Pensamento do Dia Pensamento do Dia

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Pensamento do Dia Pensamento do Dia
Pensamento do Dia
Economistas analisam a Economia, o Brasil
e o mundo,
mundo, na mídia diária 25 02 2011
2011
------------------------------------------------------------------Folha de S.Paulo - 25/02/2011
O medo está de volta
Luiz Carlos Mendonça de Barros
Em momentos como este, é melhor dar prioridade à preservação do capital, e
não à sua multiplicação
OS MERCADOS FINANCEIROS voltaram a viver dias de grande insegurança e ansiedade.
Há três anos, em janeiro de 2008, teve início um longo período em que a volatilidade dos
preços dos principais ativos financeiros fugiu dos padrões históricos anteriores.
Como sempre ocorre em eventos como esse, foi um drama pessoal que gerou a faísca
que acabou incendiando um ambiente dominado pela especulação sem controle.
A descoberta de uma perda gigante -mais de US$ 4 bilhões- no banco francês Société
Générale gerou uma crise de confiança no sistema bancário dos países desenvolvidos que
culminou com a quebra do banco Lehman Brothers nos EUA.
A crise bancária que se seguiu fez com que as economias de todo o mundo
mergulhassem no vazio de uma recessão econômica só vista nos anos 30 do século
passado.
Graças a uma ação coordenada dos governos de vários países -inclusive o brasileiro- ao
longo dos últimos dois anos, o pior cenário previsto pelos apocalípticos de plantão não
ocorreu.
Pouco a pouco, a atividade econômica recuperou-se sob a ação de estímulos fiscais e
monetários. Sempre seguindo os conselhos, que andavam meio esquecidos, do brilhante
John Maynard Keynes. Primeiro foram os países emergentes, que, suportados pelos
gastos dos consumidores, retomaram o caminho do crescimento. Um prêmio merecido
por não terem participado da verdadeira farra do boi da especulação imobiliária e de
crédito da maioria dos países ricos. Estavam nesse grupo países como Brasil, Austrália,
China e Índia.
Nos últimos meses de 2010, mesmo as economias que mais sofreram com a ruptura da
bolha de crédito, como a dos EUA, começaram a dar sinais de uma recuperação sólida e
duradoura.
O encolhimento do crédito bancário terminou, o medo do desemprego foi sendo
substituído por um moderado otimismo dos consumidores e os investimentos privados
em algumas áreas voltaram ao normal. Tanto isso é verdade que as estimativas feitas ao
fim do ano apontavam crescimento do PIB mundial superior ao dos anos anteriores à
quebra do Lehman Brothers.
Mas as economias mais avançadas ainda precisam, para perenizar essa nova fase, da
manutenção por mais algum tempo de condições financeiras favoráveis. Por isso, os
bancos centrais na área do G7 continuam a manter os juros muito baixos e a liquidez
bastante abundante. Talvez apenas em 2012 é que tenhamos as primeiras decisões de
aumento dos juros.
Por tudo isso é que a disparada dos preços do petróleo, gerada pela crise política no
Oriente Médio, trouxe de volta a insegurança às Bolsas de Valores e aos mercados de
juros e câmbio em todo o mundo.
De um lado, ela afeta a renda do consumidor dos países do mundo desenvolvido, tanto
pelo aumento desses gastos como pelas incertezas em relação ao futuro. De outro, ela
chega aos países emergentes pelo impacto dos preços dos derivados de petróleo na
inflação já bastante elevada.
De qualquer forma, tanto em economia como no caso de doenças humanas, sabemos
que uma recidiva sempre ocorre com maior vigor e perigo que no caso da doença
original. Esse cenário alternativo faz com que a maioria das apostas que os investidores
vinham fazendo em relação ao futuro seja posta em xeque. Se antes era esperada uma
elevação gradual dos juros nos Estados Unidos por conta da volta do crescimento, agora
pode ocorrer o contrário caso a crise do petróleo se agrave ainda mais.
Da mesma forma, o movimento de valorização das ações das empresas americanas em
razão de uma retomada dos lucros pode ser substituído por uma queda das cotações
devido a uma nova recessão mundial.
Em momentos como este que estamos vivendo, quando cenários antagônicos podem
ocorrer devido a eventos impossíveis de prever, o melhor conselho que posso dar ao
leitor é o de pôr as barbas de molho. Isso quer dizer: dê prioridade à preservação de seu
capital -e não a sua multiplicação.
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, 68, engenheiro e economista, é
economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro
das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso). Escreve às sextas,
quinzenalmente, nesta coluna.
-------------------------------------Valor Econômico - 25/02/2011
Quatro falácias sobre a crise
Jagdish Bhagwati
As atuais crises gêmeas - no terreno financeiro e na economia real (que os americanos
denominam Wall Street e Main Street) e as discussões intermináveis sobre reforma
financeira e as perspectivas de recuperação econômica, já geraram várias falácias que
precisam ser abordadas e descartadas.
Falácia 1: A crise produzirá uma "queda livre".
Uma queda livre significa exatamente isso. Mas a economia mundial, ou mesmo os EUA
ou a União Europeia (UE) - aos quais esse sombrio prognóstico foi aplicado (por Joseph
Stiglitz, por exemplo, que escreveu um livro intitulado "Freefall" (Queda livre) certamente não vêm despencando como a maçã de Newton. Animadas discussões sobre
se uma ou ambas as economias defrontam-se com uma recessão em forma de L ou de V
deram lugar à realidade de grande volatilidade, tanto da renda como de indicadores
financeiros, em torno de uma leve tendência ascendente.
Falácia 2: Valendo-se de expansão monetária, os EUA estão manipulando a taxa
de câmbio do dólar da mesma maneira que, segundo acusam, a China manipula
a taxa de câmbio do yuan.
Os dois casos são distintos. Se alguém aceita a premissa de que há insuficiência de
demanda agregada mundial, a alegada desvalorização do yuan pode, de fato, ser vista
como uma política do tipo "empobreça o vizinho", que desvia uma inadequada demanda
mundial para os produtos chineses em detrimento dos outros países.
Por outro lado, o enfraquecimento do dólar é um efeito colateral da expansão monetária
americana, posta em prática depois que países como a China e a Alemanha recusaramse a gastar mais para aumentar a demanda mundial e depois que deixou de haver
espaço para um estímulo fiscal adicional. Isso é diferente de uma política de
desvalorização do dólar para desviar uma demanda mundial insuficiente para os produtos
americanos.
Falácia 3: Os desequilíbrios mundiais atuais continuarão a nos afligir.
Inevitavelmente, os economistas generalizam a partir da situação atual, de modo que os
superávits em conta corrente chineses e alemães atuais e o déficit americano, por
exemplo, sejam vistos como tendo vindo para ficar. Mas a história está repleta de países
superavitários que passaram a deficitários. Donald MacDougall. que foi conselheiro de
Winston Churchill sugeria que o dólar era o que o Fundo Monetário Internacional (FMI)
denominava "moeda escassa". Quando o livro foi publicado, porém, o problema havia
desaparecido.
Inicialmente, o superávit chinês surgiu inadvertidamente, não intencionalmente. O
mesmo vale para o déficit americano, resultante do não financiamento da guerra do
Iraque com nova tributação - uma decisão enraizada num enorme erro de cálculo: a
suposição de que a guerra estaria terminada em seis semanas.
Hoje, os próprios chineses se dão conta de que seus superávits obtêm retornos ínfimos
quando investidos em títulos do Tesouro americano. Em vez disso, eles estão
extremamente interessados em gastar seus ganhos com o comércio exterior em
infraestrutura doméstica, eliminando os gargalos que impedem maior crescimento, como
na Índia.
Como resultado, as importações chinesas irão crescer - e, assim, seu superávit diminuirá
- por duas razões. Primeiro, salários serão gastos, em parte, em mais produtos
importados. Em segundo lugar, investimentos em infraestrutura exigem equipamento
pesado que normalmente é fornecido por companhias como a Caterpillar, GE, Siemens e
outras, em sua maioria fornecedoras ocidentais. Além disso, a imensa pressão, nos EUA,
em favor de consolidação fiscal, refletida na mais recente proposta de orçamento do
presidente Barack Obama, deverá reduzir a demanda por importações pelos EUA,
reduzindo ainda mais o desequilíbrio bilateral.
Falácia 4: Nada de gestão keynesiana da demanda.
Algumas pessoas que criticam o estímulo keynesiano a gastos implementado por Obama,
entre eles o economista Jeffrey Sachs, alegam que os EUA necessitam é de aumento de
produtividade de "longo prazo". Mas a conclusão não decorre da premissa. Como
keynesiano, acredito que se o Estado pagar às pessoas para que cavem buracos para
apenas voltar a preenchê-los, isso aumentará a demanda agregada e produzirá mais
renda. Mas Keynes não era tolo. Ele compreendia que o governo poderia acabar obtendo
enormes retornos se o dinheiro fosse gasto em investimentos para melhoria da
produtividade, em vez de empregá-lo em atividades "diretamente perdulárias" de
expansão de gastos.
A questão, então, é simples: quais investimentos oferecem maior retorno econômico?
Mas é também (uma questão) preocupante: quando as pontes estão ruindo, os prédios
de escolas estão deteriorados, os professores são mal pagos e não incentivados a ser
eficientes e muitas outras coisas requerem dinheiro, não é fácil decidir onde gastar o
dinheiro escasso.
Mas uma consideração "estrutural" não é bem compreendida. Dada a necessidade de
reduzir o déficit no futuro e a necessidade de aumentá-lo agora para reanimar a
economia, o problema com que se defronta Obama é como trocar suavemente de marcha
acelerada para marcha a ré. Sem dúvida, a conclusão é que governos precisam para dar
menor ênfase a gastos que, num futuro, não possam ser eliminados.
Veio-me essa clareza ao ver um arranha-céu inacabado em Osaka. Relíquia do estouro
da bolha imobiliária japonesa duas décadas atrás, tornou-se conhecido como "Torre da
Bolha".
Jagdish Bhagwati é professor de Economia e Direito na Universidade Columbia e
pesquisador sênior em Economia Internacional, no Conselho de Relações
Exteriores. Copyright: Project Syndicate, 2011.
----------------------------------------Valor Econômico - 25/02/2011
O que esperar da "consolidação fiscal"
Márcio G. P. Garcia
Há duas semanas, o governo anunciou um "corte" no orçamento para 2011 de R$ 50
bilhões, que o ministro da Fazenda chamou de "consolidação fiscal". Aguarda-se, desde
então, o detalhamento do corte.
Desde a divulgação da boa, ainda que pouco definida, iniciativa de conter a expansão dos
gastos públicos, especialistas em contas públicas formularam duas críticas. A primeira é
que não se trata verdadeiramente de um corte, pois as despesas primárias (exceto juros)
do governo federal se elevariam, depois do "corte", de R$ 657 bilhões (17,9% do PIB em
2010) para R$ 719 bilhões (17,7% do PIB previsto para 2011). Provavelmente, a queda
prevista das despesas primárias federais em 0,2% do PIB não será suficiente para que se
atinja a meta de superávit primário (2,9% do PIB), a menos que se repitam os truques
contábeis que elevaram o superávit primário de 2010.
A segunda crítica refere-se à viabilidade de um corte de R$ 50 bilhões ser feito este ano
sem afetar, como prometido, as despesas sociais e as despesas de investimento do
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A rigidez do orçamento da União impede
que o corte atinja a maior parte dos R$ 769 bilhões de despesas primárias orçadas para
2011, sobrando apenas cerca de R$ 220 bilhões para o "corte". Retirando dos R$ 220
bilhões os gastos sociais (como Bolsa Família), em educação e saúde e os do PAC,
sobram R$ 60 bilhões a R$ 100 bilhões, dependendo das estimativas. Ou seja, para
cortar R$ 50 bilhões, será necessário cortar gastos sociais ou os investimentos do PAC.
Quanto à forma que o corte assumirá, supõe-se, com base em experiências anteriores,
que grande parte venha a se dar via atraso no pagamento de despesas, ou seja,
recorrendo-se aos "restos a pagar". Como o superávit primário é ainda apurado no Brasil
segundo o regime de caixa, no qual uma despesa é apropriada apenas quando paga, não
quando é efetivamente executada, pode-se aumentar o número do superávit fiscal de um
ano postergando-se o pagamento de despesas para o ano seguinte. Tal manobra,
crescentemente utilizada, tem permitido engordar, ficticiamente, o superávit primário.
Em resumo, deixando de fora as despesas sociais e os investimentos públicos, será difícil
chegar a um "corte" de R$ 50 bilhões este ano. Caso chegue, será resultado de despesas
total ou parcialmente executadas, mas não pagas, que onerarão os orçamentos dos
próximos anos ou aumentarão a dívida líquida futuramente.
Tal quadro nos leva a refletir sobre os objetivos do aperto na política fiscal. Aumentos do
superávit primário ocorreram em alguns anos desde o Plano Real, normalmente
associados a crises. Naqueles momentos, a preocupação do ajuste fiscal era deixar claro
que a dívida pública não estava em trajetória explosiva.
A "consolidação fiscal" de agora não advém de preocupações imediatas quanto à
insolvência do governo; o risco Brasil, uma das medidas do risco de calote, está
historicamente baixo. Advém, sim, da constatação de que, sem auxílio da política fiscal, a
política monetária exigiria taxas de juros ainda mais elevadas para manter a inflação na
meta. Tal mudança no foco da motivação da mudança na política fiscal traz implicações
para a avaliação de seu desempenho.
Tome-se, por exemplo, o artifício contábil para inflar o resultado primário durante a
capitalização da Petrobras. Como se sabe, o Tesouro emprestou recursos ao Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que comprou ações da
Petrobras. A Petrobras, então, pagou ao Tesouro, como contrapartida de parte dos
direitos de exploração do pré-sal, com os recursos que saíram, originalmente, do próprio
Tesouro. Essa passagem de recursos do "bolso direito" para o "bolso esquerdo" do
Tesouro gerou receita primária em montante próximo a 1% do PIB.
Ainda que se aceite a contabilidade criativa, é forçoso reconhecer que a fictícia receita
fiscal gerada durante a capitalização da Petrobras é rigorosamente neutra do ponto de
vista de impulso fiscal. Tudo que se fez foi uma troca de ativos: a Petrobras recebeu os
direitos para explorar o petróleo, e o Tesouro, via BNDES e Fundo Soberano Brasileiro
(FSB), ficou com mais ações da Petrobras. Até mesmo quem concebeu o artifício contábil
para enfeitar o resultado fiscal de 2010 acharia absurdo afirmar que o aumento do
superávit primário, assim obtido, teve impacto contracionista sobre a demanda
agregada, como teriam uma redução de gastos ou aumento de impostos no mesmo
montante.
Ou seja, como o objetivo da "consolidação fiscal" é auxiliar a política monetária para
conter o aumento da inflação, não adianta fazer os truques de adiar o pagamento de
despesas ou antecipar receitas. O importante é reduzir o crescimento da demanda. Para
isso, é preciso demonstrar, com clareza, não só como se fará o "corte" de 2011, como
também apresentar plano plurianual da evolução dos gastos públicos com trajetória
cadente dos gastos no PIB.
Infelizmente, os sinais, até agora, não permitem otimismo. Para 2011, tem sido
anunciado novo empréstimo da ordem de R$ 50 bilhões ao BNDES. Mesmo que se
consiga cortar os prometidos R$ 50 bilhões em 2011, o novo empréstimo ao BNDES
anulará o efeito do corte sobre a demanda agregada, ainda que tenha algum efeito sobre
a oferta. Quanto ao plano plurianual para reduzir o peso dos gastos públicos no PIB, a
última manifestação oficial da presidente ainda é a de 2005, quando, como ministra de
Lula, chamou de rudimentar o plano do IPEA de redução do crescimento dos gastos
públicos, defendido pelos ministros Palocci e Paulo Bernardo.
Ainda mais alarmante, é a perspectiva da volta da CPMF com a desculpa de prover
recursos para a saúde. Infelizmente, o mais provável é que se continue a insistir na
combinação de gastos públicos e carga tributária crescentes com juros reais elevados,
prejudicando o investimento, o emprego e o crescimento econômico.
Márcio G. P. Garcia, PhD por Stanford e professor do Departamento de Economia
da PUC-Rio.
---------------------------------------------Valor Econômico - 25/02/2011
É preciso prender o gênio da inflação na
garrafa
Claudia Safatle
Há um oceano de dúvidas que alimentam a deterioração das expectativas inflacionárias
e, no momento, apenas uma convicção: a variação do IPCA este ano será de 6% ou até
um pouco mais. É preciso, agora, apressar o passo para não perder a possibilidade de a
inflação convergir para a meta de 4,5% ainda em 2012.
A demora do governo em dar credibilidade ao corte de R$ 50 bilhões no gasto público é
apenas um dos fatores que inquietam os agentes econômicos. Há vários outros: a
percepção de parte do mercado de que o Banco Central está "emparedado", os aumentos
de salários em curso (como o reajuste de 16% no piso salarial dos docentes da rede
pública), a inflação de serviços do IPCA, que registra elevação de 8,4% nos últimos 12
meses, o aquecimento do mercado de trabalho e a correção de dois dígitos do salário
mínimo em 2012.
A esse elenco de razões que fomentam o pessimismo dos mercados somam-se, agora, as
incertezas externas, acirradas pelo desmoronamento das ditaduras no Oriente Médio.
com seus possíveis desdobramentos sobre os preços do petróleo e, consequentemente,
sobre a recuperação das economias desenvolvidas.
Após duas semanas do anúncio do corte nas despesas do Orçamento da União deste ano,
para assegurar a meta de 2,9% do PIB de superávit primário, faltam as decisões sobre
onde o governo vai cortar R$ 50 bilhões. Sem essas informações, os mercados
continuam divididos entre os que acham que o valor do ajuste fiscal é insuficiente para
atingir as metas, e os que consideram impossível arrancar esse montante só das
despesas de custeio. O detalhamento dos cortes deve ser apresentado até quarta-feira.
No governo, mesmo ministros próximos da presidente Dilma Rousseff, que contam
cegamente com o cumprimento das metas fiscais, já acham que o Comitê de Política
Econômica (Copom) deve imprimir velocidade no aumento dos juros. Na reunião da
próxima semana, o comitê pode elevar os juros em 0,75 pontos-base. O gradualismo
inspirado na política de Alan Greenspan, no Fed, nem sempre é a melhor opção de
gestão de política monetária, sobretudo quando o quadro é tão preocupante.
Os mercados continuam apostando que o Banco Central está sob amarras políticas e que
inventou medidas prudenciais para não ter que elevar os juros na proporção que
precisaria. Os analistas mais atentos, porém, enxergam nas medidas prudenciais uma
ação absolutamente necessária do BC para conter a expansão do crédito e evitar uma
"sub-prime" nacional
Foi exatamente sobre o risco de se reeditar, no Brasil, uma crise nos moldes das "subprimes" americanas que Paul Marshall e Amit Rajpal, dois gestores de fundos,
escreveram esta semana no "Financial Times". Eles chamam a atenção para o
crescimento acelerado do crédito no país, a despeito do total de crédito como proporção
do PIB ainda ser baixo (46%), e para o nível de endividamento das famílias, que já está
em 24% da renda disponível e pode chegar a 30% no ano que vem. Nos EUA, a crise
explodiu quando o endividamento correspondia a 14% da renda disponível, dizem.
Por mais que os dois gestores estejam carregando nas tintas, há motivos para o BC olhar
muito atentamente as práticas bancárias atuais, principalmente no crédito imobiliário.
Novas medidas prudenciais podem surgir daí.
É claro que as ações prudenciais, ao desacelerar o crescimento da oferta de crédito, tem
equivalência com aumento da Selic. Mas não é razoável imaginar que estão sendo usadas
como meras substitutas da taxa de juros no controle da inflação.
A crise no Oriente Médio, sugerem alguns analistas, pode até ajudar o Brasil a conter a
alta generalizada de preços, se ela resultar em forte elevação nos preços internacionais
do petróleo. Esse aumento esfriaria os ânimos das economias desenvolvidas, recémsaídas da UTI, e poderia derrubar um pouco os preços das principais commodities. Esses
preços caíram 3% em dois dias, mas aumentaram mais de 100% no ano passado (dados
anualizados no último trimestre do ano passado).
Há quem acredite que os desdobramentos das turbulências no mundo árabe poderiam
funcionar como o "crash" global de 2008, que salvou o governo Lula de uma alta
substancial da inflação. É melhor, porém, não contar com isso.
O nível de atividade econômica já começou a esfriar, mas pouco. A utilização da
capacidade continua acima da média, asseguram economistas privados, embora o
governo sustente que o crescimento, desde o fim de 2010, está aquém do PIB potencial.
O aumento generalizado dos preços é produto da política econômica do ano passado. O
governo Lula abriu os cofres e não poupou recursos para eleger sua sucessora, a
presidente Dilma Rousseff. E o Banco Central interrompeu o aumento dos juros antes da
hora.
Combinação que foi suficiente para abrir a garrafa e deixar o gênio (a inflação) escapar.
Cabe ao governo, sobretudo através dos ministérios da Fazenda e do Planejamento, na
parte fiscal, e do Banco Central, na monetária, colocar o gênio de volta para dentro da
garrafa.
Só com resultados concretos é que ele conseguirá vencer a descrença dos mercados e a
deterioração das expectativas, que tem sido ininterrupta desde novembro. Há 15
semanas que as pesquisas do BC mostram piora nas previsões de inflação.
Claudia Safatle é diretora de redação adjunta e escreve às sextas-feiras
-------------------------------------O Estado de S. Paulo - 25/02/2011
Carregamento caro
Celso Ming
O Banco Central reconheceu ontem que o custo da formação das reservas internacionais
no ano passado foi de R$ 26,6 bilhões. Cálculos preliminares dão conta de que, neste
ano, será alguma coisa entre R$ 35 bilhões e R$ 40 bilhões, três vezes o que vai custar o
Programa Bolsa Família.
Enquanto isso, o governo promete (e até agora não demonstrou como fará) reduzir as
despesas públicas em R$ 50 bilhões. Outros R$ 50 bilhões serão usados na capitalização
do BNDES...
Pergunta que não quer calar: vale a pena gastar tanto para manter essas reservas se
elas não cumprem mais nem a função de blindar o País contra crises nem ajudam a
conter a valorização do real diante do dólar? Convém trocar tudo isso em miúdos.
Quando compra moeda estrangeira para formar reservas, o Banco Central injeta reais no
mercado, os mesmos que são dados em pagamento. Para evitar que esses reais
provoquem inflação, tem de trazê-los de volta com operações de esterilização. Ou seja, o
Banco Central tem de colocar no mercado volume equivalente de títulos públicos. Quem
compra esses títulos recolhe reais ao Banco Central.
Esses títulos públicos pagam em torno dos juros básicos (Selic), que hoje são de 11,25%
ao ano. O pagamento desses juros é despesa do Tesouro ou do Banco Central. Em
compensação, os dólares comprados para a formação de reservas são aplicados em
títulos de outros países, a maioria deles do Tesouro americano, que rendem cerca de
1,5% ao ano. A diferença entre o que o Banco Central paga para manter as reservas e o
que recebe por elas é o que se chama custo de carregamento.
Ontem, o Banco Central apontou que, em 2010, recebeu 1,88% de juros pelos títulos em
que as reservas foram aplicadas e teve de pagar juros de 7,74%. As reservas em 2010
foram de R$ 455 bilhões. O custo de carregamento, de R$ 26,6 bilhões, uma conta que
em geral não é desembolsada à vista, mas incorporada à dívida.
As reservas já estão nos US$ 305 bilhões, cerca de R$ 508 bilhões. Se a mesma relação
de juros se mantiver, apenas o atual nível de reservas custaria ao País cerca de R$ 30
bilhões em 2011. Mas esse custo deve subir por dois fatores: porque, em consequência
da atual política, as reservas vão aumentar; e porque os juros internos devem subir mais
do que os externos.
No início desta Coluna se afirmou que mais reservas não melhoram a blindagem da
economia. Fácil defender esse ponto de vista. Se reservas de US$ 200 bilhões foram
mais do que suficientes para transformar em marolinha a maior crise global desde os
anos 30, não será necessário mais para defender o País de novos solavancos,
provavelmente menos intensos.
O Banco Central continua empilhando reservas no pressuposto de que a compra de
dólares evita ainda maior valorização do real. Esta ideia precisa de mais questionamento.
Isso aí é como a gravidade. Quanto maior o volume de matéria (massa), mais matéria
estará atraindo. Quanto mais crescerem as reservas, mais moeda estrangeira o Brasil irá
atrair e tanto mais o Banco Central seguirá comprando.
Continuará passando a sensação de que está agindo. E, no entanto, mais terá de agir
para evitar que a cotação do dólar siga despencando. Mas, outra vez, a que custo? Vale a
pena?
CONFIRA
Consulta
Preocupado com as advertências de que a disparada da inflação provocou a perda do
controle das expectativas do mercado, o Banco Central fez uma consulta extra entre os
mesmos 100 analistas, consultorias e instituições que respondem semanalmente à
Pesquisa Focus.
Alinhamento
Uma vez tabuladas as respostas, o Banco Central entendeu que não há grandes
discrepâncias entre as projeções que ele próprio faz e as projeções desses analistas.
As avaliações
O mercado avalia que as medidas macroprudenciais que aumentaram o compulsório dos
bancos e dificultaram o crédito equivalem a uma elevação de 0,75 ponto porcentual dos
juros básicos (Selic). Entendeu, também, que o superávit primário (sobra de arrecadação
para pagamento da dívida) será de 2,7% do PIB (o Banco Central projeta 2,9% do PIB).
E que o crescimento potencial da economia é de 4,4% (o Banco Central imagina 4,5%).
-------------------------------------------Folha de S.Paulo - 25/02/2011
O governo está incomodado
Vinicius Torres Freire
Nas internas, governo diz que "não vai ficar parado" diante do risco de mais
inflação e tensão mundial
O GOVERNO começou a cozinhar mais medidas a fim de conter a inflação e a descrença
geral de que vai cortar gastos e conter a alta de preços. Não sabe bem o que, nem sabe
conversar com o público a respeito. Mas deixou vazar a sua "preocupação", dados os
últimos indicadores econômicos e o aumento da tensão na praça econômica global.
Os desconfortos mais recentes derivam da evidente descrença do mercado em relação ao
controle rápido da inflação, do risco de choque do petróleo e do esgotamento de medidas
heterodoxas de contenção de crédito e de consumo.
Em dezembro, o governo decidira que o Banco Central tomaria medidas a fim de reduzir
a oferta de crédito, como se recorda. Recolheu dinheiro dos bancos com o objetivo de
reduzir o dinheiro disponível para empréstimos. Induziu os bancos a reduzir os prazos de
financiamento e a elevar as taxas de juros.
Eram as "medidas macroprudenciais". Em miúdos, normas que têm como objetivo
primário evitar um excesso de empréstimos que acabe em calotes e problemas em
bancos, mas que também servem para conter o consumo e a inflação.
As medidas tiveram o efeito mais ou menos esperado. A quantidade de dinheiro que os
bancos têm de deixar "estacionada" no BC aumentou uns R$ 80 bilhões, para quase
cerca de R$ 404 bilhões. Os prazos de financiamento pararam de aumentar, juros
subiram bastante em janeiro. Se isso vai ter algum efeito na inflação, é cedo para saber.
Mas as "medidas macroprudenciais" não fizeram tanto mais efeito neste mês, segundo
disse ontem o BC. Não sabemos se o BC esperava mais arrocho. Ainda assim, fica a
dúvida a respeito do que farão BC e governo para esfriar a economia.
Haverá mais "medidas macroprudenciais", um tipo de política anti-inflacionária dita
"heterodoxa" (a ortodoxa é elevar a taxa básica de juros, a Selic)? Faz duas semanas, os
povos do mercado vinham palpitando que em março poderia haver nova rodada
"macroprudencial". O pessoal do governo diz apenas que o assunto será "rediscutido" a
partir da semana que vem. Março começa na terça-feira que vem.
Haverá mais aumento de juros? No mercado financeiro, a crença que se pode depreender
das taxas de juros futuros na praça é a de que haverá aumento adicional de pelo menos
dois pontos percentuais.
Haverá novo e grande empréstimo do Tesouro (nós) para o BNDES, que empresta
dinheiro a juro baixo, subsidiado para empresas? Faz sentido estimular o crédito via
banca pública em momento de contração de gastos e de alta dos juros?
Sim, o ritmo de crescimento do crédito de bancos públicos enfim baixou. Em julho de
2009, o total de crédito dos bancos públicos (afora o BNDES) crescia a 40% sobre o ano
anterior; o do BNDES também. No setor privado, a 10%.
Agora, o estoque de crédito dos bancos públicos (sem BNDES) cresce a 18%; mas o do
BNDES ainda sobe a 24,5%; o da banca privada, a 20%, próximo da média geral.
Haverá, enfim, o tal corte de R$ 50 bilhões no Orçamento de 2011, que ainda não colou
na praça?
Haverá, enfim, reação "prudencial" do governo em relação ao risco de um "extra" na
inflação devido à alta do preço do petróleo?
Dúvidas e dúvidas, e o governo conversa mal com a praça.
------------------------------------Correio Braziliense - 25/02/2011
Efeito borboleta
Brasil S/A :: Antonio Machado
Crise árabe prenuncia outro choque de petróleo, mas com a inflação cedendo as
atenções à recessão
O noticiário sobre a inflação no Brasil está na praça, firme como touro, rivalizando com a
insurgência na Líbia e o medo de contágio por todo o Norte da África, onde já caíram os
governos vizinhos da Tunísia e Egito, e o Oriente Médio, regiões que concentram a maior
reserva de petróleo no mundo. Os pessimistas estão em polvorosa.
Se a onda reformista que sacode a rua árabe e, em menor extensão, o mundo
muçulmano, estender-se à Arábia Saudita e desestabilizar o único país capaz de
preencher qualquer ruptura no fornecimento de petróleo explorado na região (embora
haja dúvida sobre as reservas sauditas, já que não auditadas por fontes independentes
desde os anos 1980), haverá uma crise sem precedentes nos mercados como não se vê
desde os grandes choques de preços de 1973 e 1979.
Nos EUA, segundo David Kotok, da consultoria Cumberland Advisors, 1 centavo a mais
no preço do galão de gasolina, equivalente a 3,78 litros, desvia da renda disponível total
US$ 1,2 bilhão ao ano.
Um aumento de US$ 1 no preço do barril, cotado agora a US$ 120 na Europa (o tipo
Brent) e pouco acima de US$ 100 nos EUA — vindo da média mundial de US$ 80 em
2010 —, acrescenta, segundo a agência de risco Moody’s, 2,5 centavos ao preço da
gasolina vendida no mercado americano. Esse é o custo econômico, quase como se fosse
uma tributação, da crise árabe. Há outros custos imprevisíveis.
Vizinho dos sauditas, o pequeno reino do Barein, base das naves da 5ª Frota dos EUA
que patrulham o Golfo Pérsico, tem protestos quase diários contra a monarquia sunita,
minoritária num país com maioria xiita, a mesma do clero que controla o poder no Irã,
outro grande produtor de petróleo, tido como instigador dos conflitos no mundo árabe.
Mas também convulsionado por uma oposição controlada à base de severa opressão.
Esse é o rastilho: tirania e opressão.
No Irã como no Barein, Egito, Tunísia e Líbia, o que está posto em causa parece pouco
ter a ver com conflitos sectários, mas com anseios de liberdade de expressão em meio a
iniquidades sociais, políticas econômicas ruinosas, concentradas na riqueza do petróleo
não partilhada com a sociedade, e muita, muita corrupção.
A perspectiva de ascensão social é limitada. O desemprego entre os jovens na faixa de
15 a 30 anos, segundo dados da consultoria Stratfor, a que melhor tem interpretado o
que vai ao mundo árabe, passa de 25%, chegando a 40% no Egito. É uma vida sem
futuro.
Revolta é estrutural
Quando chega a isso, não há religião que contenha ou fomente a exaltação. Ela surge
sem ela ou até apesar dela. Quando se sabe sobre o padrão de vida na Europa, logo ali
ao lado, que os recebe mal enquanto imigrantes, ou nos EUA, que os vigiam e tratam
como terroristas, mesmo a China, que investe pesado na região, mas não emprega
ninguém, já que despacha exércitos de mão de obra chinesa, 33 mil na Líbia, a revolta
vai ganhando consistência estrutural.
Quando, enfim, os deserdados descobriram o poder mobilizador das redes sociais, as
correias de transmissão da propaganda oficial ou dos mulás ficaram obsoletas e surgiu o
inesperado: o povo nas ruas sem arredar pé frente a tanques, cavalarias e bombardeios
aéreos — a manifestação derradeira da insanidade do tirano Muamar Kadafi.
Suborno do rei saudita
Difícil prever os desdobramentos da insurreição árabe, mas parece evidente que o status
quo se rompeu. Nem os dirigentes sabem o que esperar. O rei saudita Abdullah bin Abdul
Aziz, de 86 anos, estava no Marrocos tratando de saúde há três meses. Voltou esta
semana e anunciou aumentos salariais ao funcionalismo e benefícios sociais no valor de
US$ 37 bilhões. Um claro suborno para manter o trono.
Se os governantes árabes, novos ou atuais, vão inspirar-se nas democracias ocidentais
ou em um autoritarismo com face social, com vertente laica ou religiosa, não se sabe.
Certo é que insatisfação popular exige outro modelo. Para alguns, não há mais tempo.
Hosni Mubarak fez o que faz Abdullah e o Egito o despachou mesmo assim.
Prenúncio de deflação
A revolta árabe é profunda, mas seja o que for que a motiva, os governos terão de fazer
mais, e muitos só têm petróleo em mãos. Outros nem isso. A tendência é de alta de
preço, antecipada pelo mercado mais por isso, pois, a rigor, não houve quebra da oferta.
Se o problema árabe resumir-se, por ora, às expectativas de outro choque de preço,
acumulando-se ao da alimentação e metais, volta-se às manchetes sobre a inflação no
mundo: elas estão velhas. E no Brasil, desfocadas. Um choque duplo de preços implica
deflação no mundo. E, aqui, o risco de termos outra recessão que não chamamos.
Bolsa Família árabe
A ameaça de deflação como sequela de outra ordem econômica nos países árabes, cada
qual lançando suas versões do Bolsa Família, digamos assim, vai exigir dinheiro grosso
hoje embolsado pelos déspotas e aplicado no exterior. O insight é do analista David
Rosenberg, do Gluskin Sheff, de Toronto, o mesmo que antecipou a crise de 2008,
quando era economista-chefe do Merrill Lynch.
Os rendimentos dos papéis longos do Tesouro dos EUA, diz, estão em queda, apesar das
emissões maciças e do anúncio de Bill Gross, da Pimco, maior gestora de fundos do
mundo, de que estaria saindo do dólar. “O mercado de títulos está contando que, em vez
de uma fonte permanente de inflação, estamos testemunhando é um choque exógeno
global deflacionário”, afirma. Deflação rima com recessão.
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ECONOMIA E OUTRAS NOTÍCIAS
O Estado de S. Paulo - 25/02/2011
Para manter reservas, foram gastos R$ 26,6
bi
Eduardo Rodrigues e Renata Veríssimo
Valor médio das reservas internacionais ficou em R$ 455 bilhões e lucro do
Banco Central[br]foi de R$ 15,7 bilhões
O Banco Central gastou R$ 26,6 bilhões em 2010 para manter as reservas internacionais
brasileiras, que superam US$ 300 bilhões. No entanto, como o Tesouro Nacional arca
sozinho com esse custo, transferindo títulos públicos para o BC, a instituição teve lucro
de R$ 15,7 bilhões, segundo balanço aprovado ontem pelo Conselho Monetário Nacional
(CMN).
De acordo com o documento, o chamado custo de carregamento das reservas
internacionais foi de 5,86% em 2010. Isso ocorre porque o BC teve um custo médio de
7,74% para levantar recursos, enquanto a remuneração média dos papéis que compõem
as reservas em moeda estrangeira não passou de 1,88%.
Fazendo as contas em reais e sem considerar a variação cambial, como o volume médio
das reservas ficou em R$ 455 bilhões em 2010, o prejuízo do BC para mantê-las foi de
R$ 26,6 bilhões. Levando em consideração o câmbio, o gasto das reservas chegaria à
cifra de R$ 48,5 bilhões.
No entanto, segundo o diretor de Administração do BC, Antero Meirelles, a variação do
câmbio é desprezada no cálculo porque esse resultado não é realizado, uma vez que o
Brasil não se desfez dos papéis estrangeiros. "É um registro meramente contábil, pois a
variação cambial só impacta a conta se houver venda."
Dos R$ 15,7 bilhões de lucro apurado pelo BC em 2010, R$ 10,8 bilhões foram obtidos
no primeiro semestre e R$ 4,9 bilhões no segundo. O resultado - dado pela a diferença
entre receitas e despesas com juros incidentes apenas sobre as operações em moeda
local - superou os desempenhos de 2009 (R$ 5,6 bilhões) e 2008 (13,3 bilhões).
---------------------------------------O Globo - 25/02/2011
Governo faz superávit de R$14 bi, mas
gastos sobem 24%, acima das receitas
Martha Beck
Tesouro comemora resultado fiscal de janeiro. Servidor pesa nas despesas
BRASÍLIA. A economia de recursos feita pelo governo central (Tesouro Nacional,
Previdência Social e Banco Central) para pagamento de juros da dívida pública - o
chamado superávit primário - somou R$14,1 bilhões em janeiro de 2011. O resultado é
praticamente igual ao do mesmo período em 2010, quando o saldo foi de R$13,9 bilhões.
Ele também equivale ao segundo melhor primário da história para meses de janeiro,
perdendo apenas para o primeiro mês de 2008 (R$15,3 bilhões).
Os gastos, porém, tiveram crescimento bem mais forte que a arrecadação em janeiro. As
receitas ficaram em R$75,3 bilhões (alta de 19,1% sobre 2010), enquanto as despesas
foram de R$61,2 bilhões - um aumento de 24% sobre o ano anterior.
Para o secretário do Tesouro, Arno Augustin, o resultado mostra a tendência do ano:
- Foi um primário muito bom. Enxergamos 2011 com muito otimismo, pois as receitas
tendem a reagir positivamente quase sem efeito da crise mundial. As condições fiscais
este ano estão bem tranquilas.
Desembolso do PAC dobra. Gasto de custeio sobe 35%
A arrecadação do Tesouro subiu devido ao maior recolhimento de tributos como o
Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) e a Contribuição Social sobre Lucro Líquido
(CSLL). Já as despesas ficaram mais altas por conta da reestruturação de carreiras do
funcionalismo, da remuneração de servidores públicos e também de investimentos.
O documento mostra que os desembolsos com o Programa de Aceleração do Crescimento
(PAC), por exemplo, tiveram crescimento de nada menos que 176% sobre janeiro de
2010, somando R$2,949 bilhões. Já os gastos com pessoal avançaram 10,5% e os de
custeio, 35,3%.
O resultado de janeiro representa 17,1% do esforço fiscal estipulado para 2011 (R$81,8
bilhões). Para cumprir essa meta, a equipe econômica anunciou corte de R$50 bilhões no
Orçamento. Segundo Augustin, apesar da alta de despesas em janeiro, o corte não será
flexibilizado ao longo do ano.
------------------------------------------O Globo - 25/02/2011
Desemprego fica em 6,1%, melhor janeiro
em 8 anos
Liana Melo e Geralda Doca
RIO e BRASÍLIA. A taxa de desemprego nas seis principais regiões metropolitanas do
país ficou em 6,1% no mês passado, no melhor resultado para um mês de janeiro desde
o início da atual pesquisa do IBGE, em 2003. Foi também a terceira melhor performance
da série, perdendo apenas para novembro (5,7%) e dezembro (5,3%) de 2010.
A ligeira alta da taxa em janeiro frente a dezembro reflete a tradicional dispensa de
trabalhadores temporários contratados no fim do ano. Em janeiro, o rendimento médio
real dos trabalhadores (R$1.538,30) registrou variação de 0,5% contra dezembro
(R$1.530,59), e aumento de 5,3% (R$1.460,28) na comparação com janeiro de 2010.
- O país continua numa trajetória de recuperação do mercado de trabalho - avalia Cimar
Azeredo, gerente da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE.
Para a economista do Santander Tatiana Pinheiro, apesar do ligeiro aumento da taxa de
desocupação em janeiro, o mercado de trabalho continua operando a pleno emprego. O
banco considera que, no Brasil, qualquer taxa abaixo de 7,3% já pode ser considerada
pleno emprego.
Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do
Trabalho, houve a abertura de 152.091 empregos formais em todo o país em janeiro. Foi
um resultado 16,16% inferior ao do mesmo período de 2010. No mês passado, o
comércio eliminou 18.130 postos, sobretudo no varejo, e a administração pública
(trabalhadores contratados dentro da CLT), outras 1.042. A criação de vagas foi puxada
pelo setor de serviços, com 73.231
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Correio Braziliense - 25/02/2011
Crise ameaça o bolso do brasileiro
Rosana Hessel
Petrobras segura o preço da gasolina e do diesel, mas já repassa a alta do
petróleo para o querosene de aviação e a nafta
A disparada nas cotações internacionais do petróleo começa a pesar no orçamento dos
brasileiros. Apesar de não mexer nos preços da gasolina e do diesel, que dependem de
autorização do Palácio do Planalto para serem reajustados, a Petrobras já vem
repassando o aumento do barril para uma série de derivados, principalmente o
querosene de aviação e a nafta petroquímica, insumo básico para a produção de diversos
produtos, sobretudo as embalagens plásticas. O querosene e a nafta são revistos,
respectivamente, a cada 15 e 30 dias. A situação só agrava o processo inflacionário no
país, obrigando o Banco Central a acelerar a alta nos juros básicos da economia (Selic).
Dados da Fundação Getulio Vargas (FGV) mostram que, desde a segunda metade de
janeiro, quando estourou a crise no Egito, que se estendeu pela Líbia e vários países do
mundo árabe, os preços do querosene de aviação acumulam alta de 7,16%, mais da
metade da elevação acumulada em 12 meses: 11,99%. Segundo André Braz, economista
da FGV, a tendência é de que o repasse se intensifique nos próximos meses, caso as
turbulências engolfem de vez os maiores produtores de petróleo, como a Arábia Saudita,
com reservas de 266,7 bilhões da barris. O resultado disso: passagens aéreas mais
caras. No caso da nafta, conforme o mercado, o aumento médio ficou em 5% no mesmo
período.
Segundo o vice-presidente para a América Latina da Delta Airlines, Nicolas Ferri, a
apreensão é grande entre as companhias aéreas, pois o querosene de aviação representa
um custo importante para o setor. “Estamos avaliando todos os cenários. O agravamento
da crise será muito ruim”, afirmou. Na área petroquímica, há quem fale em reajuste de
até 20% nos preços dos produtos a base de nafta. A grande pergunta é se a indústria e o
comércio terão condições de repassar tal aumento aos consumidores finais. O problema,
reclamam os empresários, é que o encarecimento dos derivados do petróleo veio a se
somar a um encarecimento em série das commodities metálicas e agrícolas.
O Brasil é importador regular de querosene de aviação, produto cuja demanda vem
crescendo rápido. Em 2010, as importações chegaram a 33 mil barris diários do produto.
Quanto à nafta, as importações estão ao ritmo de 39 mil barris por dia. O país também
poderá sentir altas nos preços de outros produtos que saem das refinarias, como o óleo
combustível usado nas fábricas e pelos navios (bunker).
Ontem, depois de alcançar a máxima de US$ 119,79 em Londres, o barril tipo Brent
encerrou o dia em US$ 111,36, com alta de 0,1%. Nos Estados Unidos, o dia foi de muita
pressão, diante das tentativas do mercado de descobrir se outros países podem
compensar a queda da produção líbia. Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o
barril de West Texas Intermediate (WTI) para entrega em abril fechou a US$ 97,28, em
baixa de 0,9%. Segundo Tom Bentz, do Banco BNP Paribas, o recuo se deu depois que a
Arábia Saudita garantiu que suprirá a redução da produção da Líbia. Em julho de 2008, o
valor do barril do Brent chegou a US$ 147, mas, no fim daquele ano, após a quebradeira
de bancos e de várias economias, inclusive europeias, recuou para US$ 37.
Especulação
Vários operadores alertaram para os movimentos especulativos no mercado com o óleo.
“Há muita distorção tanto no preço do petróleo quanto nos das commodities agrícolas.
Tem muito investidor comprando contratos de petróleo só para aumentar a demanda e
obter lucros no curto prazo”, alertou o economista da Prosper Corretora, Demetrius Borel
Lucindo. Ele ressaltou ainda que, ao manter o preço da gasolina 4% abaixo do praticado
no mercado externo, a Petrobras já acumula perdas superiores a R$ 200 milhões.
Para José Luís Oreiro, professor de Economia da Universidade de Brasília (UnB), mantida
a escalada do preços do petróleo, o risco de uma nova recessão global é grande. É que a
inflação tenderá a subir, obrigando os bancos centrais a elevarem os juros, abortando a
ainda frágil recuperação econômica dos Estados Unidos e da Europa. “O risco de uma
nova recessão é considerável ainda neste começo de ano por, pelo menos, dois
trimestres seguidos”, disse.
Na avaliação do diretor de Relações Internacionais da Federação das Indústrias do
Estado de São Paulo (Fiesp), Thomaz Zanotto, é cedo para fazer estimativas. Mas os
empresários estão atentos para a crise política, sobretudo na Líbia, grande fornecedora
de petróleo para a Europa. “Se ela continuar, o risco de uma recessão acompanhada de
inflação (estagflação) no mundo é muito grande, e isso seria o pior cenário possível”,
destacou. (Colaborou Gustavo Henrique Braga)
Pressão sobre BCs mundiais
Começam a ser divulgadas as primeiras estimativas de impacto da alta dos preços
internacionais de petróleo na inflação, jogando a pressão dos reajustes nas taxas básicas
de juros pelos bancos centrais. Segundo a consultoria Fathom, se o preço do barril tipo
Brent estacionar em US$ 120, a taxa britânica de inflação ganharia 0,48 ponto
percentual. Nos Estados Unidos e na Europa, o acréscimo seria respectivamente de 0,51
e 1,63 pontos. Mas, caso o patamar seja de US$ 150, o impacto iria ao dobro. Analistas
internacionais veem um sério dilema para os governos dos países desenvolvidos: de um
lado, a tentativa de evitar a disparada dos preços domésticos; do outro, a busca da
retomada do crescimento.
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