Encarte Agosto 2013

Transcrição

Encarte Agosto 2013
O Encontro
Bhagavan Sri Ramana Maharshi
A Luz no Caminho - Associação Espiritualista
-
Distribuição gratuita
Especial - Agosto de 2013
Reedição do Encarte de O Encontro Agosto - Setembro de 2011
A jornada do
Mestre
O despertar para essa nova
consciência, o Eu ou a noção de Si,
simplesmente transcenderam e, com
essa experiência, houve uma enorme mudança em sua vida. Em seu
contínuo estado de consciência do
Si o que mais o atraía era o templo
vizinho de Meenakshi. Ele ia até lá
todas as noites e ficava por muito
tempo sozinho, imóvel, diante das
imagens de Shiva Nataraja e dos 63
santos tâmiles, sentindo uma profunda emoção, que o invadia como
ondas.
A crise veio em agosto de 1896,
algo em torno de dois meses depois do despertar. Venkataraman recebeu como tarefa um longo exercício de inglês para praticar o que
não aprendera durante a aula, mas,
antes de terminá-lo, Ele se deu conta da enorme futilidade de tal exercício, empurrou os cadernos para
longe e sentou-se de pernas cruzadas entregando-se à meditação.
Nagaswami, seu irmão mais velho, que observava tudo de perto,
aborrecido com a atitude de Venkataraman, fez uma observação sarcástica: “De que vale tudo isso para
uma pessoa dessa espécie?” Suas
palavras tinham o sentido de que
aquele que desejava viver como um
sadhu não tinha o direito de gozar
os confortos de um lar.
Venkataraman compreendeu a
verdade das palavras de seu irmão
“Parti à procura de
meu Pai em obediência às
Suas ordens. Fui-me em
virtuosa empreitada, por
isso, ninguém lamente este,
nem desperdice dinheiro à
procura deste.”
Bilhete deixado pelo jovem
Venkataraman à sua família antes de
partir rumo ao Monte Arunachala.
e, com sua impiedosa aceitação da
verdade, que era sua característica,
levantou-se a fim de partir daquela
casa, renunciando a tudo. No momento em que este pensamento lhe
veio à cabeça a lembrança de Arunachala o dominou.
Pouco depois, Ele disse ao seu
irmão que precisava assistir a uma
aula extra de eletricidade. Nesse
momento, o irmão, inconscientemente, forneceu os fundos para sua
jornada, ao pedir que Venkataraman
pegasse cinco rúpias dentro de uma
caixa no andar de baixo da casa e
pagasse sua taxa escolar.
De posse das cinco rúpias, rapidamente pegou um atlas e verificou
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que a estação de embarque mais
próxima para Tiruvannamalai ficava
em Tindivanam. Na verdade, recentemente haviam construído outro
ramal para Tiruvannamalai, cidade
onde se situava o monte Arunachala, mas Ele não sabia, porque o
atlas consultado era antigo. Então,
seguiu seu plano original. Não iria
para escola pagar as taxas, mas sim
entregar-se à sua busca e começar
sua jornada em direção ao Pai Arunachala. Escreveu um bilhete:
“Parti a procura de meu Pai em
obediência às Suas ordens. Fui-me
em virtuosa empreitada, por isso,
ninguém lamente este, nem desperdice dinheiro a procura deste. Sua
taxa escolar não foi paga. Aqui fiO Encontro
agosto, 2013
cam duas rúpias”. E partiu.
Chegando à estação ferroviária,
Ele foi procurar o quadro de horários e tarifas e rapidamente localizou Tindivanam. Se tivesse lido com
mais atenção, teria visto o nome
da cidade de Tiruvannamalai algumas linhas abaixo, mas sua jornada
estava apenas começando. Tendo finalmente embarcado, Venkataraman
sentou-se entre os passageiros em
silêncio, absorto no êxtase de sua
busca. Depois de passar por várias
estações, um mulçumano de barbas
brancas lhe perguntou para onde ia.
“Tiruvannamalai”, respondeu Venkataraman que, após uma breve conversa, percebeu que poderia trocar
de trem em Villupuram e pegar um
outro direto para a própria Tiruvannamalai. Antes da aurora do dia
seguinte Ele chegou à estação de
Villupuram. Quando amanheceu, caminhou até a cidade e procurou por
placas que sinalizassem o caminho
para Tiruvannamalai, pois pretendia
seguir a pé. Tiruvannamalai ficava,
no entanto, longe demais e, não
conseguindo encontrar o caminho
e se sentindo cansado e faminto,
sentou-se próximo a um restaurante
e esperou que o mesmo abrisse.
Depois de comer, voltou à estação e comprou uma passagem para
Mambalapattu, que era o mais longe que o seu dinheiro lhe permitia
chegar. Ele chegou a Mambalapattu
à tarde e, de lá, andou ao longo
dos trilhos do trem em direção
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Filosofia
ao seu destino, Tiruvannamalai. Ao
cair da tarde, havia percorrido 18
km. Agora já era noite e ele estava
junto ao templo de Arayarninallur,
construído em cima de um enorme rochedo. Foi deste lugar que
um glorioso santo teve sua primeira
visão do Santo Monte Arunachala
há mais de 1.000 anos. Logo após
Venkataraman chegar, um religioso
abriu as portas do templo para a
adoração ritual (puja) da noite. O
jovem entrou e imediatamente percebeu uma luz brilhante por todo
o salão. Julgando tratar-se de uma
emanação a partir de uma imagem,
levantou-se e pesquisou, mas percebeu que não se tratava de uma luz
física. Depois disso, sentou-se novamente em profunda meditação e só
se levantou quando os sacerdotes
tratavam de trancar os cadeados do
templo. Estando faminto e cansado,
Venkataraman pediu comida e indagou se poderia pernoitar ali, mas
foram recusados ambos os pedidos.
Os religiosos sugeriram a ele que
os seguisse até o templo de Kilur
do outro lado do rio, onde talvez
pudesse ganhar comida após a adoração. A adoração terminou às 9h
e a ceia foi servida. Desta vez, seu
pedido fora atendido. O tamboreiro
do templo, impressionado com a
aparência e devoção daquele jovem
brâmane, lhe deu a sua porção de
comida. Ele estava muito cansado,
pegou, então, sua comida e encaminhou-se para uma casa que ficava
por perto, onde pediu água. Enquanto esperava pela água, caiu em
uma espécie de desmaio ou sono,
poucos minutos depois voltou a si,
bebeu um pouco de água e comeu
a comida que havia derramado no
chão, deitou-se na grama e dormiu.
Na manhã seguinte, segunda-feira,
31 de agosto, era o dia de comemoração do nascimento Sri Krishna.
Assim que Venkataraman acordou,
andou a esmo e começou a sentirse cansado e com fome novamente.
Tiruvannamalai estava ainda a 32
km de distância.
Ele resolveu pedir comida em
uma casa. A dona da casa ficou
tão impressionada com a aparição
de um jovem brâmane tão especial
e de aparência distinta no sagrado
dia de Sri Krishna que lhe forneceu farta alimentação e doces para
a viagem. Venkataraman usava um
par de brincos de ouro e rubis, tipicamente usado por jovens brâmanes. Os brincos valiam em torno de
20 rúpias. Lembrando-se disso, ele
ofereceu-os ao dono da casa em
troca de um empréstimo de quatro
rúpias, a fim de cobrir as despesas que surgissem pelo caminho. Os
donos da casa deram-lhe um papel
com seu endereço para posterior
resgate dos brincos.
Feita a transação, o peregrino
partiu para estação de trem e teve
que passar a noite lá, pois o trem
para Tiruvannamalai não sairia antes
da manhã seguinte. Na manhã de
1º de setembro de 1896, três dias
depois de deixar a casa de seu
tio, finalmente, Ele chegou ao seu
destino. Com passos rápidos e em
um estado eufórico de tanta alegria,
chegou ao grande templo de Arunachala. Numa muda acolhida, os
portões dos altos muros e todas
as portas do templo, até mesmo as
A trilha percorrida
Madurai
Quando o pai de Venkataraman, Sundaram Ayyar, faleceu, ele e seus irmãos foram
morar com o tio Subbier, em
Madurai.
Villupuram
A estação de trem de
Villupuran foi a primeira parada do jovem, onde saiu
à procura do caminho para
Tiruvannamalai.
Mambalapattu
Em Mambalapattu, estação onde o derradeiro aná
(moeda) de Venkataraman o
permitiu chegar, há um placa
em sua homenagem.
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O Encontro
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do santuário interno, encontravamse abertas. Não havia ninguém no
interior do templo e Ele prostrou-se
estático. Finalmente encontrara seu
Pai Arunachaleswara. Ali na bemaventurança da União, consumou-se
a busca e a jornada teve fim.
Saindo do templo, Venkataraman
vagou pela cidade e trilhou o caminho para o Tanque Ayyankulam
onde ele jogou todas as posses que
ainda tinha inclusive o valor de 3,5
rúpias. Esta foi a última vez que tocou em dinheiro. Em seguida, tirou
seu dhoti (pano branco enrolado ao
corpo da cintura para baixo) rasgou uma tira para servir de tanga
e jogou o resto fora. Alguém notou seus atos de renúncia e sugeriu
de forma jocosa que ele fosse ao
barbeiro remover também o birote (tufo de cabelos na nuca que
indica casta ortodoxa) ao que Ele
concordou. Ao retornar ao templo
logo antes de passar pelo portão
principal, tomou uma ducha rápida,
que foi o suficiente para que ele
pudesse entrar no templo e iniciasse
uma vida de asceta.
Arayarninallur
O jovem caminhou 18km
desde Mambalapattu até o
templo de Arayarninallur, que
hoje possui um altar com
seu retrato.
O Encontro
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Tanque Ayyankulam, onde Venkataraman jogou todas as posses que ainda tinha.
Depois que todas as formalidades relativas à renúncia ao mundo exterior haviam sido feitas,
Venkataraman instalou-se no saguão dos mil pilares do templo de
Arunachala. Numa plataforma de
pedra suspensa, ele se sentou e
entregou-se em completa absorção
no Ser.
Kilur
Tiruvannamalai
No templo de Kilur, o
tamboreiro impressionou-se
com a conduta devota de
Venkataraman e deu-lhe
sua comida.
Trecho do Documentário “The Sage of
Arunachala”, de James Hartel, traduzido por
Marília Maria Barreto de Sousa
Era manhã do dia 1º de
setembro de 1896, quando
Ele chegou à estação de
Tiruvannamalai e a jornada
teve fim.

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