III Domingo da Quaresma – Ano C

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III Domingo da Quaresma – Ano C
III Domingo da Quaresma – Ano C
Dom, 24 de Maio de 2009 01:10 - Última atualização Dom, 13 de Março de 2016 22:03
Ex 3,1-18a.13-15
Sl 102
1Cor 10,1-6.10-12
Homilia I
O tempo da Quaresma recorda muitas vezes o tempo da travessia do deserto por parte de
Israel: tempo de peregrinação, de provação e de purificação. O livro do Deuteronômio recorda
isto com palavras muito fortes: “Lembra-te de todo o caminho que o Senhor teu Deus te fez
percorrer durante quarenta anos no deserto, a fim de humilhar-te, tentar-te e conhecer o que
tinhas no coração. Portanto, reconhece hoje no teu coração que o Senhor teu Deus te
educava, como um homem educa seu
filho” (Dt 8,2.5). No deserto, portanto, Deus usou as provas pelas quais Israel passou, para
revelar ao seu povo aquilo que estava escondido no seu próprio coração, isto é, seu pecado,
sua fraqueza, sua infidelidade. Mas, também no deserto, Deus cercou seu povo de carinho e
proteção, alimentou-o com o maná e saciou-o com a água do rochedo, guiou-o pela nuvem
luminosa de noite e protetora contra o sol de dia... Tempo de noivado e de amor entre Deus e o
seu povo, foi o tempo do deserto! Por isso, pensar nessa travessia pelo deserto serve tanto
para a nossa preparação para a Páscoa.
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Mas, vejamos. Como começou o caminho de Israel deserto a dentro? Começou com a
“descida” de Deus para juntinho do seu povo que gemia debaixo de humilhante escravidão: “E
u vi a aflição do meu povo que está no Egito e ouvi o seu clamor por causa da dureza de seus
opressores. Sim, conheço os seus sofrimentos. Desci para libertá-lo e fazê-los sair...”
Que coisa impressionante: um Deus tão grande, tão santo, o Deus de Israel e, no entanto, é
capaz de ver a aflição, ouvir o clamor, conhecer o sofrimento do seu povo, que era ninguém,
que não passava de um punhado de escravos! “Eu desci para libertá-lo!”
Nosso Deus é um Deus que desce, que vem para junto do pobre que se encontra no monturo!
Nosso Deus é um Deus que liberta e salva! E quando Moisés pergunta pelo seu nome, Deus
revela-o de dois modos: primeiro apresenta-se como o “o Deus de teus pais, o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó”
– isto é, o Deus fiel, o Deus que não esqueceu seus amigos do passado, Abraão, Isaac e Jacó
e agora vem em socorro de seus descendentes. Depois, Deus revela o seu nome: “Eu sou aquele que será”
. Segundo bons exegetas, assim deve-se traduzir o nome de Deus. Isto é, Deus não revela o
seu nome a Moisés! Seu “nome”, na verdade, é um desafio, um convite; quer dizer: “Eu sou o
que tu verás quando eu agir! Tu verás quem eu sou à medida que caminhares comigo! Eu sou
o que estará sempre contigo!” – O Deus que foi fiel a Abraão, a Isaac e a Jacó é confiável,
pode-se apostar a vida nele: Moisés e o povo de Israel haverão de ver! E viram, em tantos
momentos da travessia do deserto. Na segunda leitura, São Paulo recorda vários destes
acontecimentos: a nuvem e o mar (imagens do Espírito e da água do Batismo), o maná
(imagem da Eucaristia), a água que brotou da rocha (imagem do Cristo, de cujo lado
traspassado brotou o Espírito). Deus fora todo carinho, todo proteção, todo compaixão e
paciência... E, no entanto, Israel tantas vezes duvidou, revoltou-se, murmurou, foi de cerviz
dura e infiel!
São Paulo nos previne: “Esses fatos aconteceram para servir de exemplo para nós, a fim de
que não desejemos coisas más, como fizeram aqueles no deserto. Não murmureis, como
alguns deles murmuraram... Portanto, quem está de pé tome cuidado para não cair”.
Nós somos o povo de Deus da Nova Aliança. Como Israel, atravessamos um longo deserto
rumo à Terra Prometida, que é a Pátria celeste; e também nós somos sujeitos a tantas
tentações, como Israel. O grande pecado do povo de Deus da Antiga Aliança era descrer e
murmurar contra Deus. De cabeça dura, Israel teimava em caminhar do seu modo, em fazer do
seu jeito, em contar com suas forças e sua lógica. Quantas vezes o povo fez isso! Quantas
vezes nós fazemos isso!
Neste santo tempo quaresmal, somos chamados a uma sincera conversão, a mudar nossa
lógica, confiando realmente no Senhor e trilhando sinceramente seus caminhos! Estejamos
atentos à seríssima advertência que o Senhor Jesus nos faz no Evangelho. Primeiro ele usa
dois acontecimentos daqueles dias em Jerusalém para ilustrar a necessidade de conversão
urgente: os galileus que Pilatos perversamente mandara matar e misturar seu sangue com o
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dos animais sacrificados no Templo – um ato de profanação! – e as dezoito pessoas que
morreram por conta do desabamento de uma torre em Jerusalém. Jesus pergunta: “Pensais
que essas pessoas eram mais pecadoras que as outras?” Não! Os sofrimentos da vida não são
castigo pelos pecados! Mas, devem servir de reflexão e de alerta para todos! Há uma desgraça
muito pior que qualquer acidente: morrer para Deus, ressecar o coração para o Senhor: “Se
não vos converterdes, ireis morrer do mesmo modo!”
Depois Jesus ilustra o que ele quer dizer com a parábola da figueira estéril: “Há três anos venho procurando figos nesta figueira e nada encontro!”
A figueira da parábola é o povo de Israel que, durante três anos, ouviu a pregação do Senhor e
não o acolheu. Mas, e nós, há quantos anos escutamos o Senhor? Que frutos estamos dando?
Nesta Quaresma de 2004, como vai o nosso combate espiritual, o nosso caminho de
conversão?
Não abusemos da paciência de Deus, não tomemos como desculpa a sua misericórdia para
retardar nossa conversão! O Eclesiástico previne severamente: “Não digas: ‘Pequei: o que me
aconteceu?’ porque o Senhor é paciente. Não sejas tão seguro do perdão para acumular
pecado sobre pecado. Não digas: ‘Sua misericórdia é grande para perdoar meus inúmeros
pecados’, porque há nele misericórdia e cólera e sua ira pousará sobre os pecadores. Não
demores em voltar para o Senhor e não adies de um dia para o outro, porque, de repente, a
cólera do Senhor virá e no dia do castigo perecerás” (Eclo 5,4-7)
Caríssimos, eis o tempo de conversão, eis o dia da salvação! Deixemo-nos reconciliar com
Deus em Cristo! Convertamo-nos!
Homilia II
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Irmãos caríssimos em Cristo, neste santo tempo quaresmal somos chamados a escutar com
mais atenção ainda a santa Palavra que o Senhor nos dirige. Escutemos com seriedade,
porque Aquele que nos fala é o mesmo Deus santo que, do meio da chama da sarça, falou
com Moisés... Aquele diante de quem Moisés cobriu o rosto e tirou as sandálias.. Com Deus
não se brinca, meus caros; de Deus não podemos fazer pouco impunemente! Assim,
estejamos atentos, pois durante os quarenta dias deste período sagrado que nos prepara para
a Páscoa, toda a Igreja é chamada a recordar-se que é o novo Israel, um povo consagrado a
Deus, reunido pelo Senhor do meio de todas as nações, consagrado pelo sangue precioso de
Cristo, separado do mundo e enviado ao mundo para no mundo fazer brilhar a glória do
Senhor...
Somos, meus queridos em Cristo, um povo santo, um povo sacerdotal, um povo de
testemunhas do Senhor e de intercessores pela inteira humanidade... O que era o antigo Israel
de modo figurativo e, em certo sentido, provisório, somos nós agora de modo pleno e definitivo.
Assim, nestes dias quaresmais, a Igreja toda e cada um de nós deve voltar ao deserto com a
mente, com o coração, com a recordação, com o afeto... A Igreja deve estar atenta ao antigo
Israel, pois, como diz o santo Apóstolo, os fatos ocorridos com o antigo povo “aconteceram
para serem exemplos para nós, a fim de que não desejemos coisas más, como fizeram
aqueles no deserto”
e não murmuremos como eles murmuraram e não sejamos infieis como eles foram... Atenção,
meus amados em Cristo! Atenção para não pensarmos: “Somos a Igreja de Cristo, somos o
povo da eterna aliança, nada de mal nos acontecerá!” Não caiamos nesta ilusão! O próprio São
Paulo nos recorda hoje: “
Quem julga estar de pé, tome cuidado para não cair”.
E ainda mais, Jesus, no Evangelho, nos exorta gravemente à conversão. Se a Igreja é a vinha
do Senhor, que jamais será rejeitada, nós somos como aquela figueira que, se no período da
paciência de Deus, não der fruto, será cortada do meio da vinha! Eis a Quaresma: tempo da
paciência do Senhor para nós, o tempo de produzir frutos que permaneçam!
Caríssimos meus, é tão significativa e urgente a exortação do Senhor Jesus no Evangelho
deste hoje! Vede: Chegam com uma novidade para Jesus: Pilatos, que odiava os judeus e não
perdia oportunidade para provocá-los, havia mandado matar uns galileus revoltosos e, para
cúmulo do desprezo pelos judeus, ordenara misturar o sangue dos mortos com o dos animais a
serem sacrificados no Templo... Uma profanação, uma ignomínia! Certamente, quem veio
trazer a notícia triste não meditou no sentido dela... Jesus tira daí uma lição com palavras
cortantes. Escutemos o Senhor: “Vós pensais que esses galileus eram mais pecadores do que
todos os outros galileus, por terem sofrido tal coisa? Eu vos digo que não. Mas se vós não vos
converterdes, ireis morrer todos do mesmo modo”.
E o nosso
Mestre completa, recordando um acidente de pouco tempo atrás em Jerusalém:
“E aqueles dezoito que morreram, quando a torre de Siloé caiu sobre eles? Pensais que eram
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mais culpados do que todos os outros moradores de Jerusalém? Eu vos digo que não. Mas, se
não vos converterdes, ireis morrer todos do mesmo modo”
O que Jesus quer dizer? Pensai vós, irmãos, que os que morreram no Haiti ou no Chile ou em
quaisquer outras tragédias eram mais pecadores que nós todos? Pensais que estas coisas são
simples castigo de Deus? Não! Jesus não aceita este tipo simplório de raciocínio! Mas, uma
coisa é certa para o nosso Salvador: esses acontecimentos trágicos devem ser sinais para nós;
devem nos recordar o quanto somos frágeis, o quanto a vida passa, o quanto não temos em
nossas mãos os nossos dias! Então, se formos sérios antes tais fatos, essas dolorosas
realidades tornam-se uma palavra de Deus para nós, um apelo à conversão, um convite a levar
Deus a sério e nele fundamentar nossa existência! Mais ainda: se a morte do corpo, provocada
por tais tragédias nos entristece, que dizer da morte eterna, da morte da alma, do inferno? Por
isso Jesus nos previne: “Se não vos converterdes perecereis todos”
– e aí de uma morte pior, definitiva, eterna!
Caros irmãos, não brinquemos com Deus! Certamente ele é o Pai amoroso de Jesus e, desde
o santo Batismo é também o nosso Pai; mas, é ao mesmo tempo, o Deus santo: aquele em
relação ao qual sempre haverá uma enorme distância: somos criaturas, ele é o Criador; somos
tão limitados, ele é Infinito! “Não te aproximes! Tira as sandálias dos pés: o lugar em que pisas
é santo!”
Insisto, irmãos amados: não brinquemos com o Senhor
Deus: aproveitemos este tempo quaresmal, tempo da paciência divina, para a nossa
conversão. E aí, então, iremos conhecendo o verdadeiro nome de Deus: “Eu sou o que serei!”
, isto é: “Eu sou o que serei para vós! Na medida em que caminhardes comigo, em mim
fundamentando vossa existência, sabereis por experiência quem eu sou!” Não se pode
conhecer a Deus teoricamente; não se pode experimentar a proximidade e doçura do Senhor
sem caminhar com ele, a ele confiando nossa vida! Vamos, irmãos, insisto mais uma vez:
nosso Deus é o Deus fiel, o Deus de amor e misericórdia, capaz de ver nossas misérias,
conhecer nossas angústias e descer até o chão de nossa existência para nos libertar e nos dar
vida em plenitude. Mas, para isto, é necessário levá-lo a sério e entrar no caminho de
conversão a ele!
Que o Senhor Jesus nos conceda esta graça da verdadeira conversão! Que pela sua
santíssima paixão ele nos livre de banalizar os apelos que nos faz e nos coloque no reto
caminho de uma verdadeira mudança de vida! Assim a esta altura da Quaresma, vejamos bem
como estamos na nossa oração, na penitência, sobretudo dos alimentos, e na esmola.
Vejamos como estamos no combate ao pecado que há em nós! Irmãos queridos, não recebais
a graça de Deus em vão! Que nos ajude o nosso Jesus, ele que na sua misericórdia, hoje nos
dirige tão séria advertência. A ele a glória para sempre. Amém.
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