análise do perfil de tensão de uma rede de distribuição com gerador
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análise do perfil de tensão de uma rede de distribuição com gerador
ANÁLISE DO PERFIL DE TENSÃO DE UMA REDE DE DISTRIBUIÇÃO COM GERADOR DE INDUÇÃO EQUIPADO COM REGULADOR DE VELOCIDADE Adélio José de Moraes*, Alex Reis*, Carlos Henrique Salerno*, Cezar Alfredo de Aguiar*, [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] Ezequiel Junio de Lima*, Geraldo Caixeta Guimarães*, Gustavo S. Salge*, João Carlos O. Almeida** [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] *Universidade Federal de Uberlândia, Faculdade de Engenharia Elétrica, Uberlândia – MG ** Centrais Elétricas do Norte do Brasil S/A, Brasília – DF Resumo - O trabalho aqui proposto é concernente a avaliação dos níveis de tensão ao longo de uma linha de distribuição quando da utilização de um gerador de indução com controle de velocidade, na forma de geração distribuída. O estudo foi realizado para as situações em que os efeitos do regulador de velocidade são desprezados e considerados, nas condições críticas de mínimo e máximo carregamento da rede de distribuição onde o gerador de indução está conectado. Quando não se considera o regulador, pode ser observada para o caso de mínimo carregamento, uma pequena variação de tensão no circuito da rede de distribuição, porém para a condição de máximo carregamento verificou-se uma tendência de uma acentuada queda de tensão desde o barramento do transformador até a conexão do gerador de indução. No entanto quando os efeitos dinâmicos do regulador de velocidade do gerador de indução são considerados os resultados obtidos nas simulações mostram uma melhora no perfil de tensão da rede. Palavras-Chave - Geração Distribuída, Gerador de Indução, Regulador de Velocidade, Perfil de Tensão, Modelagem Matemática, Simulação Computacional VOLTAGE PROFILE ANALYSIS OF A DISTRIBUTION GRID WITH INDUCTION GENERATOR EQUIPPED WITH SPEED GOVERNOR Abstract - This work is concerned to voltage level assessment of a distribution grid containing an induction generator with speed governor and work as a distributed generator. The studies were accomplished for extreme system conditions of minimum and maximum demand. The simulation results shows that when the governor dynamics effects are not considered, the minimum system demand leads to small voltage changes throughout the distribution system. On the other hand, strong voltage drops can be verified from substation to the generator for the condition of maximum system demand. However, in latter case, there is an improvement in the voltage profile when the induction generator governor is present. 1 Keywords – Distribution Generation, Induction Generator, Speed Governor, Voltage Profile, Mathematical Modeling, Computer Simulation I. INTRODUÇÃO A utilização de Geração Distribuída não é uma prática recente e grande parte dos países no mundo todo, principalmente os desenvolvidos, vem se valendo deste procedimento como uma das formas alternativas de se gerar energia elétrica, possuindo técnicas de implementação já bem conhecidas, haja visto a vasta literatura sobre o assunto. Se refere à instalação de pequenas unidades geradoras no sistema próximas ao local de consumo, estando ou não conectado a rede de distribuição de energia, despachadas ou não pelo ONS – Operador Nacional do Sistema Elétrico. Qualquer tecnologia de conversão de energia em menor escala faz parte das fontes de energia que podem ser utilizadas como forma de geração distribuída, ainda que o Proinfra, Programa de Incentivos às Fontes Alternativas de Energia Elétrica, limite seus incentivos apenas a utilização de energia eólica, PCHs e biomassa. As concessionárias de energia elétrica já demonstram certa preocupação com a idéia de conexão de fontes de energia em seu sistema de distribuição, haja vista que estas não possuem configuração apropriada para receberem fontes de geração de energia elétrica. Um dos principais problemas técnicos observados com esta prática é a elevação das tensões nodais quando o carregamento do circuito de distribuição é baixo [1], sendo que, de uma forma geral isto ocorre devido ao baixo valor da relação X/R e devido a topologia de forma radial destes sistemas [2]. No entanto, deve-se observar que o principal problema com geradores de indução conectados a rede de distribuição não é a elevação de tensão considerando o baixo carregamento, e sim a queda de tensão para condições de máximo carregamento [3]. Os geradores de indução conectados aos sistemas de distribuição em sua maioria são acionados por turbinas eólicas [1], no entanto sua utilização em pequenas usinas termoelétricas e hidroelétricas tem sido considerada, principalmente por produtores independentes de energia elétrica. Ainda que em alguns estudos realizados, o acionamento do gerador de indução em sistemas distribuídos tenha a característica de conjugado constante [3], neste trabalho a dinâmica dos reguladores de velocidade será considerada. Os resultados obtidos com o estudo comparativo entre o comportamento do sistema de geração desconsiderando e levando-se em conta a atuação de reguladores de velocidade, mostram que com o uso destes reguladores os níveis de tensão da rede de distribuição podem permanecer em patamares aceitáveis. III. MODELO MATEMÁTICO DO GERADOR DE INDUÇÃO II. DESENVOLVIMENTO O modelo matemático do gerador de indução, composto pelas equações elétricas e mecânicas é apresentado na seqüência e representa o comportamento dinâmico de uma máquina de indução de gaiola simples, não se levando em conta os transitórios do estator [5]. Parte da potência reativa consumida pelo gerador de indução é fornecida por um banco de capacitores com valor igual a 1/3 de sua potência nominal [1]. Para a obtenção dos resultados do trabalho desenvolvido será utilizado o esquema da Figura 1., onde o diagrama unifilar de um sistema de distribuição é mostrado. O sistema de transmissão é de 138 kV, 60 Hz e alimenta um sistema distribuição de 13.8 kV através de um transformador ∆/Y. O tap do transformador é ajustado de forma a manter os níveis aceitáveis de tensão [4], quando da não utilização de geradores na rede de distribuição. Será instalado 1 gerador de indução de 15 MW controlado por um regulador de velocidade na barra 6 através de transformadores ∆/Y de 13.8/0.44 kV. Serão realizadas simulações para as condições de mínimo carregamento, onde se considera 0% de carga e máximo carregamento, considerando e desconsiderando a utilização do controle de velocidade no gerador de indução. O perfil de tensão do sistema será a grandeza analisada com os resultados obtidos nas simulações computacionais. Através deste perfil será possível concluir quanto aos efeitos do regulador de velocidade nas tensões das barras. O modelo matemático do gerador de indução e o esquema do regulador de velocidade utilizados neste estudo, são mostrados na seqüência. Equações elétricas: E ' − V = ( Rs + jX ' ) I [ j( X − X ' )I − E ' ] pE ' = − j 2π fSE ' + T 'o (1) (2) Onde: E’ -é a tensão interna proporcional ao fluxo concatenado (V); V -é a tensão terminal da máquina (V); Rs -é a resistência do estator (Ω); X’ -é a reatância de rotor bloqueado (Ω); I -é a corrente do estator (A); X -é a reatância de circuito aberto (Ω); T’o -é a constante de tempo transitória de circuito aberto do rotor (s); f -é a freqüência nominal (Hz). Equações mecânicas: d (Tm − Te ) S = dt 2H Te = Re[ E ' I ∗ ] (3) (4) Onde: S Tm Te H I* -é o escorregamento do rotor; -é o conjugado mecânico (N.m); -é o conjugado elétrico (N.m); -é a constante de inércia (s); -é o complexo conjugado da corrente do estator (A). IV. REGULADORES DE VELOCIDADE Fig.1. Diagrama unifilar do sistema em estudo Os reguladores de velocidade têm sua aplicação de forma geral com os geradores síncronos, com o intuito de restabelecer a freqüência do sistema de potência após um desequilíbrio carga/geração [6]. Isto porque apesar do sistema mostrar uma tendência de se auto-regular e atingir um novo estado de equilíbrio, tal estado não é satisfatório para a operação do sistema que normalmente possui inúmeras cargas que operam dentro de uma estreita faixa de freqüência. Desta forma o restabelecimento mencionado é necessário para manter a freqüência o mais próximo de seu valor nominal, por exigência do próprio consumidor. No caso do gerador de indução, sempre que sua velocidade varia, devido a uma perturbação no sistema elétrico, o seu regulador atua no sentido de restabelecer tal velocidade a um valor bastante próximo da condição nominal de operação. Neste sentido, este regulador de velocidade opera somente como uma forma de “regulação primária”, já que a manutenção de uma freqüência constante na rede, ou seja a “regulação secundária” que restabelece a freqüência ao seu valor nominal, como já foi mencionada, é função dos grupos de geradores síncronos ligados ao centro de controle da operação do sistema. O modelo do regulador de velocidade utilizado neste estudo, e mostrado de forma esquemática na Figura 2., é sensibilizado pela proximidade da tensão nas barras aos valores críticos de tensão definidos em [4] e pode ser utilizado tanto no controle de turbinas térmicas como hidráulicas. V. RESULTADOS OBTIDOS Os resultados obtidos nas simulações e mostrados a seguir, destacam o perfil de tensão nas barras do sistema para diferentes casos de operação. A primeira simulação se refere à operação do sistema com mínimo carregamento, sendo que as restantes tratam do sistema operando com máximo carregamento. Neste caso uma das simulações leva em conta o gerador de indução operando sem controle de velocidade e a outra considera este controle utilizando o regulador de velocidade. O resultado mostrado na Figura 3. está relacionada aos valores de tensões nas barras para a simulação computacional que considera o mínimo carregamento. A Figura 4. refere-se também aos valores de tensões nas barras, porém para a condição de máximo carregamento, sem e com o controle de velocidade no gerador de indução. Fig.3. Tensão nas barras do sistema para a condição de mínimo carregamento Fig.2. Regulador de velocidade do gerador de indução Onde: Wref -é a velocidade de geração inicial tomada como referência (rad/s); Wger -é a velocidade real do gerador de indução (rd/s); Gb -é o ganho do “flyball”; Tb -é a constante de tempo do “flyball” (s); R -é o fator de regulação da válvula de controle; T1 -é a constante de tempo da válvula de controle (s); Ps -é a potência especificada (MW); Gmax -é o limite de potência (MW); T2 , T3 -são as constantes de tempo da turbina (s); Pm -é a potência mecânica (N.m) Fig.4. Tensão nas barras do sistema para a condição de máximo carregamento Nos gráficos mostrados nas figuras ficam determinados os valores críticos de tensão, estipulando para o valor mínimo 93%, e como valor máximo 105% da tensão nominal [4]. Pode-se observar pelo resultado mostrado na Figura 3. que para a condição de mínimo carregamento houve apenas uma pequena queda de tensão (menos que 3%) desde o barramento do transformador até a barra onde se encontra o gerador de indução, ficando então os níveis de tensão dentro dos limites críticos. No entanto os resultados observados na Figura 4. mostram que para a condição de operação do sistema com máximo carregamento, quando não se considera o controle de velocidade do gerador de indução, ocorre uma queda de tensão que ultrapassa o limite mínimo a partir da barra 5. Na barra em que se encontra o gerador de indução esta queda ultrapassa o limite mínimo de tensão em aproximadamente 1%, sendo que a queda total de tensão desde o barramento do transformador até o gerador de indução atinge um valor próximo a 9%. No entanto analisando ainda o mesmo gráfico, verifica-se que estando o gerador de indução com controle de velocidade, o limite mínimo de tensão não é ultrapassado, ficando no limiar desta condição. Isto ocorre porque, como já foi mencionado, o regulador de velocidade é sensibilizado pela proximidade da tensão da barra aos valores críticos de tensão do sistema, fazendo com que o gerador de indução diminua sua contribuição de potência para o sistema. V. CONCLUSÕES Foram investigados neste trabalho aspectos operacionais de um sistema de distribuição no que se refere ao seu mínimo e máximo carregamento e níveis de tensão aceitáveis quando da implementação de um gerador de indução como forma de geração distribuída. Inúmeros relatos da literatura abordam esta situação com certo pessimismo e com razão, haja vista as alterações dos níveis de tensão que a conexão, não só de geradores de indução mas também geradores síncronos, provocam no sistema de distribuição, que de uma forma geral não é apropriado para receber tais geradores. No entanto, investigações caso a caso podem ser realizadas, como foi neste trabalho, com intuito de se solucionar ou pelo menos mitigar o rigor destes problemas. O estudo aqui desenvolvido ficou limitado apenas ao gerador de indução conectado a um sistema de distribuição e para a condição de máxima geração. As condições limite de carregamento foram consideradas, sendo que para a condição de máximo carregamento, duas situações distintas foram consideradas: gerador de indução operando sem controle de velocidade e com o controle do regulador de velocidade. Quando o sistema operou na condição de mínimo carregamento, pode-se observar que os níveis de tensão nas barras ficaram dentro dos valores limites de tensão. No entanto na condição de máximo carregamento do sistema, desconsiderando a regulação de velocidade do gerador de indução, a tensão chegou abaixo do limite mínimo imposto para o sistema em pelo menos uma barra, o que não ocorreu quando se considerou o controle do regulador de velocidade no gerador. Ainda que tal processo de manutenção da tensão seja à custa de uma diminuição da potência fornecida pelo gerador, desinteressante em termos econômicos, em muitos casos seria uma solução técnica viável, até porque o sistema opera em condições de máximo carregamento durante limitados períodos de tempo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] N. Jenkins, R. Allan, P. Crossley, D. Kirschen, G. Strbac, Embedded Generation, 1 edn, Institute of Electrical Engineers., 2000. [2] C. L. Masters, Voltage Rise: the big issue when connecting embedded generation to long 11 kV overhead lines, Power Eng. Journal, vol. 16, no. 1, pp.5-12, 2002. [3] F. Walmir, M.F. André, M.V.JR. José Carlos, P.S. Luiz Carlos, F.C. Vivaldo, Análise Comparativa entre Geradores Síncronos e Geradores de Indução com Rotor tipo Gaiola de Esquilo para aplicação em Geração Distribuída, Revista Controle e Automação, vol. 16, no. 3, pp. 332-344, 2005. [4] ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica, “Resolução 676”, Dez. 2003. [5] E.J.P. Pacheco, Induction Motor Starting in an Electrical Power System Transient Stability Program, M.Sc. Dissertation, UMIST, 147 p., 1975. [6] R.M. Wright, Understanding Modern Generator Control, IEEE Transactions on Energy Conversion, vol. 4, no 3, pp. 453-458, 1989.