o céu pode esperar? - Sociedade Ponto Verde

Transcrição

o céu pode esperar? - Sociedade Ponto Verde
Esta revista é distribuída aos assinantes das revistas Caras e Activa e não pode ser vendida separadamente. É impressa em papel reciclado e tintas ecológicas.
JANEIRO - MARÇO 2014
N.º 14 | TRIMESTRAL
O CÉU
PODE
ESPERAR?
AS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS SÃO UM FACTO
INQUESTIONÁVEL. PROVADA A INFLUÊNCIA
HUMANA, SÃO NECESSÁRIAS NOVAS
IDEIAS E MUITAS ACÇÕES.
Hortas em casa
Nuno Delgado
Tem um parapeito ou uma parede livre?
Então pode ter uma mini horta
O melhor judoca de sempre
é campeão na defesa do ambiente
Velhos? Nem os trapos!
Eco moda dá nova vida
a roupas esquecidas no armário
PARA COMEÇAR
Partida, largada,
CORRIDA!
Ilustração: Mário Pedro
Correr deixou de ser uma excentricidade de alguns e passou a hábito semanal de milhares
de portugueses. Não admira: correr promove a perda de peso, fortalece o ritmo cardíaco,
melhora a auto-estima, estabiliza a tensão arterial, exercita o cérebro, tem efeitos na
qualidade de sono e controla o stresse. Os que correm reconhecem ficar com mais força,
energia e motivação para os desafios do dia-a-dia e ganham a sensação de estarem
preparados para tudo. É uma óptima forma de fazer novos amigos mas também pode ser
uma viagem ao nosso interior, quase uma meditação. Segundo o cardiologista norte-americano e também corredor George Sheehan, autor do livro Running & Being – The Total
Experience: “A corrida encurta a distância entre aquilo que somos e aquilo que podemos
ser, entre o nosso eu actual e o nosso eu ideal, entre a realidade e a aspiração”. Dá mesmo
vontade de calçar uns ténis e começar, não é?
3|
As emissões geradas pela presente
edição da Revista Recicla, no que respeita
à produção e impressão de papel, foram
medidas e compensadas pela Carbono Zero
EDITORIAL
SUMÁRIO
N.º 14 JAN. - MAR. 2014
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www.pontoverde.pt
A NOSSA PARTE
Em Setembro passado, o Painel Intergovernamental da ONU para as Alterações
Climáticas anunciou que já existem 95%
de certezas científicas quanto à responsabilidade da acção humana no aquecimento global. E deixou um aviso: a emissão de
gases poluentes atingiu valores de facto
preocupantes. Os países protagonistas
passam a bola da culpa uns aos outros e,
enquanto isso, os acordos não surgem.
O que nos resta fazer? Ficar de braços cruzados à espera? Mesmo com os
pequenos gestos, nas nossas opções
diárias, é possível fazermos a diferença.
Nesta edição da RECICLA encontra alguns
exemplos muito positivos que nos podem
inspirar. O melhor judoca português de
sempre, por exemplo, criou o Banco Social
de Equipamentos para os alunos da sua
escola trocarem quimonos e cintos entre
si. Um grupo de voluntários gere a Fruta
Feia, cooperativa de consumo que procura
combater o desperdício alimentar ligado
aos produtos hortícolas que são rejeitados apenas por questões estéticas. Joana
Teodoro, enquanto designer de moda,
decidiu dedicar-se à recuperação de
roupa. Anthony Carter aproveita garrafas de vinho usadas e transforma-as em
atractivos vasos de ervas aromáticas. Todos eles convocam esforços diariamente
para fazerem a sua parte. A RECICLA conta
consigo para assumir a sua. R
8
Reportagem
Alterações climáticas: são necessárias novas
ideias e muitas acções. Para bem de todos
16
Rosto
26
Tendências eco
30
Eco-empreendedores
38
Lazer sustentável
5
21
22
34
42
A cidadania exemplar da jornalista
Laurinda Alves
16
Roupas esquecidas no armário ganham
nova vida. A reutilização chega à moda
Projectos nacionais que transformam
qualquer parapeito numa mini horta
30
Parques de Sintra: um paraíso ambiental,
mesmo às portas de Lisboa
Ponto Verde
Planeta Verde
Pequenos Gestos
Atitude
Sustentabilidade é
RECICLA/Ficha Técnica
Propriedade: Sociedade Ponto Verde SA, Morada: Rua João Chagas, 53, 1.Dto, 1495-764 Cruz
Quebrada, Dafundo, Tel: 210 102 400, Fax: 210 102 499, www.pontoverde.pt, [email protected],
NIF: 503 794 040, Director: Mário Raposo, Directora-adjunta: Susana Camacho Palma
Edição: Have a Nice Day - Conteúdos Editoriais, Lda., www.haveaniceday.pt, [email protected], Tel:217 950 389 Directora: Ana Rita Ramos, Editora: Teresa Violante, Redacção: Ana Sofia Rodrigues, Projecto Gráfico e Paginação: Mário Pedro,
Fotografia: Agência Fotográfica Filipe Pombo, Thinkstock, Impressão: Jorge Fernandes, Lda, Tiragem: 17.000 exemplares,
Depósito Legal: 215010/04, ICS: 124501 A RECICLA é impressa em papel reciclado com tintas ecológicas. Depois de a ler,
dê-lhe um final ecológico: partilhe-a com um amigo ou coloque-a no ecoponto azul.
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Foto: Foster + Partners
O céu é ciclável?
O projecto SkyCycle está convencido que sim. Os seus autores idealizaram uma
ciclovia de 220 quilómetros, construída acima da estrutura de linhas ferroviárias já
existente em Londres. Estão previstos 200 pontos de acesso à ciclovia com rampas
e plataformas hidráulicas. Esta rede cobriria uma região com seis milhões de
habitantes, metade dos quais vive e trabalha a dez minutos de distância de uma
entrada. Cada rota poderia acomodar cerca de 12 mil ciclistas por hora, facilitando
a locomoção e encurtando o tempo dos percursos até 29 minutos. A proposta,
aparentemente utópica, resulta de uma parceria entre os ateliês de arquitectura
Foster + Partners e Exterior Architecture e a consultora em transportes Space
Syntax. O protagonista desta nova forma de mobilidade urbana é o conceituado
arquitecto Norman Foster, um apaixonado pelo ciclismo e pelas questões
ambientais. Uma das suas obras mais emblemáticas em Londres, o edifício 30 St
Mary Axe (apelidado de Gherkin – pepino), gera através de painéis solares e uma
turbina eólica 40% da energia que consome.
“Para melhorar a qualidade de vida da população em Londres e estimular uma
nova geração de ciclistas, é preciso tornar o transporte seguro”, defende Foster. E
acrescenta: “No entanto, a maior barreira de convivência entre carros e bicicletas
é a limitação das ruas, onde o espaço é um prémio disputado”. De acordo com
o jornal The Guardian, o projecto já foi apresentado às autoridades londrinas
responsáveis pelos transportes públicos, mas poderá demorar 20 anos a ser
construído e custar cerca de 220 milhões de libras. Passará de utopia a realidade?R
5|
PONTO VERDE
Foto: Paulo Magalhães
Missão Reciclar
Mata do Buçaco,
um tesouro mundial
A Mata Nacional do Buçaco é a primeira mata nacional em
Portugal a receber a certificação internacional de gestão
florestal, atribuída pelo prestigiado Forest Stewardship Council.
Esta certificação tem como objetivo principal a promoção
da gestão sustentável da floresta, que compreende a sua
utilização tendo em conta tanto os aspectos económicos, como
os ambientais e sociais. Prevê-se que este reconhecimento
atrairá mais turistas ao local, aumentando o número
actual de 200 mil visitantes por ano. As responsabilidades
também aumentarão para a entidade gestora do espaço, a
Fundação Mata do Buçaco, que se compromete a assegurar a
manutenção da saúde e vitalidade dos ecossistemas florestais,
a conservação e melhoria da diversidade biológica, além da
promoção de relações de vizinhança, mantendo e melhorando
as funções e condições socioeconómicas da região onde se
insere.
A Mata ocupa 105 hectares e possui uma das melhores
colecções dendrológicas da Europa, com cerca de 250 espécies
de árvores e arbustos com exemplares notáveis. Com uma
programação muito completa, não faltam razões para visitar
e conhecer este paraíso verde. Oficinas para grupos e famílias,
passeios organizados pelos trilhos, visitas orientadas em noites
de lua cheia, workshops, passeios fotográficos, exposições e
acções de voluntariado são algumas das iniciativas disponíveis.
Fique a par das actividades em www.fmb.pt e aproveite o início
da Primavera para planear um fim-de-semana diferente.R
6|
Se um dia destes bater à sua porta uma
equipa da Sociedade Ponto Verde, não
estranhe. A Missão Reciclar contactará
dois milhões de lares portugueses,
em mais de 200 concelhos. Objectivo?
Converter todos os que ainda não
reciclam em separadores totais e
clarificar as regras de reciclagem aos
que já o fazem. Esta é uma das maiores
acções de sensibilização já realizadas
em Portugal, que pretende ir ao
encontro das metas propostas no novo
Plano Estratégico dos Resíduos Urbanos
(PERSU 2020). De acordo com o estudo
“Hábitos e Atitudes face à separação
de resíduos domésticos”, 69% dos
lares portugueses fazem regularmente
a separação de embalagens usadas.
Quando devidamente separadas
e colocadas nos ecopontos, as
embalagens usadas podem ganhar
novas vidas e gerar valor. A reciclagem
é um acto cívico, com impacto positivo
no ambiente, na qualidade de vida das
populações e na economia nacional.
Desde a sua criação em 1996, a
Sociedade Ponto Verde já encaminhou
para reciclagem mais de seis milhões de
toneladas de resíduos de embalagens,
o equivalente ao peso de três Pontes
Vasco da Gama. E você, já recicla?R
Plantas por um fiu
Inspirada na técnica milenar japonesa
kokedama, Ana Miguel, arquitecta
paisagista em Vila Real, criou o projecto
Fiu – Jardins Suspensos. Os Fiu são plantas
que não necessitam de vasos, pois as suas
raízes e torrão são envolvidos em musgo.
Penduradas por um fio, possibilitam uma
decoração original, em ligação com a
natureza. O que começou por ser uma
“simples brincadeira”, tornou-se “terapia
pessoal” e “um segundo emprego”. “O
balanço deste primeiro ano de actividade
é muito positivo! A aceitação do público
é muito boa e as encomendas estão a
crescer”, revela Ana.
A construção dos Fiu é totalmente manual
e inclui plantas aromáticas, condimentares,
suculentas, fetos e ornamentais. A sua
manutenção é muito simples. Necessitam,
em geral, de ser mergulhadas em água
apenas uma vez por semana, o que se deve
ao facto do invólucro manter a humidade
junto à raiz das plantas por mais tempo
que os vasos comuns. Os Fiu são vendidos
através do Facebook (www.facebook.com/
fiujardinssuspensos), em mercados e feiras
e na loja CRU, no Porto.R
Novo Dia Internacional da Vida Selvagem
Três de Março é o novo Dia Internacional da Vida
Selvagem. A ONU decidiu assinalar esta data para
celebrar a fauna e a flora do planeta, mas também
para alertar para os perigos do tráfico de espécies
selvagens. A data foi escolhida tendo em conta o dia
de criação da CITES - Convenção sobre o Comércio
Internacional das Espécies de Fauna e Flora Selvagens
Ameaçadas de Extinção (três de Março de 1973). “Este
dia lembra-nos da necessidade urgente de intensificar
a luta contra a criminalidade relacionada com a vida
selvagem e o seu impacto económico, ambiental e
social”, destacou John Scanlon, secretário-geral da
CITES, em comunicado. O tráfico mundial de espécies
selvagens da fauna e da flora está estimado em 19 mil
milhões de dólares (14 mil
milhões de euros) anuais,
de acordo com o Fundo
Mundial para a Natureza. A
assembleia-geral da ONU
anunciou também que 2015
será o “Ano Internacional da
Terra”. R
7|
O CÉU PODE
ESPERAR?
O TEMA DAS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS ESTÁ NA ORDEM DO DIA, MAS OS
ACORDOS ENTRE OS PAÍSES TEIMAM EM NÃO CHEGAR. AS OPINIÕES SOBRE OS
CAMINHOS A SEGUIR DIVERGEM, MAS A NECESSIDADE DE RÁPIDAS SOLUÇÕES
É JÁ UMA CERTEZA COMUM.
Texto Teresa Ribeiro
Fotos Thinkstock
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As políticas pró-ambiente
precisam de avançar a um
ritmo mais acelerado, a bem
do futuro do planeta
9|
REPORTAGEM
Nos primeiros dias do ano, o relatório
de uma seguradora alemã, a Munich
Re, divulgava a lista das dez piores catástrofes naturais ocorridas no planeta
entre 1980 e 2012 e ainda o balanço
das tragédias registadas em 2013.
Do top ten constavam seis terramotos
e quatro fenómenos meteorológicos
extremos, dois dos quais observados
em zonas do planeta onde não são
habituais manifestações tão violentas.
Das 880 catástrofes naturais registadas em 2013, a seguradora destacou
como mais devastadoras o tufão
Haiyan, que fustigou em Novembro o
sudeste das Filipinas, e as inundações
ocorridas em Junho na Alemanha
e países limítrofes, cujos prejuízos
ascenderam a 11,7 mil milhões de
euros. Estes balanços não são uma
novidade, mas aumentou a consciência de que a Natureza está a falar-nos
de uma forma mais agreste e numa
língua até há pouco desconhecida em
vários locais do mundo.
Em 2007, ano em que se realizou em
Bali mais uma Conferência das Nações
Unidas sobre Mudanças Climáticas, a
ONU também divulgou uma lista de
catástrofes naturais, mas só relacionadas com alterações do clima. Entre
2000 e 2007, anunciava o relatório da
ONU, cerca de 164 milhões de pessoas
tinham sido vítimas de inundações e,
em 2006, das dez catástrofes mais
mortíferas, apenas uma não teve
origem meteorológica. Entre os países
mais massacrados contavam-se os
Estados Unidos, a China e a Índia,
ironicamente três das potências que
mais têm bloqueado as negociações
para a redução da emissão de gases
com efeito de estufa. Sete anos depois,
os países mais afectados continuam
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A COMUNIDADE
INTERNACIONAL
ESTÁ A PAR DAS
CONSEQUÊNCIAS
AMBIENTAIS,
ECONÓMICAS E
SOCIAIS DA ECONOMIA
DO PETRÓLEO.
TODOS ESTÃO DE
ACORDO QUE O RUMO
PASSA PELA APOSTA
CRESCENTE EM
ALTERNATIVAS MAIS
VERDES
divididos entre o receio de sofrer novas catástrofes e a vontade de manter
os seus modelos económicos baseados
no petróleo.
BRAÇOS DE FERRO
À medida que os relatórios científicos
vão revelando os impactos negativos
dos gases com efeito de estufa e a
Natureza vai corroborando essas teses,
aumenta a pressão sobre os países
com mais responsabilidades nas emissões de CO2, derivadas da queima de
combustíveis fósseis. Mas quando são
chamados a participar nas cimeiras
internacionais sobre ambiente não se
entendem e, na hora do balanço, esses
eventos deixam a pairar um sentimento de frustração. “As negociações
relativas ao clima têm girado em torno
de três perspectivas: a da respon-
Os impactos negativos dos gases
com efeito de estufa já são bem
conhecidos. A Natureza tem
demonstrado que é tempo de agir
sabilidade histórica (atribuída aos
países desenvolvidos e que é avaliada
em função do cálculo da quantidade
de gases poluentes que emitiram
para a atmosfera desde a revolução
industrial), a do contributo de cada
país para o aumento das emissões e,
finalmente, a do contributo por país
per capita”, resume Francisco Ferreira,
membro da direcção nacional da associação ambiental Quercus. É em torno
destes três eixos que se tem apertado
o nó das negociações climáticas, explica: “As potências emergentes invocam a ausência de responsabilidade
histórica para reclamar o seu direito
a políticas menos restritivas relativamente à emissão de gases tóxicos. Os
países desenvolvidos preferem deixar
essa questão de lado e discutir os
índices actuais de poluição”. Mas para
A PRÓXIMA
CONFERÊNCIA DAS
NAÇÕES UNIDAS
SOBRE ALTERAÇÕES
CLIMÁTICAS ESTÁ
MARCADA PARA 2015,
EM PARIS. A AGENDA
É AMBICIOSA MAS
NECESSÁRIA. SERÁ QUE
OS PAÍSES CHEGARÃO
FINALMENTE A UM
ACORDO?
manter o braço de ferro há países que
nem precisam de acertar contas com
o passado. Francisco Ferreira aponta
o exemplo paradigmático dos Estados
Unidos e da China: “Neste momento a
China é o país mais poluidor do mundo, mas se as suas emissões forem
avaliadas per capita, são inferiores às
dos Estados Unidos. Isto foi o bastante
para complicar o diálogo entre as duas
potências”.
Viriato Soromenho Marques, Professor
Catedrático da Faculdade de Letras
da Universidade de Lisboa e ex-Conselheiro da Comissão Europeia para a
Energia e Alterações Climáticas, defende que deveria haver nas cimeiras do
ambiente, promovidas pelas Nações
Unidas, um modelo de negociação
mais musculado, com “a criação de
um directório de grandes países, uma
espécie de Conselho de Segurança Climática, que pudesse liderar o processo
e dar força à ONU”. Enquanto não se
criarem “mecanismos de coacção”,
sublinha, as políticas pró-ambiente
não avançarão ao ritmo desejado.
METAS NECESSÁRIAS
Desde meados dos anos oitenta,
quando foi identificado o buraco do
ozono sobre a Antárctida e se começou a estudar o impacto dos gases
com efeito de estufa no aumento da
temperatura média do planeta, que
a comunidade internacional está a
par das consequências ambientais,
económicas e sociais da economia do
petróleo. Desmentindo os negacionistas que vêem nas alterações climáticas
e aumento das temperaturas médias
globais um ciclo meteorológico natural,
o Painel Intergovernamental da ONU
para as Alterações Climáticas (IPCC),
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REPORTAGEM
criado em 1988 para o estudo destes
fenómenos, anunciou em Setembro
passado, na Suécia, que “agora existem 95% de certezas científicas quanto
à responsabilidade da acção humana
no aquecimento global”. O objectivo
da ONU é conseguir que o aumento
das temperaturas médias globais não
ultrapasse os dois graus. Se não se
cumprirem as metas estabelecidas,
o nível do mar “poderá subir até aos
82cm até ao final do século”, avisa
o IPCC, “e as temperaturas médias
aumentarão 4,8 graus”.
Marcada para 2015, em Paris, a
próxima Conferência da ONU sobre
Alterações Climáticas tem uma agenda
ambiciosa. Dela deverá resultar o
documento que substituirá o Protocolo de Quioto, entretanto prescrito.
Espera-se que venha a ser subscrito e
ratificado por um conjunto mais alargado de países, incluindo os Estados
Unidos.
O AMBIENTALISTA CÉPTICO
Mas nem todos seguem com a mesma
preocupação os avanços e recuos das
potências que lideram estas negociações. Bjorn Lomborg, o dinamarquês
doutorado em Ciência Política que se
tornou famoso ao publicar as obras
“O Ambientalista Céptico” e “Calma!”,
lançadas respectivamente em 2001 e
2007, desconstrói a visão mainstream
dos ambientalistas e da ONU. Nestas
obras, baseadas em estudos que liderou na Business School de Copenhaga,
onde é professor, rebate muitos dos
dados estatísticos divulgados pelas
entidades que mais têm promovido
as políticas de redução de emissões. Sublinha que, com o objectivo
de sensibilizar a opinião pública, os
investigadores apontam como certos
os cenários mais pessimistas e menos
prováveis. Apelidando de catastrofistas
as previsões, o investigador argumenta, por exemplo, que a subida do
nível dos oceanos pode, em muitos
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casos, ser prevenida sem grandes
custos, como será o caso da Holanda, que tem 60% da sua população
a viver abaixo do nível do mar mas
que poderá, segundo os seus cálculos,
solucionar o problema “gastando 1%
do PIB”. Lomborg também salienta
que o impacto das catástrofes naturais
ligadas ao clima tem aumentado
não só devido ao maior número de
ocorrências, mas em função da acção
do homem, que em vez de prevenir,
agrava as circunstâncias: “Quando
as pessoas olham para o Paquistão,
onde grandes áreas do país já foram
inundadas, e dizem que tal aconteceu devido ao aquecimento global,
estão a esquecer que a maior parte
do dano decorreu porque as áreas
altas das regiões montanhosas foram
BJORN LOMBORG
CONSIDERA QUE TÊM
SIDO DIVULGADOS
APENAS OS CENÁRIOS
MAIS PESSIMISTAS E
MENOS PROVÁVEIS
PARA COMBATER O
AQUECIMENTO GLOBAL,
LOMBORG PROPÕE:
“UM FUNDO GLOBAL
DE 100 MIL MILHÕES
DE INVESTIMENTO
EM PESQUISA E
DESENVOLVIMENTO EM
ENERGIAS LIMPAS”
desmatadas, levando à aceleração do
escoamento superficial. Esse tipo de
comentário ignora, também, que a
maioria das barragens no Paquistão
são mal reparadas e assoreadas, o
que significa que elas podem armazenar muito menos água, e que houve
neste país uma degradação geral dos
serviços de previsão sobre precipitações e gestão da água”, exemplifica.
Contra a corrente, Lomborg sustenta
que mais prementes que os problemas
climáticos no mundo são os da fome e
que o caminho traçado pelo Protocolo
de Quioto, que promove a redução
das emissões, é caro e ineficaz: “Num
mundo mediatizado, infelizmente as
pessoas que gritam mais alto ou que
contam as histórias mais assustadoras
são as que recebem mais atenção. Os
problemas simples, e por isso mais
aborrecidos, não recebem a atenção
de que necessitam. Sida, má nutrição
e imunização são assuntos aborrecidos
comparados com o aquecimento global e os furacões que são mais excitantes e interessantes para os media”,
afirmou numa entrevista concedida à
revista Gingko em 2009, quando esteve em Portugal a convite do Greenfestival. Com estas palavras reiterava a
mensagem do seu livro “Calma”, onde
defendeu que as avultadas somas
dispendidas para travar, sem sucesso,
o aquecimento global seriam melhor
gastas a salvar vidas no imediato. Em
2010, o ambientalista céptico viria
porém a lançar uma obra considerada por alguns de recuo. Em “Smart
Solutions to Climate Change” (Soluções Inteligentes para as Alterações
Climáticas) admite que é necessário
combater o aquecimento global, mas
com políticas realistas que esqueçam
“a estrada velha e falha do Protocolo
de Quioto” e apoiem o investimento
em Investigação e Desenvolvimento:
“Deveríamos ouvir o melhor da ciência
natural e perceber que o aquecimento global é um problema real que
No seu livro “Smart Solutions to
Climate Change”, Bjorn Lomborg
apela a que se esqueça “a estrada
velha e falha do Protocolo de Quioto”
precisamos solucionar. Mas também
deveríamos ouvir o melhor da ciência
económica, que nos diz que, por meio
do Protocolo de Quioto e de políticas semelhantes, vamos gastar uma
fortuna e fazer praticamente nada de
bom. Em vez disso, deveríamos gastar
o nosso dinheiro na criação de uma
tecnologia verde melhor para o futuro.
Actualmente, a energia verde custa
muito mais do que os combustíveis
fósseis. É por isso que é muito difícil
conseguir que as nações se comprometam a usá-la. Mas, se pudermos
inovar e colocar o seu preço abaixo do
custo dos combustíveis fósseis, todos
passarão a comprar energia verde,
não porque sejam ambientalistas,
não porque são forçados a fazê-lo
através de um Protocolo de Quioto,
mas porque é mais barata”. Uma das
propostas que Lomborg avança no
livro é a criação de um fundo global
de 100 mil milhões de dólares para
investimento em pesquisa e desenvolvimento em energias limpas. Pediu a
mais de 30 economistas “top climate”
do mundo para delinear e pesquisar
as melhores formas de combater o
aquecimento global: “Debruçaram-se
sobre questões como os cortes padrão
de carbono, os cortes em carbono
negro, plantio de florestas, redução de
metano, adaptação, transferência de
tecnologia, geo-engenharia, pesquisa
e desenvolvimento de energia verde,
além de uma série de outras opções.
Em seguida, pedimos a um painel de
economistas laureados com o Prémio
Nobel para priorizar as principais soluções com base no custo-eficácia. E foi
assim que concluíram que gastar 100
mil milhões de dólares em pesquisa e
desenvolvimento era o melhor caminho, no longo prazo, para combater
o aquecimento global”. Pragmático,
este professor dinamarquês acredita
que, graças à I&D, vai ser possível, no
futuro, ambiente e desenvolvimento
conviverem sem grandes problemas.R
13 |
Há bons exemplos
ENQUANTO AS MAIS
ALTAS INSTÂNCIAS NÃO
CHEGAM A ACORDO, VÁRIAS
INICIATIVAS MOSTRAM
RESULTADOS A REPLICAR.
EM TODO O MUNDO,
PAÍSES, EMPRESAS E
CIDADÃOS ESTÃO A ASSUMIR
VOLUNTARIAMENTE A SUA
RESPONSABILIDADE PARA
UM CLIMA DE MUDANÇA.
Texto Ana Sofia Rodrigues
UNIÃO FAZ A FORÇA
A meta de 20%de redução de emissões até 2020 em relação a 19
0
9 vai
ser aparentemente cumprida pela
União Europeia (EU). Em 2012, a
redução já ia em 18
%e poderá chegar
aos 24%no prazo final. A maioria dos
estados-membros está no bom caminho quanto às suas metas individuais
de redução de emissões. Portugal, por
exemplo, já reduziu as suas emissões
em 10%
. Outra boa notícia: no total da
energia consumida na UE, 13
%vem
de fontes renováveis, como o vento, o
sol, a água ou a biomassa. A Agência
Europeia do Ambiente estima que a
meta de 20%até 2020 é tangível.
Portugal está bem encaminhado para
a sua meta de 1
3%de renováveis até
2020. Em 2011, estava nos 25%
.
PROACTIVIDADE EMPRESARIAL
A Nike reduziu a sua pegada de carbono em 0
8%desde 19
9e usa energia
geotérmica;a Unilever comprometeuse a reduzir para metade as emissões
de gases gerados pelos seus produtos
até 2020;a Dell prometeu diminuir as
suas emissões totais de produção em
40%até ao final de 2015 e a apenas
dois anos desse prazo já reduziu ;%
8
3
14 |
a Nestlé pretende ganhos em termos
de eficiência energética de 25%até
2015 comparado com 2005 e conduz
projectos de investigação sobre adaptações às alterações climáticas nas
áreas da produção de café, cacau e
lacticínios, com o objectivo de preparar
e formar os seus fornecedores…Estes
são apenas alguns exemplos de uma
nova consciência empresarial.
PROTAGONISMO DOS CIDADÃOS
O português Tiago Domingos, director
da Terraprima, é o rosto do projecto
vencedor do concurso europeu Um
mundo que me agrada. Pastagens
Semeadas Biodiversas foi considerada
a melhor solução contra as alterações
climáticas. Uma ideia inovadora para
a redução das emissões de dióxido de
carbono, erosão dos solos e riscos de
incêndios florestais, aumentando ao
mesmo tempo a produtividade das
pastagens. “Este projecto é o exemplo
perfeito de como uma solução prática
contra as alterações climáticas pode
também poupar dinheiro, criar emprego e gerar crescimento”, reconheceu
a comissária europeia para a Acção
Climática, Connie Hedegaard.R
1|
“Procuro identificar as pessoas
inspiradoras e dá-las a conhecer, seja na
imprensa escrita ou na televisão. Acredito
profundamente no contributo individual”,
diz Laurinda Alves
16 |
ROSTO
EM PRIMEIRO LUGAR,
CIDADÃ
LAURINDA ALVES É UMA DAQUELAS PESSOAS QUE SE RECUSA A ESTAR
NA VIDA APENAS PARA PASSAR O TEMPO, COMO O MOTOR EM PONTO
MORTO DIANTE DO SINAL VERMELHO, À ESPERA QUE O SINAL MUDE. NÃO
É APENAS ESPECTADORA, É AUTORA DO TEATRO DA EXISTÊNCIA.
Texto Ana Rita Ramos
Fotos Mariana Sabido (excepto onde indicado)
outros projectos editoriais), foi distinguida com o grau de
Com uma carreira profissional estimulante e uma vida
Comendador da Ordem do Mérito pelo debate e defesa
que vale a pena viver, Laurinda Alves ainda hoje volta
das questões educativas, participa regularmente em enpara casa espicaçada pela voz que sopra ao ouvido as
contros, debates, conferências e seminários em escolas e
respostas inquietantes que não quer deixar de dar, que
lugares menos comuns como cadeias e centros de recunão se quer arrepender de não ter dado. Professora
universitária, formadora na área da comunicação, jorna- peração onde sente que fica mais próxima daqueles que
vivem “à margem”. É voluntária em
lista, autora e apresentadora de
programas de televisão, Laurinda
“HOJE A QUESTÃO NÃO múltiplas frentes e dá a cara por
causas da sociedade civil. É
Alves passou a vida inteira a dizer
DEVERIA SER SE FAZEMOS várias
cidadã em primeiro lugar.
“atreve-te” e a rever o seu papel
OU NÃO VOLUNTARIADO, E é isto, que já não é pouco. É
no mundo no tempo que ainda
MAS QUAL A ÁREA DE
certo que as pessoas tendem a
lhe falta viver. Fez metade do
pensar que a realização profispercurso sozinha, achando que
VOLUNTARIADO QUE
sional é um golpe de sorte, algo
deveria corresponder à herança
ESCOLHEMOS”
que talvez desça sobre nós como
familiar de firmeza e orgulho, mas
o bom tempo se formos suficienna outra metade rodeia-se de
temente afortunados. Mas aos 52 anos Laurinda Alves
pessoas inspiradoras que a ajudam e encaminham, com
sabe que não é assim que funciona. A sua realização foi
a certeza de que os problemas fazem parte da vida e, se
a consequência do esforço pessoal. Lutou por ela, procunão os partilharmos não daremos às pessoas que nos
rou-a arduamente, insistiu nela e até viajou pelo mundo
amam a oportunidade de nos amar o suficiente.
à sua procura. Por vezes precisa de rearrumar os seus
Criou a emblemática revista XIS, que durou até 2007,
armários interiores, baralhar e dar de novo, mas nunca
fez quase tudo o que havia a fazer como jornalista,
perde a noção de onde vem e para onde quer ir.
passou pela RTP, TSF, Independente e Público (entre
17 |
Como coordenadora em Portugal do
Dialogue Cafe, qual o balanço que
faz desta iniciativa sem fins lucrativos que utiliza as tecnologias de
vídeo de última geração para permitir a conversa cara a cara entre
vários grupos de pessoas em todo o
mundo?
O Dialogue Cafe é um projecto com
incrível potencial, que proporciona
diferentes trocas de experiências
e permuta de aprendizagens. Os
participantes estão ligados através de
telepresença, em ecrãs que permitem
ver os interlocutores em tamanho real
assegurando que, estando em diferentes pontos do globo e pertencendo a
culturas distintas, estas pessoas possam conversar e partilhar experiências. Ao fim de dois anos em Portugal,
acreditamos que vamos finalmente
ter um envolvimento maior de todos
os 12 países que já estão ligados e ter
uma programação global.
O que tem de especial este projecto?
O conceito é apaixonante. Eu não me
18 |
importaria de estar ligada a ele mesmo
trabalhando “num buraco debaixo
da terra”, mas fazê-lo inserida numa
instituição como a Gulbenkian, com
estas condições logísticas, é ainda mais
estimulante. O que o Dialogue Cafe
permite é a multiplicação de ideias,
a cartografia de talentos, o ponto de
“O DIALOGUE CAFE
É APAIXONANTE.
PERMITE A
MULTIPLICAÇÃO DE
IDEIAS E CARTOGRAFIA
DE TALENTOS EM TODO
O MUNDO”
encontro entre pessoas que estão em
vários cantos do mundo. Já aconteceram coisas extraordinárias aqui!
Por exemplo?
Por exemplo? Já salvámos uma vida!
Pusemos em contacto vários neurocirurgiões entre Ramallah, Cleveland e
Lisboa. Uma criança em Ramallah tinha um cancro invasivo e asfixiante no
rosto e os médicos locais precisavam
de aconselhamento científico ao mais
alto nível. Isso foi possível colocando-os em contacto com especialistas em
Cleveland e Lisboa, e hoje a criança
está viva! Esta tecnologia tem grande
potencial médico, clínico e de investigação, sobretudo em países em que a
partilha do conhecimento é mais difícil. Permite criar verdadeiros hospitais
virtuais. Mas tem outras vantagens,
como colocar alunos de vários cantos
do mundo em contacto, ser um ponto
de encontro, um amplificador de boas
práticas, ter sério impacto social. Colocamos ao serviço da sociedade civil,
sem custos, uma tecnologia caríssima
e sofisticada, que pode ajudar a escalar projectos.
Qual a importância da comunicação
no mundo actual e especificamente
nos projectos de responsabilidade
social e de cidadania?
Portugal tem uma clara desvantagem
Laurinda Alves nos jardins da Gulbenkian,
onde funciona a delegação portuguesa
do Dialogue Cafe de que é coordenadora,
que permite partilha de experiências de
pessoas em vários cantos do mundo
competitiva face a outros países, porque na escola não somos ensinados a
falar em público, a debater pontos de
vista opostos, a improvisar. Na escola
americana, por exemplo, as crianças a partir dos quatro, cinco anos
são treinadas a recitar, improvisar,
apresentar ideias para uma audiência.
Os negócios, a inovação, as causas
sociais têm de ser bem comunicados
senão ficam no plano das ideias. Dou
sempre o exemplo do Banco Alimentar
Contra a Fome. Uma ideia excepcional
muito bem comunicada. As pessoas só
aderem ao que conhecem. Não saber
comunicar os projectos é a diferença entre matar ou fazer florescer
as ideias. É, verdadeiramente, uma
questão de vida ou de morte.
É por isso que defende a criação de
um Plano Nacional de Comunicação,
semelhante ao que aconteceu com o
Plano Nacional de Leitura?
Sim. Mas talvez ainda não seja o
momento. Em tempos ainda tive uma
reunião com o então secretário de
Estado da Educação, adoraria atravessar-me por este desígnio nacional,
mas este projecto exige um orçamento e em tempos de tanta escassez
acredito que haja outras prioridades.
Mas em alguma altura os currículos
escolares terão de mudar.
“ÀS VEZES, SÓ
MATANDO OS
PROJECTOS É QUE
AVANÇAMOS. TEMOS
DE NOS RECRIAR COM
FREQUÊNCIA, JÁ NÃO
HÁ PROJECTOS PARA A
VIDA”
Como jornalista sempre se esforçou
por mostrar um Portugal que dá
certo e de que todos nos devemos
orgulhar. Mas sempre que ligamos a
televisão, parece que estamos diante de um pelotão de fuzilamento:
as notícias da crise vêm em rajada.
Como é possível contornar este gi-
gantesco compressor de ansiedade?
Pessoalmente, sempre procurei perceber onde posso acrescentar valor.
Com os meus programas de televisão,
por exemplo, como o Portugueses sem
Fronteiras ou o Feitos em Portugal,
procuro dar visibilidade a pessoas que
fazem a diferença, cheias de sonhos,
esperança, optimismo. Inconformados
cuja luta se faz no dia-a-dia.
É o seu contributo diário para
construir um mundo um bocadinho
melhor para todos?
Sim. Procuro cartografar as pessoas
inspiradoras e dá-las a conhecer, seja
na imprensa escrita ou na televisão.
Acredito profundamente no contributo
individual. Uma pessoa pode realmente fazer a diferença. Procuro estar em
contra-corrente, fazer coisas diferentes, com um olhar alternativo sobre
os problemas. Fiz isso com a XIS, uma
revista muito disruptiva, mas também
com os programas de televisão. Acredito que é possível mudar o sistema
dentro do sistema – não fora dele.
19 |
ROSTO
Laurinda Alves,
num recente
workshop de
Comunicação,
na Casa Allen,
no Porto. O
ensino é uma
das áreas em
que mais tem
trabalhado nos
últimos anos
Fotos Manuel Correia
voluntária da Associação Salvador e da
Reklusa, fiz voluntriado de cabeceira em
Cuidados Paliativos no Hospital da Luz
durante três anos, sou embaixadora
dos Leigos para o Desenvolvimento e
da Acredita Portugal, que acabou de
lançar a empreende.pt, plataforma de
formação online focada nos temas do
empreendedorismo e negócios.
Na sua vida já esteve ligada a vários
projectos, muitos com um cunho de
intervenção social. Como foi libertar-se de alguns deles tão marcantes, como a revista XIS?
Às vezes, só matando os projectos é
que conseguimos avançar. Temos de
nos recriar com muita frequência, já
não há projectos para a vida. A longevidade dos projectos pode variar, mas
o importante é construirmos expectativas realistas e termos um olhar
construtivo para o mundo que nos
rodeia. Quando comecei a dar aulas,
algo que me apaixona profundamente,
foi acreditando nesta máxima. Dou
uma cadeira na Universidade Nova, de
Comunicação, Liderança e Ética a 200
alunos por semestre dos segundos
anos da licenciatura de Economia e
Gestão. Tenho crescido em liberdade
interior, cada vez mais independente
e centrada nos meus valores. E as
surpresas acontecem!
20 |
Qual a importância do voluntariado
na sua vida?
A questão hoje em dia não passa por
saber se queremos fazer voluntariado
ou não. A questão que temos de nos
colocar a nós próprios é: qual a minha
área de voluntariado. E agir! Faço muito
voluntariado pontual, faço pontes, dou
a cara, ajudo a credibilizar projectos.
Dou a minha voz a quem não tem voz
“NA ESCOLA
PORTUGUESA NÃO
APRENDEMOS A
FALAR EM PÚBLICO, A
DEBATER PONTOS DE
VISTA, A IMPROVISAR.
É UMA PENA!”
ou ajudo a amplificar a voz de outros
igualmente importantes. As minhas
áreas de eleição são a deficiência, cuidados paliativos, projectos de minorias
e empreendedorismo. Por isso, sou
Há algum projecto especialmente
estimulante em que esteja envolvida?
Sim. Sou voluntária da Fundación Lo
Que de Verdad Importa, embora me
tenham oferecido o pomposo cargo
de Presidente Honorária em Portugal.
Estamos a preparar, para 14 de Março
de 2014, no Campo Pequeno, em Lisboa, o 1º grande Congresso O Que De
Verdade Importa, de entrada livre, especialmente pensado para estudantes
universitários e pré-universitários, em
que vários oradores nacionais e estrangeiros subirão ao palco para falar
de temas apaixonantes e transformadores. Vamos ter convidados como a
família que sobreviveu ao tsunami da
Tailândia e que deu origem ao filme O
Impossível, ou Bento Amaral que ficou
tetraplégico sem que isso o impedisse
de ser campeão do mundo de vela
adaptada ou um reconhecido especialista em vinhos. São pessoas que nos
fazem acreditar no potencial humano
e que nos falam na primeira pessoa da
força que nos dá força. Numa altura
em que continuamos a ter a lógica
perversa das desgraças a circular nos
media, é preciso encontrar momentos
alternativos para falar de pessoas inspiradoras. Somos ainda uma minoria?
Sim. Mas as maiorias podem apoiar
grandes aberrações. São as minorias
que fazem avançar o mundo. R
PLANETA VERDE
RECICLAR
FORA
DE CASA
MAIS DE METADE DOS PORTUGUESES JÁ
SEPARA OS RESÍDUOS DE EMBALAGENS
EM CASA. MAS SERÁ QUE CONSEGUEM
MANTER ESSE COMPORTAMENTO FORA DE
PORTAS? AQUI FICAM ALGUMAS DICAS PARA
QUE A RECICLAGEM SEJA UM HÁBITO EM
QUALQUER AMBIENTE.
Texto Ana Sofia Rodrigues
Foto Thinkstock21
1. Papel a papel
É o talão do café, o ticket do parquímetro,
o jornal grátis que lhe dão no trânsito, um
folheto que lhe oferecem quando vai às
compras… A tendência? Deitar logo todos
os papéis no caixote de lixo mais perto.
Propomos-lhe o desafio de esperar pelo
ecoponto azul que certamente se cruzará no caminho ou
então guardá-los na mala ou bolso para, quando puder,
colocar no recipiente adequado ao chegar ao escritório
ou a casa. Todos esses pequenos papéis podem ser
depois usados, por exemplo, na produção de caixas de
cartão canelado, papel higiénico ou rolos de cozinha. Vale
a pena o cuidado.
2. O plástico conta
Vai pela rua a beber o resto
da água que lhe sobrou
do almoço ou, na
paragem do
autocarro,
o seu
filho
termina um pacote de sumo. Se estivesse em casa,
onde colocaria a garrafa de plástico ou o pacote?
No ecoponto amarelo, certo? Então porque não
continuar esse hábito fora de casa? Não se esqueça: as
embalagens representam cerca de 20% dos resíduos
que produzimos. Toda a ajuda na sua separação conta.
3. Pequenos começos
Se no seu local de trabalho a reciclagem ainda não for
uma realidade, que tal ser um agente de mudança? Pode
começar por pequenos gestos. Por exemplo, pedir um
outro caixote de lixo para a sua secretária para colocar
apenas papel ou solicitar um recipiente onde combina
com os seus colegas passarem a depositar somente
os copos de plástico após beberem água. Em cada dia,
uma pessoa fica responsável por deixá-los no respectivo
ecoponto.
4. Novo ecoparceiro
Porque não sugerir à sua empresa tornar-se num
ecoparceiro da Ecopilhas e passarem a
ter nas suas instalações um Pilhão? Não
tem custos, o espaço necessário é
pequeno e passa assim a ter um
local ainda mais acessível para
si e para os seus colegas onde
deixar as pilhas e acumuladores
usados. Mais informações em www.
ecopilhas.pt.
5. Salas de aula verdes
Se na escola do seu filho ainda não têm
ecopontos domésticos, ofereça-se
para organizar uma actividade
lúdica e ajude a turma a
construir ecopontos feitos,
por exemplo, a partir de
caixas de cartão. É um bom
pretexto para ensinar-lhes a
importância da separação selectiva
e permite que os mais pequenos
possam continuar na escola os ecohábitos
que já têm em casa. Se precisar de materiais
pedagógicos sobre reciclagem, pode solicitá-los
à Sociedade Ponto Verde, através do e-mail info@
pontoverde.pt.
6. Na rua como em casa
Em dias em que não é efectuada a recolha de lixo ou se
os ecopontos já estiverem cheios não deixe os resíduos
a acumular no chão. Pense que a rua é a grande casa de
todos, por isso cabe a cada um contribuir também para
a sua limpeza e conservação.R
21 |
PEQUENOS GESTOS
CAMPEÃO DA
SOLIDARIEDADE
CONSIDERADO O MELHOR JUDOCA PORTUGUÊS DE SEMPRE, NUNO DELGADO
SENTE A RESPONSABILIDADE ACRESCIDA DE SER UM EXEMPLO PARA AS 1.500
CRIANÇAS QUE FREQUENTAM A SUA ESCOLA. CONSEGUIR SENSIBILIZÁ-LAS
PARA AS QUESTÕES AMBIENTAIS É UMA DAS MEDALHAS SOCIAIS DE QUE MAIS
SE ORGULHA.
Texto Ana Sofia Rodrigues
Fotos Filipe Pombo/AFFP
o mesmo espírito: o Banco Social de Equipamentos. “É uma
Serioku Zenyo e Zita Kyotei. Para a maior parte das pessoas, são expressões indecifráveis, mas para os praticantes de oportunidade de consciencializar as crianças para o facto de
que os recursos são limitados”. Os judocas que têm equipajudo são dois princípios fundamentais. Querem dizer: “usar
mentos usados, que já não necessitam, podem entregá-los
a energia de forma eficiente” e “benefício mútuo e prospeà escola, que por sua vez encaminha para outras crianças,
ridade para todos”. “Estas duas máximas estão claramente
ligadas aos princípios de preservação do ambiente”, relacio- de acordo com as necessidades. “Ter consciência de que
nada se gasta, tudo se transforma, é muito importante”,
na Nuno Delgado. A gerir uma escola de judo com impacto
reforça Nuno Delgado e recorda: “Quando era pequeno
directo em cerca de 1.500 crianças, Nuno alia a parte
havia muita dificuldade em comprar
desportiva a um programa cívico, que
equipamentos de judo. Vinham de
procura incutir nos jovens hábitos
muito longe, eram tratados como se
saudáveis, abordando questões ligafossem um tesouro e passavam de
das a alimentação, higiene, cidadania
“TER CONSCIÊNCIA
geração para geração”.
e responsabilidade ambiental. Como
DE QUE NADA SE
Embora o judo seja uma actividade
pai e mentor, sente uma “responsaGASTA, TUDO SE
indoor, Nuno sempre que pode foge
bilidade acrescida em tentar passar
TRANSFORMA, É
para a liberdade da Natureza. “Sou
bons hábitos a esta nova geração”.
um grande defensor do bem-estar e
Por isso, todos os cuidados que tem
MUITO IMPORTANTE”
não há dúvida que, além do exercício
em casa aplica de forma ainda mais
físico, o contacto com a Natureza é
rigorosa na escola. “Acho que todos
determinante e é uma prioridade
podemos sempre fazer mais, mas
para a saúde”. Todos os dias, com grande disciplina, arranja
sinto que tenho evoluído nos meus hábitos”, reconhece. Os
tempo na sua sobrecarregada agenda: “Às vezes até
exemplos que dá são prova disso. Separar os resíduos doprogramo um alarme no meu telemóvel com a mensagem
mésticos é uma rotina diária. “No meu prédio temos con‘respirar’!” (risos)
tentores próprios para o lixo orgânico, papel e embalagens.
A filosofia da Escola de Judo Nuno Delgado é “formar
Só não temos para o vidro, mas como não consumo bebicampeões para a vida”. “Todo o ser humano pode ser um
das alcoólicas nem refrigerantes é raro ter vidro em casa”.
atleta de alta competição e um campeão constrói-se com
Outro gesto que considera muito importante é “a reutilizapormenores”. Nuno faz questão que a consciência solidária
ção das coisas pessoais, como livros, roupa e brinquedos”.
para com o próximo e para com o ambiente sejam alguns
A escolha é feita em família e depois oferecem a pessoas e
destes pequenos grandes pormenores.R
instituições carenciadas. Na escola criou um programa com
22 |
“Todos nós podemos ser campeões.
Seja no desporto ou no quotidiano
da nossa vida”, defende Nuno
Delgado. Na sua escola de judo,
a maior do país, o desporto anda
de mão dada com o civismo e o
respeito pelo ambiente.
23 |
QUASE VEGETARIANO
NÃO AO PAPEL
Nuno opta sempre que pode pelo formato digital.
“Facturas, recibos verdes, comunicações com os
pais dos alunos… Evitamos ao máximo usar papel.
Nem tenho cartões de visita!”, reconhece. É uma
escolha consciente com o objectivo de poupar o
ambiente, que lhe trouxe ganhos em organização
e eficácia. “Em vez de ter armários enormes cheios
de documentos, está tudo no computador”.
Embora ainda coma algumas proteínas animais, Nuno Delgado
assume-se como quase vegetariano. “Foi uma evolução natural.
Quando deixei de fazer competição as minhas necessidades
alimentares mudaram. Fui descobrindo uma nova forma de
alimentação que me faz sentir bem”. Sendo uma prioridade na
sua vida, faz questão de partilhar esses hábitos alimentares com a
família, mesmo com a filha de cinco anos.
Judoca de excelência
Licenciado em Ciências do Desporto, Nuno Delgado é
considerado o melhor judoca de sempre em Portugal.
Referência e símbolo do desporto nacional, alcançou
o ponto mais alto da sua carreira em 2000, quando
ganhou a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de
Sydney. Actualmente é o mentor da maior escola de
judo do país, um projecto não só desportivo, mas com
uma marcante vertente social. Formar campeões para
a vida é o grande lema deste desportista, que se sagrou
ele próprio campeão nacional de judo logo aos 12 anos.
“Ainda não estou satisfeito pois sei que há muita coisa
a fazer!”, reconhece. Com grande dinamismo e vontade
de vencer, aos 37 anos procura ser um exemplo e uma
fonte de inspiração para os cerca de 1.500 alunos do
seu projecto.R
PEQUENOS GESTOS
TROCA DE EQUIPAMENTOS
O Banco Social de Equipamentos é um projecto da escola
de Nuno Delgado que já tem três anos. A ideia é simples e
ambientalmente eficaz: os alunos entregam os quimonos,
sacos e cintos usados, que depois são utilizados por outras
crianças. “Desde cedo, os mais novos têm de aprender que
os recursos são limitados”, alerta Nuno.
RECICLAR SEMPRE
Tanto em casa como na escola, Nuno Delgado faz questão de
separar os resíduos. “Às vezes, quando temos uma pessoa
nova para as limpezas é um pouco complicado pois é preciso
sensibilizá-la. Mas tudo se consegue”.
SACOS REUTILIZÁVEIS,
POR FAVOR
Reconhece que não é
muito fácil fugir aos sacos
de plástico, mas sempre
que tem possibilidade usa
sacos reutilizáveis nas
suas compras. Para evitar
esquecimentos, guarda
alguns no carro. “Existe
um problema enorme
com a acumulação de
resíduos plásticos nos
oceanos. É algo que me
perturba mesmo, por isso
tento contribuir para que
a situação não piore”.
25 |
TENDÊNCIAS ECO
VELHOS?
NEM OS TRAPOS!
ROUPAS ESQUECIDAS NO ARMÁRIO GANHAM NOVA VIDA NAS MÃOS DE
CRIATIVAS E DESIGNERS QUE TRANSFORMAM O SENTIDO DA MODA. DESCUBRA
COMO ESTA TENDÊNCIA ECO, IDEAL PARA TEMPOS DE CRISE, PODE ATÉ SER O
MOTE DE UM PROJECTO DE INCLUSÃO SOCIAL.
Texto Ana Sofia Rodrigues
Fotos Filipe Pombo/AFFP (excepto onde indicado)
não o fazerem. Novas marcas de roupa, como a Change
Em Fevereiro do ano passado, a marca sueca H&M lançou
e a REC, estão a pôr fim a estas desculpas, criando peças
uma campanha global de recolha de roupa, que pretendia
únicas e actuais, que acabam com qualquer preconceito.
fazer com que cada vez menos têxteis fossem parar aos
aterros sanitários. Em troca, a marca oferecia cinco euros
de desconto numa compra de 30. Paralelamente, por cada
TRANSFORMAR COM MUITO ESTILO
quilo recolhido, a parceira I:CO oferecia 20 cêntimos a uma
“Se formos a Londres encontramos imensas lojas de roupa
instituição de solidariedade do respectivo país. Um ano
em segunda mão! Mas em Portugal só agora é que as pesdepois, acabou de lançar uma colecção de cinco peças de
soas começam a estar mais receptivas”, reconhece Marta
ganga, que foram produzidas com algodão reciclado, obtido
Leitão, mentora da marca de roupa Change. “Acho que
a partir do vestuário usado que recolheu. Uma iniciativa
negócios como o meu ajudam a mostrar que peças usadas
ecologicamente correcta que
podem estar na moda”. Aos 30
chama a atenção para um
anos, ela própria reciclou a sua
problema ambiental não muito
vida ao deixar para trás uma
A REUTILIZAÇÃO
falado. As roupas deitadas para
carreira na área da publicidade.
CONFERE UM NOVO
o lixo são encaminhadas para
“Há ano e meio, quando comecei,
ARROJO A PEÇAS QUE
os aterros e demoram centenas
os calções eram uma tendência
SE TORNAM ÚNICAS E
de anos a decompor-se. Além
mundial, por isso lembrei-me de
disso, a indústria de produção
transformar calções usados em
PERSONALIZADAS
têxtil, estimada em 83 milhões
peças de moda”, recorda. Depois
de toneladas anuais, é das mais
de procurar em várias feiras em
poluentes do mundo. Os consuPortugal, foi lá fora que encontrou
midores podem ter um papel importante na inversão deste
fornecedores de peças vintage, mais concretamente de jeprocesso. Uma das formas é reutilizarem as suas roupas
ans icónicos, que lhe garantem o volume necessário. As calusadas ou comprarem mais peças em segunda mão. “Mas
ças de ganga, que são uma peça de base intemporal e de
não sei nada de costura” ou “a roupa em segunda mão é
boa qualidade, são cortadas e transformadas em calções.
toda velha e cheira a mofo” são argumentos comuns para
Marta customiza-os, tinge-os com diferentes tons e cores
26 |
Marta Leitão , criadora da
marca de roupa Change,
ajuda a provar que peças
usadas têm a potencialidade
de estar na moda
27 |
A designer Joana Teodoro criou
a marca REC - Recycled Clothing.
Percebeu desde cedo que na
sua profissão faz todo o sentido
aproveitar o que já está feito.
altura em que se questionou sobre
fazer de raiz ou optar por recuperar.
“As recuperações estavam muito conotadas com um universo tosco, pouco
sofisticado e profissional. Mas os
materiais com que me cruzava eram
o oposto”, lembra. Assim, há quatro
anos, criou a marca REC – Recycled
Clothing. Passou a fazer peças personalizadas, sobretudo para “pessoas
que compraram coisas boas e querem
adaptá-las às necessidades e estética
actuais. Que criam relações de proximidade com a roupa, estimam-na
e querem perdurá-la”. Muito perfeccionista, considera que cada peça
vezes associa-se a futilidade e excesso deve ficar impecável. “Os aviamentos
e fá-los renascer. “Acrescento sempre
de consumo, por isso as pessoas dão
(fechos, botões, forros), por exemplo,
algo que seja tendência, como tachas,
valor a esta parte mais ambientalista
são todos novos”. Paralelamente, vai
tecidos de flores ou padrões étnicos,
do projecto”.
criando uma colecção de pronto a
tornando-os em peças únicas”. Muitas
vestir que resulta da triagem de roupa
vezes, fica a pensar: “Por onde já terão
que clientes, amigos e conhecidos
andado estes jeans? Que histórias já
RECUPERAÇÃO PROFISSIONAL
lhe vão dando. “O meu ateliê quase
viveram?”. Depois imprime-lhes um
Desde pequena, Joana Teodoro lemparece uma enorme lixeira”, conta a
novo tom: “Tento dar-lhes um espírito
bra-se de herdar muitas roupas das
rir. Faz a selecção das peças e tecidos,
divertido, irreverente, sexy mas ao
avós e da mãe. “Gostei sempre muito
envia tudo para lavar e, “como
mesmo tempo descontraído.
em qualquer outra colecção, crio
Qualquer pessoa que os usa
um conceito, uma imagem e uma
chama sempre a atenção”. As al“DESENHAR NOVAS PEÇAS
definição de silhueta”. Reconhece
terações que Marta introduz são
A PARTIR DE ROUPAS
que o processo de construção
arrojadas, tornam as peças mais
exige mais tempo: “Desenhar
actuais e dão-lhes a hipótese
USADAS PERMITE
peças destas é ter vários pontos
de continuarem a ser usadas.
UM RESULTADO MAIS
de partida, o que permite fazer
A promoção que fez ligada aos
EXUBERANTE E DIVERTIDO”
roupas até esteticamente mais
festivais de música de Verão e
exuberantes e divertidas”. Joana
a associação a algumas figuras
Teodoro mostra-se satisfeita com
públicas levou a que os seus
a opção que tomou: “É assustadora
calções se tornassem aspiracionais,
dessas peças antigas. As construções
a percentagem do lixo têxtil que não
ultrapassando todas as expectativas.
que têm a ver com uma época fascise degrada e é chocante o aumento
Continuam a ser a peça mais pronam-me e têm muito valor”, reconheexponencial dos últimos anos. Não
curada, mas a Change alargou a sua
ce. Por isso, a expressão “isso agora
sendo uma ambientalista estruturada,
oferta a camisolas, casacos, t-shirts,
já não se usa” nunca lhe fez sentido.
acho que faz todo o sentido perceber
camisas e ténis. “O facto de serem
A reutilização surgiu na sua vida como
peças únicas, personalizadas, atrai
algo muito natural. Depois de terminar como, na minha profissão, posso não
só construir de raiz mas também
as pessoas e a vertente da reutilizao curso de Design de Moda, trabaaproveitar o que já está feito”.R
ção apresenta-se como mais-valia”,
lhou em várias empresas, entre elas
conclui. E acrescenta: “A moda muitas
o ateliê Storytailors. Chegou a uma
Agradecimento à loja Arte Assinada, em Lisboa.
28 |
TENDÊNCIAS ECO
Como é que a transformação de
roupas pode mudar a vida de pessoas?
Helena Antónia Silva encontrou uma
resposta aparentemente simples. Formou um clube de costura de mulheres
com mais de 50 anos, que não estão
na vida activa e que precisavam de
uma motivação para saírem de casa. “A
missão do projecto é promover a integração daquelas pessoas que estão no
limbo: já são consideradas velhas para
trabalhar mas ainda são muito novas
para não fazer nada”, esclarece Helena.
De momento são 25, o objectivo é subir este número para 100, até Junho, e
terminar o ano com 200. “A dinâmica
de cumplicidade, confidência, a criação
O Clube de
de laços profundos é fantástica. Elas
Costura
Vintage
gostam de ir ao Clube para se divertir,
for a Cause
falar com as amigas, trocar receitas,
produz peças
cantar o fado… A costura é mesmo
vintage únicas,
um pretexto”, conta-nos a mentora
que já foram
apresentadas
do Vintage for a Cause. E exemplifica:
em sessões
“Têm acontecido coisas espectaculares,
fotográficas
como uma pessoa que não saía de
profissionais e até
casa desde que o marido faleceu e que em desfiles-leilão,
agora nunca falta e passou a falar pena zona do Porto
los cotovelos”. Curiosamente, a grande
maioria não sabia costurar. O aconselhamento de estilistas e designers
como Katty Xiomara e André Gandra foi uma grande
mais-valia. As transformações das roupas são feitas em
equipa e as peças vão passando de mão em mão. Tudo
é feito com os materiais existentes e, muitas vezes, duas
peças resultam numa. O resultado final são peças vintage únicas, que são vendidas em feiras e lojas no Porto.
Na etiqueta, conta-se a história da peça, de onde veio e
Foto: Sara Verde
Vintage
for a Cause
quem a transformou. “Elas adoram, ficam mesmo orgulhosas quando vêem o seu nome na etiqueta”, partilha
Helena. E assim se descobre mais uma vantagem desta
tendência eco: ao darem uma nova hipótese a roupas
usadas, mulheres comuns transformam-se em criadoras
improváveis, reciclando também as suas vidas.R
29 |
HORTAS EM CASA
SEGUNDO O FILÓSOFO CÍCERO, “SE TEMOS UMA BIBLIOTECA E UM JARDIM
TEMOS TUDO”. MAS SE É FÁCIL, NOS DIAS DE HOJE, TER UMA COLECÇÃO DE
LIVROS, O MESMO NÃO É VERDADE QUANTO AO JARDIM. ALIÁS, NÃO ERA! COM
AS TRÊS SOLUÇÕES QUE A RECICLA LHE APRESENTA, QUALQUER UM PODE
CULTIVAR, NÃO UM JARDIM, MAS PELO MENOS UMA MINI HORTA.
Texto Ana Sofia Rodrigues
Fotos Cedidas
LIFE IN A BAG
“Plantar os nossos próprios alimentos é
uma experiência muito positiva e relaxante. E ao utilizarmos técnicas e produtos de
origem biológica conseguimos obter ervas
aromáticas e vegetais muito mais saborosos e
sempre frescos”. Alexandra Silva e Pedro Veloso
mostram-se encantados com as experiências
hortícolas que começaram há cinco anos em
casa, em Vila Nova de
Famalicão. Com espírito empreendedor,
pensaram numa
gama de produtos
que permitisse
a pessoas sem
jardim ou conhecimentos de agricultura
replicarem a mesma experiência positiva. As soluções
Life in a Bag incluem tudo o
que é necessário para cultivar. “Por vezes compramos
as sementes
numa loja,
mas chegamos a casa
e não temos
um vaso ou não temos substrato e é o
suficiente para irmos adiando o cultivo.
Assim não há desculpas”. O Grow Bag
inclui um saco impermeável reutilizável,
sementes biológicas (salsa, coentros,
manjericão, rúcula ou chagas), substrato
orgânico, argila expandida e instruções para
30 |
cultivo. O Grow Box é uma caixa em inox, com tampa
de cortiça, substrato, sementes biológicas (rabanete,
brócolos, rúcula, agrião ou beterraba), marcadores e
instruções. O Grow Cork é um pote em cortiça, com
bolas de argila, substrato, sementes biológicas e
instruções. “Os clientes, mesmo aqueles
sem ‘mão verde’, têm-se mostrado
muito satisfeitos em relação ao aspecto
final dos produtos, à facilidade de uso e à
taxa de sucesso do cultivo”, revela Alexandra. E acrescenta: “O ‘faça você mesmo’
sem complicações é uma terapia. Quando
resulta, eleva a auto-estima. Não imagina
a alegria que é, para algumas pessoas que
nunca mexeram na terra, verem nascer o
‘seu’ manjericão ou os ‘seus’ coentros!”
(www.lifeinabag.pt)
ECO-EMPREENDEDORES
STUFA
Miguel Guedes Ramos tem formação em design
gráfico e fotografia. A irmã, Rita, é especialista em
Ciências do Ambiente. O gosto de trabalharem juntos
e “a vontade de desenvolverem algo que mudasse
o dia-a-dia dos portugueses” levou-os a criarem,
há ano e meio, os kits STUFA. Miguel considera
que o grande ponto forte é o livro que os acompanha: “A informação é simples, nada técnica e muito
completa. Focamos o que são as ervas aromáticas
e os microgreens, a história de como chegaram a
Portugal, os seus benefícios para a saúde, damos
indicações sobre o vaso a escolher, instruções sobre
como cultivar, regar e colher e associamos três receitas a cada erva”. As receitas são originais e resultam
de uma parceria com os restaurantes Pedro e o
Lobo e Decadente e com as lojas Liquid. Por agora,
comercializam dois kits: Mediterranean Herbs e The
Chef’s Garden Kit. O primeiro inclui sementes de
manjericão, salsa e coentros e o segundo sementes
microgreens de mostarda e rúcula. Nos dois encontramos o tal livro, etiquetas de madeira reutilizáveis
e substrato vegetal. “A conservação é fácil, mas não
é automática. Temos que ter algum tempo, não
muito, para elas. Quanto? Um minuto por dia chega.
É só regar e tirar uma coisa ou outra que esteja a
mais”, explica Miguel. E quanto tempo demoram a
crescer? “A salsa, os coentros e o manjericão levam
cerca de dois meses até estarem prontos para
colheita, mas os microgreens precisam apenas de
duas a três semanas”, esclarece. No futuro,
gostariam de lançar mais variedades de
sementes, incluir vasos com sistema
de auto-rega, criar uma aplicação para
telemóvel e até criar edições especiais
com plantas típicas de certas zonas
do país ou do mundo. “As pessoas da
nossa geração perderam o contacto
com a terra. Os nosso kits trazem um pouco dessa experiência para a cidade. Esperamos
que funcionem como um despertar para hábitos
mais verdes”.
(stufaconcept.pt)
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ECO-EMPREENDEDORES
MY LITTLE GARDEN
“Perguntam-me: É engenheiro agrónomo? E eu respondo: Não, sou idiota! Inventei isto para fugir à rotina diária, ao stresse do trabalho
e dá-me muito gozo”, revela com humor
Anthony Carter, o autor dos produtos My
Little Garden. Em part time, desenvolveu
assim o Bottle Kit e o Window Bottle Kit, que
aliam o conceito de reciclagem a eco-design
e alimentação saudável. Ambos dão nova
vida a garrafas de vinho, que se transformam em vasos de cultivo. Contêm substrato, saco com pedras de argila expandida,
sementes genuínas e certificadas como
não tratadas (salsa, coentros, manjericão,
manjericão vermelho, cebolinho e hortelã),
um pavio de fibra natural e instruções de
montagem. O Window Bottle Kit encaixa
num suporte de aço inoxidável, sustentado por uma ventosa que permite a sua
32 |
colocação em vidros, ou por um grampo para aplicação
em paredes.
Para dar vida a estes kits, Anthony montou uma cadeia
de boas vontades, que ainda dá mais valor ao projecto.
As garrafas são recolhidas em restaurantes da zona
de Leiria. A lavagem e remoção dos rótulos é efectuada pelos utentes da O.A.S.I.S (Organização de Apoio
e Solidariedade para a Integração Social de pessoas
com deficiência). A montagem final dos kits é feita por
um grupo de reclusos do Estabelecimento Prisional de
Leiria. “É muito gratificante perceber que algo
tão simples pode fazer grande diferença no
dia-a-dia de tantas pessoas. Mas não
lhes estou a fazer nenhum favor: sem
eles não tinha capacidade de produção. Estamos a ajudar-nos mutuamente!”,
esclarece Anthony. Sente que os seus
clientes são pessoas especiais, “sensíveis
às questões ambientais e que percebem
que é possível fazer uma peça nobre de
algo que iria para o lixo”. E acrescenta:
“Não sou fundamentalista do eco, mas
com estes produtos consigo provar que é
possível fazer negócio de forma sustentável”.
(www.my-little-garden.com)
Dinis Sousa foi o mentor da
Orquestra XXI, projecto que
conquistou o primeiro lugar na
edição 2013 do Programa FAZ
34 |
ATITUDE
ELES PENSAM
E FAZEM
O PROGRAMA FAZ – IDEIAS DE ORIGEM PORTUGUESA, É UMA INICIATIVA DA
FUNDAÇÃO GULBENKIAN QUE DESAFIA OS PORTUGUESES QUE VIVEM FORA DO
PAÍS A GERAREM IDEIAS COM IMPACTO SOCIAL EM PORTUGAL. A RECICLA FOI
CONHECER OS VENCEDORES DA ÚLTIMA EDIÇÃO.
Texto Ana Sofia Rodrigues
Fotos Francisco Rivotti (entrada) e Filipe Pombo/AFFP
“Hoje, no mundo global, já não há o cá e o lá. O que temos
são 15 milhões de portugueses com uma cultura e identidade próprias e ligação forte a Portugal. Dez milhões estão em território português e cinco milhões espalhados por todo o mundo. Estes últimos representam
um activo incalculável para o país”, pode ler-se
no site de apresentação do programa FAZ
– Ideias de Origem Portuguesa.
Esta iniciativa da Fundação
Gulbenkian procura,
assim, ser um
catalisador
de
ideias com impacto social para Portugal, nas áreas do ambiente, sustentabilidade, inclusão social, diálogo cultural e
envelhecimento, criando condições, em termos de conhecimento, rede e financiamento, para que sejam implementadas. Em 2013, na segunda edição do FAZ, candidataram-se
80 projectos. A RECICLA dá-lhe a conhecer os três vencedores.
ORQUESTRA XXI
Nunca, como hoje, houve tantos e tão bons músicos
portugueses pelo mundo, mas “com as suas carreiras fora
do país deixam de ter oportunidade de voltar a Portugal
para tocar. É um processo natural, mas uma das grandes
vantagens do nosso projecto é contrariar isso”, resume com
orgulho Dinis Sousa, o mentor do projecto que mereceu
o primeiro lugar da última edição do FAZ. A Orquestra
XXI reúne 50 músicos portugueses que tocam nas
melhores orquestras de todo o mundo e que, numa
iniciativa inédita, voltam a Portugal para tocar
juntos em digressão. Esta ideia surgiu um ano
antes de Dinis saber da existência do concurso.
Em animada conversa com o compositor Manuel
Durão, surgiu-lhe de repente a inspiração. Contactou os músicos, pensou no reportório, marcou
os concertos, “pedimos apoios em todo o lado,
mas nada”, recorda. Até que uma amiga lhe enviou
um e-mail sobre o FAZ. Ao tomar conhecimento
do concurso, pensou: “Foi mesmo feito para nós!”
Juntou-se a Ricardo Gaspar, João Seara e Diana
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ATITUDE
Margarida Marques,
Mariana Paisana, Sara
Brandão e Marta Pavão
são amigas e arquitectas.
Querem revitalizar os
pisos térreos encontrando
novas opções de ocupação
Ferreira, concorreram, foram selecionados e ganharam. “Fomos o primeiro
projecto de música a concorrer nos
dois anos do programa. Pensámos
que seria uma desvantagem, mas se
calhar, como éramos completamente
diferentes, acabou por funcionar a
nosso favor”. Com o apoio do prémio,
logo em Setembro concretizaram
a primeira digressão. “Tivemos só
quatro dias para ensaiar e estivemos quatro dias a tocar. Foi muito
intenso e cansativo mas os músicos
mostraram energia e motivação
para continuar”, conta entusiasmado. Confessa que estava com medo
que ninguém aparecesse no primeiro
concerto no Mosteiro de Tibães, em
Braga, mas o local encheu com 600
pessoas. No Porto, a emoção foi ainda
maior: “É difícil de acreditar, entrar na
Casa da Música e ver a sala cheia!”
Simbolicamente, a primeira peça que
tocaram em todos os concertos foi
escrita de propósito pelo compositor
Manuel Durão, o tal que estava com
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Dinis quando ele teve a ideia. Fizeram
questão de escolher também uma
peça de Lopes Graça: “Às vezes há
uma tendência de se desprezar o que
se faz em Portugal e a nossa música
não fica atrás da de outros países.
Tivemos compositores excelentes que
deixaram de ser tocados em Portugal”.
OS PROJECTOS
VENCEDORES
RECEBERAM NO TOTAL
50 MIL EUROS
No dia 10 de Abril a Orquestra XXI
estará de regresso, fazendo com que
Portugal se enriqueça culturalmente
ao usufruir do seu talento.
FRUTA FEIA
“Gente bonita come fruta feia”. Foi este
o mote que guiou Isabel Soares, engenheira do ambiente que vivia em Barcelona, quando se candidatou ao FAZ.
Mais de 30% da fruta produzida em
Portugal é desperdiçada pois, apesar
de saborosa e de qualidade, não cumpre os critérios estéticos do mercado.
O projecto Fruta Feia pretende combater esta ineficiência. “É uma cooperativa de consumo que pretende escoar
os produtos directamente dos agricultores para os consumidores. Produtos
que são desperdiçados por razões
estéticas, como forma, cor e calibre”,
resume Inês Ribeiro. Inês faz parte da
equipa inicial do projecto, à qual já se
juntaram cerca de 10 voluntários. A
cooperativa, em funcionamento desde
Novembro do ano passado, conta já
com 150 sócios e uma lista de espera
de mais 200. “Todas as segundas-feiras de manhã vamos buscar os produtos aos agricultores e à tarde fazemos
os cabazes e distribuímos pelos sócios,
na Casa Independente, no Intendente,
em Lisboa”. Confessam terem ficado
surpreendidos com a adesão tão rápida. “Na carrinha já não cabem mais
coisas!” Querem replicar o projecto
ATITUDE
A cooperativa de consumo
Fruta Feia aproveita produtos
hortículas que habitualmente
são desperdiçados apenas por
razões estéticas. Já conta com
150 sócios e tem uma lista de
espera de mais 200
noutras zonas de Lisboa e do país.
“Esperamos, em Março, já ter outra
delegação em Lisboa, noutro bairro
e noutro dia da semana. Queremos
que o projecto se espalhe e não que
se torne muito grande só num ponto
da cidade”. A constituição dos cabazes é sempre surpresa e alegram-se
de já terem conseguido acabar com
o desperdício de alguns pequenos
produtores da zona Oeste. “Os sócios
estão a gostar imenso pois as frutas
e legumes são muito frescos e a um
preço mais barato”. Uma ideia aparentemente tão simples contribui, assim,
para dar uma solução a uma questão
com consequências não apenas éticas
mas também ambientais. O desperdício alimentar envolve o gasto desnecessário de recursos como a água, os
terrenos e energia e a decomposição
dos alimentos não consumidos resulta
na emissão de metano e dióxido de
carbono para a atmosfera.
RÉS-DO-CHÃO
Margarida, Mariana, Marta e Sara
já trabalharam nos quatro cantos
do mundo. Todos os anos voltavam
a Portugal e, com o seu olhar de
arquitectas, assistiam “ao esvaziamento progressivo das ruas. As lojas
a fecharem e os espaços a ficarem
degradados, desabitados e desativados”, resume Marta Pavão. O desejo
de trabalharem juntas e o conhecimento do concurso fê-las pensar
numa solução para o problema que
tinham vindo a detectar. “Identificámos claramente o esvaziamento dos
pisos térreos como uma questão com
consequências evidentes ao nível do
que é o espaço público”, conta Marta.
E desenvolve: “Os pisos térreos muitas
vezes são de propriedade privada mas
têm uma responsabilidade social, que
tem a ver com a questão da preservação da rua e da construção da
imagem de um espaço que é colectivo.
O PROGRAMA FAZ
CONVOCA IDEIAS
INSPIRADORAS PARA
UM PAÍS MELHOR
É um espaço de propriedade individual que é responsável por construir
cidade, segurança, dinâmicas, relações
de vizinhança e proximidade”. O projecto Rés-do-Chão pretende, então,
dinamizar esses espaços com funções
alternativas ao comércio tradicional.
Nos países onde viveram conheceram
projectos de sucesso de revitalização
urbana, como lojas pop-up, espaços
de coworking, ateliês-loja, galerias,
grupos de teatro… “Por exemplo, para
uma pessoa que tenha um negócio e
queira vender os seus produtos apenas num sábado por mês não é fácil
existir um espaço para tal. Há várias
pessoas interessadas nestes novos
modelos de ocupação”, refere Margarida Marques. O Rés-do-Chão planeia
criar uma plataforma intermediária
entre proprietários e arrendatários,
em colaboração com as autarquias e
comunidade local. “Queremos criar
maior consciência da importância que
é ocupar estes espaços e mostrar
novas soluções”, resume Margarida.
Entretanto, apenas Mariana continua
a trabalhar fora do país. “Este prémio
deu-nos a oportunidade de voltarmos
a Portugal e trabalhar para Portugal”,
concluem com entusiasmo e vontade
de começar a fazer o que pensaram.
A terceira edição do programa FAZ
está em fase de período de candidaturas, que terminará a 31 de Março de
2014.R
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E O PARAÍSO
AQUI TÃO PERTO…
A SERRA DE SINTRA OFERECE UM PATRIMÓNIO NATURAL E CULTURAL
INIGUALÁVEL. DESMISTIFICANDO A IDEIA DE NATUREZA INTOCÁVEL A GESTORA
PARQUES DE SINTRA TEM INCENTIVADO OS VISITANTES A CONHECÊ-LA DE
FORMA SUSTENTÁVEL.
Texto Ana Sofia Rodrigues
Fotos Cedidas
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LAZER SUSTENTÁVEL
Não foi à toa que o escritor Vergílio Ferreira se referiu a Sintra
como “o mais belo adeus da Europa quando enfim encontra o mar”.
A paisagem cultural de Sintra foi classificada pela UNESCO, em
1995, como Património Mundial. Integrada no Parque Natural de
Sintra-Cascais e na Rede Natura 2000, é um ecossistema privilegiado e único, que inclui valores naturais e culturais prioritários
para conservação. “É ainda mais impressionante se pensarmos
que há 150 anos não restavam muitas árvores na serra de Sintra!
Em gravuras antigas, podemos ver como havia só penedos e solos
estéreis sem vegetação!”, lembra Nuno Oliveira, director técnico
para o Património Natural dos Parques de Sintra, entidade gestora de cerca de 45% da área considerada Património Mundial. E
recorda: “Foi pela mão do rei D. Fernando II que houve um intenso
processo de reflorestação, que conjuga o exótico com o autóctone.
Não haverá muitas zonas no mundo onde essa convivência seja tão
evidente”. A invulgar vegetação luxuriante deve-se ao clima distinto
da sua envolvente: “É um regime de água, luz e temperatura que
faz com que tudo se dê bem aqui!”. Na serra encontram-se espécies
de todos os cantos do mundo, o que lhe confere um valor incalculável. Em termos de fauna, é também privilegiada. “Temos um casal
de águias-de-bonelli [espécie em perigo à escala nacional, da qual
existe apenas este casal em Sintra], o lucanus cervus, que é o maior
escaravelho da Europa, espécies mais comuns mas que aqui são
muito abundantes como salamandras, tritões e anfíbios, morcegos
e, só em Monserrate, foram identificadas mais de 20 espécies de
libélulas”, destaca Nuno Oliveira.
PRÉMIOS E DESAFIOS
A Parques de Sintra gere uma área de 550 hectares. Inclui locais tão emblemáticos como os Parques e Palácios da Pena e de
Monserrate, Castelo dos Mouros, Convento dos Capuchos ou Palácio
Nacional de Sintra. O ano de 2013 “será difícil de igualar” em
termos de reconhecimento das suas práticas de gestão: ganharam
o prémio World Travel Award para Melhor Empresa do Mundo em
Conservação; o Prémio União Europeia para o Património Cultural/
Europa Nostra na categoria de Conservação – Projecto de recuperação dos Jardins e Chalet da Condessa d’Edla; o Prémio European
Garden Award na categoria de Melhor Desenvolvimento de um Parque ou Jardim Histórico – Parque de Monserrate. O maior desafio
centrou-se no controle das espécies invasoras, sobretudo acácias.
“É um trabalho que não tem fim!”, conta Nuno Oliveira. E alerta:
“É uma grande ameaça à biodiversidade e aos valores naturais da
serra”. Em 2013, concluíram cerca de 120 hectares de reflorestação
com espécies autóctones, como medronheiro, sobreiro e carvalho
português. O temporal de 19 de Janeiro (de 2013) foi também um
revés: “Temos equipas há mais de um ano a trabalhar na reposição
do cenário antes tempestade!” Com um milhão e 700 mil visitantes
por ano, os Parques de Sintra têm razões para se congratular com
o trabalho de conservação e dinamização efectuado. Nuno Oliveira
conclui: “Queremos desmistificar a ideia de natureza intocável. Queremos ter cada vez mais pessoas a visitar os nossos parques, mas
de forma sustentável”.R
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LAZER SUSTENTÁVEL
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Visitas sustentáveis
Inês Moreira, coordenadora do Projeto
Bio+Sintra, destaca oito conselhos para
uma visita sustentável:
1. Usar a calculadora de viagem disponível
no site da Parques de Sintra, que faz uma
estimativa da pegada de carbono da sua
visita;
2. Experimentar os percursos pedestres,
usando a aplicação para smartphones
Talking Nature (informações multimédia
sobre os habitats e espécies em destaque);
3. Alugar uma bicicleta eléctrica na vila
a que pode juntar um bilhete combinado
para entrada nos Parques;
4. Participar num workshop ecológico,
sobre temas como: “Construção de caixas
de abrigo para anfíbios”; “Estudo do ecossistema água”; “Elaboração e colocação
de comedouros para aves”; “Anilhagem de
aves”;
5. Visitar a Quintinha Fora da Rede, onde
está instalado um conjunto de energias
renováveis (solar, eólica e hidráulica) que a
abastecem e a tornam auto-suficiente;
6. Trocar o carro por um passeio a cavalo
pelos circuitos próprios na serra;
7. Conhecer o totem da Quintinha de
Monserrate, uma escultura feita a partir do
tronco de um velho eucalipto, que representa os valores naturais da serra;
8. Participar em acções de voluntariado de
preservação do património, como limpeza
de infestantes e plantação de árvores.
Mais informações sobre estas e outras
actividades em www.parquesdesintra.pt e
http://biomaissintra.parquesdesintra.pt
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SUSTENTA
BILIDADE É...
Prenda para a vida
“Os dois maiores presentes que podemos dar às
nossas crianças: um são raízes; outro são asas. Plante
árvores e estará a dar-lhes ambos”. Esta é a forma
como a Associação Plantar Uma Árvore apresenta
a sua iniciativa Prendas para a Vida. A ideia é muito
simples: juntar um grupo de amigos, no aniversário do
seu filho, para uma acção conjunta de plantação de
árvores. Os participantes podem voltar ao local sempre
que desejarem, para acompanhar o seu crescimento
e cuidar delas. “Dê o que de mais precioso a Natureza
pode providenciar: ar, alimento e lugar à imaginação
e à felicidade”. A actividade inclui acompanhamento
com monitor, árvores, ferramentas e certificado. Mais
informações: [email protected]
Projecto 80 na estrada
Ídolo da defesa ambiental
O Projecto 80 desafia os jovens dos 13 aos 17
anos a apresentarem projectos que fomentem
o empreendedorismo, a economia verde,
a protecção do ambiente, a cidadania e o
voluntariado. A Sociedade Ponto Verde é um dos
patrocinadores desta iniciativa, que visitará 18
escolas de 18 cidades, num roadshow divertido
e pedagógico. Os jovens são desafiados a
reescrever a letra da música dos Azeitonas Raydee-oh. As palavras smartphone, synchronize,
stereo ou download, entre outras, darão lugar a vocabulário do universo da
reciclagem e da preservação do ambiente. No final, cada equipa gravará
um videoclip com a sua proposta criativa. Os vídeos serão disponibilizados
no Facebook para ser escolhido o melhor de cada escola.R
Filipe Pinto venceu o concurso Ídolos em
2009. Apaixonado pela música, mas também
pelo ambiente, o cantor acaba de lançar o
projecto O Planeta Limpo do Filipe Pinto.
Em parceria com a Betweien (spin-off da
Universidade do Minho especializada na
criação e desenvolvimento de conteúdos
educativos), criou
um livro, um CD de
originais, um jogo
digital e um DVD. Este
projecto pretende
ser um importante
apoio para pais e
profissionais que
queiram trabalhar
com as crianças as questões ambientais e
da sustentabilidade. A história retrata uma
viagem, repleta de aventuras, ao planeta
imaginário do jovem músico Filipe, através
da qual o leitor toma conhecimento do
impacto negativo que algumas acções
humanas têm sobre a sobrevivência de
todos os seres vivos. À venda em www.
oplanetalimpodofilipepinto.com.R
Primeiro portal eco social
O portal Naturfun (www.naturfun.pt) promove e comercializa produtos
e serviços ambientalmente relevantes a preços mais baixos do que no
mercado. Com o extra de partilhar as receitas geradas com instituições
de solidariedade social e com os próprios utilizadores do portal. É assim
um projecto que intervém nos três eixos essenciais da sustentabilidade:
ambiente, economia e sociedade, razão pela qual é considerado um
portal eco social.R
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Ambiente: um desafio
para o seu negócio,
uma aposta no futuro.
A Ponto Verde Serviços é o parceiro certo
da sua empresa para a área do Ambiente.
Com um profundo conhecimento da realidade empresarial, a Ponto Verde Serviços
disponibiliza um leque alargado de soluções de consultadoria ambiental
adaptadas a cada tipo de actividade económica, e oferece apoio integrado no âmbito
da gestão de resíduos e do mercado voluntário de carbono, bem como ao nível da gestão
de embalagens para empresas exportadoras.
Numa verdadeira aliança entre ambiente e sucesso empresarial, a Ponto Verde Serviços
ajuda a sua empresa a atingir os indicadores de sustentabilidade ambiental
mais determinantes para um desempenho excelente rumo a uma economia verde.
Para saber mais, visite-nos em:
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A PUBLICAÇÃO DE REFERÊNCIA NA ÁREA DO AMBIENTE,
SUSTENTABILIDADE E CIDADANIA,
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www.pontoverde.pt

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