Abrir - 15º CBGE

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15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental
Monitoramento da cobertura do solo na região da Serra da Canastra-MG
(1964, 1989 e 2009)
Camila Natália Ramos de Almeida¹, Osni José Pejon², Eduardo Goulart Collares³
Resumo. Este trabalho objetivou realizar o monitoramento da cobertura do solo na região da
Serra da Canastra (MG) em três períodos (1964, 1989 e 2009), por meio de diferentes técnicas de
classificação digital e analógica de produtos de sensoriamento remoto. O mapa de 1964 foi obtido
a partir da digitalização de fotografias aéreas analógicas, enquanto que o mapa de cobertura do
solo de 1989 foi elaborado por meio de classificação híbrida de ortofotocartas: segmentação e
classificação baseada em regras para levantamento da classe mata e digitalização das demais
classes (campo, mata, campo arbustivo, culturas temporárias e permanentes, silvicultura,
pastagens e áreas degradadas) delimitadas por fotoleitura ou fotointerpretação. Em ambos os
mapeamentos foram utilizadas técnicas de fotointerpretação nas regiões em que apenas a
fotoanálise não permitia a identificação do alvo. Para o ano de 2009, período mais recente
analisado, foi necessário realizar apenas adequações ao mapa já existente para a escala adotada
neste estudo, 1:50.000. O mapeamento da cobertura do solo nestes períodos mostrou que
ocorreu uma melhora na preservação da área com o decorrer do tempo, principalmente sobre as
formações florestais, possivelmente devido à instituição da área como Parque Nacional e ao maior
rigor da fiscalização das leis ambientais, entretanto, houve um pequeno aumento na percentagem
de pastagem e cultura temporária sobre áreas de campo.
Abstract: The goal of this work is to monitor the land cover in the region of Serra da Canastra,
State of Minas Gerais (Brazil), in three periods (1964, 1989 and 2009), by using different
techniques of digital and analog classification of remote sense products. The land cover map of
1964 was developed from digitized analog aerial photographers. On the other hand, the land cover
map of 1989 was developed from hybrid classification of orthophotographs. The hybrid
classification consists in segmentation and classification based on rules of collected dada of the
forest class, and digitization of the other classes (grassland, forest, shrub grassland, temporary
and permanent crops, silviculture, pastures and degraded areas) delimited by photoreading or
photointerpretation. For the both maps, techniques of photointerpretation were used in regions
where only the photoanalysis was not able to identify the target. The map of the most recent period
(2009) was developed from adaptations in the previous map, on the same scale used in this work
(1:50.000). The land cover maps of the different periods showed an improvement in the
preservation of the area over the years, especially in the forests, probably because the park area
was declared as a National Park. However, there was a small increase on the percentage of
pastures and temporary cultures regarding the grasslands.
Palavras-chave: Fotografias aéreas, ortofotocartas, imagens de satélite, cobertura do solo,
classificação.
________________________
1 Eng. Amb., MSc., Universidade de São Paulo – EESC/USP, São Carlos-SP, (11) 3506-1909, [email protected]
2 Geol, Dr., Universidade de São Paulo – EESC/USP, São Carlos-SP, (16) 3373 9501/ 9509, [email protected]
3 Geol, Dr., Universidade do Estado de Minas Gerais – Campus Passos, Passos – MG, (35)3529.8095 /8033,
[email protected]
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1. INTRODUÇÃO
Os diferentes processos antrópicos e naturais associados ao fenômeno da dinâmica de
mudança na cobertura do solo alteram a paisagem local e podem ter reflexos globais, sendo que
em sua maioria, afetam negativamente os ecossistemas e a biodiversidade (Suarez e Soares
Filho, 2013). Estas consequências são ainda mais evidenciadas em áreas de unidades de
conservação, que em teoria deveriam apresentar usos em harmonia com as potencialidades e
restrições do meio físico e com a finalidade da sua criação.
A detecção precisa das mudanças sobre a cobertura do solo é extremamente importante
para o entendimento das relações e interações entre os fenômenos naturais e humanos na ordem
de promover um melhor entendimento na tomada de decisões e na gestão ambiental (LU et al.,
2004).
O monitoramento das mudanças da cobertura do solo utilizando produtos de
sensoriamento remoto de diferentes períodos fornece uma avaliação efetiva do impacto das
atividades antrópicas sobre o meio ambiente (BAKR, 2010). Diante desta possibilidade, diversos
trabalhos vêm sendo desenvolvidos com o objetivo de monitorar a cobertura do solo por meio de
variadas técnicas e fazendo uso de diferentes produtos de sensoriamento remoto (GAO, et al.
2006; BRANNSTROM et al., 2008; BRINK e EVA, 2009; BAKR et al., 2010; KUBOTA, 2012).
Entre os produtos utilizados para o mapeamento de cobertura do solo, as imagens de
satélites são sem dúvida as mais empregadas. A grande disponibilidade de imagens de satélite
associada aos inúmeros métodos automáticos de classificação tem possibilitado uma maior
agilidade aos estudos de monitoramento da cobertura do solo, resultando em uma grande
economia de tempo. Entretanto, quando se deseja realizar uma análise temporal mais longa, as
imagens de satélite não se mostram como um produto opcional, uma vez que começaram a ser
produzidas poucas décadas atrás. Neste caso, para a realização de análises temporais mais
longas, faz-se necessário o uso de fotografias aéreas e de seus produtos derivados, como por
exemplo, ortofotocartas. Assim sendo, o estudo apresentado neste trabalho objetiva realizar o
monitoramento da cobertura do solo na região da Serra da Canastra em Minas Gerais em três
períodos (1964, 1989 e 2009) por meio de diferentes técnicas de classificação digital e analógica
de distintos produtos de sensoriamento remoto.
A região da Serra da Canastra em Minas Gerais vem se tornado um importante polo turístico
do estado, principalmente após a instituição do Parque Nacional Serra da Canastra em 1972. O
monitoramento da cobertura do solo desde antes de 1972 possibilitará aos gestores avaliar a
efetividade das políticas ambientais que foram implantadas juntamente com a instituição da região
como Parque Nacional e também subsidiar a construção de novas políticas públicas adequadas
ao seu ordenamento territorial sustentável.
2. LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
O Parque Nacional Serra da Canastra (PNSC) está localizado no sudeste do estado de
Minas Gerais (Figura 1). O parque abrange uma área total de 197.787ha, entretanto a área com
situação fundiária regularizada compreende apenas 71.525ha, os outros 126.262ha compreendem
a área não regularizada.
A área de estudo envolve parte da área não regularizada do PNSC, abrangendo
parcialmente os municípios de Delfinópolis, São Roque de Minas e São João Batista do Glória,
totalizando uma área de 94.354 ha.
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Figura 1 - Mapa de localização da área de estudo.
O PNSC está inserido no domínio fitogeográfico do cerrado com predomínio das formações
vegetais do tipo campo limpo, sujo e rupestre, além de formações florestais do tipo floresta
estacional semidecidual montana (SCOLFORO et. al, 2014). O desenvolvimento das formações
florestais está diretamente associado à disponibilidade de água, espessura e textura dos solos.
Desta forma, as formações florestais são mais comuns ao longo de canais de drenagem e
vertentes, havendo alguns poucos fragmentos com dimensões maiores em áreas isoladas.
Segundo IBAMA (2005), o limite entre as formações florestais e o campo ocorre de forma brusca,
não havendo na maioria destas áreas um ambiente de transição (regiões ecótones).
Ainda segundo IBAMA (2005), a vegetação da área é característica de clima tropical sazonal
de inverno seco. A temperatura média anual fica em torno de 22-23º C e a precipitação média
anual entre 1.200 e 1.800 mm, concentrando-se nos meses de primavera e verão (outubro a
março).
O relevo da região apresenta variadas formas, desde amplos vales a áreas bastante
escarpadas. A geologia é representada, em sua maioria, pela ocorrência de rochas como os
quartzitos e xistos inseridas predominantemente em revelo mais acidentado e quase sempre
aflorantes. A vegetação encontra-se bastante condicionada ao relevo. As culturas são
desenvolvidas basicamente na região de relevo plano a suavemente ondulado, principalmente nas
regiões da Guarita, Babilônia e Canteiros e as pastagens plantadas no Vale da Bateia e Cândidos,
onde o perfil do solo se mostra mais bem estruturado. As extensas formações de campo rupestre
encontram-se inseridas predominantemente sobre altas declividades e substrato rochoso aflorante
ou solo raso, enquanto que as formações de campo limpo estão localizadas em terrenos mais
ondulados com declividade média.
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2. MATERIAL E MÉTODO
Para a realização da análise da evolução temporal da cobertura do solo na área de estudo,
foram considerados três diferentes períodos, 1964, 1989 e 2009, para os quais havia produtos de
sensoriamento remoto disponíveis (imagens de satélite, fotografias aéreas e ortofotocartas). Para
o ano de 2009, período mais recente analisado, foi necessário realizar apenas adequações ao
mapa de cobertura do solo produzido por Dias (2013) na escala 1:100.000 para a escala adotada
neste estudo (1:50.000). A sequência das etapas seguidas e a descrição detalhada procedimentos
adotados para a elaboração dos mapas de cobertura do solo de 1964, 1989 e 2009 pode ser
observada na Figura 2 e nos itens a seguir.
Mapa de cobertura
do solo 1964
Mapa de cobertura
do solo 1989
Fotografias aéreas
georreferenciadas
Ortofotocartas georreferenciadas
e fotografias aéreas
Fotointerpretação e
delimitação manual
(ArcGis 10.1)
Classificação
baseada em
regras
Correção por
delimitação manual
Campo, campo arbustivo,
culturas, pastagem, solo
exposto, mineração e
erosão
Mata
Segmentação
Mapa de cobertura
do solo 2009
Pós
classificação
(Envi EX)
(ArcGis 10.1)
Fotointerpretação e
delimitação manual
(ArcGis 10.1)
(Envi 4.7)
Sobreposição das
classes
(Envi 4.7)
Quantificação das classes dos mapas de cobertura do solo
(ArcGis 10.1)
Figura 2 - Fluxograma das etapas adotada para o monitoramento da cobertura do solo na região da Serra
da Canastra.
2.1 Fontes dos dados e pré-processamento
Para a elaboração do mapa de cobertura do solo do ano de 1964 foram utilizadas 36
fotografias aéreas verticais pancromáticas, na escala 1:60.000, disponibilizadas pelo Serviço
Geológico do Brasil (CPRM/SGB). Já para a elaboração do mapa referente ao ano de 1989, foram
utilizados dois conjuntos de dados: 63 ortofotocartas digitais pancromáticas na escala 1:10.000,
adquiridas da Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG), e 171 fotografias aéreas verticais
pancromáticas na escala 1:30.000, disponibilizadas pela mesma empresa. Para a adequação de
escala do mapa de cobertura do solo mais atual da área (2009), foram utilizadas as mesmas
imagens de satélite que orientaram o trabalho de Dias (2013), que consistem em imagens do
satélite Alos com resolução espacial de 2,5 x 2,5m datadas de 2009.
Inicialmente as fotografias aéreas de 1964 foram transformadas para o formato digital por
meio de escanerização. Em seguida, foram georreferenciadas no software Envi 4.7, utilizando-se
como pontos de controle cruzamentos de estradas e confluências de rios obtidos nas cartas
topográficas do IBGE, previamente georreferenciadas. O mesmo procedimento de
georreferenciamento foi realizado para as ortofotocartas, no entanto foram adotados como pontos
de controle a própria grade de coordenadas contida nas ortofotocartas.
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2.2 Classificação
Anteriormente ao início da classificação, foram definidas as classes a serem mapeadas.
Buscou-se mapear as mesmas classes adotadas por Dias (2013), são elas: campo, mata, campo
arbustivo, culturas temporárias e permanentes, silvicultura, pastagens e áreas degradadas
envolvendo mineração, solo exposto e erosão. Apesar do conhecimento de que a vegetação na
região apresenta diferentes classificações de campo (limpo, sujo e rupestre), optou-se pela
unificação em uma mesma classe devido à extensão da área de estudo e a dificuldade em se
diferenciar os subtipos em um número elevado de fotografias aéreas e ortofotocartas com
resoluções distintas.
A adequação da escala do mapa de uso do solo de 2009 foi realizada por meio de
fotoanálise e digitalização manual das classes classificadas para a escala deste trabalho,
1:50.000.
Os métodos de elaboração dos mapas de uso e ocupação do solo para 1964 e 1989 não
foram iguais, visto que os produtos fotográficos utilizados possuíam qualidades bem distintas. As
fotografias aéreas apresentavam reflexos de sol, hot spot e efeitos de vitela que comprometiam as
informações contidas, inviabilizando a aplicação de classificadores automáticos de imagens. Por
outro lado, as ortofotocartas constituem um produto mais uniforme, porém ainda com algumas
irregularidades de contrastes decorrente da mosaicagem de fotografias aéreas de contrastes
diferentes durante a sua elaboração.
2.2.1 Mapa de cobertura do solo (1964)
Para a obtenção do mapa de cobertura do solo deste período optou-se pela delimitação das
classes por fotointerpretação, seguida de sua digitalização. Este procedimento foi adotado devido
aos problemas com a qualidade das fotografias aéreas citados anteriormente, que impediram a
obtenção de uma classificação automática de qualidade. Apesar de atualmente, existirem
recursos disponíveis para minimizar esses problemas, eles demandariam muito tempo e
programas específicos não disponíveis.
As classes foram então digitalizadas utilizando o software ArcGIS 10.1. Nas regiões onde
apenas a fotoanálise não permitia a identificação do alvo, foi realizada a fotointerpretação dos
pares estereoscópios que compunham a área com o auxílio de estereoscópio de espelho.
2.2.2 Mapa de cobertura do solo (1989)
Inicialmente avaliou-se a possibilidade de classificação automática das ortofotocartas, que
consistiam em um produto de melhor qualidade que as fotografias aéreas de 1964. Entretanto, os
problemas de contrate citados anteriormente dificultaram a identificação automática de todas as
diferentes classes de cobertura do solo. Por outro lado, a técnica de segmentação, seguida da
classificação baseada em regras presente no software Envi EX, apresentou bons resultados para
a classificação das áreas identificadas como mata. Assim sendo, optou-se pela classificação
automática apenas das áreas de mata, uma vez que as demais classes se localizavam em regiões
específicas da área de estudo e também ocupavam pequenas porções, tornando o processo de
digitalização das informações analógicas mais vantajoso.
A segmentação automática das ortofotocartas, que é o processo de divisão em segmentos
pelo agrupamento de pixels vizinhos com características estatisticamente similares, ocorreu de
forma descontínua, ou seja, não se segmentou todo o mosaico de ortofotocartas no mesmo
momento e sim porções de cada ortofotocarta, devido à extensão da área de estudo e às
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irregularidades de contrastes decorrente da mosaicagem de fotografias aéreas diferentes durante
a elaboração da ortofotocarta. Além disso, a segmentação de todo o mosaico no mesmo momento
demandaria um elevado tempo de processamento e dificultaria a inspeção da qualidade dos
parâmetros adotados na segmentação.
Durante este processo foram testados diferentes valores para os parâmetros Scale Level e
Merge, a fim de estabelecer os que apresentavam melhores resultados para a identificação de
áreas homogêneas. Dependendo do nível de segmentação escolhido, o parâmetro Scale Level
suprimi ou separa bordas que apresentam diferentes níveis de cinza, enquanto que o Merge
agrega pequenos segmentos, como por exemplo, árvores dentro de áreas maiores onde a
aplicação de altos valores de Scale Level pode ser um problema.
Após a segmentação, buscou-se classificar cada segmento homogêneo identificado. Para
tanto, a classificação baseada em regras presente no software Envi EX permite definir
características por intermédio do estabelecimento de regras sobre os atributos do objeto de
interesse. Estes atributos podem ser espaciais, espectrais e relacionados à textura, disponíveis
tanto para imagens pancromáticas quanto multiespectrais, e atributos de color space e band ratio,
associados apenas às imagens multiespectrais.
A construção das regras para a identificação da classe mata basearam-se na seleção de
atributos que a separavam das demais classes. Como as ortofotocartas consistem em imagens
pancromáticas, estavam disponíveis para a criação de regras apenas os atributos espaciais,
espectrais e os relacionados à textura. Os atributos de textura não se mostraram eficazes na
filtragem da classe mata, pois outras feições apresentavam texturas semelhantes, enquanto que
os espectrais e espaciais mostraram melhores resultados. Dentre os espectrais, o que se mostrou
mais adequado foi o AVGBAND, que é o valor médio dos pixels contidos em uma região
(segmento), enquanto que dentre os espaciais, o atributo ÁREA se mostrou muito hábil na criação
das regras, pois apenas segmentos de mata com áreas maiores foram filtrados, a fim de evitar
uma grande quantidade de ruídos na classificação final. Somente estes dois atributos foram
utilizados para a criação de regras na classificação das ortofotocartas, porém o intervalo do
histograma de cada atributo variou de uma ortofotocarta para outra, devido às diferentes
características da área abrangida.
Após a segmentação e a classificação, os arquivos gerados foram refinados por meio de
ferramentas de pós-classificação no Envi 4.7. Este refinamento objetivou homogeneizar o
resultado, eliminando ruídos e alguns fragmentos de mata que foram erroneamente classificados.
Primeiramente, foram utilizadas as funções clump e sieve que possibilitaram aglutinar e
separar os pixels isolados envoltos ou próximos aos grupos de pixels da classe mata. Estas
funções apresentam opções de tamanho de máscara a serem utilizados, assim diversos valores
tiveram que ser testados a fim de encontrar o que melhor se ajustava às características da área
abrangida por cada ortofotocarta.
Para o refinamento final, utilizou-se a ferramenta classedit que permite a manipulação ponto
a ponto da imagem, possibilitando ao operador a correção de áreas que foram interpretadas
erroneamente nos processos de classificação e refinamento.
Por fim, as demais classes foram digitalizadas utilizando o software ArcGIS 10.1 (campo,
campo arbustivo, silvicultura, culturas, pastagem e áreas degradadas). Nas regiões em que
apenas a fotoanálise não permitia a identificação do alvo, foi realizada a fotointerpretação dos
pares estereoscópios das fotografias aéreas de 1989, que subsidiaram a elaboração das
ortofotocartas.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na comparação do uso do solo entre 2009 e 1989 nota-se, por meio da observação da
Figura 3, que não ocorreram grandes mudanças. A classe campo foi reduzida em cerca de 5%,
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porém houve um aumento da classe mata, notando-se assim que provavelmente algumas áreas
classificadas como campo em 1989 consistiam em áreas queimadas ou desmatadas que se
regeneraram ao longo desses mais de vinte anos. Por outro lado, houve um pequeno aumento da
percentagem de pastagem e cultura temporária sobre áreas de campo. O aumento das áreas
classificadas como formações florestais deve-se, possivelmente, a maior conscientização
ambiental dos moradores da região e também, ao maior rigor da fiscalização das leis ambientais.
A mesma tendência não é seguida nas áreas classificadas como campo, por muitas vezes não ser
vista pela comunidade local a necessidade de preservação desta vegetação devido à pouca ou
nenhuma cobertura arbórea, o que é uma prática equivocada, uma vez que esta vegetação
apresenta incontestável importância tanto em relação ao equilíbrio do meio físico quanto do
biótico.
Datum: SAD 69
Fuso: 23S
Figura 3 – Comparação da distribuição espacial e percentual das classes de cobertura do solo em 2009 e
1989.
Analisando a evolução desde 1964 e comparando com o mapeamento de 2009 e 1989
(Figura 4), percebe-se que os resultados apresentam o mesmo padrão que a comparação entre
1989 e 2009. Houve uma diminuição de área da classe campo e um aumento das áreas agrícolas
e mata, possivelmente pelos mesmos motivos citados.
É importante ressaltar que algumas classes foram agrupadas durante a elaboração do mapa
de uso e ocupação do solo de 1964, visto a dificuldade em distinguir certos alvos nas fotografias
aéreas utilizadas, devido à escala 1:60.000. Desta forma, as culturas temporária e permanente e
pastagens foram agrupadas em uma classe, áreas agropecuárias, e as classes de solo exposto e
erosão, agrupadas nos outros mapeamentos em áreas degradadas, não puderam ser
identificadas. Apesar de não discriminado nos diferentes mapas produzidos, as áreas identificadas
como cavas de mineração em 1989 envolviam praticamente as mesmas áreas que em 2009, e em
1964 esta atividade ainda não havia se iniciado.
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Datum: SAD 69
Fuso: 23S
Figura 4 – Comparação da distribuição espacial e percentual das classes de cobertura do solo em 2009,
1989 e 1964.
Ainda dentre os resultados apresentados na Figura 4, vale ressaltar que a classificação das
formações de campo em vegetações naturais não perturbadas se mostrou extremamente
problemática na área de estudo nos três períodos analisados. Muitas das áreas compostas por
estas formações campestres são utilizadas como pastagens naturais há décadas para a pecuária
leiteira extensiva e semiextensiva, fortemente presente na região. Como estas condições de
manejo não puderam ser distinguidas na classificação dos produtos de sensoriamento remoto de
nenhum dos períodos, buscaram-se informações indiretas que pudessem identificar a dimensão
do uso destas áreas na região nos dias atuais.
Segundo IBGE (2006), censo agropecuário, 35% da área do município de Delfinópolis e
21% de São João Batista do Glória são destinadas às pastagens. Em Delfinópolis, dos 35%, 20%
são de pastagens plantadas e 15% de pastagens naturais, enquanto que em São João Batista do
Glória, dos 20%, 9% consistem em pastagens plantadas e 12% em naturais. Uma vez que estes
municípios não estão totalmente inseridos na área de estudo, como pode ser observado na Figura
1, estas percentagens não podem ser totalmente extrapoladas para a área, mas caso esse padrão
se mantenha nos limites destes municípios inseridos na área de estudo, o percentual de área
ocupada por pastagens pode ser consideravelmente maior que os 6,55% mapeados no ano de
2009, como apresentado na Figura 3.
4. CONCLUSÕES
A elaboração de mapas de cobertura do solo para diferentes períodos possibilitou
compreender parcialmente a evolução do uso do solo na área de estudo, já que em 1964, período
mais remoto que foi possível obter fotografias áreas, a região já apresentava muitas áreas com
intervenção antrópica. De maneira geral, o mapeamento da cobertura do solo em 1964, 1989 e
2009 mostrou que houve uma pequena melhora na preservação da área com o decorrer do
tempo, principalmente sobre as formações florestais, possivelmente devido à instituição da área
como Parque Nacional e o maior rigor da fiscalização das leis ambientais.
O uso de ortofotocartas e fotografias aéreas mostrou-se bastante problemático na
elaboração dos mapas de uso e ocupação do solo, devido à qualidade destes produtos (efeitos de
vitela, raios de sol, diferença de contrastes em alvos iguais) e a extensão da área de estudo.
Estes problemas levaram a digitalização manual das classes, com exceção da classe mata, o que
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demandou muito tempo. A segmentação das ortofotocartas para mapeamento da classe mata no
software Envi EX, seguida da classificação baseada em regras, apresentou bons resultados. As
ferramentas existentes no programa permitiram separar a classe mata das demais sem gerar
confusão espectral com outros alvos.
AGRADECIMENTOS
À CAPES pela concessão da bolsa de estudos e ao CNPq pelo apoio financeiro. Ao Serviço
Geológico do Brasil (CPRM) e à Companhia Energética do Estado de Minas Gerais (CEMIG) pela
disponibilização das fotografias aéreas de 1964 e 1989, respectivamente.
REFERÊNCIAS
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SUAREZ, A. F.; SOARES FILHO, B. S. (2013) “Estudo da mudança de uso e cobertura do solo na
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