Apoio Familiar na Inclusão de Crianças com Síndrome de Down no

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Apoio Familiar na Inclusão de Crianças com Síndrome de Down no
Apoio Familiar na Inclusão de Crianças com Síndrome de Down
no Ensino Regular.
Andrieli Alves da Cruz Santin (UNICENTRO) [email protected]
Anízia Costa Zych (UNICENTRO) [email protected]
Resumo:
O presente trabalho tem por objetivo aprofundar conhecimentos relacionados à inclusão do
aluno com Síndrome de Down, refletindo especificamente no que se refere a participação da
família, bem como caracterizar as interações que se estabelecem na instituição escolar entre
alunos, inseridos no sistema regular de ensino, e seus colegas de turma. Trata-se de uma
pesquisa qualitativa realizada sob a forma de estudo de caso, com investigação às efetivas
interações no contexto do sistema regular, do ensino municipal e privado de Prudentópolis,
sendo sujeitos da investigação dois alunos, um inserido no ensino privado e outro na rede
municipal de ensino. Entendemos que o estudo é de suma importância para ampliar a
compreensão da trajetória escolar e para o desenvolvimento de crianças com Síndrome de
Down, no sentido de favorecer o processo de aprendizagem. As observações serão oportunas e
benéficas para a realização do estudo, tanto no âmbito familiar quanto educacional.
Palavras-chave: inclusão, cidadania, família.
Inclusion in the Family Support for Children with Down
Syndrome in Regular Education
Abstract
The present work aims to increase knowledge related to the inclusion of students with Down
syndrome, reflecting specifically as regards the participation of the family as well as to
characterize the interactions that take place in schools between students, entered into the
regular school system, and their classmates. This is a qualitative research conducted in the
form of case study with research on effective interactions in the context of the regular system,
the local school and deprived of Prudhoe, and research subjects two students, one inserted in
the private sector and one in municipal schools. We believe that our study is of paramount
importance to broaden the understanding of school life and the development of children with
Down Syndrome, to promote the learning process. The comments will be timely and beneficial
to the study, both in the family and educational.
Key-words: inclusion, citizenship, family.
1 Introdução
Considerando a atual proposta educacional baseada na LDB 9394/96, a qual
afirma em seu Artigo 58 “que a educação escolar deve ser oferecida a todo educando
portador de necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino”,
realizou-se a investigação a cerca das escolas que possuem crianças com Síndrome de
Down inclusas no ensino regular.
Trata-se de uma pesquisa utilizou-se a pesquisa qualitativa a qual, segundo
Bogdan e Biklen (1982, apud LUDKE e ANDRÉ, 1986, p.11): “A pesquisa qualitativa
tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu
principal instrumento [...]supõe o contato direto e prolongado do pesquisador com o
ambiente e a situação estudada.”
Realizou-se sob a forma de estudo de caso, com investigação às instituições
escolares que possuem alunos com Síndrome de Down inclusos na sala de aula do
sistema regular, do ensino municipal e privado de Prudentópolis.
Constituem-se sujeitos da investigação dois alunos que possuem Síndrome de
Down, um inserido no ensino privado e outro na rede municipal de ensino, estes são
designados na pesquisa como aluno “Gê”, o qual tem 10 anos de idade e o aluno “Pi”
com 7 anos de idade.
O critério para coleta de dados esta embasado em observações no meio
estudantil onde estas crianças estão inseridas, considerando os critérios pedagógicos
utilizados pelas professoras para manter a harmonia na turma, bem como se dá a
participação da família na educação estudantil de seus filhos.
A análise da pesquisa está voltada aos métodos pedagógicos utilizados pelas
professoras e à importância da contribuição da família na inclusão educacional das
crianças com Síndrome de Down, no sistema de ensino regular.
2 Histórico da inclusão
Conforme Baú e Cubo (2009), na sociedade europeia, as pessoas com algum tipo
de deficiência, eram pouco consideradas. Assim, os bebês quando apresentavam
deficiência, como a Síndrome de Down, eram abandonados para morrer de inanição ou
devorados por animais selvagens. A filosofia grega considerava as pessoas com
deficiência como criaturas não humanas, um tipo de monstro. Já na Idade Média, os
deficientes eram tidos como a união de uma mulher com o demônio.
Com a difusão do cristianismo, as pessoas que apresentavam deficiência mental,
eram acolhidas nas igrejas e conventos. Pois de acordo com Pessoti (1984, p. 4), citado
por Baú e Kubo (2009): “Graças à doutrina cristã os deficientes começavam a escapar
do abandono ou da “exposição”, uma vez, que considerados, donos de uma alma,
tornam-se pessoas e filhos de Deus, como os demais seres humanos.”
Em 1325, é elaborada a primeira legislação sobre cuidados com deficientes
mentais, sendo que, nesta lei, o termo “idiota” aparece pela primeira vez, sendo
introduzido nos documentos legais.
No período entre 1621-1675, com o avanço cientifico, a compreensão da
deficiência mental cede lugar à compreensão da loucura. Assim, a idiotia e outras
deficiências mentais passam a estabelecer argumentos científicos.
No século XIX ocorre a criação de escolas comuns públicas, na qual as crianças
especiais eram educadas. Porém muitas crianças eram excluídas, como as afroamericanas e nativas americanas bem como alunos com deficiência que sendo
segregados do convívio permaneciam no isolamento.
Ainda no século XX, as pessoas com deficiência eram mal vistas e consideradas
a mais séria ameaça à sociedade, devido a sua composição genética. As classes
especiais, nas escolas regulares, não surgiram por razões humanitárias, mas porque as
crianças com deficiências eram indesejadas na sala de aula do sistema oficial de ensino.
A sala de aula das classes especiais eram construídas em espaços separados, situadas no
mesmo terreno, porém ficavam à parte da estrutura escolar.
Somente nas décadas de 50 e 60 é que as atitudes da sociedade, em relação ao
aluno com deficiência, começam a mudar. Os pais de alunos com deficiência fundaram
organizações e iniciaram ações legais para reivindicar a educação de seus filhos,
defendendo seus direitos.
Em 1975 se estabelece o direito à educação gratuita a toda a criança,
independentemente de qualquer deficiência, devendo ser educada em ambientes menos
restritivo possível.
No início da década de 80, muitos alunos com deficiência são matriculados em
classes do ensino regular, contudo esses alunos precisavam conseguir adaptar-se aos
métodos de ensino que lhes eram impostos. Não recebiam nenhuma atenção ou
orientação especial, sendo então prejudicados pela falta de acessibilidade.
Enquanto alguns trabalhavam pela inclusão de alunos com deficiência no
sistema de ensino regular, expandindo as práticas da inclusão para um número maior de
escolas, outros tentavam retardar, impedir ou até mesmo paralisar o ensino inclusivo.
Percebe-se que, com a evolução histórica, as denominações usadas para designar
as pessoas que tinham algum tipo de deficiência, também tiveram uma evolução nos
termos.
Como já destacamos, de acordo com Baú e Kubo (2009), em 1886 as pessoas
com deficiência eram denominadas “idiotas”, entre os anos de 1970 a 1990, o termo
usado era “excepcional”, tendo várias outras referências como: diminuídos, deficientes,
retardados ou incapacitados. No século XXI, com o avanço cientifico, a definição
utilizada foi, “pessoas com necessidades educacionais especiais”. A evolução destes
termos possibilita perceber uma diminuição gradativa de palavras estigmatizadoras.
No Brasil, até a década de 1950, praticamente não se ouvia falar em educação de
deficientes, este iniciou no século XIX, na qual a educação especial teve maior atenção
dos órgãos do governo e das instituições educacionais.
Somente no final da década de 1980, após a Constituição Federal de 1988, é que
vê os primeiros movimentos em direção à educação inclusiva no Brasil, pois passa
então a se investir na educação de qualidade para todos, sem exclusão de classes sociais,
raça e cor. Assim sendo a educação especial e a educação regular passam a coexistir,
integradas ao Sistema Nacional de Educação.
Porém, o marco histórico da inclusão foi deflagrado a partir de junho de 1994,
com a Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais: Acesso e
Qualidade, realizada pela UNESCO, em Salamanca, na Espanha. O documento foi
assinado por 92 países, que tem como princípio fundamental: “todos os alunos devem
aprender juntos, sempre que possível independente das dificuldades e diferenças que
apresentem”.
A nova LDB (Lei de Diretrizes e Bases), Lei 9394/96 caracteriza a educação
especial em seu Artigo 58: “Entende-se por educação especial para os efeitos dessa lei,
a modalidade de educação escolar, oferecido preferencialmente na rede regular de
ensino, para educandos portadores de necessidades especiais”.
Esta posição encaminha para uma educação integrada, onde as escolas passam a
praticar a educação inclusiva. A mesma Lei assegura: “[...] que o entendimento
educacional será feito em classes, escolas e serviços especializados, sempre que em
função das condições especificas dos alunos não for possível a sua integração nas
classes comuns de ensino regular”.
3 Aspectos referentes a Síndrome de Down
A história sobre Síndrome de Down surgiu, por volta, do século XIX. Até então
os deficientes eram tratados e medicados identicamente, sem se levar em consideração
as causas da deficiência, que podem ocorrer durante a gestação, no momento do parto
ou após o nascimento.
O significado da palavra síndrome vem do grego, Syndromé, que “[...] quer dizer
conjunto de sinais e de sintomas que caracterizam um determinado quadro clinico.”
(Werneck, 1995, p. 60).
Atualmente é possível detectar, já nas primeiras semanas de gestação. Daí a
importância do pré-natal, afim de que se tomem as medidas necessárias, para que o
desenvolvimento da criança seja acompanhado de orientação médica.
A denominação Síndrome de Down (SD) é resultado da descrição de Langdon
Down, médico inglês que pela primeira vez identificou, em 1866, as características de
uma criança com essa síndrome (Schwartzman, 2003). Ele fez um trabalho interessante,
contrariando as crenças da época, descrevendo as características de um grupo de
crianças que eram parecidas entre si, mas diferentes das demais; as mesmas lembravam
à população da raça mongólica.
A descrição feita por John Langdon Down é ressaltada por Werneck (1995, p.
58): “O cabelo não é preto, como acontece com o povo mongol, e sim de cor
amarronzada, além de serem ralos e lisos. A face é achatada e larga. Os olhos são
oblíquos e o nariz é pequeno. Estas crianças têm uma considerável capacidade de
imitar.”
Em 1932, estudos referentes à Síndrome de Down, sugerem pela primeira vez,
que tal fato, poderia decorrer de uma aberração cromossômica. Sendo inicialmente
atribuído a causas infecciosas como: tuberculose e sífilis. Os pacientes chegaram a ser
considerados crianças mal-acabadas, crianças inacabada, idiota mongolóide, entre
outras denominações.
Lejeune, cientista francês, profundo estudioso dos cromossomos humanos,
descobriu a verdadeira causa da Síndrome de Down, em 1958. Estudando os
cromossomos dessas pessoas, percebeu que as mesmas, tinham um cromossomo a mais,
ou seja, 47 cromossomos.
O número de cromossomos presentes nas células de uma pessoa é 46, sendo 23
da mãe e os outros 23 do pai e estes se dispõem em pares, formando 23 pares. Lejeune
continuou seus estudos, e alguns anos depois, conseguiu identificar que o cromossomo
extra, fica no par 21, ou seja, em vez de dois cromossomos a pessoa com a Síndrome de
Down, passa a ter três cromossomos no par 21.
Assim, por excesso de material
genético, a síndrome também é chamada de trissomia do par 21.
Embora o cromossomo 21 seja o menor cromossomo humano, sua trissomia
altera gravemente o fenótipo de uma pessoa. Trata-se do resultado de um acidente
genético que pode acontecer com qualquer casal em qualquer idade. A descoberta da
anomalia cromossômica aguça o interesse sobre a Síndrome de Down, surgindo várias
pesquisas, desenvolvidas tanto na área da medicina como no plano educacional.
O diagnóstico clínico pode ser detectado nos primeiros instantes de vida, a
criança com Síndrome de Down, apresentam características fenotípicas diferenciadas
sendo possível garantir a incidência de ter a Síndrome de Down. Segundo Nascimento
(2008) citado por Antonarakis (2004), “a deficiência mental é a única característica
presente em todos os casos”.
Além das características físicas descrita e a deficiência mental, a criança com
Síndrome de Down, apresenta outros aspectos, como, problemas cardíacos, que muitas
vezes leva à criança à morte ainda na infância, má formação congênita e respiratória,
leucemia e doença de Alzheimer em alguns casos.
A criança com Síndrome de Down ainda apresenta um atraso no
desenvolvimento neuropsicomotor. Segundo trabalho realizado por Pueschel(1983)
citado por Schwartzman (2003, p.180), a criança portadora da síndrome sustenta a
cabeça, senta, engatinha, anda e fala mais tarde do que as demais crianças consideradas
normais e isto se dá devido à alteração no cromossomo 21 no início da gestação
materna.
Crianças com Síndrome de Down têm também um atraso na aquisição da
linguagem, desenvolvimento da fala, bem como, todo o processo de comunicação,
depende de vários fatores orgânicos, ambientais e psicológicos, que estão presentes
desde os primeiros dias de vida.
4 A importância da família no desenvolvimento da criança com SD
A Síndrome de Down é uma das anomalias genéticas mais conhecidas. É
responsável por 15% dos portadores de retardo mental que frequentam instituições para
crianças especiais, afirmam educadores da Universidade Estadual Paulista.
A família é considerada o mais importante de todos os grupos sociais, pois em
geral, é a que acolhe, está próxima e convive com a criança. É através da família que
aprendemos a perceber o mundo e a nos situarmos nele. Ela é a formadora de nossa
entidade social, a base do processo da socialização.
Sendo assim, a família constitui o primeiro universo de relações sociais da
criança, a qual deve proporcionar um ambiente de crescimento e de desenvolvimento.
A chegada de uma criança em uma família é sempre um momento de esperança,
os pais esperam ansiosamente a sua chegada, constroem sonhos e idealizam um filho
perfeito.
Para Voivodic (2004, p.49) “o nascimento de um bebê é um acontecimento de
grande importância para a família. Desde a sua concepção, a criança já é depositária de
uma série de expectativas”. Porém quando é dada a notícia aos pais que a criança tem
alguma deficiência, todos os sonhos planejados se destroem.
Neste momento, cada pessoa na família tem um papel que deve desempenhar,
qualquer modificação na família requer um realinhamento dos indivíduos e uma
redefinição em seus papéis. Os pais devem criar um ambiente aconchegante para todos
os membros, saber dar atenção a cada filho, se preocupar com todos, e reorganizar
juntos o espaço familiar.
Como se pode deduzir a presença da Síndrome de Down num membro da
família gera uma problemática que afeta diversos aspectos da vida familiar, gerando
problemas tanto econômicos, social e emocional.
Segundo as recomendações das diretrizes educacionais instituídas na LDB:
Toda família que possui criança portadora de necessidades especiais tem
direito a receber apoio e orientação específicos face à problemática que
decorre de tal condição, além de ter o dever de participar do processo de
estimulação, assumindo o papel que lhe cabe. (BRASIL, 1995,p.16)
O bebê com Síndrome de Down necessita de muitos cuidados, e é importante
que os pais envolvam-se intensamente neste processo, cuidando e dando afeto, atenção e
tudo o que for necessário, pois é importante, a criação de vínculos afetivos entre os
membros da família. Segundo Ainsworth (1993) citado por Schwartzman (2003, p.
271): “a ligação afetiva é um vinculo duradouro com uma pessoa que proporciona
conforto e segurança [...] é do apego seguro, que uma pessoa constrói sua autonomia.”
A ligação afetiva entre mãe e criança é sempre intensa e se estabelecem a cada
dia mais vínculos, não apenas com a mãe, mas também com outros elementos do mundo
exterior, e assim ocorre, o desenvolvimento da individualidade.
Conforme orienta Bibas:
[...] a estimulação é fácil, basta associar três sentimentos importantes: amor,
bom-senso e vontade de ensinar, de superar os limites que um diagnóstico
médico possa ter dado ao seu filho. [...], pois é na família que a criança
passa a maior parte de seu tempo, é no espaço de seu lar que terá mais
experiências, e são seus pais e irmãos os maiores interessados em seus
progressos. Aos poucos, os familiares se descobrirão estimulantes e
estimuladores, à medida que a estimulação vai se tornando tão natural que
passa a fazer parte do cotidiano de cada um. (BIBAS, 1999, p.01).
Quando os pais começam a se organizar, os outros filhos podem ser envolvidos
no processo, eles devem ser informados das condições do bebê e podem saber que o
irmão possui Síndrome de Down, e participar das atividades, para que compreendam
melhor a situação.
O esforço dos pais para enfrentar os desafios decorrentes da síndrome, é de suma
importância para o desenvolvimento da criança, pois ela precisa ser respeitada,
compreendida, amada, cuidada, e é necessário que se deposite nela uma expectativa
positiva favorável ao seu desenvolvimento.
Schwartzman salienta que:
A SD limita o desenvolvimento, pois a deficiência que as crianças
apresentam as impedirá de absorver todos os estímulos oferecidos pelo
meio. Evidentemente, conseguirão superar, embora tardis etapas da vida
[...]. A ausência de estímulos na SD significa regressão, até mesmo na fase
adulta, porque frágeis conexões neuronais podem diminuir por falta de
estimulação. (SCHWARTZMAN, 2003, p. 234)
Estimulando a criança com Síndrome de Down em todos os seus aspectos, esta
poderá participar da vida em família, que também precisam de muito carinho, e assim
estar inserida no meio social, consequentemente no meio educacional.
5 Considerações sobre o contexto educacional da criança com Síndrome de Down
Uma das maiores aflições que envolvem os pais de crianças com Síndrome de
Down consiste no desenvolvimento do potencial cognitivo da criança, visto que esta
síndrome traz como consequência uma deficiência intelectual. Por esta razão, a entrada
dos filhos na escola regular representa para os pais um momento desafiador.
A educação da criança com Síndrome de Down tem um grande potencial a ser
desenvolvido. Até poucos anos atrás elas não eram consideradas capazes de aprender,
julgadas com poucas possibilidades de desenvolvimento, não eram sequer alfabetizadas.
Assim, com o presente estudo buscou-se adquirir melhor discernimento em
relação aos métodos pedagógicos utilizados, para que os alunos com Síndrome de Down
assimilem os conteúdos trabalhados, e a forma como o apoio familiar atua no decorrer
do seu desenvolvimento educacional.
A rede municipal de ensino de Prudentópolis possui quatro mil quatrocentos e
trinta e dois (4.452) alunos matriculados, em 64 escolas, sendo 11 escolas na área
urbana e 53 na área rural. A rede de ensino privado do município abrange 03
instituições escolares, cujo atendimento educacional envolve a coletividade de
estudantes matriculados da Educação Infantil ao Ensino Médio.
Dos alunos matriculados na escola municipal, 03 possuem Síndrome de Down, e
estão incluídos na sala de aula regular, sendo dois do interior e um reside e estuda no
perímetro urbano. Na rede do ensino privado, encontram-se incluídos dois alunos com
Síndrome de Down, na mesma instituição.
Para a pesquisa foi utilizado a coleta de dados através de observações em sala de
aula, nas escolas que estas crianças estão matriculadas. As observações realizadas se
deram em duas instituições, sendo que as crianças observadas são dois meninos. O
aluno inserido no contexto escolar privado para efeitos do estudo será denominado ‘Pi’,
e o aluno que freqüenta a escola do ensino municipal será designado “Gê”.
A classe em que Pi esta inserido, conta com um total de 15 alunos, dos quais 9
são meninas e 6 são meninos. Compreendem uma faixa etária entre 3 a 5 anos de idade,
cumprindo suas atividades escolares no período da tarde. A turma é regida por duas
professoras.
Pi é um menino que consegue compreender as orientações passadas pela
professora, mas encontra dificuldades em relação à fala, o que torna difícil a
comunicação com seus amiguinhos e com a própria professora; para se comunicar ele
usa gestos, pois seu vocabulário é restrito a monossílabas, como: mãe, irmã, tia, frio,
pai, legal, mal.
A criança com Síndrome de Down, desde o início da vida, apresenta reações mais
lentas do que outras crianças, em decorrência de um atraso no desenvolvimento das
funções motoras e, das funções mentais, que dão origem à hipotonia. Esta provoca uma
redução das diversas etapas do desenvolvimento do bebê, rir e sorrir depende do tônus
muscular, de acordo com Benatti (1989), a hipotonia muscular faz com que a criança
tenha um desequilíbrio de força nos músculos da boca e face, o que ocasiona:
[...] alterações na arcada dentária, projeção maxilar inferior e posição
inadequada da língua e lábios, com a boca aberta e a língua sempre pra fora,
o que acaba alterando a forma do céu da boca. Esses fatores, dentre outros,
fazem com que os movimentos fiquem mal coordenados e a articulação dos
fonemas fiquem imprecisa e prejudicadas. (BENATTI, 1989, p. 03)
Assim, crianças com Síndrome de Down, demoram mais para expressar-se e
responder a estímulos. Como a criança é pouca responsiva, os pais devem aumentar a
estimulação tátil e intensificar o contato físico.
O atraso no desenvolvimento intelectual implica num atraso da linguagem,
sendo que este depende de vários fatores de desenvolvimento intelectual normal, o que
ocasiona um atraso na aquisição da fala e linguagem constituindo um dos maiores
problemas encontrados pelos pais de crianças com Síndrome de Down.
Os familiares precisam sempre estar estimulando a criança com Síndrome de
Down, desenvolver atividades que levem-na responder os estímulos oferecidos, devem
conversar, chamar pelo nome, repetir os sons, que a criança irá, aos poucos,
desenvolver, incentivando a criança a prestar atenção nos diferentes sons e linguagens,
buscando imitá-los.
Para Benatti (1989), os pais podem interagir com a criança em todos os
momentos, como, na hora do banho, da alimentação, da troca de roupa, quando leva seu
filho ao passear, explique para ele aonde vão, como é o lugar, o que vão fazer lá, que
pessoas irão encontrar, aspectos estes, que influenciarão na linguagem e comunicação
da criança.
A professora comenta que Pi evoluiu muito, pois no começo ficava brincando
sozinho, chorava muito, era agressivo com seus colegas e muito nervoso; reações essas
que não se registrou durante as observações. Pois a interação com seus amigos é
favorável, os quais estão sempre atentos, convivendo com ele, buscam ajudá-lo nas
demais atividades realizadas no espaço escolar.
Foram utilizadas pelas professoras diferentes formas de intervenção, até
descobrir a que chamasse sua atenção. De início as dificuldades para realizar algumas
atividades foram muitas, pois ele não possuía uma coordenação motora típica, porém no
decorrer do tempo ele conseguiu superar suas dificuldades.
Com a utilização de músicas e melodias Pi demonstrou maior interesse e
participação. Cantar e dançar são suas atividades favoritas, em seguida, vem às histórias
infantis, principalmente as que têm personagens marcantes como: o lobo mau, os ‘Três
Porquinhos’ e ‘Chapeuzinho Vermelho’.
Seu desenvolvimento é lento, porém exige continuidade de estímulo para que as
atividades sejam realizadas da melhor forma. Consegue realizar algumas atividades
sozinho, isso se as mesmas não forem prolongadas, pois tem a dificuldade de se
concentrar por muito tempo, numa mesma atividade.
As histórias, assim como as canções e músicas, continuam sendo suas atividades
favoritas, nas quais se percebe um maior entusiasmo e empenho. A interação com seus
colegas são agradáveis e brinca com todos, sendo possível desenvolver atividades em
grupo facilmente. Apesar de ter bastante dificuldade na fala e ainda mostrar os objetos
que deseja sem pronunciar o nome, a interação aluno-professor é harmônica.
O segundo aluno sujeito da investigação é o Gê, o qual está com dez anos de
idade e frequenta a escola do ensino municipal, pelo terceiro ano. A classe em que está
matriculado é o 2º ano do Ensino Fundamental, na qual tem vinte alunos, sendo 10
meninas e 10 meninos, compreendendo a faixa etária de 6 e 7 anos, contando com a
presença de uma professora e uma estagiária.
Gê ficou matriculado por dois anos no 1º ano do Ensino Fundamental, e neste
ano passou para o 2º ano. Porém ainda tem muita dificuldade na coordenação motora, já
conhece e sabe distinguir as letras mas não forma palavras sozinhos, só com a ajuda da
professora.
Gê frequenta a escola regular, no período vespertino, duas vezes por semana vai
a APAE, para atendimento de fonoaudióloga e fisioterapia. Pela manhã, participa da
sala de recursos, na qual se concentram alunos com dificuldades de aprendizagem.
A família de Gê é participativa no âmbito escolar, prevalecendo a figura da mãe,
a qual busca possibilitar o desenvolvimento de seu filho. A mãe encontra dificuldade
em fazer com que ele desenvolva as tarefas solicitadas pela professora, porém em sala
de aula Gê desenvolve bem as atividades. Ele apresenta certa ansiedade, e quer em
muitos momentos sair da sala.
As atividades devem ser distribuídas para os outros colegas e por ultimo para
Gê, pois caso contrário, ele rabisca toda a atividade, até a explicação da mesma. Nos
anos anteriores, ao término das atividades Gê saia pra fora da sala de aula, maneira esta
que foi encontrada pra ele permanecer na escola.
Neste ano, ao terminar as atividades ele permanece na sala, porém fica
brincando com um carrinho que ele traz de casa, na sua carteira. De inicio ele não
concordava, queria sair, ficava assoviando, chamando atenção dos demais, mas aos
poucos foi mudando suas atitudes e agora permanece em sala.
Durante as observações notou-se que as professoras proporcionaram situações
em que as crianças com Síndrome de Down interagiram e participaram das atividades,
despertando nelas iniciativas e aumentando a convivência com todo o grupo.
Schwartzman explica que:
É importante não queimar etapas e seguir roteiro adrede mente fixado:
estimular o desenvolvimento da criança, respeitar sua evolução gradativa e
aguardar o momento exato para iniciar uma nova aprendizagem. [...] devem
levar em consideração as possibilidades de aprendizagem da criança e a
motivação necessária para que participe ativamente[...] SCHWARTZMAN,
2003, p.238)
Assim, as escolas, tanto do âmbito privado como do publico, buscam em todos
os momentos, diversos recursos para que todas as crianças sintam prazer em estar num
ambiente que lhe traga alegria, segurança e satisfação, especialmente para o aluno com
Síndrome de Down, levando sempre em consideração as necessidades individuais e as
suas potencialidades, bem como, estabelecendo vínculos e relações sociais através do
brincar, da expressão, de emoções, sentimentos, desejos e necessidades, estimulando a
curiosidade para a observação e exploração do ambiente, de forma consciente.
De acordo com Schwartzman:
A escola coloca-se, portanto, diante de uma dupla situação: fornecer
participação adequada que permita ao aluno com SD a aquisição de dados
culturais, a fim de acompanhar o progresso dos colegas, baseado no
comportamento e relacionamento da criança com SD. [...] é importante que a
escola desenvolva ao máximo, e em todas as áreas as potencialidades do
conhecimento, atenta às atividades que facilitem as habilidades atuais e
futuras de aprendizagem do aluno com SD. (SCHWARTZMAN, 2003,
p.241)
Neste sentido, a educação de crianças com Síndrome de Down comprova, apesar
de sua complexidade, que eles têm a capacidade de evoluírem. É importante que a
escola desenvolva ao máximo, e em todas as áreas, as potencialidades do conhecimento,
atenta às atividades que facilitem as habilidades atuais e futuras de aprendizagem do
aluno com Síndrome de Down.
Ambas as famílias, dos alunos investigados, dão o apoio necessário para a
educação de seus filhos, sendo que a educação da criança com Síndrome de Down
começa desde o nascimento, com a família e amigos, dando continuidade na escola e
sociedade. Sempre as estimulando para profissionalizar-se e serem independentes.
Como diz Werneck:
[...] A educação da criança com síndrome de Down intervêm tanto na
família, na escola, como na sociedade. É uma atividade que deve começar a
partir do nascimento, como uma estimulação capaz de integrá-la
progressivamente ao meio ambiente e à vida social. Sem dúvida, a
participação ativa da família é decisiva para o desenvolvimento integral da
criança [...] estudos vem demonstrando que o progresso de alunos que foram
estimulados desde bebês é mais acelerado do que o dos que receberam
tardiamente ou que nunca a tiveram. (WERNECK, 1995, p.162)
Toda classe escolar é necessariamente heterogênea e traz consigo a
multiplicidade de diferenças, tanto razões históricas, culturais, sociais, físicas ou
mentais, como o caso da Síndrome de Down, por isso o profissional da educação deve
estar preparado pra receber todos os tipos de alunos.
A educação da criança com Síndrome de Down encontra-se no limiar de uma
nova expectativa, na qual o indivíduo com deficiência terá melhores oportunidades para
ocupar seu lugar na sociedade, sem preconceito e discriminação.
Contudo, a educação brasileira caminha para uma sociedade inclusiva, pois já se
nota a importância de se educar e dar a verdadeira oportunidade para indivíduos com
necessidade especial, como a Síndrome de Down, sendo que sua vida é pautada por uma
contínua busca de aprendizagem, desejando, como toda pessoa, fazer algo que lhe dê a
sensação de realização.
6 Considerações finais
Por se tratar de uma alteração genética, a Síndrome de Down não tem cura, mas
uma boa educação, estimulação e dedicação farão com que a criança desenvolva ao
máximo seu potencial. Conviver com naturalidade, adotando procedimentos de
acolhida, favorece o processo de inclusão familiar, a qual levará futuramente, a inclusão
sociocultural. Pois o ser humano é muito mais que sua carga biológica, e é com as
interações com o meio que está inserido, que cada indivíduo constrói a sua vida, os seus
valores.
A valorização das diferenças e o respeito à diversidade trazem conseqüências
positivas para os alunos, na medida em que as escolas assumem o compromisso com a
inclusão das pessoas com Síndrome de Down, sob a perspectiva de contribuir com a
transformação social, cultural e pedagógica da sociedade.
Certamente a criança com Síndrome de Down, ao ser inserida no contexto
estimulador da escola regular, poderá adquirir novos atributos para sua formação e, seu
desenvolvimento será melhor favorecido, se puder contar com os aportes da família em
seu processo de aprendizagem.
O estudo atingiu o objetivo proposto, pois conseguiu ampliar aspectos da
interação social de crianças com SD no ensino regular, bem como, analisar os meios
pedagógicos adotados pelas professoras para a intervenção de seu trabalho em sala e a
importância da família na educação dos mesmos.
Pois em ambos os casos, a família é presente e estimula cada vez mais o
potencial de sues filhos para que possam alcançar o melhor desenvolvimento possível.
Os alunos observados tem o apoio familiar, tanto no âmbito educacional como no social
também.
Pode-se perceber que, além da escola propiciar o acesso à aprendizagem
cognoscitiva, iniciando o processo de letramento, a escola interfere diretamente na
formação para o exercício da cidadania, estimulando à auto superação das dificuldades
funcionais decorrentes da síndrome.
7 Referências
BAÚ, Jorgiana; KUBO, O.M. Educação Especial e a capacitação do professor para o ensino. Curitiba:
Juruá, 2009.
BENATTI, Aureni Martins; etal. Síndrome de Down: Estimulação da fala e linguagem. São Paulo, Ed.
Projeto Down,1988.
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