Programa Festival Encontros da Imagem

Transcrição

Programa Festival Encontros da Imagem
INTERNATIONAL PHOTOGRAPHY FESTIVAL
ENCONTROS DA IMAGEM 2014
XXIV edição
18 de Setembro a 31 de Outubro
O Festival Encontros da Imagem 2014 realiza-se de 18 de Setembro a 31 de
Outubro e conta com uma «Holy Open Week», de 17 a 20 de Setembro.
O Festival Encontros da Imagem regressa com a XXIV edição que se distingue
pela espiritualidade do seu tema: Fé e Esperança.
Construída sob um conjunto de representações que envolvem o aspeto
simbólico, cultural e religioso das identidades contemporâneas, ‘Hope & Faith’
lança pistas sobre algumas das problemáticas mais pertinentes ligadas à Fé num
tempo excessivamente conturbado, permitindo antever a dimensão estrutural de
um mundo novo em construção.
O Festival com origem em Braga, apresenta um conjunto de atividades que
promovem a fotografia contemporânea, através de um núcleo expositivo, que
nesta edição se reforça nas cidades de Lisboa, Porto e Guimarães.
1 Circuito Inaugural
[“Holy” Open Days]
2 EXPOSIÇÕES
BRAGA
CATRINE VAL | Philosophers
PATRICK WILLOCQ | I am Walé, Respect Me!
THAÍS MEDINA | Holy Reviewers, Mártires, Santos e Pecadores da
Fotografia Contemporânea
VIRGÍLIO FERREIRA | Ser e Devir
FINALISTAS EMERGENTES dst
Casa dos Coimbras (Inauguração 18 de Setembro | 22h00)
Largo S. João do Souto
Terça a Domingo: 15h00-22h00
ANAÏS LOPEZ & EVA SMALLEGANGE | Only in Burundi
HECTOR MEDIAVILLA | S.A.P.E.
TONY MENEGUZZO | HOLY COWS
Faith Container (Inauguração 19 de Setembro | 22h30)
Av Central (Arcada)
Terça a Sábado: 15h00-22h00
AUGUSTO BRÁZIO | BANG!
DIEGO SALDIVA | Momentos e Máculas
MARIE HUDELOT | Heritage
PANOS KEFALOS | saYints
SUSAN GIRÓN | La Catedral de Don Quijote
Arquivo Janes (Inauguração 18 de Setembro | 22h30)
Rua de Janes, 43
Terça a Domingo: 15h00-22h00
19-20 de Setembro: 11h00-13h00 | 15h00-22h00
21 de Setembro: fechado
JOAN FONTCUBERTA | Miracles & Co.
Museu da Imagem (Inauguração 19 de Setembro | 15h00)
Campo das Hortas 35-37
Terça a Sexta : 11h00-19h00
Sábado e Domingo : 14h30-18h30
NATAN DVIR | Belief
Salão Medieval (Inauguração 19 de Setembro | 15h30)
Reitoria da Universidade do Minho
Largo do Paço
Segunda a Sexta: 09h00-13h00 | 14h00-18h00
ANTOINE BRUY | Les Maquis
BORIS ELDGASEN | Poems
FABIAN UNTERNÄHRER | Vertigo
3 ROGER GUAUS | The Hub
YANINA BOLDYREVA ALEXANDER ISAENKO | Índex Lost
Nossa Senhora da Torre (Inauguração 19 de Setembro | 16h00)
Largo de São Paulo
Terça a Domingo: 9h30-12h30 | 14h30-18h00
DESCOLETIVO | Para Jablonsky, uma cidade
ERICA NYHOLM | A Room of One’s Own
Museu Pio XII (Inauguração 19 de Setembro | 17h00)
Largo de Santiago, 47
Terça a Domingo: 9h30-12h30 | 14h30-18h00
STELIOS KALLINIKOU | Mary’s Boy and Flowers in the Yard
Casa dos Crivos (Inauguração 19 de Setembro | 17h30 *Será servido um cocktail)
Rua de São Marcos 37 – 41
Terça a Sexta: 09h30-18h30
Segunda e Sábado: 15h00-18h00
RAFAL MILACH | Black Sea of Concrete
Museu Nogueira da Silva (Inauguração 19 de Setembro | 21h30)
Avenida Central 45 - 61
Terça a Sexta: 10h00-12h00 | 14h00-18h30
Sábado: 14h00-18h30
CHRISTIAN LUTZ | In Jesus Name
ORIOL SEGON TORRA | Young Patriots
STEPHANIE BORCARD E NICOLAS METRAUX | China Love Cutting
TOCA – Trabalho de uma Oficina Cultural Associativa (Inauguração 19 de
Setembro | 23h00)
Av. Central, 33
LUCÍLIA MONTEIRO | Ex-voto (Inauguração 20 de Setembro | 15h00)
Centro de Exposições C.C. Pedrosa – Bom Jesus
Monte do Bom Jesus
Todos os dias: 09h00-20h00
BERTRAND MEUNIER | Le Plateau
DANIEL DIAZ TRIGO | Poseer Para Non Esquecer
SANNE DE WILDE | The Dwarf Empire
TITO MOURAZ | Casa das Sete Senhoras
ALEXANDRE ALMEIDA | Now and Then
GEORGES PACHECO |Metanóia
INÊS D’OREY | Sous La Sable
JORDI BURCH | Change Your Heart
JOSÉ BACELAR | Postais de Inverno
LUÍSA FERREIRA | Verde Quente
4 MIREILLE LOUP | Prophecies
MONIKA MERVA | Origin of Emotion
VALTER VINAGRE | Do Amor_Clausura
Mosteiro de Tibães (Inauguração 20 de Setembro | 16h00)
Rua do Mosteiro, Mire de Tibães
Todos os dias: 09h30-18h00
WHERE IS MY MIND
Juno Café (Inauguração 20 de Setembro | 24h00)
Rua do Anjo, 49
Todos os dias: 17h00-04h00
APPCDM BRAGA | Atenção Variável
Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva
Rua de São Paulo, 1
Segunda a Sexta: 09h00-20h00
Sábado: 09h30-12h30 | 14h00-18h00
Fé na Vida | ocupação das montras de comércio tradicional em Braga
Concepção por João Acciaiuoli
Montras do Centro de Braga
(A partir das 19h00)
Agrobrasousa Rua de São Vicente nº 214
Bazar Santa Cruz Largo de Santa Cruz nº 17 [espontâneo]
6
Casa das Flores Rua Eça de Queiroz nº 66 [espontâneo]
Casa das Velas Rua Doutor Justino Cruz nº 103
Casa dos Plásticos Avenida Central nº 129
Casa dos Terços Rua do Souto nº 118/122
Casa Gomes Praça Conde Agrolongo nº 68/70 [espontâneo]
Casa Rainha Retrosaria Avenida Central nº 130 [espontâneo]
Correaria Moderna Rua dos Chãos nº 129/133
Loja dos Guarda-Chuvas Largo Senhora-a-Branca nº 87
Macedo & Companhia Rua Andrade Corvo nº 16/34
Quinta Dimensão Rua de Santa Margarida nº 49
Sapataria Mesquita Rua Santo António da Praça nº 6
03 de Outubro a 03 de Novembro
JOÃO FOLDENFJORD Stati Inu Obstati Ficar e Resistir
Casa do Professor
Av. Central, 106-110
Segunda a Sexta: 08h00-19h00
Sábado: 08h30-13h00
5 PORTO
13 de Setembro a 11 de Outubro
EXPOSIÇÃO COLETIVA | Da Radicalização do Mundo
ÂNGELO FERREIRA DE SOUSA
BEATRIZ ALBUQUERQUE
CATARINA DE OLIVEIRA
PEDRO MAGALHÃES
ROSSANA MENDES FONSECA
Espaço Mira
Rua de Miraflor, 159
Terça a Sábado: 15h00-19h00
LISBOA
YUSUF SEVINÇLI | Good Dog
Galeria da Boavista — CML (Inauguração 27 de Setembro | 16h00)
Rua da Boavista, 47-50
Terça a Sábado: 14h00-20h00
PEDRO GUIMARÃES | How to Fly
Plataforma Revólver — Hotel (Inauguração 27 de Setembro | 17h00)
Rua da Boavista, 84
Terça a Sábado: 14h00-19h00
MARCELO BUAINAIM | Moksha
Pequena Galeria (Inauguração 27 de Setembro | 17h30)
Av. 24 de Julho, 4C
Quarta a Sexta: 18h00-20h00
Sábado: 16h00-20h00
HELENA GONÇALVES | Espaço Ginjal
Galeria das Salgadeiras (Inauguração 27 de Setembro | 18h30)
Rua das Salgadeiras, 24
Terça a Sexta: 17h-21h
Sábado: 16h-21h
MEL O’CALLAGHAN | Time to act | performance
Casa Museu Medeiros de Almeida (Inauguração 27 de Setembro | 19h00)
Rua Rosa Araújo, 41
Segunda a Sexta: 13h00-17h30
Sábados: 10h00-17h30
6 MARCELO COSTA | Blues
MÁRIO MACILAU | Moments of Transition
Galeria Belo-Galsterer (Inauguração 27 de Setembro | 19h30)
Rua Castilho, 71 R/C Esq.
Terça a Sexta: 12h00-19h00
Sábado: 14h00-19h00
ATIVIDADES
BRAGA
17 e 18 de Setembro
LEITURA CRITICA DE PORTFOLIOS | International Photography Award
EMERGENTES dst 2014
Casa dos Coimbras
Largo S. João do Souto
Terça a Domingo: 15h00-22h00
18 de Setembro
21h30
JOÃO MARTINHO MOURA | Peça interativa de luz e som.
Igreja de Santa Cruz
Largo Carlos Amarante
22h30
“I LIKE PURPLE!” Absolut Party + Concerto + Djs
Festa de Abertura
Arquivo Janes
Rua de Janes, 43
PHOTO BOOK MARKET
Arquivo Janes (Inauguração 13 de Setembro | 22h30)
Rua de Janes, 43
Terça a Domingo: 15h00-22h00
19-20 de Setembro: 11h00-13h00 | 15h00-22h00
21 de Setembro: fechado
19 de Setembro
23h00
RITUAL III | Mostra Performance
FLÁVIO RODRIGUES
SUSANA CHIOCCA
7 [Colaboração com Espaço Mira]
HOPE NIGHT PROJECTION | Finalistas Open Call
DJ SET
TOCA – Trabalho de uma Oficina Cultural e Associativa
Av Central, 33
20 de Setembro
21h30
GALA EMERGENTES dst
Exposição dos Finalistas
Improvisação de Shela
Concerto Scott Matthew
Anúncio do vencedor
Theatro Circo
Av. da Liberdade, 697
24h00
WHERE IS MY MIND
Juno Café
Rua do Anjo, 49
Todos os dias: 17h00-04h00
03 de Outubro
21h40
TEMPO DE VIAGEM
De Andrei Tarkovsky e Tonino Guerra
Itália, 1983 – 62’
Cineclube Aurélio da Paz dos Reis [Clarabóia - Agenda Cultural da Casa do
Professor]
Av. Central 106/110
Entrada Livre
3 e 4, 17 e 18, e 30 e 31 Outubro
WORKSHOP DE FOTOGRAFIA “Da Ideia ao Projeto” [Orientação: VIRGILIO
FERREIRA]
Arquivo Janes
Das 10 ás 18.00h, com intervalo de 1,30h para almoço
Inscrições: [email protected]
10
17 de Outubro
21h40
SOB CÉUS ESTRANHOS
8 Daniel Blaufuks
Portugal, 2002 - 57´
Cineclube Aurélio da Paz dos Reis [Clarabóia - Agenda Cultural da Casa do
Professor]
Av. Central 106/110
Entrada Livre
25 de Outubro
RITUAL V "Peregrinação" Porto-Braga EyeEm Meetup
Percurso CP Porto - Braga
14h30
CONCENTRAÇÃO
Estação de Campanhã
14h45
Comboio Porto-Braga
16h00
SILVESTRE PESTANA | Performance
Salão Medieval
Reitoria Universidade do Minho
16h30
JOANA VON MAYER TRINDADE
Arquivo Janes
17h00
ALBUQUERQUE MENDES | Performance
Rua
17h45
PEDRO TUDELA | Performance
Igreja Nª Sr.ª da Torre
18h15
HUGO DE ALMEIDA PINHO | PERFORMANCE
Auditório Casa dos Crivos
18h45
Né Barros | Performance
Faith Container
19h15
Projecção de imagens EyeEm
Faith Container
(em contínuo desde as 14h45)
22h30
“FAITH NEVER ENDS” Festa de Encerramento
THROES + THE SHINE
TOCA – Trabalho de uma Oficina Cultural e Associativa
Av. Central, 33
9 31 de Outubro
21h40
ZÉFIRO
José Álvaro Morais
Portugal, 1993 - 52´
Cineclube Aurélio da Paz dos Reis [Clarabóia - Agenda Cultural da Casa do
Professor]
Av. Central 106/110
Entrada Livre
PORTO
06 de Setembro
RITUAL I Mesa redonda | Conversa com artistas e curadores em torno da
performance e documentação
Mostra vídeo e documentação | Balleteatro
Espaço Mira
Rua de Miraflor, 159
13 de Setembro
RITUAL II
Mostra performance
16h30
ÂNGELO FERREIRA DE SOUSA
Espaço Mira
Rua de Miraflor, 159
17h00
ALBUQUERQUE MENDES E que hei-de amar senão o enigma?
A3_Mira
Rua Miraflor,
17h30
ANTÓNIO MELO
A3_Mira
Rua Miraflor,
18h00
LARA MORAIS
12
A4_Mira
Rua Miraflor,
04 de Outubro
RITUAL IV Cinema + Conversa com artistas, curadora e público
10 GUIMARAES
2 e 3 de Outubro
WORKSHOP LOMOGRAFIA
Universidade do Minho – Guimarães
PROGRAMA DETALHADO
CATRINE VAL | Philosophers [Casa dos Coimbrãs]
“Visualmente tomando como base " Philosophers ", examino a perda de ligação com a
natureza no nosso mundo moderno, tecnicamente conduzido, em que a natureza se
tornou um terreno estranho. A ânsia pela natureza como um ponto de referência fixo e o
pensamento ilusório de uma visão do mundo romântica, harmoniosa e intacta em que o
homem e a natureza estão em harmonia, enfrenta um relógio que cada vez acelera mais,
na nossa época totalmente mecanizada. Como referência, estão as semelhanças visuais
externas de filósofos históricos e atuais bem como as características do seu trabalho.
Como uma interpretação contemporânea do pensamento filosófico tradicional,
"Philosophers" aproveita a abordagem iconográfica do atual discurso dos media e expõe
os efeitos do individualismo e tecnicidade sobre o posicionamento do homem moderno
no seu ambiente natural.”[Catrine Val]
PATRICK WILLOCQ | I am Walé, Respect Me! [Casa dos Coimbrãs]
“Mergulhei profundamente num ritual de iniciático e tive como objetivo criar fotografia
artística e documental, muito próxima da experiência diária de pigmeus Ekonda na
República Democrática do Congo. Os Ekonda acreditam que o mais importante momento
na vida de uma mulher, é o nascimento do seu primeiro filho. A jovem mãe, é chamada
Walé ("mãe primípara que amamenta" ). Volta para seus pais onde permanece isolada
por um período de 2 a 5 anos. Respeitando rigorosamente vários tabus durante todo
este período, incluindo um tabu do sexo, é-lhe atribuído um estatuto semelhante ao de
um patriarca. O fim de sua reclusão é marcado por um ritual de dança e canto. A
coreografia e as músicas têm uma estrutura muito codificada, mas são criações únicas
específicas para cada Walé. Sempre senti um fascínio pelas tribos nativas porque sinto
que possuem uma riqueza que nós, de certo modo, perdemos. Para documentar esta
bela homenagem à maternidade, fertilidade e feminilidade, propus a algumas Walé, a
quem eu conheci durante mais de um ano, para participar em fotografias encenadas que
testemunhassem uma parte da sua história pessoal. Cada encenação funcionou como
representação visual de um dos temas que a Walé iria cantar no dia da libertação da sua
reclusão.”[Patrick Willocq]
ANAÏS LOPEZ & EVA SMALLEGANGE | Only in Burundi [Faith Container]
"Only in Burundi" é um trabalho de colaboração entre a fotógrafa Anaïs López e a
escritora Eva Smallegange, sobre este país africano. Através da fotografia e da escrita,
elas dão a conhecer a vida quotidiana no Burundi em diferentes estratos sociais. O
resultado é um livro com um ponto de vista positivo, contendo histórias pessoais do seu
guia e principal narrador, Koky. Ele fala da sua infância e apresenta 10 dos seus amigos
de diferentes classes sociais, tais como o moleiro de mandioca a quem compra farinha,
a princesa que esteve noiva do seu irmão, o presidente e o seu primo, criador de vacas.
Partilham a opinião sobre o que é necessário para sobreviver neste país intrigante, cinco
anos depois do fim da guerra civil: para conseguir fazer qualquer coisa, é necessário ter
os contactos certos. O livro foi publicado em 2013 e tem o design inteligente de Linda
11 Braber. A instalação foi apresentada pela primeira vez em Nova Iorque, na Photoville, em
setembro de 2013. Os curadores Michl Sommers e Marga Rotteveel transformaram o
livro numa exposição que apresenta a nossa viagem de forma engenhosa. Fotografias de
diferente tamanho e espessura, fita colorida a ligar as diferentes imagens e histórias e
fragmentos áudio, imergem o espetador no Burundi moderno, visto através dos olhos de
Koky.
HECTOR MEDIAVILLA | S.A.P.E. [Faith Container]
SAPE - Society of Ambianceurs and Elegant People,-é um movimento curioso e
extravagante, um verdadeiro show, uma arte para alguns, um culto à aparência para
outros, em que a elegância brilhante e impertinente não é para ser improvisada. Pode
encontrar-se uma perspetiva clara desse movimento fascinante, rico em significado
visual e ideológico, na obra de Héctor Mediavilla. O fotógrafo espanhol investiga a
complexidade psicológica e social da SAPE como um observador externo, mas acima de
tudo desafia a nossa imagem coletiva de África e do seu povo. Mediavilla conduz-nos a
um conhecimento mais profundo das regras e prescrições desses jovens e, acima de
tudo, força-nos a viajar até ao mundo dos seus sonhos e a entender a natureza do culto
que praticam. Vemos que eles carregam uma mensagem implícita de resistência e luta
para minar o status social que ocupam, em primeiro lugar dentro de sua própria
comunidade, país e outros países africanos, mas também na nossa própria visão
ocidentalizada inabalável e fria.
TONY MENEGUZZO | HOLY COWS [Faith Container]
“Holy Cows, é uma pesquisa antropológica da tradição hindu que celebra a colheita e a
sacralidade bovina. Quando vi pela primeira vez uma vaca sagrada decorada, em Tamil
Nadu, apaixonei-me pelo uso de cores no pelo da vaca, uma expressão artística pintada
numa tela que andava, pois a vaca transportava a pintura ao mesmo tempo que era a
própria pintura. Comecei, assim, a longa busca para a exploração da tradição Hindu de
vestir e adornar as vacas sagradas. Um longo processo de estudo e viagens, para obter o
maior repertório possível de uma arte em vias de desaparecimento. Produzi 92 imagens:
poucas em comparação com a minha laboriosa e meticulosa investigação, pois esta
tradição é transmitida apenas oralmente, mas muitas atendendo à raridade do tema.
Adornadas com flores frescas e decorações coloridas, a preparação das vacas passa
também por pintar o seu pelo e chifres, com pigmentos orgânicos que têm referências
específicas, sendo este o elemento mais marcante. Os pigmentos são lançados sobre o
animal com um toque artístico que lembra a pintura informal de Jackson Pollock. A
santidade do templo, Go Puja, é comemorada pintando o bindi no meio da testa do
animal, assim como todos os fiéis humanos. Finalmente, recortei os animais fazendo-os
flutuar num branco leitoso, para enfatizar o trabalho artístico feito pelos habitantes
locais sobre as vacas, porque o cenário rural e bucólico circundante é tão imbuído de
ícones populares indianos, para mitigar as contribuições estilísticas e artísticas
utilizadas para celebrar o ritual perpétuo da vida e da santidade do animal.” [Tony
Meneguzzo]
AUGUSTO BRÁZIO | BANG! [Arquivo Janes]
“Bang! é um trabalho que tenho vindo a desenvolver desde há dois anos. Este é um
capítulo. O primeiro. São fragmentos de ficções retirados de realidades, na periferia que
habito e que mapeio com insistência e por obrigação.” [Augusto Brázio]
DIEGO SALDIVA | Momentos e Máculas [Arquivo Janes]
“Além de ser um abrigo, a casa é também um lar, um lugar emocional e íntimo, próprio
à um indivíduo, um espaço privado, um território delimitado. Momentos e Máculas parte
de uma investigação pessoal sobre as questões de Casa e Território. Mais
especificamente, este trabalho enfoca o processo de urbanização frenética que a cidade
onde eu nasci e cresci, Guarulhos, São Paulo, conhece já há algum tempo. Se trata de
uma metamorfose continua e intensa, com dezenas de novos edifícios sendo erguidos a
cada mês, ocasionando mudanças, tanto na topografia quanto na paisagem. Eu me
12 interesso há bastante tempo às questões relacionadas ao território, não apenas no
sentido político, mas no sentido psicológico e sociológico, ligado à identidade cultural, à
maneira na qual o espaço é estruturado, organizado e considerado.” [Diego Saldiva]
MARIE HUDELOT | Heritage [Arquivo Janes]
“Fiz esta série com o desejo de realizar um conjunto de retratos simbólicos inspirados
nas minhas raízes de duas culturas. Sou francesa com antecedentes do Médio Oriente.
Utilizei a tradição pictórica da natureza-morta, optando por criar personagens, nas quais
a natureza e objetos, vêm de diferentes ritos e tradições. As fotografias podem ser
agrupadas em três categorias metafóricas: Em primeiro lugar a "marca", com elementos
de terras não cultivadas, evocação da morte e renascimento. Em segundo lugar, a "luta",
com uma reinterpretação das várias batalhas e honras de guerra, como uma
homenagem aos antepassados, aos veteranos, por vezes à indiferença em relação à
morte ou ao anonimato da guerra. E finalmente o símbolo da "feminilidade", localizado
no contexto das duas culturas, Francesa e Argelina, por vezes sentida como uma
dicotomia, outras como um sinal de diversidade. Aqui, joias, penas, galhos, flores,
chapéus, fitas decorativas, tornam-se símbolos evocativos de sedução, feminilidade,
juventude, memória, luta, vida e morte. Jogando com a acumulação de símbolos e
profusão de acessórios, os sujeitos tornam-se totems ao estilo de naturezas-mortas ou
brasões de família.” [Marie Hudelot]
PANOS KEFALOS | saYints [Arquivo Janes]
“Crianças pré-adolescentes, crianças pequenas, imigrantes do Afganistão. Faço
fotografias delas numa das praças principais de Atenas, nas ruas, em hotéis, em
mesquitas, no interior das casas onde vivem. Brincar, o modo de expressão de todas as
crianças, é o motor que põe estas fotografias em movimento. Sentimentos remotos e
bem escondidos como o medo, a violência, o terror, a inibição, encontram - através da
brincadeira - um meio espontâneo de se manifestarem e de se tornarem tangíveis. Tudo
mais é ilusório, no mundo delas: família, amigos, ambiente, país ou residência,
identidade e personalidade. Este próprio mistério, numa reviravolta paradoxal, é o que
força o indizível e o sinistro a manifestarem-se, nestas imagens.” [Panos Kefalos]
SUSAN GIRÓN | La Catedral de Don Quijote [Arquivo Janes]
“La catedral del Don Quijote”. Mejorada del Campo (Madrid). 2010-2014. Justo Gallego,
um agricultor de 88 anos, constrói uma catedral sozinho há 53 anos numa aldeia perto
Madrid. Mais de 8.000 m2, 25 cúpulas, 40 metros de altura .... Sem projeto nem ajuda
oficial, usando ferramentas básicas, sem qualquer conhecimento de arquitetura,
trabalha apaixonadamente todos os dias com o ideal de construir um templo a Jesus
Cristo. Para além deste facto extraordinário e transcendendo completamente qualquer
conotação religiosa, surge-nos a questão sobre quais são os limites do ser humano
quando este encontra o poder da fé, entendida como a capacidade de acreditar
firmemente que algo impossível pode acontecer. Usando uma linguagem mística, tento
documentar a paixão transbordante de um homem extraordinário na sua aparente
fragilidade. Fotograficamente a luz revela a sua simplicidade e força, o retrato de um
homem humilde que, impregnado da sua fé, desafia todas as leis da lógica ou
imaginação. Tudo pode acontecer, se a nossa determinação para o conseguir for
suficientemente forte. E tu, tens fé?” [Susan Girón]
JOAN FONTCUBERTA | Miracles & Co. [Museu da Imagem]
“Salpicada de lagos profundos e bosques frondosos, a Carélia é a zona mais meridional
da Finlândia e esta situação tem sido a causa de frequentes litígios fronteiriços ao longo
de toda a história, primeiro com o império czarista e depois com a URSS. A Carélia não
só esconde o enigma de ser o berço do Kalevala, a extraordinária epopeia do herói
Wainamoinen, mas também é terra de superstições e lendas, bem como de antigos
cultos pagãos que a Igreja Ortodoxa não teve dificuldade em integrar. Esta presença
religiosa manifesta-se na forma de mosteiros solitários e aprazíveis, alguns dos quais
abandonados e em estado de quase ruína desde as incursões bolcheviques primeiro e da
13 invasão estalinista, depois. É o caso de Valhamönde, um mosteiro que foi erigido
segundo a tradição por dois missionários de origem grega, o monge Sérgio e o seu
jovem prosélito Herman, no alvorecer do segundo milénio. De facto, apenas se
conservam indícios documentais a partir do século XVII, embora quando muito mais
tarde já, a diocese Careliana foi criada em Vyborg, muita informação valiosa se tenha
perdido quando os revolucionários incendiaram o arquivo diocesano. Pouco depois da
independência da Finlândia em 1917, Valhamönde alcança a autonomia canónica, mas é
atribuída à invocação do Patriarca Ecuménico de Antioquia. Desde então, a evolução
torna-se imprecisa; a comunidade de monges diminui gradualmente e o mosteiro parece
isolar-se do resto do mundo. Para esse isolamento contribuem as enormes dificuldades
de acesso: o denso nevoeiro e o intrincado labirinto das 13710 ilhas do lago Saimaa,
bem como cartas de navegação defeituosas, protegeram Valhamön da curiosidade
externa. Além disso, os monges enfatizaram a natureza emaranhada do seu esconderijo,
construindo ilhotas artificiais e abrindo canais estreitos, num evidente afã de vincular a
sua sede ao significado esotérico do labirinto (provavelmente teriam adotado o modelo
do labirinto próximo, Gotland). Afastado e discreto, portanto, Valhamönde só mereceu a
atenção dos jornalistas quando um ex-membro da comunidade monástica, Munkki
Nikolaus, revelou a verdadeira natureza das suas atividades: esse centro espiritual
secreto, esconde afinal uma escola onde se ensina a fazer milagres. Segundo parece,
chegam a Valhamönde monges de todas as religiões e membros das seitas mais
absurdas, com cândido propósito de aprender a dominar o sobrenatural. Trata-se
naturalmente de uma vigarice descarada, mas cujos nebulosos interesses vão além dos
meramente económicos próprios de todas as fraudes, para se infiltrarem nas redes de
domínio religioso e político, e nesse sentido não seria improvável associar Valhamönde a
organizações secretas e serviços secretos. Experiente em questões de ficção, eu quis
usar nesta altura os recursos estritos do jornalismo de investigação e da fotografia
documental para fazer face a este caso flagrante de impostura. Para fazer esta
reportagem, fingi ser aprendiz de sacerdote, capaz de pagar a elevada inscrição e seguir
cursos de Valhamönde juntamente com os outros noviços, o que me permitiria praticar o
ciclo de milagres de terra, de água, de ar e de fogo, enquanto compilava fotografias e
outras provas que pudessem desmascarar uma invenção tão incrível. Este é o único
propósito destas imagens.” [Joan Fontcuberta]
NATAN DVIR | Belief [Salão Medieval da Reitoria da UM]
“Neste mundo em rápida mudança no qual a carreira e o sucesso financeiro são
venerados, talvez até idolatrados, as comunidades, bem como o conceito de identidade
pessoal e a forma como são apresentados na sociedade, estão em grande evolução. A
revolução da informação encurtou as distâncias entre as pessoas, permitindo interações
nunca antes possíveis. E no entanto, mesmo nestes tempos excitantes, a crença
continua a ser um dos fatores básicos mais significativos e profundos que definem e
formam indivíduos e sociedades. Tendo sido criado em Israel, fui regularmente exposto
a fortes crenças e ideias religiosas, sociais e políticas, desde tenra idade. Locais
sagrados localizados por todo Israel, tornam o (fisicamente) pequeno país,
extremamente importante para os judeus, cristãos, muçulmanos e muitas outras
religiões. A história da região, combinada com a atualmente instável situação política,
resultam numa realidade complexa e intensa em que as pessoas enfática e publicamente
se exprimem. Fico fascinado e por vezes assustado com as situações extremas que as
pessoas atingem na prossecução e defesa das suas crenças. Exploro as várias facetas de
como as pessoas praticam as suas crenças, os lugares a que elas os levam e os cenários
de que fazem parte. Independentemente de afinidades religiosas ou políticas
específicas, a crença pode dar sentido de comunidade, pertença, segurança e
compreensão, mas também pode provocar ódio, separação e agressividade.
Tranquilidade versus raiva, êxtase versus raiva, entendimento versus fanatismo. A série
centra-se em cerimónias religiosas, eventos políticos e situações de conflito ao longo de
Israel. As fotografias deste projeto são exames diretos do público como um todo e
entanto incidem também sobre indivíduos e suas experiências. Ao exibir múltiplas
imagens nesta série, pretendo mostrar a natureza multifacetada da crença e as várias
formas como ela afeta a vida dos indivíduos e das comunidades. A crença muitas vezes
14 pode moldar o comportamento das pessoas e as interações pessoais, mas isso passa
geralmente desapercebido aos que mais profundamente são influenciados por ela.”
[Natan Dvir]
ANTOINE BRUY | Les Maquis [Igreja Nossa Senhora da Torre]
“De 2010 a 2013, andei à boleia pela Europa com o objetivo de conhecer homens e
mulheres que tomaram a opção radical de viver longe de cidades, desejando abandonar
o seu estilo de vida assente no desempenho, na eficiência e no consumo. Sem nenhum
destino pré-definido, conduzido por encontros e pelo acaso, esta viagem acabou por se
tornar para mim num tipo de busca iniciática semelhante à dessas famílias. Oito dessas
experiências são apresentadas aqui e exibem vários desfechos que penso deverem ser
vistos não só ao nível político, mas também e de forma mais importante, como
experiências diárias e imediatas. A heterogeneidade de lugares e situações mostra-nos o
bonito paradoxo da busca de uma utopia através de permanentes tentativas empíricas e
por vezes erros. Estruturas instáveis, materiais recuperados ou múltiplas aplicações de
teorias agrícolas, permitem-nos ver a variedade de trajetórias humanas. Todas elas com
o objetivo de desenvolver estratégias para obter mais energia, alimento e autonomia
económica ou social. Estas são, de certa forma, reações espontâneas às sociedades que
estes homens e mulheres deixaram para trás. Portanto, a sua terra é explorada mas
nunca subjugada, o tempo perdeu a sua rígida linearidade para assumir um ritmo lento
e deliberado. Acabou-se o tic-tac do relógio, para dar lugar ao ballet dos dias e noites,
estações do ano e ciclos lunares.” [Antoine Bruy]
BORIS ELDGASEN | Poems [Igreja Nossa Senhora da Torre]
“As fotografias de Boris Eldagsen exploram os limites do que pode ser retratado.
Utilizam a realidade externa para representar a realidade interior, a do inconsciente, dos
arquétipos e do indizível. Sem demasiados materiais nem efeitos digitais, Eldagsen
combina fotografia de rua com fotografia encenada e recria imagens espetaculares e
oníricas. Os meios fotográficos de luz e sombra tornam-se símbolos dos espaços
intermédios os quais são inacessíveis à mente racional e obrigam o espectador a
recorrer às suas próprias memórias e sentimentos. Para além do que está na moda e é
atual, Eldagsen cria ligações alquimistas entre pintura, cinema e teatro, que são um
desafio à classificação. Chama-lhes POEMS.”
FABIAN UNTERNÄHRER | Vertigo [Igreja Nossa Senhora da Torre]
“Com esta série, eu tentava procurar a beleza escondida e singular por trás do
banalismo da vida quotidiana. Porque, tão simples e rápido como dizê-lo, as banalidades
escondem o excecional e vice-versa. Procurava uma atmosfera especial, possivelmente
melhor explicada como "escuridão luminosa". Qualquer coisa simultaneamente
assustadora e fascinante, para além do que pode descrever-se por palavras.” [Fabian
Unternährer]
ROGER GUAUS | The Hub [Igreja Nossa Senhora da Torre]
“Um hub é um centro de interligação que, no campo das redes de computadores,
significa, por definição, colisão. The Hub é uma interpretação feita das colisões que
provêm do meu interesse por interligar temas tais como religião, violência e morte. Esta
interpretação é materializada numa coleção de imagens criadas e editadas com a nítida
intenção de gerar um campo de tensões que não deixem espaço nem ao descanso, nem
à calma ou a serenidade. Nem sequer a qualquer ponta de fé ou esperança. O projeto
deixa ao leitor esta oportunidade para colisão, convidando-o, via apreciação das
imagens, a participar com os seus próprios conflitos e contradições.” [Roger Guaus]
YANINA BOLDYREVA ALEXANDER ISAENKO | Índex Lost [Igreja Nossa
Senhora da Torre]
O projeto é o álbum de fotografias dos dois autores - Yanina Boldyreva, Rússia e
Alexander Isaenko, Ucrânia. É a história de um determinado lugar, simultaneamente real
e obscuro. Além disso, cita textos de utilizadores anónimos da rede. Uma visão
15 desprendida e desfocada, paisagens vazias e desbotadas, preenchidas pela presença de
pessoas sem feições específicas, que não se exprimem, como se estivessem
mergulhadas numa letargia, cria um mundo de estranhos a escrever para parte
nenhuma, esquecidos, não tendo conseguido encontrar os seus destinos. É uma história
de emoções e pensamentos.
DESCOLETIVO | Para Jablonsky, uma cidade [Museu Pio XII]
A fotografia é a conexão entre o passado e o presente: é, muitas vezes, dela que nos
valemos para rememorar vivências antigas, anteriores à nossa própria existência. Assim,
o ensaio “Para Jablonsky, uma cidade” se apropria de fotografias de Fortaleza entre as
décadas de 1950 e 1970, para conectar passado e presente através da intervenção
artística. Estabelece relação entre estes períodos a partir de frases que compõem uma
projeção do que a cidade se tornaria. O ensaio é composto de 8 fotografias de Tibor
Jablonsky, de domínio público, com intervenções em tinta esferográfica realizadas pelo
Descoletivo.
ERICA NYHOLM | A Room of One’s Own [Museu Pio XII]
“A Room of One´s own II , 2009-2012, Finlândia, e A Memory of a Vase, 2012-,
Finlândia. No ano 2009 comecei a trabalhar em A Room of One’s Own II, a fim de
construir uma imagem do que eu era e do que sou. Encenava-me longe da câmara.
Estava sozinha numa sala azul clara, com uma ilha ao pôr-do-sol atrás de mim. Escolhi
locais que me eram emocionalmente apelativos: a minha casa de infância, um hotel onde
eu acordei como mulher casada, o lago que compartilhou as recordações de verão da
minha família durante um século. Enquanto observava esses autorretratos isolados
sentia saudades da minha família. Apercebi-me de que o auto (não importa quão
solitário), é sempre em relação ao outro, tempo, espaço e também, na minha opinião,
em relação às memórias. Quanto mais contemplava as memórias mais queria deixar-me
ficar atrás da câmara. O cenário em frente da minha câmara começou a representar um
estádio de uma memória. Pintei uma parede a azul petróleo. Pedi à minha prima de sete
anos para ficar junto à mesa onde eu coloquei a jarra partida. Fotografei A Memory of a
Vase. Um momento, que em parte me fez ser eu. Eu era a menina que quebrou a jarra
da sua mãe.” [Erica Nyholm]
STELIOS KALLINIKOU | Mary’s Boy and Flowers in the Yard [Casa dos
Crivos]
As imagens são histórias (narrativas) que se encontram fragmentadas, sem que seja
especificada uma determinada ordem de leitura. Começam, terminam e desenvolvem-se,
de forma quase descuidada. Stelios Kallinikou usa a fotografia para manter uma espécie
de diário pessoal do seu ambiente. Numa mistura excêntrica de imagens a cores e a
preto e branco, grandes planos e paisagens amplas, apresenta uma série diversificada
que parece contar uma narrativa (história). E no entanto, assim que a narrativa começa a
ganhar forma, desfaz-se novamente, redirecionando a nossa atenção de maneira
completamente diferente - quais são os eventos do diário de Stelios? Desde as pequenas
conexões com a fragilidade humana, às despersonalizadas linhas humanas e animais, à
magnificência da reverência universal, Kallinikou oferece-nos uma visão fotográfica da
sua experiência pessoal. A exposição congrega muitos elementos heterogéneos tais
como animais, paisagens, rostos, corpos e estátuas. Por exemplo, uma mão em que a
paisagem pessoal da palma está no ar, duas figuras "conspiratórias" da Estátua da
Liberdade, fotografadas de noite, parecendo estar prontas para fugir. Todas as imagens
oscilam entre o desejo e a morte, a esperança e a fé; um intenso e dualista espaço
intersticial.
RAFAL MILACH | Black Sea of Concrete [Museu Nogueira da Silva]
“A superfície está cheia de fissuras e de manchas cor de ferrugem mas está ainda
firmemente assente no chão. O betão é como um pouco de consciência na paisagem de
fábula do Mar Negro. Lembra-nos de que as mudanças só se dão lentamente. É como a
Ucrânia que está muito empenhada em mudar, mas que acaba por não o conseguir. Tal
16 como o betão, encheu não só um espaço externo como interno. Apenas alguns anos se
passaram desde a Revolução Laranja e as pessoas já perderam a esperança no seu
sucesso, para que possam ter melhor situação. Estão confusas e cansadas de caos
político. Não estavam em melhor situação no passado. É verdade. Mas havia ordem. E
agora a sua situação não melhorou e também não há ordem. -Deixem a Ucrânia de
Leste, juntamente com a Crimeia voltar para a Rússia e a parte ocidental do país aderir à
União Europeia - diz Alexadr (de 25 anos) bebericando sua cerveja à beira-mar em
Alushta. Uma vez que toda a União Soviética ia descansar nos resorts do Mar Negro, os
turistas soviéticos deixaram lá arquitetura soviética, mentalidade e sentimento.” [Rafal
Milach]
CHRISTIAN LUTZ | In Jesus Name [TOCA]
Para a série que apresenta, com o título In Jesus’ Name (2012), Christian Lutz imergiu
durante um ano na comunidade evangélica com sede em Zurique International Christian
Fellowship, entre 2011 e 2012. Festas e concertos rock, acampamentos de verão,
batizados, fotografou todos os eventos para os quais foi convidado. No entanto, um
tribunal de Zurique proibiu o livro imediatamente após o seu lançamento em novembro
de 2012, porque vinte e uma pessoas que apareciam no volume apresentaram queixa ao
fotógrafo e sua editora por violação do direito à imagem; queixas que foram
cuidadosamente orquestradas pelos responsáveis da Igreja. O livro foi retirado das
distribuidoras. Mas se o livro não está presentemente em circulação, as fotografias
proibidas são por enquanto exibidas com os estigmas da sansão, marcadas e traçadas
pelo conteúdo das queixas, tais como foram redigidas pelo advogado dos queixosos. In
Jesus’ Name era o último livro da trilogia sobre o Poder que Christian Lutz havia
começado dez anos antes e que tinha já dado lugar a duas obras: Protokoll (2007) sobre
o poder politico e Tropical Gift (2010) sobre o poder económico.
ORIOL SEGON TORRA | Young Patriots [TOCA]
O acampamento militar de verão em Mogyoród, Hungria, é um projeto privado, que
todos os anos vê chegar centenas de crianças e adolescentes entre os 10 e os 15 anos.
Alguns vêm atraídos pelo fascínio da vida militar, um militarismo que está omnipresente
na sociedade Húngara devido ao seu passado imperial e às memórias dos períodos Nazi
e Comunista. Outros são levados pelos seus pais (na sua maioria nacionalistas) para que
sejam iniciados no impiedoso mundo adulto, no qual raramente são permitidas emoções
e a vida tem de ser encarada com retidão e disciplina. Durante uma semana têm de viver
em tendas, recebem treino militar por parte de soldados experientes ainda no ativo,
adquirem noções relativas à Ordem e à Pátria, aguentam longas noites no dever de
guarda sem dormir, aprendem a usar velhas AK-47 fora de serviço feitas na
Checoslováquia (com pólvora seca) e até simulam estar sob o ataque de gases
lacrimogéneos. Será uma semana de ordens gritadas, durante a qual prevalecem o
exercício intenso, o comportamento educativo e a comida pré-cozinhada. Um lugar no
qual qualquer vulnerabilidade ou questionamento de ordens militares é pura e
simplesmente ignorado, silenciado e internamente reprimido. Os jovens soldados que já
previamente sentiram o chamamento da Pátria, viverão as atividades da semana
imbuídos de ares épicos. Por outro lado, os protagonistas céticos, cada vez mais
dessensibilizados, mais obedientes, mais dóceis, terão sido transformados em
disciplinados jovens patriotas da grande Hungria, que um dia voltará a ser o que foi no
passado. _ Todas as imagens deste projeto foram feitas em Mogyoród, Hungria, na
primeira semana de julho, 2013.
STEPHANIE BORCARD E NICOLAS METRAUX | China Love Cutting [TOCA]
“China – Love Cutting”é uma série de imagens de cabeleireiros chineses e dos lugares
onde vivem, num diálogo entre as esferas pública e privada. O projeto foi fotografado
em Chendgu, capital da província de Sichuan, longe de Pequim e Xangai. Este centro
económico em rápida expansão, na China ocidental, tem cerca de 14 milhões de
habitantes, a maioria dos quais vindos originalmente das zonas rurais. Cada retrato
mostra um jovem cabeleireiro que se mudou para Chengdu em busca de novas
oportunidades de emprego. Trabalhos que oferecem alojamento são particularmente
17 valorizados pelos recém-chegados. Quando um empregador oferece um quarto ou uma
cama na sua própria casa, ele é muitas vezes partilhado com outros colaboradores. Estes
jovens trabalhadores poderão passar muitos anos a viver assim, antes de terem
possibilidade de pagar suas próprias casas.
LUCÍLIA MONTEIRO | Ex-voto [Centro de Exposições C.C.Pedrosa]
“O projeto ex-voto pretende, em primeira instância, documentar uma tradição religiosa
que, ao longo do tempo, tem vindo a perder-se. Os ex-votos integram um ritual antigo
que expressa a fragilidade dos homens e a omnipresença de Deus, ecoando o sacrifício,
a entrega de um pedaço de si mesmo como pagamento da retribuição da divindade. Este
ato de fé materializa-se em diferentes formas que, tradicionalmente, seriam partes do
corpo em madeira ou cera mas que rapidamente se expandiram para outras expressões
como a roupa, objetos de pessoas, monumentos, fotografias, pinturas. No trabalho aqui
apresentado, a escolha centrou-se nos ex-votos de cera e nos ex-votos fotográficos,
ambos representantes simbólicos da era da reprodutibilidade através do negativo ou
molde que permitem a sua multiplicação. Deste modo, o estudo partiu de um
questionamento prático da relação entre o humano e o divino através do corpo
representado e aprofundou a função da fotografia como mediadora, não só da relação
do crente com a representação do seu corpo - o seu lugar - mas também da relação
entre o objeto - a representação - e o divino. Procura-se assim elaborar uma reflexão
sobre o corpo contemporâneo, o corpo do ‘Eu’ e os seus simulacros através da
problematização da necessidade que o Homem sempre demonstrou em representar-se,
tanto na arte como na religião. Obs.: Este trabalho foi desenvolvido no âmbito do Curso
de Mestrado em Comunicação Audiovisual, Fotografia e Cinema Documental da Escola
Superior de Música, Artes e Espetáculo do Instituto Superior do Porto.” [Lucília Monterio]
BERTRAND MEUNIER | Le Plateau [Mosteiro de Tibães]
“Tudo está lá, em relevo em parada para este grande exercício de homogeneização que
permite uma etiquetagem mais fácil. Homens e mulheres que povoam as imagens aqui
apresentadas são singularizados pelas mínimas fricções, assim como o ambiente em
que vivem. E depois há paisagem urbana na qual se esfregam os moradores. Se encerra
com seus calços de porta, escadas de cimento, barras, paredes, construções de ângulos
e lugar improváveis, torna-se ao mesmo tempo um lugar de expressão. Reivindicação de
uns chamando ao « » nos muros, divertimento do fotógrafo olhando como um menino
para imaginar um grande terreno de jogo, sarcasmo da natureza que ri-se finalmente da
modernidade e fissura o concreto para abrir uma passagem. O bairro Saint-Jacques é um
emaranhado de pequenas casas de operàrios, de jardinzinhos, de pequenos pousios, de
caminhos dominados por um bloco de arranha-céus chamado « A Grande Muralha da
China». São todos estes pequenos atritos então para se conseguir a transmissão da
história única deste bairro com delicadeza e poesia. Em vez de lustrar uma imagem dos
bairros difíceis já veiculada demais, Bertrand Meunier, trabalhando na ínfima
permeabilidade dos elementos, dos seres, da superfície sensível propõe uma outra
memória e um campo dos possíveis.” [Maion Duquerroi]
DANIEL DIAZ TRIGO | Poseer Para Non Esquecer [Mosteiro de Tibães]
O título do projecto que ganhou o Prémio Galicia de Fotografía Contemporânea em
2013, faz referência ao modo de trabalhar de Daniel Díaz Trigo, e traz pistas que
ajudam a comprender o âmbito do seu trabalho. O projecto é uma viagem subjectiva ao
microcosmos pessoal e quotidiano do autor, além de uma viagem nun pequeno
território, a Terra Chá luguesa. No dia em que se reuniu o jurado, havia uma diferença
evidente na concepção da fotografía e a diversidade na formação dos componentes que
tornou unanimemente claro qual era o projecto seleccionado, o que reunia os requisitos
necessário para um prémio deste nível. A convocatória foi respondida por autores de 10
países, com projectos de grande qualidade, pelo que ao jurado foi complicado
seleccionar finalmente apenas os de Antonio López Losada, Daniel Díaz Trigo e Jose
Rodríguez Romay, que foram os três finalistas. No caso de Díaz Trigo, o Prémio vem
reconhecer-lhe uma longa trajectória como artista, tanto na fotografía, como na pintura
ou na ilustração, sobejamente conhecida pelo seu traço particular, e que já deu frutos
18 em várias publicações e com participação em várias exposições. Com a nomeação de
Daniel como Prémio Galicia de Fotografía Contemporánea, fecha-se um círculo; já que há
31 anos, un luguês, Benito Losada, dava início a um projecto chamado Outono
Fotográfico, e hoje, outro luguês começa outro, que, em paralelo ao festival, nasce com
a pretensão de ter uma longa vida. Posesións para un esquecimento é um projecto em
que Díaz Trigo já trabalha há mais de sete anos. Nele mistura o peso do documental
implícito desde o nascimento da fotografía com a plasticidade e conceptualidade que o
meio adquiriu com a apropriação das grandes artes. O projecto pretende dar relevo a
uma harmónica conjunção entre memória colectiva e íntima, um passeio pausado pelas
lembranças e o esquecimento, mais também pelo seu território, concentrado nuns
poucos quilómetros. O autor presenta o resultado da sua preserverança na compilação
de lembranças, que materializa em forma fotográfica para que não sofram o abandono
na memória pessoal e, no máximo, colectivo e institucional. (...) No que concerne a
forma, no projecto convivem fotografías do mais puro estilo documental, cujo aspecto
plástico evoca outro tempo, com grandes panorâmicas de fotomontagens e imagens nas
que se misturam até o desenho e a pintura, e nas que não se documenta uma realidade,
pois nunca existiu, mas que pretendem apropiar-se da memória de quem as vê para
formar parte do fundo documental pessoal, e em definitivo, da memória. O trabalho de
Díaz Trigo, está pleno de “vozes que não se ouvem, de silêncios que já não se lembram”
como disse o própio autor na inauguração da exposição. O trabalho divide-se em quatro
capítulos que trabalham espaços significativos e que mapeiam a Terra Chá. Assim, ao
longo de “O Campo”, “A Colonización”, “As Torres de Arneiro” e “O Manicomio”, vai-se
desenrolando a história recente da vizinhança da comarca luguesa, através da qual se
podem seguir os acontecimentos históricos que sofreu a Europa do século passado, de
um modo intimista até ao ponto de fotografar um espaço muito próximo, que fala
também da história pessoal e familiar.
SANNE DE WILDE | The Dwarf Empire [Mosteiro de Tibães]
No sul da China, próximo de Kunming - cidade da primavera eterna - existe um parque
temático onde vivem 70 pessoas pequenas. Os habitantes apresentam um espetáculo de
música e dança duas vezes por dia. Esta terra prometida foi fundada por um homem alto
e rico, que se tinha comprometido a fazer "alguma coisa de bom" para as pessoas
pequenas. Caridade chinesa em traje comercial. A fachada deste império, com paredes
em material sintético, parece permanentemente à beira do colapso. E no entanto, o
império mantém-se de pé. Meti-me numa aventura com um punhado de questões éticas
sobre a comercialização do apoio social. Todas as histórias têm dois lados, mas neste
lugar, cada pergunta e cada resposta pareciam contraditórias. A minha aventura
terminou como um (anti)conto de fadas moderno, uma coleção de imagens feitas por
mim e por eles. O meu próprio estratagema foi-me imposto.
TITO MOURAZ | A Casa das Sete Senhoras [Mosteiro de Tibães]
Ainda se diz por aqui que a casa está assombrada. Na casa do Casal viviam sete
senhoras, todas irmãs solteiras. Uma era bruxa. Em noites de lua cheia, as senhoras,
voariam nas suas vestes brancas da varanda para os ramos frondosos do castanheiro,
sobranceiros à rua. Daí seduziriam os homens que passassem. Na Casa das Sete
Senhoras, conversar, saber como era antes de mim, ouvir e imaginar, foi tão importante
quanto o ato de fotografar. Comecei por fazer alguns retratos de pessoas.
Interessaramme
porque sempre viveram aqui e estão ligadas à terra como as árvores. Falam do
tempo, das suas recordações, das perdas... muitas já vestem de preto. Esta série dá
conta de um persistente regresso ao mesmo lugar, para perscrutar as suas diferenças (a
lenta desactivação do maneio agricola, a transformação progressiva do território, o
envelhecimento...), porém escutar o mesmo mocho, a mesma raposa, as mesmas
estórias. Tal como na lenda, talvez tenha sido a feição mágica e medonha, desta
experiência cíclica, o meu maior ferimento: a noite, os fumos, os cadáveres, a lua, a
ruína, os sons. Um lugar de afetos, afinal, também nasci aqui. [Tito Mouraz, Beira-Alta,
Portugal 2010-2014]
19 EXPOSIÇÃO COLETIVA AGÊNCIA DEAR SIR | We are all made of scars
[Mosteiro de Tibães]
ALEXANDRE ALMEIDA | Now and Then
GEORGES PACHECO |Metanóia
INÊS D’OREY | Sous La Sable
JOSÉ BACELAR | Postais de Inverno
MIREILLE LOUP | Prophecies
MONIKA MERVA | Origin of Emotion
VALTER VINAGRE | Do Amor_Clausura
JORDI BURCH | Change Your Heart
LUÍSA FERREIRA | Verde Quente
A exposição trata de esperanças, de desalentos e suas compensações, de relações
humanas, de esforços contínuos para encontrar uma razão. De nos escondermos e de
nos darmos à vida. De ilusões e desilusões. De formas mais ou menos rocambolescas de
nos enchermos de esperança. Em nós, nos outros e em formas quase divinas.
O trabalho de cada autor, naturalmente diverso no seu conteúdo, procura dialogar com
o espaço numa narrativa ficcional e articulada. “We are all made of scars” inscreve-se
num lugar (Mosteiro de Tibães), ele mesmo feito de cicatrizes marcadas pelo tempo.
Estabelece-se, então, um denominador comum à multiplicidade de imagens: a suspensão
do tempo, essência da imagem fotográfica. Um tempo em que se reconstrói o futuro
(Luísa Ferreira); um tempo que oscila entre a contemplação poética e o abandono
(Alexandre Almeida); um tempo de estórias que oscilam entre memórias pessoais e
construções ficcionais (Jordi Buch, Monica Merva, José Bacelar, Mireille Loup); um tempo
que remete para o espiritual e a idolatria (Valter Vinagre, Georges Pacheco); um tempo
que apaga a identidade (Inês d’Orey). A exposição é pois uma viagem de sentimentos
de
vários artistas, sem condições ou restrições. Um fluir de representações que compõem
um panorama mais vasto da representação contemporânea de momentos e diferentes
estados de espírito.
Não vivemos se não acreditarmos.
Não vivemos se não vivermos.
São as mais simples e afectivas crenças. Somos nós.
Curadoria: Alexandra Sousa (Dear Sir. Agência de Fotografia de Autor) e Rui Prata
WHERE IS MY MIND [Juno]
O projeto WHERE IS MY MIND foi concebido especialmente para a XXIV edição do
Festival
Encontros da Imagem que colocou o mote na FÉ a na ESPERANÇA e foi uma homenagem
à relação da comunidade com esta temática. A proposta foi produzir narrativas visuais
sob as várias versões da Fé e da Esperança.
O projeto contou com um Concurso de Fotografia e uma projecção no âmbito desta
Edição.
A participação foi aberta a todos os fotógrafos, amadores e profissionais e tendo sido
recebidas imagens de todo o mundo.
Os uploads com a tag #eimymind de fotos no Instagram foram apresentadas
diariamente, de 14 de Março de 2014 a 1 de setembro no site do projeto, tendo o
Festival sido surpreendido com milhares de imagens e narrativas que contribuíram para
uma reflexão em torno das várias histórias de Fé e esperança. A missão foi cumprida:
Estimular uma percepção e/ou uma reflexão sobre o conceito da esperança no
imaginário da comunidade.
APPCDM BRAGA | Atenção Variável [Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva]
Autores: Eurico Prata, Manuel Luís, Pedro Oliveira Na procura do indizível, na distração
dos propósitos, podemos encontrar neste trabalho o reflexo do inadaptado e desatento
acto de dizer. “Porque viajo noutra direcção, ao sabor do devaneio dos meus
20 pensamentos, afasto-me e desvendo o não evidente deste propósito, estando lá tudo o
resto, menos aquilo a que me chamaste, pois viajo a cada instante. Como uma
confortante direcção, em que os meus olhos teimam em pousar…” A história da cidade
confunde-se muitas vezes com a história dos seus bispos, e mistura-se com a
arquitectura religiosa que emergiu desta cidade romana, acentuando assim as suas
características eminentemente religiosas. Pretende-se capturar em imagens a
materialização da fé/esperança, numa cidade que se define pelo catolicismo e que exibe
diversos símbolos, espaços e lugares, que transpiram a espiritualidade tal como é,
vestida por quem nasceu e cresceu nesta terra.
CONCEPÇÃO POR JOÃO ACCIAIUOLI CATALÃO | Fé na Vida
Há um gesto de resistência comovente que ainda sobrevive no comércio tradicional. A
preocupação e o esforço de ocupar o chão visível através das montras com produtos em
exposição, depois do encerramento das lojas. Olhar para este ritual diário como um acto
simbólico de persistência e fé face às ameaças da crise e da desumanização,
contribuindo assim para reforçar a visibilidade e a atractividade do comércio no centro
da cidade, é o propósito maior deste projecto artístico de sensibilização. A ideia é que
os estabelecimentos que queiram aderir a este ritual diário durante o período de
realização dos Encontros da Imagem 2014, que têm justamente a Fé e a Esperança como
mote, possam mostrar a quem passa a força que os anima e move. Através da escolha
de um conjunto de objectos e imagens, e da ressonância de memórias mais ou menos
intangíveis, a recriação poética deste ritual visa revelar o espírito com que as montanhas
se movem até nós. [JoãoCatalão, 2014]
YUSUF SEVINÇLI | Good Dog [Galeria da Boavista]
Usando intensas imagens a preto e branco e sob um olhar apolítico, Yusuf Sevinçli
fotografa cenas do cotidiano da cidade que o fascina, Istambul, a cidade à qual está
ligado de corpo e alma.
Cada fotografia que faz é um fragmento íntimo, muitas vezes quase nada, e no entanto
já é tudo. É um diário visual íntimo. Em cada canto dos becos sem saída em Beyoglu, o
bairro em que Sevinçli se move dia e noite, encontra-se nostalgia, mas a vivacidade
fotográfica das suas imagens lembra-nos que são muito atuais também.
Sevinçli fala-nos de amor, detém-se no encanto de um corpo, fixando o seu olharb sobre
um pedaço de pele que exala uma fragrância sensual.
A luz da inocência brilha nos rostos das crianças, lembrando o trabalho de Chaplin ou
dos irmãos Lumière.
Criancinhas com máscaras brincam em vias ou áreas abertas indefinidas, enquanto
meninas saltam das imagens como prodígios ou anjos eternos, conjuntos de desejo
infantil.
Os seus rostos atrevidos olham diretamente para o observador, como os de meninas,
cujas carinhas meigas se encostam tanto que se poderia pensar serem gémeas
siamesas.
Yusuf Sevinçli apanha as pessoas da noite, que vagueiam trazendo cor, complexidade e
fantasia à encruzilhada cultural que é Istambul, o desenho dos seus corpos em
contrastes de tons planos e volumes, como o homem com um líquido esbranquiçado a
escorrer-lhe pelas costas, como uma pintura.
Muitas vezes, também, captura um pequeno detalhe, como umas pernas bonitas em
collants estilo punk ou uma pálpebra aberta, apenas um fragmento ao qual dá depois
um destino visual diferente.
Formas surgem das sombras, cruzando riscos no negativo com raios de luz, criando
assim, prismas e iluminação.
PEDRO GUIMARÃES | How to Fly [Plataforma Revólver - Hotel]
‘How to Fly’ é um conjunto de imagens produzido para um manual de instruções de
vôo.
Fazendo referência a várias formas de levantar vôo, literais e metafóricas (quando não
em combinações simultâneas de ambas), trata-se de um manual que nunca chegou a ser
autorizado nas academias de vôo modernas. O motivo, diz-se entre dentes nas casas de
21 banho das academias de vôo e aeródromos deste país, é o suporte das leis da
sustentação aerodinâmica segundo teorias provenientes de lamacentos campos da
metafísica e até mesmo da fantasia juvenil. Em boa verdade, diga-se, seria talvez por
isso que este mesmo manual teria previsto vários capítulos dedicados ao estudo do
embate violento contra o solo, onde, entre outras vantagens, seriam abordadas práticas
terapêuticas capazes de aperfeiçoar a performance de vôo.
HELENA GONÇALVES | Espaço Ginjal [Galeria das Salgadeiras]
O Sublime, tal como o Belo, enquanto categoria estética, tem sido alvo de inúmeras
definições consoante os tempos e as circunstâncias. Para falar deste “Espaço Ginjal” de
Helena Gonçalves recupero uma delas, a do ensaio “Do Sublime” de Schiller, datado de
1973: “um objecto relativamente ao qual somos fisicamente frágeis enquanto que
moralmente nos elevamos para além dele através das ideias”. Este espaço, já em fase de
abandono, perante o qual sentimos o peso da impossibilidade do que foi e já não é,
surge aqui, através do olhar de Helena Gonçalves com uma nova existência, esta, sim,
eterna. Desde logo, porque esta é uma característica de qualquer objecto artístico, a sua
perenidade. Porém, mais que isso: ao fixar uma realidade num instante (nem sempre
decisivo), imortaliza--a na memória de quem a recebe. A partir destas fotografias,
apropriamo-nos dessa “história” e construímos outras estórias, conduzidos pela luz com
que Helena Gonçalves percorre o espaço, induzindo, assim, a passagem do tempo. De
forma autoral e assumidamente subjectiva, a luz congela ou arrasta fragmentos deste
espaço, aparentemente, encenado. Sucede que, embora “luz”, no seu sentido figurado,
seja sinónimo de “verdade”, aqui assume uma outra formalidade de onde resulta o
carácter sublime destas fotografias: vemos para além do visível, da dimensão do
“representável”. Aquilo que não é mostrado é tão, ou porventura até mais, importante do
que é iluminado. Talvez seja o momento de revelar, citando Samuel Beckett, em “À
Espera de Godot”, «Sometimes I feel it coming all the same. Then I go all queer.», que o
Espaço Ginjal existiu até meados de 2010 e foi palco de inúmeras manifestações
artísticas, nomeadamente no âmbito do Teatro e da Performance. Simbolicamente,
“Espaço Ginjal” fala deste espaço e de muitos outros que deixaram de existir por
exigências de outra natureza, acabando assim, e cada vez mais, com lugares de
criatividade para artistas e encontros com os públicos. Não, não queremos ficar à espera
de Godot, perante essa estranheza do não-significado que, por vezes, mais que as
desejadas, a condição humana encerra. Do absurdo só queríamos o Teatro, não a Vida.
MEL O’CALLAGHAN | Time to act | performance [Casa Museu Medeiros de
Almeida]
'Time to Act' é um acto em duas partes. Na noite de inauguração um grupo de
performers vestidos de propósito para este efeito, habita e interage – sem vigilância –
com a colecção do museu. A performance é capturada em live feed pelas câmaras CCTV
do museu e projectada em grande formato no espaço da galeria de exposições
temporárias onde a audiência poderá seguir o evento. As gravações da performance das
câmaras CCTV e as reacções do público na noite de inauguração serão projectadas no
espaço da galeria durante o tempo todo da exposição. A performance e o visionamento
em tempo real relembram uma forma encenada de sublimação através da qual o impulso
inaceitável de tocar o intocável é transformado numa acção socialmente aceite. Os
performers, ao habitar e usar o museu e a sua colecção foram ʻautorizadosʼ
deliteralmente re-activar o que até ao momento não era permitido. Ao mesmo tempo, a
audiência, ao seguir as imagens das CCTV, é ʻautorizadaʼ de aceder o museu através do
meio transmitido no live feed. O efeito que resulta de 'Time to Act' poderá,
potencialmente, ter a longo prazo o seguinte resultado: converter o impulso em
comportamento aceitável.
MÁRIO MACILAU | Moments of Transition [Galeria Belo-Galsterer]
A maioria dos Moçambicanos gosta de misturar roupas de estilos mais actuais com
estilos mais tradicionais, para aparaltar-se com conjuntos de roupa adaptada,
‘customized’ como se diz em inglês, para as saídas de domingo. Olhando para o
22 passado do periodo pós-25 de Abril, podemos observar a influência das gerações mais
novas que
foram estudar para a Europa e voltaram ao seu país com novos conceitos em termos de
moda e de corpo. Foram também aparecendo grandes quantidades de roupas usadas,
enviadas pelos E.U.A. e países europeus, nos mercados informais, que chamaram a
atenção de muita gente. Actualmente, o gosto dos Moçambicanos pela moda está a
mudar e a mistura de roupas mais contemporâneas por um lado, e acessórios como o
Capulana, um dos ítens primários do guardaroupa africano, pelo outro lado, parecem
ser a solução perfeita para um passeio domingueiro… Em “Moments of Transition” - um
projecto em continuidade – Mário Macilau foca-se em assuntos como identidade e
cultura, e apresenta um trabalho-homenagem, em continuação de e inspirado pela obra
de artistas como Malick Sidibé, Seydou Keïta e outros.
MARCELO COSTA | Blues [Galeria Belo-Galsterer]
O artista português Marcelo Costa (Pt, 1978) mais do que questionar o papel e a
presença do artista no seu trabalho mais recente, tem vindo a aproximar e confrontar,
de uma forma radicalmente simples, questões fundamentais do gesto artístico: o valor e
o poder de uma imagem, o gesto como forma e a forma como conteúdo, ou ainda, a
série e o único. Neste projecto, o artista apresenta uma série de cianotipias – o seu
trabalho mais recente. Aqui o “índice” é expandido, mantendo-se o foco no
efeito/presença e na cor (neste caso o azul) como principais protagonistas de uma
“novela por escrever”, ou que só assim se pode “escrever”, na forma de um “índice”.
Cianotipia: Processo fotográfico inventado em 1842, em que se usam sais de ferro em
vez dos habituais sais de prata. A principal característica desta técnica é a produção de
uma imagem monocromática em gradações de azul ciano.
LEITURA CRITICA DE PORTFOLIOS | International Photography Award
EMERGENTES dst 2014 [Casa dos Coimbras]
A criação do Prémio de Fotografia EMERGENTES DST representou o nascimento de um
prémio de prestigio no âmbito nacional e internacional e tem marcado uma aposta
partilhada entre a DST e os Encontros da Imagem. Este ano celebra-se a 5.ª Edição do
Prémio, símbolo de um percurso ímpar traçado pela Empresa Domingos da Silva Teixeira
e a associação cultural Encontros da Imagem.
O Prémio é uma iniciativa da empresa Domingos da Silva Teixeira, organizada pelos
Encontros da Imagem e visa premiar o melhor portfolio de Fotografia Contemporânea
2014, sendo atribuído através da Leitura Crítica de Portfolios que oferece aos fotógrafos
a oportunidade de apresentarem o seu trabalho a comissários, galeristas e editores
especializados, constituindo um meio preferencial de promover a sua obra. É de
assinalar o variadíssimo leque de críticos, oriundos de vários quadrantes e territórios da
Fotografia.
Fundado nos anos 40, em Braga, o Grupo Domingos da Silva Teixeira (DST) nasceu da
construção civil, mas é hoje também um player de referência nos sectores nacionais das
águas e resíduos, energias renováveis, telecomunicações e inovação tecnológica. A
fotografia surge através do Prémio de Fotografia Emergentes dst, um novo território
cultural para a dst, cujo percurso os Encontros da Imagem pretendem partilhar.
Os Encontros da Imagem congratulam-se por promover à organização do Prémio de
Fotografia Emergentes DST, desenvolvendo a leitura crítica de portfolios, orientados por
especialistas nacionais e estrangeiros que têm contribuído para formar e informar um
público crescente da pluralidade de práticas que, no seu seio, a fotografia
contemporânea admite. Através deste evento pretende-se fomentar a produção e a
divulgação da fotografia nacional e internacional.
JOÃO MARTINHO MOURA | Peça interativa de luz e som [Igreja de Santa
Cruz]
Os Encontros da Imagem convidam João Martinho Moura para a apresentação de uma
peça audio-visual, que acontecerá no interior da Igreja de Santa Cruz, edificada no
século XVII em Braga, sob a temática Hope and Faith . Será uma instalação de luz e som,
23 visualmente enquadrada com a arquitectura interior da Igreja, e contextualmente
enquadrada na temática da edição 2014 d’Os Encontros da Imagem. A apresentação da
obra acontecerá na Quinta-feira, dia 18 de Setembro, às 21:30, e estará activa durante
essa noite.
PHOTO BOOK MARKET [Arquivo Janes]
O Festival Encontros da Imagem organiza uma feira de livros de fotografia de autor, que
pretende homenagear a fotografia e promover as publicações de autores emergentes.
Desde sempre o livro de fotografia foi um importante objeto associado ao meio
fotográfico, tanto como um meio de divulgação como de impressão. Dado o crescente
interesse do público por foto-livros e o reconhecimento do seu valor no mercado
internacional, considerou-se importante fortalecer e criar ligações entre fotógrafos,
editores, livrarias, galerias e livrarias.
Os Encontros da Imagem pretendem espalhar esta forma de edição fotográfica, abrindo
o interesse do público para este mercado e criando uma plataforma para o diálogo sobre
este meio específico do livro de fotografia, no seu cruzamento com áreas como design,
artes plásticas, cinema ou a edição em geral.
Esta será uma oportunidade para os interessados em fotografia, livros, edições e revistas
(re) descobrir e adquirir alguns exemplares raros e originais.
Através de uma open call dirigida a autores de todo o mundo foram acolhidas edições
originais de autor, livros recentemente publicados e edições limitadas.
Os melhores foto-livros foram selecionados para integrar a exposição em Braga, sendo
deles feito destaque no website dos Encontros da Imagem
WORKSHOP DE FOTOGRAFIA “Da Ideia ao Projeto” [Orientação: VIRGILIO
FERREIRA] [Arquivo Janes]
“Da Ideia ao Projeto” [Orientação: VIRGILIO FERREIRA]
Inscrições: [email protected]
Pontos-Chave: Durante esta formação intensiva de três fins de semana,os participantes
irão realizar um projecto individual, que terá como objectivo a produção de um portfolio
até ao final do workshop. Durante o curso os participantes terão orientações teóricas,
técnicas e criativas, haverá discussão e análise do trabalho realizado.
Objectivos: Introdução de algumas estratégias e técnicas usadas nas diversas áreas
temáticas da fotografia - documental e artística. Explorar paisagens culturais, sociais ou
emocionais, criar histórias sobre lugares ou pessoas: desenvolver novas competências
em termos de linguagem visual, técnica e conceptual associadas à produção fotográfica
contemporânea.
Destinatários:preferencialmente estudantes e profissionais de fotografia ou de outras
áreas artísticas, professores e publico em geral interessado em fotografia.Os
participantes deverão ter mais de 18 anos.
Estudantes: 20€
Publico Geral: 45€
Número máximo de alunos: 12
RITUAL [Espaço Mira]
Os rituais como acontecimentos radicais, que transportam, que marcam a
passagem de uma forma de ser a outra, abrem novas realidades. Através desta
abertura propomos neste projeto pensar a performatividade no espaço
expositivo, a partir dos seus múltiplos desdobramentos em acção, fotografia e
video.
Os rituais tradicionais deram lugar a rituais contemporâneos que têm o
potencial de se constituírem enquanto forma privilegiada para uma linguagem
transversal, independente de pertenças religiosas, nacionais, sociais ou de
género. O modo como criamos a nossa memória cultural colectiva por meio de
objectos e rituais permite-nos pensar nas propostas artísticas como dispositivos
de memória. A memória social e cultural é transferida por meio de cerimónias
comemorativas contendo práticas corpóreas, que se constituem enquanto forma
24 predominante para o modo como as memórias são invocadas e celebradas. O
programa do projecto Ritual propõe pensar a relação entre a performatividade, a
memória, a criação de si e a inscrição de mundos.
As atividades desdobram-se entre o Espaço MIRA, no Porto, e os Encontros da
Imagem em Braga, cruzando temporalmente eventos nestes locais.
O projecto inicia no Porto, com uma Mostra de Documentação e uma Mesa
Redonda com artistas e curadores em torno das questões da performance e da sua
inscrição.
No momento inaugural dos Encontros da Imagem em Braga realiza-se uma
Mostra de Performance, integrada no circuito inaugural, com performances de Susana
Chiocca, Vera Mota e Flávio Rodrigues.
A derradeira actividade do projecto decorre entre Porto e Braga, com uma
Peregrinação de comboio com o grupo EyeEm de fotografia Mobile, para assistir em
Braga a uma nova Mostra de Performance, com trabalhos de Silvestre Pestana,
Albuquerque Mendes, Pedro Tudela, Né Barros, Joana Von Mayer Trindade e Hugo de
Almeida Pinho.
RITUAL procura criar condições para o pensamento crítico, numa comunidade de
ação envolvendo todos os seus participantes. Procura ainda dar continuidade ao diálogo
entre artistas emergentes e consolidados, colocando-os em permanente diálogo e
reflexão com o seu público. [Patrícia do Vale]
WORKSHOP LOMOGRAFIA
Datas: 2 e 3 de Outubro, Guimarães.
Destinatários: Alunos da Universidade do Minho e outros, no âmbito do Festival de
Outono.
Introdução ao universo da Lomografia e da produção de imagens analógicas em
médio formato ou 35mm; Apresentação das câmaras lomográficas, suas características,
potencialidades, dicas e truques; Safari fotográfico pela cidade, com uma das diferentes
câmaras à escolha, pondo em prática a formação que foi dada.
Um Workshop Lomográfico é uma oportunidade única para desenvolver capacidades
individuais e colectivas. Para além dos conhecimentos técnicos que são adquiridos com
grande facilidade e que permitem compreender muitos dos princípios que estão na base
da fotografia analógica e até digital, esta experiência de formação promove a
criatividade, um novo olhar sobre as coisas e o espírito de grupo, de amigos ou colegas
de trabalho.
Produção e montagem de uma exposição resultante do workshop de fotografia, a
partir do dia 3 até ao dia 31 de Outubro.
25 Encontros da Imagem
Edifício da Estação
Largo da Estação, salas 5 e 6
4700-223 Maximinos Braga253278633
www.encontrosdaimagem.com
www.facebook.com/eimagem
[email protected]
Direcção
Ângela Mendes Ferreira
Assistente de Produção
Ana Maia
[email protected]
Assistente de Comunicação
Sofia Soares
933511585
[email protected]
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