REDEFININDO SYKES-PICOT: ESTADO ISLÂMICO

Transcrição

REDEFININDO SYKES-PICOT: ESTADO ISLÂMICO
REDEFININDO SYKES-PICOT: ESTADO ISLÂMICO
Bruno Bernardo Soares(1), Arthur Bolfi Falkoski(2), Renatho Costa(3)
(1)
Estudante; Universidade Federal do Pampa; Santana do Livramento, RS, [email protected]
Estudante; Universidade Federal do Pampa; Santana do Livramento, RS, [email protected]
(3)
Orientador: Renatho Costa; Universidade Federal do Pampa.
(2)
RESUMO: O controverso Estado Islâmico, sob a liderança de Abu Bakr Al-baghdadi, foi, no decorrer de toda a história
moderna do Oriente Médio, a única entidade capaz de conseguir reescrever as linhas territoriais demarcadas pelo
acordo de Sykes-Picot (1916). Firmado entre as potências da época – Grã-Bretanha e França –, estabeleceu a divisão
do Oriente Médio em complexas, instáveis e arbitrárias zonas de influência, ocasionando um radical impacto na região.
Frente a esta problemática, esta pesquisa objetivou elucidar, a partir de uma abordagem histórico-analítica, os
possíveis elementos que viabilizaram o, até então, sucesso do Estado Islâmico em redefinir a conjuntura geopolítica
regional. Como resultado, pode-se apontar para a permanente influência externa na região e o conflito acentuado pelas
vertentes mais radicais do islamismo.
Palavras-Chave: Estado Islâmico, Sykes-Picot, Oriente Médio.
INTRODUÇÃO
Sob uma conjuntura regional de instabilidade, o Oriente Médio acabou sendo berço de um fenômeno
chamado Estado Islâmico, grupo extremista sunita salafista que atua visando à destruição das fronteiras
atuais do Oriente Médio e a restauração de um califado, tal como na época do profeta. O vácuo de poder
oriundo dos movimentos sociais democráticos nos países da região, conhecidos como Primavera Árabe; a
Guerra Civil na Síria e o surgimento da insurgência iraquiana a partir da remoção das tropas internacionais
que invadiram o Iraque em 2003 foram elementos que possibilitaram as ações do grupo na região.
Não divergente de tal raciocínio, podemos atribuir este constante cenário instável como palco de diversas
transformações que o grupo possuiu ao longo dos anos, chegando ao que conhecemos hoje como Estado
Islâmico.
O Embrião do grupo fundamentalista extremista teve seu surgimento em 1999, na Jordânia, sob a
alcunha de Jama’at al-Twhid wal-Jihad (TJT) – Partido do Monoteísmo e do Jihad – assumindo uma
posição ímpar não apenas na luta contra as forças ocidentais incidentes na região, mas também por sua
atuação contundente à própria sociedade civil. Ao adquirir certa notoriedade, o grupo fundamentalista uniuse com a Al-Qaeda, em 2004, haja vista neste período o grupo já atuar em solo Iraquiano, assim,
estabeleceu-se como braço da organização terrorista no país, surgindo desta união o Tanzim Qaidat
al-Jihad fibilad al-Rafidayn (TQJBR).
O enfraquecimento gradual que o TQJBR sofreu ao longo dos anos possibilitou a criação de um
novo braço de ação ao Dawlat al-Iraq al-Islamiyya – o Estado Islâmico do Iraque – que, em 2010, passou a
ser liderado por Abu Bakr Al-baghdadi, recebendo notório destaque por direcionar as ações do grupo para a
Síria, integrando parte dos rebeldes da milícia síria Jabhat al-Nursa, e fundando o ISIS (Islamic State of Iraq
and Syria). Tal direcionamento rompeu os laços mantidos com a Al-Qaeda, possibilitando ao grupo buscar
seu objetivo de maneira autônoma, qual seja, a restauração do califado no Oriente Médio.
O restabelecimento do califado na região do Iraque e da Síria é anunciado pelo grupo em meados
de 2014, sendo um Estado islâmico governado por um califa com base nas leis da Sharia. A partir de tal
declaração, as ações do grupo tornaram-se intensas no que diz respeito à consolidação do proposto
califado, principalmente em desconsiderar a artificial divisão política do Oriente Médio estabelecida
pelo acordo de Sykes-Picot (1916). Dotado dos preceitos jihadistas de purificação do islã e
reinvindicação da lealdade de todos os povos muçulmanos, o Estado Islâmico consegue reescrever,
através de inúmeros conflitos, as linhas de fronteiras determinadas pelas potências ocidentais no Oriente
Médio, sendo o único a realizar tal fato com sucesso.
METODOLOGIA
O método utilizado para o desenvolvimento deste estudo será o histórico-analítico, utilizando-se
documentação indireta, através de, principalmente, fontes secundárias (bibliográficas), como livros, notícias
e documentários.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Anais do VII Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade Federal do Pampa
A respeito dos resultados obtidos ao longo desta pesquisa é possível elencar diferentes fatores
cabíveis ao sucesso que o Estado Islâmico teve em redefinir os princípios do acordo de Sykes-Picot.
Primeiramente pode-se destacar o contexto de formulação de tal acordo e as consequências advindas
desta ação direta por parte das potências ocidentais sobre a região. No pós-Primeira Guerra Mundial,
França e Grã-Bretanha negociaram a divisão do então esfacelado Império Otomano, ocasionando uma
radical mudança geopolítica da região com a criação de novos Estados (JABAREEN, 2015). Por
conseguinte, houve um alinhamento baseado em preceitos coloniais, as potências ocidentais conseguiram
criar uma zona de influência dotada de arranjos capazes de garantir a sobrevivência de seus interesses na
região. A necessidade de reescrever as linhas de Sykes-Picot passou a ter uma relevância histórica na
maioria dos grupos extremistas, uma vez que o “The Islamic State views the borders that were
established by the W estern powers in the early twentieth century in the Middle East and Africa as 'imaginary
borders' that should be 'broken' and dismantled” (JABAREEN, 2015, p. 53).
Sobre o escopo das intervenções externas na região, a guerra ao terrorismo transnacional ao ser
posta em prática pela “Doutrina Bush”, destaca-se como elemento fomentador à necessidade inerente dos
grupos extremistas regionais no que tange o reestabelecimento dos padrões ante a imposição traçada pelo
acordo de Sykes-Picot. Uma vez que estas constantes intervenções realizadas no Oriente Médio, em
especial as realizadas no pós-11 de Setembro, acabaram gerando uma ruptura dos equilíbrios políticos
existentes; um aumento generalizado do nível da violência na região; uma aversão ao ocidente, e, não
obstante, um enorme impacto socioeconômico no Iraque. Estas consequências oriundas de ações externas
produziram um cenário de instabilidade no Oriente Médio, que futuramente vem a ser agravado pelo
estabelecimento de um vácuo de poder regional. Assim, criou-se a possibilidade da expansão do campo de
atuação dos grupos extremistas na região, uma vez que existe um apoio de parte da população que se
encontra desgastada pelos eventuais conflitos, e o financiamento e treinamento advindos de agentes
externos e regionais que detém de um interesse presente na região (BURWEILA, 2014).
CONCLUSÕES
Foi possível concluir com esta pesquisa que a combinação de diferentes fatores como: a histórica
intervenção de potências ocidentais; os movimentos democráticos sociais; a Insurgência Iraquiana e a
constante desestabilidade da região foram de suma importância para o Estado Islâmico obter o
inquestionável sucesso em redefinir, até então, a conjuntura geopolítica do Oriente Médio. Contudo o
elemento caracterizador do sucesso obtido pelo Estado Islâmico encontra-se em sua diferenciação dos
demais agentes atuantes na região, uma vez que o grupo passa a agir de forma pragmática ao equalizar os
interesses externos frente ao seu objetivo primário, utilizando as consequências históricas geradas a partir
da rede de externalidades incidente na região como elemento legitimador de suas ações junto à doutrina do
Jihad. O Estado Islâmico passa a realizar algo que jamais fora realizado: um desafio bem sucedido, até
agora, a Sykes-Picot.
Mediante tais constatações é possível notar a alta relevância que o estudo a cerca deste fenômeno
compreendido como Estado Islâmico tem para o âmbito acadêmico das Relações Internacionais, uma vez
que vem a ser algo que estamos vivenciando e a restituição do Califado acaba por gerar controversas
questões, principalmente no que diz respeito à estrutura que o Estado Islâmico passa a ter no momento em
que atua próximo ao que de fato é um Estado.
REFERÊNCIAS
BURWEILA, Aya. How to lose a war: when your allies aid your enemies, Research institute for European
and American studies, Estados Unidos, out 2014, Disponível em: <http://www.rieas.gr/researchareas/editorial/2278-how-to-%09lose-a-war-when-your-allies-are-your-enemies>. Acessado em: 14 ago
2015.
DAMIN, Cláudio. Surgimento e trajetória do Estado Islâmico. Boletim Meridiano, Brasil, vol. 16, n. 148, p.
26 – 33 2015.
JABARREM, Yosef. The emerging Islamic State: Terror, territoriality, and the agenda of social
transformation, Geoforum, Israel, v. 58, p. 52 – 55, jan 2015, Disponível em:
<http://www.researchgate.net/publication/268079795_The_emerging_Islamic_State_Terror_territoriality_and
_the_agenda_of_social_transformation>. Acesso em: 15 ago 2015.
NUNES, André. Estado Islâmico: Restauração do califado e instabilidade no Oriente médio. Revista
Cadernos de Estudos Sociais e Políticos, Brasil, v.4, n.7, p. 54 – 77, 2015.
WATKIN, Kenneth. Targeting “Islamic State” Oil Facilities, International Law Studies. U.S Naval War
College, Estados Unidos, v.90, p. 499 - 513, 2014, Disponível em:
<https://www.usnwc.edu/getattachment/4d347403-c433-4f63-838b-351ef2c79827/Targeting--Islamic-StateOil-Facilities.aspx>. Acessado em: 13 ago 2015.
Anais do VII Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade Federal do Pampa