Faça AGORA! - Arquidiocese de Vitória

Transcrição

Faça AGORA! - Arquidiocese de Vitória
Ano XI
Nº 125
Janeiro de 2016
vitória
•
•
Revista da Arquidiocese de Vitória - ES
Arquidiocese de Vitória
inicia 2016 com a visita
da imagem peregrina da
Mãe Aparecida
Reportagem
entrevista
Orgânicos para cuidar da
terra e da saúde
Paz: construção e
desconstrução pela mídia
editorial
Que seja raro
o ano novo
Maria da Luz Fernandes
Editora
“Avida não para” é uma das tantas expressões de
Lenine na canção Paciência que me parece adequada
para esta primeira edição da Revista Vitória. O mundo
pede calma, o corpo pede alma e a vida não para!
E, se a vida não para vamos, então, cuidar da saúde
física e espiritual, olhar as rotinas por outro ângulo e,
principalmente, executar as tarefas diárias com criatividade e ‘alma’.
O mundo pede calma, tolerância! O mundo pede...
e a vida não para.
“Enquanto o tempo acelera e pede pressa eu me recuso faço hora vou na valsa” porque “a vida é tão rara”.
Que seja assim o ano da equipe que pensa e produz a
Revista Vitória.
Que seja assim o ano dos leitores e colaboradores.
Boa leitura n
fale com a gente
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vitória
Revista da Arquidiocese de Vitória - ES
Ano XI – Edição 125 – Janeiro/2016
Publicação da Arquidiocese de Vitória
08
micronotícias
Artistas escrevem
cartas em estação de
trem em São Paulo
40
Pergunte a
quem sabe
Qual a diferença entre
a Bíblia utilizada pelos
evangélicos e pelos católicos?
22 viver bem
26 Comunicação
27 pensar
29 entrevista
33 eleições
39 arquivo e memória
42 ensinamentos
46 acontece
16
espiritualidade
Cristão Bilíngue
03
editorial
05
Atualidade
Peregrinos recebem a Mãe
Aparecida em terras capixabas
11
especial
A qualidade da relação
entre pais que se divorciaram
15
17
Economia Política
Velhas e novas agendas
21
44
sugestões
Praia dos Padres e Meaípe
Aspas
Não existe mãe solteira.
Mãe não é estado civil
ecologia
Campanha da Fraternidade 2016
12
18
ideias
caminhos
da bíblia
Est, sundit,
tem voluptio
dolorestiis ped
mos
Passar por este
mundo de modo
tranquilo e feliz
24
32
45
diálogos
Mundo
Litúrgico
cultura
capixaba
As bodas
da vida
Artesanato
com Rendas
de Bilro
O cristão e
o dinheiro
Os discípulos
missionários
em Jo 1,35-51
reportagem
Orgânicos
para cuidar da terra
e da saúde
34
Arcebispo Metropolitano: Dom Luiz Mancilha Vilela • Bispo auxiliar: Dom Rubens Sevilha • Editora: Maria da Luz Fernandes
/ 3098-ES • Repórter: Letícia Bazet / 3032-ES • Conselho Editorial: Albino Portella, Alessandro Gomes, Edebrande Cavalieri,
Gilliard Zuque, Marcus Tullius, Vander Silva • Colaboradores: Dauri Batisti, Giovanna Valfré, Raquel Tonini, Pe. Andherson Franklin
• Revisão: de texto: Yolanda Therezinha Bruzamolin • Publicidade e Propaganda: [email protected] - (27) 3198-0850
Fale com a revista vitória: [email protected] • Projeto Gráfico e Editoração: Comunicação Impressa - (27) 33199062 Ilustradores: Richelmy Lorencini • Designer: Albino Portella • Impressão: Gráfica e Editora GSA - (27) 3232-1266
Atualidade
Gilliard Zuque
Vander Silva
Mãe Aparecida
em terras capixabas
N
este mês de janeiro a Arquidiocese
de Vitória recebe uma visitante
ilustre. A imagem peregrina de
Nossa Senhora Aparecida chega a Vitória
como parte das comemorações do Jubileu
de 300 anos do encontro da Imagem nas
águas do Rio Paraíba, que será celebrado
em 2017.
Ao peregrinar pelas áreas pastorais
com a imagem, toda a Arquidiocese se
transforma em uma terra de peregrinos
missionários. Com a Mãe Aparecida vamos
rezar por nossas comunidades, nossas famílias, pelos missionários e missionárias desta
Igreja Particular e pedir a conversão pastoral
que o Papa Francisco nos recomenda.
Peregrinação nas Áreas Pastorais
De 6 de janeiro a 2 de fevereiro
De 3 de fevereiro a 1º de março
De 2 de março a 11 de abril
De 12 de abril a 17 de maio
De 18 de maio a 21 de junho
De 22 de junho a 28 de julho
revista vitória I Janeiro/2016
5
Atualidade
As comunidades receberão um
cartaz com o mapa e as datas onde
a imagem estará e, todas as outras
áreas pastorais, durante os dias da
visita, são convidadas a buscar informações sobre a área que está
sendo visitada: quantas comunidades, quais os maiores desafios, as
conquistas, as necessidades. Assim
seremos peregrinos e missionários
com a Mãe Aparecida nesta Igreja
Particular.
A visita da imagem de Nossa
Senhora é uma ocasião muito especial. A Mãe torna-se mais próxima
e derrama suas bênçãos e graças
pelas terras capixabas. Aqueles que
não podem ir até Aparecida terão
a oportunidade de manifestar sua
devoção à padroeira do Brasil e durante seis meses poderão expressar
seu carinho, fazer seus pedidos e
peregrinar com Maria tornando-se
missionários com ela e recebendo
suas bênçãos.
A presença de Nossa Senhora
é um consolo para os que sofrem
e esperança para todos, por isso, é
importante que cada região verifique os lugares mais necessitados
para serem visitados: presídios,
asilos, hospitais, casas de repouso,
instituições de ensino e projetos
sociais podem ser contemplados
nos roteiros locais, dependendo da
realidade.
O que se comemora é a data
em que a imagem foi encontrada
no Rio Paraíba. Em 2017 completa
300 anos e o Brasil inteiro se prepara
para essa festa. Dentro do triênio de
preparação para o jubileu teremos
3 etapas marcantes:
2015 a 2017, a visita da imagem às dioceses do Brasil;
12 de outubro de 2016, inauguração do campanário no
Santuário Nacional e a abertura do ano jubilar;
A aparição da imagem de Nossa Senhora Aparecida
No ano de 1717, três pescadores, saíram a pescar, numa
época escassa de peixes. Chegando ao “Porto de Itaguassu”,
a primeira coisa que caiu em
suas redes foi o corpo de uma
imagem quebrada, na altura do
pescoço. Num segundo lance
de rede, pescaram a cabeça da
mesma imagem. Juntando as
duas partes viu-se que se tratava da Senhora da Conceição.
Depois do encontro da Imagem,
a pesca de peixes foi abundante. Por assim ter aparecido, o
povo chamou-a de “Aparecida”,
nome consagrado pela devoção
popular.
Durante 15 anos seguidos, a
imagem ficou com uma família
da região, que a levou para casa,
onde as pessoas da vizinhança
se reuniam para rezar. A devoção foi crescendo no meio
do povo e muitas graças foram
alcançadas por aqueles que rezavam diante da imagem.
A fama dos poderes extraordinários de Nossa Senhora foi
se espalhando pelas regiões do
Brasil. A família construiu um
oratório, que logo tornou-se pequeno. Por volta de 1734, o Vigário de Guaratinguetá construiu
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6
uma Capela, aberta à visitação
pública em 26 de julho de 1745.
Mas o número de fiéis aumentava, e, em 1834 foi iniciada a
construção de uma igreja maior
(atual Basílica Velha).
No ano de 1894, chegou a
Aparecida um grupo de padres
e irmãos da Congregação dos
Missionários Redentoristas,
para trabalhar no atendimento
aos romeiros que acorriam aos
pés da Virgem Maria para rezar
com a Senhora “Aparecida” das
águas.
No dia 8 de setembro de
1904, a Imagem de Nossa Se-
12 de outubro de 2017, grande festa jubilar com a expectativa da presença do Papa
Francisco.
Para a Arquidiocese de Vitória, um momento especial que está
sendo preparado com muito carinho
é o retorno da imagem peregrina ao
Santuário Nacional. As paróquias
da Arquidiocese estão organizando
caravanas que irão juntamente com
os bispos acompanhar a imagem até
Aparecida no final da visita. Já estão
contratados mais de 70 ônibus.
05 de janeiro
w9h em Aparecida: Missa de envio da Imagem Peregrina para a Arquidiocese
de Vitória, transmitida pela TV Aparecida
w16h30: Recepção da imagem no aeroporto de Vitória, seguida de carreata
até a Catedral
w18h: Missa de acolhida da Imagem na Arquidiocese de Vitória, na Catedral
de Vitória.
23 de julho
w18h: Missa transmitida pela TV Aparecida, na Catedral de Vitória.
30 de julho
w9h: Missa de entrega da Imagem de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida.
Informações sobre caravanas
(27) 3025-6265
nhora da Conceição Aparecida
foi coroada, solenemente, por
Dom José Camargo Barros. No
dia 29 de Abril de 1908, a igreja recebeu o título de Basílica
Menor.
Em 1929, Nossa Senhora
foi proclamada Rainha do Brasil e padroeira oficial do país,
por determinação do Papa Pio
XI.
De lá para cá, a cidade de
Aparecida se tornou o principal
destino de peregrinação do país,
fruto da fé e devoção que não
para de crescer e se renova nas
novas gerações. n
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7
micronotícias
Como armazenar
a cebola de cabeça
É hábito de muitas pessoas
guardar a cebola de cabeça
na geladeira, por considerar que assim ela dure mais
tempo. Contudo, um estudo
do Departamento de Agricultura Americano constatou
que quando armazenada em
temperaturas mais baixas, o
amido é convertido em açúcar e o seu apodrecimento é
mais rápido. A melhor forma
é armazená-la em local seco,
fresco e bem ventilado, acondicionada em sacola de malha, tipo meia-calça. Além de
excelente tempero, a cebola é
uma importante aliada contra
infecções e é bastante eficaz
contra gripes e resfriados, pois
ajuda na limpeza das vias respiratórias.
Combate
às formigas
O verão é um período
oportuno para a proliferação de formigas. Duas
soluções caseiras são eficazes para combatê-las.
A primeira é jogar talco
de bebê nas tomadas com
formigueiro e a segunda
é fechar todas as frestas
com massa de vedação,
sabão ou qualquer outro
material vedante.
Um caderno
com as folhas
soltas
Re ko n e ct : e ste é o
nome do caderno que permitirá aos usuários organizarem as folhas conforme as suas preferências.
Isso será possível graças
a um espiral magnético
que possibilita a retirada
e a colocação da folha no
lugar que desejar. A ideia
é que seja lançado em abril
do próximo ano.
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8
Tecnologia para salvar o idioma
A indígena Marie Wilcox tem 81
anos e é a última pessoa no mundo
fluente no idioma Wukchumi. A
etnia que já chegou a ter 50.000
pessoas, tem hoje somente 200
pessoas vivendo no Vale de São
Joaquim, na Califórnia. Para não
deixar o idioma morrer e com a
tarefa de revivê-lo, Marie aprendeu
a usar um computador para que
conseguisse começar a escrever o
primeiro dicionário Wukchumni. O
processo levou sete anos, e agora
que terminou ela não pretende parar seu trabalho de imortalizar sua
língua nativa. Em um documentário
disponível na internet chamado
Marie’s Dictionary, além de mostrar
o árduo trabalho para preservar a
língua, a anciã se queixa que nin-
guém quer aprender. Ela e a filha
trabalham num dicionário em áudio para acompanhar o dicionário
escrito.
Artistas escrevem cartas
em estação de trem em São Paulo
O grupo cultural Estopô Balaio,
formado por artistas migrantes, fez
da estação Brás, localizada na região
central de São Paulo, um ponto de
encontro para muitos migrantes que
fizeram da cidade paulista o seu lar.
Eles ouvem as histórias, escrevem
os relatos à mão e ainda fazem uma
fotografia do remetente. Tudo é feito
de forma gratuita e a ação faz parte do
processo de criação do espetáculo “Nos
Trilhos Abertos de um Leste Migrante”.
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9
Ano Santo da Misericórdia
DVD Cód. 171867
Cód.528536
Cód. 528218
285
Cód. 528
CD Cód. 125946
Viva, com intensidade e consciência, o grande dom de Deus
oferecido à Igreja pelo papa Francisco.
Bem-aventurados os
misericordiosos
Para colorir
A Misericórdia de Jesus
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Ilustrações: Armelle Joly
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Felizes os
misericordiosos
Refletir, rezar, cantar
e viver a Misericórdia
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“Misericordiosos
como o Pai”
Subsídio Bíblico
para o Ano Jubilar
da Misericórdia
Serviço de Animação (SAB)
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Incluindo o hino da
JMJ Cracóvia 2016
O rosto da
Misericórdia
Duração: 42 min.
R$ 31,90
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CD Cód. 125920
I n cl ui
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Dez anos de adoração e vida
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especial
A qualidade da relação
entre pais que se divorciaram
C
ada vez mais se sabe que
a relação entre o casal
é fundamental para o
processo de educação e estruturação dos filhos. A relação
conjugal pode ser um espaço
favorável ou desfavorável para o
desenvolvimento físico, mental
e social dos filhos. Venho observando, no exercício profissional,
que a criança reage aos desajustes conjugais mostrando-se
irritada, triste, tensa, desconfiada, insegura, agressiva, com
É importante que os casais
que vivem em conflitos saibam que eles podem trabalhar
suas questões e se entender,
porque grande parte delas se
origina na história de vida de
cada um. O melhor caminho é
sempre procurar ajuda qualificada para que os problemas não
se tornem hábitos frequentes
e terminem por ferir pessoas
que um dia decidiram por um
projeto de vida compartilhado.
Por outro lado, aqueles casais
Os laços afetivos qualitativos devem ser
cultivados entre os pais, ainda que eles não
tenham mais uma vida em comum.
dificuldade de aprendizagem
e socialização, ou expressam
sintomas como dor abdominal,
vômitos, constipação intestinal,
cefaleia, febre sem explicação.
A epigenética revela que crianças que vivem em ambiente de
violência na gestação e infância podem silenciar a expressão
normal dos genes, predispondo
ao desenvolvimento de transtornos mentais (Transtorno de
Conduta, Personalidade Borderline, depressão, álcool e droga).
que decidiram pela separação
e que o reajustamento não faz
parte de seus planos, precisam
saber como lidar um com o outro e com seus filhos, a fim de
adotarem atitudes que diminuam
o sofrimento, ajudando os filhos
a permanecerem equilibrados e
a não deixarem de acreditar que
o amor é possível e que uma
relação a dois pode dar certo.
Infelizmente, muitos casais cometem erros graves ao tentar
denegrir a imagem do outro, o
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11
que constitui uma grave violência psicológica, não apenas ao
ex-cônjuge, porquanto atinge
diretamente o psiquismo dos
filhos. Eles esquecem que a
relação entre eles continuará
sendo uma referência para os
seus filhos e que é necessário
cultivar atitudes éticas, como
o amor, o respeito mútuo e o
cuidado com a vida do outro.
Existem situações que não importa ter razão, mas sim resolver
os conflitos com sabedoria, já
dizia a psicóloga Renate Moraes.
É necessário perguntar aos filhos com quem querem morar,
respeitando a liberdade de escolha, enfatizando que esta escolha não significa que se ama
mais a um e menos ao outro.
Os filhos precisam entender
que o divórcio dos pais não é
o fim da família, mas que se
trata de outro arranjo familiar.
Os laços afetivos qualitativos
devem ser cultivados entre os
pais, ainda que eles não tenham
mais uma vida em comum. n
Helenice de Fátima Muniz
Médica, especialidade em pediatria, pós
graduada em psiquiatria, mestre em
Psicologia pela UFES e terapeuta de família
ideias
Passar por este
mundo de modo
tranquilo e feliz
H
á prazeres que de tão simples e naturais quase perdem a classificação de prazer no hall das sensações. Falo de andar. E falo de
andar porque acabei, dia desses, descobrindo – ou redescobrindo
– que o andar pode ser uma prática de meditação. Bem, assim propõe
o budismo vietnamita. Então disse para mim mesmo: “Tá aí, é isso!”
Gosto de andar, e este é um gosto que com certeza partilho com milhões de seres humanos, e não sei exatamente porque gosto. Talvez mais
do que a razão a explicar seja o corpo a manifestar-se pelo bem-estar.
É bom andar. Mesmo quando andando penso empreitadas e desafios,
problemas e dificuldades, perdas e saudades, ainda assim. É como se
ao andar o peso do que já é pesado ficasse menor e a mente mais apta
a dar-se às intuições e insights... ou a dar-se com o nada, com a vida
seguindo.
A meditação é uma prática importante e milenar de muitas tradições
religiosas. E as tradições religiosas se confirmam e se distinguem por
suas inovações-adaptações. O budismo inquestionavelmente tem em
suas práticas de meditação valiosos patrimônios. Mas então, por estes
ou aqueles fatores, o budismo do Vietnã incorporou inusitadamente o
andar às práticas de meditação que a mais das vezes exigem um lugar,
uma quietude, uma imobilidade. Uma referência para nós do mundo
ocidental desta forma vietnamita de budismo é Thich Nhat Hang, que
tem muitos dos seus livros traduzidos para o português e, inclusive,
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publicados por editoras católicas.
Capturando ao meu jeito esta
proposta de andar meditando, temperando-a com a experiência de
trinta anos de prática clínica como
psicólogo, referendando-a com minhas buscas pessoais, apresento-a
resumidamente em três pontos assim
como segue, sem pedir a ninguém
que me leve muito a sério, pois escrevo mais como pretexto para uma
prosa do que para ensinar qualquer
coisa.
Mas vamos lá. Primeiro: Se
você tem a real intenção de passar por este mundo de modo mais
tranquilo, seguro e feliz você terá
nessa prática a boa oportunidade
de reaprender a andar. Isso mesmo,
reaprender a andar. O aprender a
andar constitui-se como um dos
momentos mais sublimes da vida
do ser humano. Toda a vida se abre
naqueles gestos que intercalam quedas e reerguimentos. Reaprender a
andar recoloca bem diante de nossos
olhos os propósitos da vida a que somos chamados. E a primeira coisa a
notar é perceber que cada passo nos
coloca no melhor momento da vida.
Em cada momento há força, graça
e encanto. Passos curtos sem serem
lerdos. Passos compassados com
a respiração. Passos que firmem
nossos pés e confirmem em gratidão
nossa experiência: vivemos.
Segundo: de tal modo vivemos
nos tempos atuais uma neurótica
pressão para alcançar metas, para
chegar ao sucesso, para alcançar
objetivos que nem nos damos conta
de que a vida acontece aqui, agora,
e não lá no objetivo a ser alcançado,
no sonho a ser realizado. Ao praticar meditação andando, vamos...
Vamos, simplesmente. E vamos
sem nos endurecer no propósito de
chegar. Ir não necessariamente para
chegar.
Terceiro, e concluindo: seguir
andando com um meio sorriso no
rosto. Como o que se valoriza é o ir,
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13
o andar, e não a obrigação a cumprir, a meta a alcançar, a meditação
nos convida a levar no rosto um
meio sorriso. Exatamente isso. Não
apenas uma intenção, mas um meio
sorriso. Somos convidados a arranjar o rosto ao andar de modo que
ele não se carregue de contrações,
aquelas próprias do mau humor, da
tristeza, da preocupação. Ou seja,
por um meio sorriso manter o rosto
luminoso. Um rosto que afirme a
vida e diga sim aos encontros. n
Dauri Batisti
Economia Política
“A soma de qualquer combinação de perguntas/
respostas dificilmente levará a uma perspectiva
otimista para o 2016 que já começou. Como nos
ensinou Mestre Paulo Freire, a alternativa
brasileira ao otimismo tem que passar longe do
pessimismo; há que se ter esperança”.
Velhas
e novas
agendas
A
realidade política antecipou em muito o fim de
2015. Quando isso ocorreu merece interpretações diversas,
sem que qualquer uma delas seja
exclusiva. Pode ter terminado
quando um governo eleito com
uma proposta de necessário ajuste
fiscal mas sem se dobrar à ortodoxia, foi além do que ousava propor
o candidato derrotado. Curvou-se
aos ditames do mercado financeiro.
A lista pode ser alongada por
observadores da triste realidade
política brasileira. A soma de qualquer combinação de perguntas/
respostas dificilmente levará a uma
perspectiva otimista para o 2016
que já começou. Como nos ensinou
Mestre Paulo Freire, a alternativa
brasileira ao otimismo tem que
passar longe do pessimismo; há
que se ter esperança.
Esperança que o calendário
gregoriano em 2016 abra a discussão política no País para temas mais
propositivos e menos belicosos.
Se é difícil imaginar-se um debate
na linha de pacto social – como o
proposto pela CNBB em nota no
final de outubro - que se pense então em alterações em alguns vícios
antigos no cenário brasileiro.
Um deles é que só o governo
federal pode capitanear mudanças sociais e econômicas no País.
Governos estaduais e municipais
precisam sair da zona de conforto
de justificar com a crise toda paralisia de ideias inovadoras e ações
transformadoras. Há muito que
pode ser feito com recursos limitados se o fazer se dá acompanhado
por uma efetiva mobilização de
pessoas genuinamente comprometidas com mudanças.
É preciso também superar
o vício que só grandes empreendimentos podem promover o
crescimento econômico. O desastre provocado pela Vale/BHP/
Samarco com os ainda incalculáveis impactos ambientais, sociais
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15
e econômicos podem ilustrar o
quão negativo pode ser a influência
política de grandes conglomerados empresariais. A eles ficaram
subordinadas até agora a maioria
das ações proativas dos governos
federal, estaduais e municipais.
Tomara que passados os
primeiros trinta dias de ações
desordenadas mas majoritariamente favoráveis aos interesses
das empresas que provocaram o
desastre, 2016 comece com o poder
público se colocando em defesa
de inúmeros e difusos interesses
sociais, econômicos e políticos de
pequenas comunidades. Esses,
somados ao muito que precisa ser
feito para o resgate do meio ambiente degradado, podem ser uma
primeira lista de desejo para que
a partir de 2016 se quebre com a
histórica preferência por privilegiados que domina a economia
política brasileira.
Um 2016 de paz e harmonia! n
Arlindo Vilaschi
Professor de Economia e Coordenador
do Grupo de Pesquisa em Inovação e
Desenvolvimento Capixaba da Ufes
espiritualidade
Cristão bilíngue
O
cristão atual tem que
falar duas línguas: a
língua religiosa materna e a língua do “mundo”.
A maioria dos cristãos fala somente a língua religiosa, daí
a incomunicabilidade entre a
Igreja e o mundo. Não nos entendemos mutuamente porque
falamos línguas diferentes.
A liberdade dá medo, mas, criamos coragem
confiando nas palavras do Mestre: ‘A verdade
vos libertará’. Para nós cristãos a verdade tem
nome: Jesus, caminho verdade e vida.
Falamos na Igreja, principalmente, para nós mesmos e,
geralmente, nos entendemos
muito bem entre nós. Mas,
quando se trata de falar com
os de fora da Igreja, parece
conversa de surdos.
O Papa Francisco fala as
duas línguas. Curiosamente, a
meu ver, o Papa é muito mais
compreendido pelo “mundo”
do que internamente na Igreja. Nossos ouvidos não estão
acostumados com essa língua
estranha e creio que, aos pou-
cos, aprenderemos essa nova
língua.
Por exemplo, o mundo hoje
valoriza somente o que é autêntico e transparente. O mundo não tolera hipocrisia, isto é,
falar uma coisa e fazer outra.
O Papa Francisco tem falado
várias vezes sobre a hipocrisia
na Igreja. Reformar ou reorganizar a sede visível da Igreja que
é a Santa Sé (Vaticano) é uma
coisa, já reformar a Igreja toda
no espírito do Vaticano II, como
quer o Papa Francisco, é outra
revista vitória I Janeiro/2016
16
coisa. Vejamos alguns pequenos
exemplos de corrupção: muitos
“bons católicos” quando vão
comprar material de construção
para alguma reforma, preferem a
compra “sem nota”, sonegando
impostos, porque é mais barata!
Outros se utilizam de pessoas
idosas, gestantes ou crianças de
colo para obter benefícios preferenciais. Jogam lixo, restos de
construção nas ruas, nos valões
e locais impróprios. Atitudes racistas e discriminatórias. Dirigir
automóvel após ingerir bebida
alcoólica ou falando ao celular. Utilizar os bens da empresa
em que trabalha para benefício
pessoal. Fazer “gato” roubando
energia elétrica ou TV a cabo,
etc...
Não é fácil para os passarinhos criados em gaiola saírem
da segurança do cativeiro a que
estão acostumados, para o risco
da liberdade. A liberdade dá
medo, mas, criamos coragem
confiando nas palavras do Mestre: “A verdade vos libertará”.
Para nós cristãos a verdade tem
nome: Jesus, caminho, verdade
e vida. n
Dom Rubens Sevilha, ocd
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Vitória
aspas
Não existe mãe solteira.
Mãe não é estado civil
Papa Francisco
A
o ouvir a frase do Papa
Francisco que afirmou:
“existe apenas mãe... ser
mãe não é um estado civil”, por
várias vezes (muitas mesmo) parei
para avaliar toda a abrangência
dessa frase tão curta.
Acredito que Francisco falava
de se colocar o amor aos filhos em
primeiríssimo lugar e, mesmo contrariando as regras de comunhão do
matrimônio, educá-los e trazê-los
dentro dos ensinamentos cristãos.
A caminhada nos ensinamentos de Cristo leva-nos ao exercício
do amor, caminho que pode ser
trilhado sozinho ou com a presença
de companheiros de caminhada.
Para mim, o fato de ser mãe
sozinha, sem um companheiro, me
trouxe uma série de responsabilidades que seriam mais amenas se
fossem realizadas por um casal.
Quais responsabilidades?
Por exemplo, a vigília de meu
filho doente que poderia ser abrandada pelo revezamento com o pai,
ou então, a responsabilidade de
levá-lo até à escola... de consultar
o dentista e o pediatra, ou ainda,
sentar uma tarde na praça enquanto
construíamos castelos de areia com
os colegas.
Tudo isso poderia ser uma
tarefa compartilhada, mas acabei
trilhando sozinha por esse caminho
e tornei-me responsável por todas
as tarefas cotidianas, de acompanhamento do novo indivíduo que
trouxemos ao mundo.
Nesse processo presenciei,
sem um companheiro, os olhos febris que me olhavam com a certeza
de que um beijo meu poderia curar
qualquer doença, ou o primeiro dia
de aula que verteu lágrimas dos
meus olhos (na certeza absoluta de
que ele não sobreviveria sem minha
presença), do dentista vieram os
dentinhos que guardo comigo em
um porta-jóias e, enfim, da pracinha resultaram novos amigos para
mim e para ele.
Minha relação com meu filho me fortaleceu mais com a
ausência de um companheiro?
Tornei-me uma pessoa mais forte? Capaz de pequenos gestos de
altruísmo?
Certo é que minha fé no prórevista vitória I Janeiro/2016
17
ximo se fortaleceu e as mãos, estendidas em meu auxílio, se multiplicaram! Sei que, ao optar por
gerar uma vida, ganhei um filho
– amigo - comparsa - conselheiro
para todas as horas.
Mas, então, o que oprime tanto
nesse rótulo de ‘Mãe Solteira’?
Os fiscais que qualificam o
indivíduo A ou B como merecedores da chancela de boa pessoa!
Ao equiparar solteiras, viúvas
e casadas com o único papel de
genitoras, que devem ser acolhidas
igualmente pela comunidade, o
Papa Francisco deu-me um pouco
mais de fé em nossa sociedade. E,
em sua recente fala, em Los Angeles, o Papa veio sacramentar esse
pensamento e fortalecer a certeza
que tenho na caminhada, quando
disse à uma mãe:
“Você é uma mulher incrível,
porque você trouxe suas filhas ao
mundo, você poderia tê-las matado
no seu útero, mas você respeitou a
vida. Ande de cabeça erguida.” n
Diovani Favoreto
Historiadora
caminhos da bíblia
Os discípulos
missionários
em Jo 1,35-51
Parte I
N
o Quarto Evangelho, também conhecido como o de
São João, o discipulado
exterior, ou seja, desenvolvido na
missão, tende a se interiorizar, já
que os discípulos são convidados
a estarem com o Senhor e serem
introduzidos na comunhão com o
Pai. Os discípulos são conduzidos
a uma intimidade profunda com
o próprio Jesus, a fim de que se
tornem suas testemunhas, permanecendo Nele e sendo guiados pelo seu
Espírito. Neste caso, os aspectos da
vocação, do seguimento, da experiência pessoal e da profissão de fé
realizada na missão são essenciais
para a compreensão do discipulado
presente no Evangelho.
O relato do chamado dos primeiros discípulos em Jo 1,35-42
é muito diferente do presente nos
outros Evangelhos, pela sua estrutura, forma, bem como pela sua
ambientação. No relato do Quarto
Evangelho estão presentes quatro
etapas bem claras, que se apresentam como necessárias para que o
discípulo tenha a capacidade de
seguir as escolhas que são próprias
do discipulado. Isto é, na narração se
encontram os pontos fundamentais
do discipulado para o evangelista,
esses que devem ser cultivados e
desenvolvidos no caminho de vida
de cada discípulo missionário, que
são: o testemunho (Jo 1,35-46); o
seguimento (Jo 1,37-38); a experiência pessoal (Jo 1,39-40) e a missão
(Jo 1,41-42).
O Testemunho nasce de um
anúncio qualificado, isto é, alguém
que pode declarar com vigor e eficácia a experiência que fez em primeira pessoa. No texto em questão,
o primeiro testemunho vem pela
palavra de São João Batista, sendo
esse eficaz e cheio de significado:
“Eis o Cordeiro de Deus” (v. 36).
Da mesma forma, a palavra pronunciada por André é firme e clara:
“Encontramos o Messias” (v. 41),
bem como, àquela que Felipe dirige
A confirmação da fé, por
meio do testemunho
recebido através do
anúncio de testemunhas,
consente ao futuro
discípulo começar o seu
seguimento, iniciar o
caminho do discipulado
missionário.
à Natanael: “Encontramos aquele
que de quem escreveram Moisés
na Lei e os profetas: Jesus filho de
José de Nazaré” (v. 45). O primeiro
anúncio e testemunho é sempre um
desejo de Deus, uma ação divina que
se serve de suas testemunhas para
comunicar uma verdade. Este lugar
do primeiro encontro deve se tornar
para o discípulo uma fonte perene
revista vitória I Janeiro/2016
19
para a qual ele sempre deve retornar,
no intuito de jamais abandonar o
caminho do seguimento.
A confirmação da fé, por meio
do testemunho recebido através do
anúncio de testemunhas, consente ao futuro discípulo começar o
seu seguimento, iniciar o caminho
do discipulado missionário. Como
aconteceu com os discípulos de João
Batista, a estrada apresentada deve
levá-lo diretamente ao Mestre, a um
diálogo íntimo e pessoal com Ele:
“os dois discípulos ouviram-no falar
e seguiram Jesus” (v. 37). Da mesma
forma, o testemunho de André dá
início ao seguimento de Simão: “Ele
o conduziu a Jesus” (v. 42), bem
como, as palavras de Felipe, dão
início ao caminho de seguimento
de Natanael: “Jesus vendo que Natanael vinha ao seu encontro” (v.
47). Nestes encontros de Jesus com
seus futuros discípulos é colocada,
mesmo que implicitamente, uma
pergunta: “o que vocês procuram?”.
Uma pergunta que estimula e conduz a uma reflexão profunda, um
perguntar-se sobre o sentido mais
amplo e verdadeiro do seguimento.
A pergunta de Jesus, não exprime
um desejo de saber, mas sim, tem
o intuito de ajudar aos discípulos
a tomarem consciência do próprio
caminho e verificarem a autenticidade do chamado de Deus. n
Pe. Andherson Franklin, professor de
Sagrada Escritura no IFTAV e doutor
em Sagrada Escritura
LEITURA
sugestões
Perdas e ganhos
Início de ano sempre inspira definição de metas e
prioridades tanto no ambiente de trabalho, escolar e para
a própria vida. Uma boa dica de leitura é o livro “Perdas
e Ganhos” (Ed. Record, 2003), de Lya Luft. A romancista
testemunha na obra o seu processo de amadurecimento
pessoal e trata sobre as várias fases da vida, deixando
ao leitor que é preciso abrir-se para transformar e que é
preciso reaprender o que é ser feliz.
CINEMA
Chatô, o Rei do Brasil
Chegou às telonas, 20 anos depois do início da produção, o filme “Chatô, o Rei do Brasil”. O longa é a narrativa
não linear da vida de Assis Chateubriand, o pioneiro da televisão brasileira na década de 50 e fundador do MASP.
Os fatos são narrados de forma bem-humorada e cheia de devaneios por parte do personagem, que relembra sua
vida em seu leito de morte. Em Vitória, o filme está em cartaz no Cinemark shopping Vitória e Cine Jardins
lazer
Praia dos
Padres e Meaípe
EXPOSIÇÃO
Vídeo, fotografia e escultura
O Museu de Arte do Espírito Santo (MAES), no Centro de Vitória, recebe até 31
de janeiro a exposição “Tentativas de Esgotar um Lugar”.
A mostra reúne o trabalho
dos artistas André Arçari,
BeatriZanchi, Charlene Bicalho, Gabriel Menotti, Polliana
Dalla Barba e Sandro Novaes
e é composta de vídeos, fotografias e esculturas variadas. A visitação acontece de
terça a sexta-feira, das 10
às 18 horas e aos sábados,
domingos e feriados, das 10
às 17 horas.
Tranquilidade. Quem deseja curtir
o verão, mas sem o agito corriqueiro
das praias durante a alta temporada, a
Praia dos Padres é o lugar adequado.
Ela está localizada em Santa Cruz
(Aracruz) e é embelezada pelos
recifes e vegetação de restinga
da região.
Já quem busca um verão
mais agitado, uma boa opção
é a praia de Meaípe, em Guarapari. Além da boa moqueca
capixaba, o tradicional bolinho
de aipim, as férias podem ser preenchidas pelas intensas opções
de atividades noturnas.
revista vitória I Janeiro/2016
21
viver bem
L
Viajar
é mudar a
roupa da alma
revista vitória I Janeiro/2016
22
i em um blog recentemente o
seguinte título: “viajar deixa
as pessoas muito mais felizes
do que bens materiais”, e pensei –
estão falando de mim! Viajar me
deixa em êxtase antes, durante e
depois, superando sempre, com
muita autoterapia, o pânico total
quando a viagem é de avião. Com
amigos, em família ou viajando a
dois - meu marido é companhia
constante -, a escolha da companhia é fato relevante para o sucesso
da viagem. O prazer começa no
planejamento, na definição do destino e do roteiro. De carro, avião
ou navio, ainda não viajei de trem,
qualquer aventura é prazerosa. A
cada destino muita leitura para
familiarizar-se com o local.
Descobri, juntando muitas
dicas de viagem, que podemos
conhecer o mundo com poucos
recursos, sem fluência em outras
línguas e com muita vontade de
aventura na bagagem. Assim, pelo
menos uma vez por ano procuro
fazer uma grande viagem, e nos
intervalos, viagens mais curtas
e próximas. Com uma mochila
T
TICICKET
KET
nas costas e uma mala média
nas mãos, condição obrigatória
é sempre pouca bagagem, vou
intercalando viagens de longa
ou curta duração.
Os preparativos para a viagem fazem parte do ritual de felicidade. Preparar com antecedência os documentos necessários,
equipamentos, máquinas fotográficas, adaptadores de energia,
roupas adequadas, entre muitas
outras tarefas, me deixam com
o sentimento de que a viagem
começou. A cada destino vamos
experimentando novos costumes,
hábitos, arquitetura, moda, serviços públicos, entre outros, diferentes dos nossos, seja dentro ou
fora do nosso Brasil.
De lugares como a simples
e bela Caraíva, na Bahia, com
sua rústica vila de pescadores
onde todas as ruas são areia de
praia, e o transporte é canoa na
água e charrete nas ruas, que
nos faz sentir uma sensação de
total interação com a natureza
ou, como a famosa e requintada
Paris, na França, com sua história,
glamour e gastronomia, que nos
faz sentir parte da história, vou
passando por todos os lugares de
forma curiosa e sedenta de novas
experiências.
Aventura e prazer são palavras que acompanham os aman-
tes de viagem. Felicidade que
irradia desde um simples pôr do
sol aos monumentos históricos.
Seja qual for o destino, a alegria
é de conhecer pessoas, pois sempre conhecemos alguém, ou de
rever velhos amigos e parentes
distantes. No fim, terminada a
viagem, retorno para casa quando
inicio nova pesquisa em páginas
nas redes sociais, aplicativos no
celular e blogs, buscando dicas e
promoções de passagens aéreas
e pacotes de viagem, para aquisição do próximo destino. Viajar
significa conhecer novos países,
novas cidades, novas pessoas e
novos costumes. Faço minhas as
sábias palavras de Mário Quintana: “Viajar é mudar a roupa da
alma”. n
Lucienne Rusciolelli Paiva Bastos
Lucienne Rusciolelli Bastos
revista vitória I Janeiro/2016
23
diálogos
Dom Luiz Mancilha Vilela, ss.cc. • Arcebispo de Vitória ES
O cristão e o din
T
odos os dias a maior parte dos
noticiários da mídia trata, ora
da situação econômica do
país, ora de roubos, assaltos a bancos,
ora de assaltos a residências e tantos
outros fatos e situações humanas que
se referem ao dinheiro.
O dinheiro provoca muita confusão nas relações humanas. Mata-se
com certa facilidade por causa do
dinheiro. Há grupos econômicos e
poderes dentro do poder constituído
que se movimentam em volta do
dinheiro.
E o cristão? Qual o olhar do
cristão para o dinheiro? Será um
olhar diferente? Se não for, é hora
de ser diferente porque o cristão,
pelo batismo, foi introduzido na família de Deus, chamado a anunciar
e testemunhar o Reino Deus.
Mas o cristão não pode viver ou
ficar sem o uso do dinheiro. O que
fazer? Como ser? Como agir?
Tenho para mim que o olhar do
cristão sobre o dinheiro deve ser o
olhar de Jesus Cristo. Ele, no templo
repreendeu os vendilhões. O dinheiro
usado de maneira errada que explora
as pessoas é um dinheiro maldito. O
dinheiro maldito é, pois, aquele que
é usado para destruir o ser humano.
O dinheiro que fabrica armas para
matar, bombas de todo o tipo para
destruir o ser humano. O dinheiro
usado para o tráfico humano e drogas
que provoca violência e derramamento de sangue. O dinheiro para comprar
a dignidade do ser humano, o uso do
dinheiro para manter-se no poder,
barganhas e compras de cargos sem
levar em consideração o bem comum,
é sem dúvida dinheiro maldito.
Nas festas religiosas o dinhei-
revista vitória I Janeiro/2016
24
ro adquirido através de vendas de
bebidas alcoólicas que podem gerar brigas no ambiente das festas,
nas famílias, que levam os doentes
alcoólicos à sua destruição como
seres humanos, também, como todo
o dinheiro que gera violência, é dinheiro maldito. Não tem a bênção
de Deus. Lembro-me das palavras
heiro
do Papa Francisco em homilia no
final do ano passado: “O dinheiro
adoece o pensamento e a fé e leva à
vaidade e à soberba”.
Contudo, Jesus, observando as
esmolas postas nos cofres do templo,
mostra o outro lado, quando ressalta
em seu ensinamento o gesto da pobre
viúva. Ela doara o que lhe fazia falta
para sobreviver, o pouco que tinha.
Esse dinheiro é bendito, abençoado.
Há, pois, o dinheiro bendito,
aquele que promove e edifica a pessoa humana, a sociedade, a comunidade cristã. Há o dinheiro maldito.
Aquele que é usado para destruição
do ser humano e gera violência de
todo tipo.
revista vitória I Janeiro/2016
25
Lembra-se das trinta moedas de
Judas? O dinheiro foi usado para a
traição de Jesus.
Quem dá sentido e nome às coisas é a pessoa humana. O dinheiro
não dirige o homem, mas o homem
é quem dá sentido ao dinheiro.
Considerar normal usar o dinheiro para fazer bombas que matam o ser
humano, para explorar o ser humano,
para trapaças e traições, é problema
do coração humano que determina,
decide o que fazer e como fazer uso
do dinheiro e não do dinheiro.
Resta-nos fazer um exame de
consciência sobre as razões de nossas
escolhas: escolhemos a maldição
pelo uso do dinheiro maldito ou a
bênção pelo bom uso do dinheiro.
O olhar de Jesus Cristo ilumina-nos. O discípulo e a discípula de
Jesus querem aprender de Jesus e,
com Jesus, olhar e agir como Jesus.
Como você faz uso do dinheiro?
Concluo com o ensinamento
de Jesus: “Não ajunteis para vós
tesouros na terra, onde a traça e o caruncho os corroem e onde os ladrões
arrombam e roubam, mas ajuntai para
vós os tesouros nos céus, onde nem
a traça nem o caruncho corroem e
onde os ladrões não arrombam nem
roubam; pois onde está o teu tesouro
aí está também teu coração” (Mt.
6,19- 21). n
Comunicação
A imagem de si e os
desejos coletivos
A
câmera voltada para si é
a imagem mais comum
na paisagem social do
mundo contemporâneo. O desejo
de se sentir curtido e aprovado
pelos amigos e seguidores virou
uma espécie de febre coletiva.
Essa compulsão não é nova. Os
álbuns fotográficos representam
a memória visual das nossas vidas, embora esse fosse hábito
restrito e eventual. Batizados,
casamentos, datas comemorativas, vida familiar e, óbvio, para
as pessoas de maior poder aquisitivo, os diários imagéticos das
viagens. Hoje, fotografa-se e filma-se tudo. Pessoas, paisagens,
viagens, inutilidades, utilidades,
espaços e tempos supérfluos que
na maioria das vezes são descartados e pouco visitados. É
o registro do presente que se
torna passado no seu próprio
ato. Mesmo com o deslocamento
para as lixeiras, essa imagens
não desaparecem. Migram para
as nuvens ou empresas que as
comercializam. É um mundo
novo que se descortina.
As estradas virtuais conduzem a uma intimidade de partilha
que é sagrada. O salto de qualidade que representa o mundo vir-
tual tem como primado o diálogo
sem fronteiras, o conhecimento
mútuo, o aprofundamento das
relações e um lugar contraditório
em que o homem se mostra para
o outro como ele é, tanto para o
bem como para o mal.
Vivemos num emaranhado
mundo de conflitos. Talvez, o
exemplo histórico de convivência
pacífica que se deu no Século
Nono, na Espanha, possa servir
de inspiração para soluções atuais. Naquele período, mulçumanos, judeus e católicos conviviam
e interagiam na paz e no respeito
mútuo, cada grupo obedecendo à
sua vocação social mais proeminente. Do comércio às ciências,
da educação às festas populares
e às artes, tudo funcionava de
modo harmônico e cooperativo. Foi uma lição de tolerância,
compartilhamento e paz.
O ato de registrar o bem e a
paz é uma forma de responsabilidade individual e uma relação
com o “outro”. A era digital nos
insere no chamado mundo conectado, independentemente da
nossa vontade. Entramos num
espaço de compartilhamento e
numa forma nova de vida onde
as moedas mais preciosas são
revista vitória I Janeiro/2016
26
a aceitação, a posição e o prestígio social. Nesse contexto,
um novo sujeito está surgindo.
Não sabemos ainda quem ele
é. Tanto pode estar a serviço
da guerra como da paz, da solidariedade e da defesa da casa
comum, expressão usada pelo
Papa Francisco na Laudato si.
Precisamos de alguma âncora
para nos conduzir nessas novas
estradas e entendermos o nosso lugar no espaço virtual. Se
agora substituímos o álbum de
fotografias pelo registro das imagens do nosso cotidiano, precisamos compreender que estamos
num mundo em transformação
tecnológica acelerada e num
ambiente, queiramos ou não,
de compartilhamento, desejos,
escolhas e caráter. Não existe
mais o registro sem compromisso. As facilidades conduzem
ao excesso e criam identidades
superficiais. Sejamos mais econômicos e seletivos no olhar que
lançamos sobre o mundo. O que
produzimos no ambiente virtual
não é mais só nosso. n
Miguel Pereira
Professor da PUC-Rio e
crítico de cinema
Foto: Letícia Bazet
pensar
Manguezal em Regência após desastre ambiental no Rio Doce
revista vitória I Janeiro/2016
27
176 páginas
144 páginas
18 faixas
Quaresma,
tempo de conversão
rumo à Páscoa
CD – Liturgia XIV
Meditando a palavra 2
Meditando a palavra 3
Quaresma – Anos B e C
PAULUS Música
Quaresma
Padre Augusto César Pereira
Páscoa
Padre Augusto César Pereira
PAULUS Livraria de Vitória-ES
Rua Duque de Caxias, 121
Centro – CEP.: 29010-120
Tel.: (27) 3323.0116
[email protected]
entrevista
Ricardo Alvarenga
Paz: construção e
desconstrução pela mídia
Nesta entrevista, conversamos com a pesquisadora de mídia, religião e política Magali do
Nascimento Cunha, professora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social
da Universidade Metodista de São Paulo e membro do Conselho Mundial de Igrejas (CMI).
O fio condutor da conversa foi os conflitos mundiais, seus desdobramentos, motivações
e possíveis saídas desse contexto.
vitória - Em diversos países
do mundo, povos estão vivendo em verdadeiros cenários
de guerra. Mas, recentemente, com os atentados na França, essa questão emergiu na
mídia e principalmente nas
mídias sociais. Qual a sua
avaliação sobre a cobertura
midiática desse tema?
Magali Cunha - A cobertura noticiosa internacional das grandes mídias no Brasil sempre
foi colonizada, submetida aos
conteúdos das mídias no Norte
Global. Isto é histórico por conta do predomínio das agências
de notícias internacionais que
estão localizadas, desde os seus
primórdios, na Europa e nos
Estados Unidos. Há pesquisas
que mostram claramente que os
conteúdos noticiosos das agências são claramente marcados
pelos interesses geopolíticos
dos seus países de origem e isso
acaba sendo reproduzido no
noticiário dos veículos que as
reproduzem. São pouquíssimos
os veículos nacionais que têm
correspondentes internacionais,
mas ainda estes compõem seus
textos com material que coletam das agências, como outras
pesquisas também revelam.
Isto acaba se refletindo nas
mídias sociais, pois parte do
conteúdo delas é reprodução
do que se veicula nas grandes
mídias. Nesse sentido, o que
acontece nos Estados Unidos
e na Europa acaba tendo mais
repercussão do que o que acon-
revista vitória I Janeiro/2016
29
tece em países e regiões mais
periféricas. Claro que, no caso
da França, lemos e assistimos a
manifestações de solidariedade
importantes e necessárias. No
entanto, fica o questionamento: e os outros casos até mais
graves? Poderíamos citar a Síria, o Afeganistão, a Nigéria,
o Sudão e muitos outros locais
da chamada “periferia do mundo”, que vivem situações de
terror e morte com resultados
mais dramáticos do que o que
foi experimentado em Paris.
Denomino este processo “solidariedade seletiva”, resultante
justamente deste contexto de
colonização das mídias.
vitória - Grande parte
desses conflitos envolve uma
questão religiosa de fundo.
A senhora acredita que isso
proporcione intolerância religiosa e discriminação das
religiões de raiz islâmica?
Magali Cunha - Sim, sem dúvida. Há vários exemplos de
entrevista
conflitos políticos que têm relação
com grupos religiosos: aqueles que
envolvem o budismo na Índia, o
Sri Lanka, na China, no Tibete;
os movimentos por independência
da Irlanda do Norte que opunham
católicos aos anglicanos britânicos;
e, claro, os mais recentes grupos
radicais entre os islâmicos.
Quando estudamos a fundo estas
questões políticas, vemos que têm
quase nada de religiosas. Na maior
parte delas, há uma identidade religiosa de grupos que lutam por suas
bandeiras políticas, mas estes não
são representantes de suas religiões. No entanto, o emblema religioso acaba sendo ressaltado, seja
pelos próprios grupos que o usam
para fins de embates ideológicos
(como o faz o grupo denominado
Estado Islâmico), seja pelas mídias
que vêem na questão religiosa um
ingrediente a mais para o apelo ao
drama dos atentados e das guerras.
O problema é que isto estigmatiza
os grupos religiosos e, de fato, gera
ações de intolerância da parte de
quem se vê impelido a combater
a violência.
vitória - Os atentados terroristas acabaram por estigmatizar os povos do Oriente Médio.
Quais seriam os impactos desse
processo para as nações?
Magali Cunha - A superficialidade
no trato e na compreensão da vida
desses povos nos âmbitos social,
político, econômico e cultural.
Passa-se a compreender estes grupos humanos a partir do olhar da
violência que sofrem e que praticam, mas nada ou quase nada se
apreende deles como agrupamentos
sociais que têm suas dinâmicas nas
diferentes esferas da vida. Isto é
péssimo, pois promove preconceito
e discriminação, o que pode ser
visto em relação aos refugiados.
Promove também fechamento ao
intercâmbio cultural, às parcerias
econômicas. Vide o caso do diálogo Brasil-Irã que foi duramente
criticado nas mídias, com base puramente nos estigmas construídos
ao longo das últimas décadas em
relação a este país.
Nesse sentido, pensando nestas
transformações na cultura da guerra, creio que o Papa tenha razão.
vitória - Qual o posicionamen-
to do Conselho Mundial de Igrejas e quais as suas contribuições
para sair desse cenário?
Magali Cunha - O Conselho Mundial de Igrejas (CMI) foi inaugurado em 1948 num contexto de
guerra. Na verdade, duas das fontes
que deram origem ao movimento
vitória - Alguns comentários
nos meios de comunicação especulam sobre uma terceira guerra
mundial. Pode acontecer?
Magali Cunha - Quando falamos
em terceira guerra mundial, temos
em mente aquelas imagens dos
conflitos do século XX. É outro
tipo de cultura de guerra. Ele não
existe mais. As guerras hoje são
marcadas por recursos tecnológicos
que evitam ao máximo as incursões
presenciais (os embates físicos de
exércitos) e pelas estratégias de
inteligência. O terrorismo em alta
também é uma característica diferenciada do que foram os conflitos
armados do passado. O Papa Francisco disse que já estamos vivendo
uma terceira guerra e esta mundial,
de fato, pelo número de conflitos
armados espalhados pelo planeta.
revista vitória I Janeiro/2016
30
Que os próprios
usuários das mídias
digitais se desarmem e
aprendam a fazer uso
destes espaços com
diálogo respeitoso, ainda
que haja divergências.
Tudo isto faz parte do
processo de humanização
tão urgente para que
haja paz.
ecumênico que tornaram possível
a criação do CMI foram a Aliança Mundial para a Promoção da
Amizade Internacional através
das Igrejas e o movimento Vida e
Ação, ambos gerados pelos movimentos internacionais cristãos pela
paz, que intensificaram suas ações
durante a Primeira Guerra Mundial
(1914-1918). Com a fundação do
CMI, foi criada a Comissão das
Igrejas para Assuntos Internacionais, agência que permanece atuando no organismo trabalhando pela
resolução pacífica de conflitos,
pelo desarmamento e a reconciliação entre países e grupos.
Uma importante ação do CMI foi
A Década Ecumênica de Superação da Violência (2001-2010), a
fim de fortalecer os esforços e as
redes já existentes de prevenção
e superação da violência assim
como inspirar a criação de outros. Paz e reconciliação foram
as palavras-chave nesta ação que
buscou sensibilizar sobre as formas
de violência: interpessoal, econômica, ambiental, militar, tanto na
sociedade quanto nas famílias e
até na Igreja.
Estudos teológicos cristãos e interreligiosos dentro da temática
foram promovidos e ações concretas foram realizadas, como o
Programa Ecumênico de Acompanhamento à Palestina e a Israel, a
Rede Paz na Cidade, a criação do
Dia Internacional de Oração pela
Paz (21 de setembro, mesma data
do Dia Internacional da Paz, da
ONU) e o Programa Cartas Vivas
(pequenos grupos de homens e
mulheres ecumênicos que visitam
um país marcado por conflitos e
violência para escutar, aprender
e compartilhar problemas e para
idealizar soluções para superar a
violência e construir a paz, assim
como para orar juntos pela paz na
comunidade e no mundo).
A década foi encerrada em 2011
com a Convocatória Ecumênica
Internacional pela Paz, realizada
em maio de 2011 em Kingston,
Jamaica. O encontro celebrou as
realizações da Década e, ao mesmo
tempo, estimulou pessoas e Igrejas
a renovarem seu compromisso em
favor da não-violência, da paz e
da justiça.
Na 10ª Assembleia do CMI, realizada na Coreia do Sul, em 2013,
foi lançado um convite aos cristãos
de todo o mundo: engajarem-se
numa Peregrinação de Justiça e
Paz. O convite tem uma mensagem importante: as igrejas estão
numa peregrinação neste mundo, a
caminho de outro mundo possível,
como diz a Bíblia, de “um novo
céu e uma nova terra”. Vivem e
trabalham por isso. A preposição
“de” faz toda a diferença: não uma
peregrinação pela justiça e pela
paz, mas “de” justiça e paz. Uma
jornada que os cristãos mesmos
devem testemunhar, dentro de suas
revista vitória I Janeiro/2016
31
comunidades religiosas, entre elas
e com as outras religiões.
vitória - Celebra-se em ja-
neiro o Dia da Paz Mundial. No
contexto em que vivemos, quais
apontamentos nos conduziriam
para uma sociedade mais pacífica
e fraterna?
Magali Cunha - Vou indicar um
que tem relação com o meu trabalho: a humanização e a descolonização das mídias. As mídias têm
um papel fundamental como mediadoras entre os grupos sociais:
são veículos que tornam possível
o intercâmbio de informações, a
educação para o diálogo e a ampliação do conhecimento (a noção
de aldeia global).
Ocorre que com a colonização
das mídias e a partidarização de
interesses políticos e econômicos
que as envolvem, elas não têm
cumprido este papel. Portanto, é
pelas mídias alternativas, tornadas
mais visíveis pela internet que se
torna possível esta humanização
dos veículos. Significa também
um enfrentamento da colonização,
à medida que se garante espaço
para os grupos periféricos. E ainda
tem um elemento importante: que
os próprios usuários das mídias
digitais se desarmem e aprendam
a fazer uso destes espaços com
diálogo respeitoso, ainda que haja
divergências. Tudo isto faz parte
do processo de humanização tão
urgente para que haja paz. n
Mundo Litúrgico
As bodas da vida
N
os primeiros domingos do Tempo
Comum pode-se perceber, pela Liturgia
da Palavra, à semelhança do Tempo
do Natal, a continuidade das manifestações
do Senhor, agora no início de sua vida pública
e ministério messiânico. Aliás, a Palavra
proclamada na assembleia litúrgica, ou mesmo
contemplada na oração pessoal, sempre tem esse
caráter de manifestação (epifania) do Senhor aos
que celebram o mistério de Cristo.
A narrativa das bodas de Caná (Jo 2,1-11),
proclamada no 2º Domingo Comum (Ano C,
neste 2015), figura a revelação de Jesus como
Cordeiro de Deus, Messias e Esposo, marcando
a sua clara e definitiva relação com o gênero
humano. Ele é o mediador da comunhão das
criaturas com o Criador, intercessor contínuo
junto ao Pai e salvador de todos, em permanente
relação amorosa com a sua Igreja, a qual é a
portadora da alegre e sempre atual notícia de
vida e ressurreição.
Os batizados – novo povo constituído, em
Aliança, pelo mistério da Páscoa
de Cristo - celebram, na contínua
liturgia, em tom de memorial, o ápice da
entrega e do amor do seu Divino Salvador: a sua
paixão, morte e ressurreição. Dessa forma, os
crentes vivem, ritualmente, essa verdade de fé,
transpondo-a, em tom de conversão e missão,
aos mais diversos espaços e estágios da vida,
como caminho de convivência, evangelização,
santificação e assimilação dessa nova ordem
promulgada por aquele que continuamente
renova a existência e a história. Desperta, dessa
forma, em toda a criação um novo olhar e adesão
à vida verdadeira, a qual transcende a realidade
corporal e material das criaturas.
Que a vida litúrgica, patrimônio místico dos
cristãos, seja, em prática e eficácia, o cume e a
fonte dos que professam a fé no Filho de Deus,
e fazem da sua existência a prazerosa vivência
nupcial com Ele! n
Fr. José Moacyr Cadenassi, OFMCap
revista vitória I Janeiro/2016
32
eleições
O que devemos pensar para as
próximas eleições
E
ntraremos em mais um ano
eleitoral. As armadilhas
são muitas, mas também
há possibilidades.
Vivemos em um tempo em
que a política virou o principal
assunto generalizado: de reuniões
de família a conversas de botequim, passando por programas
humorísticos e declarações de cantores, atores e esportistas, todos
se sentem “politizados” de uns
tempos para cá.
Isso seria positivo, não fosse
o fato de que as discussões têm
se dado no nível mais baixo de
conhecimento sobre o funcionamento do Estado, do papel dos
poderes, dos mecanismos econômicos que movem a política
real, da dinâmica das lutas sociais,
etc. A pauta das conversas tem
sido ditada e orientada por um dos
principais agentes de interesses
privados na política: as grandes
empresas de comunicação, que
constituem um dos oligopólios
mais ricos e poderosos do país.
Tal fato gerou um grande
paradoxo: a população, ao mesmo
tempo em que se sente politizada
porque lê revistas e jornais, não é
capaz de interferir na composição
dos poderes que deveriam representá-la. Age apenas nas situações
em que as empresas de comunicação dizem ver um escândalo ou
uma medida ruim – inclusive sem
se perguntar “ruim para quem?”
Por isso, a cada eleição,
elegem-se figuras cada vez mais
grotescas e representantes sem nenhuma capacidade de pensar e deliberar sobre as políticas públicas
de interesse da maioria. Religiosos
fundamentalistas, apresentadores
de programas “mundo cão”, falsos
pastores usurpadores de dinheiro
dos fiéis, representantes diretos de
grupos econômicos são exemplos
dos atuais protagonistas que transformaram nossas casas legislativas
em um circo de horrores. Todos
legitimados pelo voto popular.
Para 2016, questões fundamentais para o município podem
ser contempladas em projetos que
pensem a cidade e seus habitantes
em conjunto, integrando políticas de mobilidade social com a
questão ambiental; de acesso aos
serviços públicos para os mais
revista vitória I Janeiro/2016
33
pobres com a criação de justiça
no espaço urbano de moradia e
lazer; da situação de moradores
de rua com a percepção dos habitantes da cidade como portadores
de direitos, etc.
Estamos preparados para escolher prefeitos e vereadores em
função de projetos? Ou votaremos
mais uma vez como se estivéssemos elegendo personagens para
um programa de humor macabro?
Pensaremos no papel legislativo
do vereador e na dimensão social das leis, ou continuaremos
escolhendo um (falso) fazedor de
obras e doador de benefícios para
o bairro – quando não é essa a função que compete ao parlamentar?
Elegeremos prefeitos capazes de
fazer a relação entre a gestão da
cidade e o ser humano que a habita, ou votaremos numa suposta
ideia de “maior competência”, que
acaba resultando na transformação
da gestão da cidade em um balcão
de negócios para empreiteiras e
grupos privados? n
Maurício Abdalla
Professor de Filosofia da Ufes
Reportagem
Letícia Bazet
Orgânicos
para cuidar da terra e da saúde
O
Brasil é o maior consumidor de produtos
agrotóxicos do mundo.
De acordo com o IBGE, a utilização de produtos químicos para
o controle de pragas, doenças e
ervas daninhas mais que dobrou
em dez anos. No Espírito Santo a
realidade não é diferente. Dados
revelam que o estado atinge o primeiro lugar no ranking nacional
das contaminações e mortes por
uso desses venenos.
A adoção de hábitos mais
saudáveis e a busca por mais qualidade de vida levaram as pessoas
a praticar mais exercícios, entrarem na ‘onda fit’ e procurarem
novas formas de levar a vida.
Em meio a tudo isso e ao acesso
a mais informações fez crescer
também o mercado dos produtos
orgânicos. Só no Espírito Santo já são 12 feiras, sendo nove
na Grande Vitória, localizadas
nos municípios de Vitória, Vila
Velha, Serra e Cariacica. A reportagem deste mês resolveu ir
ao encontro de feirantes e consumidores para entender um pouco
mais deste novo comportamento,
que já virou uma tendência e um
estilo de vida. A ideia da feira
orgânica é proporcionar ao consumidor um ambiente descontraído
e criar uma relação com o produtor, sabendo como e de onde
vem o produto disponibilizado.
Em Valparaíso, na Serra, o
“Adoção de hábitos mais saudáveis
e a busca por mais qualidade
de vida levaram as pessoas a
praticar mais exercícios, entrarem
na onda fit e procurarem novas
formas de levar a vida”.
Jaqueline Rocha e sua filha consomem
produtos da feira orgânica
movimento é um pouco tímido,
mas quem compra ali garante que
vale a pena consumir o produto
orgânico. “Meu filho tem seis
anos e tinha muita alergia, problemas na pele. Não posso garantir
que seja por isso, mas desde que
passamos a consumir alimentos
aqui da feira orgânica isso tem
melhorado nele”. A afirmação
é de Edimar Pereira das Neves,
que diz ter optado pelos orgânicos pela questão de sua saúde e,
acima de tudo, pela saúde de sua
família.
Edimar pode não ter tanta
convicção de que o uso sistemático do produto com agrotóxico
pode provocar mais reações alér-
gicas em seu filho mas, segundo
informou a Fundação Oswaldo
Cruz (Fiocruz), o Instituto Nacional de Câncer (Inca) e a Associação Brasileira de Saúde Coletiva
(Abrasco), os agrotóxicos podem
causar danos à saúde extremamente graves, como alterações
hormonais e reprodutivas, danos
hepáticos e renais, disfunções
imunológicas, distúrbios cognitivos e neuromotores, cânceres,
entre outros.
Jaqueline Rocha, também
consumidora da feira de Valparaíso, afirma que mudou seus
hábitos com a chegada de sua
filha, hoje com 4 anos. “Os produtos aqui, além de não possuírem
agrotóxico, duram muito mais.
Uma couve que eu compro na
terça-feira dura uma semana. Já
no supermercado dura dois dias.
Além disso o sabor é bem diferente, sentimos mais o gosto do
alimento, por exemplo do espinafre, que nós gostamos bastante lá
em casa, é muito mais saboroso,
e minha filha adora”.
Na feira de Valparaíso, os
revista vitória I Janeiro/2016
35
produtores vêm de santa Maria
de Jetibá, como o pomerano Sifrit
Jastrow, que há 25 anos trabalha
com o alimento orgânico. Ele,
que já utilizou os métodos convencionais de produção, garante
que buscou outro caminho por
causa das doenças provocadas.
“Hoje o consumidor está vendo
que o agrotóxico faz mal e está
dando mais valor ao orgânico.
Quem consome sabe que é algo
muito mais saboroso, então a receptividade das pessoas foi muito
positiva a essa proposta”.
Na feira orgânica realizada
na Praça do Papa, também encontramos consumidores conscientes
e em busca de mais qualidade
de vida. Porém, eles afirmam
que ainda é preciso mais estímulo para que a feira ganhe mais
adeptos, tanto em consumidores,
como em produtores. “Isso aqui
é tão maravilhoso, mas é pouco
divulgado. Encontramos uma opção para termos mais saúde, uma
alimentação com menos produtos
químicos, mas muita gente ainda
não sabe. Então era preciso mais
Reportagem
incentivo e divulgação para as
feiras orgânicas”, afirmou Sônia
Iandrith.
Para Sélia da Penha Sarti, as
feiras foram uma oportunidade de
se alimentar melhor. “Eu venho
lá de Cariacica e tenho certeza
que vale a pena. Acho bacana
também o trabalho dos produtores de se preocuparem com a
saúde do ser humano e a saúde
do planeta. O diferencial é saber
que não tem agrotóxico, o sabor,
a cor do alimento, é qualidade de
vida”.
Por ali, vendendo as suas
hortaliças estava Selene Hammer
Tesch, presidente da Associação
de Agricultores e Agricultoras de
Produção Orgânica Familiar de
Santa Maria de Jetibá - Amparo
Familiar. Ela afirma que as vantagens dos produtos orgânicos
não se restringem apenas a saúde.
“No início tivemos dificuldade
de colocar o produto no merca-
do, mas hoje a aceitação é muito
grande. A questão ambiental é
essencial, porque na agricultura,
o que se promove com o produto orgânico é o meio ambiente,
pois você consegue preservá-lo e
manter o equilíbrio, produzindo
produtos com mais qualidade, que
consequentemente levam a mais
qualidade de vida da população”.
Selene afirma que o lado
pessoal foi o que a fez trabalhar
com esses alimentos. “Trabalho
há 24 anos com isso e minhas
filhas que hoje trabalham comigo
eram tudo meninas. Nós tínhamos
bastante doença como diarreia,
dor de estômago, vômito, alergias
e esses foram motivos que nos
fizeram largar isso e trabalhar
com uma cultura que levasse mais
saúde para a nossa família”.
revista vitória I Janeiro/2016
36
Ela também conta um pouco
da produção de um alimento orgânico: “é toda manual, não usa
nenhum tipo de produto químico,
é muito mais trabalhoso e por isso
às vezes custa um pouco mais
caro do que o convencional”.
Comodidade
A correria, o excesso de
afazeres e a falta de tempo parecem não ser mais desculpas dos
tempos atuais para manter uma
alimentação equilibrada e a preocupação com a saúde. Em uma
rápida visita ao shopping você
pode levar para casa muito mais
do que bolsas, roupas e sapatos.
No Shopping Boulevard, em Vila
Velha, desde o mês de novembro
deste ano, o consumidor leva
mais saúde para a sua mesa. Ali,
no conforto do ar condicionado
e com uma organização própria,
foi instalada a feira que vem ganhando cada vez mais adeptos.
Esfeilan destaca a praticidade e
comodidade. “Achei ótimo porque às vezes a gente não tem
tempo de ir à feira e como eu
moro pertinho dá para vir. Os
produtos são de ótima qualidade
e o espaço está muito arrumado,
com ar condicionado, tudo muito
bom”.
O feirante Édino Minikovski
explica que para estarem ali precisam cumprir algumas exigências.
“As bancas são arrumadas pelo
próprio shopping e a gente precisa
chegar até 9h ou 9h30. Até às 11h
tem que estar tudo arrumado”.
Se fazer as suas compras no
conforto do shopping é uma alter-
“Se fazer as suas compras no conforto
do shopping é uma alternativa
interessante, a feira delivery também
se torna uma opção viável para
aqueles com uma vida mais atribulada”.
nativa interessante, a feira delivery também se torna uma opção
viável para aqueles com uma vida
mais atribulada. O ‘Espirito Orgânico’ nasceu há seis meses, do
interesse da proprietária Juliana
em conhecer mais os produtos
orgânicos. “Comecei a frequentar
as feiras livres e nelas descobri
os alimentos orgânicos. Em paralelo a isso, conversando sobre o
assunto com uma amiga médica,
que na época estava fazendo um
curso em São Paulo na área da
alimentação, ela me disse que já
existia essa prestação de serviço.
Comecei a buscar fornecedores
e oferecer o serviço pelas mídias
sociais”. Ela afirma que percebe
nas pessoas o interesse cada vez
maior em retirar os alimentos
tóxicos do cardápio e assumir
uma alimentação saudável. “A
empresa aliou a boa alimentação
com a comodidade. Acredito que
esse é um estilo de vida que tende
a crescer e se consolidar a cada
dia. O debate sobre o assunto
torna-se cada vez maior e mais
popular”.
Uma questão ambiental
Os alimentos orgânicos, além de
estarem ligados a menos toxicidade no
organismo pelo uso de agrotóxicos, apresentam também uma questão que traz
preocupações para o momento atual: o
meio ambiente. Segundo informações
do Ministério do Meio Ambiente, quando
utilizado, um agrotóxico, independente
do modo de aplicação, possui grande
potencial de atingir o solo e as águas,
principalmente devido aos ventos e à
água das chuvas, que promovem a deriva,
a lavagem das folhas tratadas, a lixivia-
revista vitória I Janeiro/2016
37
ção e a erosão. Além disso, qualquer que
seja o caminho do agrotóxico no meio
ambiente, invariavelmente o homem é
seu potencial receptor. Os agrotóxicos
são aplicados diretamente nas plantas
ou no solo, e mesmo aqueles aplicados diretamente nas plantas têm como
destino final o solo, sendo lavados das
folhas através da ação da chuva ou da
água de irrigação. Os lençóis freáticos
subterrâneos podem ser contaminados
por pesticidas através da lixiviação da
água e da erosão dos solos.
Reportagem
Feiras orgânicas na Grande Vitória
Vitória
w Feira de Produtos Orgânicos de Barro
Vermelho
Rua Arlindo Brás do Nascimento,
atrás da Emescam
Sábado: das 6 horas às 12 horas
w Feira de Produtos Orgânicos da Praça do Papa
Estacionamento da Praça do Papa,
Enseada do Suá
Quarta-feira: das 15 horas às 20h30
w Feira de Produtos Orgânicos de Jardim Camburi
Av. Isaac Lopes Rubim, próximo à
Faculdade Estácio de Sá
Sábado: das 06 horas às 12 horas
Cariacica
w Feira Agroecológica de Cariacica
Praça John Kennedy (Praça do Parque
Infantil), Campo Grande
Sábado: das 06 horas às 12 horas
Vila Velha
w Feira de Produtos Orgânicos da Praia da Costa
Entre as ruas XV de Novembro e Henrique
Moscoso, em baixo da Terceira Ponte
Sábado: das 06 horas às 13 horas
Serra
w Feira de Produtos Orgânicos de Serra Sede
Praça de Encontro
Terça-feira: das 15 horas às 21 horas
w Feira de Produtos Orgânicos de Valparaíso
Estacionamento do antigo Serra Bela Clube,
Valparaíso (ao lado da biblioteca pública
municipal)
Terça-feira: das 15 horas às 21 horas
w Feira de Produtos Orgânicos de Colina de
Laranjeiras
Praça Central de Colina de Laranjeiras
Quinta-feira: das 16 horas às 20 horas n
revista vitória I Janeiro/2016
38
arquivo e memória
Giovanna Valfré
Coordenação do Cedoc
Coroação de
Nossa Senhora
Crianças e catequistas
participam da coroação de
Nossa Senhora, em uma
paróquia de Vitória em
maio de 1934. Essa tradição
começou na Europa, no
século XIII, no ano de 1280
e chegou ao Brasil através
dos portugueses. Desde
então, devotos realizam
coroações da imagem de
Nossa Senhora durante o
mês de maio homenageando
Maria, mãe de Jesus e mãe
da Igreja.
Pergunte a quem sabe
Pe. Arthur Francisco Juliatti dos Santos
Coordenador do IFTAV
Qual a diferença entre a Bíblia utilizada
pelos evangélicos e pelos católicos?
Os livros que os evangélicos não consideram seriam comparados aos apócrifos?
A diferença está em dois esquemas
de organização do Antigo Testamento,
ou seja, o Massorético (Bíblia Hebraica),
usado nas comunidades evangélicas, com
39 livros e o texto da Septuaginta (Bíblia
dos Setenta ou Bíblia Grega), 1ª. tradução
em grego, do séc. II a.C., com 46 livros,
usado desde o tempo dos Apóstolos na
evangelização e até hoje pela Igreja Católica. A partir destes textos foram feitas as
primeiras traduções para o latim e outras
línguas modernas.
Absolutamente não, pois os chamados
apócrifos, palavra grega que significa secreto são livros considerados não inspirados e
que não estão presentes na Bíblia por não
considerarem a história do Povo de Deus e
estarem ligados às chamadas religiões mistéricas do antigo Oriente Médio, sobretudo ao
gnosticismo. No caso dos sete livros a mais
que temos na Septuaginta é preciso dizer que
judaísmo utilizou estes livros do séc. II a.C.
até o início do séc. II d.C., deixando-os em
razão da Igreja usá-los na evangelização.
O que comer na praia no verão?
O ideal é levar frutas frescas para a
praia, de preferência aquelas que contêm
bastante líquido. Para facilitar, leve-as já
higienizadas e “cortadinhas”. Exemplo:
melancia, abacaxi, uva, ameixa, laranja,
kiwi, manga. Se for comprar algo na praia,
dê preferência à água de coco e ao milho
verde cozido. Picolés de frutas também são
boas opções.
Se algum alimento não fizer bem, como
proceder?
A primeira dica é hidratar-se bastante.
Porém, caso a situação persista, procure
atendimento médico para receber medicação
adequada.
Drª Rosiani Grobério
Nutricionista
revista vitória I Janeiro/2016
40
Alimentação
Religião
Tem dúvidas? Então pergunte para quem sabe.
Envie sua pergunta para [email protected]
Saúde
Dr. Giuliano Henrico Ruschi e Luchi
Quais os prejuízos do uso de fone de ouvido
em volume muito alto?
A exposição a ruídos intensos frequentes é
extremamente prejudicial ao aparelho auditivo.
De forma prática, os sons muito altos levam
a uma lesão irreversível na orelha interna, na
região das células ciliadas, causando disacusia
neurossensorial. Se a exposição se mantiver, a
lesão é progressiva e pode prejudicar em muito
a comunicação e socialização do indivíduo.
A exposição pode ser ocupacional, ou seja,
no ambiente profissional ou em situações de
lazer, podendo ser ainda aguda ou crônica.
Como já dito, uma vez instalada, a lesão é
irreverssível, portanto a principal orientação
é estar atento no dia-a-dia para afastar-se de
situações que possam ser nocivas ao aparelho
auditivo.
religião
Doutor em Otorrinolaringologia
Para a saúde auricular, existe diferença
entre os modelos de fone de ouvido?
Sim. Basicamente, existem dois modelos de fones de ouvido: tipo concha (maiores
e mais externos) e de inserção (menores
e mais internos). Na utilização dos fones
de inserção, a energia sonora fica mais
concentrada no conduto auditivo externo,
portanto nessa situação, a exposição pode
ser mais prejudicial. Existem ainda fones
mais modernos, que têm a capacidade de
isolar os ruídos ambientais, para permitir
que o indivíduo escute sua música preferida
em ambientes muito barulhentos. Estes são
ainda mais prejudiciais, por concentrarem
ainda mais a energia sonora e, dessa maneira, a exposição acaba sendo maior.
revista vitória I Janeiro/2016
41
Dom Luiz Mancilha
Vilela, sscc
Arcebispo de Vitória
do Espírito Santo
O que é a Epifania do Senhor e
por que algumas pessoas chamam de dia de Reis?
Epifania significa manifestação do Senhor. Tivemos a festa
do Natal, a encarnação do Verbo e agora é a manifestação do
Senhor ao mundo. Era o dia em
que se falava da universalidade do
Evangelho. Os reis representam os
destinatários do Evangelho fora do
povo de Israel.
Do ponto de vista espiritual
o encontro com o Menino Deus
no Natal deve levar-nos a estar
“de saída”. Como ele se manifestou ao mundo, também nós
devemos ser os comunicadores
que ao experimentá-Lo o manifestam. Somos evangelizados e
evangelizadores.
A piedade popular gravou
em seu coração a figura dos Reis
Magos que visitaram e adoraram
o Filho de Deus apresentando-lhe
ouro, incenso e mirra. Este quadro
enriqueceu a expressão religiosa
do nosso povo.
ensinamentos
A Reconciliação e o
O Ano Santo da Misericórdia é momento oportuno para nos
aproximarmos do Sacramento da Penitência e da Reconciliação
– um dos Sacramentos de Cura – e recebermos a graça que Deus
nos concede pelo ministério da Igreja; pois Cristo continua agindo
por meio dos Bispos, sucessores dos Apóstolos, e dos Presbíteros
(Padres), perdoando e reconciliando a pessoa que, com espírito de
humildade e confiança, busca o perdão de Deus.
O
Catecismo afirma
que esse Sacramento pode ser chamado por diversos nomes,
dando-lhe o seu real sentido:
a) sacramento da Conversão,
pois realiza sacramentalmente
o convite de Jesus à conversão
(Cf. Mc 1,15), o caminho de volta ao Pai (Cf. Lc 15, 18), do qual
a pessoa se afastou pelo pecado;
b) sacramento da Penitência,
porque consagra o esforço pessoal e eclesial de conversão, de
arrependimento e de satisfação
do cristão pecador; c) sacramento da Confissão, visto que
a declaração dos pecados diante do sacerdote é um elemento
essencial desse sacramento; e
manifesta o reconhecimento e
revista vitória I Janeiro/2016
42
Ano da Misericórdia
o louvor da santidade de Deus
e de sua misericórdia para com
o pecador; d) sacramento do
Perdão, porque pela absolvição sacramental do sacerdote
Deus concede o “perdão e a
paz”; e) sacramento da Reconciliação, pois dá ao pecador
o amor de Deus que reconcilia com Ele e com os irmãos.
A finalidade e o efeito deste sacramento é a reconciliação e
a amizade com Deus, geradoras
de uma verdadeira ressurreição
espiritual, com a paz de consciência aos que o recebem com
o coração contrito e disposição
religiosa, revigorando também
a vida da Igreja.
O Papa Francisco, na Bula
“O Rosto da Misericórdia”, enfatiza que a Igreja deve anunciar
a Misericórdia de Deus, que se
revela como dimensão essencial
da missão de Cristo. Pela misericórdia, Deus expressa o seu
amor ao pecador, oferecendo-lhe sempre oportunidades para
que se arrependa, converta-se e
acredite. Ela é concedida pelo
Pai a todos nós como graça em
virtude da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus.
O Papa acentua que, pelo
Sacramento da Reconciliação,
Deus perdoa os nossos pecados;
mas as consequências negativas
geradas por eles continuam. En-
revista vitória I Janeiro/2016
43
tão, a misericórdia de Deus se
torna indulgência do Pai que,
por meio da Igreja, alcança e
liberta todos os pecadores perdoados de qualquer resíduo dos
efeitos do pecado.
Por isso, fala-se em viver a
indulgência no Ano Santo como
aproximação da misericórdia de
Deus, tendo a certeza absoluta
de que o seu perdão cobre a
nossa vida por inteiro, fazendo-nos experimentar a santidade
da Igreja que participa em todos
os benefícios da redenção de
Cristo.n
Vitor Nunes Rosa
Professor de Filosofia na Faesa
ecologia
Falta cuidado com a “Casa Comum”
Que em 2016 a justiça corra pelo vale do Rio Doce
P
ara chamar a atenção da sociedade a cuidar do planeta
que sofre com a ação desumana e com o modelo econômico
predominante que almeja o lucro
para as corporações e não a vida
da criação, a Campanha da Fraternidade 2016 propõe o tema “Casa
Comum, nossa responsabilidade”.
O texto-base joga luzes sobre os problemas do saneamento básico, relacionando-o com o
meio ambiente, vindo ao encontro da crise hídrica que assola
o Espírito Santo, agravada pelo
maior crime ambiental que já
aconteceu na história do Brasil.
No dia 05 de novembro, atônitos, acompanhamos as notícias do
rompimento de uma das barragens
de rejeitos de minério de ferro da
Samarco, em Mariana, Minas Gerais. As empresas responsáveis por
esse crime ambiental possuem poder
econômico e poder político capazes
de influenciar nas ações organizadas
pelo poder público e nas informações
transmitidas pelos meios de comunicação.
Preocupados com esta situação,
organizações sociais e religiosas formaram o Fórum Capixaba de Entidades de Defesa do Rio Doce para
monitorar as ações das empresas e
do poder público, e assim, ajudar
a diminuir o sofrimento que esta
tragédia criminosa causou.
Em visita ao Brasil, no último
dia 03, o Alto Comissário de Direitos
Humanos da ONU, Zeid Ra’ad Al
Hussein, preocupado com o comprometimento político das ações adotadas pelas empresas responsáveis
pelo desastre e pelo poder público,
requereu que a ONU fizesse uma
investigação completa e imparcial
da situação.
Pesquisadora, a geógrafa Ediene
Vacari produziu um relatório independente sobre os impactos ambientais ao longo da Bacia do Rio
Doce. Nele, afirma que a lama, ao
contrário do que dizem as empresas,
é altamente tóxica:
“O rompimento da barragem da
Samarco destruiu todo um ecossistema. Morreram peixes, insetos, anfírevista vitória I Janeiro/2016
44
bios, moluscos, larvas, fitoplâncton.
A probabilidade de que tenha ocorrido a extinção de espécies animais
e vegetais existentes apenas no Rio
Doce é tida como alta.”
Na foz do Rio Doce além dos
danos sociais e ambientais irrecuperáveis, a lama causou prejuízos
econômicos à população, conforme
afirma o oceanógrafo Eric Mazzei,
no relatório entregue à ONU:
“Apesar de essencialmente pesqueira, a Vila de Regência possui
a economia local movimentada
pelo turismo. Com a chegada da
lama, todas as pousadas tiveram
praticamente 100% de desistências
das reservas para a virada do ano.
Com isso, a previsão de uma das
melhores temporadas de verão de
todos os tempos para o turismo de
Regência, de acordo com a procura
prévia, acabou.”
As demais consequências que
esta tragédia criminosa causará estão sendo estudadas e serão comprovadas ou não no decorrer da história
porém, ela precisa ser compreendida
de maneira integral, tendo como
princípio o cuidado com a Casa
Comum - o nosso planeta -, que é
nossa responsabilidade, para que,
como sentencia o profeta Amós,
o direito brote como uma fonte e
a justiça corra pelo vale do Rio
Doce, e nunca mais a lama tóxica
das mineradoras transforme os vales
dos rios em vale de lágrimas. n
Padre Kelder Brandão
cultura capixaba
Artesanato com
Rendas de Bilro
E
ssa tradição trazida da
Europa nos primórdios
da colonização do Brasil se espalhou por todo o litoral, de norte a sul, e encontrou
também nas terras do Espírito
Santo o seu local de produção.
Uma arte, no mínimo centenária, a renda de bilro podia
ser encontrada já no século
XIX, conforme nos relatou o
viajante François Biard (em
1858), em algumas casas de
Vitória:“Entrei em várias dessas moradas; em quase todas,
as mulheres faziam renda de
bilro”.
Aliás, ainda hoje, na região de Guarapari, as rendeiras
produzem blusas, saias, colchas, rendas diversas, caminhos de mesa e até vestidos
de noivas, com seus piques,
bilros cavaletes de almofadas
e alfinetes.
Renato Pacheco, em seu
livro Índice do Folclore Capixaba, descreve o ofício:
“Os primeiros [piques] são
cartões perfurados, a ‘guia’
do desenho das rendas; os bil-
ros servem de pequenos fusos
onde se enrola a linha, e são
de madeira macia, com cabeça
de coquinhos de palmeiras do
lugar; as almofadas, de pano,
de formato cilíndrico, dão o
apoio para piques, alfinetes e
bilros. Alguns pontos de renda
têm nomenclatura especial:
cocadinha, margarida, ziguezague, aranha, pano aberto ou
fechado, trancinha, trocadinho...”. n
Diovani Favoreto
Historiadora
revista vitória I Janeiro/2016
45
Tiro renda e boto renda,
Faço renda na almofada,
Por causa de meu benzinho
Não faço renda nem nada...
Estou fazendo esta renda
Pra busca e ganha dinheiro,
Pra compra um par de pente
Prá botá no meu cabelo.
Esta almofada me mata,
Estes bilros me consome,
Os alfinetes me espeta,
As rendas me tira a fome...
Cantiga das
Rendeiras de Guarapari, 1952
ACONTECE
Abertura da
Porta Santa na Catedral
Atendendo ao chamado do Papa Francisco para vivenciar
o Ano da Misericórdia, a Arquidiocese realizou a abertura
da primeira porta santa, na Catedral de Vitória, no dia 13 de
dezembro. Após a procissão que saiu da Igreja São Gonçalo,
o arcebispo Dom Luiz Mancilha Vilela celebrou a missa na
Catedral e afirmou que “quem faz a experiência do encontro
com Jesus Misericordioso aprende a ‘estar de saída’ em vista
do próximo, ‘Igreja em saída’ como diz o Papa Francisco”.
O arcebispo explicou as condições necessárias para receber
as indulgências no Ano Santo da Misericórdia: deve-se rezar
um Pai Nosso, uma Ave Maria e o Credo, buscar a confissão
sacramental individual, rezar pelo Papa e as suas intenções e
passar pela Porta Santa.
Novos diáconos para a Arquidiocese
No dia 19 de dezembro, os seminaristas Abel
Andrade, Alessandro Chagas e Jones Teixeira
foram ordenados diáconos. Eles irão desenvolver
as atividades pastorais em três paróquias da Arquidiocese - Santa Mãe de Deus em Vila Velha,
Nossa Senhora da Vitória e São Francisco, em
Laranjeiras, em preparação à ordenação sacerdotal
para servir à Igreja.
revista vitória I Janeiro/2016
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