Não dês o peixe, ensina a pescar.
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Não dês o peixe, ensina a pescar.
Não dês o peixe, ensina a pescar. Foto: José M.M. Inácio Provérbio Chinês A Educação Social em Portugal Boletim Informativo da Associação Promotora da Educação Social Nº 8 Maio 2014 Editorial Bem vindos! mundo! Nesta edição temos o prazer de É com muito orgulho que Atrevo-me a dizer, sem ter contar com a participação da apresento mais uma edição do perguntado, que esta EAPN Faro, que nos explica o nosso boletim digital, desta vez dedicatória é subscrita por trabalho que a EAPN realiza na com o tema “O Educador e a todos os colegas que área da pobreza. Foi um Pobreza”. colaboraram neste boletim. orgulho para nós podermos Inspirados pela investigação de Educadores Sociais que contar com esta Instituição no Deepa Narayan, que analisa a pobreza pela perspetiva dos dedicam o seu dia a dia a trabalhar talentos, capacidades, nosso boletim, dada a sua importância a nível nacional e próprios pobres, resolvemos possibilidades e caminhos com internacional! Abrilhantaram desafiar um jovem que tem as pessoas com quem esta edição! tudo para ser considerado trabalham. Pessoa que muitas Um especial agradecimento a pobre para fazer o artigo de vezes só precisam de uma todos os que fazem o Boletim abertura. “Não, Clara, não me oportunidade para descobrir Digital da APES existir! É quase considero uma pessoa pobre, que é possível e que vale a com vaidade que olho para trás porquê?” Disse-me ele antes de pena tentar. Parece fácil mas é e vejo o percurso que iniciou lhe lançarmos o desafio. E esta uma tarefa muito árdua e “com um primeiro passo” e que afirmação, acompanhada do demorada. E que não é possível resultou em oito compêndios artigo que se segue é a prova ser feita em jejum. do que melhor se faz em de que a sociedade A APES saúda os profissionais Portugal na área da Educação menospreza o talento e as que trabalham na área da Social. capacidades que se escondem pobreza, que infelizmente é Nunca deixem de dar esses por detrás de cada rosto que transversal a quase todas as primeiros passos, acreditem suplica por um pouco de pão e por um teto. Obrigada, Daniel, áreas em que atuamos. Agradecemos à nossa colega que são capazes, e acima de tudo trabalhem muito! É assim por nos dares de forma tão Micaela pela forma como que se consegue chegar à generosa e corajosa o retrato descreveu o passado VI meta! da tua vida, com uma análise e Encontro de Educadores discurso dignos dos melhores Sociais, que decorreu em Viseu. Saudações Sociais escritores. Este boletim é Parabéns Micaela, conseguiste Clara Inácio dedicado a ti e a todos os passar para o papel o espírito “Danieis” espalhados pelo deste último Encontro! Coordenadora do Boletim Colaboradoras desta edição: Cátia Vaz Marlene Borges Sílvia Franco 2 Índice Pág. Desabafo sobre a pobreza - Daniel Miranda ………………..………….……………… 4 APES: Cursos livres de Educação Social ………………..……………..………………………. 8 VI Encontro Nacional de Educadores Sociais: Experiências e Aprendizagens Micaela Nunes ……………...……………………………………………………………... 9 Repórter APES: Entrevista a Dário Gomes .…....……………………………………………………..… 12 Educação Social e Pobreza: Habitação Social: Inclusão versus exclusão - Adelaide Ruivinho ..…………….…. 17 Agir contra a pobreza - Ana Pereira ……... …………………………………………...21 Um olhar sobre os sem-abrigo - Joana Oliveira e Marta Carvalho ………………. 24 O Educador e a pobreza - Sónia Pirra ..…………………...………………….……… 29 Instituição: EAPN Faro ……...………………………………………………………………………… 31 Biblioteca APES………………………………………………………………………………. 34 3 Desabafo sobre a pobreza Daniel Miranda Ser pobre é caminhar olhando as dos factos. Ninguém mesmas pisadas, as mesmas é intocável seja marcas, sempre buscando algo que pobre ou seja rico. se possa achar caminhando num Lá porque os lugares dia de chuva e frio, onde somente são feios não vês terra escura, lama e poças… significa que as um caminho feio. De cabeça baixa, pessoas sejam pobres sem amanhã Grito na minha rotina por essa vês na terra a cor dos teus olhos sem luz, um caminho que não te e sem destino, sem atitude… Ser pobre não significa viver atenção, grito para encarar e ser forte na minha expectativa, se leva a lado nenhum. Este caminho amedrontado, ainda que lhe falte assim não for vou morrer. Alguma de terra e lama sem iluminação em prestígio, sucesso, honra e, até coisa me vai matar antes do céu cinzento manifesta que sou mesmo, vaidade. Cada um tem o tempo, as consequências vão-me sujo e sem flores, sem passeios ou seu próprio caminho com o matar. relva, sem admiração… Neste coração que tem. E o pobre tem o Conheci um homem que morava trajeto pobre, eu sou a lama que seu próprio caminho, com mais por detrás da minha casa, numa nem para barro serve, a não ser liberdade do que se pensa. Na casa de pobreza, sem condições apenas para ser evitada. Não sou pobreza há defeitos assim como nenhumas. Vivia só, apesar dos uma doença, apenas um peregrino muitas virtudes. vizinhos e amigos. Um dia que anda de terra em terra, Como tudo na vida há um lado adoecendo (o que já era porque não tenho outro lugar rude da história, o pranto da frequente), foi muito mal para o onde possa ir à vontade, onde quer tristeza e da solidão. Sofres porque hospital, entre a vida e a morte. que vá ou queira ir, dependo de ti. tens dor, dor nos teus segredos e Após o internamento, mandaram- Há quem olhe para o pobre como no para casa para recuperar. Na na tua mágoa. As lembranças alguém sem ambição ou alguém perseguem o que fomos, o que que não foi inteligente para vencer somos, tivemos ou temos… Agora verdade, mandaram-no para a sua pobreza e dias depois faleceu. na vida. Mas quem é quem para não posso fazer nada? Não tenho Triste, muito triste… A pobreza avaliar e julgar as muitas rasteiras nada? E perguntas como essas está na sensibilidade dos direitos da vida e as suas injustiças, estão encerradas na minha alma, humanos. Este foi o drama de um trapaceiras e solicitudes? Esta ao abandono, ao relento do meu de muitos que conheci. Nem avaliação é desprezível, arrogante viver. A falta de amor esmorece- sempre fazemos tudo o que está e pouco sensata na compreensão me e fecho-me na minha guerra. ao nosso alcance. Podemos não 4 fronteira a caminho do bairro, encontrei um vizinho que vinha na minha direção. Tinha uns sapatos velhos, um de cada tipo, sem meias, com umas calças de pano castanhas e velhas, camisa e casaco velho de aspeto franzino e humilde, vive sozinho numa casa pequena. Sempre que o vejo sorri e diz: “Então rapaz, tudo bem?” de uma forma rítmica. Nunca me pediu nada, está sempre firme e nunca o vi agarrado a um muro. Julgar estas pessoas pela aparência é a maior exploração que podemos fazer à sua imagem. E por falar em imagem, que pose há em modelos e atrizes, gente famosa e rica a fotografarem como se fossem estrelas, realçando-se Pintura de João Moreira no meio obscuro da pobreza? Isto ter tudo mas podemos ter Certo dia, cruzei-me, é mesmo chocante, uma estratégia respeito. ocasionalmente, com um rapaz de marketing que procura lucrar e sobressair à conta da dificuldade Estas causas são as emergências da conhecido, numa avenida da vida que podem bater à porta de cidade, agarrando-se e arrastando- dos outros. O pobre é vítima da sua exposição e do seu quem, por sofrimento, se esquece se pelo muro sem poder de si e se entrega, já sem forças, a praticamente andar. Encontrava-se oportunismo. tudo o que pensam, fazem ou num estado lamentável, Prefiro ficar com a imagem das dizem… Há que saber lidar com o completamente perdido, e já crianças quando brincam lá no que temos e ser um vencedor, a andava assim há meses, bairro, que apesar de tudo são humilhação por vezes é como um desorientado, frustrado e livres, despreocupadas e fogo que também nos prepara dececionado. A verdade é que desinibidas. Percorrem o bairro para a sabedoria da vida. A riqueza mesmo sendo de boas famílias, como se fosse o seu quintal, do pobre está na sua força interior, socialmente, e até de posses entrando e saindo da casa uns dos está naquilo que na aparência não económicas, revela-se na pobreza outros. Misturam-se com os se vê ainda que a aparência seja e por vezes até anda a pedir adultos nas suas brincadeiras de algo relativo. O importante é ser dinheiro, isto é pobreza. Está ali colo em colo, sentem-se feliz e é aqui que, para mim, se alguém com recursos para se protegidas por toda a gente as define a riqueza e a pobreza, a erguer e está a desperdiçar-se, conhecer e vão aprendendo a felicidade, a liberdade e a saúde. A destruindo as suas possibilidades. prova é que há muita gente que Num outro sentido, quase em crescer, a ver a realidade que nos envolve e que por vezes nos tem tudo para ser feliz e não o é. constrange. Sentem-se amadas e 5 simultâneo, no outro lado da felizes não dependendo do lugar. Quando as vejo a pintar desenhos com o João Moreira, vejo-as a aprender a ver as cores da sua vida, a pintar os quadros da sua felicidade… Temos que deixar de ver defeitos na pobreza, pois há virtudes também. O importante é refletirmos sobre ambas as coisas, tanto de um lado como do outro. Há pobres que na sua pobreza escondem grandes fortunas. Uma vizinha, mulher do campo, cuida dos seus animais como se fossem pérolas valiosas e da sua horta inofensiva, não sabendo como me queiram entender, de madeira como se fosse uma rua de ouro. A defender da nova situação, de um castanha (mais de aspeto velho do sua alegria está na hospitalidade novo estilo de vida num novo que novo) e as paredes eram com que nos recebe. É uma pessoa ambiente à minha volta, não forradas com papelão por causa do organizada e não gasta nas coisas sabendo como o enfrentar. Estava frio. As chapas de zinco, que que quer, mas sim no que precisa. a mudar de casa juntamente com a faziam de telhado, davam-me a É por estes princípios que rege a família, resolvi vir na frente para sensação de que o mundo me sua vida, mantendo-se firme e fiel me ir adaptando num ir e vir estava a cair em cima. A falta de a si própria. Sentado no meu beliche de enquanto não mudássemos todos definitivamente. Pensei que fosse eletricidade, de água canalizada e de um bom banho, era madeira dei por mim uma simples casa alugada para inadmissível. O chão de terra completamente isolado de tudo e passarmos uns tempos e depois ir batida sem dúvida que era um de todos, escondido do porvir do para algo melhor, mas não, a trajeto diferente. medo da insegurança do situação foi inesperada para mim. Mas, com “coraji desconhecido, parecia uma criança Uma casa ou barraca, como fitchadu” (expressão “pronto para tudo” em criolo), precisava de ser guerreiro, realista e começar a dar valor a pequenas coisas que normalmente não dava. A luz da vela que iluminava a casa, iluminava-me a esperança e ensinava-me a sentir a beleza que estava para além da minha compreensão. Aprendi que para seguirmos em frente há que olhar para o nosso meio de uma forma natural e com amor. 6 Esta mudança aconteceu quando com o depois é muito grande. piores fases da minha vida. Ver, fomos despejados de casa, casa Adquiri muita coisa que me ouvir os seus gemidos e nem onde vivi quinze anos com um acompanhará para o resto da vida, sequer ter uma porta de quarto quarto só para mim, uma grande e esses tesouros escondidos para os resguardar, era frustrante. sala de estar e jantar, duas casas guardo-os com muito carinho. Se fosse rico… apesar de na altura de banho, cozinha e tudo o resto, Descobri que por detrás das estar a trabalhar, mas ainda sofria muito cómodo. Gostava imenso de nuvens passageiras de um inverno mais por não os poder observar ver o arco-íris e a chuva da janela do segundo andar. Apesar de rigoroso, há um sol que ilumina e traz outras alegrias, a Primavera mais constantemente. Faleceram no mesmo ano, numa ida ao morarmos num prédio, que faz nascer outras hospital, carregando um passávamos muitas necessidades, oportunidades contigo próprio, sentimento de despejo por não nos últimos tempos já nem água e para com os teus e para com os poderem suportar as despesas. luz pagávamos… apenas com uma outros. A necessidade também te A nossa barraquinha foi a nossa pensão mínima de reforma, como desafia a decidir o que queres ser… única alternativa para não irmos era possível mantermo-nos? E o que pensava que ia ser um para baixo de uma ponte. Do Apesar do conforto da habitação, abrigo temporário tornou-se o fundo do coração eu os louvo por sentíamo-nos pobres. E na vida é meu lar até hoje. nunca terem tido vergonha e pelas necessário, por força das Os meus avós com o passar do humilhações que passaram para circunstâncias, saber perder umas tempo começaram a adoecer nos darem um lanche ou um coisas e ganhar outras. frequentemente e os pequeno-almoço. Para mim, não A casa era pequena tanto de internamentos nos hospitais eram me deixaram casas, carros, joias, comprimento como de largura. constantes. Foi quando percebi contas recheadas, um café ou Meu avô sempre a ouvir rádio, que, aqui nestas condições, já não empresas. Para mim, eles são os meu irmão a entrar e a sair, minha era possível continuarem. Estavam meus heróis e os heróis não precisam disso. muito debilitados para avó sempre a catar água… era apertadinho mas estávamos juntos recuperarem nestas condições e A riqueza só é real quando é com um grande à vontade, nem Câmara Municipal nem riqueza de valores. A riqueza só é ninguém olhou para trás com instituições ou assistentes sociais riqueza quando a depositamos na lamentos. A comparação do antes nos ajudaram. Esta fase foi das riqueza que há nos outros. 7 8 VI Encontro Nacional de Educadores Sociais: Experiências e Aprendizagens Micaela Nunes Estudante de Educação Social e Membro da Comissão Organizadora Nos dias 2 e 3 de Maio realizou-se, onde a partilha entre todos os onde o reconhecimento do em Viseu, o VI Encontro Nacional participantes foi uma constante. Educador Social é evidente, de Educadores Sociais (ENES), Não podemos deixar de dar permitindo a partilha de ideias, promovido pela Associação destaque à presença de vários conhecimentos, experiências entre Promotora da Educação Social oradores internacionais, a APES todos os participantes (APES) em parceria com a Escola teve um papel fundamental ao enriquecendo cada indivíduo e o Superior de Educação de Viseu elevar a fasquia da qualidade do grupo em geral. (ESEV). A Comissão Organizadora contou com uma vasta equipa conhecimento transmitido. A inovação foi um marco de onde Esta noção de grupo esteve sempre presente em todo o ENES, entre profissionais da área e alguns retiramos grandes aprendizagens! desde a organização, às estudantes do curso de Educação Logo no primeiro dia o formato das comunicações e nos workshops. Social da ESEV. comunicações incentivava ao Na qualidade de estudante posso contacto entre todos e a natureza. vigorou e nos permitiu dizer que esta foi uma experiência O formato das diversas compreender que em toda a verdadeiramente única. Temos comunicações foi mesmo um intervenção social é necessária que começar pelo princípio e ponto forte que, ao unir os uma equipa composta por vários começar por destacar o núcleo da participantes entre si, contribuiu profissionais, capazes de se Comissão Organizadora que desde para que entrassem no espírito do Foi esta noção de grupo que complementarem uns aos outros. o primeiro momento nos deixou à evento, o da amizade, criatividade, O grupo da Comissão Organizadora vontade para expormos as nossas partilha, conhecimento e ideias, nunca negligenciando o que curiosidade servindo como ponto complementou-se, apesar da pouca experiência em organização propúnhamos, mas enriquecendo motivacional para o que se passou de eventos, as diretrizes dos com o seu conhecimento o que em todo o encontro. poderia ser melhorado. A Este evento foi realizado não só liberdade, criatividade e o respeito com intenção de transmitir profissionais envolvidos e a capacidade de nos colocarem numa linha igualitária permitiu que por cada colaborador foram conhecimento científico, como nos cada estudante se envolvesse em palavras de ordem e isso refletiu- deu a conhecer como funciona a todo o processo e se sentisse se nos dias 2 e 3 de Maio. Educação Social noutros países confiante para dar o seu Assistimos a um grande evento, como a Espanha e o Luxemburgo, contributo. A simplicidade e 9 defendem como fundamentais para a delimitação do perfil do Educador Social, enunciamos algumas: trabalhar em equipa, assertividade, responsabilidade, afetividade, dinamismo e espírito de iniciativa, modelo coerente, tolerância, respeito, disponibilidade, comunicação, sensibilidade e criatividade. A apreensão quanto às videoconferências era grande, muita coisa podia ter corrido mal, Foto: Master Hugo mas mais uma vez os profissionais profissionalismo dos educadores um momento de descontração e envolvidos demonstraram o quão sociais envolvidos deu lugar à permitiram, de um modo mais eficaz são e possibilitaram um criação de um grupo de amigos, genuíno, o envolvimento de todos momento de partilha de que mais do que organizar um os participantes. Foram, a meu ver, conhecimentos entre Portugal e evento, estavam ali para um verdadeiro sucesso, dado a Espanha. Um dos grandes aprenderem uns com os outros. quantidade de profissionais momentos foi, sem dúvida, a vinda O facto de se ter dado a presentes que se tornaram de um membro da AIEJI oportunidade a contextos locais bastante enriquecedores porque (Associação Internacional dos (em que o Educador Social pode permitiram compreender o que Educadores Sociais). Através da intervir) de realizarem o coffee break foi uma iniciativa fantástica, tradução em simultâneo de um diversos profissionais andam a fazer em vários pontos do país e ao aluno de Educação Social, foi mais uma vez se deu enfâse à mesmo tempo encontrar possível estabelecer o contacto profissão, mais uma vez características que todos eles entre a audiência e o pedagogo proporcionou momentos de reflexão e partilha. Destaco os workshops que imprimiram grande diferença no encontro científico, só lamentamos não ter existido mais tempo do que o estipulado porque a vontade de continuar a debater os vários temas apresentados foi notória e a partilha de conhecimento muito enriquecedora. No entanto, é importante realçar que ao invés do normal formato (palestrante e ouvintes), as comunicações em formato workshop deram lugar a 10 Foto: Master Hugo social (Educador Social no Luxemburgo). Este deu-nos a conhecer o trabalho que desenvolve com as crianças e a AIEJI. Dada a qualidade científica, o preço simbólico do encontro convidava mesmo à participação (5€ para não sócios e 0€ para sócios da APES), podendo os participantes optar pelo jantar convívio entre todos os participantes (mais um ideia genial que proporcionou o contacto entre todos). Este último ponto, a partilha entre todos (de ideias, conhecimentos, experiências), foi algo que aconteceu naturalmente, obviamente que o ambiente criado em volta do ENES era facilitador dessa partilha, no entanto, estas aprendizagens (não programadas) revelaram-se tão valiosas como as várias comunicações. As fotos do Encontro encontram-se na íntegra em: https://www.facebook.com/ MasterHugo.pt/photos_albums 11 Repórter APES Entrevista a Dário Gomes Educador Social Repórter APES - Olá Dário! Obriga- Lamego… da por teres aceite ser o entrevis- Neste tado desta edição! Quem é o contexto conheci o "mundo" de Deste momento até chegar à ESEV, Dário? outra forma. Foram efetivamente foi um passo! E todas as transfor- Dário - Bem, falarmos de nós é sempre uma tarefa difícil. De forma geral o Dário é um jovem igual a tantos outros! Nasci numa aldeia chamada Pardieiros, situada no concelho de Carregal do Sal. Lá, vivi a minha infância, ri, chorei, fiz os meus primeiros amigos. Fui criado e educado pelos meus avós, que desde muito cedo me ensinaram e transmitiram a importância dos valores e dos afetos. Aos 12 anos comecei a trabalhar numa serralharia (fora do horário escolar), onde aprendi a importância dos hábitos de trabalho. Por vezes era difícil perceber que enquanto os outros brincavam eu tinha de trabalhar. Mas isso tornou-se importante para o meu desenvolvimento pessoal. Rapidamente percebi que não tinha muito jeito para aquele trabalho. Nos anos seguintes trabalhei num pavilhão de farturas. Andava pelas feiras, Braga, Mirandela, Sátão e 12 três anos de aquisição de múltiplas mações positivas que esta etapa experiências que me fizeram cres- me trouxe. As experiências, os ami- cer bastante. Aos 17 anos terminei gos, o conhecimento!... Entre tano ensino secundário na área de economia, deixando por fazer a tas outras coisas que poderia descrever, foi um tempo mágico que disciplina de matemática. Em irei recordar para sempre. seguida comecei a trabalhar num Durante o tempo da faculdade, fiz café. Aos 19 anos, incentivado por vários voluntariados pontuais, fui uma Psicóloga ( a quem agradeço Tesoureiro da AEESEV, fiz parte da profundamente), troquei matemá- Comissão de Praxe, entre outras tica por duas disciplinas (área tarefas. Isto para vos dizer que tive interdisciplinar e filosofia) e assim uma vida de estudante bastante terminei efetivamente o ensino preenchida, e que efetivamente secundário. era esta energia que me fazia sen- Esta nova etapa fez-me voltar a tir vivo! O mais importante para sonhar. Sempre gostei de estudar, mim, era saber que mesmo sendo e tinha uma grande vontade de trabalhador-estudante eu fazia fazer um curso superior, contudo parte daquela academia, daquele as circunstâncias da vida encami- curso... Sempre com a máxima nharam-me para outros caminhos. "Quando nós queremos, nós conNesta fase, surgiu em mim um seguimos". grande desejo de ir mais além, de Ao terminar a licenciatura, decidi encontrar novos desafios. Criar um tornar-me sócio-gerente do café projeto de vida. O facto de ter onde trabalhava, fui pai de uma estado "fora da escola" dois anos, linda menina. Duas grandes res- fizeram-me sentir mais forte e com ponsabilidades, que eu na altura mais vontade. não sei bem se estava preparado para assumir. Embora quisesse meus amigos têm na minha vida, trabalho. Estava muito inclinado muito trabalhar na área, assumi sem eles não teria conseguido! para Psicologia e Serviço Social, outras prioridades, e sabia que Tudo isto para vos dizer, que hoje mas em Viseu não existia no não ia ser um recém-licenciado sou pessoal e profissionalmente público. Então o único Curso que frustrado, tinha outras ferramen- realizado! E que foram todas as se enquadrava era mesmo Educa- tas de trabalho. Mesmo estando experiências adquiridas ao longo ção Social. Lembro-me que quan- fora da área, sempre acompanhei da vida, que me proporcionaram do olhei para o plano de estudos o trabalho daqueles que de alguma forma, trabalhavam em prol esta efetiva realização. fiquei decidido na hora. Olhei para esta Licenciatura e não poderia da Educação Social. Juntamente Repórter APES - Porque é que ser outra, através dela poderia com um grupo de Amigos, criá- decidiste fazer o curso de Educa- conciliar o meu sonho de infância mos a APTSES - Viseu (grupo de ção Social? (ser professor) e o trabalho social. Sem saber muito bem quem eram trabalho em parceria com a APTSES). Entretanto as circunstâncias Dário - Bom, inicialmente não estes profissionais e o que faziam, da vida, levaram-nos para outros sabia nada do curso. Obrigatoria- fiz várias pesquisas e desde essa caminhos. mente tinha de ficar em Viseu, altura que me apaixonei pela luta De um momento para o outro, em por causa do meu avô e do meu Maio de 2012, decidi ir para a Suíça, deixar tudo para trás, e encontrar um novo desafio. Pensava que estava preparado para tudo. Tinha tudo muito bem pensado: era só chegar, trabalhar meia dúzia de meses num trabalho qualquer, aperfeiçoar a língua, e depois era só conseguir um trabalho na área. A verdade é que correu tudo ao contrário, e decididamente afirmo: "Emigrar nunca mais!". Voltei para Portugal, e a verdade é que, surpreendentemente, numa semana eu e a minha esposa, arranjámos trabalho. Não era aquilo que desejávamos, mas o importante era ter conseguido alguma coisa! Daí até ao momento foi sempre a melhorar, dia após dia, com muito esforço, contornando muitos obstáculos, mas sempre otimista em relação ao futuro e acima de tudo, reconhecendo o valor que os 13 do reconhecimento profissional. E atualmente sinto-me bastante substituição por licença de mater- equipas depende do número de feliz e realizado. nidade, tenho aproveitado ao processos familiares. A ideologia O mais importante para mim é máximo cada momento/ base da medida parece-me ser saber que através do meu traba- experiência. Relativamente ao bastante interessante, na medida lho posso ajudar os outros. trabalho propriamente dito, faço em que, se pretende que diferen- de tudo um pouco, e nenhum dia tes áreas do saber (Psicologia, Repórter Apes - Podes falar-nos é igual! Presentemente as nossas Serviço Social e Educação Social) um pouco do teu trabalho? famílias ultrapassam graves e sérios problemas (económicos, congreguem esforços com o objetivo de promover a inserção plena Dário - Atualmente sou Educador pessoais, sociais e até culturais). E dos indivíduos/famílias na socie- Social numa equipa de RSI. Espe- torna-se cada vez mais difícil fazer dade. E este trabalho é possível, rei três longos anos, mas valeu a qualquer tipo de intervenção. Ain- quando cada Técnico sabe qual é pena! Embora estivesse muito da para mais quando se trabalha virado para o trabalho em contex- num contexto completamente o seu trabalho. Relativamente ao meu trabalho efetivo, quando chega um proces- to escolar (área em que realizei o rural e empobrecido. Contudo, estágio curricular), agora sinto acredito que ainda podemos fazer so novo, a primeira entrevista é que é uma realização muito gran- muito! Enquanto Educadores realizada pela Assistente Social e de trabalhar diretamente com Sociais, temos a árdua missão de posteriormente a equipa técnica famílias. Trabalho numa equipa levar um pouco de esperança e de reúne com o objetivo de realizar o multidisciplinar fantástica. Neste conforto a estas famílias. plano de intervenção familiar momento ainda me sinto muito Fazendo uma breve resenha ao (PIF). Neste plano são discutidas e numa fase de aprendizagem, e a Rendimento Social de Inserção, analisadas as vulnerabilidades e Psicóloga e a Assistente Social esta é uma medida de apoio do potencialidades da família, onde têm sido incansáveis! Sentimos que somos efetivamente uma estado que visa a autonomização dos indivíduos. A aplicação da posteriormente se definem as ações a desenvolver com o agre- equipa e isso faz a diferença na medida tem vindo a ser desenvol- gado familiar (Saúde, Emprego, nossa intervenção. Embora saiba vida pelas equipas multidisciplina- Educação Social, Psicologia). De que apenas estou a fazer uma res de RSI. A constituição das seguida, a Assistente Social elabora um contrato de inserção com a família. A partir deste momento, inicio a intervenção no âmbito da Educação Social. O meu primeiro objetivo é estabelecer uma relação de empatia, confiança com a família. Os primeiros contactos com os beneficiários são fundamentais para o desenvolvimento do nosso trabalho. Posteriormente, as atividades que se irão realizar em meio natural de vida, são definidas consoante as necessidades/ vulnerabilidades do agregado 14 familiar. ação. Concordas? enquanto Técnicos Sociais, devemos contrariar a tendência, e As áreas-chave da nossa intervenção são: educação parental, edu- Dário - Eu penso que maior parte saber retirar o melhor das políti- cação para a saúde, gestão do das políticas sociais são pensadas cas sociais. Nem sempre é fácil, orçamento, higiene pessoal e oral, com as melhores intenções! O mas é possível! organização do espaço doméstico, que acontece é que a sua aplicaeducação cultural. ção prática não funciona! E aqui Repórter APES - Qual é o maior Uma das minhas grandes preocu- está o cerne da questão, o proble- desafio do teu trabalho? pações é descobrir o “tesouro” de ma de não funcionarem, é responDário - Não considero o desafio, cada família, acredito que qual- sabilidade não só do Estado, mas quer contexto por mais adverso também dos Técnicos, das institui- mas vários desafios! O RSI é uma que seja, há sempre qualquer coi- ções e da sociedade em geral. É grande experiência profissional sa por descobrir e explorar. urgente repensarmos a nossa for- para a vida! Trabalhamos diaria- Um dos trabalhos que mais gosto ma de atuar e intervir! Contudo, mente com vários tipos de famí- me dá é a alfabetização de adul- os Técnicos estão cada vez mais lias com múltiplos problemas! tos através do Método de Paulo desmotivados e limitam-se a apre- Temos famílias que aceitam o Freire. É simplesmente fantástico sentar números, que maior parte nosso trabalho e que compreen- poder valorizar os conhecimentos das vezes nem sequer correspon- dem que somos uma base de que as pessoas adquiriram ao lon- dem à realidade. Dia após dia tor- suporte e apoio familiar. Temos go da vida. Assim sendo, é para na-se cada vez mais difícil fazer outras que nos sentem como mim uma realização muito grande trabalho social, é nos exigido invasores! Cada família tem a sua poder contribuir para a realização que autonomizemos as pessoas, própria dinâmica, e o grande do sonho, daqueles que não tive- mas depois não temos respostas desafio é perceber de que forma é ram a oportunidade de estudar. Recorrendo à criatividade, criei efetivas para essa autonomização! que nós vamos entrar em cada família. Por outro lado, outro alguns jogos pedagógicos para Não considero um entrave, mas desafio que temos é mostrarmos utilizar com as famílias, que até ao por vezes dificultam e limitam a momento tem sido uma maisvalia. Através do jogo as famílias ficam mais descontraídas, o que permite abordar alguns temas sem sermos demasiados invasivos. De acordo com a minha experiência, o Educador Social nas equipas de RSI é um Técnico privilegiado, tendo em conta, a proximidade que estabelece com as famílias. Repórter APES - Muitos colegas criticam as políticas socais adotadas no nosso país, e alguns consideram-nas um entrave à nossa 15 nossa ação!! Contudo, nós à equipa com que trabalhamos, qual é o nosso trabalho! Também podemos definir como desafio, a tante é que nunca esqueçam que devemos desistir! falta de respostas que atualmente têm uma licenciatura. Devem ten- Espero muito sinceramente, que temos para responder às dificul- tar acompanhar o desenvolvimen- todos aqueles que enveredem dades que as nossas famílias pas- to da profissão, participar em pela Educação Social, tenham o sam diariamente. Entre outros workshops, seminários e outras mesmo orgulho que eu tenho, em pequenos desafios, que vão sur- iniciativas ligadas à área profissio- fazer parte desta Classe Profissio- gindo no nosso dia-a-dia. nal. Muitas vezes é nestes contex- nal! Mas sem estes desafios, o nosso trabalho também não teria senti- tos que conseguimos arranjar tra- "Todo o sonho é utópico, até ser balho. Estejam atentos, alarguem concretizado!" do, até porque quando consegui- a vossa rede de contactos, não mos obter resultados, mesmo por se restrinjam à vossa área de con- Repórter APES - Obrigada, Dário por esta entrevista! mais pequeninos que sejam, é forto, sejam audazes e lutem pelo uma grande realização pessoal e vosso objetivo. Dário - Obrigado eu, pela oportu- profissional! O que me parece, é que a maior nidade que tive em poder dar o parte de nós está à espera que o meu testemunho, e espero since- Repórter APES - Que conselho emprego ideal nos venha bater à ramente poder ter contribuído de darias aos nossos colegas desemporta! Acomodam-se a um qual- alguma forma, para que as pespregados e aos futuros profissioquer trabalho, e por ali ficam! Não soas nunca desistam dos seus nais? pode ser, temos de lutar diariasonhos! mente! Principalmente na nossa Quero aproveitar também dar os Dário - Bem, é sempre difícil responder a uma pergunta deste género, até porque quem me conhece sabe que sou bastante otimista! E tenho sempre uma palavra de motivação a dizer! Contudo, sei que é cada vez mais difícil acreditar, mas é possível! área, que ainda temos tantas difi- meus sinceros parabéns a este culdades em sermos aceites! Projeto e agradecer à APES, o Temos de nos unir e trabalhar em excelente trabalho que tem vindo prol do justo e efetivo reconheci- a desenvolver ao longo destes mento da Educação Social! Quan- dois anos. tos de nós conhece as Associações E por fim, não menos importante, Profissionais que lutam por esse agradecer-te a ti, pela paciência, gados e que até já desistiram! O reconhecimento? Quantos de nós cuidado e acompanhamento ao somos sócios dessas Associações? longo que me deixa bastante triste! Quantos de nós conhece o traba- Tenho muitos amigos desempre- De acordo com a minha experiên- lho que as Associações fazem? cia pessoal, acredito sempre que Estas e outras questões devem um dia chegará o nosso momen- colocar-se, até porque podemos to! Tal como chegou o meu, analisar o percurso da Psicologia, embora precário, mas chegou! que também passou por todas as Aquilo que eu costumava dizer dificuldades que nós estamos a aos meus colegas era, nunca passar e no entanto, atualmente a desistam e lutem sempre pelos Psicologia está inserida e é reco- vossos sonhos, o facto de traba- nhecida em todas as áreas e con- textos! E isso só foi possível, pornão descredibiliza em nada o vos- que as pessoas que realmente so percurso profissional. O impor- acreditaram nessa área/profissão não desistiram! Tal como nós não lharem noutras áreas, 16 da turbulência desta entrevista. Habitação Social Inclusão versus Exclusão Adelaide Ruivinho Educadora Social Falar de Pobreza e Exclusão Social questão banal ou não parece tarefa fácil, pois atual- demasiadamente mente estes conceitos encontram- debatida (talvez se em fase de mutação, enfrentan- devido aos tempos do uma mudança de paradigma. de crise que se atra- Durante anos, os conceitos expres- vessa), a Pobreza e a sos surgiram sempre associados, Exclusão Social con- questionando-se muitas vezes se a tinuam a ferir um elevado número uma necessidade toma lá a solupobreza leva à exclusão ou se a de indivíduos, muitos dos quais ção”! exclusão é sinónimo de pobreza. convivem connosco no dia-a-dia Pela experiência profissional que Nos dias de hoje, encara-se a sem evidenciarem qualquer tipo possuo, tenho a dizer que a teoria pobreza mais de uma perspetiva de sinal de alerta (os chamados e a prática são bastante distintas, de inacessibilidade multidimensio- novos pobres, que apresentam bem como a prática profissional e nal (económica, material e social), novos rostos e novos sinais carac- a verdadeira vivência dos indiví- o que tem dado maior ênfase ao terizadores). duos. É certo que a realidade dos conceito de exclusão social por Relacionar os fenómenos descritos educadores sociais que trabalham considerar-se que este engloba com a minha área de atividade uma desintegração social total profissional, Habitação Social, leva ciliar os princípios orientadores da caracterizada pela não participa- -me para uma esfera de reflexão nesta área é dura, pois ter de consua formação de base (princípios ção do indivíduo na vida em comu- paradigmática e humanista, muito assentes sobretudo numa linha de nidade - o que poderá ter origem aquém daquilo que efetivamente intervenção humanista) com prin- na falta de oportunidades de base se faz (ou se tenta fazer) nesta cípios materialistas e sobretudo que impossibilitaram o acesso a matéria. Acresce ainda a esta refle- numéricos, traçados por uma ver- atividades sociais e comunitárias e que dificulta a convivência, a xão a minha formação académica como Educadora Comunitária - tente política que orienta e regula a habitação social no país, é uma integração e o reconhecimento na onde a missão passa pela difícil e tarefa muitas vezes incongruente e sociedade, e também a estabilida- desafiadora tarefa de escutar, revela forçosamente um contras- de e permanência de laços relacio- interpretar, intervir, educar e senso, frequentemente difícil de nais coesos, quer com a família transformar, tentando não permi- conseguir conciliar com aquelas quer com a comunidade (amigos, tir a réplica assistencialista “do que são as verdadeiras necessida- vizinhos, conhecidos, etc.). Embora dar”, ou seja, a réplica do “tens des das famílias que procuram um para muitos possa até parecer uma teto. 17 habitação social pode ser vista Relacionar os conceitos de Pobre- seguem assegurar o acesso ao seu za, Exclusão Social e Habitação lar/à sua habitação. Estas são duas como uma resposta desprezível Social leva-me à priori a considerar realidades vivenciadas na minha para a sua situação, sendo encara- que a habitação social tem um prática profissional, que embora da esta medida de apoio como um papel de extrema importância no apresentem um problema inicial fracasso para a família. É importan- combate às situações de pobreza e semelhante – a falta de acesso à te frisar que a vivência em habita- exclusão social. No entanto, se por habitação – evidenciam caracterís- ção social não é de forma alguma um lado é certo que o acesso à habitação promove a redução da ticas humanas distintas, para as quais é preciso ter a habilidade e discreta e traz (infelizmente) uma conotação negativa, pois quem pobreza (em termos numéricos), delicadeza humana de escutar e habita estes empreendimentos é será também certo que este instru- compreender, sabendo intervir da facilmente rotulado como pobre/ mento combate a exclusão social? forma mais adequada possível, miserável/gente de pouca educa- Ou estará esta resposta claramen- tentando não fragilizar vivências ção. te disfarçada de solução, contri- mas sim fortalecê-las. Assegurar a Pelo que descrevi anteriormente, buindo para o início de um proces- estas duas realidades o acesso à atrevo-me aqui a dizer que, na so de marginalização? habitação evidencia para uns (os minha perspetiva, é extremamente Partindo do pressuposto que tradicionais pobres) o alcance de necessário e urgente repensar a Pobreza se traduz na privação de uma oportunidade, o acesso a um estratégia aplicada na área da algo (recursos não só económicos, bem jamais conseguido de outra habitação, e também da habitação mas sobretudo) e que esta priva- forma sem ser pela via do apoio social, pois a forma como os meca- ção não permite a satisfação de social e aqui, sem dúvida alguma, a nismos de atribuição e gestão algumas das necessidades conside- habitação social pode ser efetivaradas básicas (alimentação, higie- estão delineadas no nosso país, mente um instrumento de comba- revelam resultados bastante nega- ne, etc.), então é fácil concluir que te à pobreza e um meio de poten- tivos e penso que isto é visível não os chamados pobres se encontram ciar ou fortalecer as relações com a só para os técnicos da área mas num prisma inferior, à margem sociedade; para outros (os chama- daqueles que aos olhos dos outros dos novos pobres) a atribuição de têm as suas necessidades básicas asseguradas. No entanto, verificase no contexto profissional uma fase de mudança, onde os novos pobres apresentam características distintas dos tradicionais pobres. Os novos rostos da pobreza são limpos, bem cheirosos e discretos, evidenciam tristeza mas também garra e angústia pelo futuro… talvez por já lhes ter sido possível aceder a um nível de vida superior ao atual, e embora consigam ter as suas necessidades básicas/ primordiais asseguradas, não con- 18 também para a população em geral. Se pensarmos na dificuldade em aceder a uma habitação, nos habitação, diversas têm sido as esforços monetários exigidos e dos formas de construção e atribuição veis, quebrando a privacidade humana? Porque têm as zonas parâmetros que sustenta o acesso de habitação social ou económica envolventes a estes empreendi- ou não a este direito, facilmente ou a custos controlados, como lhe mentos de ficar muitas vezes ao verificamos como existe uma des- queiram chamar, mas certo é que abandono ou desacreditadas pelo criminação digamos que a intervenção tem sido sempre próprio poder local para um inves- “financeira” neste domínio. E se muito semelhante, apesar dos timento? E porque têm os casos de para adquirir uma habitação, os detentores de alguma riqueza ser sujeitos a uma análise pouco diversos contextos económicos e sociais vivenciados. Se a habitação célere, assente em critérios numé- monetária (aqueles que trabalham é um direito do ser humano ricos e pouco qualitativos, não pri- e movem a economia) vêm-se con- (consagrado na Constituição da vilegiando de forma alguma as frontados com o difícil acesso a República Portuguesa) e se todos este bem, digo-vos que para arren- devemos aceder a este bem, por- vivências de cada agregado. Estas são questões colocadas que aguardam uma resposta e para as quais dar na esfera social o cenário tam- que motivos a habitação tem que bém não é muito diferente. Os ser caracterizada como social? E se penso que uma nova estratégia mecanismos existentes para este é social, o que à partida demonstra global/nacional no domínio da processo são demasiados rígidos e que a família necessitou de um habitação possa resolver. No procuram avaliar os níveis de incentivo para atingir este meio, entanto, será necessário que esta pobreza (ou não) das famílias, porque motivos na maioria dos nova estratégia assente nas neces- como se a análise de uma possível casos as habitações não apresen- sidades das famílias, nos seus intervenção dependesse somente tam condições condignas e iguali- modos de vida, nas suas aspirações da carteira (o chamado rendimen- tárias às demais? Porque motivos para o novo lar. Criar e atribuir to anual bruto) e do teto atual- têm de apresentar uma estrutura habitação de forma regulamentar mente habitado pela família (onde de fraca qualidade no que respeita sem auscultar os principais interveaos materiais aplicados? Será para nientes no processo, sem solicitar conjuga-se a relação entre a dimensão do agregado familiar e rentabilizar os cofres dos investi- a sua participação desde a fase as condições habitacionais). dores!? Porque têm de ser cons- inicial é, à partida (no meu ponto Diversos têm sido os esforços para truídas em aglomerados e empiagilizar processos de atribuição de de vista), um tiro no escuro, como lhados fogos facilmente identificá- se costuma dizer, e quebra (em muitos dos casos) a possibilidade de intervenção futura. Talvez por estes erros cometidos, grande parte dos moradores de habitação social não queiram ver os técnicos por perto, e certo é também que estes técnicos se sentem cansados e frustrados pelas suas poucas conquistas no terreno. O que muitos não sabem, ou não querem saber, é que estas poucas conquistas derivam de intervenções mal estruturadas logo após o ato de 19 atribuição de uma habitação, pois não é dado tempo O pássaro pode construir o seu ninho sem nenhum para se estabelecer uma relação com a família, não ensinamento prévio. Nosso ninho não existe, temos há tempo para acolher, avaliar e trabalhar em mútuo acordo, o tempo é escasso e o que importa é reduzir o número de elementos sem habitação ou a viver em condições precárias. Ao técnico é exigido mais traba- de aprender formas que nos permitam, em cada época, fazer diferentes tipos de habitação!” Vilanova, 2010 lho e em menor tempo, o que implica trabalhar no imediato e em quantidade sem apostar na qualidade e continuidade da intervenção. Termino dizendo que devemos trabalhar no sentido de garantir o acesso à habitação a todo e qualquer indivíduo, garantindo que este meio seja apenas um instrumento inicial de combate à pobreza. Contudo, se ficarmos só por aqui e não dermos uma continuidade de apoio/intervenção às famílias não estaremos a combater coisa nenhuma, mas sim a criar mais um lugar de potencial exclusão! 20 BIBLIOGRAFIA Capucha, L. (1998), Pobreza, exclusão social e marginalidade in Viegas J. M. e Costa, A. F. Orgs., Portugal que modernidade?, Oeiras, Celta Editora. Peixoto, P. (2010), Pobreza e exclusão social, Fontes de Informação Sociológica. Faculdade de Economia – Universidade de Coimbra. http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/1468.pdf Agir contra a pobreza Ana Pereira Educadora Social - Cáritas Algarve No ano de 2002 terminei o curso desgastante mas muito de Educação e Intervenção enriquecedor, com Comunitária na Escola Superior de muitas vitórias, Educação, da Universidade do frustrações e que me Algarve. Após a sua conclusão as faz refletir diariamente expectativas eram imensas, em em todas as mudanças sociais, especial devido à grande vontade políticas e económicas que a nossa pessoais, sociais e profissionais de colocar em prática tudo o que tinha aprendido nos 4 anos da sociedade atravessa, acreditando com vista à autonomização, nos indivíduos e na capacidade que criando redes de proximidade às licenciatura. Apesar dos trabalhos têm em operar o seu processo de pessoas, aos problemas e às suas efetuados no terreno, das mudança, assim como na causas. disciplinas práticas, estágio e importância do papel do Educador A intervenção no atendimento monografia, a responsabilidade e Social neste processo de social tem início com a realização vontade de ser uma profissional autoconhecimento e capacitação de um diagnóstico que supõe a competente e uma mais-valia para a transformação. participação ativa do indivíduo junto da instituição que apostou O atendimento social é exigente e para que este se sinta parte no meu trabalho e, sobretudo, requer que o Educador Social seja integrante de todo o processo. Só perante a população alvo com versátil e tenha capacidade para com a sua participação e quem iria trabalhar era uma trabalhar em diversos contextos e envolvimento é possível alcançar a inquietação. estabelecer redes de parcerias. É mudança. No diagnóstico é Esta reflexão sobre o tema um desafio constante que muito se necessário identificar as fraquezas "pobreza" baseia-se sobretudo na deve à heterogeneidade da desenvolvimento de competências e potencialidades do indivíduo experiência de 11 anos de trabalho população com que se trabalha e à para que, após este estudo, seja numa IPSS na cidade de Faro, mais escassez de recursos, muitas vezes possível delinear um projeto concretamente, na dinamização do indispensáveis para o sucesso de individual adequado a cada serviço de atendimento social, na todo o processo. Cada situação é situação, reforçando as suas coordenação de um centro de única e o trabalho a desenvolver competências pessoais, sociais e acolhimento de mulheres grávidas requer o estabelecimento de uma profissionais. É fundamental que a e no apoio à formação de agentes relação de confiança com o necessidade deste processo de de ação social de proximidade. indivíduo, de partilha e de mudança esteja enraizada no Este é um trabalho complexo, continuidade, que permita o indivíduo. É necessário que este 21 reconheça que necessita de ajuda falta de recursos. A resolução da inevitável “dar o peixe” para mais e que a capacidade para a privação e das carências básicas tarde se conseguir “ensinar a mudança está dentro de si, que (alimentares e outras) é pescar”. Quando estamos perante não somos nós, enquanto técnicos, momentânea (Costa, 2008). Torna- uma família com graves carências económicas e alimentares, torna- que o vamos conseguir, mas sim se necessário o indivíduo passar a ele, o ator e impulsionador da sua ser autossuficiente e ter condições se necessário dotá-las de alguns própria autonomia. de obter os meios necessários à A pobreza é uma situação de privação provocada pela carência ultrapassada a situação de sua subsistência para exercer em pleno o exercício da sua cidadania. privação, se possa dar dos mais diversos recursos. Muitas Ao longo da minha experiência destes bens para que, após continuidade ao processo de vezes, pensa-se que ao resolver a profissional percebi que por vezes construção do projeto que privação o indivíduo deixa de ser é necessário adotar uma atitude permitirá alcançar a autonomia. pobre, contudo isto só acontece assistencialista para atenuar a Este processo é moroso e difícil, quando se resolve o problema da situação de privação, sendo devido à situação de carência e privação, baixa autoestima e desconhecimento dos seus direitos e deveres enquanto cidadão e sobretudo porque requer uma tomada de decisão do indivíduo. Cabe ao Educador Social mostrar que existem outros caminhos e oportunidades e que é preciso adotar uma postura proactiva e estar atento a todos os recursos e oportunidades existentes na comunidade. No caso do atendimento social, o utente é acompanhado com alguma frequência, são registadas todas as tomadas de decisão, apoios prestados (alimentares, encaminhamentos, etc.) e as diligências efetuadas ao longo do processo de acompanhamento. Em conjunto com o utente é avaliada a eficácia do plano adotado. O objetivo é a intervenção do Educador Social ser cada vez menor, assim como, o apoio prestado. No centro de acolhimento para mulheres grávidas torna-se mais 22 fácil acompanhar as situações vez mais profunda. porque é realizado um trabalho A pobreza é um diário e contínuo. A relação entre fenómeno em técnico e utente é mais forte, o constante mutação que facilita todo o processo de porque está intervenção. Durante a intimamente ligada institucionalização é trabalhado o às transformações projeto de vida da utente, de acordo com as suas aspirações e socias, políticas e económicas, situações familiar e social. Na sentindo-se a maioria dos casos após o período necessidade de de institucionalização as utentes promover os adquirem a sua autonomia, ajustamentos embora se verifique algumas necessários para a situações em que é necessário minimização de prolongar o apoio institucional por tudo o que desta mais algum tempo. provém. Tendo Existem cada vez mais pessoas a como objetivo a recorrer ao serviço de promoção da atendimento social numa situação autonomia do limite. Devido à conjuntura social, indivíduo, torna-se política e económica, nos últimos imperativo que o tempos têm sido cada vez mais apoio social deixe comuns os casos de “pobreza envergonhada” que solicitam de ser necessário, significando que foi acompanhamento. Indivíduos que ultrapassada a perderam o seu emprego e aos situação de carência quais, num longo período de e de dependência tempo, não surgiu uma nova do apoio oportunidade de trabalho. Pessoas institucional e que que deixaram de conseguir os indivíduos se suportar as despesas e tornaram compromissos que tinham autossuficientes. É assumido. Nestes casos, é com este objetivo necessário que haja uma que vou exercendo adaptação à nova situação a minha atividade, socioeconómica pois, muitas vezes, assistindo às os problemas atingem proporções conquistas dos indivíduos com Referências: insustentáveis pela tentativa de quem trabalho, na expetativa que Bruto da Costa, Alfredo (2008), Um manter o nível de vida anteriormente alcançado, embora consigam alcançar a sua autonomia e se tornem cidadãos olhar sobre a pobreza: vulnerabilidade e exclusão social sem recursos, acabando por viver com o poder necessário ao pleno no Portugal contemporâneo. numa situação de pobreza cada exercício da cidadania. Gradiva Publicações 23 Um olhar sobre os Sem Abrigo Joana Oliveira e Marta Carvalho Educadoras Sociais Ao pensarmos num Sem-Abrigo, a primeira imagem que a nossa mente realça é a de uma pessoa que não tem teto, marginalizada e excluída da sociedade, que vive na rua, independentemente das condições atmosféricas, coberto de cartões e jornal, dependente da amabilidade e caridade dos que por ela passam. Ser Sem-Abrigo implica muito mais! Atualmente o conceito de SemAbrigo tem um carácter bastante complexo e englobante, que vem a sofrer alterações ao longo dos tempos, o que torna a sua designação bastante abrangente, não havendo apenas um conceito único. Podemos dizer que semabrigo são todos aqueles que são alvo de exclusão social e que não têm maneira de ter a seu cargo encargos financeiros, como o de manter uma habitação (AMI, 2008). Este termo designa a situação daqueles que por diversas razões não possuem meios de subsistência e por isso recorrem a alternativas provisórias de abrigo, tal como a rua, carros e casas abandonadas ou instituições de carácter social. Segundo a AMI (2008), existem quatro grandes grupos que se 24 adaptam à situação de sem-abrigo, são eles: sem-abrigo, sem alojamento; habitação precária e habitação inadequada. Quanto às características: os sem-abrigo são definidos como pessoas que vivem na rua, pessoas que vivem em alojamentos de emergência; os sem alojamento são os lares de alojamento provisórios – fase de inserção, lares de mulheres, alojamento para imigrantes, pessoas que saíram de hospitais ou estabelecimentos prisionais e alojamentos assistidos/ acompanhado; a habitação precária é uma habitação temporária/precária (casas de amigos, familiares, sem arrendamento, ocupação ilegal), pessoas à beira do despejo, vítimas de violência doméstica e por fim habitação inadequada, ou seja, pessoas que vivem em estruturas provisórias, inadequadas às normas sociais (ex: caravana), pessoas em alojamento indigno (barraca) e sobrepopulação. Esta tipologia exposta anteriormente foi desenvolvida pela Federação Europeia de Organizações Nacionais que trabalham com os sem-abrigo (FEANTSA). Aqueles que se encontram em situação de Sem-Abrigo, para além da falta de um lar, encontram-se num processo constante e crescente de fratura com os principais pilares de referência social. São diversos os fatores condicionantes a esta problemática, entre eles, o uso abusivo de substâncias ilícitas, alcoolismo, o aumento do desemprego, distanciamento familiar e problemas de ordem relacional (Lusa, 2008). Estes condicionantes em conjunto com a quebra dos laços comunitários potenciam o crescimento da exclusão social. A situação de Sem-Abrigo reflete-se em diversas categorias sociais, esta vulnerabilidade social atinge principalmente idosos, jovens, adultos, na sua maioria homens, em idade ativa, indivíduos com problemas de toxicodependência, imigrantes e minorias étnicas, e até mesmo em famílias. São individualidades bastante heterogéneas que se encontram num estado de recalcamento social e psicológico, com problemas de saúde averbados, problemas estes de ordem física ou mental, consumo de substâncias ilícitas e doenças infectocontagiosas e, também, afluência migratória. Em Portugal, foram assinalados, pela equipa de rua e atendimento social, 1187 casos de sem-abrigo em 2007 (Lusa, 2008), sendo que a maioria desta população é de Nacionalidade Portuguesa e o remanescente de PALOP’s, Brasil e Países do Leste da Europa. Os motivos que levam à imigração são variados, como paradigmas pode ser referido a procura de uma vida melhor, outros em busca de melhores condições e atendimento a nível de saúde, abrangidos pelos acordos de saúde entre países, e acabando por viver em Portugal em situações precárias, pois as embaixadas são similarmente pobres e não têm meios para os sustentar e amparar. Existe igualmente alguns casos que acompanham familiares nos acordos de saúde, e outros que já habitam em Portugal há alguns pares de anos e que já eram dignos de uma vida formada e completamente integrados na nossa sociedade, mas que por motivos de saúde perderam tudo ficando outra vez em situações muito difíceis. A pobreza e a exclusão social são as principais problemáticas relacionadas com o tema em causa. “Apesar da atenção que esta realidade tem merecido, a pobreza é hoje, ainda, um sério e destacado problema nacional” (Cunha, 2008). Afeta variadas camadas sociais, privando-as de meios de subsistência de qualidade. A pobreza deixou de ser considerada apenas como privação de rendimentos ou de bensmateriais, mas sim o resultado da falta de acesso a recursos 25 fundamentais para a realização do bem-estar do ser humano. A sociedade tem o dever de cooperar para a erradicação da pobreza de forma a contribuir para uma melhoria da qualidade de vida da população em geral e com o princípio da igualdade de oportunidades. Segundo a Declaração Universal dos Direitos Humanos, no artigo 1º “todos os cidadãos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”. (Assembleia Geral das Nações Unidas, 1948) A exclusão é um conceito que está intimamente ligado à pobreza, apesar de serem distintos, e que é bastante recente. A exclusão Social é um processo através do qual o individuo rompe a sua “ligação” com a sociedade, podendo esta ocorrer na perda de condições fundamentais, tais como, fatores económicos, sociais e culturais. (Rodrigues, s.d.). São identificados três tipos de exclusão social: Económico, Social e Comportamentos autodestrutivo e anti-sociais. “Uma pessoa é considerada socialmente excluída quando está impedida de participar plenamente na vida económica, social e civil e/ ou quando o seu acesso ao rendimento e a outros recursos (pessoais, familiares e culturais) é de tal modo insuficiente que não lhe permite usufruir de um nível de vida considerado aceitável pela sociedade em que vive” (Gallie e Paugam, 2002). Apesar de todos estes fatores, o sem-abrigo não deixa de ser um indivíduo integrante da sociedade, com sentimentos e sonhos, que merece oportunidades iguais a todos os outros. O primeiro estágio da nossa licenciatura de Educação Social ocorreu num Centro de Acolhimento para Sem-Abrigo, a primeira reação que surgiu foi a do medo por uma população desconhecida algo estigmatizada pela própria sociedade e desconhecida para ambas. Indivíduos que vivem em mendicidade dependentes da solidariedade de outros e privados das mais básicas condições de vida digna, o Sem-Abrigo que muitas vezes vemos a deambular pelas ruas. A surpresa na integração e adaptação à instituição e ao mundo desconhecido por nós, foi recebido de forma muito mais gratificante e recompensadora daquilo que era esperado, a população desconhecida e que nos atormentava em determinado momento deixou de o fazer eram pessoas comuns, como tantas outras ao nosso redor apenas com o infortúnio de não possuírem um teto, um lar. Para entendermos este conceito temos de aceitá-lo como uma realidade social a resolver e não como mais um problema da sociedade, temos de ter sempre em consideração que estas pessoas, apesar de tudo, possuem uma história de vida, um passado mais ou menos risonho, e que principalmente merecem recuperar um papel ativo na sociedade, é necessário entender 26 os seus sentimentos, ambições e perspetivas de vida, de forma a poder orientá-los, organizá-los e promover a mudança interna. A Pobreza é, sem margem de dúvida, um dos maiores flagelos da sociedade atual, caracterizando-se pela escassez do estritamente necessário à manutenção e subsistência da vida humana, e não passando indiferente a sua presença em todo o mundo. (Chambel, 2008) O crescente empobrecimento dos indivíduos e famílias é uma realidade constante que se tem arrastado ao longo dos séculos, nas mais diversificadas formas, quer por herança, quer por incidência, quer por acidente, quer por falta de capacidade dos indivíduos, das sociedades ou das instituições para a conseguir atenuar, e, exprime-se na atualidade como uma realidade que nos coloca um enorme desafio: a luta a favor da sua erradicação. O fenómeno da Pobreza pode ser considerado como uma “doença social” que tem predominado ao longo da história da Humanidade (Costa et al., 2008) e que a sociedade parece desconhecer, visto não conseguir reunir as condições e características necessárias para a erradicação do problema e de tudo o que este acarreta. A falta de recursos, aliada, muitas das vezes a situações de Exclusão Social, afeta profundamente os indivíduos e as sociedades. O Educador Social, como agente de sensibilização, transformação e mudança, constitui um instrumento bastante importante no que concerne à atuação em contextos de Pobreza e de Exclusão Social, atuando mais especificamente no processo de reeducação e reintegração social dos indivíduos que sofrem com estes problemas. (Leitão, 2008) Tendo por objetivo o desenvolvimento humano dos indivíduos e grupos com problemas sociais e de integração, o Educador Social deverá empreender em potenciar-lhes o melhoramento das suas condições de vida, da integração social, da participação e da promoção social nas comunidades, planificando, organizando e apoiando a realização de ações educativas. Pelo facto de se trabalhar com pessoas, conhecem-se realidades sociais variadas, pois as pessoas são todas diferentes e têm necessidades específicas distintas, posto que para além de uma dedicação acrescida, este facto exige um apoio constante e consistente por parte de todos os técnicos e da sociedade em geral. Os indivíduos e os grupos com necessidades e dificuldades de diversa índole quer sejam financeiras, habitacionais, desigualdades de oportunidades, de funcionamento ou organização familiar, entre outras, exigem instrumentos de política social capazes de transformar e de recriar formas estratégicas de intervenção. A vulnerabilidade social ou a necessidade de criar melhoria na vida dos indivíduos e dos grupos implica simultaneamente um trabalho intenso de identificação das mais ínfimas competências destas pessoas, ativando o seu processo de mudança. Na prática, encontramo-nos perante um trabalho complexo, o qual, teórica e conceptualmente é impensável intentar sem um tipo de abordagem que contemple a participação ativa e o envolvimento pleno dos indivíduos, das famílias e dos grupos. Combater a vulnerabilidade social dos cidadãos e dos grupos é seguramente um desafio complexo, repleto de medidas e programas que impõem a participação desses mesmos cidadãos e o empenhamento coletivo da sociedade, dos indivíduos, das instituições e dos profissionais do social. (Gallie e Paugam, 2002 citado em OEDT (2003) Cada vez mais, aliado ao combate dos problemas sociais que representam uma ameaça à coesão social, está o conceito de integração social enquanto princípio, segundo o qual os indivíduos e os grupos, que compõem as sociedades atuais, tendem a assumir um papel próativo, dinâmico, progressivamente capacitador, capaz de fazer valer 27 os seus direitos e as suas potencialidades. Existe, por parte da sociedade em geral, uma grande responsabilidade moral no combate à estigmatização, à nãoaceitação e isolamento do que é diferente, das minorias sociais, daqueles que sofrem com a falta de recursos e consequentemente com a Exclusão Social. (Cunha, 2008). Este tipo de população é vista como muitas vezes frágil ou então fria e enrijecida pelas desventuras e amarguras da vida. Por um ou outro motivo estes seres humanos sentem-se rejeitados pela sociedade e invadidos por sentimentos negativos, retraindose nos seus mundos, tornando muito mais difícil a aproximação aos mesmos quando se tenta ajuda -los, não conseguem entender nem perceber que a ajuda pode ser feita de forma “gratuita” e sincera. Trabalhar com os sem-abrigo é de todo um trabalho de raiz, é necessário inicialmente estimulálos para o gosto de viver e de se sentirem úteis, principalmente que voltem a amar-se a eles próprios e gostarem do seu reflexo no espelho, depois desta competência trabalhada tentar com eles a sua reinserção ou reintegração na vida ativa da sociedade. No caso específico do grupo que abrangeu o nosso estágio, têm um teto que os abriga, não sendo este o problema mais grave, sendo necessário inseri-los no mundo profissional e trabalhar bem esta habilitação de forma o mais sólida possível. Mas antes, cuidar as restantes competências: funcional, habitacional, familiar e social. Proporcionar-lhes a mudança interna. Algo bastante gratificante e desafiador foi tentar perceber e compreender as características de cada utente, bem como a forma de se lidar com os mesmos, de se relacionar e adaptar às situações. O perceber e respeitar o outro é algo que deve estar presente em cada minuto da nossa vida, pese embora, muitas vezes sermos dotados de uma certa amnésia. O Educador Social possui um papel bastante importante com este tipo de problemática. Segundo Romans, M.; Petrus, A.; Trilla, J. (2003) o educador social tem determinadas funções selecionámos algumas que acredito que se enquadrem diretamente neste contexto, são elas: função detetora e de análise de problemas sociais e suas causas; orientação e de relação institucional; o binómio relação/ dialogo com os alvos da sua intervenção; organizativa e participativa da vida quotidiana e comunitária; formativa/ informativa e orientadora e função económica e social. As funções passam pelo meio interno e externo, porque existem um trabalho a ser executado quer no interior da instituição quer fora, estes sujeitos devem ser acompanhados no todo não parcialmente. A intervenção não é individual, é importante que o educador social trabalhe em rede, deve existir um trabalho de colaboração e em equipa. O educador tem que estimular o grupo, desenvolver projetos de intervenção para obter resultados. Num centro de acolhimento um educador social que exerça funções na instituição não pode apenas trabalhar com a sua equipa técnica mas sim estender o seu trabalho a equipas externas e multidisciplinares. Um Educador Criativo que executa o seu trabalho em prol do grupo e das suas necessidades. Sempre, melhorando as fraquezas. Tornar o nível geral de competências dos cidadãos mais elevado significa aumentar as suas oportunidades profissionais e contribuir para a luta contra a Pobreza e a Exclusão Social. Com este propósito, e através de uma ideologia que analisa a Educação e a Formação como fatores imprescindíveis para o desenvolvimento social dos indivíduos, o Educador Social incentiva a multiplicação e consolidação das oportunidades de aprendizagem para adultos, tornando-as acessíveis a todos que as procuram. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMI (2009), Fundação AMI retirado em 15 de Março de 2009 em http://www.ami.org.pt/default.asp? id=p1&l=1 Assembleia Geral das Nações Unidas (1948). Declaração Universal dos Direitos Humanos. Retirado em 22 de Maio de 2009 em http://www.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm Chambel, E. (2008). Pobreza, Intervir para Mudar. Revista Cidade Solidária, nº 20, SCML Costa, A.B. (2008). Um olhar sobre a pobreza - vulnerabilidade e exclusão social no Portugal contemporâneo. Lisboa: Gradiva. Cruz, H.; Jorge, R.; Morais, P. e Basílio, T. (2009). Rendimento Social de Inserção: Uma medida de combate à pobreza, Revista Cidade Solidária, nº 21, SCML Cunha, R. (2008). Pobreza, Intervir para Mudar. SCML, Revista Cidade Solidária, nº 20 OEDT (2003), Exclusão Social e Reinserção, retirado em 21 de Maio de 2009 em http:// ar2003.emcdda.europa.eu/pt/page073-pt.html#fn-47-1-521000-1-0-1 Leitão, A. P. (2008), Educação Social e Contextos de Intervenção, Isce, Odivelas Lusa .(2008). Sem-abrigo: maioria são homens. Lisboa: Lusa 28 O Educador e a Pobreza Sónia Pirra Educadora Social A crise económica ocorrida há 6 considera que um anos deu início ao impensável em indivíduo está em países onde o desenvolvimento situação de risco de havia sido a palavra-chave nas pobreza monetária foi de 4994€ que tem a sua relevância para o últimas décadas. A crise deixou um por ano, ou seja, em cerca de fenómeno. legado de pobreza, contribuindo Relativamente ao desemprego, 416,16€ por mês (Pordata). para o aumento da exclusão social, Segundo o Eurostat, Portugal em verificou-se que no 4º trimestre de de um elevado número de desempregados e a um 2012 tinha 2,7 milhões de pessoas 2013 existiam 826.000 em situação de risco de pobreza ou desempregados em Portugal incremento na desigualdade. de exclusão social, que A pobreza pode ser “entendida corresponde a 25,3% da população verificado uma ligeira descida nos como uma situação de privação total tendo-se verificado uma números a taxa continua acima dos resultante de falta de ligeira subida em relação a 2011 16%. O desemprego de longa recursos.” (Costa et.al. 2008), em (24,4%), esta taxa continua a ser duração, afeta atualmente mais de (Pordata), embora se tenha que os recursos são essenciais para uma das mais altas da União metade da população o acesso a um determinado padrão Europeia. desempregada, o qual favorece o de vida. A pobreza pode ser A pobreza é um fenómeno agravamento e perpetuação das categorizada em relativa ou multidimensional e tem a sua situações de pobreza e exclusão absoluta, nos países desenvolvidos origem em bases estruturais e social. a pobreza manifesta-se sobretudo institucionais e está relacionado O risco de pobreza não é de forma relativa, pois expressa a com as políticas económicas e homogéneo pelo que as dificuldade em viver de acordo sociais, em que se englobam categoriais sociais que estão mais com o padrão médio pelo que fatores como o mercado de vulneráveis à situação de pobreza difere consoante a sociedade e nos emprego e a redistribuição de países mais pobres de caracter rendimentos. são: as famílias monoparentais; agregados familiares com crianças absoluto a qual traduz a Embora a evolução da situação do em que um dos elementos aufere incapacidade de satisfazer as risco de pobreza não esteja rendimentos; os desempregados ; necessidades básicas. exclusivamente dependente das e os reformados. Em 2011 a linha de pobreza dinâmicas do mercado de trabalho O aparecimento de novas relativa, ou seja, o limiar de e, em particular, do desemprego, condições de vulnerabilidade rendimento disponível por adulto pode-se constatar que é um fator social, que estão associados à crise equivalente abaixo do qual se 29 económica e austeridade, faz com o papel dos Educadores Sociais na luta contra a pobreza seja fulcral, pois a sua intervenção pauta-se por uma perspetiva multidimensional e integrada. O Educador Social conhece e identifica as causas e consequências da pobreza nas suas diversas dimensões, sendo necessário que a sua atuação seja feita de uma forma prospetiva, não só na tentativa de resolução da privação, mas conjuntamente na procura de uma autonomia de recursos. Neste contexto o Educador é fundamental para: - Ajudar as pessoas a recuperar a sua independência; - Ajudar as pessoas a encontrar e a permanecer num posto de trabalho; - Ajudar as famílias com problemas e transformar as suas vidas; - Ajudar no combate ao insucesso e abandono escolar precoce; respostas, as quais devem estar - Melhorar a saúde mental. centradas nas necessidades das Fontes: Face a este cenário o Educador pessoas, não apenas na satisfação International Federation of Red Social deveria estar inserido em das necessidades básicas que por Cross and Red Crescent Societies, entidades públicas, como Juntas de si só não resolve o problema da (2013) Think differently Freguesia (fator de proximidade), pobreza, mas desenvolvendo um Humanitarian impacts of the onde poderia desempenhar uma trabalho que procure a promoção economic crisis in Europe. função primordial dotando as das suas capacidades e pessoas de meios (competências competências. Pordata – Base de Dados de sociais, pessoais e profissionais) Sendo um promotor de Portugal Contemporâneo para adquirirem a capacidade de competências de integração o Bruto da Costa, A. et al (2008). Um assegurar uma autonomia de Educador Social pode fazer a Olhar Sobre a Pobreza. recursos e consequentemente a obtenção de uma vida digna. diferença na luta contra a pobreza, Vulnerabilidade e Exclusão Social nomeadamente daqueles que no Portugal Contemporâneo. A pobreza sendo um fenómeno multidimensional, necessita que foram afetados pela crise económica. tenha uma pluralidade de 30 Por um Algarve sem pobreza A EAPN ( www.eapn.pt ) deve a voto nas Eleições Europeias . seu trabalho em 3 eixos sua sigla ao inglês European Anti “Eleger defensores de uma Europa prioritários: informação, formação Poverty Network (Rede Europeia Social" é uma campanha europeia e investigação. Anti-Pobreza), sendo uma protagonizada pela Rede Europeia Ao nível da informação, temos organização sem fins lucrativos, Anti-Pobreza (EAPN) e os seus desenvolvido inúmeras iniciativas, fundada em 1990, em Bruxelas. A membros (29 redes nacionais e 18 de acordo com as preocupações organização está representada em organizações europeias, emergentes, que têm-se alterado 30 países, nomeadamente em Portugal, através de redes representando centenas de organizações no terreno a ao longo desta década: dinamizámos seminários e ações nacionais. trabalhar com milhares de de sensibilização de temáticas Há mais de 20 anos [17 de cidadãos europeus). A EAPN como a igualdade de género, Dezembro de 1991] a atuar no apresenta 3 propostas para uma gestão das organizações sem fins nosso país, a EAPN Portugal é uma Europa mais Social e com maior lucrativos, responsabilidade social organização, reconhecida como das empresas, sobre participação Associação de Solidariedade Social, • Um Pacto Social para uma endividamento das famílias ou de âmbito nacional, obtendo em Europa Social; Educação e formação de adultos. 1995, o estatuto de Organização • Uma estratégia da UE eficaz no Mais recentemente, a nossa Não Governamental para o combate à pobreza, exclusão preocupação tem-se centrado nos Desenvolvimento (ONGD). A ação social, desigualdade e fenómenos de pobreza extrema da EAPN Portugal, sediada no discriminação; como sejam a população sem Porto, estende-se a todo o país • Fortalecer democracia e a abrigo ou as comunidades ciganas. através de 18 Núcleos Distritais. participação da sociedade civil A atividade formativa é porventura A nível nacional, a EAPN ( vídeo em: http://youtu.be/ a dimensão mais conhecida junto desenvolve um conjunto de KqVpB2jPTO ) . iniciativas promotoras dos direitos No que concerne ao Distrito de da população em geral, devido à humanos e da capacitação de Faro, em Julho de 2002, o Núcleo ações, para as quais recorremos a pessoas e Organizações, sendo a Distrital de Faro da EAPN iniciou as formadores altamente suas atividades desenvolvendo o qualificados, e dinamizamos ações iniciativa mais recente, o apelo ao 31 qualidade e inovação das nossas articulação com a Fundação António Aleixo, junto de turmas PIEF do concelho de Loulé. Relativamente ao Grupo de Trabalho “ Por um Algarve sem Pobreza”, o mesmo foi criado com vista a dar voz a quem não tem voz, ou seja, pretende-se promover a participação ativa de pessoas que vivenciam ou vivenciaram situações de pobreza e/ou exclusão social. O grupo elege anualmente um membro que participa nas reuniões do Conselho Ação de formação: A gestão de casos como estratégia colaborativa na intervenção com clientes muito vulneráveis Consultivo Nacional, onde se define entre outros, o desenho do Fórum Nacional de pessoas em que vão ao encontro de promovendo a sua cidadania ativa. situação de pobreza. De referir solicitações de técnicos e O projeto “ Escola contra a igualmente que um elemento do dirigentes de Instituições de pobreza” pretende sensibilizar a grupo fez-se representar em 2012 carácter social. Nesta área temos comunidade escolar para o no Encontro europeu de pessoas realizado um forte investimento na exercício da cidadania, e a em situação de pobreza que qualificação das Organizações, importância da inclusão social. decorreu em Bruxelas, no qual bem como numa abordagem inovadora às novas e velhas Neste âmbito temos desenvolvido atividades junto de jardins de relatou as suas preocupações relativas às pessoas sem abrigo. problemáticas sociais. infância, escolas de 1º e 2º e 3º Desde 2012 este grupo conta com No âmbito da investigação, o ciclo dos concelhos de Albufeira e a colaboração do Grupo de Teatro Núcleo desenvolve várias Loulé, e mais recentemente em do Oprimido do Algarve, tendo já iniciativas que se concretizam prioritariamente num Grupo de trabalho “ Envelhecimento ativo”; Projeto “Escola contra a Pobreza” e Grupo de trabalho “Por um Algarve sem pobreza”. O grupo de trabalho “ Envelhecimento ativo” foi criado em 2012, congrega mais de uma dezena de instituições de apoio a idosos do Distrito de Faro, e tem por objetivo promover a partilha de experiências entre Instituições e técnicos, bem como combater o isolamento social dos idosos, 32 sido possível concretizar 2 peças de teatro que abordam as suas vivências quotidianas. A partir da construção das peças de teatro geram-se debates em torno de temáticas como a xenofobia, a lei do arrendamento, ou as eleições europeias, reforçando assim a sua participação democrática e a coesão grupal. A colaboração de Educadores sociais, dada a sua vocação para a intervenção comunitária, tem sido um forte contributo ao trabalho do Representação da 1ª peça de Teatro do Oprimido Núcleo e o mesmo tem-se Por fim é igualmente de referir que uma intervenção mais consubstanciado através da o trabalho em rede realizado não fundamentada, e disseminada dinamização de projetos, só com Organizações de apoio sobre a realidade social que é cada realização de estágios curriculares social como com autarquias e vez mais multifacetada e carente ou mesmo através de voluntariado outros organismos públicos, e com de novas abordagens a novos e especializado, complementando estabelecimentos de ensino desde velhos problemas. assim a intervenção realizada pelo o pré- escolar ao universitário, que Núcleo. tem permitido ao núcleo realizar Exposição do trabalho “retalhos de austeridade na exposição EU Cidadão promovido pela CCDR-Alg. 33 Biblioteca APES 34 35 36