Revista - Juventude Adventista Portuguesa

Transcrição

Revista - Juventude Adventista Portuguesa
SEMANA DE ORAÇÃO J.A. 2016
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05
19
37
55
DIA 1 | A TRINDADE
DIA 3 | A LEI DE DEUS
2
11
28
45
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DIA 2 | O GRANDE CONFLITO
DIA 4 | O SÁBADO
DIA 5 | O SANTUÁRIO
DIA 6 | A MORTE E O INFERNO
DIA 7 | O TEMPO DO FIM
DIA 8 | A SEGUNDA VINDA
FICHA TÉCNICA | Textos e Revisão: Departamento de Jovens | Capa e design editorial: Augusto Pereira
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União Portuguesa dos Adventistas do Sétimo dia | Departamento
de Jovens | 2016
C
hegados a mais uma Semana de Oração de Jovens, só podemos dar graças a Deus por tantas bênçãos que ano após ano bondosamente recebemos da Sua mão. A verdade é que
esta semana especial se foi tornando ao longo das décadas um momento muito importante na dinâmica da Juventude Adventista em todo o mundo, e é por isso mesmo um tempo
de celebração nas nossas Igrejas.
Celebração na Palavra
Com temas e mensagens Bíblicas que desafiam os jovens à reflexão e ao compromisso!
Celebração no Louvor
Com novas músicas que inspiram a Igreja a cantar e a adorar com fervor renovado!
Celebração na Oração
Com a forte enfâse nas dinâmicas e momentos de oração nos vários encontros!
Celebração na Comunhão
Com o tempo que nestes dias dedicamos ao convívio fraterno e à partilha entre irmãos e amigos.
Celebração no Testemunho
Com as desafiantes possibilidades que se abrem ao longo destes dias de convidar amigos especiais e jovens que se afastaram da comunhão da Igreja, para que venham partilhar destes
encontros de fé e amizade.
Enfim, como se pode ver, não faltam razões para que também em 2016 os jovens espalhados
pelas mais de 100 igrejas e grupos Adventistas que temos em Portugal, façam desta semana
um tempo de bênção e refrigério espiritual.
Os 8 textos que têm neste momento em vossas mãos são de enorme profundidade teológica
e alcance espiritual, e merecem por isso ser lidos com tempo e cuidada reflexão. O Pr Ty Gibson guia-nos numa ousada viagem a “terras” (aparentemente) bem conhecidas, partindo de
algumas das crenças mais características da doutrina Adventista, e consegue ao mesmo tempo
reforçar - e de que maneira - a nossa confiança Bíblica na solidez dessa mensagem e ajudar-nos
a encontrar-lhe novas dimensões, todas elas enraizadas num conceito chave: Jesus – a perfeita
revelação do amor de Deus.
Há muito Evangelho nesta exposição da doutrina. Há muito Cristo nos argumentos expostos.
Há muita Esperança revelada nestas reflexões, que se lêem quase como uma narrativa teológica. E assim sendo, o que é que um Adventista do Sétimo Dia pode desejar mais?
Oro para que desfrutes, muito, com esta leitura.
Departamental de Jovens
Pr. Pedro Esteves
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# DIA 1
A TRINDADE
Janelas:
Uma Introdução à semana de oração
N
esta semana de oração vamos explorar
oito doutrinas Bíblicas-chave da Igreja
Adventista do Sétimo Dia. Muitos do
nosso povo - talvez tu estejas incluído - ficam
em ponto morto intelectual, respiram um
suspiro de tédio, e esperam uma repetição de
factos teológicos secos que ouvimos uma e
outra vez:
Posso ter um amém? Não?
Por que não?
Bem, porque todos sentimos que algo está a
faltar quando a verdade é reduzida a uma série
de factos intelectuais e requisitos comportamentais.
Então aqui está um facto que temos de enfrentar: nenhuma dessas doutrinas individualmente, nem todas elas em conjunto, constituem a verdade. Estás a ouvir? Nenhuma
delas constitui a verdade até que elas estejam
centradas em Cristo, informadas por Cristo e
cheias do amor de Cristo. É por isso que o apóstolo Paulo fala da verdade "como a verdade
está em Jesus" (Efésios 4:21).
• O sétimo dia é o Sábado, não o primeiro dia,
e aqui estão um zilhão de versículos da Bíblia
para provar isso.
• Os 10 Mandamentos não foram abolidos na
cruz, pelo que tu ainda tens que os guardar, e
aqui estão os versículos para provar isso.
• O Juízo Investigativo começou em 1844, e o
teu nome poderia aparecer a qualquer momento, e aqui estão os versos e um gráfico de
tempo profético para provar isso.
Hmmmm.
O que significa isso exatamente?
• Quando morremos, nós estamos realmente
mortos, completamente mortos, mortos como
um prego numa porta, por isso, se um membro
da família morto ou um amigo alguma vez te
aparecer, não são eles, é um demónio, e aqui
estão os versículos para provar isso.
Talvez te lembres que Jesus disse certa vez: "E
conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará", e, em seguida, um pouco mais tarde Ele
disse: "EU SOU ... a verdade" (João 8:32; 14: 6).
• Jesus vai voltar em breve, e quando Ele fizer
isso não será um arrebatamento secreto com
alguma segunda oportunidade de salvação depois de uma tribulação de sete anos, então é
melhor tu estares pronto agora, e aqui estão os
versículos para provar isso.
A verdade não é apenas um monte de informações factuais abstratas para memorizar,
citar e discutir. A verdade é uma pessoa, e o
seu nome é Jesus. Num relacionamento com
Jesus há libertação de tudo o que nos amarra,
ou seja, de toda a nossa fragilidade relacional e
da vergonha que a acompanha.
Entendeste, certo?
• E além de tudo isto, tu devias tornar-te vegetariano, pagar o dízimo, parar de ver televisão,
e ser batizado por imersão.
Então, como é a "verdade" quando ela é
pregada fora de Jesus?
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As verdades doutrinais da Escritura podem ser
consideradas como uma série de janelas de
perceção, através das quais o caráter de Deus
pode ser visto de vários ângulos diferentes.
Para os nossos objetivos, vamos imaginar a estrutura da verdade como um edifício em forma
de octógono. Em cada um dos oito lados da
estrutura, existe uma janela. Cada janela representa uma das nossas crenças doutrinárias:
Bem, para começar, a verdade separada de Jesus
é apenas informação crua sem personalidade e
caráter. Ela não tem um rosto, um coração ou
um desejo pessoal por ti. Em segundo lugar, a
verdade separada de Jesus é emocionalmente
brutal porque tudo o que ela pode fazer é impor
culpa e despertar medo. Ela não pode salvar,
curar, ou transformar o coração humano.
Não seria um exagero dizer que é espiritualmente abusivo pregar uma lista de verdades
doutrinárias e padrões comportamentais e
não pregar Jesus como a Verdade, com “V”
maiúsculo. Paulo diz: "A letra mata" (2 Coríntios 3:6), pelo qual ele quer dizer que os fatos
nus da verdade, pregados sem Jesus como o
vivo, amoroso e compassivo centro, só têm o
efeito de matar as pessoas a um nível espiritual, emocional e relacional. "Verdade" que não
amplie Jesus só pode conduzir as pessoas para
longe de Deus em desespero ou produzir nelas
um espírito de farisaísmo condenatório. Por
contraste, vemos Jesus num belo equilíbrio entre dois fatores complementares cruciais: João
diz que Jesus veio ao nosso mundo "cheio de
graça e de verdade" (João 1:14).
1. A Trindade
2. O Grande Conflito
3. A Lei de Deus
4. O Sábado
5. O Santuário
6. Morte e Inferno
7. O Tempo do Fim
8. A Segunda Vinda
Viste isso?
Graça e verdade!
Ao olharmos para dentro do edifício através de
cada janela, vemos Jesus, e Jesus, e Jesus, e Jesus, como a verdadeira e precisa revelação do
caráter de Deus.
Por que é essa combinação tão vital?
Oito janelas para uma realidade!
Verdade que é nula de graça só pode
acumular vergonha sobre os pecadores,
ao passo que a graça combinada com a
verdade traz a cura.
As janelas são projetadas para se olhar através
delas, e não para elas. Uma janela serve o seu
propósito quando atua como uma passagem
visual. Nenhuma doutrina bíblica é um fim em
si: nem o sábado, nem o estado dos mortos,
nem o julgamento, nem a profecia do tempo
do fim. Nenhuma dessas verdades existem
para apontar para si mesmas. Em vez disso, o
sábado serve como uma passagem visual para
o coração de Deus. A doutrina do santuário
serve de passagem visual para uma outra dimensão da beleza de Deus e assim por diante
com todas as doutrinas bíblicas.
É claro, então, que não precisamos apenas de
verdade - o esqueleto dos factos doutrinários.
Em vez disso, precisamos da verdade como ela
é em Jesus, a encarnação viva do amor de Deus.
Portanto, vamos então usar uma metáfora
simples, mas poderosa, para nos guiar na
nossa série de mensagens para esta semana
de oração.
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que professa representá-Lo. E qual é a forma
em que existe esta deturpação do caráter de
Deus? Doutrinas! Sistemas de crenças! Muitas
pessoas no nosso mundo têm medo de Deus,
não porque o conhecem como Ele realmente
é, mas por causa dos falsos relatos que
ouviram sobre Ele, na forma de ensinamentos
religiosos.
Pensa nisso desta maneira. Como Adventistas
do Sétimo Dia, só temos realmente uma crença, uma doutrina:
"Deus é amor"
(1 João 4:16)
É isso.
Deus chamou especificamente a Igreja
Adventista do Sétimo Dia à existência como
um movimento profético, para proclamar
uma mensagem ao mundo de que vindica
Deus como o Deus bom que Ele realmente é.
Se bem entendido, o nosso sistema teológico
tem o potencial de oferecer ao nosso mundo
uma imagem bonita e convidativa de Deus
diferente de tudo o que já conheceram antes. A
teologia adventista, quando vista em Cristo, é
como uma série de janelas através das quais o
caráter de Deus é clarificado e exonerado.
Nós não acreditamos em muitas coisas,
nós acreditamos numa coisa com muitas
dimensões. Podemos sempre expandir uma
das coisas, mas estamos sempre a olhar para a
mesma coisa, a partir de vários ângulos. Como
uma árvore com muitos ramos. Um motor com
muitas partes móveis. Um rio com muitos
afluentes.
As diversas doutrinas que temos servem o seu
propósito apenas na medida em que nós as
comunicamos de uma tal maneira que ampliem
a beleza do amor de Deus. Na verdade, Ellen
White afirma explicitamente que este é o caso:
Então, vamos começar por olhar através da
primeira das nossas oito janelas.
“A escuridão do falso conceito acerca de
Deus é que está a envolver o mundo. Os
homens estão a perder o conhecimento de
seu caráter. Este tem sido mal compreendido e mal interpretado. Neste tempo
deve ser proclamada uma mensagem de
Deus, uma mensagem de influência iluminante e capacidade salvadora. O caráter
de Deus deve tornar-se notório. Deve ser
difundida nas trevas do mundo a luz de
Sua glória, a luz de Sua benignidade, misericórdia e verdade. ... Os últimos raios da
luz misericordiosa, a última mensagem
de graça a ser dada ao mundo, é uma revelação do caráter do amor divino.”
Amor Antigo
Faz um exercício simples de pensamento.
Tranca-te no teu quarto de banho para o
resto da tua vida - é uma experiência de pensamento, por isso, fica no teu lugar e usa a tua
imaginação - e faz a ti mesmo uma pergunta
simples: Será que eu vou experimentar o amor?
A resposta óbvia é não, mesmo que tenhas um
espelho de corpo inteiro!
E por que é que a resposta é Não?
Pela simples razão de que o amor não pode
ser experimentado em isolamento. Amor, por
definição, é estar centrado noutro, em vez de
ser egocêntrico. Para que possa realmente ser
amor, este sentimento requer mais do que
uma pessoa. Com isto nós percebemos algo
profundo e de vital importância para a nossa
compreensão de Deus. Vamos descompactá-lo.
(Ellen White, Parábolas de Jesus, p. 415).
Assombroso, não é?
Deus tem sido terrivelmente mal representado
no nosso mundo, especialmente pela religião
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A primeira verdade que encontramos quando
abrimos a Bíblia é que Deus é uma unidade social em vez de um ser solitário. Observa a frase
de abertura das Escrituras:
"No princípio criou Deus os céus e a terra"
(Gênesis 1:1).
A coisa mais óbvia que vemos aqui é que
existem duas categorias básicas que compõem
a realidade:
tulo esta ideia torna-se ainda mais explícita.
Observa os versículos 26 e 27:
"E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas
sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se
movia sobre a face das águas" (Génesis 1:2).
"E disse Deus [Elohim]: 'Façamos o
homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança' ... E criou Deus o homem
à sua imagem; à imagem de Deus o criou;
homem e mulher os criou."
Vemos aqui que o Espírito Santo também
estava envolvido ativamente no evento da
criação, juntamente com o Pai e o Filho.
Incrível!
Então, o Deus que encontramos em Génesis
1, com o nome plural Elohim, é composto por
Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo.
Dentro dos parâmetros da própria realidade
divina de Deus, além de quaisquer seres criados, Deus é um “companheirismo” centrado no
outro, uma “amizade” desapegada. À medida
que avançamos do Génesis na narrativa bíblica,
encontramos o que o povo judeu chama "a shema", que eles consideram até este dia como a
mais importante de todas as declarações teológicas:
Aqui vemos que Elohim é composto de um
"Nós" e "Nossa". Não devemos pensar em
Deus como um mero "Eu", mas sim como uma
unidade social que envolve mais pessoas do
que um único ser solitário. Lembra-te do nosso
ponto de abertura: o amor não pode ser experimentado em isolamento. Agora, no contexto
desta simples compreensão, podemos ler com
entendimento a declaração mais profunda e
poderosa na Bíblia:
1. Deus
2. E tudo o resto
Deus é o Criador e qualquer outra coisa que
exista foi Ele que criou. Isto significa que Deus
antecede e transcende todas as coisas que
se enquadram na categoria "criado", e que só
Deus ocupa a categoria "não criado". O apóstolo
João, ao apresentar Jesus, articulou essa visão
sublime com estas palavras: "Todas as coisas
foram feitas por Ele, e sem Ele nada do que
foi feito se fez" (João 1:3). Bastante profundo,
eu sei, mas espera porque está tudo prestes a
tornar-se maravilhosamente claro.
anteriormente ele identificou como o próprio
Deus, veio ao nosso mundo a partir de um lugar
relacional muito específico e especial: do "seio
do Pai". Seio é uma palavra poética que evoca
a ideia de proximidade; a tradução Philips (no
inglês) diz que Jesus vive na "intimidade mais
próxima com o Pai". Agora, com tudo isto em
mente, volta a Génesis 1:
Na mesma passagem, João disse o seguinte:
"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com
Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus" (João 1:1 e 2).
No princípio, quem estava com quem?
"No princípio… Deus... estava com Deus."
Ok, isso é fixe, mas em que sentido estavam
estas pessoas igualmente divinas umas "com"
as outras? João diz-nos no verso 18: "Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigénito, que
está no seio do Pai, esse O revelou."
Uau, eu gosto disso! Tão interpessoal!
João quer-nos fazer entender que Jesus, a quem
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"Deus é amor" (1 João 4:8).
"Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único
Senhor" (Deuteronómio 6:4).
Deduzimos desta realidade básica que Deus
nunca existiu isoladamente. Deus é, e sempre
foi, um "Nós" e um "Nosso" - noutras palavras,
uma unidade social - porque "Deus é amor."
Sem fazer nenhuma injustiça ao texto, poderíamos parafrasear a frase da Bíblia abertura
assim:
Há uma beleza escondida aqui à vista de todos,
que é trazida à luz ao fazer a pergunta: em que
sentido é o Senhor nosso Deus um? Encontramos a resposta em Jesus, porque Ele intencionalmente utilizou a linguagem do Shema
para descrever a relação que existe entre Ele e
o Pai: "Eu e o Pai somos um" (João 10:30).
"No princípio criou Deus os céus e a terra."
"No princípio AMOR criou os céus e a terra."
A palavra hebraica nesta frase que está traduzida para o Português como "Deus" é um nome
próprio na língua original. É um nome super importante, completamente cheio de significado.
Na verdade, ele é o mais bonito nome que alguma vez vai sair dos teus lábios:
Compara isto, mais uma vez, com João 1 e a
imagem torna-se ainda mais bonita:
Brilhante!
Elohim
"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com
Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas
por Ele, e sem Ele nada do que foi feito se fez"
(João 1:1-3).
O que torna este nome tão significativo é que
é um substantivo plural. Noutras palavras, o
Deus que encontramos no versículo de abertura da Bíblia é em certo sentido um e contudo
mais do que um. Mais tarde, no mesmo capí-
A partir desta passagem, vemos que tanto
Deus Pai como Deus Filho foram agentes ativos
juntos no trabalho de criação do nosso mundo.
Agora volta para Génesis 1 para uma pincelada
adicional na imagem:
Mais uma vez, vemos que Deus não é um no
sentido de ser um ser solitário, mas Deus é um,
no sentido de harmonia relacional. Mais tarde,
em João 17, Jesus novamente usou a linguagem
da harmonia, e nesta ocasião Ele definiu-a
como a dinâmica relacional do amor. Ele orou
ao Pai pelos seus discípulos:
"… para que sejam um, como nós somos um;
eu neles, e tu em mim, para que eles sejam
perfeitos em unidade, a fim de que o mundo
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conheça que tu me enviaste, e que os amaste a
eles, assim como me amaste a mim. Pai, desejo que onde eu esteja, estejam comigo também
aqueles que me tens dado, para verem a minha
glória, a qual me deste; pois que me amaste
antes da fundação do mundo" (versos 22-24).
Todos os três, juntos, como uma comunhão social íntima, constituem uma realidade divina. É
por isso que usamos a palavra Trindade, ou Tri
unidade, para descrever Deus.
Em seguida, ele encerrou a sua oração pedindo "que haja neles aquele amor com que Me
amaste, e também Eu neles esteja" (versículo
26).
Não é uma equação teórica fria.
# DIA 2
O GRANDE
CONFLITO
Amor que conquista
Não é um facto doutrinário seco.
Não é um conceito filosófico complexo.
Não. A doutrina da Trindade é uma janela
de transparência cristalina para o caráter
extrovertido, centrado no outro, super social de
Deus.
Aqui está a imagem à nossa frente:
O Pai é Deus, mas não tudo o que há de Deus.
Jesus Cristo é Deus, mas não tudo o que há de
Deus.
O que há para não gostar de um Deus como
este?
O Espírito Santo é Deus, mas não tudo o que
há de Deus.
Atividades de Grupo:
Material Necessário:
Várias cores de celofane, cola, tesouras, duas
varas com 91 centímetros de comprimento e
1,20 centímetros de diâmetro, cortado em oito
pedaços que são de 22 centímetros cada, papel de alumínio forte, um pedaço de esferovite resistente cortado num octógono com
aproximadamente 30 centímetros de diâmetro (simples) ou um pedaço de contraplacado
cortado num octógono de 1,20 centímetros de
espessura, com oito buracos de 1,20 centímetros furados nos cantos (mais forte).
PARA DISCUSSÃO
Já ouviste falar da "verdade" retratada como
uma série de factos, como descritos no início
desta lição? Como é que te fez sentir? Como
reagiste?
Partilhem juntos alguns dos conceitos que
te têm ajudado a tentar entender a Trindade.
(Aceita que é algo que os humanos não podem
compreender totalmente). Como descreverias
ou explicarias a um amigo muçulmano ou judeu que pensa que estás a adorar múltiplos
deuses?
Em grupo, criem um modelo do edifício octogonal, com oito janelas, que estamos a usar
como uma imagem para esta semana de
oração. Usem uma camada dupla do papel de
alumínio para criar um telhado. Como alternativa podem trazer vários materiais como cartolina, etc., e deixar que cada membro tente
criar um desenho, pintura ou colagem de um
edifício octogonal com oito janelas. Podem
adicionar ao modelo cada noite enquanto nós
olhamos para cada "janela".
O que tem a frase "Deus é amor" que mais te
atrai? Como é que este conceito fundamental
afetou a tua vida?
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Neste contexto, a doutrina a que de forma comum nos referimos como O Grande Conflito
não é exceção. Então, vamos olhar por esta
janela e encontrar a beleza que espera a nossa
descoberta.
Bem, aqui estamos nós para a segunda parte
da nossa série de oito partes.
I
sto vai ser muito interessante, como fazeres
uma caminhada num lugar conhecido, onde
já foste muitas vezes, e de repente dares
por ti diante de uma visão de tirar o fôlego ao
descobrires uma bela cascata que não sabias
que estava ali.
Guerra no Céu
A primeira regra da lógica é que as coisas são
geralmente o que parecem ser. O nosso mundo
parece uma zona de guerra, porque o nosso
mundo é uma zona de guerra. A segunda regra da lógica é que as coisas não são sempre
exatamente o que parecem ser. A guerra que
acontece no nosso mundo tem características
que não são imediatamente evidentes para
o observador casual. À primeira vista, vemos
apenas seres humanos envolvidos na batalha,
mas há mais aqui do que aquilo que os olhos
conseguem ver. Segundo a Bíblia, nós homo
sapiens não estamos sozinhos no universo.
Do Génesis ao Apocalipse encontramos uma
ordem de seres chamados anjos. Sabemos pelas Escrituras que esses seres são anteriores à
existência de seres humanos (Jó 38:4-7; Apocalipse 1:20), que eles são numerosos (Hebreus
12:22), poderosos e inteligentes (Salmo 103:20;
Daniel 4:17), que funcionam dentro de um sistema ordenado de governo (Efésios 3:10; Daniel
7:9-10), que eles ativamente operam dentro do
nosso mundo, na maior parte das vezes invisíveis, mas às vezes em forma visível (Hebreus
1:14; 13:2), e que o mal que aflige o nosso mundo se originou com alguns deles (Apocalipse
12:7,12).
Estamos a explorar o que para a maioria de
nós é território conhecido: oito das doutrinas
centrais que formam o sistema de crenças Adventistas. Como dissemos na nossa primeira
mensagem, estas doutrinas conhecidas são
tratadas com frequência apenas como factos
teológicos secos, aborrecidos, para serem recitados de memória. Com certeza muitas vezes
os transformamos nisso, mas só porque os
diminuímos e despojamos da sua beleza, não
significa que não haja beleza a ser descoberta.
Lembras-te da nossa metáfora orientadora?
As verdades doutrinais da Escritura são como
janelas que olham para o caráter atrativo do
Deus revelado em Cristo. Nenhuma doutrina é
um fim em si mesma. O Sábado não é sobre
o Sábado, por si só, é sobre Jesus. A doutrina
do estado dos mortos não é apenas para provar que as pessoas estão inconscientes quando
morrem, é sobre Jesus. A doutrina do santuário
não é sobre uma tenda ou um edifício ou uma
cortina ou um procedimento ou uma cerimónia,
é sobre Jesus. E assim por diante. Cada doutrina bíblica, quando corretamente entendida,
funciona como um tipo de lente em direção ao
coração de Deus, à bondade de Deus, e ao amor
de Deus.
Um dos anjos chamava-se "Lúcifer", que significa portador de luz. Este exaltado ser foi
criado para ser um revelador do caráter de Deus
para seus companheiros anjos, mas ele escol11
heu uma maneira de agir diferente. A Bíblia diz
que Lúcifer era "perfeito nos seus caminhos"
(seus padrões de pensamento, sentimento e
comportamento), "até que se achou iniquidade" nele (Ezequiel 28:15). Nesse momento,
ele tornou-se "Satanás", que significa adversário. A Bíblia também nos diz que a queda
de Lúcifer ocorreu porque ele desenvolveu um
desejo de autoexaltação, levando à aspiração
inebriante para tirar Deus do coração dos seus
companheiros anjos e usurpar a sua lealdade
(Isaías 14:12-14). Conforme Lúcifer alimentava
egocentrismo dentro de si, ele deixou de refletir a luz do caráter de Deus e começou a atribuir
a Deus os seus próprios motivos egoístas. A
aspiração, "vou exaltar a mim mesmo”, seguida
de "eu serei semelhante ao Altíssimo", indica
que Lúcifer começou a atribuir a autoexaltação
ao caráter de Deus como justificação para a
sua própria autoexaltação. Ao negar a bondade fundamental do caráter de Deus, o curso
de ação de Satanás foi calculado para minar a
confiança para com Deus e incitar rebelião contra Ele.
Paulo define a lei de Deus como "amor"
(Romanos 13:10).
Vemos então que Lúcifer se rebelou contra a
lei de Deus, o que realmente significa que ele
se rebelou contra o amor de Deus. Ele levantou
acusações contra Deus e contra a lei do amor
com que Deus governa o universo. Considerando que a Bíblia afirma que "Deus é amor" e que a
Sua lei é, portanto, uma lei que governa apenas
pelos princípios inerentes no amor (1 João 4:8;
Mateus 22:37-40), Satanás decidiu viver sem
amor e formar um reino que opera sem amor.
Serve o seu propósito, portanto, retratar Deus
como egoísta e a Sua lei como uma lista de regras arbitrárias impostas para fins egoístas.
Ellen White explica a questão central do grande
conflito com uma clareza brilhante:
“A abnegação, que é o princípio do reino
de Deus, é o princípio que Satanás odeia;
ele nega até a existência do mesmo. Desde o início do grande conflito tem-se ele
esforçado por provar que os princípios
pelos quais Deus age são egoístas, e da
mesma maneira ele considera a todos
os que servem a Deus. A obra de Cristo
e a de todos os que adotam o Seu nome,
tem por fim refutar esta pretensão de Satanás” (Educação, p. 154).
É neste contexto narrativo que a Bíblia diz: "e
houve batalha no céu" (Apocalipse 12:7), ou
seja, entre os anjos! A palavra traduzida aqui
como "batalha" é polemos no grego original, que está relacionada com palavras como
polémica e política. Isto dá-nos uma visão da
natureza exata da "batalha". Não foi principalmente uma batalha de envolvimento físico
ou de uso da força de armas. Foi uma guerra
política, uma campanha de propaganda, um
esquema de assassinato de caráter. Satanás
travou sua guerra mediante a divulgação de
mentiras quanto ao caráter de Deus. Assim,
ele é descrito como aquele que "engana todo o
mundo" e como "mentiroso, e pai da mentira"
(Apocalipse 12:9; João 8:44).
Agora que entendemos o problema fundamental envolvido na guerra entre o bem e o mal, estamos preparados para permitir que a Escritura
pinte um quadro mais detalhado para nós em
sete cenas progressivas.
Cena Um: Domínio
Vamos começar por comparar duas afirmações
bíblicas que juntas criam uma estrutura conceptual para a compreensão do que está a acontecer no nosso mundo:
Segue esta lógica bíblica:
Ezequiel diz que Lúcifer foi expulso do Céu
porque ele "pecou" (Ezequiel 28:16).
João define o pecado como "iniquidade"
(1 João 3:4).
"Deus criou a humanidade à Sua própria imagem" (Génesis 1:27).
12
"Deus é amor" (1 João 4:8).
corre mal. Tragicamente, os nossos primeiros
pais abdicaram da sua posição de autoridade
sobre a terra cedendo lealdade a um senhor
estrangeiro, ao anjo caído uma vez chamado
de Lúcifer, aquele que brilha, que era agora
conhecido como Satanás, o adversário. Sim, a
queda da humanidade foi uma queda moral e
coletiva. Adão e Eva perderam o seu domínio
porque eles escolheram dá-lo. Através do exercício do livre-arbítrio humano, Satanás tornouse o "príncipe deste mundo" (João 12:31) e "o
deus deste século" (2 Coríntios 4:4).
Uma vez que o amor é a essência do caráter
de Deus, resulta que a Sua criação seria projetada para o amor. E uma vez que o amor, por
definição, é a doação voluntária de si mesmo
aos outros, resulta que o livre arbítrio teve
que ser incorporado na criação de Deus. Por
isso lemos no relato da criação que Deus deu
aos seres humanos o "domínio" sobre a terra
(Génesis 1:26). Domínio é um conceito bíblico
crucial. Como agentes morais livres feitos para
o amor, a Adão e Eva foi dado o elevado privilégio do autogoverno. A terra seria o ambiente, o
espaço material, em que o seu amor por Deus
e um pelo outro poderia florescer. O planeta
era deles por delegação divina. Entendendo
este acordo, David escreveu estas palavras esclarecedoras: " Os céus são os céus do Senhor;
mas a terra a deu aos filhos dos homens."
(Salmos 115:16).
Não obstante, o poder de Satanás sobre o nosso mundo não constitui uma regra de direito.
Ele não é o legítimo senhor da Terra. Seu triunfo sobre a humanidade foi um ato de guerra
baseado em enganos. Ele levou os nossos
primeiros pais à rebelião negando a existência
de amor por eles no coração de Deus, quebrando assim a sua capacidade de confiar em Deus.
Portanto, a esperança da humanidade, desde
aquele dia até hoje reside na revelação do verdadeiro caráter de amor altruísta de Deus.
Isso é linguagem de delegação, de liberdade, de
autogoverno. Tendo-os criado com livre arbítrio
e dado a terra como seu lar, o palco estava montado para uma eternidade de bem-aventurança relacional. No entanto, a liberdade possui
risco inerente. Com todas as suas gloriosas
possibilidades, o livre arbítrio também carrega
um perigo potencial. O "domínio" da humanidade estava carregado tanto com promessa
como com ameaça; cabia a eles decidir o que ia
acontecer.
Em resposta ao roubo de autoridade de Satanás, Deus imediatamente começou a orquestrar um contra-ataque para recuperar o
mundo para a humanidade. Embora Deus e
o Seu adversário sejam os dois lados de um
conflito, o contra-ataque de Deus não seria implementado pelos mesmos princípios sobre os
Cena Dois: Abdicação
Desde que Deus deu a
terra a Adão e Eva, esta
tornou-se deles para fazerem o que quisessem.
A intenção do Criador seria que eles usassem o
poder do seu livre-arbítrio
para serem frutíferos,
multiplicarem-se e construírem uma sociedade
global de amor abnegado. É aqui que a história
13
quais o reino de Satanás atua, não por engano
e força, mas sim através de verdade e amor.
asas, toma-os, e os leva sobre as suas asas, Assim só o Senhor o guiou; e não havia com ele
deus estranho” (Deuteronómio 32:8-12).
Cena Três: O Guerreiro Prometido
Os versículos 15 a 17 completam ainda mais a
imagem: Quando o conflito cósmico começou, ambos os
lados começaram imediatamente a organizar
as suas forças e a colocar os seus princípios em
movimento. O Criador deu início ao seu plano
de ataque ao declarar a guerra e ao fazer uma
promessa. Falando a Satanás na audiência de
Adão e Eva, Deus disse: " E porei inimizade
entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a
sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe
ferirás o calcanhar " (Gênesis 3:15). Aqui, Deus
anunciou que um Guerreiro viria à Terra para
esmagar a cabeça de Satanás, por assim dizer.
O Guerreiro também seria ferido pelo inimigo
no processo de alcançar a vitória.
"(Israel) deixou a Deus, que o fez, e desprezou a
Rocha da sua salvação. Com deuses estranhos
o provocaram a zelos; com abominações o irritaram. Sacrifícios ofereceram aos demónios,
não a Deus; aos deuses que não conheceram,
novos deuses que vieram há pouco, aos quais
não temeram vossos pais" (Deuteronómio
32:15-17).
Aqui vemos que Deus estabeleceu um povo
escolhido entre as nações. Israel foi chamado
para ser "a porção do Senhor" na terra, e não
haveria nenhum "deus estranho" entre eles.
É fundamental perceber que Moisés nos informa que os "deuses" das nações pagãs eram
apenas "demónios", ou anjos caídos disfarçados de divindades. O Salmo 106, versículos 37
e 38, confirma que houve, de fato, "demónios"
por trás dos "ídolos" das tribos pagãs: "Demais
disto, sacrificaram seus filhos e suas filhas aos
demónios, e derramaram sangue inocente, o
sangue de seus filhos e de suas filhas que sacrificaram aos ídolos de Canaã; e a terra foi manchada com sangue" (Salmos 106:37, 38). Aqui Deus também explicou que o Libertador
prometido iria entrar na raça humana através
de uma linhagem estabelecida de "descendência". Noutras palavras, um grupo específico de
pessoas seria selecionado dentre as nações
para ser aquele através do qual o Salvador poderia entrar na guerra como um ser humano.
O ponto mais importante a entender é que
esta promessa profética informou o mundo de
antemão que Deus iria conquistar o reino das
trevas ao condescender em humildade e amor
abnegado.
Com Israel Deus demarcou um território no
nosso mundo dominado por demónios e assim reivindicou a raça humana. Israel foi escolhido por Deus para ser a "linha" através da
qual o prometido Guerreiro-Salvador viria ao
mundo para reclamar a humanidade do controle satânico. Ao chamar Israel de entre as
nações, Deus manifestou a Sua intenção de
tirar o mundo para fora do domínio demoníaco. Cena Quatro: Forças Organizadas
Em resposta tática à aquisição hostil de Satanás, Deus fez algo notável, engenhoso e
necessário. Moisés explica: “Quando o Altíssimo distribuía as heranças às
nações, quando dividia os filhos de Adão uns
dos outros, estabeleceu os termos dos povos
conforme o número dos filhos de Israel. Porque
a porção do Senhor é o seu povo; Jacó é a parte
da sua herança. Achou-o numa terra deserta,
e num ermo solitário cheio de uivos; cercou-o,
instruiu-o, e guardou-o como a menina do seu
olho. Como a águia desperta a sua ninhada,
move-se sobre os seus filhos, estende as suas
Cena Cinco: O Guerreiro Desarmado
O Guerreiro prometido desembarcou em solo
terrestre como um bebé de colo, dependente
e desamparado. Educado até idade adulta por
humildes camponeses israelitas, Ele lançou o
14
seu ataque contra o reino das trevas e começou
a esmagar sistematicamente a cabeça do usurpador sem nunca tomar uma arma de violência
na mão. Podíamos chamar a Jesus "O Guerreiro
Desarmado" porque ele veio para reconquistar
o mundo pela verdade e o amor, e não por engano e violência. Satanás reconheceu Jesus
por quem Ele era. Eles têm história, afinal de
contas. Com uma arrogância autoconfiante
desenvolvida por milhares de anos de aparente
vitória, Satanás corajosamente reivindicou a
terra como seu domínio e ofereceu-a a Jesus
em troca de adoração:
Nenhuma arma carnal será usada.
Nenhum exército violento será comandado.
Um só ato vai ter poder suficiente para recuperar a humanidade perdida.
Apontando para o sacrifício que Ele está
prestes a fazer no Calvário, Jesus enuncia o
triunfo que Ele está prestes a alcançar sobre o
inimigo: "Agora é o juízo deste mundo; agora
será expulso o príncipe deste mundo. E eu,
quando for levantado da terra, todos atrairei a
mim" (João 12:31,32). Pela Sua humilde encarnação, pela Sua vida perfeita de amor, e pela
Sua morte abnegada na cruz, Jesus tomaria de
Satanás "toda a sua armadura em que confiava." Todas as mentiras de Satanás sobre Deus
foram completamente destituídas do seu
poder pela revelação esclarecedora do amor
de Deus em Cristo. Paulo explicou-o assim: "e,
tendo despojado os poderes e as autoridades,
fez deles um espetáculo público, triunfando
sobre eles na cruz" (Colossenses 2:15 NVI).
“E o diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo. E disse-lhe o diabo: dar-te-ei a
ti todo este poder e a sua glória; porque a mim
me foi entregue, e dou-o a quem quero. Portanto, se tu me adorares, tudo será teu"
(Lucas 4:5-7).
Jesus recusou, claro, sabendo que Satanás não
podia ver o que vinha na sua direção. Agora
completamente cego para o caráter de Deus,
Satanás simplesmente foi incapaz de compreender que Jesus estava prestes a atacar o
seu império escuro com uma espécie de poder
estranho ao seu entendimento, o poder do
amor abnegado. Ao anunciar a Sua identidade
de guerreiro e a sua missão, Jesus explicou ao
povo o que estava a acontecer em frente aos
seus olhos: "Quando o valente guarda, armado,
a sua casa, em segurança está tudo quanto
tem; mas, sobrevindo outro mais valente do
que ele, e vencendo-o, tira-lhe toda a sua armadura em que confiava e reparte os seus despojos" (Lucas 11:21,22).
O amor, e não a força,
triunfou sobre o mal
Em essência, a guerra entre o bem e o mal foi
vencida em Cristo, no Seu único ato supremo
de amor abnegado. Agora essa vitória deve
ser levada a "todas as nações" (Mateus 28:19).
A guerra tem de ser ganha dentro do domínio
dos corações humanos, pessoa a pessoa, casa
a casa, aldeia a aldeia, território a território em
todo o mundo, o que nos leva à verdadeira missão da Igreja.
Cena Seis: A Igreja Militante / Triunfante
Nesta pequena parábola, o "valente guarda" é
Satanás. O "mais valente do que ele" é Jesus.
Claramente, está a decorrer uma batalha e um
confronto final está prestes a acontecer. E ninguém está à espera da jogada que o legítimo
Rei do céu e da terra está prestes a fazer.
Não é apenas a terra debaixo dos nossos pés
que está em disputa no grande conflito entre o
bem e o mal. A verdadeira guerra é num pedaço
de terreno de 1300 gramas situado nos nossos
crânios. Deus não faz segredo sobre o facto de
que Ele quer as nossas "frontes" (Apocalipse
14:1). Noutras palavras, Ele quer o território
mental, emocional e a vontade dentro de nós.
15
da vontade das almas humanas, Jesus reivindicou o território roubado por Satanás. Nós, como
Sua igreja, estamos a fazer o mesmo. Estamos
a avançar o reino de Deus. Como? Perdoando,
tendo compaixão, proclamando o evangelho,
alimentando e vestindo os pobres, libertando
os escravos e, sobretudo, amando as pessoas
tal como Jesus as amou, somos participantes
do avanço do reino de Deus.
se encontra dentro dos nossos corações é recuperado pela graça salvadora de Deus. Em seguida, o território da própria Terra é recuperado
e feito para sempre novo. "Eis", diz O que está
sentado no trono, "faço novas todas as coisas"
(Apocalipse 21:5). Quando esse dia chegar, a
cidade de Deus, a Nova Jerusalém, será transferida do reino celestial para o nosso próprio
mundo. O planeta Terra vai tornar-se a nova
capital do universo:
Cena Sete: O Primeiro Domínio Restaurado
O apóstolo João afirma que é aí, na testa humana, que Deus quer escrever "Seu nome", indicando a Sua presença permanente dentro do
reino dos nossos carateres. Os seres humanos
são criaturas permeáveis. Influências externas
influenciam-nos. Estamos, de facto, projetados para ser habitados, como "morada de Deus
em Espírito" (Efésios 2:22).
“Porque, andando na carne, não militamos segundo a carne. Porque as armas da nossa milícia
não são carnais, mas sim poderosas em Deus
para destruição das fortalezas; destruindo os
conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo
todo o entendimento à obediência de Cristo” (2
Coríntios 10:3-5).
Cada mente humana é:
A guerra que travamos ocorre dentro do reino
da mente, onde os pensamentos e sentimentos são formados, onde o conhecimento reside.
O inimigo está travando a sua batalha contra
nós, formulando "argumentos" que são calculados para bloquear o verdadeiro "conhecimento de Deus". Na medida em que as suas mentiras teológicas ocupam as nossas mentes, ele
possui "fortalezas" defensivas dentro de nós.
Por outro lado, há medida em que os seus argumentos são efetivamente "destruídos" e
substituídos pela verdade, ele é derrotado e a
alma humana é libertada.
• uma cidadela de entronização real, e Jesus é
o legítimo rei;
• um recinto da verdade eterna, e Jesus é a verdade;
• uma câmara de romance sagrado, e Jesus é o
verdadeiro amante das nossas almas.
O grande inimigo de Deus e do homem também está à procura de reinar no coração humano. Ele dedica-se a ocupar território mental e emocional dentro das nossas almas. Ele
está numa missão louca para encher os nossos
corações e mentes com vergonha onde deveria haver inocência, contaminação moral onde
deveria haver pureza, hostilidade onde deveria
haver amor, e demónios disfarçados de deuses onde deveria haver a habitação do Espírito
Santo.
A linguagem que Paulo usa para descrever a
natureza da nossa guerra é extremamente perspicaz:
A missão da Igreja é tornar conhecido o bonito caráter de amor abnegado de Deus como
revelado em Jesus Cristo. Nós somos chamados a mobilizar os nossos talentos, as nossas
energias e os nossos recursos para a tarefa de
recuperar o território de Cristo no íntimo dos
corações e casas, dentro de cada nação e aldeia
na Terra. Dentro do reino mental, emocional e
16
"Depois virá o fim, quando tiver entregado o
reino a Deus, ao Pai, e quando houver aniquilado todo o império, e toda a potestade e
força" (1 Coríntios 15:24). Paulo quer que entendamos que a história está em última análise,
a precipitar-se em direção ao desaparecimento
de todos os sistemas de coerção, dominação,
opressão e guerra, e para o estabelecimento de
um reino baseado em liberdade para sempre,
florescendo de amor eterno. O profeta Miqueias previu o futuro:
“E eu, João, vi a santa cidade, a nova Jerusalém,
que de Deus descia do céu, adereçada como
uma esposa ataviada para o seu marido. E ouvi
uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o
tabernáculo de Deus com os homens, pois com
eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus.
E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima;
e não haverá mais morte, nem pranto, nem
clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas
são passadas” (Apocalipse 21:2-4).
“Mas nos últimos dias acontecerá que o monte
da casa do SENHOR será estabelecido no cume
dos montes, e se elevará sobre os outeiros, e a
ele afluirão os povos ... e converterão as suas
espadas em pás, e as suas lanças em foices;
uma nação não levantará a espada contra outra nação, nem aprenderão mais a guerra ... e o
Senhor reinará sobre eles no monte Sião, desde agora e para sempre ... a ti virá o primeiro
domínio” (Miqueias 4:1-8).
Ellen White descreve a cena bonita:
“Onde abundou o pecado, superabundou a
graça de Deus. A Terra, o próprio campo que Satanás reclama como seu, será não apenas redimida, mas exaltada. Nosso pequenino mundo,
sob a maldição do pecado, a única mancha
escura de Sua gloriosa criação, será honrado
acima de todos os outros mundos do Universo
de Deus. Aqui, onde o Filho de Deus habitou na
humanidade; onde o Rei da Glória viveu e sofreu e morreu - aqui, quando Ele houver feito
novas todas as coisas, será o tabernáculo de
Deus com os homens” (O Desejado de Todas as
Nações, p. 26).
Que extraordinária imagem!
Vemos aqui que Deus é contra a guerra e a favor da paz, contra a força e a favor do amor. É
Seu objetivo final trazer um fim completo a todos os regimes coercivos e estabelecer um reino eterno de liberdade. "O primeiro domínio", o
que Adão e Eva perderam, será restabelecido.
Quando for o tempo, Deus diz: "não se fará mal
nem dano algum em todo o meu santo monte,
porque a terra se encherá do conhecimento do
Senhor, como as águas cobrem o mar" (Isaías
11:9). Em primeiro lugar, o território interior que
É para aí que a história está a caminhar.
Pela graça de Deus, eu pretendo ir com ela,
entregue com segurança por Jesus na nova
Terra, como um cidadão eterno desse primeiro
domínio totalmente restaurado.
E tu?
17
# DIA 3
A LEI DE DEUS
PARA DISCUSSÃO
• Qual é a diferença entre o domínio que
Deus deu a Adão e Eva (e, portanto, a nós) e o
domínio que o diabo exercita?
A lição diz: "Toda a doutrina bíblica, quando
corretamente entendida, funciona como uma
lente percetiva para o coração de Deus, para a
bondade de Deus, o amor de Deus."
• Achas que é possível que, por vezes, pessoas
boas, até mesmo os líderes da igreja ou professores, ou mesmo tu, sem querer, tentem usar a
força em vez do autoridade para fazer avançar
o reino de Deus? Discutam.
• Discute as maneiras como isto tem sido verdadeiro ou falso na tua educação religiosa e
maneira de pensar até agora.
• Como é que a rebelião de Lúcifer contra Deus
mostra que ele não acreditava que Deus estava
a agir por amor?
• Várias vezes o autor usou a frase "território
mental, emocional e da vontade". Partilha
algumas das maneiras como tu vês Deus e o
diabo em guerra ao longo destes componentes
do teu eu interior. Como podes perceber quem
ganha domínio na tua alma? Sê específico.
• Como é que a sua linguagem, como registada
em Isaías 14, mostram que ele acreditava que
Deus era egoísta e arbitrário?
AMOR LIBERTADOR
C
omo Adventistas do Sétimo Dia, os Dez
Mandamentos têm uma posição de
destaque no nosso sistema doutrinal.
Embora grande parte do mundo cristão pregue
o que é chamado "antinomianismo" (a ideia de
que a lei de Deus foi "abolida" quando Jesus
morreu na cruz), nós acreditamos que a lei de
Deus é eterna e imutável.
Até aqui tudo bem, exceto quando somos confrontados com um problema sério. Quando
nos esforçamos para defender a lei de Deus,
às vezes temos tendência a reduzir o tema a
um argumento contra o antinomianismo, uma
formulação revista, calculada para provar aos
outros cristãos que eles devem manter a lei. E
no processo, criamos um enorme problema teológico e experiencial para nós mesmos.
Permitam-me explicar.
A Redenção que Existe em Cristo Jesus
Em grande grupo, ou divididos em equipas ou pares, encenem cada uma das
sete cenas nesta lição:
Permitir apenas um minuto por cena.
Estas podem ser dramatizações rápidas
(cada um deve usar a sua imaginação sobre o que dizer ou fazer), ou a criação de
“quadros” que representem cada fase do
Grande Conflito.
Cena Um: Domínio
Cena Dois: Abdicação
Cena Três: O Guerreiro Prometido
Cena Quatro: Forças Organizadas
Em vez de esperar até ao fim da mensagem, a apresentação destes momentos podem acontecer no final de cada
uma das 7 cenas.
Cena Cinco: O Guerreiro Desarmado
Cena Seis: A Igreja militante / Triunfante
Cena Sete: O Primeiro Domínio Restaurado
18
Aparentemente, a nossa história com a lei não
é toda positiva. Embora tenhamos estado ocupados a defender a lei com sermões "argumentativos" contra aqueles que a ignoram, corrigimos demais a sua, e criamos a nossa própria
heresia no processo. Diz ela que "não expusemos às pessoas a justiça de Cristo e a ampla
significação de Seu grande plano de redenção.
Deixamos de lado a Cristo e Seu incomparável
amor."
Isto é, no mínimo, forte.
E isto não é uma afirmação isolada da parte
dela. Uma e outra vez ela advertiu que nós,
como grupo, estávamos a manusear incorretamente a lei de Deus. A certa altura ela
estava tão cansada de ouvir os nossos pregadores martelar a defesa da lei que ela disse o
seguinte:
Ellen White tinha muito a dizer sobre a nossa
mudança, enquanto grupo, em direção a uma
visão errada e ao uso errado da lei de Deus.
Repara nesta declaração muito perspicaz e incisiva:
"Deixem a lei cuidar de si mesma. Temos estado a trabalhar sobre a lei até ficarmos tão secos como as colinas de Gilboa, sem orvalho ou
chuva. Confiemos nos méritos de Jesus Cristo
de Nazaré" (Sermons and Talks, Vol. 1, p. 137).
“Por um lado, os religiosos em geral divorciam
a lei do evangelho, ao passo que nós, por outra
parte, quase fizemos o mesmo de outro ponto
de vista. Não expusemos às pessoas a justiça
de Cristo e a ampla significação de Seu grande
plano de redenção. Deixamos de lado a Cristo
e Seu incomparável amor, introduzimos teorias
e raciocínios, e pregamos sermões argumentativos” (Fé e Obras, pp. 15-16).
Aqui vemos que ela não estava apenas cansada de ouvir demasiados sermões a defender
a lei. Não era uma questão de falar sobre isso
vezes demais, mas sim que estávamos a criar
um problema teológico sério para nós mesmos.
Estávamos a pregar a lei de tal maneira que estávamos a comprometer a nossa compreensão
do evangelho ao perder de vista os méritos de
Jesus.
Isto devia-nos levar a fazer uma longa pausa.
Indo mais ao centro da questão, ela explicou a
sua preocupação desta maneira:
19
pela graça recebida pelo homem como pecador,
porque ele aceita a Jesus e crê nEle. A salvação
é inteiramente um dom gratuito. A justificação
pela fé está fora de controvérsia” (Fé e Obras,
pp. 19-20).
“Reiteradas vezes me tem sido apresentado o
perigo de nutrir, como um povo, falsas ideias da
justificação pela fé. Durante anos tem-me sido
mostrado que Satanás trabalharia de maneira
especial para confundir a mente quanto a esse
ponto. Tem-se alongado sobre a lei de Deus
e ela tem sido apresentada às congregações
quase de modo tão destituído do conhecimento de Jesus Cristo e de Sua relação para com a
lei como a oferta de Caim” (Fé e Obras, p. 18).
Mas a questão é esta: mesmo em face deste
tipo de declarações de Ellen White, temos
tendido a evitar uma forte ênfase na justificação pela fé na nossa pregação evangelística
por medo de que isso enfraqueça o nosso argumento a favor da obediência à lei de Deus.
Quando pensamos num quadro legalista, o
puro evangelho da graça de Deus é visto como
perigoso para a lei. A mente legalista racionaliza, ou pelo menos sente, algo como isto:
O quê?! Pregações de Adventistas comparadas
à oferta de Caim?!?
Noutras palavras, no nosso zelo para defender
a lei, corremos o risco de apresentar uma perspetiva teológica legalista. Alarmada com a
situação, ela passou a explicar a direção para
onde a nossa pregação precisava ir: "Não há
um ponto que necessite ser realçado com mais
diligência, repetido com mais frequência ou
estabelecido com mais firmeza na mente de
todos, do que a impossibilidade de o homem
caído merecer alguma coisa por suas próprias e
melhores boas obras. A salvação é unicamente
pela fé em Jesus Cristo" (Fé e Obras, p. 19) Uau!
Se a salvação é um dom gratuito da graça de
Deus para ser recebido somente pela fé, e se
não há absolutamente nenhum mérito em
cumprir a lei, então porque o fazemos?
Temos medo de que se fizermos as boas novas
boas demais, tornando a salvação gratuita demais, as pessoas não vão sentir ou ver qualquer
razão para obedecer à lei de Deus. Na verdade,
o oposto é o que acontece, mas até entendermos o evangelho, quero dizer realmente
entendê-lo, estamos muito mais confortáveis
mantendo-o na maior parte das vezes escondido e continuamos a martelar, prova textual a
Imagina uma série de sermões evangelísticos
deste tipo.
Ela continua:
prova textual, sobre a necessidade de guardar
a lei. A verdade é que a obediência rendida por
um sentido de obrigação, com qualquer noção
de que ela contribui no menor grau para a
nossa salvação, não é, na verdade, obediência.
É uma forma dissimulada de rebelião disfarçada de obediência. E não é só isso, é um insulto a Deus, porque humilha a Sua graça por
supor que qualquer coisa que possamos fazer
poderia ganhar o seu favor. Deus não é uma
máquina de venda automática celestial na
qual colocamos a moeda certa, a fim de obter
o que queremos dEle. Nem Deus é uma divindade pagã cujo favor pode ser conquistado por
render-Lhe as nossas boas ações.
contribuir para isso. Está tudo lá n’Ele.
Pacote total!
Negócio fechado!
Facto consumado!
Na Sua encarnação condescendente, na Sua
vida perfeita, na Sua morte abnegada na cruz,
na Sua ressurreição e ascensão triunfante para
a posição de vitória à direita do Pai, nós contemplamos redenção na sua forma completa.
Jesus viveu uma vida de pura inocência e perfeita justiça na nossa humanidade, e quando
Ele conseguiu essa façanha espantosa, uma
humanidade totalmente nova foi forjada a partir da antiga, em nosso favor.
Longe disso!
Salvação, plena e livre em Cristo!
O facto glorioso é que não há absolutamente
nada que possamos fazer para ganhar o favor
de Deus, não porque o seu favor seja difícil de
ganhar, mas porque já o temos! Deus transborda de graça solícita, amor a todo vapor, e
pródiga misericórdia, e não há nada que tenhamos feito ou possamos fazer para merecê-lo.
É por isso que Paulo proclamou o que chamou
de a "redenção que há em Cristo Jesus" (Romanos 3:24). Deixa o significado desta linguagem
registar profundamente no teu coração. A salvação é uma realidade realizada na pessoa e
na obra de Cristo, e não há nada que possamos
Isso é o evangelho.
As boas notícias.
As boas novas.
A mensagem feliz.
E no momento em que tentamos adicionar
qualquer coisa à "redenção que há em Cristo
Jesus" pela nossa observância da lei, as boas
notícias evaporam.
Bem, então, e o que acontece com a lei?
Fico feliz por teres perguntado. Qualquer Adventista inteligente o faria.
“Torne-se distinto e claro o assunto de que
não é possível efetuar coisa alguma em nossa
posição diante de Deus ou no dom de Deus para
nós, por meio do mérito de seres criados. Se a
fé e as obras adquirissem o dom da salvação
para alguém, o Criador estaria em obrigação
para com a criatura. Eis aqui uma oportunidade para a falsidade ser aceita como verdade.
Se alguém pode merecer a salvação por alguma
coisa que faça, encontra-se, então, na mesma
posição que os católicos para fazer penitência por seus pecados. A salvação, nesse caso,
consiste em parte numa dívida que pode ser
quitada com o pagamento. Se o homem não
pode, por qualquer de suas boas obras, merecer
a salvação, então ela tem de ser inteiramente
A Letra Mata, Mas O Espírito Vivifica
Olha para 2 Coríntios 3. Se és Adventista, é
provável que nunca tenhas dado muita atenção a esta passagem, porque ela não se encaixa
com a maneira como nós geralmente moldamos a nossa visão da lei de Deus. É quase certo
que tu nunca ouviste esta passagem pregada
numa série evangelística, exceto, talvez, para
"responder" com um argumento para explicar
a nossa maneira de a contornar. Acreditamos
que a nossa igreja é chamada por Deus para
pregar a Sua lei. A imutabilidade da lei de Deus
é uma das nossas crenças fundamentais. E,
20
21
no entanto, esta passagem é o magnum opus
(trabalho mais importante) de Paulo sobre a
lei e praticamente nem sequer figura no ensino adventista sobre a lei. Aqui temos Paulo
a articular o seu melhor pensamento sobre a
lei no evangelho e ainda assim esta passagem
raramente, ou nunca, aparece na pregação Adventista. Nós simplesmente não sabemos o
que fazer com ela porque nós estamos a tentar
dizer uma coisa sobre a lei e Paulo está a tentar
dizer algo diferente. Eu corajosamente insisto
que o que o apóstolo dos Gentios ensina sobre
a lei em 2 Coríntios 3 é uma necessidade vital
entre nós, como um povo.
"A letra mata."
A lei sem o evangelho perturba-nos porque
distorce a nossa imagem de Deus. Isso deixanos com uma pesada sensação emocional de
obrigação de fazer coisas para Deus, em vez de
termos um sentimento de gratidão a Deus pelo
que Ele tem feito por nós.
"A letra mata."
Paulo passa a expor o seu significado no versículo 7, chamando à lei "o ministério da morte"
e no versículo 9, “o ministério da condenação".
Claramente, então, Paulo está a falar principalmente sobre a morte espiritual, e não a morte
física. A lei administra morte impondo um sentido de "condenação" na consciência. Em Romanos 3:20, Paulo di-lo desta maneira:
Vamos começar com o versículo seis. Com a luz
do evangelho a resplandecer na sua consciência, Paulo declarou claramente qual era a sua
missão evangelística, a qual devia ser a nossa.
Ele diz que Deus "nos fez também capazes de
ser ministros de um novo testamento, não da
letra, mas do espírito; porque a letra mata e o
espírito vivifica." Os ministros de Deus, o que
nos inclui a todos como crentes em Cristo, devem ser determinados sobre a comunicação
do "novo testamento". Essa é a mensagem
que Deus nos chamou para proclamar. Noutras
palavras, devemos lidar com a lei de Deus com
uma orientação de novo testamento intencional.
"Pela lei vem o conhecimento do pecado."
A lei funciona como um espelho moral para
nos mostrar o nosso pecado em contraste com
o seu padrão perfeito de amor altruísta. Nós olhamos para a lei, e pensamos: "Oh não, estou
afundado! Eu não sou nada assim. Estou completamente confuso e desprovido de bondade
moral, se esse é o padrão." E é tudo verdade.
Somos culpados, e a lei deixa isso claro. Mas
não há vida na revelação da nossa culpa por
parte da lei, porque a culpa não é motivação
suficiente para uma verdadeira mudança de
vida. Se permanecermos no aperto psicológico da nossa culpa e se tentarmos contar com
Deus para salvação na premissa das exigências da lei, tudo o que vamos experimentar é a
morte espiritual.
Por que é isto importante?
Porque, como Paulo diz, "a letra mata." Pregar a lei meramente como uma lista de regras
morais a ser obedecidas, deixando qualquer
grau de impressão de que guardar a lei concede
acesso a Deus, ao Seu favor, ao Seu amor, à Sua
aceitação, é espiritualmente perigoso.
vivem com atitudes de julgamento em relação
aqueles que não estão à altura.
Paulo vai fundo aqui, mas quando entendemos
o que ele está a dizer é realmente muito simples e extremamente libertador. Vamos decompor o texto.
2. Ou vamos tentar e tentar, e tentar obedecer,
motivados por um sentimento de medo e condenação, até que finalmente desistimos em
desespero.
Primeiro de tudo, sabemos que Paulo está a
falar sobre a lei moral e não a lei cerimonial
porque ele especifica que a lei com que ele
está a lidar foi "gravada em pedras". Então,
precisamos encarar o fato de que tudo o que
Paulo está prestes a dizer tem a ver com os Dez
Mandamentos. Com discernimento brilhante,
Paulo continua a descrever a lei dada por Moisés no Monte Sinai, dizendo que ele tinha um
certo tipo de "glória". Foi revelador. Ele trouxe
verdade vital à luz. Sim, a lei tem um domínio
de operação legítimo, mas a lei é limitada no
que pode revelar e no que ela pode alcançar.
Assim, Paulo diz que a sua "glória" era necessariamente "transitória". Teve que dar lugar a
outra coisa.
"A letra mata."
Por outro lado, Paulo, diz: "O Espírito dá
vida". O Espírito Santo está especificamente
a trabalhar dentro do domínio da pregação da
nova aliança, porque é onde a verdadeira vida
espiritual nasce e é nutrida. Isto torna-se claro
quando Paulo expõe o seu ponto de vista. Observa os versículos 7-11:
“E, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, veio em glória, de maneira que
os filhos de Israel não podiam fitar os olhos
na face de Moisés, por causa da glória do seu
rosto, a qual era transitória, como não será de
maior glória o ministério do Espírito? Porque,
se o ministério da condenação foi glorioso,
muito mais excederá em glória o ministério da
justiça. Porque também o que foi glorificado
nesta parte não foi glorificado, por causa desta
excelente glória. Porque, se o que era transitório foi para glória, muito mais é em glória o
que permanece”.
Esta maneira de descrever os Dez Mandamentos não nos agrada muito. Achamos estranho,
até mesmo preocupante, encontrar linguagem
como esta sobre a lei de Deus ali mesmo na
Bíblia. O que estamos inclinados a fazer como
Adventistas é manobrar à volta de declarações
como esta ou evitá-las completamente. No
entanto Paulo é persistente e enfático, não só
"A letra mata."
Se a lei é pregada de tal forma que nos faz imaginar que podemos realmente guardá-la se
simplesmente tentarmos muito, vamos inevitavelmente mover-nos numa de duas direções:
"A letra mata."
Além de uma proclamação amplamente divulgada, impossível de perder, totalmente clara da
graça de Deus, a letra da lei só tem poder para
destruir.
1. Ou nos tornamos “fariseus” hipócritas que
policiam o comportamento uns dos outros e
22
23
aqui, mas ao longo dos seus escritos, na caracterização da lei como transição para algo superior. Em Romanos 7:4, Paulo diz: "Assim, meus
irmãos, também vós estais mortos para a lei
pelo corpo de Cristo." No versículo 6, ele diz,
"Mas agora temos sido libertados da lei, tendo
morrido para aquilo em que estávamos retidos;
para que sirvamos em novidade de espírito,
e não na velhice da letra." Em Romanos 10:4
diz: "Porque o fim da lei é Cristo para justiça
de todo aquele que crê." Em Gálatas 3:24,25,
ele diz: "De maneira que a lei nos serviu de aio,
para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados. Mas, depois que veio a fé,
já não estamos debaixo de aio."
Deus. Mas se nos esforçarmos para lidar com
o que Paulo diz sobre os Dez Mandamentos,
evitando o fosso do antinomianismo à esquerda e afastando-nos da vala do legalismo
à direita, vamos descobrir perceções poderosas
do evangelho que nunca conhecemos antes.
Desde a época de Cristo e os apóstolos, que o
antinomianismo de um lado e o legalismo do
outro, têm sido as únicas opções que foram
articuladas de forma destacada para o mundo.
Há uma profunda, bela e poderosa genialidade
no tratamento da lei por Paulo, que permanece
em grande parte desconhecido e sem pregação.
Há algum sentido muito importante no qual
Cristo é o fim da lei para aqueles que acreditam,
um sentido vital em que a lei serve como um
tutor para nos conduzir a Cristo, algum sentido
crucial no qual o crente se torna morto para a
lei através da morte de Cristo, algum sentido
experiencial no qual o crente é libertado da lei.
Como Adventistas, precisamos processar o que
Paulo ensina sobre a lei se quisermos alguma
vez realmente proclamar o evangelho com alto
clamor, com o poder da chuva serôdia. No geral,
as denominações cristãs falharam em ver o que
Paulo está realmente
a dizer em relação à
lei, e como resultado
eles têm ido na direção do antinomianismo. Eles simplesmente negam a lei
por completo.
Depois de nos dizer que a lei tinha um certo
tipo de glória, Paulo diz-nos que a glória da lei
deve dar lugar a uma glória maior: "Porque, se
o ministério da condenação foi glorioso, muito
mais excederá em glória o ministério da justiça.
Porque também o que foi glorificado nesta
parte não foi glorificado, por causa desta excelente glória. Porque, se o que era transitório
foi para glória, muito mais é em glória o que
permanece." Paulo é claro: há uma glória trazida ao mundo na pessoa de Cristo, que “sobressai" tão além da lei gravada em tábuas de pedra que a lei "não teve
nenhuma glória" por
comparação. Quando
os anjos viram o recém-nascido Messias,
eles clamaram dos
céus, "Glória a Deus
nas alturas, Paz na
terra, boa vontade para com os homens" (Lucas 2:14). Aproximando-se da cruz, Jesus disse:
"É chegada a hora em que o Filho do homem há
de ser glorificado" (João 12:23).
Então vamos voltar para 2 Coríntios 3, agora.
Historicamente, o Adventismo apareceu e redescobriu a esquecida lei de Deus. Como povo,
temos justamente exaltado os Dez Mandamentos como imutáveis, eternos e invariáveis.
No entanto, enquanto nós evitamos o antinomianismo, falhamos também, com frequência, em conseguir entender o que Paulo tem
a dizer sobre a lei. Como resultado, o nosso
próprio profeta repreendeu-nos repetidamente
por pregarmos uma ideia errada sobre a lei de
Aqui está a glória que "se destaca": a glória do
Monte Sinai é suplantada pela glória do Monte
Calvário.
Em Cristo algo é dado ao mundo que a lei
não pode dar, e Paulo agora diz-nos o que é.
24
Observa as palavras do versículo 9: "Porque,
se o ministério da condenação foi glorioso,
muito mais excederá em glória o ministério
da justiça." Deus salva pecadores ao ministrar
"justiça" em vez de "condenação". O Espírito
Santo, operando dentro do quadro da nova
aliança e reivindicando as realizações de Cristo,
comunica aos nossos corações a sensação de
que somos justos aos olhos de Deus. Aqui está
a grande verdade da justificação pela fé, que é
equivalente ao que Paulo chama "nova aliança". Em Romanos 4:17 Paulo diz assim: Deus
"chama as coisas que não são como se já fossem." Deus chama-me justo, embora Ele saiba
que eu sou pecador. Ele chama-me inocente,
embora ele saiba que eu sou culpado. Isto não
é ficção legal. É genialidade relacional! Deus
relaciona-se comigo como se eu nunca tivesse
pecado, não
​​ para desculpar o meu pecado ou
para me deixar em cativeiro nele, mas para me
libertar dele ao nível da minha identidade mais
profunda.
Em 2 Coríntios 5:19 Paulo comunica a mesma
verdade com linguagem diferente: "Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo,
não lhes imputando os seus pecados." Ou,
como traduzido na Nova Versão Internacional,
Deus salva pecadores "não lançando em conta
os pecados dos homens". Ele revela-se em Cristo, como já reconciliado a nós. No Seu coração
está o perdão pleno e livre. Nós não precisamos
de fazer nada para conseguir que Deus esteja
lá. Ele já lá está. Ele ama todos os pecadores
do mundo, com um amor perfeitamente reconciliada que não pode ser comprado. Tudo o que
falta fazer é que cada um de nós o veja, acredite, e se reconcilie com Ele. Dito de outra forma,
a realidade objetiva da salvação é um facto já
realizado na pessoa e obra de Cristo. Não há
nada que possamos fazer para contribuir para
isso. A experiência subjetiva deste facto objetivo ocorre quando a abraçamos pela fé, quando dizemos: Sim! Sim ao amor de Deus, ao Seu
perdão, à Sua aceitação, tal como é revelada
na vida e na morte e ressurreição de Jesus. A fé
não cria novos factos, ela simplesmente acred25
ita nos factos como eles são, em Jesus.
Volta novamente a 2 Coríntios 3 e aprecia o
grande final de Paulo na sua explicação sobre
as duas visões da lei. Versículos 12-18:
“Tendo, pois, tal esperança, usamos de muita
ousadia no falar. E não somos como Moisés,
que punha um véu sobre a sua face, para que
os filhos de Israel não olhassem firmemente
para o fim daquilo que era transitório. Mas os
seus sentidos foram endurecidos; porque até
hoje o mesmo véu está por levantar na lição do
velho testamento, o qual foi por Cristo abolido;
E até hoje, quando é lido Moisés, o véu está
posto sobre o coração deles. Mas, quando se
converterem ao Senhor, então o véu se tirará.
Ora, o Senhor é o Espírito; e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade. Mas todos nós,
com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados
de glória em glória na mesma imagem, como
pelo Espírito do Senhor.”
Aqui, Paulo descreve uma condição humana
em que as pessoas sabem o que é a Bíblia,
mas não a conhecem. Eles são textualmente
alfabetizados e espiritualmente ignorantes
ao mesmo tempo. Eles sabem o que é a palavra, mas eles não conhecem a Palavra. Eles
sabem capítulos e versículos e fatos, mas eles
não conhecem as realidades relacionais mais
profundas para que apontam. "Quando é lido
Moisés, o véu está posto sobre o coração deles.” Sim, Paulo refere-se ao povo do antigo Israel. Mas, não, ele não se está a referir apenas a
Israel. Ele também se está a referir a quaisquer
pessoas modernas que por acaso sabem muita
"verdade" e pregam a lei e, por causa de toda
a verdade que eles sabem, veem-se como "rico
sou, e estou enriquecido (teologicamente), e de
nada tenho falta," quando na realidade cada
um deles é "um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu" (Apocalipse 3:17).
Pregando a verdade sem pregar a verdade!
Cegueira, realmente! Mas, querido amigo Ad-
ventista, há esclarecimento claro para se ter.…
em Cristo! "O véu é retirado em Cristo", Paulo
proclama. "Quando alguém se converte ao
Senhor, o véu é tirado." "Vendo, como num espelho, a glória do Senhor." Não é um olhar casual, como se Jesus fosse uma doutrina numa
série de sermões! Não é um olhar de passagem,
como se Jesus fosse mais um tópico entre muitos, digamos, a sexta noite, numa série de 24!
Paulo colocou diante de nós duas opções distintas:
1. A experiência da antiga aliança, que nunca
foi intenção de Deus, é conduzida por um sentido emocional de condenação como o motivador para a obediência. A experiência da antiga
aliança produz uma aparência exterior de obediência, uma obediência fingida, superficial,
hipócrita e julgadora. A experiência da antiga
aliança é caracterizada por uma sensação de
pressão imposta externamente para obedecer
à lei, a fim de obter a aceitação de Deus.
Não!
"Contemplando" é a palavra que Paulo usou.
Ele está a dizer-nos para olhar, refletir, e contemplar Cristo como com o olhar paralisado! E
dar a Jesus a nossa atenção completa, focada,
indivisível, emocional, intelectual e teológica.
Ele diz-nos exatamente o que nos vai acontecer, em nós, por nós. Nós vamos ser "transformados de glória em glória na mesma imagem."
Ele já havia explicado que há duas glórias à
nossa frente, a glória do evento do Sinai e a
glória do evento do Calvário; a glória da carta
a ministrar condenação e a glória do Espírito
ministrando o dom da justiça; a glória da lei
que traz a morte e a glória da nova aliança que
traz vida. Agora, ele diz-nos que, ao contemplarmos Jesus vamos passar por uma mudança
fundamental, essencial, transformadora e final
daquela glória para a outra, de nos relacionarmos com Deus através da lei para a salvação
até nos relacionarmos com Deus por meio de
Cristo para a salvação.
2. A experiência da nova aliança é impulsionada por um profundo sentimento do amor
de Deus como o motivador para a obediência.
A experiência da nova aliança produz um aumento interno autêntico de obediência à lei de
Deus, verdadeira, sincera, livre de toda a condenação. A experiência da nova aliança é caracterizada por uma sensação libertadora de que
eu já tenho a aceitação de Deus, antes de eu
render um único ato de obediência à lei, que,
em seguida, cria em mim um novo poder para
obedecer que eu nunca tinha conhecido antes.
Paulo não aboliu a lei. Ele definiu de forma
simples e necessária os limites do poder da
lei e colocou-a dentro da sua legítima esfera
de ação. Ele não negou a lei completamente,
mas ele negou enfaticamente a lei como meio
de salvação. A lei serve um propósito, e a Bíblia
diz-nos claramente qual é esse propósito: "a lei
nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo,
para que pela fé fôssemos justificados" (Gálatas 3:24). Um fariseu dos fariseus, Paulo experimentou a epifania teológica definitiva: A
glória da lei é suplantada pela glória do Cristo
vivo! Paulo fez a mudança, e ele exorta a que
cada um de nós o faça também "de glória em
glória", da glória da lei, para a glória do evangelho. Quando fizermos essa mudança, o Adventismo vai finalmente tornar-se na poderosa
revolução teológica que Deus quer que ele seja.
E nós vamos saber quando estiver a acontecer,
porque quando acontecer, "Um interesse vai
prevalecer, um assunto vai engolir todos os
outros: Cristo nossa justiça" (Ellen White, Review and Herald, 23 de dezembro de 1890).
PARA DISCUSSÃO
A lição diz que há duas maneiras como os seres
humanos se relacionam com a ideias de que
devemos obedecer para ganhar a salvação, ou
o amor ou o favor de Deus:
1. marchar em "obediência", o que leva ao
farisaísmo e ao pensamento crítico, ou
2. tentar e tentar, falhar e desistir em desespero.
• Na direção de qual destes extremos se tem
inclinado a tua vida a maior parte das vezes?
• Quando é que realmente chegaste a compreender o princípio ensinado nesta lição, que
a nossa salvação é encontrada somente em
Cristo, independentemente da lei, e que a nossa obediência alegre é possível por essa aceitação milagrosa? Se foi no passado, partilha
uma história específica de uma mudança que
aconteceu na tua vida como resultado.
Se estás apenas agora a começar a entender
isto, louva a Deus e presta atenção a histórias
para partilhar. Isso irá mudar a tua vida!
• Paulo diz que não havia glória na lei. Partilha
duas maneiras em que os Dez Mandamentos
são gloriosos para ti. Ele, então, diz que há
muito mais glória em Cristo e no Seu dom de
salvação perfeito e livre. Partilha duas maneiras em que a glória deste dom gratuito excede
a glória da lei para ti.
• Qual achas que é o "véu" que impede os cristãos verdadeiramente bem intencionados de
ver esta verdade sobre a graça e a lei?
• Partilha três maneiras através das quais podes consciente e continuamente contemplar
Cristo na tua vida diária. Compromete-te a
praticar essas maneiras de manter o Seu rosto
amoroso à tua frente.
Atividade de Grupo
Dependendo do tamanho do teu grupo, podes querer
dividir em equipas ou pares para esta atividade. Reescreve cada mandamento usando uma linguagem
positiva. Quando Deus diz "não", o que quer Ele que nós
façamos? Escreve-os como promessas.
26
27
# DIA 4
O SÁBADO
AMOR REPARADOR
N
a nossa mensagem anterior, descobrimos ideias vitais sobre a lei de Deus,
deixando-nos ser instruídos pelo apóstolo Paulo. Em primeiro lugar, vimos que a única forma legítima de pregar a lei está na forma
de uma nova aliança. Qualquer sermão sobre a
lei que consista simplesmente em provar que
a lei deve ser obedecida, sem uma declaração
clara do evangelho da graça, está a mover-nos
na direção errada. Em segundo lugar, observamos que a lei funciona como um tutor para nos
conduzir a Cristo, afim de sermos justificados
pela fé e não pela obediência à lei. Está no âmbito da função da lei o revelar o nosso pecado
e, portanto, a nossa necessidade de um Salvador, mas a lei não tem absolutamente nenhum
poder salvador. Por fim, aprendemos que a lei
possui um certo tipo de glória. Paulo descreve
essa glória como o poder revelador para administrar a condenação, ou consciência, do nosso
pecado. Mas agora, diz Paulo, a glória da lei é
substituída pela maior glória da justiça de Cristo, que o Espírito Santo administra.
Sábado. Tendíamos a ver os guardadores do
Domingo como "adversários" teológicos que
precisavam ser argumentados à obediência da
lei, e como resultado, a nossa própria teologia
da lei foi na direção errada. Por causa do nosso
mau uso da lei, Ellen White observou que nós,
como Adventistas do Sétimo Dia, estávamos
a ganhar uma reputação infeliz aos olhos dos
outros Cristãos. Foi assim que ela articulou a
impressão que tínhamos causado: "...os Adventistas do Sétimo Dia falam na lei, na lei,
mas não ensinam a Cristo nem nEle crêem"
(Ellen White, Testemunhos Para Ministros, pp.
91-92).
Vamos voltar a esta declaração daqui a pouco e
considerar o seu contexto histórico. Mas agora,
vamos sentir o peso da sua avaliação. Se há alguma reputação que a igreja não deve querer
trazer sobre si mesma, é esta. Somos, afinal,
chamados a pregar o evangelho eterno ao
mundo, que é a boa noticia salvação somente
pela graça, através da fé, somente em Cristo, e
não pelas obras da lei. E, no entanto, aqui estava a nossa própria profetisa, Ellen G. White,
dizendo-nos que tínhamos feito precisamente
a coisa que não devíamos ter feito: dado a impressão de que Jesus não estava em lugar nenhum no nosso radar.
Na etapa inicial da teologia e abordagem evangelística Adventista, nós, como um povo, não
percebemos isto. Estávamos muito envolvidos numa postura defensiva de tentar provar
ao restante mundo Cristão que a lei de Deus
é eterna, e, portanto, todos devem obedecerlhe - toda ela - incluindo o mandamento do
enviado dos céus, como só pode ser encontrado
na pregação de Jesus Cristo, o Seu amor, o Seu
perdão, a Sua graça.” (Materiais de 1888, pp.
842, 844-855).
uma grande parte do seu ministério profético,
confrontando-nos com o facto de que tínhamos pregado a lei de uma forma errada e não
tínhamos conseguido pregar o evangelho com
clareza. Ela foi para a sepultura exortando-nos
como igreja para mudarmos de rumo, dizendo
coisas como estas:
Estas declarações, e muitas mais como estas, fluíram diretamente da Sessão da Conferência Geral de 1888, em que Deus tentou
trazer o evangelho para a teologia Adventista
através de dois jovens chamados Ellet Joseph
"EJ" Waggoner e Alonzo T. Jones. Numa das
declarações mais abrangentes e ricas que Ellen
White alguma vez escreveu, ela avaliou assim
o que estes homens pregavam:
“Reiteradas vezes me tem sido apresentado o
perigo de nutrir, como um povo, falsas ideias da
justificação pela fé. Durante anos tem-me sido
mostrado que Satanás trabalharia de maneira
especial para confundir a mente quanto a esse
ponto. Tem-se alongado sobre a lei de Deus
e ela tem sido apresentada às congregações
quase de modo tão destituído do conhecimento de Jesus Cristo e de Sua relação para com a
lei como a oferta de Caim.” (Fé e Obras, p. 18).
“Em Sua grande misericórdia, enviou o Senhor preciosa mensagem a Seu povo por intermédio dos Pastores Waggoner e Jones. Esta
mensagem devia pôr de maneira mais preeminente diante do mundo o Salvador crucificado,
o sacrifício pelos pecados de todo o mundo.
Apresentava a justificação pela fé no Fiador;
convidava o povo para receber a justiça de
Cristo, que se manifesta na obediência a todos
os mandamentos de Deus. Muitos perderam
Jesus de vista. Deviam ter tido o olhar fixo em
Sua divina pessoa, em Seus méritos e em Seu
imutável amor pela família humana.
“A pregação de Cristo crucificado tem sido estranhamente negligenciada pelo nosso povo.
Muitos dos que alegam crer na verdade não
têm conhecimento da fé em Cristo pela experiência... Deve haver um poder vivificante
no ministério. A vida deve ser infundida nos
missionários em todos os lugares, para que
possam sair sem dar à trombeta nenhum som
incerto, mas com poder para o despertamento
E a censura continua até hoje.
Cada evangelista e pastor Adventista tem
que lutar contra a acusação de que somos legalistas. A nossa resposta comum à acusação
tem sido negar a acusação, fiéis à nossa profundamente enraizada visão Laodiceana de
que somos ricos e aumentados com bens
doutrinários e não precisamos de nada. Mas Ellen White não o negou. Na verdade, ela passou
28
29
Todo o poder foi entregue em Suas mãos,
para que Ele pudesse dar ricos dons aos homens, transmitindo o inestimável dom de
Sua justiça ao impotente ser humano. Esta é
a mensagem que Deus manda proclamar ao
mundo. É a terceira mensagem angélica que
deve ser proclamada com alto clamor e regada
com o derramamento de Seu Espírito Santo em
grande medida” (Testemunhos Para Ministros,
p. 91,92).
Como povo, temos tido a tendência de reduzir
o Sábado a um argumento de “dia certo” contra “dia errado”. Pergunta a uma congregação
Adventista normal: "Será que temos a verdade
sobre o Sábado?" Vais ter um coro entusiasmado de "Améns!"
Depois pergunta:
"O que é a verdade do Sábado?"
As pessoas vão dar respostas como:
"O sétimo dia é o Sábado, não o primeiro dia!"
"É Sábado e não domingo!"
"A Igreja Católica mudou o Sábado para domingo!"
E foi neste contexto que ela disse:
"A mensagem do evangelho de Sua graça devia ser dada à igreja em linhas claras e distintas, para que não mais o mundo dissesse que
os Adventistas do Sétimo Dia falam na lei, na
lei, mas não ensinam a Cristo nem nEle creem"
(Testemunhos Para Ministros, p.92).
Que esboço surpreendente daquilo em que o
Adventismo se podia ter tornado e ainda se
pode tornar! Imagina quão evangelisticamente
poderoso seria, se a primeira coisa que as pessoas pensassem quando ouvem falar de Adventistas do Sétimo Dia fosse algo como: "Oh,
sim, essa é a igreja que não consegue parar de
falar sobre o amor de Deus por todos."
Tudo isso é verdade e importante, mas não é a
verdade que reside dentro do próprio Sábado.
Quando nós limitamos o Sábado a um esforço
para provar que as pessoas devem obedecer
ao quarto mandamento, perdemos o que realmente significa o Sábado. Nesta mensagem
vamos explorar o que está em causa sobre o
Sábado, e aquilo que estamos prestes a descobrir é realmente incrível. Então, vamos reexaminar o Sábado e ver o maior tesouro de visão
evangélica que temos.
Descanso incorporado Dentro da História
Uau, isso seria incrível, não é?
Vamos começar por olhar novamente para a
origem do Sábado em Génesis. Mas agora, em
vez de apenas citar o capítulo 2:1-3 como uma
testemunha isolada para provar que o Sábado
foi dado no Éden e, portanto, deve ser guardado por todos os seres humanos e não apenas
pelos judeus, vamos fazer uma pausa para ter
em conta o contexto narrativo em que o Sábado foi instituído. Ao olhar para a história completa em que o Sábado surge, vamos descobrir
a bela verdade que ele exprime. Em Génesis 1
e 2, vemos que Deus prossegue com a Criação
num padrão artístico intencional: formação de
espaços materiais e, em seguida, preencher
os espaços com vida. Nos três primeiros dias
o Criador faz espaços dividindo os elementos
materiais da Criação. Nos três dias seguintes,
Ele preenche esses espaços com seres vivos.
As pessoas estariam a inundar as nossas igrejas. O alto clamor e chuva serôdia aconteceriam dispensando os nossos incessantes e
constantes esforços para que isso aconteça,
porque estaríamos a pregar a própria mensagem que o Espírito Santo iria ansiosamente
confirmar com o Seu poder. Na mensagem de
hoje, vamos descobrir como uma das nossas
doutrinas tem o potencial de nos abrir os olhos
e inflamar verdadeiro reavivamento entre nós,
com base na única verdade em que o verdadeiro reavivamento pode estar baseado - a grande
verdade da justificação pela fé, também conhecida como o Evangelho.
A doutrina a que me estou a referir é a verdade
bíblica a respeito do Sábado.
30
No dia um Deus forma os céus e a terra e
separa a luz das trevas, e, em seguida, no dia
quatro Ele preenche esse espaço com o Sol, a
Lua e as estrelas. No segundo dia Deus forma
os espaços da água e do céu, e, em seguida,
no quinto dia Ele preenche esses espaços com
peixes e aves. No terceiro dia Deus forma o espaço de terra seca, e, em seguida, no sexto dia
Deus enche a terra com animais e humanidade.
Em seguida, vem o clímax de todo o processo:
Deus cria o Sábado e preenche-o com Ele próprio. O Sétimo Dia é um espaço único, porque
não é um espaço material, mas sim um espaço
relacional, e não é preenchido com coisas materiais, mas sim com a bênção da presença do
companheirismo de Deus.
Mas isso não é tudo. A história é mais bonita
ainda.
Nota que os seres humanos foram criados
na segunda metade do sexto dia, depois de
todo o "trabalho" da Criação de Deus já estar
"acabado". Portanto, eles não participaram na
obra da Criação, nem mesmo testemunharam
Deus envolvido no ato de criar. Imagina a cena.
Adão acorda para a vida, o rosto do seu Criador a poucos centímetros do seu. Eles olhamse. Que momento! Deus diz algo como: «Olá!
Bem-vindo à existência! Eu sou o teu Criador
e eu fiz toda esta beleza para ti.» Nesse momento, algo é necessário para a relação continuar: fé, convicção, confiança de que o que
Deus lhe está a dizer é verdade. Paulo chega a
esta conclusão em Hebreus 11:1: "Ora, a fé é o
firme fundamento das coisas que se esperam,
e a prova das coisas que se não vêem." Depois
o versículo 3: "Pela fé entendemos que os mundos pela palavra de Deus foram criados; de maneira que aquilo que se vê não foi feito do que
é aparente."
“Assim os céus, a terra e todo o seu exército
foram acabados. E havendo Deus acabado no
dia sétimo a obra que fizera, descansou no
sétimo dia de toda a sua obra, que tinha feito.
E abençoou Deus o dia sétimo, e o santificou;
porque nele descansou de toda a sua obra que
Deus criara e fizera.” (Génesis 2:1-3).
O que está a ser descrito aqui não é o descansar de exaustão física, para a qual é necessário
dormir, mas descanso no sentido de satisfação,
para o que é necessário gozo. Deus não está
cansado, Ele está feliz, contente, satisfeito.
Ele tem estado a dar, a dar, a dar, derramando
a Sua energia para criar. Agora Ele completou a
tarefa e está a receber de volta para Si mesmo
o prazer do amor correspondido da Sua Criação.
Esse é precisamente o Seu plano para nós, que
fôssemos "abençoados" em primeiro lugar, recebendo d'Ele uma posição de descanso e, em
seguida, sermos envolvidos para gastar a nossa energia com Deus e com os outros. Então
Deus "santificou" o sétimo dia. A palavra significa literalmente único ou distinto. Deus deunos o Sábado como um espaço único no tempo
para o gozo da comunhão entre Ele e nós, como
uma lembrança recorrente e constante de que
a natureza exata do nosso relacionamento com
Ele é uma de amor recíproco.
Adão não viu Deus criar nada, mas ele encontra em si mesmo uma confiança, uma dependência, um repouso agradável naquele que fala
com ele. A fé faz parte da sua natureza. Ele
sente que é amado e o amor de Deus cria confiança no seu coração. Depois Deus cria Eva. Mas
ele não diz a Adão, «Olha para isto!», e “puff” …
ela é criada à vista de Adão. Não. Ele adormece
Adão, e de seguida cria Eva. Ela, como Adão,
desperta para viver pela fé e Adão abre os olhos pela segunda vez para confiar na palavra do
seu Criador de que esta, a mais bela de todas
as criaturas que está diante dele, saiu do poder
criador de Deus. Lá estavam eles, o homem e
a mulher, num belo jardim recebendo pela fé,
como um dom gratuito, tudo o que os rodeava. E vê isto: o Sábado foi o seu primeiro dia
completo de vida. Eles descansaram primeiro,
contemplando a realidade da sua total dependência do Seu Criador, e, em seguida, energizados pelo Seu amor, eles passaram a trabalhar
cuidando do jardim no primeiro dia da semana.
31
A história da Criação, posicionando Adão e Eva
como beneficiários de uma obra acabada, comunica uma mensagem poderosa: nós, seres
humanos, somos criaturas de descanso antes
de sermos criaturas de trabalho. Estamos a
nível mental, emocional e relacionalmente projetados para receber de Deus antes de sermos
capazes de devolver a Ele e aos outros. "Nós o
amamos a ele porque ele nos amou primeiro" (1
João 4:19). Essa é a natureza da relação Criadorcriatura.
o propósito de carregar a imagem de Deus: "Façamos o homem à nossa imagem, conforme a
nossa semelhança" (Génesis 1:26). Em João 1,
Jesus torna-se o novo homem para redimir o
fracasso de Adão, e revela a glória e imagem
de Deus sem falhas: "E o Verbo se fez carne, e
habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a
glória do unigénito do Pai, cheio de graça e de
verdade" (João 1:14).
Em Génesis, lemos que Deus "terminou" o trabalho de Criação, "E havendo Deus acabado no
dia sétimo a obra que fizera, descansou no sétimo dia de toda a sua obra, que tinha feito."
(Génesis 2:2). Em João, enquanto Jesus chega
ao fim de seu ministério de Salvação, Ele emprega a linguagem do sétimo dia de Génesis 2
e diz ao Pai: "Eu glorifiquei-te na terra, tendo
consumado a obra que me deste a fazer" (João
17:4). E pendurado na cruz, Ele exclama: "Está
consumado!" (João 19:30). O versículo seguinte
informa-nos que Jesus declarou a Sua obra de
Salvação "consumada" no " dia da preparação",
(sexta-feira), e em seguida, descansou na tumba no dia de Sábado.
Vemos então que a Bíblia conta perfeitamente duas histórias indissociavelmente entrelaçadas: a história da Criação e a história da
Recreação; e o Sábado é o ponto culminante
de resolução em ambas as histórias. Isto é
bastante surpreendente e poderoso, na ver-
A Continuidade Criação-Salvação
Ok, então, a nossa primeira descoberta sobre o
Sábado é que ele é um memorial da obra consumada da Criação de Deus, lembrando-nos da
nossa posição na Criação como confiantes destinatários do Seu amor. Agora vamos descobrir
que o Sábado é também um memorial da Redenção. Uma vez percebida, a conexão é óbvia.
Há uma razão super lógica pela qual o Sábado
funciona como um memorial tanto da Criação
como da Salvação, e é esta: ambas são realizadas pelo poder criativo de Deus. A Salvação é,
de fato, um ato de re-Criação da parte de Deus.
Dentro do enredo da Escritura há o que poderia ser descrito como uma continuidade entre
Criação e Salvação. Vê como ela se desenrola
maravilhosamente.
O Antigo Testamento começa com as palavras:
"No princípio criou Deus o céu e a terra" (Génesis 1:1), e, depois, a história da Criação continua,
o "Haja luz", e assim por diante. O Evangelho
de João no Novo Testamento começa com: "No
princípio era o Verbo, e o Verbo estava com
Deus, e o Verbo era Deus" (João 1:1), e, depois,
a história da redenção continua. Em Génesis
1, a primeira declaração do empreendimento
criativo é, "Haja luz, e houve luz" (Génesis 1:3).
Em João 1, a primeira declaração do empreendimento da redenção é: "Nele estava a vida, e a
vida era a luz dos homens.
E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não
a compreenderam"(João 1:4,5).
dade, porque quando o Sábado é visto no seu
contexto narrativo natural, antecipa o legalismo. Significando não apenas a obra consumada da Criação, mas também a obra concluída
de Salvação, o Sábado nega toda a empresa de
salvação pelas obras e centra a nossa confiança
total em Cristo. É uma pena que tenhamos ignorado esta narração da verdade do Sábado e
ficado por meras abordagens de dia certo ou
dia errado. Se tivéssemos mantido o Sábado
no alto, como o lembrete da graça salvadora de
Deus que ele é, o Sábado ter-nos-ia imunizado
contra o legalismo e o nosso testemunho para
o mundo seria muito mais vencedor.
do lado proibitivo, como do lado da misericórdia." (Mensagens Escolhidas, vol 1, p 235).
Noutra ocasião, ela escreveu: "Os Dez Mandamentos, 'Farás" e "Não farás", são dez promessas." (Bible Echo, 17 de Junho, 1901). Isto é verdadeiro para o quarto mandamento. O Sábado
não é sobre o que não podemos fazer durante
um período de 24 horas cada semana. É sobre o
que Deus tem feito e fará por nós por Sua graça
misericordiosa. Quando entendido dentro do
contexto da história bíblica em geral, o Sábado
é uma lembrança constante da nossa total dependência de Jesus para a Salvação e, portanto,
a própria antítese do legalismo.
Os fariseus do tempo de Jesus transformaram
o Sábado de Deus numa regra legalista com a
qual martelar, julgar e prender as pessoas. Em
certo sentido temos repetido a sua história à
nossa própria maneira, do nosso próprio ângulo. Há uns anos atrás, ouvi um pastor perguntar a um jovem Adventista, "O que é que o
Sábado significa para ti?" O menino pensou por
um momento e respondeu: "Senta-te, cala-te
e pinta, ou vais ficar com a marca da besta."
Enquanto alguns podem achar esta resposta
engraçada, para muitos Adventistas ela representa a sua visão geral sobre o Sábado. Ellen
White tentou levar-nos a ver a lei à luz do evangelho. Numa ocasião, ela disse: "A lei dos Dez
Mandamentos não deve ser considerada tanto
Os Ritmos Livres da Graça
Não é de todo surpreendente, então, que Jesus tenha definido a Salvação como envolvendo descanso da ansiedade de trabalhar
para merecer o favor de Deus: "Vinde a mim,
todos os que estais cansados e oprimidos, e
eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo,
e aprendei de mim, que sou manso e humilde
de coração; e encontrareis descanso para as
vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o
meu fardo é leve. (Mateus 11:28-30). O "trabalho" do qual Jesus oferece "descanso" não é
o trabalho físico, mas a ansiedade emocional
de trabalhar sob uma falsa imagem do caráter
de Deus, o que nos leva a crer que a Sua aceitação deve ser conquistada. Sabemos que
este é o seu objetivo porque Ele oferece alívio
para as nossas "almas", que é psyche no texto
original grego. Ele está literalmente a dizer, "eu
quero libertar a tua mente do seu fardo." Este
é o descanso mais profundo que nós realmente
precisamos: o descanso de saber que Deus nos
ama e nos salva por Sua graça, não porque fizemos trabalho suficiente para sermos dignos do
Seu amor.
À medida que entramos no descanso que Ele
oferece, descobrimos que Deus não é um capataz duro e exigente. Longe disso. Quando
chegamos ao interior do coração de Deus,
Em Génesis 1, o primeiro homem foi criado com
32
33
descobrimos que servi-Lo é "fácil" e "leve".
Porquê? Porque é assim que o amor funciona.
Ele reorganiza completamente a perspetiva de
uma pessoa sobre o que é pesado e difícil. Para
a pessoa que está no amor, pesado e difícil são
conceitos quase estranhos. Ellen White di-lo
desta maneira:
Estou em repouso.
“Não devemos absolutamente
confiar em nós mesmos nem em
nossas boas obras; mas quando,
como seres erradios e pecadores,
nos chegamos a Cristo, encontramos descanso em Seu amor. Deus
aceitará a cada um dos que se
chegam a Ele, confiando inteiramente nos méritos de um Salvador crucificado. Brota o amor no
coração. Pode não haver êxtase
de sentimentos, mas haverá uma
duradoura e pacífica confiança.
Todo peso se tornará leve; pois
leve é o jugo imposto por Cristo.
O dever torna-se um deleite e um
prazer o sacrifício.” (Fé e Obras, p. 38)
Amor não coercivo é o princípio fundamental
que permeia o caráter de Deus e sobre o qual o
Seu reino opera. Por meio do profeta Jeremias,
Deus declarou tanto o Seu coração em relação
a nós como o Seu método de salvar-nos:
"Porquanto com amor eterno te amei, por isso
com benignidade te atraí." (Jeremias 31:3).
Ritmos ...
e, contudo, estou em movimento.
Da graça ...
porque o amor imerecido de Deus poderosamente me move de dentro para fora.
Isto é tão incrível. Observa a relação lógica
entre como Deus se sente em relação a nós
e como Ele se aproxima de nós. Porque Deus
nos ama, Ele procura atrair-nos a Ele pela influência atraente da Sua bondade, em vez de
nos forçar através do Seu poder superior ou de
nos manipular com a Sua sabedoria superior. O
único objetivo de Deus é atrair e capacitar-nos.
Isso é tudo.
E isso é muito.
Monumental, na verdade.
Nenhuma maior realização é concebível, mesmo para o Deus Todo-Poderoso, porque, por
mais surpreendente que possa parecer, tu e
eu somos livres para literalmente dizer não a
Deus. Então, Ele embarcou na delicada tarefa
de nos salvar do pecado, sem prejuízo do nosso
livre-arbítrio mas deixando-o intacto e operacional.
Uau! Isto é tão bom!
Podes imaginar alguma experiência melhor?
Claro que não podes!
Quando Jesus diz: "Venham a mim todos os
que estão cansados e oprimidos e eu vos aliviarei", Ele está a oferecer a vida mais livre que
se possa imaginar. Outra versão da Bíblia brilhantemente capta a ideia assim: "Aprendam
os ritmos livres da graça" (A Mensagem).
ao se relacionar com os pecadores. O génio da
graça é que simultaneamente me liberta e me
cativa. No momento em que eu perceber que
não há absolutamente nada que eu possa
fazer para ganhar o favor de Deus, eu sou livre
para dizer não à Sua vontade e ainda assim eu
digo ansiosamente sim. Mas se eu acreditar,
intelectual ou mesmo emocionalmente, em
qualquer forma da mentira que é a “salvação
pelas obras”, torno-me moralmente aleijado,
imobilizado e derrotado. Eu esforço-me para
andar em direção a Deus sob sentimentos de
culpa, e a culpa enfraquece em vez de fortalecer a minha vontade. Ellen White emite este
aviso e encorajamento:
descanso vem energia! Descansando apenas
em Cristo para a minha salvação, Sua graça
desperta-me, dá-me energia e motiva-me com
a motivação pura e poderosa do amor como a
única verdadeira base para a obediência. Sou
impulsionado de dentro para fora pelos ritmos
naturais da Sua graça. De repente o Sábado faz
mais sentido do que nunca antes.
Sentido teológico, com certeza.
Mas também sentido emocional.
E sentido relacional.
Encontro-me cara a cara, coração a coração,
com um Deus que já me ama, já me favorece,
já me aceita, não porque eu tenha feito algo
para merecê-lo, mas simplesmente porque Ele
é bom. E, aqui e agora, nesta compreensão, eu
descanso. A verdade do Sábado tem tudo a ver
com isto.
“Não devemos fazer de nós mesmos o centro,
nutrindo ansiedade e temor quanto à nossa
salvação. Tudo isto desvia a alma da Fonte de
nosso poder. Confiai a Deus a preservação de
vossa alma, e nEle esperai. Falai e pensai em
Jesus. Que o próprio eu se perca nEle. Ponde de
parte a dúvida; despedi vossos temores. Dizei
com o apóstolo Paulo: "Vivo, não mais eu, mas
Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na
carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me
amou e Se entregou a Si mesmo por mim."
(Gálatas 2:20). “Repousai em Deus” (Caminho
a Cristo, pp. 71,72).
Há uma firme segurança em saber que minha
salvação é Sua obra e não minha. Isso é o descanso que Jesus oferece. Mas é mais do que apenas descanso o que Ele oferece, porque com
Infelizmente, todos nós conhecemos histórias
de Adventistas do Sétimo Dia que agiram sem
amor colocando-se no lugar de juízes. Tira algum tempo para partilhar histórias, que tu
conheces pessoalmente, de Adventistas que
Que Deus!
Ellen White engenhosamente observou: "O
amor é o meio que Ele usa para expelir o pecado do coração." (O Maior Discurso de Cristo, p.
77). Graça é a forma que o amor de Deus toma
Livres...
34
35
# DIA 5
O SANTUÁRIO
PARA DISCUSSÃO
AMOR MISERECORDIOSO
têm demonstrado a glória do amor incondicional de Deus nas suas ações.
Q
• A mensagem de hoje afirma que Deus criou o
Sétimo Dia e encheu-o com Ele. Mas Deus está
em todos os dias, certo?
• De que maneira(s) é a presença de Deus de
alguma forma diferente no Sábado? Como a
podes perceber?
• Pensas em ti mesmo como alguém que descansa primeiro para depois trabalhar, ou que
descansa para "superar" e recuperar dos dias
de trabalho?
Adicionar alguma coisa ou decorar o teu
modelo octagonal se desejares.
Divide o grande grupo em três grupos.
Atribui ao primeiro grupo a função de argumentar contra o Sábado, ao segundo
grupo a função de argumentar a favor do
Sábado e ao terceiro grupo a função de
descobrir maneiras de usar os princípios
desta lição para incentivar o primeiro
grupo a experimentar descanso e serenidade e a sentir os "ritmos livres" da
graça e do amor eternos de Deus.
• O que aconteceria na tua vida se te desses
completamente ao primeiro conceito, em vez
do segundo?
• Qual é a tua reação ao conceito de que a
história da Criação e a história de Redenção
estão interligadas, e o Sábado é o coração de
ambos?
Uma maneira de organizar isto, se tiveres tempo: Primeiro, coloca uma pessoa do grupo 1 e uma pessoa do grupo 2
a argumentar entre 30 segundos a um
minuto. Pergunta à pessoa 1 se as suas
opiniões mudaram. Em seguida, atribui
uma pessoa do grupo 3 para incentivar
a pessoa do grupo 1 e pergunta novamente. Em alternativa, podes permitir
que os grupos trabalhem como um
todo na mesma ordem: os grupos 1 e 2
a argumentar, depois o grupo 3 tenta incentivar, a que se dê o presente de um
descanso necessário.
• Como é que isso te pode mudar?
• Como podes começar a relaxar nos "ritmos
livres da graça"?
Tenta ser específico.
36
uando Ellen White era uma adolescente
teve um sonho surpreendente sobre um
enorme templo. Ela escreveu: "Sonhei
que via um templo em que muitas pessoas se
estavam reunindo. Apenas os que se refugiassem naquele templo seriam salvos quando
terminasse o tempo." No sonho, ela sentiu a
urgência de se refugiar no edifício, mas tinha
medo de ser ridicularizada pela multidão em
zombaria. Com medo e constrangida, ela
caminhou lentamente para o templo. Ao entrar, viu imediatamente que o edifício foi projetado com uma característica arquitetónica
incomum e surpreendente: "Entrando no edifício, vi que o vasto templo era apoiado por uma
imensa coluna."
Interessante!
Ali estava um grande edifício, e a coisa toda
estava a ser sustentada "por uma imensa coluna." Enquanto ponderava o que isso poderia
significar, ela notou algo sobre a coluna: "...
a esta [coluna] se achava amarrado um cordeiro todo ferido e ensanguentado. Nós que nos
achávamos presentes parecíamos saber que
esse cordeiro fora lacerado e ferido por nossa
causa." (Primeiros Escritos, pp. 78-79).
Ah, agora vemos o objetivo da visão.
Aqui, Deus revelou à jovem Ellen White que
todo o templo da verdade que Ele estava a
revelar ao povo do Advento iria encontrar a sua
"imensa coluna" de apoio na cruz de Cristo.
Um ponto central cravado na cruz seria crucial para uma compreensão adequada de toda
a estrutura teológica. Jesus deve ser mantido
claramente à vista como a verdadeira questão,
de cada questão da verdade. Fazendo referên37
cia ao símbolo "coluna", Ellen White escreveu
mais tarde que a cruz “é a coluna central sobre
a qual pende o mais excelente e eterno peso de
glória que é para aqueles que aceitam a cruz.
Sob e em torno da cruz de Cristo, essa coluna
imortal, o pecado nunca vai reviver, nem o erro
alcançar o controle." (SDA Bible Commentary,
Vol. 7A, p. 457).
Numa outra ocasião, com ainda maior clareza,
ela escreveu estas palavras: "Há uma grande
verdade central a ser conservada sempre em
mente ao esquadrinharem-se as Escrituras
— Cristo e Ele crucificado. Toda outra verdade
é investida de influência e poder correspondentes a suas relações para com esse tema"
(A Fé Pela Qual Eu Vivo, p. 45). Ellen White foi
específica, clara, e apaixonada sobre ver toda
a verdade debaixo dos raios de luz que fluem
do Calvário. A cruz de Cristo, sobre a qual Jesus sofreu e morreu com amor perfeito pela
humanidade, é a coluna central que suporta
toda a estrutura da verdade doutrinária. No
momento em que reduzimos a verdade a uma
lista de factos a ser discutidos e provados, retiramos da verdade o seu poder para salvar. Mas
no momento em que percebemos que toda a
doutrina é uma janela para o amor de Deus, é
quando a sua verdadeira beleza brilha e o seu
poder real é colocado em ação.
deserto. Mas não é apenas o edifício que está
"entre eles". O Santuário abriga a própria presença de Deus na forma da glória do Shekinah.
Vamos voltar a isto já daqui a pouco, mas agora
queremos simplesmente observar que Deus
quer estar com o Seu povo, e Ele quer tornar
possível que eles estejam com Ele, embora de
momento, para a sua segurança, Ele só pode
habitar com eles por detrás de uma série de
véus.
À medida que avançamos a partir do acampamento em direção ao edifício, percebemos
que o Santuário é cercado por um muro alto de
linho branco. O branco simboliza a pureza moral, retidão e inocência. A mensagem do alto
muro branco é clara: estamos do outro lado da
inocência, do lado de fora da justiça. Somos
pecadores separados de Deus pela nossa diferença em relação ao Seu caráter, ou seja, pela
nossa falta de amor. Mas então percebemos
que Deus providenciou uma porta de esperança, um ponto de acesso, porque no lado Este
há uma entrada através do alto muro branco,
sob a forma de uma bela cortina tecida de azul,
roxo e vermelho, além do branco. À medida que
entramos através da cortina, encontramo-nos
diante de um grande altar de bronze. Um sacerdote está lá a dirigir uma cerimónia. Vemos
um homem de joelhos, com as mãos sobre a
cabeça de um cordeirinho, quase esmagando o
animal submisso. O homem confessa os seus
pecados, transferindo simbolicamente a sua
culpa à vítima inocente. Em seguida, o sacerdote coloca uma faca na mão do homem. Com
um movimento rápido, a garganta é cortada e
o sangue do cordeiro flui de seu corpo, algum
do qual é apanhado pelo sacerdote numa taça.
O sacrifício sem vida é então colocado sobre o
altar e reduzido a cinzas.
Avançamos no caminho simbólico e vemos
como o sacerdote, ainda no pátio, lava as mãos
e os pés na segunda peça de mobiliário de
bronze chamada a pia de lavar. O sacerdote, em
seguida, prossegue com a taça de sangue para
o primeiro quarto do Santuário, chamado o Lugar Santo. De pé, no Lugar Santo, ao olharmos
Bem, então, com esta pequena introdução diante de nós, estamos agora preparados para
explorar a doutrina a que frequentemente nos
referimos como O Santuário.
Temos um caminho à nossa frente
Quando o rei David olhou para o Santuário,
ele viu um caminho. No Salmo 77, versículo
13, ele disse, "O teu caminho, ó Deus, está no
Santuário." Esta é uma visão espetacular e
poderosa, por isso acompanha com cuidado. A
palavra traduzida aqui é derek – que significa
um caminho ou uma viagem. A palavra transmite a ideia de viajar para um destino definido,
passando de um lugar para outro. A próxima
pergunta óbvia é: de onde para onde? Bem, se
nós olharmos para a disposição básica do Santuário, claramente, um caminho é de imediato
evidente. Vamos dar um passeio rápido para
ter uma ideia básica para a viagem, e depois
vamos olhar com mais atenção.
Em primeiro lugar, há o arraial de Israel. Este é
o lugar onde as pessoas vivem em tendas ao
redor do Santuário, três tribos de Israel de cada
lado, Norte, Sul, Este e Oeste, com o Santuário
no meio do acampamento. Deus disse a Moisés: "E me farão um Santuário, e habitarei no
meio deles" (Êxodo 25:8). Todos podem ver o
Santuário à distância, a partir de seu "quintal", por assim dizer. Está, literalmente, "entre
eles", no centro da sua cidade itinerante do
38
para a direita, vemos uma mesa de ouro com
duas pilhas de pão fresco sem fermento ali
colocadas. À medida que nos viramos e olhamos para a esquerda, vemos um castiçal com
sete braços, cada um com uma chama brilhante. À medida que nos viramos e olhamos para
a frente no caminho, vemos um altar dourado
com incenso a arder em cima dele, enchendo a
sala com fragrância. Então percebemos que o
sacerdote está a fazer algo que parece muito
planeado e intencional: ele está a mergulhar os
dedos na taça de sangue e a aspergir o líquido
vermelho sobre o véu que paira pouco além do
altar do incenso. Ele conta baixinho: um, dois,
três... Ele mergulha e asperge exatamente sete
vezes.
Curiosos para saber o que está além do véu,
desviamo-nos para o lado e entramos no segundo quarto do Santuário, chamado Lugar
Santíssimo ou o Santo dos Santos. Dentro
desta sala, há uma impressionante peça de
mobiliário. É uma caixa retangular ornamentada, chamada Arca da Aliança. Dentro da caixa
estão as duas tábuas de pedra, sobre as quais
o próprio dedo de Deus gravou os Dez Mandamentos. No topo da caixa está uma tampa de
ouro maciço, chamada propiciatório. Em cada
extremidade da arca há duas figuras angelicais
de ouro maciço. Estes são chamados os dois
Querubins cobridores. Quando nos viramos e
olhamos ao redor, percebe-se que o véu e o teto
estão bordados com anjos dourados. O mais
impressionante de tudo: acima da Arca, irradiando entre os dois querubins cobridores está
uma luz brilhante. Esta é a glória do Shekinah,
a presença visível de Deus.
Claramente, o caminho traçado no Santuário
tem três etapas básicas, ou fases experienciais
(que se podem experimentar fisicamente):
1. O pátio;
2. O Lugar Santo;
3. O Lugar Santíssimo.
Podemos resumir o que aprendemos até agora
39
desta maneira:
O Santuário oferece uma forma, um percurso,
e uma viagem experiencial para o povo recuperar uma comunhão imediata e sem véus
com Deus. É o plano de Deus para restaurar a
intimidade entre Ele e nós!
Jesus é a Viagem
Quando chegamos ao Novo Testamento, percebemos que cada símbolo do Santuário apontava para Jesus, descrevendo os vários aspetos
do seu ministério para salvar os pecadores.
Primeiro de tudo, quando abrimos o Evangelho de João, vemos que Jesus é descrito com a
linguagem do Santuário. Repara em João 1:14:
"E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e
vimos a sua glória, como a glória do unigénito
do Pai, cheio de graça e de verdade." A palavra
traduzida aqui como "habitou" significa literalmente tabernáculo ou Santuário. Então a
Tradução Literal de Young diz: "O Verbo se fez
carne, e fez tabernáculo entre nós." Ficando
ainda mais pessoal, uma outra versão da Bíblia
diz: "A Palavra tornou-se carne e sangue, e veio
viver perto de nós." (A Mensagem).
E João diz porque razão Jesus veio: para que
possamos contemplar a "glória" de Deus. Esta
é uma referência óbvia à glória do Shekinah
que residia no Lugar Santíssimo do Santuário
do Antigo Testamento. Os tradutores da Bíblia
Judaica Completa entenderam isso. Repara
como eles traduziram o texto: "A Palavra se
tornou um ser humano e viveu connosco, e nós
vimos a sua Sh'khinah, o Sh'khinah do Filho
único do Pai, cheio de graça e de verdade." A
intenção de João é clara. Jesus é a realidade
para a qual o Santuário simbólico apontou.
Como já vimos, Deus disse a Moisés no Antigo
Testamento: "E me farão um Santuário, e habitarei no meio deles" (Êxodo 25:8). Agora, este
mesmo Deus mostrou-se no mundo, habitando entre nós num tabernáculo feito de carne e
sangue. Através dele, os seres humanos estão
agora a ser levados para o Santo dos Santos, na
presença direta da glória do Shekinah.
isto é, pela sua carne." (Hebreus 10:20).
Mas as coisas ficam ainda mais claras, e mais
incríveis, enquanto avançamos através do
Evangelho de João. Em João 2:19-21 lemos: "Jesus respondeu, e disse-lhes: Derribai este templo, e em três dias o levantarei. Disseram, pois,
os judeus: em quarenta e seis anos foi edificado este templo, e tu o levantarás em três dias?
Mas ele falava do templo do seu corpo." Aqui
vemos que Jesus explicitamente se identificou
como O "templo" para que o antigo templo estava a apontar. Ele veio ao mundo para tornar
real tudo o que o Santuário apresentou em
símbolos.
A principal cerimónia do Santuário era o sacrifício do cordeiro no altar de bronze. Apontando
para Jesus como o sacrifício pelos nossos pecados, João Batista proclamou: "Eis O Cordeiro de
Deus que tira o pecado do mundo" (João 1:29).
› A pia que foi usada para a lavagem cerimonial
apontava para Jesus como "a água viva" (João
4:11) e ensina-nos sobre a "lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo" (Tito
3:5).
› O pão sobre a mesa no Lugar Santo apontava
para Jesus, que disse: "Aquele que vem a mim
não terá fome, e quem crê em mim nunca terá
sede" (João 6:35).
Lembras-te do que lemos no Salmo 77:13?
" O teu caminho, ó Deus, está no Santuário."
Agora observa o que Jesus disse sobre Si mesmo em João 14:6: "Disse-lhe Jesus: Eu sou o
caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao
Pai, senão por mim."
› O candelabro de sete braços era mantido aceso para fornecer luz no Santuário. Jesus disse
de Si mesmo, o sacrifício pelo nosso pecado,
"Eu sou a luz do mundo; quem me segue não
andará em trevas, mas terá a luz da vida" (João
8:12).
Jesus afirma ser o "caminho" ou o percurso que
o Santuário representou. A coisa vital que nós
percebemos aqui é que o destino para o qual o
percurso do Santuário apontou, e para a qual
Jesus nos leva, não é apenas um lugar, mas
sim uma pessoa. Jesus diz que Ele é o caminho "ao Pai". O Santuário não transmite factos
teológicos secos. Ele apresenta diante de nós
uma viagem real, que pode ser experimentada,
mais e mais profundamente até ao coração de
Deus. E Jesus é essa viagem. Literalmente cada
símbolo do Santuário apontou para Ele e para
a grande obra de Salvação em que Ele iria embarcar para nos levar de volta à intimidade com
Deus do Lugar Santíssimo.
› O altar do incenso apontava para um aspeto
específico da experiência cristã: "foi-lhe dado
muito incenso, para o pôr com as orações de
todos os santos" (Apocalipse 8:3). O incenso
perfumado a arder no Santuário simbolizava
a nossa oração subindo até Deus através de
Jesus.
Santíssimo, convidando-nos a segui-Lo no
caminho que ele traçou para nós.
mudou para o Lugar Santíssimo do Santuário
celestial para participar na fase final do seu
ministério Sumo Sacerdotal.
Então, de que fala o Santuário?
No âmbito do ano judaico, havia dois serviços
cerimoniais básicos que mostravam toda a
história da redenção: o serviço diário e o serviço
anual. O Serviço Diário, que está delineado para
nós em Levítico 1-4, foi uma série muito simples, mas significativa, de encenações cerimoniais. O processo estava centrado em torno do
sacerdote que fazia sacrifícios regulares pelos
pecados do povo e transferia simbolicamente
os seus pecados para o Santuário aspergindo
o sangue sobre o véu antes do Lugar Santíssimo. Isto apontava para o sacrifício perfeito
pelo pecado que iria ser feito por Cristo, quando
Ele morresse na cruz. Houve uma genialidade
esclarecedora neste serviço simbólico diário.
Enquanto as nações pagãs circunvizinhas estavam envolvidas na prática abominável do
sacrifício humano, motivada por demónios
disfarçados de deuses (Deuteronómio 32:16-17;
Salmo 106:37), o povo Hebreu estava a aprender através do Santuário que Deus iria dar-se
a Si mesmo para sofrer e morrer pela humanidade.
É tudo sobre Jesus!
É tudo sobre Jesus cumprindo as muitas dimensões do Seu ministério salvador em nosso
favor!
É tudo sobre Jesus, que nos conduz a um relacionamento completamente restaurado com o
Pai!
História da Salvação
Bem, vamos recuar agora, respirar fundo, e
olhar para o Santuário de outro ângulo. O que
vimos até agora é que o Santuário representa
simbolicamente a jornada pessoal do crente
em Cristo. Mas o Santuário também representa a história da salvação como um todo. O pátio, com o seu altar de sacrifício, dirige a nossa
atenção a 31 D.C., quando Jesus foi crucificado
em nosso nome. Depois da Sua ressurreição,
Jesus subiu ao céu, onde assumiu o Seu papel
como nosso Sumo Sacerdote celestial no Lugar Santo do "verdadeiro tabernáculo" no céu.
Esta fase do Seu ministério começou no ano
31 e continuou até 1844, altura em que Ele se
Deus estava a comunicar a incrível verdade de
que a nossa salvação não pode ser conquistada
por qualquer sacrifício que possamos fazer.
› Os Dez Mandamentos, as dez leis do amor
de Deus, eram mantidas dentro da Arca da
Aliança, simbolizando o desejo de Deus de escrever os princípios do Seu amor nos nossos
corações e mentes: "Porei as minhas leis em
seus corações, e as escreverei em seus entendimentos" (Hebreus 10:16).
Presta atenção a isto enquanto fazemos as ligações.
Descrevendo a viagem de ida e volta que Ele fez
do Pai ao nosso mundo e depois de volta, Jesus
disse: "Saí do Pai, e vim ao mundo; outra vez
deixo o mundo, e vou para o Pai" (João 16:28).
Jesus veio do Lugar Santíssimo para o nosso
pecaminoso e separado acampamento aqui
na terra. Ele então pegou nos nossos corações
rebeldes e fez a viagem de volta para o Lugar
Cada uma das três etapas do Santuário só podia
ser acedida através de um véu. Jesus disse de Si
mesmo, “Eu sou a porta; se alguém entrar por
mim, salvar-se-á" (João 10:9). E o apóstolo Paulo disse que através de Jesus temos um "novo e
vivo caminho que ele nos consagrou, pelo véu,
40
41
Deus não pode ser apaziguado, porque Ele já
nos ama. Nós não precisamos de persuadi-lo
com os nossos atos para que nos salve, porque
Ele já determinou salvar-nos a qualquer custo
para Si mesmo. Dia após dia, durante todo
o ano, a cerimónia era repetida, reforçando
na mente das pessoas que Deus faria todo o
sacrifício necessário para a nossa salvação. A
cerimónia foi uma declaração emotiva e constante de Deus a dizer: Eu amo-te tanto que eu
vou sofrer e morrer para te salvar do pecado e
a um julgamento definitivo e irrevogável a favor do povo, a favor da sua salvação, a favor da
sua posição perfeita diante de Deus.
Então o sumo sacerdote colocava as duas
mãos sobre a cabeça do bode expiatório e
confessava sobre ele os pecados do povo. No
entanto, o bode de Azazel não era morto. Em
vez disso, ele era levado para "uma terra desabitada" para perecer sozinho no "deserto". Se o
bode expiatório explicitamente não era "bode
do Senhor", e uma vez que o seu sangue não
era derramado como um sacrifício, Azazel tem
de simbolizar uma outra figura que é responsável pela existência do mal e a queda da humanidade. O antigo povo Hebreu entendeu que
Azazel representava Satanás, o originador do
mal e o tentador da humanidade, e estudiosos
judeus mantêm essa visão até aos dias de hoje.
Assim, então, vemos que o Dia da Expiação
apontava para o dia do julgamento ou juízo final, durante o qual o caso de cada pessoa será
selado e Satanás irá assumir a responsabilidade pelo mal como seu autor. A parte que dá
a algumas pessoas pesadelos é a ideia de que
eles devem enfrentar o julgamento. E, no entanto, é precisamente aqui que encontramos
uma das mais belas imagens de Deus que se
possa imaginar.
da morte.
O Serviço Anual é esboçado em Levítico 16.
No último dia do ciclo sacrificial anual, o simbolismo do serviço do Santuário chegava à sua
conclusão. O evento chamava-se Yom Kippur,
o Dia da Expiação. Neste dia de clímax, uma
cerimónia especial foi promulgada para simbolizar a resolução final do problema do pecado, expiação completa e a total erradicação do
mal. Enquanto todo o Israel se reunia diante do
Santuário, dois bodes eram trazidos ao sumo
sacerdote. Um deles era designado "pelo Senhor" e outro para "bode expiatório", Azazel em
hebraico. O bode do Senhor era morto, apontando novamente para o sacrifício de Cristo
na cruz como o único meio de salvação. Mais
uma vez, Deus estava a dizer Eu, tu não! Eu vou
fazer o sacrifício pela tua salvação, tu não. Um
pouco do sangue do bode do Senhor era trazido
para o Lugar Santíssimo e aspergido sete vezes
no propiciatório, sobre a lei quebrada de Deus,
indicando, assim, que a expiação final e completa foi feita por todos os pecados que Israel
tinha confessado durante todo o ano no serviço
diário. Assim, o Dia da Expiação era equiparado
O Julgamento
João ajuda-nos a entender o julgamento com
uma série de ideias poderosas. Segue o seu excelente raciocínio calibrado pelo evangelho. Em
1 João 3:20, 21, ele diz o seguinte: "Sabendo que,
se o nosso coração nos condena, maior é Deus
do que o nosso coração, e conhece todas as coisas. Amados, se o nosso coração não nos condena, temos confiança para com Deus." (1 João
3:20, 21). Primeiro, João quer que saibamos que
uma sensação interior de condenação é natural para o problema do pecado. Sim, o nosso
coração condena-nos, e com razão. Afinal nós
somos pecadores. Carregamos um sentimento
de culpa nas nossas consciências pelos erros
que cometemos. Mas, a seguir, João diz: "maior
é Deus do que o nosso coração." Ou seja, o
42
amor de Deus é mais poderoso do que a condenação que sentimos pelos nossos pecados. Ele
sabe tudo sobre mim e sobre ti e Ele ainda nos
ama. Quando acreditamos nisto, a condenação
no nosso coração afasta-se e nós “temos confiança para com Deus".
Então, no capítulo quatro, João desenvolve a
ideia:
com o propiciatório, e o próprio propiciatório
está coberto de sangue.
Aqui, no simbolismo, está a grande verdade de
"Cristo Nossa Justiça". A lei que aponta o nosso
pecado e declara a nossa culpa, é respondida
pela misericórdia de Deus. Jesus viveu uma
vida de perfeita justiça, e Deus olha para mim
como justo nEle. Jesus morreu por mim. O seu
sangue foi derramado por mim, revelando que
o amor de Deus substitui o meu pecado e culpa. Paulo diz assim: "onde o pecado abundou,
superabundou a graça" (Romanos 5:20).
“Qualquer que confessar que Jesus é o Filho de
Deus, Deus está nele, e ele em Deus. E nós conhecemos, e cremos no amor que Deus nos tem.
Deus é amor; e quem está em amor está em
Deus, e Deus nele. Nisto é perfeito o amor para
connosco, para que no dia do juízo tenhamos
confiança; porque, qual ele é, somos nós também neste mundo. No amor não há temor, antes o perfeito amor lança fora o temor; porque
o temor tem consigo a pena, e o que teme
não é perfeito em amor. Nós o amamos a ele
porque ele nos amou primeiro” (1 João 4:15-19).
Esta é a boa notícia de tirar o fôlego!
Mas com toda esta luz brilhante sobre a misericórdia de Deus, há um perigo e um aviso. Tiago
informa-nos que há uma maneira de contrariar
o poder da misericórdia de Deus para connosco
no julgamento, que é sermos impiedosos para
os outros: "Porque o juízo será sem misericórdia sobre aquele que não fez misericórdia; e a
misericórdia triunfa do juízo" (Tiago 2:13). Se
eu me relaciono com os outros com condenação pelos seus pecados, eu revelo que eu não
abracei realmente a misericórdia de Deus para
mim, pelos meus pecados. A misericórdia de
Deus estará lá para mim no julgamento, mas
eu não serei capaz de a ver se a bloquear da
minha visão por ser impiedoso com os outros.
Por ser duro com as pessoas, montei em mim
mesmo paredes mentais e emocionais que
fazem com que seja impossível eu perceber o
amor de Deus por mim. Condenar os outros por
seus erros cria parâmetros psicológicos limitadores na mente de modo que a misericórdia
de Deus não pode ser percebida ou recebida. É
claro, então, que ter uma atitude de julgamento em relação aos outros é literalmente a coisa
mais perigosa que um ser humano pode fazer.
Que imagem!
Ousadia no Dia do Juízo Final, e não medo!
Nem mesmo timidez!
Mas ousadia!
Como pode ser isso?
O que João nos ensina aqui é absolutamente
vital para um entendimento saudável do julgamento. Ele quer fazer-nos entender que
quando estamos baseados no amor de Deus,
quando nós "conhecemos, e cremos no amor
que Deus nos tem" vamos "no dia do juízo
[ter] confiança." O amor de Deus "lança fora o
medo" de nossos corações e ocupa todo o espaço emocional dentro de nós. Eu não entro
no juízo com confiança na minha justiça, mas
com total dependência na dEle. Este é o glorioso segredo do Santo dos Santos, a verdade
maravilhosa do Dia da Expiação. À medida que
entramos naquela sala mais interior para o
julgamento, vemos que a lei de Deus, que é o
padrão de justiça do julgamento, está coberta
A verdade do julgamento é um chamado para
receber e dar misericórdia. E isso faz com que
seja notícias extraordinariamente boas, a não
ser é claro, que eu escolha viver para condenar
os outros. Mas porquê ir por esse caminho?
43
Há um belo e conciliador caminho estendido
diante de cada um de nós em Cristo, através:
cente luz da bondade de Deus que emana de
Jesus, e para levantarmos orações de gratidão
a Deus, misturadas com a fragrância da justiça
de Cristo;
› da porta do Seu convidativo amor;
› do altar do sacrifício, para lá receber o perdão
completo por todos os nossos pecados;
› e, finalmente, do Lugar Santíssimo para ser
julgados por Deus com favor eterno e ter a Sua
lei de amor escrita nos nossos corações.
› do nosso caminho para a pia afim de sermos
lavados de uma consciência culpada;
Vamos! Vamos dar o máximo de nós por amor
misericordioso de Deus.
› do Lugar Santo para nos alimentarmos do
pão da vida, para vivermos pela resplande-
PARA DISCUSSÃO
Se possível, separa seis lugares na sala, talvez
com as coisas que simbolizam a primeira cortina, depois o altar e pia, o segundo véu seguido pelo pão, castiçal, e incenso, e o terceiro
véu que leva à Arca da Aliança. Em silêncio e
oração, caminhem por este caminho juntos.
Entrem pela porta do seu convidativo amor,
parando no altar do sacrifício, para receber o
perdão completo de todos os teus pecados.
Façam o vosso caminho até a pia para serem
lavados de uma consciência culpada, depois,
no Lugar Santo para se alimentarem do pão da
vida, para viverem pela resplandecente luz da
bondade de Deus que emana de Jesus. Ergam
ao céu as vossas orações de gratidão a Deus,
misturadas com a fragrância da justiça de Cristo. Finalmente, sigam em frente para o Lugar
Santíssimo para serem julgados por Deus com
favor eterno e terem a Sua lei de amor escrita
em vossos corações.
A mensagem diz-nos que ser críticos e condenar
os outros é "a coisa mais perigosa que um ser humano pode fazer." E se tu não ages dessa maneira para com os outros, e o fazes contigo mesmo?
Será isso melhor? Por quê ou por que não?
Partilha histórias da tua vida que exemplificam
quando tu:
a) vieste ao Pátio do amor de Deus;
b) entraste no Lugar Santo de oração e comunhão
com Ele;
c) entraste no Lugar Santíssimo para ter uma
relação completa com o Deus do Universo.
A atividade está integrada na mensagem.
Criem um Santuário usando papel ou blocos, ou façam um na sala, usando móveis,
ou (em último recurso) simplesmente desenhem um. Se escolherem este método,
cada pessoa deve desenhar um e levar
para casa para usar nas suas meditações
pessoais; pede que partilhem as suas ideias mais tarde na semana.
# DIA 6
A MORTE
E O INFERNO
AMOR ALTRUÍSTA
N
esta Semana de Oração temos andado
a circundar o templo da verdade, olhando através de algumas das janelas
doutrinais que compõem o sistema de crenças
Adventistas do Sétimo Dia. O que descobrimos uma e outra vez é que cada verdade individual da Bíblia aponta para a grande verdade
do amor de Deus encarnado em Jesus Cristo.
Toda a verdadeira doutrina bíblica funciona
como uma lente através da qual o caráter de
amor desinteressado e altruísta de Deus é
mais claramente revelado. Ellen White resumiu brilhantemente toda a Bíblia como "o livro
que revela o caráter de Deus" (Sinais dos Tempos, 3 de Março de 1898). De acordo com esta
visão das Escrituras, ela também resumiu a
mensagem Adventista como a "revelação do
caráter do amor." (Parábolas de Jesus, p. 415).
O valor de uma determinada doutrina reside na
sua capacidade de comunicar algo sobre o tipo
de pessoa que Deus é. Qualquer reivindicação
de verdade que contradiz a premissa fundamental de que "Deus é amor" (1 João 4:8) provase falsa em virtude dessa contradição.
Repara como Ellen White descreve a razão
central do estudo da Bíblia: "Deves pesquisar
a Bíblia; pois ela fala de Jesus. Enquanto lês
a Bíblia, vais ver os incomparáveis encantos
de Jesus. Vais-te apaixonar pelo Homem do
Calvário, e a cada passo podes dizer ao mundo:
'Os seus caminhos são caminhos de delícias, e
todas as suas veredas de paz'." (Life Sketches,
p. 293). Muito bom!
Estudar a Bíblia, diz ela.
Mas por quê?
Porque ela revela os encantos incomparáveis
44
45
de Jesus!
E o que vai acontecer contigo enquanto encontras Jesus nas Escrituras?
Vais apaixonar-te por Ele!
O problema é que, muitas vezes, estudamos e
pregamos a Bíblia sem Jesus à vista, ou se Ele
está à vista, é como se fosse uma nota de rodapé. Se existe alguma coisa sobre a qual precisamos ser claros, é esta: Jesus não faz parte
da nossa mensagem. Jesus é toda a nossa
mensagem. Na medida em que Ele não é, não
estamos a pregar "a verdade", não importa o
quanto nós imaginamos que estamos. A nossa
doutrina do estado dos mortos é um exemplo
de uma verdade bíblica que tem um enorme
potencial para revelar o amor maravilhoso de
Deus em Cristo. Infelizmente tem sido muitas
vezes reduzida a um mero argumento de texto
a texto, com o único objetivo de provar que as
pessoas estão inconscientes quando morrem
e vencer a argumentação de que ninguém vai
direto para o céu ou o inferno. Vamos ser claros:
essa parte da “imagem” é fundamental, mas a
questão é porque razão é que ela é vital? Simplesmente para provar o facto de que os mortos estão realmente mortos? Não! Pelo contrário, é vital porque a verdade bíblica sobre a
morte abre uma janela de compreensão sobre a
verdadeira natureza do sofrimento e morte de
Cristo no Calvário, que por sua vez revela a verdadeira natureza do amor de Deus com clareza
impressionante.
ele ou ela não vai imediatamente para o céu ou
para o inferno.
No entanto, este não é o fim da história,
porque quando uma pessoa morre a primeira
morte isso não é o seu fim. Da primeira morte,
há uma ressurreição, tanto dos salvos como
dos perdidos. Jesus declarou isso explicitamente: "Não vos maravilheis disto; porque vem
a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz. E os que fizeram o bem
sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal para a ressurreição da condenação"
(João 5:28,29). Ok, então as pessoas morrem a
primeira morte e, em seguida, são ressuscitadas, mas há uma razão pela qual elas podem
ser ressuscitadas. A razão é que quando uma
pessoa morre a primeira morte, de alguma forma Deus preserva a personalidade essencial e o
caráter desse indivíduo, embora o corpo esteja
num estado de inconsciência, completamente
sem vida. A Bíblia diz assim: "E o pó volte à
terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que
o deu" (Eclesiastes 12:7).
Então, vamos mergulhar neste assunto notável e ver o que descobrimos.
Claro que, o "pó" refere-se ao corpo, o qual
retorna à terra como matéria orgânica após a
primeira morte. O "espírito" que retorna para
Deus é o conteúdo total de personalidade,
pensamentos, sentimentos, motivos, ou seja,
tudo o que define a identidade única e o caráter
moral da pessoa. Quando uma pessoa morre a
primeira morte, Deus simplesmente a preserva
num estado inconsciente e enquanto aguarda
a ressurreição, Deus vai reconstituir o corpo
físico com o espírito, e nesse momento a vida
consciente recomeça. Ellen White explicou assim:
Morte de acordo com a Bíblia
A primeira coisa que precisamos entender sobre a morte é que na Bíblia aprendemos que
existem dois tipos de morte. No livro do Apocalipse, somos informados de que existe algo
chamado, "a segunda morte" (Apocalipse 2:11;
20:6, 14; 21:8). Podemos deduzir logicamente
a partir desta linguagem que, se houver uma
segunda morte então existe forçosamente
uma primeira morte. Em Mateus 10:28 Jesus
explica a diferença básica entre as duas: "E não
temais os que matam o corpo e não podem
matar a alma; temei antes aquele que pode
fazer perecer no inferno a alma e o corpo." A
primeira morte é apenas a morte do corpo. Esta
é a morte comum que todos morrem, com que
todos os seres humanos estão familiarizados.
Como Adventistas do Sétimo Dia, entendemos
que a primeira morte coloca um ser humano
num estado inconsciente, como um sono.
Quando uma pessoa morre a primeira morte,
próprio tempo vai chamar os mortos, dando
novamente o fôlego da vida, e ordenando aos
ossos secos que vivam" (Céu, p. 40).
É como tirar um disco rígido de um computador, que tem o registo de todas as informações
únicas que o proprietário do computador tinha
colecionado e configurado, e guardar na prateleira algum tempo, e depois, mais tarde, instalar toda essa informação num computador
novo. Quando uma pessoa morre a primeira
morte, o corpo decompõe-se na terra e Deus
preserva a composição específica do indivíduo
para a ressurreição. Nesse momento, cada indivíduo enfrenta um de dois destinos: receber
o dom da imortalidade ou experimentar a segunda morte.
Então, e a segunda morte? O que é isso? Como
é que acontece?
Vamos voltar a Mateus 10:28, onde Jesus distingue a primeira e a segunda morte: "E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer
perecer no inferno a alma e o corpo." A palavra
que é aqui traduzida como "alma" é psique no
texto grego. Refere-se basicamente à mente
em todo o seu conteúdo, a que nós referimos
anteriormente como o caráter de uma pessoa,
ou o conteúdo total da própria identidade individual. Considerando que a primeira morte
envolve meramente a morte do corpo, ou o
aspeto biológico de uma pessoa, a segunda
morte envolve a erradicação completa do corpo
do indivíduo e da alma da existência. Constitui
"Nossa identidade pessoal é preservada na
ressurreição, embora não as mesmas partículas de matéria ou substância material como
entraram no túmulo. As obras maravilhosas
de Deus são um mistério para o homem. O espírito, o caráter do homem, é devolvido a Deus,
aí para ser preservado. Na ressurreição todo
homem terá seu próprio caráter. Deus, no Seu
46
47
o aniquilamento final dos ímpios, "como se
nunca tivessem sido." (Obadias 16).
A parte crucial a entender é como a segunda
morte acontece e o que a causa. Jesus deu-nos
uma indicação bastante clara em João 5:29. Os
ímpios voltam à vida da primeira morte a que
Ele chamou "a ressurreição da condenação".
Condenação é um fenómeno psicológico. Acontece no processo mental e emocional, quando
uma pessoa enfrenta a realidade da sua culpa
pelas violações relacionais que ele ou ela tenha
cometido. Quando os ímpios são ressuscitados, eles não serão simplesmente destruídos fisicamente uma segunda vez. Eles terão
de enfrentar o registo da sua vida com total
clareza, sem filtro, à luz contrastante do abnegado amor de Deus por eles. Apocalipse 20
descreve vividamente a cena:
“E vi um grande trono branco, e o que estava
assentado sobre ele, de cuja presença fugiu a
terra e o céu; e não se achou lugar para eles.
E vi os mortos, grandes e pequenos, que estavam diante de Deus, e abriram-se os livros; e
abriu-se outro livro, que é o da vida. E os mortos foram julgados pelas coisas que estavam
escritas nos livros, segundo as suas obras. E
deu o mar os mortos que nele havia; e a morte
e o inferno deram os mortos que neles havia;
e foram julgados cada um segundo as suas
obras. E a morte e o inferno foram lançados no
lago de fogo. Esta é a segunda morte. E aquele
que não foi achado escrito no livro da vida foi
lançado no lago de fogo” (Apocalipse 20:11-15).
movimento de dar e receber está além da sua
capacidade de se envolver ou mesmo apreciar.
O pecado esvaziou os seus corações da própria
capacidade de amar. A rebelião arrancou-lhes
os impulsos gentis da alma. O egoísmo erradicou a sua humanidade sensível.
Esta é uma passagem muito pesada e extremamente triste da Escritura, porque descreve a
destruição final dos ímpios, cada um deles um
ser humano que Deus amava muito; cada um
deles um indivíduo a quem foi dado o dom da
vida eterna em Cristo; cada um deles uma pessoa que persistentemente rejeitou o amor de
Deus até à sua ruína interna. O que queremos
notar nesta passagem é precisamente como
os ímpios experimentam a segunda. Existem
quatro características básicas exibidas:
A segunda morte confronta os ímpios com a
triste realidade de uma completa falta de sentido, pois não há sentido para a vida além do
Autor da vida. Completa solidão é tudo o que
eles podem sentir, pois não há relação satisfatória para além d’Aquele com quem estamos mais estreitamente relacionados. Um
Número um
A segunda morte é iniciada por uma revelação
plena do Deus Todo Poderoso, sentado sobre
"um grande trono branco" com sua "face" totalmente exposta ao olhar atónito de todos.
Paulo chama este evento "dia da ira e da manifestação do juízo de Deus" (Romanos 2:5). A ira
ocorre à luz da revelação. A revelação procede
de Deus e assume a forma de autoconhecimento naqueles que a contemplam.
sentimento de inutilidade total permeia suas
vidas, porque nunca pode haver qualquer sentido real de valor pessoal separado do Deus que
criou o nosso valor à Sua imagem. Viver para si
acaba por conduzir a ódio de si. O egoísmo é,
por sua própria natureza, o isolamento de todos os outros, o roubar a alma das perceções e
emoções necessárias para dar e receber amor.
Num universo onde o princípio essencial de
sustentação da vida é o amor altruísta, "não
se encontra nenhum lugar para eles". Afundam
desiludidos consigo próprios e com a experiência de um profundo sentimento de abandono.
Número dois
Enquanto os impios estão diante de Deus, não
será encontrado "nenhum lugar para eles". Estas são, sem dúvida, as palavras mais tristes de
toda a literatura humana. A segunda morte é
a solidão total, um sentimento mais profundo
de não pertencer. Os ímpios, em pé diante do
trono de Deus e contemplando o Seu rosto,
percebem com intensa nitidez que eles estão
tão fora de harmonia com o reino de Deus que
não há absolutamente "lugar para eles". Aqueles que estão irrevogavelmente inclinados para
o egoísmo não se encaixam num universo governado pela regra absoluta do amor altruísta.
Eles não podem existir entre ou interagir com
uma sociedade de seres que vivem inteiramente uns para os outros. Eles não podem
sequer compreender tal sociedade. O belo
Número três
Enquanto os ímpios estão diante de Deus, "os
livros" são "abertos" e são "julgados segundo
as suas obras, pelas coisas que estavam escri48
tas nos livros". Noutras palavras, eles enfrentam a plena realidade do seu pecado e toda a
culpa que ele implica emerge às suas mentes
em perfeita consciência. É a isto que Jesus se
estava a referir quando disse que eles são ressuscitados para a "condenação". Todo o ato
egoísta das suas vidas passa diante de suas
mentes com grande clareza. A segunda morte
traz a alma cara a cara com a completa e feia
realidade do seu pecado, não temperada por
qualquer sentido da misericórdia divina. O pecado, uma vez cometido, é uma realidade existente na mente. Está no registo da consciência e deve ser resolvido quer por perdão, quer
pelo sofrimento. O perdão só é possível quando
se abraça o amor misericordioso de Deus. O sofrimento é a única alternativa ao perdão, é por
isso que Deus só pode perdoar suportando em
si mesmo o sofrimento inerente no pecado.
O peso da terrível condenação do pecado esmaga todas as forças vitais da alma. Todos os
seres humanos são pecadores. Portanto, todos estão sob condenação. Esta condenação
acabará, em última instância, por impor uma
vergonha insuportável sobre aqueles que se
recusam a ver a realidade curadora do amor redentor de Deus. Uma sensação consciente de
amor e aceitação de Deus é o único poder com
capacidade de neutralizar o poder do pecado
e impedi-lo de destruir a alma. Para entenderes o que a Bíblia quer dizer quando afirma:
"os livros foram abertos... e os mortos foram
julgados", tenta imaginar como seria se tu fosses feito perfeitamente consciente de todos
os pecados que já cometeste, todos os pensamentos errados e sentimentos e ações. Consciência perfeita, tudo de uma vez, com todos
os detalhes feios a olhar para a tua alma interior sem nenhuma maneira de escapar. Depois,
junta a esse quadro horrendo uma ausência
absoluta de misericórdia. Nenhum conceito do
perdão. Nenhum sentido de aceitação. Nenhuma imagem de um Deus que perdoa livremente
e ansiosamente todo o pecado.
Como seria esse momento no tempo para ti?
49
Eu sei como seria para mim. Não há palavras
suficientes para descrever o calvário que abalaria a mente. A única razão pela qual nós nunca tivemos que enfrentar a plena potência da
nossa culpa é porque o plano de Salvação, colocado em movimento por um Criador amoroso,
ergueu um véu de piedade na consciência humana para atuar como um filtro que nos pode
preservar do pleno efeito do pecado.
Numero quatro
Então, enquanto os impios enfrentam os registos da sua vida e experimentam o peso total
da sua culpa, eles são destruídos pelo fogo. Ao
longo da Bíblia, Deus é associado com o fogo.
Moisés encontrou Deus numa sarça ardente
(Êxodo 3:2).
A lei de Deus é chamada "fogo da lei"
(Deuteronómio 33:2).
A "glória" de Deus é descrita como "fogo"
(Êxodo 24:17).
O trono de Deus está em chamas com fogo e
dele procede um rio de fogo (Daniel 7: 9,10).
O amor de Deus é dito ser um fogo ardente
(Cantares de Salomão 8:6, NVI).
E Paulo simplesmente afirma: "Porque o nosso
Deus é um fogo consumidor " (Hebreus 12:29).
O ser total de Deus é descrito como um fogo
consumidor por uma razão simples: porque a
pura realidade do Seu amor altruísta está em
claro contraste com tudo o que é contrário ao
amor. Sendo quem Deus é, seres egoístas não
podem entrar na Sua presença sem experimentar a total desintegração mental e emocional
sob o peso esmagador da sua vergonha.
Ellen White foi direta ao cerne desta realidade:
“As palavras do Senhor a Israel, eram: "E porei
contra ti a Minha mão, e purificarei inteiramente as tuas escórias; e tirar-te-ei toda a im-
pureza" Isa. 1:25. Para o pecado, onde quer que
se encontre, "nosso Deus é um fogo consumidor" Heb. 12:29. O Espírito de Deus consumirá
pecado em todos quantos se submeterem a
Seu poder. Se os homens, porém, se apegarem
ao pecado, ficarão com ele identificados. Então
a glória de Deus, que destrói o pecado, tem que
os destruir.” (O Desejado de Todas as Nações, p.
107).
de Deus. Os que Lhe rejeitavam a misericórdia
ceifarão aquilo que semearam. Deus é a fonte
da vida; e quando alguém escolhe o serviço
do pecado, separa-se de Deus, desligando-se
assim da vida. Ele está "separado da vida de
Deus" (Efésios. 4:18). Cristo diz: "Todos os que
Me aborrecem amam a morte" (Provérbios
8:36). Deus dá-lhes existência por algum tempo, a fim de poderem desenvolver seu caráter
e revelar seus princípios. Feito isso, receberão
os resultados de sua própria escolha. Por uma
vida de rebelião, Satanás e todos quantos a
ele se unem colocam-se em tanta desarmonia
com Deus, que Sua própria presença lhes é um
fogo consumidor. A glória dAquele que é amor
os destruirá.” (O Desejado de Todas as Nações,
p. 764).
Os seres humanos foram criados originalmente
num estado de perfeita inocência, capazes de
viver na presença imediata de Deus com total
paz e prazer (Génesis 1-2). Quando o pecado
entrou na nossa constituição psicológica, tudo
o que podíamos experimentar na presença de
Deus era o tormento da nossa vergonha (Génesis 3: 7-10). Deus explicou a Moisés: "Não
poderás ver a minha face, porquanto homem
nenhum verá a minha face, e viverá" (Êxodo
33:20). A dinâmica aqui não é “se Me vires, Eu
vou-te matar", mas sim, "se tu Me vires, vais
morrer do contraste entre a Minha santidade
e a tua pecaminosidade." O pecado não pode
sobreviver na presença de Deus. No entanto,
quando saltamos para o fim da história, a Escritura diz dos redimidos: "E verão o seu rosto,
e nas suas testas estará o seu nome" (Apocalipse 22:4). Pelo poder da graça de Deus, ocorreu uma restauração de inocência "nas suas
testas", nas suas mentes. Desta forma, os
remidos vão viver na presença de Deus sem experimentar nenhuma vergonha.
O que acabamos de descobrir é a verdadeira
natureza do inferno. O inferno é equivalente à
segunda morte. Deus não sujeitará o ímpio à
tortura eterna nas chamas de algum submundo ou alguma região remota do Seu universo.
Eles serão ressuscitados para enfrentar o registo de suas vidas num acerto de contas final,
e em seguida serão eternamente aniquilados
"como se nunca tivessem sido" (Obadias 16).
Aqui está a coisa mais notável de todas: ninguém precisa experimentar a segunda morte,
porque Jesus experimentou-a por todos nós, e
conquistou-a. Só Ele provou a segunda morte
no lugar de cada pessoa e foi o único que não
poderia ser mantido nela, porque só Ele era
sem pecado.
Não é assim com os ímpios. A Bíblia informanos que todos os seres humanos, tanto o justo
como o ímpio, estão destinados à realidade
ardente da presença de Deus, mas os dois grupos não vão sentir o fogo da mesma maneira.
Enquanto aqueles que são restaurados para a
inocência vão finalmente entrar na presença
de Deus e estar perfeitamente em casa, para
os ímpios, a presença de Deus será um "Fogo
consumidor". Descrevendo a destruição final
dos ímpios, Ellen White diz o seguinte:
Oh, Que amor!
Agora, uma vez que entendemos a natureza da
segunda morte em contraste com a primeira
morte, estamos preparados para compreender
o que Jesus sofreu por nós, como Ele agonizou no Getsémani e morreu na cruz. Tanto
a primeira como a segunda morte são o resultado do pecado, mas a primeira é temporária e
ocorre por meio de causas físicas, como doenças, tragédias ou velhice. A segunda morte, no
entanto, não ocorre apenas num nível físico,
“Isso não é um ato de poder arbitrário da parte
50
mas no nível psicológico, devido ao poder letal da culpa individual. A primeira morte, em
certo sentido, não é realmente a morte. Jesus
chamou-a sono. Considera, por exemplo, a
menina que Jesus ressuscitou. Quando ele se
aproximou da casa da menina, depois de ter
sido convidado a vir e curá-la, Jesus disse aos
enlutados: "Não choreis; não está morta, mas
dorme " (Lucas 8:52). Nota que Jesus não se
limitou a dizer que a menina estava a dormir,
mas Ele deu um passo adiante. Ela "não está
morta," Ele afirmou claramente. Não entendendo o que Ele dizia, "riam-se dele, sabendo
que estava morta" (Lucas 08:53), mas Jesus
não estava errado no seu diagnóstico. Ele sabia que a menina estava morta no sentido da
primeira morte, mas Ele também sabia que ela
não estava morta no sentido final da segunda
morte. Para demonstrar o que dizia, Jesus simplesmente despertou a menina do seu sono da
primeira morte.
tão ele só pode salvar-nos da primeira morte e
ainda temos que enfrentar nós mesmos, a segunda. No entanto, a gloriosa boa notícia é que
Jesus enfrentou a realidade completa, horrível,
da segunda morte. Presta atenção enquanto
Jesus e seus discípulos entram no Jardim do
Getsémani. Algo surpreendente está prestes a
acontecer.
Não, isso seria um eufemismo.
Algo muito mais do que surpreendente está
prestes a acontecer. Toda a história está
prestes a convergir para um único ponto de
destino, para o qual cada dia e cada evento
avançaram implacavelmente. Agora mesmo,
no curto espaço de tempo que se segue, a revelação auge do amor de Deus vai culminar no
sofrimento e morte de Jesus. E o mundo, na
verdade o universo, nunca mais será o mesmo.
Observa.
Quando a Bíblia diz que "o salário do pecado é
a morte" (Romanos 6:23), não significa apenas
a primeira morte. Quando a Bíblia diz a respeito de Jesus que "Cristo morreu por nossos
pecados" (1 Coríntios 15:3) e que Ele foi para a
cruz para que Ele "provasse a morte por todos"
(Hebreus 2:9), não significa apenas a primeira
morte. O salário final do pecado é a segunda
morte. Logicamente, Jesus só pode salvar-nos
da que Ele sofreu e conquistou para nós. Se
Jesus só experimentou a primeira morte, en-
Jesus está a cambalear sob o peso de algum
peso invisível. Os discípulos podem ver que
algo está errado. Jesus explica o que está a acontecer com ele: "A minha alma está cheia de
tristeza até a morte" (Mateus 26:38). Aqui Ele
abre à nossa compreensão a natureza do Seu
sofrimento. Observa que Ele usou a mesma palavra que tinha empregado anteriormente para
descrever a segunda morte como distinta da
primeira morte: "E não temais os que matam o
51
corpo e não podem matar a alma. Temei antes
aquele que é capaz de destruir a alma e o corpo
no inferno." Mais uma vez, a palavra aqui traduzida como "alma" é psique no texto grego e
é precisamente a palavra que Jesus usa agora
para comunicar o que Ele está a passar. No
Getsémani, Jesus diz que Ele está a morrer ao
nível psicológico do Seu ser. Ele está a morrer
de dentro para fora, sob o poder letal do nosso
pecado e culpa.
levou sobre si o pecado de muitos, e intercedeu
pelos transgressores."
Isto não é nada menos do que surpreendente,
porque significa que Jesus entrou no reino obscuro do nosso pecado e vergonha. Ele levou
tudo para a Sua própria consciência como se
Ele fosse o culpado em vez de nós. A partir de
Getsémani, Jesus é levado para a cruz. Sim,
pregos foram martelados através de Suas
mãos e pés. Sim, o Seu corpo foi torturado. E,
no entanto, Ele nunca disse uma palavra sobre
a dor física, porque o Seu sofrimento mental
era tão intenso que quase eclipsou a Sua dor
física. Absorve cada linha desta declaração surpreendente de Ellen White:
Ainda nenhum abuso físico foi infligido sobre
Ele. No entanto, Jesus está a morrer! Nenhum
sangue foi ainda extraído da sua carne pela violência, e no entanto, Ele está a sangrar! Lucas diz-nos: "E, posto em agonia, orava mais
intensamente. E o seu suor tornou-se como
grandes gotas de sangue, que corriam até ao
chão" (Lucas 22:44). Ele está a sangrar pelos
poros devido ao intenso stress interno que a
vergonha do nosso pecado lhe está a impor.
Isaías 53 oferece uma visão surpreendente
sobre o que Jesus sofreu por nós. Observa o
versículo 6: "Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo
seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele
a iniquidade de nós todos." Então, o versículo
10 diz que a “Sua alma" foi feita "uma expiação
do pecado." E, finalmente, olha para o versículo
12: "porquanto derramou a sua alma na morte,
e foi contado com os transgressores; mas Ele
“Muitos sofreram a morte por torturas lentas;
outros a sofreram mediante crucifixão. Em
que difere destas, a morte do querido Filho de
Deus? É verdade que Ele morreu na cruz morte
por demais cruel; todavia outros, por amor
dEle, sofreram igualmente no tocante à tortura
física. Por que então foi o sofrimento de Cristo
mais terrível do que o de outras pessoas que
deram a vida por amor dEle? Consistissem os
sofrimentos de Cristo apenas em dores físicas
e Sua morte não seria mais dolorosa do que a
de alguns dos mártires.
O sofrimento físico, porém, não foi senão
pequena parte da agonia do amado Filho de
Deus. Os pecados do mundo achavam-se sobre Ele, bem como o senso da ira de Seu Pai
enquanto Ele padecia o castigo da lei transgredida. Estas coisas é que Lhe esmagavam
o coração divino. Foi o ocultar-se o semblante
do Pai — um senso de que o próprio e amado
Pai O havia abandonado — que Lhe trouxe desespero. A separação causada pelo pecado entre Deus e o homem foi plenamente avaliada
e vivamente sentida pelo inocente e sofredor
Homem do Calvário. Ele foi oprimido pelos poderes das trevas. Não tinha um único raio de
luz a aclarar-Lhe o futuro.” (Testemunhos para
a Igreja, Vol. 2, p. 214).
poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la.
Este mandamento recebi de meu Pai"
(João 10:17,18).
E no Getsémani Ele disse a Pedro:
“Ou pensas tu que eu não poderia agora orar a
meu Pai, e que ele não me daria mais de doze
legiões de anjos?” (Mateus 26:53).
Não percas o que tudo isto significa. Jesus enfrentou a perspetiva da morte eterna, e mesmo
assim, por amor da tua alma e da minha, Ele
não recuou. Ele estava literalmente disposto
a morrer para sempre e não mais regressar ao
convívio do Seu Pai, para nos salvar. Não admira
que Paulo chame ao que aconteceu no Calvário,
"o amor de Cristo, que excede todo o entendimento" (Efésios 3:19). Quando Jesus deu a Sua
vida na cruz, Ele demonstrou com clareza e
beleza surpreendentes que Deus literalmente
ama todos os outros mais do que a Sua própria
existência. Esta é a verdade incrível que a compreensão Adventista do Sétimo Dia da morte
e do inferno abre à vista. Esta é a verdade que
as falsas doutrinas da imortalidade natural e
do tormento eterno impedem que seja vista.
Alguém vai dizer: "Mas Jesus não poderia ter
experimentado a segunda morte, porque a segunda morte é a destruição eterna, da qual não
há ressurreição." Ah, mas aqui está a gloriosa
boa notícia: Jesus não se limitou a experimentar a segunda morte. Ele conquistou-a quando
Ele a experimentou.
Uau!
A dor física era apenas uma pequena parte da
agonia do amado Filho de Deus? Ele não tinha
um raio de luz para iluminar o futuro? O que
significa isto? O que sofreu na verdade Jesus
por mim e por ti? Ellen White explode as nossas mentes com esta visão mais profunda:
"O Salvador não podia ver para além dos portais do sepulcro. A esperança não Lhe apresentava a Sua saída da sepultura como vencedor, nem Lhe falava da aceitação do sacrifício
por parte do Pai. Temia que o pecado fosse tão
ofensivo a Deus, que a Sua separação houvesse de ser eterna" (O Desejado de Todas as
Nações, p. 753).
Pedro declarou: "Ao qual Deus ressuscitou, soltas as ânsias da morte, pois não era possível
que fosse retido por ela" (Atos 2:24). Observa
a linguagem aqui: "não era possível" para a
morte reter Jesus. Mas porquê? Por uma razão
simples e profunda: " Ora, o aguilhão da morte
é o pecado, e a força do pecado é a lei" (1 Coríntios 15:56). Mas Jesus nunca pecou. Debaixo
das mais ferozes tentações para se salvar a
Si mesmo, Ele continuou a amar-nos a todos
qualquer que fosse o custo para Si mesmo.
Esse amor altruísta, mantido com integridade
intacta do Getsémani ao Calvário, constituiu
perfeita harmonia com a lei de Deus. Unica-
Assombroso! Durante um longo período de
tempo, uma vez que a nossa culpa envolveu o
Seu coração em escuridão emocional impenetrável, Jesus não poderia ver a vida para si
mesmo além do túmulo. Mas aqui está a coisa
incrível: Ele não estava preso. As Suas costas
não estavam contra uma parede sem saída. Há
duas coisas que Jesus disse antes da cruz que
indicam que Ele não estava preso:
“Por isto o Pai me ama, porque dou a minha
vida para tornar a tomá-la. Ninguém ma tira
de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho
52
53
mente por amor, Jesus triunfou sobre a segunda morte. Portanto, era impossível que a segunda morte o fizesse cativo. A Sua ressurreição
é a prova da sua vitória sobre o pecado, a nossa
culpa e a nossa morte.
Como pode Ele amar-me tão profundamente,
tão apaixonadamente, tão abnegadamente?
Deus é realmente assim?
Pode realmente ser que o Deus Todo-Poderoso do Universo seja assim tão incrivelmente
bonito?
Lágrimas vêm aos meus olhos e adoração
brota no meu coração quando o verdadeiro
significado do sacrifício do Salvador desponta
na minha mente.
O calvário responde com um sonoro sim!
PARA DISCUSSÃO
Qual é a tua reação interna a esta mensagem?
É isto o mesmo ou diferente das tuas ideias anteriores da morte e julgamento? Explica.
O autor fala de culpados que enfrentam "as
violações relacionais que cometeram". O que
acha que ele quer dizer com isso? Poderiam esses ser os pecados mais importantes? Por quê
ou por que não?
Adicionar alguma coisa ou decorar o teu
modelo octagonal se desejares.
Tu já confessaste realmente a Deus, de coração,
os pecados que tu cometeste? Se não, tu ainda
podes fazê-lo. Se assim for, já aceitaste de
todo o teu coração que Jesus cobriu esses pecados completamente e que o teu perdão é tão
completo como se tu nunca tivesses pecado?
O que te pode ajudar a aceitar isto completamente?
Materiais necessários:
1. Várias pen drives, discos rígidos, DVDROMs, etc. Passa-os de mão em mão e
discute como eles são úteis. Será que eles
"sabem" alguma coisa? Eles podem fazer
alguma coisa? O que seria necessário para
torná-los úteis novamente? São estes materiais, ou não, como a morte?
Cita algumas maneiras específicas como podes
transmitir a outros o dom glorioso do perdão
total.
2. Qualquer um dos filmes sobre a vida de
Jesus na cena do Getsémani. Vejam juntos
e em seguida discutam a vossa resposta
emocional (não intelectual!).
54
# DIA 7
O TEMPO
DO FIM
AMOR NÃO COERCIVO
C
omo Adventistas do Sétimo Dia, somos
um povo da profecia bíblica do tempo
do fim, ou o que os teólogos chamam
de "escatologia". Primeiro, acreditamos que o
movimento de que fazemos parte foi predito
na profecia bíblica. Em segundo lugar, acreditamos que estamos a viver a fase final da história
humana. Estas são grandes reivindicações que
têm o potencial tanto de iluminar como de escurecer a mente das pessoas, dependendo de
como as comunicamos. Ellen White discerniu
que há um perigo potencial que temos de evitar deliberadamente na nossa pregação dos
acontecimentos dos últimos dias:
heço nem amo a Deus. Estou apenas numa
viagem de auto-preservação. Embora possa
parecer que eu estou a servir a Deus, eu estou
realmente a servir a mim mesmo. Há apenas
um motivo legítimo para servir ao Senhor. Nas
palavras de Ellen White: "Jesus é atraente." O
Seu amor é o motivo de ação que precisamos
manter em foco enquanto pregamos a profecia
do fim dos tempos. A beleza atraente do Seu
caráter, quando a vemos, move-nos de dentro
para fora! Ouve o Rei Davi sobre esta matéria:
“Uma coisa pedi ao Senhor, e a buscarei: que
possa morar na casa do Senhor, todos os dias
da minha vida, para contemplar a formosura do
Senhor, e inquirir no seu templo. Porque no dia
da adversidade me esconderá no seu pavilhão;
no oculto do seu tabernáculo me esconderá;
pôr-me-á sobre uma rocha.” (Salmo 27:4,5).
“A falta de tempo é frequentemente instada
como um incentivo para buscar a justiça e
fazer de Cristo o nosso amigo. Isso não devia
ser o grande motivo connosco porque sabe a
egoísmo. É necessário que os terrores do dia
de Deus sejam mantidos perante nós, para
que possamos ser obrigados a ação correta
através do medo? Não deveria ser assim. Jesus
é atraente. Ele está cheio de amor, misericórdia
e compaixão. Ele propõe-se a ser nosso amigo”
(Signs of the Times, março 17, 1887).
Observa que o foco de David não está no tempo
de angústia, mas sim na beleza do caráter de
Deus. No contexto desse foco, ele tem um senso de confiança, e não de medo, em relação ao
tempo de angústia. Isso é que é uma perspetiva saudável sobre o tempo de angústia, e todos
os eventos do fim dos tempos! Cada um de nós
tem de se perguntar se consegue identificar-se
com os sentimentos de Davi para com Deus.
Estamos cativados pela "beleza" do caráter de
Deus? Se não, precisamos fazer disso a nossa
maior prioridade afim de obtermos uma visão
do amor de Deus tão verdadeira e clara ao ponto de sermos arrebatados pelo amor do nosso
incrível Criador. Fora deste contexto vivencial,
os eventos dos últimos dias só podem despertar medo nos nossos corações frágeis.
Que advertência perspicaz e necessária para
um povo chamado a anunciar a profecia do fim
dos tempos!
Os pregadores não devem apresentar a profecia bíblica de uma forma que desperte medo. O
propósito de Deus em revelar os eventos do fim
dos tempos não é para nos assustar, mas para
nos preparar; não para nos afastar, mas para
nos atrair; não para impor ansiedade em cima
de nós, mas para gerar esperança e paz dentro
de nós. Se eu tentar acertar contas com Deus
porque o tempo é curto, eu realmente não con-
Ser-nos-á impossível interpretar corretamente
os eventos do fim dos tempos, se permitirmos
55
que esses eventos eclipsem Jesus. Fazê-lo, distorce inevitavelmente o quadro escatológico
numa mescla desfigurada de especulações baseadas no medo e em falsos alarmes, pensadas com o propósito de levar as pessoas a um
estado de euforia acerca de previsões sobre o
futuro, em vez de se firmarem em Cristo como
a sua segurança.
Qual é a dinâmica central que podemos esperar
que se revele nos eventos finais da história humana?
Jesus dá-nos a resposta em João 16:1-4:
“Tenho-vos dito estas coisas para que vos não
escandalizeis. Expulsar-vos-ão das sinagogas;
vem mesmo a hora em que qualquer que vos
matar cuidará fazer um serviço a Deus. E isto
vos farão, porque não conheceram ao Pai nem
a mim. Mas tenho-vos dito isto, a fim de que,
quando chegar aquela hora, vos lembreis de
que já vo-lo tinha dito”.
Uma fixação nos eventos do fim dos tempos,
acaba por desenvolver um apetite doentio em
expor os “maus da fita”, aumentando a ameaça
de perigo, e conduzindo as pessoas para sentimentos de incerteza sobre se vão ou não
conseguir sobreviver aos tempos de angústia.
A escatologia é uma parte vital da nossa mensagem - isso é uma certeza. Mas, como em
todas as nossas doutrinas, ela só serve o seu
propósito - estabelecido por Deus - quando
permitimos que funcione como uma janela
através da qual podemos discernir o amor de
Deus.
Uau!
Não percas o que Jesus nos está a dizer aqui,
porque é extremamente significativo. Essencialmente, Ele diz: "Isto é o que vai acontecer
no fim do mundo: haverá aqueles que possuem uma imagem de Deus que vai levá-los
a matar em nome de Deus. A sua construção
teológica vai ditar ações violentas. Eles vão-se
envolver numa campanha de perseguição em
massa, sempre imaginando que estão a servir a Deus enquanto fazem isso." Mas se eles
conhecessem a Deus como Deus realmente é,
nunca iriam exercer força em nome Dele. Consegues ver as implicações? Isto significa que a
questão mais importante que tu e eu precisamos de abordar é a imagem do caráter de Deus
Vamos então abordar os eventos do fim dos
tempos a partir dessa perspetiva e ver o que
descobrimos.
A Dinâmica Central dos Eventos Finais
Vamos começar a nossa exploração da escatologia com uma pergunta simples:
que temos em nossos corações. Isto também
significa que uma revelação exata do caráter de
Deus é a mensagem que temos de ser apaixonados por dar ao mundo!
gar, e nele queimaram incenso a outros deuses,
que nunca conheceram, nem eles nem seus
pais, nem os reis de Judá; e encheram este lugar de sangue de inocentes. Porque edificaram
os altos de Baal, para queimarem seus filhos
no fogo em holocaustos a Baal; o que nunca
lhes ordenei, nem falei, nem me veio ao pensamento” (Jeremias 19:4,5).
Porquê?
Porque, de acordo com Jesus, nós seres humanos estamos sujeitos a interpretar mal o
caráter de Deus de uma forma que nos permita
justificar exercer coerção em Seu nome. Na
verdade, esta é a perspetiva teológica prevalecente que tem dominado a história humana e
que levou a muita da violência que tem caracterizado a saga obscura do nosso mundo. Nas
formas pagãs antigas, as pessoas acreditavam
que Deus exigia que sofressem para aplacar a
Sua ira. Às vezes, isso significava fazer certas
ações para infligir danos a si mesmo. Outras
vezes, isso significava a realização de um conjunto de atos prescritos por líderes religiosos.
Podia também significar ir à guerra em nome
de Deus e outras vezes até mesmo oferecer
um sacrifício humano. Isto é o que podemos
chamar de teologia do apaziguamento.
Repara na última frase: "nem me veio ao pensamento." A teologia de apaziguamento é
completamente estranha à natureza de Deus,
mas está profundamente enraizada na psique
humana, porque é o produto natural da nossa
culpa. O nosso sentimento de vergonha levanos a interpretar as coisas más que nos acontecem como punições arbitrárias de Deus, que
por sua vez nos leva a buscar o favor de Deus
por meio de sacrifício nas mais variadas formas. Agora pensa nisto com muito cuidado,
porque estamos prestes a ter como que uma
tremenda revelação sobre a questão mais profunda envolvida no desenrolar dos acontecimentos finais. Na verdade, Jesus foi crucificado
por pessoas religiosas que tinham como premissa o conceito de salvação pelas obras e a visão
de um Deus que precisa de ser apaziguado. Os
líderes religiosos perceberam que estavam a
perder o controle do povo para Jesus. Com base
numa lógica de apaziguamento, eles tomaram
uma decisão calculista e pragmática que surgiu
naturalmente a partir da imagem distorcida
que tinham de Deus: "Nem considerais que nos
convém que um homem morra pelo povo, e que
não pereça toda a nação" (João 11:50).
A ideia básica é muito simples e terrivelmente
sombria: que a postura básica de Deus para com
os seres humanos é de condenação e ira, e que
Ele nos aflige com juízos destrutivos, a menos
e até que ofereçamos algum tipo de sacrifício
para aplacar sua ira. A busca de apaziguamento pode assumir a forma de atos individuais de
penitência: humilhação emocional, automutilação física, pagar dinheiro a uma igreja, ou
realizar um conjunto de atos estabelecidos por
um sistema religioso.
Eles imaginavam que matar Jesus evitaria o
desastre que anteviam vir em sua direção. Da
mesma forma, de acordo com Jesus, a campanha final de perseguição da história humana
será alimentada por uma imagem distorcida
de Deus, que permitirá que os perseguidores
racionalizem que estão a servir a Deus por meio
de seu sistema político-religioso coercivo. Jesus disse claramente o que se passa quando as
pessoas procuram forçar os outros em nome de
Deus: "E isto vos farão, porque não conheceram
ao Pai nem a mim." Noutras palavras, conhecer
Pode assumir a forma de uma cruzada contra
uma qualquer organização que ocupe o lugar
de “bode expiatório”, na qual uma pessoa ou
um grupo de pessoas ser torna no “sacrifício”
que se oferece a Deus. No entanto, o Deus da
Bíblia - o único e verdadeiro Deus - disse explicitamente ao antigo Israel que Ele não é um
Deus que pede apaziguamento:
“Porquanto me deixaram e alienaram este lu56
57
a Deus como Deus realmente é, afasta o uso de
coerção em Seu nome.
o seu Filho unigénito, para que todo aquele que
nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna"
(João 3:16).
Incrível!
Dar, define totalmente o modo de existência
de Deus.
Agora entendemos a questão que vai desempenhar um papel central no desenrolar nos
eventos finais da história humana. Quando
o mundo estiver finalmente dividido entre
perseguidores e perseguidos, cada pessoa vai
agir de acordo com a imagem que tem de Deus.
Na cruz, Deus deu-se a Si mesmo até ao ponto
do sofrimento e da morte, a fim de demonstrar
o Seu amor por nós, e que o amor é o poder, o
verdadeiro e único poder, que Ele exerce para
a nossa salvação. A cruz revela que Deus está
interessado em atrair os seres humanos a Si
unicamente através do poder atrativo do Seu
amor. Por outro lado, Ele não está interessado em mudanças exteriores em resultado
de qualquer pressão coerciva. Jesus também
aplicou o princípio do amor não coercivo nas
relações humanas em geral e nas relações da
igreja em particular. Olha para Mateus 20:2528:
Agora vamos um pouco mais fundo.
Um tipo diferente de poder
Em Mateus 24 Jesus delineou uma lista do que
chamamos "sinais" do fim dos tempos. No
versículo 14, Ele nomeou o derradeiro e mais
importante de todos: "E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim."
Quando Jesus disse estas palavras, Ele estava a
usar uma linguagem muito específica e familiar para o povo do Seu tempo. Ao usar a palavra
traduzida como "evangelho", que é euaggelion
no texto grego, Ele estava a empregar o termo
comum no contexto das vitórias militares.
Quando um antigo império vencia uma batalha
pela força das armas, euaggelion era a palavra
usada para anunciar a "boa notícia" da vitória.
Jesus decidiu então usar deliberadamente a
palavra comum para falar de vitória militar,
mudando o seu significado, a fim de sinalizar
a chegada de um novo tipo de reino com base
num novo tipo de poder. O seu reino não pode
ser comparado a nenhum outro. É, na verdade,
totalmente oposto às estruturas de poder do
nosso mundo.
“Então Jesus, chamando-os para junto de si,
disse: Bem sabeis que pelos príncipes dos gentios são estes dominados, e que os grandes
exercem autoridade sobre eles. Não será assim
entre vós; mas todo aquele que quiser entre vós
fazer-se grande seja vosso serviçal; E, qualquer
que entre vós quiser ser o primeiro, seja vosso
servo; Bem como o Filho do homem não veio
para ser servido, mas para servir, e para dar a
sua vida em resgate de muitos”.
Isto é o que Jesus pretendia que Sua igreja
fosse, como Ele queria que ela funcionasse. E
através da Sua igreja, era assim que Ele queria que o mundo visse o Seu caráter. Jesus é
decididamente “pró-liberdade” e “anti-força”.
A Sua vida, morte e ensinamentos colocaram
em cena um sistema relacional caracterizado
por uma dinâmica muito mais de “submissão”
do que de “autoridade e domínio” na maneira
de nos relacionarmos. O Seu reino é diametralmente oposto à ideia de imposição teológica,
emocional ou de coerção sobre os seres humanos, em assuntos relativos à sua relação
individual com Deus. Depois de Jesus ter par-
Jesus veio ao nosso mundo e fundou a Sua igreja com base no princípio do amor não coercivo.
Na linguagem popular do seu tempo, ele chamou à dinâmica relacional do Seu reino, "ágape".
Para descrever a forma mais radical de atuação deste princípio, Jesus disse: "Porque Deus
amou (ágape) o mundo de tal maneira que deu
58
tido deste mundo, tendo estabelecido a Sua
Igreja na premissa do que poderíamos chamar
de dinâmica relacional “amor em liberdade”, os
Seus discípulos fizeram o Seu reino (tão distinto dos valores envolventes) avançar de duas
maneiras: (a) pela pregação do evangelho, ou
as boas notícias do amor não-coercivo de Deus
como o único fundamento legítimo para o relacionamento humano com Deus e (b) vivendo o
seu amor dentro da igreja como uma comunidade da aliança, o que significa que homens e
mulheres só se juntavam à igreja na premissa
de uma resposta voluntária ao Amor de Deus.
zia conforme a sua vontade, e se engrandecia.
E, estando eu considerando, eis que um bode
vinha do ocidente sobre toda a terra, mas sem
tocar no chão; e aquele bode tinha um chifre
insigne entre os olhos. E dirigiu-se ao carneiro
que tinha os dois chifres, ao qual eu tinha visto
em pé diante do rio, e correu contra ele no ímpeto da sua força. E vi-o chegar perto do carneiro,
enfurecido contra ele, e ferindo-o quebrou-lhe
os dois chifres, pois não havia força no carneiro
para lhe resistir, e o bode o lançou por terra, e o
pisou aos pés; não houve quem pudesse livrar o
carneiro da sua mão. E o bode se engrandeceu
sobremaneira; mas, estando na sua maior força, aquele grande chifre foi quebrado; e no seu
lugar subiram outros quatro também insignes,
para os quatro ventos do céu. E de um deles
saiu um chifre muito pequeno, o qual cresceu
muito para o sul, e para o oriente, e para a terra
formosa.
Não era suposto a igreja ser um sistema civil,
impondo as suas crenças por meio de lei, mas
sim um sistema com base numa aliança, estabelecendo a atraente beleza do caráter de Deus
como um convite ao qual todos eram livres de
dizer sim ou não. Assim que entendemos que
o amor não-coercivo é o princípio fundamental
do evangelho, estamos preparados para discernir, por outro lado, que todo o sistema político e religioso que tenta usar a força em nome
de Cristo é, de facto, anti-Cristo. E isto leva-nos
até às profecias de Daniel e Apocalipse.
Repara no padrão crescente de autoexaltação
que Daniel descreve:
Daniel e Apocalipse
Daniel e Apocalipse contam a história de Jesus
conquistando o engano e a força com verdade
e amor. Este é o conceito chave que atravessa
a profecia bíblica. Se não compreendemos isto,
perdemos o sentido da sua existência.
•
"ótimo"
•
"muito bom"
•
"muito grande"
E repara também na linguagem de poder
e de violência:
•
"com poder furioso"
Vamos por partes.
•
"confrontar"
Daniel mostra-nos uma série de impérios mundiais. Cada um procura reforçar a sua pretensão de superioridade por meio de força bruta, e
cada um deles inevitavelmente cai no domínio
de outro. Daniel descreve o ciclo autodestrutivo
da violência em Daniel 8:4-9:
•
"movido com raiva"
•
"atacado"
•
"lança-o ao chão"
•
"pisou-o"
“Vi que o carneiro dava marradas para o ocidente, e para o norte e para o sul; e nenhum
dos animais lhe podia resistir; nem havia
quem pudesse livrar-se da sua mão; e ele fa-
Cada reino avança sobre o outro por meio da
força. Descrevendo o último reino na linha
profética, Daniel diz isto nos versículos 24-25:
59
“E se fortalecerá o seu poder, mas não pela sua
própria força; e destruirá maravilhosamente, e
prosperará, e fará o que lhe aprouver; e destruirá os poderosos e o povo santo. E pelo seu entendimento também fará prosperar o engano
na sua mão; e no seu coração se engrandecerá,
e destruirá a muitos que vivem em segurança;
e se levantará contra o Príncipe dos príncipes,
mas sem mão será quebrado”.
fê-lo por todos nós enquanto seres humanos
rebeldes e caídos. Permitiu que descarregássemos a nossa raiva sobre Ele, mas continuou a amar-nos. Jesus cumpriu esta profecia
entregando-se a Si mesmo, sem resistência,
ao poder combinado da igreja e do estado.
O sistema religioso judaico e o poder político de Roma, unidos para matar Jesus. Surpreendentemente, Ele foi crucificado por uma
aliança Igreja-Estado. O mais surpreendente
é que, sendo Deus, Ele tinha na verdade poder
sobre eles, mas submeteu-se livremente à sua
violência. Em João 10:18, Jesus disse: "Ninguém
ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou".
Em Cristo, temos diante de nós o rei do universo a conquistar os reinos do nosso mundo. Mas
como é que ele o faz? Sacrificando-se ao nosso
ódio e raiva!
Tal como acontece com os reinos que o precederam, destruição e engano são os meios pelos
quais este reino se exalta a si mesmo. Mas,
em seguida, Daniel mostra-nos algo novo, algo
totalmente diferente. Este poderoso sistema
conquista tudo à sua passagem até que ele
sobe "contra o príncipe dos príncipes", que é
o Messias. Em Jesus, a autoexaltação encontrou o seu correspondente, mas não da forma
como poderíamos pensar. Quando este reino
vem de encontro a Jesus, Daniel diz que ele
será "quebrado sem mão humana". Noutras
palavras, Jesus não conquista na base dos
mesmos princípios usados pelas estruturas de
poder humanos. Ele opera segundo princípios
que são diametralmente opostos aos princípios utilizados pelos reinos deste mundo. Eles
usam engano e força. As Suas armas são a verdade em amor.
A natureza humana e todos os reinos do
nosso mundo operam na premissa de autopreservação a todo custo.
Matar ou morrer.
Olho por olho.
Golpe por golpe.
Tu bateste-me, eu vou-te bater também.
No capítulo 9, Daniel dá-nos uma descrição
mais detalhada do caminho do Messias para a
vitória, e é espantosa. Observa o versículo 26:
"será cortado o Messias, mas não para si mesmo". E o versículo 27: "E ele firmará aliança com
muitos por uma semana; e na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oblação". Esta
é uma profecia que prediz a morte abnegada de
Jesus. O único e verdadeiro rei do mundo voluntariamente daria a sua vida no Calvário "mas
não para si mesmo".
E quem tem a força bruta superior, ganha.
Jesus vem a este sistema de violência cíclica
e faz algo completamente oposto à natureza
humana: diante do mal, Ele ama. Pedro explica em 1 Pedro 2:23, 24: "O qual, quando o
injuriavam, não injuriava, e quando padecia
não ameaçava, mas entregava-se àquele que
julga justamente; Levando ele mesmo em seu
corpo os nossos pecados sobre o madeiro, para
que, mortos para os pecados, pudéssemos
viver para a justiça; e pelas suas feridas fostes
sarados." Só o amor pelos inimigos tem o poder
de esmagar a inimizade e de fazer nascer uma
nova dinâmica relacional. E isso é precisamente o génio curador da cruz. O que vemos
Poderoso!
Daniel quer fazer-nos entender que o Rei Jesus
opera através de um poder de natureza distinta. Jesus foi à cruz em favor dos Seus inimigos,
60
revelado em Jesus é um amor que não pode ser
superado pelo ódio e pela violência.
Todas as forças que se opõem ao amor são esmagadas pelo Seu amor!
Não importa o que lhe fizermos, Ele nunca
vai parar de nos amar. Quando nos confrontamos com o amor de Deus, estamos diante de
uma força mais poderosa do que a força bruta.
Podemos descarregar a nossa raiva sobre Ele
até que se quebre, mas ela não vai quebrá-Lo.
Ele tão simplesmente olha com perdão para as
nossas mãos ensanguentadas, para a nossa
respiração exausta e para os nossos olhos irritados, até que sejam dominados pelo Seu
amor ou que fiquem irremediavelmente em
conflito com Ele. Esta é a mensagem central
das profecias de Daniel.
Quando chegamos ao livro do Apocalipse, vemos o desenlace da mesma história: o amor a
conquistar o mal. João abre o Apocalipse dizendo-nos que a Estrela do livro salva e governa
através do Seu amor abnegado:
“Graça e paz seja convosco da parte daquele
que é, e que era, e que há de vir, e da dos sete
espíritos que estão diante do seu trono; E da
parte de Jesus Cristo, que é a fiel testemunha,
o primogénito dentre os mortos e o príncipe
dos reis da terra. Àquele que nos amou, e em
seu sangue nos lavou dos nossos pecados, E
nos fez reis e sacerdotes para Deus e seu Pai; a
ele glória e poder para todo o sempre. Amém”
(Apocalipse 1:4-6).
João quer fazer-nos entender que Jesus é
um Rei como nenhum outro. O Seu domínio
decorre do facto de que Ele deu a Sua vida
por nós. Esta mensagem torna-se mais clara
quando João descreve o que está a acontecer
na sala do trono do universo. Vamos ler Apocalipse 5:6,7:
“E olhei, e eis que estava no meio do trono e
dos quatro animais viventes e entre os anciãos
61
um Cordeiro, como havendo sido morto, e tinha
sete pontas e sete olhos, que são os sete espíritos de Deus enviados a toda a terra. E veio,
e tomou o livro da destra do que estava assentado no trono.”
Agora observa os versículos 11-13:
“E olhei, e ouvi a voz de muitos anjos ao redor
do trono, e dos animais, e dos anciãos; e era o
número deles milhões de milhões, e milhares
de milhares, que com grande voz diziam: Digno
é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e
riquezas, e sabedoria, e força, e honra, e glória,
e ações de graças. E ouvi a toda a criatura que
está no céu, e na terra, e debaixo da terra, e que
estão no mar, e a todas as coisas que neles há,
dizer: ao que está assentado sobre o trono, e ao
Cordeiro, sejam dadas ações de graças, e honra,
e glória, e poder para todo o sempre.”
Jesus é o centro da atenção e louvor precisamente porque Ele deu a Sua vida por nós. É
contra este pano de fundo de vitória através
da abnegação, que o Apocalipse traz à vista
olência só serve para perpetuar o ódio e a violência. Força gera força. Enquanto cada ato de
violência for respondido com mais violência, o
ciclo, literalmente, nunca vai terminar, a não
ser pela destruição completa de ambos os lados. Em Apocalipse 13, encontramos a besta
que sobe do mar e a besta que sobe da terra, o
Catolicismo Romano e a América Protestante.
A profecia adverte-nos que estes dois poderes
acabarão por se unir para impor ao mundo a
"marca da besta".
Leis de adoração serão promulgadas que tentarão coagir a consciência em nome de Deus.
A liberdade religiosa acabará por ser anulada
e a besta como um cordeiro "falará como um
dragão."
A América protestante vai tornar-se o “motor”
político que vai trazer ao mundo uma crise de
consciência individual e de caráter.
O sistema irá ditar que "ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tiver o sinal,
ou o nome da besta, ou o número do seu
nome." (versículo 17). Noutras palavras, o sistema irá alavancar o seu poder económico
contra todos os que resistirem à sua posição
dominante.
os eventos finais da história. Em contraste
com o Único que salva e governa pelo poder do
amor não-coercivo, João adverte que "o grande
dragão", essa "antiga serpente, chamada o
Diabo e Satanás", vai travar uma guerra contra Jesus e Seus seguidores (Apocalipse 12:9).
O ponto marcante da história é posto em foco
nítido em Apocalipse 12:11: "E eles o venceram
pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu
testemunho; e não amaram as suas vidas até
à morte." A mensagem é clara. O povo de Jesus
vai superar a força do sistema de perseguição
de Satanás no tempo do fim, respondendo
com o amor de Cristo em vez de retaliação. Na
história de Jesus, os verdadeiros vencedores
vencem ao perder, porque o amor não violento
é o princípio “secreto” e profundo da verdadeira
conquista.
Amor que se recusa a responder ao mal com o
mal!
Amor que se submete ao abuso em vez de recorrer ao abuso!
Amor que preferiria morrer a ter que odiar os
inimigos!
Existem dois tipos de poder em exibição no
Apocalipse: o Poder do Cordeiro contra o Poder
Responder ao ódio e à violência com ódio e vi-
do Dragão. O poder aplicado por Satanás e os
sistemas terrestres que seguem a sua liderança é o da força. Em total contraste, o poder
utilizado por Jesus é o amor abnegado. Amor
versus força! Esta é, em poucas palavras, a
história completa de Daniel e Apocalipse. E se
esta é a história, então a questão crucial que
vem ao coração de cada um de nós, é simplesmente esta: Tu e eu realmente conhecemos
Jesus como a verdadeira revelação do caráter
de Deus? Quando os eventos finais da história
E é neste contexto que o mundo vai acabar.
PARA DISCUSSÃO
Partilha algumas histórias de situações em que
tenhas sido tentado a usar a coerção, ainda que
chamando-lhe amor, ou que tenhas visto outros a fazê-lo. Qual foi o resultado? Qual achas
que é a solução?
É possível ir longe demais na direção contrária
e tornarmo-nos meros “capachos”, ao nos
tentarmos "submeter ao abuso” em vez de
abusar? Quais poderão ser algumas salvaguardas contra isso?
É possível os Adventistas caírem na armadilha
de tentar obrigar outros (dentro ou fora da igreja) a acreditar ou agir de determinadas maneiras? Como podemos enfrentar e mudar isso
sem usarmos nós mesmos a força?
De que formas agiste de acordo com a "tua
imagem de Deus" durante o último mês?
Adicionar alguma coisa ou decorar o teu
modelo octagonal se desejares.
Em grupo, encontrem algum exemplo que
tenham testemunhado por parte de um
grupo ou de um indivíduo, que sendo Adventista considerem ter agido numa lógica de
coerção para levar as pessoas a acreditar ou
agir de alguma maneira. Percebam que isto é
quase sempre feito com a melhor das intenções: quais poderão ser essas intenções?
62
se desenrolarem sobre o mundo, cada um de
nós irá revelar a imagem de Deus que construi.
Cada um de nós vai ou não ficar com aqueles
que violam o princípio da liberdade religiosa, a
fim de se preservarem a si mesmos, ou vai ou
não ficar fiel à liberdade de consciência em harmonia com o amor não coercivo de Deus.
63
Agora pensem em pelo menos duas maneiras que esse mesmo grupo ou pessoa poderia
ter usado para aplicar a lógica do amor nãocoercivo, e qual pensam seria o resultado
dessa abordagem? Reflitam também sobre
qual deveria ser a resposta dessa pessoa ou
grupo, se aquele(s) a que se dirige optar por
não seguir o caminho de Deus.
Agora ... como podem usar isto na vossa
própria vida? Sejam específicos.
# DIA 8
A 2ª VINDA
AMOR COM SAUDADE
C
e o ouve, alegra-se muito com a voz do esposo.
Assim, pois, já este meu gozo está cumprido.
É necessário que ele cresça e que eu diminua."
(João 3:29,30)
amores; e estendi sobre ti a aba do meu manto,
e cobri a tua nudez; e dei-te juramento, e entrei
em aliança contigo, diz o Senhor DEUS, e tu ficaste sendo minha.”
Entendeste isto?
É simplesmente incrível que o Criador Omnipotente do Universo seja o tipo de Deus
capaz de contar uma história como esta! Ele,
obviamente, quer fazer-nos entender e sentir
alguma coisa. Vamos assimilar a imagem. Então, Deus encontra um bebé abandonado num
campo, nu, ensanguentado e sujo. O cordão
umbilical está pendurado no seu corpo, como
se a criança tivesse sido arrancada do útero
sem qualquer compaixão. "Não se apiedou
de ti olho algum", diz Deus. Outra versão diz:
"Ninguém te amou." Que gráfica e reveladora
representação da nossa situação terrível como
seres humanos. Percebemos aqui que falta de
amor é o que define a nossa condição caída.
João chamou Jesus "o esposo", e ele se identificou como "o amigo do esposo", ou aquele que
chamamos "o padrinho".
omo Adventistas do Sétimo Dia, a verdade bíblica da segunda vinda de Jesus
está integrada no nosso nome, o que é
muito bom, como estamos prestes a descobrir.
A palavra "advento" significa simplesmente
"chegada". Quando dizemos que somos Adventistas, estamos a identificarmo-nos como
um povo que preza a esperança mais brilhante
que se possa imaginar. O nosso nome declara
que o mesmo Jesus que veio ao nosso mundo
há 2000 anos, nascido de Maria em Belém,
crucificado numa cruz romana, que ressuscitou ao terceiro dia e ascendeu ao céu, vai voltar
novamente para acabar com todo o mal e dor
e inaugurar um novo mundo de harmonia relacional perfeita.
Estamos super familiarizados com a ideia de
que Jesus veio ao mundo como aquele que
nos salva do pecado e da culpa, e louvamos a
Deus por isso, mas aqui é-nos dada uma visão
adicional. Não só Ele veio para nos salvar do
pecado, Ele também veio para nos atrair para
o seu amor. O plano de salvação não se limita a
tirar-nos de problemas, leva-nos para o coração
de Deus. A nossa redenção tem um objetivo,
uma meta e um propósito. Somos libertos de
uma situação muito má e levados a uma outra
realmente boa. Para fora do pecado e para o
amor! Deus não tem apenas piedade de nós,
Ele quer-nos com a paixão de um amante que
anda atrás de nós. Este é o quadro completo.
No entanto, se não formos cuidadosos, estamos sujeitos a perder o porquê da Sua vinda
enquanto estamos preocupados em provar
como Ele virá. Tradicionalmente, temos dedicado a maior parte do nosso foco evangelístico
à maneira como será a Sua vinda, em contraste
com a doutrina do arrebatamento secreto*.
Sim, precisamos proclamar com clareza a verdadeira forma do retorno de nosso Senhor, mas
não em detrimento da razão por que Ele está
a voltar. O objetivo da pregação da segunda
vinda não deve ser meramente provar o que ela
não é, mas sim pintar uma bela e convidativa
imagem do que ela é de facto. Enganamo-nos
a nós mesmos e ao mundo quando reduzimos
a nossa pregação sobre a segunda vinda a uma
mera tentativa de provar que o arrebatamento
secreto é falso. Na nossa doutrina da segunda
vinda temos algumas notícias realmente, realmente, mas realmente boas a proclamar. Como
todas as verdades bíblicas, a segunda vinda
serve como uma janela para o amor de Deus.
Então, vamos espreitar pela janela.
Em Ezequiel 16 Deus conta-nos uma história
muito emotiva. Observa os versículos 4-8:
* Isto é especialmente verdade nos países
onde a tradição evangélica é muito forte, como
os EUA
Amante Celestial
Quando Jesus veio a primeira vez, Ele foi especificamente identificado por João Batista
como o amante Celestial em busca da Sua
amada terrena. Quando os seguidores de João
manifestaram ciúmes das pessoas que mudaram a sua atenção dele para Jesus, João teve
isto a dizer: "Aquele que tem a esposa é o esposo; mas o amigo do esposo, que lhe assiste
64
“E, quanto ao teu nascimento, no dia em que
nasceste não te foi cortado o umbigo, nem foste lavada com água para te limpar; nem tampouco foste esfregada com sal, nem envolta em
faixas. Não se apiedou de ti olho algum, para te
fazer alguma coisa disto, compadecendo-se de
ti; antes foste lançada em pleno campo, pelo
nojo da tua pessoa, no dia em que nasceste. E,
passando eu junto de ti, vi-te a revolver-te no
teu sangue, e disse-te: Ainda que estejas no
teu sangue, vive; sim, disse-te: Ainda que estejas no teu sangue, vive. Eu te fiz multiplicar
como o renovo do campo, e cresceste, e te engrandeceste, e chegaste à grande formosura;
avultaram os seios, e cresceu o teu cabelo; mas
estavas nua e descoberta. E, passando eu junto
de ti, vi-te, e eis que o teu tempo era tempo de
65
Nós... Precisamos... Amor!
Isto é o que Deus vê em nós.
O que Ele vê no nosso estado de perdição.
E Ele sabe que unicamente o Seu amor pode
salvar-nos.
Então, Ele diz: "Ainda que estejas no teu
sangue, vive; sim, disse-te: Ainda que estejas
no teu sangue, vive." Estávamos a morrer nos
nossos pecados, mas Deus veio e levou-nos nos
seus braços, o bebé abandonado que ninguém
amava, e Ele comunicou-nos a palavra da vida.
Ele diz-nos: "Vive." Então, sob a influência do
Seu cuidado carinhoso, o bebé desenvolve-se e
cresce até ser uma linda mulher. "Eis que o teu
tempo era tempo de amores", diz Deus. Outra
versão diz: "E vi que já tinha idade suficiente
para amar" (NVI).
Uau!
Não deixes de ver o coração de Deus aqui.
Quando Ele olha para nós, Ele está à procura de
algo específico e especial. Ele anseia que pos-
samos crescer espiritualmente até ao ponto
em que nos apaixonemos por Ele em resposta
ao Seu amor por nós. Ellen White percebeu
isto. Segundo ela, apaixonar-se por Jesus é o
que nós devíamos entender da Bíblia. Vê isto:
Força e manipulação são contrárias aos caminhos do amor e, portanto, contrárias ao caráter
de Deus, já que "Deus é amor" (1 João 4:8). Então, Ele tem um plano diferente. Através do
profeta Oséias, Deus descreveu o Sua forma de
atuar. Olha para Oséias 2:14: "Portanto, agora
vou atraí-la; vou levá-la para o deserto e vou
falar-lhe com carinho." Deus o sedutor! Não é
a imagem que a maioria das pessoas visualiza
quando pensam em Deus! E mesmo assim ela
aqui está, clara como o dia. Deus tem a intenção de nos salvar seduzindo-nos. Esta é uma
profecia da vinda do Messias, Jesus Cristo,
aquele que João Batista chamou o noivo que
tinha vindo para a Terra à procura de sua noiva. Não devemos por isso ficar surpreendidos
quando Jesus fala da Sua morte na cruz usando
linguagem da atração. Repara em João 12:32:
"Mas eu, quando for levantado da terra, atrairei
todos a mim."
“Deves pesquisar a Bíblia; porque ela falate de Jesus. Enquanto lês a Bíblia, vais ver
os incomparáveis encantos de Jesus. Vais-te
apaixonar pelo Homem do Calvário, e a cada
passo tu podes dizer ao mundo: “Seus caminhos são caminhos de delícias, e todas as suas
veredas são paz." Tens que apresentar Cristo
ao mundo. Podes mostrar ao mundo que tens
uma grande esperança de imortalidade.” (Life
Sketches, p. 293)
Agora volta à história em Ezequiel 16. Quando
Deus vê que estamos prontos para o amor, Ele
diz: "estendi sobre ti a aba do meu manto, e cobri a tua nudez; e dei-te juramento, e entrei em
aliança contigo, diz o Senhor DEUS, e tu ficaste
sendo minha."
Incrível!
O que vemos aqui é basicamente Deus a dizer:
"Eu amo-te tanto que quero que sejas a Minha
esposa." Deus dá-nos a vida - ou a salvação
- amando-nos até nos conduzir à felicidade.
Depois, Ele compromete-se com os Seus votos
matrimoniais na esperança de que digamos
"Sim" e que O amemos também. Este é o objetivo real do plano de salvação. O profeta Oséias
abre ainda mais a nossa compreensão sobre
este ponto. Ele descreve a condição humana
caída como promiscuidade sexual em 2:13: "ela
se enfeitou com anéis e jóias, e foi atrás dos
seus amantes, mas de mim, ela se esqueceu",
declara o Senhor." Todo o pecado é adultério
espiritual, porque todo o pecado basicamente
se resume a uma falta de amor. Todo o pecador
é uma prostituta, perseguindo casos de amor
ilícitos com as coisas que deslocam Deus do
centro dos seus afetos e paixões. Então, o que
vai Deus fazer? Como é que Ele nos vai salvar?
Vai forçar-nos? Vai manipular-nos? Não.
66
para uma união eterna que jamais será quebrada, o que é no final de contas o verdadeiro
propósito da Sua segunda vinda.
Para Estar Connosco
Vamos voltar agora a João 14:1-3, olha desta vez
para esta famosa passagem sobre a segunda
vinda:
“Não se turbe o vosso coração; credes em Deus,
crede também em mim. Na casa de meu Pai há
muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo
teria dito. Vou preparar-vos lugar. E quando eu
for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos
levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também.”
Na cruz, ao dar a Sua vida em abnegação total,
Jesus fez a revelação suprema do Seu amor por
nós. E esse amor, se lhe dermos atenção, vai
exercer um poder de atração sobre nós. Poder
que vai gerar atração em nossos corações em
relação a Ele e seduzir-nos ao Seu coração.
Agora volta a Oséias 2:16: "E naquele dia, diz o
SENHOR, tu me chamarás: Meu marido; e não
mais me chamarás: Meu senhor." Que Deus incrível! Este é o ser mais poderoso no universo
e ainda assim recusa-se a dominar-nos. Ele
não quer um relacionamento de mestre e servo
connosco, mas sim uma relação de marido e
mulher. Noutras palavras, Ele quer que o amor
voluntário seja a força motivadora que define o
nosso relacionamento com Ele.
Agora que vimos o contexto matrimonial no
Evangelho de João, e em toda a Escritura, o
que Jesus disse aqui sobre a Sua segunda
vinda faz todo o sentido. O que podemos ver
neste texto é que Jesus predisse a Sua segunda vinda recorrendo a uma linguagem que
invocava os costumes de casamento do Seu
tempo. Primeiro, havia a fase de cortejo. Se um
homem amava uma mulher, ele iria interagir
com ela de tal forma a atraí-la para si mesmo.
Uma vez atraída por ele, o casal iria entrar na
fase de namoro, conhecendo-se um ao outro e
fazendo crescer o amor. Então o homem pediaa em casamento. Se a resposta dela fosse sim,
o homem então afastava-se da sua futura noiva com a promessa de voltar para ela. O motivo
da sua partida era prático. Ele iria embora para
que pudesse preparar um lugar para ela na casa
de seu pai.
Nos versos 19 e 20 Deus compromete-se a ser
o nosso fiel marido espiritual: "E desposar-teei comigo para sempre; desposar-te-ei comigo
em justiça, e em juízo, e em benignidade, e em
misericórdias. E desposar-te-ei comigo em fidelidade, e conhecerás ao Senhor." Jesus veio
ao nosso mundo para o cumprimento dessa
profecia. De pé diante de nós com a promessa
de fidelidade inabalável, Ele se oferece a nós
Noutras palavras, Jesus não se limitou a prometer voltar, Ele prometeu voltar para a Sua
noiva. Ele vai voltar à Terra por uma razão:
porque ele ama-nos profundamente, apaixonadamente, com genuína saudade e quer passar
a eternidade em comunhão íntima connosco.
Não deixes de ver o fato de que Ele diz: "virei
outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para
que onde eu estiver estejais vós também."
67
Mais tarde, pouco antes de morrer na cruz, Jesus voltou a dar expressão ao Seu coração em
João 17:24: "Pai, aqueles que me deste quero
que, onde eu estiver, também eles estejam
comigo."
"Comigo"
Isso é o que Ele quer. O que Jesus deseja é que
tu e eu possamos estar "com" Ele. Pensa em alguém com quem gostas de estar, alguém cuja
presença tu desejas e aprecias, o teu marido
ou esposa, mãe ou pai, o teu melhor amigo. A
questão é simples e bonita: nós gostamos de
estar com aqueles que amamos. É Isso que
somos para Jesus. Ele anseia pela nossa presença, pela nossa amizade, pelo gozo do nosso
amor. Quando o apóstolo Paulo fala sobre o
casamento, ele usa-o como um trampolim
simbólico para descrever o amor de Cristo pela
sua Igreja. Vamos ler Efésios 5:25-33:
“Vós, maridos, amai vossas mulheres, como
também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se
entregou por ela, Para a santificar, purificandoa com a lavagem da água, pela palavra, Para
a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem
mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas
santa e irrepreensível. Assim devem os maridos
amar as suas próprias mulheres, como a seus
próprios corpos. Quem ama a sua mulher, amase a si mesmo. Porque nunca ninguém odiou
a sua própria carne; antes a alimenta e sustenta, como também o Senhor à igreja; Porque
somos membros do seu corpo, da sua carne, e
dos seus ossos. Por isso deixará o homem seu
pai e sua mãe, e se unirá a sua mulher; e serão
dois numa carne. Grande é este mistério; digoo, porém, a respeito de Cristo e da igreja. Assim
também vós, cada um em particular, ame a sua
própria mulher como a si mesmo, e a mulher
reverencie o marido.”
A última frase é essencial: "Grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da
igreja."
Paulo está a dizer que o relacionamento conju-
gal coloca diante de nós uma profunda e significativa verdade sobre o nosso relacionamento
com Jesus, como Sua noiva eterna. Deus tem
algo reservado para nós que vai para além dos
nossos mais incríveis sonhos. Algumas coisas
têm de ser experimentadas para serem compreendidas. É o caso do nosso casamento com
Cristo. Está muito para lá de uma mera compreensão intelectual. É por isso que Paulo lhe
chama um "mistério", uma verdade profunda
e cheia de significado. Ainda assim, quanto
mais completamente nós experimentarmos o
amor de Jesus, mais chegaremos a entender a
incrível revelação de quem realmente somos
no plano de Deus, quem realmente somos para
o coração de Deus. Neste momento, estamos
na fase de namoro deste relacionamento. Ele
está a cortejar e a conquistar-nos, revelando à
nossa mente a beleza de Seu caráter para que
possamos amadurecer em nosso amor por Ele.
A plena perceção da nossa identidade como a
noiva de Cristo não vai despontar em nós até
ao casamento propriamente dito. Chegaremos
a um ponto na história da Salvação, em que
a igreja estará espiritualmente "pronta" para
entrar no casamento com o seu Senhor. O universo inteiro testemunhará o culminar da nossa preparação e fará o anúncio do casamento.
Olha para Apocalipse 19:6-8:
“E ouvi como que a voz de uma grande multidão, e como que a voz de muitas águas, e como
que a voz de grandes trovões, que dizia: Aleluia! pois já o Senhor Deus Todo-Poderoso reina.
Regozijemo-nos, e alegremo-nos, e demos-lhe
glória; porque vindas são as bodas do Cordeiro,
e já a sua esposa se aprontou. E foi-lhe dado
que se vestisse de linho fino, puro e resplandecente; porque o linho fino são as justiças dos
santos.”
Toda a história bíblica se dirige apressadamente para um derradeiro momento de beleza
triunfal: Jesus a voltar à Terra para receber a igreja como Sua noiva eterna.
Shalom Eterna
O Cântico dos Cânticos, de Salomão, é uma canção de amor profético que nos coloca diante de
uma “janela” ímpar de onde se pode ver o amor
de Cristo pela Sua Igreja. Nesta mais épica do
que todas as canções de amor, temos um intenso vislumbre do amor matrimonial de Deus
pelo Seu povo e de até onde ele finalmente vai
chegar. Capítulo a capítulo, versículo a versículo, expressões de afeição são trocadas entre o
homem e a mulher. Eles descrevem as virtudes
um do outro com destreza lírica. Eles elogiamse um ao outro com exuberância. Eles desejam
com paixão estar um com o outro. E quando
damos por nós a pensar que esta parece ser
apenas mais uma das canções de amor tolas
do nosso mundo, tentando perceber porque é
que isto veio parar à Bíblia, o ponto culminante
do poema tem a mulher a dizer algo muito profundo ao seu homem:
“Põe-me como selo sobre o teu coração, como
68
selo sobre o teu braço, porque o amor é forte
como a morte, e duro como a sepultura o
ciúme; as suas brasas são brasas de fogo, com
veementes labaredas. As muitas águas não
podem apagar este amor, nem os rios afogá-lo;
ainda que alguém desse todos os bens de sua
casa pelo amor, certamente o desprezariam.”
(Cântico dos Cânticos 8:6,7)
De repente, somos levados a perceber que o
amor mais profundo conhecido pelos seres
humanos, o que existe entre a noiva e seu
noivo, conta-nos a história de amor de Deus
por Sua igreja, e a Sua esperança de que nós
O amemos também. Ao morrer na cruz, Jesus
revelou de facto um tipo de amor que é mais
forte do que a morte, um amor que não há
força no mundo que possa extinguir. Ainda assim, há algo mais a ter em conta. Há um padrão
poético na canção. Sob a influência do Espírito
Santo, o Rei Salomão cria um quadro de dois
amantes que têm - repara nisto - o mesmo
nome. O seu nome é Salomão, que é a forma
masculina da palavra shalom em hebraico. Ela
é identificada como Sulamita, que é a versão
feminina de shalom. Agora nota o seguinte - o
amor entre Salomão e a Sulamita atinge o seu
ponto culminante quando ela tem esta incrível
compreensão em 8:10: "então eu era aos seus
olhos como aquela que acha paz." (Cântico dos
Cânticos 8:10)
Com beleza poética e elevado significado espiritual, a canção revela Salomão cortejando o
coração da Sulamita até que shalom define a
sua união. Habitualmente traduzimos shalom
como "paz". Mas em hebraico, a palavra carrega a ideia de preenchimento completo ou
satisfação plena, integralidade, uma sensação
de bem estar total a partir do qual nada falta.
Na canção, a Sulamita encontra um sentido
de perfeita plenitude no amor de Salomão.
Ele é o que ela deseja e exatamente o que
ela precisa. Envolvida pelo seu amor ela está
totalmente realizada. Salomão e a Sulamita
são a combinação perfeita. Shalom, a mulher,
encontra shalom, a experiência, em Shalom, o
69
homem. Nele ela sente-se em casa, pois ele é
o companheiro perfeito para o desejo mais profundo do seu coração. A Bíblia como um todo
é a história da correspondência perfeita entre
o coração humano e o coração Divino, entre
Aquele que é a fonte de todo o amor verdadeiro
e aqueles que precisam desesperadamente de
Seu amor afim de poderem gozar de plenitude
e bem estar eternos.
Salomão é um “tipo messiânico” de Jesus.
A Sulamita é um “tipo” da igreja.
A Salvação é o plano através do qual Jesus atrai
os nossos corações de volta para Ele e estabelece shalom eterna entre Ele e nós. E a segunda vinda de Jesus é o momento em que O
amante das nossas almas volta para nós, para
que possamos estar com Ele para sempre. Isto
sim, são boas notícias! Nós somos Adventistas
do Sétimo Dia e isso significa que aguardamos
ansiosamente pelo regresso de Jesus conscientes que Ele olha para nós com amor saudoso.
Ele quer estar connosco. É por isso que Ele vai
voltar.
A questão é... queremos nós estar com Ele?
PARA DISCUSSÃO
Como é estar "comprometido" com Jesus e esperar que Ele prepare a sua casa e volte para
te buscar? Como vais manter e fazer crescer o
relacionamento neste tempo de espera?
Será que João Batista realmente diminui, abdicando do seu ministério e “fama” em favor
de Jesus? Podemos crescer ou diminuir quando
nos submetemos inteiramente a Deus? Sê específico.
Leiam Cantares de Salomão 8:6,7 em várias
versões da Bíblia e discutam as imagens sugeridas pelo poema. Sentes que estás ligado ao
braço de Deus como um selo?
Os que se sentirem à vontade para o fazer, partilhem algumas histórias pessoais de momentos e maneiras em que - como ilustra a história
de Ezequiel 16 - Jesus te viu "a revolver-te no
teu sangue " e criou-te, alimentou-te, e ligoute a Ele mesmo.
Consegues reconhecer esse amor e “ciúme” por
ti, que são mais fortes do que a morte?
Como se podem encorajar uns aos outros a
crescer na consciência desta verdade?
Faz as alterações finais que desejares no
teu modelo da primeira noite. Vais precisar
dele para a atividade principal de hoje.
na forma de uma oração/promessa acerca
da(s) área(s) em que se quer comprometer
a buscar e aceitar mais profundamente as
promessas de Deus
Material Necessário: pequenos pedaços
de papel ou cartões de arquivo, lápis, uma
cesta ou caixa decorativa, velas e isqueiro,
música (ao vivo ou gravada). Coloca a caixa
ou cesto e as velas na entrada da sala de
culto ou mesmo na zona do púlpito.
Podem prever uma iluminação especial,
música, e preparar um momento em que o
pregador faça um apelo e convide cada pessoa a depositar o seu papel na caixa preparada. Pode ser interessante fazer uma oração
de consagração do grupo.
Usando o modelo que fizeste na primeira
noite, tira um minuto para rever as oito
janelas para o amor de Deus: A Trindade, O
Grande Conflito, A Lei de Deus, O Sábado,
O Santuário, A Morte e o Inferno, O Tempo
do Fim, e A Segunda Vinda. Distribui papel
e lápis. Dá três a cinco minutos de silêncio
para que cada pessoa ore silenciosamente
e procure identificar qual destas verdades
precisam de compromisso mais profundo
na sua vida. Cada pessoa deve escrever
Seria útil, se possível, que os membros deste
grupo se comprometessem a se apoiar uns
aos outros nestas decisões. Isso pode acontecer de várias formas: um pequeno grupo
ou Unidade de Ação da Escola Sabatina, um
grupo de oração, pelo telefone ou o que cada
pessoa desejar.
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CALENDÁRIO
20 - 21 FEV | Escola de Formação JA-Nível III / Norte e Centro
27 - 28 FEV | Escola de Formação JA-Nível III / Lisboa e Sul
12 - 19 MAR | Semana de Oração de Jovens
19 MAR | Dia Global da Juventude
LOGOS - Acampamento Bíblico | 29 - 31 JUL
IMPACTO Madeira | 4 - 14 AGO
CAMPOREE Internacional Desbravadores | 21 - 28 AGO
17 SET | Jornada JA
28 - 30 OUT | Escola de Formação JA-Nível IV
REGIÃO NORTE
22 MAI - Atividade de Rebentos
17 - 18 SET - Atividade de Tições
10 JUN / 18 SET - Atividade de Desbravadores
1 MAI / 5 OUT - Atividade de Companheiros
24 - 25 ABR - Atividade de Seniores
REGIÃO SUL
5 - 7 MAR - Encontro de Famílias
23 - 24 MAI | Desbr./ Comp./Sen.
Torneio de Ping-Pong + Canoagem
26 JUN - Jogos de Água | Reb. /Tiç.
REGIÃO CENTRO
Formação certificada Primeiros Socorros (Aveiro)
1ª PARTE | 13 - 14 FEV
2ª PARTE | 5 - 6 MAR
24 ABR - Caminhada J.A. - Passadiços do Paiva | Comp.
15 MAI - III Aquaventura | Rebentos
15 MAI - VII Jogos de Água | Tições
26 JUN - IV Aventura no Cabril | Desb.
1 - 3 JUL - Descida do Mondego | Comp.
REGIÃO LISBOA E VALE DO TEJO
7 MAI - Convívio de Dirigentes
22 MAI - Passeio de BTT
26 JUN - II JOGOS DE ÁGUA | Rebentos/Tições
8 - 10 JUL - Atividade de Montanha
17 - 18 SET - ADVENTure Challenge III
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