Jornal Brasileiro de Medicina - Edição Novembro/Dezembro
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Jornal Brasileiro de Medicina - Edição Novembro/Dezembro
ISSN 0047-2077 Novembro/Dezembro 2013 Volume 101 Número 6 Hemocromatose hereditária Dificuldades no diagnóstico diferencial entre mesotelioma pleural e adenocarcinoma metastático Síncope vasovagal em criança com Wolff-Parkinson-White Apoptose no endométrio humano e endometriose Evolução das técnicas de transplante de fígado Tratamento não cirúrgico do traumatismo renal No consultório, no hospital, no café da manhã, no jantar... Compre agora e consulte o DEF na hora que você precisar! O mais completo guia de medicamentos ganhou uma nova versão. Aplicativos DEF 2014 para tablet e smartphone. Com o mesmo conteúdo do DEF em versão impressa. Compre na loja virtual DEF, na Google Play ou Apple Store. Consulta completa em ambiente offline DEF – a referência brasileira em guias de medicamentos www.def.com.br / www.facebook.com/def editorial issn 0047-2077 Atualizações relevantes Editor: José Maria de Sousa e Melo In memoriam Gerente Geral: Daila B. Melo Gerência Executiva: Lícia M.a S. Andrade Assistente: Thereza C. P. Jouan N a última edição de 2013, JBM traz à leitura temas clínicos nem sempre presentes no dia a dia do consultório, mas sobre os quais a atualização se faz relevante. Redação Editor Científico: Dr. José Galvão-Alves Redator-Chefe: Dr. Almir L. da Fonseca Coordenação Editorial: Sheila Guedes Revisores:Joel Vasconcellos Sueli B. dos Santos Tráfego: Jorge de Moura Bastos De autoria do Dr. Olival Cirilo Lucena da Fonseca Neto, o artigo Evolução das técnicas de transplante de fígado — O papel da veia cava inferior analisa as técnicas cirúrgicas consagradas. A importância da morte celular via apoptose no endométrio normal e em portadoras de endometriose é o objetivo do artigo Apoptose no endométrio humano e endometriose, de autoria do Prof. Marcos Mendonça e colegas. Programação Visual Edson de Oliveira Vilar Editoração Eletrônica Valter Batista dos Santos Sonia R. Vianna e Silva Publicidade Executivo de Contas (RJ): Silvio F. Faria Assistente: Raissa Negri Santiago Executivo de Contas (SP): Anna Maria Caldeira Assistente: Sirlei T. S. de Lima Editora de Publicações Científicas Ltda. No formato de relato de caso, mas com conteúdo de atualização sobre o tema, Síncope vasovagal em crianças com Wolff-Parkinson-White é apresentado através da experiência da Dra. Maria Natividade Santos Costa Lopes e colegas. Dificuldades no diagnóstico diferencial entre mesotelioma pleural e adenocarcinoma metastático para pleura patológica é outro artigo que analisa, entre outros aspectos, o diagnóstico diferencial entre as patologias. Rio de Janeiro: Av. das Américas, 1.155 — Salas 1401 a 1404 — Barra da Tijuca — Tels.: 2492-1856 e 24932694 — Fax: 2492-1279 — CEP 22631-000 — Inscrição: 81.413.177 — CNPJ 33.897.679/0001-12 — E-mail: [email protected] — Site: www.epuc.com.br A edição se encerra com dois temas: Tratamento não cirúrgico do traumatismo renal contuso e Hemocromatose hereditária. Jornal Brasileiro de Medicina é uma revista médico-científica bimestralmente enviada a mais de 25.000 médicos com clínica ativa em todo o território nacional. JBM NÃO ACEITA EM HIPÓTESE ALGUMA MATÉRIA PAGA EM SEU ESPAÇO EDITORIAL. São Paulo: Rua Estela, 96 — Cj 21 — Vila Mariana — Tel./Fax: 5549-2982 — CEP 04011-000 — Inscri ção 108.704.425.112 — CNPJ 33.897.679/0002-01 — E-mail: [email protected] Boa leitura a todos! Dr. José Galvão-Alves Número avulso: R$ 30,00 Registrado na Base de Dados Lilacs, organizada pela Bireme (ex-Index Medicus Latino Americano) Periodicidade: Bimestral Impressão: Gráfica Trena Distribuição: Door to Door e Diremadi Representante no México: Intersistemas S.A. de C.V. - México JBM reserva-se todos os direitos, inclusive os de tradução, em todos os países signatários da Convenção Pan-Americana e da Convenção Internacional sobre Direitos Autorais. Os trabalhos publicados terão seus direitos autorais resguardados pela EPUC que, em qualquer situação, agirá como detentora dos mesmos. Publicações do Grupo: JBM NOVEMBRO/DEZEMBRO, 2013 VOL. 101 No 6 3 sumário Conselho Científico Presidente 3 Atualizações relevantes Dr. José Galvão-Alves editorial José Galvão-Alves Membros Honorários 7 11 17 21 Evolução das técnicas de transplante de fígado – O papel da veia cava inferior artigos Dr. Olival Cirilo Lucena da Fonseca Neto Membros Titulares Apoptose no endométrio humano e endometriose Bahia Zilton A. Andrade Luis Guilherme Lyra Drs. Marcos Mendonça, Liv Braga de Paula e Luciana Moro Brasília Columbano Junqueira Neto Síncope vasovagal em criança com Wolff-Parkinson-White Espírito Santo Carlos Sandoval Drs. Maria Natividade Santos Costa Lopes, Cecílio Kassem Salamé e Camila Costa Oliveira Goiás Celmo Celeno Porto Minas Gerais Julio Chebli Dificuldades no diagnóstico diferencial entre mesotelioma pleural e adenocarcinoma metastático para pleura patológica Paraná Miguel Riella Sergio Bizinelli Drs. Beltrão Paiva Castello Branco, Fernando Antonio Carvalho, Francisco de Assis Paiva e Igor Torres Castello Branco 27 4 Pernambuco José Roberto de Almeida Hemocromatose hereditária Drs. Willian Cassuriaga Aymone, Vanessa Valiati, Maria da Graça de Faria Santos Resem e William Peres 35 Tratamento não cirúrgico do traumatismo renal contuso 16 Atualidades médicas 26 Panorama internacional 39 Noticiário 40 Índice geral Amaury Coutinho (PE) Affonso Berardinelli Tarantino (RJ) Clementino Fraga Filho (RJ) Mário Barreto Corrêa Lima (RJ) Renato Dani (MG) Drs. Olival Cirilo Lucena da Fonseca Neto e Rômulo Vasconcelos seção Rio de Janeiro Aderbal Sabrá Azor José de Lima Evandro Tinoco Fábio Cuiabano Gilberto Perez Cardoso Jorge Alberto Costa e Silva José Manoel Jansen Marta C. Galvão Mauro Geller Henrique Sergio Moraes Coelho Glaciomar Machado São Paulo Capital Adib Jatene Flair José Carrilho José Eduardo Souza José Osmar Medina Pestana Nestor Schor Sender Miszputen Botucatu Oswaldo Melo da Rocha JBM NOVEMBRO/DEZEMBRO, 2013 VOL. 101 No 6 Não é fácil entrar nesta lista. Unimed-Rio. Eleita uma das 500 maiores empresas do país, pelo 9º- ano consecutivo, e a 11ª- maior no setor de serviços, segundo o especial Melhores e Maiores, da revista EXAME. Produção científica nacional Educação médica continuada Representante exclusivo da New England Journal of Medicine e American College of Physicians DEF – o mais completo bulário de medicamentos Tudo isso com apenas quatro letras EPUC Ao lado dos médicos, em prol da vida O papel da veia cava inferior hepatologia Evolução das técnicas de transplante de fígado Olival Cirilo Lucena da Fonseca Neto Cirurgião do Serviço de Cirurgia Geral e Transplante Hepático do Hospital Universitário Oswaldo Cruz — UPE. Resumo Summary O transplante de fígado (TxF) é provavelmente a maior agressão cirúrgica que um paciente pode suportar. Desde a introdução do TxF convencional por Starzl, o qual era baseado na ressecção conjunta do fígado e da veia cava inferior, o procedimento sofreu vários refinamentos. Em termos técnicos, o TxF é o mais complexo entre todos os transplantes de órgãos. Uma combinação dos avanços na técnica cirúrgica e cuidados intensivos vem permitindo um aumento na sobrevida pós-TxF. Uma revisão dos aspectos técnicos do TxF é descrita no presente artigo. Liver transplantation (LT) is probably the biggest surgical aggression that a patient can endure. Since introduction of the conventional LT by Starzl, which was based on the resection of recipient inferior vena cava (IVC) along the liver, the procedure has undergone several refinements. In terms of technique LT is the most complex of all types of transplantations. A combination of advances in critical case and surgical technique has resulted in a significant improvement in overall patient survival after transplantation. Up to date technical aspects of orthotopic liver transplantation are described in the present article. Introdução (1, 2, 3) Transplante ortotópico de fígado (TOF) (4, 5, 6, 7, 8) Desde o primeiro sucesso no transplante de fígado, por Starzl, em 1967, o procedimento tornou-se o tratamento de escolha para pacientes com doença hepática terminal. Uma combinação de avanços na técnica cirúrgica, seleção do receptor, cuidados pós-operatórios e na utilização de imunossupressores mais específicos vem proporcionando maior e melhor sobrevida pós-transplante de fígado (TxF). O primeiro desafio enfrentado para tornar o TxF possível foi a parte técnica, a cirurgia. Graças à aquisição progressiva e contínua dos conhecimentos anátomo-cirúrgicos e suas repercussões fisiológicas em TxF experimental, esse procedimento adquiriu o status de maior cirurgia realizada no corpo humano. Nesse cenário, a veia cava inferior surge como uma estrutura que deverá ser dominada, para permitir a evolução e a segurança na cirurgia do TxF. É, por definição, quando um enxerto hepático total ou parcial é implantado no lugar do fígado nativo. Inicialmente foi realizado como cirurgia experimental por Welch e Moore, em Boston, e por Starzl, em Chicago, com objetivos diferentes: enquanto o grupo de Boston preocupava-se com os aspectos de imunossupressão, o grupo de Chicago se interessava pela “nutrição” do enxerto hepático. Nesse momento, os transplantes realizados em cães ocorriam com o auxílio da circulação extracorpórea. Esses pesquisadores utilizavam a técnica convencional, isto é, o fígado doente é retirado completamente com a veia cava inferior (VCI). Para realizar essa técnica era necessário interromper o fluxo sanguíneo da VCI e da veia porta através do pinçamento vascular. Com isso, todo o retorno venoso infradiafragmático (proveniente Unitermos: Transplante de fígado; técnica cirúrgica; fígado; veia cava inferior. Keywords: Liver transplant; surgical technique; liver; inferior vena cava. Fonte de financiamento: não há. Conflito de interesse: não declarado. JBM NOVEMBRO/DEZEMBRO, 2013 VOL. 101 No 6 7 Evolução das técnicas de transplante de fígado O papel da veia cava inferior Pontos-chave: > Transplante ortotópico de fígado é o enxerto hepático total ou parcial implantado no lugar do fígado nativo; > Foi realizado experimentalmente por Welch e Moore, em Boston, e por Starzl, em Chicago; > Os pesquisadores utilizavam a técnica convencional, isto é, o fígado doente é retirado completamente com a veia cava inferior. 8 dos membros inferiores e da região esplâncnica) não retornava ao coração. Os cães não suportavam e morriam em poucos minutos. Foi necessário contornar esse problema hemodinâmico (baixo débito e choque) com a utilização de circulação extracorpórea com heparinização. A circulação extracorpórea consistia em circuitos de tubos que inseridos na veia femoral, veia porta e veia axilar permitiam o retorno venoso sistêmico e gastrointestinal para o coração. Muitos anos depois, o próprio Starzl refere que essa necessidade de desvio venovenoso para realizar TxF foi a única lição errada aprendida com os animais, transportada para o TOF em humanos. Ainda no TxF experimental observou-se que seria possível diminuir as complicações do desvio venovenoso (DVV) realizando uma anastomose portocava temporária, reduzindo assim a necessidade da colocação do tubo venoso em área esplâncnica, sendo necessária apenas a drenagem da VCI. Após descrições iniciais de hepatectomia total em único estágio em cães, isto é, preservando a VCI na retirada do fígado nativo, introduziu-se essa possibilidade técnica em TxF experimental, com grande impacto positivo no equilíbrio hemometabólico. Associado com a anastomose portocava, o manejo transoperatório dos animais submetidos ao TxF tornou-se mais simples. Com os conhecimentos provenientes do laboratório, Starzl, aos 32 anos, realizou o primeiro TxF clínico, em 1963. A grande euforia do início da cirurgia foi substituída pela tristeza com o quadro hemorrágico desenvolvido durante a operação, levando o paciente a óbito. Mais duas tentativas foram realizadas pelo mesmo grupo, em Denver. O sucesso também não ocorreu dessa vez. Nessa série inicial foi usada a técnica convencional (hepatectomia total com a veia hepática inferior — retro-hepática), associada com o desvio venovenoso. Ocorreram complicações tromboembólicas do desvio venovenoso, que foram a causa do óbito nos pacientes. Decidiu-se suspender o DVV. Quase 25 anos depois do primeiro TxF em humanos, Starzl havia mudado de instituição. Passou a desenvolver seus trabalhos em Pittsburg. Com uma nova equipe, seus esforços estavam renovados para progredir em todos os aspectos inerentes à questão. Após realizar 170 TxFs em Denver e 63 em Pittsburg, com a técnica convencional, sem desvio venovenoso, um fato que ocorreu JBM nos últimos seis TxFs reacendeu a chama da utilização do DVV. Os óbitos ocorridos nesses TxFs, na fase anepática, levaram Starzl e sua equipe de volta aos laboratórios, em busca de respostas. Em um ano, a equipe de Pittsburg publicava suas experiências em TxF convencional com DVV. Agora, o sistema de circulação extracorpórea era simples e seguro. Era formado por uma bomba rolete e tubos impregnados com heparina em suas paredes. Não havia mais necessidade de heparinização sistêmica em um paciente que já tinha alterações na coagulação. O sucesso com o novo sistema de DVV propagou-se por todo o mundo, e permitiu a criação de novos centros de TxF. Ainda assim, ocorriam várias complicações inerentes ao sistema do DVV. Trombose e embolia pulmonar, embolia aérea, hipotermia, lesões e infecção nos acessos vasculares, linfocele e aumento do custo do TxF eram fatores que diminuíam a grande contribuição que o DVV havia dado para o progresso do TxF. Vários trabalhos começaram a questionar o real benefício do DVV na estabilização hemodinâmica durante a fase anepática (fase da cirurgia do TxF em que o receptor fica sem o fígado nativo e, com isso, todas as funções dependentes do fígado não ocorrem, levando à coagulopatia, hipotermia, hipoglicemia e acidose metabólica), colocando em dúvida a sua utilização. As consequências seriam maior sangramento operatório e, principalmente, insuficiência renal no pós-operatório imediato. Com a crescente informação sobre resultados semelhantes quanto às complicações, entre TxF convencional com e sem DVV, os cirurgiões buscaram outra alternativa para remediar a instabilidade hemodinâmica durante o pinçamento da VCI supra-hepática e infra-hepática (suprarrenal). Surgiu então, em 1989, a hepatectomia total com preservação da veia cava inferior retro-hepática, a técnica piggyback. Esse procedimento já havia sido descrito há mais ou menos 30 anos, em cirurgia experimental. Sua utilização nos TxFs clínicos alcançou imediatamente quase todos os serviços de TxF do mundo. Vários trabalhos começaram a mostrar os seus benefícios em relação ao TxF convencional com DVV. Alguns autores passaram a defender seu uso rotineiro no TxF. Adotaram quase uma moratória ao TxF convencional com DVV. Já o convencional, sem DVV, era usado como exceção. É importante lembrar que a NOVEMBRO/DEZEMBRO, 2013 VOL. 101 No 6 Evolução das técnicas de transplante de fígado O papel da veia cava inferior técnica piggyback foi utilizada inicialmente por Calne, em 1968, no seu terceiro caso de TxF clínico na Inglaterra. Comenta-se que a técnica possui dois “pais”. Com o advento da técnica piggyback, novas modalidades de TxF foram acrescentadas: o TxF reduzido, o split liver, o dominó e o intervivos. O TxF reduzido foi criado para beneficiar as crianças na lista de espera. Um fígado de doador falecido adulto é diminuído para ser aproveitado pelos receptores pediátricos. O TxF split liver, fígado bipartido, consiste em repartir o fígado do doador falecido para dois receptores, geralmente um adulto jovem e uma criança. O TxF dominó é aquele em que o receptor apresenta doença metabólica de origem hepática, que produz complicações após 20-30 anos. Assim, esses órgãos “doentes” são utilizados em pacientes com doença hepática terminal com prognóstico reservado. O paciente, portador da doença metabólica, é ao mesmo tempo receptor e doador. O TxF intervivos teve origem no Brasil. Rapidamente ganhou adeptos em todo o mundo. Consiste em retirar um segmento ou segmentos de um doador aparentado sadio para transplante no receptor com doença hepática terminal. Todas essas situações são regulamentadas pela Central Nacional de Transplantes de Órgãos, do Ministério da Saúde. Nos outros países também existe lei regulamentando os diversos tipos de transplante (Figuras 1 e 2). O TxF intervivos teve origem no Brasil. Rapidamente ganhou adeptos em todo o mundo. Consiste em retirar um segmento ou segmentos de um doador aparentado sadio para transplante no receptor com doença hepática terminal. Todas essas situações são regulamentadas pela Central Nacional de Transplantes de Órgãos, do Ministério da Saúde. Figura 1: Desenho esquemático da implantação do enxerto hepático pela técnica convencional. Figura 2: Desenho esquemático da implantação do enxerto hepático pela técnica piggyback. JBM NOVEMBRO/DEZEMBRO, 2013 VOL. 101 No 6 9 Evolução das técnicas de transplante de fígado O papel da veia cava inferior Transplante heterotópico de fígado (THF) (9, 10) para ressuscitação mais específicos e o uso de vasoconstritores sistêmicos e esplâncnicos permitem o melhor equilíbrio hemometabólico nesses pacientes tão críticos. O melhor entendimento da coagulação em cirróticos, a utilização do tromboelastograma (exame que mostra dinamicamente a função das plaquetas e a formação do coágulo) e a diminuição da hemotransfusão (principalmente plaquetas) concorrem para o aparecimento de um novo cenário clínico com melhores resultados, apesar da maior gravidade dos pacientes com doença hepática. Assim, novas pesquisas vêm demonstrando que, mais do que a técnica utilizada, o manejo intraoperatório teria maior participação na gênese das complicações pós-operatórias, principalmente a insuficiência renal. À luz dos novos conhecimentos, alguns trabalhos tentam demonstrar a igualdade nos resultados entre o TxF convencional com ou sem DVV e a técnica piggyback. Apesar de ter sido a primeira técnica de TxF realizada em cirurgia experimental, não se desenvolveu plenamente, devido aos problemas técnicos inerentes à colocação de outro órgão (inteiro ou não) dentro da cavidade abdominal, já repleta de vísceras. O problema de acomodação acarretou vários transtornos vasculares, que levavam à disfunção do enxerto precoce ou tardia, sendo necessário retirar o órgão transplantado para permitir a vida. Atualmente não existe grande experiência clínica nessa técnica, mas alguns centros encontram justificativa para realizá-la quando os receptores são jovens e/ou sofrem de hepatite fulminante. Considerações finais (11, 12, 13) O domínio anátomo-cirúrgico da VCI permitiu o desenvolvimento das várias técnicas utilizadas no TxF. Atualmente, os centros de TxF lidam com pacientes mais graves na lista de espera para transplante, necessitando realizar procedimentos cirúrgicos menos traumáticos, com o intuito de diminuir as complicações pós-operatórias. Os avanços no manejo dos pacientes cirróticos vêm permitindo uma mudança nos conceitos fisiopatológicos da hipertensão portal. A utilização de fluidos Conclusão A história do TxF pode ser contada a partir do domínio da técnica cirúrgica. A abordagem da VCI permitiu o desenvolvimento de várias modalidades de TxF e assim, com o progresso de outras áreas da Medicina, proporcionou o sucesso atual do transplante de fígado. Referências Endereço para correspondência: Olival Cirilo Lucena da Fonseca Neto Rua Jacobina, 45 — Apto. 1002 — Graças 52011-180 Recife-PE [email protected] 10 18. STARZL, T.E. (ed.) — The recipient operation in man. Experience in hepatic transplantation. United States of America. W.B. Saunders Company, 1969. p. 112-43. 19. CANNON, J.A. — Transplantation Bulletin, 3: 7, 1956. 10. STARZL, T.E. & FUNG, J.J. — Themes of liver transplantation. Hepatology, 51: 1869-84, 2010. 11. RAMSAY, M.A.E. & GARCIA-VALDECASAS, J.C. — Intraoperative renal protection: Anesthesia approaches. Liver Transpl., 15: S20-S21, 2009. 12. SCHWARZ, B.; POMAROLI, A. et al. — Liver transplantation without venovenous bypass: Morbidity and mortality in patients with greater than 50% reduction in cardiac output after vena cava clamping. J. 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KUSS, R. & BOURGET, P. — Una história ilustrada del trasplante de órganos. La gran aventura del siglo. 1. ed., Rucil-Malmaison, França, Sandoz, 1992. JBM NOVEMBRO/DEZEMBRO, 2013 VOL. 101 No 6 ginecologia Apoptose no endométrio humano e endometriose Marcos Mendonça Professor adjunto do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. Liv Braga de Paula Mestranda em Saúde da Mulher no Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. Luciana Moro Médica veterinária. Professora adjunta do Departamento de Patologia Geral do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais. Resumo Summary A apoptose tem papel fundamental na manutenção da homeostase tissular e na eliminação de células geneticamente alteradas ou que albergam vírus. No ciclo menstrual, a apoptose atua contribuindo para a homeostase celular do endométrio, eliminando as células da camada funcional endometrial durante as fases secretora e menstrual do ciclo. A família do oncogene Bcl-2 tem sido extensamente estudada no tecido endometrial e endometriótico. O endométrio eutópico de mulheres com a endometriose apresenta diferenças fundamentais ao ser comparado com o endométrio de pacientes sem endometriose. Essas diferenças podem ser responsáveis pela sobrevida das células endometriais advindas do fluxo menstrual retrógrado na cavidade peritoneal e no desenvolvimento da endometriose. Este artigo consiste numa revisão da literatura sobre a importância da morte celular via apoptose no endométrio normal e no endométrio de mulheres portadoras de endometriose. Apoptosis is very important in the homeostasis of tissues. Its function consists in the elimination of the excessive or disfunctional cells. In menstrual cycle, the role of apoptosis is the homeostasis of endometrium, eliminating all cells of the functional layer during secretory phase and menstruation. The oncogene Bcl-2 family has been studied in endometrium and endometriosis. Ectopic endometrium from women with endometriosis has differences from endometrium of patients without the disease. These differences can be responsible for the survival of endometrial cells regurgitated in peritoneal cavity and development of endometriosis. The apoptosis is being studied in the pathogenesis of endometriosis. This paper consists in a review of apoptosis, its role in the endometrium of patients with and without endometriosis. Introdução Embora a primeira descrição de endometriose tenha sido feita no início do século passado, por Sampson em 1927, e de sua prevalência ser elevada, pouco se conhece sobre a etiologia e fisiopatologia desta doença (1). Com relação à etiopatogenia, várias teorias têm sido propostas, tais como: o desenvolvimento do tecido endometrial através de metaplasia ou a partir de remanescentes müllerianos Endometriose é o termo que define a presença de tecido glandular ou estroma endometrial funcionante fora do útero. É uma afecção comum que ocorre em 5% a 15% das mulheres durante o período reprodutivo (1). As manifestações clínicas mais frequentes dessa alteração incluem: dor abdominal, dismenorreia, dispareunia e infertilidade (4). JBM NOVEMBRO/DEZEMBRO, 2013 VOL. 101 No 6 Unitermos: Apoptose; ciclo menstrual; endometriose. Keywords: Apoptosis; menstrual cycle; endometriosis. 11 Apoptose no endométrio humano e endometriose e o crescimento endometrial após implante de células do endométrio presentes no fluxo menstrual retrógrado. Vinatier, em 2001, sugeriu que além da presença das células endometriais ectópicas, outros fatores devem estar associados para o desenvolvimento da endometriose. Uma das alterações evidenciadas no endométrio ectópico e eutópico de pacientes com endometriose é a alteração na regulação da apoptose celular. O objetivo deste artigo é abordar a importância da morte celular via apoptose no endométrio e sua implicação na etiopatogenia da endometriose. ria dos casos, essas vias convergem para a ativação de proteases de cisteína (caspases), conduzindo à proteólise de substratos celulares vitais. As proteínas da família Bcl-2 funcionam como controle-chave da maquinaria efetora de morte celular. Os membros pré-apoptóticos da família Bcl-2 possuem a habilidade de formar canais iônicos nas membranas citoplasmáticas de mitocôndrias, no envelope nuclear e no retículo endoplasmático. Assim, ruptura na membrana mitocondrial resultaria em liberação de fatores indutores da apoptose (8). Grande parte do avanço no entendimento dos eventos intracelulares reguladores da apoptose foi proporcionada pela identificação de alguns genes, como os da família Bcl-2 (do inglês: B-cell lymphoma 2 gene) (12). O Bcl-2 localiza-se no cromossomo 18 e consiste em um proto-oncogene inibidor da apoptose — é a molécula melhor caracterizada do mecanismo de apoptose e considerada um repressor da morte celular (1, 11). Atualmente já foram descritos pelo menos 10 genes pertencentes à família Bcl-2. Com base na sua função podemos dividi-los em dois grupos: os inibidores da apoptose Bcl-2, Bcl-x longo, Bcl-w e Mcl-1, e os indutores da apoptose como Bax, Bcl-x curto, Bak e Bad (5). Os membros da família Bcl-2 interagem através de associação homodimérica e heterodimérica; ou seja, a suscetibilidade de uma célula a um estímulo apoptótico é determinada pela proporção de membros pró-apoptóticos e antiapoptóticos presentes nas células naquele momento (5). À microscopia de luz, as células apoptóticas apresentam-se isoladas, têm forma irregular, tipicamente circundadas por um halo claro (anoiquia). Tais células apresentam cromatina condensada e basofílica com citoplasma retraído e acidófilo. O núcleo apresenta-se retraído, fortemente basófilo, com cromatina condensada, algumas vezes compactada na carioteca sob a forma de crescente. Os corpos apoptóticos são principalmente visíveis quando contêm fragmentos do núcleo (ver Figura) (10, 13). Várias alterações moleculares podem ser observadas quando a célula entra em apoptose e muitas delas têm sido utilizadas para detectar esse tipo de morte celular. Entre essas, ressalta-se a clivagem do DNA genô- Apoptose Pontos-chave: > A morte celular programada (apoptose) é um tipo de morte celular responsável pelo desenvolvimento e homeostase de vários tecidos, incluindo o endométrio; > É um processo rápido (que se completa em torno de três horas) e assincrônico; > Envolve células isoladas, sendo regulada intrínseca e extrinsecamente. 12 A morte celular programada (apoptose) é um tipo de morte celular responsável pelo desenvolvimento e homeostase de vários tecidos, incluindo o endométrio (12). Sua importância baseia-se na sua participação no desenvolvimento embrionário e na organogênese, na renovação de células epiteliais, na involução cíclica dos órgãos reprodutivos, na hipotrofia induzida pela remoção de fatores de crescimento ou de hormônios, na involução de alguns órgãos (p. ex.: timo) e ainda na regressão de tumores (13). A apoptose é um processo rápido (que se completa em torno de três horas) e assincrônico. Desse modo, se cerca de 2%-3% das células de um tecido estiverem morrendo via apoptose em um determinado momento, haverá regressão substancial do mesmo. Assim sendo, é um tipo de morte celular desejável programada e seletiva, que envolve células isoladas, sendo regulada intrínseca e extrinsecamente (13). A morte celular programada pode ser dividida em pelo menos três fases: ativação (através de sinais de indução da apoptose), regulação e execução. Durante o processo ocorrem e alterações bioquímicas e estruturais celulares (1). Com relação à indução, uma variedade de estímulos, tais como privação de fatores de crescimento, uso de glicocorticoides, danos no DNA, exposição à radiação ionizante, tratamentos utilizando drogas quimioterápicas e/ou estresse, pode ativar a apoptose (1). O mecanismo do processo de apoptose pode ocorrer envolvendo múltiplas vias independentes, nas quais podem atuar intermediários de sinalização distintos. Na maioJBM NOVEMBRO/DEZEMBRO, 2013 VOL. 101 No 6 Apoptose no endométrio humano e endometriose As evidências sugerem que a apoptose auxilia na manutenção da homeostase celular durante o ciclo menstrual, eliminando as células da camada funcional do endométrio nas fases secretoras tardia e menstrual. Figura: Apoptose no endométrio. Corte de endométrio corado em hematoxilina-eosina, mostrando a presença de células em apoptose em microscopia óptica com aumento de 40x. Notam-se, nas setas brancas, os núcleos retraídos com cromatina condensada e as células com aspecto irregular, isoladas e de halo claro pericelular (seta preta). mico em fragmentos múltiplos de 180-200 pares de bases, que é um quadro típico de apoptose em vários sistemas celulares. Na apoptose, como consequência da atividade de endonucleases, o DNA sofre fragmentação internucleossômica, sem nenhuma especificidade de sequência, porém mais intensa na cromatina em configuração aberta. Essa fragmentação característica do genoma é facilmente visualizada laboratorialmente pela eletroforese de DNA em gel de agarose, produzindo o clássico padrão em escada. Todavia, esse método não provê informação sobre a localização histológica das células em apoptose. Esse problema pode ser solucionado marcando-se, in situ, as extremidades 3’-OH do DNA fragmentado. Para tanto, utiliza-se a enzima transferase de deoxinucleotídeo terminal (Tdt), que incorpora nucleotídeos marcados às extremidades livres do genoma. Esse método é denominado técnica de TUNEL — marcação in situ da fragmentação do genoma com transferase de deoxinucleotídeo terminal (13). Apoptose no endométrio normal Hopwood & Levinson (14) realizaram o primeiro estudo sobre a apoptose no endoméJBM NOVEMBRO/DEZEMBRO, 2013 trio humano e identificaram alterações morfológicas características de apoptose no endométrio que variam de acordo com a fase do ciclo menstrual. Concluíram que há uma considerável perda de tecido epitelial glandular com formação de corpos apoptóticos na fase secretora tardia, pré-menstrual e menstrual, e em menor extensão, na fase proliferativa. As evidências sugerem que a apoptose auxilia na manutenção da homeostase celular durante o ciclo menstrual, eliminando as células da camada funcional do endométrio nas fases secretoras tardia e menstrual. (1). McLaren et al. (4), ao investigar a relação entre Bcl-X/Bax no endométrio, observaram que estes são encontrados predominantemente nas células epiteliais glandulares e que a expressão de Bcl-2 é mais intensa na fase proliferativa do ciclo menstrual (9). A apoptose foi detectada no epitélio glandular nas fases secretora e menstrual, entretanto, muito pouco deste fenômeno pode ser observado nas fases proliferativa ou secretora inicial. Considerando-se a natureza cíclica da apoptose no endométrio, parece razoável supor que o estrogênio e a progesterona possam regular os fatores apoptóticos no endométrio. Alguns autores sugerem que os es- VOL. 101 No 6 13 Apoptose no endométrio humano e endometriose teroides ovarianos podem alterar a apoptose através da regulação da expressão dos oncogenes Bcl-2 e Bax. Bax no endométrio eutópico de 14 pacientes com endometriose e de 16 pacientes sem a doença. As amostras de endométrio foram coletadas através de curetagem com cureta de Novak e as células apoptóticas detectadas com o uso da técnica do TUNEL. A análise da expressão do Bcl-2 e Bax foi obtida através da realização da imuno-histoquímica. Observou-se que a apoptose no endométrio eutópico foi menos frequente nas pacientes com endometriose quando comparado ao grupo-controle — independente da fase do ciclo menstrual. Foi evidenciado aumento na expressão da proteína Bcl-2 na fase proliferativa do ciclo menstrual de mulheres com endometriose e houve aumento na expressão do Bax na fase secretora de ambos os grupos. Concluiu-se que as mulheres com endometriose apresentam menor número de células apoptóticas no tecido tópico e que a sobrevida anormal destas células pode resultar no seu crescimento em localizações ectópicas. Dmowski, em 2001, demonstrou que o índice apoptótico no epitélio glandular do endométrio foi significativamente menor nas pacientes com endometriose quando comparadas ao grupo-controle. Jones et al. (11) selecionaram 30 pacientes com diagnóstico de endometriose e 30 sem a doença e avaliaram a expressão do Bcl-2 e a apoptose no endométrio tópico de ambos os grupos. As células apoptóticas foram detectadas utilizando a técnica do TUNEL e a expressão do Bcl-2 foi demonstrada com utilização de imuno-histoquímica. Foi evidenciado que as células apoptóticas eram raras no tecido endometrial do grupo-controle e não foi identificada diferença entre esse grupo e o grupo de pacientes com endometriose. A expressão do Bcl-2 encontrava-se significativamente (p < 0,05) aumentada na fase secretora tardia do endométrio de pacientes com endometriose. Apoptose e endometriose Pontos-chave: > O endométrio eutópico e ectópico das pacientes portadoras de endometriose apresenta diferenças fundamentais em relação ao endométrio das mulheres sem a doença; > Dentre estas podemos observar as anomalias estruturais, componentes imunes, moléculas de aderencia; > Também enzimas proteolíticas e seus inibidores, produção de citocinas, expressão genética e produção proteica. 14 O endométrio eutópico e ectópico das pacientes portadoras de endometriose apresenta diferenças fundamentais em relação ao endométrio das mulheres sem a doença. Dentre estas podemos observar as anomalias estruturais, componentes imunes, moléculas de aderência, enzimas proteolíticas e seus inibidores, produção de citocinas, expressão genética e produção proteica (2). Essas alterações podem contribuir na sobrevivência das células advindas do fluxo menstrual retrógrado na cavidade abdominal e no desenvolvimento da endometriose. Um dos mecanismos que tem recebido grande atenção atualmente é a apoptose no endométrio eutópico e ectópico das pacientes portadoras de endometriose. McLaren et al. (4) analisaram o endométrio de 10 pacientes portadoras de endometriose e 10 pacientes sem endometriose para investigação da expressão do Bcl-2 e Bax. A obtenção da amostra do endométrio foi realizada através da dilatação do colo uterino com vela de Hegar no 8 e posterior curetagem. Foi observada maior expressão do Bcl-2 e Bax nas pacientes com endometriose. Gebel et al. (3) realizaram um estudo avaliando a apoptose em endométrio tópico de 20 mulheres, sendo 10 delas portadoras de endometriose e 10 do grupo controle. Foram incluídas pacientes submetidas à videolaparoscopia que apresentavam implantes endometriais exofíticos, das quais os fragmentos de endométrio foram obtidos utilizando-se cureta de Novak. A análise da apoptose foi realizada através da detecção de morte celular baseado em ELISA. Como resultado, demonstrou-se que a apoptose foi menos frequente nas pacientes portadoras de endometriose do que nas pacientes sem a doença. Essa relação se manteve mesmo após a estratificação da fase do ciclo menstrual. Com base nos resultados, os autores descreveram que há uma diminuição da suscetibilidade do endométrio à apoptose que pode contribuir para a etiopatogenia da doença. Meresman et al. (2) avaliaram e compararam a apoptose e a expressão do Bcl-2 e JBM Considerações finais A diminuição da ocorrência da apoptose pode resultar em sobrevivência anormal das células endometriais, sendo um dos fatores associados à patogênese da endometriose. NOVEMBRO/DEZEMBRO, 2013 VOL. 101 No 6 Apoptose no endométrio humano e endometriose Referências 1. Harada, T.; Kaponis, A. et al. — Apoptosis in human endometrium and endometriosis. Hum. Reprod. Update, 10: 29-38, 2004. 2. Meresman, F.G.; Vighi, S. et al. — Apoptosis and expression of Bcl-2 and Bax in eutopic endometrium from women with endometriosis. Fertil. Steril., 74: 760-6, 2000. 3. Gebel, M.H.; Braun, D.P. et al. — Spontaneous apoptosis of endometrial tissues impaired in women with endometriosis. Fertil. Steril., 69: 1042-7, 1998. 4. McLaren, J.; Prentice, A. et al. — Immunolocalization of the apoptosis regulating proteins Bcl-2 and Bax in human endometrium and isolated peritoneal fluid macrophages in endometriosis. Hum. Reprod., 12: 146-52, 1997. 5. Tao, X.J.; Sayegh, R.A. et al. — Elevated expression of the proapoptotic Bcl-2 family member, Bak, in the human endometrium coincident with apoptosis during the secretory phase of the cycle. Fertil. Steril., 70: 338-43, 1998. 6. Orazi, V.D.; Cosson, M. & Dufour, P. — Theories of endometriosis. Eur. J. Obstet. Gynecol. Reprod. Biol., 96: 21-34, 2001. 7. Timms, K.L. — Endometrial anomalies in women with endometriosis. Ann. N.Y. Acad. Sci., 943: 131-47, 2001. 8. O’Reilly, L.A. & Strasser, A. — Apoptosis and autoimmune disease. Inflamm. Res., 48: 5-21, 1999. 9. Gompel, A.; Sabourin, J.C. et al. — Bcl-2 expression in normal endometrium during the menstrual cycle. Am. J. Pathol., 6: 1195-202, 1994. 10. Silva, M.B. — Ultra-estrutura do endométrio de rata após castração: Autofagocitose e apoptose. Tese de Mestrado. Belo Horizonte, Faculdade de Medicina, UFMG, 1998. Obs.: As oito referências restantes que compõem este artigo se encontram na Redação, à disposição dos interessados. Endereço para correspondência: Marcos Mendonça Rua Gustavo Pena, 44 — 4o andar — Bairro Horto 31015-060 Belo Horizonte-MG mendoç[email protected] Consulte o DEF na internet O mais completo guia de medicamentos do país em versão on-line e com acesso gratuito www.def.com.br (área restrita a profissionais de saúde) • Mesmo conteúdo do DEF impresso • Busca por produtos, laboratórios, indicações terapêuticas, grupos farmacológicos e nomes químicos/ genéricos DEF Web – consulta fácil, dinâmica e atualizada. Um produto da Editora de Publicações Científicas Ltda. JBM NOVEMBRO/DEZEMBRO, 2013 VOL. 101 No 6 15 atualidades médicas Novas diretrizes para redução global do risco cardiovascular Circulation As doenças cardiovasculares (DCVs) constituem a principal causa de morbidade e mortalidade em todo o mundo. Em 12 de novembro de 2013, a American Heart Association (AHA) e o American College of Cardiology (ACC) publicaram, no periódico Circulation, novas diretrizes visando à redução do risco de DCVs, com foco em quatro aspectos principais: estimativa de risco cardiovascular, modificações de hábitos de vida, manejo da obesidade e manejo da dislipidemia, conforme resumido a seguir. Diretrizes da ACC/AHA para estimativa de risco cardiovascular A correlação entre fatores de risco específicos e a probabilidade de desenvolvimento de DCVs é um conceito bem estabelecido, de modo que a identificação e correção desses fatores é etapa fundamental na prevenção das DCVs. No artigo “2013 ACC/ AHA Guideline on the Assessment of Cardiovascular Risk”, Goff D.C. e colaboradores descrevem uma nova fórmula para predizer o risco, em 10 anos, de desenvolvimento de um primeiro evento aterosclerótico cardiovascular (infarto agudo do miocárdio não fatal, doença arterial coronária, acidente vascular encefálico fatal ou não). A equação inclui fatores como idade, sexo, etnia, nível plasmático de colesterol (total e LDL), valor da pressão arterial sistólica, tabagismo e perfil glicêmico, tendo sido elaborada especialmente para uso em indivíduos entre 40 e 79 anos de idade, brancos e negros não hispânicos. Características como histórico familiar de DCV, pressão arterial diastólica, doença renal crônica moderada ou grave e índice de massa corpórea (IMC) são descritas pelos autores como marcadores de risco adicional, mas que não auxiliaram significativamente na discriminação do risco em 10 anos. 16 Profa. Dra. Andréa F. Mendes Diretrizes do ACC/AHA para redução do risco de DCV com base em modificações nos hábitos de vida Hábitos de vida saudáveis constituem etapa fundamental na prevenção das DCVs, sendo esse aspecto também abordado nas novas diretrizes (“2013 ACC/AHA Guideline on Lifestyle Management to Reduce Cardiovascular Risk”). Redigidas por Eckel R.H. e colaboradores, têm como foco os efeitos da dieta e da atividade física na redução da pressão arterial e dos níveis plasmáticos de LDL-colesterol (LDL-col), consolidando e harmonizando recomendações já difundidas em diversas publicações prévias. Entre os principais pontos destacados está a recomendação de uma dieta rica em frutas, vegetais e fibras, além de derivados do leite com baixo teor de gordura. Como fontes de proteína para uma dieta saudável destacam-se peixe, legumes e frango; como fontes de gordura estão óleos vegetais e nozes. Adicionalmente, com o intuito de reduzir o LDL-col, apenas 5%-6% das calorias de uma dieta ideal devem ser provenientes de gordura saturada, com ênfase na importância de se minimizar a percentagem de gordura trans. Os autores lembram ainda das sólidas evidências de que a redução da ingesta de sódio em aproximadamente 1g/dia diminui o risco de eventos cardiovasculares em cerca de 30%. Assim, visando reduzir a pressão arterial, o consumo dietético diário de sódio não deve exceder 2,4g, se possível ficando abaixo de 1,5g. Diretrizes do ACC/AHA para manejo da obesidade A obesidade é, sem dúvida, um problema de saúde mundial: estima-se que mais da metade da população adulta apresente sobrepeso (IMC superior a 25kg/m2) ou obesidade (IMC superior a 30kg/m2). Diversos estudos comprovam que a obesidade eleva a morbidade e a mortalidade por diversas JBM causas, incluindo DCVs. Assim, Jensen M.D. e colaboradores revisaram aspectos importantes no diagnóstico e tratamento dessa condição, especialmente em indivíduos com outros fatores de risco de DCV e em diabéticos (“2013 AHA/ACC/TOS Guideline for the Management of Overweight and Obesity in Adults”). Os autores concluem que não há dieta ideal; entretanto, recomendam que indivíduos com sobrepeso ou obesidade sejam orientados a aderir a programa de reeducação alimentar com redução da ingesta calórica. A dieta deve ser prescrita por especialista em nutrição e indivualizada, respeitando preferências e o estado global de saúde de cada paciente; deve fazer parte de um programa global de modificações de hábitos de vida e ser mantida inicialmente por pelo menos seis meses. Diretrizes do ACC/AHA para manejo da dislipidemia As novas diretrizes do ACC/AHA abordam ainda o manejo das dislipidemias, trazendo novas recomendações com base em estudos randomizados e controlados que utilizam doses fixas de estatinas em populações de pacientes que apresentam risco elevado de DCV aterosclerótica (“2013 ACC/AHA Guideline on the Treatment of Blood Cholesterol to Reduce Atherosclerotic Cardiovascular Risk in Adults”). Assim, quando comparadas às diretrizes prévias, destaca-se que as atuais não mais utilizam níveis-alvo de LDL-col para guiar a terapia farmacológica. Stone N.J. e colaboradores identificaram quatro subgrupos de pacientes nos quais os benefícios da utilização de estatina são claramente superiores aos seus riscos, a saber: 1. pacientes com DCV aterosclerótica evidente do ponto de vista clínico; 2. pacientes com LDL-col ≥ 190mg/dl; 3. diabéticos com LDL-col ≥ 70mg/dl; 4. risco de DCV em 10 anos estimado como superior a 7,5% (conforme fórmula citada anteriormente), em indivíduos com LDL-col ≥ 70mg/dl. Para esses subgrupos, os autores recomendam terapia farmacológica de alta intensidade (atorvastatina 40-80mg/dia ou rosuvastatina 20-40mg/dia), visando reduzir em pelo menos 50% os valores plasmáticos de LDL-col. Naqueles com idade superior a 75 anos, em diabéticos com risco em 10 anos inferior a 7,5% e naqueles que não tolerarem essa forma de tratamento, deve-se optar pela terapia dita de intensidade moderada (atorvastatina 10-20mg/dia, rosuvastatina 5-10mg/ dia, sinvastatina 20-40mg/dia ou pravastatina 40-80mg/dia), visando reduzir o LDL-col em 30%-50%. Cabe lembrar que todos os pacientes que usam estatina devem ser monitorados quanto ao risco de lesão hepática e muscular, além de diabetes de início recente. NOVEMBRO/DEZEMBRO, 2013 VOL. 101 No 6 cardiologia Síncope vasovagal em criança com Wolff-Parkinson-White Maria Natividade Santos Costa Lopes Médica cardiologista do Prontocor/Hospital Anchieta — Taguatinga e Fundação Hemocentro de Brasília, DF. Cecílio Kassem Salamé Médico cardiologista do Prontocor/Hospital Anchieta e Hospital Regional de Taguatinga, DF. Camila Costa Oliveira Residente de Clínica Médica do Hospital Regional do Paranoá, DF. Resumo Summary Relatamos o caso de uma criança de nove anos de idade, com quadro de síncope há dois anos e eletrocardiograma revelando síndrome de Wolff-Parkinson-White (WPW). História familiar de irmã com síndrome vasovagal. A paciente foi submetida a estudo eletrofisiológico (EEF), para estratificação de risco e ablação da via anômala. Após a ablação, permaneceu com os mesmos sintomas que a fizeram procurar atendimento médico na primeira consulta, sendo então solicitado teste de inclinação (tilt test), que foi positivo para síndrome vasovagal do tipo mista. Conclui-se, portanto, que a causa dos desmaios foi a síndrome vasovagal, sendo as alterações eletrocardiográficas compatíveis com Wolff-Parkinson-White apenas um achado casual. Dois anos após a primeira consulta ela apresenta aumento dos intervalos entre os episódios de síncope. We report a case of a child nine years old, presented with syncope about two years, with electrocardiogram Wolff-Parkinson-White (WPW) and family history of a sister with vasovagal syndrome. The patient underwent electrophysiological study (EPS) for risk stratification and ablation of the anomalous pathway. After ablation remained with the same symptoms that caused her to seek medical attention at the first consultation, and then asked the tilt test, which was positive for mixed type of vasovagal syndrome. Therefore concluded to be the syncope’s cause, the vasovagal syndrome and electrocardiographic changes compatible with Wolff-Parkinson-White, being just an incidental finding. Two years after the first consultation, she finds with increase interval between episodes of syncope. Introdução As síncopes cardíacas podem manifestar-se em decorrência de disfunção miocárdica, obstrução anatômica ou funcional ao fluxo sanguíneo ou de distúrbio do ritmo cardíaco, com consequente comprometimento da perfusão cerebral (3). A presença de síndrome de Wolff-Parkinson-White (WPW) tem sido relatada em 0,1 a 3,0/1.000 em uma população aparentemente saudável. A incidência de síncope na síndrome de WPW tem sido relatada como de 19% a 36% nas populações dos estudos (5, 6). Em pacientes com síndrome de WPW a síncope é marcador de mau prognóstico. A ocorrência de fibrilação atrial com alta resposta ventricular deve ser considerada Síncope é a perda transitória da consciência e do tônus postural secundária à perfusão cerebral inadequada, com recuperação espontânea (1). Afeta em torno de 3% da população geral e 15% a 50% dos adolescentes têm ao menos um episódio (1). Os mecanismos desencadeantes são múltiplos, podendo variar de mais benignos, como as neuromediadas, até os de mortalidade (18% a 33%), aqueles associados às cardiopatias estruturais ou arritmias cardíacas (2). A causa mais comum de síncope é dita vasovagal, neurocardiogênica ou neuromediada, diagnosticada em 35% a 38% da população geral, tendo sido detalhada por Gowers em 1901 (1). JBM NOVEMBRO/DEZEMBRO, 2013 VOL. 101 No 6 Unitermos: Síncope; criança; síndrome vasovagal; Wolff-Parkinson-White. Keywords: Syncope; child; vasovagal syndrome; Wolff-Parkinson-White. 17 Síncope vasovagal em criança com Wolff-Parkinson-White como a mais provável causa responsável pelos episódios sincopais. No entanto, mecanismos fisiopatológicos autonômicos também podem estar envolvidos na gênese da síncope destes pacientes, neste caso com prognóstico favorável (3), como ocorreu com a paciente em questão. de onda delta (Figura 2). O ecocardiograma apresentava FE de 72%, câmaras cardíacas, valvas, aorta e pericárdio normais. Foi encaminhada ao serviço de arritmia de um hospital terciário, para estratificação de risco da WPW, sendo submetida a estudo eletrofisiológico (EEF), que foi compatível com via acessória lateral esquerda benigna de condução somente anterógrada. Realizada ablação da via anômala com sucesso e sem complicações, ficando o ECG de base normal (Figura 3). Após seis meses da ablação retornou ao ambulatório de Cardiologia, para controle, quando referiu os mesmos sintomas da primeira consulta, sendo então solicitado teste de inclinação, ou tilt test, que foi positivo para síndrome vasovagal do tipo mista, inicialmente vasodepressora e cardioinibitória tardiamente, com pré-síncope. Houve reprodução dos sintomas em relação ao episódio espontâneo (Figura 4). Recebeu alta com prescrição de atenolol, orientação para modificações do comportamento — como ingestão de líquidos e sal e eliminação de agentes ou comportamentos que possam causar hipotensão ou desidratação — e instruções para identificação dos sintomas precedentes aos desmaios, com o objetivo de interrompê-los. Relato do caso Pontos-chave: > Síncope é a perda transitória da consciência e do tônus postural secundária à perfusão cerebral inadequada; > Afeta em torno de 3% da população geral; > 15% a 50% dos adolescentes têm ao menos um episódio. 18 Paciente com nove anos de idade, do sexo feminino, estudante, natural e procedente do Distrito Federal, procurou o Serviço de Cardiologia de um hospital de Taguatinga, acompanhada da mãe, com queixa de desmaios, iniciados há aproximadamente dois anos. Os episódios eram precedidos de náuseas e tontura, e nos últimos meses vinham ocorrendo até três vezes por mês. Os desmaios, de curta duração, ocorriam sem perda de consciência. Não havia contrações tônico-clônicas, sialorreia ou relaxamento de esfíncteres. Aconteciam com mais frequência diante de ansiedade. A paciente não tinha antecedentes patológicos e negava uso de medicação. Fazia Educação Física no colégio duas vezes por semana e negava desmaios durante as aulas. Informou que uma irmã mais velha apresentava diagnóstico de síncope vasovagal. O exame físico foi normal. Realizou-se eletrocardiograma, que revelou intervalo PR curto (0,08seg), com retardo no início dos complexos QRS, devido à presença de onda delta, compatível com Wolff-Parkinson-White (Figura 1). O Holter de 24 horas mostrou ritmo sinusal com FV média de 100bpm, intervalo PR curto, complexos QRS alargados, presença de ondas delta, extrassístole supraventricular isolada (uma), pareada (uma) e taquicardias paroxísticas supraventriculares (quatro), com três e quatro batimentos, com FC variando de 100 a 128bpm, ausência de eventos ventriculares, alterações da repolarização ventricular secundárias ao complexo QRS resultante de um complexo de fusão (ativação ventricular nor- Figura 1: ECG à admissão — intervalo PR curto e empastamento mal e anormal) com presença no início do complexo QRS devido à presença da onda delta. JBM NOVEMBRO/DEZEMBRO, 2013 VOL. 101 No 6 Síncope vasovagal em criança com Wolff-Parkinson-White Figura 2: Holter de 24 horas mostrando taquicardias paroxísticas supraventriculares (TPSVs) (atriais) não sustentadas, intervalo PR curto e complexo QRS alargado com onda delta. Figura 3: ECG após ablação da via anômala. Intervalo PR normal e complexo QRS estreito, sem onda delta. Discussão A síncope em jovens geralmente é um evento benigno, mas deve ser feita uma avaliação cuidadosa, visando afastar causas com potencial risco de vida (1). Episódios isolados de síncope em indivíduos sem cardiopatia não requerem investigação diagnóstica, a menos que se apresentem sem pródromos, após exercícios, em atletas (ou outras profissões de risco) ou estejam relacionados a traumas físicos decorrentes de quedas. Em pacientes não cardiopatas, apesar do prognóstico bastante favorável, a recorrência frequente de síncope implica Figura 4: Tilt test, ou teste de inclinação, com gráfico mostrando em maior morbidade e comqueda da PA seguida da FC tardiamente. prometimento significativo da qualidade de vida. Por isso recomenda-se investigação diagnóstica Retornou 14 meses após a última consulnão invasiva ampla e detalhada (3). ta, relatando episódios de desmaios, com ligeiro espaçamento entre eles. EncontravaNa síncope vasovagal ou reflexa o meca-se sem medicação, já que não a havia tonismo fisiopatológico tem como via final colerado. mum o aumento da estimulação vagal sobre JBM NOVEMBRO/DEZEMBRO, 2013 VOL. 101 No 6 19 Síncope vasovagal em criança com Wolff-Parkinson-White Endereço para correspondência: Maria Natividade Santos Costa Lopes SHIN QI 02 — Conj. 04 — Cs. 16 — Lago Norte 75510-040 Brasília-DF [email protected] 20 o coração e a inibição do influxo simpático para o leito vascular. Vários sítios processam os estímulos deflagradores no organismo. Em algumas situações, como dor intensa, emoções fortes e flebotomia, a resposta vasovagal ocorre por estimulação de mecanismos hipotalâmicos. Em outras situações, o estímulo deflagrador parte de estruturas sensoriais localizadas no trato gastrointestinal, geniturinário, pulmões ou mesmo de alterações químicas resultantes de isquemia miocárdica (3, 4). Nas síncopes arrítmicas, episódios de bradicardia e de taquicardia podem provocar redução súbita do débito cardíaco, mas a síncope, entretanto, depende de outros fatores associados, como grau de disfunção ventricular e resposta vascular periférica à redução do débito cardíaco. Sabe-se que os pacientes com disfunção ventricular grave são mais sensíveis às flutuações da FC do que aqueles com função ventricular mais preservada (3). A síncope é manifestação clínica comum em pacientes com taquicardia paroxística supraventricular, quando em postura ortostática, pela ocorrência de fenômenos vasomotores reflexos e não propriamente pela magnitude da FC (3). No caso em questão, na avaliação clínica inicial foram encontrados, de positivo, ECG com WPW e história familiar de irmã portadora de síndrome vasovagal. A alteração eletrocardiográfica foi relevante para se pensar em causa cardíaca. O Holter de 24 horas apresentava taquicardia paroxística supraventricular não sustentada, porém sabemos que o sistema de monitorização com Holter de 24 horas tem demonstrado correlação de distúrbio do ritmo, com sintomas a esclarecer em menos de 5% dos casos de síncope. Não é considerado um método de eleição para diagnóstico de síncope inexplicada, e sim o loop event recorder, com duração de 30 dias, que possibilita esclarecer etiologias em aproximadamente 25% dos casos (4). Como o Serviço de Cardiologia deste hospital não dispunha de tal exame, foi utilizado o método de investigação com o Holter de 24 horas. Portanto, a investigação foi direcionada para a patologia mais grave, sendo então solicitado EEF para estratificação de risco e ablação de via anômala. Somente depois, na evolução sem melhora dos sintomas, voltou a se pensar na síncope vasovagal, causa mais frequente de desmaios entre os jovens, com solicitação do tilt test e confirmação da mesma, com reprodução dos sintomas das crises espontâneas. Podemos concluir que apesar de a taquiarritmia ser comum, podendo causar sintomas de tontura e síncope, é importante pensarmos em síndrome vasovagal para explicarmos uma síncope em paciente jovem, com ECG de síndrome de Wolff-Parkinson-White, já que o achado eletrocardiográfico pode ser uma coincidência, e o tratamento deve ser direcionado sempre para a correção da causa mais provável. Referências 14. LOPES, M.N.; SALAMÉ, C.K. et al. — Síncope neurocardiogênica maligna em uma mulher. Brasília Med., 44(2): 146-51, 2007. 15. NUNES, R.R.; CAVALCANTE, S.L. et al. — Avaliação pré-operatória: Conduta em paciente com síndrome de WPW. Relato de caso. Rev. Bras. Anestesiol. 49(2): 115-7, 1999. 16. GANDHI, N.M. & BENNETT, D.H. — Malignant vasovagal syndrome in two patients with Wolff-Parkinson-White. Syndrome Regional Cardiothoracic Centre, Wythenshawe [internet]. Acessado em 26/08/2010. Disponível em: www.ncbi.nlm.nih.gov. Journal List Heart, 90(4): Apr 2004. 11. SILVA, L.B.M.S. — Síncope em adolescentes. Rev. Soc. Card. Rio Grande do Sul [internet] ano XIII no 01, 2004. Acessado em 31/08/2010. Disponível em: sociedades.cardiol.br/sbc-rs/revista/2004/01/artigo11.pdf-similares. 12. HABIB, R.G.; MOREIRA, D.A.R. et al. — Síncope [internet]. Acessado em 31/08/2010. Disponível em: http://artigos. netsaber.com.br/resumo_artigo_1852/artigo_sobre_sincope. 13. HACHUL, D. — Diagnóstico diferencial e abordagem clínica da síncope. [internet]. Acessado em 31/08/2010. Disponível em: http://www.cibersaude.com.br/revista.asp?id_ materia=906&fase=imprime. JBM NOVEMBRO/DEZEMBRO, 2013 VOL. 101 No 6 pneumologia Dificuldades no diagnóstico diferencial entre mesotelioma pleural e adenocarcinoma metastático para pleura patológica Beltrão Paiva Castello Branco Médico pneumologista do Complexo Hospitalar Clementino Fraga — João Pessoa, PB. Fernando Antonio Carvalho Médico cirurgião torácico do Hospital Napoleão Laureano — João Pessoa, PB. Francisco de Assis Paiva Médico infectologista do Complexo Hospitalar Clementino Fraga — João Pessoa, PB. Igor Torres Castello Branco Técnico em Radiologia do Complexo Hospitalar Clementino Fraga — João Pessoa, PB. Resumo Summary As dificuldades diagnósticas entre mesotelioma pleural e adenocarcinoma metastático na pleura exigem estudo amplo. Os autores ilustram um caso clínico cujo diagnóstico só foi estabelecido após realização de toracotomia, com retirada de material para análise imuno-histoquímica. A diferenciação diagnóstica é de fundamental importância, uma vez que envolvem conduta terapêutica e prognóstico distintos. O estudo adequado deve utilizar material obtido através de toracoscopia ou toracotomia e empregar coloração imuno-histoquímica, estudos com anticorpos monoclonais, microscopia eletrônica e pesquisa de marcadores tumorais. The diagnosis difficulties distinguishing mesothelioma from pleural metastatic adenocarcinoma request wide study. The authors illustrate a clinical case whose diagnosis was only established after thoracotomy removing material for immune-histochemical analysis. The diagnosis differentiating is very important, because involves distinct treatment and prognosis. The appropriate study should use material obtained through thoracoscopy or thoracotomy and submitted to immune-histochemical coloration, studies with monoclonal antibodies, electronic microscopy and research of tumor makers. Introdução mão é o mais frequente, seguido do carcinoma de mama; os carcinomas de ovário e estômago também podem estar relacionados, e menos frequentemente o carcinoma de endométrio ou do colo uterino, carcinoma de cólon, tumor de pâncreas e tumor de bexiga. O tumor primário não é encontrado em aproximadamente 6% dos pacientes com derrame pleural neoplásico metastático. O adenocarcinoma é considerado atualmente o tipo histológico de câncer pulmonar mais comum, mais frequente em mulheres e menos relacionado ao tabagismo, tendo localização periférica em 75% dos casos. No momento do diagnóstico, em torno de 15% dos pacientes apresentam derrame pleural, aumentando para 50% durante a evolução da doença. A dificuldade de se diferenciar o mesotelioma de pleura do adenocarcinoma metastático para pleura é histórica. Antes de 1931 não existia o termo mesotelioma. Nesse período, Klempere e Rabim propuseram essa denominação para algumas das neoplasias pleurais. Em 1942, Stout e Murray documentaram a origem dos mesoteliomas relacionados às células mesoteliais da pleura. Mccaughey, em 1958, foi quem primeiro classificou os mesoteliomas da pleura. Sua correlação com o asbesto foi feita finalmente por Wagner, em 1960. O adenocarcinoma metastático pleural pode-se originar de diferentes sítios primários. Dentre eles, o adenocarcinoma de pul- JBM NOVEMBRO/DEZEMBRO, 2013 VOL. 101 No 6 Unitermos: Mesotelioma; adenocarcinoma metastático pleural; diagnóstico; imuno-histoquímica. Keywords: Mesothelioma; pleural metastatic adenocarcinoma; diagnosis; immunohistochemical. 21 Dificuldades no diagnóstico diferencial entre mesotelioma pleural e adenocarcinoma metastático para pleura patológica Pontos-chave: > O quadro clínico do mesotelioma é o mesmo do derrame pleural; > Inclui dor torácica ventilatório-dependente, dispneia, tosse seca; > Posteriormente, perda de peso ou sinais de invasão de estruturas vizinhas, como diafragma, traqueia, esôfago, veia cava superior e nervo laríngeo recorrente. 22 Segundo fontes do U.S. National Cancer Institute Statistic Branch, a incidência dos mesoteliomas em 1973 era de 0,5 caso/100 mil habitantes, saltando atualmente para 1,9 caso/100 mil habitantes; isto se deve à expansão explosiva da indústria e ao uso crescente de asbesto nas décadas de 60 e 70. Altman, em 1981, refere que o mesotelioma acomete mais os homens (na proporção de 3:1) com idades entre 50 e 70 anos. Os alvos de maior risco são os trabalhadores expostos ao asbesto, como os da construção de navios, refrigeradores de ar e aquecedores. Relata também o que ele chama de exposição paraocupacional — pessoas que moram na mesma casa ou vizinhança dos trabalhadores expostos ao asbesto. Outros possíveis fatores associados ao desenvolvimento do mesotelioma são: infecção viral (simian vírus-40), radioterapia, pleurodese com determinados talcos e inalação de outras fibras orgânicas (p. ex.: erionita). O quadro clínico do mesotelioma é o mesmo do derrame pleural: dor torácica ventilatório-dependente, dispneia, tosse seca; posteriormente, perda de peso ou sinais de invasão de estruturas vizinhas, como diafragma, traqueia, esôfago, veia cava superior e nervo laríngeo recorrente. No adenocarcinoma metastático pleural o quadro clínico também consiste de derrame pleural, além de manifestações específicas do seu sítio primário tumoral. Com relação aos exames, no mesotelioma pleural a radiografia de tórax lembra a de um derrame pleural septado. A tomografia computadorizada de tórax é um exame de excelente sensibilidade (88%) e de moderada especificidade (69%). Como achados mais frequentes são descritos: espessamento pleural irregular, às vezes nodular; espessamento da cissura interlobar; decréscimo do volume do hemitórax acometido; fixação precoce do mediastino; nódulos ou massas pleurais. A ressonância magnética é muito útil no estadiamento, no que se refere à invasão de mediastino, parede torácica ou diafragma. Um exame considerado excelente na diferenciação de lesões benignas e malignas, principalmente quando negativo, é o PET-SCAM. Sua sensibilidade pode alcançar 91% e a especificidade, 100%. Por conta da dificuldade diagnóstica, uma série de exames laboratoriais vem sendo utilizada para esse fim. Embora o diagnóstico de JBM malignidade possa ser obtido por esfregaço citológico ou biopsia por agulha da pleura, esses procedimentos, em geral, não podem distinguir entre adenocarcinoma metastático e mesotelioma, sendo necessários processos mais invasivos para fornecer maior amostra de tecido. A toracoscopia é o procedimento de escolha, porque a exibição diagnóstica é semelhante à da toracotomia aberta, mas o processo é menos invasivo. Relato do caso Identificação G.P.S., 65 anos de idade, sexo masculino, casado, brasileiro, pedreiro. Natural de João Pessoa (PB) e morador de Santa Rita há 30 anos. Paciente melanodérmico, tabagista, e tossígono crônico. Relato O paciente, tabagista, consumidor de 25 maços/ano, com diagnóstico de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), apresentou, quatro meses antes, dor do tipo “fisgada” em região mamária direita, acompanhada do aparecimento de massa tumoral local. Admitido em setembro de 2002, para investigação diagnóstica. Ao exame físico encontrava-se lúcido, orientado no tempo e no espaço, em bom estado geral, taquipneico (FR: 26ipm), normotenso (PA: 130 x 80mmHg), com frequência cardíaca de 90bpm, afebril (Tax: 36ºC), hipocorado 2+/4+; ausência de adenomegalias periféricas e de baqueteamento digital; tórax com massa palpável e de consistência pétrea, aderida aos planos profundos, sem sinais flogísticos, medindo aproximadamente 6cm no seu maior diâmetro, localizada na região mamária direita; aparelho respiratório: expansibilidade, mobilidade e frêmito toracovocal diminuídos na base do pulmão direito, maciez à percussão e murmúrio vesicular diminuído na região mamária direita. Restante do exame sem alteração. Na investigação do caso clínico foram realizados: 1. Telerradiografia do tórax: Presença de lesão lítica de 4o e 5o arcos costais anteriores, hiperinsuflação pulmonar, imagem de hipotransparência homogênea de bordos bem definidos, justapleural, medindo aproximadamente 6cm no seu maior diâmetro, localizada predominantemente no terço médio do hemitórax direito (Figuras 1a e 1b). NOVEMBRO/DEZEMBRO, 2013 VOL. 101 No 6 Dificuldades no diagnóstico diferencial entre mesotelioma pleural e adenocarcinoma metastático para pleura patológica 5. Tomografia computadorizada do tórax: Tumor de parede costal à direita invadindo o 5o arco costal (destruindo-o); pleura e pulmão adjacentes de aproximadamente 6,5cm de diâmetro (Figuras 2a, 2b e 2c). Figura 2a: Tomografia do tórax, visão panorâmica: tumor de aproximadamente 6,5cm de diâmetro, no terço médio do hemitórax direito. Figura 2b: Tomografia do tórax, janela de mediastino: tumor invadindo o 5o arco costal, pleura e pulmão adjacentes. Figuras 1a e 1b: Radiografias do tórax em PA e perfil, respectivamente: hipotransparência justapleural localizada no terço médio do hemitórax direito. 2.Hemograma: Anemia hipocrômica e microcítica. Hematócrito: 32%; hemoglobina: 10,5g/dl; ferro sérico: 50mg/dl; capacidade de combinação de transferrina: 172mg/dl; leucograma e coagulograma normais. 3. Eletrocardiograma: Ritmo sinusal, SÂQRS entre 0º e 30º e ausência de bloqueios ou arritmias. 4. Provas de função respiratória: A espirometria revelou obstrução pura de grau acentuado (VEF1/CVF: 46% do teórico previsto) com prova broncodilatadora negativa, e gasometria arterial em ar ambiente com hipoxemia moderada (PaO2: 63mmHg). JBM Figura 2c: Tomografia do tórax, janela para pulmão: tumor invadindo o 5o arco costal, pleura e pulmão adjacentes. 6. Aspirado de massa tumoral: Neoplasia maligna sugerindo mesotelioma, não sendo possível afastar adenocarcinoma ou sarcoma. A citologia não lembra plasmocitoma. NOVEMBRO/DEZEMBRO, 2013 VOL. 101 No 6 23 Dificuldades no diagnóstico diferencial entre mesotelioma pleural e adenocarcinoma metastático para pleura patológica Embora o estudo citológico não possa assegurar a distinção entre os dois tipos patológicos, alguns aspectos são sugestivos: agregação papilar, multinuclear, com atipia e aposição célula a célula no mesotelioma; estruturas acinoides e vacuolização em balão no adenocarcinoma. O corante ácido periódico de Schiff é o método histoquímico mais confiável. Através dele, a presença de vacúolo fortemente positivo estabelece eficazmente o diagnóstico de adenocarcinoma, embora nem todos os adenocarcinomas assumam essa coloração. Normalmente, o adenocarcinoma brônquico não exige estudo imuno-histoquímico, exceto nos casos em que é necessário diferenciá-lo do adenocarcinoma metastático e do mesotelioma pleural. Os adenocarcinomas geralmente apresentam citoqueratinas de alto e baixo peso molecular, porém de baixo valor para diferenciação de mesotelioma; são positivos também para EMA (antígeno de membrana epitelial), CEA (antígeno carcinoembrionário) e B72.3. Aproximadamente um quarto dos adenocarcinomas brônquicos apresenta vimentina, e dois terços são positivos para componente secretório. A análise imuno-histoquímica do fluido pleural inclui os marcadores tumorais CEA, Leu-M1 e CYFRA 21-1. Se o CEA e o Leu-M1 forem positivos, indicam adenocarcinoma; caso contrário, sugerem mesotelioma. Altos níveis de CYFRA 21-1 com baixos níveis de CEA sugerem mesotelioma. A pesquisa de marcadores tumorais no sangue periférico ajuda a elucidar o diagnóstico. A presença de CEA sérico elevado é sugestiva de adenocarcinoma; já a existência de CA-125 sugere adenocarcinoma seroso do ovário; e a presença de CA 15-3 é indicativa de adenocarcinoma intraductal da mama. A microscopia eletrônica é também eficaz para diferenciar os mesoteliomas e adenocarcinomas metastáticos. Os mesoteliomas apresentam características quase diagnósticas: ausência de radículas centrais nas microvilosidades, de corpúsculos glicocaliceais e grânulos secretórios, presença de desmossomos intracelulares, de complexos juncionais abundantes, de lumes intracitoplasmáticos e de numerosas microvilosidades características. O aspecto das microvilosidades é fator importante para diferenciar os tipos histológicos em questão. No meso- 7.Broncofibroscopia: Sem lesão intracanalicular visível. Lavado broncoalveolar negativo para tuberculose, actinomicose, fungos e células malignas. 8.Biopsia de massa tumoral: Mesotelioma bifásico. 9. Antígeno carcinoembriônico sérico (CEA): 32ng (normal: 0-25ng). Pontos-chave: > O adenocarcinoma brônquico não exige estudo imuno-histoquímico; > Exceto nos casos em que é necessário diferenciá-lo do adenocarcinoma metastático e do mesotelioma pleural; > Os adenocarcinomas geralmente apresentam citoqueratinas de alto e baixo peso molecular, porém de baixo valor para diferenciação de mesotelioma. 24 Após a biopsia houve drenagem de material serossanguinolento em grande quantidade, com sinais inflamatórios exuberantes. Fez uso de antibioticoterapia (cefalotina durante 14 dias), evoluindo com melhora dos sinais inflamatórios, porém com persistência da drenagem espontânea. Foi colhida amostra desse material para estudo, que evidenciou a presença de raras células neoplásicas malignas. Em virtude dos resultados encontrados, optou-se por toracotomia diagnóstica e terapêutica (com finalidade higiênica). Descrição da intervenção cirúrgica: presença de tumoração de parede torácica com invasão do músculo peitoral menor e de parte do músculo peitoral maior; aderência do tumor ao pulmão (lobo médio), porém o mesmo se encontrava contido pela pleura; aderência em ápice; presença de nódulo em lobo inferior, de aproximadamente 1,5cm de diâmetro. Foram realizadas toracotomia anterior (reconstrução com tela de Marlex) e exérese do nódulo do lobo inferior direito. Evoluiu no pós-operatório com pneumotórax hipertensivo e parada cardiorrespiratória, não responsiva às manobras clássicas de reanimação. O estudo histopatológico das peças cirúrgicas (nódulos de pulmão, tumor de parede torácica, costelas, músculos, tecido celular subcutâneo e pele) revelou adenocarcinoma moderadamente diferenciado. Foi realizado estudo imuno-histoquímico com CEA, que foi positivo. Discussão Este relato de caso corrobora a literatura a respeito da eventual dificuldade diagnóstica entre mesotelioma e adenocarcinoma metastático pleural. A confirmação diagnóstica deve empregar coloração imuno-histoquímica, estudos com anticorpos monoclonais, microscopia eletrônica e a pesquisa de marcadores tumorais. No estudo do fluido pleural a concentração elevada de hialuronato sugere fortemente mesotelioma. JBM NOVEMBRO/DEZEMBRO, 2013 VOL. 101 No 6 Dificuldades no diagnóstico diferencial entre mesotelioma pleural e adenocarcinoma metastático para pleura patológica telioma essas são numerosas, finas e longas, enquanto no adenocarcinoma são menos frequentes, curtas e grossas. Apesar de todo o avanço na imuno-histoquímica e na microscopia eletrônica, cerca de 5% a 10% dos casos de mesotelioma só são esclarecidos em autópsia. Esta permite amostra de tecido pulmonar suficiente e distante das margens do tumor para evidenciar exposição ao asbesto, visando demonstrar tipos e extensão das fibras. Essa diferenciação diagnóstica é de fundamental importância para se definir a conduta terapêutica e estabelecer o prognóstico. O adenocarcinoma metastático é sinal de estágio avançado da doença, sendo o tratamento, portanto, paliativo. No entanto, apresenta melhor sobrevida, quando comparado ao mesotelioma. O mesotelioma parece ter no tratamento cirúrgico a tentativa de cura, através de ressecções amplas. Estudos têm sido realiza- dos com a associação de quimioterapia ou radioterapia, porém a sobrevida média no mesotelioma é entre seis e 18 meses, e não é influenciada pelas intervenções terapêuticas. Referências 7. STERMAN, D.H.; KAISER, L. & ALBELDA, S.M. — Advances in the treatment of malignant pleural mesothelioma. Chest, 116: 504-20, 1999. 8. STERMAN, D.H.; LITZKY, L.A. et al. — Clinical presentation and staging of malignant mesothelioma. Up To Date, 2003. 9. STERMAN, D.H.; LITZKY, L.A. et al. — Epidemiology and pathology of malignant mesothelioma. Up To Date, 2003. 10. PINHEIRO, B.V. & OLIVEIRA J.R., J.C.A.A. — Doenças da pleura. 11. COLBY, T.V.; KOSS, M.N. & TRAVIS, W.D. — Tumors of the lower respiratory tract. In: Atlas of tumor pathology. 3. ed., Armed Registry of Pathology, 1995. 12. BATTIFORA, H. & MACCAUGHEY, W.T. — Tumors of the serosal membranes. In: Atlas of tumor pathology. 3. ed., Washington D.C., Armed Forces Institute of Pathology, 1995. 1. SILVA, L.C.C. — Condutas em Pneumologia. Rio de Janeiro, Revinter, 2001. 2. TARANTINO, A.B. — Doenças pulmonares. 5. ed., Rio de Janeiro, Guanabara-Koogan, 2002. 3. LIGHT, R. — Mesoteliomas malignos e benignos. In: Light, R. — Doenças da pleura. 3. ed., Rio de Janeiro, Revinter, 2001. p. 158-71. 4. HIERHOLZER, J.; LUO, L. & BITTNER, R.C. — MRI and CT in the differential diagnosis of pleural disease. Chest, 3(118): 604-9, 2000. 5. BOYLAN, A.M. — Mesothelioma: New concepts in diagnosis and management. Curr. Opin. Pulm. Med., 2(6): 157-63, 2000. 6. GARCIA-PACHON, E. & PAGANUZZI, M. — Tumor markers for diagnosing malignant pleural effusion. Chest, 1(121): 302-3, 2002. JBM Conclusão O trabalho relata um típico caso de dificuldade diagnóstica, no qual o aspirado da massa tumoral sugeriu mesotelioma pleural, porém o estudo histopatológico e imuno-histoquímico revelou adenocarcinoma em pulmão e pleura. De acordo com Light (3), a pesquisa citológica não pode assegurar a distinção entre os dois tipos patológicos, e a confirmação diagnóstica deve empregar imuno-histoquímica, estudos com anticorpos monoclonais, microscopia eletrônica e pesquisa de marcadores tumorais em adequada amostra de tecido, obtida por toracotomia aberta ou toracoscopia. Apesar do emprego de tais técnicas, 5% a 10% dos casos de mesotelioma são esclarecidos apenas em autópsia. NOVEMBRO/DEZEMBRO, 2013 VOL. 101 No 6 Endereço para correspondência: Beltrão Paiva Castello Branco Av. Maranhão, 200/Apto. 103 58030-260 João Pessoa-PB 25 panorama internacional Estenose de carótida NEJM Paciente do sexo feminino, 53 anos de idade, tabagista e hipertensa, busca atendimento médico referindo hemiparestesia à direita, de curta duração. Informa ainda, seis meses antes, quadro súbito de afasia e hemiparesia à direita, que regrediu espontaneamente em menos de 48 horas. Foi submetida à avaliação cardiológica, sem evidência de anormalidades. Realizou angiografia por tomografia computadorizada (TC), que demonstrou estenose de 70% da artéria carótida interna esquerda, distalmente à sua bifurcação; à ressonância magnética (RM) havia área de infarto frontotemporal à esquerda, sem hemorragia ou edema cerebral. Com base na descrição desse caso clínico, Grotta J. (Carotid Stenosis. N. Engl. J. Med. 2013;369:1143-50) discute aspectos relacionados ao manejo apropriado da estenose de carótida (EC), condição responsável por cerca de 10%-20% dos casos de acidente vascular encefálico (AVE) isquêmico. A placa aterosclerótica localizada na artéria carótida é o principal fator envolvido na patogênese da doença, seja através de embolia distal para ramos de artérias cerebrais ou retinianas, seja por reduzir significativamente o lúmen vascular, levando ao comprometimento da perfusão encefálica. O autor lembra ainda que cerca de 70%-90% dos pacientes com redução significativa do lúmen arterial apresentam sopro carotídeo ao exame físico (apesar de ser um sinal inespecífico da EC) e que o grau de estenose constitui-se no principal fator prognóstico que determina o risco de AVE. A realização de anamnese detalhada revela que cerca de 50% dos pacientes que sofrem AVE relacionado à EC têm sintomas prévios compatíveis com ataque isquêmico transitório (AIT). Assim, todo paciente que tenha sofrido AIT deve ser submetido a testes não invasivos que permitam diagnosticar a EC — a exemplo de ultrassonografia de carótidas 26 Profa. Dra. Andréa F. Mendes com Doppler colorido, associada à angiografia por TC ou RM —, visando minimizar o risco de AVE. Tais testes costumam ser suficientes para orientar a conduta terapêutica; em alguns casos a angiografia cerebral por cateter pode ser necessária para fornecer informações adicionais sobre a anatomia vascular. Em relação ao tratamento da EC, o autor destaca que é fundamental corrigir possíveis fatores de risco de aterosclerose, em especial hipertensão arterial, dislipidemia e tabagismo. A angioplastia da carótida é uma alternativa terapêutica à endarterectomia, devendo ser considerada principalmente em pacientes com alto risco cirúrgico. Finalmente, cabe lembrar do papel da prescrição de antiagregante plaquetário (aspirina, clopidogrel), considerando a prevenção secundária do AVE em longo prazo e a redução da mortalidade em pacientes submetidos à endarterectomia ou colocação de stent. Obesidade Ann. Intern. Med. A obesidade é um problema de saúde mundial, amplamente estudado e debatido nos dias atuais. Frequentemente associa-se a um perfil característico de alterações metabólicas — diabetes, dislipidemia e hipertensão arterial —, que colocam o indivíduo sob maior risco de eventos cardiovasculares e de óbito. Entretanto, na prática clínica, frequentemente são encontrados pacientes que, apesar de obesos, não apresentam qualquer outra alteração clínica ou laboratorial que revele comprometimento do perfil metabólico. Uma meta-análise recente, incluindo mais de 60 mil adultos, buscou responder à seguinte pergunta: a obesidade pode ser considerada condição benigna, quando em indivíduos metabolicamente saudáveis? A resposta a essa pergunta parece ser “não”, conforme os resultados do estudo, publicado no periódico Annals of Internal Medicine (Are Metabolically Healthy Overweight and Obesity Benign ConJBM ditions? A Systematic Review and Meta-analysis. Ann. Intern. Med. 2013;159(11):758-769). Kramer C.K. e colaboradores consideraram como metabolicamente saudáveis aqueles pacientes que não preencheram critérios compatíveis com a síndrome metabólica, essa última caracterizada pela presença de pelo menos três dos seguintes, conforme o ATP III: aumento da circunferência abdominal, hipertrigliceridemia, hipertensão arterial, LDL-colesterol baixo, hiperglicemia. Em quatro dos oito estudos avaliados, nos quais o período de acompanhamento foi superior a 10 anos, verificou-se que, no grupo de indivíduos com alterações do perfil metabólico, tanto os pacientes com índice de massa corpórea (IMC) normal quanto aqueles com sobrepeso ou obesidade apresentaram risco aumentado. Icterícia neonatal NEJM A icterícia neonatal (hiperbilirrubinemia indireta) é uma condição clínica que acomete cerca de 85% dos recém-natos (RNs), sendo as formas graves mais frequentemente observadas em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento. Tal fato deve-se principalmente ao diagnóstico tardio ou inadequado, seja da própria elevação plasmática da bilirrubina indireta (BI), seja das condições clínicas que favorecem a hiperbilirrubinemia grave — sepse neonatal, isoimunização Rh, deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase, por exemplo. Apesar de tratar-se de condição frequentemente benigna e transitória, em uma pequena proporção de RNs a icterícia neonatal cursa com risco direto de lesão cerebral grave, com encefalopatia que pode progredir para o kernicterus. Nesses casos há impregnação de BI em áreas específicas do sistema nervoso central (SNC), possibilitando o surgimento de distúrbios motores extrapiramidais (distonia, coreia, atetose), perda auditiva e paresia oculomotora. Cabe lembrar que prematuridade e baixo peso ao nascer são importantes fatores preditores de pior prognóstico. Estudos têm avaliado a eficácia de agentes farmacológicos que podem se tornar futuras opções terapêuticas, atuando por mecanismos diversos: redução da produção de bilirrubina (inibidores da heme oxigenase), aumento do clearance de bilirrubina (como os fenobarbitúricos, que aumentam o processo de conjugação) ou neuroproteção, com mecanismo de ação direcionado a reduzir os efeitos adversos da BI no SNC (minociclina). NOVEMBRO/DEZEMBRO, 2013 VOL. 101 No 3 hematologia Hemocromatose hereditária Willian Cassuriaga Aymone Vanessa Valiati Acadêmicos do curso de Medicina da Universidade Católica de Pelotas (UCPEL). Maria da Graça de Faria Santos Resem Professora titular das disciplinas de Bioquímica Médica e Bioquímica I das escolas de Saúde e Farmácia da UCPEL. William Peres Doutor em Ciências Biológicas pela Universidade de León, Espanha. Professor adjunto das disciplinas de Bioquímica Médica e Bioquímica II das escolas de Ciências Ambientais, Farmácia e de Saúde da UCPEL. Resumo Summary Introdução expressão da doença são modificadas por fatores ambientais, incluindo perda ou doação de sangue, uso de álcool, dieta e contração de infecções, como hepatite viral (5). A hemocromatose tipo 1 consiste na mutação do gene HFE no braço curto do cromossomo 6, perto do lócus HLA (27). Este gene codifica uma molécula semelhante ao HLA classe I que regula a absorção intestinal de ferro da dieta (13). Desde a descoberta do gene HFE, duas mutações nesse gene foram descritas, e são responsáveis pela maioria dos casos de HH: a C282Y e a H63D (19, 24). No estado homozigótico de HH, ambos os alelos do cromossomo 6 possuem a mutação C282Y; já no estado heterozigótico, um cromossomo possui a mutação C282Y e outro, a mutação H63D. De acordo a maioria dos estudos, os indivíduos homozigotos (C282Y/C282Y) representam 90% dos pacientes com hemocro- A hemocromatose é um distúrbio autossômico recessivo ou dominante que ocorre devido ao aumento inapropriado da absorção de ferro pela mucosa gastrointestinal, resultando no armazenamento excessivo desse elemento no fígado, pâncreas, coração, articulações e gônadas. Afeta a população caucasiana, com prevalência de até um em 200 descendentes da população nórdica ou celta. O diagnóstico se faz por critérios clínicos, bioquímicos (ferritina, saturação da transferrina, etc.), genéticos e por imagem (ressonância magnética, tomografia e ultrassom). A hemocromatose hereditária (HH) é um distúrbio autossômico, geralmente recessivo e bastante comum (14, 30). Transmitida de pais para filhos, ocorre devido ao aumento inapropriado da absorção de ferro pela mucosa gastrointestinal, resultando em um armazenamento excessivo desse elemento, com posterior dano estrutural e funcional, no fígado, pâncreas, coração, nas articulações, nas gônadas e em outros órgãos (11, 22). Afeta a população caucasiana, com prevalência que alcança até um em 200 descendentes da população nórdica e celta (24). A hemocromatose é mais comum em homens do que em mulheres (5 a 7:1). Nas mulheres a apresentação clínica é ligeiramente mais precoce, devido à perda fisiológica de ferro (menstruação, gravidez), que retarda a acumulação deste elemento (13). A acumulação de ferro e a JBM Hemochromatosis is a disorder autosomal recessive or dominant that occurs inappropriate due to the increased absorption of iron by the gastrointestinal mucosa resulting in excessive storage of this element in the liver, pancreas, heart, joints and gonads. It affects the caucasian population with a prevalence reaching up to 1 in 200 people descendants of the population nordic or celtic. The diagnosis is made by clinical criteria, biochemical (ferritin, transferrin saturation of and so on), genetic and by image (magnetic resonance, tomography and ultrasound). NOVEMBRO/DEZEMBRO, 2013 VOL. 101 No 6 Unitermos: Hemocromatose; sobrecarga de ferro. Keywords: Hemochromatosis; iron overload. 27 Hemocromatose hereditária matose, enquanto que os heterozigotos (C282Y/H63D) representam em torno de 3% a 5% dos casos (19, 24). Esta revisão teve como objetivo apresentar a epidemiologia, fatores de risco, manifestações clínicas, diagnóstico e tratamento da hemocromatose. Quanto à metodologia, o trabalho baseou-se na revisão da literatura sobre hemocromatose hereditária nas bases de dados da Pubmed, Highwire Press e Scielo. Fontes adicionais de dados incluem os sites do Centers for Disease Control and Prevention (CDC) e Online Mendelian Inheritance in Man (OMIM). De acordo com o CDC (6), se um indivíduo apresenta hemocromatose, a probabilidade de seu irmão ou irmã ter duas mutações no gene HFE é de um em quatro (25%), e a probabilidade de os filhos desse indivíduo portador de hemocromatose apresentarem essa mutação é de um em 20 (5%). pela formação de radicais hidroxila tóxicos (9). A sobrecarga desse elemento leva à disfunção dos linfócitos NK (natural killer), à diminuição da citotoxicidade dos neutrófilos e muda a proporção de linfócitos T CD4 (helper) e T CD8 (linfócitos killer) (9). Deve-se pensar na importância de algumas proteínas responsáveis pela homeostasia (19) do ferro no organismo humano e suas respectivas funções imunológicas: a transferrina (transportador de ferro), presente nos monócitos/macrófagos e linfócitos T, necessária para a diferenciação precoce das células T; o receptor 1 da transferrina (captação celular de ferro), que promove a captação de ferro por ativação dos linfócitos necessários para a síntese de DNA e divisão celular dos linfócitos T; a ferritina (armazenamento de ferro), sintetizada por macrófagos e linfócitos T. Acredita-se que os linfócitos poderiam facilmente mobilizar o compartimento de armazenamento de ferro no organismo, protegendo-o da toxicidade produzida pelo excesso de ferro (19). Recentemente foi descoberto o gene da hepcidina — um regulador responsável pela absorção e pela liberação de ferro e pelos macrófagos (8, 23, 26). A hepcidina é sintetizada no fígado quando se necessita de ferro devido a mudanças que ocorrem no corpo, como na anemia, na hipoxia e na inflamação, quando é então secretada na circulação (23). Importância do ferro e seu papel na doença Pontos-chave: > De acordo com o CDC, se um indivíduo apresenta hemocromatose, a probabilidade de seu irmão ou irmã ter duas mutações no gene HFE é de um em quatro; 28 Normalmente, a quantidade de ferro no organismo é estável, oscilando de 4g a 5g. Nos pacientes sintomáticos a regulação de absorção intestinal de ferro está perdida, levando à acumulação líquida de ferro de 0,5g a 1g por ano (13, 22). Essa doença geralmente se manifesta após os 40 anos de idade quando houve um acúmulo de ferro igual ou superior a 20g. O ferro em excesso é tóxico para os tecidos do hospedeiro (pois produz o radical hidroxila [•OH], que causa danos às membranas celulares, às proteínas e ao DNA) pelas seguintes razões (13, 22): > E a probabilidade de os filhos desse indivíduo portador de hemocromatose apresentarem essa mutação é de um em 20 (5%); 1. Peroxidação lipídica por meio de reação de radicais livres catalisados pelo ferro. 2. Estimulação de formação de colágeno, promovendo, desta maneira, fibrose progressiva dos órgãos parenquimatosos, como fígado, pâncreas e coração. 3. Interação de espécies de oxigênio reativo e do próprio ferro com o DNA, levando à lesão letal ou a predisposição ao carcinoma hepatocelular. > Nos pacientes sintomáticos a regulação de absorção intestinal de ferro está perdida, levando à acumulação líquida de ferro de 0,5g a 1g por ano. O ferro é essencial para a eritropoese, sendo um componente ativo de muitas enzimas relevantes para o crescimento e a função de outras células dinâmicas, tais como as do sistema imunológico (9). Está envolvido no percurso imune de neutrófilos e macrófagos, JBM Classificação A base de dados OMIM (17) lista quatro tipos de HH causados por uma sequência de variações envolvendo diferentes genes (8, 17). A Tabela 1 mostra essa divisão e os achados mais importantes. A hemocromatose dos tipos 1, 2 e 3 envolve uma deficiência sistemática de hepcidina (4), cujo gene é fundamental na homeostasia do ferro, e a sua disrupção resulta em hemocromatose (19). O padrão de herança da hemocromatose dos tipos 1, 2 e 3 é autossômico recessivo, enquanto que o do tipo 4 é autossômico dominante (20). Fatores de risco e manifestações clínicas Os principais fatores de risco, de acordo com o CDC (6), são: 1. Pessoas que herdam a mutação do gene HFE de ambos os pais apresentam maior risco de desenvolvimento da doença. NOVEMBRO/DEZEMBRO, 2013 VOL. 101 No 6 Hemocromatose hereditária TABELA 1: Principais tipos de hemocromatose e achados mais importantes Tipo e lócus cromossômico envolvido Observações Achados importantes Hemocromatose tipo 1 (6p21.3-6p22.1) Representa mais de 90% dos casos de hemocromatose, está associada ao gene HFE e afeta apenas a população caucasiana, principalmente masculina Clínicos: Os sintomas começam após a 4a década. Fadiga crônica, dores nas articulações, impotência, infertilidade, diabetes, pigmentação da pele, cirrose hepática e arritmias Bioquímicos: Aumento do ferro sérico, da saturação da transferrina (ST) e da ferritina sérica Morfológicos: Sobrecarga de ferro (Fe) nos hepatócitos Hemocromatose tipo 2 “juvenil” (19q13) e (1q21) Ambos os sexos são igualmente afetados a. Resulta de mutação no gene hepcidina (tipo 2A)¹ b. Resulta de mutação no gene hemojuvelina (tipo 2B)² ¹ Gene HAMP ² Gene HJV Clínicos: Os sintomas começam após a primeira década. Dor abdominal, hipogonadismo, arritmias cardíacas, insuficiência cardíaca intratável e diminuição da tolerância à glicose Bioquímicos: Aumento do ferro sérico, da ST e ferritina. Morfológicos: Sobrecarga de ferro no fígado, coração, glândulas endócrinas e músculo esquelético Hemocromatose tipo 3 (7q22) Mutação do receptor 2 da transferrina no gene (TFR2); clinicamente imita a hemocromatose tipo 1 Clínicos, bioquímicos e morfológicos: Semelhantes à hemocromatose tipo 1 Hemocromatose tipo 4 (2q32) A doença da ferroportina resulta de mutação do gene da ferroportina (SLC40A1), e subdivide-se em: Subtipo “A”: Caracterizado por baixa saturação da transferrina e deposição de ferro nos macrófagos Subtipo “B”: Mimetiza a hemocromatose tipo 1 com alta saturação da transferrina e deposição de ferro nos hepatócitos Clínicos: Os sintomas são comparáveis aos da hemocromatose tipo 1 e apresentam anemia precoce. Bioquímicos: Aumento significativo da ferritina sérica, com ligeiro aumento da ST Morfológicos: Sobrecarga de ferro predominantemente nas células reticuloendoteliais Obs.: A hemocromatose dos tipos 2, 3 e 4 não está relacionada ao gene HFE. Fonte: Adaptação a partir de Brissot (4), Robson (20) e Swinkels (23). Embora tanto os homens como as mulheres possam herdar esse gene defeituoso, a probabilidade de ser diagnosticada HH nos homens é maior do que nas mulheres. 2. Fator étnico: pessoas brancas descendentes do norte europeu (p. ex.: famílias da Inglaterra, Irlanda, Escócia, Dinamarca, França e Escandinávia) apresentam maior probabilidade de mutação do gene HFE. 3. História familiar: pessoas com parentes próximos (avós, mãe, pai, irmão, sobrinha, sobrinho) com hemocromatose têm maior probabilidade de apresentar mutação no gene HFE. O início da doença é insidioso, e seus sintomas são muito inespecíficos. Entre eles se destacam: fadiga, letargia, astenia, perda de peso, encurtamento da respiração, artralgias, perda da libido ou impotência sexual entre os homens e amenorreia entre as mulheres (24). A doença pode finalmente levar à hiperpigmentação da pele, artrite, diabetes mellitus, dor abdominal crônica, fadiga graJBM ve, hipotireoidismo, cardiomiopatia, cirrose hepática, carcinoma hepatocelular ou a risco aumentado de certas infecções bacterianas, principalmente por Yersinia enterocolitica, Vibrio vulnificus, Listeria monocytogenes e Pasteurella pseudotuberculosis. Acredita-se que isso ocorra por disfunção dos linfócitos NK e dos macrófagos (11, 14). O fígado é um dos primeiros órgãos afetados (11). Aproximadamente 95% dos pacientes sintomáticos apresentam hepatomegalia, que precede o desenvolvimento de sintomas ou alterações dos testes de função hepática, como, por exemplo, a AST e a ALT (22). A atividade dessas aminotransferases tem sido anormal em 65%-75% dos estudos clínicos de pacientes com hemocromatose (1). A hepatomegalia pode evoluir para esteatose hepática, fibrose, cirrose e carcinoma hepatocelular. A dor abdominal é o sintoma mais frequente (entre 10% e 50%) (22) em pacientes cirróticos com HH (11). Geralmente possui caráter crônico e localiza-se na região epi- NOVEMBRO/DEZEMBRO, 2013 VOL. 101 No 6 O início da doença é insidioso, e seus sintomas são muito inespecíficos. Entre eles se destacam: fadiga, letargia, astenia, perda de peso, encurtamento da respiração, artralgias, perda da libido ou impotência sexual entre os homens e amenorreia entre as mulheres. 29 Hemocromatose hereditária Pontos-chave: > O diabetes mellitus é um dos maiores distúrbios endócrinos associados à HH; > Desenvolve-se em 30% a 60% dos portadores dessa doença e piora bastante o prognóstico; > Acredita-se que a sobrecarga de ferro (Fe) no fígado leve à resistência à insulina e ao acúmulo de Fe nas células beta pancreáticas, resultando em danos celulares e diminuição da secreção de insulina. 30 gástrica ou no hipocôndrio direito. Sua ocorrência pode ser devido à hepatomegalia e à distensão da cápsula hepática (22). A cirrose hepática é um dos principais fatores etiológicos para o surgimento do carcinoma hepatocelular (CH) (27), sendo que a incidência anual desse tipo de carcinoma em doentes com cirrose hepática é de 3%-5% (2). O câncer hepático é uma complicação frequente nos pacientes com HH, nos quais o carcinoma hepatocelular primário (200 vezes) é mais comum, desenvolvendo-se mais frequentemente em fígado cirrótico (7, 11). O alcoolismo crônico e o fumo são fatores de risco muito importantes para o desenvolvimento de CH (7, 11). No entanto, existem alguns casos de carcinoma hepatocelular em pacientes com HH sem cirrose e observa-se aumento na frequência de colangiocarcinoma (7, 11). O aumento de melanina e de ferro na pele leva à hiperpigmentação em 27%-85% dos doentes. Ocorre na maioria dos pacientes sintomáticos e geralmente está ausente nos estágios mais precoces da doença (11, 22). Em geral, a pigmentação é difusa e generalizada, porém pode ser mais pronunciada na face, pescoço, dorso da mão, nos antebraços, pernas, região genital e nas cicatrizes (11, 22). Também podem ocorrer perda de cabelo, atrofia da pele e distrofia das unhas (11, 22). O diabetes mellitus é um dos maiores distúrbios endócrinos associados à HH. Desenvolve-se em 30% a 60% dos portadores dessa doença e piora bastante o prognóstico (11, 14). Acredita-se que a sobrecarga de ferro (Fe) no fígado leve à resistência à insulina e ao acúmulo de Fe nas células beta pancreáticas, resultando em danos celulares e diminuição da secreção de insulina (10). No estágio “pré-cirrótico”, aproximadamente 20% dos pacientes demonstram hiperglicemia, e sua prevalência aumenta para mais de 70% na presença de cirrose (10). Depois do diabetes mellitus, o hipogonadismo hipogonadotrópico (deficiência de gonadotropina por deposição de ferro na glândula pituitária ou em nível hipotalâmico) é a endocrinopatia mais frequente associada com HH, apresentando prevalência que varia entre 10% e 100% dos casos (11, 16). Em estudo realizado por McDermott & Walsh (16), com 141 homens com hipogonadismo, níveis anormalmente baixos de testosterona com LH e FSH baixos foram observados em 6,4% dos pacientes, 89% apresentavam cirroJBM se associada e 33% tinham diabetes; das 38 mulheres analisadas, 5,2% possuíam níveis inapropriados de FSH e LH. Perda da libido e atrofia testicular são comuns em pacientes sintomáticos, com impotência associada em mais de 35% dos homens e amenorreia em 15% das mulheres (16). As anormalidades cardíacas mais clássicas são a insuficiência cardíaca global (2% a 35% dos casos) e as arritmias cardíacas (7% a 36% dos casos) (11, 14). Anormalidades do ECG (mudanças no segmento ST-T) estão presentes em mais de 35% dos pacientes sintomáticos (11, 14). As arritmias incluem extrassístoles ventriculares, taquicardias supraventriculares e ventriculares, fibrilação ventricular e podem ocorrer vários graus de bloqueio (14, 22). As artropatias são encontradas em 20% a 70% dos pacientes sintomáticos (14). A característica da artropatia hemocromatótica é o envolvimento do segundo e terceiro ossos metacarpais, que frequentemente estão rígidos, dolorosos e associados a pequenos cistos com osteófitos em forma de gancho, que se desenvolvem na cabeça dos ossos metacarpais (15). Um achado frequente é a deposição de pirofosfato de cálcio com condrocalcinose (14, 15, 22), acometendo 36% a 72% dos casos. Essa deposição afeta principalmente os punhos, os joelhos, os quadris, a sínfise púbica (15) e as articulações intervertebrais. Embora o envolvimento seja simétrico, pode ser apenas unilateral (22). A condrocalcinose ocorre principalmente nos meniscos e na cartilagem articular, e é radiologicamente semelhante à osteoartrite degenerativa (14). As artropatias não estão associadas à extensão ou à duração da sobrecarga de ferro e podem surgir ou se agravar mesmo após a remoção do excesso dos estoques férricos (22). São degenerativas, em vez de inflamatórias (a taxa de sedimentação eritrocitária é tipicamente normal), e podem levar a uma extensa destruição da articulação, sendo que um terço dos pacientes cujos quadris são afetados requerem substituição da articulação (15). Diagnóstico Deve-se estar atento à “regra dos três As” tanto para homens quanto para mulheres, em qualquer idade na vida adulta, quando os mesmos apresentarem astenia NOVEMBRO/DEZEMBRO, 2013 VOL. 101 No 6 Hemocromatose hereditária TABELA 2: População-alvo para o screening da hemocromatose Pacientes sintomáticos Pacientes assintomáticos • Manifestações inexplicáveis de doença hepática ou uma causa conhecida de doença hepática com alteração dos exames indiretos de ferro (ST e ferritina sérica) • Diabetes mellitus tipo 2 com hepatomegalia, elevação das enzimas hepáticas, doença cardíaca atípica ou disfunção sexual precoce • Artropatia atípica precoce, cardiopatia e disfunção sexual masculina • Parentes de primeiro grau de pacientes com HH • Alteração dos exames indiretos de ferro descoberta em exames de rotina • Elevações inexplicáveis de enzimas hepáticas ou hepatomegalia assintomática ou aumento da atenuação do fígado em tomografia computadorizada Fonte: Adaptação a partir de Tavill, 2001. crônica imotivada e/ou artralgia e/ou aminotransferases (ALT ou AST) aumentadas sem motivo aparente, geralmente acima de três vezes o limite superior de normalidade. Estes fatores são significativos, e nos levam a suspeitar de HH (22). De acordo com Tavill (24), o diagnóstico da HH é baseado no aumento das concentrações hepáticas de ferro > 1,9, associadas ao aumento dos níveis séricos de ferritina e da ST, e ambos avaliam alterações no metabolismo do ferro. A Tabela 2 mostra a população-alvo para o screening da hemocromatose. De fato, a ST é o primeiro parâmetro alterado e o mais barato e fácil de mensurar; é utilizado usualmente no screening dos pacientes com HH (8), além de ser o teste mais sensível para avaliação de acúmulo de ferro no corpo (8). Na literatura, o ponto de corte mais aceito para diagnóstico de HH é de 45% ou superior (8). Quando o valor da ST exceder em 50% para mulheres e 60% para homens, ele apresenta sensibilidade de 92%, especificidade de 93% e valor preditivo positivo de 86% para o diagnóstico de HH (24). As concentrações de ferritina sérica que refletem a sobrecarga de ferro em níveis > 200mg/l em mulheres e > 300mg/l em homens são consideradas patológicas. Além disso, a ferritina tem um valor preditivo no que diz respeito à possível existência de danos hepáticos; na verdade, quando o valor for superior a 1.000mg/l, a presença de fibrose hepática é considerada extremamente provável (8). De acordo com Pietrangelo (18), o padrão-ouro para o diagnóstico de HH tem sido a quantificação de ferro hepático e a observação histológica da distribuição de ferro. Isto implica em biopsia hepática, com aumento dos riscos de morbimortalidade. Com o aparecimento da bioquímica e dos testes genéticos, pode-se evitar a biopsia na grande maioria dos casos. A mortalidade da biopsia hepática vaJBM ria de 0,01% a 0,1%, e o risco de hemorragia é de 0,3% (12). No entanto, quando os valores de ferritina sérica forem superiores a 1.000ng/ ml e/ou na presença de aumento das transaminases ou hepatomegalia, o exame histológico é necessário para avaliar a extensão dos danos e das doenças hepáticas (18). Souza et al. (22) afirmam que a biopsia hepática é um método clássico que confirma o diagnóstico de HH nos indivíduos cujos testes bioquímicos e achados clínicos apontem para sobrecarga de ferro. Esse tipo de biopsia é essencial para: 1. confirmar a sobrecarga férrica; 2. identificar o padrão característico de distribuição periportal e hepatocítica dos depósitos de ferro; 3. promover avaliação semiquantitativa do excesso de ferro; 4. identificar a presença de fibrose ou cirrose; e 5. detectar lesões pré-malignas potenciais, como, por exemplo, focos livres de depósitos de ferro. Além disso, a doença também pode ser definida genotipicamente pela ocorrência familiar de sobrecarga de ferro, principalmente naqueles indivíduos homozigotos para o gene C282Y ou heterozigotos para o gene C282Y/H63D no caso da hemocromatose tipo 1, que é a mais prevalente (4, 24). O teste de DNA para HH em populações de alto risco tem validade e utilidade clínica (25). A ressonância magnética pode ser utilizada para detectar o aumento de ferro nos tecidos, particularmente no fígado (18). Apesar deste método não ser invasivo e auxiliar na detecção de fibrose hepática (21), apresenta baixa sensibilidade (18, 22) para o diagnóstico quando as concentrações desse metal não forem muito elevadas (22). A propriedade paramagnética da hemossiderina e da ferritina permite que se utilize um dispositivo supercondutor com interferência quântica (SQUID) para medir a suscetibilidade magnética do fígado, e correlaciona com NOVEMBRO/DEZEMBRO, 2013 VOL. 101 No 6 A ressonância magnética pode ser utilizada para detectar o aumento de ferro nos tecidos, particularmente no fígado. Apesar deste método não ser invasivo e auxiliar na detecção de fibrose hepática, apresenta baixa sensibilidade para o diagnóstico quando as concentrações desse metal não forem muito elevadas. 31 Hemocromatose hereditária a concentração hepática de ferro (18). A estimativa da concentração hepática de ferro pode também ser feita pela tomografia computadorizada (22). Nos pacientes com cirrose e carcinoma hepatocelular concomitante indica-se também screening semestral com ultrassom e AFP (α-fetoproteína) (14). O reconhecimento e o diagnóstico precoces objetivam minimizar a progressão e as complicações da hemocromatose. As maiores causas de morte por essa doença são cirrose descompensada, carcinoma hepatocelular, diabetes mellitus e miocardiopatia (24). tipo 4 não toleram um regime semanal de flebotomia e se tornam rapidamente anêmicos, apesar da elevação persistente dos níveis de ferritina. Nesses casos, indica-se um regime menos agressivo e a utilização de eritropoetina, que pode melhorar a tolerância hematológica à terapia (8). O Quadro explica melhor esse tipo de terapia e os principais cuidados a serem tomados em relação à flebotomia. Quando a flebotomia não é viável (como, por exemplo, nos casos de anemia, disfunção cardíaca avançada ou cirrose hepática), a deferoxamina — um agente quelante de ferro — pode ser utilizada com sucesso (8). No entanto, devido à sua má absorção gastrointestinal e meia-vida curta, ela deve ser administrada por via subcutânea (20-40mg/kg/dia) por infusão contínua (8-10h), ou duas vezes ao dia pela mesma via, por meio de injeção em bolo, tornando-se mais tolerada pelos pacientes (8). Além disso, existem complicações potenciais com o uso crônico da deferoxamina, tais como infecções por Yersinia sp., lesões retinianas e de nervo acústico (22). Deve ser encorajada uma dieta rica em proteínas, vitamina B12 e folato, pois acelera a eritropoese que é intensificada com a sangria terapêutica (12). Existem dois quelantes orais: a deferiprona, que não foi aprovada com abordagem terapêutica, pois apresenta um efeito colateral significativo (a agranulocitose), evidenciando risco muito maior quando comparada com a flebotomia. O deferasirox, que foi recentemente aprovado, não apresenta tantos efeitos colaterais em longo prazo, e pode ser uma terapia substitutiva da flebotomia em alguns casos (4). Tratamento Pontos-chave: > Uma dieta balanceada é usualmente suficiente para os pacientes com HH; > Eles devem evitar principalmente os suplementos com vitamina C; > Porque aumentam a absorção intestinal de ferro e potencializam a atividade de agentes pró-oxidantes e radicais livres. 32 Uma dieta balanceada é usualmente suficiente para os pacientes com HH, os quais devem evitar principalmente os suplementos com vitamina C (4, 22, 24), porque aumentam a absorção intestinal de ferro (22) e potencializam a atividade de agentes pró-oxidantes e radicais livres (24), podendo ser responsáveis por casos letais e raros de insuficiência cardíaca (4). Evitar alimentos com alto teor de ferro, como carne vermelha e bife de fígado (22); certos frutos do mar, como ostras cruas, as quais podem causar infecções fatais geradas por sua contaminação com Vibrio vulnificus (14, 22); também evitar bebidas que contenham álcool, porque podem acelerar danos hepáticos (22). A flebotomia, ou “sangria” terapêutica, é o tratamento mais seguro, eficaz e econômico para a HH (8, 29, 30). Deve-se enfatizar aos pacientes que a terapia deve começar antes que se desenvolvam danos irreversíveis aos órgãos (8), principalmente antes de apresentar diabetes e/ou cirrose, o que significa uma redução significativa da morbimortalidade (24, 28). Os pacientes com hemocromatose QUADRO: Flebotomia e cuidados a serem tomados • A flebotomia periódica deve remover em torno de 500ml de sangue, contendo de 200 a 250mg de ferro; semanalmente ou quinzenalmente, dependendo da tolerância de cada paciente (menor em idosos), com duração de alguns meses até dois a três anos, conforme a precocidade do diagnóstico e do tratamento, até que os estoques em excesso de ferro sejam esgotados • Verificar o valor do hematócrito (Ht) antes de cada flebotomia, sendo que o Ht não deve cair mais que 20% do nível anterior • Verificar o nível da ferritina sérica a cada 10 ou 12 flebotomias • Parar a flebotomia quando a ferritina sérica cair abaixo de 50ng/ml • A hemoglobina deverá ser dosada antes de cada sangria, situando-se em torno de 11g/dl, sem tendência a se elevar de imediato com a suspensão do tratamento • Continuar a flebotomia em intervalos, para manter os níveis de ferritina entre 25 e 50ng/ml Fonte: Adaptação a partir de Tavill (24) e Souza et al. (22). JBM NOVEMBRO/DEZEMBRO, 2013 VOL. 101 No 6 Hemocromatose hereditária O transplante hepático ortotópico (OLT) é o tratamento de preferência em muitos pacientes com estágio terminal de doença hepática, embora para a HH seja uma indicação incomum (3). No entanto, a taxa de sobrevivência nesse tipo de paciente é menor, quando comparada à de outras doenças que requeiram o OLT (24). A maioria das mortes ocorre no período peroperatório, por complicações cardíacas ou relacionadas a infecções (24). Conforme Limdi & Cramptom (14), o principal motivo que leva à morte nos estados de sobrecarga de ferro, como no caso da HH, são as arritmias cardíacas e miocardiopatias. Assim, é necessário preocupar-se com o tratamento de algumas das consequências dessa doença, como, por exemplo, o diabetes, que requer insulina e um tratamento apropriado para as complicações macro e microvasculares; a artrite, que deve ser tratada com uma simples analgesia; e o hipogonadismo hipogonadotrópico, que, por sua vez, necessita de reposição hormonal. Referências em http://www.cdc.gov/ncbddd/hemochromatosis. Acessado em 06/12/2007. 17. DEUGNIER, Y. & TURLIN, B. — Pathology of hepatic iron overload. World J. Gastroenterol., 13(35): 4755-60, 2007. 18. FRANCHINI, M. — Hereditary iron overload: Update on pathophysiology, diagnosis, and treatment. Am. J. Hematol., 81: 202-9, 2006. 19. GASCHE, C.; LOMER, M.C.E. et al. — Iron, anaemia, and inflammatory bowel diseases. Gut, 53: 1190-7, 2004. 10. HAHN, J.U.; STEINER, M. et al. — Evaluation of a diagnostic algorithm for hereditary hemochromatosis in 3,500 patients with diabetes. Diabetes Care, 29(2): 464-6, 2006. 11. BHAVNANI, M.; LLOYD, D. et al. — Screening for genetic haemochromatosis in blood samples with raised alanine aminotransferase. Gut, 46: 707-10, 2000. 12. BOIGE, V.; CASTÉR, L. et al. — Lack of association between HFE gene mutations and hepatocellular carcinoma in patients with cirrhosis. Gut, 52: 1178-81, 2003. 13. BRANDHAGEN, D.J. — Liver transplantation for hereditary hemochromatosis. Liver Transplantation, 7: 663-72, 2001. 14. BRISSOT, P. & BELS, F. — Current approaches to the management of hemochromatosis. Hematology, p. 36-41, 2006. 15. CALONGE, N.; PETITTI, D.B. et al. — Screening for hemochromatosis: Recommendation statement. Ann. Intern. Med., 145: 204-8, 2006. 16.CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION (CDC) — Iron overload and hemochromatosis. Disponível Conclusão A HH é um distúrbio genético cujo diagnóstico se faz por critérios clínicos, bioquímicos, genéticos e por imagem. O reconhecimento e o diagnóstico precoces são importantes, pois minimizam a progressão e as complicações futuras dessa doença. A flebotomia, a deferoxamina, a deferiprona e o deferasirox são as opções terapêuticas atualmente existentes. Obs.: As 20 referências que compõem este artigo se encontram na Redação à disposição dos interessados. Endereço para correspondência: Willian Cassuriaga Aymone Rua São Paulo, 125/Ap. 502 — Borgo 95700-000 Bento Gonçalves-RS [email protected] www.def.com.br Consulta fácil, dinâmica e atualizada. Um produto da Editora de Publicações Científicas Ltda. JBM NOVEMBRO/DEZEMBRO, 2013 VOL. 101 No 6 33 traumatologia Tratamento não cirúrgico do traumatismo renal contuso Olival Cirilo Lucena da Fonseca Neto Consultor em Cirurgia do Trauma e Emergência do Hospital da Restauração, Recife, PE. Rômulo Vasconcelos Cirurgião geral e urologista — Hospital da Restauração. Resumo Summary Os rins são os órgãos do trato geniturinário (TGU) mais acometidos por traumas acidentais. Excluindo-se os pacientes com indicação de cirurgia imediata, todos os demais deverão ser submetidos a um correto estadiamento da lesão renal, visando instituir a terapêutica adequada e como fator de prognóstico da sua doença. The kidney is the most commonly injured urologic organ and may be treated success fully without operative intervention. Blunt renal trauma continues to promote discussion in trauma and urology circles. Renal exploration is reserved for those patients who become unstable or who develop complications. Introdução (1, 2, 3) Conceitos gerais (4, 5, 6, 7) O tratamento expectante (não cirúrgico) do traumatismo renal contuso tem sido a conduta internacionalmente mais aceita na abordagem inicial desta doença. O momento ideal para a instituição de medidas cirúrgicas é ainda ponto controverso e objetivo de diversos estudos em centros mundiais. A instituição deste paradigma em Urologia e Cirurgia do Trauma tem proporcionado aos profissionais de saúde consequências e complicações relativamente novas e exigido dos centros de saúde especializados a disponibilização de tecnologias capazes de tratar adequadamente estes pacientes. Diversos estudos internacionais objetivaram descrever as complicações decorrentes do tratamento não cirúrgico do traumatismo renal contuso e as técnicas terapêuticas instituídas para estes casos, que podem variar da expectação à nefrectomia em casos raros. Tais estudos baseiam-se principalmente na opinião de especialistas e em estudos retrospectivos em instituições isoladas. Fonte de financiamento: não há. Conflito de interesse: não declarado. JBM O traumatismo renal é uma entidade urológica decorrente da ação de forças físicas que atuam sobre este órgão por tempo, intensidade e extensão variáveis, tendo como consequência histológica primordial a lesão micro ou macroscópica dos diversos elementos renais. A conclusão destes fenômenos biofísicos pode resultar desde manifestações clínico-laboratoriais imperceptíveis até a perda do órgão, e eles poderão se manifestar de imediato ou anos após o evento original. Topograficamente são classificados como aberto (penetrante) ou fechado (contuso), quando há comunicação com o meio externo ou não. A presença de anomalias anatômicas congênitas ou adquiridas torna o rim mais suscetível aos mecanismos do trauma. Os rins são os órgãos do trato geniturinário (TGU) mais acometidos por forças externas acidentais. Sua lesão representa 3% dos traumatismos em geral e até 50% dos abdominais (90% no tipo fechado e 14% no aberto). A mortalidade decorrente exclusivamente da lesão renal é estimada em 1%-4%. De acordo com a American Association for The Surgery of Trauma (AAST), estadia-se o trauma renal, segundo a gravidade, em graus de I a V. Este tem sido até hoje o fator NOVEMBRO/DEZEMBRO, 2013 VOL. 101 No 6 Unitermos: Trauma, rim; complicação; tratamento. Keywords: Trauma; kidney; complication; treatment. 35 Tratamento não cirúrgico do traumatismo renal contuso lesões de alto grau (III/IV e mesmo V). Instabilidade hemodinâmica e associação com lesão de outras vísceras intra-abdominais têm sido relatadas como as principais causas de indicação cirúrgica imediata ou precoce em vítimas de traumatismo renal. A abordagem mediana e o controle do pedículo renal primordialmente ao tratamento da lesão per se vêm sendo orientados como técnica cirúrgica ideal e segura. de prognóstico e orientação terapêutica mais importante no manuseio desses pacientes (ver Tabela). Estadiamento e tratamento (8, 9) Excluindo-se os pacientes com indicação de cirurgia imediata (como aqueles com choque hipovolêmico grave decorrente de hemorragias intracavitárias), todos os demais deverão ser submetidos a um correto estadiamento da lesão renal, visando instituir a terapêutica adequada e como fator de prognóstico da sua doença. Diversos exames estão disponíveis para a detecção da evolução do acometimento dos rins, mas a tomografia computadorizada (TC) com contraste endovenoso proporciona correta avaliação da perfusão, da situação do parênquima e do extravasamento do contraste, além do sistema coletor e hematomas perirrenais. Permite ainda uma avaliação conjunta de outras vísceras abdominais maciças. Considerando a associação do trauma renal com o de outros órgãos intra-abdominais entre 13% e 34% das agressões fechadas do abdome, a TC desponta como método de escolha para tais situações. Excetuando-se os pacientes com indicação cirúrgica imediata, o tratamento do trauma renal pode variar de uma conduta expectante à nefrectomia. Ao considerarmos a lesão contusa, que representa até 90% das modalidades de agressões externas dos rins, o tratamento não cirúrgico tem sido extensamente relatado na literatura internacional como primeira opção, mesmo ao considerarmos as Diversas complicações têm sido descritas quando instituído o tratamento conservador do traumatismo renal. Apesar do advento desta conduta em todo o mundo, houve pequeno incremento no número de publicações abordando o tema, que pode estar presente em até 5% dos casos. Não existem dados precisos quanto à incidência de cada complicação esperada ou mesmo descrições de quais as mais comuns. Dentre estes casos, a hematúria persistente é a mais comumente descrita, bem como seu tratamento. Em geral, deriva do surgimento de um pseudoaneurisma traumático intrarrenal, com consequente ruptura de sua parede e comunicação com o sistema coletor. Pode ser responsável por hematúrias graves, com risco de vida quando não tratadas, e surgir até 30 dias após o evento traumático. Atualmente a microembolização arteriográfica da lesão arterial pode levar à cura em 70%-80% dos casos. Tardiamente poderá causar hipertensão ou, mais precocemente, perda da função renal. Pontos-chave: TABELA: Escala de gravidade de lesão de órgãos da AAST para o rim > Diversos exames estão disponíveis para a detecção da evolução do acometimento dos rins; Grau Tipo I Contusão Hematoma Hematúria micro ou macroscópica, estudos urológicos normais Subcapsular, não expansível, sem laceração do parênquima II Hematoma Laceração Não expansível, perirrenal, confinado ao retroperitônio < 1cm de profundidade do parênquima, sem extravasamento urinário III Laceração < 1cm de profundidade do parênquima, sem ruptura do sistema coletor ou extravasamento urinário IV Laceração Parenquimatosa estendendo-se além do córtex, medula e sistema coletor V Vascular Laceração Vascular Hemorragia da artéria ou veia renal contida Destruição completa do rim (shattered kidney) Avulsão do hilo renal, desvascularização do rim > A tomografia computadorizada (TC) com contraste endovenoso proporciona correta avaliação da perfusão; > Permite ainda uma avaliação conjunta de outras vísceras abdominais maciças. 36 Complicações do tratamento conservador (10, 11) Descrição JBM NOVEMBRO/DEZEMBRO, 2013 VOL. 101 No 6 Tratamento não cirúrgico do traumatismo renal contuso A infecção de coleções perirrenais (hematomas ou urinomas) e de tecidos desvitalizados poderá acarretar quadros sépticos intracavitários. Está presente em até 4% dos casos. A orientação de antibioticoprofilaxia imediata na presença destas coleções ou de desvitalização extensa de tecidos renais poderá prevenir esta situação. Ao evidenciar o abscesso formado, a drenagem percutânea (e opcionalmente a instalação de cateterização ureteral na vigência de urinomas) poderá resolver a complicação. Urinomas extensos poderão ser evidenciados até seis meses após o evento traumático. A perda da função renal (total ou parcial) é observada como consequência do próprio trauma ao parênquima renal (estando diretamente relacionada ao grau da lesão) ou devido aos tratamentos instituídos e complicações que possam surgir. Referências 1. AL-QUDAH, H.S. & SANTUCCI, R.A. — Complications of renal trauma. Urol. Clin. North Am., 33(1): 41-53, 2006. 2. ALSIKAFI, N.F. & ROSENSTEIN, D.I. — Staging, evaluation, and nonoperative management of renal injuries. Urol. Clin. North Am., 33(1): 13-9, 2006. 3. BURNEI, G.; GRIGOREAN, V.T. et al. — Renovascular hypertension: Symptoms and signs. Clinical study on 20 patients. Chirurgia, 103(3): 301-7, 2008. 4. CHEDID, A.; LE COZ, S. et al. — Blunt renal trauma-induced hypertension: Prevalence, presentation, and outcome. Am. J. Hypertens., 19(5): 500-4, 2006. 5. DELGADO, F.J.O.; BONILLO, M.A.G. et al. — Conservative approach in major renal trauma. Actas Urol. Esp., 31(2): 132-9, 2007. 6. DINKEL, H.P.; DANUSER, H. & TRILLER, J. — Blunt renal trauma: Minimally invasive management with microcatheter JBM A hipertensão secundária ao trauma renal representa menos de 1% das complicações, podendo surgir de alguns dias a 15 anos após o evento. Deriva de uma secreção exacerbada de renina pelo rim acometido. Poderá regredir espontaneamente ou ser resolvida definitivamente com a nefrectomia. Finalmente, a nefrectomia surge como opção de tratamento quando ocorrer falência do manuseio hemodinâmico da hematúria persistente ou em quadros sépticos e, como descrito, na resolução da hipertensão secundária ao trauma renal. Conclusão Com a melhoria do atendimento multidisciplinar dos pacientes traumatizados, a abordagem conservadora dos traumatismos de órgãos sólidos vem sendo adotada e estabelecida nos grandes centros de trauma, levando a excelentes resultados. embolization experience in nine patients. Radiology, 223(3): 723-30, 2002. 7. DE PABLO, C.A.; PINUS, P.M.A. et al. — Severe renal traumatism with conservative treatment. Actas Urol. Esp., 29(4): 436, 2005. 8. MARSZALEK, M.; MADERSBACHIER, S. & RAUCHENWALD, M. — Grade IV renal trauma in a patient with a solitary kidney. Urol. Int., 81(2): 241-3, 2008. 9. PFITZENMAIER, J.; BUSE, S. et al. — Kidney trauma. Urologe A, 47(6): 759-67, 2008. 10.PRACTICE MANAGEMENT GUIDELINES — Management of genitourinary trauma. Eastern Association for the Surgery of Trauma, 2004. 11.SHARIAT, S.F.; JENKINS, A. et al. — Features and outcomes of patients with grade IV renal injury. BJU Int., 102(6): 72833, 2008. NOVEMBRO/DEZEMBRO, 2013 VOL. 101 No 6 Endereço para correspondência: Olival Cirilo Lucena da Fonseca Neto Rua Jacobina, 45 — Apto. 1002 — Graças 52011-180 Recife-PE [email protected] 37 Aplicativos DEF Consulta rápida e fácil para todos os profissionais de saúde Aplicativos DEF 2014 para smartphone e tablet. Com o mesmo conteúdo do DEF Livro impresso Consulta completa em ambiente offline Compre na loja virtual DEF, na Google Play ou Apple Store DEF – a referência brasileira em guias de medicamentos www.def.com.br / www.facebook.com/def noticiário Medley ganha prêmio A Medley Indústria Farmacêutica, uma empresa Sanofi, foi eleita pelo Prêmio Líderes do Brasil a companhia líder no segmento da Indústria Farmacêutica no ano de 2013. Organizada pelo LIDE — Grupo de Líderes Empresariais, a cerimônia de entrega da premiação foi realizada no dia 9 de dezembro, no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo. O evento contou com a presença do vice-presidente da República, Michel Temer, e do governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, além de outras autoridades, executivos e empresários de diversos setores da economia nacional. “Este é mais um importante prêmio que a Medley conquistou ao longo de 2013, e reitera outras conquistas igualmente relevantes. A melhor estratégia para ser reconhecida é cumprir o compromisso que marcou a nossa história: contribuir com a ampliação do acesso a medicamentos essenciais e de qualidade. Esse trabalho, desenvolvido ao longo de muitos anos, é valorizado pelo mercado e comprova o êxito da Medley em construir uma relação de confiança com a classe médica, o varejo farmacêutico e os consumidores”, disse Wilson Borges, diretor geral da Medley. Pelo quarto ano consecutivo a empresa conquistou o Prêmio Marcas de Confiança Seleções/IBOPE e ainda foi considerada o laboratório de genéricos que inspira a maior confiança e o mais recomendado por médicos e farmacêuticos. A ABA Top Brands aponta a Medley como a mais defendida pelo consumidor, desde 2010. Em 2013, o Instituto Data Folha e o Reputation Institute avaliaram a companhia como a mais confiável e a de melhor reputação de todo o segmento farmacêutico, respectivamente. Faixa etária da vacina contra o HPV é ampliada O Ministério da Saúde está ampliando a faixa etária para a vacinação contra o vírus do papiloma humano (HPV), usada na prevenção do câncer de colo do útero. Meninas dos 11 aos 13 anos receberão as duas primeiras doses necessárias à imunização, a dose inicial e a segunda seis meses depois. A terceira dose deverá ser aplicada cinco anos após a primeira. A vacina estará disponível a partir de março de 2014, e as três doses serão aplicadas com autorização dos pais ou responsáveis. Com a adoção do esquema estendido, como é chamado, será possível ampliar a oferta da vacina, a partir de 2015, para as pré-adolescentes entre JBM nove e 11 anos de idade, sem custo adicional. Assim, quatro faixas etárias serão beneficiadas, possibilitando imunizar a população-alvo (nove a 13 anos). O esquema vacinal estendido adotado tem duas grandes vantagens. A primeira é que possibilita alcançar a cobertura vacinal de forma rápida, com a administração das duas doses. Outro benefício é que a terceira dose, cinco anos depois, funciona como um reforço, prolongando o efeito protetor contra a doença. O Ministério da Saúde está investindo R$ 360,7 milhões na aquisição de 12 milhões de doses. A estratégia segue recomendação da Organização Pan-americana de Saúde (OPAS) e foi discutida com especialistas brasileiros que integram o Comitê Técnico Assessor do Programa Nacional de Imunizações (PNI). A modificação no esquema vacinal foi anunciada durante a cerimônia de 40 anos do Programa Nacional de Imunizações. NOVEMBRO/DEZEMBRO, 2013 VOL. 101 No 6 SUS terá medicamento para transplantados produzido no país O Brasil contará com um medicamento utilizado por pacientes transplantados de rim e fígado produzido integralmente com tecnologia nacional. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, participou da cerimônia de entrega do primeiro lote do imunossupressor Tacrolimo, fabricado pela Libbs Farmacêutica, usado para evitar a rejeição a órgãos e garantir o sucesso dos transplantes. O evento também marcou o início das obras da nova fábrica do laboratório Libbs, destinada à produção de medicamentos biológicos. Em 2009, a empresa firmou parceria para desenvolvimento produtivo com o Ministério da Saúde, com transferência de tecnologia para o laboratório Farmanguinhos/Fiocruz. O instituto acompanhou todo o processo de produção do medicamento, para internalizar as técnicas e o conhecimento tecnológico da empresa privada. A previsão é que em 2015 o Farmanguinhos passe a produzir o Tacrolimo, diminuindo assim o custo de aquisição do medicamento. A partir de 2009, a compra do produto passou a ser feita de forma centralizada pelo Ministério da Saúde, o que gerou uma economia de R$ 75 milhões. “Produzir um medicamento 100% nacional é um salto de extrema importância para a indústria brasileira, com impacto na geração de mercado para todo o Brasil, além de garantir segurança aos pacientes atendidos pelo SUS”, afirmou Padilha durante a solenidade. “O domínio de todas as atividades de produção resulta em produtos de qualidade a preços competitivos, garantindo o abastecimento dos serviços públicos de saúde, com redução da dependência internacional”, ressaltou o secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, Carlos Gadelha. 39 índice geral Artigos — A TERAPIA HORMONAL EM PACIENTES COM NEUROFIBROMATOSE TIPO 1 É SEGURA? — Drs. Karin Soares Gonçalves Cunha, Nicolle Cavalcante Gaglionone, Kamila da Silva Peruzini, Layna Nunes Nascimento e Mauro Geller — no 3 — p. 45 — ABORDAGEM CONTEMPORÂNEA DO CHOQUE CARDIOGÊNICO — Dr. Fernando Oswaldo Dias Rangel — no 2 — p. 19 — APNEIA OBSTRUTIVA DO SONO — DA SUSPEITA DIAGNÓSTICA AO TRATAMENTO — Profs. Gunther Kissmann, Rafael Leal e Carlos Alberto de Barros Franco — no 3 — p. 37 —Apoptose no endométrio humano e endometriose — Drs. Marcos Mendonça, Liv Braga de Paula e Luciana Moro — no 6 — p. 11 — ASPECTOS ATUAIS DO TRATAMENTO MEDICAMENTOSO DA FIBROMIALGIA — Drs. Rafael Mendonça da Silva Chakr e Ricardo Machado Xavier — no 5 — p. 25 —BIOMARCADORES DIAGNÓSTICOS DE TUBERCULOSE EM PLEUROLOGIA — Drs. Cyro Teixeira da Silva Junior, Joeber Bernardo Soares de Souza, Jorge Luiz Barillo, Renato Bergalo Bezerra Cardoso, Salim Kanaan, Analúcia Rampazzo Xavier, Gilberto Perez Cardoso e Elizabeth Giestal de Araujo — no 5 — p. 21 — CIRROSES HEPÁTICAS METABÓLICAS — Dr. Carlos Eduardo Brandão Mello — no 4 — p. 33 — CONSTIPAÇÃO INTESTINAL — Dr. José Galvão Alves — no 2 — p. 31 — CRISE HIPERTENSIVA — Dr. José Fernando Vilela Martin — no 1 — p. 21 — DENGUE GRAVE — Drs. Luiz José de Souza, Pedro Gomes de Vasconcelos Silva, Prisicila da Silva Pereira e Raphael Freitas Jaber de Oliveira — no 5 — p. 7 —Dificuldades no diagnóstico diferencial entre mesotelioma pleural e adenocarcinoma metastático para pleura patológica — Drs. Beltrão Paiva Castello Branco, Fernando Antonio Carvalho, Francisco de Assis Paiva e Igor Torres Castello Branco — no 6 — p. 21 — DOENÇA DE CROHN ESTENOSANTE — Prof. Sender J. Miszputen — no 2 — p. 7 — DPOC — SIGLA PEQUENA PARA UM PROBLEMA ENORME — Dr. Hisbello S. Campos — no 3 — p. 15 —EMBOLIA PULMONAR — TRATAMENTO DA FASE AGUDA — Dr. André Volschan — no 1 — p. 7 — ESCLEROSE SISTÊMICA E O FENÔMENO DE RAYNAUD — MANEJO TERAPÊUTICO — Dra. Cristiane Kayser — no 4 — p. 13 — ESOFAGITE EOSINOFÍLICA — Drs. Luiz João Abrahão Junior, Luiz João Abrahão e Ana Cristina de Azevedo Abrahão Oliveira — no 4 — p. 37 —ESTADOS HIPER E HIPOGLICÊMICOS AGUDOS — CONDUTA ATUAL — Profs. Gilberto Perez Cardoso, Cyro Teixeira da Silva Junior e Renato Bergallo Bezerra Cardoso — no 2 — p. 41 — EVOLUÇÃO CLÍNICA DA MOLÉSTIA DE CHAGAS — Profs. Andréia Patrícia Gomes, Rodrigo Roger Vitorino, Luciene Muniz Braga, Aniele de Pina Costa e Luiz Alberto Santana — no 3 — p. 51 — Evolução das técnicas de transplante de fígado — O papel da veia cava in- 40 ferior — Dr. Olival Cirilo Lucena da Fonseca Neto — no 6 — p. 7 —FRATURAs FEMORAIS ATÍPICAS POR USO PROLONGADO DE BISFOSFANATO — MITO OU VERDADE? — Drs. Vincenzo Giordano, Marco Martins Lages, Egídio Santana, Felipe Serrão de Souza, Rodrigo Pires e Albuquerque e Ney Pecegueiro do Amaral — no 2 — p. 13 — HELICOBACTER PYLORI NÃO ERRADICADO COM O ESQUEMA TRADICIONAL — O QUE FAZER? — Profs. Carlos Brito e José Roberto de Almeida — no 1 — p. 31 —Hemocromatose hereditária — Drs. Willian Cassuriaga Aymone, Vanessa Valiati, Maria da Graça de Faria Santos Resem e William Peres — no 6 — p. 27 — HIPOGLICEMIA EM ADULTOS — Dras. Joana Rodrigues Dantas, Monique Alves da Silva, Ana Paula Borges Santos de Lucena, Samara Pimentel de Souza e Melanie Rodacki — no 5 — p. 11 —INSUFICIÊNCIA ADRENAL AGUDA — Dra. Yolanda Schrank — no 5 — p. 43 — LEIOMIOMATOSE UTERINA — REVISÃO — Drs. Marcos Mendonça, Stephanie Viveiros da Silva Teixeira, Tatiane Barroso Maciel, Warley Cézar da Silveira, Sarah de Lima e Silva, Walkíria Monteiro Lopes e Camila Milagres Macedo Pereira — no 1 — p. 49 — LOMBALGIAS — O QUE O CLÍNICO PRECISA SABER — Dr. Luiz Fellipe Favoreto Genelhu — no 4 — p. 19 — OSTEOARTRITE — FISIOPATOLOGIA E TRATAMENTO MEDICAMENTOSo — Dr. Fábio Freire José — no 2 — p. 47 — PANCREATITE AGUDA — TERAPÊUTICA CLÍNICA — Dr. José Galvão-Alves — no 5 — p. 33 — PROBIÓTICOS E PREBIÓTICOS NA DIARREIA AGUDA — REVISÃO — Profs. José Miguel Luz Parente e Mirian Perpétua Palha Dias Parente — no 1 — p. 41 — PROPEDÊUTICA BÁSICA DA INFERTILIDADE CONJUGAL — Drs. Rívia Mara Lamaita, Cláudia Lourdes Soares Laranjeira, Izabela Vieira Botelho, Maria Luísa Braga Veira e Agnaldo Lopes da Silva Filho — no 4 — p. 25 —Síncope vasovagal em criança com Wolff-Parkinson-White — Drs. Maria Natividade Santos Costa Lopes, Cecílio Kassem Salamé e Camila Costa Oliveira — n o 6 — p. 17 — SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL PÓS-INFECÇÃO INTESTINAL — Profa. Maria do Carmo Friche Passos — no 3 — p. 7 —TERAPÊUTICA DA ILEÍTE NA DOENÇA DE CROHN — Dra. Andrea Vieira — no 3 — p. 33 — Tratamento não cirúrgico do traumatismo renal contuso — Drs. Olival Cirilo Lucena da Fonseca Neto e Rômulo Vasconcelos — no 6 — p. 35 — TRATAMENTO OTIMIZADO ANTIPLAQUETÁRIO, ANTILIPÊMICO, CONTROLE DA PRESSÃO ARTERIAL E FREQUÊNCIA CARDÍACA NA DOENÇA CORONARIANA CRÔNICA ASSINTOMÁTICA OU ANGINA CLASSE I — Dra. Vivian Lerner Amato — no 4 — p. 7 —TROMBOEMBOLISMO PULMONAR — TERAPIA PÓS-CRISE — Dra. Isabela Volschan — no 1 — p. 13 JBM Seções Atualidades médicas — no 1 — p. 39 — no 2 — p. 54 — no 3 — p. 14 — no 4 — p. 24 — no 6 — p. 16 Diagnóstico laboratorial — Gastroenterites infecciosas — Dr. Helio Magarinos Torres Filho — no 2 — p. 25 Editorial — Atualizações relevantes — no 6 — p. 3 — Uma edição especial — no 5 — p. 3 — Examinando o corpo com os olhos da alma — no 2 — p. 3 — Fomentar ciência, tecnologia e inovação é essencial! — no 1 — p. 3 —Médicos e população: os caminhos são os mesmos— no 4 — p. 3 — Nota da Academia Nacional de Medicina — no 3 — p. 3 Imagem em medicina interna (Coordenação: Dra. Marta Carvalho Galvão) — Adenocracinoma brônquico com atelectasia — Dras. Marta Carvalho Galvão, Lívia lopes Pinheiro e Maria Luíza Rodrigues Laguardia — no 2 — p. 38 — Lipossarcoma retroperitoneal — Dras. Marta Carvalho Galvão e Taiza Dourado Ribeiro — no 1 — p. 56 Noticiário — no 1 — p. 58 — n o 2 — p. 58 — n o 3 — p. 58 — no 4 — p. 42 — no 5 — p. 50 — no 6 — p. 39 Panorama internacional — no 1 — p. 11 — no 2 — p. 12 — no 3 — p. 31 — no 6 — p. 26 Relato de caso — Gastroparesia — Uso da cintilografia para diagnóstico e quantificação — Drs. Bernardo S. L. Vianna, Nilton Lavatori, Gustavo Barbirato, Jader C. de Azevedo, Talita B. P. dos Santos, Allan V. Barlete, Tatiane Santos, Maria Fernanda Rezende, Marcos Frederico Cavalcanti, Alan Chambi, Claudio T. Mesquita e José Galvão-Alves — no 3 — p. 56 — Mesenterite — Drs. José Galvão-Alves, Marta Carvalho Galvão e Daniella Cavalcante — no 2 — p. 56 NOVEMBRO/DEZEMBRO, 2013 VOL. 101 No 6 DEF Múltiplas plataformas e fácil de comprar Se você quer adquirir o DEF 2014, escolha o formato mais conveniente e compre em nossa loja virtual. DEF – Livro impresso Pocket DEF (com bulas resumidas) Aplicativos DEF para smartphone e tablet (plataformas iOS e Android) DEF CD-Rom Entre no site e confira: www.def.com.br Para atingir 380 mil médicos é preciso mais que um livro. É preciso um DEF! Seja qual for a mídia, o formato, a forma de acesso, o DEF é o mais completo e atualizado guia de medicamentos do país. Consulte o portfólio de produtos DEF e adquira a edição 2014 do jeito que você quiser. DEF – Livro impresso Pocket DEF (com bulas resumidas) Aplicativos DEF para smartphone e tablet (plataformas iOS e Android) DEF CD-Rom DEF é uma publicação anual da Editora de Publicações Científicas Ltda. www.def.com.br www.epuc.com.br