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Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) Divisão Biblioteca Central do ITA/CTA Falcão Filho, João Batista Pessoa Estudo Numérico do Processo de Injeção em um Túnel de Vento Transônico / João Batista Pessoa Falcão Filho. São José dos Campos, 2006. 369f. Tese de doutorado – Curso de Engenharia Aeronáutica e Mecânica. Área de Aerodinâmica, Propulsão e Energia – Instituto Tecnológico de Aeronáutica, 2006. Orientador: Dr. Marcos Aurélio Ortega 1. Mistura de Jatos. 2. Escoamento turbulento. 3. Túnel Transônico. I. Centro Técnico Aeroespacial. Instituto Tecnológico de Aeronáutica. Engenharia Aeronáutica. II. Estudo Numérico do Processo de Injeção em um Túnel de Vento Transônico. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA Falcão Filho, João Batista Pessoa. Estudo Numérico do Processo de Injeção em um Túnel de Vento Transônico. 2006. 369 folhas. Tese de doutorado – Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos. CESSÃO DE DIREITOS NOME DO AUTOR: João Batista Pessoa Falcão Filho TÍTULO DO TRABALHO: Estudo Numérico do Processo de Injeção em um Túnel de Vento Transônico TIPO DO TRABALHO/ANO: Tese de doutorado/2006 É concedida ao Instituto Tecnológico de Aeronáutica permissão para reproduzir cópias desta tese e para emprestar ou vender cópias somente para propósitos acadêmicos e científicos. O autor reserva outros direitos de publicação e nenhuma parte desta tese pode ser reproduzida sem a autorização do autor. ________________________________________ João Batista Pessoa Falcão Filho H-20B-119, CTA, São José dos Campos – SP tel.: 3947-3604 e-mail: [email protected] iii Estudo Numérico do Processo de Injeção em um Túnel de Vento Transônico João Batista Pessoa Falcão Filho Composição da Banca Examinadora: Prof. Dr. Prof. Dr. Prof. Dr. Prof. Dr. Dr. Paulo Afonso de Oliveira Sovieiro Marcos Aurélio Ortega Nide Geraldo do Ramos Couto Fico Júnior Leandro Franco de Souza Sidney Lage Nogueira ITA Presidente Orientador ITA ITA ITA USP Embraer iv A Valerie, Priscila e Débora, pelas quais tudo fez valer a pena. v Agradecimentos A Deus, pelo dom da vida e por todas as coisas. Como nas palavras do salmista Davi, “Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e tudo o que há em mim bendiga o seu santo nome. Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e não te esqueças de nenhum de seus benefícios.” Ao professor Ortega pela preciosa orientação, minha eterna gratidão. Ao Comando-geral de Tecnologia Aeroespacial, ao Instituto de Aeronáutica e Espaço, e, em particular, os chefes diretos Eng. Pedro de Oliveira Neto e Ten Cel Eng Olympio Achilles de Faria Mello, pelo apoio e incentivo institucionais recebidos. Ao Ten Cel Eng Breno Moura Castro pelas sugestões quanto à utilização da rotina de turbulência de Spalart e Allmaras bidimensional e ao Eng. Maurício Guimarães da Silva quanto à implementação da rotina de viscosidade artificial não linear de Pulliam. Ao meu pai João Batista, pelo incentivo a cada passo e à terna memória de minha mãe Elizette. À minha família pelo apoio recebido. vi Quem dera as minhas palavras fosses registradas! Quem dera fossem escritas num livro, fossem talhadas a ferro no chumbo, ou gravadas para sempre na rocha! Eu sei que o meu Redentor vive, e que no fim se levantará sobre a terra. E depois que o meu corpo estiver destruído e sem carne, verei a Deus. Eu o verei com os meus próprios olhos; eu mesmo e não outro! Como anseia no meu peito o coração! Jó 19:23-27 vii campo da turbulência na câmara de injeção do TTP viii Resumo Injetores supersônicos são instalados em túneis de vento transônicos com a finalidade de estender o envelope operacional baseado no número de Reynolds, sem demandar maior potência do compressor principal. O objetivo deste trabalho é estudar numericamente o processo de injeção do Túnel Transônico Piloto do CTA. A câmara de injeção contém cinco bicos injetores localizados no piso e cinco no teto do túnel, os quais operam com número de Mach 1,9, fornecendo quantidade de movimento adicional à corrente principal do circuito do túnel. Tal câmara na verdade é a própria seção de transição do túnel, a qual, por sua vez, localiza-se imediatamente antes do difusor. Devido à grande diferença entre as dimensões dos injetores e da seção transversal do túnel, onde os mesmos encontram-se montados, o tratamento tem que ser necessariamente tridimensional. Para tanto foi desenvolvido um código numérico baseado nas equações de Navier-Stokes com média de Reynolds, seguindose o princípio do algoritmo diagonal em diferenças finitas, e efeitos de turbulência foram previstos por meio do esquema de Spalart e Allmaras. Várias hipóteses simplificadoras foram introduzidas para tornar o problema factível e a integração numérica é realizada dividindo o domínio de cálculo em sub-regiões. Mesmo assim, devido ao grande número de pontos, foi aplicada uma técnica de malhas seqüenciais para economizar o tempo computacional. O escoamento na região de mistura foi simulado com sucesso e os resultados foram todos consistentes. Com os valores dos parâmetros conhecidos em todo o domínio computacional, foram calculados o coeficiente de perda de carga, o ganho e a eficiência do processo de injeção – parâmetros estes de grande importância na engenharia de túneis de vento. Entre diversos aspectos físicos muito interessantes, destaca-se a formação de domos de choque e expansão ao longo da direção longitudinal no processo de mistura. ix Abstract Supersonic injectors are installed in a transonic wind tunnel with the ultimate objective of expanding the Reynolds number envelope, without demanding extra power from the main compressor. The injectors are positioned at the entrance of the transition module, whose exit section constitutes the beginning of the first diffuser. This idea is being incorporated to the design of the Brazilian transonic wind tunnel (it is already installed in the pilot facility). The aim of this research effort is to calculate numerically, and, in the sequel, analyze, the mixing process involving the supersonic jets from the injectors and the tunnel subsonic main stream. Five nozzles are positioned at the floor and five at the ceiling of the tunnel, and due to the great difference between a typical dimension of the nozzles and the lateral width of the tunnel section, the study has, necessarily, to take into account the threedimensionality of the resulting flow. A Reynolds-Averaged Navier-Stokes numerical code was developed following the main lines of the finite-difference diagonal algorithm, and turbulence effects are accounted for through the use of the Spalart and Allmaras oneequation scheme. Several simplifying assumptions are introduced in order to render the problem minimally tractable, and the numerical integration is accomplished by dividing the calculation domain in sections. Even then, and due to the great number of node points in each section, a sequence-of-grids technique was applied in order to gain in computational time. The flow field in the mixing region was successfully simulated, and the results are all consistent. After having the values of the parameters over the entire computational domain, the injection process loss factor, gain, and efficiency were duly calculated. These figures are of great importance to those who deal with the engineering of wind tunnels. Many very interesting physical aspects are encountered, and among them, it is worth noting the formation of shocks’ and expansions’ “domes” along the longitudinal direction. x Sumário Lista de Figuras .................................................................................................................xiv Lista de Tabelas .................................................................................................................xxviii Lista de abreviaturas e siglas .............................................................................................xxx Lista de símbolos ...............................................................................................................xxxiii 1 INTRODUÇÃO......................................................................................... 41 1.1 Objetivo e motivação..................................................................................................... 41 1.2 Perspectiva histórica ...................................................................................................... 41 1.3 Injeção e mistura de jatos .............................................................................................. 48 1.4 Abordagem computacional............................................................................................ 51 1.5 Organização do trabalho................................................................................................ 55 2 ESTABELECIMENTO DO PROBLEMA E EQUAÇÕES BÁSICAS ................................................................................................... 56 2.1 Estabelecimento do Problema ....................................................................................... 56 2.2 Hipóteses básicas consideradas ..................................................................................... 67 2.3 Equações de Navier-Stokes ........................................................................................... 67 2.4 Equações médias de Reynolds....................................................................................... 71 2.5 Transformação de coordenadas ..................................................................................... 78 2.6 Adimensionalização e expressão final das equações..................................................... 83 2.7 O modelo de turbulência ............................................................................................... 89 2.7.1 O modelo de turbulência de Spalart e Allmaras ......................................................... 90 2.7.2 Considerações sobre a aplicação do modelo de turbulência ao problema da injeção do TTP ....................................................................................................................... 93 xi 3 IMPLEMENTAÇÃO NUMÉRICA, CONDIÇÕES INICIAIS E DE CONTORNO.............................................................................................. 103 3.1 Algoritmo de Beam e Warming .................................................................................... 103 3.2 Considerações sobre esquemas de discretização........................................................... 108 3.3 Algoritmo diagonal de Pulliam e Chaussee................................................................... 114 3.3.1 Algoritmo diagonal aplicado às equações de Euler.................................................... 115 3.3.2 Algoritmo diagonal aplicado às equações de Navier-Stokes ..................................... 122 3.4 Dissipação numérica...................................................................................................... 123 3.5 Implementação numérica do modelo de turbulência de Spalart e Allmaras ................. 128 3.6 Esquema numérico de malhas seqüenciais.................................................................... 130 3.7 Condições iniciais e de contorno ................................................................................... 134 3.7.1 Condições iniciais....................................................................................................... 135 3.7.2 Condições de contorno ............................................................................................... 136 3.7.3 Camada limite hidrodinâmica..................................................................................... 146 3.7.4 Viscosidade turbulenta na camada limite ................................................................... 154 4 VALIDAÇÃO E VERIFICAÇÃO DO CÓDIGO COMPUTACIONAL................................................................................ 158 4.1 Interferência de onda de choque sobre camada limite laminar com M∞ = 2,00 – campo bidimensional..................................................................................................... 160 4.2 Camada limite turbulenta ao longo da placa plana com M∞ = 2,96 – campo bidimensional ................................................................................................................ 168 4.3 Interferência de onda de choque sobre camada limite turbulenta com M∞ = 2,96 – campo bidimensional..................................................................................................... 174 4.4 Interferência de onda de choque sobre camada limite turbulenta com M∞ = 2,96 – campo tridimensional .................................................................................................... 181 4.5 Mistura de jatos supersônicos – campo bidimensional ................................................. 187 xii 4.6 Mistura de jatos supersônicos – campo tridimensional................................................. 200 4.7 Mistura de jatos supersônico e subsônico – campo bidimensional ............................... 202 4.8 Mistura de jatos supersônico e subsônico – campo tridimensional............................... 210 4.9 Análise de refinamento de malha e da ordem do método ............................................. 214 5 ANÁLISE DA INJEÇÃO NO TTP ......................................................... 219 5.1 Introdução...................................................................................................................... 219 5.1.1 Parâmetros gerais na entrada da câmara de injeção e modelagem do escoamento nos injetores................................................................................................................ 219 5.1.2 Operação conjunta túnel/injetores .............................................................................. 225 5.2 Malha tridimensional do problema da injeção no TTP ................................................. 229 5.2.1 Câmara de mistura da injeção..................................................................................... 229 5.2.2 Simplificação geométrica ........................................................................................... 231 5.2.3 Processo de obtenção das malhas fina e grossa.......................................................... 235 5.2.4 Estratégia de cálculo e passagem de parâmetros entre as malhas seqüenciais – questão referente ao plano de simetria ....................................................................... 240 5.2.5 Espalhamento da malha de cálculo............................................................................. 244 5.3 Condições de contorno para as diversas malhas............................................................ 245 5.3.1 Condições de contorno para a malha A ...................................................................... 246 5.3.1.1 Face de entrada ........................................................................................................ 246 5.3.1.2 Condições de contorno para as outras faces da malha A (FIG. 5.17) ...................... 264 5.3.2 Condições de contorno para a malha E ...................................................................... 264 5.3.3 Condições de contorno para as outras malhas ............................................................ 267 5.4 Análise no ponto de projeto........................................................................................... 267 5.4.1 Aspecto físico geral do campo de escoamento........................................................... 267 5.4.2 Análise do desenvolvimento dos jatos ....................................................................... 288 xiii 5.5 Análise fora do ponto de projeto ................................................................................... 296 5.6 Análise do desempenho da injeção................................................................................ 311 5.6.1 Análise teórica ............................................................................................................ 312 5.6.2 Parâmetros de desempenho da injeção no ponto de projeto....................................... 318 5.6.3 Parâmetros de desempenho da injeção nas três condições......................................... 322 5.7 Comparação dos resultados das malhas fina e grossa no ponto de projeto ................... 323 5.8 Conclusões..................................................................................................................... 324 5.9 Comentários finais e sugestões para futuros trabalhos.................................................. 326 Referências .................................................................................................... 328 Apêndice A AS RELAÇÕES CARACTERÍSTICAS E SUA APLICAÇÃO ÀS CONDIÇÕES DE CONTORNO............ 335 A.1 As relações características ............................................................................................ 335 A.2 Entrada subsônica ......................................................................................................... 344 A.3 Entrada supersônica ...................................................................................................... 349 A.4 Saída subsônica............................................................................................................. 350 A.5 Saída supersônica ......................................................................................................... 353 Apêndice B CONDIÇÕES DE OPERAÇÃO DO TTP SEM INJEÇÃO ................................................................................ 356 Apêndice C INSTALAÇÃO E CARACTERÍSTICAS DE OPERAÇÃO DA CÂMARA DE INJEÇÃO................................................ 359 C.1 Vistas gerais da instalação ............................................................................................ 359 C.2 Vistas de detalhes da instalação dos injetores .............................................................. 363 C.3 Gráficos de desempenho do sistema de injeção............................................................ 366 xiv Lista de Figuras FIGURA 1.1 Fotografia do túnel de vento utilizado por Goebel e Dutton (1991) para a realização das experiências, com seus equipamentos de medição. ...... 50 FIGURA 1.2 Esquema do domínio de cálculo utilizado por Georgiadis et al. (2003) para a simulação do problema da mistura de jatos supersônicos, caso 2 do artigo de Goebel e Dutton (1991), destacando as regiões do campo, para as quais foram usados enfoques RANS e LES. .............................. 53 FIGURA 1.3 Campo instantâneo de densidade para o caso da mistura de jatos supersônicos, calculada por Georgiadis et al. (2003). (a) – solução bidimensional; (b) – solução tridimensional. .......................................... 53 FIGURA 2.1 Esquema de instalação do TTP (itens na TAB. 2.1). .............................. 59 FIGURA 2.2 Detalhe do interior da câmara plena. ...................................................... 60 FIGURA 2.3 Envelope de operação do túnel transônico industrial. ............................ 63 FIGURA 2.4 Envelope de operação do TTP. ............................................................... 64 FIGURA 2.5 Esquema da seção transversal do túnel onde estão montados os bicos injetores. .................................................................................................. 65 FIGURA 2.6 Detalhe esquemático da montagem de um injetor na câmara de mistura. ................................................................................................... 66 FIGURA 2.7 Etapas no desenvolvimento de um jato bidimensional. .......................... 95 FIGURA 2.8 Etapas no desenvolvimento de um jato puro tridimensional. ................. 96 FIGURA 2.9 Pontos relativos aos experimentos de Goebel e Dutton (1991): × - início; - extensão da região de similaridade da camada de mistura dos experimentos, incluindo as linhas de tendência respectivas. A linha vertical representa o número de Mach relativo do problema no TTP. ... 101 FIGURA 2.10 Variação de db/dx em função do número de Mach relativo. .................. 102 xv FIGURA 3.1 Esquema da célula de cálculo tridimensional utilizada. Círculos cheios – pontos relativos aos nós da malha, círculos vazados – pontos relativos aos pontos meio da malha. ....................................................... 112 FIGURA 3.2 Detalhe do cálculo no ponto meio (i+1/2, j, k). ...................................... 112 FIGURA 3.3 Procedimentos para geometria bidimensional da ponderação completa e da interpolação bilinear, respectivamente. ........................................... 132 FIGURA 3.4 Geometria genérica empregada no estabelecimento das condições de contorno. ................................................................................................. 137 FIGURA 3.5 Esquema de uma fronteira simétrica em j = (jmax-1). ........................... 139 FIGURA 3.6 Esquema físico da mistura de jatos da injeção na fronteira de entrada com a representação esquemática das camadas limite. ........................... 147 FIGURA 3.7 Camada limite turbulenta típica e os modelos para cada sub-região. Os pontos pretos indicam um perfil real típico. As linhas indicam as equações de modelo para cada sub-região. ............................................. 150 FIGURA 3.8 Perfil do comprimento característico da turbulência na camada limite. . 155 FIGURA 3.9 Exemplo de perfil de energia cinética turbulenta na camada limite (Wilcox, 1998). ....................................................................................... 156 FIGURA 4.1 Representação esquemática da interação: onda de choque / camada limite laminar. ......................................................................................... 161 FIGURA 4.2 Condições de contorno para o problema da interferência onda de choque / camada limite laminar. Destaque para o ângulo de choque e posição de interferência sobre a placa plana, medida a partir do bordo de ataque. ................................................................................................ 162 FIGURA 4.3 Perfis de velocidade sobre a placa plana antes do descolamento da camada limite, i = 13, x = 0,037 m. ........................................................ 163 FIGURA 4.4 Perfis de velocidade sobre a placa plana na região descolada da camada limite, i = 19, x = 0,055 m. ........................................................ 164 FIGURA 4.5 Perfis de velocidade sobre a placa plana depois do recolamento da camada limite, i = 27, x = 0,079 m. ........................................................ 164 FIGURA 4.6 Campo de pressão estática. Valores adimensionalizados pela pressão na entrada. Coordenadas em metros. ...................................................... 165 xvi FIGURA 4.7 Detalhe do campo de pressão estática e perfis de velocidade, na região de recirculação. Valores de pressão adimensionalizados pela pressão na entrada. Destaque das linhas sônica e de recirculação, esta última mais próxima da parede. Coordenadas em metros. ................................ 166 FIGURA 4.8 Detalhe do campo de pressão estática e perfis de velocidade, nas duas estações de maior recirculação. Valores de pressão adimensionalizados pela pressão na entrada. Destaque das linhas sônica e de recirculação, esta última mais próxima da parede. Coordenadas em metros. .............. 167 FIGURA 4.9 Distribuição da pressão na fronteira inferior do campo. Valores adimensionalizados pela pressão do escoamento livre na entrada (a placa plana começa em x = 0,012 m). Malha 32 x 45 pontos. ............ 168 FIGURA 4.10 Esquema do campo de escoamento adotado, com condições de contorno, para o problema da camada limite turbulenta. ........................ 169 FIGURA 4.11 Perfil de viscosidade turbulenta na entrada, adimensionalizado pela viscosidade laminar do escoamento livre na entrada, em função da distância adimensionalizada pela espessura da camada limite (δ = 0,0042 m). ....................................................................................... 171 FIGURA 4.12 Perfis normalizados de velocidade em algumas estações transversais ao longo da placa plana. ( y + = y uτ / ν w , u + = u / uτ ). ........................... 171 FIGURA 4.13 Campo de pressão estática do problema da camada limite turbulenta sobre a placa plana (M∞ = 2,96). Valores adimensionalizados pela pressão na entrada. Coordenadas em metros. ......................................... 172 FIGURA 4.14 Campo de viscosidade turbulenta do problema da camada limite sobre a placa plana (M∞ = 2,96). Valores adimensionalizados pela viscosidade dinâmica laminar no escoamento livre na entrada. Coordenadas em metros. ......................................................................... 172 FIGURA 4.15 Campo de pressão estática no início do desenvolvimento da camada limite turbulenta (M∞ = 2,96). Valores adimensionalizados pela pressão na entrada. Coordenadas em metros. ......................................... 173 FIGURA 4.16 Perfis em desenvolvimento ao longo da placa plana. (*) x = 0,305 m é a posição correspondente ao problema do choque sobre a camada limite (Wilcox, 1974). Os parâmetros de adimensionalização do gráfico são u∞ = 596 m/s e δ = 0,0041 m. ............................................... 174 xvii FIGURA 4.17 Desenho esquemático do domínio utilizado por Wilcox (1974) em função da espessura da camada limite δ para a análise do problema da interferência da onda de choque sobre a camada limite turbulenta. ....... 175 FIGURA 4.18 Esquema da malha utilizada no presente trabalho para o problema da interferência da onda de choque sobre a camada limite turbulenta (δ é a espessura da camada limite logo antes da região de recirculação). ..... 177 FIGURA 4.19 Campo de pressão estática para o problema do choque sobre a camada limite turbulenta. Valores adimensionalizados pela pressão na entrada. Coordenadas em metros. ......................................................................... 178 FIGURA 4.20 Detalhe da região de recirculação com os vetores de velocidade. Linha cheia, limite da região de recirculação. Linha tracejada, posições de velocidade nula. Coordenadas em metros. ......................................... 179 FIGURA 4.21 Campo de viscosidade turbulenta para o problema da interferência da onda de choque sobre a camada limite turbulenta, com a região de recirculação destacada. Valores adimensionalizados pela viscosidade laminar no escoamento livre de entrada. Coordenadas em metros. ........ 179 FIGURA 4.22 Distribuição da pressão ao longo da parede da placa plana. ................... 181 FIGURA 4.23 Campo de pressão estática para o problema do choque sobre a camada limite turbulenta. Valores adimensionalizados pela pressão na entrada. Coordenadas em metros. Plano xy tal que k = 11. .................................. 182 FIGURA 4.24 Campo de velocidade no plano horizontal em y = 0,016 δ. Linhas verticais de pressão estática. Valores adimensionalizados pela pressão no escoamento livre da entrada. Coordenadas em metros. ........ 183 FIGURA 4.25 Campos de vorticidade e tensões cruzadas no plano vertical central da malha, onde se indica a região de recirculação. Valores de vorticidade e tensão em 1/s e N/m2, respectivamente. ............................................... 184 FIGURA 4.26 Campos de vorticidade e tensões cruzadas no plano vertical k = 6, onde se indica a região de recirculação. Valores de vorticidade e tensão em 1/s e N/m2, respectivamente. ................................................. 185 FIGURA 4.27 Campos de tensões cruzadas na simulação bidimensional e no plano vertical k = 11 da simulação tridimensional, onde está indicada a região de recirculação. Valores de tensão em N/m2. .............................. 186 xviii FIGURA 4.28 Campos de vorticidade na simulação bidimensional e no plano vertical k = 11 da simulação tridimensional, onde está indicada a região de recirculação. Valores de vorticidade em 1/s. .......................................... 186 FIGURA 4.29 Esquema da câmara de mistura da experiência de Goebel e Dutton (1991). ..................................................................................................... 188 FIGURA 4.30 Detalhe da parte inicial da malha utilizada. ............................................ 191 FIGURA 4.31 Campo de pressão estática (vermelho – pressão mais alta, azul – pressão mais baixa). Coordenadas em metros. ....................................... 191 FIGURA 4.32 Perfis de velocidade nas primeiras estações. .......................................... 192 FIGURA 4.33 Isobáricas nas primeiras estações. Valores adimensionalizados pela pressão na entrada do escoamento superior. Coordenadas em metros. .. 193 FIGURA 4.34 Isobáricas em todo o campo. Valores adimensionalizados pela pressão na entrada do escoamento superior. Coordenadas em metros. ............... 193 FIGURA 4.35 Campo de viscosidade turbulenta. Valores adimensionalizados pela viscosidade laminar na entrada do escoamento superior. Coordenadas em metros. ............................................................................................... 194 FIGURA 4.36 Variação transversal da viscosidade turbulenta. H – altura do canal na saída. Jato inferior, M = 1,36, jato superior, M = 1,91. µ ref é a viscosidade laminar nas condições de entrada do escoamento superior. ................... 195 FIGURA 4.37 Variação da espessura da camada de mistura e valor de db/dx na região de crescimento. ....................................................................................... 196 FIGURA 4.38 Perfis normalizados de velocidade em x = 0,050 m. .............................. 197 FIGURA 4.39 Perfis normalizados de velocidade em x = 0,100 m. .............................. 198 FIGURA 4.40 Perfis normalizados de velocidade em x = 0,150 m. .............................. 198 FIGURA 4.41 Campo de pressão (vermelho – pressão mais alta, azul – pressão mais baixa). ..................................................................................................... 201 FIGURA 4.42 Isobáricas em todo o campo. Valores adimensionalizados pela pressão na entrada do escoamento superior. Solução tridimensional – plano k = 11. Coordenadas em metros. ................................................... 201 xix FIGURA 4.43 Variação da espessura da camada de mistura e valor de db/dx na região de crescimento. ....................................................................................... 201 FIGURA 4.44 Condições de contorno para o problema da mistura de jatos supersônico e subsônico. ......................................................................... 206 FIGURA 4.45 Campo de pressão estática. Valores adimensionalizados pela pressão estática na entrada. Coordenadas em metros. ......................................... 206 FIGURA 4.46 Detalhe do campo de pressão na entrada do canal para o problema 3r de Goebel e Dutton (1991). Malha reduzida a 0,15 m. Valores adimensionalizados pela pressão na entrada supersônica. Coordenadas em metros. ............................................................................................... 207 FIGURA 4.47 Campo do número de Mach para o problema 3r de Goebel e Dutton (1991). Malha reduzida a 0,15 m. Coordenadas em metros. .................. 208 FIGURA 4.48 Campo de viscosidade turbulenta. Valores adimensionalizados pela viscosidade laminar na entrada do escoamento superior. Coordenadas em metros. ............................................................................................... 209 FIGURA 4.49 Variação da espessura da camada de mistura b ao longo da direção longitudinal. É destacada a região de crescimento da camada de mistura, segundo a experiência de Goebel e Dutton (1991), na qual é avaliada a taxa de crescimento da camada de mistura. ........................... 209 FIGURA 4.50 Campo de pressão estática para a solução tridimensional da mistura de jatos supersônico e subsônico, no plano vertical k = 11. Valores adimensionalizados pela pressão na entrada do escoamento supersônico. Coordenadas em metros. .................................................... 210 FIGURA 4.51 Variação da espessura da camada de mistura b ao longo da direção longitudinal, medida no plano vertical central da malha tridimensional. É destacada a região de crescimento, segundo a experiência de Goebel e Dutton (1991). ...................................................................................... 211 FIGURA 4.52 Campos de componentes de vorticidade para o plano central. Valores em 1/s. ..................................................................................................... 212 FIGURA 4.53 Campos de componentes de tensões cruzadas para o plano central. Valores em N/m2. .................................................................................... 212 FIGURA 4.54 Campos de componentes de vorticidade para as simulações bidimensional e tridimensional. Valores em 1/s. .................................... 213 xx FIGURA 4.55 Campos de componentes de tensões cruzadas para as simulações bidimensional e tridimensional. Valores em N/m2. ................................ 213 FIGURA 4.56 Perfis de velocidade com o emprego das diversas malhas. Na abscissa a distância à parede é adimensionalizada pela espessura da camada limite e na ordenada a velocidade é adimensionalizada pela velocidade do escoamento livre. ............................................................................... 216 FIGURA 4.57 Erros nas diversas malhas em comparação com o resultado de malha fina. .............................................................................................. 217 FIGURA 5.1 Detalhe da instalação do injetor na câmara de injeção, destacando as distâncias externa e interna ao injetor para cálculo da espessura da camada limite. Destaque da vista em perspectiva mostrando a possível formação do vórtice em ferradura. .......................................................... 222 FIGURA 5.2 Detalhe da modelação da superfície externa do injetor na câmara de injeção, destacando seu comprimento efetivo. As linhas tracejadas indicam os contornos reais do injetor, as linhas cheias o contorno da modelação adotada e as linhas com pontos o início das camadas limite. 223 FIGURA 5.3 Variação da pressão de estagnação na seção de testes. Pressão de estagnação dos injetores, po,inj = 400 kPa. .............................................. 226 FIGURA 5.4 Variação do número de Mach na seção de testes – pressão de estagnação dos injetores po,inj = 400 kPa. ............................................... 227 FIGURA 5.5 Esquema ilustrativo da câmara de mistura da injeção. ........................... 230 FIGURA 5.6 Seção de entrada da câmara de mistura vista de frente. Eixo x entrando no papel. .................................................................................................. 232 FIGURA 5.7 Vista tridimensional da câmara de injeção, destacando o quadrante inferior direito e os planos de suas fronteiras. Direções: x, longitudinal, y, vertical e z, lateral. ............................................................................... 232 FIGURA 5.8 Detalhe da seção de entrada da câmara de mistura da injeção. .............. 233 FIGURA 5.9 Fronteira de entrada da malha adotada para a região A da FIG. 5.8. ...... 237 FIGURA 5.10 Fronteira de entrada da malha adotada para a região E da FIG. 5.8. ...... 237 FIGURA 5.11 Detalhe da seção de entrada da malha de cálculo tridimensional. Cotas em metros. Os índices nas direções y e z, estão indicados para as malhas fina e grossa (entre parênteses). .................................................. 238 xxi FIGURA 5.12 Esquema do campo de cálculo global. .................................................... 239 FIGURA 5.13 Estratégia empregada para o cálculo na seqüência de malhas. ............... 241 FIGURA 5.14 Obtenção da malha grossa a partir da malha fina para a região A. ......... 242 FIGURA 5.15 Obtenção da malha grossa a partir da malha fina para a região A, mantendo a posição geométrica do plano de simetria. ........................... 243 FIGURA 5.16 Cortes transversais da malha tridimensional em diversas estações na direção longitudinal. ............................................................................... 245 FIGURA 5.17 Malha de cálculo “A” com detalhe das sub-regiões da fronteira de entrada. .................................................................................................... 247 FIGURA 5.18 Malha de cálculo “A” com detalhe das sub-regiões c1 e c2. .................. 251 FIGURA 5.19 Detalhes dos campos de velocidade e viscosidade turbulenta no canto c2, interior ao injetor, destacado pelas linhas tracejadas. Coordenadas em metros. ............................................................................................... 252 FIGURA 5.20 Detalhe da sub-região d. ......................................................................... 254 FIGURA 5.21 Detalhe das sub-regiões e1 e e2. ............................................................. 256 FIGURA 5.22 Roteiro de cálculo empregado nas camadas limite. ................................ 257 FIGURA 5.23 Detalhe da sub-região g. ......................................................................... 258 FIGURA 5.24 Detalhes dos campos de velocidade e viscosidade turbulenta no canto g, destacado pelas linhas tracejadas. Coordenadas em metros. .............. 259 FIGURA 5.25 Detalhe da sub-região h. ......................................................................... 260 FIGURA 5.26 Detalhes dos campos de velocidade e viscosidade turbulenta no canto h, canto externo ao injetor, destacado pelas linhas tracejadas. Os círculos estão colocados nas mesmas posições da FIG. 5.25. Coordenadas em metros. ......................................................................... 262 FIGURA 5.27 Detalhe da parede do injetor. .................................................................. 263 FIGURA 5.28 Malha de cálculo E com detalhe das sub-regiões da fronteira de entrada. ............................................................................................... 266 xxii FIGURA 5.29 Detalhes dos campos de velocidade e viscosidade turbulenta no canto j, destacado pelas linhas tracejadas. Coordenadas em metros. ............... 266 FIGURA 5.30 Definição de linhas especiais no plano de entrada para fins de plotagem da pressão estática. .................................................................. 268 FIGURA 5.31 Distribuição da pressão estática ao longo das linhas 1, 3, 5, 6 e 7, respectivamente. Valores adimensionalizados pela pressão no jato subsônico na entrada. As linhas finas destacam as posições das paredes dos injetores. ........................................................................................... 269 FIGURA 5.32 Isobáricas no plano de centro vertical do injetor 1. Valores adimensionalizados pela pressão na saída do injetor. Coordenadas em metros. ............................................................................................... 270 FIGURA 5.33 Isobáricas no plano de centro vertical do injetor 2. Valores adimensionalizados pela pressão na saída do injetor. Coordenadas em metros. ............................................................................................... 270 FIGURA 5.34 Isobáricas no plano de centro vertical do injetor 3. Valores adimensionalizados pela pressão na saída do injetor. Coordenadas em metros. ............................................................................................... 271 FIGURA 5.35 Isolinhas de número de Mach no plano de centro vertical do injetor 1. Coordenadas em metros. ......................................................................... 271 FIGURA 5.36 Isolinhas de número de Mach no plano de centro vertical do injetor 2. Coordenadas em metros. ......................................................................... 272 FIGURA 5.37 Isolinhas de número de Mach no plano de centro vertical do injetor 3. Coordenadas em metros. ......................................................................... 272 FIGURA 5.38 Isolinhas de número de Mach no plano horizontal passando pelo centro dos injetores. Parede lateral do túnel na parte inferior, indicada pela linha mais grossa. Coordenadas em metros. ................................... 273 FIGURA 5.39 Isobáricas de estagnação na fronteira de entrada da câmara de mistura. Valores adimensionalizados pela pressão estática na saída do injetor. Coordenadas em metros. ......................................................................... 274 FIGURA 5.40 Isolinhas de número de Mach na fronteira de entrada da câmara de mistura. Coordenadas em metros. ........................................................... 275 xxiii FIGURA 5.41 Isobáricas de pressão estática na fronteira de entrada da câmara de mistura. Valores adimensionalizados pela pressão estática na saída do injetor. Coordenadas em metros. ............................................................ 276 FIGURA 5.42 Isolinhas de número de Mach no plano horizontal passando pelo centro dos injetores. Parede lateral do túnel na parte inferior, indicada pela linha mais grossa. Coordenadas em metros. ................................... 277 FIGURA 5.43 Isolinhas de número de Mach em um plano horizontal passando acima dos injetores (y = 0,100m). A parede lateral do túnel na parte inferior é indicada pela linha mais grossa. Estão indicadas na figura as posições dos injetores. Coordenadas em metros. .................................................. 278 FIGURA 5.44 Campo de número de Mach em diversos planos transversais. 279, Coordenadas em metros. ......................................................................... 280 FIGURA 5.45 Vetores de velocidade no plano vertical passando pelo centro do injetor número 1 (ver FIG. 5.12), no início da câmara de injeção. Coordenadas em metros. ......................................................................... 281 FIGURA 5.46 Vetores de velocidade no plano horizontal passando pelo centro do injetor número 1 (ver FIG. 5.12), no início da câmara de injeção. Coordenadas em metros. ......................................................................... 281 FIGURA 5.47 Vetores de velocidade no plano vertical passando pelo centro do injetor número 1 (ver FIG. 5.12), na saída da câmara de injeção. A linha tracejada corresponde à altura do injetor. Coordenadas em metros. ............................................................................................... 282 FIGURA 5.48 Isolinhas de viscosidade turbulenta no plano horizontal que contém o centro dos injetores. Valores adimensionalizados pela viscosidade molecular na entrada supersônica. Coordenadas em metros. ................. 282 FIGURA 5.49 Campos de distribuição de viscosidade turbulenta adimensional. Diversos planos transversais. Valores adimensionalizados em relação à viscosidade molecular de referência (ver TAB. 5.2). Coordenadas em 283, metros. ..................................................................................................... 284 FIGURA 5.50 Campo do número de Mach no plano horizontal passando pelo centro dos injetores. Coordenadas em metros. .................................................. 285 FIGURA 5.51 Campo de pressão de estagnação no plano horizontal passando pelo centro dos injetores. Coordenadas em metros. ....................................... 285 FIGURA 5.52 Campo de viscosidade turbulenta no plano horizontal passando pelo centro dos injetores. Coordenadas em metros. ....................................... 286 xxiv FIGURA 5.53 Campo de viscosidade turbulenta na seção de injeção. Plano horizontal contendo o centro dos injetores (figura obtida por duplicação da FIG. 5.52) ................................................................................................ 287 FIGURA 5.54 Indicação da localização das camadas de mistura analisadas, numeradas de 1 a 8. Apresentação dos resultados na TAB. 5.5. ............ 288 FIGURA 5.55 Resultados para as oito camadas de mistura, com os valores respectivos de db/dx. ............................................................................... 290 FIGURA 5.56 Perfis de velocidade no plano horizontal no centro dos jatos, na região final da câmara de mistura. ..................................................................... 291 FIGURA 5.57 Isolinhas de velocidade (U1 – 0,10 ∆U) e (U2 + 0,10 ∆U). Velocidades 293, em m/s e coordenadas em metros. .......................................................... 294 FIGURA 5.58 Vista tridimensional dos jatos. ................................................................ 295 FIGURA 5.59 Distribuição da pressão estática ao longo das linhas 1, 3, 5, 6 e 7, respectivamente, para a condição fora de projeto, po,inj = 1,30 po,pr. Valores adimensionalizados pela pressão estática no jato subsônico na entrada. As linhas finas destacam as posições das paredes dos injetores. .................................................................................................. 297 FIGURA 5.60 Distribuição da pressão estática ao longo das linhas 1, 3, 5, 6 e 7, respectivamente, para a condição fora de projeto, po,inj = 0,70 po,pr. Valores adimensionalizados pela pressão estática no jato subsônico na entrada. As linhas finas destacam as posições das paredes dos injetores. .................................................................................................. 298 FIGURA 5.61 Condição de projeto, po,inj = po,pr. Isobáricas no plano vertical central do injetor 1. A pressão é praticamente uniforme em todo o campo. Coordenadas em metros. ......................................................................... 299 FIGURA 5.62 Condição fora de projeto, po,inj = 1,30 po,pr. Isobáricas no plano vertical central do injetor 1. Pressões na entrada para os escoamentos subsônico e supersônico, 1,14 e 1,55, respectivamente, adimensionalizadas pela pressão na entrada subsônica na condição de projeto. Coordenadas em metros. ........................................................... 300 FIGURA 5.63 Condição fora de projeto, po,inj = 0,70 po,pr. Isobáricas no plano vertical central do injetor 1. Pressões na entrada para os escoamentos subsônico e supersônico de 1,23 e 0,85, respectivamente, adimensionalizadas pela pressão na entrada subsônica na condição de projeto. Coordenadas em metros. ........................................................... 300 xxv FIGURA 5.64 Condição de projeto, po,inj = po,pr. Distribuições longitudinais de pressão estática ao longo da câmara de mistura. Valores adimensionalizados pela pressão na entrada do escoamento subsônico. ................................ 301 FIGURA 5.65 Condição fora do ponto de projeto, po,inj = 1,30 po,pr. Distribuições longitudinais de pressão estática ao longo da câmara de mistura. Valores adimensionalizados pela pressão na entrada do escoamento subsônico. ............................................................................................... 303 FIGURA 5.66 Condição fora do ponto de projeto, po,inj = 0,70 po,pr. Distribuições longitudinais de pressão estática ao longo da câmara de mistura. Valores adimensionalizados pela pressão na entrada do escoamento subsônico. ............................................................................................... 304 FIGURA 5.67 Campos de pressão estática na condição de projeto, po,inj = po,pr. (azul – pressão baixa, vermelho – pressão alta). Coordenadas em metros. h e w indicam a altura e a largura do injetor, respectivamente. .................... 305 FIGURA 5.68 Campos de pressão estática na condição fora do ponto de projeto, po,inj = 1,30 po,pr. (azul – pressão baixa, vermelho – pressão alta). Coordenadas em metros. ......................................................................... 306 FIGURA 5.69 Campos de pressão estática na condição fora do ponto de projeto, po,inj = 0,70 po,pr. (azul – pressão baixa, vermelho – pressão alta). Coordenadas em metros. ......................................................................... 306 FIGURA 5.70 Campo tridimensional com superfícies de pressão estática na condição do ponto de projeto, po,inj = po,pr. (azul – pressão baixa, vermelho – pressão alta). Coordenadas em metros. ................................................... 307 FIGURA 5.71 Campo tridimensional com superfícies de pressão estática na condição fora do ponto de projeto, po,inj = 1,30 po,pr (azul – pressão baixa, vermelho – pressão alta). Coordenadas em metros. ................................ 308 FIGURA 5.72 Campo tridimensional com superfícies de pressão estática na condição fora do ponto de projeto, po,inj = 0,70 po,pr (azul – pressão baixa, vermelho – pressão alta). Coordenadas em metros. ................................ 308 FIGURA 5.73 Condição de projeto, po,inj = po,pr. Isolinhas de número de Mach no plano vertical que contém o centro geométrico do injetor 3. Coordenadas em metros. ......................................................................... 309 FIGURA 5.74 Condição fora de projeto, po,inj = 1,30 po,pr. Isolinhas de número de Mach no plano vertical que contém o centro geométrico do injetor 3. Coordenadas em metros. ......................................................................... 309 xxvi FIGURA 5.75 Condição fora de projeto, po,inj = 0,70 po,pr. Isolinhas de número de Mach no plano vertical que contém o centro geométrico do injetor 3. Coordenadas em metros. ......................................................................... 310 FIGURA 5.76 Condição de projeto, po,inj = po,pr. Isolinhas de viscosidade turbulenta em um plano vertical que contém o centro geométrico do injetor 3. Valores adimensionalizados pela viscosidade molecular de referência (ver TAB. 5.2). Coordenadas em metros. ............................................... 310 FIGURA 5.77 Condição fora de projeto, po,inj = 1,30 po,pr. Isolinhas de viscosidade turbulenta em um plano vertical que contém o centro geométrico do injetor 3. Valores adimensionalizados pela viscosidade molecular de referência (ver TAB. 5.2). Coordenadas em metros. .............................. 311 FIGURA 5.78 Condição fora de projeto, po,inj = 0,70 po,pr. Isolinhas de viscosidade turbulenta em um plano vertical que contém o centro geométrico do injetor 3. Valores adimensionalizados pela viscosidade molecular de referência (ver TAB. 5.2). Coordenadas em metros. .............................. 311 FIGURA 5.79 Célula de cálculo na estação longitudinal i. ............................................ 314 FIGURA 5.80 Eficiência do processo de injeção para ganho de 1,06 (Nogueira et al., 1988). Minj representa o número de Mach na seção de saída dos injetores. .................................................................................................. 321 FIGURA A.1 Sistema de coordenadas esféricas utilizado para os componentes de velocidade na entrada. ............................................................................. 345 FIGURA B.1 Circuito aerodinâmico do TTP com principais elementos numerados – a linha tracejada indica a seção de entrada do elemento. ........................ 356 FIGURA C.1 Vista panorâmica do circuito aerodinâmico do TTP. ............................. 359 FIGURA C.2 Câmara Plena. ......................................................................................... 360 FIGURA C.3 Circuito do TTP e tubulação da injeção. ................................................. 360 FIGURA C.4 Interior da câmara Plena – tubulação de distribuição da injeção. ........... 361 FIGURA C.5 Tubulação de distribuição da injeção. ..................................................... 361 FIGURA C.6 Vista interna do difusor com detalhe da câmara de injeção com cinco injetores no teto e cinco no piso. Vê-se ainda, ao fundo, na ordem, o corpo central da segunda garganta, a abertura dos flapes (nas laterais) e as fendas nas paredes da seção de testes. ............................................. 362 xxvii FIGURA C.7 Instalação da câmara de injeção no circuito do TTP. ............................. 363 FIGURA C.8 Detalhe da instalação da câmara de injeção destacando seu início e final. ..................................................................................................... 364 FIGURA C.9 Instalação do injetor na sede. A linha que demarca o injetor corresponde ao seu contorno interno. ..................................................... 364 FIGURA C.10 Projeto do contorno interno do injetor. Curva x-y conforme projeto (Grupo TTP, 1996). ................................................................................ 365 FIGURA C.11 Pressão de estagnação na seção de testes ao acionar a injeção (po,inj = 400 kPa). .................................................................................... 366 FIGURA C.12 Pressão de estagnação na seção de testes ao acionar a injeção (po,inj = 600 kPa). .................................................................................... 367 FIGURA C.13 Pressão de estagnação na seção de testes ao acionar a injeção (po,inj = 800 kPa). ..................................................................................... 367 FIGURA C.14 Número de Mach na seção de testes ao acionar a injeção (po,inj = 400 kPa). ..................................................................................... 368 FIGURA C.15 Número de Mach na seção de testes ao acionar a injeção (po,inj = 600 kPa). ..................................................................................... 368 FIGURA C.16 Número de Mach na seção de testes ao acionar a injeção (po,inj = 800 kPa). ..................................................................................... 369 xxviii Lista de Tabelas TABELA 2.1 Componentes principais do TTP, como apresentados na FIG. 2.1. ....... 57 TABELA 2.2 Classes de escoamentos presentes no desenvolvimento do jato da injeção. .............................................................................................. 94 TABELA 2.3 Comparação de resultados de simulação numérica de turbulência com a experiência (Bardina et al., 1997) – valores da taxa de espalhamento para geometrias bidimensionais. ............................................................ 98 TABELA 2.4 Resumo de casos experimentais da mistura bidimensional de jatos de Goebel e Dutton (1991). M1 e M2 são os números de Mach correspondentes aos núcleos potenciais dos dois jatos, Mr o número de Mach relativo, xi o início da região similar e ∆ x sua extensão. ............ 100 TABELA 4.1 Casos utilizados na validação e na verificação do código. .................... 159 TABELA 4.2 Parâmetros do caso 2 da experiência de Goebel e Dutton (1991). ........ 189 TABELA 4.3 Parâmetros do caso 3r da experiência de Goebel e Dutton (1991). ....... 203 TABELA 4.4 Resultados obtidos na determinação da ordem do método. ................... 218 TABELA 5.1 Parâmetros de projeto no início da injeção. ........................................... 220 TABELA 5.2 Parâmetros de adimensionalização empregados. ................................... 224 TABELA 5.3 Impacto causado pelo sistema de injeção sobre o circuito do TTP (Falcão Filho, 1996). .............................................................................. 228 TABELA 5.4 Parâmetros da câmara de injeção. .......................................................... 239 TABELA 5.5 Valores de b, em metros, e de db/dx para várias camadas de mistura e diversas posições longitudinais. ............................................................. 289 TABELA 5.6 Parâmetros iniciais na fronteira de entrada dos dois jatos. .................... 319 TABELA 5.7 Resultados finais da simulação numérica nas fronteiras de entrada (1 – supersônico, 2 – subsônico) e de saída (3). ................................ 320 xxix TABELA 5.8 Resultados finais das condições de projeto e fora de projeto (malha grossa). ................................................................................................... 323 TABELA 5.9 Resultados finais comparativos das malhas fina e grossa. ..................... 324 TABELA B.1 Nomenclatura utilizada para os elementos do circuito aerodinâmico do TTP e a área transversal de sua seção de entrada. ............................ 356 TABELA B.2 MST = 0,200. ........................................................................................... 357 TABELA B.3 MST = 0,300. ........................................................................................... 357 TABELA B.4 MST = 0,400. ........................................................................................... 357 TABELA B.5 MST = 0,500. ........................................................................................... 357 TABELA B.6 MST = 0,600. ........................................................................................... 357 TABELA B.7 MST = 0,700. ........................................................................................... 357 TABELA B.8 MST = 0,800. ........................................................................................... 358 TABELA B.9 MST = 0,900. ........................................................................................... 358 TABELA B.10 MST = 1,000. ........................................................................................... 358 TABELA B.11 MST = 1,100. ........................................................................................... 358 TABELA B.12 MST = 1,200. ........................................................................................... 358 TABELA B.13 MST = 1,300. ........................................................................................... 358 xxx Lista de abreviaturas e siglas AEDC “Arnold Engineering Development Center”. Centro de pesquisas em aerodinâmica e propulsão da força aérea americana em Tullahoma, Tennessee, EUA. AMD “Advanced Micro Devices Inc.”, fabricante de um modelo de processador para PC. “bilinear interpolation” Procedimento de passagem dos valores dos parâmetros da malha grossa para a malha fina (Press et al., 1992). Calspan Túnel de vento transônico instalado em Buffalo, NY, EUA. Área da ST de 2,44m x 2,44m. Trabalha com sistema auxiliar de injeção. CFL Número de Courant, Friedrichs e Lewy (Courant et al., 1928), que dá a eficiência de um algoritmo em termos de sua velocidade de convergência. CL Camada limite. CTA Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial (em São José dos Campos, SP, Brasil). DC-2 Douglas Company – 2, avião comercial fabricado pela Douglas. ETW “European Transonic Wind Tunnel” – Túnel de vento transônico criogênico, com ST de 2,4m x 2m, instalado em Colônia, Alemanha. “full-weighting” Procedimento de passagem dos valores dos parâmetros da malha grossa para a malha fina (Press et al., 1992). k-ε Denomina o modelo de turbulência completo com duas equações, da energia cinética turbulenta, k, e da dissipação da energia turbulenta, ε. xxxi LES “Large Eddy Simulation” – Simulação numérica de grandes escalas para o escoamento turbulento. LHS “Left Hand Side” – o lado esquerdo da equação, em geral atribuído à equação principal de resolução do método implícito na forma fatorada. NACA “National Advisory Committee for Aeronautics”, EUA. NASA “National Aeronautics and Space Administration”, EUA. NS Conjunto de equações conhecidas como “Equações de NavierStokes”. NTF “National Transonic Facility” – túnel transônico com ST de 2,5 m x 2,5 m do complexo de Langley, Virgínia, EUA. PC “Personal Computer” – computador tipo pessoal com um único processador. RANS “Reynolds-Averaged Navier-Stokes” – conjunto de equações de Navier-Stokes com médias de Reynolds. RHS “Right Hand Side” – o lado direito da equação, em geral atribuído à equação principal de resolução do método implícito na forma fatorada. SA Modelo de Turbulência de Spalart e Allmaras. ST Seção de testes. Sverdrup Technology Inc. “Sverdrup Technology Incorporated”. Firma norte-americana de Tullahoma, Tennessee, EUA, especialista em projeto e operação de túneis de vento. “stiffness” Efeito de “rigidez computacional” ocasionada pelo excessivo acúmulo de pontos em regiões da malha de cálculo. “straight injection” Passagem direta dos parâmetros da malha grossa para a malha fina (Press et al., 1992). Tecplot Programa de computador para plotagem gráfica da “Amtec Engineering Inc.”. xxxii TsAGI Instituto Central de Aero-hidrodinâmica, situado em Jukowski, Rússia. TTP Túnel Transônico Piloto do CTA. TVD “Total Variation Diminishing” “up wind” Indica um esquema assimétrico de discretização numérica. VKI “von Kármán Institute”, Bruxelas, Bélgica. xxxiii Lista de símbolos Caracteres Latinos a velocidade do som m/s a, b, c, d variáveis auxiliares do seqüenciamento de malhas A1, A4, A6 termos auxiliares da matriz métrica (Eq. (3.30), pág. 118) A, B, C matrizes jacobianas (Eq. (3.5), pág. 105) b espessura da camada de mistura (TAB. 2.2, pág. 94 e pág. 99) c coeficiente do modelo de turbulência SA cp calor específico a pressão constante J/(kg.K) cv calor específico a volume constante J/(kg.K) C constante da equação da lei logarítmica da parede d distância à parede mais próxima D Dt derivada substancial (pág. 68) Di termo de dissipação artificial implícito (Eq. (3.42), pág. 124) De termo de dissipação artificial explícito de 4a ordem (Eq. (3.43), pág. 124) D( ) matriz de termos dissipativos do modelo de turbulência SA (Eq. (3.58), pág. 129) e energia total por unidade de volume (Eq. (2.12) pág. 71) J/m3 ec energia cinética específica (Eq. (A.26), pág. 345) J/kg m m xxxiv et energia interna específica (Eq. (2.6), pág. 69) J/kg em energia total por unidade de massa (Eq. 2.4, pág. 68) J/kg E, F, G vetores de fluxo nas direções x, y e z, respectivamente (Eqs. (2.37) a (2.39), págs. 79) E, F, G vetores de fluxo nas direções ξ, η e ζ, respectivamente (Eqs. (2.51) a (2.53), pág. 83) f função do modelo de turbulência SA (pág. 91) e função auxiliar na matriz de autovetores (Eq. (3.33d), pág. 119) g função do modelo de turbulência SA (pág. 92) e função auxiliar na matriz de autovetores (Eq. (3.33d), pág. 119) h entalpia específica h função auxiliar na matriz de autovetores (Eq. (3.33e), pág. 119) ho entalpia total específica i, j, k índices do campo computacional I matriz identidade J jacobiano da transformação entre sistemas de coordenadas (Eq. (2.46), pág. 81) k energia cinética turbulenta específica (Eq. (2.20), pág. 74) k2 , k4 constantes do modelo de dissipação artificial de Pulliam (pág. 128) K coeficiente de perda de carga (Eq. (5.10), pág. 312) ~ k grandeza genérica na matriz de autovetores (Eq. (3.33c), pág. 119) ~ ~ k,l grandezas genéricas do modelo de Pulliam e Chaussee (pág. 121) l comprimento J/kg J/kg J/kg m xxxv m função auxiliar da matriz de autovetores (Eq. (3.33e), pág. 119) m& fluxo de massa M número de Mach Mr número de Mach relativo (pág. 99) Mτ número de Mach de “escorregamento” na parede (Eq. (3.89a), pág. 148) M( ) matriz de termos convectivos do modelo de turbulência SA (Eq. (3.56), pág. 128) n nível temporal N matriz auxiliar (Eq. (3.37a), pág. 120) O ordem de erro na aproximação em diferenças finitas (Eq. (4.4), pág. 214) p pressão Pa pascal, unidade de pressão igual a 1 N/m2 Pr l número de Prandtl molecular (pág. 77) Prt número de Prandtl turbulento (pág. 77) P( ) matriz de termos de produção do modelo de turbulência SA (Eq. (3.57), pág. 129) P matriz auxiliar (Eq. (3.37b), pág. 120) r q vetor fluxo de calor q pressão dinâmica Q vetor das quantidades conservadas em coordenadas cartesianas (Eq. (2.36), pág. 79) Q vetor das quantidades conservadas em coordenadas generalizadas (Eq. (2.50), pág. 82) kg/s N/m2 ou kPa J/(m2.s) N/m2 ou kPa xxxvi r função no modelo de turbulência SA (Eq. (2.75e), pág. 92), fator de recuperação (pág. 153) R constante do gás perfeito Re número de Reynolds (Eq. (2.63), pág. 85) R1,... R5 variáveis auxiliares no emprego das equações características (Eq. (3.75), pág. 142, Eq. (A.35), pág. 347, Eq. (A.48), pág. 352, Eq. (A.50), pág. 353 e 354) S vorticidade (Eq. (2.75f), pág. 92) t tempo s T temperatura absoluta estática K To temperatura absoluta total ou de estagnação K Tξ, Tη, Tζ matrizes de autovetores (Eq. (3.31), pág. 118) r u vetor velocidade u, v, w componentes cartesianos do vetor velocidade u+ velocidade adimensionalizada por uτ u* velocidade de van Driest (Eq. (3.88), pág. 148) uτ velocidade de atrito na parede (pág. 148) r U vetor velocidade U, V, W componentes contravariantes do vetor velocidade (Eq. (2.70) pág. 87) U, V (genérico) velocidade Vp velocidade de propagação (pág. 145) x, y, z coordenadas cartesianas y+ coordenada y adimensionalizada por ν w / uτ Z vetor de variáveis de transferência (pág. 122) N.m/(kg.K) 1/s m/s m/s m/s m/s m/s m xxxvii Caracteres Gregos α grandeza genérica, função auxiliar na matriz de autovetores (Eq. (3.33b), pág. 119) β grandeza genérica, função auxiliar na matriz de autovetores (Eq. (3.33b), pág. 119) βx, βy, βz termos viscosos na equação da energia (Eq. (2.71), pág. 87) χ função auxiliar do modelo de turbulência SA (Eq. (2.75f), pág. 92) δ espessura da camada limite δij delta de Kronecker δ operador central padrão de diferenças de 2a ordem (Eq. (3.14c), pág. 110) δ operador central de diferenças de 2a ordem de ponto meio (Eq. (3.16), pág. 111) ∂ ∂ξ derivada parcial em relação a ξ ∆ξ operador de diferenças à trás na direção ξ (Eq. (3.14a), pág. 110) ∇ξ operador de diferenças à frente na direção ξ (Eq. (3.14b), pág. 110) r ∇ operador gradiente ε dissipação da energia cinética turbulenta k εi , εe coeficientes de dissipação numérica (implícito e explícito, respectivamente) (pág. 124) φ função auxiliar na matriz de autovetores (Eqs. (3.33a), pág. 119), variáveis auxiliares no termo de dissipação artificial (Eqs. (3.44) a (3.46), pág. 125) γ razão de calores específicos m xxxviii η eficiência (Eq. (5.23), pág. 318) κ constante de von Kármán κ coeficiente de condutividade térmica efetiva (Eq. (2.32), pág. 77) J/(K.m.s) κl coeficiente de condutividade térmica molecular J/(K.m.s) κt coeficiente de condutividade térmica turbulenta J/(K.m.s) λ segundo coeficiente de viscosidade (pág. 70) λc ganho do injetor (Eq. (5.22), pág. 317) λ1,... λ5 variáveis auxiliares no emprego das equações características (Eq. (3.77), pág. 142, Eq. (A.32) pág. 346, Eq. (A.45), pág. 351, Eq. (A.51), pág. 354) Λ ξ , Λη , Λ ζ matrizes de autovalores (Eq. (3.29), pág. 117) µ viscosidade dinâmica efetiva (Eq. (2.31), pág. 77) N.s/m2 µl viscosidade dinâmica laminar (molecular) N.s/m2 µt viscosidade dinâmica turbulenta (de vórtice) N.s/m2 νl viscosidade cinemática molecular m2/s νt viscosidade cinemática turbulenta m2/s ν~ valor auxiliar associado à viscosidade cinemática no modelo de turbulência SA (Eq. (2.75a), pág. 91) θ ângulo do escoamento σ constantes do modelo de turbulência SA (pág. 92) e das matrizes N e P (Eq. (3.40a), pág. 121) ρ densidade grau kg/m3 xxxix ξ ,η , ζ coordenadas curvilíneas generalizadas ψ função de pressão (Eq. (3.49), pág. 126) τ tempo rr s τ tensor de tensões (pág. 68) N/m2 ou kPa τ xx , τ yy , τ zz τ xy , τ yz , τ xz componentes cartesianos do tensor de tensões (Eq. (2.8), pág. 69) N/m2 ou kPa Ω rotacional (Eq. (2.75g), pág. 92) Símbolos Especiais () ~ valor médio e também utilizado para destacar grandezas no sistema de coordenadas generalizadas () valor médio ponderado pela massa ( )′ flutuação em torno da média ( )′′ flutuação em torno da média ponderada pela massa ∧ () indica valor adimensional 1/s xl Subscritos c indica grandeza convectiva inj relativo à injeção/injetor max valor máximo min valor mínimo o relativo à condição de estagnação pr relativo à condição de projeto ref indica valor de referência ST relativo à seção de testes t turbulento v indica grandeza viscosa w indica grandeza relativa à parede (“wall”) ∞ relativo à condição do escoamento livre Superescritos + indica grandeza adimensionalizada por ν w e uτ × indica grandeza adimensionalizada por δ e u∞ n momento temporal 41 1 INTRODUÇÃO 1.1 Objetivo e motivação O objetivo principal deste trabalho é a simulação numérica do escoamento na região da mistura de jatos, supersônico e subsônico, do sistema de injeção de um túnel de vento transônico. A motivação deste esforço de pesquisa tem por inspiração a possibilidade da utilização dos resultados da simulação, tanto no entendimento da física da mistura, quanto na avaliação global do mecanismo de injeção no TTP – Túnel Transônico Piloto do CTA. 1.2 Perspectiva histórica Avanço experimental – Túneis Transônicos No desenvolvimento dos túneis de vento, por mais de cem anos, observa-se uma preocupação constante em se reproduzir as condições de vôo pelo controle dos parâmetros do escoamento confinado. À medida que os projetos de aeronaves se aperfeiçoavam, túneis mais modernos eram necessários e esses viabilizavam passos mais ousados no desenvolvimento tecnológico das aeronaves (Goethert, 1961). O estabelecimento do escoamento transônico controlado e de alta qualidade em seções de teste com paredes perfuradas ou fendidas constitui um desses desafios vencidos pela 42 comunidade aeronáutica na década de 50 – um surpreendente ganho tecnológico atingido após uma longa trajetória. Até a década de 30 a indústria aeronáutica contou com a pesquisa em túneis para criar uma aeronave bem sofisticada na época, sem elementos estruturais externos na asa, com tremde-pouso retrátil, sem protuberâncias e com boa conformação na instalação dos motores, com contornos de asa e fuselagem limpos e suaves, como é o caso do avião de uso comercial, o Douglas DC-2. Àquela época o limite máximo de velocidade das aeronaves atingia números de Mach da ordem de 0,5. O erro percentual na densidade ao se ignorar o efeito de compressibilidade do ar nesta velocidade é de 11,5 %, que pode ser contornado por pequenas correções nas medidas, permitindo a obtenção de resultados confiáveis em túneis de regime de baixo subsônico. Mas, a partir da década de 30, observa-se uma tendência por aeronaves mais velozes (caças), aproximando-se do regime sônico, onde o erro percentual na densidade chega a atingir 36,6 % e os ensaios em regime de baixo subsônico se distanciam muito da realidade do vôo. Foram construídos, nessa década, os primeiros túneis experimentais pequenos de alta velocidade, como os túneis de vento da NACA (“National Advisory Committee for Aeronautics”, EUA) e do Instituto Göttingen de Pesquisas Aerodinâmicas, na Alemanha. Pela primeira vez, foram realizados ensaios sistemáticos com o objetivo de levantar características de famílias de perfis. Os testes, nesses pequenos túneis, revelaram significativas mudanças aerodinâmicas nos projetos e provocaram, ao redor do mundo, um esforço no sentido de se analisar mais acuradamente esses efeitos em túneis grandes. A forma aerodinâmica das aeronaves já era tão limpa que se conseguia números de Mach muito próximos de 1 em vôo descendente. Entretanto, os testes em túneis enfrentavam dificuldades crescentes à medida que a velocidade se aproximava da “fronteira sônica”, como se entendia. Após um período marcado por uma falta de entendimento do que ocorria na faixa de velocidades do alto subsônico, tendo havido, inclusive, quebras de partes da estrutura de 43 aeronaves por uma distribuição inadequada de pressão ou por inabilidade dos controles, os túneis de vento sofreram sua mais extraordinária modificação. Concluiu-se que as paredes sólidas não mais possibilitavam a realização de testes em altas velocidades por causa do fenômeno do “entupimento” aerodinâmico, ou efeito de bloqueio. Após muito esforço despendido para se obter condições de ensaio em alto subsônico, ora utilizando jato livre, que levava a pulsações indesejáveis e alto consumo de potência, ora com grandes seções de testes e modelos diminutos e ainda outras idéias, chegou-se ao primeiro sucesso em 1947, pela NACA. A partir de cálculos teóricos percebeu-se que uma parede semi-aberta (fendida ou perfurada) permitia o alívio no problema de bloqueio. Então, construiu-se um pequeno túnel com seção de testes de 30 cm de diâmetro, com oito fendas longitudinais nas paredes, razão de área aberta de 12,5 %, o qual confirmou os estudos teóricos. Assim, foi possível testar neste túnel modelos com razão de bloqueio de 9 % e com um número de Mach igual a 0,97. Logo, notou-se ser possível atingir velocidades ainda maiores (baixo supersônico) aumentando-se a potência do túnel. Com o sucesso obtido, essa tecnologia foi rapidamente difundida e vários túneis foram construídos na Inglaterra, Suíça, França, etc. A década de 50 foi cenário para o avanço da concepção de paredes perfuradas, as quais se aplicam melhor ao regime do baixo supersônico enquanto que as paredes fendidas se adaptam mais ao regime do alto subsônico (Goethert, 1961). Além disto, projetos mais elaborados de confinamento da seção de testes por um envoltório fechado, conhecido como “Câmara Plena”, propiciaram um controle mais efetivo das condições na seção de testes. Este controle se dá pela extração de massa através das aberturas das paredes da seção de testes, de forma espontânea pelo efeito de flapes de reentrada que retornam a massa extraída pelo efeito venturi, ou forçada pelo uso de compressores auxiliares extraindo ar da câmara plena. 44 Foram obtidos grandes avanços a partir daí, com a instalação de muitos túneis de alta velocidade ao redor do mundo, desde os pequenos para uso em pesquisa básica até os industriais, como, por exemplo, é o caso do túnel transônico de 4,88 m x 4,88 m de seção de testes, com 292 MW de potência total, instalado no AEDC (“Arnold Engineering Development Center” – Tullahoma, Tennessee, EUA). Os Estados Unidos lideram em instalações de túneis de vento de alta velocidade, com mais de uma centena deles (Pope e Goin, 1978). O projeto recente mais arrojado é o NTF (“National Transonic Facility”), na NASA Langley que, além da pressurização, usa também a criogenia – injeção de nitrogênio líquido vaporizado no escoamento principal – para aumento do número de Reynolds na seção de testes. Esta instalação chega, em alguns casos, a reproduzir integralmente as condições de vôo. Na Europa, com muitas instalações produtivas na França, Inglaterra, Alemanha, Suécia, etc., destaca-se o túnel criogênico ETW (“European Transonic Wind Tunnel”) (Quest, 1994). Este túnel, instalado em Colônia, foi construído por um consórcio europeu entre Holanda, Inglaterra, França e Alemanha. Também se destaca a Rússia com vários complexos de túneis de vento, sendo o mais representativo o TsAGI (Instituto Central de Aero-hidrodinâmica) em Jukowski, nos arredores de Moscou (Bedrzhitsky e Roukavets, 1996). Os túneis transônicos modernos buscam uma otimização em seus projetos, operam numa faixa típica de número de Mach de 0,2 a 1,6 e incorporam muitos avanços acumulados ao longo das últimas décadas para atender essencialmente a representatividade do vôo, principalmente no que concerne a altos números de Reynolds (Davis et al., 1986). Concomitantemente, ocorre também um crescente uso de novas tecnologias na operação e na aquisição de dados e estudos mais aprofundados na compreensão dos fenômenos aerodinâmicos. Entretanto, os ensaios realizados em túneis que usam alta tecnologia chegam a custar mais de dez mil dólares a hora (Burgsmüller e Schimanski, 2005), indicando que é 45 sempre de grande importância para o país os avanços que possam ser feitos, quer em instalações similares, quer em estudos que visem à compreensão dos fenômenos envolvidos nas diversas tecnologias empregadas. Avanço experimental - túneis com injeção Uma constante preocupação com a questão energética, quer pela escassez dos recursos naturais do planeta ou pela desejável redução de custos, tem levado ao uso de soluções inovadoras, inclusive no que diz respeito à operação dos túneis de vento. Um exemplo disto é a injeção de ar comprimido como supridora de energia para o funcionamento de túneis de vento, já empregada há muito tempo em túneis de alta velocidade (Stack, 1933), sendo muito difundida na Rússia (Arkadov e Roukavets, 1996, Bedrzhitsky e Roukavets, 1996). Túneis acionados só por injeção funcionam intermitentemente enquanto dura o ar comprimido armazenado, o qual é introduzido no circuito após passar por válvulas controladoras de pressão. Um importante trabalho desenvolvido por Muhlstein et al. (1974) analisa a questão do ponto de vista energético e da qualidade do escoamento em túneis operados somente com injeção. Para isto foi utilizado um túnel transônico piloto com seção de testes de 15 cm de diâmetro. Algumas conclusões importantes foram destacadas naquele trabalho: tanto uma melhor distribuição dos injetores, quanto o aumento do número de Mach na saída dos mesmos, aumentam a eficiência em termos do fluxo de massa. A razão em massa ótima é aproximadamente 10 (fluxo de massa na seção de testes dividido pelo fluxo de massa da injeção) e o uso de injetores localizados apropriadamente não compromete a qualidade do escoamento do túnel. Entretanto, o uso de injetores em ação conjunta com o compressor principal de túneis contínuos representa, ainda hoje, uma inovação e uma dificuldade tecnológica. Isto porque o perfeito ajuste entre os parâmetros do sistema de injeção e os parâmetros da operação 46 contínua do túnel é bastante complexo, sendo objeto de contínua investigação. Um exemplo bem sucedido é o túnel transônico com seção de testes de 2,44 m x 2,44 m da Calspan (Cotter, 1973, Rose et al., 1982). Originalmente só com acionamento contínuo, este túnel teve sua capacidade dobrada em termos do número de Reynolds, utilizando apenas quatro injetores em operação intermitente, com uma alimentação correspondente a 4 % da vazão em massa na seção de testes e com um número de Mach na saída dos injetores igual a 3. Túnel Transônico do CTA O Brasil possui hoje uma única instalação industrial para ensaios aeronáuticos de grande porte, que é o túnel subsônico do CTA, Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial, em São José dos Campos. Construído na década de 50, com área de seção de testes 2,0 m x 3,0 m, este equipamento chega a desenvolver velocidades até número de Mach 0,4. Há cerca de 20 anos, o Ministério da Aeronáutica iniciou um esforço no sentido de instalar no país um complexo de túneis industriais de alta velocidade – um túnel transônico e um supersônico –, os quais dariam suporte à aeronáutica nacional. Devido a dificuldades surgidas naquela época, todos os esforços foram canalizados para o desenvolvimento apenas do túnel transônico. Inicialmente, a equipe técnica do CTA elaborou a especificação conceptual para o túnel transônico industrial, incorporando a idéia inovadora da injeção combinada com o acionamento contínuo. Desta forma, o envelope de operação do túnel foi estendido, sem necessidade de aumentar a potência prevista para o compressor principal de 35 MW, para 70 MW. Após processo de licitação, foi escolhida para conduzir o projeto a firma norte americana “Sverdrup Technology Inc.” de Tullahoma, TN, EUA, para a tarefa de projetar um túnel transônico industrial moderno, tendo como parceira a equipe técnica do CTA no processo de adaptação do empreendimento à realidade nacional. O túnel concebido tem seção de testes com área de 2,0 m x 2,4 m, regime de velocidades na 47 faixa de número de Mach de 0,2 a 1,3, pressurização de 0,50 x 105 N/m2 a 3 x 105 N/m2 (0,5 bar a 3 bar), podendo operar continuamente ou com uso combinado de sistema de injeção (visando ampliar o envelope de operação sem aumentar em demasia a potência instalada). Antes de qualquer iniciativa, entretanto, procurou-se projetar e construir um túnel transônico piloto, em escala 1/8, de maneira a simular, na prática, os fenômenos envolvidos. Paralelamente, cálculos e previsões foram realizados na procura do entendimento de alguns dos diversos mecanismos físicos presentes durante a operação do túnel. Neste sentido, podese citar os trabalhos desenvolvidos em teses de doutorado e mestrado (Fico Júnior, 1991, Falcão Filho, 1996), sendo o presente trabalho mais uma contribuição neste sentido. Além disto, várias análises e revisões de projeto foram realizadas por especialistas nos EUA e na Rússia, e diversos artigos foram publicados em congressos e em revistas no país e no exterior (Fico Júnior e Ortega, 1993, Falcão Filho et al., 2000a, Falcão Filho et al., 2000b, Escosteguy e Nogueira, 1997, entre outros). Destaque-se no entanto que, até a data atual (junho de 2006), em função das programações e dos interesses particulares do Ministério da Aeronáutica, ainda não foram iniciadas as fases de projeto detalhado e construção do túnel transônico industrial. A construção do Túnel Transônico Piloto, doravante denominado TTP, iniciou-se em 1996 e foi concluída em 2002. Atualmente, encontra-se o mesmo em fase de calibração. Seu circuito permite a realização de ensaios numa escala reduzida, ideal para uso acadêmico, embora podendo servir à indústria aeronáutica em muitos aspectos: pesquisas de modelos, testes de geometrias simplificadas (mísseis), pesquisas de perfis, testes de configurações básicas de aeronaves, testes anemométricos, etc. Além disto, e sobretudo, o TTP foi instalado primordialmente com a finalidade de se testar as soluções inovadoras adotadas no projeto do túnel transônico industrial, destacando-se o uso do sistema de injeção, combinada com o acionamento contínuo. O presente trabalho representa um avanço para uma melhor 48 compreensão dos vários aspectos técnicos do projeto, constituindo-se numa análise do sistema de injeção do TTP. 1.3 Injeção e mistura de jatos O problema particular da injeção e da mistura de jatos compressíveis é relativamente escasso na literatura, quer seja por pertencer a uma classe de escoamentos de uso restrito por muitas décadas, quer seja pela extrema complexidade dos fenômenos físicos, requerendo abordagens tecnológicas muito avançadas. Mais recentemente, este tipo de problema tem recebido cada vez mais atenção em função do desenvolvimento de novas técnicas de medida e de computadores mais velozes. Mesmo assim, atualmente, e dentro do melhor conhecimento do autor deste trabalho, não há na literatura trabalhos teóricos que enfoquem o uso da injeção exatamente dentro do espírito utilizado no TTP. No que diz respeito à mistura simples de jatos, dentre os diversos trabalhos teóricos encontrados, destacam-se dois artigos de Alperin e Wu (1983a, 1983b). Os autores analisam os efeitos globais da injeção numa câmara de mistura de uma aeronave em vôo até número de Mach 2,0, enfocando, no primeiro artigo, a operação que resulta numa mistura subsônica e, no segundo, a condição de mistura supersônica, para as quais são propostas fórmulas e gráficos para análise. Entretanto, sua aplicação para o circuito de um túnel de vento apresenta alguma dificuldade. Ginoux (1972) compilou importantes trabalhos de análise unidimensional para projeto de injetores supersônicos de alto desempenho, que foram apresentados num curso organizado pelo Instituto von Kármán (VKI). Carrière (1973) apresenta notas de um curso 49 sobre o projeto de um túnel de vento induzido por injeção, com métodos de análise unidimensional para a avaliação de desempenho, ruídos e eventuais instabilidades. Há alguns trabalhos experimentais relevantes para a mistura de jatos compressíveis, nos quais foram empregadas diversas técnicas modernas de aquisição de dados. Chinzei et al. (1986) investiga camadas de mistura de dois jatos compressíveis, correlacionando suas taxas de crescimento com a razão de velocidades entre eles. Samimy e Addy (1986) apresentam resultados referentes à mistura entre dois escoamentos supersônicos, avaliando a influência da placa de separação entre eles. Clemens e Mungal (1992) comparam a estrutura turbulenta da camada de mistura entre dois jatos, um supersônico e outro subsônico, em três experiências. Variou-se o número de Mach relativo dos escoamentos para investigar a influência do efeito de compressibilidade da mistura – o aumento do número de Mach relativo faz surgir um caráter altamente tridimensional na camada de mistura. Goebel e Dutton (1991) apresentam os resultados de sete casos de estudo da mistura entre dois escoamentos em alta velocidade. Investigou-se experimentalmente a camada de mistura turbulenta, quanto a vários aspectos importantes, como sua região de similaridade e sua taxa de crescimento, para diferentes condições de ambos os jatos. O equipamento utilizado foi um túnel de vento de laboratório (Universidade de Illinois, Urbana-Champaign, Illinois, EUA), ver FIG. 1.1, especialmente adaptado para gerar dois escoamentos bidimensionais conduzidos até uma câmara de mistura, com dimensões de 96 mm de largura, 48 mm de altura e 500 mm de comprimento, suficiente para permitir o pleno desenvolvimento da camada de mistura. Há uma placa de separação de 0,5 mm de espessura entre os escoamentos que termina na fronteira de entrada da câmara, no centro da seção. A FIG. 1.2 mostra um esquema da seção de entrada e da seção de testes do túnel. A FIG. 1.1 mostra a instalação, destacando-se a câmara de mistura, com janelas laterais para 50 utilização de dispositivo de fotografia schlieren, e a mesa de deslocamento com o sistema de velocimetria a laser Doppler para medidas de velocidade bidimensionais. Para obter condições diferentes de operação, o túnel tem capacidade de controlar a temperatura de estagnação e a pressão de estagnação nos dois escoamentos, separadamente. Além disto, o equipamento permite ajuste dos ângulos das paredes da câmara de mistura, ângulos da placa de separação entre os jatos e ângulos das paredes do difusor de saída. Com isto pode-se obter condições ótimas de ensaio, proporcionando uma mistura adequada – gradiente mínimo de pressão estática entre os escoamentos na entrada e ao longo da câmara de mistura. FIGURA 1.1 – Fotografia do túnel de vento utilizado por Goebel e Dutton (1991) para a realização das experiências, com seus equipamentos de medição. 51 Pela riqueza das informações, o trabalho de Goebel e Dutton (1991) é considerado uma das maiores contribuições em termos de banco de dados disponível sobre camada de mistura compressível (Georgiadis et al., 2003). Por esta razão, dois dos seus casos foram utilizados pelo presente trabalho para fins de validação do código desenvolvido, cujos resultados comparativos se acham detalhados no capítulo 4, itens 4.5, 4.6, 4.7 e 4.8. Além disso, mais informações sobre os casos ensaiados por Goebel e Dutton podem ser encontradas no capítulo 2, item 2.7.2. 1.4 Abordagem computacional Paralelamente ao progresso na experimentação dos fenômenos físicos em escoamentos na área aeronáutica, os estudos numéricos tiveram um grande desenvolvimento, principalmente com os contínuos avanços em termos computacionais. A utilização de códigos numéricos na análise de escoamentos tem sido crescente, com uma variedade de metodologias específicas para cada caso (Marvin, 1983). Nas últimas décadas, os principais problemas enfrentados foram a geração de malhas apropriadas, a elaboração de um modelo de turbulência representativo, a perfeita adequação das metodologias aplicadas e a capacidade computacional (Kutler, 1985). Em particular, para o problema da mistura de jatos, as dificuldades aumentam pela necessidade da utilização de modelos de turbulência que sejam suficientemente representativos, uma vez que a mistura de escoamentos é um fenômeno essencialmente turbulento. Além disto, na maior parte das vezes, estes problemas requerem grandes refinamentos de malha, exigindo enorme capacidade computacional. 52 O trabalho de Ota e Goldberg (1991) simula numericamente a camada de mistura turbulenta entre dois jatos supersônicos, com a técnica de volumes finitos e modelo de turbulência k-ε, num campo computacional muito semelhante ao do túnel utilizado por Goebel e Dutton (aqui k indica energia cinética turbulenta e ε a dissipação da energia cinética turbulenta). Obata e Hermanson (2000) estudam a interação de ondas de choque normais em escoamentos turbulentos, com modelo numérico dependente no tempo. Benay e Servel (2001) analisam o campo turbulento na saída de um corpo cilíndrico a alta velocidade, comparando três modelos diferentes de turbulência. Freund et al. (2000) calculam a expansão de um jato supersônico com número de Mach 1,92 por simulação direta, incluindo análises do campo acústico, com 22 milhões de pontos de cálculo. Georgiadis et al. (2003) utilizam um método híbrido RANS/LES (RANS – “ReynoldsAveraged Navier-Stokes equations” e LES – “Large-eddy simulation”) para calcular a mistura de dois jatos supersônicos, inicialmente separados por uma placa, que representa exatamente o caso experimental número 2 tratado por Goebel e Dutton (1991). A FIG. 1.2 mostra um esquema representativo do campo de cálculo utilizado por Georgiadis et al., idealizado para simular a experiência de Goebel e Dutton, com as dimensões, o ângulo de entrada do escoamento inferior e as regiões nas quais são aplicados os modelos RANS e LES. Os números de Mach na seção de entrada dos dois jatos são M1 = 1,91 e M2 = 1,36, respectivamente. A FIG. 1.3 mostra os campos instantâneos de densidade para as soluções bidimensional e tridimensional, segundo reportado por Georgiadis et al. (2003). Novamente, pela riqueza de detalhes nas informações contidas nesta simulação, a mesma foi utilizada para fins de validação do código desenvolvido neste trabalho, cujos resultados comparativos se encontram no capítulo 4, itens 4.5 e 4.6. 53 500 mm 96 mm jato 1 48 mm 0,5 mm o 2,5 jato 2 RANS LES FIGURA 1.2 – Esquema do domínio de cálculo utilizado por Georgiadis et al. (2003) para a simulação do problema da mistura de jatos supersônicos, caso 2 do artigo de Goebel e Dutton (1991), destacando as regiões do campo, para as quais foram usados enfoques RANS e LES. FIGURA 1.3 – Campo instantâneo de densidade para o caso da mistura de jatos supersônicos, calculada por Georgiadis et al. (2003). (a) – solução bidimensional; (b) – solução tridimensional. 54 Para a análise numérica do problema específico da injeção no TTP a dificuldade é grande, devido à geometria bastante complexa na representação de parte do circuito do túnel, o que requer necessariamente um tratamento tridimensional. Assim, buscou-se implementar um código computacional adequado, que além de preservar ao máximo a fidelidade dos fenômenos físicos, ainda assim, assegurasse um bom desempenho, dentro das limitações dos recursos computacionais disponíveis ao autor. O código desenvolvido simula a forma conservativa das equações de Navier-Stokes com média de Reynolds em coordenadas generalizadas tridimensionais. A discretização espacial é feita utilizando-se diferenças centradas de segunda ordem de precisão e o avanço no tempo é realizado pelo método de Euler implícito (Anderson et al., 1984). O esquema de resolução utiliza a técnica da fatoração aproximada (Beam e Warming, 1978), adaptada à forma diagonal proposta por Pulliam e Chaussee (1981), com uso de viscosidade artificial espectral e não-linear de Pulliam (1986). O modelo de turbulência é o de Spalart e Allmaras (1994), tido como uma abordagem tipo “uma equação” segundo classificação padrão da literatura. Para aceleração do processo de convergência, foi empregada a técnica de malhas seqüenciais. O código desenvolvido é de aplicação universal e representa uma ferramenta de cálculo que poderá ser utilizada de forma conveniente em trabalhos futuros. A situação física a ser simulada é bastante complexa devido à alta velocidade dos escoamentos, à existência de diversas camadas de cisalhamento em planos diferentes, presença de paredes etc. Nestas condições, algumas simplificações foram introduzidas na modelagem, procurando-se, no entanto, manter a essência do processo de injeção. Estas simplificações serão introduzidas e discutidas ao longo do corpo da tese. 55 1.5 Organização do trabalho O estabelecimento do problema, com uma descrição das particularidades do TTP no uso da injeção, e a formulação matemática empregada estão apresentados no capítulo 2. O capítulo 3 apresenta os detalhes da implementação numérica das equações desenvolvidas, incluindo o tratamento geral das condições iniciais e de contorno. O capítulo 4 apresenta os resultados mais importantes utilizados para a validação e verificação do código e a análise da precisão do método. Finalmente, no capítulo 5, os resultados obtidos da análise da injeção do TTP são apresentados, seguidos de discussão dos casos e comentários. 56 2 ESTABELECIMENTO DO PROBLEMA E EQUAÇÕES BÁSICAS Este capítulo apresenta o problema físico a ser estudado, descrevendo as principais características do TTP, com detalhes da operação pelo uso acoplado do sistema de injeção de massa. Também são apresentadas as equações básicas da formulação no espaço tridimensional para a representação física do problema abordado, juntamente com os modelos e algumas das simplificações adotadas. 2.1 Estabelecimento do Problema O Túnel Transônico Piloto do CTA O TTP tem seção de testes com área de 0,25 m x 0,30 m, com faixa de número de Mach de 0,2 a 1,3. É um túnel em circuito fechado e opera continuamente por meio de um compressor principal com potência de 830 kW, com uma unidade comutadora de freqüência que controla a rotação do compressor para atingir a velocidade desejada na seção de testes. Seu circuito é pressurizado de 0,5 x 105 a 1,25 x 105 N/m2 (0,5 bar a 1,25 bar), por meio de um sistema de compressor auxiliar. O túnel possui controles automáticos de pressão, temperatura, umidade, número de Mach, taxa de extração de massa pelas paredes fendidas da seção de testes, sendo também dotado de um sistema de injeção que opera intermitentemente, para atingir pontos extremos em seu envelope de operação. A FIG. 2.1 apresenta um esquema da instalação do túnel, no qual se observam suas principais áreas: A – sala de controle, B – galpão de instalação do circuito aerodinâmico, C – casa de máquinas, D – casa dos 57 transformadores e E – instalações ao ar livre. A TAB. 2.1 denomina os principais componentes e suas funções básicas, de acordo com a FIG. 2.1. O TTP, como é típico para um túnel transônico, tem uma operação bastante complexa, na qual todos os seus sistemas e componentes desempenham funções, de forma coordenada, para atingir condições controladas e estáveis na seção de testes. Estas são principalmente a temperatura de estagnação e a pressão de estagnação que, associadas à rotação imposta ao compressor principal, resultará numa condição única para o ensaio, através do estabelecimento do número de Mach e do número de Reynolds. Para tanto, o TTP ainda incorpora um sistema central de controle que realiza, de forma integrada, procedimentos automáticos para os diversos sistemas, através de um programa dedicado. O programa realiza a leitura dos parâmetros dos diversos sistemas, os cálculos e a lógica necessários para acionar as diversas válvulas pneumáticas, hidráulicas, os motores elétricos e outros dispositivos para a manutenção da configuração desejada. TABELA 2.1 – Componentes principais do TTP, como apresentados na FIG. 2.1. N. Componente Função 1 Câmara Plena Hermeticamente fechada, abriga a primeira garganta, a seção de testes com paredes fendidas, a seção de flapes de reentrada, a segunda garganta e a seção de injeção. 2 Seção de injeção Abriga os injetores que fornecem ar comprimido a alta velocidade (número de Mach 1,9), aumentando a quantidade de movimento do escoamento principal. 3 Compressor principal Fornece energia mecânica de eixo, acionando o túnel em operação contínua (opera de 0 a 7400 rpm) 4 Caixa de transmissão e unidade de refrigeração Amplia a rotação do motor elétrico (2,7 vezes) para acionar o compressor principal, com sistema de lubrificação e resfriamento. 5 Motor elétrico principal Fornece potência de eixo à caixa de transmissão (0 a 3600 rpm, 830 kW). 58 TABELA 2.1 – (continuação). N. Componente Função 6 Conversor de freqüências Modula a freqüência elétrica para controle da rotação do motor principal. 7 Trocador de calor Extrai o calor gerado pelas irreversibilidades ao longo do circuito aerodinâmico do túnel. 8 Câmara de tranqüilização Condiciona o escoamento uniformizando-o ao máximo. 9 Extrai massa da ST (seção de testes) pelo controle da pressão Extração forçada de da Câmara Plena, aumentando o efeito de desbloqueio massa da seção de testes. aerodinâmico, para permitir ensaios com maiores razões de bloqueio. 10 Extração de massa do circuito Extrai ar do circuito para controle da pressão do túnel. 11 Readmissão de massa Readmite ar ao túnel para controle da pressão. 12 Válvula da injeção Ajusta a pressão de estagnação dos injetores para controle do fluxo de massa dos injetores. 13 Válvula de exaustão da injeção Extrai a massa injetada para balanço de massa no circuito do túnel. 14 Reservatórios de arcomprimido Armazenam ar comprimido para a operação com injeção (10 m cada um, com tempo de descarga mínimo de 45 segundos). 15 Compressores a pistão Carregam os reservatórios de ar comprimido do sistema de 6 2 injeção com pressão até 4 x 10 N/m (40 bar). 16 Secador de alta pressão Seca o ar da injeção até ponto de orvalho de -45 C, para evitar condensação durante a expansão do escoamento a alta velocidade. 17 Compressor centrífugo Controla a pressão do circuito, a umidade e a porcentagem de extração forçada de massa pela Câmara Plena (taxa 4:1). 18 Secador de baixa pressão Seca o ar a ser readmitido no circuito do túnel, para evitar condensação durante a expansão do escoamento a alta velocidade. 19 Torre de resfriamento Resfria a água que circula nos diversos componentes (compressores, motor, trocador de calor do túnel, unidade hidráulica). 20 Bombas hidráulicas Circulam água pelos diversos componentes a serem resfriados. 21 Transformadores elétricos Condicionam a tensão para as diversas aplicações. através de telas e colmeia, 3 o 59 D A B 6 21 1 7 8 2 13 5 4 9 12 3 10 11 14 19 14 E 20 18 16 C 17 15 15 FIGURA 2.1 – Esquema de instalação do TTP (itens na TAB. 2.1). 60 A FIG. 2.2 mostra um esquema em detalhe do interior da Câmara Plena, onde estão instaladas a primeira garganta, a seção de testes, a seção de flapes, a segunda garganta e a câmara de mistura da injeção. Ainda há outras vistas (e fotografias) do túnel e do sistema de injeção no apêndice C. Câmara Plena Injetor Primeira Garganta Seção de Testes Seção de flapes Segunda Garganta Câmara de Mistura da Injeção tubo de alimentação de ar-comprimido FIGURA 2.2 – Detalhe do interior da câmara plena. O estabelecimento do escoamento na faixa transônica propriamente dita, num túnel transônico (número de Mach de 0,85 a 1,3) não é simples. Este regime é caracterizado por um escoamento misto no qual regiões subsônicas e supersônicas coexistem tornando-o, muitas vezes, instável. A configuração do escoamento, em regime permanente, em termos das precisas localizações das diversas fronteiras sônicas, só é obtida com uma escolha adequada dos dois principais parâmetros de definição do escoamento: os números de Mach e de Reynolds. Além disto, um cuidado especial deve ser dado para se obter uma distribuição espacial uniforme na seção de testes, através de diversos dispositivos auxiliares. 61 A primeira garganta, formada a partir de uma geometria criteriosamente projetada, acelera o escoamento da câmara de tranqüilização até a entrada da seção de testes. Esta geometria pode ser fixa, como é o caso do TTP, ou variável com uso de atuadores sobre uma superfície de contorno flexível, num projeto mais caro, mas de mais fácil operação. Até o número de Mach 1 na seção de testes, a primeira garganta terá uma geometria fixa. Para o regime supersônico, sua geometria pode ser modificada para operar como um bocal convergente-divergente. Entretanto, através da extração de massa pelas paredes semi-abertas da seção de testes, é possível atingir números de Mach até cerca de 1,2 com a primeira garganta sônica. As paredes da seção de testes do TTP são semi-abertas, com fendas longitudinais, que permitem que parte do escoamento atravesse espontaneamente as mesmas, evitando o efeito de bloqueio. O ar é readmitido à corrente principal através da abertura dos flapes, que sugam o ar da câmara plena por efeito venturi. Fico Júnior e Ortega (1993) detalham a operação dos flapes de reentrada e calculam as perdas localizadas para a seção. Além da abertura dos flapes, o compressor centrífugo (item 17 na FIG. 2.1) pode extrair mais massa pelas paredes, diminuindo ainda mais o efeito de bloqueio, permitindo assim ensaiar modelos com razões de área maiores. A combinação do ângulo de abertura dos flapes com a porcentagem de massa extraída da câmara plena deve ser determinada experimentalmente para cada modelo e configuração de ensaio, visando uma distribuição uniforme de velocidades dentro da seção de testes. A saída de massa pelas paredes da seção de testes causa, como efeito final, o alívio do bloqueio além de praticamente cancelar as reflexões de eventuais ondas de choque. Além disso, como efeito secundário, a espessura da camada limite junto às paredes é bastante diminuída quando da passagem pelas fendas. Este fato será levado em conta neste trabalho quando da determinação da espessura de camada limite na região onde estão instalados os injetores (ver capítulo 5, item 5.1.1). 62 A segunda garganta é utilizada para o funcionamento do túnel no regime plenamente supersônico, criando condições para o estabelecimento de choque localizado de maneira controlada, reduzindo as perdas de carga e evitando instabilidades na operação do túnel. A fixação do choque nesta região evita a entrada do fluxo supersônico no primeiro difusor. O dispositivo consiste em um mecanismo de avanço de segmentos da parede, com ajustes independentes. Este dispositivo, presente em duas paredes opostas, cria um novo contorno do circuito do túnel, com uma seção de menor área. O que distingue o circuito do TTP dos túneis transônicos tradicionais é a introdução da seção de injeção de massa a alta velocidade, fornecendo quantidade de movimento extra à corrente principal no túnel. Desta forma, com o compressor principal mantido numa mesma condição de potência, pode-se atingir regiões extremas do envelope de operação. Observa-se, historicamente, que essas regiões extremas do envelope têm demanda de cerca de 10 % dos ensaios (Christophe, 1985) mas que, para serem atingidas de forma contínua – só com o compressor principal – necessitariam o dobro da potência instalada. Por outro lado, como o uso da injeção combinada impõe cuidados especiais de operação, seu emprego representa uma solução de compromisso. No túnel transônico industrial, o sistema de injeção terá um papel muito significativo. A FIG. 2.3 mostra seu envelope de operação relativo às condições na seção de testes. Observe-se a extensa região exclusivamente alcançada pela operação combinada (indicada pelos termos “Injeção combinada”), além da curva de potência limite do compressor principal (35 MW) – representando um aumento de 70% no número de Reynolds para a condição de número de Mach 1 na seção de testes. Na FIG. 2.3 vê-se ainda o envelope do TTP, que é ampliado e detalhado na FIG. 2.4. 63 10 T 0 = 313 K corda típica = 0,22 m (10% da raiz quadrada da área da seção de testes) número de Reynolds (milhões) 9 8 Injeção Combinada curva de limite de potência 7 TTS limite estrutual (3 bar) 6 5 Acionamento contínuo (compressor principal) 4 3 2 1 TTP 0 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4 número de Mach FIGURA 2.3 – Envelope de operação do túnel transônico industrial. Embora o TTP preserve as principais características do túnel industrial, algumas simplificações foram adotadas no seu projeto. Em particular, enquanto no túnel industrial o limite de pressurização do túnel é de 3 bar, no TTP é de 1,25 bar. Por isto, seu envelope, representado na FIG. 2.4, apresenta uma forma um pouco diferente. A figura destaca ainda a região na qual é possível o uso da injeção combinada com a operação contínua do túnel (indicada pelos termos “Injeção combinada”). A região que representa uma extensão real do envelope de operação é muito pequena – o canto superior direito do envelope, em forma de triângulo. Esta região só é atingida com o compressor na potência máxima (observe-se a linha de limite de potência do compressor) e com uso da injeção. O restante da região indicada como “Injeção combinada” pode ser atingida pelo uso conjunto da injeção e do compressor em condições de potência inferiores, ou só com o compressor principal. As outras regiões do envelope operacional do túnel são atingidas usando-se somente o compressor principal, 64 devido aos limites de “bombeamento” da máquina e de extração via válvula de exaustão – limites impostos para uma operação segura do sistema de injeção. A razão para que se tenha uma região relativamente grande de redundância de operações (só compressor principal, ou compressor principal mais injeção), vem do fato de que o TTP foi construído principalmente para testar a injeção, e é desejável que haja mais de uma possibilidade de se atingir estas regiões, com o intuito de se avaliar o processo. 0.55 0.50 número de Reynolds (milhões) Limite de Potência do Compressor Principal T o = 313 K corda típica = 2,74 cm ( = 10% da raiz quadrada da área da seção de testes) 0.45 Injeção combinada 0.40 0.35 0.30 Limite da garganta sônica Limite estrutural do circuito Limite de extração via "blow-off" Limite de "bombeamento" do Compressor Principal 0.25 0.20 0.15 0.10 Limite de sucção do compressor de extração de massa da câmara Plena 0.05 0.00 0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0 1.1 1.2 1.3 1.4 número de Mach FIGURA 2.4 – Envelope de operação do TTP. Dentre as diversas curvas que limitam a operação do TTP (ver FIG. 2.4), destacam-se o limite de bombeamento que deve ser obedecido para que o compressor principal não opere como turbina, efeito este provocado pela intensidade exagerada da injeção comparada à potência do compressor principal, e o limite de extração via válvula de exaustão, que garante que a massa de ar injetada possa sair espontaneamente do circuito. 65 O Sistema de Injeção do TTP Este sistema gera ar comprimido a alta pressão, 40x105 N/m2 (40 bar), e armazena-o em dois reservatórios de 10 m3 cada, o que garante uma operação mínima do mecanismo de injeção por 45 segundos. Durante o processo esse ar é descarregado através de uma válvula de controle (item 12 na FIG. 2.1), para garantir o fluxo de massa desejado, direcionado para dez bicos injetores, que estão localizados no ponto 2 da FIG. 2.1 (ver detalhe na FIG. 2.2). Cinco destes bicos estão localizados no piso e cinco estão localizados no teto do túnel – ver FIG. 2.5 –, e deve-se observar que estes bicos não são retráteis, i.e., eles ficam expostos à corrente durante todo o tempo. No apêndice C há fotografias ilustrativas com mais detalhes da instalação atual do TTP. FIGURA 2.5 – Esquema da seção transversal do túnel onde estão montados os bicos injetores. 66 Cada bico injetor funciona como um bocal convergente-divergente com geometria fixa, “fornecendo” na seção de saída o escoamento com número de Mach 1,9, na condição de operação de projeto. A FIG. 2.6 mostra, numa vista lateral, o detalhe da instalação de um dos injetores na câmara de mistura. A saída do jato supersônico, por projeto, é perfeitamente alinhada com a parede do túnel. A câmara de mistura é também câmara de transição, na qual a geometria quadrada da seção em “A” (ver FIG. 2.6), onde o processo de injeção se inicia, vai passando por transformações, mantendo a área transversal aproximadamente constante, até “D” onde a seção é circular. A geometria real da câmara de mistura e mais detalhes serão mostrados posteriormente no capítulo 5, quando da apresentação das malhas de cálculo. linha de simetria longitudinal do túnel A B C seção de estagnação do injetor FIGURA 2.6 – Detalhe esquemático da montagem de um injetor na câmara de mistura. D 67 O presente trabalho objetiva simular, da melhor maneira possível, a câmara de mistura da injeção, com as condições de projeto relativas à operação do sistema de injeção combinado com o escoamento do circuito do túnel, para permitir uma análise dos principais parâmetros do processo de mistura. 2.2 Hipóteses básicas consideradas As seguintes hipóteses simplificadoras foram assumidas: • O fluido de trabalho é o ar, considerado como um gás, térmica e caloricamente perfeito; • O fluido é newtoniano; • As forças de corpo (de campo) são desprezíveis; • As fontes de calor internas são desconsideradas. Além destas, outras hipóteses simplificadoras específicas foram empregadas, as quais serão introduzidas oportunamente. 2.3 Equações de Navier-Stokes O processo físico em questão será modelado matematicamente por meio das chamadas equações gerais da dinâmica dos fluidos, também conhecidas como equações de NavierStokes. Está se tornando usual na dinâmica dos fluidos computacional classificar como 68 “Equações de Navier-Stokes” o conjunto completo das equações básicas da continuidade, da quantidade de movimento e da energia, além do conjunto das equações constitutivas pertinentes. Destarte, em forma diferencial, estas equações são (Anderson et al., 1984): Continuidade: r r Dρ + ρ ∇ ⋅u = 0 . Dt (2.1) r r r vv Du ρ = −∇ p + ∇ ⋅τ . Dt (2.2) ( ) Quantidade de Movimento: Energia: ρ Nestas D( ) equações Dt ≡ ∂ ( o r r rr r r D em r = ∇ ⋅ − p u + τ ⋅u − q . Dt [ símbolo ) ∂t + ur ⋅ ∇( ) , e D/Dt ] representa (2.3) a derivada substancial, r ∇ o operador gradiente. O símbolo ρ indica a densidade, rr r r u o vetor velocidade, p a pressão, τ o tensor de tensões viscosas, q o vetor fluxo de calor por condução, t o tempo e em é a energia total por unidade de massa dada por 1r r em = et + u ⋅ u , 2 onde et é a energia interna específica ou energia termodinâmica propriamente dita. (2.4) 69 Em geral o número de variáveis em um problema é maior que o número de equações básicas. Nessas condições, usualmente lança-se mão das chamadas equações constitutivas, as quais caracterizam o fluido em movimento. A seguir são listadas as principais equações constitutivas aqui utilizadas. (i) Equação dos gases perfeitos. Para um gás térmica e caloricamente perfeito, escreve-se p = ρ ( γ − 1 ) et , (2.5) sendo γ = cp / cv a relação entre os calores específicos a pressão constante e a volume constante. Como o gás é caloricamente perfeito tem-se que (2.6) et = cv T , sendo T a temperatura estática absoluta. (ii) Lei de Fourier. O calor transferido por condução é expresso por r r q = −κ ∇ T , ( ) (2.7) r onde q é o vetor de fluxo de calor e κ é o coeficiente de condutividade térmica molecular. (iii) Relação entre o tensor de tensões viscosas e o tensor taxa de deformação. Dada por ∂ ui ∂ u j + ∂ x j ∂ xi τ ij = µl 2 ∂ uk − µl 3 ∂x k δ ij , (2.8) 70 onde µl é a viscosidade dinâmica molecular, o fluido é considerado isotrópico e leva-se em conta a hipótese de Stokes (λ = – (2/3) µl ). O símbolo δ ij representa o tensor de Kronecker, sendo que a equação segue a notação chamada de Einstein quanto à operação dos termos a partir dos seus índices (também conhecida como notação indicial). As Eqs. (2.1), (2.2) e (2.3) estão escritas na forma não-conservativa. Isto pode causar distorções numéricas pela geração de massa nas passagens por descontinuidades como, por exemplo, ondas de choques. Para evitar isto lança-se mão da forma conservativa ou forma divergente das equações (Anderson et al., 1984, Chapman, 2000). Em coordenadas cartesianas e notação indicial obtém-se, Continuidade: ∂ρ ∂ (ρ uj )= 0 . + ∂t ∂ xj (2.9) Quantidade de Movimento: ∂(ρui ∂t )+ ∂(ρu i uj ∂xj )+ ∂ τ ij ∂p =0. − ∂ xi ∂ x j (2.10) Energia: ∂e ∂ + ∂t ∂ xj onde [( e + p ) u j ] − τ ij ui + q j = 0 , (2.11) 71 1 r r e = ρ em = ρ et + u ⋅ u 2 (2.12) é a energia total por unidade de volume. 2.4 Equações médias de Reynolds As equações de Navier-Stokes na forma conservativa, Eqs. (2.9), (2.10) e (2.11), requerem uma capacidade computacional, para representar todas as escalas de turbulência envolvidas em um escoamento a altos números de Reynolds, que inviabiliza seu uso direto no presente contexto. Por exemplo, para representar o menor vórtice de turbulência, seriam necessários, em geral, no mínimo, dez pontos de cálculo, o que significa para um escoamento típico, 106 pontos por 1 cm3 (Anderson et al., 1984). Para a análise da mistura de jatos do TTP em toda a câmara de mistura dos injetores (33 cm x 33 cm x 60 cm), seriam necessários cerca de 65 bilhões de pontos de cálculo, que transcende em muito a capacidade de armazenamento de dados e a velocidade dos computadores atuais. É importante salientar que o enfoque deste trabalho é essencialmente “de engenharia” e, em conseqüência, ele pode ser encarado com tranqüilidade como um problema de “estado estacionário”. Isto tende a diminuir o tempo total de cálculo considerando que o número final de iterações será muito menor. Técnicas tipo simulação direta e simulação de grandes vórtices, além de necessitar de uma capacidade de memória extraordinária, em geral exigem um número de iterações muito grande, por serem métodos tipo “acurados no tempo” (“time accurate”), e pela necessidade de reproduzirem pelo menos alguns ciclos de evolução do processo. 72 Assim, o mais prático é trabalhar com as chamadas equações de Navier-Stokes com média de Reynolds. Considera-se uma variável do escoamento expressa pelo seu valor médio mais um termo de flutuação, conceito este introduzido por Reynolds (1895) para o escoamento incompressível. No caso do escoamento compressível o usual é utilizar as médias de Favre (1965), médias estas ponderadas pela massa, o que simplifica sobremaneira a forma final das equações. Define-se então: ρ = ρ + ρ′ , (2.13a) ρ ui = ρ ui + (ρ ui )′ , (2.13b) e = e + e′ , (2.13c) ρ et = ρ et + (ρ et )′ (2.13d) p = p + p′ , (2.13e) τ ij = τ ij + τ ij′ , (2.13f) qi = qi + qi′ , (2.13g) ρ h = ρ h + (ρ h )′ , (2.13h) onde a barra indica grandeza média e o símbolo (⋅)´ indica flutuação em torno da média. Nas equações acima, h indica entalpia específica. Entretanto, como se estabeleceram as médias de ρ ui, ρ et e de ρ h, caso as velocidades, energia interna e entalpia médias sejam necessárias, será preciso introduzir uma outra definição, qual seja, 73 ρ ui u~i = , (2.14a) ρ et ~ et = , (2.14b) ~ ρh h= , (2.14c) ρ ρ ρ o que leva à introdução das seguintes grandezas de flutuação: ui = u~i + ui′′ , (2.15a) et = ~ et + et′′ , (2.15b) ~ h = h + h′′ . (2.15c) Observe-se que as médias das quantidades de perturbação ui′′ , et′′ e h′′ não são necessariamente nulas. Estabelecendo-se a média das Eqs. (2.9), (2.10) e (2.11) chega-se, finalmente, ao seguinte sistema de equações, na forma conservativa (Wilcox, 1998): Continuidade: ∂ρ ∂ + ∂t ∂ xj ( ρ u~ ) = 0 . j (2.16) 74 Quantidade de Movimento: ∂ ( ρ u~i ) ∂ ( ρ u~i u~ j ) ∂ p ∂ + + − τ ij − ρ ui′′u′j′ = 0 ∂t ∂ xj ∂ xi ∂ x j ( ) (2.17) Energia: ∂e ∂ + ∂t ∂ xj [ ( e + p )u~ ] − ∂∂x ρ ui′′u′j′ u~i τ ij − ρ ui′′u′j′ + ui′′ τ ij − 2 ( j j ) ∂ qj ∂ xj + + ∂ ρ u′j′ h′′ = 0 . ∂ xj ( ) (2.18) Deve-se observar que, no caso turbulento, a expressão para a energia total média por unidade de volume passa a ser 1 ρ ui′′ui′′ , e = ρ ~ et + u~i u~i + 2 2 (2.19) e percebe-se imediatamente que ρk= ρ ui′′ ui′′ 2 , (2.20) onde k é a energia cinética turbulenta por unidade de massa. Comparando-se as Eqs. (2.9), (2.10) e (2.11), respectivamente, com as Eqs. (2.16), (2.17) e (2.18), observa-se o “surgimento” de novos termos com nova terminologia, representando algum aspecto físico do escoamento, quais sejam: 75 Tensões de Reynolds: ρ ui′′u ′j′ . (2.21) Dissipação de Reynolds: ρ ui′′u′j′ . ui′′ τ ij − 2 (2.22) Fluxo de calor de Reynolds: ρ u′j′ h′′ . (2.23) Pode-se obter novas equações de transporte para estas grandezas, entretanto, novos termos surgirão envolvendo correlações triplas (Wilcox, 1998). Deste ponto de vista, o problema continua “aberto”. A maneira mais tradicional para se fechar o problema é a introdução da hipótese de Boussinesq (1877), segundo a qual os termos de flutuação são correlacionados diretamente com o campo médio. Assim, no caso mais geral, o termo de Reynolds se relaciona com o tensor taxa de deformação média através da expressão: (τ ) ij Re ∂ u~i ∂ u~ j ≡ − ρ ui′′u ′j′ = µ t + ∂x ∂ xi j ~ 2 − µ t δ ij ∂ u k − 2 δ ij ρ k , 3 ∂ xk 3 (2.24) onde µt é a chamada viscosidade turbulenta, ou viscosidade de vórtice. O fluxo de calor de Reynolds é suposto ser proporcional ao gradiente de temperatura médio e é dado por (q ) j Re = − ρ u′j′ h′′ = − κ t onde κt é a condutividade térmica turbulenta. ~ ~ κ ∂h ∂T , =− t cp ∂ x j ∂ xj (2.25) 76 Em geral o termo molecular, e (2 3) δ ij ρ k (1 2) ρ ui′′ ui′′ u′j′ , na Eq. (2.24) e as contribuições ui′′τ ij , difusão transporte turbulento, que vêm da equação da energia (dissipação de Reynolds) são considerados desprezíveis. Esta é uma prática comum e representa uma boa aproximação para escoamentos com números de Mach até a faixa ~ supersônica, o que decorre de que ρ k << p (e, portanto, k << h ) para a maioria dos escoamentos de interesse em engenharia (Wilcox, 1998). Para se ter idéia, no caso presente da injeção no TTP, o valor de ρ k é, em geral, da ordem de 0,3 % de p , sendo, portanto, bastante plausível a adoção desta simplificação. Aplicando os conceitos de Boussinesq às Eqs. (2.16), (2.17) e (2.18), estas serão escritas em função, apenas, das variáveis médias do escoamento. Para simplificar a notação, as barras e os tils que indicam as médias serão abolidos. Mas deve-se ter sempre em mente que as equações estão escritas em função das quantidades médias do escoamento. Assim, Continuidade: ∂ρ ∂ ( ρ uj )= 0. + ∂t ∂ xj (2.26) ∂ ( ρ ui ) ∂ ( ρ ui u j + p δ ij − τ ij ) = 0 . + ∂t ∂ xj (2.27) ∂e ∂ + ∂t ∂ xj (2.28) Quantidade de Movimento: Energia: [( e + p ) u j ] − τ ij ui + q j = 0 , 77 sendo os parâmetros τij e qj dados agora por ∂u ∂uj 2 − ( µ l + µt ) ∂ uk δ ij , τ ij = ( µ l + µt ) i + (2.29) µ µ ∂ et q j = − l + t γ , Pr Pr ∂ x l t j (2.30) ∂ xj ∂ xi 3 ∂ xk onde Prl = (µ l c p / κ l ) é o número de Prandtl laminar e Prt = (µt c p / κ t ) é o número de Prandtl turbulento. Valores constantes para Prt são normalmente adotados, em geral entre 0,8 e 0,9. A previsão da troca de calor em camadas limite pode ser melhorada admitindo-se uma certa variação de Prt com a distância à parede (Cebeci e Bradshaw, 1984). Neste trabalho, entretanto, utilizou-se sempre Prt = 0,89. Neste ponto define-se o que costumeiramente se conhece por viscosidade efetiva, µ, e condutividade térmica efetiva, κ, por µ = µ l + µt , (2.31) κ = κl + κt . (2.32) Assim, as Eqs. (2.29) e (2.30) podem ser reescritas como ∂ ui ∂ u j + ∂ ∂ xi x j τ ij = µ q j = −κ 2 ∂ uk − µ δ , 3 ∂ x ij k ∂T κ ∂ et =− . cv ∂ x j ∂ xj (2.33) (2.34) 78 A pressão é calculada das Eqs. (2.4) e (2.5) (após a operação de média). As Eqs. (2.26) a (2.28) são usualmente conhecidas na literatura como equações médias de Reynolds (englobando-se nesta nomenclatura as equações da continuidade e da energia), ou também de equações de Navier-Stokes com média de Reynolds (RANS – “ReynoldsAveraged Navier-Stokes Equations”). Este é o sistema de equações que será utilizado na modelagem do escoamento que acontece na câmara de injeção. Mas a representação acima ainda está na forma cartesiana, o que não é totalmente desejável, uma vez que dificuldades adicionais aparecem no caso de geometrias complexas. Por exemplo, para alguns casos de estudo da mistura de jatos a malha mais apropriada precisou ser alterada da sua forma cartesiana original para diminuir o acúmulo de pontos e acompanhar melhor a camada de mistura (ver capítulos 4 e 5). 2.5 Transformação de coordenadas O sistema de coordenadas cartesianas apresenta inconvenientes para o caso de geometrias não retangulares. Assim adotou-se como referência um sistema de coordenadas curvilíneas generalizadas, ξ, η e ζ, aumentando-se a flexibilidade do código desenvolvido, uma vez que, neste caso, as coordenadas se adaptam às superfícies de contorno (Anderson et al., 1984). Inicialmente, o sistema de equações principais do escoamento (Eqs. (2.26), (2.27) e (2.28)) é reescrito na forma conservada matricial, porém ainda, em coordenadas cartesianas. 79 ∂Q ∂ E ∂ F ∂G + + + =0, ∂t ∂ x ∂ y ∂ z (2.35) onde o vetor de quantidades conservadas é ρ ρ u Q = ρ v, ρ w e (2.36) ρu 2 ρ u + p − τ xx ρ u v − τ xy E= , ρ u w − τ xz (e + p − τ xx ) u − τ xy v − τ xz w + q x (2.37) ρv ρ u v − τ xy ρ v 2 + p − τ yy F = , ρ v w − τ yz (e + p − τ yy ) v − τ xy u − τ yz w + q y (2.38) ρw ρ u w − τ xz ρ v w − τ yz G= . 2 ρ w + p − τ zz (e + p − τ zz ) w − τ xz u − τ yz v + q z (2.39) e os vetores de fluxo E, F e G são 80 O procedimento padrão para se obter as equações de Navier-Stokes em coordenadas curvilíneas generalizadas, a partir da sua forma em coordenadas cartesianas, começa com o uso das seguintes transformações, temporal e espaciais: τ =t, (2.40) ξ = ξ ( x , y , z ,t ) , (2.41a) η = η ( x , y , z ,t ) , (2.41b) ζ = ζ ( x , y , z ,t ) . (2.41c) É importante observar que, se a transformação direta foi possível, sempre existirá a transformação inversa, dada por: t =τ , (2.42) x = x ( ξ ,η ,ζ ,τ ) , (2.43a) y = y ( ξ ,η ,ζ ,τ ) , (2.43b) z = z ( ξ ,η ,ζ ,τ ) . (2.43c) Usando a regra da cadeia, as derivadas, em relação às variáveis cartesianas, podem ser expressas em termos das derivadas curvilíneas, na forma matricial, como 81 ∂ τ t ∂t ∂ 0 ∂ x = ∂ 0 ∂ y ∂ ∂ z 0 ξt ξx ηt ηx ξy ηy ξz ηz xτ yτ xξ yξ ζt ∂ ∂τ ζx ∂ ∂ ξ , ∂ ζ y ∂η ∂ ζ z ∂ ζ (2.44) sendo a expressão inversa dada por ∂ tτ ∂τ ∂ 0 ∂ ξ = ∂ 0 ∂η ∂ ∂ ζ 0 xη yη xζ yζ zτ ∂ ∂t zξ ∂ ∂ x . ∂ zη ∂ y ∂ zζ ∂ z (2.45) Devido à forma especial das matrizes de transformação acima, o jacobiano da transformação, J, pode ser escrito como (Pulliam e Steger, 1980): J= ou, como empregado no código, ∂ ( ξ ,η ,ζ ) , ∂ ( x , y ,z ) (2.46) 82 J −1 = ∂ (x , y , z ) , ∂ (ξ ,η ,ζ ) (2.47) ou então em forma aberta (sabendo que tτ = 1): J −1 = [ yξ ( xζ zη − xη zζ ) + yη ( xξ zζ − xζ zξ ) + yζ ( xη zξ − xξ zη ) ]. (2.48) Substituem-se as transformações dadas pelas Eqs. (2.42) e (2.43) na Eq. (2.35) e trabalha-se algebricamente, atentando para não se perder a forma conservativa da equação. Isto consiste em incluir o Jacobiano na derivada através da regra da cadeia, observando-se que uma combinação de termos se anula. Assim, obtém-se a equação escrita na forma conservativa em coordenadas generalizadas (Anderson et al., 1984), ∂Q ∂ E ∂ F ∂G + + + = 0, ∂τ ∂ξ ∂η ∂ζ (2.49) para a qual o vetor das variáveis conservadas e os vetores de fluxo são expressos por ρ ρ u 1 Q = ρ v , J ρw e (2.50) 83 E= 1 ( ξt Q + ξ x E + ξ y F + ξ z G ) , J (2.51) F = 1 (ηt Q + η x E + η y F + η z G ) , J (2.52) G= 1 ( ζ t Q + ζ x E + ζ y F + ζ z G ). J (2.53) Destaque-se que, no trabalho, a malha foi considerada fixa, o que, em princípio, é uma decorrência da hipótese de estado estacionário. Daí resulta que os termos ξt, ηt e ζt, que aparecem nas equações acima, se anularão. 2.6 Adimensionalização e expressão final das equações É aconselhável a adimensionalização das equações, garantindo maior generalidade na formulação, além de se obter ordem de grandeza mais conveniente para os termos. O seguinte conjunto consistente de parâmetros foi adotado como referência: • densidade de referência, ρref, • velocidade do som de referência, aref, • comprimento de referência, l ref , e • viscosidade dinâmica molecular de referência, µref. Esses valores de referência são escolhidos adequadamente para cada problema em questão. Por exemplo, no problema típico da mistura de jatos, os valores de referência correspondem à média entre os valores de cada jato na condição de escoamento livre. 84 Feita a escolha dos parâmetros de adimensionalização, tem-se como resultado as seguintes expressões das diversas variáveis envolvidas. As variáveis grafadas com chapéu são grandezas adimensionalizadas que, por simplicidade de notação, somente aqui serão apresentadas assim (Eqs. de 2.55 a 2.62). No texto que segue a partir deste, embora não haja o chapéu, as grandezas serão adimensionais. t̂ = t , l ref (2.54a) aref x y , ŷ = û = u , aref v̂ = ρˆ = ρ , ρ ref p , p̂ = 2 ρ ref aref T̂ = et , 2 aref ê = e , 2 ρ ref aref µˆ = x̂ = êt = κˆ = l ref κ µ ref c p , k̂ = , ẑ = v , aref ŵ = l ref z , (2.54b) w , aref (2.54c) l ref T a , 2 ref (2.54d) cv k . 2 aref µ , µ ref (2.54e) (2.54f) As relações termodinâmicas e equações constitutivas tomam as seguintes formas: 1 ê = ρˆ êt + û 2 + v̂ 2 + ŵ2 + k̂ , 2 (2.55) êt = T̂ , (2.56) â = γ (γ − 1) T̂ , (2.57) p̂ = (γ − 1) ρˆ T̂ , (2.58) ( ) 85 ou, 1 p̂ = (γ − 1) ê − ρˆ û 2 + v̂ 2 + ŵ2 + k̂ , 2 ( ) (2.59) bem como pode-se provar facilmente que: κˆ = µˆ l Prl + µˆ t Prt . (2.60) Como, em geral, para a faixa de problemas aqui tratados, a energia cinética turbulenta tem um valor pequeno quando comparada com outros termos (ver pág. 76), as Eqs. (2.55) e (2.59) se simplificam para 1 ê = ρˆ êt + û 2 + v̂ 2 + ŵ2 , 2 (2.61) 1 p̂ = (γ − 1) ê − ρˆ û 2 + v̂ 2 + ŵ2 . 2 (2.62) ( ) ( ) O número de Reynolds associado ao escoamento é dado por Re = ρ ref aref l ref . µ ref (2.63) Assim, as equações, na forma adimensionalizada e já em coordenadas curvilíneas generalizadas, são expressas por: 86 ∂Q ∂ E ∂ F ∂G = 0, + + + ∂ξ ∂η ∂ζ ∂τ (2.64) onde o vetor de quantidades conservadas é dado por ρ ρ u 1 Q = ρv, J ρw e (2.65) e os vetores de fluxo, convenientemente separados em duas parcelas, ditas convectiva e viscosa, diferenciadas, respectivamente, pelos subscritos “c” e “v”, são ρU ρ uU + pξ x 1 E = Ec − Ev = ρ v U + p ξ y J ρ wU + p ξ z ( e + p ) U 1 − Re J 0 τ ξ +τ ξ +τ ξ xx x xy y xz z τ xy ξ x + τ yy ξ y + τ yz ξ z τ ξ +τ ξ +τ ξ yz y zz z xz x β ξ β ξ β + + x x y y z ξz , (2.66) ρV ρ u V + pη x 1 F = Fc − Fv = ρ v V + pη y J ρ wV + p η z ( e + p ) V 1 − Re J 0 τ η +τ η +τ η xx x xy y xz z τ xy η x + τ yy η y + τ yz η z τ η +τ η +τ η yz y zz z xz x β x η x + β y η y + β z η z , (2.67) ρW ρ uW + pζ x 1 G = Gc − Gv = ρ v W + p ζ y J ρ wW + p ζ z ( e + p ) W 1 − Re J 0 τ ζ +τ ζ +τ ζ xx x xy y xz z τ xy ζ x + τ yy ζ y + τ yz ζ z τ ζ +τ ζ +τ ζ yz y zz z xz x β x ζ x + β y ζ y + β z ζ z . (2.68) 87 Dessa forma a Eq. (2.64) pode ser reescrita numa forma mais adequada, passando os vetores de fluxo viscosos para o lado direito, ∂ Q ∂ Ec ∂ Fc ∂ Gc + + + ∂ζ ∂η ∂ξ ∂τ = ∂ Ev ∂ Fv ∂ Gv + + . ∂ζ ∂η ∂ξ (2.69) Os parâmetros U, V e W que aparecem nas Eqs. (2.66), (2.67) e (2.68) são os componentes contravariantes da velocidade, U = ξ xu + ξ y v + ξ z w , (2.70a) V = η xu + η y v + η z w , (2.70b) W = ζ xu + ζ y v + ζ z w , (2.70c) e os valores βx, βy e βz são dados por β x = τ xxu + τ xy v + τ xz w − qx , (2.71a) β y = τ xyu + τ yy v + τ yz w − q y , (2.71b) β z = τ xz u + τ yz v + τ zz w − qz . (2.71c) Os componentes do vetor de fluxo de calor são dados pelas expressões: qx = ∂a 2 ∂a 2 ∂a 2 , + + ξ η ζ (γ − 1) x ∂ξ x ∂η x ∂ζ (2.72a) qy = ∂a 2 ∂a 2 ∂a 2 + + ξ η ζ , (γ − 1) y ∂ξ y ∂η y ∂ζ (2.72b) qz = ∂a 2 ∂a 2 ∂a 2 + + ξ η ζ , (γ − 1) z ∂ξ z ∂η z ∂ζ (2.72c) κ κ κ 88 e as tensões de cisalhamento por 4 ∂u ∂u ∂u τ xx = µ ξ x + η x + ζ x − ∂ζ ∂η 3 ∂ξ ∂w ∂w 2 ∂v ∂w ∂v ∂v ξ y + η y + ζ y + ξ z + η z + ζ z , ∂ζ ∂η 3 ∂ξ ∂ξ ∂ζ ∂η 4 ∂v τ yy = µ 3 ∂ξ ξy + ∂v ∂v η y + ζ y − ∂η ∂ζ ∂u ∂u ∂w ∂w ∂w 2 ∂u ξ x + η x + ζ x + ξ z + η z + ζ z , ∂η ∂ζ ∂ξ ∂η ∂ζ 3 ∂ξ 4 ∂w τ zz = µ 3 ∂ξ ξz + (2.73a) (2.73b) ∂w ∂w η z + ζ z − ∂ζ ∂η ∂v ∂v ∂v 2 ∂u ∂u ∂u ξ x + η x + ζ x + ξ y + η y + ζ y , ∂ζ ∂η 3 ∂ξ ∂ξ ∂ζ ∂η ∂u ∂u ∂u ∂v ∂v ∂v ξy + ηy + ζ y + ξ x + η x + ζ x , ∂η ∂ζ ∂η ∂ζ ∂ξ ∂ξ τ xy = µ ∂u ∂w ∂w ∂u ∂w ∂u ζ x , ηx + ζ z + ξ x + ηz + τ xz = µ ξ z + ∂ ∂ ∂ ∂ ∂ ∂ ζ η ξ ζ η ξ ∂v ∂v ∂v ∂w ∂w ∂w ξz + ηz + ζ z + ξ y + η y + ζ y . ∂η ∂ζ ∂ξ ∂η ∂ζ ∂ξ τ yz = µ (2.73c) (2.73d) (2.73e) (2.73f) 89 Em vista da formulação adotada, e principalmente observando-se a Eq. (2.60), agora só “resta” determinar a viscosidade turbulenta µt, que é obtida em função do escoamento por meio do modelo de turbulência. 2.7 O modelo de turbulência A análise do problema da mistura de jatos do sistema de injeção do TTP requer o uso de um modelo de turbulência com boa representatividade dos fenômenos físicos envolvidos. O modelo de turbulência, nestes casos, exerce um papel fundamental na modelagem do problema, uma vez que a mistura de escoamentos é um fenômeno essencialmente turbulento. Durante a elaboração do presente trabalho o modelo k-ε foi inicialmente implementado, devido à sua “popularidade” e também, por ser um modelo de duas equações, permitindo o cálculo das distribuições de duas escalas turbulentas. No caso particular da injeção, por causa da ocorrência de regiões de mistura e presença de paredes, a malha exigida para a aplicação do modelo k-ε tradicional de baixo número de Reynolds requereria muitos pontos ( y1+ << 1 , y1+ – cota adimensional do primeiro ponto de cálculo mais próximo da parede), além de exigir um esforço computacional razoável para resolver mais duas equações diferenciais parciais, tornando-se, quase inviável para a resolução do problema tridimensional. Desta forma, optou-se momentaneamente pelo modelo k-ε de alto número de Reynolds, caracterizado por modelar de forma simplificada a região da sub-camada laminar, reduzindo em muito o número de pontos próximo à parede ( y1+ ≅ 30 ). Como o primeiro ponto de cálculo do modelo k-ε de alto número de Reynolds é bastante afastado da parede, o modelo requer uma interpretação muito particular da sua 90 proximidade. Para isto, alguns termos fonte nas equações de k e ε têm que ser “devidamente interpretados” nos nós da malha junto à parede. Alguns resultados de validação foram razoáveis, mas, no geral, o modelo não correspondia a contento, tanto em termos de convergência, quanto aos valores finais. Como após diversos esforços não se conseguia uma melhoria adequada, optou-se por outro modelo, no caso, o esquema de Spalart e Allmaras (1992). Esta abordagem mostrou-se extremamente robusta e confiável, além da vantagem de requerer a solução de somente mais uma equação, o que no caso tridimensional foi de grande valia. 2.7.1 O modelo de turbulência de Spalart e Allmaras O esquema de Spalart e Allmaras surgiu no início da década de 90 (Spalart e Allmaras, 1992) a partir de uma análise crítica sobre um modelo que, com uma única equação, fosse capaz de calcular, diretamente, o principal parâmetro representativo do comportamento turbulento: a viscosidade turbulenta concebida na hipótese de Boussinesq. A idéia surgiu de uma verificação histórica de que os métodos baseados na hipótese de Boussinesq sempre necessitavam de correções de parâmetros que, de uma certa forma, obscureciam a estrutura teórica nas quais eles se fundamentavam. O modelo de Spalart e Allmaras, embora preserve fundamentos teóricos aplicados com bastante lógica, procura representar, de forma simples e prática, os efeitos macroscópicos da turbulência nos escoamentos, usando, na sua definição, a intuição física, a análise dimensional, a invariância de Galileu, e algumas informações empíricas (Wilcox, 1998). 91 Embora tendo uma única equação, o esquema de Spalart e Allmaras consegue refletir de uma maneira confiável a viscosidade turbulenta, sendo reconhecido como um modelo completo. Diz-se que um modelo é completo quando todas as escalas de turbulência são automaticamente definidas, i. e., a abordagem não envolve nenhuma constante ou função que eventualmente deveriam ser ajustadas quando se passa de um problema para outro (Wilcox, 1998). O esquema utilizado no presente trabalho tem a seguinte forma (Spalart e Allmaras, 1992, Wilcox, 1998, Castro et al., 2002): ∂ν~ ∂ν~ +uj = ∂t ∂ xj ~ 1 ∂ ~ ) ∂ν ( + ν ν − cb1 S ν~ + ∂xk σ ∂ xk l 2 cb 2 ∂ ν~ ∂ ν~ ν~ − cw1 f w f v 3 , + d σ ∂ x k ∂ xk (2.74) onde os coeficientes e relações auxiliares são dados por νt = cw1 = µt ~ = ν f v1 , ρ cb1 κ v2 f v1 = fv4 = + 1 + cb 2 σ χ3 3 v1 3 χ +c χ 1 + f v1 χ , , µl , ρ (2.75a) ( 1 + cb 2 ) κ v2 = , (2.75b) νl = , cw 4 f v3 = σ cb1 f v 4 + cw 4 , 1 + cw 4 (2.75c) 1 6 1+ c f w = g 6 w3 6 , g + cw 3 6 (2.75d) 92 ( ) g = r + cw 2 r 6 − r , χ= r= ν~ , νl ν~ f v 4 , S Re κ v2 d 2 (2.75e) S = Ωij Ωij , Ωij = ∂ ui ∂ u j , − ∂ x j ∂ xi (2.75f) (2.75g) e cb1 = 0,1355, cb2 = 0,622, cv1 = 7,1, σ = 2/3, cw2 = 0,3, cw3 = 2,0, κv = 0,41. O equacionamento acima é exatamente aquele utilizado por Castro et al. (2002), com exceção dos termos de transição laminar-turbulento. Do lado esquerdo da equação temos o lagrangiano, ou então a derivada total de ν t , o que corresponde ao termo de transporte. A primeira parcela do lado direito procura modelar a produção, e os autores baseiam-se na vorticidade, S = Ωij Ωij , considerando a estreita relação entre turbulência e vorticidade. Os dois termos seguintes no segundo membro correspondem aos efeitos difusivos. Operadores difusivos clássicos corresponderiam somente à segunda parcela. A terceira parcela é agregada segundo os autores para reproduzir o caráter “não conservativo da integral de ν t ”. A última parcela do lado direito procura modelar o comportamento da turbulência em regiões próximas às paredes, de tal sorte que o parâmetro d indica a distância do ponto em questão “à parede mais próxima”. Como a parede funciona como um efeito amortecedor, esta parcela introduz no equacionamento o que os autores caracterizam como “efeito de aniquilamento” da turbulência. A forma da parcela é especial, e original, principalmente pela função fw a qual corrige eventuais deficiências do modelo ao reproduzir a lei da parede. O algoritmo assim como reproduzido de Castro (2001) estava na forma bidimensional. Foi desenvolvida neste trabalho sua extensão para geometrias tridimensionais com adaptação 93 dos diversos termos e inclusão da nova direção ζ. Para tanto, foi necessário também se proceder à validação da nova subrotina, o que está descrito no capítulo 4. Nenhum ajuste ou termos adicionais são necessários para uma perfeita funcionalidade junto com o programa principal. 2.7.2 Considerações sobre a aplicação do modelo de turbulência ao problema da injeção do TTP Uma análise cuidadosa do modelo de turbulência, na tentativa de justificar sua escolha para a aplicação específica do processo de injeção no túnel, é conveniente. Existem duas classes básicas de escoamento que estão apresentadas com suas escalas características na TAB. 2.2 (Tennekes e Lumley, 1974). Tanto para camadas de mistura, quanto para jatos, para que haja solução similar é necessário que a razão entre as duas escalas de velocidade seja constante, o que significa que a turbulência deve ter a mesma importância relativa, à medida que se desenvolve a interação entre os escoamentos. Diz-se que uma solução é similar quando perfis para diferentes estações longitudinais têm a mesma forma parametrizada. Observa-se no escoamento incompressível, que a razão entre a espessura da camada de mistura pela distância longitudinal tomada a partir do início do processo de mistura é aproximadamente igual a 0,06 para a região similar (Tennekes e Lumley, 1974). Entretanto, olhando com mais atenção para o desenvolvimento do jato bidimensional (ver FIG. 2.7) observam-se duas regiões distintas de desenvolvimento. A primeira região se caracteriza pela existência do núcleo potencial. Nesta região o jato se comporta mais como camada de mistura, com um núcleo potencial no centro, tendo solução aproximadamente similar com crescimento linear da espessura da camada de mistura, segundo refletido na 94 TAB. 2.2 para a camada de mistura bidimensional. A segunda região vai de onde o perfil já está desenvolvido para adiante. Nesta região a velocidade máxima do jato decresce linearmente com a distância longitudinal, conforme refletido na TAB. 2.2 para o jato bidimensional. TABELA 2.2 – Classes de escoamentos presentes no desenvolvimento do jato da injeção. Tipo Características U1 Duas escalas de velocidade correspondentes a duas escalas de comprimento: y u⇔y 1 x b u (U1 – U2) ⇔ 1/x A espessura da camada de mistura b é proporcional à distância longitudinal x. U2 camada de mistura bidimensional Duas escalas de velocidade correspondentes a duas escalas de comprimento: y u⇔y Umax 2 u 2b Umax ⇔ 1/x A espessura da camada de mistura b é proporcional à distância longitudinal x. No x jato há duas camadas de mistura. jato bidimensional 95 camada de mistura jato plenamente desenvolvido primeira região segunda região FIGURA 2.7 – Etapas no desenvolvimento de um jato bidimensional. Para o escoamento tridimensional, essas regiões podem ser classificadas de forma mais detalhada, dependendo da forma do jato (retangular, quadrada ou circular) e das condições no entorno do jato. Ver, por exemplo, Trentacoste e Sforza (1967). Para um jato retangular as regiões de crescimento das camadas de mistura nas duas direções transversais têm comprimentos diferentes – numa direção o jato pode estar plenamente desenvolvido, enquanto que na outra ainda não. A FIG. 2.8 mostra as etapas de desenvolvimento de um jato retangular no regime incompressível, cuja seção de saída tem uma razão entre dimensões de aproximadamente 2. 96 y z x FIGURA 2.8 – Etapas no desenvolvimento de um jato puro tridimensional. A primeira região característica do desenvolvimento do jato é a região do patamar potencial, na qual a camada de mistura iniciada na saída do jato ainda não penetrou toda a região do jato. Esta região é caracterizada por um patamar cuja velocidade se mantém constante na direção longitudinal, sendo mais apropriadamente classificada como regiões de camada de mistura nas bordas do jato, com todas as características inerentes a esta classe de escoamento, segundo a TAB. 2.2 – os perfis de velocidade são similares em relação aos eixos transversais considerados. A segunda região é a de decaimento característico. Nesta região o decaimento da velocidade axial depende da configuração geométrica da saída do jato e os perfis de velocidade no plano do eixo “menor” (plano xy) são similares em relação ao eixo 97 longitudinal (x), enquanto os perfis no plano do eixo “maior” (xz) são não-similares com respeito ao decaimento longitudinal, porque esta direção ainda está com influência do “núcleo potencial”. Entretanto, os perfis na direção z se modificam de acordo com o efeito de camada de mistura na borda do jato, ou seja, apresentam solução similar com respeito ao seu eixo. A terceira região é a de decaimento com simetria axial. O decaimento da velocidade na direção longitudinal acontece essencialmente nessas condições. Todo o perfil transversal do jato se aproxima de uma geometria com simetria axial, independente da forma geométrica da saída do jato. Os perfis de velocidade são similares segundo a direção longitudinal (ver TAB. 2.2). Seguindo esta região vem uma quarta e última, a de simetria axial total, onde o jato já apresenta um comportamento idêntico ao de um jato circular. Observa-se que as extensões das duas primeiras regiões dependem da forma geométrica da saída do jato, porque a formação dessas regiões é influenciada pela extensão lateral da mistura que se origina nas fronteiras do jato, a partir de sua saída. A análise do desenvolvimento para um jato no regime compressível e, além disto, no regime supersônico, é muito mais complexa, embora haja elementos comuns em relação à análise feita para o incompressível. De um modo geral, pensando no problema da injeção do TTP, há outros fatores que também modificam esta análise, como a influência da presença da parede. É importante salientar que o fato do jato ser lançado sobre um meio estagnado, ou com uma certa velocidade, não altera o aparecimento de cada uma das regiões de desenvolvimento, como apresentadas na FIG. 2.8. A literatura apresenta comparações entre alguns dos modelos de turbulência mais importantes, quando utilizados na previsão de camadas de cisalhamento. A TAB. 2.3 mostra a precisão obtida na determinação da taxa de espalhamento para vários modelos, em várias classes de escoamentos bidimensionais, como reportados por Bardina et al. (1997). 98 TABELA 2.3 – Comparação de resultados de simulação numérica de turbulência com a experiência (Bardina et al., 1997) – valores da taxa de espalhamento para geometrias bidimensionais. Camada de mistura Jato Plano Jato Circular Esteira Experimental 0,115 0,100-0,110 0,086-0,095 0,365 k-ε (Launder-Sharma) 0,099 0,108 0,120 0,255 k-ω (Wilcox) 0,068 a 0,143 0,092 a 0,132 0,169 a 0,356 0,209 a 0,494 Spalart-Allmaras 0,109 0,143 0,253 0,339 Embora o modelo de Spalart e Allmaras apresente resultados muito bons em relação à camada de mistura e ao problema da esteira, para o problema do jato puro (plano ou circular) ele mostra uma certa deficiência, sendo o modelo k-ε o que melhor desempenho mostrou nesses casos. Assim, observando-se novamente a FIG. 2.8, no primeiro trecho de desenvolvimento do jato, a representação do modelo de Spalart e Allmaras é superior, no segundo trecho há alguma perda na representação na direção do eixo menor, pois já há uma influência do comportamento de jato plano, e, no terceiro trecho sua representação é inferior às dos outros modelos (ver TAB. 2.3). A geometria de saída dos injetores do TTP é retangular, com razão entre dimensões de 1,4 e será possível avaliar as extensões dos desenvolvimentos do jato e as regiões nas quais o modelo de turbulência apresenta melhor desempenho (ver capítulo 5, item 5.4.2). No caso do TTP entretanto não se tem um jato puro como indicado na FIG. 2.8, onde o ambiente externo “está parado”. Ocorre, outrossim, no túnel, uma interação entre duas correntes desde o início. Quer dizer, o processo de injeção, do ponto de vista conceitual, se enquadra mais na categoria de esteira, se bem que tridimensional, do que jato puro. 99 Nas fases iniciais tem-se camadas de mistura, como as da FIG. 2.8, seguidas imediatamente de esteiras. Nestas condições, e tendo como referência a TAB. 2.3, se bem que na tabela os casos são bidimensionais, pode-se afirmar com relativa segurança que o esquema de Spalart e Allmaras é uma escolha muito boa para a representação do processo de turbulência no TTP. A camada de mistura, primeira região da FIG. 2.8, apresenta um caráter similar tanto em planos xy quanto em planos xz. A região de similaridade tem como característica perfis de velocidade com a mesma forma parametrizada. Isto se reflete numa taxa de espalhamento uniforme na camada de mistura. Este é um parâmetro bastante representativo e é calculado a partir da derivada db/dx. Aqui b é a medida transversal da camada de mistura e x é o comprimento longitudinal. A espessura da camada de mistura b pode ser definida pela distância entre duas posições transversais do perfil de velocidades nas quais as velocidades do escoamento são U1 − 0 ,10 ∆ U e U 2 + 0 ,10 ∆ U , onde ∆ U = U1 − U 2 , e U1 e U 2 são as velocidades dos “núcleos potenciais” dos escoamentos de maior e menor velocidade, respectivamente – há inúmeras idéias de como avaliar b, aqui será adotada esta definição utilizada por Goebel e Dutton (1991). Os experimentos realizados por Goebel e Dutton (1991) trazem resultados sobre a mistura bidimensional de dois jatos, em várias condições de velocidade. A TAB. 2.4 resume alguns desses ensaios, onde a denominação dos casos é devida aos autores. O número de Mach relativo foi definido por M r = ∆ U a , onde ∆ U é a diferença entre as velocidades nos núcleos potenciais dos dois jatos e a é a velocidade do som média, obtida pela média aritmética entre as velocidades do som nos dois jatos. Observa-se que, com o aumento do número de Mach relativo, o início da região de similaridade, xsi, tende a ocorrer antes, e a extensão desta região, ∆ xs, é encurtada. A última coluna traz a taxa de crescimento da camada de mistura na região similar. 100 TABELA 2.4 – Resumo de casos experimentais da mistura bidimensional de jatos de Goebel e Dutton (1991). M1 e M2 são os números de Mach correspondentes aos núcleos potenciais dos dois jatos, Mr o número de Mach relativo, xsi o início da região similar e ∆ xs sua extensão. Casos M1 M2 Mr xsi (m) ∆ xs (m) db dx 1d 2,02 1,39 0,40 0,125 0,475 0,026 2 1,91 1,36 0,91 0,100 0,350 0,038 3 1,96 0,27 1,37 0,025 0,175 0,059 3r 2,22 0,43 1,44 0,050 0,100 0,058 4 2,35 0,30 1,73 0,010 0,165 0,050 5 2,27 0,38 1,97 0,010 0,140 0,049 A FIG. 2.9 mostra um gráfico dos dados relativos ao início e à extensão da região de similaridade da TAB. 2.4 em função de Mr, com as respectivas linhas de tendências, e a linha vertical, que corresponde ao problema da injeção no TTP. Na condição de projeto, o número de Mach do jato supersônico no injetor do TTP é de 1,9 e no escoamento principal é de 0,51, resultando num número de Mach relativo igual a 1,07. A partir do gráfico os dados do TTP indicam que o início da região de similaridade ocorrerá com 0,075 m e sua extensão será de 0,250 m, ou seja, indo até 0,325 m da fronteira de entrada da câmara de mistura. O comprimento da câmara de mistura a ser modelado é de 0,600 m. Assim, para distâncias longitudinais superiores a aproximadamente 0,325 m, prevê-se que o modelo de turbulência adotado perca ligeiramente em precisão, de acordo com os testes realizados por Bardina et al. (1997). Entretanto, esta análise inicial serve apenas como uma orientação, uma vez que a experiência de Goebel e Dutton é bidimensional e a injeção é tridimensional. 101 0.40 0.35 0.30 0.25 xsi , ∆ xs 0.20 0.15 0.10 0.05 0.00 0 0.5 1 1.5 2 Mr FIGURA 2.9 – Pontos relativos aos experimentos de Goebel e Dutton (1991): × - início; - extensão da região de similaridade da camada de mistura dos experimentos, incluindo as linhas de tendência respectivas. A linha vertical representa o número de Mach relativo do problema no TTP. A FIG. 2.10 apresenta valores experimentais relativos à taxa de crescimento, db/dx, em função do número de Mach relativo (Mr), com sua linha de tendência. O espalhamento dos pontos indica haver outros fatores, além de Mr, que influenciaram a taxa de crescimento. Mesmo assim, aplicando a tendência dos valores do gráfico para o caso do TTP (Mr = 1,07) resulta num valor estimado para a taxa de crescimento da camada de mistura de db/dx = 0,0427, valor este que será utilizado para fins de comparação da simulação numérica do presente trabalho, a ser apresentada no capítulo 5. No entanto, tal comparação é “relativa” pois, como já foi salientado acima, as experiências realizadas por Goebel e Dutton (1991) são bidimensionais enquanto que a injeção do TTP é eminentemente tridimensional. 102 0.07 Valores experimentais - Goebel e Dutton (1991) 0.06 - - - - - - Linha de tendência 0.05 db dx db /dx = 0.0169 M r + 0.0246 0.04 0.03 0.02 0.01 0 0 0.5 1 1.5 Mr FIGURA 2.10 – Variação de db/dx em função do número de Mach relativo. 2 103 3 IMPLEMENTAÇÃO NUMÉRICA, CONDIÇÕES INICIAIS E DE CONTORNO Este capítulo descreve em detalhes a implementação numérica empregada nas equações principais (2.64) a (2.68) e na equação do modelo de turbulência (2.74), do capítulo 2. O código computacional foi elaborado de forma a resolver as cinco equações principais de maneira conjunta e, em separado, a equação do modelo de turbulência. E, finalmente, discute-se a implementação numérica das condições iniciais e de contorno do campo de cálculo. 3.1 Algoritmo de Beam e Warming Inicialmente reescreve-se a Eq. (2.64) na forma ∂ E ∂ F ∂G ∂Q = − + + ∂τ ∂η ∂ζ ∂ξ . (3.1) Para a classe de problemas tratados, em virtude sobretudo do grande número de pontos da malha computacional, é imperioso se trabalhar com altas taxas de convergência, o que normalmente é conseguido através de um método implícito. Esquemas implícitos em geral permitem passos no tempo maiores quando comparados com esquemas explícitos, mantendose a estabilidade. Neste sentido, partiu-se do esquema implícito de fatoração aproximada proposto originalmente por Beam e Warming (1978), para o qual as derivadas espaciais são 104 aproximadas usando-se esquemas centrados (segunda ordem de precisão), e a marcha no tempo é empreendida por meio do método de Euler implícito (primeira ordem de precisão). Justifica-se a primeira ordem no tempo porque os problemas em questão são de natureza estacionária. O esquema de Euler implícito corresponde à seguinte expansão: Q n +1 ∂Q = Q + ∆τ ∂τ n n +1 + ∆τ ⋅ O (∆τ ) , (3.2) para a qual ∆τ representa o passo de tempo e o superescrito n indica o nível de tempo no qual a grandeza é calculada. Substituindo-se ∂ Q / ∂ τ da Eq. (3.1) na Eq. (3.2) obtém-se Q n +1 ∂ E ∂ F ∂G + + = Q − ∆τ ∂η ∂ζ ∂ξ n n +1 + ∆τ ⋅ O (∆τ ) . (3.3) Como os vetores de fluxo são funções não-lineares do vetor de variáveis conservadas, para determinar Q n+1 na Eq. (3.3), mantendo-se a mesma ordem de precisão do método, a não linearidade é “resolvida” pela expansão em séries de Taylor dos vetores de fluxo em torno de Q n (Beam e Warming, 1978). A expansão é dada por: ( ) (3.4a) ( ) (3.4b) ( ) (3.4c) E n+1 = E n + An Q n+1 − Q n + ∆τ ⋅ O (∆τ ) , F n+1 = F n + B n Q n+1 − Q n + ∆τ ⋅ O (∆τ ) , G n+1 = G n + C n Q n+1 − Q n + ∆τ ⋅ O (∆τ ) , 105 onde A, B e C são as chamadas matrizes jacobianas, dadas por: A= ∂E , ∂Q (3.5a) B= ∂F , ∂Q (3.5b) C= ∂G . ∂Q (3.5c) Substituindo-se as expressões linearizadas da Eq. (3.4) na Eq. (3.3), obtém-se a equação numa forma mais adequada: I + ∆τ ∂ n ∂ n ∂ n A + B + C ∆ Q n ∂ζ ∂η ∂ξ = ∂ E ∂ F ∂G − ∆τ + + ∂η ∂ζ ∂ξ n + ∆τ ⋅ O (∆τ ) , (3.6) onde I é a matriz identidade e ∆ Q n = Q n+1 − Q n . A solução direta da Eq. (3.6) é em geral evitada devido ao alto custo computacional, principalmente para sistemas multidimensionais para os quais o número de operações (“operation count”) é enorme (Anderson et al., 1984). Usualmente o que se faz é transformar o problema multidimensional em uma seqüência de inversões unidimensionais. É o chamado método de fatoração aproximada (Beam e Warming, 1978, Peaceman e Rachford, 1955). A idéia é fatorar o operador no lado esquerdo da Eq. (3.6) da seguinte forma: 106 I + ∆τ ∂ n ∂ n ∂ n A + B + C ∂ζ ∂η ∂ξ ≡ ∂ n ∂ n ∂ n 2 I + ∆τ ∂ξ A I + ∆τ ∂η B I + ∆τ ∂ζ C + O ∆τ , ( ) (3.7) e, como a diferença é da ordem de ∆τ 2 , a precisão formal do algoritmo implícito é mantida em primeira ordem. Nessas condições o esquema pode ser escrito seqüencialmente como ∂ n ∂ n ∂ n n I + ∆τ ∂ξ A I + ∆τ ∂η B I + ∆τ ∂ζ C ∆ Q = ∂ E ∂ F ∂G + + − ∆τ ∂η ∂ζ ∂ξ n + ∆τ ⋅ O (∆τ ) . (3.8) A seqüência de solução pode, então, ser estabelecida como ∂ n I + ∆τ ∂ξ A ∆ Q1 = RHS n , (3.9a) ∂ n I + ∆τ ∂η B ∆ Q2 = ∆ Q1 , (3.9b) ∂ n n I + ∆τ ∂ζ C ∆ Q = ∆ Q2 , (3.9c) Q n+1 = Q n + ∆ Q n , (3.9d) 107 onde RHS corresponde ao segundo membro da Eq. (3.8). Entretanto, mesmo assim, a solução do sistema não é trivial. Cada direção requer a inversão de uma matriz tridiagonal de blocos, assumindo que as derivadas espaciais são aproximadas por diferenças centradas. Cada bloco corresponde a uma matriz n x n, onde n é a dimensão do vetor Q . Como se fez acima, é usual indicar o segundo membro da Eq. (3.8) pela sigla “RHS” (do inglês “right hand side”), e este termo corresponde, diga-se, à física do problema. O primeiro membro da Eq. (3.8) costuma-se indicar por “LHS” (de “left hand side”) e corresponde à parte essencialmente numérica do algoritmo (principalmente quando o problema é estacionário). Quanto mais robusto e eficiente o esquema, mais rapidamente (com menor número de iterações) o termo LHS tenderá a zero para o caso de problemas estacionários. Nessas condições o termo RHS também se anulará e ter-se-á em mãos a solução do problema, visto que no limite estacionário ∂ Q / ∂ τ ≡ 0 , e da Eq. (3.1) vem que ∂ E ∂ F ∂G ≡0, + + ∂η ∂ζ ∂ξ (3.10) dentro, evidentemente, da precisão espacial e temporal do método. É importante observar que a medida mais importante da eficiência de um algoritmo, i. e., sua “velocidade” de convergência, é o número de CFL, conceito devido a Courant, Friedrichs e Lewy (Courant et al., 1928). Pode-se provar que para esquemas explícitos o número de CFL em geral tem que ser menor que a unidade, entretanto para algoritmos implícitos este número pode ser bem maior que 1. O número de CFL corresponde à relação entre a velocidade de informação numérica e uma velocidade física típica. Em um algoritmo explícito a informação 108 se propaga ponto a ponto, enquanto, em esquemas implícitos a propagação é no mínimo em linha, daí a vantagem deste último. Considerando o exposto, durante as últimas décadas, vários esquemas apareceram com propostas de simplificação do LHS da Eq. (3.8) com o intuito de diminuir o custo computacional, tendo-se, entretanto, o cuidado de manter a robustez (capacidade de convergência) do método. Uma destas idéias é a chamada aproximação de “camada fina”, segundo a qual simplificam-se os termos viscosos das matrizes jacobianas A, B e C, Eq. (3.5). Uma outra, devida a Pulliam e Chaussee (1981), ficou conhecida como algoritmo diagonal. Esta proposta acabou tendo muito sucesso devido ao grau de simplificação que introduz, o que permite uma economia muito significativa no tempo de cálculo, principalmente para simulações tridimensionais. Em função dessas qualidades, o código a ser utilizado foi desenvolvido segundo o algoritmo diagonal de Pulliam e Chaussee. Para facilitar o entendimento, o esquema será desenvolvido considerando as equações de Euler. Posteriormente será apresentada a extensão para o sistema de equações RANS. Entretanto, antes de tratar do algoritmo diagonal, serão introduzidas algumas noções básicas sobre operadores de discretização, visto serem estes conceitos importantes para alguns itens a seguir. 3.2 Considerações sobre esquemas de discretização A derivada primeira de uma grandeza genérica α (ξ ,η ,ζ ) , em um nó (i , j , k ) da malha computacional, pode ser discretizada por expressões do tipo, 109 ∆ ξ α i , j ,k = α i+1, j ,k − α i , j ,k , ∆ξ (3.11a) ∇ξ α i , j ,k = α i , j ,k − α i−1, j ,k , ∆ξ (3.11b) α i+1, j ,k − α i−1, j ,k , 2 ∆ξ (3.11c) δ ξ α i , j ,k = onde as duas primeiras são fórmulas assimétricas à frente e à trás, respectivamente, de primeira ordem de precisão, e a terceira corresponde à diferença centrada, de segunda ordem de precisão. A segunda derivada pode ser discretizada por δ ξξ α i , j ,k = α i+1, j ,k − 2 α i , j ,k + α i−1, j ,k , (∆ξ )2 (3.12) expressão esta centrada e de segunda ordem de precisão. É fácil mostrar que: δ ξξ ( ) ≡ ∇ξ ∆ξ ( ) = ∆ξ ∇ξ ( ) . (3.13) Expressões análogas aplicam-se para as direções η e ζ. Por conveniência, a transformação para coordenadas curvilíneas generalizadas pode ser estabelecida de tal forma que todos os intervalos entre nós vizinhos sejam unitários, sendo que eventuais acertos para se atingir esta condição são “acomodados” pelo jacobiano da transformação. Nestas condições, as expressões acima simplificam-se 110 ∆ ξ α i , j ,k = α i +1, j ,k − α i , j ,k , (3.14a) ∇ξ α i , j ,k = α i , j ,k − α i −1, j ,k , (3.14b) δ ξ α i , j ,k = α i+1, j ,k − α i−1, j ,k 2 , δ ξξ α i , j ,k = α i+1, j ,k − 2 α i , j ,k + α i −1, j ,k . (3.14c) (3.14d) As matrizes jacobianas gerais A, B, C, Eq. (3.5), contêm termos convectivos e termos viscosos. Ao se discretizar o lado esquerdo da Eq. (3.8), devido aos termos viscosos, [ aparecerão parcelas do tipo δ ξ α i , j ,k ( δ ξ β i , j ,k ) ] , onde α e β são parâmetros do escoamento. Utilizando a definição do operador, Eq. (3.14c), obter-se-á, δ ξ [α i ( δ ξ β i ) ] = 1 [α ( β 4 i +1 i+2 − β i ) − α i −1 ( β i − β i −2 )] , (3.15) onde não se indicaram os contadores j e k para maior clareza. Observa-se então que, para se calcular o lado esquerdo da Eq. (3.8) no ponto (i, j, k) são necessárias informações relativas a cinco nós da malha: (i - 2), (i - 1), i, (i + 1), (i + 2). O resultado é que as matrizes no lado esquerdo, LHS, das Eqs. (3.9) passarão a ser pentadiagonais e, portanto, perder-se-á em eficiência computacional. Para evitar isso, introduzem-se os chamados operadores de ponto meio para se discretizar as primeiras derivadas, definidos por 111 δ ξ α i , j ,k = δηα i , j ,k = δ ζ α i , j ,k = α i+ 1 2 , j ,k − α i− 1 2 , j ,k ∆ξ α i , j+ 1 2 ,k − α i , j− 1 2 ,k ∆η α i , j ,k + 1 − α i , j ,k − 1 2 ∆ζ 2 , (3.16a) , (3.16b) , (3.16c) os quais ainda mantêm segunda ordem de precisão. Expressões equivalentes podem ser definidas para operadores do tipo ∆ ξ , ∇ξ , δ ξξ , ∆η , ∇η , δηη , ∆ ζ , ∇ζ e δ ζζ . Aplicando-se [ estas definições ao termo δ ξ α i , j ,k ( δ ξ β i , j ,k δ ξ [α i , j ,k ( δ ξ β i , j ,k ) ] = 12 [ ( α i +1 ) ] , obtém-se )( β i+1 − β i ) − ( α i + α i−1 )( β i − β i−1 )] , + αi (3.17) onde se considerou ∆ ξ ≡ 1 . Nestas condições, o estêncil de cálculo voltará a envolver os três nós: (i - 1), i, (i + 1). Assim, a célula de cálculo mantém-se com três pontos e as matrizes no lado esquerdo das Eqs. (3.9) recuperarão a sua estrutura tridiagonal. As FIGS. 3.1 e 3.2 ilustram esquematicamente a “molécula” mínima utilizada na discretização dos termos da Eq. (3.8), principalmente do seu segundo membro. Focando no termo ∂E / ∂ξ , e utilizando o operador (3.14c), ter-se-á que, ∂ E ≅ δ ξ ( Ei , j ,k ∂ξ i , j ,k [ )] i , j ,k E − Ei −1, j ,k = i +1, j ,k , 2 i , j ,k (3.18) onde a tripla de subscritos externos (i, j, k) é indicativo que o valor se refere ao ponto (i, j, k) da malha, o qual está em destaque na FIG. (3.1). Observe-se que a equação toda será balanceada neste ponto. 112 η i,j+1,k i,j,k-1 i-1,j,k i,j,k i+1,j,k ξ i,j,k+1 ζ i,j-1,k FIGURA 3.1 – Esquema da célula de cálculo tridimensional utilizada. Círculos cheios – pontos relativos aos nós da malha, círculos vazados – pontos relativos aos pontos meio da malha. η i,j+1,k c b i,j,k i-1,j,k i,j,k-1 i,j,k i+1,j,k ξ a i,j,k+1 d ζ i,j-1,k FIGURA 3.2 – Detalhe do cálculo no ponto meio (i+1/2, j, k). 113 Aparentemente, será utilizado somente o estêncil (i - 1, j, k), (i, j, k) e (i + 1, j, k) no cálculo da Eq. (3.18). Entretanto, como existem, internamente a E , termos viscosos, a tendência é aparecer expressões do tipo como apresentado na Eq. (3.15), para as quais se necessita um estêncil de cinco pontos. Neste caso, como está se tratando do segundo membro da equação, o problema de um estêncil de cinco pontos (i – 2, i – 1, i, i + 1, i + 2) é diferente daquele para o primeiro membro. Aqui o que ocorre é que nos pontos extremos da malha, i. e., i = 2 e i = (imax – 1), estênceis de cinco pontos “pediriam” valores de propriedades para pontos fora da malha – i = 0, na fronteira de entrada, e i = (imax + 1), na fronteira de saída. Daí, pode-se resolver esta questão utilizando os operadores de ponto meio também do lado direito. Como diretriz geral, portanto, é conveniente se utilizar estes operadores tanto no lado esquerdo quanto no direito da equação. Nessas condições, os termos viscosos componentes de E são calculados centrando-os em (i - 1/2, j, k) e (i + 1/2, j, k), em vez de centrá-los em (i - 1, j, k) e (i + 1, j, k), como é indicado na Eq. (3.18). Os termos convectivos componentes de E não apresentam problemas visto que eles não contêm derivadas embutidas. Exemplificando, um termo convectivo típico é ρ U ; utilizando a Eq. (3.18) resulta: ∂ (ρ U ) ≅ δ ξ (ρ U ) ∂ξ i , j ,k [ ] i , j ,k ( ρ U )i +1, j ,k − ( ρ U )i −1, j ,k = , 2 i , j ,k (3.19) e percebe-se que o estêncil original é mantido. Quanto aos termos viscosos, a FIG. 3.2 mostra as posições que estão em jogo no cálculo das derivadas no ponto (i + 1/2, j, k), que devem ser calculadas nas três direções. Na direção ξ as derivadas precisam das informações dos nós (i + 1, j, k) e (i, j, k). 114 Já nas direções η e ζ, as derivadas precisam das informações em posições fora dos nós. Os parâmetros são avaliados nesses pontos pela média aritmética tomada com os parâmetros dos quatro nós vizinhos, no plano da direção considerada. A FIG. 3.2 exemplifica o cálculo da avaliação no ponto a, como indicam as setas, feita a partir dos quatro nós vizinhos: (i, j, k), (i + 1, j, k), (i, j, k + 1) e (i + 1, j, k + 1). Repetindo o cálculo para o ponto b, daí pode-se avaliar a derivada centrada no ponto meio (i + 1/2, j, k) na direção ζ. Considerando as FIGS. 3.1 e 3.2, observa-se que a célula de cálculo pode ser representada por um grande cubo, cuja aresta é igual a duas unidades do campo computacional e cujo centro é o ponto de cálculo (i, j, k). Este cubo é dividido em oito cubos, por meio dos planos nas direções ξ, η e ζ, abrangendo 27 nós do campo computacional, dos quais apenas 19 nós são necessários para o completo cálculo na célula centrada em (i, j, k) – os nós sobre os oito vértices do cubo grande não são necessários. 3.3 Algoritmo diagonal de Pulliam e Chaussee Este algoritmo proposto no início da década de 80 por Pulliam e Chaussee (1981) é inicialmente aplicado às equações de Euler, transformando o sistema acoplado de equações de esquemas de fatoração implícitos para uma forma diagonal desacoplada, reduzindo o custo computacional em cerca de 30 %, mantendo as características de estabilidade e acurácia em aplicações de estado estacionário. 115 3.3.1 Algoritmo diagonal aplicado às equações de Euler Desprezando-se os termos viscosos nas equações de Navier-Stokes, obtêm-se as chamadas equações de Euler, onde aparecem somente termos convectivos e de pressão. Obtém-se da Eq. (2.64), ∂ Q ∂ Ec ∂ Fc ∂ Gc = 0, + + + ∂ζ ∂η ∂ξ ∂τ (3.20) ρ ρ u 1 Q = ρ v, J ρ w e (3.21) ρU ρ uU + pξ x 1 Ec = ρ vU + pξ y , J ρ wU + pξ z (e + p ) U (3.22) ρV ρ uV + pη x 1 Fc = ρ vV + pη y , J ρ wV + pη z (e + p ) V (3.23) ρW ρ uW + pζ x 1 Gc = ρ vW + pζ y , J ρ wW + pζ z (e + p ) W (3.24) onde 116 sendo U, V e W os componentes contravariantes de velocidade, U = ξ xu + ξ y v + ξ z w , (3.25a) V = η xu + η y v + η z w , (3.25b) W = ζ xu + ζ y v + ζ z w . (3.25c) Aplicando-se o algoritmo de Beam e Warming, Eq. (3.8), a estas equações, o resultado é (I + ∆τ δ ξ )( )( ) Acn I + ∆τ δη Bcn I + ∆τ δ ζ Ccn ∆ Q n ( = − ∆τ δ ξ Ecn + δη Fcn + δ ζ Gcn ) = (RHS ) n , (3.26) onde os termos estão considerados devidamente discretizados e, portanto, aparecem os operadores no lugar dos símbolos de derivadas. As matrizes jacobianas de Euler são agora dadas por Ac = ∂ Ec , ∂Q (3.27a) Bc = ∂ Fc , ∂Q (3.27b) Cc = ∂ Gc . ∂Q (3.27c) O conceito fundamental que deu origem ao algoritmo diagonal corresponde a uma característica especial das equações de Euler. Pode-se mostrar que suas matrizes jacobianas de fluxo, Ac, Bc e Cc, podem ser diagonalizadas por meio de uma transformação similar (Warming et al., 1975). Em outras palavras, as matrizes Ac, Bc e Cc têm um conjunto real de 117 autovalores e um conjunto completo e distinto de autovetores. Isto significa que é possível obter-se as seguintes transformações Tξ−1 Ac Tξ = Λ ξ , (3.28a) Tη−1 Bc Tη = Λη , (3.28b) Tζ−1 Cc Tζ = Λ ζ , (3.28c) onde as matrizes de autovalores são dadas por: {Λξ } = U 0 0 0 0 0 U 0 0 0 0 0 U 0 0 0 0 0 U + a A1 0 0 0 0 0 U −a {Λη } = V 0 0 0 0 0 V 0 0 0 0 0 V 0 0 0 0 0 V + a A4 0 0 0 0 0 W 0 0 0 0 0 W 0 0 0 0 0 W 0 0 0 0 0 0 0 0 W + a A6 0 {Λζ } = e tal que V −a 0 W −a , A1 (3.29a) , A4 (3.29b) , A6 (3.29c) 118 A1 = ξ x2 + ξ y2 + ξ z2 , (3.30a) A4 = η x2 + η y2 + η z2 , (3.30b) A6 = ζ x2 + ζ y2 + ζ z2 . (3.30c) As matrizes de autovetores podem ser obtidas da seguinte forma geral (Pulliam e Chaussee, 1981): ~ kx ~ k xu ~ ~ k xv + k z ρ Tk = k~x w − k~y ρ k~ h + x ρ k~z v − k~y w [ ( ~ kx f k~ f y ~ −1 Tk = k z f β β − − ~ ky ~ kz α ~ ~ k yu − k z ρ ~ ~ k zu + k y ρ α u + kxa ~ k yv ~ ~ kzv − kx ρ α v + kya ~ ~ k y w + kx ρ ~ kz w α w + kza [ k~ h + [ k~ h + ) ] ρ ( k~ w − k~ u ) ] ρ ( k~ u − k~ v ) ] y x ~ ~ kzv − k y w y z ~ kx u g ( ~ ) α u − kya ( ~ ) α u − kza ] α m − aθ ~ ( ~ ) ( ~ ) ( ~ [ ~ ky ~ kx w g − ~ ~ k ky u g − z ~ ky v g ~ ky ~ kz u g − ~ ~ kx kz v g − ~ ~ k ky w g + x ρ ρ ~ ~ k yu − k xv ρ ρ (~ ) (φ 2 ~ − aθ ) β k x a − γ 1u (φ 2 ~ + aθ ) ~ − β k x a + γ 1u ( ~ kz w g ρ ρ (~ β k y a − γ 1v ) ( ) ~ − β k y a + γ 1v (~ β k z a − γ 1w ) (3.32) α u − kxa ρ ~ ~ k x w − k zu − ) x ρ ~ kx − g ~ ky − g ~ k − z , g β γ1 β γ1 ~ α m + aθ ~ kx v g (3.31) ( [ z , α ( ) ~ − β k z a + γ 1w ) ~ ) ] 119 para as quais γ 1 = γ −1 , α= ρ φ2 = , a 2 k x ,y ,z ~ k x ,y ,z = 2 x 2 y k +k +k f = 1− φ2 a 2 2 z ~ , γ1 2 β= 1 , ρa 2 (u 2 ) + v 2 + w2 , ~ ~ (3.33a) (3.33b) ~ θ = k xu + k y v + k z w , g= , φ2 h= , γ1 γ1 a2 (3.33c) , (3.33d) φ 2 + a2 , m= γ1 (3.33e) ~ e k = ξ ,η ,ζ , de acordo com a direção considerada. Das Eqs. (3.28) obtêm-se as seguintes relações inversas, Ac = Tξ Λ ξ Tξ−1 , (3.34a) Bc = Tη Λη Tη−1 , (3.34b) Cc = Tζ Λ ζ Tζ−1 . (3.34c) Introduzindo-se estas relações na Eq. (3.26) e lembrando que I = Tk Tk−1 , chega-se a [ (T T ξ ) −1 n ξ ( + ∆τ δ ξ Tξ Λ ξ Tξ−1 ) n ] [ (T T −1 n [ (T T ) η ζ η ) −1 n ζ ( + ∆τ δη Tη Λη Tη−1 ( + ∆τ δ ζ Tζ Λ ζ Tζ−1 ) ) n n ] ] ∆Q n = (RHS ) . n (3.35) Modifica-se agora o esquema acima, fazendo com que as matrizes Tξ, Tη e Tζ sejam deslocadas “para fora” dos operadores δξ, δη e δζ, respectivamente. Introduz-se aqui, 120 evidentemente, uma aproximação, visto que os componentes das matrizes deslocadas são funções de ξ, η e ζ. Com a operação acima obtém-se o algoritmo em forma diagonal, ( Tξn I + ∆τ δ ξ Λnξ ) ( T ) ( T ) ( I + ∆τ δ Λ ) ( T ) −1 n ξ n −1 n η η η ( T ) ( I + ∆τ δ n ζ n η ζ Λnζ ) (T ) −1 n ζ ∆Q n+1 = RHS n . (3.36) Introduzindo-se as definições N = Tξ−1 Tη , N −1 = Tη−1 Tξ , (3.37a) P = Tη−1 Tζ , P −1 = Tζ−1 Tη , (3.37b) o algoritmo acima pode ser escrito como: ( Tξn I + ∆τ δ ξ Λnξ ) N ( I + ∆τ δ Λ ) P ( I + ∆τ δ n n η n η ζ Λnζ ) (T ) −1 ζ n ∆ Q n+1 = RHS n . (3.38) A vantagem de se definir as matrizes N e P, e suas inversas, é que se pode obtê-las a partir da forma geral (Pulliam e Chaussee, 1981) + m1 − m2 −1 Tk Tl = − m3 + σ m4 −σ m 4 + m2 + m3 − σ m4 + m1 + m4 + σ m3 − m4 + m1 − σ m2 − σ m3 + σ m2 σ 2 (1 + m1 ) + σ m3 − σ m2 σ 2 (1 − m1 ) + σ m4 − σ m3 + σ m2 , 2 σ (1 − m1 ) 2 σ (1 + m1 ) (3.39) 121 para a qual, (3.40a) σ =1 2 , ~ ~ ~ ~ ~ ~ m1 = k x lx + k y ly + k z lz , ~ ~ ~ ~ m2 = k x lz − k z lx , (3.40b) ~ ~ ~ ~ m3 = k x lz − k z lx , ~ ~ ~ ~ m4 = k y lz − k z ly , (3.40c) ~ e, k x ,y ,z = k x ,y ,z ~ k x2 + k y2 + k z2 , lx ,y ,z = l l x2 + l y2 + l z2 , e (k ou l) ≡ (ξ, η ou ζ). x , y ,z Embora a resolução da Eq. (3.38) ainda envolva a inversão de três matrizes tridiagonais de blocos, agora os blocos são matrizes diagonais simples. Uma contagem do número de operações envolvidas mostra que este algoritmo é bem mais eficiente por passo no tempo do que o esquema padrão de blocos cheios (Pulliam e Chaussee, 1981). A solução é obtida em três passos nas três direções, uma última multiplicação matricial e a atualização, quais sejam: ( I + ∆τ δ ξ Λnξ ∆ Z1n ) = (T ) RHS n , (3.41a) −1 n ξ ( I + ∆τ δ η Λnη ∆ Z 2n ) = (N ) ∆ Z1n , (3.41b) ( I + ∆τ δ ζ Λnζ ∆ Z 3n ) = (P ) ∆ Z 2n , (3.41c) −1 n −1 n ∆ Q n = ( Tζ ) ∆ Z 3n , (3.41d) Q n+1 = Q n + ∆ Q n . (3.41e) n Como foi mencionado acima, um erro foi introduzido ao se retirar as matrizes de autovetores de dentro dos operadores de diferenças espaciais. Pulliam e Chaussee (1981) 122 mostram que o erro praticamente não afeta a precisão no tempo (primeira ordem), porém o esquema perde parte de suas características conservativas. Entretanto, isso afetará mais, e então se precisará de maiores cuidados, no caso de problemas não-estacionários, visto que somente o lado esquerdo do algoritmo foi modificado. Desde que se mantenha a convergência, problemas de estado estacionário não são afetados, inclusive no que diz respeito ao aspecto conservativo. As variáveis intermediárias ∆ Z foram chamadas diferentemente apenas por clareza de descrição, mas elas podem ser guardadas na mesma posição de memória de ∆ Q , economizando armazenamento de memória. 3.3.2 Algoritmo diagonal aplicado às equações de Navier-Stokes Rigorosamente falando, o algoritmo diagonal não poderia ser aplicado para a solução das equações de Navier-Stokes, porque as transformações similares baseadas nas matrizes Tk e Tk−1 não diagonalizam as matrizes jacobianas viscosas, ou seja, neste caso, o algoritmo não pode ser reduzido a uma forma diagonal. Existem algumas idéias intermediárias (hipótese de camada fina, por exemplo (Anderson et al., 1984)) porém, muito pouco eficientes, e então nestas condições o que se faz comumente é desprezar todos os termos viscosos nos operadores implícitos – e aí se recai no método já descrito para a equação de Euler (lado esquerdo da Eq. (3.38)). A proposta portanto é se montar o algoritmo para as equações RANS considerando-se o lado esquerdo, LHS, da Eq. (3.38) e o lado direito, RHS, da Eq. (3.8) (devidamente discretizado). Para problemas estacionários isto é irrelevante, se não houver maiores influências no processo de convergência da solução numérica. O que se observa é que 123 o algoritmo diagonal com esta “arquitetura” tem sido amplamente utilizado e tem produzido resultados bastante confiáveis sem sofrer qualquer restrição no passo de tempo. Além disto, com algumas precauções, o algoritmo tem sido utilizado mesmo em problemas não estacionários (Pulliam e Chaussee, 1981). Assim, a aplicação usual do método diagonal para as equações de Navier-Stokes corresponde a representar a viscosidade física apenas do lado direito do algoritmo. No entanto, como este é um esquema que usa discretizações centradas sempre, tanto para termos convectivos quanto viscosos, existe a necessidade de se adicionar dissipação artificial ao algoritmo – tema este a ser discutido na próxima seção. Assim, fatores dessa espécie serão agregados também do lado esquerdo do algoritmo, LHS, e estes fatores contribuirão de uma certa forma para contrabalançar os efeitos viscosos no lado direito do esquema numérico, RHS. 3.4 Dissipação numérica Embora a análise de estabilidade linear mostre que os algoritmos implícitos são incondicionalmente estáveis para equações modelo lineares, na prática não é isso que se observa. Basicamente, o principal problema é que as equações de Navier-Stokes são não-lineares. Quando perturbações interagem, elas geram novas instabilidades com freqüências mais altas (soma das freqüências das ondas interagentes) e isso ocorrendo indefinidamente extrapolará a capacidade de resolução da malha finita, gerando inconsistências numéricas. Segundo Beam e Warming (1978) o esquema implícito em diferenças finitas tem uma 124 capacidade dissipativa bastante efetiva no início do processo iterativo, com exceção das grandes e pequenas freqüências, i. e., as pontas do espectro de freqüência dos erros ou irregularidades presentes. Se não houver um processo de amortecimento adequado, isso poderá causar instabilidade numérica. Em geral, esse controle para esquemas de diferenças centradas é feito pela adição externa de termos de dissipação numérica ao algoritmo. Para manter o esquema equilibrado, o que propicia melhor convergência, é importante que sejam acrescentados termos do mesmo tipo aos dois lados (esquerdo e direito) do algoritmo. Como estes novos termos devem ter uma natureza dissipativa, deve-se ter o cuidado de não os fazer competir com a dissipação física. Assim, a melhor opção é introduzir diferenças de quarta ordem com essa finalidade (Jameson et al., 1981, Pulliam, 1986). Além disso, estes termos evitam também outras inconveniências, como o desacoplamento par-ímpar, e eventuais oscilações em regiões com altos gradientes de pressão, como a proximidade de choques ou pontos de estagnação. Entretanto, no lado esquerdo da equação um termo de quarta ordem, que requer um estêncil de cinco pontos para discretização, oneraria muito o método, visto que a matriz a ser invertida passaria a ser pentadiagonal, e não mais tridiagonal, como se tinha anteriormente. Assim, do lado esquerdo utiliza-se um termo de segunda ordem e haverá assim alguma perda na taxa de convergência. Destarte, a proposta é acrescentar termos do tipo (Pulliam, 1986, Mello, 1994), Di = ∆τ ε i ∇ξ φ1 ∆ξ J Q n , ( (3.42) ) De = ∇ξ φ1 ε 1(2 ) ∆ ξ − ε 1(4 )∆ ξ ∇ξ ∆ ξ J Q n , (3.43) para a direção ξ, respectivamente, do lado esquerdo (LHS) – parte implícita do algoritmo – (subscrito “i”) e lado direito (RHS) – parte explícita do algoritmo – (subscrito “e”). ε i , ε 1(2 ) e 125 ε1(4 ) são coeficientes, os operadores ∇ξ e ∆ ξ foram definidos pela Eq. (3.14) e φ1 é o chamado raio espectral na direção ξ, definido por (φ1 )i , j ,k U + a A1 = J i + 1 , j ,k 2 V + a A4 W + a A6 1 + max U + a A , U + a A . 1 1 1 i + , j ,k 2 (3.44) Termos similares aos das Eqs. (3.42) e (3.43) são utilizados nas direções η e ζ, sendo que (φ2 )i , j ,k V + a A1 = J i , j + 1 ,k U + a A1 W + a A6 1 + max V + a A , V + a A , 1 4 4 i , j + ,k 2 (3.45) W + a A1 = J i , j ,k + 1 U + a A1 V + a A4 1 + max W + a A , W + a A . 1 6 6 i , j ,k + 2 (3.46) 2 (φ3 )i , j ,k 2 Os raios espectrais são introduzidos para fazer um “escalonamento” físico (Jameson et al., 1981, MacCormack e Baldwin, 1975, Pulliam, 1986) e, além disso, contribuem também para tornar as matrizes tipo diagonal dominante. Apesar da eficiência comprovada, o esquema representado pela Eq. (3.43) tem um inconveniente. Como já foi ressaltado, uma diferença de quarta ordem requer um estêncil de cinco pontos. Na passagem por descontinuidades, especialmente choques, este estêncil largo transmite esta situação para regiões mais distantes provocando o aparecimento de oscilações antes e depois da passagem (Pulliam, 1986). (Observe-se que este termo de quarta ordem está 126 localizado no lado direito do algoritmo, o lado explícito.) Para evitar isto, implementa-se uma função especial na Eq. (3.43) de maneira que, ao sentir a descontinuidade, o esquema elimina o termo de quarta ordem e fica somente com um termo extra de segunda ordem. Assim, redefine-se a função dissipação artificial no lado explícito De como De = ( ) + ( ) + ( ) ∇ξ φ1 ε 1(2 ) ∆ ξ − ε 1(4 )∆ ξ ∇ξ ∆ ξ J ∆ Q n ∇η φ2 ε 2(2 ) ∆η − ε 2(4 )∆η ∇η ∆η J ∆ Q n ∇ζ φ3 ε 3(2 ) ∆ ζ − ε 3(4 )∆ ζ ∇ζ ∆ ζ J ∆ Q n , (3.47) de tal forma que ε1(2 ) = k 2 ∆τ max (ψ i1+1 ,ψ i1 ,ψ i1−1 ) , ε1(4 ) = max (0 , k 4 ∆τ − ε1(2 ) ) , (3.48a) ε 2(2 ) = k 2 ∆τ max (ψ 2j +1 ,ψ 2j ,ψ 2j −1 ) , ε 2(4 ) = max (0 , k 4 ∆τ − ε 2(2 ) ) , (3.48b) ε 3(2 ) = k 2 ∆τ max (ψ k3+1 ,ψ k3 ,ψ k3−1 ) , ε 3(4 ) = max (0 , k 4 ∆τ − ε 3(2 ) ) . (3.48c) A função ψ faz o papel de um “sensor” de pressão e é definida por (Pulliam, 1986): ψ i1 = ψ 2j = ψ k3 = pi +1, j ,k − 2 pi , j ,k + pi −1, j ,k pi +1, j ,k + 2 pi , j ,k + pi −1, j ,k pi , j +1,k − 2 pi , j ,k + pi , j −1,k pi , j +1,k + 2 pi , j ,k + pi , j −1,k pi , j ,k +1 − 2 pi , j ,k + pi , j ,k −1 pi , j ,k +1 + 2 pi , j ,k + pi , j ,k −1 , (3.49a) , (3.49b) . (3.49c) 127 Observe-se que a lógica no cálculo do coeficiente ε (4 ) elimina o termo de quarta ordem toda vez que o coeficiente do termo de segunda ordem – via ε (2 ) – aumenta devido ao aumento de pressão. Introduzindo estes novos termos na Eq. (3.41) o algoritmo agora toma a forma final em três passos dados por (ver também Mello, 1994) Passo 1 – direção ξ (I + ∆τ δ ξ Λnξ − ∆τ ε i ∇ ξ φ1 ∆ ξ J ) ∆ Z 1n (T ) [RHS −1 = n ξ n ] − De . (3.50) Passo 2 – direção η (I + ∆τ δ η Λnη − ∆τ ε i ∇ η φ 2 ∆ η J ) ∆ Z 2n = (N ) −1 n ∆ Z 1n . (3.51) Passo 3 – direção ζ (I + ∆τ δ ζ Λnζ − ∆τ ε i ∇ζ φ3 ∆ ζ J ) ∆ Z 3n (P ) −1 n = ∆ Z 2n . (3.52) Multiplicação final ∆ Q n = (Tζ ) ∆ Z 3n . (3.53) Q n+1 = Q n + ∆ Q n . (3.54) n Atualização final 128 A escolha dos parâmetros k2 e k4 na Eq. (3.48) é feita de acordo com as particularidades do problema, dependendo dos gradientes de pressão na passagem pelos choques. Para uma ampla faixa de utilização costuma-se adotar k2 = 0,25 e k4 = 0,01 (Pulliam, 1986). 3.5 Implementação numérica do modelo de turbulência de Spalart e Allmaras O trabalho original de Spalart e Allmaras (1992) traz todas as indicações principais sobre a implementação numérica do algoritmo. A pretensão aqui é somente ressaltar os aspectos mais importantes. Para implementar numericamente o modelo de turbulência, descrito pela Eq. (2.74) e expressões (2.75) do capítulo 2, modifica-se inicialmente a forma da Eq. (2.74) para ∂ν~ = M (ν~ )ν~ + P (ν~ )ν~ − D(ν~ )ν~ , ∂τ (3.55) para a qual M (ν~ )ν~ é a expressão combinada dos termos convectivos e difusivos, ou seja, r r r 1 r 2 M (ν~ )ν~ = − U ⋅ ∇ ν~ + ∇ ⋅ (ν l + ν~ ) ∇ν~ + cb 2 (∇ν~ ) . ( ) σ { [ ] } Os termos de produção e de dissipação da turbulência próximos à parede são (3.56) 129 P(ν~ )ν~ = cb1 S ν~ , (3.57) 2 ν~ ~ ~ D(ν )ν = cw1 f w , d (3.58) e deve-se observar que estas parcelas são sempre positivas. A equação de transporte é discretizada e a solução integrada no tempo usando um esquema de Euler implícito de diferenças à trás. A representação a seguir mostra as matrizes implícitas, destacando-as por barras, { I − ∆τ [M (ν~ ) + P (ν~ ) − D (ν~ ) ] } ∆ν~ n n n n = [ ( ) ( ) ( ) ] ν~ ∆τ M d ν~ n + Pd ν~ n − Dd ν~ n n , (3.59) cuja solução vem de ν n+1 = ν n + ∆ν n . Md, Pd e Dd são as formas discretizadas de M, P e D. Os autores do modelo modificam a forma da Eq. (3.59) para [ I − ∆τ (M + P + D ) ] ν~ n +1 = { I + ∆τ [(M d − M ) + (Pd − P ) − (Dd − D )] } ν~ n , (3.60) de tal sorte que ν~ n+1 é obtida diretamente como função de ν~ n . A partir daí, um trabalho cuidadoso é dedicado às matrizes do algoritmo de maneira a garantir que a solução ν~ seja sempre positiva, aliás, uma necessidade imperiosa para qualquer modelo de turbulência. O trabalho de Spalart e Allmaras (1992) traz detalhes adicionais para a implementação numérica do modelo. Os operadores convectivos foram discretizados usando um esquema de 130 primeira ordem de precisão tipo assimétrico (“up wind”), desta forma dispensando a necessidade de termos de viscosidade artificial para o algoritmo. Os operadores difusivos foram discretizados usando diferenças centradas de segunda ordem de precisão. 3.6 Esquema numérico de malhas seqüenciais As malhas utilizadas na simulação de problemas físicos complexos contêm, em geral, um número muito grande de pontos. Por exemplo, no caso da injeção do TTP, por serem necessários refinamentos nas proximidades das paredes do túnel e do injetor, as malhas ultrapassaram 1 milhão de pontos de cálculo. O processo de pesquisa de soluções exige que o programa seja “rodado” inúmeras vezes visando a adequação da malha, o ajuste das taxas de refinamento, o espalhamento de pontos para evitar o problema de rigidez (“stiffness”), possíveis modificações nos parâmetros de dissipação artificial, etc. Empregando malhas com tantos pontos, seria quase inviável a realização do trabalho, pelo tempo requerido nessas buscas e, mesmo, para obter a convergência final, depois de definidas todas as condições para o problema. O equipamento à disposição do autor durante a realização deste trabalho era um PC AMD 2 GHz com 512 Kb de memória. Assim, foi preciso contornar o problema do tempo de computação, lançando-se mão da técnica de malhas seqüenciais, para dar maior agilidade ao processo de cálculo. A técnica empregada é extremamente simples na sua concepção e fácil de ser implementada. Consiste em rodar o código em malhas mais grossas, obtidas a partir dos pontos ímpares das malhas finas em todas as direções, e fazer uma passagem conveniente das grandezas de uma malha para outra. Embora a malha mais grossa, muitas vezes, não permita capturar 131 convenientemente todos os fenômenos físicos, ela contribui muito para a solução macroscópica na geometria empregada, avançando o processo de cálculo global. Por exemplo, numa região de mistura de jatos, a malha grossa suaviza mais rapidamente os perfis de velocidade, permitindo depois que a malha mais fina possa trabalhar a partir de uma solução mais avançada no tempo, sem o problema de um passo inicial no tempo muito pequeno. No cálculo tridimensional isto é ainda mais vantajoso, uma vez que a próxima malha mais grossa tem um número de pontos oito vezes menor e o passo no tempo duas vezes maior (para um mesmo número de CFL), resultando um ganho computacional do processo de cálculo em dezesseis vezes. Isso ainda é mais notável trabalhando com três malhas seqüenciais: a malha mais grossa (a terceira) terá uma velocidade de convergência de, no mínimo, 256 vezes maior do que a primeira malha. O primeiro cuidado a ser tomado na obtenção das malhas é observar que o número máximo de pontos em cada direção da malha fina seja tal que permita sempre a obtenção direta das malhas próximas; isto é garantido se o número máximo de pontos for um múltiplo de p, com p = 2n + 1 e n um número inteiro. Além disto, todos os pontos singulares da malha mais fina, também devem seguir este mesmo princípio nas outras malhas, com ponteiros lógicos no programa. Por exemplo, o ponto central entre os dois escoamentos, para que se tenha a mesma correspondência nas diversas malhas empregadas. A passagem dos valores de parâmetros para frente (de uma malha mais fina para uma malha mais grossa) é realizada da seguinte maneira. Inicialmente o código calcula uma iteração na malha mais fina e depois passa para a próxima malha os parâmetros do escoamento Q e ν~ , diretamente para os pontos correspondentes na malha mais grossa, procedimento este chamado de injeção direta (“straight injection”) (Press et al., 1992). As diferenças ∆ Q e ∆ν~ são passadas de forma ponderada pela posição relativa ao ponto central correspondente, procedimento este chamado de ponderação completa (“full 132 weighting”). Após o cálculo na malha grossa, o retorno para a malha mais fina é realizado pelo procedimento chamado de interpolação bilinear (“bilinear interpolation”) e é aplicado aos parâmetros do escoamento Q e ν~ . O processo de injeção direta é óbvio, e é sempre usado para a passagem das condições de contorno da malha. Quanto aos processos de ponderação completa e interpolação bilinear, a FIG. 3.3 exemplifica-os, para uma malha bidimensional, mostrando suas células de cálculo em dois diagramas lógicos (Press et al., 1992). No primeiro procedimento (ponderação completa), apenas o ponto central representa um nó pertencente às duas malhas, enquanto que os nós vizinhos só existem na malha mais fina. O parâmetro a ser passado para a malha mais grossa (indicado aqui pela barra) é calculado por a= c1 1/16 (3.61) 1 1 1 a + (b1 + b2 + b3 + b4 ) + (c1 + c2 + c3 + c4 ) 4 8 16 b1 c2 1/8 1/16 a1 b1 1/2 1/4 a b2 1/8 1/4 a2 1/2 1/4 c 1/8 b3 b2 b3 1/4 1/4 1/2 1/2 1/2 1/16 1/8 1/16 c3 b4 c4 a) ponderação completa a3 1/2 b4 a4 b) interpolação bilinear FIGURA 3.3 – Procedimentos para geometria bidimensional da ponderação completa e da interpolação bilinear, respectivamente. 133 No segundo procedimento (interpolação bilinear) apenas os nós indicados pelo X pertencem às duas malhas. Para estes pontos os valores passam direto para a malha fina. Os valores dos círculos sem o X deverão ter seus valores criados a partir de valores vizinhos da malha mais grossa. Seguindo a mesma indicação de barras para os parâmetros na malha mais grossa, a1 = a1 , a2 = a2 , (3.62a) a3 = a3 a4 = a4 , (3.62b) b1 = 1 (a1 + a2 ) , 2 b2 = 1 (a1 + a3 ) , 2 (3.63a) b3 = 1 (a2 + a4 ) , 2 b4 = 1 (a3 + a4 ) , 2 (3.63b) c= 1 (a1 + a2 + a3 + a4 ) . 4 (3.64) Para as malhas tridimensionais os processos de passagem seguem as mesmas idéias, entretanto, a célula de cálculo agora é um cubo com seu centro representando um nó de cálculo. A interpolação bilinear é facilmente aplicada neste caso, apenas ressalvando que os pontos a serem “criados” vêm, ou diretamente (nos vértices), ou por média de dois (dos vértices para os meios das arestas), ou por média de quatro (dos vértices para os centros das faces) e, agora, também, por combinação de oito (dos vértices para o centro do cubo). Quanto à ponderação completa, no que tange os parâmetros de ponderação – como também no caso bidimensional –, não há uma escolha única. No caso tridimensional há quatro tipos de vizinhos diferentes (pela disposição geométrica em que se encontram) e a formulação aplicada é a seguinte: 134 a = 1 a 4 + 1 (b1 + b2 + b3 + b4 + b5 + b6 ) + 24 1 (c1 + c2 + c3 + c4 + c5 + c6 + c7 + c8 + c9 + c10 + c11 + c12 ) + 48 1 (d1 + d 2 + d3 + d 4 + d5 + d 6 + d 7 + d8 ) , 32 (3.65) onde “a” está no centro do cubo (célula de cálculo), os vizinhos “b” estão nos centros das faces do cubo, os vizinhos “c” estão nos centros das arestas do cubo e, finalmente, os vizinhos “d” estão nos vértices do cubo. O processo de cálculo adotado na maioria dos casos em que foram usadas três malhas seqüenciais, foi realizar uma iteração na malha fina, passando à malha intermediária, realizando outra iteração nesta, passando à malha mais grossa e iteragindo nesta até que o resíduo obtivesse uma notória convergência, com abaixamento de, no mínimo quatro ordens. Retornando à malha intermediária, o processo foi repetido e, de volta à malha fina, foram realizadas iterações até que se percebesse estabilidade na solução (campo de pressão e velocidade estáveis, com variações apenas no quarto algarismo significativo). O aumento global da taxa de convergência, com o emprego desta técnica em alguns casos, chegou a seis vezes. 3.7 Condições iniciais e de contorno Nesta seção discutir-se-á, em linhas gerais, sobre condições iniciais e de contorno a serem implementadas nos problemas que serão tratados a seguir nos capítulos 4 e 5. 135 3.7.1 Condições iniciais O problema a ser tratado, numericamente, é do tipo misto com condições inicial e de contorno, mesmo levando-se em conta que todas as condições de contorno são estacionárias. Observe-se, por exemplo, a Eq. (3.20), onde aparece explicitamente o termo ∂ Q ∂ τ . Estabelecidas condições iniciais, o código itera até a situação de estado estacionário, caracterizado por um valor pequeno e pré-estabelecido do resíduo (valor atual do RHS). Neste estado considera-se o problema resolvido dentro da precisão do método numérico. De maneira geral, considerou-se como condições iniciais os seguintes valores adimensionais, ρ = 1, ρ u = 1, ρ v = ρ w = 0, e o valor da energia total por unidade de volume sendo fixada considerando-se T = 300 K. Para o valor de νt inicial foram estabelecidas distribuições uniformes, em geral, valores baseados em dados experimentais, ou então, na experiência anterior do autor. Em outros casos, condições iniciais mais próximas do esperado para a solução final foram adotadas, na tentativa de vencer os altos gradientes impostos no início do cálculo, visando a convergência. Por exemplo, no caso da mistura de jatos, a região da camada de mistura foi aproximada inicialmente por um perfil linear entre dois pontos escolhidos nos domínios dos núcleos potenciais dos dois jatos. Mesmo assim, por se tratar de escoamentos a altas velocidades, o processo de cálculo fez surgir, nas primeiras iterações, regiões com altos gradientes de pressão, devido à adaptação à física do problema. Por outro lado, quando impostos dois perfis uniformes justapostos para representar os dois jatos, os gradientes de propriedades na fronteira entre os jatos eram tão altos que o código não suportava e ocorria divergência logo no início. 136 3.7.2 Condições de contorno Basicamente as condições de contorno tratadas neste trabalho, e que serão detalhadas em seguida, são de cinco tipos: (i) fronteira sólida, (ii) fronteira simétrica, (iii) fronteira de saída, (iv) fronteira de entrada, (v) fronteira com propriedades impostas. Em cada fronteira são necessárias seis condições de contorno, para definir os valores das variáveis que aparecem nas cinco equações principais e na equação do modelo de turbulência: ρ, u, v, w, e, µt. Para interpretar com mais facilidade a física envolvida no problema, em geral o conjunto de variáveis empregado substitui a densidade e a energia total pela pressão e temperatura, resultando no seguinte conjunto, a ser atualizado pelas condições de contorno: p, u, v, w, T, µt. Em todos os casos aqui tratados, a geometria empregada é a esquematizada na FIG. 3.4, na qual estão representadas as direções do domínio computacional (ξ, η, ζ), sendo ξ a direção longitudinal do escoamento. Os contadores nas direções ξ, η, e ζ são, respectivamente, i, j e k. 137 jmax η ξ j i ζ imax k kmax FIGURA 3.4 – Geometria genérica empregada no estabelecimento das condições de contorno. (i) Fronteira sólida Para melhor exemplificar, suponha-se um plano em k = 1 (plano ij) para as condições de contorno de fronteira sólida – uma parede lateral. A condição básica para a fronteira sólida é o não escorregamento, com os componentes de velocidade nulos (três condições são estabelecidas), ui , j ,1 = vi , j ,1 = wi , j ,1 = 0 . (3.66) A quarta condição de contorno a ser estabelecida é a pressão. A pressão sobre a fronteira sólida é fixada considerando o seu valor igual ao valor no primeiro ponto da malha de cálculo, na direção normal à mesma. Isto corresponde à condição tipo camada limite como, aliás, será detalhada na seção 3.7.3, ∂p ∂ζ =0, (3.67) pi , j ,1 = pi , j ,2 . (3.68) i , j ,1 ou seja, 138 Para todos os casos tratados no presente trabalho, a malha é sempre normal aos planos de fronteira. Mesmo que não fosse, seria aceitável a aproximação, pois o refinamento próximo à fronteira sólida é, em geral, grande e o desvio muito pequeno da direção normal. É importante lembrar que o valor de pi,j,2 é resultado da solução interna do problema. Isto significa que, depois de cada iteração, o valor interno é extrapolado à parede via Eq. (3.68). A quinta condição de contorno reflete o comportamento térmico da fronteira sólida. As duas condições mais comuns são: a temperatura prescrita (o valor da temperatura na parede é conhecido e imposto) e a parede adiabática, que foi utilizada em todos os casos deste trabalho. No caso da parede adiabática não há fluxo de calor e, portanto, o gradiente de temperatura na parede é nulo. Assim, ∂T ∂ζ = 0, (3.69) Ti , j ,1 = Ti , j ,2 , (3.70) i , j ,1 o que resulta em e como no caso da pressão, também o valor da temperatura na parede é extrapolado da solução interior. A sexta e última condição se refere ao nível da viscosidade dinâmica turbulenta, que é sempre nula – não há atividade turbulenta sobre a fronteira sólida. Portanto, (µt ) i , j ,1 = 0 . (3.71) (ii) Fronteira simétrica Em vários casos a condição de fronteira simétrica foi necessária, particularmente no problema da mistura de jatos da injeção, no intuito de economizar tamanho de malha 139 computacional. Como exemplo, seja o plano simétrico em j = (jmax-1), plano ik – no caso da fronteira simétrica é necessário um plano adicional “além fronteira” para realizar as extrapolações e, por isso, por conveniência, foi escolhida a fronteira simétrica em (jmax-1). A FIG. 3.5 mostra um detalhe da fronteira simétrica que, neste caso, está localizada em j = (jmax-1). Pela condição de simetria, todas as propriedades em j = jmax deverão ser iguais às propriedades em j = (jmax-2), exceto o componente de velocidade na direção η que deverá ser anti-simétrico. η j = jmax j = jmax-1 j = jmax-2 FIGURA 3.5 – Esquema de uma fronteira simétrica em j = (jmax-1). As seis condições a serem estabelecidas para esta fronteira de contorno são: = ui , jmax −2 ,k , (3.72a) vi , jmax,k = − vi , jmax −2 ,k , (3.72b) wi , jmax,k = wi , jmax −2 ,k , (3.72c) pi , jmax,k = pi , jmax −2 ,k , (3.72d) Ti , jmax,k = Ti , jmax −2 ,k , (3.72e) ui , jmax,k (µt ) i , jmax,k = (µt ) i , jmax −2 ,k . (3.72f) 140 (iii) Fronteira de entrada Relações características As condições de contorno para as equações principais, na entrada, i = 1 (plano jk), são implementadas através de relações características para as equações de Euler em três dimensões. A motivação para esse procedimento reside no fato de que essas relações preservam parte da física associada às condições de contorno, o que é certamente melhor do que se usar alguma extrapolação arbitrária. No caso das equações de Euler tridimensionais existem cinco relações características associadas à direção x, a saber: ∂ρ 1 ∂ p ∂ρ 1 ∂ p , − 2 = − u − 2 ∂t a ∂t ∂x a ∂x (3.73a) ∂v ∂v =−u , ∂x ∂t (3.73b) ∂w ∂w =−u , ∂t ∂x (3.73c) ∂p ∂u ∂u ∂p +ρa = − ( u + a ) +ρa ∂x ∂t ∂t ∂x , (3.73d) ∂p ∂p ∂u ∂u . −ρa = − ( u − a ) +ρa ∂t ∂t ∂ x ∂x (3.73e) Essas relações são obtidas a partir dos autovalores e autovetores das equações de Euler (ver apêndice A). São cinco as velocidades características a elas associadas na direção x: u, u, u, (u + a), (u – a). Por exemplo, para escoamento subsônico na direção x, isto é, u < a, 141 um determinado ponto do escoamento recebe influência do que acontece tanto a montante (características u, u, u, (u + a)), como a jusante (característica (u – a)). No caso do escoamento na direção x ser supersônico todas as características carregam informações a jusante. As relações características, acima apresentadas, estão escritas em coordenadas cartesianas, embora a implementação das equações de Navier-Stokes seja feita em coordenadas curvilíneas generalizadas. Em geral, esse procedimento se justifica, pois, nos contornos onde se deseja implementar essas relações características, os sistemas de coordenadas cartesianas e generalizadas estão basicamente alinhados. No caso do presente trabalho, em regiões próximas às fronteiras, os dois sistemas sempre coincidem. O regime do escoamento – subsônico ou supersônico – determinará como essas condições devem ser implementadas. Região subsônica No caso do contorno com entrada subsônica, quatro condições devem ser fixadas e uma extrapolada do interior, considerando que quatro informações vêm de montante e uma de jusante. As que devem ser fixadas, em geral, para escoamentos internos, são: a temperatura de estagnação To, a pressão de estagnação po e a angularidade do escoamento nas duas direções prescritas pelo sistema de coordenadas esférico local, θ y e θ z – ver apêndice A. A quinta condição deve ser extrapolada do interior da malha computacional, usando-se a equação associada à velocidade característica (u – a). Discretizando-se essa equação, Eq. (3.73e), e lembrando que as variáveis estão adimensionalizadas, obtém-se (maiores detalhes no apêndice A): δ u1n, j ,k = R5 ∂p ∂u n − ρ 2n,+j1,k a 2n,+j1,k 1, j ,k , (3.74) 142 onde R5 = − ∂p ∂u n λ5 1 − λ5 [( p n +1 2 , j ,k ) −ρ − p 1n, j ,k n +1 2 , j ,k γ 1 + ctg 2θ y + cssc 2θ y ctg 2θ z = − 2 po u 1n, j ,k γ +1 ( 1, j ,k ( ) (3.75) ) γ −1 1 + ctg 2θ y + cssc 2θ y ctg 2θ z 1 − γ +1 λ5 = ( u 2n,+j1,k − a 2n,+j1,k ) ], ( a 2n,+j1,k u 2n,+j1,k − u 1n, j ,k 2 1 γ −1 , 1, j ,k )( u ) (3.76) n ∆x . x 2 , j ,k − x 1, j ,k (3.77) A partir do cálculo de δ u1n, j ,k , atualiza-se o componente de velocidade u u 1n,+j 1,k = u 1n, j ,k + δ u 1n, j ,k . (3.78) Pode-se calcular, então, et e p através de (et ) 1n,+j1,k = cv T1n, j+,1k = cv T (u1n,+j1,k ) = cv T0 1 − γ − 1 (1 + ctg 2θ y + cssc 2θ y ctg 2θ z )(u 2 )1n,+j 1,k , γ +1 γ −1 p1n,+j 1,k = p u1n,+j 1,k = p0 1 − 1 + ctg 2θ y + cssc 2θ y ctg 2θ z u 2 γ +1 ( ) ( ( ) ( ) )( ) n +1 1, j ,k γ γ −1 . (3.79) (3.80) onde os símbolos T u1n,+j 1,k e p u1n,+j 1,k indicam que T e p são funções de u. Os componentes de velocidade v e w são dados por 143 v 1n,+j1,k = u 1n,+j1,k ctg θ y , (3.81a) w 1n,+j1,k = u 1n,+j1,k csscθ y ctg θ z . (3.81b) Finalmente, obtém-se os outros componentes do vetor de propriedades conservadas, Q , ρ n +1 1, j ,k = p 1n,+j 1,k (γ − 1) (et )1n,+j1,k [( 1 n +1 e1n,+j 1,k = ρ 1n,+j 1,k (et )1, j ,k + u2 2 ) n +1 1, j ,k , ( ) + v2 n +1 1, j ,k (3.82) ( ) + w2 n +1 1, j ,k ] . (3.83) Verifica-se na prática que a aplicação da extrapolação por características produz resultados bons na região potencial. No caso das camadas limite o tratamento é específico. Após a atualização da região potencial, as camadas limite são recalculadas, como descrito a seguir, nos itens 3.7.3 e 3.7.4. A viscosidade turbulenta na região fora da camada limite foi fixada como um valor constante. Tal valor foi em tese obtido da literatura considerando-se casos de escoamentos com condições próximas daquele que estava sendo calculado. Desta forma o valor de (µt )1, j ,k para a “região potencial” fica também estabelecido. Região supersônica Para o caso de entradas supersônicas a análise de Euler indica que todas as velocidades características do escoamento são positivas, significando que a informação nunca retorna. Nestes casos, a física é perfeitamente representada pela imposição de todas as condições na entrada. 144 (iv) Fronteira de saída A fronteira de saída, a rigor, deveria ser tratada também através das relações características, uma vez que essas relações preservam parte da física associada ao escoamento (veja o apêndice A). Nestas circunstâncias, no caso de uma saída subsônica, uma das propriedades deveria ser fixada na fronteira (informação que vem de jusante). Acontece que esta situação é dificílima de se estabelecer, a não ser que praticamente se conheça a solução final. A insistência em se fixar a condição, em geral leva a uma situação de instabilidade e o processo iterativo diverge (Falcão Filho et al., 2000b). A melhor alternativa na verdade é se extrapolar todas as propriedades a partir do último plano interior para a fronteira, mesmo no caso subsônico. Esta idéia vem da noção de “condição de contorno parabólica” muito utilizada em escoamentos incompressíveis em dutos. Imagina-se que em uma seção do duto suficientemente a jusante, o escoamento já esteja totalmente desenvolvido. Nestas condições, a condição parabólica (transmissão de informação sempre a jusante) se aplica à perfeição. Para se evitar uma extrapolação de ordem zero, i. e., a simples igualdade dos valores de propriedades entre os dois planos, optou-se por uma equação de transporte convectivo simplificada. Seja α um parâmetro genérico. Sua propagação convectiva na direção ξ pode ser representada por: ∂α ∂α + Vp =0, ∂t ∂ξ (3.84) onde Vp é a velocidade física de transporte, t é o tempo e α a variável espacial genérica. Desta forma, o conjunto de parâmetros a ser estabelecido na fronteira de saída seria expresso por: 145 ρ n+1 = imax, j ,k ρn imax, j ,k ( ) ∆∆ξt , (3.85a) − V p ρ inmax, j ,k − ρ inmax+1−1, j ,k +1 u inmax, j ,k = u inmax, j ,k − V p u inmax, j ,k − u inmax+1−1, j ,k ( ) ∆∆ξt , (3.85b) +1 v inmax, j ,k = v inmax, j ,k − V p v inmax, j ,k − v inmax+1−1, j ,k ( ) ∆∆ξt , (3.85c) ( ) ∆∆ξt , ( ) ∆∆ξt , +1 winmax, j ,k = winmax, j ,k − V p winmax, j ,k − winmax+1−1, j ,k +1 einmax, j ,k (µt ) n+1 imax, j ,k = einmax, j ,k − V p einmax, j ,k − einmax+1−1, j ,k = (µt ) n imax, j ,k − Vp [ (µ ) t n imax, j ,k n +1 − (µt )imax −1, j ,k ] ∆∆ξt , (3.85d) (3.85e) (3.85f) e a velocidade de propagação física Vp é considerada como sendo +1 V p = uinmax −1, j ,k . (3.86) (v) Fronteira com propriedades impostas Há casos nos quais é necessário impor todas as condições. Seja, por exemplo, a fronteira superior, j = jmax. Em geral, em problemas genéricos, esta face fica mergulhada dentro do escoamento livre. Fica clara, portanto, a aplicação do conjunto de parâmetros neste caso: 146 u i , jmax,k = u I , (3.87a) v i , jmax,k = vI , (3.87b) w i , jmax,k = wI , (3.87c) p i , jmax,k = p I , (3.87d) T i , jmax,k = TI , (3.87e) ( µ ) i , jmax,k = ( µ )I , (3.87f) onde o subscrito “I” indica valores conhecidos. Em outros casos específicos, como uma fronteira de imposição das condições após uma onda de choque, a pressão teve que ser extrapolada, sendo fixadas as demais condições (esta aplicação será detalhada oportunamente). 3.7.3 Camada limite hidrodinâmica Nesta seção serão discutidos os detalhes de como foram estabelecidos perfis tipo camada limite em planos tipo “condição de contorno”. Isto porquê, em várias situações, tem-se que estabelecer distribuições deste tipo. O exemplo típico é o caso do plano de entrada da região da injeção (FIG. 3.6). Os escoamentos representados pela corrente principal subsônica e pela corrente supersônica que vem dos injetores, ao chegarem a este plano apresentam camadas limite junto ao solo, teto, paredes laterais do túnel e paredes do injetor. Entretanto, na prática, estas camadas limite começam a se desenvolver na região da seção de testes, mais especificamente no fim das fendas, e na região de estagnação dos injetores. 147 Evidentemente, não é viável estender-se a malha da seção de entrada da câmara de injeção até a seção de testes (ou, então, até à câmara de estagnação dos injetores). Resta então, definido o “escoamento potencial” da corrente principal, estabelecer distribuições de parâmetros na camada limite, utilizando-se para tanto expressões analíticas e/ou correlações adequadas e convenientes. plano de entrada CL núcleo subsônico túnel CL CL injetor núcleo supersônico CL CL – região de camada limite y x FIGURA 3.6 – Esquema físico da mistura de jatos da injeção na fronteira de entrada com a representação esquemática das camadas limite. Um outro exemplo, neste caso usado para validação, é o problema da onda de choque sobre a camada limite turbulenta que, se fosse simulado o comprimento anterior, necessário para o crescimento da camada limite até a condição prescrita pelo problema para a região, e partindo-se de um perfil uniforme na entrada, exigiria um comprimento de malha seis vezes maior. As duas próximas subseções discutem expressões e correlações que foram utilizadas no estabelecimento de tais perfis de propriedades. 148 Perfil de velocidade O que se pretende é obter uma correlação para u = u(y) dentro da camada limite, onde y e u são, respectivamente, distância à parede e velocidade paralela à parede. Será utilizada, com adaptações adequadas, a lei da parede para o escoamento compressível. Basicamente, adotar-se-á o modelo de Saffman e Wilcox (1974), os quais, baseados em resultados do escoamento compressível ao longo da placa plana, chegaram a valores das constantes para a lei logarítmica da parede. A correlação tem uma forma análoga ao caso incompressível, u* 1 = ln y + + C , uτ κ ( ) (3.88) onde uτ = τ w ρ w é a velocidade de atrito, y + = y uτ / ν w , o subscrito “w” indica valores na parede (“wall”), e κ e C são as constantes da lei. u* é a chamada velocidade de van Driest (1951) e difere ligeiramente de u, a velocidade média local paralela à parede. A partir de correlações de dados experimentais mostra-se que κ e C são muito próximos dos valores incompressíveis (Bradshaw e Huang, 1995). Em princípio, no entanto, C é uma função de Mτ e qw+ , visto que esta constante carrega informações sobre a densidade e efeitos viscosos junto à parede. Mτ e qw+ são definidos por uτ , aw (3.89a) qw , ρ wc p uτ Tw (3.89b) Mτ = qw+ = 149 onde mais uma vez o subscrito “w” indica valores de parâmetros na parede (“wall”). Os parâmetros Mτ e qw+ também influem, se bem que de maneira fraca, na diferença entre u e u* (Wilcox, 1998). Considerando as colocações acima o modelo que será adotado é dado pela relação u 1 = ln y + + C , uτ κ ( ) (3.90) onde se considera u* aproximadamente igual a u, pelo menos para a faixa de números de Mach e condições da parede a serem encontrados nos problemas aqui tratados. Os valores das constantes são κ = 0,402 e C = 3,54, dados obtidos a partir de estudos de placa plana (Saffman e Wilcox, 1974). A Eq. (3.90) está representada na FIG. 3.7, juntamente com as outras regiões da camada limite turbulenta (Cebeci e Bradshaw, 1977). Como é conhecido da literatura (Tennekes e Lumley, 1974), na região da subcamada viscosa a correlação é dada por u+ = y+ , (3.91) onde u + = u uτ , e as escalas características da turbulência são a velocidade de atrito uτ e o comprimento νw / uτ (aqui νw indica a viscosidade cinemática molecular na parede). Distante da parede, onde os efeitos de inércia predominam sobre os efeitos viscosos moleculares, com ação acentuada das tensões de Reynolds, as duas escalas características correspondem à velocidade do escoamento livre fora da camada limite, U∞ , e a espessura da camada limite, δ. 150 35 30 camada intermediária subcamada viscosa 25 u 2+ = ESCOAMENTO POTENCIAL CAMADA EXTERNA CAMADA INTERNA subcamada inercial u∞ uτ u+ = região do déficit de velocidade u∞ uτ 20 u+ = u uτ u+ = y+ 15 u1+ = y1+ 10 5 u+ = 1 κ ( ) ln y + + C y2+ = eκ (u2 −C ) + y1+ 0 0.1 1 10 uτ + y =y 100 1000 10000 νw FIGURA 3.7 – Camada limite turbulenta típica e os modelos para cada sub-região. Os pontos pretos indicam um perfil real típico. As linhas indicam as equações de modelo para cada sub-região. O modelo adotado no presente trabalho toma como perfil, para a camada limite turbulenta, a união das equações representativas para cada sub-região. O primeiro ponto de intersecção é obtido a partir dos valores adotados para as constantes de von Kármán κ, e a constante C, que também reflete a rugosidade da parede. O segundo ponto de intersecção é obtido a partir das condições do escoamento livre, numa simplificação do que ocorre na camada externa. Assim, a função composta proposta é representada em três regiões, y + ≤ y1+ → y1+ < y + ≤ y2+ → y + > y2+ → u+ = u+ = y+ , (3.92a) 1 ( ) (3.92b) u∞ , uτ (3.92c) κ ln y + + C , u+ = 151 onde y1+ e y2+ são determinados a partir de valores de κ e C, e observando-se que u2+ = u∞ / uτ . Observa-se na FIG. 3.7, que duas sub-regiões foram simplificadas. A primeira, a sub-camada intermediária, que representa a transição entre a sub-camada viscosa e a subcamada inercial, começando em y + ≅ 5 , terminando em y + ≅ 30 . A segunda, região do déficit de velocidade, influenciando a solução a partir de 20 % da altura da camada limite (Wilcox, 1998). Para se “fechar” o conjunto de equações acima em uma determinada estação falta o conhecimento de dois parâmetros, a altura da camada limite, δ, e a velocidade de atrito na parede, uτ. Quanto ao valor da espessura da camada limite δ, uma estimativa será empregada neste trabalho, utilizando-se a fórmula para a camada limite turbulenta incompressível ao longo da placa plana (Schlichting, 1979): u ⋅ x δ ( x ) = 0,37 ⋅ x ⋅ ∞ ν − 1 5 , (3.93) onde x é a distância na direção longitudinal contada a partir do bordo de ataque da placa, u∞ é a velocidade no escoamento livre e ν é a viscosidade cinemática molecular. Para uma estimativa da velocidade de atrito na parede, uτ, procedeu-se da seguinte forma. Mudando-se a adimensionalização da Eq. (3.90) para os parâmetros u∞ (velocidade no núcleo potencial) e δ (espessura da camada limite), ela toma a seguinte forma de equação transcendental: 152 ( uτ ) n +1 = u × u∞ δ ( uτ ln κ νw 1 )n y× + C , (3.94) para a qual u× = u , u∞ y× = y δ . (3.95a) (3.95b) É possível se obter a resolução da Eq. (3.94) de forma iterativa, como sugerido na expressão através dos índices “n” e “n+1” (momentos de avanço da solução); para isto é necessário conhecer um ponto de referência. Por exemplo, a borda da camada limite, ou seja: para y × = 1 o valor de u × é 0,998 (ou outro critério plausível). Atribuindo um valor inicial para uτ (por exemplo, 10 m/s), com menos de dez passos há convergência suficiente para valores típicos. Isto ocorrerá sempre que o argumento da função logarítmica na Eq. (3.90) for maior do que a unidade, ou seja, y+ > 1. Com o valor da velocidade de atrito determinada, a Eq. (3.90), da lei logarítmica, está definida. Daí, a partir da distância à parede mais próxima obtém-se diretamente a velocidade no ponto. Conhecendo-se a velocidade local dentro da camada limite, é necessário agora determinar os demais parâmetros do escoamento. Perfis de pressão e temperatura A pressão será obtida fazendo-se p( y ) = p∞ , 0 ≤ y < δ , o que é uma decorrência da condição tipo camada limite, tal que ∂p ≅ 0, ∂n (3.96) 153 onde n é a distância normal à parede e p∞ é a pressão na borda da camada limite. A temperatura na camada limite pode ser avaliada a partir da analogia de Reynolds, a qual relaciona a transferência de calor com a transferência de quantidade de movimento – o número de Prandtl define esse relacionamento através da relação entre os gradientes de temperatura e de velocidade. Inicialmente, é necessário conhecer-se a temperatura ou o fluxo de calor na parede. Devido à natureza do problema que se tem em mãos, é razoável admitir-se uma condição de parede adiabática para todos os casos, o que significa fluxo de calor nulo. Nestas condições, com a desaceleração do escoamento até a velocidade nula sobre a parede, a temperatura se tornaria igual à temperatura de estagnação, para um processo isentrópico através da camada limite. Como esta condição ideal não ocorre, as diferenças são contabilizadas pelo fator de recuperação da temperatura sobre a parede, r, definido a partir da equação γ −1 2 Taw = T∞ 1 + r M∞ , 2 (3.97) onde Taw é a temperatura da parede adiabática, T∞ e M∞ são a temperatura e o número de Mach relativos ao escoamento livre. A partir da analogia de Reynolds, com algumas hipóteses quanto à natureza dos perfis de velocidade e de temperatura na camada limite, é possível se obter uma expressão para a temperatura em qualquer ponto da camada limite turbulenta (Shapiro, 1953), dada por T T∞ = 1+ r γ −1 2 M ∞2 2 u 1− U ∞ 1 7 Pr . r A partir da pressão e da temperatura obtém-se a densidade local. (3.98) 154 3.7.4 Viscosidade turbulenta na camada limite Prandtl, inspirando-se em idéias da teoria cinética dos gases, estabeleceu, ao introduzir um conceito de “comprimento de mistura”, que duas escalas turbulentas seriam suficientes para fixar o estado local da turbulência e, em conseqüência, o valor da viscosidade de vórtice, νt (Launder e Spalding, 1972). Nesse modelo idealizado, a sugestão final é de que o melhor representante da escala de velocidades é a raiz quadrada da energia cinética turbulenta. Assim, tem-se a relação: νt = l k , (3.99) onde l é a escala de comprimento e k é a energia cinética turbulenta local. A experiência mostra como essas escalas evoluem no interior de uma camada limite típica, e muitos autores propuseram distribuições para várias classes de escoamento (Launder e Spalding, 1972, Glushko, 1965, Emmons, 1954). A partir das principais idéias contidas nesses trabalhos, foi construída uma distribuição da escala de comprimento da turbulência segundo a FIG. 3.8. O comprimento característico é inicialmente linear com a distância à parede. À medida que se distancia mais da parede, a atividade turbulenta se estabiliza, depois vindo a ser reduzida continuamente (devido à intermitência) até um valor residual, correspondendo à atividade turbulenta no escoamento livre. Essa função, a qual, na verdade, é uma adaptação da distribuição de Escudier (Launder e Spalding, 1972), é expressa por 155 0≤ 0,4 < 0,7 < y δ y δ y δ y δ l ≤ 0,4 δ l ≤ 0,7 δ l ≤ 1,2 δ y , (3.100a) = 0,084 , (3.100b) = 0 ,21 δ = 0 ,17808 − 0 ,1344 l > 1,2 δ y δ , (3.100c) = 0,0168 . (3.100d) 0.09 0.08 0.07 0.06 l δ 0.05 0.04 0.03 0.02 0.01 0 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4 y δ FIGURA 3.8 – Perfil do comprimento característico da turbulência na camada limite. O perfil de energia cinética turbulenta na camada limite segue uma forma bastante típica quando adimensionalizado pela velocidade de atrito na parede, numa faixa bastante ampla de número de Reynolds, com certa semelhança com a forma do perfil de distribuição do comprimento característico l da FIG. 3.8. Foi adotado o perfil utilizado por Wilcox (1974) no problema da intersecção onda de choque/camada limite turbulenta (ver capítulo 4, seção 4.3). A FIG. 3.9 apresenta um exemplo de distribuição. A função é alterada para cada condição de escoamento externo e velocidade de atrito na parede, e é dada por 156 0 ≤ y+ ≤ 10 k+ = 0,333 y+ , (3.101a) 10 < y+ ≤ 1000 k+ = 3,33 , (3.101b) 1000 < y+ ≤ 10000 + k = 3,33 − (y + )( + − 1000 3,33 − k min 9000 + k + = k min , y+ > 10000 ) , (3.101c) (3.101d) + onde y + = y uτ / ν w , k + = k / uτ2 e k min = k min / uτ2 , onde kmin é o valor da energia cinética turbulenta fora da camada limite, valor este a ser fixado pelo usuário para cada condição de escoamento externo. 3.5 3.0 2.5 2.0 k + 1.5 1.0 0.5 0.0 1 10 100 1000 y 10000 100000 + FIGURA 3.9 – Exemplo de perfil de energia cinética turbulenta na camada limite (Wilcox, 1998). 157 A partir dos valores de l e k obtém-se da Eq. (3.99) o valor final da viscosidade turbulenta local. Ficam, assim, portanto, fixados, aproximadamente, os parâmetros a serem empregados para estabelecer as condições na fronteira de entrada nas diversas regiões tipo camada limite. 158 4 VALIDAÇÃO E VERIFICAÇÃO DO CÓDIGO COMPUTACIONAL Este capítulo apresenta alguns dos problemas usados para a validação e verificação do código desenvolvido, com o objetivo de avaliar seu desempenho quanto à precisão, robustez e confiabilidade. Validação consiste em se determinar qual a acurácia dos resultados computacionais quando comparados com resultados experimentais, enquanto uma estratégia de verificação implica em se determinar a precisão do código quando comparado com soluções analíticas ou então soluções numéricas extremamente acuradas (de preferência, com a estimativa da ordem do método) (Oberkampf e Trucano, 2002). Este capítulo é dedicado à validação e à verificação do programa computacional desenvolvido para cálculo do problema da injeção. No decurso do desenvolvimento do código, até o estágio atual, partiu-se de uma versão laminar, com a qual alguns problemas importantes foram analisados. Entre eles, o cálculo do problema do bocal convergente-divergente supersônico, para estudo das condições de contorno na seção de saída. Comparou-se extrapolação de ordem zero com extrapolação via características (Falcão Filho et al., 2000b). À medida que o código evoluía (inclusão do modelo de turbulência, implementação do esquema de diagonalização, inclusão da terceira dimensão e implementação do esquema de cálculo em malhas seqüenciais), vários testes foram realizados que comprovaram a robustez e a precisão do mesmo. Os principais problemas abordados com a finalidade de validação e verificação, e que serão apresentados neste capítulo, estão resumidos na TAB. 4.1, destacando o tipo de problema (laminar ou turbulento), a geometria considerada (bidimensional ou tridimensional), as principais referências utilizadas para a comparação e o item no qual é tratado, neste capítulo. 159 TABELA 4.1 – Casos utilizados na validação e na verificação do código. Caso Escoamento Espaço Referências Item Beam e Warming (1978) Interferência de onda de choque sobre camada limite laminar com M∞ = 2,00 laminar 2D MacCormack (1981) 4.1 Hakkinen et al. (1959) Camada limite turbulenta ao longo da placa plana com M∞ = 2,96 Wilcox (1974) turbulento 2D 4.2 Saffman e Wilcox (1974) Wilcox (1974) Interferência de onda de choque sobre camada limite turbulenta com M∞ = 2,96 turbulento 2D Saffman e Wilcox (1974) 4.3 Reda e Murphy (1972) Wilcox (1974) Interferência de onda de choque sobre camada limite turbulenta com M∞ = 2,96 turbulento Mistura de jatos supersônicos turbulento 3D 4.4 Saffman e Wilcox (1974) Goebel e Dutton (1991) 2D 4.5 Georgiadis et al. (2003) Goebel e Dutton (1991) Mistura de jatos supersônicos turbulento 3D 4.6 Georgiadis et al. (2003) Mistura de jatos supersônico e subsônico turbulento 2D Goebel e Dutton (1991) 4.7 Mistura de jatos supersônico e subsônico turbulento 3D Goebel e Dutton (1991) 4.8 Camada limite turbulenta ao longo da placa plana com M∞ = 2,96 – refinamento de malha e ordem do método. turbulento 2D Oberkampf e Trucano (2002) 4.9 160 4.1 Interferência de onda de choque sobre camada limite laminar com M∞ = 2,00 – campo bidimensional Por se tratar de uma situação física presente em praticamente todos os escoamentos de vôos a altas velocidades, o problema do choque sobre uma superfície com a presença da camada limite tem sido discutido por mais de meio século. Entretanto, ainda hoje, vislumbrase muitos trabalhos a serem desenvolvidos para esta classe de problemas, segundo Dolling (2001), que apontam critérios para o acoplamento da experiência com o desenvolvimento em dinâmica dos fluidos computacional. Os recursos computacionais em constante expansão têm servido para analisar, com mais precisão, aspectos específicos do problema, como: o pico de aquecimento em interações fortes, as cargas de pressão transientes e os detalhes da região de recirculação. Pelo fato de haver extensa documentação e abranger aspectos físicos bastante complexos, o problema se torna importante para a validação do presente trabalho. A FIG. 4.1 mostra o esquema de uma região típica de interação da onda de choque incidente sobre uma placa plana, com camada limite laminar, na qual se observam várias estruturas características, criadas a partir do fato de que as ondas de choque não chegam até à parede, mas até uma fronteira sônica (Shapiro, 1953). Numa análise simplificada, as passagens pelos choques (incidente e refletido) causam aumentos da pressão que se refletem diretamente sobre a camada limite. Sob ação do gradiente adverso, a camada limite engrossa, alterando sua fronteira, causando no escoamento externo supersônico ondas de compressão e leque de expansão, de acordo com a nova geometria imposta. Se a intensidade da onda de choque incidente for suficientemente alta, ocorrerá o descolamento da camada limite, com uma região de recirculação, como se pode ver na figura. A “linha de corrente” que 161 liga os pontos de descolamento e recolamento é comumente chamada de “linha de recirculação”. onda de choque refletida ondas de compressão devido ao descolamento onda de choque incidente leque de expansão onda de choque no bordo de ataque ondas de compressão devido ao recolamento linha de corrente de recirculação ponto de descolamento ponto de recolamento FIGURA 4.1 – Representação esquemática da interação: onda de choque / camada limite laminar. Foi escolhido para comparação, o problema da interferência do choque incidente sobre uma camada limite laminar, da experiência de Hakkinen et al. (1959), e que foi calculado numericamente por Beam e Warming (1978) e por MacCormack (1981). O cálculo numérico, nos dois trabalhos, utilizou uma mesma malha computacional, a qual também foi empregada aqui, para a discretização do campo do escoamento com número de Mach 2,0, no qual uma onda de choque incide sobre uma placa plana com ângulo de 32,6o. As condições de contorno estão apresentadas na FIG. 4.2. Os parâmetros do escoamento livre são obtidos a partir da pressão de estagnação de 48,13 kPa e da temperatura de estagnação de 293 K e são u∞ = 511,6 m/s, p∞ = 6,151 kPa, T∞ = 162,8 K – o escoamento é alinhado na direção longitudinal, portanto, v∞ = 0. Os parâmetros depois do choque estão indicados pelo subscrito “ch”, e são uch = 494,5 m/s, vch = -26,70 m/s, pch = 7,127 kPa e Tch = 171,0 K. A onda de choque atinge a placa plana na posição xch = 0,049 m medida a partir do bordo de 162 ataque, resultando no número de Reynolds Rech = 2,96 x 105. A malha de cálculo contém 32 x 45 pontos (imax = 32, jmax = 45), com espaçamento uniforme em x, com comprimento total de xmax = 0,095 m. Os espaçamentos em y apresentam refinamento na região abaixo da linha j = jinterm, dado por ∆ ymin ∆ y j = ∆ ymax y ∆ max 33− j 32 , ∆ y j = ∆ ymax , para 1 ≤ j ≤ 33, (4.1a) para 33 < j ≤ jmax-1, (4.1b) cujos espaçamentos mínimo e máximo são ∆ ymin = 3,05x10-5 m e ∆ ymax = 1,95x10-3 m, respectivamente, resultando numa altura total de ymax = 0,037 m. As posições na malha do início do choque e do bordo de ataque da placa plana estão indicados na figura e são, respectivamente, ich = 2 e ipp = 5. y j = jmax i = ich condições da onda de choque: ui,jmax = uch , vi,jmax = vch , pi,jmax = pch , Ti,jmax = Tch 32,6o u1,j = u∞ v1,j = 0 p1,j = p∞ T1,j = T∞ uimax-1,j vimax-1,j pimax-1,j Timax-1,j uimax,j vimax,j pimax,j Timax,j j = jinterm pi,2 Ti,2 pi,2 Ti,2 ui,1 x j=1 i=1 i = ipp xch pi,1 Ti,1 ui,1 = vi,1 = 0 i = imax FIGURA 4.2 – Condições de contorno para o problema da interferência onda de choque / camada limite laminar. Destaque para o ângulo de choque e posição de interferência sobre a placa plana, medida a partir do bordo de ataque. 163 As FIGS. 4.3, 4.4 e 4.5 mostram perfis de velocidade comparados com as soluções de Beam e Warming (1978) e MacCormack (1981) e com os dados experimentais de Hakkinen et al. (1959), para três estações longitudinais: antes, sobre e depois da região de recirculação. Observe-se a boa concordância das três soluções numéricas nas três posições avaliadas. Entretanto, todas as soluções apresentam uma discrepância considerável em relação aos valores experimentais em x = 0,037 m e x = 0,055 m. Isso pode ser uma indicação de dificuldade de medição devido à pequena espessura da camada limite em x = 0,037 m e instabilidades na região de recirculação em x = 0,055 m. Onde a espessura da camada limite é maior, x = 0,079 m, a discrepância é menor. 0.001 Experimental, Hakkinen et al. (1959) Beam e Warming (1978) MacCormack (1981) 0.0008 y (m) Presente trabalho 0.0006 0.0004 0.0002 0 -50 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 u (m/s) FIGURA 4.3 – Perfis de velocidade sobre a placa plana antes do descolamento da camada limite, i = 13, x = 0,037 m. 164 0.001 Experimental, Hakkinen et al. (1959) Beam e Warming (1978) MacCormack (1981) 0.0008 y (m) Presente trabalho 0.0006 0.0004 0.0002 0 -50 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 u (m/s) FIGURA 4.4 – Perfis de velocidade sobre a placa plana na região descolada da camada limite, i = 19, x = 0,055 m. 0.001 Experimental, Hakkinen et al. (1959) Beam e Warming (1978) MacCormack (1981) 0.0008 y (m) Presente trabalho 0.0006 0.0004 0.0002 0 -50 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 u (m/s) FIGURA 4.5 – Perfis de velocidade sobre a placa plana depois do recolamento da camada limite, i = 27, x = 0,079 m. 165 A FIG. 4.6 mostra o campo de pressão estática em todo o domínio de cálculo. Destaque-se a onda de choque incidente, que foi bem captada, graças ao ajuste da viscosidade artificial não linear, com a espessura do choque praticamente igual ao espaçamento em x. Observe-se que no bordo de ataque da placa – em x = 0,012 m – houve o surgimento de uma onda de choque fraca (devido ao crescimento da camada limite), com conseqüente aumento da pressão local, em 5,3 %. Observe-se ainda a estrutura da região de interferência do choque sobre a camada limite laminar com indicação da linha de corrente de recirculação bem próximo à parede. É possível ver as duas regiões de formação de ondas de compressão refletidas, a primeira elevando a pressão adimensional de 1,22 para 1,29 seguindo-se o leque de expansão que reduz um pouco a pressão e a segunda elevando a pressão final até 1,40. A figura mostra ainda a linha de corrente que define a região de recirculação, esta, neste caso, sendo bastante delgada. A linha tracejada indica a região da figura que será ampliada para maiores detalhes na FIG. 4.7. 0.035 1.0 0.03 1.1 87 90 1.1 0.025 87 1.2 23 1.003 0.02 detalhe na Fig.4.7 0.015 1.2 0.01 3 00 1. 0.005 0 0 0.01 05 1. 3 0.02 0.03 0.04 0.05 23 6 2 8 68 2 1. 8 2 1. 1.2 29 1.3 383 1. 0.06 0.07 40 1. 0.08 4 0.09 FIGURA 4.6 – Campo de pressão estática. Valores adimensionalizados pela pressão na entrada. Coordenadas em metros. 166 A FIG. 4.7 mostra um detalhe da região de recirculação, mantendo as mesmas isobáricas com linhas tracejadas, e com os perfis de velocidade. No canto inferior direito, vêse um acúmulo das isobáricas que criam uma região de pressão adversa sobre a camada limite. Embora muito delgada, a camada limite chega a descolar da parede – veja também a FIG. 4.8. A figura ainda destaca duas linhas cheias junto à parede. A mais próxima da parede é a linha de recirculação, como também mostrada na FIG. 4.6. A segunda linha é a linha sônica (M = 1), a partir da qual as ondas de choque não conseguem avançar para dentro da camada limite. A partir da linha sônica até a parede, as isobáricas são praticamente normais à parede. A FIG. 4.7 mostra que ambas as linhas em destaque têm uma distância máxima à parede, e que ambas as distâncias máximas ocorrem praticamente em x = 0,055 m, confirmando o esquema da representação física da FIG. 4.1. A região de recirculação é bastante delgada para o problema, fazendo com que o leque de expansão entre as ondas de compressão refletidas consiga se propagar até a fronteira de saída (ver FIG. 4.6). 0.01 1.1 1.1 0.008 1.0 0.006 1.0 0.004 87 1.2 43 23 1.2 49 1.2 68 28 1. 63 6 26 1. 8 03 28 1. 2 1.3 02 1.3 29 55 1.3 0.002 38 1. 0 0.045 0.05 0.055 0.06 0.065 3 0.07 FIGURA 4.7 – Detalhe do campo de pressão estática e perfis de velocidade, na região de recirculação. Valores de pressão adimensionalizados pela pressão na entrada. Destaque das linhas sônica e de recirculação, esta última mais próxima da parede. Coordenadas em metros. 167 A FIG. 4.8 aproxima ainda mais a região de recirculação, mostrando as duas estações nas quais a recirculação foi mais evidente. Observe-se que a discretização empregada em y foi suficiente para captar com precisão o perfil de velocidades na região de recirculação. Na figura ainda estão representadas a linha de corrente que define a região de recirculação e a linha sônica. 1.18 0.0014 0.0012 1.16 1.2 2 7 3 9 0.001 0.0008 0.0006 1.14 3 0.0004 0.0002 0 0.055 0.056 0.057 0.058 FIGURA 4.8 – Detalhe do campo de pressão estática e perfis de velocidade, nas duas estações de maior recirculação. Valores de pressão adimensionalizados pela pressão na entrada. Destaque das linhas sônica e de recirculação, esta última mais próxima da parede. Coordenadas em metros. A FIG. 4.9 mostra a distribuição da pressão na fronteira inferior do campo de cálculo. Observe-se o aumento de pressão na posição correspondente ao bordo de ataque da placa, x = 0,012 m, uma decorrência do choque aí presente. O resultado experimental indica um aumento de pressão em duas etapas, refletindo a passagem pela primeira onda de compressão (de descolamento), seguida do leque de expansão e da segunda onda de compressão (de recolamento). Os resultados numéricos foram obtidos com a mesma malha de cálculo, 32 x 45, e apresentam distribuições semelhantes. No entanto, o presente trabalho representou melhor os dados experimentais em relação à subida de pressão em dois patamares, evidenciando a região de expansão entre as ondas de compressão refletidas. 168 1.5 Beam e Warming (1978) MacCormack (1981) 1.4 pressão adimensional Experimental, Hakkinen et al. (1959) Presente trabalho 1.3 1.2 1.1 1 0.9 0 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05 0.06 0.07 0.08 0.09 x (m) FIGURA 4.9 – Distribuição da pressão na fronteira inferior do campo. Valores adimensionalizados pela pressão do escoamento livre na entrada (a placa plana começa em x = 0,012 m). Malha 32 x 45 pontos. 4.2 Camada limite turbulenta ao longo da placa plana com M∞ = 2,96 – campo bidimensional A simulação numérica envolvendo camadas limite turbulentas com altos números de Reynolds torna-se, em geral, menos onerosa, se se puder estabelecer um perfil de parâmetros na fronteira de entrada. Isto decorre do fato de ser inconveniente incorporar à malha de cálculo um comprimento suficiente para que a camada limite turbulenta se desenvolva a partir do bordo de ataque da placa (devido ao grande acréscimo do número de pontos da malha daí resultante). Entretanto, para confrontar estas duas situações foram feitos dois testes, ambos descritos a seguir. 169 Imposição do perfil turbulento na fronteira de entrada O primeiro problema consiste em se impor um perfil turbulento de propriedades na entrada do domínio (FIG. 4.10). No restante do campo estabelecem-se distribuições uniformes no instante inicial. Este caso representa um passo inicial para a solução do problema da onda de choque incidente sobre a camada limite turbulenta, apresentado por Wilcox (1974), que estabelece condições de contorno na entrada, segundo o perfil proposto por Saffman e Wilcox (1974) (a ser tratado no item 4.3). A malha adotada e as condições de contorno do problema são apresentados na FIG. 4.10. A malha tem 41 x 40 pontos, com espaçamento uniforme em x de 0,002 m. Em y há refinamento próximo à parede sendo que o intervalo mínimo é de ∆ymin = 2,5 x 10-6 m, com taxa de refinamento até a posição intermediária jinterm de λ = 1,22, e espaçamento uniforme a partir daí. As condições de contorno impostas na entrada são as do escoamento livre até a borda da camada limite e, a partir da borda até a parede, a lei logarítmica da parede, segundo procedimento descrito no item 3.7.3 e o procedimento de determinação do perfil de viscosidade turbulenta, descrito no item 3.7.4. y pi,jmax , Ti,jmax , ui,jmax , vi,jmax j = jmax pi,jmax-1 , Ti,jmax-1 , ui,jmax-1 , vi,jmax-1 j = jinterm u1,j = u∞ v1,j = 0 p1,j = p∞ T1,j = T∞ uimax-1,j vimax-1,j pimax-1,j Timax-1,j borda da camada limite j=1 i=1 uimax,j vimax,j pimax,j Timax,j pi,2 Ti,2 pi,1 Ti,1 ui,1 = vi,1 = 0 i = imax x FIGURA 4.10 – Esquema do campo de escoamento adotado, com condições de contorno, para o problema da camada limite turbulenta. 170 As seguintes condições são estabelecidas para o escoamento livre, como reportadas por Wilcox (1974): pressão de estagnação de 689,5 kPa, temperatura de estagnação de 277,8 K, número de Mach 2,96. As informações a respeito da camada limite na fronteira de entrada foram obtidas a partir dos dados reportados por Saffman e Wilcox (1974), que são: a espessura da camada limite δ ≅ 0,0042 m e a velocidade de atrito na parede uτ ≅ 27 m/s. Observe-se que este valor de velocidade de atrito na parede foi obtido por comparação entre dados dos gráficos nas referências utilizadas. O número de Reynolds baseado na espessura da camada limite logo antes da região de recirculação para as condições do escoamento livre é de 2,5 x 105. É importante destacar que nestes artigos não se fornecem informações precisas diretas sobre a espessura da camada limite nem sobre o perfil de viscosidade turbulenta na entrada. O perfil de viscosidade turbulenta foi estimado a partir do perfil de energia cinética turbulenta reportado por Saffman e Wilcox (1974), utilizando procedimento descrito no capítulo 3, item 3.7.4. O perfil resultante é mostrado na FIG. 4.11, para o qual o valor mínimo de µˆ t = 31,5 no escoamento livre corresponde a um nível de flutuação de velocidade de u′′ / u∞ = 0 ,01 , atribuído pelo presente autor. A FIG. 4.12 mostra o resultado final deste cálculo, com os perfis normalizados de velocidade em algumas estações de interesse. Observam-se quatro pontos contidos na região da subcamada laminar, sendo a distância do primeiro ponto à parede y+ = 1,3 (y+ = y uτ/ν), satisfazendo o requisito do modelo de turbulência de Spalart e Allmaras. Observa-se, ainda, a partir da segunda estação, que o cálculo produziu uma acomodação da sub-região de transição, captando a física embutida na camada limite turbulenta. Em conseqüência, surgiu uma região de formação de ondas de compressão fracas, a partir da estação i = 2 (x = 0,002 m), elevando a pressão em cerca de 2 % da pressão da entrada. 171 1000 900 800 700 µt µ l ,∞ 600 500 400 300 200 100 0 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4 1.6 1.8 2 y δ FIGURA 4.11 – Perfil de viscosidade turbulenta na entrada, adimensionalizado pela viscosidade laminar do escoamento livre na entrada, em função da distância adimensionalizada pela espessura da camada limite (δ = 0,0042 m). 30 25 20 x=0,000 m u+ x=0,002 m 15 x=0,010 m x=0,020 m 10 x=0,040 m x=0,060 m 5 0 1 10 100 1000 10000 100000 y+ FIGURA 4.12 – Perfis normalizados de velocidade em algumas estações transversais ao longo da placa plana. ( y + = y uτ / ν w , u + = u / uτ ). 172 A FIG. 4.13 mostra o campo de pressão, no qual se vê a formação dessas ondas de compressão surgidas pelo ajuste do perfil de entrada à física natural do problema. Observa-se ainda, na parte inferior da fronteira de saída, uma região de pressão um pouco mais elevada, devido à condição de extrapolação “um tanto imprópria” para a região subsônica da camada limite. 0.015 1.003 0.01 0.005 0 1 1 .0 0 0.01 3 .0 0 1.0 08 1. 0 12 1. 0 16 1 1 .0 1 .0 23 9 12 0.02 0.03 0.04 0.05 0.06 4 02 1. 0.08 0.07 FIGURA 4.13 – Campo de pressão estática do problema da camada limite turbulenta sobre a placa plana (M∞ = 2,96). Valores adimensionalizados pela pressão na entrada. Coordenadas em metros. A FIG. 4.14 mostra o campo de viscosidade turbulenta adimensionalizada pela viscosidade laminar do escoamento livre. Observe-se que há um ajuste, segundo o modelo de Spalart e Allmaras, levando o perfil de entrada com pico de viscosidade adimensional de 860 (ver FIG. 4.11) a um perfil na saída com pico de 675. 0.02 0.015 31.2 0.01 35.7 0.005 0 144.1 288.2 432.3 576.3 811.4 0 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05 0.06 674.6 0.07 0.08 FIGURA 4.14 – Campo de viscosidade turbulenta do problema da camada limite sobre a placa plana (M∞ = 2,96). Valores adimensionalizados pela viscosidade dinâmica laminar no escoamento livre na entrada. Coordenadas em metros. 173 Desenvolvimento da camada limite sobre a placa plana Outro teste foi realizado para se obter o desenvolvimento da camada limite sobre a placa plana, agora, partindo-se de um perfil uniforme de velocidades na entrada, espessura da camada limite nula, e valor da viscosidade turbulenta adimensional µˆ t = 31,5 constante. Para isto, segundo Wilcox (1974), o comprimento necessário para se atingir a espessura de 0,0042 m foi de 0,305 m. A malha é semelhante à do item anterior, com mesma discretização em y, mas com 173 estações em x e o mesmo espaçamento adotado anteriormente, sendo que o bordo de ataque situa-se na estação i = 2, e foi analisada a estação correspondente à posição i = 153. A FIG. 4.15 mostra o campo de pressão no início da malha, para compará-lo com o resultado anterior, quando o perfil foi imposto na fronteira de entrada. Note-se que neste último caso houve o surgimento de uma região de ondas de compressão fracas por algumas estações, elevando o nível de pressão em cerca de 2 %. Enquanto isto, no exemplo presente surgiu uma onda de compressão mais forte, devido ao crescimento da camada limite a partir de i = 2, causando um aumento da pressão local de 5,6 %. 0.015 1.003 0.01 0.005 0 1. 1 .0 0 0.01 00 3 1.0 22 56 0.02 0.03 0.04 0.05 0.06 0.07 0.08 FIGURA 4.15 – Campo de pressão estática no início do desenvolvimento da camada limite turbulenta (M∞ = 2,96). Valores adimensionalizados pela pressão na entrada. Coordenadas em metros. 174 Observe-se, na FIG. 4.16, a seqüência de perfis em desenvolvimento. A origem do eixo x corresponde ao bordo de ataque da placa, sendo a posição de entrada equivalente a x = -0,002 m. A espessura da camada limite na estação i = 153, que corresponde à posição x = 0,305 m, foi de y = δ = 0,0041 m (destaque na figura), valor 2 % inferior ao reportado por Wilcox (1974). O código, portanto, reproduziu bem a condição de desenvolvimento da camada limite a partir de um perfil uniforme na fronteira de entrada. 1 0.8 0.6 x= - 0,002 m u / u∞ x = 0,00 m 0.4 x = 0,01 m x = 0,10 m x = 0,20 m 0.2 x = 0,305 m (*) x = 0,33 m 0 0.0001 0.001 0.01 0.1 1 10 y/δ FIGURA 4.16 – Perfis em desenvolvimento ao longo da placa plana. (*) x = 0,305 m é a posição correspondente ao problema do choque sobre a camada limite (Wilcox, 1974). Os parâmetros de adimensionalização do gráfico são u∞ = 596 m/s e δ = 0,0041 m. 4.3 Interferência de onda de choque sobre camada limite turbulenta com M∞ = 2,96 – campo bidimensional Para o mesmo escoamento do item anterior, foram impostas as condições de um choque oblíquo incidente, segundo o trabalho de Wilcox (1974). O choque deve incidir a 0,305 m a partir do bordo de ataque de uma placa plana e Wilcox criou uma região no 175 entorno da recirculação para a análise do problema, reduzindo assim o domínio de cálculo, segundo mostra a FIG. 4.17. As condições do escoamento livre foram impostas ao longo de bc, as condições de fronteira sólida foram impostas ao longo de ag e ao longo de gf foi suprimida a presença da placa para garantir escoamento totalmente supersônico na saída. Na fronteira de saída, fe, foram implementadas extrapolações das condições de contorno pelo método das características para o escoamento não viscoso. Ao longo de cd foram impostas as condições do escoamento livre e ao longo de de as condições relativas ao escoamento depois da passagem pela onda de choque oblíqua. A camada limite na região ab foi imposta segundo análise desenvolvida por Saffman e Wilcox (1974) de tal forma que a sua espessura logo antes da região de recirculação fosse da ordem de 0,0042 m. O ângulo de desvio do escoamento devido ao choque incidente é de 12,75o e o número de Reynolds é 2,5 x 105, relativo à espessura da camada limite de 0,0042 m (Re=ρ∞ u∞ δ /ν∞, onde o símbolo δ indica a espessura da camada limite em uma seção imediatamente anterior ao descolamento). A malha foi criada de forma que os choques refletidos pudessem passar pela fronteira de saída e não pela fronteira superior, onde a condição de choque é imposta. e c d onda de choque incidente ondas de compressão de separação ondas de compressão de recolamento 6δ borda da camada limite b 2δ a bolha de separação g f 20 δ FIGURA 4.17 – Desenho esquemático do domínio utilizado por Wilcox (1974) em função da espessura da camada limite δ para a análise do problema da interferência da onda de choque sobre a camada limite turbulenta. 176 Como a elaboração desta malha é bastante complicada, uma outra mais simples foi utilizada no presente trabalho, mantendo as principais idéias já expostas, cujo esquema pode ser visto na FIG. 4.18. A malha foi obtida a partir daquela adotada no item anterior, com 40 x 41 pontos, modificada a partir da estação i = ia = 15, de tal sorte que a fronteira superior sofreu um afastamento crescente longitudinalmente, em semelhança à malha utilizada por Wilcox. Em cada estação, os nós internos foram escalonados em termos da nova altura local, cuja dimensão final no ponto e foi de 7,6 δ. As condições de contorno na fronteira de saída fe foram extrapoladas por meio da equação convectiva, segundo estabelecido no capítulo 3, item 3.7.2. As condições de contorno na fronteira inferior, sobre a placa, foram as mesmas para todos os pontos – condição de não escorregamento até a saída, ponto f. Na malha proposta por Wilcox, uma parte da fronteira inferior – segmento gf na FIG. 4.17 – foi submetida a uma condição de escorregamento, i. e., admitindo-se que a placa termina no ponto g. A idéia lá era garantir que ao chegar à fronteira de saída, segmento fe da FIG. 4.17, o escoamento fosse todo supersônico, o que facilitaria a imposição da condição de contorno. Entretanto, Falcão Filho et al. (2000b) trabalhando com bocais convergente-divergentes, mostraram que, a existência de uma camada limite numa saída supersônica não impede a utilização de condição de contorno parabólica até a parede. Ao contrário, esta condição é a que oferece as melhores condições de estabilidade ao código. É como se a “força” do escoamento supersônico impusesse à camada limite o sentido correto do tráfego de informações. Assim, esta mesma estratégia foi utilizada neste problema, e os resultados foram excelentes. As demais condições de contorno nas fronteiras foram implementadas utilizando-se das mesmas estratégias de Wilcox. Particularmente, a camada limite, região ab, foi imposta segundo descrito no item 4.2, a partir das informações contidas nos artigos de Wilcox (1974) e Saffman e Wilcox (1974), segundo procedimento descrito no 177 capítulo 3, itens 3.7.3 e 3.7.4, de forma a garantir que a altura da camada limite sobre a placa logo antes da região de recirculação fosse de 0,0042 m. e c i = ia d onda de choque incidente ondas de compressão de separação 7,6 δ ondas de compressão de recolamento 5δ borda da camada limite b a bolha de separação f 19 δ FIGURA 4.18 – Esquema da malha utilizada no presente trabalho para o problema da interferência da onda de choque sobre a camada limite turbulenta (δ é a espessura da camada limite logo antes da região de recirculação). A FIG. 4.19 mostra o campo de pressão com a indicação da região de recirculação. É possível ver-se as estruturas das duas ondas de compressão refletidas devidas ao descolamento e ao recolamento na região de separação, e a fusão das mesmas que se prolonga pela fronteira de saída, confirmando a tendência geral nesses casos, segundo apresentado na FIG. 4.1. Observe-se o acúmulo de isobáricas sobre a parede à direita da região de recirculação, elevando muito a pressão, cerca do dobro, numa região relativamente pequena, sendo este fato o maior responsável pelo descolamento da camada limite. É possível ver-se também a tendência das isobáricas de seguirem uma trajetória normal à parede ao adentrar regiões de menor velocidade na camada limite. O comprimento obtido para a região de recirculação, 3,66 δ, foi aproximadamente 3 % e 6 % inferior aos valores experimental de 178 Reda e Murphy (1972) e calculado numericamente por Wilcox (1974), respectivamente. Um resultado satisfatório, uma vez que tais autores não informam com precisão a altura da camada limite e os níveis de turbulência na entrada do domínio (ver item 4.2). 0.030 0.025 2. 5 0.020 2. 1 . 24 7 1. 64 5 28 3 0.015 93 3. 2 2.245 4. 09 07 3 .6 87 6 1.001 0.010 4 .6 2.593 4. 96 1 1 4.96 0.005 18 0.000 0 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05 0.06 0.07 0.0 3,66 δ FIGURA 4.19 – Campo de pressão estática para o problema do choque sobre a camada limite turbulenta. Valores adimensionalizados pela pressão na entrada. Coordenadas em metros. A FIG. 4.20 mostra um detalhe da região de recirculação com os perfis de velocidade, destacando com uma linha cheia o limite desta região e com uma linha tracejada a localização dos pontos nos quais a velocidade do escoamento é nula. Observe-se a boa discretização próxima à parede – mais de 20 pontos da malha para representar a região de fluxo reverso (direção negativa do vetor velocidade). Entretanto, há apenas três vetores para representar a corrente na direção positiva, dentro da região de recirculação. Para se obter uma melhor precisão na avaliação das dimensões desta região é necessária uma melhor discretização acima da linha de velocidade nula. 179 0.008 0.007 0.006 0.005 0.004 0.003 0.002 0.001 0.000 0.022 0.024 0.026 0.028 0.03 0.032 0.034 0.036 0.038 0.04 FIGURA 4.20 – Detalhe da região de recirculação com os vetores de velocidade. Linha cheia, limite da região de recirculação. Linha tracejada, posições de velocidade nula. Coordenadas em metros. A FIG. 4.21 mostra o campo de viscosidade turbulenta. Percebe-se que a região de interferência entre a onda de choque com a camada limite turbulenta propiciou um grande aumento nos níveis de turbulência. Fisicamente é o que se deve esperar, pois a região de recirculação contribui bastante para o aumento da atividade turbulenta. Os valores de pico da viscosidade observados antes e depois desta região foram, respectivamente, 675 e 2674 (um aumento de aproximadamente quatro vezes). 0.030 0.025 0.020 57 0.015 29 79 0.010 0.005 344 675 0.000 0 0.01 0.02 0.03 0.04 1375 2063 0.05 2674 0.06 0.07 0.08 FIGURA 4.21 – Campo de viscosidade turbulenta para o problema da interferência da onda de choque sobre a camada limite turbulenta, com a região de recirculação destacada. Valores adimensionalizados pela viscosidade laminar no escoamento livre de entrada. Coordenadas em metros. 180 A FIG. 4.22 apresenta comparações dos cálculos da pressão ao longo da placa plana com os dados experimentais de Reda e Murphy (1972, 1973) e o cálculo numérico de Wilcox (1974). Nesta figura xch é a distância entre o bordo de ataque da placa e o ponto onde o choque tocaria a parede caso não houvesse camada limite (ver FIG. 4.2), e δ é a altura da camada logo antes da região de recirculação. Reda e Murphy realizaram duas experiências com número de Mach 2,90 e ângulo de deflexão de 13o cujos dados foram utilizados por Wilcox para comparação e que estão representadas no gráfico. Na primeira experiência (Reda e Murphy, 1972), houve efeitos tridimensionais bastante complexos causados pela camada limite nas paredes laterais num canal retangular. Na segunda (Reda e Murphy, 1973), foi montado um dispositivo que ajudou a diminuir a influência das paredes laterais e, portanto, os efeitos tridimensionais. Com isso houve uma redução do comprimento da região de recirculação, de 3,77 δ para 2,81 δ. Wilcox (1974) calcula o problema com número de Mach 2,96 e ângulo de deflexão de 12,75o para duas condições de números de Reynolds: (1) Re = 2,5 x 105, (2) Re = 1,0 x 106, de modo a provocar a variação do tamanho da região de recirculação para fins de comparação com os dados experimentais. O presente trabalho procura reproduzir a condição relatada por Wilcox para o caso (1). O resultado obtido consegue simular bem os principais aspectos físicos do problema. A pressão começa a subir um pouco antes de xch devido às influências do choque incidente. A subida de pressão continua ainda devido ao choque, mas também em função de ondas de compressão que se formam sobre a superfície da bolha (a parte da bolha que vê o escoamento à frente). A partir praticamente do topo da bolha e em função de sua forma geométrica aparece uma região de expansão, logo seguida de compressão visto que a parede deflete o escoamento no sentido oposto (é o choque que nasce no ponto de recolamento). O balanço entre expansão e compressão (na região onde se tem expansão) tende a “patamarizar” a distribuição de pressão – em torno do ponto (x – xch) = 1,5 δ. A presente solução “captura” um 181 patamar um pouco mais longo quando comparado com a experiência (Reda e Murphy, 1973). No geral, entretanto, a solução é boa quando comparada com os outros dados. 6 5,10 5 4 pw p∞ 3 Wilcox (1974) - (1) Wilcox (1974) - (2) 2 Reda e Murphy (1972) - (1) Reda e Murphy (1973) - (2) 1 Presente trabalho Limite da reflexão não viscosa 0 -4 -2 0 2 4 6 8 10 (x − xch ) δ FIGURA 4.22 – Distribuição da pressão ao longo da parede da placa plana. 4.4 Interferência de onda de choque sobre camada limite turbulenta com M∞ = 2,96 – campo tridimensional O problema anterior (item 4.3) foi repetido numa geometria tridimensional para comprovar a estrutura do código nesse tipo de geometria. A malha utilizada em x e y foi a mesma, e introduziu-se 21 estações na terceira direção, ou seja, uma malha com 40 x 41 x 21 pontos, com espaçamento igual de 0,001 m em z. As condições de contorno nas direções x e y foram as já descritas no item anterior. Na direção z as condições estabelecidas foram de planos de simetria, como uma aproximação na representação física de um alongamento infinito, nos dois sentidos. 182 O comprimento da bolha resultante do cálculo foi 3,54 δ. A diferença para o valor bidimensional de Wilcox (1974) foi de 9 %, enquanto em relação ao valor experimental de Reda e Murphy (1972) essa diferença foi 6 %. Como se observa portanto a comparação no geral é boa. A solução final nos planos verticais (xy), à semelhança da FIG. 4.19, preserva praticamente o mesmo aspecto – ver FIG. 4.23. 0.03 0.025 0.02 0.015 0.01 1.000 2. 1 1. 8 7 65 1 1. 11 4 2. 45 6 4.602 0.005 4.0 66 2.992 4.871 0 0 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05 0.06 0.07 0.0 3,54 δ FIGURA 4.23 – Campo de pressão estática para o problema do choque sobre a camada limite turbulenta. Valores adimensionalizados pela pressão na entrada. Coordenadas em metros. Plano xy tal que k = 11. A FIG. 4.24 mostra valores de pressão estática juntamente com os vetores velocidade, num corte horizontal em y = 0,016 δ (1,6 % da altura da camada limite logo antes da recirculação), em toda a extensão da malha de cálculo, para verificação da uniformidade da solução ao longo da envergadura. Observem-se as linhas de pressão estática, praticamente verticais na figura, indicando valores iguais para as 21 estações em z. Observe-se também a região de recirculação, com os vetores de velocidade reversa. Depois da passagem do choque há um engrossamento da camada limite, ocorrendo uma diminuição da velocidade para esta altura do plano horizontal. Antes da região de recirculação a velocidade é de u/u∞ = 0,53 183 (número de Mach 1,1) enquanto que após a região de recirculação é de u/u∞ = 0,32 (número de Mach 0,63). 4.783 4.996 4.446 3.754 4.208 2.388 1.679 1.000 0.04 0.05 0.06 0.03 0.02 0.01 0 0 0.01 0.02 0.03 0.04 0.07 0.08 FIGURA 4.24 – Campo de velocidade no plano horizontal em y = 0,016 δ. Linhas verticais de pressão estática. Valores adimensionalizados pela pressão no escoamento livre da entrada. Coordenadas em metros. Para se investigar possíveis causas da pequena discrepância entre os resultados nos campos bidimensional e tridimensional, foram calculados os valores dos componentes da vorticidade e das tensões cruzadas: Ωx, Ωy, Ωz, τxy, τxz e τyz. Convém destacar que, na simulação bidimensional apenas os componentes Ωz e τxy estão presentes, sendo os demais relacionados exclusivamente ao cálculo tridimensional. A FIG. 4.25 mostra esses campos para o plano central (plano xy) da malha de cálculo (k = 11), destacando-se esquematicamente a região de recirculação. Os componentes de vorticidade Ωx e Ωy são muito pequenos em todo o campo, enquanto que o componente de vorticidade Ωz é relativamente alto. Isto comprova que os aspectos bidimensionais do escoamento são “recuperados” com boa precisão no cálculo tridimensional, enquanto que as contribuições advindas exclusivamente da simulação tridimensional (Ωx e Ωy) são praticamente desprezíveis. De forma semelhante, os campos de tensões cruzadas apontam para o mesmo comportamento. Observa-se que apenas o componente de tensões cruzadas τxy, que também está presente no cálculo bidimensional, 184 apresenta valores significativos, enquanto os outros componentes de tensões cruzadas que aparecem no cálculo tridimensional são também praticamente desprezíveis. É interessante lembrar que os valores em pauta são todos valores médios, visto que o código trabalha com as equações de Navier-Stokes com médias de Reynolds. Os resultados indicam que eventuais estruturas turbulentas que possivelmente se desenvolvam nas direções x e y têm todas médias muito pequenas, o que, de um certo modo, atesta a “bidimensionalidade média” da situação física em pauta. 2. 3x 10 - 04 28 - 02 2.9x 10 2745 1319 τxy Ωx -02 1 0 -0 2 9x - 6. 10 7. 4x -2.8x10-05 -0 4 6.4 τxz Ωy -3.5x10+02 7.3x10 x10 -5.3x10-04 7.7x10-06 +01 +04 1.5x10 +05 4.9x10-04 2. 1 x 1 0 Ωz -5.5x10-04 τyz FIGURA 4.25 – Campos de vorticidade e tensões cruzadas no plano vertical central da malha, onde se indica a região de recirculação. Valores de vorticidade e tensão em 1/s e N/m2, respectivamente. A FIG. 4.26 apresenta os mesmos campos de propriedades para o plano vertical k = 6 (exatamente no meio entre o plano central e o plano da fronteira simétrica) com o propósito 185 de verificar se há efeitos de assimetria importantes no campo. Pode-se observar que os campos de maior representatividade, presentes tanto no cálculo bidimensional quanto no tridimensional (Ωz e τxy), não apresentam variação perceptível. Entretanto, há um pequeno aumento nos valores dos componentes exclusivos da representação tridimensional nas proximidades da região de recirculação. Observa-se isto mais nos campos de tensões cruzadas τxz e τyz, cujos valores sofreram um aumento de cerca de cem vezes em relação aos valores observados no plano central, indicando que a representação das fronteiras laterais simétricas pode não ser a melhor opção de condição de contorno (em confronto, por exemplo, com eventuais condições periódicas). Mesmo assim, esses valores ainda são cinco ordens de grandeza inferiores aos valores das tensões cruzadas mais representativas, τxy. -2 .6 x1 26 -0 0 4 -5.8x10+00 -2.8x10-01 2671 1282 τxy - 1. 4 x1 0 -0 2 Ωx 7.9x10-04 -2.6x10+00 -4.6x10-02 -1.1x10+00 -2.3x10-02 τxz Ωy -5.5x10+02 -4.2x10-03 1.1x10+02 -02 1.6x10 +05 Ωz 8.4x10 +04 1.4-x61.07 x10 -02 τyz FIGURA 4.26 – Campos de vorticidade e tensões cruzadas no plano vertical k = 6, onde se indica a região de recirculação. Valores de vorticidade e tensão em 1/s e N/m2, respectivamente. 186 A FIG. 4.27 compara os resultados encontrados para os campos de tensões cruzadas τxy na simulação bidimensional e no plano central da simulação tridimensional – este é o componente comum nas duas simulações. Observe-se que os campos apresentam uma grande semelhança. 36 28 2936 1257 τxy – campo bidimensional 2745 1319 τxy – campo tridimensional FIGURA 4.27 – Campos de tensões cruzadas na simulação bidimensional e no plano vertical k = 11 da simulação tridimensional, onde está indicada a região de recirculação. Valores de tensão em N/m2. A FIG. 4.28 realiza o mesmo tipo de comparação, agora com os campos de vorticidade Ωz (componente comum). Também aqui verifica-se uma grande semelhança entre as soluções. Essas comparações realizadas, de τxy e de Ωz, atestam com boa segurança a “bidimensionalidade média” da situação física. - 1. 2x -3.5x10+02 10 +02 7.3x10+01 6.7x10 +04 +03 2.3x10+05 Ωz – campo bidimensional 1.5x10 +05 2. 1 x 1 0 Ωz – campo tridimensional FIGURA 4.28 – Campos de vorticidade na simulação bidimensional e no plano vertical k = 11 da simulação tridimensional, onde está indicada a região de recirculação. Valores de vorticidade em 1/s. 187 4.5 Mistura de jatos supersônicos – campo bidimensional Este novo teste representa uma nova classe de problemas, com suas particularidades. O problema escolhido nesta categoria para o estudo de validação foi o caso 2 dos resultados experimentais de Goebel e Dutton (1991), o qual foi também calculado numericamente pelo emprego de simulação híbrida (RANS e LES) por Georgiadis et al. (2003) – maiores detalhes sobre estes trabalhos de referência podem ser encontrados no capítulo 1, nos itens 1.3 e 1.4 e no capítulo 2, na TAB. 2.4. O problema originalmente tratado por Goebel e Dutton analisa a mistura bidimensional de dois escoamentos supersônicos confinados, com números de Mach 1,91 e 1,36. O túnel de vento utilizado estava equipado com medidores de pressão, dispositivo de visualização tipo schlieren e sistema de velocimetria a laser (LDV - “Laser Doppler Velocimeter”) (ver FIG. 1.1). Os dois escoamentos formam uma camada de mistura a partir de um ângulo de convergência de 2,5o e são conduzidos por uma placa de separação de 0,5 mm de espessura no bordo de saída. Cada canal tem 24 mm de altura e 96 mm de largura – ver FIG. 4.29. Na experiência, as paredes da seção de mistura foram ligeiramente ajustadas para controle do gradiente de pressão na direção longitudinal. Deve-se ressaltar que o aparato experimental foi montado de tal forma a se obter um processo de mistura dos jatos bidimensional. 188 500 mm 96 mm M1 = 1,91 48 mm y 0,5 mm M2 = 1,36 x z o α = 2,5 REGIÃO A SER SIMULADA NUMERICAMENTE FIGURA 4.29 – Esquema da câmara de mistura da experiência de Goebel e Dutton (1991). A TAB. 4.2 traz as informações mais relevantes da experiência realizada. Os subscritos “1” e “2” indicam condições do escoamento não perturbado de cada jato e as seguintes definições são empregadas: ∆ U = U1 − U 2 , ρ1 + ρ 2 ρ= µl = 2 a= (4.2b) , µl ,1 + µl ,2 2 (4.2a) , (4.2c) a1 + a2 , 2 (4.2d) ∆U . a (4.2e) Mr = 189 TABELA 4.2 – Parâmetros do caso 2 da experiência de Goebel e Dutton (1991). Grandeza Símbolo Escoamento 1 Escoamento 2 Número de Mach M∞ 1,91 1,36 Temperatura de estagnação (K) To 578 295 Velocidade do som (m/s) a 366 294 Velocidade (m/s) U 700 399 p 49 49 Densidade (kg/m ) ρ 0,511 0,793 Espessura da camada limite (m) δ 0,0029 0,0025 Viscosidade dinâmica (N.s/m ) µ 1,96x10 1,38x10 Ângulo de giro do escoamento (graus) α 0,0 2,5 (U 2 / U1 ) Razão de densidades (ρ 2 / ρ1 ) r 0,57 s 1,55 ρ 0,652 Viscosidade dinâmica média (N.s/m ) µ 1,67x10 Velocidade do som média (m/s) a 330 Número de Mach relativo Mr 0,912 λ 0,27 λs 0,28 Pressão estática (kPa) 3 2 Razão de velocidades 3 Densidade média (kg/m ) 2 Parâmetro de velocidade: (1 − r ) / (1 + r ) -5 -5 -5 Parâmetro de velocidade-densidade: (1 − r ) 1 + s 12 / 21 + r s 12 Região de crescimento da camada de mistura (m) 0,100 a 0,450 Taxa de crescimento da camada de mistura (db/dx) Número de Reynolds Médio: ρ ∆U / µ (por metro) 0,038 Re 6 11,8x10 Para análise numérica do problema foi utilizada uma malha com 81 x 105 pontos nas direções longitudinal (x) e vertical (y), respectivamente, com espaçamento uniforme na direção longitudinal de 0,0053 m até i = 60, seguido de um alongamento com taxa de 5 % até a distância final de x = 0,50 m. Na direção y a malha teve um tratamento com refinamentos próximos às paredes superior e inferior com taxa de 41 % e espaçamento mínimo de 2 x 10-6 m 190 e, próximo à região de mistura, um refinamento com taxa de 41 % e espaçamento mínimo de 1 x 10-5 m. A FIG. 4.30 mostra as primeiras estações da malha. Observe-se que a malha na direção y não mantém o mesmo refinamento no centro, mas sofre um espalhamento transversal, à medida que avança longitudinalmente. Isto teve como propósito diminuir a concentração de pontos, a qual foi necessária no início do canal para uma melhor resolução da camada de mistura (região de entrada). Entretanto, a partir de um certo ponto tal concentração pode ser bastante “aliviada”, o que contribui para diminuir o problema de rigidez (“stiffness”) e, em conseqüência, permite um aumento do número de CFL. O espalhamento lateral da malha propicia uma distribuição mais adequada de pontos, seguindo a tendência de “abertura” da camada de mistura, resultando numa melhor resolução espacial para o problema. Além disso, a malha contém um ângulo de divergência das paredes superior e inferior. Como relatado na experiência, para permitir uma melhor equalização de pressões na direção longitudinal, as paredes sofreram inclinação. Isto porquê, o aumento das espessuras das camadas limite ao longo das paredes do canal causam uma diminuição de área e conseqüentemente introduzem um gradiente longitudinal de pressão no escoamento supersônico. Este ajuste foi feito por tentativas no presente trabalho, uma vez que Goebel e Dutton não relatam o valor do ângulo de divergência empregado na experiência – o ângulo de divergência das paredes encontrado foi de 0,20 graus. As condições de contorno para o problema são as seguintes. Entradas supersônicas: condições fixadas. Paredes superior e inferior: condição de não-escorregamento. Seção de saída: extrapolação via equação de convecção simplificada. Todas estas condições foram discutidas em detalhe no capítulo 3, seção 3.7.2. É importante perceber que a abertura central da distribuição de nós bem como o ângulo das paredes destrói a estrutura cartesiana da malha. Entretanto, isso não representa 191 nenhum problema considerando que o código está estruturado em coordenadas curvilíneas generalizadas. 0.050 0.040 0.030 0.020 0.010 0.000 0 0.05 0.1 0.15 FIGURA 4.30 – Detalhe da parte inicial da malha utilizada. A FIG. 4.31 mostra o resultado final em termos das variações de pressão no campo. Observam-se ondas de choque e expansão alternadas e refletindo nas paredes superior e inferior. É notório também o enfraquecimento dos choques e expansões, à medida que o processo de mistura se desenvolve. Há um efeito global de perdas nas interferências dos choques e expansões nas camadas limite nas paredes e na camada de mistura, no centro do canal, levando a uma acomodação do escoamento. 0.06 0.05 0.04 0.03 0.02 0.01 0 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4 0.45 0.5 FIGURA 4.31 – Campo de pressão estática (vermelho – pressão mais alta, azul – pressão mais baixa). Coordenadas em metros. 192 A FIG. 4.32 mostra os perfis de velocidade obtidos no cálculo para as primeiras estações. Observe-se o giro imposto ao escoamento inferior (M2 = 1,36) na fronteira de entrada. A placa de separação entre os escoamentos foi simulada de forma simplificada por três posições de cálculo. Observa-se que a camada de mistura já começa a se configurar a partir do segundo ponto de cálculo longitudinal. 0.050 0.040 0.030 0.020 0.010 0.000 0 0.025 0.05 0.075 FIGURA 4.32 – Perfis de velocidade nas primeiras estações. A FIG. 4.33 mostra o campo de pressão para essas mesmas estações. O giro imposto ao escoamento inferior na entrada, cria uma região de forte expansão sobre a parede inferior e uma onda de choque a partir do contato com o escoamento superior. Esta onda de choque se reflete na parede superior retornando ao escoamento inferior e prosseguindo, como se pode ver nas FIGS. 4.31 e 4.34, “ziguezagueando” por meio de reflexões nas paredes, até a fronteira de saída. Há uma alternância de regiões de choque e de expansão ao longo do 193 escoamento. Observe-se, ainda, na FIG. 4.33, pequenas oscilações de pressão nas isobáricas nas primeiras estações, na região central (região de camada de mistura). O mais provável é que essas oscilações sejam devidas à falta de resolução de malha na direção longitudinal na pequena região da base da placa de separação dos escoamentos. Como a espessura da placa é realmente muito pequena, não “compensa” refinar a malha longitudinalmente aí, considerando que essa ação oneraria sobremaneira a malha como um todo. 0.050 0. 9 24 1.074 1.002 2 00 1. 0.994 0. 98 7 0. 9 74 0.9 62 2 1.049 1. 01 0.040 0. 9 01 2 1. 00 0 2 .9 9 4 0. 987 0.010 9 1. 12 0 0.025 7 1.049 0. 0. 0.000 1. 0 3 7 4 97 0 8 .9 99 0 0 . .9 0. 9 8 9 4 97 7 4 0. 0. 0.020 4 96 2 0. 96 2 0.030 1. 4 02 1.0 37 1. 49 4 49 02 7 1. .03 1.0 1 0 0. 99 02 0.05 62 1.0 4 0.075 0.1 FIGURA 4.33 – Isobáricas nas primeiras estações. Valores adimensionalizados pela pressão na entrada do escoamento superior. Coordenadas em metros. 1. 0.040 00 7 0.060 1. 1.067 7 02 0.020 0.000 0 0. 92 7 1.047 0 1. 1. 0.907 1.007 0.05 06 7 0.1 0.967 1.047 0 .9 27 0. 9 47 0.15 47 1.0 0.2 0. 9 6 0.25 7 1. 0.3 02 67 7 1. 02 7 0 .9 0.35 0. 96 7 1.0 67 0.4 07 0.45 0.5 FIGURA 4.34 – Isobáricas em todo o campo. Valores adimensionalizados pela pressão na entrada do escoamento superior. Coordenadas em metros. 194 A FIG. 4.35 apresenta o campo de viscosidade turbulenta, onde se destaca a ação da camada de mistura, como a grande responsável pelo aumento da turbulência. Além disto, à medida que as camadas limite nas paredes crescem, ocorre um aumento da atividade turbulenta junto às paredes. As regiões dominadas pelos núcleos potenciais, nos dois escoamentos, apresentam uma viscosidade turbulenta baixa, dando lugar a níveis mais altos, à medida que a mistura se processa. 0.05 0.025 00 524 99 396 99 890 1286 1978 2472 2967 494 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 FIGURA 4.35 – Campo de viscosidade turbulenta. Valores adimensionalizados pela viscosidade laminar na entrada do escoamento superior. Coordenadas em metros. A FIG. 4.36 ilustra a variação do nível de turbulência global no campo, apresentando as distribuições da viscosidade turbulenta na entrada e o resultado final obtido pelo cálculo numérico na saída, adimensionalizadas pelo valor da viscosidade laminar no núcleo potencial do escoamento superior. Os perfis de viscosidade turbulenta na entrada foram obtidos a partir dos dados da experiência de Goebel e Dutton para os parâmetros básicos dos núcleos potenciais dos escoamentos e para as espessuras das camadas limite (ver TAB. 4.2), segundo procedimento descrito no capítulo 3, itens 3.7.3 e 3.7.4. Observa-se o notável aumento do nível de turbulência na região de mistura entre os jatos, em relação ao aumento nas regiões das camadas limite sobre as paredes. Além disso, pelo fato de que o centro da camada de mistura se desloca em direção ao escoamento de menor velocidade, houve uma 195 maior difusão da turbulência na metade inferior do campo, com o menor valor de turbulência da ordem de 277, enquanto que o menor valor na metade superior foi de apenas 90. 0.5 fronteira de saída fronteira de entrada 0.4 0.3 0.2 0.1 y H 0 -0.1 -0.2 -0.3 -0.4 -0.5 1 10 100 1000 10000 µ t µ ref FIGURA 4.36 – Variação transversal da viscosidade turbulenta. H – altura do canal na saída. Jato inferior, M = 1,36, jato superior, M = 1,91. µ ref é a viscosidade laminar nas condições de entrada do escoamento superior. Um dos parâmetros mais representativos da camada de mistura é sua espessura “b”, a qual é definida como sendo a distância entre as posições transversais do escoamento nas quais as velocidades são (U1 – 0,1 ∆ U) e (U2 + 0,1 ∆ U), onde U1 e U2 são as velocidades nos núcleos potenciais dos escoamentos de maior e menor velocidade, respectivamente, e ∆ U = U1 – U2. A partir da fronteira de entrada, inicialmente há uma região de transição, a partir da qual começa uma outra designada “de crescimento”, quando então os perfis de velocidade podem ser expressos de forma similar (ver definição no capítulo 2, item 2.7.2). Isto ocorre até que a camada de mistura comece a sentir a presença das paredes, com uma conseqüente distorção dos perfis de velocidade. Na região similar faz sentido a determinação 196 da taxa de crescimento, em geral aproximadamente constante, dada pela derivada db/dx. A FIG. 4.37 mostra como a espessura da camada de mistura aumentou na região de crescimento, para o caso analisado. A marcação da região de crescimento, entre x = 0,10 m e x = 0,45 m, foi feita utilizando-se valores experimentais devidos a Goebel e Dutton (1991). O valor encontrado para db/dx foi de 0,039, cerca de 2 % superior ao determinado experimentalmente, 0,038 (ver TAB. 4.2). Como se verifica, portanto, a simulação numérica apresenta um resultado muito bom neste caso. 0.025 b (m) 0.02 0.015 db/dx = 0.039 0.01 0.005 0 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4 0.45 0.5 x (m) FIGURA 4.37 – Variação da espessura da camada de mistura e valor de db/dx na região de crescimento. As FIGS. 4.38 a 4.40 mostram os perfis de velocidade, calculados em três posições longitudinais do canal, em 0,05 m, em 0,10 m e em 0,15 m, comparados com os dados da experiência de Goebel e Dutton (1991) e com os resultados numéricos de Georgiadis et al. (2003). Quando em comparação com os valores medidos percebe-se que a simulação atual superou em acurácia o trabalho de Georgiadis et al. em todos os casos 197 mostrados. A técnica RANS/LES subestima e superestima os perfis, sistematicamente, nas extremidades esquerda e direita, respectivamente. A FIG. 4.38 mostra o perfil de velocidade parametrizado em x = 0,050 m. Nota-se na extremidade esquerda do perfil, aproximadamente em y/H = -0,05, um déficit de velocidade em relação ao jato de menor velocidade – uma pequena região onde U é menor do que U2. É quase certo que tal déficit ainda seja resultado do efeito de esteira da placa divisória entre os jatos. Pode-se perceber isso ao se analisar com cuidado a FIG. 4.32. O código desenvolvido no presente trabalho captura bem este efeito, além de simular também com boa precisão a extremidade direita do perfil. O mesmo pode-se dizer em relação ao caso da FIG. 4.39 para x = 0,10 m. Quanto à posição x = 0,15 m, FIG. 4.40, aparentemente houve uma deficiência na simulação da extremidade esquerda. No entanto, é estranho que os valores experimentais indiquem déficit nesta posição quando isto já ocorreu de forma fraca em x = 0,10 m, e ainda mais levando em conta que já houve um comprimento aparentemente suficiente para a recuperação da esteira da placa. 0.3 0.2 y/H 0.1 0 -0.1 Presente trabalho -0.2 Goebel e Dutton (1991) Georgiadis et al. (2003) -0.3 -0.2 0 0.2 0.4 0.6 0.8 (U -U 2)/(U 1-U 2) FIGURA 4.38 – Perfis normalizados de velocidade em x = 0,050 m. 1 198 0.3 0.2 y/H 0.1 0 -0.1 Presente trabalho -0.2 Goebel e Dutton (1991) Georgiadis et al. (2003) -0.3 -0.2 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 (U -U 2)/(U 1-U 2) FIGURA 4.39 – Perfis normalizados de velocidade em x = 0,100 m. 0.3 0.2 y/H 0.1 0 -0.1 Presente trabalho -0.2 Goebel e Dutton (1991) Georgiadis et al. (2003) -0.3 -0.2 0 0.2 0.4 0.6 0.8 (U -U 2)/(U 1-U 2) FIGURA 4.40 – Perfis normalizados de velocidade em x = 0,150 m. 1 199 Uma colocação sobre a discretização da região de separação dos jatos, junto à base da placa, é importante neste ponto, o qual também será pertinente aos próximos itens deste capítulo. Nos casos estudados de misturas de jatos, os escoamentos são separados por uma placa de 0,5 mm de espessura na base, que foi modelada de forma especial. Para dar um tratamento detalhado na modelagem desta região, seria necessário um refinamento da malha também na direção longitudinal. Na pequena região contida entre os escoamentos logo na saída, o comportamento físico se assemelha ao que acontece na esteira de um corpo rombudo de base reta. Samimy e Addy (1986) realizaram uma experiência detalhando esse problema, com a mistura de dois jatos com números de Mach 2,07 e 1,50 e com a presença de uma placa de separação de 25,4 mm de espessura. O comprimento da região de recirculação na base da placa é cerca de quatro vezes a espessura da mesma. Benay e Servel (2001) calculam numericamente uma região semelhante, com condições iguais nos dois escoamentos, com número de Mach 2,45. Para isto foi necessária uma malha com 201 x 281 pontos somente na região de recirculação. Considerando assim que essa recirculação é extremamente confinada visto que a altura da base é muito pequena (0,5 mm), e que a discretização detalhada dessa região levaria a um número de pontos muito grande, optou-se por desprezar este cálculo, reservando três nós de malha para representar a região de separação. Com isto viabiliza-se ainda a aplicação da técnica de malhas seqüenciais e pode-se promover a suavização das temperaturas nos dois lados da placa de separação dos jatos, através de uma distribuição linear. Os resultados obtidos comprovaram que a abordagem foi boa. 200 4.6 Mistura de jatos supersônicos – campo tridimensional O problema da mistura de escoamentos supersônicos (item 4.5) foi repetido para uma geometria tridimensional para verificar a estrutura do código modificado para esse tipo de geometria. Foi empregada a mesma malha do plano xy, repetida em 21 estações na direção lateral z (∆ z = 0,0025 m). Além das condições de contorno, empregadas no cálculo bidimensional, foram especificadas condições de contorno do tipo fronteiras simétricas nos planos laterais da malha, simulando uma envergadura infinita para o campo. Foram utilizados os mesmos coeficientes de viscosidade artificial nas duas versões (bidimensional e tridimensional). O código se comportou com as mesmas características de convergência da solução. A FIG. 4.41 mostra o campo de pressão no plano central (plano xy tal que k = 11) da malha de cálculo. A mesma estrutura de choques e expansões obtida no cálculo bidimensional foi reproduzida (comparar com FIG. 4.31). Apenas que, no cálculo tridimensional as reflexões dos choques nas paredes sofreram ângulos ligeiramente inferiores; por isso, a última incidência de choque sobre a parede inferior no campo tridimensional ocorre um pouco antes do que no campo bidimensional (5 % menor no comprimento longitudinal). Considerando que há oito linhas de choque desde a fronteira de entrada, um erro de apenas 1 grau na avaliação do ângulo das linhas de choque, plausível para a discretização em x empregada, já seria suficiente para causar este efeito no final. Comparando-se os campos de pressão (FIGS. 4.34 e 4.42), observa-se que, no campo tridimensional após as primeiras reflexões, o nível geral de pressão é ligeiramente inferior. 201 0.05 0.025 0 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4 0.45 0.5 FIGURA 4.41 – Campo de pressão (vermelho – pressão mais alta, azul – pressão mais baixa). 0.06 0.04 0.02 1 1.00 7 1.03 0.94 00 3 1.060 0.919 1.025 0.954 0.919 0.931 1.0 01 0.919 0.978 0.907 1.013 0.990 1.048 0.1 0.907 0.954 0.2 0.9 0.931 1.013 0.3 90 0.966 0.907 0.4 0.5 FIGURA 4.42 – Isobáricas em todo o campo. Valores adimensionalizados pela pressão na entrada do escoamento superior. Solução tridimensional – plano k = 11. Coordenadas em metros. A FIG. 4.43 apresenta a variação da espessura da camada de mistura ao longo do canal, obtida no plano vertical central do campo, de forma semelhante à empregada para obter a FIG. 4.37. O valor de db/dx encontrado foi idêntico ao do cálculo bidimensional (dentro da precisão da comparação) – cerca de 2 % superior ao valor experimental relatado por Goebel e Dutton (1991). O cálculo tridimensional confirmou os resultados com boa precisão e indica que o código é suficientemente robusto no que concerne ao processo de convergência. 0.025 0.02 0.015 b (m) db /dx = 0.039 0.01 0.005 0 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4 0.45 0.5 x (m) FIGURA 4.43 – Variação da espessura da camada de mistura e valor de db/dx na região de crescimento. 202 4.7 Mistura de jatos supersônico e subsônico – campo bidimensional Um problema ainda mais exigente é a mistura de dois jatos, sendo um supersônico e outro subsônico, devido a uma maior diferença de velocidades, além das naturezas diferentes das condições de contorno na entrada entre os dois escoamentos. Observe-se que, dentro do melhor conhecimento atual do autor, não foi localizada nenhuma análise numérica detalhada da mistura de jatos supersônico e subsônico na literatura. O problema escolhido para teste foi o experimento chamado caso 3r do artigo de Goebel e Dutton (1991). A escolha deste caso entre os tratados experimentalmente, seguiu critérios de semelhança com o problema da injeção do TTP. É importante lembrar que no TTP também ocorre a mistura entre um jato supersônico e outro subsônico. Mesmo assim, cabe aqui apontar que há diferenças importantes entre este problema e o problema da injeção do TTP. O número de Mach relativo é de 1,44 contra 1,07 do TTP (ver capítulo 2, pág. 100). Entretanto, a mais notável diferença é a relação de fluxos de massa entre os escoamentos supersônico e subsônico. No caso da experiência de Goebel e Dutton essa relação é de 6,8 enquanto que no caso do TTP é de 0,14, ou seja, 48 vezes menor. É possível que ocorra, portanto, um comportamento bastante diferente entre os dois casos, principalmente devido ao efeito da grande inércia relativa do escoamento supersônico no caso 3r de Goebel e Dutton. A TAB. 4.3 apresenta os principais parâmetros encontrados na experiência. Este caso representa um teste mais difícil para o código pelo número de Mach relativo ser mais alto, com uma taxa de crescimento maior da camada de mistura, como se pode constatar pelo valor do db/dx, comparando com o caso anterior. O rápido crescimento da camada de mistura causa o desaparecimento do núcleo potencial dos jatos mais cedo, e então a atividade na região da camada de mistura diminui, indicando influência da presença das paredes. Observe-se que, 203 na mistura de jatos supersônicos, cuja taxa de crescimento experimental da camada de mistura foi de 0,038, a região de crescimento iniciou-se em x = 0,100 m indo até 0,450 m, enquanto que, neste caso, seu início foi em x = 0,050 m indo até 0,150 m (3,5 vezes menor). TABELA 4.3 – Parâmetros do caso 3r da experiência de Goebel e Dutton (1991). Grandeza Símbolo Escoamento 1 Escoamento 2 Número de Mach M∞ 2,22 0,43 Temperatura de estagnação (K) To 315 285 Velocidade do som (m/s) a 253 332 Velocidade (m/s) U 561 142 Pressão estática (kPa) p 53 53 ρ 1,164 0,672 δ 0,0016 3 Densidade (kg/m ) Espessura da camada limite na entrada (m) 2 0,0043 -5 -5 Viscosidade dinâmica (N.s/m ) µ (U 2 / U1 ) Razão de densidades (ρ 2 / ρ1 ) r 0,25 s 0,58 ρ 0,918 Viscosidade média (N.s/m ) µ 1,37x10 Velocidade do som média (m/s) a 293 Número de Mach relativo: ∆U / a Mr 1,43 λ 0,60 λs 0,55 Razão de velocidades 3 Densidade média (kg/m ) 2 Parâmetro de velocidade: (1 − r ) / (1 + r ) 1,683x10 1,057x10 -5 Parâmetro de velocidade-densidade: (1 − r ) 1 + s 12 / 21 + r s 12 Região de crescimento da camada de mistura (m) 0,050 a 0,150 Parâmetro de crescimento (db/dx) Número de Reynolds Médio: ρ ∆U / µ 0,058 (por metro) Re 6 28x10 A maior dificuldade encontrada na implementação numérica, entretanto, adveio do fato de um dos jatos ser subsônico. A correta colocação do problema exigiu que um dos parâmetros representativos do escoamento subsônico não fosse imposto na entrada, pela natureza elíptica das equações de Navier-Stokes neste regime. Se todos os parâmetros 204 tivessem sido impostos na fronteira de entrada, surgiria um degrau de propriedades próximo à fronteira de entrada subsônica, inadmissível do ponto de vista físico. Assim, foi utilizada a extrapolação por características no plano de entrada do jato subsônico. Entretanto, essa extrapolação levou a uma situação diferente da relatada na experiência, como será esclarecido a seguir. Na mistura de jatos supersônicos, apenas o ajuste do ângulo de divergência das paredes superior e inferior foi suficiente para eliminar o gradiente longitudinal de pressão, enquanto que, na mistura de jatos supersônico e subsônico essa condição foi conseguida com muito mais dificuldade. Aparentemente os autores (Goebel e Dutton) procuraram realizar a experiência com o que eles chamam de “gradiente longitudinal neutro de pressão”, com o objetivo de evitar um efeito “difusor” para os jatos, o que aceleraria bastante o escoamento supersônico. Os autores reportam grandes dificuldades em atingir esta condição para alguns casos, incluindo o 3r. Além disso, para estes casos mais difíceis, nem sempre foi possível a obtenção da mesma pressão estática para os dois jatos na seção de entrada, uma condição muito desejada na experiência. (Observe-se que o aparato experimental comportava duas câmaras de estagnação separadas para prover estes controles.) Daí, há o surgimento de ondas de choque ou de expansão no contato dos jatos na seção de entrada, o que dificulta a obtenção de gradientes nulos de pressão na direção longitudinal (a experiência apontou divergências que chegaram a 6 % no valor da pressão de entrada entre os dois jatos). Do ponto de vista numérico, a extrapolação de uma propriedade a montante na fronteira de entrada subsônica, provoca alteração de propriedades e nem sempre se conseguiu manter a condição p1 = p2 na entrada do aparato, o que seria desejável. Foram tentados alguns artifícios sem grandes sucessos. Goebel e Dutton não informam que tipo de procedimento foi estabelecido para a câmara de estagnação subsônica com o intuito de se procurar manter p1 ≅ p2. 205 Neste caso em particular, observou-se na simulação numérica, junto ao plano de entrada, um deslocamento da camada de mistura em direção ao escoamento subsônico bem maior do que o observado na mistura de jatos supersônicos, com conseqüente expansão no escoamento supersônico e com uma queda de pressão de 12 %. Essa pressão baixa se transmite para o escoamento subsônico através da camada de mistura, acelerando o escoamento (no plano de entrada) até número de Mach 0,50. Esta aceleração é conseqüência da extrapolação para o plano de entrada de uma das propriedades do escoamento interno obtida na iteração atual. Deve-se lembrar que em uma entrada subsônica uma das velocidades características carrega informação a montante (ver capítulo 3, item 3.7.2). Para se restabelecer as condições iniciais do problema, retornando o número de Mach à condição da experiência (M = 0,43), foi reduzida a pressão de estagnação em 10 %, não causando entretanto grande impacto na pressão estática, que continuou 16 % abaixo da pressão do escoamento supersônico. Esta foi a melhor forma encontrada para conduzir o problema no sentido de buscar a melhor representação possível. A malha empregada foi a mesma da mistura dos jatos supersônicos, com 81 x 105 pontos, com paredes retas. As condições de contorno são estabelecidas assim como apresentado na FIG. 4.44. Todas as condições do escoamento supersônico são fixadas na entrada, incluindo as camadas limite que são calculadas pela lei logarítmica. O escoamento subsônico foi inicialmente imposto, segundo os valores da experiência, mas a atualização das condições de contorno foi realizada por meio das características para o núcleo potencial, recalculando-se o componente de velocidade longitudinal u. A partir dos valores nas suas bordas, as camadas limite foram recalculadas, utilizando-se a expressão da lei da parede. Para as fronteiras superior e inferior, foram empregadas as condições de parede sólida e, para a fronteira de saída, foi empregada a extrapolação por equações de convecção simplificadas. 206 presença da parede: u,v = 0; p,T extrapolados do interior parâmetros impostos REGIÃO SUPERSÔNICA extrapolação por convecção extrapolação por características REGIÃO SUBSÔNICA presença da parede: u,v = 0; p,T extrapolados do interior FIGURA 4.44 – Condições de contorno para o problema da mistura de jatos supersônico e subsônico. A FIG. 4.45 mostra o campo de pressão resultante, no qual se observa uma expansão logo na entrada do escoamento supersônico (escoamento superior). Não foi possível contornar o problema do gradiente longitudinal de pressão no campo. 0.06 0.04 0.02 0 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.06 9 0.80 5 0. 65 0.677 1 0.6 2 0.624 4 0.6 0.624 24 04 0 0.1 0. 7 73 0.75 6 0.83 0.624 0. 65 1 88 0. 0 0 0.8 0.783 0.02 1.003 0. 8 43 0.04 0.2 0.3 0.4 0.5 FIGURA 4.45 – Campo de pressão estática. Valores adimensionalizados pela pressão estática na entrada. Coordenadas em metros. Para explorar melhor as estruturas que aparecem no início do canal, foi montada uma nova malha de cálculo com 101 x 105 pontos, concentrando-se pontos no início e estabelecendo-se um estiramento até a seção x = 0,075 m; daí até a seção x = 0,150 m o espaçamento é constante. A FIG. 4.46 mostra o campo de pressão, cujo aspecto confirma o resultado geral obtido com a malha anterior. Inicialmente, observa-se uma fraca onda de compressão na entrada, no canto superior, devido ao ajuste da camada limite, resultando num 207 aumento de 1 % na pressão. Da região de separação entre os escoamentos surge uma onda de expansão importante, abaixando a pressão em cerca de 18 %. Essa pressão baixa é transmitida, através da camada de mistura, ao escoamento subsônico que a retransmite também a montante, diminuindo a pressão na entrada e acelerando o escoamento. Esta onda de expansão está associada ao aumento da área para o jato supersônico, com o deslocamento da camada de mistura em direção ao jato subsônico. A onda de expansão atinge a parede e é refletida causando nova queda da pressão em cerca de 18 %. 1. 01 0 0 .8 0.04 24 1.000 0. 0 . 6 10 7 0.62 2 4 0 .6 0.739 0.776 0 .796 0.80 6 09 0. 0.8 0.6 62 8 0.1 66 0. 0.05 97 0 0. 6 0 4 81 2 0.02 82 0.15 FIGURA 4.46 – Detalhe do campo de pressão na entrada do canal para o problema 3r de Goebel e Dutton (1991). Malha reduzida a 0,15 m. Valores adimensionalizados pela pressão na entrada supersônica. Coordenadas em metros. A FIG. 4.47 mostra o campo de número de Mach para a região de entrada do canal, onde se observa nitidamente a ação dos dois “leques” de expansão (incidente e refletido). Na solução convergida as pressões adimensionais no plano de entrada são 1 e 0,81, respectivamente, para os escoamentos supersônico e subsônico. Isso faz com que o leque inicial de expansão fique “pivotado” na ponta da placa de separação entre os jatos. O que se observa também na FIG. 4.47 é o avanço do jato supersônico em direção ao subsônico, o que é uma conseqüência da diferença de pressões. Na região inicial o ângulo de desvio da interface entre jatos é de aproximadamente 5,5o. 208 21 2. 2.22 29 0 0.04 2. 5 2. 4 2.3 3 2. 0.02 2. 45 2. 0 1. 00 0.05 0.5 7 48 0. 45 0.4 5 0. 4 4 0. 0 5 2. 38 0.1 53 2.34 1.70 1.28 0.85 0.15 FIGURA 4.47 – Campo do número de Mach para o problema 3r de Goebel e Dutton (1991). Malha reduzida a 0,15 m. Coordenadas em metros. Na experiência, Goebel e Dutton relatam que as pressões nas câmaras de estagnação dos dois jatos foram ajustadas, dentro das possibilidades, para obter pressões estáticas iguais na entrada, o que reduz estes efeitos causados pela expansão do jato supersônico. Também comentam que o nível de pressão, os ângulos dos difusores na saída e os ângulos de parede foram ajustados para reduzir o gradiente de pressão longitudinal, o que nem sempre foi possível. Os autores, entretanto, não informam os valores reais destes ajustes. Numericamente foram realizadas algumas tentativas, variando os ângulos das paredes e as pressões de estagnação, no sentido de diminuir essas diferenças de pressões entre os jatos na entrada e ao longo do canal, mas, no entanto, não se conseguiu de maneira completa o resultado final desejado. Retornando à análise na malha completa (comprimento total de 0,5 m), a FIG. 4.48 mostra o campo da viscosidade turbulenta, onde é possível se ver o crescimento da camada limite ao longo da parede superior. Por outro lado, a viscosidade turbulenta gerada na camada de mistura foi deslocada sobre a parede inferior e chegou a um valor muito superior ao da mistura de jatos supersônicos – comparar com a FIG. 4.35. 209 0.05 526 7 0.025 7 350 1 2 26 7 00 1 75 2 0.1 2 1 02 2715 0.2 0.3 3066 3153 0.4 33 2 8 3503 0.5 FIGURA 4.48 – Campo de viscosidade turbulenta. Valores adimensionalizados pela viscosidade laminar na entrada do escoamento superior. Coordenadas em metros. A FIG. 4.49 ilustra a variação da espessura da camada de mistura. Observam-se duas tendências, db/dx constante entre x = 0,05 m e 0,15 m e a partir de 0,15 m até o fim do canal. Entretanto, soluções similares ocorrem somente entre 0,05 m e 0,15 m, concordando de forma expressiva com os valores experimentais (db/dx = 0,058, TAB. 4.3). Observe-se na FIG. 4.48 que, a partir da distância longitudinal 0,15 m a camada de mistura, caracterizada na figura pelo alto nível de turbulência, já encontra a parede inferior, não podendo mais se expandir livremente. A partir desse ponto não se têm mais perfis similares e a taxa de crescimento da camada de mistura tem outra tendência. O valor encontrado para db/dx na região de similaridade, 0,062, é cerca de 7 % superior ao experimental. 0.014 0.012 b (m) 0.01 db/dx = 0,062 0.008 0.006 0.004 0.002 0 0 0.05 0.1 0.15 x (m) FIGURA 4.49 – Variação da espessura da camada de mistura b ao longo da direção longitudinal. É destacada a região de crescimento da camada de mistura, segundo a experiência de Goebel e Dutton (1991), na qual é avaliada a taxa de crescimento da camada de mistura. 210 4.8 Mistura de jatos supersônico e subsônico – campo tridimensional O problema da mistura de escoamentos supersônico e subsônico (item 4.7) foi, da mesma forma que no caso da mistura de escoamentos supersônicos, repetido para uma geometria tridimensional com o intuito de se testar a estrutura do código. Foi empregada a mesma malha do plano xy, repetida em 21 estações na direção lateral z (∆ z = 0,00125 m). Além das condições de contorno, empregadas no cálculo bidimensional, foram impostas condições de contorno do tipo fronteiras simétricas nos planos laterais da malha, simulando uma envergadura infinita para o campo. Foram utilizados os mesmos coeficientes de viscosidade artificial nas duas versões (bidimensional e tridimensional). O código se comportou com as mesmas características de convergência. A FIG. 4.50 mostra o campo de pressão no plano vertical central (plano k = 11), que deve ser comparado com a FIG. 4.45 (resultado bidimensional). A expansão foi um pouco mais acentuada do que aquela observada na simulação bidimensional, fazendo a pressão cair um pouco mais no campo todo, embora a topologia geral das soluções seja praticamente a mesma. 4 0.79 36 81 7 0.812 0.7 00 0.621 0.592 0.765 0.025 96 0.9 0.852 0. 0.05 0.1 0. 67 0.650 9 0. 62 0.592 0.592 0.592 0.592 1 0.2 0.3 0.4 0.5 FIGURA 4.50 – Campo de pressão estática para a solução tridimensional da mistura de jatos supersônico e subsônico, no plano vertical k = 11. Valores adimensionalizados pela pressão na entrada do escoamento supersônico. Coordenadas em metros. 211 A FIG. 4.51 apresenta a variação da espessura da camada de mistura na direção longitudinal para o plano central vertical. Compare-se com a FIG. 4.49. A taxa de variação na região de similaridade foi praticamente a mesma da simulação bidimensional, 5 % superior à experimental. 0.014 0.012 db/dx = 0,061 b (m) 0.01 0.008 0.006 0.004 0.002 0 0 0.05 0.1 0.15 x (m) FIGURA 4.51 – Variação da espessura da camada de mistura b ao longo da direção longitudinal, medida no plano vertical central da malha tridimensional. É destacada a região de crescimento, segundo a experiência de Goebel e Dutton (1991). Assim como no caso do problema da interferência onda de choque/camada limite (item 4.4), aqui também foram registrados os valores dos componentes da vorticidade e das tensões cruzadas no campo de cálculo com o intuito de investigar possíveis causas de discrepância. A FIG. 4.52 mostra os campos de vorticidade no plano central (k = 11). Observe-se que apenas o componente de vorticidade Ωz é alto, principalmente na região da camada de mistura entre os escoamentos, ocorrendo a partir daí um espalhamento pelo campo. 212 -6.6x10-03 -0 1 x1 - 2.2 2.2x10-01 0 Ωx +00 1.7x10 +00 -2.5x10 -01 3.0x10 -1.5x10+02 +04 8.2x10 -1.5x10+02 Ωy -1.5x10+02 1 . 6x 1 Ωz 0 + 04 FIGURA 4.52 – Campos de componentes de vorticidade para o plano central. Valores em 1/s. A FIG. 4.53 mostra os campos dos componentes das tensões cruzadas. Também fica claro aqui que o componente τxy é bastante alto, enquanto que os demais componentes são desprezíveis. Pela figura vê-se que a ação da camada de mistura é a responsável pelo crescimento do componente de tensões τxy – enquanto que na região do núcleo potencial dos jatos o valor é muito baixo. 3.6x10 -245.3 0.2 -0.1 935.9 -0.1 τxy 0.2 506.4 613.8 -04 -2 . 3 -02 x1 0 - 0 2 1.9x10 τxz -04 5.1x10 8.5 x10 -03 -9.4 x 1 0 -03 τyz FIGURA 4.53 – Campos de componentes de tensões cruzadas para o plano central. Valores em N/m2. 213 A FIG. 4.54 mostra os campos do componente de vorticidade comuns às simulações bidimensional e tridimensional para comparação. Observa-se que há grande semelhança entre os campos, indicando o forte caráter bidimensional do problema. -2.1x10+04 +01 1.7x10 +04 4.5x10 3.6x10 +04 2.7x10 +04 +0 4 0 1.8x1 Ωz – campo bidimensional -1.7x10+04 +02 -3.6x10 +04 5.5x10 3.4x10 +04 2.0x10+04 1.6x10 +04 1.2x10 +04 Ωz – campo tridimensional (plano central, k = 11) FIGURA 4.54 – Campos de componentes de vorticidade para as simulações bidimensional e tridimensional. Valores em 1/s. A FIG. 4.55 mostra os campos do componente de tensões cruzadas, comuns às simulações bidimensional e tridimensional. Da mesma forma, observa-se aqui uma grande semelhança entre os campos. -0.1 459.3 -115.3 0.1 890.3 746.7 603.0 τxy – campo bidimensional -217.2 7 - 0. 543.8 1.3 849.0 685.3 611.6 τxy – campo tridimensional (plano central, k = 11) FIGURA 4.55 – Campos de componentes de tensões cruzadas para as simulações bidimensional e tridimensional. Valores em N/m2. 214 4.9 Análise de refinamento de malha e da ordem do método A ordem de precisão de uma solução numérica é fundamental para a confiabilidade dos resultados obtidos. Pode-se avaliá-la em relação a um determinado algoritmo pela comparação dos erros de duas simulações, utilizando malhas com diferentes resoluções, em relação a uma solução analítica ou numérica com refinamento reconhecidamente suficiente. Para cada malha, calcula-se o erro em pontos do domínio através da expressão: err (h ) = valor exato − valor numérico encontrado , (4.3) onde por “valor exato” entende-se a solução analítica ou numérica de referência. Determinados os erros relativos a duas malhas com diferentes espaçamentos uniformes, h1 e h2, a expressão que fornece a ordem do método é dada por (Oberkampf e Trucano, 2002): Ο= err (h1 ) log err (h2 ) h log 1 h2 . (4.4) Desta forma, como o método adotado no código desenvolvido neste trabalho, em princípio, é de ordem de precisão espacial 2, significará que, ao se aumentar o refinamento da malha reduzindo-se o espaçamento em 2 vezes, os erros nas mesmas posições analisadas deverão apresentar redução de 4 vezes. 215 Para a determinação da ordem de precisão espacial do método desenvolvido foi utilizado o problema da camada limite turbulenta bidimensional ao longo da placa plana. Muitos autores escolhem para referência um caso de escoamento que tenha solução analítica e, em conseqüência, na maioria das vezes, laminar e incompressível. Como, entretanto, este trabalho se refere a escoamentos turbulentos de alta velocidade, entendeu-se ser mais apropriado escolher outra situação física para comparação. Optou-se pelo escoamento supersônico turbulento ao longo de uma placa plana, i. e., o problema da camada limite, e como referência a solução numérica com uma malha de alta resolução. As condições são M∞ = 2,96, T∞ =100,9 K, p∞ = 19,94 kPa, L = 0,20 m, onde L é o comprimento da placa, o que resulta em um número de Reynolds baseado em L igual a 1,2 x 106. As condições de contorno correspondem ao caso já discutido na seção 4.2 com perfil uniforme na entrada. Para se realizar o estudo foram utilizadas cinco malhas com os seguintes números de nós: 481 x 481, 241 x 241, 121 x 121, 61 x 61 e 31 x 31. Cada malha mais grossa era obtida de uma mais fina anterior suprimindo-se os nós de ordem ímpar em ambas as direções. Evidentemente, foram mantidos o comprimento da placa, L = 0,20 m, e a altura do domínio, H = 0,021 m. Na direção longitudinal – a do comprimento – o espaçamento foi feito constante malha a malha, enquanto na direção da altura foi introduzido estiramento começando na parede e indo até aproximadamente H/2; daí para cima o espaçamento foi mantido constante. A FIG. 4.56 mostra os resultados obtidos do perfil de velocidades na fronteira de saída do campo computacional, na qual se observa a convergência da solução da camada limite para as diversas malhas. Observe-se a congruência entre as soluções nas malhas 241 x 241 e 481 x 481, indicando a convergência em termos de refinamento de malha. Deve-se atentar para o fato de que este é um resultado chave na verificação de um código numérico, i. e., o mesmo tem que mostrar “convergência de malha” (“grid refinement convergence”) 216 conforme se aumenta a discretização do campo (Oberkampf e Trucano, 2002). As soluções para as malhas 241 x 241 e 481 x 481 são basicamente coincidentes. 1.2 481x481 1 241x241 121x121 0.8 61x61 31x31 u u∞ 0.6 0.4 0.2 0 0.0001 0.001 0.01 0.1 1 10 y δ FIGURA 4.56 – Perfis de velocidade com o emprego das diversas malhas. Na abscissa a distância à parede é adimensionalizada pela espessura da camada limite e na ordenada a velocidade é adimensionalizada pela velocidade do escoamento livre. A FIG. 4.57 mostra os erros encontrados nas diversas malhas em relação ao resultado das malhas finas (241 x 241 e 481 x 481) (na seção transversal correspondente à fronteira de saída). Observe-se que, para valores acima da borda da camada limite os erros tendem rapidamente a zero pela convergência da solução para a condição do escoamento livre, onde as soluções são praticamente idênticas, independente da malha empregada. Deve-se notar que há uma região na qual os erros são altos correspondendo à região de transição entre a subcamada laminar e a região da lei logarítmica, na qual ocorrem fenômenos de naturezas 217 distintas e onde o refinamento local se mostra importante. À medida que se aproxima da parede, novamente os erros caem muito convergindo para a condição de escoamento nulo na parede, solução idêntica em todas as malhas. Desta forma, foi escolhida uma região mais adequada para avaliação da ordem do método, que vai de y/δ = 0,009 a 1,068. 0.1 0.09 0.08 err121 erro relativo 0.07 err61 0.06 err31 0.05 0.04 0.03 0.02 0.01 0 0.001 0.01 0.1 1 10 y δ FIGURA 4.57 – Erros nas diversas malhas em comparação com o resultado de malha fina. A TAB. 4.4 traz os resultados encontrados no estudo da ordem do método comparando os erros das malhas 121 x 121, 61 x 61 e 31 x 31 entre si. O resultado geral aponta para uma ordem global no código empregado entre 1,86 e 2,64, confirmando a ordem de precisão formal que é igual a 2. 218 TABELA 4.4 – Resultados obtidos na determinação da ordem do método. Ordem do Método y/δ 121x121 e 61x61 121x121 e 31x31 61x61 e 31x31 0,009 1,51 1,36 1,21 0,013 1,58 1,43 1,27 0,018 1,69 1,52 1,35 0,024 1,81 1,62 1,43 0,033 1,95 1,74 1,52 0,043 2,11 1,86 1,62 0,057 2,29 2,00 1,71 0,076 2,48 2,15 1,81 0,099 2,68 2,30 1,91 0,130 2,89 2,45 2,01 0,169 3,10 2,60 2,09 0,221 3,30 2,74 2,18 0,287 3,51 2,88 2,26 0,374 3,79 3,07 2,35 0,486 4,06 3,23 2,40 0,632 3,66 2,96 2,26 0,822 2,56 2,26 1,95 1,068 2,52 2,36 2,21 MÉDIA 2,64 2,25 1,86 219 5 ANÁLISE DA INJEÇÃO NO TTP Este capítulo contém as considerações sobre a aplicação do modelo matemático desenvolvido para o problema da injeção no TTP e os resultados obtidos. O problema foi resolvido utilizando-se a técnica de malhas seqüenciais, com cálculo em duas malhas, sendo que a malha fina foi subdividida em cinco malhas pela limitação dos recursos computacionais. Basicamente foi resolvida a condição “de projeto” em detalhes, e analisadas, apenas na malha grossa, duas condições “fora de projeto” para verificação da robustez do código e análise dos aspectos físicos gerais do problema. Ao final do capítulo, são apresentados comentários, conclusões e sugestões para futuros trabalhos. 5.1 Introdução 5.1.1 Parâmetros gerais na entrada da câmara de injeção e modelagem do escoamento nos injetores A condição de referência escolhida para análise da injeção é a que corresponde à operação no “ponto de projeto” do túnel. De acordo com informações contidas no relatório do projeto básico do TTP (Grupo TTP, 1996) os parâmetros gerais que definem este estado para a seção de testes em regime contínuo são: temperatura de estagnação de 313 K, pressão de estagnação de 110 kPa e número de Mach 1 – o TTP incorpora sistemas para o controle automático desses parâmetros na seção de testes. Além disto, este relatório traz informações 220 gerais sobre o escoamento nas seções de entrada de cada um dos elementos principais do circuito aerodinâmico do túnel em operação convencional (sem a injeção), para várias condições de números de Mach na seção de testes (ver apêndice B). Para o caso da injeção em funcionamento, o “ponto de projeto”, segundo Sverdrup (1989), requer que a pressão estática na saída dos injetores seja igual à pressão estática do escoamento externo ao mesmo (igual à pressão estática na entrada da câmara de mistura da injeção). Com isto visa-se, na prática, uma redução no aparecimento de ondas de choque e de expansão, diminuindo as irreversibilidades no processo de mistura. A partir desta igualdade entre as pressões, os parâmetros de operação do sistema de injeção para a condição de projeto podem ser determinados. A TAB. 5.1 apresenta os valores principais na entrada da câmara de injeção e na saída dos injetores para a condição de projeto, no início da operação da injeção, conforme foi empregado no presente trabalho. TABELA 5.1 – Parâmetros de projeto no início da injeção. Parâmetros Injetor Circuito do túnel 1,900 0,509 300 313 1 Número de Mach 2 Temperatura de estagnação (K) 3 Pressão de estagnação (kPa) 547,2 97,5 4 Pressão estática (kPa) 81,7 81,7 5 Área transversal total (m ) 0,00354 0,1063 6 Fluxo de massa de projeto (kg/s) 2,90 17,89 7 Espessura da camada limite (m) 0,0012 e 0,0014(*) 0,008 2 (*) espessuras das camadas limite no interior e exterior do injetor, respectivamente. 221 Observe-se na TAB. 5.1 a informação sobre as alturas consideradas para as camadas limite na seção de entrada da câmara de injeção. Elas foram estimadas usando-se a Eq. 3.93, desenvolvida originalmente para o cálculo da camada limite turbulenta incompressível ao longo da placa plana (Schlichting, 1979), u ⋅ x δ ( x ) = 0 ,37 ⋅ x ⋅ ∞ ν − 1 5 , (5.1) onde x é a distância na direção longitudinal medida a partir do bordo de ataque da placa, u∞ é a velocidade no escoamento livre e ν é a viscosidade cinemática molecular. Neste ponto um esclarecimento é necessário. É evidente que no plano de entrada da seção de injeção existem várias regiões com gradientes (viscosos) importantes. E os valores de propriedades nestas regiões de gradiente, bem como no restante do plano de entrada, terão que ser pré-fixados de alguma forma, visto que a seção de entrada constitui uma das superfícies limítrofes do domínio de cálculo, para as quais tem-se que fixar condições de contorno apropriadas (veja FIG. 5.5, pág. 230). As regiões de gradiente se localizam junto às paredes do túnel – piso, teto e laterais –, e junto às paredes dos injetores – interna e externamente. Inicialmente discutir-se-á o caso dos injetores. A corrente de ar proveniente do túnel vê cada injetor como um corpo rombudo tridimensional instalado no piso ou no teto. Este é o escoamento externo ao injetor – ver FIG. 5.1. O campo de escoamento que se estabelece ao redor de cada injetor é extremamente complicado, incluindo um vórtice em ferradura que nasce numa provável região de estagnação à frente do mesmo. Este vórtice em ferradura corre ao longo do piso (ou do teto) do túnel, abraçando o injetor, e difundindo-se a jusante do mesmo. Nas partes superiores da superfície do injetor tem-se o desenvolvimento de camadas limite bastante complicadas também, devido aos cantos – convexos na dobra do injetor e côncavos na junção injetor / parede do túnel. Esta estrutura física complexa e com 222 altos gradientes viscosos chega “à boca” do injetor e cruza o plano de entrada da seção de injeção. Para se ter um mapa razoavelmente preciso destas propriedades neste plano seria necessário calcular o escoamento tridimensional em torno do injetor. Sem se esquecer que o escoamento que chega ao mesmo corresponde à camada limite da parede do túnel. Provavelmente, este seria um tema para outra tese de doutorado. Nestas condições, para se regular a questão e manter o escopo deste trabalho dentro de um nível de normalidade, procurou-se estabelecer um modelo simplificado para o escoamento externo ao injetor. A FIG. 5.1 mostra um esquema da instalação do injetor na câmara de injeção, destacando as distâncias médias a serem percorridas pelo escoamento sobre as paredes externas e internas. direção do escoamento principal direção do escoamento principal h=2,26cm piso do túnel 7,7cm 8,2cm 9,5cm 2,26cm l =1,57cm final da região de estagnação FIGURA 5.1 – Detalhe da instalação do injetor na câmara de injeção, destacando as distâncias externa e interna ao injetor para cálculo da espessura da camada limite. Destaque da vista em perspectiva mostrando a possível formação do vórtice em ferradura. Considerou-se, para fins de modelação, que o injetor é formado por três placas planas, internas e externas ao mesmo. A distância média percorrida pelo escoamento interno, como destacado pela linha no centro do injetor na FIG. 5.1, que vai do final da região de estagnação 223 até a seção de saída, é de aproximadamente 9,5 cm. Este é o comprimento considerado para as três placas, no caso do cálculo das camadas limite internas ao injetor. A distância média percorrida ao longo da parede externa do injetor foi calculada dividindo-se a área total molhada pelo perímetro molhado na saída do injetor (ver detalhe em perspectiva da FIG. 5.1). A FIG. 5.2 mostra essa idealização do injetor no caso do escoamento externo, destacando-se o comprimento efetivo igual a 5,2 cm. Nesta modelação o escoamento externo é conduzido sobre superfícies com condição de escorregamento livre até o início das placas planas (pontos grandes na FIG. 5.2), a partir de onde vigora a condição de escorregamento nulo. A modelagem considera, portanto, que o escoamento não vê o injetor como um corpo rombudo. direção do escoamento principal direção do escoamento principal 2,26cm 5,2cm 1,57cm 5,2cm piso do túnel 2,26cm início das placas planas final da região de estagnação FIGURA 5.2 – Detalhe da modelação da superfície externa do injetor na câmara de injeção, destacando seu comprimento efetivo. As linhas tracejadas indicam os contornos reais do injetor, as linhas cheias o contorno da modelação adotada e as linhas com pontos o início das camadas limite. 224 As camadas limite externas foram estimadas levando-se em conta que no bordo de ataque as propriedades do fluxo de chegada são as mesmas da corrente do túnel. Internamente, os valores no bordo de ataque da placa correspondem às médias aritméticas entre os valores das propriedades (velocidade e viscosidade molecular) da região de estagnação e da saída do injetor. Desta maneira estimaram-se de forma aproximada os gradientes viscosos junto às paredes dos injetores na posição do plano de entrada da seção de injeção. O tratamento dos cantos, i. e., as regiões de junção destas camadas limite, será discutido mais à frente na seção 5.3. No caso das camadas limite junto ao piso, teto e paredes laterais do túnel, a hipótese (bem razoável, devido às paredes fendidas) é que as mesmas se iniciam no fim da seção de testes. A partir daí considerou-se um desenvolvimento de placa plana até o plano de entrada da câmara de injeção, resultando numa espessura média de 8 mm. A partir dos parâmetros dos escoamentos supersônico e subsônico na seção de entrada da câmara de injeção (TAB. 5.1) obtém-se por média aritmética simples três parâmetros representativos do escoamento que foram usados na adimensionalização do problema. O quarto parâmetro é a altura do injetor. A TAB. 5.2 resume os valores finais (ver capítulo 2, item 2.6). TABELA 5.2 – Parâmetros de adimensionalização empregados. Densidade média na entrada (kg/s) 1,30 Velocidade do som média (m/s) 305 Altura do injetor (m) 0,0226 2 Viscosidade dinâmica molecular média (N.s/m ) -5 1,47x10 A viscosidade dinâmica molecular, µl , foi obtida a partir do valor da temperatura local T, empregando a conhecida fórmula de Sutherland (Schlichting, 1979), 225 3 T 2 TSu ,1 + TSu ,2 µl = µ Su ,1 , TSu ,1 T + TSu ,2 (5.2) onde os valores da temperatura e da viscosidade de referência foram, respectivamente, T Su,1 = 273,33 K e µ Su,1 = 1,676 x 10-5 N.s/m2. T Su,2 é uma constante igual a 110,4 K. 5.1.2 Operação conjunta túnel/injetores No projeto básico (Grupo TTP, 1996), o sistema de injeção é descrito em termos dos seus componentes principais, como apresentado no capítulo 2. Após a conclusão do projeto detalhado, alguns estudos teóricos (simplificados) da operação conjunta do compressor mais injetores deveriam ter sido realizados, estudos estes a serem confrontados com dados realistas que seriam coletados durante a fase de calibração. Devido a dificuldades surgidas no desenvolvimento do projeto essas etapas não foram completamente cumpridas até o momento. A maior contribuição neste sentido foi a análise dinâmica da operação do túnel de vento transônico industrial realizada durante um trabalho de mestrado (Falcão Filho, 1996, Falcão Filho et al., 2000a). Este trabalho utiliza um modelo matemático simplificado, baseado na técnica de parâmetros concentrados, para resolver as equações básicas da mecânica dos fluidos aplicadas ao circuito aerodinâmico do túnel, com modelos específicos para cada um dos sistemas de controle auxiliares – inclusive o sistema de injeção –, e também modelos das válvulas e dos demais componentes. As informações sobre as perdas de carga nas grandes regiões do circuito do túnel, nas quais o mesmo foi subdividido, foram obtidas a partir dos dados do apêndice B. Dentre outras, foram realizadas simulações das condições de operação e análise da estabilidade do circuito do túnel com uso da injeção para várias condições de 226 pressão de estagnação dos injetores. Os resultados mostraram que a utilização da injeção causa uma nova distribuição de parâmetros no circuito. Em particular, o compressor principal modifica seu ponto de operação (afetando seu rendimento e sua taxa de compressão) e o circuito do túnel se adapta às novas condições que foram impostas pelo uso da injeção. O efeito final observado na seção de testes é de aumento da pressão de estagnação, aumento do número de Mach e uma pequena diminuição na temperatura de estagnação. A FIG. 5.3 mostra o resultado de uma dessas simulações numéricas (Falcão Filho, 1996, Falcão Filho et al., 2000a) na qual se observa o impacto causado na pressão de estagnação da seção de testes quando a injeção é operada (com pressão de estagnação nos injetores de 400 kPa). Todo o ganho extra, relativo ao circuito do túnel, advém da contribuição da câmara de injeção que, por sua vez, sofre a ação do escoamento supersônico dos injetores, ocorrendo alteração, localmente, e primordialmente, do número de Mach e da pressão de estagnação por meio de processo físico descrito a seguir. 105 104 p0 (kPa) 103 102 101 100 99 98 150 200 250 300 t (s) FIGURA 5.3 – Variação da pressão de estagnação na seção de testes. Pressão de estagnação dos injetores, po,inj = 400 kPa. 227 Durante a utilização convencional do TTP, segundo dados do Grupo TTP (1996), o escoamento na entrada da câmara de injeção é sempre subsônico, com número de Mach variando de 0,13 a 0,57, dependendo da condição de operação do túnel. Para o ponto de projeto o número de Mach na entrada da câmara de injeção, sem uso dos injetores, é de 0,509 (ver apêndice B). A injeção induz uma aceleração do escoamento principal subsônico, em função do processo de mistura com o jato supersônico em alta velocidade. Isto acarreta um aumento do número de Mach na entrada da câmara de injeção que se transmite a montante para a seção de testes. O aumento do número de Mach só não é maior devido às perdas de carga ao longo do circuito e, especialmente, na seção de testes, onde estas perdas são bastante altas. A FIG. 5.4 mostra o aumento causado no número de Mach na seção de testes quando a injeção é atuada com pressão nos injetores de 400 kPa (Falcão Filho, 1996). 1.08 1.06 M 1.04 1.02 1 0.98 150 170 190 210 230 250 270 290 t (s) FIGURA 5.4 – Variação do número de Mach na seção de testes – pressão de estagnação dos injetores po,inj = 400 kPa. 228 Em relação à pressão de estagnação, o efeito final pretendido com a injeção é aumentá-la. Este aumento resulta do ganho líquido de energia proporcionado pelo processo (uma grande parte da energia nova introduzida pela injeção é utilizada “para vencer” as perdas de carga). Portanto, é preciso, de alguma maneira, informar ao modelo (código) numérico esse efeito físico causado ao circuito do túnel e, em particular, à câmara de injeção. Isto é realizado por meio da seguinte estratégia (adotada na implementação das condições de contorno na entrada da câmara de injeção – item 5.3.1.1, página 246): permite-se que o efeito indutivo, proporcionado pelo jato supersônico, eleve a pressão de estagnação na fronteira de entrada da câmara de injeção até o valor que corresponda à simulação resultante em todo o circuito do túnel (valor este obtido por Falcão Filho (1996), FIG. 5.3, e FIGS. C.11 a C.13 do apêndice C). A partir daí este valor é fixado e, desta forma, reproduz-se, numericamente, o que ocorre na prática ao se acionar o sistema de injeção. O apêndice C traz informações mais detalhadas sobre a operação do sistema de injeção com os resultados da simulação dinâmica realizada por Falcão Filho (1996), em termos do aumento do número de Mach e da pressão de estagnação na seção de testes, para outros valores de pressão de estagnação nos injetores. A TAB. 5.3 resume esses resultados. TABELA 5.3 – Impacto causado pelo sistema de injeção sobre o circuito do TTP (Falcão Filho, 1996). (po)inj (kPa) MST (po)ST (kPa) (∆M/M)ST (%) (∆po/po)ST (%) 0 1,0000 100,00 0,00 0,00 400 1,0443 103,18 4,43 3,18 600 1,0773 105,20 7,73 5,20 800 1,1118 107,37 11,18 7,37 229 A partir dos valores da tabela, foi estabelecida uma regressão polinomial por mínimos quadrados para relacionar o aumento percentual da pressão de estagnação ocorrida na seção de testes com a pressão de estagnação utilizadas nos injetores. O emprego dessa regressão neste trabalho será oportunamente detalhado. A expressão é dada por p ∆ po = 0,03042 o ,inj p po ST o ,ST 2 p + 0,6800 o ,inj p o ,ST − 0,003727 , (5.3) onde po,inj é dada em kPa e po,ST = 100 kPa é a pressão de estagnação inicial na seção de testes. Além disso, deve-se destacar que durante a fase de calibração do túnel, e mesmo na realização de ensaios com modelos (o que alterará significativamente as distribuições de perdas de carga ao longo do circuito), ocorrerão desvios naturais da condição de igualdade das pressões estáticas entre os dois escoamentos na entrada da câmara de injeção. Embora o objetivo primordial do presente trabalho seja realizar a análise do sistema de injeção para o ponto de projeto, duas outras situações fora desta condição foram analisadas, para se investigar os efeitos físicos esperados e a robustez do código. 5.2 Malha tridimensional do problema da injeção no TTP 5.2.1 Câmara de mistura da injeção A câmara de mistura do TTP, região compreendida entre a saída da segunda garganta e a entrada do difusor de alta velocidade, apresenta uma geometria bastante peculiar. 230 A FIG. 5.5 mostra um esquema representativo desta câmara – não em escala –, destacando as seções transversais principais (S1, ... , S4), conforme o projeto (Grupo TTP, 1996). (Maiores detalhes podem ser encontrados no apêndice C.) A seção transversal na entrada é quadrada com 0,331 m de lado e abriga cinco injetores no teto e cinco no piso, instalados de tal maneira que o escoamento sai dos bicos injetores absolutamente rente às paredes do túnel – há um rebaixamento na parede do túnel para alojamento da parede do injetor (ver FIG. 5.1). A câmara tem comprimento total de 0,600 m com seções transversais modificadas, numa transição realizada em três etapas – a fabricação foi realizada por forja da peça, que garantiu uma boa suavidade nas passagens – até atingir a seção transversal de saída de geometria circular, com diâmetro de 0,374 m. y injetor φA = 0,7 entrada φB = 1,78 o φC = 3,58 o o saída π 0,331m 0,374m x 0,200m injetor S1 0,200m S2 0,200m S3 S4 FIGURA 5.5 – Esquema ilustrativo da câmara de mistura da injeção. A superfície π (região sombreada na FIG. 5.5) corresponde à parte plana que vai dando lugar à geometria circular, à medida que se avança na direção longitudinal. O critério 231 adotado no projeto é de que a área transversal se mantenha constante. Desta forma, a superfície π vai recebendo inclinações sucessivas para adaptar a geometria seguinte. A partir da entrada da câmara de injeção, os cantos começam a ser arredondados no sentido de conformar-se à geometria da seção S2. A região plana remanescente sofre uma pequena inclinação divergente de 0,7 graus. O mesmo procedimento se repete nas regiões seguintes, com ângulos de divergência da região plana com valores crescentes, de acordo com os dados da figura, até o final da câmara de injeção, seção S4, onde a geometria é perfeitamente circular. Como se pode constatar então, a idéia original (Sverdrup, 1989) é aproveitar a região de transição do túnel (de retangular na segunda garganta para circular na entrada do primeiro difusor) como câmara de injeção. 5.2.2 Simplificação geométrica A perfeita representação numérica desta geometria não constitui uma tarefa simples. No interior da câmara de injeção, particularmente nas primeiras estações, os cantos retos desaparecem, dando lugar a um segmento de circunferência e sua representação detalhada, numa malha computacional para cálculo em diferenças finitas, exigiria um número de pontos muito grande e os recursos computacionais necessários seriam incompatíveis com a disponibilidade atual (do autor). Desta forma, respaldando-se nas idéias de que o fator geométrico mais importante é a área transversal constante ao longo do eixo do túnel (Sverdrup, 1995), e de que a natureza do presente trabalho incorpora até certo ponto um “enfoque de engenharia”, a câmara de mistura foi aproximada por uma geometria de área transversal constante – a seção quadrada da entrada foi prolongada ao longo de todo o comprimento longitudinal. As FIGS. 5.6 e 5.7 apresentam esta nova geometria, e mostram 232 também o sistema básico de referência, x, y, z. Os dois planos, vertical e horizontal, que contêm o eixo central desta geometria simplificada são planos de simetria do problema físico em pauta – veja também a FIG. 5.8. Destarte, o domínio efetivo de cálculo pode ser reduzido à quarta parte do total, e assim, considera-se a região sombreada da FIG. 5.7, o quadrante inferior direito, como a região de enfoque na simulação numérica. Entretanto, mesmo com esta simplificação geométrica, é preciso cuidar com o número de pontos envolvidos na malha. face superior y eixo central face lateral direita z face lateral esquerda eixo x face inferior FIGURA 5.6 – Seção de entrada da câmara de mistura vista de frente. Eixo x entrando no papel. y face superior face lateral esquerda eixo central face de saída x face inferior face de entrada face lateral direita z FIGURA 5.7 – Vista tridimensional da câmara de injeção, destacando o quadrante inferior direito e os planos de suas fronteiras. Direções: x, longitudinal, y, vertical e z, lateral. 233 A FIG. 5.8 mostra novamente a fronteira de entrada, detalhando as posições dos injetores (cinco no teto e cinco no piso) e o destaque do quadrante inferior direito, que será discretizado para o cálculo em diferenças finitas. Observe-se que o espaço computacional inclui dois injetores inteiros e meio injetor (passando um plano de simetria pelo meio do injetor central) – ver região sombreada da figura. É muito interessante uma comparação entre as figuras 5.8 e C.6 (apêndice C, pág. 362). y 1 2 3 4 5 A B C D E z FIGURA 5.8 – Detalhe da seção de entrada da câmara de mistura da injeção. 234 Para que o código seja significativamente consistente, o modelo de turbulência adotado requer que o ponto mais próximo à fronteira sólida esteja a uma distância adimensional y+ da ordem de 1. Na direção longitudinal x a exigência seria aplicável apenas nas proximidades das bordas dos bicos injetores. Esta questão é a mesma encontrada na representação da placa de separação entre os escoamentos para os problemas de mistura de jatos, que foi discutida em detalhes no capítulo 4, no item 4.5 (pág. 199). Como visto lá, para representar corretamente a presença das bordas (espessuras) dos injetores, haveria um aumento muito grande do número de pontos junto à face de entrada, com uma conseqüente redução no número de CFL pelo aumento da rigidez (“stiffness”). Como esta dimensão é muito pequena comparada com a altura (ou largura) dos injetores, e como o perfil de velocidades na mistura dos escoamentos se define rapidamente – numa distância aproximada de quatro vezes a espessura da placa (Benay e Servel, 2001) – optou-se por desprezar o detalhamento dessa região. Mesmo assim, para que seja possível assegurar uma boa resolução de malha, foram escolhidas 121 estações uniformemente espaçadas na direção longitudinal (∆ x = 0,005 m). Nas direções y e z, entretanto, a exigência do modelo de turbulência resultou em 141 e 368 pontos de cálculo, respectivamente, para representar as diversas regiões de refinamento próximas às paredes e às regiões de mistura dos jatos. Desta forma, a malha de cálculo resultante (121 x 141 x 368), abrangendo um quarto da câmara de injeção, contém mais de seis milhões de pontos. O arquivo de armazenamento necessário é superior a 1 GB com memória RAM principal superior a 2 GB. Considerando-se o equipamento à disposição do autor, (PC com 2000 MHz de freqüência de “clock” e 512 MB de memória RAM), e levandose em conta a necessidade de se “rodar” o código muitas vezes em função de correção de erros, diversas análises com variações de parâmetros, testes vários, etc., a malha em pauta praticamente inviabilizaria, na prática, o trabalho a ser realizado. Por isso, decidiu-se pela realização do cálculo de uma forma mais otimizada, passando por duas malhas com 235 refinamentos seqüenciais, sendo a malha 121 x 141 x 368 a malha de maior refinamento. Entretanto, esta malha fina teria que ser dividida em sub-malhas. 5.2.3 Processo de obtenção das malhas fina e grossa Numa primeira etapa o cálculo é processado na malha grossa – formada tomando-se os pontos de ordem ímpar nas direções x, y e z da malha fina correspondente, resultando numa malha 61 x 71 x 185 – exeqüível com os recursos computacionais disponíveis. Observe-se que, para as direções x e y o número de pontos em cada direção na malha grossa é igual a (n + 1) / 2, onde n é o número de pontos em cada direção respectiva na malha fina. Na direção z há um detalhe adicional que será visto depois. De um modo geral, a malha grossa não atende rigorosamente a exigência de discretização requerida pelo modelo de turbulência junto às fronteiras sólidas, embora não se tenha constatado qualquer prejuízo nos resultados obtidos nesta malha, a não ser a esperada perda de acurácia pelo empobrecimento da discretização. A idéia exposta até aqui para obtenção das malhas de cálculo, foi realizada a partir de um procedimento que é descrito a partir de agora. A FIG. 5.8 mostra uma vista da seção de entrada (correspondendo à seção S1 da FIG. 5.5) com subdivisões apropriadamente escolhidas – linhas tracejadas –, de forma a delimitar regiões com geometrias semelhantes, facilitando o processo de obtenção da malha final. Isto é possível porque os injetores estão localizados com igual espaçamento, como sugere a figura, exceto a distância entre o último injetor e a parede lateral do túnel. Como já foi visto, existem dois planos de simetria, vertical e horizontal, os quais contêm o eixo central da câmara de injeção. Na FIG. 5.8 o plano de simetria vertical é indicado pelo numeral “1”. 236 Entretanto, há, o que se poderia chamar, “planos de simetria secundários”, numerados de “2” a “5”, correspondendo às posições centrais dos injetores e entre injetores vizinhos. Estes planos guardam um caráter de simetria aproximada local e serão úteis para dividir o problema em partes. Desta forma, foram criadas cinco sub-malhas finas indicadas pelas letras de A a E, conforme mostra a FIG. 5.8. Pela geometria, as malhas B e D são idênticas. As malhas A e C são quase idênticas, exceto que a malha A inclui um plano adicional, além do plano de simetria vertical 1, plano este criado para representar numericamente a condição de simetria. Além disso, B e D são malhas idênticas à malha C, invertida em relação à direção z (uma malha é a imagem especular da outra). Finalmente, a malha E é diferente das demais por ter maior largura e pela presença da parede lateral do túnel, que exige uma outra região de refinamento de malha. As cinco sub-malhas criadas, quando justapostas, formam a malha fina de todo o quadrante sombreado na figura com 121 x 141 x 368 pontos. A partir desta malha, foi obtida a malha grossa, eliminando-se os pontos pares, tomando-se os cuidados necessários nos chamados pontos singulares da malha, que são os pontos nos planos centrais das camadas de mistura, como já comentado no capítulo 3, item 3.6. Observe-se que, na direção z, há um número par de pontos e esse processo se aplica com um detalhe a mais que será visto oportunamente. Isto é causado pelo fato de que o plano de simetria vertical 1 contém pontos considerados singulares, nesta concepção. A FIG. 5.9 mostra o plano de entrada da malha criada para a região A da FIG. 5.8. Observe-se as regiões com refinamento nas proximidades das paredes do injetor central. As malhas B, C e D foram obtidas diretamente a partir desta malha – note-se que as malhas B e D são imagens especulares de A. A FIG. 5.10 mostra o plano de entrada da malha criada para a região E da FIG. 5.8. Aqui há mais uma região de refinamento próximo à parede lateral direita do túnel. Para o número total de nós em cada malha veja a FIG. 5.13, pág. 241. 237 0.028 0.027 0.150 0.026 0.025 0.024 0.023 0.022 0.100 0.021 0.020 0.006 0.008 0.01 0.007 0.050 0.006 0.005 0.004 0.003 0.000 0 0.002 0.02 0.001 0.000 0.005 0.006 0.007 0.008 0.009 0.01 FIGURA 5.9 – Fronteira de entrada da malha adotada para a região A da FIG. 5.8. 0.028 0.027 0.026 0.025 0.160 0.024 0.023 0.022 0.021 0.140 0.020 0.019 0.018 0.135 0.14 0.145 0.120 0.028 0.027 0.100 0.026 0.025 0.024 0.023 0.080 0.022 0.021 0.020 0.019 0.018 0.060 0.017 0.016 0.155 0.040 0.16 0.165 0.17 0.014 0.013 0.012 0.011 0.010 0.009 0.020 0.008 0.007 0.006 0.005 0.004 0.000 0.003 0.15 0.002 0.001 0.000 0.155 0.16 0.165 FIGURA 5.10 – Fronteira de entrada da malha adotada para a região E da FIG. 5.8. 238 Assim, a malha fina global é composta pela justaposição das cinco malhas A, B, C, D e E, na seqüência. Entretanto, como já mencionado anteriormente, o cálculo na malha global (em todo o quadrante inferior direito da FIG. 5.8) só será realizado na malha grossa. A FIG. 5.11 mostra os detalhes de dimensões na face de entrada do quadrante a ser calculado com as cotas de posicionamentos dos injetores, como também os índices contadores dos nós nas malhas fina e grossa correspondentes. A partir das cotas da figura, determinam-se os parâmetros geométricos relativos a toda a câmara de injeção que estão apresentados na TAB. 5.4. Destaque-se que a exigência do modelo de turbulência de Spallart-Allmaras é perfeitamente atendida nas cinco malhas mais finas, pelos refinamentos utilizados nas proximidades das paredes do injetor e das paredes do túnel, cujos espaçamentos mínimos adotados foram de 3x10-6 m e 1,7x10-6 m, e os alongamentos de malha foram de 22% e 41%, respectivamente. K (1) 1 (2) (36) (70) (104) (138) (185) 2 70 138 206 274 368 141 (71) 140 (70) A B C D E 0,1657 0,01567 0,02257 0,0325 0,0325 0,0325 0,0325 0,001 1 (1) 0,0357 1 424 3 j FIGURA 5.11 – Detalhe da seção de entrada da malha de cálculo tridimensional. Cotas em metros. Os índices nas direções y e z, estão indicados para as malhas fina e grossa (entre parênteses). 239 TABELA 5.4 – Parâmetros da câmara de injeção. 2 Área transversal total (m ) 0,1098 Razão de áreas transversais (entre escoamento principal e injetores) 30,0 Razão entre altura e largura do injetor 1,44 Razão entre a “meia-largura” da seção de injeção e a largura do injetor 21,1 Razão entre a meia altura da câmara de injeção e a altura do injetor 7,34 A FIG. 5.12 mostra o espaço computacional tridimensional da malha global (quadrante) com o posicionamento e numeração dos injetores, como serão empregados neste trabalho. Há referência às posições extremas da malha de cálculo e aos planos de contorno da região. face superior (simetria horizontal) j = jmax face lateral esquerda (simetria vertical) face de entrada i j = 1 k sentido de fluxo injetor 1 face de saída face lateral direita (parede lateral) injetor 2 i = imax injetor 3 face inferior (piso) k = kmax FIGURA 5.12 – Esquema do campo de cálculo global. 240 5.2.4 Estratégia de cálculo e passagem de parâmetros entre as malhas seqüenciais – questão referente ao plano de simetria A FIG. 5.13 mostra a estratégia de cálculo adotada para a resolução do problema, objetivando o uso otimizado dos recursos computacionais. Depois de estabelecidas as condições iniciais e de contorno na malha grossa, o processo de cálculo é iniciado até a obtenção da solução convergida. A seguir, todos os parâmetros dos nós da malha grossa são transferidos para os nós das posições ímpares das cinco malhas finas, como condição inicial para o processo de cálculo na malha fina. Os parâmetros nos nós das posições pares das malhas finas são interpolados a partir dos nós vizinhos, segundo procedimento já apresentado no capítulo 3, item 3.6. Particularmente, os parâmetros dos planos 2, 3, 4 e 5 do interior da malha grossa (FIG. 5.8) são transferidos para as malhas finas correspondentes como fronteiras de valores impostos. Por exemplo, o plano 2 será fronteira de valores impostos para as malhas finas A e B, como indicado na figura, e assim por diante. Após o cálculo nas cinco malhas finas, o resultado é justaposto em uma malha global, como indica a figura, a partir da qual são calculados os parâmetros macroscópicos da câmara de injeção – os planos além simetria são retirados, por não serem mais necessários. 241 1 2 A 3 B 4 C malha grossa (61x71x185) 5 D condição de parede E condição de simetria plano além simetria fronteira de valores impostos A B C 121x141x70 121x141x69 D 121x141x69 malhas finas 121x141x69 E 121x141x95 144444444444444424444444444444443 justaposição das malhas A B C D E malha fina global (121x141x368) FIGURA 5.13 – Estratégia empregada para o cálculo na seqüência de malhas. Um cuidado adicional foi necessário para evitar um conflito em relação à malha A quanto à obtenção da malha grossa a partir da malha fina correspondente, por causa do plano de simetria vertical. Isto porque é necessário que o posicionamento do plano simétrico (plano 1) seja imutável (sempre na origem do eixo z) tanto na malha grossa quanto na malha fina correspondente. A FIG. 5.14 ilustra a dificuldade encontrada. Na figura estão representadas linhas de cálculo nas ordens correspondentes nas malhas fina e grossa, 242 destacando-se a linha de simetria (traço-ponto) e a linha além simetria (tracejada). Empregando o procedimento normal de obtenção dos pontos da malha grossa a partir dos pontos de ordem ímpar da malha fina, a linha de simetria, como é de ordem par, desapareceu na malha grossa, resultando num deslocamento da linha de simetria, o que não deveria ocorrer. MALHA FINA 1 1 2 3 2 4 5 3 6 7 4 8 9 5 10 11 12 13 MALHA GROSSA 6 7 14 15 8 16 17 9 18 19 10 20 21 11 FIGURA 5.14 – Obtenção da malha grossa a partir da malha fina para a região A. Assim, a maneira para evitar isto foi criar, como “subterfúgio”, uma linha de cálculo extra, além simetria, que só é utilizada para gerar a malha grossa correspondente – a malha fina não a utiliza para o cálculo. A FIG. 5.15 ilustra o fato, com a representação dessa linha extra chamada 1´. Desta forma a linha de simetria se manteve geometricamente inalterada e na segunda posição na malha grossa, estando entre duas linhas igualmente distanciadas dela, como se requer para aplicação da condição de simetria. Quando é realizada a passagem de valores da malha grossa para a malha fina não há problema porque em todas as linhas “além simetria” os valores não são passados, visto que os mesmos são tomados a partir dos valores do interior da malha, pela condição de simetria. Por causa deste procedimento de obtenção da malha grossa, os 368 pontos na direção z da malha fina resultaram em ((368 + 1) + 1) / 2 = 185 pontos na malha grossa. 243 MALHA FINA 1´ 1 1 2 2 3 4 3 5 6 4 7 8 9 10 11 MALHA GROSSA 5 6 12 7 13 14 8 15 16 9 17 18 10 19 20 11 FIGURA 5.15 – Obtenção da malha grossa a partir da malha fina para a região A, mantendo a posição geométrica do plano de simetria. Na direção y também há um plano de simetria o qual requer um plano extra (“além simetria”). Mas aqui o plano de simetria horizontal não precisa estar num posicionamento perfeito na malha grossa porque ele está numa região de escoamento “quasepotencial” e distante dos injetores. Assim, um pequeno erro é introduzido na criação do plano “além simetria” na direção y da malha grossa, o qual será rapidamente corrigido nas primeiras iterações (ao ser imposta a condição de simetria na localização correta deste plano na malha fina). É importante destacar de antemão que a utilização de valores da solução da malha grossa como condições de contorno imutáveis (durante o processo iterativo final) nas paredes laterais das malhas finas introduz um erro. Isto, considerando-se que esses valores que vêm da malha grossa não correspondem à solução final do problema na malha fina global. Este é um dos preços que se teve que pagar pela falta de capacidade computacional. O ideal seria, evidentemente, “rodar” a malha fina completa depois de receber os valores da malha grossa. Nestas condições, a acurácia final não será aquela correspondente à discretização da malha fina, porém, será algo intermediário às duas malhas. 244 5.2.5 Espalhamento da malha de cálculo Um bom refinamento da malha na fronteira de entrada nas proximidades das paredes é de grande importância para que seja possível representar com precisão os perfis de propriedade nas camadas limite e caracterizar bem o início da mistura de jatos. Entretanto, ao longo da direção longitudinal, a partir do surgimento da camada de mistura, o refinamento adotado na fronteira de entrada é demasiado, agravando o fenômeno de rigidez o que, no fim, dificulta a convergência do código. Para diminuir este efeito, a distribuição de pontos em cada plano transversal sofreu um espalhamento lateral gradativo, a partir da estação i = 5 na malha fina (3 na malha grossa) e indo até a estação i = 65 na malha fina (33 na malha grossa), de forma a distribuir os pontos de cálculo, diminuindo o refinamento local. O procedimento empregado consistiu no cálculo das cotas nas direções transversais y e z, numa determinada estação longitudinal i, a partir da média aritmética das cotas de três ou mais pontos (centrados no ponto correspondente da malha computacional) numa estação longitudinal anterior (i – 1). Lembrar que devido ao estiramento os nós em (i – 1) não estão igualmente espaçados nas direções y e z. Com isso, foi possível trabalhar com passos no tempo muito maiores. A FIG. 5.16 mostra cortes transversais com detalhes em seis diferentes estações da malha grossa (i = 1, 10, 20, 30, 40 e 60). Com este espalhamento permite-se que os pontos de cálculo se distribuam mais uniformemente, acompanhando a tendência de crescimento das camadas de mistura, melhorando a resolução da malha, e evitando a concentração dos pontos, o que causa o fenômeno da rigidez. Mais uma vez vale lembrar que o espalhamento “destrói” a estrutura cartesiana da malha, o que, entretanto, não acrescenta nenhuma dificuldade considerando que o código está “escrito” em coordenadas generalizadas (veja também a pág. 191). 245 0.16 0.16 0.16 0.14 0.14 0.14 0.12 0.12 0.12 0.1 0.1 0.1 0.08 0.08 0.08 0.06 0.06 0.06 0.04 0.04 0.04 0.02 0.02 0.02 0 0 0.05 0.1 0.15 0 0 i=1 0.05 0.1 0.15 0 0 i = 10 0.16 0.16 0.14 0.14 0.14 0.12 0.12 0.12 0.1 0.1 0.1 0.08 0.08 0.08 0.06 0.06 0.06 0.04 0.04 0.04 0.02 0.02 0.02 0.05 0.1 i = 30 0.15 0 0 0.05 0.1 i = 40 0.1 0.15 i = 20 0.16 0 0 0.05 0.15 0 0 0.05 0.1 0.15 i = 60 FIGURA 5.16 – Cortes transversais da malha tridimensional em diversas estações na direção longitudinal. 5.3 Condições de contorno para as diversas malhas É importante neste ponto uma discussão detalhada das condições de contorno, principalmente devido à complexidade do plano de entrada. Iniciar-se-á pelas malhas finas, considerando-se que as condições de contorno da malha grossa na seção de entrada são praticamente uma justaposição daquilo que se estabelece para as malhas finas. 246 5.3.1 Condições de contorno para a malha A 5.3.1.1 Face de entrada A malha de cálculo a ser tratada em detalhes, região A nas FIGS. 5.8, 5.11 e 5.13, se projeta ao longo de toda a câmara de mistura. A FIG. 5.17 mostra um esquema da fronteira de entrada, representando suas diversas sub-regiões, que terão tratamentos específicos, conforme as diferentes condições físicas impostas. Essas sub-regiões foram definidas depois da determinação das espessuras das camadas limite no interior e no exterior do injetor, e na parede do túnel, como apresentado na TAB. 5.1. É muito importante que o leitor entenda que a face de entrada da malha contém a face vertical (“parede”) de saída do injetor – veja detalhe na FIG. 5.17. As paredes do injetor “não serão consideradas” para o cálculo (no sentido da discretização), como já foi discutido, mas haverá um espaçamento de cinco pontos na malha fina, correspondendo a três pontos na malha grossa, necessários para utilização da técnica de malhas seqüenciais (ver capítulo 3, item 3.6). Esses pontos de cálculo, embora não modelem a física em detalhe, são úteis para uma representação da distribuição da temperatura na espessura metálica das paredes do injetor. Existe uma diferença de temperatura estática entre as duas correntes igual a 30 graus Celsius (veja FIG. 5.27, pág. 263). Os sub-itens a seguir tratam do detalhe de cada uma das sub-regiões da fronteira de entrada, conforme apresentado na FIG. 5.17. 247 face de entrada da malha face de saída (“parede”) do injetor plano 1 plano 2 plano de simetria horizontal face de saída face lateral esquerda face superior face lateral direita d e1 g i b1 c1 face inferior parede do injetor face de entrada a e2 b3 b2 c2 h f piso do túnel FIGURA 5.17 – Malha de cálculo “A” com detalhe das sub-regiões da fronteira de entrada. Região interna ao injetor As condições de contorno na região interna ao injetor são fixas, i. e., uma vez estabelecidas, elas não variarão de iteração para iteração. Entretanto o valor dessas condições para um determinado ponto dependerá de sua distância à parede mais próxima. Como foi discutido no item 5.1.1, existem camadas limite ao longo de cada parede interna do injetor. Se a distância do ponto à parede mais próxima for maior que a espessura da camada limite correspondente, o mesmo se encontra dentro da região a que é mostrada no detalhe da FIG. 5.17. Com a finalidade de simplificar a terminologia a região a será chamada de “potencial”, no sentido que aí os gradientes de propriedades são desprezíveis. Entretanto, na região a o escoamento é turbulento. Se o ponto estiver localizado em uma outra região que não a a, regiões b1, c1, b2, c2 e b3, então o mesmo estará posicionado dentro de uma camada limite. O detalhamento empregado para a fixação das condições de contorno em cada uma dessas sub-regiões será apresentado em seguida. 248 Escoamento interno ao injetor: núcleo potencial supersônico – região a Na região a o escoamento é supersônico, M = 1,9 (TAB. 5.1), e as propriedades são todas definidas pelas condições de estagnação e pela geometria do bocal, o qual trabalha na condição de entupimento aerodinâmico. Neste caso, para as equações principais (continuidade, quantidade de movimento e energia), cinco parâmetros do escoamento são impostos: a pressão de estagnação, a temperatura de estagnação e os componentes de velocidade nas três direções (em particular, v = w = 0, pois o escoamento é alinhado longitudinalmente). O argumento principal para a imposição de todas as condições de contorno no caso de uma entrada supersônica lastreia-se na teoria de características da dinâmica dos gases – ver apêndice A. Resumindo, pode-se dizer que, neste caso, todas as informações “carregadas” pelas velocidades características chegam ao plano de entrada “transportadas” no sentido do escoamento supersônico. Além desses parâmetros, ainda resta estabelecer o valor da viscosidade turbulenta para esse núcleo potencial supersônico. O valor foi inferido a partir de informações coletadas na literatura e uma análise empírica comparando com o valor atribuído ao escoamento principal. Espera-se que a flutuação de velocidade na tubulação da injeção seja comparativamente bem maior do que no escoamento principal, devido a várias passagens por válvulas, curvas, etc. Assim, foi estabelecido um valor de flutuação de velocidade de 6 % para o jato supersônico dos injetores, ou seja, u′′ u∞ = 0,06 , (5.4) onde u ′′ é o componente de flutuação da velocidade longitudinal e u∞ a velocidade longitudinal média do escoamento supersônico. A partir da energia cinética turbulenta média 249 e de um comprimento característico é possível avaliar a viscosidade turbulenta, relacionada a partir da hipótese de Boussinesq, pela fórmula (Bradshaw et al., 1981): µt = Cµ ρ k 1 2 l. (5.5) A constante Cµ é igual a 0,09, o comprimento característico l correspondente à região do núcleo potencial pode ser obtido em função da espessura da camada limite (ver capítulo 3, item 3.7.4), ρ é a densidade no núcleo potencial e k é a energia cinética turbulenta, expressa por: k= 1 u′′ u′′ . 2 (5.6) A partir dessas considerações, chegou-se ao valor da viscosidade dinâmica turbulenta adimensionalizada pela viscosidade laminar do núcleo potencial supersônico, igual a 4,5. Escoamento interno ao injetor: camadas limite – regiões b1, b2 e b3 As regiões assinaladas por b1, b2 e b3 referem-se às regiões de camadas limite nas paredes internas do injetor. A partir das condições do escoamento no núcleo “potencial” e da espessura da camada limite local (ver TAB. 5.1), é possível determinar os perfis de velocidade, pressão e temperatura no interior das camadas limite, pelo procedimento descrito no capítulo 3, item 3.7.3. Assim como na região a o escoamento nas camadas limite é considerado longitudinal, portanto, v = w = 0. Finalmente, o valor da viscosidade turbulenta na região da camada limite é determinado pelo procedimento descrito no capítulo 3, item 3.7.4, partindo-se da distância do 250 ponto de cálculo até à parede e das distribuições de energia cinética e comprimento característico, pelo emprego da Eq. 5.5. Escoamento interno ao injetor: interação entre camadas limite b1, b2 e b3 – regiões c1 e c2 As regiões c1 e c2 representam os cantos do injetor, nos quais ocorre interação entre duas camadas limite das regiões b1 e b3, e b2 e b3, respectivamente. Esses cantos são de difícil avaliação se tomados no detalhe, necessitando de um comprimento adicional anterior à seção de entrada para o cálculo da região de interferência das camadas limite. Como essas regiões, e até mesmo as próprias espessuras das camadas limite, são muito pequenas em relação às dimensões principais do problema (inclusive em relação à espessura da camada de mistura entre as correntes – que desempenha papel fundamental no problema), uma simplificação foi adotada. Essa simplificação consiste em tratar os cantos com o mesmo enfoque do tratamento da proximidade da parede plana, ou seja, a partir da distância à parede mais próxima os parâmetros do escoamento serão definidos pela lei da parede. A FIG. 5.18 mostra um detalhe desta região destacando as sub-regiões c1 e c2 (sombreadas). Para um ponto no interior da sub-região c2 (pequeno quadrado preto) as propriedades são calculadas a partir da distância à parede mais próxima. A questão que se coloca aqui é da mesma natureza daquela relativa ao escoamento em torno do injetor. Para se estimar os cantos com precisão, torna-se necessário calcular o escoamento tridimensional interno ao duto que vai da câmara de estagnação do injetor até a seção de saída. Novamente um problema extremamente complicado. E ressalte-se aqui o fato já destacado acima que as dimensões dos cantos são muito pequenas, e, portanto, a influência do mesmo sobre o problema como um todo é muito pequena. Por exemplo, a relação entre a área do canto c2 e a área de saída do injetor é aproximadamente 0,4 %. Isto justifica, pelo 251 menos em princípio, as aproximações e suposições utilizadas na modelagem dos chamados cantos, i. e., interações entre duas camadas limite que se encontram transversalmente. c1 e2 parede do injetor b3 f h c2 FIGURA 5.18 – Malha de cálculo “A” com detalhe das sub-regiões c1 e c2. É importante destacar que este esquema de simplificação só foi possível porque as espessuras de camadas limite adjacentes são iguais. Desta forma, o critério estabelecido suaviza numericamente as condições nos cantos – os parâmetros, portanto, serão avaliados da mesma forma que nas regiões b1, b2 e b3. A FIG. 5.19 mostra os campos de velocidade e de viscosidade turbulenta resultantes para o canto c2, que está destacado na figura pelas linhas tracejadas. Observe-se a suavidade das distribuições das curvas de velocidade e de viscosidade turbulenta no canto, indicando ter sido boa a abordagem empregada. 252 4.5 0.0015 0.0015 502.5 17.4 497.9 0.001 493.3 0.001 62.7 484.7 125.4 141.8 469.4 0.0005 0 0.0005 451.5 125.4 418.8 389.7 335.0 0.006 62.7 17.4 0.0065 0.007 0.0075 isolinhas de u (m/s) 0.008 0 0.006 4.5 0.0065 0.007 0.0075 0.008 isolinhas de µt (µ l )∞ FIGURA 5.19 – Detalhes dos campos de velocidade e viscosidade turbulenta no canto c2, interior ao injetor, destacado pelas linhas tracejadas. Coordenadas em metros. Região externa ao injetor Ao contrário da região interna, a região externa ao injetor tem condições de contorno que não podem ser fixadas definitivamente de início. Em outras palavras, essas condições variam de iteração para iteração (pelo menos durante a fase de convergência do cálculo). O que ocorre é o seguinte. A região “potencial” externa ao injetor é indicada pela letra d na FIG. 5.17. Nessa parte da face de entrada o escoamento é subsônico, visto que o mesmo representa a corrente principal do túnel. Para uma entrada subsônica, uma das condições de contorno tem que ser extrapolada a partir da solução interna do domínio. Isto é uma conseqüência física do fato de que uma das velocidades características longitudinais, (u – a), transporta informação a montante – veja capítulo 3, item 3.7.2. Assim, após cada iteração, as condições em d são atualizadas, e, em conseqüência, todas as distribuições internas às camadas limite, regiões e1, g, e2, h e f, têm que ser atualizadas em seguida. Enquanto na região interna ao injetor um único parâmetro, a distância à parede mais próxima, era usado para realizar toda a lógica de cálculo, na região externa isto não pode 253 ser feito. Como há camadas limite com espessuras diferentes, é preciso que cada uma dessas regiões seja calculada de forma particular. Para isto, o código usa ponteiros lógicos nas posições relativas às bordas das camadas limite em cada uma das sub-regiões. Os detalhes do procedimento serão apresentados a seguir. Escoamento externo ao injetor: núcleo potencial subsônico – região d A FIG. 5.20 é uma reapresentação da FIG. 5.17, mostrando como foram tratados os pontos dessa região. A região sombreada – região d – representa o núcleo “potencial” subsônico. A evolução das condições de contorno na fronteira de entrada da câmara de mistura deve reproduzir corretamente o fenômeno físico presente na operação do túnel com uso conjunto da injeção, como descrito no item 5.1.2. No plano de entrada, sendo o regime subsônico, há quatro velocidades características positivas no sentido da corrente e uma velocidade característica negativa transportando informação a montante (ver capítulo 3, item 3.7.2). Os quatro parâmetros impostos na entrada são a temperatura de estagnação, os componentes de velocidade transversais (v = w = 0) e, finalmente, a pressão estática – observe-se que a pressão estática é escolhida pelo critério de projeto de que as pressões estáticas nos dois escoamentos devem se igualar – ver item 5.1.2. O parâmetro a ser extrapolado é o componente de velocidade na direção longitudinal u. O efeito da injeção induz um aumento da velocidade do escoamento na fronteira de entrada aumentando, conseqüentemente, a pressão de estagnação (deve-se lembrar que a pressão estática está fixada). Permite-se inicialmente o aumento da pressão de estagnação. Como descrito no item 5.1.2, esse valor será limitado ao estimado pelo resultado da análise conjunta de todo o circuito do túnel. Quando a pressão de estagnação atinge este valor limite, ocorre uma troca de parâmetros impostos. Quer dizer, abandona-se a pressão estática e passa- 254 se a fixar a pressão de estagnação no plano de entrada. A partir daí a pressão estática poderá então sofrer algum tipo de variação. A aplicação da técnica de características para atualização (após cada iteração) de todos os parâmetros do escoamento médio no núcleo potencial subsônico foi feita de acordo com o procedimento descrito no capítulo 3, item 3.7.3. Os pontos sobre a borda das camadas limite não foram calculados, pois serão tratados durante o cálculo das camadas limite. Os pontos sobre as linhas de simetria também não foram calculados, uma vez que serão tratados convenientemente quando as relações de simetria forem estabelecidas. d e1 g i b1 c1 a e2 b3 b2 c2 h f FIGURA 5.20 – Detalhe da sub-região d. Resta, ainda, estabelecer o valor da viscosidade turbulenta para esse núcleo potencial subsônico. Novamente, por falta de informações mais precisas, a literatura forneceu uma aproximação para uma avaliação do nível de turbulência global na câmara de estagnação do túnel. Alguns autores relatam níveis de turbulência típicos para escoamentos confinados, em 255 particular, em túneis de vento: Dryden e Schubauer (1947) analisam a melhora no desempenho das telas ao distribuir seus efeitos em mais de uma tela, McKinney e Scheiman (1981) apresentam os tratamentos empregados no túnel de 2,2 m x 2,2 m de Langley para redução de turbulência, Wigeland et al. (1979) compilam resultados da turbulência de escoamento livre em inúmeros túneis e Scheiman (1981) faz uma comparação entre cálculos teóricos com os encontrados em ensaios no túnel de 2,2 m x 2,2 m de Langley com uso de telas e colmeias. A partir dos valores típicos encontrados e das características do sistema de amortização da turbulência utilizado na câmara de tranqüilização do TTP (duas telas – uma colmeia – uma tela), atribuiu-se um valor de 1 % de flutuação no valor do componente longitudinal de velocidade devido à turbulência para a câmara de tranqüilização. Este valor foi considerado igual ao da entrada da câmara de mistura da injeção, i. e., uma operação com seção de testes vazia. Assim, estabeleceu-se u ′′ = 0 ,01 , u∞ (5.7) onde u ′′ é o componente de flutuação da velocidade longitudinal e u∞ a velocidade média da corrente subsônica. Novamente, a partir da energia cinética turbulenta média e de um comprimento característico é possível avaliar a viscosidade turbulenta, empregando a Eq. (5.5), e procedimento descrito no capítulo 3, item 3.7.4. Escoamento externo ao injetor: camadas limite sobre o injetor – regiões e1 e e2 As sub-regiões assinaladas por e1 e e2 são as camadas limite formadas sobre a superfície externa do injetor. A FIG. 5.21 mostra detalhes das sub-regiões e1 e e2, destacando toda a região abrangida pelo cálculo – região sombreada. A linha tracejada corresponde à fronteira da sub-região d, cujos valores “acabaram” de ser atualizados. O ponto 256 destacado (pequeno quadrado preto) no interior da sub-região e2 tem suas propriedades calculadas a partir da distância mínima à parede mais próxima (ponto marcado por quadrado vazado) e das propriedades no primeiro ponto fora da camada limite (ponto marcado por círculo vazado) – os três pontos estão na mesma cota horizontal da malha. d parede do injetor g e1 e2 b1 a c1 b3 h b2 f c2 FIGURA 5.21 – Detalhe das sub-regiões e1 e e2. A espessura da camada limite foi avaliada a partir do comprimento de formação ao longo do injetor pelo procedimento descrito no capítulo 3, Eq. (3.93) e no item 5.1, Eq. (5.1). Com esta informação e os valores de propriedades no primeiro ponto fora da camada limite, já atualizados, (região d) pode-se imediatamente determinar as distribuições de u, p e T de acordo com procedimento descrito no item 3.7.3, para todos os pontos da camada limite. Os componentes v e w são considerados nulos e, a partir da velocidade na borda da camada 257 limite, pode-se avaliar o perfil de viscosidade turbulenta pelo procedimento descrito no capítulo 3, item 3.7.4. A FIG. 5.22 traz o roteiro empregado para o cálculo de uma camada limite genérica. Basicamente, os parâmetros do escoamento externo são usados para avaliar os parâmetros sobre a parede, e a partir dos valores na parede é possível calcular o valor da velocidade de atrito que servirá de parâmetro básico para aplicação da lei logarítmica no cálculo dos pontos da camada limite (capítulo 3, item 3.7.3). Parâmetros que vêm do escoamento externo – atualização por características uex, pex, Tex Cálculo dos parâmetros na parede pw = pex Tw – Eq. (3.97) ρw – Eq. (2.5) µw – fórmula de Sutherland, Eq. (5.2) Cálculo iterativo da velocidade de atrito uτ – Eq. (3.94) Cálculo dos pontos intermediários da camada limite – itens 3.7.3 e 3.7.4. FIGURA 5.22 – Roteiro de cálculo empregado nas camadas limite. Escoamento externo ao injetor: interação entre camadas limite e1 e e2 – região g A sub-região assinalada por g é de difícil resolução se tomada no detalhe e, além disso, a interferência entre as camadas limite e1 e e2 (canto convexo) ocorre de forma diferente daquela entre as camadas limite b1 e b3 (canto côncavo). Da mesma maneira como em casos semelhantes anteriores, optou-se aqui por uma solução aproximada. Assim, a sub-região será tratada de forma semelhante às sub-regiões c1 e c2, a partir da distância mínima à parede. 258 A concordância é boa, visto que as espessuras das camadas limite e1 e e2 são iguais. A FIG. 5.23 mostra um detalhe desta região (sombreada) e os pontos abrangidos. As linhas tracejadas são os limites de cálculo das regiões já tratadas. Só há um único ponto sobre a parede, marcado com um círculo preto, que é calculado a partir dos parâmetros do escoamento externo, o ponto marcado com um círculo vazado. O procedimento é simplificado, uma vez que todos os pontos da região são calculados a partir da distância ao ponto sobre a parede (círculo preto) e das condições do primeiro ponto fora da camada limite (círculo vazado). g d parede do injetor e1 b1 c1 e2 a b3 h b2 f c2 FIGURA 5.23 – Detalhe da sub-região g. A FIG. 5.24 mostra os detalhes dos campos de velocidade e viscosidade turbulenta para a região g após a convergência final do cálculo. As linhas tracejadas indicam a extensão da sub-região g. Observa-se que há boa suavidade nas isolinhas de velocidade e de 259 viscosidade turbulenta, indicando ser adequado o procedimento adotado para a sub-região. Convém destacar que nas proximidades da borda da camada limite, as isolinhas de velocidade apresentam pequenas oscilações em torno de seu valor máximo relativo ao “núcleo potencial”. Nas isolinhas de viscosidade turbulenta, isto ocorre em torno do valor máximo, próximo do meio da camada limite (µt = 136), e próximo da sua borda (µt = 63). 15.4 0.024 204.8 203.8 202.2 62.7 0.024 198.5 125.4 191.7 136.0 181.8 0.023 125.4 0.023 167.5 62.7 142.8 0.008 0.009 0.01 isolinhas de u (m/s) 0.008 0.009 0.01 isolinhas de µt (µ l )∞ FIGURA 5.24 – Detalhes dos campos de velocidade e viscosidade turbulenta no canto g, destacado pelas linhas tracejadas. Coordenadas em metros. Escoamento externo ao injetor: camada limite sobre o piso do túnel – região f A sub-região assinalada por f corresponde à camada limite formada sobre o piso do túnel. Supôs-se que a camada limite que aí chega começou a se formar no final da seção de testes do túnel (ver item 5.1.1). Com o valor estimado da espessura em f e os valores atualizados na região d, as distribuições de propriedades no interior da camada limite são calculadas de acordo com os procedimentos dos itens 3.7.3 e 3.7.4. Os componentes de velocidade transversais, v e w, são considerados nulos. 260 Escoamento externo ao injetor: interação entre camadas limite e2 e f – região h A estimativa da sub-região assinalada por h é ainda mais complexa porque consiste numa região de interferência entre camadas limite de espessuras bem diferentes. A espessura da camada limite da sub-região f é cerca de seis vezes maior do que a espessura da camada limite da sub-região e2. A idéia de considerar a distância mínima à parede e utilizar a lei logarítmica, como empregado nos outros casos, não se aplica aqui. Se essa idéia fosse implementada haveria um possível ponto de descontinuidade, no momento em que, ao se afastar de uma das paredes, o ponto ficasse mais próximo da outra, e, então, os valores básicos de referência – δ, uτ –, mudariam bruscamente. No sentido de se obter uma solução que suavizasse as distribuições de propriedades foi adotada uma combinação empírica a partir das informações das duas camadas limite e2 e f. A FIG. 5.25 mostra um detalhe desta sub-região. c1 e2 b3 parede do injetor f h c2 FIGURA 5.25 – Detalhe da sub-região h. 261 Para se obter as propriedades em h, introduziu-se uma ponderação adequada entre as soluções em e2 e f. A sub-região h é especial, uma vez que não há maior contato com o escoamento externo, e, portanto, a maior influência vem das camadas limite que lhe fazem fronteira. Assim, o ponto tomado como referência está marcado pelo círculo vazado, na borda comum das camadas limite. A partir deste ponto, e utilizando-se a metodologia descrita no item 3.7.3, calculou-se as propriedades no canto da parede – o ponto cheio preto. Assumiuse então que todos os pontos das paredes que limitam a região h – linhas cheias grossas na FIG. 5.25 – têm propriedades iguais às do ponto no canto. Os pontos internos da região foram calculados de forma particular, visando um ajuste entre os perfis das camadas limite adjacentes – uma distribuição suave de propriedades na região. Depois de várias opções testadas, foram escolhidas duas formas distintas para as distribuições de velocidade e de viscosidade turbulenta, como segue. A velocidade no ponto interno considerado (quadrado preto na FIG. 5.25) foi tomada como uma média geométrica entre as velocidades em posições correspondentes nos perfis de velocidade nas duas camadas limite adjacentes à região g, ponderadas pela distância dentro da camada limite, segundo a expressão: 1 0 ,15 0 ,15 2 ∆ z ∆ y ⋅ u f u = ue 2 . δ e 2 δ f (5.8) Os símbolos ue2 e uf indicam as velocidades nas posições dos quadrados vazados, ∆ z e ∆ y são as distâncias do ponto considerado às paredes respectivas e δe2 e δf são as espessuras das camadas limite correspondentes. A partir da pressão que vem do ponto marcado pelo círculo vazado e da temperatura que é obtida a partir da analogia de Reynolds, determina-se os demais parâmetros da camada limite hidrodinâmica. 262 Quanto à viscosidade turbulenta, como se presume que seu valor seja influenciado pelo maior nível possível “na vizinhança”, a correlação foi considerada como uma função máxima de valores ponderados pela distância dentro das camadas limite, e expressa por ∆ z ∆ y , , µ f δ e 2 δ f µt = max µe 2 (5.9) onde µe2 e µf são os valores das viscosidades turbulentas sobre os perfis adjacentes, pontos quadrados vazados. A FIG. 5.26 mostra as isolinhas de velocidade e de viscosidade turbulenta para uma solução convergida. As linhas tracejadas indicam a extensão da sub-região h. Os círculos cheio e vazado estão colocados nas mesmas posições da FIG. 5.25 para melhor visualização da sub-região. Observe-se as passagens suaves das isolinhas ligadas às regiões adjacentes e2 e f pela sub-região h. 0.008 62.7 125.4 188.1 0.008 0.007 205.4 0.007 250.7 313.4 0.006 203.0 0.006 0.005 199.5 0.005 0.004 194.6 0.004 190.0 0.003 366.9 372.6 0.003 184.2 0.002 0.002 177.3 167.5 0.001 0 0.005 0.001 141.2 0.0075 0.01 0.0125 isolinhas de u (m/s) 0.015 0 0.005 26.4 0.0075 0.01 372.6 366.9 313.4 250.7 188.1 125.4 62.7 0.0125 0.015 isolinhas de µt (µ l )∞ FIGURA 5.26 – Detalhes dos campos de velocidade e viscosidade turbulenta no canto h, canto externo ao injetor, destacado pelas linhas tracejadas. Os círculos estão colocados nas mesmas posições da FIG. 5.25. Coordenadas em metros. 263 Parede do injetor A parede do injetor (sub-região i, FIG. 5.20) é representada na malha fina por 5 pontos de cálculo igualmente espaçados. Na malha grossa esses pontos se reduzem a 3, mas o tratamento é semelhante ao que será exposto aqui. A FIG. 5.27 mostra um esquema geral da parede do injetor. Os parâmetros relativos às condições sobre as bordas – linhas de cálculo 1 e 5 da figura – são conhecidos porque vieram do cálculo já descrito das condições das camadas limite. Para a determinação dos parâmetros nas três linhas de cálculo (2, 3 e 4) foi adotado o procedimento a seguir. Como são pontos sobre a parede, os componentes de velocidade são nulos (u = v = w = 0). As temperaturas são interpoladas a partir dos valores encontrados nas linhas 1 e 5, simulando um processo convergido de condução através da parede. As pressões também são interpoladas para suavizar a solução – neste caso as pressões nos dois lados da placa de separação são sempre muito próximas e o ajuste é pequeno. Os demais parâmetros são determinados a partir desses. A viscosidade turbulenta em todos os pontos é nula, visto estarem localizados sobre uma parede sólida. i 5 4 3 2 1 1 2 3 4 5 FIGURA 5.27 – Detalhe da parede do injetor. 264 5.3.1.2 Condições de contorno para as outras faces da malha A (FIG. 5.17) Face inferior Corresponde ao piso do túnel, portanto é o caso de uma fronteira sólida. O procedimento está detalhado no item 3.7.2. Face lateral direita As condições são impostas e o detalhamento também foi apresentado no item 3.7.2. Como já destacado no item 5.2.4, as condições de contorno nesta face são obtidas da solução convergida da malha grossa, sendo que para os pontos pares o valor das propriedades é obtido por interpolação. Faces superior e lateral esquerda São planos de simetria. Detalhamento no item 3.7.2. Face de saída Detalhamento no item 3.7.2 5.3.2 Condições de contorno para a malha E A diferença principal entre as malhas E e A localiza-se na face lateral direita. No caso da malha E esta face é formada pela parede lateral do túnel (ver FIG. 5.8). Nestas condições tem-se que levar em conta a camada limite junto a esta parede lateral. Considerou-se que esta camada limite começa também no fim da seção de testes, mais precisamente no fim da parte 265 fendida da parede do túnel. Assim, ao atingir a posição do plano de entrada da seção de injeção, a altura da camada limite junto à parede lateral seria igual à altura da camada limite junto ao piso. Na FIG. 5.28, portanto, as alturas de f1 e f2 são iguais. Face de entrada (FIG. 5.28) As considerações no geral são as mesmas já discutidas para o caso da malha A. A camada limite f2 tem o mesmo tratamento de f1. O canto j é do mesmo tipo do campo c2 da malha A, visto que, como foi discutido acima, as alturas das camadas f1 e f2 são iguais. A FIG. 5.29 mostra detalhes dos campos de velocidade e viscosidade turbulenta para esta subregião, numa solução convergida. As linhas tracejadas destacam a extensão da sub-região. Observe a passagem suave das isolinhas pela sub-região j. Face inferior Piso do túnel, portanto, fronteira sólida. Detalhamento no item 3.7.2. Face lateral direita Fronteira sólida – item 3.7.2. Face superior Plano de simetria – item 3.7.2. Face lateral esquerda Condições impostas, sendo que o detalhamento também foi discutido no item 3.7.2. Neste caso as condições a serem impostas vêm da solução da malha grossa. 266 Face de saída Detalhamento no item 3.7.2. face de saída face superior plano de simetria horizontal face lateral direita face lateral esquerda d f2 g e1 i b1 c1 parede lateral do túnel parede do injetor e2 a b3 j piso do túnel face inferior face de entrada f1 h b2 c2 0.016 0.014 0.014 0.012 0.012 0.01 0.01 0.008 199.5 0.008 197.6 0.006 0.006 179.6 167.5 150.8 0.15 13 9 1. 0.002 0.16 isolinhas de u (m/s) 0.165 252.4 168.0 0 0.155 168.0 252.4 315.5 0.004 0.004 0 15.2 65.3 371.0 190.0 0.002 371.0 0.016 315.5 FIGURA 5.28 – Malha de cálculo E com detalhe das sub-regiões da fronteira de entrada. 15 65.3 0.15 0.155 0.16 .2 0.165 isolinhas de µt (µ l )∞ FIGURA 5.29 – Detalhes dos campos de velocidade e viscosidade turbulenta no canto j, destacado pelas linhas tracejadas. Coordenadas em metros. 267 5.3.3 Condições de contorno para as outras malhas Malhas finas B, C e D Todas as condições de contorno para estas malhas estão contidas na discussão acima para as malhas A e E. Malha grossa Em verdade, todas as condições de contorno para a malha grossa também estão englobadas nas discussões para as malhas finas de A a E. Neste caso, o plano de entrada da malha contém todas as sub-regiões que aparecem nas faces de entrada das malhas A a E. A face lateral direita é uma fronteira sólida visto coincidir com a parede lateral do túnel. As faces superior e lateral esquerda são planos de simetria e a face posterior é uma face de saída. A face inferior é formada pelo piso do túnel correspondendo portanto a uma fronteira sólida. 5.4 Análise no ponto de projeto 5.4.1 Aspecto físico geral do campo de escoamento É importante verificar a concordância do resultado numérico obtido com o aspecto físico geral esperado para o problema. Inicialmente, entretanto, a condição básica de projeto deve ser “checada”. O ponto de projeto é caracterizado por pressões estáticas iguais entre os dois jatos, objetivando a minimização das perdas durante a operação – diminuição de ondas de choque e expansão. 268 A FIG. 5.31 mostra distribuições de pressão estática ao longo de linhas especiais no plano de entrada, da solução com a malha fina. As três primeiras, linhas 1, 3 e 5, correspondem a linhas obtidas por intersecção do plano de entrada com planos verticais que contêm o centro geométrico dos injetores, a quarta, linha 6, representa a intersecção do plano de entrada com um plano horizontal que também contém o centro geométrico dos injetores, enquanto que a última, linha 7, representa a intersecção entre o plano de entrada e um plano horizontal com cota vertical tal que y = 0,100 m, – veja FIG. 5.30. Das figuras conclui-se que a variação da pressão é pequena, inclusive na passagem pela parede dos injetores, e, desta forma, pode-se dizer que a condição básica de projeto foi atingida. É de fundamental importância lembrar, neste ponto, que tal condição foi conseguida em decorrência da estratégia numérica adotada, a qual permitiu simular o efeito da injeção, i. e., o aumento da pressão de estagnação no plano de entrada da seção. 1 3 5 y = 0,100 m 7 Injetor 1 Injetor 2 Injetor 3 y = 0,0113 m z = 0,0000 m 6 z = 0,0325 m z = 0,0650 m FIGURA 5.30 – Definição de linhas especiais no plano de entrada para fins de plotagem da pressão estática. 269 y (m) y (m) 0.16 0.14 0.12 0.10 0.08 0.06 y (m) 0.16 0.16 0.14 0.14 0.12 0.12 0.10 0.10 0.08 0.08 0.06 0.06 0.04 0.04 0.02 0.02 0.04 0.02 0.00 0.5 1 1.5 0.00 0.00 0.5 pressão adimensional 1.5 0.5 1 1.5 pressão adimensional pressão adimensional linha 1 pressão adimensional 1 linha 3 linha 5 1.5 1 linha 6 0.5 0 0.02 0.04 0.06 0.08 0.1 0.12 0.14 0.16 pressão adimensional z (m) 1.5 1 linha 7 0.5 0 0.02 0.04 0.06 0.08 0.1 0.12 0.14 0.16 z (m) FIGURA 5.31 – Distribuição da pressão estática ao longo das linhas 1, 3, 5, 6 e 7, respectivamente. Valores adimensionalizados pela pressão no jato subsônico na entrada. As linhas finas destacam as posições das paredes dos injetores. 270 As FIGS. 5.32 a 5.34 mostram os campos de pressão estática nos planos verticais que contêm as linhas 1, 3 e 5 (veja FIG. 5.30). Embora o nível de pressão seja praticamente uniforme (variação máxima inferior a 1 %), é possível notar ondas de expansão fracas formadas na saída dos injetores para adaptar a pressão na saída dos mesmos à pressão ligeiramente inferior do escoamento subsônico. Próximo ao piso, logo na saída do injetor, há uma pequena formação de compressão, provavelmente proveniente do acerto do perfil de velocidades imposto (veja detalhe na FIG. 5.67, pág. 305). Verifica-se, assim, que o código reproduz com fidelidade o cenário físico esperado. Ao sair do injetor, a corrente supersônica experimenta imediatamente uma expansão (queda na pressão estática) para se adaptar ao nível de pressão ligeiramente mais baixo da corrente subsônica. 0.15 0. 99 6 0. 4 99 0. 1 99 0.05 0 0.997 0.996 0.1 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 FIGURA 5.32 – Isobáricas no plano de centro vertical do injetor 1. Valores adimensionalizados pela pressão na saída do injetor. Coordenadas em metros. 0.15 0. 0. 0.998 4 99 0. 0. 99 3 0.05 0 99 6 5 0.997 0.1 99 0 0.1 0.2 0.3 0.4 00 1.0 0.5 0.6 FIGURA 5.33 – Isobáricas no plano de centro vertical do injetor 2. Valores adimensionalizados pela pressão na saída do injetor. Coordenadas em metros. 271 5 99 0. 0 0 0.1 1.001 0.995 0.05 1.000 0.1 0.998 0.99 8 0.99 7 0.15 0.997 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 FIGURA 5.34 – Isobáricas no plano de centro vertical do injetor 3. Valores adimensionalizados pela pressão na saída do injetor. Coordenadas em metros. As FIGS. 5.35 a 5.37 mostram as isolinhas de número de Mach para os mesmos planos centrais dos injetores (planos verticais que contêm as linhas 1, 3 e 5 da FIG. 5.30). Nestas figuras já se percebe nitidamente a estrutura da mistura de jatos. Observa-se que os campos de número de Mach são muito semelhantes, no entanto, no caso do injetor 3, os valores do número de Mach na região potencial são um pouco menores. Provavelmente, isto é resultado da influência da parede lateral do túnel. 0.15 80 0.576 0.5 82 0.579 0. 5 0.1 0.05 1.896 0 0 0.1 0.2 1.602 0.3 0.4 0.641 0.961 1.282 0.5 0.6 FIGURA 5.35 – Isolinhas de número de Mach no plano de centro vertical do injetor 1. Coordenadas em metros. 272 0.15 0.576 0.579 0.1 0.580 0. 58 2 0.05 1 . 89 6 0 0 0.1 0.641 0.961 1.282 1.602 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 FIGURA 5.36 – Isolinhas de número de Mach no plano de centro vertical do injetor 2. Coordenadas em metros. 0.15 0. 0.561 0.576 0. 5 52 52 6 36 0. 5 79 0.1 0. 5 0. 58 0 0.05 1.896 0 0 0.1 0.641 0.961 1.282 1.602 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 FIGURA 5.37 – Isolinhas de número de Mach no plano de centro vertical do injetor 3. Coordenadas em metros. A FIG. 5.38 mostra um corte horizontal que contém a linha 6 (FIG. 5.30), onde aparece com clareza a estrutura da mistura dos jatos (a figura destaca as posições dos injetores na fronteira de entrada). 0.000 1.902 0.020 89 273 1.613 0.5 0.583 0.040 0.060 1.291 0.581 1.613 1.902 0.080 0 .5 83 0.581 0.100 0.120 1.613 1.902 0.140 0.645 0.581 0.160 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4 0.45 0.968 0.645 0.645 0.968 1.291 1.291 0.968 0.645 0.645 0.968 1.291 1.291 0.968 0.425 0.5 0.55 0.6 FIGURA 5.38 – Isolinhas de número de Mach no plano horizontal passando pelo centro dos injetores. Parede lateral do túnel na parte inferior, indicada pela linha mais grossa. Coordenadas em metros. A influência da parede lateral se faz sentir desde a fronteira de entrada da câmara de mistura. A FIG. 5.39 mostra as isobáricas de estagnação na fronteira de entrada. Observe-se que a pressão de estagnação subiu em todo o plano de entrada, exceto na região mais próxima da parede e mais longe dos injetores. Registre-se que a pressão de estagnação do escoamento subsônico no início do processo iterativo era igual a 1,193 (valor adimensionalizado em relação à pressão estática na saída do injetor). Mais próximo aos injetores, o escoamento de alta velocidade acelera o escoamento de baixa velocidade de forma a aumentar mais a velocidade e, conseqüentemente, a pressão de estagnação. Percebe-se nitidamente o efeito “amortecedor” da parede neste processo de aumento da pressão de estagnação. Este foi um efeito de certa forma inesperado, entretanto, totalmente lógico. A parede, e sua camada limite, representam, diga-se, um “sumidouro de energia nobre” devido ao processo dissipativo. Fica portanto mais difícil para o escoamento “ganhar” pressão de estagnação quanto mais perto da parede e mais longe dos injetores. Esta região tem sua “posição geográfica” perfeitamente definida na figura. 274 1.193 y 0.150 1 .1 9 6 1.249 1. 2 0 0.100 5 1.249 1. 2 2 5 1.2 4 9 0.050 6.701 0.000 z 0 0.05 0.1 0.15 FIGURA 5.39 – Isobáricas de estagnação na fronteira de entrada da câmara de mistura. Valores adimensionalizados pela pressão estática na saída do injetor. Coordenadas em metros. A FIG. 5.40 mostra as isolinhas de número de Mach na fronteira de entrada. Observese a influência dos injetores na aceleração e a influência da parede na desaceleração do escoamento da região subsônica. O número de Mach original de 0,509 subiu até 0,591 na região próxima dos injetores. Nota-se que o injetor próximo à parede teve maior dificuldade de imprimir a aceleração ao escoamento circundante. As isolinhas de número de Mach sofreram perturbações localizadas devido à passagem pelas regiões de alto refinamento da malha, embora não ocorra alteração no contorno médio da linha. Na verdade, os picos que aparecem na figura são de uma certa forma aparentes. Primeiramente porque os valores do número de Mach são na verdade muito próximos. Entretanto, em função destas diferenças muito pequenas e do grande número de pontos localizados numa região, o plotador gráfico 275 (Tecplot) acaba gerando figuras deste tipo. O Tecplot sempre “vai atrás” do mesmo número com o máximo de precisão possível. Estas figuras poderiam perfeitamente ter sido “maqueadas”, entretanto, optou-se por não fazer isto. y 0.150 0.509 0.534 0 .57 7 0. 0.100 58 0.583 0 0. 5 0.050 85 0 .5 8 8 0.591 1.900 0.000 z 0 0.05 0.1 0.15 FIGURA 5.40 – Isolinhas de número de Mach na fronteira de entrada da câmara de mistura. Coordenadas em metros. A FIG. 5.41 mostra o campo de isobáricas de pressão estática na fronteira de entrada. Observe-se o nível praticamente uniforme da pressão, confirmando mais uma vez a condição básica de ponto de projeto – pressões estáticas iguais nos dois escoamentos. A realimentação a montante do escoamento via características no núcleo potencial da parte subsônica faz aumentar a pressão de estagnação e o número de Mach (ver FIGS. 5.39 e 5.40), pelo efeito indutivo da injeção, enquanto as pressões estáticas são mantidas muito próximas entre os 276 jatos, simulando a condição física da operação ótima da injeção. Os menores valores de pressão são observados entre dois injetores adjacentes, cuja influência dos escoamentos de alta velocidade provocam uma indução maior, acelerando mais o escoamento na região (ver FIG. 5.40). Novamente aqui (FIG. 5.41) podem ser observadas as perturbações nas isobáricas nas passagens pelas regiões de alto refinamento. Entretanto, as diferenças de valores entre isolinhas são mínimas, e as distorções das curvas são na verdade introduzidas pelo Tecplot. A FIG. 5.31 mostra de forma definitiva que, numa escala normal, estes pretensos picos na verdade não existem. y 0.150 0. 99 4 0. 99 3 1. 000 0. 99 6 99 0. 0. 0.100 5 99 2 0. 4 99 0. 99 3 0. 99 2 0. 99 1 0. 99 0 0.991 0.990 0.050 0.988 0.984 0.987 0.988 1.000 0.000 0 0.05 0.996 1.000 0.1 z 0.15 FIGURA 5.41 – Isobáricas de pressão estática na fronteira de entrada da câmara de mistura. Valores adimensionalizados pela pressão estática na saída do injetor. Coordenadas em metros. 277 A FIG. 5.42 mostra mapas de números de Mach em um corte horizontal passando pelo centro dos três injetores (plano horizontal que contém a linha 6 da FIG. 5.30). Observa-se claramente a influência do jato supersônico acelerando o escoamento ao longo da câmara de mistura. A figura mostra também de forma patente a topologia da evolução dos jatos. Fica claro que o jato mais próximo à parede não tem a mesma abertura das isolinhas. As isolinhas de baixo número de Mach próximas à parede ampliam sua região de atuação ao longo da câmara de mistura, indicando um aparente engrossamento da camada limite sobre a parede lateral do túnel. Isso ocorre até aproximadamente x = 0,40 m (veja a isolinha M = 0,425 se afastando da parede) e, só a partir daí, há aceleração devido à influência do escoamento de alta velocidade indicando um afinamento da camada limite (a isolinha aproxima-se de volta à parede). Outro efeito interessante corresponde a uma certa diminuição do número de Mach nas “regiões potenciais” entre jatos conforme o escoamento progride a jusante. Possivelmente, o que acontece é que as partículas que penetram a câmara de mistura nestas posições sentem um bloqueio completo à frente, devido ao encontro entre as camadas de mistura aproximadamente em x = 0,5 m. Logo em seguida, entretanto, essas partículas 0.000 1.902 0.020 89 penetram as camadas de mistura (“entrainment effect”) e aceleram novamente. 1.613 0.5 0.583 0.040 0.060 0.581 1.613 1.902 0.080 1.291 0.58 3 0.581 0.100 0.120 1.613 1.902 0.140 0.645 0.581 0.160 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4 0.45 0.968 0.645 0.645 0.968 1.291 1.291 0.968 0.645 0.645 0.968 1.291 1.291 0.968 0.425 0.5 0.55 0.6 FIGURA 5.42 – Isolinhas de número de Mach no plano horizontal passando pelo centro dos injetores. Parede lateral do túnel na parte inferior, indicada pela linha mais grossa. Coordenadas em metros. 278 A FIG. 5.43 mostra mapas de número de Mach em um corte horizontal bem acima dos injetores (plano horizontal que contém a linha 7 da FIG. 5.30). Observe-se que a região no rastro dos injetores mais centrais é mais acelerada e mais uniforme (número de Mach aproximado de 0,580), enquanto que o rastro do injetor mais próximo à parede é bem menos acelerado (número de Mach aproximado de 0,535). 0.000 0.020 0.040 0.060 0.080 0.5 0.577 0.580 80 0.100 0.577 0.120 0.535 0.517 0.488 0.140 0.160 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4 0.45 0.5 0.390 0.55 0.6 FIGURA 5.43 – Isolinhas de número de Mach em um plano horizontal passando acima dos injetores (y = 0,100 m). A parede lateral do túnel na parte inferior é indicada pela linha mais grossa. Estão indicadas na figura as posições dos injetores. Coordenadas em metros. Cortes transversais ao longo da câmara de mistura são muito ilustrativos. É possível observar o processo de expansão dos jatos com a transformação da geometria inicial praticamente retangular para uma geometria final praticamente circular (ver capítulo 2, item 2.7.2). A FIG. 5.44 mostra cortes igualmente espaçados, desde a fronteira de entrada até a fronteira de saída ao longo da câmara de mistura. É notável a influência da parede ao longo de todo o processo. Outro fato importante é a diminuição da região de alta velocidade e o valor do número de Mach no núcleo potencial residual. 279 0.150 0.580 5 0. 0.5 8 6 0.050 0.050 0.644 1.610 0.592 1.900 0 0.05 1.894 0.580 0.586 0.1 0.000 0.15 0 0.05 (a) x = 0,000 m 0.1 0.15 (b) x = 0,100 m 0.150 0.521 78 0.541 0.5 0.491 0.541 0.100 0.322 0.150 0.521 0.491 0.000 0.580 0.100 83 0.541 0.580 80 0.5 0.532 0 0.58 0.100 0.509 0.150 0.100 0.580 0.050 0.050 0.578 0.580 0.644 1.288 1.610 1.610 0.05 0.1 0.000 0.15 0 (c) x = 0,200 m 0.05 0.1 0.15 (d) x = 0,300 m 0 .5 0.050 0.322 0.491 0.516 41 0.521 0.541 0.100 0.100 0.050 0.578 0.581 0.641 0.807 0.641 0.807 1.106 1.106 1.519 0.000 0 0.05 0.516 0.150 0.521 0.150 1.343 0.1 (e) x = 0,400 m 0.15 0.000 0 0.05 0.1 (f) x = 0,500 m 0.15 0.322 0 1.288 0.491 0.000 0.644 280 0.322 54 0.516 0. 0.521 0.491 0.150 1 0.100 0.580 0.050 0.644 0.966 1.288 0.000 0 0.05 0.1 0.15 (g) x = 0,600 m FIGURA 5.44 – Campo de número de Mach em diversos planos transversais. Coordenadas em metros. A FIG. 5.45 mostra perfis de velocidade para algumas estações, a partir da fronteira de entrada, numa das oito camadas de mistura existentes entre os jatos supersônicos dos injetores e o escoamento subsônico externo. Neste caso em particular, a do injetor 1, e em um plano vertical passando pelo centro do mesmo. Cada vetor está associado a um nó da malha estruturada. Observe-se o espalhamento da malha ao longo da direção vertical. Observe-se também o comportamento esperado da camada de mistura, com dois núcleos potenciais de escoamento e uma região crescente de suavização dos perfis de velocidade através de uma transferência de quantidade de movimento entre os escoamentos. Observe-se ainda que a dimensão da região entre jatos na fronteira de entrada é muito pequena comparada com a espessura da camada de mistura. Em x = 0 as regiões de gradientes que aparecem na figura representam as camadas limite sobre a parede do injetor, tanto interna quanto externamente. A FIG. 5.46 mostra esses perfis no plano horizontal para o mesmo injetor, que tem 281 comportamento semelhante ao da direção vertical. A FIG. 5.47 mostra os perfis de velocidade no plano vertical no final da câmara de mistura, onde é possível observar que o núcleo potencial do escoamento supersônico já se acha bastante reduzido e a camada de mistura praticamente desenvolvida – a linha tracejada corresponde à altura do injetor. 0.030 0.020 0.010 0 0.02 0.04 0.06 0.08 0.1 FIGURA 5.45 – Vetores de velocidade no plano vertical passando pelo centro do injetor número 1 (ver FIG. 5.12), no início da câmara de injeção. Coordenadas em metros. 0.000 0.010 0.020 0 0.02 0.04 0.06 0.08 0.1 FIGURA 5.46 – Vetores de velocidade no plano horizontal passando pelo centro do injetor número 1 (ver FIG. 5.12), no início da câmara de injeção. Coordenadas em metros. 282 0.080 0.060 0.040 0.020 0.000 0.32 0.34 0.36 0.38 0.4 0.42 0.44 0.46 0.48 0.5 0.52 0.54 0.56 0.58 0.6 FIGURA 5.47 – Vetores de velocidade no plano vertical passando pelo centro do injetor número 1 (ver FIG. 5.12), na saída da câmara de injeção. A linha tracejada corresponde à altura do injetor. Coordenadas em metros. A interação entre os jatos é o fator que mais contribui para a geração da turbulência na câmara de mistura, devido principalmente à alta geração de vorticidade. A FIG. 5.48 mostra uma vista do campo de viscosidade turbulenta adimensional no plano horizontal que passa pelo centro dos injetores (plano horizontal contendo a linha 6 da FIG. 5.30). Observe-se o aumento “dramático” da viscosidade turbulenta com o desenvolvimento da camada de mistura entre os escoamentos de alta e baixa velocidade. Praticamente não se percebe a contribuição da camada limite na geração de turbulência pela intensidade da geração entre os escoamentos. 0.000 2017 18 0.040 3025 96 51 0.020 4034 3025 2017 0.060 5704 5042 4034 621 5042 5704 0.080 96 51 18 0.100 3025 2017 0.120 621 4034 5042 5704 0.140 96 18 0.160 0 0.05 0.1 2017 621 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4 3025 0.45 0.5 0.55 0.6 FIGURA 5.48 – Isolinhas de viscosidade turbulenta no plano horizontal que contém o centro dos injetores. Valores adimensionalizados pela viscosidade molecular na entrada supersônica. Coordenadas em metros. 283 A FIG. 5.49 mostra cortes transversais igualmente espaçados, desde a fronteira de entrada até a fronteira de saída com isolinhas de viscosidade turbulenta. Observe-se que ao longo da câmara de injeção a perturbação gerada pela ação do injetor mais próximo à parede se difunde também junto à parede lateral do túnel aumentando o nível de turbulência. Também pela distribuição do nível de turbulência na direção longitudinal é possível constatar a evolução da geometria dos jatos, de retangular para circular. 0.150 0.100 18 341 15.4 18 316.3 0.100 43 0.150 0.050 0.050 18 1353 4.5 0.000 18 341 371.0 0 0.05 0.1 0.000 0.15 0 (a) x = 0,000 m 0.05 0.1 0.15 (b) x = 0,100 m 0.150 15 18 0.100 159 485 347 92 433 0.150 0.100 15 18 0.050 732 0.050 92 2197 577 1543 2572 4213 159 347 0.000 0 0.05 0.1 (c) x = 0,200 m 0.15 0.000 0 0.05 0.1 (d) x = 0,300 m 0.15 284 367 736 0.150 23 0.150 0.100 0.100 850 29 232 595 14 14 0.050 0.050 1113 850 942 4454 942 3769 5413 0.000 0 0.05 6436 0.1 0.000 0.15 0 0.05 (e) x = 0,400 m 0.1 0.15 (f) x = 0,500 m 0.050 1102 72 1102 16 857 16 0.100 624 0.150 4895 6973 0.000 0 0.05 0.1 0.15 (g) x = 0,600 m FIGURA 5.49 – Campos de distribuição de viscosidade turbulenta adimensional. Diversos planos transversais. Valores adimensionalizados em relação à viscosidade molecular de referência (ver TAB. 5.2). Coordenadas em metros. As figuras coloridas 5.50 a 5.52 mostram cortes horizontais passando pelo centro dos injetores para campos de número de Mach, pressão de estagnação e viscosidade turbulenta, respectivamente, cuja cor vermelha está associada com os maiores valores e a azul com os menores valores. O contraste criado nas figuras é interessante para destacar o efeito de dissipação, o que indica o desenvolvimento do processo de mistura. Na FIG. 5.50 observa-se como as velocidades dos núcleos potenciais supersônicos vão diminuindo (vermelho), 285 enquanto que regiões de velocidades intermediárias (verde claro) se expandem lateralmente. Pode-se observar também o aumento da camada limite sobre a parede lateral do túnel pela expansão da região de cor azul e que, após a distância x ≅ 0,400 m, a mesma sofre influência da expansão do jato supersônico, reduzindo um pouco a sua espessura. Destaque-se que a variação do número de Mach no campo mostrado é devido em grande parte à variação de velocidade. Na FIG. 5.51 pode-se observar como a alta energia do escoamento supersônico (representada pelo alto valor da pressão de estagnação – cor vermelha) se transfere e se “dissipa” no processo de mistura. 0.000 0.020 0.040 0.060 0.080 0.100 0.120 0.140 0.160 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 FIGURA 5.50 – Campo do número de Mach no plano horizontal passando pelo centro dos injetores. Coordenadas em metros. 0.000 0.020 0.040 0.060 0.080 0.100 0.120 0.140 0.160 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 FIGURA 5.51 – Campo de pressão de estagnação no plano horizontal passando pelo centro dos injetores. Coordenadas em metros. 286 Na FIG. 5.52 pode-se perceber como cada camada de mistura no início do escoamento, representada por tênues faixas em azul claro, indicando valor baixo da viscosidade turbulenta, vai “engrossando” lateralmente e passando para o vermelho, indicando valores altos de viscosidade turbulenta. Observe-se que a presença da parede faz surgir uma faixa muito tênue de um azul claro que se desenvolve desde o início, indicando a produção de turbulência na camada limite. Observe-se também como a presença da parede impede a expansão lateral da camada de mistura após x ≅ 0,400 m. É possível ver que os núcleos potenciais da injeção, indicados pela cor azul, se mantêm somente até x ≅ 0,270 m, enquanto os núcleos potenciais do escoamento subsônico se mantêm até x ≅ 0,480 m. Registre-se que a FIG. 5.52 é notável e absolutamente essencial na ilustração do processo físico de mistura. Esta, e também outras figuras, representam uma indicação muito segura da confiabilidade da simulação numérica. 0.000 0.020 0.040 0.060 0.080 0.100 0.120 0.140 0.160 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 FIGURA 5.52 – Campo de viscosidade turbulenta no plano horizontal passando pelo centro dos injetores. Coordenadas em metros. A FIG. 5.53 mostra uma vista geral do campo turbulento na seção de injeção. 287 FIGURA 5.53 – Campo de viscosidade turbulenta na seção de injeção. Plano horizontal contendo o centro dos injetores (figura obtida por duplicação da FIG. 5.52) 288 5.4.2 Análise do desenvolvimento dos jatos Um parâmetro bastante representativo da mistura dos jatos no sistema de injeção é a taxa de crescimento das camadas de mistura. Há oito regiões de mistura no quadrante de cálculo, objeto da presente simulação, segundo a numeração indicada na FIG. 5.54. A TAB. 5.5 mostra os resultados obtidos para essas oito camadas de mistura. A tabela mostra valores de b, a espessura da camada de mistura, e de db/dx, a sua taxa de crescimento. No capítulo 2, item 2.7.2, a partir de interpolação entre os valores das experiências de Goebel e Dutton (1991), foi prevista uma taxa de crescimento das camadas de mistura para o TTP da ordem de 0,043. É interessante observar a proximidade entre os valores, embora se deva lembrar que o caso do TTP apresenta diferenças importantes em relação àquelas experiências pelo fato de se tratar de mistura tridimensional, com razões de área muito diferentes (30 para 1) e com três regiões de escoamento supersônico. Os resultados encontrados foram em geral superiores àquele valor, possivelmente explicável pela grande relação de áreas, o que faz com que o escoamento supersônico sofra muito menos a ação inibidora das paredes para a expansão da camada de mistura. Além disso, no movimento tridimensional há mais espaço lateral para a “abertura” das camadas de cisalhamento, quando se compara com a situação bidimensional. 1 4 2 3 Injetor 1 7 5 Injetor 2 6 8 Injetor 3 FIGURA 5.54 – Indicação da localização das camadas de mistura analisadas, numeradas de 1 a 8. Apresentação dos resultados na TAB. 5.5. 289 TABELA 5.5 – Valores de b, em metros, e de db/dx para várias camadas de mistura e diversas posições longitudinais. x (m) b1 b2 b3 b4 b5 b6 b7 b8 0,05 0,00345 0,00348 0,00351 0,00348 0,00352 0,00354 0,00364 0,00353 0,10 0,00637 0,00624 0,00632 0,00644 0,00629 0,00642 0,00675 0,00625 0,15 0,00946 0,00897 0,00904 0,00945 0,00885 0,00907 0,00994 0,00895 0,20 0,01226 0,01145 0,01157 0,01247 0,01130 0,01180 0,01324 0,01154 0,25 0,01539 0,01353 0,01386 0,01548 0,01331 0,01423 0,01666 0,01377 0,30 0,01770 0,01521 0,01592 0,01778 0,01503 0,01621 0,01934 0,01609 0,35 0,01962 0,01681 0,01771 0,01965 0,01670 0,01802 0,02178 0,01801 0,40 0,02142 0,01868 0,01926 0,02139 0,01841 0,01947 0,02421 0,01846 0,45 0,02319 0,01982 0,01995 0,02305 0,01981 0,01998 0,02672 0,01853 0,50 0,02470 0,02033 0,02020 0,02466 0,02035 0,02014 0,02928 0,01842 0,55 0,02615 0,02056 0,02020 0,02625 0,02053 0,02010 0,03197 0,01831 0,60 0,02744 0,02053 0,02012 0,02750 0,02057 0,02000 0,03418 0,01829 0,0598 0,0509 0,0518 0,0600 0,0497 0,0535 0,0650 0,0516 db/dx (1) (1) – cálculo por mínimos quadrados, realizado na região de similaridade, de x = 0,05 m até x = 0,25 m (ver FIG. 5.52). A FIG. 5.55 mostra os dados da TAB. 5.5 representados num gráfico, onde é possível se constatar que, a partir da posição x = 0,25 m, as curvas sofrem a influência da presença das paredes ou do jato adjacente. Observe-se que as camadas de mistura nas posições acima dos injetores (camadas 1, 4 e 7) apresentam uma taxa de crescimento maior, quando se compara com as taxas de crescimento nas direções laterais. A razão de haver uma taxa de crescimento maior nas camadas de mistura superiores pode ser explicada pelo fato de que o escoamento circundante subsônico acima dos jatos é menos acelerado (ver FIG. 5.40), causando maior gradiente de velocidades e propiciando maior ação da camada de mistura – o número de Mach 290 relativo é maior (este efeito é mais significativo sobre a camada 7, aquela mais junto à parede – ver FIG. 5.40). Além disso, nesta direção o teto do túnel está muito distante, não restringindo a expansão do jato. 0.02 b (m) 0.015 0.01 1 0,0598 2 0,0509 3 0,0518 4 0,0600 5 0,0497 6 0,0535 7 0,0650 8 0,0516 valores de db /dx medidos por mínimos quadrados, com os pontos entre x =0,05m e 0,25m. 0.005 0 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 x (m) FIGURA 5.55 – Resultados para as oito camadas de mistura, com os valores respectivos de db/dx. Considerando uma taxa de crescimento média na faixa similar de aproximadamente 0,05 m/m, as camadas de mistura nas laterais de dois injetores adjacentes se fundiriam a partir de aproximadamente 0,50 m, ou seja, próximo ao final da câmara de mistura. Entretanto, como a partir de x = 0,25 m as taxas de crescimento nas camadas laterais começam a sofrer uma redução, devido às influências do jato adjacente ou da parede, haverá um prolongamento maior até ocorrer fusão das camadas de mistura. A FIG. 5.56 mostra perfis de velocidade em um plano horizontal passando pelo centro dos injetores na parte final da câmara de mistura. 291 Observe-se que a região entre os jatos ainda preserva um pouco o aspecto patamarizado do perfil de velocidades (até aproximadamente x = 0,400 m) enquanto que praticamente não há patamar na região de alta velocidade em todo esse trecho final. Isto é devido à área transversal do escoamento de alta velocidade ser relativamente menor. A câmara de mistura, pelo fato de ter um comprimento limitado, não propicia uma mistura completa dos jatos, embora permita a ação dos principais fenômenos que contribuem para a transferência de quantidade de movimento e aceleração do escoamento subsônico. A velocidade mais baixa em toda a seção de saída foi de 183 m/s e supera a velocidade na seção de entrada subsônica (no início do cálculo) que era de 176 m/s. Esse aumento de velocidade é surpreendente porque ocorre numa área muito grande e é causado totalmente pela ação indutiva dos injetores cuja área ocupada é muito menor. De qualquer forma, a simulação indica que o desenvolvimento final do processo de mistura se dará no trecho inicial do primeiro difusor. 0.000 0.050 0.100 0.150 0.35 0.4 0.45 0.5 0.55 0.6 FIGURA 5.56 – Perfis de velocidade no plano horizontal no centro dos jatos, na região final da câmara de mistura. 292 A FIG. 5.57 mostra os valores das isolinhas de velocidade para os valores limites da região que define a espessura da camada de mistura b, U1 – 0,10 ∆U e U2 + 0,10 ∆U, nas proximidades dos injetores, em sete estações longitudinais igualmente espaçadas. Isto é uma aproximação, uma vez que os valores de U1 e U2 para cada estação longitudinal foram tomados como médios para toda a seção transversal. A expansão do jato no plano de simetria (injetor 1, à esquerda nas figuras) mostra-se com uma forma bastante coerente e se assemelha com a região de expansão do injetor 2. Também fica claro que a presença da parede (à direita nas figuras) e a presença dos jatos adjacentes inibem um pouco a expansão da região de mistura nas direções laterais – a expansão para cima é maior, onde o escoamento é mais livre. É interessante também observar que a região de maior velocidade do jato supersônico remanescente se localizou mais próximo ao piso do túnel, indicando que, em princípio, a transferência de quantidade de movimento se dá mais entre dois escoamentos do que entre o escoamento e a parede sólida. Outro fato interessante é a mudança da forma do jato supersônico remanescente de uma geometria retangular para uma geometria próxima da circular. Até a estação em x = 0,300 m o núcleo supersônico manteve sua velocidade máxima praticamente constante. Segundo apresentado no capítulo 2, item 2.7.2, nessa região ocorreu um patamar potencial e um decaimento similar. A partir daí, o núcleo potencial residual tem sua velocidade longitudinal reduzida, indicando o início da região de decaimento com simetria axial (ver FIG. 2.7). Observe-se que na FIG. 5.57 (e) (x = 0,500 m) o núcleo do escoamento supersônico toma a forma praticamente circular. Observe-se ainda que a curva limite do núcleo do escoamento subsônico sofre a ação da presença da parede, distorcendo a geometria do jato. Isto também se verifica na forma geométrica do núcleo supersônico que passa de uma geometria retangular, passando por uma geometria praticamente circular (estação x = 0,500 m) até sofrer um abaulamento no 293 sentido horizontal (estação x = 0,600 m). Portanto, a estrutura com simetria axial não é de todo estabelecida ao final, como apresentada no capítulo 2, item 2.7.2, por causa da presença da parede inferior do túnel. A proximidade da esteira dos jatos adjacentes, a partir de x = 0,500 m permite a fusão lateral entre os escoamentos, como comentado anteriormente e visto na FIG. 5.56. A FIG. 5.58 mostra numa vista tridimensional o desenvolvimento dos jatos por meio de isolinhas de velocidade em planos verticais com espaçamento longitudinal uniforme de 0,050 m. 0.05 0.04 (a) 0.03 233.0 x=0,000 m 472.6 0.02 0.01 0.00 0 0.05 0.1 0.15 0.05 0.04 (b) 0.03 233.4 x=0,100 m 0.02 476.6 0.01 0.00 0 0.05 0.1 0.15 0.05 0.04 0.03 (c) 234.5 x=0,200 m 0.02 486.5 0.01 0.00 0 0.05 0.1 0.15 294 0.05 0.04 (d) 233.3 0.03 x=0,300 m 0.02 4 75.7 0.01 0.00 0 0.05 0.1 0.15 0.05 0.04 228.5 (e) 0.03 x=0,400 m 0.02 440 0.00 .5 0.01 0 0.05 0.1 0.15 0.05 0.04 224.0 (f) 0.03 x=0,500 m 0.02 408.0 0.01 0.00 0 0.05 0.1 0.15 0.05 218.0 0.04 (g) 0.03 x=0,600 m 0.02 382.7 0.01 0.00 0 0.05 0.1 0.15 FIGURA 5.57 – Isolinhas de velocidade (U1 − 0,10 ∆ U ) e (U 2 + 0,10 ∆ U ) . Velocidades em m/s e coordenadas em metros. 295 FIGURA 5.58 – Vista tridimensional dos jatos. 296 5.5 Análise fora do ponto de projeto Além do caso da injeção no ponto de projeto, foram analisadas duas situações nas quais esta condição não se verifica – as pressões estáticas são diferentes nos dois escoamentos na fronteira de entrada. Os resultados foram obtidos por simulação na malha grossa. O objetivo aqui é múltiplo: (i) verificação da robustez do código; (ii) certificar-se da capacidade do código em reproduzir, da melhor forma possível, a física do processo de mistura; (iii) averiguação do sistema de injeção atuando em condições adversas – condições bastante plausíveis de ocorrer durante o processo típico de operação da injeção (ver item 5.1.2) Nos dois casos estudados, a pressão de estagnação nos injetores foi alterada para valores 30% acima e 30% abaixo da pressão de estagnação adotada na condição de projeto (que será indicado por po,pr). Em cada um dos casos foi mantida a mesma lógica de cálculo empregada no caso “ponto de projeto”, na tentativa de reproduzir mais fielmente a operação do túnel, ou seja, a velocidade na fronteira de entrada foi atualizada pelo método de características até atingir o valor limite correspondente à pressão de estagnação esperada para o circuito do túnel (a qual foi recalculada de acordo com os valores da TAB. 5.3 e Eq. 5.3). Assim como no caso anterior, distribuições de pressão estática ao longo das linhas 1, 3, 5, 6 e 7 (FIG. 5.30) são apresentadas para as condições fora de projeto, com sobre-pressão e sub-pressão, nas FIGS. 5.59 e 5.60, respectivamente. Observam-se aqui os degraus de pressão na passagem do escoamento subsônico para o supersônico. 297 y (m) y (m) y (m) 0.16 0.16 0.16 0.14 0.14 0.14 0.12 0.12 0.12 0.10 0.10 0.10 0.08 0.08 0.08 0.06 0.06 0.06 0.04 0.04 0.04 0.02 0.02 0.02 0.00 0.00 0.5 1 0.5 1.5 0.00 1.5 0.5 pressão adimensional pressão adimensional linha 1 pressão adimensional 1 1 1.5 pressão adimensional linha 3 linha 5 1.5 1 linha 6 0.5 0 0.02 0.04 0.06 0.08 0.1 0.12 0.14 0.16 pressão adimensional z (m) 1.5 1 linha 7 0.5 0 0.02 0.04 0.06 0.08 0.1 0.12 0.14 0.16 z (m) FIGURA 5.59 – Distribuição da pressão estática ao longo das linhas 1, 3, 5, 6 e 7, respectivamente, para a condição fora de projeto, po,inj = 1,30 po,pr. Valores adimensionalizados pela pressão estática no jato subsônico na entrada. As linhas finas destacam as posições das paredes dos injetores. 298 0.16 0.16 0.16 0.14 0.14 0.14 0.12 0.12 0.12 0.10 0.10 0.10 0.08 0.08 0.08 0.06 0.06 0.06 0.04 0.04 0.04 0.02 0.02 0.02 0.00 0.5 1 1.5 0.00 0.00 0.5 pressão adimensional 1 0.5 1.5 1 1.5 pressão adimensional pressão adimensional linha 1 pressão adimensional y (m) y (m) y (m) linha 3 linha 5 1.5 1 linha 6 0.5 0.00 0.02 0.04 0.06 0.08 0.10 0.12 0.14 0.16 pressão adimensional z (m) 1.5 1 linha 7 0.5 0 0.02 0.04 0.06 0.08 0.1 0.12 0.14 0.16 z (m) FIGURA 5.60 – Distribuição da pressão estática ao longo das linhas 1, 3, 5, 6 e 7, respectivamente, para a condição fora de projeto, po,inj = 0,70 po,pr. Valores adimensionalizados pela pressão estática no jato subsônico na entrada. As linhas finas destacam as posições das paredes dos injetores. 299 As FIGS. 5.61 a 5.63 mostram os campos de pressão estática encontrados nos planos verticais no centro do injetor central da câmara de mistura, nos três casos estudados. As pressões no campo foram, nos três casos, adimensionalizadas pela pressão estática de entrada do escoamento subsônico no ponto de projeto e a escolha das isobáricas foi praticamente a mesma para as três figuras, para que as cores representem melhor os valores de pressão. Observe-se que, na condição de projeto (FIG. 5.61) o nível de pressão é bastante uniforme, não havendo a presença de regiões de altos gradientes. 0.160 0.140 0.120 0.100 0.080 0.060 0.040 0.020 0.000 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4 0.45 0.5 0.55 0.6 FIGURA 5.61 – Condição de projeto, po,inj = po,pr. Isobáricas no plano vertical central do injetor 1. A pressão é praticamente uniforme em todo o campo. Coordenadas em metros. A FIG. 5.62 apresenta o resultado para uma pressão de estagnação mais elevada nos injetores em 30%, fazendo surgir uma região de expansão logo na saída do injetor, seguida por uma região de compressão e assim sucessivamente até a dissipação dos gradientes de pressão. O aumento de 30 % na pressão de estagnação causou um “degrau” em termos da pressão estática de 36 % entre os escoamentos (a pressão do escoamento supersônico na saída do injetor é maior do que a pressão da corrente subsônica – veja FIG. 5.59). 300 0.160 0.140 0.120 0.100 0.080 0.060 0.040 0.020 0.000 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4 0.45 0.5 0.55 0.6 FIGURA 5.62 – Condição fora de projeto, po,inj = 1,30 po,pr. Isobáricas no plano vertical central do injetor 1. Pressões na entrada para os escoamentos subsônico e supersônico, 1,14 e 1,55, respectivamente, adimensionalizadas pela pressão na entrada subsônica na condição de projeto. Coordenadas em metros. A FIG. 5.63 representa o resultado quando a pressão de estagnação dos injetores é diminuída de 30 %, o que causa um degrau em termos da pressão estática de 31 %. Devido ao fato da pressão na saída do injetor ser inferior à pressão do escoamento subsônico circundante, surge um choque na frente do injetor, o que faz com que a pressão suba para um valor superior à pressão no escoamento subsônico. Aparece então uma região de expansão, e assim, sucessivamente, até a dissipação dos gradientes de pressão. De uma maneira geral, pode-se constatar que o código reproduziu com fidelidade as variações impostas, refletindo, de uma forma coerente, os mecanismos físicos esperados para o problema. 0.160 0.140 0.120 0.100 0.080 0.060 0.040 0.020 0.000 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4 0.45 0.5 0.55 0.6 FIGURA 5.63 – Condição fora de projeto, po,inj = 0,70 po,pr. Isobáricas no plano vertical central do injetor 1. Pressões na entrada para os escoamentos subsônico e supersônico de 1,23 e 0,85, respectivamente, adimensionalizadas pela pressão na entrada subsônica na condição de projeto. Coordenadas em metros. 301 Para maior clareza foram plotados os valores de pressão estática ao longo de duas linhas longitudinais. Uma destas linhas contém o ponto geométrico central do jato supersônico 1 no plano de entrada, e a outra no interior da região subsônica, cujas coordenadas laterais são y = 0,100 m e z = 0,000 m. A plotagem foi feita até a seção transversal central da câmara de injeção, onde ainda os gradientes são mais pronunciados. As FIGS. 5.64 a 5.66 apresentam esses resultados com valores de pressão que, para maior clareza, foram adimensionalizados pela pressão estática na fronteira de entrada do escoamento subsônico. Foi também mantida a mesma escala de pressão nos três gráficos. A FIG. 5.64 mostra o resultado para a condição de projeto, na qual observam-se oscilações mínimas nos valores de pressão de ambas as correntes ao longo da câmara de mistura. A partir da distância x = 0,100 m os valores estão praticamente equalizados. 1.35 1.25 pressão estática 1.15 1.05 0.95 0.85 jato supersônico jato subsônico 0.75 0.65 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 x (m) FIGURA 5.64 – Condição de projeto, po,inj = po,pr. Distribuições longitudinais de pressão estática ao longo da câmara de mistura. Valores adimensionalizados pela pressão na entrada do escoamento subsônico. 302 A FIG. 5.65 mostra as flutuações quando os injetores trabalham com uma pressão de estagnação 30% superior à pressão de projeto. Neste caso há sucessivas oscilações na pressão nos dois escoamentos até a estabilização, que ocorre aproximadamente a partir de x = 0,200 m. A queda abrupta da pressão na saída dos injetores indica a presença de uma região de expansão, na busca da equalização das pressões entre os dois escoamentos, através da camada de mistura. A primeira expansão é exagerada, causando uma queda de pressão excessiva, o que propicia o surgimento de uma região de compressão a seguir. Esta por sua vez também é exagerada, e então, estabelece-se um processo de sucessivas ondas de expansão e compressão até a equalização das pressões nos dois escoamentos. Se o escoamento subsônico mantivesse sua condição de pressão de entrada inalterada, a análise praticamente se resumiria a esta verificação. Entretanto, a sobre-pressão nos injetores causa um aumento da pressão no escoamento subsônico, devido à condição de confinamento da câmara de injeção, e o equilíbrio final é deslocado para um valor superior. A pressão final atingida é cerca de 7,5 % acima da pressão na fronteira de entrada do escoamento subsônico. Este aumento faz com que a expansão inicialmente ocorrida no escoamento supersônico provoque uma diminuição de pressão relativa ainda maior exigindo uma compressão mais forte a seguir. Há, portanto, dois efeitos que são causados pela sobre-pressão nos injetores: a diferença no plano de entrada entre as pressões nos dois escoamentos e o aumento do nível da pressão de equalização, o que ocasiona o aparecimento de ondas de maior magnitude na câmara de injeção. É possível perceber visualmente três expansões e três compressões de maior intensidade na região do escoamento supersônico. 303 1.35 1.30 1.25 1.20 pressão estática 1.15 1.10 1.05 1.00 0.95 0.90 0.85 0.80 jato supersônico jato subsônico 0.75 0.70 0.65 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 x (m) FIGURA 5.65 – Condição fora do ponto de projeto, po,inj = 1,30 po,pr. Distribuições longitudinais de pressão estática ao longo da câmara de mistura. Valores adimensionalizados pela pressão na entrada do escoamento subsônico. A FIG. 5.66 mostra as variações sofridas, quando a pressão de estagnação dos injetores é 30% inferior à pressão de projeto. Como a pressão estática na saída dos injetores é inferior à pressão no escoamento subsônico, surge uma onda de choque fazendo aumentar esta pressão para um valor que supera o valor da pressão no escoamento subsônico. Assim, repetese o processo seqüencial de compressões e expansões até a equalização final entre as pressões nos dois escoamentos, com um mecanismo semelhante ao comentado para o caso da sobrepressão nos injetores. Neste caso, observa-se que a equalização ocorre antes, em aproximadamente x = 0,100 m. O valor final é cerca de 93,5 % da pressão na fronteira de entrada do escoamento subsônico. Como já destacado, para as duas situações fora de projeto, as pressões de estagnação nos injetores foram ajustadas para 30% a mais e a menos com relação à pressão de estagnação de projeto. Entretanto, o efeito final resultante em termos das pressões estáticas na saída do 304 bocal supersônico foi ligeiramente diferente. Para uma pressão de estagnação 30 % superior, a pressão estática na saída foi 34,3 % superior (em relação à pressão da corrente subsônica), enquanto que, para uma pressão de estagnação 30 % inferior, a pressão estática foi 31,8 % inferior. Isso pode explicar porque houve um efeito mais pronunciado de choques e expansões no primeiro caso. 1.35 1.25 pressão estática 1.15 1.05 0.95 0.85 0.75 jato supersônico jato subsônico 0.65 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 x (m) FIGURA 5.66 – Condição fora do ponto de projeto, po,inj = 0,70 po,pr. Distribuições longitudinais de pressão estática ao longo da câmara de mistura. Valores adimensionalizados pela pressão na entrada do escoamento subsônico. As FIGS. 5.67 a 5.69 mostram vistas dos detalhes da saída do injetor 1, para as três condições já discutidas. Para se perceber melhor a topologia do escoamento, são apresentados os campos resultantes em dois planos, horizontal e vertical, que contêm o centro geométrico do injetor. Na FIG. 5.67, plano vertical, observa-se uma pequena região de compressão sobre o piso do túnel, causada pelo ajuste do perfil da camada limite. Embora haja contrastes na 305 figura, as variações de pressão são mínimas, como já visto na FIG. 5.31. As FIGS. 5.68 e 5.69 correspondem à mesma representação, porém, para os casos fora do ponto de projeto. Observa-se nessas figuras que o jato supersônico contém regiões alternadas de expansão e compressão em forma de domos tridimensionais, cujas dimensões têm a mesma ordem de grandeza da seção de saída do injetor. Deve-se destacar que este é um resultado importante deste trabalho. É de se esperar realmente, a partir de um raciocínio físico, que estas estruturas teriam aproximadamente esta forma. Principalmente levando-se em conta que o jato supersônico é limitado o tempo todo pelo piso do túnel e por um “túnel” de escoamento subsônico. A simulação numérica confirma com exatidão esta lógica física. 0.040 0.030 0.020 h = 0,0226 m 0.010 0.000 0 0.02 0.04 0.06 plano vertical w = 0,0079 m 2 0.000 0.010 linha de simetria 0.020 0.030 0.040 0 0.02 0.04 0.06 plano horizontal FIGURA 5.67 – Campos de pressão estática na condição de projeto, po,inj = po,pr. (azul – pressão baixa, vermelho – pressão alta). Coordenadas em metros. h e w indicam a altura e a largura do injetor, respectivamente. 306 0.000 0.040 0.010 0.030 0.020 0.020 0.030 0.010 0.040 0.000 0 0.02 0.04 0.06 0 plano vertical 0.02 0.04 0.06 plano horizontal FIGURA 5.68 – Campos de pressão estática na condição fora do ponto de projeto, po,inj = 1,30 po,pr. (azul – pressão baixa, vermelho – pressão alta). Coordenadas em metros. 0.000 0.040 0.010 0.030 0.020 0.020 0.030 0.010 0.040 0.000 0 0.02 0.04 plano vertical 0.06 0 0.02 0.04 0.06 plano horizontal FIGURA 5.69 – Campos de pressão estática na condição fora do ponto de projeto, po,inj = 0,70 po,pr. (azul – pressão baixa, vermelho – pressão alta). Coordenadas em metros. Embora sendo difícil a representação tridimensional dos jatos, as FIGS. 5.70 a 5.72 são as melhores imagens conseguidas da região próxima à saída dos jatos. Para facilitar a visualização os eixos x e z são girados cerca de 180 graus (ver FIG. 5.12) para que as isobáricas possam ser vistas em cortes no centro do jato 1. Na FIG. 5.70 é apresentada a condição de projeto, para a qual os gradientes de pressão são baixos e só se torna notável a 307 formação de uma região de compressão fraca na saída do jato sobre o piso do túnel. Também há um acerto, embora menor, na região de mistura dos jatos. Na FIG. 5.71 observa-se com clareza seis domos alternados de pressão alta e baixa formados no desenvolvimento do jato para a condição fora de projeto (po,inj = 1,30 po,pr). A superfície externa dos domos pode ser percebida melhor na expansão dos jatos 2 e 3 que, a menos da proximidade do piso do túnel, se assemelha a uma forma elipsoidal. Nestas vistas não é possível distinguir grandes diferenças entre os desenvolvimentos dos três jatos. Na FIG. 5.72 também observa-se a formação de dois domos durante o desenvolvimento do jato para a condição fora do projeto com pressão de estagnação no jato supersônico inferior em 30%. Observam-se pequenas diferenças nas superfícies de pressão nos três jatos. 0 Y Z 0.1 X FIGURA 5.70 – Campo tridimensional com superfícies de pressão estática na condição do ponto de projeto, po,inj = po,pr. (azul – pressão baixa, vermelho – pressão alta). Coordenadas em metros. 308 0 Y Z 0.1 X FIGURA 5.71 – Campo tridimensional com superfícies de pressão estática na condição fora do ponto de projeto, po,inj = 1,30 po,pr (azul – pressão baixa, vermelho – pressão alta). Coordenadas em metros. 0 Y Z 0.1 X FIGURA 5.72 – Campo tridimensional com superfícies de pressão estática na condição fora do ponto de projeto, po,inj = 0,70 po,pr (azul – pressão baixa, vermelho – pressão alta). Coordenadas em metros. 309 Outra forma de analisar o comportamento da câmara de injeção nessas condições adversas de pressão é observar o campo de número de Mach. As FIGS. 5.73 a 5.75 apresentam esses campos para o caso do injetor número 3. É notável como a região de alta velocidade consegue se estender mais quando a pressão de estagnação dos injetores é aumentada. Por outro lado, neste caso, a análise global da câmara de injeção fica mais prejudicada, porque o escoamento na saída está menos uniforme, estando mais distante de uma condição de mistura total (veja seção 5.6). 0.5 9 0 0.590 0.15 0.10 0.05 0.590 0.806 0.00 0 0.1 1.208 1.611 1.925 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 FIGURA 5.73 – Condição de projeto, po,inj = po,pr. Isolinhas de número de Mach no plano vertical que contém o centro geométrico do injetor 3. Coordenadas em metros. 0.15 0.10 0. 6 26 0.05 0.626 0.863 0.693 1.294 1.726 2.055 0.00 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 FIGURA 5.74 – Condição fora de projeto, po,inj = 1,30 po,pr. Isolinhas de número de Mach no plano vertical que contém o centro geométrico do injetor 3. Coordenadas em metros. 310 0.15 0.10 0 .5 48 0.05 0.548 0.607 0.760 1.520 1.769 0.00 0 0.1 0.2 0.3 1.140 0.4 0.5 0.6 FIGURA 5.75 – Condição fora de projeto, po,inj = 0,70 po,pr. Isolinhas de número de Mach no plano vertical que contém o centro geométrico do injetor 3. Coordenadas em metros. As FIGS. 5.76 a 5.78 mostram os campos de viscosidade turbulenta. Observa-se uma certa proporcionalidade entre a atividade turbulenta e a pressão de estagnação dos injetores. 0.15 0.10 13 . 13 6 .2 0.05 4187.4 0 0.1 0.2 0.3 0.4 1395.8 64.7 6732.1 5583.2 1.6 0.00 2791.6 0.5 0.6 FIGURA 5.76 – Condição de projeto, po,inj = po,pr. Isolinhas de viscosidade turbulenta em um plano vertical que contém o centro geométrico do injetor 3. Valores adimensionalizados pela viscosidade molecular de referência (ver TAB. 5.2). Coordenadas em metros. 311 19 0.10 .2 15.3 0.15 22 .2 33.6 0.05 4454.4 1484.8 2969.6 5939.2 7019.3 2.2 0.00 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 FIGURA 5.77 – Condição fora de projeto, po,inj = 1,30 po,pr. Isolinhas de viscosidade turbulenta em um plano vertical que contém o centro geométrico do injetor 3. Valores adimensionalizados pela viscosidade molecular de referência (ver TAB. 5.2). Coordenadas em metros. 0.15 12 0.05 .5 .4 3334.8 0.00 20 18 14 . .1 1 0.10 1111.6 2223.2 4446.4 106.4 5401.6 1.2 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 FIGURA 5.78 – Condição fora de projeto, po,inj = 0,70 po,pr. Isolinhas de viscosidade turbulenta em um plano vertical que contém o centro geométrico do injetor 3. Valores adimensionalizados pela viscosidade molecular de referência (ver TAB. 5.2). Coordenadas em metros. 5.6 Análise do desempenho da injeção O objetivo nesta seção é a determinação de parâmetros úteis para projetos de engenharia de túneis de vento com injeção. Como se tem a solução do campo de escoamento é possível avaliar o ganho obtido, a eficiência envolvida e a perda de carga relativos à câmara 312 de injeção. As soluções nas malhas de A a E foram agrupadas em uma malha fina única, e os resultados utilizados para os cálculos que serão discutidos a seguir. 5.6.1 Análise teórica Perda de carga – variação da entropia Em geral, na análise do circuito completo de um túnel transônico, admite-se que a totalidade dos elementos que o compõem é adiabática e opera sem trabalho de eixo, com exceção do elemento compressor e do elemento trocador de calor. Estudos mostram que o fluxo de calor pelas paredes de um túnel transônico operando em condições normais, não chega a 5 % do montante total da carga térmica no trocador de calor (Stich, 1985). Nessas condições a hipótese de adiabaticidade é perfeitamente válida. Como já foi ressaltado anteriormente, o estudo da câmara de injeção considerou as paredes do túnel como adiabáticas. Pode-se mostrar que, para um escoamento adiabático e sem trabalho de eixo, as irreversibilidades (perdas) estão diretamente relacionadas com a variação da pressão de estagnação no elemento (Zucker, 1977). Assim, nestes termos, é conveniente se definir um coeficiente de perda de carga para um componente do circuito como K= po ,s − po ,e ∆ po , = qref qref (5.10) onde po é a pressão de estagnação média na seção transversal, os subscritos “s” e “e” indicam, respectivamente, os planos de saída e entrada do elemento, K é o coeficiente de perda de carga total e qref é a pressão dinâmica na entrada do elemento ou, eventualmente, um outro valor de referência adequado. Assim, é preciso avaliar fundamentalmente a variação da 313 pressão de estagnação entre as seções de entrada e saída da câmara de injeção para a determinação de K. Para o cálculo da perda de carga partiu-se da fórmula da dinâmica dos gases, que indica que para um gás perfeito, em regime permanente, sem transferência de calor e trabalho (e, portanto, o processo é considerado adiabático), a relação entre as pressões de estagnação em função da variação de entropia média específica é dada por (Shapiro, 1953): p o, e p o, s =e − se −ss R , (5.11) onde R é a constante do gás. Inicialmente calcular-se-ão os valores de se e ss relativos à câmara de injeção. Para a determinação final de ∆ po será necessária a estimativa de um dos valores da pressão de estagnação média, na entrada ou na saída (o que será apresentado no próximo item). É possível obter-se o valor da entropia média específica para uma determinada seção transversal i por meio de um somatório de contribuições de todas as células de cálculo k que discretizam a seção transversal. Assim, escreve-se que n ∑ m& sk k si = k =1 n ∑ m& , (5.12) k k =1 onde sk é o valor da entropia atribuído à célula k, n o número total de células da seção transversal i, e m& k o fluxo de massa que passa pela mesma célula de cálculo – o denominador representa o fluxo de massa global nesta seção transversal. Não se deve confundir o índice k na Eq. (5.12) com o contador k da direção z. 314 A FIG. 5.79 mostra um esquema ilustrativo da célula de cálculo, que é formada por quatro nós vizinhos. As propriedades ρ, T, e s, atribuídas à célula, e que serão necessárias para os cálculos, serão obtidas a partir da média aritmética dos valores dos quatro nós. A pressão é então calculada a partir da equação de estado. Assim, uma propriedade genérica αk na célula de ordem k é obtida por αk = 1 ( α1 + α 2 + α 3 + α 4 ) . 4 (5.13) y x z α1 m& k α2 α3 α4 αk FIGURA 5.79 – Célula de cálculo na estação longitudinal i. A entropia atribuída a cada nó da malha, s, é obtida em relação a um estado de referência, através da fórmula aplicável a dois estados de equilíbrio de um gás perfeito, T s − sref = c p ln T ref − R ln p . p ref (5.14) 315 O estado de referência, em princípio, pode ser qualquer, contanto que seja o mesmo nas duas seções, de entrada e de saída da câmara de injeção, para que se cancelem na subtração das entropias entre as seções. O fluxo de massa que passa pela célula de cálculo foi avaliado pela expressão m& k = ρ k uk Ak , (5.15) Ak = ( y1 − y3 ) ( z1 − z2 ) , (5.16) onde Ak é a área da célula, dada por tendo sido obtida a partir das coordenadas cartesianas dos nós (ver FIG. 5.79). Pressão de estagnação numa seção transversal O conceito de pressão de estagnação média na seção de entrada da câmara de injeção é mais difícil de ser aplicado diretamente devido à presença de dois escoamentos com propriedades bastante diferentes. Entretanto, na saída, o processo de mistura dos jatos já está bem avançado e as propriedades são mais uniformes em toda a seção, o que favorece o conceito de média, principalmente no caso da pressão de estagnação. Aqui, empregou-se a mesma idéia expressa pela Eq. (5.14) que relaciona dois estados termodinâmicos. Sejam os valores médios da pressão e da temperatura de estagnação na seção de saída po,s e To,s, respectivamente, e a entropia média correspondente, ss. Para cada célula de cálculo da seção de saída, pode-se então escrever 316 p ∆ sk = sk − ss = − R ln o ,k po ,s T + c p ln o ,k , T o ,s (5.17) onde sk, po,k e To,k são, respectivamente, os valores de entropia, pressão de estagnação e temperatura de estagnação para a célula k. A somatória de todas as contribuições extensivas a todas as células ( m& k ∆ sk ) em toda a seção de saída é nula, pelo fato de ter sido empregado como valor de referência o valor médio da entropia na seção (ver Eq. (5.12)). Daí, pode-se obter diretamente que po ,s n ∑ k =1 = exp T γ m& k ln o ,k m& k ln po ,k − γ −1 To ,s n ∑ m& k k =1 . (5.18) O valor da temperatura de estagnação média na seção de saída, To ,s , é obtida da seguinte forma. Considera-se, n ∑ m& k ho ,s = ho ,k k =1 n ∑ m& , (5.19) k k =1 onde ho ,s é a entalpia específica total média na seção de saída e ho ,k a entalpia específica total na célula de cálculo k. Como o gás é considerado caloricamente perfeito, obtém-se, 317 To ,s = ho ,s . cp (5.20) Com os valores de po , s , se e ss , pode-se obter po , e da Eq. (5.11). Daí, a partir da Eq. (5.10), calcula-se o valor de K, considerando-se que qref é definida como qref = 1 ρ ∞ U ∞2 , 2 (5.21) onde ρ∞ e U∞ são, respectivamente, a densidade e a velocidade do escoamento primário na entrada da seção de injeção. Ganho do processo de injeção Dependendo do caso específico, o ganho de um sistema que usa injeção de massa pode ser expresso de diferentes formas. Um exemplo disto é a fórmula sugerida por Alperin e Wu (1983a), mais aplicável para sistemas de injeção em turbinas aeronáuticas, nas quais há a presença de coletor e difusor, antes e depois, respectivamente, da câmara de mistura da injeção. Uma aplicação mais adequada para o caso do TTP é encontrada no projeto desenvolvido pela Sverdrup Technology Inc. para o CTA, (Sverdrup, 1989). A proposta é calcular λc, o ganho da injeção, por meio da expressão λc = po , s − ∆ po , po ,1 (5.22) 318 onde ∆ po é a perda de carga na câmara de injeção, como calculada pela Eq. (5.10), po,s é a pressão de estagnação média na seção de saída da câmara de injeção, como calculada pela Eq. (5.18) e po,1 é a pressão de estagnação de projeto do escoamento no circuito do túnel, antes do uso da injeção, segundo dado na TAB. 5.1. Eficiência do processo de injeção A eficiência do processo de mistura de dois jatos pode ser obtida a partir da variação da entropia dos mesmos, como é proposto por Nogueira et al. (1988). Desta forma leva-se em conta todas as irreversibilidades na câmara de mistura. O parâmetro é definido por s − s m& η = − 1 3 ⋅ 1 , s2 − s3 m& 2 (5.23) onde s é a entropia específica média, m& é o fluxo de massa, e 1, 2 e 3 são, respectivamente, os índices relativos aos dois jatos na fronteira de entrada e à mistura dos jatos na fronteira de saída da câmara de injeção. 5.6.2 Parâmetros de desempenho da injeção no ponto de projeto A TAB. 5.6 apresenta os parâmetros mais representativos na fronteira de entrada da câmara de mistura, para os dois jatos, na condição de projeto e antes do acionamento da injeção. 319 TABELA 5.6 – Parâmetros iniciais na fronteira de entrada dos dois jatos. Parâmetro Escoamento 1 Escoamento 2 Número de Mach 1,90 0,51 Temperatura de estagnação (K) 300 313 547,2 97,5 Temperatura estática (K) 174 298 Pressão estática (kPa) 81,7 81,7 1,635 0,957 503 176 Pressão de estagnação (kPa) 3 Densidade estática (kg/m ) Velocidade (m/s) 2 (1) Viscosidade dinâmica laminar (N.s/m ) Número de Reynolds relativo à altura do injetor Entropia específica (N.m/(kg.K)) (3) Espessura da camada limite (m) Temperatura da parede (K) -5 1,79 x 10 -5 1,61 x 10 6 0,212 x 10 150 688 1,15 x 10 (2) 6 (5) 0,0012 (4) Pressão na parede (kPa) 3 Densidade na parede (kg/m ) 2 Viscosidade dinâmica na parede (N.s/m ) Condições na fronteira de entrada 0,0014 e 0,008 286 311 81,7 81,7 0,995 0,915 -5 -5 1,74 x 10 1,85 x 10 impostas extrapoladas Relação de pressões de estagnação po1/po2 5,62 Relação de áreas A2/A1 30,0 Relação de fluxos de massa (1) (2) (3) (4) (5) m& 2 m& 1 6,15 Calculadas a partir da temperatura estática utilizando a fórmula de Sutherland. Calculado em relação à altura do injetor hinj = 0,0226 m. Condições de referência para cálculo da entropia: pref = 81,7 kPa e Tref = 150 K. Calculada considerando o fator de recuperação (analogia de Reynolds) r = 0,89. Espessuras de camadas limite externa ao injetor e nas paredes do túnel, respectivamente. Como já foi discutido anteriormente (item 5.1.2), a partir do início da simulação alguns parâmetros na fronteira de entrada subsônica se alterarão, resultando numa condição de equilíbrio final para o problema. A partir desses valores finais, os parâmetros macroscópicos de desempenho foram avaliados. A TAB. 5.7 traz o resultado final da simulação em termos 320 dos principais parâmetros para avaliação do desempenho do processo na condição de projeto. Os valores foram obtidos a partir dos resultados da malha fina. O fluxo de massa calculado por integração das células apresentou um desvio de 0,4 % entre a fronteira de entrada e a fronteira de saída. TABELA 5.7 – Resultados finais da simulação numérica nas fronteiras de entrada (1 – supersônico, 2 - subsônico) e de saída (3). Parâmetro Escoamento 1 Escoamento 2 Escoamento 3 Pressão de estagnação (kPa) 508 101 113 Entropia específica (N.m/(kg.K)) 170 676 633 0,690 5,011 5,724 5,01 1,0 1,12 1,0 7,27 8,30 Fluxo de massa (kg/s) (a) Relação de pressões de estagnação Relação de fluxos de massa (c) (b) (a) – correspondente à região simulada (um quarto da câmara de injeção). – tomado como referência o escoamento 2. (c) – tomado como referência o escoamento 1. (b) A aplicação dos procedimentos de cálculo descritos no item 5.6.1 permite a obtenção dos parâmetros gerais para a câmara de injeção. O valor do coeficiente de perda de carga obtido foi de K = 0,40, sendo que a pressão dinâmica de referência considerada foi de 18,6 kPa. Para se ter um dado de referência, o coeficiente de perda de carga para a seção de testes do túnel, como previsto no projeto básico, considerando instalado um modelo típico com razão de bloqueio de 1%, foi de 0,26. Observa-se que o coeficiente de perda de carga da câmara de injeção resultou mais alto do que o da seção de testes, o que seria de se esperar devido à alta atividade turbulenta nas camadas de mistura. Mesmo assim, destaque-se que a câmara de injeção causa um efeito final positivo representado pelo ganho da injeção. 321 O ganho resultante do processo de injeção foi de λc = 1,085. O valor do ganho tomado como base pela equipe do CTA à época do projeto conceptual dos túneis foi de 1,06, segundo Nogueira et al. (1988). Estes autores investigaram (utilizando uma modelagem unidimensional simplificada) as influências dos diversos parâmetros de projeto, relação de áreas, relação de pressões de estagnação, relação de fluxos de massa etc., sobre o valor do ganho. Como se pode notar, os valores (1,085 e 1,06) são próximos. A eficiência do processo de injeção foi de 67,3 %. Novamente não há outras fontes que possam servir para comparação senão aquela devida a Nogueira et al. (1988), a qual está reproduzida na FIG. 5.80. Para as mesmas condições de número de Mach nas duas situações, a figura indica um valor aproximado de 44%. A diferença é grande, e talvez esteja ligada às diversas suposições utilizadas para se levantar as curvas da FIG. 5.80. Além disso, os dados da figura correspondem a um ganho de 1,06. Outro fato importante, e que talvez explique essa diferença, é que a análise unidimensional de Nogueira et al. (1988) impõe um valor empírico para as perdas externas do processo. 100 M Minj inj = 1,0 90 M Minj inj = 1,4 80 M Minj inj = 1,8 70 Eficiência (%) M Minj inj = 2,2 60 50 40 30 20 10 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1 número de Mach do escoamento principal (M 1) FIGURA 5.80 – Eficiência do processo de injeção para ganho de 1,06 (Nogueira et al., 1988). Minj representa o número de Mach na seção de saída dos injetores. 322 5.6.3 Parâmetros de desempenho da injeção nas três condições Embora uma comparação numérica direta entre os três casos calculados, no ponto de projeto e fora do ponto de projeto, possa falsear algumas conclusões, os resultados estão apresentados na TAB. 5.8. A dificuldade é que, por exemplo, ao se variar a pressão de estagnação do jato supersônico, a relação de fluxos de massa se altera e isto resulta numa outra situação na qual os parâmetros macroscópicos já não são mais comparáveis. Veja-se, por exemplo, que a pressão dinâmica de referência se altera, pois a mesma se refere aos parâmetros na entrada subsônica ao final da simulação numérica. Seria necessário fazer uma parametrização mais coerente entre as grandezas envolvidas. Da TAB. 5.8 infere-se que há uma melhoria no ganho da injeção com o aumento de po,inj, entretanto há um aumento da perda de carga global, um reflexo direto do aumento de choques e expansões ao se distanciar da condição de projeto. Além disso, perde-se muito em tempo de ensaio, considerando-se que a capacidade de armazenamento é a mesma. Ao se elevar po,inj esgota-se mais rapidamente os tanques de ar comprimido. Na condição de projeto o tempo de ensaio é da ordem de 45 segundos. Com o aumento de 30 % em po,inj este valor cai para cerca de 20 segundos, uma perda considerável. Com a diminuição de 30 % em po,inj observa-se uma piora do ganho e também da eficiência. O ganho chegou a ser menor que 1, significando que as perdas envolvidas no processo de mistura suplantaram o aumento da pressão de estagnação registrado pelo escoamento subsônico. 323 TABELA 5.8 – Resultados finais das condições de projeto e fora de projeto (malha grossa). po,pr po,inj = 1,3 po,pr po,inj = 0,7 po,pr po,inj (kPa) 507 660 355 po,s (kPa) 113 124 101 qref (kPa) 18,6 23,4 11,9 & sub / m& inj ) Relação de fluxos de massa ( m 7,31 6,19 8,95 Variação de entropia (kJ/kg.K), (se – ss) -18,5 -21,7 -16,3 Perda de carga total (kPa), (po,s – po,e) 7,51 9,69 5,86 Coeficiente de perda de carga global, K 0,404 0,415 0,493 Ganho da injeção, λc 1,082 1,167 0,973 Eficiência da injeção, η 66,8% 69,9% 58,5% 5.7 Comparação dos resultados das malhas fina e grossa no ponto de projeto Tipicamente, um processo de cálculo na malha grossa requer cerca de 10 mil iterações com cinco dias ininterruptos de processamento num computador pessoal Athlon 2000 MHz. Ao passar para a malha fina, cada uma das cinco malhas ainda requer mais cerca de 3000 iterações, com três dias ininterruptos de processamento por malha para depois ser realizada a justaposição dos resultados. Ao todo foram necessários cerca de vinte dias de processamento no computador. Com o propósito da análise de casos futuros, foi avaliada a qualidade geral da solução na malha grossa, comparando os resultados de desempenho com aqueles encontrados para a malha fina. A TAB. 5.9 resume a comparação dos principais parâmetros. Observe-se que a malha grossa apresenta em geral uma boa precisão. 324 TABELA 5.9 – Resultados finais comparativos das malhas fina e grossa. Parâmetros Malha Fina Malha Grossa Desvio 121x141x368 61x71x158 - Fluxo de massa na fronteira de saída (kg/s) 5,72 5,74 0,35 % Perda de carga na câmara de mistura (kPa), (po,s – po,e) 7,46 7,51 0,56 % Coeficiente de perda de carga, K 0,401 0,404 0,55 % Ganho da injeção, λc 1,085 1,082 0,28 % Eficiência da injeção, η 0,673 0,668 0,64 % Número de pontos Os resultados obtidos com a malha grossa permitem concluir que a mesma já se presta para fazer avaliações quantitativas do processo de injeção, o que acelera em muito o processo de cálculo – redução de quatro vezes no tempo de processamento. 5.8 Conclusões O objetivo inicial de simular numericamente o escoamento na região da mistura de jatos, supersônico e subsônico, do sistema de injeção de um túnel de vento transônico, e a sua aplicação ao problema específico da análise do TTP, foi alcançado. Foi bem sucedida a elaboração de um código robusto para resolver as equações de Navier-Stokes com características adequadas (método implícito em coordenadas generalizadas, na forma diagonal com utilização de malhas seqüenciais) e foi comprovada a capacidade do código na simulação numérica da mistura de jatos supersônicos (itens 4.5 e 4.6) e de jatos supersônico e subsônico (itens 4.7, 4.8, 5.4 e 5.5), esta última, aparentemente, inédita na literatura. 325 Para o estabelecimento das condições de contorno nas regiões de camadas limite, foram desenvolvidas metodologias específicas para a camada limite hidrodinâmica (item 3.7.3) e para a distribuição da viscosidade turbulenta na região de camada limite (item 3.7.4). A implementação das condições de contorno na entrada da câmara de injeção pelas velocidades características e a lógica adotada para o aumento da pressão de estagnação na entrada da câmara foram bem sucedidas, no sentido de refletir com fidelidade a física, comprovando a operação conjunta do sistema de injeção com o compressor principal, como previsto no item 5.1.2. Através da análise de cortes transversais (FIG. 5.57) pôde-se comprovar a topologia do desenvolvimento do jato supersônico, segundo previsto no item 2.7.2. A parede lateral do túnel age no sentido de inibir o ganho em termos da pressão de estagnação e do número de Mach (FIGS. 5.39 e 5.44) e, conseqüentemente, o ganho da injeção. Os ajustes de pressão entre os dois escoamentos são estabelecidos por intermédio de superfícies tridimensionais em forma de domos (FIGS. 5.70 a 5.72). Comprovou-se o critério básico de pressões estáticas iguais nos dois jatos adotado na prática em projetos de sistemas de injeção (FIG. 5.31). Na câmara de injeção, os valores de db/dx são maiores para as camadas de mistura superiores, i. e., as camadas mais livres (FIG. 5.55). A operação do sistema de injeção foi averiguada e sua importância foi comprovada na utilização em túnel de vento, pelo desempenho resultante para a condição de projeto e condições fora do ponto de projeto. Para a condição de projeto, o ganho da injeção foi de 1,082 calculado na malha grossa e 1,085 na malha fina, valores estes próximos ao valor inicialmente previsto no projeto conceptual do TTP, de 1,06. A eficiência global, que teve 326 pouca variação quando avaliada nas malhas grossa e fina, em torno de 67%, foi superior aos 44% previsto por Nogueira et al. (1988). 5.9 Comentários finais e sugestões para futuros trabalhos Os resultados da análise tridimensional aplicada ao processo de mistura de jatos da injeção em túneis de vento transônico são, provavelmente, os primeiros resultados deste gênero a serem publicados. A experiência obtida no desenvolvimento deste trabalho de tese aponta para as seguintes possíveis linhas de extensão da pesquisa atual. ( i ) A câmara de injeção pode ser representada por uma malha mais sofisticada, reproduzindo melhor a geometria da mesma, com as angularidades e mudanças de forma das paredes. ( ii ) Cálculo do escoamento real em torno do injetor. ( iii ) Simulação do escoamento no interior do injetor. ( iv ) Com mais capacidade computacional pode-se “rodar” a malha fina completa, sem dividi-la em partes; também a paralelização do código desenvolvido é desejável para aumentar a velocidade de processamento. ( v ) Estudar outras configurações geométricas dos injetores, como o número total deles, a respectiva posição na entrada da câmara de injeção, e outras configurações geométricas da câmara, visando a otimização do projeto. ( vi ) Estudar o escoamento no primeiro difusor de maneira a se permitir uma mistura completa das duas correntes e analisar o impacto no desempenho do difusor com a operação da injeção. 327 ( vii ) Uma extensão dos casos estudados para outras condições de operação do túnel pode ser realizada para o levantamento do envelope de operação real do sistema de injeção do TTP. ( viii ) Modificar o código desenvolvido para discretização espacial em volumes finitos com malha não estruturada visando uma melhor representação das diversas regiões de alto refinamento, reduzindo a rigidez da malha e, em conseqüência, aumentando (pelo menos, em princípio) o número de CFL. Analisar a possibilidade de introduzir algumas técnicas de TVD (“Total Variation Diminishing”), o que, possivelmente, melhoraria a resolução de compressões e expansões. 328 Referências ALPERIN, M.; WU, J. J. Thrust augmenting ejectors: part I. AIAA Journal, v. 21, p. 1428-1436, oct., 1983a ALPERIN, M.; WU, J. J. 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Beaverton: Matrix Pub., 1977. 335 Apêndice A AS RELAÇÕES CARACTERÍSTICAS E SUA APLICAÇÃO ÀS CONDIÇÕES DE CONTORNO A.1 As relações características As equações de Euler para escoamentos tridimensionais, em forma conservativa, no sistema de coordenadas cartesianas, podem ser escritas como ∂ Q ∂ Ec ∂ Fc ∂ Gc + + + = 0, ∂t ∂x ∂x ∂x (A.1a) onde ρ ρu Q = ρv, ρ w e ρu ρ u 2 + p Ec = ρ u v , ρuw (e + p )u (A.1b) ρv ρ uv Fc = ρ v 2 + p , ρvw (e + p )v ρw ρuw Gc = ρ v w . ρ w2 + p (e + p ) w (A.1c) Entretanto, para o desenvolvimento que se segue, é recomendável que as Eqs. (A.1) sejam escritas em sua forma não-conservativa, o que facilita o tratamento algébrico. Em forma não-conservativa, as equações da continuidade, quantidade de movimento e energia são 336 ∂ρ ∂ρ ∂ρ ∂ρ ∂u ∂v ∂w +u +v +w +ρ +ρ +ρ =0, ∂t ∂x ∂y ∂z ∂x ∂y ∂z (A.2a) ∂u ∂u ∂u ∂u 1 ∂ p +u +v +w + = 0, ∂t ∂x ∂y ∂z ρ ∂x (A.2b) ∂v ∂v ∂v ∂v 1 ∂ p +u +v +w + = 0, ∂t ∂x ∂y ∂z ρ ∂y (A.2c) ∂w ∂w ∂w ∂w 1 ∂ p +u +v +w + =0, ∂t ∂x ∂y ∂z ρ ∂z (A.2d) ∂p ∂p ∂p ∂p ∂u ∂v ∂w +u +v +w +γ p +γ p +γ p = 0. ∂t ∂x ∂y ∂z ∂x ∂y ∂z (A.2e) Em forma matricial ∂R ~ ∂R ~ ∂R ~ ∂R +A +B +C = 0, ∂t ∂x ∂y ∂z (A.3) onde ρ u R = v , w p ~ B= v 0 0 0 0 0 v 0 0 0 ρ 0 v 0 γp 0 0 0 v 0 0 0 ρ −1 , 0 v ~ A= u 0 0 0 0 ~ C= w 0 0 0 0 u 0 0 γp 0 0 u 0 0 0 0 0 u 0 0 ρ −1 0 , 0 u (A.4a) 0 w 0 0 0 0 0 w 0 0 ρ . ρ −1 w (A.4b) ρ 0 0 w γp 0 0 0 337 ~ ~ ~ O vetor das variáveis não-conservadas é representado por R; A , B e C são as chamadas matrizes jacobianas associadas às equações de Euler em forma não-conservativa. ~ Os autovalores da matriz A são λ1 = λ2 = λ3 = u , (A.5a) λ4 = (u + a ) , (A.5b) λ5 = (u − a ) , (A.5c) λ1 = λ2 = λ3 = v , (A.6a) λ4 = (v + a ) , (A.6b) λ5 = (v − a ) , (A.6c) λ1 = λ2 = λ3 = w , (A.7a) λ4 = ( w + a ) , (A.7b) λ5 = (w − a ) , (A.7c) ~ os da matriz B são ~ e os da matriz C são sendo iguais os autovetores associados a esses autovalores, nos três casos, e dados pelas colunas da matriz 338 X = 1 2a 2 1 2ρ a 1 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1 2 1 2a 2 1 − 2ρ a 0 . 0 1 2 (A.8) A matriz inversa de X é −1 X = 1 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1 0 ρa 0 0 0 −ρa 0 0 − 1 a2 0 0 . 1 1 (A.9) Pré-multiplicando a Eq. (A.3) por X −1 e inserindo a matriz identidade I = X X −1 nos locais apropriados, obtém-se X −1 ∂R ∂R ∂R ∂R ~ ~ ~ + X −1 A X X −1 + X −1 B X X −1 + X −1 C X X −1 = 0. ∂t ∂x ∂y ∂z (A.10) Observe-se que ~ X −1 A X = Λ A~ , (A.11a) ~ X −1 B X = Λ B~ , (A.11b) ~ X −1 C X = Λ C~ , (A.11c) 339 onde Λ A~ = u 0 0 0 0 0 u 0 0 0 0 0 u 0 0 0 0 0 0 0 0 , u+a 0 0 u − a (A.12a) Λ B~ = v 0 0 0 0 0 v 0 0 0 0 0 v 0 0 0 0 0 0 0 0 , v+a 0 0 v − a (A.12b) 0 w 0 0 0 0 0 w 0 0 0 0 0 0 0 0 , w+a 0 0 w − a (A.12c) Λ C~ = w 0 0 0 0 sendo que os elementos não nulos das matrizes acima são chamados velocidades características. Substituindo as Eqs. (A.11) na Eq. (A.10) chega-se a X −1 ∂R ∂R ∂R ∂R + Λ B~ X −1 + Λ C~ X −1 = 0. + Λ A~ X −1 ∂t ∂x ∂y ∂ z (A.13) Supondo que se deseje implementar condições de contorno na direção x, duas considerações devem ser feitas. A primeira é que muitos algoritmos usam o conceito de fatoração aproximada. Portanto, na realidade, o problema multi-dimensional é tratado como uma seqüência de problemas unidimensionais. A segunda é que, em muitos problemas, o escoamento que cruza determinadas fronteiras – principalmente de entrada e saída – está 340 praticamente alinhado com uma das coordenadas; no caso presente o alinhamento se dá com a direção x. Nestas condições, as derivadas em relação às outras direções – no caso, as direções y e z – podem, em geral, ser desprezadas. É certo que na camada limite os gradientes na direção normal são consideráveis, porém, a sua espessura é pequena em relação a um comprimento característico dos planos de entrada ou de saída. Assim, caso se deseje “operar” na direção x, e considerando as argumentações acima pode-se reescrever a Eq. (A.13) da seguinte forma X −1 ∂R ∂R ≅ 0. + Λ A~ X −1 ∂ x ∂t (A.14) Realizando-se as operações matriciais indicadas na Eq. (A.14) chega-se, finalmente, às cinco relações características associadas à “operação” na direção x, para escoamentos tridimensionais, ∂ρ 1 ∂ p ∂ρ 1 ∂ p , − 2 = − u − 2 ∂t a ∂t ∂x a ∂x (A.15a) ∂v ∂v = −u , ∂t ∂x (A.15b) ∂w ∂w = −u , ∂x ∂t (A.15c) ρa ∂p ∂u ∂u ∂ p +ρa = − (u + a ) + ∂x ∂t ∂t ∂x , (A.15d) −ρa ∂p ∂u ∂u ∂ p −ρa = − (u − a ) + ∂x ∂t ∂t ∂x , (A.15e) as quais correspondem às velocidades características u, u, u, (u + a) e (u - a), respectivamente. 341 Analogamente, no caso de “operação” na direção y tem-se ∂ρ 1 ∂ p ∂ρ 1 ∂ p , − 2 = − v − 2 ∂t a ∂t ∂y a ∂y (A.16a) ∂u ∂u = −v , ∂y ∂t (A.16b) ∂w ∂w = −v , ∂y ∂t (A.16c) ρa ∂p ∂v ∂v ∂ p + ρa = − (v + a ) + ∂y ∂t ∂t ∂y , (A.16d) −ρa ∂p ∂v ∂v ∂ p −ρa = − (v − a ) + ∂y ∂t ∂t ∂y , (A.16e) correspondentes às velocidades características v, v, v, (v + a) e (v - a), respectivamente, e na direção z tem-se ∂ρ 1 ∂ p ∂ρ 1 ∂ p , − 2 = − w − 2 ∂t a ∂t ∂z a ∂z ∂u ∂u = −w , ∂z ∂t (A.17b) ∂v ∂v = −w , ∂t ∂z (A.17c) ∂p ∂w ∂w ∂ p +ρa = − (w + a ) + ∂z ∂t ∂t ∂z , (A.17d) ∂p ∂w ∂w ∂ p −ρa = − (w − a ) + ∂z ∂t ∂t ∂z , (A.17e) ρa −ρa (A.17a) correspondente às velocidades características w, w, w, (w + a) e (w - a). 342 Embora as equações, neste trabalho, sejam programadas em forma conservativa, toda a álgebra anterior considera as equações em forma não-conservativa. Há, entretanto, uma transformação similar (Warming et al., 1975) tal que ~ A = N −1 A N , (A.18a) ~ B = N −1 B N , (A.18b) ~ C = N −1 C N , (A.18c) onde A, B e C são as matrizes jacobianas de fluxo associadas às equações de Euler em sua forma conservativa e 1 u ∂Q v = N = ∂R w 1 u 2 + v 2 + w2 2 ( ) 1 −u/ ρ ∂R = N −1 = −v/ ρ ∂Q − w/ ρ 1 (γ − 1) u 2 + v 2 + w2 2 ( 0 0 , 0 1 γ − 1 (A.19) 0 1/ ρ 0 0 0 0 1/ ρ 0 0 . 0 0 1/ ρ 0 − (γ − 1)u − (γ − 1)v − (γ − 1) w γ − 1 (A.20) 0 0 0 ρ 0 0 0 ρ 0 0 0 ρ ρu ρv ρw 0 ) 0 0 0 343 Observe-se que Q é o vetor de variáveis conservadas e o vetor de variáveis não-conservadas é representado por R. Pré-multiplicando as Eqs. (A.18) por X −1 e pós-multiplicando por X, e levando em conta as Eqs. (A.11) resulta X −1 N −1 A N X = Λ A~ = Λ A , (A.21a) X −1 N −1 B N X = Λ B~ = Λ B , (A.21b) X −1 N −1 C N X = Λ C~ = Λ C . (A.21c) Em outras palavras, existe uma matriz de autovetores S tal que S −1 A S = Λ A , (A.22a) S −1 B S = Λ B , (A.22b) S −1 C S = Λ C , (A.22c) onde, evidentemente, S −1 = X −1 N −1 e S = N X. Pode-se dizer, então, que as matrizes ~ ~ jacobianas de fluxo associadas às equações de Euler em sua forma não-conservativa ( A , B e ~ C ) estão relacionadas com as matrizes associadas à forma conservativa das mesmas equações ~ ~ (A, B e C) através de uma transformação similar. Os autovalores das matrizes A e A , B e B e ~ C e C são exatamente os mesmos. Todas as condições de contorno – de entrada e saída – apresentadas a seguir supõem que o escoamento esteja, aproximadamente, alinhado com a direção longitudinal x. 344 A.2 Entrada subsônica As relações características para operação na direção x são a base para o que se segue, e, portanto, é interessante reescrevê-las ∂ρ 1 ∂ p ∂ρ 1 ∂ p , − 2 = − u − 2 ∂t a ∂t ∂x a ∂x (A.23a) ∂v ∂v = −u ∂x ∂t , (A.23b) ∂w ∂w = −u ∂t ∂x , (A.23c) ρa ∂p ∂u ∂u ∂ p +ρa = − (u + a ) + ∂x ∂t ∂t ∂x , (A.23d) −ρa ∂p ∂u ∂u ∂ p −ρa = − (u − a ) + ∂x ∂t ∂t ∂x . (A.23e) Considerando o escoamento na fronteira de entrada como subsônico (u < a) as Eqs. (A.23a) a (A.23d) “carregam” informações a jusante enquanto que a Eq. (A.23e) “carrega” informação a montante. Daí, sobre o plano de entrada, quatro condições devem ser fixadas e uma deve ser extrapolada do interior do domínio de cálculo. Essa extrapolação é feita lançando-se mão da Eq. (A.23e). Como é usual em escoamentos internos, são as seguintes as propriedades fixadas neste caso: temperatura de estagnação, To, pressão de estagnação po e angularidade do escoamento, nas direções y e z – θy e θz, respectivamente. Para isto, utilizou-se a definição empregada em coordenadas esféricas, como está apresentada na FIG. A.1. Para a orientação escolhida, 345 quando a velocidade é alinhada com a direção longitudinal do escoamento (x), os ângulos θy e θz são iguais a 90 graus. Nesse sistema tem-se r r r r U =ui +v j +wk , (A.24) v = u ctg θ y , (A.25a) w = u cssc θ y ctg θ z , (A.25b) e da figura sendo que “ctg” indica cotangente e “cssc” cossecante. A expressão para a energia cinética por unidade de massa é então dada por 1 r r 1 2 1 ec = U ⋅ U = u + v 2 + w2 = 1 + ctg 2θ y + cssc 2θ y ctg 2θ z u 2 . 2 2 2 ( ) ( ) (A.26) z w r U θz v y θy u r p x FIGURA A.1 – Sistema de coordenadas esféricas utilizado para os componentes de velocidade na entrada. 346 Para se estabelecer um esquema de extrapolação o objetivo agora é discretizar, convenientemente, a Eq. (A.23e). Através de um esquema implícito do tipo δ( )in, j ,k = ∆ t ∂ ( ∂t )in, j+,1k = ( )in, j+,1k − ( )in, j ,k , (A.27) ou ∂ ( ∂t n +1 i , j ,k ) = ( )in, j+,1k − ( )in, j ,k δ ( )in, j ,k = ∆t ∆t , (A.28) chega-se à seguinte equação discretizada: δ p1n, j , k − ρ 2n,+j1,k a2n,+j1,k δ u1n, j , k = ( − u2n,+j1,k − a2n,+j1,k ) ∆∆ xt [ ( p ) n +1 2 , j ,k ( − p1n,+j 1,k − ρ 2n,+j1,k a2n,+j1,k u2n,+j1,k − u1n,+j 1,k ) ]. (A.29) Considerando a Eq. (A.27), vem p1n, +j ,1k = p1n, j , k + δ p1n, j , k , (A.30a) u1n, +j ,1k = u1n, j , k + δ u1n, j , k , (A.30b) e, substituindo-se essas expressões na Eq. (A.29) pode-se escrever δ p1n, j , k − ρ 2n,+j1,k a2n,+j1,k δ u1n, j , k = − λ5 1 − λ5 [(p n +1 2 , j ,k ) ( )] − p1n, j ,k − ρ 2n,+j1,k a2n,+j1,k u2n,+j1,k − u1n, j ,k , (A.31) onde λ5 = ( u2n,+j1,k − a2n,+j1,k ) ∆t (x 2 , j ,k − x1, j ,k ) . (A.32) 347 Observe-se que os coeficientes (u – a) e ρ a são calculados no ponto conhecido (2, j, k). Esta aproximação adicional é feita a fim de se linearizar a Eq. (A.31). Não se deve esquecer, entretanto, que as condições no ponto (2, j, k) dependem das condições no ponto (1, j, k), o que torna a aproximação “menos arbitrária”. Note-se, ainda, que, ao se fazer a atualização das condições de contorno, o cálculo no interior da malha, para a iteração (n + 1), já foi completado. Assim, existem duas incógnitas na Eq. (A.31), a saber: δ p e δ u. É preciso, portanto, que se escreva δ p em função de δ u, por exemplo. Para tanto, lança-se mão da expressão δ p= ∂p δ u, ∂u (A.33) e, assim, a Eq. (A.31) fica n ∂ p δ u1n, j , k − ρ 2n,+j1,k a2n,+j1,k δ u1n, j , k = u ∂ 1, j , k − λ5 1 − λ5 [(p [ (p − p1n, j ,k − ρ 2n,+j1,k a2n,+j1,k u2n,+j1,k − u1n, j ,k , n +1 2 , j ,k ) )] ( − p1n, j ,k − ρ 2n,+j1,k a2n,+j1,k u2n,+j1,k − u1n, j ,k . (A.34) Definindo-se R5 = − λ5 1 − λ5 n +1 2 , j ,k ) )] ( (A.35) e resolvendo-se para δ u chega-se a δ u1n, j ,k = R5 n ∂ p − ρ 2n,+j1,k a2n,+j1,k ∂ u 1, j ,k . (A.36) 348 Resta agora a determinação da derivada ∂p / ∂u que pode ser obtida a partir da equação γ γ −1 γ −1 p = p (u ) = po 1 − (1 + ctg 2θ y + cssc 2θ y ctg 2θ z ) u 2 , γ + 1 (A.37) que resulta em n ∂ p ∂ u 1, j ,k γ = − 2 po u1n, j ,k 1 + ctg 2θ y + cssc 2θ y ctg 2θ z ⋅ 1 γ + ( ) γ −1 1 + ctg 2θ y + cssc 2θ y ctg 2θ z u 2 1 − γ +1 ( 1 γ −1 n . 1, j ,k )( ) (A.38) Uma vez que se tenha determinado δ u na equação (A.37) obtém-se imediatamente a atualização das variáveis u1n, +j ,1k = u1n, j , k + δ u1n, j , k , (A.39a) v1n,+j 1,k = u1n,+j 1,k ctgθ y , (A.39b) w1n,+j 1,k = u1n,+j 1,k csscθ y ctgθ z , (A.39c) ( ) (A.39d) ( ) (A.39e) p1n, +j ,1k = p u1n, +j ,1k , T1,nj+,1k = T u1n, +j ,1k , e onde a função T (u) foi obtida a partir da equação 349 γ −1 et = cvT = cvT (u ) = cvTo 1 − 1 + ctg 2θ y + cssc 2θ y ctg 2θ z u 2 . γ +1 ( ) (A.40) As variáveis conservadas ρ1n, +j ,1k e e1n, +j ,1k são obtidas através de ρ1n, +j ,1k = p 1n,+j 1,k (γ − 1) (et )1n,+j1,k [( 1 2 n +1 e1n,+j 1,k = ρ1n, +j ,1k (et ) 1, j ,k + u 2 ) n +1 1 , j ,k , (A.41a) ( ) + v2 n +1 1 , j ,k ( ) + w2 n +1 1 , j ,k ] . (A.41b) Assim, o vetor de variáveis conservadas em coordenadas generalizadas na fronteira (1, j, k) pode ser atualizado para o nível de tempo (n + 1), n +1 Q1n, j+,1k = J1−,1j ,k Q1n, +j ,1k ρ ρ u = J1−,1j ,k ρ v . ρ w e 1, j ,k (A.42) A.3 Entrada supersônica Quando se tem um plano de entrada no qual o escoamento é supersônico o tratamento das condições de contorno é bastante simples. Nesse caso deve-se fixar todas as propriedades na entrada da malha, já que as características transportam informação somente a jusante. 350 A.4 Saída subsônica Em se tratando de uma saída subsônica, quatro relações características transportam informação a jusante e a quinta transporta informação a montante. Portanto, uma condição deve ser fixada e quatro deverão ser extrapoladas do interior do domínio de cálculo para a fronteira. Essa extrapolação é feita utilizando-se as relações características, u, u, u, e (u + a), i. e., pelas equações ∂ρ 1 ∂ p ∂ρ 1 ∂ p , − 2 = − u − 2 ∂t a ∂t ∂x a ∂x ρa (A.43a) ∂v ∂v = −u , ∂x ∂t (A.43b) ∂w ∂w = −u , ∂t ∂x (A.43c) ∂p ∂u ∂u ∂ p +ρa = − (u + a ) + ∂x ∂t ∂t ∂x . (A.43d) A quinta condição, por exemplo, pressão estática constante, é fixada. Seguindo-se o mesmo desenvolvimento do item anterior chega-se às seguintes equações discretizadas: δ ρinmax, j ,k − 1 (a ) 2 n +1 imax −1, j ,k − δ pinmax, j ,k = λ1 n 1 +1 +1 (ρ imax, j ,k − ρ inmax , ( ) pinmax, j ,k − pinmax − , j , k −1, j ,k ) − 1 + n 1 1 − λ1 (a 2 )imax −1, j ,k (A.44a) 351 δ vinmax, j ,k = − λ2 +1 , ( vinmax, j ,k − vinmax −1, j ,k ) 1 − λ2 (A.44b) δ winmax, j ,k = − λ3 (winmax, j ,k − winmax+1 −1, j ,k ) , 1 − λ3 (A.44c) +1 n +1 n δ pinmax, j ,k + ρinmax −1, j ,k aimax −1, j ,k δ uimax, j ,k = − λ4 1 − λ4 [(p n imax, j ,k ) )] ( +1 n +1 n +1 n n +1 , − pinmax −1, j ,k + ρ imax −1, j ,k aimax −1, j ,k uimax, j ,k − uimax −1, j ,k (A.44d) onde +1 λ1 = λ2 = λ3 = uinmax −1, j ,k ∆t (x imax, j ,k n +1 +1 λ4 = (uinmax −1, j ,k + aimax −1, j ,k ) − ximax −1, j ,k ) , ∆t (x imax, j ,k − ximax −1, j ,k ) (A.45a) . (A.45b) Nas Eqs. (A.44) todos os coeficientes são calculados no ponto (imax-1, j, k), onde imax é o número máximo de pontos da malha na direção ξ. Usando o fato de que a pressão estática está sendo fixada tem-se δ pinmax, j ,k = 0 , o que vem a simplificar as Eqs. (A.44), as quais se escrevem agora (A.46) 352 δ ρinmax, j ,k = R1 , (A.47a) δ vinmax, j ,k = R2 , (A.47b) δ winmax, j ,k = R3 , (A.47c) δ uinmax, j ,k = ρ R4 , +1 ainmax −1, j ,k (A.47d) n +1 imax −1, j ,k onde λ1 n 1 n n +1 +1 (ρ imax, j ,k − ρ inmax , ) ( ) − − p p −1, j ,k 1 − λ1 (a 2 )inmax+1 −1, j ,k imax, j ,k imax −1, j ,k (A.48a) R2 = − λ2 +1 , ( vinmax, j ,k − vinmax −1, j ,k ) 1 − λ2 (A.48b) R3 = − λ3 (winmax, j ,k − winmax+1 −1, j ,k ), 1 − λ3 (A.48c) R1 = − R4 = − λ4 1 − λ4 [ (p n imax, j ,k ) ( )] +1 n +1 n +1 n n +1 . − pinmax −1, j ,k + ρ imax −1, j ,k aimax −1, j ,k uimax, j ,k − uimax −1, j ,k (A.48d) Finalmente, pode-se atualizar os parâmetros na fronteira de saída +1 n n ρinmax, j ,k = ρ imax, j ,k + δ ρ imax, j ,k , (A.49a) +1 n n uinmax, j ,k = uimax, j ,k + δ uimax, j ,k , (A.49b) +1 n n vinmax, j ,k = vimax, j ,k + δ vimax, j ,k , (A.49c) +1 n n winmax, j ,k = wimax, j ,k + δ wimax, j ,k , (A.49d) +1 n pinmax, j ,k = pimax, j ,k . (A.49e) 353 As quantidades conservadas no contorno de saída podem ser calculadas a partir das Eqs. (A.49) e de relações constitutivas auxiliares. A.5 Saída supersônica Caso se deseje implementar condições para uma saída supersônica, as cinco equações características, Eqs. (A.23), devem ser discretizadas formando um sistema de cinco equações a cinco incógnitas, a sabe: δ ρ , δ u , δ v , δ w e δ p . Após procedimento análogo ao do item A.2 chega-se a δ ρinmax, j ,k − 1 (a ) 2 n +1 imax −1, j ,k − δ pinmax, j ,k = λ1 n 1 n n+1 +1 (ρ imax, j ,k − ρ inmax = R1 , ) ( ) p p − − −1, j ,k 1 − λ1 (a 2 )inmax+1 −1, j ,k imax, j ,k imax −1, j ,k (A.50a) δ vinmax, j ,k = − λ2 (vinmax, j ,k − vinmax+1 −1, j ,k ) = R2 , 1 − λ2 (A.50b) δ winmax, j ,k = − λ3 +1 ( winmax, j ,k − winmax R3 , −1, j ,k ) = 1 − λ3 (A.50c) +1 n +1 n δ pinmax, j ,k + ρinmax −1, j ,k aimax −1, j ,k δ uimax, j ,k = − λ4 1 − λ4 [ (p n imax, j ,k ) ( +1 n +1 n +1 n n +1 − pinmax −1, j ,k + ρ imax −1, j ,k aimax −1, j ,k uimax, j ,k − uimax −1, j ,k )] = R4 , (A.50d) 354 +1 n +1 n δ pinmax, j ,k − ρinmax −1, j ,k aimax −1, j ,k δ uimax, j ,k = − λ5 1 − λ5 [ (p n imax, j ,k ) ( +1 n +1 n +1 n n +1 − pinmax −1, j ,k − ρ imax −1, j ,k aimax −1, j ,k uimax, j ,k − uimax −1, j ,k )] = R5 , (A.50e) onde ∆t +1 λ1 = λ2 = λ3 = λ4 = uinmax −1, j ,k (x imax, j ,k n +1 +1 λ5 = (uinmax −1, j ,k − aimax −1, j ,k ) ∆t (x imax, j ,k , − ximax −1, j ,k ) − ximax −1, j ,k ) . (A.51a) (A.51b) Portanto, δ pinmax, j ,k = R4 + R5 , 2 δ ρinmax, j ,k = R1 + 1 (a ) 2 n +1 imax −1, j ,k δ pinmax, j ,k , (A.52b) δ vinmax, j ,k = R2 , (A.52c) δ winmax, j ,k = R3 , (A.52d) n imax, j ,k δu (A.52a) = R4 − δ pinmax, j ,k +1 n +1 ρinmax −1, j ,k aimax −1, j ,k . Logo, as propriedades na fronteira podem ser atualizadas (A.52e) 355 n n +1 ρinmax, j ,k = ρ imax, j ,k + δ ρ imax, j ,k , (A.53a) +1 n n uinmax, j ,k = uimax, j ,k + δ uimax, j ,k , (A.53b) +1 n n vinmax, j ,k = vimax, j ,k + δ vimax, j ,k , (A.53c) +1 n n winmax, j ,k = wimax, j ,k + δ wimax, j ,k , (A.53d) +1 n n pinmax, j ,k = pimax, j ,k + δ pimax, j ,k . (A.53e) A variável conservada energia total por unidade de volume, e, é calculada através da seguinte expressão [( 1 2 n +1 +1 n +1 einmax, u j ,k = ρ imax, j ,k (et )imax, j ,k + 2 ) n +1 imax, j ,k ( ) + v2 n +1 imax, j ,k ( ) + w2 n +1 imax, j ,k ] . (A.54) Nos escoamentos viscosos a presença da camada limite faz com que haja pelo menos alguns pontos nos quais o escoamento é subsônico, isto é, pontos tais que o componente de velocidade na direção x tenha magnitude menor do que a velocidade de pequenas perturbações relativas ao meio. Para situações nas quais a saída é supersônica é comum cada ponto ser testado quanto ao regime de velocidade, e então aplicarem-se as condições de contorno apropriadas. 356 Apêndice B CONDIÇÕES DE OPERAÇÃO DO TTP SEM INJEÇÃO Os dados das Tabs. B.2 a B12 foram obtidos do projeto conceptual (Sverdrup, 1989) (MST indica número de Mach na seção de testes do túnel), relativos às seções do circuito do túnel, segundo FIG. B.1 e TAB. B1. 11 13 10 9 8 7 6 5 12 14 4 3 15 16 1 2 FIGURA B.1 – Circuito aerodinâmico do TTP com principais elementos numerados – a linha tracejada indica a seção de entrada do elemento. TABELA B.1 – Nomenclatura utilizada para os elementos do circuito aerodinâmico do TTP e a área transversal de sua seção de entrada. Elem. Nome 2 Área (m ) Elem. Nome 2 Área (m ) 1 Duto de retorno 0,1772 9 Primeira garganta 0,1391 2 Esquina 3 0,6105 10 Seção de testes 0,0750 3 Duto 3-4 0,6105 11 Câmara de injeção 0,1097 4 Esquina 4 0,6105 12 Difusor 0,1099 5 Expansão da tranqüilização 0,6105 13 Esquina 1 0,3068 6 Trocador de calor 1,2770 14 Duto 1-2 0,3068 7 Tranqüilização 1,2768 15 Esquina 2 0,3068 8 Contração fixa 1,2768 16 Contração do compressor 0,2945 357 TABELA B.2 – MST = 0,200. Elem. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 po (kPa) 110,45 110,35 110,34 110,34 110,33 110,33 110,11 110,06 110,06 110,00 109,66 109,62 109,55 109,53 109,44 109,35 To (K) 314,18 314,18 314,18 314,18 314,18 314,18 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 M 0,0828 0,0240 0,0240 0,0240 0,0240 0,0115 0,0115 0,0115 0,1059 0,2000 0,1326 0,1325 0,0470 0,0470 0,0472 0,0491 TABELA B.5 – MST = 0,500. Elem. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 TABELA B.3 – MST = 0,300. Elem. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 po (kPa) 110,90 110,68 110,67 110,67 110,65 110,64 110,22 110,13 110,12 110,00 109,22 109,13 108,98 108,92 108,91 108,55 To (K) 315,53 315,53 315,53 315,53 315,53 315,53 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 M 0,1209 0,0349 0,0349 0,0349 0,0349 0,0167 0,0167 0,0167 0,1554 0,3000 0,1964 0,1962 0,0690 0,0690 0,0691 0,0721 po (kPa) 111,42 111,06 111,04 111,03 111,01 110,99 110,36 110,22 110,20 110,00 108,53 108,38 108,12 108,02 107,71 107,41 To (K) 317,32 317,32 317,32 317,32 317,32 317,32 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 M 0,1554 0,0446 0,0447 0,0447 0,0447 0,0213 0,0213 0,0213 0,2006 0,4000 0,2571 0,2571 0,0891 0,0892 0,0895 0,0935 To (K) 318,74 318,74 318,74 318,74 318,74 318,74 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 M 0,1850 0,0529 0,0530 0,0530 0,0530 0,0253 0,0253 0,0253 0,2404 0,5000 0,3138 0,3141 0,1072 0,1073 0,1078 0,1128 TABELA B.6 – MST = 0,600. Elem. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 TABELA B.4 – MST = 0,400. Elem. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 po (kPa) 111,94 111,45 111,41 111,41 111,37 111,35 110,50 110,30 110,28 110,00 107,55 107,32 106,94 106,80 106,35 105,92 po (kPa) 112,44 111,80 111,76 111,75 111,71 111,68 111,63 110,39 110,36 110,00 106,16 105,85 105,34 105,16 104,58 104,02 To (K) 321,06 321,06 321,06 321,06 321,06 321,06 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 M 0,2097 0,0598 0,0598 0,0598 0,0598 0,0285 0,0285 0,0285 0,2737 0,6000 0,3661 0,3667 0,1230 0,1232 0,1239 0,1299 TABELA B.7 – MST = 0,700. Elem. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 po (kPa) 112,86 112,10 112,05 112,05 111,99 111,96 110,75 110,46 110,43 110,00 104,23 103,85 103,22 102,99 102,30 101,62 To (K) 323,86 323,86 323,86 323,86 323,86 323,86 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 M 0,2290 0,0650 0,0650 0,0650 0,0651 0,0311 0,0309 0,0310 0,2996 0,7000 0,4136 0,4148 0,1365 0,1368 0,1378 0,1447 358 TABELA B.8 – MST = 0,800. Elem. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 po (kPa) 113,17 112,33 112,27 112,27 112,21 112,17 110,83 110,51 110,48 110,00 101,81 101,35 100,60 100,35 99,56 98,78 To (K) 327,08 327,08 327,08 327,08 327,08 327,08 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 M 0,2428 0,0687 0,0688 0,0688 0,0688 0,0328 0,0325 0,0326 0,3177 0,8000 0,4560 0,4578 0,1479 0,1483 0,1495 0,1572 TABELA B.11 – MST = 1,100. Elem. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 TABELA B.9 – MST = 0,900. Elem. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 po (kPa) 113,37 112,47 112,41 112,40 112,34 112,30 110,88 110,54 110,51 110,00 99,32 98,80 97,96 97,69 96,83 95,98 To (K) 330,25 330,25 330,25 330,25 330,25 330,25 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 M 0,2512 0,0710 0,0711 0,0711 0,0711 0,0339 0,0335 0,0336 0,3282 0,9000 0,4900 0,4925 0,1566 0,1570 0,1585 0,1668 po (kPa) 113,45 112,52 112,46 112,45 112,39 112,35 110,90 110,55 110,52 110,00 97,47 96,92 96,04 95,75 94,85 93,97 To (K) 332,52 332,52 332,52 332,52 332,52 332,52 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 M 0,2544 0,0719 0,0719 0,0719 0,0719 0,0343 0,0337 0,0338 0,3315 1,0000 0,5093 0,5123 0,1613 0,1618 0,1634 0,1721 To (K) 334,81 334,81 334,81 334,81 334,81 334,81 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 M 0,2533 0,0716 0,0716 0,0716 0,0716 0,0342 0,0335 0,0336 0,3285 1,1000 0,5190 0,5223 0,1636 0,1641 0,1658 0,1747 TABELA B.12 – MST = 1,200. Elem. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 TABELA B.10 – MST = 1,000. Elem. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 po (kPa) 113,42 112,50 112,44 112,43 112,37 112,33 110,88 110,54 110,51 110,00 95,43 94,88 93,98 93,69 92,79 91,90 po (kPa) 113,32 112,43 112,37 112,37 112,30 112,26 110,84 110,52 110,49 110,00 91,02 90,45 89,53 89,24 88,33 87,44 To (K) 339,95 339,95 339,95 339,95 339,95 339,95 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 M 0,2496 0,0706 0,0706 0,0706 0,0706 0,0337 0,0328 0,0329 0,3204 1,2000 0,5386 0,5425 0,1681 0,1687 0,1705 0,1798 TABELA B.13 – MST = 1,300. Elem. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 po (kPa) 113,19 112,33 112,27 112,27 112,21 112,17 110,79 110,48 110,45 110,00 84,56 83,97 83,01 82,71 81,80 80,90 To (K) 348,14 348,14 348,14 348,14 348,14 348,14 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 313,00 M 0,2439 0,0691 0,0691 0,0691 0,0691 0,0330 0,0317 0,0318 0,3084 1,3000 0,5721 0,5773 0,1755 0,1762 0,1782 0,1881 359 Apêndice C INSTALAÇÃO E CARACTERÍSTICAS DE OPERAÇÃO DA CÂMARA DE INJEÇÃO C.1 Vistas gerais da instalação As figuras C.1 a C.6 mostram a instalação do circuito aerodinâmico do TTP, com seus principais componentes, destacando o sistema de injeção. tubulação da injeção câmara Plena trocador de calor FIGURA C.1 – Vista panorâmica do circuito aerodinâmico do TTP. 360 tubulação da injeção janela de visualização (centro da ST) FIGURA C.2 – Câmara Plena. tubulação da injeção válvula de controle da injeção FIGURA C.3 – Circuito do TTP e tubulação da injeção. 361 tubulação de distribuição da injeção Seção de Testes aberta e instalada com sonda de pressão FIGURA C.4 – Interior da câmara Plena – tubulação de distribuição da injeção. tubo de chegada tubos de distribuição da injeção tubo da estagnação dos cinco injetores do teto início do difusor tubo da estagnação dos cinco injetores do piso câmara de mistura da injeção FIGURA C.5 – Tubulação de distribuição da injeção. 362 FIGURA C.6 – Vista interna do difusor com detalhe da câmara de injeção com cinco injetores no teto e cinco no piso. Vê-se ainda, ao fundo, na ordem, o corpo central da segunda garganta, a abertura dos flapes (nas laterais) e as fendas nas paredes da seção de testes. 363 C.2 Vistas de detalhes da instalação dos injetores FIGURA C.7 – Instalação da câmara de injeção no circuito do TTP. 364 início final FIGURA C.8 – Detalhe da instalação da câmara de injeção destacando seu início e final. 16,50 cm FIGURA C.9 – Instalação do injetor na sede. A linha que demarca o injetor corresponde ao seu contorno interno. 365 garganta (área mínima) fronteira de saída curva x-y piso do túnel 3,65 cm 16,11 cm y estagnação do injetor x 14,75 cm r = 3,49 cm R = 21,04 cm seção transversal da saída do injetor 2,26 cm 1,57 cm 6,44 cm O FIGURA C.10 – Projeto do contorno interno do injetor. Curva x-y conforme projeto (Grupo TTP, 1996). 366 C.3 Gráficos de desempenho do sistema de injeção As FIGS. C.11 a C.16 mostram as respostas da operação do túnel em termos da pressão de estagnação e do número de Mach na seção de testes, quando a injeção é acionada. Estes dados foram obtidos de Falcão Filho (1996) (ver também Falcão Filho et al., 2000a). Mais informações também no item 5.2.1. 108 107 106 105 p0 (kPa) 104 103 102 101 100 99 98 150 200 250 300 tempo (s) FIGURA C.11 – Pressão de estagnação na seção de testes ao acionar a injeção (po,inj = 400 kPa). 367 108 107 106 105 p0 (kPa) 104 103 102 101 100 99 98 150 200 250 300 tempo (s) FIGURA C.12 – Pressão de estagnação na seção de testes ao acionar a injeção (po,inj = 600 kPa). 108 107 106 105 p0 (kPa) 104 103 102 101 100 99 98 150 200 250 300 tempo (s) FIGURA C.13 – Pressão de estagnação na seção de testes ao acionar a injeção (po,inj = 800 kPa). 368 1.12 1.1 número de Mach 1.08 1.06 1.04 1.02 1 0.98 150 200 250 300 tempo (s) FIGURA C.14 – Número de Mach na seção de testes ao acionar a injeção (po,inj = 400 kPa). 1.12 1.1 número de Mach 1.08 1.06 1.04 1.02 1 0.98 150 200 250 300 tempo (s) FIGURA C.15 – Número de Mach na seção de testes ao acionar a injeção (po,inj = 600 kPa). 369 1.12 1.1 número de Mach 1.08 1.06 1.04 1.02 1 0.98 150 200 250 300 tempo (s) FIGURA C.16 – Número de Mach na seção de testes ao acionar a injeção (po,inj = 800 kPa). FOLHA DE REGISTRO DO DOCUMENTO 1. 5. CLASSIFICAÇÃO/TIPO TD 2. 3. DATA 24 de julho de 2006 4. DOCUMENTO N° CTA/ITA-IEA/TD-001/2006 N° DE PÁGINAS 369 TÍTULO E SUBTÍTULO: Estudo Numérico do Processo de Injeção em um Túnel de Vento Transônico 6. AUTOR(ES): João Batista Pessoa Falcão Filho 7. INSTITUIÇÃO(ÕES)/ÓRGÃO(S) INTERNO(S)/DIVISÃO(ÕES): Instituto Tecnológico de Aeronáutica. Divisão de Engenharia Aeronáutica – ITA/IEA 8. PALAVRAS-CHAVE SUGERIDAS PELO AUTOR: 1. Mistura de Jatos. 2. Escoamento turbulento. 3. Túnel Transônico. 9.PALAVRAS-CHAVE RESULTANTES DE INDEXAÇÃO: Escoamento de jatos misturados; Escoamento turbulento; Túneis de vento transônicos; Injeção; Dinâmica dos fluidos computacional; Física 10. (X) Nacional APRESENTAÇÃO: ( )Internacional ITA, São José dos Campos, 2006, 369 páginas 11. RESUMO: Injetores supersônicos são instalados em túneis de vento transônicos com a finalidade de estender o envelope operacional baseado no número de Reynolds, sem demandar maior potência do compressor principal. O objetivo deste trabalho é estudar numericamente o processo de injeção do Túnel Transônico Piloto do CTA. A câmara de injeção contém cinco bicos injetores localizados no piso e cinco no teto do túnel, os quais operam com número de Mach 1,9, fornecendo quantidade de movimento adicional à corrente principal do circuito do túnel. Tal câmara na verdade é a própria seção de transição do túnel, a qual, por sua vez, localiza-se imediatamente antes do difusor. Devido à grande diferença entre as dimensões dos injetores e da seção transversal do túnel, onde os mesmos encontram-se montados, o tratamento tem que ser necessariamente tridimensional. Para tanto foi desenvolvido um código numérico baseado nas equações de Navier-Stokes com média de Reynolds, seguindo-se o princípio do algoritmo diagonal em diferenças finitas, e efeitos de turbulência foram previstos por meio do esquema de Spalart e Allmaras. Várias hipóteses simplificadoras foram introduzidas para tornar o problema factível e a integração numérica é realizada dividindo o domínio de cálculo em sub-regiões. Mesmo assim, devido ao grande número de pontos, foi aplicada uma técnica de malhas seqüenciais para economizar o tempo computacional. O escoamento na região de mistura foi simulado com sucesso e os resultados foram todos consistentes. Com os valores dos parâmetros conhecidos em todo o domínio computacional, foram calculados o coeficiente de perda de carga, o ganho e a eficiência do processo de injeção – parâmetros estes de grande importância na engenharia de túneis de vento. Entre diversos aspectos físicos muito interessantes, destaca-se a formação de domos de choque e expansão ao longo da direção longitudinal no processo de mistura. 12. GRAU DE SIGILO: (X ) OSTENSIVO ( ) RESERVADO ( ) CONFIDENCIAL ( ) SECRETO