Veja o texto em PDF

Transcrição

Veja o texto em PDF
A actual crise no Cáucaso está intimamente relacionada com o controlo
estratégicodos pipelines de energia e dos respectivos corredores de transporte.
Há provas de que o ataque georgiano à Ossétia do Sul, em 7 de Agosto, foi
cuidadosamente planeado. Nos meses que antecederam os ataques foram
efectuadas consultas de alto nível com responsáveis dos EUA e da NATO .
Os ataques à Ossétia do Sul foram desencadeados uma semana depois de
terminados os extensos jogos de guerra EUA-Geórgia (14-31/Julho/2008).
Foram também antecedidos de reuniões de alto nível ao abrigo do GUAM, uma
aliança militar regional patrocinada pelos EUA-NATO.
Cronograma da guerra na Géorgia
•
•
•
•
•
•
•
1-2/Julho/2008 – Cimeira do GUAM em Batumi, Geórgia.
1/Julho – "Cimeira EUA-GUAM" em paralelo com o encontro oficial do
GUAM
5-12/Julho – O ministério russo da Defesa efectua Jogos de Guerra na
região do Cáucaso Norte sob o nome de código "Fronteira Cáucaso
2008"
9/Julho – A China e o Casaquistão anunciam o início da construção do
pipeline de gás natural Casaquistão-China (PCC)
15-31/Julho – Os EUA e a Geórgia efectuam Jogos de Guerra sob o
nome de código Operação "Resposta Imediata". Participam neste
exercício militar mil soldados norte-americanos
7/Agosto – Forças terrestres e aéreas georgianas atacam a Ossétia do
Sul
8/Agosto – Forças russas intervêm na Ossétia do Sul
14/Agosto – Assinatura do Acordo EUA-Polónia sobre o estacionamento
de"Mísseis Interceptores Americanos" em território polaco.
Introdução:
A
cimeira
do
GUAM
No início de Julho de 2008 foi efectuada uma cimeira regional na cidade
georgiana
de
Batumi
sob
os
auspícios
do
GUAM.
O GUAM é um acordo militar entre a Geórgia, a Ucrânia, o Azerbaijão e a
Moldávia, instituído em 1997. Desde 2006, na sequência da retirada do
Uzbequistão, o GUAM foi rebaptizado: Organização para a Democracia e
Desenvolvimento Económico – GUAM (Geórgia, Ucrânia, Azerbaijão e
Moldávia).
O GUAM tem pouco a ver com "Democracia e Desenvolvimento Económico". É
na verdade um apêndice da NATO. Tem sido usado pelos EUA e pela Aliança
Atlântica para alargar as suas zonas de influência até ao centro da antiga
União
Soviética.
O objectivo principal do GUAM enquanto aliança militar é "proteger" os
corredores energéticos e de transporte, em prol dos gigantes petrolíferos angloamericanos. Os países do GUAM também recebem ajuda e treino militar dos
EUA-NATO.
A militarização destes corredores é uma característica central do planeamento
dos EUA-NATO. A entrada da Geórgia e da Ucrânia na NATO faz parte da
agenda de controlo dos corredores energéticos e de transporte desde a bacia
do
Mar
Cáspio
até
à
Europa
Ocidental.
As reuniões de 1 e 2 de Julho de 2008 da Cimeira do GUAM em Batumi, sob a
presidência do presidente Saakashvili, focaram a questão central dos pipelines
e corredores de transporte. O tema da Cimeira era "GUAM – Integrando o
Leste da Europa", de um ponto de vista económico e estratégico-militar, tendo
em
vista
essencialmente
isolar
a
Rússia.
Estiveram presentes os presidentes do Azerbaijão, Geórgia e Ucrânia (Ilham
Aliyev, Mikheil Saakashvili e Viktor Yushchenko, respectivamente ), assim
como os presidentes da Polónia, Lech Kaczynski, e da Lituânia, Valdas
Adamkus. O chefe do Estado de Moldova recusou-se categoricamente a
comparecer
a
esta
cimeira.
Enfraquecer
a
Rússia
A agenda da Cimeira do GUAM centrou-se no objectivo de enfraquecer a
influência de Moscovo no Cáucaso e na Europa de Leste. Esteve presente o
presidente
polaco.
As instalações dos EUA-NATO na Europa de Leste, incluindo o Escudo AntiMísseis (Missile Defense Shield) estão directamente relacionadas com a
evolução da situação geopolítica no Cáucaso. Cerca de uma semana após as
forças georgianas terem bombardeado a Ossétia do Sul, os EUA e a Polónia
assinaram um acordo (14 de Agosto) que permite à Força Aérea americana
instalar "mísseis interceptores" americanos em solo polaco:
"... Conforme estrategas militares assinalaram, os mísseis americanos na
Polónia constituem uma ameaça directa à existência da nação russa. O
governo russo chamou repetidas vezes a atenção para este facto desde que
foram revelados pela primeira vez no início de 2007 os planos americanos.
Agora, apesar das diversas tentativas diplomáticas feitas pela Rússia para
chegar a um entendimento com Washington, a Administração Bush, na
sequência de uma derrota humilhante dos EUA na Geórgia, pressionou o
governo da Polónia para finalmente assinar o pacto. As consequências
poderão ser inimagináveis para a Europa e para o planeta". (William Engdahl,
Missile Defense: Washington and Poland just moved the World closer to War ,
Global Research, August 15, 2008).
A
"Cimeira
EUA-GUAM"
Pouco acompanhada pelos meios de
comunicação, também se realizou em
1 de Julho a chamada "Cimeira EUAGUAM" em simultâneo com o
encontro da cimeira oficial do GUAM.
O subsecretário de Estado assistente
dos EUA, David Merkel, reuniu à
porta fechada com delegações GUAM e não GUAM . Realizaram-se várias
reuniões bilaterais incluindo um encontro GUAM polaco (durante o qual foi
muito provavelmente discutida a questão do escudo americano anti-mísseis em
território polaco). Também se realizaram encontros privados em 1 e 2 de Julho
na residência do presidente georgiano.
Jogos
de
guerra
EUA-Geórgia
Menos de duas semanas após a Cimeira do GUAM de 1 e 2 de Julho de 2008,
iniciaram-se exercícios militares EUA-Geórgia na base militar Vaziani, nos
arredores de Tíflis. Mil soldados americanos e seiscentos georgianos iniciaram
exercícios
de treino
militar na
Operação
"Respost
a
Imediata".
As tropas
american
as
incluíam
a
participaç
ão
american
a
da
Força Aérea, do Exército, dos Fuzileiros e da Guarda Nacional. Embora tivesse
sido encarado um cenário de guerra iraquiano, os exercícios militares foram um
ensaio geral para uma iminente operação militar . Os jogos de guerra
terminaram em 31 de Julho, uma semana antes do início dos ataques
georgianos
de
7
de
Agosto
à
Ossétia
do
Sul.
Também participaram na Operação "Resposta Imediata" tropas da Ucrânia e
do Azerbaijão, que são membros do GUAM. Surpreendentemente, a Arménia,
que é aliada da Rússia e firme opositora do Azerbaijão, também tomou parte
nestes jogos, que serviram também para criar uma atmosfera de "treino e
cooperação" entre as forças do Azerbaijão e da Arménia (dirigida
fundamentalmente
contra
a
Rússia).
O general brigadeiro William B. Garrett, comandante da Task Force da Europa
do Sul das forças armadas americanas, foi o responsável pela coordenaçao
dos
jogos
de
guerra
EUA-Georgia.
Jogos
de
guerra
da
Rússia
no
Cáucaso
Norte
Em 5 de Julho a Rússia iniciou exercícios militares de grande escala
envolvendo cerca de oito mil efectivos militares, umas 700 unidades blindadas
e mais de 30 aviões, nas repúblicas do norte do Cáucaso da Federação Russa
(
Georgian
Times,
28/Julho/2008).
Os jogos de guerra russos foram efectuados explicitamente em resposta à
evolução da situação de segurança na Abhkazia e na Ossétia do Sul. O
exercício, baptizado de "Fronteira do Cáucaso 2008", envolveu unidades do 58º
Exército e do 4º Exército da Força Aérea, posicionadas no Distrito Militar do
Cáucaso
Norte.
Um porta-voz do Ministério da Defesa russo admitiu que os exercícios militares
realizados no Distrito Federal Sul estavam a ser efectuados em resposta a
"uma escalada de tensão nas
zonas de conflito GeórgiaAbkhazia e Geórgia-Ossétia,...
[e] que o Distrito Militar do
Cáucaso Norte da Rússia
estava
apto
a
prestar
assistência aos negociadores da
paz russos na Abkhazia e na
Ossétia do Sul, se necessário". (
Georgian Times, 28/Julho/2008,
RIA-Novosti, 5/Julho/2008 ).
Estas unidades do Distrito Militar
do Cáucaso Norte (Exército e
Força
Aérea)
foram
posteriormente utilizadas para
liderar o contra-ataque russo
dirigido
contra
as
forças
georgianas
Geopolítica
na
Ossétia
do
Sul
dos
em
8
de
Agosto.
pipelines
Uma questão central do GUAM-NATO em cima da mesa na Cimeira GUAM de
Julho em Batumi, foi o traçado do pipeline Odessa-Brody-Plotsk (OBP)
(Plock sobre o Vistula) (ver mapa), que transporta o petróleo da Ásia.
Central através de Odessa, para o norte da Europa, sem passar por território
russo. Também foi encarada uma extensão do OBP para o porto polaco de
Gdansk
no
mar
Báltico.
De notar que o OBP também está ligado ao Pipeline Druzhba (pipeline da
Amizade) da Rússia, num
acordo estabelecido com a
Rússia.
O
objectivo
final de
Washington é enfraquecer
e desestabilizar a rede de
pipelines da Rússia –
incluindo
o
Pipeline
Druzhba e o Sistema de
Pipelines
do
Báltico
(SPB) – e as suas diversas
ligações de corredores
para o mercado energético
da
Europa
ocidental.
De notar que a Rússia
instituiu, integrando a rede de pipelines do Druzhba, um corredor de pipelines
que atravessa a Bielorússia, evitando assim passar pela Ucrânia (ver mapas).
O Sistema de Pipelines do Báltico (SPB), utilizado também pela Transneft da
Rússia, liga Samara ao terminal de petroleiros da Rússia em Primorsk no Golfo
da Finlândia (Ver mapa). Transporta petróleo bruto da região siberiana
ocidental da Rússia para os mercados da Europa do norte e Europa ocidental.
Outro sistema estratégico de pipelines amplamente controlado pela Rússia, é o
Consórcio de Pipelines do Cáspio (CPC), que é um consórcio entre a Rússia
e o Casaquistão, com participação accionista de uma série de companhias
petrolíferas
do
Médio
Oriente.
O Sistema de Pipelines do Báltico está ligado ao pipeline Atyrau-Samara (AS),
que é um consórcio entre a Transneft da Rússia e a operadora nacional de
pipelines do Casaquistão, a KazTransOil. O pipeline AS por sua vez está ligado
ao Consórcio de Petróleo do Cáspio (CPC), que transporta o crude de Tengiz a
partir de Artyrau (Casaquistão ocidental) até ao terminal de petroleiros do CPC
perto
de
Novorossiysk
no
Mar
Negro.
Em 10 de Julho de 2008, menos de uma semana após a Cimeira do GUAM, a
Transneft e a KazTransOil anunciaram que estavam em negociações para
aumentar a capacidade do pipeline Atyrau-Samara de 16 para 26 milhões de
toneladas de petróleo por ano. ( RBC Daily, 10/Julho/2008 ).
O
corredor
de
transporte
do
GUAM
Os governos do GUAM representados na Cimeira de Batumi aprovaram
também o ulterior desenvolvimento do Corredor de Transporte do GUAM
(CTG), que complementa o controverso pipeline Baku-Tíflis-Ceyhan (BTC).
Este último liga a bacia do Mar Cáspio ao Mediterrâneo oriental, através da
Geórgia e da Turquia, sem passar portanto por território russo. O pipeline BTC
é controlado por um consórcio petrolífero liderado pela BP (British Petroleum).
Tanto o corredor CTG como o BTC estão protegidos militarmente pelo GUAM e
pela
NATO.
O corredor CTG deverá ligar Baku, a capital do Azerbeijão no mar Cáspio, aos
portos georgianos de Poti/Batumi no Mar Negro, que por sua vez se ligarão ao
porto ucraniano de Odessa no Mar Negro. (E a partir de Odessa, por via
marítima
e
terrestre,
à
Europa
ocidental
e
do
norte).
O pipeline Baku-Tíflis-Ceyhan (BTC)
O pipeline BTC
controlado pela
BP
British
Petroleum
e
inaugurado em
2006 no auge da
guerra
do
Líbano, alterou
dramaticamente
a geopolítica do
Mediterrâneo
oriental,
que
está
agora
ligado, através
de um corredor
energético,
à
bacia do mar
Cáspio:
"[O pipeline BTC] altera consideravelmente a situação dos países da região e
consolida uma nova aliança pró-ocidente. Ao estender o pipeline até ao
Mediterrâneo, Washington instituiu na prática um novo bloco com o Azerbaijão,
a Geórgia, a Turquia e Israel", ( Komerzant, Moscovo, 14/Julho/2006).
Geopolítica
dos
pipelines
e
o
papel
de
Israel
Israel faz agora parte do eixo
militar anglo-americano, que serve
os
interesses
dos
gigantes
petrolíferos ocidentais no Médio
Oriente e na Ásia Central. Não é
de estranhar que Israel tenha
acordos de cooperação militar com
a Geórgia e o Azerbaijão.
Embora os relatórios oficiais
afirmem que o pipeline BTC irá
"canalizar
petróleo
para
os
mercados ocidentais", o que
raramente se diz é que parte do
petróleo do mar Cáspio será canalizado directamente para Israel. Neste
contexto, está previsto um pipeline submarino Israel-Turquia que ligará Ceyhan
ao porto israelense de Ashkelon e daí, através do sistema principal de pipelines
de
Israel,
ao
Mar
Vermelho.
O objectivo de Israel não é apenas adquirir o petróleo do mar Cáspio para seu
próprio consumo mas também desempenhar um papel chave na reexportação
do petróleo do mar Cáspio para os mercados asiáticos através de Eilat, um
porto no mar Cáspio. As implicações estratégicas deste reencaminhamento do
petróleo
do
mar
Cáspio
são
de
grande
alcance.
O que se pretende é ligar o pipeline BTC ao pipeline Trans-Israel EilatAshkelon , também conhecido como Tipline de Israel, desde Ceyhan até ao
porto israelense de Ashkelon. (Para mais pormenores, ver The War on
Lebanon and the Battle for Oil de Michel Chossudovsky , Global Research,
26/Julho/2006).
A Estratégia da Rota da Seda da América: O sistema de segurança transEuroasiático
A Estratégia da Rota da Seda (ERS) constitui um bloco estrutural essencial da
política
externa
dos
EUA
na
era
pós-Guerra
Fria.
A ERS foi formulada como uma proposta de lei apresentada ao Congresso dos
EUA em 1999. Previa a criação de uma rede de corredores energéticos e de
transporte ligando a Europa Ocidental à Ásia Central e posteriormente ao
Extremo
Oriente.
A Estratégia da Rota da Seda define-se como um "sistema de segurança transeuroasiático". A ERS prevê a "militarização do corredor euroasiático" como
parte integrante do "Grande Jogo". O objectivo declarado, conforme formulado
na proposta de Lei da Estratégia da Rota da Seda, de Março de 1999, é
desenvolver o império empresarial da América ao longo de um extenso
corredor
geográfico.
Embora a legislação da ERS 1999 (HR 3196) tenha sido aprovada pela
Câmara dos Representantes, nunca chegou a ser lei. Com a administração
Bush, a Estratégia da Rota de Seda tornou-se na base de facto do
intervencionisno EUA-NATO, em grande medida com a intenção de integrar na
esfera de influência dos EUA as antigas repúblicas soviéticas do sul do
Cáucaso
e
da
Ásia
Central.
A implementação bem sucedida da ERS exigia a "militarização" concorrente de
todo o corredor euroasiático desde o Mediterrâneo oriental até à fronteira
ocidental da China com o Afganistão, como meio de garantir o controlo sobre
as enormes reservas de petróleo e gás, assim como de "proteger" as rotas de
pipelines e os corredores comerciais. A invasão do Afeganistão em Outubro de
2001 apoiou os objectivos americanos na Ásia Central, incluindo o controlo dos
corredores de pipelines desde a fronteira do Afeganistão até à fronteira
ocidental chinesa. É ainda uma ponte terrestre estratégica ligando a enorme
riqueza petrolífera da bacia do Mar Cáspio ao Mar Arábico.
O processo de militarização previsto pela ERS é dirigido principalmente contra
a China, a Rússia e o Irão. A ERS propunha:
"O desenvolvimento de fortes ligações políticas, económicas e de segurança
entre países do Caucáso do Sul, da Ásia central e do ocidente [que] poderão
assegurar a estabilidade nesta região, que é vulnerável a pressões políticas e
económicas do sul, do norte e do leste [referindo-se à Rússia a norte, ao
Iraque, ao Irão e ao Médio Oriente a sul, e à China a leste] ( 106th Congress,
Silk Road Strategy Act of 1999 ).
A adopção duma agenda política neoliberal a conselho do FMI e do Banco
Mundial é parte integrante da ERS, que pretende patrocinar "economias de
mercado livre... [que] constituirão incentivos positivos para o investimento
privado internacional, para o desenvolvimento do comércio e para outras
formas
de
interacções
comerciais
(ibid).
O acesso estratégico ao petróleo e gás do Cáucaso do Sul e da Ásia Central é
uma característica central da Estratégia da Rota da Seda:
"A região do Cáucaso do Sul e da Ásia Central poderá produzir petróleo e gás
em quantidade suficiente para reduzir a dependência energética dos Estados
Unidos da instável região do Golfo Pérsico". (ibid)
A ERS também se destina a impedir que as antigas repúblicas soviéticas
reforcem as suas ligações de cooperação económica, política e militar assim
como a sua ligação à China, à Rússia e ao Irão. (Ver America's "War on
Terrorism" , de Michel Chossudovsky, Global Research, Montreal, 2005).
Neste contexto, a formação do GUAM, que foi fundado em 1997, destinou-se a
integrar as antigas repúblicas soviéticas em acordos de cooperação militar com
os EUA e a NATO, que as impedissem de restabelecer as suas ligações com a
Federação
Russa.
Segundo a Lei da ERS de 1999, a expressão "países do Cáucaso do Sul e da
Ásia Central" significa a Arménia, o Azerbaijão, a Geórgia, o Casaquistão, o
Quirguistão, o Tadjiquistão, o Turquemenistão, e o Uzbequistão. (106º
Congresso, Lei da Estratégia da Rota da Seda de 1999).
A estratégia dos EUA, neste aspecto, teve apenas um sucesso parcial. Embora
a Ucrânia, o Azerbaijão e a Geórgia se tenham tornado verdadeiros
protectorados dos EUA, o Quirguistão, o Casaquistão, o Tadjiquistão, a
Arménia e a Bielorússia estão, do ponto de vista geopolítico, alinhados com
Moscovo.
Esta enorme rede euroasiática de corredores energéticos e de transporte tem
sido definida por Washington como parte duma esfera de influência americana:
"Na região Mar Cáspio-Mar Negro, a União Europeia e os Estados Unidos
esforçaram-se por estabelecer uma cadeia logística segura para ligar a Ásia
Central à União Europeia através do Cáucaso Central e da Turquia/Ucrânia. As
rotas formam a peça central dos projectos INOGATE (um sistema de
comunicação integrado ao longo das rotas que transportam hidrocarbonetos
para a Europa) e TRACECA (o corredor multi-canal Europa-Cáucaso-Ásia).
As rotas de transporte e comunicação TRACECA desenvolveram-se a partir da
ideia da Grande Rota da Seda (o tradicional canal de comunicação euroasiático
da antiguidade). Incluía os portos georgianos e turcos do Mar Negro (Poti,
Batumi e Ceyhan), as vias férreas da Geórgia e do Azerbaijão, o pipeline BakuTbilisi-Ceyhan, os transportes marítimos que ligam o Turquemenistão e o
Casaquistão com o Azerbaijão pelo Mar/Lago Cáspio (Turkmenbashi-Baku;
Aktau-Baku), caminhos de ferro e autoestradas actualmente em construção no
Turquemenistão, Uzbequistão, Quirguistão, Casaquistão e China, assim como
terminais chineses no Pacífico como partes estratégica e sistemicamente
importantes do mega-corredor". (Ver GUAM and the Trans-Caspian Gas
Transportation Corridor: Is it about Politics or Economics? ).
O
gasoduto
Casaquistão-China
(PCC)
Poucos dias depois da Cimeira do GUAM em Batumi, a China e o Casaquistão
anunciaram (9/Julho/2008) o início das obras de construção de um pipeline de
gás natural de 1300 km. A cerimónia inaugural realizou-se perto de Almaty,
capital
do
Casaquistão.
Prevê-se que o pipeline que vai ser construído em várias fases comece a
transportar gás em 2010. (Ver silkroadintelligencer.com , 9/Julho/2008).
"A nova rota de trânsito faz parte de um projecto mais vasto para construir dois
pipelines paralelos ligando a China às enormes reservas de gás natural da Ásia
Central. As tubagens percorrerão mais de 7000 quilómetros desde o
Turquemenistão, através do Uzbequistão e do Casaquistão, e entrarão pela
região de Xinjiang, a noroeste da China. O Uzbequistão iniciou este mês a
construção da sua parte enquanto o Turquemenistão iniciou o seu segmento no
ano
passado".
(ibid)
A National Petroleum Corporation da China (CNPC) que é a principal
operadora do consórcio, "assinou acordos com firmas estatais de petróleo e de
gás do Turquemenistão, Uzbequistão e Casaquistão, dando-lhes uma parte de
50 por cento nos seus respectivos pipelines". O projecto do pipeline PCC
contraria a lógica da Estratégia da Rota de Seda da América. Faz parte duma
estratégia energética e de transporte baseada numa Euroásia concorrente,
dominada
fortemente
pela
Rússia,
pelo
Irão
e
pela
China.
A estratégia euroasiática concorrente protegida pela aliança militar SCOCSTO
Os corredores baseados na Euroásia concorrente estão protegidos (contra o
avanço dos EUA-NATO) por duas alianças militares regionais: a Shanghai
Cooperation Organization (SCO) e a Collective Security Treaty Organization
(CSTO)
.
A SCO é uma aliança militar entre a Rússia e a China e diversas antigas
repúblicas soviéticas da Ásia Central, incluindo o Casaquistão, o Quirguistão, o
Tadjiquistão e o Uzbequistão. O Irão tem um estatuto de observador na SCO.
A Organização do Tratado de Segurança Colectiva (CSTO), que desempenha
um papel geopolítico fundamental em relação aos corredores energéticos e de
transporte, funciona em estreita ligação com a SCO. A CSTO agrupa os
seguintes estados membros: a Arménia, a Bielorússia, o Casaquistão, o
Quirguistão,
a
Rússia,
o
Tadjiquistão
e
o
Uzbequistão.
A partir de 2006, os países membros da SCO e da CSTO efectuaram
significativos jogos de guerra conjuntos e estão a colaborar activamente com o
Irão.
Em Outubro de 2007, a Organização do Tratado de Segurança Colectiva
(CSTO) e a Organização de Cooperação de Xangai (OCX) assinaram um
Memorando de Entendimento, estabelecendo as bases para cooperação militar
entre as duas organizações. Este acordo SCO-CSTO, pouco referido nos
meios de comunicação ocidentais, envolve a criação de uma forte aliança
militar entre a China, a Rússia e os estados membros da SCO/CSTO. De notar
que a CSTO e a SCO efectuaram exercícios militares conjuntos em 2006, que
coincidiram com os realizados pelo Irão. (Para mais pormenores ver Russia
and Central Asian Allies Conduct War Games in Response to US Threats , de
Michel
Chossudovsky,
Global
Research,
Agosto,
2006).
Embora se mantenham distintas do ponto de vista organizativo, na prática
estas duas alianças militares regionais (OCX e OTSC) constituem um único
bloco militar, enfrentando o expansionismo dos EUA-NATO na Ásia Central e
no
Cáucaso.
Círculo
fechado
Os corredores energéticos e de transporte euroasiáticos da ERS, protegidos
pelos EUA-NATO, pretendem ligar a Ásia Central ao Extremo Oriente, tal como
delineado pela Estratégia da Rota da Seda. Actualmente, os corredores para
leste que ligam a Ásia Central à China estão protegidos militarmente pela OCXOTSC.
Nos termos da agenda global militar e estratégica de Washington, os
corredores euroasiáticos contemplados pela ERS irão inevitavelmente atropelar
a soberania territorial da China. Pretende-se que os propostos corredores de
tubagens e de transporte EUA-NATO-GUAM se liguem, futuramente, aos
propostos corredores energéticos e de transporte no hemisfério ocidental,
incluindo os previstos na Parceria de Prosperidade e Segurança norteamericana
(PPS).
A Parceria de Prosperidade e Segurança (PPS) é para a América do Norte o
que a Estratégia da Rota da Seda (ERS) é para o Cáucaso e para a Ásia
Central. São componentes regionais estratégicos do império empresarial da
América. São os blocos estruturais da Nova Ordem Mundial.
A PPS é o resultado de um processo semelhante de planeamento estratégico,
de militarização e de integração económica de mercado livre, baseada em
grande parte no controlo dos recursos estratégicos que incluem a energia e a
água, assim como na "protecção" dos corredores energéticos e de transporte
(rotas terrestres e marítimas) desde o Alasca e o Árctico canadiano até à
América Central e à bacia caribenha.
Nota do Autor: Este artigo centrou-se selectivamente nos corredores de
pipelines (oleodutos e gasodutos) fundamentais com a intenção de analisar
questões geopolíticas e estratégicas mais latas. Um exame da rede geral dos
corredores de pipelines eurasianos exigiria uma apresentação muito mais
detalhada
e
abrangente.
Artigo relacionado: War in the Caucasus: Towards a Broader Russia-US
Military Confrontation?
Tradução
de
Margarida
Este artigo foi pulicado em http://resistir.info/.
Ferreira

Documentos relacionados

Cáucaso: um barril à beira da explosão

Cáucaso: um barril à beira da explosão Espécie de ponte de terra entre os mares Negro e Cáspio em que confluem o Irão e a Turquia, a Sul, e a Rússia, a norte, a região é vincada por duas cadeias montanhosas, o Grande Cáucaso, a norte, e...

Leia mais