no estado. Para honrar a dívida com o funcionalismo, Sartori atrasou, em abril, uma parcela de R$ 280 milhões da dívida do estado com a União, o que levou o governo federal a bloquear as contas do estado. A dívida consolidada do Rio Grande do Sul com a União, hoje, é de R$ 49,3 bilhões. Sartori diz que os cofres estaduais têm um déficit mensal em torno de R$ 400 milhões. Já a folha da administração direta, incluindo fundações e autarquias, está em torno de R$ 1,8 bilhão ao mês. Para este ano, o governo calcula um déficit de R$ 5,4 bilhões. Desde o início do ano o governo gaúcho vem sinalizando a dificuldade de “fechar a conta” no fim do mês. LEI KANDIR No Mato Grosso do Sul, a palavra de ordem é apertar o cinto. Esta é a meta do secretário de Fazenda, Setembro de 2015 - Gestão Pública & Desenvolvimento 45 ESTADOS E MUNICÍPIOS RECESSÃO Inconformados com os cortes de gastos do governo, 10 mil professores entraram em choque com a PM, em um protesto que deixou 200 feridos Marcio Monteiro (PSDB). Els tem se queixado de uma lei aprovada na gestão passada que incrementou os salários do funcionalismo público, provocando despesas da ordem de 29,9% nos cofres do Estado. “Essa lei foi uma aposta no escuro, pois havia a possibilidade de crescimento da economia do estado para esse ano, mas não houve. Agora temos que nos readequar”, disse Monteiro. Segundo ele, a folha de pagamento do estado está em torno de R$ 50 milhões. Para cumprir esse pagamento estão sendo feitos ajustes. O governador Reinaldo Azambuja (PSDB) corre atrás de recursos represados pelo governo federal referentes à Lei Kandir, de 2014. “Nós estamos esperando a vinda de R$ 76 milhões divididos em quatro parcelas. Que não se sabe quando vão ser pagas”, observa o secretário Marcio Monteiro. O governador enviou à Assembleia Legislativa projeto de lei que aumenta impostos de cosméticos, perfumes, refrigerantes, bebidas alcoólicas, bem como de cigarros e derivados do fumo. Além disso, propõe que os carros só fiquem isentos de IPVA a partir de 20 anos, cinco a mais do que é hoje. Em Mato Grosso a situação não é diferente. Em janeiro, o governador Pedro Taques (PSDB) suspendeu pagamentos pendentes do governo anterior, na ordem de R$ 970 milhões, e repactuou contratos. Pelo menos 1,1 mil cargos comissionados foram cortados. Taques tem dito que as medidas adotadas não têm sido suficientes para responder à queda de arrecdação. No primeiro quadrimestre deste ano, o governo do estado cortou 62,1% dos 46 Gestão Pública & Desenvolvimento - Setembro de 2015 investimentos, em comparação com o mesmo período do ano passado. O valor caiu de R$ 320,3 milhões para R$ 121,3 milhões. A queda da arrecadação diminuiu a velocidade na execução de obras e causou adiamento de novos projetos. Só em janeiro e fevereiro deste ano as perdas de arrecadação foram de R$ 65 milhões, segundo divulgou o governador Reinaldo Azambuja, em comparação com os dois primeiros meses de 2014. “Existe grande preocupação, já que, segundo declaração da presidente Dilma (Rousseff), essa crise deve durar até o final do ano. Mato Grosso do Sul já sente esses efeitos desde janeiro”, afirmou Azambuja. PROTESTOS O governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), também elevou impostos na tentativa de equacionar a previsão de queda da arrecadação. Tão logo assumiu o cargo, elevou a alíquota do IPVA de 2,5% para 3,5% e também a do ICMS, afetando produtos como remédios, gasolina, material escolar, roupas, móveis e eletrodomésticos. Richa responsabiliza o governo federal pela crise enfrentada pelo estado. Ele se disse “traído” pelas projeções econômicas do governo federal. O tucano enfrentou uma violenta greve de professores e de outras categorias que se sentiram inconformados com os cortes de gastos do governo. No mês de maio, cerca de 10 mil pessoas fizeram um protesto nas ruas que resultou em confronto com a Polícia Militar, resultando em 200 feridos. Nem as áreas de saúde, segurança e educação escaparam dos cortes anunciados pelo governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB), antes mesmo de terminar seu primeiro mês no cargo. No dia 20 de janeiro, ele baixou um decreto determinando corte de R$ 2,683 do orçamento previsto para este ano. O déficit orçamentário do Rio é o maior do país: são R$ 13 bilhões, dos quais R$ 9 bilhões só da Previdência. A previsão é de que a queda de arrecadação de royalties do petróleo, na comparação entre 2014 e este ano, possa passar dos R$ 3 bilhões. ECONOMIA ESTAGNADA José Carlos de Oliveira, professor de Economia da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em orçamento público, avalia que a crise dos governos estaduais é reflexo de um conjunto de fatores, como economia estagnada, que reduz a arrecadação, gasto público crescente e endividamento histórico. Um dos principais problemas, segundo ele, é que a despesa com a máquina é “extremamente alta e crescente, a um ritmo inclusive maior do que o da economia”. Reformas estruturais e redução no número de cargos comissionados e nas verbas de publicidade são medidas consideradas prioritárias pelo professor, que considera “irresponsável parcelar salários”: “A solução (da crise) passa, não estou dizendo que se esgota, pelo ““ A solução (da crise) passa pelo aperto de cinto, que tem de ser seletivo. Não devo prejudicar quem trabalha, quem produz e quem é eficiente, e muito menos prejudicar a qualidade do serviço público que ofereço. O resto, posso sacrificar ” José Carlos de Oliveira, professor de Economia da UnB e especialista em orçamento público. aperto de cinto, que tem de ser seletivo. Não devo prejudicar quem trabalha, quem produz e quem é eficiente, e muito menos prejudicar a qualidade do serviço público que ofereço. O resto, posso sacrificar”, afirma. Já o auditor fiscal João Pedro Casarotto, da Federação Brasileira de Associações de Fiscais de Tributos Estaduais (Febrafite), acha que a dívida com a União é o principal entrave para o desenvolvimento dos estados, pois causa “uma sangria grande de recursos, que impede os governos de fazerem alguns investimentos”. Segundo ele, a Lei de Renegociação da Dívida, aprovada no ano passado, irá apenas “empurrar o problema com a barriga” e abrir espaço fiscal para novos empréstimos. A alteração na base de cálculo das dívidas foi sancionada, mas ainda não foi aplicada porque, segundo o governo federal, dependeria de regulamentação, argumento que vem sendo contestado judicialmente. As prefeituras do Rio de Janeiro e de São Paulo obtiveram liminares para que seus passivos sejam pagos com base nos novos índices. A mesma estratégia, diz Casarotto, pode ser adotada pelos estados. l Setembro de 2015 - Gestão Pública & Desenvolvimento 47 GOVERNANÇA E GESTÃO MARCUS VINICIUS DE AZEVEDO BRAGA As sete faces da função controle Nas minhas infantis tardes semanais, assistindo à interação com as partes interessadas, como o Dr. Lao do clássica “Sessão da tarde”, vi por várias vezes a película “As filme e suas personas. Sete Faces de Dr. Lao”, um filme estadunidense de 1964, Assim, para fins didáticos, vamos abrir a nossa mente dirigido por George Pal, que era de fato uma adaptação e analisar sete ramos dessa grande árvore que é a função do romance de 1935 intitulado “O Circo do Dr. Lao”, do controle, presente na vida administrativa e pessoal, perautor de mesma nacionalidade, Charles G. Finney. cebendo como ela se materializa, não pela forma de Nesse clássico, um circo conduzido pelo Dr. Lao chega instituições e órgãos, e sim pela interação com os sistemas à cidade fictícia de Abalone e os personagens do circo, políticos e administrativos. Citaremos alguns exemplos que na verdade são facetas de seu proprietário, inte- para melhorar a percepção: ragem com a população local, provocando suas questões 1. DIAGNOSTICADORA-AVALIATIVA – O controle íntimas e coletivas. Essas interações são, na verdade, pelas suas ações de auditoria, de verificação, produz uma articulação daquele enigmático personagem para de forma privilegiada informações sobre a gestão, a reação da comunidade a um grande problema político diagnósticos e cenários que permitem a construção de local. O filme é interessantíssimo, em opinião sobre programas de governo e especial por relacionar o individual e sobre a gestão de unidades. Ex: audiO controle é o coletivo. torias operacionais, relatório de gestão. uma função nova quando Aproveitando-se dessa antiga 2.INTERATIVA-PREVENTIVA – se fala de um contexto imagem, podemos dizer também que Nessa função, transcendendo apenas democrático. E ao mesmo a função controle, em suas diversas o interesse do diagnóstico, o controle roupagens institucionais – coninterage, recomenda, orienta, alerta, tempo fundamental trole administrativo, controle social, de forma preventiva na resposta aos nesse desenho controle interno, controle externo, riscos detectados, visando à correção controle contábil –, pode se materiade rumo e às alterações pontuais e lizar em diferentes funções, em faces que se apresentam sistêmicas que promovam a melhoria. Ex: recomene que se articulam na promoção do aprimoramento da dações efetuadas via relatório. gestão pública, oriundas dessas diversas roupagens, 3. JUDICANTE-PUNITIVA – Seja na punição dos integrando-se e influenciando questões individuais e agentes pelo desvio de conduta, seja pela certificação coletivas. de órgãos e gestões, nessa função o controle atua de O controle, como dizia um dos pais da Adminisforma coercitiva, impondo àqueles que deliberaram e tração, Henri Fayol, “consiste em verificar se tudo corre causaram problemas punições formais e simbólicas, de acordo com o programa adotado, as ordens dadas e os de forma que as situações não mais ocorram. Ex: princípios admitidos. Tem por objetivo assinalar as faltas penalidades aplicadas pela Lei Anticorrupção, pelos e os erros, a fim de que se possa repará-los e evitar a sua tribunais de contas. repetição”. Uma função administrativa que atua sobre os 4. SUPERVISORA-INTEGRALIZANTE – Aqui o problemas do mundo concreto, da dinâmica, e, apesar de controle funciona como uma meta-controle, uma ser uma atuação una, é percebida de diversas formas, na supervisão de nível estratégico, olhando a floresta ““ ” 48 Gestão Pública & Desenvolvimento - Setembro de 2015 do alto e promovendo a melhoria em uma amplitude maior. Enxerga fluxos e sistemas, permitindo mapear fragilidades e interagir em uma dimensão macrogovernamental. Ex. análise das contas de governo ou contas do presidente. 5. MEDIADORA-ARTICULADORA – O controle tem o potencial de mediar demandas populares, articular normativos e interagir com diversos atores na busca de conciliar soluções, rompendo um paradigma positivista de apenas se prender à lei. Nesse sentido, a capacidade de produzir informações e de aplicar sanções permite essa resolutividade mais expedita pela via administrativa. Ex. interação com o controle social, no processamento de denúncias, na proposição de normas. 6. ORIENTADORA-DIFUSORA – No que tange à gestão de riscos, a accountability, na promoção da realimentação da gestão, o controle dispõe de um grande ferramental, pela sua visão global e pelas suas ferramentas de análise e detecção, para orientar o gestor, não a fazer o que deve ser feito, mas sim a se prevenir para que o que deve ser feito ocorra e com resultados. Ex. atividade de capacitação do gestor, concursos de boas práticas, orientações de como prestar contas. 7. ESTRUTURADORA-REFERENCIAL – Como difusor, o controle também parametriza e referência a gestão, criando isomorfismos, pelo seu poder de ditar boas práticas e pelo caráter indutor das avaliações. Assim, pelos seus achados e recomendações, ele estimula a criação de normas e procedimentos e molda a atuação dos gestores. Ex. efeitos de recomendações sobre normas, procedimentos e nas organizações. O controle é uma função nova quando se fala de um contexto democrático. E ao mesmo tempo fundamental nesse desenho. Ainda se tem muito a falar sobre essa função administrativa, e isso traz crises de identidade, em dilemas e contradições que fazem parte de sua história. Precisamos de equilíbrio, harmonia, coordenação nessas facetas. Como desconsiderar os aspectos mais pragmáticos, focados no agente, que, se não for alcançado, vai cometer das suas de novo, contaminando o sistema? Como não focar o sistema, o aspecto preventivo, a melhoria dos controles que fortalece aquela gestão contra os obstáculos? Como desconsiderar a contabilidade como ferramenta no apoio à gestão e que necessita da auditoria e que fornece credibilidade às contas? Como esquecer a força da população, como beneficiário e aliado na governança das políticas públicas, necessitando estar engajada nessa ação? Não podemos alimentar a ingênua ilusão de que apenas órgãos burocráticos darão de tudo sozinhos! Uma discussão complexa é a do que é o controle, dado que se trata de uma ação transdisciplinar. Difícil definir conceito em tão grande mutação e vinculado a tantas áreas do saber... Somos jurídicos? Somos contábeis? Somos gerenciais? Somos sociais? Somos informáticos? Temos ganhos e perdas em todas essas facetas e penso que necessitamos aliar essas coisas, tirando o melhor de cada um desses papeis, de forma integrada. Essas funções se entrelaçam e, às vezes, até se conflitam, mas devem convergir e se coordenar para a promoção do aprimoramento da gestão pública. Não se trata de uma lista exaustiva... São faces, que, como no filme citado, por vezes não são compreendidas de forma isolada, mas que, pela sua interação, pelo equilíbrio, promovem no cotidiano do mundo dos riscos a eficácia e a eficiência necessária para o Estado nas democracias do século XXI. l Marcus Vinicius de Azevedo Braga é doutorando em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mestre em Educação pela Universidade de Brasília (UnB), formado em Pedagogia pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e bacharel em Ciências Navais com habilitação em Administração pela Escola Naval. É analista de Finanças e Controle. Setembro de 2015 - Gestão Pública & Desenvolvimento 49 JUDICIÁRIO LAVA JATO O mapa da mina da corrupção que abalou o Brasil Propinoduto teve ramificações estendidas a dezenas de obras em vários estados do país. Foram bilhões de reais drenados da Petrobras ●● Menezes y Morais E m sua 19ª fase, a Operação Lava Jato trouxe a público o mapa da mina do esquema de propinas da Petrobras. Mais de 60 obras foram autorizadas por contratos do dinheiro sujo em São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Espírito Santo e Bahia apenas na Diretoria de Serviços da empresa. Foi o que revelaram os envolvidos que assinaram acordo de delação premiada. Contudo, a Justiça só tem denúncias de 22 obras, 21 da Petrobras e uma da Usina Nuclear de Angra 3. Para os investigadores, a conclusão é óbvia: para cada contrato, havia botim incluído – um percentual da corrupção, dinheiro sujo para dividir entre operadores e as respectivas estruturas partidárias que representam no organograma criminoso. O ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco é um dos que ajudam o Ministério Público Federal e a Polícia Federal a reconstituir o mapa da corrupção. São mais de 60 obras, entre construção de refinarias, gasodutos, compra de navios. Todas têm um percentual milionário da corrupção. Relatório divulgado recentemente pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras apontou a movimentação suspeita de R$ 23,7 bilhões por parte dos 8.620 suspeitos investigados na Operação Lava Jato. Em Itaboraí (RJ), a obra da refinaria Coperj teve contrato assinado por quatro consórcios no valor de R$ 8,81 bilhões, com propina de R$ 264,38 milhões. Em Ipojuca (PE) foi assinado contrato de 8 bilhões, com propina de R$ 174,36 milhões, Em Araucária (PR), o contrato foi de R$ 8,05 bilhões, com R$ 164,11 milhões de propina. Em Paulínia 50 Gestão Pública & Desenvolvimento - Setembro de 2015 MAIS DE 60 OBRAS FORAM AUTORIZADAS POR CONTRATOS DO DINHEIRO SUJO EM SÃO PAULO, RIO DE JANEIRO, PERNAMBUCO, ESPÍRITO SANTO E BAHIA APENAS NA DIRETORIA DE SERVIÇOS DA EMPRESA (SP), o contrato foi assinado por R$ 190 bilhões, com propina de R$ 57,53 milhões. Investigações do MPF e da PF desarticularam um esquema que drenou R$ 23,7 bilhões dos cofres da Petrobras, segundo estimativa da COAF SUPERFATURAMENTO CRIMINOSO Em Betim (MG), a obra da refinaria foi contratada por R$ 961 milhões, com o valor da corrupção estipulado em R$ 28,85 milhões. Na Bahia, a obra do município de São Francisco do Conde foi orçada em R$ 3,39 milhões, com propina de R$ 42,88 milhões. Em Bacabeira (MA), uma obra orçada em R$ 956,88 milhões tinha R$ 3,18 milhões de propina. Em Cubatão (SP), a obra orçada em R$ 467,08 milhões tinha R$ 4,93 milhões de propina. No gasoduto Urucu (AM), o valor do contrato foi de R$ 1,83 bilhão, com R$ 36,55 milhões de dinheiro sujo. No gasoduto de Macacu (RJ) foram R$ 163 milhões, com propina de R$3,52 milhões. Em Pernambuco foram gastos R$ 569,82 milhões no gasoduto de Ipojuca, com propina de R$ 11,39 milhões. Na Bacia de Santos (SP), o gasoduto Lula-Cernambi consumiu R$ 248,97 milhões, com propina de R$ 100 mil. O contrato das obras de terminais de regaseificação em Salvador (BA) foi assinado no valor de R$ 542,57 milhões, com R$ 10,86 milhões de propina. No Rio de Janeiro, uma obra orçada em R$ 544,08 milhões teve R$ 10,90 milhões de propina. Em Vitória (ES), foram R$ 486 milhões, com R$ 4,86 milhões para a corrupção. No Espírito Santo, o terminal Barra do Riacho, em Aracruz, custou R$ 895,88 milhões, com R$ 4,93 de propina. Os cinco terminais aquaviários no Rio de Janeiro, com contratos no valor de R$ 233,76 milhões, embutiram R$ 2,33 milhões para propina. No Espírito Santo, as seis unidades de gás de cacimbas, em Linhares, custaram R$ 1,81 bilhão, com propina de R$ 38,25 milhões. Há ainda o mapeamento da propina em obras de usinas nucleares e navios-sonda. A usina de Angra dos Reis (RJ) custou R$ 2.9 bilhões, com R$ 5,82 milhões de propina. O navio-sonda Petrobras 1000 custou R$ 586 milhões, com R$ 2,9 milhões de propina. O navio-sonda Vitória 1000, de R$ 616 milhões, teve propina de R$ 25 milhões. E o navio-sonda Titanium, de R$ 1,81 bilhão, teve propina de R$ 20 milhões. Como os navios-sondas ficam em movimento, inexiste ponto fixo geográfico. Conforme os investigadores do MPF e da PF, “o valor da propina, em geral, é estimado na divisão usual de 1% de cada contrato, para a Diretoria de Abastecimento e 2% para a de Serviços”. Setembro de 2015 - Gestão Pública & Desenvolvimento 51 JUDICIÁRIO LAVA JATO MP e Polícia Federal devassam quadros históricos do PT José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil do ex-presidente Lula, foi o primeiro quadro histórico do PT a aparecer nas investigações da Operação Lava Jato. Depois surgiram Gilberto Carvalho e Antônio Palocci. Com o avanço das investigações, vieram à tona os nomes da ex-ministra Ideli Salvatti e os ministros Edinho Silva e Aloysio Mercadante. Por fim surge o nome do líder maior: o fundador do partido e ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. Lula vai depor na Polícia Federal como testemunha. Teve o nome citado pelos investigados do esquema de corrupção na Petrobras que assinaram acordo de delação. Até o fechamento desta edição o depoimento de Lula não tinha data definida. A PF pediu e o procurador-geral da República Rodrigo Janot encaminhou ofício solicitando autorização ao Supremo Tribunal Federal (STF) para a Polícia federal ouvir Lula na condição de testemunha. Lula não tem mais fórum privilegiado, mas o nome dele foi citado em meio aos de deputados e senadores que só podem ser investigados com autorização do STF. Lula é considerado o líder maior do PT. Rui Envolvido no escândalo por delatores, o ex-presidente Lula é o mais novo integrante de um quadro histórico do PT acusado de participar do Petrolão LULA NÃO TEM MAIS FÓRUM PRIVILEGIADO, MAS O NOME DELE FOI CITADO EM MEIO AOS DE DEPUTADOS E SENADORES QUE SÓ PODEM SER INVESTIGADOS COM AUTORIZAÇÃO DO STF Falcão, presidente nacional da sigla, lançou Lula no final de setembro à Presidência da República em 2018. O doleiro-delator Alberto Youssef, que está preso, foi o primeiro a citar Lula e a presidenta Dilma no processo da Lava Jato. Outro delator, Paulo Roberto Costa – que Lula chamava carinhosamente de “Paulinho” –, confirmou a informação 52 Gestão Pública & Desenvolvimento - Setembro de 2015 de Youssef: o governo sabia da corrupção que grassava nos subterrâneos da Petrobras. Costa enviou e-mail ao governo sobre o assunto, alertando sobre uma provável investigação do Tribunal de Contas da União nos contratos superfaturados da Petrobras. OUTROS MINISTROS Youssef também citou nomes de ministros de Lula: Gilberto Carvalho, ex-chefe de Gabinete de Lula; José Dirceu, da Casa Civil; Antônio Palocci, da Fazenda; e Ideli Salvatti, ex-ministra de Relações Institucionais; Palocci também foi ministro (Casa Civil) do primeiro governo Dilma. Foi obrigado a deixar os cargos quando teve o nome envolvido em denúncias. Em 2010 Palocci coordenou a campanha de Elza Fiuza /Agência Brasil Dilma, reuniu-se com operadores do esquema de corrupção e pediu R$ 2 milhões. O acerto para a entrega do dinheiro foi feito no comitê eleitoral de Dilma em Brasília. O dinheiro sujo foi entregue ao braço direito do ex-ministro Palocci, Charles Capella, em um hotel de São Paulo. Foi o que disse ao MPF e à PF o operador Fernando Soares, o Fernando Baiano, outro delator. Palocci nega: “É fantasia”. Ainda sobre Palocci – que Lula chama de “gênio da economia” – a ISTOÉ revelou, em reportagem exclusiva de capa intitulada As operações de Palocci na Lava Jato, que as consultorias do ex-ministro teriam sido criadas para desviar R$ 100 milhões do Petrolão para o PT. EDINHO SILVA, EXTESOUREIRO DE DILMA, SE DEFENDE DA SUSPEITA DE IRREGULARIDADES NA ARRECADAÇÃO, SOBRETUDO EM CONTATO COM O EMPREITEIRO RICARDO PESSOA, DA UTC, OUTRO DELATOR EDINHO E MERCADANTE Depois a Lava Jato citou ministros do segundo governo Dilma: Edinho Silva, das Comunicações, e Aloizio Mercadante, da Casa Civil. Ambos são investigados por autorização do STF. Mercadante teria obtido benefícios antirrepublicanos do esquema da Petrobras em 2010, durante a campanha para governador de São Paulo. Mercadante nega, mas não comenta. Edinho, ex-tesoureiro de Dilma, se defende da suspeita de irregularidades na arrecadação, sobretudo em contato com o empreiteiro Ricardo Pessoa, da UTC, outro delator. “Conversei com empresários brasileiros seguindo os princípios éticos e morais”, diz Edinho. A partir das informações de Pessoa, que se disse pressionado, o STF autorizou inquérito contra Edinho. Em setembro, o MPF apresentou e a Justiça acatou as denúncias contra 15 investigados, incluindo José Dirceu, Renato Duque – ligado a Dirceu – e João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT. Vaccari foi condenado pelo juiz Sergio Moro a 15 anos e quatro meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva, organização criminosa e por 27 operações de lavagem de dinheiro. Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras, foi penalizado a 20 anos e oito meses de reclusão por corrupção passiva, organização criminosa e lavagem de dinheiro. É a primeira condenação de Vaccari e Duque na Lava Jato. Os dois respondem a outras ações penais por suspeitas de integrarem o escândalo do Petrolão. Conforme o MPF e a PF, a corrupção na Petrobras sugou pelo menos R$ 6 bilhões de propinas. l Setembro de 2015 - Gestão Pública & Desenvolvimento 53 JUDICIÁRIO LAVA JATO UM ESCÂNDALO SEM PRECEDENTES O STF decidiu tirar a investigação envolvendo a senadora Gleisi Hoffman (PT-ES) da relatoria do ministro do STF, Teori Zavascki. A senadora teria recebido R$ 1 milhão do esquema. A mesma parte dos autos sai dos cuidados do juiz Sérgio Moro. Assim, apurações sobre a senadora petista ficam com o ministro Dias Toffoli. A parte do processo relativa ao ex-vereador do PT Alexandre Romano, sem foro privilegiado, passou ao encargo da Justiça Federal em São Paulo. Os ministros Gilmar Mendes e Celso de Mello (decano da categoria) foram votos vencidos na sessão do STF que desmembrou o Inquérito 4130, o processo da Lava Jato. O STF retirou da jurisdição do juiz Sérgio Moro a parte relativa às denúncias de corrupção no Ministério da Fazenda, Orçamento e Gestão. A decisão gerou polêmica dentro e fora do STF. Celso de Mello disse que “o que se investiga, no caso, é uma suposta grande organização criminosa, tida como responsável por uma situação anômala, patológica, de macrodelinquência governamental”. De acordo com esta expectativa, ao tirar das mãos do juiz Sérgio Moro e do ministro-relator Zavascki as investigações da corrupção feitas pela Lava Jato, as ações penais poderiam se espalhar pelo país. Foi isso o que especulou o ministro Gilmar Mendes, na declaração de votos. “Não precisava chegar a esse ponto. Fiquei impressionado com o gráfico que o Dr. Janot trouxe e que mostrava realmente tentáculos de toda a sorte. Essa é base, é um crime de organização criminosa. Certamente o maior escândalo de corrupção do Brasil e quiçá do mundo. É preciso que tenhamos essa compreensão. O Tribunal terá de recompreender e rediscutir isso em outro momento”. Para Mendes e os investigadores da Lava Jato, a decisão do STF pode enfraquecer a operação. 54 Gestão Pública & Desenvolvimento - Setembro de 2015 ““ O que se investiga, no caso, é uma suposta grande organização criminosa, tida como responsável por uma situação anômala, patológica, de macrodelinquência governamental Gilmar Mendes, ministro do STF. ” “Tira-se de Curitiba para São Paulo, outro tribunal, outra estrutura. Isso precisa ser coordenado. Estamos falando de um crime que ocorre no Brasil e no exterior. Lavagem de dinheiro no exterior e tudo mais. Temos de mudar os paradigmas e a Procuradoria anunciou que vai ampliar a força-tarefa. Vai fazer uma força-tarefa para atuar em todos os casos. É preciso também que se pense nisso em termos de integração do Judiciário. Era desnecessário, não precisava chegar a esse ponto”, concluiu Mendes. • O Brasil do Mais Médicos é o Brasil que cuida, educa e avança. O Mais Médicos é muito mais que médicos. É mais atendimento É mais infraestrutura É mais educação O programa já levou 18.240 novos médicos para 4.058 municípios e 34 Distritos Indígenas, beneficiando 63 milhões de brasileiros que não tinham atendimento médico. Agora são 134 milhões de brasileiros atendidos pela Saúde da Família. Construções, ampliações e reformas de 26 mil Unidades Básicas de Saúde (UBSs) espalhadas por todo o Brasil. O Mais Médicos já criou 5.306 novas vagas de graduação em medicina em universidades públicas e privadas. A meta é criar 11.500 novas vagas até 2017. Na residência médica, foram criadas 4.742 novas vagas em diversas especialidades. Até 2018, serão 12.400 novas vagas. Gestor Público, fique atento às publicações de editais de adesão e acompanhe as ações do Programa Mais Médicos do Governo Federal pelo maismedicos.gov.br É o Governo Federal trabalhando para o Brasil avançar. MAISMEDICOS AGENDA BRASÍLIA AJUSTE FISCAL Medidas duras para reequilibrar as finanças do DF Tony Winston/Agência Brasília Providências anunciadas por Rollemberg vão desde o aumento das refeições no restaurante comunitário até a redução dos salários do primeiro escalão ●● Washington Sidney O país vive uma crise econômica sem precedentes. Governo federal, estados e municípios enfrentam graves problemas orçamentários. Para reequilibrar as finanças, os entes federativos estão adotando medidas duras, como conte de despesas e aumento de impostos. No Distrito Federal, a situação não é diferente. Ao assumir o governo local, no início do ano, o governador Rodrigo Rollemberg se deparou com um rombo de R$ 6,5 bilhões. Na tentativa de reverter esse quadro, logo que assumiu o cargo o governador cortou 4,5 mil cargos comissionados, o que garantiu economia de R$ 113 milhões, suspendeu diárias e passagens, devolveu carros alugados e impôs o controle do uso de combustível na administração, cortando mais R$ 800 milhões. Essas medidas, contudo, não foram suficientes para contornar a crise financeira do DF. Até o pagamento dos salários dos servidores passou a sofrer atraso. Faziam-se necessários novos ajustes. Neste mês de setembro, Rollemberg anunciou um novo pacote de medidas. Ele suspendeu o pagamento de reajustes salariais aos servidores públicos, concedido por Agnelo Queiroz de forma escalonada em 2013 (em valores acima da capacidade financeira do GDF), aumentou as tarifas de ônibus, do metrô e do ingresso do zoológico, suspendeu os novos concursos públicos e cortou em 20% o número de cargos comissionados. O pacote de medidas anunciado prevê ainda a redução de secretarias de 24 para 16, o corte de 20% dos salários do próprio governador, do vice, dos secretários e administradores regionais e um programa de 56 Gestão Pública & Desenvolvimento - Setembro de 2015 RODRIGO ROLLEMBERG RECONHECEU QUE AS MEDIDAS PROPOSTAS SÃO AMARGAS, MAS INDISPENSÁVEIS PARA CONTORNAR A CRISE FINANCEIRA VIVIDA PELO DISTRITO FEDERAL demissão voluntária nas empresas públicas, além de aumento de impostos, como o ICMS e o IPTU, e de outros serviços públicos. O preço Ao lado de alguns secretários, o governador Rodrigo Rollemberg anunciou o polêmico pacote que levou os servidores públicos a cruzarem os braços da refeição nos restaurantes comunitários saltou de R$ 1 para R$ 3. Foi a primeira majoração dos preços desse serviço social desde que foi instituído, em 2001. Rodrigo Rollemberg reconheceu que as medidas propostas são amargas, mas indispensáveis para contornar a crise financeira vivida pelo Distrito Federal. “Realmente, a crise que nós encontramos no Distrito Federal é muito grande, exige sacrifícios, são medidas duras, mas necessárias para reequilibrar o caixa e para que o governo possa voltar a investir”. COLAPSO Com exceção das tarifas de ônibus e metrô, da suspensão dos concursos públicos e do reajuste ao funcionalismo, todas as demais propostas precisam ser aprovadas pela Câmara Legislativa ou necessitam de decreto do governador. E mesmo assim só passariam a valer em 2016. Pedro Meneguetti, secretário de Fazenda, diz que o DF “pode entrar em colapso” caso não consiga se readequar ao limite máximo da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que é de 49% da receita corrente líquida. De acordo com o Relatório de Gestão Fiscal do 2º Quadrimestre de 2015, a despesa do GDF com pessoal foi de R$ 9.292.217.673 no segundo quadrimestre. O valor corresponde a 50.8% da receita líquida do DF. Até agora, o GDF tinha estourado apenas o “limite prudencial” da LRF, de 46.55%, e estava na faixa de atenção. Com a ultrapassagem do teto, o GDF tem até oito meses para voltar ao limite previsto na lei. Pelo menos um terço do “excesso de salários” precisa ser cortado até dezembro. Do contrário, o Distrito Federal fica proibido de obter garantias, transferências voluntárias e operações de crédito – na prática, deixa de receber investimentos de fora e perde repasses federais do Fundo de Participação dos Estados e do Fundo de Participação dos Municípios. Segundo a Secretaria de Fazenda, Rollemberg pode ser responsabilizado na Justiça e até perder o mandato se não se readequar à LRF. Além disso, se a despesa total com pessoal ultrapassa os limites da LRF, a lei prevê a adoção de medidas drásticas, como redução de 20% dos cargos comissionados e até exoneração de servidores concursados. A norma também permite a redução da jornada de trabalho dos servidores e consequente diminuição no salário. Setembro de 2015 - Gestão Pública & Desenvolvimento 57 AGENDA BRASÍLIA REUNIÕES Antes de anunciar o pacote de medidas, o governador ouviu todos os secretários em uma reunião no início do mês. A crise financeira já havia levado o governo do Distrito Federal a pensar em parcelar o pagamento de salários e a anunciar a suspensão da conversão das licenças-prêmio em dinheiro. Como reflexo da crise, o ex-secretário de Fazenda, Leonardo Colombini, pediu exoneração do cargo no final de agosto. Rollemberg também se reuniu com lideranças dos servidores públicos para apresentar o quadro. Os sindicalistas deixaram o encontro indignados, alegando que o gestor se limitou a apresentar números e a argumentar ter AJUSTE FISCAL O aumento da tarifa dos ônibus e da refeição nos restaurantes comunitários pegou de surpresa os moradores da cidade problemas econômicos herdados do governo anterior. O GDF tem 119,1 mil servidores públicos na ativa e o déficit para pagá-los ao longo do ano foi calculado em R$ 800 milhões. Fazenda ajuda a aumentar a receita A Secretaria de Fazenda também preparou algumas ações para ajudar o GDF a aumentar a receita e superar a crise financeira. A maior parte das medidas diz respeito à fiscalização e já está sendo implementada pela Pasta. A expectativa é de que o governo local arrecade mais de R$ 200 milhões ainda neste ano. Segundo o secretário Pedro Meneguetti, com essas medidas busca-se a justiça fiscal e a arrecadação de parte do que é devido aos cofres públicos. “Esse planejamento especial ajudará no pagamento da folha de pessoal e das despesas obrigatórias, além de permitir que assumamos o compromisso com os fornecedores.” Todas as iniciativas foram elaboradas pela equipe da Secretaria de Fazenda e apresentadas nesta manhã (22) ao governador e parte do secretariado. Rodrigo Rollemberg agradeceu o empenho de todos os envolvidos no planejamento e se mostrou confiante na recuperação financeira do Distrito Federal. “Esse esforço será fundamental para que a gente possa 58 Gestão Pública & Desenvolvimento - Setembro de 2015 terminar 2015 em um clima de paz, e, principalmente, começar 2016 com um cenário muito melhor. Tenho convicção de que Brasília vai vencer”, disse. INADIMPLENTES A Secretaria de Fazenda vai cruzar dados das declarações de Imposto de Renda Pessoa Física com outras informações cadastradas do contribuinte para detectar inadimplentes do Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação, sobre a doação de valores identificar inconsistências nas declarações prestadas pelos contribuintes ao fisco. Constatadas divergências, o cidadão é alertado via internet para que providencie espontaneamente os ajustes necessários na escrituração fiscal. em espécie – muitas vezes declarada à Receita Federal do Brasil e não informada ao fisco distrital. A cobrança então é feita com base nas informações obtidas das declarações a serem fornecidas pela RFB. A expectativa é que com isso o Executivo local arrecade R$ 20 milhões. A Pasta também projeta o incremento de pelo menos R$ 30 milhões até o fim do ano com a continuidade de cobrança do rito especial – quando o contribuinte declara que deve, mas não paga. O devedor então é intimado a acertar a situação com o governo para que não seja inscrito na dívida ativa e não venha a ser protestado. Segundo Meneguetti, essas dívidas chegam a mais de R$ 160 milhões. ““ Realmente, a crise que nós encontramos no Distrito Federal é muito grande, exige sacrifícios, são medidas duras, mas necessárias para reequilibrar o caixa e para que o governo possa voltar a investir ” Rodrigo Rollemberg, governador do DF. A Secretaria intensificará o acompanhamento do programa Malha-DF, que consiste no cruzamento eletrônico de dados originários de diversas fontes, como cartão de crédito e nota fiscal eletrônica, para ICMS INTEGRAL Também serão incluídas novas mercadorias comuns no segmento varejista de alimentos em Substituição Tributária – que entram no DF sem recolhimento de imposto. O ICMS passaria a ser recolhido no valor integral ou no total apurado pelo atacadista substituto, excluindo a mercadoria da apuração pelo Simples Nacional, no caso de varejista optante. Por meio da ferramenta Desenvolvimento do Sistema de Mineração de Dados e Cobranças Eletrônicas, a Secretaria buscará na base de dados da Nota Fiscal Eletrônica o cálculo do valor devido e a notificação para recolhimento de valores não pagos. As operações com mercadorias sujeitas à Substituição Tributária passarão a ser identificadas em tempo real, e o imposto não pago será cobrado imediatamente. Com esta medida, espera-se arrecadar pelo menos R$ 40 milhões. Uma força-tarefa vai intensificar os julgamentos administrativos de processos acumulados na Secretaria. Foram selecionados valores elevados e com maior potencial de gerar receita aos cofres públicos para serem julgados com prioridade e possibilitar Setembro de 2015 - Gestão Pública & Desenvolvimento 59 AGENDA BRASÍLIA a adesão dos inadimplentes ao Programa de Incentivo à Regularização Fiscal (Refis). De acordo com o secretário de Fazenda, 15 auditores atenderão cerca de 30 processos com valor total de mais de 2 bilhões. Estima-se uma arrecadação de R$ 50 milhões, além do incremento da carteira de parcelamento. Serão enviados para protesto cerca de 15 mil débitos inscritos no Cadastro da Dívida Ativa do Distrito Federal que não foram acertados no último Refis. A Secretaria espera o incremento de pelo menos R$ 20 milhões na receita. O Programa de Incentivo à Regularização Fiscal do Distrito Federal foi prorrogado para o período de 1º de outubro a 30 de novembro. De 16 de março a 30 de junho, mais de 95 mil AJUSTE FISCAL ““ Esse planejamento especial ajudará no pagamento da folha de pessoal e das despesas obrigatórias, além de permitir que assumamos o compromisso com os fornecedores ” Pedro Meneguetti, secretário de Fazenda do DF cidadãos e empresas renegociaram débitos com o governo de Brasília, o que representou o incremento de R$ 209 milhões aos cofres do Executivo. Outros R$ 888 milhões foram refinanciados em até 120 parcelas. Agora a expectativa é que a arrecadação seja de R$ 70 milhões até o fim de 2015. l Com informações da Agência Brasília O PACOTE DE MEDIDAS CONTRA A CRISE • Suspensão do reajuste do funcionalismo: os servidores ficam sem a parcela do reajuste escalonado que havia sido acordado com a gestão passada. A economia prevista é de R$ 400 milhões até o final do ano. Objetivo é reajustar os salários no começo do ano que vem. • Tarifas de ônibus: As tarifas, que custavam R$ 1,50, passaram para R$ 2,25 (50% de aumento). As de R$ 2 subiram para R$ 3 (50%). As de R$ 2,50 foram para R$ 3 (20%) e as de R$ 3 para R$ 4 (33%). • Tarifa de metrô: Passou de R$ 3 para R$ 4 todos os dias, inclusive sábados, domingos e feriados. • Restaurante comunitário: Refeição passou de R$ 1 para R$ 3. O preço nunca havia sido reajustado desde a inauguração do primeiro restaurante, em 2001. Na época, o sub- 60 Gestão Pública & Desenvolvimento - Setembro de 2015 • • • • • sídio pago pelo governo era de R$ 1,49 por refeição e subiu para R$ 5,71. Ingresso no zoológico: Foi de R$ 2 para R$ 10 (reajuste de 400%). Corte de salários do primeiro escalão: governador, vice-governador, secretários e administradores regionais passam a receber salário com redução de 20%, como forma de contribuir para a redução de gastos. Elevação do IPTU: reajuste de até 10%, a partir de 2016. Receita estimada é de R$ 53 milhões. ICMS de TV por assinatura: Passou de 10% para 15%. A receita estimada é de R$ 52 milhões por ano. ICMS sobre bebidas e tabacaria: a alíquota subiu de 25% para 29%. GDF espera arrecadar R$ 100 milhões anuais com a medida. ARTIGO JOSÉ OSMAR MONTE ROCHA Convulsão social, econômica e política no Brasil O momento conturbado que vive a sociedade brasileira, diante de um quadro alarmante na área social, na economia e na política, tira o sono e a tranquilidade dos cidadãos; exige uma reflexão sobre o cenário nacional e uma decisão de fé e coragem para superar a crise instalada pelo governo; o país vive uma verdadeira convulsão social, econômica e política; a preocupação dos trabalhadores, das famílias e dos empreendedores é o sinal de alerta para enfrentar a crise desoladora que tomou conta do país. A inflação desenfreada cresce todo dia; a taxa de juros dispara num ritmo que nenhum tomador de empréstimo suporta; o Produto Interno Bruto encolhe como bucho de menino pobre em época de frio; a corrupção se alastra O desemprego de ponta a ponta como uma epidemia Nem Adam Smith, o pai da economia, aflige os trabalhadores, ainda sem vacina para imunizar o dá jeito no cenário econômico que inquietando famílias povo brasileiro; a política devaneia enlameia o povo brasileiro. que pagam aluguéis, e tremula na base e no Parlamento; O desemprego aflige os trabalhaescolas, planos de a economia fraqueja como sertanejo dores, inquietando famílias que pagam saúde e outras despesas sem água para beber, plantar e matar aluguéis, escolas, planos de saúde e a sede dos animais – é uma total conoutras despesas para a sobrevivência para a sobrevivência vulsão social, econômica e política no familiar; os benefícios sociais e, princifamiliar Brasil! palmente, o seguro desemprego foram O povo não aguenta mais essa duramente golpeados pelo governo, situação: a disparada de preços dos em flagrante delito social; a falta dessa alimentos, transportes, escolas, combustíveis, energia garantia temporária é motivo para o desespero daqueles elétrica e demais serviços; a taxa Selic do Banco Central que perdem a única fonte de receita e não conseguem subiu para aproximados 15% ao ano; os juros praticados encontrar um novo emprego. pelos bancos e operadoras de cartões de crédito estão beiA Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) cai vertirando a casa dos 400% ao ano; a inflação oficial, até agora ginosamente pela baixa cotação das ações de empresas estimada em 10% ao ano, derrubou todas as previsões do de capital aberto que negociam no mercado. O exemplo governo, estraçalhou a meta anual de inflação projetada mais contundente é o caso da Petrobras, que perdeu no pelo Banco Central do Brasil e fez encolher a economia Brasil e no exterior o interesse de investidores na comcom um Produto Interno Bruto na faixa de 3% negativos. panhia. As agências de classificação de risco rebaixaram ““ ” Setembro de 2015 - Gestão Pública & Desenvolvimento 61 ARTIGO o grau do Brasil como local seguro para investimentos; e um conjunto de empresas brasileiras também foi rebaixado, perdendo a capacidade de captação de capitais no exterior. A moeda brasileira, o Real, em pouco tempo perdeu 50% do seu valor em relação ao dólar americano, provocando aumento vultoso na dívida pública e desequilíbrio na balança comercial. O trabalhador, o empresário, o industrial e demais cidadãos estão apavorados com o quadro estarrecedor da economia brasileira. O governo federal perdeu as rédeas da economia, castigou a população com medidas econômicas baseadas em retirada de benefícios e aumento da carga tributária; quando deveria reduzir ministérios e secretarias com status de ministério. É preciso cortar gastos; cortar o excesso de cargos comissionados; eliminar as viagens de servidores com passagens e hospedagens por conta do Erário; retirar as mordomias praticadas por servidores 62 Gestão Pública & Desenvolvimento - Setembro de 2015 Convulsão social, econômica e política no Brasil e dirigentes ocupantes de cargos comissionados, tais como: carros oficiais e de serviços, telefonia fixa e móvel, auxílio-moradia e o uso de energia elétrica e água de forma desordenado; todas as salas deveriam dispor de interruptores para que, em horário de almoço, as luzes fossem apagadas; os contratos de manutenção, de limpeza, de vigilância e outros deveriam ser revistos, com a adoção de uma tabela de preços aprovada pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. É hora de refletir, analisar e chamar toda a sociedade para opinar na busca de uma saída para a crise instalada no país. Por que deixar tudo a cargo dos economistas? É um ônus muito pesado para esses dedicados estudiosos! Os economistas já formalizaram diversas ideias e tudo falhou. É hora de chamar vários segmentos da sociedade: administradores, contadores, auditores, advogados, engenheiros, matemáticos, sindicalistas, filósofos, etc. e, principalmente, chamar as donas de casas – essas sabem federais e estaduais. É só esperar e conferir a força do planejar e controlar o orçamento doméstico; conhecem o voto popular. sacrifício de conter gastos e creem na esperança de dias O Ministério Público continua apurando fatos evimelhores. denciados na Operação Lava Jato, com a possibilidade de Em passado recente, no governo Itamar Franco, foi desvios de bilhões de reais; e o Poder Judiciário firme no o então ministro Fernando Henrique Cardoso (soci- exame e julgamento daqueles que são considerados resólogo) que debelou a inflação com a criação do Plano ponsáveis pelos prejuízos causados ao Erário. Agora resta Real – mudou a moeda, tornou-a forte e deu novo ânimo esperar os diversos processos em andamento para que a aos brasileiros com a melhoria do poder aquisitivo e o sociedade tome conhecimento dos escândalos noticiados crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Foi no pela imprensa, com a efetiva apuração e julgamento pelo governo de Fernando Henrique Cardoso que o econo- Judiciário, após o cumprimento do rito com direito ao mista (deputado, senador, governador) José Serra, no contraditório e a ampla defesa. cargo de ministro da Saúde, revolucionou a Pasta com Diante do quadro estarrecedor que aflige o povo braa implementação de medidas técsileiro, restam poucas alternativas para nicas e administrativas. Assim, temos a saída da crise conjuntural; antes de exemplos de dois estudiosos de áreas tudo é preciso reconhecer os erros praO Ministério diferentes, atuando com êxito em ticados na administração pública e as Público continua apurando mazelas produzidas: planejamento campos distintos de suas especialifatos evidenciados na zações e conquistando melhorias para inadequado, gastos excessivos com a Operação Lava Jato, a Nação brasileira. máquina administrativa, resultando com a possibilidade A área política brasileira sofreu em déficit orçamentário; negociações um duro golpe aplicado pela corpolíticas onerosas para o Poder Exede desvios de bilhões rupção; o ringue político foi abalado; cutivo e desequilíbrio político na base de reais os partidos citados nos recentes governista. escândalos e os nomes divulgados Vendo tudo isso, considero que pela mídia abalaram as instituições há uma verdadeira convulsão social, partidárias e deixaram os eleitores frustrados e econômica e política no Brasil, sem precedentes na indignados pelos fatos narrados diariamente nos história e sem horizonte promissor para o futuro veículos de comunicação. Mas é bom lembrar que próximo, que alente e estabeleça diretrizes para nem todos os políticos fazem parte desses escândalos; o bem-estar social, o crescimento econômico e existem representantes do povo em todos os partidos o equilíbrio político, mantendo a harmonia trabalhando com seriedade e digdos três Poderes da União, como está nidade para a melhoria da Nação definido na Constituição do Brasil.l brasileira. Com tudo isso, certaJosé Osmar Monte Rocha é contador, auditor, mente os eleitores conscientes vão analista de Finanças e Controle do Ministério da Fadar respostas aos candidatos zenda (aposentado) e professor de várias disciplinas da Universidade do Distrito Federal (UDF). Graduado nas eleições de 2016 para em Ciências Contábeis, pós-graduado em Gerência prefeitos e vereadores; e em Empresarial lato sensu, atuou como inspetor seccional de Finanças de ministérios, como delegado regional de 2018 nas eleições gerais para Contabilidade e Finanças do MIC e como conselheiro presidente da República, senafiscal de empresas estatais. É sócio fundador e diretor financeiro do INAFIP. dores, governadores e deputados ““ ” Setembro de 2015 - Gestão Pública & Desenvolvimento 63 AGENDA BRASÍLIA TRABALHO SOCIAL Projeto de incentivo à leitura de Ceilândia é modelo para o país Bibliorodas tem mais de três mil livros doados pela população. Com o êxito, projeto multiplica leitores até em municípios do sertão do Ceará ●● Julciara Abreu I niciado em 2010 no Shopping Popular de Ceilândia, região administrativa do DF, o Projeto Bibliorodas se tornou referência de ação social e está sendo implementado em quatro municípios do Ceará. Começou com Clara Etiene, formada em Letras, com mestrado e doutorado na área de leitura e formação do leitor, e Edna Freitas, mestre em Literatura. Elas foram incentivadas pela mãe de Clara – a assistente social Ana Maria Oliveira Lima, também feirante na cidade – a criar um espaço de estímulo para os feirantes lerem e escreverem. O espaço era conhecido como sábado e tardes literárias. O Bibliorodas conta com o apoio da Associação dos Feirantes do Shopping Popular de Ceilandia (Asfecei), da Fundação Nacional de Artes (Funarte), do Ministério da Cultura e da Biblioteca do Senado Federal. Clara Etiene conta que o projeto deu certo e tomou outros rumos. “À medida que os feirantes gostavam da leitura e escrita, outras habilidades cresceram naturalmente”. Na verdade, ela percebeu que podia multiplicar a alfabetização e despertar nos feirantes o gosto pela leitura. Em 2012 ela teve a ideia de sair em busca dos leitores, em vez de esperar por eles. “Pode ser qualquer um, adultos descansando depois do almoço ou crianças acompanhando seus pais ao trabalho, por exemplo”. Diante da grande procura por livros, Clara e Edna tiveram a iniciativa de encher seis carrinhos de feira com livros para todos os tipos de público. “Os livros que mais saem são os infantis e os romances. Mas um fato curioso é que os infantis são emprestados tanto por crianças 64 Gestão Pública & Desenvolvimento - Setembro de 2015 DIANTE DA GRANDE PROCURA POR LIVROS, CLARA E EDNA TIVERAM A INICIATIVA DE ENCHER SEIS CARRINHOS DE FEIRA COM LIVROS PARA TODOS OS TIPOS DE PÚBLICO quanto por adultos. Acredito que as cores e a linguagem sejam atrativas. Muitos aproveitam para ler para os filhos”, comenta Clara Etiene. Repletos de diversos livros, os carrinhos de feira são levados para Edna Freitas e Clara Etiene criaram o Projeto Bibliorodas em Ceilândia para estimular os feirantes da cidade a cultivar o hábito da leitura todos os tipos de leitores dentro do espaço da feira de Ceilândia. Os livros são lidos no local, mas os frequentadores também podem levá-los para casa. A exigência é que os devolvam para que outros possam ler. Clara contou em seu blog o susto que levou ao flagrar o pequeno Vitor, frequentador do espaço de leitura na feira, explicando para um adulto o que era o projeto e a diferença entre um romance de adulto e um livro infantil. “Ele sabe direitinho como funciona o Cardápio Literário do Bibliorodas. Muito lindo e incentivador para nós ver os pequenos viajarem pela leitura”, disse. PRÊMIO A Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) realizou este ano o 20º Concurso para Programas de Incentivo à Leitura para Crianças e Jovens, no Rio de Janeiro. Todos os anos, em junho, autores, editoras, ilustradores e muitos leitores mirins lotam o espaço. O Salão FNLIJ é um grande encontro, principalmente para os estudantes, que são levados pelas escolas do Rio para participar de várias atividades literárias. Setembro de 2015 - Gestão Pública & Desenvolvimento 65 AGENDA BRASÍLIA TRABALHO SOCIAL O Projeto Bibliorodas começou no Shopping Popular de Ceilândia e se tornou uma referência para alguns municípios e universidades Clara Etiene teve a ideia de inscrever o projeto, motivada pela participação espontânea e constante das crianças e jovens que fazem toda a diferença na história do Bibliorodas. As organizadoras do projeto foram surpreendidas ao chegar ao evento e serem recebidas O SUCESSO NA TERRA DE ANTONIO CONSELHEIRO Os municípios Senador Pompeu, Quixeramobim, Quixadá e Banabuiú do Ceará adotaram a iniciativa. Todos os eventos do projeto são divulgados pelos jornais locais, rádios, além do famoso boca-a-boca do sertão, que acaba atraindo mais e mais leitores e doações. A maior cidade do sertão do Ceará, Quixeramobim, conta com mais de 80 mil habitantes. O município é considerado o centro geográfico do sertão cearense, terra de Antonio Conselheiro, líder da Guerra de Canudos, e do arquiteto e compositor Fausto Nilo. Lá o Bibliorodas está disponível na Biblioteca Pública Municipal Ismael Pordeus. O Bibliorodas também já está inserido no ensino superior, na Universidade Vale do Acaraú (UVA) e no Centro Tecnológico do Ceará (Centec). O projeto participou do TED x UnB, evento que reuniu, no dia 21 de março deste ano, no Memorial Darcy Ribeiro, cerca de 130 participantes com experiência neste tipo de iniciativa. Na oportunidade, houve troca de informações com pessoas criativas, engajadas e dispostas a transformar o que sabem para 66 Gestão Pública & Desenvolvimento - Setembro de 2015 outras pessoas. O TED é uma plataforma para ideias que merecem ser compartilhadas. Teve início em 1984, na Califórnia, como uma conferência onde tecnologia, entretenimento e design convergiam. Hoje o TED compartilha ideias de abrangência universal – de ciência a negócios e questões mundiais – em mais de 100 línguas. É uma plataforma para ideias que merecem ser compartilhadas. A Universidade Católica de Brasília (UCB) também contou com o projeto Bibliorodas no 12º Encontro de Letras, em setembro de 2014, no auditório do campus, em Brasília. As idealizadoras do projeto divulgaram na página do projeto – https://bibliorodas.wordpress.com/ – que tiveram a oportunidade de levar um pouco do sonho do Bibliorodas. Elas também falaram das estratégias que usam para sensibilizar os leitores. Participaram de palestra com os mestres e alunos do Curso de Letras. O projeto foi escolhido por pesquisadoras da UCB, que escolheram o tema O Bibliorodas e o processo de letramento no Shopping Popular de Ceilândia. As formandas por tantas crianças, que gritavam o nome do projeto. “Foi uma honra participarmos desse grande evento, porque o Salão FNLIJ tem o objetivo também de levar leitura a diversos leitores mirins”, esclareceu Etiene. Edna Freitas não esconde uma ponta de orgulho com a premiação do projeto no Salão FNLIJ: “Tivemos a grata surpresa de termos sido reconhecidos como um programa que incentiva a leitura de crianças e jovens. É isso mesmo… simples assim. Recebemos o Prêmio FNLIJ com muito orgulho e o dividimos com cada amigo leitor que vivencia a experiência da leitura literária, mas o dividimos, principalmente, com nossos doadores de livros, amigos colaboradores e com as crianças que acompanham o Bibliorodas”. “Estamos realizadas de poder ajudar um pouquinho que seja nosso país, que é tão carente de ensino e de cultura. Hoje, vermos essas crianças nos incentivando por onde passamos é muito gratificante”, acrescenta Clara. Ela diz que recebeu o Prêmio FNLIJ com muito orgulho e o dividiu com cada amigo e leitor que vivencia a experiência da leitura literária. “Mas o compartilhamos, principalmente, com nossos doares de livros, amigos colaboradores, com as crianças que seguem o projeto por onde nós levamos nossos carrinhos, cheinhos de livros”, complementa. l fizeram questão de entregar uma cópia do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) para as idealizadoras. UNICAMP O projeto também participa, desde o ano passado, do Congresso Nacional de Leitura (Cole), considerado o maior evento sobre leitura no país. Clara e Edna estiveram presentes no evento do segundo semestre de 2014, quando falaram da experiência do Bibliorodas como uma ação de intervenção literária. “Na ocasião, apresentamos a experiência do Bibliorodas como ação de intervenção literária. Mas o Cole é, principalmente, um lugar onde se deve ouvir histórias. Estar no Cole é a possibilidade de beber um pouco na fonte e fomos beber histórias de leituras e leitores”, conta Etiene. Desde 2013 o projeto tem recebido mais e mais doações de livros literários. Hoje conta com cerca de três mil livros. Clara Etiene postou em seu blog: “Às vezes parece que os livros têm asas e chegam às nossas mãos por meio de místico encantamento. Livros voam, No município cearense de Quixadá, grupos de jovens circulam pelas feiras livres e mercados públicos, levando a leitura à população flutuam pelo ar e pousam de vez em quando nas mãos dos leitores”, comentou. Quem quiser fazer doações de livros, só de literatura, basta entrar em contato pelo e-mail bibliorodas@gmail. com. E também acessar a página do projeto: https:// bibliorodas.wordpress.com/. Setembro de 2015 - Gestão Pública & Desenvolvimento 67 INTERNACIONAL MICHAEL KAIN A economia mundial continua em compasso de espera A situação econômica global piorou nos últimos meses de 2015. O mercado financeiro sofreu o pior abalo desde a crise financeira de 2008, com fortes quedas nas principais bolsas de valores, sobretudo na Ásia. A causa principal é a mudança de ritmo no crescimento da economia chinesa, gerando queda de mais de 8% na incipiente Bolsa de Shangai. Analistas econômicos e financeiros estimam uma redução na taxa de crescimento do produto interno bruto (PIB) chinês. Contudo, nem todas as notícias são más. A economia norte-americana vem mostrando consistente e forte crescimento. A última estimativa indica crescimento do PIB de 3,7% (taxa anualizada até o segundo trimestre de 2015), a confiança dos consumidores melhorou e o índice de habitação mostra avanços. Com a crescente globalização da economia, a situação da China inspira cuidados devido ao seu papel como principal exportador e importador mundial e segunda maior economia. A Índia vem demonstrando forte crescimento e poderá superar a China em 2015, crescendo a taxa de 7% contra uma estimativa de 5% a 6% da China, segundo fontes internacionais. Mesmo que a A REDUÇÃO DO CRESCIMENTO DA ECONOMIA CHINESA PROVOCOU FORTES QUEDAS NAS BOLSAS DE VALORES, PRINCIPALMENTE NA ÁSIA economia da Índia demonstre crescimento (podendo se tornar a terceira maior economia mundial nos próximos anos), mais de 50% da população se compõe de jovens, o que requer rápida expansão da infraestrutura social, que é precária. 68 Gestão Pública & Desenvolvimento - Setembro de 2015 A Índia é um dos países líderes do grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e do IBSA (Índia, Brasil e África do Sul). Em termos comparativos, a população jovem da Índia pode ser um dos elementos cruciais ao crescimento futuro, tendo em conta que a população chinesa começa a envelhecer e não se reproduz a taxas condizentes com as necessidades futuras do país. O PAPEL DO GRUPO BRICS O grupo BRICS perdeu parte de seu brilho recentemente com a redução do crescimento chinês e a ameaça de aumento nas taxas de juros nos Estados Unidos, o que poderá causar forte transferência de recursos financeiros dos países emergentes para aquele país. Contudo, informações recebidas quando do fechamento deste artigo indicam que o Federal Reserve (banco central norte-americano) não elevará, por enquanto, as taxas de juros, como se previa. O que se mantém é a esperada redução no crescimento chinês, que afetará economias emergentes e as desenvolvidas, em processo de recuperação da crise financeira de 2008. Embora não tenha conseguido maiores progressos na substituição do sistema econômico global, o grupo BRICS criou mecanismos financeiros alternativos, como o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) e o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura, liderado pela China. A China vem tentando mudar o modelo de crescimento baseado em exportações para concentrar-se na expansão do mercado interno e elevação do padrão de vida de sua população. A concessão de crédito, particularmente para a construção de habitações e infraestrutura urbana, gerou altos níveis de endividamento público e privado, causando sérios problemas. A desaceleração do crescimento chinês gerou queda na demanda por commodities, afetando a economia de outros membros do BRICS, como o Brasil, e outros países emergentes e desenvolvidos. O Brasil e a Rússia entraram em recessão e a África do Sul deverá crescer 2% em 2015, com alta taxa de desemprego. A Índia é TEMPOS DIFÍCEIS: COM A ECONOMIA EM CRISE, AFETADA PELAS SANÇÕES ADOTADAS PELOS EUA E PELA UNIÃO EUROPEIA, RUSSOS PROTESTAM NAS RUAS menos dependente de capital global e do comércio internacional que os demais membros do BRICS. A economia russa foi seriamente afetada pelas sanções econômicas e financeiras adotadas pelos Estados Unidos e pela União Europeia, além da queda nos preços de petróleo e gás, itens importantes na pauta de exportações do país. A inflação russa também está elevada, em torno de 15% ao ano, até agosto. Em artigo publicado no dia 3 de agosto de 2015, no jornal Daily Telegraph, que circula em Londres, três embaixadores de países-membros do BRICS (Brasil, Índia e África do Sul) assinaram um artigo afirmando que “as nações que compõem o BRICS oferecem ao mundo uma mostra genuína de parceria econômica”. Os embaixadores reconhecem a importância da VII Cúpula do BRICS ocorrida em Ufá, na Rússia, em julho passado, considerada um marco na história do grupo ao completar os Setembro de 2015 - Gestão Pública & Desenvolvimento 69 INTERNACIONAL principais projetos acordados em cúpulas anteriores, particularmente na VI reunião de Cúpula realizada em Fortaleza, em julho de 2014. Fizeram referência à instalação do Novo Banco de Desenvolvimento e do Arranjo Contingente de Reservas (ACR). O artigo acentuou que, “entre outras coisas, o novo banco financiará infraestrutura em países em desenvolvimento, particularmente em projetos de desenvolvimento sustentável”. Os embaixadores acreditam que a cooperação entre os membros do BRICS, “reflete um objetivo necessário à coordenação entre novos países emergentes em um mundo em rápida mudança”. Afirmaram: “Nossa cooperação se baseia nos princípios das Nações Unidas, inclusive o de igualdade e soberania. Ninguém dita nada a ninguém ou impõe seu desejo, A economia mundial continua em compasso de espera CONTRÁRIO AOS PROGRAMAS DE AUSTERIDADE E DE CORTE NOS GASTOS DO BEM-ESTAR SOCIAL DO ATUAL GOVERNO, JEREMY CORBYN SE ELEGEU COM 60% DOS VOTOS qualquer processo decisório se faz em consenso. Esta é uma das razões para acreditarmos que a nossa parceria, que representa 43% da população mundial e quase 30% do PIB global, oferece um modelo sustentável de cooperação internacional”. REINO UNIDO O principal partido de oposição britânico, o Trabalhista, de centro-esquerda, elegeu o novo líder, 70 Gestão Pública & Desenvolvimento - Setembro de 2015 Jeremy Corbyn, em 12 de setembro, com uma maioria de quase 60%. Corbyn, que é deputado há mais de 30 anos, sempre militou na oposição e mais à esquerda dos demais membros do próprio partido. Só conseguiu apoio dos seus pares para se candidatar no último minuto de fechamento da competição. A campanha revolucionou o partido, que se mostrara pessimista ao perder as eleições em maio 2015 e aproveitou o poder da mídia social para influir no eleitorado mais jovem, além de ter se beneficiado de um questionável sistema eleitoral instituído pelo último líder, Ed Miliband. A regra estabeleceu que qualquer eleitor poderia pagar uma taxa de £3 (R$ 18) e se tornar membro do partido Trabalhista, apto a votar na eleição para a liderança. Membros de partidos hostis ao Trabalhista, como os do Conservador ou os de extrema esquerda, se alistaram para votar em Corbyn mesmo que por objetivos distintos. Um deles para dificultar o retorno dos trabalhistas ao governo. O gabinete de oposição instalado pelo senhor Corbyn é bastante eclético e tem sido muito criticado. Cinquenta por cento dos ministros são mulheres, mas discute-se que a elas não foram oferecidos os melhores cargos. John McDonnell, que representa o partido Trabalhista como ministro da Fazenda, fará oposição a George Osborne e o governo Conservador apoia uma estratégia econômica radical como alternativa às medidas de política do governo. O líder trabalhista e seu ministro propõem, se eleitos em 2020, nacionalizar as ferrovias, o que custaria bilhões de libras aos cofres públicos, as companhias de utilidade pública (gás, eletricidade, telefone) ao custo estimado de 185 bilhões de libras (R$ 1,1 trilhão), além dos serviços postais (Royal Mail), privatizados no primeiro mandato do governo de coalizão formado pelos conservadores e liberais democratas. Uma das propostas será o financiamento de vários projetos de infraestrutura, utilizando o que eles denominam de Facilitação Quantitativa do Povo (People Quantitative Easing), ou seja, a emissão de libras pelo Banco da Inglaterra. O pacote econômico propõe também o aumento da alíquota do imposto de renda de 40% para 60% para aqueles que ganham além de 100 mil libras/ano (R$ 600 mil), adicionando outros 10% para os mais ricos. Esperam com essas propostas arrecadar recursos suficientes para sustentar projetos sociais e reduzir as desigualdades de renda e riqueza no Reino Unido. Dado o déficit de habitações nas grandes cidades britânicas, particularmente em Londres, o novo líder propõe construir 250 mil casas, anualmente, o que custaria 260 bilhões de libras (R$ 1,560 trilhão). Ainda é cedo para prever se algum desses projetos vingará, desde que uma das críticas ao novo líder é a sua dificuldade em convencer o eleitorado britânico a votar O GURU ECONÔMICO DO LÍDER CORBYN, RICHARD MURPHY, NÃO É ECONOMISTA, MAS CERCA DE 40 RENOMADOS ECONOMISTAS APOIAM AS PROPOSTAS APRESENTADAS ATÉ O MOMENTO nos trabalhistas na próxima eleição em 2020. Afirmam os críticos que os gastos estimados de 410 bilhões de libras levariam a altas taxas de inflação, prejudicando os mais pobres e enfraquecendo o papel da cidade de Londres como um dos maiores centros econômicos e financeiros mundiais. O guru econômico do líder Corbyn, Richard Murphy, não é economista, mas cerca de 40 renomados economistas apoiam as propostas apresentadas até o momento. Jeremy Corbyn se opõe aos programas de austeridade e de corte nos gastos do bem-estar social do atual governo e que afetam seriamente o orçamento da população mais pobre. E acredita que somente uma rápida expansão da economia será capaz de reduzir o déficit e a dívida pública. Uma das preocupações com as ideias do líder trabalhista é a falta de uma proposta de política externa ou de defesa e segurança do Reino Unido, desde que Jeremy Corbyn militou sempre como pacifista e contrário às intervenções do país em conflitos e guerras. Figuras ilustres do partido, como os primeiros-ministros anteriores, Tony Blair e Gordon Brown, e o arquiteto do Novo Trabalhismo, lorde Peter Mandelson, são contrárias às propostas de Jeremy Corbyn e asseguram que ele destruirá o partido e não ganhará nenhuma eleição. Corbyn e McDonnell são honestos e sinceros, leais aos ideais do Trabalhismo nos anos 1970 e 1980, possivelmente não ajustados ao pragmatismo vigente no cenário nacional e internacional. Jeremy Corbyn mantém ligações fortes com a América Latina e sempre apoiou os movimentos esquerdistas na região, particularmente o modelo Bolivariano criado pelo ex-presidente da Venezuela, Hugo Chávez. O novo líder inspira controvérsias pelas suas ligações e apoio ao IRA (Exército Republicano Irlandês), ao Hamas e ao Hezbollah, todos considerados grupos terroristas. Setembro de 2015 - Gestão Pública & Desenvolvimento 71 INTERNACIONAL Dado o seu passado pacifista, o novo líder não concorda com a manutenção do Reino Unido no programa Tridente (mísseis nucleares) ou qualquer iniciativa de ação militar britânica na Síria, contra o chamado Estado Islâmico. Diz-se favorável ao relaxamento das sanções comerciais, financeiras e econômicas impostas à Rússia pela União Europeia e pelos Estados Unidos. Esperemos que as tensões iniciais entre os trabalhistas sejam reduzidas e o novo líder possa trabalhar e se ajustar às necessidades do país e sua população. ARGENTINA A Argentina, principal parceira comercial do Brasil no Mercosul, terá eleições gerais em 25 de outubro para a escolha de novo presidente e membros do Congresso Nacional. A eleição irá ao segundo turno, em 22 de novembro, se o primeiro colocado A economia mundial continua em compasso de espera APOIADO PELA PRESIDENTE CRISTINA KIRCHNER, O GOVERNADOR DA PROVÍNCIA DE BUENOS AIRES, DANIEL SCIOLI, É O FAVORITO NAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS não conseguir 45% dos votos válidos ou 40% e uma diferença de 10% para o segundo colocado. A Argentina, membro do grupo G20 de países de maiores economias, é também o segundo maior país da América Latina em termos econômicos e populacionais. Sob a administração da presidente Cristina Fernández de Kirchner e sua coalizão peronista Frente para a Vitória, o país tem seguido uma política nacionalista e protecionista em termos econômicos e comerciais, prejudicando o 72 Gestão Pública & Desenvolvimento - Setembro de 2015 comércio inter-regional e atrasando os acordos de livre comércio em negociação entre a União Europeia e o Mercosul, de grande interesse para o Brasil e o Uruguai. A Argentina, sob o governo da senhora Kirchner, aliou-se ao modelo radical da Aliança Bolivariana, iniciada pelo falecido presidente venezuelano Hugo Chávez. Sob sua liderança, o país também expandiu os laços comerciais e políticos com a China, preocupando parte dos eleitores pelo desequilíbrio na relação comercial e de investimento. A Rússia também se tornou um dos principais parceiros em áreas de defesa e segurança. A presidente completará dois mandatos no final de 2015 e, de acordo com a Constituição local, não poderá concorrer à reeleição. O candidato favorito, Daniel Scioli, apoiado pela presidente, é o atual governador da província de Buenos Aires. Espera-se que o novo presidente seja mais flexível e pragmático que a presidente Kirchner. Caso o senhor Scioli seja eleito, deverão melhorar as relações com a União Europeia, Reino Unido e Estados Unidos, adotando maior liberalização no comércio externo, beneficiando as exportações brasileiras de automóveis e máquinas e evitando a presente estagnação do Mercosul. l Michael Kain é economista e cientista político graduado pela Universidade do País de Gales. É pós-graduado pelas universidades de Manchester e Cambridge. ARTIGO CLÁUDIO EMERENCIANO Entre o joio e o trigo A s crises são momentos e circunstâncias de parto real sentido da vida e da beleza universal. Uma palavra na vida das nações. Caracterizam-se por impactos, resume tudo: ascensão, ou seja, a busca da Luz. sofrimentos, traumatismos, angústias, incertezas, Até hoje os historiadores não são conclusivos quanto mudanças, ansiedades, esperanças, enigmas e novos às motivações de Alexandre, o Grande, ao invadir a Índia, rumos. Mas a História ensina que seus desdobramentos, onde contraiu malária e da qual provavelmente morreu. invariavelmente, desembocam na gênese de novos tempos O historiador e romancista Valério Massimo Mane novos caminhos na vida da humanidade. O homem, fredi atribui sobretudo à sua curiosidade em contactar então, retoma o curso de sua ascensão institucional, cul- e conhecer uma civilização de povo paciente, reflexivo, tural, moral e espiritual. A nação é como a mitológica contemplativo, imerso no ritmo natural da vida. Também Fênix, aquela fabulosa ave que se deixava consumir pelo pretendia alcançar um “grande mar” (Oceano Índico). fogo e renascia das cinzas. Seu ser, dizia Ernest Renan, Gore Vidal, em seu monumental “Criação”, faz seu herói, é, essencialmente, uma alma, um prinParmênides, em pleno século de Péricles cípio espiritual imperecível, a visão de Até hoje os (VI a.C.), conhecer a civilização chinesa, um horizonte inalcançável. Um misto revelando-lhe milenares características historiadores não são de realidade e utopia, sonhos e objeculturais e espirituais, ainda hoje culconclusivos quanto tivos. Miserável por suas contradições. tuadas, apesar de tantas transformações às motivações de Eterna por sua grandeza e incontrolável sociais, políticas e econômicas. Alexandre, o Grande, por seu atributo de renovar, transformar Curiosamente, a Academia Sueca, em ao invadir a Índia, onde e criar novas dimensões e perspec1913, ao conceder o Nobel de Literatura contraiu malária e da tivas. É passado e presente. Assim, ela ao poeta indiano Rabindranath Tagore, qual provavelmente não se improvisa. Pelo contrário. Seus assim se pronunciou: “Por seus versos ideais e fontes são uma espécie de carga profundamente sensíveis, aprazíveis e morreu genética. Algo programado ou previbelos, pelos quais, habilidosamente, fez sível. Nascem no passado, moldam o do seu pensamento poético, expresso presente, projetam e inspiram o futuro. Integram periodi- em sua língua e em suas próprias palavras inglesas, manicamente o fluir da vida dos homens, sem jamais contê-los festação legítima da literatura do Oriente”. Os orientais ou inibi-los. Porque os homens, em todos os tempos, a são assim. A reflexão permanente os leva, em todas as exemplo do grande herói de Homero, Ulisses, jamais se coisas e circunstâncias da vida, a discernir lucidamente renderão ao medo e à inércia. Stanley Kubrick, no genial entre “o joio e o trigo”. Assim acontece entre os modernos filme “2001 – Odisséia no espaço”, baseado no conto romancistas e contistas japoneses como Doppo Kunikida, “O Sentinela”, de Arthur C. Clarke, consagra a seguinte Sosseki Natsume e Naoya Shiga, e os chineses Wang Tu, tese: o medo agrilhoa a condição humana, mantendo-a Lu Hsun e Chao Shu-Li. Seus textos estimulam o pensar submissa à ignorância e à estupidez. A curiosidade, o des- e o aprimoramento da faculdade de questionar e avaliar. temor, a audácia, os questionamentos, a criatividade, os Tudo é questão de busca do saber. Tudo se submete ao sentimentos, a fé e a esperança libertam-na, ampliando, direito intrínseco do ser humano em distinguir seja o que sem fim, os caminhos através dos quais se descortina o for. Aprimorar a visão da vida. ““ ” Setembro de 2015 - Gestão Pública & Desenvolvimento 73 ARTIGO Muita gente tem dificuldade, particularmente no Brasil, de separar “o joio do trigo”. Infelizmente, pesquisa revela, em âmbito nacional e local, que os brasileiros leem cada vez menos. Seu pensar, inacreditavelmente para a maioria, é determinado ou condicionado por superficiais, meteóricas, distorcidas ou facciosas informações veiculadas pelas redes de televisão. Além disso, em todas as comunidades do país, desde os vilarejos perdidos e distantes da Amazônia aos povoados do Nordeste e demais regiões, das grandes metrópoles às cidades de pequeno e médio porte, o conteúdo das novelas vem mudando, deformando, corrompendo ou adulterando os valores éticos e morais da nossa sociedade. Recentemente ouvi de duas pessoas da minha convivência, de instrução primária, o seguinte: “Você viu fulana? A novela parece ter razão. Só vence no Brasil quem é falso, desonesto e não tem medo de enganar, seja quem for”. A mídia escrita (jornais, revistas etc.) crescentemente é menos lida. Insere-se no declínio do hábito de ler no Brasil. Essa circunstância fortalece e favorece os meios de comunicação televisivos e via internet, sucintos, pouco 74 Gestão Pública & Desenvolvimento - Setembro de 2015 Entre o joio e o trigo opinativos, alguns facciosos e visceralmente sensacionalistas. Por que a televisão, que é uma concessão pública, não emite opinião em editoriais ou comentários sobre graves questões nacionais? A conjuntura política e econômica brasileira é gravíssima. Além de inaudita crise moral. Eis o óbvio. Entretanto, a televisão de canal aberto não proporciona informações, comentários e caminhos susceptíveis de viabilizar no país o ideário de Walter Lipmann, jornalista norte-americano, para quem o objetivo inalterável e irrenunciável dos meios de comunicação, numa democracia, é informar para formar a opinião pública. Opinar é comprometer-se. Assumir a responsabilidade de descrever os fatos honestamente e, em seguida, comentá-los e avaliá-los. Sempre com isenção. William Shakespeare, na tragédia “Júlio César”, distinguiu magistralmente legalidade de moralidade, ou seja, o imperativo legal do dever moral: “A mulher de César, não basta ser honesta, tem de parecer honesta”. É só entender... l Cláudio Emerenciano é professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Buscando a excelência na administração pública IBAP INSTITUTO BRASILEIRO DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARCERIAS INSTITUCIONAIS IASIA International Association of Schools and Institutes of Administration DPADM/ONU Divisão de Administração Pública e Gestão do Desenvolvimento das Nações Unidas JÁ EM CIRCULAÇÃO AGORA EDITADA PELA NOVA EQUIPE EDITORIAL DO IBAP IBAP INSTITUTO BRASILEIRO DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Publicações produzidas pelo Instituto Brasileiro de Administração Pública - IBAP GestãoPública & Desenvolvimento