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JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2008 v. 1, n. 2 , p. 121-134.
Eletrocardiograma na monitoração anestésico-cirúrgica de cães
Eletrocardiograma en la monitoración anestesico-quirurgica de
perros
Eletrocardiogram in anesthesic-surgery monitoring of dogs
Felipe da Silveira Ferreira1, Daniela Fantini Vale1, Renato Moran
Ramos1 e Claudio Baptista de Carvalho2
Resumo
Nas últimas décadas, o eletrocardiograma (ECG) vem sendo utilizado
crescentemente como um exame complementar de diagnóstico e tem sido
muito utilizado na cardiologia veterinária e humana, não apenas para
diagnóstico de arritmias, mas também na avaliação pré, trans e pósoperatória de pacientes. É essencial na avaliação completa de um caso,
ainda que as informações clínicas fornecidas se limitem à função elétrica
do coração. Utilizado como guia para a conduta do anestesista, o ECG
fornece informações rápidas e seguras sobre alterações como as arritmias,
isquemias e distúrbios eletrolíticos que podem afetar a função cardíaca.
Palavras-chave: eletrocardiografia, monitoramento anestésico-cirúrgico,
cães.
Abstract
Over the last years, eletrocardiogram has been increasingly used such as
examination in veterinary diagnosis. It has become the most examination in
both human and veterinary cardiology, not only for the diagnosis of
arrhythmia but also for the pre, trans and pos operative evaluation of
patients. The eletrocardiography is essential in total evaluation of a case,
even though the given clinical informations are limited by eletric function of
the heart. This cardiac monitoring must be used as a guide for the
anesthesiologist and offers rapid and safe information about the alterations
that may appear during the surgical procedure, such as arrhythmias,
ischemia and electrolytic disturbances that can affect cardiac function.
Keywords:
eletrocardiography,
anesthesic-surgery
monitoring,
dogs.
1
Mestrando (a) do Curso de Pós-graduação em Ciência Animal da Universidade Estadual do Norte Fluminense
Darcy Ribeiro (UENF) – Bolsista UENF. E-mail: [email protected]
2
Professor-titular de Clínica Médica de Pequenos Animais da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy
Ribeiro (UENF).
121
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2008 v. 1, n. 2 , p. 121-134.
eletrocardiografia obteve um grande
Introdução
desenvolvimento. No ano de 1962
Em 1856, Kolliker e Müller
demonstraram
que
o
músculo
surgiu
o
primeiro
livro
de
cardiologia, escrito por Ettinger e
cardíaco apresentava a capacidade
Sutter,
de gerar corrente elétrica. Em 1887,
inteiramente dedicado ao assunto.
Augustus
Waaler
realizou
Finalmente em 1975 foi lançado um
primeiras
medidas
de
as
corrente
associadas com a atividade elétrica
cardíaca
a
partir
da
superfície
com
livro,
um
escrito
capítulo
por
Bolton,
especializado
em
5
eletrocardiografia .
1,2
corpórea, em Londres, Inglaterra .
Entretanto
medidas
precisas
da
cardíaca
quantitativas
atividade
começaram
elétrica
das principais preocupações por
ser
parte daqueles que lidam com a
realizadas apenas em 1902, com o
cardiologia humana era a redução
galvanômetro de Einthoven. A partir
do interesse pela eletrocardiografia,
de
particularmente
então,
Waller
e
a
No início do século XXI, uma
Einthoven
registraram os primeiros traçados
entre
os
jovens
6
cientistas .
eletrocardiográficos em cães3.
Segundo diversos autores, a
O
primeiro
de
situação se inverteu em Medicina
interesse em clínica de pequenos
Veterinária: o ECG vem sendo
animais só foi publicado em 1922
utilizado crescentemente como um
por Norr, na Alemanha. Em 1949,
exame
Lannek
diagnóstico. Nos últimos 20 anos
efetivou
trabalho
um
estudo
tem
complementar
sido
sistemático dos registros em cães
este
saudáveis e doentes, introduzindo
utilizado,
um sistema de derivações pré-
diagnóstico
cordiais3,4,5.
também na avaliação pré-operatória
não
de
o
exame
de
mais
apenas
para
arritmias,
mas
de pacientes5,7,8.
Com o estabelecimento da
cardiologia como uma verdadeira
Embora a eletrocardiografia
disciplina praticamente autônoma,
não
foi
mecanismos
nos
anos
60
que
a
elucide
completamente
responsáveis
os
pela
122
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2008 v. 1, n. 2 , p. 121-134.
correta despolarização elétrica do
constituir-se em um método pouco
coração,
oneroso, não-invasivo e de fácil
ou
os
eventos
que
precedem ou sucedem tal atividade,
realização.
fato
da
eletrocardiográfico é o principal e
eletrofisiologia cardíaca, o ECG
único exame no diagnóstico de
atualmente
de
arritmias cardíacas, não havendo,
mensuração básico e rotineiro da
até o momento, nenhum outro
atividade
recurso
elucidado
por
é
o
meio
método
elétrica
realizado
cardíaca,
freqüentemente
períodos
pré,
trans
nos
e
sentido
O
que
o
exame
supere
nesse
3,10,13,14,15
.
pós-
9
anestésicos .
Pode,
ainda,
sugerir
informações a respeito de dilatação
e hipertrofia das câmaras cardíacas,
A Eletrocardiografia
sendo importante para o diagnóstico
A
eletrocardiografia
registro
de
campos
é
o
das
disfunções
cardíacas
elétricos
secundárias a distúrbios sistêmicos,
gerados pelo coração a partir da
devendo ser sempre interpretado
superfície corpórea. Esta atividade
em conjunto com acurado exame
elétrica é registrada sob forma de
clínico
ondas específicas que representam
cardiovascular3,10,13,14,15. Entretanto,
estágios
de
repolarização
do
despolarização
e
em
miocárdio9.
O
câmaras, o eletrocardiograma pode
do
eletrocardiógrafo
é
o
aparelho
não
relação
ao
sistema
apresentar
aumento
alterações
de
ou
(voltímetro) que capta o potencial
apresentá-las de forma leve, caso
elétrico
células
as hipertrofias sejam de grau leve
musculares cardíacas durante a
ou moderado. Dessa forma, um
despolarização atrial e ventricular e
traçado eletrocardiográfico normal
a repolarização projetada ao longo
não exclui a presença de hipertrofia.
do tempo2,3,4,11,12.
De maneira inversa, a presença de
gerado
pelas
sinais
O
ECG
é
um
teste
diagnóstico valioso em Medicina
Veterinária
relativamente
e
de
fácil,
obtenção
além
de
eletrocardiográficos
de
hipertrofia tem uma possibilidade de
comprovação
anatomopatológica
11
inferior a 90% . A avaliação dos
complexos para a determinação do
123
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tamanho do coração é limitada,
insatisfatórios quando se dispensa o
visto que a gênese do ECG é
uso do gel ou álcool3. Os eletrodos
diferente
no
não devem estar em contato com
homem . Por isso, informações
pessoas ou materiais condutivos e
relativas
e
nem mesmo entre si. Além disso, o
melhor
animal deve ser colocado em uma
vetocardiografia
superfície isolante, permanecer o
(estudo do eixo cardíaco)17. Sendo
mais quieto possível e seu o pêlo
assim, é importante salientar que
apresentar-se seco.
da
que
ocorre
16
ao
ventricular
obtidas
aumento
podem
pela
atrial
ser
outros métodos de diagnóstico por
imagem,
como
exames
Para pequenos animais, as
radiográficos e/ou ecocardiográficos
posições de registro-padrão são
são mais eficientes para avaliar o
feitas em decúbito lateral direito
aumento do tamanho cardíaco3,11.
utilizando-se
as
derivações
bipolares e unipolares. Deve-se
Dessa forma, percebe-se que
observar a calibração-padrão de 10
a eletrocardiografia é essencial na
mm/mV, com velocidades de papel
avaliação completa de um caso,
de 25 e 50 mm/s2,18,19. Outras
ainda que as informações clínicas
formas
fornecidas pelo ECG se limitem à
universalmente aceitas, contudo é
função elétrica do coração18.
fundamental conhecê-las para que
não
se
de
calibração
cometa
equívocos
são
no
A qualidade do ECG deve ser
momento de avaliar a freqüência
a melhor possível, procurando-se
cardíaca e a duração das ondas e
obter a cooperação do animal. Os
dos intervalos20.
eletrodos
devem
cuidadosamente,
obrigatoriamente
ser
colocados
utilizando-se
álcool
ou
gel
Em verdade, não existe um
consenso sobre a velocidade em
condutor para haver contato com a
que
pele,
traçados
caso
contrário
as
devem
ser
realizados
eletrocardioráficos
os
em
interferências presentes no traçado
cães e gatos. A escola americana
tornarão extremamente difícil sua
emprega apenas a velocidade de
interpretação. Em animais, em face
50mm/s, como pode ser observado
do pelame, os traçados são sempre
em sua produção bibliográfica. Já
124
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na Europa, é normal o emprego da
cardíaca e no sistema de condução
velocidade
elétrica
de
25mm/s,
provavelmente pela influência da
20
Medicina Humana .
do
miocárdio,
desencadeando arritmias. Ademais,
a
hipóxia
resultante
procedimento
Eletrocardiograma
na
decorrente
de
cirúrgico
cães
acometidos
são
com
animais
freqüência
enfermidades
anestésico,
hemorragia
e/ou
perda de fluido durante o ato
monitoração cirúrgica
Os
do
no
por
também
desencadeadora
relevantes
de
no
pode
ser
alterações
ECG.
As
sistema
anormalidades detectadas devem
cardiovascular, assim como podem
ser definidas mais detidamente para
não apresentar nenhum tipo de
que
cardiopatia
de
significado por meio de outros
serem submetidos às intervenções
exames complementares, quando
operatórias.
necessário21.
até
o
momento
Desta
avaliação
forma,
pré-operatória
compreender
determinado
seu
deve
o
sistema
afecção
primária
eletrocardiográfico prévio beneficia
quanto a saúde do paciente de
a todos os pacientes submetidos a
maneira geral, mesmo que não haja
uma anestesia geral, já que pode
história
detectar de modo sensível, rápido e
afetado
tanto
a
seja
pela
clínica
evidente
de
É
fato
que
um
exame
cardiopatia21. Um eletrocardiograma
econômico
deve ser realizado previamente a
poderiam colocar sua vida em risco
todo
anestesia,
sua vida uma vez anestesiado. É
incluindo a sedação, assim como
importante destacar, porém, que um
durante
traçado
protocolo
todo
de
o
procedimento
algumas
lesões
eletrocardiográfico
que
sem
anestésico e sua recuperação20
alterações
uma
tais
necessariamente, em uma função
fármacos
cardíaca normal ou em equilíbrio
como
a
hemodinâmico adequado. De forma
pode
idêntica, não se deve supor que um
desencadear alterações no sistema
animal com o eletrocardiograma
de
normal
vez
que,
procedimentos,
anestésicos
interação
–
entre
durante
os
assim
eles
–
despolarização/repolarização
prévio
não
ao
implica,
procedimento
125
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2008 v. 1, n. 2 , p. 121-134.
anestésico
permaneça
necessariamente
desta
forma
este tipo de exploração podem ser
descobertas
algumas
anomalias
durante a cirurgia. O traçado normal
que permitirão decidir pelo protocolo
do
a
anestésico mais indicado, assim
anestesia também não garante que
retardar ou descartar anestesias em
a
a
alguns casos. Na verdade, trata-se
oxigenação estejam adequadas ou
de se prevenir complicações ao
que assim permaneçam durante o
invés
eletrocardiograma
função
durante
cardiovascular
ou
restante do procedimento. Mediante
As
arritmias
incluem
cardíacas
anormalidades
de
enfrentá-las
quando
20
aparecerem .
bloqueios
atrioventriculares
de
na
primeiro e segundo grau (BAV)
freqüência, no ritmo e no local de
(Figura 3) e marcapasso migratório
origem do impulso cardíaco, assim
sinusal. São consideradas de menor
como na despolarização atrial ou
incidência em cães as arritmias
ventricular, e podem ser atribuídas
classificadas como “sinus arrest” e
às desordens na geração e/ou
fibrilação ventricular2.
condução do impulso elétrico22. A
depressão na condução de resposta
A maioria dos trabalhos em
rápida e reentrada de impulsos
humanos
excitatórios são fenômenos elétricos
anormalidades
anormais que resultam em estado
eletrocardiograma
patológico. Estas alterações são
distúrbios do sistema autônomo,
comumente originadas de hipóxia,
secundários
isquemia, desequilíbrio eletrolítico e
neurológicas,
de
excesso local de catecolaminas,
administração
de
certos
fármacos anestésicos23.
associada
sugere
que
do
resultem
às
à
estas
de
alterações
promovendo
produção
um
adrenal
aumentada, e uma ativação dos
Em
cães,
as
arritmias
canais de cálcio, levando a aumento
descritas como de maior incidência
do
são
ventriculares
intramitocondrial, além de liberação
(Figura
de radicais livres, culminando em
os
complexos
prematuros
(CVP)
complexos
atriais
1),
prematuros
(Figura 2), fibrilação Atrial (FA),
cálcio
alterações
no
citosólico
e
eletrocardiograma.
Apesar da etiologia das alterações
126
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cardíacas
ser
motivo
especulação
de
científica,
evidências
de
que
miocárdica
seja
há
a
com
uma
condição
25
clínica existente .
lesão
mediada
catecolaminas
compatíveis
ocorrendo,
por
A
em
recomendada
alguns casos, disfunção importante
pacientes
do ventrículo esquerdo e liberação
geriátricos,
de enzimas cardíacas, como a
incidência
24
troponina-I .
eletrocardiografia
para
é
todos
os
traumatizados
devido
à
e
elevada
de
disritmias
e
insuficiências
assintomáticas
valvulares observadas neste grupo.
O
principal
objetivo
da
Pode-se
de
um
complicações trans-operatórias em
redução
da
pacientes
avaliação
pré-operatória
paciente
é
a
esperar
aumento
com
nas
insuficiência
morbimortalidade associada ao ato
cardíaca
anestésico-cirúrgico, devendo ser
miocardiopatia,
bloqueio
obtidos
atrioventricular
completo,
todos
os
dados
congestiva,
relacionados ao histórico clínico do
contrações prematuras (atriais ou
paciente e, a partir daí, determinar
ventriculares)
quais exames complementares são
alterações hemodinâmicas, edema
necessários25.
pulmonar, intolerância ao exercício,
Nesse
ínterim,
o
dispnéia
respeito do estado funcional do
secundária à cardiopatia. Para que
miocárdio,
da
o risco seja minimizado, estas
do
condições
oxigenação
perfusão
e
coronariana
paciente, sendo indicado em um
síncope
devem
ser
ou
a
ECG pré-operatório pode informar a
da
e
associadas
tosse
tratadas
clinicamente antes da cirurgia7,21.
grande número de casos. A análise
correta do ECG é vital para que
sejam
evitadas
Além disso, o ECG é importante
suspensões
para a definição da medicação pré-
desnecessárias de procedimentos
anestésica apropriada e/ou do anestésico
anestésico-cirúrgicos
e,
a ser utilizado nesses casos. A
o
eletrocardiografia
principalmente,
para
que
está
entre
os
anestesista possa solicitar outros
métodos mais comuns e de maior
exames complementares, a fim de
valia na monitoração da condição
elucidar
do
alterações
do
ECG
coração
do
paciente
no
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JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2008 v. 1, n. 2 , p. 121-134.
transcurso da anestesia. O seu uso
ideal
determina o acompanhamento mais
observada, o que a torna sempre
próximo da condução elétrica do
um risco eminente.
coração
e
permite
ainda
não
foi
totalmente
visualizar
possíveis alterações que aumentem
A monitorização eletrocardiográfica
o fator de risco da anestesia. Assim,
durante
com o uso do ECG, se estabelece
informações
uma base para comparação antes,
sobre as alterações passíveis de
durante e depois da cirurgia, de
ocorrer
modo que mudanças possam ser
cirúrgico, como arritmias, isquemias
7,12,21,26
prontamente
Todos
detectadas
cirurgias
rápidas
durante
o
fornece
e
seguras
procedimento
.
e distúrbios eletrolíticos que podem
pacientes
cirúrgicos
afetar a função cardíaca7. Durante
de
grau
as
os
necessitam
as
certo
de
emergências
anestésicas
o
monitoração durante seu tratamento
eletrocardiograma
para que sejam detectadas as
identificar de forma específica as
complicações
arritmias, devendo ser considerado
anestesia,
à
associadas
à
emergência
da
anestesia
e
ao
cirúrgico,
mesmo
submetidos
como
parte
permite
imprescindível
do
procedimento
equipamento de monitorização em
em
urgências e cuidados intensivos20.
aos
animais
agentes
anestésicos inalatórios21.
Muitos
estímulos
nocivos
decorrentes da cirurgia podem não
Desde
os
anestesiologia,
primórdios
tem-se
da
tentado
ser
evitados
Tentativas
pela
de
anestesia.
bloquear
essas
associar diversos fármacos para se
respostas por meio do aumento da
obter
concentração
anestesia
procedimento
adequada
cirúrgico
ao
proposto,
dos
agentes
inalatórios induzirão a uma severa
aliada à segurança e à praticidade
depressão
no seu emprego. Com o advento de
respiratória, mesmo em pacientes
novas técnicas e com a introdução
jovens e sadios. Na presença de
de drogas dotadas de diferentes
doenças sistêmicas severas, até
características, o profissional dispõe
baixos
27
cardiovascular
níveis
desses
e
agentes
de uma ampla gama de opções ,
inalatórios são depressivos e a
porém a condição de anestesia
anestesia
é
associada
com
128
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2008 v. 1, n. 2 , p. 121-134.
aumento
da
morbidade
28
mortalidade .
normais
e
da
Mesmo pacientes
apresentados
realização
para
de
durante
os
períodos
não
28
estimulatórios .
a
pequenos
A
monitoração
procedimentos eletivos, devem ter
importantes
suas funções vitais monitoradas
permite a percepção do estado
durante a anestesia e recuperação.
homeostático do paciente,
Isto porque complicações como as
respostas às alterações adversas e
arritmias são freqüentes durante o
a
ato
compensatórias. Dentre as variáveis
anestésico-cirúrgico.
pacientes
com
preexistentes
cuidados
anormalidades
necessitam
diligentes
superposição
adicionais
Os
devido
das
de
à
tensões
representadas
pela
21,29,30
anestesia e cirurgia
.
prevenção
estímulos
de
fisiológicas
fisiológicas
suas
insuficiências
mensuradas
registradas
pelo
ECG
e
durante
procedimentos cirúrgicos está a
freqüência cardíaca,
uma
das
mais
considerada
relevantes21.
A
bradicardia é causada pela estimulação
vagal
Os
funções
de
durante
a
cirurgia,
planos
nocivos
profundos de anestesia e hipotermia. Já
induzidos pela cirurgia variam em
a freqüência cardíaca persistentemente
quantidade e caráter e continuam
elevada
durante o período operatório e por
associada à morte do paciente. Outros
tempo variável após a cirurgia. Em
parâmetros
geral,
podem ser sugeridos através do
os
agentes
anestésicos
acima
do
que
está
eventualmente
suprimem a percepção sensorial ao
ECG
estímulo nocivo, mas podem não
principalmente o potássio sérico.
suprimir outros reflexos somáticos e
Sabe-se
autônomos induzidos pela cirurgia.
clinicamente importantes podem ser
A
detectadas
crescente
simpatoadrenal
atividade
no
são
normal
os
que
e
eletrólitos,
as
alterações
monitoradas10,
sistema
entretanto, se o potássio estiver
cardiovascular é capaz de promover
extremamente elevado, acima de 7
instabilidade
Os
mEq/L, as alterações podem não
efeitos mais óbvios são taquicardia
aparecer no ECG3. A hipercalemia
e hipertensão durante estímulo, e
prejudica a condução no trajeto
hipotensão
desde o nodo sinoatrial até o nodo
hemodinâmica.
e
talvez
bradicardia
129
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átrio ventricular10, podendo causar
3
normais, funcionais ou patológicas,
arritmias . Porém, deve-se ressaltar
de forma que possa identificar
que o ECG não é conclusivo, mas
prontamente
indicativo, para tais alterações.
alterações no pré, trans e pós-
o
surgimento
de
operatório.
Considerações finais
Por fim, deve-se destacar
A
eletrocardiografia
é
o
que
o
eletrocardiógrafo
é
um
método de mensuração básica da
equipamento de manejo fácil, de
condição
mecanismos
custo acessível. Quando utilizado
correta
para acompanhamento anestésico
despolarização elétrica do coração,
deve-se sempre procurar obter o
realizada
nos
maior número de informações sobre
pós-
o paciente pois, na maioria das
dos
responsáveis
períodos
pela
rotineiramente
pré,
trans
e
anestésicos. As alterações no ECG
vezes,
o
pré-operatório podem acarretar o
realizado
isoladamente
cancelamento
ferramenta
do
procedimento
eletrocardiograma
pouco
é
precoce
uma
na
cirúrgico. Este exame deve ser
detecção de problemas anestésico
utilizado como guia para a conduta
em pequenos animais.
do
anestesista
quanto
à
monitorização pré, trans e póscirúrgica e quanto às medidas a
serem
tomadas
em
casos
de
emergências anestésico-cirúrgicas.
É
importante
anestesista
esteja
reconhecer
as
que
o
apto
a
principais
características do traçado do ECG
130
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2008 v. 1, n. 2 , p. 121-134.
Figura 1: Complexos ventriculares prematuros em salva em cão SRD,
10 anos. Fonte: Arquivo pessoal, 2008.
Figura 2: Complexo atrial prematuro em cadela Pitbull, 5 anos, sob
anestesia inalatória com isoflurano. Fonte: Arquivo pessoal, 2008.
Figura 3: Bloqueio atrioventricular de segundo grau Mobtiz tipo II em
cadela Pitbull, 5 anos, sob anestesia inalatória com isoflurano. Fonte:
Arquivo pessoal, 2008.
131
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Recebido em: Junho / 2008
Aceito em: Julho / 2008
Publicado em: Julho-Dezembro / 2008
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