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15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental Monitoramento da cobertura do solo na região da Serra da Canastra-MG (1964, 1989 e 2009) Camila Natália Ramos de Almeida¹, Osni José Pejon², Eduardo Goulart Collares³ Resumo. Este trabalho objetivou realizar o monitoramento da cobertura do solo na região da Serra da Canastra (MG) em três períodos (1964, 1989 e 2009), por meio de diferentes técnicas de classificação digital e analógica de produtos de sensoriamento remoto. O mapa de 1964 foi obtido a partir da digitalização de fotografias aéreas analógicas, enquanto que o mapa de cobertura do solo de 1989 foi elaborado por meio de classificação híbrida de ortofotocartas: segmentação e classificação baseada em regras para levantamento da classe mata e digitalização das demais classes (campo, mata, campo arbustivo, culturas temporárias e permanentes, silvicultura, pastagens e áreas degradadas) delimitadas por fotoleitura ou fotointerpretação. Em ambos os mapeamentos foram utilizadas técnicas de fotointerpretação nas regiões em que apenas a fotoanálise não permitia a identificação do alvo. Para o ano de 2009, período mais recente analisado, foi necessário realizar apenas adequações ao mapa já existente para a escala adotada neste estudo, 1:50.000. O mapeamento da cobertura do solo nestes períodos mostrou que ocorreu uma melhora na preservação da área com o decorrer do tempo, principalmente sobre as formações florestais, possivelmente devido à instituição da área como Parque Nacional e ao maior rigor da fiscalização das leis ambientais, entretanto, houve um pequeno aumento na percentagem de pastagem e cultura temporária sobre áreas de campo. Abstract: The goal of this work is to monitor the land cover in the region of Serra da Canastra, State of Minas Gerais (Brazil), in three periods (1964, 1989 and 2009), by using different techniques of digital and analog classification of remote sense products. The land cover map of 1964 was developed from digitized analog aerial photographers. On the other hand, the land cover map of 1989 was developed from hybrid classification of orthophotographs. The hybrid classification consists in segmentation and classification based on rules of collected dada of the forest class, and digitization of the other classes (grassland, forest, shrub grassland, temporary and permanent crops, silviculture, pastures and degraded areas) delimited by photoreading or photointerpretation. For the both maps, techniques of photointerpretation were used in regions where only the photoanalysis was not able to identify the target. The map of the most recent period (2009) was developed from adaptations in the previous map, on the same scale used in this work (1:50.000). The land cover maps of the different periods showed an improvement in the preservation of the area over the years, especially in the forests, probably because the park area was declared as a National Park. However, there was a small increase on the percentage of pastures and temporary cultures regarding the grasslands. Palavras-chave: Fotografias aéreas, ortofotocartas, imagens de satélite, cobertura do solo, classificação. ________________________ 1 Eng. Amb., MSc., Universidade de São Paulo – EESC/USP, São Carlos-SP, (11) 3506-1909, [email protected] 2 Geol, Dr., Universidade de São Paulo – EESC/USP, São Carlos-SP, (16) 3373 9501/ 9509, [email protected] 3 Geol, Dr., Universidade do Estado de Minas Gerais – Campus Passos, Passos – MG, (35)3529.8095 /8033, [email protected] 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 1 1. INTRODUÇÃO Os diferentes processos antrópicos e naturais associados ao fenômeno da dinâmica de mudança na cobertura do solo alteram a paisagem local e podem ter reflexos globais, sendo que em sua maioria, afetam negativamente os ecossistemas e a biodiversidade (Suarez e Soares Filho, 2013). Estas consequências são ainda mais evidenciadas em áreas de unidades de conservação, que em teoria deveriam apresentar usos em harmonia com as potencialidades e restrições do meio físico e com a finalidade da sua criação. A detecção precisa das mudanças sobre a cobertura do solo é extremamente importante para o entendimento das relações e interações entre os fenômenos naturais e humanos na ordem de promover um melhor entendimento na tomada de decisões e na gestão ambiental (LU et al., 2004). O monitoramento das mudanças da cobertura do solo utilizando produtos de sensoriamento remoto de diferentes períodos fornece uma avaliação efetiva do impacto das atividades antrópicas sobre o meio ambiente (BAKR, 2010). Diante desta possibilidade, diversos trabalhos vêm sendo desenvolvidos com o objetivo de monitorar a cobertura do solo por meio de variadas técnicas e fazendo uso de diferentes produtos de sensoriamento remoto (GAO, et al. 2006; BRANNSTROM et al., 2008; BRINK e EVA, 2009; BAKR et al., 2010; KUBOTA, 2012). Entre os produtos utilizados para o mapeamento de cobertura do solo, as imagens de satélites são sem dúvida as mais empregadas. A grande disponibilidade de imagens de satélite associada aos inúmeros métodos automáticos de classificação tem possibilitado uma maior agilidade aos estudos de monitoramento da cobertura do solo, resultando em uma grande economia de tempo. Entretanto, quando se deseja realizar uma análise temporal mais longa, as imagens de satélite não se mostram como um produto opcional, uma vez que começaram a ser produzidas poucas décadas atrás. Neste caso, para a realização de análises temporais mais longas, faz-se necessário o uso de fotografias aéreas e de seus produtos derivados, como por exemplo, ortofotocartas. Assim sendo, o estudo apresentado neste trabalho objetiva realizar o monitoramento da cobertura do solo na região da Serra da Canastra em Minas Gerais em três períodos (1964, 1989 e 2009) por meio de diferentes técnicas de classificação digital e analógica de distintos produtos de sensoriamento remoto. A região da Serra da Canastra em Minas Gerais vem se tornado um importante polo turístico do estado, principalmente após a instituição do Parque Nacional Serra da Canastra em 1972. O monitoramento da cobertura do solo desde antes de 1972 possibilitará aos gestores avaliar a efetividade das políticas ambientais que foram implantadas juntamente com a instituição da região como Parque Nacional e também subsidiar a construção de novas políticas públicas adequadas ao seu ordenamento territorial sustentável. 2. LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO O Parque Nacional Serra da Canastra (PNSC) está localizado no sudeste do estado de Minas Gerais (Figura 1). O parque abrange uma área total de 197.787ha, entretanto a área com situação fundiária regularizada compreende apenas 71.525ha, os outros 126.262ha compreendem a área não regularizada. A área de estudo envolve parte da área não regularizada do PNSC, abrangendo parcialmente os municípios de Delfinópolis, São Roque de Minas e São João Batista do Glória, totalizando uma área de 94.354 ha. 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 2 Figura 1 - Mapa de localização da área de estudo. O PNSC está inserido no domínio fitogeográfico do cerrado com predomínio das formações vegetais do tipo campo limpo, sujo e rupestre, além de formações florestais do tipo floresta estacional semidecidual montana (SCOLFORO et. al, 2014). O desenvolvimento das formações florestais está diretamente associado à disponibilidade de água, espessura e textura dos solos. Desta forma, as formações florestais são mais comuns ao longo de canais de drenagem e vertentes, havendo alguns poucos fragmentos com dimensões maiores em áreas isoladas. Segundo IBAMA (2005), o limite entre as formações florestais e o campo ocorre de forma brusca, não havendo na maioria destas áreas um ambiente de transição (regiões ecótones). Ainda segundo IBAMA (2005), a vegetação da área é característica de clima tropical sazonal de inverno seco. A temperatura média anual fica em torno de 22-23º C e a precipitação média anual entre 1.200 e 1.800 mm, concentrando-se nos meses de primavera e verão (outubro a março). O relevo da região apresenta variadas formas, desde amplos vales a áreas bastante escarpadas. A geologia é representada, em sua maioria, pela ocorrência de rochas como os quartzitos e xistos inseridas predominantemente em revelo mais acidentado e quase sempre aflorantes. A vegetação encontra-se bastante condicionada ao relevo. As culturas são desenvolvidas basicamente na região de relevo plano a suavemente ondulado, principalmente nas regiões da Guarita, Babilônia e Canteiros e as pastagens plantadas no Vale da Bateia e Cândidos, onde o perfil do solo se mostra mais bem estruturado. As extensas formações de campo rupestre encontram-se inseridas predominantemente sobre altas declividades e substrato rochoso aflorante ou solo raso, enquanto que as formações de campo limpo estão localizadas em terrenos mais ondulados com declividade média. 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 3 2. MATERIAL E MÉTODO Para a realização da análise da evolução temporal da cobertura do solo na área de estudo, foram considerados três diferentes períodos, 1964, 1989 e 2009, para os quais havia produtos de sensoriamento remoto disponíveis (imagens de satélite, fotografias aéreas e ortofotocartas). Para o ano de 2009, período mais recente analisado, foi necessário realizar apenas adequações ao mapa de cobertura do solo produzido por Dias (2013) na escala 1:100.000 para a escala adotada neste estudo (1:50.000). A sequência das etapas seguidas e a descrição detalhada procedimentos adotados para a elaboração dos mapas de cobertura do solo de 1964, 1989 e 2009 pode ser observada na Figura 2 e nos itens a seguir. Mapa de cobertura do solo 1964 Mapa de cobertura do solo 1989 Fotografias aéreas georreferenciadas Ortofotocartas georreferenciadas e fotografias aéreas Fotointerpretação e delimitação manual (ArcGis 10.1) Classificação baseada em regras Correção por delimitação manual Campo, campo arbustivo, culturas, pastagem, solo exposto, mineração e erosão Mata Segmentação Mapa de cobertura do solo 2009 Pós classificação (Envi EX) (ArcGis 10.1) Fotointerpretação e delimitação manual (ArcGis 10.1) (Envi 4.7) Sobreposição das classes (Envi 4.7) Quantificação das classes dos mapas de cobertura do solo (ArcGis 10.1) Figura 2 - Fluxograma das etapas adotada para o monitoramento da cobertura do solo na região da Serra da Canastra. 2.1 Fontes dos dados e pré-processamento Para a elaboração do mapa de cobertura do solo do ano de 1964 foram utilizadas 36 fotografias aéreas verticais pancromáticas, na escala 1:60.000, disponibilizadas pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB). Já para a elaboração do mapa referente ao ano de 1989, foram utilizados dois conjuntos de dados: 63 ortofotocartas digitais pancromáticas na escala 1:10.000, adquiridas da Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG), e 171 fotografias aéreas verticais pancromáticas na escala 1:30.000, disponibilizadas pela mesma empresa. Para a adequação de escala do mapa de cobertura do solo mais atual da área (2009), foram utilizadas as mesmas imagens de satélite que orientaram o trabalho de Dias (2013), que consistem em imagens do satélite Alos com resolução espacial de 2,5 x 2,5m datadas de 2009. Inicialmente as fotografias aéreas de 1964 foram transformadas para o formato digital por meio de escanerização. Em seguida, foram georreferenciadas no software Envi 4.7, utilizando-se como pontos de controle cruzamentos de estradas e confluências de rios obtidos nas cartas topográficas do IBGE, previamente georreferenciadas. O mesmo procedimento de georreferenciamento foi realizado para as ortofotocartas, no entanto foram adotados como pontos de controle a própria grade de coordenadas contida nas ortofotocartas. 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 4 2.2 Classificação Anteriormente ao início da classificação, foram definidas as classes a serem mapeadas. Buscou-se mapear as mesmas classes adotadas por Dias (2013), são elas: campo, mata, campo arbustivo, culturas temporárias e permanentes, silvicultura, pastagens e áreas degradadas envolvendo mineração, solo exposto e erosão. Apesar do conhecimento de que a vegetação na região apresenta diferentes classificações de campo (limpo, sujo e rupestre), optou-se pela unificação em uma mesma classe devido à extensão da área de estudo e a dificuldade em se diferenciar os subtipos em um número elevado de fotografias aéreas e ortofotocartas com resoluções distintas. A adequação da escala do mapa de uso do solo de 2009 foi realizada por meio de fotoanálise e digitalização manual das classes classificadas para a escala deste trabalho, 1:50.000. Os métodos de elaboração dos mapas de uso e ocupação do solo para 1964 e 1989 não foram iguais, visto que os produtos fotográficos utilizados possuíam qualidades bem distintas. As fotografias aéreas apresentavam reflexos de sol, hot spot e efeitos de vitela que comprometiam as informações contidas, inviabilizando a aplicação de classificadores automáticos de imagens. Por outro lado, as ortofotocartas constituem um produto mais uniforme, porém ainda com algumas irregularidades de contrastes decorrente da mosaicagem de fotografias aéreas de contrastes diferentes durante a sua elaboração. 2.2.1 Mapa de cobertura do solo (1964) Para a obtenção do mapa de cobertura do solo deste período optou-se pela delimitação das classes por fotointerpretação, seguida de sua digitalização. Este procedimento foi adotado devido aos problemas com a qualidade das fotografias aéreas citados anteriormente, que impediram a obtenção de uma classificação automática de qualidade. Apesar de atualmente, existirem recursos disponíveis para minimizar esses problemas, eles demandariam muito tempo e programas específicos não disponíveis. As classes foram então digitalizadas utilizando o software ArcGIS 10.1. Nas regiões onde apenas a fotoanálise não permitia a identificação do alvo, foi realizada a fotointerpretação dos pares estereoscópios que compunham a área com o auxílio de estereoscópio de espelho. 2.2.2 Mapa de cobertura do solo (1989) Inicialmente avaliou-se a possibilidade de classificação automática das ortofotocartas, que consistiam em um produto de melhor qualidade que as fotografias aéreas de 1964. Entretanto, os problemas de contrate citados anteriormente dificultaram a identificação automática de todas as diferentes classes de cobertura do solo. Por outro lado, a técnica de segmentação, seguida da classificação baseada em regras presente no software Envi EX, apresentou bons resultados para a classificação das áreas identificadas como mata. Assim sendo, optou-se pela classificação automática apenas das áreas de mata, uma vez que as demais classes se localizavam em regiões específicas da área de estudo e também ocupavam pequenas porções, tornando o processo de digitalização das informações analógicas mais vantajoso. A segmentação automática das ortofotocartas, que é o processo de divisão em segmentos pelo agrupamento de pixels vizinhos com características estatisticamente similares, ocorreu de forma descontínua, ou seja, não se segmentou todo o mosaico de ortofotocartas no mesmo momento e sim porções de cada ortofotocarta, devido à extensão da área de estudo e às 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 5 irregularidades de contrastes decorrente da mosaicagem de fotografias aéreas diferentes durante a elaboração da ortofotocarta. Além disso, a segmentação de todo o mosaico no mesmo momento demandaria um elevado tempo de processamento e dificultaria a inspeção da qualidade dos parâmetros adotados na segmentação. Durante este processo foram testados diferentes valores para os parâmetros Scale Level e Merge, a fim de estabelecer os que apresentavam melhores resultados para a identificação de áreas homogêneas. Dependendo do nível de segmentação escolhido, o parâmetro Scale Level suprimi ou separa bordas que apresentam diferentes níveis de cinza, enquanto que o Merge agrega pequenos segmentos, como por exemplo, árvores dentro de áreas maiores onde a aplicação de altos valores de Scale Level pode ser um problema. Após a segmentação, buscou-se classificar cada segmento homogêneo identificado. Para tanto, a classificação baseada em regras presente no software Envi EX permite definir características por intermédio do estabelecimento de regras sobre os atributos do objeto de interesse. Estes atributos podem ser espaciais, espectrais e relacionados à textura, disponíveis tanto para imagens pancromáticas quanto multiespectrais, e atributos de color space e band ratio, associados apenas às imagens multiespectrais. A construção das regras para a identificação da classe mata basearam-se na seleção de atributos que a separavam das demais classes. Como as ortofotocartas consistem em imagens pancromáticas, estavam disponíveis para a criação de regras apenas os atributos espaciais, espectrais e os relacionados à textura. Os atributos de textura não se mostraram eficazes na filtragem da classe mata, pois outras feições apresentavam texturas semelhantes, enquanto que os espectrais e espaciais mostraram melhores resultados. Dentre os espectrais, o que se mostrou mais adequado foi o AVGBAND, que é o valor médio dos pixels contidos em uma região (segmento), enquanto que dentre os espaciais, o atributo ÁREA se mostrou muito hábil na criação das regras, pois apenas segmentos de mata com áreas maiores foram filtrados, a fim de evitar uma grande quantidade de ruídos na classificação final. Somente estes dois atributos foram utilizados para a criação de regras na classificação das ortofotocartas, porém o intervalo do histograma de cada atributo variou de uma ortofotocarta para outra, devido às diferentes características da área abrangida. Após a segmentação e a classificação, os arquivos gerados foram refinados por meio de ferramentas de pós-classificação no Envi 4.7. Este refinamento objetivou homogeneizar o resultado, eliminando ruídos e alguns fragmentos de mata que foram erroneamente classificados. Primeiramente, foram utilizadas as funções clump e sieve que possibilitaram aglutinar e separar os pixels isolados envoltos ou próximos aos grupos de pixels da classe mata. Estas funções apresentam opções de tamanho de máscara a serem utilizados, assim diversos valores tiveram que ser testados a fim de encontrar o que melhor se ajustava às características da área abrangida por cada ortofotocarta. Para o refinamento final, utilizou-se a ferramenta classedit que permite a manipulação ponto a ponto da imagem, possibilitando ao operador a correção de áreas que foram interpretadas erroneamente nos processos de classificação e refinamento. Por fim, as demais classes foram digitalizadas utilizando o software ArcGIS 10.1 (campo, campo arbustivo, silvicultura, culturas, pastagem e áreas degradadas). Nas regiões em que apenas a fotoanálise não permitia a identificação do alvo, foi realizada a fotointerpretação dos pares estereoscópios das fotografias aéreas de 1989, que subsidiaram a elaboração das ortofotocartas. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na comparação do uso do solo entre 2009 e 1989 nota-se, por meio da observação da Figura 3, que não ocorreram grandes mudanças. A classe campo foi reduzida em cerca de 5%, 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 6 porém houve um aumento da classe mata, notando-se assim que provavelmente algumas áreas classificadas como campo em 1989 consistiam em áreas queimadas ou desmatadas que se regeneraram ao longo desses mais de vinte anos. Por outro lado, houve um pequeno aumento da percentagem de pastagem e cultura temporária sobre áreas de campo. O aumento das áreas classificadas como formações florestais deve-se, possivelmente, a maior conscientização ambiental dos moradores da região e também, ao maior rigor da fiscalização das leis ambientais. A mesma tendência não é seguida nas áreas classificadas como campo, por muitas vezes não ser vista pela comunidade local a necessidade de preservação desta vegetação devido à pouca ou nenhuma cobertura arbórea, o que é uma prática equivocada, uma vez que esta vegetação apresenta incontestável importância tanto em relação ao equilíbrio do meio físico quanto do biótico. Datum: SAD 69 Fuso: 23S Figura 3 – Comparação da distribuição espacial e percentual das classes de cobertura do solo em 2009 e 1989. Analisando a evolução desde 1964 e comparando com o mapeamento de 2009 e 1989 (Figura 4), percebe-se que os resultados apresentam o mesmo padrão que a comparação entre 1989 e 2009. Houve uma diminuição de área da classe campo e um aumento das áreas agrícolas e mata, possivelmente pelos mesmos motivos citados. É importante ressaltar que algumas classes foram agrupadas durante a elaboração do mapa de uso e ocupação do solo de 1964, visto a dificuldade em distinguir certos alvos nas fotografias aéreas utilizadas, devido à escala 1:60.000. Desta forma, as culturas temporária e permanente e pastagens foram agrupadas em uma classe, áreas agropecuárias, e as classes de solo exposto e erosão, agrupadas nos outros mapeamentos em áreas degradadas, não puderam ser identificadas. Apesar de não discriminado nos diferentes mapas produzidos, as áreas identificadas como cavas de mineração em 1989 envolviam praticamente as mesmas áreas que em 2009, e em 1964 esta atividade ainda não havia se iniciado. 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 7 Datum: SAD 69 Fuso: 23S Figura 4 – Comparação da distribuição espacial e percentual das classes de cobertura do solo em 2009, 1989 e 1964. Ainda dentre os resultados apresentados na Figura 4, vale ressaltar que a classificação das formações de campo em vegetações naturais não perturbadas se mostrou extremamente problemática na área de estudo nos três períodos analisados. Muitas das áreas compostas por estas formações campestres são utilizadas como pastagens naturais há décadas para a pecuária leiteira extensiva e semiextensiva, fortemente presente na região. Como estas condições de manejo não puderam ser distinguidas na classificação dos produtos de sensoriamento remoto de nenhum dos períodos, buscaram-se informações indiretas que pudessem identificar a dimensão do uso destas áreas na região nos dias atuais. Segundo IBGE (2006), censo agropecuário, 35% da área do município de Delfinópolis e 21% de São João Batista do Glória são destinadas às pastagens. Em Delfinópolis, dos 35%, 20% são de pastagens plantadas e 15% de pastagens naturais, enquanto que em São João Batista do Glória, dos 20%, 9% consistem em pastagens plantadas e 12% em naturais. Uma vez que estes municípios não estão totalmente inseridos na área de estudo, como pode ser observado na Figura 1, estas percentagens não podem ser totalmente extrapoladas para a área, mas caso esse padrão se mantenha nos limites destes municípios inseridos na área de estudo, o percentual de área ocupada por pastagens pode ser consideravelmente maior que os 6,55% mapeados no ano de 2009, como apresentado na Figura 3. 4. CONCLUSÕES A elaboração de mapas de cobertura do solo para diferentes períodos possibilitou compreender parcialmente a evolução do uso do solo na área de estudo, já que em 1964, período mais remoto que foi possível obter fotografias áreas, a região já apresentava muitas áreas com intervenção antrópica. De maneira geral, o mapeamento da cobertura do solo em 1964, 1989 e 2009 mostrou que houve uma pequena melhora na preservação da área com o decorrer do tempo, principalmente sobre as formações florestais, possivelmente devido à instituição da área como Parque Nacional e o maior rigor da fiscalização das leis ambientais. O uso de ortofotocartas e fotografias aéreas mostrou-se bastante problemático na elaboração dos mapas de uso e ocupação do solo, devido à qualidade destes produtos (efeitos de vitela, raios de sol, diferença de contrastes em alvos iguais) e a extensão da área de estudo. Estes problemas levaram a digitalização manual das classes, com exceção da classe mata, o que 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 8 demandou muito tempo. A segmentação das ortofotocartas para mapeamento da classe mata no software Envi EX, seguida da classificação baseada em regras, apresentou bons resultados. As ferramentas existentes no programa permitiram separar a classe mata das demais sem gerar confusão espectral com outros alvos. AGRADECIMENTOS À CAPES pela concessão da bolsa de estudos e ao CNPq pelo apoio financeiro. Ao Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e à Companhia Energética do Estado de Minas Gerais (CEMIG) pela disponibilização das fotografias aéreas de 1964 e 1989, respectivamente. REFERÊNCIAS BAKR, N.; WEINDORF, D. C.; BAHNASSY, M. H.; MAREI, S. M.; EL-BADAWI, M. M. (2010) “Monitoring land cover changes in a newly reclaimed area of Egypt using multi-temporal Landsat data” in Applied Geography, v. 30, n. 4, p. 592-605. BRANNSTROM, C.; JEPSON, W.; FILIPPI, A. M. REDO, D.; XU1, Z.; GANESH, S. (2008). “Land change in the Brazilian Savanna (Cerrado), 1986-2002: Comparative analysis and implications for land-use policy” in Land Use Policy, v. 25, n. 4, p. 579-595. BRINK, A. B.; EVA, H. D. (2009). “Monitoring 25 years of land cover change dynamics in Africa: A sample based remote sensing approach” in Applied Geography, v. 29, n. 4, p. 501-512. DIAS, C. C. (2013). “Avaliação geoambiental da região do Médio rio Grande.” Dissertação de mestrado, Programa de Pós-Graduação em Geotecnia, EESC/USP, 410 p., v. 1. GAO, J., LIU, Y., & CHEN, Y. (2006). “Land cover changes during agrarian restructuring in northeast China” in Applied Geography, v. 26, n. 3–4, p. 312-322. IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável. (2005). Plano de Manejo do Parque Nacional da Serra da Canastra. Ministério do Meio Ambiente: Brasília - DF, 2005, 828 p. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2006. Censo agropecuário. Disponível em:<http://www.ibge.gov.br/home/>. Acesso em: 05 fev. 2015. KUBOTA, A. M. 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