Atas do ESADR 2013 - Universidade de Évora
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Atas do ESADR 2013 - Universidade de Évora
P16 Eco-eficiência, participação e sustentabilidade Atas Proceedings ISBN 978-989-8550-19-4 P16 · Eco-eficiência, participação e sustentabilidade Coordenadores António José Dinis Ferreira (CERNAS / ESAC) [email protected] M.ª de Fátima Lorena Oliveira (CERNAS / ESAC) [email protected] Sandra Valente (CESAM / UA) [email protected] A agricultura e o setor alimentar deparam-se com um futuro incerto, encontrando-se sob influência de múltiplos fatores, que têm revelado a vulnerabilidade dos sistemas agro-alimentares atuais e originando consenso sobre a necessidade de sistemas mais resilientes. Neste contexto, a investigação está cada vez mais envolvida com a antecipação de desenvolvimentos futuros, através da avaliação e previsão de cenários. O objetivo deste painel é discutir metodologias, procedimentos e resultados de investigação sobre a dinâmica da agricultura e do setor agro-alimentar para o futuro, para a identificação das suas implicações e de mecanismos de alerta a nível local, regional e global. 4042 | ESADR 2013 RESILIÊNCIA E DESENVOLVIMENTO: SISTEMAS AGROFLORESTAIS NA FLORESTA ATLÂNTICA NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – BRASIL Daniela Garcez Wives – Geógrafa, mestre e doutoranda em Desenvolvimento Rural pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Contato: [email protected] Carolina Braz de Castilho e Silva – Cientista Social, mestre em Sociologia e doutoranda em Desenvolvimento Rural pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Contato: [email protected] Luciano Silva Figueiredo – Biólogo, mestre em Botânica pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e doutor em Botânica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professor Adjunto da Universidade Estadual do Piauí (UESPI) e colaborador junto ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Contato: [email protected] RESUMO O trabalho demonstra que os recursos e relações locais foram fundamentais para ajudar as comunidades do bioma da Mata Atlântica, Sul do Brasil, a lidar com os impactos da nova Legislação ambiental imposta nos seus espaços. A Floresta Atlântica é considerada Patrimônio Nacional pela Constituição Federal Brasileira de 1988 e reconhecida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) como Reserva da Biosfera. Essa importância gerou um aprofundamento nas restrições à sua utilização, por meio do Código Florestal Brasileiro (Lei 1.428/2006) e pela legislação estadual, ainda mais restritiva, através do Código Florestal Estadual (Lei 9.519/1992) e do Código Estadual do Meio Ambiente (11.520/2000). Tradicionalmente, os moradores da microrregião do Litoral Norte, no Rio Grande do Sul, obtêm seu sustento da agricultura, geralmente em propriedades com cerca de 5 hectares, com sistemas produtivos baseados na queimada. A implantação da nova legislação comprometeu seu modo de produção, restando poucas alternativas, entre elas o abandono das áreas. Este trabalho traz 53 entrevistas, realizadas em 2012, para analisar os recursos e relações locais utilizados pelos habitantes frente à nova Legislação. Além disso, analisa-se alguns indicadores sociais e econômicos, como o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), a superfície agrícola útil (SAU) e o produto bruto (PB) para verificar as transformações locais. Nesse contexto, a resiliência da comunidade analisada está associada aos sistemas agroflorestais (SAF), permitindo a produção agrícola com a conservação de uso sustentável das florestas. Assim, o SAF Atas Proceedings | 4043 VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural vem configurando-se na resposta de quase 500 agricultores que têm seu principal expoente na bananicultura, ao permitir o uso da terra e melhorar a renda dos produtores. O SAF, ainda, altera a geografia da produção, proporciona uma reorganização total dos arranjos produtivos e sociais e gera uma ressignificação dessa comunidade e do local. Palavras-chave: Resiliência Social, Sistemas Agroflorestais, Mata Atlântica, Rio Grande do Sul. INTRODUÇÃO Aregião de encosta Atlântica do litoral do Rio Grande do Sul é considerada como sendo um limite austral da floresta ombrófila densa (FlorestaAtlântica) no Brasil. Nas últimas duas décadas, a partir de 1992, houve um crescente aprofundamento nas restrições de atividades produtivas nas áreas de floresta. Neste mesmo ano começou, no Rio Grande do Sul, a regulamentação de atividades produtivas por meio da implementação de legislações que tinham por principal objetivo a conservação das áreas de Floresta Atlântica. Atualmente, estima-se que a área remanescente da cobertura original da Floresta Atlântica sejaem torno de 5 a 7%. Nestes espaços remanescentes, embora pequenos, abrigam-se uma das mais altas taxas de biodiversidade do planeta, registrando aproximadamente 20.000 espécies vegetais e 1.650 animais, sendo que 8.000 são espécies endêmicas, ou seja, somente ocorrem nestes ambientes (PEROTTO, 2007). Estimativas no Rio Grande do Sul apontam que haviam, no estado, 133.370 Km² (49,55 % do território gaúcho) de áreas pertencentes ao Domínio Mata Atlântica. Atualmente, entretanto, segundo Perotto, (2007) restam apenas 21.299 Km² com presença de vegetação nativa, o que equivale a aproximadamente 16 % deste polígono e apenas 7,91 % do RS. Como ressalta Perotto (2007), a biota existente neste bioma contribui para ajustar o clima, a temperatura, a umidade e as chuvas, beneficiando 120 milhões de brasileiros que nela residem. Influenciam também a fertilidade do solo, o qual protege escarpas de serras e protege nascentes, contribuindo de forma direta para a manutenção e existência dos fluxos dos mananciais de água, que abastecem cidades e comunidades do interior. 4044 | ESADR 2013 Eco-eficiência, participação e sustentabilidadeP16 Seguindo tendências mundiais de conservação e proteção dos recursos naturais, como destaca Perotto (2007), especialmente a partir do final dos anos de 1980 e particularmente a partir dos anos 1990, diversos esforços foram despendidos objetivando definir estratégias e políticas para a conservação do bioma da Floresta Atlântica e ecossistemas associados no Brasil. O tombamento da Mata Atlântica como Reserva da Biosfera representou um instrumento jurídico e administrativo, que influenciou políticas públicas com o objetivo de manutenção da diversidade biológica dos fragmentos remanescentes de vegetação nativa deste bioma ameaçado. A Floresta Atlântica foi reconhecida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) como Reserva da Biosfera e transformada em Patrimônio Nacional pela Constituição Federal Brasileira de 1988. Devido ao reconhecimento desse valor houve uma ampliação nas restrições de possibilidades de sua utilização. Como instrumentos legais podemos citar o Código Florestal Brasileiro, na Lei nº 11.428 de 2006, que dispõe sobre a conservação, a proteção, a regeneração e a utilização da vegetação nativa. Também pode-se citar a legislação estadual, a qual é ainda mais restritiva na utilização humana do bioma, através da Lei 11.520/2000, que institui o Código Estadual do Meio Ambiente e da Lei 9.519/1992 que instituí o Código Florestal Estadual. No Rio Grande do Sul as restrições impostas no código Florestal de 1992 atuam fundamentalmente proibindo ações de corte, queima e a exploração da vegetação nativa, impondo máximo respeito à fauna silvestre, permitindo atividades ligadas ao ecoturismo, à pesquisa científica e à educação ambiental (PEROTTO, 2007). Desta forma, a partir deste momento, com a vigência destas ferramentas jurídicas, gerou-se um descompasso entre as ações de conservação e proteção impostas pela legislação e as formas de reprodução social das populações locais destas áreas. Tradicionalmente, os moradores da microrregião do Litoral Norte, no Rio Grande do Sul, obtêm seu sustento da agricultura, geralmente em propriedades pequenas com cerca de cinco hectares, com sistemas produtivos baseados na queimada e no uso de insumos de origem fóssil. A implantação da nova legislação comprometeu seu modo de produção, restando poucas alternativas, entre elas o abandono das áreas (WIVES, 2008). Assim estas comunidades as quais tiveram suas áreas produtivas afetadas em alguma Atas Proceedings | 4045 VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural medida se defrontaram com um novo desafio e buscaram formas de manter sua reprodução social. Este estudo busca desvelar como estas comunidades encontraram novas formas de organização e interação com o ambiente resistindo a esse novo cenário que alterou toda sua organização produtiva. Assim, como resiliência social, neste estudo, considera-se a capacidade que um sistema social tem para poder absorver processos de autodesenvolvimento, tendo condições não só de resistir à adversidade, mas de utilizá-la em seu processo de desenvolvimento social inter-relacionado ao ecossistema (SORIA et. al., 2007). A PRODUÇÃO DE BANANA NA FLORESTA ATLÂNTICA O cultivo da banana configura-se como uma das produções de maior expressão comercial da porção atlântico sul da floresta, apresentando dois sistemas de cultivo distintos: um utilizando técnicas de manejo convencionais e outro, antagônico, de base ecológica. Sob a ótica do desenvolvimento rural sustentável, tecnologias de manejo dos sistemas agroflorestais (SAF) aproveitam os princípios ecológicos de produção gerando sistemas mais produtivos e de menor impacto ambiental. Eles associam diversos tipos de manejos tais como: rotação de cultivos, controle biológico, cultivos associados, sistemas mistos agropecuários, insumos alternativos, entre outros. Na microrregião do litoral norte do RS, em torno de 500 agricultores dedicam-se à produção ecológica usando os sistemas agroflorestais. A singularidade dos sistemas SAF vem configurando-se em uma resposta à situação enfrentada no litoral norte, cujo principal expoente é a Bananicultura. Isto se dá sobretudo pelo trabalho desenhado pelo Centro Ecológico Ipê Serra – Litoral Norte – Assessoria e Formação em Agricultura Ecológica (CE), localizado desde 1991 no município de Dom Pedro de Alcântara. O Centro Ecológico atua na viabilização de avanços sustentáveis na agricultura, através do uso de tecnologias voltadas para a preservação ambiental e a justiça social. O CE realiza atividades de capacitação para organizações de agricultores familiares para 4046 | ESADR 2013 Eco-eficiência, participação e sustentabilidadeP16 a produção de alimentos ecológicos. Especificamente em Dom Pedro de Alcântara, o centro mantém seu foco no apoio holístico dos produtores, mais do que na unidade produtiva (CENTRO ECOLÓGICO, 2013). Foi a partir da instalação do CE na região que os produtores puderam realizar a transição de modelo produtivo. A mudança do modelo convencional para SAF vem alterando a geografia da produção e proporcionando uma reorganização total do modelo produtivo e de organização dessas comunidades. O SAF para esses agricultores que se organizaram e se associaram representou uma alteração profunda no sistema social ao qual estavam inseridos. O uso do SAF representou, através de suas práticas, diversas formas de representações socioambientais, das técnicas, da exploração dos recursos, da organização e gestão dos territórios uma nova forma de relação dos agricultores com os recursos naturais. MÉTODOS UTLIZADOS A área delimitada para realizar este estudo localiza-se na Microrregião de Osório, Rio Grande do Sul. Do total da microrregião, foram selecionados cinco municípios devido à sua representatividade no cultivo da banana: Torres, Mampituba, Dom Pedro de Alcântara, Morrinhos do Sul e Três Cachoeiras, conforme a Figura 1, a seguir. O processo de seleção da amostra iniciou com a definição da população a ser estudada, a qual foi composta por produtores de banana de base ecológica. Estima-se que haja em torno de 450 a 500 agricultores dedicados ao cultivo de banana de base ecológica em toda a Microrregião do Litoral Norte. Assim, diante de uma população de 500 produtores que usam SAF, o tamanho mínimo da amostra será de 53 agricultores. Esse número de entrevistados corresponde a mais de 10% da população total do estudo. Atas Proceedings | 4047 VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural Figura 1 – Área selecionada para a realização do estudo. Fonte: Elaboração própria com base em dados do IBGE (2007). Durante o período de pesquisa de campo, compreendido entre os meses de fevereiro até agosto de 2012, em diversas visitas à região, foram aplicados questionários fechados para os 53 agricultores da amostra, ou seja, questões já pré-formuladas, conforme os interesses da pesquisa e aos indicadores utilizados. Neste trabalho, se analisa alguns indicadores sociais e econômicos para compreender os recursos e relações locais utilizados pelos habitantes frente à nova Legislação, mais restritiva. No campo dos indicadores econômicos, foram utilizados a Superfície Total, a Superfície Agrícola Útil (SAU), o Produto Bruto (PB), e a Unidade Trabalho Homem (UTH), além do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), como indicador social. 4048 | ESADR 2013 Eco-eficiência, participação e sustentabilidadeP16 Saber a Superfície Total, em hectares, fornece um importante dado a respeito da quantidade de terra disponível aos agricultores. No entanto, é através da SAU, que se obtém a área, em hectares, que de fato é utilizada para cultivo, descartando-se áreas não cultivadas e de preservação. Também não são contabilizadas áreas não exploradas, como as ocupadas pelas construções, horta e pomar domésticos ou reflorestamento. O cálculo do Produto Bruto revela o valor, em Reais, do que foi produzido durante o ano pela unidade de produção. Para esta avaliação se utiliza os valores de produção final vendida, consumida, transformada e estocada pela família, bem como a produção utilizada para pagamento de serviços a terceiros, a variação do rebanho animal e a remuneração de serviços prestados para terceiros pela mão-de-obra familiar. Já a medida da UTH refere-se à quantidade de tempo trabalhada por unidade de mão-de-obra. Para se chegar ao valor final, é estabelecido o valor de 300 dias homem ou 2.400 horas de trabalho ao ano, o qual equivale a 01 UTH para homens entre 16 e 60 anos integralmente ocupados na propriedade familiar. Para mulheres de mesma idade e com a mesma quantidade de trabalho, o valor é de 0,8, enquanto crianças e adolescentes abaixo de 16 anos e idosos acima dos 60 anos recebem o valor 0,5. Além disso, utilizou-se como indicador social o IDH, medida sintética do desenvolvimento de países, estados ou municípios. Neste caso, se utiliza os valores estadual e municipais, fornecidos pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e calculados a partir do Censo Demográfico, utilizando critérios de renda, longevidade e educação. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS O cultivo da banana na Microrregião Litoral Norte do RS é praticado em uma área situada nas vertentes da Serra Geral, o que implica dizer que o terreno é acidentado. Em geral, este cultivo ocupa uma faixa altimétrica máxima de trezentos metros, condições estas que limitam o uso de equipamentos de tração de grande porte. Nestas condições paisagísticas evidenciam-se indicativos que demonstram por que o SAF se relaciona de forma mais harmoniosa com as potencialidades deste espaço. Atas Proceedings | 4049 VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural O sistema de cultivo ecológico SAF é utilizado nos sistemas ecológicos apresentando um nível de tecnificação baixo em relação a equipamentos de tração, por exemplo. Há uso de pulverizadores manuais, na maioria dos casos, além de tração animal e motriz leve para recolher a colheita e auxiliar na adubação, como demonstra a Tabela 1, abaixo. Tabela 1 – Sistema de cultivo SAF- principais características. Indicadores Características Nível de mecanização Baixo Tração Basicamente animal Uso de óleo mineral, biofertilizantes, controle biológico e Sanidade controle da insolação Manual, cama de peru, cama de frango, cama de gado, Adubação adubo verde, calcário, fosfato natural, pó de rocha, pó de casca de arroz Pulverização Pulverizadores manuais Cobertura do solo Cobertura total com alto teor de biomassa Colheita Manual Tempo de formação dos 07 meses cachos Sim, realiza-se um controle do sombreamento das árvores Insolação Problemas que compõem o SAF de modo que favoreça a produção de efeitos Frio e naturais Sim, quebra vento ventos Fonte: Wives (2008). Neste sistema de cultivo, tratos como a roçagem são seletivos. Por um lado, ela maneja a sucessão natural do sistema, e, por outro, o excesso de luminosidade, bem como a menor fertilidade por meio da observação do maior crescimento de plantas como o picão preto. É necessário ressaltar que cada agricultor se utiliza de espécies vegetais que já existem em sua propriedade ou insere outras diferentes, além dos bananais. Como árvores que compõem o sistema, podem-se citar a capororoca (Rapaniaumbellata), a aroeira vermelha (Schinusterebentifolia), as canelas em geral (Lauraceae), os ingás (Inga spp.,Leguminosae-Papilionoideae), o louro (Cordiatrichotona), o palmiteiro (Euterpe edulis), entre outras. 4050 | ESADR 2013 Eco-eficiência, participação e sustentabilidadeP16 As plantas são podadas, em geral, anualmente, para não sombrear demais o bananal, e seus galhos e folhas são espalhados no bananal. A fertilização é alcançada com a decomposição da biomassa gerada pelas podas, e a esta é acrescida também a cama de frango, peru ou gado, o calcário de conchas e o fosfato natural de rochas. Os agricultores também utilizam o chamado adubo verde, composto pelo material das roçadas, desbrotes, folhas e talos das bananeiras. Em alguns casos verificou-se também o aporte de boro e de zinco. É importante ressaltar que neste sistema não se faz capinas, pois estas retiram totalmente a cobertura do solo, sendo, portanto, realizada somente a roçada, que apenas controla a cobertura vegetal. Isso explica o alto índice de cobertura do solo deste sistema. Os agricultores realizam a limpeza com o objetivo de fertilização do solo e também para possibilitar o trânsito de luz e de ar no bananal e ainda auxiliar na prevenção de doenças. A sanidade dos bananais neste sistema de cultivo está fundada em tratos que vão desde a limpeza (roçadas) até a pulverização de óleo mineral e de biofertilizante, sendo realizada basicamente nos meses de novembro a março. A determinação da colheita exige que os produtores estejam sempre atentos à observação do calibre e idade do cacho, atividade que é desenvolvida o ano todo. O corte é realizado manualmente. O calendário agrícola, apresentado na Tabela 2, ilustra como estão distribuídas as atividades deste sistema de cultivo no decorrer do ano, podendo se perceber que a entressafra apresenta-se, sobretudo, nos meses de novembro, dezembro, janeiro e fevereiro. Atas Proceedings | 4051 VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural Tabela 2 – Calendário agrícola das atividades de cultivo da bananicultura. Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Preparo do solo (esterca) x Pulverização x x x Tratos culturais (capina, desfolha, desbaste) x x x Entressafra* x x x Colheita x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x Fonte: Wives (2008). * Este estudo considera como entressafra o período em que ocorre uma queda de produção, já que a banana é um cultivo permanente e a colheita ocorre durante todo o ano. Os problemas de cunho natural, como a incidência de radiação, na forma de luz e calor, buscam ser compensados pelas técnicas do SAF. Também são empregados quebra-ventos para controlar ou amenizar os efeitos dos ventos e do frio, igualmente identificados como sendo um problema que interfere na atividade deste sistema de cultivo. Após a inflorescência, o tempo médio de formação dos cachos, neste sistema, é de sete meses. O sistema apresenta assim o ciclo mais longo dentre todos os demais, pois uma das suas premissas consiste em manter o respeito pelos processos ecológicos, não forçando ou induzindo um amadurecimento precoce por meio da artificialização. O SAF é empregado pelos agricultores buscando preços e comercialização diferenciados (sem atravessadores), aumento da qualidade e custo de produção diferenciado. Os produtores se organizaram em associações para realizar o comércio. Atualmente, vendem sua produção em quatro feiras ecológicas diretamente para o consumidor. Fundamentalmente, essa inserção em novos mercados e mesmo a criação destes, se deu graças a sua capacidade de organização local e pressão sobre as 4052 | ESADR 2013 Eco-eficiência, participação e sustentabilidadeP16 instituições públicas e privadas, gerando esses espaços de comercialização diferenciados e mudando a matriz de sua inserção social. Assim, esses alimentos locais expõem muito mais do que o orgânico (limpo, artesanal). Eles ilustram uma forma de defesa da autonomia dessas comunidades. Dessa maneira, os dados expostos a seguir demonstram que para além da quantidade da área que efetivamente os agricultores têm para produzir, eles tiveram que articular todos os seus saberes novos, tradicionais e imersos na riqueza paisagística da floresta para continuar e se manter em suas comunidades. A análise dos estratos de superfície total encontrados durante a pesquisa de campo demonstra uma situação não muito favorável. Conforme o Gráfico 1, cerca de metade (49%) dos agricultores detém até cinco hectares de terra. Uma parcela maior, 30% dos entrevistados, possui entre mais de cinco e dez hectares e apenas, 21% se encontram no estrato mais elevado, com mais de dez hectares de superfície total. Gráfico 1 – Estratos de Superfície Total, em hectares (%). Superfície total 21% 49% até 5 ha 5,1 até 10 ha 10,1 ou mais ha 30% Fonte: Pesquisa de campo, 2012. A análise dos estratos de superfície agrícola útil demonstra uma situação ainda mais preocupante. O Gráfico 2 revela que a apenas 4% dos entrevistados possui dez ou mais hectares disponível para a produção. Os agricultores que dispõem de entre mais de cinco até dez hectares são 17% do total, enquanto a maioria deles (79%) possui até o total de cinco hectares apenas para produzir. Atas Proceedings | 4053 VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural Gráfico 2 – Estratos de Superfície Agrícola Útil, em hectares (%). Superfície Agrícola Útil 4% 17% até 5 ha 5,1 até 10 ha 10,1 ou mais ha 79% Fonte: Pesquisa de campo, 2012. Considerando-se a força de trabalho disponível em cada propriedade, estratificou-se os valores de UTH em três grupos, conforme o Gráfico 3, abaixo. Essa distinção permite perceber que, na maioria dos casos (68%), existe apenas 1 UTH. As propriedades com mais de uma unidade até duas são 25% do total, e as que dispõem de dois ou mais até três unidades representam apenas 7% do total. Cabe explicitar que não foram encontrados valores maiores do que três para UTH. Gráfico 3 – Unidade de Trabalho Homem – UTH (%) Unidade Trabalho Homem (UTH) 7% até 1 25% 1,1 até 2 68% Fonte: Pesquisa de campo, 2012. 4054 | ESADR 2013 2,1 até 3 Eco-eficiência, participação e sustentabilidadeP16 A análise do valor do Produto Bruto revela uma maior heterogeneidade entre os estratos, de acordo com o Gráfico 4. No conjunto de valores mais baixo, até 20 mil reais anuais, encontra-se apenas 7% do total pesquisado. Nos estratos intermediários, que vai deste até 40 mil reais e no compreendido entre mais de 40 até 60 mil, concentram-se 40% e 28% dos agricultores, respectivamente. Enquanto isso, no grupo de valores acima dos 60 mil reais encontram-se 25% dos pesquisados. No entanto, é preciso lembrar que os valores são anuais e que, portanto, o somatório do Produto Bruto, no primeiro caso (até R$ 20 mil), equivale a pouco mais do que R$ 1.500,00 ao mês. Já no último (acima de R$ 60.000,00) o Produto Bruto supera os R$ 5.000,00 mensais. Gráfico 4 – Valor do Produto Bruto, em reais (%) Produto Bruto (R$) 7% 25% até 20 mil 20,01 até 40 mil 40% de 40,01 até 60 mil 60,01 ou mais 28% Fonte: Pesquisa de campo, 2012. O Rio Grande do Sul é o 6º estado na comparação nacional do IDH 2010. O valor geral do índice é 0,746, tendo seu melhor desempenho no critério longevidade (0,840) e seu pior desempenho na educação (0,642). Quando se analisa o mesmo índice de acordo com os municípios, (IDH-M), tem-se que todos estão abaixo do IDH estadual, exceto Torres, com IDH-M de 0,762. Por outro lado, Mampituba apresenta IDH-M de 0,49, que pode ser considerado baixo. Em relação aos critérios de renda, todos os municípios encontram-se abaixo do índice estadual, com valores considerados médios. Já em longevidade, apenas Atas Proceedings | 4055 VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural Morrinhos do Sul, Torres e Três Cachoeiras superam o índice estadual, mas todos situam-se em acima dos 0,80. Por fim, no critério de educação, somente Torres ultrapassa o Rio Grande do Sul, na classificação que de forma geral é baixa. Tabela 3: Índice de Desenvolvimento Humano, 2010. Espacialidade 2010 Rio Grande do Sul Dom Pedro de Alcântara Mampituba Morrinhos do Sul Torres Três Cachoeiras IDH 0,746 0,691 0,649 0,711 0,762 0,718 IDH Renda 0,769 0,697 0,650 0,720 0,750 0,722 IDH Longevidade 0,840 0,820 0,813 0,842 0,862 0,847 Fonte: Elaboração própria. Dados do Atlas do Desenvolvimento Humano, 2013. IDH Educação 0,642 0,577 0,517 0,593 0,685 0,606 Já a tabela 4 demonstra que, mesmo que os índices atuais sejam inferiores aos alcançados no Rio Grande do Sul, houve melhora nos valores, nas últimas duas décadas, sobretudo nos critérios de educação, os mais baixos em 1991. O IDH dos municípios de Dom Pedro de Alcântara, Mampituba, Morrinhos do Sul, que era os mais baixos na primeira avaliação foram também os que mais se elevaram em comparação a 2010. Tabela 4: Índice de Desenvolvimento Humano, 1991. Espacialidade 1991 Rio Grande do Sul Dom Pedro de Alcântara Mampituba Morrinhos do Sul Torres Três Cachoeiras IDH 0,542 0,372 0,372 0,397 0,538 0,509 IDH Renda 0,667 0,550 0,550 0,548 0,657 0,685 IDH Longevidade 0,729 0,678 0,678 0,678 0,745 0,744 IDH Educação 0,328 0,138 0,138 0,168 0,319 0,258 Fonte: Elaboração própria. Dados do Atlas do Desenvolvimento Humano, 2013. A resiliência pode ser compreendida como a capacidade dos sistemas sociais para a auto-organização, adaptando-se e desenvolvendo-se diante dos choques ou com a integração a mudanças no seu cotidiano, mantendo as funções do sistema da sociedade e do meio ambiente (SORIA et. al., 2007), entende-se que o SAF contribui para tal processo. 4056 | ESADR 2013 Eco-eficiência, participação e sustentabilidadeP16 Deste ponto de vista, a resiliência, entendida pelo viés social e ecológico, tem limites definidos por variáveis encontradas nos sistemas sociais como a identidade cultural e a diversidade, a equidade de distribuição de renda, a paz de ordem institucional, e os conflitos sociais internos e externos (SORIA et. al., 2007), A eficiência, em termos de quantidades produzidas, como demonstra o PB, se dá pela sinergia mais forte ao relacionar critérios de paisagem, espécies vegetais e mão-deobra de forma mais apropriada ao seu sistema de cultivo. Em muito, pelo fato destes terem uma assessoria técnica mais efetiva, dada pelo Centro Ecológico, o que lhes proporciona os conhecimentos para organizar seu sistema de cultivo, de forma a aproveitar as potencialidades do meio. E sendo assim, auferir um volume de produção maior aproveitando as potencialidades do meio. Os resultados do SAF levantam indícios de que sua viabilidade está atrelada intimamente à venda de produtos em mercados diferenciados, à eficiência produtiva e sinergia com os elementos da paisagem. Este estudo evidenciou que os SAF`s estão mais diretamente ligados às práticas locais, à cultura, à paisagem e aos seus recursos. Em suma o que se abstrai é que estes demonstram características que podem ser potencializadas enquanto alternativas de desenvolvimento local e/ou endógeno de um território. Dessa forma, contribui para promover a resiliência, ou seja, capacidade de lidar com a adversidade e de utilizá-la para crescer (SORIA et. al., 2007). CONSIDERAÇÕES FINAIS Este artigo teve por objetivo analisar indicadores sócio-econômicos dos municípios selecionados, e verificar a resposta para garantia da reprodução social dada pelos produtores de banana às restrições no uso do Bioma Mata Atlântica. Analisa-se, assim, a resiliência dos produtores diante das adversidades impostas. Conforme as informações disponíveis, os recursos e relações locais foram fundamentais para ajudar as comunidades do bioma da Mata Atlântica, Sul do Brasil, a lidar com os impactos da nova Legislação de proteção ambiental. Os agricultores, habituados a obter seu sustento da agricultura, com sistemas produtivos baseados na Atas Proceedings | 4057 VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural queimada, tiveram seu modo de produção comprometido pela legislação ambiental, gerando o abandono das terras, em alguns casos, em outros, gerando alternativas, especialmente, o SAF. Com baixos indicadores, ao se considerar a quantidade de terra disponível, mãode-obra, na grande maioria, os agricultores somam baixas quantidades de produto bruto anualmente. No entanto, o uso do SAF e a nova forma de organização social lhes permitiram um modelo produtivo que não se contrapõe à legislação, permitindo que sigam produzindo nas suas áreas, continuar na atividade e avançar, pouco a pouco, nos indicadores sociais, como o IDH, ainda que este também apresente valores baixos comparados ao total estadual. Nesse contexto, a resiliência da comunidade analisada está associada aos sistemas agroflorestais (SAF), permitindo a produção agrícola com a conservação de uso sustentável das florestas. Assim, o SAF vem configurando-se na resposta de quase 500 agricultores que têm seu principal expoente na bananicultura, ao permitir o uso da terra e melhorar a renda dos produtores. O SAF, ainda, altera a geografia da produção, havendo maior diversidade e regeneração da mata, além de proporcionar uma reorganização total dos arranjos produtivos e sociais e gera uma ressignificação dessa comunidade e do local. REFERÊNCIAS BRASIL, Coletânia de Legislação Ambiental, Constituição Federal. Organização Odete Medauar. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009. 1167 p. CÓDIGO DO MEIO AMBIENTE: Lei Federal nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 e Lei Estadual nº 11.520, de 03 de agosto de 2000. 6ª ed., Porto Alegre: CORAG Assessoria de Publicação Técnicas, 2009. 174 p. CENTRO ECOLOGICO, Histórico. Documento on-line: http://www.centroecologico.org.br/historico.php (acesso em 15 de agosto de 2013). PEROTTO, M. A. Influencia da legislação ambiental no uso e conservação da bacia hidrográfica do rio Maquiné (RS), no período de 1964 a 2004. 2007. 148f. (Mestrado em Geografia) Centro de Filosofia e Ciências Humanas. UFSC, Florianopolis, 2007. 4058 | ESADR 2013 Eco-eficiência, participação e sustentabilidadeP16 PNUD. (2013). Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil.(documento on-line http://www.pnud.org.br/IDH/Atlas2013.aspx?indiceAccordion=1&li=li_Atlas2013 acesso em 13 de agosto de 2013) SORIA, H. B. E.; BLANDTT, L. S.; RIBEIRO, J. P. Resiliência: a capacidade de adaptação e/ou transformação nas desigualdades sociais. In: III Jornada Internacional de políticas públicas questão social e desenvolvimento no século XXI. Maranhão, 2007. WIVES, D. G. Funcionamento e performance dos sistemas de produção da banana na Microrregião do Litoral Norte do Rio Grande do Sul. 2008. 164f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Rural) – Curso de Pós-graduação em Desenvolvimento Rural, UFRGS, Porto Alegre, 2008. Atas Proceedings | 4059 4060 | ESADR 2013 ESADR 2013 VII CONGRESSO APDEA – V CONGRESSO SPER – I ENCONTRO LUSÓFONO ECONOMIA, SOCIOLOGIA, AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO RURAL CADEIA DE VALOR, PARTICIPAÇÃO E SUSTENTABILIDADE HENRIQUE P. SANTOS (1), ANA S. CARDOSO (2) Centro de Estudos de Recursos Naturais Ambiente e Sociedade i, in_Agri ii / Escola Superior Agrária / Instituto Politécnico de Coimbra / Campus da ESAC, Bencanta, 3040-316 Coimbra, Portugal. E-mail: (1) [email protected]; (2) [email protected] Resumo A inexistência de arenas onde, regularmente, empresários, cientistas, autarcas e cidadãos, reunindo representantes de todos os elos das cadeias de valor dos subsistemas Agroindustriais (as fileiras), debatam cenários evolutivos da actividade e do território onde operam, é uma lacuna que urge colmatar. Uma resposta adequada consiste na realização de ciclos de Sessões de Trabalho (ST) temáticas, assentes em princípios de equidade e empatia e com objetivos de transformação estrutural e pessoal, onde se discutem problemas e perspectivam soluções, e se delibera sobre os passos a tomar, os processos a estruturar e os recursos a mobilizar, agindo conjuntamente pela elevação do valor. O projecto in_Agri - Rede de Oficinas de Inovação para o Sector Agroindustrial, âncora do Cluster Agroindustrial do Centro, envolve 1 Centro de Investigação, 2 Escolas Superior Agrárias, 1 Incubadora em Tecnologias de Informação, Comunicação e Electrónica, e 1 Conselho Empresarial. O seu principal objetivo é melhorar a competitividade do sistema Agroindustrial na NUT II Região Centro, através de um mix de metodologias de acção participativa, que mobilizam a capacidade para inovar em rede instalada na Região, configurando respostas a problemas comuns, promovendo a interação entre o tecido produtivo, a ciência, a administração pública e a cidadania. Compreende a realização de 2 ciclos anuais de ST e respectivo acompanhamento para cada um dos 8 subsistemas considerados, Cereais, Mel e Produtos Silvestres, Hortícolas, Frutos e Flores, Vinho, Azeite, Lacticínios, Carne e Pescado, promovendo processos de aprendizagem social que apontam para uma transformação negociada das normas, regras e relações de poder, com vista a concretizar os princípios do desenvolvimento sustentável. Nesta fase piloto, as metodologias são testadas e é recolhida informação, o que permite estruturar uma abordagem evolucionária para a sua disseminação a nível nacional nas regiões de convergência Norte e Alentejo. A expansão desta operação está em curso, permitindo um crescimento consistente do valor com base nas reais necessidades da indústria, e a emergência e maturação do Sistema de Inovação sectorial respectivo. Palavras-chave: Sistema Agroindustrial, elevação do valor, participação. i O CERNAS (PEst-OE/AGR/UI0681/2011) é financiado pela FCT, Fundação para a Ciência e a Tecnologia. ii O in_Agri (CENTRO-01-AC28-FEDER-004038; nº 3494), é financiado pelo Mais Centro/PORC/Portugal. Atas Proceedings | 4061 1 VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural ESADR 2013 VII CONGRESSO APDEA – V CONGRESSO SPER – I ENCONTRO LUSÓFONO ECONOMIA, SOCIOLOGIA, AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO RURAL 1. Introdução A utilidade do tema aqui exposto consiste na elevação do valor nos subsistemas que estruturam o Sistema de Inovação Agroindustrial (SInA), operacionalizada através de um mix de metodologias de acção participativa (GTZ, 2007; Rist et al, 2007; ILO, 2009; UNIDO, 2011; GMC, 2012), envolvendo actores do SInA que, ao inter-relacionar diversas formas de conhecimento, mobilizam a capacidade para inovar instalada em torno de uma praxis que estrutura a Rede de Oficinas de Inovação (ROI). Figura 1: Sintonia dinâmica na quadrupla hélice A consolidação dinâmica do SInA necessita de uma estrutura participativa, apta a responder às necessidades de aperfeiçoamento permanente na obtenção de valor, a ROI, que liga, articula e promove a interacção entre o tecido produtivo, a ciência, a administração pública e a cidadania (Fig. 1), focada que está na detecção de problemas de importância e na sua pronta correcção, construindo no seu processo soluções optimizadas para a criação de maior equilíbrio, resiliência e sustentabilidade no valor alcançado. Ao levar a ciência a constituir-se como uma apropriação da cidadania, esta metodologia promove a estruturação de uma administração colectiva para a evolução sustentável, através de trabalho transdisciplinar envolvendo interacção entre cientistas, especialistas e atores não-cientistas de cada sistema de criação de valor considerado (Hurni & Wiesmann, 2004). Idealmente, isto contribui para processos de aprendizagem social (Bouwen & Taillieu, 2004; Maarleveld & Dangb'egnon, 1999; Parson & Clark, 1995) que apontem para uma transformação negociada das normas, regras e relações de poder 2 4062 | ESADR 2013 Eco-eficiência, participação e sustentabilidadeP16 ESADR 2013 VII CONGRESSO APDEA – V CONGRESSO SPER – I ENCONTRO LUSÓFONO ECONOMIA, SOCIOLOGIA, AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO RURAL que regem o uso dos recursos naturais bem como dos artificiais, com vista a concretizar os princípios do desenvolvimento sustentável. Esta transformação consegue-se com a articulação de actores de cada subsistema considerado, estruturando sessões de trabalho orientadas, promovidas por equipas de facilitação, os Agentes da ROI que, numa base territorial interligada, estabelecem e animam os elos entre as componentes consideradas. Trata-se de promover e induzir a criação de uma malha de Agentes ROI que, sectorialmente, identificam e promovem o agendamento de processos de Investigação, Desenvolvimento e Inovação (IDI), utilizando os recursos da capacidade instalada, em resposta às necessidades detectadas de criação de valor e de sustentabilidade, através de processos de deliberação (ou seja, reflexão comum empenhada) entre diferentes categorias de atores, com base em princípios de equidade e empatia e com os objectivos de transformação estrutural e pessoal. É esta dupla transformação que vai permitir o desenvolvimento (sustentável) que os atores pretendem alcançar (Webler & Tuler, 2000), criando espaços de transformação de estratégia em acção comunicativa, através de um processo de definição conjunta de situações de acção relevante (Habermas,1984). Induz-se assim a inteligência colectiva para o crescimento do valor no SInA. Este foi o ponto de partida para o desenvolvimento do projecto in_Agri – Rede de Oficinas de Inovação para o Sistema Agroindustrial, uma operação piloto para teste e validação de metodologias, actualmente em curso ao abrigo do programa Mais Centro (CENTRO-01-AC28-FEDER-004038; nº 3494). 2. A Região Centro de Portugal Segundo o diagnóstico da fileira agro-alimentar realizado no âmbito do PROT Centro (CCDRC 2012a), os pontos fortes da Região Centro são o seu potencial de produção agro-pecuária, a história e tradição na exploração dos recursos marítimos, o elevado peso no emprego (especialmente da pecuária e das indústrias alimentares), a existência de unidades de I&D relevantes, e a diversidade dos produtos de qualidade e de excelência. Não obstante, subsistem debilidades ao nível do deficiente ordenamento do território, da pequena dimensão da propriedade, dos fracos níveis de associativismo, da lentidão na introdução da inovação e tecnologia na produção, do baixo nível de 3 Atas Proceedings | 4063 VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural ESADR 2013 VII CONGRESSO APDEA – V CONGRESSO SPER – I ENCONTRO LUSÓFONO ECONOMIA, SOCIOLOGIA, AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO RURAL produtividade das empresas, associado ao envelhecimento da população agrícola e empresarial simultaneamente pouco qualificada, na excessiva pressão ambiental e na diminuição da capacidade pesqueira. No Censo de 2011 (INE), a Região Centro de Portugal tinha 2.327.026 habitantes (CCDRC 2012b) distribuídos de forma heterogénea, dos quais cerca de 70% vivem no litoral (a até 30 km da linha da costa) e os restantes, perto de 30%, no interior, numa área que representa mais de 75% do total da região (28 199 km2). Esta Região é extremamente variada em termos de paisagem, incluindo áreas classificadas, um património natural de elevado potencial económico e em parte por explorar. Isto é ainda mais notório ao ter em conta as características climáticas díspares das regiões atlânticas (mais húmidas), quando comparadas com as do interior montanhoso (mais secas). A economia regional assenta em actividades que dependem maioritariamente de recursos locais, ligadas ao sector primário, como a agricultura, silvicultura (a Região possui uma mancha de floresta contínua considerável) e pescas cuja capacidade de criação de valor precisa ainda de ser reforçada. O Centro de Portugal evidencia um conjunto de vários riscos no contexto das regiões europeias, demonstrando vulnerabilidades no que respeita a desafios presentes e futuros, tais como o declínio demográfico, a fragilidade face às alterações climáticas, a elevada dependência energética e a acentuada polarização social. Das 20 vulnerabilidades identificadas como críticas, a Região Centro está preparada para responder adequadamente a apenas 5, encontrando-se severamente debilitada nas 15 vulnerabilidades potenciais restantes (European Comission, 2011). A região ainda não está preparada para desempenhar o papel de actor global: a formação da sua população activa, em processo de envelhecimento, é deficiente e os movimentos de imigração não são bem acolhidos; as condições agrícolas e florestais são bastante vulneráveis face às mudanças climáticas, com o consequente aumento da dependência nos recursos hídricos e correspondente diminuição da procura turística estival; os problemas de saúde da população, associados a ondas de calor extremas cada vez mais frequentes, têm vindo a aumentar; a fraca capacidade de produção energética da região tornam-na bastante vulnerável a picos de consumo; a distribuição de rendimentos é muito desequilibrada, com fraca adaptação do mercado de trabalho, altos níveis de desemprego jovem e 4 4064 | ESADR 2013 Eco-eficiência, participação e sustentabilidadeP16 ESADR 2013 VII CONGRESSO APDEA – V CONGRESSO SPER – I ENCONTRO LUSÓFONO ECONOMIA, SOCIOLOGIA, AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO RURAL dificuldades de acesso a serviços sociais, tais como de educação e de saúde pública, nas suas vastas e por vezes muito acidentadas áreas rurais. Deste modo, a Região do Centro insere-se numa periferia europeia altamente vulnerável; é uma região de convergência e o PIB per capita médio diminuiu em 5 % no período de 2000-2008 (CEP&C 2011), o que se acentuou consideravelmente até ao presente. Assim, esta é uma região predominantemente rural, parcial a totalmente desfavorecida (EC- DG RP 2010), onde menos de 20% da população dos 24 aos 64 anos detém formação superior (CEP&C 2011), mais de 60% tem apenas formação de ensino básico e mais de 16% da população, entre os 18 e os 24 anos, abandona a escola sem terminar o ensino secundário (EC- DG RP 2010). Adicionalmente, os serviços de formação ao longo da vida e de formação de adultos entre os 25 e 64 anos servem apenas 6% da sua população. A produtividade laboral é inferior a 67,8% do índice correspondente na EU-27 (2007) (EC- DG RP 2010) e 20% da população vive em risco de pobreza depois das transferências sociais (2008), enquanto cerca de 14% da população sofre de privações materiais severas. No entanto, esta região, de um modo geral, tem-se mostrado resiliente, enfrentando a actual conjuntura nacional com uma capacidade de resposta positiva. Em 2009, o Regional Innovation Scoreboard (Hollanders et al., 2009) classificou o desempenho da Região Centro como produtora de “inovação de médio a baixo calibre”, mas já em 2012 esse desempenho foi actualizado para ‘região seguidora de inovação’ (Hollanders et al., 2012), evidenciando uma melhoria promissora deste indicador. A tal não é estranha a textura de componentes críticos que actualmente engloba 9 Instituições de Ensino Superior, 14 Incubadoras de Empresas, 4 Centros Tecnológicos, 6 Parques de Ciência e Tecnologia, 4 Clusters e 5 Polos de Competitividade, 8 PROVERE e 70.000 Empresas que, para poderem revelar todo o seu potencial, necessitam ainda de se interligar estruturalmente, orientando esta capacitação regional na geração e na optimização dos processos de criação de valor e de promoção da sua sustentabilidade. Existe assim uma larga experiência acumulada na Região Centro de definição e implementação de estratégias de investigação e inovação que envolvem o sistema científico e tecnológico e o tecido empresarial, desde a concepção dos planos até à sua execução e avaliação. 3. Metodologia 5 Atas Proceedings | 4065 VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural ESADR 2013 VII CONGRESSO APDEA – V CONGRESSO SPER – I ENCONTRO LUSÓFONO ECONOMIA, SOCIOLOGIA, AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO RURAL Para testar a metodologia foi estruturada uma parceria de base regional, envolvendo 1 Centro de Investigação, o CERNAS (Centro de Estudos de Recursos Naturais, Ambiente e Sociedade), unidade acreditada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), alojado em 2 Escolas Superior Agrárias dos Institutos Politécnicos de Coimbra (ESAC) e de Castelo Branco (ESACB), 1 Incubadora em Tecnologias de Informação, Comunicação e Electrónica, o Instituto Pedro Nunes (IPN) e 1 Conselho Empresarial, o CEC/CCIC (Conselho Empresarial do Centro/Câmara de Comércio e Indústria do Centro). A cada instituição foi atribuído um papel estratégico na articulação da rede de criação de valor. Assim, o CERNAS coordena e monitoriza os trabalhos, articulando uma Comissão Técnica e Científica que integra investigadores das ESAs e do IPN, responsáveis pela incorporação de conhecimento técnico e científico no processo de análise das cadeias de valor. O IPN estruturou uma plataforma de transferência de conhecimento, que serve de suporte para a dinamização da rede, promovendo a aproximação entre a I&DT e a realidade empresarial, e o CEC/CCIC assumiu a promoção e disseminação da operação junto do universo empresarial. Figura 2: Ciclos operativos bianuais adoptados As actividades do projeto envolvem 2 ciclos de Sessões de Trabalho (ST), de âmbito regional (Fig. 2), com os agentes das cadeias de valor do sistema agroindustrial (as fileiras) e com investigadores da especialidade onde, através de técnicas de geração de consensos, se evidenciam, agrupam e organizam grandes temas de problemáticas que 6 4066 | ESADR 2013 Eco-eficiência, participação e sustentabilidadeP16 ESADR 2013 VII CONGRESSO APDEA – V CONGRESSO SPER – I ENCONTRO LUSÓFONO ECONOMIA, SOCIOLOGIA, AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO RURAL afetam o sector. Na sua sequência, promove-se a auto-organização e o acompanhamento das equipas de projeto multidisciplinares e polisectoriais, que vão desenvolver essas transformações resolutivas, quer através de reuniões dedicadas a cada problemática detetada, quer através da plataforma de transferência de conhecimento dedicada a estas tarefas. Assegura-se assim que cada grupo de trabalho focal tem o devido acompanhamento técnico e científico para a conceção, o desenvolvimento e a comercialização das inovações resultantes dos múltiplos projetos gerados com esta operação. No final de cada ciclo, para promover o adensar da rede, são organizadas Sessões Plenárias, onde são apresentadas e discutidas as evoluções operacionais das atividades geradas neste processo. Estas Sessões, com a duração de um dia, têm também o intuito de promover a partilha de conhecimentos e experiências entre os participantes, através de debates e discussões orientadas fomentando a troca de contactos entre os intervenientes das diferentes cadeias de valor, induzindo a promoção de negócios e de trabalho colaborativo. Um seminário, onde será apresentada uma súmula do projeto e uma apresentação do estado da arte das metodologias participativas e da sua aplicação na aproximação da comunidade científica às empresas, conclui as actividades do projecto. As fileiras escolhidas tiveram em conta a representatividade dos sectores de atividade na Região do Centro, tendo sido considerados inicialmente 8 subsistemas: Cereais, Mel e Produtos Silvestres, Hortícolas, Frutos e Flores, Vinho, Azeite, Lacticínios, Carne e Pescado. Considerando as dinâmicas criadas ao longo do 1º ciclo de STs, algumas fileiras foram segmentadas. Isto sucedeu na fileira da Carne, que se dividiu em dois segmentos: o segmento denominado Carne, englobando os produtos cárneos de suínos, bovinos e pequenos ruminantes, e Aves e Ovos, um sector com especificidades que o diferencia do restante, e ocorreu igualmente com a fileira do Mel e Produtos Silvestres, que se dividiu em Mel, Medronho e Cogumelos Silvestres. Deste modo, o 2º Ciclo de STs teve um incremento, ao passar a considerar 11 subsistemas com potencial económico na Região. Durante o 1º Ciclo de STs, cada reunião temática, após abertura de integração dos participantes no contexto dos trabalhos, iniciou-se com a apresentação da Plataforma de Transferência de Conhecimento do in_Agri, (Ciência & Tecnologia/ Indústria & Sociedade), alimentada pela facilitação de fluxos de informação, de acesso livre, a que 7 Atas Proceedings | 4067 VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural ESADR 2013 VII CONGRESSO APDEA – V CONGRESSO SPER – I ENCONTRO LUSÓFONO ECONOMIA, SOCIOLOGIA, AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO RURAL se seguiu uma breve apresentação do subsistema em causa, caracterizando a situação actual da actividade na Região, no País e no Mundo. Os trabalhos em si iniciam-se com uma sessão de geração de ideias promovida por brainstorming facilitada por um dinamizador, recorrendo ao uso de post-its de 3 cores e de quadros de suporte. Deste modo, a transmissão das mensagens realçando aspectos positivos do sector, debilidades ou problemas, soluções ou sugestões, faz-se pela escrita em post-its respectivamente verdes, laranjas e amarelos (Fig.3). Numa 2ª fase dos trabalhos, após o agrupamento e hierarquização das ideias, é aberto o debate oral para discussão das propostas de solução, para numa 3ª fase se estabelecerem e firmarem consensos. As sessões são encerradas com o agendamento dos trabalhos subsequentes. Figura 3: Metodologia das 1as Sessões de Trabalho temáticas adoptada no in_Agri 8 4068 | ESADR 2013 Eco-eficiência, participação e sustentabilidadeP16 ESADR 2013 VII CONGRESSO APDEA – V CONGRESSO SPER – I ENCONTRO LUSÓFONO ECONOMIA, SOCIOLOGIA, AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO RURAL Ao longo deste frutuoso mas árduo processo de expressão, selecção e validação de ideias, algumas podem associar-se ou divergir, outras podem cair por inviabilidade ou por desinteresse, e outras novas ideias podem surgir. Umas equipas avançam mais depressa, outras necessitam de reflectir melhor os conceitos em que trabalham, umas trabalham com mais autonomia, outras exigem um maior acompanhamento ao longo da maturação do processo. Este compreende 6 partes (I a VI), em passos sequenciais (Fig.4). Figura 4: Síntese do processo Os consensos gerados (I), para que evoluam para propostas de projecto candidatáveis a financiamento (IV) exigem um acompanhamento que passa pela realização de reuniões focais (II&III), com grupos mais restritos de subscritores dos consensos. No decurso deste processo participativo, promove-se o pensamento crítico elaborando o Racional para a Acção (porquê, para quê, que consequências) (II.1), através da apresentação dos benefícios e das desvantagens associados ao desenvolvimento do projecto (na economia, na tecnologia, no ambiente, na comunidade e na sustentabilidade) e são constituídas Equipas de Trabalho (II.2), atribuindo papéis aos seus membros e determinando as lideranças (II.3). Os projectos são estruturados (III.1) com objectivos, métricas, orçamento e prazos, e o processo é calendarizado por níveis estratégicos de ação e de prioridades, para apresentação de candidaturas para investimento, preenchendo-se então os formulários de candidatura adequados (III.2). Depois de submetidos (IV.1), os projectos aprovados (IV.2) são operacionalizados (V) para que a obtenção de resultados (VI) permita a sua validação pela comunidade e o mercado. A fase de elaboração do Racional para a Acção (II) consiste em precisar a justificação para os diferentes conjuntos de ações que se evidenciarem fundamentais, determinantes do crescimento do valor daqueles produtos neste território. Assim, é fundamental 9 Atas Proceedings | 4069 VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural ESADR 2013 VII CONGRESSO APDEA – V CONGRESSO SPER – I ENCONTRO LUSÓFONO ECONOMIA, SOCIOLOGIA, AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO RURAL precisar os contornos das operações que envolve, i.e., saber porque é necessária essa transformação e quais a suas consequências, benéficas e nefastas. Consequências benéficas da ação: as vantagens das consequências da ação Para que serve? Porque está interessado(a) nela? Quanto custa, é cara? É difícil de atingir? Demora muito tempo a obter? Sustentabilidade do valor na cadeia Qual(is) a(s) sua(s) vantagem(ns)? E inconvenientes? São muitos? A quem de destina? Quem ganha com esta ideia? E ganha o quê? E quem perde? Equilíbrio ambiental Integração na comunidade Insustentabilidade do valor na cadeia Eficiência tecnológica Consequências benéficas da ação Benefício económico Consequências nefastas da ação Desintegração da comunidade Desequilíbrio ambiental Prejuízo económico Ineficiência tecnológica Consequências nefastas da ação: as desvantagens das consequências da ação Figura 5: Racional para a ação – processo de análise dos consensos. De forma a facilitar esta reflexão são fornecidas fichas com as questões apresentadas na figura 5, para além do material inicialmente distribuído. 4. Operacionalização do in_Agri Como foi atrás explicitado, esta operação piloto decorre numa região de convergência, a NUTS II do Centro de Portugal, portanto, uma região carente de iniciativas que promovam o seu pleno desenvolvimento, unindo actores chave para a elevação do valor do sistema agroindustrial numa perspectiva de sustentabilidade em rede. 4.1. Sessões realizadas A localização escolhida para a realização das Sessões teve em conta a distribuição da representatividade dos diferentes subsistemas na Região Centro (Fig. 6) e tentando percorrer de forma inclusiva todo o território. 10 4070 | ESADR 2013 Eco-eficiência, participação e sustentabilidadeP16 ESADR 2013 VII CONGRESSO APDEA – V CONGRESSO SPER – I ENCONTRO LUSÓFONO ECONOMIA, SOCIOLOGIA, AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO RURAL Pinhel 1 Ílhavo Viseu 2 N O S 0 25 km Montemor -o-Velho Sem 3 4 Anadia E Guarda Oliveira Luso do Hospital Pampilhosa da Serra Fundão SP Coimbra Proença-a-Nova Castelo Branco 5 Leiria 7 6 Seminário Mação Alcobaça Sessões Plenárias Sem SP Peniche Análise das Cadeias de Valor 8 NUTS III (proposta da CCDRC 2014/2020) Sessões de Trabalho 2012 2013 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. Região de Aveiro Dão-Lafões Beiras e Serra da Estrela Região de Coimbra Beira Interior Sul Médio Tejo Região de Leiria Oeste Vinho Lacticínios Cereais Azeite Carne Pescado Aves e Ovos Hortícolas, Frutos e Flores Mel Mel e Medronho Cogumelos Medronho Figura 6: Localização e ano de realização das Sessões de Trabalho do in_Agri Até ao final do 2º trimestre de 2013 foram desenvolvidas 18 Sessões de Trabalho, a que se associaram 8 Reuniões Focais. No início de cada ST é distribuída uma pasta a cada um dos participantes, cujo conteúdo difere do 1º para o 2º ciclo de trabalho. No primeiro caso, cada pasta continha o programa da Sessão, uma brochura de apresentação do projecto, um caderno de trabalho e um questionário de avaliação da ST, para preencher no final dos trabalhos. O caderno compreende uma breve introdução do subsistema em causa, esquemas com as cadeias de valor e sistemas tecnológicos respectivos, e folhas para preenchimento orientado, durante a fase de geração de ideias, bem como uma lista com as entidades convidadas a participar na Sessão. Tratando-se do 2º ciclo, para além dos documentos citados, são incluídas fichas de trabalho, tantas quantos os consensos gerados na 1ª ST, um formulário de apreciação dos consensos para preenchimento, onde é solicitado aos participantes que ordenem, segundo as suas preferências, as prioridades que lhes atribuem para dar continuidade às linhas de trabalho previamente subscritas e um 11 Atas Proceedings | 4071 VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural ESADR 2013 VII CONGRESSO APDEA – V CONGRESSO SPER – I ENCONTRO LUSÓFONO ECONOMIA, SOCIOLOGIA, AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO RURAL questionário para preencher logo no início, relativo à motivação e expectativas sobre o decurso do dia. Os cadernos de trabalho distribuídos no 2º ciclo (de STs) estão estruturados de forma diferente dos anteriormente descritos: estes iniciam-se com um resumo do projecto de uma forma global e um ponto de situação relativamente ao subsistema a que se referem, seguindo-se uma descrição dos consensos gerados e do racional para a acção de cada um deles, tão desenvolvido quanto for o grau de maturidade em que se encontra. 4.2. Participação A divulgação nas STs é efectuada por convite dirigido a representantes de todos os elos das cadeias de valor de cada subsistema considerado para a Região Centro, constituindo uma base de dados construída com a colaboração de todos os parceiros do projecto. A par do convite directo, por e-mail, telefone ou fax, as sessões são publicitadas nas página web e Facebook do projecto. Assim, no 1º ciclo e no 2º ciclo, respectivamente, estiveram presentes 69 e 87 representantes de Empresas, 85 e 70 Investigadores, para um total de 32 e 40 elementos de Instituições (Direcções Regionais, Autarquias, Associações Profissionais, Associações de Desenvolvimento e ONG’s), sendo que houve indivíduos presentes em mais que uma sessão, embora em reduzido número. 1º Ciclo de ST’s (2012) 2º Ciclo de ST’s (2013) Cogumelos Medronho Mel Mel e Produtos Silvestres Hortícolas, Frutos e Flores Aves e Ovos Carne Pescado Cereais Azeite Vinho Lacticínios Cogumelos Medronho Mel Mel e Produtos Silvestres Hortícolas, Frutos e Flores Aves e Ovos Carne Pescado Cereais Azeite Vinho Lacticínios 0 10 Emp 20 Inv 30 40 50 60 0 10 Emp Inst 20 Inv 30 40 50 60 Inst Emp: Empresas; Inv: Investigadores; Inst: Instituições Figura 7: Número de participantes por tipologia de agente de inovação nos 1º e 2º ciclos de STs 12 4072 | ESADR 2013 Eco-eficiência, participação e sustentabilidadeP16 ESADR 2013 VII CONGRESSO APDEA – V CONGRESSO SPER – I ENCONTRO LUSÓFONO ECONOMIA, SOCIOLOGIA, AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO RURAL Os gráficos anteriores (Fig.7) representam a participação absoluta nas diferentes Sessões durante os 2 ciclos. Verificou-se que no 1º ciclo de ST’s, os subsistemas Mel e Produtos Silvestres (34), Carne (31) e Cereais (32) foram os que reuniram maior número de participantes, e o Pescado o menor número (14). No 2º ciclo, sobressai o interesse que a ST do Medronho suscitou, reunindo um total de 53 participantes, dos quais 39 foram empresas, bem como a sessão dos Cogumelos onde, para um total de 29 participantes, metade (14) foram representantes empresariais. Novamente o Pescado é o subsistema que reúne o menor número de participantes (15). A Figura 8 mostra a participação relativa das tipologias Empresas, Investigadores e Instituições em cada uma das sessões dos 2 ciclos de trabalho. 1º Ciclo de ST’s (2012) 2º Ciclo de ST’s (2013) Cogumelos Medronho Mel Mel e Produtos Silvestres Hortícolas, Frutos e Flores Aves e Ovos Carne Pescado Cereais Azeite Vinho Lacticínios Cogumelos Medronho Mel Mel e Produtos Silvestres Hortícolas, Frutos e Flores Aves e Ovos Carne Pescado Cereais Azeite Vinho Lacticínios 0% 20% Emp 40% Inv 60% 80% 100% 0% 20% Emp Inst 40% Inv 60% 80% 100% Inst Emp: Empresas; Inv: Investigadores; Inst: Instituições Figura 8: Distribuição dos participantes por tipologia de agente de inovação no 1º ciclo de ST. Verifica-se que, mesmo em termos relativos, há uma consistência entre os 2 ciclos no peso das diferentes tipologias. Observa-se que durante o 1º ciclo de STs, nos subsistemas Cereais, Carne, e Mel e Produtos Silvestres as empresas representam mais de 40% dos participantes (47%, 45% e 44% respectivamente), enquanto no das Hortícolas, Frutos e Flores, as empresas só representam 22% do total de participantes. Quanto ao 2º ciclo de STs, as empresas ultrapassam os 40% de participantes nos subsistemas Medronho, Cogumelos, Cereais e Carne (74%, 48%, 47% e 45% respectivamente). Então, foi o subsistema Mel a agregar menor peso de empresas (22%). 13 Atas Proceedings | 4073 VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural ESADR 2013 VII CONGRESSO APDEA – V CONGRESSO SPER – I ENCONTRO LUSÓFONO ECONOMIA, SOCIOLOGIA, AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO RURAL 5. Acompanhamento Está a ser desenvolvida uma ferramenta online para o acompanhamento e aconselhamento permanente do desempenho do Projecto inAgri, podendo adicionalmente servir para outros projectos ou Sistemas de Acções. O seu conceito analítico é estruturado com o conjunto de variáveis adoptadas no modelo dos sistemas de acções intencionais desenvolvido por Quintanilla (1998, 2005), na sequência dos trabalhos de T. Kotarbinski (1965, 1967) e M. Bunge (1979,1999), assumindo o conceito de "praxiologia como teoria geral da ação humana" (Quintanilla, 2005), sendo o seu objetivo ?o bom trabalho técnico, eficiente”, servindo esta ciência para ?dar indicações e advertências a qualquer trabalho importante para que atinja o máximo de eficácia" [Quintanilla (2005) cit. Kotarbinski (1965)]. Esta aproximação, geradora de indicadores económicos, tecnológicos, ambientais, de coesão social e de sustentabilidade do valor em consequência das acções promovidas com os projetos, estrutura, acompanha e orienta as equipas de trabalho, instruindo a retroação mais apropriada, quantitativa e qualitativamente, visando a obtenção dos melhores resultados no mais curto intervalo de tempo. Deste modo, assegura-se a maior autonomia na gestão das actividades de cada equipa de projecto gerado no curso da operação, promovendo a automatização do acompanhamento das suas acções, e auxiliando a equipa do in_Agri nas orientações a que tenham de proceder na facilitação das tarefas dessas equipas, visando o seu sucesso pleno. Para utilizar esta ferramenta é apenas necessário o registo online sem nenhum custo associado, sendo o acesso livre. 6. Resultados Durante o 1º ciclo de STs foram identificados e discutidos 69 temas de interesse colectivo que evoluíram para 54 consensos no 2º ciclo de sessões. O gráfico seguinte (Fig.9) evidencia essa tendência, sendo que, não estando ainda concluído o 2º ciclo, apenas falta realizar a ST referente ao subsistema do Vinho. A ausência de dados no 1º ciclo referentes aos subsistemas Aves e Ovos, Mel, Medronho e Cogumelos deve-se à desagregação destes sectores anteriormente referida. 14 4074 | ESADR 2013 Eco-eficiência, participação e sustentabilidadeP16 ESADR 2013 VII CONGRESSO APDEA – V CONGRESSO SPER – I ENCONTRO LUSÓFONO ECONOMIA, SOCIOLOGIA, AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO RURAL 14 12 10 8 6 4 2 0 nº Consensos 1º Ciclo nº Consensos 2º Ciclo Figura 9: Evolução do número de consensos no final de 2 ciclos de STs As diferenças quanto ao número de consensos que se observam nos diferentes subsistemas, e que no caso particular dos Lacticínios é muito acentuada, é explicada pelo facto de alguns dos temas terem vindo a ser agrupados, condensando-se em grandes problemáticas que passam a englobar vários dos consensos anteriormente subscritos. Simultaneamente, alguns temas tratados no 1º ciclo são descartados, quer pela perda de interesse por parte dos seus subscritores em lhes dar continuidade, quer por se tornarem desajustados, neste último caso porque os problemas que propunham resolver já não existem ou deixaram de ser prementes, como se verificou com as alterações no mercado do leite de vaca. O aprofundamento destes trabalhos prossegue ao longo de 2013, tendo até à data sido aprovados 3 projectos de IDI (FCT: PTDC/AGR-FOR/3746/2012; Proder nº 45961; Proder nº 43748), no valor global de 357.838 €, superior ao investimento aprovado (286.585 €), representando um efeito multiplicador de 1,25 ao fim do 3º semestre de actividade. Mais decorrem reuniões focais visando a constituição de uma Cooperativa e do Agrupamento de Produtores do Medronho, a criação de uma marca diferenciadora da qualidade dos produtos do Baixo Mondego (Arroz Carolino e outros produtos), a negociação para a criação de circuitos de escoamento alternativos para produtos de hortofrutícolas da Beira Interior, bem como de variados projectos de IDI em copromoção com empresas de todos os sectores atrás referidos, sendo de esperar que o investimento em IDI captado no termo da operação venha a crescer consideravelmente, estando ainda por determinar o efeito multiplicador em inovação e criação de valor função dos resultados obtidos com os projectos em processo de formulação e já em 15 Atas Proceedings | 4075 VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural ESADR 2013 VII CONGRESSO APDEA – V CONGRESSO SPER – I ENCONTRO LUSÓFONO ECONOMIA, SOCIOLOGIA, AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO RURAL curso. A par dos consensos são levantadas outras necessidades relacionadas com formação e informação, a que os investigadores têm procurado dar resposta, por exemplo, com cursos de formação técnica autofinanciados (Formulação de regimes alimentares para vacas leiteiras/ESA-IPCB - Lacticínios). 7. Discussão Para todas as STs é convidado a participar um elevado número de Empresas, Empreendedores e Instituições que desenvolvem actividade na Região Centro, mas a resposta de manifestação de interesse em participar tem sido muito variável entre os diferentes subsistemas. Verifica-se que as actividades onde as cadeias de valor estão mais estruturadas e há mais tempo (Vinho, Carne, Lacticínios e Azeite), existe uma grande incidência sobre as dinâmicas de mercado: novos produtos, novos processos, novos mercados, certificações e referenciais de qualidade diferenciadora, etc. Já em sectores mais “jovens”, como é o caso dos Cogumelos Silvestres ou do Medronho, a incidência dos interesses consensuais orienta-se prioritariamente para a produção primária. Nestes, observam-se níveis de desorganização elevados e dificuldade no acesso a informação especializada. Aqui, a partilha de ideias e soluções entre participantes, as questões colocadas à comunidade científica presente nas STs e os contactos que se estabelecem revelam-se imprescindíveis para a melhoria da sua actividade. Em todos os subsectores são apontados problemas específicos relacionados com a produção, como pragas, doenças e factores de produção, com a transformação visando a obtenção de novos produtos e com a comercialização, ambicionando canais de escoamento mais vantajosos e o acesso a novos mercados de exportação. No entanto, os problemas relacionados com a organização dos produtores e com a colocação dos produtos no mercado são recorrentes, em todas as ST realizadas. 8. Trabalho futuro Na sequência do projecto in_AGRI (dimensão Piloto), surgiu o interesse dos parceiros em alargar o consórcio a outras entidades (Instituto Politécnico de Bragança e Universidade de Évora), candidatando o projecto ROIn_Agri - Dinamização da Rede de 16 4076 | ESADR 2013 Eco-eficiência, participação e sustentabilidadeP16 ESADR 2013 VII CONGRESSO APDEA – V CONGRESSO SPER – I ENCONTRO LUSÓFONO ECONOMIA, SOCIOLOGIA, AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO RURAL Oficinas de Inovação para o sector Agroindustrial - à Fase II do Sistema de Apoio a Ações Coletivas (SIAC). Assim, a ampliação da sua escala de aplicação territorial às regiões NUTS II Norte, Centro e Alentejo permitirá a disseminação e o aperfeiçoamento evolutivo das suas metodologias, provocando um efeito multiplicador do valor do Sistema Agroindustrial nestas regiões de convergência. 9. Conclusões Potenciar todas as sinergias pela mobilização da inteligência coletiva para o crescimento do valor nos sistemas de produção, estruturando o desenvolvimento e a afirmação de dinâmicas criativas no Sistema Agroindustrial, apoiando a geração e a recombinação cruzada de novas ideias disruptivas, de inovação pela aplicação de conhecimento pluridisciplinar, é uma consequência das operações que este processo envolve. Através desta estrutura operacional, estimula-se a interdependência de agentes cognitivos múltiplos, para inter-relacionar diversas formas de conhecimento numa perspetiva construtivista, tornando possível a “aprendizagem de ciclo duplo” (Maarleveld e Dangb'egnon, 1999), onde o foco está na transformação, inovação e criação de novos arranjos estruturais e intra e inter-institucionais que tenham em conta princípios de sustentabilidade. Referências e Bibliografia Bouwen, R. e Taillieu, T. (2004). 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Soc. 32 (5), 566–595. 20 4080 | ESADR 2013 Eco-eficiência, participação e sustentabilidadeP16 A GESTÃO DE SISTEMAS AGROFLORESTAIS COM MÚLTIPLOS CRITÉRIOS E MÚLTIPLOS STAKEHOLDERS: UMA ABORDAGEM BASEADA NA PROGRAMAÇÃO POR METAS António Xaviera, Maria de Belém Martinsb, Rui Fragosoc, Maria do Socorro Rosáriod a Faculdade de Ciências e Tecnologias- Universidade do Algarve e CEFAGE-UE (Center For Advanced Studies in Management and Economics). E-mail:[email protected] b Faculdade de Ciências e Tecnologias- Universidade do Algarve e CEFAGE-UE (Center For Advanced Studies in Management and Economics). E-mail:[email protected] c Universidade de Évora e CEFAGE-UE (Center For Advanced Studies in Management and Economics) d Direção de Serviços de Estatística, GPP (Gabinete de Planeamento e Políticas) Resumo Nos dias de hoje a gestão florestal requer a integração de vários critérios e múltiplos stakeholders. A preocupação do público sobre o ambiente tem feito crescer rapidamente o interesse na tomada de decisão participativa, no entanto o elevado número de stakeholders envolvido inclui opiniões diversas, as quais muitas vezes estão em conflito, sendo necessário proceder a uma correta agregação das preferências relativamente a critérios de decisão diferenciados. Para resolver este problema é proposta a utilização de um modelo matemático de decisão participatória inovador baseado na programação por metas que permite agregar diferentes matrizes de comparação de pares, simulando situações que valorizam o consenso da maioria ou da minoria dos stakeholders envolvidos, bem como ainda definir situações intermédias e o trade-off entre ambas as situações extremas referidas. O modelo foi aplicado numa Zona de Intervenção Florestal (ZIF) situada no interior do Algarve: a ZIF Arade-Alte/S. B. Messines. Foram considerados 3 critérios fundamentais para a decisão após um processo de análise interdisciplinar: o resultado económico, a biodiversidade e o risco de incêndio. Os resultados revelam que a metodologia proposta permitiu simular situações que valorizam o consenso da maioria ou da minoria, bem como o trade-off e as situações intermédias entre os dois extremos. Palavras-chave: gestão florestal, gestão agrícola, processos de decisão de grupo, programação por metas, Zona de Intervenção Florestal. Atas Proceedings | 4081 VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural 1.INTRODUÇÃO As florestas, pelas suas características, assumem um papel primordial na qualidade de vida das sociedades (Tomé, 2007) e desde o começo dos anos 90 têm sido tópicos chave na agenda política internacional, tal como foi apresentado nas Conferências de Ministros sobre a Proteção das Florestas na Europa (MCPFE) e na Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente e o Desenvolvimento (UNCED) no Rio de Janeiro, em 1992 (EFI, 2009). As áreas florestais estão, por vezes, ligadas a áreas agrícolas de maior ou menor dimensão, as quais conjuntamente com as primeiras permitem um melhor nível de rendimento para as populações. As florestas, quando não são muito densas também permitem o crescimento de vegetação herbácea espontânea, que é muitas vezes utilizada como pastagem dos efetivos pecuários, estabelecendo-se relações de complementaridade entre as partes. Para gerir estes sistemas agroflorestais, importa considerar vários critérios de decisão e os vários agentes que existem no território, muitas vezes com preferências e orientações distintas em relação ao processo de gestão. Neste contexto, a preocupação do público acerca do ambiente tem feito crescer rapidamente o interesse na tomada de decisão participativa. Desta forma, a aprovação do público tornou-se um importante objetivo na decisão, e a participação pública um elemento comum em processos ambientais de tomada de decisão. Assim, há hoje uma preocupação acrescida sobre a complexidade da gestão relacionada com os agentes envolvidos no processo de gestão florestal. No entanto, o grande número de stakeholders envolvidos inclui um número considerável de opiniões diversas, as quais muitas vezes estão em conflito (Mustajoki et al., 2004). Para resolver este tipo de problema, é necessário proceder a uma correta agregação das preferências e contabilizar a importância de cada um dos principais stakeholders no processo de gestão. Aqui têm sido desenvolvidos vários estudos e metodologias: Bantayan & Bishop (1998) utilizaram o processo analítico hierárquico e procederam à afetação de usos do solo num processo de decisão de grupo nas Filipinas; Ananda e Herarth (2003) apresentaram uma abordagem baseada em funções de valor para modelar as importâncias atribuídas pelos vários stakeholders intervenientes no processo de gestão; Ananda (2007) apresentou uma abordagem que incorpora as 2 4082 | ESADR 2013 Eco-eficiência, participação e sustentabilidadeP16 preferências dos vários stakeholders utilizando o processo analítico hierárquico numa região da Austrália; Tecle et al. (1998) formularam um problema com cinco objetivos, numa situação de decisão de grupo, utilizando a programação de compromisso e jogos cooperativos; Schmoldt & Peterson (2001) utilizaram o processo analítico hierárquico para chegar a um consenso entre diferentes julgamentos subjetivos, utilizando médias geométricas dos diferentes julgamentos efetuados. Mais recentemente, Diáz-Balteiro et al. (2009) e Nordström et al. (2009) seguiram os estudos de González-Pachón & Romero (2004, 2007) e apresentaram um método para agregar preferências individuais, através de matrizes de comparação, o qual permite definir os pesos sociais utilizando a programação por metas. Esta última abordagem apresenta claras vantagens em relação às tradicionais, nomeadamente aquelas que usam o processo analítico hierárquico, uma vez que permite analisar o consenso da maioria e minoria (Nordström et al., 2009) e permite utilizar matrizes que não satisfazem condições de reciprocidade e de consistência (Diáz-Balteiro et al., 2009) Assim, o objetivo deste trabalho é propor uma abordagem baseada na programação por metas para solucionar o problema de definição e análise do consenso resultante das preferências dos vários agentes em sistemas agroflorestais de gestão comum, tendo por base a realidade do interior da região do Algarve. Serão tidas como áreas piloto de análise as Zonas de Intervenção Florestal (ZIF), uma vez que estas têm um sistema de gestão comum participatório e foi recentemente desenvolvido um modelo bioeconómico de gestão direcionado para elas (Martins et al., 2013). Neste modelo, e na gestão destas áreas, haviam sido definidos 3 critérios de decisão tidos como fundamentais e que necessitavam de uma decisão participada: resultado económico (RES), risco de incêndio (materializado em risco de perdas-RK) e biodiversidade (BIOD). De forma a atingir os objetivos expostos, o presente artigo está dividido nas seguintes secções: na secção 2 é apresentada a abordagem metodológica; na secção 3 é discutida e apresentada a implementação empírica; na secção 4 são apresentados os resultados e é feita a discussão; na secção 5 são analisados os contributos e a interligação com os modelos de gestão agrícola e florestal; finalmente, na secção 6, são apresentadas as conclusões e considerações finais. 3 Atas Proceedings | 4083 VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural 2. A ABORDAGEM METODOLÓGICA A abordagem metodológica utiliza um modelo participatório baseado no método proposto por González-Pachón & Romero (2004, 2007) para agregar diferentes matrizes de comparação de pares, seguindo orientações de estudos posteriores que se referiram concretamente à gestão florestal (Diáz-Balteiro et al., 2009). Este método considera que para i critérios de decisão (i = 1, 2, . . . , n), e k produtores envolvidos (k = 1, 2, . . . , k) e mijk julgamentos dos k produtores para comparar os critérios i e j é possível encontrar uma matriz de consensos que representa a minimização das distâncias métricas p entre as posições dos diferentes stakeholders. Na sua formulação original, a escala de preferências proposta para ser utilizada na aplicação de uma metodologia desta natureza é a escala de Saaty (1977), embora seja reconhecido que possa ser adaptada com outras escalas, nas quais são se procedam a comparações entre critérios e posteriormente se derivem os pesos das preferências. Pretende-se assim, com esta metodologia, definir uma matriz de consenso mij(c) entre as várias comparações relativas aos diferentes critérios i e j, que se traduz nos pesos na tomada de decisão wi, os quais deverão ser inseridos no processo de programação do modelo de gestão (Martins et al., 2013), sendo este o output final fornecido por este modelo. Para fazer isto, González-Pachón & Romero (2007) propõem minimizar a distância entre Mc e M1, M2, . . . , Mm. Tal pode ser feito através do seguinte problema de otimização da função distância para a métrica genérica p: m n n MinPAR mij( k ) mij(c ) k 1 i 1 j i j i p 1/ p (1) Sujeito a: 0,111 mij(c) 9 i, j 1,....n (2) Onde a equação (1) diz respeito à função objetivo, sendo que a equação (2) diz respeito aos limites considerados na escala de Saaty (1977), que são tidos como valores extremos. No entanto, o problema de optimização disposto em (1) não é computável, 4 4084 | ESADR 2013 Eco-eficiência, participação e sustentabilidadeP16 sendo necessário proceder à sua reescrição (González-Pachón & Romero, 2007; DiázBalteiro et al., 2009). Desta forma, para determinar o consenso das decisões de grupo e, por conseguinte, os pesos wi={wE, wBIOD, wRK} a considerar para os diferentes critérios (resultado económico, biodiversidade e risco de incêndio, respetivamente) na gestão integrada da ZIF, formulou-se o seguinte problema de programação por metas: m n n k k MinPAR (1 ) D (nij pij ) k 1 i 1 j i j i (3) Sujeito a: mij( c ) mijk nijk pijk 0 i, j 1,....n e k 1,......m n n (n i 1 j i j i k ij p ijk ) D 0 k 1,..........m (4) (5) t mij( c ) t ' (6) n 0, p 0 (7) 0,1 parâmetro de controle (8) Onde nijk e pijk são no modelo de programação por metas as variáveis auxiliares relativas aos desvios negativos e aos desvios positivos que medem a subestimação ou a sobrestimação, entre a matriz de consenso mij(c) que é desconhecida e o mesmo ratio mijk obtido exogenamente para os k stakeholders; a variável D representa o máximo desvio, isto é a discrepância relativamente ao stakeholder que está mais distante do consenso obtido; é o parâmetro que permite modelar situações de consenso da maioria ou valorizar as posições da minoria e t e t’ são os limites da escala utilizada. A função objetivo é representada na equação (3) e permite minimizar os valores dos desvios positivos e negativos e do máximo desacordo relativamente ao consenso. Nas equações (4) e (5) calculam-se a matriz dos consensos e definem-se os desvios, respetivamente. A equação (6) representa as condições da escala utilizada. A equação (7) refere-se a restrições de não negatividade dos desvios. Numa situação em que 1 , o modelo permite obter a solução de consenso que otimiza a utilidade do grupo, i.e., a solução para a qual o consenso agregado é 5 Atas Proceedings | 4085 VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural otimizado. Quando 0 , o modelo fornece a solução de consenso que otimiza a utilidade do stakeholder que está mais deslocado da solução em que o consenso é mais equilibrado. As soluções intermédias, caso existam, podem ser obtidas para valores do parâmetro definidos entre 0 e 1. Por conseguinte, o parâmetro pode ser interpretado como sendo o trade-off ou a taxa de transformação marginal entre o consenso da maioria ( 1 ) e o consenso da minoria ( 0 ). Uma vez estimada a matriz de consenso mij(c) , podem-se derivar os pesos preferenciais wi compatíveis com a informação presente na matriz. Como a matriz de consenso poderá não ser necessariamente recíproca, não é aplicável a técnica proposta por Saaty, baseada no máximo valor próprio nos casos que é programada a sua utilização. Contudo, para resolver este problema pode-se recorrer a um procedimento baseado na programação por metas (Nordström et al., 2009; Diáz-Balteiro et al., 2009) conforme definido por González-Pachón & Romero (2004, 2007): MinPRF n n (n i 1 j 1 j i ij pij ) (9) Sujeito a: wi w j mij(c ) nij pij 0 onde i,j (1, ..., ni), i ≠ j. J w i 1 i (10) (11) 1 n 0, p 0 (12) 2.1. Adequação da metodologia a outras escalas de preferências A metodologia proposta é válida para analisar comparações entre pares. No entanto, por vezes, a informação disponível pode estar restrita a uma escala qualitativa de preferências para a qual é necessário analisar o consenso dos proprietários (como a escala de Likert). Para tal, alterou-se o modelo da seguinte forma: m Min PAR (1 ) D k 1 n (n i 1 k i pik ) (13) Sujeito a: mi(c) mik nik pik 0 i 1,....n e k 1,......m (14) 6 4086 | ESADR 2013 Eco-eficiência, participação e sustentabilidadeP16 n (n i 1 k i pik ) D 0 t mi(c) t ' k 1,..........m i 1,....n n 0, p 0 0,1 (15) (16) (17) (18) Onde é um parâmetro de controle; nik são os desvios negativos para cada proprietário k no critério i e pik são os desvios positivos para cada proprietário k no critério i, no modelo de programação de metas dizendo respeito a situações que refletem desvios negativos ou positivos com a matriz de consenso do agregado para o critério i; mi(c) é a matriz de consenso para o critério i; mik é a matriz de preferências do proprietário k no critério i; D refere-se também ao desvio relativo ao proprietário mais distante em termos de critérios de decisão; t e t’ são os limites da escala utilizada. Pretende-se com a função objetivo expressa na equação (13) minimizar os desvios nik e pik e a variável D, funcionando também aqui como um parâmetro que permite regular a obtenção de uma situação que permite a obtenção de consenso da maioria ou minoria. 3. IMPLEMENTAÇÃO EMPÍRICA 3.1. A área de aplicação Consideraram-se áreas geridas por um sistema de gestão comum no interior do Algarve, onde coexistem atividades agrícolas e florestais: as Zonas de Intervenção Florestal (ZIF) (não obstante a sua gestão se focalizar nas segundas atividades mencionadas). Como existem várias ZIFs nesta região, e dadas as restrições de tempo e monetárias, selecionou-se como área piloto deste estudo a ZIF Arade-Alte/ S. B. Messines, porque representa não só uma situação típica da gestão agroflorestal na região Algarve em que ocorrem diferentes problemas de gestão associados à integração de atividades agrícolas, florestais e pecuárias, à influência de múltiplos stakeholders no processo de decisão, como também foi afetada por incêndios florestais na última década. Na fig. 1. apresenta-se a localização da ZIF escolhida como objeto de estudo. 7 Atas Proceedings | 4087 VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural Fig. 1 – A localização espacial da área de estudo 3.2. Recolha de informação e linhas de implementação A gestão integrada da ZIF envolve vários intervenientes no processo de decisão, nomeadamente, diferentes tipos de produtores agroflorestais, proprietários rurais e a entidade gestora da ZIF. É um facto que diferentes tipos de proprietários terão diferentes ações no processo de gestão, sendo necessário encontrar uma metodologia de recolha que permita posteriormente definir os pesos valorizando a maioria ou a minoria dos proprietários e em que seja possível encontrar um compromisso. Assim, a informação utilizada neste modelo de consenso das decisões de grupo foi recolhida através de um inquérito às explorações agroflorestais realizado, especificamente para o efeito. Este inquérito recolheu a informação de 54 explorações agroflorestais que incluiu um processo de caraterização das explorações existentes, e foi aplicado seguindo um processo de amostragem aleatório, sendo que a amostra selecionada foi considerada estatisticamente representativa da população. No referido inquérito, foi dada a possibilidade de os proprietários indicarem as suas preferências relativas a cada um dos critérios determinantes na gestão (resultado económico, biodiversidade e risco de incêndio), numa escala de importância de 1 a 10, em que o número 1 corresponde a uma importância nula atribuída a essa atividade no processo de gestão enquanto o valor 10 corresponde à importância máxima dada a esse critério no processo de gestão. Não houve a possibilidade de utilizar comparações de 8 4088 | ESADR 2013 Eco-eficiência, participação e sustentabilidadeP16 pares e a formulação original do modelo. A fig. 2 representa a interpretação simplificada desta escala de importância fornecida aos produtores e permite ter em conta os graus de importância e de relevância dados a cada um dos critérios de decisão. Importância para a gestão Pouco importante Importância mediana 1 1 2 2 3 2 4 4 5 5 6 Muito importante 6 7 7 8 8 8 9 10 1 Fig. 2- Representação da escala de medição de preferências Foi ainda feita, com base no inquérito, uma identificação dos tipos de explorações agroflorestais existentes no território (Xavier & Martins, 2010a, 2010b), uma vez que estes tipos de exploração têm associados a si diferentes lógicas em termos de gestão. Para proceder à sua definição foram utilizados indicadores definidos pelos autores para o efeito que foram combinados (Xavier & Martins, 2010a, 2010b). Os dois principais tipos de explorações estão representados no quadro 1. Quadro 1 - Os principais tipos de explorações agroflorestais COD Tipos de exploração Muito pequena Florestal Prod. Singular Familiar S1 F3 T1 L1 Pequena Florestal Prod. Singular Familiar S2 F3 T1 L1 ET1 ET2 OTE % das explor. % da área 70 54 9 15 21 31 Outros ET1-Tipo de exploração 1; ET2-Tipo de exploração 2; OTE-Outros tipos de explorações (fonte: inquérito às explorações agroflorestais) Por conseguinte, estruturou-se uma metodologia de aplicação do modelo que sintetiza as preferências dos proprietários simulando o consenso da maioria e minoria, bem como situações intermédias (fig. 3). Foram definidas 2 linhas de aplicação: 1) Análise do consenso dos vários proprietários da área de gestão; 2) Análise do consenso e processo de decisão dos proprietários que pertencem a um determinado tipo de exploração. 9 Atas Proceedings | 4089 VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural Implementação Critérios de decisão Resultado económico Biodiversidade Risco de incêndio Tipos de explorações Recolha de informação Método progr. metas Área de gestão Tipos de explorações Fig.3 –A implementação empírica do modelo 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO A apresentação dos resultados segue a ordem de aplicação sequencial do modelo, a qual termina com o estabelecimento dos pesos dos critérios na decisão, nas duas linhas de aplicação supra-mencionadas. 4.1. Resultados globais-área de gestão 4.1.1. Preferências por número de proprietários Numa primeira fase de aplicação do modelo foram obtidos vários resultados de consenso na escala de preferências e os limites referentes a cada um deles (quadro 2), tendo em linha de conta a posição da maioria e da minoria (A e D, respetivamente). Na prática o valor de consenso em que o desvio relativamente à opinião da maioria é menor foi obtido entre 1 e 0,077. Existem ainda várias soluções intermédias, sendo que a partir de 0,043 é obtida uma solução em que o desvio relativo ao consenso da minoria é o menor. Contudo, apesar de aqui ser obtido o consenso com menor desvio relativo à opinião da minoria, o desacordo do agregado não atinge aqui o seu maior valor, sendo este apenas atingido quando o parâmetro é definido como 0. 10 4090 | ESADR 2013 Eco-eficiência, participação e sustentabilidadeP16 Quadro 2– Valores de consenso, desacordo agregado (A) e máximo desacordo (D) Critérios Parâmetro de controle 1-0,077 0,076-0,067 0,066-0,059 0,058-0,053 0,052-0,044 0,043-0,0001 0 Biodiversidade Risco de incêndio Res. Econ. Desac. agreg. (A) D 304,5 316,5 330,5 346,5 360 398,5 406,5 16 15 14 13 12,25 10,5 10,5 5 5 6 6 6,75 6,75 6 10 10 10 10 10 9 8,5 8 7 7 6 6 5,25 5 (fonte: resultados do modelo) Existe um elevado grau de conflito entre as várias soluções de consenso consideradas. Em termos de trade-off entre o consenso mais equilibrado que valoriza a minoria e um consenso da maioria, convém referir que a melhoria de D para a situação mais equilibrada (de 16 para 10,5) de 34,3% implica um aumento de 33,4% no desacordo do agregado- A (de 304,5 para 406,5). A representação do desacordo da maioria (A) e minoria (D) é feita graficamente (fig. 4), como forma de observar melhor os trade-offs que têm lugar entre as diferentes situações. A análise gráfica permite também indicar que a solução mais equilibrada entre ambos os extremos deverá ser aquela onde D será igual a 13 e A será igual a 346,5. Fig. 4–O trade-off entre o consenso da minoria e o consenso da maioria (fonte: resultados do modelo) A análise dos resultados permitiu ainda concluir que as soluções mais próximas do consenso da minoria tendem a valorizar mais a biodiversidade em detrimento do resultado económico, sendo que na situação em que o desacordo da maioria é menor o resultado económico tenderá a ser mais valorizada do que a biodiversidade. Em todas as 11 Atas Proceedings | 4091 VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural situações o risco de incêndio será o critério mais valorizado, se bem que nas situações em que é valorizado o consenso da minoria se verifique uma descida ligeira deste valor, o qual poderá não implicar uma diminuição do peso relativo no processo de decisão a atribuir a este critério. Finalmente, o quadro 3 representa os pesos percentuais finais a atribuir a cada um destes critérios. Aqui é comum em todas as situações que o peso atribuído ao risco de incêndio seja superior a 42% da decisão tomada. Os outros critérios variam genericamente entre os 21 e os 35%, nas diferentes situações de consenso seguindo a valorização já mencionada. Em duas das situações intermédias entre o consenso da minoria e da maioria que estão numa situação central desta variação, verificamos que existem situações de compromisso. Por exemplo: na situação em que a solução se encontra entre os valores 0,058-0,053 do parâmetro (a mais equilibrada através da identificação gráfica) verificamos que o peso atribuído ao risco de incêndio atinge o seu valor mais elevado, sendo que o valor atribuído à biodiversidade e ao resultado económico é igual; noutra situação próxima em que a solução se encontra entre os valores 0,052-0,044 do parâmetro constatamos que o peso atribuído ao risco de incêndio deixa de atingir o seu máximo, mas já há algumas diferenças nos dois outros critérios. Quadro 3-Os pesos dos critérios na decisão dos proprietários Parâmetro de controle 1-0,077 0,076-0,067 0,066-0,059 0,058-0,053 0,052-0,044 0,043-0,0001 0 Biodiversidade Risco de incêndio Res. Econ. 0,217 0,227 0,261 0,273 0,297 0,321 0,308 0,435 0,455 0,435 0,455 0,440 0,429 0,436 0,348 0,318 0,304 0,273 0,264 0,250 0,256 (fonte: resultados do modelo) 4.1.2. As áreas e a definição das preferências Considerando que os diferentes produtores em estudo têm explorações e propriedades com diferentes dimensões de áreas, e que esta situação poderá ser um aspeto importante na tomada de decisão, foi feita uma segunda abordagem na qual se ponderou a área das explorações. 12 4092 | ESADR 2013 Eco-eficiência, participação e sustentabilidadeP16 Os resultados referentes aos valores de consenso e pesos finais para o processo de decisão estão presentes nos quadros 4 e 5. Podemos observar que a situação que favorece o consenso do agregado se encontra entre 1 e 0,93, sendo que entre 0,86 e 0,81 vamos encontrar uma situação de meio-termo entre ambos os limites. Finalmente, a partir de 0,77 é atingido o melhor consenso no que respeita à minoria, mas não é atingindo o maior desacordo da maioria, sendo este apenas atingido quando se chega ao 0 no parâmetro de controle. Quadro 4 – Valores de consenso, desacordo agregado (A) e máximo desacordo (D), considerando as áreas das explorações Critérios Biodiversidade Parâmetro de controle Risco de incêndio Res. Econ. Desac. agreg. (A) D 304,5 316,5 332,5 354,5 368,5 382 398,5 406,5 16 15 14 13 12 11,25 10,5 10,5 1-0,93 0,92-0,9 0,89-0,87 0,86-0,81 5 5 5 5 6 6,75 6,75 6 0,8-0,79 0,78 0,77-0,01 0 10 10 10 10 10 10 9,25 8,5 8 7 6 5 5 5 5 5 (fonte: resultados do modelo) Quadro 5-Os pesos dos critérios na decisão de acordo com as áreas controle Parâmetro de Biodiversidade 1-0,93 0,92-0,9 0,89-0,87 0,86-0,81 0,8-0,79 0,780 0,77-0,01 0,000 Risco de incêndio 0,217 0,227 0,238 0,250 0,286 0,310 0,321 0,308 0,435 0,455 0,476 0,500 0,476 0,460 0,440 0,436 Res. Econ. 0,348 0,318 0,286 0,250 0,238 0,230 0,238 0,256 (fonte: resultados do modelo) O trade-off entre o consenso da maioria e o consenso da minoria está representado na figura seguinte, permitindo ver as relações e alterações que têm lugar ao considerar a área no processo de decisão. 13 Atas Proceedings | 4093 VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural Fig. 5–O trade-off entre o consenso da minoria e o consenso da maioria (fonte: resultados do modelo) 4.2. Os resultados obtidos por tipo de exploração Esta metodologia foi aplicada aos dois tipos de explorações mais relevantes: o tipo de exploração 1 (ET1) e o tipo de exploração 2 (ET2). Os resultados para dos dois tipos de exploração analisados são apresentados nos quadros seguintes. No que diz respeito a ET1 (quadro 6), não há diferenças assinaláveis entre a situação que valoriza o consenso da maioria e a situação em que é valorizado o consenso da minoria, o que demonstra que se trata de um conjunto de proprietários relativamente homogéneo na tomada de decisões. Em todas as situações o critério mais relevante é o risco de incêndio ao qual é sempre atribuída uma importância máxima ou próxima do máximo. Apenas o resultado económico decresce em importância à medida que nos aproximamos de uma situação em que é privilegiado o consenso da maioria, ou seja, em que o parâmetro anteriormente referido é igual a 0. Mais detalhadamente, a solução que valoriza o consenso da maioria é registada entre 1 e 0,091, enquanto que o valor ótimo para a minoria é obtido a partir de 0,066. Entre estes valores só é obtida uma outra solução intermédia. Assim, quando se pretende a valorização da minimização do desacordo da maioria, este atingirá um valor mínimo de 191 aumentando depois até atingir um valor de 211. Por seu turno, o valor de D referente ao desacordo da minoria vai ter uma variação oposta de 10 até atingir uma situação ótima de 8,5. 14 4094 | ESADR 2013 Eco-eficiência, participação e sustentabilidadeP16 Quadro 6– Valores de consenso, desacordo agregado (A) e máximo desacordo (D), para ET1 Biodiversidade Critérios Parâmetro de controle Risco de incêndio Res. Econ. Desac. agreg. (A) D 1-0,091 0,09-0,067 0,066-0,001 0 5 10 8 5 10 7 5 10 6,5 5 9,5 7 191 10 201 9 208 8,5 211 8,5 (fonte: resultados do modelo) No que concerne a ET2, e tendo por base a análise do quadro 7, verificamos que não existem diferenças muito significativas entre uma situação em que é valorizado o consenso da maioria e uma situação em que é valorizado o consenso da minoria, na maioria dos critérios (embora tenda a ser menos homogéneo do que ET1). Em todas as soluções é dada uma importância máxima ao risco de incêndio, sendo que há a atribuição de um valor constante ao resultado económico. Apenas há a realçar que numa situação em que é valorizado o consenso da maioria é dada uma menor importância à questão da biodiversidade do que numa situação em que é valorizado o consenso da minoria. Quadro 7– Valores de consenso, desacordo agregado (A) e máximo desacordo (D), para ET2 Critérios Parâmetro de controle Biodiversidade Risco de incêndio Res. Econ. Cons. agreg. D 1-0,5 3 10 5 23 12 0,49-0,25 5 10 5 25 10 7,5 10 5 32,5 7,5 0,24-0 (fonte: resultados do modelo) As curvas de trade-off entre o desacordo da maioria (A) e o máximo desacordo ou o desvio obtido em relação à posição da minoria (D) são apresentadas na fig. 6 para os dois tipos de explorações referidos e permitem comprovar o mencionado nas diferentes situações de consenso. No que respeita a ET1, uma situação de melhoria ao nível do consenso da minoria irá implicar uma redução de 15% de D (de 10 para 8,5) e um aumento de 10,5% no desacordo do agregado-A (de 191 para 211). No caso de ET2, uma melhoria para uma situação de consenso da minoria irá implicar uma redução de 25% de D (de 12 para 7,5) e um aumento de 41% no desacordo do agregado (de 23 para 32,5). 15 Atas Proceedings | 4095 VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural Fig. 6–O trade-off entre o consenso da minoria e da maioria de ET1 e ET2 (fonte: resultados do modelo) Desta forma, foram construídos os vários pesos a considerar no processo de decisão no que respeita a situação de consenso da maioria e minoria, bem como situações intermédias para ET1 e ET2 (quadros 8 e 9). O quadro 8 apresenta os pesos atribuídos a cada um dos critérios de ET1. Com base na sua análise, podemos concluir que em todas as situações o risco de incêndio revela uma importância de pelo menos 0,44 ou 44% para o processo de decisão, estando quase metade do processo de decisão dependente deste critério. O resultado económico apresenta sempre valores superiores a 0,30 ou 30% de peso para o processo de decisão, ainda que revele um ligeiro decréscimo à medida que passamos para uma situação em que é valorizado o consenso da minoria. No que concerne à biodiversidade, este critério revela ligeiras melhorias à medida que passamos para uma situação em que é valorizado o consenso da minoria, mas os valores nunca ultrapassam os 0,233 ou 23,3%. Quadro 8-Os pesos dos critérios na decisão dos proprietários-ET1 Parâmetro de controle Biodiversidade Risco de incêndio Res. Econ. 1-0,091 0,217 0,435 0,348 0,09-0,067 0,227 0,455 0,318 0,066-0,001 0,233 0,465 0,302 0,000 0,233 0,442 0,326 (fonte: resultados do modelo) 16 4096 | ESADR 2013 Eco-eficiência, participação e sustentabilidadeP16 O quadro 9 representa os pesos atribuídos a cada um dos critérios de decisão no ET2. Em todas as situações, o critério de decisão mais relevante para o processo de decisão é o risco de incêndio. Este critério tem a sua maior importância numa situação em que é valorizado o consenso da maioria, e representa neste caso 0,556 ou 56% do processo de decisão (o que quer dizer estes proprietários são muito aversos ao risco, talvez pelas consequências que os incêndios tiveram nas suas propriedades no passado), enquanto que numa situação em que é valorizado o consenso da minoria, este critério atinge um valor de 0,444 ou 44%. De igual forma, há um decréscimo do peso atribuído ao indicador resultado económico que tem apenas 0,222 ou 22% no processo de decisão numa situação em que é valorizado o consenso da minoria. Por seu turno, o peso dado à biodiversidade tem uma evolução inversa: numa situação em que é privilegiado o consenso da maioria o peso dado a este critério é de 0,167 ou 16,7% e numa situação em que é valorizado consenso da minoria este valor será de 0,333 ou 33%. Quadro 9-Os pesos dos critérios na decisão dos proprietários-ET2 Parâmetro de controle Biodiversidade Risco de incêndio Res. Econ. 1-0,5 0,167 0,556 0,278 0,49-0,25 0,250 0,500 0,250 0,24-0 0,333 0,444 0,222 (fonte: resultados do modelo) 5. CONTRIBUTOS E A INTERLIGAÇÃO COM OS MODELOS DE GESTÃO AGRÍCOLA E FLORESTAL O modelo desenvolvido permitiu, de uma forma simples, dispor de uma solução que pode efetuar a análise das preferências, simulando as situações de consenso da maioria e da minoria. Contudo, os seus contributos para definir uma solução concreta de gestão são ainda outros, na medida em que é possível conhecer situações intermédias de consenso e dotar o gestor de informação do trade-off no consenso entre os dois extremos. 17 Atas Proceedings | 4097 VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural Desta forma, o modelo pode funcionar como um auxiliar dos modelos de gestão florestal e agroflorestal, sendo necessário pensar como se poderá proceder à sua integração. Um exemplo prático de como proceder à interligação da abordagem apresentada aos modelos de gestão é fornecido seguidamente, tendo por base o modelo de gestão desenvolvido por Martins et al. (2013) e Xavier et al. (2012). O modelo proposto pelos autores é um modelo que permite considerar todas as atividades existentes no território, e foi aplicado na área de estudo, utilizando uma metodologia multicritério baseada na programação compromisso. A fig. 7 apresenta a estrutura do modelo de gestão para o qual foi preconizado a ligação ao modelo participatório proposto. Fig. 7- A estrutura do modelo de gestão (fonte: Xavier et al., 2012) Assim, para o proceder à sua interligação é estabelecido que este terá que funcionar como um modelo exógeno, cujos pesos poderão simular as preferências para a gestão, com um caráter simples de aplicação. O gestor ou o analista não deverá considerar a sua formulação endógena num modelo de gestão, mas sim como um auxiliar. Deverá, portanto, proceder à aplicação em primeiro lugar deste modelo auxiliar de preferências e definir os limites referentes a cada uma das soluções de consenso possíveis mediante variações paramétricas contínuas nos pesos a atribuir ao consenso da maioria e da minoria (ou seja do parâmetro ). Depois de definidas todas as soluções 18 4098 | ESADR 2013 Eco-eficiência, participação e sustentabilidadeP16 existentes entre os dois extremos, deverá aplicar os vários conjuntos de pesos das soluções que achar relevantes para a sua simulação. A fig. 8 apresenta o procedimento de interligação ao modelo de gestão. Modelo auxiliar (definição das preferências) Processo iterativo Análise e definição das soluções existentes Definição do conjunto de pesos Modelo de gestão integrado Plano de gestão Fig. 8- O processo de interligação com um modelo de gestão (Fonte: elaboração própria) 6. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente trabalho permitiu desenvolver uma abordagem baseada na programação por metas para analisar e simular os processos participatórios na gestão de sistemas agroflorestais, constituindo uma alternativa muito viável relativamente aos atuais métodos. Constatámos que, em todas as simulações implementadas, numa situação em que é valorizado o consenso da maioria, o conjunto de pesos no total da decisão tende a valorizar o risco de incêndio seguido pelo critério resultado económico e biodiversidade. Contudo, quando analisamos o consenso da minoria, verificamos que, não obstante o risco de incêndio ser o critério mais relevante, estes proprietários tendem a valorizar mais a biodiversidade em detrimento do resultado económico. Foi também provado que esta abordagem metodológica pode ser interligada com a metodologia proposta por Xavier & Martins (2010a, 2010b) que permitiu classificar os diferentes tipos de proprietários existentes num território agroflorestal em tipos de explorações. Aqui concluiu-se que, apesar destes tipos serem relativamente 19 Atas Proceedings | 4099 VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural homogéneos, é possível identificar algumas situações de diferentes consensos/ desacordo dentro deles valorizando a situação da maioria ou da minoria. Finalmente, foram fornecidas indicações claras para uma correta interligação do modelo proposto a outros modelos de gestão, de forma a aumentar a sua aplicabilidade prática. Verificou-se que a aplicabilidade prática da metodologia é enorme e pode reportar-se a várias situações que envolvem diferentes agentes e intervenientes com determinadas preferências, como ficou demonstrado no caso da gestão das ZIFs, uma vez que, sendo as decisões tomadas em assembleia, esta abordagem poderá identificar os possíveis cenários caso se valorize a maioria dos proprietários ou aqueles que têm uma opinião mais diferenciada, podendo mesmo contribuir para uma estrutura mais sólida destas organizações. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Ananda, J, Herath, G. (2003). Incorporating stakeholder values into regional forest planning: a value function approach. Ecological Economics, 45 (2003), 75-90. Ananda, J. (2007). Implementing Participatory Decision Making in Forest Planning. Environmental Management, (2007) 39, 534-544. Bantayan, N. C., Bishop, I. D. (1998). Linking objective and subjective modelling for landuse decision-making. Landscape and Urban Planning, 43, 35–48. 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Este repto não é apenas político e técnico, mas sobretudo social, implicando uma mudança extrema na forma como olhamos, planeamos e gerimos os recursos florestais. Ao longo das últimas décadas, tem-se tornado evidente que uma participação ativa de todos os agentes responsáveis ou beneficiários dessa mesma gestão, na construção de uma visão partilhada sobre o rumo da floresta e na definição das políticas, das ações e das responsabilidades, potencia uma melhor gestão dos recursos naturais. Com base nestes desafios, a presente comunicação aborda os princípios conceptuais subjacentes ao desenvolvimento de uma metodologia de participação pública, que permita discutir e negociar estratégias e medidas de GFS em áreas de minifúndio florestal. O desenho metodológico atendeu a vários aspetos considerados importantes para o sucesso da participação pública na tomada de decisão, nomeadamente o contexto local, os objetivos e o interesse público pela temática, a análise e a seleção dos agentes e a estrutura e as técnicas de participação. A sua implementação no concelho de Mação, localizado na região Centro de Portugal, é apresentada nesta comunicação. Para o caso de estudo, os resultados revelaram que existe uma visão consensual sobre os principais problemas da floresta e sobre a gestão florestal. No entanto, foram detetadas importantes lacunas de informação nas comunidades locais, onde se incluem grande parte dos proprietários florestais. A importância da organização dos proprietários florestais e a sua cooperação com as estruturas e agentes locais emergiu como um caminho para a GFS. A definição de papéis e responsabilidades na gestão florestal representou o aspeto mais frágil da metodologia participativa. Palavras-Chave: Participação pública; agentes; comunidades locais; gestão florestal; metodologia participativa 1 Atas Proceedings | 4103 VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural 1. INTRODUÇÃO Os sucessivos insucessos nos processos de tomada de decisão centralizados relativos à gestão dos recursos naturais (Beierle & Konisky, 2000; Rowe & Frewer, 2000; Gossum et al., 2005; Fraser et al., 2006; Reed, 2008) têm desencadeado a procura de novos modelos de gestão que incorporem as necessidades e o conhecimento dos diversos agentes. Um dos exemplos é a gestão florestal, onde os processos participativos são cada vez mais comuns e reconhecidos, quer pela sociedade civil, quer pelos decisores políticos e pelos técnicos (Cheng et al., 2006; Kohsaka & Handoh, 2006; Ananda, 2007; Ní Dhubháin et al., 2008). Diversos benefícios têm sido atribuídos às decisões resultantes de processos participativos, nomeadamente uma provável melhoria das decisões tomadas, mas também um aumento potencial do capital social e do compromisso e da responsabilidade cívica, uma atenuação de conflitos de interesses e eventual promoção de consensos e parcerias e uma diminuição da desconfiança latente e mútua entre agentes e comunidades locais e as entidades políticas responsáveis (Ananda & Herath, 2003). Apesar deste reconhecimento, a transição de modelos de decisão ‘de cima para baixo’ para decisões participativas ou de base comunitária tem sido particularmente difícil em países com longa tradição de um Estado centralizado (Atmis et al, 2007). Portugal enquadra-se neste cenário, onde o setor florestal é marcado por uma política centralizada, com consulta limitada e desadequada do setor privado e da sociedade civil (Coelho & Carvalho, 2002). Neste contexto, o papel dos pequenos produtores e proprietários florestais privados, que detêm uma parte importante da área florestal no Norte e Centro do país (Mendes 2007), tem sido particularmente negligenciado. Subjacente à necessária mudança de paradigma no campo das decisões referentes à gestão e ao investimento no setor florestal, esta comunicação apresenta uma metodologia participativa que promove a discussão e a negociação de estratégias locais para a GFS, a diferentes níveis (local, municipal e regional) e envolvendo múltiplos agentes (Estado, associações e organizações locais, setor industrial, proprietários florestais, agricultores e sociedade civil). A metodologia foi desenvolvida no âmbito do programa doutoral em Ciências e Engenharia do Ambiente da Universidade de Aveiro1, concertando ideias inovadoras com métodos adaptados de outros contextos, nomeadamente a metodologia desenvolvida no âmbito do projeto DESIRE para selecionar e avaliar estratégias de gestão sustentável da terra (Schwilch et al., 2012a; Schwilch et al., 2012b; Schwilch et al., 2012c) e a metodologia desenvolvida para a definição do Plano de Ação para o Desenvolvimento Sustentável do concelho de Oliveira do Bairro (Valente et al., 2009). A metodologia foi definida considerando quatro objetivos principais, nomeadamente: i) a avaliação da perceção social sobre as florestas e sobre a gestão florestal; ii) a identificação de problemas e de objetivos comuns relativos à floresta; iii) a definição de estratégias para a GFS; e iv) a atribuição de papéis na implementação das estratégias 1 Financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (SFRH/BD/47056/2008). A sua implementação em três áreas de estudo (município de Mação, município de Góis e Sítio do Montemuro) foi assegurada no âmbito do projeto ForeStake (PTDC/AGR-CFL/099970/2008), financiado pelos Fundos FEDER através do Programa Operacional Fatores de Competitividade – COMPETE e por Fundos Nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e Tecnologia. 2 4104 | ESADR 2013 Eco-eficiência, participação e sustentabilidadeP16 definidas. O desenho da metodologia assentou em três etapas fundamentais que serão apresentadas nos pontos seguintes, nomeadamente: a definição do contexto local; a seleção dos agentes; e a construção da abordagem e dos métodos participativos. Os resultados da implementação da metodologia no concelho de Mação, em Abril de 2013, são apresentados na Secção 5. 2. DEFINIÇÃO DO CONTEXTO LOCAL A influência do contexto local e global no sucesso da participação dos agentes tem sido descrita como menos influente que o desenho da metodologia ou o processo de seleção dos agentes (Beierle & Konisky, 2000; de Vente et al., submitted). No entanto, a ideia de que o mesmo processo participativo pode produzir diferentes resultados em contextos diversos (Richards et al., 2004) justifica a necessidade de avaliação do contexto antes de iniciar um processo de participação pública. A floresta portuguesa é muito diversificada, não só em termos das espécies florestais mas também no tipo de propriedade e nas lógicas subjacentes à gestão florestal, estando a investigação centrada nas regiões Norte e Centro de Portugal, onde prevalece a pequena propriedade florestal privada e onde se impõe uma forte cooperação entre organizações locais e proprietários florestais. O Quadro 1 apresenta um sumário dos principais aspetos referentes ao estado das florestas e outras variáveis que influenciam a gestão florestal em Portugal. Quadro 1: Aspetos-chave relativos às áreas florestais em Portugal - Norte e Centro de Portugal (Valente, 2013) Contexto ambiental Predominância do uso de solo florestal e matos; Regeneração natural de pinheiro-bravo e plantações de eucalipto; Aumento dos matos e das áreas de pastagens nos últimos anos; Aumento das áreas de eucalipto em detrimento do pinheiro-bravo; Incêndios severos e frequentes nos últimos 30 anos; Degradação da paisagem (destruição da vegetação, erosão do solo, biodiversidade, etc). Contexto socioeconómico Êxodo rural a partir dos anos 50; População rural baixa e envelhecida; Micro-dimensão da propriedade florestal; Baixo investimento na floresta (incapacidade física e financeira); Capacidade técnica local disponível (organizações e associações florestais; GTF); Forte setor industrial (indústria da pasta do papel, indústria da cortiça e produção de madeira). Contexto cultural Contexto político Herança da terra, valor afetivo; Baixa escolaridade dos proprietários florestais; Residência afastada das propriedades florestais; Domínio da gestão individual da terra; Baixa sensibilização ambiental; Falta de cultura de participação. Políticas centralizadas e ‘de cima para baixo’; Incerteza e ambiguidade das políticas e instituições; Enquadramento legal complexo; Distância entre organizações governamentais locais e centrais; Não-integração das perspetivas locais nas estratégias globais. As mudanças socioeconómicas ocorridas nos últimos 60 anos e as transformações em termos do uso do solo rural desencadearam uma mudança de paradigma em termos da 3 Atas Proceedings | 4105 VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural gestão florestal e um aumento da vulnerabilidade da paisagem aos incêndios florestais e outros distúrbios que afetam a floresta. Adicionalmente, o enquadramento cultural e político nacional não tem permitido encontrar soluções que redefinam o rumo da gestão florestal em Portugal. O aumento do envolvimento dos agentes locais nas decisões e na definição das políticas nacionais para o setor florestal pode representar uma viragem neste contexto. No entanto, a participação pública em Portugal é muito incipiente, quer pela ausência de oportunidades promovidas pelas organizações governamentais e não-governamentais, quer pela baixa cultura participativa da sociedade portuguesa. Os momentos de participação pública, muitas vezes incorretamente designados, são maioritariamente materializados em apresentações e discussões públicas, potencialmente indicativos da pouca vontade por parte das entidades públicas na partilha do poder de decisão (Pretty, 1995; de Vente, submitted), No concelho de Mação, a participação dos agentes não é uma prática nova para os decisores e técnicos locais, devido ao ativo envolvimento em projetos de investigação anteriores (e.g. projeto MedChange, projeto DESIRE, etc.) e em atividades no contexto da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD). Contudo, a implementação de ações resultantes destes processos foi escassa. É importante ter em consideração as experiências anteriores e um potencial cansaço dos agentes no desenho de um processo participativo. Finalmente, o processo de definição e de comunicação dos objetivos da participação é muito importante para otimizar um processo de participação. Na maioria das vezes, as pessoas são convidadas a participar sem saber exatamente quais os objetivos e as metas da sua participação. Outro erro recorrente é a inclusão de participação pública em decisões já tomadas ou onde a contribuição dos participantes não será propriamente integrada na decisão (Richards et al., 2004). Uma informação correta e transparência ao longo do processo são então aspetos relevantes para garantir que o processo de participação não gera falsas expetativas, além dos potenciais benefícios. Mesmo com mecanismos de comunicação adequados é possível que os participantes transportem consigo objetivos individuais. 3. ANÁLISE E SELEÇÃO DOS AGENTES Não existe uma resposta singular à questão ‘quem deve participar em quê’, sendo o envolvimento de todos os agentes e uma adequada representação das suas visões aspetos cruciais em qualquer processo participativo (Pretty, 1995). No setor florestal, a complexidade de agentes e interesses é bastante clara, aumentando o desafio da integração das necessidades e poderes distribuídos por múltiplos agentes. Esta diversidade e complexidade também evidenciam a importância de desenvolver novas formas para equilibrar todas estas dimensões, atendendo às necessidades individuais de grupos de agentes específicos e ao interesse público. A metodologia participativa apresentada começa por incluir todos os indivíduos e grupos de agentes relacionados com a floresta, evoluindo para um processo de análise e seleção, baseado na: i) identificação dos diferentes grupos de agentes e dos seus papéis em termos da gestão florestal; ii) categorização dos diferentes agentes; e iii) conhecimento das relações entre os diversos grupos (Reed et al., 2009). 4 4106 | ESADR 2013 Eco-eficiência, participação e sustentabilidadeP16 Nesta investigação foi utilizada a categorização proposta pelo Departamento do Desenvolvimento Internacional do Reino Unido, dividindo os agentes em facilitadores Estado; produtores - setor privado e utilizadores - sociedade civil (Quadro 2). No entanto, muitos grupos podem desempenhar mais do que um papel e algumas categorias intermédias foram também identificadas, como as Organizações de Produtores Florestais (OPF) que promovem a comunicação entre facilitadores e produtores. Agentes que desempenham atividades complementares ao setor florestal, como a agricultura, a pastorícia, a apicultura, a caça, e agentes relacionados com a Defesa da Floresta Contra Incêndios (DFCI), a conservação da biodiversidade, a gestão dos recursos hídricos, o combate à desertificação e o desenvolvimento rural, também foram incluídos no processo. Quadro 2: Papel e influência dos agentes na gestão florestal em Portugal (Valente, 2013) Grupo de agentes Governo (vários ministérios) ICNF Proteção Civil Bombeiros Guarda Nacional Republicana (GNR) Direcção Regional da Agricultura e das Pescas Organizações de produtores florestais ONG (desenvolvimento rural, protecção da natureza, etc.) Organizações governamentais locais (Câmara Municipal, Juntas de Freguesia) Indústrias Grandes produtores e proprietários florestais Pequenos proprietários florestais Baldios Sociedade Civil Turistas Escala de intervenção Nacional Nacional/ Regional Nacional / Local Regional / Local Regional / Local Papel na gestão florestal F F/P F F F Influência na gestão florestal ++++ ++++ ++ ++ + F + Regional / Local F/P +++ Regional / Local F + Municipal / Local F/P +++ Regional Local F/P P +++ +++ P P U U +++ ++ + + Regional Local Local Local Local LEGEND: F – Facilitadores; P – Produtores; U – Utilizadores / ++++ alta; +++ média; ++ baixa; + muito baixa Na análise da influência dos agentes na gestão florestal, verificou-se que a maior responsabilidade cabe ao Governo Central, nomeadamente ao Secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural (SEFDR), sob a alçada do Ministério da Agricultura e do Mar (MAM), e ao Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), uma vez que a política florestal nacional é definida ao nível central, assim como a aprovação dos planos florestais regionais e locais. O ICNF é ainda responsável pela gestão das florestas públicas. 5 Atas Proceedings | 4107 VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural O setor industrial (pasta do papel, cortiça e madeira), os grandes produtores e proprietários florestais e as OPF foram classificados como tendo uma influência média. Aos pequenos proprietários florestais (com áreas menores a 5 hectares) foi atribuída uma influência média pelo peso destes nas regiões Norte e Centro do país. As organizações governamentais locais também têm uma influência média, já que os municípios, na maioria dotados com um Gabinete Técnico Florestal (GTF), apoiam o setor privado na implementação da política florestal e na prevenção dos distúrbios da floresta. Os bombeiros e a proteção civil, apesar de muito importantes nas atividades de combate a incêndios, têm uma baixa influência na gestão florestal. 4. ABORDAGEM E MÉTODOS PARTICIPATIVOS A metodologia participativa desenvolvida combina três fases, envolvendo diferentes técnicas de participação orientadas para diferentes grupos de agentes. A primeira fase corresponde à implementação de um estudo de perceção social sobre as florestas e sobre a gestão florestal. Os resultados deste estudo foram então utilizados como base para a discussão e negociação das estratégias de GFS numa oficina de trabalho com agentes locais selecionados (Fase 2), mediado por um facilitador externo, e em oficinas nas comunidades locais (Fase 3), facilitados por agentes-chave locais. 4.1. Fase 1: estudo de perceção social A complexidade e a diversidade de dimensões e de agentes envolvidos na construção de um rumo para a floresta salientaram a importância de um entendimento comum sobre as principais oportunidades e ameaças à floresta antes de iniciar um processo de participação pública. A avaliação das diversas perspetivas sobre a mesma realidade ajuda a identificar os aspetos que devem ser abordados nas fases seguintes e os aspetos capazes de aumentar o interesse e a participação dos agentes. Neste sentido, foi desenvolvido e implementado um inquérito por questionário aos agentes-chave nacionais e locais e a uma amostra da população residente local. Esta técnica permite envolver um número considerável de participantes quando comparada com outras técnicas. Para garantir o mesmo tipo de informação, o guião do inquérito por questionário foi composto maioritariamente por questões fechadas e semi-fechadas e foi utilizada uma linguagem simples. O inquérito teve como objetivo recolher as diversas perceções, comparando as diferenças e similitudes entre as perspetivas a nível local, regional e nacional e entre decisores políticos, técnicos e sociedade civil. 4.2. Fase 2: oficina de trabalho com os agentes locais A segunda fase da metodologia consistiu na realização de uma oficina de trabalho. Este tipo de técnica constitui uma excelente oportunidade para promover a aprendizagem mútua entre diferentes grupos de agentes, quebrando desentendimentos e apontando objetivos comuns (Applestrand, 2002). De facto, experiências anteriores demonstraram que a aprendizagem entre participantes é um dos benefícios mais reconhecidos pelos próprios participantes (Schwilch et al., 2012a, Martineau-Delisle & Nadeau, 2010; Young et al., 2013). 6 4108 | ESADR 2013 Eco-eficiência, participação e sustentabilidadeP16 Para esta oficina foram selecionados e convidados representantes dos diversos grupos de agentes, assegurando um grupo razoável (entre 10 a 30 participantes). A duração de cada oficina poderá variar entre 4 e 6 horas, dando preferência a espaços informais ou até ao ar livre, se possível. A típica formalidade portuguesa em eventos públicos, com sessões de abertura formais, com interações pessoais usando títulos profissionais e com alguns agentes de uniforme (como é o caso da GNR ou dos Bombeiros) foi mitigada através da utilização de uma linguagem simples pelo facilitador e pela adoção de exercícios interativos. Outros aspetos relevantes foram a utilização do primeiro nome dos participantes, a ausência de sessões de abertura e a disposição da sala em U. A oficina de trabalho tem início com duas atividades interativas - cartões das expetativas, onde os participantes registam o que esperam do dia e uma galeria de imagens - proporcionando um ambiente informal entre todos os participantes e os facilitadores. A Figura 1 apresenta a sequência dos exercícios utilizados na oficina de trabalho e a sua ligação às cinco componentes subjacentes à definição de uma estratégia de GFS. Problema Exercício 1: Seleção e hiera rquização dos problemas Objetivo Exercício 2: Tra ba lho de Grupo Soluções Exercício 2: Tra ba lho de Grupo Ações Exercício 2: Traba lho de Grupo Papéis Exercício 2: Tra ba lho de Grupo Exercício 3: Síntese Figura 1: Exercícios da oficina e componentes de uma estratégia de GFS (Valente, 2013) O Exercício 1 assenta nos resultados da Fase 1, onde os principais problemas foram identificados. Os participantes têm a oportunidade de adicionar problemas que considerem ter sido negligenciados nos resultados do estudo de perceção. Depois de votarem os problemas cuja resolução consideram mais importante e urgente (Exercício 1), os participantes são organizados em pequenos grupos de discussão (3 a 4 elementos) para discutirem uma estratégia de prevenção, mitigação e resolução do problema, identificando soluções, ações e responsabilidades na implementação dessas ações (Exercício 2). Os resultados dos trabalhos de grupo são então apresentados numa sessão plenária e uma síntese é organizada pelo facilitador sobre os papéis identificados para diferentes atores em cada ação (Exercício 3). A síntese é organizada em três colunas: i) o que depende de nós (agentes locais); ii) cooperação/ parcerias; iii) o que não depende de nós (agentes externos). A síntese permite identificar as: i) responsabilidades e ações ao nível local, cuja implementação depende das capacidades e recursos locais; ii) ações que necessitam de parcerias e cooperação entre diversos agentes, e que devem ser promovidas pelos agentes-chave; iii) ações que dependem da autoridade florestal e outros agentes externos. 7 Atas Proceedings | 4109 VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural Esta última alínea é também desenvolvida no Exercício 3 da oficina, sendo discutidas algumas ideias dos participantes, para desenvolver uma mensagem aos decisores políticos comunicando os principais resultados do processo de participação e as necessidades identificadas ao nível local. A metodologia da oficina de trabalho e os diferentes exercícios foram revistos e adaptados após um teste na Universidade de Aveiro com um grupo de 12 investigadores (nos domínios das ciências florestais e do ambiente e das ciências sociais) e dois técnicos florestais locais. 4.3. Fase 3: oficina de trabalho nas comunidades locais Esta fase tem como objetivo replicar a oficina da Fase 2 em áreas mais pequenas, como as aldeias ou as Zonas de Intervenção Florestal (ZIF), envolvendo proprietários florestais e outros cidadãos. Após a participação na oficina dos agentes, os participantes são encorajados a envolverem-se num processo contínuo de participação, desenvolvendo oficinas similares nas suas comunidades, utilizando a mesma metodologia e promovendo a integração de outros agentes importantes, como os pequenos proprietários florestais e cidadãos interessados. As oficinas de trabalho nas comunidades podem ser organizados com poucos recursos financeiros, sendo facilitados por agentes locais (e.g. técnico florestal, representante da ZIF, etc.), orientados com formação adequada. Apesar das vantagens de ter um facilitador externo e profissionalizado, a construção de capacidades de facilitação a nível local é determinante para garantir a continuidade do processo e pode contribuir para a instalação de uma cultura de participação. A escolha do facilitador local deve, no entanto, evitar agentes detentores de poder ou atores com papéis conflituosos e não aceites pela comunidade. 5. IMPLEMENTAÇÃO DA METODOLOGIA PARTICIPATIVA NO CONCELHO DE MAÇÃO A metodologia participativa proposta foi desenhada para ser implementada ao nível local, pretendendo aumentar a discussão entre representantes de organizações governamentais, agentes de associações locais e comunidades locais e facilitar a comunicação dos seus interesses e necessidades aos decisores políticos nacionais. A metodologia foi testada no concelho de Mação localizado na região Centro de Portugal e foi posteriormente utilizada noutras áreas por outros facilitadores. 5.1. Fase 1: estudo de perceção no concelho de Mação A metodologia proposta está ancorada num estudo de perceção social transversal desenvolvido no concelho de Mação, incluindo técnicos e decisores nacionais e locais e uma amostra de 5% da população residente no concelho, incluindo proprietários florestais e outros cidadãos (Quadro 3). Quer os técnicos locais, quer a população local foram inquiridos por assistentes de investigação. O inquérito foi enviado por correio eletrónico para os decisores e técnicos nacionais. 8 4110 | ESADR 2013 Eco-eficiência, participação e sustentabilidadeP16 Quadro 3: Número e tipo de inquiridos Tipo de Inquirido Contactado Técnicos Nacionais (1) Técnicos Locais (2) Proprietários Florestais Outros Cidadãos 15 23 5% dos habitantes residentes no concelho de Mação Resposta 13 17 208 115 (1) Inclui decisores políticos e técnicos do ICNF e de outras entidades relacionadas a nível central e regional. (2) Inclui decisores políticos e técnicos de organizações governamentais e nãogovernamentais locais, representantes de ZIF, etc. O guião do inquérito por questionário incluiu 30 questões abordando as visões sobre a floresta, no entanto os resultados apresentados na oficina centraram-se nos problemas e ameaças identificados para a floresta de Mação. Os principais resultados foram: i) Incêndios florestais: identificados como a maior ameaça, quer nas perspetivas técnicas, quer nas perspetivas leigas. A criminalidade e a negligência foram apontadas como as principais causas de ignição e a ausência de limpeza da floresta e corte de matos, as condições climatéricas e a vegetação seca e a falta de áreas tampão foram indicadas como as principais causas de propagação. ii) Abandono rural: este aspeto está ligado ao despovoamento rural e ao envelhecimento da população e ao abandono do pastoreio e das atividades agro-florestais tradicionais. iii) Paisagem altamente combustível: este problema está relacionado com os dois anteriores. O abandono rural levou à expansão da floresta e dos matos para áreas tradicionalmente agrícolas e de pastoreio. Adicionalmente, a maior parte dos proprietários florestais não gere as suas propriedades ou apenas executa intervenções mínimas para limpar a vegetação ou cortar a madeira. A elevada capacidade de regeneração natural da vegetação (pinheiro-bravo e matos) facilmente conduz a uma paisagem extremamente vulnerável a incêndios recorrentes. iv) Pequena propriedade florestal: as áreas florestais foram sendo divididas por herança em parcelas muito pequenas (menos de meio hectare), impedindo uma gestão multifuncional da floresta e a sua exploração económica. Este aspeto, muito relevante para os técnicos nacionais e locais, não foi reconhecido pelos proprietários florestais e pelos outros cidadãos. v) Absentismo e falta de interesse nos recursos florestais: muitos proprietários florestais vivem longe das suas propriedades e aqueles que se mantêm nas proximidades são idosos sem capacidade física e financeira para investirem. vi) Instabilidade legal e institucional e burocracia: apenas mencionadas pelos técnicos nacionais e locais, está relacionada com as frequentes mudanças nas instituições e na legislação ambígua. Outras conclusões relevantes foram: i) a ausência de gestão florestal foi identificada como um problema pelos proprietários florestais, no entanto a maior parte dos proprietários inquiridos afirmaram gerir as suas propriedades; ii) os proprietários florestais e outros 9 Atas Proceedings | 4111 VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural cidadãos inquiridos manifestaram um desconhecimento total sobre as políticas e instrumentos legais disponíveis referentes ao setor florestal; e iii) apesar de não reconhecida por muitos inquiridos das comunidades locais, existe uma aceitação alargada do modelo ZIF pelos decisores políticos e técnicos locais e pelos proprietários florestais mais informados. 5.2. Fase 2: oficina de trabalho com os agentes locais no concelho de Mação A seleção dos participantes para a oficina assentou nos critérios apresentados na Secção 3. Foram convidados 24 agentes locais, tendo participado apenas 10 (Figura 2). As maiores ausências registaram-se nos agentes de entidades regionais e nacionais e nos presidentes de Junta de Freguesia e representantes de ZIF, facto provavelmente relacionado com uma reunião na Câmara Municipal no mesmo horário. Grupo de Agentes Convidado Participou Câmara Municipal 2 1 Proteção Civil 1 2 Bombeiros 1 1 GNR-GIPS 1 0 Juntas de Freguesia 8 2 Associação Florestal 1 1 Representantes de ZIF 5 1 Associação de apicultores 1 1 Setor industrial 1 1 ICNF 1 0 Pinhal Maior – Associação de 1 0 Desenvolvimento do Pinhal Interior Sul Ponto Focal Nacional da UNCCD 1 0 Total 24 10 Foto de Grupo UA, 2013 Da esquerda para a direita: Celeste Coelho, Nuno Bragança, Jorge Augusto, Sandra Valente, António Louro, Carlos Leitão, Inês Mariano, Luísa Alves, João Fernandes, Cristina Ribeiro, José Portela, Afonso Matias Figura 2: Lista de agentes e participantes (esquerda) e foto de grupo (direita) Antes de iniciar os trabalhos, os participantes foram convidados a escrever num cartão as suas expetativas relativamente ao dia. A maior parte dos cartões expressaram o interesse dos participantes em aprender mais sobre a gestão florestal e a sustentabilidade ou conhecer novas abordagens de participação. Três participantes referiram a partilha de ideias e soluções para melhorar a gestão florestal no concelho de Mação. Este exercício demonstrou que os participantes conheciam a temática e os objetivos da oficina. Uma exposição de fotografias foi utilizada como exercício para ‘quebrar o gelo’ entre os agentes, onde os participantes escolhiam uma imagem que ilustrasse a sua visão sobre a floresta. Todas as imagens disponíveis correspondiam a locais no concelho de Mação, facilitando a escolha dos participantes. Os participantes colaram as fotos selecionadas no ‘Quadro da Gestão para uma Floresta Sustentável’ (Figura 3), ajustando a posição da sua 10 4112 | ESADR 2013 Eco-eficiência, participação e sustentabilidadeP16 foto consoante uma imagem mais ou menos sustentável. Apesar de não haver uma clara distinção entre as imagens colocadas do lado negativo e do lado positivo, foi possível observar a seleção de terraços abandonados, aldeias despovoadas,, áreas ardidas e área de regeneração natural de pinheiro sem intervenção como aspetos negativos e do lado positivo foram escolhidas plantações florestais segundo as curvas de nível, áreas de sobreiro, aceiros e áreas de recreio e lazer. cipante a escolher uma foto (esquerda) e quadro central (direita) Figura 3: Participante Após estes exercícios iniciais,, os participantes foram convidados a apresentarem apresentarem-se questão Daqui aqui a 20 anos, como é eu vejo a floresta e a minha brevemente e responder à questão: relação com este recurso? ? As respostas foram muito diversificadas entre versões mais otimistas e pessimistas, estas últimas relacionadas com os incêndios florestais e o total abandono das áreas rurais. Depois de terem sido apresentados os principais problemas identificados na Fase 1, os participantes puderam comentar e adicionar outros problemas. Em Mação, apenas dois problemas adicionais foram indicados: a baixa produtividade económica das áreas florestais e o uso inadequado dos fundos públicos. Os participantes receberam três votos para serem usados de forma flexível no(s) problema(s) que considerassem mais prioritários (e.g. um participante poderia votar em três problemas diferentes ou usar os três votos no mesmo problema). Os resultados da votação indicaram três problemas as principais: o abandono das atividades agro-florestais agro florestais tradicionais e do pastoreio; a dimensão da propriedade florestal; e o desinteresse dos proprietários florestais. Estes problemas foram frequentemente mencionados no estudo de perceção social pelos técnicos cnicos nacionais e locais e pela população local, com exceção da dimensão da propriedade não identificada por este último grupo. Os incêndios florestais que foram indicados como a principal ncipal ameaça à GSF, não receberam nenhum voto na oficina. No entanto, os problemas votados estão intimamente relacionados com a propagação dos incêndios. Depois da seleção dos problemas, foram formados três grupos de trabalho para construírem uma estratégia para a resolução do problema selecionado. Os participantes foram aleatoriamente oriamente distribuídos pelos grupos. Cada estratégia era constituída pela identificação de um objetivo e a resposta a três questões: o quê?; como?; como? e por quem? Os resultados foram apresentados numa sessão plenária (Figura 4). Um dos grupos refletiu sobre uuma ma estratégia para reverter o abandono rural, através da revitalização das atividades rurais tradicionais, como a agricultura, o pastoreio e a silvicultura. A principal solução apresentada por este grupo correspondeu à organização dos proprietários da terra para uma gestão conjunta dos recursos naturais (e.g. rebanho 11 Atas Proceedings | 4113 VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural comunitário ou ações de emparcelamento). A melhoria da comercialização dos produtos foi também identificada. A estratégia definida incluía a necessidade de incentivos públicos numa primeira fase, e, devido ao baixo rendimento dos agricultores e proprietários florestais locais. Figura 4: Exercício 2 da oficina de trabalho Os outros dois grupos selecionaram o problema da micro-dimensão dimensão da propriedade, definindo como objetivo a redução do impacto da pequena escala scala através do apoio e incentivo ao aumento da escala de intervenção florestal. Os participantes consideraram que a excessiva fragmentação da propriedade está ligada ao abandono da floresta e à falta de planeamento florestal. Os dois grupos indicaram a implementação implementação da ZIF e o emparcelamento como as principais soluções para lidar com este problema. As mudanças no enquadramento legal, nomeadamente no que respeita às responsabilidades dos do proprietários não-aderentes a gestão aderentes à ZIF e a definição de incentivos para promover pr integrada foram identificados como as ações mais prementes. Durante a sessão de plenário, o facilitador organizou uma síntese das principais ações e responsabilidades,, diferenciando os papéis atribuídos aos agentes locais e proprietários florestais orestais dos papéis dos decisores políticos a nível nacional (Figura 5). UA, 2013 O que depende de nós – agentes locais? Participação / Cooperação O que não depende de nós – agentes externos? -Aumentar as dinãmicas associativas locais: agricultores, pastores, proprietários; -Criar quipas de trabalho combinando apoio técnico e a integração da realidade local; --Criar incentivos e fundos de investimento florestal; -Criar e organizar ZIF. -Integração de investigadores na definição de medidas e ações. --Adaptar e melhorar o sistema fiscal; --Reformular o enquadramento legal (lei das ZIF e do emparcelamento). Figura 5: Síntese das estratégias para a GFS apresentadas na oficina de Mação 12 4114 | ESADR 2013 Eco-eficiência, participação e sustentabilidadeP16 Na oficina de trabalho de Mação, as principais responsabilidades atribuídas aos agentes locais foram a organização e promoção de estruturas associativas, enquanto o papel dos agentes nacionais e externos residia na criação de incentivos e na melhoria do enquadramento legal para o setor. A segunda parte do Exercício 3 teve como objetivo recolher algumas ideias a serem comunicadas aos decisores políticos sobre os temas discutidos na oficina. Esta informação poderá ser usada como ponto de partida para a redação de uma mensagem aos políticos, enfatizando a necessidade de envolvimento dos agentes e comunidades locais na tomada de decisão. Sob o título ‘Deixe uma mensagem ao decisores políticos nacionais’, a discussão na oficina de Mação incidiu na mudança e clarificação de alguns aspetos da legislação referente ao direito de propriedade e à lei das ZIF e a revisão do sistema fiscal, integrando benefícios para os proprietários e as associações que cumprem os requisitos de uma GFS. O financiamento de uma ZIF piloto foi mencionado como uma tarefa urgente, para avaliar as oportunidades e falhas do modelo e ver o potencial de replicação e os ajustamentos necessários. 5.3. Fase 3: oficinas de trabalho nas comunidades locais Não foi possível testar estas oficinas no tempo limite da investigação, dado que seria necessário selecionar e realizar uma sessão de formação para os agentes locais que facilitariam estas oficinas. Apesar da metodologia ser similar, seria importante observar as dinâmicas dentro dos grupos nas comunidades locais. Da oficina de trabalho com os agentes, onde participaram alguns proprietários florestais, ficou claro que os exercícios são inclusivos, assegurando a participação de pessoas com menores nível de escolaridade ou com dificuldades na exposição oral. 6. AVALIAÇÃO DA METODOLOGIA PARTICIPATIVA Foi pedido aos participantes que preenchessem um pequeno questionário fornecendo uma opinião geral sobre os métodos e exercícios usados na oficina de trabalho, a importância da participação na tomada de decisão referente ao setor florestal e os fatores que consideram que contribuem para o sucesso de uma sessão participativa. Em termos da avaliação da metodologia, os participantes consideram que, em geral, houve uma participação equitativa de todos os participantes e que a metodologia contribuiu para equilibrar essa participação. Os exercícios foram considerados adequados aos objetivos da oficina e os participantes indicaram uma elevada concordância com os resultados alcançados. A participação na tomada de decisão relativa ao setor florestal foi considerada como crucial para quase todos os participantes (numa escala de 0 a 4, 6 participantes indicaram ‘4’). Em termos dos fatores que contribuem para o sucesso da participação, o interesse da temática abordada surgiu como o mais importante, tendo sido identificado por seis inquiridos. A confiança entre os agentes, a metodologia utilizada, a seleção dos participantes e a presença de um facilitador foram outros aspetos reconhecidos. 13 Atas Proceedings | 4115 VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural 7. CONCLUSÃO Apesar da metodologia não ter sido implementada na totalidade, a implementação da Fase 1 e 2 permitiu estabelecer algumas conclusões sobre o potencial da metodologia e as lacunas que podem ser colmatadas no futuro. Em primeiro lugar, a inclusão do estudo de perceção social e o envolvimento de diversos grupos de agentes permitiu, de certa forma, incluir a multidimensionalidade subjacente ao setor florestal. No entanto, existe um risco na inclusão de todas estas perspetivas e dimensões, que consiste na impossibilidade de discutir e negociar soluções exequíveis e iniciar um processo interminável. O foco numa área específica, desde o início, promoveu a identificação de soluções locais para resolver problemas locais e que afetam as comunidades locais. Contudo, a inclusão de agentes nacionais no processo poderá garantir a integração do enquadramento nacional em termos da floresta portuguesa. A principal falha relacionada com este tópico é a possível sobreposição de interesses individuais sobre o interesse público. A promoção da equidade social foi um dos aspetos mais relevantes no desenho da metodologia participativa, dado que vários poderes e níveis de intervenção foram envolvidos. Todos os métodos incluídos na metodologia foram desenhados para serem inclusivos, equitativos e justos, integrando o conhecimento tradicional ao mesmo nível que outros tipos de conhecimento. Apesar do desenho da metodologia ter estado centrado na procura de ações concretas e numa atribuição clara das principais responsabilidades, a dinâmica dos trabalhos de grupos definiu soluções mais integradas e amplas que exigem diversas ações desempenhadas por diversos agentes. Este aspeto evidencia que o envolvimento dos agentes na procura e definição de soluções para o seu território só poderá traduzir-se em reais resultados através de um processo de participação contínuo e onde exista, por parte do poder local e central, uma real vontade na partilha do poder de decisão. A metodologia proposta pretende ser um contributo neste sentido, podendo ser utilizada pelos decisores políticos na procura de soluções que se adequem as realidades locais e que melhorem os níveis de implementação e eficiência das ações propostas para a GFS. Bibliografia Ananda, J. (2007). Implementing Participatory Decision Making in Forest Planning. Environmental Management, 39, 534-544. Ananda, J. e Herath, G. 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COST E-19 - National Forest Programmes in a European Context. Disponível em <http://www.metla.fi/eu/cost/e19/ port.pdf> (acesso em: 9 Janeiro 2012). de Vente, J., Reed, M., Stringer, L., Valente, S. e Newig, J. (submitted). How does the context and design of participatory decision-making processes affect their outcomes? Evidence from sustainable land management in global drylands. Journal of Environmental Management. Fraser, E.D.G., Dougill, A.J., Mabee, W.E., Reed, M. e McAlpine, P. (2006). Bottom up and top down: Analysis of participatory processes for sustainability indicator identification as a pathway to community empowerment and sustainable environmental management. Journal of Environmental Management, 78, 114-127. Gossum, P., Luyssaert, S., Serbruyns, I. e Mortier, F. (2005). Forest groups as support to private forest owners in developing close-to-nature management. Forest Policy and Economics, 7 (4), 589-601. Kohsaka, R. e Handoh, I.C. (2006). 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Young, J.C., Jordan, A., Searle, K.R., Butler, A., Chapman, D.S., Simmons, P. e Watt, A.D. (2013). Does stakeholder involvement really benefit biodiversity conservation? Biological Conservation, 158, 359-370. 16 4118 | ESADR 2013 Eco-eficiência, participação e sustentabilidadeP16 Contributos para uma reflexão sobre o futuro da produção de alimentos. O papel da integração de sistemas Ferreira AJD, Delgado F, Andrade I, Franco J, Pereira CD, Costa R, Moreira J, Coelho L, Ferreira R, Oliveira MFL, Bastos A, Santos AR e Gonçalves I CERNAS, Escola Superior Agrária de Coimbra, Instituto Politécnico de Coimbra, Bencanta, P-3040-316 Coimbra, Portugal.; [email protected] RESUMO Alimentar convenientemente uma população crescente que em breve atingirá os 9 mil milhões de pessoas é um dos principais desafios que a humanidade enfrentará nas próximas décadas. Este desafio será agravado pela redução significativa de factores de produção, em especial os derivados dos combustíveis fósseis, tais como os pesticidas, fertilizantes e sobretudo pela redução do acesso a maquinaria agrícola para desenvolver trabalho, devido ao preço e escassez de combustível. Concomitantemente, a sobre-exploração de recursos tais como a água ou os solos levará a uma redução da capacidade produtiva, o que acarretará impactes negativos sobre a produção e logo sobre a disponibilidade de alimentos. Torna-se assim urgente encontrar novos paradigmas para a produção de alimentos, que possam mitigar os impactos durante a transição para uma agricultura pós-petróleo. Esta transição será certamente difícil e cheia de engodos, pelo que é necessário analisar cuidadosamente as alternativas para encontrar as melhores soluções para promover a segurança alimentar e o desenvolvimento sustentável. O projecto ECODEEP, tem desenvolvido um conjunto de análises de fluxos de energia e massa para várias fileiras agro-industriais, o que nos permite caracterizar os processos produtivos em Portugal. O sistema produtivo nacional é caracterizado por uma fraca integração inter-fileiras. Por outro lado, estamos também a envidar esforços para caracterizar os fluxos de energia e massa na exploração agro-pecuária da Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC), uma exploração com grande diversidade de actividades produtivas, de menor dimensão, mas com maior integração ao nível das diferentes actividades produtivas. Este trabalho compara os sistemas mais intensivos de agricultura e pecuária com as soluções mais integradoras ao nível da exploração agro-pecuária, onde por exemplo os resíduos da pecuária são compostados e adicionados ao solo, numa filosofia de Ecologia Industrial, em que os resíduos de uma actividade são usados como matéria prima de outra. Os resultados mostram que as perdas de eficiência em resultado do fim do que chamamos a “agricultura do petróleo” dificilmente poderão ser amortecidas por um aumento da integração ao nível da exploração agro-pecuária, pelo que será necessário encontrar outras soluções, eventualmente aumentando a integração a níveis mais elevados, a nível regional ou sub-regional. Atas Proceedings | 4119 VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural Introdução: O mundo enfrenta uma crise ambiental como resultado de vários fatores, passíveis de produzir mudanças globais significativas, tais como a redução da quantidade de energia disponível, o aquecimento global, a crescente degradação ambiental a nível global, e o crescimento demográfico. Esta conjuntura pode ter impactos importantes sobre o modo de vida e a qualidade de vida à escala regional, em particular em regiões com problemas de soberania alimentar e energética. Como melhorar a sustentabilidade, os meios de subsistência e a qualidade de vida nessas regiões, sem o receio de empobrecimento e da colapso civilizacional, é uma questão de extrema importância que deve ser abordada através de novas soluções ao nível da produção, da valorizar e organização das atividades e produtos dentro de uma região, procurando aumentar a integração e coerência de todos os recursos e atividades, através de uma abordagem inspirada nos conceitos de ecologia industrial. A necessidade de alimentos por parte da humanidade vai aumentar 50% até 2030. Este valor colide com o crescimento esperado de terra cultivada, que será de apenas 10%, (excluindo a área necessária para a produção de biocombustíveis). Será por isso necessário assumir um aumento de produtividade de 40% para as culturas mais importantes Godfray et al. (2010). A agricultura pós-petróleo implica uma ruptura com o paradigma europeu dominante para o setor de agricultura em sentido lato, expressa no desenvolvimento de novas estratégias baseadas na integração local e regional das atividades produtivas e no desenvolvimento de novas soluções a vários níveis ao longo do sistema produtivo e de forma a fechar os ciclos de massa e otimização de fluxos de energia, para enfrentar a crescente escassez de energia e matérias primas. A complexidade da procura e da oferta de alimentos, rações e combustível à escala local, regional e global, requere soluções por medida Spiertz (2012). Ao longo do último meio século, o comércio mundial de cereais, carne, legumes, soja e produtos lácteos aumentou significativamente, alterando significativamente a lógica da produção e comercialização alimentar, tornando-a globalizada. No entanto, esta tendência não é sustentável devido aos custos de energia, desequilíbrios de nutrição de plantas, uso de água virtual, preocupações ambientais e dependência de estabilidade política Spiertz (2012). Dado o potencial europeu para produzir alimentos, grandes poupanças serão possíveis com uma gestão mais cuidada da energia e dos fluxos de nutrientes se uma abordagem regional substitui o paradigma do livre comércio mundial Spiertz (2012). Os preços crescentes de energia reforçam a necessidade de soluções alternativas, baseadas num maior nível de integração à escala da exploração, local ou regional. É necessário aumentar a coerência interna do sector agro-alimentar, a nível regional. Este investimento no futuro do sector agro-alimentar é de extrema relevância estratégica, já que este é o segundo maior setor económico da União Europeia, responsável por 48 milhões de empregos e por um volume de negócios de 750 bilhões de Euros por ano CE (2013). O sector é extremamente relevante no que concerne à segurança alimentar. O desenvolvimento de novas estratégias para aumentar o desempenho, a produtividade, a competitividade e a integração do sector agro-alimentar à escala regional é de extrema importância para o futuro da União Europeia e da sociedade Europeia como a conhecemos. Desenvolvimento sustentável O desenvolvimento sustentável constitui um passo evolutivo tomado pela sociedade e sua economia. Num mundo em que a pegada ecológica da humanidade já ultrapassa a 4120 | ESADR 2013 Eco-eficiência, participação e sustentabilidadeP16 capacidade de carga do planeta há mais de três décadas, é necessário encontrar novas soluções para tornar mais sustentáveis as actividades humanas de forma a evitar um colapso civilizacional ou mudanças significativas no nosso modo de vida e nos padrões de vida. Para tal necessitamos mais do que um aumento na eficiência, é necessário um avanço mais radical se pretendemos trilhar o caminho para o desenvolvimento sustentável. O caminho seguido até agora para atingir o desenvolvimento sustentável, está enraizado em ferramentas de gestão ambiental, tais como a produção mais limpa, considerado o precursor dos mais novos conceitos como eco-eficiência. No entanto, apesar dos impactos positivos, o seu impacto em termos de desenvolvimento sustentável é limitado, devido à ausência de integração entre as diferentes actividades nas escalas relevantes. Para alcançar o desenvolvimento sustentável, os atuais sistemas de produção linear têm que evoluir, através do desenvolvimento de novos sistemas, mais complexos e integrados, à imagem dos ecossistemas naturais. Wallner (1999) aponta a necessidade de fortalecer as relações locais com base na confiança mútua, redes complexas e sofisticados sistemas de abastecimento e uso. As sociedades auto-organizadas necessárias para a prossecução do desenvolvimento sustentável só pode ser enquadradas no nível local ou regional, onde a cidadania e o nível de compromisso de todas as partes interessadas permitem a capacidade de tomar decisões responsáveis que se ajustam automaticamente os critérios de desenvolvimento sustentável. Desenvolvimento sustentável em escala regional A região é considerada a escala ideal para procurar a sustentabilidade. Wallner (1999) argumenta que o incremento do trabalho em rede dentro de uma região é fundamental para alcançar o desenvolvimento sustentável. As regiões surgem como um foco essencial para a sustentabilidade investigadores, gestores de recursos naturais, decisores e os planeadores estratégicos devem trabalhar para desenvolver e implementar metas de sustentabilidade Graymore et al (2008). Elas possuem uma estrutura privilegiada para atingir consensos sobre a aplicação do conceito de desenvolvimento sustentável e sobre quais as acção que devem apoiá-lo. As Regiões proporcionam a oportunidade para que as vozes das comunidades individuais e setores económicos sejam consideradas e tenham um peso significativo. É ao nível da comunidade que as pessoas e os instrumentos políticos estão preparados para desencadear os movimentos decisivos para a sustentabilidade Renn et al. (1998). O desenvolvimento regional sustentável procura utilizar os recursos endógenos, desde que cumpram os requisitos de sustentabilidade. Muitos desses recursos são utilizados de forma ineficiente, existindo geralmente uma falta de integração e de sinergia entre as atividades que os utilizam Hoffmann (2009). A demanda pela sustentabilidade constitui uma questão ética que expressa a responsabilidade pelo bem-estar das gerações futuras Brown (1995). A definição incorpora três elementos críticos: (i) aumento da produtividade dos recursos, (ii) a preservação dos ciclos naturais que permitem aos humanos e a outras espécies sobreviver e florescer, e (iii) a extensão ou o aumento do atual nível de bem-estar para gerações futuras. Os recursos naturais só podem ser geridos de forma mais eficiente, não duram para sempre, mantendo intactas as suas funções que poderão ser usadas para a produção de bem-estar. Em última análise, este objetivo só será alcançado se forem cumpridas duas condições: (a) as funções desejadas pelos seres humanos (incluindo funções imateriais), possam ser preenchidas por capital natural no futuro, e (b) todas as necessidades das Atas Proceedings | 4121 VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural gerações futuras possam ser cumpridas através de uma mistura de capital natural e artificial, com substituições limitadas entre os dois. É necessário desenvolver novas soluções para promover a segurança alimentar a nível local e regional, bem como desenvolver novas formas de organização para preparar as economias da Europa e do Mundo para a tarefa de alimentar 9 mil milhões de almas Spiertz (2012), mantendo a qualidade de vida e a diversidade económica necessária para alcançar novos e mais profundos níveis de sustentabilidade. É necessário fomentar a inovação nas áreas de interseção, para desenvolver novas soluções por exemplo para lidar com os resíduos orgânicos, ou aumentar a produtividade. A intensificação das atividades de redes e cooperação a nível regional é uma condição necessária (mas não suficiente) para o desenvolvimento sustentável Wallner (1999). Sistemas regionais podem aumentar a sua complexidade se criarem uma nova cultura de cooperação. Por outro lado, as regiões fornecem as raízes que são a base para a expansão das redes para níveis mais globais, nomeadamente para os mercados mundiais. O crescimento qualitativo é um pré-requisito para o desenvolvimento sustentável. Para atingir o desenvolvimento sustentável é necessário cumprir mais duas exigências aparentemente contraditórias: (a) a utilização sustentável não-destrutiva do meio ambiente e (b) o desenvolvimento económico. Os economistas consideram o crescimento económico como um pré-requisito do desenvolvimento económico Daly (1993). No entanto, estamos a aproximar-nos de uma época em que a limitação de recursos pode alterar tudo o que sabemos e esperamos do futuro. Odum e Odum(2006) apresentam uma visão do que está prestes a acontecer com base no ciclo natural dos ecossistemas. Nós exploramos uma visão alternativa, baseada na transformação da natureza, estrutura e objetivos das atividades económicas e dos padrões econômicos, que têm que mudar para lidar com a realidade de um mundo com recursos limitados. O principal problema, tal como referido por Daly (1993), deve se ao facto do conceito de "crescimento" contradizer a ideia de sustentabilidade, se aceitarmos a ideia de que existem limites à exploração dos recursos e às capacidades humanas e ambientais. Objetivos No âmbito do projecto ECODEEP, realizámos um conjunto de balanços de massa e energia a vários setores agro-industriais, com o objectivo de caracterizar os processos produtivos em Portugal. Concomitantemente, estamos a monitorizar as várias atividades agro-pecuárias dentro da exploração da Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC), onde introduzimos soluções para aumentar a integração entre as diferentes atividades agro-industriais. Este trabalho apresenta uma comparação entre o desempenho de uma agricultura e pecuárias mais especializada e competitiva, ou seja, empresas que estão no mercado há vários anos, conseguindo lucro e permitindo condições de vida aos seus proprietários e trabalhadores, com outro tipo de exploração, a Quinta da ESAC, que pretende ser autosuficiente, mas cujo objetivo principal é ensinar e não obter lucro. Esta exploração evoluiu para se tornar mais ecológica e eco-eficiente, aumentando as ligações entre a pecuária e a agricultura, usando resíduos animais compostados como fertilizante. Materiais e métodos. Este artigo compara os dados de empresas comerciais que operam em diversos sectores de agro-pecuários com um sistema de exploração mais integrado da exploração da ESAC. 4122 | ESADR 2013 Eco-eficiência, participação e sustentabilidadeP16 Escolhemos diversas culturas e criação de animais, que são comuns na Região Centro de Portugal e estão presentes na exploração da ESAC, a saber: os pomares de maçãs, vinhas, criação de suínos e criação de bovinos. As empresas usadas como comparação com as actividades ESAC são: 1) Para as vinhas, optamos por uma exploração da região vitivinícola da Bairrada (15 km a norte de Coimbra). 2) Para a produção de maçãs foi escolhida uma exploração da região a Moimenta da Beira (200 km a nordeste de Coimbra). 3) Para os suínos, usamos uma suinicultura intensiva em Pombal, 30 km a sul de Coimbra. 4) Para os bovinos, usamos uma exploração com pastagem extensiva localizada em Alfarelos, cerca de 200 km a oeste de Coimbra. A ESAC é uma Escola do Ensino Superior Politécnico dedicada à Agricultura, parcialmente localizada dentro da área urbana de Coimbra. Com 142ha, 100ha são usados para fins agro-pecuários e florestais. Atualmente, a ESAC faz criação de diversas espécies, nomeadamente oito suínos para reprodução, 16 bovinos, 24 coelhos, 68 ovelhas, 16 cabras e 18 cavalos. No que diz respeito às culturas agrícolas, a ESAC tem 3,73 ha de olival, 3.67ha de vinhas não irrigadas, 8.2ha de pastagens irrigadas, 3,37 ha de vários pomares de árvores de fruto, incluindo 0.35ha de pomares de maçã. A ESAC possui também uma área de 56.32ha dedicadas a culturas arvenses, 7.78ha em sistemas de sequeiro e 48.54ha irrigados. ESAC possui todos os equipamentos necessários para as suas actividades agropecuárias. Possui ainda 7059m2 de edifícios dedicados à agricultura e pecuária, e 1338m2 de edifícios usados por pilotos de atividades agro-industriais (isto é, lacticínios, processamento e conservação de frutas e legumes, etc.) A ESAC possui também tem uma rede viária, várias estufas, tanques, poços e sistemas de irrigação. Resultados. As características das explorações, quando comparadas com a ESAC são apresentadas na tabela 1. As empresas são mais especializadas e são maiores do que as actividades similares da Quinta da ESAC, que dados os seus objectivos educacionais e de formação, possui uma maior diversidade, embora as áreas para cada tipo de produção agropecuária sejam menores. ESAC tem uma área anormalmente maior quando comparado com outras explorações da região (142ha). Tabela 1 – Comparação das explorações auditadas com as características da ESAC. Sector Vinhas Pomar de Macieiras Suinicultura Bovinos Empresa/exploração 17 ha 8 ha ESAC 3.67ha 0.35ha 660 porcas 30 8 porcas 16 Observações Empresa em área de calcários Exploração em clima mais frio requere menos tratamentos Dados referents à maternidade Raça Marinhoa, para carne A exploração da ESAC não é de forma alguma representativa das explorações agrícolas locais por duas razões. Primeiro, é uma organização pública, os trabalhadores são Atas Proceedings | 4123 VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural funcionários públicos pagos pelo Estado, independente dos resultados de exploração. Em segundo lugar, devido à sua posição dentro da área urbana de Coimbra, o controle de impacto ambiental é particularmente rigoroso e foi implementada uma estratégia durante a última década para aumentar as ligações entre as diferentes actividades dentro da exploração agro-pecuária, ou seja, a compostagem de resíduos animais e vegetais , é usada nos solos, para reduzir a quantidade de fertilizantes sintéticos utilizados e o impacto de resíduos sobre o meio ambiente. Vinhas As vinhas da ESAC e da empresa têm produções semelhantes: 5.3ton/ha para a ESAC e 6.5ton/ha para o produtor da Bairrada. A Figura 1 mostra a quantidade relativa de alguns dos factores de produção, para os dois casos. Por uma questão de representação gráfica, o caso de estudo com o maior valor de cada uma das variáveis corresponde a 100%. No outro caso a percentagem foi determinada com base no valor relativo em relação ao valor mais elevado de entre os dois casos de estudo. Assim, neste caso em particular a exploração da Bairrada apresentou os valores mais elevados de água, fertilizantes e gasóleo, enquanto a ESAC apresentou as aplicações mais elevadas de pesticidas. 100 Água 80 60 40 20 Pesticidas 0 Fertilizantes Bairrada ESAC Gasóleo Figura 1 - Fatores de produção em vinhas As diferenças na utilização de fertilizantes são devidas ao facto de que a exploração da Bairrada sabe a quantidade de fertilizantes adicionados durante a instalação, enquanto que para as vinhas velhas da ESAC essa informação foi há muito perdida. Pomares de maçã No que diz respeito à produção de maçã, o Produtor de Moimenta da Beira atinge 45 ton / ha, enquanto a ESAC, os valores de produção são significativamente mais baixos, cerca de 10ton/ha. Este facto resulta de uma menor especialização e da idade avançada dos pomares de maçãs da ESAC. A quantidade de água e fertilizantes utilizados na ESAC são apenas uma pálida sombra do valor desses fatores de produção utilizados por empresas mais competitiva. A 4124 | ESADR 2013 Eco-eficiência, participação e sustentabilidadeP16 quantidade de gasóleo é inferior a 20% do utilizado pela exploração de Moimenta da Beira. A quantidade de pesticidas utilizados é maior na ESAC. Isto porque a área é muito pequena, e há uma tendência para o tratamento de todos os pomares de árvores de fruto colectivamente. Por outro lado, os frutos produzidos para a distribuição comercial têm controlos de pesticidas muito apertados, e os agricultores tirar vantagem do sistema de avisos para reduzir o número de tratamentos e, consequentemente, os custos. No entanto, a Figura 2 mostra que o produtor de Moimenta da Beira é de longe mais ativo na gestão dos pomares de maçã do que a ESAC. 100,0 Água 80,0 60,0 40,0 20,0 Gasóleo 0,0 Fertilizantes Moimenta ESAC Pesticidas Figura 2 - Fatores de produção em pomares de maçã Criação de Suínos A suinocultura apresenta as maiores diferenças no que diz respeito à dimensão das instalações. A ESAC, possui apenas oito porcos, o que é manifestamente pouco para uma empresa que queira sobreviver num sector muito competitivo. A empresa escolhida é um produtor médio, com 660 porcas de reprodução. Os animais, e as suas condições de manutenção não podem divergir muito, ou o bemestar dos animais estaria severamente comprometida em condições mais degradadas. No entanto, a criação de suínos, na ESAC contrasta com a exploração mais intensiva e orientada para os resultados do negócio, que influenciam a quantidade de fatores de produção utilizados. A quantidade de comida administrada aos suínos na ESAC representa apenas 70% do que é administrado na exploração mais intensiva em Pombal. Todos os outros parâmetros situam-se entre os 80% e os 95% do valor medido na exploração de suínos mais intensiva. Atas Proceedings | 4125 VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural Electricidade Água 100 80 60 40 20 0 ESAC Comida Produtor Pombal Resíduos Figura 3 – Factores de produção em suiniculturas Criação de Bovinos A criação de bovinos apresenta resultados idênticos, dado que as duas explorações criam a mesma raça (Marinhoa), e o sistema de exploração é semelhante, assentando num regime extensivo com utilização de pastos. A ESAC possui 16 vacas, enquanto a exploração de Alfarelos tem 27. O pasto disponível por vaca também é idêntico, 0,238 ha para a ESAC, 0,222 ha para a exploração de Alfarelos (Figura 4). A quantidade de água, de alimentos e de resíduos estão dentro do intervalo de 75% dos valores apresentados pela outra exploração. A única diferença importante consiste na quantidade de gasóleo gasto, o que se explica porque na ESAC a distância que o tractor tem de percorrer para alimentar os animais é muito maior do que no caso da exploração de Alfarelos estudo. 100 Água 80 60 40 Pastos 20 Energia ESAC 0 Comida Alfarelos Resíduos Figura 4 - Factores de produção em criação de bovinos. 4126 | ESADR 2013 Eco-eficiência, participação e sustentabilidadeP16 Discussão e conclusões: Apesar de estarmos ainda no início do estudo, é já possível tirar algumas conclusões. Embora uma maior integração dos sistemas prometer uma produção mais sustentável, os dados apresentados neste trabalho permitem concluir que não pode substituir totalmente os sistemas mais linear, uma vez que a produtividade de um sistema mais integrado ao nível da exploração agrícola, ou seja, a quebra de productividade em resultado de uma menor especialização como consequência da aposta num maior número de actividades e na sua integração, é muito baixa para alimentar uma população humana crescente. Embora, teoricamente, o fecho de ciclos dos sistemas de produção seja uma boa ideia para a sustentabilidade, em alguns casos, os rendimentos são manifestamente inferiores às produções em sistemas mais intensivos. Se os resultados mostram uma diminuição nos rendimentos com sistemas mais integrados e estreita a nível da exploração agrícola, isso pode não ser o fim desta abordagem. Podemos estar a tentar a integração na escala errada. Durante as auditorias às empresas, percebemos que já existe algum tipo de integração a nível municipal e regional, com resíduos que são transferidos de um setor para o outro para servir como adubo ou até mesmo para alimentar os animais (como é o caso dos resíduos de laticínios que é transferido para as suiniculturas). O trabalho futuro irá monitorizar e quantificar esses fluxos, uma vez que reduzem os impactos ambientais de resíduos e aumentarem a quantidade de matérias-primas disponíveis para a produção de alimentos. Agradecimentos Este trabalho foi realizado no âmbito do projeto ECODEEP - "Desenvolvimento de ferramentas de eco-eficiência para o sector agro-alimentar em Portugal. COMPETESIAC-AAC 1/SIAC/2011 - Projeto 18643, financiado pelo programa COMPETE. Agradecemos a todos os inquiridos no âmbito do projecto ECODEEP. Referencias Brown DA. The Role of Ethics in Sustainable Development and Environmental Protection Decisionmaking. In: Lemmons J, Brown DA (eds.). 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