Decisão Medida Cautelar na Reclamação 23.656 DF
Transcrição
Decisão Medida Cautelar na Reclamação 23.656 DF
MEDIDA CAUTELAR NA RECLAMAÇÃO 23.656 DISTRITO FEDERAL sso Em por : 2 : 78 7/0 3.4 5/2 10 01 .51 6 - 109 68 R :07 c :52 l 23 6 ADV.(A/S) INTDO.(A/S) PROC.(A/S)(ES) : MIN. DIAS TOFFOLI : LUÍS CLÁUDIO LULA DA SILVA : CRISTIANO ZANIN MARTINS E OUTRO(A/S) : JUIZ FEDERAL DA 10ª VARA FEDERAL CRIMINAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO DISTRITO FEDERAL : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA 56 RELATOR RECLTE.(S) ADV.(A/S) RECLDO.(A/S) DECISÃO: Vistos. Cuida-se de reclamação constitucional ajuizada por Luís Cláudio Lula da Silva em face do Juiz Federal da 10ª Vara Federal Criminal da Seção Judiciária do Distrito Federal, cujo ato comissivo teria afrontado a autoridade do Supremo Tribunal Federal e o que decidido na Súmula Vinculante nº 14. Alega a defesa do reclamante na sua inicial, que a autoridade reclamada, “em relação ao pedido de quebra de sigilo nº 006070993.2015.4.01.3400, vem impossibilitando o acesso ao feito aos defensores do Reclamante desde 10.12.2015.” (grifos do autor) Esclarece, ainda, que, Im pre “após nova provocação (...), o Reclamado deferiu acesso somente ao teor da promoção do Ministério Público Federal e à decisão que decretou a quebra proferida em medida cautelar de afastamento de sigilo bancário, fiscal e telemático (cf. Doc. 07).” (grifos do autor). Na sua visão, a autoridade reclamada não poderia “selecionar o material a que o Reclamante deva ter acesso, como está ocorrendo no vertente caso, à toda evidência. A defesa do Reclamante deve ter acesso a todos os atos já formalizados nos autos da referida medida cautelar.” (grifos do autor) Por esse contexto entende que “a reiterada decisão do Reclamado, Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 11043916. RCL 23656 MC / DF sso Em por : 2 : 78 7/0 3.4 5/2 10 01 .51 6 - 109 68 R :07 c :52 l 23 6 56 de denegar acesso à integra dos documentos já formalizados no pedido de quebra de sigilo n. 0060709-93.2015.4.01.3400 contraria frontalmente a Súmula Vinculante n. 14 (...)” (grifos do autor) Requer o deferimento da liminar para o fim de conceder acesso aos defensores do Reclamante à integralidade dos autos da Medida Cautelar n. 0060709-93.2015.4.01.3400 e a todos os feitos correlatos (…)” (grifo do autor). No mérito, pede a procedência da ação para, confirmada a liminar requerida, “cassar ato do MM. Juiz Federal da 10ª Vara Criminal Federal que denegou o acesso ao procedimento acima referido, permitindo que a defesa do Reclamante tenha acesso integral a todos os atos – passados, presentes e futuros – que estejam documentados nos autos do pedido de quebra de sigilo nº. 0060709-93.2015.4.01.3400 e feitos correlatos, fazendo prevalecer a autoridade da Súmula Vinculante n. 14” (grifos do autor). Im pre Determinei a emenda da inicial, por ausência de indicação do valor da causa, o que foi atendido, bem como, nos termos do art. 157 do RISTF, solicitei informações à autoridade reclamada, que foram devidamente prestadas. É o relatório. Decido. Em informações encaminhadas a este Supremo Tribunal, o Juízo da 10ª Vara Federal Criminal da Seção Judiciária do Distrito Federal, além de relatar o histórico do processo de investigação em andamento contra o reclamante, esclareceu que “[s]empre atento ao que determina a Súmula 14 dessa Suprema Corte brasileira, ressalto apenas que os autos em questão ainda estão em fase de processo investigatório, e que por esta razão existem diligências que ainda não foram concluídas, razão pela qual há decisões que indeferem pedidos de vista que podem tumultuar a atrasar a conclusão 2 Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 11043916. RCL 23656 MC / DF do inquérito policial” (Petição/STF nº 26575/16 – grifei). sso Em por : 2 : 78 7/0 3.4 5/2 10 01 .51 6 - 109 68 R :07 c :52 l 23 6 56 Em juízo cognição de sumária, assento que razão assiste em parte ao reclamante. As referidas informações do juízo reclamado demonstram que, aos defensores do reclamante, devidamente amparados por procuração, foi negado acesso ao procedimento investigativo no qual foi decretada a quebra de seus sigilos fiscal, bancário e telemático, ao fundamento de Im pre eventual comprometimento da eficácia das diligências em curso nos autos daquele procedimento que tramita em caráter sigiloso, bem como pelo suposto risco de “tumultuar a atrasar a conclusão do inquérito policial”. Sem razão, contudo. De início, registro que o caráter inquisitivo do procedimento, que em princípio mitiga a incidência das garantias do contraditório e da ampla defesa, postergada para futuro processo penal, não afasta de todo o arcabouço de direitos fundamentais titularizados pelo investigado, inclusive aquele que lhe garante o amparo de defensor técnico, nos termos do art. 5º, inciso LXIII, da Constituição Federal. Ademais, esta Suprema Corte já afirmou anteriormente a essencialidade do acesso por parte do investigado aos elementos probatórios formalmente documentados no inquérito para o exercício do direito de defesa, ainda que o feito seja classificado como sigiloso. A esse respeito, destaco o HC nº 94.387/RS, no qual o Relator, Ministro Ricardo Lewandowski, destacou que “o acesso aos autos de ações penais ou inquéritos policiais, ainda que classificados como sigilosos, por meio de seus defensores, configura direito dos investigados, bem como ‘a oponibilidade do sigilo ao defensor constituído tornaria sem efeito a garantia do indiciado, abrigada no art. 5º, LXIII, da Constituição Federal, que lhe assegura a assistência técnica do advogado’ (Primeira Turma, DJe 6/2/09). Perfilhando esse entendimento: 3 Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 11043916. RCL 23656 MC / DF Im pre sso Em por : 2 : 78 7/0 3.4 5/2 10 01 .51 6 - 109 68 R :07 c :52 l 23 6 56 “DIREITO DE DEFESA GARANTIA CONSTITUCIONAL REGIME DE SIGILO INOPONIBILIDADE A ADVOGADO CONSTITUÍDO PELO INDICIADO OU PELO RÉU - ACESSO AOS AUTOS PRERROGATIVA DO PROFISSIONAL DA ADVOCACIA CONSEQÜENTE POSSIBILIDADE DE CONHECIMENTO DOS ELEMENTOS PROBATÓRIOS JÁ DOCUMENTADOS, PRODUZIDOS E FORMALMENTE INCORPORADOS AOS AUTOS DA PERSECUÇÃO PENAL, EXCETUADOS AQUELES EM CURSO DE EXECUÇÃO. - A pessoa que sofre persecução penal, em juízo ou fora dele, é sujeito de direitos e dispõe de garantias plenamente oponíveis ao poder do Estado (RTJ 168/896-897). A unilateralidade da investigação penal não autoriza que se desrespeitem as garantias básicas de que se acha investido, mesmo na fase pré-processual, aquele que sofre, por parte do Estado, atos de persecução criminal. - O sistema normativo brasileiro assegura ao Advogado regularmente constituído pelo indiciado (ou por aquele submetido a atos de persecução estatal) o direito de pleno acesso aos autos de persecução penal, mesmo que sujeita, em juízo ou fora dele, a regime de sigilo (necessariamente excepcional), limitando-se, no entanto, tal prerrogativa jurídica, às provas já produzidas e formalmente incorporadas ao procedimento investigatório, excluídas, consequentemente, as informações e providências investigatórias ainda em curso de execução e, por isso mesmo, não documentadas no próprio inquérito ou processo judicial. Precedentes. Doutrina” (HC nº 93.767/DF, Segunda Turma, Relator o Ministro Celso de Mello, DJe 1º/4/14 – grifei); “I. Habeas corpus: inviabilidade: incidência da Súmula 691 ('Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de 'habeas corpus' impetrado contra decisão do Relator que, em 'habeas corpus' requerido a Tribunal Superior, indefere a liminar'). II. Inquérito policial: inoponibilidade ao advogado do 4 Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 11043916. RCL 23656 MC / DF Im pre sso Em por : 2 : 78 7/0 3.4 5/2 10 01 .51 6 - 109 68 R :07 c :52 l 23 6 56 indiciado do direito de vista dos autos do inquérito policial. 1. Inaplicabilidade da garantia constitucional do contraditório e da ampla defesa ao inquérito policial, que não é processo, porque não destinado a decidir litígio algum, ainda que na esfera administrativa; existência, não obstante, de direitos fundamentais do indiciado no curso do inquérito, entre os quais o de fazer-se assistir por advogado, o de não se incriminar e o de manter-se em silêncio. 2. Do plexo de direitos dos quais é titular o indiciado interessado primário no procedimento administrativo do inquérito policial -, é corolário e instrumento a prerrogativa do advogado de acesso aos autos respectivos, explicitamente outorgada pelo Estatuto da Advocacia (L. 8906/94, art. 7º, XIV), da qual - ao contrário do que previu em hipóteses assemelhadas - não se excluíram os inquéritos que correm em sigilo: a irrestrita amplitude do preceito legal resolve em favor da prerrogativa do defensor o eventual conflito dela com os interesses do sigilo das investigações, de modo a fazer impertinente o apelo ao princípio da proporcionalidade. 3. A oponibilidade ao defensor constituído esvaziaria uma garantia constitucional do indiciado (CF, art. 5º, LXIII), que lhe assegura, quando preso, e pelo menos lhe faculta, quando solto, a assistência técnica do advogado, que este não lhe poderá prestar se lhe é sonegado o acesso aos autos do inquérito sobre o objeto do qual haja o investigado de prestar declarações. 4. O direito do indiciado, por seu advogado, tem por objeto as informações já introduzidas nos autos do inquérito, não as relativas à decretação e às vicissitudes da execução de diligências em curso (cf. L. 9296, atinente às interceptações telefônicas, de possível extensão a outras diligências); dispõe, em consequência a autoridade policial de meios legítimos para obviar inconvenientes que o conhecimento pelo indiciado e seu defensor dos autos do inquérito policial possa acarretar à eficácia do procedimento investigatório. 5. Habeas corpus de ofício deferido, para que aos advogados constituídos pelo paciente se faculte a consulta aos 5 Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 11043916. RCL 23656 MC / DF autos do inquérito policial e a obtenção de cópias pertinentes, com as ressalvas mencionadas” (HC nº 90.232/AM, Primeira Turma, Relator o Ministro Sepúlveda Pertence, DJ 2/3/07 – grifei). sso Em por : 2 : 78 7/0 3.4 5/2 10 01 .51 6 - 109 68 R :07 c :52 l 23 6 56 Importante destacar que a possibilidade de frustração da investigação criminal foi levantada nos debates da sessão que aprovou a Súmula Vinculante nº 14, tanto que se fez constar do enunciado a limitação do acesso aos elementos já devidamente formalizados nos autos do procedimento. Ressalto, por oportuno, excerto do voto do Ministro Cezar Peluso no referido julgamento: Im pre “(...) duas coisas devem ser distinguidas nos inquéritos policiais: uma coisa são os elementos de provas já documentados. Quanto a estes elementos de prova já documentados, não encontro modo de restringir o direito dos advogados em defesa dos interesses do cliente envolvido nas investigações. Outra coisa são todos os demais movimentos, atos, ações e diligências da autoridade policial que também compõem o inquérito. A autoridade policial pode, por exemplo, proferir despacho que determine certas diligências cujo conhecimento pode frustrá-las; a esses despachos, a essas diligências, o advogado não tem direito de acesso prévio, porque seria concorrer com a autoridade policial na investigação e, evidentemente, inviabilizá-la” (PSV nº 1/DF, Relator o Ministro Menezes Direito, Tribunal Pleno, DJe 27/3/09). Nesse contexto, independentemente das circunstâncias expostas pela autoridade reclamada, é legitimo o direito de o reclamante ter acesso àqueles elementos de prova devidamente documentados nos autos do procedimento em que é investigado. Como bem asseverou o Ministro Celso de Mello, no julgamento do HC nº 127.483/PR, Tribunal Pleno, de minha relatoria, 6 Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 11043916. RCL 23656 MC / DF sso Em por : 2 : 78 7/0 3.4 5/2 10 01 .51 6 - 109 68 R :07 c :52 l 23 6 56 “a prova penal, uma vez regularmente introduzida no procedimento persecutório, não pertence a ninguém, mas integra os autos do respectivo inquérito ou processo, constituindo, desse modo, acervo plenamente acessível a todos quantos sofram, em referido procedimento sigiloso, atos de persecução penal por parte do Estado. (...) É por tal razão que se impõe assegurar ao Advogado, em nome de seu constituinte, o acesso a toda informação já produzida e formalmente incorporada aos autos da investigação penal em causa, mesmo porque o conhecimento do acervo probatório pode revestir-se de particular relevo para a própria elaboração da defesa técnica por parte do interessado” (DJe 4/2/16 – grifei). Im pre Ante o quadro, presentes os elementos necessários e firme na jurisprudência da Corte, defiro a liminar para assegurar ao reclamante, nos autos do Processo nº 0060709-93.2015.4.01.3400, que tramita na 10ª Vara Federal Criminal da Seção Judiciária do Distrito Federal, o acesso e a extração de cópias daqueles documentos e informações, objeto de diligências devidamente cumpridas, que lhe digam respeito e que já foram formalmente encartados aos autos. Excluem-se desta determinação aquelas providências investigatórias ainda em andamento. Comunique-se, solicitando informações. Após, abra-se vista a Procuradoria-Geral da República. Publique-se. Brasília, 25 de maio de 2016. Ministro Dias Toffoli Relator Documento assinado digitalmente 7 Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 11043916.
Documentos relacionados
DECISÃO: Trata-se de mandado de segurança, com pedido de
Presentes as razões ora expostas, não vejo como deferir a pretendida suspensão cautelar do julgamento do PAD nº 1.00162/2015-03, ora em curso perante o E. Conselho Nacional do Ministério Público. É...
Leia mais